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Como rejuvenescer o partido
Por Luciano Frontelle – Há bastante tempo existem discussões sobre como rejuvenescer o Partido Verde no Brasil. Não só isso, mas também não é segredo e nem é difícil de perceber que a maioria dos espaços de direção são ocupados, em boa parte, por homens brancos e de cabelos brancos. A média de idade da Executiva Nacional é de 56 anos, de acordo com dados oficiais. Obviamente podemos estender essa percepção para a maioria dos espaços políticos no país.
Apesar de as mulheres representarem 53%1 do eleitorado brasileiro, apenas 15% do total de cargos eletivos eram ocupados por elas em 2022. As mesmas distorções, em níveis também absurdos, acontecem com negros, indígenas, quilombolas e LGBTQIA+. Isso não isenta o partido de adotar uma mudança de rumos. Na verdade, deve ser visto como uma oportunidade para que possamos pensar coletivamente sobre como melhor representar nossos 12 valores e a sociedade brasileira a partir de nossos quadros.
A parte que me cabe é incentivar a discussão sobre as juventudes no partido. Vou chegar a este ponto começando com a minha jornada até a minha filiação.
O grêmio estudantil foi meu primeiro contato com movimentos sociais. Eu tinha 14 anos, havia perdido o pai não fazia muito tempo e vi naquele espaço uma motivação, um propósito. Começou como uma válvula de escape, mas, no fim, se tornou um espaço de aprendizado e celebração. Participei dos processos do Estatuto da Juventude e estive na organização de conferências estaduais de juventudes, até que, finalmente, pude celebrar com muitos amigos a conquista da PEC da Juventude.
Nessa época, eu tinha uma percepção ruim sobre partidos, mesmo colaborando com muitas pessoas filiadas ou que até mesmo lideravam secretarias de juventude partidárias. Porém, acabei percebendo que, no final das contas, o que eu fazia acabava girando em torno de tentar convencer alguém no Legislativo ou no Executivo sobre algo que precisava ser feito. Ser filiado a um partido é uma exigência para disputar esses espaços.
Dito isso, foi em 2016 que decidi que queria entrar para a disputa. O objetivo não era apenas sermos eleitos – a candidatura foi colaborativa; éramos duas pessoas, eu com as pautas ambiental e de juventudes e a Denise com as pautas de mulheres, emprego e negritude –, mas também gerar o debate sobre propostas que víamos como importantes e possíveis de serem aplicadas a partir do Legislativo. Devido ao meu ativismo e às organizações com as quais trabalhei, sabia que precisava me filiar a um partido que levasse isso a sério, não como um acessório entre outras pautas.
O Partido Verde já foi vanguarda em muitos momentos da nossa história. Foi sob a liderança do então deputado constituinte Fabio Feldmann, representando a causa verde, que o capítulo ambientalista na constituição foi redigido. Mais que isso: existe uma Federação dos Partidos Verdes, que foi fundada aqui no Brasil durante a Eco 922, onde ocorreu uma consolidação programática entre todos os verdes no mundo.
Quando fui anunciar a pré-candidatura, usei como argumentos não só os valores do partido, mas também o que já havia sido apresentado no plano de governo da candidatura à presidência em 2014, com Eduardo Jorge.
O plano trazia um olhar qualificado para as pautas indígenas, mencionava políticas que defendessem a autonomia das mulheres, a diversidade sexual, a justiça social, o direito a uma vida sem violência e o direito das juventudes.
A campanha foi árdua, mas, ao mesmo tempo, cheia de momentos bonitos de construção e escuta. Não nos elegemos, e ainda assim conseguimos ver as conquistas de disputar uma campanha sem fazer parte de grupos que historicamente ocupam os espaços de poder na cidade.
Tudo isso me ajudou a chegar ao ponto que quero compartilhar com vocês, sobre o quanto a estrutura que eu vivenciei poderia ter me afastado e por que eu sempre vi muita dificuldade em envolver outras pessoas mais jovens no partido.
O ponto de partida é a liderança. Vejo que se as pessoas que estiverem à frente de diretórios forem abertas a oportunizar um espaço mais acolhedor para pessoas de todos os níveis de conhecimento político-partidário, não só nos períodos de pré-campanha, a tendência é que mais pessoas se sintam aptas a ocupar posições diretivas, isso mais especificamente nos diretórios locais. E aqui eu estou falando principalmente de pessoas de até 29 anos. Representatividade importa. Se uma pessoa jovem não vê seus semelhantes em um espaço, na maioria dos casos, ela o abandona ou nem sequer se interessa em participar.
Quantos jovens você vê em campeonatos de bocha?
Já ouvi muitas vezes que o Partido Verde agrega tanto valor quanto uma marca, quase como uma grife. Isso aproxima muitas pessoas inicialmente, principalmente quem tem uma relação histórica com a causa ambientalista, mas, na minha experiência, os movimentos ambientalistas funcionam de uma forma bem diferente da que presenciei – seja na metodologia de construção das prioridades ou até mesmo em relação a quem acaba sendo convidado para disputar pelo partido por questão muito mais “matemática” do que alinhamento programático. E foi assim que me vi constantemente sendo questionado sobre outras pessoas que faziam parte da chapa, mas que expressavam em suas redes ideias que propunham o oposto do que defendíamos.
Muito importante termos mandatos eleitos, mas o quanto isso, de fato, ajuda se essa pessoa manchar a imagem do partido defendendo uma visão de sociedade que nós rejeitamos?
Precisamos traçar estratégias para superar essas contrariedades. Nos últimos anos, vimos o quanto as juventudes lideraram as discussões climáticas, tanto em manifestações globais quanto na internet. Em 2022, tivemos a maior delegação de jovens brasileiros em uma Conferência do Clima da ONU. Quantas dessas pessoas se animariam a se filiar ao Partido Verde ao invés de se filiar a outros, caso queiram disputar as eleições?
Sendo assim, acredito que nosso rejuvenescimento passa pela criação de espaços para pensarmos na renovação da nossa presença nas bases, nos movimentos sociais, na internet e no acolhimento de novas pessoas. Eu seguirei ajudando no processo de sermos mais presentes nas discussões e liderando conversas sobre nossa visão de país.