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PV de todas e de todos: como rejuvenescer o partido, atrair mais mulheres e diversidade?

Lohanna é deputada estadual pelo PV-MG. Ao começar sua carreira política, foi eleita a vereadora mais jovem da história de Divinópolis. Também foi a mais votada da história da cidade. Suas principais pautas são educação, meio ambiente e a luta das mulheres.

Mariana Almada Luciano Frontelle é professora, teóloga, fotógrafa e psicanalista e foi candidata a deputada distrital em 2022 pelo PV-DF. É ativista na educação e em movimentos feministas e antirracistas. Atua na Frente de Mulheres Negras do DF e em Mulheres Negras Decidem.

Por Lohanna França – Disputar uma eleição não é uma tarefa fácil à primeira vista, principalmente para as pessoas de grupos considerados minorias. Ao longo dos anos, os debates sobre a presença das mulheres, do público LGBTQIA+, de pessoas negras na política têm se mostrado primordiais para a construção de políticas públicas para toda a comunidade. Prova disso é que apenas 17,7% da Câmara Federal é composta por mulheres, 24,6% são negros e apenas 3% pertencem à comunidade LGBTQIA+.

Quando escolhemos um partido, buscamos um local que nos acolha, em que possamos defender nossas bandeiras e convicções e, acima de tudo, representar a todos.

Assim, quando pensamos em rejuvenescer o partido e atrair novos filiados, é preciso considerar também o papel dos mandatários do PV. Quantos projetos de leis estão sendo feitos voltados à população negra, aos jovens, às mulheres e às pessoas LGBTQIA+? Quais as políticas partidárias estão sendo construídas em conjunto com as representações?

Para de fato rejuvenescer o partido é preciso dialogar com os diversos segmentos. Chamar à mesa os movimentos estudantis, feministas, negros e a comunidade LGBTQIA+. Identificar as lideranças desses segmentos para construir uma base sólida do PV, garantindo estrutura, formação e apoio para a criação de diretórios municipais em parceria com os movimentos e as representações existentes, que atuarão em suas bases como multiplicadores das iniciativas do partido.

A eleição de 2024 será central para conseguirmos rejuvenescer o PV. Nós precisamos começar pelas bases: elegendo vereadores. É muito difícil alguém conseguir chegar à eleição como deputado estadual ou federal sem apoio.

É muito importante que o partido faça o apoio real e não somente verbal: confiar na juventude, confiar na negritude, nas mulheres, nas pessoas LGBTQIA+ para cargos de liderança e posições de poder dentro do partido, como diretorias e presidências.

A questão do fundo partidário também se soma a isso e é essencial para que o apoio seja material e as candidaturas sejam, de fato, viáveis. Não se faz uma candidatura somente com discursos. O discurso é muito importante, mas também é muito importante o mecanismo de financiamento, o jurídico e todo o apoio que o partido pode dar para os quadros, que são excelentes e podem mudar a nossa realidade atual com nomes femininos, com nomes da juventude, com nomes da comunidade LGBTQIA+.

Também é considerável que o partido contribua para a formação de lideranças, para que elas não entrem e morram nadando no processo. Porque quando damos a formação para os candidatos na comunicação, nas orientações jurídicas, tudo isso é muito importante e capacita demais os pré-candidatos.

Um fator que me atraiu para o PV foi a compreensão da importância dessa causa central para o nosso tempo, que é a causa ambiental, conectada à sociabilidade, à saúde, à economia, à arte, à espiritualidade e à política. O potencial de atração da proposta política verde já foi maior entre os jovens. Não foi a nossa causa que perdeu apelo. Pelo contrário: nunca se viu tanta urgência ambiental quanto no nosso período, a começar por questões macro como as climáticas, e continuando pelas questões locais como a defesa de uma economia sustentável nos estados brasileiros.

O esforço educacional necessário, portanto, é fazer com que essa urgência fique mais clara, assim como precisa ficar mais claro um elementar princípio do ambientalismo, que é a articulação entre a ação local e a conjuntura global, entre a militância individual e a mobilização político-partidária. Ou seja: se os jovens, por força da educação, forem convencidos de que podem fazer a diferença, acredito que eles vão se juntar à causa.

Também sabemos que há bem menos mulheres na política verde do que gostaríamos. É preciso dar uma face também feminina a esse esforço de divulgação da política verde, para que nela se reconheçam cada vez mais mulheres. E, para falar às mulheres, o PV deve aprender a se expressar a partir das expectativas delas.

Tomo a liberdade de sugerir um letramento sobre o feminino no âmbito do PV. Desse esforço, pode resultar, quem sabe, uma série de peças como textos impressos e material audiovisual capazes de dar sintonia fina à comunicação do partido com as mulheres.

Para um partido que já nasceu comprometido com a proteção e a defesa da biodiversidade, tanto fora do Brasil quanto dentro dele, estruturar seu trabalho pelo respeito e pela busca da diversidade de membros não é uma escolha e sim uma exigência incon- tornável da coerência. Simplesmente não se pode falar em política verde sem falar também em diversidade de militantes e, o que é importante, de membros das estruturas dirigentes.

Nesse sentido, o que vemos é que a diversidade é pequena no PV não porque o partido assim o queira, mas porque ele está inserido no contexto partidário brasileiro. A despeito de muitos e valorosos esforços, e de louváveis exceções, inclusive no PV, há ainda muito o que construir em termos de diversidade interna no nosso partido, seja em termos de etnia e de condição socioeconômica, seja quanto ao gênero e à orientação sexual.

Comprometido constitutivamente com a causa antirracista, com a defesa da cidadania LGBTQIA+, além da luta pela igualdade de gênero, entre outras pautas que afirmam o respeito e o valor da diversidade, o PV ocupa no espectro político-partidário brasileiro um papel que o credencia a assumir posição importante, e até central, a respeito do tema. E o partido será tanto mais eficiente nesse esforço quanto mais rápido agir.

Considerando essa urgência, acredito que estratégias interessantes podem incluir o empoderamento daqueles e daquelas que, no âmbito do partido, já assumiram a bandeira da diversidade. Podem incluir, ainda, a adesão do partido, por meio de suas estruturas de direção, a todas as iniciativas sociais e político-partidárias que já estão em campo na defesa da ideia de ampliar a diversidade nos espaços institucionais e de poder.

Dessa forma, com ações urgentes e precisas, ganharemos capilaridade e uma estrutura sólida, alcançando mais pessoas, e, sem dúvida, cresceremos enquanto agremiação, ocupando o papel que o Partido Verde, esse partido tão necessário e importante, precisa e merece.

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