Briefing de Habitabilidade

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BRIEFING DE HABITABILIDADE Uma publicação da P.I.G.S. Plataforma Integrada de Geração de Startups

REALIZAÇÃO Ana Regina Pedrosa - Redatora Paula Soares - Design

ENTREVISTADOS Cláudio Marinho Natan Nigro

IMAGENS Rodolfo Loepert Tato Rocha INCITI

REFERÊNCIAS Cidades para pessoas - Jan Gehl Morte e vida das grandes cidades - Jane Jacobs Revolução do design - Victor Falasca AGRADECIMENTOS Toda equipe PIGS, CESAR Labs e Sebrae PE


A construção de uma cidade vai além de levantar prédios, vias e praças. A cidade é construída por pessoas, ela precisa ser habitada para que fluxos econômicos, construtivos e políticos aconteçam. Quanto mais gente, mais compartilhamento de saberes, mais troca e mais fluxos sendo impulsionados.


Vamos partir de um ponto: o espaço, quando é matematicamente considerado permite que o indivíduo desenvolva, para com ele, uma relação de identidade, afetividade e bem estar.

Ou seja, quando o objetivo é construir apenas as urgências através do máximo possível de moradias, por exemplo, em detrimento da qualidade de vida, não se cria condições de habitabilidade. É necessário pensar o sentido do habitar antes de pensar na construção. Construir não se trata somente de resolver problemas técnicos, econômicos e políticos, mas sim de pensar sobre a relação entre o habitar e o construir e talvez essa indagação nos ajude a encontrar a força vital que falta nos espaços públicos, imóveis inutilizados e nas habitações insalubres. Muitos dos espaços construídos nas cidades brasileira são um mundo ocupado pelo homem, mas não habitado por ele, pois a essência fundamental do habitar é cuidar e estabelecer uma relação sentimental com o entorno.


Transformar essa ação em uma possibilidade de liberação que seja feita de forma diferente da política convencional. Não se trata somente de criar espaços, mas sim lugares que possam inspirar em nós uma promessa de enraizamento. A qualidade dos espaços não é determinada por questões construtivas nem de quantidade, e sim pela própria qualidade do espaço urbano. Edifícios bem projetados, mas construídos em locais sem infraestrutura, não serão bem-sucedidos, pois a questão da infraestrutura é a essência do pacto social do cidadão com o poder público. A infraestrutura é o reflexo direto da organização social, mas essa condição não é suficiente para o sucesso. Se não existe uma ideia de cidade, qualquer operação de construção estará fadada ao fracasso.


A INFRAESTRUTURA E O REFLEXO DIRETO DA ORGANIZACAO SOCIAL (...) Diante disso, como podemos nos organizar socialmente para garantir melhorias na infraestrutura urbana?


NOVOS NEGOCIOS Empresas como a Yellow, Itaú, Uber, Airbnb, WeWork são exemplos de organizações sociais que mudam a forma como as pessoas se relacionam com o espaço urbano, por ampliarem o direito à cidade. Quando tratam de aspectos como mobilidade urbana, ocupação de espaços habitacionais ociosos e formatação dos espaços de trabalho. Campanhas de marketing como a Bike Itaú além de gerar impacto para o negócio, que se lança no mercado com uma campanha extremamente sustentável tendo retorno financeiro maior que o capital investido, é uma iniciativa que impacta amplamente o ambiente urbano por ser um mecanismo diretamente relacionado a melhoria na mobilidade urbana. Além disso, promove saúde, bem estar e, indiretamente, segurança.


Outras iniciativas como o jogo Pokémon Go, por exemplo deu uma nova conotação à exploração do espaço urbano. O jogo que brincou com a distinção entre a fantasia e o mundo real, tirou seus usuários de casa em busca de pokemóns no espaço público. Desenhando a integração de elementos do mundo real com informações virtuais, em um processo interativo e em tempo real, impactando o modo como as pessoas se relacionam umas com as outras e com suas cidades.

O Pokémon Go foi capaz de encorajar as pessoas a duas práticas vitais quando se trata de criar ambientes urbanos mais humanos e conectados: estar na rua e conviver com outras pessoas. Ao caminhar à procura dos pokémons, as pessoas necessariamente interagem com o meio urbano e – mesmo que através das telas de seus celulares – são obrigadas a olhar para ele. Mais do que isso: o que vem com a tecnologia por trás do jogo é a capacidade de mapear pessoas ocupando os espaços públicos e por quanto tempo. “Por essa perspectiva, não é nenhum absurdo pensar que as pessoas passarão a questionar mais o desenho urbano na vida real”, pondera Patrick Lynch, Editor de Notícias do ArchDaily.


PORTO DIGITAL Como um planejamento urbano estratégico gerou inovação e negócios?


O Porto Digital, localizado no Recife, é fruto do desejo de juntar tecnologia, negócios e cidade. É um parque urbano instalado no centro histórico do Bairro do Recife e nos bairros de Santo Amaro, Santo Antônio e São José, totalizando uma área de 171 hectares. A região, antes degradada e com menor contribuição para a economia local, vem sendo requalificada de forma acelerada em termos urbanísticos, imobiliários e de recuperação do patrimônio histórico edificado desde a fundação do parque, em 2000. Já foram restaurados mais de 84 mil metros quadrados de imóveis históricos em toda a extensão territorial do parque tecnológico. O Porto Digital abriga 300 empresas, organizações de fomento e órgãos de Governo, cerca de 9.000 trabalham aí.

A minha maneira de fazer cidade é instrumentalizando conceitos, aparentemente, muito abstratos ou românticos. Faço cidade com paisagem, textura e afeto para cada um desses elementos eu tenho uma reflexão objetiva instrumental que justifica o que fiz” Cláudio Marinho Planejador Urbano do Porto Digital


PAISAGEM Cláudio explica que no Porto Digital foi feita uma apropriação coletiva, física e imaginária do lugar. Destaca a paisagem do Bairro do Recife como um lugar que possui um espaço com narrativas históricas, que reproduz um valor capaz de manter, reter, atrair e criar urbanidade. Uma paisagem que atrai pessoas e, a partir disso, gera encontros, compartilhamento de ideias, inovação e negócios.

(...) o mercado imobiliário começa a pensar nisso quando fala de gentileza urbana, isso se reconectar gente é bem legal (...) Cláudio Marinho


TEXTURA Textura diz respeito à escala humana, ruas caminháveis, ausência de muros altos, é literalmente conseguir pegar, tocar.

(...) você pode ver de céu aqui no bairro de Recife, na Rio Branco um índice de céu vai ser o que 120 graus então existe muita habitabilidade no lugar que você pode. O bairro do Recife nos permite, um empresário aqui do César tá um minuto e meio de caminhada de qualquer outra instituição da ilha. Me diga um lugar em São Paulo que você tá um minuto e meio de qualquer outro lugar(...) Claúdio Marinho


ALGUNS BONS NUMEROS PRA AJUDAR A COMPARAR ... Vamos usar a cidade de Portland, no estado de Oregon, EUA como exemplo. Enquanto a maioria das cidades alargava suas ruas, acabando com áreas de estacionamento e árvores para tornar mais fluido o tráfego, Portland instituiu um programa de ruas estreitas.

20%

é quanto as pessoas que moram em Portland deixaram de usar carro

-6KM

é quanto as pessoas que moram em Portland dirigem a menos

11 MIN

é a quantidade de tempo/dia para as pessoas de Portland gastarem fora do trânsito

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O economista Joe Cortright fez as contas e concluiu que esses 6 quilômetros representam 3,5% do total da renda da região. Mas se não gastam esse dinheiro no transporte – de fato, 85% do dinheiro que gastamos nos deslocamentos não fazem parte da economia local – no que gastam? Seus habitantes estão gastando a maior parte nas suas residências, e o investimento no lar é o mais local que pode existir. Mas há outro aspecto de Portland que não entra nesse cálculo:

50%

é o incremento de “jovens universitários” que têm ido morar em Portland

5X

é quanto esse número é superior comparado a outros lugares do país

Assim, por um lado, uma cidade faz com que seus residentes economizem dinheiro, porque através dela é possível caminhar e andar de bicicleta, e por outro lado, é também nesse tipo de cidade que queremos viver hoje em dia. Por isso, a velha ideia de atrair indústrias, de possuir um polos, já não é a melhor estratégia econômica para uma cidade, mas sim, tornar-se um lugar onde as pessoas queiram viver. Certamente, os jovens, esses motores de empreendedorismo, que decidem primeiro onde querem viver e mudam-se para depois procurar um emprego, virão até áreas que ofereçam habitabilidade. Claúdio Marinho, um planejador com o olho no futuro soube explorar esses aspectos quando planejou o Porto Digital no Bairro do Recife e, por isso, têm atraído jovens mentes empreendedoras para o local.

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AFETO De acordo com o urbanista afeto tem a ver com a relação histórica. O Porto Digital se incorpora e pega carona no Manguebeat, um movimento contracultura que mistura música, política e tecnologia, que se apropria da Rua da Moeda, no bairro do Recife e leva junto uma geração de jovens ressignificando o espaço em aspectos afetivos do lugar, essa reapropriação que cria valores fundamentais para o desenvolvimento dos negócios que surgiriam ali. “(...) trabalhar a afetividade é fundamental porque estamos gerando novos negócios que vão criar outros tipos de relações humanas, é importante ter determinadas preocupações básicas. Ter um cuidado ético na partida é um aspecto que qualquer organização que queira ser inovadora e sustentável precisa ter, começando a perceber se a solução está desumanizando, no sentido bem amplo mesmo, de desonrarem comprador, cliente, mercado, essa é uma reflexão que não poderia faltar. Essa é uma preocupação que é anterior.” Claúdio Marinho



(...) esse momento em que você se apropria ao pisar no chão aqui e se apropria ou reapropria desse espaço como sendo da sua história e tá conversando sobre o futuro. Nesse momento, você recupera a condição humana, nesse sentido de sair da condição. Existem prédios na Avenida Paulista, em Dubai que a arquitetura não permite isso e levam até a um nível de alienação mesmo. Levam a alienação em relação ao que está ali ao redor. Aqui não há como viverem alienados com o cheiro de xixi na rua durante o carnaval, ou o da maresia durante o ano inteiro… isso é fundamental para sobrevivência de cada um de nós. Então é preciso ter muito cuidado com isso aí num nível mais abstrato mesmo, de alienação… esses movimentos das startups eles não podem nos alienar da vida urbana, nos alienar da vida em comunidade, certo?! Porque isso aí é o risco do algoritmo, porque um algoritmo que vai maximizar as distâncias ele também pode maximizar os encontros.” Claúdio Marinho

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Portanto, a estratégia por trás do desenvolvimento urbano do Bairro do Recife se apoia em um estudo aprofundado do ser humano que instrumentaliza sua relação com o lugar alinhando pontos estratégicos cruciais para a revitalização do espaço. Foram trabalhados aspectos que vão além da infraestrutura, desenvolveu-se uma estratégia de ocupação que tornasse sustentável economicamente a manutenção desse espaço através da construção de relações econômicas que, em contrapartida, precisam de um lugar para acontecer. Um lugar capaz de atrair pessoas, gerar encontros e colocar valores sociais relevantes em evidência. Existem inúmeros desafios no bairro que ainda precisam ser transpassados, e talvez o maior deles seja executar o desenvolvimento de áreas insalubres como a Comunidade do Pilar que vive à margem do crescimento econômico e turístico da região onde se insere, a dura realidade dos moradores da comunidade reproduz os contrastes sociais da cidade. As ruas, sem saneamento público e sem calçamento, abrigam moradores que muitas vezes vivem em barracos e em construções precárias.


“O grande problema da pobreza é de acesso, a questão é você gerar condição para aquele pedreiro que vive em vulnerabilidade melhorar a sua renda e consiga melhorar as condições de vida da sua casa.” “a vida em comunidade é o que define a vida urbana, e ela está sendo mediada por uma plataforma de comunicação que é o whatsapp. Como isso está sendo usado pelo mercado imobiliário? (...) Como é que os pedreiros estão usando o Zap? Como é que o armazém da construção tá usando o Zap? Qual o impacto sobre a produtividade que essas plataformas tem? Se um pintor, um pedreiro tinha um faturamento de X e agora consegue contatar mais rapidamente tem um faturamento de 2X . Então, o que a gente pode fazer para faclitar a vida nesses casos? Aí sim, se tem um aumento significativo de renda” Cláudio Marinho

Para o urbanista para que a cidade se desenvolva é necessário que o mercado imobiliário comece a executar rápido, prototipando e testando soluções que impactem não só o usuário dos imóveis, mas traga e gere vitalidade para o entorno. “Então tá precisando de mais gente fazendo esse modelo a provocação é a gente tá precisando de mais gente com cultura Startup era para fazer MVP urbanos não é só fazer o parklet porque isso é uma coisa que depois nem se é utilizado vira um lugar abandonado eu acho que tem coisa muito mais ousada.” Cláudio Marinho


INCITE

PROTOTIPACAO E ENGAJAMENTO

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O INCITE é uma iniciativa que funciona na cidade do Recife e tem conduzido o Projeto do Parque Capibaribe buscando alternativas de pensar a cidade de um modo mais inovador. Para isso, a iniciativa utiliza metodologias participativas incentivando as pessoas a se engajarem nos processos projetuais. O Jardim do Baobá, na Zona Norte do Recife é resultado das ações do INCITE. “(...) a gente se expressa como a gente acha que a cidade precisa ser feita, fazendo experimentação e prototipando. É o diferencial que a gente encontrou para poder mobilizar as pessoas e fazer a transformação na cidade.” Natan Nigro Arquiteto Urbanista do Incite

O processo projetual do INCITE inclui uma ação chamada de ativação urbana que tem a finalidade de articular atores do lugar, ativar os atores públicos, equipes internas e usuários. O processo de ativação inclui implementar processos de pesquisa de campo, ativar pessoas para participar dos processos e fazer chamada para mobilizar estudantes a colocarem o aprendizado em prática. “acho que o grande trunfo do Incite foi justamente os processos participativos ou as experiências né?! Experimentar o uso dos lugares e tentar, por meios inusitados, no processo de prototipagem atender as necessidades dos usuários e promover a transformação da cidade” Natan Nigro Incite

Para Natan quando não se coloca as pessoas que vivenciam a cidade para pensar na forma que ela deve ser construída não se obtêm uma cidade que atenda a todas as necessidades, é importante que as pessoas se sintam contempladas com o desenvolvimento urbano. Isso é feito mobilizando as pessoas que vivem naquele espaço, ouvindo suas necessidades, seus problemas, conversando com elas antes de propor qualquer coisa.


Habitabilidade nas moradias da classe C e D Pessoas da classe C e D estão reformando o tempo inteiro, gastam consideravelmente com essas reformas e dificilmente as obras conseguem ter início, meio e fim. Portanto, dificilmente essas pessoas ficam satisfeitas com os resultados.

Por quê?

Falta planejamento de execução

Falta acesso a mão de obra qualificada

Faltam estratégias e/ou organização financeira para iniciar e concluir a obra


Diante disso...

Como instrumentalizar o poder de autofinanciamento dessa classe para que as obras tenham início, meio e fim? Como alinhar o potencial construtivo das classes C e D com a necessidade de entrega existente nas indústrias de materiais de construção? Como facilitar o acesso a crédito financeiro para fins construtivos?

Novos Negócios que já surgiram daí:

programa vivenda moradigna arquitetas nômades habite social favelar

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Edificios ociosos nos centros urbanos Edifícios abandonados nos Centros Urbanos

espaços ociosos em bairros dotados de serviços e mobilidade

altas taxas, como por exemplo impostos, sendo pagas pelos donos desses edifícios trabalhadores nos centros gastam tempo e dinheiro com deslocamento casa-trabalho quando existe habitações não ocupadas perto do trabalho esses mesmo trabalhadores financiam casas afastadas dos seus locais de trabalho ações culturais, artísticas, sociais e novos negócios precisando de um lugar que possa abrigar suas atividades pessoas em situação de rua


Diante disso...

Como alinhar a demanda ocupacional desses lugares com as necessidade de reabilitação desses edifícios? Como alinhar o poder de compra/aluguel de imóveis dos trabalhadores dos centros urbanos com a necessidade de reforma e uso desses edifícios? Ações que retiraram oportunidades daí:

opendoor keycash projeto recipientes

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