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Sucesso vs. Fracasso - O Que Faz a Diferença Entre os Melhores e os Piores Projetos? André Augusto Choma, PMP, IPA Latin America, achoma@ipaglobal.com Stephen Bransfield, PhD, IPA Inc., sbransfield@ipaglobal.com Swati Bhat, IPA Inc., sbhat@ipaglobal.com Resumo O que pode determinar o sucesso ou o fracasso de um projeto? Que práticas conduzem a resultados consistentemente melhores e mais competitivos, e que fatores podem ser determinantes para causar o fracasso de projetos de capital? Esse artigo discute o resultado das extensivas pesquisas realizadas nos últimos anos em projetos industriais podem mostrar aos profissionais de projeto os caminhos a serem seguidos para alcançar resultados de sucesso; e também os procedimentos que podem ser adotados pelos profissionais para evitar o fracasso.

1. Introdução Quais são as causas mais freqüentes de fracassos em projetos de capital? E o que pode levar ao sucesso? Entender quais são os fatores que podem determinar a diferença entre o sucesso e o fracasso de projetos na indústria é um exercício valioso que pode poupar os times de projeto de erros e fracassos. Além disso, ao entender esses fatores, o negócio pode reforçar o uso das práticas de sucesso, o que é fundamental para a obtenção de resultados competitivos e duradouros. Neste artigo serão demonstrados, os resultados obtidos em pesquisas (BRANSFIELD e BHAT, 2008) conduzidas pela Independent Project Analysis, Inc. (IPA) nos últimos anos em busca de respostas sobre as principais diferenças entre os projetos de sucesso e aqueles que fracassaram, de alguma forma, no alcance dos seus objetivos. Como será discutido, essa pesquisa não somente confirmou algumas práticas já conhecidas pelo mercado, mas também quebrou alguns “mitos” comuns em projetos de todos os tipos. Para ilustrar os efeitos que as práticas estudadas têm em projetos de capital, quatro estudos de caso serão apresentados e discutidos. 2. Definição dos Melhores e Piores Projetos Para fazer parte do banco de dados da pesquisa, um seleto grupo de projetos foi identificado, alguns por apresentarem resultados excelentes e outros por terem sido desastrosos. Esses 73 projetos foram realizados em indústrias de processo com data de autorização para execução posterior a 1° de Janeiro de 2000, e com data de conclusão anterior a 31 de dezembro de 2007. O custo total de implantação desses projetos, realizados por 49 empresas distintas,

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ficou entre USD 10 milhões e USD 500 milhões. Esses projetos foram selecionados e classificados como Melhores ou Piores projetos, segundo os critérios apresentados a seguir. Os Melhores Projetos: Foram considerados dentro da categoria de “Melhores Projetos” os empreendimentos que reuniram todas as seguintes características simultaneamente: • Obtiveram um custo total menor que a média da indústria1 para projetos semelhantes, com uma diferença de 10% ou mais; • Tiveram tempo de execução próximos à média da indústria, ou menores; • Não tiveram nenhum acidente com fatalidade e • Não tiveram problemas sérios durante a partida (startup) e durante os primeiros meses de operação. Os Piores Projetos: Foram considerados como “Piores Projetos” os empreendimentos que reuniram as seguintes características simultaneamente: • Obtiveram um custo total maior que a média da indústria para projetos semelhantes, com uma diferença de 20% ou mais; • Tiveram tempos de execução 20% superiores à média da indústria, ou mais longos. A IPA também investigou se algumas características específicas poderiam ser determinantes para o sucesso ou fracasso dos projetos, como: local onde o projeto é executado (país ou região), estratégias de contratação utilizadas (valor global, custo reembolsável), tipo do projeto, setor da indústria e tecnologia utilizada. Porém, nenhuma dessas características parece ter sido forte o bastante para influenciar os resultados dos projetos. Com os dois grupos definidos, verificou-se que, comparados com a média da indústria, os projetos tiveram na média: • Os Melhores Projetos: um custo 18% menor, tempos de ciclo (tempo total do projeto) 8% inferiores e tempos de execução (engenharia de detalhe e construção) 10% menores; • Os Piores Projetos: um custo 42% maior, tempos de ciclo 49% superiores e tempos de execução 29% maiores. Na próxima seção, quatro estudos de caso serão demonstrados para discutir o nível de planejamento antes da aprovação para a execução e como as práticas empregadas afetaram os resultados obtidos. A avaliação dos projetos no momento da aprovação para execução normalmente está prevista nos processos de gestão de projetos da maioria das empresas, para que possa dar subsídios à tomada a decisão de aprovar ou não o empreendimento para a próxima fase. Um processo de gerenciamento de projetos com portões para avaliação se mostra valioso para verificação dos projetos antes da autorização de uma nova fase, e por isso este é um ponto importante para se avaliar a maturidade do projeto antes de autorizar a sua execução. Segundo o Guia PMBOK® (PMI, 2008), o final de cada fase representa um ponto natural de 1

Média da indústria refere-se a uma media de projetos similares executados por diversas empresas em vários continentes.

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reavaliação dos esforços em andamento e de modificação ou término do projeto, caso necessário. Os quatro estudos de caso apresentados a seguir foram selecionados porque ilustram claramente as principais lições aprendidas com a pesquisa realizada. 3. Primeiro Estudo de Caso: Planejamento Ruim → Resultados Ruins A Empresa A precisava realizar um programa de expansão por motivações ambientais, com um deadline imposto por uma nova medida regulatória. Um dos componentes desse programa era um projeto de aproximadamente USD 132 milhões. Embora tenha sido autorizado pelo negócio, o projeto não estava pronto para entrar na fase de execução: as plantas de locação ainda não estavam prontas, a investigação do solo (sondagens, contaminação, nível do lençol freático) no local da obra ainda não havia sido feita, nenhuma análise dos riscos de operação (HAZOP) havia sido conduzida pelo time, a especificação dos principais equipamentos não estava pronta e o cronograma do projeto tinha apenas os principais marcos que deveriam ser atingidos. Apesar de alguns planos estarem faltando, o negócio justificou a aprovação dizendo que o prazo era muito agressivo e não permitia o tempo ideal para o planejamento. Durante a execução o projeto começou a enfrentar uma série de problemas que tiveram um forte impacto no seu prazo e custo, muitos dos quais poderiam ter sido evitados se as melhores práticas tivessem sido utilizadas na fase de planejamento. Após a autorização do projeto, todo o time do projeto foi substituído, porque de acordo com o processo da empresa, áreas diferentes eram responsáveis pelo planejamento e pela execução dos projetos. A decisão da alta gerência foi reduzir o planejamento e entrar na fase de execução (engenharia de detalhe mais construção) com a engenharia básica ainda incompleta. Para agravar a situação, o projeto passou pela autorização sem a definição da capacidade total da nova linha, o que era fundamental para que se fosse tomada qualquer decisão a respeito das especificações dos equipamentos. O time do projeto estava tentando contornar os problemas com a compra dos equipamentos, mas a alta gerência decidiu que a aquisição deveria ser feita em conjunto com outros projetos paralelos, desperdiçando todas as negociações que já haviam sido realizadas pela equipe do projeto. Mesmo com a decisão da empresa de padronizar os equipamentos para esses projetos simultâneos, cada unidade queria solicitar alterações para as suas particularidades, e com isso novas discussões e negociações precisaram ser feitas, atrasando todo o processo de compra. Finalmente, quando o governo mudou a medida regulatória, extendendo o prazo obrigatório para o término do projeto, a alta gerência viu uma ótima “oportunidade” para realizar algumas adições ao escopo. Os numerosos atrasos causaram restrições ao empreiteiro de engenharia, que foi à falência durante a execução do projeto, provocando mais atrasos, mudanças e muitas substituições na equipe envolvida. O que podemos esperar como resultados de um projeto como esse? Os resultados obtidos por esse projeto foram: • Durante os primeiros 6 meses de execução, o projeto estava adiantado em relação ao cronograma de marcos, pela sobreposição das fases (fast tracking).

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• •

Até mesmo um bônus de performance para o empreiteiro de construção chegou a ser pago; Muitas mudanças de design tiveram que ser realizadas devido à inconsistências entre a engenharia básica e a detalhada. Essas mudanças tiveram impacto na especificação de materiais e equipamentos, que por sua vez causaram impactos na construção; O custo do projeto foi 24% menor que o planejado anteriormente, porque o orçamento inicial foi realizado sem o devido detalhamento, e com uma alta contingência para cobrir as incertezas do projeto. Embora alguns times de projeto considerarem essa “economia” um aspecto positivo, a grande diferença em relação ao orçamento para esse projeto em particular significa que a empresa poderia ter utilizado esses fundos adicionais de uma maneira mais eficiente durante o período do projeto; O cronograma atrasou em mais de 16% em relação ao planejado; Durante o startup do projeto houve uma fatalidade, o que levou a uma parada completa da planta de 45 dias de duração.

Esse estudo de caso demonstra que é quase impossível para um projeto obter bons resultados se a sua execução foi autorizada sem o nível de detalhamento necessário e com significativas indefinições por parte da alta gerência. 4. Segundo Estudo de Caso: Bom Planejamento → Resultados Ruins A Empresa B precisava realizar um projeto de reforma/renovação (revamp) de uma unidade por motivações ambientais. O projeto tinha um prazo imposto por uma nova medida regulatória, e o cronograma tornou-se agressivo devido à decisão do negócio de atrasar o início do projeto. O custo total do projeto era de USD 150 milhões. O time do projeto utilizou muitas das melhores práticas da indústria durante o planejamento: todas as plantas de locação da obra estavam terminadas e haviam sido aprovadas pelo pessoal de operação, um levantamento a laser das instalações existentes foi feito para evitar interferências no campo, todos os estudos de solo e as análises de riscos haviam sido finalizadas, todos os procedimentos para obtenção das licenças ambientais estavam sendo conduzidos por um responsável designado pelo time. Além disso, todos os representantes necessários para o time estavam designados formalmente (operações, manutenção, segurança, construção) e haviam participado da etapa de planejamento; um cronograma detalhado com recursos carregados havia sido desenvolvido, e todos os estudos da engenharia básica estavam completos e aprovados antes da autorização. Sendo assim, o projeto tinha todos os “ingredientes” necessários para ter sucesso. No entanto, o negócio decidiu atrasar a autorização do projeto, resultando na compressão do cronograma de execução. Depois da autorização, ficou claro que o time não possuía um bom entendimento das regras locais para a mão-de-obra, imposta pelo sindicato dos trabalhadores. Embora o time tenha discutido as necessidades de mão-de-obra e a disponibilidade de pessoal com o sindicato antes da autorização, eles não haviam compreendido algumas exigências do sindicato, como necessidades de treinamento de pessoal e de formação de uma equipe específica para combate à incêndio, o que resultou em custos de mão-de-obra acima do planejado.

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O time também havia planejado utilizar uma estratégia de construção modular, mas algumas decisões sobre a modularização continuavam pendentes na medida em que o projeto avançava na execução. Como a tecnologia que seria utilizada não era totalmente dominada pela empresa, o time decidiu realizar alguns testes antes da compra final dos principais equipamentos. Porém, por conta de problemas causados pelos fornecedores nesta etapa, a fase de aquisições sofreu um atraso de 11 meses. Ainda durante a execução, a alta gerência enxergou boas “oportunidades” para adições ao escopo, o que adicionou USD 50 milhões ao custo planejado originalmente! Quais foram os resultados da condução desastrosa durante a execução? • Mais USD 15 milhões gastos em pequenas mudanças de design durante a execução, além das alterações de escopo; • Um atraso de 4 meses na engenharia de detalhamento (embora a construção tenha sido atrasada em apenas um mês, com o time ampliando ainda mais a sobreposição entre as duas fases); • O time foi obrigado a alterar a seqüência dos trabalhos em campo para manter os trabalhadores ocupados enquanto a engenharia era finalizada; • Para atender ao prazo, 25% dos homens-hora de execução foram realizadas em regime de horas-extras (adicionando USD 11 milhões ao custo do projeto); • Os custos de mão-de-obra de construção dobraram em relação ao plano, pelas horas-extras e pelo desconhecimento do time em relação às exigências do sindicato local; • Paradas para manutenção mais freqüentes foram necessárias durante a operação porque a vida útil do catalisador instalado foi de menos da metade do planejado. Esses resultados nos mostram que possuir um planejamento de qualidade não garante os resultados se várias alterações forem realizadas durante a execução e se o time não tiver o real controle do projeto. Isso também demonstra que, permitir que o negócio utilize as “oportunidades” que encontra no projeto para alterar o escopo, significa colocar por terra todo o esforço desenvolvido previamente pelo time durante o planejamento. 5. Terceiro Estudo de Caso: Planejamento Mediano → Resultados Ruins A Empresa C tinha que executar um projeto de substituição simples de um reator, no valor total de USD 17 milhões. O objetivo principal era melhorar a confiabilidade da unidade. O planejamento deste projeto foi mediano. Como pontos fortes, as instalações existentes haviam sido estudadas, a localização dos guindastes para o processo de troca foi definida, o plano de içamento havia sido finalizado. Porém, alguns pontos ainda estavam faltando, como: a parada de manutenção que iria acontecer para a troca do reator envolvia outros diferentes projetos que não estavam suficientemente planejados e integrados, o pessoal de operações e manutenção ainda não havia validado a engenharia básica, e algumas interfaces com instalações existentes ainda não haviam sido detalhadas (apenas identificadas). Quando o projeto entrou para a execução, a alta gerência alocou o time deste projeto para gerir um outro projeto distinto que estava sendo iniciado em uma unidade adjascente, e repassou a uma empresa contratada a responsabilidade pela gestão do projeto de troca do reator. Foi solicitado que o time original do projeto supervisionasse o contratado. Isso foi 5


feito porque a alta gerência queria “testar” a performance desta contratada, situação com a qual a equipe original do projeto não concordava. A contratada teve muitas dificuldades para conseguir completar o time do projeto, uma vez que o projeto estava sendo desenvolvido em um país distante da sua sede. O gerente do projeto por parte da contratada foi substituído duas vezes, e nenhum registro formal de mudanças foi mantido durante a execução. Mesmo depois de estouros no orçamento, a contratada começou a exigir o pagamento de incentivos previstos no contrato, porque os indicadores de performance do projeto nunca chegaram a ser estabelecidos. A alta gerência decidiu pagar esses incentivos. O time original do projeto não concordou com essa decisão e se negou a assumir a verdadeira responsabilidade pelo projeto porque queria que a alta gerência pudesse ver os efeitos causados pelos seus erros. Por conta de todos esses acontecimentos, o projeto teve como resultados: • Um aumento significativo nos homens-hora de construção devido ao grande congestionamento do site pelo fato dos dois projetos serem executados ao mesmo tempo, em unidades adjascentes. Isso demonstra que o planejamento das interfaces foi insuficiente; • O custo do projeto aumentou em mais de 40% em relação ao orçamento. No total, o projeto foi 71% mais caro que a média da indústria para projetos semelhantes; • A duração da construção foi 65% mais longa que a média da indústria; • O time de projeto do proprietário não queria ver o seu nome associado a este projeto, porque entendeu que o fracasso havia sido causado pelas decisões da alta administração. Com um planejamento mediano, sem responsáveis do proprietário com autonomia para dirigir e supervisionar o trabalho, e com uma contratada sem capacidade para gerir o empreendimento, o projeto sofreu desvios de custo e cronograma e não foi competitivo em comparação com o mercado. 6. Quarto Estudo de Caso: Planejamento Mediano → Bons Resultados A Empresa D iniciou um projeto de aumento da sua capacidade de produção de poliestireno em mais de 40% para aproveitar uma janela de mercado. O projeto tinha um custo total planejado de USD 50 milhões. No momento da autorização, o planejamento do projeto não estava completo: estavam faltando as análises de riscos de operação, um cronograma detalhado com recursos carregados e uma validação independente da estimativa de custos. Entretanto, o time havia desenvolvido e validado toda a engenharia básica, o apoio da alta gerência estava formalizado no plano do projeto, a equipe havia sido formalmente designada, com todas as funções necessárias, assim como os papéis e responsabilidades. Como resultados, esse projeto obteve: • Nenhuma mudança de design durante todo o projeto; • Custo final do projeto cerca de 15% abaixo da média da indústria para projetos semelhantes;

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Cronograma total (ciclo de vida) em torno da média da indústria, com uma duração da fase de FEL (planejamento) mais longa que a média, mas com uma execução mais rápida; A nova linha de produção começou a operar com uma taxa máxima cerca de 15% acima da planejada pelo projeto.

Como esses resultados foram possíveis, com um planejamento mediano? O time compensou a falta de componentes importantes do planejamento com uma excelente disciplina durante a execução. Existia um forte alinhamento entre os membros do time do projeto e os contratados e a alta gerência estava comprometida com o projeto. Além disso, durante a execução um cronograma detalhado foi desenvolvido e houve forte utilização do controle do avanço físico do projeto. Uma definição clara dos objetivos, o apoio da alta administração, e a combinação de um time de projetos integrado e disciplina durante a execução levaram o projeto a terminar de forma muito competitiva em relação ao mercado. 7. Principais Resultados da Pesquisa – A Comprovação das Práticas que Levam ao Sucesso O objetivo da pesquisa era identificar o comportamento e as práticas de cada projeto para entender como as práticas de planejamento e execução impactaram nos resultados alcançados. A pesquisa concluiu que os projetos que obtiveram os melhores resultados foram aqueles que tiveram o melhor nível de definição antes da autorização; em outras palavras, os projetos com o planejamento mais completo tiveram os melhores resultados. Como era de se esperar, os projetos com os piores resultados foram aqueles nos quais alguns componentes importantes do planejamento estavam faltando no momento da autorização, como um cronograma detalhado, uma engenharia básica completa e aprovada pelo pessoal de operações e manutenção, uma análise de riscos com planos de mitigação, uma matriz de responsabilidades, etc. A Figura 1 demonstra a comparação do nível de planejamento – medido pelo Índice de FrontEnd Loading (FEL) dos melhores e dos piores projetos (o Índice FEL é a medida da qualidade do planejamento do projeto, feita antes da sua autorização). Um Índice de Melhor Prática representa que a equipe fez um planejamento de qualidade para o projeto, com todos os componentes necessários; em outras palavras, o projeto está preparado para entrar na fase de execução. O Índice FEL vai de Melhor Prática (para o melhor nível de planejamento) a Insuficiente (para o pior nível de planejamento).

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Figura 1 – Média do Índice FEL e do Índice de Desenvolvimento do Time dos Melhores e Piores Projetos

Também verificou-se que o nível de desenvolvimento do time do projeto era maior nos projetos de sucesso, conforme demonstrado na Figura 1. O desenvolvimento do time é medido considerando-se o alinhamento dos envolvidos em torno dos objetivos do projeto, a definição clara de papéis e responsabilidades de cada membro da equipe, a participação ativa de todos os principais envolvidos no time (gerente do projeto, representantes de operações e manutenção, gerente de construção, etc.), principais riscos identificados e existência de um processo para implantação de projetos na empresa. Para garantir bons resultados a partir de um planejamento adequado, o controle do projeto também é essencial, assim como a continuidade dos principais membros do time. Sem disciplina para manter o projeto no rumo determinado pelo plano, o esforço de toda a equipe pode ser em vão; e a troca de membros do time do projeto durante o seu desenvolvimento ou execução pode trazer atrasos, problemas de continuidade e mudanças. Baseado nas pesquisas realizadas, os melhores projetos tiveram, em média, um Índice de Controle do Projeto classificado como “Bom”, enquanto os piores projetos tiveram um índice médio de “Regular”. Um bom Índice de Controle do Projeto significa que o projeto teve a sua estimativa de custos validada por um grupo interno especializado em orçamentos, teve medições regulares e detalhadas do seu progresso físico com relatórios detalhados a cada duas semanas (ou semanalmente), e um especialista em controle de custos estava designado para acompanhar o projeto. Os melhores projetos também apresentaram uma menor taxa de substituição (ou turnover) do gerente de projetos: apenas em 17% dos melhores casos estudados ocorreram mudanças no posto de gerente do projeto, contra 58% dos piores projetos, como mostra a Figura 2.

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Figura 2 – Os melhores projetos tiveram mais disciplina durante a execução: melhor Índice de Controle e menor taxa de substituição do gerente do projeto

8. A Importância da Competitividade Para os Resultados de Sucesso O sucesso de um projeto é freqüentemente medido em termos da sua competitividade e previsibilidade do seu custo e prazo. Um projeto previsível é aquele que é finalizado dentro das suas metas originais de prazo e de custo, e um projeto competitivo é aquele que foi finalizado com prazo e custo menores que a média da indústria para o mesmo tipo de projeto. Como se pode perceber, não necessariamente um projeto previsível é competitivo, e viceversa. As pesquisas da IPA revelaram que a determinação de objetivos competitivos também é importante para o sucesso dos projetos. Projetos que são bem planejados e que determinam objetivos competitivos de prazo e custo tendem a obter resultados competitivos. No entanto, projetos com metas próximas à média da indústria tendem a obter resultados também medianos. A pesquisa descobriu que muitos dos Piores Projetos foram planejados com objetivos não-competitivos e que mesmo assim tiveram prazos e/ou custos maiores que o planejado, ou seja, metas conservadoras não garantem que o projeto não seja um desastre. A Figura 3 mostra a comparação entre os valores estimados e reais de custo e cronograma dos projetos avaliados.

Figura 3 – Os Piores Projetos não tinham objetivos competitivos, e mesmo assim sofreram maiores desvios

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Alguém poderia imaginar também que, por terem um planejamento melhor, os Melhores Projetos demoraram mais tempo para serem planejados, e que isso levaria a resultados de prazo não-competitivos. No entanto, a pesquisa provou que isso não é verdade. Os projetos que levaram mais tempo em planejamento foram os que obtiveram os piores resultados. Em média, os Piores Projetos tiveram uma fase de planejamento em torno de 71% mais longa que os Melhores Projetos. Portanto, o tempo gasto na definição do projeto não garante um bom planejamento, mas sim a qualidade dos produtos produzidos durante essa fase. 9. Lições Aprendidas com os Melhores e, Principalmente, com os Piores Projetos A partir dos resultados dessas pesquisas, muitas lições podem ser aprendidas por todos aqueles ligados, direta ou indiretamente, ao dia-a-dia dos projetos, como gerentes de projetos, planejadores, representantes de operações e do negócio. Olhar para resultados obtidos no passado pela indústria, de um modo geral, é um exercício valioso para que se evitem problemas que podem ser comuns a todos os projetos, e também para se valorizar e disseminar as boas práticas que contribuem para resultados de sucesso. As principais conclusões a que chegou a pesquisa foram: • Os fundamentos continuam sendo importantes: o nível de definição (planejamento) do projeto antes da autorização tem uma forte correlação com os resultados obtidos. No entanto, também é importante a presença de um time integrado. • Práticas ruins durante a execução irão comprometer os benefícios obtidos com um bom planejamento: se um projeto está bem definido no momento da autorização, mas sofre mudanças significativas de design ou de escopo, os planos originais podem não ser mais viáveis. Sendo assim, manter a disciplina durante a execução é fundamental para a obtenção de bons resultados. • Você NÃO terá um projeto de sucesso se estabelecer objetivos conservadores: as pesquisas têm demonstrado que determinar objetivos competitivos leva a obtenção de resultados competitivos, enquanto objetivos conservadores tendem a levar a resultados medianos ou não-competitivos. Portanto, mesmo com um bom planejamento, um projeto pode não obter bons resultados se não determinar objetivos agressivos. Porém, é importante reforçar que, se o projeto não tem um bom planejamento, determinar objetivos muito agressivos pode ser perigoso, uma vez que o projeto não está preparado para ser rápido ou barato tendo lacunas importantes em seu planejamento. • O negócio deveria assegurar consistência ao seguir o processo de trabalho: se a área de negócio não consegue manter a disciplina durante a execução, interfere no processo e realiza mudanças tardias, dificilmente a equipe do projeto poderá conduzir bem o empreendimento, com objetivos competitivos e de acordo com o planejado. 10. Referências Bibliográficas Bransfield, S., Bhat, S. (Março, 2008,). Best and Worse. Industry Benchmarking Consortium 2008, Herdon, VA, EUA. Project Management Institute. (2008) A guide to the project management body of knowledge [Um Guia do Conjunto de Conhecimentos em Gerenciamento de Projetos] (PMBOK®) (4a. ed.). Newtown Square, PA, EUA: Project Management Institute, pg 20. 10


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