ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA
33ª Reunião Brasileira de Antropologia
33ª Reunião Brasileira de Antropologia
QUEM SOMOS 14 COMISSÃO ORGANIZADORA 14 COMISSÃO JULGADORA 18 FICHA TÉCNICA 20 PARCERIAS 20
CARTAZ PPV2022 32 PROGRAMAÇÃO 33
CONFERÊNCIA DE ABERTURA 34 Tim Ingold
CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO 34 Arnd Schneider
OFICINAS COM REALIZADORAS/ES 34
MESAS REDONDAS 35
MR01. O campo da antropologia 35 visual na América Latina
MR02. O uso de imagens 36 entre arte e política
MR03. Explorando fotografias e arquivos 37
MR04. Arte e desenho na 38 antropologia e além
MR05. Políticas e poéticas das 39 práticas audiovisuais
MR06. Mesa de homenagem: 40 Homenagem Marc-Henri Piault
MR07. Mesa de homenagem: 41 Homenagem Patrícia Monte-Mór
I MOSTRA DE DESENHO 43 ENTRELAÇANDO GRAFIAS: O DESENHO PARA ENSINAR, 44 APRENDER E DIVULGAR A ANTROPOLOGIA BRASILEIRA Katianne de Sousa Almeida
ESTAMPAS ANTROPOLÓGICAS: 49 ILUSTRANDO CONCEITOS Adriana Nunes Souza
MARACATU DESENHADO: 53 DE SKETCHES E ILUSTRAÇÕES Marisa Rodrigues
NOS MUNDOS DA DEMÊNCIA: 58 MEMÓRIA, COTIDIANO E IMAGINAÇÃO Bárbara Rossin
TAQUARA DE TABAJARAS: 62 CONSTRUÇÕES E RECONSTRUÇÕES Andrey Moraes e Ester Paixão Corrêa TRANSFIGURAÇÕES ETNOGRÁFICAS. CADERNOS DE CAMPO COM “DESENHOS DO MINUTO” 66 REALIZADOS EM TRIBUNAIS DO JÚRI NA FRANÇA Ana Lúcia Pastore Schritzmeyer
“LAMPEJOS DA MEMÓRIA”: ENTRE AS LINHAS DA VIDA E 72 A DOENÇA DE ALZHEIMER Flávia Maria Silva Rieth
Osmar Santos, Tamiris Pereira Rizzo e Alexandre Brasil Carvalho da Fonseca
PANORAMAS PERFORMÁTICOS DE UMA FESTA DO ALTIPLANO ANDINO: BREVE REGISTRO 110 FOTOGRÁFICO ANALÓGICO DA FIESTA DE LAS CRUCES DE MAYO, EM HUANCANÉ (PERU)! Cristina de Branco
PAVILHÃO DAS SEREIAS 114 Vanessa Sander
PÉ CASADO E OLHO NO OLHO –FOTOETNOGRAFIA DA 118 AGARRADA NOS JOGOS DE IDENTIDADE QUILOMBOLA Felipe Bandeira
POÇO 115: UM ÁLBUM IMAGINÁRIO 122 Felipe Camilo
QUILOMBISMO TRAVESTI 125 Lourival de Carvalho e Jade Lopes
TECENDO A VIDA EM 127 PRETO E BRANCO Vinícius Venancio
A DERRUBADA DA PALHA 86 Lucas Coelho Pereira
ARTE ARTESANAL DE PALHA 90 NA FEIRA DE SÃO JOAQUIM, BAHIA Lucas Barreto de Souza
DESENQUADRANDO: 94 RETRATOS SANTOMENSES Emiliano Dantas
ATRAVESSAMENTOS NA EXPOSIÇÃO “AFRICAN SPIRITS” 98
DE SAMUEL FOSSO: A RUA COMO GALERIA DE ARTE Thaiane Barbosa da Silva
NOSSOS ENTES: NOVOS 102 VÍNCULOS E ESPAÇOS Pablo Pinheiro
TAMBOR DE MINA NA ABERTURA DO “SERVIÇO DE CROA” NA TENDA NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES 106 DO QUILOMBO MARANHENSE DE SANTA ROSA DOS PRETOS Juliana Loureiro
AFRO-SAMPAS 132 Rose Satiko G. Hikiji e Jasper Chalcraft
AFRORESISTENCIAS
MEMORIAS VIVAS EN UN 136 RINCON DE LOS ANDES Luiz Carlos Silva e Yanina Rios Quintero
ALÁGBEDÉ 140 Safira Moreira e Lucas Marques
AMARRADO 144 Lucas Coelho Pereira
AUTO DE RESISTÊNCIA 148 Natasha B. R. Elbas Neri, Juliana Farias e Lula Carvalho
BERIMBAUZEIRO 152 Mário Eugênio Saretta
CANTE, POETA! 155 João Miguel Sautchuk
CANTO DE FAMÍLIA 158 Paula Bessa Braz e Mihai Andrei Leaha
CARLOS CAPS DRAG RACE 162 Mihai Andrei Leaha
CINE RABECA 166 Marcia Mansur de Oliveira
CORPOCIDADE 170 Andrea Barbosa, Gabriela Carvalho e Raul Carvalho
CYBERSHOTA 174 Mihai Andrei Leaha
DESCOMPOSTURA 178
Alline Torres Dias da Cru, Anaduda Coutinho, Marcio Plastina e Víctor Alvino
DOIS IRMÃOS 181
Yuri Prado
INCONTÁVEIS: EDUCAÇÃO 183
NA DITADURA
José Sergio Leite Lopes
INCONTÁVEIS: MULHERES 187
NA DITADURA
José Sergio Leite Lopes
INCONTÁVEIS: POPULAÇÃO 191
LGBTQIA+ NA DITADURA
José Sergio Leite Lopes
INCONTÁVEIS: POPULAÇÃO
NEGRA E MORADORES DE 195
FAVELA NA DITADURA
José Sergio Leite Lopes
INCONTÁVEIS: POVOS 199
INDÍGENAS NA DITADURA
José Sergio Leite Lopes
INCONTÁVEIS: 203
TRABALHADORES NA DITADURA
José Sergio Leite Lopes
KATU: SOMOS KA'APOR 207
Alessandro Campos
KONHUN MÁG: O CAMINHO 210
DA VOLTA À FLORESTA DE CANELA
Clémentine Maréchal, Guilherme Maffei Brandalise, Maurício Ven Tainh Salvador (Cacique daKonhun Mág) e Marcelo Freire de Campos
João Paulo Araújo Silva, Luís Evo e Elis Borde
MESTRE SIRSO: QUANDO O MUNDO 218 É SILÊNCIO A VIBRAÇÃO É MESTRE Geslline Giovana Braga e Emanuela Palma
MEU CHÃO 221 Geslline Giovana Braga e Jorge de Jesus
NOSSAS MÃOS SÃO SAGRADAS 224 Júlia Morim
NOSSOS ESPÍRITOS SEGUEM
CHEGANDO: NHE’ KUERY 228
JOGUERU TERI Bruno Huyer e Kuaray Poty
N H YÃGM YÕG HÃM: 234 ESSA TERRA É NOSSA!
Roberto Romero, Isael Maxakali, Sueli Maxakali e Carolina Canguçu
RESENHA DO BRASILEIRINHO 238 Felipe Camilo e Álvaro Graça Jr.
TORÉ 241 Alice Villela e Hidalgo Romero
TRANS NÔMADE: 245 A VIAGEM DA MINHA VIDA Rossana Fraga Ferreira
UNE MAISON AU BORD DU MONDE 248 Pascal Cesaro
URBANOGRAFIA DO CAUS 250 Thiago de Andrade Morandi e Regina de Paula Medeiros
É travesti professora do Departamento de Antropologia e do Programa de PósGraduação em Antropologia Social da UFRGS, onde coordena o Núcleo de Antropologia Visual e integra o Núcleo de Antropologia e Cidadania. Co-coordena também o Grupo de Reconhecimento de Universos Artísticos/Audiovisuais da UFRJ, além de ser pesquisadora de diversos outros grupos de pesqui sa na Universidade de São Paulo (USP) como NAPEDRA, GRAVI, NUMAS e PAM. Possui formação também em cinema pela Academia Internacional de Cinema. É fotógrafa, realizadora audiovisual e seus trabalhos, tan to acadêmicos quanto artísticos, giram em torno de política, direitos hu manos, gênero, sexualidade, arte, imagem, performance, cinema, estra tégias documentais e teoria queer/cuir. É também artivista da coletiva Revolta da Lâmpada, de inspiração queer e interseccional. E membra do Comitê Gênero e Sexualidade (2021-22) e do Comitê de Antropologia Visual (2019-22) da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), além de presidenta do Prêmio Pierre Verger (2021-2022) desta instituição. Seu últi mo trabalho audiovisual, Domingo, realizado no âmbito de um projeto do cumental de narrativa transmídia realizado com Paulo Mendel e a Família Stronger (http://www.familiastronger.com/) foi selecionado para o Royal Anthropological Institute Film Festival 2019, comissionado pela 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil e recebeu prêmios de melhor filme da Associação Portuguesa de Antropologia (APA) e da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS).
É professora adjunta no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba (DCS/UFPB). Coordenada o Laboratório de Desenho & Antropologia (LABAREDA/UFPB) e integra o Laboratório Antropológico de Grafia e Imagem (LA’GRIMA/UNICAMP). Participa atual mente do Comitê de Antropologia Visual da Associação Brasileira de Antropologia (CAV/ABA). Seus principais interes ses de pesquisa relacionam-se à história do desenho na antropologia e sua retomada na contemporaneidade. Desde 2018, atua no projeto de extensão “Histórias de Quilombo” na comunidade quilombola de Mituaçu (Conde-PB), onde são desenvolvidas atividades relacionadas à memória e às diversas gra fias, como o desenho e a costura."
Formada em História, com mestra do em Antropologia Social, ambos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutorado em Etnologia e Antropologia Social pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS) e pós-doutorado no Institut d'Ethnologie Méditerranéenne, Européene et Comparative (IDEMEC).
Docente no Programa Pós-Graduação e no Bacharelado em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas, onde também coordena o Laboratório de Ensino Pesquisa e Produção em Antropologia da Imagem e do Som (LEPPAIS) desde 2008 e o Coletivo de Pesquisas Antropoéticas.
Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Antropologia Visual e da ImagemVISAGEM. Coordenadora do Grupo de Estudos sobre Populações Indígenas - GEPI. Coordenadora do Comitê Antropologia Visual - CAV/ABA. Assessora da Diversidade e Inclusão Social - ADIS/UFPA. Laboratório de Antropologia Arthur Napoleão Figueiredo - LAANF. Av. Augusto Corrêa, 01. Guamá. CEP: 66075-110 - Belém/Pará/Brasil.
Pertence ao povo indígena Xakriabá Estado de Minas Gerais. É mestre em Antropologia pela UFMG. Tem atua ção livre na área de Etnofotografia: “um meio de registrar aspecto da cultura - a vida de um povo”. Nas lentes dele, a fo tografia torna-se uma nova “ferramen ta” de luta, possibilitando ao “outro” ver com outro olhar aquilo que um povo indígena é.
É doutora em Multimeios pelo Instituto de Artes da Unicamp e pós- doutora em Antropologia Social pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP. É cofundadora e pesquisadora do
LA’GRIMA-IFCH/Unicamp (Laboratório Antropológico de Grafia e Imagem) e pesquisadora colaboradora do Departamento de Antropologia do IFCH/ Unicamp. Obteve o Prêmio Capes de Melhor Tese da área de Ciências Sociais Aplicadas (2010) com a pesquisa “Fotobiografia – Por Uma Metodologia da Estética em Antropologia”, orientada pelo Prof. Dr. Etienne Samain.
Idealizadora e coordenadora de projetos e conteúdo do ACHO – Arquivo co leção de Histórias Ordinárias, em Campinas. É orientadora, curadora e edito ra de projetos artísticos e de fotografia, curadorias de exposições e fotolivros, em parceria com o Ateliê Fotô e Fotô Editorial, editora com sede em São Paulo.
É arte/educador (UDESC), mestre e dou tor em antropologia social (UFSC/ UC Berkeley), é antropólogo e professor da Área de Antropologia nos Cursos de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG). É do cente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social - UFG. Foi editor che fe da Revista Visualidades (FAV/UFG). É integrante e co-fundador do LEX – Laboratório de Experimentações Etnográficas e Marcadores Sociais das Diferenças (PPGAS/UFG). Realiza pesquisas no campo da antropologia visual, antropologia da arte e das expressões estéticas, abordando artivismos, cine ma, cultura visual, feminismos, relações de gênero e sexualidades em relação com outros marcadores sociais das diferenças.
Professor na UFPR, onde atua na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Design, na linha de pesquisa em Teoria e História do Design, e no Programa de Pós Graduação em Tecnologia e Sociedade, na linha de pes quisa de Mediações e Culturas, da UTFPR. Doutor pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC (2008). temas de interesse: teoria e história do design, arte e arquite tura; teoria e crítica da imagem técnica; exposições, arquivos e museus.
Cineasta, antropólogo, pesquisa dor, roteirista e produtor. Atua na área de documentários. Graduou-se em Ciências Sociais pela UFRJ com ênfa se em Antropologia Visual, Cultura Urbana e Juventude. Mestre pelo Programa de Pós Graduação em Cultura e Territorialidades da UFF. Atualmente, membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, professor da disciplina Pesquisa, Argumento e Roteiro na Pós-graduação em Cinema Documentário da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ); e pes quisador associado ao GRUA, Grupo de Reconhecimento de Universos Artísticos/Audiovisuais, da UFRJ. Foi curador da Mostra Internacional do Filme Etnográfico e do Festival Visões Periféricas. Como diretor, re alizou os longas: Favela é Moda, vencedor do prêmio Melhor Longametragem Documentário de Voto Popular no Festival do Rio (2019); Deixa na Régua, vencedor do Prêmio Especial do Júri do Festival do Rio (2016); A Batalha do Passinho; vencedor da Mostra Novos Rumos do Festival do Rio (2012); L.A.P.A., Melhor Filme no Festival Câmera Mundo, na Holanda
(2008). Dirigiu 14 curtas, além dos videoclipes Alteração (ÉA!) de BNegão e os Seletores de Frequência; Para Onde Irá Essa Noite, Cira, Regina e Nana e Músico, de Lucas Santtana; e Dali de Marcelo Yuka. Para a TV, foi Diretor Geral da série "Enigma da Energia Escura" com Emicida (GNT), na qual também diri giu o episódio "Eu Falei Faraó - Cultura e Resistência". Atualmente, desenvol ve seu novo projeto de longa “Black Rio! Black Power!”, sobre os bailes de soul dos anos 1970 no Rio.
Nasceu e se formou em Teologia (exegese) na Universidade Católica de Lovaina Bélgica. No Brasil desde 1973, tornou-se antropólo go e fotógrafo, convivendo com as comuni dades Kamayurá (Alto Xingu, MT) e Ka´apor (Maranhão). Interessou-se pelas imagens, desde aquelas presentes nas narrativas mí ticas até as que são produzidas pelas novas tecnologias. Enquanto se esforçava para fazer da antropologia uma ciência não só de palavras, acabou por aproximá-la da comunicação e da arte. Professor ti tular aposentado do Programa de Pós-Graduação em Multimeios do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Entre outros tra balhos, publicou o livro Moroneta Kamayurá (1991) e organizou as coletâne as O fotográfico (2005) e Como pensam as imagens (2012). Suas pesquisas recentes partem das obras de Gregory Bateson e de Aby Warburg para pen sar a comunicação humana na perspectiva da Antropologia, da Epistemologia e da Estética.
Professora colaboradora no PPG em Antropologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e coordenadora de projetos no Instituto Escolhas. Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA/ UFRRJ). Pesquisa a trajetória históri ca do racismo e formas do seu enfrenta mento, conflitos socioambientais e políticas de reconhecimento de direi tos da população quilombola.
Cineasta, membro da aldeia indígena Kuikuro, atualmente vivendo na aldeia Ipatse, no Parque Indígena do Xingu. Takumã é reconhecido nacional e inter nacionalmente pelos seus filmes, tendo sido premiado pelos festivais: Festival de Gramado, Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Olhar de Cinema, Jornada Internacional de Cinema da Bahia, Festival de Filmes Documentário Etnográfico, Festival Presence Autochtone de Terres em Vue. Em 2017, re cebeu o prêmio honorário “Bolsista da Queen Mary University London”. E foi, em 2019, o primeiro jurado indígena do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília.
Daniele Borges (UFPel)
Victor Uchôa
TRADUÇÃO Hailey Kaas David Rogers
Coordenação: Denise Machado Cardoso (UFPA)
Aina Guimarães Azevedo (UFPB)
Anelise dos Santos Gutterres (MN/UFRJ)
Bárbara Andréa Silva Copque (UERJ)
Guilherme Moura Fagundes (USP)
Jesus Marmanillo Pereira (UFMA)
Lilian Sagio Cezar (UENF)
Lisabete Coradini (UFRN)
Luis Felipe Kojima Hirano (UFG)
Vi Grunvald (UFRGS)
Patricia Birman (Presidenta - UERJ)
Cornelia Eckert (Vice-Presidente - UFRGS)
Carla Costa Teixeira (Secretaria Geral - UnB)
Carly Barboza Machado (Secretaria Adjunta -UFRRJ)
Andrea de Souza Lobo (Tesoureira)
Camilo Albuquerque de Braz (Tesoureiro Adjunto -UFG)
Fabio Mura (Diretor -UFPB)
Patrícia Maria Portela Nunes (Diretora - UEMA)
João Frederico Rickli (Diretor - UFPR)
Luciana de Oliveira Dias (Diretora - UFG)
Carine Lemos (Secretária Administrativa)
Roberto Pinheiro (Assistente Administrativo)
Silvane Xavier (Auxiliar Administrativa)
João Rickli (Coordenação - UFPR)
Cornelia Eckert (UFRGS)
Carly Machado (UFRRJ)
Carol Parreiras (UNICAMP)
Camilo Braz (UFG)
Ciméa Bevilaqua (UFPR)
Paulo Guérios (UFPR)
Ricardo Cid Fernandes (UFPR)
Laura Perez Gil (UFPR)
Wenner-Gren Foundation
Danilyn Rutherford (Presidenta)
Donna Auston (Divulgação e Engajamento)
Núcleo de Antropologia Visual (Navisual/UFRGS)
Grupo de Reconhecimento de Universos Artísticos/ Audiovisuais (GRUA/UFRJ)
Grupo de Antropologia Visual (GRAVI/USP)
Laboratório de Desenho & Antropologia (Labareda/UFPB)
Laboratório de Ensino, Pesquisa e Produção em Antropologia da Imagem e do Som (LEPPAIS/UFPel)
Laboratório Antropológico de Grafia e Imagem (La’grima/ Unicamp)
LEX - Laboratório de Experimentações
Etnográficas e Marcadores Sociais das Diferenças (LEX/UFG)
Fotô Editorial
Síntese Eventos
O Prêmio Pierre Verger (PPV), promovido pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), é um dos principais festivais competitivos de obras fílmi cas, fotográficas e gráficas produzidas no âmbito de pesquisas antropológicas na América Latina. Através destas linguagens artísticas e políticas de difusão do conhecimento, suas mostras exploram, registram, expressam e interpelam diferentes contextos e experiências socioculturais.
Desde 1996, o PPV é realizado bianualmente seguindo a agenda estabelecida por estes congressos, onde constitui uma vitrine da produção visual e audiovi sual realizada por antropólogos/as no contexto de suas pesquisas. A categoria de ensaios fotográficos foi incorporada em 2002. E a mostra de desenhos pas sa a integrar o festival somente neste ano de 2022.
Desde 2012, no interstício dos biênios em que ocorrem as RBA’s, as obras per correm um circuito nacional e internacional através das Mostras Itinerantes do Prêmio Pierre Verger, acompanhadas de debates em universidades, laborató rios/centros de pesquisa e espaços culturais. Pela sua longevidade, extensão e relevância cultural e epistemológica, este concurso potencializou a articula ção e expansão da Antropologia Visual e Multimodal, com valor acadêmico re conhecido na produção intelectual destes campos.
Em cada edição do prêmio, é aberto um edital com regras de submissão do material que, posteriormente, constituirá a Mostra de Filmes Etnográficos, Mostra de Ensaios Fotográficos e agora também Mostra de Desenho do PPV. Neste sentido, para além de uma premiação no sentido estrito do termo, tra ta-se também da apresentação e reconhecimento de produções fílmicas, foto gráficas e gráficas que tenham pertinência antropológica e expressem quali dades heurísticas, estéticas e político-reflexivas, promovendo o diálogo entre linguagens visuais/audiovisuais e a antropologia. Assim como festivais antro pológicos em outras partes do mundo, o PPV foi e segue sendo de fundamen tal importância para a consolidação do valor acadêmico da produção de ima gens e sons na disciplina.
A partir de edital aberto e divulgado pela ABA, a Comissão Organizadora do PPV recebe filmes, ensaios fotográficos e desenhos que, após selecio nados, são encaminhados a um júri independente e de renome internacio nal, convidado para esse fim, para deliberação e atribuição de prêmios e menções honrosas daquela edição. Para esta edição de 2022, a Comissão Organizadora recebeu um total de 109 obras, tendo selecionado 34 filmes etnográficos, 12 ensaios fotográficos e 8 ensaios desenhados.
Na edição anterior, em 2020, devido à pandemia de covid-19, realizamos, pela primeira vez, o PPV em formato online e totalmente remoto, seguindo as recomendações de distanciamento social indicadas pela Organização Mundial de Saúde e acompanhando a modalidade de realização da 32ª RBA. Esse intercurso nos apresentou novos desafios, inclusive em termos técnicos, mas também enormes possibilidades de expansão de acesso às produções, além de maior espaço para a discussão sobre elas.
Ao longo desse período pandêmico, todas nós, cientistas sociais, observa mos atônitas a intensificação de uma série de problemas sociais que já nos assolavam no Brasil contemporâneo. E, mais do que isso, nos mobilizamos em diversas frentes no sentido de oferecer uma resposta articulada a es sas questões, adiantando, numa ágora digital profundamente saturada pela infodemia, discussões qualificadas e proposições que servem de base para constituição de uma sociedade com maior justiça social e com políti cas públicas que levem em conta as necessidades diferenciais de popula ções que são distintamente afetadas.
Nesse contexto, onde a vocação política de nossas disciplinas e atuações é chamada à sua responsabilidade social, apostamos no enorme potencial da produção multimodal para consolidação de uma antropologia pública que não se restrinja pelos muros da universidade. Se, no mais das vezes, produzimos textos que são lidos por pares e interessados mais restritos, nossos filmes e imagens, por outro lado, vêm com a promessa de alcançar a sociedade civil de forma mais ampla.
Essa agenda de difusão inclui também um processo crescente de interna cionalização do PPV iniciado em outras gestões, mas bastante consolida do nesta edição onde, além do Brasil, temos pesquisadoras da Colômbia, Chile, Argentina, Peru, Guatemala, México, Espanha, Portugal, Reino Unido, Estados Unidos, França e Noruega.
Ademais, pela primeira vez, toda a programação do PPV está disponível tam bém em inglês, possibilitando uma entrada de fato do Prêmio em um circuito internacional de discussões que, como sabemos, apenas raramente fala por tuguês. Uma agenda de acessibilidade, também iniciada anteriormente, segue sendo uma de nossas diretrizes, ainda que saibamos estar longe do ideal nes se quesito. De qualquer forma, todas as imagens possuem audiodescrição e to dos os filmes e conferências possuem também legenda em português, obri gações já estabelecidas em edital. As mesas redondas, por sua vez, além da interpretação instantânea do inglês, também contará com legendagem huma na em português.
No caminho em direção à uma sociedade mais democrática e inclusiva, outra inovação da edição de 2022 é a adoção de políticas de ação afirmativa com re serva de 20% das obras selecionadas à antropólogos/as negros/as, indígenas, trans e/ou com deficiência.
Paralelamente às mostras, teremos duas conferências magistrais com Prof. Tim Ingold e Prof. Arnd Schneider, duas importantes referências de discussões sobre imagens na Antropologia. Além destas, também ocorrerão cinco mesas redondas sobre questões importantes que têm mobilizado o campo da antro pologia visual, audiovisual e/ou multimodal, além de duas mesas redondas de homenagem a pessoas que tiveram enorme importância no campo e que nos deixaram recentemente, a saber, Marc Henri-Piault e Patrícia Monte-Mór.
Como programação oficial da 33ª RBA, integrantes da Comissão Organizadora do PPV também organizam oficinas cujas propostas são a construção de espa ços de interlocução mais detida com realizadores/as que participam das mos tras e que conversarão sobre suas obras e processos de produção.
A realização deste evento, bem como essa internacionalização do PPV, não te ria sido possível sem o apoio da Wenner-Gren Foundation através de seu edital de conferências e, nesse sentido, expressamos nosso agradecimento pelo tra balho sério e comprometido realizado pela fundação.
É célebre a ideia que, há décadas atrás, Darcy Ribeiro, intelectual icônico do pensamento social brasileiro, expressou quando afirmou que “a crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto”. Tão triste quanto vergo nhosa, essa máxima parece continuar com assustadora atualidade. No en tanto, acreditamos fortemente que o Prêmio Pierre Verger se soma deci sivamente a outras atividades da Associação Brasileira de Antropologia e outras instituições na constante e inesgotável luta pela democracia e por uma sociedade mais justa.
CARTAZ DO PRÊMIO PIERRE VERGER 2022 PROJETO GRÁFICO: VICTOR UCHOA
DIA 22 SEGUNDA
DIA 23 TERÇA MR01. O campo da antropologia visual na América Latina
DIA 24 QUARTA MR03. Explorando fotografias e arquivos
MR02. O uso de imagens entre arte e política
MR04. Arte e desenho na antropologia e além
QUINTA MR05. Políticas e poéticas das práticas audiovisuais
DIA 25
DIA 26 SEXTA MR06. Homenagem Piault MR07. Homenagem Patrícia
DIA 27 SÁBADO
DIA 28 DOMINGO
CONFERÊNCIA DE ABERTURA BEYOND WRITING AND DRAWING: IN PRAISE OF SCRIBBLE TIM INGOLD
University of Aberdeen, Reino Unido
CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO EXPANDED VISIONS: EXPERIMENTS, ETHNOGRAPHY, RESTITUTION ARND SCHNEIDER
University of Oslo, Noruega OFICINAS COM REALIZADORAS/ES
30/08, 31/08 e 01/09 das 8h às 10h.
30/08 e 31/08 das 8h às 10h.
30/08, 31/08, 01/09 e 02/09 das 20h30 às 22h.
O campo da antropologia visual na América Latina é variado e apresenta es pecificidades relacionadas ao modo como a própria antropologia, como área de conhecimento acadêmico, se constituiu em diferentes países da região, na construção de identidades nacionais, profissionais e disciplinares também bas tante distintas. Esta mesa redonda pretende abordar essas diferentes trajetó rias pessoais e disciplinares a partir das contribuições de profissionais provin dos/as de diferentes países (tais como Peru, Colômbia, Chile, México e Brasil) de modo a revelar a diversidade de características, distintas abordagens et nográficas e teóricas bem como enfoques que a antropologia visual ganha em cada contexto nacional, apontando para traços de proximidade e de distancia mento nos diferentes fazeres e reflexões contemporâneas sobre a antropolo gia visual na América Latina.
Alonso Quinteros (Pontificia Universidad Católica del Perú, Perú)
Óscar Guarin (Pontificia Universidade Javeriana, Colombia)
Gastón Carreño (Red de Investigación sobre Documentales, Chile)
Mauricio Sánchez Álvarez (Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropología Social, México)
Vi Grunvald (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
A reflexão sobre a arte em seus efeitos políticos e sobre a política atra vés de ações, de objetos, de imagens e performances artísticas tem sido uma constante em diferentes pesquisas realizadas no campo das Ciências Sociais e, especialmente, no campo antropológico nos últimos anos. Esta mesa redonda visa a abordagem das relações entre imagens, arte e polí tica, pensando-as a partir dos diferentes modos pelos quais as articula ções entre estas esferas se engendram e se expressam em cenários sociais contemporâneos. Serão problematizadas discussões teórico-conceituais e/ou cenários etnográficos a partir de contribuições de pesquisadores da Espanha, Portugal, Argentina e Brasil de modo a refletir sobre as potentes relações entre políticas, imagens e as diferentes modalidades de experi mentação e de práticas artísticas.
Roger Sansi (Universitat de Barcelona, Espanha)
Paulo Raposo (Instituto Universitário de Lisboa, Portugal)
Greta Winckler (Universidad de Buenos Aires, Argentina)
Guilherme Marcondes (Universidade do Estado do Ceará, Brasil)
Guilhermo Aderaldo (Universidade Federal de Pelotas, Brasil)
Glauco Ferreira (Universidade Federal de Goiás, Brasil)
A proposta desta mesa é aprofundar reflexões sobre os usos e as possibilida des que as fotografias e os arquivos fotográficos oferecem para pensar, for mular problemas e proposições de pesquisas na antropologia. Com base, es pecialmente, nas trajetórias e experiências de pesquisadores no Brasil e na Colômbia, pretende-se expor e debater de que maneira empreendimentos de pesquisas recentes dedicados ao trabalho com as imagens, os arquivos, suas montagens e remontagens vêm contribuindo para reflexões, desdobramentos e avanços teórico-metodológicos no campo antropológico.
Luis Carlos Toro Tamayo (Universidad de Antioquia, Colombia)
Rachel Rezende (Instituto Moreira Salles, Brasil)
Cristiano Tambascia (Universidade Estadual de Campinas, Brasil)
Jamile Borges (Universidade Federal da Bahia, Brasil)
Bárbara Copque (Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil)
Fabiana Bruno (Universidade Estadual de Campinas, Brasil)
O desenho e, de maneira mais geral, a arte de outros povos sempre cons tituíram uma fonte de inspiração, pesquisa e interlocução antropoló gica sobre ontologias extra-ocidentais, suas agências e modos de vida. Recentemente, o desenho também tem sido retomado na antropologia, dessa vez, como uma forma de expressão de antropólogos/as em traba lhos acadêmicos e artísticos. Esta mesa redonda busca reunir pesquisado res/as e artistas que trabalham e refletem sobre o desenho como uma lin guagem própria de expressão na antropologia, nas artes e além, buscando encontrar semelhanças e diferenças que enriqueçam nossas perspectivas teóricas e práticas sobre o desenho.
Benjamín Uaira Uaua Jacanamijoy (Artista indígena, Colômbia)
Sophia Pinheiro (Universidade Federal Fluminense, Brasil)
Daniela Rodrigues (CRIA - NOVA FCSH, Portugal)
Edgar Calel (Artista visual, Guatemala)
Tatiana Lotierzo Hirano (Universidade de São Paulo, Brasil)
Aina Azevedo (Universidade Federal da Paraíba, Brasil)
A produção e realização audiovisual na antropologia marcam a própria cria ção do campo disciplinar enquanto área de conhecimento acadêmico e cien tífico no começo do século XX. Neste contexto, enfatizam-se distintas formas de construção de saberes a partir da relação entre diferentes alteridades na constituição de um importante acervo de filmes etnográficos. Ao longo de sua história, a antropologia audiovisual se aproximou gradativamente do terreno da criação artística a partir das imagens em movimento e do cinema narrativo de cunho documental e ficcional. Nesta mesa redonda, principalmente a partir de trajetórias e de pesquisas realizadas no Brasil e nos Estados Unidos, preten de-se abordar estas diferentes proposições contemporâneas audiovisuais no sentido de propor maneiras de expressão antropológica que sejam potenciali zadas por imagens e sons.
Ruben Caixeta (Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil)
Amália Córdova (Smithsonian Institution, Estados Unidos)
Takumã Kuikuro (Cineasta indígena, Brasil)
Edgar Teodoro da Cunha (Universidade Estadual Paulista, Brasil)
Marcelo Ribeiro (Universidade Federal da Bahia, Brasil)
Ronaldo Corrêa (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Quando Marc Piault veio ao Brasil, em 1994, ele encontrou um terreno fér til para o desenvolvimento da antropologia visual com a qual já trabalhava extensivamente na França no âmbito do Comité du Film Ethnographique. Participou ativamente de vários dos primeiros núcleos acadêmicos, revis tas especializadas e festivais de filmes etnográficos do país neste momen to, ajudando a consolidar o campo no Brasil. Aposentando-se na EHESS, Piault passou a se dividir entre o Brasil e a França, fixando residência no Rio de Janeiro. Em razão de seu falecimento em 2020, esta mesa, composta de pessoas que trabalharam com Piault, é pensada como uma homenagem a esse antropólogo visual de importância fundamental para as antropolo gias visuais da França e do Brasil reconhecendo os méritos de sua trajetó ria como professor, pesquisador e cineasta.
Laurent Pellé (Comité du Film Ethnographique, França)
José da Silva Ribeiro (Universidade Aberta de Lisboa, Portugal)
Cláudia Turra Magni (Universidade Federal de Pelotas, Brasil)
Clarice Peixoto (Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil)
Ana Luiza Carvalho da Rocha (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Cornelia Eckert (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Patrícia Monte-Mór é considerada uma das pioneiras da Antropologia Audiovisual no Brasil, sendo responsável pela organização de inúmeras edi ções do pioneiro Festival Internacional do Filme Etnográfico, cuja primeira edi ção foi realizada no Rio de Janeiro, em 1993, inspirando outros festivais em di ferentes estados brasileiros. A partir da realização de seminários vinculados a esta primeira mostra Patrícia organizou, juntamente com José Inácio Parente, o livro Cinema e Antropologia: horizontes e caminhos da antropologia visual, marcando importantes reflexões para a consolidação da Antropologia Visual no Brasil. Dado seu falecimento em janeiro de 2022, esta mesa se pretende uma homenagem à trajetória de Patrícia que também fazia parte da gestão 2021-2022 do Prêmio Pierre Verger.
Fabiene Gama (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Carlos Alberto Mattos (Jornalista e crítico de cinema, Brasil)
Emílio Domingos (Antropólogo e cineasta, Brasil)
Eliska Altmann (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil)
Denise Machado Cardoso (Universidade Federal do Pará, Brasil)
Antropologia engajada.
PREMIOOs desenhos selecionados integram minha pesquisa de dou torado intitulada "Fissuras Epistêmicas na Antropologia: Desenhar para Conhecer". Os objetivos da tese são compre ender o uso do desenho tanto como artifício pedagógico para a formação antropológica, dentro da estrutura disciplinar aca dêmica na Universidade, quanto método e análise incorporados nas pesquisas acadêmicas brasileiras.
Nesta pesquisa destaco o desenho como um caminho possí vel para a produção etnográfica, além de ser um recurso peda gógico para o ensino. Com o aprofundamento do conceito de Antropologia Gráfica desmistifica-se o uso dos desenhos nas pesquisas e os ressignificam, trazendo autoridade para o seu uso dentro da divulgação do conhecimento científico.
Para esta mostra selecionei algumas produções a partir da "par ticipação observante" nas aulas, cursos, oficinas e palestras que versaram sobre a relação da Antropologia com o desenho, assu mindo outra temporalidade, atenção, olhar e sensibilidade para compreender as diversas dinâmicas em se ensinar, aprender e divulgar a Antropologia no Brasil.
Frequentemente, as(os) antropólogas(os), em suas etnografias, precisam criar es tratégias para compreender as complexas subjetividades de seus campos de es tudo, sendo assim, os desenhos podem assumir o lugar de um recurso criativo de diálogo com seus interlocutores, promovendo uma relação dialógica entre os con juntos de pensamentos científicos trazidos pela academia e as histórias silencia das dos grupos sociais. Desenhar como método é assumir o desafio de romper com os limites das palavras que, várias vezes, não são ditas ou pela dor, ou pela disputa por narrativas universalizantes.
A aproximação epistêmica entre escrita e desenho vem das falas, dos textos e dos desenhos das pesquisas das antropólogas Karina Kuschnir e Aina Azevedo (mi nhas principais interlocutoras) que têm refletido sobre os desafios das pesquisas antropológicas, as perguntas e soluções que emergem do ato de se ensinar a dese nhar e construir narrativas gráficas no (e sobre o) trabalho de campo.
Quando se evoca a linguagem dos desenhos, busca-se traduzir para além das pa lavras (estas que são canonicamente aceitas como instrumentos capazes de pro duzir e reproduzir o pensamento científico) interpretações visuais de conceitos. Sendo assim, é imperativo abrir o debate e forçar as concepções dos modos de se comunicar o pensamento científico.
O desenho, a partir de uma leitura inicial, que seria um exercício de identificação, admite a interpretação que resulta de um esforço analítico, dedutivo e comparati vo. Logo, ele como documento, como fonte, revela aspectos da vida material que, algumas vezes, a compreensão de fontes escritas não revela. Desta forma, a pro dução de conhecimento antropológico com desenhos contribui para a promoção do rompimento da construção canônica do pensamento científico e a ampliação dos horizontes epistêmicos.
Posto isto, sabe-se da multiplicidade das linguagens de apresentação da diver sidade cultural dos grupos sociais, contudo para o campo da produção científica essa pluralidade é questionada no momento de validá-la como um argumento científico, quero dizer que, academicamente somente a escrita é o formato rati ficado na ciência. Tal aprisionamento das ideias é questionado pela filósofa, soci óloga negra norte-americana Patrícia Hill Collins (2012), em seus argumentos ela explicita a linguagem como um campo de disputa. A produção do conhecimento não deve ter seu alicerce ancorado apenas em um tipo de linguagem (a escrita), pois as epistemes são também táteis e não exclusivamente abstratas.
O recorte principal da pesquisa é a interlocução com professores e pesquisadores e, eventualmente, os alunos que fizerem parte das aulas, oficinas, palestras que versem sobre Antropologia e Desenho.
A intenção da pesquisa, portanto, é impulsionar a visibilidade do desenho den tro da Antropologia e estimular a polissemia da linguagem na formação antropoló gica no Brasil.
As diferentes linguagens e metodologias precisam ser celebradas, pois é por meio da ebulição das misturas heterogêneas que surgem os questionamentos, as criações, as inovações, logo os pensamentos críticos. Almeja-se que os resultados das produções científicas sejam dinâmicos, consequentemente que sejam ampliados os horizontes epistêmicos. Desenhar conceitos é debruçar sobre os seus significados de dentro para fora. Quando nos colocamos diante do exercício de criar linhas, formas, texturas e co res aprofundamos na análise dos temas que estamos nos propondo a estudar e, con sequentemente, a analisar.
O desenho é também um caminho escolhido para criar afetos com o desenvolvi mento da produção do conhecimento. Essa linguagem mostra o quanto, muitas ve zes, o processo de se expressar é tão complexo e tão profundo que as palavras não são suficientes.
Na contemporaneidade a Antropologia precisa ser um campo disciplinar de novas ideias e ter um espírito inquieto, consequentemente, das antropólogas e dos antro pólogos exige-se o máximo das suas capacidades de criarem meios para a fissura das metodologias clássicas de pesquisa e das epistemologias tradicionais, ou seja, experi mentar o seu potencial criativo para aguçar o olhar diante do contexto à sua volta e das possibilidades de expressões dos grupos sociais.
KATIANNE DE SOUSA ALMEIDA é artista Visual e Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Mestre em Antropologia Social pela UFG, Especialista em História Cultural pela UFG, Especialista em Processos e Produtos Criativos pela UFG. Bacharel em Ciências Sociais com Habilitação em Antropologia, como também Licenciada em Ciências Sociais pela UnB e Bacharel em Design de Moda pela UFG. Integrante do LABareDA (laboratório de Antropologia & Desenho), integrante do Grupo de Desenho coordenado pela Prof. Dra. Patrícia Reinheimer. Participou da I Mostra de Desenhos Etnográficos Prêmio Pierre Verger, 2020, e da II Mostra Digital de Ensaios Visuais promovido pelo NAVIS, 2021.
Desumanidades Emergentes. A favela é o espaço no qual a polícia age com barbárie e o judiciário e a mídia reforçam o ódio contra a população pobre e preta que reside lá perpetuando a estrutura do racismo
O trabalho é uma etnografia ilustra da de dois eventos online: a 32ª Reunião Brasileira de Antropologia (2020) e as Jornadas de Antropologia John Monteiro de 2021. O corpo é, cada vez mais, perce bido como lugar de experiências únicas e produtor, através dos sentidos, de formas de conhecer e, nesse sentido, o desenho é uma técnica que emerge como ferramen ta epistemológica, como forma de aces sar os sujeitos pesquisados e como prática de memorização.
O presente trabalho é uma etnografia ilustrada de dois eventos online: a 32ª Reunião Brasileira de Antropologia (2020) e as Jornadas de Antropologia John Monteiro de 2021. Ao invés de fazer apenas anotações, os desenhos surgiram como práxis. Um ensaio vivido e contado que pode invadir os sentidos do ilus trador e do leitor de forma múltipla e, assim, duradoura. O corpo é, cada vez mais, percebido como lugar de experiências únicas e produtor, através dos sen tidos, de formas de conhecer e, nesse sentido, o desenho é uma técnica que emerge como ferramenta epistemológica, como forma de acessar os sujeitos pesquisados e como prática de memorização.
Desenhar foi um escape circunstancial da quarentena, apego casual e contin gente. A primeira oficina da qual participei foi a “oficina de desenho para quem não sabe desenhar”, ministrada pela professora Patricia Reinheimer (UFRRJ), de forma online, no início da pandemia. Após este primeiro contato, me depa rei com o exercício artístico: mentes e mãos a postos para se embrenhar em uma tarefa cheia de experimentações. Meses depois, Patrícia foi uma das co ordenadoras de um laboratório que se propôs etnografar a primeira Reunião Brasileira de Antropologia que seria completamente mediada por dispositi vos tecnológicos, a 32ª RBA. Esta vivência evidenciou pra mim uma nova forma de pensar e produzir conhecimento. Nós, antropólogos, estudamos a cultura e seu significado relacional com o entorno, porém, por vezes, não percebemos como o desenho, assim como a escrita, é uma forma de linguagem na qual a intenção e a realização se desafiam num processo constante de mediação das simbolizações.
A partir da crise da racionalidade materialista percebida no século XX, princi palmente no pós-guerra, houve um retorno a métodos criativos. Para Karina Kuschnir (2016) a antropologia, por exemplo, seguiu um caminho de se repen sar e se aproximou de valores antes não vinculados à ciência como sensibili dade e fluxo. Para James Clifford (2002) foi a antropologia interpretativa que
contribuiu para a visibilidade dos processos criativos (e, num sentido am plo, poéticos) pelos quais objetos “culturais” são inventados e tratados como significativos. (Clifford, 2002, p.39). Afinal, o contato com o “ou tro” foi possibilitando novas formas de ser da antropologia. Como elencou Clifford (2002), os modos de autoridade etnográfica foram se alterando, mas percebemos que o lugar do desenho na disciplina também foi. De iní cio, com o modo etnográfico experiencial, os desenhos eram descritivos e buscavam transmitir “realisticamente” a teoria descrita. Quando houve a emergência da autoridade etnográfica interpretativa, dialógica e polifôni ca, o desenho assumiu novos espaços.
O desenho é usado por alguns autores como ferramenta epistemológica, como forma de acessar os sujeitos pesquisados e/ou como prática de me morização. Os trabalhos de Michael Taussig (2011), “I Swear I Saw This”, e Andrew Causey (2016), “Drawn to see”, constituem duas importantes contribuições no debate sobre o potencial do desenho na antropologia. Atualmente, a dimensão política da representação é tema extremamen te debatido e, como afirmou Eduardo Viveiros de Castro, “o conhecimento antropológico é imediatamente uma relação social” (2002, p.113), assim, além da compreensão de que o conhecimento etnográfico é uma constru ção conjunta entre antropólogo e comunidade estudada, ainda há a tercei ra relação que é a do leitor. Para Marcel Duchamp, o “ato criador” é quando o artista passa da “intenção à realização através de uma cadeia de reações subjetivas” (1975, p. 73), mas esse ato finalizaria com a recepção do públi co. A pesquisa, apesar da retórica de objetividade, também segue um ca minho de experimentações cooperativas.
No ano seguinte ao ensaio etnográfico da 32ªRBA (2020), participei do minicurso Ensaio etnográfico sensorial ilustrado das Jornadas de Antropologia John Monteiro 2021. Mais uma empreitada em busca de atingir interpretações do real. Para Christian Dunker (informação verbal, 2021) a gente precisa de uma desconfiança da realidade, pois só consegui mos acessá-la dividindo e depois justapondo essas impressões em encon tros. Portanto, o professor defende a realidade enquanto um modo ex pressivo. Cada sistema linguístico/expressivo (artes, ciência, política) seria um sistema que pretende reconstruir o mundo através de fragmentos. Desmembrar as vivências em linguagens estéticas seria uma subtração do mundo como ele é. Assim, o minicurso citado, ministrado por Katianne de Sousa Almeida, propôs técnicas interessantes de mapear o olhar para
ajudar a ver. A ciência é uma forma significativa de inter pretação do mundo, mas não a única. A perturbação e o fascínio são componentes essenciais nesse processo de construção do saber.
Dessa forma, a produção científica é conectada à enge nhosidade humana de imaginar. Nós não descobrimos, nós criamos. Ao mesmo tempo em que não podemos afir mar que tudo é relativo, devemos dizer que tudo é relação. Dessa forma, os desenhos inspirados pelas falas das me sas e conferências destes dois eventos ilustram conceitos e são estampas antropológicas daqueles pensamentos.
ADRIANA NUNES SOUZA é cientista social para quem de senhar foi uma paixão acidental. Laçada pela oportunida de da conjuntura, aliei o desenho às minhas elucubrações sobre a concepção histórica do corpo e como ela se mo difica engendrando saberes e regras. Em meus trabalhos debruço-me sobre a patologização de existências subal ternas e como a arte está presente exemplificando discur sos e/ou apresentando possibilidades de ressignificações. Atualmente cursando mestrado em Ciências Sociais pela UFRRJ, pesquiso, através do recorte de gênero, a diferen ça nas estratégias de visibilidade das artistas e dos artistas surrealistas no Instagram.
A alfaia, ou bombo, geralmente é feita de macaíba, couro e corda de sisal. Para tocar bem precisa ser afinada ou "acochada", como dizem os maracatuzeiros, tarefa que requer mais de uma pessoa.
3º LUGAR DESENHO
Os desenhos que trago são registros do caderno de campo, fruto da pesqui sa realizada entre 2016 e 2017 junto aos integrantes do Maracatu Nação Almirante do Forte, localizado na zona oeste do Recife. A dissertação, apre sentada em 2018, teve como objeto as relações entre humanos e não huma nos, principalmente indumentárias e adereços que compõem este maracatu. Minha inserção em campo foi marcada pela angústia de não possuir equipa mento fotográfico profissional e pelo “ranço” das fotografias que, tiradas à exaustão, haviam perdido sua potência de diálogo. A prática do desenho sur giu, a priori, não como estratégia planejada, mas oriunda do desejo de tentar alcançar um sensível que me escapava.
Os desenhos que trago são registros do caderno de campo, fruto da pesqui sa realizada entre 2016 e 2017 junto aos integrantes do Maracatu Nação Almirante do Forte, localizado na zona oeste do Recife. A dissertação, apre sentada em 2018, teve como objeto as relações entre humanos e não huma nos, principalmente indumentárias e adereços que compõem este maracatu. Minha inserção em campo foi marcada pela angústia de não possuir equipa mento fotográfico profissional e pelo “ranço” das fotografias que, tiradas à
exaustão, haviam perdido sua potência de diálogo. A prática do desenho surgiu, a priori, não como estratégia planejada, mas oriunda do desejo de tentar alcançar um sensível que me escapava.
“Na passarela do Recife eu vou cumprir minha missão. Quero deixar meu nome gravado, ser televisionado na televisão”. O trecho da loa escrita por Mestre Teté, presidente e filho de um dos fundadores do Maracatu Almirante do Forte, criado em 1931, não é mero pleonasmo. Ser “televisio nado na televisão” é, dentre as várias formas de expressão imagética, uma das mais prestigiadas pelos maracatuzeiros do Almirante.
Quem chega na sede do Maracatu, no Bairro do Bongi, zona oeste do Recife, também percebe o apego pelas fotografias. Pelas paredes, uma série de quadros, folders, cartazes de apresentações e banners. Diagramados e im pressos por batuqueiros e moradores da própria comunidade, esses supor tes exibem corpos, rostos, indumentárias e instrumentos que já passaram pela agremiação. Em projetos, o Maracatu já desenvolveu cartões-postais sonoros, que alia o som e imagem, curta-metragem e DVD. Também está presente em diferentes redes sociais, como YouTube, Instagram e Flickr, além de site com domínio próprio.
Assim, ainda no desenvolvimento do projeto, tive um acesso facilita do de conteúdo imagético. Havia um Maracatu previamente gravado na minha retina.
Quando iniciamos os primeiros contatos, recusei o convite de me tornar batuqueira, uma aproximação usual entre colegas que pesquisam jun to aos Maracatus. Por ter como foco a relação entre maracatuzeiros e seu conjunto não-humano, acreditava que isso me tomaria tempo jun to à produção e arranjos desses materiais, que costumam ganhar rele vo nos períodos que antecedem o carnaval. Negociamos que nos dias de ensaio eu iria ajudar em atividades diversas. A principal demanda nesses momentos se relacionava com a produção de fotos para abastecer as re des sociais e o whatsapp - e essa tarefa me foi delegada. Tentei, de for ma muito precária, sem equipamento profissional, produzir fotografias
que considerava mais “artísticas”, mas não obtive sucesso. Logo percebi que os meus padrões não eram os mesmos dos meus interlocutores. Eles queriam apenas fotos em grande quantidade: luz, foco e enquadramento não eram re quisitos tão importantes.
Nessa tarefa de reprodução massiva de instantâneos, eu peguei “ranço”, como dizem os recifenses, não só das fotografias, mas da observação em si, do “real” que havia sido repetidamente recortado por meio dessas imagens ao longo de meses. De repente, as pessoas e coisas, suas formas, relevos e cores tinham, para mim, perdido sua potência de diálogo, estavam saturadas.
Em um desses ensaios, me aproximei da calunga Menininha, boneca que é a entidade máxima do Maracatu, sentei em uma cadeira - porque me sentia re almente enfastiada no campo - peguei meu caderno e comecei a fazer um es boço da calunga. Mestre Teté se aproximou, observou e demonstrou como ção. O Maracatu nunca havia sido ilustrado. Nesse dia, enquanto desenhava, conversamos muito, ouvi coisas que não haviam sido ditas ao longo de cinco meses, incluindo um interdito sobre a calunga. A dinâmica daquele momen to, proporcionada pelo desenho e pela conversa, fez com que eu produzisse novas sketches.
Passei a representar outras coisas: ensaios, pessoas, a sede, roupas, instru mentos, alguns esboços mal feitos e inacabados, mas que me ajudaram a aces sar novas ideias, e, fundamentalmente, desestruturar algumas certezas que perigosamente carregava comigo. Desenhar também contribuiu para esta belecer novas interlocuções, principalmente com as crianças - que em outras ocasiões não me deram atenção. Mesmo assim, apesar da potência revigora da pelos sketches, não considerava que viessem compor a dissertação. Eu ti nha duas certezas: os desenhos não eram substitutos das fotografias - ainda que elas não tivessem qualidade estética e técnica - tampouco ferramenta de pesquisa. Estava sedimentada com pressupostos de objetividade que a ciência carrega consigo, mesmo as de pretensão etnográfica.
Foram com as observações de minha orientadora, atenta aos movimen tos evocados, que pude compreender que os desenhos não eram apenas um escape criativo. Eles produziram coisas reais, em mim e em meus in terlocutores, talvez alguma sintonia entre as sensibilidades artísticas te nha sido criada.
Passados alguns anos, nós continuamos a estabelecer vínculos por meio dos desenhos. Em 2021, me pediram para criar uma ilustração em come moração aos 90 anos da Nação - postergada para 2022. Elaborei dois dese nhos, um deles foi escolhido por meio de votação entre os integrantes do Maracatu, que em breve será estampado nas camisas da Nação.
MARISA RODRIGUES é curitibana radicada no Recife desde 2016. Caçula de quatro filhos, foi a primeira da família a concluir o ensino médio e a ingressar em uma universidade, por meio do PROUNI. É Bacharel em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Positivo (2006), Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais pela UFPR (2010), Mestre em Antropologia pelo PPGA/UFPE (2016) e doutoranda pelo mesmo Programa. Durante a quarentena, passou a se dedicar com mais intensi dade ao desenho. Suas ilustrações já foram arrematadas em leilões pro duzidos pelo Coletivo Pão e Tinta, do Recife e atualmente integram a Exposição Patrimônios Periféricos, no Paço do Frevo, também na capital pernambucana.
Tornar-se outro; tornar-se muitos
NOS MUNDOS DA DEMÊNCIA: MEMÓRIA, COTIDIANO E IMAGINAÇÃO BÁRBARA ROSSIN
Neste ensaio, procuro explorar diversas possibi lidades de observação, descrição e registro dos mundos que compõem as demências. Pela jus taposição de desenhos e fragmentos de diários pessoais, evidencio experiências e percepções sobre a doença e as transformações operadas sobre a própria subjetividade, memória e relação com o ambiente. A partir desse material, espero abrir novos caminhos para a descentralização e ampliação da escrita, bem como deslizar por en tre a documentação e a imaginação.
Neste ensaio, procuro explorar diversas possibi lidades de observação, descrição e registro dos mundos que compõem as demências. Pela jus taposição de desenhos (desenvolvidos por mim e por Regina - diagnosticada com a Doença de Alzheimer há 10 anos) e fragmentos de diários pessoais (de Pedro, único filho e principal cuida dor de Regina), evidencio experiências e percep ções sobre a doença e as transformações ope radas sobre a própria subjetividade, memória e relação com o ambiente doméstico. A partir des se material, espero abrir novos caminhos para a descentralização e ampliação do processo de es crita, bem como deslizar por entre a documenta ção e a imaginação.
"Escrevo e desenho para lembrar o que é desaparecer do meu mundo habitual e continuar ainda assim vivo, a poder ver, ouvir, cheirar e falar. Faço-o para criar um testemunho gráfico do que sinto como viagens de ida e volta a um mundo ao contrário". (RAMOS, 2010, p. 19)
“Olha meu desenho, Bárbara! É o carro do Roberto Carlos. Desenhei uma casa, um carro e uma árvore com frutas”, interpelava-me Regina em uma manhã de março de 2021 pela tela do Google Meet. Todas as segundas, Regina e eu nos encontrávamos nos grupos de estimulação cognitiva para pessoas com demência do Centro de Referência em Atenção à Saúde do Idoso (CRASI), da Universidade Federal Fluminense. Durante dois anos e meio, período em que realizei minha pesquisa etnográfica nas oficinas da instituição, participamos conjuntamente de atividades lúdicas (jogos, conversas, exercícios, desenhos) que buscavam socializar, conscientizar sobre a doença e desenvolver áreas consideradas básicas da função mental: atenção, linguagem, memória, capa cidade visio-espacial e associação de ideias.
Na literatura biomédica, demência é um termo genérico utilizado para des crever uma constelação de condições progressivas, incuráveis e comumente associadas ao processo de envelhecimento (ENGEL, 2020; FEATHERSTONE, NORTHCOTT, 2020). Embora difusas, estigmatizadas socialmente e ainda pouco compreendidas em suas realidades e sintomatologias, as demências são condições conhecidas por impactar a memória, o comportamento, a per cepção, a capacidade para a realização de atividades da vida diária, a lingua gem e o raciocínio - sendo a Doença de Alzheimer a sua manifestação tipoló gica mais comum.
Neste ensaio, procuro explorar diversas possibilidades de observação, descri ção e registro dos mundos que compõem as demências. Pela justaposição de desenhos (desenvolvidos por mim e por Regina - diagnosticada com a Doença de Alzheimer há 10 anos) e fragmentos de diários pessoais (de Pedro, único fi lho e principal cuidador de minha interlocutora), evidencio experiências e per cepções sobre a doença e as transformações operadas sobre a própria subjeti vidade, memória e relação com o ambiente doméstico.
Nas ilustrações e colagens que apresento, objetos e paisagens que inte gram a vida de Regina (carros, casas, frutas, bolsas, roupas, viagens) são decompostos e entrecruzados com fabulações e torções sobre o real. Os fragmentos dos diários pessoais de Pedro, escritos entre 2012 e 2014, es tabelecem uma relação de complementariedade ou ruptura com as ilus trações e grafismos produzidos por mim e Regina entre 2020 e 2022. Em muitas das obras, um certo efeito de incoerência ou entre-temporalidade entre os elementos gráficos foi intencionalmente buscado. A partir desse contrassenso, procuro colocar em evidência como Regina parece desafiar os prognósticos médicos e as expectativas passadas de seu filho, (re)cos turando uma nova vida com e apesar da doença. Hoje é ela quem me acor da, que me mostra as horas… “olha, dez pras sete, hein. Não vai levantar não?” Me cobra os remédios....Ela sabe todos os dias dos santos no calen dário (Igor, em entrevista no final de 2021).
A partir desse trabalho de observação, diálogo e prática participativa com as pessoas com as quais realizo pesquisa (INGOLD, 2021), espero abrir no vos caminhos de descentralização e ampliação do processo de escrita (por meio uma construção coletiva e imaginativa, dentro de suas possibilida des). Se a doença reorganiza fronteiras e se multiplica por espaços-tem po intersticiais (CRAPANZANO, 2005), experimento neste ensaio também deslizar por entre a documentação e a imaginação, entre o passado e o pre sente, entre o dentro e o fora, entre o eu e o outro.
BÁRBARA ROSSIN é mestre e doutoranda em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/Museu Nacional). Graduada em Ciências Sociais pela mesma instituição e membro do Laboratório de Etnografias e Interfaces do Conhecimento (LEIC/UFRJ). Tem experiência de pesquisa nas áreas da Antropologia do Direito, Antropologia da Morte e Antropologia da Saúde, com ênfase nos seguintes temas: demências, tempo, materia lidades, memória, morte e emoções. Nos últimos anos, tem feito do de senho um pequeno refúgio para suas crises de ansiedade e paralisia com a escrita formal.
Este trabalho é uma narrativa desenhada sobre os modos de vida e organização da Aldeia Nova Conquista Taquara dos Tabajaras da Paraíba. Foi construída no formato de fanzine a partir de imagens e informações dialogadas com um indígena da comunidade: Paulinho Tabajara. A narrativa conta sobre as atividades de constru ção e reformas na aldeia, baseadas no trabalho coletivo por meio do plantio, colheita, pesca, e de outros aspectos.
Uma aldeia do povo Tabajara, situada no lito ral sul da Paraíba, é o lugar do qual trata esta narrativa em formato fanzine, que tem como objetivo retratar os modos de vida e forma de organização dos Tabajaras da aldeia Nova Conquista Taquara. Utilizando o desenho como linguagem, construímos uma narrativa em um livro de bolso com sistema de dobradura em papel. Este é dobrado ao meio no sentido ho rizontal e tem quatro dobras na vertical, tota lizando 15 mini páginas, incluindo capa e con tracapa. Desenhado à mão, essa narrativa trata das atividades de pesca, plantio, refloresta mento, dentre outros aspectos da vida da co munidade, construído no diálogo com o indíge na Paulinho Tabajara.
Os povos indígenas do Nordeste têm atravessado uma longa luta pelo direito ao território. Nas últimas décadas alguns povos indígenas da região têm tido reconhecidos seus pertencimentos, ampliando os processos de (re)emergên cias étnicas. Os Tabajaras da Paraíba estão ativamente na luta pelo território e manutenção das formas de organização em comunidade, considerando seus modos de fazer, utilizando de recursos do meio ao redor, fazendo alianças com pesquisadores e outros indígenas, defendendo as cosmologias como o Toré, o grafismo e fortalecendo a figura de um Cacique.
A Aldeia Taquara é recente, está sendo construída há cinco anos. Foram três anos de trabalho com o preparo da terra de difícil domesticação, já que era um bambuzal, de onde se origina o nome da aldeia “Taquara”. A construção da oca, há cerca de dois anos, marcou a habitação da aldeia. Atualmente, abriga aproximadamente 80 famílias moradoras, que são agentes de construções e reconstruções da aldeia. Na comunidade ainda não há eletricidade e água en canada, as pessoas ainda mantêm práticas tradicionais e o sentido de coleti vidade. A construção da oca central e as reformas pelas quais passou foi um processo coletivo, de construção coletiva, assim como é a pesca, a agricultura comunitária, o replantio de espécies nativas. A organização da aldeia se firma na figura central do cacique Paulo, é ele quem direciona as demandas sociais e políticas da comunidade, dentro e fora da aldeia, como o ativismo político, que é pauta constante nas ações da aldeia. Compreender essas novas formas de or ganização é importante para o conhecimento antropológico.
Uma das possibilidades de traduzir o conhecimento antropológico para outras linguagens que não seja textual, é o desenho. Por isso, escolhemos uma nar rativa visual que coloque em diálogo o desenho e a antropologia, por meio de uma linguagem popular e acessível como o fanzine (ou livreto de bolso). Aina Azevedo nos inspirou a superar o efeito paralisante do medo da marginaliza ção, quando mostra as convergências históricas e contemporâneas entre de senho e antropologia visual, e incentiva os/as antropólogos/as a utilizaram o desenho nos seus processos de pesquisa de campo.
Compreendendo a importância do desenho na pesquisa antropológica e as diversas possibilidades de executá-lo, o resultado desta pesquisa imagé tica no formato de fanzine, é uma perspectiva parcial de um processo pes quisa que está em andamento com os Tabajaras. Mas acima de tudo, pre tende que circule aspectos da identidade dos Tabajaras de Taquara, que fortaleça seus modos de existências. Pretendemos que esta produção re torne para a comunidade, a fim de que seja distribuída entre as pessoas, de forma que estas se percebam positivamente representadas.
Utilizar a linguagem do desenho é uma pretensão de narrar como a luta pelo território, o cultivo de formas tradicionais de vida, os saberes ances trais, enfim, as várias formas de organização dos povos Tabajara são cul turalmente relevantes, pois fazem parte de um processo de mudança e de transformação dentro da reivindicação histórica pelo direito à terra.
ANDREY REGY PEREIRA MORAES é graduando em Antropologia pela Universidade Federal da Paraíba, Campus IV Rio Tinto. É artista visual amazônida, nascido em Santa Isabel do Pará. É desenhista, escultor, pin tor, muralista, acumulando conhecimentos ao longo de 30 anos de atua ção na cena artística paraense, além dos estados do Amazonas, Rio Grande do Norte, Paraíba e outros lugares. Tem interesse em pesquisas na área de Antropologia visual, com enfoque para o desenho etnográfico em dife rentes estilos. Além de diversos trabalhos realizados como artista, desta co também os desenhos em contexto etnográfico como as ilustrações em tese de doutorado e a ilustração de capa de revista acadêmica.
ESTER PAIXÃO CORRÊA é nascida no interior do Pará, na comunidade de Tatuaia, é mestra Antropologia Social pela Universidade Federal do Pará e doutoranda em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Viajante, escritora, fotógrafa, pesquisadora e artesã, tem publicações de ensaios, artigos e ensaios visuais em livros e revistas acadêmicas na área da Antropologia e da Arte. Pesquisa sobre mulheres, feminismo, negri tude, ancestralidade, cultura popular e mulheres viajantes. Atualmente, é participante na @coletivafeminart, junto a quem desenvolveu pesqui sa sobre ancestralidades rurais na Amazônia, é escritora no blog medium. com/ikamiabaviajante e desenvolve pesquisa acadêmica sobre as mulhe res que viajam de mochila pela América do Sul.
Cada cabeça uma sentença. 10/12/2019, 15h, Sala G, Palácio de Justiça, Poitiers. Caso 16, CC.7, pp. 128-129 (28,0 x 4,0 cm)
Minha pesquisa de campo em Júris france ses iniciou-se em 01/2013 e terminou em 02/2019. Dela resultaram 9 cadernos de cam po com 161 desenhos. Para selecionar apenas 10 realizados nos últimos 6 anos, considerei 5 cadernos (2016 a 2019) com 104 desenhos. Pré-selecionei 29, depois 16 e, finalmente, cheguei a 10 que representam os 5 tipos de desenho que mais fiz: de objetos (2), croquis -ambiente (1), grupos de pessoas (2) e pesso as isoladas (5).
Escolhi o “Portal das testemunhas” para a abertura (D.1) porque fui uma etnógrafa-tes temunha desses rituais de julgamento. O de senho foi feito durante uma rápida pausa e o apresento, assim como os demais, em meio a textos que mostram como são os meus ca dernos de campo.
O relógio, cujos ponteiros não se moviam, “Tempo suspenso e intenso” (D.2), também desenhei durante uma pausa em que pen sava nas muitas vidas narradas, reinventa das, avaliadas e decididas em um tempo de suspensão, intensificação e transfiguração do cotidiano.
“O plenário, do alto e de longe” (D.3) é o pri meiro desenho em que aparecem pesso as, embora indefinidas. Esbocei o ambien te e a visão que eu tinha sentada ao lado do Promotor de Justiça.
Quando fiz o D.4, “O plenário, do meio e de perto”, eu estava atrás de pessoas do público. Outra perspectiva, outras percepções, outros registros etnográficos.
No desenho “Cada cabeça uma sentença” (D.5), que ocupa o rodapé de duas páginas, tentei captar algo dos enigmáticos pensamentos e emoções de cada jurado(a).
Os 5 desenhos finais exemplificam, em rápidos traços, o que absorvi da com plexidade de algumas pessoas e situações, como a “Mãe-África (do acusado)” que, com suas vestes coloridas, voz grave e forte sotaque dominou a cena en quanto depunha a favor do filho, acusado de provocar um acidente de carro e matar policiais (D.6).
“O defensor que desenhava” (D.7) atuou em mais de um julgamento que acom panhei e, ao entrevistá-lo, contou-me que, assim como eu, organizava melhor as ideias enquanto desenhava.
“A companheira valente do acusado” (D.8), com seus cabelos cor-de-rosa, foi especialmente contundente quando se manifestou em favor do companheiro de quase 4 décadas, acusado de assediar e estuprar sobrinhas e conhecidas.
“A testemunha encabulada (ex-namorada do acusado)” declarou, com timidez e dor, os motivos que a levaram da paixão à conclusão de que o acusado de estuprar e matar outra mulher dissimulava sentimentos e a manipulava (D.9).
Por fim, o conjunto dos 10 desenhos se encerra com “Um juiz presidente” (D.10), profissional que declara concluído o julgamento após ler a sentença e que, durante ele, ocupa o centro da cena, sempre de toga vermelha e lapela branca com manchas pretas que indicam sua posição hierárquica.
Os 10 desenhos selecionados, feitos com caneta BIC sobre papel, integram um conjunto de 104 distribuídos por 5 cadernos de campo preenchidos en tre 2016 e 2019 durante 12 julgamentos pelos Tribunais do Júri de Paris e Poitiers. Trata-se da 2ª metade da minha pesquisa de campo, iniciada em 2013, para a tese de livre-docência em antropologia do direito, na qual analiso, comparativamente, rituais dos Júris do Brasil e da França. Mantive os desenhos sem retoques, tal como feitos, em segundos ou minutos, du rante os julgamentos. Em tempos em que tablets e celulares se tornaram cadernos de campo, sigo com folhas de papel, pois nelas encontro o me lhor suporte para etnografar e fazer antropologia.
Às vésperas de iniciar a graduação em ciências sociais, em 1981 e 1982, fiz cursos de desenho na Escola Panamericana de Arte (EPA) e, 22 anos de pois, em 2004, me rendi a um curso oferecido no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), especialmente marcante pelas aulas com mode los vivos e a técnica do "desenho do minuto". As e os modelos, sempre nus, jovens e idosos, ficavam numa dada posição por apenas um minuto, tem po em que tínhamos que transportá-los para o papel. O sábio conselho era: não olhem para o papel, olhem para o(a) modelo. Penso que essa é uma boa metáfora do que mais importa quando etnografamos.
Desenhei bastante quando do meu doutorado em antropologia social, en tre 1997 e 2001, em plenários dos Tribunais do Júri da cidade de São Paulo, mas foi após o curso no MAM-SP que passei a desenhar cada vez mais em campo e, quando, recentemente, descobri os trabalhos de Karina Kuschnir e de suas e seus interlocutores, reconheci-me como integrante desse po tente grupo de antropólogas(os)-desenhistas.
Decididamente, etnografo mais e melhor quando, ao mesmo tempo, ob servo e desenho em folhas de papel. Além dos traços que o grafite ou a tinta registram quando nenhum tipo de verbalização dá conta das ideias e emoções, considero que letras também são desenhos, assim como os si nais ortográficos e de pontuação, frases registradas na horizontal, na ver tical, obliquamente, abreviações, flechas e linhas que sublinham, circun dam e rasuram.
Assim são meus cadernos de campo, pautados ou não, com páginas brancas, amareladas ou acinzentadas: repletos de desenhos de objetos, ambientes, pessoas, além de palavras que, com a mesma força com que jorraram do mun do, a ele me reconduzem sempre que os revisito.
Eu desenho, além de escrever, quando considero que as palavras não alcan çam o registro de certas afetações, como as texturas e contexturas de expres sões faciais e corporais, de silhuetas humanas e não humanas, do magnetismo de objetos e ambientes. Desenhos etnográficos, para mim, não são meras ilus trações, tampouco faço “desenhos de tribunais”, especialidade que leva dese nhistas a salas em que fotos e filmagens são proibidas. Na França, vi várias(os) jovens estudantes treinando esse tipo de desenho e, enquanto se detinham em uma página, eu preenchia várias do meu caderno do campo. Embora, poste riormente, eu pudesse tecnicamente aprimorar meus desenhos, nunca o fiz, pois entendo que seria uma espécie de auto traição alterar meus traços fora do contexto que os criou, tanto que nem sei o que me dá mais prazer, se o ato de desenhar ou, depois, a surpresa diante do que surgiu e se perenizou no papel.
Os 10 desenhos selecionados para este Prêmio integram um conjunto forma do por 161 distribuídos em 9 cadernos de campo: aproximadamente 1.100 pá ginas, preenchidas entre 2013 e 2019 durante 22 julgamentos por Tribunais do Júri acompanhados na França (Douai, Paris, Lyon e Poitiers). Trata-se da pes quisa de campo que embasa a minha tese de livre-docência em antropologia do direito, na qual analiso, comparativamente, aspectos rituais dos Júris de lá e de cá. Como o Edital do Prêmio, em seu item X.1.c, estipula que a obra deve ter sido realizada nos últimos 6 anos, a contar da data da RBA na qual ele será con ferido, descartei os 4 primeiros cadernos (57 desenhos de 10 julgamentos, em Douai, Paris e Lyon, entre 01/2013 e 12/2015) e considerei os 5 últimos (104 de senhos de 12 julgamentos, em Paris e Poitiers, entre 11/2016 e 02/2019).
Para selecionar apenas 10 e decidir se deixaria, totalmente ou em parte, os tex tos em meio aos quais os desenhos foram registrados, pré-selecionei 29 e os classifiquei de acordo com 5 categorias: objetos, croquis, ambientes, grupos de pessoas e pessoas isoladas. Digitalizei e imprimi 16, para melhor visualizá-los
como um conjunto e, finalmente, cheguei aos 10 e a uma ordem-narrati va que parte de 2 objetos, passa para 1 croquis-ambiente e avança para 2 grupos de pessoas e 5 pessoas isoladas (detalho essa ordem no campo “Apresentação”).
Em tempos em que tablets e celulares se tornaram cadernos de campo e em que a maioria das pessoas mal sabe como é sua caligrafia nem cogita desenhar o que observa, sigo com minhas folhas de papel, pois nelas en contro o melhor suporte para etnografar e fazer antropologia. Expô-las, publicamente, é um tanto desconfortável e desafiador, mas espero contri buir para reflexões sobre as potencialidades do fazer etnográfico com "de senhos do minuto”.
ANA LÚCIA PASTORE SCHRITZMEYER é docente do Departamento de Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP, onde lidera o Núcleo de Antropologia do Direito (NADIR). Graduou-se em Ciências Sociais e em Direito e se titulou mestre e dou tora em Antropologia Social na USP. Atua na área da antropologia do di reito, pesquisando e orientando trabalhos sobre Tribunais do Júri, ju risprudência e narrativas de violência, direitos humanos, profissionais e profissões do direito, sistemas de justiça criminal e criminologia. É bol sista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, Nível 2, e coordenadora do Comitê de Ética em Pesquisa da FFLCH-USP.
“LAMPEJOS DA MEMÓRIA”: ENTRE AS LINHAS DA VIDA E A DOENÇA DE ALZHEIMER FLÁVIA MARIA SILVA RIETH
Montagem de desenho e imagens de revista (Projeto Antropoéticas/ UFPEL). Proponho o sentipensar a experiência de vida e morte de mi nha mãe com doença de Alzheimer. Reflito sobre os processos de esque cimento-memória, imaginação-alu cinação, considerando as aprendiza gens entre gerações, destacadas as de filiação. Acompanho Tim Ingold (2020) para pensar as relações de fi liação, não como linhas fixadas, mas como emaranhado de linhas de vida, relacionando gerações e ambientes.
Esta montagem de desenho e imagens de recortes de revista foi elabo rada como um exercício durante o projeto de extensão Antropoéticas, do Bacharelado em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas, no en contro Fotografias e Imagens de Horrores. Proponho o sentipensar a expe riência de vida e morte de minha mãe com doença de Alzheimer, em estado avançado. Os cuidados são paliativos, em home care. Reflito sobre os pro cessos de esquecimento-memória, imaginação e alucinação, consideran do as aprendizagens entre as gerações, destacadas as relações de filiação. Neste sentido, acompanho a perspectiva de Tim Ingold (2020) para pensar as relações de filiação, não como linhas fixas, mas pressupondo um emara nhado de linhas de vida, relacionando as gerações e os ambientes.
Nesta montagem com desenho e imagens de recortes de revista, apresen to a proposição de sentipensar (Escobar, 2016) a experiência de vida e mor te de minha mãe que está com a doença de Alzheimer. Pouco responsiva, surpreende em alguns instantes ao agradecer as manifestações de carinho, lembra o seu nome ou das filhas e do filho de forma fugidia, não reconhece a casa como sua e diz que vai embora.
Ao tratar dos rastros da memória no processo da doença de Alzheimer, Feriani (2017) discute os emaranhados de relações entre lembrança e es quecimento, imaginação e alucinação, juventude e velhice, normal e pato lógico. A queixa da pessoa em voltar para casa ou querer ir embora, asso cia à desorientação tanto temporal como espacial, ao não reconhecimento dos parentes, da casa ou mesmo da cidade entre as dobras do aparecer e do desaparecer:
"(...) A doença de Alzheimer, marcada pela vulnerabilidade, dissolu ção e confusão, é, ela própria, um emaranhado de relações saberes e práticas, um misto entre o orgânico e inorgânico, demência e lucidez, numa transversalidade que não se sabe onde começa uma e termina a outra." (p.556)
Nas rememorações de minha mãe, com frequência ela lembrava de sua infância em São Gabriel, aconteceres vivenciados na sua família de ori gem e que foram escritos em seus cadernos. Na época, os exercícios de escrita eram uma terapêutica para retardar o avanço da doença, são fragmentos do conhecimento passado de geração para geração: "Nasci em São Gabriel, em 1926, é uma cidade não muito grande, nem pequena, vive da pecuária e das plantações, de preferência do arroz. Nossa casa era de um tamanho grande, com jardim, parreira, horta e ár vores frutíferas. Junto a nossa moradia, tínhamos a loja com material de construção e galpão para colocar madeiras. Ao fim do galpão, estre baria com vaca, terneiro e cavalo para puxar a carroça. Esta era usada para transporte de materiais do depósito.
Na mesma quadra um pouco mais adiante ficava o depósito grande, com madeiras, cal, alfafa, areia, etc... Tínhamos do vidro às ferragens. E ali acostumei a ver meu pai atendendo no balcão, fabricando massa de vidraceiro, até as dobradiças e fechaduras ali poderiam ser adquiridas.
Aos seis anos comecei a frequentar o Colégio Elementar, ficava na qua dra seguinte da nossa moradia [...] Quando meu pai faleceu, fomos para Porto Alegre (...)" (Falando de Mim, p.16)
Eu não conhecia São Gabriel e resolvi fazer uma viagem, seguindo os rastros da memória de minha mãe. A casa de meus avós foi demolida, no local foi construída uma loja de móveis. A casa de uma tia da mãe, irmã de minha avó, permanece e serviu de referência para eu percorrer os caminhos da infância: os passeios até a praça, o caminho até o colé gio. Muitos casarios antigos se encontram preservados em São Gabriel, possibilitando eu imaginar, na época, o lugar.
De volta, falo que conheci São Gabriel. Neste momento ela narra que nas ceu naquela cidade, que lá viveu com sua família até o falecimento de seu pai, mas que hoje São Gabriel não tem mais nada a ver com ela.
Nestes vestígios de memória que se dobram e desdobram em um tempo que não é linear, ocorre, conforme Feriani, lampejos de consciência, que nos permitem diferentes acessos ao passado, à polissemia da memória tramada também pela imaginação.
A partir de Ingold, reflito sobre o modelo genealógico em que a linha de fi liação é fixada verticalmente, não se tratando de uma linha de vida, pois as relações geracionais e as heranças também estão fixas. A relação com o am biente não é contemplada em razão dos imperativos biológicos. Nessa pers pectiva, a transmissão das heranças é fixada na falácia de que as informa ções devem “preexistir aos processos que lhe dão origem” (p. 25).
Nesse sentido, tomando os processos de vida e morte como um emara nhado de fios, as aprendizagens geracionais podem alterar estes desíg nios. São aconteceres que inventam outras vidas, possibilitando a abertu ra para a mudança.
ESCOBAR, Arturo. Sentipensar con la Tierra: Las Luchas Territoriales y la Dimensión Ontológica de las Epistemologías del Sur. Revista de Antropología Iberoamerica. Volumen 11, número 1, enero- abril, Madrid, 2016.
FERIANI, Daniela. Rastros da memória na doença de Alzheimer: entre a invenção e a alucinação. Revista de Antropologia (Online) São Paulo: USP, 2017 v.60 n.2 p. 532 - 561.
INGOLD, Tim. Antropologia e/como Educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2020.
RIETH, Yedda M. S. Falando de mim. Pelotas, 2016 (mimeo)
FLÁVIA MARIA SILVA RIETH atuo como professora no Bacharelado em Antropologia e na Pós-Graduação em Antropologia (PPGANT) na Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) e, como pesquisadora do Grupo de Estudos Etnográficos Urbanos (Geeur). Participo do Projeto de Extensão Antropoéticas, vinculado ao Laboratório de Ensino, Pesquisa e Produção em Antropologia da Imagem e do Som (LEPPAIS) Desenvolvo trabalhos nas áreas de patrimônio, meio ambiente, família e parentesco e diários gráficos.
O primeiro desenho pertence à história “A Porta Entreaberta”. Utilizando como norte a cena inicial, o desenho representa e expressa aspectos climáticos, espaciais, culturais, identitários e arquitetônicos: a chaleira fervendo, o vento entrando pela porta e janelas estilo colonial e neoclássico (muito presente nos sobrados e casarões cariocas do começo e meio do século XX, época que viveu Lima Barreto).
O trabalho retrata narrativas étnico-raciais num contexto contemporâneo. Uma das estratégias utilizadas no trabalho para retratar essas relações foi a apresentação de contos e ilustrações, ora baseados, ora inspirados em fatos reais. As ilustrações assumem um papel importante no registro mnemônico e sensível de cada leitor. Como inspiração para realização dos desenhos, além das histórias em si, o tema “relações étnico-racias” teve um papel importante em unir e costurar essas histórias.
O trabalho retrata a importância do Movimento Negro como principal educa dor coletivo nas relações étnico-raciais no Brasil. Umas das estratégias utiliza das no trabalho para retratar essas relações foi a apresentação de contos. Três narrativas foram construídas e apresentadas. A ilustração entrou no trabalho com o intuito de materializar na mente do leitor possibilidades gráficas e ca racterísticas presentes em cada história. Essa materialização tem uma função importante no registro mnemônico e sensível de cada leitor.
Como inspiração para realização dos desenhos, além das histórias em si, o tema relações étnico-raciais teve um papel importante em unir e costurar es sas histórias.
As ilustrações compõe a tese intitulada “Tudo que nós têm é nós: lugares da ne gritude e práticas político-pedagógicas de coletivos negros na universidade” defendida em 2021 no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Saúde do Instituto Nutes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A investigação amparada pela teoria de Gomes (2017), segundo a qual re conhece o Movimento Negro como principal educador coletivo das rela ções étnico-raciais no Brasil, teve como objetivo identificar de que ma neira o movimento negro se torna um educador coletivo das relações étnico-raciais em uma universidade e, quais são suas principais ações edu cativas e estratégias político-pedagógicas.
A pesquisa seguiu a orientação teórico metodológica da pesquisa ativista de Hale et al. (2008) e do referencial teórico das metodologias informadas por arte de Coles e Knowles (2008). Assim, o estudo contou com uma fase exploratória que buscou cartografar os coletivos negros atuantes na UFRJ e de uma etapa de aprofundamento de caráter etnográfico, apoiada nas contribuições de Carvalho (2008) e Nascimento (2019), junto ao Coletivo Preto Virgínia Leone Bicudo no curso de Psicologia.
Os resultados da tese são apresentados em seis capítulos. A trilogia inicial mapeia a atuação dos coletivos negros na UFRJ, a partir de um poema de uma ativista e da composição de uma galeria de imagens. Já o trabalho et nográfico junto ao Coletivo Preto Virgínia Leone Bicudo resultou na elabo ração dos demais capítulos, precedidos cada um por contos literários cujas ilustrações pleiteiam o I Prêmio Pierre Verger de Desenho.
Entre os resultados identificamos três movimentos comuns que fazem os sujeitos negros/as na formação socioespacial universitária: partem de um estar à deriva, aterram-se junto ao quilombo e, finalmente, acomodam as existências e produzem saberes. Amparados por Santos (2001) sustenta mos a tese dos lugares da negritude enquanto matriz formadora desse mo vimento, dando fundamento e conferindo especificidade aos saberes iden titários, políticos e estético-corpóreos de Gomes (2017).
Subsidiados por Freire (2019) e Nascimento (2019), identificamos as prin cipais práticas educativas do Coletivo Preto Virgínia Leone Bicudo, enten didas como ações culturais para liberdade tipicamente afro-brasileiras. O trabalho antropológico junto ao grupo permitiu observarmos como o co letivo alimenta estas ações absorvendo dos eixos presentes nos lugares da negritude subsídios para conformar suas estratégias político-pedagógi cas, a saber, os pares espiritualidade-corporalidade; memória-linguagem; circularidade-irmandade que se relacionam de forma interdependente por meio da dialogicidade.
Este estudo localiza a produção de novos conhecimentos pelos coletivos ne gros universitários e ressalta a necessidade de adoção das cotas epistêmicas na universidade, conforme propõe Carvalho (2018). Além disso, reforça a ur gência da elaboração de políticas universitárias e culturais específicas em nos sas universidades.
CARVALHO, José Jorge. Encontro de Saberes e descolonização: para uma refundação étnica, racial e epistêmica das universidades brasileiras. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramón (orgs.). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. 1. ed. Belo Horizonte: Autentica, 2018. p. 90-120.
COLES, Ardra L.; KNOWLES, J. Gary. Arts-Informed Research. In: KNOWLES, J. Gary; COLE, Ardra L. (orgs.). Handbook of the arts in qualitative resear ch: perspectives, methodologies, examples, and issues. Los Angeles: Sage Publications, 2008. p. 55-70.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 69ª. Rio de Janeiro/ São Paulo: Editora Paz e Terra, 2019.
GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis: Editora Vozes, 2017.
HALE, Charles R. (Org.). Engaging contradictions: theory, politics, and methods of activist scholarship. Berkeley: University of California Press, 2008(Global, area, and international archive). Disponível em: https://escholarship.org/uc/ item/7z63n6xr. Acesso em: 24 ago. 2021.
NASCIMENTO, Abdias do; KABENGELE MUNANGA; NASCIMENTO, Elisa Larkin; NASCIMENTO, Valdecir. O quilombismo: documentos de uma mili tância pan-africanista. 3a edição, revista. [Rio de Janeiro, Brazil] : São Paulo, SP, Brasil: IPEAFRO  Perspectiva, 2019.
SANTOS, Mílton. Por uma outra globalização: do pensamemto único à consciência universal. 6ª. Rio de Janeiro: Editora Record, 2001.
OSMAR SANTOS é estudante de Arquitetura e Urbanismo na UFRJ e atua como Urban Sketcher, revelando através dos desenhos, os traços da cidade.
TAMIRIS PEREIRA RIZZO é Nutricionista, Mestra em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Doutora em Educação em Ciências e Saúde pela UFRJ.
ALEXANDRE BRASIL CARVALHO DA FONSECA é Cientista Social e Mestre em Sociologia e Antropologia pelaF Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e, atu almente, é Pró-Reitor de Pessoal da UFRJ.
“O trabalho não acaba e nem fica pouco”
A DERRUBADA DA PALHA LUCAS COELHO PEREIRA, 2021
No extremo norte entre os estados do Piauí e do Maranhão, inverno é período de chuvas. Ocorre de meados de dezem bro a final de junho. Verão é seca. Lagoas e charcos formados pelas águas da esta ção anterior evaporam. As caminhadas por lugares antes inundados, então, tor nam-se possíveis. É quando pescadores e pequenos agricultores residentes na Resex do Delta do Parnaíba se organizam em turmas para o corte das folhas da car naúba (Copernicia prunifera). O pó desse vegetal dá origem a uma cera apreciada na produção de lubrificantes, cosméticos e alguns artefatos industriais. Para obtê -lo, contudo, é preciso se emaranhar nos carnaubais e educar a atenção para a lida com foices e facões.
Carnaúba é assim: dá em todo canto. Andando pelo Delta do Rio Parnaíba é di fícil discordar disso. A carnaubeira faz-se presente nas portas e nos quintas das ca sas, na beira do rio, nas calçadas de pré dios públicos, no meio fio de avenidas. Há quem a chame de árvore da vida, porque dela tudo se aproveita. Das raízes fazem remédios; com o caule, móveis, cercas, casas. As palhas são bastante apreciadas no artesanato de cestos, redes, tapetes e
o que mais a criatividade permitir. Elas fornecem ainda matéria prima para a produção de velas, microchips, cera, cosméticos e produtos lubrifican tes. Antes disso, obviamente, suas folhas precisam ser retiradas do alto de suas copas. É sobre este processo que irei narrar através de imagens.
Apesar de amplamente presentes no semi-árido nordestino, é nos car naubais onde encontramos várias delas. Juntas. Exuberantes! Medindo até 20 metros. Suas palhas são coletadas com o auxílio de uma foice. Na Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba (lugar onde o ensaio foi realizado) a organização para esta atividade ocorre em turmas. Grupos de pelo menos quatro homens que desempenhando diferentes funções co letam e preparam a folha da carnaúba para serem trituradas em máqui nas. Somente assim se obtém o pó com o qual produtos derivados da plan ta serão confeccionados. Porém, se a máquina realiza uma das principais transformações técnicas (Sautchuk, 2017) implicadas nesta cadeia produ tiva, é apenas através do manuseio da folha por mãos humanas que isso se torna possível.
O ensaio fotográfico se ancora em minha pesquisa de doutorado realizada no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília. Foram 13 meses de convivência entre comunidades ribeirinhas do Delta do Parnaíba, entre os anos de 2018 e 2020. A tese, objetivou tra tar da cata de caranguejo-uçá em manguezais da região, mas acompanhar os catadores em suas práticas cotidianas levou-me a um conjunto bastan te amplo de práticas que, articuladas com as sazonalidades de inverno e verão, compunham os meios (Fagundes, 2019) experienciados por meus anfitriões. Assim, a fotografia se insere na pesquisa a fim de mostrar como uma prática de coleta extrativista articula um conjunto de técnicas e vi ventes não apenas humanos, visto que durante a derrubada da palha é pre ciso considerar ferramentas, plantas e o próprio sentido do vento duran te o corte da palha.
Lelía, Assis e Marcelo, personagens desta narrativa visual, trabalham com as mãos ao lidar com foices, facões e outros ferros. As mãos unem, sepa ram, cortam, carregam, abrem as folhas. O que não significa dizer que todo o corpo não esteja envolvido na constituição dessas habilidades (Ingold, 2002). Acessar as carnaúbas requer caminhadas. Implica conhecimento profundo do meio, seu relevo, áreas alagadas, localização dos carnaubais. Saberes gestados a partir do engajamento prático das pessoas com seus ambientes e caminhos de vida (Ingold, 2002, 2015). Quem se aventura
neste ofício joga ainda com o calor do sol, pois só depois de espalhadas ao chão para secar poderá ser extraído o pó das folhas. Além da descrição de gestos efetuados na coleta, portanto, o ensaio mostra o conjunto de paisagens, plan tas e agentes mais-que-humanos (Tsing, 2019) nela envolvidos. As fotos são da safra de 2019.
FAGUNDES, Guilherme Moura. 2019. Fogos gerais: transformações tecno políticas na conservação do cerrado. Tese (Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social). Universidade de Brasília, Brasília, Brasil.
INGOLD, Tim. 2015. Estar Vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis: Editora Vozes.
INGOLD, Tim. 2002. The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and skill. London: Routledge.
SAUTCHUK, Carlos Emanuel. (Org.). 2017. Técnica e transformação: perspecti vas antropológicas. Rio de Janeiro: ABA Publicações.
TSING, Anna. 2019. Viver nas Ruínas: paisagens multiespécies no antropoceno. Brasília: IEB Mil Folhas.
LUCAS COELHO PEREIRA é mestre e doutor em Antropologia Social pela Universidade de Brasília, vinculado ao Laboratório de Antropologia da Ciência e da Técnica (LACT). É fotógrafo e realizador audiovisual. Alguns dos seus trabalhos fotográficos foram premiados pela ANPOCS e pelo Prêmio Mariza Corrêa de Antropologia Visual. Realiza pesquisas no campo das relações entre humanos, plantas e animais; antropologia das práticas; antropologia ecológi ca e antropologia da pesca.
O ensaio fotográfico resulta de uma pes quisa antropológica de média duração, que culminou na dissertação de mes trado intitulada "A vida dos artefatos: Arte/artesanato de Palha na Feira de São Joaquim, em Salvador, Bahia", defendida virtualmente em agosto de 2020. A re lação com o lugar havia se iniciado ante riormente: em 2010, em um "passeio fo tográfico", e em 2014, no contexto de uma pesquisa PIBIC que envolvia foto grafia e etnografia sonora, "Olhares e escutas antropológicas sobre a Baía de Todos os Santos". Entre janeiro e feverei ro de 2022, foram produzidas as fotogra fias que compõem o ensaio proposto re alizado com a colaboração de feirantes e frequentadores.
A palha é um tipo de material de expressão notável nos mais variados es paços da Feira de São Joaquim, na Bahia. É parte constituinte de uma infi nidade de objetos com as mais diversas finalidades de uso: diferentes tipos de palha compõem inúmeros produtos à venda ou em uso. Os artefatos de palha, que, através de suas linhas de vida, passam por essa feira, es tão imersos em constantes processos de interação social, encontram-se enredados, envolvidos por uma grande teia de relações sociais (ou mes mo em um verdadeiro emaranhado), nas quais exercem seu poder de agên cia, influenciam ações humanas ao mesmo tempo em que são receptáculos dos efeitos da ação humana, A vida social dos artefatos de palha na Feira de São Joaquim, Bahia, é o ponto alto que este trabalho almeja alcançar. Por meio das imagens, a partir de uma abordagem biográfica, inserimos na narrativa aspectos das artes artesanais, especialmente na etapa de cir culação (entre as demais etapas: produção e recepção/consumo): o ensaio aborda, de modo enfático, a fase de circulação da vida social desse arte sanato de palha encontrado em São Joaquim. A etnografia sonora é uma aliada no fazer pesquisa sobre coisas que constituem o corpus da Feira, juntamente com os/as feirantes e suas artes de fazer, os frequentadores, clientes, consumidores, passantes, turistas, artistas e curiosos que circu lam por esta imensa, intensa, intrigante e tradicional feira de rua na cida de de Salvador. É proposta uma incursão atenta às sonoridades no espaço da feira, tanto quanto às imagens, motivo pelo qual a fotografia, impor tante mediadora entre arte e ciência, ganha destaque nas crônicas ima géticas que apresentam visualmente a feira à beira da Baía de Todos os Santos, a parte interior da feira e, destacadamente, o artesanato de palha sobre o qual a pesquisa volta as atenções. Destaca-se também aspectos como configuração étnico-racial das pessoas que circulam por aquele es paço e o trabalho, dos vendedores e dos transportadores (os carregadores das pranchas e carrinhos).
A utilização da fotografia e da captura de sonoridades em consonância com os interesses de pesquisa auxiliam no situar micro e macro analítico, ou sis têmico, o pesquisador e o leitor no decorrer da narrativa, além de aden trar num conjunto de relações que envolve as coisas, a câmera, o pesquisa dor, a pesquisa e o leitor, além das imagens e sonoridades capturadas. Uma dimensão ética deve ser pensada ao se propor utilização de ferramentas audiovisuais em pesquisa antropológica. É de fundamental importância adotar uma postura estritamente ética, além de empática, com os partici pantes em processos que envolvam captura de imagens e sonoridades em
pesquisa de campo: que as pessoas estejam cientes de que estão a ser grava das, filmadas e/ou fotografadas, que estejam de acordo com isso e que saibam sobre seus direitos de imagem, assim como a necessidade de adesão a termo de compromisso, eventualmente, caso necessário seja, para veiculação em meios específicos. Fotografias constituem também o corpus da pesquisa, mais do que ferramenta meramente metodológica, uma mediadora importante.
LUCAS BARRETO DE SOUZA é natural de Salvador, Bahia. Iniciado na fotografia em 2010, com formação no SENAC-BA (profissionalizante); 2012, na FACOM/ UFBA (extensão) e direção de fotografia, na oficina Curta Colaborativo, re alizada na UFBA. Graduado e mestre em antropologia pela mesma universi dade, respectivamente em 2017 e 2020. Atualmente, doutorando em antro pologia social pela UFRGS. Dentre as principais publicações, constam ensaio fotográfico em Ponto Urbe (NAU/USP), Iluminuras (BIEV/UFRGS), Cadernos Cajuína (IF-Sertão-PE). Dentre as participações: 6ª Reunião Equatorial de Antropologia (REA), como expositor, IV Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica (IV EAVAAM); coletivo: CAV/CULT/UFBA e CINES/UFBA.
As fotografias apresentadas são um desdo bramento da minha pesquisa de doutoramen to. Neste projeto desenvolvo a minha narrati va visual, entre Arte e Antropologia, Fotografia, Costura e Encadernação. Aqui, fiz o encontro que acredito: construímos os conhecimentos pelos saberes e habilidades. Estas fotografias fazem parte de um livro que é coerente com as escolhas do meu longo trajeto como fotógrafo e antropólogo, além da minha posição crítica com os sistemas coloniais. Há anos fotografo roças e neste longo período venho publicando sobre as pessoas que permanecem nestes locais e como elas desenvolvem categorias êmicas que expli cam o seu mundo.
As narrativas das fotos fazem parte do livro que se inicia na ilha de São Tomé. Esta ilha está situada no Oceano Atlântico, no Golfo da Guiné, na al tura da linha do Equador, a aproximadamente 300 km da costa ocidental africana. Assim como no sul da Bahia, no Brasil, São Tomé é um dos poucos lugares no mundo onde o cultivo de cacau. É uma das principais atividades econômicas que rege a configuração cultural e organização social. Nestes dois lugares, a existência de roças de cacau (e de café em São Tomé) en gendra uma forma peculiar de relação com a terra, o trabalho, a moradia, a distribuição de tarefas e assim por diante. Esse é o contexto que venho es tudando ao longo da construção de meu percurso enquanto pesquisador.
As roças, ou fazendas, de São Tomé deram início ao projeto imperialis ta de Portugal impondo às sociedades de plantação, fruto do colonialis mo português. A organização das colônias se dava com a divisor das ter ras invadidas e implantação da cultura da cana-de-açúcar, utilizando mão de obra escrava. Foi um processo que considero como a invasão das ter ras e dos corpos, objetivando riquezas pelo cultivo de alimentos que não eram de primeira necessidade na Europa, mas sim produtos de luxo, de lu gares distantes, voltados para a comercialização, como açúcar, café, algo dão e cacau. A colonização, ao inserir novos produtos no mercado europeu, redesenha a relação entre a produção e consumo, transformando histori camente as bases sociais e econômicas ao ressignificar o trabalho e a no ção de pessoa.
Neste período, que durou do século XVI ao XIX, as pessoas negras foram vistas como “homens-moeda”, objetificadas como unidades produtivas.
Em suma, o trabalho nas colônias foi matizado pela produção em larga es cala, pela desumanização e invasões que deram as bases à Modernidade e à Revolução Industrial.
As transformações socioeconômicas do período da Revolução Industrial refletiram nos corpos que enfrentaram a adaptação dos ofícios manu ais para a mecanização, o mundo dito do desenvolvimento perdia o res peito pelo trabalho físico e valorizava os insumos aplicados por ener gias não humanas.
Se o ato de criar e pensar as coisas feitas pelo artesão mudou pela inter ferência da máquina, os labores dos povos escravizados também muda ram com a servidão nas empresas coloniais. A produção colonial solapou
grande parte da atividade manual em favorecimento do consumo de produtos industrializados, dentro de um sistema económico capitalista que se projetou pela contemporaneidade e continuou valorizando a tecnologia e mecanização como símbolos de desenvolvimento e progresso.
Se a mecanização diminuiu as fábricas artesanais de papéis, livros, tintas e im pressões, e se, por um lado, os livros são tidos simbolicamente como o conheci mento, fazer um livro manualmente é produzir pelo investimento em saberes, em competências, que ampliam as multiplicidades de grafias. O fazer artístico, artesanal, em contraponto à essa mecanização, amplia os modelos preestabe lecidos pelos softwares e gráficas para um vasto campo aberto de alternativas de usos de ferramentas e de materiais. Parti desse contra fluxo da publicação executada pelas máquinas gráficas em papéis industriais e propus a confecção artesanal que desenvolve saberes e conhecimento.
Assim sendo, cada material era imaginado desde a sua génesis, inclusive o su porte das tintas, cola e todo o resto não seria o papel de celulose, mas sim o de algodão, o que considero a espinha dorsal, aquilo que daria corpo à obra. Deve-se isso em primeiro lugar ao fato de ter sido nas fazendas de algodão, em 1961, na província do Malanje, em Angola, onde foi desencadeada uma onda de revolta e violência que marcou o início do fim da colonização portuguesa, quando as/os colonas/os se negaram a trabalhar na Cotonang (Companhia do Algodão de Angola). Se as/os trabalhadoras/es do algodão marcaram a histó ria da resistência contra as práticas industriais capitalistas de abuso das pes soas e da terra, eleger o algodão como papel para suporte narrativo me coloca va a pensar no livro como uma experiência, capaz de correlacionar o material com o passado social.
EMILIANO FERREIRA DANTAS é doutor em Antropologia pelo Instituto Universitário de Lisboa/ISCTE-IUL, mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco/UFPE e graduado em Comunicação Social com habili tação em Fotografia pelas Faculdades Integradas Barros Melo/AESO. É mem bro do Laboratório Audiovisual do CRIA-ISCTE. Pesquisa e produz fotografias em São Tomé, Angola e Cabo Verde.
INTERAÇÕES E ATRAVESSAMENTOS NA EXPOSIÇÃO “AFRICAN SPIRITS” DE SAMUEL FOSSO: A RUA COMO GALERIA DE ARTE THAIANE BARBOSA DA SILVA, 2021.
Essas fotografias mostram a rua como galeria de arte, lugar de encontro e de suporte para novas represen tações. Com as imagens podemos observar o proces so de interação existente entre os passantes e a ex posição fotográfica. Um exercício de ocupação de espaços e de produção de representações negras (de corpos negros) na periferia parisiense.
Caminhar pelas ruas de Paris é se deparar com a má xima francesa mais conhecida em todo o mundo: Liberté, égalité et fraternité. Porém, para que possa mos entender melhor a dinâmica da cidade é neces sário buscar o que se passa nas brechas dessa his tória narrada oficialmente, história que impregna o imaginário social sobre o país e seus habitantes, mas que também possuem uma dimensão física que se materializa nas fachadas de alguns prédios históri cos da cidade.
Ao caminhar pelo centro de Paris e pelas ruas de Saint Denis (cidade que pertence a periferia de Paris) pude perceber que o contraste é marcante, no primeiro dia de caminhada em Saint Denis, vi muito negros circu lando, além de mulheres muçulmanas com as suas burcas. Um amigo que me recebeu em sua casa me disse que o bairro é considerado perigoso. Este me disse com as exatas palavras: “Se você falar que está hospedada em Saint Denis para alguém que mora em Paris vão te dizer que aqui é perigoso.”
O que torna Saint Denis um lugar perigoso e Paris não?O que representa o perigo nesses lugares? Será que determinados grupos sociais não são vis tos sobre a máxima da égalité?
No Brasil, os moradores de áreas da periferia e de favelas também são con siderados perigosos; por sua cor, por sua classe social. Sendo vistos como algo a ser combatido e extirpado da sociedade, são considerados caso de polícia, agentes do crime e em alguns momentos do passado foram retra tados como germes da promiscuidade social.
O estigma que recai sobre esse grupos abrange o que Bourdieu definiu como estigma de lugar mas não se restringe apenas a disposição geográ fica do bairro ou localidade, esse estigma também recai sobre seus mora dores que a todo custo tentam se defender das acusações que recaem so bre eles, algumas vezes, procurando a produção de uma nova narrativa de suas histórias ou em outros momentos tentando se livrar desses estigma acusando outros integrantes de seu próprio grupo social, uma vez que vi mos que, tanto as periferias como as favelas não são homogêneas como muitas das vezes aparecem retratadas pela grande mídia. A partir dessa contestação, perguntas importantes surgiram: Quem são os corpos que circulam pela cidade de Paris? Quem majoritariamente habita a cidade? Existe uma divisão racial, étnica ou social nos bairros parisienses? Quais os corpos que majoritariamente ocupam a periferia da cidade?
A tese que estou escrevendo tem um pouco a ver com essa história que estou tentando contar à vocês. E talvez ela consiga aproximar Brasil e França, países tão distintos mas com certas similaridades, principalmen te no que diz respeito aqueles que são descritos em sua sociedade como os diferentes/outros, sejam aqueles que carregam o rótulo de favelados e to dos as derivações possíveis, ou aqueles reconhecidos pelos seu caráter ét nico ou religioso, que por sua vez se afastam dos valores da sociedade re publicana francesa que tem como prática o apagamento daqueles que se colocam como diferente do que é entendido enquanto norma.
Olhar para a rua como uma unidade menor da cidade me possibilitou per ceber quais corpos habitam as suas localidades. Nas Ciências Sociais, a rua tem sido interpretada como um elemento do espaço urbano a ser pen sado para além das suas funções usuais. Ela tem sido pensada enquanto
categoria expressando uma espécie de gramática social. Nesse sentido, as re lações desenvolvidas no espaço da rua, servem como exercício de aprendizado sobre a vida urbana e seus habitantes.
Aqui para além desse uso”habitual”, convoco e proponho que possamos pen sar a rua enquanto "galera de arte", enquanto lugar de encontro e de represen tatividade, principalmente para os corpos periféricos que tem na exposição a possibilidade de se auto reconhecer e se entender também enquanto grupo representado artisticamente. Aquelas imagens colocadas embaixo de um via duto da periferia francesa demarcam os corpos de seus "iguais", aqueles que passam e de alguma maneira estabelecem essa dinâmica de atravessamento e interação com as obras. Aqueles passantes olham aqueles personagens icôni cos fotografados e tem a possibilidade de se reconhecerem, dinâmica não mui to habitual quando se trata de grandes circuitos artísticos. Quantos corpos ne gros é possível ver representado dentro dos grandes museus? Quantos corpos negros existem representados dentro do museu do Louvre? São perguntas que demarcam a rua enquanto transgressão e possibilidade de representação para os grupos historicamente marginalizados.
THAIANE BARBOSA DA SILVA Doutoranda em Planejamento Urbano e Regional pela UFRJ, fotógrafa e diretora de fotografia (AIC- RJ), cientista social (UERJ) e gerenciadora de mídia audiovisual (GMA). Tenho experiência em fotografia so cial e documental. Em paralelo a essa atuação, tenho buscado desenvolver tra balhos autorais que dialoguem a fotografia com o audiovisual.
NOSSOS ENTES é um ensaio fotográfi co sobre a figura do vaqueiro nordestino, cujo ofício se encontra preservado na re gião do Seridó, no Rio Grande do Norte (RN). Geralmente retratado pelo clima seco, o Seridó é um lugar difícil para sobrevivência, contexto no qual o vaqueiro emerge como fi gura forte e resistente. O ensaio tem como objetivo refletir sobre a relação estabeleci da entre o rural e o urbano, quando as ima gens fotográficas do vaqueiro são dispostas nos muros da cidade, tendo o lambe-lambe como suporte. Busco, por fim, compreen der como essas imagens resistem ao tempo e contribuem para preservação da memória e para construção de um novo imaginário so bre o Nordeste e o vaqueiro.
Este ensaio é resultado de uma longa pes quisa de campo na qual curiosidades pes soais e desdobramentos científicos se mis turam, fruto do interesse em investigar a figura do vaqueiro nordestino, esse vaqueiro que lida com o gado do patrão, usando uma roupa de couro como armadura para sua
proteção, conhecida como gibão. Embora presente em diversos contextos relativos ao sertão nordestino, ainda suscita dúvidas, especialmente sobre seu ofício na contemporaneidade.
No estado do RN, a pecuária vem se transformando, movida por fatores econômicos impostos pela necessidade de alta produtividade; as fazendas vêm modificando a lida com os animais e o perfil de seus funcionários. O ofício do vaqueiro passou a se transformar. No entanto, o vaqueiro ainda pode ser encontrado na região do Seridó, no Sertão Nordestino. Durante dez anos realizei várias incursões pelo Seridó com intuito de observar es ses vaqueiros, entender seu ofício e registrar em fotografias. Quis contri buir para a preservação da memória do vaqueiro.
Uma pesquisa que nasceu em 2010 de forma muito ingênua e pessoal, mas com muita dedicação, foi se transformando com o tempo, revelando co nhecimentos, ampliando vínculos e me transformando durante o proces so. Aprendi a escutar mais, compreender melhor as diferentes perspec tivas que estão postas no mesmo momento e fortalecer a comunicação pela imagem (Coradini, L., 2019; Samain, E., 1995). Em 2016, após ter re cebido uma solicitação do amigo vaqueiro Zé Leite, passei a realizar foto grafias para devolver aos próprios vaqueiros (Mauss, M., 2013), feitas em fundo preto com luz específica para destacar a figura e seus detalhes, em um contexto de observação-participante, como nos modelos clássicos (Malinowski, B., 2018). Assim como em um contexto de uma antropologia do afeto e compartilhada (Gama, F., 2016). Embora ainda não consciente das práticas antropológicas, já estava em campo e empiricamente prati cando tais métodos.
A fotografia possibilitou a construção de novos vínculos (Samain, E., 2018), criando dinâmicas para novos leitores e em novos espaços. À medida que fui realizando os retratos, percebi que também estava construindo um acervo de imagens de vaqueiros da região do Seridó. Compreendendo a potencialidade das imagens e a necessidade de elas circularem, em 2019, optei por criar uma exposição em um perfil das redes sociais (Instagram) e uma experiência em Natal com 60 fotografias nesse perfil, que resulta riam na forma de lambe-lambes, fixados pela cidade, com o objetivo de aproximar a figura do vaqueiro ao citadino, acionando os imaginários que partem dessa imagem. O perfil no Instagram foi criado (@e_n_t_e_s) para a experiência em Natal, ampliando a interação com familiares dos vaquei ros e se estabeleceu como um canal de circulação das imagens.
Após uma chamada aberta aos moradores de Natal, convidando-os a adota rem uma imagem para fixar em suas casas, foi surgindo o interesse e os locais foram sendo estabelecidos para fixação. Passei a chamar a pessoa que aceita va adotar uma imagem de Guardiã e com isso, aos poucos, foi surgindo um gru po dos Guardiões das Imagens (todos que adotaram as 60 imagens expostas para adoção). Ao longo do ano de 2019, após fixadas as imagens, passei a foto grafá-las para registrar os efeitos do tempo e todas as interferências possíveis (Eckert, C. & Rocha, A. L. C. da., 2013). Em cada visita ao local para realizar os re gistros, procurava conversar com os Guardiões. Diálogos despretensiosos, mas que me davam dicas de como estavam sendo aquelas relações entre a imagem, o ambiente e a sua relação pessoal com tudo. Uma descoberta inevitável de muitas camadas e complexas relações para se compreender.
Ao perceber novas questões sobre a imagem, como ela pode ocupar o papel de agência nas relações (Gell, A., 2018) do vaqueiro e possíveis vínculos com o citadino, percebi que era preciso me aproximar da Antropologia para poder compreender melhor as potencialidades dessas relações que esta ação pro porcionava. Percebi que era preciso ancorar o processo em teorias e méto dos científicos antropológicos para poder investigar melhor e compreender melhor os resultados já realizados ou a soma com novos resultados ainda por vir. O fato é que seria junto à disciplina da Antropologia que iríamos construir um horizonte capaz de estabelecer um diálogo com os vaqueiros, as imagens e os citadinos.
PABLO PINHEIRO nasceu em São Paulo, mora em Parnamirim, com título de ci dadão Acariense. É pai de uma filha, casado, cursa Mestrado em Antropologia Social na UFRN. Membro do NAVIS/UFRN, formado em Comunicação Social, coordenou o curso superior de Comunicação Digital/Fotografia Digital, UNIP (SP), depois lecionou na UnP e Fanec em Natal (RN). Atua como fotógra fo, artista visual e produtor cultural. Também é responsável pela Editora e Produtora Deu na Telha e é um dos fundadores do Círculo da Imagem. Prêmios relevantes nacionalmente: XIV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, 33o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade (IPHAN) e o Prêmio COMIS/ANPOCSAna Galano (45o Encontro Anual da ANPOCS).
Teresa Légua, incorporada em Mãe Severina, canta doutrinas para João da Mata e Caboclo Roxo, evocando os encantados, guias de Francisco e Denise, que aparecem no fundo da imagem com performance corporal que indica o momento em que estão sendo croados, incorporados, pelos encantados.
O INVISÍVEL FOTOGRAFADO: TAMBOR DE MINA NA ABERTURA DO “SERVIÇO DE CROA” NA TENDA NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES DO QUILOMBO MARANHENSE DE SANTA ROSA DOS PRETOS JULIANA LOUREIRO, 2022.
No tambor de mina, liderado por Mãe Severina e seus guias, na Tenda Nossa Senhora dos Navegantes do quilombo maranhense de Santa Rosa dos Pretos são realizados diversos rituais, os quais sou autorizada a filmar e fotografar. Possuída pelo olho-câmera, registro imagens que capturam as expressões do invisível, da “atuação” dos en cantados. Os índices de suas agências são visua lizados nas performances dos corpos “atuados”. Neste ensaio, apresento imagens do tambor de mina na abertura do “serviço de croa” de Denise e Francisco, conduzido por Teresa Légua, incorpora da em Mãe Severina. Esta foi a única etapa do ritu al, que os consagram como filhos de santo encru zados, que o registro visual foi permitido.
Conheci o tambor de mina, religião afrobrasileira originária do Maranhão, em agosto de 2004. Na ocasião realizava pesquisa sobre questões terri toriais no quilombo maranhense de Santa Rosa dos Pretos quando fui convidada por Mãe Severina para filmar a festa de seu encantado guia, o Caboclo Cearenso. Seu interesse pela filmagem foi por ela mesmo reve lado: “Eu tinha vontade de me ver dançando”. Uma vez que incorporada, “atuada”, ela perde seus “sentidos”.
Naquela época a produção e circulação de imagens dos espaços, dos ritu ais, das pessoas e entidades das religiões de matriz africana eram ainda muito restritas. Bem diferente do cenário sociotecnológico atual, no qual os próprios religiosos munidos com suas câmeras celulares filmam e foto grafam suas casas, festas e performances, promovendo nas redes sociais uma intensa e dispersiva profusão de suas imagens.
Com minha performance fílmico-fotográfica garanti uma posição privile giada para assistir aos rituais, entre os tambores e o altar, e uma imersão etnográfica de longa duração na Encantaria Quilombola. Desde 2004 até os dias de hoje venho produzindo imagens das festas e rituais do tambor de mina na Tenda Nossa Senhora dos Navegantes para que Mãe Severina, seus filhos de santo e os encantados assistam a si próprios dançando, can tando, atuando; e para que a memória da pesquisa e da comunidade qui lombola e religiosa tenha esses fragmentos imagéticos como dispositi vos de lembranças e de conformação de uma memória coletiva (Rocha e Eckert, 2013).
Possuída pelo olho-câmera (Vertov, 1924) registro imagens que capturam as expressões do invisível, da atuação dos encantados. Os índices de suas agências (Gell, 2018) visualizados nas performances dos corpos “atuados”.
Ao identificar esses índices no semblante dos rostos, na forma de dançar, cantar e falar, nos pequenos objetos que fazem questão de usar somos ca pazes de reconhecer as entidades incorporadas e com elas melhor intera gir e vivenciar acontecimentos, conhecer e ser por elas reconhecidas, criar relações e vínculos, produzir e compartilhar memórias.
Neste ensaio da série O Invisível Fotografado apresento imagens do tambor de mina realizado no dia 12 de fevereiro de 2022 na Tenda Nossa Senhora dos Navegantes, na abertura do serviço de croa de Denise e Francisco, conduzido pela Cabocla Teresa Légua incorporada em Mãe Severina. Esta foi a única eta pa do ritual que os consagra como filhos de santo encruzados que o registro au diovisual foi permitido. Ambos são de Santa Rita, município vizinho ao quilom bo, e se conheceram em uma festa na Tenda Nossa Senhora dos Navegantes. Depois de anos dançando tambor de mina em Santa Rosa dos Pretos e em sa lões da região seus encantados guias escolheram Mãe Severina para o encru zo. As imagens do batismo de João da Mata e Caboclo Roxo na croa de Denise e Francisco e do encruzo de seus corpos com as contas regurgitadas por Teresa Légua quando incorporada em Mãe Severina estão conservadas apenas nas memórias mentais dos presentes, pecadores e encantados. Para os participan tes e para o futuro as imagens compartilhadas participarão da conformação da memória de todo o ritual, do visto e do escutado, e não só dos momentos e ce nas capturados.
JULIANA LOUREIRO é antropóloga e documentarista. Formada em Ciências Sociais, com mestrado e doutorado em antropologia pelo PPGSA da UFRJ. Atua nos campos temáticos e etnográficos da antropologia visual, das religi ões de matriz africana, da cultura popular, da política e do meio ambiente; com populações tradicionais (quilombolas, pescadores e ribeirinhos).
Possui experiência na coordenação de projetos de educação ambiental e de oficinas de cinema. Foi professora substituta de antropologia na UFMA. Desenvolve pesquisa e extensão junto ao Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular (GPMINA) e ao Museu Afrodigital do Maranhão, vinculados ao Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA e junto ao Núcleo de Experimentações em Etnografia e Imagem (NEXT Imagem) e ao Núcleo de Arte, Imagem e Pesquisa Etnológica (NAIPE) do PPGSA da UFRJ.
Estas fotografias analógicas foram tiradas na Festa das Cruzes de Maio, entre os dias 1 e 5 de maio de 2019, em Huancané, no sudeste do Peru. A convite de integrantes do grupo de músicas e danças autóctones Claveles Rojos de Huancané Base Argentina, viajei com alguns deles desde Buenos Aires até ao Altiplano andino, dando continuidade ao meu projeto de in vestigação doutoral em Antropologia. Trazia comigo uma máquina fo tográfica analógica e rolos de filme. Diante da atuação dos grupos, prin cipalmente dos Claveles Rojos e suas bases migrantes reunidas na sua cidade-natal, tirei fotos sobrepostas e sequenciadas que registram o sen tido coletivo, sincrético e profuso da Festa das Cruzes.
Este conjunto fotográfico corresponde ao registro visual analógico realizado durante a Festa das Cruzes de Maio, entre os dias 1 e 5 de maio de 2019, em Huancané, uma pequena cidade rural próxima ao Lago Titicaca, localizada no Departamento de Puno, sudeste do Peru. Viajei para corresponder a metas que vinham surgindo no decorrer da minha investigação doutoral sobre a ree laboração de sentidos identitários aymaras e quechuas imigrantes através das práticas performáticas de grupos de música e dança autóctones altiplânicos nas cidades de São Paulo e Buenos Aires. Nesse momento, aceitei o convite de integrantes da base argentina dos Claveles Rojos de Huancané e fui etnografar caminhos e motivos de retornos sazonais desses imigrantes indígenas aymaras
e descendentes de aymaras, residentes na capital argentina, no sentido de fortalecer a reflexão sobre a transterritorialidade implicada na reelabora ção de suas autoctonias imigrantes.
Os Claveles Rojos, como outros conjuntos semelhantes, se constituíram em pequenas cidades altiplânicas de maioria ou totalidade populacional autodeclarada indígena. A partir das décadas de oitenta do século pas sado, conforme seus integrantes migram para as capitais departamen tais, nacionais e internacionais, o grupo também se expande e cria suas fi liais em outras cidades peruanas e fora do Peru. Tal como em São Paulo temos uma filial do conjunto Qhantati Ururi de Conima (cidade próxima a Huancané), também em Buenos Aires existem filiais de alguns grupos de música e dança autóctones transnacionalizados. São grupos formados por uma maioria de descendentes aymaras (e em minoria, quechuas), migran tes laborais nestas grandes metrópoles sul-americanas. No caso fotogra fado, a cada início de maio, alguns integrantes Claveles viajam de volta a sua cidade natal para tocarem e festejarem a Festa das Cruzes junto de seus companheiros, integrantes da Central ou de outras filiais.
De modo sincrético entre a liturgia católica hispânica e as cosmogonias in dígenas andinas, principalmente de referência aymara, milhares de pesso as festejam as cruzes levadas ao alto do monte Poccopaca, morro-viven te que ladeia Huancané. Celebrando a cruz de Cristo multiplicada, louvam também o Poccopaca e através dele a Pachamama. Centenas de homens e algumas mulheres sobem e descem o morro tocando quase ininterrup tamente os sikus (flautas de tubos entrelaçados, como a flauta de pan) e bombos, divididos entre diferentes grupos de sikuris (tocadores do siku).
Grupos que se acompanham e se chocam em tocadas coletivas entre mul tidões de pessoas que tocam as músicas próprias de cada conjunto, ao mesmo tempo, no mesmo espaço, formando a estrondosa polifonia musi cal aymara característica das práticas musicais altiplânicas. Todos existem de forma simultânea, distintiva e complementar. Assim, dois dos princí pios cosmogônicos aymaras são levados a prática: o ayni (a reciprocidade) e o chachawarmi (a complementariedade). Através da tocada sikuri, na qual dezenas de duplas de tocadores tocam de forma intercalada e interdepen dente entre a ira (siku de seis tubos) e a arka (siku de sete tubos), se pratica reciprocidade e complementariedade musical. Através da tocada conjunta entre grupos de centenas de pessoas tocando os temas grupais próprios, que num mesmo instante se escutam, se diferenciam e se multiplicam, se exerce também reciprocidade e complementariedade.
Trazendo uma aura cinematográfica à cena fotográfica, experimento dois dis positivos estéticos diferentes, a múltipla exposição e a sequência fotográfica, que me servem para representar a multiplicidade de elementos que formam um só todo performático. Estão ali no mesmo instante, no mesmo longo espa ço fotográfico, se confundindo e se ressignificando pelo seu enlace simbiótico e interdependente. A múltipla exposição demonstra expressivamente a pro fusão de formas, cores, pessoas e símbolos que formam aquele momento, nos remetendo a polifonia musical aymara. A sequência de fotogramas sobrepos tos contempla a representação de uma performance coletiva, do início ao fim, ou de uma rua a outra, ou de mais de uma perspectiva, num mesmo quadro. Em cumplicidade estética com a força expressiva da reciprocidade e da comple mentariedade musical e performática, estas fotos resultam num registro do real e também na tentativa de uma metáfora imagética do que venho enten dendo destes princípios cosmogônicos, estrutural e profundamente implica dos no exercício da performance fotografada e etnografada.
CRISTINA DE BRANCO é doutoranda no Programa Doutoral FCT em Antropologia: Políticas e Imagens da Cultura e Museologia (ISCTE/NOVA) e mestre em Antropologia: Culturas Visuais (NOVA), com intercâmbio na USP. Como co-criadora, câmera e montadora, integra o Visto Permanente - Acervo Vivo das Novas Culturas Migrantes de São Paulo (www.vistopermanente.com) desde 2015, tendo filmado e editado mais de trinta vídeos do acervo. Foi co -criadora e programadora do Microcine Migrante, em São Paulo e do Microcine Latino-americano de Lisboa. Hoje encontra-se na fase de finalização do seu primeiro longa-metragem documental, Santa Mala se Manifiesta, sobre três irmãs bolivianas, imigrantes em São Paulo, costureiras e rappers.
Arame Farpado.
PREMIO"Pavilhão das Sereias" mostra cenas cotidianas da penitenciária masculina de São Joaquim de Bicas. Essa instituição abriga, desde 2009, a primeira Ala LGBT do sistema prisional de Minas Gerais, onde ficam abrigados em um pavilhão anexo qualquer detento ou detenta que opte por firmar uma autodeclaração em que se identifique como travesti ou homossexual. As imagens foram re gistradas durante celebrações do Orgulho LGBT e do Dia da Visibilidade Trans, ocorridas em 2018 e 2019, e capturam um momento de articulação dos enunciados políticos sobre encarceramento e sobre gênero e sexualidade.
O ensaio está vinculado ao curso de uma pesqui sa que se debruça sobre os circuitos de criminali zação e encarceramento de travestis e transexu ais, tendo como um de seus lugares-chave a Ala LGBT de uma unidade penitenciária masculina. Situando a prisão em uma trama alargada, des crevo os nexos que a conectam com movimen to LGBT, normativas de Estado, discursos sobre violência sexual, territórios de prostituição e tec nologias de gênero. Assim, objetivo analisar as tramas institucionais que levaram à criação dos
Presos LGBT como um novo sujeito de direitos, bem como os dilemas en volvidos na gestão destes direitos pelos presos e pelas diferentes instân cias da administração prisional e os seus efeitos no próprio sistema de se gurança pública. A pesquisa oferece assim elementos significativos para as análises sobre as relações de mútua constituição entre gênero e Estado, sobretudo entre gênero e sistema prisional.
Desde esse cenário, analiso os impasses institucionais que se impõem na gestão de travestis e transexuais em cumprimento de pena, evidencian do como as políticas prisionais, bem como as políticas prisioneiras, produ zem sentido e inteligibilidade para sujeitos, corpos e relações, de maneira que os afetos e desejos cultivados por entre os muros se tornam lugares fundamentais tanto de regulação quanto de agência. Nesse sentido, o en carceramento das bichas, monas e seus maridos e o esquadrinhamento, a segmentação e a expansão socioespacial do espaço prisional que o acom panha diz muito sobre o aparato punitivo estatal em uma escala ampliada. Assim, a Ala LGBT, mais do que fornecer um retrato de um contexto prisio nal local, se converte em um espaço heurístico privilegiado para analisar os processos de co-produção entre gênero e Estado, que se emaranham ainda aos diagramas morais generificados do mundo do crime.
Dessa forma, esse registro fotográfico está conectado a uma reflexão so bre a natureza complexa e heterogênea dos modos de regulação moral das expressões de gênero e das práticas erótico-sexuais envolvidas nas que relas em torno da gestão cotidiana de travestis e transexuais presas. Se de um lado a criação de políticas e espaços penitenciários específicos para travestis e transexuais em unidades masculinas é justificada principal mente em torno do risco de que elas sejam vítimas de violência sexual, de outro, a supressão das travestis das possíveis transferências para presídios femininos, garantidas por expedientes recentes dos tribunais superiores, passa pela ameaça de que sejam elas as perpetradoras da violência sexu al nesses espaços. Uma arquitetura narrativa e institucional complexa que constrói, a partir de determinadas noções de corpo e convenções de gêne ro emaranhadas a atributos de raça e classe, imagens de possíveis vítimas e algozes no sistema prisional
Esse lugar ambivalente de desejo e perigo que as travestis ocupam nas ma lhas do sistema prisional fez com que algumas de minhas interlocutoras de pesquisa se qualificassem como sereias. Essa interpretação alegórica de suas condições enquanto presidiárias tem a ver com a capacidade dessas figuras de confundirem categorias fixas com seus corpos híbridos. Portanto, as sereias, as figuras de densidade mítica que dão título a esse ensaio visual, são lembra das pelo fascínio estético que geram, mas também pela dimensão de perigo do seu canto hipnótico, são uma expressão arquetípica da sedução. Essa am biguidade também permeia a vida das sereias do pavilhão, que diante da pre sença dos homens que ingressavam na Ala LGBT, se definiam como essas enti dades aquáticas capazes de desviar os marinheiros, como eram metaforizados os presos com quem se envolviam, de seus caminhos ordinários. Além disso, suas figuras pisciformes podem também ser vistas como possuidoras de algo monstruoso e abjeto, que gera medo e repulsa. Assim, as sereias que povo am essas imagens produzem uma espécie de dimensão mediadora entre ocea nos e continentes, entre prisão e mundão, estabelecendo conexões múltiplas entre dentro e fora dos muros, trazendo fluidez aos territórios e identidades. Ademais, elas se deslocam em mares violentos, desafiando classificações ge nerificadas simples de vítimas e algozes, rejeitando os contornos da “passivi dade” ou da “inação”.
VANESSA SANDER é antropóloga, graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais. Possui mestrado em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com pesquisa so bre as relações intergeracionais tecidas no trabalho sexual de rua. Em 2021, concluiu o doutorado em Ciências Sociais na mesma instituição, vinculada ao Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, onde desenvolveu pesquisa sobre os cir cuitos de criminalização e encarceramento de travestis e transexuais.
Os Jogos de Identidade Quilombola acon tecem há dezenove anos, sempre na sema na da consciência negra, no mês de novem bro. Nos jogos, as comunidades, além de debater políticas públicas, competem en tre si em diversas modalidades esportivas, dentre elas, se encontra a Agarrada (conhe cida, também, como Luta Marajoara, seu nome comercial). Esta prática esportiva é uma das mais diversas formas de resistên cia cultural das comunidades Quilombolas de Salvaterra, Cachoeira do Arari e Ponta de Pedras. Este trabalho é uma construção fotoetnográfica deste momento de luta, resistência e diversão dentro dos Jogos de Identidade Quilombola do Marajó.
Este estudo faz parte da construção foto etnografica (ACHUTTI, 1997) que tenho fei to nos últimos três (3) anos, dos Jogos de Identidade Quilombola, que é um momen to de partilha, brincadeiras, danças, comi das, disputas, reencontros, encontros, per cepções e muita ancestralidade, que reúne as dezesseis comunidades quilombolas do município de Salvaterra, na ilha do Marajó.
2º LUGAR ENSAIO FOTOGRÁFICO
Uma vez escrevi que os “os jogos de identidade constituem-se como um processo de reafirmação cultural, social, histórico e de vida de diferentes gerações [...]” (BANDEIRA NETTO, CARDOSO e SANTOS, 2021, p. 173), que tem por intuito combater as colonialidades que foram/são impostas, em um processo de valorização da cultura, identidades e conhecimentos an cestrais e para além, se constituindo assim como um momento de contra colonialidade (BISPO, 2013).
Deste modo, posso dizer que os jogos é um ato político afirmativo, não par tidário, que busca elencar demandas, debater assuntos pertinentes ao en frentamento diário diante do que povo do quilombo sofre diariamente, pois a convivência não é harmoniosa, na maioria das vezes, com quem não é quilombola e tampouco com os grandes fazendeiros e empresários.
Este ato político tem por objetivo a construção de uma postura, tanto pe los mais velhos quanto pelos mais jovens, e a constituição de um pensa mento político por todos que esteja preocupado com o coletivo.
É nos jogos que buscamos construir pontes e evidenciar a importância de pertencer, mas não somente pertencer por ter nascido no quilombo, per tencer por se sentir parte integrante de um todo muito maior, onde a sua presença é fundamental para a luta quilombola.
Portanto, temos a percepção, que os jogos é sim um momento de descon tração, mas também é um momento de enfrentamento político nas mais amplas esferas do Estado. Principalmente quando falamos de racismo ins titucional e do resguardo da cultura ancestral que pode ser comum e/ou única de cada comunidade.
Esta definição conceitual do que é, neste momento, os jogos de identida de quilombola, é uma construção coletiva, pois parte das percepções mui to próprias minhas, enquanto quilombola e pesquisador, que participa dos jogos, das rodas de conversas e atua como fotografo, e, também, das lide ranças das comunidades quilombolas que, juntamente com suas percep ções próprias ajudaram a mim na construção desta conceituação, sendo, portanto, uma construção conceitual partilhada. Lendo o que foi escrito, sugerindo mudanças, acréscimos, retiradas e sugestionando. Deste modo, esta conceituação é uma construção coletiva entre quem faz e coordena os jogos de identidade e quem pesquisa na busca por compreender como es tes interpretam e significam este momento de interação política, travesti da na descontração dos jogos.
Neste contexto surge a agarrada como uma das disputas mais aguardadas de todos os jogos. E essa disputa ocorre em dois dias, pois, ela demanda muito es forço físico, causando esgotamento, chegando por vezes, pessoas desmaiarem de cansaço. A Agarrada, que possui outros nomes a depender do local onde ela ocorre, mais que em essência e regras é a mesma luta e pode ser chama da, também, de Lambuzada, Derrubada e/ou Cabeçada, é uma luta ancestral que finca suas raízes na África e aportando no Marajó, sendo ressignificada nos campos, pelos pretos que foram escravizados e que, após libertos, passaram a atuar como vaqueiros na região, sendo esta luta associada ao embate entre búfalos, a religiosidade e ao enfrentamento. Nos quilombos ela é significada como elemento de resistência ancestral e substância cultural forte, sendo pra ticada como descontração em eventos festivos nas comunidades, à beira do campo nos jogos de futebol e/ou nas beiras do rio nos banhos de maré. Nos Jogos de Identidade quilombola é o ápice das disputas entre as comunidades.
ACHUTTI, Luiz E. R. Fotoetnografia: um estudo de antropologia visual sobre o cotidiano, lixo e trabalho. Porto Alegre. Tomo Editorial; Palmarinca. 1997. 208 p.
BANDEIRA NETTO, Felipe. CARDOSO, Denise. M. SANTOS, Paulo, H. S. Imagens de Campo - Apresentação fotoetnográfica dos Jogos de Identidade Quilombolas do Marajó.
SANTOS Antônio Bispo dos. Colonização, Quilombos, Modos e Significações. 2015. Brasília. INCTI/UnB.
FELIPE BANDEIRA é quilombola, homem preto, cis, gay, professor de sociolo gia, filósofo, antropólogo visual. Mestre em Educação em Ciências. Membro do Grupo de Pesquisa em Antropologia Visual e da Imagem - VISAGEM. Liderança quilombola.
Políptico com duas fotografias antigas e seus respectivos versos. [à esquerda] Os irmãos Álvaro e Lúcia Graça na década de 1960 na Ponte Metálica - Poço da Draga, Fortaleza, Ceará. [Abaixo] Os irmão ngelo e Álvaro [Jr.]. Ambas as fotografias são do acervo da família de Maria Clara Graça e Álvaro Graça Júnior do Poço da Draga, Fortaleza, Ceará.
“Poço 115: Um álbum imaginário” nasce com a tese “Comunidade Visível: narradores de imagens e memórias do Poço da Draga”, de Felipe Camilo (PPGS/UFC, 2021), orientada por Glória Diógenes. Partindo de uma et nografia compartilhada e de um exercício de restituição antropológica, a pesquisa resultou em uma exposição coletiva de álbuns de famílias do Poço da Draga, com curadoria e edição de Felipe Camilo, que a idealiza com Álvaro Graça Jr. e Cristina Maria da Silva (UFC). A obra inaugura um arquivo de fotos vernaculares dessa comunidade litorânea, notadamente negra, tão significativa para a memória de Fortaleza (CE).
O ensaio “Poço 115 : Um Álbum imaginário” é um recorte da exposição "Poço 115: Rastros na Cidade" resultante da produção da tese “Comunidade Visível: narradores de imagens e memórias do Poço da Draga” de Felipe Camilo (PPGS/UFC, 2021) orientada pela profª. Drª. Glória Diógenes (Lajus/UFC). Partindo de uma etnografia compartilhada e de um exercício de restituição antropológica, a pesquisa resultou em uma exposição cole tiva à partir de álbuns de famílias do Poço da Draga, contando com cura doria e edição de Felipe Camilo e sendo idealizada com o morador / docu mentarista Álvaro Graça Júnior e a profª. Drª. Cristina Maria da Silva (UFC).
O trabalho que inaugura uma primeira versão de um arquivo de quase 300 fotografias vernaculares dessa comunidade litorânea, notadamente ne gra, tão significativa para a memória e o imaginário de Fortaleza (Ce), es teve exposto simultaneamente em seu território e em um museu nas cer canias (2021-2022). O projeto é fruto de parceria entre a ONG Velaumar, o Laboratório das Artes e das Juventudes (Lajus/UFC) e o Grupo de Estudos e Pesquisas Rastros Urbanos (UFC), Museu de arte Contemporânea do Ceará / Dragão do Mar, Fresta Lab. e teve apoio do IFoto.
O ensaio tem 07 dípticos e 07 fotos de décadas e suportes diferentes en tre si, tendo em seu bojo arquivos de álbuns 10x15cm e imagens produzi das e partilhadas por celular. Como quem desdobra e bricola com o teor de um atlas como diria Aby Warburg, o ensaio é uma montagem, um arran jo, uma prancha onde pôr imagens avizinhadas para juntas darem a ver.
Essa pequena constelação de fragmentos visuais parte de uma comunidade centenária fundada às margens da Ponte Velha, o primeiro porto de Fortaleza (1906, 115 anos), região da icônica luta abolicionista cearense , do “Dragão do Mar”, e que atualmente abriga um povo de pele escura em cons tante embate pela manutenção de suas moradias na orla turística da Capital. Entre as imagens vemos parte do acer vo do Brasileirinho Futebol Clube time na comunidade des de 1982, dirigido por Alvinho Graça e continuado por seu filho Álvaro G. Jr. - colaborador deste projeto que em meio a pan demia de covid-19 reuniu os velhos jogadores do time em um grupo de whatsapp para “resenharem” fotos e velhas parti das. Dessa experiência surgiu o documentário de curta-me tragem Resenha do Brasileirinho dirigido por Felipe e Álvaro, disponível para acompanhar o ensaio fotográfico em espaço expositivo. Poço 115 também versa sobre a relação da cida de com a praia, sobre infância, velhice e sobre lutas das po pulações litorâneas. As Fotografias dos álbuns das famílias dos seguintes moradores do Poço da Draga (Fortaleza/Ce) : Álvaro Graça Jr., Ivoneide Gois, Izabel Cristina Lima, Cláudio Vasconcelos, Francisca Iolanda e Sérgio Rocha. Diante da his tória colonial brasileira e dos esforços de conservação de par tilha de imagens, o ensaio e o que o sustenta podem ser perce bidos como gestos de resistência à “necropolítica” (como diria Mbembe) que se opera sobre as populações negras e amerín dias em nosso país.
FELIPE CAMILO é artista negro com enfoque em fotografia e ci nema. Dedica-se ao documental e à experimentação. É mem bro do Ifoto/Ce. Pesquisador pela UFC/CAPES e colaborador do Lajus e do Rastros Urbanos; escreveu tese sobre antropolo gia, imagem, memória e negritude no Poço da Draga. Já atuou como professor do Instituto de Cultura e Arte da UFC. É autor do fotolivro Perecível e do livro de artista Álbum Preto. Dirigiu os docs. Aluá, Resenha do Brasileirinho e Oestemar. É co-ide alizador do Efêmero Festival de Fotografia Experimental e Curador da exposição Poço 115 - Rastros na Cidade.
Às 6h:27min da manhã, Jade sai de sua casa para pescar no período de cheia. “São seis meses dentro d'água; seis meses na terra”, descreveu a vida anfíbia em torno do rio Amazonas.
O ensaio retrata o cotidiano de trabalho de Jade, travesti e quilombola, no qui lombo de Surubiu-Açú, na região do Baixo Amazonas, em Santarém, no esta do do Pará (BR). “São seis meses dentro d’água; seis meses na terra”, descreveu a vida anfíbia em torno do rio Amazonas. Com 56 anos de idade, Jade traba lha como agricultora, apicultora e pescadora. É prestigiada pelo seu dom de “consertar/puxar”, que envolve técnicas de massagens e reza em machuca dos musculares e ósseos. Liderança quilombola e presidenta do time de fute bol local, seu corpo trans se soma à resistência ancestral da luta indígena e negra na região
A proposta deste estudo etnográfico busca compreender a norma comunitária em torno do direito à diferença, em que se observam processos pedagógicos e jurídicos tendo como horizonte a pluralidade de formas de ser e existir. A perspectiva decolonial auxi lia o giro epistêmico na busca pela produção de conhecimento em que se problematiza as soluções modernas e comunitárias para o tema da diferença, sobretudo no contex to de corpos homotransdissidentes. Assim, a descrição em profundidade do cotidiano de Jade, quilombola e travesti, e que, aos 56 anos, sua diferença dentro de uma comuni dade que simboliza resistência étnica-racial e que se soma, no caso apresentado, às sexu alidades e corpos dissidentes às normativas cisheteropatriarcais.
LOURIVAL DE CARVALHO é doutorando em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), na linha de pesquisa de Sociedade, Conflito e Movimentos Sociais. Mestre em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB. Bacharel em Graduado em Direito pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Advogado e membro do Grupo de Pesquisa Antropologia e Direitos Humanos do CNPq e do Centro de Estudos em Desigualdade e Discriminação (UnB).
JADE LOPES é co-autora, líder comunitária da Associação dos Remanescentes do Quilombo da Comunidade Quilombola de SurubiuAçú. Agricultora. Pescadora. Apicultora. Puxadeira. Consertadeira. Benzedeira.
Num zigue-zague intenso, Beto faz a lançadeira, objeto côncavo de madeira, entrecruzar os fios em diferentes posições.
Em meio a um ambiente de concentração total, Beto de Brito, um dos maiores nomes na produ ção da tecelagem em Santiago (Cabo Verde), produz diariamente metros e mais metros do panu di terra. Esta que é uma das mais antigas expressões da cultura material cabo-verdiana, chegan do ao país junto com os escravizados que para lá foram levados forçadamente para trabalhar no cultivo das monoculturas de algodão. De lá para cá, algumas coisas permaneceram como eram no processo de produção e consumo do panu di terra, ao mesmo tempo em que outras tantas foram alteradas. Mas, entre passado e presente, Beto nos apresenta um continuum: os tece lões, na maioria das vezes, seguem tecendo a vida em preto e branco.
O presente ensaio fotográfico faz parte da minha pesquisa de mestrado, intitulada: Created in Cabo Verde: Discursos sobre a nação na produção de suvenires “genuina mente” cabo-verdianos na ilha de Santiago. Nela, busquei entender como se cons tituiu o campo da produção de souvenirs e artesanatos tidos como “genuinamente” cabo-verdianos, a fim de gerar uma concorrência nacional frente aos produtos im portados da China, Senegal e Guiné Bissau. Neste contexto, conheci Beto de Brito, figura central do ensaio e um dos maiores nomes na produção do panu di terra em Santiago. Ele aprendeu o ofício com um vizinho, reafirmando a transmissão da práti ca entre homens de uma mesma localidade/família.
A tecelagem, que se apresenta nos dias de hoje como uma atividade extremamente solitária e que demanda muita concentração, teve seu início ainda nos primeiros sé culos de colonização portuguesa, período no qual a monocultura do algodão come çou a ser inserida nas ilhas agrárias do arquipélago de Cabo Verde. Neste período o panu di terra era utilizado como moeda, especialmente na aquisição de bovinos e nas trocas que permearam o tráfico de escravizados na costa da Guiné.
Segundo fontes históricas, a panaria teria surgido nas ilhas de Cabo Verde com as pessoas escravizadas, que levaram com elas o conhecimento de instrumentos e téc nicas do continente. O panu antigo, o tradicional, era composto por 6 bandas e usado majoritariamente pelas mulheres. Elas o usavam com as mais diversas finalidades, fosse para carregar as crianças, para amarrar na cabeça ou na cintura, como morta lha, assim como também tinha seu caráter ritual, uma vez que, antigamente, ele era dado de presente pelo marido à sua esposa quando ela tinha um fidju matxu (filho ho mem), especialmente o primeiro.
Atualmente, é muito raro encontrar o panu composto por seis tiras, assim como hou ve uma significativa mudança no seu modo de produção: as linhas, que eram feitas a partir do algodão que era plantado no próprio país, deixaram de ser produzidas des ta maneira e passaram a ser compradas prontas no Senegal, Brasil e Portugal, redu zindo o tempo e o trabalho gastos pelos tecelões (que são majoritariamente homens. Contudo, o tear segue sendo uma peça importantíssima para a produção do panu di terra. A sua estrutura, que geralmente também é produzida pelo próprio artesão, é formada pelo pente de fiche, um pente utilizado para bater a linha recém-lançada através da lançadeira para que ela se una ao pano; pelo liço di pedal, peça que acom panha o pedal e, como o nome sugere, aproxima e afasta as linhas da armação para passar o fio que está na lançadeira; o liço di desenho, que possibilita criar a etnoma temática do panu di terra, ou seja, afasta e aproxima os fios da armação para que a linha que sai da lançadeira entrelace os fios do tear de modo a produzir o desenho
desejado; e a tábua de abridor, que cumpre uma função semelhante à do liço di pidal, sen do usada para separar os fios para possibilitar a passagem da lançadeira. Ela cai assim que o pente de fiche bate.
A peça que segura o panu próximo ao tecelão é móvel, girando o panu para que a parte do tecido que já estiver pronta possa ser recolhida e o tecelão não tenha que se esticar tanto para passar a lançadeira e bater a linha. Essa peça é presa com uma haste de metal que fica perpendicular a ela. Para além do conjunto de fios que tece o panu pela lançadeira, o panu di terra é feito com fios que são montados perpendicularmente aos liços, que seguram os fios que ficam presos e rentes à estrutura do tear. Nessa armação, que é a parte mais com prida do panu, os tecelões costumam usar mais de 200 fios. A cor da armação é sempre a mesma, composta ¾ de fios pretos e ¼ de fios brancos. A cor que muda é a dos fios que fi cam na lançadeira, e embora a mais tradicional seja a preta, quaisquer outras cores podem ser utilizadas, inclusive o vermelho e azul juntos, representando as cores da bandeira na cional, muito comum no mercado de souvenirs.
Além da diversificação das cores, os usos do panu também estão encontrando mudanças. Como aponta Beto, eles são vendidos diretamente para lojas de suvenires, mas também para outros artesãos e costureiros, que aplicam o panu em outras peças, como roupas, bolsas, carteiras e sandálias. Essa multiplicidade de usos para o panu di terra mostra que, mesmo sendo um item tradicional, ele se adequa às demandas contemporâneas, mos trando mais uma vez que a cultura é tudo, menos estática.
VINÍCIUS VENANCIO é professor voluntário na Universidade de Brasília. Doutorando e Mestre (2020) em Antropologia Social pela Universidade de Brasília. Integra os Grupos de Pesquisa de Etnologia em Contextos Africanos e de Etnografia das Circulações e Dinâmicas Migratórias, o Coletivo Zora Hurston de estudantes negras/os do PPGAS/UnB e o Comitê de Estudos Africanos da ABA. Tem experiência de pesquisa sobre organização familiar, relações de gênero, comércio, produção de artesanatos e fluxos turísticos e mi gratórios em Cabo Verde e, desde 2017, produz narrativas visuais sobre a sociedade ca bo-verdiana. Atualmente realiza pesquisa sobre migrações e construção da cidadania de mulheres oeste-africanas em Cabo Verde.
A presença africana na música brasi leira se manifesta de formas diversas. Se em 1966, Baden Powell carioquiza va o candomblé com os Afro-sambas que compôs com Vinícius de Moraes, meio século depois vivemos um mo mento inédito com a chegada de músicos de diferentes países afri canos à metrópole paulistana. Em AFRO-SAMPAS observamos o que pode acontecer quando músicos dos dois lados do Atlântico são coloca dos em contato na cidade onde vi vem. Yannick Delass (RDC), Edoh Fiho (Togo), Lenna Bahule (Moçambique) e os brasileiros Ari Colares, Chico Saraiva e Meno del Picchia aceitam nosso convite para um primeiro en contro no qual experimentam sonori dades, memórias e criatividades.
Direção, fotografia e pesquisa
Jasper Chalcraft
Rose Satiko Gitirana Hikiji
Edição e cor Ricardo Dionisio
Som direto Jasper Chalcraft Ricardo Dionisio Mixagem e Masterização
Jean Nands Ewelter Rocha
Afro-Sampas é o terceiro filme colaborativo que realizamos na pesquisa sobre o que descrevemos como a "diáspora criativa" africana em São Paulo. Acompanhamos desde 2016, músicos e artistas africanos recém chegados ao Brasil, observando como seu musicar afeta a cidade, e é por ela afeta do. Neste filme, nossos ouvidos estão atentos às trocas de musicalidades e experiências que ocorrem quando músicos africanos e brasileiros aceitam nosso convite para um encontro na cidade onde residem.
ROSE SATIKO GITIRANA HIKIJI Antropóloga brasileira, neta de japoneses que chegaram a São Paulo nos anos 1930 e de sergipanos com raízes africanas, in dígenas e europeias. Professora no Dep. de Antropologia da FFLCH-USP. Vicecoordenadora do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia. Autora dos livros Imagem-violência e A música e o risco, co-organizadora de A experiên cia da imagem na etnografia, Escrituras da Imagem e Imagem-Conhecimento, entre outros. Co-diretora de Afro-sampas, Woya Hayi Mawe Para onde vais?, Tabuluja, Violão-Canção, Fabrik Funk, A arte e a rua e diretora de Cinema de quebrada, entre outros. Bolsista de produtividade do CNPq e pesquisadora principal no projeto “O Musicar Local” (FAPESP).
JASPER CHALCRAFT Antropólogo e documentarista inglês. É co-organizador do livro “The Making of Heritage: seduction and disenchantment”. É co-diretor de Afro-sampas (2020), “Woya Hayi Mawe Para onde vais?” (2018) e “Tabuluja” (2017), e desenvolve a pesquisa “Ser/Tornar-se africano no Brasil: Fazer mu sical e patrimônio cultural africano em São Paulo”, junto ao Projeto Temático Fapesp “O musicar Local”, em parceria com Rose Satiko Hikiji.
Esse curta documentário apresen ta cinco vozes negras de diversas fai xas etárias e diferentes territóriosdentro da cidade de Arica - relatando suas memórias, saudades, tradições e desejos para suas vidas e seu povo. Recordando os alicerces ou "piezas" ancestrales claves os mais velhos"abuelos y abuelas" conduzem por meio de suas histórias e inspirações como diante da experiência mortal da escravidao africana, o povo tribal afrodescendente chileno resistiu, re siste e se recria - compondo diferen tes modos de vida em um rincon da Cordilheira dos Andes.
Luiz Carlos Silva dos Santos Junior Roteiro
Luiz Carlos Silva dos Santos Junior Soledad Hernandez Gonzalez
Yanina Rios Diego Araya Roteiro de edição
Yanina Rios Diego Araya
Luiz Carlos Silva dos Santos Junior Soledad Hernandez Gonzalez
Yanina Rios Diego Araya
Luiz Carlos Silva dos Santos Junior Soledad Hernandez Gonzalez
A pandemia não minou o trabalho das afrodescendentes em Arica. Nós te mos visibilizado por anos a luta do povo afrochileno desde diversos cená rios. Apesar da constante negação dos espaços de poder e tomada de deci sões a luta por direitos tem sido contínua. Nesse contexto, surge a ideia de realizar um projeto audiovisual de incursionar desde memórias-experiên cias afrodescendentes em Arica, local onde foi nascida e criada a antropó loga e diretora Yanina Rios e do "campo" de doutorado do doutorando em antropologia pela UFBA, o antropólogo Luiz Carlos Silva dos Santos Junior. Este curta documentário nos convoca a pensar e a questionar sobre mode los únicos de história e da afrodescendência.
YANINA RIOS QUINTERO é antropóloga social, artista, afrochilena e ativista pelo movimento anti racista afrochileno. Participa desde a sua promoção, or ganização e investigação. Como estudante na UNAM-Mexico participou de or ganizações afrofeministas, realizando como produto disso o curtametragem: "Perspectivas de una yo y un nosotros: experiencias de mujeres racializadas en CDMX" (2019). Através da sua própria ancestralidade co-desenvolveu poste riormente o documentário etnográfico chileno-brasileiro: "Afroresistencias: memorias vivas en un rincón de los Andes". Atualmente está em proces so de produção de: "Cimarronas: resistências negras en Arica", seu primeiro longa metragem.
LUIZ CARLOS SILVA DOS SANTOS JUNIOR tem 31 anos, nascido e criado em Salvador-Bahia, militante do MNU - Bahia, advogado formado pela Faculdade Ruy Barbosa (2012), cientista social - antropólogo formado pela Universidade Federal da Bahia (2021), com mestrado em Antropologia pelo Programa de Pos Graduacao em Antropologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), com doutorado em andamento pela mesma universidade. Atualmente esta no doutorado sanduíche com bolsa da CAPES PRINT, na Escola de Doutorado em Antropologia da Pontifícia Universidade Católica do Chile (PUC). È um dos editores da Revista Odu: contracolonialidade e Oralitura (2021). Participa do NANSI, sob coordenação de Marcio Goldman.
Do ferro-velho ao terreiro, Zé Diabo forja deuses em sua oficina por meio do caminho de Ogum.
1º LUGAR FILME ETNOGRÁFICO (CURTA)
Direção
Safira Moreira
Argumento original Lucas Marques Produção Executiva e Coordenação
Alana Silveira Produção Tainana Andrade Maria Garcia Direção de fotografia Rafael Ramos
Técnico de som Caíque Melo Trilha Sonora C-AFROBRASIL Montagem e Finalização de Imagem Tenille Bezerra Mixagem Ernesto Sena Design Edson Ikê
O filme é fruto de uma parceria do antropólogo Lucas Marques com a ci neasta Safira Moreira, e busca retratar parte da pesquisa de mestrado de Lucas sobre a ferramentaria de orixás. O curta apresenta o caminho que Zé Diabo percorre no processo de feitura das ferramentas de orixá enquan to reocupa o seu arco recém reformado na Ladeira da Conceição da Praia. Permeado por relatos da história de José Adário e dos seus conhecimentos enquanto sacerdote religioso, o curta capta as imagens do seu cotidianodo ferro velho à oficina - apreendendo detalhes que carregam os mistérios sobre o processo de transformar pedaços de ferro em objeto sagrados, re velados pelo fogo e por Ogum.
SAFIRA MOREIRA nasceu no bairro do Engenho Velho da Federação, Salvador, em 1991. Há anos trabalha com imagens de pessoas negras, ao redor de uma política da memória. É diretora de fotografia, diretora e roteirista. Formou-se em cinema na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Roteirizou, dirigiu e montou seu primeiro curta-metragem "Travessia", premiado em diversos festivais nacio nais e internacionais; distribuído pela Vitrine Filmes em 2018; e em 2019 fil me de abertura do Festival Internacional de Rotterdam. Dirigiu a fotografia do curta "Eu, minha mãe e Wallace" (Irmãos Carvalho) premiado como Melhor Filme pelo júri popular do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e do longa -metragem "A Matéria Noturna" (Bernard Lessa), premiado como melhor filme na mostra Futuro Brasil no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Em 2019 roteirizou e dirigiu a série documental "Iyas Idanas - Mulheres da Cozinha", em fase de finalização. Em 2020 lançou a série "Olhares Negros" no IGTV (insta gram). Está em processo de desenvolvimento do seu primeiro longa-metra gem, Cais, premiado no Fundo Avon Mulheres do Audiovisual e no RUMOS ITAÚ CULTURAL. Em 2021 dirigiu o curta-metragem "Alagbedé" e a websé rie "Nebulosa"
LUCAS MARQUES é doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ. É fotógrafo e realizador audiovisual, e há mais de 10 anos pesquisa arte e cul tura material afro-brasileira, em especial aquelas relacionadas ao universo do candomblé. É vinculado ao Núcleo de Antropologia Simétrica (NAnSi).
Pegar caranguejos é se emaranhar numa imensidão de raízes. A caminha da no mangue guarda os segredos de quem conseguiu equilíbrio na incerte za da lama e educou o olhar para a lo calização dos crustáceos. No Delta do rio Parnaíba – entre os estados brasi leiros do Piauí e do Maranhão – “amar rado” é um conjunto de quarenta ca ranguejos. Encontrá-los é desafio até mesmo para catadores experientes.
Direção, roteiro, pesquisa, fotografia e produção
Lucas Coelho Pereira
Elenco
Vinvin (José Wilson Monteiro Figueiredo)
Lelía (Manoel Raimundo Carvalho da Silva)
Querido (Roberto Quelis da Silva Nascimento)
Seu Chico (Francisco das Chagas de Oliveira Ribeiro)
Sérgio (Paulo Sérgio Carvalho da Silva)
Dunga (Antônio Carlos Fernandes da Rocha)
Zito (João Fernandes da Rocha)
Francisco (Francisco das Chagas Ferreira da Silva)
Trilha sonora original
Lívia Coelho Pereira
Montagem e finalização
Ronald Moura (Pense Produtora)
Assessoria de roteiro
Ana Clara Ribeiro
Assessoria de produção
Fernanda Vidigal
Quando gravei “Amarrado” minha intenção era aproximar o expectador da cata do caranguejo a partir de diferentes planos e sentidos. Antes de levar a câmera para o mangue, passei cinco meses apenas caminhando com os catadores. Esse período foi essencial para que minha relação com os caranguejeiros se conso lidasse e várias histórias sobre os caranguejos e a dificuldade de capturá-los emergissem. Essas histórias me direcionaram na elaboração de um roteiro no qual as dificuldades da cata fossem destacadas a partir dos movimentos e das expressões corporais dos meus anfitriões, sem muitas palavras.
SAFIRA MOREIRA é mestre e doutor em Antropologia Social pela Universidade de Brasília, vinculado ao Laboratório de Antropologia da Ciência e da Técnica (LACT). É fotógrafo e realizador audiovisual. Alguns dos seus trabalhos fo tográficos foram premiados pela ANPOCS e pelo Prêmio Mariza Corrêa de Antropologia Visual. Realiza pesquisas no campo das relações entre humanos, plantas e animais; antropologia das práticas; antropologia ecológica e antro pologia da pesca.
Auto de Resistência é um docu mentário sobre os homicídios praticados pela polícia contra ci vis, no Rio de Janeiro, em casos classificados como legítima defe sa. O filme retrata a luta por jus tiça de mães que tiveram seus filhos assassinados, acompa nhando-as em seu percurso pe las instituições do Estado, desde o momento em que um indivíduo é morto, até as fases de arquiva mento ou julgamento por um tri bunal do júri.
Direção
Natasha Neri Lula Carvalho Argumento e Roteiro
Natasha Neri
Juliana Farias Produção Executiva Lia Gandelman
Joana Nin Direção de Fotografia Lula Carvalho Asc, ABC Pedro Von Krüger Assistente de Direção Leonardo Nabuco
Juliana Farias Direção de Produção Bruno Arthur Montagem Marília Moraes, EDT.
Trilha Original
Alberto Continentino
Filmar o luto transformado em luta e capturar a inércia proposital da Justiça pelas lentes da câmera foi uma experiência etnográfica potente vivida através do cinema, que é também uma ferramenta de luta para as mães que tiveramias e as mães retratadas no filme, e os planos filmados refletem essa cumplicidade.
NATASHA NERI é jornalista, cineasta, mestre em Antropologia pelo PPGSA/UFRJ, pesquisadora nas áreas de violência de Estado, Justiça Criminal e Direitos Humanos. É co-autora do livro “Quando a Polícia Mata: homicídios por Autos de Resistência no Rio de Janeiro” (Booklink, 2013) e diretora do documentário “Auto de Resistência”, ganhador do prê mio É Tudo Verdade (2018). Foi pesquisadora do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ, da Anistia Internacional Brasil e do ISER. Atuou como consultora da Associação para Prevenção da Tortura (APT) e do UNODC. Atualmente, é consultora do PNUD, no âmbito do Programa Fazendo Justiça.
JULIANA FARIAS é antropóloga e roteirista. Atua como pesquisadora co laboradora do Núcleo de Estudos de Gênero PAGU/Unicamp, tendo de senvolvido projetos de pesquisa sobre militarização, violências de gêne ro, controle de corpos e territórios, desde a perspectiva da Antropologia do Estado, violações de direitos humanos e racismo de Estado. Autora do livro “Governo de Mortes: uma etnografia da gestão de população de fave las no Rio de Janeiro” (Papeis Selvagens, 2020); co-autora de “Violências de gênero em contextos militarizados: uma cartografia escrita por mulhe res” (FASE, 2020). Integra o Comitê Cidadania, Violência e Gestão Estatal da Associação Brasileira de Antropologia (ABA).
LULA CARVALHO é diretor de fotografia, membro da Academia do Oscar e da American Society of Cinematographers. Fotografou filmes como “Tropa de Elite 1” e “Tropa de Elite 2: O inimigo agora é outro”, de José Padilha, “Budapeste” de Walter Carvalho, “A Festa de Menina Morta”, de Matheus Nachtergaele, “Feliz Natal” de Selton Mello, “O Lobo atrás da Porta” de Fernando Coimbra, entre outros. Fora do Brasil, fotogra fou filmes como “Robocop”, de José Padilha, pela MGM e Sony Pictures, “Tartarugas Ninjas” e “Tartarugas Ninja 2” , da Paramount Pictures, e a sé rie “Narcos”, da Netflix.
BERIMBAUZEIRO MÁRIO EUGÊNIO SARETTA, MARCO ANTONIO POGLIA E MAGNÓLIA DOBROVOLSKI 2021, 20’
No sul do Brasil, Mestre Churrasco explo ra sonoridades e formas de estar no mun do através da criação de berimbaus inusita dos. A relação com o corpo, com a natureza e com a musicalidade, sempre marcada pela expressão do lúdico e pelo espírito inventi vo do personagem, compõem a narrativa do documentário.
Direção, produção e roteiro Marco Poglia Magnólia Dobrovolski
Mário Saretta
Elenco Mestre Churrasco
Trilha Sonora Mestre Churrasco Ìdòwú Akínrúlí
Filme realizado ao longo de três anos, fina lizado em meio à pandemia de covid-19 por meio de financiamento da Lei Aldir Blanc. Berimbauzeiro conta com uma versão com audiodescrição e LSE, além de legendas em português, espanhol e inglês.
MÁRIO EUGÊNIO SARETTA é antropólo go, mestre e doutor em antropologia social. Professor de antropologia social na Escola de Belas Artes e Música do Paraná (Embap/ UNESPAR). Produziu e dirigiu o documentário longa-metragem Epidemia de Cores, que es teve nos cinemas de todo o país e foi licencia do para o Canal Brasil e para o SESCTV.
MARCO ANTONIO POGLIA é doutor em Antropologia Social pelo Programa de PósGraduação em Antropologia Social da UFRGS e capoeirista integrante da Áfricanamente Escola de Capoeira Angola. Membro do GeAfro - Grupo de Estudos Afro (NEAB/ UFRGS) e coordenador geral do projeto de pesquisa e audiovisual Angola Poa: expres sões da capoeira angola em Porto Alegre, realizado em parceria com a artista visu al Magnólia Dobrovolski. Produziu e dirigiu, com Vinicius Correa, o documentário em cur ta-metragem A Vida Tocando (Melhor Filme Etnográfico do Cine Tornado Festival 2017).
MAGNÓLIA DOBROVOLSKI é artista visu al, treinela de Capoeira Angola e pesquisa dora das estratégias populares para salva guardar a capoeira. Mestranda no Programa de Pós Graduação Museologia e Patrimônio da UFRGS e licenciada em Artes Visuais no Instituto de Artes da UFRGS. É capoeiris ta integrante da Áfricanamente Escola de Capoeira Angola há 13 anos, atuou como arte -educadora em diversos projetos sociais. Coproduziu a série documental Angola Poa: ex pressões da Capoeira Angola em Porto Alegre.
O repente nordestino é apresentado pelo toque das vio las e pela voz dos cantadores, revelando a riqueza e a profundidade de sua poesia improvisada.
Direção e argumento
João Miguel Sautchuk
Produção
João Miguel Sautchuk André Leão Mauro Lira Nícolas Lopes Pesquisa
João Miguel Sautchuk Daniel Simião
André Leão Felipe Porfírio Silva Amalle Pereira Wagner Chaves Roteiro Igor Z. Cerqueira
Carol Matias
Rivelino Mourão Som direto Chico Bororo Daniel Moraes (Jack) Marco Rudolf Montagem, colorização e finalização Sergio Azevedo Desenho de som e mixagem Olivia Hernández
Um grande desafio encarado na concepção do filme foi a escolha, ou cons trução, de um uma linguagem audiovisual que tivesse algum nexo com a estética do repente. Não sendo as dimensões cênica e visual uma priorida de ou foco específico de reflexão para os repentistas, o caminho escolhi do foi buscar elementos estéticos mais centrais ao repente, enfatizando a sonoridade de vozes e violas, o ritmo da troca poética e sua alternância com as conversas, pedidos e prosas que entremeiam os baiões de poesia. Assim, os elementos espaciais e imagéticos se aglutinam ao som, ao tem po, ao fluxo, às interações, ao diálogo poético e suas mensagens.
JOÃO MIGUEL SAUTCHUK nasceu em 1979 em Brasília, onde cresceu e es tudou. O interesse pela música permeou sua formação acadêmica primei ro na história e depois na antropologia sendo a música tema central do mestrado e doutorado nesta área. Foi professor da Universidade Federal do Piauí e é atualmente professor associado da Universidade de Brasília. Seus principais temas de pesquisa são o improviso na poesia, na música e na linguagem, etnomusicologia, antropologia linguística, análise antropo lógica de rituais, e as ideologias da cultura e da nacionalidade na música popular. Junto ao Iphan, coordenou a pesquisa para o registro do Repente como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
Uma família decide abrir uma escola de música erudita na sua própria casa: Bento, Lane, e seus seis filhos - Axel, Maíra, Cecília, Mírian, Victória e Bruno - mon tam o Projeto Acordes Mágicos. Os irmãos Cruz, então, se orga nizam para dar aulas e ensinar às outras crianças do bairro aqui lo que amam. Pouco a pouco, a casa se transforma num local de encontros musicais, num dos bairros mais perigosos da peri feria de Fortaleza. Mas, para al cançar o sonho de viver de músi ca, será preciso um pouco mais. Até onde a música os levará?
Paula Bessa Braz
Mihai Andrei Leaha Gênero
Documentário musical
Imagem
Mihai Andrei Leaha Som
Paula Bessa Braz Edição
Paula Bessa Braz
Mihai Andrei Leaha Montagem
Paula Bessa Braz
Mihai Andrei Leaha
Pós-produção de imagem Mihai Andrei Leaha
Pós-produção de som Ewelter Rocha Jean Nands
Identidade visual Mateus Torquato Elenco
Família Cruz
Neste filme, através de uma abordagem sensível, sensorial e imersiva, atenta aos gestos dos corpos, das músicas e dos silêncios, buscamos jogar luz sobre a relação singular que essa família estabelece com esse fazer mu sical, e revelar como esta relação se faz presente em outras instâncias, seja na forma como esses jovens planejam suas vidas e articulam seus sonhos, seja na forma como se pensam no mundo de hoje.
PAULA BESSA BRAZ é antropóloga, filmmaker e pesquisadora em Antropologia Social na Universidade de São Paulo (USP), onde atualmen te conduz sua pesquisa de doutorado. “Canto de Família” marca sua estreia na direção cinematográfica e foi concebido como uma etnografia fílmica de sua pesquisa de mestrado, onde os aspectos do sentidos e do sensível no fazer musical são abordados com um olhar sensorial, revelando a crua atmosfera de intimidade e delicadeza cotidiana da família com quem con viveu e pesquisou.
MIHAI ANDREI LEAHA é pesquisador audiovisual e cineasta, atuando há mais de dez anos na área. Atualmente realiza seu pós-doutorado em Antropologia Social na Universidade de São Paulo (USP) e atua como membro do conselho da Comissão de Antropologia Visual, IUAES e outras organizações, envolvido na curadoria, promoção e programação de filmes etnográficos em várias conferências e festivais.
Três drag queens brasileiras se pre param para uma Drag Race em São Paulo. Enquanto se arrumam para o show, Satine, Di Vina Kaskaria e Gabeeh Brasil compartilham sobre como as experiências e lutas vividas no processo de elaboração das suas drags as transformaram em multi -artistas. Durante o concurso, essa transformação é revelada e encena da, e se mistura à festa Caps Lock, na vibrante cena independente de músi ca eletrônica em São Paulo.
Mihai Andrei Leaha
Produção
Projeto
Mihai Andrei Leaha Leonardo Cravo Paula Bessa Braz
Satine Di Vina Kaskaria
Gabeeh Brasil
Direção e pesquisa
Mihai Andrei Leaha
Câmera
Mihai Andrei Leaha Leonardo Terra Cravo
Paula Bessa Braz
Edição
Leonardo Terra Cravo
Correção de cor
Mihai Andrei Leaha Sound mixing mastering Ewelter Rocha
Jean Nands
Júlia Quevedo
Laser graphics Paulinho Fluxus
A visão do filme do diretor se beneficia de estratégias estilísticas e meto dológicas específicas. A abordagem fílmica é inspirada no cinema direto e filmes de gênero como Paris is Burning, que toma a montação como dis positivo narrativo. Nesse sentido, os performers drag são “flagrados pela câmera” e provocados por ela em seu processo de metamorfose antes do espetáculo. Enquanto se preparam para o baile, Satine, DiVina Kaskaria e Gabeeh Brasil revelam detalhes íntimos sobre as consequências e os desa fios de se tornar uma drag queen no Brasil. A abordagem direta no cinema é crua, assim como as confissões, que o espectador vivencia como teste munha envolvida. Essa estratégia define o cenário para o show subsequen te e para a participação na festa, que agora é experimentada com maior proximidade, uma vez que nos aproximamos dos significados em torno do ser e fazer drag queen. Além disso, o filme usa uma abordagem colabora tiva onde personagens e parceiros de produção são considerados co-cria dores. O filme se beneficia dessa conjunção de perspectivas e visões esté ticas, tanto de clubbers quanto de antropólogos e colegas.
MIHAI ANDREI LEAHA é um pesquisador audiovisual romeno, antropólo go, escritor, cineasta e educador, atualmente morando no Brasil. Como membro da CVA (Comissão de Antropologia Visual), a CEVA e outras orga nizações, o pesquisador tem um envolvimento de longo prazo com curado ria, promoção e programação de filmes etnográficos em várias conferên cias ou eventos de festivais. Ele ensinou Antropologia Visual em Cluj e São Paulo, e já organizou conferências e workshops sobre antropologia multi modal na Romênia, Brasil e Peru. O cineasta está atualmente fazendo um pós-doutorado pela Universidade de São Paulo, pesquisando a cena local da música eletrônica DIY e desenvolvendo novos projetos de filmes em et nomusicologia audiovisual. www.mihaileaha.com
Dimensões sobre o tempo que emerge da relação entre o visível e o imaginado, entre memória e experiência do presen te. A partir do dispositivo fílmico e por meio da experimentação entre a músi ca e o arquivo, tempo e memória arti culam-se em um espaço singular. O ci ne-concerto transita pelas sonoridades dos canaviais pernambucanos entrela çando trilha ao vivo com imagens pro duzidas por etnógrafos e artistas nos anos de 1991 a 2009 e explora manei ras de trazer à vida acervos produzidos na pesquisa antropológica. Em cena, os músicos Luiz Paixão e Renata Rosa fazem um reencontro cinematográfi co com suas trajetórias, improvisam toadas com suas rabecas e se recriam nas lembranças.
Direção
Marcia Mansur
Produção
Marcia Mansur
Com
Luiz Paixão
Renata Rosa
Roteiro
Luisa Pitanga Marcia Mansur
Co-direção (filmagens)
Hanna Godoy
Fotografia
Hanna Godoy Luciana
Luisa Pitanga Marcia Mansur
Rodolfo Figueiredo
Uirá Ferreira
Montagem/Edição
Iolanda Depizzol Marcia Mansur
Assistente de edição Guilherme Leandro
Mixagem e Desenho de som Guilherme Destro Masterização de som Daniel Teixeira Produtora Estúdio CRUA http://estudiocrua.com. br/cine-rabeca/ Apoio para digitalização de materiais Laboratório de Imagem e Som em Antropologia da Universidade de São Paulo | LISA - USP
Projeto desenvolvido em residência artística no Núcleo de Estudos Contemporâneos do Museu da Imagem e do Som de São Paulo (2018)
No início dos anos 2000, com o advento do vídeo digital, perdi acesso aos players que tocavam fitas filmadas ao longo de anos com Luiz Paixão. Uma pequena caixa de isopor com 23 fitas de vídeo Hi8 me acompanhou em su cessivas mudanças de casas e países. As cenas e os depoimentos foram sendo esquecidos e o material foi se transformando em acervo. Guardava vagas lembranças, ativadas pelas etiquetas: Paixão no Engenho, Ensaios do primeiro CD, Cavalo-marinho no aniversário de Maíca. Retomar este material era um projeto permanente. A música conduziu os arquivos de volta à vida e a montagem versa sobre o tempo, a memória, os desapareci mentos e a incessante fabricação de imagens.
MARCIA MANSUR é doutoranda (UNICAMP) e mestre (UFPE) em antro pologia, graduada em Ciências Sociais (UFRJ). Co-fundadora do Estúdio CRUA, produz documentários e ações de formação utilizando novas mí dias para impacto social. Diretora, roteirista, editora e pesquisadora em curtas-metragens. Co-diretora do longa “O Som dos Sinos” (2017), exibi do em festivais como Biarritz Amérique Latine (França) e Margaret Mead Film Festival (NY), recebeu prêmios como Melhor Projeto Documental Transmídia e Melhor Documental Antropológico da V Muestra de Antropología Audiovisual de Madrid, Golden Tree Documentary Film Festival (Frankfurt), Melhor Filme na Jornadas de Antropologia John Monteiro e Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade (IPHAN).
Um grupo formado por estudantes e pesquisadores decide juntar a experi ência de produzir imagens à experiên cia de produzir sons para pensar co letivamente a relação entre corpo e cidade, processo esse que foi atraves sado pela pandemia de infecções pelo Sars-cov-2. O resultado dessa experi ência é um encontro sensível com for mas outras de se produzir conhecimen to, de se expressar e se relacionar com o mundo que nos cerca.
Direção
Andrea Barbosa
Gabriela Carvalho Raul Carvalho
Produção
Andrea Barbosa Gabriela Carvalho Roteiro Andrea Barbosa Andrea D´Amato Beatriz Campos Gabriela Carvalho Gustavo Zavistoski Lucas Oliveira Maria Fernanda Assis Milena Cidrão
Edição
Raul Carvalho
Alannis Oliveira
Ana Beatriz Oliveira Andrea Barbosa Andrea D’ Amato Beatriz Campos Lima Danillo Silva Erika Paulo dos Santos Gabriela Carvalho Gustavo Zavistoski Herbert dos Santos Jessica de Barros Queren Queila Lucas Oliveira
Maria Eduarda Teixeira Maria Fernanda Assis Milena Cidrão
Mirela de Meireles Thainá Batista
Trilha Sonora Gabriela Carvalho Maria Fernanda Assis Mixagem Alandson Silva Tatiane Vesh
Este é um filme que se propõe a pensar a cidade (ou as cidades) a partir da relação que os corpos (com suas singularidades e diferenças) são capazes de travar com ela. Neste filme, a produção de imagens e sons surge como possibilidade de agenciamentos sensíveis, abrindo canais de reflexão e di álogo e apontando caminhos para a construção de um conhecimento com partilhado. Nele, imagem e som caminham juntos, se articulam numa experiência de aproximação sensorial com o mundo, onde os corpos, ao fo tografarem e musicarem a sua cidade vivida e imaginada, criam e recriam o cotidiano, a vida diária, dando a ela outros sentidos e significados e se co locando como produtores de um saber sensível e legítimo sobre o mundo, as pessoas e as coisas.
ANDRÉA BARBOSA é antropóloga, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP onde co ordena o VISURB- Grupo de Pesquisas Visuais e Urbanas desde 2007 e in tegra a equipe editorial da Revisa GIS – Gesto Imagem e Som da USP desde sua criação. É autora dos livros São Paulo Cidade Azul (Alameda/FAPESP, 2012) e Antropologia e Imagem (Zahar, 2006); organizadora e autora dos Livros A Experiência da Imagem na Etnografia (Terceiro Nome, 2016). Dirigiu os documentários “O resto é o dia a dia” (2001, Prêmio Realidade Brasileira no Festival de Cinema Universitário do Rio de Janeiro), “No canto dos olhos” (2006), “Em(si)mesma” (2006, Prêmio da Associação Brasileira de Documentaristas no Festival Internacional do filme Etnográfico), “Caminhos da Memória: Miriam Moreira Leite” (2007), “Pimentas nos olhos” (2015), “Corpocidade” (2021) e Fotoafeto (2022).
GABRIELA CARVALHO é formada em Ciências Sociais pela UNIFESP, pes quisadora do VISURB e do CMUrb e musicista formada pela Escola de Música do Estado de São Paulo.
RAUL CARVALHO é editor audiovisual formado pelo Instituto Criar de Tv, Cinema e Novas Mídias. Atua há mais de 10 anos no mercado audiovisual.
Nubia é uma clubber e fotógrafa da cena independente de música eletrônica em São Paulo. Andando pelo centro da cida de de São Paulo, durante o evento SP na Rua, ela fotografa enquanto dança e inte rage com amigos e performers. Suas foto grafias revelam um olhar original, político e estético, que capta de forma vívida as ce nas desse universo deslumbrante.
Direction e pesquisa
Mihai Andrei Leaha Produção
LAVANDERIA DOCS & LISA
Projeto
Mihai Andrei Leaha Leonardo Cravo
Paula Bessa Braz
Núbia Fernamo
Fotografia
Mihai Andrei Leaha Leonardo Terra Cravo
Localização de som Paula Bessa Braz
Edição
Leonardo Terra Cravo
Correção de cor
Mihai Andrei Leaha
Masterização e mixagem
Ewelter Rocha
Jean Nands
Motion graphics e design
Júlia Quevedo
A visão do diretor sobre o curta Cybershota é uma abordagem colaborativa da obra e concepção de arte de Núbia Fernamo. As fotos da artista são conside radas um ponto de partida, um pretexto e um gatilho para diferentes histó rias que se desenrolam no filme. A curadoria das fotografias foi compartilhada pelo diretor e pela artista, enquanto as cenas fílmicas, filmadas de forma rea lista, oferecem um vislumbre do laboratório de produção de imagens da Núbia. A montagem justapõe as duas cenas que são complementadas por uma entre vista de feedback e uma discussão em estilo de conversa que explica a visão da artista sobre fotografia, ativismo e espaço público. O resultado é uma visão ca leidoscópica da cena musical independente paulistana.
MIHAI ANDREI LEAHA é um pesquisador audiovisual romeno, antropólogo, escritor, cineasta e educador, atualmente morando no Brasil. Como mem bro da CVA (Comissão de Antropologia Visual), a CEVA e outras organizações, o pesquisador tem um envolvimento de longo prazo com curadoria, promo ção e programação de filmes etnográficos em várias conferências ou eventos de festivais. Ele ensinou Antropologia Visual em Cluj e São Paulo, e já orga nizou conferências e workshops sobre antropologia multimodal na Romênia, Brasil e Peru. O cineasta está atualmente fazendo um pós-doutorado pela Universidade de São Paulo, pesquisando a cena local da música eletrônica DIY e desenvolvendo novos projetos de filmes em etnomusicologia audiovisual. www.mihaileaha.com
Filme experimental com imagens em movimento de mulheres e jovens negras registradas, enquanto trabalhavam, sob uma esté tica da fratura. Seus corpos foram posicionados pelos olhos dos homens brancos das classes médias como se fossem partes que serviam de escora, suporte e de espectadoras das vidas que de pendiam delas. O filme desarranja esta estética visual. Faz ver que, entre quem registrava e entrava, marginalmente, em foco, havia o olhar feminino negro. Que encarava, numa afronta, a câmera, de monstrando afirmação, contestação e constrangimento.
Alline Torres Dias da Cruz
Anaduda Coutinho
Marcio Plastina
Víctor Alvino
Roteiro
Alline Torres
Anaduda Coutinho
Marcio Plastina
Víctor Alvino
Som
Alline Torres
Anaduda Coutinho
Marcio Plastina
Víctor Alvino
Montagem
Alline Torres
Anaduda Coutinho
Marcio Plastina
Víctor Alvino
Edição
Pedro Bonfim
Víctor Alvino
Descompostura foi realizado no âmbi to do Arquivo em Cartaz 2020. Festival Internacional de Cinema de Arquivo, na oficina Lanterna Mágica, sob a orien tação da professora Patrícia Machado.
ALLINE TORRES é Doutora em Antropologia (MN/UFRJ) e escrito ra, “Descompostura” é seu curta de estreia. O argumento nasce de pes quisas e artigos sobre subúrbios do Rio Janeiro e mulheres negras no pós-emancipação.
VÍCTOR ALVINO é filmmaker e editor. Bacharel em Relações Internacionais (UFRRJ). Colaborou em 12 curtas-me tragens (assistente de direção e produ ção), e uma peça de teatro (produtor).
ANADUDA COUTINHO estuda na Unirio e integra projeto de extensão na área de Arquivologia e Cinema. Especialista em Gestão Cultural, tra balhou 20 anos em programas de pa trocínios culturais.
MARCIO PLASTINA é mestre em Educação e graduado em História pela UFF. Professor na Educação Básica há 31 anos.
A cada 27 de setembro, Julio Valverde e sua família realizam um caruru de Cosme e Damião no Soteropolitano, restaurante de comida baiana localizado em São Paulo. Ao longo de 25 anos, a promessa de ofere cer essa festa foi cumprida. Será ela capaz de resistir aos impactos da pandemia?
Ajuste de cor Ricardo Dionisio
Laboratório de Imagem e Som em Antropologia / LISA-USP
Apoio
FAPESP
Pensar em Julio Valverde é pensar no Soteropolitano, o restaurante que ele tem liderado há mais de 25 anos atravessando toda sorte de tormen tas e bonanças. De todos os muitos alimentos para a alma oferecidos pelo Soteropolitano, o Caruru de Cosme e Damião ocupa lugar de destaque: é o momento de agradecer a proteção dos gêmeos meninos; pedir novas bên çãos para o ano que se inicia; e, acima de tudo, cumprir uma irrevogável promessa familiar. É, portanto, a fé e resiliência necessárias para a per manência de uma localidade, entendida tanto como espaço físico quanto como ideal, que o filme “Dois Irmãos” busca retratar.
YURI PRADO é pós-doutorando em Antropologia Social na USP e atu almente realiza estágio de pesquisa na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), em Paris. É membro do Projeto Temático FAPESP “O musicar local: novas trilhas para a etnomusicologia” e do gru po de pesquisas PAM (Pesquisas em Antropologia Musical). Formado em Música (Composição) pelo Departamento de Música da ECA-USP, pos sui Doutorado Direto pela mesma instituição, com estágio de pesquisa em etnomusicologia na Université Paris VIII. Como arranjador e compo sitor, foi vencedor do I Concurso de Composição da Orquestra de Câmara da USP (2010), do XIX Prêmio Nascente-USP (2011), e do I Concurso de Composição da Orquestra Jazz Sinfônica (2015). Como documentarista, produziu os filmes “Um passo para vencer” (2020) e “Dois Irmãos” (2021).
O episódio Educação na ditadura trata da trajetória de estu dantes, professores e membros do corpo técnico-científico das universidades e escolas atingidos pela ditadura. Saindo do lugar comum sobre o tema, o filme demonstra que as víti mas da ditadura não se resumem ao número oficial de mor tos e desaparecidos no período. Há um grande número de estudantes, por exemplo, que viveram a violência da repres são no período, as prisões em massa e os desaparecimentos forçados. O episódio conta também histórias de docentes e servidores públicos que tiveram suas carreiras interrompi das, deixaram o país ou ainda perderam a vida na ditadura.
Direção geral
José Sergio Leite Lopes
Roteiro e pesquisa Felipe Magaldi
Virna Plastino Narração Douglas Krenak Edição
Rubens Takamine Motion design Fernando Fernandes Argumento Felipe Magaldi
José Sergio Leite Lopes Lucas Pedretti Luciana Lombardo Virna Plastino
Produção Executiva, Coordenação de Produção e Finalização
Ricardo Favilla
Paradox Trilha Sonora Felipe Magaldi
Gamela - E'S Jammy Jams Narração da Introdução Thamyres Lopes
Apoio
Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ
Programa de Memória dos Movimentos Sociais - MEMOV/CBAE/UFRJ
Realização
Comissão da Memória e Verdade/UFRJ
Núcleo de Memória e Direitos Humanos Instituto de Cultura e Movimento - ICEM
Dividida em seis partes, a série tematiza a violência da ditadura contra as mu lheres, a população LGBTQIA+, a população negra e moradora de favelas, os povos indígenas, os estudantes e educadores e os trabalhadores do campo e da cidade. Cada episódio é narrado por uma pessoa que viveu os impactos da dita dura, representando os incontáveis sujeitos coletivos atingidos e nem sempre lembrados nas narrativas tradicionais. A proposta é que os filmes apresentam uma estética mais próxima do universo da internet do que de documentários clássicos. Para isso, buscamos uma narrativa ágil, com linguagem acessível, com vistas à divulgação e ao combate ao crescente negacionismo sobre o tema.
JOSÉ SÉRGIO LEITE LOPES é professor Titular do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ex-diretor do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro - CBAE/UFRJ (2012-2019). Fez graduação em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1969), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1975) e dou torado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986). Fez pós-doutorado na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris (1988-1990). Coordena o Programa de Memória dos Movimentos Sociais - Memov - CBAE/UFRJ e a Comissão Memória e Verdade/UFRJ.
FELIPE MAGALDI possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012), mestrado em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (2014) e doutorado em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2018). Realizou pós -doutorados na Universidad Nacional de Córdoba/CONICET (2018-2020) e no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro/CAPES (2020-2021). Atualmente, é pós-doutorando na Universidade Federal de São Paulo (FAPESP) e colaborador do Núcleo de Memória e Direitos Humanos da Comissão da Memória e da Verdade CMV/UFRJ. Atua principalmente nos se guintes temas: saúde mental, memória social e direitos humanos.
LUCAS PEDRETTI é doutorando em Sociologia no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP/UERJ). Mestre em História Social da Cultura (2018) e graduado em História (2015) pela PUC-Rio. Integra o Núcleo de Memória e Direitos Humanos do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ). É professor de História no ensino básico na rede pública do município de Maricá (RJ). Foi pesquisador do Instituto de Estudos de Religião (ISER). Foi estagiário da Comissão Estadual da Verdade do Rio. Colaborou com o Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio. Foi assessor da Coordenadoria Estadual por Memória e Verdade de janeiro de 2016 a agosto de 2017. Edita o portal História da Ditadura (www.historias ditadura.com.br).
LUCIANA LOMBARDO é doutora em Antropologia Social pela UFRJ (Museu Nacional), mestre pela mesma instituição, ba charel e licenciada em História pela UFF. Foi professora de pré -vestibulares comunitários (1996 a 1999), professora concur sada de História nas redes municipal e estadual (2001 a 2009), professora substituta de História na UFF (2007 a 2009) e pro fessora horista na PUC-Rio (2009 a 2018). Tem experiência de pesquisa nos seguintes temas: arquivos, polícia política, tra balhadores e sindicatos, editoras e editores de livros, censu ra literária, livros didáticos e ditadura e políticas de memó ria. Atualmente, atua na Comissão da Memória e Verdade e no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
VIRNA PLASTINO é doutora (2013) e mestra (2006) em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ. Possui bacha relado (2002) e licenciatura (2003) em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Secretária Executiva da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (20132015) e Coordenadora da Coordenadoria Estadual de Memória e Verdade da Secretaria Estadual de Direitos Humanos (20162017). Foi pós-doutoranda (2018-2020) do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE) e do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ (2021). Atualmente é pesquisadora colaboradora da Comissão da Memória e Verdade da UFRJ. Desde 2019 é asses sora da Comissão de Direitos Humanos da OABRJ.
Este episódio trata da violência contra as mulheres durante a ditadura mi litar. A memória do período tende a priorizar homens, brancos, heterosse xuais, em sua maioria associados à luta armada, seja em filmes ou produ ções literárias e culturais. Entretanto, a participação das mulheres em suas múltiplas formas de resistência foi longe de secundária. A participação fe minista na luta contra a ditadura se associou ao movimento pela anistia. Mães e familiares protagonizaram a denúncia pública das violações na es fera pública. Ao mesmo tempo, o regime utilizava a violência sexual como forma de tortura, mostrando a indissociabilidade entre gênero e Estado, moralidade e a política.
Direção geral
José Sergio Leite Lopes
Roteiro e pesquisa
Felipe Magaldi Virna Plastino
Narração
Douglas Krenak
Edição
Rubens Takamine Motion design Fernando Fernandes Argumento Felipe Magaldi
José Sergio Leite Lopes
Lucas Pedretti Luciana Lombardo Virna Plastino
Produção Executiva, Coordenação de Produção e Finalização
Ricardo Favilla
Finalização Paradox
Trilha Sonora
Felipe Magaldi
Gamela - E'S Jammy Jams
Narração da Introdução
Thamyres Lopes
Apoio Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ Programa de Memória dos Movimentos Sociais - MEMOV/CBAE/UFRJ
CNPq
FAPERJ
Realização
Comissão da Memória e Verdade/UFRJ
Núcleo de Memória e Direitos Humanos Instituto de Cultura e Movimento - ICEM
Dividida em seis partes, a série tematiza a violência da ditadura contra as mu lheres, a população LGBTQIA+, a populacão negra e moradora de favelas, os povos indígenas, os estudantes e educadores e os trabalhadores do campo e da cidade. Cada episódio narrado por uma pessoa que viveu os impactos da dita dura, representando os incontáveis sujeitos coletivos atingidos e nem sempre lembrados nas narrativas tradicionais. A proposta é que os filmes apresentam uma estética mais próxima do universo da internet do que de documentários clássicos. Para isso, buscamos uma narrativa ágil, com linguagem acessível, com vistas à divulgação e ao combate ao crescente negacionismo sobre o tema.
JOSÉ SÉRGIO LEITE LOPES é professor Titular do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ex-diretor do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro - CBAE/UFRJ (2012-2019). Fez graduação em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1969), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1975) e dou torado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986). Fez pós-doutorado na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris (1988-1990). Coordena o Programa de Memória dos Movimentos Sociais - Memov - CBAE/UFRJ e a Comissão Memória e Verdade/UFRJ.
FELIPE MAGALDI possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012), mestrado em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (2014) e doutorado em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2018). Realizou pós -doutorados na Universidad Nacional de Córdoba/CONICET (2018-2020) e no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro/CAPES (2020-2021). Atualmente, é pós-doutorando na Universidade Federal de São Paulo (FAPESP) e colaborador do Núcleo de Memória e Direitos Humanos da Comissão da Memória e da Verdade CMV/UFRJ. Atua principalmente nos se guintes temas: saúde mental, memória social e direitos humanos.
LUCAS PEDRETTI é doutorando em Sociologia no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP/UERJ). Mestre em História Social da Cultura (2018) e graduado em História (2015) pela PUC-Rio. Integra o Núcleo de Memória e Direitos Humanos do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/ UFRJ). É professor de História no ensino básico na rede pública do município de Maricá (RJ). Foi pesquisador do Instituto de Estudos de Religião (ISER). Foi estagiário da Comissão Estadual da Verdade do Rio. Colaborou com o Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio. Foi assessor da Coordenadoria Estadual por Memória e Verdade de janeiro de 2016 a agosto de 2017. Edita o portal História da Ditadura (www.historias ditadura.com.br).
LUCIANA LOMBARDO é doutora em Antropologia Social pela UFRJ (Museu Nacional), mestre pela mesma instituição, ba charel e licenciada em História pela UFF. Foi professora de pré-vestibulares comunitários (1996 a 1999), professora concursada de História nas redes municipal e estadual (2001 a 2009), professora substituta de História na UFF (2007 a 2009) e professora horista na PUC-Rio (2009 a 2018). Tem experiência de pesquisa nos seguintes temas: arquivos, po lícia política, trabalhadores e sindicatos, editoras e edito res de livros, censura literária, livros didáticos e ditadura e políticas de memória. Atualmente, atua na Comissão da Memória e Verdade e no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
VIRNA PLASTINO é doutora (2013) e mestra (2006) em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ. Possui ba charelado (2002) e licenciatura (2003) em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Secretária Executiva da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (2013-2015) e Coordenadora da Coordenadoria Estadual de Memória e Verdade da Secretaria Estadual de Direitos Humanos (2016-2017). Foi pós-doutoranda (20182020) do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE) e do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ (2021). Atualmente é pesquisadora colaboradora da Comissão da Memória e Verdade da UFRJ. Desde 2019 é assessora da Comissão de Direitos Humanos da OABRJ.
Este episódio aborda a violência do regime militar contra a população homossexual e transsexual, que hoje conhecemos sob a sigla LGBTQIA+. Os corpos e sexualidades dis sidentes estiveram na mira do aparato repressivo ditatorial, que buscava construir uma sociedade aos moldes da “moral e dos bons costumes”. A preocupação com a “apologia ao homossexualismo”, frequentemente associada ao comunismo internacional, serviu para embaralhar as fronteiras entre o moral e o político, justificando diversas censuras e demissões. Batidas policiais, prisões e torturas enfrentavam a nascente resistência em boates, espaços de pegação e movimentos de afirmação de gays e lésbicas.
Direção geral
José Sergio Leite Lopes
Roteiro e pesquisa
Felipe Magaldi
Virna Plastino
Narração Douglas Krenak Edição
Rubens Takamine
Motion design Fernando Fernandes Argumento
Felipe Magaldi
José Sergio Leite Lopes Lucas Pedretti Luciana Lombardo
Virna Plastino Produção Executiva, Coordenação de Produção e Finalização
Ricardo Favilla
Trilha Sonora
Felipe Magaldi
Gamela - E'S Jammy Jams
Narração da Introdução
Thamyres Lopes Apoio
Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ Programa de Memória dos Movimentos Sociais - MEMOV/CBAE/UFRJ
CNPq
FAPERJ
Realização
Comissão da Memória e Verdade/UFRJ
Núcleo de Memória e Direitos Humanos Instituto de Cultura e Movimento - ICEM
Dividida em seis partes, a série tematiza a violência da ditadura contra as mulheres, a população LGBTQIA+, a população negra e moradora de fave las, os povos indígenas, os estudantes e educadores e os trabalhadores do campo e da cidade. Cada episódio narrado por uma pessoa que viveu os im pactos da ditadura, representando os incontáveis sujeitos coletivos atin gidos e nem sempre lembrados nas narrativas tradicionais. A proposta é que os filmes apresentam uma estética mais próxima do universo da inter net do que de documentários clássicos. Para isso, buscamos uma narrati va ágil, com linguagem acessível, com vistas à divulgação e ao combate ao crescente negacionismo sobre o tema.
JOSÉ SÉRGIO LEITE LOPES é professor Titular do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ex-diretor do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro - CBAE/UFRJ (2012-2019). Fez graduação em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1969), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1975) e dou torado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986). Fez pós-doutorado na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris (1988-1990). Coordena o Programa de Memória dos Movimentos Sociais - Memov - CBAE/UFRJ e a Comissão Memória e Verdade/UFRJ.
FELIPE MAGALDI possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012), mestrado em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (2014) e doutorado em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2018). Realizou pós -doutorados na Universidad Nacional de Córdoba/CONICET (2018-2020) e no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro/CAPES (2020-2021). Atualmente, é pós-doutorando na Universidade Federal de São Paulo (FAPESP) e colaborador do Núcleo de Memória e Direitos Humanos da Comissão da Memória e da Verdade CMV/UFRJ. Atua principalmente nos se guintes temas: saúde mental, memória social e direitos humanos.
LUCAS PEDRETTI é doutorando em Sociologia no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP/UERJ). Mestre em História Social da Cultura (2018) e gradu ado em História (2015) pela PUC-Rio. Integra o Núcleo de Memória e Direitos Humanos do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ). É professor de História no ensino básico na rede pública do município de Maricá (RJ). Foi pes quisador do Instituto de Estudos de Religião (ISER). Foi estagiário da Comissão Estadual da Verdade do Rio. Colaborou com o Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio. Foi assessor da Coordenadoria Estadual por Memória e Verdade de janeiro de 2016 a agosto de 2017. Edita o portal História da Ditadura (www.his torias ditadura.com.br).
LUCIANA LOMBARDO é doutora em Antropologia Social pela UFRJ (Museu Nacional), mestre pela mesma instituição, bacha rel e licenciada em História pela UFF. Foi professora de pré-ves tibulares comunitários (1996 a 1999), professora concursada de História nas redes municipal e estadual (2001 a 2009), profes sora substituta de História na UFF (2007 a 2009) e professora horista na PUC-Rio (2009 a 2018). Tem experiência de pesqui sa nos seguintes temas: arquivos, polícia política, trabalhado res e sindicatos, editoras e editores de livros, censura literária, livros didáticos e ditadura e políticas de memória. Atualmente, atua na Comissão da Memória e Verdade e no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
VIRNA PLASTINO é doutora (2013) e mestra (2006) em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ. Possui bacha relado (2002) e licenciatura (2003) em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Secretária Executiva da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (20132015) e Coordenadora da Coordenadoria Estadual de Memória e Verdade da Secretaria Estadual de Direitos Humanos (20162017). Foi pós-doutoranda (2018-2020) do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE) e do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ (2021). Atualmente é pesquisadora colaboradora da Comissão da Memória e Verdade da UFRJ. Desde 2019 é assessora da Comissão de Direitos Humanos da OABRJ.
Este episódio aborda a temática da violência do regime contra a população negra e contra os moradores de favelas. Historicamente alvos privilegia dos da violência estatal em um país profundamente racista, essa parcela da população também foi muito atingida pelos atos arbitrários da ditadu ra, apesar do mito da democracia racial. Foram exemplos remoções para a especulação imobiliária e o enriquecimento das classes dominantes, favo recidas pelo regime; jovens negros executados por esquadrões da morte e grupos de extermínio; moradores de favelas presos arbitrariamente e tor turados sob a alegação de “vadiagem”; censura e perseguição às manifes tações culturais negras.
Direção geral
José Sergio Leite Lopes
Roteiro e pesquisa
Felipe Magaldi Virna Plastino
Narração Douglas Krenak Edição
Rubens Takamine Motion design Fernando Fernandes Argumento
Felipe Magaldi José Sergio Leite Lopes Lucas Pedretti Luciana Lombardo Virna Plastino
Produção Executiva, Coordenação de Produção e Finalização
Ricardo Favilla
Finalização Paradox
Trilha Sonora
Felipe Magaldi
Gamela - E'S Jammy Jams
Narração da Introdução
Thamyres Lopes
Apoio Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ
Programa de Memória dos Movimentos Sociais - MEMOV/CBAE/UFRJ
CNPq
FAPERJ
Realização
Comissão da Memória e Verdade/UFRJ
Núcleo de Memória e Direitos Humanos Instituto de Cultura e Movimento - ICEM
Dividida em seis partes, a série tematiza a violência da ditadura contra as mu lheres, a população LGBTQIA+, a população negra e moradora de favelas, os povos indígenas, os estudantes e educadores e os trabalhadores do campo e da cidade. Cada episódio narrado por uma pessoa que viveu os impactos da dita dura, representando os incontáveis sujeitos coletivos atingidos e nem sempre lembrados nas narrativas tradicionais. A proposta é que os filmes apresentam uma estética mais próxima do universo da internet do que de documentários clássicos. Para isso, buscamos uma narrativa ágil, com linguagem acessível, com vistas à divulgação e ao combate ao crescnte negacionismo sobre o tema.
JOSÉ SÉRGIO LEITE LOPES é professor Titular do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ex-diretor do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro - CBAE/UFRJ (2012-2019). Fez graduação em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1969), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1975) e dou torado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986). Fez pós-doutorado na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris (1988-1990). Coordena o Programa de Memória dos Movimentos Sociais - Memov - CBAE/UFRJ e a Comissão Memória e Verdade/UFRJ.
FELIPE MAGALDI possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012), mestrado em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (2014) e doutorado em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2018). Realizou pós -doutorados na Universidad Nacional de Córdoba/CONICET (2018-2020) e no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro/CAPES (2020-2021). Atualmente, é pós-doutorando na Universidade Federal de São Paulo (FAPESP) e colaborador do Núcleo de Memória e Direitos Humanos da Comissão da Memória e da Verdade CMV/UFRJ. Atua principalmente nos se guintes temas: saúde mental, memória social e direitos humanos.
LUCAS PEDRETTI é doutorando em Sociologia no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP/UERJ). Mestre em História Social da Cultura (2018) e graduado em História (2015) pela PUC-Rio. Integra o Núcleo de Memória e Direitos Humanos do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ). É professor de História no ensino básico na rede pública do município de Maricá (RJ). Foi pesquisador do Instituto de Estudos de Religião (ISER). Foi estagiário da Comissão Estadual da Verdade do Rio. Colaborou com o Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio. Foi assessor da Coordenadoria Estadual por Memória e Verdade de janeiro de 2016 a agosto de 2017. Edita o portal História da Ditadura (www.historias ditadura.com.br).
LUCIANA LOMBARDO é doutora em Antropologia Social pela UFRJ (Museu Nacional), mestre pela mesma instituição, bacharel e licenciada em História pela UFF. Foi professora de pré-vestibulares comunitários (1996 a 1999), professora concursada de História nas redes municipal e estadu al (2001 a 2009), professora substituta de História na UFF (2007 a 2009) e professora horista na PUC-Rio (2009 a 2018). Tem experiência de pesqui sa nos seguintes temas: arquivos, polícia política, trabalhadores e sindica tos, editoras e editores de livros, censura literária, livros didáticos e dita dura e políticas de memória. Atualmente, atua na Comissão da Memória e Verdade e no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
VIRNA PLASTINO é doutora (2013) e mestra (2006) em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ. Possui bacharelado (2002) e licenciatura (2003) em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Secretária Executiva da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (2013-2015) e Coordenadora da Coordenadoria Estadual de Memória e Verdade da Secretaria Estadual de Direitos Humanos (2016-2017). Foi pós -doutoranda (2018-2020) do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE) e do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ (2021). Atualmente é pesquisadora colaboradora da Comissão da Memória e Verdade da UFRJ. Desde 2019 é assessora da Comissão de Direitos Humanos da OABRJ.
Este episódio aborda a violência do regime militar contra os povos indíge nas, que foram alvo de remoções, massacres e epidemias em nome do de senvolvimento e da segurança nacional. Empresários, banqueiros, latifun diários e agentes do Estado se aliaram para “pacificar” os índios arredios e acelerar sua “integração” à sociedade nacional. Retirando-os de suas ter ras, construíam estradas e hidrelétricas, e instalaram atividades econômi cas tais como agropecuária e da mineração, gerando poluição e destruição. Por outro lado, o filme retrata também a luta de sertanistas, antropólogos e missionários, o surgimento do movimento indígena unificado e os desa fios do período democrático.
Direção geral
José Sergio Leite Lopes
Roteiro e pesquisa Felipe Magaldi
Virna Plastino
Narração Douglas Krenak Edição
Rubens Takamine Motion design Fernando Fernandes Argumento Felipe Magaldi
José Sergio Leite Lopes Lucas Pedretti
Luciana Lombardo Virna Plastino
Produção Executiva, Coordenação de Produção e Finalização Ricardo Favilla
Trilha Sonora Felipe Magaldi
Gamela - E'S Jammy Jams
Narração da Introdução Thamyres Lopes
Apoio Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ Programa de Memória dos Movimentos Sociais - MEMOV/CBAE/UFRJ
CNPq
FAPERJ
Realização
Comissão da Memória e Verdade/UFRJ
Núcleo de Memória e Direitos Humanos Instituto de Cultura e Movimento - ICEM
Dividida em seis partes, a série tematiza a violência da ditadura contra as mu lheres, a população LGBTQIA+, a população negra e moradora de favelas, os povos indígenas, os estudantes e educadores e os trabalhadores do campo e da cidade. Cada episódio narrado por uma pessoa que viveu os impactos da dita dura, representando os incontáveis sujeitos coletivos atingidos e nem sempre lembrados nas narrativas tradicionais. A proposta é que os filmes apresentam uma estética mais próxima do universo da internet do que de documentários clássicos. Para isso, buscamos uma narrativa ágil, com linguagem acessível, com vistas à divulgação e ao combate ao crescente negacionismo sobre o tema.
JOSÉ SÉRGIO LEITE LOPES é professor Titular do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ex-diretor do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro - CBAE/UFRJ (2012-2019). Fez graduação em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1969), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1975) e dou torado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986). Fez pós-doutorado na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris (1988-1990). Coordena o Programa de Memória dos Movimentos Sociais - Memov - CBAE/UFRJ e a Comissão Memória e Verdade/UFRJ.
FELIPE MAGALDI possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012), mestrado em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (2014) e doutorado em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2018). Realizou pós -doutorados na Universidad Nacional de Córdoba/CONICET (2018-2020) e no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro/CAPES (2020-2021). Atualmente, é pós-doutorando na Universidade Federal de São Paulo (FAPESP) e colaborador do Núcleo de Memória e Direitos Humanos da Comissão da Memória e da Verdade CMV/UFRJ. Atua principalmente nos se guintes temas: saúde mental, memória social e direitos humanos.
LUCAS PEDRETTI é doutorando em Sociologia no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP/UERJ). Mestre em História Social da Cultura (2018) e graduado em História (2015) pela PUC-Rio. Integra o Núcleo de Memória e Direitos Humanos do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ). É pro fessor de História no ensino básico na rede pública do muni cípio de Maricá (RJ). Foi pesquisador do Instituto de Estudos de Religião (ISER). Foi estagiário da Comissão Estadual da Verdade do Rio. Colaborou com o Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio. Foi assessor da Coordenadoria Estadual por Memória e Verdade de janeiro de 2016 a agos to de 2017. Edita o portal História da Ditadura (www.histo rias ditadura.com.br).
LUCIANA LOMBARDO é doutora em Antropologia Social pela UFRJ (Museu Nacional), mestre pela mesma instituição, ba charel e licenciada em História pela UFF. Foi professora de pré-vestibulares comunitários (1996 a 1999), professora concursada de História nas redes municipal e estadual (2001 a 2009), professora substituta de História na UFF (2007 a 2009) e professora horista na PUC-Rio (2009 a 2018). Tem experiência de pesquisa nos seguintes temas: arquivos, po lícia política, trabalhadores e sindicatos, editoras e edito res de livros, censura literária, livros didáticos e ditadura e políticas de memória. Atualmente, atua na Comissão da Memória e Verdade e no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
VIRNA PLASTINO é doutora (2013) e mestra (2006) em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ. Possui ba charelado (2002) e licenciatura (2003) em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Secretária Executiva da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (2013-2015) e Coordenadora da Coordenadoria Estadual de Memória e Verdade da Secretaria Estadual de Direitos Humanos (2016-2017). Foi pós-doutoranda (20182020) do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE) e do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ (2021). Atualmente é pesquisadora colaboradora da Comissão da Memória e Verdade da UFRJ. Desde 2019 é assessora da Comissão de Direitos Humanos da OABRJ.
O episódio busca descrever os impactos da ditadura sobre os trabalhadores do campo e da cidade. Aborda temas que vão desde a política econômica e o arro cho salarial e seus efeitos sobre condições de vida da classe trabalhadora até casos frequentes de vigilância política, intervenções e repressão aberta contra sindicatos, movimentos de trabalhadores, lideranças camponesas e operárias.
Direção geral
José Sergio Leite Lopes
Roteiro e pesquisa:
Lucas Pedretti
Luciana Lombardo Narração
Jardel Leal
Edição
Rubens Takamine
Motion design: Fernando Fernandes Argumento: Felipe Magaldi
José Sergio Leite Lopes Lucas Pedretti
Luciana Lombardo
Virna Plastino
Produção Executiva, Coordenação de Produção e Finalização
Ricardo Favilla
Paradox
Trilha Sonora Felipe Magaldi
Gamela - E'S Jammy Jams
Narração da Introdução:
Thamyres Lopes
Apoio
Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ
Programa de Memória dos Movimentos Sociais - MEMOV/CBAE/UFRJ
CNPq
FAPERJ
Realização
Comissão da Memória e Verdade/UFRJ
Núcleo de Memória e Direitos Humanos Instituto de Cultura e Movimento - ICEM
Dividida em seis partes, a série tematiza a violência da ditadura contra as mulheres, a população LGBTQIA+, a população negra e moradora de fave las, os povos indígenas, os estudantes e educadores e os trabalhadores do campo e da cidade. Cada episódio narrado por uma pessoa que viveu os im pactos da ditadura, representando os incontáveis sujeitos coletivos atin gidos e nem sempre lembrados nas narrativas tradicionais. A proposta é que os filmes apresentam uma estética mais próxima do universo da inter net do que de documentários clássicos. Para isso, buscamos uma narrati va ágil, com linguagem acessível, com vistas à divulgação e ao combate ao crescente negacionismo sobre o tema.
JOSÉ SÉRGIO LEITE LOPES é professor Titular do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ex-diretor do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro - CBAE/UFRJ (2012-2019). Fez graduação em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1969), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1975) e dou torado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986). Fez pós-doutorado na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris (1988-1990). Coordena o Programa de Memória dos Movimentos Sociais - Memov - CBAE/UFRJ e a Comissão Memória e Verdade/UFRJ.
FELIPE MAGALDI possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012), mestrado em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (2014) e doutorado em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2018). Realizou pós -doutorados na Universidad Nacional de Córdoba/CONICET (2018-2020) e no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro/CAPES (2020-2021). Atualmente, é pós-doutorando na Universidade Federal de São Paulo (FAPESP) e colaborador do Núcleo de Memória e Direitos Humanos da Comissão da Memória e da Verdade CMV/UFRJ. Atua principalmente nos se guintes temas: saúde mental, memória social e direitos humanos.
LUCAS PEDRETTI é doutorando em Sociologia no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP/UERJ). Mestre em História Social da Cultura (2018) e gradu ado em História (2015) pela PUC-Rio. Integra o Núcleo de Memória e Direitos Humanos do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ). É professor de História no ensino básico na rede pública do município de Maricá (RJ). Foi pes quisador do Instituto de Estudos de Religião (ISER). Foi estagiário da Comissão Estadual da Verdade do Rio. Colaborou com o Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio. Foi assessor da Coordenadoria Estadual por Memória e Verdade de janeiro de 2016 a agosto de 2017. Edita o portal História da Ditadura (www.his torias ditadura.com.br).
LUCIANA LOMBARDO é doutora em Antropologia Social pela UFRJ (Museu Nacional), mestre pela mesma institui ção, bacharel e licenciada em História pela UFF. Foi professora de pré-vestibu lares comunitários (1996 a 1999), pro fessora concursada de História nas re des municipal e estadual (2001 a 2009), professora substituta de História na UFF (2007 a 2009) e professora horista na PUC-Rio (2009 a 2018). Tem experiência de pesquisa nos seguintes temas: arqui vos, polícia política, trabalhadores e sin dicatos, editoras e editores de livros, cen sura literária, livros didáticos e ditadura e políticas de memória. Atualmente, atua na Comissão da Memória e Verdade e no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
VIRNA PLASTINO é doutora (2013) e mes tra (2006) em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ. Possui bacha relado (2002) e licenciatura (2003) em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Secretária Executiva da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (2013-2015) e Coordenadora da Coordenadoria Estadual de Memória e Verdade da Secretaria Estadual de Direitos Humanos (2016-2017). Foi pós -doutoranda (2018-2020) do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE) e do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ (2021). Atualmente é pesquisadora colabora dora da Comissão da Memória e Verdade da UFRJ. Desde 2019 é assessora da Comissão de Direitos Humanos da OABRJ.
Filme realizado a partir do pedido de lideranças Ka'apor da aldeia Axinguirendá, T.I. Alto Turiaçu situada no Estado do Maranhão, que se or ganizam para fazer seu próprio filme. O desejo surge após assistirem ima gens de seus antepassados, feitas em 1949 por Heinz Forthmann e Darcy Ribeiro, além de produções realizadas por cineastas indígenas duran te várias noites na ohú da aldeia (casa comunal). Acionados pelo poder do audiovisual, decidem mostrar - ao mesmo tempo revitalizar - sua cul tura e se fazer conhecer da mesma forma que seus outros parentes fize ram nos filmes.
Alessandro Campos
Roteiro
Ximí Ka'apor
Valdir Ka'apor
Diquixim Ka'apor Fernando Ka'apor
Fotografia/Som Direto Alessandro Campos
Moyses Cavalcante
Sem dúvida foi uma experiência inesquecível realizar esse filme com os meus amigos Ka'apor. Sobretudo por ter sido um filme pensado e desejado por eles mesmos, e não - como costuma acontecer - um pesquisador que propõe ou faz um filme acerca de rituais e festas. Tudo aconteceu no tem po deles e do jeito que queriam. A montagem final foi aprovada por eles antes de ser exibida em qualquer outro lugar fora da aldeia. Depois des te interesse pelo audiovisual e sua potência, absorvido por eles de forma própria e autônoma, desenvolvi um projeto de oficinas de audiovisual na aldeia que se fortaleceu culminado com a criação do coletivo Nhade'ã de cinema Ka'apor.
ALESSANDRO CAMPOS é sociólogo, antropólogo e realizador audiovisu al. Coordenador adjunto do Grupo de Pesquisa em Antropologia Visual e da Imagem VISAGEM - Universidade Federal do Pará/Brasil, coordena o Festival do Filme Etnográfico do Pará, Colóquio de Cinema e Antropologia da Amazônia e Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica; orientador do Curso de Verão em 2018/2019 do MDOC- Festival Internacional de Documentário de Melgaço, vencedor do Prêmio Arte e Cultura PROEX/UFPA 2018 e premiado no X Festival Internacional do Filme Etnográfico de Recife.
XIMÍ KA'APOR é o cacique da aldeia Axinguirendá, a segunda maior do povo Ka'apor, onde se realiza o filme.
DIQUIXIM KA'APOR é professor da escola que funciona dentro ada aldeia, sem pre preocupado em fortalecer sua cultura.
VALDIR KA'APOR é auxiliar de enfermagem e trabalha no posto de saúde da al deia e pai de Diquixim.
FERNANDO KA'APOR é uma das lideranças mais ativas deste povo e foi dele a ideia inicial para que esse filme se realizasse.
KONHUN MÁG: O CAMINHO DA VOLTA À FLORESTA DE CANELA CLÉMENTINE MARÉCHAL, GUILHERME MAFFEI BRANDALISE, MAURÍCIO VEN TAINH SALVADOR E MARCELO FREIRE DE CAMPOS 2021, 60’
Desde 2008 indígenas kaingang lutam pela recuperação do território de seus ancestrais no município de Canela, Rio Grande do Sul. O documentário apresenta o retorno deles à terra onde seus antepas sados foram massacrados no fim do sécu lo XIX. São eles que, por intermediação dos kujà (lideranças espirituais), chamaram os Kaingang para retornar à Floresta Nacional de Canela e quem os guia nos projetos de vida que se tecem na construção da reto mada. O documentário, que se elaborou através de uma parceria entre os Kaingang da retomada Konhun Mág e pesquisadores de várias áreas de conhecimento, busca vi sibilizar e fortalecer a luta dos Kaingang na retomada do seu território.
Clémentine Maréchal
Guilherme Maffei Brandalise
Maurício Ven Tainh Salvador
Marcelo Freire de Campos
Projeto, Roteiro e Produção
Clémentine Maréchal
Guilherme Maffei Brandalise
Marcelo Freire de Campos Maurício Venh Tain Salvador
Participação no documentário
Zílio Jagtyg Salvador
Nilda Kengrimu Nascimento
Maurício Ven Tainh Salvador
Iracema Ga Teh Nascimento
Alcir Ká Fág Salvador Faustino
Kover Nascimento
Comunidade
Kaingang Konhún Mág
Ana Elisa Freitas De Castro
Clémentine Maréchal
Guilherme Maffei Brandalise
Iury Fontes dos Passos
Marcelo Freire de Campos Edição
Marcelo Freire de Campos
Tradução Kaingang-Português
Maurício Ven Tainh Salvador
Clémentine Maréchal
Guilherme Maffei Brandalise
Milena Weber
Iury Fontes dos Passos Milena Weber
Filmagens anteriores
Juliano Belém Bruno Pedrotti
Clémentine Maréchal Lucas Icó
João Maurício Farias
Comunidade
Kaingang Konhun Mág: Zoraide Pinto Nilda Kengrimu Nascimento (in memorian)
Viviane Farias Márcio Salvador
Adilson Padilha Nascimento Jardel Lopes
Iracema Ga Teh Nascimento Ada Hertz
João Maurício Farias Celvio Cassal Lucas Icó
Ana Elisa Freitas De Castro Rodrigo Venzon
Todos que participaram das atividades com a Retomada Konhun Mág em Porto Alegre, Canela e Caxias do Sul.
Todos os parceiros das Retomadas Indígenas
O projeto do documentário começou em 2019 durante o evento “Jornada Kaingang”, projeto de extensão do curso de psicologia da UFRGS. Foi o primei ro encontro da equipe com Maurício Salvador. Juntaram-se pesquisadores em história, antropologia, audiovisual e a comunidade kaingang em luta pela re cuperação do seu território. Tal parceria iniciou com a realização de pequenos vídeos publicados nas redes sociais com o intuito de visibilizar a luta diária dos Kaingang na retomada e de dar a conhecer sua cultura em uma região do país muito preconceituosa. Foi com o edital da Lei Aldir Blanc que a equipe conse guiu realizar esta longa-metragem aprofundando a relação entre os Kaingang e seu território.
CLÉMENTINE MARÉCHAL é antropóloga com mestrado e doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é inte grante do Núcleo de Antropologia das Sociedades Indígenas e Tradicionais. Acompanha os Kaingang nos processos de retomadas desde 2013 e realizou parte da sua pesquisa de doutorado com os Kaingang da comunidade Konhun Mág. Recentemente acompanhou as famílias indígenas Warao (oriundos da Venezuela) em Porto Alegre. Seus interesses de pesquisa giram em torno da antropologia histórica e política, etnologia indígena, migração e antropologia econômica. Também é integrante do Coletivo Catarse desde 2019, uma coope rativa de trabalho audiovisual e produção cultural.
GUILHERME MAFFEI BRANDALISE é historiador atualmente no mestrado em História Social pela UFRGS, pesquisando sobre a trajetória do cacique João Grande, que resistiu ao avanço da frente colonizadora na região da Serra Gaúcha em meados do século XIX, e a relação desses conflitos com a coloni zação europeia da região conhecida hoje como Serra Gaúcha. Também atua na divulgação científica da história indígena do Rio Grande do Sul como roteirista do projeto Desapaga POA em 2021, e trabalha atualmente no setor educativo do Memorial do RS em Porto Alegre.
MAURÍCIO VEN TAINH SALVADOR é caci que da retomada Konhun Mág. Tem 26 anos e é filho de Zílio Jagtyg Salvador e Nilda Kengrimu Nascimento que foram os primei ros a iniciarem a recuperação do território tradicional Kaingang na região de Canela. Após seu falecimento em 2017, Maurício assumiu a frente da retomada idealizan do projeto de vida no território de acordo com os valores ensinados pelos kujá e pe los antepassados. Realiza parcerias com vá rios atores locais e estudantes no intuito de visibilizar e valorizar a identidade kain gang da região.
MARCELO FREIRE DE CAMPOS é graduado em Publicidade e Propaganda pela UFRGS. Trabalha com produção cultural e audiovi sual, tendo atuado por dois anos no proje to Unasus-UFCSPA, na área de Medicina de Família e Comunidade, e três anos no proje to Unimúsica, do Departamento de Difusão Cultural da UFRGS. Também é produtor e editor de vídeo freelancer, atuando na pro dução de clipes musicais e documentários.
MAIO é um documentário produzido de forma independente pela Primata Filmes que retrata o cotidiano da comunidade pesqueira de Porto Inglês, em Cabo Verde, propondo uma perspectiva crítica do cenário atual de escassez do pescado na região provocado pela pesca industrial de barcos nacionais e es trangeiros. Nossa intenção foi trazer para o primeiro plano da discussão sobre a falta do peixe no arquipélago, a voz daqueles e daquelas que cotidianamen te sofrem com as escolhas equivocadas da atual gestão estatal das pescarias, mas também deixamos demonstrado as razões que justificam uma aposta de futuro na comunidade artesanal pesqueira das ilhas.
João Paulo Araújo
Luís Evo
Produção
Primata Filmes
Fotografia, edição e montagem
Luís Evo
Roteiro
Elis Borde
João Paulo Araújo
Luís Evo
Trilha sonora Tibau Tavares Som
Elis Borde Pesquisa
João Paulo Araújo
Arte e divulgação Luís Evo Tradução
Pedro Andrade Pedro Matos
Este filme tem por objetivo principal, situar os pescadores artesanais de Cabo Verde como atores qualificados para a discussão sobre a escassez do pescado em Cabo Verde, dirimindo barreiras sociais locais que os mantêm historicamente alijados das esferas de poder.
JOÃO PAULO ARAÚJO é servidor público federal lotado no Ministério do Trabalho desde 2009. Possui graduação e mestrado em Antropologia pela UFMG, instituição em que atualmente encontra-se vinculado para realiza ção de doutorado.
LUÍS EVO é documentarista e amante de roda de samba. Em 2013, fundou a Primata Filmes cuja atuação é focada na produção e realização de peças audiovisuais e promocionais para as áreas da música, dança e teatro.
ELIS BORDE é professora adjunta do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG. É formada em Saúde Coletiva e pesquisa sobre desigualdades sociais em saúde, conflitos territoriais e saúde e violência urbana.
Mestre Sirso é um homem surdo, negro, sua trajetória é a história dos di reitos historicamente negados no Brasil. Morador da periferia de Cascavel, no Paraná, Sirso perde a audição aos quatro anos de idade, em 1974. Ele é uma das vítimas da epidemia de meningite, negada pelo governo da dita dura militar. A vida se ressignifica quando ele entra na roda de Capoeira, sente a vibração do som do berimbau, rompe o silêncio, aprende a falar e cantar, torna-se Mestre. Na roda da vida a luta contra o racismo e pela in clusão continua.
Emanuela Palma Produção Executiva
Leo Carnevale
Roteiro
Geslline Braga
Direção de Fotografia
Bia Herbstrith
Assistente de Câmera Maryah Pasquini
Montagem
Thais Inácio Cristiano Requião Edição de Som Rodrigo Boecker
Trilha Sonora Fábio Barbosa
Alisson Santos Correção de Cor Cristiano Requião
Emanuela Palma Geslline Braga Design
Alê Karmirian
Bia Herbstrith
Produtora
Marcella Lucas
Produtora e assistente de mídias Andressa Scardua
Recursos de Acessibilidade e legendagem
Raça Livre
Tradução EN, FR e ES Marcella Lucas
Consultoria de montagem Giovanna Giovanini
Câmera extra Ederson Bastiani
José Carlos Santana
A produção do documentário Mestre Sirso começou em 2015, quan do conheci o protagonista em um evento de Capoeira, na cidade de Cascavel, oportunidade que também conheci a pesquisadora Geslline Giovana Braga, a quem convidei mais tarde para fazer o roteiro do fil me. Jamais imaginávamos que o projeto seria tão atual ao momento em que o país atravessa. A trajetória de Sirso nos convida a fazer um mergulho no Brasil profundo e descortinar histórias de personagens invisíveis que o Estado insiste em silenciar e apagar. E o cinema docu mental antropológico nos dá a oportunidade de se colocar no lugar do outro, “sem submetê-lo, subestimá-lo ou menosprezá-lo”, como di zia Jean Rouch.
EMANUELA PALMA é fotógrafa, produtora cultural e audiovisual, com pós-graduação em Fotografia e Imagem, na Faculdade Cândido Mendes. Fez cursos livres de documentário, edição, produção cultu ral e roteiro. Dirigiu e produziu o documentário: Interoceânica - da Amazônia ao Pacífico, o curta: Raízes e Rainhas, e também dirigiu e pro duziu o documentário Mestre Sirso - quando o mundo é silêncio a vi bração é Mestre. Participa do movimento Rede Emancipa, é diretora da Palma Produção - projetos de impacto e cofundadora do Instituto Aruá. Entre os anos de 2013 e 2018 foi coordenadora de produção da Mostra Cinema e Direitos Humanos, em Porto Velho, Rondônia.
GESLLINE GIOVANA BRAGA é fotógrafa e antropóloga, graduada em jor nalismo e sociologia, especialista em fotografia. Tem mestrado (UFPR) e doutorado (USP) em Antropologia Social. Realizou estágio pós-dou toral em Geografia Cultural. Curadora, produtora de livros, documentá rios e exposições. É professora de instituições de ensino superior desde 2002, entre 2011 e 2013 foi professora substituta do Departamento de Antropologia da UFPR. Fundadora do Coletivo de Mulheres Magnólias. É coordenadora da Região Sul do Comitê de Patrimônios e Museus da Associação Brasileira de Antropologia e coordenadora do Fórum das Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro no Paraná.
GESLLINE GIOVANA BRAGA E JORGE DE JESUS 2021, 47’
Os Clubes Sociais Negros do Rio Grande do Sul como lugares de luta e resistência negra contra o racismo e a segregação racial no estado.
Direção
Geslline Giovana Braga Jorge de Jesus Roteiro André Costantin Geslline Giovana Braga Edição Lucas Mambilla Direção de fotografia Alceu Silva Produção Executiva Daniel Herrera Produção Geni Onzi
Realizado com recursos da Lei Aldir Blanc, no início de 2021, por ocasião do agravamento da pandemia de Covid, parte do filme precisou ser gravado à distância e os clubes estavam com o funcionamento suspenso. Embora o roteiro já previsse o uso de fotografias, a intenção inicial era registrar as atividades do clube, o que não foi possível.
GESLLINE GIOVANA BRAGA é fotógrafa e antropóloga, graduada em jorna lismo e sociologia, especialista em fotografia. Tem mestrado (UFPR) e dou torado (USP) em Antropologia Social. Realizou estágio pós-doutoral em Geografia Cultural. Curadora, produtora de livros, documentários e expo sições. É professora de instituições de ensino superior desde 2002, entre 2011 e 2013 foi professora substituta do Departamento de Antropologia da UFPR. Fundadora do Coletivo de Mulheres Magnólias. É coordenadora da Região Sul do Comitê de Patrimônios e Museus da Associação Brasileira de Antropologia e coordenadora do Fórum das Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro no Paraná.
JORGE DE JESUS é DJ e documentarista.
Para as mulheres do povo Pankararu, em Pernambuco, ser parteira e trazer novas vi das ao mundo por suas mãos envolve dom, coragem, respei to, ancestralidade.
Direção
Júlia Morim
Produção
Júlia Morim e Olívia Morim
Direção de Fotografia Marcelo Lacerda
Som Direto e Mixagem Lucas Caminha
Montagem
Amandine Goisbault
Correção de Cor Tiago Campos
Realização
Museu da Parteira e Bebinho Salgado 45 Com
Jula (Juliana Maria da Silva)
Mãe Dôra (Maria das Dores Silva Nascimento)
Cássia (Rita de Cássia da Silva)
Tia Ana (Ana Maria dos Santos)
Darinha Pankararu (Jacilene Maria dos Santos)
Neide (Maria Ivaneide de Sá) Jacira (Jacira Torres da Silva)
Luzânia (Maria Luzânia Alves) Tixa (Maria Cícera dos Santos Oliveira) Gilda (Gilda Maria da Silva) Lena (Maria Marlene das Graças) Maria de Lurdes (Maria das Dores de Jesus)
Leda (Maria Edineide dos Santos Arnaldo)
Realização
Museu da Parteira Bebinho Salgado 45
O filme foi parcialmente realizado com recursos do 3° Prêmio Ayrton de Almeida Carvalho de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco.
O filme aborda os significados e os sentidos do ser parteira entre as partei ras Pankararu. Demonstra ao mesmo tempo a centralidade de Mãe Dora na manutenção e na transmissão dos conhecimentos tradicionais relati vos aos cuidados no ciclo de gestação, parto e puerpério e a rede estabele cida entre essas mulheres. A relação de muitos anos com Mãe Dôra possi bilitou uma proximidade e uma intimidade na realização do filme, que tem como eixo o encontro para a pintura de muro no qual o universo do parte jar é retratado.
JÚLIA MORIM é graduada em Ciências Sociais (UFPE), mestre em Antropologia (UFPE), especialista em Museus, Identidades e Comunidades (FUNDAJ), é doutoranda em Antropologia no PPGA/UFPE e vem atu ando nas áreas de antropologia da saúde, audiovisual, patrimônio, me mória e museus. É pesquisadora do Laboratório de Antropologia Visual (LAV/PPGA/UFPE) e do Observatório de Museus e Patrimônios Culturais (OBSERVAMUS/PPGA/UFPE). Integra a equipe que vem desenvolven do a iniciativa Museu da Parteira, um museu experimental. Dirigiu os cur tas Simbiose (2017), Evitável (2019), Nossas Mãos São Sagradas (2021) e Ruth (2021).
Na Tekoa Ko’ ju, Pará Yxapy, indígena Mbya Guarani, dedi ca os primeiros cuidados a seu filho, ainda no ventre, e refle te, junto com seus parentes, acerca dos sentidos de sua gravidez em meio a pandemia de COVID-19 no Brasil.
1º LUGAR FILME ETNOGRÁFICO (CURTA)
Kuaray Poty (Ariel Ortega)
Bruno Huyer
Pará Yxapy
Kerechu Miri (Elza Ortega)
Pará Rete (Elsa Chamorro)
Fotografia e som
Kuaray Poty (Ariel Ortega)
Bruno Huyer
Legendas PT
Kuaray Poty (Ariel Ortega)
Pará Yxapy
Bruno Huyer
Karen Villanova
Christine McCourt Maria Paula Prates
PARI-c (Platform for Anthropology and Indigenous Responses to COVID-19), UKRI Medical Research Council, NIHR (National Institute for Health Research), UK aid, City University London, UFCSPA, UFSB, USP
Este curta metragem nasceu de uma ampla pesquisa sobre as respostas indígenas à COVID-19 financiada por instituições britânicas de pesquisa em saúde como a IKRI Medical Research Council e NIHR (National Institute for Health Research) e contando com o apoio de instituições brasileiras tais como a UFCSPA, UFSB, e USP. A pesquisa se desenvolveu em diversas regiões do país, contando com inúmeros pesquisadores, indígenas e não -indígenas, que colaboraram em uma investigação profunda sobre as dife rentes respostas e entendimentos sobre o coronavírus em suas comunida des. Como resultado, tivemos notas de pesquisa e produções audiovisuais que dependeram exclusivamente de relações de confiança e amizade bem estabelecidas, já que foram todas produzidas de forma remota. Este é o caso deste curta-metragem, produzido por dois amigos que investigavam os efeitos do coronavírus nas aldeias em que um deles mora, em meio a gravidez de sua própria esposa. É interessante notar como as relações de confiança e de interlocução de longo prazo foram pressupostos da pesqui sa e do filme produzido, possibilitando essa investigação sobre o impac to do vírus e da pandemia na intimidade de uma gravidez. Tendo um con texto temerário de preocupações de fundo, conforme relatamos acima, o filme habita uma camada íntima entre uma mãe e seu filho, ainda no ven tre. Convocando os deuses e seus saberes para participar, ela tenta atra vessar o contexto caótico e desafiador da pandemia, ao mesmo tempo que cuida com uma sensibilidade aguçada de seu bebê, recebendo-o como um espírito recém chegado e como um sinal de saúde dela e de seu mundo. Mesmo em meio à agressividade da chegada e disseminação do COVID-19 no Brasil, tentamos mostrar a força e a lógica dos cuidados mbya com re lação aos espíritos divinos que assentam nos bebês quando ainda estão no ventre das mães. Essas dimensões são articuladas por Pará Yxapy e sua fa mília de forma sutil. Colocada entre conceitos de saúde não-indígenas e os sentidos mbya sobre corpo, doença e saúde, ela compõe seu próprio itine rário no cuidado de seu filho e na conversa com as divindades.
KUARAY POTY (ARIEL ORTEGA) é artesão, cineasta e pensador Mbyá-guarani, se dedica ao cinema desde 2007, quando foi diretor do filme Mokoi Tekoa, Petei Jeguata (Duas aldeias, uma caminhada), vencedor do ForumDoc BH de 2008. Depois disso dirigiu outros filmes também premiados como Bicicletas de Nhanderu (2011), Desterro Guarani (2011), Tava, a casa de pedra (2012), Mbya Mirim (2013), e No caminho com Mário (2014). Atualmente mora na Tekoa Koe'ju, em São Miguel das Missões, Brasil, onde desenvolve trabalho de recuperação de áreas florestais degradadas junto ao Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e integra os Coletivos Mbyá-guarani de Cinema e Ará Pyau de Cine (Argentina).
BRUNO HUYER é graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Desenvolve diversos trabalhos com os po vos mbya-guarani do sul do Brasil e norte da Argentina desde 2008. A partir de 2016 passou a colaborar com o projeto Vídeo nas Aldeias, participando de di versas produções audiovisuais com povos indígenas no Brasil. Desde 2019 é téc nico em Antropologia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em Salvador, BA e segue fazendo parte de pesquisas em antropologia, etnologia indígena, saúde, e utilizando das ferramentas do audiovisual.
PARÁ YXAPY (26 de Outubro de 1985) é professora e cineasta indígena brasi leira, nascida na vila de Kunhã Piru, município de Missiones, Argentina. Desde 2000, mora em Koenju, aldeia mbya-guarani localizada em São Miguel das Missões/RS. Participou de mostras e festivais de cinema no Brasil e no mun do, como o American Native Film Festival, o forumdoc.bh, Lugar do Real, Berlinale, FINCAR, entre outros. Participou das realizações As Bicicletas de Nhanderu (2011), Desterro Guarani (2011), TAVA, uma casa de pedra (2012), Mbya Mirim (2013), No caminho com Mario (2014), Teko Haxy - ser imperfeita (2018), Nhemongueta Kunhã Mbaraete (2020).
CHRISTINE MCCOURT é doutora em Antropologia pela London School of Economics (LSE) e é Professora de Saúde Materna e Infantil na School of Health Sciences da City University London, onde é líder de pesquisa do Centre for Maternal and Child Health Research. Ela leciona em nível de graduação, mestrado e doutorado, além de conduzir e apoiar uma série de projetos de pesquisa. Seus principais interesses são a maternidade e a saúde da mulher, com interesse particular nas experiências das mulhe res no parto e na maternidade e na cultura e organização da assistência à maternidade. Ela trabalhou durante vários anos na aplicação da teoria e metodologia antropológica no estudo da saúde 'ocidental' e também é editora-chefe da revista International Journal on Applied Anthropology, Anthropology in Action.
MARIA PAULA PRATES é professora adjunta de Antropologia Social na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Brasil. Professora no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da UFRGS, Brasil. Durante o período compreendido entre 20182020 foi Newton International Fellowship em City, University of London (Londres/ UK). Doutora em Antropologia Social pelo Programa de PósGraduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tendo realizado estágio doutoral junto ao Laboratoire d'anthro pologie sociale (Collège de France/CNRS/EHESS), em Paris. Durante esse período desenvolveu seus estudos junto à Chaire d'Anthropologie de la Nature. Líder do Grupo de Pesquisa Laboratório de Alteridades e vinculada como pesquisadora ao Núcleo de Antropologia das Sociedades Indígenas e Tradicionais (NIT-PPGAS/UFRGS), Brasil, ao Grupo de Pesquisa Bioética e Direitos Humanos (UFCSPA), Brasil, e ao Centre for Maternal and Child Health Research (City University of London), Reino Unido. Atualmente tem vínculo de pesquisadora com a City University of London e é Research Fellow in Medical Anthropology of the Anthropocene na University College London (UCL)/UK. Suas áreas de atuação são Etnologia Indígena e Antropologia do corpo e da saúde e os temas atuais de pesquisa são: par to, parteiras e modos de cuidar entre indígenas mulheres; maternal global health, parteiras não institucionalizadas e antropoceno.
Antigamente, os brancos não existiam e nós vivíamos caçando com os nossos espíri tos yãmĩyxop. Mas os brancos vieram, der rubaram as matas, secaram os rios e espan taram os bichos para longe. Hoje, as nossas árvores compridas acabaram, os brancos nos cercaram e a nossa terra é pequeni ninha. Mas os nossos yãmĩyxop são mui to fortes e nos ensinaram as histórias e os cantos dos antigos que andaram por aqui.
Isael Maxakali
Sueli Maxakali
Carolina Canguçu
Roberto Romero
Com Delcida Maxakali
Totó Maxakali
Mamei Maxakali Pinheiro Maxakali Manuel Damázio Arnalda Maxakali Dozinho Maxakali Vitorino Maxakali Israel Maxakali Marinho Maxakali
Américo Maxakali Veronildo Maxakali Noêmia Maxakali
Pedro Vieira
Joviel Maxakali Neusa Maxakali
Manuel Kelé
Tevassouro Maxakali
Paula Berbert
Isael Maxakali Carolina Canguçu Jacinto Maxakali Alexandre Maxakali Sueli Maxakali Roberto Romero Som Marcela Santos Montagem Carolina Canguçu Roberto Romero
Cada vez mais quando eu vejo que as pessoas estão vendo esse filme, a gente sente que estão nos reconhecendo e isso fortalece a gente. O meu sonho era fazer o filme, esse documentário. Mas é muito triste porque nós perdemos um território grande! Nós passamos muito medo de fazendeiro também. Mas a gente tinha que ir porque a terra não é dele, é nossa. Eles que têm que ficar com medo da gente. Mas eles também mataram muita gente em cima dessa terra. E ali onde mataram vai derramar o sangue e o espírito dele ou dela vai morar ali. Mas a gente continua, para seguir com a luta dos nossos parentes. (Isael e Sueli Maxakali)
SUELI MAXAKALI é doutora em Estudos literários (Notório saber) pela UFMG, cineasta, professora e fotógrafa. Co-dirigiu os filmes Quando os yãmiy vêm dançar conosco (2011), Yãmiyhex: as mulheres-espírito (2019) e Nũhũ yãgmũ yõg hãm: essa terra é nossa! (2020). Publicou o livro de fo tografias Koxuk Xop Imagem (Beco do Azougue Editorial, 2009), com fo tografias das mulheres maxakali sobre os rituais e o cotidiano da Aldeia Verde. Foi professora do Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG, em 2016, 2017 e 2019.
CAROLINA CANGUÇU é mestre em Comunicação Social pela UFMG e atu almente coordena a Interprogramação da TV Educativa da Bahia. É mon tadora, pesquisadora e professora de cinema e curadora de mostras de do cumentários. Trabalha junto a povos tradicionais em cursos de formação audiovisual. Integrou o coletivo Filmes de Quintal por 12 anos, realizan do o forumdoc.bh, Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte. É Contramestra de Capoeira Angola.
ROBERTO ROMERO é doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional (UFRJ). É membro da Associação Filmes de Quintal e um dos organizado res do forumdoc.bh - festival do filme documentário e etnográfico de Belo Horizonte. Foi assistente de direção do longa “Yãmĩyhex: as mulheres-es pírito” (Sueli e Isael Maxakali, 2019).
Através de fotografias antigas, áudios e imagens de whatsapp, o documen tário apresenta a história do Brasileirinho, time de futebol de subúrbio se diado desde 1982 no Poço da Draga, centenária e resistente comunidade de descendentes de pescadores e portuários na orla da Praia de Iracema em Fortaleza/Ce. Produzido em 04 anos, o filme é atravessado pela pan demia de covid-19 e pelo isolamento social de seus jogadores que passam a “resenhar” suas memórias em grupo por meio de seus celulares.
Felipe Camilo
Álvaro Graça Jr.
Álvaro Graça Jr.
Felipe Camilo
Fresta Lab.
Elenco (por ordem de aparição)
Carlos Sales - Bibi
Alvinho Graça
Álvaro Graça Jr.
Cláudio Vasconcelos – He-man
Sérgio Rocha – Serginho
João Brito – Joãozinho Meu
O filme favorece pensar as mudanças de estatuto de imagens e da expe riência etnográfica, assim como suscita as possibilidades de colaboração e restituição entre pesquisador e pesquisados, entre documentaristas e aqueles a quem filma. Sob a justificativa de acompanhar um grupo de ve lhos jogadores de futebol, conhecemos também um tanto mais do Poço da Draga, da relação de seu território e de seus narradores com a imagem. Dessa forma, também pensamos sobre a relação entre a cidade e a praia, entre a memória individual e a construção coletiva, heterogênea e dinâmi ca de formas coletivas de lembrar e preservar histórias de uma população negra em um país marcado pelo apagamento colonial.
ÁLVARO GRAÇA JR. é morador do Poço da Draga e Realizador audiovisual com foco em cinematografia e direção de do cumentários, atua no ramo há mais de 10 anos. Egresso da ONG Alpendre realizou documentários sobre a comunidade onde nasceu como “Resenha do Brasileirinho” e “O velho e o Novo Poço da Draga”. Colaborou nesse período também com curtas e longas-metragem de Ficção e Vídeo-Dança. Sua produção já foi apre ciada em Festivais como o CineCeará e o Festival de jovens realizadores de audio visual do MERCOSUL. É coidealizador da exposição Poço 115 - Rastros na Cidade.
FELIPE CAMILO é artista negro com en foque em fotografia e cinema. Dedicase ao documental e à experimentação. É membro do Ifoto/Ce. Pesquisador pela UFC/CAPES e colaborador do Lajus e do Rastros Urbanos, escreveu tese sobre an tropologia, imagem, memória e negritude no Poço da Draga. Já atuou como profes sor do Instituto de Cultura e Arte da UFC. É autor do fotolivro Perecível e do livro de artista Álbum Preto. Dirigiu os docs. Aluá, Resenha do Brasileirinho e Oestemar. É co-idealizador do Efêmero Festival de Fotografia Experimental e Curador da ex posição Poço 115 - Rastros na Cidade.
Os Kariri-Xocó, povo indígena de Alagoas, vivem às margens do Rio São Francisco. Despojados de sua língua e de suas terras ancestrais, iniciam em 1978 um movimento chamado Retomada. Em 2015, os Kariri-Xocó retomaram mais uma parcela de suas terras ancestrais, expropriadas ao longo da história brasileira. Este filme acompanhou um dia de imersão junto aos cantos KaririXocó nas terras retomadas.
Direção e roteiro Alice Villela Hidalgo Romero
Montagem Hidalgo Romero Pesquisa Alice Villela Fotografia Coraci Ruiz
Imagens Adicionais Hidalgo Romero
Produção e som direto Júlio Matos
Mixagem e desenho de som Augusta Gui
Correção de cor Pedro Pinho
Finalização e masterização
Lucas Lazarini
Produção Executiva Marcelo Félix Júlio Matos Marcinho Zóla
Produção de base Bruna Schroeder Jean Fichefeux
Estágio de produção Ana Luíza Fretta Jéssica Isidoro
Arte Gráfica Bia Porto Realização Laboratório Cisco Apoio ANCINE e Fapesp
A proposta do filme foi a de encontrar ressonâncias e equivalências audiovisuais à experiência de imersão junto aos cantos Kariri-Xocó.
Os diretores trabalharam, em verdade, na remontagem de um material que ha via sido captado para a série documental Taquaras, Tambores e Violas dirigida por Hidalgo Romero e realizado pela Produtora Laboratório Cisco de Campinas, São Paulo, sobre a qual Alice Villela realizou uma pesquisa de Pós-Doutorado no Departamento de Antropologia da USP.
A montagem se orientou pelas ideias de imersão e intensidade e se iniciou a par tir de um conjunto de questões: como o filme pode comunicar a intensidade da experiência musical que envolve todos os sentidos? Como trazer a dimensão da experiência no ritual a partir da camada sonora no filme? Como trabalhar com o tempo na montagem para construir a ideia de imersão? Como a intensidade do ri tual pode ser construída? Como trazer o contexto da performance do Toré para escapar a uma representação exotizada dos indígenas cantando e dançando?
Optamos por uma orientação observacional-sensorial, sem entrevistas.
Para trabalhar a ideia de imersão na performance musical, privilegiamos o uso de planos-sequências como uma forma de trabalhar com o tempo na montagem para construir a possibilidade de imersão do espectador.
A captura de imagem durante as performances musicais foi realizada tendo como orientação aproximar a observação com a câmera da experiência de alguém que participa da performance musical e a acompanha de dentro.
Trabalhar a intensidade da performance também foi uma proposta de parti da; uma forma de trazer para a montagem a ideia de intensidade foi a esco lha de planos detalhe de rostos, por exemplo, que denotam total envolvimento com a música.
Outra forma de trabalhar a intensidade no curta foi construir a montagem da se quência de cantos final em um crescente.
Para trazer certo contexto e enquadramento à experiência proposta, tra balhamos com cartelas e uma fala de Pawanã Crody, mestre de cantos, no início do filme.
Resumidamente, as cartelas trazem o contexto da Retomada de Terras onde o o ritual aconteceu e conecta os cantos com a luta e a resistência, algo que aparece em diversos depoimentos de Pawanã que não entra ram no filme.
Por fim, a experiência proposta se completa na relação com o espectador, então é muito interessante ter o retorno dos diferentes públicos.
ALICE VILLELA é Pós-Doutoranda do Departamento de Antropologia Social da USP com pesquisa sobre relações entre audiovisual e fazer musical junto ao Projeto Temático Fapesp: O Musicar Local: novas trilhas para a etnomu sicologia (Unicamp / USP). É doutora em Antropologia Social pelo PPGAS/ USP (2015) e mestre em Artes pelo IA da Unicamp (2009). Integra o GRAVIGrupo de Antropologia Visual/USP, o NAPEDRA - Núcleo de Antropologia, Performance e Drama/USP e o PAM - Pesquisas em Antropologia Musical/ USP. Realizou estágio de pesquisa junto ao EREA / LESC/ CNRS/ Université Paris X Nanterre, Paris, França (2013/2014). Dirigiu, com Hidalgo Romero, os filmes: Acontecências (2009) e A Briga do Cachorro com a Onça (2013).
HIDALGO ROMERO é mestre em Multimeios pela Unicamp. Cursou a oficina de “Roteiro de Cinema” na Escola Internacional de cine e TV de San Antonio de los Baños em Cuba em 2005. É membro da produtora de documentá rios Laboratório Cisco desde 2006, onde trabalha como diretor, produtor e montador. É diretor das séries televisivas “Taquaras, tambores e violas” (1a e 2a temporadas, 2015 e 2019) e “Da nascente à foz” (2020). Em 2019 diri giu o longa-metragem “Chão de Fábrica”, em parceria com Renato Tapajós. Montou a série “Chão de Fábrica” (2017) e o longa-metragem “Esquerda em Transe” (2018). Dirigiu e editou os curta-metragens “Acontecências” (2009) e “Rio Verdadeiro”(2017) e o média-metragem “A briga do cachor ro com a Onça” (2013).
FILME ETNOGRÁFICO (MÉDIA)
O documentário “Trans Nômade - a viagem da minha vida” conta sobre o projeto de viagens, pela América do Sul, de uma mochileira trans negra. A história entre laça pautas do cotidiano trans e lgbtqia+ com a sociedade e o espaço público, tra zendo questões como transicionamento e família, identidade de gênero, passa bilidade, preconceitos, uso do nome social e mercado de trabalho. O filme conta sobre o percurso de um corpo oprimido e as formas de expressão que encontrou para se colocar no mundo. (2021).
Direção
Rossana Fraga
Produção
Natasha Roxy Rossana Fraga
Em cena
Adriana Ponciano
Cecília Sifuentes
Natasha Roxy Sophia Ponciano Câmera Rossana Fraga
Imagens de Arquivo Gabriel Araújo
Natasha Roxy
Montagem
Tatiana Gouveia
Correção de Cor e Gráficos
Marcelo Goulart
Apoio
INARRA / UERJ
Agradecimentos
Bárbara Copque
Paula Lacerda
Clarice Peixoto Marcos Albuquerque PPCIS/UERJ Sara York Lana de Holanda Benny Briolly Tatiane Goldsmith Clara Fraga Cecilia Fraga Claudio Costa Ana Maria Fraga Djalma de Lima Elena Martín Clarice Gouveia Beatriz Mello Cenobitch Monroe Jorge Santana Amanda de Paula Cristiane Rangel Erica Gaspar Vanessa Soares Anderson Gomes Nielsen Oliveira Thaiane Barbosa Thiago da Costa Guilhermo Marcondes
O filme documentário etnográfico “Trans Nômade - a viagem da minha vida” tem como proposta apresentar o cotidiano de trabalho e vivências de Natasha Roxy, uma mulher trans, negra e mochileira. Visa compreen der representações sobre a produção e divulgação de imagens construídas a partir da agência e mobilização de Natasha e como seu corpo dialoga com o cotidiano de espaços públicos, incluindo a internet.
ROSSANA FRAGA é fotógrafa, pesquisadora e produtora de conteúdo au diovisual. Graduada em Artes pela UFF, tem Pós Graduação em Sociologia Urbana e Mestrado em Ciências Sociais, pela UERJ.
NATASHA ROXY é Mulher Trans autora do projeto “Trans Nômade”, que propõe produção e exibição de conteúdo audiovisual, produzido a partir de suas viagens pela América do Sul.
TATIANA GOUVEIA é formada em Comunicação pela UFRJ, trabalha como editora e professora de montagem audiovisual.
MARCELO GOULART é graduado em cinema, com mestrado em Ciência da Arte pela UFF, atua como produtor de finalização audiovisual há mais de 10 anos.
Este filme conta a história de “La Maison”, um centro de cuidados paliati vos criado há 25 anos na cidade de Gardanne por Chantal Bertheloot, JeanMarc La Piana e seus amigos que, diante da epidemia de AIDS, decidiram reagir, concebendo um local de cuidados especializado em acompanha mento em fim de vida. Por ocasião de sua aposentadoria, proponho que re flitam sobre esses anos de lutas diante do adoecimento, para que possam testemunhar sua experiência e nos explicar os desafios de uma prática de cuidado em que a morte é tomada como processo último da vida .
Pascal Cesaro
Som Nans Mengeard
Montagem
Jean-Michel Pérez
Gráficos
Anissa Touil
Pierre Armand
Valérie Dupin
Coprodução
CNRS Images
Assistente de produção Jennifer Gastine
O filme se propõe a refletir sobre essa mutação, simultaneamente huma na, social e econômica, à luz da experiência desses cuidadores e seu ques tionamento sobre a continuidade de sua ação durante todos esses anos, bem como a satisfação de ver surgir uma nova geração em face dos desa fios à frente.
PASCAL CESARO é diretor e professor da Universidade de Aix-Marseille desde 2010. Trabalha sobre o uso do filme como instrumento de pesqui sa nas ciências humanas e sociais e suas atividades científicas se desenvol vem através de projetos de pesquisa-ação sobre práticas cinematográfi cas que podem ser descritas como colaborativas e sobre formas de filmar o trabalho, particularmente no mundo da saúde.
URBANOGRAFIA DO CAUS THIAGO DE ANDRADE MORANDI, RODRIGO RIBEIRO E RODRIGO SCALABRINI 2021, 23’47”
Em um universo de 25 entrevistas, o recorte de quatro delas constituí o primeiro vídeo da “Urbanografia do Caus”, que retrata a partir de rela tos etnobiográficos o cotidiano de al guns pixadores e grafiteiros da região metropolitana de Belo Horizonte. Com relatos de Gud, Sodac, Kawany Tamoyos, Goma, e, imagens com as pectos de etnoficção e cinema ver dade a proposta documental foi criada através da pesquisa de douto rado de Thiago de Andrade Morandi em conjunto com Rodrigo Ribeiro e Rodrigo Scalabrini, idealizadores do Projeto Caus, que visa promover ar tistas urbano.
Direção e Roteiro
Thiago Morandi
Rodrigo Scalabrini
Rodrigo Ribeiro
Direção de Fotografia
Thiago Morandi Imagens
Thiago Morandi
Rodrigo Scalabrini
Edição e montagem
Ana Nolasco
Thiago Morandi
Finalização
Thiago Morandi
Apoio
Kelen Jaques
Este filme é uma construção coletiva, através de uma antropologia com partilhada, que envolve meu trabalho enquanto pesquisador cineasta, com viés de etnografia de rua e etnografia de duração, e a participação efetiva dos meus entrevistados, com destaque para os idealizadores do Projeto Caus, que possibilitaram a minha aproximação junto aos demais entrevistados que constituem minha pesquisa doutoral no programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUC Minas.
THIAGO DE ANDRADE MORANDI é doutorando em Ciências Sociais pela PUC Minas, Mestre Interdisciplinar em Artes Urbanidades e Sustentabilidade e Bacharel em Jornalismo pela UFSJ. É videomaker e fotógrafo, possui prêmios e participação em diversos festivais, encontros acadêmicos e eventos em geral.
RODRIGO RIBEIRO é antropólogo, bacharel em ciências sociais pela PUC Minas, proprietário da marca Ancestral, que produz vestuários com inspirações em ar tes urbanas. É um dos idealizadores do Projeto Caus, que visa promover grafi teiros da região metropolitana de Belo Horizonte.
RODRIGO SCALABRINI é grafiteiro há quase três décadas e integra uma das primeiras gerações de artistas urbanos de Belo Horizonte. Foi proprietário de uma loja graffiti shop, que além de vendas para artistas, promovia eventos, a loja encerrou suas atividades devido à pandemia da covid-19. Sacalabrini é um dos idealizadores do Projeto Caus, que tem como objetivo a valorização de ar tistas urbanos de Belo Horizonte e região.
MODET (CORPO DO TEXTO) PLAU (TÍTULOS E CAPÍTULOS)
OUTUBRO | 2022