G���� �� B����
Duas revistas em quadrinhos para preguiçosos com imaginação.
L���� U�����
Entrevista com o canal de curtas de terror do Youtube
VersãoBrasileira QUADRINHOS, FILMES, SÉRIES
O MELHOR DA PRODUÇÃO NACIONAL
Edição 001 - Outubro de 2017
UM PASSEIO NA BOCA DO LIXO
HBO apresenta um interessante olhar sobre os produtores de filmes independentes durante ditadura a militar brasileira em Magnífica 70
Produção brasileira em ascensão
F
oi-se o tempo que a produção cultural brasileira dependia de grandes emissoras ou editoras para apresentar material de qualidade. A internet e a iniciativa de estúdios internacionais no financiamento de produções nacionais possibilitou uma maior diversificação de produtos, inclusive permitindo a busca pelo público de nicho e não apenas visando o público médio.
Nesse primeiro número de Versão Brasileira apresento Magnífica 70, um seriado produzido pela HBO Latin América que nos leva aos anos de chumbo de nossa história com um apurado cuidado cenográfico e tramas intricadas sobre os bastidores da produção cinematográfica de baixo orçamento da época; entrevistamos também Daniel Pires, um dos criadores do Lenda Urbana, um canal do YouTube que produz e disponibiliza curtas-metragens de terror; e para fechar a edição, conheça o Guia Culinário do Faminto e o Guia de Viagem do Perdido, duas coletâneas de histórias em quadrinhos lançadas pela Balão Editorial. Por isso, convido a todos os interessados nesse universo tão interessante, e que acompanhamos a tanto tempo, a ler essa publicação e mandar mensagens para a redação, para que possamos troca ideias e dar continuidade à revista. Sejam bem-vindos.
Versão Brasileira
Expediente Edição 001 - Outubro de 2017 -------------------------------------Editor
Presto Gaudio
Editor de arte
Presto Gaudio
Redação
Presto Gaudio
Diagramação
Presto Gaudio
----------------------------------------
Fale conosco: marcelo _ gaudio@yahoo.com.br Sites parceiros www.tapiocamecanica.com.br www.aracnofa.com.br
Índice •
Um passeio na Boca do Lixo
Mágnífica 70 ................................................................................................................... p. 4 • Os Guias da Balão Editorial Guia Culinário do Faminto e Guia de Viagem do Perdido ........................................... p. 7 •
O medo se espalha pelo YouTube
Entrevista com Daniel Pires do canal Lenda Urbana .................................................... p. 8
O������ �� 2017
3
Versão Brasileira
UM PASSEIO NA BOCA DO LIXO Os bastidores da produção de baixo orçamento brasileira na década e 1970, Magnífica 70 em breve na terceira temporada.
4
O������ �� 2017
Versão Brasileira Spoladore). Sabendo da proibição, a atriz e o produtor Manolo Mattos (Adriano Garib) vão ao escritório tentar liberar o filme e Vicente reconhece Dora. A partir de então Vicente passa a se envolver com a equipe da Boca do Lixo e se torna roteirista/diretor de uma nova obra cinematográfica escondendo sua vida dupla da esposa Isabel (Maria Luísa Mendonça) e dos colegas de trabalho. Embora a história de Vicente seja o fio condutor, diversas outras correm em paralelo até convergirem nos momentos finais do seriado. O filme que o censor escreve e a equipe do estúdio Magnifica 70 começa a gravar, Minha Cunhada é de Morte, na realidade é inspirado em esqueletos do próprio armário. Esqueletos e máscaras que permeiam todos os personagens e refletem metaforicamente na hipocrisia pregada pela ditadura que, além de perseguir comunistas, professava e exigia um código de conduta moral sobre o que seria uma família tradicional e seus bons costumes, mas que nem mesmo os generais a seguiam.
A
Destaque para a música tema, Sangue Latino do grupo Secos e Molhados que, além de ser uma canção genial, dá dicas de tudo que acontece ao longo dos 13 década de 1970 é um cenário recorren- episódios da primeira temporada.
te nos filmes brasileiros, principalmente em obras que exploram a ditadura militar. Momento no qual o regime político militar já tinha se estabelecido e as perseguições à tudo que não fosse do agrado do poder vigente era parte do dia-a-dia. Nessa série, produzida pela HBO Latin America, conhecemos um pouco sobre um segmento específico na produção cultural da época: o cinema de baixo orçamento dos anos 70, na popular Boca do Lixo.
A série é interessante e vale a pena dar uma conferida, o jogo de máscaras só é percebido em episódios mais avançados, levando a crer que o programa não teria coragem de mexer em vespeiros. Muito devido ao fato que o foco narrativo não é explorar as mazelas da ditadura, mas sim trabalhar o período apenas como pano de fundo para uma história mais intimista de desenvolvimento de personagens. As atuações dos dois Roteirizado por Cláudio Torres e dirigi- primeiros episódios deixam a desejar, parecem do por Carolina Jabor, a primeira tempora- forçadas, mas depois as interpretações passam a da da série se passa em 1973 onde acompanha- fluir com mais naturalidade. mos Vicente (Marcos Winter), o fiscal de um Todo o programa foi gravado em estúdios fictício escritório do Departamento de Censura construídos no Rio de Janeiro, o que é curioFederal em São Paulo. Ao proibir a exibição do so, pois a história se passa toda em São Paul o, filme A Devassa da Estudante acaba se apaixo- apenas em determinado momento que a equipe nando pela protagonista, Dora Dumar (Simone precisa ir ao Rio para gravar, mas devido a proO������ �� 2017
5
Versão Brasileira blemas precisam simular as cenas no próprio estúdio. A cenografia está impecável os figurinos, a reconstrução dos carros e a aparência dos edifícios da época nos fazem acreditar estarmos naquele momento histórico. No entanto, esse impecável por vezes atrapalha, pois há uma limpeza irreal nas locações como a própria Boca do Lixo que pode nos tirar da história. Outro problema, no quesito narrativo, observamos alguns excessos de didatismos, o excesso de Equipe nos bastidores de Magnífica 70 flashbacks, torna o efeito Preto e Branco cansativo, principalmente Não vou me estender contando todos os deem alguns episódios que se passam quase que talhes, mas saibam que muita coisa mudou em inteiramente no passado. apenas dezoito meses, mas isso não quer dizer A segunda temporada, se passa apenas um que fantasmas do passado não surgirão para asano e meio depois dos eventos finais da tem- sombrar a todos. É tudo se complementa perfeiporada anterior, e mesmo passado tão pouco tamente com o cuidado nos cenários, figurinos tempo, já percebemos grandes mudanças em e inserções de cenas de arquivo para retratar a todos os membros do estúdio da Magnífica. época da forma mais parecida possível. Como já Manolo (Adriano Garib) agora vive com vimos na temporada anterior, e essa mantém seu Isabel (Maria Luísa Mendonça); na mesma rigor, técnica, roteiro e atuação se aliam para casa moram Mestiça (Natália Rosa) e Dario entregar algo impecável. (Pierre Baitelli), o irmão de Dora; e além A terceira temporada já foi gravada entre dos dois casais, temos também dois bebês, os julho e setembro de 2017 e está atualmente em filhos de Manolo e Mestiça e de Isabel e Vicente pós-produção, embora a HBO ainda não tenha (Marcos Winter). Este, por sua vez, está obce- anunciado uma data, sabemos que ela só virá cado com seu mais novo filme de ficção científica em 2018. Serão mais 10 episódios que prometem ufanista, encomendado pela chefe dos sensores abalar ainda mais os personagens com a narradoutora Sueli (Juliana Galdino), que usa seu tiva se direcionando para o fim da década de poder para manipular os filmes que podem ou 1970. E para aqueles que se interessaram, mas não ser exibidos de forma a promover o próprio. ainda não assistiram nenhum episódio, as priDora (Simone Spoladore), por sua vez, começa meiras temporadas completas de Magnifica 70 a temporada sendo presa após uma festa e um estão disponíveis na plataforma HBO GO para detetive à suborna para entregar o assassino de os assinantes das operadoras a cabo ou pelo site Larsen (Stepan Nercessian). para assinantes da HBO GO. O Censor Vicente (Marcos Winter) em mais um dia de trabalho
6
O������ �� 2017
Os Guias da Balão Editorial
Versão Brasileira
Coletâneas perfeitas para conquistar falidos ou famintos de plantão. No ano seguinte o time retornou para mais uma coletânea, um guia de viagens, mas como a grana para - pesquisa de campo estava curta (como a própria introdução informa) cada autor teve que viajar dentro da própria imaginação. Inferno, Atlântida, Deep Web e a Inglaterra do século X foram algumas das paradas que resultaram em piadas muito mais ácidas e engraçadas.
A
editora Balão Editorial teve uma iniciativa muito interessante em reunir um quinteto de artistas para uma coletânea de comédia com o tema: culinária. Em 2015 Felipe 5horas, Fernanda Chiella, Leo Finocchi, Marília Bruno e Samanta Flôor tinham a missão de entregar em poucas páginas histórias contando suas receitas. Sim, cada um deles teve cerca de quatro páginas para ensinar uma receita com pitadas de piadas e foram muito bem-sucedidos tanto que ganharam o HQ Mix de melhor publicação de humor no ano de 2016.
No geral senti uma melhora substancial na qualidade das histórias de uma revista para outra, pelo menos humoristicamente me impactou bem mais. Os desenhos são bastante variados, mas apresentam uma constante perceptível: o traço cartoon, embora simplificado. Meu único porém, é o tamanho da revista que não permitir histórias mais extensas, eu sei que essa é a proposta, mas, principalmente nesse segundo volume, fica o gostinho de querer ver mais até onde cada autor pode chegar. Agora que venha o próximo guia, seria ele de magia? Economia doméstica? Como cuidar do seu animal de estimação?
O������ �� 2017
7
Versão Brasileira
O Medo se espalha pelo Youtube Lenda Urbana o maior canal de curtasmetragens de terror Brasileiro Quando começaram o canal Lenda Urbana? O grupo já atuava junto antes do You Tube? Daniel Pires (Lenda Urbana)
Apresentador do Canal
C
riado em 31 de Outubro de 2013, o canal de curtas-metragens de terror Lenda Urbana surgiu trazendo novidades em uma plataforma de vídeos viciada com filmes de filhotes, pegadinhas e vloggers. Este canal produziu algumas entrevistas e documentários sobre o gênero terror, mas o carro chefe é a produção de assustadores curtas-metragens. Com pouco mais de dois anos de vida, o canal cresceu e acumula atualmente mais de 80 mil seguidores, participaram do YouPIX de 2014 e tem planejado diversos projetos para expandir as ações do grupo. Conversamos com Daniel Pires, um dos idealizadores do Lenda Urbana, que nos revelou detalhes de bastidores e o que esperar para o futuro.
8
O������ �� 2017
Fui eu, Daniel Pires, quem tive a ideia do canal em 2013. Fiz um evento de terror aqui no bairro, durante uma festa na igreja e fiz vídeos para divulgar. Assim nasceu a ideia de produzir curtas para a internet. Convidei o Leandro Botelho que já conhecia faz tempo (e fez esse evento comigo) e também chamei o Almir Bonfim e o Rafael Zuim que tinham uma produtora audiovisual e estudaram comigo na faculdade. Somos formados em audiovisual. Nosso primeiro teaser foi lançado exatamente à meia-noite do dia 31 de outubro de 2013. Ai demos o start no canal. Foi nosso primeiro projeto juntos para o YouTube. Vocês cresceram bastante, além dos curtas, o grupo faz peças de terror também? E outros trabalhos projetos? Daniel Pires (Lenda Urbana) Perto de outros canais no YouTube não somos tão grandes. Temos 80 mil inscritos, mas é pouco perto de canais considerados pequenos que tem cerca de 500 mil ou até 1 milhão de inscritos. Porém, pelo gênero, que é um tanto mal visto quando se trata de produção brasileira, estamos
Versão Brasileira indo bem, creio eu. Sem contar que nosso foco é qualidade e lançamos apenas um Vídeo por mês, pois dá trabalho gravar curtas com essa qualidade.
para impulsionar. Essa visibilidade na mídia também ajudou muito. Gravamos uma matéria com a Record que o canal ganhou 5 mil inscritos em 10 minutos (risos).
Em relação às peças de terror, esse é um dos Quais suas meus planos in f luencia s? futuros, fazer Como surgem espetáculo teaas ideias para tral itinerante os vídeos? de terror, que Daniel Pires é algo que tem ( L e n d a pouco aqui no Urbana) Brasil. Quero fazer podcast Bom, como também. Por somos em Capa do episódio “A Lenda de Charlie” enquanto, dentro mais pessoas, do gênero terror é só isso que produzimos, porém cada um tem suas influências pessoais. Vou não vivemos disso. Cada um tem seu trabalho falar das minhas. Não sou muito fã do cinema fora do Lenda Urbana. Eu trabalho com vide- hollywoodiano, mas no terror eu confesso que orreportagens, o Almir com Pós-produção e o gosto dos clássicos norte-americanos. Meu favoLeandro com marketing. rito é Cemitério Maldito. Pouco antes de começar o Lenda, eu vi alguns curtas na internet que eram exatamente a narrativa que eu queria Vocês são o primeiro canal de curtas- para meus vídeos. Vi Bedfellows e The Closet metragens brasileiro de terror no youtu- do Drew Daywalt. Gosto muito dos filmes do be, outros surgiram, mas poucos consegui- Shyamalan. Minha vertente é espírito e zumbi. ram se firmar, qual o segredo? E como foi Não gosto muito do gore. acompanhar o aumento das visualizações e inscritos no canal? Na produção, quem é responsável pelo Daniel Pires (Lenda Urbana) roteiro? As escolhas de estilo e direção? Nós tivemos um “boom” com a nossa websérie Vocês fazem isso em conjunto ou os quatro SPAssombrada, no início de 2015. As pessoas criadores que decidem? gostaram bastante por ser uma série de terror documental (acho que viram que além dos curtas Daniel Pires (Lenda Urbana) sabemos fazer jornalismo (risos) e começamos a Quando pensamos o LU (Lenda Urbana), queganhar “respeito” no meio. ríamos um canal de experimentação de terror, Foi bem interessante ver nosso canal despon- ou seja, todos podemos executar a função que tando. Saímos em diversos veículos grandes da quisermos (até mesmo para nos desafiarmos). mídia (Veja, Estadão, CBN...) e também ficamos Porém, por uma questão de afinidades, acabaconhecidos por quem gosta do gênero. Até então, mos fazendo aquilo que nos identificamos. No tínhamos muitos curtas criticados pelo público, caso, 90% dos roteiros são meus. Como eu escremas de um tempo para cá parece até que ganha- vo e visualizo a história em minha mente, acabo mos fãs, pois estamos recebendo poucas críticas. dirigindo, mas na gravação tudo pode mudar e sempre queremos isso mesmo, mudanças. O Nosso meio de divulgação são as nossas redes so- Rafael Zuim me ajuda no roteiro e o Almir ciais, que ora ou outra fazemos campanha pagas Bonfim fica com a fotografia e pós-produção O������ �� 2017
9
Versão Brasileira Como é o contato com o público? Eles conversam, ou são mais passivos e só esperam pelo próximo vídeo? Daniel Pires (Lenda Urbana) Crianças sempre são assustadoras
Antigamente a gente não respondia muito não, eu tinha meio um medo, sei lá (risos). Mas hoje faço deles os meus amigos e tento responder o máximo que eu puder. Isso vem ajudando muito nosso canal. O público gosta de ser respondido, pede ‘salve’ e volta sempre quando você responde. O mais legal é vê-los defendendo a gente quando alguém fala mal. (risos)
Eu gosto mesmo da fantasia, do desconhecido. Não gosto de revelar muito o ‘monstro’, que seria o ‘vilão’. Essa discrepância de narrativas fica evidente em dois curtas que gravamos no cenário do Guillermo del Toro no YouTube Space: o vídeo Traiçoeiros é roteiro do Almir. Percebe-se uma história mais real, com um assassino real. Já no vídeo Pesadelo, gravado no mesmo cená- Já estiveram em eventos ou festivais? rio, o roteiro é meu e você percebe a fantasia no Daniel Pires (Lenda Urbana) ar. (risos) Sim, no YouPix Festival de 2014, como canal ‘revelação’, no Content Talent Expo. Sempre Vocês tiveram algum problema com relei- vamos a pré-estreias de filmes de terror, mas ainda não participamos de festivais. Achamos turas de filmes? que nosso trabalho está começando a ficar digno Daniel Pires (Lenda Urbana) de participar de festivais agora. Nossa proposta é Não fizemos muitos e nem tivemos problemas. gravar um curta mais ‘elaborado’ para inscrever Tudo é autoral. Eu quero fazer um conto cha- em algum festival do gênero. mado A Pata do Macaco que é maravilhoso. O único que fizemos com o nome do filme foi Annabelle, mas deu muito certo e tá chegando Muito obrigado pela entrevista e deixo o quase 1 milhão de visitas. O outro é Poltergeist, espaço para você se despedir que tem 14 mil visualizações. Daniel Pires (Lenda Urbana) Pensam em outros gêneros mais próximos do Terror e Horror como ficção cientifica? Daniel Pires (Lenda Urbana) Eu gosto mesmo é do terror. Outro gênero que tenho paixão é o drama, que acaba sendo inserido no contexto do terror. A partir de uma boa história dramática, é possível fazer um bom terror. Gosto muito de musical e tenho um projeto para isso dentro do terror também. Em primeira mão: vamos fazer um reality para sexta-feira 13 de maio (será uma campanha grande). Não posso falar muito ainda, mas vai envolver outros canais de terror e tem um projeto social no meio. Acho que vai render bem. 10
O������ �� 2017
O Lenda é um projeto que eu amo mesmo. Meu filho. Quero que ele cresça, mas o que eu julgo importante dizer é que não queremos ser YouTubers, nossa proposta é sair da internet, viver disso. Queremos produzir para a internet sempre, mas fazer coisas fora dela também. Cinema não seria nada mal (risos). Já fizemos projetos importantes com grandes distribuidoras de cinema (Sony, Warner e Fox). Somos parceiros do YouTube, gravamos no Space como convidados e sempre estamos com projetos para acrescentar ao Lenda. Além do vídeo em 360º, 4K e agora esse reality vindo aí. Vamos que vamos.