vida
Boa
Por João Baptista Andrade Diretor da Mentor Marketing e AMA Brasil
Comida e Praia A pandemia que a todos nós assola, a muitos amedronta, a outros mostra como roubar melhor e a mais alguns como ser canalha em
E
tempo real, trouxe mudanças na vida de quase todos
u e Tina, por exemplo, mudamos de cidade. Por quê? Porque não faz sentido, para um casal sessentão que respeita as regras de distanciamento, isolamento e higiene (impostas como protocolos pela pandemia), viver em uma cidade onde 5,3 milhões de pessoas utilizam o metrô diariamente. Eu não tenho como manter o distanciamento se você, seja por necessidade ou desvario, não faz o mesmo. É simples. Então, alugou-se o apartamento de São Paulo e a família mudou-se para a, agora festiva e gloriosa, Ubatuba. Sonho antigo. Coisa de adolescentes crianções (éramos assim nos anos 1970, mas eu não consigo explicar isso aqui), Ubatuba é a nova definição de realidade pós-pandemia. Eu sempre pensei em terminar meus dias morando em um veleiro, coisa que gosto de fazer e que tive a oportunidade de realizar amiúde. Mas Tina tem receios. Aquela coisa de quem olha de fora e já não gosta... Ainda vou mostrar essa outra vida para ela, mas não precisa ser agora. Mas já que não dá para viver embarcado, morar na praia é a segunda melhor opção disponível. Meus alunos piraram: “Professor, o senhor está dando aulas da praia?”. Sim! E delírio geral. Tina rejuvenesceu uns 15 dias o que, na escala de tempo de juventude que ela utiliza, é quase uma eternidade... Ela insiste em ter 14 anos de idade para sempre. O que eu acho uma delícia. Desde quando eu tinha os mesmos 14 anos de idade, mais de 50 (quase 60) anos atrás. Entretanto, uma vez que a decisão de trocar São Paulo por Ubatuba foi tomada (levou quase uma hora inteira) e a mudança feita (quase 60 dias para pesquisar, comprar e levar as coisas para o novo apartamento), hora de começar a criar hábitos caiçaras. Para um caipira assumido como eu
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algo, no mínimo, bem engraçado de se fazer. Eu penso que todo matuto imagina que morar na praia quer dizer sol, areia, sunga, camarões fritos, cervejas geladas, saladinhas frescas, caminhadas, peixes e frutos do mar todos os dias no cardápio. É tudo mentira. Morar na praia significa que você vê o mar todos os dias. Ponto final. Acontece que ver o mar todos os dias mexe com a sua cabeça e você começa a pensar diferente. Quando eu estou nos matos, mais do que prodigiosos, de Joaquim Egídio, eu tenho vontades (e saudades) dos peixes assados inteiros, das moquecas, das caldeiradas de frutos do mar, dos polvos, das lulas, siris, caranguejos, dos cocos, das mangas e dos coentros. Mas daí eu venho ficar umas semanas em Ubatuba. Começo já me acabando no quiosque da praia aqui em frente, com caipirinhas, anéis de lula na farinha, cuscuz de peixe, camarões fritos e cervejas. Tudo isso em uma quarta-feira qualquer... Daí eu me aprumo e retomo as minhas leituras, os meus escritos, as minhas cismas. E... Começo a sentir falta daquela costelinha de suíno assada só no sal grosso, ou as mesmas costelinhas naquela minha receita matadora de ragout (não tem receita, cada vez sai de um jeito...). Aquela coisa caipira do cheiro da lenha e do carvão na comida me persegue. Dia desses enfiei um robalo espalmado (temperado com sal grosso, pimenta branca, alho porró e cebolinha amanteigados) sobre uma cama de rodelas grossas de limão siciliano, cheiro verde, cebolinha e alecrim frescos. Tampei o conjunto com uma assadeira de bolo invertida e deixei a churrasqueira fazer o restante. O sal ficou perfeito (usei sal moído na hora) e a pimenta, bem discreta. Dois quilos e meio de peixe desapareceram da mesa em minutos. É, acho que eu vou gostar deste negócio de morar na praia... Até a próxima.