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ALEXANDRE GARCIA Jornalista, apresentador, comentarista de telejornais, colunista político e conferencista. Atuou no Jornal do Brasil, na TV Manchete e na Rede Globo, onde trabalhou por mais de 30 anos. Em março de 2020 foi contratado pelo Canal Rural como comentarista nos programas “Rural Notícias” e “Mercado & Companhia”, e em julho de 2020 passou a integrar o time de comentaristas da CNN Brasil. Atualmente também escreve para o jornal a Gazeta do Povo.
Por Alexandre Garcia
Cuba libre Cuba me fala de muito perto
C
omo repórter radiofônico, passei dois anos
Nos anos 80, meu companheiro de almoços, o então em-
na Rádio Independente falando em Fidel
baixador de Cuba Jorge Bolaños, figura importante do regime,
na Sierra Maestra, em 1957 e 1958, até a
me disse, em gracejo, que Fidel aprendera com o carro inglês:
queda do ditador Fulgencio Baptista, no
“Hace los cambios com la izquierda, pero maneja com la de-
início de 1959.
recha”.
Também fui influenciado pela reporta-
Enquanto durou a União Soviética, Cuba teve ajuda econô-
gem de Herbert L. Matthews, do New York Times, de fevereiro
mica; depois de 1989, começou a afundar. Agora os cubanos
de 1957, que mostrava um Fidel democrata, com um exército
chegam ao limite. Por 62 anos privados de liberdade, estão ex-
pronto para derrubar Batista, quando, na verdade, tinha pouco
plodindo, mesmo sem armas. O regime está reprimindo o povo
mais de 20 homens e era um comunista dissimulado. A história
nas ruas, onde clamam por Cuba libre e por Libertad - palavras
daquela narrativa resultou no livro O Homem que Inventou Fi-
banidas por seis décadas.
del, de Anthony DePalma, também do NY Times.
A explosão, liderada pelos jovens cubanos, derruba as nar-
Nos anos 60, Cuba exportava La Revolución para a América
rativas sobre um regime que acena com igualdade e bem-estar,
Latina, para criar “muitos vietnames” - quase chegou a isso no
mas na verdade fracassa em ambos e suprime a liberdade. Que
Chile de Allende. Em Cuba foi um período de milhares morren-
cria a burguesia da nomenclatura do partido. Uma utopia que
do nas prisões políticas e de um número calculado em até 17
vende sonhos e se transforma em pesadelo. Recentemente,
mil fuzilados no paredón.
manifestantes com bandeiras do PC do B e do PT, diante da
Em 1982, nos céus de Angola, precisei pilotar um bimotor sem ter brevê, porque o piloto apagou e só estávamos ele e eu. Quando
Embaixada de Cuba, no Lago Sul, prestaram sonora solidariedade ao regime.
o piloto acordou, constatou que eu havia saído da rota segura e
“O regime está reprimindo o
estávamos acima de baterias cubanas. Eles demoraram a perce-
povo nas ruas, onde clamam por
ber e nos safamos voando baixíssimo. Por fim, Cuba me fala perto
Cuba libre e por Libertad - palavras bani-
porque prezo muito os cubanos que conheço, refugiados aqui em Brasília; alguns foram apresentados ao vinho em minha casa. 8 Revista Energia
das por seis décadas”