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CAP 7: TEM A SAÚDE E A SUA PRÓPRIA SAÚDE
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TEM A SAÚDE E A SUA PRÓPRIA SAÚDE.
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Por Alethéia Carísia B. Lima Souza, Casada, Mãe e Veterinária.
Como deslanchar na carreira sem se descuidar de si mesma? Como manter esse equilíbrio? Não pensei que fosse câncer, mas era! Após defender meu pós-doutorado, estava tranquila. Uma noite, estava deitada no sofá de casa quando vi a campanha do câncer de mama para que as mulheres façam o autoexame, aquela do Outubro Rosa. Resolvi, deitada mesmo fazer o autoexame. Achei um nódulo à direita, sólido, móvel e bem arredondado. Como estava um pouco acima do peso, achei que era gordura, na hora não pensei que fosse nada, muito menos câncer. Liguei para a minha ginecologista para marcar, mas fiquei sem pensar no caso. Chegou o dia da consulta e já no exame, a médica me pediu outros exames de imagem e me pediu para ir ao especialista. Na mamografia já foi visto uma imagem BIRADS 4B, isso foi em uma sexta-feira. Passei na mastologista logo na segunda-feira, em um encaixe de emergência. Quando ela viu a imagem, a expressão do rosto mudou na hora, vi que não era coisa boa. Me mandou imediatamente para biópsia, pois tinha achado mais nódulos e para ressonância nuclear magnética de tórax. Tive o resultado da biópsia em 4 dias. Deus foi muito bom comigo pois tudo foi muito rápido. Uma médica foi me encaminhando para outra e elas aceleraram esse processo para fechar o diagnóstico. Meus exames foram feitos como prioridade. Li meu resultado da biópsia pela internet. Estava com minha filha em casa e meu marido tinha ido dar aulas em Quixadá, era de noite. Fiquei olhando para aquelas palavras “Carcinoma”... Entrei em choque! Black out total. Pirei, fiquei ali, parada no tempo, olhando o anatomopatológico.
O que pensava era “Isso não é câncer. Eu estudei o que é uma neoplasia invasiva, isso aqui não é”. Por sorte, minha filha precisou de mim e eu sai daquela tela e me preocupei cem por cento com ela. Busquei focar na sua necessidade para fugir. Não, não poderia ser. Liguei essa noite para minha cunhada médica e ela começou a chorar. Eu ainda estava em uma espécie de negação. Quando fui para a mastologista falar sobre o diagnóstico, foi como se eu ouvisse as palavras mais estranhas do mundo. Era tanta coisa! “Mastectomia, menopausa precoce, painel genético, quimioterapia, conservação das células germinativas...” Consegui captar pouca coisa. Entrei em parafuso. Precisei buscar informações para me ajudar no processo de aceite que eu tinha câncer de mama, o mais comum entre as mulheres. Para o meu marido foi pior! Ele é também veterinário e dá aulas exatamente sobre esse assunto, histologia e embriologia e sabe de tudo! Ele compreendeu de imediato a gravidade, mas não quis me falar para não me assustar. Comecei a fazer quimioterapia e comecei a sentir coisas que eu nunca tinha sentido e ainda que os médicos não me avisaram, como por exemplo que a unha ficava escura com o quimioterápico e outras coisas que aos poucos eu descobri. Não podia cair em casa pois pensava o tempo todo na minha filha. Ela tinha que estar bem, então eu não chorava. Fomos, eu e meu marido, preparando-a aos poucos dizendo que eu estava doente, para se houvesse algo ela não fosse pega de surpresa. O que mais me angustiou foram as esperas. Espera para resultado da mamografia, da biópsia, do resultado. Claro que saber do diagnóstico é muito ruim, mas o que mata é o limbo. É você não saber o que vai acontecer com você. Em meio a tudo isso eu buscava forças em Deus. Sou muito católica e ia a missas e me sentia reconfortada. Eu sentia que nas orações, Deus falava comigo diretamente. A minha fortaleza vem de Deus. Tanto é que minha família toda desabou e eles não conseguiam entender porque eu estava bem. Eu dizia: “Gente eu tenho câncer, mas eu não vou morrer”. Meu emocional ficou um pouco abalado sim com as quimioterapias, porque você fica acabada. Eu digo que a quimioterapia mata o tumor
e te mata também. Porque muita gente tem efeitos colaterais. Fiquei sem urinar quase 24h, inchei muito uma vez. Outra vez não parava de vomitar e precisei ir ao hospital tomar medicamento na veia. Tudo isso abala. Uma das partes mais difíceis para mim foi a queda do cabelo. Eu sempre tive muita vaidade com o cabelo. Tem postagem minha só mostrando meu cabelo, mas eles começaram a cair de tufos! Ele começou a morrer, não tinha como disfarçar mais. Esse foi um marco que eu lembro porque antes, sem nada visual, sem nenhuma mudança externa ninguém saberia da minha doença. Careca, não. Eu surtei! Teria que assumir para todos que estava com câncer. Estava nesse dilema e muito triste pela perda do cabelo quando recebi uma ligação. Uma amiga minha teve também esse câncer, mas o dela foi extremamente agressivo, ela precisou fazer mastectomia radical bilateral, tirar os ovários, enfim. Eu disse chorando que o cabelo estava caindo e ela me deu um choque de realidade! Disse que eu estava viva, que eu não era vítima e tinha que reagir! Que meu cabelo ia nascer e terminou por fim mandando eu raspar logo a cabeça. Nessa hora me decidi, peguei a máquina e pedi para meu esposo raspar. Raspamos a metade e chamei minha filha, eu já estava bem emocionalmente, já estava firme. Acho que a nossa filha foi tão preparada, que simplesmente olhou e disse : “Ah, vou brincar” e saiu. Ela já estava esperando esse momento. Estou de pé. Conhecer a minha doença me acalma, sabe? Sei os sintomas que devo ter, sei como andam as reações. Não sei explicar o que sinto, como aceitei. Dizer que estou sempre bem não é verdade. Às vezes choro na missa, nesses momentos me recolho e desabo. Tenho medo sim, é humano, mas continuo a fazer minha atividade física. É uma libertação. Uma coisa da qual me orgulho é que minha médica colocou na ficha que faço atividade física desde 2015, isso ela achou relevante e é. Quantas vezes fui para a pista de corrida só para ver os outros. Muitas vezes só para conversar com quem aparecia. A atividade física é tudo para mim durante o tratamento. Conseguir manter isso durante a quimio “vermelha” foi uma vitória para mim.
Posso dizer que existe vida sim depois do câncer. Você pode fazer as mesmas coisas de antes. Aliás, para mim foi fundamental manter a rotina! Manter tudo igual! Quanto mais próximo da sua rotina você ficar, melhor. Um dia vai passar. Se eu puder ajudar as pessoas de alguma forma com o meu exemplo já valeu. Sempre digo, se quiser chorar, chore. Busque em Deus um consolo, entregue a ele seu pranto porque ele vai te devolver em força para enfrentar tudo. Você tem que acreditar que vai funcionar. Eu acredito.