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CAP 4: SIMPLESMENTE MULHER, COMPLEXO ASSIM
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SIMPLESMENTE MULHER, COMPLEXO ASSIM.
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Por Maria Goretti.
Ser mulher, me orgulhar da minha essência é um desafio maravilhoso.
Livre para decidir
Maria Goretti Maia Régis, 51 anos, mulher, mãe, fisioterapeuta, bailarina. Nasci pobre. Pobre não, miserável em quase um gueto, no Acre em 1967. Pai que trabalhava na lavoura, mãe professora de ensino médio. Fui exposta desde muito cedo a qualquer tipo de violência contra o ser humano, vi mulheres parindo, apanhando, pessoas se drogando. Lembro que vi uma coleguinha minha morrer por excesso de infestação de vermes, vi os vermes saindo do nariz e da boca. Não tínhamos água encanada, o piso era de chão batido. Essa vida eu tive até os 12 anos, quando mudou. Meu pai que era agricultor, começou a estudar por si só e passou na faculdade de direito, depois que saiu da faculdade fez concurso para promotor e professor da Universidade Federal e então saímos de extrema pobreza para classe média alta. Não gosto da palavra SUPERAÇÃO e sim FOCO. Saber o que se quer com clareza e ir em direção a isso. Viver isso valeu mais do que qualquer palestra. Ver isso na prática com os meus pais me formou em quem eu sou. Nessa época, sai dos colégios públicos e fui para os particulares, e encontrei a dança. Juntei a disciplina que via em casa reforçada com
a disciplina ensinada pela dança. Me encontrei nesse sentimento, nesse ato de retidão e flexibilidade ao mesmo tempo. Aos 16 anos já trabalhava como professora primária, fazia o ballet clássico e estudava. Me realizava nos palcos, mas também gostava de ensinar os outros e de trabalhar. Fui abençoada com o dom do intelecto então nunca fui aluna mediana, mesmo fazendo várias coisas, sempre fiquei entre as primeiras da classe. Hoje olhando para trás vejo que nunca pensei que minha vida fosse dar errado, sempre acreditei em mim, na vida, em algo superior. Sempre acreditei que eu iria dar certo no que eu escolhesse. Se algo dava errado, se algo dá errado até hoje, eu paro e volto para o movimento anterior. Relaxo, tento, pratico, observo.
Aprendi com a vida e com a dança que se algo não sai como eu gostaria, eu volto um passo, dois, atrás. Volto para a base... ... Aí sim, com esse “movimento” bem estudado, passo para o próximo lance. Sempre dá certo!
BASE. Sempre uma boa base é o segredo para você escolher o que quer ser. Apesar da pobreza, eu tinha muita conversa e alegria em casa. Cresci alegre e sorrindo. Sempre. Junto a isso, a dança desabrochou o melhor de mim. Em 1986 decidi vir para Fortaleza pois queria estudar artes, música ou ballet, apesar do meu pai querer que eu fosse médica, pois tinha muita habilidade em cuidar dos outros. Eu o escutava, claro, mas escutava mais o meu compasso, tentava saber no que consistia a minha missão. E não era ser médica. Prestei Sociologia e passei, tinha mais a ver com meu momento atual de me engajar nos cuidados dos outros. Quando terminei vi que não era bem isso. Eu sabia o que não queria, já era alguma coisa. Em um relance vi que na Fisioterapia eu teria mais a chance de cuidar da pessoa e não só do seu corpo como achava que era na
medicina. Vi que na Fisioterapia eu poderia casar esse binômio corpo e alma. Assim decidi. Na Fisioterapia conheci a fisiologia, o normal, como era o correto funcionamento do corpo aliado à postura. Se eu não sabia como corrigir uma escoliose, por exemplo, eu dava um passo atrás, via como era a coluna normal e tentava intuitivamente, aliada à ciência claro, ajudar aquele ser que estava a minha frente. Da dança passei para a postura de uma maneira somativa.
Quem disse que só podemos ser uma coisa?
Na minha cabeça estava tudo junto, estava tudo unido. Éramos e somos uma coisa só. Quando tratava de uma pessoa meu lema era “Abre esse peito e vem para a vida”. Penso que ser mulher me ajudou nisso, acho a mulher uma transformadora, uma catalizadora de energia. Sempre me senti poderosa, quando esse termo “empoderamento” não era nem falado. É algo que temos que buscar de dentro para fora, senão soa falso na boca de quem não sente. Fui doula da vida e da morte. Conversava com o paciente sedado, conversava com suas células. O povo me achava louca. Eu pedia permissão para o paciente para eu trabalhar com os membros dele, tratava-o com gentileza. Era um ser humano que estava ali, não um pedaço de carne. Eu me sentia unida a ele, em uma espécie de fio. Gostava, me doava de coração. Nos três anos de sistema público fiz o que pude como profissional e me orgulho disso. Após esse tempo, me dediquei a atendimentos no meu consultório e logo quis abrir uma clínica, que decolou sem dúvidas. Sempre meu pensamento era: “Estude a saúde. Está disfuncional? Vai e corrija”. Gostaria que muitas professoras ou profissionais passassem isso para as estudantes, como é um corpo saudável, para que elas entendam que o mais importante é a manutenção da saúde. Na faculdade vemos muitas doenças... pensei “qual é o ideal de um corpo harmônico?” e descobri a pólvora.
Meu diferencial hoje como Fisioterapeuta acupunturista é o diagnóstico. Trabalho com a organização do corpo, sinto sua vibração. Cada corpo é único. Se a doença se apresenta no meu corpo, é porque segui o caminho que não era para ser seguido. Então tento voltar atrás comigo e com meus pacientes, tento descobri onde me desviei, assim como tento fazer com que os meus pacientes pensem isso: “Onde foi que me desviei para estar assim?”, isso vai além de tratar um corpo. Nesse meu pensamento, comecei a unir os pontos. Os fatos não estão soltos, ninguém está desconectado de ninguém. Começo sempre perguntando “você sabe quem é você?”. Sempre falo que somos feitos de luz e sombra. Nem sempre a semente fica exposta na luz o tempo todo. A sombra não é negativa. Entender isso é se aceitar e se acolher. Encontrei o pai das minhas filhas e casei. Perdi dois filhos antes de engravidar da minha filha. Um foi um aborto e outro faleceu com dez dias de vida. Não era para ser. Já senti coisas na carne, falo sobre a vida não de uma maneira teórica, porque também passei por coisas duras, mas sei e sempre soube que tudo iria passar. Me separei e passei 12 anos separada, somente cuidando das minhas filhas. Trabalhando e sempre dançando. Quando a mais nova tinha 12 anos, conheci um bailarino e me casei novamente. Foi um período muito intenso onde a minha vida cabia em uma mochila. Dava aulas em Buenos Aires e Madri, mas mantinha minha clínica, já com outros colegas, no Brasil. Nessa fase conheci a Física Quântica e vi que tudo isso que eu trazia dentro de mim, todos os ensinamentos da vida que eu transformei em bons, tinha um nome e uma direção. Além de dançar fora do Brasil, eu entendi que tínhamos uma cura através do Quantum, da energia que nos liga e nos regenera. Foi o meu salto para parar de trabalhar na doença e focar na saúde. Recebi na Espanha uma carta convite para ficar lá e trabalhar como acupunturista. Nesta época uma das minhas filhas já estava casada e a outra na universidade. Fui sem medo e sem olhar para trás. Mergulhei. Digo sem cerimônias que não tinha medo, porque “algo de bom ia me acontecer”.
Estava na Espanha quando algo me ocorreu. Me senti estranha, não sei o que dizer nem como, mas sabia que meu corpo não estava legal. Voltei para o Brasil e descobri um câncer no ovário. Meu fígado estava em risco, eu precisava fazer um cateterismo urgente e naquele local não tinha um médico vascular, de repente, esse médico me chega ali, no meu leito e me acode. A vida tem essas boas surpresas e eu só guardo isso. Me conectei com o universo e ele me mandou. Quando fui para o centro cirúrgico sabia que estava em uma encruzilhada. Eu poderia escolher entre ficar aqui neste local ou ir. Fiz uma oração sincera e pensei que se fosse morrer, que eu morresse como sempre vivi, alegre e contente. Depois que me botei nas mãos de Deus, fiquei verdadeiramente tranquila. Não me pergunte como. Sei que fiquei. Minha cirurgia demorou mais que o previsto, não conseguiram reperfundir minha artéria hepática. Eu sabia que era grave, sou da saúde, mas como disse, depois da oração estava tranquila “conversando “com meu corpo como eu havia feito há anos atrás com pacientes graves em coma. Fiquei afastada por um bom tempo pois tentavam a anticoagulação. Nunca ganhei tanto dinheiro deitada na cama como naquela época. Minha clínica estava com muitos pacientes e meus colegas me davam percentuais de seus atendimentos. Ganhei uma fatura de cartão de crédito premiada, onde zerou minhas contas. No dia que tive alta, minha mãe foi diagnosticada com câncer de fígado com meta disseminada. Os médicos deram poucos meses de vida, mas ela ainda viveu um ano e meio. Eu larguei minha vida para ficar com ela. Ela ia ter dignidade nesses poucos meses que ela tivesse. Conversávamos sobre a terminalidade, sobre o futuro, sobre quando ela não estivesse mais aqui. Ela se foi e voltei a minha vida de bailarina e profissional. Há, esqueci de dizer que minha artéria hepática reperfundiu cem por cento. Posso dizer que sou um milagre, mas sempre soube que a mente manda no corpo. Hoje tenho minha academia de dança, atendo meus amigos com laser na acupuntura, sou bailarina de Poledance, dou palestras sobre o poder quântico e convido profissionais para falar sobre os diversos
assuntos como por exemplo o empoderamento feminino, pompoarismo etc... e encabeço um movimento chamado “Mulher de 50”que visa mostrar que a feminilidade estará presente com você sempre, não importa sua idade. Hoje vivo o momento de ser avó e curto muito isso, como curti todas as fases da minha vida. Tenho meu tempo e é muito lindo ver minhas filhas trilhando o mesmo caminho que trilhei, se amando e dando amor aos filhos. Curtindo a profissão e não se limitando. Se me perguntarem quem é a Goretti, digo que sou uma parte do todo, um pedaço dessa matriz quântica que me criou. Sou arte e artista ao mesmo tempo e amo ser mulher. Sou uma nutridora, sou parteira de outras mulheres, outros seres, sou luz. Me apropriei disso.
Ser mulher é me orgulhar da minha essência?
Quantas de nós não gostaríamos de ter nascido homem? Afinal seria muito mais fácil, não? Conheço mulheres que estão bem na sua posição de mulher, não falo de troca de gênero, falo de gostar de ser mulher mas em alguns momentos desejar ser homem. Afinal, quem trabalha, estuda, cuida da casa, dos filhos e do marido ou da companheira não importa, parece que está sempre atrasada ou devendo alguma coisa não é mesmo? Há muitos anos me faço claramente esta pergunta, se gosto de ser mulher e a resposta é: não sei. Não sei porque se fui homem não lembro. O que sei é que durante o mês, quando me comparo com meus colegas homens, eles são muito mais estáveis do que eu. E isso é minha culpa? Por que, penso eu, tenho que ser estável? O que é ser estável? É fazer tudo com a mesma energia. E definitivamente, ser mulher não é ter o mesmo sentimento durante o mês. Isso volta novamente para a minha experiência de 10 anos em consultório e vinte no total como médica. A maioria das minhas pacientes são mulheres e com várias queixas, somáticas ou não, várias dúvidas
que nos permeiam a cabeça. E de onde vem essa mistura de sentimentos chamada mulher? Da menstruação? Decidi então parar e estudar com outros olhos, que não os olhos biológicos, sobre esse fenômeno odiado por muitas e renegado a segundo plano por todas. Vou abordar o tema não mais associado a desordens na saúde, mas apenas como fazendo parte do SER mulher. O desenvolvimento do ciclo menstrual foi um passo importante na nossa evolução, fazendo com que estejamos sexualmente dispostas o mês inteiro e não somente no período do cio como as outras fêmeas de mamíferos. Porém, isso influenciou nossa condição pelos anos. Durante séculos, a menstruação foi vista como algo repulsivo, nojento, desprezível e a mulher, como portadora desse fenômeno, era vista como um ser diferente, ora sábia, ora feiticeira. Na cultura islâmica, a mulher é proibida de entrar na mesquita menstruada. Nas aldeias dos índios Tembé há uma festa marcando a passagem da menina para a idade adulta quando ela menstrua. É um rito que não vemos mais na nossa sociedade moderna. Em algumas sociedades organizadas de maneira patriarcal, ela é vista como uma desvantagem biológica porque dias antes de sangrarmos, experimentamos as mudanças hormonais que trazem junto, sinais e sintomas que podem ser maiores ou menores para cada uma. E com o passar dos anos, ainda hoje, 2018, temos isso arraigado no nosso subconsciente. Para o controle dos sintomas, muitos médicos do sexo masculino simplesmente acham que o melhor seria não menstruar. Infelizmente, muitas médicas também engrossam essa teoria. Não quero aqui criticar posições, mas sempre penso que se fosse um homem a menstruar, será que a conduta escolhida por eles seria estancar o sangramento? Ou ao contrário, eles se orgulhariam e fariam de tudo para organizar os sintomas da Tensão Pré Menstrual de modo que não sofressem tanto? Coisas que nunca saberemos. O caminho que muitas mulheres do passado fizeram até agora na conquista do prazer livre, sem a obrigatoriedade da concepção deve ser mantido, porém agora com um passo a frente. Está na hora
de compreendermos que nossa energia é lunar e ganharmos espaço na sociedade entendendo esse ciclo e mais, tirando proveito dele. Uma das primeiras coisas que resolvi aceitar para entender a minha condição e não mais andar no automático, era que eu, assim como todas, não sou a mesma durante os dias do mês. Quem menstrua sem anticoncepcional sabe do que estou falando. Tem dias que estamos bem, com o raciocínio claro, ativas sexualmente e... tem outros que estamos com o pensamento embotado e totalmente inchadas. E essa mudança sim, vai afetar meu desempenho. Voltando às nossas ancestrais, o ciclo era contado conforme a mudança da lua, e não tem nada de magia nisso. É somente uma forma de contar o tempo. Como elas não tinham calendário, as luas eram uma forma boa de se encontrar no universo e no seu próprio mundo. Com isso, elas sabiam que quem menstruava na lua cheia, iria ter seu período fértil na lua nova e vice-versa. Nossas ancestrais sabiam que na menstruação, estavam alertas, despertas, curiosas, abertas ao novo. No período fértil poderiam estar mais intuitivas, serenas, sexualmente dispostas, pois a natureza lhes preparava para receber um novo ser. Caso isso não ocorresse, no período pré-menstrual, com a baixa da progesterona, viria o mau humor, a impaciência, a vontade de se recolher para depois começar tudo de novo. O que isso, há milhares de anos tem a ver conosco, mulheres da cidade? É que essas mudanças hormonais perduram até hoje, mesmo que não saibamos ou não queiramos. Nossos genes ainda são os mesmos daquela época, ou seja: Somos mulheres das cavernas vestidas. Esse movimento de estar bem-disposta, para dias mais tarde estar recolhida, se assemelha aos movimentos da natureza de pulsão e constrição. É verão e inverno. Por essas razões, “os antigos” diziam que dançamos a dança da natureza. Quem mais tem razão do que os antigos? Existem respostas que a ciência talvez nunca responda, como a intuição. É um assunto que me fascina. Como já mencionado, dizia um poeta que intuição é dar um pulo no futuro e voltar. Creio que há sim homens intuitivos, mas o jargão “intuição feminina” ninguém nos tira. Penso que tenha a ver com esses ritmos, essas mudanças.
Até aqui, eu tinha mergulhado no processo de me conhecer nesse período para ajudar outras mulheres. A próxima pergunta era, “como tirar proveito disso então, uma vez que eu não poderia me ausentar dos hospitais e consultório nos períodos mais “escuros” do mês?”.
FIQUE DESCALÇA E ESCUTE-SE!
Para responder esta pergunta, antes eu deveria me observar por cerca de 6 ciclos, ou 6 meses, escrevendo em uma tabela desde o meu primeiro dia do ciclo que é o dia do sangramento, mesmo que seja uma “borra de café”. Imprimi a “Mandala do ciclo “do livro “Lua Vermelha”, de Miranda Gray, mas você pode fazer em uma caderneta, tanto faz. O importante é preencher os dias com as seguintes informações: • Energia (boa, elevada, sem nada...); • Libido (alta, baixa, sem nada...); • Pensamento (claro, confuso); • Emoção (feliz, triste, deprimida, chorosa), e; • Para nós, profissionais de saúde, sugiro que
coloquem como se sentiram executando aquele trabalho (alegre, impaciente, não querendo executá-lo etc..).
O importante é que você crie uma denominação que você saiba como se sentiu aquele mês quando for reler, senão é um trabalho só de acompanhamento e não de previsão. Meu objetivo é saber ou pelo menos tentar saber, como eu estaria naquele período no mês seguinte e quem sabe, sabendo disso, eu poderia aproveitar meus “verões “e “invernos” de uma forma melhor tudo que é compreendido é melhor administrado. De uma forma geral, quando menstruamos ficamos mais alerta, com raciocínio claro, libido alta e voltada para o externo. Então é um
período bom para marcar reuniões, fechar parcerias, dizer “sim” para projetos e aulas, sem nos arrepender depois. No período fértil ainda podemos estar voltadas para projetos externos, mas também um pouco mais emotiva, então talvez seria um bom momento para desenvolver outras atividades como escrever, tocar algum instrumento, ler. No período pré-menstrual estamos voltadas para dentro, é o momento que eu escrevo mais, ouço música clássica por exemplo, tento não me expor muito, gosto de ficar mais sozinha. Muitas vezes não funciona assim tão separado e pode não funcionar para você. Somente após 8 ciclos é que começamos a nos entender e prever algumas reações. O que quero dizer com isso é que de posse dessas informações, podemos casar certas atividades com nosso estado de espírito ou pelo menos evitar certas situações que nos estressam. Vale muito a pena tentar. Se conhecer é uma coisa sem preço. É o primeiro passo para se aceitar, se perdoar e quem sabe, um dia se orgulhar da nossa essência.
Não é preciso abandonar o salto, apenas saber quando subir e descer do salto.
PARA RELAXAR DÁ LICENÇA QUE SOU GENTE.
(Isso se passou quando atendia no Centro de Saúde Psicossocial- Cap’s, de Maracanaú-CE). Nesse centro, havia a figura do médico clínico, o qual era eu, que atendia as intercorrências clínicas dos pacientes além de situações mais “leves” (vamos chamar assim) como Depressão e Ansiedade. Porém, em algumas circunstâncias, eu acabava por atender, vez por outra, pacientes com Esquizofrenia ou Transtornos Bipolares.
Olavo (nome fictício) geralmente comparecia às consultas sozinho. Tinha 19 anos e sofria
de Esquizofrenia desde os 13. Ia bem dentro da sua vida.
- Boa tarde Olavo, tudo bem?
- Sim... ( meio lacônico o que não era seu normal) - E tua mãe, tudo bem? Em casa...? (eu já estranhando) - Bem...
- Certo! Conte então as novidades...
- Anham ... (já visivelmente desconfortável) - Olavo, estás sentindo alguma coisa? - Doutora, a senhora me dá uma licença? - (Eu já assustada pensando o que ele iria fazer) Claro!
Nesse momento, Olavo se levanta e abre a porta. O próximo paciente já estava feliz pensando que a consulta havia acabado cedo demais e, portanto, já chegara sua vez.
Mas Olavo levantou a mão em sinal de “espere”. Fechou a porta me deixando sozinha no consultório e eu olhando tudo aquilo. Os outros também querendo saber o que se passava. Foi quando ouvimos, todos, o maior flato já emitido por um ser humano seguido por risadas incontidas dos pacientes.
Após se livrar do gás intestinal incômodo, Olavo novamente abre a porta e agora sim! Era o Olavo que eu conhecia. Meio querendo rir, meio chocada com tudo aquilo, porém grata por ele ter me poupado do cheiro eu esperei ele falar.
- Pronto Doutora. Agora sim...
E me olhava como se não fosse dele, as risadas que ouvíamos na sala de espera desse momento tão íntimo e compartilhado agora na família Cap’s.
E eu?
Aprendendo com Olavo a ser educada, sem deixar de ser gente.
Poema
A Crisálida (Escrito no auge de uma TPM- Melancólica).
Todos os meses ela sai, cuspida de seu casulo onde estava tudo quente e macio. Se ela pudesse, pararia seu comprimento e respiraria menos para caber dentro e para sempre ali. Sozinha e feliz.
Mas não.
Quis a situação que sua cápsula fosse perfurada e, como um balão murcho, como casa não funcionava mais.
Sai então ela, com a pele lisinha, tão fina e translúcida que se viam as veias. Pequenas aranhas.
Os olhos mal abrem. Acostumam-se com a claridade.
Com um feto sem mãe, a pequena crisálida agora está triste. Sozinha e triste.
Mas o tempo é enfermeira cuidadora das feridas que vão se fechando conforme ela vive e conhece outras iguais. Ela sabe, intuitivamente, que tem mais a dar para a sua nova casa sem paredes e para suas irmãs, paridas jovens como ela.
E ela sorri.
Quer correr e voar com suas novas asas-lar coloridas reparando-se para o próximo conto daqui há pouco.
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A saúde subindo e descendo do salto foi composto em Minion Pro e impresso sobre POLD80 e CSLD250 pela Expressão Gráfica e Editora em agosto de 2021.
Você já quis subir no salto com espírito determinado a ir em busca do seu verdadeiro sonho? Já quis estudar, dar o seu máximo para se tornar uma pro ssional melhor a cada dia? Já quis superar preconceitos, acabar com estereótipos e viver plenamente a sua essência? Ou então já quis descer do salto e mergulhar dentro de si mesma? Já quis car descalça e escutar a si própria? Já quis olhar nos olhos do outro e não se mostrar como uma mulher maravilha que cuida de tudo e de todos, mas sim como uma mulher de carne, osso e muitos hormônios que quer ser cuidada e amada? Se você já sentiu na pele um destes momentos ou os dois, esta obra será um belo estímulo a reviver lembranças e re etir sobre estas fases e como você se tornou a pessoa que é hoje. Se você nunca sequer pensou nisso, convido você a desfrutar de cada capítulo deste livro. Lucianna Auxi trouxe histórias de vida muito ricas e emocionantes para que se entenda como vive uma pro ssional da área da saúde dentro do universo de con itos e desa os diários. Durante esta trajetória encontre-se e mergulhe dentro de si mesmo, para que você possa reconhecer quando se deve subir e descer no salto para ser feliz e pleno consigo mesmo.