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CAP 1: ALGUÉM PARA CHAMAR DE MEU

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PARA SEMPRE?

PARA SEMPRE?

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ALGUÉM PARA CHAMAR DE MEU.

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Como funcionam as relações pessoais dentro do ambiente de trabalho:

Depende... Susana Torres, 32 anos, enfermeira, noiva com casamento marcado com outro enfermeiro em breve...

Acho que dá certo. Dependendo, obviamente do amor da outra pessoa - o que a gente sempre fala, dependendo da personalidade da outra pessoa, do que ela tenha a te proporcionar, do que ela goste, se coincide com o que você goste também. Depende de um número de variáveis que se encontram nos dois, obviamente tem muita gente que vai achar dificuldade de se relacionar com pessoas da mesma área por conta do sem número de plantões que a gente tem, os horários chocam, mas infelizmente temos escala a cumprir... Mas para isso precisa haver a confiança e o amor. Não acho que só amor resolva, não acho que só o nosso sentimento resolva, tem que ter a parte dele e tem que ser forte o bastante para passar por cima desses desencontros que falei, das horas fora de casa. Dá certo sim, mas depende da personalidade de cada um que faz um casal.

Companheirismo Teresa Monteiro, 64 anos, médica, casada há mais de trinta com outro médico.

Quando conheci o Miguel éramos duas crianças, eu tinha 14 e ele tinha 19 anos. Foi um encontro lindo de almas, eu me apaixonei por ele e ele por mim. Como eu morava no interior e ele na capital, só nos

víamos nas férias, mas as cartas iam e vinham direto. Eu tinha uma tia, pouco mais velha que eu, uns 34 anos, só que era a alcoviteira. Meus pais não queriam pois achavam ele sem muito futuro, mas depois que ele entrou para a faculdade de medicina eles já o viam com outros olhos. Depois fui para a casa de outra tia, e ela me incentivou a fazer medicina também, eu já gostava da área, mas a possibilidade de estarmos juntos foi o que falou mais forte. Enfim, quando ainda estava na faculdade e ele já formado nos casamos e na minha formatura já estava grávida. A vida foi acontecendo de uma forma muito intensa pois foram 4 filhos, o último veio de surpresa. Mas tinha a profissão que eu fazia questão de exercer também. Construímos nossa clínica, então somos parceiros na vida e na profissão e está dando certo até hoje. Sei que isso não acontece a toda hora, de encontrarmos o amor das nossas vidas e dar certo, mas na minha história, o que eu considero que deu certo foram duas coisas, paciência e companheirismo, dos dois, não adianta só de um. Eu fui parceira quando ele quis fazer a clínica e ele foi ao me ajudar a cuidar das crianças. Tem que ter essa troca pois senão você cobra ou ele cobra, mais cedo ou mais tarde.

Traição Cristine Oliveira, 36 anos, psicóloga, solteira.

Eu acho que acontecem muitos relacionamentos dentro da mesma área de saúde ou mesmo dentro da própria profissão, porque essas pessoas - melhor dizendo, nós, passamos muito tempo juntos. Pela convivência surge a admiração e depois a atração. O profissional de saúde tem que tirar muitos plantões, que é onde se ganha mesmo, então a gente passa muitas horas fora de casa, muitas vezes passamos dias sem ver a família ou o companheiro, troca de roupa no hospital, já andamos de malinha... Nisso, acabamos conversando com outras pessoas, conhecendo, bate a carência... Se vai dar certo ou não um relacionamento assim, entre profissionais, ai eu já não sei. Vejo muitos “casinhos”, muitos mesmo. Pode ser que dê certo, quem sabe? Já vi muita gente tendo esse tipo de encontro, mas pouquíssimas pessoas se casam, por saber que talvez não dê certo. No fundo, os profissionais sabem que esses casinhos não duram muito tempo, não vão para frente, fica nisso mesmo. Daí quem estava na posição

de amante tem medo de mudar para oficial pois pensa, “vou passar pela mesma coisa” e claro, não confiam nas pessoas que traem. Existem casos de pessoas que eram casadas e separaram para ficar com a amante, mas são poucos os que duram. No fundo, acho que se resume tudo à carência de momento, não acredito que dê muito certo um relacionamento sério entre profissionais da saúde.

Maturidade

Denise Machado, 44 anos, casada, fonoaudióloga.

Sou um exemplo de união entre pessoas da mesma área que deu certo.

Meu esposo é fisioterapeuta e sempre nos esforçamos para estarmos juntos. Olhando para trás, vejo que deu certo porque houve maturidade de ambas as partes na questão de respeito ao espaço do outro. Acho que isso vale para qualquer casal, da mesma profissão ou não. Mas, no caso de serem da mesma área de atuação, se não se falar sobre isso, se não tiver tudo às claras, o casamento acaba mesmo. Ambos somos professores, então temos o cuidado de não interferir muito em como o outro se porta em sala de aula ou na didática ou dicção. Muitas fezes meu esposo me mostra a aula dele e antes de eu comentar algo, passo por mil crivos mentais para saber como eu estou, se estou com inveja dele, se estou bem ou cansada para emitir uma opinião mais profissional possível e que possa ajudá-lo. Se estamos brigados por algum motivo, que geralmente é a divergência na criação dos filhos, eu prefiro resolver isso conversando, que me vingar falando algo tipo “não gostei da aula que você preparou”. Ele da mesma forma.

Isso é maturidade. Se temos algo que não gostamos, conversamos ou brigamos, mas depois há a reflexão que se traduz em ações, para da próxima vez não errar tanto. Entre nós isso é muito natural, então cada casal precisa ver qual é seu “calcanhar de Achilles” e se fortalecer para que essas interferências não acabem com o casamento.

Maturidade é não confundir sentimentos!

Aprendizado Eliza Santos, 47 anos, Terapeuta ocupacional, divorciada.

Fui casada com o César que é médico neurologista por muito tempo, temos muito em comum pois trabalhávamos na mesma área, em pacientes com Alzheimer, era muito bom, tínhamos e temos até hoje, uma boa parceria em relação a trabalho, então era um assunto a mais para tratar. A gente conversava, falava sobre os casos, trocávamos ideias, um aprendia demais com o outro. Era bacana, muito legal. O casamento acabou, pois viramos amigos, não tinha mais aquele namoro, não por culpa do trabalho, apenas porque acabou mesmo, sem brigas ou ódios. Como temos o trabalho em conjunto, no início era complicado se encontrar, mas com o passar do tempo vimos que poderíamos continuar, pois o respeito e companheirismo não mudaram. Falam que é mais fácil de se relacionar com profissionais da mesma área, mas depende da pessoa, essa coisa de ser da mesma área não interfere em nada não. Hoje me relaciono com uma pessoa que não tem nada a ver com a minha profissão, mas não vejo entraves nem em uma coisa e nem na outra, digo, com relacionamento com pessoas que sejam da saúde ou não, o aprendizado na sua vida é o que vale.

Ciúmes Kátia Ferreira, 30 anos, Fisioterapeuta, casada.

Sempre digo que estar casada com uma pessoa da mesma área é normal, como se estivesse casada com qualquer outra pessoa, mas a verdade é que não é. No início do casamento achei isso, mas agora, após três anos e depois do nascimento da nossa filha, as coisas mudaram. Sei que a mulher fica diferente após o parto e ainda não voltei ao meu corpo, mas se ele não fosse da área de saúde estaria aqui, me ajudando, ao invés de estar

nos plantões. E com minha autoestima abalada, com tantas moças no plantão, fico sim insegura e com ciúmes. Quando ele chega em casa, quase sempre cansado, não gosto de perguntar sobre como foi no trabalho, muitas vezes quero esquecer que ele também é fisioterapeuta e tenho raiva porque ele pode estar lá com os pacientes e eu tenho que sozinha cuidar da neném. É uma mistura de muita coisa e ciúmes de tudo. Dele sozinho, dele com outras pessoas, dele trabalhando, dele não me ajudando em casa. Sei que isso é uma fase e que vai passar, escolhi ser mãe e amo meu esposo e que nesse momento não dá para se ter tudo e enquanto isso, a terapia me ajuda a segurar essa onda.

Semelhanças Silvana Miranda Guedes, 45 anos, casada por duas vezes.

As relações amorosas na profissão de saúde têm mais chances de ocorrerem dentro do local de trabalho porque dedicamos muito tempo de nossas vidas para a faculdade e residência e nosso grupo de amizade acaba ficando muito restrito, ou seja, acabamos sem muitas opções de namoro. Eu acredito que independentemente de similaridades de profissões, há a necessidade de similaridades de pensamentos, gostos, ideais etc... por exemplo, fica altamente complicado quando um é acomodado e o outro é proativo, ou um gosta de balada e o outro gosta de ficar em casa ou ficar com parentes. Enfim, os casais devem ter muitas coisas em comum pois essa coisa de que os opostos se atraem, só dá certo mesmo na paixão e por pouco tempo. Me casei duas vezes e as duas com médicos. Da primeira vez ficamos casados por pouco tempo e o relacionamento não prosperou pois éramos bem diferentes. Já no segundo não, somos bem parecidos entre hábitos e gostos. Claro que não em tudo, mas há sempre o diálogo e o respeito. Penso que independente da profissão, o casal queira e goste de estar junto, admirar o outro, incentivar mas nunca esquecer da sua individualidade e do seu amor-próprio.

Combinado Evanilse dos Santos, 51 anos, Técnica de Enfermagem, “Junta”.

Sou “junta” há 15 anos com uma pessoa que conheci dentro do hospital, trabalhando comigo. Acho que até hoje deu certo graças a Deus

porque sabemos separar as coisas. Como já não éramos crianças a gente resolveu fazer um pacto. Combinamos de não falar nada dentro de casa sobre a profissão. E a mesma coisa no trabalho, não falamos problemas de casa no hospital. Nunca misturamos. Em casa é só o pessoal e no trabalho é só o profissional. Por que se não, vira fofoca.

Compreensão Alessandra Feitosa, 45 anos, médica, casada.

Eu sei que há duas correntes muito fortes, uma diz que é melhor o companheiro ser médico também e tem outra que diz que o melhor é ser de qualquer outra área que não a da saúde. Eu sei que para nós, eu e meu esposo, se não fossemos médicos, já estaríamos divorciados faz tempo, porque só nós para nos entender, tanto eu a ele como ele a mim. Somos apaixonados pelo que fazemos e damos ainda hoje muitos plantões. Mesmo já sendo casada há muito tempo, ainda me estresso com as saídas dele nos finais de semana e feriados. Eu pratico triatletismo e tem algumas provas que queria que ele estivesse comigo, mas não, ele está trabalhando. Isso me incomoda demais, mas compreendo, pois, sei que ele não viveria sem a profissão. Acho que se fosse outra mulher já teria largado. Mas quando paro e vejo que ele também tem esse respeito comigo em relação ao trabalho, percebo que nos completamos. Ou seja, eu me aborreço e eu também entendo, não sei se dá para compreender isso. Eu tenho que entender. Resumo da ópera, acho mais fácil duas pessoas da mesma área da saúde se relacionando do que pessoas de outras áreas.

Maternidade Paula de Menezes, 48 anos, médica separada mas considerando retomar o casamento.

Nós não escolhemos por quem vamos nos apaixonar e nem sabemos quando isso vai acabar, mas podemos dar uma forcinha. Eu já explico. Comecei a namorar meu esposo que é médico devido ao sentimento de grande amizade e medo de perder uma boa oportunidade de conhecer um cara legal. Não conseguia me definir até que vi que o

perderia se não o fizesse, estava com ciúmes dele com outra pessoa, eu não queria perde-lo. Nossa união se baseou na grande amizade que nós tínhamos e também pelo meu egoísmo de não perde-lo. Isso por um tempo nos bastou, mas a verdade é que nunca me apaixonei. Mas o que é a paixão senão algo que embota nosso pensamento? Eu achava isso na época, há mais de 10 anos atrás. Nos casamos e aí vieram as meninas. Com o tempo a coisa que já não era tão quente esfriou por completo, principalmente na cama e a situação piorou quando me apaixonei por um outro homem no hospital, uma coisa que iria acontecer uma hora ou outra. Mandei ele embora, mas as crianças sentiam muita falta do pai e eu morria de medo delas me abandonarem quando soubessem que eu estava namorando outro homem que não fosse o pai delas. Eu não iria perde-las. Ele estava sofrendo muito fora de casa, sempre fomos bons amigos e eu comecei a sentir falta dele também. Minha cabeça começou a fundir. Além do mais, não contava mais com a ajuda financeira dele e isso também pesava. Vi, mais uma vez, que se eu não ficasse, viria outra que ficaria e isso está me fazendo pensar no que é mais importante. Eu acho que o amo, não um amor arrebatador, uma paixão, mas um amor que soma as vidas e que constrói um futuro para os filhos. Acho que isso é que é vale a pena.

Liberdade Maria do Rosário Medeiros, 27 anos, Administradora Hospitalar, divorciada.

Me casei muito cedo, para tentar fugir de casa ou do meu pai que era muito controlador. Dessa união nasceu o Caio, de 7 anos que foi a única coisa boa que meu ex-marido me deu. Ele não era da saúde, nem eu era. O casamento durou pouco, eu era apaixonada por ele mas ele era alcoólatra e eu, inocente, achava que iria ajuda-lo. Sofri muito, mas consegui me separar, mesmo ainda estando casada no papel. Durante muito tempo, não quis saber de homem, estudava e trabalhava para conseguir criar meu filho, a vida não foi fácil para mim.

Quando estava estagiando no hospital, conheci o Arnaldo, cirurgião geral chefe do centro cirúrgico e começamos a sair. Ele é casado, não sei se a esposa dele sabe de mim, mas não me importo. Ele é mais velho, tenho um grande carinho por ele, cuido, dou atenção e ele me ajuda. É mais uma troca boa que temos. Não me iludo, ele nunca largará a família para ficar comigo e nem sei se quero, adoro minha liberdade. Digo isso abertamente, não finjo para parecer vítima, estou resolvida com isso.

Falar de amor é um caso perdido. Cada um tem o seu conceito e tem sua experiência. Relacionamentos de todos os tipos acontecem conosco, dentro e fora do hospital. Com pessoas da mesma profissão ou área de atuação. E quem somos nós para dizer que isto está certo ou errado? Lembro que na faculdade, eu e minhas amigas travamos um debate desse uma manhã toda. Quando lembro disso quase tenho vontade de rir, pois éramos tão meninas brincando de saber da vida. Ao mesmo tempo os jovens são tão preconceituosos com suas medidas pequenas sobre tudo. O fato é que para a maioria de nós saiu tudo ao contrário, quem defendia casar com alguém da mesma área não casou e quem nem pensava em casar com colega, casou. Enfim... Não há certos e nem errados. Isso é a lição mais bonita e a mais difícil de se aprender. Ainda tentamos, mesmo depois de tantos tombos, nos enquadrar num porta-retratos fino, que é o que uma sociedade espera de nós.

Histórias reais, sem príncipes, isso é o que temos. O amor não tem fórmulas, é jogo para umas, razão de viver de outras e não é o que toda mulher procura. Já foi um dia. Hoje, quem quer viver esse momento a dois sabe que essa dança tem que valer a pena. Tem que trazer alegria, leveza e felicidade. Senão é melhor dançar sozinha. Isso vale para pessoas da mesma profissão ou não. Isso vale para pessoas. Não tive uma boa experiência namorando uma pessoa da área da saúde. Mas acho que isso se deveu à nossa imaturidade que somadas eram

enormes, nossas incapacidade de conversar associada à uma faculdade altamente estressante. Não me culpo e não culpo a ele. Não era para ser. Aprendi algumas coisas com minha experiência e ouvindo outras mulheres para escrever esse capítulo e a maior delas foi:

Se ame sozinha. Se ame primeiro!

Não espere ninguém chegar na sua vida para dizer “Sou plena, sou extremamente feliz”. Se você se ama, você se conhece, sabe o que você quer, que tipo de relação você deseja, o que esperar (ou não) dessa relação. Desejo do fundo da alma que você ame muito e que seja bem-amada, nós merecemos!

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