CAP 2: PODER É SABER O QUE NÃO POSSO

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PODER É SABER O QUE NÃO POSSO.

Saber o que se passa no corpo do outro, mais do que ele mesmo, é muito poderoso e o poder seduz. Quem tem essa informação tem poder. Quando entramos na faculdade de uma das áreas da saúde, é como se seu cérebro se remodelasse e você vê tudo amplificado. Damos “pitaco” no anti-hipertensivo da tia, todos são máquinas processando os alimentos através da digestão, alguns têm placas nas carótidas que conseguimos ver com “RX- ocular”, outros já são taxados de “neuróticos” entre os colegas, somente com uma breve conversa, mesmo sem ainda estarmos “clinicando” de fato. A situação piora quando os pais, ou parentes próximos, começam a alardear que somos estudantes do terceiro ou quarto ano de tal curso... Penso que isso faça parte de um momento de auto aceitação e até certo ponto é favorável, afinal, é o seu esforço que está sendo reconhecido, mas somente destacar esse fato sempre que nos encontra e alimentar esse ego é perigoso. E mais, quase sempre esquecemos que um dia, todos viramos pacientes, com maior ou menor grau de dependência. E aí? Alguém saberá mais do nosso corpo que nós mesmos. A coisa se inverterá. Algumas reflexões para nos fazer pisar no chão: • Em primeiro lugar, NUNCA, jamais um profissional saberá tudo, ainda mais com a velocidade da publicação dos artigos nos dias atuais. Caso você não leia no inglês já estará defasada no mínimo de cinco anos. Caso não entenda de estatística ou não saiba a diferença entre um caso clínico e uma metanálise, ficará difícil você opinar sobre esse mesmo artigo. • Em segundo lugar, os dogmas que antes estavam lá seguros e acessados quando tínhamos dúvidas, estão passando por

questionamentos, ou você pensou que o ovo iria ficar eternamente na lista dos vilões? Na faculdade temos acesso a mais informações, porém isso não nos dá o direito de invadirmos o outro com nossas opiniões caso não formos chamadas. Como comentei antes, na inexperiência da juventude, isso não ocorre por mal, e faz parte até da vontade de ser aceito em um grupo. A sedução na área da saúde em relação a um cargo pode funcionar igual para ambos os sexos. Conheço, assim como você deve, várias “Giocondas” e elas jamais deixarão de existir, independente da categoria. Uma coisa é certa, quanto mais jovens e sem pensamento crítico, ou melhor dizendo “auto-crítico”, tivermos, mais facilmente moldáveis seremos.

FIQUE DESCALÇA E ESCUTE-SE!

Quanto mais “claro” for nosso pensamento e julgamento sobre o que queremos, quando e onde, menos suscetíveis ficamos a certos “controles” externos. Isso não quer dizer que você não vá concordar com alguém mais experiente em idade e cargo que você, claro que não! Só quer dizer que o balanço entre concordar e expor sua opinião terá que ser sempre executado com maestria. Ouça o seu coração, seja firme, porém educada. Não comprometa sua essência para suprir sua necessidade de validação.