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Carlos Drummond de andrade

No Restaurante ilustraçþes de Renata Gibson


UFMG Escola de Belas Artes Artes Gráficas C Professor: Vlad Eugen Poenaru

Renata Gibson Comunicação Social 3° período Junho 2007



Aquele anteprojeto de mulher - quatro anos, no m叩ximo, desabrochando na ultraminissaia entrou decidido no restaurante. N達o precisava de menu, n達o precisava de mesa, n達o precisava de nada. Sabia perfeitamente o que queria. Queria lasanha. 7


O pai, que mal acabara de estacionar o carro em uma vaga de milagre, apareceu para dirigir a operação-jantar, que é, ou era, da competência dos senhores pais. - Meu bem, venha cá. - Quero lasanha. - Escute aqui, querida. Primeiro, escolhe-se a mesa. - Não, já escolhi. Lasanha. 8


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Que parada - lia-se na cara do pai. Relutante, a garotinha condescendeu em sentar-se primeiro, e depois encomendar o prato:

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- Vou querer lasanha. - Filhinha, por que n達o pedimos camar達o? Voc棚 gosta tanto de camar達o. 9

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- Gosto, mas quero lasanha. - Eu sei, eu sei que você gosta de camarão. A gente pede uma fritada bem bacana de camarão. Tá? - Quero lasanha, papai. Não quero camarão. ha

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- Vamos fazer uma coisa. Depois do camarão a gente traça uma lasanha. Que tal? - Você come camarão e eu como lasanha.

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O garçom aproximou-se, e ela foi logo instruindo: - Quero lasanha. O pai corrigiu: - Traga uma fritada de camarão pra dois. Caprichada. A coisinha amuou. Então não podia querer? Queriam querer em nome dela? Por que é proibido comer lasanha? Essas interrogações também se liam no seu rosto, pois os lábios mantinham reserva. Quando o garçom voltou com os pratos e o serviço, ela atacou: 11


? a h n a s a l m e - Moรงo, t

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- Perfeitamente, senhorita. O pai, no contra-ataque: - O senhor providenciou a fritada? - JĂĄ sim, doutor.

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- De camarĂľes bem grandes? - Daqueles legais, doutor. 13

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- Bem, então me vê um chinite, e pra ela... o que é que você quer, meu anjo?

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- Uma lasanha. - Traz um suco de laranja pra ela.

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Com o chopinho e o suco de laranja, veio a famosa fritada de camarão, que, para surpresa do restaurante inteiro, interessado no desenrolar dos acono rã a tecimentos, não foi cam recusada pela ma r ã ca senhorita.

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Ao contrário, papou-a, e bem. A silenciosa manducação o rã atestava, ainda uma vez, no mundo, a vitória do o ã ar mais forte. cam

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- Estava uma coisa, hem? comentou o pai, com um sorriso bem alimentado. - Sábado que vem, a gente repete... combinado? - Agora a lasanha, não é, papai? - Eu estou satisfeito. Uns camarões tão geniais! Mas você vai comer mesmo?

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- Eu e vocĂŞ, tĂĄ? - Meu amor, eu...

- Tem de me acompanhar, ouviu?

Pede a lasanha.

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O pai baixou a cabeça, chamou o garçom, pediu.

Aí, um casal, na mesa vizinha, bateu palmas. O resto da sala acompanhou. O pai não sabia onde se meter. A garotinha, impassível. Se, na conjuntura, o poder jovem cambaleia, vem aí, com força total, o poder ultrajovem. 19


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