MARIO BOTTA
A Maestria do Gênio da Arquitetura Mundial
Capela Garnet, Áustria (2011-2013) | Foto: Mario Krupik
QUINTESSÊNCIA PROFUNDA
Nos atos da luminescência poética, um nexus cósmico toca a alma. Nesta edição, a altivez épica do mestre Mario Botta, expoente da arquitetura do século 20, fulgura. Seu ato de construir toca a sublimidade. Botta se faz poeta, percorre o sagrado e o profano, o humano e o divino. Com a mesma radiância, Humberto Campana desvela a sintonia espiritual com seu irmão Fernando, honrando sua onipresença na estreia do Parque Campana - epopeia à conexão inextinguível que ressurge na cena artística. A exposição Calder + Miró, no Instituto Tomie Ohtake, revela o encontro simbióti-
co de dois titãs da arte moderna, cujas obras dialogam na envergadura de seu vínculo. A mesma continuidade pulsante aflora na Cozinha Armorial do chef Onildo Rocha, à frente dos restaurantes Abaru e Notiê no espaço Priceless. A quintessência da riqueza cultural brasileira captura a interconexão e a evolução cultural. Haja fôlego para absorver tantas revelações que convocam à alma. Boa leitura!
Débora Mateus, Editora e diretora de conteúdo
Expediente
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Comercialização: Saltori Mídia Estratégica, saltori@saltori.com.br | (41) 99996-9995 | R SALTORI REPRESENTAÇÕES COMERCIAIS LTDA | 05.552.266/0001-60
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Contato: arevistahabitat@gmail.com | Créditos: Alberto Giuliani (Mario Botta no atelier do artista Giuliano Vangi, Pesaro, Itália)
Impressão: Maxi Gráfica e Editora LTDA. | maxigrafica@maxigrafica.com.br | Marca registrada: Capelatto Marcas e Patentes
12 CAPA.
Número 21 | Agosto & Setembro
Em entrevista exclusiva com a Habitat na Suíça, Mario Botta, um dos maiores arquitetos do século 20, revela a grandeza de suas obras e como a arquitetura deve ser uma arte poética e transcendental
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DESIGN REVELADOR.
A história de Luccas Recchia, o designer que conquistou as maiores galerias do mundo e cria mobiliários para marcas de luxo como Dior, Luis Vuitton e YSL
40 ARTE E REVOLUÇÃO DIGITAL.
A nova era dos leilões virtuais, o mercado bilionário e a trajetória secular da Christie’s, sob a perspectiva de Marina Bertoldi
44
GASTRONOMIA E CULTURA.
O chef Onildo Rocha, à frente dos restaurantes Abaru e Notiê no Espaço Priceless, fala sobre a genialidade de sua Cozinha Armorial, que homenageia a profundidade cultural do Brasil
50
CASACOR PARANÁ.
Destaques e histórias sobre a edição comemorativa de 30 anos da mostra paranaense
56 DESIGN BRASILEIRO.
Em primeira mão, direto de Treviso, Flávio Borsato, sócio de Mauricio Lamosa no estudiobola, detalha o novo showroom em parceria com a Inove Design e a nova era do design brasileiro
68
CALDER+MIRÓ.
Uma das exposições mais celebradas do semestre, no Instituto Tomie Ohtake, exalta a amizade entre Calder e Miró e o diálogo entre suas obras
74
PARQUE CAMPANA.
Humberto Campana fala sobre a estreia do Parque Campana, ode à sua conexão espiritual com o irmão Fernando e ao compromisso socioambiental
82 IMERSÃO EM BUENOS AIRES.
Descobertas histórico-culturais da viagem à terra da prata promovida pelo Núcleo Paranaense de Decoração
98
NOTAS DE MERCADO.
Giro pelas principais notícias nacionais e globais
102 CURITIBA JAZZ SESSIONS.
A jornada do contrabaixista e compositor Gui Duvignau, grande destaque do jazz contemporâneo
106 COLUNA SOBRE MORAR.
O novo lar de Ary Jacobs e Renan Mutao
114 COLUNA É DESIGN.
A complexidade do design aeronáutico com Raphael Affonso, Senior Designer na Embraer
116
COLUNA CONEXÃO.
Cobertura social dos eventos em Curitiba
126
PONTO DE VISTA.
A história da casa do artista italiano Fulvio Pennacchi, um pedaço da Toscana em São Paulo
MARIO BOTTA: POETA DA ARQUITETURA E GÊNESE CÓSMICA
Em entrevista à Habitat em seu estúdio na Suíça, o gênio da arquitetura revela como seu legado emociona o mundo ao interpretar a natureza humana através de suas construções monumentais
Por Débora Mateus
Um dos maiores visionários arquitetos do século 20, Mario Botta transforma o ato de construir em uma manifestação suprema da arte, que transcende a função utilitária ao elevar luz, espaço e gravidade à dimensão entre o sagrado e o profano, o humano e o divino. Suas obras, reverenciadas nos quatro cantos do mundo, incluem museus, igrejas, teatros e outras instituições culturais que se tornaram marcos do patrimônio histórico mundial, além de casas, escolas, bancos, edifícios administrativos e
“
A arquitetura é sagrada ao transformar a condição natural em cultural. Como espaço construído pelo homem, deve refletir e questionar seus valores
”
bibliotecas. No design de móveis, colaborou para marcas como Alias, Artemide, Pierre Junod, Riva 1920 e Lalique. Entre os projetos icônicos estão o Museu de Arte Contemporânea Watari (Watari-Um), Japão; o Museu de Arte Moderna de São Francisco (SFMOMA), Estados Unidos; a Catedral de Évry, França; a Torre Kyobo, Coreia do Sul; a renovação do Teatro alla Scala, Milão; a Capela Garnet, Áustria; e o restaurante Fiore di Pietra, além da Casa Rotonda, ambos na Suíça.
Biblioteca de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Tsinghua, China (2008-2011): um dos dois edifícios icônicos criados para instituição, harmoniza entorno e interações espaciais | Foto: Fu Xing
São construções que interpretam a natureza humana, testemunham o espírito da coletividade. Memória, mistério e emoção resultam em um legado monumental. Formas geométricas puras e materiais não são apenas elementos estruturais, mas símbolos de uma dimensão expressiva e espiritual. Pupilo de Le Corbusier, Louis Kahn e Carlo Scarpa, Mario Botta absorveu as lições desses luminares durante sua formação. Em entrevista exclusiva aos 81 anos, ele me recebeu em seu estúdio em Mendrisio - cidade natal na Suíça, que reflete a síntese de seus feitos sublimes.
Durante a formação acadêmica em Veneza, para onde mudou em 1969, teve o privilégio de aprender e trabalhar com os três maestros. "Se tivesse que sintetizar suas influências, seria: Scarpa valorizava os materiais humildes, conferindo-lhes força estrutural e esculpindo a beleza da estrutura. Le Corbusier decodificava sua própria vida sob o conceito de “L'Existence Minimum”, enfren-
tando desafios sociais pós-guerra e buscando responder às necessidades da sociedade. Kahn via a memória como essencial na arquitetura, ensinando que o passado é um aliado crucial, sendo oposto à comercialização".
Embebido desses fundamentos, Botta conecta formas puras à memória coletiva, honra tradição arquitetônica, interpretando-a com sensibilidade e ética contemporâneas. Criador da gênese, constrói novos lugares que respeitam e se enraízam no contexto, refletindo a memória dos materiais, a origem de sua monumentalidade e o impacto visual que captura nosso olhar. Surge então uma nova paisagem, plano de contemplação e reflexão. Entre suas construções que exemplificam serendipidade estão a Sinagoga Cymbalista e Jewish Heritage Center, Tel Aviv, e a Igreja de San Giovanni Battista, Mogno, onde simetria e monumentalidade são usados para transformar o espaço em portais para experiências transcendentes.
GUARDIÃO DAS ARTES
Com a alma sensível, ele ascende à envergadura artística, torna-se também filósofo e guardião das artes. Desde a adolescência é fascinado por nomes do movimento De Stijl, como Mondrian, e o designer holandês Gerrit Rietveld, além do surrealismo visceral de Picasso. A paixão pela arte está ancorada em sua veia. Ao decifrar o mundo, o mestre suíço evoca sentimentos profundos nas pessoas que têm a graça de contemplar suas edificações. Arte e arquitetura, do passado ao presente, representam a história humana - um diálogo contínuo entre diferentes formas de expressão histórica que buscam captar as aspirações de sua era.
“A arte da arquitetura, que foi um métier de poetas,
evoluiu em resposta às necessidades da coletividade. Hoje, enfrentamos o desafio de adaptar e reduzir nossa prática para refletir a vida contemporânea. A realidade amarga que leva ao uso de prédios como meros instrumentos de negócio, alimenta o consumo induzido pela globalização. Os arquitetos da nova geração enfrentam restrições operacionais que não deixam espaço para a criatividade, num contexto incapaz de reagir à padronização de valores. É preciso encontrar novas formas de pensar e agir, partindo novamente dos princípios básicos do ofício. Devemos recordar as forças históricas que valorizaram nosso trabalho como uma ação transformadora da condição natural em cultural”.
Botta constrói para nos colocar à vontade, na firme convicção de que as obras carregam em si uma marca de sagrado que revigora e acalma. Algo que se observa não apenas nas instituições religiosas, mas nos inúmeros espaços premiados que edificou ao longo de seis décadas. Compartilha do princípio de Charles Baudelaire, um de seus poetas favoritos, ao contemplar o eterno e o efêmero. Duas facetas necessárias inseridas na vida urbana que fazem com que o espaço construído resista à desordem mental e espiritual que nos assedia constantemente e que, por sua vez, arrisca ao esquecimento.
Spa Baths Fortyseven, Suíça (2009-2021) celebra o contexto histórico das águas termais conhecidas desde os tempos romanos, fluindo ao longo do rio Limmat | Foto: Enrico Cano
SILÊNCIO MEMORIAL
Nascido em Ticino, região fronteiriça entre o sul da Suíça e a Itália, cresceu imerso na interseção de duas culturas distintas, o que moldou sua profunda ligação com a natureza e a rica herança crítica do Renascimento italiano, fusão entre conservadorismo e vanguarda que permeia sua perspectiva global. Em 1969 mudou-se para Veneza, onde estudou arquitetura sob a orientação de Carlo Scarpa e Giuseppe Mazzariol. À época, teve o privilégio de trabalhar como aprendiz de Le Corbusier no Hospital de Veneza e como colaborador de Louis Kahn no Palazzo dei Congressi. Essas experiências não apenas enriqueceram sua compreensão técnica, mas também moldaram sua visão filosófica e artística do design arquitetônico.
Ao explorar o território da memória, as obras de Mario Botta narram lutas, triunfos e paixões preservadas nas camadas históricas das cidades. Promovem o entendimento da identidade cultural e pessoal. Assim, insufla a ideia de que criatividade e tradição se complementam, ancorando espaços no genius loci em harmonia com o ambiente. O Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Trento e Rovereto (MART) exemplifica essa integração, revitalizando o espaço urbano com uma praça central que enaltece a geometria racional do edifício e a paisagem circundante. Isso demonstra como ele incorpora a visão de que a arquitetura é parte ativa do ambiente e da vida diária, integrando-se aos contextos geográficos e culturais locais.
"Há algo de sagrado no ato de construir um espaço que conecta a vida no ritmo das estações - a luz diária, os ciclos naturais e nosso interior. Não se trata apenas de um serviço ou função, mas de um presente à humanidade”. Suas criações religiosas exploram significados profundos e adaptam-se às demandas de uma sociedade secularizada. O conceito de sacralidade transcende fórmulas ideológicas, é um anseio genuíno. Cada edifício possui sua própria narrativa, moldada por circunstâncias específicas e adaptada às exigências complexas da era contemporânea. “A arquitetura é uma atividade que
valoriza o silêncio, onde as respostas são encontradas sem o tumulto do barulho constante. Como a arte, para desbravar Guernica, de Picasso, é necessária uma pausa da cacofonia”. Seu desejo de construir um monastério, uma das poucas edificações que ainda não realizou, reflete a importância de espaços comunitários simples e eficazes, onde cada elemento, das orações às refeições, prioriza a qualidade sobre a quantidade. “Um monastério é belo se for o melhor possível, sem supérfluos, apenas o essencial".
TEIA DE SABERES
Seu fluir criativo teve impacto desde cedo, pela presença feminina marcante de sua mãe, tias e avó que o instigavam a florescer o talento para o desenho, como Gaetano Pesce. Pequeno, ele passava horas com seus esboços. “Sinto uma conexão profunda com o papel das mulheres em nossas vidas. Lamento a partida de Pesce, mas imagino que agora ele tenha alcançado paz plena. Teria sido enriquecedor discutir com ele sobre como as mulheres detêm uma força geradora única, diferente da nossa como homens, valorizando o espírito e a memória que nos conduzem à felicidade. A arquitetura, um território da memória, é profundamente enriquecida por essas perspectivas".
Botta destaca mulheres importantes para o cenário global como Lina Bo Bardi, cuja abordagem plástica de gravidade e resistência, priorizava a pluralidade de materiais vernaculares. Sua paixão pela profusão cultural brasileira, deixou uma marca duradoura na arquitetura. O maestro recorda seu encontro no Rio de Janeiro com Oscar Niemeyer, Jorge Machado Moreira e Burle Marx,
verdadeiros profetas, segundo ele, cuja sabedoria arquitetônica amadureceu ao longo dos anos. “Quando vim ao Brasil, há muito tempo uma coisa que ficou na minha cabeça são as grandes salas de ginásio do Clube Atlético Paulistano [de Paulo Mendes da Rocha]. Ele conta sobre o encontro emblemático no Rio de Janeiro, quando ficou por um dia devido à emergência técnica do voo que o levaria de volta à Europa. “Fui com um amigo visitar a casa de Burle Marx, onde, por coincidência, encontrei também Oscar Niemeyer e Jorge Machado Moreira e Burle Marx. Fiquei impressionado com a sabedoria e a criatividade deles. Niemeyer, apesar da idade ainda desenhava com a leveza de uma criança”. Na era contemporânea, ele lamenta o distanciamento dos ideais que inspiraram nomes consagrados e compara Oscar Niemeyer aos geniais Corbusier e Alvar Aalto. Mestres que souberam interpretar as necessidades de seu tempo, criando edifícios que transcendem sua função prática para se tornarem ícones de comunidade e humanidade.
ECOS DIVINOS
A boa arquitetura não é apenas técnica, ela deve dar vida e significado aos materiais utilizados, lembrando que são apenas instrumentos e não o objetivo final. “Atualmente, com a necessidade urgente de abordagens sustentáveis, há uma crescente experimentação com biomateriais que podem revolucionar o futuro. A essência está na síntese. Espero que os arquitetos do futuro sejam como poetas, dando uma expressão poderosa aos materiais mais simples e humildes. Busco minha inspiração nos artesãos primitivos, encontro inspiração em sua capacidade de dar vida e expressão à matéria de maneira autêntica e primitiva. Precisamos desacelerar e aprofundar nosso entendimento desses elementos para alcançar resultados verdadeiramente significativos”. Dedicado a finalizar seus projetos de vida, incluindo as igrejas San Rocco em Sambuceto, Itália, e Our Lady of the Rosary em Namyang, Coreia do Sul. Esta última é uma obra monumental entre dois vales, resulta da perseverança de um padre que conseguiu financiar a cons-
trução, atraindo uma comunidade fiel. A outra, menor e mais intensiva, incorpora luz natural e uma parede vibrante em cores. “Sempre fui um arquiteto em preto e branco, mas em uma destas obras tive o desejo de fazer uma parede com arte em cor. É a primeira igreja que fiz (San Rocco) com um vitral em forma de cruz. No interior, é tudo concreto, mas enfrentei o desafio de pintar a parede de fundo com faixas horizontais regulares que mudam de branco para azul e, finalmente, para preto à medida que sobem, desenhando assim um céu estrelado reminiscente de Giotto na Capela Scrovegni”.
Ao concluir minha entrevista, saio com o coração emocionado. Há momentos que sacralizam o privilégio da existência. Conversar com Mario Botta foi um deles. A amplitude e o amor refletidos em sua contribuição para o mundo ecoam a vastidão do cosmos. Sua profundidade de alma, dedicação apaixonada à poesia da arquitetura, espelha a divindade em consonância com o essencial. São poucos os que conseguem resplandecer tanto em uma vida.
MARIO BOTTA: POET OF ARCHITECTURE AND COSMIC GENESIS
In an exclusive interview with Habitat at his studio in Switzerland, the architectural genius reveals how his legacy moves the world by interpreting human nature through his monumental constructions
By Débora Mateus
One of the greatest visionary architects of the 20th century, Mario Botta transforms the act of construction into a supreme manifestation of art that transcends utilitarian function by elevating light, space, and gravity to a dimension between the sacred and the profane, the human and the divine. His revered works span the globe, including museums, churches, theaters, and other cultural institutions that have become landmarks of world heritage, as well as homes, schools, banks, administra-
As spaces built by humans, they should reflect and question our values “ ”
Architecture is sacred in transforming natural conditions into cultural.
tive buildings, and libraries. In furniture design, he has collaborated with brands such as Alias, Artemide, Pierre Junod, Riva 1920, and Lalique. Among his iconic projects are the Watari-Um Museum of Contemporary Art, Japan; the San Francisco Museum of Modern Art (SFMOMA), United States; the Cathedral of Évry, France; the Kyobo Tower, South Korea; the renovation of Teatro alla Scala, Milan; the Garnet Chapel in Austria; and the Fiore di Pietra restaurant, alongside the Rotonda House, both in Switzerland.
These constructions interpret human nature, witnessing the spirit of collectivity. Memory, mystery, and emotion result in a monumental legacy. Pure geometric forms and materials are not merely structural elements but symbols of an expressive and spiritual dimension. Pupil of Le Corbusier, Louis Kahn, and Carlo Scarpa, Mario Botta absorbed the lessons of these luminaries during his education. In an exclusive interview at 81, he welcomed me to his studio in Mendrisio - his hometown in Switzerland, reflecting the synthesis of his sublime achievements. During his academic formation in Venice, where he moved in 1969, he had the privilege of learning and working with the three masters. "If I were to synthesize their influences, it would be: Scarpa valued humble materials, giving them structural strength and sculpting the beauty of the structure. Le Corbusier decoded his own life under the concept of “L'Existence Minimum”, fa-
cing post-war social challenges and seeking to respond to society's needs. Kahn saw memory as essential in architecture, teaching that the past is a crucial ally, opposed to commercialization”.
Steeped in these foundations, Botta connects pure forms to collective memory, honors architectural tradition, interpreting it with contemporary sensitivity and ethics. Creator of genesis, he builds new places that respect and root in context, reflecting the memory of materials, the origin of their monumentality, and the visual impact that captures our gaze. Thus arises a new landscape, a plan of contemplation and reflection. Among his constructions that exemplify serendipity are the Cymbalista Synagogue and Jewish Heritage Center, Tel Aviv, and the Church of San Giovanni Battista, Mogno, where symmetry and monumentality are used to transform space into portals for transcendent experiences.
GUARDIAN OF THE ARTS
With a sensitive soul, he ascends to artistic magnitude, also becoming a philosopher and guardian of the arts. Since adolescence, he has been fascinated by figures from the De Stijl movement, such as Mondrian, and Dutch designer Gerrit Rietveld, as well as the visceral surrealism of Picasso. His passion for art is deeply rooted in his veins. In deciphering the world, the Swiss maestro evokes deep emotions in people who have the grace to contemplate his constructions. Art and architecture, from past to present, represent human history - a continuous dialogue between different forms of historical expression endeavoring to capture the aspirations of their era. "The art of architecture, which was a métier of poets, has
evolved in response to the needs of the collective. Today, we face the challenge of adapting and reducing our practice to reflect contemporary life. The harsh reality that leads to the use of buildings as mere business instruments feeds induced consumption through globalization. The architects of the new generation face operational constraints that leave no space for creativity, in a context unable to react to the standardization of values. We must find new ways of thinking and acting, starting again from the basic principles. It’s crucial to remember the historical forces that valued our work as a transformative action from natural to cultural condition”.
Botta builds to put us at ease, firmly convinced that his works carry a sacred mark that refreshes and soothes. This is evident not only in religious institutions but also in the numerous award-winning spaces he has built over six decades. The maestro shares the principle of Charles Baudelaire, one of his favorite poets, in contemplating the eternal and the ephemeral. Two necessary facets inserted into urban life that make the built environment resist the mental and spiritual disorder that constantly assails us and, in turn, risks being forgotten.
MEMORIAL SILENCE
Born in Ticino, a border region between southern Switzerland and Italy, he grew up immersed in the intersection of two distinct cultures, which shaped his deep connection with nature and the rich critical heritage of the Italian Renaissance, a fusion of conservatism and avant-garde that permeates his global perspective. In 1969, he moved to Venice, where he studied architecture under the guidance of Carlo Scarpa and Giuseppe Mazzariol. During this time, Botta had the privilege of working as an apprentice under Le Corbusier at the Venice Hospital and as a collaborator with Louis Kahn at the Palazzo dei Congressi. These experiences not only enriched his technical understanding but also shaped his philosophical and artistic vision of architectural design.
By exploring the territory of memory, Mario Botta's works narrate struggles, triumphs, and passions preserved in the historical layers of cities. They promote an understanding of cultural and personal identity. Thus, he inflates the idea that creativity and tradition complement each other, anchoring spaces in the genius loci in harmony with the environment. The Museum of Modern and Contemporary Art of Trento and Rovereto (MART) exemplifies this integration, revitalizing urban space with a central square that enhances the rational geometry of the building and the surrounding landscape. This demonstrates how his vision is incorporated that architecture is an active part of the environment and daily life, integrating into local geographic and cultural contexts.
"There is something sacred in the act of building a space that connects life to the rhythm of the seasonsdaily light, natural cycles, and our interior. It's not just a service or function but a gift to humanity". His religious creations explore deep meanings and adapt to the demands of a secularized society. The concept of sacredness transcends ideological formulas; it is a genuine longing. Each building has its own narrative, shaped by specific circumstances and adapted to the complex de-
mands of the contemporary era. "Architecture is an activity that values silence, where answers are found without the tumult of constant noise. Like art, to decipher Picasso's Guernica, a pause from cacophony is necessary." His desire to build a monastery, one of the few buildings he has yet to realize, reflects the importance of simple and effective community spaces, where every element, from prayers to meals, prioritizes quality over quantity.
KNOWLEDGE TAPESTRY
His creative flow was influenced from an early age by the strong female presence of his mother, aunts, and grandmother, who encouraged him to develop his talent for drawing, much like Gaetano Pesce. As a child, Botta spent hours drawing. “I feel a deep connection with the role of women in our lives. I mourn the loss of Pesce, but I envision he has now found complete peace. It would have been enriching to discuss with him how women possess a unique generative force, different from ours as men, valuing the spirit and memory that lead us to happiness. Architecture, a realm of memory, is deeply enriched by these perspectives”.
The master highlights important women on the global stage, such as Lina Bo Bardi, whose plastic approach to gravity and resistance prioritized the plurality of vernacular materials. Her passion for Brazil's cultural profusion left a lasting impact on architecture. The Swiss maestro reminisces his encounter in Rio de Janeiro with Oscar Niemeyer, Jorge Machado Moreira, and Burle Marx,
whom he considers true prophets, whose architectural wisdom matured over the years. “When I came to Brazil a long time ago, one thing that stayed in my mind was the large gymnasium halls of the Clube Atlético Paulistano [by Paulo Mendes da Rocha]”. The iconic meeting in Rio de Janeiro occurred when he stayed for a day due to a technical emergency of the flight that would take him back to Europe. “I went with a friend to visit Burle Marx's house, where, by coincidence, I also met Oscar Niemeyer and Jorge Machado Moreira, and was impressed by their wisdom and creativity. Niemeyer, despite his age, still drew with the lightness of a child”. In contemporary times, the distance from the ideals that inspired renowned names and compares is regrettable. Brillant minds such Oscar Niemeyer, Corbusier and Alvar Aalto, are mentioned as masters who knew how to interpret the needs of their time, creating buildings that transcend their practical function to become icons of community and humanity.
DIVINE ECHOS
Good architecture is not merely technical; it should give life and meaning to the materials used, reminding that they are tools and not the ultimate objective. "Currently, with the urgent need for sustainable approaches, there is a growing experimentation with biomaterials that could revolutionize the future. The essence lies in synthesis. I hope that future architects will be like poets, giving powerful expression to the simplest and humblest materials. I find my inspiration in primitive craftsmen, finding inspiration in their ability to give life and expression to matter in an authentic and primitive way. We need to slow down and deepen our understanding of these elements to achieve truly meaningful results".
Dedicated to completing his life projects, including the San Rocco Church in Sambuceto, Italy, and Our Lady of the Rosary in Namyang, South Korea. The latter is a monumental work between two valleys, a result of the perseverance of a priest who managed to fund the cons-
truction, attracting a faithful community. The former, smaller and more intensive, incorporates natural light and a vibrant, colorful wall.
"I have always been a black-and-white architect, but in one of these works, I had the desire to create a wall with colored art. It is the first church I have made (San Rocco) with a cross-shaped skylight. Inside, it is all concrete, but I faced the challenge of painting the back wall with horizontal regular bands changing from white to blue and, finally, to black as they rise upwards, thus drawing a starry sky reminiscent of Giotto's in the Scrovegni Chapel".
As I conclude my interview, I leave with an emotional heart. There are moments that sanctify the privilege of existence. Interviewing Mario Botta was one of them. The breadth and love reflected in his contribution to the world resonate with the vastness of the cosmos. His depth of soul, passionate dedication to the poetry of architecture, mirrors divinity in harmony with the essential. Few can emanate.
LUCAS RECCHIA BRILHA EM IMPORTANTES GALERIAS NO MUNDO
O designer revela como em apenas 5 anos integrou a curadoria de Rossana Orlandi
Por Débora Mateus | Fotos: Ana Paula Pigosso
Jovem prodígio, o designer catarinense Lucas Recchia, 32 anos, integra o hall dos talentos que, com seu olhar disruptivo, conquistaram uma carreira meteórica. Sua história é marcada pela força artesanal, experimentação de materiais, técnicas primorosas e inovadoras. Formado em administração e arquitetura, com experiências acadêmicas em direito, design gráfico e publicidade, ele fundou o Studio CAS em 2018. Ganhou reconhecimento com a presença em galerias renomadas nacional e internacionalmente como Firma Casa, Casual Conceito e Rossana Orlandi. Suas peças estão presentes em 10 lojas fora de São Paulo e 2 na capital, além de países como Itália, Alemanha, França, Estados Unidos, Austrália, Índia e Dubai. Além disso, o designer colabora com marcas globais como Off-White, Dior, Louis Vuitton e YSL.
Em conversa com a Habitat, Recchia revela que, ainda na faculdade, produziu a mesa em vidro fundido, Morfa N.1. Selecionada para integrar o espaço de Marcelo Sallum na CASACOR SP no final de 2018, a peça atraiu a atenção de Sonia Diniz, da Firma Casa. Era o pontapé que precisava para decolar. "Ela foi como uma fada madrinha. Decidiu comprar uma coleção inteira logo após nosso encontro por acaso na mostra. Em maio de 2019 lancei
minha primeira exposição solo na Firma Casa, com uma cenografia impactante. Usamos 3 toneladas de areia para remeter a dunas. No início da pandemia, as peças de vidro não vendiam bem, mas depois começaram a ganhar aceitação. As primeiras foram adquiridas por um amigo e pelo antigo escritório Triptyque. Tive o privilégio de contar com o impulso significativo de Sig Bergamin no mercado nacional e Rossana Orlandi, que abriu portas internacionais ao incluir minhas criações em sua galeria em Milão”.
Com uma boa dose de ousadia, as peças escultóricas de Recchia desafiam convenções tradicionais. Ao evitar o uso de madeira, saturado no mercado ao seu ver, ele optou por explorar novos materiais. Combinando savoirfaire artesanal e tecnologia, os móveis são produzidos no Brasil com técnicas depuradas, utilizando materiais como vidro, bronze, alumínio, granitos brasileiros e quartzitos exóticos. "Queria mostrar um lado do nosso país que combina maestria artesanal e tecnologia. Destacar a riqueza das pedras exóticas brasileiras, materiais que são subestimados localmente, já que a maioria é exportada. Nosso país possui expertise no uso de bronze e alumínio, e eu incorporo técnicas refinadas para criar os mobiliários".
Peça criada para a mostra Distorção Material, em parceria com a Kura
INVESTIGAÇÃO CONTÍNUA
O ateliê situado na Galeria Metrópole, São Paulo, conta com o talento de artesãos locais. Durante um exercício acadêmico, sem recursos para investir em moldes, ele viu no vidro uma solução e foi aprender técnicas europeias com um casal que trabalhava com material fundido no litoral paulista. "Com o vidro existem desafios que exigem soluções criativas. Na coleção Morfa, por exemplo, criei bordas arredondadas ao derreter o material de forma livre no forno, evitando o uso de moldes. Mais tarde, passei a usar moldes para as peças em bronze, cuja rigidez permite criar formas complexas".
Viagens constantes são fontes de inspiração, como a recente visita ao Japão, refletindo estética minimalista e precisão. Influenciado pela cultura japonesa, ele lançou uma mesa de jantar em grandes dimensões na SP-Arte 2024. Este ano, também inovou com outras peças, incluindo mesas em resina, material inédito em sua prática de experimentação. “Antes dessa viagem eu focava em mercados que considerava mais atrativos como o francês, que tem uma forte relação com pátina e bronze. Encontrei uma abordagem diferente no Japão, com pouco uso de bronze, muita pedra, linhas mais retas e técnicas simples, o que representou uma mudança de pensamento”.
O banco Cuba faz parte de suas criações mais recentes
O trabalho com marcas de moda como Off-White, Dior, Louis Vuitton e YSL permitiu alçar liberdade financeira e explorar inovações sem restrições de mercado, como a coleção Distorção Material, lançada em parceria com a Kura no ano passado. “É a linha mais complexa da minha carreira. Criei argolas de bronze ou alumínio e vidro inserido. O desenvolvimento foi possível graças ao aporte financeiro das marcas de moda internacionais com as quais trabalho. Lançada sem saber quem seria o cliente final, ela tem uma estética mais aceita na Europa do que no Brasil”.
Desde pequeno a ligação com a arte e o design foi incentivada por sua mãe na capital catarinense, onde não havia muita exposição à arquitetura e design. “Essa liberdade na infância me deu coragem para criar minhas primeiras peças de mobiliário. Minha mãe financiou essas primeiras criações, o que me ajudou a não ter medo de arriscar. A Sonia também desempenhou um papel importante nesse processo. Pensamento esse com o qual continuei a trilhar meu próprio caminho”.
MERCADO BILIONÁRIO
À frente da direção da Christie´s no Brasil, a curitibana Marina Bertoldi reflete sobre a revolução digital do mercado de arte
Por Débora Mateus
Os números falam por si só. O setor de arte está passando por uma revolução digital, impulsionada pela crescente popularidade das vendas online.
Segundo o relatório da Art Basel e UBS Art Market 2024, as transações digitais atingiram cerca de $11,8 bilhões em 2023, representando 18% das vendas totais que ultrapassaram $65 bilhões. Isso indica uma mudança estrutural e uma crescente confiança dos colecionadores em adquirir obras sem a necessidade de contato presencial. O segmento de NFTs também teve um impacto significativo, com vendas alcançando $1,2 bilhão, adaptando-se às novas tecnologias e às preferências dos colecionadores de alto patrimônio líquido.
Com uma história que remonta a mais de dois séculos, a Christie´s é reconhecida mundialmente pelo prestígio em leilões presenciais e online, além de suas vendas privadas personalizadas. Em 2022 realizou a venda Visionary: The Paul G. Allen Collection, que se tornou o leilão mais valioso
da história ao arrecadar $1,62 bilhão para filantropia. O evento presencial incluiu a coleção de 155 obras-primas em 500 anos de história da arte. Totalmente vendida em dois dias, com participação de licitantes de 32 países e quebra de 27 recordes de artistas.
Mesmo assim, em 2023, as transações online da Christie's cresceram 2%, atingindo U$ 369 milhões - 7% do total das vendas em leilões públicos de $6,2 bilhões. No Brasil, a empresa é comandada por Marina Bertoldi desde 2018, após o fechamento dos escritórios de São Paulo e Rio de Janeiro. Dividindo seu tempo entre Nova Iorque e o território nacional, a diretora brasileira revela à Habitat que os leilões online desempenharam um papel crucial durante a pandemia. "Vimos que 66% das pessoas que se envolvem com a Christie's pela primeira vez o fazem através de leilões online. Isso não só democratiza a arte, mas também cria um ponto de entrada para colecionadores mais jovens, iniciando suas jornadas de coleção”.
HORIZONTES FUTUROS
Sempre atenta às macrotendências do mercado, a Christie's foi pioneira nos leilões online desde 2006 e continuou inovando com o lançamento da Christie’s Ventures em 2022, focada em startups de tecnologia emergente, e da Christie’s 3.0, uma plataforma on-chain para vendas seletivas de NFTs. Marina Bertoldi, com sua formação em economia e expertise estratégica, fundou seu próprio Art Advisory em 2013 e representou a plataforma digital Collectrium, adquirida pela famosa casa de leilões em 2015. Desde então, ela aplica conceitos econômicos como escassez, precificação e fluxos financeiros para atender às demandas específicas dos colecionadores brasileiros. "Sou formada em economia pelo Insper e continuo a aplicar estes princípios até hoje. Em qualquer área lidamos com escassez, precificação, comissionamento e fluxos financeiros. Os serviços estão cada vez mais ligados não apenas à venda, mas, também, a empréstimos com obras como garantia e outros instrumentos financeiros que são essenciais. Dos diversos aspectos do mercado de arte, o macroeconômico é o que mais impacta os leilões e vendas privadas”.
Para ela, a democratização da arte e as diferentes visões de cada colecionador têm transformado o mercado. Atualmente, a arte é vista como um investimento financeiro, além de um meio de apreciação estética. “Na Christie's, o formato online tem servido como uma porta de entrada para novos clientes, oferece uma plataforma facilitada para o primeiro contato com o mercado de arte. Na minha visão, a participação digital no Brasil é menor em comparação com outros mercados. Há cerca de 15 anos, nosso país vivia um momento mais promissor como mercado e exportador de cultura, mas a instabilidade econômica afetou esse cenário”. Olhando para o futuro, Marina Bertoldi destaca que importantes instrumentos culturais como a Bienal de São Paulo, as feiras de arte, o circuito de galerias e as casas de leilões têm se fortalecido e profissionalizado nas últimas décadas. “Esperamos que este movimento possa refletir a riqueza cultural e qualidade dos artistas brasileiros. É o momento de revisitar nosso legado e construir uma identidade cultural forte, alinhada com os movimentos contemporâneos globais na arte”.
A CULINÁRIA COMO EXPRESSÃO DA ARTE BRASILEIRA
O chef paraibano Onildo Rocha conta como sua cozinha Armorial faz pulsar as raízes do Brasil na alta gastronomia
Quem conversa com o chef paraibano Onildo Rocha, um dos mais proeminentes da cozinha brasileira, percebe já na sua entonação uma energia criativa contagiante. Sob o conceito de que alta gastronomia pode ser feita com ingredientes simples, ele desbrava novas fronteiras. Sua culinária enriquece os sentidos humanos, celebra tradições e identidades regionais, e cria um elo cultural profundo com as raízes do Brasil. O fundador do Grupo Roccia em João Pessoa, criou o buffet Casa Roccia e o renomado Cozinha Roccia, reconhecido pelo guia italiano Identitá Golose como um dos principais do mundo. Hoje, em sua galeria de conquistas, estão os premiados restaurantes Notiê e Abaru, inaugurados há três anos no Espaço Priceless em São Paulo.
Rocha desafia estereótipos, valorizando ingredientes nacionais de maneira criativa. Idealizador da cozinha Armorial, inspirada no manifesto de Ariano Suassuna, ele transforma os sabores e aromas do Nordeste em descobertas da alta gastronomia. "Ao fundir minhas pesquisas de cozinha com a paixão pelas artes, incluindo a literatura, encontrei minha verdadeira identidade nesse conceito pioneiro, fazendo da cozinha popular uma experiência gastronômica elevada". Sua investigação incessante o levou a procurar Ana Rita Suassuna, autora do livro Cozinha Sertaneja. "Ela é uma mulher incrível e nossas conversas são inspiradoras. Questionei muito por que Ariano não incluiu a gastronomia em suas obras. Fui a primeira pessoa a falar sobre gastronomia Armorial, e estou escrevendo um livro sobre isso", conta com exclusividade à Habitat.
CAMINHOS CRUZADOS
A trajetória precoce foi encorajada pela mãe, Marinete, museóloga e professora de artes. Para canalizar sua personalidade hiperativa, ela estimulou o filho a desenvolver suas raízes artísticas através da música. O violino foi o instrumento escolhido por ele, que estudou por anos com a diretora da escola, até alcançar a posição de Spalla na Orquestra Sinfônica Jovem da Paraíba. “Eu me dedicava e tocava para a minha mentora, com quem tinha uma conexão muito próxima. Quando ela faleceu, decidi parar de tocar”. Aos 14 anos, passou a trabalhar na lanchonete da família. Era o que precisava para se lançar na arte da cozinha. A formação acadêmica chegou cedo, aos 18 anos, quando cursou administração de empresas ao mesmo tempo que estudava publicidade e propaganda. Mas foi na cozinha que encontrou a serenidade e disciplina que buscava, uma experiência próxima à sua relação com a música.
A chance de aprimorar sua nova vocação veio com o primeiro curso de graduação em gastronomia de Rosa Moraes, na Universidade Anhembi-Morumbi, em São
Paulo. Trabalhou com o chef francês Laurent Suaudeau, discípulo de Paul Bocuse - um dos mais estrelados do mundo. "Eu e Laurent nos tornamos amigos. Ele me ensinou técnica e valores éticos. Quando vim a São Paulo, o buffet Casa Roccia já existia, mas a abertura do Cozinha Roccia aconteceu depois da minha experiência com ele”. Era o início de uma nova fase.
“Eu fazia uma cozinha disruptiva, usando ingredientes da região de uma forma muito diferente. Só comecei a ser reconhecido com as matérias publicadas por jornalistas do Rio e São Paulo”. Inicialmente frustrado pela validação chegar apenas com a aprovação externa, Onildo Rocha se lembra de uma palestra de Laurent: “Ele me comoveu. Explicou neste evento público que se considerava um paraíba-francês. Entendeu o significado da palavra 'Paraíba' depois de um tempo, e se surpreendeu ao saber que era usada de forma pejorativa, assim como quando ele era chamado de Breton, algo que sofreu quando foi trabalhar com Bocuse, como se não pudesse ser chef por ter nascido na Bretanha”.
DA PARAÍBA PARA O MUNDO
No topo do Shopping Light, o espaço Priceless, sob o comando de Onildo Rocha, conquistou prêmios gastronômicos em São Paulo com o Notiê, em seu primeiro ano. Em expedições sazonais como a atual “Mares e Matas”, “Sertões à Margem do São Francisco” e “Amazônia”, o chef desvenda a riqueza da cozinha brasileira sem clichês. A diferença do cardápio é que o Notiê oferece menus de gustação disponíveis em quatro, sete ou dez tempos. Em agosto será lançada a nova temporada, com foco para a Chapada da Diamantina. A ambientação do Abaru e Notiê leva a assinatura do estúdio Palauna, de Patricia Sobral, especializado em cenografia, que adapta a cada temática, incluindo obras de arte como a da artista indígena amazonense, Duhigó, descoberta na segunda expedição.
Reconhecido pelo sucesso, Onildo Rocha expande agora o conceito que desenvolveu em São Paulo glo-
balmente a convite da Mastercard. Recentemente foi indicado pelo Guia Michelin e destaca a primeira temporada, “Sertões”, como transformadora. Descobriu sabores como o do saburica, um mini camarão dos alagados apresentado pelas mulheres ribeirinhas, servido com papaya verde. A jornada enriqueceu seu conhecimento e o conectou profundamente com as histórias e sabores autênticos da região. Com planos ambiciosos de expansão internacional, o chefe já introduziu a gastronomia brasileira em eventos na Guatemala, México e Peru, proporcionando experiências que desafiam e encantam os paladares ao redor do mundo. “Quero conquistar o mundo, sou muito animado. Não posso receber uma proposta nova que já quero fazer acontecer”. Assim, faz pulsar a importância das raízes e povo brasileiros numa sinfonia gastronômica de alcance sideral.
CASACOR PARANÁ VOLTA À ESSÊNCIA EM 2024
Conheça alguns dos espaços que celebram a edição comemorativa da mostra, sediada em casarão no Batel
Há 30 anos, a Casa Gomm, ícone do patrimônio histórico-cultural de Curitiba, originalmente situada onde hoje se encontra o Shopping Pátio Batel, sediou a primeira CASACOR Paraná. Em 2024, a mostra retorna às origens, próximo ao seu local inaugural, alinhando-se ao tema "De Presente, O Agora". Dispostos no casarão dos anos 80, os 34 espaços se integram à natureza exuberante do terreno. Convidam a refletir sobre ancestralidade e futuro. A escolha do local, no coração do Batel, torna esta edição especial, segundo André Secchin, CEO, e Livia Pedreira, Presidente do Conselho Curador da CASACOR. "Estou impressionada com os novos talentos, bem como a diversidade de estilos e linguagens", afirma Pedreira. Ela destaca também
as construções arquitetônicas como Casa Refúgio da Griff Arquitetura, Morada Mar do escritório Crippa e Arquitetura, Cottage da Serra de Thiago Zoller e Rebeca Zanuthi, além de Refúgio Deca, por Arquitetare. Comandada por Marina Nessi, a mostra já apresentou 1.300 ambientes assinados por mais de 500 profissionais expositores, atraindo mais de meio milhão de visitantes em 3 décadas. Introduz, de forma contínua, novas concepções ao setor da arquitetura e design de interiores, além de ser um catalisador para a economia criativa local. “Ao longo dos anos, a CASACOR Paraná consagrou Jayme Bernardo, Marcos Bertoldi, Eduardo Mourão, Elaine Zanon, Claudia Machado, Mauricio Pinheiro Lima e Felipe Guerra. Arquitetos como Alessandra Gandolfi, Wolfgang Schlögel,
Mariana Paula Souza, Samara Barbosa, Viviane Loyola, Carla Grüdtner, Flávia Bonet, Renata Pisani, Marcelo Lopes, Carolina Rousseau, Maria Alice Crippa, Gustavo Assis, Roberta Lanza, Juliana Marques e Luiz Maganhoto fizeram carreira. Além de novos talentos revelados como Ary Jacobs, Renan Mutao e Gustavo Scaramella”.
Com tanto tempo de trajetória, a empresária afirma que além de promover a cultura do morar, o circuito inspira tendências que permeiam não apenas residências, mas também espaços corporativos e comerciais. Relem-
TECER HISTÓRIAS
A relevância da neurodivergência e inclusão é destacada no Quarto do Ico. Criado por Alessandra Gandolfi para um adolescente autista apaixonado por música, literatura e sua cachorra. A arquiteta usou de sua expertise em neurociência para atender às necessidades emocionais, comportamentais e sensoriais específicas do jovem. “Minha sensibilidade para aplicar neurociência na arquitetura foi ampliada pela experiência pessoal com meus dois filhos neurodivergentes. Desejo ajudar outros em situações semelhantes, mostrando como um bom projeto pode melhorar a qualidade de vida e o bem-estar”, explica. Arte e design perpassam vários dos espaços. No Hall de Entrada, concebido por Karolinna Venturi, peças ar-
bra alguns episódios marcantes: “Vivemos momentos únicos a cada edição com suas peculiaridades e desafios. Um exemplo foi a festa que deveria receber 500 pessoas, mas acabou atraindo mais de 2 mil. Certo ano, a instituição proprietária do imóvel desistiu da cessão, no início das obras, mesmo com contrato assinado. Apesar disso, fomos surpreendidos pelo apoio caloroso dos nossos expositores, que demonstraram confiança na CASACOR, dizendo que estariam sempre comigo”.
tísticas e artesanais são combinadas à estética visual, inspirada na alta costura. Itens garimpados de antiquário se unem às criações da própria arquiteta, desenvolvidas em colaboração com artistas como Cristina Odebrecht e Paolo Ridolfi. A proeminente bagagem de repertório, conquistas e vivências pessoais de Ary Polis Jacobs e Renan Mutão tornam o Espaço Íntimo Castini uma ode à sofisticação. Com uma carga de colecionismo, o décor se eleva à atemporalidade entrelaçando design autoral e arte. Objetos garimpados e obras de artistas como Luiz Lavalle e Reco Marder fazem pulsar carga histórica, misticismo e noções de passado original. “Uma estética que não é estática; um ambiente acolhedor e autêntico que sintetiza as boas memórias e celebra a profundidade de nossa alma”.
Inspiradas na poética da paisagem circundante, Claudia Machado e Elaine Zanon idealizaram o Refúgio Deca. A conexão com a natureza traz a poesia da pausa contemplativa. “Quando olhei para o verde, quis construir a arquitetura, além de criar o design de interiores. A integração com o meio natural é uma maneira de nos
conectarmos com nossa própria essência. Quando Guilherme Wentz nos visitou, se emocionou ao ver um de seus móveis em nosso ambiente”, diz Elaine. Materiais como mármore travertino, estrutura metálica preta, vidro extra clear, além dos produtos Deca, são evidenciados pelo projeto luminotécnico. Um convite à introspecção.
A ERA DO DESIGN AUTORAL
Inove Design e estudiobola revelam o avanço do design brasileiro no mundo e o novo showroom em Curitiba
Por Débora Mateus | Fotos:
estudiobola/Divulgação
Alongevidade de 25 anos solidifica o estudiobola como uma referência no design contemporâneo nacional. Fundada por Flavio Borsato e Mauricio Lamosa, a marca começou como um estúdio de criação de móveis para outras empresas. Evoluiu para uma visão conceitual estética e de estilo de vida que enfatiza não apenas a durabilidade, mas também a atemporalidade do design que transcende a criação de produtos. Com princípios de desenho autoral, simplicidade formal e elegância atemporal, o estudiobola se diferencia pela compreensão integral da cadeia produtiva, unindo o primor fabril e industrial. Os talentos dos sócios se complementam: Mauricio Lamosa com seu design gráfico refinado e Flavio Borsato com o savoir-faire fabril enraizado em uma família da indústria moveleira italiana. Em expansão, a marca oferece uma linha de 1 mil produtos, possui 3 lojas na capital paulista (2 franquias e 1 flagship) e mais de 40 store-in-store.
"Nossa robustez vem do equilíbrio entre o conceitual e o comercial, um desafio complexo. Temos uma engrenagem que reúne talentos excepcionais em diversas
áreas, sustentando nossa operação. A marca, nascida de nosso sonho, se realiza com pessoas competentes e engajadas, que compreendem e contribuem para a consistência do estudiobola. Isso reflete nossa clara visão de marca. Manter coerência e elegância, sem exageros, é crucial. Elegância significa discrição; não é simples ser discreto", afirma Flávio Borsato, diretamente de Treviso, no coração do Vêneto, Itália. Coincidentemente, ele reside em frente à Área Ex Appiani Treviso, uma das joias projetadas por Mario Botta, conhecida por abrigar um complexo cultural e comercial reverenciado na região. Em entrevista à Habitat, Borsato revela que, mesmo em fusos horários diferentes, a sinergia com Mauricio Lamosa e o processo criativo permanecem os mesmos. Apaixonado pelo desenho em papel manteiga e lapiseira, ele mergulha em seu mundo de manhã ao som de músicas clássicas. “O desenho é o ponto de partida que dá vida à intenção. Mesmo ao passar pelo 2D, 3D e IA para elementos como texturas. Trabalhamos com emoção e a tecnologia com lógica. Recentemente, adicionei uma foto simples ao álbum familiar: minha borracha, lapiseira e esfumador”.
e conforto
O sofá Joy possui estética personalizável com diversas opções de acabamentos e dimensões
VISÃO MÚLTIPLA
A vivência dos sócios em dois contextos culturais diferentes - Brasil e Itália -, é um ativo que adiciona valor à sua visão. Borsato explica que o design e estilo brasileiros na decoração de interiores estão em alta na Itália. "Nosso país é bem-visto e adiciona valor. Essa era de design é resultado de ciclos importantes, houve a era da arquitetura moderna brasileira, mas atualmente a visão global tornou os projetos muito parecidos no mundo todo. Escolhi o design pela velocidade, inclusive da curva de aprendizado. Hoje a decoração de interiores brasileira, com sua bossa e personalidade é uma das melhores do mundo. O DNA desse estilo brasileiro já é reconhecido e admirado aqui".
Em contrapartida, a cultura manual italiana é um tesouro a ser protegido. “Na Itália, os artesãos também são técnicos industriais, sabem operar máquinas e vice-versa, frequentam eventos culturais de arte e design. Essa integração é rara no Brasil, ou se é artesão sem habilidades técnicas ou técnico sem habilidades artesanais. É essencial preservar a tradição manual italiana, ameaçada pela modernização do software e inteligência artificial, para evitar a perda de conhecimento transmitido de geração em geração”.
Sob o comando de Eviete Dacol, designer de formação e sócia de Alceu Bonfim Jr., a Inove Design se consolidou como referência em design em Curitiba ao longo de seus 37 anos de trajetória, com uma década dedicada ao estúdio criativo e outros 27 anos no varejo. A loja se destaca pela expertise dos sócios e uma curadoria exímia de mobiliários assinados pelos mais renomados designers. Desde o início, a empresa antecipou movimentos, abrindo caminhos no mercado do Sul do país ao investir em designers que hoje são ícones do meio nacional, como os Irmãos Campana, Marcelo Rosenbaum, Fernando Jaeger, Flavio Verdini, além do estudiobola. Com seu know-how como designer, Eviete
acompanha de perto as macrotendências da cena nacional e internacional, frequentando feiras de design ao redor do mundo, e contribuiu significativamente para a abertura de mercado.
A busca incessante por inovação a fez apostar no estudiobola desde sua primeira coleção: "Nosso DNA sempre foi investir em talentos, não apenas nos já consagrados. Lembro quando vi a primeira linha deles, decidi comprar tudo. Acreditamos na ousadia, atemporalidade e conceito estético. Nossa sinergia fluiu, a parceria se tornou forte e transparente". Agora, a loja de mobiliário, com duas unidades na capital, comemora sua
A mesa de jantar Balloon surpreende com suas curvas orgânicas e design lúdico, fundindo elegância e dinamismo
nova fase de expansão: um reposicionamento de marca e o lançamento do novo showroom de 300 m2 no Jardim Social, em parceria com o estudiobola. Este é mais um avanço de relevância no setor local. Para Flávio Borsato, o investimento da Inove desde o início tem um valor especial. "A aposta da Eviete, quando ainda éramos apenas design e não a marca completa que somos hoje, demonstra confiança, algo que se reflete no novo showroom em uma cidade conhecida pelo seu senso crítico e cujas vendas crescem continuamente". Eviete Dacol, por sua vez, ressalta que liderar no setor vai além do faturamento. Envolve antecipação, ousadia na descoberta de talentos e
adaptação à realidade do perfil de consumo. A Inove Design sempre esteve à frente, reconhecendo a importância do design autoral antes mesmo da indústria. Para manter essa tradição de inovação, a empresa quer expandir seus próprios projetos e o laboratório na sede do Água Verde, apoiando novos talentos. A atuação de vanguarda da empresária fará parte de um livro em celebração aos 50 anos do curso da Universidade Federal do Paraná onde estudou. “Fui selecionada por uma comissão entre outros nomes, um reconhecimento à minha carreira. Nossa missão na Inove é estar sempre um passo à frente, revolucionando o mercado com ousadia e visão estratégica", conclui.
POTY LAZZAROTTO:
O ARTISTA QUE IMORTALIZOU CURITIBA
A genialidade do artista paranaense que completaria este ano seu centenário transforma Curitiba em um canvas cultural que conecta passado e presente
Aarte de Poty Lazzarotto (1924-1998), um dos maiores artistas paranaenses e brasileiros, se funde à história de Curitiba. Nascido no mesmo dia em que a cidade celebra seu aniversário, Poty se tornou parte indelével do patrimônio cultural local. Um passeio pela cidade revela seus murais icônicos, que representam um quarto de sua produção artística e encantam os olhares de quem os vê. Espalhados por locais estratégicos, desde o centro histórico no Largo da Ordem até o Aeroporto Afonso Pena, são símbolos máximos da arte urbana curitibana. O pintor, ilustrador, serigrafista e muralista construiu um acervo notável, que se destaca pela valorização de elementos históricos e regionais. Entre suas obras mais memoráveis estão "O Eterno Sonho" e “A Viagem”, no Aeroporto Afonso Pena; "O Teatro no Mundo" no Teatro Guaíra; e "Desenvolvimento Histórico do Paraná" na Praça 19 de Dezembro, encomendado pelo governador Bento Munhoz da Rocha para celebrar o centenário da emancipação política do Paraná.
Originário em Curitiba e descendente de italianos, Poty Lazarotto teve contato com a arte desde cedo, ao ajudar seu pai a moldar peças de alumínio. Iniciou sua carreira como ilustrador de grandes nomes da literatura brasileira, como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Machado de Assis e Guimarães Rosa. Estudou em Paris, onde aprimorou suas habilidades gráficas e, na década de 1950, se destacou na cena paranaense ao introduzir novas técnicas, como desenhos, gravuras, murais, serigrafia e litografia. Seu engajamento social e político também era notável: ele defendia os direitos ambientais e dos povos indígenas. Em 1968, criou vários desenhos sobre os indígenas do Xingu, exibidos internacionalmente. Hoje, o MON abriga 4,5 mil obras do artista, incluindo desenhos, gravuras e esculturas: a maior coleção já doada à instituição. Poty Lazzarotto não apenas moldou a arte de Curitiba; ele ajudou a moldar a própria essência patrimonial da cidade, transformando a paisagem urbana em um legado eterno de expressão e identidade.
CALDER + MIRÓ: UMA EXPOSIÇÃO SOBRE ENCONTROS DE ALMA
Em cartaz até setembro no Instituto Tomie Ohtake, a mostra curada por Max Perlingeiro exibe mais de 150 obras, incluindo peças inéditas de dois expoentes da abstração moderna
Por Débora Mateus
Aamizade entre o escultor moderno Alexander Calder e o pintor surrealista espanhol Joan Miró foi tão vibrante quanto suas próprias obras. Perdurou meio século até o falecimento de Calder em 1976. No ano seguinte, Miró prestou homenagem ao amigo, apelidado por ele de Sandy, com poemas no catálogo da exposição na Galeria Maeght, em Barcelona. “Sandy, suas cinzas acariciam as flores do arco-íris que brincam no azul do céu”. Calder + Miró chega ao Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, após passar pelo Rio de Janeiro em 2022.
Com curadoria de Max Perlingeiro e pesquisa de Paulo Venâncio Filho, Roberta Saraiva e Valéria Lamego, reúne 150 peças: pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, móbiles, stabiles, maquetes, edições, fotografias e joias. “O público tem a oportunidade de entrar em contato com trabalhos inéditos, que demonstram essa conexão e se expandem em diálogos profundos. Incluímos 10 peças que serão vistas pela primeira vez, todas parte de uma coleção exclusiva de acervos brasileiros”, revela o curador, à Habitat.
Entre os destaques exclusivos está a Viúva Negra (Black Widow), criada por Calder em 1948. Com 3,5 metros de altura, a obra foi doada pelo artista ao Instituto de Arquitetos do Brasil. O escultor, aliás, demonstrava um grande apreço pela arquitetura moderna brasileira. Neste período exibiu suas peças no icônico edifício projetado por Niemeyer - o Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro -, e no MASP. Lina Bo Bardi o comoveu ao usar um ventilador para movimentar suas criações no museu. Perlingeiro conta que o arquiteto Henrique Mindlin foi o responsável por instigá-lo a expor no país, depois de conhecê-lo junto com o crítico Mario Pedrosa, em Nova Iorque. “Calder desenvolveu um vínculo especial com o Brasil, onde fez muitos amigos, incluindo os Bardi. Ele chegou a estabelecer um estúdio no Rio de Janeiro, cidade que o fascinava pelo samba, Heitor dos Prazeres, feijoada e cachaça".
Black Widow [Viúva Negra ] 1948, de Alexander Calder, doada ao Instituto de Arquitetos do Brasil. © 2024 Calder Foundation, New York / Artists Rights Society (ARS), New York / AUTVIS, Brasil
Foto: Rafael Schimidt
PONTOS DE ENCONTRO
Apesar de Miró nunca ter visitado o Brasil, cultivou uma amizade íntima com o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, que viveu em Barcelona. Ele escreveu livros sobre o pintor catalão, os quais foram ilustrados pelo próprio Miró. A relação com a poesia é outro ponto alto da exposição, de acordo com o curador. Seis obras gráficas, incluindo colaborações com figuras como o romeno Tristan Tzara (1896-1963), os franceses René Crevel (1900-1935) e Robert Desnos (1900-1945), além do autor pernambucano, são projetadas em outra sala ao som de uma guitarra catalã, uma atmosfera intimista e comovente. “Joan Miró não era apenas sociável, mas obsessivo com seu trabalho e com as pessoas”.
Hello Allentown 1976, Alexander Calder. © 2024 Calder Foundation, New York / Artists Rights Society (ARS), New York / AUTVIS, Brasil Foto: Jaime Acioli
Alexander Calder e Joan Miró se encontraram em Paris no final de 1928. No momento em que viveram por lá Calder era reconhecido por críticos e colecionadores por seu Circo ambulante e Miró, 5 anos mais velho, já era um renomado artista surrealista. Apesar de suas personalidades diferentes - Miró mais reservado e introvertido, e Calder mais extrovertido e performático -, ambos foram profundamente impactados pelas questões sociopolíticas da época, como a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial. Exploraram suas produções artísticas como uma resposta direta aos desafios turbulentos de seu tempo. Durante a Exposição Universal de Paris em 1937, o Pavilhão da Espanha, projetado por Josep Lluís Sert e Luis Lacasa, se tornou emblemático. Miró exibiu seu mural monumental "O ceifador (Camponês Catalão em Revolta)", ao lado do icônico quadro “Guernica” de Pablo Picasso. Alexander Calder participou com sua escultura "Fonte de mercúrio". As plantas arquitetônicas e imagens digitalizadas do pavi-
lhão também estão presentes na nova exposição.
Em cartaz até o dia 15 de setembro, a mostra na capital paulista também conta com uma seleção de artistas brasileiros consagrados e influenciados direta ou indiretamente pelas produções de Calder e Miró como Abraham Palatnik, Aluísio Carvão, Antonio Bandeira, Arthur Luiz Piza, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Ione Saldanha, Ivan Serpa, Mary Vieira, Milton Dacosta, Mira Schendel, Oscar Niemeyer, Sérvulo Esmeraldo, Tomie Ohtake e Waldemar Cordeiro. “Há um artigo ao lado do Cinecromático de Palatnik que relembra como Miró ficou impressionado ao ver a obra do artista brasileiro na Bienal de Veneza de 1964”. Para o Perlingeiro, apesar da amizade estética entre Calder e Miró ter sido objeto de estudo e estar presente em mostras em vários países, desde os anos 40, os resultados sempre revelam novas surpresas. Destacam a profunda e evocativa essência de seu elo.
EPOPEIA CELESTIAL
O Parque Campana, inaugurado no interior de São Paulo, é uma ode à memória de Humberto e Fernando Campana, unindo seus preceitos artísticos e respeito ambiental
Por Débora Mateus | Fotos: Cortesia Instituto Campana
Generosidade é uma virtude rara, dada aos que, com o coração abundante, vertem ao mundo o que recebem. Para Humberto Campana, essa premissa mantém viva sua jornada no design e arte. Em um tributo que irrompe as fronteiras de tempo e espaço, o designer eterniza a profunda simbiose intelectual e espiritual com seu irmão Fernando ao inaugurar o Parque Campana em Brotas - sua cidade natal e solo fértil para as primeiras fagulhas criativas.
De dimensão epopeica, o projeto idealizado em 2020, é uma extensão de seu espírito inovador e compromisso ambiental. Elo entre arte, ciência e memória, o complexo
cultural e educacional ocupa 52 hectares de uma antiga fazenda de café e possui mais de 20 mil mudas nativas plantadas. Celebra a conexão e o legado que os irmãos construíram juntos, redefinindo o design brasileiro contemporâneo no mundo. “Fernando continua sempre nas minhas ideias e sonhos. Ele está muito presente nas criações. Não há necessidade de separar; ele transcende e eu o levo sempre comigo. Estou num momento criativo, onde me organizei emocionalmente para lidar com sua perda, focar no trabalho e em projetos artísticos, como o Parque Campana, cuja dimensão da escala, demanda muito do meu tempo”, diz Humberto Campana em entrevista exclusiva à Habitat.
Com mais de 5 mil obras dos Irmãos Campana, entre instalações artísticas colossais, o parque conta com oito pavilhões que chegarão ao total de 12, sendo implementados nos próximos 5 anos. Abrigará um projeto de regeneração de biomas, coordenado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), oficinas de manualidades e residências artísticas. “Brotas é uma cidade conhecida pelo ecoturismo e monocultura, mas ainda é carente de espaços culturais e educacionais. Acho que as pessoas buscam tranquilidade e formas de se conectar com o mundo real, usando os sentidos, e o parque cumpre muito bem esse papel”.
ORIGENS DE VANGUARDA
A influência familiar moldou a perspectiva criativa dos Campana. O pai, engenheiro agrônomo, ensinou o respeito pela natureza, enquanto a mãe, professora, estimulou o espírito crítico e inventivo. “É algo com o que me conecto até hoje. Eu continuo resgatando memórias afetivas, experiências de vida e trazendo-as para a maturidade. Me sinto no meu jardim de infância em todos os lugares que vou. Estou sempre brincando com esse lado lúdico, sem perder o espírito de criança. Talvez a evolução seja compartilhar essas experiências com as pessoas”.
Em quatro décadas, os Campana ganharam notoriedade internacional com seu vanguardismo. Peças icônicas, como a cadeira "Favela", representam a maestria em transformar materiais comuns e reciclados em obras de crítica social. Suas criações estão em museus renomados, como o MON, Curitiba, MoMA, Nova Iorque e o Victoria and Albert Museum, Londres. Além disso, colaboraram com marcas como Alessi, B&B Italia e Edra. Ao olhar para a trajetória inconteste, ele destaca: “Nossa primeira exposição no exterior, no MoMA, em 1998, e a mais recente, minha individual no Power Station Art em Shanghai. Além da abertura do Parque Campana, que foi um dia mágico”.
Há, segundo sua percepção, um aumento na valorização das raízes brasileiras entre designers, o que considera positivo. Mantendo o mantra de "fazer sua vida com as mãos", seus projetos nascem delas para depois serem repassados aos artesãos ou à equipe. O desejo de trabalhar com esculturas foi retomado com as peças exibidas em Shanghai. “Este foi um ano de muitas entregas, com uma nova mostra em Nova Iorque e estreia do documentário em Milão. Estou em um estágio embrionário que só irá se desenvolver quando tiver tempo para observar e absorver experiências”. Entre os talentos da nova geração, o designer menciona Henrique Oliveira, artista visual cujas obras o fascinam. Humberto diz ter encontrado conforto nos escritos do japonês Haruki Murakami sobre perdas e luto, e na música de Melody Gardot e Elza Soares. “Neste momento da vida, os sentimentos que impulsionam meu sopro criativo são tudo o que remete ao sagrado das coisas. Eu estou com uma percepção mais aguçada para pequenas manifestações de energias”. A maior lição aprendida nestes 40 anos, é a generosidade: “Quanto mais generoso sou, quanto mais compartilho com os outros, mais recebo de volta”.
O LEGADO CULTURAL DE BUENOS AIRES
Núcleo Paranaense de Decoração abre, em primeira mão, as descobertas da viagem à terra da prata
Buenos Aires possui um arcabouço cultural que se ergue de uma história de vários séculos: foi uma das mais importantes capitais do mundo. Desempenhou um papel crucial na independência e economia da Argentina, que no início do século 20, figurava entre as principais do globo. A cidade, que funde diversas influências culturais e estilos arquitetônicos, foi escolhida como destino pela nova gestão do Núcleo Paranaense de Decoração (NPD), que conta com 35 empresas associadas, para celebrar os profissionais de arquitetura e design de interiores premiados na categoria ouro. Realizada no final de junho, a jornada proporcionou descobertas e uma imersão profunda na herança histórica, arquitetônica e artística da capital. Apaixonada por estes temas, Priscila Fleischfresser, presidente do NPD para o biênio 2024/2025 e sócia da Michelangelo
Mármores do Brasil, explica à Habitat que empresta seu olhar para ajudar no meticuloso preparo da curadoria dos eventos culturais em Curitiba, como das viagens realizadas pela instituição.
Os preparativos, segundo ela, começaram meses antes. São organizados por membros da gestão atual em parceria com especialistas. Um exemplo foi a sessão de cinema sobre a vida e obra do arquiteto Amancio Williams, apresentada ao grupo em parceria com a revista Habitat, que antecipou com um sabor especial a relevância da viagem à terra da prata. “Nosso objetivo é proporcionar experiências encantadoras e enriquecer o repertório cultural de nossos associados e profissionais do setor. Em Buenos Aires vivemos momentos preciosos de redescoberta da cidade sob novos olhares e fortalecemos laços. Muitos arquitetos já haviam visitado a ca-
Abaporu 1928, Tarsila do Amaral é uma das obras do acervo do MALBA, adquirida pelo fundador do museu e colecionador Eduardo F. Costantini | Foto: Reprodução/Divulgação
pital argentina, mas se surpreenderam ao conhecer pela primeira vez alguns marcos artísticos, arquitetônicos e históricos curados por nós com a ajuda de Adriano Tadeu, responsável por nossa comunicação”.
Segundo Leandro Lorca, vice-presidente do NPD e sócio da SCA, que já liderou duas outras gestões inovadoras, o compromisso da instituição é contínuo. “O Núcleo possui uma trajetória de mais de duas décadas e sempre buscou construir um ecossistema de relacionamentos sólidos. A escolha dos lojistas associados é feita com rigor para que o atendimento aos profissionais do segmento seja elevado. Essa gestão volta ainda mais o olhar para promover eventos que enriquecem sua bagagem sob o viés cultural”.
Este ano, os premiados na categoria prata visitaram o acervo artístico de Ricardo Brennand, um dos maiores colecionadores de Frans Post, pintor holandês do século 17 conhecido por suas paisagens brasileiras que retratam o país durante o domínio de João Maurício de Nassau. Marcelo Fedatto, diretor de Marketing da instituição e sócio da Hidroforma, afirma que, para 2025, estão previstas novas imersões. “Organizamos visitas exclusivas que proporcionam experiências únicas. O feedback dos participantes mostra o quão surpreendentes essas imersões se tornam. Para o próximo ano, planejamos viagens à Cartagena/Bogotá (Colômbia), Salvador e Petrópolis”.
Fachada da sede da prefeitura de Buenos Aires, projeto de Norman Foster (2014) | Foto: Divulgação/NPD
SURPRESAS REVELADAS
Durante visita guiada ao Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA), enriquecida por comentários da galerista Zilda Fraletti, o grupo descobriu detalhes sobre algumas das obras mais icônicas do século 20. Entre elas, a icônica Abaporu criada por Tarsila Amaral (1928), mais importante do movimento modernista brasileiro, “Autorretrato com Macaco e Periquito”, de Frida Kahlo (1942), e a escultura Impossível (1945), de Maria Martins. Obras-primas da arquitetura como a Casa de Go-
verno, sede da Prefeitura que recebeu o grupo, com exclusividade. Projetada pelo escritório Foster + Partners - do renomado arquiteto inglês Norman Foster, laureado com o Pritzker em 1999 -, a construção foi concebida para abrigar 1,5 mil funcionários, priorizando eficiência energética com integração dos espaços internos. Destaque para grandes pátios, uso extensivo de vidro que propicia iluminação natural e uma cobertura com sombra eficiente.
Na área histórica que abrange 4 séculos, o passeio pelos marcos da Plaza de Mayo até os charmosos bairros de Montserrat e San Telmo foi outra revelação. Este último abriga o museu El Zanjón de Granados, antigo casarão de 1830 que revela os túneis secretos de Buenos Aires, descobertos por acaso durante a restauração da mansão na década de 1980. Os túneis já serviram como refúgio estratégico durante conflitos, intrigando visitantes com seus segredos que se estendem sob as ruas e edifícios históricos de Buenos Aires.
No ápice da expedição, a Casa Curutchet, em La Plata, ícone da arquitetura moderna. Única obra de Le Corbusier na América do Sul, projetada em colaboração com o arquiteto argentino Amancio Williams para um médico, está incluída na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. A construção exemplifica os cinco pontos fundamentais do consagrado arquiteto franco-suíço, conhecidos como princípios "Modulor": planta livre, fachada livre, janelas em fita, construção sobre pilotis e abertura para o exterior através de fachadas envidraçadas.
Dois blocos integram a fachada do prédio com mais de 2 mil m², assinado por Luiz Volpato que abriga a sede de seu escritório, em Curitiba
Foto: Daniel Andraski
JORNADA DE RESILIÊNCIA E MARCOS ARQUITETÔNICOS
De empreendimento de surf a projetos públicos e privados no Brasil, conheça a história de Luiz Volpato, fundador do escritório homônimo com 30 anos
Por Débora Mateus
Afachada do edifício Oxi, projetada pelo arquiteto e engenheiro Luiz Volpato, fala por si só. Sede de seu escritório e de mais duas empresas, o edifício oferece vistas arrebatadoras para o Parque Barigui, em um design arquitetônico singular. A harmoniosa combinação de aço, concreto e vidro dá a impressão de flutuar em meio à natureza. Suas fachadas transparentes, estrutura metálica e lajes de concreto criam uma atmosfera etérea - de blocos suspensos. Além disso, a sustentabilidade é incorporada ao espaço com a escolha de materiais duráveis, que desenvolvem personalidade com o tempo e minimizam contaminantes e resíduos, garantindo um conforto estético e funcional que respeita e valoriza o ambiente.
Com mais de três décadas de atuação, o escritório Luiz Volpato, nome de seu fundador, emprega mais de 40 profissionais e possui um portfólio diversificado que inclui obras públicas e privadas, como residências, projetos comerciais, esportivos e industriais. A empresa é reconhecida pelo conceito inovador, precisão técnica e soluções criativas, com uma abordagem de gestão que prioriza a transparência e a seriedade ao renunciar a retornos financeiros diretos. "Nossos projetos têm a sustentabilidade em todos
os aspectos como premissa, que vai muito além da questão ambiental. Garantimos que eles sejam viáveis economicamente e que tenham um impacto positivo em todas as esferas. Cada decisão é baseada na nossa expertise e no compromisso com a integridade de atender às necessidades de cada um", destaca Volpato.
A inteligência emocional é valorizada tanto quanto a intelectual, promovendo um ambiente de trabalho saudável e produtivo, onde o ego não tem espaço. "É através dessa abordagem que conseguimos manter um
time coeso e focado na excelência", ressalta Ana Petraglia, que além de esposa, é responsável pela gestão humana e administrativa do escritório. Especializado na área automotiva, o escritório que atende o Grupo Servopa é o primeiro terceirizado da montadora Volkswagen para o Brasil e América Latina. O resultado da atuação trouxe a chancela como um benchmarking mundial da marca na Alemanha, além da recente homologação para o desenvolvimento de lojas Hyundai no Brasil. Na área esportiva, destaque para estádios de futebol como o novo Urbano Caldeira (Vila Belmiro, Santos), a construção e reforma para a Copa do Mundo da Arena da Baixada do Atlético Paranaense e o centro de treinamento do clube, que se tornou um case de sucesso global.
Projetos de instalações temporárias também estão em seu portfólio, onde se destaca a experiência gastronômica Masterchef nas Nuvens, implantada no Rio de Janeiro. O olhar curioso que fomenta a criatividade do arquiteto o levou a incursões na Europa, Ásia e América para ampliar sua visão.
Luiz Volpato no interior da Villa Sophia, em Curitiba. O casarão do século 19 restaurado, funde história e contemporaneidade, com destaque para sofá Tatlin, da italiana Edra | Foto: Eduardo Macarios
DO SURF À ARQUITETURA
Oriundo em uma família modesta, Volpato aprendeu, desde cedo, o valor do trabalho árduo. Aos 14 anos, sua mente criativa despertou quando o surf se tornou não apenas uma paixão, mas também uma fonte de sustento ao trabalhar como lixador de pranchas para Pau Brasil e Crespo, lendário shaper paranaense. Enquanto estudava engenharia, curso escolhido sob o sonho de um dia se dedicar aos projetos arquitetônicos, Volpato fundou a marca de surfwear Blood Stream. Após se formar, concentrou seus esforços na execução de projetos como um com-
plexo habitacional de 500 unidades em São Paulo, antes de auxiliar na operação de restauro do Shopping Curitiba. Aos 40 anos, apesar de ter uma carreira sólida no setor, ele realizou o desejo de sua segunda graduação - arquitetura. Durante esse período, se mudou com sua família para Londres, onde estudou na Architectural Association School of Architecture (AA School) e liderou um projeto para trazer o Acre à seleção de cidades na Copa do Mundo, em colaboração com o renomado escritório de arquitetura Popoulos, com viagens também à Nova Iorque.
ERGUER UM LEGADO
Volpato se destaca pela revitalização de espaços históricos como o Shopping Curitiba e a Villa Sophia, um marco recente. Ambos os projetos originais remontam ao século 19. O último, casarão onde funciona um escritório de advocacia em seus 750m², simboliza a preservação do patrimônio para além da estrutura física. Envolve o resgate de parte da alma de Curitiba, e incluiu meticulosa pesquisa histórica em colaboração com o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).
Foram realizadas correções estruturais, mantendo características originais, como pisos em madeira e esquadrias de ferro integradas a elementos contemporâneos como um teto de vidro para iluminação natural. O diálogo contínuo com órgão regulador, proprietário e locatários, apesar de desafiador, resultou no compromisso com a preservação sustentável do patrimônio material e imaterial da cidade.
Com uma jornada de quase 30 anos juntos, desfrutando de atividades como beach tênis, viagens e trocas no trabalho, o casal diz ter uma sinergia complementar. Enquanto a esposa aprendeu a adotar uma mentalidade inovadora e ousada, ele, por sua vez, incorporou dela a importância de compreender diferentes perspectivas e trabalhar em equipe. "Valorizamos a realização pelo caminho justo, com liberdade de pensamento e respeito.
Eu idealizo e desenvolvo as estruturas enquanto Ana preenche os detalhes, operando harmoniosamente em nossos projetos e vida pessoal”. Os planos futuros são ambiciosos: abertura de um escritório em São Paulo, com fundos para o MASP, a construção de um resort em Portobelo e uma minicidade planejada, com haras, marina e hotel, próximo a Porto Amazonas, que inclui um lago formado pelo alagamento da barragem no Rio Iguaçu.
Apartamento no Mai Terraces, da Laguna, assinado por Giuliano Marchiorato em parceria com Leandro Lorca, tem soluções da SCA e móveis de Jader Almeida, estudiobola e Maurício Bomfim | Foto: Eduardo Macarios
O NOVO MOMENTO DO MERCADO IMOBILIÁRIO
Movimento já consolidado em países como Estados Unidos, os apartamentos prontos para morar refletem um nicho em ascensão na cena nacional
Osetor imobiliário está passando por uma transformação significativa, respondendo às mudanças nas preferências dos compradores e às novas dinâmicas pós-pandemia, conforme o relatório Emerging Trends in Real Estate 2024 da PwC. Nos Estados Unidos, especialmente em cidades como Miami e Nova Iorque, e em países como o Canadá, o movimento de imóveis "turnkey", que já ocorre há alguns anos, continua em expansão. O termo refere-se a apartamentos ou casas prontos para morar, totalmente equipados e decorados, não apenas unidades individuais, mas também prédios inteiros. Embora esse conceito não seja formalmente reconhecido no Brasil, a tendência
crescente de imóveis decorados reflete um movimento semelhante ao observado internacionalmente.
Esses imóveis, que oferecem conveniência e economia de tempo para os compradores, seguem presentes em relatórios de previsão de Real Estate para os próximos anos. Em Curitiba, construtoras e incorporadoras de alto padrão têm testemunhado um aumento na demanda por imóveis decorados, indicando um crescimento desse nicho de mercado. Fenômeno que abre espaço para uma reflexão sobre como essa tendência está moldando o mercado local e impactando as preferências dos consumidores por praticidade e qualidade.
Gabriel Raad, proprietário da Laguna, construtora que, desde 2010, oferece decorados em seus empreendimentos, observa que os imóveis prontos para morar no cenário nacional está apenas começando. “Está ligada a uma macrotendência de comodidade, tempo escasso e vida dinâmica, além de mobilidade, com as pessoas se mudando muito. Estive em Miami recentemente para avaliar e comparar com o mercado. Na Laguna, temos uma infraestrutura completa e estamos considerando a inclusão da opção de mobiliário padrão ou personalizado. Outra tendência são os serviços de concierge em empreendimentos como o Pinah, que oferecem comodidade no uso. Hoje, incluímos a certificação Well, que prioriza saúde e bem-estar humano como qualidade do ar, conforto lumínico e térmico, além de água potável nas unidades”.
Leandro Lorca, sócio da loja SCA na capital, especializada em móveis planejados, viveu em Miami de 2006 a 2009. Ele acompanhou de perto o movimento e destaca
a crescente valorização desses imóveis como estratégia de vendas no Brasil. Lorca personalizou uma unidade do Mai Terraces, com vista panorâmica para o Parque Barigui, projetada por Giuliano Marchiorato. Com soluções completas da SCA, incluindo iluminação italiana e detalhes como gavetas de vidro e couro, é equipado com automação Lutron, cortinas e persianas motorizadas, uma adega customizada para até 300 garrafas de vinho e detalhes de enxoval. O apartamento se distingue pela atmosfera simples, sofisticada e atemporal. “Acredito em apartamentos prontos para morar, especialmente nesse mercado onde há uma forte demanda por praticidade e qualidade. No Brasil, a cultura de customização é mais comum, mas isso pode impactar custo e prazo devido à escassez de mão de obra. O decorado é mais proveitoso para o cliente e a construtora. Nossa ideia é expandir parcerias com construtoras e incorporadoras focando nos apartamentos prontos no prédio, que é o diferencial”.
Segundo Aline Perussolo, diretora da construtora San Remo, a introdução do primeiro apartamento decorado do Palazzo Lumini aconteceu em 2012, com projeto de Jayme Bernardo. “Foi um grande desafio interno para convencer a empresa e o conselho a adotarem a ideia desse tipo de apartamento. Enfrentamos resistência, pois os clientes desse padrão preferem personalizar cada detalhe. A demanda foi impulsionada com o surgi-
mento desse novo produto, os primeiros apartamentos decorados permitiram que os potenciais compradores visualizassem o resultado do empreendimento, mesmo em fases preliminares antes do prédio estar pronto. Contamos com fornecedores primorosos como Ornare e Tânia Bulhões para louças. Isso se revelou uma ferramenta de marketing eficaz. Percebemos que há demanda para esse tipo de produto”.
Apartamento do Forma 196, Pacific assinado por Suelen Parizotto inclui móveis planejados da SCA e peças da Artefacto, além de obras de arte da galeria Zilda Fraletti | Foto: Eduardo Macarios
NICHO A SER EXPLORADO
Ao adotar uma estética contemporânea e atemporal para a unidade decorada do Forma 196 da Pacific Incorporadora, a arquiteta Suelen Parizotto pensou em inovar com elementos como rodapés de inox e espaços como o lavabo cênico, que inclui música. “A paleta neutra permite personalização final por parte do cliente. Esse é um nicho que atrai num contexto atual onde tempo é dinheiro. Principalmente para pessoas de fora em busca de praticidade na cidade, que desejam economizar tempo e energia”.
A construção de showrooms é um ponto de distinção da construtora A.Yoshii, segundo Ricardo Kitamura, diretor da empresa em Curitiba. “Os clientes têm a opção de adquirir um apartamento completamente mobiliado como o do showroom. São uma excelente ferramenta de
vendas, pois permitem ver as características e a qualidade do empreendimento. Compradores de alto padrão apreciam serviços personalizados e buscam exclusividade. As expectativas de vendas têm sido superadas com esse enfoque”.
Para a arquiteta Juliana Meda, que também acompanhou o movimento nos Estados Unidos, o mercado já consolidado lá reflete uma tendência em que pessoas, especialmente jovens com pouco tempo disponível, valorizam a praticidade. "Acredito que é um segmento que só tem a crescer no Brasil, especialmente em balneários. A empresa que lançar um modelo com todas as unidades prontas estaria um passo à frente do mercado, talvez começando por lofts menores primeiro”.
OLHARES ATENTOS
Priscila Feuers, da Feuers Arquitetura, presta serviços especializados em apartamentos decorados e áreas comuns para construtoras e incorporadoras. Com duas décadas de experiência, trabalhou em empresas multinacionais na execução de lojas e, há 10 anos, voltou sua expertise para otimizar custos e tempos de projeto. Seu escritório se tornou um facilitador. Realiza pesquisas detalhadas para atender ao budget, valorizando o layout e colaborando com os arquitetos e as incorporadoras dos empreendimentos.
"Somos como um braço da construtora, existe uma economia significativa gerada, além da facilidade de execução. Há 50 anos as áreas comuns dos edifícios se transformaram. Hoje têm infraestrutura que atende questões de bem-estar e qualidade de vida, mobilidade, segurança, aliados à sustentabilidade. Esses espaços começaram a ser cada vez mais equipados com enxovais que incluem até roupões, para spas por exemplo. O investimento por metro quadrado é maior: inclui revestimentos e mobiliários nobres, o que exige ainda mais a relação custo-benefício. Isso se estendeu às demandas em unidades residenciais”.
A GT Building, por exemplo, oferece um kit para que o cliente escolha elementos para seu decorado – de móveis aos acabamentos. A tendência é que esse movimento continue, segundo Feuers, incluindo até espaços de serviços de saúde e bem-estar com experiências de hotelaria em prédios como o Age360 da AG7.
Thiago Tanaka, sócio da BST Arquitetura, responsável por assinar este tipo de unidade para diversas cons-
trutoras, acredita que este é um movimento que só tende a crescer, especialmente no alto padrão. "Na nossa experiência, quem acaba contratando um arquiteto já quer fazer o planejamento completo. No meio corporativo acontece muito de multinacionais trazerem profissionais de fora e, às vezes, a pessoa chega na cidade sem ter indicação. Há investidores que já olham para esse nicho, compram imóveis, os transformam em decorados e vendem. Estamos num processo de mercado que está caminhando para que, mais para frente, possam surgir lançamentos de empreendimentos inteiros com unidades nesta modalidade. Há muito a ser explorado e muita gente já atenta a isso".
TORRE EIFFEL E
OLIMPÍADAS
Para receber os Jogos Olímpicos de Paris 2024, o principal cartão postal da cidade, a Torre Eiffel, recebeu a instalação dos anéis olímpicos. A exibição dos cinco arcos, que representam os continentes,
está situada entre o primeiro e o segundo andar do monumento. Feitos com mais de 100 mil LEDs de baixa intensidade, eles são iluminados em suas cores originais durante o dia e em branco à noite.
GERMAN LORCA NO MON
Em cartaz até 27 de outubro no Museu Oscar Niemeyer (MON), a exposição "German Lorca, Mestre da Fotografia" é uma retrospectiva da obra do fotógrafo, curada por Adriana Rede e José Henrique Lorca, seu filho. Com cerca de 160 fotografias e itens pessoais, a mostra abrange a trajetória de Lorca desde seus primeiros trabalhos amadores em 1947 até sua longa carreira de mais de 70 anos. A exposição destaca suas conquistas e prêmios, tanto no Brasil quanto no exterior, evidenciando sua dedicação e impacto na fotografia.
EXPOSIÇÕES NO MASP
Três exposições imperdíveis fazem parte da programação anual do MASP dedicada às histórias LGBTQIA+. Estão em cartaz: "Catherine Opie: o gênero do retrato" (até 27 de outubro), "Lia D Castro: em todo e nenhum lugar" (até 17 de novembro) e "Sala de vídeo: Ventura Profana" (até 18 de agosto). A exposição de Lia D Castro, sua primeira individual em um museu, é curada por Isabella Rjeille e Glaucea Helena de Britto. Reúne 36 trabalhos majoritariamente figurativos que questionam preconceitos, masculinidade e estruturas de poder.
DESTAQUE NACIONAL
O Estúdio Pantarolli Miranda ganhou um episódio de destaque na 3ª temporada da série "Insight" do Globoplay, dirigida por José De Aiete. O episódio celebra a trajetória dos sócios Diego Miranda Leite e Zeh Pantarolli, os únicos representantes da região Sul na série, que também conta com Sig Bergamin, João Armentano e Patricia Anastassiadis. A dupla se destacou com o projeto de remodelação das bancas de revistas de Curitiba, realizado em parceria com o banco Santander Brasil, que rendeu a eles 3 Leões de Ouro em Cannes em 2021 e 2022.
ROTAS BRASILEIRAS
A 3ª edição da Rotas Brasileiras, feira da SP–Arte que celebra a potência da arte nacional e sua diversidade, acontecerá de 28 de agosto a 1º de setembro, na ARCA, Vila Leopoldina, São Paulo. Entre as novidades está a direção artística de Rodrigo Moura (Belo Horizonte, 1975), curador-chefe do Museo del Barrio, em Nova York, desde 2019. Ele é responsável pela pesquisa do setor Mirante, que reúne peças em grande escala e raramente exibidas, além de contemplar uma expografia fora do comum para feiras de arte.
NOVO PARQUE LINEAR
Previsto para ser inaugurado em novembro deste ano, o projeto Viva Barigui é um parque linear que conectará o ParkShopping Barigui ao Parque Barigui. Parte da maior expansão do shopping, já recebeu prêmios de arquitetura e design por valorizar o meio ambiente e revitalizar o entorno, proporcionando novos espaços públicos de lazer em Curitiba. Com 600 metros de extensão, incluirá ciclovias, áreas de convívio, equipamentos recreativos e um mirante com vista para a mata nativa e o rio Barigui. Desenvolvido pelo escritório Oficina Urbana Arquitetura em parceria com a Prefeitura de Curitiba, o projeto tem a assinatura de Luiz Gustavo Singeski e Isabela Fiori.
ARTE NA GALERIA LAGUNA
Gabriel Raad, diretor-geral da Construtora Laguna, anunciou a parceria com a galeria Simões de Assis. Pela primeira vez, a galeria será responsável pela curadoria de arte em todo o processo de um novo empreendimento da construtora, em Curitiba. A colaboração foi celebrada em um bate-papo sobre a Bienal de Veneza 2024, conduzido pela curadora Mariane Beline.
CURITIBA JAZZ SESSIONS
Gui Duvignau: a harmonia entre sons e culturas
Texto: Lucas Rodrigues | Fotos: Tatiana Kahvegian
Ocontrabaixista e compositor Gui Duvignau, nascido na França e criado no Brasil, construiu uma carreira que transcende fronteiras e estilos musicais. Com uma trajetória marcada por estudos em instituições de prestígio e colaborações com músicos renomados, ele se destaca como uma figura singular na cena do jazz contemporâneo.
Criado em uma família francesa, foi no Brasil, entre Belo Horizonte e São Paulo, que Duvignau encontrou o solo fértil para cultivar sua paixão pela música. Aos 18 anos seu talento o levou a Boston, onde ingressou na Berklee College of Music com uma bolsa de estudos. Durante seus anos na Berklee ele se aprofundou na composição jazz e na música erudita, formando-se em 2006.
Após a graduação, passou um ano no Porto, Portugal, colaborando com a cantora Sofia Ribeiro. Dessa parceria nasceu seu primeiro álbum autoral, “Porto” (Independente - 2010). Em seguida, ele se mudou para Paris, onde se envolveu em uma diversidade de gêneros musicais, incluindo música brasileira, jazz e rock. Foi em Paris que
ele gravou e lançou seu segundo álbum, “Fissura” (selo Onze Heures Onze - 2016), um trabalho que reflete a riqueza de suas experiências europeias.
Decidido a expandir seus horizontes, Duvignau retornou aos Estados Unidos para continuar seus estudos, desta vez na Universidade de Nova York (NYU), onde completou um mestrado em Jazz Studies. Paralelamente, teve a honra de estudar por três anos com o lendário contrabaixista Ron Carter, uma experiência que ele descreve como um verdadeiro mestrado na vida. Desde então, tem residido no Brooklyn, Nova York, onde se consolidou como uma figura importante na vibrante cena jazzística da cidade.
Entre seus lançamentos mais recentes estão os álbuns “3,5,8” (Sunnyside Records - 2021), “Baden” (Sunnyside Records - 2022), uma homenagem ao icônico Baden Powell, e “Live in Red Hook” (Sunnyside Records - 2024), um disco ao vivo gravado com Jacob Sacks no piano e Nathan Ellman-Bell na bateria, que celebra a espontaneidade e a improvisação, e com uma resposta muito aclamada pela crítica.
Além de sua carreira musical, Duvignau é também um autor prolífico. Seu livro “De Baixo para Cima” (Editora Tipografia Musical - 2023), uma versão ampliada e traduzida do original “From the Bottom Up” (Ron Carter Books - 2021), oferece uma série de entrevistas com sete mestres do contrabaixo, incluindo Ron Carter e Christian McBride. Este trabalho literário mergulha profundamente na vida e na criatividade desses grandes músicos, revelando insights valiosos sobre a arte do jazz.
A versatilidade de Duvignau também se manifesta na banda coletiva ContraPunctus, formada em 2024, ao lado de Mike McGinnis (clarinetes e saxofones), Carmen Staaf (piano) e Hamir Atwal (bateria). Esta formação se destaca pela forte ênfase em performances ao vivo, improvisação e colaboração criativa.
Embora nascido na França, Duvignau se considera um músico brasileiro, profundamente enraizado nas tradições musicais do Brasil. Crescendo no Brasil, ele foi influenciado por gigantes como Baden Powell, Cartola, Guinga, Jobim, Chico Buarque e Elis Regina. No entanto, sua formação em jazz e a influência de compositores franceses como Ravel, Debussy e Messiaen também desempenham um papel crucial em sua música, resultando em um estilo único e eclético.
Para Duvignau, a cena musical de Nova York é uma das mais inspiradoras e desafiadoras do mundo. A cidade abriga músicos de altíssimo nível, compondo um ambiente de intensa criatividade e inovação. No entanto, a competitividade e o ritmo acelerado de Nova York também representam desafios significativos, exigindo
dedicação e resiliência constantes.
O horizonte de Duvignau está repleto de possibilidades. Além dos shows e trabalhos com a ContraPunctus, ele está envolvido em um projeto inovador de releitura da Flauta Mágica de Mozart, em colaboração com a diretora de teatro Aileen Wen McGroddy. Continuamente buscando novas colaborações, sua jornada é um testemunho do poder transformador da música, capaz de unir culturas e criar algo verdadeiramente único.
Para ele, o jazz é mais que um gênero musical: é uma filosofia. "O jazz é uma maneira de fazer música que nasceu da cultura negra americana no início do século XX. Tem uma identidade rítmica única, mas, acima de tudo, preza pela criatividade e individualidade dos músicos. É uma música de palco ao vivo, onde a improvisação e a colaboração são essenciais. Essa busca constante por novos caminhos e o refinamento da arte e do instrumento é o que define o jazz para mim".
Gui Duvignau é um exemplo de dedicação e paixão pela música. Sua trajetória demonstra como a música pode ser uma ponte entre culturas, proporcionando uma plataforma para a expressão criativa. Com um futuro promissor, ele continua a enriquecer a cena musical com sua arte singular, explorando novas fronteiras e compartilhando sua visão musical com o mundo.
Acompanhe o trabalho de Gui Duvignau pelo site: www.guiduvignau.com
LABORATÓRIO CRIATIVO QUE SE TORNA MORADA
No ‘’episódio’’ de hoje, a história do lar de Ary Jacobs e Renan Mutao do Studio Architetonika
Em um elegante edifício no bairro Cabral mora um casal interessante. Envoltos em um universo onde a beleza é imperativa, fazem dela sua rotina e ofício. Ary Jacobs e Renan Mutao são sócios do Studio Architetonika e fazem parte de um movimento na arquitetura de interiores onde o que é bom, belo e autêntico fala mais alto! Para eles, no trabalho e em casa, nada é regular. Cada detalhe conta uma história com impacto, presença e repertório.
Com uma conversa fluida e segura, contam um pouco de si, e o que os fez transformar sua nova morada em um laboratório criativo que representa a fase em que se encontram. Ary é arquiteto, mas já atuou com Direito e Comércio Exterior. Seu olhar exigente reflete a natureza analítica, uma personalidade que prima pela ordem e cria
a base para que a ousadia criativa de Renan encontre morada. Com raciocínio linear, um amplo senso de justiça e empatia, usa todo seu conhecimento em obra, e sua visão de gestão para estruturar seu trabalho e sua vida junto a Renan.
Com uma personalidade bem distinta, Renan complementa o olhar de Ary. Sua experiência em hotelaria e gastronomia o conduziu para o que é belo, fortalecendo a aptidão de compor ambientes emblemáticos. Ao iniciar a sociedade no Studio Architetonika, agregou com habilidade à decoração de interiores. Sua característica sociável atrai pessoas interessantes e clientes importantes. Renan é exigente e para ele a vida foi feita para ser vivida em sua plenitude, com conforto, qualidade, acesso, saúde e é claro: beleza.
O APARTAMENTO
Encantados com a vista da copa de uma Araucária, emoldurada pelas janelas, escolheram este apartamento com piso e detalhes em travertino, uma referência ao estilo clássico, base de suas criações, para ser a tela de sua mais nova obra prima. Para complementar, revestiram tetos e paredes com uma textura cor creme, com unidade e destaque para peças e coleções. Na decoração, detalhes discretos em diversos tons de verde trazem para dentro a beleza da natureza. Ao entrar nos deparamos com um belo lustre inspirado nos clássicos Baccarat. Para que tivesse mais impacto, a peça, um presente, foi customizada com detalhes em vidro verde.
A sala principal tem uma varanda onde fica um charmoso conjunto de mesa e cadeiras bistrô parisiense. A cozinha integrada se insere na decoração naturalmente. Com quadros nas paredes, lembra um bar de hotel, algo que muito apreciam. A Iluminação indireta permite uma atmosfera acolhedora, composta por itens de iluminação de diferentes designers relevantes. Em evidência fica a Pipistrello, de Gae Aulenti, em um ângulo importante e com visual marcante.
ESCOLHAS ÚNICAS
Adeptos da expressão “uma peça só não faz verão’’, cada escolha objetiva a construção de camadas, o que torna cada cena harmônica. Logo na entrada, um oratório do Arcanjo Miguel, chama a atenção. Criado por Jader Almeida em madeira com base triangular, serviu de inspiração para a bancada do lavabo no mesmo formato. Na estante sob medida, fica a coleção de muranos, fruto do gosto por garimpar, um hábito que cultivam ao viajar. Logo ao lado, uma parede importante abriga um quadro que diz muito sobre a história de Ary, pintado no ano de seu nascimento pelo artista Malinverni Filho. A obra foi um presente de seu pai e é a representação das paisagens catarinenses, sua terra natal. Uma fotografia de Julianne Moore, de quem Renan é fã, assinada por Mario
Testino, também está entre as peças de destaque. No centro da sala principal fica a escultórica mesa Quebra-Mar. Criada pelo escritório, é uma composição de bases de aço inox que se encaixam com peças de vidro fundido. Ao invés de tendências, preferem o design duradouro. “A ideia é pinçar itens que deram certo ao longo das décadas e trazer isso para um conceito atual. Design assertivo e de qualidade é eterno’’. Também estão presentes no apartamento peças da Kartell, Weplight, Lonna Vautrin, Sergio Rodrigues, Charles Eames, Mies Van der Rohe, Carbono, Samuca Gerber, Oslo Design, Jayme Bernardo, Raphael Macek, Cristina Barrancos, Eduardo Bragança, Eleuthério Netto, Eduardo Custódio, Almir Mavignier, Bruno Marcelino e Sandro Gos.
LABORATÓRIO
Sempre que amadurecem seu olhar gostam de vivenciar novas escolhas. ‘’Faz parte do nosso trabalho experimentar para poder propor aos clientes. A vida é um laboratório e a nossa casa é reflexo disso. O Nosso escritório é dinâmico e, às vezes, não temos tempo de filtrar e viver cada peça. E para um casal em constante movimento, quando chega o momento de fazer novos testes, o apartamento que vivem é vendido, as peças inseridas em novos projetos e novas referências entram em cena em um novo endereço e um novo lar.’’
Para Ary, ‘’morar é mais que abrigo, é aquela caixinha
de memórias que nos acolhe, conforta e abraça. Tudo em nossas casas reflete quem somos, de onde viemos e para onde vamos. É onde o compilado da nossa história encontra o destino e ali fazem morada’’.
Para Renan, ‘’me vejo em cada escolha que fiz, me reconheço nas minhas coleções e fico à vontade na minha construção, eu gosto mesmo é das camadas, do conjunto, do arranjo. Se tivesse que escolher um único objeto para embarcar comigo para outro destino, desistia da viagem e ficava aqui com tudo que escolhi para ser feliz’’.
UM DESIGNER QUE VOA ALTO
Experiência, atenção aos detalhes e paixão por aeronaves são diferenciais de um time que faz o Brasil se destacar no mundo
Fotos: Embraer/Divulgação
Raphael Affonso, Senior Designer na Embraer, tem uma trajetória profissional marcada por uma combinação de educação e prática que o moldou para sua posição atual. Antes de ingressar na empresa ele lecionava as disciplinas de Render, Ilustração e Fabricação de Mock-up na FATEA (hoje UNIFATEA) em Lorena, SP. Universidade onde se formou em 1999 em desenho de produto e também trabalhava na área de engenharia de veículos especiais na Volkswagen Caminhões e Ônibus em Resende, RJ. Sua jornada na Embraer começou em 2006 após descobrir, por meio de um de seus alunos na FATEA, que a empresa estava contratando designers para expandir o time do estúdio em São José dos Campos, SP. O processo levou, aproximadamente, quatro meses e, em pouco tempo, ele estava nos Estados Unidos liderando o desenvolvimento de um novo interior de aeronave executiva da empresa.
O papel de um desenhista industrial, especialmente na indústria aeronáutica, é altamente específico e desafiador. Algumas empresas ainda dependem de escritórios de design externos como consultores, o que, muitas vezes, resulta em modificações significativas no conceito durante a fase de detalhamento pela engenharia. Na Embraer o design é tratado internamente, atendendo diferentes unidades de negócio, com uma equipe de, aproximadamente, 20 designers, entre profissionais de produto, gráfico, Color & Trim e Rendering, todos com, pelo menos, uma década de experiência na indústria aeronáutica. Raphael, um dos veteranos do estúdio da EDO (Embraer Design Ops) com quase 18 anos de empresa, confirma a cultura de retenção de talentos nessa que é uma das maiores fabricantes de aeronaves no mundo.
COMPLEXIDADE E INOVAÇÃO
Os desafios enfrentados pelo time de design da Embraer são numerosos. A indústria aeronáutica é rigorosamente regulamentada pelos órgãos responsáveis, como FAA (EUA), ANAC (Brasil) e EASA (Europa). Cada aspecto do design, desde os assentos até as saídas de emergência, deve cumprir normas estritas mediante requisitos técnicos rigorosos e, ainda, serão submetidos a testes de certificação do produto junto aos diversos órgãos reguladores. Raphael destaca que o conhecimento aprofundado das restrições de produção e manufatura se torna crucial com a experiência, tornando o design uma atividade altamente colaborativa e multidisciplinar. Explica que o design da Embraer se sustenta em três pilares: ergonomia, fabricação e estilo. O desafio é criar produtos que não apenas sejam visualmente atraentes, mas que, também, sejam ergonômicos e atendam aos requisitos de certificação. Além disso, o peso é uma preocupação constante, pois cada grama adicionada ao produto im-
pacta no consumo de combustível e, consequentemente, no custo operacional das aeronaves.
Raphael tem uma vasta experiência em projetos, especialmente na área de assentos de aeronaves, que é um dos ítens mais complexos do interior de um avião, tendo participado de mais de 10 desenvolvimentos além de galleys, lavatórios e cockpit. Ele menciona que a criação de um novo assento pode levar até três anos,
desde os primeiros esboços até a sua produção e entrada em serviço. A prática de voar nos próprios produtos, algumas vezes com os clientes de jatos executivos, faz parte do trabalho para garantir uma experiência autêntica e vivencial do design. Raphael elogia o ambiente de trabalho na Embraer, destacando a confiança entre os membros da equipe e a capacidade técnica de todos os profissionais da empresa.
OÁSIS VERDE COM FACILIDADE URBANA
AFazenda Bayer é um refúgio natural localizado em Quatro Barras, adquirida na década de 1950, reconhecida por seu histórico de preservação ambiental e reflorestamento. Com mais de 1,5 km de testada para a represa do Iraí, é circundada pela Serra do Mar, oferecendo uma vista panorâmica inigualável de 360 graus, além de um pôr do sol espetacular.
O condomínio, projetado pelo renomado arquiteto Eli Loyola, possui área total de mais de 1 milhão de m², dos quais 512 mil m² incluem áreas de preservação permanente. Conta com 252 lotes com áreas privativas
a partir de 2 mil m², garantindo espaços amplos e privacidade, além de estrutura de lazer completa com salão de festas, espaço gourmet, espaço fitness, sala de jogos, playground, quadras de tênis e beach tennis, campo de futebol society, quadra poliesportiva, vestiários, quiosques com churrasqueira e trilhas de caminhada. Também oferece infraestrutura completa, promovendo a integração entre natureza e tecnologia de ponta com soluções avançadas para a segurança e tranquilidade dos moradores.
Situado a poucos metros das facilidades de Quatro Barras, o condomínio combina os benefícios de uma grande cidade com a serenidade de um ambiente natural. O município é conhecido pelo seu polo gastronômico em constante expansão e oferece excelente infraestrutura para esportes ao ar livre, como montanhismo, por exemplo. Além disso, oferece como facilitador acesso rápido pela BR-116 via trevo do Atuba.
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Não perca a oportunidade de viver em um dos lugares mais privilegiados da região!
Endereço: Av. São Sebastião, 1404, Quatro Barras PR
SACCARO
A arquiteta Larissa Lóh, da Loh Studio, apresentou na Saccaro a vitrine "Alma em Bossa", com linhas e curvas que evocam uma natureza exuberante.
Foto: Patrícia Amancio
MOMENTTUM
Como parte da celebração pelos 25 anos da Momenttum em Curitiba, a loja trouxe Guilherme Wentz, um dos grandes expoentes do design nacional para um papo sobre Design Sensorial. Na foto, Jocymara Nicolau, Caroline Bollmann e Marinice Bettega.
Foto: Kelly Knevels
PIEMONTE
A Incorporadora e Construtora Piemonte entregou o Piemonte Vizione, localizado no bairro Vila Izabel. Com um projeto arquitetônico inspirado no estilo neoclássico, o Vizione possui espaços internos amplos e uma infraestrutura completa de lazer. Silvia Soares, diretora de incorporações da Piemonte, e Filipe Demeterco, diretor da construtora, prestigiaram o concorrido evento de entrega.
Foto: Arthur Guerino
M. DECOR
M. Decor inaugura flagship em casarão histórico no coração do Batel, apresentando com exclusividade os produtos da Modalle, uma marca internacional premiada em Nova York. Na foto, o gerente comercial Bruno Machado; o CEO da Modalle Móveis, Valdevir Pires; os fundadores da M. Decor Ramilto Junior e Lilian Zampieri Flores Lima; Cíntia Peixoto e Carlos Eduardo Canto.
Foto: OnUp
KATLEEN LUIZAGA
Home Office Memórias, projeto de Katleen Luizaga para CASACOR Paraná 2024. Em um espaço de 11m², a designer conseguiu criar um home office funcional, que não só atende às necessidades práticas do trabalho, mas também resgata a memória afetiva e incentiva a valorização dos itens de família.
Foto: Raquel Lima
INVESCON
Luís Napoleão, CEO da Invescon, apresenta o apartamento decorado do Varanda Barigui, residencial que será entregue em 2025. O decorado fica no próprio empreendimento que está em estágio avançado de construção na Jerônimo Durski, esquina com Padre Anchieta.
LAGUNA
A Galeria Laguna foi palco de uma apresentação especial sobre a Bienal de Veneza, conduzida pela curadora de arte Mariane Beline, da
BAGGIO SCHIAVON
Com uma nova base em Nova Iorque, o escritório Baggio Schiavon expande sua influência internacional. O sócio-fundador Flávio Schiavon tem dividido sua agenda entre Curitiba e Nova Iorque. Foto: Divulgação
CRIPPA E ASSIS
Os arquitetos Maria Alice Crippa e Gustavo Assis visitaram a Holy Home Store no Batel e foram fotografados na famosa escada da loja. O casal, responsável por um dos projetos mais elogiados da CASACOR Paraná 2024, comemora a conquista de vários novos clientes na mostra.
equipe da Galeria Simões de Assis. Na foto, Waldir e Flavia Simões de Assis, Mariane Beline, André Marin, Juliana e Gabriel Raad.
ENGEVITA
A Engevita, construtora especializada em obras residenciais e corporativas com mais de 25 anos de história, recebeu convidados para um coquetel especial na CASACOR Paraná 2024. A empresa marca presença na mostra no espaço Refúgio Deca, assinado pela Arquitetare, por Elaine Zanon e Claudia Machado. Na foto, os diretores da Engevita, Lincoln Fedato e Ana Laura, com a arquiteta Elaine Zanon. Foto: Gerson Lima
CRIS BERTOLUCCI
A revista Habitat e a Ideally promoveram um talk com Cris Bertolucci sobre design e iluminação para um seleto grupo de arquitetos convidados. Na imagem, Soraya Ribas, Cintia Peixoto, Cris Bertolucci, Débora Mateus e Giovanna Bertolucci.
Foto: Divulgação
WOLF SCHLÖGEL
O paisagista Wolfgang Schlögel foi premiado na CASACOR Paraná 2024 com o ambiente externo, o maior e mais comentado da mostra. Na foto, Wolf com Marina Nessi, diretora da CASACOR Paraná, Gerônimo Machado, da Desjoyaux Piscinas e Marcos Lopes, da Axell Banheiras. Foto: Gerson Lima
NPK MÁRMORES
A NPK Mármores levou a exuberância do Travertino para os ambientes Refúgio Deca, assinado pela Arquitetare e Living, de Angela Chinasso e Carlos Reichmann. Na imagem, Debora Merhy e Rafaella Buffara da NPK Mármores com Marina Nessi.
Foto: Patricia Amancio
por Cesar Franco Coluna Conexão
ILUZZE
Com investimento de R$5 milhões, inaugurou a Iluzze, loja do Grupo Vellore. Na foto, Alessandra Abage, gerente de operações da Iluzze; os diretores do Vellore Rosane Pereira, Laufran Wosniak e Roberta Castro, Belisa Rosa, gerente da Iluzze; os diretores do Grupo, Felipe Kazmierczak, Claudia Figueredo, Diego Prestes e Ana Lauber.
Foto: Gerson Lima
MONTRELUX
A Montrelux, empresa com 14 anos de mercado, referência em box de banho, espelhos, guarda-corpos e projetos especiais, é fornecedora oficial da edição Paraná da Casacor 2024, com destaque no espaço Refúgio Deca. Na foto: Marina Nessi, Diretora da CASACOR Paraná, Juliano Deconti, Diretor da Montrelux, e Melissa Capriglione, Diretora da Vidromax.
Foto: Gerson Lima
BESHA BOULEVARD
Em Guarapuava, o Besha Boulevard, localizado em uma antiga fábrica com arquitetura preservada, reúne moda, arte, design, arquitetura e inovação, com conceitos e estratégias diferenciadas de negócios, mostrando a força da economia do interior. A empresária Cíntia Covali é a anfitriã desse local mágico e repleto de oportunidades.
PREMIAÇÃO CASACOR PARANÁ
Em evento realizado no final de junho, a mostra paranaense premiou os arquitetos que assinaram 14 dos 34 ambientes, em 11 categorias. A editora-chefe da Habitat, Débora Mateus, foi uma das juradas do prêmio. Conheça a lista dos espaços e profissionais premiados:
Projeto Mais Ousado: Hall de Entrada, Karolinna Venturi
Tema "De Presente, o Agora": Morada Mar, Maria Alice
Crippa e Gustavo Assis
Cumprimento de Prazo: Ótica, Priscila Mileke; Joalheria, Bruna Varhau; Cottage de Serra, Rebeca
Zanuthi e Thiago Zoller
Revelação: Cottage de Serra, Rebeca Zanuthi e Thiago Zoller
Ambiente Conceito (Empate): Refúgio Deca, Elaine
Zanon e Claudia Machado; Quarto do Ico, Alessandra Gandolfi
Ambiente Mais Sofisticado: Bar, Rodolfo Fontana
Melhor Aproveitamento de Espaço: Home Office
Memórias, Katleen Luizaga
Destaque Banheiros: Sala de Banho do Casal, Diego Miranda Leite e Zeh Pantarolli
Uso Público: Piscina, Wolfgang Schlögel
Ambiente Comercial: Bar Jenipapo, Givago Ferentz
Inovação: Fachada, Nicholas Oher e Paloma Bresolin
GALERIA
ZILDA FRALETTI
Foto: Gerson Lima
Registro da Exposição "Ainda me faltam cores para os lugares que existem em mim”, de Verônica Filipak, na Galeria Zilda Fraletti, com curadoria de Juliane Fuganti.
A obra de Verônica combina técnicas manuais e de máquina, criando paisagens imaginárias a partir da memória. Na foto, a artista com Zilda Fraletti e Carlos Cavet.
COSY + BRANCO CASA
A Cosy Home preparou um almoço para celebrar a parceria com a Branco Casa, marcas que estiveram presentes em seis ambientes da CASACOR Paraná 2024. Na imagem, Ary Jacobs e Renan Mutao, Rafael Trindade e Nitsa Vianna. Foto: Divulgação
PÁTIO BATEL
Gabriela Zukeram, Tiemi Sugisawa e Thalita Zukeram prestigiaram o Terraço Junino do Pátio Batel, que lotou todos os dias e ofereceu diversas opções gastronômicas, shows e brincadeiras.
GT BUILDING
A GT Building inaugurou a Exposição Lange,Turin, com obras de Lange de Morretes e João Turin, no espaço Universo GT. A exposição celebra o lançamento do empreendimento Lange,Turin e é aberta ao público,
com visitas guiadas e uma sala de cinema disponível para visitação. Na foto Arsênio de Almeida Neto- Diretor Executivo da GT Building e Marcello Malucelli Thá- Diretor de Incorporação da GT.
NPD NA ARGENTINA
Fotos: Divulgação
A viagem promovida pelo Núcleo Paranaense de Decoração incluiu além da imersão histórico-cultural, a premiação dos arquitetos paranaenses na categoria ouro pelo fomento de negócios entre os lojistas associados. São eles:
Elaine Zanon e Claudia Machado (Arquitetare), Mariana Stockler (SP Studio), Silmara Pimpão Arquitetura, Claudia Horta e Edison Vello (Horta e Vello), Jayme Bernardo Arquitetura e Design, Mauricio Pinheiro Lima e Carla Mattioli (Pinheiro Lima e Mattioli Arquitetura), Jorge Elmor, (Estúdio Elmor), Mariana Paula Souza, (MPS Arquitetura), Giuliano Marchiorato, Gabriela Casagrande Arquitetura, Marina Carvalho e Thalita Peron (BO. Arch Studio), Samara Barbosa Arquitetura, Carol Bollmann (Espaço A Arquitetura), Cris Daros Arquitetura, Guilherme Belotto, Camile Scopel e Thiago Tanaka, (BST Arquitetura), Renan Mutao e Ari Jacobs (Studio Architetonika), Eliza Schuchovski Arquitetura, Fernanda Cassou Arquitetura, Viviane Loyola Arquitetura e Caroline Andrusko Arquitetos
UM PEDAÇO DA TOSCANA EM SÃO PAULO
Lar é como definimos o ambiente em que vivemos e nos sentimos acolhidos. Oriunda da palavra lareira, onde as pessoas ficavam juntas para se manterem aquecidas – um ato que fortalecia a união e o amor – é a melhor definição para a casa onde viveu e trabalhou um dos artistas mais importantes da cena brasileira. Construída no Jardim Europa, bairro nobre na capital paulista, a casa de Fulvio Pennacchi (Toscana, 1905 - São Paulo, 1992) é um capítulo à parte na história da cidade.
Nela, o artista criou os oito filhos que teve com Filomena Matarazzo, onde trabalhou e permaneceu por 44 anos, mas, mais que isso, a casa é resultado de um italiano apaixonado por sua terra natal recém-chegado ao Brasil. Aportado em terras ‘brasilianas’ aos 24 anos, em 1929, teve grande produção artística e arquitetônica, em uma época em que a profissão de arquiteto não era reconhecida.
Seus traços, inconfundíveis, podem ser percebidos, inclusive, em um dos marcos de São Paulo, a Igreja da Paz, localizada no bairro do Glicério. As fortes caracte-
rísticas Toscanas estão nos arcos das portas – tanto na Igreja quanto na residência – assim como no revestimento típico daquela região da Itália e que aplicou nas paredes externas da casa: uma mistura de pigmentos que permitiu a longevidade da cor. Até hoje, mais de 75 anos depois de sua construção, as paredes nunca foram pintadas e as tonalidades permanecem frescas, iguais. Talvez, buscando aplacar a saudade de sua Toscana, desenhou cenas da vida campestre nos azulejos da cozinha e em outros tantos afrescos, têmperas e cerâmicas em vários ambientes ao longo dos 686m². Temas religiosos também lhe eram ricos. Seu ateliê, mesmo depois de 32 anos de seu falecimento, segue praticamente intocado, com criações inacabadas, expostas, que dão vida e onde se tem a sensação de que, a qualquer momento, serão finalizadas. Desenhista, ilustrador, ceramista, gravador, Fulvio Pennacchi enalteceu a simplicidade de seu povo sem nunca deixar a sua.
Ju Vilela trabalha com comunicação há mais de duas décadas, especializada nas áreas de design, arquitetura e artes plásticas.