nº10 abril/Maio/Junho 2013
www.revistaoutdoor.pt
outdoor Revista
Torna-te fã
trailers portugueses nascidos para correr por Aurélio Faria
Entrevista
Trail Running no Feminino Aventura com Natércia Silvestre Ararat por Luísa Tomé
soS
Sobrevivência Urbana
projeto
Desafio a Dois
descobrir
Pequenas Rotas de Arouca
desporto adaptado A Hipoterapia
Diretrizes EDITORIAL
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GRANDE REPORTAGEM Trailers portugueses, Nascidos para correr!
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PUBLIREPORTAGEM — Connect to your World com a Merrel
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nº10 Abril a Junho
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EM FAMÍLIA EVENTO — 8ª Maratona do Douro Vinhateiro
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ATIVIDADE — Caminhada Forte Ajuda Grande
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VIAGEM — As rosas de Atacama
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aventura DESAFIO — Juncal, Nova Via de Canyoning
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DESAFIO — Ararat por Luísa Tomé
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CRÓNICA — Lousã, Uma caminhada Interna por Sílvia Romão
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entrevista Natércia Silvestre — Trail Running no Feminino
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POR TERRA DESCOBRIR — Geoparque de Arouca
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ROTAS — PR´s de Arouca
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EVENTO — Oh meu Deus 2013
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INDOOR — Preparação Indoor para Trail Running
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ÁGUA atividade — Canyoning
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SUGESTÕES — Onde fazer Canyoning em Portugal
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FOTOGRAFIA PORTFOLIO DO MÊS — Sérgio Azenha
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FOTO-REPORTAGEM — Os Geosítios de Arouca
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SOS Sobrevivência Urbana por Luís Varela
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Após 12 horas de trabalho, que partilha desportiva há entre um médico de 57 anos e um empresário quarentão de horários incertos? Na grande reportagem teremos a resposta dada por Aurélio Faria.
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DESCOBRIR LIVRO AVENTURA — Alma de Viajante
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PROJETO — Desafios a 2
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kids campos de férias e FESTAS DE ANIVERSÁRIO com aventura ATIVIDADES OUTDOOR
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DESPORTO ADAPTADO HIPOTERAPIA
Natércia Silveste, um nome do Trail em Feminino. Para Natércia, o trail começou quase por engano... Hoje é uma das principais atletas desta modalidade em Portugal.
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ESPAÇO APECATE Certificação de Activos em Turismo de Ar Livre: RVCC ou Reconhecimento APECATE?
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PUBLIREPORTAGEM
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EQUIPAMENTO
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a fechar
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Ana Marisa Brito, conta-nos a importância da hipoterapia e dá-nos a conhecer alguns casos reais de crianças portadoras de deficiências que aderiram a esta modalidade. Os textos e imagens presentes na Revista Outdoor são da responsabilidade dos seus autores. Não é permitido editar, reproduzir, duplicar, copiar, vender ou revender, qualquer informação presente na revista.
Editorial Ficha técnica
chegou o número 10!
N
esta edição rendemo-nos à nova febre do Mundo Outdoor: o Trail Running! Identificámos praticantes desta modalidade e surpreendemo-nos com a quantidade de fãs que está a atrair (acreditamos que inspirados na fantástica história de Carlos Sá, que revelámos na edição 6). Sabiam que o João Garcia e João Rodrigues já praticam Trail Running? Descubram estes e outros praticantes portugueses na grande reportagem. Também temos revelações no feminino: Natércia Silvestre, na grande entrevista. Ainda no Trail Running, descobrimos alguns eventos que se vão realizar, ideais para quem se pretende aventurar na modalidade e damos a conhecer mais um fantástico fotógrafo português, num portfólio dedicado aos fãs de corridas na natureza. Parando de correr e passando a caminhar, aceitem o nosso convite internacional: explorar o Ararat com a Luísa Tomé. Por cá, sugerimos o Geoparque de Arouca e apresentamos algumas das suas rotas.
www.portalaventuras.clix.pt Edição nº8 WPG – Web Portals Lda NPC: 509630472 Capital Social: 10.000,00 Rua Melvin Jones Nº5 Bc – 2610-297 Alfragide Telefone: 214702971 Site internet: www.revistaoutdoor.pt E-mail: info@revistaoutdoor.pt Registo ERC n.º 126085 Editor e Diretor Nuno Neves | nuno.neves@portalaventuras.pt Marketing, Comunicação e Eventos Isa Helena | isa.helena@portalaventuras.pt Sofia Carvalho | sofia.carvalho@portalaventuras.pt BEBIANA CRUZ | bebiana.cruz@portalaventuras.pt
Porque o tempo já convida, que tal iniciar-se no Canyoning? Tome nota de alguns dos locais onde pode praticar a modalidade em Portugal. Se gosta do tema, não perca a aventura da abertura da maior via de canyoning existente no nosso país.
Revisão Cláudia Caetano
Na secção do desporto adaptado o destaque vai para a hipoterapia. Neste artigo pode conhecer alguns casos reais de crianças portadoras de deficiências que aderiram a esta modalidade.
Colaboraram neste número: Amâncio Santos, ana barbosa, Aurélio Faria, filipe morato gomes, ivo brandão, luís varela, luísa tomé, marisa brito, natércia silvestre, sérgio azenha, sílvia romão, telmo veloso.
Para fechar e, para além das habituais sugestões de equipamentos e atividades para miúdos e graúdos, queremos que estejam preparados para sobreviver a catástrofes em meio urbano. Este é o convite do SOS desta edição. E aproveitando a primavera, sugerimos que aproveite o bom tempo para quebrar a rotina do dia a dia e abrir o espírito para um enorme mundo de aventuras tão perto de nós! Divirta-se! Até julho e… boas aventuras. ø
som bebiana cruz Design Editorial Inês Rosado Fotografia de capa berg outdoor Desenvolvimento Ângelo Santos
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Grande Reportagem Por Aurélio Faria
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Janeiro_Fevereiro 2013 OUTDOOR
Grande Reportagem Trailers Portugueses
TRAILERS PORTUGUESES, NASCIDOS PARA CORRER
Grande Reportagem
A
pós 12 horas de trabalho, que partilha desportiva há entre um médico de 57 anos e um empresário quarentão de horários incertos?
Que gosto comum une um alpinista dos Himalaias a um velejador do Atlântico? O que é que reforçou o casamento entre uma técnica de Recursos Humanos e um engenheiro químico? A resposta simples é: Trail running. A explicação mais original pode estar na Mensagem de Fernando Pessoa e no poema breve mais conhecido da língua portuguesa, tornado lema de vida por um trail runner de 57 anos, o economista e administrador bancário João Neto.
mista que inclui no palmarés a participação em Ultratrails (provas superiores a 42,195km, a distância da maratona) e em provas extremas como a Maratona das Areias (240km em autonomia no deserto do Sahara), o Ultratrail do Monte Branco (168km) e a Comrades (89km, África do Sul) Outsider que pratica a modalidade como complemento ao treino sem altas montanhas quando está em Portugal, o alpinista João Garcia destaca «a camaradagem única e a família fantástica» que são os trail runners portugueses. «É engraçado perceber a origem desportiva de cada um: há aqueles oriundos do atletismo de estrada, os que vieram da BTT, e os começaram no montanhismo/pedestrianismo, e que, tal como eu, querem cumprir mais rápido a mesma distância.» - descreve Garcia.
Há ainda os praticantes improváveis como João Rodrigues. O velejador e atleta olímpico madei«(...)Tudo vale a pena se a alma não é pequena rense iniciou-se na modalidade em resposta ao Quem quer passar além do Bojador desafio de uns amigos inscritos numa prova na Tem que passar além da dor. floresta Laurissilva de Santana. «Pela simples Deus ao mar o perigo e o abismo deu, razão de viver numa ilha com uma natureza abMas nele é que espelhou o céu. » solutamente ímpar, ao mesmo tempo agressiva e desafiadora, ter o privilégio de correr neste ceA Associação de Trail Running de Pornário, foi e é uma necessidade!» - explica tugal define a modalidade como o atleta de 41 anos que sempre adorou corrida pedestre em Natureza, O mesmo a sensação de caminhar ou correr com o mínimo de 10% de perem plena natureza, e pratica Trail gosto pela Natucurso pavimentado em serra, running como complemento da reza, e a vontade de montanha, alta montanha, e preparação para o windsurf. planície, e em terrenos como transpirar e ultrapasestradões, caminhos e trilhos A família fantástica de que fala sar limites levou David florestais. João Garcia inclui ex-maratoFaustino a sair das Aos 54 anos, faça chuva ou nistas amadores como o emcorridas em alcabrilhe o sol, de dia ou já noite presário João Neto que desejava escura, sinta frio ou transpire apenas recuperar a forma física. trão. de calor, Rui calça as sapatilhas e Aos 43 anos concilia corrida e gosto sai de casa para treinar, e prepararda natureza «Não há melhor conjugação. -se para corridas extenuantes de 10 horas, Neste momento não preciso de motivações, mas que o deixam sempre relaxado e despreo- estou completamente viciado. Sinto-me bem e cupado. faz parte do meu dia a dia, tal como comer ou dormir.» UMA FAMÍLIA FANTÁSTICA «Depois de ter tentado diversas atividades, che- O mesmo gosto pela natureza, e a vontade de guei à corrida e acabei por ficar. Porque é fácil, transpirar e ultrapassar limites levou David permite pensar e meditar em muitas coisas en- Faustino a sair das corridas em alcatrão. «Gosquanto corremos em contacto com a natureza. tando de correr e de ar livre, a escolha foi naE eu adoro a montanha, apesar de ter vertigens tural.» O engenheiro químico de 47 anos subterríveis!» - conta Rui Pedras que começou a pra- linha a motivação proporcionada pelo equilíbrio ticar trail running pela necessidade de mudar de físico e psíquico. «A cada treino ou prova, essa estilo de vida. motivação fica reforçada. E o facto da minha «Penso em muitas coisas, normalmente posi- mulher participar comigo nas provas e em tivas. Se começarem a surgir pensamentos nega- muitos treinos, é só por si uma importante fonte tivos, a prova não vai ser acabada ou vai ser mal de motivação porque partilhamos objetivos e acabada! Já encontrei soluções para problemas experiências.» David recorda, em particular, complexos durante a corrida!» - relata o econo- os quilómetros finais das duas últimas provas 8
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Grande Reportagem Trailers Portugueses Rui Pedras com Carlos Sá e Armando Teixeira no Ultra Trail do Monte Branco
de 100kms em que participou em Espanha. Em ambas, encontrou casualmente Isabel «É marcante o facto do companheiro nessas aventuras, principalmente nos momentos finais onde o desgaste é elevado e as emoções estão ao rubro, ser o nosso companheiro de vida.» Isabel Moleiro é técnica de Recursos Humanos e aos 45 anos, satisfeita a curiosidade, acabou por encontrar motivações para partilhar experiências e objetivos desportivos longe do ar condicionado.«Proporciona-me bem estar físico e psicológico, para além de ser uma modalidade que consigo conciliar com a minha vida profissional e familiar.» E aos 57 anos, Pedro Amorim é um dos veteranos da modalidade em Portugal. No trail running, o médico anestesista e professor universitário recuperou o gosto da juventude pela montanha e pela aventura, e encontrou forma de
combater o stress de turnos laborais de 12 horas. «Além de adiar o envelhecimento, permaneço saudável, faço amigos e socializo...» íDOLOS E PROVAS Dean Karnazes, Killian Jornet e Ann Trason são referências internacionais dos trailrunners portugueses. Em Portugal, todos referem com orgulho o nome de Carlos Sá como atleta de renome mundial. Armando Teixeira e Susana Simões e
Rosália Camargo são também apontados como modelos desportivos. Em Portugal, o Ultra Trail da Serra da Freita, o Trilhos dos Abutres, a OMD Run Series Vila do Rei, a Madeira Island UT, o Trail noturno da Lagoa de Óbidos e Barcelos Amigos da Montanha são algumas das provas mais concorridas. No estrangeiro, o EcoTrail Paris (80 kms) deste ano contou já com a participação de trailers portugueses. David Faustino e Isabel
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Grande Reportagem conversas com atletas com quem partilhou 2 O CÉU E A SOLIDÃO Do suor, das cãimbras ou 3 horas de percurso em provas anteriores. e das dores musculares Depois, diz «fico atento, oiço, cheiro, toco na não se fala aos profanos vegetação e nas pedras, desfruto dos abastecida modalidade. Os trail mentos, cumprimento os habitantes locais com runners preferem sempre quem me vou cruzando, e algumas horas derecordar os momentos pois chego, feliz por não ter pensado em nada felizes. «A mais difícil foi do que habitualmente me atormenta.» Mais raa Freita» - recorda João cional, Isabel explica que «os pensamentos vão Neto. «Por ser a mais longa surgindo e, procuro pensar em coisas positivas, e com mais altimetria, de que sou capaz...» tenho boas memórias do percurso e das conversas. O TREINO A única má memória são Conhecer um trail runner amador é também coas dores musculares, mas nhecer alguém que, por mais que trabalhe, tem habituamo-nos incrivel- sempre tempo para correr num dia de 24 horas. mente depressa» Já para Rui Pedras, nada David Faustino garante que a conciliação é conseguida com disciplina. «Treina-se sempre se compara à expeque possível e não se pode passar riência de abril tempo improdutivo no escritório. de 2011 e Os Horário de treino só mesmo ao «céu treinos variam João Garcia no fim de semana, com saída fantásconsoante a minha por volta das 9h30. Durante tico do deserto do Sahara e a semana, por vezes muito disponibilidade e as à solidão, durante a noite cedo (no verão), de prefeda etapa mais longa da Maprovas programadas. rência ao início da manhã, ratona das Areias. Rui desNormalmente faço treinos mas também muitas vezes à taca ainda outras 2 provas: mais curtos durante a noite, depois das 22h.» «O início da Comrades Marathon (cerca de 90 kms) na semana e ao fim de David é também o treinador África do Sul, quando os partisemana são mais de Isabel, mãe trabalhadora, e cipantes entoam a Shololosa e o longos.» sempre com tempo para treinar hino sul africano… é uma emoção «Não é uma tarefa fácil… O meu hotremenda! O mais difícil até hoje: rário ideal é de manhã bem cedo, antes a neve nos primeiros 50 kms da Western States, prova de 160 kms na Califórnia, o que em da família acordar entre as 06h00 e as 07h00... montanhas, para quem tem vertigens como eu, Os treinos variam consoante a minha disponibilidade e as provas programadas. Normalmente foi extraordinariamente difícil.» faço treinos mais curtos durante a semana e ao David Faustino afiança que tenta controlar a fim de semana são mais longos.» inquietação nos minutos antes da partida em
Rui Pedras
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Armando Teixeira
Isabel em prova
Isabel e David
João Rodrigues
Grande Reportagem Trailers Portugueses
João Garcia
Normalmente,e para evitar lesões, realizo-os longe de provas relevantes. Procuro escolher percursos técnicos, que exijam atenção constante, e não escolho percursos rápidos, porque não servem os meus propósitos para a prancha à vela».
Para Pedro Amorim, que trabalha diariamente 12 horas, e por vezes aos fins de semana, as sapatilhas são calçadas para correr depois das 22h ou 23h, ou até mesmo mais tarde. «Os treinos têm normalmente entre 8 e 30Kms, sendo a distância mais habitual os 12 a 15kms, ou então cerca de 2 a 2h30mins para treino mais técnico.» - explica este médico do Porto.
Rui Pedras diz que o importante é «encontrar sempre um período para treinar, seja a que horas for. Aos fins de semana, o treino é matinal; durante a semana de trabalho, o treino é à noite. Desde intervalos de 400 metros a treinos de longa distância, que podem ir até aos 60/70 kms aos sábados ou aos domingos.» João Neto aproveita também organizar da melhor maneira os intervalos laborais. «Treino muitas vezes às 6:30 da manhã, também à hora do almoço e quase sempre faço treinos longos aos fins de semana. Procuro fazer muitas subidas e nas fases que estou a preparar Maratonas para recorde
pessoal, faço muitas séries.» Trail runner por carolice, o velejador João Rodrigues treina de acordo com a programação da época de prancha à vela. «Normalmente, e para evitar lesões, realizo-os longe de provas relevantes. Procuro escolher percursos técnicos, que exijam atenção constante, e não escolho percursos rápidos, porque não servem os meus propósitos para a prancha à vela».
OBJETIVOS Aumentar as distâncias percorridas e o prazer retirado de cada experiência é o objetivo dos praticantes regulares de trail running. Para quem prefere correr até 12 horas e distâncias entre 60 e 100km, como David Faustino, a próxima etapa é a participação na prova com mais desnível do mundo «Vou continuar a tentar ir ao Ultra Trail do Monte Branco… Por isso, se o sorteio permitir, talvez para o ano!». Para se candidatar ao sorteio, David terá de obter 7 pontos em não mais que três provas realizadas durante o ano. OUTDOOR Abril_Maio_Junho 2013
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Grande Reportagem Os 168km e 10km de desnível positivo da famosa corrida dos Alpes são também o objetivo de Pedro Amorim e João Neto nos próximos 2 anos. Pedro sonha ainda com a mais mítica das provas, a Maratona das Areias e os 240km em autonomia no deserto do Sahara. Rui Pedras, que cumpriu já as duas provas, e correu ainda a Comrades, na África do Sul, continua a preferir as provas de montanha com trilhos pouco técnicos «A Western States (100 milhas, Califórnia) é a prova que mais me fascina, até porque desisti aos 90 kms, o que me obriga a pensar que tenho de regressar! Para 2013, o grande desafio é o Tor des Géants (330km), em setembro, nos Alpes italianos». Depois de ganhar endurance nos 45/50km, Isabel Moleiro experimentou novas distâncias de 98km e 103km. «Não me dei mal, pelo que julgo estar numa nova fase e à procura de novos desafios». Atletas de outras modalidades, João Rodrigues e João Garcia não têm objetivos tão ambiciosos. O velejador madeirense prefere continuar a apostar em trails curtos que permitam desfrutar da Natureza da ilha. Por sua vez, e habituado à autonomia das expedições himalaianas, o alpinista lisboeta não faz questão de participar em ultratrails concorridos. «Para a minha idade e para aquilo que treino, 5070km é a distância preferida. 100km já envolve sacrifício e capacidade de sofrimento que não tenho necessidade porque me obriga a treinar só atletismo com risco de lesões.»
AOS INICIADOS, DIGO... David Faustino garante que, «com o mínimo de preparação, qualquer um termina uma prova de 10kms em 40 minutos, ou em 2 horas. «Mas todos nós, no fim de um ou dois anos de trail, tivemos uma má prova longa, que não terminámos. A longa distância não perdoa!» - avisa o trail runner que aconselha os estreantes a iniciar-se por «distâncias pequenas, ir aumentando muito gradualmente, até ganhar experiência antes de arriscar distâncias mais longas. Isabel Moleiro confirma os conselhos do marido, e acrescenta que é preciso «criar rotinas, disciplina, e objetivos. Se não for capaz sozinho, arranjar amigos para correr.» Como médico-atleta, Pedro Amorim dá os conselhos mais enquadrados: «Deve evoluir-se passo a passo, com calma. Aprender a sentir o corpo. Alternar corrida e marcha. Procurar o “cross training”. Juntar-se a um grupo ou clube. Fazer musculação e aquecimento e estiramentos. Nadar, Pedalar, Ir ao ginásio. Participar em provas, populares de strada ou de trail ou montanha. Ler. Procurar os melhores sites e blogues e revistas e livros. Assinar uma boa revista.» Já João Neto diz que «é só começar e evoluir durante um ano até não custar. Depois, é automático...». Como alpinista habituado a outras provações, João Garcia dá conselhos práticos. Aos iniciados, digo que é preciso ir primeiro a algumas provas, a trails curtos (inferiores a 21,0975km, a distânica da meia maratona), e João Neto com outros atletas portugueses na partida da Comrades, África do Sul.
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aprender teoria do treino com outros atletas. Devemos evitar overtraining e nunca dar passos maior que as pernas. As lesões maltratadas acompanham-nos para o resto da vida»
Grande Reportagem Trailers Portugueses
Carlos Sá
Filosoficamente, Rui Pedras conclui que «a vontade, a paciência e a disciplina são os elementos essenciais, e que vamos adquirindo com o tempo. A recompensa final é enorme: sentimo-nos melhor com nós próprios e com os outros.» SEM ARREPENDIMENTOS... Felizes os que participam nas provas e, terminam sem lesões podia ser uma das ladainhas dos trail runners. Para quem começou sozinho, e por iniciativa própria, David Faustino ganhou já muitos novos amigos na modalidade. E reforça a opinião de Isabel Moleiro que sublinha o «espírito de entreajuda, partilha e respeito que existe entre atletas, com muito poucas atitudes desportivas anti-éticas». Conclui Pedro que «as longas distâncias requerem sobretudo superação mental e como a idade proporciona sabedoria e experiência, torna-se mais fácil resistir à dor, ao sofrimento e superar os limites.» E como é possível esquecer o sofrimento e o esforço físico extremo? Os lemas de vida de cada um respondem à questão. «Um dia, quando olhares para trás, só te irás arrepender do que não fizeste» - responde David Faustino. Isabel prefere antes a frase de Horácio. “A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas”. Pedro Amorim cita Nelson Mandela “It always seems impossible until it's done”. (Até que seja feito, parece sempre impossível.)
Aurélio Faria Jornalista
Fotos: Lina Branco Costa
Mas é Rui Pedras, o trail runner que cita Fernando Pessoa, que melhor resume o espírito da tal família fantástica: «Penso sempre na máquina que é o corpo humano e nas pessoas que me são mais próximas: os meus filhos e a minha mulher, estão sempre comigo, e têm uma paciência enorme para esta minha atividade. Espero, na minha próxima Marathon des Sables, levar a minha filha Inês! Já andamos a treinar.» ø
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“Connect to Your World” com a MERRELL A MERRELL dá-lhe um motivo para se desligar das tomadas, sair de casa e conectar-se com o ar livre e com os outros através da sua campanha “Connect to Your World” da linha M-Connect. Esta campanha proporciona uma experiência outdoor mais rica, celebrando os benefícios do ar livre e a ligação ao que nos rodeia. A linha M-Connect conjuga todas as facetas da MERRELL, desde a ligação ao terreno à abordagem minimalista no design dos modelos. Através de quatro coleções - Barefoot, Bare Access, Mix Master e Proterra - , a M-Connect apresenta várias propostas para atletas adeptos da natureza, através de um ajustamento mais natural e de um design que garante maior rapidez e leveza, seja no asfalto, na pista, na montanha ou num treino mais generalizado. Cada uma das coleções garante soluções para as necessidades de cada atleta em cada atividade dependendo da finalidade do treino e do terreno.
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Connect to Your World” chega com os 4 Fundamentals of Outside Fitness, um programa de fitness em quatro etapas, concebido por Tim Ferriss, mentor da MERRELL, autor e adepto do minimalismo, que contempla todo o corpo para um benefício otimizado através da conexão ao ar livre. “A campanha “Connect to Your World” é a nossa maneira de inspirar todos a reconectarem-se com o ar livre e com os que os rodeiam,” afirmou Craig Throne, vice-presidente de marketing da MERRELL. “Os nossos fãs continuam a dizer-nos o quanto apreciam estar ao ar livre quando conseguem sentir o terreno que pisam. Esta ideia de sentir e conectar-se com o terreno orientou a marca para criar formas de desbloquear o ponto de ligação – com os modelos minimalistas da linha M-Connect e uma campanha conjunta que chama todos para a ação. Os 4 Fundamentals of Outside Fitness são a forma
“A conexão, para mim, significa ter a noção do que nos rodeia, assim como estar presente no próprio corpo enquanto este se relaciona com o que está ao seu redor,” afirmou Tim Ferriss, o autor do bestseller The 4-Hour Body. “O importante a reter deste programa é que o fitness tem de ser simples e elegante para cativar o maior número de pessoas. Desenvolvi os 4 Fundamentals com uma abordagem minimalista, focando-me no poder da conexão com o ar livre, o que, espero, tire as pessoas da frente dos ecrãs e as desperte para a natureza, mesmo que seja por curtos períodos de tempo.”
Os 4 Fundamentals são quatro movimentos simples que trabalham um maior número de músculos no menor tempo para um efeito otimizado. É um programa inclusivo que pode ser realizado por uma pessoa, por um grupo num parque na cidade, ou mesmo como parte de um treino mais alargado. O objetivo é que as pessoas saiam para o ar livre de uma forma ativa e conectada com o mundo. Os essenciais incluem: 1. The Trap Walk – um movimento inspirado no yoga que ajuda a aquecer todo o corpo 2. The Cat Crawl (ou a variação Bear Crawl) – um exercício de gatas, para trás e para a frente, que conecta as mãos e os pés ao terreno e tra-
KIDS
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Publireportategm Conect to your World
que criámos com Tim Ferriss para encorajar todos a saírem para a rua e conectar-se.”
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Publireportategm Conect to your World
balha o core 3. The Blurpee – uma variação do blurpee tradicional que trabalha os músculos das costas ao puxar as pernas e glúteos para a frente 4. The One-Legged Pistol – um agachamento numa só perna Através da campanha “Connect to Your World”, a MERRELL pretende demonstrar visual e socialmente a importância de se reconectar com o ar livre e com os outros. Para marcar o lançamento da campanha, a MERRELL apresenta a sua linha M-Connect, que proporciona uma conexão otimizada ao terreno graças ao seu design minimalista. ø
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Em Família Evento
EDP 8ª Meia Maratona do Douro Vinhateiro
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ra aí está mais uma edição daquela que é já aclamada como A MAIS BELA CORRIDA DO MUNDO, a EDP 8ª Meia Maratona do Douro Vinhateiro. Terá lugar no próximo dia 19 de Maio, pelas 11.00 horas. Um corrida de vinte um quilómetros sempre ao longo das margens do Rio Douro, a escassos metros do espelho de água, com as gigantescas encostas vinhateiras (quer de um lado, quer do outro). Uma estrada plana, que serve de pista, e uma linha de comboio na outra margem que parece acompanhar todo o percurso. Uma corrida que oferece a serenidade silenciosa do Vale do Douro e o fascínio do cultivo secular dos Vinhos do Douro e Porto. Com organização da Global Sport, o evento conta com o intenso apoio da melhor maratonista de todos os tempos a nível mundial, a madrinha Rosa Mota, que desde 2010 oferece a imagem 18
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ao projeto vinhateiro, e também com o apoio do Diretor Técnico do evento, o mais prestigiado técnico do atletismo português, o professor João Campos. E assim nasce um fenómeno mundial, com uma dinâmica muito própria: o evento do Vale do Douro atrai já participantes de mais de vinte países, congrega concertos musicais, noites de fado, exposições de fotografia, showcookings e uma conferência internacional sobre sustentabilidade rural, culminando com uma prova desportiva de excelência, nos vinte e um quilómetros que a Organização anuncia como os mais belos do planeta. A EDP 8ª Meia Maratona do Douro Vinhateiro tem lugar naquela que é a Mais Antiga Região Demarcada e Regulamentada do Mundo, o Douro Vinhateiro, considerado Património Mundial da UNESCO, prova integrada nos calendário AIMS e, com elevada distinção, prova premium
Em Família Maratona Douro Vinhateiro
do novo projeto mundial RUNNING WONDERS, um circuito mundial que irá englobar um conjunto de meias maratonas realizadas em Patrimónios Mundiais de ímpar beleza, como as Cataratas do Iguaçu, no Brasil, a Cidade Velha, em Cabo Verde, a Grande Muralha, na China ou os Glaciares de Calafate, na Argentina. É difícil encontrar um projeto desta natureza em Portugal, que concentra a união de dezanove municípios, constituintes da Comunidade Intermunicipal do Douro, numa prova de união autárquica para promover a Região no seu todo. Mas este projeto não se fica por aqui, Uma prova e tem também a participacom um percurção ativa de outras entiso rápido, praticadades da Região, como a Confraria dos Vinhos mente plano, de ímpar do Douro, que integra o beleza, que se transforprojeto desde o primeimou numa gigantesro minuto, assim como o Museu do Douro, local ca festa do Vale do onde a Organização deDouro. senvolve um vasto conjunto de ações integradas, e ainda o envolvimento do Turismo do Douro, da Escola de Hotelaria e Turismo do Douro, da Associação de Hotelaria e Turismo do Douro e da Associação Comercial e Industrial do Peso da Régua. Para esta edição, para além da tradicional garrafa de Vinho do Douro que a Organização tem por hábito oferecer a todos os atletas que cortam a meta dos vinte e um quilómetros, nesta edição, no lugar da medalha a Global Sport irá oferecer um símbolo da Região, que para já é surpresa. Para chegar ao Douro é hoje muito acessível, quer através das novas auto-estradas que ligam Bragança, Aveiro, Viseu, Guimarães, Chaves ou Porto à cidade do Peso da Régua. É possível também chegar através de comboio, com viagens acessíveis disponibilizadas pela CP, sublinhando a beleza da viagem de comboio entre o Porto e a Régua. Uma prova com um percurso rápido, praticamente plano, de ímpar beleza, que se transformou numa gigantesca festa do Vale do Douro. Seja na Meia Maratona ou na Mini Maratona, (cinco quilómetros) , A CORRER OU A CAMINHAR EU VOU LÁ ESTAR! ø Organização Maratona Douro Vinhateiro Inscrições abertas: www.meiamaratonadouro.com OUTDOOR Abril_Maio_Junho 2013
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Em Família Atividade
percurso pedestre: Ajuda Grande
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As Linhas de Torres foram uma obra realizada numa extensão de 88Kms ao longo de 4 linhas defensivas, que envolveu a construção de 152 fortificações e redutos armados com 600 peças de artilharia defendidos por mais de 140.000 homens, com estradas de ligação e sistema de comunicações, uma obra inigualável de engenharia construída em tempo recorde. O percurso pretende associar ao local de interesse histórico, ou seja, o forte da Ajuda Grande, uma componente panorâmica sobre o natureza envolvente, serão abordados temas como a flora, fauna e geologia local, a necessidade de conservação e recuperação do património histórico e paisagístico entre outros. Ao longo do percurso serão atravessados diversos pontos de interesse como por exemplo, um bosque de carvalhos, um rio sazonal, um vale, moinhos, uma quinta de interesse vinhateiro, uma perspetiva diferente sobre o Rio Tejo e respetivas lezírias. Será efetuada uma visita ao Forte recuperado onde estaria uma bateria formada com quatro peças de artilharia de calibre 12 e cerca de 300 soldados. Este Forte faz parte de um conjunto de obras recuperadas na comemoração do bicentenário das Invasões Francesas a Portugal.
Em Família Atividade
ara além das paisagens urbanas e campestres, do monte ou da planície, há agora um novo caminho para descobrir… Alie a marcha/caminhada/pedestrianismo à história e desfrute de um percurso pedestre pela 2ª Linha defensiva de Torres criada durante as Invasões Napoleónicas.
Um percurso circular com uma extensão de aproximadamente 11km em trilhos rurais e antiga estrada militar, iniciando-se e terminando no Parque Aventura, com visita ao Forte da Ajuda Grande (obra militar n.º 18), com um grau de dificuldade baixo/médio adequando-se assim a todos os participantes. Este percurso também é "Dog Friendly", ou seja, pode trazer o seu Cão para o/a acompanhar neste percurso. Estes companheiros também podem desfrutar de um maravilhoso passeio ao ar livre e em ambientes naturais. ø Nuno Sousa
Um programa: Sniper
ficha técnica Tipo de percurso: Caminhos rurais e trilhos pedestres.
Grupo Mínimo: 10 pessoas Duração: 4 a 5h. Dificuldade: Fácil Preço: 9,90 € Programa: 10h00 -Receção 10H30 - Exibição de pequeno filme sobre as Linhas de Torres 11H00 - Início Caminhada 12H30 - Chegada ao forte da Ajuda Grande + almoço (não incluído no valor) 13H15 - Explicação de toda a estrutura das linhas de Torres. 14H00 - Início do Regresso 15H30 - Chegada ao Parque Aventura 16H00 - Fim do Programa
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Em Família Viagem
As rosas de Atacama Uma viagem fascinante…
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viagem percorre os caminhos do Norte da Argentina e Chile e do Salar de Uyuni na Bolívia, oferecendo-nos uma experiência inigualável nas regiões do Altiplano, da Quebrada e dos Salares. Tanto pela espetacular paisagem que usufruiremos, como também pela hospitalidade e riqueza patrimonial e cultural de séculos de ocupação humana.
seleção dos locais percorridos reflete-se nas espetaculares paisagens do Norte Argentino, do Salar de Uyuni na Bolívia e de Atacama no Chile.
O itinerário foi desenhado tendo em conta a adequada combinação entre as caminhadas que faremos e os locais que visitamos, a cuidadosa
Esta viagem aos confins da América do Sul, é contagiante, pitoresca e transbordante de cores e luz. Surpreende qualquer viajante pela sua beleza. ø
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Partiremos à descoberta das culturas ancestrais da região, percorrendo os caminhos dos Kolas e dos Incas, admirando os campos de cultivo nas terras altas e nos vales e contemplando os terrenos de pastagens nos terraços das quebradas.
Em Família Viagenm
ficha técnica Tipo: Cultural e Descoberta Número de dias de viagem: 17 Tipo de Alojamento: Hostel Refúgio Grau de dificuldade: Médio Próximas datas: 14/06; 05/07; 26/07; 16/08 Programa previsto
Fotos: Papa-Léguas
Dia 1: Voo cidade de origem - Salta Dia 2: Chegada a Salta Dia 3: Salta - San Antonio de los Cobres - Salinas Grandes - Tilcara Dia 4: Garganta do diabo - Tilcara Dia 5: Tilcara - Iruya - Humahuaca Dia 6: Uquia - Quebrada das Señoritas Humahuaca Dia 7: Região das Quebradas de mil cores Dia 8: Quebrada de Sapagua - Comunidade indígena de Hornaditas Dia 9: Humahuaca – La Quiaca, Villazon – Uyuni (Bolívia) Dia 10: Salar de Uyuni Dia 11: Salar de Uyuni - Lagoas do altiplano Dia 12: Lagoas do altiplano - San Pedro de Atacama Dia 13: Lagoas de sal de Cejar e Esta viagem Tebinquinche aos confins da Dia 14: Caminhada nas cornijas América do Sul, é da cordilheira de La Sal contagiante, pitoresca Dia 15: San Pedro de Atacama Salta e transbordante de Dia 16: Voo Salta - cidade de oricores e luz (...) gem Dia 17: Chegada à cidade de origem Preços: 2370€ (Preço Terra) Desde 1100€ (Preço voo) Um Programa: Papa-Léguas
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Aventura Desafio: A minha expedição - Rui Dantas
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Aventura Nova Via de Canyoning
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ara quem pratica canyoning, a Madei- gosta de montanhismo como eu, este era, e ainra está desde 1989 referenciada como da é, um atrativo extra para a prática do canyoum dos melhores locais para a moda- ning. Há muito tempo que tinha referenciado o Juncal, mas só o ano passado alcancei as lidade em Portugal. Mas poucos condições ideais para concretizar a sabem ainda que existe na O descida com o José Orlando Nuilha o maior canyon até hoje exnes e o Paulo Sérgio Camacho. plorado em território nacional: canyon que se a Ribeira do Juncal. inicia nas imediações A margem direita é de do pico do Arieiro tem 8 acesso mais fácil a parO canyon que se inicia nas tir da estrada, mas fiz a imediações do pico do cascatas, 253 m de rappels, primeira descida a 7 de Arieiro tem 8 cascatas, 253 e foi aberto a 7 de outubro de outubro de 2012, pela m de rappels, e foi aberto 2012 por um grupo liderado margem esquerda - a a 7 de outubro de 2012 por primeira vertical tem um grupo liderado por Rui por Rui Dantas, um madeirencerca de 60 metros! Dantas, um madeirense se ativamente envolvido na ativamente envolvido na organização de atividaorganização de atividades LOCALIZAÇÃO E ACESSOS des Outdoor. A ribeira do Juncal nasce no Outdoor. Pico do Arieiro, e ganha verticalidade aos 1530m de altitude, O PROJETO muito próximo da chamada curva do Sou um apaixonado pela cordilheira Poço da Neve. central da Madeira, e é lá que se encontra um conjunto significativo de grandes verticais, com uma envolvente de média montanha. Em 1988, As coordenadas Google 32º 43´39,46” N e 16º quando iniciei esta atividade, as linhas de água 55´10,77”O marcam o início da descida da ribeieram mais constantes e mais fáceis, e para quem ra e do canyon que termina nas imediações da
Aventura central hidroelétrica da Fajã da Nogueira (32º mas que não aconselho pessoalmente: em vez de continuar em frente pela ribeira até à Fajã 44´19,23”N e 16º 54´15,44”O ). Para a abertura, optámos por um dia de nível 1, da Nogueira, pode-se optar, à direita, pela lequase seco, e com pouco caudal... Mas a varia- vada que segue até aos Balcões; está em muito mau estado, e é extremamente perigoção do nível da água pode ser radical, sa, especialmente quando estamos e há dias em que o canyon se torO cansados e carregados de equina impraticável. Desde outubro, maior dos rapamento. já fiz filmagens no Juncal com caudal de nível 5. ppels tem 253 metros, RAPPELS E CASCATAS e está fracionado em Para o Juncal, é preciso conOBSTÁCULOS E DESAFIOS três: o primeiro tem 40m, o tar com um percurso de 6 A vertical (V) é sempre de horas em que se têm de fanível 5, e o “obstáculo-espesegundo tem 70m (passará zer dez rappels e atravessar táculo” é o terceiro rappel em breve, a oito cascatas. de 143 m - cem metros são 90m), e o 3º com 143 m suspensos, sem contacto com a parede, o que dificulta o fraO maior dos rappels tem 253 (vamos diminui-lo cionamento deste troço. metros, e está fracionado em para 123m). três: o primeiro tem 40m, o segunAté ao verão, contamos atenuar esta dificuldade, e deslocalizar 20 m mais para baixo a 3ª ancoragem, de forma a equilibrar melhor os desníveis entre os 2º e o 3º rappels. Na saída, há um desafio facultativo,
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do tem 70m (passará em breve, a 90m), e o 3º com 143 m (vamos diminui-lo para 123m). PAISAGEM E METEOROLOGIA O cerro (escória vulcânica) com grandes diques basálticos marca geologicamente este canyon. A flora é predominantemente Laurissilva, com espécies arbustivas desta floresta endémica e protegida da Madeira. A nível de passarada, pode ter-se a sorte de avistar um tentilhão (Fringilla coelebs), ou um bisbis (Regulus ignicapillus madeirensis), a ave mais pequena existente no arquipélago. Por mim, fevereiro e março são os meses mais favoráveis para este canyon porque se pode (teoricamente) escolher o nível de água mais a gosto, e dentro dos padrões de segurança. No verão, o Juncal está habitualmente seco! CANYONING NA MADEIRA Haverá novidades este ano porque neste momento trabalhamos já num canyoning com uma vertical substancialmente superior ao Juncal! A não ser durante as grandes chuvadas, habitualmente irregulares, a Madeira não tem canyoning tecnicamente muito aquático, de nível 4 e 5, mas esse aparente “handicap” é compensado por um conjunto de ofertas únicas para a prática da modalidade: a concentração de canyons numa ilha tão pequena, as verticais, a floresta Laurissilva, e a possibilidade de terminar a descida no oceano Atlântico com um bom mergulho! Acresce a logística das empresas credenciadas e a informação já existente sobre os percursos. Tive o privilégio de ser pioneiro desta modalidade na Madeira. Conheci o Fréderic Fau que comercializou pela primeira vez em 1990 o canyoning madeirense através dos franceses da Atalante. Com outro francês, que editou o único livro sobre os Canyons da Madeira, o Antoine Florin, (infelizmente já falecido), aprendi muito. Mas de todos os pioneiros, destaco o Izamberto Silva, que fez equipa comigo desde a primeira hora, e é irmão do Dr. Rui Silva, o mais conhecido montanhista madeirense. ø
Conversa editada por Aurélio Faria Jornalista
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Aventura Perfil
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Aventura Ararat
olto uma gargalhada sonora, não consigo evitar. O Artur mostra-me o cartão de visita mais curioso que recebi na minha vida. Sobre uma foto antiga da montanha leio “Dono do Monte Ararat”.
A primavera tinha começado em Portugal há bem pouco tempo, quando recebo um email dum amigo que vive na Turquia cujo título era Have you ever climbed a 5,000 m summit? Come and do it in Turkey - July. A ideia encantou-me; regressar à Turquia, um país que adoro, conhecer a sua zona leste e estar com o Zé Pedro que nos acolheu em sua casa em Ankara uns anos antes. A mensagem tinha o itinerário descrito, com toda a informação para podermos decidir e pouco bastou para começarmos a sonhar com esta viagem. Ironia do destino, o nosso amigo acabou por cancelar a sua ida, a nós já ninguém nos demovia, havemos de encontrar a Arca de Noé! Das primeiras histórias que ouvimos do livro do Génesis, a da Arca de Noé é talvez a mais fascinante. Monte AraLembro-me ainda criança de pensar que maravilhorat, Agri Dagi em sa aventura esta de partir turco, é um maciço numa enorme arca cheia vulcânico extinto a leste de animais. Esta alegoria bíblica tão encantadora da Turquia na converaos olhos dos mais novos, gência das fronteiras ganhou novo sentido e da Turquia, Irão e parti com espírito expediArménia. cionário em busca de vestígios desta grande embarcação. Deus salvou Noé e sua família do grande dilúvio. Era o único homem virtuoso do seu tempo que merecia viver sobre a Terra. Foram 40 dias e 40 noites de chuva ininterrupta, que eu esperava não encontrar durante a minha estadia, e a água permaneceu sobre a Terra durante 150 dias. E quando finalmente as águas começaram a diminuir a Arca acabou por vir a descansar no cume do monte Ararat.
Monte Ararat, Agri Dagi em turco, é um maciço vulcânico extinto a leste da Turquia na convergência das fronteiras da Turquia, Irão e Arménia. Todo o maciço tem cerca de 40 km de diâmetro. Consiste em dois picos, que distam cerca de 11 km entre eles. Grande Ararat, ou Büyük Agri Dagi, que atinge uma altitude de 5137 metros acima do nível do mar, é o pico mais alto da Turquia. Pequeno Ararat, ou Küçük Agri Dagi, sobe numa superfície lisa e íngreme, num cone quase perfeito para 3896 metros. Ambos Grande e Pequeno Ararat são produto da atividade erupti-
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Aventura
va vulcânica. O único verdadeiro glaciar é encontrado no lado norte do Grande Ararat, perto do seu cume. A sensação de fazer parte de um filme de Kusturica acompanha-me desde que saí do avião em Van e iniciei a viagem de carro até Dogubeyazit. As aldeias, as gentes, a música, até a língua, tudo é muito distinto da Turquia que eu conhecia. Esta é uma zona maioritariamente curda, e a proximidade com o vizinho Irão sente-se tanto nos costumes da população, como na quantidade
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de tanques de guerra apontados para a fronteira, que avistamos ao longe. Dada a sua posição geográfica é um local de ténue estabilidade, está muito militarizada e as paragens para mostrar identificação são constantes. Fazemos o nosso melhor sorriso para os militares que espreitam para dentro da carrinha. E ali estávamos nós em frente do homem que se intitula dono do ponto mais alto da Turquia. Entramos na sua carrinha em Dogubeyazit, pequena cidade situada no planalto seco que cir-
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E ali estávamos nós em frente do homem que se intitula dono do ponto mais alto da Turquia.
cunda o monte Ararat. Após 2 horas de caminho chegamos à aldeia de Eli que se encontra a 2200m, onde iniciamos a nossa ascensão para o campo 1 a 3340m. Ao começarmos tranquilamente a caminhada cruzamo-nos com os aldeões que vivem nas aldeias circundantes, pastores na sua maioria. Passam por nós crianças que tentam vender leite de cabra. Ganham uma sanduíche e correm pelo trilho poeirento. Meninas aparecem com bonecas de trapos, cabelo seco do pó e do sol, tez escura de quem vive ao ar livre, olhos profundos e sinceros de criança. Afastamo-nos a sorrir.
Chegamos ao campo 1 a meio da tarde, procuramos o melhor local para montar a nossa tenda, rodeada por muros de pedra para proteger do vento. O terreno pedregoso rapidamente fica pintalgado do cor de laranja das tendas, subo um pouco para apreciar o cenário, gosto de ver o efeito que tem o acampamento, a sua disposição, o local das refeições, a tenda cozinha, afinal vai ser a nossa casa por uns dias e quem não gosta de ter a sua casa arrumada! OUTDOOR Abril_Maio_Junho 2013
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Aventura A hora das refeições é onde o grupo mais confraterniza e os nossos amigos turcos através das refeições saborosas que confecionaram tornaram esta hora numa verdadeira festa. Seis mesas alinhadas olhando o Irão enchiam-se de iguarias turcas que agradavam todos os paladares.
ter oportunidade de se habituar à escassez de oxigénio que se faz sentir com o aumento de altitude e consequente diminuição da pressão atmosférica. Este processo em que existe um aumento de hemoglobina no sangue para que a quantidade de oxigénio a ser transportada seja maior chama-se aclimatação. Convém que tudo seja tranquiGrupo curioso o nosso. Búlgaros e belgas. lo e a um ritmo lento, e por isso foi um Os búlgaros trouxeram as mochilas dia de conversas, histórias de viagens cheias de comida, que se tornaram anteriores, e claro canto, muito Convém desnecessárias dada a excelente canto búlgaro. À noite, as tenque tudo seja qualidade da que nos era servidas messe iluminadas mostram tranquilo e a um da. Traziam também grandes outro encanto ao acampamencâmaras de filmar para fazer to, e é debaixo daquele céu de ritmo lento, e por isso uma reportagem. Começamos a mil estrelas que repousamos e foi um dia de conversa, apelidá-los de bardos, qualquer recuperamos energias para o histórias de viagens momento é bom para começadia seguinte. rem a cantar, ouvimos um bom anteriores, e claro repertório de música tradicio- Rafa! És mesmo tu? – O seu sorcanto, (...) nal dos Balcãs. Os belgas traziam riso não me engana, o meu comconsigo o romance de D. M. Thomas, panheiro do Kilimanjaro desce pelo Ararat, começando numa Rússia do sécutrilho seguido de um enorme grupo de lo XIX até à Nova Iorque de hoje, o enredo do espanhóis. O marinheiro que se tornou num poeta Sergel Rosanov envolve o leitor com uma montanheiro ali estava para mais uma ascensão. fantasia complexa e brilhante. Foi essa fantasia Que surpresa tão boa reencontrar aquele amique os trouxe até esta montanha, notava-se a sua go tão pitoresco. O nosso grupo dirige-se para o falta de conhecimento de montanhismo mas uma campo avançado. Este campo localiza-se numa forte vontade de realizar um sonho. zona onde a montagem da tenda é mais comO dia seguinte aproximou-nos um pouco mais. plicada, ficamos encarrapitados numa pequena Dia calmo em que subimos ao campo avançado e área inclinada. Temos que ter cuidado ao sair regressamos ao campo 1, para o nosso organismo da tenda. A escuridão do céu anuncia trovoada,
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Aventura Ararat e em poucos minutos o vale é varrido por uma chuva forte; como se dum espetáculo se tratasse, a minha atenção foca-se na luz etérea, no som dos trovões, na fúria do vento, na capa de água que dança perante os nossos olhos. Estará Deus a lançar um novo dilúvio sobre a Terra? Somos apenas espetadores, a trovoada dirige-se para leste. A algumas horas da ascensão o grupo mostra-se mais cabisbaixo, a meteorologia é determinante no nosso sucesso. Despertamos às 4 horas da manhã e depois de um breve pequeno-almoço, iniciamos a subida. Eu e o Artur fazemos a ponte entre os dois grupos, à frente ficam os que têm mais dificuldades, os belgas; atrás os búlgaros. Frontais ligados, seguimos a um passo lento. O trilho é bastante pedregoso o que dificulta a progressão e a atenção tem que ser redobrada. Começo a ouvir um burburinho, os búlgaros estão a impacientar-se. É certo que o ritmo tem que ser lento, mas estava a impor-se uma lentidão tal que para espíritos mais inquietos era difícil acompanhar. Ia connosco um guia auxiliar que a pedido de Ercan, o nosso guia, segue com os mais rápidos. É melhor assim, quem está a “atrasar” o grupo ainda fica mais nervoso, sente-se “culpado” e assim se torna muito mais difícil avançar. Ficamos para trás. É importante haver alguém a fechar o grupo. Depois de amanhecer o cansaço já é grande e Ercan decide que eu, o
Artur, Koen e Jan devemos avançar. Naquele momento já não tem a certeza que os mais lentos cheguem ao cume e isso também iria por em causa a nossa ida. Poder ir ao nosso ritmo dá-nos ânimo e em pouco tempo conseguimos alcançar o restante grupo. Encontramo-nos mesmo à chegada do glaciar, avistamos o cone quase perfeito do pequeno Ararat. Colocamos também os nossos crampons que nos ajudarão a progredir no gelo. Vento frio e cortante faz-se sentir, mas ao avistar o nosso objetivo tudo parece mais fácil, os músculos respondem de outra maneira, as pernas tornam-se mais leves, os pulmões aumentam de tamanho, os planaltos da Anatólia e os vales do Irão encantam-nos o olhar. Sob a bandeira da Bulgária tiro uma fotografia nos 5165m do monte Ararat. Iniciamos o regresso ao campo base sem tempo para procurar vestígios da Arca de Noé, a descida pode ser tão ou mais penosa que a subida e a atenção deve ser redobrada. Na refeição dessa noite deliciámo-nos com um bolo de chocolate para comemorar o dia. Nem todos subimos ao cume, mas foi sem dúvida para todos uma bela aventura. ø Luísa Tomé Papa-Léguas www.papa-leguas.com
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Aventura Crónica Crónica por Sílvia Romão
lousã, lOUSÃ,
Uma caminhada caminhadainterna... Interna... Uma
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Aventura
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mês passado propus-me a uma caminhada pela serra da Lousã. Normalmente estou à vontade para me fazer à montanha sozinha. Tenho alguma experiência em escalada e montanhismo. E este percurso anunciava-se fácil. Coisa para durar umas duas horas.
Parei por momentos para beber água. Continuei enquanto trincava uma tosta. Talvez me tenha distraído com a tosta, com a aldeia ou com os meus pensamentos, quando dei por mim já não havia sinais do trilho. Não foi muito tempo que estive desatenta, mas dado o meu inexistente sentido de orientação foi o suficiente para me perder.
No início o trilho oferecia uma estrada larga, bem definida, com sombras e fresco. Foram dez Tinha três hipóteses: minutos neste cenário até encontrar o rio. A partir daqui começou a subida. Nada de especial. - Aventurar-me por um outro caminho de pé Depois um pouco mais íngreme. Fazível. Ainda posto que havia ali ao lado, correndo o risco de mais íngreme. E uma hora depois já tinha de me perder ainda mais para dentro da montanha. usar três apoios (dois pés e uma mão) para tre- - Seguir pela estrada asfaltada sabendo que tepar. Haviam pedras altas e rochas incontorná- ria 18 quilómetros pela frente até ao local onde veis. Se o percurso está classificado com dificul- tinha deixado o carro. dade média, esta subida há-de acabar não tarda, - Regressar pelo trilho que tinha feito, conhepensei. E acabou. Uma hora e meia depois para cendo as dificuldades que já me tinham sido dar lugar a uma descida acentuada e de casca- apresentadas no caminho até ali. lho que me fazia escorregar a cada passo. Meia hora a deslizar encosta abaixo. Uma viagem que iria terminar em Terminou.Outra subida. Desta vez meia hora, perspetivava-se agora de terra batida mas bastante inbem mais longa. Corra melhor ou clinada. Mais um hora. Já ia com as duas horas que tinha Nos caminhos que já percorri pior estamos naquele previsto e mais meia quando por essas montanhas, sempercurso porque escolhefinalmente cheguei à aldeia pre tive dificuldade em lidar mos. Os nossos sonhos, tal de xisto. Linda. Mágica. Em com as subidas. Olho para ruínas. elas e acho que não sou cacomo os caminhos, acon-
tecem porque demos o primeiro passo.
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Aventura paz, as minhas pernas vão ceder, vai faltar-me o fôlego. Sofro por antecipação. É uma espécie de vertigem mas ao contrário. O que me fez optar por voltar pelo mesmo caminho foi exatamente o facto de ter passado tanto tempo a subir. Era quase sempre a descer, havia de ser rápido. As subidas que agora iam ser descidas não deviam ter sido assim tão complicadas porque afinal eu tinha-as conseguido fazer. Três dificuldades: Algum cansaço, sol abrasador e falta de água. Avancei. Ficar ali parada é que certamente não me ia levar de volta ao início. Nestes passos de regresso percebi que afinal a subida que eu tinha empreendido era mesmo difícil e demorada. O que tornou a respetiva descida também ela um desafio. Espantei-me de a ter conseguido fazer e quase que me alegrei pela forma que o destino tinha arranjado para me mostrar a real dimensão das minhas capacidades físicas. A partir daqui começaram a encaixar-se algumas conclusões. Enfrentar a adversidade da montanha é como concretizar um sonho ou perseguir uma paixão. Se não, vejamos:
Corra melhor ou pior estamos naquele percurso porque escolhemos. Os nossos sonhos, tal como os caminhos, acontecem porque demos o primeiro passo. Seja para tomar contacto profundo com a natureza e paisagens que só estão acessíveis através de caminhos de pé posto ou para correr atrás de uma paixão, temos de decidir que queremos fazê-lo. E a seguir temos de agir. Mesmo com as adversidades e dificuldades próprias de quem decide arriscar, o resultado é sempre compensador. A concretização de um sonho pode falhar. Mas a maior frustração vai para quando nunca se tentou. Tal como uma caminhada. Há locais e paisagens que nunca conheceria se nunca tivesse penetrado no coração de algumas serras por veredas onde só cabem as minhas botas de caminhada. As aldeias, os riachos e as árvores que vi, os sons, e os cheiros da montanha dificilmente os teria experimentado se tivesse optado por não sair da comodidade do carro na estrada asfaltada. Quando começamos a nossa viagem, seja ela a busca de um sonho ou por trilhos sinuosos de uma serra, é fundamental irmos estabelecendo pequenos objetivos que vamos celebrando como grandes vitórias até à nossa meta final. OUTDOOR Abril_Maio_Junho 2013
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Aventura Por vezes a distância a percorrer até ao destino a alcançar é longa e esse facto pode ser bastante desmotivador. No meu caminho de regresso, cansada, sem água e com o sol a queimar pensava: é só chegar ao cimo daquela ladeira e descanso, se conseguir passar aquela curva, depois o caminho até à ruína é mais fácil ou no final deste destrepe há o rio, posso refrescar-me. E assim sucessivamente. Devemos focar-nos no momento presente. No meu percurso de regresso houve uma altura em que dei por mim a escorregar várias vezes e a desequilibrar-me. Abrandei e pensei que arriscar-me a torcer um pé não podia ser uma hipótese. Por isso trouxe mais atenção à minha passada, abrandando o ritmo e assegurando-me que colocava os pés em locais firmes. Abandonei a ansiedade e a urgência de chegar. Por vezes, ao decidirmos concretizar um sonho deixamos a nossa mente pousar num futuro onde o caminho já foi percorrido. O futuro é algo que ainda não existe e se desviarmos a nossa atenção do que estamos a viver no presente corremos o risco de que nunca chegue a existir.
Calar as vozes traiçoeiras. É importante reconhecermos quando as nossas vozes internas estão apenas a tentar boicotar-nos. Muitas vezes essas vozes são apenas os nossos medos infundados. A dada altura do meu caminho, no início de uma subida inclinada e sem sombras, surgiram vozes na minha cabeça que repetiam constantemente: “Não tens pernas para isto. Estás exausta. Não tens água. O sol que está vai acelerar a desidratação. Para.” Estas vozes somos nós mesmos. Como tal temos o poder de as controlar. Temos autoridade sobre elas. Foi assim que decidi por um ponto de ordem e silenciá-las. Chegar ao final e fazer uma re38
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ci que era. Viajar sem grandes planos por este país e partilhar esta experiência através da escrita é o que estou a fazer cada vez mais assiduamente. O caminho que tenho feito para chegar aqui é muito semelhante à minha experiência na serra da Lousã. Os métodos aprendidos pela experiência da escalada e da caminhada têm sido boas ferramentas nesta epopeia. Afinal na vida tudo se toca. ø Sílvia Romão
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Aventura Lousã
trospetiva. Tomarmos consciência do nosso valor real. Arriscar a sair da zona de conforto, concretizar um sonho é um grande feito. A modéstia excessiva, a falta de valorização das nossas verdadeiras capacidades traem-nos tanto quanto a presunção exagerada. Há que gozar o momento em pleno, sermos honestos connosco mesmos. Nesta minha experiência tive a oportunidade de perceber que as minhas capacidades físicas e de determinação eram muito mais fortes do que eu julgava. Mais, ao fazer o caminho de regresso, o destino demonstrou-me que tenho muito mais potencial para fazer subidas íngremes do que alguma vez eu tinha julgado. Olhando para trás agora parece-me que nem foi assim um esforço tão grande como na altura eu quase me conven-
Em família Entrevista
natércia silvestre, o trail em feminino por Isa Helena
emanuel pombo,
um prazer sobre rodas por Bebiana Cruz fotografias: Luís lopes
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Julho_Agosto 2011 2013 Janeiro_Fevereiro OUTDOOR OUTDOOR
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Entrevista NatĂŠrcia Silvestre
Entrevista Natércia Silvestre, um nome sonante do Trail em Feminino. Para Natércia, o trail começou quase por engano... Hoje é uma das atletas de referência desta modalidade em Portugal. Como surgiu a paixão pelo Trail Running? A minha paixão pelo Trail Running começou quase ao engano! Em 2008, um amigo desafiou-me a participar numa prova que ia haver na zona dele. Fui com um grupo de amigos, almoçámos junto a uma praia fluvial e depois alguns foram à caminhada e outros à corrida. Lembro-me que a prova custou um pouco, mas gostei tanto do ambiente da prova e da paisagem, dos locais por onde passámos, que decidi começar a inscrever-me noutras provas do género, quase só com o intuito de conhecer alguns cantos deste Portugal que eu desconhecia. O que te fascinou para escolheres esta modalidade? Desde há muito tempo que me lembro de correr só por correr. Sair de casa e ir correr para espairecer. E raramente participei em provas de estrada. No que respeita a participação em provas, quase comecei no trail e por ter gostado tanto decidi continuar a participar neste género de provas. Entretanto um desafio chama outro, as distâncias das provas que me aventurei fazer foram aumentando e continuo a querer superar novos desafios… Gosto muito do ambiente das provas, das pessoas amigas que se lá encontram, do desafio que é ultrapassar certos obstáculos, do superar-nos a nós mesmos… O que te motiva para praticares esta modalidade? O gosto pela natureza. Acho que é acima de tudo isso. A liberdade que se sente ao estar em contacto com a natureza, o desafio de ultrapassar os obstáculos que ela nos impõe – incluindo as condições atmosféricas, a beleza com que nos deparamos em certos locais 42
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ao longo da prova, seja um arco-íris, um riacho fantástico, um animal… É isso que neste momento me leva também a inscrever-me em provas lá fora, utilizando a corrida como estímulo para ir conhecer outros locais…
Entrevista Natércia Silvestre
Como são os teus treinos de preparação para as provas? Treino com a orientação do meu treinador, Paulo Pires. Desde meados de 2011 é ele o responsável pela minha orientação para as provas em que me proponho a participar. Semanalmente faço 5 a 7 treinos de corrida, para além de uma parte importante de flexibilidade e musculação após o treino propriamente dito. Praticas outras modalidades para além do Trail Running? Não. Sinceramente não tenho muito tempo, a maioria das semanas não consigo sequer cumprir o plano de treino… Qual a distância que preferes correr? Distâncias acima dos 30-40km. Em que é que inspiras quando praticas este desporto? Nunca pensei nisso… Há várias pessoas que admiro e que acho que Talvez a são um exemplo de pessoa que mais superação, mas me tem motivado e não os vejo como fonte de inspirainspirado seja mesmo o ção. Paulo. É ele que tem acre-
ditado em mim e me tem Talvez a pessoa desafiado a traçar para que mais me tem motivado e inspimim mesma desafios rado seja mesmo e a tentar superáo Paulo. É ele que -los. tem acreditado em mim e me tem desafiado a traçar para mim mesma desafios e a tentar superá-los. Obrigada Paulo! Quais os teus principais objetivos no mundo do Trail Running? Em termos concretos nem sei bem definir os meus objetivos no mundo do trail. Tento viver o dia a dia de cada vez! Há 2 anos não me imaginava a fazer uma prova de 42km, há um ano achava que seria incapaz de completar uma de 80km. Neste momento não sonho fazer mais que 100km numa mesma prova… Quem sabe para o próximo ano… Os meus principais objetivos no mundo do trail são na verdade o querer ultrapassar, pouco a pouco, os obstáculos e desafios que me proponho a fazer. Também como experiência ou moral de vida, de querer sentir que somos mais fortes do que algumas vezes pensamos, que por vezes a força surge nem sabemos bem
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Entrevista de onde… E as provas mais longas, como desafio de superação, têm-me ensinado a conhecer-me um pouco melhor, a perceber que realmente às vezes valho mais do que penso e que tenho aqui ou ali uma estrelinha que me guia e apoia, que me leva a seguir em frente sem cair ou desmoralizar… Achas que esta paixão pelo trail está a crescer entre as mulheres? Penso que sim. Felizmente há cada vez mais mulheres a participar em provas de trail. Qual foi até agora o ponto alto da tua carreira como atleta? Talvez a prova em que participei nos Pirinéus em agosto de 2012. Foi a primeira (e única por enquanto) prova que fiz fora de Portugal, a primeira com distância superior a 50Km e em que corri acima dos 2000m de altitude. Foi uma experiência gratificante em termos pessoais, correu bastante melhor do que eu esperava e permitiu-me conhecer um pouco dos Pirinéus, que eu não conhecia. Que conselhos dás a quem se quer iniciar na modalidade? A quem não faz desporto por rotina sugiro começar correr progressivamente e inscrever-se em caminhadas (porque as há em quase todas as provas de trail), para conhecer um pouco o ambiente e perceber qual o terreno e em que consiste o trail. A quem já é um corredor habitual, sugiro apenas que se inscreva numa prova e participe! Vai ver que é um ambiente fantástico e apaixonante e ficará certamente a vontade de participar noutras provas. ø
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Abril_Maio_Junho 2013 OUTDOOR
Entrevista NatĂŠrcia Silvestre OUTDOOR Abril_Maio_Junho 2013
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Setembro_Outubro 2011 OUTDOOR
OUTDOOR Setembro_Outubro 2011
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