a sua nova revista de inclusão social, superação e inspiração ano 1 • edição 1 Exemplares avulsos: R$ 10,80
As iniciativas da Deloitte para incluir pessoas com deficiência no quadro profissional da empresa
surdez: Visão
médico-patológica X visão sociocultural
Tathiana Piacanstelli,
a menina com síndrome de down que é artista, apresentadora e personagem das histórias de Mauricio de Sousa
a grande jogada de
guga Instituto Guga Kuerten, que auxilia na formação de milhares de crianças e pessoas com deficiência por meio do esporte, está prestes a completar 15 anos
Fernando Aranha e a busca pela vaga olímpica no paratriathlon
Guga: convivência com irmão com paralisia cerebral o levou a iniciativas para quebrar barreiras e preconceitos
Especial
A quantas andam o Plano Municipal de Educação de São Paulo, capital, e suas diretrizes para o ensino inclusivo
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editorial
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Colaborações: Coordenação editorial: Jussara Goyano. Edição: Lucas Vasques. Revisão: Jussara Lopes. Diagramação e projeto: Monique Elias. Logomarca: Juliana Carnielli. ARTIGOS: Billy Saga, Rúbem Soares e Silvana Zajac. impressão: Gráfica Araguaia CONTATO COM A REDAÇÃO, exclusivamente por e-mail: contato@dmais-revista.com.br. Cartas no endereço: Rua da Contagem, no 201 – Saúde - São Paulo/SP – CEP 04146-100
“Os sonhos não envelhecem”
S
audações! Como diz a canção, “os sonhos não envelhecem”. É a mais pura verdade. Por isso, a Revista D+, em sua versão impressa chega para manter antigas aspirações de igualdade para todos, o que insere, obviamente, a inclusão social da diversidade, com ênfase nas pessoas com deficiência (PcDs). Esta nova empreitada do IAPE – Instituto de Apoio às Pessoas com Deficiência e à Inclusão Social promete ser coerente com a linha de atuação da organização, ou seja, enfatizando as ações voltadas para o segmento. A ideia é se comunicar com um público moderno e mostrar personagens que são verdadeiros exemplos de superação, avanços da tecnologia assistiva, projetos, mercado de trabalho, lazer, luta por mais acessibilidade, e ainda, cobrar iniciativas do poder público no sentido de avançar nas questões relativas ao segmento. Neste primeiro número apresentamos vários destaques, como o trabalho engajado do Instituto Guga Kuerten, que tem como sua figura principal Gustavo Kuerten, um dos maiores ídolos do tênis nacional. A matéria mostra as ações desenvolvidas pela instituição, assim como as inspirações que levaram Guga a mergulhar de vez nas atividades de inclusão, por meio da educação e do esporte. Também abrimos espaço para os Planos Municipais de Educação, especialmente sob a óptica das PcDs. Em São Paulo, o projeto foi elaborado para apresentar metas e estratégias a serem cumpridas pelo poder público nos próximos dez anos, com o objetivo de universalizar o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado. Na entrevista, o leitor conhecerá o trabalho de inclusão desenvolvido pela Deloitte, empresa que montou um programa para contratar e capacitar pessoas com deficiência, em vários setores da corporação. Além disso, a D+ apresenta três personagens, que provam o quanto são questionáveis os limites para as PcDs: a atleta Carolina Aparecida Alves, que, apesar da paralisia cerebral, não para de quebrar recordes; a cadeirante Cris Corrêa, que se tornou uma empresária de sucesso no segmento de artesanato; e Tathiana Piancastelli, que se divide entre as atividades de atriz, escritora, palestrante, militante e apresentadora de TV. No esporte, destaque para Fernando Aranha, que, com sequelas da poliomielite, manda as limitações para longe e, literalmente, corre atrás da conquista de uma medalha nos Jogos Paralímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, na modalidade paratriathlon. Este é só o começo. Boa leitura!
Equipe D+
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A SUA NOVA REVISTA
veja nesta edição
DE INCLUSÃO
SOCIAL, SUPERAÇ
ÃO E INSPIRAÇÃO ANO 1 • EDIÇÃO
EXEMPLARES
AVULSOS:
SAIBA QUAIS SÃO AS
TATHIANA PIACANST ELLI,
A GRANDE JOGADA DE
GUGA Coordenador da área de diversidade da Deloitte, Leandro Amaral conta as iniciativas da empresa para inserir PcDs no quadro de profissionais. Páginas 6 a 9 Instituto Guga Kuerten, que auxilia na formação de milhares de crianças e pessoas com deficiência por meio do espor prestes a comp te, está letar 15 anos
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1
Matéria de capa Conheça o trabalho social desenvolvido pelo Instituto Guga Kuerten, idealizado pelo ídolo do esporte brasileiro, que utiliza educação e esporte para incluir. Páginas 10 a 14
imagem da capa: Fernando Willadino
PRAIAS BRASILE IRAS
A MENINA COM SÍNDROME DE DOWN QUE É ARTISTA, APRESENT ADORA E PERSONAGEM DAS HISTÓRIAS DE MAURICIO DE SOUSA
Entrevista
1
R$ 10,00
AS INICIATIVAS DA DELOITTE PARA INCLUIR PESSOAS COM DEFICIÊNCIA QUADRO PROFISSIO NO NAL DA EMPRESA
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FERNANDO ARANHA E A BUSCA PELA VAGA OLÍMPICA NO PARATRIATHLON
Guga: convivência com irmão com paralisia cerebral o levou a iniciativas para quebrar barreiras e preconceitos
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Empreendedora de sucesso A cadeirante Cris Corrêa não se abateu com o problema físico e se transformou numa empresária bem-sucedida no segmento de artesanato. Páginas 32 a 35
Autonomia na locomoção DF Autoescola adota a cultura da inclusão e oferece um serviço especializado para aquisição da Carteira Nacional de Habilitação especial. Páginas 36 a 37
PONTO DE VISTA Visão médico-patológica x visão sociocultural da surdez, impactando na educação dos surdos. Páginas 16 a 19
Paraísos acessíveis Nesta temporada de forte calor, confira os locais que possuem acessibilidade para o banho de mar e para a prática de atividades lúdicas e esportivas. Página 22
Elegância para todos Estar confortavelmente vestido, sem esquecer a estética, está à disposição das pessoas com deficiência, em camisas, calças, saias, sapatos e acessórios. Página 24
Educação em foco Planos Municipais de Educação apostam no acesso ao ensino básico e ao atendimento educacional especializado, inclusive para PcDs. Páginas 26 a 30
Fenômeno paradesportivo Fernando Aranha esbanja versatilidade em várias modalidades e aposta todas as fichas na conquista de uma medalha nas Paralimpíadas de 2016. Páginas 38 a 41
Furacão multimídia Com síndrome de Down, Tathiana Piancastelli se divide entre as atividades de atriz, escritora, palestrante, militante e apresentadora de TV. Páginas 42 a 45
Jogando a deficiência longe Carolina Aparecida Alves desafia a paralisia cerebral e coleciona marcas expressivas nas provas de arremesso de peso, dardo e disco. Páginas 46 a 49
Artigo Billy Saga Página 15 Espaço do Tils (Tradutor/intérprete da Língua de Sinais) Página 20
aprenda libras Página 31 Flagrante da Cidade Página 50
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entrevista
O trabalho garante a formação da identidade Leandro Amaral é coordenador da área de diversidade da Deloitte, que desenvolve inúmeras iniciativas para incluir pessoas com deficiência por lucas vasques
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por esse setor em todos os escritórios no Brasil.” Com uma rede global de firmas-membro em cerca de 150 países, a Deloitte conta com 5.500 profissionais no Brasil, realizando operações que cobrem todo o território nacional, com escritórios em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Fortaleza, Joinville, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Recife, Ribeirão Preto e Salvador. Como e quando surgiu a ideia de criar o Programa DeloitteInclui? Como funciona?
O programa DeloitteInclui surgiu da demanda pelo cumprimento da Lei de Cotas. Em 2008, a Deloitte assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), em que se comprometia com o cumprimento da reserva legal de vagas para pessoas com deficiência. No final de 2009, eu tive a oportunidade de coordenar a participação da empresa na Feira Reatech. Após essa experiência percebi que a companhia precisava de uma pessoa para operacionalizar a inclusão de pessoas com deficiência. Com isso, no início de 2010, lançamos o programa DeloitteInclui, com ações de comunicação interna e iniciativas para a inclusão dos profissionais com deficiência.
imagens: Divulgação
C
om atuação marcante no Brasil desde 1911, oferecendo serviços nas áreas de auditoria, consultoria, consultoria tributária, Financial Advisory e Outsourcing para clientes dos mais diversos setores, a Deloitte colocou em prática em 2010 o programa DeloitteInclui, que tem como objetivos centrais propiciar a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, proporcionando capacitação e oportunidades em inúmeros setores do universo corporativo, além de mostrar que conviver com as diferenças é um grande aprendizado. Por meio da iniciativa, a companhia colabora para a autonomia dos profissionais com deficiência, respeita a diversidade e cumpre a Lei de Cotas. Embora valorize o trabalho em equipe, o grande comandante desse processo dentro da Deloitte é Leandro Amaral, coordenador da área de diversidade. Formado em Psicologia pela Universidade Ibirapuera e pós-graduado em Administração de Empresas pela Business School São Paulo, ele ingressou na Deloitte como estagiário em R&S, há nove anos. “Foi quando pude desenvolver minha carreira, chegando a coordenador de Diversidade e Inclusão, responsável
Inicialmente, procuramos profissionais com experiência e formação necessárias para o desenvolvimento das atividades relacionadas à empresa. Não selecionamos deficientes, mas, sim, profissionais que possuem uma deficiência
O programa é dividido em seis fases: Divulgação, Conscientização, Recrutamento, Capacitação, Inclusão e Retenção. Poderia falar um pouco sobre cada uma delas?
Quando o programa foi desenhado previmos todo o fluxo e processos que seriam necessários para manter o programa sustentável. As fases seguem um ciclo de Divulgação – os profissionais precisam saber o que é o programa DeloitteInclui e como funciona no dia a dia. Realizamos uma divulgação maior da iniciativa no início e, atualmente, somente comunicações de manutenção. Conscientização – é normal e esperado que as pessoas desconheçam as diferentes deficiências e como é a relação interpessoal com uma pessoa com deficiência. Pensando nisso, no inicio criamos um e-learning (treinamento on-line) para todos os profissionais (ele se mantém disponível para todas as pessoas que ingressam na empresa como treinamento obrigatório). Recrutamento – é realizado pela própria equipe de Diversidade e Inclusão, possibilitando maior especialização e conhecimento para recrutar os melhores talentos desse grupo, com a sensibilidade necessária para o processo. Capacitação – a Deloitte reembolsa 100% da graduação dos profissionais com deficiência, bem como promove a realização de cursos
profissionalizantes e de informática quando necessário. Inclusão – após o recrutamento, a equipe de Diversidade mapeia todas as necessidades e mudanças necessárias para a inserção e inclusão do profissional na área contratante. Quando necessário realizamos as mudanças arquitetônicas e/ou funcionais da estação de trabalho e cargo, para melhor adaptação dos profissionais. Retenção – a equipe de Diversidade dá todo o suporte tanto para os profissionais com deficiências como, também, para seus gestores e colegas de trabalho. Assim, podemos mapear qualquer problema e garantir, ainda, o crescimento e desenvolvimento do profissional inserido.
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entrevista
Para Leandro Amaral, apostar no trabalho de inclusão é garantir o espaço das PcDs na sociedade e aproveitar uma força de trabalho que tem muito para oferecer
Os profissionais com deficiência ocupam diferentes cargos. Por questões de formação e experiência eles estão mais na base da carreira. Porém, já temos profissionais com deficiência em cargos de gestão, inclusive s atuando diretamente com cliente Em sua avaliação, qual a importância de se apostar nas pessoas com deficiência no mercado de trabalho, no sentido de inclusão social?
O trabalho é a identidade do indivíduo. Para qualquer pessoa todo processo social se dá por meio da atividade laboral e para as pessoas com deficiência não seria diferente. A inclusão desse segmento no mercado de trabalho garante a formação da identidade do indivíduo, uma posição na sociedade e, também, vínculos interpessoais, que favorecem seu desenvolvimento pessoal e profissional. Apostar no trabalho de inclusão dessas pessoas é garantir o espaço delas na sociedade e aproveitar uma força de trabalho que tem muito para oferecer. Existe prevalência de alguma deficiência ou isso não é importante dentro da visão da empresa no
se será possível a inclusão de qualquer deficiência naquela posição. Infelizmente, em alguns casos, as atribuições acabam restringindo algumas deficiências, mas, quando isso não acorre, contratamos sem distinção. Vocês oferecem algum tipo de qualificação para os colaboradores com deficiência? Como isso funciona?
Sim, todos os profissionais da empresa, independentemente de terem deficiência ou não, possuem, como benefício, o reembolso de 100% da graduação. Após a graduação, incentivamos o domínio da língua inglesa e pós-graduação, sempre com suporte financeiro. Por ser uma empresa de auditoria e consultoria, a participação em treinamento, cursos e workshops é muito intensa, tanto nas iniciativas promovidas pela própria companhia como, também, em eventos externos. Para os profissionais com deficiência existe a possibilidade de reembolsarmos cursos profissionalizantes e, ainda, de informática, quando identificada a necessidade. Quais os cargos ocupados por este segmento? Existem áreas específicas ou todos os setores podem ter colaboradores com deficiência?
Os profissionais com deficiência ocupam diferentes cargos, sem restrição nenhuma. Por questões de formação e experiência eles estão mais na base da carreira. Porém, já temos profissionais com deficiência em cargos de gestão, inclusive, atuando diretamente com clientes.
momento de contratar um profissional?
Inicialmente, procuramos profissionais com experiência e formação necessárias para o desenvolvimento das atividades relacionadas à empresa. Não selecionamos deficientes, mas, sim, profissionais que possuem uma deficiência. É claro que mapeamos as atribuições do cargo e área onde o profissional irá atuar para identificar
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Como funciona o acompanhamento profissional específico em relação a pessoas com deficiência, considerada uma prática inovadora no mercado?
O acompanhamento profissional das pessoas com deficiência faz parte do pilar de Retenção do programa DeloitteInclui. Tanto os profissionais com deficiência
como, também, os gestores e colegas de equipe possuem acesso livre à equipe de Diversidade e Inclusão, podendo reportar problemas, sugestões ou qualquer assunto que favoreça a inclusão desses profissionais. Esse canal aberto nos permite gerenciar conflitos de equipe e gestão ou, até mesmo, problemas pessoais que o profissional com deficiência venha a ter, garantindo uma relação de confiança entre a empresa e todos os profissionais envolvidos na inclusão, seja ele pessoa com deficiência (PcD) ou não.
Existe um trabalho direcionado aos profissionais sem deficiência para que eles aceitem os colegas com deficiência sem nenhum tipo de reserva, resistência ou preconceito?
Além do suporte e acompanhamento que a equipe de Diversidade e Inclusão realiza para garantir a melhor integração entre a equipe e o profissional com deficiência, disponibilizamos um treinamento e-learning para todos os colaboradores que ingressam na empresa, com o objetivo de esclarecer quais são as diferentes deficiências e como essas pessoas se relacionam com o ambiente e sociedade.
Qual é a participação da área de recursos humanos no processo de inclusão e como o gestor pode
Você disse que a inclusão é uma via de mão dupla,
auxiliar na integração do profissional? Como as
com a empresa aprendendo a valorizar o
equipes devem se comportar?
profissional, enquanto o profissional, se vendo
A Deloitte conta com um grupo de cinco profissionais dedicados 100% a assuntos de Diversidade e Inclusão. Essa equipe está subordinada à gerência de Talent (RH), centralizando todos os processos de recrutamento, treinamento, desenvolvimento e avaliação dos profissionais com deficiência. Entendemos que a inclusão bem-sucedida é uma via de mão dupla, pois tanto a empresa, equipe e gestor como a própria pessoa com deficiência são responsáveis pela sua inclusão e anuncio DF revista d+ janeiro-15.pdf 1 28/01/15 06:43 integração no ambiente corporativo.
como igual, sem distinção. Pode aprofundar esse conceito?
Sim, sem dúvida o processo de inclusão é uma via de mão dupla. Para que o programa tenha sucesso tanto a empresa quanto a pessoa com deficiência devem ser responsáveis pelo processo inclusivo, pois se a companhia tiver toda uma estrutura e o interesse em realizar a inclusão, mas o profissional que não facilitar a socialização e integração na empresa e equipe, a inclusão não será efetiva. E vice-versa.
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A segunda vocação de Guga
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Por Lucas Vasques
A
fisionomia de garoto, ainda presente, embora esteja perto de completar 39 anos de idade, não consegue disfarçar a segunda vocação de um dos principais ídolos da história do esporte brasileiro. Gustavo Kuerten, de tantas conquistas no tênis, que elevou o país ao patamar de força mundial da modalidade, no período em que estava em ação nas quadras do mundo, há 15 anos deu início à realização do sonho de trabalhar com crianças e pessoas com deficiência. No dia 17 de agosto de 2000 nasceu, oficialmente, o Instituto Guga Kuerten (IGK). O desejo, que sempre povoou a mente de Guga, foi motivado por suas vitórias na carreira, pela atuação constante da mãe, Alice Kuerten, assistente social por formação, em defesa das causas humanitárias, e ao estímulo do irmão Guilherme, que sofria de paralisia cerebral e que morreu em 2007. A ligação de ambos era fortíssima, tanto que Guilherme ganhava e guardava todos os troféus conquistados pelo irmão famoso. À época de sua morte, Guga afirmou: “O Guilherme foi um grande vencedor. Quando ele nasceu existia muito preconceito em relação a pessoas como ele, com paralisia cerebral, e ele conseguiu, com muita dignidade, ajudar a quebrar barreiras e a diminuir esse preconceito”. Com todo esse histórico, Guga quis oferecer oportunidades para crianças, adolescentes e pessoas com deficiência, por meio da promoção de oficinas esportivas e atividades educacionais. Essa é a missão do Instituto Guga Kuerten, que tem o desafio de atender estudantes de escolas públicas e pessoas com deficiência, além de apoiar ações educacionais no Estado de Santa Catarina. Os projetos desenvolvidos pela entidade são pautados por ações que visam à inclusão social dos jovens. Nos sete núcleos esportivos mantidos pelo IGK na Grande Florianópolis (Saco Grande, Itacorubi, Ingleses, Biguaçu, São José, Palhoça e Campos Novos), as crianças são atendidas no contraturno da escola. Duas vezes por semana elas participam de oficinas esportivas e culturais,
imagens: Divulgação
Um dos principais ídolos do esporte brasileiro, Gustavo Kuerten está prestes a comemorar 15 anos de trabalho social com crianças e pessoas com deficiência, promovido pelo Instituto Guga Kuerten
Guga, com as crianรงas que auxilia, pelo IGK: tino para o trabalho social
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alguns Programas desenvolvidos pelo IGK Fundo de Apoio a Projetos Especiais (FAPS)
Programa de Ações Especiais
Busca apoiar financeira e tecnicamente projetos de organizações sociais de Santa Catarina, que desenvolvam ações voltadas para a integração da pessoa com deficiência. O FAPS funciona a partir de cotas doadas por parceiros do IGK. Cada um é convidado a investir uma cota anual, que é utilizada para financiar, diretamente, os projetos selecionados e para custear o processo de acompanhamento técnico. A cada ano são abertas inscrições na área de atuação e região previamente estabelecidas, para que as organizações sociais apresentem projetos a serem financiados. Eles são revisados, primeiramente, pela Comissão Técnica do IGK para análise de sua viabilidade e qualidade técnica. A seleção final é feita pelo Comitê Avaliador, que conta com a participação de representantes dos parceiros e membros do Conselho do IGK. O acompanhamento técnico e avaliação dos projetos são realizados por técnicos e consultores do IGK. Durante esse acompanhamento são oferecidas oportunidades de orientação e capacitação, visando o fortalecimento institucional das organizações, para que elas atinjam plenamente os objetivos estabelecidos nos projetos. Uma atenção especial é dada ao processo de avaliação dos projetos selecionados para determinar a eficácia de seus resultados e identificar as áreas que necessitam de aperfeiçoamento.
O objetivo é propor e participar de ações e políticas de promoção e defesa dos direitos do cidadão, fortalecendo e desencadeando medidas que assegurem a cidadania, dentro dos princípios de igualdade e de respeito, em conjunto
Programa Campeões da Vida O programa de esporte e educação Campeões da Vida é realizado desde 2002 e, atualmente, desenvolve sete núcleos de atendimento (Saco Grande, Itacorubi, Ingleses, Biguaçu, São José, Palhoça e Campos Novos). São atendidas cerca de 700 crianças e adolescentes, no período matutino e vespertino, além de 30 pessoas com deficiência da Coepad (Cooperativa de Pais e Amigos da Pessoa com Deficiência), às sextas-feiras à tarde, juntamente com os núcleos Itacorubi e Saco Grande. Em todos os dias de atendimento, as atividades são desenvolvidas nas oficinas de tênis e esportes complementares, em um trabalho interdisciplinar com as áreas de Artes Cênicas, Biblioteconomia, Educação Física, Informática, Jornalismo, Pedagogia, Psicologia e Serviço Social. Os núcleos são desenvolvidos em espaços da comunidade (clubes, universidades e associações), que estão ociosos durante o dia.
s Guga quis oferecer oportunidade para crianças, adolescentes e io pessoas com deficiência, por me as da promoção de oficinas esportiv éa e atividades educacionais. Essa missão do Instituto Guga Kuerten 12
com outras organizações, que compartilhem desses mesmos objetivos. A Colônia de Férias Especiais Tempo Feliz é uma alternativa de lazer, turismo e inclusão social às pessoas com deficiência mental, turistas e/ou residentes em Balneário Camboriú, Santa Catarina. O objetivo da iniciativa é dar oportunidade à pessoa com deficiência mental e/ou múltipla de usufruir de programas de lazer, com vistas ao processo de inclusão, e, também, possibilitar aos pais das PcDs chances de usufruir dos programas de lazer que a cidade oferece. A Colônia acontece todo mês de janeiro, na sede da Apae de Balneário Camboriú, que conta com piscina, ginásio de esportes coberto e amplos espaços para atividades de recreação, alimentação e convivência. Desde a sexta edição da Colônia de Férias Voo Livre, o IGK participa da equipe de organização e articulação, em parceria com a Apae de Florianópolis. A programação de atividades propostas visa despertar no aluno questões como companheirismo, divisão de tarefas e a iniciativa para resolução de seus problemas com a mediação da equipe, contribuindo para maior independência nas atividades de vida diária. O objetivo é de contribuir no processo de inclusão da pessoa com deficiência mental na sociedade como um todo e garantir o direito às atividades de cultura, esporte e lazer, como exercício para a conquista da cidadania. Acontece todo mês de janeiro, em Florianópolis, na sede da Base Aérea.
com o monitoramento de uma equipe multidisciplinar, formada por professores de Educação Física, pedagogos, psicólogos e bibliotecários. Uma das atividades rotineiras é o estímulo à leitura. O IGK customizou um veículo e criou a IGKteca, uma biblioteca e oficina multimídia itinerante, que circula pelos núcleos, disponibilizando dezenas de títulos para os 700 educandos, além de equipamentos de informática.
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O IGK é presidido por Alice Kuerten, grande incentivadora do voluntariado e da participação solidária das empresas privadas como forma de transformar a realidade social do país, tendo como vice-presidente Rafael Kuerten, irmão mais velho de Guga
imagens: Divulgação
Para desenvolver esse trabalho a equipe do IGK, que é sediado em Florianópolis, criou uma metodologia específica, que prioriza a melhoria da autoestima das crianças. Em função da iniciativa, o instituto, atualmente, também desenvolve projetos de capacitação para divulgar o método para instituições que atendem o mesmo público-alvo. O Fundo de Apoio a Projetos Sociais (FAPS) é outra linha de atuação do IGK, que proporciona conquistas significativas para as instituições beneficiadas. Essa ação é realizada anualmente, de forma regionalizada, em Santa Catarina, e permite que instituições que atendem pessoas com deficiência se inscrevam para receber suporte técnico e financeiro. Depois de realizar a triagem dos projetos, o IGK divulga os nomes das entidades que serão contempladas pelo FAPS e supre as demandas solicitadas num prazo de um ano. A organização também promove ações especiais, como a realização de colônias de férias para pessoas com deficiência no verão e o Prêmio IGK, evento que garante visibilidade a pessoas ou instituições que desenvolvem ações sociais, cujo objetivo coincida com o da própria entidade, ou seja, a inclusão social de crianças e PcDs. Além disso, ainda há o curso de Capacitação para Cuidadores Terapêuticos. O IGK é presidido por Alice Kuerten, uma das grandes incentivadoras do voluntariado e da participação solidária das empresas privadas como forma de transformar a realidade social do país, tendo como vice-presidente Rafael Kuerten, irmão mais velho de Guga. Em quase 15 anos, a entidade já contribuiu com a formação de 50 mil pessoas. Assim como a carreira do ex-tenista, o IGK está crescendo aos poucos e de forma planejada, exercitando a cultura da responsabilidade social, mobilizando esforços, recursos e estabelecendo parcerias para o desenvolvimento de novas ações.
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Origem Alice explica a origem de sua vocação social: “O fato de querer ser útil e ouvir sempre foi uma constante na minha vida, desde adolescente. Quando pequena, me oferecia para ajudar as pessoas com algum serviço que eu soubesse fazer. Na adolescência, eu me envolvia com trabalhos de igrejas, creches e comunidades, na cidade de Brusque, em Santa Catarina. Por gostar da área social, escolhi o ofício de assistente social, visando atuar em trabalhos que promovam o ser humano como cidadão, na luta pelos seus direitos e cumprimento dos seus deveres. Como pessoa física, sempre atuei como voluntária junto a ações da cidadania do Conselho de Moradores, instituições filantrópicas e programas esportivos, por ter sido atleta do tênis, basquete e vôlei, desde os 12 anos de idade”. A mãe de Guga revela que, com o nascimento de Guilherme, que tinha deficiência física e mental, o foco do voluntariado se voltou, também, a instituições que trabalham com e pela pessoa com deficiência. “Aos poucos, fomos envolvendo toda a família nas ações de voluntariado. Independentemente dessas nossas iniciativas de pessoa física e considerando o sucesso do Guga, conseguido graças ao seu esforço, dedicação e disciplina, achamos que deveríamos institucionalizar, também, algumas ações filantrópicas, criando a entidade, para que pudesse captar recursos, investir em projetos já existentes, articular e mobilizar ações sociais e desenvolver alguns programas específicos, tanto na área do esporte quanto no atendimento à pessoa com deficiência.”
billy saga
Eu represento o Brasil, mas o Brasil não me representa músico e ativista fala sobre acessibilidade e sobre o atual cenário brasileiro para a autonomia de pessoas com lesão medular
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Diante de tantos contratempos, será que contamos alve! Quem escreve é Billy Saga, mais um com a cobertura da grande mídia para pôr em xeque rapaz que se equilibra em sua cadeira de essas assimetrias? Também não. Em vez de uma rodas, enquanto o país segue na corda bamba. imprensa combativa, que trouxesse à tona as lutas das Já lá se vão 16 anos “na cadeira”, desde pessoas com deficiência, sobram que um acidente de moto me matérias assistencialistas, lançou à militância. À frente do sensacionalistas, pautadas pelo Movimento SuperAção, realizei Nessa via crucis sem senso comum (com muito 27 eventos socioculturais pela rampas, o que dizer sobre pouco, ou nenhum, América Latina, mostrando a conhecimento sobre o assunto) cara e encurtando distâncias. questões ainda mais e pelo tom caritativo que Com tantas estradas básicas, como o direito de ir subjuga qualquer diferença. percorridas, entristece-me E se o governo concede à perceber que, apesar de muitas e vir, o direito a transporte, atleta Lais Souza coisas terem mudado na última saúde, educação, (merecidamente) uma década, as possibilidades de aposentadoria digna, alegando (sobre)viver de forma cidadã trabalho, cultura e lazer? que ela “representa o país”, por ainda são pequenas para os que a nós – que juntos somamos brasileiros com algum tipo de 45 milhões de pessoas com lesão medular. deficiência – ainda migalhamos míseros BPCs ou Aqui, pouca gente tem acesso a cadeiras decentes de aposentadorias por invalidez? Não representamos, fabricação nacional. Ainda menos são aqueles que também, nosso país? andam sobre cadeiras “gringas”, infinitamente Seguimos, assim, tão violentados quanto outras melhores – mais leves e resistentes e, por isso, mais minorias espalhadas pelo planeta, alvos do preconceito caras. Para piorar, algumas poucas lojas forjam e da ignorância alheia. Porém, confiantes, continuamos monopólios sobre esses produtos, superfaturando no a representar o Brasil, mesmo não recebendo o devido preço final gasto pelo consumidor. reconhecimento. Je suis Brésil. Nessa via crucis sem rampas, o que dizer sobre questões ainda mais básicas, como o direito de ir e vir, o direito a transporte, saúde, educação, trabalho, Billy Saga é presidente da ONG Movimento SuperAção cultura e lazer? (www.movimentosuperacao.org.br), músico A (in)equação está posta: do lado mais fraco, as (www.billysaga.com), consultor da ONG Mais Diferenças demandas das pessoas com deficiência – ainda não (www.md.org.br), conselheiro da Ouvidoria da reconhecidas como cidadãs; do outro, as violências Defensoria Geral do Estado de São Paulo, um dos cotidianas, institucionalizadas pela negligência e pelos primeiros artistas plásticos, pesquisador da De’VIA desmandos de governos e do grande capital. (www.artesurda.com) e ator da Cia Mix Menestréis.
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ponto de vista
surdez Visão médico-patológica x visão sociocultural, impactando na educação dos surdos Por Rúbem da S. Soares*/ Imagens: 123RF
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aceitação do estranho, do diferente, do deficiente sempre foi um problema para o outro, para a sociedade ao longo da história das civilizações. No caso dos indivíduos surdos, durante a Antiguidade e até o início da Idade Média, pensava-se que eles não eram educáveis. Eles eram rotulados como imbecis, “idiotas”, vistos como incapacitados para aprender. Foram subjugados e obrigados a comunicarem-se por meio de uma língua que lhes é estranha, a língua oral. A partir daí, temos uma longa (e triste) história sobre os surdos, que já foi exaustivamente relatada por brilhantes autores como Carlos M. Sànchez, Oliver W. Sacks, dentre outros. Mais recentemente e até os nossos dias, o debate sobre o indivíduo surdo apresenta duas posições antagônicas: a visão médico-patológico (ou médico-organicista) e a psicossocioantropológica (também conhecida como visão sociocultural). Vejamos, resumidamente, a posição de cada uma dessas visões, com o consequente impacto na área da educação dos surdos. A visão médico-patológica (ou organicista) da surdez Desde o início de sua história, a educação dos surdos sujeitou-se à orientação de um profissional da área médica. Tal influência médica foi se consolidando, estando presente, inclusive, no Instituto de Surdos de Paris, primeira escola especial de surdos – fundada pelo abade francês Charles Michel de L’Epèe (1712-1789) –, cuja administração posteriormente ficaria sob responsabilidade do médico Jean Itard. Talvez aqui tenha se dado o início do que viria a se consolidar como uma visão médico-patológica da surdez, predominante por longos anos no campo da educação de surdos. Comungam dessa visão a corrente de autores que focaliza a surdez apenas no âmbito clínico-patológico ou médico-organicista. Nela, o surdo é visto como um deficiente que precisa da reabilitação para alcançar uma condição fisiológica semelhante à dos ouvintes. Tal visão prioriza o problema biológico da falta de audição e da dificuldade (ou até ausência) da fala oral. Os defensores
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dessa visão, geralmente, estão interessados nos aspectos neuro-sensoriais sobretudo no tocante à capacidade/ incapacidade de audição e fala oral do surdo. Desse modo, indicam aos surdos, prioritariamente, o caminho da educação/reeducação (ou reabilitação) da audição/fala oral. Entendem eles que, sem tal reabilitação, dificilmente esses indivíduos integrariam a sociedade majoritária, que é de ouvintes. Assim, nessa corrente, os autores defendem a “reabilitação” da surdez, o que pode se efetivar por meio de treino fonoarticulatório (terapia que possibilite a fala oral), da leitura labial e da amplificação do resíduo auditivo. Para isso, é imprescindível a utilização de aparelhos de amplificação sonora, próteses auditivas, implante coclear, dentre outras técnicas/instrumentos modernos na linha das tecnologias assistivas. Um indivíduo que é considerado como tendo suas habilidades dentro do padrão esperado pela medicina é aquele que consegue captar ondas sonoras em várias frequências diferentes passando pelo processo completo, da detecção à decodificação do som. O American National Standards Institute (ANSI – 1989) define uma escala em decibéis (dB). Nessa escala, 0 dB corresponde ao zero audiométrico, e agrega várias frequências comuns em hertz (Hz). A faixa de 0 a aproximadamente 20 a 24 decibéis (ou 26 dB) corresponde ao nível natural de audição nos humanos, sendo que limiares de perda acima de 25 decibéis (em algumas frequências, conforme testes com audiogramas de 250, 500, 1.000, 2.000, 3.000, 4.000, 6.000 e 8.000 Hz), já podem ser considerados uma deficiência de audição. Também, os níveis da deficiência são
Na visão médico-organicista, o su rdo é visto como um deficiente que pre cisa da reabilitação para alcançar um a condição fisiológica semelhante à dos ouvintes. Já na sociocultural, Carlo s Skliar define a surdez com base em qu atro diferentes níveis: como diferença política, como experiência visual, como caracterização de múltiplas identidades e como deficiência
classificados de acordo com as diferenças no limiar de detecção em dB. Desse modo, geralmente, o indivíduo é classificado como tendo perda leve, moderada, severa e profunda. Nesse sentido, os indivíduos com perda auditiva em níveis leve, moderado e severo são chamados de deficientes auditivos. Os com nível profundo são chamados surdos. Luis Behares é um dos autores que criticam o uso de expressões como deficiente auditivo, por remeter à visão médico-organicista. Para ele, principalmente na escolarização do surdo, o grau de perda auditiva indicado pelo diagnóstico médico e/ou paramédico tem sido decisivo no encaminhamento educacional, configurando-se como o mais importante indicador para a previsão do desenvolvimento de linguagem. Isso porque, na visão médico-organicista, é imprescindível conhecer os aspectos patológicos e fisiológicos da surdez a fim de que se possa desenvolver um trabalho educativo com esse indivíduo. Tal visão pretende aproximar o surdo o máximo possível do ouvinte, que é o “modelo-padrão”. Assim, resiste-se a aceitar a diferença desse indivíduo, já que ele destoa da norma socialmente estabelecida. Na visão médicopatológica, os padrões classificatórios não são apenas indícios. São considerados os mais importantes indicadores para a previsão de desenvolvimento da
criança surda, tanto em termos linguísticos como educacionais. Assim, desprezam-se, ou se colocam em segundo plano, outros fatores que não se refiram ao tipo e grau de perda auditiva. A visão psicossocioantropológica ou sociocultural da surdez Contrariamente à visão médico-patológica, a sociocultural entende que a surdez deve ser compreendida a partir de um olhar socioantropológico, como diferença
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ponto de vista
A aceitação do termo “surdo” como o mais apropriado representaria, também, uma tentativa de minimizar o processo de estigmatização desses indivíduos
linguística. Isso porque, afirmam os defensores dessa visão, a surdez é assumida pelo próprio surdo como uma posição política, estando tal sujeito consciente de que tem uma diferença linguística e, portanto, ele faz parte de uma minoria linguística. Um dos principais defensores dessa visão, Carlos Skliar define a surdez com base em quatro diferentes níveis: como diferença política, como experiência visual, como caracterização de múltiplas identidades e como deficiência. Assim, esse indivíduo deixa de ser visto apenas como um “deficiente auditivo”, passando a ser reconhecido como um “surdo”. Esse é o termo preferido por defensores dessa visão, já que tal termo deixa transparecer subjacente uma concepção sociocultural da surdez. As atuais investigações têm chamado a atenção para a multideterminação da surdez e para a adequação do emprego do termo “surdo”, até porque é esta a expressão utilizada e preferida por esse indivíduo para referir-se a si mesmo (autoidentificar-se) e aos seus iguais. Desse modo, é fundamental considerar que o surdo difere do ouvinte, não meramente porque não ouve, mas porque desenvolve potencialidades psicoculturais próprias. Ele precisa ser compreendido, portanto, na sua dimensão psicossocioantropológica, enquanto um sujeito, um ator social, um senhor de sua história e não apenas como um portador de uma patologia, a surdez (que precisa ser “tratada”, “curada”, “superada”). A aceitação do termo “surdo” como o mais apropriado representaria, também, uma tentativa de minimizar o processo de estigmatização desses indivíduos pela sociedade ouvinte. Sabemos que a falta da audição pode ser um fator que reduz o indivíduo ao atributo gerador do descrédito social. A expressão “surdo”, como vem sendo empregada, poderia facilitar a identificação desse indivíduo na sua diferença. Em defesa dessa tese, Maria Cecília Moura propõe que esse indivíduo seja conhecido não apenas como “surdo”, mas como “Surdo” (com letra
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maiúscula). Segundo ela, isso favoreceria a identificação dessa pessoa como diferente, sendo essa diferença particularizada por ser decisiva para o seu desempenho. O uso do termo “deficiente auditivo”, ao contrário, tem contribuído com a utilização de procedimentos que visam ajustar os surdos aos padrões linguísticos mais aceitos e valorizados na sociedade, envolvendo tratamentos e/ou atendimentos sistemáticos de fala oral. Em contrapartida, os estudos que usam a referência “surdo” têm procurado abrir um espaço social para essas pessoas, respeitando suas especificidades. Buscam a identidade social entre o seu grupo, sua legitimação como comunidade linguística diferenciada. Claro que devemos admitir que a limitação auditiva é inegável como um dos fatores para a identificação das diferenças individuais. É igualmente inegável que a necessidade de aquisição de um sistema linguístico próprio (língua de sinais) acarreta consequências de ordem social, emocional e psicológica que vão além da perda auditiva. Seria um tremendo equívoco negar a condição desse indivíduo no que toca à sua limitação física. Contudo, os surdos são possuidores de nomes próprios que os identificam como pessoas pertencentes a determinada classe social, gênero, religião, clube de futebol, etc. Mas, por apresentarem uma forma particular de apreensão de mundo e de externalização, devem ser identificados e designados como grupo. Devemos entender que a surdez deve estar no contexto de vida da pessoa surda, sem ocupar uma posição tão significativa para o seu desenvolvimento individual e social. Isso se opõe à idéia de identificação dos surdos simplesmente por padrões classificatórios de perda auditiva, levado a cabo, até recentemente, por grande parte dos pesquisadores da surdez, de professores de surdos e de outros segmentos da sociedade. Desse modo, o uso dos termos surdo e deficiente auditivo por esses indivíduos não está relacionado ao grau de perda auditiva, mas sim a uma posição política de autoafirmação ou não de sua condição de surdo e todo o seu significado politicossocial. Nesse sentido, é fundamental considerar que o surdo difere do ouvinte e desenvolve potencialidades psicoculturais próprias, o que leva à necessidade de se compreendê-lo na sua dimensão psicossocioantropológica enquanto um sujeito político, um ator social, e não apenas como um “portador” de uma patologia, a surdez.
No que impacta a educação de surdos, lembramos que, no Brasil, as políticas do setor devem adotar, por força legal (Lei 10.436/02, regulamentada pelo Decreto 5626/05) práticas de educação bilíngue. Tais práticas, necessariamente, devem estar coerentes com a visão sociocultural da surdez. Isso contempla, obrigatoriamente, a Libras (Língua de Sinais Brasileira) como língua materna dos surdos e a língua portuguesa como segunda língua. A lei também impõe que o Poder Público (federal, estadual e municipal) promova ações para a difusão da Libras. Portanto, desde abril de 2002, com a publicação dessa lei, práticas educativas que não considerem a situação de bilinguismo dos surdos podem estar incorrendo numa flagrante ilegalidade, sujeitando-se à ação do Ministério Público Federal. Finalmente, a visão da surdez como deficiência pela área da educação ocorre na medida em que as estratégias pedagógicas se firmam sob a tutela das orientações da medicina. Para finalizar, ressalto que o uso do termo deficiente auditivo não é inadequado, quando se pretende uma intervenção de (re)habilitação da audição do indivíduo, o que é competência dos profissionais da medicina e da fonoaudiologia. Entretanto, esse termo tem sido largamente utilizado por profissionais das mais diversas áreas, sobretudo os da educação, inclusive
usando apenas a expressão “D.A.” (abreviatura de deficiente auditivo). Isso é uma das evidências da forte influência que a área médica tem exercido sobre a educação de surdos por anos, situação que, a duras penas, vem sendo vencida com a emergência da visão sociocultural, que a ela se contrapõe. * Rúbem da S. Soares é mestre em Educação (FEUSP), psicólogo e consultor em educação bilíngue de surdos. PARA SABER MAIS, CONSULTE: BEHARES, L. E. Nuevas corrientes en la education del sordo: de los enfoques clínicos a los culturales. In: Cadernos de Educação Especial, p. 20-39, 1993. DORIA, A. R. de F. Manual de educação da criança surda. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Educação de Surdos (MEC), 1961. FERREIRA-BRITO, L. Integração social e educação de surdos. Rio de Janeiro: Babel, 1993. KATZ, J. E.D. Tratado de audiologia clínica. São Paulo: Manole, 1989. MOURA, M. C. O surdo: caminhos para uma nova identidade. Rio de Janeiro: Revinter, 2000. SACKS, O. W. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. SÁNCHEZ, C. M. La increible y triste historia de la sordera. Caracas: Ed. Ceprosord, 1990. SKLIAR, C. A localização política da educação bilíngue para surdos. In: Atualidade da educação bilíngue para surdos, v. 1. Porto Alegre: Mediação, 1997. v. 1,. . (Org.) A surdez: um olhar sobre as diferenças, v. 1. Porto Alegre: Mediação, 1999. v. 1. SOARES, R. da S. Educação bilíngue de surdos: desafios para a formação de professores. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. ZAJAC, S. O ensino de língua portuguesa para surdos: novos olhares, novas perspectivas. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011.
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silvana zajac
ESPAÇO DO TILS
(Tradutor/intérprete de Língua de Sinais) a formação de tradutores/intérpretes de língua de sinais
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fazer a “leitura” da atuação, pensar e repensar sobre a crescente exigência de qualificação para ação, retomar continuamente os caminhos já ingressar no mercado de trabalho tem percorridos, coletar, considerar e reconsiderar os obrigado os profissionais de diferentes áreas dados disponíveis, planejar novos caminhos e a se preocuparem com aperfeiçoamento re-encaminhar a prática de permanente. Na área da forma crítica e criteriosa numa tradução/interpretação de busca constante de novos Libras não tem sido diferente. A formação profissional significados. Além da necessidade criada não consiste apenas em Assim, um dos principais por preceitos legais (Decreto objetivos desta seção é Federal nº 5626/05 e Lei participar de palestras, contribuir para o Federal nº 12319/10) e pela reuniões ou fazer um enriquecimento da formação dinâmica do mercado, a continuada dos profissionais exigência de uma melhor ou outro curso. Ela é tradutores/intérpretes qualidade no trabalho dos um processo contínuo objetivando uma melhoria da tradutores/intérpretes tem intermediação da comunicação aumentado nos últimos anos. e progressivo professor-aluno, no processo de Tal fato se explica devido formação escolar dos alunos à crescente necessidade de surdos. E isso será feito pelo atendimento aos surdos desenvolvimento e construção das diversas sinalizados (usuários de Libras), que vêm conquistando competências inerentes a essa profissão. oportunidades de crescimento, tanto na área É por meio desse cenário que a Revista D+ profissional quanto na educacional. idealizou esta seção que, a cada edição, direcionará o Contudo, a formação profissional não consiste foco para os profissionais tradutores/intérpretes de apenas em ouvir palestras, participar de reuniões ou Libras. Esse trabalho vem ao encontro, fazer um ou outro curso. Pelo contrário, ela é um principalmente, das necessidades atuais, referentes à processo contínuo e progressivo, no qual a atuação desses profissionais em sala de aula, nos aprendizagem se estrutura pela pesquisa e ref lexão diversos níveis de ensino. sobre a prática da tradução/interpretação, gerando uma “transformação” na atuação do profissional tradutor/intérprete. Silvana Zajac é doutora em Linguística Aplicada e Estudos Na atualidade, podemos dizer que ref lexão é o da Linguagem (LAEL/PUCSP), mestre em Educação conceito mais utilizado por investigadores e (Unimep), bacharel em Letras/Libras (UFSC/Unicamp), formadores das diversas áreas e, nesse caso, significa formadora de Tils da Mais Inclusão.
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silvana zajac
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lazer
O prazer do verão em praias acessíveis Nesta temporada, confira os locais que possuem acessibilidade para o banho de mar Da Redação/ colaborou Lucas Vasques e Isabela Vieira - Agência Brasil*
Nordeste O projeto de acessibilidade Praia sem Barreiras, por exemplo, criado em janeiro de 2013, funciona em quatro praias do Estado de Pernambuco: Sueste (Fernando de Noronha), Boa Viagem (Recife), Porto de Galinhas (Ipojuca) e Bairro Novo (Olinda), e já soma sua terceira premiação. No final do ano passado, o Ministério do Turismo premiou o projeto de acessibilidade Praia sem Barreiras
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como uma das quatro melhores experiências avaliadas no 5º Índice de Competitividade. A ação foi destaque na categoria “Boas Práticas” pelas atividades desenvolvidas na praia do Sueste, em Fernando de Noronha.
Deputada Mara Gabrilli e familiares conferindo a acessibilidade em Astúrias, Guarujá (SP)
São Paulo O programa Praia Acessível, do governo do Estado de São Paulo, por meio de convênio entre a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência e os municípios, beneficiou 21 praias. Entre as contempladas estão: Guarujá, Itanhaém, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Bertioga, Santos, Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião, Ilhabela, Cananeia, Iguape, Rosana, Panorama, Presidente Prudente, São Manoel, Avaré, Rifaina, Caconde e Itapura. Lançado em 2010, disponibiliza cadeiras de rodas anfíbias, viabilizando o banho de mar para pessoas com deficiência, com conforto e segurança. A iniciativa também funciona em praias de rio de Ilha Solteira, Arealva, Avaré, Fartura, Itapura, Panorama, Presidente Epitácio, Rifaina, Rosana, Santa Fé do Sul e Teodoro Sampaio. A secretaria é responsável pelo fornecimento das cadeiras anfíbias, já a prefeitura, pelas equipes de suporte do programa e manutenção dos equipamentos. Já beneficiou mais de 25 mil pessoas. *Com reportagem de Tâmara Freire, da Radioagência Nacional
Fotos: 123Rf/ Assessoria Mara Gabrilli
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ete anos depois de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) que afetou sua mobilidade, Dimas da Silva voltou a sentir o prazer de um banho de mar. Ele foi um dos atendidos pelo projeto Praia para Todos, organizado pelo Instituto Novo Ser, que nesse verão retomou as atividades nas praias de Copacabana e da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. “Foi excelente, ótimo mesmo”, declarou Dimas, depois de sair do mar. Promovido há sete edições, com apoio de patrocinadores, o projeto integra pessoas com deficiência e de baixa mobilidade à natureza e ao esporte. O sonho é tornar o banho de mar uma atividade simples e acessível a todas as pessoas, diz a coordenadora do projeto Camila Vasconcellos. Nos pontos de atividades, os participantes podem fazer gratuitamente stand up padlle (SUP), participar de competições de vôlei sentado e de futebol de areia. O Praia para Todos atende cerca de 50 pessoas por dia, entre 9 e 14 horas, e conta com o apoio de professores de Educação Física e fisioterapeutas. Os profissionais ficam em Copacabana, entre os postos 5 e 6, e na Barra, próximo ao Posto 3, até 17 de maio. Como Copacabana, outras praias oferecem, em horário integral ou parcial, programas de acessibilidade pelo Brasil.
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moda
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Planos Municipais de Educação apresentam estratégias a serem cumpridas pelo poder público nos próximos dez anos, no sentido de assegurar acesso total ao atendimento educacional às pessoas com deficiência por lucas vasques
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imagens: Ernesto Sasai/ 123rf
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especial educação
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niversalizar o total e irrestrito acesso ao ensino básico e ao atendimento educacional especializado para as pessoas com deficiência, na rede regular de ensino, com a garantia de um sistema educacional inclusivo. Esse sonho está dando mais um passo em direção a se tornar realidade, com a elaboração e apreciação pelas instituições competentes dos Planos Municipais de Educação (PME), que devem ser votados e aprovados, definitivamente, até junho deste ano. O projeto apresenta metas e estratégias a serem cumpridas pelo poder público, nos próximos dez anos, e contempla todos os segmentos sociais. Um dos seus itens diz respeito, especificamente, às PcDs. Em São Paulo, por exemplo, o projeto substitutivo do PME (PL 415/2012), que tramita no Legislativo desde 2012, acabou de ser aprovado pela Comissão de Educação da Câmara Municipal. Agora, vai para apreciação da Comissão de Finanças e, somente depois disso, vai à votação em plenário. O documento foi produzido a partir de ampla participação social, com o que concorda o seu relator, vereador Toninho Vespoli (PSOL), e está baseado nas propostas surgidas nas conferências nacional e municipal de Educação, realizadas em 2010. A nova versão, ainda de acordo com Vespoli, está alinhada com o Plano Nacional de Educação (PNE). As propostas do plano incluem a utilização de inúmeros recursos para minimizar as dificuldades de acesso e aprendizado das PcDs. Entre as estratégias
Outra meta é assegurar a oferta , de educação bilíngue, em Libras a como primeira língua, e em Língu a, a Portuguesa, como segunda língu cia estudantes surdos e com deficiên auditiva, em escolas e classes s bilíngues e em escolas inclusiva
Em São Paulo, desde a gestão Kassab, houve uma série de encontros e audiências públicas no sentido de discutir as estratégias para criação do plano
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Especialistas do setor de educação marcaram posição durante o processo de debates que envolveu vários segmentos da população
previstas estão: acomodar a demanda dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação do ensino fundamental, em regime de colaboração com o Estado de São Paulo, de forma que a responsabilidade pelas matrículas deva ser pactuada, no prazo de cinco anos, respeitando a divisão das matrículas entre o município e o Estado no ensino fundamental; garantir atendimento educacional especializado em salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos, nas formas complementar e suplementar, a todos os estudantes com deficiência matriculados na rede municipal de ensino, conforme necessidade identificada por meio de avaliação. Além disso, o PME visa assegurar, em todas as regiões, em regime de colaboração com o Estado e a União, centros multidisciplinares de apoio, pesquisa e assessoria, articulados com instituições acadêmicas, que desenvolvam pesquisas sobre a temática, e integrados por profissionais das áreas de saúde, assistência social, pedagogia e psicologia, em número proporcional à quantidade de estudantes com necessidades educacionais especiais atendidos na região, para apoiar o trabalho dos professores da educação básica com os estudantes com deficiência. Outro objetivo é manter e ampliar, em regime de colaboração com o Estado e com a União, programas suplementares, que promovam a acessibilidade nas instituições públicas, para garantir o acesso e a permanência dos estudantes com deficiência, por meio da adequação arquitetônica, da oferta de transporte acessível e da disponibilização de material didático adequado e de recursos de tecnologia assistiva, que visem à autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. Outra meta a ser atingida é assegurar, também em conjunto com o Estado e com a União, a oferta de educação bilíngue, em Língua Brasileira de Sinais – Libras, como primeira língua, e na modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua, a estudantes surdos e com deficiência auditiva, em escolas e classes
bilíngues e em escolas inclusivas, bem como a adoção do sistema Braille de leitura para cegos e surdos-cegos. Convênios Está prevista, ainda, a celebração de convênios com instituições de ensino superior e universidades, instituições de ensino credenciadas por secretarias de Educação ou pelo Ministério da Educação e organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que reconhecidas e credenciadas junto ao Ministério da Educação e à rede municipal de ensino, de modo a viabilizar a formação de professores surdos e ouvintes para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, que viabilize a educação bilíngue Libras – Língua Portuguesa, com prioridade para pessoas surdas ou com deficiência auditiva; formação em tradução e interpretação de Libras – Língua Portuguesa; e ensino de Libras para pais, mães e demais familiares de pessoas surdas. A iniciativa também objetiva a criação de cargos específicos de professores de Libras, prioritariamente surdos, e professores bilíngues, com proficiência em Libras, bem como para intérpretes de Libras, instrutor mediador e guias-intérpretes para surdos-cegos. A ideia é provê-los, por meio de concurso público, para atuação em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas.
As pesquisas não foram esquecidas na proposta. A ideia é fomentá-las, sempre voltadas para o desenvolvimento de metodologias, materiais didáticos, equipamentos e recursos de tecnologia assistiva, que visem autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social e produtiva dos estudantes com deficiência. Isso, de modo a subsidiar a formulação de políticas públicas intersetoriais, que atendam suas especificidades educacionais. Articulação Promover a articulação intersetorial entre órgãos de saúde, assistência social e direitos humanos, em parceria
Conferência Municipal de Educação que se realizou no Palácio das Convenções do Anhembi
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especial educação
Obrigatoriedade do serviço de apoio especializado, para cuidadores e intérpretes de Libras estão entre as novidades que podem ser incluídas nos planos para contemplar PcDs
A proposta contempla a ampliação da oferta de programas de formação inicial e continuada de profissionais da educação
com as famílias e instituições de pesquisa, é intenção do plano. O objetivo é desenvolver políticas públicas de atendimento para garantir a continuidade do atendimento escolar, na educação de jovens e adultos, das pessoas com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento, com idade superior à faixa etária de escolarização obrigatória, de forma a assegurar a atenção integral ao longo da vida. Uma das necessidades do segmento que devem ser atendidas é a ampliação, na rede municipal de ensino, das equipes de profissionais da educação para atender a demanda do processo de escolarização de estudantes com deficiência, garantindo a oferta de professores do atendimento educacional especializado, profissionais de apoio ou auxiliares. O Plano Municipal de Educação tentará promover ações contínuas de formação da comunidade escolar sobre os referenciais teóricos, das teorias de aprendizagem e dos processos de ensino-aprendizagem relacionados ao atendimento educacional de estudantes com deficiência, por meio da Secretaria Municipal de Educação e em parceria com instituições de ensino superior e universidades, preferencialmente públicas. Além disso, deve desenvolver, garantir e ampliar a oferta de programas de formação inicial e continuada de profissionais da educação, além de cursos de extensão, especialização, mestrado e doutorado. Desafios Como se pode observar, os desafios são muitos. Para o psicólogo educacional, mestre em Educação e consultor que trabalhou na sistematização das propostas de educação especial do Plano Municipal de Educação de São Paulo, Rúbem Soares, para o PME ter, efetivamente, sucesso, é imprescindível compatibilizar o interesse dos diversos grupos envolvidos na temática. “Administrar as tensões entre os grupos, haja vista que há grande diversidade e interesses variados. Sabemos que a educação
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inclusiva não contempla, apenas, crianças e adolescentes com deficiência. Essa área deve atender não somente alunos com deficiência, mas, também, outros grupos, como os indígenas, crianças com vulnerabilidade social, em liberdade assistida, em classes hospitalares, crianças estrangeiras (como os dekasseguis, bolivianos, haitianos, chineses, coreanos etc.), grupos afrodescendentes (quilombolas, por exemplo), dentre outros. Como o Plano Municipal de Educação deve contemplar esses diversos segmentos, eis aí um enorme desafio.” Quanto às principais novidades que podem surgir no plano para contemplar as crianças com deficiência, em suas atividades na escola, Soares aponta a obrigatoriedade do serviço de apoio especializado, para cuidadores, intérpretes de Libras etc., como uma das mais importantes. Em relação a um tema bem polêmico, ou seja, a inclusão de PcDs em escolas regulares, o psicólogo ressalta que o sistema educacional, em geral, ainda está se adaptando para atender alunos com necessidades educativas especiais: “Já evoluímos significativamente, considerando a situação vigente até meados dos anos 90. Entretanto, ainda não estamos no mundo ideal. Temos muito a avançar. É um longo processo e precisa do envolvimento de toda sociedade, cobrando a atuação do poder público”. Estão previstas, no plano, iniciativas práticas, como a utilização de tecnologia assistiva, materiais em Braille, disponibilização de intérpretes de Libras nas escolas, qualificação de psicopedagogos e cuidadores. Para isso, há a necessidade de se criarem mecanismos para viabilizar essas iniciativas. “O serviço já está instituído por lei. Entretanto, deparamo-nos com a carência de recursos humanos especializados. É necessário que o poder público promova ações que estimulem a formação de profissionais especializados para dar conta do atendimento da demanda de alunos da educação especial”, ressalta Soares. Para ele, a falta de verba não pode ser um fator complicador para a concretização das medidas. “No que diz respeito a recursos financeiros, não podemos dizer que haja carência. Tanto o governo federal quanto os municipais têm verbas vinculadas para a educação por força legal. Talvez seja necessária a melhor aplicação dos recursos destinados à educação”, completa.
aprenda libras
Espaço da Língua Brasileira de Sinais A Língua Brasileira de Sinais – Libras é muito mais que uma alternativa de comunicação dos surdos brasileiros. Ela é um direito conquistado pelas comunidades surdas de se comunicarem em sua própria língua materna. Esse direito lhes foi assegurado por meio da Lei Federal no 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada pelo Decreto no 5626, de 22 de dezembro de 2005. Nesta seção da Revista D+ você terá sempre conteúdo da Libras, para aprender a se comunicar com os surdos usuários dessa língua. A seguir, aprenda o alfabeto manual:
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perfil
monstros que Desde os 17 anos ligada a uma cadeira de rodas, Cris Corrêa não se abateu e se tornou uma empresária de sucesso no segmento de artesanato, produzindo monstrinhos de pelúcia da redação
O
que poderia ser uma autêntica tragédia na vida de uma jovem se tornou combustível para superação, além de determinação para ultrapassar obstáculos e concretizar sonhos. Aos 17 anos, Cris Corrêa, de Registro, mas vivendo hoje em Jacupiranga (SP), sofreu um acidente automobilístico, que a deixou em uma cadeira de rodas. Ela não se amedrontou diante da situação, foi à luta, explorou seu talento e hoje, aos 32 anos, é uma bem-sucedida empresária do setor de artesanato. É proprietária da Maenga Toys, que produz bonecos de pelúcia personalizados. “Na época do acidente foi difícil, pois era muito jovem e não havia tanto acesso à informação como temos hoje. Os cadeirantes e os assuntos referentes às questões da deficiência não recebiam tanto espaço na mídia como atualmente. Justamente por isso, os três primeiro anos foram os mais difíceis, pois tive de me adaptar à nova realidade que surgia na minha vida. Contudo, passei a desenvolver trabalhos voluntários com educação (se formou em Pedagogia), durante três anos”, relembra.
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imagens: Estúdio Viviane Corrêa
não assustam
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perfil
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SONHOS Importam, para o sucesso da toy art, a originalidade de seu criador e os materiais que ele utiliza. “Eu crio monstros em plush”, define Cris. Cria no sentido amplo da palavra: desenha, desenvolve os moldes, e ainda costura, além de gerir a empresa que constituiu para a fabricação de seus “monstrinhos”. Empresa que vai bem, com grandes parcerias na área têxtil. Sua marca é referência nesse
imagens: Estúdio Viviane Corrêa
A arte da costura, conta Cris, não era algo com que a artesã sabia lidar muito bem, embora isso a fascinasse. O interesse veio de observar a avó e a mãe, que costuravam, principalmente à máquina. O domínio desse “instrumento” parecia um problema para a jovem, que retomou as atividades com o equipamento somente depois da lesão medular. “Me vi no desafio de tentar novamente”, explica. E a partir da habilidade adquirida na máquina passou a trabalhar com toy art, algo que depende praticamente 100% desse tipo de acabamento. “Posso dizer que para minha surpresa (e de muitos) me saí bem, tanto na costura manual quanto à máquina, aliás, principalmente à máquina, que hoje é o meu principal meio de trabalho”, conta Cris em seu blog. A artesã acredita que sua criatividade orientada para esse trabalho tenha surgido logo na infância. “Já na adolescência, passei a customizar meu material escolar, criar cartões, adesivos, customizar utensílios, roupas, de tanto inventar criei muitas coisas diferentes e por isso recebi bastante incentivo para explorar minha criatividade. Com 18 anos comecei a me dedicar a aprender pintura em tecido, logo depois me dediquei a pintura a óleo, spray e então não parei mais de aprender novas maneiras de expressar minha arte.” Aos 22 anos Cris tirou certificado de artesã, trabalhou com trançado em taboa, confecção de bijuteria e modelagem em porcelana fria. Em 2009 foi quando finalizou seu curso de Pedagogia e desenvolveu um projeto que tem como objetivo falar
sobre cidadania através do teatro de bonecos. “Foi então que me arrisquei na fabricação e customização de fantoches. Paralelamente a isso, comecei a costurar.” A toy art, que hoje é o negócio de sua empresa, a Maenga Toys, explica a artesã, tem origem controversa no final da Segunda Guerra Mundial. O local onde teria surgido, nesse contexto, é o Japão. Consiste em brinquedos que representam objetos de arte, muitas vezes fabricados em modelos exclusivos ou séries limitadas. Muitas vezes são peças de colecionadores adultos, apesar de despertarem fortemente o interesse infantil.
Valorização O trabalho manual precisa ser visto como algo sério, na opinião de Cris Corrêa. “Há uma supervalorização no mundo inteiro, há procura por exclusividade.” A artesã está certa, segundo números e fluxos do mercado. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão conta de que esse setor movimenta em torno de R$ 50 bilhões por ano, envolvendo mais de 8 milhões de pessoas na atividade. A demanda é mesmo grande, sendo o principal problema da atividade o gargalo na distribuição, algo com que os iniciantes nesse segmento precisam aprender a lidar. Em dezembro do ano passado, na cidade de São Paulo, ocorreu a primeira edição do Mãos do Brasil Salão de Artesanato, que reuniu artesãos de todos os estados brasileiros no Centro de Exposições do Anhembi. O salão é uma das ações do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), que pretende reduzir esse problema do escoamento dos produtos manuais. “A maior demanda hoje é por espaços para comercialização do produto. O escoamento é o gargalo. Se não consigo dar espaço para o artesão, ele não tem onde expor suas peças. Ele produz, um atravessador compra as peças dele e revende pelo dobro ou triplo do preço. O maior gargalo para o artesão é a oportunidade de espaço para comercializar a própria peça”, destacou Ana Beatriz Ellery, coordenadora de Artesanato Brasileiro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Presidência da República. (Com informações de Bruno Bocchini, da Agência Brasil.)
mercado, surgido no Brasil aproximadamente a partir dos anos 90. Portanto, para a sorte de Cris, um segmento novo e com possibilidades de expansão. Sem limites para sonhar. A empresária e artesã conta que seus sonhos, hoje, são ver seu trabalho ganhar mais representatividade no segmento e levar sua habilidade e experiência da pelúcia para o vinil: “Este ano vou fazer algo que contribua para eu chegar lá”. Pelo jeito, ela vai conseguir, pois o reconhecimento já está vindo. “Alguns de
meus trabalhos farão parte do cenário de um curta-metragem infantil, chamado O médico de monstros, que chegará ao mercado este ano. É uma ótima notícia e um sinal de que meu trabalho está agradando.” Para finalizar, sobre sua deficiência, Cris Corrêa revela: “A vida me ‘virou do avesso’ muito cedo, ou, dependendo do ponto de vista, no tempo exato pra que hoje eu estivesse exatamente onde estou”. E completa: “talvez a vida tenha me ‘virado do avesso’ para que eu trouxesse os monstros à existência!”.
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serviço
Autonomia e pé na estrada DF Autoescola adota a cultura da inclusão e oferece um serviço especializado para a aquisição de Carteira Nacional de Habilitação especial, dirigida às pessoas com deficiência Por Lucas Vasques
A
autonomia é um dos maiores desejos e uma das principais reivindicações das pessoas com deficiência, que sentem, intensamente, a necessidade de serem incluídas na sociedade, das mais diversas maneiras. Uma delas é contar com uma empresa especializada em habilitá-las na retirada da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), para a condução de veículos, além de orientá-las na hora da aquisição de automóveis adaptados, com benefícios fiscais. A DF Autoescola, com sede em Osasco, São Paulo, é uma organização que, por meio da qualificação de seus profissionais e serviços, aposta na cultura da inclusão, proporcionando mais equilíbrio e qualidade de vida aos seus clientes. “A DF se especializou no atendimento às pessoas com deficiência porque se trata de um público carente de informações, que necessita de profissionais capacitados para o auxílio correto. Posso afirmar, em minha experiência, que, geralmente, as PcDs que nos procuram não conhecem seus direitos. Elas sempre nos chegam por indicação de outros clientes”, afirma Daniele Almeida, diretora do grupo. Para oferecer cartas especiais, segundo Daniele, a autoescola precisa ter uma infraestrutura física adequada: “Além disso, é fundamental a presença de profissionais especializados, como instrutores credenciados pelo Detran e uma equipe que se comprometa com atendimento e treinamento específicos”. Ela explica como é o processo para obtenção de cartas especiais, que vai do laudo técnico ao teste de direção no veículo adaptado. “Temos duas linhas de atuação. A primeira é quando o candidato não tem habilitação. Nesse caso, a legislação exige que ele seja maior de idade e alfabetizado. As diretrizes são iguais para todos, ou seja, a pessoa fará a pré-inscrição no Detran, onde cadastrará digitais e fotos. Logo em seguida, será realizado o exame médico pelo perito
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credenciado pelo Detran e que atenda pessoas com deficiência física. Nesse momento, o candidato deve levar relatórios e exames, com o objetivo de constatar a limitação física”, conta. O processo não acaba aí. “Passando pelos exames, ele participará do curso teórico de nove dias e a prova teórica com 30 questões. Sendo aprovado, fará o exame prático. Depois disso, em caso de aprovação, é só aguardar a CNH. Outro caso é o candidato, sendo habilitado, que passa a ter uma limitação física, em função de doença ou acidente. É necessário, então, tirar uma nova habilitação. Por meio de um relatório médico e exames, deverá comprovar a limitação física ou mobilidade reduzida. Fará o cadastro no Detran, exame médico, psicotécnico, uma ou duas aulas práticas e exame prático novamente. Com a CNH em mãos, voltará ao médico credenciado pelo Detran e fará a solicitação do laudo médico. Com esse documento solicitará a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA) e rodízio municipal”, explica a diretora da DF. Ela aproveita para informar quais os órgãos adequados para se solicitar as isenções: “O IPI é na
Receita Federal, ICMS e IPVA são na Secretaria da Fazenda e a liberação do rodízio é com o Departamento de Operação do Sistema Viário (DSV). A pessoa deve nos procurar, com esses relatórios e exames, e faremos uma triagem, uma conversa informal, para orientar o interessado. A primeira providência é tirar a CNH, depois o laudo e, aí sim, solicitar as isenções”. As exigências para a retirada da carta, informa Daniele, não variam de acordo com cada deficiência. “A regra é a mesma, não dependendo do tipo de limitação física do candidato. Em relação à primeira CNH, a única diferença em comparação à obtenção do documento convencional é a necessidade de uma junta médica para examinar a extensão da deficiência e a desenvoltura do cliente, em lugar do exame médico simples. Da mesma forma que é exigido o mínimo de 20 aulas práticas.” Veículo Na hora da aquisição do veículo a DF também procura auxiliar o candidato a motorista. “Isso faz uma grande diferença, pois a dispensa de pagamento dos tributos representa uma economia de, mais ou menos, 24% no custo final do veículo, além da isenção de IPVA e
Fotos: divulgação
A DF se especializou no atendimento às pessoas com deficiência porque se trata de um público carente de informações, que necessita de profissionais capacitados para o auxílio correto. Geralmente, as PcDs que nos procuram não conhecem seus direitos
Como tirar a CNH especial É preciso ter 18 anos completos, ser alfabetizado e apresentar os seguintes documentos: • Carteira de Identidade (RG) • Cadastro de Pessoa Física (CPF) • Comprovante original de endereço em seu nome ou de seus pais (conta de luz, água, banco, telefone fixo ou celular) • Duas fotos 3×4 coloridas com fundo branco Requisitos Inscrição na autoescola Pré-cadastro no Detran Exames médico e psicotécnico Curso teórico Exame teórico no Detran Curso prático na autoescola
rodízio”, relata. Os automóveis adaptados devem estar de acordo com a restrição física indicada pelo médico: “Para a primeira habilitação, precisam respeitar as normas exigidas no Código de Trânsito”. Já no que se refere a quem pode se enquadrar em todos esses benefícios, Daniele deixa claro. “Não é a doença, propriamente dita, que dá o direito, e sim a sequela física que a patologia está causando. Contudo, há algumas doenças que sabemos que provocam perda de força e movimento, como câncer de mama, artrose, artrite, escleroses múltiplas, amputações, paraplegias, tetraparesia, hemiparesias, problemas graves de coluna, entre outras”, enumera.
Treinamento Para colocar em prática todos esses serviços é necessário que a equipe se submeta a um treinamento diferenciado, elaborado e desenvolvido pela própria autoescola. “Não basta ter, somente, a credencial do Detran. O instrutor recebe preparação na escola para manusear equipamentos e saber orientar os clientes no momento de conduzir o automóvel.” Durante sua trajetória como diretora da DF, Daniele admite que teve contato com inúmeros casos curiosos de pessoas com deficiência que procuraram a empresa para a retirada da carta especial. “Várias situações chamam a atenção. Houve, certa vez, um cliente que sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) e ficou com afasia da fala. No momento em que ele voltou a dirigir, a fala voltou também. Teve outro que, depois de tirar sua CNH especial, melhorou tanto sua autoestima que voltou a trabalhar e produzir. São muitos exemplos A autoescola conta com um ônibus com plataforma e todo adaptado nesses 20 anos de experiência”, resume. com o equipamento mais moderno à disposição no mercado
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esporte
O sonho paralímpico do superatleta Depois de uma participação positiva nos Jogos de Inverno em 2014, Fernando Aranha quer alçar voos mais altos, com a conquista de uma medalha nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016 por lucas vasques
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O
que dizer de um atleta que já foi convocado do com a deficiência do atleta. Cadeirantes e paraplégipara três seleções brasileiras simultaneacos podem usar uma bicicleta chamada handcycle, em mente? O feito ocorreu em 2012 e fez com que os atletas utilizam as mãos para impulsionar os que Fernando Aranha se consolidasse como pedais. Além disso, os atletas com essas deficiênum autêntico superatleta, pois esbanja talento em triacias motoras realizam o trajeto da corrida com o uso de thlon, ciclismo e esqui cross country. Apesar de ter uma cadeira de rodas. sequelas causadas pela poliomielite, como limitações Para alcançar sua meta, esse paulistano de 36 anos, nas pernas e em parte da lombar, ele sempre procurou morador de Cotia, encara sem medo os desafios que superar os obstáculos, impulsionado pela paixão que encontra pela frente. “Minha luta é me posicionar bem nutre pelo esporte desde criança. Agora, Aranha conno ranking internacional, para conseguir uma das vagas centra todas as forças na busca de uma vaga nos Jogos disponíveis para o Brasil na modalidade. Pretendo cheParalímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, na modalidagar lá, conquistando boas colocações nas etapas do de paratriathlon, para, quem sabe, Mundial que ainda restam”, explica. “A conquistar seu grande sonho: ganhar expectativa em relação às Paralimpíadas é uma medalha para o Brasil. a de consagração do triathlon nacional. PERFIL As competições do paratriathlon Temos excelentes atletas aguardando por • Nom e: Fernando Aranha são compostas por um percurso de uma chance de mostrar sua força no • Altura: 1,62 Peso: 75 kg • Data de nascimento: 750 metros de natação, 20 quilômeesporte mais completo dos jogos. Minha 10/4/1978 tros de ciclismo e cinco quilômetros luta é para ser um deles.” o • Local de nascimento: São Paul de corrida, distância conhecida como A confiança não disfarça seu senso • Cidade onde reside: Cotia • Apoio: Body tech e Comitê Sprint Triatlo. É disputado por atlecrítico, pois, em termos de estrutura Paralímpíco Brasileiro tas com diferentes tipos de deficiênpara os jogos, ele acredita que ainda há • Patrocinadores: Sem patro cínio cia, como amputados, cadeirantes, carências: “Gostaria de estar mais ani• Prin cipal característica: deficientes visuais, paraplégicos e mado, sentir que o trabalho está prioPolivalên cia • Próximos objetivos: paralisia cerebral, entre outros. A rizando, somente, a qualidade e não os Conquistar uma medalha nas modalidade permite o uso de equipanúmeros. Quero muito representar Paralimpíadas do Rio, em 2016 mentos específicos, definidos de acormeu país, tenho orgulho disso. Mas
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acho que os resultados aparecem quando são respaldados por todas as partes envolvidas no processo. Em relação ao evento em si, eu, como brasileiro, fico muito honrado de ter essa possibilidade de mostrar o Brasil para o mundo, de uma forma mais concreta e menos idealizada. A ideia é que a cidade esteja mais acessível em 2016”. A trajetória de Aranha não foi nada fácil. Ele cresceu em um internato para crianças com deficiência, onde conheceu o esporte. “A atividade representou, para mim, naquele momento da minha vida, uma ferramenta para buscar educação, para evoluir como ser humano.” Sua primeira modalidade foi o basquete, há cerca de 20 anos. “Tudo começou por curiosidade e percebi que o esporte me dava foco, me deixava centrado e me ajudava a traçar diretrizes para o conhecimento humano.
“A expectativa em relação às ão Paralimpíadas é a de consagraç do triathlon nacional. Temos por excelentes atletas aguardando ça no uma chance de mostrar sua for . esporte mais completo dos jogos Minha luta é para ser um deles” Em resumo, é essencial na minha vida. Tudo o que sou, minha formação, inclusive pessoal, devo ao esporte. Tudo na minha vida teve início no esporte, seja por ter vontade de me sobressair ou por desejo de me superar e alcançar novos objetivos. O esporte, para mim, é tudo.” Aranha jogou basquete em cadeira de rodas durante o período de dez anos, quando passou a se interessar por outras modalidades. Ele conta que precisava de um esporte individual, pois havia iniciado um curso universitário, junto com o trabalho, o que se tornava inconciliável em relação aos horários de uma prática coletiva. Em 1999, descobriu o atletismo e disputou a São Silvestre. Depois, adquiriu uma bicicleta de mão, com o objetivo de aprimorar o condicionamento para o atletismo. Com isso, a transição para o triathlon foi natural. No entanto, como ele é movido a desafios, migrou para o esqui cross
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country, que possibilitou a participação no evento mais importante da modalidade, conquistando uma vaga inédita para o país: os Jogos Paralímpicos de Inverno, disputados em Socchi, na Rússia, em 2014. “Foram três provas: 15 km (fiquei em 15º), 1 km de sprint (20º) e 10 km (21º). Todas as metas iniciais foram conquistadas. Como participei pela primeira vez, queria ficar entre os 15 melhores e consegui na prova de 15 km. Nas outras observei um avanço mais significativo na minha performance, em relação aos primeiros colocados. Em resumo, o balanço foi extremamente positivo”, considera. Orgulho Entre os inúmeros títulos na carreira, há de se destacar o de tricampeão da Maratona de São Paulo, bicampeão brasileiro de paratriathlon, além de cinco vezes campeão da corrida de São Silvestre. Na medida em que coleciona conquistas, Aranha sente mais orgulho de si: “Costumo dizer que o esporte é a janela da vida e encontrei muitos amigos, técnicos, além dos meus pais postiços, que me ajudaram nessa luta, sempre baseada na paixão”. E é uma luta mesmo, pois até hoje, apesar dos resultados expressivos e conquistas, ele não conta com a ajuda de um patrocinador direto. “Durante muitos anos precisei dividir a prática esportiva com uma atividade no mundo corporativo. Trabalhava oito horas por dia e treinava depois. Em função da preparação para os Jogos de Inverno perdi o emprego. Por isso, tive de me tornar um atleta profissional, treinando todos os dias, e, hoje, recebo apenas o apoio dos programas do governo, como o Bolsa Atleta.” Conseguir um patrocínio pessoal, de fato, não é fácil. Entretanto, como a imagem do paradesporto mudou muito, ao longo dos anos, e Aranha tem marcas incríveis, como a convocação para três seleções nacionais em modalidades diferentes, ele não perde a esperança de ser lembrado por algum patrocinador. Aranha avalia que, apesar dos problemas, o esporte adaptado está em desenvolvimento constante. “O Comitê Paralímpico Brasileiro tem feito um trabalho interessante. A imagem do atleta com deficiência tem sido melhor explorada. Além disso, se dedicar um pouco mais ao esporte tem valido a pena para alguns atletas, o que já é um ganho. Creio que um dia tudo vai se enquadrar e nós vamos poder ver tanto o esporte olímpico quanto o paralímpico no mesmo
o, Tudo o que sou, minha formaçã rte. inclusive pessoal, devo ao espo Tudo na minha vida teve início no esporte, seja por ter vontade de me me sobressair ou por desejo de s. superar e alcançar novos objetivo O esporte, para mim, é tudo O atleta (centro) diz que, como brasileiro, fica muito honrado de ter a possibilidade de mostrar o Brasil para o mundo, de uma forma mais concreta e menos idealizada
patamar, onde nenhum dos dois levante uma bandeira de que é mais difícil ou melhor do que o outro. E aí esse momento vai ser fantástico para todos.”
dia, Aranha encontra tempo para se dedicar a uma de suas atividades preferidas. “Nos momentos de lazer, gosto muito de ir ao cinema, especialmente para assistir aquelas comédias bem infantis mesmo. Além disso, também aprecio sair com os amigos e visitar meus parentes postiços”, acrescenta. Fora a conquista da tão desejada medalha paralímpica, o atleta revela que também tem um sonho na vida pessoal. “Meu objetivo é constituir uma família e poder transmitir meus valores e tudo que aprendi na vida, que foi praticamente sozinho. Quero dividir esse conhecimento e minha experiência”, finaliza.
Paternalismo Dono de uma personalidade forte, ele não se furta a analisar o estágio em que se encontram as demandas das PcDs no Brasil: “A situação melhorou, mas ainda tem muito a evoluir. É preciso acabar com a postura paternalista e isso depende muito das próprias pessoas com deficiência. Há muita gente levantando bandeiras, mas querendo que o outro carregue. É preciso uma conduta mais proativa. Afinal, todos são cidadãos”. Apesar de praticamente viver o esporte 24 horas por
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Um furacão multimídia Com síndrome de Down, Tathiana Piancastelli esbanja talento e se divide entre as atividades de atriz, escritora, palestrante, militante e apresentadora de TV, além de ser personagem de Mauricio de Sousa
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Por Lucas Vasques
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triz, escritora, palestrante, militante e apresentadora de TV. Todas essas atividades fazem de Tathiana Piancastelli Heiderich um verdadeiro furacão multimídia. Aos 30 anos de idade, a paulistana lida com a síndrome de Down com facilidade e esbanja força, otimismo e simpatia. Quem conhece um pouco do cotidiano dela tem convicção de que tédio e desesperança não fazem parte de seu vocabulário.
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rtida “Tathi sempre foi muito extrove e sociável. Ainda na adolescência . pediu para estudar artes cênicas s, Frequentou escolas em Campina , interior do Estado de São Paulo e apresentou inúmeras peças em companhias de teatro amador” “Tathi sempre foi muito extrovertida e sociável. Ainda na adolescência pediu para estudar artes cênicas. Frequentou escolas em Campinas, interior do Estado de São Paulo, e apresentou inúmeras peças em companhias de teatro amador. Sempre foi a única com síndrome de Down nos grupos, mas o fato não a diferenciava em nada, pois a inclusão sempre foi natural nesse segmento”, revela a mãe Patrícia Piancastelli Heiderich, coordenadora da ONG MetaSocial. A rotina da filha, segundo Patrícia, é bem corrida, pois se divide em malhação, aulas de canto, inglês e, especialmente, aulas de teatro. “Ela ainda procura arrumar um tempo livre para escrever para blog ou Personagem
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As peripécias de Tathiana parecem não ter limites. Ela inspirou o cartunista Mauricio de Sousa a criar a personagem Tati com Síndrome de Down, onde, na revista Viva as Diferenças, ela interage com a Turma da Mônica e explica que as crianças com Down devem ser integradas à sociedade com naturalidade. “Foi um tempo de negociação para que o Mauricio de Sousa desenvolvesse uma personagem com síndrome de Down, a nosso pedido. Ele tinha muita preocupação com as características dela e pesquisou bastante. Já tinha a foto da Tathi e se baseou nela para desenhar. Depois dessa fase, pessoalmente, decidiu batizar o personagem com o nome dela”, acrescenta Patrícia. Ela explica que não se tratou de uma homenagem, exclusivamente, à filha, mas sim a todos que tenham Down: “A personagem é representante de todas as crianças com a síndrome”. As primeiras tiragens foram distribuídas em consultórios pediátricos de todo o Brasil. O intuito era manter um caráter pedagógico, no sentido de informar as pessoas sobre o que é a síndrome de Down, pois o desconhecimento também gera preconceito.
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coisas que vai guardando.” Além disso, Tathi faz questão de lembrar que encontra espaço, em sua agenda cheia, para se cuidar e alimentar a vaidade: “Bebo muita água todos os dias, passo creme no rosto, porque acho que a saúde está em primeiro lugar. Fazia exercícios. Agora estou meio parada, em função das férias, mas vou voltar”. Sempre inquieta, paralelamente às atividades ligadas ao universo das artes, que entraram cedo em sua vida, Tathi passou pelo ensino médio, fez curso de formação de auxiliar de cabeleireiros e, também, trabalhou como assistente de fisioterapia, ainda em Campinas, entre 2004 e 2010. Iniciou sua carreira nas artes cênicas estudando teatro livre, de 2003 a 2010, em escolas como Estúdio Cênico, Tespis e Carlos Gomes, em Campinas. A determinação caminha ao lado da trajetória de Tathiana. “Mais do que isso. Ela sempre foi obstinada, ouso dizer. Quando quer algo não desiste em hipótese alguma. Tem opinião própria e é muito sensível e atenta, especialmente ao sofrimento alheio. Em todos esses anos, adorou tudo relacionado à arte, como dançar, se apresentar etc.”, descreve a mãe. Atuou em inúmeros espetáculos, como Boca de ouro, Um homem é um homem, Clarão nas estrelas, assim como o musical Grease. Para coroar sua trajetória teatral, escreveu e foi protagonista da peça Menina dos meus olhos, que teve uma estreia grandiosa, em dezembro de 2013, em Nova York, nos Estados Unidos. A direção foi de Débora Balardini. A respeito da experiência, Patrícia não se contém: “Não sendo atriz é difícil imaginar o que isso representa, de fato. Contudo, deve ser incrível transformar um sonho em realidade. Do ponto de vista da causa das pessoas com deficiência, foi espetacular. Todos precisam saber das várias possibilidades que tem uma pessoa com Down. E, ao ver a Tathi encenando, em meio ao elenco de dez atores profissionais, com um texto escrito por ela, causa um impacto absolutamente positivo. Foram emocionantes as cinco apresentações em Nova York. A temporada teve ingressos a preços regulares, com casa lotada e fila de espera na última apresentação”, comemora. A própria Tathiana resume seu sentimento, tanto no que se refere a escrever o texto do espetáculo quanto em relação a encenar em um palco de Nova York. “Eu escrevi uma peça de teatro. É uma coisa diferente para fazer e um sonho meu que consegui realizar. E se apresentar nos Estados Unidos foi bem diferente. Fiquei nervosa no começo e bem emocionada”, enfatiza. Em Menina dos meus olhos, Tathi interpretava a personagem Bela, uma jovem à procura do amor e de aceitação social. Pela concepção do espetáculo, a ideia
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era conectar texto, técnica vocal, atividades multimídias, além do teatro físico, propriamente dito. A autora e atriz buscou formas de expressar seus pensamentos em relação à discriminação, preconceito e ódio relacionados à síndrome de Down. Coisas diferentes Tathiana participou, também, de comerciais institucionais da Rede Globo de Televisão e EPTV, além de ser apresentadora do programa Ser Diferente, voluntária no Instituto MetaSocial, responsável pela campanha Ser Diferente é Normal. Em relação ao programa, veiculado na internet, Tathi explica: “Eu entrevisto pessoas e indico coisas diferentes”. Patrícia destaca que, no período em que a família deixou o Brasil para se fixar na Europa, a filha precisou deixar seus dois empregos (salão de beleza e clínica de fisioterapia). Para se ocupar, começou a fazer os programas: “Inicialmente, entrevistava brasileiros, que viviam fora e tinham alguma história interessante para contar. Era veiculado em TVs comunitárias no Brasil. Atualmente, o programa está sendo gravado nos Estados Unidos e é mais voltado para o formato internet, com dicas de turismo e entretenimento”. A presença em solo norte-americano é mais frequente, pois ela está dividindo a vida entre São Paulo e Miami. Toda essa bagagem fez Tathiana se destacar como palestrante, abordando temas relacionados à causa das pessoas com deficiência. “Estamos morando fora do Brasil. Quando estávamos aqui as palestras mesclavam a história do MetaSocial com as experiências pessoais
“Eu escrevi uma peça de teatro .É uma coisa diferente para fazer e um sonho meu que consegui realiza r. E se apresentar nos Estados Un idos foi bem diferente. Fiquei nervosa no começo e bem emocionada” dela, de como era a rotina louca de trabalhar em dois empregos, malhar, fazer teatro, estudar línguas, sair para as baladas etc.”, ressalta Patrícia. Seus múltiplos talentos a levaram longe, literalmente. Em 2010, representou o Brasil nas comemorações do Dia Internacional da Síndrome de Down, na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. “Tathi fez uma palestra no ano em que o tema foi Inclusão e Mídia. A ênfase foi no programa Ser Diferente, que é uma forma de mídia que, mesmo sem falar nada sobre deficiência, passa a mensagem que pessoas com Down podem muito, basta que recebam oportunidades”, relata Patrícia. Engatinhando Patrícia tem uma ideia bem realista a respeito de como observa a questão da deficiência no Brasil. “No caso de acessibilidade para pessoas com Down, sinto que ainda estamos engatinhando, pois a maior dificuldade está relacionada à compreensão. A Associação Carpe Diem lançou o livro Mude seu falar que mudo meu ouvir. Entretanto, esse é um paradigma difícil de sobrepor.”
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Carolina Aparecida Alves coleciona inĂşmeros resultados expressivos nas provas de arremesso de peso, dardo e disco
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arremessando longe a deficiência Com paralisia cerebral, Carolina Aparecida Alves se encontrou no esporte e vive a expectativa de disputar o Mundial de Atletismo e os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro Por Lucas Vasques
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ão há limites para a superação. É possível que uma pessoa, que tenha nascido com paralisia cerebral, se transforme em uma paratleta de alto rendimento e nível internacional, conseguindo inúmeros resultados expressivos e conquistando uma coleção de medalhas e de pódios? A resposta é sim. Esse é o caso de Carolina Aparecida Alves. Atualmente com 30 anos de idade, a paulistana vive há 15 no município de Suzano, interior do Estado de São Paulo, com seu pai, Carlos. Ela, além de estar sempre de alto astral, esbanja confiança para o futuro: “Tenho convicção de que disputarei uma edição das Paralimpíadas, com toda certeza. Quem sabe já nos próximos jogos, em 2016, no Rio de Janeiro. Esse é o sonho de todo atleta e eu sei que vou conseguir”, resume Carol, como é conhecida. Suas especialidades no atletismo são os arremessos de peso, de dardo e disco. “Hoje, me destaco no arremesso de peso, inclusive sou campeã brasileira nessa modalidade, com a distância de 4,08 metros, ultrapassando o recorde mundial.” O esporte entrou em sua vida há dez anos. Antes de se tornar atleta, ela estudava em um curso pré-vestibular, pois tinha acabado o colegial. Com a morte prematura da mãe, quando Carol tinha 21 anos, ela encontrou, justamente nos treinos e competições, seu grande estímulo para continuar. “Certo dia, eu voltava, de trem, de uma consulta na AACD, quando fui abordada pelas técnicas Raquel e Carolina. Ambas viram a dificuldade que eu sentia no transporte e acabaram por me convidar para integrar um grupo de esportes adaptados. Aceitei na hora, sem pensar duas vezes, porque sempre gostei de desafios, de qualquer tipo. Comecei fazendo um teste para praticar bocha adaptada, mas não deu muito certo, por conta das dificuldades ocasionadas pela minha deficiência. Depois, tentei a natação, também, mas senti muito
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medo e desisti. Foi quando fui encaminhada para o atletismo, nas modalidades de arremessos de dardo, peso e disco. Aí, me encontrei, definitivamente, e me transformei em uma atleta profissional”, relembra. Paralelamente, a paratleta cursou Direito, mas não chegou a concluir. “Interrompi a matrícula no último semestre, por falta de acessibilidade nas instalações da faculdade. Sentia muitas dificuldades em relação ao acesso às dependências da instituição, e, também, tinha problemas com os professores e com a direção da faculdade, principalmente porque não havia, por parte dos responsáveis pelo curso, uma preocupação com a didática e a metodologia de ensino para atender minhas necessidades”. De acordo com ela, foi uma experiência bem ruim, mas, com sua velha garra e vontade de não se curvar diante das limitações e dificuldades da vida, não pretende desistir do curso. Ela quer retornar no próximo ano. Carol ressalta que o esporte, realmente, mudou sua vida. Ela reconhece que assimilou inúmeras lições: “Eu aprendi a ter perseverança, determinação, não desistir fácil das coisas. O esporte, também, ajudou muito no desenvolvimento da minha parte física, especialmente da coordenação motora, prejudicada pelo problema”. E não pretende largar tão fácil. “Caso eu tenha como me manter na prática esportiva, continuarei até ficar velhinha.” Para confirmar o ânimo com que encara a luta diária, ela divide seu tempo entre o esporte e o emprego: é assessora do Departamento Pessoal, da Prefeitura de Suzano, há três anos. Sua rotina de trabalho e treinamentos é bem pesada, embora não reclame de nada: “Meu dia a dia é bem corrido,
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Comecei fazendo um teste para bocha, mas não deu certo, por conta das dificuldades ocasionadas pela minha deficiên cia. Depois, tentei a natação, també m, mas senti muito medo e desisti. Foi quando fui encaminhada pa ra o atletismo e me encontrei mas conduzo tudo com muita alegria, porque amo o que faço. Não consigo ficar parada assistindo televisão. Eu saio de casa às 5h30, de segunda a sexta-feira, e vou direto para a academia fazer musculação. Três vezes por semana, desenvolvo os treinos técnicos, no Ginásio Max Feffer, e, nos outros dois dias, pratico aulas de pilates, que me ajudam bastante na postura e na coordenação motora. Depois dessas atividades, vou direto para a prefeitura, onde trabalho. Só chego em casa depois das 19 horas”. Resultados na pista A paratleta compete pela prefeitura da cidade a qual adotou e foi adotada: “Disputo as provas representando o Centro de Apoio ao Deficiente de Suzano. Nesse caso, a prefeitura me ajuda muito, pois a maior dificuldade, no esporte em geral e, principalmente, em se tratando de paradesporto, é sempre arranjar alguém que esteja disposto bancar um patrocínio”. Em consequência dessa barreira, ela afirma que, infelizmente, ainda não consegue se manter só por meio do esporte. “Aliás, acredito que isso seja difícil para todo atleta profissional. São poucos os governos que valorizam o esporte. Em Suzano, temos um grande apoio da prefeitura.” Apesar de protagonizar uma vida de lutas, Carol garante que jamais teve de passar por momentos de desânimo ou depressão, em função de sua deficiência: “Sou uma pessoa feliz. Problemas, todo mundo tem. A diferença é que o meu é visível”. Grata a
todos que ajudaram e ainda ajudam sua trajetória vencedora, ela não esquece ninguém, no momento de citar quem tem presença marcante e participação direta em suas inúmeras conquistas. “Sem dúvida, a minha família, os amigos, a comissão técnica de Suzano, os professores da academia, onde faço musculação e pilates, são imprescindíveis. Sem eles, não conseguiria chegar aonde cheguei”, admite. Quando não está se dedicando ao trabalho na prefeitura ou treinando e competindo, ela tem opções bem definidas na hora do lazer: “Gosto muito de viajar e comer. Eu adoro viajar com os amigos”. Solteira, confessa que tem um “namorico”, e mostra ambição quando revela quais são seus principais desejos para o futuro tanto no aspecto pessoal como esportivo: “Meu sonho como cidadã é conseguir terminar a faculdade de Direito e chegar a ser promotora ou juíza. Na vida de competição, minha maior aspiração é ser campeã mundial de arremesso de peso, disco e dardo”. Cabeça preparada Antenada com os temas que dizem respeito às PcDs, a paratleta tem ideias claras sobre a questão e como essa condição vem sendo conduzida no Brasil. “Acho que, primeiramente, a cabeça das pessoas precisa estar preparada para receber uma pessoa com deficiência, em qualquer lugar. Depois, é necessário investir em acessibilidade, porque cada um tem uma limitação diferenciada, que exige um cuidado específico. Eu me considero uma pessoa normal e, por isso, exerço as minhas atividades de forma plena. Sinto muito por algumas pessoas que tenham deficiências, que não Convocação Tanta dedicação rendeu frutos, na forma de resultados importantes para seu currículo esportivo. “Minha principal conquista foi a medalha de ouro na terceira etapa do Circuito Loterias Caixa Brasil de Atletismo e Natação, disputada em novembro, em Fortaleza, Ceará. Com isso, eu consegui o direito e posso ser convocada para representar o Brasil nas Paralimpíadas de 2016, que serão realizadas no Rio de Janeiro, em solo brasileiro.” A pontuação obtida no circuito também assegurou a Carol uma vaga no Mundial de Atletismo, que acontecerá em 2015. “Com o desempenho em Fortaleza, eu me credenciei para a vaga. Porém, tenho que aguardar a publicação da chamada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que deve acontecer até junho de 2015. Estou muito confiante de que serei convocada”, acredita.
Além de representar a cidade em importantes competições esportivas, Carol trabalha, há três anos, no Departamento Pessoal da Prefeitura de Suzano
O esporte mudou minha vida. Eu aprendi a ter perseverança, determinação, não desistir fácil das coisas. O esporte, também, to ajudou muito no desenvolvimen ente da minha parte física, especialm da coordenação motora, prejudicada pelo problema conseguem ter essa perseverança e acabam se acomodando na sua dificuldade. Claro, devo muito do que sou, hoje, a minha mãe, que era tudo para mim e o meu maior estímulo. O meu pai também é um grande homem e me dá apoio irrestrito.” E é justamente para essas pessoas com deficiência, que não encontram ânimo para seguir em frente e mudar suas vidas, que Carol faz questão de deixar uma mensagem: “Eu diria, inicialmente, para acreditar em Deus. Depois, aconselharia a todos que se ressentem de algum tipo de limitação física ou psicológica a terem mais determinação e acreditarem em seu potencial. Todo mundo é capaz, basta querer e lutar para que seu sonho seja uma realidade. É importante, também, falar sobre o papel da família na vida de uma PcD. Essa pessoa com restrições precisa de apoio, carinho, incentivo, estímulo e investimento. Necessita ser motivada a fazer as tarefas básicas do dia a dia, como uma pessoa comum, que ela realmente é”, completa.
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Ensinando a pintar
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os dias 28 de janeiro e 4 de fevereiro, o Memorial da Inclusão, em São Paulo (SP), recebeu oficina de pintura ministrada pela artista plástica Tati Egual. O evento contou com cerca de 50 crianças com deficiência intelectual de duas instituições da capital paulista. Na ocasião foram usados tela, tinta acrílica, pigmento, pastel seco, verniz, colagem, folha de ouro e prata em técnicas de pinceladas livres e combinações de cores. A condutora da oficina, que é uma artista com síndrome de down (com as crianças, no centro da foto), aos cinco anos de idade já impressionava pela coordenação e interação com que usava os lápis de cor.
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Premiada por quatro vezes na Itália, as obras produzidas por Tati puderam ser conferidas também no Memorial, no ano passado, na exposição Todos São Capazes. (Foto: Divulgação/ enviado por Equipe D+) Você teve acesso a uma atração interessante, ou presenciou um desrespeito aos direitos da pessoa com deficiência em sua cidade?
Compartilhe seu flagrante com a revista. Mande e-mail para contato@dmais -revista.com.br. Sua foto e seus textos podem ser publicados. (A redação se reserva o direito de editar o material enviado para publicação.)
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Reconhecer a diferença e a diversidade, o caminho mais curto para a igualdade entre as pessoas.
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