a sua nova revista de inclusão social, educação e inspiração ANO 1 • EDIÇÃO 5 EXEMPLARES AVULSOS: R$ 13,90
PINTURA COM A BOCA E OS PÉS DANIEL FERREIRA ABRE O ATELIÊ E O CORAÇÃO
Fachada do Instituto Nacional de Educação de Surdos, no Rio de Janeiro, inaugurado em 1857
TECNOLOGIA EM ACESSIBILIDADE
DIREITO DO SURDO
AUTISMO
A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE
9 772359
Especialistas comentam avanços e barreiras ainda enfrentadas, desde a criação de dispositivos como a Lei de Libras e o Prolibras
562003
COMUNICAÇÃO BILÍNGUE:
CONHEÇA OPÇÕES PARA ADAPTAR A CASA
TEATRO E SURDEZ, na seção Práticas na Educação Inclusíva. Como utilizar RECURSOS TEATRAIS para vivenciar EXPERIÊNCIAS CORPORAIS e artísticas
editorial
www.dmais-revista.com.br EDIÇÃO NO 5 – SETEMBRO/OUTUBRO 2015 REVISTA D+, ISSN 2359-5620, é uma publicação bimestral da MAIS Editora CNPJ n° 03.354.003/0001-11
Rua da Contagem, 201 - Saúde São Paulo/SP - CEP 04146-100 A Revista D+ não se responsabiliza por opiniões e conceitos emitidos em artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo esse último de inteira responsabilidade dos anunciantes.
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Instituto de Apoio às Pessoas com Deficiência e à Inclusão Social DIRETOR RESPONSÁVEL – EDITOR Rúbem da S. Soares editor@dmais-revista.com.br CONSELHO EDITORIAL Denilson G. Nalin Dilson Nery Rafaella Sessenta Silvana Zajac Tiago M. Coutinho PUBLICIDADE Denilson G. Nalin denilson@dmais-revista.com.br Tels.: (11) 5581-1739 e 9 4771-7622 COMUNICAÇÃO E MARKETING Tiago Matos Coutinho mkt@dmais-revista.com.br 11 94771-7621 / 19 3306-9990 CONSULTORES DE LIBRAS (SURDOS) Celio da Conceição Santana Joice Alves de Sá INTÉRPRETES DE LIBRAS (conteúdos do portal) Carlos Silvério Carolina Gomes de Souza Rafaella Sessenta Querubina Borges Ramalho EQUIPE DE APOIO Alessandra Rodrigues dos Santos Brenda Loci U. Cruz Cintia Alves de Sousa David Gomes de Souza Eliza Ferreira Padilha Flávia Garcia Dias Herick P. Palazzin Silva Ivanilson Oliveira de Almeida Jessica Aline Carecho Larissa Gomes de Sousa Leticia Karoline da Conceição Luis Felipe de O. Freitas da Silva Luis Filipe Rosa Nathalia H. de Oliveira Nathan Ezahya Henrique Raquel Vidal de Lima Renata de Oliveira Lins Samuel Fernando Rodrigues Silmara Kaminski Zajac Tacila Saldanha Lira UMA PRODUÇÃO:
PONTO A
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COORDENAÇÃO EDITORIAL: Jussara Goyano. EDIÇÃO: Lucas Vasques. REVISÃO: Jussara Lopes. DIAGRAMAÇÃO E PROJETO: Monique Elias. LOGOMARCA: Juliana Carnielli. ARTIGOS: Billy Saga, Rúbem Soares e Silvana Zajac. COLABOROU NESSA EDIÇÃO: Dilson Nery. IMPRESSÃO: Mundial Gráfica (11) 3359-7575 / 2337-1326 CONTATO COM A REDAÇÃO, exclusivamente por e-mail: contato@dmais-revista.com.br. Cartas no endereço: Rua da Contagem, n o 201 – Saúde São Paulo/SP – CEP 04146-100 QUER RECEBER NOSSOS BOLETINS? ACESSE www.dmais-revista.com.br e cadastre-se. VISITE NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK www.facebook.com/revistadmais
DESAFIOS DA COMUNICAÇÃO BILÍNGUE PARA SURDOS
A
pós 13 anos da sanção da Lei de Libras e uma década do decreto que criou o Prolibras, exame de certificação no uso e no ensino de Libras e na tradução e interpretação de Libras/Português/Libras, a implementação de comunicação bilíngue para surdos ainda se mostra um desafio. O setor contabiliza inúmeras conquistas, porém alguns retrocessos. Na matéria de capa desta edição da Revista D+, especialistas debatem a questão e apontam caminhos para a evolução do quadro no Brasil. Setembro é comemorado o mês dos surdos. Assim, a Revista D+ traz essa interessante matéria de capa e outras matérias sobre essa população, além de outros artigos sobre o tema, disponíveis na versão digital, inclusive com tradução em Libras (www.demais-revista.com.br) Outro tema em destaque se refere à evolução tecnológica em relação à arquitetura inclusiva. Conheça algumas empresas que decidiram criar novos conceitos e disponibilizaram no mercado equipamentos que podem deixar casas e locais públicos mais acessíveis para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. Há inúmeras opções. Em pauta, também, o perfil de um jovem pintor, que, por meio dos pincéis e das telas, conheceu a liberdade. Sem os braços, Daniel Ferreira conseguiu concretizar seu maior desejo: tornar-se um pintor com a boca e os pés reconhecido e premiado. Para ele, pintar é um sonho sem limites. Em interessante entrevista, o psicólogo surdo Bruno Ernsen relata porque decidiu pesquisar o bullyng e como pretende ajudar crianças, vítimas dessa situação. O esporte ganha espaço na edição. O presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro e alguns paratletas fazem um balanço da expressiva participação nacional no Parapan de Toronto, no Canadá. A delegação brasileira conquistou o título dos Jogos, se consolidou definitivamente como uma das potências mundiais no paradesporto e se credenciou a buscar grandes resultados nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. Em destaque, ainda, os mistérios que envolvem as pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) e a importância do diagnóstico precoce. O atraso na detecção do distúrbio pode agravar a condição e retardar o início do encaminhamento adequado, visando aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Médicos e familiares contam suas experiências. A seção “Práticas na Educação Inclusiva” traz orientações sobre como trabalhar conteúdos teatrais na educação com alunos surdos e ouvintes. E, como ninguém é de ferro, a revista traz excelentes sugestões de lazer. Algumas das principais capitais brasileiras investem cada vez mais em opções culturais, adaptando museus e deixando esses equipamentos acessíveis para pessoas com deficiência, inserindo essa população no universo das artes. Boa leitura!
EQUIPE D+ 3
VEJA NESTA EDIÇÃO
A SUA NOVA REVISTA
DE INCLUSÃO
SOCIAL, EDUCAÇ
ÃO E INSPIRAÇÃO ANO 1 • EDIÇÃO
EXEMPLARES
AVULSOS:
DANIEL FERREIRA ABRE O ATELIÊ E O CORAÇÃO
Fachada do Instituto Nacional de Educação de Surdos, no Rio de Janeiro,
ENTREVISTA
em 1857
TECNOLOGIA EM ACESSIBILIDADE
COMUNICAÇÃO BILÍNGUE:
CONHEÇA OPÇÕES PARA ADAPTAR A CASA
DIREITO DO SURDO
AUTISMO
A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE
O psicólogo surdo Bruno Pierin Ernsen se baseia na própria experiência para se aprofundar em estudos sobre bullying, realidade vivida por muitas crianças. Páginas 6 a 8
562003
Especialista s comentam avanços e barreiras ainda desde a criaçã enfrentadas, o de dispositivo como a Lei s de Libras e o Prolibras
TEATRO E SURDEZ, na seção Prática TEATRAIS para vivenci s ar EXPERIÊNCIAna Educação Inclusív a. Como utilizar S CORPORAIS RECURSOS 1 e artísticas
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inaugurado
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22/10/2015
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R$ 13,90
PINTURA COM A BOCA E OS PÉS
IMAGEM DA CAPA: divulgação
MATÉRIA DE CAPA
Após 13 anos da sanção da Lei de Libras, a comunicação bilíngue para surdos continua apresentando desafios, registrando avanços e retrocessos. Páginas 38 a 43
ACONTECE
QUANTO MAIS CEDO, MELHOR
Homenagem à ONU, com a participação de alunos com deficiência, lançamento do Teleton e a celebração do Dia Nacional do Surdo estão em pauta. Páginas 12 a 19
O atraso no diagnóstico do transtorno do espectro autista pode agravar a condição e retardar o início do encaminhamento adequado para a criança. Páginas 46 a 50
SONHO POSSÍVEL O DOWN NO TRABALHO
Daniel Ferreira se mantém por meio da arte e se transforma num pintor com a boca e os pés reconhecido e premiado. Páginas 20 a 23
Instituto Mano Down desenvolve atividades de parcerias com empresas, com o objetivo de inserir essa parcela da população no cenário laboral. Páginas 51 a 53
ARTE PARA TODOS
ARQUITETURA INCLUSIVA
Algumas das principais capitais brasileiras apostam cada vez mais na oferta de museus acessíveis para pessoas com deficiência. Páginas 24 a 28
Empresas disponibilizam no mercado equipamentos e produtos para tornar casas e locais públicos acessíveis para pessoas com deficiência. Páginas 54 a 57
SEÇÕES PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
ARTIGO BILLY SAGA Página 10 APRENDA LIBRAS Página 30 PONTO DE VISTA Páginas 44 e 45 ESPAÇO DO TILS (Tradutor/intérprete da Língua de Sinais) Página 58 PASSATEMPO Página 59
123RF
Teatro em sala com surdos e ouvintes promove vivências corporais e artísticas que estimulam o desenvolvimento pessoal e acadêmico. Páginas 31 a 35
ARTE que ultrapassa LIMITES
PAINEL DO LEITOR Página 60
Na imaginação e na criatividade, não há espaço para a discriminação 31 caderno_central.indd 31 22/10/2015 10:00:37
FLAGRANTE DA CIDADE Página 62
Participe do Teleton. 23 e 24 de outubro. Para doar R$ 5 ligue 0500 12345 05* Para doar R$ 15 ligue 0500 12345 15* Para doar R$ 30 ligue 0500 12345 30* ou acesse teleton.org.br Você também pode ajudar a AACD o ano todo com qualquer valor pelo 0800 852 1000 ou enviando um SMS para 28127 com a letra T.
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*Custo da ligação para telefone fixo: R$ 0,39 + impostos. Custo da ligação para celular: R$ 0,71 + impostos.
Começou o Teleton. Faça uma forcinha e ligue. A gente se vira pra atender.
entrevista
A experiência no colégio de inclusão trouxe oportunidades na vida de Bruno, que logo aprendeu Libras
O ROMPER DO OPRIMIDO
D
urante palestra ministrada recentemente na Universidade Mackenzie, em São Paulo, o psicólogo Bruno Pierin Ernsen, 28 anos, residente em Curitiba (PR), falou sobre sua vida, carreira e bullying, tema de seu mestrado na Universidade Federal do Paraná. Além da graduação em Psicologia, Bruno leva para a pós-graduação e a pesquisa também a bagagem de uma formação em Letras-Libras, concluída em 2011, além de sua experiência particular com a surdez. Bruno sofreu complicações no parto, o que resultou no rompimento de ligações neuronais responsáveis pela audição. O fato, porém, não o impediu de se formar em Psicologia e de, hoje, ministrar aulas de Artes em uma universidade, além de palestras como a que apresentou durante a conferência. O psicólogo contou que decidiu pesquisar sobre o
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bullying a partir das histórias de sua infância, quando, segundo ele, foi “perseguido” pelos próprios colegas surdos da escola inclusiva em que estudava. A experiência no colégio de inclusão trouxe oportunidades de desenvolvimento na vida de Bruno, que logo aprendeu a língua de sinais e, posteriormente, pôde expandir seus horizontes ao ingressar na faculdade. O estudo da Psicologia permitiu que ele entendesse a realidade vivida por muitas crianças que sofrem esse problema. VOCÊ É SURDO CONGÊNITO OU FICOU SURDO POSTERIORMENTE POR MOTIVO DE SAÚDE OU ACIDENTE?
Na barriga da minha mãe, eu era ouvinte, mas tive uma complicação médica no momento do parto. Fizeram uma cesariana, mas o cordão umbilical enrolou no meu pescoço fazendo com que faltasse o ar e isso causasse uma
IMAGENS: ARQUIVO PESSOAL/123RF
O psicólogo surdo Bruno Ernsen mostra como superou o bullying na infância e conta como está se tornando especialista no assunto POR RENATA LINS
lesão na sinapse. Uma das ligações foi rompida, motivo pelo qual fiquei surdo. SEUS PAIS SÃO SURDOS OU OUVINTES? QUAL A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DELES?
NATHAN EZAHYA
“O Português tem suas próprias características e riqueza de vocabulário, e a língua de sinais não pode ser pobre, tem que se igualar e ter riqueza de sinais”
Meu pai era médico e ouvinte, ele faleceu por causa de um câncer. Minha mãe é professora de Língua Portuguesa e também ouvinte. Em uma época tive vontade de fazer Medicina assim como ele, mas para os surdos é difícil, não tem área de trabalho. Foi então que decidi fazer Psicologia.
Bruno dá palestras e como psicólogo atendia surdos, embora tivesse experiência com pessoas com deficiência física
VOCÊ TEM ALGUM IRMÃO OU ALGUÉM DA FAMÍLIA QUE
QUAL A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DE SINAIS POR PSI-
TAMBÉM SEJA SURDO?
CÓLOGOS SURDOS?
Eu tenho irmãos, porém são todos ouvintes. Não temos problemas na genética.
É muito importante. O Português tem suas próprias características e riqueza de vocabulário, e a língua de sinais não pode ser pobre, tem que se igualar e ter riqueza de sinais. Por exemplo, a palavra “prazer” precisa ser igual em todos os contextos? Não! Os surdos precisam entender as diferenças de situações. Os sinais específicos e a expressão corporal são muito importantes. Eu contribuí para elaboração desses novos sinais.
VOCÊ ATUA EM CLÍNICA?
Eu comecei nessa área há pouco tempo, mas parei por causa dos estudos. Então não estou atuando no momento. VOCÊ ATENDE SOMENTE SURDOS OU OUVINTES TAMBÉM?
Atendo apenas surdos, mas já atendi ouvintes com deficiência física. Eu expliquei que era surdo e tentei ajudar da melhor maneira. COMO ERA A METODOLOGIA DO SEU ATENDIMENTO NO SETTING TERAPÊUTICO?
É importante ter o conhecimento da cultura surda. Então eu atendia e buscava entender o problema, os fatores familiares, escolares e sociais. Para que, depois, pudesse realizar a terapia.
VOCÊ MINISTRA AULAS EM FACULDADE?
Sim, atualmente sou professor de Artes em uma universidade do Paraná, onde ingressei por meio de concurso.
EM UM MOMENTO DA SUA PALESTRA, VOCÊ DISSE QUE TAMBÉM ERA ATLETA. FALE UM POUCO SOBRE ISSO.
No passado eu jogava futebol. Minha mãe tinha me colocado em um clube, porém não gostei muito. Tentei jogar vôlei, mas as pessoas eram muito altas e, como sou baixo, não me adaptei. Foi então que comecei a fazer o triatlon. Me identifiquei muito com esse esporte, além do que é uma ótima forma de cuidar da saúde, da beleza e da estética. QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE AS PARALIMPÍADAS NO BRASIL
A PSICOLOGIA “O bullying ou vitimização caracteriza-se por ser agressivo, negativo e por acontecer repetidas vezes. Quando entrei na faculdade comecei a aprender os conceitos da Psicologia. Foi a partir das minhas experiências que senti a necessidade de fazer meu mestrado sobre o tema. No Brasil, existem várias pesquisas sobre bullying com ouvintes, porém, com os surdos, é a primeira com profundidade.”
E A PARTICIPAÇÃO DOS SURDOS?
Sim, eu acho importante estar dentro dessas competições, mas acredito que o foco principal deve ser o prazer que o esporte proporciona e não apenas a competitividade. Teve um surdo que foi para a Austrália nas Paralimpíadas no ano de 2000 ou 2004, se não me engano, e fiquei impressionado. Conheci um surdo oralizado que participou da Olimpíada de natação e ganhou em terceiro lugar. Existem as Olímpiadas, as Paralimpíadas e as Olimpíadas só para surdos. E pelo que tenho conhecimento,
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entrevista
ARQUIVO PESSOAL
BULLYING E ASSÉDIO SEXUAL
O psicólogo jogou futebol e vôlei, mas se encontrou no triatlon. Ele cobra do governo incentivo às Olimpíadas de surdos
BRUNO, NA PALESTRA SOBRE BULLYING “Às vezes, a pessoa pratica o bullying porque, na família, ela já sofre com isso. E com o surdo tende a ser pior. Ele pode ter, por exemplo, uma babá que o maltrata, e se ele não tiver uma comunicação efetiva com os pais, não vai conseguir relatar o problema.” “Quando eu era pequeno, tive muitas dificuldades. As pessoas começaram a perceber que havia algo diferente comigo. Na época, era uma negação ter uma criança surda. Porém, veio a confirmação do médico ‘Sim, ele é surdo’.” “Ao chegar à idade escolar, fui oralizado, e no contraturno estudava em uma escola inclusiva, onde só havia surdos. Porém, não me adaptei. Comecei a sofrer bullying pelos próprios alunos surdos. Eles zombavam de mim por eu ter olhos azuis, cabelos e pele clara, diziam: ‘Você parece uma bonequinha. Um anjinho’, e isso me deixava muito mal.” “Minha mãe, ao saber do problema, me transferiu para uma escola de inclusão, onde havia apenas alunos ouvintes. Logo percebi que teria muitas dificuldades, pois não sabia me comunicar em Libras. Desconhecia o significado das palavras, não sabia o nome das cores e nem o meu próprio nome. Os professores achavam que eu tinha uma limitação cognitiva.” “Um dia, me levaram no Estádio do Atlético Esporte Clube em Curitiba e começaram a me mostrar as cores que tinham lá, fui associando-as aos objetos, e assim pude assimilar e entender o significado ‘de cor’. Aos poucos fui compreendendo o significado de tudo que, antes, parecia não fazer sentido. Até hoje sou atleticano [risos].”
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“Certa vez, fui ao banheiro da escola e três meninos começaram a zombar de mim. Mostravam seus genitais e faziam gestos obscenos. Eles queriam que eu fizesse o mesmo. Mas eu não obedecia, então eu apanhava e também batia neles.” “No time da escola, eu sempre era o goleiro, não porque era bom naquela posição, mas porque eles gostavam de chutar a bola bem forte para me machucar. Os meninos sempre me batiam. E, novamente, me sentia prejudicado.” “De tanto sofrer aquelas situações, mudei, novamente, de colégio. Porém, dessa vez, eu virei o ‘agressor’ e comecei a praticar o bullying com outras pessoas. O assédio que senti na infância trouxe influências para que, depois, eu também o praticasse.”
“O surdo pode ter, por exemplo, uma babá que o maltrata, e se ele não tiver uma comunicação efetiva com os pais, não vai conseguir relatar o problema” o governo não dá tanto incentivo para as Olimpíadas de surdos. Diferentemente das Paralimpíadas. Por que existe essa separação? Por que não recebemos incentivo? Por que a mídia não divulga tanto? Eu sinto essa carência nas Olimpíadas para surdos, pois elas precisam ser valorizadas, receber investimento e ser divulgadas também. Em outubro de 2014, participei de uma competição de surdos realizada apenas na América Latina. Fui somente para a corrida porque não tinha triatlon. O primeiro e o segundo lugar ficaram com o Chile, e eu recebi o terceiro lugar representando o Brasil. A primeira vez que participei de uma competição, disputei com ouvintes no triatlo. Pensei que fosse ficar entre os últimos, mas fiquei na metade. Confira essa entrevista com tradução em Libras no nosso site http://www.dmais-revista.com.br ou acesse direto com seu Psicologia de mãos dadas ànos educação O romper do oprimido smartphone QR Codes e links abaixo: Segue Imagem e Link (URL) dos QR-CODE
Psicologia de mãos dadas à educação. http://demais-revista.com.br/ psicologia-de-maos-dadasa-educacao/
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O romper do oprimido. http://demais-revista.com.br/ o-romper-do-oprimido/ http://demais-revista.com.br/o-romper-do-oprimido/
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billy saga
NU NA PISTA preços abusivos das tecnologias assistivas cerceiam a cidadania e a liberdade das pessoas com deficiência no brasil
H
O que me incomoda profundamente são os ares de á poucos dias fui surpreendido por um e-mail, “propaganda de margarina” que camuflam todos os enviado por uma grande loja de produtos para tipos de violência incutidos nesses anúncios. A foto, o pessoas com deficiência, que prometia soluções texto e a diagramação profissional, provavelmente executapara esse público específico. dos por uma agência de publicidade, vendem a mensagem No corpo do texto, a oferta de uma “avaliação gratuita de que “somos bonzinhos, somos legais, estamos oferecendo feita por especialistas da loja” insinuava-se como promoção. uma avaliação imperdível com os nossos profissionais palaNo mesmo e-mail, entretanto, três produtos da loja gadinos”, enquanto se lê nas entrelinhavam destaque: o mais barato nhas: “Venha até nossa loja gastar custava quase dois salários míniO que me incomoda seu pouco dinheiro com produtos mos; o mais caro, sete (mais de cinnão-supérfluos superfaturados co vezes a renda média domiciliar profundamente são os por nosso monopólio. Caso não teper capita do brasileiro). ares de “propaganda de nha condições para isso, vá chorar Em um ímpeto de desabafo, suas frustrações em outro lugar”. respondi àquele e-mail marketing margarina” que camuflam Não, não falo de uma Ferracom uma pergunta: será que a sori ou de um tênis Nike. Falo de lução é o lucro a todo custo? todos os tipos de violência uma cadeira de rodas, artigo de Recebi a resposta de um dos incutidos nesses anúncios primeira necessidade para quem proprietários da loja, que garandela precisa. tiu que o cliente receberia uma Temos que enfrentar essa sociedade cada vez mais indiavaliação dos profissionais “sem qualquer compromisso vidualista, egoísta e egocêntrica, em que a preocupação com de compra”. o social parece desaparecer diante da força e dos ditames do Refleti: esse profissional que fará a avaliação será ético e grande capital, em meio a um Estado cujo poder de intertransparente em seu diagnóstico ou tendencioso a ponto de venção não passa de simulação. prescrever coincidentemente os produtos oferecidos pela loja? Deixo a vocês uma passagem contundente que retirei Como fica a pessoa com deficiência nesse contexto? Falo de um livro sobre um dos meus ídolos. Um homem que não da maioria, e não da pequena parcela privilegiada que tem se conforma com as patifarias do sistema e que, com seus recursos suficientes para adquirir produtos tão caros. protestos, faz história por meio da arte. Diz Banksy: Não pretendo usar este espaço para panfletagens anti“A raça humana promove o tipo mais estúpido e injuscapitalistas, pois entendo (e, como muitos, horrorizo-me) alto de corrida. Muitos dos corredores não calçam um tênis gumas dinâmicas deste modelo socioeconômico sob o qual decente nem têm acesso à água potável. Alguns já nascem vivemos. Sei que o motor de uma empresa é o lucro, mas largando muito na frente, recebem toda a ajuda possível ao o que coloco em questão são as armadilhas e as violências longo do trajeto e ainda assim os fiscais de prova parecem subjetivas que reforçam a segregação dos mais vulneráveis. estar do lado deles. Não surpreende que muitos desistam de Não venho despejar mimimis, nem reforçar posturas competir, preferindo se sentar na arquibancada, comer porvitimistas. Não é segredo algum que apenas uma ínfima carias e gritar que foi tudo marmelada. O que a corrida huminoria consegue comprar uma cadeira de rodas, muitas mana precisa é de muito mais nudistas invadindo a pista”. vezes financiada em trinta e tantas vezes. Se o benefício concedido pelo governo às pessoas com deficiência que não conseguem trabalhar é de aproximadamente um salário míBilly Saga é presidente da ONG Movimento SuperAção nimo (que é utilizado, com frequência, para a sobrevivência (www.movimentosuperacao.org.br), músico de uma família inteira), como se manter otimista em relação (www.billysaga.com), consultor da ONG Mais Diferenças ao acesso a serviços, aparelhos, próteses e órteses que me(www.md.org.br), conselheiro da Ouvidoria da Defensoria lhoram a qualidade de vida dessa população? Sem dúvida, e Geral do Estado de São Paulo e um dos primeiros artistas com pesar, muitos seguirão à margem. plásticos pesquisador da De’VIA (www.artesurda.com)
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billy saga
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acontece
FOTO: MANUELA SCARPA/PHOTO RIO NEWS
Coletiva de imprensa do Teleton, no SBT
Diretor geral do Teleton, Michael Ukstin, com a 4 a edição da Revista D+
FOTO: NATHAN E ZAHYA
Coletiva de imprensa reúne artistas para abertura do
TELETON 2015 Com o fim do sinal analógico, Libras é promessa para a próxima edição do evento no SBT POR RENATA LINS
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om o tema “Gratidão”, uma das maiores parcerias a favor da pessoa com deficiência chega à sua 18ª edição. A AACD – Associação de Assistência à Criança Deficiente, junto com a emissora de televisão SBT, promove nos dias 23 e 24 de outubro o Teleton 2015. O objetivo deste ano é arrecadar 26 milhões de reais para manter unidades de reabilitação física da AACD em sete estados brasileiros. O lançamento oficial da campanha ocorreu durante a coletiva de imprensa no dia 5, com a presença dos padrinhos Eliana e Daniel, além da participação de outros artistas que estão engajados na campanha. A presidente voluntária do Conselho de Administração da AACD, Regina Velloso, disse estar confiante quanto
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aos resultados de arrecadação deste ano, apesar da crise que acomete a economia do país, e acredita que o amor ao próximo e a solidariedade irão falar mais alto no momento da contribuição. Em entrevista à Revista D+, Michael Ukstin, diretor geral do Teleton, disse que está trabalhando para que a próxima edição da campanha tenha tradução em Libras durante as programações. Segundo ele, esse projeto ainda não se desenvolveu por dificuldades técnicas, mas assegurou que o SBT está se empenhando em obter esses recursos para promoção da acessibilidade. “O sinal digital vai facilitar muito para nós. Pode parecer bobagem, mas nele a tela é maior, então eu consigo colocar mais coisas. Ficará muito mais fácil fazer esse tipo de coisa [inserir tradução
FOTO: NATHAN E ZAHYA
Da esquerda para a direita: diretor geral do Teleton, Michael Ukstin; superintendente de Maketing e Captação de Recursos, Angelo Franzão; presidente voluntária do Conselho de Administração da AACD, Regina Velloso, e o superintendente geral, Valdesir Galvan
em libras], até porque você vai ter a opção de habilitar ou desabilitar. A tecnologia está vindo aí para melhorarmos [...] posso garantir que estou empenhado para que possamos inserir Libras no ano que vem”, afirmou Ukstin. O conteúdo deste ano contará com closed caption (legenda oculta) e com audiodescrição. As clínicas da AACD há 65 anos desenvolvem, com muito esforço e dedicação, a reabilitação física e estimulação cognitiva de crianças e adultos, porém não possuem ainda um atendimento especializado em Libras. Questionado sobre esse recurso de acessibilidade, o superintendente de Marketing e Captação de Recursos,
Angelo Franzão, disse que sua equipe está se movendo a favor disso: “Nós não temos ainda, porém, com a determinação [Decreto nº 5.626/05] de que todos os hospitais e centros de saúde tenham um profissional especializado, com certeza será uma área que daremos mais atenção. Libras é uma necessidade e teremos que atender claramente”. A coletiva foi encerrada com muita emoção, e com a expectativa de pacientes como o Getúlio, criança símbolo do Teleton 2015, em atingir a meta estipulada para este ano. Informações sobre doações podem ser acessadas pelo site www.teleton.org.br. “Fazer o bem é bom.”
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acontece
A participação de alunos surdos mostrou que os direitos da juventude estão se consolidando
Prefeitura recebe alunos da Rede Municipal de Ensino para comemorar os
70 ANOS DA ONU
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o último dia 11 de agosto, a Prefeitura de São Paulo recebeu cerca de 100 alunos da Rede Municipal de Ensino para comemorar os 70 anos da ONU. O momento fez jus ao tema: “Consolidando direitos para a juventude”, pois os estudantes tiveram a oportunidade de discutir questões diplomáticas com Antonio Patriota, ex-ministro das Relações Exteriores e atual representante brasileiro na Organização das Nações Unidas. Através da parceria entre a Secretaria Municipal
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POR RENATA LINS
da Educação e a Secretaria das Relações Internacionais e Federativas, essa foi segunda vez que a Rede Municipal participou do SPMUN – São Paulo Model United Nations. É o VI evento organizado, voluntariamente, por estudantes do ensino superior voltado aos alunos do ensino médio. O intuito é simular reuniões de comitês da ONU, e assim, reproduzir debates sociais, políticos, econômicos e ambientais entre eles. Contudo, é a primeira vez que há participação de alunos com deficiência.
FOTO: NATHALIA DE OLIVEIRA
Alunos surdos participam do evento pela primeira vez
As escolas envolvidas neste ano foram as EMEFMs “Oswaldo Aranha Bandeira de Mello”, “Derville Alegretti”, “Antônio Alves Veríssimo” e “Guiomar Cabral”. Nesta última estudam Lucas Felipe de Oliveira Takeuchi e Vitória Lopes Porto Justa (no 2º ano do ensino médio), únicos alunos surdos participantes do evento. Com a intermediação de intérpretes de Libras de sua escola, Lucas também participou – de 7 a 11 de julho, na Poli-USP – da a VI Edição do SPMUN, representando as Filipinas. O SPMUN – São Paulo Model United Nations é um evento que ocorre todos os anos em São Paulo, organizado por jovens de ensino superior, com intuito de promover debates sobre igualdade, tolerância, direitos humanos e diplomacia. Para Lucas, mesmo com algumas dificuldades, a experiência foi totalmente válida e significativa. O aluno ressaltou a importância de haver diversidade e, cada vez mais, a presença de alunos surdos entre os ouvintes. Durante a abertura para fala das autoridades, Lucas teve oportunidade de se expressar: “Surdos e ouvintes são todos iguais. Surdo não é inferior, também somos inteligentes, nos esforçamos e temos objetivos na vida. Precisamos de acessibilidade nas escolas e faculdades, queremos ter acesso à USP. Também somos capazes”. Em entrevista à Revista D+, o ex-secretário da Educação da cidade de São Paulo, Fernando José de Almeida, disse que a grande política de São Paulo, hoje, é a de não retirar crianças surdas de seus ambientes, mas sim promover ações de inclusão no interior das escolas já existentes. “Hoje é mais comum que tenha uma escola de mil alunos dos quais dez sejam surdos do que levar esses dez alunos para uma escola segregada”, assegura Almeida. A diretora da EMEFM “Guiomar Cabral”, Iolanda de Souza Luz, disse, orgulhosa, que seus alunos souberam aproveitar as dez vagas que lhes foram atribuídas, absorvendo muito conhecimento. Segundo ela, os estudantes já estão se preparando para irem à ONU Júnior, no Rio de Janeiro. “Eu pude perceber que o jovem gosta muito de desafios, basta você lançar”, afirma Iolanda. Todo o evento contou com acessibilidade na comunicação para os surdos, por meio da tradução em Libras. Segundo Felipe Margall, secretário geral do SPMUN, “é a primeira vez que há essa demanda”. O prefeito Fernando Haddad se mostrou aberto ao protagonismo juvenil, salientando a importância do envolvimento dos estudantes em questões de interesse público, principalmente em uma cidade cosmopolita como São Paulo. “Esse tipo de atividade pode nos interessar mutuamente. A administração ganha por ter a oportunidade de se aproximar e interagir com vocês, ouvindo as demandas, perspectivas e visões de mundo. Talvez, para vocês, conhecer as facetas da administração pública também seja importante”, disse Haddad, encerrando a reunião. Professores e alunos externaram sua satisfação em participar do SPMUN, evento que oportunizou a obtenção de conhecimento e experiências que, segundo eles, serviu de estímulo para galgar novos degraus futuramente. A chance de interpelação em um evento de grande magnitude e relevância como a comemoração dos 70 anos da ONU, sobretudo com a presença de alunos com deficiência, mostrou que os direitos da juventude estão começando, realmente, a se consolidar.
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acontece
O público superou as expectativas dos organizadores: o tema é emergente
Unicamp recebe 4º SETEMBRO AZUL de braços abertos
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etembro é um mês repleto de comemorações, sobretudo para as comunidades surdas brasileiras. São celebradas as conquistas de seus direitos de integração na sociedade, e fomentados com mais veemência debates sobre a inclusão e políticas públicas que permeiam a temática. Em contribuição com o movimento, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no dia 18, abriu as portas para receber o “4º Setembro Azul”, evento que reúne educadores, estudantes, e militantes da causa da pessoa surda, com intuito de desenvolver um espaço para aproximação às lutas pelos direitos culturais e linguísticos. A mobilização surgiu em 2011, pela iniciativa do aluno surdo Guilherme Oliveira, com intenção de mostrar aos surdos que eles não estão sozinhos. A fita azul-turquesa, introduzida como símbolo da organização, foi escolhida pelo Dr. Paddy Ladd
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POR RENATA LINS E CINTIA ALVES
(surdo) no XIII Congresso Mundial de Surdos na Austrália, 1999, em memória às vítimas surdas da opressão e audismo (discriminação da pessoa surda pelos ouvintes) no período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Desde 29 de outubro de 2008, o Brasil instituiu o dia 26 de setembro como Dia Nacional do Surdo (Lei nº 11.796/2008), e esta se tornou uma data relevante no contexto das reinvindicações e/ou comemorações das pessoas surdas brasileiras. A data é significativa, por remeter à inauguração da primeira escola especial para alunos surdos, em 26 de setembro de 1857, instituição com sede no Rio de Janeiro, atualmente denominado Instituto Nacional de Educação de Surdos. Hoje, autarquia do MEC, oferece tanto ensino básico como curso de graduação para formar professores bilíngues de surdos (leia mais sobre isso na matéria de capa desta edição).
FOTO: CINTIA ALVES
Evento celebra o Dia Nacional do Surdo
FOTO: NATHAN E ZAHYA
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FOTO: CINTIA ALVES
acontece
Para a pedagoga Patrícia Rezende (surda), presente no evento, a importância de encontros como este está no desafio de romper as barreiras atitudinais que insistem em permanecer na sociedade. “O ‘Setembro Azul’ tem grande significado para a comunidade surda, pois representa nossa luta. O surdo quer que várias coisas sejam garantidas: a educação bilíngue, a Libras e a acessibilidade. Esse momento é realmente importante, pois mostra nossa firmeza e nosso valor diante do governo e da sociedade”, afirma Patrícia. Desde que a universidade cedeu o espaço para abrigar a comemoração, também houve uma preocupação em fazer com que as crianças surdas se apropriassem de sua cultura. Educadores dizem que o envolvimento das crianças no evento faz com que elas sintam-se representadas ao verem adultos surdos em posição de destaque, palestrando em língua de sinais. Pensando nisso, a organização separou um espaço para atividades lúdicas. Durante o evento, foram oferecidas atividades de recreação para que as crianças surdas filhas dos participantes pudessem interagir em oficinas de pintura, desenhos, jogos e brincadeiras. O processo de conscientização das crianças surdas no “Setembro Azul” precisa ser estimulado, principalmente para que se desenvolva o conhecimento dos direitos no âmbito escolar. O movimento tem por finalidade lutar com empenho pelo Plano Nacional de Educação (PNE), para que sejam implantadas políticas locais de educação bilíngue para surdos. “O objetivo da escola bilíngue é preparar o aluno surdo para entrar na universidade. Para que isso aconteça, ele necessita saber fluentemente o Português escrito para se adequar ao vestibular e às aulas”, argumenta a psicóloga Regina Maria de Souza, doutora em Linguística e docente na FE-Unicamp. Para ela, mesmo com o intérprete de Libras, é preciso dar chance ao aluno de dominar o Português, sem que se percam sua identidade e singularidade linguísticas. O reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, reconheceu a fragilidade da universidade na contratação de intérpretes
FOTO: RAFAELLA SESSENTA
Mesa de abertura, da esquerda para a direita: Profa. Dra. Ana Luiza (representando o diretor da FE – Unicamp, Prof. Dr. Luiz Carlos de Freitas; o reitor da Unicamp, Prof. Dr. José Tadeu Jorge; Profa. Dra. Regina de Souza
de Libras, devido à atenção insuficiente dada à questão ao longo de sua existência, mas demonstrou estar aberto à discussão e a incorporar mudanças: “Vamos universalizar esse momento com a presença de intérpretes em todas as unidades e órgãos da Unicamp [...] Creio que conseguiremos avançar com o passar do tempo”. A preocupação com a questão de intérpretes e da acessibilidade nas universidades não se restringe ao estado de São Paulo. A professora Lodenir Becker Karnopp, doutora em Linguística e Letras, docente na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFRGS), manifestou-se a favor desse evento que promove a visibilidade dos surdos na educação, evidenciando o seu desejo em estender o “Setembro Azul” à UFRGS. Apesar do engajamento acadêmico e da garantia de alguns direitos conquistados pelo movimento surdo, ainda se fazem necessárias discussões por meio de eventos como esse, para que minorias linguísticas, antes reprimidas, possam ter, de fato, o seu direito à cidadania garantido e respeitado. Segue Imagem e Link (URL) dos QR-CODE
Aponte seu smartphone ou câmera de seu computador para o QR Code ao lado e veja esta matéria em Libras. Ou acesse o link http:// demais-revista.com.br/unicamp-recebe-4osetembro-azul-de-bracos-abertos/
Unicamp recebe 4º Setembro Azul, de braços abertos
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Oliver Sacks: Autor de uma das EXCLUSIVO NO SITE : Aponte a câmera de seu dispositivo mobile ou computador para o Ação Social de Inclusão da Diversidade principais obras sobre a história dos Humana tem primeira edição em no site surdos e língua de sinais morre aos 82 QR Code e veja também, em Libras, D+: Futuros jornalistas têm oportunidade de ENTREVISTA PROF Dra LODENIR Sorocaba anos Segue Imagem e Link (URL) dos QR-CODE
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premiação
Entrevista Profa Dra Lodenir. http://demaisrevista.com.br/ entrevista-profdra-lodenir/
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Oliver Sacks: autor de uma das principais obras sobre a história dos surdos e língua de sinais morre aos 82 anos. http://demais-revista. com.br/oliver-sacks-autorde-uma-das-principaisobras-sobre-a-historiados-surdos-e-lingua-deNo Dia do Surdo, o Centro de sinais-morre-aos-82-anos/ Educação para Surdos – Rio Branco,
Ação Social de inclusão da diversidade humana tem primeira edição em Sorocaba. http://demais-revista. com.br/acao-socialde-inclusao-dadiversidade-humanatem-primeira-edicaoem-sorocaba/ Central de Interpretação de Libras –
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ENTREVISTA PROF PATRICIA REZENDE
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Atividades culturais com crianças surdas, com a coordenadora Maria Carolina Bonfim
Entrevista Profa Patricia Rezende http://demaisrevista.com.br/ entrevista-profpatricia-rezende/
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comemora com diversas atrações
CIL começa a funcionar em São Paulo e região
Central de interpretação de Libras – CIL começa a funcionar em São Paulo e região. http:// demais-revista.com.br/ central-de-interpretacaode-libras-cil-comeca-afuncionar-em-sao-pauloe-regiao-2/
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No dia do Surdo, o Centro de Educação para Surdos – Rio Branco, comemora com diversas atrações. http:// demais-revista.com.br/ no-dia-do-surdo-o-centrode-educacao-para-surdosrio-branco-comemoracom-diversas-atracoes/
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Psicologia de mãos dadas à educação
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Aos 25 anos de idade, o pintor com a boca e os pés Daniel Ferreira já conquistou inúmeros prêmios pela qualidade de suas obras
Daniel Ferreira concretiza seu maior desejo: tornar-se um pintor com a boca e os pés reconhecido e premiado, além de comemorar o fato de viver por meio de sua arte POR LUCAS VASQUES
“P
intar pra mim é um sonho sem limites.” É dessa forma que Daniel Rodrigo Ferreira da Silva define seu amor pela arte, mais especificamente pelas telas, tintas e pincéis. A frase ganha ainda mais peso pelo fato de que o paulistano, hoje com 25 anos, não tem os membros superiores desde que nasceu. Vítima de talidomida, ele pinta com os pés e com a boca. A mãe de Daniel, Raimunda Rocha Ferreira da Silva, não esperava estar grávida. Achava que o mal-estar que sentia era derivado de uma das crises de labirintite. Por isso, acabou ingerindo medicamentos que provocaram a má-formação congênita. Também filho de Francisco de Assis Ferreira da Silva e
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irmão caçula de Wandilson Roberto, Luiz Gustavo e Francisco Erik, o artista pinta desde 6 anos de idade, pois, como ele mesmo afirma, sempre gostou das cores e do desenho. Puxando pela memória, Daniel se recorda do seu primeiro desenho: o armário da cozinha de um dos irmãos. A partir daí, a família percebeu sua sensibilidade para a arte bem aguçada e seus pais, então, passaram a investir, comprando materiais de pintura, desenho, além de cursos livres direcionados à arte. “Não pensem que foi fácil, pois comecei a vender meus quadros por meio de rifas de porta em porta com a minha tia Socorro e minha sobrinha Natalia. Em meados de 2005 eu conheci a Associação dos Pintores com a Boca e os Pés
IMAGEM CEDIDA PELA ASSOCIAÇÃO DE PINTORES COM OS PÉS E COM A BOCA (APBP)
Uma AQUARELA de SONHOS sem limites
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perfil
“Meus pais jamais tiveram intenção de me criar como alguém inferior. Pelo contrário, sempre me deixaram livre para efetuar diversas tarefas que todo garoto faz normalmente”
APOIO Daniel ressalta que, além dos pais, sempre teve apoios importantes para conseguir concretizar o sonho de se desenvolver na pintura. Seus maiores incentivadores foram os familiares, especialmente a tia Socorro, irmã da mãe. Na escola contou com a força e a ajuda de professores: “Destaco o professor Elias, que, na ocasião, lecionava artes, e um amigo do meu pai, Olair Fontes, que também é artista plástico”. Apesar do talento e de ter cursado bacharelado em Artes Visuais, sem concluir, ele se considera um autodidata. Trabalha com a linha acadêmica figurativa e garante que seu forte é pintar aves. Outro detalhe importante é que em todas as suas obras procura utilizar as cores azul e verde, pois fazem parte da sua linha de trabalho.
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O pintor cursou bacharelado em Artes, não concluiu e se considera um autodidata
As obras de Daniel são desenvolvidas para cartões de Natal, selos, calendários e papéis de presente. No entanto, sempre são feitas em quadros para, depois, serem reproduzidas por intermédio da APBP, onde ele trabalha como pintor e recebe sua renda mensal. “A pintura abriu muitas portas para mim, pois deixei de ser um coitadinho e, hoje, sou um artista plástico reconhecido mundialmente através da APBP e do meu trabalho, com o qual graças a Deus já conquistei muitos certificados e algumas premiações. Em 2010, por exemplo, fiquei entre os três melhores artistas plásticos do estado de São Paulo, sendo eu o único com deficiência física”. O artista tem um carinho especial por esse prêmio. Ressalta que para ele representou muito mais do que uma colocação e uma premiação, pois foi um concurso que reuniu 293 artistas de todo o estado de São Paulo e avaliou, apenas, a qualidade dos trabalhos e não a forma pela qual foram concebidos. “O dia da premiação foi muito emocionante, pois quando o júri foi entregar o prêmio todos esperavam um senhor para recebê-lo. Porém, quando me viram ficaram bem surpresos, não pelo fato de eu não ter os braços, mas por eu ter apenas 20 anos e pouco tempo de atividade artística profissional. Foi emocionante também, pois os jurados não sabiam como me entregar o prêmio. Minha mãe subiu ao palco comigo e o recebeu em suas mãos. O legal da arte é isso, ela nos coloca de igual para igual. Costumo dizer que a arte me mostra cada dia mais que eu não sou nem superior nem inferior a ninguém.”, acrescenta.
IMAGEM CEDIDA PELA ASSOCIAÇÃO DE PINTORES COM OS PÉS E COM A BOCA (APBP)
(APBP), através de um amigo do meu pai, que também é artista plástico. Comecei, então, a fazer parte da entidade no ano de 2007. A partir daí, deixei de ser amador e passei a ser um artista plástico profissional”, relembra. Paralelamente à pintura, ele conta que teve uma infância “quase” normal: “Logo que nasci, apesar de ser muito bem-aceito na família, houve grande impacto, pois todos ficaram chocados por estar diante de um bebê que não tinha os membros superiores. Meus irmãos ficaram muito tristes, os três repetiram o ano letivo. Não foi fácil. Entretanto, com o tempo tudo foi se acalmando, todos me deram muito amor e carinho. Brincava com outras crianças da minha idade na rua, corria e quando me desequilibrava chorava muito, porque caía direto com a cara no chão, pois não tinha os braços para me proteger. Chorava de raiva e de revolta, mas procurei superar as dificuldades através dos desenhos e da pintura”. Em casa sempre foi tratado sem distinção, ou seja, da mesma forma dos outros irmãos, apenas com alguns cuidados a mais, devido à deficiência. “Na escola, sofria preconceito, pois a diretora não aceitava receber uma criança de 7 anos com deficiência, alegando que não tinha condições e suporte para cuidar de um menino com as minhas necessidades”. Seus pais lutaram muito até conseguir matricular o filho numa escola pública. “Eles jamais tiveram intenção de me criar como alguém inferior. Pelo contrário, sempre me deixaram livre para efetuar diversas tarefas que todo garoto faz normalmente. A minha relação com as outras crianças na escola e, posteriormente, na adolescência, foi tranquila, pois todos me respeitavam e queriam ser meus amigos”.
“A pintura abriu muitas portas para mim, pois deixei de ser um coitadinho e, hoje, sou um artista plástico reconhecido mundialmente através da APBP e do meu trabalho, com o qual graças a Deus já conquistei muitos certificados e algumas premiações” Daniel revela que participa, com frequência, de exposições em diversas cidades do Brasil. Quanto ao mercado de arte de pintores com a boca e os pés, ele conta que é um pouco melhor do que o convencional, pois trata-se de um trabalho diferenciado, com técnicas distintas, que desperta interesse nas pessoas e a curiosidade de observar de perto a execução das obras com a boca ou os pés. “Isso acaba abrindo muitas portas para mostrar que também somos capazes.” No entanto, faz mistério quanto aos preços de suas obras: “Meus quadros possuem diversos valores para todas as classes sociais que quiserem adquirir”.
PÉ NA ESTRADA No entanto, quem pensa que a arte o absorve o tempo inteiro talvez não imagine que sua vida, conforme ele próprio define, além da pintura, é corrida igual à de todos: “Tenho de lutar a cada dia pelos meus ideais e procuro resolver praticamente tudo sozinho com meu automóvel. Sou uma pessoa que adora desafios. Então, hoje sou independente para muitas coisas. Um de meus maiores sonhos era fazer natação, esse eu já realizei. E o mais desafiador para mim foi conquistar a minha carteira de habilitação (CNH). Consegui há cinco anos e tenho um carro totalmente adaptado, o que me dá autonomia no trânsito. Viajo e passeio sempre com meu veículo. Saio com os amigos para todos os lugares, seja de dia ou de noite, chuva ou sol. Comigo, não tem tempo ruim”. Ao ser questionado sobre o que representa a pintura para ele, Daniel se emociona. “Abaixo de Deus e da família, a pintura significa tudo para mim. É por intermédio dela que eu conquistei minha independência financeira e sou realizado como profissional que batalha e luta como em qualquer outra profissão. Não me vejo fazendo outra coisa a não ser pintar com os pés e com a boca. Agradeço todos os dias a Deus pelo dom que recebi e pela empresa à qual pertenço”.
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lazer
A Pinacoteca, em São Paulo, conta com uma galeria tátil de esculturas brasileiras,
ARTE NO MUSEU AO ALCANCE DE TODOS Algumas das principais capitais brasileiras investem cada vez mais no oferecimento de equipamentos de lazer e cultura acessíveis para pessoas com deficiência POR LUCAS VASQUES/IMAGENS: DIVULGAÇÃO
“A
gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte.” O músico Arnaldo Antunes acertou em cheio ao escrever esses versos para a canção Comida (parceria com Sérgio Brito e Marcelo Fromer). E uma das formas mais marcantes de se ter acesso à diversão e à arte é, sem dúvida, conhecer e visitar museus. As capitais
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brasileiras oferecem inúmeras opções de equipamentos culturais e, o melhor, cada vez mais investindo na acessibilidade ampla, incluindo e inserindo as pessoas com deficiência nesse universo cultural. São Paulo, como berço da diversidade, disponibiliza uma série de museus acessíveis. Um deles é o Museu do Futebol, o primeiro pensado e preparado para atender diferentes perfis de público, inclusive pessoas com
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lazer
O Museu do Futebol, localizado no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, é o primeiro pensado e preparado para atender diferentes perfis de público, inclusive pessoas com deficiência física, intelectual e mobilidade reduzida O Museu do Futebol oferece maquetes táteis para o público cego e com baixa visão
deficiência física, intelectual e mobilidade reduzida. Inaugurado em 29 de setembro de 2008, o equipamento conta com o Programa de Acessibilidade do Museu do Futebol – PAMF, que reúne recursos para facilitar e potencializar o acesso físico e intelectual a seu acervo. Todos os andares do edifício têm elevadores para cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção; piso podotátil para cegos e pessoas com baixa visão; áudio-guias para cegos e para estrangeiros (em inglês e espanhol), além de 23 maquetes táteis para o público cego, com baixa visão e limitação de compreensão de linguagem, entre outros. O Museu do Futebol é uma instituição da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, localizado no Estádio do Pacaembu. Outra excelente opção na capital paulista é o Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. Fundado em 1948, trata-se de uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. O conteúdo das exposições é acessível, por meio de audioguias, videoguias e tradução para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).A partir de 1998, o MAM passou a oferecer uma programação ao público diverso, iniciada com o programa Igual Diferente, que disponibiliza cursos gratuitos de diversas modalidades artísticas. Atualmente, esse programa atende 135 participantes, das mais variadas deficiências. O museu dispõe de um educador surdo, Leonardo Castilho, que fala, lê lábios, se comunica por Libras e está disponível para visitas mediadas. A Pinacoteca do Estado de São Paulo é um patrimônio público gerido por uma associação de direitos privados sem fins lucrativos – APAC (Associação Pinacoteca Arte e Cultura). É equipada com rampas de acesso, elevadores, cadeiras de rodas, banheiros acessíveis, videoguias e audioguias para visitação autônoma, além de profissionais qualificados para receber os visitantes com deficiência. O local conta, também, com uma galeria tátil de esculturas brasileiras. Localizada no segundo andar do
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museu, ela foi especialmente elaborada para garantir a visitação autônoma de pessoas com deficiências visuais, com ou sem comprometimento de mobilidade. Para se contemplar acessibilidade total nada melhor do que o Memorial da Inclusão, da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, que desenvolve uma narrativa histórica sobre o movimento social da PcD. Inaugurada em 2009, a exposição oferece diversos recursos de acessibilidade. Para as pessoas cegas, há piso tátil, material em braile, tipos ampliados e áudio. Para pessoas surdas, além das visitas agendadas poderem ser acompanhadas por mediador versado em Libras, os vídeos são legendados. Para pessoas com deficiência física, há rampas, elevadores e sanitários adaptados. Para o público com deficiência intelectual, a mediação é realizada com base na leitura facilitada. PARANÁ Não é só São Paulo que oferece possibilidades acessíveis. Em Curitiba, no Paraná, o Museu Oscar Niemeyer (MON), inaugurado em 2002, é um espaço vinculado à Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Paraná. O museu tem investido na adequação da sua arquitetura para atender melhor os visitantes com dificuldades de locomoção ou com deficiências visuais. Os acessos às áreas expositivas contam com rampas e elevadores, e os banheiros são adaptados para cadeirantes. O espaço conhecido como Pátio das Esculturas, cujas obras possuem legendas em braile e letras ampliadas, vem passando por adaptações para dar mais autonomia às pessoas com cegueira e baixa visão. Já o Museu Paranaense foi inaugurado há 139 anos em Curitiba e desenvolve estudos nas áreas da Arqueologia, Antropologia e História. Dispõe de banheiros adaptados e um audioguia em português, espanhol e inglês, além de Libras. Está programada,
Desde sua implantação, o Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte, foi planejado para oferecer uma estrutura de mobilidade, dispondo de acessos específicos para cadeirantes e idosos e instalações adaptadas
O conteúdo das exposições do Museu de Arte Moderna de São Paulo é acessível, por meio de audioguias, videoguias e tradução para Libras
O Oscar Niemeyer, em Curitiba, tem investido na adequação da sua arquitetura e na preparação de recursos para atender melhor os visitantes com dificuldades de locomoção ou com deficiências visuais variadas ainda para este ano, a instalação de faixas antiderrapantes. Também será adquirida uma cadeira de rodas para uso dos visitantes. SANTA CATARINA Em Florianópolis, destaca-se o Museu de Arte de Santa Catarina. Criado em 1949, é administrado pelo Governo do Estado, por meio da Fundação Catarinene de Cultura (FCC). O Núcleo de Arte-Educação do museu conta com algumas parcerias para promover a integração de pessoas com deficiência visual. Junto à Associação Catarinense para Integração dos Cegos (ACIC), existe o projeto que leva pessoas com diferentes graus de deficiência visual para visitarem as exposições do museu. A partir de autorização prévia do artista, os arte-educadores proporcionam o contato com as obras de arte através do toque. MINAS GERAIS Em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, uma das opções é o Museu de Artes e Ofícios (MAO), um espaço cultural que promove a valorização e divulgação das profissões. É uma iniciativa do Instituto Cultural
Flávio Gutierrez – ICFG, entidade do terceiro setor. O MAO dispõe de acessos específicos para cadeirantes e idosos e instalações adaptadas. Levando a acessibilidade também para o acervo, existe uma parceria com o Instituto São Rafael, oferecendo monitoria especializada, folder de visitação em braile, maquete do museu e entorno e peças do acervo disponíveis para toque. Há, ainda, o trabalho com os surdos, em parceria com a Escola Estadual Francisco Sales. O museu possui dois monitores hábeis para comunicação em Libras. RIO DE JANEIRO O Rio de Janeiro oferece, entre outros, o Museu Histórico Nacional. Criado em 1922 pelo então presidente Epitácio Pessoa, é o primeiro da história do país voltado à instrução pública. Em termos de acessibilidade, disponibiliza elevadores com cabines e portas de entrada acessíveis para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida; sinalização em braile (eventual); rampa de acesso; sanitários adaptados; vídeos explicativos em Libras; guia multimídia em Libras e visitas guiadas. BRASÍLIA O Distrito Federal conta com o Museu Histórico de Brasília, com exposição permanente com inscrições sobre a interiorização da capital no mármore das paredes, com totens em acrílico contendo textos em braile, também com acessibilidade para cadeirante. Já o Espaço Lúcio Costa oferece exposição permanente do Projeto de Lúcio Costa, maquete de Brasília, uma maquete tátil e acessibilidade para cadeirante. AMAZONAS O Museu do Homem do Norte é atração em Manaus, Amazonas, e faz parte do Departamento de Museus da Secretaria de Estado da Cultura. Dispõe de visitas guiadas, além de possibilitar visitas assistidas para pessoas com deficiência visual, disponibilizando, ao longo do percurso, objetos que podem ser tocados. Possui acessibilidade para pessoas com deficiência visual e auditiva.
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lazer
SERVIÇO SÃO PAULO
SANTA CATARINA
• Museu do Futebol
• Museu de Arte de Santa Catarina
Estádio do Pacaembu - Praça Charles Miller, s/n
Localizado no Centro Integrado de Cultura (CIC)
R$ 6,00 e R$ 3,00 (meia-entrada para estudantes,
Avenida Governador Irineu Bornhausen, 5.600 -
professores e idosos) das 9h às 18h
Agronômica - Florianópolis
Entrada gratuita para pessoas com deficiência
Terça-feira a sábado, das 10h às 20h30. Domingos e
Estacionamento na Praça Charles Miller
feriados, das 10h às 19h30 Entrada gratuita
Tel. (11) 3664-3848 www.museudofutebol.org.br www.facebook.com/museudofutebol
MINAS GERAIS
• Museu de Arte Moderna (MAM)
• Museu de Artes e Ofícios
Parque do Ibirapuera - Av. Pedro Álvares Cabral, s/n -
Praça Rui Barbosa, 600 - Praça da Estação -
Portão 3 Terça a domingo, das 10h às 17h30
Centro de Belo Horizonte
(com permanência até as 18h) Tel. (11) 5085-1300
Terça e sexta-feira: das 12 às 19h; quarta e quinta-feira:
Estacionamento no local e acesso para deficientes
das 12 às 21h; sábado, domingo e feriado: das 11 às 17h
www.mam.org.br www.facebook.com/MAMoficial
Inteira: R$ 5,00; Meia: R$ 2,50
• Pinacoteca do Estado de São Paulo
Sábado: entrada gratuita para todos
End. 1: Praça da Luz, 2 - Tel. (11) 3324-1000
Tel. (31) 3248-8600 www.mao.org.br
End. 2: Largo General Osório, 66 - Tel. (11) 3335-4990 Terça a domingo, das 10h às 17h30,
RIO DE JANEIRO
com permanência até as 18h
• Museu Histórico Nacional
As entradas serão gratuitas até 18 de outubro
Praça Marechal Âncora, s/n - próximo à Praça XV
• Memorial da Inclusão
Terça a sexta, das 10h às 17h30, e sábados, domingos e
Rua Auro Soares de Moura Andrade, 564 -
feriados, das 14h às 18h R$ 8,00
Portão 10 - Barra Funda Segunda a sexta-feira, das 10h
Entradas gratuitas promocionais.
às 17h, entrada gratuita Tel. (11) 5212-3700
Domingo, os ingressos são grátis Tel. (21) 2550-9220
www.memorialdainclusao.sp.gov.br
www.museuhistoriconacional.com.br
https://m.facebookmemorialdainclusao
https://www.facebook.com/MuseuHistoricoNacionalRJ
PARANÁ
BRASÍLIA
• Museu Oscar Niemeyer
• Museu Histórico de Brasília e Espaço Lúcio Costa
Rua Marechal Hermes, 999 - Curitiba
Praça dos Três Poderes - Esplanada dos Ministérios
Terça a domingo, das 10h às 18h
Terça a domingo e feriados, das 9 às 18h, entrada gratuita
R$ 9,00 e R$ 4,50 (meia-entrada para pessoas com
Tels. (61) 3325-6244 / 3323-3728 / 3326-7709
deficiências, professores, estudantes) www.museuoscarniemeyer.org.br
AMAZONAS
• Museu Paranaense
• Museu do Homem do Norte
Rua Kellers, 289 - bairro São Francisco - Curitiba
Centro Cultural Povos da Amazônia - Praça Pereira da
Terça a sexta-feira, das 9h às 18h. Aos sábados,
Silva - Manaus
domingos e feriados, das 10h às 16h. A entrada é gratuita
Segunda a sexta, das 9 às 16h, entrada gratuita
Tel. (41) 3304-3300 www.museuparanaense.pr.gov.br
Tel. (92) 2125-5323 muhno@culturamazonia.am.gov.br
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aprenda libras
VAMOS APRENDER OS DIAS DA SEMANA!
DOMINGO
A Língua Brasileira de Sinais – Libras – é muito mais que uma alternativa de comunicação dos surdos brasileiros, conforme Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada pelo Decreto nº 5626, de 22 de dezembro de 2005. Nesta seção da Revista D+ você terá sempre conteúdo da Libras, para aprender a se comunicar com os surdos usuários dessa língua. A seguir, acompanhe a ilustração e sinalize os dias da semana. 30
POR CÉLIO DA CONCEIÇÃO SANTANA E JOICE ALVES DE SÁ ILUSTRAÇÕES: LUIS FILIPE ROSA
2a FEIRA
3a FEIRA
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6a FEIRA
SÁBADO
práticas na educação inclusiva
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ARTE que ultrapassa LIMITES
Na imaginação e na criatividade, não há espaço para a discriminação 31
Teatro e SURDEZ
O novo teatro considera o texto dramático como mais um elemento da configuração cênica, e não mais seu principal componente
A prática teatral para o indivíduo surdo POR DILSON NERY*
O
teatro é a arte da representação de histórias, em que o olhar exerce um papel fundamental. O termo grego theatron significa “lugar para ver”. Lugar onde o ator despe-se de suas idiossincrasias e dá vazão ao imaginário que conduz à criação cênica, elaborada para a contemplação de uma plateia. E não há limites que restrinjam o “objeto” a ser contemplado, qualquer aspecto humano pode ser representado numa cena teatral. É uma prática que permite a expressão de múltiplas formas de linguagem, diversas expressividades corporais, variados comportamentos culturais. Essa amplitude de possibilidades no universo teatral pode representar, para aqueles que investigam a fundo todos os processos que envolvem uma criação cênica, um significativo enriquecimento cultural e autoconhecimento. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para a educação em arte, o ato de dramatizar é inerente ao ser humano como uma necessidade de compreender e representar uma realidade. “O teatro tem como fundamento a experiência de vida: ideias, conhecimentos e sentimentos. Sua ação é a ordenação desses conteúdos individuais e grupais.” Essa necessidade de ordenação da vida inicia-se na primeira infância, quando a criança procura organizar sua compreensão de mundo através dos jogos simbólicos vivenciados na forma de brincadeiras, o conhecido “faz-de-conta”. Nos primeiros anos da idade escolar, a criança desenvolve a capacidade de compartilhar seu universo lúdico interior com uma coletividade de pessoas, e torna-se capaz de compreender os jogos com regras, deixando para trás os jogos simbólicos para dar lugar ao que chamamos de jogos dramáticos ou teatrais. A partir de então, torna-se essencial a prática do teatro na escola, e na vida, como fonte de aprendizado. Ainda de acordo com os PCNs, o teatro, no processo de formação do indivíduo, dá a oportunidade para que ele se aproprie crítica e construtivamente dos conteúdos sociais e culturais de sua sociedade mediante trocas com os seus grupos. O teatro, então, cumpre
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uma função integradora, por meio da qual podem ser transmitidos conhecimentos culturais, históricos, políticos, científicos ou morais. “As propostas educacionais devem compreender a atividade teatral como uma combinação de atividade para o desenvolvimento global do indivíduo, um processo de socialização consciente e crítico, um exercício de convivência democrática, uma atividade artística com preocupações de organização estética e uma experiência que faz parte das culturas humanas”, afirmam, ainda, os PCNs. No seu aspecto biológico, a prática teatral possibilita melhor consciência e aceitação corporais através de seus laboratórios (experimentações) cênicos, promovendo a elevação da autoestima e consequente redução da timidez. Além disso, seu exercício contribui para o aprendizado das competências necessárias ao trabalho em grupo, para o desenvolvimento das capacidades de inovar e de improvisar em situações conflitantes, para fomentar o interesse por textos e autores variados. É um meio de apreensão de conhecimento que atualmente é ofertado a todos que se interessem, sem exclusão. Mas nem sempre foi assim.
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A prática teatral possibilita melhor consciência e aceitação corporais através de seus laboratórios cênicos, promovendo a elevação da autoestima e a redução da timidez Em sua fase dramática, era o teatro o espaço privilegiado da palavra proferida em cena, cujo principal componente era a voz. Havia pouco – ou nenhum – espaço para os surdos exercerem sua expressão artística no palco. A partir dos movimentos vanguardistas de arte no século XX, temos o esboço de uma evolução das formas cênicas e textuais, difundindo o surgimento de um novo tipo de teatro que estabelece novos paradigmas da cena e da dramaturgia, especialmente a partir dos anos 80. Vemos surgir um teatro pós-dramático, mais agregador. Esse novo teatro considera o texto dramático como mais um elemento da configuração cênica, e não mais seu principal componente. O corpo ocupa uma posição fundamental na construção da personagem, deixando de lado a
hegemonia do texto escrito e da voz. É uma linguagem aberta a formas teatrais experimentais. INCLUSÃO A partir de então, temos um teatro mais inclusivo, que permite o acesso de variadas formas de expressão. No caso dos processos criativos que atendam aos pré-requisitos da inclusão, a estratégia de condução está na especificidade da comunicação entre as partes envolvidas. Na criação de uma encenação teatral que envolva atores surdos, por exemplo, um processo criativo bem elaborado sugere a aplicação de todas as etapas comuns para a construção cênica de uma peça considerada pós-dramática, porém o que difere dos processos em que haja somente ouvintes é a duplicidade de linguagem utilizada na comunicação do grupo, de forma tal que permita a acessibilidade de todos os envolvidos aos fundamentos da criação. Utiliza-se a Libras – Língua Brasileira de Sinais – para a comunicação com os surdos, considerada sua primeira língua, gerando a necessidade da presença de um intérprete durante o processo criativo.
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Margarete encenando com alunos da EE Roldão Lopes de Barros
A dissertação de mestrado intitulada “Processo de compreensão e reflexão sobre a iniciação teatral de surdos” atesta essa necessidade. Escrita por Cilene Rodrigues Carneiro Freitas a partir de uma experiência com uma oficina de teatro realizada em Brasília com alunos surdos e ouvintes, o texto afirma ser notória a importância do intérprete de Libras na inclusão dos surdos na vida e no teatro. Na condução da oficina, Cilene contou com a participação de uma intérprete, e para viabilizar a comunicação entre surdos e ouvintes, durante o processo, a professora preocupou-se em desenvolver uma estratégia de práticas corporais que permitisse a cada integrante do curso explorar suas potencialidades criativas, de forma a despertar a espontaneidade. Para democratizar a comunicação da montagem teatral realizada ao final da oficina, ela deu ênfase ao gesto, não excluindo nem a fala nem a Libras. Afirma que a utilização da língua de sinais e a expressão corporal são, na prática, os elementos principais das produções teatrais realizadas com surdos. Investigando meu processo criativo enquanto professor de teatro, ative-me às etapas básicas que costumo aplicar em sala de aula, e aqui as elenco: • Aplicação de jogos teatrais: consistindo em práticas improvisacionais desenvolvidas para o aperfeiçoamento de atores profissionais ou iniciantes; • Prática de exercícios de preparação corporal: séries organizadas no intuito de despertar o corpo para as potencialidades a serem exercidas em cena; • Improvisação coletiva e individual: a ação física é uma resposta espontânea do corpo a partir de um impulso gerado pela própria cena ou pelas circunstâncias
Numa encenação teatral com atores surdos, um processo criativo bem elaborado sugere a aplicação de todas as etapas comuns para a construção cênica de uma peça pós-dramática 34
propostas, surgida através de jogos teatrais, a partir de um tema, ou mesmo da inspiração momentânea; • Criação de cenas: germinadas por meio das improvisações; • Elaboração do texto dramático: consiste no registro por escrito das cenas criadas em laboratório cênico; • Ensaios: repetições de cenas para aperfeiçoá-las; • Apresentações teatrais para públicos diversos. Enfatizo que um indivíduo surdo é capaz de fazer todas essas atividades, reforçando a necessidade de comunicação em Libras e algumas adaptações na condução do processo criativo. Na condução dos jogos teatrais e improvisações de cenas, por exemplo, importa lançar propostas que permitam aos surdos vivenciarem todas as experiências, através de práticas que privilegiem o gesto, o movimento, a habilidade visual, a experiência tátil. Na elaboração e leitura do texto dramático, para os surdos que não tiverem aprendido a ler e escrever a Língua Portuguesa, há que se oferecer uma interpretação em Libras a respeito das ideias presentes no texto. APRENDIZADOS Como vimos, a prática de um bem conduzido processo teatral propicia muitos aprendizados, sendo inclusive ofertado para pessoas surdas como um veículo facilitador de sua percepção de mundo. O trabalho que a professora Margareth de Melo Alves desenvolve na sala de recursos da Escola Estadual “Roldão Lopes de Barros” é uma forte comprovação disso. Formada em Pedagogia com especialização em Educação para Surdos, a professora implantou na escola, em 2005, o projeto “Libras para Todos”, com uma abordagem interdisciplinar de difusão da Libras para toda a comunidade escolar. Com seus alunos surdos do ensino médio, ela trabalha a interpretação de textos simbolizando seus conteúdos por meio de uma linguagem teatralizada, cujas encenações são montadas a partir de um processo investigativo dos significados das palavras escritas em Português, passando para uma interpretação em Libras, seguindo para o estudo das
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Hoje, existe um tipo de teatro mais inclusivo, que proporciona o acesso de variadas formas de expressão, inclusive para surdos possibilidades de representação em cena. Através da expressão corporal, o aluno surdo expressa-se e vivencia a prática teatral. A professora Margarete também aplica o teatro na educação de crianças surdas. A metodologia propicia o aprendizado da Língua Portuguesa como sua segunda língua. Ela escolhe uma história infantil, escrita em prosa, e inicia o processo de entendimento da narrativa contando-a em Libras para seus alunos. Em seguida, eles criam ilustrações sugeridas pela narrativa, demonstrando seu entendimento da história, contando-a através de uma sequência lógica das imagens. Depois, a professora apresenta um estudo dos vocábulos em português, dando-lhes sentido na relação com a Libras e com os desenhos da história. Após essas etapas de entendimento, parte-se para a encenação teatral a partir de jogos improvisacionais. Podemos concluir que o teatro é por si inclusivo, visto que aproxima pessoas, explorando de forma ampla e
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irrestrita as potencialidades individuais, de modo que as diferenças mais aproximam do que afastam. Dessa forma, a prática teatral contribui para a socialização de indivíduos surdos, tornando possível a difusão de seu modo de vida e propiciando um maior entendimento e aceitação da comunidade surda por parte da sociedade como um todo. *Dilson Neri é professor de artes, ator profissional e diretor de teatro PARA SABER MAIS, CONSULTE BERTHOLD, Margot. História mundial do teatro. São Paulo: Perspectiva, 2004. Parâmetros Curriculares Nacionais: arte / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. SPOLIN, Viola. Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin. São Paulo: Perspectiva, 2001. REVERBEL, Olga. Jogos teatrais na escola. São Paulo: Scipione, 1989. BOAL, Augusto. 200 jogos para atores e não atores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. FREITAS, Cilene. Processo de compreensão e reflexão sobre a iniciação teatral de surdos. Dissertação (Mestrado em Processos Composicionais para a Cena). Instituto de Artes da Universidade de Brasília. Brasília, 2014.
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*Agradeço à Profa. Dra. Luciane Bertini (Unifesp) pelas sugestões na construção deste artigo.
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COMUNICAÇÃO BILÍNGUE PARA SURDOS: AINDA UM DESAFIO Depois de 13 anos da sanção da Lei de Libras e uma década do decreto que implementou o Prolibras, pessoas com surdez contabilizam avanços, conquistas e alguns retrocessos POR LUCAS VASQUES
O
ser humano, para se sentir pleno e exercer efetivamente sua cidadania, precisa ver contempladas todas as condições de comunicação para se integrar irrestritamente à sociedade, sem distinção. Para os surdos, um passo decisivo nessa direção foi a criação da Lei nº 10.436/2002 (regulamentada pelo Decreto nº 5.626/2005), que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e que está completando 13 anos de existência. Além da aprovação dessa lei, há uma década houve a implementação do Prolibras – Exame Nacional para Certificação de Proficiência no uso e no ensino de Libras e para Certificação de Proficiência na tradução e interpretação de Libras/ Português/Libras. Durante esse período, algumas questões tornaram-se imperiosas: o que mudou em termos de acessibilidade de comunicação para essa população? Como as entidades e órgãos públicos e privados têm agido para auxiliar no avanço dessa demanda? Na opinião de Paulo Roberto do Nascimento, chefe de gabinete do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), localizado no Rio de Janeiro, a lei é um grande avanço, pois traz consigo a vitória da comunidade surda organizada. “Quanto ao Prolibras, não se pode ainda avaliar integralmente seus resultados, pois a 7ª edição foi realizada recentemente e com um número expressivo de candidatos no Estado do Rio de Janeiro – 899 pessoas
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inscritas”. Outro avanço, segundo Nascimento, é a exigência de concurso público para tradutores e intérpretes da Língua Brasileira de Sinais. “Mas é claro que a plena garantia dos direitos à acessibilidade dos surdos ainda depende da implementação de mais medidas”, afirma. O INES é reconhecido, na estrutura do Ministério da Educação (MEC), como centro de referência nacional na área da surdez, exercendo os papéis de subsidiar a formulação de políticas públicas e sua implementação pelas esferas subnacionais de governo. Ronice Müller de Quadros, professora associada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pesquisadora do CNPq, observa vários avanços, entre eles a criação dos cursos de graduação, licenciatura e bacharelado de Letras Libras, Pedagogia Bilíngue e Português como segunda língua para surdos. Esses cursos, avalia, pretendem formar profissionais da área com a devida qualificação, especialmente, os professores de Libras, os tradutores e intérpretes de Libras e Português, os professores bilíngues Libras e Português e os professores de Língua Portuguesa como L2 para surdos. “Além disso, vemos a presença de surdos na universidade pública brasileira enquanto alunos e professores. Também o reconhecimento de que o Português não pode ser fator de exclusão de surdos, determinando a organização de provas
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de seleção, concursos e avaliações de progressão disponíveis em Libras. E mais: o reconhecimento da educação bilíngue para os surdos como forma mais apropriada de educação”, acredita a professora. Entretanto, ela não se esquiva de apontar retrocessos. “Creio que ainda haja uma tensão entre a visão dos surdos, a partir de uma perspectiva clínica-terapêutica, dentro da Educação Especial, no âmbito das políticas educacionais, que tornam a implementação da educação bilíngue para surdos na educação básica muito truncada”. Para Ronice, a questão da acessibilidade de comunicação para os surdos está relacionada diretamente à implementação da Lei de Libras. O exame Prolibras é uma das iniciativas. “Contudo, particularmente, vejo o efeito de várias ações que, em conjunto, determinaram a inserção social dos surdos brasileiros na sociedade como um todo. Mais importante do que o Prolibras foi o investimento do governo federal na formação dos profissionais que atuam na área, por meio da criação de vários cursos de graduação em todo o país. Essa formação está acontecendo também em todas as licenciaturas do país, quando os alunos de quaisquer licenciaturas estão tendo a oportunidade de conhecer a Língua Brasileira de Sinais e a comunidade surda”, elogia. Ana Regina e Souza Campello, diretora presidente da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), também ressalta evolução nessa relação de comunicação de surdos na sociedade. Em sua avaliação, houve um avanço muito grande, como o cumprimento da criação do curso Letras Libras e da certificação de Prolibras para compensar a ausência do curso de Letras Libras nos estados onde não têm por falta de força política. “Na questão da inclusão, algumas instituições que implantaram o curso de Letras Libras estão atendendo à acessibilidade dos surdos, com a presença dos intérpretes de Libras, videoconferências em Libras e provas em Libras. E o mais importante: a instrução em Libras pelos professores bilíngues (que são poucos em outros estados, e em maior número na Universidade Federal de Santa Catarina)”, acrescenta. Apesar disso, ela observa certos retrocessos, como certa descrença da Libras, pouca divulgação de pesquisa e criação de estudo linguístico de Libras, falta de força de vontade política para implementar curso de Letras Libras, como na Universidade de São Paulo (USP). EIXOS DE ACESSO Segundo Antonio José Ferreira, titular da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, desde 2011, o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem Limite - conduz várias ações nos eixos de acesso à educação, política de
O INES exerce o papel de subsidiar a formulação de políticas públicas e sua implementação pelas esferas subnacionais de governo
saúde, acessibilidade e inclusão social. “São mais de 15 ministérios envolvidos e, ao todo, já foram destinados mais de R$ 7,5 bilhões em orçamento nesses eixos. No que diz respeito à acessibilidade na comunicação para surdos, as principais iniciativas estão relacionadas aos eixos de acesso à educação e de acessibilidade. Na temática da educação, foram equipadas mais de 40 mil escolas com acessibilidade, mais de 30 mil com salas de recursos funcionais, além de cada vez mais ser crescente o ingresso de alunos com deficiência nas escolas de ensino regular, como mostra o Censo Escolar de 2014”, explica. De acordo com Ferreira, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos e a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD) acompanham e monitoram de perto a execução do Viver sem Limite. Além disso, a SNPD é responsável por financiar e acompanhar as Centrais de Interpretação de Libras, que já completaram mais de 30 inauguradas em todas as regiões do país. Ferreira também destaca a aprovação da Lei de Libras e sua regulamentação como um marco na difusão da língua das comunidades surdas brasileiras. Para ele, em geral, todas as previsões legais que foram delineadas no Decreto nº 5.626/2005, há dez anos, hoje são realidade: o Prolibras, que, apesar de um recente atraso, já certificou mais de 5 mil tradutores, intérpretes, usuários e educadores; o ensino da Libras como disciplina obrigatória nos cursos de licenciatura e fonoaudiologia, o uso e difusão
“A plena garantia dos direitos à acessibilidade dos surdos ainda depende da implementação de mais medidas. Por exemplo, não basta oferecer legenda sem explicar a quem ela se destina” Paulo Roberto do Nascimento 39
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da Libras nos serviços públicos, e uma das mais importantes conquistas – a criação dos cursos Letras Libras, presenciais e em educação a distância, para formação de novos professores e para a formação de novos tradutores e intérpretes de Libras. “A Língua Brasileira de Sinais ganhou, nos últimos anos, uma notoriedade jamais vista e, com isso, a própria comunidade surda. A Lei de Libras tem permitido ao país viver uma experiência inicial de uma nação plurilíngue. Destaco, como consequência, os avanços positivos nas políticas de educação bilíngue na perspectiva da educação inclusiva, previstos no Plano Nacional de Educação e na Lei Brasileira de Inclusão. Não consideramos que haja retrocessos, mas etapas de construção da cidadania”, analisa o secretário. Segundo informe institucional do MEC, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) tem atuado de forma a contribuir para a evolução da acessibilidade de comunicação para surdos no Brasil. O Ministério da Educação, em articulação com os estados, municípios e o Distrito Federal, contempla o atendimento às necessidades educacionais específicas dos estudantes surdos, por intermédio de programas e ações de formação continuada de professores, disponibilização de materiais pedagógicos e tecnológicos acessíveis. Outro aspecto enfatizado pelo MEC é que a Política Nacional de Educação Especial, na perspectiva da educação inclusiva, permitiu A professora Ronice entende o acolhimento das pesque o efeito de várias ações em soas com deficiência na conjunto determinou a inserção rede regular de ensino, social dos surdos brasileiros na a partir da busca por sociedade como um todo
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promover a universalização do acesso à educação em todas as etapas e modalidades. Nesse contexto, destacam-se os avanços que vêm sendo obtidos com a implementação da política de inclusão na educação básica e superior, como a oferta de formação inicial de professores para o ensino de Libras, de profissionais tradutores/intérprete, da disponibilização de softwares para a tradução da Libras, legendas em Língua Portuguesa, livros didáticos, paradidáticos e dicionários trilíngues, Atendimento Educacional Especializado – AEE, sendo integrado ao projeto-político pedagógico da escola, entre outros, essenciais para eliminar as barreiras comunicativas e pedagógicas na formação acadêmica dos estudantes surdos. BARREIRAS Do ponto de vista da educação, existem obstáculos que ainda precisam ser ultrapassados para alcançar o acesso mais amplo na comunicação de surdos. Na opinião do chefe de gabinete do INES, o principal é a língua, pois mesmo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB/1996) reconhecendo a Libras como a língua de SÉTIMA EDIÇÃO DO PROLIBRAS RECEBE QUASE 9 MIL INSCRITOS O Prolibras – Exame Nacional para Certificação de Proficiência no uso e no ensino de Libras e para Certificação de Proficiência na tradução e interpretação de Libras/Português/Libras é uma ação de política pública importante no sentido de certificar as pessoas envolvidas no processo de comunicação de surdos. Em sua sétima edição, neste ano de 2015, a procura pelo exame atingiu a marca de 8.623 inscritos. A primeira fase foi realizada no dia 27 de setembro, com a prova objetiva, em 34 cidades brasileiras, sendo 26 capitais. A prova prática se estendeu até o dia 2 de outubro. A correção das avaliações finais será efetuada durante o mês de outubro e não há previsão de data para as conclusões finais, segundo informações do professor Olinto Furtado, da Comissão Permanente do Concurso Vestibular (Coperve), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador executivo do sétimo Prolibras. No entanto, é possível fazer um balanço parcial. “De acorco com o resultado da prova objetiva, dos 8.623 inscritos, 2.634 (30,55%) foram habilitados para realizar a prova prática. Do número total de inscritos, 6.824 são ouvintes, com 2.200 conseguindo aprovação para a prova prática, e 1.799 são surdos, com 434 aprovações para a segunda fase”, relata o coordenador.
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“Um avanço se refere ao reconhecimento da educação bilíngue para os surdos como forma mais apropriada de educação, reconhecida no Decreto nº 5.626/2005 e no Plano Nacional de Educação, votado em 2014” Ronice Müller de Quadros
Ana Regina, da Feneis: “Algumas instituições que implantaram o curso de Letras Libras estão atendendo à acessibilidade dos surdos”
instrução do surdo, ainda é pouco o que se discute e se põe em prática. “A ausência de intérpretes nas esferas públicas municipais, estaduais e federais é um grande problema. A Lei da Acessibilidade nº 10.098/00 e seus decretos dizem que todos os órgãos públicos são obrigados a ter intérpretes de Libras e que os servidores públicos são orientados a aprender Libras para se comunicar com os clientes surdos. Esse é o obstáculo que a gente encontra”, afirma Ana Regina, representante da Feneis. Antonio José Ferreira tem convicção de que um dos principais obstáculos deve ser ultrapassado com a universalização da educação de alunos surdos na escola regular em até dez anos, como prevê o Plano Nacional de Educação, aprovado em 2014. Em sua opinião, o ensino segregaanuncio DF revista d+ marco-15.pdf do é uma barreira considerável,1 que19/03/15 pautou a15:19 educação de
“Há retrocessos, como certa descrença da Libras, pouca divulgação de pesquisa e criação de estudo linguístico de Libras, falta de força de vontade política para implementar curso de Letras Libras, como na USP” Ana Regina Campello pessoas com deficiência por séculos no Brasil e enfrentada, corajosamente, apenas nos últimos dez anos. A Secadi, do MEC, aposta que a principal barreira para o acesso mais amplo de comunicação para surdos ainda é a atitudinal, para a correta seleção e acionamento dos recursos técnico-pedagógicos que devem ser implementados para o desenvolvimento das potencialidades da pessoa surda, em toda sua diversidade, num ambiente escolar inclusivo. Nesse sentido, o Ministério da Educação tem promovido apoio técnico e financeiro para a formação de professores por meio do Plano de Ação Articulada (PAR) e da Rede Nacional de Formação Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública,
O trabalho desenvolvido pela CBPJJ, em parceria com filiados, professores, equipes, atletas, praticantes e patrocinadores, rendeu à entidade a participação na Reatech 2015 41
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DIFERENÇAS DEVEM SER RECONHECIDAS E RESGUARDADAS Existem certas divergências quanto à elaboração de políticas de comunicação entre surdos que se comunicam por meio de Libras e uma parcela dessa população que não utiliza essa língua, pois recorre a aparelhos auditivos ou leitura labial e afirma que, por isso, não precisa de intérpretes. Diante desse cenário, como lidar com essas diferenças específicas entre surdos oralizados e sinalizados quando se fala em acessibilidade de comunicação? Ronice diz que se refere às pessoas que fazem parte das comunidades surdas brasileiras, que se constituem socioculturalmente por meio do encontro entre surdos que, como consequência, usam a língua de sinais. “Os demais formam outros grupos sociais que devem ser reconhecidos como lhes convier. Não
é uma questão de generalização, mas, sim, de reconhecimento sobre quem estamos falando. Cada diferença deve ser reconhecida e ter suas especificidades resguardadas. Os surdos de quem eu falo e tenho uma relação de pertencimento são os que fazem parte das comunidades surdas brasileiras que usam Libras”, afirma. Segundo Ana Regina, há várias pesquisas demonstrando que a maioria dos surdos oralizados só consegue ler de 20 a 25% da mensagem através da leitura labial, perdendo grande parte das informações. “Geralmente, os surdos oralizados ‘deduzem’ as informações através do contexto em que as palavras são ditas.” Ela conta que o Programa de Avaliação Nacional do
visando, além da disponibilização de recursos de tecnologia assistiva, à formação de docentes e gestores para atender às especificidades dos estudantes com surdez.
YUSSEFF ABRAHIM
PRAZO DE VALIDADE DO PROLIBRAS Em relação ao prazo de validade do Prolibras, que, pelo Decreto nº 5.626/2005, encerra-se em dezembro deste ano, existem dúvidas sobre a prorrogação para 2016, iniciativa necessária, uma vez que não há instituições de ensino superior suficientes para formação dos profissionais visando à atuação como intérpretes e professores de Libras. “Posso garantir que esse prazo será ampliado. Este ano ocorreu o sétimo exame, realizado novamente pela UFSC”, afirma Nascimento. Ferreira informa que a equipe da SNPD já está analisando a questão dos prazos estabelecidos
Antonio José Ferreira revela que a SNPD é responsável por financiar e acompanhar as Centrais de Interpretação de Libras
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Desenvolvimento da Linguagem do Surdo Brasileiro (Pandesb) – 1999 a 2011, criado por Fernando Capovilla, considerado o maior programa do mundo para avaliação do desenvolvimento escolar, de cognição e de linguagem de uma população escolar surda, concluiu que os estudantes surdos aprendem mais e melhor em instituições bilíngues (escolas especiais que ensinam em Libras e Português) do que em escolas monolíngues (as que ensinam em Português apenas). Competências como decodificação e reconhecimento de palavras, compreensão de leitura de textos, vocabulário em Libras, dentre outras, foram significativamente superiores em escolas bilíngues em relação às escolas comuns.
“A SNPD está analisando a questão dos prazos de validade do Prolibras. Nossas considerações serão discutidas com o MEC e com a sociedade para, consensualmente, chegarmos a uma proposta de ajuste da legislação”, Antonio Ferreira pelo Decreto nº 5.626/2005. “Nossas considerações serão discutidas com o Ministério da Educação e com a sociedade civil para, consensualmente, chegarmos a uma proposta de ajuste da legislação.” A Feneis irá propor ao Congresso e ao MEC a prorrogação da validade. A elaboração do projeto de lei está quase pronta, faltando, apenas, o encaminhamento para a aplicação em 2016. A visão do MEC é que o Prolibras terá continuidade enquanto for necessário. APOSTA De acordo com o secretário nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o
O PREVISTO NA LEI ESTÁ LONGE DE SER CONCRETIZADO, AFIRMA PROCURADOR
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Fabiano de Moraes, procurador da República na Procuradoria da República no Município (PRM) Caxias do Sul/RS e Coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Inclusão para Pessoas com Deficiência da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) do Ministério Público Federal (MPF), acredita que, do ponto de vista legal, pode-se dizer que, hoje, existe um bom arcabouço legislativo, que garante plenamente o direito dos surdos à comunicação e ao ensino de Libras. Em sua avaliação, muito se evoluiu desde o início da década passada, destacando-se na legislação geral em relação à pessoa com deficiência a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo (o qual prevê a facilitação do aprendizado da língua de sinais e que a educação seja ministrada na língua adequada ao indivíduo) e na recente Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015). “Entretanto, verificase que, na prática, o previsto nas normas de proteção ainda está longe de ser totalmente concretizado,
Fabiano Moraes diz que hoje existe um bom arcabouço legal para garantir o direito dos surdos à comunicação e ao ensino de Libras
uma vez que são raros os locais em que existam pessoas capazes de se comunicar com fluência na língua de sinais”, observa. Apesar disso, segundo ele, considerando a situação existente antes da criação da Lei de Libras, não se pode dizer que houve retrocessos. “Anteriormente, não existia qualquer garantia expressa ao ensino de Libras e, sequer, o reconhecimento como meio legal de comunicação e expressão da comunidade surda. O simples reconhecimento já realizou uma mudança de visão sobre a Libras. O Prolibras também teve um papel importante na difusão da Libras”, avalia o procurador. A propósito, no que se refere ao prazo de validade do Prolibras, o procurador acentua sua importância. “Entretanto, somente com essa transição para um novo modelo, em que se exige uma formação específica, é que será possível apurar, efetivamente, se existe um número insuficiente de profissionais para o exercício das funções e a forma em que poderá ser suprida eventual demanda”, enfatiza. AÇÕES CIVIS E PÚBLICAS É notório que ainda há resistências para o cumprimento da Lei de Libras. Essas práticas são mais de ordem atitudinais, na avaliação do procurador. Ele reitera que existe um reconhecimento de Libras como língua natural, segundo os parâmetros da Linguística, reconhecendo sua relevância cultural à comunicação da comunidade surda. “Porém, ainda é pouco utilizada pelas pessoas não surdas,
reconhecimento da deficiência como parte da diversidade humana é uma aposta corajosa para a comunidade internacional e, para o Brasil, não é diferente. No entanto, essa compreensão também traz enormes desafios. “Há avanços notáveis no Brasil na última década sobre o alcance
o que dificulta a maior inserção na comunidade”, acrescenta ele. Esse cenário traz, como consequência, diversas Ações Civis e Públicas para o pleno cumprimento da Lei de Libras, no âmbito do Ministério Público Federal. Segundo Moraes, o MPF tem se empenhado no sentido de garantir o cumprimento da lei. Além das medidas judiciais, há inúmeros inquéritos civis visando à difusão e ao cumprimento da Libras pelos órgãos públicos federais, além de exigências específicas direcionadas às entidades de ensino. CONTROVÉRSIA A controvérsia em relação à situação dos surdos oralizados também foi analisada pelo procurador. Há questionamentos sobre como eles foram contemplados na sua condição de não usuários de Libras e, sim, de fala oral/leitura labial, e como o MPF vem arbitrando eventuais divergências entre ambos os grupos: surdos sinalizados x pessoas com deficiência auditiva que são contra a Lei de Libras. O MPF entende que não deve haver qualquer distinção entre os grupos e que todos devem ter sua proteção ao ensino garantida. “O ensino de Libras não exclui, quando possível, a comunicação através da fala oral/ leitura labial, mas se complementam. Quanto mais pessoas, mesmo que não tenham qualquer deficiência auditiva, se comunicarem em Libras, maior será a inclusão das pessoas surdas e menor o preconceito”, analisa Moraes.
das políticas públicas para as pessoas com deficiência, de modo geral, e para os surdos, em particular. É o caso da assistência social, da previdência, da saúde, da educação, da habitação, das ações de participação e controle social das políticas, enfim, de muitas áreas.”
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ponto de vista
A sequência da luta por parte das comunidades surdas do Brasil é a única forma de se garantir o cumprimento dos direitos expressos na Lei de Libras
ACESSIBILIDADE PARA OS SURDOS... ... a luta precisa continuar! POR RÚBEM SOARES*
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á quase um século que a comunidade brasileira de surdos, usuários de Libras, vinha sofrendo represálias que inibiam o uso dessa língua. Uma das justificativas dessa inibição (ou até repressão) certamente era a concepção de que a Libras não era língua e que os surdos tinham de aprender a língua oral e treinar a leitura labial para circularem na sociedade ouvinte. No processo de discussão do texto constitucional,
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promulgado em 1988, os surdos não lograram êxito na proposta de ver a Libras reconhecida como sua língua materna. Diferente das comunidades indígenas, que conseguiram deixar expresso na Constituição Federal que eram povos com uma língua diferente da língua portuguesa. Desse modo, foi-lhes garantida a condição de reivindicar uma educação bilíngue, o que, obviamente, não ocorreu com os surdos.
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Mesmo depois de promulgada a Constituição de 1988, os surdos continuaram se mobilizando pelo direito de ter reconhecida a Libras como sua língua Mesmo depois de promulgada a Constituição de 1988, os surdos continuaram se mobilizando pelo direito de ter reconhecida a Libras como sua língua. Por ser discriminada, essa língua correu sério risco de desaparecimento do cenário nacional. Entretanto, ao promoverem festas, atividades esportivas, recreacionistas, etc., as associações de surdos Brasil afora conseguiram manter essa língua viva entre seus usuários que se encontravam nesses eventos para se confraternizarem. Eram crianças, jovens e adultos que, encontrando-se em atividades festivas, jogando vôlei, futebol e outros jogos, mantiveram intacta a sua língua, defendendo-se da discriminação a que eram expostos. Há quem critique o fato de tais associações não terem se engajado na luta política contra o preconceito e a condição de marginalização dos surdos. Contudo, tiveram papel fundamental no processo de preservação da Libras entre as comunidades de surdos ao promoverem suas atividades recreativas. A luta política a favor dos surdos e da Libras foi encabeçada por membros da academia, que estavam empreendendo pesquisas com/entre os surdos. Sendo assim, alguns desses surdos, a reboque das associações, foram tomando consciência da necessidade de cobrarem seus direitos sociais, sobretudo no que dizia respeito ao reconhecimento de sua língua. Foi um longo período de luta, até que se começaram a aparecer alguns resultados concretos. Um desses primeiros resultados foi a Portaria no 1.679, publicada pelo MEC em 2/12/1999, que estabelecia o direito do aluno surdo (no ensino superior) de ter intérprete de Libras (desde que ele solicitasse esse serviço à instituição em que estava matriculado). Outro resultado foi a Lei no 10.098 (de 19/12/2000), que tratava da acessibilidade de pessoas com deficiência. Em seus artigos 17, 18 e 19, essa lei traz algumas garantias aos surdos usuários de Libras (como, por exemplo, a promoção de formação de intérpretes de Libras e o uso dessa língua nos meios de comunicação). Mesmo antes das conquistas legais acima, em 1996 já estava tramitando no Senado o projeto de lei nº 131. Seis anos depois, tal projeto viria a ser aprovado pelo Congresso Nacional, com uma série de modificações, e se converteu na Lei no 10.436, sancionado pelo presidente FHC, em 24/4/2002. A partir de 2003, já no governo do presidente Lula, a Casa Civil da Presidência da República começou a consulta pública para regulamentar a referida lei. Após
Em consequência das imensas dificuldades históricas, a Libras correu sério risco de desaparecer do cenário nacional
receber diversas sugestões das entidades de surdos, pesquisadores da área, escolas e comunidades de surdos em geral, tal regulamentação foi concluída, gerando o Decreto no 5.626, publicado em 22/12/2005. Uma década após a regulamentação da Lei de Libras, muito do que está na legislação ainda não saiu do papel. Inclusive algumas ações de formação de profissionais, cujo prazo de implementação foi definido em dez anos. Resta saber quais ações o poder público (em nível federal, estadual e municipal) vai empreender para a próxima década, visando melhorar o atendimento aos surdos brasileiros nos vários contextos sociais. A continuidade da luta pelas comunidades surdas brasileiras é a única forma de se garantir o cumprimento dos seus direitos expressos na Lei de Libras. Por que não reeditar movimentos como os de 1950, quando os surdos se rebelaram em massa? Seja qual for o motivo daquela rebelião, o fato é que a mesma provocou significativas mudanças na educação de surdos, culminando com a queda de Mello Barreto, diretor do INES (autarquia federal, à época denominada de Instituto Nacional de Surdos-Mudos). *Rúbem Soares é mestre em Educação (FEUSP), psicólogo e consultor em educação bilíngue de surdos.
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saúde
TEA:
A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE
O atraso na detecção do transtorno do espectro autista pode agravar o problema. Por isso, antes mesmo da confirmação do distúrbio, assim que houver a suspeita, deve-se iniciar um programa de intervenção POR LUCAS VASQUES
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universo que envolve as pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) ainda é repleto de mistérios, até mesmo para a medicina. A começar pelo diagnóstico, que, muitas vezes, apresenta dificuldades, em função de suas características. Por isso, há casos frequentes de famílias que são obrigadas a percorrer um longo caminho até chegar à conclusão correta e iniciar o tratamento adequado, visando a aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida desses pacientes. O atraso na detecção do transtorno pode agravar a situação. Algumas dúvidas surgem no início do processo, como, por exemplo, de que forma deve ser iniciada a investigação em relação à deficiência, quais os profissionais de saúde que devem ser procurados e como evitar que se confunda o autismo com outros distúrbios. Na avaliação de Letícia Calmon Drummond Amorim, psiquiatra da infância e adolescência, mestre em Psicologia, médica psiquiatra da unidade de referência em autismo CAISM, Vila Mariana, na Santa Casa de São Paulo, o diagnóstico do TEA é considerado difícil porque os sintomas ocorrem em paralelo ao desenvolvimento típico, e outros transtornos podem apresentar sintomas semelhantes. Para ela, as principais dificuldades para se chegar ao diagnóstico são compreender as fases de desenvolvimento típico e diferenciar os sintomas de autismo de outras patologias. Rosa Magaly Campêlo Borba de Morais, médica, com residência em Pediatria e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em Psiquiatria Geral e Psiquiatria da Infância e Adolescência, afirma que o diagnóstico é clínico, se baseia em uma história (anamnese) bem colhida, informações coletadas com mais de uma fonte (pais, familiares, escolas, outros profissionais que, por ventura, atendam ao indivíduo). “Nenhum exame laboratorial dará o diagnóstico do
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TEA. Vale ressaltar, no entanto, que cada vez mais estimulamos o uso de instrumentos validados para triagem e diagnóstico. Nenhum deles substitui o diagnóstico clínico, mas, sem dúvida, ajuda-o e orienta-o. Algumas escalas de triagem podem ser particularmente úteis, por exemplo, quando amplamente usadas por pediatras. Desta forma, muitas vezes, a categorização dos sintomas é entendida como frágil e requer não só conhecimento teórico, mas experiência clínica para identificação”, relata Rosa, coordenadora clínica do Programa de Transtorno do Espectro Autista, do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria (HC-FMUSP). Há décadas, segundo ela, o autismo era entendido como alteração emocional, sem correlação com falhas no desenvolvimento neuropsicomotor, e sim como falha nas interações afetivas com o cuidador de referência. Hoje, foram estabelecidas bases biológicas (principalmente genéticas), que resultam no desenvolvimento inadequado do sistema nervoso central, dos sistemas sensoriais e motores. O preconceito, a falta de informação a respeito do papel do psiquiatra, o desconhecimento de ocorrência de transtornos mentais/neurodesenvolvimentais na infância e na adolescência, o medo de estigmatizar ou mesmo rotular o indivíduo e o diagnóstico errôneo anteriormente dado a adolescentes e adultos protelam, desnecessariamente, o diagnóstico e a procura por atendimento específico. Os primeiros especialistas a terem contato com crianças com atraso do desenvolvimento são os pediatras e professores do ensino infantil. “Infelizmente, a formação dos profissionais da área de educação e saúde, por muito tempo, não contemplou qualquer informação sobre o tema, seja durante o curso de graduação ou nas especializações. Na maior parte dos cursos de medicina, as informações sobre o autismo ainda são escassas. Há uma mudança robusta na divulgação, capacitação e atualização sobre a identificação precoce, as intervenções adequadas e o seguimento desses pacientes, nos últimos cinco anos”, conta. Em sua opinião, os grupos organizados de pais (associações), a sociedade civil e a imprensa leiga são as principais fontes de propagação. Em virtude do aparente aumento na prevalência, da complexidade e diversidade de apresentações clínicas e da associação com outras doenças genéticas e neuropsiquiátricas, há um aumento de publicações científicas sobre o assunto no meio acadêmico. CLASSIFICAÇÃO “A atual classificação diagnóstica refere-se ao TEA e não somente ao autismo. Entendemos o autismo, hoje, como um espectro de gravidade hierarquizada e alta heterogeneidade. Os sintomas diferem quanto à faixa etária, gênero, associação com outras enfermidades clínicas ou psiquiátricas, entre outras especificações. Isso confere
“Infelizmente, a formação dos profissionais da área de educação e saúde, por muito tempo, não contemplou qualquer informação sobre o tema, seja durante o curso de graduação ou nas especializações”, Rosa Morais uma conformação única a cada indivíduo com TEA, dificultando a diferenciação entre patologias com clínica aproximada aos sintomas do autismo e a distinção entre desenvolvimento desarmônico, porém passível de recuperação, e atraso no desenvolvimento típico do TEA”, ressalta Rosa. A médica entende que os profissionais especializados em Psiquiatria da Infância e Adolescência ainda são raros, não só no Brasil, mas em todo o mundo. No caso brasileiro, especificamente, além de poucos médicos com conhecimento na área, a maior parte está concentrada nas regiões Sudeste e Sul. O acesso a esses profissionais é restrito e excepcionalmente acontece via rede de suporte à saúde. No serviço público, a demanda é bem maior ao comportado pelas instituições. O processo de diagnóstico requer tempo, investigação com vários informantes, participação de equipe multidisciplinar e, em alguns casos, exames onerosos. A intervenção é intensiva, por tempo indeterminado, necessitando de profissionais com formação específica e atuação em ambientes distintos. Portanto, segundo Rosa, não só a identificação, mas o acesso universal à terapêutica medicamentosa e não medicamentosa proposta é prioridade. A Lei nº 12.764, promulgada em novembro de 2014, considera a pessoa autista como com deficiência para todos os efeitos legais. Desse modo, lhe são assegurados os direitos mais comuns. “Porém, ainda não temos políticas de saúde pública exclusivas
Na opinião de Rosa (à esq.), não só a identificação, mas o acesso universal à terapêutica medicamentosa e não medicamentosa proposta é prioridade. Segundo Letícia (à dir.), o diagnóstico é difícil porque os sintomas ocorrem em paralelo ao desenvolvimento típico, e outros transtornos podem apresentar sintomas semelhantes
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Andréa Medeiros Vilas Boas, mãe de Vitor Medeiros, hoje com 11 anos, é um exemplo do caminho longo que os pais, frequentemente, precisam trilhar para conseguir chegar ao diagnóstico do TEA. “Logo que percebi um atraso na fala dele, passei a questionar a pediatra com a qual ele fazia controle e ela sempre dizia que só se tratava de um atraso. Ouvi de profissionais de muitos locais renomados que “seu filho não tem nada”. Passei por exames de surdez, observações etc”, desabafa. O quadro correto foi identificado apenas quando o menino tinha 4 anos. “Assistindo ao documentário Autismo, o musical, identifiquei as características do Vitor. Após o filme, procurei um especialista em autismo, que me deu o diagnóstico no mesmo dia. É muito doloroso ver que seu filho é diferente das demais crianças e não saber exatamente o que ele tem para, assim, poder ajudá-lo. Creio que o diagnóstico me deu
Rafaella passou por dois pediatras, três fonoaudiólogos e neuropediatras sem conseguir a identificação do distúrbio
uma mistura de dor e alívio para poder agir”, relembra Andréa. A mãe de Vitor ressalta a importância de não se perder tempo na identificação do transtorno: “Quando soube, confesso que o desespero surgiu e me senti como uma bomba-relógio prestes a explodir, uma vez que o tratamento precoce é fundamental. As dificuldades da terapia adequada, mesmo na cidade de São Paulo, e a fila de espera para se conseguir um atendimento fazem a dor ficar ainda mais intensa”. HISTÓRIA SEMELHANTE Danielle Nery Lins relata uma trajetória semelhante em relação à sua filha, Rafaella Nery Lins, de 11 anos: “Antes da identificação, nós achávamos que a Rafaella era diferente. Ela era hiperativa, corria de um lado para o outro da casa sem descansar, parecia surda. Tínhamos ventiladores de teto nos quartos e sala e quando eram ligados ela sentava no chão em baixo deles e não saía de lá. Tinha uma dificuldade muito grande para dormir, mais tarde seria para comer. No entanto, o que mais nos chamou atenção foi o atraso na fala”. A mãe de Rafaella também não obteve o diagnóstico correto logo no início. “Alguns médicos pediatras (foram dois) diziam que era normal, que cada criança tinha o seu tempo. Só que o tempo da Rafaella nunca chegava. Nós procuramos fonoaudiólogos, neuro-
para o TEA no Brasil. Dessa forma, não há dúvidas sobre a dificuldade para o estabelecimento do seu diagnóstico. É vital a formação especializada; refinamento das características não só comportamentais, mas marcadores cognitivos ou biológicos mensuráveis; conhecimento em diversas áreas de ciências biológicas; experiência com indivíduos em desenvolvimento, disponibilidade para trabalho em equipe
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FAMÍLIAS TÊM DIFICULDADES EM OBTER IDENTIFICAÇÃO
A família de Vitor conseguiu o diagnóstico correto do transtorno quando o menino já tinha 4 anos
pediatras e ninguém descobria o que ela tinha. Até que fomos a uma fonoaudióloga recomendada, que nos adiantou o problema, e, ainda assim, nos indicou um psiquiatra, que assinou o diagnóstico em poucos minutos, só pela observação”, destaca. Danielle garante que a dificuldade maior foi justamente “o despreparo dos especialistas, principalmente os pediatras, já que muitos concordam que é possível fazer esse diagnóstico antes mesmo do primeiro ano de vida. Nós passamos por dois pediatras, três fonoaudiólogos, neuropediatras, sem contar inúmeros exames de audiometria (porque chegamos a suspeitar de surdez), ressonância, enfim, todos sem resultados, já que o autismo não se detecta por exames laboratoriais. Começar logo uma terapia vai ser um fator importantíssimo para o maior desenvolvimento da criança”, aconselha.
– não focado exclusivamente no tratamento medicamentoso; rede de suporte para os cuidadores e pacientes; elaboração e implantação efetiva de políticas de saúde pública e desenvolvimento de pesquisas avançadas na área”, explica. Letícia alerta que existem distúrbios que podem ser confundidos com TEA. São o transtorno de linguagem, da comunicação social, deficiência intelectual, transtorno
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de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno do movimento estereotipado. Rosa reitera que, além disso, o TEA pode ocorrer concomitantemente a esses transtornos. Ela cita outros: transtorno obsessivo-compulsivo, fobia social, síndrome do X – frágil, deficiência de vitaminas, são algumas das possibilidades quando se pensa em diagnóstico diferencial ou comorbidades. QUEIXAS Em consequência de todas essas dificuldades, existem famílias que reclamam de um histórico de longo caminho até o diagnóstico correto. “Para evitar esse problema deve-se procurar profissionais especializados na área, como psiquiatras da infância e adolescência e neuropediatras. Porém, muitas vezes é necessário passar por outros profissionais até que se chegue a um especialista. Vale lembrar que o diagnóstico, apesar de ser estabelecido por um médico, deve ser elaborado por uma equipe interdisciplinar. A suspeita deve ser feita pelo pediatra. A partir daí, a família precisa procurar profissionais com experiência na área”, destaca Letícia. Na opinião de Rosa, essa situação só poderá mudar disseminando conhecimento fidedigno, investindo na CAUSAS ESTÃO LIGADAS A FATORES GENÉTICOS Não existem mais tipos de TEA, mas diferentes graus: leve, moderado e grave. “Ainda não se conhecem as causas, mas já se sabe que fatores genéticos e epigenéticos estão associados ao maior risco de desenvolver o distúrbio. O melhor tratamento, atualmente, inclui uma equipe interdisciplinar e um programa de intervenção baseado na análise aplicada do comportamento”, aponta Letícia. Rosa corrobora: “Existem várias explicações, em campos teóricos distintos. Porém, considerando a medicina baseada em evidência, está claro existir um componente genético na maior parte dos casos”. Segundo a médica, fatores ambientais também estão envolvidos. Existem basicamente duas formas diferentes, uma pode ser entendida quando o indivíduo já traz uma alteração genética, mas ela pode se manifestar ou não, dependendo da interação com o ambiente. O outro tipo é aquela onde parece que fatores ambientais vão mudar o comportamento das células e fazer com que a criança tenha maior chance de sofrer uma patologia, independentemente de ela ter uma variação na sequência genética: infecções, poluentes, doenças maternas, complicações na gestação, entre outros.
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“O diagnóstico, apesar de ser estabelecido por um médico, deve ser elaborado por uma equipe interdisciplinar. A suspeita deve ser feita pelo pediatra. A partir daí, a família precisa procurar profissionais com experiência” Letícia Amorim formação de profissionais qualificados e desenvolvendo políticas de saúde pública que garantam o acesso ao atendimento e intervenções baseadas em evidências científicas. “A família deve iniciar a investigação procurando um médico acostumado com as questões que envolvam atraso do desenvolvimento e TEA”. Em relação à especialidade, para ela, dependerá da idade do paciente, da demanda e das comorbidades presentes. “O diagnóstico inicial deverá ser realizado pelo psiquiatra da infância e adolescência. Neurologistas e pediatras também podem identificar e acompanhar os indivíduos com TEA desde que tenham formação compatível com a função executada”. O diagnóstico tardio pode provocar consequências sérias, como perder a oportunidade de intervenção precoce. Por isso, acrescenta Letícia, antes mesmo de o diagnóstico ser estabelecido, assim que houver a suspeita, deve-se iniciar um programa de intervenção. Segundo Rosa, a principal perda se dá durante a “ janela de neuroplasticidade” nos primeiros anos de vida. Principalmente antes dos 2 anos. De acordo com ela, neste período, o cérebro é capaz, em resposta à estimulação intensiva e constante, de recrutar e aperfeiçoar regiões cerebrais para executarem funções não programadas originalmente. Assim, os déficits existentes no TEA podem ser compensados. Quanto mais cedo for realizado o diagnóstico, mais rapidamente as comorbidades serão percebidas e tratadas, diminuindo as perdas e prevenindo maiores complicações clínicas. “Como o autismo envolve maciçamente alterações sociais, na medida em que nos desenvolvemos, nosso grupo social tende a se expandir. Isso gera um aumento na demanda cognição social. Caso essa experiência se torne aversiva pelo grau de dificuldade e por ausência de sentido (como no indivíduo com TEA), o desafio com o treino de habilidades sociais será ainda maior. Precisamos obter pré-requisitos necessários para estarmos de maneira familiar com o outro. Do contrário, o risco de estigma, privação sensorial e uso de mecanismos disfuncionais para adaptação ao ambiente será frequente”, finaliza Rosa.
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O DOWN NO MERCADO DE TRABALHO Instituto Mano Down desenvolve parcerias com empresas, no intuito de inserir essa parcela da população no universo laboral POR LUCAS VASQUES
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stá comprovado que a pessoa com síndrome de Down que consegue ingressar no mercado de trabalho e exercer uma carreira profissional apresenta uma visível e acentuada progressão em vários aspectos, como saúde, comportamento e aprendizado. Pensando nisso, o Instituto Mano Down, de Minas Gerais, que tem como missão criar oportunidades de mais autonomia para esse público, para que ele possa ter um controle cada vez maior sobre a própria vida, desenvolve parcerias com empresas, visando à colocação dessas pessoas em postos de trabalho. As parcerias funcionam da seguinte forma: o instituto é procurado por empresas, que anunciam suas demandas profissionais. O Mano Down recebe essas informações e organiza reuniões com representantes das famílias e da companhia. Nesses encontros é explicado o processo de contratação e dúvidas, principalmente por parte das famílias, são esclarecidas. O Mano Down elabora cadastro de vagas e repassa para sua rede de contatos. Além de empresas, a entidade mantém parcerias com o Ministério do Trabalho, Defensoria e Ministério Público. Por meio dessas iniciativas, ajuda a cumprir a Lei de Cotas, pois o Ministério do Trabalho, ao detectar empresas que não cumprem a legislação, após autuarem essas companhias, indicam a elas o Mano Down como caminho para a prospecção de funcionários potenciais. Outra iniciativa nesse sentido é que o instituto está em vias de criar um portal que tenha a característica de unificar informações, mostrar casos de sucesso, que foram bem-sucedidos no que se refere à inserção no mercado,
cadastrar currículos e vagas de empregos, a fim de centralizar esses dados e facilitar o processo de colocação de pessoas com Down nos postos de trabalho. Um dos sonhos é elaborar um núcleo de capacitação dentro do instituto. “Integrar efetivamente a sociedade é importante para todos. Vale para qualquer pessoa. Reconhecer-se como parte do mundo do trabalho fortalece o sentido de cidadania de jovens e adultos. No caso de pessoas com Down, muitas vezes, as próprias famílias se surpreendem com as mudanças de atitude, uma vez que elas se sentem mais independentes e capazes de realizar seus desejos. Tornam-se empoderadas. As pessoas às quais não é atribuída uma função social não conseguem reconhecer o papel dos demais. Portanto, para que a sociedade veja as pessoas com deficiência como adultas e, consequentemente, como cidadãs, é preciso facilitar a plena inclusão delas no mundo”, reflete Leonardo Gontijo, engenheiro civil, advogado, especialista em engenharia ambiental, professor universitário e idealizador do Mano Down. Ao exercer uma atividade profissional, as pessoas com síndrome de Down vislumbram a oportunidade de ver sua qualidade de vida potencializada, em função das novas relações sociais, aprendizados técnicos e avanços no aspecto autonomia. O ambiente corporativo e as funções exercidas contribuem significativamente para a prática da colaboração, do respeito e da liberdade. As próprias pessoas com Down admitem a relevância do trabalho em seu dia a dia.
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trabalho
“Costumo dizer que não existe MBA de diversidade humana. No mundo globalizado, aceitar as diferenças é importante para todas as corporações”
o trabalho influencia positivamente a melhoria da qualidade de vida dos colaboradores com Down, por outro, a presença dos profissionais no ambiente laboral pode gerar evolução na saúde organizacional das corporações. “Para as empresas, há a possibilidade de exercer a diversidade”, resume Gontijo. Outro ganho por parte das companhias se refere ao fato de que as pessoas com a síndrome tendem a apresentar Leonardo Gontijo características que promovem reações positivas no ambiente de trabalho, que Durante a vida adulta, é essencialmente precisam, necessariamente, ser explorao trabalho que propicia o sentimento de das pelos empresários: “Claramente, não inclusão social. podemos fazer generalizações quanto ao Para o idealizador do Instituto Mano Gontijo: “Cadastramos vagas e repassamos para nossa rede comportamento de quem tem Down, pois Down, além dos próprios colaboradores, de contatos. Temos parcerias cada um é único e diferente, assim como os familiares de pessoas com a síndrome com o Ministério do Trabalho, todos que não tenham deficiência. No entambém enxergam inúmeros ganhos na Defensoria e Ministério Público” tanto, em função de minha experiência na qualidade de vida de seus parentes. Seárea e depois de entrevistas com gestores e em discussões de gundo eles, o ambiente de trabalho, menos protegido que grupo com colaboradores que convivem diariamente com o de casa e o da escola, acelera o desenvolvimento, proporpessoas com essa característica no ambiente de trabalho, cionando um aprendizado que não pode ser adquirido em percebo que, geralmente, as pessoas com a síndrome apreoutros locais. sentam uma seriedade maior e um comprometimento com A prática de facilitar a inserção desse segmento na vida o trabalho acima da média, em relação a horário e outras taprodutiva é uma trajetória que proporciona benefícios não refas do dia a dia da empresa. Além disso, é um exemplo de só para os funcionários em potencial, mas, também, para como desenvolver uma melhor forma de lidar com a vida”. as empresas que se dispõem a contratar. Se por um lado, PESQUISA COMPROVA BENEFÍCIOS DE CONTRATAR PESSOAS COM DOWN Estudos realizados recentemente demonstram que a presença de pessoas com síndrome de Down no ambiente de trabalho traz inúmeros benefícios para todos os envolvidos. Uma pesquisa quantitativa absoluta, realizada em 2014, desenvolvida pela McKinsey & Company e intitulada “O valor que os colaboradores com síndrome de Down podem agregar às organizações” concluiu que 83% dos entrevistados acreditam que a presença de uma pessoa com Down faz com que o líder direto se torne mais apto a resolver e administrar conflitos, contribuindo de forma positiva para o desenvolvimento das pessoas. Outros dados importantes dão conta de que 78% do total de
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respondentes concordam que a inclusão de pessoas com a síndrome impacta positivamente na motivação dos colaboradores no ambiente de trabalho. Isso deixa claro que o fato de uma pessoa com limitações estar incluída no ambiente de trabalho, realizando tarefas e superando desafios, gera no restante da equipe uma reflexão sobre como superar as expectativas e desafiar os próprios limites. Cerca de 90% das pessoas concordam sobre o impacto positivo causado pela inclusão de pessoas com síndrome de Down. A pesquisa também mostrou que 69% das pessoas das empresas que contam com pessoas portadoras de Down em seu quadro de funcionários concordam que os colaboradores
do local de trabalho sabem lidar com as situações difíceis e conflituosas, ao passo que apenas 59% dos locais que não têm funcionários com a síndrome concordaram. Uma diferença significativa de 10 pontos percentuais. E mais: 88% dos entrevistados concordam que a presença de pessoas com a síndrome em uma empresa torna as relações entre os colaboradores mais confiáveis e transparentes. De acordo com o trabalho, cerca de 50% do sucesso de longo prazo de qualquer organização é promovida por sua saúde, e a pesquisa mostra que colaboradores com Down aumentam a saúde organizacional e o desempenho operacional da empresa.
A tarefa de inserção de pessoas com Down na vida laboral não é das mais fáceis, reconhece Gontijo. Em sua avaliação, o processo esbarra, essencialmente, nas chamadas barreiras atitudinais. Ele cita alguns problemas enfrentados, como estigmas e preconceitos, que se baseiam, justamente, na falta de informação: “São os mitos criados, Bruna de Paula Corrêa, que exerce a função a falta de vontade de querer de auxiliar administrativa na Anglo American, chegou ao emprego por intermédio de uma aprender, a lei do menor es- parceria com o instituto forço, que impedem a inclusão das pessoas com Down nos postos de trabalho. Trabalhamos para quebrar essa situação, pois a resistência também passa pela família. Existe o aspecto financeiro, pois há o receio de que se percam benefícios oferecidos pelo governo, mas o principal é a questão da superproteção, o medo de expor o Down para a vida. Por isso, tentamos mostrar que o trabalho dá autonomia, aumenta a autoestima, entre outros benefícios”. Além disso, a mentalidade empresarial, apesar de demonstrar avanços, ainda precisa ser mudada. Ele ressalta que inúmeras companhias desejam contratar os “menos deficientes”: “Muitas nos ligam querendo pagar o funcionário, apenas para cumprimento da cota, liberando a pessoa de ir à empresa. Por isso, batalhamos tanto para que o conceito de inclusão real ocorra desde pequeno, nas escolas. Digo isso com a convicção de que quando conseguirmos avançar em relação à diversidade, teremos um olhar menos seletivo para o tema. Estamos evoluindo e acreditamos que a informação e o convívio social são as soluções e os caminhos para avançarmos mais”.
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VITÓRIA Gontijo destaca dois exemplos vitoriosos de pessoas com síndrome de Down, que alcançaram postos de trabalho em empresas, com a colaboração do Instituto Mano Down. A primeira é Bruna de Paula Corrêa, de 28 anos, que preenche a vaga de auxiliar administrativa na Anglo American, companhia que atua no setor de mineração. “Ela chegou ao emprego por intermédio de uma parceria que firmamos com a empresa. Aliás, eles estão desenvolvendo um programa para contratar 20 pessoas com Down”, revela. A outra é Eloisa Kilson, de 25 anos, que seguiu os passos de Bruna. Para ambos os casos, a empresa procurou o instituto informando sobre sua demanda e o Mano Down acabou comandando o processo: “A partir daí, organizamos encontros com os familiares e possíveis candidatos para que fossem apresentadas propostas, condições de trabalho, e que dúvidas fossem dirimidas”. MOTIVAÇÃO O amor incondicional pelo irmão e o forte desejo de ajudar a construir uma sociedade menos desigual e mais inclusiva foram as principais motivações que levaram Gontijo a idealizar o Instituto Mano Down. Em meio às atividades, o projeto se dedica com força na luta para promover meios que facilitem o desenvolvimento dessas pessoas para sua inclusão plena na sociedade, o que passa, necessariamente, pelo ingresso no mercado de trabalho. TA M B E M O U Ç A P E L O S I T E N O E N D E R E Ç O
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AMBIENTES PARA TODOS: QUESTÃO DE CIDADANIA Empresas criam novos conceitos e colocam no mercado equipamentos para auxiliar a deixar casas e locais públicos acessíveis para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida POR LUCAS VASQUES /FOTOS: DIVULGAÇÃO/123RF
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onforto e segurança são requisitos básicos e imprescindíveis para que uma casa seja considerada um local adequado para todos, sem exceção. Nos últimos anos, especialmente arquitetos e engenheiros têm se dedicado com afinco no sentido de criar ambientes acessíveis para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. O objetivo central é que a vivência desse segmento da sociedade, tanto na própria residência quanto em locais públicos, seja a melhor possível. Rampas, mapas, placas e pisos táteis, escadas, plataformas de elevação, enfim, hoje o mercado disponibiliza uma série de equipamentos que contribui sobremaneira para deixar as estruturas físicas das construções acessíveis a todos. A Paju S.A. Engenharia – Inovação para Sustentabilidade, sediada em Santos, litoral de São Paulo, tem uma atenção especial na questão das pessoas com deficiência visual, sendo instaladora exclusiva dos produtos elaborados e fabricados pela Casa do Braille. Além disso, a empresa desenvolve projetos e obras ligados ao tema “acessibilidade” em geral. O engenheiro Paulo Nelson Araujo, responsável pela Paju S.A., explica que a empresa tem procurado inovar, com o desenvolvimento de mapas táteis diferenciados, sonoros, reproduções artísticas, entre outros produtos.
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“Posso citar nosso material instalado no Memorial da América Latina. São mapas táteis, que reproduzem em relevo todas as edificações, são representações que permitem à pessoa com deficiência visual orientar-se no meio em que está presente. Indicam os pontos de maior interesse, como saídas de emergência, rotas acessíveis, sanitários, elevadores, escadas etc.”, explica. Contudo, os equipamentos elaborados pela Casa do Braille vão além disso, como explica o engenheiro: “A ideia é reproduzir o espaço, inclusive obras de arte, a arquitetura de maneira fiel. É possível, por exemplo, reproduzir em relevo horizontes que podemos ver em um mirante. É a inclusão levada às últimas consequências. Para se ter uma ideia, quando inauguramos as obras do Memorial, um funcionário com deficiência visual quase chorou ao perceber que o prédio, no qual trabalhava havia mais de 10 anos, era redondo. Isso é inclusão, causar sensações em qualquer pessoa, seja ela com deficiência ou não”. As pessoas com deficiência motora, cadeirantes ou que têm mobilidade reduzida não foram esquecidas pela arquitetura inclusiva. A Ecopontes Soluções de Engenharia em Transposição de Obstáculos, em Presidente Prudente, interior de São Paulo, desenvolve rampas portáteis, que são encaixadas nas quinas dos degraus existentes nas
“É possível, por exemplo, reproduzir em relevo horizontes que podemos ver em um mirante. É a inclusão levada às últimas consequências”, Paulo Nelson Araujo residências, estabelecimentos comerciais, escolas, hospitais e demais localidades. “A utilização do equipamento é bem simples, pois não é necessário promover nenhuma modificação na estrutura do degrau ou da escada”, explica Fábio Hungaro, diretor comercial das áreas rampas de acessibilidade e loja virtual. As rampas, de aço galvanizado, são destinadas especialmente para viabilizar a acessibilidade de cadeirantes e pessoas com baixa mobilidade: “Suportam até 300 quilos e possuem piso antiderrapante, além de serem portáteis, possibilitando, assim, a utilização nas formas móvel ou fixa”. Outro aspecto observado é em relação à segurança, pois os equipamentos contam com pinos para evitar que tombem em locais onde o piso não seja totalmente plano. Existem modelos padronizados e rampas feitas sob medida. As rampas, conta Hungaro, seguem as normas estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). “Desse modo, todos os produtos de nossa loja virtual possuem 0,80m de largura. A ABNT exige, ainda, que as rampas tenham 8,33% de inclinação para proporcionar a independência do cadeirante”. DESAFIO A locomoção de um andar para outro é um dos grandes obstáculos para os cadeirantes ou para quem tem mobilidade reduzida. A fim de resolver o problema existem plataformas de elevação, equipamento semelhante a um elevador. Marcus Lahóz, proprietário da Armel Movimentação e Locomoção, fabricante de plataformas para PcDs e elevadores de cargas industriais, localizada na cidade de Colombo, no Paraná, explica que há dois tipos de plataformas: de percurso vertical e de percurso inclinado. “O primeiro conta com inúmeros fabricantes no Brasil, já para o segundo tipo há, basicamente, produtos importados. Existem outros equipamentos, como a cadeira de percurso inclinado, indicada mais para idosos. Porém, devido ao custo, há poucas unidades no país. O produto mais versátil são as plataformas PNE de percurso vertical. São equipamentos que servem para deslocar pessoas entre desníveis. Podem ser colocados em prédios de acesso público, como shoppings, lojas, repartições etc. Além disso, atendem todos com algum tipo de dificuldade em deslocamento vertical. Ajudam demais os moradores de casa tipo sobrado, por exemplo. No entanto, o público-alvo são
O carro escalador é alimentado por bateria e se movimenta na subida e na descida de escadas, com a ajuda de uma pessoa
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tecnologia
“A utilização do equipamento é bem simples, pois não é necessário promover nenhuma modificação na estrutura do degrau ou da escada”, Fábio Hungaro As rampas são destinadas a viabilizar a acessibilidade de cadeirantes
os cadeirantes. As plataformas são feitas pensando neles”, acrescenta Lahóz. Visando a atender as necessidades referentes à legislação de acessibilidade, o Cefep – Centro de Franquias Educacionais e Profissionalizantes, Venda de Equipamentos de Acessibilidade, que fica em Itaúna, Minas Gerais, trabalha com equipamentos importados conhecidos como carro escalador de escadas, que possibilitam a subida e a descida de cadeirantes com a própria cadeira de rodas. Esses produtos são importados da Alemanha e de Taiwan e foram aprovados para atender todo tipo de legislação no que diz respeito à acessibilidade de modo assistido. “São equipamentos eletromecânicos alimentados por bateria. Eles se movimentam na subida e descida de escadas de forma assistida, ou seja, é preciso uma pessoa para conduzi-lo, sem a necessidade de uso de força. São utilizados em escolas, universidades, autoescolas, clínicas médicas e residências. Indicados, também, para cadeirantes que possuem escada na residência ou empresas. Todos os nossos equipamentos têm um ano de garantia e oferecem uma grande vantagem em relação à manutenção, a qual praticamente não se faz necessária”, explica Danilo Zaidan de Miranda Quintão, diretor comercial da empresa. MUDANÇA Na avaliação de Araujo, para se avançar ainda mais na questão da arquitetura acessível, é preciso uma mudança de postura e de conceito, pois as edificações não devem ser diferenciadas apenas porque foram pensadas para todos. “Isso é obrigação. Os arquitetos deveriam ter essa matéria na escola. Assim como em relação às construções sustentáveis, luto para que isso deixe de ser um diferencial, mas, sim, condição de partida para qualquer empreendimento. Adaptação é diferente do projeto que respeita a todos. Tudo é uma questão de bom senso. As obras de Oscar Niemeyer, por exemplo, contam com rampas, mesmo sem a inclinação exigida pela norma de acessibilidade, o que significa que ele pensava no homem e suas necessidades na hora de projetar”, resume. Em relação aos custos para transformar um ambiente em um local totalmente acessível, segundo o engenheiro,
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depende do nível de adaptação. Caso envolva a necessidade de muita intervenção em construção civil, muita tecnologia, pode sair caro. No entanto, no geral, são pequenos detalhes que fazem a diferença. “Vãos de porta maiores, a eliminação de um degrau, um corredor mais largo, enfim, depende de cada caso, do projeto. Por isso, as modificações devem ser pensadas antes. Tenho trabalhado em obras, nas quais as rotas para todos são as rampas. Elas deixaram de ser separadas do fluxo normal de pessoas e, com isso, todos devem passar por elas. Nessas situações, inverte-se o cenário, pois o diferencial passa a ser o uso das escadas. Há soluções baratas e simples, que promovem uma grande mudança e evitam a ocorrência de graves acidentes domésticos, inclusive com idosos”, destaca. ALIADO O avanço tecnológico é um grande aliado nessa luta, pois contribui para o desenvolvimento de mapas sonoros, aplicativos de celulares para pessoas com deficiência visual, programas de computador e os QR Codes, que são códigos de barras em 2D, que podem ser escaneados pela maioria dos aparelhos celulares que tem câmera fotográfica. No caso das pessoas com deficiência visual, pode ser usado para impressão de etiquetas de vestuário. Possibilita colocar informações na roupa, como modelo, tamanho, cor e fabricante, pois o código pode receber todos os dados sobre a peça. Dessa forma, a pessoa com deficiência visual, com o auxílio de um smartphone, um aplicativo de leitor de código de barras 2D e um aplicativo de leitor de tela, ganha autonomia no momento de escolher suas roupas. Em uma casa, não existem ambientes que precisam mais de acessibilidade do que outros, na opinião de Araujo. Para ele, é fundamental entender as limitações de cada pessoa. Afinal,
A trilha da galeria tátil da Pinacoteca de São Paulo permite à pessoa com deficiência visual orientar-se no local
Consultoria em inclusão - Curso de Libras (introdução, intermediário e avançado) - Cursos para formação de intérpretes de Libras. A Paju S.A. Engenharia, em parceria com a Casa do Braille, realiza projetos e obras de adequação para acessibilidade em grandes empreendimentos espalhados pelo Brasil
“O produto mais versátil são as plataformas PNE de percurso vertical. São equipamentos que servem para deslocar pessoas entre desníveis”, Marcus Lahóz existem barreiras até para quem não tem deficiência. Marcus Lahóz concorda e acrescenta que uma obra que não contempla a acessibilidade, não somente em relação a cadeirantes, mas a todos, não tem futuro. UNIVERSAL A arquitetura inclusiva passa, necessariamente, pelo conceito de desenho universal, que nasceu em meados da década de 1980. Por meio desse ponto de vista, os produtos, equipamentos, ambientes e meios de comunicação devem ser concebidos de forma a serem utilizados por todos, o maior tempo possível, sem necessidade de adaptação, beneficiando pessoas de todas as idades e capacidades. É o desenho universal, portanto, que estabelece os requisitos de acessibilidade. Por meio desse elemento, ressalta Araujo, os arquitetos perceberam que as diferenças deveriam ser respeitadas nas edificações. “Afinal, nem todos são imagem e semelhança do homem vitruviano (desenho de Leonardo da Vinci, que representa o Cânone das Proporções). Somos muitos, e de muitos ‘tipos’, independentemente da limitação de cada um, seja físico-motora, cognitiva, sensorial ou múltipla. Todas devem ser levadas em conta na obra do projeto/construção. A idade avançada e o pequeno tamanho das crianças também devem ser contemplados, pois o ambiente é único e deve oferecer condições de ser utilizado por todos. Isso determina o que é um bom projeto. Não acredito em nada que não leve em consideração as diferenças. Questões antropométricas e ergonômicas são básicas em qualquer projeto. Para mim, o diferente é não atender esses parâmetros”, conclui. A Paju S.A. está realizando projetos e obras de adequação para acessibilidade em grandes empreendimentos espalhados pelo Brasil, como o Parque da Cidade, em São Paulo, um dos 18 empreendimentos C40 (Grandes Cidades para Liderança do Clima) do mundo; vários campi da Uninove (Universidade Nove de Julho); shoppings e hotéis. Adequação de praias, cachoeiras, exposições artísticas e grandes áreas públicas também são alguns desafios que a empresa executa, em parceria com a Casa do Braille. Junto com um grupo multidisciplinar, promove a adequação para acessibilidade do Museu do Amanhã (MDA) e do Museu da Imagem e do Som (MIS), ambos no Rio de Janeiro, além de comandar a construção do Ecoresort, em Cachoeira, na Bahia, que pretende ser uma referência em acessibilidade e sustentabilidade.
- Treinamento para empresas e órgãos públicos. - Capacitação de profissionais da área da Saúde. - Capacitação de professores e profissionais da educação. - Capacitação de surdos para o mercado de trabalho. - Treinamento de funcionários surdos. - Palestras e Workshops para empresas e profissionais de RH (Lei de Cotas). -Treinamentos em turismo acessível. - Legendas em Libras para TV/vídeo, etc.
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silvana zajac
ESPAÇO DO TILS (TRADUTOR/INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS)
COMPETÊNCIA DIDÁTICA o tils precisa conhecer aspectos da intencionalidade didática do professor para não influenciar diretamente o processo de ensino e aprendizagem
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esde 1º de setembro de 2010 a profissão de Trano ensino e na aprendizagem. E quando acontece, na maiodutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais ria das vezes inconscientemente, é alijado pelo Tils no ato – Libras foi regulamenta pela Lei nº 12.319, a da tradução ou da interpretação, fazendo com que o sujeito qual em seu artigo 6º surdo não tenha a oportunidade define as atribuições do tradutor de participar desse processo. A intencionalidade e intérprete, no exercício de suas Na minha experiência de coorcompetências. O parágrafo II denadora de Tils tive a oportunidadidática está ligada ao deste artigo traz a seguinte atride de presenciar vários eventos que papel do professor de buição: “interpretar, em Língua ilustram a interferência do Tils no Brasileira de Sinais – Língua Porprocesso de ensino e de aprendizaformar um aluno reflexivo tuguesa, as atividades didáticogem. Abaixo, relato um deles: -pedagógicas e culturais desenEm uma aula de Língua volvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, Portuguesa, a professora estava fazendo a leitura de uma médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos contematéria de jornal e o objetivo era desenvolver nos alunos údos curriculares”. uma capacidade de leitura, na qual compreendemos o signiTrago a prerrogativa da lei para apresentar uma comficado de uma palavra pelo contexto. Uma das frases que a petência que é muito pouco discutida nas pesquisas de forprofessora retirou do texto foi a seguinte: “A diferença é que mação de Tils: a competência didática. Não se trata do fato somos trabalhadores honestos, já eles são a escória da sociedo Tils assumir funções que são dos professores, pelo condade”. A intenção era que os alunos identificassem o signifitrário, conforme a profa. dra. Ronice Quadros, o professor cado da palavra escória na frase. Quando o Tils foi traduzir tem o papel fundamental associado ao ensino. Por outro a frase imediatamente traduziu o significado da palavra, o lado, o Tils é o mediador entre pessoas que não dominam a que fez com que o surdo não refletisse sobre o problema que mesma língua abstendo-se, na medida do possível, de interintencionalmente a professora estava trazendo. ferir no processo comunicativo e educativo. Diante desse exemplo, podemos perceber que, além das Contudo, o fato de grande maioria dos Tils atuarem no competências linguística, tradutória e referencial, trazidas âmbito educacional, exige um conhecimento que é da nas edições anteriores da Revista D+, há uma necessidade ordem da didática. Ou seja, o Tils precisa conhecer aspecurgente de que a formação de Tils considere, também, tos que se referem à intencionalidade didática do professor questões referentes à competência didática. para não correr o risco de influenciar diretamente o processo de ensino e aprendizagem. Silvana Zajac é Professora da Unifesp (Universidade Federal Assim, precisamos saber que a intencionalidade didática de São Paulo), Doutora em Linguística Aplicada e Estudos da está diretamente ligada ao papel do professor de formar um Linguagem (LAEL/PUCSP), Mestre em Educação (Unimep), aluno reflexivo, que vai além da transmissão de conteúdos Bacharelado em Letras/Libras (UFSC/Unicamp). ou de conceitos e teorias. São estratégias planejadas e utiliNas próximas edições da Revista D+, traremos mais zadas pelo professor para fazer com que o aluno crie hipóinformações sobre as competências inerentes à profissão teses sobre um determinado conteúdo, conceito ou teoria e de tradutor/intérprete de língua de sinais. Caso você tenha possa refletir sobre elas para refutá-las ou validá-las. dúvidas, perguntas e sugestões para enriquecer esta seção, Esse é um processo bastante complexo de ser realizado entre em contato conosco pelo e-mail tilsdmais@gmail.com
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passatempo
CAÇA NÚMEROS: ANA
ENCONTRE OS NÚMEROS BEATRIZ LISTADOS ABAIXO NO QUADRO EM LIBRAS CAMILO DANIELA 10 54 11 669 FÁBIO 26 81 435 723 LUCIMAR MATILDE 38 97 457 890 VANESSA VÂNIA
(Solução deste passatempo na próxima edição.)
ZULEIDE
RESPOSTA DO PASSATEMPO DA EDIÇÃO ANTERIOR
Cruzadinha:
s i l v a n a
c p l a a g v u r u b em v e a d l e f r anc i s c o a d o r ame l i a a d n r o de t e n i i y i a m ama n d a a i r t ab a t a a
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painel do leitor
AÇÃO ÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E INSPIR A SUA NOVA REVISTA DE INCLUS ANO 1 • EDIÇÃO 4
EXEMPLARES AVULSOS:
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OTAS para LEI DE cCom Deficiência essoas
APROVADA!
• Psicólogos surdos debatem o tema, em Congresso de Psicologia Escolar
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A LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO É UM MARCO HISTÓRICO
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uem vê hoje este senhor de quase 50 anos (nasceu em 29 de janeiro de 1966), elaborando projetos e leis, presidindo comissões, comandando relatorias e se mostrando como um dos mais atuantes senadores da República, pelo PSBRJ, pode não se lembrar de que é a mesma personagem, que, num passado não muito distante, era um dos jogadores de futebol mais polêmicos do País. Contudo, se trata da mesma pessoa. Romário de Souza Faria, o Baixinho, que encantava os torcedores dos quatro cantos do mundo, com talento e irreverência de sobra, abraçou a carreira parlamentar e se dedica, fortemente, à causa das pessoas com deficiência e a trabalhar no Parlamento para melhorar a qualidade de vida deste segmento social. O
, no dia 24 1 completou nº 8.213/199 foi vigência e Lei Federal 24º ano de Artes, na de julho, seu louvor na Praça das com com a celebrada to contou as com sta. O even ento de pesso capital pauli segm do antes oradoras e ão de milit esas colab participaç se rnamentai (PcDs), empr deficiência tuições gove conhecido como Lei ntes de insti representa número dessa lei ficou O artigo 93 que empresas que têm 2% a 5% sindicais. de mina ne desti Ele deter funcionários com deficiência, o de Cotas. rior a 100 as público. igual ou supe de trabalho às pesso s ilidade desse de seus posto ço para a empregab Aparício Clemente, avan Carlos Osasco que foi um da cerimônia, Metalúrgicos de tura aber e as Na icato dos rsou sobr dente do Sind Cidadania, discu de trabavice-presi ço ado dor do Espa das PcDs no merc e coordena na luta pela esso trajetória para o ingr tando na sobre sua barreiras , também, iência, resul intitute lho. Ele falou de da pessoa com defic o a mais recen s – inilida empregab Cota obras, send a e Lei de de diversas coautoria publicação com deficiênci de pessoas inclusão, em Inclulada Trabalho ência e qualidade da em Educação e, resist especialista visibilidad O. Shimono, da com Sumiko no box). apresentações as texto am (veja tiver siva e da Equi atividades, Bianchini Fernanda Dentre as golpes s lou Cego simu de , que ia Ballet Rogério Reis de Down, além de Companh do Professor ome e um pe de Judô com síndr da AACD os alunos por pacientes festa, a Bateria s de luta com feito do a de quadros exposição belo traba Complementan expôs seu de dança. d também espetáculo Atihé. Casa de Davi dor Roberto ressalSuperação pelo coordena aram a data, lho, conduzido presentes congratul julgo importante a es “Eu ibilita Autoridad legislação. ativa que poss um rtância da culturais, afirm impo ões a ica o polít tand mas abre a apresentaç celebravam, s, pois é uma Em meio trabalho, lação zia os s e popu Lei de Cota são no mercado de autoridade rete de Libras tradu amação intérp não só a inclu
Ex-ídolo do futebol mundial, o atual senador Romário se destaca apoiando a causa das pessoas com deficiência. Como relator da LBI, aponta a importância das conquistas, mas enfatiza que ainda há muito a ser feito em relação às políticas públicas para essa população POR LUCAS VASQUES/ IMAGENS: DIVULGAÇÃO
senador admite que a responsável pela coragem e força de vontade é Ivy, a filha mais nova, que tem Síndrome de Down. Essa linha de atuação o levou à relatoria da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, que, recentemente, foi aprovada no Senado Federal e sancionada pela presidente Dilma Rousseff. Dono de altíssima aprovação popular, no mesmo ano, foi eleito senador pelo Rio de Janeiro com 4,6 milhões de votos, maior votação já alcançada por um candidato para o cargo no estado. Por intermédio de suas redes sociais, ele agradeceu a votação expressiva pelo Facebook: “Hoje, entra para história um exfavelado que virou senador da República”.
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cios da progr enquanto e os anún discursos
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA • Práticas na educação construindo iva: inclus a noção de números em matemática
TECNOLOGIA:
APPS PROPORCIONAM AUTONOMIA E FACILITAM O COTIDIANO
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TERCEIRIZAÇÃO AFETARÁ O NÚMERO DE EMPREGADOS NA LEI DE COTAS?
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Romário, em situações nas quais defendeu a causa PcD, e com a filha Ivy, a quem credita mudanças profundas em sua vida
tam • Especialistas comen os desafios da área
TRABALHO: A LEI DA
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entrevista romário de souza faria
Lei Brasileira de Inclusão ia da pessoa com deficiênc ço, é considerada um avan mesmo com os vetos seff da Presidente Dilma Rous
MENSAGENS PARA ESTA SEÇÃO: por e-mail: contato@dmais-revista.com.br. cartas: Rua da Contagem, no 201 – Saúde – São Paulo/SP cep 04146-100 / facebook: www.facebook.com/revistadmais
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EDUCAÇÃO PARA TODOS Achei muito boa a matéria publicada na edição número 4 da Revista D+. Aliás, estão todos de parabéns pela realização desse projeto. Sempre acreditei que a educação é o fator principal para determinar a evolução de uma nação. E, sem dúvida, para se alcançar um nível pelo menos aceitável de cidadania não se pode esquecer a educação inclusiva, para todos, sem discriminação ou preconceito de qualquer ordem que seja. O texto foi muito feliz ao colocar a necessidade de mudança de paradigmas no sentido de atualizar a sociedade com as novas demandas que surgem ao longo dos anos. Na verdade, é preciso ser prático, pois esse tema é frequentemente alvo de calorosos debates, sem, no entanto, se tomar providências pragmáticas para que avancemos na questão. Lílian Pescara, via e-mail
UMA BOA SURPRESA Confesso que não esperava nenhuma participação mais expressiva do ex-jogador Romário em sua atividade política como parlamentar. Já havia lido que como deputado ele surpreendeu, apresentando projetos importantes para várias parcelas da sociedade, não apenas às pessoas com deficiência. Agora, como senador, descobri que ele teve um papel central na elaboração e na aprovação da Lei Brasileira da Inclusão, tema principal da entrevista que concedeu à edição 4 da Revista D+. Procurei me informar sobre a nova legislação e concordo inteiramente com ele, pois observei avanços importantes em relação à causa das PcDs. Entretanto, dá para perceber que ainda falta muito, principalmente na prática, para que essas pessoas sejam vistas com naturalidade pela sociedade como um todo. Sílvio de Oliveira, via e-mail
VETOS INDESEJÁVEIS Em minha opinião, é lamentável que a presidente Dilma Rousseff tenha dado mais importância aos lobbies políticos do que às necessidades básicas das pessoas com deficiência. A Lei Brasileira da Inclusão é, sem dúvida, um marco importante na construção de uma sociedade mais justa. Contudo, o veto de alguns artigos pelo Executivo, no momento da sanção presidencial, pode ser considerado um grande retrocesso. Concordo com a deputada Mara Gabrilli, em matéria na edição 4 da Revista D+, quando ela destaca o problema, principalmente ao se referir ao veto do artigo que exigia que empresas que tivessem de 50 a 99 funcionários contratassem pelo menos uma pessoa com deficiência, alterando a norma atual, que prevê a obrigatoriedade para companhias com 100 empregados ou mais. Essa mudança seria fundamental para melhorar as possibilidades de inclusão de PcDs no mercado de trabalho. Eduardo Passos, via e-mail
A MÚSICA E SEU PODER Sou suspeita para falar de música, pois não sei viver sem ela. Tudo na minha vida precisa necessariamente ser acompanhado por alguma canção. Por isso, sei da sua importância e não me surpreendi com a matéria publicada na Revista D+, quarta edição, sobre a relevância da Musicoterapia. O método utiliza todos os elementos que compõem a música, como som, ritmo, melodia e harmonia, para promover comunicação, relações, aprendizagem, expressão e organização em pessoas com alguma deficiência, alcançando resultados muito bons nas questões físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas. Para quem tem deficiência, auxilia a desenvolver potenciais e restabelecer funções para que se atinja uma melhor integração. Gostaria de dividir isso com todos. Parabéns aos profissionais que se dedicam à Musicoterapia, pois, além de lidar com essa poderosa força da natureza, estão fazendo um bem enorme aos outros. Cecília de A lencar, via e-mail
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flagrante da cidade
EVENTOS marcam o DIA NACIONAL de LUTA das PcDs
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inte e um de setembro é o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. Houve uma série de programações espalhada pelo Brasil. Em Itupeva, cidade acessível do interior paulista, aconteceram eventos relacionados à prática esportiva, uma caminhada no Parque da Cidade e outras atividades, como corrida de cadeira de rodas e degustação sensorial de alimentos. As capitais brasileiras também estiveram repletas de atrações. São Paulo abrigou debates, roda de conversa, exibição de filmes, sarau, entre outras. No Rio de Janeiro, um dos destaques foi o circuito de obstáculos, que re-
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produziu situações do dia a dia de PcDs. No Recife, ocorreram cursos sobre inclusão para capacitar os servidores municipais. Curitiba sediou o Rally da Inclusão. (Fotos cedidas pela prefeitura de Itupeva.) Você teve acesso a uma atração interessante ou presenciou um desrespeito aos direitos da pessoa com deficiência em sua cidade?
Compartilhe seu Mande e-mail para contato@dmais-revista.com.br. Sua foto e seus textos podem ser publicados. (A redação se reserva o direito de editar o material enviado para publicação.) flagrante com a revista.