Revista D+ edição 10

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O melhor conteúdo sobre diversidade e inclusão da pessoa com deficiência

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Acesse www.revistadmais.com.br e confira todas as matérias em LIBRAS e ÁUDIO

Não há nada mais encorajador do que alguém que te desencoraje Jairo Marques

SOCIALIZADOR DE CÃES Conheça o trabalho do principal personagem na formação de cães de assistência no Brasil

Terezinha Guilhermina, Susana Schnarndorf, o pequeno Geovanne Amorim e Vinícius Rodrigues

Eles conduzem o cotidiano com motivação e predisposição para novas atividades e negócios

PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Brincadeiras, jogos e esportes que favorecem a aprendizagem do aluno com deficiência física na escola

ESPÍRITO EM

LIBRAS

Aprenda a língua dos Surdos

SAÚDE

Academias acessíveis em São Paulo

COMPORTAMENTO Tina Descolada, a boneca cadeirante

DESIGN

Móveis lindos com “próteses”

NÚMERO 10 • PREÇO R$ 13,90 ISSN 2359-5620

Os Jogos Paralímpicos e a inclusão das pessoas com deficiência através do esporte: aqui não tem coitadismo, não. Tem determinação e muita garra

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NA REDE

::::::revistadmais.com.br:::::::::::::::::::::::::: INCLUSÃO Todo dia é dia Todos os dias, a Equipe D+ traz para o site novidades importantes e curiosidades na área da inclusão social. Na página da Revista D+ na web, você fica por dentro de serviços, agenda cultural, lançamento de produtos nacionais e internacionais em benefício da pessoa com deficiência, leis e muitas outras informações úteis.

NO FACEBOOK Posts diários e interação com nossos seguidores. Acesse www.facebook.com/revistadmais “Fiquei feliz em participar da festa e pude avaliar o quanto a Revista D+ vem desenvolvendo a comunicação inclusiva, informando toda a sociedade sobre a importância de dar oportunidades à diversidade humana. Parabéns a toda a equipe!” Sonia Rodrigues, Sindicato dos Comerciários de São Paulo, por e-mail

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INSPIRAÇÃO De olho no mundo Sempre antenados no que acontece aqui e lá fora, o site traz informações, curiosidades, e muita prestação de serviço. Falando nisso, foi anunciada uma novidade para pessoas com deficiência visual nos Estados Unidos: um aplicativo que faz audiodescrição dos filmes da Disney, o Disney Movies Anywhere (DMA). A tecnologia já foi utilizada no filme Procurando Dory. Torçamos para que chegue logo ao Brasil.

MAIS ACESSIBILIDADE Conteúdo em Libras No site, você conta com vários recursos para tornar sua interação com a revista cada vez mais possível e prazerosa. Além de alternar o alto contraste de cores e o tamanho da fonte, você também pode assistir às matérias em Libras.

CONEXÃO Você vai encontrar em algumas reportagens o símbolo acima, o QR Code. É muito simples: baixe um leitor de QR Code em seu celular. Daí é só passar o visor sobre o código e, automaticamente, você será direcionado a uma página com conteúdo especial. Aproveite!

ESCREVA PRA GENTE::::::::::::::::: Se você tem interesse em ler sobre determinado assunto na Revista D+, escreva-nos e dê suas sugestões. A redação está disponível em jornalismo@revistadmais.com.br

BOLETIM TODA SEMANA Às sextas-feiras, nós enviamos uma newsletter com as principais matérias da semana. Para receber, entre no site e cadastre-se.

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EDITORIAL

D+ agora nas bancas! (e você sempre conosco)

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Edição nº 10: Foto de capa por Paulo Pampolin e Newton Santos

odo passo adiante é uma vitória. E há muitas formas de vencer, mas nenhuma delas se dá sem o apoio de outros. A velocista cega mais rápida do mundo, a mineira Terezinha Guilhermina, começou no esporte se inscrevendo para a natação porque não tinha tênis para fazer atletismo, que era seu desejo. Sua irmã Evânia foi quem lhe deu o único par de tênis que tinha, e assim Terezinha pisou nas pistas pela primeira vez. Fernando Rufino, o Cowboy, paratleta da canoagem, enfrentou acidentes variados e limitantes. Mas foi no colo da família e dos amigos que conseguiu amparo e incentivo. O paratleta de triatlo, Fernando Aranha, idealizou um projeto junto com o Instituto Entre Rodas & Batom, que fornece cadeiras de rodas esportivas para crianças. Dessa forma, elas podem fazer aulas de educação física e com maior mobilidade. Um dos contemplados pelo projeto foi Geovanne Amorim, o garotinho da capa. É assim: ninguém faz nada sozinho. Tampouco nós. Com muita alegria estamos indo para as bancas de todo o Brasil a partir desta edição de número 10 e, tal como tudo nesta fascinante jornada que é a vida, isso só é possível caminhando lado a lado com quem quer dividir e somar conosco. Nas próximas páginas você poderá conferir a grande reportagem de capa, em que abordamos, por meio de atletas paralímpicos como o nadador Daniel Dias, o jogador de futebol de 5, Ricardinho e a nadadora Susana Schnarndorf, entre outros, a inclusão social da pessoa com deficiência pelas mãos do esporte. Também verá algumas matérias especiais que preparamos sobre a população idosa: a partir de agora, sua Revista D+ sempre trará temas imprescindíveis voltados a quem tem mais milhas nessa estrada. Confira na página 76. Práticas na Educação Inclusiva aborda o aluno com deficiência física na educação física escolar. Veja como favorecer a aprendizagem de práticas corporais centradas no movimento de maneira inclusiva. Tem móveis confeccionados com “próteses”, boneca cadeirante viajando o mundo e inspirando crianças, jovens e adultos, academias acessíveis e muito mais. Em tempos de Jogos Paralímpicos no Brasil, que haja muitas vitórias: em especial aquelas que ultrapassam o pódio e se estabelecem com determinação pelo resto da vida. Ótima leitura! Rúbem Soares Diretor



DO LADO DE CÁ

Nos bastidores da Mais Editora Conheça alguns dos profissionais que utilizam seus talentos, dia após dia, para tornar a sua revista cada vez mais inclusiva

As atletas paralímpicas Teresinha Guilhermina e Susana Schnarndorf, o paratleta Vinícius Rodrigues e o futuro fera das piscinas, Geovanne Amorim

Verônica Honorato de Souza, assistente de audiovisual

David Gomes, assistente administrativo

Raquel Vidal de Lima, assistente administrativo

Jennyfer Alves, recepcionista

Alegria, alegria!

O momento era de celebração: toda a redação da Revista D+ reuniu-se com os paratletas e o pequeno Geovanne para uma sessão fotográfica muito especial. A produtora Giovanna Giovanini e o diretor Rodrigo Boecker, do documentário 1000 Dias, sobre a nadadora Susana Schnarndorf, também estiveram conosco, registrando a experiência. Aos fotógrafos Paulo Pampolin e Newton Santos, nosso muito obrigado. Valeu, galera! Que venham os Jogos Paralímpicos! Dilson Nery, diretor artístico

Herick Palazzin, estagiário de TI

Davisson Cruz, assistente de coordenação na unidade Sumaré


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www.revistadmais.com.br DIRETOR Rúbem da S. Soares rsoares@revistadmais.com.br REDAÇÃO Editora-Chefe Taís Lambert taislambert@revistadmais.com.br Diretor de Arte Manoel Araújo manoelaraujo@revistadmais.com.br Equipe de Jornalismo Brenda Cruz Cintia Alves Renata Lins Editora de Projetos Especiais Rosa Buccino Assessora de Projetos Pedagógicos Claudine Davids Revisão Eliza Padilha Ilustrador Luis Filipe Rosa Fotógrafo Marcos Florence Colaboradores nesta edição Newton Santos e Paulo Pampolin (ensaio fotográfico de capa) CONSELHO EDITORIAL Denílson G. Nalin Dilson Nery Rafaella Sessenta Silvana Zajac Tiago Matos Coutinho DIRETOR DE PUBLICIDADE Denilson G. Nalin denilsonnalin@revistadmais.com.br (11) 5581.1739 e 9-4771.7622 COMUNICAÇÃO E MARKETING Tiago Matos Coutinho tiagocoutinho@revistadmais.com.br (11) 9-4771.7621 / (19) 3306.9990 RH E FINANCEIRO Coordenação Flávia Garcia Dias Equipe David Gomes de Souza Luiz Felipe Mazieri Nicolini Raquel Vidal de Lima TI Herick Palazzin Ivanilson Oliveira de Almeida CONSULTORES DE LIBRAS (SURDOS) Célio da Conceição Santana Joice Alves de Sá PROJETOS DE MÍDIA INCLUSIVA Rafaella Sessenta INTÉRPRETES DE LIBRAS Carlos Silvério Marco Antonio Batista Ramos Rafaela Prado Siqueira Rafaella Sessenta EQUIPE AUDIOVISUAL Fotografia e conteúdo do portal Jéssica Aline Carecho Nathalia Henrique Verônica Honorato de Souza ATENDIMENTO AO ASSINANTE E CIRCULAÇÃO Alessandra Rodrigues dos Santos assinaturas@revistadmais.com.br (11) 5581-3182 / 5583-0298 RECEPÇÃO Jennyfer Alves (11) 5581-3182 / 5583-0298 APOIO Davisson Eduardo Elias Cruz Edição número 10 – Julho/Agosto de 2016 REVISTA D+, ISSN 2359-5620, é uma publicação bimestral da MAIS Editora CNPJ n° 03.354.003/0001-11 Rua da Contagem, 201 – Saúde São Paulo/SP - CEP 04146-100 Distribuída em bancas pela DINAP Ltda. Distribuidora Nacional de Publicação. Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678 CEP 06045-390 - Osasco - SP APOIO: A Revista D+ não se responsabiliza por opiniões e conceitos emitidos em artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo este de inteira responsabilidade dos anunciantes

Instituto de Apoio às Pessoas com Deficiência e à Inclusão Social

NOSSA CAPA 46 Em ano histórico de Paralimpíada no Brasil, há que se prestar atenção em algo maior do que os jogos: a inclusão das pessoas com deficiência através do esporte e o olhar que você dirige a elas 03 Na Rede 04 Editorial 06 Do Lado de Cá 08 Expediente & Aqui na D+ 10 Ponto de Vista Uma critica ácida à acessibilidade do Brasil em um cenário de Jogos 12 Misto Quente As novidades dignas de nota 14 Misto Frio A cobertura dos principais eventos 18 Festa! Revista D+ comemora seu primeiro aniversário com uma deliciosa festa 22 Entrevista O jornalista Jairo Marques lança o livro Malacabado e fala sobre deficiência 28 Saúde Acessibilidade nas academias mais badaladas de São Paulo 32 Viver Bem Formação de cães de assistência e o trabalho socializador de voluntários 36 Por Dentro das Grandes A empresa de telefonia TIM mostra como trata seus profissionais com deficiência 40 Comportamento Tina, a boneca descolada que rompe os padrões de beleza e comportamento impostos pela sociedade 58 Perfil A história de um pai que homenageia filha com síndrome rara lançando livro 60 Acontece Apabb realiza 23º acampamento de inverno para crianças com deficiência 62 Práticas na Educação Inclusiva A educação física na escola: aprenda a desenvolver atividades inclusivas 70 Educação em Pauta O pedagogo Rogério Drago fala sobre síndromes apresentadas por crianças em escolas comuns 72 Educação em Pauta Inclusão e aprendizagem na Bett Brasil Educar 2016 74 Educação em Pauta O I Congresso Internacional de Educação Especial e Inclusiva da Unesp 76 Especial Idosos: Radar Pessoas idosas desenvolvem um novo estilo de vida Depoimento Dr. José Elias Pinheiro, geriatra, fala sobre envelhecimento Negócios Pessoas idosas ativas no mercado de trabalho: um novo olhar Atitude Atividades que envolvem a arte de envelhecer 84 Aprenda Libras Aprenda, nesta edição, os sinais dos Jogos Paralímpicos 86 Garfo & Faca La Pergoletta: restaurante italianíssimo e acessível 88 Espaço do Tils Relações interpessoais com a comunidade escolar 90 Cereja! Conheça o design que usa próteses na confecção de móveis


Julho/Agosto 2016 – Ano II – nº 10

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PONTO DE VISTA

O difícil e o impossível O difícil nós fazemos imediatamente, o impossível leva um pouco mais de tempo Ben Gurion

Rúbem Soares

Psicólogo, doutorando em Educação (Feusp) e diretor executivo da Revista D+

* Para participar com perguntas e sugestões, escreva para silzajac@revistadmais.com.br

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usência de quartos adaptados na maioria dos hotéis três estrelas, que são mais baratos; dificuldade na mobilidade urbana, baixa acessibilidade em locais turísticos, como o Cristo Redentor e as praias da cidade. Falta ou insuficiência de tradutor/intérprete de Libras. Estou me referindo ao Rio de Janeiro, onde acontecem os Jogos Paralímpicos de 2016. Se tal cenário ficasse restrito ao Rio, talvez eu poderia minimizar as críticas, dada a situação falimentar reinante por lá. Contudo, outras administrações públicas país afora sofrem da mesma leniência: falta de acessibilidade para pessoas com deficiência. Algumas, quando a oferece, carecem de conhecimentos sobre alguns membros dessa população. É o caso de Floripa. A linda ilha catarinense construiu para pessoas cegas piso tátil que – pasmem! – esbarra nos postes, nas árvores ou termina no meio da calçada e se inicia dez ou vinte metros à frente, sem a menor explicação desta “lógica” acessível. Tal cenário é encontrado tanto nas calçadas do centro da cidade quanto em vias próximas às badaladas praias, como a de Jurerê Internacional. As justificativas de muitos gestores para tal cenário, geralmente, vai pelo discurso do “é difícil fazer as adaptações”; “é impossível promover acessibilidade em todos os lugares, dada a complexidade dessa adaptação, por diversos fatores”. Certamente, é difícil promover a inclusão de todas as pessoas com deficiência. Talvez até impossível no

pensamento de gestores incapazes de trabalhar pelo bem de todos os cidadãos. David Ben Gurion – judeu sionista que liderou o processo de criação do moderno Estado de Israel, em 1948 – seria um excelente exemplo para todos esses gestores. Cercado por interesses conflitantes entre seus pares e até de nações que se diziam favoráveis ao reconhecimento da autonomia do povo judeu, ele não olhou as dificuldades e impossibilidades para levar a cabo o anseio das comunidades judaicas espalhadas pelo mundo. Reuniu-as, deu-lhes um território no coração do Oriente Médio e governou a nação, estabelecendo os fundamentos que levariam o seu jovem país a destacar-se na área de tecnologia e serviços de inteligência. Após deixar o cargo de líder político e administrativo, Ben Gurion continuou trabalhando pelo direito de cidadania de seu povo. No final de 1953, mudou-se para o kibbutz de Sde Boker, uma área completamente degradada no Deserto de Negev, lugar inóspito, árido e infértil. Criou e implementou ações cujos resultados foram surpreendentes ao longo dos anos. Com isso, meio século depois, o Deserto de Negev transformou-se em uma área habitável, produtiva e agradável para se viver. Talvez, se no Brasil tivéssemos gestores públicos da estatura de Ben Gurion, ao tratar da acessibilidade para pessoas com deficiência, o difícil não seria uma barreira intransponível e o impossível estaria riscado do vocabulário de todos eles. D+


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MISTO QUENTE

JOGO DA CONVIVÊNCIA Alter é um jogo online lançado pela Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Curitiba. Segundo a Secretaria, aproximadamente 5 mil pessoas já utilizaram o jogo. O Alter possui opções de acessibilidade como comandos de voz, audiodescrição e alto contraste. Em cada fase, o personagem tem uma deficiência: intelectual, física, auditiva, visual e o transtorno do espectro autista (TEA). A mensagem proposta é a de que todas as pessoas têm o direito de exercer sua cidadania, pois com ou sem deficiência, com maior ou menor grau de dificuldade, todas são capazes. O jogo está disponível no link: curitibamaisinclusiva.curitiba.pr.gov.br

SOBRE ESPERANÇA E AMIZADE Amizades Improváveis é um filme americano produzido e lançado pela Netflix. Ben é um escritor e, após uma tragédia pessoal, vira cuidador. Seu primeiro cliente, Trevor, possui distrofia muscular e com humor ácido não perde a oportunidade de falar o que lhe vem à cabeça. Juntos, eles embarcam em uma viagem por todos os lugares com os quais Trevor ficou obcecado. No caminho, eles conhecem a jovem Dot e também Peaches, que embarcam na aventura. Lançando-se pela primeira vez além das fronteiras de seu mundo milimetricamente calculado, eles descobrem o que é ter esperança e amigos de verdade.

O pesquisador Walter Simões teve a oportunidade de conhecer as dificuldades de pessoas com baixa visão, o que o estimulou a desenvolver óculos para auxiliá-las na locomoção. O projeto inovador que associa software (programação) ao hardware (placas eletrônicas) está sendo desenvolvido na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Os principais benefícios do projeto são: segurança, porque o sistema fornece uma percepção de obstáculos localizados do chão até o teto; e a navegação, cujo sistema fornece um guia de áudio similar ao GPS. A meta é apresentar o protótipo no evento International Conference on Consumer Electronics (ICCE), que acontecerá em setembro em Berlin, na Alemanha.

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SUPER ÓCULOS


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MISTO FRIO A Revista D+ foi e cobriu DIVERSIDADE NO CAMPO DE MARTE

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A segunda edição da Mobility & Show aconteceu no final de junho e reuniu 15 montadoras, além de empresas especializadas em adaptações de carro para a pessoa com deficiência e mais uma série de serviços e informações para atender aos interesses do segmento. Com exposições de arte, fotografias, shows, desfile de moda, praça de alimentação, test drive, produtos e serviços inovadores para a acessibilidade, o Campo de Marte reuniu pessoas interessadas em comprar, informar-se e principalmente conhecer as novas demandas desse mercado. (Por Brenda Cruz)

2017: ANO DE REHAFAIR... Nos dias 27, 28 e 29 de abril do ano que vem, a Rehafair – Feira Internacional de Tecnologias Assistivas, Empregabilidade e Esporte Adaptado tomará o Pavilhão Principal do Anhembi, em São Paulo. Organizada pela Rofer Feiras & Eventos, a Rehafair foi lançada em coquetel para convidados e expositores no início de junho no Hall Monumental da Assembleia Legislativa de São Paulo, com a presença, dentre outros, da deputada Célia Leão, do diretor da feira Cledson Fernandes e do coordenador, Luis Eduardo da Cruz Carvalho. Animada, a noite contou com a linda apresentação do grupo Samba para Todos, da Casa de David, formado por pessoas com deficiência intelectual, física e autismo, de todas as idades. www.rehafair.com.br e contato@rofereventos.com.br. (Por Taís Lambert)

... E ANO DE REATECH A Reatech, principal feira do setor de reabilitação da América Latina, foi apresentada aos expositores no último mês de junho. A 15ª edição do evento ocorrerá entre 1 e 4 de junho de 2017. Organizada pela Cipa Fiera Milano, a Reatech contará com acessibilidade em elevadores, escadas rolantes e rampas de acesso no pavilhão ao lado do Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo, onde será realizada. Entre as atividades, os visitantes poderão encontrar shows, desfiles, equoterapia, seminários, workshops e oficinas. Os expositores interessados podem entrar em contato pelo e-mail comercial@fieramilano.com.br ou pelos telefones (11) 5585-4355 e (11) 3159-1010. (Por Renata Lins)


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Na cidade somos todos pedestres.


MISTO FRIO A Revista D+ foi e cobriu

INOVAÇÃO E QUALIDADE A Kivi Brasil, de origem italiana, abriu as portas de sua primeira filial na América Latina na capital mineira, no final de julho. Atuando na indústria de adaptação veicular para pessoas com deficiência, traz para o país a qualidade e as inovações já presentes em seus produtos nos mais diversos países. O diretor da empresa, Fabio Quintão, expressa sua alegria em lançar a Kivi: “Na contramão da crise, lançamos, além da fábrica, a primeira concessionária dedicada ao público com deficiência”. A italiana produz e comercializa dispositivos de condução, de ajuda para o transporte de pessoas com mobilidade reduzida e carros de piso rebaixado para pessoas dirigirem sentadas em cadeira de rodas. Os produtos são feitos sob medida, com soluções técnicas customizadas, capazes de se adaptarem perfeitamente às necessidades do motorista. www.facebook.com/kivibrasil. Av. Cristiano Machado, 2828 – Belo Horizonte (Por Brenda Cruz)

O PAPA ESCOLHE O INSTITUTO OLGA KOS

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Uma comitiva representando o Papa Francisco veio ao Brasil no dia 29 de julho para conhecer os projetos sociais desenvolvidos pelo Instituto Olga Kos – um dos 12 escolhidos pelo pontífice para integrar um programa mundial de educação pela cultura. Idealizado pelo Dr. Wolf Kos e pela Dra. Olga Kos, a Instituição atende, hoje, quase 3 mil crianças e jovens com deficiência intelectual. Sobre a escolha do Papa pela Instituição, a Dra. Olga afirmou: “É uma honra. É somente trabalhando sério, com honestidade, carinho e dedicação que se consegue isso”. (Por Renata Lins)

MATÉRIA-PRIMA DA INOVAÇÃO O 2º Fórum da Diversidade e Inclusão foi realizado no Auditório Dow Brasil, no início de junho, e reuniu uma verdadeira “constelação da inclusão” durante dois dias. Idealizado pela CKZ Eventos, a programação contou com nomes como Marta Gil, coordenadora executiva da Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas; o consultor da área de inclusão Romeu Sassaki; a gerente de cidadania corporativa da DH Latam Serasa Experian, Andréa Regina, dentre tantos outros. A diversidade na prática, liderança inclusiva, LBI, Lei de Cotas, tendências e mudanças necessárias foram alguns dos temas discutidos em prol de avaliar, inovar e corrigir as rotas da inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. (Por Taís Lambert)



FESTA! Mesa principal da festa organizada por RADARTE & GAIEZZA

Revista D+ comemora sucesso de um ano em festa com decoração personalizada e jantar especial oferecido pela equipe Radarte & Gaiezza texto Renata Lins fotos Marcos Florence e Ailton Pereira

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Revista D+ celebrou seu primeiro aniversário em um evento organizado para colaboradores e parceiros na casa de eventos La Pergoletta in Festa, no Tatuapé, em São Paulo. Em sua 10ª edição, a revista mantém-se com a missão de fazer um jornalismo transparente, com reportagens atuais que abordam a inclusão, o respeito, a acessibilidade e autonomia das pessoas com deficiência. Durante a comemoração, o diretor Rúbem Soares discursou sobre a importância dos esforços pelos direitos das pessoas com deficiência e agradeceu aos colaboradores que contribuíram e contribuem para que a publicação seja uma das mais respeitadas e bem-sucedidas do segmento. Quem esteve na festa também pôde assistir, em primeira mão, aos curtas humorísticos gravados em Língua Brasileira de Sinais – Libras, novo projeto que em breve a casa lançará.


O ambiente aconchegante do La Pergoletta foi delicadamente decorado pela Radarte & Gaiezza, que teve o cuidado de personalizar o evento com as cores do logotipo da Revista D+. “As flores da estação foram abrigadas em cachepôs e arranjos personalizados, distribuídos na mesa principal entre doces de colher e outros, que foram preparados para pessoas com intolerância à lactose, uma tendência entre os eventos sofisticados”, destacam Rosangela e Vitória Delain, responsáveis pela decoração e personalização, e Tatiana Cezaretti, que cuidou dos doces e do bolo oferecidos durante a festa. Denílson Nalin, diretor de publicidade da revista, agradece o apoio dos novos e velhos parceiros. “Neste primeiro ano no mercado editorial, a publicação contribuiu cada vez mais para fortalecer a causa da pessoa com deficiência. Obrigado a todos os presentes: amigos, parceiros e colaboradores que construíram a Revista D+ por confiarem em seu potencial”. A equipe da Revista D+ agradece a presença de todos! D+

Ieda Roschel, psicóloga especialista em autismo

A cantora Luiza Caspary, Claudine Davids, o diretor da Revista D+, Rúbem Soares e Silvana Zajac

A festa foi incrível! Vocês estão de parabéns! O conteúdo da Revista D+ tem alto nível de qualidade e profissionalismo, o que a torna referencial. Que venham muitas celebrações!

Tiago Coutinho, Paulo Cesar de Campo, o diretor de publicidade Denilson Nalin e Rosa Buccino

Elisabete Quaresma, Cristiane Escker, Marcia Pessoa, Sônia Rodrigues e Valquíria Barbosa

Eliane Ozores, do Instituto Entre Rodas & Batom

Renata Lins, Brenda Cruz, Luiza Caspary e Cintia Alves

Rosangela Delain, Tatiana Cezaretti e Vitória Delain, da Radarte & Gaiezza Eliza Padilha e Rúbem Soares

Revista D+ número 10


Joyce de Sá, Rafaela Prado, Marco Ramos, Rúbem Soares, Rafaella Sessenta, Verônica de Souza, Nathalia Henrique e Célio Santana

Alessandra dos Santos, Flávia Dias, Raquel Vidal, David Gomes e Jennyfer Alves

Rosa Buccino, o vocalista Dudé e Taís Lambert

Paulo Cesar de Campo e Miro Guedes, sócios na Acesso Isenções

Achei tudo de muito bom gosto! Além de o lugar ser agradável e acessível, achei os curtas bem interessantes e conectados com o trabalho que a revista já oferece. O conteúdo da publicação é sempre de excelente nível, com matérias muito atuais. Roberto Pascale, Diretor da Natural Step Dilson Nery e Verônica de Souza

Manoel Araújo e Taís Lambert Luis Filipe Rosa, Herick Pallazin, Ivanilson Oliveira e Davisson Cruz



ENTREVISTA

Jairo Marques

Na roda viva das palavras O jornalista Jairo Marques lança o livro Malacabado, desconstrói rótulos sobre a deficiência e revisita passagens marcantes de sua vida texto Brenda Cruz e Taís lambert fotos Marcos Florence


palavra malacabado, espécie de corruptela de ‘mal-acabado’, é uma galhofa, uma provocação à falsidade disfarçada em discurso politicamente correto, que abraça e chama alguém de ‘especial’ diante de uma plateia, mas golpeia a cidadania pouco a pouco, nas várias situações em que ela precisa verdadeiramente ser representada e respeitada com inclusão, com acesso, com todos juntos.”

É assim que Jairo Marques, 41 anos, dá o tom do recado na introdução de seu primeiro livro, Malacabado, recém-lançado em disputadíssima noite de autógrafos na Livraria Martins Fontes, na Avenida Paulista. O jornalista que trabalha há 17 anos no jornal Folha de São Paulo e há oito anos escreve no blog Assim como você nasceu em uma casa simples em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Cobriu diversas pautas dentro e fora do país, inclusive as Paralimpíadas de Londres em 2012. Com nove meses de vida, teve poliomielite, a doença que atingiu centenas de crianças na década de 1970, causando paralisias e até mesmo mortes. Foi ela que deixou sequelas no garoto: a perda dos movimentos das pernas e parcialmente do braço esquerdo. Com histórias inéditas e carregadas de verdades, em que a honestidade sobre suas experiências ora causam comoção, ora boas risadas, seu livro impacta o leitor página a página. “A pessoa com deficiência não é o ‘mocinho’. Um dos sentidos do livro é justamente revisitar tudo o que vivi e, à luz de mais conhecimento, maturidade e argumento, conseguir fazer uma análise do que se passou”, diz. Marido da Thaís Naldoni e pai da adorável Elis, de um ano, Jairo recebeu a Revista D+ em seu apartamento e conversou sobre políticas públicas, acessibilidade, preconceito e como a sociedade ainda precisa evoluir para incluir com respeito e dignidade a pessoa com deficiência. Confira:

Revista D+ número 10


ENTREVISTA

Jairo Marques

Jairo com sua filha Elis, de um ano

Revista D+: Você diz em seu livro que enfrentou inúmeros olhares por causa de sua deficiência e, por conta disso, teve que encarar a vida de outra forma para conseguir chegar onde queria. Como tem sido? Jairo Marques: Não há nada mais encorajador do que alguém que te desencoraje, não há nada que te dê mais energia do que pessoas que te tratem com desdém. Aquilo te nutre e estimula a sua vontade de querer mostrar que você não é uma aparência, que você não é uma cadeira de rodas; você é humano, um cidadão. Esses olhares – para o bem e para o mal – me ajudaram nessa trajetória. Eu cito pessoas com as quais eu convivi, situações dramáticas e eu não vou negar: é gostoso pensar que hoje o

olhar dessas pessoas sobre mim pode ser diferente, um pouco mais cuidadoso. Talvez percebam que aquele juízo que elas fizeram no passado pode causar um trauma, uma angústia, um sofrimento na vida de alguém. As pessoas que têm alguma deficiência geralmente sofrem diversos tipos de preconceitos sobre sua capacidade de realizar tarefas físicas e intelectuais. Em sua opinião, por que as pessoas têm tanto preconceito contra a pessoa com deficiência? Falta de conhecimento é um elemento importante, mas acho que tem um pouco de egoísmo também. A prática de conviver com as diferenças é algo muito novo para a nossa

sociedade, replicamos muito o modelo dos estereótipos e guardamos o sentimento de não aceitar o outro, de não querer doar o espaço e as oportunidades que pensamos serem nossas. O viver coletivo praticamente não existe no nosso país, estamos começando a aprender isso agora, tanto é que eu me envergonho demais em saber que houve um movimento das escolas particulares, esse ano, para negar o acesso das crianças com deficiência. O que é isso além de apartar as pessoas? Cobrar a mais da família de uma criança com deficiência – que já tem gastos muito maiores do que qualquer outra família o tempo todo – é dar um pontapé na cara dela! O que falta nas políticas públicas para se efetivar eficazmente questões de acessibilidade e inclusão da pessoa com deficiência? Infelizmente, mesmo em uma cidade com o tamanho e a força de São Paulo, nós ainda não conseguimos garantir o básico. Por exemplo, eu tinha uma expectativa grande na questão das calçadas: acho que deveria ter tido um choque nesse ponto específico de urbanismo, e não teve. A calçada dá muita dignidade para uma pessoa cega, um cadeirante, um paralisado cerebral, para uma mãe que leva o filho para a escola. E nisso nós avançamos muito pouco ou não avançamos. Nós ainda estamos discutindo o “ir”. Quais são os desafios do poder público? O desafio é muito maior que apenas o básico. O poder público ainda engatinha para conseguir garantir educação com qualidade para a pessoa com deficiência. Os professores reclamam com muita propriedade que querem fazer a inclusão, mas os instrumentos para tal não estão chegando ou não estão chegando a contento. Fazer a inclusão a fórceps é muito traumático e traz muitos prejuízos para ambos os lados.


Para você, como está a questão do acesso das pessoas com deficiência nos ambientes de lazer, como parques, teatros, cinemas etc? O que tem acontecido, e eu acho fantástico, é a iniciativa das próprias pessoas com deficiência. Elas estão se organizando em grupos pelas redes sociais, pelos aplicativos e têm dado a cara a bater. Isso causa um impacto extraordinário, visto que esses grupos têm ganhado cada vez mais força. Temos acessibilidade? Acho que temos um pouco. Nós pensamos muito na questão da rampa, mas o piso tátil, de orientação para o cego, é raríssimo, bem como um banheiro adaptado e orientação visual para que o surdo saiba a informação adequadamente.

O universo virtual ajuda? Com a internet e as tecnologias digitais a solidão tem diminuído bastante, as pessoas estão se comunicando mais. No entanto, obviamente, o contato físico e o sair de casa são extremamente importantes e não dá para a gente se contentar achando que o mundo virtual basta. Somos humanos e nossas emoções são muito mais exploradas quando vivemos o mundo lá fora. Infelizmente, eu acredito que principalmente pessoas que têm a mobilidade muito prejudicada estão em uma longa fila, porque ainda estamos discutindo... a rampa. A pessoa que não sai de casa por conta das dificuldades de acessibilidade sofre também com a perda de autoestima?

Não há nada mais encorajador do que alguém que te desencoraje


ENTREVISTA

Jairo Marques

Condói muito saber que a pessoa não sai de casa por uma questão arquitetônica, porque a cidade te expulsa. Isso é extremamente doloroso e desumano, e se você sai do Brasil, também vê pessoas em cadeiras motorizadas, com movimentos restritos que sofrem igualmente, porque tudo é meio “ajambrado”. Você vê o “jeitinho” em tudo: uma porta é alargada um pouco porque o cadeirante não passa. Não! A porta deveria ter sido feita adequadamente, é preciso que seja universal para que todos passem por ela. A imprensa hoje tem abordado mais a questão da pessoa com deficiência? O que precisa melhorar? Eu trabalho no jornal Folha de S. Paulo há 17 anos, tenho um blog há 8 anos, mas é a imprensa segmentada que está falando comigo agora e me dando mais espaço. Estou sendo sincero: sob qualquer ponto de vista que você analisar, o lançamento do livro de um cara com deficiência que fala com um público desse tamanho é notícia em qualquer lugar do planeta. Eu não estou falando de Lava Jato ou sexo, estou falando de seres humanos, cidadania, mas eu não sinto esse furor dos meus amigos da empresa. Por quê? Embora seja latente a necessidade de falar mais sobre inclusão e a pessoa com deficiência, isso não acontece porque as pessoas olham com aquela cara de “Ahh, é só um livro de cadeirante!”. Isso é extremamente estigmatizado, a mídia não vê com a relevância de qualquer outro tema. Os grandes meios de comunicação do mundo já estão fazendo essa análise, reconhecendo a culpa e propondo mudanças, mas aqui isso nem começou, porque, como disse, ainda estamos pensando na rampa.

Estimula a sua vontade de querer mostrar que você não é uma aparência, que você não é uma cadeira de rodas; você é humano, um cidadão

Você acha que se tivessem mais pautas de conscientização e também de denúncias sobre o não cumprimento de leis e a acessibilidade inadequada, faria com que a população começasse a enxergar de fato a existência dessas pessoas e suas necessidades? Quando a novela Viver a Vida foi para o ar, a mídia amou o tema inclusão e todo mundo começou a falar sobre isso. Houve momentos propícios para o debate e consequentemente uma série de coisas começou a surgir. Depois, nós tivemos um plano ambicioso do governo chamado Viver sem Limites, que atacava todas as vertentes e foi coberto de uma maneira bem razoável, mas caiu com o passar do tempo. Cobrir a realidade da pessoa com deficiência é importante, sim, para a mobilização da sociedade. Porém, não se pode apenas cobrir a ‘desgraceira’, ficar falando do sofrimento, das dificuldades: precisamos

dar um passo além deste e falar de consumo, saúde, finanças e entender a pessoa com deficiência com mais naturalidade. Você acha que as Paralimpíadas serão um legado cultural? Eu acho que seria legado cultural se houvesse, ao longo desses preparativos, um incentivo maior para que a população participasse e pensasse mais sobre esse assunto. Vão chegar 4 mil pessoas com deficiência aqui, sendo que a gente não vê na televisão, por exemplo, um grande movimento de cadeirantes, cegos etc. Era para nós estarmos vendo isso o tempo todo, para sabermos como agir com as pessoas, falar de forma adequada com elas e não simplesmente olhar como se estivessem vindo de Marte. Só assim acolheríamos esses atletas como devem ser acolhidos. Pelo que eu saiba, as praias acessíveis no Rio de Janeiro serão duas. Tinha que ter um batalhão de praias acessíveis e pessoas preparadas para que todos os atletas e também os turistas pudessem desfrutar do mar. Você não pensava em ser pai. Como tem sido essa nova experiência com a Elis? Essa guria é outro divisor de águas para mim. A Elis traz um ineditismo de convívio com a deficiência, pois ela é uma espoleta o tempo todo! Eu ouvia ‘lendas’ de que filho de cadeirante é calmo, mas que nada! Ela é o demônio da Tasmânia! Eu penso que ela veio para me desafiar ainda mais e isso por si só já rende um livro louco, talvez com profundidade ainda maior que esse. Eu já tinha consolidado que não iria ser pai, foi a Thaís quem bateu o martelo e certamente foi a melhor revisão que já fiz na minha vida. A Elis é incrível! D+


Novo Aplicativo Fitness Ottobock

A ferramenta especializada que simplifica o treino de amputados O novo Aplicativo Fitness Ottobock melhora o processo de terapia e reabilitação para amputados de membro inferior. O inovador App é composto por 16 exercícios que são facilmente possíveis de realizar devido ao auxílio de vídeos demonstrativos e sua disponibilidade em 10 idiomas diferentes para smartphones de plataforma Android.

Os exercícios foram desenvolvidos por uma fisioterapeuta da Ottobock, especialista em reabilitação, para serem realizados de forma prática visando máximo resultado. Não é necessário equipamentos sofisticados de ginástica. Com apenas iniciativa, boa vontade e no máximo o uso de uma almofada e uma bola, a prática dos exercícios está garantida. Embora o aplicativo não substitua o acompanhamento pelos profissionais da terapia e reabilitação, certamente pode apoiá-los no tratamento com o paciente. Além disso, os pacientes também podem usar o App para o seu treino em casa. O App Fitness Ottobock inclui características especiais como: • Dois programas de exercícios abordam treinos de Força & Resistência, bem como Coordenação & Balanço. • 3 diferentes níveis de dificuldade em cada exercício. • Escolha de um programa padrão ou uma seleção própria de exercícios complementares ao treino pessoal e/ou o plano terapêutico. • Estatísticas são atualizadas automaticamente e demonstram o progresso do usuário. • Alarme configurável opcional avisa o usuário quanto ao horário do treino. Ottobock do Brasil Alameda Maria Tereza, 4036, Dois Córregos - Valinhos/SP Tel.: (19) 3729.3500 | e-mail: ottobock@ottobock.com.br

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SAÚDE

Sabrina Custodia treina de segunda à sexta na academia Bodytech, e se dedica ao atletismo e triatlo

Na esteira da diversidade Acessibilidade garante pessoas com deficiência em algumas das academias mais badaladas da cidade texto Brenda Cruz fotos Marcos Florence

T

er uma boa saúde depende de diversos fatores, entre eles uma alimentação balanceada, uma boa noite de sono diário e a prática de atividades físicas. Essa cartilha todo mundo já leu. As academias se transformaram em reduto de corpos malhados, determinação e muito suor, com diversas atividades para agradar a todos os públicos. Para alguns, musculação; para outros, as aulas extras oferecem mais diversidade no ganho de condicionamento físico e ajudam na perda de peso. Pessoas com deficiência não se isentam desses mesmos desejos e dispõem de particularidades para realizar essas atividades. Dessa maneira, diversas academias, percebendo a necessidade de integrar esse público, adaptam-se para receber e oferecer serviços a todos. A importância da atividade física é a mesma para pessoas com e sem deficiência: os benefícios são inúmeros e podem transformar o olhar sobre si mesmo. Segundo o educador físico Vinicius Mathias Pinto, 32 anos, e há nove no Centro de Reabilitação Lucy Montoro, é através da atividade física que as pessoas com deficiência ficam mais fortes física e psicologicamente, pois percebem o seu potencial e o que são capazes de fazer.


“A questão cardiovascular é de suma importância: trabalhar a função cardíaca ajuda na própria locomoção, e o treino aeróbico controla o sobrepeso, o que ajuda a evitar, lá na frente, problemas de saúde como pressão alta e diabetes”, enumera Vinicius. Além disso, o consequente ganho de força, de autonomia e independência garante ainda mais benefícios aos que se dispõem a treinar.

FOCO NA MUSCULAÇÃO Por causa de uma inflamação no osso (osteomielite), o atleta de hipismo Thiago Xavier perdeu sua vaga nas Paralimpíadas. No entanto, não abre mão de frequentar a academia. “Não é necessário um acompanhamento de personal trainner: o atendimento dos profissionais da academia é muito específico e eu sou bem assessorado por todos”, conta. “E isso não é um privilégio meu, todos os alunos têm o mesmo tratamento”, afirma ele, que se exercita na Companhia Athletica, na unidade Kansas. Thiago ficou paraplégico aos 17 anos, em 1998, após cair do seu cavalo. Já competia profissionalmente e só voltou a montar em 2013. Para um melhor desempenho no hipismo, ele precisa de um bom domínio de equilíbrio, e isso só é possível com os treinos na academia. “O fortalecimento muscular é essencial para a realização do esporte”, explica Marcelo Donice, professor de educação física, personal trainner e coordenador técnico de musculação na Companhia Athletica. A academia é bastante acessível no quesito mobilidade, os espaços são amplos e possibilitam livre circulação e execução dos exercícios. Há banheiro adaptado e acessibilidade nos vestiários e na piscina. Não há aparelhos específicos para cadeirantes, por exemplo, mas segundo a academia, pessoas com quaisquer deficiências podem utilizar todos os aparelhos.

“Na sala de musculação, a pessoa com deficiência pode fazer tudo, desde que consiga fazer transferência – sair da cadeira e sentar no aparelho, no caso dos cadeirantes”, explica Marcelo. “O Thiago ainda não consegue fazer a transferência, então tive que bolar todo o treino sem ele precisar sair da cadeira”.

FORÇA E MOVIMENTO A moderna e badalada academia Bodytech Eldorado é amplamente adaptada, conta com corredores amplos, elevador de acesso e aparelhos modernos que possibilitam à pessoa com deficiência melhor realização dos exercícios. Mestre em jiu-jitsu, Marcio Catenacci dá aulas na Bodytech e em sua turma há dois cadeirantes: Alex Alves

O professor Marcelo Donice orientando Thiago Xavier na troca de treino, na academia Companhia Atlética

Revista D+ número 10


SAÚDE

e Fernando Aranha. “A preocupação principal em relação à prática do jiu-jítsu é tomar cuidado para não atacar a cervical”, explica. “O atleta cadeirante, por ter menos sensibilidade nos pés, tem que usar meias para não queimá-los no tatame”, complementa o professor. Os treinos são realizados entre atletas com e sem deficiência e o único cuidado é ensinar o atleta sem deficiência a conduzir a luta com tranquilidade para evitar problemas. Marcio ressalta que é essencial doutriná-los para que tenham mais cuidado com os cadeirantes, pois como eles não têm controle da perna, lesões sérias podem acontecer. Firme, o professor exige o melhor de todos os seus alunos, chama a atenção quando há erros e pontua o que precisa melhorar. Os gritos e as reclamações são incentivos para a turma, que observa atenta as explicações do mestre. Marcio se dedica a essa modalidade esportiva “desde moleque”, e sua primeira experiência com um atleta com deficiência na Bodytech foi através de Alex Alves, que hoje treina para competições. “O que eles me falam, e é até bonito de ouvir, é que se sentem iguais aos outros quando praticam o jiu-jitsu, pois todos se arrastam no chão como eles”, conta o professor. Alex de Souza se dedica com muita paixão às corridas de rua: já participou de diversas competições no Brasil e fora do país. Formado em Educação Física, é personal trainner, praticante de esgrima e já experimentou o basquete sobre rodas e o vôlei sentado. Pré-selecionado para as competições paralímpicas, o atleta conta como foi parar, também, na luta marcial. “O jiu-jítsu entrou na minha vida há cerca de oito meses: fui convidado pelo meu mestre, o Marcio Catenacci. Ele me via treinando e me convidou para fazer as aulas”. O paulistano nasceu com má formação nos membros inferiores e nos dedos das mãos,

causada pelo uso de medicamentos à base de talidomida por sua mãe durante a gestação.

INSTITUTO E ACADEMIA JUNTOS

Alex Souza após o treino de jiu-jítsu do mestre Marcio Catenacci, na academia Bodytech

Com um sorriso largo e uma simpatia enorme, Sabrina Custodia da Silva, 24 anos, faz parte, assim como Alex Alves e Alex Souza, do time de atletas do Projeto Próximo Passo, do Instituto Mara Gabrilli, que fica dentro da unidade Bodytech Eldorado. A jovem conheceu o esporte após sofrer um acidente em 2010, em que uma descarga elétrica causou a amputação de suas mãos, da perna direita e dos dedos do pé esquerdo. “Eu faço triatlo e atletismo. Estou no triatlo há um ano, sou a única pessoa na categoria no Brasil que não tem as duas mãos e uma perna, então estou treinando para futuramente participar de competições fora”, explica Sabrina. No atletismo ela já está há três anos e é recordista dos 200 metros rasos. Na ocasião da reportagem, Sabrina estava tentando uma vaga para as Paralimpíadas, participando ainda de competições para a classificação.

OS CUIDADOS NECESSÁRIOS A fisioterapia anda de mãos dadas com os educadores físicos, pois é com base nas adaptações realizadas ali que a pessoa com deficiência conseguirá um resultado muito melhor e mais seguro na academia em que estiver. O conselho é da Ana Paula Finocchio Carminati, fisioterapeuta do Centro de Reabilitação Lucy Montoro. “O maior desafio é quando a pessoa com deficiência chega à academia”, diz ela. “Pois é preciso um profissional capacitado para recebê-la e entender as suas limitações”. Ana Paula conta que seu trabalho, além do tratamento de lesões e a reabilitação do paciente, consiste também na orientação. Veja a seguir alguns cuidados para se exercitar com segurança: • Tenha cuidado com a sobrecarga • No caso de lesão medular, é necessário utilizar cinta • Há diferentes maneiras que facilitam a execução dos exercícios: faça-os de acordo com suas possibilidades • A prática indevida pode causar ou intensificar lesões • Faça uma avaliação física e cardiológica antes de iniciar as atividades • Peça ajuda ao professor, ele pode montar treinos que não te façam sair da cadeira de rodas, por exemplo.


RESPIRE, TRANSPIRE E SE INSPIRE! Exercitar-se não é algo inerente apenas às salas das academias. Alguns parques de São Paulo, que são administrados pela Coordenadoria de Parques Urbanos da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, têm equipamentos acessíveis para pessoas com deficiências fazerem ginástica ao ar livre. Os aparelhos facilitam a prática da atividade física para o cadeirante, por exemplo. A mudança de hábitos é essencial para uma melhor qualidade de vida. Nada é mais agradável do que fazer uma atividade física contemplando a natureza. Confira na tabela abaixo as opções com acessibilidade.

Parques com equipamentos acessíveis para pessoas com deficiências Estadual Alberto Löfgren

Rua do Horto, 931, Horto Florestal

Estadual do Belém Manoel Pitta

Av. Celso Garcia, 2593, Belém

Estadual Chácara da Baronesa

Av. José Fernando Medina Braga, 5, Santo André

Dr. Fernando Costa

Av. Francisco Matarazzo, 455, Água Branca,

Ecológico do Guarapiranga

Est. da Riviera, 3283, Riviera Paulista

Juventude

Av. Zaki Narchi, 1.309, Santana

Villa-Lobos

Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 1.025, Alto de Pinheiros

Candido Portinari

Av. Queiroz Filho, 1365, Vila Hamburguesa

A jovem frequenta a academia seis dias por semana, foca em exercícios de condicionamento físico, além de fortalecimento muscular. Não é preciso almejar uma carreira no esporte para praticar alguma atividade física: basta descobrir o que faz bem a você, dentro dos seus próprios limites e objetivos. Movimente-se! D+

Academia Companhia Atlética Unidade Kansas Rua Kansas, 1582, Brooklin Paulista, São Paulo Academia Bodytech Eldorado Shopping Eldorado, 2° Subsolo, Loja 2001 Av. Rebouças, 3970, Pinheiros, São Paulo Centro de Reabilitação Lucy Montoro Unidade Morumbi Rua Jandiatuba, 580, Vila Andrade, São Paulo


VIVER BEM

A arte de deixar ir Desvendamos a trajetória do principal personagem na formação de cães de assistência no Brasil: o socializador. Depois de muito trabalho voluntário, o cão treinado é entregue para quem mais precisa dele texto Cintia Alves fotos Marcos Florence

“É

mágico você ter o carinho, o respeito e a lealdade do cão. Ele espera que seja recíproco e que você dê carinho e proteja-o. É muita responsabilidade, mas devemos ter a plena ciência de que o cão não é para nós, e sim para outra pessoa que necessita dele”. Neimar Daineze, 39 anos, socializador e professor do Senai, revela com orgulho suas experiências com cães de assistência. Para você entender o que é um socializador, primeiro é preciso saber o que é um cão de assistência. Sabemos o quanto cachorros são amáveis, leais e amigos. Justamente por conta de suas características de bom companheiro, esses ternos animais podem se transformar em cães de assistência, que auxiliam pessoas com diferentes deficiências em seu cotidiano. Isso é possível depois de serem treinados – e não adestrados – por profissionais com qualificação. É nesse treinamento, então, que aparece a figura do socializador: o socializador voluntário precisa ter uma vida ativa, característica mais importante para o treinamento do cão. Pode ser uma família com pai, mãe, filho (a), ou pessoas solteiras.

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Geralmente, todos os socializadores compartilham as mesmas funções de treino para os diversos tipos de cães de assistência. As funções são alternadas somente quando o cão demonstra uma característica específica para algum tipo de deficiência, o que é identificado durante a avaliação final na instituição. Em entrevista exclusiva à Revista D+, Teo Mariscal, fundador e presidente da Bocalan Internacional, instituição recém-chegada ao Brasil que desenvolve programas de formação e treinamento para profissionais caninos, e vice-presidente da Assistance Dogs International Europe, afirmou que “O mais importante é que as famílias sejam equilibradas e tenham amor por animais, bem como uma disposição a ajudar outras pessoas. Além de serem sempre conscientes do trabalho futuro que o cão prestará e que deverá ser entregue no final do treinamento”. A filial brasileira, coordenada pelos espanhóis Rocio Marin e Hugo Cardeña, adestradores caninos e técnicos para terapia pela instituição internacional, trabalha com cães de assistência para cadeirantes, crianças com autismo, surdos e pessoas com diabetes tipo 1.


Neimar e Renata com a labradora espanhola Pamplinas: treinamento especializado que transforma realidades

FRUTO DE SOLIDARIEDADE Um dos momentos decisivos antes da escolha é o encontro de perfis: cão e socializador. Neimar, por exemplo, recebeu dois cães para socialização. Ele e a esposa, Renata Andrade, receberam a Hilary, labradora preta, em abril de 2013, após ter passado por diferentes famílias que desistiram do trabalho com ela para cão-guia; e o Volvo, uma mistura de labrador com golden amarelo, em 2015. O cão de assistência é escolhido ainda filhote nas instituições, e passa aproximadamente de dois a 12 meses com a família para aprender a se comportar dentro e fora de casa. Sempre exposto ao maior número de situações possíveis para que tenha uma adaptação perfeita em qualquer circunstância quando adulto, quando

estará com seu usuário. O trabalho com a higiene do cão dentro de casa é a mesma que de qualquer pet. O que faz a diferença são os detalhes, como aprender determinados aspectos voltados para um cão de serviço, como fazer as necessidades dentro de casa por uma questão de praticidade para quem tem deficiência, por exemplo. Além de se atentar em nunca dizer a palavra “não” ao cão, como forma de estímulo e incentivo às ações positivas. “Ele pode ficar muito feliz, mas não pode sair pulando em cima das pessoas, por exemplo. O cão toma decisões, não é simplesmente condicionado a ter um comportamento: ele é treinado para tomar boas decisões e manter a segurança do seu usuário”, explica Neimar.

CURIOSIDADES Quais são os tipos de cães de assistência? Guia para cegos ou com baixa visão; Ouvinte para surdos ou com deficiência auditiva; Alerta médico para diabéticos tipo 1; De serviço para cadeirantes ou com mobilidade reduzida; De serviço para crianças com autismo.

Revista D+ número 10


VIVER BEM

O socializador assume um compromisso difícil ao se doar 24 horas por dia

Teo Mariscal, presidente da Bocalan Internacional, deu palestras durante sua visita no Brasil

É muito importante que durante o processo de socialização a família mantenha contato com a instituição para que o trabalho dos estímulos semanais seja realizado de maneira adequada. O cão socializado não tem o destino traçado, pois depende de diferentes fatores determinados, principalmente, pela convivência da família e o acompanhamento do treinador, para descobrir se servir é realmente o que faz o cão feliz. “Quando o cão retorna à Bocalan, é cuidadosamente testado por especialistas da fundação. Uma série de testes é realizada para determinar o caráter, temperamento, a sensibilidade e capacidade de aprendizado”, revela Teo. UM PASSO DE CADA VEZ Os voluntários ainda enfrentam dificuldades de acesso durante o processo de socialização; mesmo com a identificação de coletes ou bandanas nos cães, são barrados em supermercados, padarias ou em transportes públicos. “O primeiro obstáculo é pelo fato de o cão estar em treinamento e eu não ter nenhuma deficiência. Às vezes tenho tempo para explicar às pessoas, mas na maioria das vezes, não”, comenta Neimar. Para Teo, que trabalha em mais de nove países com a Bocalan, incluindo o Brasil, o país carece de disseminação de conhecimentos técnicos para os interessados. “É muito importante trabalhar na divulgação e educação da sociedade sobre o papel e a importância desses cães”, diz. “Assim como o trabalho com instituições públicas e privadas para assegurar aceitação, inclusão e apoio aos cães, usuários e

as organizações que desenvolvem os projetos”, finaliza. Dessa maneira, a família socializadora se torna educadora da sociedade, mostrando a ela como o trabalho de responsabilidade deve ter a colaboração de ambas as partes. E não somente em espaços públicos, mas nos ambientes de trabalho ou nos educacionais; pois o socializador assume um compromisso difícil ao se doar 24 horas para que o cão sirva como um recurso de tecnologia assistiva para alguém que ele nunca viu antes. PROJETANDO O FUTURO Depois de todos os meses entre tropeços, sorrisos, treinos, estímulos e brincadeiras, é chegada a tão temida despedida. Para Neimar, elas sempre são sofridas. Volvo, por exemplo, não foi aprovado como cão de assistência, e seguiu para doação. Mas Hilary foi aprovada para cão-guia e, mesmo sem notícias da cadela após a entrega, o casal Neimar Daineze e Renata Andrade foi surpreendido durante uma palestra em que participavam. “Quando a Renata deu seu depoimento durante a palestra, uma pessoa levantou e comentou que a Hilary trabalhava na empresa com ele, e que ela não fazia bem somente para a usuária, mas para todos no ambiente. Fiquei muito emocionado! É muito bom saber que o cão está saudável e que o trabalho foi bem feito”, revela Neimar. Os laços criados entre o socializador e o cão são inevitáveis, e em muitas instituições brasileiras o contato após a entrega não é permitido. Mas, para Teo Mariscal, “A interação

DE OLHO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Volvo visita os pilotos na cabine do avião durante viagem a trabalho de Renata, em 2015

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A Lei 11.126/2005, regulamentada pelo decreto 5.904/2006 e pela Lei Brasileira de Inclusão 13.146/2015, garante o ingresso e a permanência do cão de assistência nos locais públicos e privados durante e depois da fase de socialização ou treinamento; resguardando suas particularidades, como o uso obrigatório de identificação do cão e multa para o estabelecimento que negar seu ingresso.


Representantes da Bocalan Brasil, Hugo Cardeña com a Pamplinas e seu filhote, Baiano, e Rocio Marin abraça o trabalho voluntário com o labrador Pandeiro

ABRINDO PORTAS Para disseminar informações de qualidade sobre os cães de assistência às instituições, aos futuros usuários e familiares, o projeto Dog Day, idealizado pela empresa Diversitas, nasceu em 2015, através da atuação como socializadora voluntária da coordenadora responsável, Renata Andrade. “Ser socializador exige muito comprometimento e responsabilidade. Temos muitas questões culturais que precisam ser modificadas, como, por exemplo, a resistência das empresas

com o trabalho dos socializadores”. As ações acontecem de maneira pública e privada, sendo parte da renda da ação privada investida no próprio evento (como transporte de profissionais, higiene do cão, cenário, entre outros), e o restante do valor é revertido para ações gratuitas: em escolas públicas e projetos como o Dog Night em bares, teatros, cinemas. Receba o projeto, envie um e-mail para dogday@diversitas.etc.br

da família socializadora com o usuário é necessária e deve acontecer de maneira natural, sem obrigatoriedade; nem que seja com pouca frequência, para não interferir no aprendizado do usuário com o cão de assistência”. A instituição também deve manter o acompanhamento após a entrega para o usuário, para que o programa siga de maneira saudável e correta. “Devolvê-los nos dá a sensação de missão cumprida. Limpamos a casa, tiramos os pelos de tudo, e também uma folga por algum tempo, até arrumar outro cão. Inclusive já temos um novo cão em treinamento!”, conta Neimar. E, finaliza animado: “É como um ‘filho’ nosso que está se formando e sendo reconhecido como um profissional. Engolimos a saudade e o choro, e ‘bora’ para outra!”. D+


POR DENTRO DAS GRANDES

Do outro lado da linha A empresa de comunicação TIM tem realizado ações em benefício de seus funcionários com deficiência e luta para atingir a Lei de Cotas texto Renata Lins fotos Marcos Florence

S

empre que Daniela Pereira era chamada para uma vaga de emprego, a jovem de 24 anos já avisava antes: “Tenho deficiência”. Essa era a forma de não perder tempo indo até o local e ser rejeitada pela sua condição. “Quando eu falava que tinha deficiência, eles alegavam que não podiam me chamar porque a empresa não possuía rampa, não havia acessibilidade”, ela conta. Após cinco anos tentando, Daniela, que perdeu o movimento das pernas em decorrência de paralisia cerebral, conseguiu um trabalho na TIM. “É tudo muito bem adaptado para mim aqui”. A Tim é uma das maiores companhias de telefonia no Brasil, atendendo hoje cerca de 67 milhões de usuários. Desde 1998 vem crescendo e expandido seus serviços em todo o país. Muitas pessoas conhecem e utilizam a operadora; nós fomos mais longe: entramos nessa grande empresa para saber um pouco mais sobre o outro lado da linha: a acessibilidade oferecida aos colaboradores com deficiência.


Nos corredores da extensa companhia em Santo André, cidade do ABC paulista, é possível observar pisos táteis que levam à maioria dos setores. Também não é difícil encontrar rampas de acesso para pessoas com cadeira de rodas e braile nos corrimãos para as pessoas cegas. Mais que recursos de acessibilidade, a empresa oferece um ambiente em que as pessoas sentem-se incluídas. “Hoje, a TIM representa oportunidade para mim. Aqui dentro eu não sou tratado como uma pessoa com deficiência, sou mais um colaborador”, afirma o analista de TI Fernando Coronado, que tem uma deficiência que afetou seus ossos e principalmente sua visão, a síndrome de Marfan. Seu gestor, Jefferson Chiafareli, conta que aprendeu em uma palestra dada pela Tim que não precisava ter receio de pedir ao Fernando que realizasse as atividades. Mas sim, que deveria entender sua deficiência e suas potencialidades. “Por que outra pessoa tem que fazer, e não o Fernando? Inclusive o enviamos para outro estado para atender a uma demanda recentemente e foi tudo bem”, garante.

ESTÃO POR DENTRO Eles trabalham em setores diferentes, mas concordam em uma coisa: a TIM tem um ambiente acolhedor e inclusivo. Iuna Madureira, 30 anos, que tem deficiência auditiva e Camila Cristina, 33 anos, que tem paralisia cerebral, não precisam de muitas adaptações em sua área de trabalho e afirmam que se sentem plenamente envolvidos no ambiente em que estão. Aos 15 anos ele não ouvia o celular tocar e não atendia quando alguém o chamava: Iuna estava perdendo a audição. Após consultas médicas, descobriu que teria de usar um aparelho auditivo; hoje, sem muitas dificuldades consegue atender ao telefone da empresa no setor de office automation e não necessita de outros métodos para se comunicar, como Libras, por exemplo. A deficiência de Camila Cristina Diniz teve origem no momento do parto; houve complicações e, como consequência, o tendão da perna esquerda ficou um pouco mais curto. Faz sessões de fisioterapia e leva uma vida normal no trabalho como auxiliar administrativa sênior. O único recurso que utiliza para seu conforto é um apoio para os pés.

Daniela Pereira, 24, estudante de sistemas da informação Revista D+ número 10


POR DENTRO DAS GRANDES

Jéssica Ramos da Mata, 26, “minha maior qualidade é ser mãe”

NOVIDADE DIGITAL Para mostrar sua preocupação com a inclusão das pessoas com deficiência, a Tim lançou um projeto pioneiro para cegos este ano. A iniciativa da Live TIM, em parceria com os idealizadores da agência Artplan, trouxe o Emoti Sounds – uma forma humanizada de ler os emoticons (as “carinhas” e figuras representativas usadas nas redes sociais). O leitor de tela reproduzirá o som de um beijo, em vez de dizer “Emoticon Beijo”, por exemplo. “A ideia é torná-la tangível à população, com um projeto de acessibilidade e inclusão relevante para tantas pessoas. Estamos orgulhosos dessa iniciativa e esperamos contribuir para que os cegos estejam ainda mais conectados em seu dia a dia”, explica Livia Marquez, diretora de Advertising & Brand Management da TIM Brasil. O Plugin Emoti Sounds é gratuito e pode ser baixado (em português e inglês) por qualquer pessoa que utilize o NonVisual Desktop Access – NVDA em seu desktop por meio do link www.emotisounds.com.

“Não preciso de nenhum tratamento diferenciado. A limitação é você que impõe”. É assim que Jéssica Ramos da Mata se coloca. A paulistana de 26 anos sofreu uma queda quando era criança, foi levada ao hospital e, por causa de uma cirurgia malsucedida, teve o braço esquerdo amputado. Segundo ela, isso não interfere no seu desempenho como assistente administrativa na empresa. Para Anderson Cantarani, manager do setor administrativo e jurídico, a importância da inclusão também se estende aos demais colaboradores, que aprendem a respeitar as diferenças. “É interessante para os outros profissionais na questão da sensibilidade. É uma experiência que tem sido extremamente positiva porque conseguimos observar que são pessoas com capacidades profissionais como qualquer outra”. APRIMORANDO PARA CHEGAR LÁ A empresa afirma ter parcerias com faculdades, centros públicos de emprego e o próprio banco de talentos para a contratação de novos funcionários com deficiência. Mas reconhece que ainda não conseguiu atingir o número determinado pela Lei de Cotas. O regulamento exige que empresas com mais de 100 funcionários empreguem de 1 a 5% de pessoas com deficiência de seu total de colaboradores. Atualmente a Tim de Santo André conta com a participação de 2 mil trabalhadores, dentre os quais, pouco mais de 30 têm deficiência. Segundo a empresa, a maior dificuldade para contratá-los está na “falta de capacitação para as oportunidades”. Para melhorar esse quadro e gerar mais oportunidades, a TIM está desenvolvendo um projeto que se chama Programa de estágio PcD. A intenção, segundo eles, é trazer jovens em formação acadêmica para vagas de nível mais alto, além de prepará-los para cargos de mais responsabilidade, e

não apenas para as vagas iniciais de carreira. Apesar de ser um protótipo, eles preveem um breve lançamento do projeto em parceria com faculdades e cursos de diversas áreas. De acordo com Marilene Penna, sênior manager human resources, as pessoas com deficiência precisam buscar formação acadêmica, cursos, como o de inglês e “tudo o que é preciso para construir um profissional”. O plano de carreira oferecido para pessoas com deficiência, segundo Marilene, é o mesmo dos outros colaboradores. Após seis meses de trabalho, têm a possibilidade de ganhar aumento e, depois de um ano, podem ser promovidos de acordo com o desenvolvimento nas atividades. “Eles têm todas as oportunidades como têm os outros funcionários. A gente procura não diferenciar nesse sentido, ou seja, é o melhor que vai ganhar a promoção”. Marcos Roberto da Conceição, 42 anos, é um exemplo de pessoa com deficiência que ocupa um cargo hierárquico um pouco maior. Ele é assistente sênior, formado em química ambiental. Nasceu com uma má-formação

Em seu local de trabalho, Camila Cristina Diniz, 33


A TIM representa oportunidade para mim. Aqui dentro eu não sou tratado como uma pessoa com deficiência, sou mais um colaborador Fernando Coronado, analista de TI

congênita nos pés e começou a andar somente após os sete anos de idade. Todos os dias vai para o trabalho dirigindo um carro adaptado que possui um mecanismo de freio e aceleração apenas com o pedal esquerdo. Funcionário há um ano, Marcos já pensa em galgar patamares maiores na empresa. Marilene explica que o segredo para ter uma empresa inclusiva é aceitar as pessoas e suas particularidades, oportunizar o desenvolvimento sem distinção. “Em primeiro lugar devemos reconhecer esses profissionais e estar prontos para recebê-los com uma boa infraestrutura. Procuramos não tratar com diferença: mesmo sabendo que a deficiência existe, não é a ela que enaltecemos”, diz. E complementa: “Nós somos uma grande empresa para os nossos profissionais independentemente da condição deles”. D+

Marcos Roberto da Conceição, 42, cuida da manutenção e gestão ambiental da TIM

Uma vaga para você Para pessoas com deficiência que queiram participar de eventuais processos seletivos na TIM, a empresa disponibiliza o link: www.tim.com.br/sp/sobre-a-tim/carreira/oportunidades


COMPORTAMENTO

Pensando na inclusão das pessoas com deficiência, Tina Descolada viaja o mundo e abre seu coração em um diário virtual, confirmando que as pequenas limitações diárias estão, muitas vezes, somente em nossas mentes texto Cintia Alves fotos Divulgação

C

abelos ruivos sob a chuva, olhos azuis no horizonte, um enorme sorriso nos lábios e sonhos transbordando no peito. O passaporte? Com muitos carimbos! Esse mundo repleto de oportunidades a serem descobertas encanta e leva a crianças, adolescentes e adultos com deficiência o desejo intenso de viver uma vida cheia de aventuras – e com menos medo. Afinal, é para se molhar! A personagem Valentina, a Tina, é uma boneca que segue todos os padrões de beleza impostos pela sociedade. Ela é usuária de cadeira de rodas devido às restrições motoras relacionadas à paralisia cerebral decorrente de um acidente no nascimento. É por meio dela que a mágica acontece.


foto Guilherme Machala Nos países que visita, a psicóloga diz que, mesmo com as barreiras dos idiomas, a maioria das pessoas consegue entender o propósito do projeto

Revista D+ número10


COMPORTAMENTO

No reino da realidade cada um deve saber do seu possível, mas no reino da imaginação podemos tudo Marta Anisia Alencar

Inspirada por três décadas de histórias de seus pacientes com deficiência, a psicóloga e fotógrafa mineira Marta Anisia Alencar, 54 anos, exteriorizou na personagem Tina o sentimento de indignação diante do preconceito e da discriminação. “No reino da realidade cada um deve saber do seu possível, mas no reino da imaginação podemos tudo”, declara Marta. Com esse pensamento, um anão de jardim de barba branca e gorrinho vermelho foi o principal responsável pelo nascimento de Tina. Trata-se de um anão de jardim “de estimação” no filme O fabuloso destino de Amélie Poulain, de 2001. A protagonista, Amélie, pede a sua amiga comissária de bordo para levar o anão de seu pai – que vive introspectivo – para suas viagens e enviar fotografias dele em diferentes pontos turísticos do mundo. Assim como no filme, Marta quis provocar em seus pacientes a experiência de sair do estado de confinamento interior. “Arquivei a essência desta história em minha memória e ao comprar a boneca para trabalhar na clínica com as crianças tive um insight: dar vida a ela com o objetivo de sensibilizar as pessoas com e sem deficiência a transformarem suas

vidas, oportunizando uma sociedade para todos”, explica Marta. RECICLANDO CORAÇÕES Com grande repercussão no universo virtual desde a criação do projeto em 2012, Marta levou as ideias para o mundo real com ações e oficinas em Belo Horizonte, Minas Gerais, e nas cidades próximas. As ações fazem parte de uma inclusão muito mais ampla: a boneca Tina vai a festivais, eventos públicos e empresas onde não haja,

necessariamente, pessoas com deficiência, mas em que é possível tornar os participantes mais inclusivos, capazes de interagir com a diversidade humana. Tina tem projetos como o Trilhas Inclusivas e Esportes de Aventura e a Passarela Inclusiva – diversidade humana na passarela (na Virada Cultural de Belo Horizonte e em eventos, a convite), além da parceria com a ONG Lacre do Bem, criada por Julia Fernandes, 12 anos, que não é cadeirante, e recolhe lacres de alumínio para trocar por cadeira de rodas e doar para quem precisa. A principal ação da Tina Descolada está nas oficinas Corações Solidários, em que participam crianças com deficiência e suas famílias. Com muita criatividade e sensibilidade, os participantes são ensinados a ser solidários, confeccionando corações a partir da reutilização de materiais recicláveis. “O simbolismo é: enquanto enrolam as linhas em uma armação de arame, as relações se desenrolam na convivência com as diferenças”, afirma a psicóloga.

Marya Edwarda, que além de monitora se tornou uma aventureira



COMPORTAMENTO

CONHEÇA ALGUMAS CURIOSIDADES SOBRE A TINA DESCOLADA • O nome Valentina foi escolhido por significar “valente”. • Assim como suas amigas, Tina usa órteses, do tipo tutor, para adequar a posição dos pés. • Tina já traz no passaporte o carimbo de seis países. • Atualmente, Tina busca patrocínios para a criação de novos projetos, como

edição de livros e realização de oficinas, entre outras ações. • A Descolada “competirá” nas Paralímpiadas Rio 2016, no esporte de Bocha Paralímpica, junto com uma amiga treinadora, para lembrar, mais uma vez, que uma pessoa real, com as mesmas limitações motoras, também pode praticar esportes.

QUANDO A BRINCADEIRA VIRA REALIDADE A influência positiva de Tina na mudança comportamental das pessoas com e sem deficiência reflete, de maneira leve e poética, um tema ainda restrito na sociedade. Foi assim com Marya Edwarda Lopes, 12 anos, cadeirante – diagnosticada com uma doença degenerativa, que viu muito de si em Tina.

Muito tímida, mudou seu perfil após se tornar uma das protagonistas, como monitora, nas oficinas oferecidas pela Tina. “Sua habilidade para as atividades manuais encanta as outras crianças e os adultos”, elogia Marta. Judá Ferreira Luciano, 15 anos, nasceu prematuro de 4 meses – o que causou um sangramento no cérebro, ocasionando a paralisia cerebral – conheceu Tina em um desfile, no qual foi um dos modelos. Para Judá, que já participou das oficinas de fotografia com a Tina, o preconceito por ser menino e seguir a

Para Judá, é sinônimo de orgulho ter uma boneca que represente a todos

Izabele inspirou-se em Tina para criar a personagem nordestina Becky

Todos os projetos são abertos ao público em geral e têm iniciativa privada, portanto, dependem sempre de apoio financeiro e contribuições de voluntários para serem realizadas.

boneca nunca o atingiu. “Gosto muito da ideia de termos um personagem que nos represente. Acho que o projeto nos representa como pessoas capazes, que têm uma dificuldade, mas com infinitas possibilidades”. Izabele Alves Lopes Soeiro, 36 anos, contadora e tutora, com deficiência física provocada por mielomeningocele, conheceu a Tina por meio de um amigo nas redes sociais e buscou nela forças para vencer os traumas de infância. “Nunca tive oportunidade de brincar como as outras crianças e me encantei pela Tina assim que a conheci!”, confessa. A pernambucana saiu de sua zona de conforto mudando a maneira de enxergar sua realidade através dos conceitos da psicóloga Marta sobre a “vida” da boneca. “Pelas ideias compartilhadas por ela, já criei coragem para ir à praia, realizar determinadas atividades na cozinha, para as quais eu me considerava incapaz”, conta. “Além disso, foi quando tive a oportunidade de debater sobre deficiência com algumas crianças e explicar que limitação física não as impede de ter uma vida social ativa”. Izabele finaliza: “Me senti verdadeiramente tocada pelo que aprendi com ela.” Acompanhe as aventuras da Tina em: www.tinadescolada.wordpress.com D+


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NOSSA CAPA

espírito em

movimento

Em ano histórico de Paralimpíada, há que se prestar atenção em algo maior do que os jogos: a inclusão das pessoas com deficiência através do esporte e o olhar que você dirige a elas texto Taís Lambert colaboração especial Renata Lins colaboração Cintia Alves e Brenda Cruz fotografia Paulo Pampolin e Newton Santos

A

té quem não se interessa por esporte abre uma exceção diante de grandes eventos como os que batem à porta do Rio de Janeiro. Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 são a 31ª edição da competição e o evento acontecerá pela primeira vez na América do Sul, envolto por números superlativos. A Paralimpíada, que acontecerá entre 7 e 18 de setembro, reunirá 4.350 atletas vindos de 176 países. Eles disputarão lugar no pódio em 23 esportes, sendo que as modalidades canoagem e triatlo estarão em uma Paralimpíada pela primeira vez na história. Estão programadas 528 provas com medalhas, sendo 226 femininas, 264 masculinas e 38 mistas. Para ajudar nessa mega operação, 25 mil voluntários estarão a postos nos 21 locais de competição divididos em quatro pontos do Rio de Janeiro: Barra, Copacabana, Deodoro e Maracanã.


O maior legado que essa Paralimpíada vai deixar é mostrar que aqui não tem nenhum coitadinho Susana Schnarndorf, nadadora, com múltipla atrofia dos sistemas

Revista D+ número 10


NOSSA CAPA

A deficiência física não define quem somos, o que somos está dentro de nós

fotos divulgação

Daniel Dias, nadador

Andrew Persons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, em seu segundo mandato

Provavelmente o médico polonês Ludwig Guttmann, o pai da Paralimpíada, não fazia ideia do passo que estava dando ao organizar a primeira competição em cadeiras de rodas. Radicado na Inglaterra, abriu um centro especializado em lesões na coluna no hospital de Stoke Mandeville, com o propósito de acolher o imenso número de soldados feridos e mutilados na Segunda Guerra Mundial. Sua estratégia, já naquela época, era reabilitar essas pessoas através do esporte. De recreação passou para competição: em julho de 1948, paralelamente aos Jogos Olímpicos de Londres, o neurocirurgião criou os Jogos de Stoke Mandeville, em que 16 militares lesionados (14 homens e duas mulheres) participaram do tiro ao alvo em cadeiras de rodas. Os primeiros Jogos Paralímpicos sob esse título ocorreram em 1960, com 400 inscritos de 23 países, em Roma, na Itália. Para o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Andrew Parsons, o movimento paralímpico ganhou força no Brasil depois de Atenas 2004, quando houve a transmissão da Paralimpíada. “Iniciamos um debate sobre o esporte paralímpico e sobre as pessoas com deficiência. Os Jogos Parapan-Americanos do Rio 2007

foram, e os Jogos Paralímpicos do Rio 2016 serão grandes catalisadores em termos de avanços. Estamos em franca evolução e 2016 não é um ponto final”, ressalta. ATIVIDADE QUE INCLUI E CAPACITA Uma sociedade que se deseja inclusiva e diversa, necessariamente, faz uma lição de casa básica: a redução do preconceito e da discriminação. Se a atividade esportiva e de lazer contribui para a redução do estresse, melhoria da autoestima e da qualidade de vida geral de qualquer pessoa; no caso daquelas que têm deficiência os benefícios se intensificam ainda mais. A Associação Desportiva para Deficientes (ADD) auxilia no desenvolvimento e na inclusão da pessoa com deficiência por meio do esporte há 20 anos. Seu público-alvo é crianças e jovens, além dos atletas paralímpicos, que também competem pela casa, como o nadador Daniel Dias e a velocista Terezinha Guilhermina. A ADD Escola de Esporte Adaptado nasceu em 2010, depois de nove anos de experiência com crianças. “A missão do projeto é a inclusão social de crianças e jovens através do esporte. Isso possibilita que tomem


consciência de seu potencial de realização, inserindo-se ativamente em qualquer atividade social, cultural e profissional, além da esportiva”, explica Eliane Miada, presidente da ADD. O fenômeno Daniel Dias, 28 anos, que nadou seis provas individuais nos últimos Jogos Paralímpicos de 2012, em Londres, e levou o ouro em todas, além de ser o recordista nos Jogos Parapan 2015, no Canadá, com 8 medalhas douradas, contou que antes só queria saber de jogar bola. “Até os 16 anos eu só pensava em futebol. Foi na natação que descobri o dom que Deus me deu”, disse o campeão, cujo projeto, ADD Nadando com Daniel Dias, é voltado para o esporte de rendimento e desenvolvido em parceria com o Instituto Daniel Dias, em Bragança Paulista, São Paulo. Agraciado por duas vezes com o Laureus, o Oscar do esporte, Daniel, que nasceu com má formação congênita dos membros superiores e da perna direita, lembra-se bem do início de sua difícil jornada: “Eu morava em Camanducaia, Minas Gerais, e vinha treinar em Bragança Paulista de ônibus. O percurso demorava de uma hora e meia a duas horas para vir e o mesmo tempo para voltar. Sem patrocínio, foi assim por dois anos, todos os dias”. O atleta sabe que o esporte, desde cedo, exerceu papel fundamental para o rumo que a vida tomaria, e, mesmo no topo, reconhece a importância das raízes: “Graças à Deus, tenho uma família que sempre me apoiou e me fez ver que tudo isso é passageiro. Meu pai sempre me disse: ‘Filho, você pode conquistar muitas medalhas, mas as medalhas jamais podem te conquistar’”. Próximo de sua terceira Paralimpíada, Daniel Dias deixa seu recado: “Apesar de nossas limitações, somos capazes de realizar nossos sonhos e objetivos. A deficiência física não define quem somos, o que somos está dentro de nós. O respeito às pessoas nos fazem campeões na vida”.

Perdi minha perna, mas hoje eu tenho oportunidade de ir mais longe com uma do que poderia ir com as duas Vinicius Rodrigues, velocista

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foto divulgação

NOSSA CAPA

Fernando Ruffino, o Cowboy, em seu caiaque que levou o nome de Burro Branco

Números da Paralimpíada Rio 2016

4.350

paratletas

23modalidades 176países 25mil provas com 528 MEDALHAS 21locais (com estreia do TRIATLO e da CANOAGEM)

(226 femininas, 264 masculinas e 38 mistas)

O Brasil na Paralimpíada Londres 2012

voluntários

de competição em quatro pontos do Rio de Janeiro: Barra, Copacabana, Deodoro e Maracanã

lugar

no quadro de medalhas:

43 21ouro 14 prata 8 bronze MEDALHAS de

de

de

Total:

O desempenho do Brasil nos últimos Jogos Paralímpicos mostra que já somos uma potência. Saímos da 24ª colocação no quadro de medalhas em Sydney 2000, com seis ouros, para a 7ª colocação em Londres 2012, com 21 ouros. A meta de alcançar a 5ª colocação no Rio é bastante ousada, mas trabalhamos firmes com este objetivo Andrew Parsons, Presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro

AS BELEZAS DO ESPORTE Q ue m ouv e pe la pr ime ir a vez Fernando Rufino, 30 anos, o “Cowboy”, contar sua trajetória até chegar ao posto de paratleta de canoagem, não sabe bem o que faz primeiro: se o admira profundamente ou se ri sem freio. Caipira (na melhor conotação da palavra) e bem humorado, o moleque que cresceu em fazenda e morou 20 anos em Itaquiraí, no Mato Grosso do Sul, percorreu caminho ímpar até remar em um caiaque, e disso faz chacota o tempo todo. Aos 18 anos o rapaz começou na montaria de touros: “Meu sonho era ir para Las Vegas. Quanto mais eu me destacava na montaria, mais as luzes de Las Vegas piscavam na minha cabeça!”. No entanto, Cowboy caiu do touro e teve o maxilar “esmigalhado” pelas pisadas do animal, como ele frisa. No final do mesmo ano desse primeiro acidente, ele caiu dos degraus do ônibus, voltando da escola, e o motorista passou por cima dele. “Foi quando fiquei paraplégico. Mas eu não tive depressão; a vontade que eu tinha dentro de mim falava mais alto do que o meu desânimo. Quando o médico me disse que o melhor remédio seria eu mesmo, pensei: ‘Então, beleza!’”. Recuperado, no ano seguinte, “Andando de moto com um amigo, num ‘pau desgramento’”, bateu em uma árvore, o que o fez ficar mais 15 dias no hospital, com uma perna quebrada. Mas eis que no próximo ano, “Sarando dessa perna em casa, um raio caiu na minha cabeça! Queimou todas as instalações de casa e as do vizinho e eu fiquei fedendo a pólvora!”. Diante de tantas ‘“aventuras” antes de conhecer o esporte de alto rendimento, Cowboy ainda tinha uma pergunta: “O que que eu vou fazer da minha vida para ir para Las Vegas?”. Por meio de Júnior César, um amigo, foi para a capital, Campo Grande, e fez halterofilismo, arremesso de peso e, finalmente, a canoagem.


No último dia 29 de julho, o Comitê Paralímpico Brasileiro comunicou que o atleta foi diagnosticado “com um problema cardíaco” que torna contra indicada a prática do esporte de alta intensidade em níveis competitivos. “Quero ser o melhor dentro das minhas potencialidades, eu tenho muita fé em mim. Eu não tinha nada, mas criei minhas próprias oportunidades”, finaliza Cowboy. A melhoria do autoconceito, da autoestima e sociabilização também foi vivenciada pelo paratleta paranaense Vinicius Rodrigues, 21 anos, ao se lançar de corpo e alma no atletismo. Há dois anos, em um acidente que envolveu um carro e sua moto, Vinicius teve a perna esquerda decepada. “O carro amputou minha perna na hora. Eu até tentei levantar, mas não consegui. Foi um choque, é claro, mas a adrenalina não me deixou sentir dor no momento. Tem algo dentro de mim que não me deixou ficar triste, eu pensava sempre positivo”, conta ele, que à época sonhava com o serviço militar. Alguns dias depois da internação, Vinicius recebeu a visita de Terezinha Guilhermina, a velocista detentora de recordes mundiais. “Ela me levou um presente, um moletom do Brasil, e isso me motivou muito. Era o que eu precisava, pois estava sem norte”. Terezinha mostrou a Vinicius um vídeo do atleta alemão, o campeão Heinrich Popow, correndo em Londres. Ele lhe mandou mensagens, via mídias sociais, contando que havia perdido a perna. “Ele me respondeu! Então disse-lhe que queria correr como ele, que precisava de ajuda com a prótese, pois tudo era muito novo para mim”. Heinrich Popow não só respondeu às mensagens como articulou a ajuda de que Vinicius precisava. “Ele me ensinou a correr em um evento que aconteceu no Brasil, da Ottobock, que é minha patrocinadora de material esportivo. Fazia apenas seis meses que eu havia me acidentado”, conta Vinicius.

Eu comia farinha com açúcar no final do treino porque não tinha recursos, mas sempre quis ser a melhor do mundo Terezinha Guilhermina, velocista

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QUEBROU, E AGORA? texto Taís Lambert Além das vitórias e derrotas, há outra garantia para os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro: próteses e cadeiras de rodas avariadas. Os treinos e as próprias competições se incumbirão de desgastar, rachar, furar e quebrar os equipamentos essenciais para a performance dos atletas. Para contornar isso, a alemã Ottobock será o Fornecedor Oficial de Próteses, Cadeiras de Rodas e Aparelhos Ortopédicos para os Jogos Paralímpicos Rio 2016. Parceira dos Jogos desde 1988, a empresa, com filiais no Brasil, desenvolveu uma mega operação para garantir condições a todos os paratletas. “Chegaremos na Vila dos Atletas em 31 de agosto, para a abertura do Centro de Reparos de Serviços Técnicos da Ottobock, e ficaremos até o fim da Paralimpíada,

OS NÚMEROS DO REPARO DA OTTOBOCK

15 mil

peças de reposição

1.100 pneus para cadeiras de rodas

70 lâminas de corrida

18 mil

toneladas de equipamentos vindos da Alemanha

250

itens perigosos e produtos químicos

300

pés protéticos

Fonte: Ottobock

com um time de 77 técnicos ortopédicos e seis soldadores vindos de 30 países. É como nos pit stops das corridas automobilísticas: reparamos rapidamente para que o atleta continue na competição”, revela Wilson Zampini, presidente da Ottobock para a América Latina. Além da Vila dos Atletas, os serviços técnicos serão oferecidos em outros 14 locais de competição e em uma unidade móvel. “A cadeira de rodas é o equipamento que demanda mais reparos. Dentro do jogo, por exemplo, temos 1 minuto para trocar as rodas, senão o jogador é substituído”, explica Thomas Pflegar, diretor técnico da Ottobock no Brasil. Ele completa: “Nosso diferencial é a experiência. Estamos há 28 anos participando de todos os jogos de verão e inverno. O que quer que aconteça com um atleta, estaremos preparados para atendê-lo”.

Para participar da Paralimpíada, Vinicius teria de ter ficado entre os quatro melhores. “Como eu fiquei entre os dez no ranking, não consegui a vaga para o Rio”, explica, para, em seguida, revelar: “Mas agora estou focado porque tem mundial em Londres no ano que vem. Como eu tenho apenas um ano como profissional, ainda tenho muita coisa para aprender”. Tristeza? “Sim, fiquei triste. Mas agora eu vou ficar preso nisso? Não vou. Eu preciso ver o que fiz de bom. Por exemplo, eu perdi minha perna, mas e daí? Hoje eu tenho oportunidade de ir mais longe com uma do que poderia ir com as duas. Mesmo sendo uma derrota, sempre há algo para nos fortalecer”, afirma Vinicius. Sua primeira experiência no esporte foi na ADD, que é seu clube atual. Desde novembro passado Vinicius faz parte da seleção brasileira de atletismo e Terezinha é sua madrinha, conselheira e inspiração. “Nossa história começou em um quarto de hospital e vai terminar em um pódio. Vou torcer muito por ela no Rio”.

MULHERES PODEROSAS: FORÇA TRANSFORMADORA “Eu comia farinha com açúcar no final do treino porque não tinha dinheiro ou recursos. Mas me propunha a treinar mais que qualquer outro atleta para conseguir o rendimento necessário. Desde criança, sempre quis ser a melhor do mundo”. Essa determinação tem nome e sobrenome: Terezinha Guilhermina, 37 anos, mineira de Betim, velocista, entrou para o Guiness Book como a “atleta cega mais rápida do mundo”, realizando, então, o sonho de ser reconhecida como a melhor. Terezinha nasceu com retinóide pigmentar, o que comprometeu sua visão em mais de 95% desde pequena. Em 2005 seu campo visual passou por uma piora considerável, o que a fez ser reclassificada na classe 11, em que é obrigatório usar venda e correr com um guia. Ao longo de sua carreira, a atleta conquistou mais de 300 medalhas. Sendo seis paralímpicas, 14 mundiais e 17 de Parapan. “Fiquei em segundo lugar na primeira corrida de rua que fiz


na minha vida. Recebi R$ 80,00 como prêmio. A primeira coisa que comprei foi um iogurte: sempre quis tomar um na minha infância”, conta Terezinha. “Foi naquele momento que eu decidi que poderia realizar todos os meus sonhos através do esporte, pois dependia só de mim”. Para os Jogos Paralímpicos, a atleta treina seis dias na semana, somando dez treinos. “Há dias em que faço dois treinos, que vão de três a oito horas, com variações de alongamento, salto, musculação, fortalecimento, corrida e trabalho tático de provas”, explica. Formada em psicologia, pretende fazer mestrado na área e especializar-se em coaching esportivo. Sob os holofotes, Terezinha não se engana: “Acho extremamente cansativo quando a sociedade nos coloca em estereótipos: ou somos coitados ou heróis. Quando se é vítima, não nos dão o direito de sonhar ou lutar. E quando somos heróis, não podemos desistir, cansar ou perder”. Muito exigente consigo mesma, a atleta tem estilo inconfundível. Colorida, sorridente e autêntica, chama a atenção para um conceito arraigado na sociedade: “Como pessoa com deficiência, luto para fazer o meu melhor, para que esse lado ‘coitado’ não seja visto primeiro. Porque, infelizmente, o preconceito vem primeiro: se você tem deficiência, você tem que ser feio, tem que ser torto, tem que se comportar como um cego. E não, não deve ser assim”. Outra atleta feminina que tem demonstrado a que veio é a nadadora Susana Schnarndorf, de 48 anos. Com estilo de vida totalmente voltado ao esporte, ela já completou 13 Ironman e foi pentacampeã brasileira de triatlo. Há 11 anos, recebeu o diagnóstico de que tinha Múltipla Atrofia dos Sistemas (MSA, na sigla em inglês), uma doença degenerativa. “Em 2005 eu comecei a ter os primeiros sintomas. Não conseguia

O esporte mudou a minha vida, pode mudar a de muita gente Susana Schnarndorf

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NOSSA CAPA

INVICTO!

texto Brenda Cruz entrevista Renata Lins O futebol é o esporte mais divulgado e comentado durante todo o ano em nosso país. Os craques são inúmeros e a principal semelhança entre eles é o fascínio pelo esporte desde a meninice. Com o gaúcho Ricardo Alves, mais conhecido como Ricardinho, não foi diferente. Ao perder a visão, aos oito anos de idade, imaginou que nunca conseguiria realizar o sonho de ser jogador de futebol. Mas as oportunidades que a vida lhe apresentou fizeram-no conhecer o Futebol de 5, modalidade para jogadores cegos. “Quando eu descobri que poderia jogar futebol sem enxergar, foi uma alegria imensa, porque estava voltando a viver um sonho que tinha desde muito novo”, conta Ricardinho. Com apenas 16 anos, ele já estava na Seleção Brasileira de Futebol de 5. “Enfrentei todas as dificuldades que qualquer atleta enfrenta no começo e outras relacionadas à minha deficiência. Havia certo preconceito, as pessoas ainda não me viam como o vencedor que hoje sou”, desabafa. O apoio da família e seu otimismo diante das dificuldades o ajudaram a ultrapassar todas as barreiras. Não por acaso, Ricardinho foi eleito, em 2006 e em 2014, o melhor jogador do mundo no Futebol de 5, além de ser duas vezes campeão mundial. Vestindo a camisa 10, o capitão da Seleção Brasileira de Futebol de 5 conquistou campeonatos e títulos individuais, e agora busca junto com sua equipe o tricampeonato na Paralimpíada.

AS MODALIDADES PARALÍMPICAS

Conheça as modalidades, classificadas por categorias de paratletas de acordo com o grau de deficiência. Neste ano, duas delas estarão nas Paralimpíadas pela primeira vez por Cintia Alves

Atletismo Paratletas: deficiência física e visual

Judô Paratletas: deficiência visual

Basquete em cadeira de rodas Paratletas: deficiência física

Natação Paratletas: deficiência física, deficiência visual e deficiência intelectual

Bocha Paratletas: alto grau de paralisia cerebral ou tetraplegia com uso de cadeira de rodas

Remo Paratletas: deficiência física, paralisia cerebral e deficiência visual (10% de visão)

Canoagem Paratletas: deficiência física

Rúgbi em cadeira de rodas Paratletas: tetraplegia

Ciclismo de estrada e de pista Paratletas: deficiência visual, amputação com próteses, paraplegia, tetraplegia e paralisia cerebral

Esgrima em cadeira de rodas Paratletas: deficiência física

Futebol de 5 Paratletas: deficiência visual

Futebol de 7 Paratletas: exclusiva para homens com paralisia cerebral

Goalball Paratletas: deficiência visual Halterofilismo Paratletas: deficiência física nos membros inferiores ou com paralisia cerebral Hipismo Paratletas: deficiências físicas e deficiências sensoriais

Tênis de mesa Paratletas: deficiência intelectual e física (cadeirantes e amputados)

Tênis em cadeira de rodas Paratletas: deficiência física

Tiro com arco Paratletas: deficiência física, amputação, paralisia, paralisia cerebral e doenças progressivas Tiro esportivo Paratletas: deficiência física e visual Triatlo Paratletas: deficiência física, amputação, esclerose múltipla, paralisia cerebral, distrofia muscular, deficiência visual e baixa visão

Vela Paratletas: qualquer tipo de deficiência

Vôlei sentado Paratletas: deficiência física, amputação, paralisia cerebral, locomotora e lesionados na coluna vertebral Fonte: site www.brasil 2016.gov.br


POR QUE SURDOS NÃO PODEM? texto Cintia Alves

Antes mesmo de os Jogos Paralímpicos surgirem, os surdos já participavam de competições esportivas. Isso foi lá em 1888, em Berlim, na Alemanha, e é a primeira notícia que se tem de competição entre pessoas com algum tipo de deficiência. O Comitê Internacional de Desportos de Surdos (ICSD) organizou na França, em 1924, os primeiros Jogos Internacionais Silenciosos, conhecidos desde 2000 como Jogos Surdolímpicos. Realizado de quatro em quatro anos – o próximo será em 2017, em Samsun, na Turquia –, o evento reúne 20 modalidades esportivas, entre elas vôlei, atletismo, basquete, natação e judô. Mas afinal, por que os surdos não podem participar dos Jogos Paralímpicos? Segundo a assessoria de imprensa do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), “Seguindo as diretrizes do Comitê Internacional Paralímpico (IPC), os atletas surdos ou com deficiência auditiva podem competir nos Jogos Paralímpicos se tiverem outra deficiência em que haja disputa em alguma modalidade”. A decisão se baseia no argumento de que o surdo não necessita de condições especiais ou equipamentos para competir, podendo disputar em jogos convencionais. O ex-atacante da Seleção Brasileira de Vôlei na década de 1980, Mário Xandó de Oliveira Neto, o Xandó, é técnico de vôlei há cinco anos em um projeto que recruta atletas surdos. “O principal motivo de o ICSD ainda não ser filiado ao Comitê Olímpico Internacional (COI) ou ao Paralímpico é burocrático: onde os surdos serão encaixados? Nos Jogos Olímpicos ou Paralímpicos?”, diz. O debate segue, mas segundo ele, as reuniões entre o COI e o Comitê Internacional de Desportos de Surdos estão indo bem. “É uma questão de tempo para haver a integração. Ao menos é o que esperamos: o reconhecimento dos eventos, programas e calendários de competições”, afirma Xandó.

Eu fiquei muito feliz, essa cadeira é muito melhor! Geovanne Amorim

Revista D+ número 10


engolir, comecei a ter muita rigidez muscular e perder os movimentos das mãos. A partir disso foi uma maratona de médicos para descobrir o que eu tinha. A evolução da síndrome foi muito rápida: pensaram que era um tumor no cérebro, depois acharam que era um derrame, Parkinson... Você vai ficando maluca a cada diagnóstico”, conta Susana. Nessa época deram a ela dois anos de vida. Sua filha tinha apenas seis meses. Foi um período extremamente difícil, regado de incertezas. “Eu passava o dia inteiro nadando e pedalando, e cheguei a um ponto em que não conseguia nem ao menos escovar meus dentes”, desabafa. “Meu maior medo era faltar para meus filhos. Quando alguém te dá um prazo para sua morte, é horrível de escutar”. Mas a nadadora superou todas as expectativas médicas. Convocada para a Paralimpíada, Susana treina todos os dias no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, onde recebeu a Revista D+. “Tenho só 40% da capacidade respiratória e vivo com a doença há 11 anos, diferentemente da expectativa de vida de cinco a sete anos que geralmente outras pessoas têm”.

Acesse o QR Code abaixo e conheça mais da história de cada um dos paratletas. Confira também fotos exclusivas do ensaio de capa e a entrevista completa com Andrew Parsons. Além disso, preparamos uma linha do tempo completa sobre os Jogos Paralímpicos.

foto divulgação

NOSSA CAPA

Fernando Aranha e Geovanne Amorim: inclusão e desenvolvimento pelo esporte

LEGADO DE CAMPEÃO Fernando Aranha tem 37 anos, é paratleta e está entre os melhores do mundo no triatlo. O menino que pulava os muros do internato para jogar basquete em cadeira de rodas agora vai disputar medalha na Paralimpíada do Rio de Janeiro “Eu era arteiro como qualquer moleque da minha idade. Subia nos telhados, escalava árvores, subia nas cadeiras e pulava a janela”. Foi por esse dinamismo na juventude que Fernando encontrou-se com o esporte. Os muros do Pequeno Cotolengo ficaram realmente pequenos para esse competidor. Em 2010 decidiu entrar para o esporte de rendimento com a convocação da seleção brasileira no ciclismo usando uma handbike (do inglês “bicicleta de mão”). Desde então, as vitórias foram-se somando em seu currículo esportivo. “E se eu tivesse a oportunidade de ter uma cadeira esportiva quando era criança?”. Essa foi a pergunta que inquietou Fernando e que deu origem a um projeto chamado Inclusive Você em parceria com o Instituto Entre Rodas & Batom. Nele, crianças têm oportunidade de receber uma cadeira híbrida (que pode ser usada para

texto Renata Lins

o esporte ou substituir a social) para fazer educação física na escola. O primeiro a receber a cadeira do projeto, no ano passado, foi um garotinho para lá de sapeca, o Geovanne Amorim, de seis anos. O pequeno pratica natação, adora um futebol, e não larga a capoeira. Sim, ele não para. Disse até que “paga umas flexões” quando fica brincando na fila e não presta atenção na aula de capoeira. A mãe de Geovanne, Monica Ferreira Amorim, conta que soube aos cinco meses de gestação que seu filho teria má formação na coluna. Em 2013, durante um passeio na Virada Paulista, conheceu Fernando Aranha e Eliane Ozores, fundadora do Instituto Entre Rodas & Batom. “Foi amor à primeira vista, parecia que nos conhecíamos havia muito tempo e hoje é esse carinho enorme que eles têm por nós e nós por eles”. Monica diz que a cadeira esportiva auxiliou muito o desenvolvimento de seu filho: “Com certeza melhorou bastante com a cadeira. Ele sobe e desce o tempo todo, é muito ativo. A vida dele mudou muito depois desse presente”. O garoto completa: “Eu fiquei muito feliz, essa cadeira é muito melhor”.


O esporte proporciona uma mudança de mentalidade. A deficiência passa a ser só mais uma característica da pessoa Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro

Começou a treinar com o pessoal do paralímpico em 2010 e a vida, novamente pelas mãos do esporte, tomou outro rumo. “A inclusão da pessoa com deficiência no esporte é essencial. Como mudou a minha vida, pode mudar a de muita gente. É uma oportunidade que todos deveriam ter. Se eu não estivesse treinando, não estaria aqui contando essa história para vocês”. Susana é prova de que o esporte traz melhoras fundamentais, tanto físicas quanto psicológicas. Para ilustrar, ela conta: “Antes eu tinha vergonha de sair para comer fora, pois eu não consigo cortar carne, por exemplo. Depois que eu conheci o pessoal aqui e comecei a treinar com eles, eu me sinto muito mais à vontade. Agora, se eu

quiser comer um bife com a mão, eu simplesmente pego e como! Aqui eu tenho lição de vida todos os dias”. Para o presidente Andrew Parsons, “o esporte proporciona mudanças na vida de qualquer pessoa, tenha ela deficiência ou não. Temos casos de atletas que antes de conhecer o esporte paralímpico era desempregado e, graças à prática esportiva, conseguiram melhoras significativas em suas vidas, tanto na questão financeira quanto na social”, conta. “Já para a sociedade, o esporte proporciona uma mudança de mentalidade, de quebra de barreiras. Vemos as pessoas aplaudindo, admirando, torcendo pelos nossos atletas. A deficiência passa a ser apenas mais uma característica da pessoa”.

O esporte é uma plataforma que recusa a precarização da qualidade de vida das pessoas com deficiência. A dignidade que vem da persistência, mesmo enlaçado pelo preconceito e pelas inúmeras dificuldades, é o que mantém um atleta com o olhar onde deve: em sua satisfação pessoal e na melhoria global de sua vida. Coragem, habilidade, determinação e autonomia são para todos. “Espero, do fundo do coração, que a Paralimpíada não seja para mostrar as limitações das pessoas, mas o que elas são capazes de fazer”, confessa a velocista Terezinha. Ela completa: “Limitações todos nós temos. Nunca vi um ser humano voar sem ajuda de asa delta! Viu? Não dá para fazer tudo!”. D+ Revista D+ número 10


PERFIL

Letieri Brum Bianchini

Letieri buscou forças com a família para iluminar o caminho da pequena Eloah

A visão de um pai confrontado por uma realidade inesperada, com expectativas e sonhos que renascem, a todo momento, como um novo suspiro de vida texto Cintia Alves foto Alice Gonçalves

O

significado do nome da pequena Eloah – Deus, do aramaico Eláh, do siríaco Allahá e do árabe Iláh – condiz muito com os maiores princípios de sua vida: força, fé e esperança. Hoje com três anos, Eloah (lê-se Elôa) nasceu com uma doença rara chamada anoftalmia bilateral congênita (sem os globos oculares). Por conta do lábio leporino e da fenda palatina, foram idas e vindas ao hospital que deixaram sequelas, como a bronquiolite obliterante, que a faz utilizar, ainda, a traqueostomia, o bipap – aparelho ligado ao oxigênio, aspirador de secreção, inúmeras medicações e cuidados 24 horas por dia, por tempo indeterminado. O desabafo de seu pai, Letieri Brum Bianchini, 32 anos, professor de capoeira, deu origem ao livro Eloah - Uma história

de amor, fé, superação e união. Transcrito como um diário, traz os sentimentos mais confidenciais vividos por ele, como pai, desde o nascimento da filha mais nova. Com o apoio incondicional da esposa Tatiana Fraga e da filha mais velha Barbara, os fatos reais narrados têm o intuito de mostrar a outros pais e mães de filhos com deficiência que não estão sozinhos. “Nós podemos superar qualquer obstáculo e sermos felizes com nossas crianças”, afirma Letieri. Mesmo com o lançamento do livro, Letieri sente que ainda há muito a ser feito. “Lutamos para passar a nossa história e as experiências para todos que precisem, ou que tenham algum tipo de preconceito com o diferente”. Confira alguns trechos do livro:


Nem todas as histórias são de justiça e de beleza. A minha história é sobre amor, carinho e muita força de espírito. Nós já tínhamos uma filha e planejamos por sete anos esta segunda gravidez. No início são flores e festa e, ao longo da gestação, fomos criando sonhos e metas como qualquer casal esperando um filho. Um professor de capoeira e uma auxiliar de serviços gerais, querendo o melhor para as filhas. Éramos assim, vida simples e monótona, mas, penso eu, a simplicidade não nos queria por perto e a monotonia não gostava da gente. Minha filha nasceu em um domingo quente mesmo no inverno. Deste dia em diante minha vida mudaria para sempre. Eu subi para a maternidade já sabendo que algo estava errado. Estava nervoso e instável, tinha algo errado, mas ninguém me contou. Quando a enfermeira veio com a minha filha no colo sem deixar que eu a pegasse, falou: —Ela não tem globo ocular. —Ela vai enxergar? —Não, ainda vamos fazer alguns exames, mas ela é cega, disso sabemos. Estava em choque e mal podia falar. Quando fui ver minha filha, ela estava com uma touca na cabeça; quando cheguei perto, ela agarrou e puxou a touca tapando o rosto, como se não quisesse que eu visse seu rostinho. Sei que foi um ato involuntário, mas essas coisas ficam na memória da gente. Quando se tem filhos deficientes, há duas escolhas: você chora ou arruma os degraus de casa para que a criança não tropece. Escolhemos arrumar os degraus e seguir, e por incrível que pareça esse problema foi maior para os outros do que para nós. Mesmo com tudo isso, sempre amamos nossa filha e eu mesmo não consigo ver a deficiência dela como um fardo ou peso, não tivemos tempo para tristeza, só queríamos criar da melhor forma possível. Nossa situação piorou quando fizemos uma cirurgia malsucedida na pequena, que a deixou desnutrida e desidratada (...) boatos sobre tirarem a nossa filha de nós (...) foram muitos problemas pelos quais ela passou durante 1 ano, 10 meses e 5 dias de internação. Chegamos a ser aconselhados a desligar os aparelhos (...) o vírus deixou sequela (...) pulmões ficaram fracos. Durante estes quase dois anos, sofremos, brigamos e brincamos; sim, brincamos; houve dúvida de que ela sairia viva do hospital, ela teve fases em que só nós três (minha mulher, filha e eu) acreditávamos. Chegaram a achar que nós não entendíamos a situação, no entanto, eles é que não entendiam que por um filho se luta até o fim. Ainda lembro a primeira vez que minha filha quase morreu, pois estava com infecção generalizada logo no

começo da internação. Eu saí com meu carro e chorei muito, mas não de tristeza, pois sabia que ela iria viver; e não é que viveu? Hoje está aqui comigo, firme, forte e muito risonha. Nada nos fez desistir, nunca. Todos já nos sentimos culpados alguma vez na vida, isso é normal e até bom, mas quando nasceu minha filha, a primeira coisa que pensei foi: ‘o que eu fiz pra passar por isso?’. Hoje sei a resposta: nada! Às vezes acho que a cegueira pega em algumas pessoas também, pois fingem não a ver. Essa doença altamente contagiosa e muito nociva tem um nome, chama-se PRECONCEITO. Nem mesmo a gente sabe lidar direito com a situação no começo, então é certo que você também não saiba. Somos pais iguais a vocês, então pare com essa separação entre seus filhos e os nossos. Se estivessem no meu lugar, como gostariam de ser tratados? As dificuldades estão em toda parte. Tivemos que reaprender tudo sobre criar um filho. Cegos são difíceis de agradar, não adianta pôr na frente da TV, bichinhos coloridos não chamam atenção. Aprendemos sobre este mundo novo desde o zero. Não sei explicar o quão diferente é, mas tudo é aprendizado. Muito se fala sobre morte e como ela é imprevisível, mas quando se vive à sombra da morte de um filho, a gente aprende a dar valor a coisas que outras pessoas nem sempre notam. Por isso aprendi a agradecer e dar muitos abraços e beijos em todas as pessoas que gosto, até porque senti na pele uma frase dita por aí: ‘para morrer basta estar vivo’. Fico triste em pensar que o mundo vai ser muitas vezes cruel e amargo e que nem sempre estarei lá para defendê-la, mas farei tudo que puder para ensinar o caminho e que nem sempre a vida é justa, mas que se tiver coragem e vontade, tudo será possível. Todas as moedas têm dois lados. Assim como tivemos amigos se afastando com o nascimento da minha princesa, também vieram amigos novos e incríveis que se juntaram aos pouquíssimos amigos que restaram (...) pessoas apareceram para nos dar uma coisa que dinheiro não compra, deram esperança na humanidade. Evidentemente ainda teremos problemas, e minha filha ainda é cega, isso nada pode mudar. Até porque não é necessário: nós mudamos, nós somos unidos e fortes, conseguimos superar nossas maiores adversidades, medo e dores. Se acaso você conhece alguém que esteja na minha situação, faça um favor, abrace os pais, escutem o que eles falarem, um ombro amigo e um par de ouvidos é muito valioso em momentos difíceis.” D+ Revista D+ número 10


ACONTECE

Diversão garantida: Fábio Izaguirre (à direita) guia o passeio de trem juntamente com os recreadores

Em busca da autonomia A Apabb realizou o Acampamento de Inverno e entrou no clima esportivo com atividades recreativas para pessoas com deficiência texto Cintia Alves fotos Marcos Florence. De Itanhaém, São Paulo

A

Colônia de Férias dos Funcionários da Antiga Nossa Caixa – USCEESP, em Itanhaém, no litoral paulista, recebeu 42 acampantes, entre crianças, adolescentes e adultos com deficiência, para o encontro que acontece há 23 anos, nos meses de janeiro (verão) e julho (inverno), e para o Encontro Nacional de Técnicos de Esporte e Lazer, que oferece capacitação para profissionais de 12 estados. O projeto da Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade — Apabb, incluindo pessoas com deficiência, começou quando Vinicius Savioli, 43 anos, professor de Educação Física, era ainda um jovem universitário. Há 25 anos ele é o responsável pelas atividades de lazer e esporte da Apabb São Paulo. “Eu e meus amigos do curso começamos a trabalhar na Apabb cuidando dos filhos de associados durante as reuniões e assembleias. Com o tempo, o Programa de Lazer surgiu como uma transferência de responsabilidade e que ajudaria os pais a lidar melhor com os seus filhos”, lembra Vinicius. O projeto foi tão bem sucedido que, hoje, profissionais de 13 estados e do Distrito Federal realizam atividades de esporte e lazer nas Apabbs de todo país.

CAPACITANDO VIDAS A participação das famílias nos programas de lazer e esporte da associação são fundamentais para a criação do vínculo e da confiança entre os pais e os técnicos. Segundo Vinícius, “O recreador auxilia em qualquer dificuldade que a família possa ter durante o passeio. Preparando não somente o profissional, mas também a família para uma maior autonomia”. Técnicos e recreadores participam em todo o processo de pré-acampamento; sendo treinados e informados com relatórios sobre os perfis – como medicação, necessidades especiais, entre outros –, de todos os acampantes para se familiarizarem e auxiliarem na elaboração das atividades a serem desenvolvidas. Nesse ano o Acampamento de Inverno trouxe os Jogos de Inverno, com atividades interativas em lugares abertos e fechados, desafios cognitivos, esportivos, atividades de integração e inclusão por afinidade, música, caracterização e fantasias, para um público diversificado, com explicação verbal e visual. Todas as atividades foram niveladas e premiadas da mesma maneira, incentivando a capacidade de todos os participantes.


Eduardo Purper, jornalista, com paralisia cerebral, há 11 anos frequenta os acampamentos da Apabb

O coordenador da Apabb, Vinicius Savioli, orienta os técnicos e recreadores antes das atividades na cidade litorânia de Itanhaém

QUEM PODE PARTICIPAR?

CONHEÇA A APABB

O acampamento é aberto para acampantes com todos os tipos de deficiência, a partir dos oito anos, e não há limite de idade para participar. Além de professores de Educação Física, turismólogos, recreadores em geral e trabalhadores do setor de lazer. Para conhecer os projetos acesse o site www.apabb.org.br.

A instituição sem fins lucrativos, com certificado de filantropia e utilidade pública, voltada à inclusão e à qualidade de vida das pessoas com deficiência e ao apoio às suas famílias, está presente no Distrito Federal e nos estados: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo.

EVOLUÇÃO EVIDENTE São muitas as transformações durante o acampamento, como, por exemplo, começar a se alimentar sozinho. “Muitas vezes, por respeito, cuidado e excesso de amor, as mães limitam os horizontes dos filhos”, explica Vinicius. Foi durante 11 anos de acampamento que o gaúcho Eduardo Silva Purper, 30 anos, jornalista, com paralisia cerebral, adquiriu independência e autonomia. “A minha busca é sempre provar para mim mesmo que eu posso fazer algo e que posso mudar a minha história física”, comemora. Para Fábio Izaguirre Azeredo, 42 anos, professor de Educação Física responsável pelas atividades de lazer e esporte da Apabb Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o mais importante é nunca perder a oportunidade. “Como dizemos: o normal é ser feliz”. D+

Oficina

Dança para todos

Aulas gratuitas de dança Para mais informações, visite o site. wwww.oficinadancaparatodos.com.br


PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

O aluno com deficiência física na educação física escolar Veja como favorecer a aprendizagem de práticas corporais centradas no movimento numa abordagem inclusiva texto Claudine Davids* fotos Marcos Florence e Marcelo Coletto

D

o final do século XIX até a década de 1930, os programas de atividade física sob orientação médica, direcionados para a pessoa com deficiência, começam a se transformar em Educação Física. Em meados do século XX, ganha força o conceito de reabilitação, haja vista o crescente número de casos de poliomielite e as sequelas físicas muito presentes no pós-guerra. Em 1952, a Associação Americana de Saúde, Educação Física e Recreação constitui um comitê que define a Educação Física Adaptada como “um programa diversificado de atividades para o desenvolvimento, jogos, esportes e ritmos adequados aos interesses, capacidades e limitações dos estudantes com deficiência que talvez não possam com segurança ou com sucesso envolver-se com plena participação em atividades rigorosas dos programas de educação física em geral”.


Revista D+ nĂşmero 10


PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Décadas mais tarde, o movimento desencadeado pela Declaração de Salamanca, de 1994, impulsiona a elaboração de legislações por todo o mundo, e a Educação Física Adaptada também avança. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) para a Área de Educação Física, o princípio de inclusão torna-se eixo de discussão. Enquanto subárea do conhecimento da Educação Física, a Educação Física Adaptada promove a cultura corporal de movimento para pessoas com deficiência e passa a fazer parte da proposta pedagógica das escolas. A discussão principal deixa de ser como adaptar uma aula para um aluno com determinada deficiência, pois o princípio básico de inclusão destaca a necessidade de todas as aulas serem destinadas a todos os alunos. Assim, para favorecer a participação e a aprendizagem do aluno com deficiência nas aulas de Educação Física escolar, devem ser utilizadas estratégias inclusivas. Algumas dessas estratégias são abordadas por Alex Fabiano Santos Bezerra na tese Estratégias para o ensino inclusivo de alunos com deficiência nas aulas de Educação Física. PRÁTICAS CORPORAIS CENTRADAS NO MOVIMENTO A Educação Física escolar atual, no Brasil, preocupa-se com o ser humano em toda a sua complexidade, sem se deter no corpo do aluno como um instrumento a ser aprimorado para o alcance de um determinado rendimento. Assim, em vez de centrar-se na aptidão física ou exclusivamente na competição, o tensionamento é para que ela seja inclusiva e ofereça múltiplas possibilidades educativas à diversidade de alunos. O currículo deve levar em conta as experiências deles e estender-se na direção dos conteúdos construídos ou sistematizados na escola. A cultura corporal de movimento, objeto de estudo da Educação Física escolar, deve ser compreendida em toda a pluralidade das práticas corporais, visando à apreensão da expressão corporal como linguagem. Cada prática corporal propicia ao aluno o acesso a uma dimensão de conhecimentos e de experiências à qual ele não teria acesso de outro modo. Essas práticas corporais são práticas sociais centradas no movimento; são textos culturais a serem lidos e produzidos (e não apenas reproduzidos), ou seja, o corpo é produzido pela linguagem ao mesmo tempo em que é produtor de linguagem. Assim como os demais componentes curriculares da área de Linguagens, a Educação Física tem por objetivos ampliar as possibilidades de uso das práticas de linguagens, conhecer a organização interna dessas manifestações, compreender o enraizamento sociocultural dessas práticas e como estão presentes nas relações humanas.

Vania mostra que o professor de Educação Física escolar pode colocar uma bola comum dentro de um saquinho de supermercado para conseguir que ela faça mais barulho (e possa ser usada no goalball inclusivo, por exemplo, na falta de uma bola com guizo)

Na Base Nacional Comum Curricular atualmente em discussão, as práticas corporais estão organizadas de acordo com as seguintes manifestações da cultura corporal de movimento: brincadeiras e jogos, esportes, danças, ginásticas (demonstração, condicionamento físico e conscientização corporal), lutas e práticas corporais de aventura. Assim, ao brincar, dançar, jogar, praticar esportes, ginásticas ou fazer atividades de aventura, os alunos se apropriam de suas lógicas específicas (regras, códigos, rituais, organização, táticas, etc.) e trocam, entre si e com a sociedade, as representações e os significados que lhes são atribuídos. Por exemplo, brincadeiras e jogos podem contribuir para o desenvolvimento de conceitos que são generalizados para outros contextos. O esporte, por sua vez, pode ser um


tempo sentadas na mesma posição ou encostadas numa superfície dura pode provocar ferimentos ou escaras. Em geral, soluções simples previnem o problema - como o uso de um colchonete para sentar e constantes mudanças de posição corporal. Mas há outros casos em que certas posturas ou movimentos não são recomendados. Por isso, é preciso prudência: pedir orientação aos pais, conversar também com o próprio aluno e buscar uma boa parceria com o cuidador. ALGUMAS BRINCADEIRAS, JOGOS E ESPORTES INCLUSIVOS No ensino fundamental, devem-se apresentar jogos tradicionais e populares, bem como brincadeiras, dando-se continuidade ao brincar focalizado na educação infantil. Vania sugere que brincadeiras e jogos cooperativos também sejam trabalhados com toda a turma. Nesse tipo de jogo, não se joga contra, mas com. São brincadeiras inclusivas, que reforçam o trabalho em equipe, o respeito e a colaboração, as quais podem fazer parte de um projeto ou de uma sequência didática. Exemplos: Voleibol de lençol. É uma brincadeira em que os alunos terão de aprender a se organizar como grupo para realizar o passe. Depois de explicar as regras fundamentais do voleibol, o professor divide a turma em grupos e para cada um deles dá um lençol. Começar com um grupo de cada lado da rede, que pode estar mais baixa se as crianças forem pequenas ou se houver um aluno cadeirante. Cada equipe terá de lançar a bola do outro lado da rede com a ajuda do lençol, sem colocar a mão na bola ou deixar que ela caia no chão. Se a bola cair, será ponto do time adversário. Ganha a equipe que fizer mais pontos.

Quadra 1

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No voleibol de barbante, a quadra da escola é dividida em seis partes (ou em três quadras menores), dando espaço para seis grupos que vão rodando. Então, a princípio jogam 1/6, 2/5 e 3/4; na sequência, 6/5, 1/4 e 2/3; depois, 5/4, 6/3 e 1/2; e assim por diante

Barbante - Rede

elemento humanizador, favorecendo a disciplina e a criação de hábitos saudáveis, vínculos de amizade e respeito, solidariedade, convívio com as diferenças, abrindo oportunidades para a problematização de preconceitos, principalmente os relacionados à aparência ou desempenho corporal. Tudo isso é negado à pessoa com deficiência quando ela é impedida, ainda que parcialmente, de participar das aulas de Educação Física, um dos componentes curriculares obrigatórios na educação básica segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9.394/96). Não importa se é por negligência, preconceito ou superproteção: é indefensável negar o direito à educação a uma criança ou adolescente. Mas o que o professor de Educação Física deve fazer ao receber, por exemplo, um aluno com deficiência física? Vania Lafemina Soares, professora coordenadora do Núcleo Pedagógico de Educação Física (PCNP) na Diretoria de Ensino Região Centro Sul, orienta que o professor, em primeiro lugar, procure garantir a segurança do aluno no local. “Como ele fará para chegar ao pátio com segurança? Pisos, quadra... Avaliar as condições de acessibilidade. Apresentar-lhe o espaço, deixar que o explore. Se for o caso de apresentações entre os alunos, deixar que lhes mostre a cadeira de rodas. Uma coisa que ainda é difícil é o professor tirar o aluno da cadeira de rodas”, diz ela. Se a criança tiver boa sustentação de tronco, o ideal é que, durante a aula de Educação Física, ela fique posicionada como as demais, pelo menos nas atividades que não exijam amplos deslocamentos. Entretanto, para crianças que não sentem partes do corpo, como nos casos de mielomeningocele, ficar sobre superfícies muito aquecidas pelo sol ou deslocar-se por arrastamento em chão áspero (de areia ou cimento) ou até mesmo se manter por muito


PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA O aluno [com deficiência física] não deve ficar ocioso, sendo sumariamente dispensado da atividade, atuando como mero expectador ou desempenhando subpapéis, tais como auxiliar na contagem (placar), ajudar a bater corda para os colegas pularem, segurar/sustentar objetos e outras funções que o subjuguem Mey Munster

Veja a agenda de alguns eventos na área de educação especial. Com seu celular, faça a leitura do QR Code abaixo ou acesse o link www.revistadmais.com.br/ed10_agenda

Voleibol de barbante. Amarrar corda ou barbante nas duas traves da quadra, cortando a quadra ao meio, como na ilustração. Organizam-se seis times, três de cada lado. Os alunos devem dar três toques com a bola de vôlei, sem repetir o colega, e passar. Inicia-se apenas arremessando a bola para o outro lado, depois se treinam toque, manchete e saque. Toda vez que um time completar onze pontos, rodam os seis pela quadra, de forma que cada time jogará com um novo time adversário. Dependendo do comprometimento motor do aluno com deficiência física, ele poderá ter um ajudante que pegue a bola para ele e que o ajude a passá-la. O importante é que a bola vá para ele em algum momento, razão pela qual a bola sempre deve passar por três jogadores diferentes antes de ir para o outro lado. Os alunos que não têm independência para arremessar podem ter algum grau de autonomia (para decidir a quem jogar, por exemplo). Neste caso, o ajudante funcionará como os braços do aluno com deficiência física. A cada rodada na quadra, deve mudar o ajudante, a fim de que todos possam aprender a cooperar. Adaptações nas atividades devem ser feitas apenas quando e sempre que necessário. Segundo a Profa. Dra. Mey de Abreu van Munster, do Departamento de Educação Física e Motricidade Humana da Universidade Federal de São Carlos, primeiro o professor de Educação Física deve avaliar o seu aluno com deficiência e a possibilidade de ter acesso aos conteúdos do currículo comum. Então, poderá empregar recursos e estratégias usuais ou diferenciadas. A pesquisadora lembra que o professor deve incentivar a participação da pessoa com deficiência nas decisões referentes às adaptações durante a prática de atividades; proporcionar-lhe opções de escolha e possibilidades de combinação de adaptações; e garantir-lhe a participação nas atividades, ainda que seja necessária assistência física. Também é importante oferecer a mesma variedade de jogos, esportes e atividades recreativas para crianças com ou sem deficiência e incentivar a prática de atividades coletivas e comunitárias. As necessidades do aluno podem se alterar com o tempo, razão pela qual as adaptações precisam ser reavaliadas periodicamente. Ainda segundo Mey de Abreu van Munster, o professor não pode privar um grupo de alunos de conhecer os conteúdos previstos no currículo comum por causa dos impedimentos de um único aluno, mas este também não poderá ficar ocioso, ser dispensado da atividade ou ser levado a desempenhar apenas subpapéis (como bater corda para os amigos pularem, auxiliar na marcação do placar ou


Marcelo exibe uma bola com guizo, que utiliza em suas aulas de goalball inclusivo

segurar objetos). Em alguns casos, será necessário recorrer a um conteúdo alternativo, como no caso de um aluno usuário de cadeira de rodas, paraplégico, que não consiga saltar (em altura ou extensão): ele poderá ter acesso a outras provas do atletismo, como arremessos e lançamentos. Mey explica que o professor também pode recorrer a um conteúdo adaptado, ou seja, a atividades elaboradas ou modificadas para atender às necessidades de pessoas com deficiência. Os esportes adaptados são um exemplo disso, pois foram sistematizados de forma a permitir a participação de pessoas com deficiência, por meio de adequações e ajustes nas regras. Segundo Marcelo Coletto, professor de Educação Física da E. E. Major Arcy, em São Paulo, várias modalidades de esporte adaptado, como a bocha e o goalball, podem ser praticadas na escola numa abordagem inclusiva, permitindo a participação de pessoas com ou sem deficiência. Pesquisas mostram que o professor de Educação Física muitas vezes não sabe como desenvolver atividades adaptadas que também motivem os demais alunos e que tenham potencial para desenvolver valores como cooperação e respeito, essenciais na tão almejada educação inclusiva. Na prática de Marcelo, as aulas inclusivas surgiram, há dez anos, a partir da curiosidade de um aluno:

como uma pessoa que não tem um braço ou uma perna pode fazer atletismo? Como um cadeirante pode jogar basquete? Como uma pessoa cega pode jogar bola? O professor pesquisou, estudou e começou a praticar com os alunos que recebia: “Foi mais difícil pensar no aluno com deficiência física porque a escola não era acessível. No início, os demais alunos não o queriam no time, porque achavam que, com ele, perderiam o jogo. Era um aluno paraplégico, com boa sustentação de tronco, que tinha uma cadeira de rodas comum. Apresentei o basquete em cadeira de rodas para a turma: os fundamentos, as regras adaptadas. Conversei muito com o aluno. Deu certo. Enquanto ele jogava sentado em sua cadeira, os colegas jogavam sentados em carrinhos de rolemã que construímos com a professora de Artes, num projeto interdisciplinar. Depois ele quis experimentar o carrinho, também. Com o tempo, fortaleceu amizades e ganhou autonomia: aprendeu a ir de ônibus a outro bairro para jogar com os amigos. Joga basquete em cadeira de rodas até hoje”. Marcelo explica que os jogos têm normas que podem ser previamente combinadas entre os participantes, ao passo que os esportes têm regras preestabelecidas por instituições que regem cada modalidade esportiva, como ligas, federações, confederações ou comitês olímpicos. O jogo de damas,

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PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Saiba mais BEZERRA, A. F. S. Estratégias para o ensino inclusivo de alunos com deficiência nas aulas de Educação Física. 2010. 108 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2010. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – 2ª versão revista. Brasília: MEC, 2016. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental/ Secretaria de Educação Especial. Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares. Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1998.

Na escola, o goalball pode ser praticado sentado por pessoas com deficiência física e até por pessoas sem nenhuma deficiência, sempre vendadas, numa abordagem inclusiva

por exemplo, tem normas mais livres do que as regras do xadrez, que é um esporte. “No caso do basquete em cadeira de rodas, que é um esporte adaptado, após duas impulsões nas rodas da cadeira, o aluno deve arremessar, quicar ou passar a bola. Já as dimensões da quadra e a altura da cesta são as mesmas usadas no basquete olímpico. Então, mostramos aos alunos que o atleta cadeirante tem de fazer mais força do que os outros, o que é motivo de admiração”. O professor alerta que é importante não descaracterizar a modalidade. Na escola, o professor pode ter de fazer uma adaptação, como usar uma quadra de tamanho menor do que a oficial, mas é importante mostrar para a turma como é o modelo oficial por meio de um vídeo, por exemplo. Se os alunos forem convidados a pesquisar no Portal Oficial do Governo Federal sobre os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, encontrarão as regras e um pouco sobre a história de cada modalidade. Descobrirão que, no caso do basquete em cadeira de rodas, os atletas precisam usar cadeiras padronizadas e que existe uma classificação de funcionalidade referente à deficiência dos jogadores para assegurar a competitividade entre eles. D+

MIRON, Edison Martins. Da pedagogia do jogo ao voleibol sentado: possibilidades inclusivas na educação física escolar. 2011. 332 f. Tese (Doutorado em Educação Especial) – Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2011. MUNSTER, Mey de Abreu van. Inclusão de estudantes com deficiências em programas de Educação Física: adaptações curriculares e metodológicas. Revista da Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada, v. 14, p. 27-34, 2013. RIBEIRO, Sônia Maria. O esporte adaptado e a inclusão de alunos com deficiências nas aulas de educação física. 2009. 169 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2009. SOUZA, Joslei Viana de. Tutoria: estratégias de ensino para inclusão de alunos com deficiência em aulas de educação física. 2008. 136 f. Tese (Doutorado em Educação Especial) – Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2008.

* Claudine Davids é assessora de projetos pedagógicos da Revista D+, mestra em Educação (FE-USP), bacharela e licenciada em Letras/Português e Francês (FFLCH-USP)


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EDUCAÇÃO Em Pauta

Aprendizagem e ensino

É preciso identificar as múltiplas possibilidades de aprendizagem na prática pedagógica

Sobre alguns eixos condutores da educação brasileira texto Rosa Buccino

R

ogério Drago, pedagogo, que tem doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e pós-doutorado em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), lançou, recentemente, o livro Síndromes: conhecer, planejar e incluir, onde retrata as principais síndromes apresentadas por crianças nas escolas comuns, discute as possibilidades de aprimorar o processo de escolarização e contribui para que a prática docente e pedagógica da escola identifique as múltiplas possibilidades de aprendizagem dessas crianças para além de suas peculiaridades. Mas o autor ultrapassa as abordagens de seu livro ao opinar sobre aprendizagem e ensino de modo a colaborar com professores, pedagogos, familiares e pessoas que, de alguma forma, têm comprometimento com questões relacionadas à educação brasileira, com enfoque nas pessoas com deficiências.


fotos divulgação

A inclusão requer postura democrática, estudo, planejamento e políticas públicas sérias

Drago comenta sobre a descontinuidade de ações na educação e que essa situação está relacionada, por exemplo, à falta de investimento na formação inicial e continuada dos profissionais nessa área; às lacunas na política educacional, que acabam, muitas vezes, colocando a culpa pelo fracasso escolar no aluno ou na família (em suas mais variadas conformações); pouco incremento na infraestrutura física e material das escolas; dentre outras precariedades que culminam em uma desqualificação da ação docente referente à aprendizagem do aluno. Além disso, ele menciona o fato de não haver uma metodologia para ensinar pessoas com deficiência, mas sim uma mudança de postura perante elas. “Pela legislação brasileira, que por sinal é uma das mais atuais e inclusivas do mundo, desde a Lei de Diretrizes e Bases nº. 9.394/96, passando por decretos, resoluções, e Políticas Educacionais até o novo Plano Nacional de Educação e o Estatuto da Pessoa com deficiência, percebemos um processo de aprimoramento e entendimento (ao menos na Lei) do que seja o processo educativo das pessoas que hoje compõem o público-alvo da educação especial.

Essa legislação deixa claro quais são os deveres da Federação, dos estados, municípios e escolas no tocante à educação desses indivíduos. Entretanto, sabemos que no Brasil as coisas seguem caminhos muitas vezes ambíguos e paradoxais, ou seja, não se concretizam como preconizado pela Lei. Dentre os apoios oferecidos, a legislação é clara em relação ao Atendimento Educacional Especializado (AEE); às propostas de acesso, permanência e saída com sucesso da escola; às propostas de formação inicial e continuada dos diferentes profissionais da educação dentre outras ações inclusivas. O problema é novamente a postura diante da diversidade”, ensina. Recentemente, Drago orientou um trabalho de mestrado sobre o potencial inclusivo vivido por um bebê com síndrome de Down na educação infantil, que está disponível no banco de pesquisas do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo. “Também conheço outros casos de alunos com síndrome de Down matriculados em redes de ensino públicas e privadas em meu estado (Espírito Santo) que alcançaram os níveis mais altos de ensino”, reforça.

Revista D+ número10


EDUCAÇÃO Em Pauta

Entre soluções e tendências Palestras discorrem sobre educação, inclusão e aprendizagem texto Rosa Buccino fotos Ricardo Berlitz (Bett Brasil Educar 2016)

A

ncorada em um tema central: “Melhor Educação, Melhor Sociedade”, a Bett Brasil Educar 2016 integrou diversos públicos em torno das premissas pedagógicas fundamentais, colocou em discussão os novos paradigmas para a aprendizagem, mostrou tendências, inovações, tecnologias e novas formas de pensar e fazer educação, além de seminários, palestras, cursos e workshops paralelos. “Reunir tomadores de decisão, professores, coordenadores, gestores, grandes players do segmento educacional e startups foi uma vitória para a educação brasileira”, disse Vera Cabral, curadora e consultora em educação da feira.

Vera Cabral


Márcia Honora e Jane Patricia Haddad: buscando uma situação de equidade educacional entre os alunos

POR DENTRO DAS ABORDAGENS Na palestra Dificuldades e Transtornos Escolares: Práticas de Identificação de Sintomas e de Intervenção Psicopedagógica, Isabel Parolin1 destacou sobre a era do conhecimento e da aprendizagem e a necessidade de um sujeito ativo, que saiba como aprender e identificar o contexto no qual está inserido, lançando e respondendo à pergunta: Como mediar aprendizagens quando o aprendiz tem uma necessidade específica em seu estilo de aprender? A escola tem a tarefa social de mediar a construção desse aprendiz e a psicopedagogia transita no espaço entre escola, aprendiz e comunidade. O Trabalho com a Diversidade na Sala de Aula, palestra de Denise Rampazzo da Silva2, destacou a diversidade da sociedade brasileira. “Há tempos, os documentos oficiais orientam para que as instituições escolares trabalhem com questões relativas à diversidade. Entretanto, em muitas escolas o tema ainda é tratado como um adendo ao currículo ou a um projeto especial”, alertou. Já Márcia Honora3 e Jane Patricia Haddad4 realizaram a palestra Organização Curricular e o Sentido da Educação Inclusiva, cujo conteúdo discorreu sobre a inclusão de alunos com deficiência na sala de aula regular. “Isso requer que o professor busque novos métodos e ferramentas para adequar o currículo de forma que todos possam ter as mesmas oportunidades, buscando uma situação de equidade educacional entre os alunos”, orientaram. Segundo Klaus Schlünzen Junior5, em sua palestra Orientações para a Educação de Crianças com Necessidades Especiais: Promovendo a Educação Especial Inclusiva com o Uso das TICs: “pensar em uma escola inclusiva e que usa as tecnologias digitais em seu cotidiano é enxergar um dos cenários mais desafiadores para professores, gestores e para a comunidade em geral. Assim, evidencio as possibilidades que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e a Tecnologia Assistiva (TA) oferecem para promover não só o processo de inclusão de pessoas com deficiência, mas a oportunidade da educação de qualidade, em uma perspectiva construcionista, contextualizada e significativa. Destaca-se, para tanto, a necessidade de um trabalho intervencionista na academia que forma os futuros educadores, com o uso impregnado das tecnologias na sua prática docente com estratégias e recursos que permitam ao professor trabalhar com as diferenças em uma escola inclusiva e digital”.

Klaus Schlünzen Junior: perspectiva de alcançar resultados para toda uma comunidade ávida por novos espaços de aprendizagem mais contextualizados e significativos

1. Isabel Parolin: Pedagoga. Especialista em Psicodrama e Psicopedagogia. Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP. Psicopedagoga Credenciada pela ABPp e Pesquisadora do grupo GAE-PUC-PR. 2. Denise Rampazzo da Silva: Bacharel e licenciada em Ciências Sociais (1989) e Mestre em Educação (2008) pela Universidade de São Paulo. Leciona no curso de Pedagogia do Instituto Singularidades, São Paulo. É consultora na área de educação e políticas públicas. 3. Márcia Honora: Graduada em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1992) e Mestre em Educação pela Universidade Cidade de São Paulo (2005). É professora universitária de Língua Brasileira de Sinais para turmas de licenciaturas em EAD e no presencial

com aulas voltadas à Saúde e Educação. 4. Jane Patricia Haddad: Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Docência do Ensino Superior pelo Centro Universitário Newton Paiva, Teoria Psicanalítica pela UFMG e Psicopedagogia pelo Centro Universitário de Belo Horizonte. Mestre em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná. 5. Klaus Schlünzen Junior: Professor livre-docente em Informática e Educação pela Universidade Estadual Paulista - Unesp, com estágio de Pós-doutoramento na Universitat de Barcelona. É coordenador do Núcleo de Educação a Distância da Unesp, professor do Departamento de Estatística e do programa de Pós-graduação em Educação.

Isabel Parolin: a psicopedagogia transita no espaço entre escola, aprendiz e comunidade

Denise Rampazzo da Silva: as instituições escolares devem trabalhar com a diversidade

Revista D+ número 10


EDUCAÇÃO Em Pauta

Cláudio Baptista, Eduardo Manzini e Sadao Omote, professores pesquisadores de referência na área, discutem a formação do pesquisador em Educação Especial

Congresso de educação reúne pesquisadores conceituados Unesp de Marília completa 40 anos inovando em congresso internacional sobre os desenhos contemporâneos da Educação Especial e Inclusiva texto Claudine Davids fotos Lucas A. P. de Moraes

E

m maio, a Revista D+ cobriu, com exclusividade, o I Congresso Internacional de Educação Especial e Inclusiva, realizado em conjunto com a XIII Jornada de Educação Especial, cuja proposta foi discutir Desenhos Contemporâneos da Educação Especial e Inclusiva: fundamentos, formação e práticas. Organizado em Marília, interior de São Paulo, pela Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (Linha Educação Especial) e pela Fundepe (Fundação para o Desenvolvimento do Ensino, Pesquisa e Extensão), o evento recebeu o apoio de várias instituições, como as agências de fomento à pesquisa Capes e CNPq. A Revista D+ presenteou os participantes com exemplares da revista e promoveu o sorteio de três assinaturas anuais. Estavam presentes alunos de graduação, de pós-graduação, professores da educação básica, profissionais e pesquisadores das melhores universidades brasileiras e de fora do País, totalizando mais de 900 congressistas (dentre os quais vários profissionais com deficiência), que puderam trocar

experiências e prestigiar a produção científica da área. Anna Augusta S. de Oliveira, livre-docente em Educação Especial e coordenadora do evento, salientou: “Tivemos oportunidade de discutir sobre a necessidade de modificações significativas na estrutura e organização da escola, das práticas pedagógicas, das metodologias de ensino, assim como refletir sobre o processo de diagnóstico e a necessidade de diálogos intersetoriais para que não ocorram a medicalização e a patologização dos processos educacionais”. Segundo ela, além dos minicursos e debates já tradicionais nesse tipo de evento, a comissão organizadora implementou inovações, como as rodas de conversas temáticas e painéis eletrônicos para apresentação dos pôsteres. A mesa de abertura foi composta pelo diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências, Prof. Dr. José Carlos Miguel; pelo chefe do Departamento de Educação Especial, Prof. Dr. Eduardo José Manzini; pela coordenadora do congresso, Profa. Dra. Anna Augusta S. de Oliveira; e pela coordenadora da comissão científica, Profa. Dra. Lígia Maria P. Braccialli.


PREMIAÇÃO A entrega do Prêmio “Sadao Omote” finalizou a Jornada, lembrando os 40 anos da Unesp. Sadao Omote é um professor livre-docente em Educação Especial, referência na área, que atua na Unesp de Marília. Foram premiados os seguintes trabalhos:

Modalidade Relevância Científica/Social

Anna Augusta Sampaio, organizadora do evento, e Paul Baker, um dos ilustres conferencistas

A conferência inicial, intitulada “O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) e os diagnósticos frente ao contexto escolar: questão da medicalização e patologização da aprendizagem”, foi ministrada pelo Dr. Paul Keith Baker, secretário da International Mental Health Collaborating Network – Manchester, Grande Manchester, Reino Unido. Ele buscou esclarecer o significado do diagnóstico e suas implicações para a educação, uma vez que dificuldades escolares frequentemente são tratadas como problemas médicos, levando a uma medicalização e patologização desnecessária e fazendo com que alguns escolares sejam considerados como público-alvo da educação especial sem o serem. O evento contou ainda com a participação de outros ilustres conferencistas nacionais e internacionais. A programação cultural trazendo, por exemplo, o Coral da Universidade Aberta da Terceira Idade (UNATI), emocionou a todos. Para acessar os anais do congresso, acesse o site: www.fundepe.com/jee2016 D+

1. “Desafios da aprendizagem de Português/ Libras por meio da tradução de material didático com uso de avatares expressivos: foco na criação de conceitos para o ensino de Ciências”, de Kate Mamhy Oliveira Kumada (Feusp); Ivani Rodrigues Silva, José Mario De Martino, Paula D. Paro Costa, Luciana Aguero Rosa (Unicamp); Ângelo B. Benetti (CTI Renato Archer). 2. “Precocidade e altas habilidades/superdotação: a elaboração de um manual de orientação para professores”, de Bárbara Amaral Martins, Miguel Claudio Moriel Chacon (Unesp – Marília). 3. “Uso de comunicação alternativa e ampliada em aluno com TEA no atendimento educacional especializado”, de Cláudia Togashi, Cátia Crivelenti de Figueiredo Walter (UERJ).

Inovação/Refinamento Metodológico 1. “Tornando ilustrações de Física acessíveis para estudantes cegos”, de Josiane P. Torres, Enicéia Gonçalves Mendes (UFSCar). 2. “Representações sociais de professores de Ciências sobre o processo de inclusão na escola regular”, de Maíra Souza Machado, Maxwell Siqueira, Rafaela R. Oliveira (UESC); Ana Cristina. S. Duarte (UESB). 3. “Avaliação do desempenho em leitura e escrita de jovens e adultos com deficiência intelectual”, de Érika R.M. da Silva; Lidia M. M. Postalli (UFSCar). A Revista D+ parabeniza todos os contemplados, bem como a comissão organizadora do evento!

MARIO CARAHYBA ADVOGADOS ASSOCIADOS

ADVOCACIA CIVIL, CRIMINAL E TRABALHISTA Consultoria Especializada – Atuação em todo o território nacional trazendo profissionais altamente qualificados, com larga experiência de mais de 25 anos dirimindo as mais diversas questões. Assessora e desenvolve atividades nos âmbitos contencioso e consultivo, atuando nas áreas Cível, Criminal e trabalhista para pessoa física e jurídica, com defesa em plenário do júri e sustentação oral em tribunais. São Paulo Rua 7 de abril, 125, cj 211. Centro – CEP 01043.000 - Tel: 11 3255.5222 / 99583.1903 Rio de Janeiro Av. das Américas, 16299, Cobertura 301. Recreio – CEP 22640.102 - Tel: 21 96950.6242


IDOSOS Radar

Um novo perfil social Em busca de realização, as pessoas idosas estão mudando a maneira como conduzem a vida

H

texto Rosa Buccino

á quem ainda discorde, mas é fato que a realidade das pessoas idosas no Brasil é outra hoje em dia. O mais interessante é que elas estão dispostas a superar certos desafios que jamais cogitariam no passado, pois estão aprendendo a envelhecer com total desprendimento, mesmo diante da real idade cronológica. Um desses desafios é a predisposição que uma parcela delas tem para retornar ao mercado de trabalho. Até por isso, há, hoje, empresas especializadas em reinserção profissional.


POPULAÇÃO TOTAL - GRUPOS ETÁRIOS GRUPO ETÁRIO

2000

TOTAL

173.407.914

60+ %60+

2010

Fonte: IBGE

2016

2020

2030

2040

2050

2060

195.545.593 206.361.996 212.537.006

224.051.870

229.112.832

227.317.649

219.137.241

14.195.299

19.594.269

24.948.228

29.322.904

41.651.428

54.3456.16

66.662.062

73.893.498

8,2

10,0

12,1

13,8

18,6

23,3

29,3

33,7

Mudança do perfil social brasileiro em pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE), que aponta projeções de que o Brasil terá mais pessoas idosas e menos jovens nos próximos anos.

A Atento, considerada uma das maiores empregadoras do país, inclusive na recolocação de pessoas idosas, destacou o caso bem sucedido de Zilmar Laurindo Fraga, funcionária de 75 anos, que atua como operadora de Serviço de Atendimento ao Cliente na empresa. Outro caso que evidencia o valor das pessoas idosas no mercado de trabalho é o de Laís Leboutte, 62 anos, que montou a Prepara Cursos, uma franquia do segmento educacional. “O negócio oferece qualificação profissional, dissemina conhecimento e encaminha candidatos ao mercado de trabalho”, comentou a empreendedora que já acumula 150 alunos ativos na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. “Recomendo às pessoas idosas que também invistam na realização de seus sonhos”, destacou. Outro caso que remete à empregabilidade de pessoas idosas é o da DMV Comunicação, agência de publicidade nacional que, recentemente, ofertou a vaga de Estagiário Sênior, destacando, nas entrelinhas do anúncio, que a experiência de vida do candidato era um item fundamental para aquela contratação. Sintonizada com essa reviravolta de valores, Maria Angélica Sanchez, presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) observa: “os jovens de hoje serão parte da força produtiva do país em futuro nem tão distante”. Por saber disso, ela criou um concurso de redação intitulado Como eu Quero Envelhecer, cujo objetivo foi colher as impressões dos jovens diante do fato irreversível que é envelhecer. Outra empresa que aposta no segmento dedicado às pessoas idosas é a Tonederm, empresa gaúcha fabricante

foto divulgação

Grupo de senhoras participou da campanha Viva a Beleza de Viver Bem

de equipamentos para a estética que, entre ações inovadoras, desenvolveu a campanha Viva a Beleza de Viver Bem voltada para a Terceira Idade, durante a Hair Brasil, feira do segmento de beleza e estética, de grande alcance nacional. “O objetivo foi abrir espaço para as pessoas idosas, pois o Brasil já conta com projeções indicativas do crescimento dessa camada populacional”, comentou Patrícia Paganin, diretora de marketing da empresa. D+

Revista D+ número 10


IDOSOS Depoimento

Envelhecimento é o tema da vez O Dr. José Elias Pinheiro, preceptor da residência médica de geriatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), de 2010 a 2012, em depoimento exclusivo texto Rosa Buccino

Revista D+: Como observa o tema envelhecimento? O envelhecimento é uma conquista da humanidade, decorrente de avanços nas mais diversas áreas de conhecimento. É um processo, que em nosso país, está ocorrendo mais rápido do que em países mais desenvolvidos. Infelizmente, as políticas públicas no Brasil ainda não contemplam como prioridade, de forma concreta e robusta, o segmento da população acima dos 60 anos. Além disso, são poucos os jovens que reconhecem que um dia serão pessoas idosas e que podem ter atitudes, desde a juventude, que contribuam para um envelhecimento com qualidade e dignidade.

Crê que as pessoas idosas estão mais ativas e participativas em nosso país? A mídia tem ajudado a sensibilizar as pessoas idosas a manterem autonomia e independência. Pense nessas pessoas de 30 ou 40 anos atrás em comparação com pessoas idosas de hoje. São bem diferentes. No filme Chuvas de Verão, dirigido por Cacá Diegues em 1977, o personagem de Jofre Soares tem 70 anos e, aposentado, vive em casa de pijamas! Hoje, ao contrário do roteiro do filme, muitos homens nessa mesma faixa etária trabalham e até praticam exercícios físicos. Outro detalhe: faz tempo que as

pessoas idosas deixaram de cuidar dos netos para se emanciparem e adquirirem novos hábitos, como viajar, dançar ou praticar atividades físicas. Apesar disso, estamos longe de desenvolvermos programas mais abrangentes de envelhecimento ativo, conforme os padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Pode orientar as pessoas idosas sobre lidar com saúde, bem estar e qualidade de vida? Um envelhecimento de qualidade engloba promoção da saúde, participação nos processos decisórios comunitários e governamentais, segurança e manutenção de um sistema de renda assegurado pelas leis previdenciárias. É importante ter uma boa rede de contatos, estimular o humor e elaborar metas realistas.

Crê que leis e regras voltadas às pessoas idosas são aplicadas na íntegra em nosso país? Existem leis que asseguram qualidade e dignidade no processo de envelhecimento. Na prática, no entanto, elas não são exercidas na íntegra por falta de fiscalização e de punição das infrações rotineiramente cometidas. A sociedade precisa adaptar-se ao fato de que as pessoas idosas serão cada vez mais frequentes


foto Antonio Batalha

em seu meio, e isso vai de ceder-lhes o lugar no ônibus ou no metrô a respeitar sua prioridade em estabelecimentos comerciais.

Quais alimentos devem compor um cardápio saudável voltado para as pessoas idosas? Alimentos ricos em carboidratos (cereais, leguminosas, massas e pães) devem representar em torno de 60% das calorias ingeridas diariamente. A fonte proteica pode ser constituída por clara de ovos, carne vermelha magra, frango, peixe, leite desnatado e seus derivados. Vitaminas e minerais só devem ser adicionados na evidência laboratorial de sua deficiência. Não há evidências convincentes de que um excesso de vitaminas possa trazer benefícios.

Quais são as enfermidades que podem acometer as pessoas idosas? Há relação com o cotidiano delas? Graças aos avanços no saneamento e à disponibilidade de tratamentos para processos infecciosos, as doenças crônicas não transmissíveis passaram a representar as principais causas de morbidade e mortalidade entre as pessoas idosas. Doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica e câncer são frequentes entre as pessoas idosas. A prevalência de demência também merece destaque, sobretudo entre as pessoas acima de 80 anos. Os maus hábitos do cotidiano, como tabagismo, etilismo e sedentarismo, são fatores de risco para o aparecimento e agravo da maioria dessas doenças. D+

Revista D+ número 10


IDOSOS Negócios

Quebrando tabus Sobram dicas voltadas para a maturidade em favor da beleza, estética e saúde

A

texto Rosa Buccino

pós três décadas desde sua primeira participação em uma campanha publicitária da Lâncome, a atriz Isabella Rosselini, 63 anos, voltou a brilhar como garota propaganda da conceituada marca francesa. Uma cartada empreendedora que, além de gerar resultados positivos entre os seus fiéis consumidores, evidencia a possibilidade de associar a imagem de uma modelo à vaidade, mesmo que ela seja cronologicamente

uma pessoa idosa. Como essa campanha, hoje em dia, há várias ações já relacionando a imagem da pessoa idosa desassociada a sintomas negativos.


De modo a atender esse grupo de pessoas idosas, Aline Mori, gerente da categoria Cuidados Pessoais de O Boticário, destaca sobre a linha Nativa SPA Terapia dos Óleos Indianos, formulada para cabelos bem sensibilizados, comuns em pessoas idosas. “Os fios devem ser ainda melhor hidratados e nutridos nesse período da vida. A linha dispõe, ainda, de produtos à base de extrato de amla (planta indiana, fonte de vitamina C e propriedades nutritivas), e ômega 6, além de ativos que combatem o envelhecimento dos fios e repõem a massa capilar”, comenta. Nesse rumo, baseada nas pesquisas que atestam o progressivo envelhecimento da população brasileira, Isabel Luiza Piatti, tecnóloga em Estética e diretora de Pesquisa e Desenvolvimento de produtos na Buona Vita Cosméticos, participou de um trabalho focado em Gestão de Negócios para Centros de Estética na Terceira Idade, como complemento curricular pela Universidade Norte do Paraná (Unopar), juntamente com Josiele Aparecida da Silva Souza Furini, Luana Estela Maçaneiro Machado Ramos e Marcela Cristina Altvater Borges, integrantes do seu grupo de estudos. De acordo com o mesmo trabalho, as pessoas idosas merecem absoluta atenção por constituírem um novo nicho mercadológico à altura de muitos segmentos. “Empresas e políticas públicas devem atentar para esse público, adotando estratégias eficientes. Além disso, destaco seu poder de consumo e investimentos nos quesitos bem estar e qualidade e vida. Sobre isso, os dados divulgados no Caderno de Tendências pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), identificaram, nos últimos dois anos, essa tendência do mercado voltado às pessoas idosas”, indica Isabel, que sugere o uso da linha Supreme, da Buona Vita Cosméticos, com biocompatíveis responsáveis por manter a pele madura saudável. Nessa rota da vaidade, sobram ações dirigidas às pessoas idosas, como ocorreu durante o evento Proteção Solar:

Isabella Rossellini: garota propaganda aos 63 anos

Isabel Luiza Piatti: as pessoas idosas fazem parte de um nicho mercadológico promissor

Presente e Futuro, organizado pelo Instituto de Tecnologia e Estudos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ITEHPEC), braço de inovação da ABIHPEC, cujas abordagens destacaram a importância da fotoproteção solar indicada para a pele em geral e de pessoas idosas. Jayme de Oliveira Filho, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), destacou as iniciativas desenvolvidas para promover o acesso à informação sobre os efeitos do sol e incentivar a sociedade a aderir o uso do protetor solar. “Além da campanha educativa Dezembro Laranja, a SBD busca alertar a sociedade sobre a importância da fotoproteção, orientando-a sobre os riscos de exposição solar e a necessidade de sempre proteger a pele, na terceira idade quando os cuidados com o sol precisam ser redobrados, valendo consultas periódicas a um dermatologista para que sejam prescritos medicamentos benéficos”, observou. Outra palestra, a de Flávia Addor, dermatologista e membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia e presidente do Conselho Científico-Tecnológico do ITEHPEC, destacou que os cosméticos deixaram de estar relacionados apenas à limpeza e embelezamento da pele, mas passaram a ter maior correlação com a qualidade de vida, longevidade e cuidados preventivos contra doenças relacionadas, sobretudo, à dermatologia. “Facilidade de aplicação, ampla cobertura, facilidade de remoção e efeito uniformizador estão entre os atributos dos protetores solares lançados recentemente no mercado nacional”, contou Flávia. Sabendo da importância dos cuidados dedicados às pessoas idosas, as consultoras técnicas Conceição Pimentel e Rosangela Fernandes, da Esmalteria Nacional, ensinam: “Além de pele e cabelos, elas precisam cuidar das unhas, contando com alimentação balanceada e rica em nutrientes (cálcio, ferro, biotina, aminoácidos, além de vitaminas A, C, E e as do complexo B) para que as unhas não enfraqueçam, quebrem ou ressequem”. D+

fotos divulgação

Revista D+ número 10


IDOSOS Atitude

Dra. Carla Ribeiro

Envelhecer é uma arte Atividades motivacionais e um novo estilo de vida das pessoas idosas

S

egundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de idosos no Brasil alcança 12% da população total e tende a triplicar até 2050. É o envelhecimento cronológico despontando como realidade entre a população brasileira. Por esse motivo, a Dra. Carla Ribeiro, psicóloga clínica e hospitalar com formação cognitiva comportamental, tem focado cada vez mais em suas abordagens sobre o tema. “Há pessoas que desenvolvem medo diante do fato de estarem envelhecendo. Ao contrário, outras são orgulhosas por terem cabelos brancos e rugas de expressão, pois julgam serem sinônimos de vivência”, comenta. Na área há quase 20 anos, a psicóloga explica que o envelhecer é encarado como problemático quando

a pessoa não está preparada para essa fase. “Dependendo do caso, as pessoas idosas evidenciam um quadro depressivo e sugiro, por isso, que elas resgatem os amigos antigos, convivam entre os familiares, participem de atividades que as mantenham ativas e apostem na alimentação saudável”, indica. Nesse compasso, o concurso promovido pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), por meio do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG), conhecido como Centro de Referência do Idoso da Zona Leste, serviu para elevar a autoestima de um grupo de 60 mulheres idosas. A estilista Tereza Shinyashiki Imoto, 72 anos, eleita como a mais bela idosa de São Paulo, comemorou o título ao lado da família e das demais concorrentes. D+

foto divulgação

texto Rosa Buccino

Tereza Shinyashiki Imoto é vaidosa, concilia a prática de exercícios físicos à alimentação saudável, pratica yoga, ginástica e dança


Hobby em casa Montar hortas caseiras rende motivação e bem estar texto Rosa Buccino

André Bove e Felipe Raduan, da Raduan Arquitetura, sugerem vasos com hortelã, manjericão, alecrim e pimentinhas para uma horta disposta na área de serviço

foto divulgação

Neste projeto, Nathália Otoni e Luciana Araújo, da Óbvio Arquitetura, destacam uma horta verticalizada e distribuída em cachepôs com plantas comestíveis

foto Henrique Queiroga

A

natureza encanta pelo aroma e frescor que leva aos lares onde é cultivada. Mais encantador ainda é o fato de que quando se pretende ocupar algumas horas vagas, dedicar-se à jardinagem, especialmente ao cultivo de hortas em casa, pode ser uma atividade acolhedora em todas as fases da vida, inclusive entre as pessoas idosas. Mas por que as hortas têm cada vez mais penetração nos lares brasileiros? É que além de remeterem aos tempos de nossos avós, contam com temperos saudáveis para o preparo dos alimentos de modo a preservar a saúde. Não é à toa que as arquitetas Nathália Otoni e Luciana Araújo, da Óbvio Arquitetura, orientam sobre como montar e manter uma horta caseira. “Não há regra para distribuir as plantas. É ideal escolhê-las e cultivá-las de maneira harmônica em um canto estratégico, arejado e com pouca incidência de luz, pois a luminosidade solar pode, eventualmente, danificá-las. Vale atenção também no que se refere aos cachepôs e vasos onde se pretende abrigar determinadas plantas da horta, caso essa seja a preferência de moradores ou de quem cultivar a horta. Há muitas peças que podem ser fixadas em parte de uma parede, mantendo livre a área de circulação. Optar por plantas que realmente sejam necessárias é outra dica. Entre as espécies mais cultivadas entram salsinha e cebolinha, que precisam de regas frequentes, além de alecrim, que precisa de poucas regas em favor de sua manutenção”, ensinam as arquitetas. D+

Revista D+ número 10


APRENDA LIBRAS

por Célio da Conceição Santana e Joice Alves de Sá ilustrações Luis Filipe Rosa

esportes paralímpicos E

m ano de Paralimpíadas em casa, apresentamos os sinais de alguns esportes para você se familiarizar. Os primeiros jogos com pessoas com deficiência foram organizados em 1948, na Inglaterra, pelo neurocirurgião alemão Ludwig Guttmann. Ele estimulava soldados ingleses e franceses mutilados durante a Segunda Guerra Mundial a praticarem esportes como forma de reabilitação. Já a primeira edição oficial das Paralimpíadas aconteceu em 1960, em Roma, na Itália, e reuniu 400 paratletas de 23 países. Nesta edição que acontecerá no Rio de Janeiro, estão sendo esperados mais de 4.300 competidores de todas as partes do mundo. D+

Corrida com uso de próteses (Atletismo)

Basquete em cadeira de rodas

Canoagem

Esgrima em cadeira de rodas


Ciclismo de pista

Judô

Tênis em cadeira de rodas

Natação

Futebol de cinco vendado

Voleibol sentado no chão

Revista D+ número 10


MISTO QUENTE GARFO & FACA

comer e beber A saborosa gastronomia do restaurante La Pergoletta, que ainda oferece cardápio em braile e rampas de acesso texto Rosa Buccino fotos Marcos Florence

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em restam dúvidas de que a gastronomia é um dos maiores patrimônios da Itália, do qual, muito afortunadamente, o mundo tem o prazer de desfrutar. Sintonizado com essa realidade e interessado em introduzir em nosso país, há 20 anos, parte dessa rica gastronomia, o chef milanês Elia Seganti trouxe na bagagem toda a experiência acumulada em restaurantes situados na Toscana e Emília Romagna, Itália, para inaugurar a primeira casa La Pergoletta, em 1996, na cidade de Florianópolis, Santa Catarina, um dos redutos de imigrantes italianos no Brasil. Com o sucesso da casa sulista, após seis anos, o chef montou o Restaurante La Pergoletta, no Tatuapé, zona leste da cidade de São Paulo, em 2002. Tudo porque o bairro é habitado por imigrantes europeus, italianos e seus descendentes, além de moradores que admiram a farta gastronomia à moda italiana.

IGUARIAS DE FINO TRATO Parte da história do restaurante é detalhada por Alexandra Dias, gerente de eventos da La Pergoletta in Festa, uma casa de eventos que funciona agregada ao famoso restaurante e é aberta para celebrações especiais. “O cardápio de nossas casas, inclusive o do restaurante, segue preparado de acordo com as orientações do chef Seganti, que continua alinhado à vasta gastronomia italiana”, diz. São os pratos Portafoglie al Brie (filet mignon preparado na frigideira com redução de óleo balsâmico, recheado com queijo brie, acompanhado de nhoque de mandioquinha ao pesto com rúcula e amêndoas) e Gamberi al Limone (camarões salteados no azeite, alho, ervas e confit de limão siciliano sobre fettuccine) os que lideram a lista dos mais pedidos pelos clientes do restaurante. Outros pratos, igualmente requisitados, são os clássicos risotos com variações de condimentos e acompanhamentos;


Filé à Parmegiana vem acompanhado por massa fresca

fotos divulgação

O parket acessível integra os serviços disponibilizados pelo restaurante

O Portafoglie al Brie é um dos carros-chefes da casa e o tradicional

Ambiente rústico oferece mesas e ilhas de serviços disponibilizadas aos clientes sem distinções

Sinalização adequada Banheiro adaptado

e o tradicional filé à parmegiana, que sempre é acompanhado por massa fresca a gosto do cliente. Além da concepção do cardápio, o restaurante preserva a qualidade dos ingredientes, sua higiene e conservação. “Uma cozinha central dedicada ao preparo de massas, molhos, carnes e assados, entre outros alimentos, é outro valor agregado ao restaurante. Isso, sem contar o rigoroso controle de qualidade e o sistema de rastreamento de todo o estoque”, explica Maria Luiza Tamasco, gerente geral. Sobre o atendimento oferecido aos clientes, Maria Luiza destaca a cordialidade da equipe. “Em nossas dependências, todos merecem atenção. Pessoas com deficiência têm garantia de acomodação, acessibilidade e quaisquer orientações necessárias durante cada refeição”, garante. E completa: “Temos mesas com altura ideal (no caso de cadeirantes) e áreas amplas para facilitar a circulação delas. Recentemente, criamos um cardápio em braile para pessoas cegas e com baixa visão. Além disso, o restaurante tem um parket com rampas e área livre indicada para pessoas cadeirantes”. D+

Rampas de acesso entre as três salas do restaurante Área de circulação e altura das mesas para cadeirantes Cardápio em braile Parket na área externa totalmente acessível

La Pergoletta Ristorante e Rosticceria Rua Itapura, 1478, Tatuapé, São Paulo 11 2092.3330 Trattoria La Pergoletta Rua Paes de Araújo, 185, Itaim Bibi, São Paulo 11 3796.1502 La Pergoletta Ristorante e Rosticceria Rua Dr. Renato Paes de Barros, 435, Itaim Bibi, São Paulo 11 2158.1957 Revista D+ número 10


ESPAÇO DO TILS (TRADUTOR/INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS)

Aspectos referentes às relações interpessoais

Q

Professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL/ PUCSP), mestra em Educação (Unimep) e bacharelada em Letras/Libras (UFSC/Unicamp)

uando pensamos e refletimos sobre o espaço escolar, obrigatoriamente, pensamos nas relações interpessoais que ocorrem no âmbito da construção de conhecimentos e da subjetividade. No contexto escolar são muitas pessoas e diferentes segmentos que se relacionam: alunos, professores, inspetores, funcionários da secretaria, da cozinha, da limpeza, coordenadores, diretores, pais, dentre outros. E, pela imposição do Decreto 5626/05, começamos a encontrar o Tradutor/Intérprete de Língua de Sinais (Tils) nas escolas onde estudam alunos Surdos. Para tanto, é preciso que esses profissionais desenvolvam competências sociais e habilidades de produzir, estabelecer e manter interações sociais produtivas e salutares diante de diferentes interlocutores, situações e demandas vindas da escola e de fora dela. No contexto escolar, o Tils pode interagir com vários segmentos da escola, mas os alunos surdos e os professores constituem o grupo com o qual trabalha diariamente, de uma forma mais direta. Nesse sentido, cabe a ele administrar a sua relação com os professores e alunos, favorecendo um bom relacionamento interpessoal. Assim, é preciso saber que boas relações são construídas a todo o momento: desde o primeiro instante que o profissional inicia seu percurso na escola até o momento que o finaliza. Pois nem sempre “a primeira impressão é a que fica”! As boas relações se constroem ao longo do tempo e estão diretamente atreladas às diversas capacidades, habilidades e competências do Tils. Nesse sentido, com base nas ideias de coaching, trazemos algumas orientações que podem ajudar a desenvolver habilidades que promovam relacionamentos interpessoais cada vez mais saudáveis:

* Para participar com perguntas e sugestões, escreva para silzajac@revistadmais.com.br

1. As pessoas são diferentes umas das outras em vários aspectos: culturais, sociais, econômicos; têm ideias, posturas e posicionamentos contrários,

Silvana Zajac

inclusive, aos seus. Portanto, o respeito ao paradigma da diferença é imprescindível para um bom relacionamento interpessoal; 2. Por serem diferentes, as pessoas têm comportamentos distintos, ou seja, ao nosso redor podem existir pessoas alegres, carinhosas, educadas, solícitas, arrogantes, insensíveis, distantes, ocupadas, apressadas, dentre outras. Assim, precisamos assumir diferentes tipos de abordagem interpessoal, levando em consideração o ponto de vista do outro e não o seu. Pessoas diferentes necessitam de “tratamentos” diferentes; 3. Para que você conheça o comportamento das pessoas é importante que esteja aberto e acessível para perceber as informações que precisa e que vão lhe ajudar a construir estratégias de bons relacionamentos. Então, uma habilidade imprescindível é “saber ouvir” e isso pressupõe estar atento, não interromper, não fazer pré-julgamentos. Até porque, o seu ponto de vista ou opinião em relação ao outro não significa que esse outro seja exatamente como você o enxerga; 4. O respeito à hierarquia é fundamental nas boas relações interpessoais e, no caso do contexto escolar, o professor é autoridade na sala de aula. Portanto, o Tils não tem legitimidade para interferir nas ações e decisões do professor, tampouco, assumir o papel dele. Deve-se evitar a tentação de se fazer intervenções durante a aula, sem solicitação expressa do professor. Construir e manter boas relações interpessoais não é fácil, pois vivemos em uma sociedade de divergências que geram conflitos, o que é muito natural e saudável. O maior problema está na intolerância a essas divergências. Por isso, quanto mais conhecimento você tiver, quanto maior for sua percepção de mundo e das pessoas, melhores também serão os seus argumentos para fortalecer positivamente D+ as relações interpessoais.


SUPER NORMAIS NA D+

Conheça mais em: facebook.com/supernormais Revista D+ número 10


CEREJA!

Quando a prótese não significa incapacidade e torna-se símbolo arrojado de eficiência texto Cintia Alves

durante e depois da contratação – o suporte para resultados mais concretos de manutenção e crescimento dos funcionários com deficiência, uma vez que o dever das empresas em cumprir as cotas com o número determinado de funcionários, muitas vezes, é ineficiente em realizar um planejamento completo para incluí-los. Desenhando a competência, e não mais as limitações, os Móveis Eficientes contam com o apoio voluntário da loja Oppa e do designer e marceneiro Rodrigo Silveira. “A iniciativa me tocou, porque é capaz de causar

um impacto positivo e sensibilizar para as potencialidades das pessoas com deficiência”, declara Rodrigo. Os móveis não estão à venda, mas você pode conferir a coleção de perto, nas lojas Oppa de São Paulo e Belo Horizonte até o final de agosto. D+ Conheça mais sobre o Emprego Apoiado em www.itsbrasil.org.br/ its-brasil-e-o-emprego-apoiado Acompanhe o projeto no site oficial www.moveiseficientes.com.br #todomundomerecetrabalhar

fotos divulgação

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magine que, no lugar de pernas, suas cadeiras, mesas e bancos tivessem próteses implantadas. Você ainda conseguiria apoiar objetos ou se sentar sobre eles? A agência Young & Rubicam pensou nisso e criou a campanha Móveis Eficientes, para o Instituto de Tecnologia Social (ITS Brasil); que visa a alertar sobre as oportunidades no mercado de trabalho para pessoas com deficiência. A campanha foi espelhada no programa Emprego Apoiado, do ITS, que desenvolve em todas as etapas – antes,



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