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AFETIVIDADE O direito à educação sexual
VIVER BEM
Lugar de surdo é...
Surf, canto, ioga e equoterapia para crianças
Pedro Paulo Camargo da Silva, chefe de serviço no Bradesco
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NÚMERO 11 • PREÇO R$ 13,90 ISSN 2359-5620
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Na indústria, no comércio ou na prestação de serviços, a pessoa surda só precisa de oportunidade e respeito
ENTREVISTA: Marcelo Cavalcanti, diretor do INES, destaca futuros projetos para os surdos
NA REDE
::::::::::::revistadmais.com.br:::::::::::::::::::::: INCLUSÃO Todo dia é dia Todos os dias, a Equipe D+ traz para o site novidades importantes e curiosidades na área da inclusão social. Na página da Revista D+ na web, você fica por dentro de serviços, agenda cultural, lançamento de produtos nacionais e internacionais em benefício da pessoa com deficiência, leis e muitas outras informações úteis.
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“Meu depoimento está na Revista D+ e foi muito bacana relembrar que esse trabalho tão lindo da Marta tocou e desfez traumas que psicólogo nenhum conseguia exorcizar” Izabele Soeiro, entrevistada na matéria de Comportamento, em que a revista abordou Tina Descolada, a boneca cadeirante, criada pela psicóloga Marta Anisia Alencar. Via Facebook
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CONEXÃO Você vai encontrar um link no final de algumas reportagens. Ele lhe dará acesso a um conteúdo especial, com mais informações e fotos sobre aquele assunto. Alguns trazem até vídeos! Aproveite!
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INSPIRAÇÃO Conhecendo o país Você sabia que existem rotas acessíveis espalhadas pelo Brasil? Em nosso site você encontra roteiros famosos com acessibilidade e dicas de como receber os turistas com deficiência nos pontos turísticos. Além de conferir a série especial Turismo para Todos – promover a acessibilidade universal, do Ministério do Turismo (MTur), em homenagem ao Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência.
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EDITORIAL
Respeitar o outro, com suas diferenças
O Edição nº 11: Foto de capa por Marcos Florence
modo como (pré)conceituamos uma pessoa reflete o que pensamos sobre ela. Não raro, os estigmas vêm justamente daí: de uma visão sobre o outro que, geralmente, não tem nada a ver com o que esse outro é de verdade. É aquele velho e nocivo hábito social de categorizar. Às vezes, até mesmo inconscientemente, estamos ali, validando ou não as pessoas que cruzam o nosso caminho. “Bonita”, “inteligente”, “preguiçoso”, “tímida”, “surdo”: tal qual enlatados na linha de produção, cada um vai ganhando o próprio rótulo. As pessoas com deficiência sabem ainda melhor como é isso... Nesta edição, abraçamos um tema caro: o mercado de trabalho para a pessoa surda. Conversamos com cinco personagens surdos que trabalham em grandes empresas e eles contaram como é seu cotidiano. Por meio das últimas pesquisas e das entrevistas, descobrimos que o preconceito, a falta de oportunidade e a negação da inclusão continuam bem ali, firmes e fortes. Mas também deparamos com admiráveis avanços, que merecem nosso respeito e servem de exemplo. Como diz Romeu Sassaki, consultor respeitado da área da inclusão social, “As empresas não constituem um bloco homogêneo, estático. Elas se diferenciam dinamicamente entre si nos níveis de conscientização e de informação a respeito de pessoas com deficiência”. Leia essa grande reportagem a partir da página 42. Como vocês acompanharam pelo nosso site e pela nossa página no Facebook, a equipe de jornalismo da Revista D+ esteve no Rio de Janeiro para cobrir os Jogos Paralímpicos. Isso rendeu muitas matérias interessantes na Cidade Maravilhosa. Tanto que decidimos fazer o ESPECIAL Rio de Janeiro, com muita informação sobre acessibilidade, lazer e serviços. É lá, também, que você encontrará uma grande entrevista com Marcelo Ferreira de Vasconcelos Cavalcanti, o atual diretor do Instituto Nacional de Educação de Surdos, o INES, que completará 160 anos no ano que vem. Está na página 32. Setembro foi um mês muito especial, riquíssimo para todos nós aqui da Redação. A convivência com a diversidade enaltece, expande nosso olhar e constrói em cada um mecanismos ainda maiores de respeito às diferenças. Que você possa aproveitar tudo isso a cada virar de página. Ótima leitura! Rúbem Soares Diretor Executivo
DO LADO DE CÁ
Nos bastidores
Definitivamente, setembro foi pra lá de especial. Curta com a gente algumas fotos da temporada O time da D+ prestigiou o V Setembro Azul, na Unicamp. Na foto, as repórteres Brenda Cruz e Cintia (nas pontas), a professora Shirley Vilhalva, do Mato Grosso do Sul e a intérprete de Libras, Rafaella Sessenta
Nossa editora-chefe, Taís Lambert, cobriu a Paralimpíada do início ao fim
Herick Palazzin, da TI, o analista de marketing, Tiago Coutinho e Denílson Nalin no Google em encontro sobre acessibilidade digital
O diretor de arte, Manoel Araújo e o diretor de publicidade, Denílson Nalin encontraram Philip Craven, presidente do Comitê Paralímpico Internacional, na Barra da Tijuca
A redação da D+ esteve na Sencity, festa inclusiva dedicada aos surdos, que aconteceu no Rio de Janeiro pela primeira vez. Leonardo Castilho, entre a Taís e a Cintia Alves: foi ele quem trouxe a balada holandesa para o Brasil
A editora de projetos especiais, Rosa Buccino, e Herick Palazzin, participaram do evento sobre tecnologia assistiva na Microsoft
João Carlos Soares trabalha na fábrica da Mitsubishi, em Goiás, e também é nosso personagem na matéria de capa especialíssima sobre o surdo no mercado de trabalho
Thainá Oliveira e Maurício Schorsch, da TOTVS, conversam em Língua Brasileira de Sinais enquanto a gente os fotografava para a reportagem de capa dessa edição No Boulevard Olímpico, lá no Rio, encontramos o Guilherme Rubino e a Marina Guimarães, nossos personagens de capa da edição 9! Ah, claro: o cão-guia da Marina também foi passear!
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www.revistadmais.com.br DIRETOR EXECUTIVO Rúbem da S. Soares rsoares@revistadmais.com.br REDAÇÃO Editora-Chefe Taís Lambert taislambert@revistadmais.com.br Diretor de Arte Manoel Araújo manoelaraujo@revistadmais.com.br Equipe de Jornalismo Brenda Cruz e Cintia Alves Editora de Projetos Especiais Rosa Buccino Assessora de Projetos Pedagógicos Claudine Davids Revisora Eliza Padilha Fotógrafo Marcos Florence Ilustrador Luis Filipe Rosa Colaboradores nesta edição Mariana Santos Natália Alcantara CONSELHO EDITORIAL Denílson G. Nalin Dilson Nery Rafaella Sessenta Silvana Zajac Tiago Matos Coutinho DIRETOR DE PUBLICIDADE Denilson G. Nalin denilsonnalin@revistadmais.com.br (11) 5581.1739 e 9-4771.7622 COMUNICAÇÃO E MARKETING Tiago Matos Coutinho tiagocoutinho@revistadmais.com.br (11) 9-4771.7621 / (19) 3306.9990 RH E FINANCEIRO Coordenação Flávia Garcia Dias Contratos e licitações Luiz F. Mazieri Nicolini mais@revistadmais.com.br Equipe David Gomes de Souza Raquel Vidal de Lima TI Herick Palazzin Ivanilson Oliveira de Almeida CONSULTORES DE LIBRAS (SURDOS) Célio da Conceição Santana Joice Alves de Sá PROJETOS DE MÍDIA INCLUSIVA Coordenação Rafaella Sessenta INTÉRPRETES DE LIBRAS Marco Antonio Batista Ramos Rafaela Prado Siqueira Rafaella Sessenta Yasmin Anunciato EQUIPE AUDIOVISUAL Conteúdo do portal Jéssica Aline Carecho Verônica Honorato de Souza ATENDIMENTO AO ASSINANTE E CIRCULAÇÃO Alessandra Rodrigues dos Santos assinaturas@revistadmais.com.br (11) 5581-3182 / 5583-0298 RECEPÇÃO Jennyfer Alves (11) 5581-3182 / 5583-0298 Edição número 11 – Setembro/Outubro de 2016 REVISTA D+, ISSN 2359-5620, é uma publicação bimestral da MAIS Editora CNPJ n° 03.354.003/0001-11 Rua da Contagem, 201 – Saúde - São Paulo/SP - CEP 04146-100 Associada a:
Distribuída em bancas pela DINAP Ltda. Distribuidora Nacional de Publicação. Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678 CEP 06045-390 - Osasco - SP APOIO: A Revista D+ não se responsabiliza por opiniões e conceitos emitidos em artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo este de inteira responsabilidade dos anunciantes
Instituto de Apoio às Pessoas com Deficiência e à Inclusão Social
NOSSA CAPA 42 Um olhar apurado sobre a relação entre a pessoa surda e o mercado de trabalho revela transformações admiráveis, mas também traz à superfície a ainda vigente e cínica desigualdade para com a pessoa com deficiência 04 Na Rede 06 Editorial 08 Do Lado de Cá 10 Expediente & Aqui na D+ 12 Ponto de Vista Perspectivas sobre o olhar da mídia em relação aos atletas com deficiência nos esportes de alto rendimento 14 Misto Quente As novidades dignas de nota 20 Misto Frio A cobertura dos principais eventos 24 Psique O direito à educação sexual. Por Ana Cláudia Bortolozzi Maia 26 Especial Rio de Janeiro Acessibilidade, pontos turísticos, projetos inclusivos, entrevista e o legado dos Jogos Paralímpicos para a Cidade Maravilhosa 54 Viver Bem Projetos e oficinas que auxiliam crianças com deficiência 60 Acontece Jovens garçons aprendizes com síndrome de Down mostram seus dotes e cativam com muita espontaneidade e profissionalismo Unicamp promove evento à comunidade em homenagem ao Dia Nacional do Surdo 64 Práticas na Educação Inclusiva Discutindo o espaço escolar e seu entorno: desenvolvendo cidadania 68 Educação Em Pauta 24º Bienal do Livro traz depoimentos que valorizam a leitura e o conhecimento 70 Especial Idosos: Depoimento Dr. Délton Esteves Pastore, promotor de justiça de direitos humanos na área do idoso, fala sobre violência Negócios Empreendedores de sucesso inspiram e motivam as pessoas idosas Alimentação A população idosa busca qualidade alimentar por uma vida mais saudável 78 Universo Cultural Duas companhias de dança em São Paulo que respeitam a diversidade e incluem pessoas com deficiência 84 Aprenda Libras Aprenda, nesta edição, os sinais de deficiências 86 Garfo & Faca Coco Bambu: Pratos fartos, ambiente acolhedor e acessível 88 Espaço do Tils A questão da ética na tradução e interpretação 89 Super Normais na D+ As tirinhas inteligentes do grupo de Curitiba 90 Cereja! Conheça a balada Sencity, para surdos, que teve sua primeira edição no Rio de Janeiro (e a gente foi, claro!)
Setembro/Outubro 2016 – Ano II – nº 11
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PONTO DE VISTA
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Atletas paralímpicos: os super-humanos? O olhar da mídia sobre os atletas com deficiência nos esportes de alto rendimento
Rúbem Soares
Psicólogo, doutorando em Educação (Feusp) e diretor executivo da Revista D+
uper-humanos”, “heróis”, “especialíssimos”. Você deve ter ouvido algumas dessas expressões na mídia durante os Jogos Paralímpicos Rio2016. Era comum alguns órgãos da grande mídia se referirem aos atletas paralímpicos com esses ou outros termos semelhantes, além de enfatizarem o “exemplo de superação”. Em outro extremo, há algumas décadas, a mídia referia-se a esses indivíduos como “aleijados”, “inválidos”, “excepcionais” ou algo assim, na linha do “coitadinhos”. Para além da crítica a essa visão midiática a respeito dos atletas com deficiência, o importante é refletir sobre o que leva a tal pensamento. Assim como são pejorativos e preconceituosos alguns termos – “aleijados”, “inválidos”, “excepcionais” –, tampouco é dignificante às pessoas com deficiência serem vistas como “heróis”, “super-humanos”, “especiais” e outros termos semelhantes. A maioria das pessoas com deficiência rejeita peremptoriamente esses rótulos, visto que eles estão carregados de estigma em relação ao outro – o corpo diferente. Isto é, a pessoa com deficiência é vista como alguém que, contra todas as expectativas, triunfa sobre a “tragédia da própria condição”, teve capacidade de “superação” etc. É certo que, quando ouvimos alguém utilizar esses termos, devemos compreender que talvez não convivam com pessoas com deficiência ou não conheçam as preferências de identidade desses indivíduos. Tal desconhecimento não é exclusividade da grande mídia. O próprio dirigente máximo do Comitê Rio2016 foi visto cometendo essa gafe. Em seu discurso de abertura dos Jogos Paralímpicos, no último 7 de setembro, Carlos Arthur Nuzman, empolgado, utilizou essas expressões ao referir-se aos atletas que competiriam a partir do dia seguinte. Talvez, inconscientemente, tanto o dirigente esportivo quanto a grande mídia colaboraram para cristalizar estereótipos em relação às pessoas com deficiência. Os atletas do paradesporto, em sua maioria, não partilham de tais ideias e querem ser vistos apenas como esportistas de alto rendimento. Foi o que expressaram alguns deles, como Guilherme Camargo e André Brasil, em reportagem de Marcelo Brandão, da EBC (Atletas paralímpicos rejeitam rótulo de super-humanos e de exemplos de superação, disponível em www.agenciabrasil.ebc.com.br, de 17/09/2016). Voltando à questão de fundo, a saudosa Ligia Assumpção Amaral (psicóloga e pós-doutora pela USP), como pesquisadora da área, afirmou que, ao se referir à pessoa com deficiência com esses termos, a sociedade está deixando implícita uma forma de preconceito. “Ora, como preconceito, se a pessoa com deficiência está sendo elogiada?”, diriam alguns.
Exatamente aqui reside o problema: a pessoa com deficiência quer ser vista da mesma forma que as demais pessoas, nem mais nem menos. Ela tem tantos conflitos, dificuldades e decepções quanto qualquer outra pessoa. Porém, o que a sociedade precisa é oferecer-lhe as condições de acessibilidade e adaptação, o que se traduz como respeito à diferença. A partir daí, ela pode dirigir sua vida, escolhendo uma ou outra alternativa a sua frente, semelhante aos demais indivíduos sem deficiência. Devemos saber que a pessoa é estigmatizada, seja quando é vista como menos-que-humana ou sub-humana, seja quando é tratada como “super-humana”, “heroína”,
“especialíssima”, “superstar”, pelo fato de ter uma deficiência e ter logrado êxito em alguma área reconhecida socialmente (no esporte, nas artes, na vida acadêmica etc). Sabemos dos avanços que a sociedade vem registrando em relação ao reconhecimento das pessoas com deficiência. Nesse aspecto, porém, a mídia anda a passos de cágado. Sabemos, também, que a grande mídia, sobretudo TV e rádio, organiza sua agenda de acordo com o interesse do público, atualidade, empatia, índices de audiência, dentre outros. Chegou a hora de se preocuparem com a linha de abordagem e o tratamento no que diz respeito às pessoas com deficiência. Ninguém é super-humano, herói, especial ou superstar. Somos apenas pessoas, independentemente da condição com ou sem deficiência. De certa forma, todos nós precisamos superar nossos conflitos, nossas frustrações e dificuldades diárias. Tendo algum tipo de deficiência, cabe à sociedade oferecer as adaptações necessárias para que a pessoa não seja impedida de gozar da vida com qualidade como tem direito qualquer cidadão. Afinal, somos parte da diversidade humana. Não somos seres especiais, muito menos deuses! D+
MISTO QUENTE textos Brenda Cruz
RIR É O MELHOR REMÉDIO O espetáculo Se fosse fácil, não teria graça fica até dia 3 de novembro no teatro Tucarena, em São Paulo. A peça é uma tragicomédia, pois faz rir e chorar (mesmo), além de convidar a repensar o modo de estar no mundo e a enxergar a vida. O autor e ator Nando Bolognesi, que descobriu ter esclerose múltipla aos 21 anos, usa sua experiência como clown para contar, de maneira divertida, como superou as dificuldades impostas pela doença e como enfrenta as situações corriqueiras. O teatro Tucarena fica na Rua Monte Alegre, 1024, em Perdizes. Os ingressos custam R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia) e podem ser adquiridos na bilheteria do teatro ou no site Ingresso Rápido (www.ingressorapido.com.br).
JORNAL EM LIBRAS O telejornal mensal Notícia em Movimento aborda tudo que é relacionado à comunidade Surda. O primeiro programa foi ao ar em junho desse ano. Idealizado por alunos do curso Letras/Libras da Universidade Federal do Paraná, o jornal já tem 42 mil visualizações na primeira edição. “O jornal representa minha vida toda deslocada de informações. Tenho pais surdos, irmão surdo e também sou surda. Quando ligávamos a TV, principalmente nos jornais, ficávamos perdidos”, declara Thayse Goulard, apresentadora. Com uma equipe de quatro pessoas, além dos dois apresentadores, Guilherme Andrade e Thayse Goulart, o jornal pretende, a médio prazo, fazer edições quinzenais. Acompanhe o jornal pela página do Facebook: facebook.com/NoticiaemMovimento
Audio Game Hub é um aplicativo que compõe oito mini jogos acessíveis para as pessoas cegas e de baixa visão, sua principal forma de orientar o jogador é o som. O app foi criado por meio de uma colaboração entre o Gamification Lab, da Universidade de Leuphana, na Alemanha, e a Escola de Computação e Ciências Matemáticas da Universidade Auckland, na Nova Zelândia. Esse game está disponível gratuitamente para iOS, Android e Windows em inglês e possibilita uma experiência sensorial diferente para quem enxerga e uma diversão casual para as pessoas cegas. Confira!
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SORVETE DA ALEGRIA Sorvete é bom e todo mundo gosta! E com base nesse fato é que a Paviloche e a Ação Social para Igualdade das Diferenças (ASID Brasil) se uniram em prol da campanha Sorvete Solidário, que tem como meta vender 100 mil litros da sobremesa com preço especial de R$ 13,98. A entidade será beneficiada com R$ 1 por pote do sabor escolhido especialmente para a ação: Leite Condensado com Flocos. O produto, de dois litros, está sendo comercializado nos supermercados de Santa Catarina e no Paraná. Há seis anos atuando com instituições que atendem pessoas com deficiência, a ASID iniciou o projeto sem ganhar nada, dando apoio nas questões administrativas e financeiras de instituições de assistência que passavam por problemas financeiros. Até hoje nenhum valor é cobrado das instituições associadas. A ONG formulou então uma maneira para que empresas investissem na instituição para que os
fundadores Luiz Hamilton Ribas, Alexandre Amorim e Diego Tutumi Moreira conseguissem trabalhar de forma plena e integral em prol das instituições que ajudam no desenvolvimento das pessoas com deficiência. A ASID realiza encontros e ações entre as instituições para que todos possam trocar experiências, aprender com os erros e compartilhar as conquistas. “Percebemos que o problema nas instituições era a parte administrativa”, conta Luiz Ribas, um dos sócios. “Uma instituição normalmente começa
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18/08/2016
Com o lançamento de A Pesquisa da Prática Docente na Formação Continuada de Professores: os Caminhos de uma Experiência, a Mais Editora, São Paulo, inaugurou uma nova fase editorial. A obra foi lançada em 3 de setembro durante o II Fórum – A Prática Docente em Foco e I Jornada de Educação Matemática, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus Diadema, São Paulo, com a presença dos autores, educadores e formadores de opinião. Importantes reflexões são abordadas na obra, como fruto do Programa de Formação Continuada de Professores de Ciências e Matemática: A Prática Docente em Foco, que é uma ação de extensão da Unifesp.
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com a iniciativa da mãe de uma criança com deficiência ou de pessoas ligadas à causa que, de alguma forma, percebem a necessidade de criar a instituição”. Justamente por isso, Ribas afirma que o crescimento dessas instituições sem planejamento é o grande vilão. “Não saber administrar de forma correta as despesas e receitas pode acarretar em dividas e até mesmo no fechamento da instituição, deixando muitas pessoas sem ter a quem recorrer. Sempre deixamos claro que não pagamos as dívidas de nenhuma delas, mas mostramos o caminho para que a instituição se fortaleça e consiga caminhar de forma saudável para atender a todos que necessitem dela”, finaliza. Conheça mais a ASID no site: asidbrasil.org.br/sorvetesolidario.
Para Rúbem S. Soares, diretor executivo da Mais Editora, a obra insere a editora no mercado livreiro e segue alinhada às pesquisas sobre educação em nosso país. Já os autores Carlos Alberto Tavares Dias Filho, Itale Cericato, Janio Henrique Bernardes, Luciane de Fatima Bertini, Maria Nizete de Azevedo, Patricia Rosana Linardi, Silvana Zajac, Sofia Leal Magalhães, Sônia Margaret Scharan, Tiago Nunes Castilho, Vanessa de Souza Barbosa, Verilda Speridião Kluth e Vitor Dias Junior destacam que a obra é um meio de socializarem suas reflexões e seus textos sobre a prática docente nacional de matemática. Acesse a loja virtual da Revista D+ e adquira o seu exemplar por R$ 29,90. Informações adicionais pelo e-mail obra@maiseditora.pro.br. (Por Rosa Buccino)
MISTO QUENTE texto Taís Lambert fotos Marcos Florence
O presidente da GOL, Paulo Kakinoff; dra. Linamara Rizzo Battistella, Sérgio Guito, da GOL; Fernanda Lima, da Talento Incluir e Fernando Fernandes
A RAMPA DO BOM SENSO Sabe aquelas “invenções” que, de tão óbvias, a primeira pergunta que vem à mente ao vê-las é: “Por que só agora?”. Foi assim ao conhecer a rampa idealizada pela GOL Linhas Aéreas Inteligentes, apresentada oficialmente para a imprensa depois de dois meses de testes nos Aeroportos de Congonhas, em São Paulo, e Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Com o objetivo de facilitar o embarque e desembarque de pessoas em cadeira de rodas e com mobilidade reduzida, a rampa móvel, que é utilizada quando a aeronave não está posicionada na ponte de embarque (finger), começou as operações em função dos Jogos Paralímpicos. “Nosso Comitê de Acessibilidade, que é multidisciplinar, cuidou para que o acesso ao avião ocorresse de maneira eficiente. A rampa é voltada também para famílias com crianças e muitas bagagens, atendendo, assim, a todos”, disse Sérgio Quito, vice-presidente de operações da companhia, que conduziu o 2º Diálogo sobre Acessibilidade da GOL, realizado no Hangar de Congonhas. Segundo o executivo, durante os Jogos a companhia transportou 5.600 passageiros com deficiência, incluindo 166 cadeirantes. “23 deles em um só voo”, enfatizou Quito. O presidente da companhia, Paulo Kakinoff, atendeu a Revista D+ no topo da rampa: “Pensamos nisso há muito tempo. A verdade é que, por não saber como lidar com a pessoa com deficiência, tivemos que aprender como falar, como agir, como atender esse público. Fomos perguntar para quem sabia, fomos aprender; e isso leva tempo”.
A consultoria Talento Incluir foi acionada para diagnosticar a GOL nos quesitos inclusão e acessibilidade. “Nós treinamos multiplicadores de conhecimento. Foram 45 instrutores treinados para expandir informações em diversas áreas, incluindo a tripulação, manutenção e manuseio de cadeira de rodas”, exemplifica a consultora Fernanda Lima. A rampa possui painel de captação de energia solar, o que a ilumina à noite. Sua largura e aclive são apropriados. “O desafio é a mudança de conceitos e atitudes; é incorporar tecnologias para garantir mobilidade, educação, saúde e lazer. Isso é qualidade de vida não só para quem tem deficiência, mas para todos”, disse na ocasião Linamara Rizzo Battistella, a titular da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo. O paratleta Fernando Fernandes experimentou a rampa. “Sou cadeirante há sete anos e hoje não somos mais invisíveis. Eu consumo, eu vivo. Por isso a rampa representa independência e conquista de direitos. Quem quer se arrastar ou ser carregado escada acima? Ninguém”, declarou à Revista D+. Paulo Kakinoff disse que o equipamento ainda ficou conhecido como “a rampa do bom senso”. “Tecnologia não se resume a chips e bytes: trata-se do conhecimento da técnica. Serve ao homem quando proporciona algo valioso ao usuário. A rampa é simples, mas totalmente eficaz”, finalizou o presidente da GOL. Que o mundo se encha de bom senso.
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O 1º Encontro Nacional de Usuários e Amigos de Cães-guia reuniu profissionais e a comunidade em Balneário Camburiú
Cerca de 20 cães-guia de todo o país, entre os pouco mais de 100 que trabalham hoje no Brasil, acompanharam seus donos durante o 1º Encontro Nacional de Usuários e Amigos de Cães-guia, realizado no último final de semana de agosto, em Balneário Camboriú, Santa Catarina. Socializadores, treinadores e instrutores, além da comunidade, acompanharam as discussões sobre a importância do trabalho e da qualidade do treinamento dos animais e conheceram de perto algumas das dificuldades enfrentadas pelos usuários de cães-guia em seu dia a dia. “Ficamos muito satisfeitos com a adesão dos usuários neste primeiro encontro. Tivemos participantes de várias regiões do país e que
receberam seus cães-guia de diferentes escolas e centros de treinamento”, comenta Carlos Eduardo Alvim, um dos organizadores do evento (RJ) e também usuário de cão-guia. Outro organizador, Felipe Cristiano da Silva, de Santa Catarina, disse que o próximo passo é ainda mais importante. “Nossa meta agora é estreitar os laços e nos unir ainda mais para conscientizar a sociedade sobre a importância da inclusão da pessoa com deficiência, independentemente do tipo”. A Lei Federal 11.126, que garante o acesso do cão-guia a espaços públicos e privados de uso coletivo também foi debatida durante o encontro. Isso porque o animal passa a ser os olhos da pessoa cega, auxiliando na sua mobilidade e garantindo que ela se locomova com mais segurança e autonomia. Essa mudança também facilita a socialização dos cegos, além de melhorar a sua autoestima. “Realizar este evento é escrever mais um capítulo na história dos cães de serviço no Brasil, que infelizmente é algo muito novo e pouco difundido. Por isso a proposta é repeti-lo nos próximos anos em uma região diferente. Dessa forma conseguiremos fazer com que mais pessoas conheçam o trabalho dos cães-guia e entendam a sua importância para nós”, avalia Carlos Eduardo.
QUEM COMPARECEU APROVOU A INICIATIVA
Roberto Leite, fisioterapeuta e bacharel em Direito, veio de Curitiba acompanhado apenas de Dexter, seu cão-guia da raça Flat Coated, para prestigiar o evento. Os dois, juntos há menos de um ano, vieram de ônibus assim como outros usuários de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e de São Paulo. “O número de participantes foi maior do que imaginei e isso me surpreendeu muito. Sem contar a boa estrutura do local – totalmente acessível – e os voluntários que fizeram o acolhimento e o acompanhamento durante o evento. As mesas de discussões foram muito bem compostas. Foi excepcional!”, avalia Roberto. Alessandra Santos, socializadora do futuro cão-guia Baruk, também prestigiou o evento e compartilhou sua experiência com os presentes. “Socializar um cão-guia é acompanhar o tempo todo um ser que precisa de cuidado, atenção, disciplina e proteção das mãos humanas que querem fazer carinho enquanto ele trabalha. É representar a causa da inclusão das pessoas com deficiência, aprender e ensinar sobre o mundo dos cegos e da importância que o cão tem na vida de um usuário”, finalizou. (Por Natália Alcantara, de Santa Catarina)
Comemorando a diversidade
A indústria audiovisual se reuniu em São Paulo, na SET Expo 2016, para debater no Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD) o tema Acessibilidade – A tecnologia deve permitir a inclusão para todos. O painel foi composto por Flávia Oliveira, supervisora de exibição da TV Aparecida; Tatyana Marques, advogada e colaboradora jurídica da Feneis Nacional e da CBDS; Alvaro Almeida, da diretoria técnica da ABNT, e Rafael Augusto Peressinoto, chief technology officer na ShowCase. Por meio do projeto Ver Com as Palavras, o fórum contou com a tradução para Libras, audiodescrição e legenda oculta (closed caption) abordando as dificuldades para acessibilidade no país. (Por Cintia Alves)
fotos divulgação
Inovações tecnológicas
O 10º aniversário do grupo Global Diversity & Inclusion Beanchmarks (GDIB) aconteceu na sede da empresa, em São Paulo, com patrocínio da Sodexo On-site, em parceria com a Business Professional Women (BPW São Paulo) – e grandes empresas e entidades. Durante o evento foram apresentados cases e iniciativas relacionadas à diversidade e à inclusão, mediados pelo colunista Jairo Marques, do jornal Folha de São Paulo, e pela VP Erika Zoeller Véras, da BPW São Paulo. Entre os projetos apresentados, estiveram o Sodexo Women’s International Forum for Talent (SWIFT), do grupo Sodexo, Empoderando Refugiados, da ONU, e o lançamento da versão do GDIB em Português, pela GDIB Experts Panelists. (Por Cintia Alves)
MISTO FRIO A Revista D+ foi e cobriu texto Cintia Alves fotos Jéssica Carecho
Tecnologia do bem
QUE COMECEM OS JOGOS A maior feira de games da América Latina, a Brasil Game Show (BGS), abre suas portas todos os anos para que pessoas com deficiências participem do evento como funcionários e visitantes. Na edição deste ano, a APAE de São Paulo, Casa de David, AACD e o Centro de Democratização da Informática (CDI) foram convidados a exibir seus trabalhos, visitar a feira e arrecadar fundos através da doação de 1 kg de alimento não perecível dos visitantes com meia-entrada. Para Luciana Trindade, cadeirante e coordenadora dos funcionários com deficiência física da BGS, desde o início, Marcelo Tavares, fundador da BGS, se mantém determinado com o compromisso e a responsabilidade social. “A sensibilidade na visão de mercado e o desejo em contratar pessoas com deficiência para participarem em todos os anos sempre foi um diferencial dele”, diz. A Casa de David participou do evento e recebeu doações de alimentos durante os cinco dias de feira
A tecnologia presente nos games tem auxiliado também a qualidade de vida das pessoas com e sem deficiência pelo mundo. O professor de educação física Bruno Sartori, por exemplo, realiza o game terapia na Casa de David, com cadeirantes, através do Nintendo Wii e do Xbox, que reconhecem os movimentos. “O nosso objetivo é melhorar os movimentos, a coordenação motora fina, o equilíbrio e o condicionamento físico dos jovens por meio da tecnologia oferecida nos jogos”, comenta Bruno. Para Paola Amaral, coordenadora da Casa de David, que trabalha desde 2012 com o estímulo da comunicação para autistas, pessoas com paralisia cerebral e deficiência intelectual por meio do tablet, é fundamental a busca por novas técnicas de aprendizado. “Ao transferir o meu armário de brinquedos para o tablet e ir até o leito das crianças, as atividades se tornaram muito mais simples. Trabalhamos com a coordenação motora, auxiliando também na mastigação, juntamente com a fonoaudióloga na linguagem. Por gostarem muito de tecnologia, se torna um material eletrônico atrativo para eles”, explica a coordenadora. Para conhecer mais sobre os projetos sociais na Brasil Game Show, acesse: www.brasilgameshow.com.br.
PSIQUE
O direito à por Ana Cláudia Bortolozzi Maia*
T
odo ser humano é sexuado e a educação sexual pode contribuir para o desenvolvimento de ações autônomas e preventivas em saúde sexual e reprodutiva. Quando pensamos nas pessoas com deficiência, o que pode ser diferente é o modo como a sociedade considera a sexualidade de alguém que tem algum limite cognitivo, motor, sensorial ou outro(s). Por serem consideradas “imperfeitas”, essas pessoas são estigmatizadas como “diferentes” também em sua sexualidade. No entanto, é preciso esclarecer que elas têm os mesmos desejos, sentimentos e as mesmas necessidades sexuais e precisam de condições favoráveis para usufruir seu direito de expressão sexual. No caso de pessoas com deficiência intelectual (DI), os limites cognitivos podem dificultar a aprendizagem de condutas sexuais e afetivas. Nesse sentido, se nada for explicado às crianças e aos jovens com DI, eles acabam expressando o desejo sexual de modo inadequado por não terem aprendido a se comportar socialmente. É comum que seus comportamentos sejam públicos e inadequados e daí são julgados “hiperssexuados” por terem uma deficiência, o que não é verdade. Por outro lado, quando são vistos como dependentes e infantis, são considerados “assexuados”, embora tenham o corpo com desenvolvimento típico. A educação sexual com recursos pedagógicos adequados pode contribuir para o esclarecimento sobre o funcionamento do corpo, gravidez e prevenção, gênero, noção de privacidade, violência sexual etc. As deficiências sensoriais não causam problemas diretamente na sexualidade, mas pode haver complicadores. Os cegos teriam dificuldades em lidar com códigos sociais de relacionamento amoroso em uma cultura em que
o estímulo visual faz parte da atratividade e o toque a um desconhecido seria desapropriado. Além disso, não há informações sobre sexualidade em braile e, na educação sexual, seria necessário o uso de recursos como livros em relevo, bonecos e modelos das partes do corpo. Do mesmo modo deve-se pensar nas pessoas surdas, utilizando nos processos educacionais a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Já as pessoas com deficiência física podem ou não ter a resposta sexual (desejo, excitação e/ou orgasmo) comprometida, especialmente em casos de lesão medular e é comum a infertilidade masculina. Quando há disfunções, deve-se recorrer ao uso de medicamentos ou técnicas em terapia sexual que favoreçam um desempenho sexual satisfatório. É comum a crença de que um cadeirante ou alguém que não segue os padrões estéticos seria indesejável ou “assexuado”. Mas a sexualidade é intrínseca ao ser humano e muitas dessas pessoas estabelecem vínculos amorosos e sexuais, têm filhos e uma vida afetiva plena, tendo ou não dificuldades sexuais. Em todos os casos, diante do preconceito que nega a sexualidade de alguém estigmatizado pela deficiência, a educação sexual tem sido falha. Não há campanhas de prevenção acessíveis e o planejamento familiar não considera as necessidades especiais, como se as pessoas com deficiência não tivessem o direito de se casar e ter filhos, se assim o desejassem. A necessidade de suporte para a ocorrência de relações afetivas e/ou sexuais gratificantes não inviabiliza a possibilidade de, sendo seres sexuais como nós, possam viver esse aspecto da vida, respeitando os princípios de uma sociedade inclusiva. D+
*Ana Cláudia Bortolozzi Maia é psicóloga, mestre em Educação Especial, doutora em Educação, com pós-doutorado na área de Inclusão e Sexualidade. É docente na Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Bauru e autora do livro Sexualidade e Deficiências, pela Editora Unesp, e Inclusão e Sexualidade na voz de pessoas com deficiência física, pela Editora Juruá.
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ESPECIAL RIO DE JANEIRO
foto divulgação
texto e fotos Taís Lambert
Vista Chinesa, na Floresta da Tijuca: o parque é uma unidade de conservação brasileira de proteção integral da natureza
FLORESTA É PARA TODOS
Com cachoeiras e grutas, ideal para quem ama paisagens naturais
Trilha plana e larga, acessível, com braile e cordas para direcionamento
É verdade que, ao falar do Rio de Janeiro, todo mundo pensa primeiro no Cristo Redentor. Ou em Copacabana. Mas é certo que não pensam em “passeio na floresta”. Pois saiba que o Parque Nacional da Tijuca, com seus quase quatro mil hectares de pura Mata Atlântica, é uma das maiores florestas urbanas do mundo e garante excelentes experiências íntimas com a natureza. Pessoas com mobilidade reduzida, em cadeiras de rodas e cegos contam com uma trilha apropriada: pelo Jardim dos Manacás, tem-se acesso ao Caminho Dom Pedro Augusto, percurso de 630 m, mais largo e plano, para facilitar a locomoção de cadeirantes; com cordas que ajudam no direcionamento e placas em braile, que identificam as espécies da flora, como os grandes e frondosos Jequitibá e Pau-Ferro. Já que o objetivo é contribuir para o desenvolvimento físico-motor, recreativo e cultural da pessoa com deficiência em atividades acessíveis, esperamos que muitas outras trilhas, nesse imenso parque, sejam igualmente adaptadas. Diariamente, das 8h às 17h. 21 2491-1700 / www.parquedatijuca.com.br
foto divulgação
PARA O ALTO E AVANTE Parece lei: ao chegar ao Corcovado, aos pés da obra que foi eleita uma das sete maravilhas do mundo moderno, todos fazem foto na posição do Cristo Redentor. Quando estivemos lá para conferir a acessibilidade do cartão postal, nem mesmo o homem mais alto do Irã, o paratleta de vôlei sentado Morteza Mehrzad, escapou de esticar os braços do alto de seus 2,46m. Para chegar lá em cima, a pessoa com deficiência conta com o serviço de vans credenciadas, acessíveis a cadeirantes, que saem do Largo do Machado e da Praça do Lido (R$ 53, na baixa temporada, por pessoa), incluindo a ida, a volta e o acesso ao monumento.
O Cristo fica no topo dos 710 m do Corcovado, daí é outra subida: você pode escolher os elevadores ou as escadas rolantes. Nestas últimas, pessoal treinado e uniformizado está apto para ajudar. Ah, e também disponibilizam cadeira de rodas, caso você precise. Só achamos que o banheiro adaptado, o único no local, no hall de espera para tomar o bondinho, tem acesso meio... difícil! O cadeirante ou a pessoa com mobilidade reduzida tem de subir uma rampa de metal inclinada e vencer o hall repleto de bancos, que estava naturalmente lotado no dia de nossa visita. Diariamente, das 8h às 19h. 21 2225-0401 / www.cristoredentoroficial.com.br
Morteza Mehrzad, o paratleta mais alto do Irã, e turistas estrangeiros: a acessibilidade permite que o visitante curta uma das sete maravilhas do mundo moderno
Revista D+ número 11
ESPECIAL RIO DE JANEIRO
texto Cintia Alves fotos Manoel Araújo
DE OLHO NO FUTURO A enorme estrutura branca com suas placas de captação de energia solar, que se movimentam de acordo com a localização do astro rei, é tão encantadora que faz da visita ao Museu do Amanhã um programão. E esta é só a parte de fora! O museu de ciências, localizado na zona portuária do Rio de Janeiro, faz jus ao nome e pensa longe para ampliar a acessibilidade dos visitantes. Trata-se de um espaço de diálogo que compartilha tendências, possibilidades, diversidade, inclusão e conhecimento científico para o futuro.
Byron Prujansky
O museu se tornou o mais novo ponto turístico do Rio de Janeiro
Entre as obras está disponível a maquete tátil da estrutura do museu
A arquitetura inovadora da construção conta com piso podotátil, rampas, galeria das formas com maquetes táteis, espaço para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, elevadores, fraldários, banheiros adaptados, sinalização universal e legenda em português nos vídeos e nas animações. Além disso, estão na fase de finalização do audioguia e do videoguia para maior autonomia dos visitantes. Em parceria com órgãos públicos, escolas e instituições especializadas na formação de educadores realizam visitas adaptadas. “O desejo de engajar nossos públicos por meio da sustentabilidade e da convivência, pensando no hoje como o lugar da ação, tem a diversidade e a inclusão como forças motrizes dessa mudança”, afirma Melina Almada, gerente de Educação do museu. “Assim, pensar em acessibilidade no Museu do Amanhã é pensar a sua própria prática”. Acompanhe a agenda pelo site www.museudoamanha.org.br
A Galeria das Formas conta com maquetes táteis e leitura em braile para pessoas com deficiência visual
Participe do Teleton: 4 e 5 de novembro. Para doar R$ 5, ligue 0500 12345 05. Para doar R$ 15, ligue 0500 12345 15. Para doar R$ 30, ligue 0500 12345 30. Envie SMS para 28127 com a letra T ou acesse teleton.org.br
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ESPECIAL RIO DE JANEIRO UMA PARTIDA DIFERENTE
(que a gente foi assistir e amou!)
Lucas Dutra, 10 anos, representa com orgulho o Rio de Janeiro Power Soccer Clube (RJPS)
O time do Clube Novo Ser foi tricampeão brasileiro (2012/2013/2015), vice-campeão brasileiro (2014) e campeão da Copa Powerchair Libertadores, no Uruguai (2015)
Com uma bola duas vezes maior que a do futebol tradicional, uma partida de power soccer inclui crianças e adultos com deficiência motora severa – como tetraplegia, paralisia cerebral, distrofia muscular, entre outras – em cerca de 30 países. Representando o Brasil, estão as cadeiras de rodas motorizadas do Clube Novo Ser de Power Soccer, do Instituto Novo Ser (INS) – primeiro time do país e da América Latina –, e o Rio de Janeiro Power Soccer Clube (RJPS); que seguem mundo afora em competições nunca antes imaginadas por eles. Monica Dutra, 42 anos, idealizadora e diretora do RJPS, viu no esporte uma oportunidade inclusiva para seu filho Lucas Dutra, 10 anos, com deficiência motora severa. “Foi como se tivesse descoberto uma maneira de se sentir parte de uma equipe e, finalmente, fazer algo capaz de lhe desafiar e lhe trazer adrenalina”, contou Monica.
“Acho que na vida todo mundo quer pertencer a um grupo, se identificar e se sentir importante, e aqui no nosso time todos compartilham desse sentimento”, contou Monica. A modalidade pioneira na América do Sul é administrada pela Associação Brasileira de Futebol em Cadeira de Rodas (ABFC), e busca por uma ampla promoção de cidadania. “Para uma efetiva inclusão social, é necessário o respeito à diversidade, ampliação das opções de escolha, garantia dos mínimos sociais e a participação deles, para conceder a todos uma vida decente e digna”, afirma Nena Gonzalez, da direção do Instituto Novo Ser. INS: treinos aos sábados, das 14h às 16h, na Associação Atlética Light – AAL, no Grajaú. 21 3904-2614 / www. novoser.org.br/powersoccer RJPS: treinos aos sábados, na parte da manhã, no Parque do Flamengo ou na ACM-Lapa. 21 98892-7482 / www. facebook.com/riodejaneiropowersoccer (Por Cintia Alves)
Foi bonito de ver a Casa Brasil, no Boulervard Olímpico, ser tomada por milhares de pessoas durante todos os dias dos Jogos Paralímpicos. Além de unir exposições sobre a cultura brasileira, o espaço foi palco de ações voltadas à acessibilidade e inclusão da pessoa com deficiência. O Detran-RJ esteve presente divulgando o projeto Cidadania sobre Rodas, que já ajudou mais de 1500 motoristas deficientes físicos de baixa renda a conseguirem a primeira habilitação gratuitamente na categoria B, para carros de passeio. As aulas são realizadas em veículos do modelo Livina, cedidos pela Nissan e adaptados pela empresa Adaequare. O público pôde conhecer detalhes como as alavancas de freio e aceleração, volante específico para deficientes e o acelerador para quem só tem a perna esquerda.
Divulgação
DIRIGINDO A PRÓPRIA VIDA
Além disso, o Detran-RJ lançou a primeira edição do Oficina sob Medida, com acessibilidade em Libras, que tem como objetivo ensinar as pessoas surdas sobre manutenção preventiva e noções básicas para identificar e consertar problemas mecânicos simples em seus carros. Para mais informações sobre os projetos, acesse: www.detran.rj.gov.br. (Por Brenda Cruz) A Oficina sob Medida conta com interpretes de Libras, o que favorece ao condutor surdo, um bom aprendizado sobre a manutenção do seu automóvel
ESPECIAL RIO DE JANEIRO Entrevista Marcelo Cavalcanti
Já notou que aqui você é o surdo? A pergunta acima mudou o rumo da vida do atual diretor do Instituto Nacional de Educação de Surdos, o INES. Conheça a trajetória de Marcelo Cavalcanti e todas as possibilidades que o instituto oferece em prol da educação, cidadania e dignidade da pessoa surda entrevista Rosa Buccino texto e fotos Taís Lambert, do Rio de Janeiro
E
m algum momento de nossa jornada individual, algo ou alguém nos imprimirá marcas profundas. Algumas delas neutralizam, paralisam ou aprisionam. Outras são como energia elétrica: uma vez que acendemos as luzes, não há como ignorar o prazer (e o poder) da claridade. Com Marcelo Ferreira de Vasconcelos Cavalcanti, 60 anos, diretor geral do Instituto Nacional de Educação de Surdos, o INES; psicólogo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-graduado em gestão pública, a pergunta do título foi o seu “acender de luzes” pessoal. “A minha história é engraçada e interessante demais!”, adianta, entre sorrisos. Ele, paraibano de Campina Grande, ouvinte, morador do Rio de Janeiro desde os oito meses de idade, frequentou a saleta da fonoaudióloga do INES a partir dos seis anos, por conta da disgrafia e dislexia. “É uma sala pequenininha perto do pátio. Eu passava por ali na hora do recreio de crianças da minha idade. Na algazarra, elas ficavam fazendo aquele som próprio do surdo”, conta Marcelo. “Aquilo deve ter causado um trauma em mim... Eu cresci, entrei no curso de psicologia e já fui direto para a área da deficiência, estudei de tudo; no
entanto, surdo não chegava perto de mim de jeito nenhum. Sempre atuava na área da deficiência, mas surdez, n-ã-o”, enfatiza ele, que naquela época estava com 19 anos. Como a vida é cheia de reviravoltas, Marcelo é diretor do INES pela segunda vez. O instituto é um centro de referência nacional na área da surdez e completará 160 anos em 2017. Localizado em Laranjeiras, na cidade do Rio de Janeiro, e reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC), o instituto tem hoje 442 alunos matriculados no Colégio de Aplicação (CAP/INES), 240 alunos no Curso Superior (Desu/INES), 269 no curso de Pós-Graduação e 600 alunos matriculados no curso gratuito de Língua Brasileira de Sinais (Libras). M a rc e lo Cava lc a nti re c e b e u a Revista D+ em sua sala para uma entrevista exclusiva sobre as conquistas do INES – da formação educacional à inserção no mercado de trabalho, os serviços prestados pelo instituto e o universo da pessoa surda. A seguir, confira todas as possibilidades educacionais e de empregabilidade oferecidas pelo INES e como o jovem que evitava surdos a todo custo aprendeu Libras, se apaixonou pelo tema e se transformou no diretor da maior referência na área da surdez do país.
Marcelo Cavalcanti, atual diretor do INES, no corredor que leva à antiga saleta da fonoaudióloga que ele frequentava aos seis anos de idade: a vida o levou de volta à instituição Revista D+ número 11
ESPECIAL RIO DE JANEIRO Surdo não chegava perto de mim de jeito nenhum. Sempre atuava na área da deficiência, mas surdez, n-ã-o
Revista D+: Você não conseguia se relacionar com pessoas surdas por causa dessa lembrança de infância. Então, como veio parar justamente aqui, no INES? Marcelo Ferreira de Vasconcelos Cavalcanti: Uma amiga americana, percebendo minha relutância em relação ao surdo, me apresentou o Carlos Alberto. Ele era oralizado. De vez em quando ele tentava se comunicar por sinais e eu dizia: “Pare com isso! Não tem nada que fazer sinal!”. Na faculdade eu havia aprendido que tudo deveria ser oralizado. E não tinha discussão comigo! Uma vez fomos viajar para o sul do país, de onde ele é. Dormi no carro e só acordei no Rio Grande do Sul. Li uma placa que dizia: “Colônia de Férias de Surdos Capão da Canoa”. Pensei: “Acabaram minhas férias!”. O que aconteceu depois? Sentei a uma mesa, chateado. Mas tinha um detalhe: eu estava com o dente do siso inflamado e ficava fazendo assim [Marcelo faz o movimento de inflar a bochecha com ar, de um lado só] o tempo todo para aliviar a dor. Passava homem, mulher, senhora de idade na mesa da frente e eu lá... [Ele repete o gesto].
No dia seguinte fomos à praia, eu e mais duzentos surdos. Estava isolado por causa da Libras, que eu não sabia. Uma amiga do Carlos Alberto – que a essa altura nem falava mais comigo – muito bem oralizada, me perguntou por que eu ficava fazendo aquilo com a boca. Expliquei que era o dente do siso que estava doendo muito. Ela soltou uma enorme gargalhada e foi até o grupo.
Foi quando as mudanças começaram? Sim, voltei para o Rio de Janeiro e me inscrevi num curso de Libras. Aquela pergunta me fez enxergar muitas coisas. Eu estava abrindo um consultório no Largo do Machado e passei a me empenhar e conviver com surdos para poder atendê-los na terapia. Concluí o curso de Libras e participava de tudo: ia às festas de associações de surdos, saía para dançar, ia às comemorações, tudo! Eu devia ter uns 25 anos. O Carlos Alberto, que passou a ser meu melhor amigo, passava aqui, em frente ao INES, e me dizia: “Um dia você será diretor do INES. Quando isso acontecer, faça uma faculdade pra gente”. Faz uns 20 anos que estou no instituto; agora no segundo mandato como diretor e só trabalho com surdos!
Isso é um sinal, não é? O sinal de...?! Exatamente! Todo mundo veio falar comigo, rindo! Explicaram para mim que o que eu fazia para aliviar a dor de dente significava, em Libras, chamar o surdo para transar! Daí perguntei várias coisas e comecei a me entrosar, mas sempre com dificuldade por causa da língua que eu não aceitava.
Quais são os principais serviços prestados pelo INES? O INES dedica-se à Educação Precoce, que atende de recém-nascidos a crianças com três anos de idade; ao Colégio de Aplicação (CAP/INES), que abrange a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio; e ao Ensino Superior, cujo curso de Pedagogia prepara e habilita os professores com foco na inclusão dos surdos.
E quando foi que aconteceu o “divisor de águas” para você? Numa das noites, a gente saiu para ver o desfile de uma escola de samba, um bloco, não me lembro. O Vicente, um amigo do Carlos Alberto, muito bem oralizado também, me vendo sozinho, perguntou se eu estava chateado; e eu respondi que estava louco para pegar um avião e ir embora dali. Foi quando ele me perguntou: “Marcelo, você já notou que aqui você é o surdo?”. Era eu quem tinha o problema da comunicação ali, eu é que estava isolado por causa da maioria que só se comunicava em Libras. Aquilo me tocou profundamente.
Para quem o curso de Libras é direcionado? O instituto mantém o curso gratuito da Libras, privilegiando os familiares de surdos, professores em formação, professores da rede pública, profissionais de empresas públicas e privadas, além de todos que tenham interesse nessa formação. Para concluir o curso é preciso que os alunos sejam submetidos a uma prova oficial que ateste seus conhecimentos sobre Libras, sempre que seja concluído cada um dos cinco módulos que integram o curso. O INES também realiza o Programa Nacional para Certificação de Proficiência em Libras e para
No curso superior do INES, os surdos e ouvintes são cobrados da mesma maneira
Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação de Libras/Língua Portuguesa (Prolibras), em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Como os alunos ingressam no INES? Estão abertos os cursos de pós-graduação, mestrado profissional ou formação continuada? Quais são os níveis de formação profissional que o INES oferece? Os alunos ingressam no INES através de exames seletivos ou entrevistas específicas, que os prepara essencialmente na área de Pedagogia (licenciatura). Aos sábados, o INES mantém o curso de pós-graduação intitulado Educação de Surdos em uma Perspectiva Bilingue em Construção. No período da tarde, de segunda a sexta, mantém os cursos de extensão: Classificadores em Libras; Compreensão e Produção Textual em Língua Portuguesa; Criação e Produção de Mídia (trabalha imagem, vídeo e publicação digital); Curso de Extensão de Língua Portuguesa (como segunda língua); Oficina Permanente de Teatro e American Sign Language (ASL), que é a língua de sinais norte-americana. O instituto planeja a abertura de cursos de mestrado, entre outros. Todos os professores são fluentes em Libras? Há quantos professores surdos nos quadros do instituto? As aulas do curso de pós-graduação são ministradas com intérpretes que se revezam em sala de aula. Já durante as aulas ministradas pelo CAP, o professor solicita um intérprete de acordo com a necessidade. Sendo assim, nem todos os professores são fluentes em Libras. Hoje o INES possui 56 intérpretes, sendo que 12 vagas continuam em aberto (não foram preenchidas através de concurso público). Ressalto que os professores são contratados mediante concurso público também: temos 19 professores surdos, sendo oito contratados.
Quais as funções dos intérpretes, além da tradução e interpretação em Libras? Eles atuam em sala de aula, fazem seminários, entrevistas e estudam para poder incrementar a área da tradução e interpretação. Os surdos e ouvintes estudam em uma mesma sala de aula? Há diferenças em seu desempenho? Sim, estudam. No curso superior, os surdos e ouvintes são cobrados da mesma maneira. Por exemplo, uma monografia pode ser desenvolvida pelo aluno surdo em Libras e em Língua Portuguêsa pelo aluno ouvinte. Destaco que há casos exitosos em se tratando de desempenho, como surdos doutores que integram nosso quadro de funcionários, professores formados em nível superior e mestrado. O desempenho de modo geral não é visto como um problema, pois as estratégias pedagógicas adotadas estão alinhadas com as demandas específicas da parcela de surdos. Há algum projeto preparatório para candidatos surdos que queiram ingressar nos cursos do INES? Sim. Esses candidatos precisam seguir um edital para o vestibular, que inclui prova em Libras além das matérias específicas. Há aulas de reforço com foco no vestibular, que é igual para surdos e ouvintes.
O INES também atende surdos oralizados? Sim. Atualmente contamos com 20 alunos oralizados, que se submeteram ao implante coclear. Nesse caso, esses alunos convivem com os demais alunos surdos e a comunicação ocorre em Libras. Como o INES auxilia os surdos a se inserirem no mercado de trabalho? Através da Divisão de Qualificação e Encaminhamento Profissional (Diepro) do instituto, que oferece cursos preparatórios, além de assessoria técnica às empresas que os contratarão. Esses cursos são disponibilizados para alunos do Colégio de Aplicação e para pessoas surdas da comunidade. A Diepro disponibiliza também vagas para estágios e/ou treinamentos, a partir de convênio com empresas, aos alunos do CAP/INES. A Diepro também é conveniada com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e ao Serviço Nacional do Comércio (Senac). Então, por causa da parceria com várias outras empresas locais que empregam surdos, surgem, eventualmente, oportunidades profissionais nas áreas de serigrafia, costura, manicure, cabeleireiro, maquiagem, cozinheiro e cargos administrativos.
ESPECIAL RIO DE JANEIRO
O INES fica no bairro Laranjeiras, no Rio de Janeiro, e completará 160 anos em 2017
O curso de Libras é gratuito e privilegia os familiares de surdos, professores em formação e profissionais de empresas públicas e privadas O INES tem capacidade de absorver o profissional surdo em seus quadros? Em quais áreas? O INES integra o profissional surdo através de concurso público ou terceirização, caso seja aberta essa possibilidade. As funções que são geralmente disponibilizadas são: professores, atores, jornalistas, apresentadores e funções administrativas, como manutenção predial, entre outras. Qual é a participação do profissional surdo na área de mídia/comunicação do INES? Os surdos e ouvintes são integrados pela TV INES, que é fruto de uma parceria com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp). Trata-se da primeira Web TV em Libras, com legendas e locução, onde trabalham profissionais surdos com habilidade de televisão, ouvintes, tradutores, intérpretes e profissionais formados pelo INES.
Quais são as perspectivas do INES em longo prazo? Há projetos para criação de novos cursos destinados a outras áreas profissionais? Certamente. Na área docente, planejamos incluir novos cursos de Ensino Superior, que estão em aprovação. Na área de comunicação, uma nova programação jornalística pela TV INES: um telejornal dedicado aos surdos, que terão condições de acompanhar o noticiário sem a necessidade de interpretação ou tradução, uma vez que o conteúdo será todo gerado em Libras. Planejamos também disponibilizar nosso curso presencial de pedagogia à distância em pontos estratégicos em todo o país, incluindo universidades e institutos federais. Você acha que as empresas estão contratando mais surdos do que em outros períodos? Por quê?
A existência da Lei de Cotas fez com que as empresas mudassem para melhor o modo como observam as pessoas com deficiência, especialmente no tocante à inserção delas no mercado de trabalho. Nesse contexto, os surdos também passaram a ser mais valorizados. Mesmo assim, é preciso abolir vários paradigmas, como o que sugere que empregar um surdo, por exemplo, é mais barato e econômico para uma empresa. Isso sem contar as melhorias concretas em se tratando de acessibilidade e o respeito para com os surdos no ambiente de trabalho. Qual é sua opinião a respeito do tratamento que a sociedade brasileira dispensa aos surdos? Observo avanços nesse sentido. No entanto, ainda há muito a ser feito no que se refere às questões relacionadas à inclusão social das pessoas com deficiência, incluindo o tratamento dispensado aos surdos em nosso país. Noto que falta maior conscientização da sociedade sobre a importância de intérpretes de Libras em variados ramos de atuação que podem ser dirigidos aos surdos. D+
ESPECIAL RIO DE JANEIRO
texto Taís Lambert fotos Manoel Araújo
REPARO & AMPARO Os Jogos Paralímpicos Rio2016 foram palco de muitos recordes. Um deles vem dos bastidores: a Oficina de Reparos da alemã Ottobock, responsável por consertar toda e qualquer avaria em próteses, órteses e cadeiras de rodas dos paratletas, executou um total de 2.346 pedidos de reparos, que resultaram em 3.361 reparos individuais. No time de quase 100 pessoas de 31 países, falando 26 idiomas, havia sete técnicos brasileiros, incluindo duas mulheres. “A Ottobock respeita as questões culturais e religiosas dos atletas. Isso quer dizer que paratletas mulheres de determinados países só podem ser atendidas por profissionais do sexo feminino”, explica Thomas Pfleghar, diretor técnico da Ottobock à frente das operações no Rio. “Mulheres da Argélia, do Irã e Iraque foram atendidas por nossas técnicas brasileiras”, exemplifica. O maior desafio da oficina foi a agilidade: sem o reparo a tempo, o paratleta ficaria de fora da competição. No entanto, a oficina não reparou só os equipamentos para os jogos; os de uso diário também foram consertados segundo a necessidade. A Revista D+ visitou a Oficina, dentro da Vila dos Atletas, um dia antes do encerramento da Paralimpíada e constatou uma série de próteses e órteses que foram substituídas. “É normal que países de recursos menores, cujas pessoas usam o equipamento por um tempo muito longo, apresentem próteses e órteses em situação crítica. Alguns são recuperáveis, mas em outros casos, realmente fazemos novos, do zero”, explica Thomas. Os serviços, que são gratuitos, contam ainda com o fator surpresa: a oficina teve de projetar, às pressas, um suporte que ficasse preso ao corpo do paratleta que tinha apenas uma mão. Só assim ele pôde carregar a bandeira de seu país na abertura dos jogos. “Nós prestamos esse tipo de serviço desde os Jogos de Seul, em 1988. As características são as mesmas: as oficinas são montadas em espaços relativamente pequenos, são otimizadas e prezam pelo dinamismo e pela eficiência”, contou o diretor de marketing Ricardo Souza em nossa visita. Segundo o executivo, é essencial tratar o esporte como fator de reabilitação. Para isso, a tecnologia é uma grande aliada: “Quando o público assiste à Paralimpíada, passa a olhar para a pessoa com deficiência de forma positiva. É só mais uma característica, e não um defeito. A tecnologia abre novas possibilidades de inclusão”, afirma. Para Thomas Pfleghar, que comandou as operações técnicas da oficina pela terceira vez em Paralimpíada, a experiência é sempre muito boa. “O convívio com a diversidade humana nos faz aprender muito. Nosso papel é entender as necessidades e os desejos do outro e ajudá-lo. O valor humano nisso tudo é o que mais impressiona”, finaliza. Que venha Tóquio. D+
A Ottobock mantém sua Oficina de Reparos nos Jogos Paralímpicos desde 1988, quando começou em Seul, na Coreia do Sul
REPAROS EM:
438 2.745 Próteses
178
Cadeiras de rodas
Órteses
3.361 Total de reparos
14.500 Horas trabalhadas
MAIORIA DOS REPAROS:
para as maiores delegações: Brasil, China, EUA e Grã-Bretanha NÚMEROS EM OUTRAS EDIÇÕES DE JOGOS Técnicos Idiomas Horas trabalhadas Reparos
Seul 1988 4 3 90 350
Londres 2012 80 15 10.000 2.062 Revista D+ número 11
ESPECIAL RIO DE JANEIRO
A festa acabou. E agora? Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Rio deixaram muito mais que medalhas, o legado de acessibilidade e melhorias para o bem estar da população apenas começou texto Brenda Cruz e Cintia Alves, do Rio de Janeiro
A
cidade do Rio de Janeiro volta ao normal após uma temporada de agito devido aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Agora sem o clima de festa e os holofotes do mundo inteiro voltados aos jogos, o que ficou de legado para os moradores e turistas com e sem deficiência da Cidade Maravilhosa? Trazemos aqui um balanço geral do investimento que chegou a mais de R$ 7.4 bilhões, segundo o levantamento no orçamento do Comitê Organizador Rio2016. Esse valor foi investido nos setores: administrativo e comercial, tecnologia, projetos de infraestrutura, esportes e cerimônias, acomodações, serviços dos jogos, direitos de marketing e contingência, transporte e engajamento. Muito foi feito, no entanto, o Rio ainda está longe de ser um modelo dentre as capitais brasileiras. O Observatório das Metrópoles, coordenado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), realizou um estudo que determina o Índice de Bem-Estar Urbano dos municípios brasileiros. O levantamento inédito, que teve como indicadores sete itens para avaliar a infraestrutura, revela que das 27 capitais, o Rio de Janeiro ficou em oitavo lugar, sendo que Vitória é a melhor colocada.
foto Manoel Araújo
O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) facilitou o acesso à zona central e portuária, e conta com total acessibilidade nos vagões e paradas
PELAS RUAS O programa Bairro Maravilha foi lançado em 2010 e é responsável pela urbanização e implantação de infraestrutura nas zonas Norte e Oeste. Segundo a prefeitura, foram investidos nesse projeto R$ 2 bilhões para atender a 59 bairros com pavimentação, implantação de sistemas de esgoto, drenagem, construção de rampas e calçadas e plantio de árvores. Até o fim de agosto, foram instaladas 8.900 rampas de acessibilidade. Conforme a prefeitura, até dezembro, o número de rampas chegará a 10.617. Foram implantados sete sinais de trânsito que dispõe de alerta sonoro. Os equipamentos foram instalados pela CET-Rio em locais onde há maior demanda por causa da locomoção de pessoas com deficiência visual nas regiões. TURISMO PARA TODOS O projeto batizado de Rotas Acessíveis foi idealizado pela Riotur. A intervenção passou a oferecer acessibilidade para as pessoas com deficiência, ligando os principais meios de transporte aos pontos turísticos da cidade. O investimento de aproximadamente R$ 2 milhões foi destinado ao Corcovado, Shopping Rio Sul – Pão de Açúcar, Cinelândia, Barra da Tijuca (praia), Vista Chinesa, Mesa do Imperador, Jardim Botânico e Copacabana (praia). A Região Portuária também passou por reformas, ganhando 300 mil m² de área de lazer, ligando-se a Praça Mauá e tornando o Museu do Amanhã o mais novo cartão postal da cidade.
EDUCAÇÃO E BEM ESTAR Para o Parque Olímpico da Barra, o Ministério do Esporte destinou R$ 300 milhões na construção de instalações esportivas que serão permanentes, como: o Centro Olímpico de Tênis, o Velódromo Olímpico e os Halls Olímpicos 1, 2 e 3. A Arena do Handebol, que teve o custo de R$ 140,1 milhões, incluindo gastos com manutenção, terá sua estrutura desmontada para a construção de quatro escolas públicas. O mesmo acontecerá com o Estádio Olímpico de Esportes Aquáticos, cujo investimento foi de R$ 225,3 milhões, que será desmontado e destinado a outro estado, a ser definido. ACADEMIAS ACESSÍVEIS Foi inaugurada na Praça do Lido, em Copacabana, a primeira academia ao ar livre acessível para pessoas com deficiência. A Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (Seconserva) já adquiriu mais dez equipamentos que serão instalados em outros pontos da cidade. “Esses são equipamentos que passaram por um período de testes, apresentam novo design e um material de maior resistência. Esse novo modelo reforça a atenção da Prefeitura do Rio com o desafio da acessibilidade”, diz o secretário Marcus Belchior, titular da pasta de Conservação e Serviços Públicos, responsável por esse projeto. Além disso, a Prefeitura do Rio, por meio da Seconserva, também instalou brinquedos para crianças com deficiência na Praça Ricardo Palma (Lagoa) e na Praça Niterói (Tijuca). Em breve, o projeto será expandido a outros locais. Revista D+ número 11
ESPECIAL RIO DE JANEIRO
Temos que cobrar os governantes, mas cabe a nós também, como sociedade civil, se articular e fazer nossa parte
foto André Motta
Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro
O Parque Olímpico da Barra terá uma parte de sua estrutura desmontada e destinada a construção de escolas públicas
fotos Alexandre Macieira/Riotur
Os veículos BRTs contam com todos os recursos de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, cadeirante, idosos, gestantes e pessoas com cão-guia
PARA IR E VIR Inaugurado parcialmente em julho deste ano, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) é a opção ideal para a mobilidade da população na área central da cidade. Quando concluído terá 28 km e 31 paradas, circulando de forma rápida, segura e sustentável, no Centro do Rio e na Região Portuária, e tem como um dos pontos principais o Aeroporto Santos Dumont. A Linha 4 do Metrô, inaugurada com investimento de R$ 9,7 bilhões, liga a Barra da Tijuca à Ipanema, com estimativa de circulação de 300 mil pessoas por dia e conexões com as Linhas 1 e 2 do sistema BRT. Quem embarca nos veículos BRTs na Barra da Tijuca encontra espaços exclusivos para pessoas com cadeiras de rodas com proteção necessária, assentos para pessoas com mobilidade reduzida, idosos, gestantes e pessoas com cão-guia. Todas as estações foram projetadas com rampas de acesso, piso tátil, pisos antiderrapantes e sinalização sonora indicando as estações seguintes para pessoas com deficiência visual. Há também sinalizações visuais para pessoas com deficiência auditiva e paradas acessíveis no mesmo nível das estações. As estações do metrô da linha 4 contam com piso podotátil e vagão preferencial para a pessoa com deficiência
SOCIEDADE MAIS ATIVA O Rio ainda tem uma grande jornada para concluir as obras que começou em prol da acessibilidade e inclusão da pessoa com deficiência em todos os cantos da cidade. Que esses jogos possam ter sido apenas o “start” para um novo alvorecer. “Eu tenho certeza que o tempo vai fazer esse registro com a cidade do Rio de Janeiro, como as Olimpíadas e Paralimpíadas mais transformadoras na vida de uma cidade e de uma população”, disse Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, em coletiva de imprensa no Rio Media Center sobre o legado dos Jogos Paralímpicos. Para Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, os Jogos do Rio ajudaram a acelerar as mudanças na cidade, mas o mais importante foi a promoção de valores sobre acessibilidade. “Eu não tenho dúvidas de que as crianças que foram ao Parque Olímpico, nas instalações em Deodoro, no Maracanã, na Zona Sul, mudaram a sua percepção sobre as pessoas com deficiência”, afirmou Parsons. O presidente do Comitê ainda ressaltou a importância de uma sociedade mais atuante no âmbito da inclusão e da acessibilidade. “Temos que cobrar os governantes, mas cabe a nós também, como sociedade civil, se articular e fazer nossa parte, e esses Jogos Paralímpicos nos ajudam a despertar essa consciência”, finalizou.
ENCONTRE UM LOCAL DE TREINAMENTO PERTO DE VOCÊ Confira o guia on line com informações detalhadas sobre as instalações esportivas: www.rio2016.com/pregamestraining/pt
brasileiros, ficará a ideia de que é possível buscar um caminho no esporte”, afirmou o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, em entrevista coletiva no Rio Media Center.
A cidade ganhou academias acessíveis ao ar livre para maior autonomia dos usuários
TRANSFORMANDO VIDAS As Vilas Olímpicas, da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (SMEL), atende mais de 3 mil alunos com deficiência, com 50 atividades inclusivas de esporte e lazer. Com 22 unidades espalhadas pela cidade, as modalidades variam entre atletismo (caminhada orientada adaptada), oficina de psicomotricidade, coral de Libras, taekwondo inclusivo, jiu-jitsu inclusivo, ginástica artística adaptada, entre outras.
Os alunos das Vilas Olímpicas praticam todos os dias a cidadania em diversas modalidades esportivas adaptadas
INVESTIMENTO DE ALTO NÍVEL Com apoio da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPD) e do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), a Prefeitura do Rio oferece treinamento de alto nível e infraestrutura a um grupo de 21 atletas com deficiência visual e motora, e quatro guias, formando o Time Rio Paralímpico. Os atletas disputam quatro categorias: atletismo, canoagem, natação e judô. O projeto já passou por duas fases: a primeira em 2012, para os Jogos de Londres, e esse ano, para os Jogos Rio2016. A expectativa do projeto é que a cada ano os atletas estejam mais capacitados para as futuras competições.
Paulo Araújo/RMC
O QUE O ESPÍRITO ESPORTIVO TROUXE PARA O PAÍS? Durante os Jogos Paralímpicos surgiram muitos reflexos de esperança para que pessoas com deficiência busquem oportunidades por meio do esporte. O maior legado do projeto, além desse sentimento, é o investimento na infraestrutura, que ultrapassa R$ 3 bilhões, em recursos destinados aos centros de treinamentos para atletas no futuro. O investimento de R$ 910 milhões na construção dos 249 Centros de Iniciação ao Esporte (CIEs), do Ministério do Esporte, em 238 municípios de todos os estados brasileiros e no Distrito Federal, possibilita a formação e o incentivo de atletas na prática esportiva em territórios de vulnerabilidade social. “O Governo Federal teve uma participação efetiva no estímulo aos atletas. A parceria entre os ministérios do Esporte e da Defesa deu muito certo. Para uma multidão de jovens
Ricardo Cassiano/Prefeitura Rio
fotos Alexandre Macieira/Riotur
Os pontos turísticos do Rio de Janeiro estão cada vez mais acessíveis. O Pão de Açúcar, por exemplo, disponibiliza transporte adaptado para os visitantes
DE OLHO NO FUTURO Para realizar o sonho de esportistas pelo país, o programa Bolsa Atleta, do Governo Federal, já concedeu mais de 43 mil bolsas desde 2005, com investimento que já ultrapassou mais de R$ 600 milhões. Sendo considerado o maior programa de patrocínio esportivo individual e direto do mundo. O maior legado chegou em 2012 com o programa Bolsa Pódio, que contempla atletas com grandes chances de disputar medalhas nas Paralímpiadas. Para os Jogos Rio2016, foram patrocinados 252 atletas nas modalidades individuais (olímpicas e paralímpicas) com bolsas que variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil. D+ Revista D+ número 11
NOSSA CAPA
Lugar de surdo é... ... onde ele quiser
Um olhar apurado sobre a relação entre a pessoa surda e o mercado de trabalho revela transformações admiráveis, mas também traz à superfície a ainda vigente e cínica desigualdade para com a pessoa com deficiência texto Taís Lambert fotos Marcos Florence colaboração Rosa Buccino
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á barreiras que insistem em parecer intransponíveis. Cada tijolo desse extenso muro foi assentado com vigor e destreza, sedimentado pelo preconceito de gerações a fio e validado por cada política pública não criada, por cada lei não respeitada, por cada sentimento de igualdade e pertencimento não concedido. A terceira e recém publicada edição da pesquisa Profissionais de Recursos Humanos: expectativas e percepções sobre a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, realizada pela iSocial/Catho, com o apoio da Associação Brasileira de Recursos Humanos – ABRH-Brasil, ouviu 1.459 profissionais de RH de empresas instaladas no país. O objetivo é apontar as dificuldades que as organizações enfrentam para contratar e manter os profissionais com deficiência. Os números dão conta da realidade: segundo a percepção dos profissionais de Recursos Humanos pesquisados, 86% ainda contrata somente para preencher a cota estabelecida por lei. Sobre a qualidade das vagas, 60% dos entrevistados afirmam que é regular e que poderia ser mais
João Carlos Soares é preparador de pintura na Mitsubishi de Catalão, em Goiás
adequada aos perfis profissionais, e 16% revelam que são ruins ou inadequadas. Se trouxermos a lupa para condições específicas, como a surdez e a deficiência auditiva, 78 mil são os que têm carteira assinada, segundo o último levantamento (de 2014) da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Isso significa dizer menos de 1% da população de surdos no país, que é composta por 9,7 milhões de pessoas, de acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010. A Revista D+ entrevistou diretores de RH, professores, coordenadores de programas de empregabilidade, psicólogos e consultores especializados em inclusão social. Mas primeiro, conversamos com cinco funcionários surdos de grandes empresas e instituição pública: Mitsubishi, TOTVS, Bradesco, IBM e TV INES. Esses são alguns exemplos de comportamentos favoráveis à contratação do surdo e ao respeito pela diversidade, traçando novos contornos e tingindo com tintas mais nobres e atraentes a vida profissional da pessoa surda. Confira.
Revista D+ número 11
NOSSA CAPA
EXERCÍCIO DE CAPACIDADES: UM DIREITO O primeiro mito que se tem notícia sobre o surdo no mercado de trabalho é o de que ele deve desempenhar tarefas manuais. Tudo aquilo que supostamente não requer a comunicação em primeiro lugar para um bom desempenho torna-se, então, a vaga “ideal” para quem não escuta. Balela. O surdo pode desenvolver-se onde quer que seja, tal qual uma pessoa sem deficiência. Assim como com quaisquer outros profissionais, o que deve ser levado em consideração são suas capacidades e habilidades, além da formação e experiência. “Isso é resultado do modelo de integração adotado anteriormente ao da inclusão. As empresas apostavam nos tipos de deficiência de acordo com as vagas: assim, era comum ter cegos em salas de apoio ao Raio-X e surdos em linhas de montagens, porque eles, como todo operador de máquina de linha de produção, têm o foco e a atenção concentrados na ação”, afirma Tatiana Rolim, psicóloga, autora do livro A Inclusão e o Ambiente Corporativo e consultora da Trinclusão, cujo foco é capacitar gestores na liderança de pessoas com deficiência.
Então não pode trabalhar em linha de produção? Claro que pode, se for isso o que a pessoa surda sabe fazer, deseja ou quer aprender. João Carlos Soares, 48 anos, caiu de uma porteira de fazenda aos quatro anos de idade e rompeu o tímpano. Surdo desde então, se comunica em Língua Brasileira de Sinais, a Libras. Funcionário da Mitsubishi de Catalão, em Goiás, há cinco anos, ele fala de suas ocupações: “Sou preparador da pintura, com a função de lixamento na preparação do carro, e também faço o revezamento na movimentação e limpeza de dispositivos”. De sorriso largo, João diz que chegou à montadora por meio da namorada, “que hoje é minha esposa”, e já trabalhava na empresa. Solange Castelo Branco, gerente de RH da Mitsubishi, afirma que nos processos seletivos as pessoas com deficiência participam com igualdade. “Não existem funções específicas destinadas aos surdos, eles disputam as vagas de acordo com seu perfil e as necessidades exigidas para o cargo”. João diz que gosta de trabalhar com pessoas ouvintes e que interage bem com elas. “Acho importante a empresa fazer com que as pessoas, independentemente de
Surdo desde os quatro anos, João Carlos utiliza a Língua Brasileira de Sinais, a Libras, para se comunicar. “Gosto muito de trabalhar com pessoas ouvintes, com as quais interajo muito bem”
Por clientes
24%
Por gestores
33%
deficiência, trabalhem juntas”, opina. Quando entram na empresa, os colaboradores recebem o apoio de um intérprete de Libras durante o processo de inclusão. “Nas áreas de trabalho, os surdos são acompanhados por profissionais com experiência na língua de sinais para que se sintam confortáveis no esclarecimento de dúvidas e na execução das atividades. O profissional surdo não é tratado como uma novidade”, explica Solange. Segundo Magda Bueno, coordenadora de comunicação do Programa de Apoio à Pessoa com Deficiência (PADEF), da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho no Estado de São Paulo, o intérprete de Libras é fundamental durante a inclusão, nos treinamentos, nas reuniões e palestras. “Mas no dia a dia, basta que os colegas de trabalho e o próprio colaborador surdo estejam dispostos a estabelecer uma comunicação, seja pela escrita, seja por meio de aplicativos, como o Hand Talk ou o Prodeaf, ou dicionários on line que ajudam no processo de aprendizagem, como no site acessobrasil.org.br”. INCLUSÃO EXIGE TRANSFORMAÇÃO A Lei de Cotas prevê que as empresas com 100 ou mais empregados são obrigadas a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com reabilitados ou pessoas com deficiência. Romeu Kazumi Sassaki, 78 anos, presidente reeleito da Associação Nacional do Emprego Apoiado (Anea) até 2018 e referência maior na inclusão laboral da pessoa com deficiência – faz isso há 56 anos – chama atenção para a Lei. Segundo Sassaki, autor do livro Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos, a Lei de Cotas pode até contribuir para a inclusão, mas a inclusão não depende do cumprimento da Lei. “No Brasil, essa Lei foi idealizada e implantada em 1960, no início da prática do paradigma da integração, que durou até o final da década de 1980, a fim de forçar as empresas a contratar pessoas com deficiência reabilitadas pela Previdência Social. A integração seguia o Modelo Médico da Deficiência, no qual o ‘problema’ era a deficiência da própria pessoa”, explica ele. “Já a inclusão, que começou na década de 1990, segue o Modelo Social da Deficiência, no qual o ‘problema’ está nas barreiras existentes na sociedade”. Thainá Oliveira é daquelas garotas com quem você sabe que vai render conversa. Aos 19 anos, é surda oralizada, mas se sente mais confortável falando em Libras. Ela é analista de Educação na TOTVS, responsável por administrar materiais dos cursos dados aos clientes que adquirem os softwares da companhia. Este é o primeiro emprego de Thainá, que foi contratada, coincidentemente, no último Dia Nacional do Surdo. Conversamos com ela em sua primeira semana na TOTVS. “Não tenho medo de viver situações de preconceito aqui. Posso mostrar que eu sou capaz de fazer as coisas e que
A PORCENTAGEM DO PRECONCEITO
no ambiente de trabalho contra pessoas com deficiência
Por colegas
43%
Gestores com resistência em entrevistar e/ou contratar profissionais com deficiência
59
73% não
A empresa tem um programa para quebrar o preconceito de gestores para a contratação da informam que pessoa com deficiência?
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Fonte: Pesquisa Profissionais de Recursos Humanos: expectativas e percepções sobre a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, da iSocial/Catho com apoio da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Brasil). A pesquisa engloba a opinião de 1.459 profissionais de RH das empresas instaladas no Brasil
População de surdos no Brasil*
516.663
9,7 milhões
População residente no município de São Paulo com deficiência auditiva*
sendo: 30.202 pessoas surdas (Não consegue ouvir de modo algum)
396.003 pessoas com deficiência auditiva leve (Com alguma dificuldade para ouvir)
Pessoas com deficiência auditiva com carteira de trabalho assinada**
90.458 pessoas com deficiência auditiva severa (Tem grande dificuldade para ouvir)
73 mil
brasileiros, menos de 1% da população de surdos no país
* Fonte: Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010 ** Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), de 2014 Revista D+ número 11
NOSSA CAPA
Thainá Oliveira, analista de Educação e seu gestor, Maurício Schorsch, na TOTVS: “Tratamos a pessoa com deficiência como os demais, atribuindo-lhe responsabilidades e cobrando resultados”
somos iguais como seres humanos. Quero aprender, conhecer, crescer e me desenvolver mais no futuro: sou surda, capaz e focada no trabalho”, sentencia. Seu gestor direto, o head de Educação Empresarial Maurício Schorsch, 34 anos, acredita que o surdo pode exercer qualquer atividade na qual tenha competência. “O desafio está em alocar as pessoas de acordo com suas aptidões – desenvolvidas ou a desenvolver”, afirma ele. A TOTVS possui um programa de contratação de pessoas com deficiência e, dentro do último grupo contratado, no mapeamento das competências, a Thainá foi identificada com potencial para a área de Educação. Ela tem ensino superior incompleto em Pedagogia. “O desempenho dela nesta primeira semana tem sido sensacional, pois além de agilidade no aprendizado das atividades, ela realiza a revisão e diagramação das apostilas em velocidade superior à executada por alguns ouvintes na área”, elogia Maurício. “Além disso, é importante destacar que ela tem ensinado Libras para muita gente”. A diretora de RH da empresa, Rita Pellegrino, 39 anos, psicóloga, conta que a cultura de inclusão está no DNA da TOTVS e foi amadurecendo de acordo com a convivência com esses profissionais e com os benefícios percebidos para o ambiente de trabalho. A partir deste ano, a companhia ampliou a forma de contratação do programa de diversidade e inclusão em
As pessoas deveriam conhecer a cultura surda e como nós queremos trabalhar junto dos ouvintes, para trocar ideias Thainá Oliveira parceria com o IOS, uma entidade que se dedica à capacitação e inserção de pessoas com deficiência e jovens carentes no mercado de trabalho há 18 anos. “Além das entrevistas, os processos seletivos passaram a contar com workshops e acompanhamento pós-contratação. Temos previstas mais de 400 horas de capacitação e acompanhamento pelo RH por dois anos. Já contratamos 85 profissionais nesse novo formato”, explica Rita. Atualmente com 52 colaboradores surdos nos mais diversos departamentos – como Jurídico, educação empresarial e suporte e atendimento ao cliente, “uma área muito estratégica e vital para a TOTVS, que soma mais de 30 mil clientes” – a empresa promove frequentemente turmas de capacitação em Libras, abertas a qualquer um que deseja aprender e se comunicar melhor com os colegas surdos. “Aqui a inclusão é um processo de aprendizado e evolução que foi se solidificando com o passar do tempo. É algo natural no processo de mudança da cultura de qualquer companhia e hoje isso pode ser acelerado por causa da quantidade de informação e pesquisas que temos à disposição”, avalia a diretora. “Assim como muitas empresas,
Rita Pellegrino, diretora de RH da TOTVS: “Aqui a inclusão é um processo de aprendizado e evolução que foi se solidificando com o passar do tempo”
também temos pontos de melhoria, e isso é importante para que busquemos evoluir sempre com o objetivo de garantir um ambiente de trabalho agradável e produtivo a todos, sem restrições”. Thainá sabe bem o que quer: “Meu desejo para minha vida profissional é Pedagogia, porque amo ensinar crianças e adultos”. Para ela, as pessoas pensam que a Libras é mímica: “Elas deveriam conhecer a cultura surda e como nós, surdos, queremos trabalhar junto dos ouvintes, para compartilhar ideias”. E finaliza, resoluta: “Como Jean Piaget disse, ‘O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram’”. EDUCAÇÃO, UMA PORTA DE ENTRADA A educação, sem dúvida, pavimenta o caminho de acesso ao mercado de trabalho. Não é, em si mesma, garantia de que o surdo viabilizará sua independência financeira facilmente – assim como não o é para nenhuma outra pessoa – mas é certo que colabora. Para a pedagoga Ronice Müller de Quadros, ouvinte, pós-doutora em Linguística, professora na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), “A educação integra a pessoa surda à sociedade com condições de participação efetiva e envolvimento na vida produtiva social”. Segundo ela, o acesso dos surdos à formação nos níveis de graduação e pós-graduação na UFSC e a presença de autores, professores e pesquisadores surdos são ações inclusivas da universidade que contribuem para a capacitação dos surdos. Betty Lopes L’Astorina de Andrade, surda desde os dois anos por causa da ingestão de antibióticos (que soube na vida adulta estarem em teste na época) é graduada em Pedagogia e também em Letras-Libras, mestra e doutoranda em Estudos da Tradução. Professora de Libras na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que é importante o surdo estudar “e seguir a profissão que quiser, segundo sua vocação”. Ela conta, no entanto, que não é simples. “Conheço muitos surdos que são formados em outras áreas além de Letras-Libras e Pedagogia, as mais procuradas pelos surdos;
#SURDOEHQUEMFALA Millena Machado, a apresentadora do programa AutoEsporte, da TV Globo, tem uma prima com deficiência auditiva e há tempos testemunha as agruras da moça na hora de procurar emprego. Pensando em chamar atenção da sociedade para essa questão enfrentada pelas pessoas surdas e deficientes auditivas, a jornalista criou a campanha #surdoehquemfala. Ao lado do publicitário Alexandre Peralta, proprietário da Agência Peralta, Millena buscou parcerias e desenvolveu com ele as peças para a campanha. Durante o mês de setembro, celebridades e formadores de opinião, como Maria Eugênia, Tati Oliva, Carol Castro, Julia Pettit e os jornalistas Milton Young, Mauro Betting e Luize Altenhofen, publicaram textos e vídeos sobre a importância da inclusão das pessoas com deficiência auditiva. Especialmente no dia 26 de setembro, Dia Nacional do Surdo, a campanha #surdoehquemfala engajou o público sugerindo que publicasse vídeos em silêncio. “Silenciar a internet foi uma forma que encontramos para mostrar como é difícil compreender imagens sem som e não conseguir se expressar com a voz. É como se cada participante da campanha dissesse ‘estou em silêncio para você escutar esse recado’”, conta Millena. “Nosso propósito foi mostrar que a exclusão das pessoas com deficiência auditiva oralizadas poderia ser amenizada com um gesto simples: o olhar nos olhos durante a conversa, atitude que facilita a comunicação”, finaliza Alexandre Peralta. Participe: facebook.com/Surdoehquemfala Revista D+ número 11
NOSSA CAPA A Lei de Cotas pode até contribuir para a inclusão, mas a inclusão não depende do cumprimento da Lei Romeu Kazumi Sassaki
LETRAS-LIBRAS: A FORMAÇÃO PREFERIDA DO SURDO NA UFSC O pró-reitor de Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Felício Wessling Margotti, 63 anos, explicou que os cursos de Licenciatura e Bacharelado em Letras-Libras são as habilitações mais procuradas pelos surdos na universidade. A UFSC oferece curso de graduação em Libras à distância desde 2006 e, a partir de 2010, também presencialmente. “Já foram formados cerca de 600 alunos surdos. Também temos alunos surdos formados em outros cursos, mas em número reduzido”, afirma o professor Margotti. Atualmente, A UFSC conta com 16 docentes surdos, a maioria com doutorado. “Quanto aos tradutores e intérpretes de Libras, ainda precisamos aumentar o número de profissionais para atender a todas as demandas”. A atuação da universidade na formação de surdos inclui a certificação em Libras – para a atuação de tradutores e intérpretes, graduação e pós-graduação. “Convém destacar que essas ações também contemplam a formação de professores, uma vez que todos os cursos de licenciatura, independentemente da área, devem oferecer disciplinas de Libras e, assim, os futuros professores também estarão habilitados a receber e se comunicar com os alunos surdos quando estiverem no exercício da profissão”, explica. Sobre a empregabilidade dos surdos, Felício acredita que as oportunidades precisam acontecer dos dois lados. “Certamente que a pessoa surda terá maior inserção social à medida que conseguir ter mais acesso à escola e melhorar sua formação, como acontece com qualquer pessoa. Em paralelo, espera-se que haja a ampliação da participação da pessoa surda no mercado de trabalho, o que também depende de políticas de inclusão e acesso”, finaliza. Para os interessados, no período de 10 a 12 de dezembro, a Universidade Federal de Santa Catarina apresenta o Festival do Folclore Surdo Brasileiro, no Campus de Florianópolis. Com programação diversificada, incluindo teatro, contação de história e poesias, o festival pretende disseminar a cultura surda e promover a acessibilidade da pessoa surda em todos os âmbitos. www.festivaldefolcloresurdo.com.
como por exemplo em Direito, Matemática, Biologia e Educação Física, e não conseguem emprego, pois muitos concursos privilegiam as pessoas ouvintes e promovem provas em Língua Portuguesa e não em Libras”. Na UFRJ, Betty conta que há acessibilidade aos surdos somente na Faculdade de Letras, com seis intérpretes efetivos. “Na faculdade de Educação, onde trabalho, não há intérpretes, sendo isso uma grande barreira que estou lutando para vencer”, conta a professora, revelando o entrave em todas as instâncias. Pedro Paulo Camargo da Silva, 24 anos, é surdo, assim como seu irmão. Sonhava em trabalhar no Bradesco, mas mesmo enviando currículos, nunca era chamado. “Iniciei a faculdade no curso de Administração de Empresas, mandei currículo mais uma vez e fui chamado para entrevista. Fiquei muito feliz! Já trabalho aqui há quatro anos”. Oralizado, prefere falar em Libras e ocupa o cargo de chefe de serviço: cuida da gestão de pagamento de fornecedores e agências de publicidade e dos prestadores de serviços das ações de marketing promovidas pela organização. Ele ainda conta que “a interação com os colegas e os superiores é muito boa, o que ajuda muito no meu crescimento profissional”. Atualmente, 400 pessoas surdas compõem o quadro de funcionários do Bradesco. O banco oferece treinamentos presenciais e on line de Libras e programas como o Lync, software de conversa instantânea, que também facilitam a comunicação interna. Com a proposta de valorizar a diversidade e facilitar o relacionamento e o convívio com pessoas com deficiência, o Bradesco lançou, em 2008, a cartilha Inclusão Social – O Bradesco e a Inclusão de Pessoas com Deficiência para todo o quadro de funcionários e, desde então, é entregue aos novos contratados no momento da admissão. A psicóloga especializada em administração de RH, Glaucimar Peticov, 53 anos, responde pelo Departamento de Recursos Humanos e pela Universidade Corporativa Bradesco (UNIBRAD). “O fundamental é pensar que a pessoa surda, com capacidade de comunicação e preparada para uma determinada atividade, pode interagir e produzir como qualquer outra pessoa. Evidentemente devemos respeitar a cultura/identidade surda e considerá-la nas atividades e nos planos de desenvolvimento profissional do funcionário”, afirma Glaucimar. Segundo ela, a maioria dos surdos contratados está desenvolvendo funções em áreas administrativas. “O grande desafio é a quebra de paradigmas na comunicação. É fundamental integrar o funcionário à equipe, buscando formas alternativas de interação. Para isso, disponibilizamos treinamentos em Libras para todos os funcionários, além da possibilidade de solicitação de intérpretes por parte do funcionário com deficiência para cursos e treinamentos”.
Glaucimar Peticov, responsável pelo RH e pela Universidade Corporativa Bradesco: “Devemos respeitar a cultura e a identidade surda”
Pedro Paulo Camargo da Silva é oralizado, mas prefere falar em Libras. Chefe de serviço, trabalha no Bradesco há quatro anos
Diretor da regional de São Paulo da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), o professor de Matemática e Libras Neivaldo Zovico, 50 anos, surdo, chama atenção para as empresas – a maioria – que não oferece acessibilidade à pessoa surda. “Não contratam sequer intérprete de Libras e também não oferecem cursos aos funcionários com o objetivo de ensiná-los sobre os surdos e a convivência com eles”. Neivaldo ainda esclarece que é muito comum as empresas contratarem apenas surdos oralizados justamente para não investirem na contratação do intérprete. “Isso é falta de respeito e preconceito com o surdo que se comunica apenas em Libras. Para não gerar despesas, deixam claro a falta de consciência”, finaliza.
Revista D+ número 11
NOSSA CAPA
Heveraldo Alves Ferreira, apresentador do programa Vida em Libras. Abaixo, em ação na campanha sobre os 10 anos da Lei Maria da Penha
DA SALA DE AULA PARA O ESTÚDIO DE TV Texto Rosa Buccino Entrevista e fotos Taís Lambert
Para algumas pessoas pode parecer inatingível trabalhar nas áreas que dominam. No entanto, no caso de Heveraldo Alves Ferreira, 53 anos, há um misto de otimismo e determinação em suas ações. Formado em Teologia pela primeira Igreja Batista de Niterói, Rio de Janeiro, no final dos anos 1980, e consagrado como o primeiro pastor surdo do Brasil, ele repensou a vida e encontrou novas experiências profissionais. Aliás, tal decisão foi determinante para que, entre 1999 e 2011, ele concluísse os cursos de Bacharelado e Licenciatura em Letras-Libras e fosse contratado pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) como Instrutor de Língua de Sinais e Professor de Libras nos níveis de 1 ao 5.
Posteriormente, foi assessor de Marcelo Ferreira de Vasconcelos Cavalcanti, atual diretor geral do INES, atuação que lhe rendeu o convite, em 2013, para integrar o quadro de funcionários da TV INES como apresentador e roteirista. “Desconhecia minhas habilidades televisivas. Hoje são quase 60 programas editados da Língua Portuguesa para Libras com abordagens educativas e sobre o cotidiano dos surdos”, celebra Heveraldo. Ele começou apresentando o programa Aula de Libras – e executou 50 episódios com diversos temas. Recentemente, a esquete mudou de nome: passou para Vida em Libras. “Hoje o nosso foco é muito mais abrangente. Não fico preso a temas: eu mostro as impressões diárias, a vida, as metáforas, tudo em Libras. É tudo mais natural”, explica. Sobre a empregabilidade dos surdos no Brasil, ele observa que há preconceito por parte das empresas e que, infelizmente, os ouvintes ainda têm muito a compreender, especialmente sobre acessibilidade e Libras. “Engana-se quem ainda pensa que um surdo é incapaz! Ao contrário. O surdo é hábil e preparado como são os ouvintes e pode exercer várias funções”, assinala. “O erro é contratar o surdo para usufruir da mão de obra dele sem saber quem é a pessoa surda, sua identidade”. Ele também aconselha: “As empresas devem ser orientadas para lidar com o funcionário surdo contratado e terem ciência da importante atuação dos intérpretes de Libras como facilitadores da comunicação com esse funcionário. Já o funcionário surdo deve se familiarizar e ser persistente no ambiente de trabalho”.
Capacitação: preparar para aprimorar
SÃO APENAS GANHOS Quando uma empresa age de maneira inclusiva, estendendo igual tratamento a quem quer que seja o colaborador, com ou sem deficiência, dá indícios de que já entendeu que, além dos ganhos financeiros, há também os imateriais. “Boa imagem perante a sociedade, atmosfera agradável no ambiente laboral, maior amizade e respeito mútuo entre os trabalhadores nas relações hierárquicas verticais e horizontais, senso de orgulho por trabalharem nessa ou naquela empresa e assim por diante”, enumera Romeu Sassaki. Líder de Diversidade & Inclusão da IBM Brasil, responsável por desenhar a estratégia de diversidade para os segmentos mulheres, LGBT, equidade de raça e inclusão de pessoas com deficiência, Adriana da Costa Ferreira, 47 anos, lembra que “a cultura do surdo é bem diferente da do ouvinte, e essa pode ser a primeira grande questão que gera discriminação e preconceito”. Para ela, a barreira atitudinal pode ser ainda mais difícil de se dissolver do que a da acessibilidade em si. “Incluir significa olhar para os surdos e ouvintes, entender o que os distancia e prover a acessibilidade necessária para que ambos possam colaborar para o sucesso da missão do time e da empresa”. Na IBM, conversamos com a Carolina Tonhon Vasquez Nascimento, de 32 anos, surda desde o nascimento por causa da rubéola que a mãe enfrentou durante a gravidez. Carol é casada com um surdo e mãe de filha ouvinte. Formada em Administração, trabalhava há três anos na empresa que a IBM comprou, e foi incorporada pela multinacional já há um ano. Seu cargo é analista de compras junior. “Trabalho com follow-up e cobranças do fornecedor. Faço contatos por e-mail e via telefone, por meio da Viável Brasil – sistema de comunicação entre surdos e deficientes da fala com ouvintes que não sabem língua de sinais”, explica Carol.
Gisela Leite Nunes e os alunos adolescentes na Aula de Cinema do Derdic: introdução aos cursos profissionalizantes
A capacitação de surdos para inclusão no mercado de trabalho pode começar bem cedo, como mostra a atuação da Derdic, instituição mantida pela Fundação São Paulo, com fins filantrópicos, e vinculada academicamente à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Referência na promoção da acessibilidade, do atendimento clínico, de educação, e da capacitação e colocação profissional de surdos, a Derdic desenvolve um programa de empregabilidade que, muito mais do que capacitar o jovem surdo para o ingresso no mercado de trabalho, tem por objetivo possibilitar sua permanência e evolução profissional. “Por meio de parcerias com empresas que buscam não só o cumprimento de cotas mas, principalmente, uma inclusão eficaz, o programa atua também em parceria com o RH da empresa contratante no processo seletivo, levantamento de áreas, nas funções e no perfil profissional para definição de postos de trabalho”, explica Gisela Leite Nunes, coordenadora do Programa Aprendiz/Empregabilidade – Derdic/PUCSP. O programa possui dois tipos de curso: o de Colocação Orientada e o Curso de Aprendizagem. Validada pelo Ministério do Trabalho para fornecer esses cursos para surdos, a Derdic oferece oportunidades gratuitas nas áreas administrativa e de TI, para pessoas surdas a partir de 16 anos. “Temos várias empresas que realizam esses cursos em parceria conosco, como o Grupo Itavema, a Tennis Station, a Panpharma, a Resource Tecnologia e muitas outras”, conta Gisela. “De 2011, quando demos início ao curso de aprendizagem, até hoje, foram 216 surdos colocados, a maioria em empresas no segmento de serviços e alguns no comércio”.
Ainda mais cedo Alunos a partir dos 13 anos também já entram em contato com as possibilidades do mercado de trabalho na Derdic. “A Aula de Cinema, por exemplo, é um reforço escolar que tem como principal objetivo ser uma introdução para os cursos profissionalizantes”, explica Gisela. “O curso usa ferramentas que o aluno utilizará no mercado de trabalho”. Com 20 alunos por turma, os adolescentes surdos aprendem quais funções um produtor e diretor exercem, têm foco na produção de roteiros como reforço da língua portuguesa, além de estudarem técnicas de filmagem e compreensão da imagem. A Derdic fica na Vila Clementino, em São Paulo. www.pucsp.br/ derdic. Tel.: 5908-7995.
NOSSA CAPA Adriana da Costa Ferreira é Líder de Diversidade & Inclusão da IBM Brasil e elogia Carol: “Excelente performance e engajamento”
Incluir significa olhar para surdos e ouvintes, entender o que os distancia e prover acessibilidade Adriana da Costa Ferreira Carolina Tonhon Vasques Nascimento trabalha com follow-up e cobranças na IBM. “Sinto que eles acreditam em meu potencial”
Em empresas anteriores, Carolina conta que não era reconhecida pelo esforço e pela dedicação. “A maioria dos funcionários tinha deficiência e nós sofríamos muito preconceito. A IBM me recebeu de braços abertos e me deu confiança. Sinto que eles acreditam no meu potencial. Hoje sou mais feliz, só tenho a agradecer”. Carolina tinha algumas dificuldades em seu time, pois julgava-se mal entendida e mal interpretada, conta Adriana. “Como na IBM temos um processo de gestão individualizada das pessoas com deficiência, logo no início notamos que precisaríamos buscar saídas possíveis para reverter qualquer quadro de desestímulo. Conseguimos apoio irrestrito da liderança que assumiu o time da Carol na IBM e começamos a realizar reuniões para entender o escopo de trabalho dela, considerando suas habilidades, formação e experiência”, conta. Embora Carolina consiga fazer leitura labial e suas palavras são, na maioria das vezes, inteligíveis, a liderança da IBM optou pela presença de um intérprete de Libras na primeira reunião sobre carreira. “Isso aproximou os laços e aumentou a empatia de todos pelo processo de inclusão da Carol. Hoje, ela está muito bem adaptada ao seu trabalho e
se tornou em pouco tempo uma funcionária com excelente performance e um engajamento muito grande em relação à IBM”, observa Adriana. Para Romeu Sassaki, “Em tempos de inclusão, não mais aceitamos o conceito ‘100% de empregabilidade do candidato’. Hoje, ensinamos e exigimos o conceito ‘50% de empregabilidade do candidato somados aos 50% de empregabilidade da empresa’”. O especialista ainda avalia que as principais dificuldades em relação à empregabilidade dos surdos, e da pessoa com deficiência de forma geral, consistem no confronto com os preconceitos, as desinformações, os estereótipos e os estigmas por parte de toda a sociedade: empregadores, trabalhadores, gestores, especialistas, alunos, professores, as próprias pessoas com deficiência e até seus familiares. Promover emprego não tem nada que ver com inclusão. Muito mais do que isso, é preciso eliminar barreiras, estreitar laços por meio de tratamento digno, promover a autonomia e a autoestima, entendendo como legítimas as diferenças entre as pessoas. A apreensão de mundo acontece de maneira diversa e o respeito à identidade do outro é a base da inclusão. Quando todos captarmos isso, o muro cai. D+
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VIVER BEM
brincar de
ser feliz
A infância é a primeira fase da vida, de que guardamos as mais valiosas lembranças. Podem ser engraçadas, atrapalhadas ou inspiradoras; é através delas que descobrimos e definimos habilidades para desvendarmos quem seremos no futuro. Por isso, a realização de atividades esportivas e culturais durante essa fase se torna indispensável para o desenvolvimento saudável e criativo de qualquer criança. Nesta edição abordamos de forma especial projetos e oficinas que auxiliam crianças com deficiência nessa linda trajetória texto Cintia Alves fotos surf Alfredo von Sydow fotos ioga Danile Pedrozo Fotografia fotos equoterapia Divulgação fotos música Vitor Hugo Garcia
TROCANDO A CADEIRA DE RODAS PELA PRANCHA DE SURF “Às vezes ele está andando dentro de casa e pergunto se quer ajuda, ele simplesmente me diz: ‘Quero fazer sozinho’. Essa sensação é tão maravilhosa que nos motiva a cada dia”, confessa orgulhosa, Fabiana dos Santos, 33 anos, mãe de Raphael Guilherme do Nascimento, 14 anos, com paralisia cerebral, que há cinco anos participa do projeto gratuito de aulas de surf na Escola Radical de Surf, da Prefeitura de Santos, no litoral paulista. Fabiana conta que antes de iniciar as aulas ficou um pouco apreensiva por Raphael não saber nadar, mas que com o apoio do fisioterapeuta e as histórias de outros alunos, motivou-se a levá-lo às aulas. “Até os nove anos ele usava a cadeira de rodas, e só deixou de usá-la graças à evolução no projeto”, diz. A Escola Radical de Surf nasceu em junho de 1992, sendo a primeira escola pública de surf no país. Com a participação de pais nas aulas, a escola tornou-se pioneira em projetos de inclusão social por meio do esporte para crianças com deficiência. Em um ambiente de socialização os estímulos proporcionados aos alunos são explorados por meio da saúde mental, como a autoestima, e da saúde física, como a coordenação, imunidade, força muscular e o equilíbrio. “O projeto tomou e toma o maior tempo da minha vida. Através dele pude me doar, transferindo o meu conhecimento e ajudando ao próximo”, declara Francisco Alfredo Alegre Araña, 59 anos, coordenador e professor de Educação Física na escola.
Quem pode participar?
São atendidas todas as patologias com ou sem mobilidade ou mobilidade reduzida.
Quando acontecem as aulas?
As aulas acontecem todas as segundas-feiras em um programa de quatro meses, no período da manhã e da tarde. Para cada grupo de cinco alunos, se disponibiliza uma vaga para cadeirante.
Como posso me inscrever?
Basta preencher o cadastro – são necessárias duas fotos 3x4, cópia do RG, atestado médico e comprovante de residência –, cópia da anamnese, e a realização de entrevista com os professores e com o coordenador. Para receber mais informações, ligue (13) 3251-9838.
Os alunos com deficiência aprendem com os instrutores de surf a prática do esporte que desenvolve saúde física e mental Revista D+ número 11
VIVER BEM
Natali Valério, 10 anos, se diverte durante as aulas de canto no Polo Sorocaba
A missão está na educação musical para promover a inclusão Quem pode participar?
O projeto atende crianças e adolescentes de 8 a 16 anos, com todos os tipos de deficiências, incluindo deficiências múltiplas e síndromes.
Quando acontecem as oficinas?
Há duas aulas semanais, com duração de 1h cada, e novas matrículas a cada semestre.
A VOZ DO CORAÇÃO Quantas vezes você já cantou em frente ao espelho utilizando um objeto improvisado como microfone? Aposto que muitas! A pequena Natali Valério da Silva, 10 anos, com síndrome de Williams, também. Foi assim, com o gosto pela música, que surgiu a ideia de começar as aulas de canto no projeto Guri Inclusivo e dar os primeiros passos para ser uma cantora. Há seis meses, a aluna do coral, do Polo Regional Sorocaba, teve a oportunidade de despertar o seu lado artístico graças à Associação Amigos do Guri, que desde 1995 atende, no projeto, crianças e adolescentes com e sem deficiência. “Após as aulas de canto, Natali desenvolveu concentração, motivação e disciplina nas atividades. Além de sua voz, que se tornou mais calma, facilitando a comunicação”, declara Geisla Portela Valério, mãe de Natali. O Projeto Guri, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, considerado o maior programa sociocultural do Brasil, desenvolve nas aulas coletivas de iniciação musical – canto coral, instrumentos de cordas, sopros, percussão, entre outros – a convivência com a diversidade e a troca de valores de respeito. Segundo Helen Valadares, do Núcleo de Projetos Especiais do Guri Inclusivo, a missão está na educação musical para promover a inclusão. “Hoje, contamos com dois educadores cegos, que atuam no curso de canto coral infanto-juvenil, comprovando que na música é possível a profissionalização de pessoas com deficiência”, afirma Valadares.
Como posso me inscrever?
De maneira gratuita, o projeto é oferecido em 306 munícipios do Estado de São Paulo, e não há necessidade de conhecimento prévio de música. Para verificar a disponibilidade de vagas, entre em contato pelo site www.projetoguri.org.br/matriculas
CORPO E MENTE INTERLIGADOS De origem budista e hinduísta, a prática da ioga caracteriza-se por auxiliar milhares de pessoas com e sem deficiência pelo mundo, no aspecto físico e mental, por meio de exercícios e meditações. Na iniciativa Oficina de Ioga não é diferente! Os alunos com deficiência visual (cegos ou de baixa visão) ingressam nesse universo aprendendo toda semana a lidar com suas limitações e diferenças. A Oficina de Ioga do Projeto Ver com as Mãos, do Instituto Paranaense de Cegos, proporciona a inclusão de pessoas com deficiência visual em atividades artístico-culturais. Criada em 2014, nasceu com a iniciativa da professora voluntária Neide Manzoni Tauchmann, 66 anos, com intuito de trabalhar o corpo e a mente dos alunos mirins. Neidinha, como é carinhosamente conhecida, é instrutora de ioga há 20 anos e leva toda a sua experiência para que crianças aprendam de maneira lúdica, por meio de elementos da natureza e do mundo animal, os fundamentos da prática. Para Diele Pedrozo, idealizadora e coordenadora do Projeto Ver com as Mãos, a postura dos alunos sempre foi o foco. “É muito comum crianças com baixa visão terem alguma alteração devido à aproximação dos objetos, e no momento de leitura, por causa da pouca visão, curvam-se demais sobre a mesa”, explica. Com pequenas adaptações, as turmas estimulam a flexibilidade, o ganho de força e equilíbrio; além das técnicas respiratórias para postura e o controle das emoções, compreendendo a importância do cuidado e do respeito com o próprio corpo e com o próximo. “Aprendi a melhorar o meu comportamento, respeitar os outros e me acalmar. A minha postura preferida é a vela, em
Aprendi a melhorar o meu comportamento, respeitar os outros e me acalmar Pedro Kavalkievicz, praticante de ioga que se deita no chão e erguem-se os pés. Precisa ter coragem e se concentrar”, conta Pedro Kavalkievicz de Bem, 12 anos, que devido à baixa visão tinha alterações posturais e dificuldade de concentração e socialização. Neide revela que o conhecimento não é somente para os alunos. “Nosso aprendizado é mútuo. Os próprios alunos foram dando as dicas para facilitar o trabalho. Sempre é enriquecedor e gratificante trabalhar com eles!”, confessa.
Quem pode par ticipar?
Podem participar crianças de 5 a 12 anos, matriculadas em um dos atendimentos da instituição ou do projeto, e não ter nenhuma restrição médica ou de saúde.
Quando acontecem as oficinas?
As aulas acontecem todas as quartas-feiras no período da tarde, com duração de 45 minutos cada turma.
Como posso me inscrever?
As oficinas são gratuitas e acontecem no Instituto Paranaense de Cegos (IPC), na Av. Visconde de Guarapuava, 4186, Centro de Curitiba, no Paraná. Para se inscrever envie um e-mail para projetovercomasmaos@gmail.com
Revista D+ número 11
VIVER BEM
Jean Paulo, 14 anos, com deficiência intelectual esbanja confiança nos torneios de salto para iniciante
CAMPEÃO A GALOPE Desde a época de Hipócrates, em 370 a.C, a prática de equitação é considerada uma forma de regeneração da saúde, com a utilização de cavalos para o tratamento e desenvolvimento de pessoas com deficiência. O casal Sérgio Melani e Elizabeth Melani dedica-se à criação de cavalos há 22 anos, em Itapecerica da Serra (SP), e desde 2006 realiza a inclusão social de praticantes por meio da Associação de Equoterapia Educacional Texas Ranch. Para Elizabeth Melani, presidente e gestora da Associação, a qualidade de vida prospera em diversos aspectos. “Através do contato com os cavalos e com a natureza, há melhoria na compreensão, coordenação motora, superação de medos, no afeto e no equilíbrio, entre outros”, afirma. Os projetos são divididos em: hipoterapia, educação e reeducação, pré-esportivo e esportivo; todos assistidos por uma equipe de profissionais para atender às mais diversas necessidades.
Há melhoria na compreensão, coordenação motora, superação de medos... Elizabeth Melani, presidente e gestora da Associação Jean Paulo Ohara Francfort, 14 anos, com deficiência intelectual e a coordenação motora fina comprometida devido à microcefalia, além de frequentar as aulas uma vez por semana, participa todos os meses dos torneios de salto para iniciante. “Sua autoestima fica bem elevada ao conseguir dominar o animal para fazer o percurso correto nos torneios – sempre acompanhado de profissionais –, e toda vez que sobe no pódio, grita: ‘O campeão voltou!’. O carisma contagia a todos os que estão em sua volta”, comemora Eliane Kazumi Ohara Francfort, 46 anos, mãe de Jean. D+
Quem pode participar?
O projeto auxilia pessoas com deficiência física e intelectual.
Quando acontecem os atendimentos?
Os atendimentos acontecem de segunda à sexta-feira, iniciando-se no período da manhã e à tarde, uma vez por semana.
Como posso me inscrever?
É necessária a autorização médica, além da triagem com avaliações do fisioterapeuta, da psicóloga e da psicopedagoga. O Centro Educacional Texas Ranch fica na Estrada da Represa, Jardim Nisalves, 50, Itapecerica da Serra, em São Paulo. Para conhecer os projetos, acesse o site www.equoterapiatexasranch.com.br e inscreva-se pelo e-mail texasranchbm@gmail.com
ACONTECE
Em evento de comemoração dos 10 anos do Instituto Chefs Especiais, jovens garçons aprendizes com síndrome de Down mostram seus dotes e cativam com muita espontaneidade e profissionalismo texto Mariana Santos fotos Divulgação
uem chegava ao Cinépolis do Shopping JK Iguatemi, em São Paulo, para a exibição especial do filme Colegas, uma aventura protagonizada por pessoas com síndrome de Down, logo era acolhido pela simpatia dos alunos do Instituto Chefs Especiais, prontos para receber a todos com abraços e sorrisos. O avental preto por cima das roupas escuras e a bandana cobrindo os cabelos identificavam os sete aprendizes, que circulavam entre as mesas e à beira dos balcões equilibrando bandejas com água ou cerveja – ávidos por exibir os dotes aprendidos no curso de garçom – para servir ao público que aguardava o início da sessão no café próximo ao cinema. Carolina De Vecchio Maia, Matheus Colmatti Villalba, Murilo Passos, Sofia Pereira Simões, Wagner Vicente, Fabricio Ernani e Jessica Pereira da Silva também esbanjavam graciosidade contando suas histórias e tirando fotos com quem se aproximasse.
Assim começou o evento Banquetes de Cinema, promovido pela Friboi – principal mantenedora do Instituto – em parceria com a Foodpass – plataforma de curadoria gastronômica em São Paulo –, em comemoração aos 10 anos de atividade do Chefs Especiais, que oferece cursos para pessoas com síndrome de Down. “PESSOAL DIVERTIDÍSSIMO E SINCERO” Nessa noite, o chef Benny Novak fez as honras e comandou o delicioso jantar, com o objetivo de arrecadar fundos para o instituto. Entre risos e lágrimas provocados pelo filme, a plateia se deliciou com três pratos: steak tartare com picles, saladinha e torrada; estouffade de boeuf provençale e purê de batatas clássico; e, de sobremesa, profiteroles. Para Benny, que está à frente dos bem-sucedidos restaurantes Ici Bistrô, Tappo Tratoria, 210 Dinner e Ici Brasserrie, a experiência é uma importante iniciativa no campo da
Desde que entrei no Chefs Especiais, estou no caminho do mercado de trabalho Fabricio Ernani inclusão da pessoa com deficiência na sociedade e ele sente-se feliz de contribuir com o suas habilidades na cozinha. “É uma delícia poder trabalhar, conversar e ajudar esse pessoal divertidíssimo, sincero e inteligente. Sei que a batalha da inclusão ainda tem muito chão pela frente, mas percebo que estamos caminhando a passos largos”, define o chef, que já participou de outras edições do evento. “Foi muito legal trabalhar com o Benny. Eu gostei de tudo!”, resumiu
Jessica, que estuda no Instituto desde 2013. Para Fabrício, que participa dos cursos há dez anos, experiências como essa são oportunidades de praticar o que vem estudando. “Eu estou aprendendo muitas coisas. Desde que entrei no Chefs Especiais fui me aperfeiçoando e estou no caminho do mercado de trabalho”, ele conta. Simone Berti, que criou o Instituto ao lado do marido, Márcio Berti, acredita que essa edição especial do Banquetes de Cinema foi uma iniciativa importante
para aproximar pessoas com e sem síndrome de Down. “Esses eventos são bacanas porque permitem o contato. O preconceito existe, mas eu acredito que as pessoas, muitas vezes, não têm oportunidade de conviver com alguém com síndrome de Down e, por isso, não sabem como lidar, como falar, se eles vão entender ou não”, ela analisa. Provando que são trabalhadores capazes, dispostos e acolhedores, os aprendizes logo devem mostrar seus dotes em estabelecimentos da cidade. D+
MISTO QUENTE ACONTECE
tempo de afirmações Com intuito de fomentar a visibilidade do mês comemorativo, Unicamp promove evento à comunidade em homenagem ao Dia Nacional do Surdo texto Brenda Cruz e Cintia Alves, de Campinas tradução em Libras Joice Alves, Marco Antonio e Rafaella Sessenta
A
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) celebrou o V Setembro Azul no Centro de Convenções da universidade, no dia 16 de setembro, debatendo e apresentando diretrizes para os avanços contínuos da inserção e do desenvolvimento do aluno surdo no meio acadêmico. Ao longo dos anos, o evento trouxe palestras cada vez mais contextualizadas relacionadas aos assuntos cotidianos atuais. O tema para 2016 foi baseado na Construção de Políticas Afirmativas para Pessoas com Deficiência, Negros, Pardos e Indígenas. Na quinta edição do Setembro Azul foram abordadas ações afirmativas que visam à acessibilidade do surdo no Ensino Superior: o sistema de cotas, a educação bilíngue de surdos na constituição do conhecimento e da identidade do sujeito, o direito e a importância da participação dos surdos e apoiadores ouvintes na Associação dos Surdos de Campinas (ASSUCAMP), além de oficinas de expressão corporal, entre outras. Para a coordenadora Regina Maria de Souza, professora na Faculdade de Educação da Unicamp e atuante na área de estudos Surdos em Educação, os temas abordados e a repercussão do evento desde a sua primeira edição contribuíram para a amplitude do encontro: “Tínhamos uma demanda muito grande de inscrição e não conseguíamos oferecer as vagas. Hoje o Centro de Convenções da universidade nos permite até 400 ingressos. Tivemos 110 inscritos no primeiro ano do encontro. Para nós, é um aumento paulatino de público”, afirma Regina.
O público acompanhou as palestras e oficinas com acessibilidade em Libras durante o V Setembro Azul
Segundo Regiane Agrella, surda, professora no Departamento de Psicologia – que atende a todas as áreas de graduação em cursos como Geografia, Física e Química – na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), interior de São Paulo, o interesse em incluir a comunidade surda na Unicamp presta um serviço significativo à sociedade. “As pessoas que não têm conhecimento veem o Setembro Azul e questionam: ‘O que é?’ ou ‘O que significa esse símbolo?’. E, no evento, elas são apresentadas à trajetória histórica, à exclusão do surdo e a sua capacidade de desenvolvimento. É muito importante a criação desse movimento que nos lembra que o Dia do Surdo abre a possibilidade de respeitar a diversidade, mostrando os problemas, por exemplo, na educação e na acessibilidade em vários ambientes”, opina Regiane.
O tema foi: Construção de Políticas Afirmativas para Pessoas com Deficiência, Negros, Pardos e Indígenas
Da esquerda para a direita, Luis Alberto Magna, pró-reitor de Graduação da UNICAMP, a professora mestra Regiane Agrella, a professora Shirley Vilhalva, do CAS/SED/MS, o professor mestre Rimar Segalla, da UFScar, e a professora e coordenadora Regina Maria de Souza
LARGADA AO CONHECIMENTO No mês de setembro a Unicamp abriu o primeiro processo seletivo para pós-graduação em Mestrado Acadêmico e Doutorado em Educação, com cotas para negros, indígenas e pessoas com deficiência. Luis Alberto Magna, pró-reitor de Graduação da Unicamp, afirmou que foram realizadas muitas adaptações durante o processo de implantação da pós-graduação. Magna disse também que o auxílio do idealizador do evento, Guilherme Nichols, que é surdo, fez toda a diferença: por exemplo, as aulas traduzidas serem gravadas para que os alunos possam acessar, caso percam algo do conteúdo ao fazer anotações durante a aula. “Nós temos nos esforçado para que, de fato, haja a inclusão de pessoas com deficiência na Unicamp. Aprendemos, por exemplo, que Libras é a primeira língua dos surdos, o que nos fez desenvolver o mestrado e doutorado de maneira diferente”, revela o pró-reitor. “Como se faz obrigatório o uso de duas ou três línguas para o ingresso, buscamos a regulamentação do reconhecimento da Libras como segunda língua”, finaliza. Acesse o site da universidade e saiba mais: www.unicamp.br Confira as entrevistas completas no endereço revistadmais/ed11_acontece_setembrovideos
APRENDIZADO DE BERÇO A palestrante Shirley Vilhalva, surda, professora da pós-graduação de Ensino à Distância (EaD) da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e da Uníntese, atua no Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS/MS), da Secretaria da Educação do Mato Grosso do Sul e participa, há 32 anos, do movimento da luta surda no país. Família Bilíngue foi o tema abordado por Shirley para discutir a importância da fluência em Libras para a família e os amigos de surdos sinalizantes, aumentando o acesso à informação. “Se esforçar em aprender a língua para se tornar bilíngue é importante para o desenvolvimento do surdo desde a infância. A família precisa entender que a responsabilidade de se comunicar com seu filho não é do intérprete e nem do professor”, comenta. E finaliza: “Com responsabilidade na comunicação e interação, haverá um grande avanço e crescimento da pessoa surda quanto ao seu direito linguístico”.
A IMPORTÂNCIA DA EXPRESSÃO “A maioria das pessoas pensa que Libras é teatro e gestos. Pelo contrário, a língua é gramatical e tem outro tipo de modalidade: visoespacial e corporal. Não é apenas sinalizar, traz uma junção corporal de expressão facial, expressão de ideias e emoções, entre outros”, explica Rimar Segalla, surdo e professor de Libras no Departamento de Psicologia do curso de Tradução e Interpretação da UFSCar. Ao ministrar a oficina de Expressão Corporal no V Setembro Azul, ressaltou a importância de eventos sobre surdez dentro das universidades brasileiras. “Cada estado tem as suas diferenças, seus contextos políticos e culturais, um local e um momento. Todos têm um mesmo objetivo, que é demonstrar a força do indivíduo surdo, seus direitos, suas possibilidades de discussões políticas e de melhorias na legislação e cumprimento dessas leis em todo lugar”, comenta. Para Rimar é preciso o intercâmbio de experiências como um esforço árduo para mostrar a cultura, a identidade, a língua e a diversidade surda. D+
Revista D+ número 11
PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Discutindo o espaço escolar e seu entor no:
desenvolvendo cidadania texto Rúbem Soare s* e Silvan a Zajac**
A
tualmente, a escola depara com diversas propostas que visam a contribuir com a educação básica, no que tange à atuação efetiva do aluno em ações que dizem respeito a problemas concernentes ao bem comum. Nesse contexto, encontramos várias tendências que apontam para o protagonismo juvenil. Mas, o que é o protagonismo juvenil? Apresentamos algumas ideias baseadas no material desenvolvido pelo Instituto Ayrton Senna, para a Secretaria Estadual da Educação do Rio de Janeiro. Desde o inicio do século XX, já se pensava na participação ativa dos alunos na sua própria aprendizagem, materializada nos grêmios estudantis e nos conselhos escolares. No entanto, é no final da década de 1990 que essa participação passa a ser pensada dentro do currículo, apenas em meados do século XXI que começa a ser incentivada, por meio de vários projetos de instituições externas à escola, motivadas pelas profundas mudanças do trabalho estruturado sob o capital e o vertiginoso avanço nos campos científico e tecnológico. Objetivando criar as bases do protagonismo juvenil, é preciso que toda a comunidade escolar, consciente e intencionalmente, assuma que as ações cotidianas (de pensar e construir a escola) devem incluir o estudante como sujeito ativo e ator principal. Para que essa perspectiva seja possível, é necessário um entendimento de qual é o contexto geracional, social e cultural dos jovens estudantes. O protagonismo juvenil prevê a participação ativa do jovem no planejamento da ação, na execução, na avaliação e na apropriação dos seus resultados. Antônio Carlos Gomes da Costa utiliza o termo protagonismo juvenil para denominar a participação de adolescentes no enfrentamento de situações reais na escola, na comunidade e na vida social mais ampla. Para que os jovens possam ser formados de modo mais abrangente (o que inclui o modo como convivem, como se relacionam com a escola, com o conhecimento e o mundo do trabalho) é necessário o desenvolvimento da autonomia e de algumas competências cognitivas e socioemocionais, indispensáveis para se viver no mundo atual, tais como: • Competência pessoal – aprender a ser • Competência social – aprender a conviver • Competencia produtiva – aprender a fazer • Competência cognitiva – aprender a aprender
Para que o protagonismo seja efetivo, é importante observar algumas ações que devem ser adotadas também pelo professor (veja quadro abaixo). Assim, na rotina da sala de aula é preciso instaurar uma dinâmica participativa no cotidiano das aulas, nas quais o professor assume o papel de mediador do conhecimento, pela via da problematização permanente, convocando o aluno a assumir uma postura de investigador e de sujeito da construção de saberes. Então, o professor passa a ser um grande parceiro no protagonismo juvenil. É ele quem vai ajudar os estudantes na estruturação de ações de protagonismo.
FOMENTANDO O PROTAGONISMO NA ESCOLA Algumas ações do professor: • Conhecer e respeitar cada estudante; • Propor e valorizar atividades participativas; • Mostrar-se mobilizado e aberto para novas ideias; • Acolher os erros e refletir sobre eles; • Colocar-se como parceiro do jovem – orientando, de forma cuidadosa, todos os processos; • Adotar uma postura de estímulo à participação, o que é muito diferente de ser permissivo; • Estar aberto a ser afetado pela perspectiva do jovem, mas também para afetá-lo; • Solicitar uma argumentação consistente para cada proposta, questionar, apresentar referências; • Manter postura crítica diante das ideias ou propostas dos estudantes; • Construir o planejamento com intencionalidade e de forma sistemática; • Implicar-se, pois não se trata de deixar as ações inteiramente “por conta do jovem”; • Avaliar, ressaltar os conhecimentos e competências que estão em jogo (ao longo de cada atividade capitaneada pelos estudantes); • Ter autonomia como horizonte; • Destacar os aprendizados – de modo que sejam significativos; • Problematizar os processos, convidando os estudantes a compreendê-los em profundidade; • Evitar o “meio protagonismo” e o “fazer por fazer”, sem apropriação efetiva do conhecimento; • Avaliar os processos com profundidade e que a avaliação também seja objeto de aprendizagem.
Revista D+ número 11
PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Para que a atuação dos jovens como protagonistas na escola gere aprendizagens significativas, precisamos vivenciar, identificar e incorporar algumas atitudes: a) Mobilização: é a etapa essencial para que os alunos descubram suas motivações para aprender e intervir em seu meio; b) Iniciativa: é a capacidade de identificar ou configurar por si mesmo um problema, como algo que lhe diz respeito e que precisa de sua participação para ser solucionado; c) Planejamento: é a capacidade de organizar logicamente as tarefas, definir quem, como, quando, onde e com quais recursos será executada a ação; d) Execução: é a oportunidade de arriscar, acertar, errar, colocando em prática as ações planejadas na etapa anterior; e) Avaliação: ela acontece simultaneamente à execução do projeto ou da atividade e, também, ao final dela; f) Apropriação dos Resultados: momento em que os alunos identificam o que de cada um e do coletivo foi essencial nas várias fases de construção de um conhecimento ou da realização do projeto ou da atividade. Essa é uma importante estratégia para que a aprendizagem seja “transferível” para outras experiências e contextos; É importante lembrar que as ações sempre devem ser realizadas em grupo, buscando a corresponsabilidade pela execução das tarefas. Assim, cada aluno, além do seu próprio rendimento, deve preocupar-se também com o rendimento dos seus colegas e todos precisam estar empenhados para cumprir as tarefas. Nessa proposta, as competências são construídas no grupo e os resultados de aprendizagem são conquistados por meio das interações positivas entre os alunos, professores e demais pessoas envolvidas nas tarefas. Há que se lembrar, que as interações positivas são também aquelas geradas no meio de conflitos, discussões, oposições e divergência de pensamentos. Desse modo, cada estudante é avaliado pelo próprio desempenho e pelo progresso do grupo. Assim, o professor precisa acompanhar o trabalho dos alunos, circulando pelos grupos, orientando-os, desafiando-os a pensarem em soluções para os problemas antes de ouvirem sua opinião. O fato de o aluno com deficiência ter necessidades educativas especiais não significa que ele não possa também desenvolver competências que fomentem o protagonismo, o que contribui, sobremaneira, para a sua autonomia. Acompanhando esse propósito, trazemos, a seguir, uma sugestão de atividade relacionada à área de geografia
O fato de o aluno com deficiência ter necessidades educativas especiais não significa que ele não possa também desenvolver competências que fomentem o protagonismo, o que contribui, sobremaneira, para a sua autonomia que pode ser realizada com todos os alunos. O objetivo é que os estudantes pesquisem o entorno da escola, fazendo o reconhecimento do espaço, na perspectiva da construção social. É importante que a atividade sempre comece com uma contextualização sobre o que será discutido e isso pode ser feito por meio de um mapa da cidade ou do bairro – colocado no chão, no centro da sala – onde a escola está localizada, fazendo indagações: “Onde a nossa escola está localizada?” “Por que a nossa escola tem esta localização?” “Há quanto tempo nossa escola está neste lugar?” “O que vocês sabem sobre o nosso bairro?” “Qual é o percurso que você faz da sua casa até a escola?” “Qual é a distância para realizar esse percurso?” “O que você observa durante o trajeto?” Esta atividade pretende revelar alguns dos sentidos atribuídos tanto ao espaço da escola quanto ao seu entorno por diferentes sujeitos. E seu desenvolvimento não implicará apenas apreender os diversos conteúdos do lugar, mas também produzir algumas reflexões sobre as experiências dos alunos e professores no espaço, dando novos significados ao território. Desse modo, o lugar da unidade escolar estará sendo construído tanto do ponto de vista físico quanto dos seus significados. Também é importante que sejam realizadas reflexões acerca dos ambientes da escola: “Qual é o porte da nossa escola?” “Quantos alunos, professores e funcionários possui?” “Dentre eles, há pessoas com deficiência?” “Quantas salas de aula tem?” “São salas ambiente ou tradicionais?” “Possui biblioteca ou sala de leitura?” “Qual é a dimensão do pátio e da quadra de esportes da escola?” “Possui laboratórios?” “Quais e com que frequência são utilizados?” “Os espaços da nossa escola são abertos à comunidade local?” Dentre outras. Além do levantamento do repertório dos alunos e de seus conhecimentos prévios a respeito do colégio e de seu lugar na comunidade, o professor também pode problematizar a noção de lugar, ampliando as referências conceituais de território, lugar e espaço. Nesta atividade, os alunos com algum tipo de deficiência, juntamente com os demais colegas, podem ser incentivados a investigar também a acessibilidade na escola
e no seu entorno. Por exemplo: “Tem piso tátil, para cegos, nas calçadas?” “O calçamento está adequado para os cadeirantes?” “Quando o prédio da escola foi construído ou reformado, teve alguma adaptação para pessoas com deficiência?” “Quais adaptações foram feitas?” “Elas realmente atendem às necessidades das pessoas com deficiência?” “A nossa escola tem intérprete de Libras?” “O comércio e outros equipamentos públicos locais têm intérprete de Libras?” “As praças e parques locais têm acessibilidade para todas as pessoas com deficiência?” “Nossa escola tem sala de atendimento especializado ao aluno com deficiência?” Dentre outras. Durante ou após a discussão, os alunos juntamente com o professor fazem o registro das informações coletadas. Na sequência, elaboram um quadro demonstrando o que a escola e seu entorno possuem e o que falta. Dentre o que falta, discutem quais são as prioridades ou o que seria essencial para o bem da comunidade. A partir dessas discussões, criam-se propostas de melhoria. Um dos resultados desse processo seria provocar reuniões com a gestão escolar e com os líderes comunitários para serem apresentadas e encaminhadas as propostas de melhoria. Esse trabalho pode ser pensado de forma interdisciplinar tendo como foco a promoção do protagonismo juvenil, em prol de uma consciência de cidadania dos alunos e dos demais atores envolvidos no processo. É importante salientar que ações de protagonismo podem ser desenvolvidas desde os primeiros anos do ensino fundamental e mesmo na educação infantil. Para isso, o professor precisa pensar nas devidas adaptações conforme a faixa etária dos seus alunos. D+ Saiba Mais COSTA, Antônio Carlos Gomes da; VIEIRA, Maria Adenil Protagonismo juvenil: adolescência, educação e participação democrática. São Paulo: FTD, 2006. INSTITUTO AYRTON SENNA. Solução educacional para o ensino médio. 2012. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Diretrizes para a política de educação integral. SEEDUC, 2016. SOUZA, Regina Magalhães de. O discurso do protagonismo juvenil. São Paulo: Paulus. 2008.
* Psicólogo, mestre e doutorando em Educação (USP), professor da Uniesp ** Professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL/PUCSP), Mestra em Educação (Unimep) Revista D+ número 11
EDUCAÇÃO Em Pauta Robert Darnton: DPLA é ideal para organizar dados e informações através de expertise digital
Aprendendo sempre Intercâmbio de informações valoriza a leitura e o conhecimento
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texto Rosa Buccino fotos Divulgação
aseada no conceito História em Todos os Sentidos e com o objetivo de reforçar o gosto pela leitura, a 24ª Bienal do Livro foi visitada por estudantes, educadores, professores, pedagogos, escritores, profissionais e empreendedores do segmento livreiro nacional. Na abertura, em 26 de agosto, Luís Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), comentou que ao longo de 70 anos, a CBL difunde o hábito da leitura e democratiza o acesso ao livro através de várias iniciativas, como é o caso da Bienal do Livro. “Essa trajetória começou na década de 1950 em uma feira popular do livro, organizada na Praça da República, centro paulistano, e, ao recordar desse fato, orgulho-me em constatar a projeção positiva conquistada pela Bienal entre organizadores, visitantes e todos os profissionais do segmento editorial e livreiro”, relatou Torelli, comentando também que, através do decreto nº 57.251 de 25 de agosto de 2016, a Secretaria Municipal da Cultura incluiu a Bienal Internacional do Livro de São Paulo no calendário de eventos da cidade. Além de autoridades estaduais e municipais, a abertura teve um show da icônica cantora e poetisa Maria Bethânia que, entre canções e poemas, destacou sobre sua formação educacional no ensino básico. Ovacionada, a certo
momento, ela refletiu: “a Maricotinha de outrora, que frequentou a escola pública no Recôncavo Baiano, está, hoje, abrindo a Bienal do Livro”. MOMENTOS E NOVIDADES A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que vigora desde janeiro de 2016, foi objeto de discussão quanto à sua aplicabilidade no mercado editorial. O tema foi abordado pela deputada federal Mara Gabrilli e pelo presidente do Comitê Brasileiro de Organizações Representativas das Pessoas com Deficiência (SRPD), Moisés Bauer Luiz, no painel A LBI e o Mercado Editorial, na programação paralela à Bienal do Livro. Na mesma ocasião, uma roda de conversa composta pelo representante da editora DNA, Pedro Milliet; Carla Mauch da Associação Mais Diferenças, que atua em Educação e Cultura Inclusivas; e Elisa Braga e Gisela Creni, da editora Companhia das Letras, destacou O Livro Acessível no mercado editorial brasileiro. Para brindar ainda mais a ocasião, foi lançado o livro Diferente, mas não Desigual – A Sexualidade no Deficiente Intelectual, de Lena Vilela. Entre todas as novidades, alguns lançamentos foram dedicados ao segmento das pessoas com deficiência e merecem destaque pelas abordagens: Quando o céu se apaga,
Luís Antonio Torelli comemorou os 70 anos da CBL e o valor que a Bienal do Livro proporciona à aprendizagem
Maria Bethânia: mensagem otimista em favor da educação regular nacional
Ronald Schild: alinhado com o Books in Print Brasil em busca de organizar os metadados
baseado na história real da publicitária Mirian Vidal, autora do livro que evidencia a adaptação diante da escoliose e consequente deficiência física; e O menino que pedalava, de Cássia Cassitas, que narra a experiência de André, um garoto que lida com a deficiência física através do ciclismo. PENSANDO GRANDE Com o tema O Mundo dos Negócios Digitais, o 6º Congresso Internacional CBL do Livro Digital foi organizado no Auditório Elis Regina, em 25 de agosto, com a participação de renomados profissionais do segmento editorial do Brasil, Alemanha, Estados Unidos e França.
Robert Darnton, diretor da biblioteca da Universidade Harvard, Estados Unidos, evidenciou a organização de periódicos digitalizados por várias comunidades norte-americanas, que organizam dados e informações pela chamada Digital Public Library America (DPLA). “São mais de duas mil instituições norte-americanas desenvolvendo bibliotecas próprias, que oferecem ao público pesquisar sobre vários assuntos e até estudá-los, como ocorre no site Minessota Reflections”, observou. Em sua palestra, o alemão Ronald Schild, CEO da MVB, empresa subsidiária da Associação de Editores e Livreiros Alemães, coligada da Feira de Frankfurt, confirmou a parceria da CBL com o Books in Print Brasil (BiP Brasil), que foi anunciada pelo diretor do BiP Brasil, Ricardo Costa, durante a 24ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. “Trata-se da mais completa e moderna ferramenta para gestão de metadados como solução definitiva para esse que é um dos maiores gargalos do segmento. Metadados completos, padronizados e qualificados são fundamentais para que os livros sejam encontrados e tenham bons resultados de vendas. O sistema fornecerá ferramentas para auxiliar os trabalhos de marketing e vendas das empresas”, comentou Schild. De acordo com Luís Antonio Torelli, presidente da CBL, “As carências de todas as pontas do mercado serão supridas pelo sistema. O banco de dados dos livreiros e dos distribuidores será atualizado diariamente com as alterações feitas pelos editores um dia antes”. A plataforma poderá ser acessada, por meio de login e senha, no ambiente virtual da web e também se comunica diretamente com os sistemas de todos os usuários. D+ Revista D+ número 11
IDOSOS Depoimento texto Rosa Buccino
Dr. Délton Esteves Pastore: em dia com as leis que protegem o idoso
Envelhecer em paz Para defender o idoso contra a violência é preciso a união da sociedade
A
palestra Prevenindo a violência contra o idoso, do Dr. Délton Esteves Pastore, promotor de justiça de direitos humanos na área do idoso, em 30 de setembro no auditório do Hospital e Maternidade São Cristovão, na cidade de São Paulo, foi esclarecedora para o público de idosos, profissionais da saúde e formadores de opinião. Além disso, o promotor, com exclusividade para a Revista D+, destacou alguns fatos relevantes.
acabam isolando um idoso do convívio social; a sexual, cometida através de abusos contra a vontade dele; e a financeira, caracterizada pela exploração indevida de benefícios financeiros, bens ou patrimônios, feita por familiares ou pessoas próximas através de procuração. O abandono e a negligência por parte de instituições governamentais ou familiares, especialmente quando têm ciência de que o idoso necessita de assistência e proteção, são outras violações a serem incriminadas.
Revista D+: O que o alinha às causas de violência contra o idoso? Sigo alinhado às denúncias que relatam qualquer tipo de violação contra o idoso e de acordo com a minha profissão: promotor da justiça. Além disso, noto que o tema envelhecimento merece total atenção da sociedade e do poder público. Afinal, nossa população está envelhecendo e é preciso que nos curvemos a essa realidade da melhor maneira.
Como pode ocorrer a violência? Familiares, amigos, cuidadores e profissionais da saúde, em hospitais, integram o grupo que viola os direitos conquistados pelo idoso de ter uma vida digna como o restante da população.
De que formas isso se manifesta? Entre as formas de violência, destacam-se a física, que resulta em dor, incapacidade ou óbito do idoso; a psicológica, caracterizada por agressões verbais ou gestuais, que
O que leva esse grupo de pessoas a cometer esse delito? O fato do cidadão comum ainda crer que ser idoso significa ser incapaz física e mentalmente. É preciso propagar a cultura do envelhecimento ativo, despertando na sociedade o interesse em aprender a lidar com a experiência do idoso e suas diferentes necessidades cotidianas.
A violência contra o idoso é um crime que todos podem ajudar a combater Dr. Délton Esteves Pastore Como denunciar um ato desse nível? A comunidade pode denunciar qualquer ato violento na chamada Delegacia do Idoso local. Pode, ainda, procurar a Defensoria Pública ou a Rede Pública de Assistência Social ou a Rede Pública da Saúde para informar qualquer delito. Feito isso, serão apuradas as provas, reunidos relatos pelo entendimento do caso e execução dos devidos trâmites legais. Reforço que é fundamental que a comunidade esteja atenta às situações que julgar abusivas, fazendo-se presente e denunciando-as. D+
fotos Silvia Henrique Soldi (divulgação)
Pode mencionar um caso que tenha acompanhado? Recentemente, uma senhora foi abandonada na calçada em uma via pública paulistana com um bilhete escrito a mão (por outra pessoa) e preso a sua cadeira de rodas, que comentava que ela estava abandonada pela família. O caso foi denunciado à promotoria onde atuo, foi apurado detalhadamente e eis que instaurado o inquérito policial, o caso ficou sob a responsabilidade de outro promotor de justiça, da área criminal. E a idosa passou a morar em residência de longa permanência particular. Continuo acompanhando-a, através de outro processo administrativo, de natureza civil.
Idosos, profissionais de saúde e formadores de opinião prestigiaram a palestra do promotor
IDOSOS Negócios texto Rosa Buccino
foto Edu Fragoso
Angélica Schmitt: de olho no próprio negócio artesanal
Suas excelências, os empreendedores Casos de sucesso inspiram e motivam as pessoas idosas
M
esmo enfrentando sucessivas crises políticas e sociais, há um grupo de empreendedores exitosos em seus negócios. Seja pela maneira como eles determinam suas estratégias mercadológicas ou como criam, inovam e encaram com motivação as mais desafiantes ações, eles evidenciam que é possível empreender, inclusive na terceira idade. Um caso bem sucedido é o de Ubiratan Fonseca, 60 anos, experiente profissional nos segmentos automotivo e industrial que, há quase uma década, superou imprevistos pessoais e identificou um novo nicho mercadológico. “Minha vivência interiorana foi determinante para minha reinvenção profissional: aprendi a manusear o arame, principal matéria-prima utilizada no novo ofício, que saltou em visibilidade graças ao meu empenho pessoal, ao apoio de minha
esposa e participações frequentes em feiras segmentadas. Hoje, forneço peças personalizadas a várias revendas do segmento artesanal pelo país e, em breve, diante da favorável aceitação, treinarei e formarei pessoas interessadas em aprender o mesmo ofício”, explica. O êxito alcançado por Ubiratan no novo negócio segue alinhado às projeções de que a população brasileira tem cada vez mais pessoas idosas ativas e atuantes. Reforça também um dos objetivos de Rita Mazzotti, 57 anos, que há quase 25 anos criou a empresa WR, que promove e organiza feiras e congressos nacionais e internacionais, com o objetivo de impulsionar o empreendedorismo em segmentos distintos, inclusive o artesanal. Sobre essa experiência, ela conta que, desde 2003, acompanha o evidente potencial econômico brasileiro desse nicho. Tanto, que a Mega
Artesanal, uma das feiras que organiza, completou uma década. “Sei que parte desse sucesso é fruto da participação assídua de empresários, lojistas, fornecedores e artesãos. Além disso, enxergo as pessoas idosas como público merecedor de muita atenção, pois compõem parte da força produtiva desse segmento, comprovando as previsões de que o envelhecimento, hoje, segue associado à motivação e disposição”, comenta.
Ubiratan Fonseca: êxito no novo negócio aos 60 anos
fotos Mitu Digital
Rita Mazzotti: vale tocar um negócio independentemente da idade cronológica
Ângelo Guaraldo: gestão familiar, bom atendimento e respeito aos clientes sem distinção
Lucas Ferreira: a experiência da maturidade motiva e inspira as futuras gerações
MAIS RECEITAS DE SUCESSO Em 1994, após várias oscilações político-econômicas enfrentadas pelo país, foi instituído o denominado Plano Real, com objetivo de estabilizar a economia e devolver o poder aquisitivo aos brasileiros. Diante desse panorama, Ângelo Guaraldo, 67 anos, um dos proprietários da Casa da Arte, inaugurada há 37 anos, reorganizou boa parte das ações da empresa de acordo com as evidentes necessidades do público-alvo, tal como sempre fez em outros períodos igualmente turbulentos da economia. Munido de evidente paixão pelo trabalho, Ângelo traçou planos e metas, sempre alinhado às necessidades mercadológicas, dividindo esse comando com o irmão Paulo, entre outros familiares que integram a equipe da empresa. “Buscamos a modernização de nossas estratégias. Uma delas consiste em saber lidar com o fato de nosso público ser, na maioria, composto por pessoas idosas. Um dado que se reverte, dia a dia, em conquistas e crescimento, inclusive entre os jovens que se inspiram nas histórias de sucesso de seus mestres e antecessores. Para completar, disponibilizamos um catálogo com 60 mil produtos nas três lojas físicas e naquela dedicada ao comércio virtual em todo o território nacional”, aponta. Outro caso que comprova o envolvimento de um negócio entre os consumidores clássicos é mencionado por Lucas Ferreira, gestor de marketing da PH FIT, detentora da marca Fitas Progresso, mantenedora do Clube do Artesanato, que investe em relacionamento e capacitação profissional desde 1994, alicerçando-se na comunicação especializada. “Devido às mudanças tecnológicas, que foram pedindo um constante fluxo de informações, nossos consumidores passaram a ser orientados através de ferramentas virtuais eficazes”, revela Lucas, que ainda observa: “As pessoas idosas respondem por parte do reconhecimento mercadológico e, por isso, estão sendo integradas às ações em busca de modernização e visibilidade da empresa”. D+
Revista D+ número 11
IDOSOS Alimentação Saudável
Cardápios exemplares A população idosa busca qualidade alimentar texto Rosa Buccino fotos Marcos Florence e Divulgação
A
alimentação saudável é um tema em constante discussão entre a classe médica, nutricionistas, empreendedores de saúde e nutrição, além de ter cada vez mais importância entre os consumidores de todas as faixas etárias. Do nascimento, quando um bebê é nutrido pelo leite materno, rico em vitaminas e que oferece ganhos ao crescimento dele; passando pela infância, adolescência e fase adulta; até a intitulada terceira idade, quando as pessoas necessitam de mais cuidados, inclusive no que diz respeito à forma como se alimentam e à manutenção de cardápios que, de fato, promovam qualidade de vida. Sobre as questões relacionadas às pessoas idosas, a chef Ludmila Araújo, expertise na área gastronômica há quase uma década, dedica parte de suas práticas acompanhando as novidades relacionadas ao consumo de alimentos que realmente fazem do organismo humano uma máquina melhor resolvida. Nesse contexto, ela tem estudado sobre as funções dos chamados alimentos funcionais, pois são benéficos à saúde, possuem nutrientes e colaboram para diminuir as doenças crônicas. Paralelamente às pesquisas, Ludmila segue ministrando workshops e conscientizando seu alunado sobre a alimentação funcional. Outra chef, Ana Luiza Trajano, que assina o cardápio do restaurante Brasil a Gosto, é hábil ao misturar matérias-primas típicas brasileiras em suas receitas. Fato comprovado durante o 4º Cozinhando com Palavras, evento que integrou a programação da Bienal do Livro 2016, na cidade de São Paulo, com curadoria dos chefs André Boccato e Daniela Narciso, onde ela lançou Misture a Gosto - Glossário de Ingredientes do Brasil, um livro de receitas harmonizadas para atender a todos, inclusive as pessoas idosas que consomem cardápios saudáveis e naturais.
Envolvido com várias iniciativas que destacam a boa alimentação, Daniel Feferbaum, sócio da WNutritional, empresa que responde pela fabricação da Luminus Life, bebida funcional que mistura suco de frutas e nutrientes, observa que esse produto age em favor da saúde mental, pois contém Ômega 3 (DHA), óssea (cálcio e vitamina D) e intestinal (fibras). Contém, ainda, baixa concentração de açúcares e baixo índice glicêmico, e é, inclusive, certificado pela Associação Nacional de Assistência ao Diabético (Anad) com indicação para o consumo de pessoas idosas propensas a essa doença. Larissa Garcia Gomes, doutora e médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e atual membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-SP), em dia com as orientações dedicadas à saúde, nutrição e bem estar, observa que os idosos são particularmente vulneráveis à má nutrição decorrente da diminuição de ingestão alimentar, que é associada principalmente à falta do prazer em comer, dificuldade de dentição, mastigação e deglutição, doenças gastrointestinais e endócrinas. Não é por acaso que
Larissa reforça ser importante a ingestão de leite e derivados na maturidade. “Pela saúde da massa óssea, recomendo no mínimo três porções entre leite, queijo branco e iogurte ao dia. Reforço que a ingestão de proteínas presentes em carnes, frango, peixes e ovos são igualmente fundamentais. No entanto, as pessoas idosas diminuem o consumo de proteínas devido à dificuldade de mastigação e deglutição, culminando na diminuição de massa muscular (sarcopenia), impactando negativamente na qualidade de vida delas. Outras orientações incluem evitar o consumo excessivo de gorduras, açúcares e sal pelo maior risco de diabetes e hipertensão”, prescreve. Alinhada aos comentários da Dra. Larissa, a SBEM segue informando a população sobre a importância de um novo estilo de vida, reforçando a alimentação saudável e promovendo a prevenção de doenças, como obesidade, diabetes e sarcopenia, muito comuns entre os idosos, assim como em outras faixas etárias. Além disso,
Bebidas funcionais misturam suco de frutas e nutrientes essenciais aos idosos Daniel Feferbaum, sócio da WNutritional
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IDOSOS Alimentação Saudável A longevidade está associada à ingestão de alimentos saudáveis Dra. Larissa Garcia Gomes, SBEM
Ludmila Araújo: saladas devem integrar o cardápio durante as principais refeições
foto Alexandre Schneider
a SBEM tem promovido diversos cursos presenciais e aulas online com foco em endocrinologia e envelhecimento, orientando sobre o papel da atividade física e o tratamento de doenças associadas. Vale reforçar que população idosa engloba uma grande diversidade de indivíduos variando de profissionais extremamente produtivos a pacientes acamados com mobilidade mínima. Todos esses pontos têm que ser levados em consideração quando um paciente idoso é avaliado e orientado a se alimentar melhor. CAMPEÕES DE AUDIÊNCIA A longevidade da população brasileira reflete o aumento da expectativa de vida, a diminuição da taxa de natalidade e a melhora da assistência à saúde, embora esta ainda esteja além da necessidade desse novo perfil populacional. “O envelhecimento é visto com bons olhos pela SBEM, porém, é preciso ciência de que essa condição da população aumenta a prevalência de doenças crônicas e típicas dos idosos, e que, por isso, para atendê-la é preciso educação em saúde e aumento de serviços voltados à saúde”, indica a Dra. Larissa Garcia Gomes. Como a médica, outros profissionais seguem comprometidos com essa mudança do perfil populacional. Na opinião da chef Ludmila Araújo, nem todos os brasileiros envelhecem de forma saudável, pois deixam os hábitos e os alimentos saudáveis de lado. “Pessoas idosas devem comer cereais (arroz, ervilha, feijão, lentilha, raízes e sementes), além de fibras solúveis, que fermentam dentro do colón, de modo
Ana Luiza Trajano: jeitinho brasileiro e saudável de harmonizar os alimentos
Daniel Feferbaum: sucos funcionais atendem à demanda mercadológica dos idosos
que são absorvidos sais minerais. Igualmente essencial é a ingestão de sementes oleaginosas (castanha do Pará, nozes, caju, avelã e amêndoa), pois são fontes de energia e ricas em vitamina E, potássio, cálcio e proteína vegetal e ajudam a combater o envelhecimento das células, previnem doenças coronárias e câncer, diminuem o risco de morte súbita associada à parada cardíaca, diminuem o nível de colesterol do sangue e podem ajudar a prevenir alguns tipos de câncer. Temos também os tubérculos como batatas e raízes – como a mandioca –, que são as fontes de energia mais importantes, sendo o principal componente na maioria das refeições. Os alimentos de origem vegetal, como frutas e hortaliças, têm que ser consumidos frescos e crus”, orienta. Para Daniel Feferbaum, da WNutritional, os idosos estão cada vez mais conscientes da importância de consumirem alimentos saudáveis e que proporcionem benefícios para a saúde. “Será ideal que eles prefiram produtos sem adição de açúcar, sem conservantes, com baixo teor de sódio e de gorduras, e que tenham um bom equilíbrio nutricional como os sucos funcionais”, sugere. Categórica no que se relaciona à saúde dos idosos, a nutricionista Joanna Carollo, da Nova Nutri, comenta que a empresa é distribuidora de dietas enterais e suplementação clínica, colaborando para a melhora
da ingestão calórica e proteica, além de vitaminas e minerais ideais e essenciais. Trabalha, ainda, com a linha Vida Saudável, com ômega 3, colágeno e berries, que ajudam na prevenção de doenças cardiovasculares e são antioxidantes. Ainda de acordo com ela, a empresa realiza publicações em redes sociais, artigos e textos explicativos com dicas de saúde, mostrando seus benefícios para a saúde e como podem atuar e melhorar a disposição, suprir necessidade de vitaminas e minerais. Todo suporte nutricional é oferecido a cada paciente através de uma equipe de nutricionistas.
Já a SBEM opina: “Os suplementos alimentares não devem ser consumidos com frequência em nenhuma faixa etária e devem sempre ter orientação médica para o consumo. Os idosos que não consomem a quantidade de proteínas e aminoácidos adequados podem se beneficiar de suplementação, bem como a vitamina D, cuja produção depende da exposição solar e que, por ter um papel importante na massa óssea e na musculatura, deve ser avaliada e reposta no caso de deficiência, mas sempre com a devida orientação médica”. D+
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MISTO QUENTE UNIVERSO CULTURAL
da alma Conheça duas companhias de dança em São Paulo que respeitam a diversidade e incluem pessoas com deficiência
“E
texto Brenda Cruz fotos Divulgação
u fazia aula em um lugar que não me deixava dançar em apresentações. Ficava muito triste, porque eu ficava só sentada. Aqui eu vim com a minha mãe, mas tinha medo até de entrar, porque achava que seria como na escola anterior”. Foi sentada na roda de conversa para essa entrevista que Juliana Padula, 30 anos, ou Juju, como gosta de ser chamada, contou como conheceu a Cia Circodança Suzie Bianchi. Com deficiência intelectual, ela não costumava ser incluída na turma em sua antiga escola de dança. Suzie Bianchi, bailarina e coreógrafa, tem a escola que leva seu nome há mais de 30 anos e há 22 anos trabalha com pessoas com deficiência. “Eu sempre acreditei no indivíduo, no ser humano. Precisamos olhar para o outro e acreditar nele, independentemente de ele ter ou não deficiência”, diz. Localizada no bairro do Campo Belo, na capital paulista, a escola oferece aulas para quem gosta de dança e circo. As aulas acontecem individualmente, com um professor para cada modalidade e coreografia a ser apresentada, e também em conjunto. A escola oferece salas e equipamentos para os treinos e cada um desenvolve seus talentos conforme a vontade e necessidade. “Eles vêm aqui praticamente todos os dias para ensaiar. É uma média de duas a três horas diárias, entre ensaios e aulas”, conta Suzie.
Suzie Bianchi, Paloma Nogueira Fonseca e Rafael Barbosa no espetáculo Vida de Circo Revista D+ número 11
MISTO QUENTE UNIVERSO CULTURAL
Eu tinha curiosidade em saber como o cadeirante dançava. Pensei que eu não podia Rafael Barbosa, da Cia Circodança Suzie Bianchi
Geovanni Venturi interpreta com paixão o palhaço Pingo
Melina Gomes Mesquita apresenta-se com Alberto Jair Garcia
RODOPIOS DE ALEGRIA Nove pessoas integram a trupe do circo, das quais cinco têm deficiência, e cada uma delas aprendeu a deixar florescer seus maiores talentos. No centro do picadeiro, na apresentação do Espetáculo Vida de Circo, no Sesc Itaquera, em São Paulo, a bailarina Paloma Nogueira Fonseca, 28 anos, com roupas coloridas e movimentos graciosos, não parece fazer esforço ao rodopiar pelos ares, mas faz. “Desde criança eu sonhava em ser dançarina profissional, e se realizou!”, comenta. Paloma tem síndrome de Down e, além de aluna, é componente do grupo e está na escola Circodança de Suzie há oito anos. Aos 6 anos ela começou no balé clássico e nunca mais parou de experimentar novos estilos de dança. “Eu amo tudo: circo, salsa, samba de gafieira, balé... faço de tudo!”, conta animada. Melina Gomes Mesquita, 32 anos, também tem a síndrome de Down e começou as aulas na escola de balé de Suzie Bianchi aos 13 anos. “O que eu mais gosto é dança de salão”, conta a integrante. O palhaço Pingo, interpretado pelo ator e poeta Giovanni Venturini, 24 anos, é dono da alegria que contagia
Somos artistas, dançarinos com deficiência e não deficientes que dançam Gabriel Sousa Domingues, da Cia. Dança Sem Fronteiras Icaro Rodrigues Grave e Fernanda Amaral como espetáculo Frestas do olhar, no Centro Cultural São Paulo
a plateia. “O circo é uma das artes mais lindas, sinceras e honestas. É levar os adultos a serem crianças: em sua forma mais sincera e inocente. É um momento de encantamento que nos tira da realidade”, afirma Venturini, que tem nanismo. Formado em Gestão de Turismo, há cinco anos na Circodança, Giovanni largou tudo, em 2012, para se dedicar totalmente à arte, e deixa seu recado a quem deseja entrar nesse mundo mágico: “Quem quer iniciar na dança, no teatro, no circo, na escrita, tem que acreditar! Acredite que é possível sim fazer tudo o que quer. Não deixe que a sociedade lhe diga até onde você pode ir. Se você realmente ama o que faz, pode trabalhar com isso, viver disso”, acredita. “E o mais importante: só fazendo o que você ama é que vai ser feliz”. Já Rafael Barbosa, 26 anos, cadeirante, está há quatro anos na escola de Bianchi e tem osteogênese imperfeita, aquela condição genética cujo principal fator clínico é a fragilidade óssea. “Eu tinha curiosidade em saber como o cadeirante dançava. Pensei que eu não podia e fui pesquisar na internet um lugar que
oferecesse aula de dança para cadeirante”, conta, explicando ainda que marcou uma aula para ver como era e não parou mais. “No início, eu tinha muito medo de cair e me machucar; hoje eu já me entrego mais aos movimentos, saio da cadeira e me penduro nas cordas”, aponta Rafael. Sem patrocínio, a companhia divide o cachê de todas as apresentações entre os integrantes: “Temos que frisar que nosso grande parceiro é o Sesc. Acho que, se não fosse por ele, nós já teríamos desistido há muito tempo da Cia”, revela Suzie. O PALCO É EM TODO LUGAR Os movimentos, ora ensaiados, ora improvisados, podem ser apresentados na rua, no teatro ou em parques. Não há apenas uma história em cena, mas inúmeras, em que a construção é proposta por todos, formando um único elemento. A dança tem múltiplas facetas: a escolhida aqui é a contemporânea, com o espetáculo Frestas do olhar, é marcada em passos firmes, dançada em pé, sentada, no chão. A Cia Dança Sem Fronteiras foi criada em 2010 por Fernanda Amaral, após morar por 20 anos na Europa e
sempre trabalhar com projetos multiculturais. “Sempre trabalhei com pessoas de vários países, de várias culturas e com diversas linguagens artísticas, como música, teatro, dança etc”, conta. “Então, uníamos todas essas culturas e linguagens e nos apresentávamos, geralmente, nas ruas, em lugares onde uma apresentação não é esperada e para um público que não iria ao teatro”, explica a bailarina. Foi esse o ponto de partida que levou Fernanda a desenvolver trabalhos que ela chama de “diferentes habilidades”, unindo pessoas com e sem deficiência. “Ganhei vários prêmios referente a esse trabalho no Reino Unido, inclusive prêmios para poder desenvolvê-lo. Foi nesses projetos que ficou muito clara a importância de serem apresentados em espaços públicos, já que, normalmente, as pessoas não esperam que um cadeirante ou uma pessoa com baixa visão, por exemplo, possa dançar profissionalmente”. São sete bailarinos, três com deficiência. Gabriel Sousa Domingues, 19 anos, tem baixa visão. O jovem talento nasceu com retinose pigmentar (RP), que é a degeneração da retina. As pessoas com RP têm perda gradual da Revista D+ número 11
MISTO QUENTE UNIVERSO CULTURAL
Acima da esquerda para a direita as bailarinas Camilla Rodrigues do Carmo e Jaqueline Souza. Abaixo da esquerda para a direita os balarinos Beto Amorim e Gabriel Sousa com o espetáculo Frestas do Olhar
DANÇA PARA TODOS
Todo primeiro domingo do mês, às 14h, a Cia Dança Sem Fronteiras promove oficinas de dança aberta ao público no CCSP. A prática de improvisação coletiva tem o objetivo de possibilitar a participação de todos, incluindo pessoas de várias idades e com habilidades e caraterísticas físicas, motoras e intelectuais diversas.
capacidade de enxergar. Hoje, Gabriel tem cerca de 20% da visão. “Tenho o DRT, documento que comprova o registro profissional na área, e formação técnica em dança. Comecei a me interessar por esse mundo aos 8 anos por conta da minha irmã mais velha, que também é bailarina”, conta. Outro jovem com paixão pela arte da dança é Icaro Rodrigues Grave, 26 anos, também integrante da Cia Sem Fronteiras. Ele tem paralisia cerebral e descobriu em 2014 que seu caminho era a dança depois de participar do Projeto Vocacional, no Centro Cultural da Penha, zona leste de São Paulo. “Eu moro em Guarulhos e demoro duas horas para chegar aqui, é uma luta constante para poder driblar a dificuldade de mobilidade. Mas nós temos que passar por cima disso, porque se não, nem saímos de casa. São muitos os empecilhos, mas a fé é o que nos move”, desabafa Icaro. O espaço que a Cia frequenta para os ensaios e também para as oficinas abertas ao público é o Centro Cultural
São Paulo (CCSP), localizado próximo à estação Vergueiro, da Linha Azul do metrô. “Desde que eu criei a companhia, eu ‘namoro’ o CCSP, por ser um lugar totalmente acessível. Conseguimos esse espaço depois que tivemos o apoio do Fomento à Dança, um apoio financeiro municipal para manter a companhia”, revela Fernanda Amaral. Um dos principais esforços da Cia Dança Sem Fronteiras é trabalhar com as universidades para que possam formar professores de dança com deficiência. “É muito comum ver dançarinos e professores de dança fora do Brasil. Aqui esse tipo de coisa ainda tem muita dificuldade para se disseminar. Precisamos de mais visibilidade, até mesmo para que escolas e faculdades ofereçam acessibilidade e entendam essa demanda de futuros artistas”, afirma Fernanda. A dança é um caminho seguro para muitas descobertas pessoais e, como ficou claro com as experiências acima, para a inclusão. Icaro afirma: “Foi através da dança que eu tive a possibilidade do autoconhecimento,
A dança proporciona a chance de você se amar mais, porque você lida com seu corpo e com seus sentimentos Icaro Rodrigues Grave, da Cia Dança Sem Fronteiras
de vivenciar coisas diferentes. A dança proporciona a chance de você se amar mais, porque você lida com seu corpo e com seus sentimentos, e é ali que você expressa tudo”. Gabriel também pontua o que aprendeu com Fernanda Amaral sobre habilidades mistas. “O nome já diz: habilidades, e não deficiência. Somos artistas, dançarinos com deficiência e não deficientes que dançam”. Cia Circodança Suzie Bianchi Rua República do Iraque, 1866, Campo Belo, São Paulo (11) 5543-0620 / www.circodanca.com.br Cia Dança Sem Fronteiras Centro Cultural Vergueiro Rua Vergueiro, 1000, Paraiso, São Paulo patuadanceability.wordpress.com
APRENDA LIBRAS
aprenda sinais
de tipos de deficiência por Célio da Conceição Santana e Joice Alves de Sá revisão Rafaella Sessenta ilustrações Luis Filipe Rosa
T
odos nós temos alguma limitação, seja ela física, intelectual, visual, auditiva, emocional... Mas isso não significa que não podemos nos relacionar com pessoas diferentes de nós. Até porque, é justamente a diversidade que torna nossa vida mais rica, edificante e proveitosa. Por isso, nesta edição ensinaremos sinais de diferentes tipos de deficiência para que você abra o leque de oportunidades e conviva com a diversidade todos os dias. Seja fazendo novas amizades, seja aprendendo mais sobre cada deficiência, faça a diferença você também! D+
Deficiência auditiva (surdo)
Deficiência visual
Surdocegueira
Deficiência intelectual
Síndrome de Asperger
Síndrome de Down
Deficiência física
Monoplegia
Paraplegia
Tetraplegia
Confira os vídeos desses sinais em revistadmais/ed11_aprendalibras Revista D+ número 11
GARFO & FACA
se põe à mesa Frutos do mar, drinks divertidos, ambiente amplo e acessível tornam o restaurante Coco Bambu um ícone na capital gastronômica do Brasil texto Brenda Cruz fotos Marcos Florence e divulgação
N
Da orla de Fortaleza, no Ceará, para Miami Beach, nos Estados Unidos – onde abriu sua primeira filial internacional no último setembro, a rede de restaurantes Coco Bambu remou em muitas ondas a favor da maré. Já há quatro anos no maior endereço gastronômico do país, o Coco Bambu JK cativou os paulistanos: nessa unidade de surpreendentes 750 lugares, as filas (sim, filas) continuam, e o cardápio extenso imita a casa de grandes proporções. O ambiente rústico e moderno, cujo bom gosto na decoração é refletido na beleza dos pratos, divide-se em três andares acessíveis por elevador, utilizado por pessoas com deficiência e idosos com mobilidade reduzida. Especializado em frutos do mar, o restaurante chega a servir quase 2 mil pratos em um domingo, entre entradas e sobremesas. Recentemente ganhou o prêmio de restaurante com a melhor casquinha de caranguejo da cidade, que se soma a outros tantos títulos.
FARTURA É IGUAL A SUCESSO A chef responsável pela assinatura das receitas é a também sócia fundadora Daniela Barreira. Petiscos, saladas, camarões, peixes, carnes, entre outros, chegam às mesas em pratos fartos. Segundo Giovanna Russo, diretora há sete meses na unidade JK, fartura, ambiente agradável e preço justo é a tríade que faz o sucesso da casa. “Se você vem em grupo, facilmente aprecia um prato de camarão ou de lagosta sem pagar caro. Você é bem servido e está em um ambiente acolhedor, onde as pessoas são muito bem recebidas. É para se sentir em casa!”. Os pratos mais pedidos do Coco Bambu JK, segundo a diretora, são: Camarão Internacional – camarões servidos sobre arroz cremoso com ervilhas e presunto, envolvido com molho branco, gratinado com queijo muçarela e acompanhando batata palha –, e Rede de Pescador, que traz o que há de melhor no mar nordestino: lagosta, camarão,
O restaurante conta com rampa na entrada, elevador para o acesso dos três andares, além de dispor de uma cadeira de rodas para pessoas com mobilidade reduzida
O prato Rede de pescador, caipivodka de abacaxi servida em uma casca de coco e a sobremesa; O melhor pudim do mundo são os queridinhos da casa
mexilhões, peixe e lula, grelhados com molho provençal, acompanhados de arroz de açafrão. Para acompanhar, uma carta de vinhos com 220 rótulos atende a todos os gostos. Dois sommeliers ficam à disposição para ajudar a harmonizar a bebida com os pratos escolhidos. Além disso, há opções de cervejas e drinks divertidos, como o servido em uma casca de coco, que conquistam a clientela. “O que mais sai são as caipivodkas. É um charme e o pessoal adora!”, conta Giovana. Para finalizar a viagem gastronômica, dentre as sobremesas há duas queridinhas: a Cocada de Forno, elaborada com coco ralado fresco e leite condensado, dourada no forno e servida quente com uma bola de sorvete, e O Melhor Pudim do Mundo, delicadamente decorado com flores de caramelo. A casa também conta com área de bar na entrada e um adorável espaço pet do lado de fora. Vá sem pressa: tudo no restaurante impelirá você a... ficar. D+
Rampa de acesso ao restaurante; Elevador que atende a todos os andares; Banheiro adaptado dividido em feminino e masculino; Cadeira de rodas para cliente com mobilidade reduzida, como idosos; Altura das mesas apropriada para o cadeirante; Corredores largos, facilitando a circulação; Calçadas do entorno em boas condições. Coco Bambu JK Avenida Antônio Joaquim de Moura Andrade, 737, Vila Nova Conceição, São Paulo 11 3051.5255 Revista D+ número 11
ESPAÇO DO TILS (TRADUTOR/INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS)
A questão da ética na tradução e interpretação
Silvana Zajac
Professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL/ PUCSP), mestra em Educação (Unimep) e bacharelada em Letras/Libras (UFSC/Unicamp)
* Para participar com perguntas e sugestões, escreva para silzajac@revistadmais.com.br
A
o refletimos sobre as relações interpessoais em todos os campos da atividade humana, encontramos a necessidade de pensar a ética. Isto é, de pensar nas regras que comandam e universalizam o comportamento do homem, por exemplo, como profissional que atua em uma determinada sociedade. A ética está diretamente ligada à necessidade do indivíduo de regular a sua conduta de acordo com interesses universais, que se referem àquilo que é correto e aceitável para que as relações interpessoais em um determinado grupo sejam saudáveis. Assim, as questões éticas também estão diretamente ligadas à postura do profissional no seu ambiente de trabalho e, na maioria das vezes, são reguladas pelo código de ética de cada corporação. No caso dos tradutores/intérpretes de Libras (Tils), existem vários ensaios que se propõem a definir um código de ética. Nesses materiais aparecem desde normas sobre a vestimenta do profissional até questões muito complexas e praticamente impossíveis de serem obedecidas, como, por exemplo, a neutralidade e fidelidade da tradução/interpretação. Além disso, a conduta ética é guiada pelo contexto histórico no qual o profissional se encontra. Em muitos casos, alguns comportamentos de uma determinada época se consolidam, trazendo um paradoxo para a postura profissional. Sobre isso, Melanie Metzger destaca que existem quatro modelos de papéis do Tils que interferem diretamente nas suas crenças acerca da sua função:
1. Ajudador: tem relação com o tempo em que a função do Tils não era considerada como profissão e era desempenhada por amigos (principalmente nas comunidades religiosas) e familiares de surdos que sabiam a língua de sinais; 2. Condutor: a função de Tils começa a ganhar importância. No entanto, a ideia de que a tradução/interpretação é algo mecânico e que pode ser realizado por qualquer pessoa que sabe a língua de sinais, traz problemas que afetam a qualidade do trabalho; 3. Facilitador: coloca o Tils em uma posição de profissional, contudo, carrega os problemas e entraves dos modelos anteriores; 4. Especialista: é um modelo mais recente e leva em consideração os fatores situacionais e culturais como relevantes para o desempenho da tarefa de traduzir/interpretar. Diante desses aspectos e outros que permeiam a profissão, aponto para uma ética da tradução/interpretação que também compactua com a clareza entre os textos. Nela, é possível optar pelas melhores escolhas, contabilizando o que se perde e o que se ganha ao “transmutar” o texto. Administrar esse processo exige decisões, muitas vezes, incontornáveis. E nisso consiste, essencialmente, o mérito do tradutor/intérprete de língua de sinais. D+
SUPER NORMAIS NA D+
Conheça mais em: facebook.com/supernormais Revista D+ número 11
CEREJA!
Festa dos SENTIDOS
io de Pela primeira vez no R ty chegou Janeiro, a balada Senci vintes alegrando surdos e ou o
divulgação
Rio tex to Br en da Cru z, do
no el Ar aúj de Jan eir o fot os Ma
1 no tilho, acontece desde 201 vida por Leonardo Cas A balada Sencity, promo de janeiro pela UFRJ Rio no ão ediç eira sua prim MAM-SP e este ano teve
ão de vibrava no fundo do sal arte da pista de dança am cav enquanto as luzes pis acordo com a música, nça da drão. As pessoas seguindo o mesmo pa o tind cur m madas. Todos ali estava vam e conversavam ani u, no dia go che m, enfi ty, nci lada Se aquela super festa: a ba eiro. meira vez no Rio de Jan 10 de setembro, pela pri visuais, senvolver experiências “O projeto focou em de le. pe A fesos e emoção sentida na com vibrações, sentiment afirmou, em É um trabalho valioso!”, ta tem dança e Libras. ty no Brasil. ho, organizador da Senci Libras, Leonardo Castil Altos no Colégio Brasileiro de A festa, que aconteceu RJ), (UF eiro e Federal do Rio de Jan Estudos, da Universidad Nao ntr co o décimo dia do IV En no Flamengo, fechava es açõ ent res Cultural (ENAC). As ap cional de Acessibilidade m co as duzid ados do país foram tra artísticas de vários est ngra sou etes de Libras, o que cau entusiasmo pelos intérpr musicais, ilos est ios Vár . do blico sur de alvoroço entre o pú a. O espaço a e dança coreografad poesia, muita batucad ta alegria! ficou pequeno para tan acordo s que mixam aromas de Os “aromas-jóqueis” (DJ o tempo: os vam o ambiente a todo com a música) perfuma os de ensaio, ram expostos em tub líquidos coloridos fica bém teve magia ao ambiente. Tam conferindo ainda mais e muita s los inusitados, projeçõe comidinhas com estímu ão de raç ssa festa uma comemo interação, o que fez de , mas ista on do seu público protag interesse não apenas . também para ouvintes pela Sk yway sa, a Sencity foi criada de lan ho m ge De ori a ao público jetivo de levar a músic Foundation: com o ob ersos paíce regularmente em div surdo, a Sencity aconte sentido no es bem conceituadas açõ ses e é uma das mais ade surda. da inclusão da comunid lo Museu a Sencity é realizada pe No Brasil, desde 2011 enada ord o Paulo (MAM-SP) e co de Arte Moderna de Sã do ção liza rea ava muito feliz com a por Leonardo, que est . eiro Jan de mos a festa para o Rio evento. “Agora trouxe o , lho ba tra aqui há um projeto, um E isso tem uma razão: de cultural especial de acessibilida ENAC é uma pesquisa ersas pescomeçou a convidar div no Brasil. Esse projeto guimos nse eriências diferentes e co soas e grupos para exp a festa s mo ria com o MAM. Trouxe um dia para essa parce lizou fina a!”, ndo e é a coisa mais lind e agora está acontece D+ o. blic ito com o sucesso de pú Castilho, pra lá de satisfe
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interpr ete s agitou a galera com as O pes soal da BatuQda a a bal ada tod e ant dur gria ale m de Libras que esbanjara
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