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N OS M O R ROS DO RIO DE JA NEI RO
Cássio Dutra, Mah Mooni, Maria Rita, Letícia Guilherme e Bruno Favoretto: cada um no seu estilo
A roupa que vestimos é parte de nossa identidade e também um mecanismo de empoderamento, mas nem todos os corpos são contemplados pela indústria FAMÍLIA
O nascimento de uma criança com deficiência
CONTRA O BULLYING
Nick Vujicic no Brasil
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Um passeio inclusivo para cegos. Vem!
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Nós não somos invisíveis
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ALÔ, MODA!
NA REDE
::::::::::::revistadmais.com.br:::::::::::::::::::::: INCLUSÃO Todo dia é dia Todos os dias, a Equipe D+ traz para o site novidades importantes e curiosidades na área da inclusão social. Na página da Revista D+ na web, você fica por dentro de serviços, agenda cultural, lançamento de produtos nacionais e internacionais em benefício da pessoa com deficiência, leis e muitas outras informações úteis.
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CONEXÃO Você vai encontrar um link no final de algumas reportagens. Ele lhe dará acesso a um conteúdo especial, com mais informações e fotos sobre aquele assunto. Alguns trazem até vídeos! Aproveite!
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INSPIRAÇÃO Cultura para todos Quando foi a última vez que você visitou uma exposição cultural? Em nosso site você encontra dicas culturais com acessibilidade e fica ligado no que está acontecendo de mais legal pelo país. Exemplo disso é a exposição fotográfica Lentes da Memória – A Descoberta da Fotografia de Alberto de Sampaio, 1888-1930, que traz paisagens do Rio de Janeiro do final do século XX, com recursos de acessibilidade para pessoas cegas e com baixa visão.
BOLETIM TODA SEMANA Às sextas-feiras, nós enviamos uma newsletter com as principais matérias da semana. Para receber, entre no site e cadastre-se.
EDITORIAL
Sobre verdades, amigos e mudanças Edição nº 12: Foto de capa por Marcelo Spatafora, com make e hair de Maria Pia Ornelas
H
(vem, 2017!)
á uma coisa que vale muito a pena em nossa vida: relações verdadeiras. É por meio delas – e só por meio delas – que construímos coisas realmente grandes e promissoras, que nos dão orgulho e prazer. Em 2016, todos fomos pautados pelas mudanças e inseguranças no campo político, econômico e social, aqui e lá fora. Na esteira das frustrações diante da desigualdade e da corrupção, cabe-nos seguir em frente ao lado de quem é verdadeiro. A Revista D+ termina o ano com a alegria que somente as caminhadas honestas são capazes de promover. Para celebrar o que fazemos de melhor, você tem em mãos, querido leitor e querida leitora, uma edição ousada, repleta de informações úteis para você e sua família. Nossa reportagem de capa, por exemplo, traz para a discussão a moda e a (in) visibilidade dos corpos que são diferentes do padrão. Maria Rita de Paiva Souza é uma de nossas personagens de capa e questiona, assertivamente: “Por que um desfile de moda não tem audiodescrição, por exemplo? Por que nenhum e-commerce, site ou blog de moda tem descrição das imagens?”. Ao entrevistarmos nossas fontes com diferentes tipos de deficiências, como a Maria Rita, que é cega, pudemos notar o quão longe ainda estamos de resolver essa equação. Leia a partir da página 42. Os morros do Rio de Janeiro também estiveram no foco de nossa atenção. A pesquisa inédita Mapa de Nós, desenvolvida pela agência de publicidade NBS Rio+Rio, pelo CIEDS e IPP, identificou as pessoas com deficiência moradoras das comunidades e buscou entender como se inserem na sociedade e no mercado de trabalho. Nossa editora-chefe e nosso diretor de arte subiram os morros cariocas para conversar com essas pessoas. Na área da Educação, estivemos em vários congressos e colóquios pelo país apurando as novas demandas e soluções da área, e trazemos um pouco disso aqui, para compartilhar ideias e fomentar discussões. No caderno dedicado aos idosos, você terá a oportunidade de conhecer o conceito americano “aging in place” e quantos benefícios oferece em prol da qualidade de vida dessa população. Confira na página 76. No último editorial do ano, eu não poderia deixar de agradecer a toda equipe, aos colaboradores e parceiros que tanto fizeram para que a Revista D+ se consolidasse como uma publicação respeitada e prestigiada. Muito obrigado! A você, leitor e leitora, muito obrigado pela preciosa companhia, sem a qual nada faria sentido. Mudanças acontecem sempre, mas os amigos e as relações verdadeiras permanecem. Ótima leitura e feliz 2017! Rúbem Soares Diretor Executivo
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Na cidade, somos todos pedestres.
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DO LADO DE CÁ
Nos bastidores
Nesta última edição do ano, a Revista D+ foi para Atibaia, Campinas, Rio de Janeiro, São Carlos...
Jeep Renegade em qualquer av
A equipe de redação, os personagens da capa e seus acompanhantes (incluindo Milo, o cão-guia, e o Raul, o bebê fofíssimo da Maria Rita!) no fim de nosso lindo ensaio, no estúdio da Daylight Produções!
As repórteres Brenda Cruz e Cintia Alves com as lindíssimas Mah Mooni e Maria Rita, as modelos de capa
Diego Henrique de Assis da Conceição, tradutor e intérprete da Central de Libras Unicamp; Rúbem Soares, diretor executivo da Revista D+; Prof. Dr. André Reicher, da UFSC; Arianna Hermana da Silva, coordenadora de Tils da Mais Inclusão; Rafaella Sessenta, coordenadora de projetos de mídia inclusiva da Mais Editora; e Andréa Rosa, coordenadora da Central de Tils da Unicamp no colóquio da universidade
Jeep é marca registrada da FCA US LLC.
O Diretor de Arte, Manoel Araújo, com a Pâmela e o sobrinho dela, fazendo farra no quintal!
Pedestre, use sua faixa.
Taís Lambert, nossa Editora-Chefe, com Pâmela Cristina Crisóstemo Bernardo (que amoooor!), na casa dela, na comunidade Chácara do Céu, no Rio de Janeiro (leia a reportagem exclusiva na página 32)
Denilson Nalin, nosso Diretor de Publicidade, com Floriano Pesaro, Secretário de Estado de Desenvolvimento Social de São Paulo
Rosa Buccino, Editora de Projetos Especiais, divulga a Revista D+ para o cantor Daniel, durante a coletiva de imprensa do Teleton 2016
Toda a turma do projeto de viagens experimentais gratuitas Ampliando Horizontes – Experiências Sensoriais no Turismo para Pessoas Cegas e de Baixa Visão, num passeio maravilhoso em Atibaia, acompanhado com exclusividade pela Revista D+
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Rúbem da S. Soares, Diretor Executivo
Denilson G. Nalin, Diretor de Publicidade
Raquel Vidal de Lima, Luiz Nicolini, Auxiliar Administrativo Consultor de Vendas
Taís Lambert, Editora-Chefe
Ivanilson Oliveira, Coordenador de TI
Manoel Araújo, Diretor de Arte
Herick Palazzin, Assistente de TI
MUITO obrigado! Em um mundo de mudanças tão rápidas, em que as tônicas vigentes são as da inconstância e da transformação, fica difícil ter “certezas”. Mas uma nós temos: 2016 foi um ano MUITO especial para a Revista D+. A publicação tinha 52 páginas e agora tem 92, quase dobramos de tamanho. Mudamos nosso projeto editorial e gráfico e conquistamos mais
Tiago Coutinho, Analista de Marketing
Brenda Cruz, Estagiária de Jornalismo
Cintia Alves, Estagiária de Jornalismo
Célio Santana, Joice Alves de Sá, Rafaella Sessenta, Consultor de Libras Consultora de Libras Coordenadora de Mídia Inclusiva
leitores. Fomos para as bancas de todo o país, dando visibilidade ainda maior para a pessoa com deficiência. Participamos de inúmeros eventos da área, entrevistamos excelentes pessoas em nossas páginas, fizemos lindos ensaios de capa. Nosso portal está cada vez mais inclusivo: notícias diárias, cobertura da melhor programação segmentada e tudo isso traduzido para a Língua Brasileira de Sinais por nossos intérpretes. Todos os textos também contam com áudio, o que destaca ainda mais nosso respeito pela diversidade.
VIVA AS DIFERENÇAS PROGRAMA
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Eliza Padilha, Revisora Rosa Buccino, Editora de Projetos Especiais
Dilson Nery, Diretor Artístico
Marco Antonio Batista Ramos, Intérprete de Libras
Claudine Davids, Assessora de Projetos Pedagógicos
Rafaela Prado Siqueira, Intérprete de Libras
Marcos Florence, Fotógrafo
Luis Filipe Rosa, Ilustrador e Web Designer
Yasmin Anunciato, Verônica Honorato Intérprete de de Souza, Libras Assistente de Rádio e TV
Todas essas coisas são o resultado de um lindo trabalho em equipe. Somado a isso estão os grandes parceiros que fizemos ao longo do caminho. Mais que parceiros, tornaram-se amigos, que partilham dos mesmos objetivos e que têm a visão que desejamos: altruísta, participativa e inclusiva. Aos anunciantes, assinantes, fontes e parceiros de 2016, MUITO obrigado de toda a equipe da Revista D+ e da Mais Editora! Esperamos caminhar lado a lado com vocês em 2017 também!
Jéssica Aline Carecho, Assistente de Rádio e TV
Flávia Garcia Dias, David Gomes de Coordenadora Souza, Assistente Administrativa Administrativo
Alessandra Rodrigues, Atendimento ao Assinante
Jennyfer Alves, Recepcionista
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www.revistadmais.com.br DIRETOR EXECUTIVO Rúbem da S. Soares rsoares@revistadmais.com.br REDAÇÃO Editora-Chefe Taís Lambert taislambert@revistadmais.com.br Diretor de Arte Manoel Araújo manoelaraujo@revistadmais.com.br Editora de Projetos Especiais Rosa Buccino Equipe de Jornalismo Brenda Cruz e Cintia Alves Assessora de Projetos Pedagógicos Claudine Davids Revisora Eliza Padilha Fotógrafo Marcos Florence Ilustrador Luis Filipe Rosa Colaboradores nesta edição Juliana Andrade S. Sales Marcelo Spatafora (ensaio fotográfico de capa) DIRETOR DE PUBLICIDADE Denilson G. Nalin denilsonnalin@revistadmais.com.br (11) 5581.1739 e 9-4771.7622 COMUNICAÇÃO E MARKETING Tiago Matos Coutinho tiagocoutinho@revistadmais.com.br (11) 9-4771.7621 / (19) 3306.9990 RH E FINANCEIRO Coordenação Flávia Garcia Dias Contratos e licitações Luiz F. Mazieri Nicolini mais@revistadmais.com.br Equipe David Gomes de Souza Raquel Vidal de Lima TI Herick Palazzin Ivanilson Oliveira de Almeida DIRETOR ARTÍSTICO Dilson Nery PROJETOS DE MÍDIA INCLUSIVA Coordenação Rafaella Sessenta CONSULTORES DE LIBRAS (SURDOS) Célio da Conceição Santana Joice Alves de Sá INTÉRPRETES DE LIBRAS Marco Antonio Batista Ramos Rafaela Prado Siqueira Rafaella Sessenta Yasmin Anunciato EQUIPE AUDIOVISUAL Conteúdo do portal Jéssica Aline Carecho Verônica Honorato de Souza ATENDIMENTO AO ASSINANTE E CIRCULAÇÃO Alessandra Rodrigues dos Santos assinaturas@revistadmais.com.br (11) 5581-3182 / 5583-0298 RECEPÇÃO Jennyfer Alves (11) 5581-3182 / 5583-0298 Edição número 12 – Novembro/Dezembro de 2016 REVISTA D+, ISSN 2359-5620, é uma publicação bimestral da MAIS Editora CNPJ n° 03.354.003/0001-11 Rua da Contagem, 201 – Saúde - São Paulo/SP - CEP 04146-100 Associada a:
Distribuída em bancas pela DINAP Ltda. Distribuidora Nacional de Publicação. Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678 CEP 06045-390 - Osasco - SP APOIO: A Revista D+ não se responsabiliza por opiniões e conceitos emitidos em artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo este de inteira responsabilidade dos anunciantes
Instituto de Apoio às Pessoas com Deficiência e à Inclusão Social
NOSSA CAPA 42 Um molde para todos. A roupa que vestimos é nossa identidade e também um direito 06 Na Rede 08 Editorial 10 Do Lado de Cá 12 Muito obrigado, grandes parceiros de 2016! 14 Expediente & Aqui na D+ 16 Ponto de Vista O novo presidente dos EUA: uma crítica ácida e a relação com as pessoas com deficiência 18 Misto Quente As novidades dignas de nota 22 Misto Frio A cobertura dos principais eventos 24 Psique Relações familiares: o nascimento e desenvolvimento de uma criança com deficiência, por João Roberto de Souza-Silva 26 Por Dentro das Grandes O Hospital Albert Einstein mostra como oferece oportunidades para seus profissionais com deficiência 32 EXCLUSIVO Nas comunidades do Rio de Janeiro A Revista D+ subiu os morros cariocas para entender o resultado da pesquisa Mapa de Nós 40 Perfil A história do palestrante internacional que venceu as barreiras do preconceito e inspira multidões 54 Tecnologia Acessibilidade na web sem limites de conexão 58 Acontece COINES 2016 valoriza a comunidade surda nacional e mundial 62 Práticas na Educação Inclusiva O ensino de Física na educação inclusiva com alunos surdos: noções sobre campo magnético 68 Especial Idosos: Depoimento Os professores Júlio Furtado e Marta Relvas falam sobre o direito do idoso à educação Negócios Rede de salões inspira investidores do segmento de beleza e estética Radar Como envelhecer com conforto no seu lar Bem-estar Profissionais de beleza indicam como manter os cabelos saudáveis na terceira idade 80 Aprenda Libras Aprenda sinais da Festa Natalina e do Ano Novo 82 Rumos & Descobertas O Turismo Sensorial que abre novos caminhos para pessoas cegas e com baixa visão 86 Garfo & Faca Cantaloup: Pratos ousados, vasto menu de bebidas e um ambiente acolhedor e acessível 88 Espaço do Tils A diferença entre tradução e interpretação 89 Super Normais As tirinhas inteligentes do grupo de Curitiba 90 Cereja! Conheça a associação de dança que há 10 anos explora movimentos e reabilita vidas
Novembro/Dezembro 2016 – Ano II – nº 12
3278 68 40 86
PONTO DE VISTA
...E o mundo acabou... em 2016! “Levanta, me serve um café, que o mundo acabou...”
(trecho da música Nostradamus, do compositor e cantor Eduardo Dussek)
Rúbem Soares
Psicólogo, mestre e doutorando em Educação (USP), diretor executivo da Revista D+
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alvez, seja exatamente esta a sensação com que milhões de pessoas mundo a fora se depararam na madrugada de 9/11 em que se confirmou a eleição de Donald Trump à presidência do maior país democrático da atualidade, os EUA. Será este o último episódio de 2016 que prenuncia o fim do mundo? Afinal, outros “desastres” ocorreram durante o ano: o chamado “brexit”, pelos ingleses, a recusa do acordo de paz com as Farcs, pelos colombianos, a morte de Fidel Castro, el comandante em chefe da Revolução cubana (o fim da ditadura comunista de Cuba?) etc.. E o Brasil? Não ficou imune. Dilma caiu e Temer subiu (o fim do mundo, para alguns!), a Lava-Jato (e a delação do fim do mundo da Odebrecht). Completando o desastre (também para alguns), as eleições municipais foram um verdadeiro furacão que engoliu os partidos de esquerda - PT à frente - restaurando com toda a força alguns partidos de centro-direita. E catapultou até personagens da direita radical. Foi o caso do nosso “Trump tupiniquim”, mais conhecido como Bolsonaro. No mesmo dia deu diversas entrevistas, saltitante e sorridente, confiante que o Brasil seguirá o exemplo americano: elegerá um direitista conservador para Presidente da República, de preferência, ele próprio... (Vade retro, asmodeu!) Antes de amaldiçoarmos os ingleses por terem preferido o brexit (saída da Inglaterra da zona do euro, visando a coibir o livre trânsito e o trabalho de imigrantes europeus no território da rainha), lembremos que boa parte deles sequer sabia o real significado da sua escolha. Muitos se arrependeram e quiseram voltar atrás, o que não foi possível visto que o voto já estava sacramentado. Além disso, antes de condenarmos todos os norte-americanos ao fogo do inferno pela escolha que fizeram, é bom não esquecermos um importante detalhe: Trump não ganhou por maioria no voto popular. Segundo cálculos do jornal The New York Times, Hillary Clinton o ultrapassou em cerca de 2 milhões de votos. Ou seja, o povo preferiu ela, mas pelas regras eleitorais americanas, ele conseguiu mais delegados no Colégio Eleitoral, que elege o presidente. Vale dizer, Hillary ganhou no voto popular, mas não levou... o jogo é no Colégio Eleitoral e Trump soube jogar, deu o xeque mate. Ganhou. Legitimamente. São as regras de lá. E aqui não tenho espaço para explicar em detalhes o complicado sistema eleitoral americano. Complicado para nós, pois para eles está tudo bem claro. Ao menos podemos nos consolar, sabendo que a maioria do
povo não comunga com as posições do presidente eleito – nem os americanos nem boa parte do resto do mundo! E ele tem alguma posição consolidada sobre alguma coisa? Muitos estudiosos duvidam disso ao analisarem a sua trajetória. Mas, vamos combinar: Trump já deu “um truco” nos estudiosos, nos analistas políticos, nos jornalistas, na grande mídia, nas pesquisas e em tantos quantos previam a vitória de Hillary. E o que tudo isso tem a ver com a causa das pessoas com deficiência? Tem tudo a ver! Afinal, não é novidade que alguns líderes políticos por vezes desprezaram as minorias – dentre elas, as pessoas com deficiência. Trump, porém, foi muito mais longe: debochou e ridicularizou a condição de pessoa com deficiência. Foi o que aconteceu quando imitou, jocosa e pejorativamente, um jornalista que tem deficiência física. Isso ocorreu durante um comício em Myrtle Beach, na Carolina do Sul, em 2015, quando ainda era pré-candidato. A vítima de tal atitude grotesca e ofensiva foi Serge Kovaleski. O rapaz – um famoso jornalista do The New York Times – tem os braços atrofiados e
limitação dos movimentos nos membros superiores do seu corpo em função de uma patologia conhecida por Artrogripose. Convenhamos que tal comportamento do candidato não é nada abonador para quem pretendia ser o homem mais poderoso do mundo... e agora é! Evidente que apenas o episódio relatado acima não é suficiente para prejulgar a conduta do futuro presidente americano em relação às minorias e aos cidadãos com deficiência. Contudo, por essas e outras atitudes tacanhas, preconceituosas e eugenistas do Sr. Trump, é bom que todos fiquemos de olho nele! Afinal, o mundo acabou... ao menos da forma como o conhecíamos até agora! Entramos no mundo da pós-verdade (termo que acaba de surgir nos meios intelectuais e que – assim como ocorre com termo pos-modernidade – deve ser um pouco difícil de explicar o significado para os não iniciados). Portanto, vamos para 2017 cientes de que estaremos em um novo mundo... para o bem ou para o mal! Meus sinceros votos de que prevaleça o bem. Não nos cansemos de lutar por essa causa... e venceremos. Sempre! D+
MISTO QUENTE por Cintia Alves
Facilidade é sinônimo de acessibilidade
Cada vez mais o uso da tecnologia se faz necessário para nos auxiliar nas mais simples atividades diárias. E para isso, startups brasileiras têm desenvolvido soluções inovadoras em diferentes áreas do ambiente urbano para otimizar ainda mais as relações entre a comunidade e os serviços públicos e privados. Durante o 8º Encontro Internacional de Tecnologia e Inovação para Pessoas com Deficiência – Smart Cities (Cidades Inteligentes), realizado no dia 11 de novembro, conhecemos novidades que tornam a vida de milhares pessoas com e sem deficiência mais acessível. Confira:
De olho na vaga
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Estacionar em uma das cidades mais populosas do país, como São Paulo, é quase uma missão impossível, ainda mais com a falta de respeito às vagas reservadas para pessoas com deficiência, idosos e até mesmo para gestantes. O aplicativo Parknet – desenvolvido de maneira colaborativa – divulga informações sobre vagas disponíveis para idosos e pessoas com deficiência. Inclusão e edição de vagas exclusivas, direcionamento por aplicativo de navegação e vagas em estabelecimentos privados, como shoppings, além da possibilidade de denúncia das vagas indisponíveis por mau uso dos motoristas, também são funções do app. Para Luciano Telesca Mota, fundador da startup Parknet, a chegada do aplicativo numa grande metrópole facilita o acesso à informação. “Por meio do aplicativo trazemos para o cidadão dados disponibilizados pelo MobiLab (Laboratório de Mobilidade Urbana) sobre a mobilidade na cidade, e que, muitas vezes, são de difícil localização nos sites governamentais”.
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Salvando vidas
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Já pensou em como uma pessoa surda ou com deficiência auditiva faz um chamado para o 190 em caso de emergência? A Nearbee pensou e, em parceria com a Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro (Seseg/RJ) e o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), lançou o mais recente aplicativo Emergência RJ, que oferece maior acessibilidade aos usuários cariocas com essa condição para atendimento da Polícia Militar, com o “190 digital”. De maneira simples, permite que os usuários tenham em mãos um serviço de segurança da cidade e utilizem o aplicativo para casos de emergência. O lançamento traz o mesmo conceito do app Nearbee, mas sem a ajuda dos “anjos”, como são conhecidos os amigos, familiares, usuários pré-cadastrados, socorristas voluntários e serviços profissionais disponíveis para informações necessárias no momento. “A ideia é buscar cada vez mais a conectividade e a ação colaborativa na comunidade, visando a empatia e também a fazer uso dos serviços disponíveis no sistema público”, afirma Raissa Garcia, assessora de imprensa da Nearbee. Os dois aplicativos estão disponíveis gratuitamente para Android e iOS.
fotos Gustavo Scatena
MISTO QUENTE QUE VENHA 2017!
Crianças e jovens das oficinas de arte, karatê e taekwondo, do Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural (IOK), posaram ao longo do ano ao lado de artistas como Karina Bacchi, Maria Julia Coutinho, Eva Wilma e Carlos Casagrande para o 4º Calendário Inclusivo do Instituto Olga Kos. Ao todo, 12 artistas se reuniram em prol da inclusão de pessoas com deficiência intelectual (como autismo e Down), e a renda obtida com as vendas será revertida para os projetos de artes e esportes do Instituto. “Sou muito fã do trabalho do Instituto. Minha filha tem mostrado uma melhora significativa no seu desempenho desde que começou as oficinas de artes, pois ela realmente gosta do que faz”, revela Gabriela Arantes, mãe de Laura Kummrow, de 8 anos, que posou ao lado de Claudia Leite. R$ 20,00. Compre pelo telefone: (11) 3081-9300 / www.institutoolgakos.org.br.
ENFIM, O LEGO QUE REPRESENTA! Acaba de chegar ao mercado brasileiro o set Diversão no Parque, da líder mundial em brinquedos de montar, que traz na coleção uma minifigura de cadeira de rodas, promovendo diversidade e inclusão social entre crianças com e sem deficiência. “A linha reforça um dos valores da LEGO que sempre destacamos: toda criança é capaz de construir o que quiser com os blocos da marca, que foram criados sem qualquer distinção”, comenta Vivian Marques, Head de Marketing da LEGO do Brasil. O lançamento se deve ao movimento #ToyLikeMe, com mais de 20 mil assinaturas no Change.org, criado com intuito de buscar empresas parceiras para criação de brinquedos que representassem pessoas com dificuldades de mobilidade. R$ 289,99. www.legobrasil.com.br
CRIATIVIDADE ILUSTRADA
A coleção Inclusão por dentro, exclusivo por fora, com moleskines e bloquinhos de anotações, é fruto do trabalho de inclusão social realizado com jovens com deficiência intelectual da ONG Nossa Cooperate, em parceria com a marca Você Q Faz. Com o desenvolvimento de habilidades artísticas e a arrecadação de renda para a ONG, os itens de papelaria foram confeccionados com as ilustrações super criativas dos jovens e trazem canetinhas para colorir. “Existe uma energia bastante positiva que envolve os produtos, pois foram criados pensando em uma cadeia de boas ações e intenções”, diz o CEO da marca, Rafael Ruschel. Você Q Faz, a partir de R$ 25, na loja do Shopping Eldorado. www.voceqfaz.com.br
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MISTO FRIO A Revista D+ foi e cobriu texto e fotos Brenda Cruz
NO TOM DAS
INOVAÇÕES P
O professor Antônio de Padua Lima Filho ao lado do modelo de banheiro acessível
Ricardo Taoni Xavier segura a mão biônica que criou no seu projeto de mestrado
elo terceiro ano consecutivo o TOM São Paulo trouxe, entre os dias 11 e 13 de novembro, protótipos de soluções inovadoras que podem no futuro auxiliar pessoas com deficiências físicas, visuais, auditivas ou intelectuais a terem uma melhor qualidade de vida. A iniciativa é inspirada no projeto TOM Israel, realizado desde 2014 originalmente na cidade de Nazaré. A cidade de São Paulo foi a primeira no Brasil a realizar o evento TOM, e a segunda cidade no mundo fora do local de origem. Promovido pela Secretaria Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência, o TOM recebeu estudantes, professores e pesquisadores de colégios, escolas técnicas, faculdades, universidades e centros de pesquisa em um espaço onde puderam demonstrar suas ideias e projetos de tecnologia assistiva. O professor de engenharia mecânica da Unesp de Ilha Solteira, Antônio de Padua Lima Filho, 55 anos, apresentou na ocasião um banheiro acessível para pessoas amputadas dos membros superiores, idosos e pessoas obesas. Segundo o professor, o modelo levou um mês para ser desenvolvido e tem como principal mecanismo três pedais que auxiliam na higiene do usuário: pedal com água, um com água e sabão e o terceiro com ar. O projeto ficará em testes no Hospital Regional de Ilha Solteira. Ricardo Taoni Xavier, 24 anos, doutorando em engenharia elétrica também da Unesp de Ilha Solteira, levou uma mão biônica, projeto do seu mestrado. “Uma mão biônica na Europa pode custar até R$ 600.000, essa tem custo total de apenas R$ 600”, conta Ricardo. “O fato é que não há viabilidade para seguir com o produto para que ele se torne comercial: as empresas não se interessam muito por isso. O projeto está aí, pronto, só precisa alguém chegar e dizer ‘vamos lá!’”. Ricardo conta que as pessoas que já usaram a mão biônica em testes vivenciaram um misto de emoções e reações. “É fantástico ver as pessoas conseguindo mexer a mão, muitas questionam se são elas mesmas que estão movendo, é fascinante!”. Este ano, além dos equipamentos, também foi aberto um espaço para a exposição de soluções digitais acessíveis, buscando demonstrar a importância da inovação nesse setor para aprimorar a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade e em seu acesso a todos os serviços e produtos existentes.
Em meio a um grupo seleto de empresários e pessoas da área da saúde, foi promovido pela Coloplast no hotel Renaissence, em São Paulo, o workshop Cuidados em Saúde Urológica para Lesados Medulares, com apoio da embaixada da Dinamarca. A empresa Coloplast fabrica o Cateter SpeediCath, que oferece maior segurança e praticidade ao paciente. Produzido em poliuretano (material de maior rigidez) e livre de PVC, material de que são compostos os cateteres convencionais, essa tecnologia traz ainda um revestimento de polímero com alta afinidade pela água, que forma uma
superfície deslizante, facilitando a sua introdução pelo canal da uretra. A enfermeira Estomaterapeuta Gisela de Assis, mestre em Tecnologia e Saúde pela PUC-PR, palestrou a respeito da introdução ao cateterismo intermitente e cateter hidrofílico. Para ela, é nítida a melhora da qualidade de vida de pacientes lesados medulares após o uso do cateter hidrofílico. “Há uma mudança na vida dessas pessoas. Muitas vezes a preocupação delas é voltada à incontinência urinária, e fica de lado a questão de uma possível perda renal”, explicou Gisela. www.coloplast.com.br
fotos divulgação
Da Dinamarca para o Brasil
PSIQUE
Relações familiares: o nascimento e desenvolvimento de uma criança com deficiência por João Roberto de Souza-Silva*
I
ndependentemente do tipo ou estrutura familiar, a família é um lugar de vinculações afetivas e culturais, que se configuram principalmente pelas relações interpessoais entre seus membros, sejam positivas, sejam negativas. O seu funcionamento regular e saudável permite estabilidade e bem-estar de todos que a compõem, de modo que, mesmo em momentos de crise e desequilíbrio, possa existir unidade para que esse grupo se adapte a uma nova situação, como o nascimento de uma criança com deficiência. O nascimento de qualquer criança sempre mobiliza toda a família, pois é sempre um momento cheio de expectativas, carregado de significados e repercussões psicológicas para todos os envolvidos, fato esse que demanda naturalmente determinado rearranjo familiar. Ao nascer uma criança com deficiência, a família enfrenta a perda do filho idealizado para receber o filho real, motivo de incertezas, angústias e dúvidas. A família será um ponto fundamental, responsável pelo desenvolvimento social, emocional e cognitivo da criança com ou sem deficiência. Isso porque é a família quem propicia as primeiras e mais essenciais estimulações para o desenvolvimento integral desse novo ser. Uma função da família é proteger seus membros em um ambiente de acolhimento, favorecer sua adaptação à cultura e sociedade à qual pertencem, elaborando regras e auxiliando-os no processo de socialização e instrução.
Isso dá suporte para que as crianças sejam pessoas emocionalmente equilibradas, tendo ou não uma condição de deficiência. A criança com deficiência tem necessidades que precisam ser sanadas, e tais necessidades muitas vezes influenciam a dinâmica da rotina familiar, das relações familiares, a estrutura física e material do ambiente. É fundamental que a família esteja envolvida no processo de educação, habilitação e reabilitação dessa criança. Outro aspecto importante é ter consciência de que a criança com deficiência necessita de observação e orientações constantes. Além disso, é preciso colocar limites, chamar a atenção, preocupar-se com seu futuro como com uma criança sem deficiência. O reconhecimento da família de que seu filho tem uma deficiência descortina uma jornada cheia de desafios e angústias, mas que também possibilita recompensas. O processo de ajustes e adaptação a essa nova situação representa para a família uma oportunidade de crescimento, amadurecimento e fortalecimento dos vínculos, mas também muitos outros vínculos familiares podem se romper. Não existe um caminho certo para cada família, sendo necessário que, entre cada ensaio e erro, ela vá encontrando o próprio jeito de acordo com seu modo de vida, sem nunca deixar de ser um ambiente de segurança, pertencimento e cuidado para a criança com deficiência e todos os outros membros. D+
*Prof. Ms. João Roberto de Souza-Silva, Psicólogo, Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento, Doutorando em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como pesquisador, professor universitário, psicólogo e orientador educacional.
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POR DENTRO DAS GRANDES
Valentine Sollitto, auxiliar administrativa
Maria Lucia Moreno Bortolucci, mensageira
Priscilla Cerullo Hahimoto, analista de projetos
Rita Grotto da Fonseca, gerente do SAC
Uma chance que faz a diferença Caroline Piazzalunga Cambraia de Souza, advogada
Luciana Munaro, gerente de Recursos Humanos
Rogéria Leoni Cruz, gerente do departamento jurídico
Mariana Regina Fischer Laurelli, enfermeira
Filipe Gamst, auxiliar administrativo
Thamaris Ribeiro, analista de Recursos Humanos Edileusa Dias Moura, coordenadora da área de enfermagem
Hospital Albert Einstein, no bairro do Morumbi, em São Paulo
Com mais de 60 anos no Brasil, o Hospital Albert Einstein preocupa-se em realizar uma gestão que proporcione as mesmas oportunidades aos seus funcionários com e sem deficiência texto Brenda Cruz entrevistas Taís Lambert fotos Marcos Florence
Há mais de 60 anos no Brasil, o hospital leva seus cuidados para além do conhecido e prestigiado atendimento médico aos seus pacientes, mantendo uma gestão em que a diversidade e a inclusão de pessoas com deficiência são tratadas com respeito e atenção. O Hospital Albert Einstein atua com afinco sobre três grupos específicos: mulheres, jovens aprendizes e pessoas com deficiência. Maria Lucia perdeu 75% da audição ao longo da vida, ela usa aparelho auditivo. Foi contratada após 15 dias da finalização do curso de auxiliar administrativo e já trabalha há três anos no hospital como mensageira – sua função é entregar as medicações nos postos do setor de oncologia. “Estou aqui trabalhando, produzindo e feliz. E isso não tem preço”, diz emocionada. A auxiliar administrativa Valentine Sollitto, 21 anos, está há oito meses no Hospital Albert Einstein e tem
síndrome de Down. Trabalha quatro horas por dia no setor de certificados. Desenvolta e falante, Val, como gosta de ser chamada, se diz muito feliz em conseguir seu primeiro emprego: “Meu sonho era trabalhar, interagir com mais pessoas. Eu adoro isso!”, conta animada. Priscilla Cerullo Hahimoto, analista de projetos da área Novos Programas de Ensino e gestora de Valentine, explica que fica sob a responsabilidade da jovem e de outra estagiária – sua parceira de trabalho – fazer listas de presença, tabular as avaliações de reação que acontecem nos treinamentos, além de toda logística que inclui separar material e crachás. “Passamos um check list do que ela precisa fazer no dia. É muito gratificante trabalhar com uma profissional desse nível, ela é bem engajada e proativa, gosta de aprender coisas novas e a cada mês introduzimos algo diferente para ela”, conta Priscilla. Revista D+ número 12
POR DENTRO DAS GRANDES
Maria Lucia Moreno Bortolucci é mensageira, tem deficiência auditiva, sua função é entregar as medicações nos postos de enfermagem
É muito gratificante trabalhar com uma profissional desse nível, ela é bem engajada e proativa Priscilla Cerullo Hahimoto, Analista de projetos, sobre Valentine Sollitto
FRUTO DA OPORTUNIDADE Com perda auditiva bilateral – perda total do lado esquerdo e 20% do direito por sequelas de uma cirurgia para a retirada de um tumor, que também trouxe a paralisia em parte do rosto – Filipe Gamst está há três anos e seis meses trabalhando no Einsten. “Eu fiz uma entrevista e falei que não tinha terminado o ensino médio. Foi quando me indicaram o Centro de Aprendizagem Empresarial Piaget (Caep), programa do Hospital Albert Einstein que ajuda a pessoa com deficiência a completar o ensino médio”, conta Filipe, que saiu da escola por ocorrências relacionadas a sua deficiência. “Eu fui contratado, fiz o supletivo e hoje trabalho no SAC como técnico administrativo. Cuido da parte burocrática, como relatórios médicos e avaliações de atendimentos e passo para as meninas darem continuidade à solicitação do cliente”, explica. Rita Grotto da Fonseca, gerente do SAC e coordenadora de Filipe, não poupa elogios: “Os pacientes podem chegar bravos, estressados com a própria condição. Filipe é educadíssimo, paciente e objetivo. Ele é um case para nós. No começo, teve alguns problemas, mas seguiu as orientações, evoluiu e hoje ele é merecidamente reconhecido”, conta ela. A equipe do Hospital Albert Einstein é composta por quase 13 mil pessoas, das quais 320 têm alguma deficiência. A predominância é de pessoas com deficiência física seguida por auditiva, intelectual e os reabilitados. O Einstein já está à frente da questão da inclusão há muitos anos, segundo Thamaris Ribeiro, analista de Recursos Humanos, que afirma ter funcionários com deficiência completando mais de 20 anos de casa. “Isso só foi possível por causa de uma política de inserção adequada, cujo planejamento para receber essa demanda foi fundamental para desenvolver os projetos e se consolidar como é hoje o programa Gente Eficiente”.
O Programa Einstein Gente Eficiente está há 14 anos atendendo às necessidades educacionais e profissionais da pessoa com deficiência. “A capacitação foi direcionada às áreas administrativa, de farmácia e de cozinha. Ao longo dos anos essa cultura de capacitação foi se aprimorando. O ensino é uma das frentes do Einstein: temos uma escola e uma faculdade”, conta Luciana Munaro, gerente de Recursos Humanos. Parte do programa, o Comitê de Acessibilidade é composto por funcionários de diversas áreas da instituição e conta com reuniões mensais para tratar sobre a acessibilidade arquitetônica, utilizando como base normas internacionais como ABNT
Diferencial com bons resultados O Hospital Albert Einstein apoia anualmente a formação de 25 alunos com deficiência no Ensino Médio, através do Centro de Aprendizagem Empresarial Piaget (Caep). Os participantes do programa têm a oportunidade de realizar estágios remunerados na instituição e experimentar, na prática, o dia a dia do trabalho. O programa também envolve atividades de formação complementar. Além disso, a empresa traz em sua agenda, mensalmente, o Comitê Gente Eficiente, para seus funcionários com deficiência. Trata-se de um encontro para discussão que avalia estratégias e alternativas relacionadas à garantia da acessibilidade e necessidades específicas de desenvolvimento profissional e integração com as equipes. Para reforçar a cultura interna de inclusão, o Einstein valoriza os gestores de equipes que se destacam na integração de aprendizes e profissionais com deficiência. Um total de 156 profissionais já receberam reconhecimentos do programa Liderança.
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EFICIÊNCIA, PROFISSIONALISMO E SENSIBILIZAÇÃO “As pessoas costumam brincar dizendo que querem começar sua vida profissional aqui e terminar aqui. E é isso mesmo! Quem entra não quer sair”, conta Mariana Regina Fischer Laurelli, 29 anos, enfermeira assistencial que trabalha atualmente no setor de pacientes crônicos e foi contratada pelo hospital como estagiária, em 2008. “Minha deficiência é congênita. Quando a minha mãe estava grávida, meu braço ficou preso na estrutura do útero e, quando se soltou, não havia
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Física: 53% Visual: 20% Auditiva: 17% Intelectual: 5% Reabilitado: 4% Múltipla: 1%
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todas voltadas à área da saúde. “Hoje o nosso grande desafio é encontrar profissionais com deficiência que tenham interesse e formação para trabalhar na área da saúde”, explica Thamaris.
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2015 e o desenho universal. Tornar as impressoras acessíveis a pessoas em cadeiras de roda e também às de baixa estatura é uma das ações práticas desenvolvidas pelo Comitê. O curso de capacitação que despertou maior interesse das pessoas com deficiência foi o Curso de Rotinas Administrativas. “Esse curso capacita a pessoa com deficiência também para outras empresas. Foi aberto ao público: começamos a capacitar não somente aqueles que íamos contratar, mas muitas pessoas que foram contratadas em outros hospitais, pois temos um ‘book’ de currículos que é distribuído para nossa rede de contatos”, revela Luciana. O Hospital Albert Einstein também oferece cursos internamente para que os funcionários se aprimorem e tenham a oportunidade de crescerem na empresa. O hospital também oferece anualmente bolsas de estudos para funcionários,
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Os profissionais do Einstein
Administrativo: 76% Assistencial: 13% Apoio assistencial: 11%
Valentine Sollitto tem síndrome de Down e trabalha como auxiliar administrativa no Einstein, seu primeiro emprego
Filipe Gamst, auxiliar administrativo, tem deficiência auditiva, concluiu o Ensino Médio pelo Centro de Aprendizagem Empresarial Piaget, apoiado pelo hospital
POR DENTRO DAS GRANDES
Hoje o nosso grande desafio é encontrar profissionais com deficiência que tenham interesse e formação para trabalhar na área da saúde Thamaris Ribeiro, analista de Recursos Humanos
Mariana Regina Fischer Laurelli trabalha como enfermeira assistencial e teve má formação na mão direita. “Faço todos os procedimentos com a mão esquerda”
se desenvolvido como deveria”, explica. “Eu escrevo com a mão direita, mas faço todos os procedimentos de enfermagem com a esquerda. Até eu desenvolver essa habilidade foi um pouco desafiador, mas consigo adaptar bem o uso da mão”, aponta Mariana. Com 28 anos de carreira no Einstein, Edileusa Dias Moura, 56 anos, é coordenadora da área de enfermagem e chefe de Mariana. Declara que todos os funcionários com deficiência com quem teve a oportunidade de trabalhar foram muito comprometidos e valorizavam o trabalho. “Veja a minha enfermeira: ela é um exemplo para os técnicos dela”. O hospital oferece um treinamento chamado Trabalhando com pessoas com deficiência, que é basicamente uma sensibilização dos funcionários sem deficiência. “Aborda questões referentes à discriminação, sobre as deficiências, o que nós do RH fazemos dentro do hospital e o que é o programa Gente Eficiente”, explica Thamaris. “O objetivo é ‘dar uns toques’ de como lidar com a pessoa com deficiência e, principalmente, como auxiliá-la”, conta.
Caroline Piazzalunga Cambraia de Souza, advogada: “Posso enfrentar as dificuldades e vencê-las”
O treinamento conta com profissionais assistenciais da instituição, como terapeuta ocupacional, psicóloga e treinador e, por meio de vídeos, quiz e demonstrações, desmistifica alguns conceitos a respeito da pessoa com deficiência. “Aqui as pessoas não me tratam com dó. Eu é que trouxe um pouco desse sentimento comigo, certa fragilidade. Mas foi bom eu encontrar um cenário diferente do que eu imaginava para perceber que eu não sou diferente de ninguém, que eu posso enfrentar as mesmas dificuldades que todo mundo e vencê-las”, revela Caroline Piazzalunga Cambraia de Souza, 29 anos, advogada e cadeirante devido a uma má formação na coluna vertebral, a meningomielocele. Rogéria Leoni Cruz, gerente do departamento jurídico e gestora direta de Carol, diz exigir dela tanto quanto faz com os outros funcionários. “Ela é uma advogada, não é poupada em nada. É respeitada dentro das limitações que acha que tem, assim como qualquer outra pessoa. Ela é uma colega de trabalho, como outros, realmente não fazemos distinção”, declara. E ainda ressalta: “A inclusão é trazer o profissional e fazê-lo sentir-se útil da mesma forma que qualquer outro, sem ser preterido ou protegido. O que eles querem é a aceitabilidade”. Um tratamento justo, afinal. D+
EXCLUSIVO Nos morros do Rio de Janeiro
O mapa da exclusĂŁo
Pesquisa inédita no Rio de Janeiro mapeia comunidades carentes em busca da pessoa com deficiência. Com exclusividade, a Revista D+ subiu os morros cariocas para entender esta precária realidade texto Taís Lambert fotos e arte Manoel Araújo, do Rio de Janeiro
O
lha, moça, eu moro ao lado da comunidade do Turano e ninguém dormiu, foi tiroteio a noite inteira. O pessoal do Complexo do São Carlos invadiu o morro. Estão falando de uns 30 e poucos mortos. Favela pacificada coisa nenhuma”. Foi assim que o motorista do Uber respondeu à minha pergunta sobre como andava o clima ali na cidade do Rio de Janeiro, lançando-me um olhar pesaroso pelo retrovisor. Mês e meio depois, agora há pouco, no dia 19 de novembro, quatro policiais morreram na queda de um helicóptero da Polícia Militar durante operação para encontrar traficantes na Cidade de Deus, na Zona Oeste da capital. Até o fechamento desta edição, não se podia afirmar se a aeronave havia sofrido alguma pane ou se havia sido abatida, tal como já ocorreu há alguns anos no Morro dos Macacos, na Zona Norte. É verdade que as notícias estão sujeitas a ganhar contornos mais sanguinários do que realmente têm. Mas é certo também que, embora as palavras se antagonizem profundamente, beleza e violência traduzem essa linda cidade. Diante do rebuliço do tráfico, de suas facções e da corrupção que alinhava a cena política, há uma parcela da população entregue ao nada: as pessoas com deficiência moradoras das comunidades cariocas. O negócio social da agência de publicidade NBS, a NBS Rio+Rio, e o Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (CIEDS), em parceria com o Instituto Pereira Passos (IPP), lançaram-se em pesquisa inédita no território: mapear e compreender, através de dados, quem são e como se inserem na sociedade e no mercado de trabalho os moradores com deficiência das comunidades de baixa renda. “O projeto nasceu aqui na NBS por um motivo específico: sempre tivemos muita dificuldade para encontrar e contratar pessoas com deficiência para trabalhar na agência e, assim, respeitar a Lei de Cotas. Então, pensamos em contratar pessoas com deficiência para rodarem as comunidades e procurarem saber onde e como estavam os moradores com deficiência. Além de serem contratados, fariam um trabalho importante, cujo resultado seria usado no futuro em benefício das próprias comunidades”, explica Camilo Coelho, coordenador da NBS Rio+Rio. “Não encontramos nada sobre pessoas com deficiência nos morros, essa foi mais uma razão para continuar com o projeto. Surgiu assim, de uma necessidade que virou oportunidade”, completa. A pesquisa foi desenvolvida nas seguintes comunidade pacificadas ou em processo de pacificação: Complexo São Carlos, Providência, Borel, Casa Branca, Santa Marta, Salgueiro, Turano, Batan, Vila Kennedy e Chácara do Céu. “Tínhamos inquietações e interesse de nos aprofundar em como a cidade está organizada para as pessoas e o que era preciso fazer em termos de inclusão das pessoas com deficiência. A NBS tem inserção no Morro Santa Marta e nós, do CIEDS, temos inserção em várias outras comunidades. Então unimos essas experiências para ajudar”, conta Aldeli Carmo, gerente de inclusão, saúde e bem-estar do CIEDS. Por ser realizado por pessoas com deficiência e em prol de mapear também pessoas com deficiência, o projeto recebeu o nome Mapa de Nós.
Revista D+ número 12
EXCLUSIVO
Danilo, Marcelo e Bruno: agentes de pesquisa do projeto, eles mapearam as pessoas com deficiência nos morros cariocas durante um ano
Desde o começo, a intenção era esta: pesquisar, entender e usar os resultados para tomar alguma atitude Camilo Coelho, coordenador da NBS Rio+Rio
A CAPACIDADE QUE SOBRA, A OPORTUNIDADE QUE FALTA O Mapa de Nós contou com nove agentes de pesquisa com diferentes deficiências, jovens, em sua maioria, que visitaram 12.456 domicílios e entrevistaram 945 pessoas com deficiência nos morros durante um ano. O resultado desse trabalho foi compartilhado em seminário na Associação Comercial do Rio de Janeiro, na Candelária, no último dia 22 de novembro. Bruno Pereira Henrique, 28 anos, e Marcelo Castilho Moreira, 21 anos, são agentes de pesquisa do Mapa de Nós e ambos têm deficiência visual no olho direito. Tímidos, aceitaram dar entrevista, assim como outros personagens, numa praça localizada próximo à entrada do Complexo São Carlos, onde moram. “Nós tivemos capacitação com vários instrutores durante um mês e meio, para aprendermos a entrevistar as pessoas. Nosso trabalho era bater de porta em porta, perguntar se havia pessoa com deficiência na casa e mapear através das entrevistas”, explica Bruno Pereira Henrique. “Uma ficha de 32 perguntas, que passou para 36, trazia questões abertas e fechadas sobre acessibilidade, preferências, lazer, trabalho”, conta Marcelo Castilho Moreira. O que a pesquisa mostrou é que as pessoas com deficiência estão restritas ao
espaço de suas casas: até a locomoção pela comunidade é um verdadeiro sacrifício. Um dos moradores mapeados pelo projeto é Edmilson Rodrigues Pereira, 53 anos, querido por dar aulas de futebol para meninos e meninas da comunidade. Ed, como gosta de ser chamado, tem artrose no quadril e nos dois joelhos desde muito jovem. Depois de uma cirurgia no fêmur, teve a perna encurtada e usa muletas há quase dez anos. “Dou aula de futebol para as crianças há 33 anos, vi todos nascerem e crescerem. Tem um campo de terra, que é o único espaço de lazer. Ninguém me ajuda: compro bola e coletes com meu dinheiro”, revela. Para Edmilson ir para o “asfalto”, como costumam chamar a cidade fora dos morros, ele precisa vencer muita escada. “De onde eu moro, para pegar condução, a Kombi, preciso subir 171 degraus. Imagine para criança cadeirante, uma menina de 7 anos da comunidade, que precisa ir para o colégio? Tira da cadeira, carrega, põe na cadeira, tira, bota na Kombi... é muito difícil”, conta. Danilo da Silva Guedis Servo, 23 anos, tem artrogripose e também foi contratado pelo projeto. “Eu comecei as pesquisas no Borel, depois fui para a Vila Kennedy, para o Batan e o Turano”, diz ele. “Das comunidades onde estive, a mais difícil foi a do Borel, por causa do tráfico. Eles ficam muito em cima, seguem, dá mais receio ainda de
Edmílson, professor de futebol, em frente ao campinho em que dá aulas há 33 anos, no Complexo São Carlos
Fábio Felix de Santos: preconceito e desemprego
Camilo Coelho, coordenador da NBS Rio+Rio
fazer o trabalho. No começo eu pedia muito a ajuda de agentes de saúde da comunidade, porque são todos moradores. Com o tempo, eles viram que o trabalho era inofensivo”. O perfil predominante entre os entrevistados é o de jovens. Um ponto que chamou atenção dos pesquisadores é que, embora 76% dos entrevistados não estejam trabalhando, muitos têm condições para isso. A maioria apresenta baixa escolaridade e consequente pouca qualificação. “Desde o começo, a intenção era esta: pesquisar, entender e usar os resultados para tomar alguma atitude. Queremos pegar esse mapeamento, montar um banco com as pessoas e suas qualidades e oferecer para as empresas, que têm dificuldades para encontrar pessoas com deficiência. É preciso capacitar, fazer a oportunidade chegar. Existe a força de trabalho, mas não a oportunidade”, explica Camilo Coelho, da NBS Rio+Rio. Fábio Felix de Santos, 19 anos, é amputado do pé esquerdo devido ao atropelamento por um ônibus, há cinco anos. “Andava de muleta, mas depois que quebrou, passei a andar com a perna no chão mesmo, o que doía e machucava muito. Consegui colocar a prótese só neste ano”, explicou. Ele conta que já deixou currículo em muitos lugares, mas nunca foi chamado. Aliada à deficiência física, está a questão do gênero:
“Sempre ouvi: ‘Lá vem o aleijado’. Depois que coloquei a prótese, mudaram para ‘perna de boneca’. Sofro por causa da sexualidade e da deficiência”, desabafa, e finaliza: “Deviam parar com o preconceito porque ninguém sabe o que virá: hoje você é desse jeito, mas e amanhã? Nesses tiroteios, você nem sabe se volta para casa e como volta. Quero trabalhar, conquistar as coisas com meu suor, sem depender de ninguém”. Maria José Santiago, 43 anos, é historiadora nascida em Manaus e supervisora de campo no Mapa de Nós. Trabalha em comunidades desde 2008 e acompanhou os agentes de pesquisa nos territórios, fazendo articulações e orientando o trabalho. “Um dos entraves foi a questão da violência nas comunidades e também o receio de algumas pessoas com deficiência ao responder ao questionário. No entanto, além de tudo, o Mapa de Nós levou informação a essa parcela da população, que mal sabia sobre seus direitos básicos”, afirma. — “Será que vão deixar a gente subir?” — “Eu subiria. Você subiria?” — “Estou com medo, mas iria com medo mesmo”
De onde eu moro, para pegar a Kombi, preciso subir 171 degraus. Imagine isso para uma criança cadeirante que precisa ir para o colégio todos os dias Edmílson Rodrigues Pereira, do Complexo São Carlos, usa muletas
O diálogo acima aconteceu entre o diretor de arte da revista e eu. As entrevistas acabaram e queríamos fotografar o campo de terra que Edmilson usa para ensinar futebol às crianças.
Revista D+ número 12
EXCLUSIVO
Leidyane Santana Lima foi equivocadamente diagnosticada com caxumba. Isso lhe custou a mão esquerda e os dedos dos pés, mas não a coragem e esperança
Supervisora de campo, Maria José Santiago trabalha em morros desde 2008: “Um dos entraves foi a violência”
12.456
domicílios visitados
A deficiência nos morros Dos entrevistados
76% não estão
trabalhando
Apresentam
47% deficiência congênita
Fonte: Mapa de Nós
945
pessoas entrevistadas
Têm deficiência adquirida.
34% Destes, 25% por acidentes ou violência urbana
Não souberam
19% responder a origem das limitações
Apresentam algum
46% tipo de deficiência física ou motora
Marcia Bispo dos Santos: agente de pesquisa do Mapa de Nós, vive no morro do Turano há 27 anos
O Complexo São Carlos é formado por várias comunidades, e como foi dito no início do texto, haviam invadido o Morro do Turano alguns dias antes. “O clima está pesado porque não sabemos o que pode acontecer, nem quando”, adiantou Kalina Lígia Cabral Honório, gestora de projeto no CIEDS. Responsável pelo planejamento das ações, seleção e treinamento da equipe, Kalina articulou, refletiu e arriscou. “Vamos subir”. Do início da Rua São Carlos, a Kombi apinhou 11 adultos e três crianças. São R$ 3 para subir, R$ 1 para descer. Subiu, subiu. Atravessamos uma viela e chegamos no alto de onde se via o campinho. Fizemos as fotos sem mostrar nada do que “não pode mostrar”. Seguimos as orientações dos agentes de pesquisa moradores do morro. Os sinais vêm discretos e um único olhar dos telhados, das frestas ou sabe-se lá de onde, define: guarde a câmera porque aqui não pode. INVISIBILIDADE DOLORIDA Marcia Bispo dos Santos, 47 anos, acidentou-se cortando o braço ao limpar o vidro da janela. Passou por uma cirurgia para alongamento do nervo e ligamento do tendão, mas este último, não fizeram, comprometendo a mobilidade do braço. “Eu era auxiliar técnica de enfermagem. O acidente aconteceu há 10 anos, e em todo esse tempo, a primeira
Pâmela Cristina Crisóstemo Bernardo, de 28 anos, e sua gatinha na porta de casa: durante toda a sua vida, nunca houve nenhum projeto de inclusão na comunidade Chácara do Céu, onde vive
chance de trabalho foi como agente de pesquisa no Mapa de Nós”, conta Marcia. Baiana de Salvador, vive no Turano há 27 anos. Liderança local, presidiu a Associação de Moradores por 12 anos e conta como foi mapear as pessoas com deficiência no morro: “Tinhamos uma certa dificuldade porque a comunidade é muito grande e não conheço todo mundo. Há sete entradas aqui no Turano: esta é a Rodo, tem a Sumaré, 117, Raia, Matinha, Liberdade e Chacrinha”, enumera, esclarecendo a complexidade do local. Marcia se queixa da ausência de projetos de cultura, esporte e de educação no morro. “Está tudo muito parado, não há nada acontecendo para as pessoas. Imagine, então, para as pessoas com deficiência. Levamos muitas informações que desconheciam, orientamos o máximo que pudemos. Mas não há acessibilidade, nem transporte, nem nada”. O aviso foi uma dor de garganta e febre. Como o Turano estava passando por um surto
de caxumba, o médico diagnosticou de prontidão: caxumba. Não era. Leidyane Santana Lima foi levada ao hospital com pressão baixíssima e hemorragia interna. A bactéria, que até hoje não identificaram, necrosou sua mão esquerda e os dedos dos pés. Ela passou pela amputação sem saber. “Fiquei quase um mês entubada. Eu não sabia, estava inconsciente. Quando voltei, fiquei em choque, muito surpresa. Pensava que nunca mais andaria”, conta a jovem de 15 anos, que fazia balé e teatro. Leidy é uma das personagens mapeadas por Marcia Bispo dos Santos. Delicada e sorridente, preferiu descer o Turano acompanhada do pai para conversar com a gente no “asfalto”. “No começo do ano eu ainda não conseguia andar com firmeza, mas agora estou bem mais confiante. Meus pais, meus padrinhos e meus verdadeiros amigos me ajudam muito”, disse, com gratidão. Leidyane era canhota. Ao perder a mão esquerda, aprendeu a escrever com a direita.
Nunca vi nenhuma atriz trabalhando na televisão com a mão amputada, com os dedos dos pés amputados. Só vejo atrizes perfeitas. Mas parece que o medo fortalece a gente. Não vou desistir, não Leidyane Santana Lima, do Morro do Turano
Revista D+ número 12
EXCLUSIVO
Sebastião Freitas Bernardo, tio e cuidador da Pâmela: “Tudo sempre muito difícil e sem recursos”
Tem vontade de fazer faculdade de artes cênicas, mas tem medo. “Nunca vi nenhuma atriz trabalhando na televisão com a mão amputada, com os dedos dos pés amputados. Só vejo atrizes perfeitas. Mas parece que o medo fortalece a gente. Não vou desistir, não”. Na opinião da supervisora de campo Maria José Santiago, a principal barreira a ser vencida para que a pessoa com deficiência ganhe o mercado de trabalho é o preconceito. “Temos que dialogar e sensibilizar as empresas e a sociedade”. A gestora do projeto, Kalina Honório, concorda: “Além disso, precisamos de maior investimento nos espaços para que todos tenham, de fato, acesso, meios e recursos para mostrarem sua capacidade laboral”. A comunidade Chácara do Céu tem um nome muito honesto. Subimos por muito tempo por terreno extremamente íngreme e curvas acentuadíssimas, numa daquelas Kombis que nos impelem a... orar. Nossa última parada era
Sempre nos preocupamos em educá-la para que ela desenvolvesse um mínimo de independência. Aqui todos se ajudam, é um morador pelo outro Sebastião Freitas Bernardo, da Chácara do Céu
a casa da Pâmela Cristina Crisóstemo Bernardo, de 28 anos, com síndrome de Down. Enquanto Maria das Dores, a mãe de Pâmela, trabalha, seu irmão, Sebastião Freitas Bernardo, 43 anos, cuida da casa e da sobrinha. “Quando ela nasceu, o pai foi embora. Ouvimos de tudo: que devíamos abandonar a criança, que ela morreria, que não havia condições de criá-la. Foi muito preconceito. Claro que não fizemos nada disso, e hoje ela está aqui, com a gente, 28 anos depois”, conta Sebastião. A Chácara do Céu era toda de terra batida: “Quando chovia, era tanta lama ladeira abaixo e a gente carregando a Pâmela nas costas ou em carrinho de mão para levá-la para a escola. Sempre tudo muito difícil e sem recursos”, desabafa o tio. Descoberta no trabalho realizado pelo Mapa de Nós, Pâmela irrompe na sala para me mostrar seus cadernos. A fala é bastante comprometida, mas ela entende bem e conversa. Mostra seus afazeres escolares, as unhas pintadas de vermelho e arranca um sorriso de todos ao dizer que nossa revista é “chique”. Sebastião diz que nunca houve um único projeto na comunidade em toda a vida da Pâmela. “Sempre nos preocupamos em educá-la para que ela desenvolvesse um mínimo de independência, tanto quanto fosse possível. Aqui todos se ajudam, é um morador pelo outro”, afirma Sebastião. Camilo Coelho, da NBS Rio+Rio, diz que os resultados da pesquisa, uma vez compilados, se transformarão numa planilha de dados muito relevante para todos. “Políticas Públicas fazem parte dos objetivos. Poderemos mostrar esse levantamento à prefeitura a fim de que ela se mexa. Queríamos algo palpável para mostrar o problema. Hoje podemos dizer: ‘Essa menina aqui é cadeirante lá no Morro Santa Marta e perdeu o ano letivo porque não tem transporte. Como se resolve isso, prefeitura?’ Vamos pressionar por mudanças”. Sebastião, que com ou sem ações do poder público, precisa sobreviver e fazer sobreviver a sobrinha, deixa seu recado lá de cima: “O asfalto não sabe lidar com a diferença. Mas agora sabem que a Pâmela existe, que nós existimos”. D+ Para saber mais sobre o estudo, acesse www.cieds.org.br
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PERFIL
Nick Vujicic
foto divulgação
Nick com o filho: “O fato de não ter braços e nem pernas me deu a capacidade de ser grato pelo que tenho”
Qual é o seu valor? Engana-se quem o define somente com a palavra “superação”, estampada em seus olhos ao sorrir no fim de uma palestra. Nick Vujicic, 34 anos, com tetra-amelia congênita – sem os dois braços e as duas pernas –, autor de sete livros, dentre eles O Indomável é o mais vendido, é palestrante internacional e vai muito além dos rótulos que ganhou. Depois de difundir a sua história em mais de 54 países, retornará ao Brasil após três anos para falar a milhares de pessoas, no dia 17 de dezembro, no evento Experiência de Sucesso (ES), no Estádio do Morumbi, em São Paulo e em vários outros estados texto Cintia Alves
A
os 19 anos, eu estava diante de 300 adolescentes. Nervoso. Sem saber o que dizer. Minhas mãos suavam e meus joelhos tremiam”, revela Nick, em meio a risos, em entrevista concedida à Revista D+. Mal sabia ele que, mesmo após dois anos da criação de sua ONG, Life Without Limbs, esse encontro com os adolescentes o tornaria um palestrante internacional influenciador. Inexperiente, com apenas sete minutos de conversação, percebeu logo na metade de seu tempo que a maioria das garotas presentes estava aos prantos. Embora uma, em especial, não conseguisse se controlar, pediu-lhe um abraço e soltou um sussurro libertador: “Obrigada. Obrigada. Obrigada. Ninguém nunca disse que me ama. Ninguém nunca disse que eu sou linda do jeito que eu sou!”. Foi nesse momento que Nick entendeu e começou a transmitir o verdadeiro valor próprio a milhares de pessoas. “Em um mundo onde há tanta informação, entretenimento e uma enorme pressão em ser alguém que você não é, ou ter alguma coisa que você ainda não tem, é preciso saber que somos amados e que estamos aqui para cumprir um propósito maior”. Temente a Deus, seu posicionamento diante da deficiência é: “Se a circunstância não muda, então, o coração precisa mudar”. Mas não foi sempre
assim. Aos 10 anos de idade tentou o suicídio, e aos 15, após muitos problemas com bullying na escola, descobriu sua missão: acreditar em si mesmo. “Parei de implorar a Deus para que nascessem braços e pernas em mim, e passei a abraçar o lema do meu pai, que me dizia para ser agradecido pelo que eu tinha, e não amargurado pelo que faltava”. Realista a ponto de interpretar suas limitações, inspirou a arte, em 2009, com o personagem Sammy, no curta The Butterfly Circus (O Circo Borboleta), de Joshua e Rebekah Weigel. A ficção e a realidade se encontram na vida de Nick, não para contar a sua história diretamente, mas para levar traços dela. Assim como no enredo – com a trajetória da lagarta no casulo se transformando em uma linda borboleta, intercaladas por histórias de sobrevivência –, o australiano vivenciou momentos muito parecidos na vida real até alcançar o sucesso. “O fato de não ter braços e nem pernas me deu a capacidade de ser grato pelo que tenho, isso não significa que eu sou um super-herói ou que estou sempre feliz. Também passo por altos e baixos”. Para Vujicic, pessoas com deficiência podem não ser capazes de fazer o mesmo que pessoas sem deficiência fazem, mas sempre encontrarão outras habilidades. “Eu sei que
não há nada de bom com a minha deficiência, mas ao mesmo tempo, aprendi a transformar obstáculos em oportunidades”. Paciente e humano, hoje é pai de família com esposa e dois filhos pequenos. Nos dias difíceis se firma na fé e lembra os momentos de medo e incerteza que atravessou. “Eu não sou alguém que diz que ‘só tem atitude positiva’, ou ‘só tem um pouco de fé’. Porque para mim, sem Deus, essas palavras são vazias e sem sentido”. Com a sua vinda ao Brasil, a campanha #soumaisqueisso foi lançada para levantar a bandeira da luta contra as adversidades da vida, como o bullying e o suicídio e também o encontro consigo mesmo. “Minha fé e o meu relacionamento pessoal me deram forças para seguir em frente, além da humildade para pedir a Deus para mudar a minha vida a cada dia”, confessa. “Depois de saber o valor, a finalidade e o destino de sua vida, você terá o amor, a alegria e a paz. E isso são coisas que o dinheiro não pode comprar”. D+ Nick no Brasil 13/12 14/12 16/12 17/12 18/12
Rio Arena, Rio de Janeiro; Estádio Independência, Minas Gerais; Estádio Castelão, Fortaleza, Ceará; Estádio do Morumbi, São Paulo; Arena do Grêmio, Porto Alegre Revista D+ número 12
NOSSA CAPA
MOLDE
UM
Cassio Dutra, Mah Mooni, Maria Rita de Paiva Souza (e seu cĂŁo-guia Milo), LetĂcia Guilherme e Bruno Favoretto vestidos como gostam: a roupa identifica, empodera e comunica
A roupa que vestimos é parte de nossa identidade. É também um direito Texto Taís Lambert Colaboração em entrevistas Brenda Cruz e Cintia Alves Fotos Marcelo Spatafora Assistente de foto Raphael Souza Make & Hair Maria Pia Ornelas
E
u sou o terror das vendedoras! Quando elas me perguntam que roupa quero ver e eu respondo ‘TUDO!’, a loucura está formada!”. Maria Rita de Paiva Souza, 34 anos, psicóloga, não causaria esse pandemônio todo ao entrar em uma loja se não fosse... cega. Bruno Favoretto, 34 anos, jornalista, conta que blazer e paletó são um problema. “A maioria dos tecidos armam na altura dos ombros, não caem bem. Teria de ser um tecido molinho, que não armasse. Detesto sapatos e alguns tênis, pois não ficam legais na cadeira de rodas”, explica ele, que levou um tiro da Polícia Militar numa batida policial, em 2000, e desde então anda com cadeira de rodas. A roupa que vestimos, essa eficiente linguagem não verbal, pode ser responsável por deixar claras informações como idade, sexo, naturalidade, religião, profissão, classe social, ideologia e até nosso estado de espírito. A palavra “moda” vem do latim “modus”, que significa modo, maneira. Não por acaso é tão estreita a ligação entre moda e comportamento. Certa vez, a especialista em moda e autora de vários livros na área, Ana Paula de Miranda, disse: “Se extraterrestres chegassem hoje no planeta, eu daria a eles revistas de moda para que entendessem a sociedade contemporânea”. Por quê? Porque nossa identidade – individual e coletiva – é formada também por aquilo que vestimos e é reflexo fidedigno de uma época, de uma cultura e de um modo de ser, estar e pertencer ao mundo. Mas daí que, com as tais revistas em mãos, os supostos extraterrestres não teriam um retrato fiel da sociedade contemporânea: afinal, nessa história da moda, onde é que estão as pessoas com deficiência? E como? Se levarmos em consideração o tratamento que receberam das marcas e da mídia ao longo do tempo, elas devem andar por aí nuas e invisíveis.
Revista D+ número 12
NOSSA CAPA
Maria Rita: “Para bancar um estilo, é preciso se apropriar das informações e ter segurança”
EXCLUSÃO HISTÓRICA Quase 46 milhões de pessoas no Brasil têm algum tipo de deficiência, segundo a última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2010). Isso é equivalente às populações de Portugal, Suíça, Holanda e Hungria juntas. Esses corpos diferentes não são contemplados pela grande indústria da moda. A moda inclusiva, então, é aquela acessível a todas as pessoas, independentemente de suas especificidades. Para alguns, o tema pode até parecer menor se comparado a outros, como saúde, trabalho e educação, nos quais o país também caminha a passos curtos e morosos. Mas é fácil dissipar esse pré-conceito: repare que, do momento em que você acorda até quando vai se deitar, sua vida e a de todos acontece acompanhada de roupas. Nada tão útil e presente poderia ser desimportante. Mobilidade, funcionalidade e ergonomia nas peças são aspectos importantíssimos que devem ser levados em conta para vestir qualquer pessoa, mas tem relevância ainda maior para as pessoas com deficiência. “Na década de 1980, ao dirigir o Centro de Reabilitação no Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, era clara a dificuldade que os pacientes com deficiência enfrentavam ao longo do processo de reabilitação, uma vez que as roupas disponíveis no mercado não eram funcionais”, conta Linamara Rizzo Battistella, médica fisiatra, professora da Faculdade de Medicina da USP e secretária de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo. Pensar a respeito disso nem sequer era uma questão: as palavras moda e deficiência na mesma frase soavam como um despautério. Um exemplo disso foi vivido pelo professor doutor Geraldo Lima, dos cursos de Design de Moda e Negócios da Moda, da Universidade Anhembi Morumbi. Há cerca de 15 anos, quando começou seus estudos sobre moda e pessoas cegas e com baixa visão, ele afirma ter encontrado um verdadeiro abismo.
“À época, quando estive na Fundação Dorina Nowill e disse a eles que queria entender melhor a relação entre a pessoa com deficiência visual e a moda, houve um branco, um silêncio! As pessoas se olhavam e não conseguiam dizer nada, pois ninguém falava sobre esse assunto. Nem era um assunto”, relembra. Maria Rita, que perdeu a visão progressivamente dos nove até os 21 anos, quando ficou totalmente cega por causa de uma doença degenerativa da retina, conhece bem essa cartilha. “O que me parece é que o mercado nem nos enxerga como um nicho consumidor. Sobre nós, cegos, devem pensar o que eu já ouvi outras pessoas dizerem: ‘Não enxergam, vão se arrumar pra quê?’”. A AUTONOMIA QUE DIGNIFICA Primeiro, é preciso entender que as necessidades variam muito de pessoa para pessoa. Cada condição física requer uma resposta da peça escolhida. Uma pessoa cega, por exemplo, não demanda roupa com adaptações específicas, como podem pensar os desavisados. “O que ela precisa é de informação. O mesmo acontece para a pessoa com deficiência auditiva”, comenta o professor Geraldo Lima. O público formado pelas pessoas surdas, aliás, carece por completo de informações de moda na Língua Brasileira de Sinais, a Libras, o que poderia constar nas etiquetas das roupas, como por exemplo, por QR Code. Do contrário, o que fica é uma sensação de rebaixamento intelectual, como explica Maria Rita. “As pessoas pensam que se não tiver alguma identificação no zíper,
Bruno Favoretto: “Gosto de passar mensagens com o que visto. Combina comigo um mix de street wear e referências italianas”
Há uma conexão muito forte com a identidade, pois a moda liga você a um grupo Geraldo Lima, professor de Design de Moda e Negócios da Moda, da Universidade Anhembi Morumbi
Revista D+ número 12
NOSSA CAPA
a gente não vai saber que aquilo é zíper. Nem se deve ficar para frente ou para trás. A mesma roupa que a minha colega ou minha vizinha vestem, eu também posso vestir. Meu corpo não exige adaptação específica, e sou cega, não burra!”, avisa, entre sorrisos. No caso de pessoas em cadeira de rodas, a demanda deverá ser outra. Tecidos mais confortáveis, abertura lateral em calças compridas e bermudas e ausência de bolsos em locais desnecessários, que causam incômodo para quem fica sempre sentado, são apenas alguns exemplos de adaptações. Cassio Dutra, 29 anos, é atleta, mora em Itanhaém, litoral de São Paulo, e participa de competições de jiu-jitsu e cross fit. Em uma tentativa de assalto, capotou o carro e teve a medula lesionada. Cadeirante desde então, diz que prefere usar camisetas mais leves – que evitam o suor exagerado nas costas. “Eu até tenho certa facilidade para vestir uma calça jeans, mas para pessoas com mobilidade menor do que a minha, as adaptações facilitariam demais”, opina. Na Universidade Anhembi Morumbi, há cinco anos, os alunos desenvolvem projetos para pessoas com deficiência no aparelho locomotor dentro da grade curricular do curso de Design de Moda. “Já olhamos para um espectro maior de inclusão, mas ultimamente temos preferido trabalhar com a linha
VISÃO DE FUTURO A jornalista Fernanda Barros, pós-graduada em Criação de Imagem e Styling de Moda, lançou-se numa empreitada inovadora: consultoria de imagem para pessoas cegas ou com baixa visão. “Achava que as pessoas sem a visão só não tinham informação. Eu queria ser o meio para isso acontecer”, conta Fernanda.
do aparelho locomotor porque ela interfere mais no corpo e, consequentemente, na confecção da roupa”, explica a coordenadora do curso, professora Eloize Navalon. “O designer tem como papel pensar na roupa que não causa escaras ou assaduras. Ela deve ser cortada de outra maneira, seguindo especificidades técnicas que o corpo demanda. Essa pessoa merece estar bonita e é um direito”, completa Eloize, tocando num ponto crucial da questão. Seguramente, a roupa adaptada àquele corpo torna a vida da pessoa mais prática. Deselvolver peças que possibilitem a uma pessoa com amputação de braço fechar um zíper de forma autônoma, por exemplo, é passo imprescindível. Mas não é suficiente. A dignidade que vem da inclusão só é completa se essa inclusão também for... completa. Para que isso ocorra, há que se pensar na estética. “Há uma conexão muito forte com a identidade, pois a moda liga você a um grupo. Se eu proponho alguma coisa apenas funcional e não penso na beleza, estou olhando apenas para as necessidades daquele corpo e esquecendo do fator moda. Assim, eu só estaria fazendo roupa, não moda”, explica o professor Geraldo Lima. A estudante de Relações Públicas Letícia Pinto Guilherme, 19 anos, tem osteogênese imperfeita, uma fragilidade óssea conhecida também como ossos de cristal ou ossos de vidro.
Há quase dois anos a consultora auxilia essas pessoas a encontrarem seu estilo e sua identidade através daquilo que pendura no guarda-roupas. “Num mundo visual, a imagem é o que mais fala. Não temos nenhum site, blog de moda ou e-commerce com descrição de imagem. Como o deficiente visual vai comprar? Ele clica naquela imagem e aquilo não diz nada”. O primeiro passo do trabalho de Fernanda é fazer a pessoa entender o próprio corpo. O segundo é reconhecer e entender seu estilo e o que quer transmitir através de suas vestimentas e de seu comportamento. Identificado o estilo, a profissional começa a descrever roupas e acessórios que o cliente possa usar para transmitir essa forma que ele quer ser visto. “É um processo de confiança e empatia. Meu papel é dar informação para que isso pertença a ele, para que não seja dependente”, esclarece. Para facilitar o dia a dia das pessoas cegas e com baixa visão, roupas com QR code com audiodescrição sobre a peça seriam uma excelente pedida. “O mundo caminha para essa evolução tecnológica, são muitas as pessoas com smartphone. E são 6,5 milhões de pessoas cegas, com estimativa de dobrar o número até 2020. Um público enorme para o qual as empresas de moda não olham”. Acesse Fe Barros – Assessoria e Gestão em Imagem e Estilo, no Facebook e seu documentário A Neblina dos Sentidos, no YouTube
foto Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência
O estilista Eduardo Inácio Alves e seus modelos Cassio Dutra e Maiara Barreto ganharam o primeiro e o segundo lugar no 8º Concurso de Moda Inclusiva Internacional com looks sustentáveis. O estilista Ali Entezari e sua mulher, Mah Mooni, ficaram em terceiro lugar com a capa estilizada de fibra de vidro para a prótese de perna
Com 1,30m de altura, ela também enfrenta dificuldades. “Acredito que as coisas estejam, aos pouquinhos, mudando, mas a moda é pensada para pessoas altas e magras”, diz. “O que mais me incomoda é comprar calça, short e saia. Tenho sempre que mandar consertar, tirar metade da calça. Se eu comprar um short 38, ideal para a minha cintura, ele fica no meu joelho, e eu não quero! Sem contar as camisetas, que ficam compridas demais. Falta-nos visibilidade: eu tenho autoestima, me vejo como uma mulher glamurosa, meu corpo existe e quero ser tratada como pessoa que consome.” UMA PASSARELA PARA A INCLUSÃO O aumento da visibilidade da pessoa com deficiência como consumidora de moda se deve, em vários aspectos, à criação do Concurso de Moda Inclusiva Internacional, pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que realizou sua oitava edição em outubro, em São Paulo.
Na passarela, pessoas com deficiência são as protagonistas de looks desenvolvidos com exclusividade para elas por profissionais e estudantes brasileiros e estrangeiros. O concurso recebeu trabalhos de vários estados e também de países como Japão, Argentina, Canadá, Chile, França, Índia e Irã. “O estado de São Paulo é pioneiro nesse olhar ao realizar o concurso desde 2009, com o propósito de estimular estudantes e profissionais do mundo todo a pensarem soluções de vestimentas que contemplem as diferenças”, conta a secretária Linamara Rizzo Battistella. O estilista e professor Eduardo Inácio Alves, 25 anos, do Mato Grosso do Sul, que levou o primeiro e o segundo lugar do concurso apresentando os looks Solar Power e Solar Energy, com modelos cadeirantes (o Cassio foi um deles), trouxe para suas criações elementos sustentáveis e muito estilo, lembrando que a moda que veste a pessoa com deficiência não deve ser apenas funcional. Revista D+ número 12
NOSSA CAPA
A roupa ser cortada de outra maneira, seguindo especificidades técnicas que o corpo demanda. Essa pessoa merece estar bonita e é um direito Eloize Navalon, coordenadora do curso Design de Moda, da Universidade Anhembi Morumbi
“A coleção trabalha com o redesign, que é um jeito de produzir moda cuidando do meio ambiente, sem desperdiçar materiais e diminuindo o consumo dos recursos. Com isso, temos peças exclusivas e sustentáveis”, explica o estilista, que utilizou funcionalidades como zíper com argola nas laterais, abertura de botões nos ombros, etiquetas em braile e leitor QR code com audiodescrição das funcionalidades em cada peça. Além disso, as jaquetas continham painéis fotovoltaicos com sistema que possibilita dar carga a aparelhos portáteis. O caráter internacional que o concurso ganhou desde sua quinta edição também é reflexo de uma necessidade mundial: não é só o Brasil que não pensava na moda inclusiva, o restante do planeta também não pensa(va). “Países de primeiro mundo não fazem o que fazemos aqui. O Concurso de Moda Inclusiva põe a discussão na pauta e cria novas possibilidades”, afirma Geraldo Lima. Na última edição, o estilista iraniano Ali Entezari, da Universidade Azad, de Teerã, conquistou o terceiro lugar com uma capa estilizada em fibra de vidro para a prótese da perna esquerda de sua mulher, a modelo Mah Mooni. “Transformei echarpes com poesia persa em um vestido adaptado, com saia trazendo abertura lateral de velcro, muito fácil para mulheres com perna amputada que usam prótese”, explica Ali. Mah Mooni, 35 anos, foi atropelada por um ônibus, o que resultou na amputação da perna. “Além da funcionalidade ortopédica, próteses podem se tornar obras de arte, elevando a autoestima e autoconfiança. Meu desejo é que acreditem nas qualidades e na beleza das pessoas com deficiência, assim as empresas investirão mais na moda inclusiva”, confidencia a modelo.
Letícia Guilherme: “Falta-nos visibilidade. Eu tenho autoestima, me vejo como uma mulher glamurosa, meu corpo existe e quero ser tratada como pessoa que consome”
Eloize Navalon, coordenadora do curso Design de Moda da Universidade Anhembi Morumbi
PARA SER REALIDADE No mundo ideal, todas as pessoas deveriam poder entrar em lojas de departamento, como essas de grandes redes, por exemplo, e encontrar roupas cujo design fosse universal: servem para você, para mim e para todos. Do mesmo modo que podem existir marcas específicas para a pessoa com deficiência – com trabalhos formidáveis, inclusive (veja Do lado deles) –, a moda como um todo tem condições de se modificar. “Acreditamos que seja mais interessante a moda mudar a perspectiva e passar a ser mais acessível de maneira geral, tornando-se inclusiva ao pensar mais na ergonomia das peças, que traz benefícios para qualquer indivíduo”, afirma Gabriela Sanches, 26 anos, da coordenação do Concurso de Moda Inclusiva Internacional. “Não é impossível para redes como C&A e Riachuelo, por exemplo, produzirem para a pessoa com deficiência”, opina a professora Eloize Navalon, da Universidade Anhembi Morumbi. “Eles têm o poder do dinheiro, então, poderiam sim criar um setor, um corner, uma linha de produtos e atendimento para as pessoas com deficiência. Seria pelo menos um começo. Há várias formas de fazer, o que falta é o olhar”. Entramos em contato com as duas redes por meio de suas respectivas assessorias de imprensa, mas não tiveram interesse em participar da matéria. O fato de as universidades abraçarem o tema e educar as novas gerações de designers de moda à luz da inclusão prenuncia ganhos enormes num futuro próximo. “Queremos que essas ideias não fiquem presas no concurso ou numa tese acadêmica. As lojas virtuais de moda inclusiva têm aumentado e isso também é um avanço”, afirma Gabriela. “Nessas peças criadas pelos estudantes, percebemos novas propostas de modelagens e soluções para todo tipo de pessoa. Uma jaqueta que tem uma cava um pouco maior facilita na hora de pegar o ônibus ou alguma coisa numa prateleira mais alta quando se está fazendo compra. Facilita ao dirigir, digitar e em todas as atividades que requerem maior mobilidade”, exemplifica. Revista D+ número 12
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MEU CORPO É REAL
“O meu sonho é que um dia a moda seja menos segregadora. Que ela seja universal” O objetivo era dar visibilidade às pessoas com deficiência como consumidoras de moda. E ela conseguiu como ninguém. O projeto Meu Corpo é Real é um minidocumentário de autoria da estilista Michele Simões, que contou com pessoas com diferentes deficiências e estilos. Entre eles, o Bruno Favoretto e a Letícia Guilherme, que participam de nossa capa. Michele tem 34 anos e anda com cadeira de rodas desde que sofreu um acidente automobilístico. Confira a entrevista a seguir: Revista D+:Como você trabalhou os diferentes tipos de beleza em seu projeto? Michele Simões: Meu Corpo é Real acredita que todas as belezas têm de ser reconhecidas. Então, nós não selecionamos um padrão corporal, queríamos contar histórias fazendo referência às características das pessoas ali envolvidas, por isso todo o documentário foi desenvolvido a partir do lúdico. A ideia foi explorar a realidade dessas pessoas e não encaixá-las num padrão determinado. Cada um tem a sua particularidade e isso deve ser aceito, não desmerecido. O diferente deve parar de ser visto como algo ruim, independentemente de ser uma pessoa com deficiência. A moda inclusiva ainda se restringe a projetos isolados. Como mudar isso?
Falta um trabalho de comunicação mais bem feito, que é o que eu procuro fazer com o documentário. O intuito do projeto Meu Corpo é Real é, através de ações, conseguir comunicar aquilo de que as pessoas com deficiência precisam e mudar a forma como a sociedade enxerga a deficiência. Essa associação da comiseração e superação é algo desgastado, com o qual as próprias pessoas com deficiência não se sentem confortáveis. A gente precisa ir além disso. Ter um trabalho de comunicação que mostre que essas pessoas consomem e que a indústria pode trabalhar com esses corpos, pois será benéfico para ela também. Na última edição do São Paulo Fashion Week, o modelo Sam Gonçalves, com vitiligo, desfilou para o rapper Emicida, modificando padrões da passarela. Qual sua opinião sobre o cenário brasileiro de moda inclusiva em grandes eventos? Se estamos em um país em que não se reconhece a deficiência nem no básico, como na acessibilidade das ruas e no transpote público, imagine falar disso na moda... ainda temos muito chão pela frente. O que vejo são projetos muito embrionários, porque a falta de conhecimento sobre a realidade da deficiência faz com que as pessoas se afastem. A moda trabalha com padrões e daí chega a pessoa com deficiência e quer comunicar algo que elas não estão acostumadas. É algo novo e tem muito a se explorar. Acesse www.meucorpoereal.com
Cada um tem a sua particularidade e isso deve ser aceito, não desmerecido. O diferente deve parar de ser visto como algo ruim
foto Marcos de Avila
Michele Simões, estilista
Michele Simões, idealizadora do projeto Meu Corpo é Real
DO LADO DELES
Dariene Rodrigues é fisioterapeuta e passou 13 anos atendendo pessoas com deficiência em clínicas. Durante esse longo período foi testemunha das dificuldades de pacientes em cadeira de rodas e com prótese, em relação às roupas. Foi quando lançou a Lado B Moda Inclusiva. “A ideia era criar calças e bermudas adaptadas, exclusivas e personalizadas para promover maior qualidade de vida às pessoas com deficiência”, conta Dariene. Lançada em 2013, hoje a marca comercializa moda masculina, feminina e infantil, além de acessórios, tênis e linha ortopédica. “Embora a comercialização seja realizada através do e-commerce, temos enorme preocupação em fornecer informações detalhadas sobre os produtos. Disponibilizamos vários canais, como chat online, e-mail e WhatsApp para que os clientes com ou sem deficiência possam tirar todas as dúvidas sobre modelos, tecidos, lavagens e medidas”, explica. Na Lado B, a proposta é de uma moda básica. “Preocupamo-nos com facilidades como aberturas estratégicas que ajudam na hora de usar calça plástica (fralda), que facilitam a prática do cateterismo ou uso de uripen com bolsa coletora, além do vestir e despir de forma independente”. No início de 2017, a marca lançará etiquetas em braile em pequenas quantidades pelo site e em empresas de aviamentos, para facilitar o dia a dia das pessoas cegas na hora de organizar e escolher as peças.
foto Kika de Castro
Acesse www.ladobmodainclusiva.com.br Revista D+ número 12
NOSSA CAPA
Cassio Dutra: “A moda deveria ser mais inclusiva, isso seria muito bom para ambas as partes: para quem compra e para quem vende�
As adaptações ajudam muita gente, o comportamento em todos os níveis sociais é que precisa ser transformado, assim como uma mudança na visão do negócio em si. Existe ainda uma ideia equivocada da indústria e do comércio: um negócio só pode ser viável se for grande, e grande em quantidade. “E isso não é verdade”, aponta Eloize Navalon. “Eles podem ser financeiramente viáveis e lucrativos sem necessariamente produzir em série”. “A falta de investimento das grandes e famosas empresas da moda contribuem para o isolamento da chamada moda inclusiva. Todas elas precisam incluir mais modelos com deficiência nos desfiles e investir nos produtos para pessoas com deficiência”, opina o estilista iraniano Ali Entezari. “O Brasil já tem o concurso, que é um dos melhores projetos de moda inclusiva do mundo”, complementa. Maria Rita, que é cega, fez um curso chamado Sentir e Vestir a Moda, ministrado pelo professor Geraldo Lima. O objetivo do curso era ensinar pessoas com deficiência visual sobre tecidos, tipos de acabamentos, cores e como modelar uma roupa. O vestido que ela usa em nossa capa foi criado e feito por ela. “A moda me inclui quando disponibiliza informações para mim. Os vendedores não estão preparados para descrever uma roupa, a peça não possui QR code com audiodescrição, os blogs de moda não descrevem as imagens e os e-commerce das marcas convencionais não são acessíveis. Ou seja, ninguém está fazendo nada”, pontua. Democratizar a moda requer olhar para o outro e enxergá-lo com igualdade. A partir do momento que a mudança, supostamente para apenas algumas pessoas, é internalizada como benefício para todos, o processo tende a ser mais fluido. “A moda é como a calçada: essa é uma briga da pessoa com deficiência por causa da melhor mobilidade em cadeira de rodas, mas, e a criança com o carrinho da mochila? A mãe com o carrinho do bebê? A mulher com salto alto? O idoso com uma bengala?”, interroga Gabriela Sanches. “É uma luta da pessoa com deficiência, mas que reflete no bem-estar de todas as pessoas. A moda pode ser isso”, conclui. Descobrir um estilo e entender e apropriar-se de uma identidade visual é um mecanismo de empoderamento e autoestima: cabe a todas as pessoas o direito à individualidade, à informação e ao resgate da autoconfiança por meio daquilo que veste. Ninguém é invisível, nem anda nu. D+ Mah Mooni: “Meu desejo é que acreditem nas qualidades e na beleza das pessoas com deficiência”
Acesse www.revistadmais.com.br/ed12_nossacapa para ler mais entrevistas exclusivas e ver o ensaio fotográfico completo. Revista D+ número 12
TECNOLOGIA ASSISTIVA
Acessibilidade na web: sem limites de conexĂŁo
Conheça a história de desenvolvedores brasileiros que promovem a inclusão de pessoas com deficiência através de pequenos recursos (e que dão grandes resultados) texto Cintia Alves fotos Ricardo Matsukawa
A
Tecnologia Assistiva – recursos e serviços acessíveis que contribuem para proporcionar e ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência, promovendo uma vida mais independente – auxilia milhares de pessoas com deficiência: auditiva (e surdos), visual (baixa visão ou cegueira), dificuldade de comunicação verbal, físicas, como motora dos membros superiores e inferiores (tetraplegia), amputação, muscular e nervosa (distrofia muscular e esclerose lateral amiotrófica), entre outras. Mas, ainda hoje, para muitas organizações e instituições, a necessidade de utilizá-la nasce somente quando a deficiência bate à porta. Tiago Maritan Ugulino de Araújo, 32 anos, professor Adjunto II do Centro de Informática da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e coordenador do projeto VLibras, teve a iniciativa inclusiva, por exemplo, em seu doutorado, ao perceber as falhas na comunicação com a aluna surda Hozana Raquel, do curso de Ciências da Computação. “As dificuldades da Hozana nos sensibilizaram, principalmente porque não tínhamos intérpretes de Libras ainda na nossa universidade, e o Prof. Guido Lemos – meu orientador de Doutorado – me convenceu a tentar desenvolver uma solução que a ajudasse”, conta Tiago. A presença de pessoas com deficiência e profissionais especializados no processo de desenvolvimento faz toda diferença; hoje a equipe VLibras conta com a participação de surdos, estudantes e formados em Letras-Libras, que contribuem com consultoria no levantamento e avaliação dos sinais, das traduções, na melhoria do sistema, entre outros.
Apesar dos esforços dos desenvolvedores do VLibras e inobstante o Governo Federal ter inserido esse aplicativo em seus sites oficiais, o mesmo ainda não atende às necessidades comunicativas dos surdos usuários de Libras. Essa é uma reclamação recorrente de diversas comunidades surdas Brasil afora. Tal opinião também é corroborada por pesquisa em andamento da Profa. Sylvana Karla da S. de L. Santos, doutoranda na Faculdade de Ciência da Informação, da Universidade de Brasília (UnB). Algumas das principais queixas dos surdos são que o VLibras não usa expressão facial, a tradução é português sinalizado, além de previsíveis problemas semânticos, o que torna ineficiente a compreensão da comunicação. Estes são alguns desafios a serem enfrentados não apenas pelo VLibras, mas também por outros aplicativos que pretendam se posicionar como tecnologia assistiva eficiente na comunicação com os surdos usuários de Libras Para o pioneiro na área inclusiva há mais de 25 anos, José Antonio dos Santos Borges, 60 anos, Matemático – modalidade Informática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) –, mestre e doutor em Engenharia de Sistemas e Computação pela COPPE/UFRJ, se faz necessário cada vez mais a aproximação de pessoas com deficiência nos experimentos. “A interação contínua nos dá parâmetros de adequação que não seriam atingidos sem o contato direto. A intensidade do relacionamento pessoal também nos leva a ter uma postura de grande energia para prover soluções que, quando aplicadas aos nossos colegas com deficiência, promovem uma onda criativa e uma visão humanista, mas não caritativa, que caracterizam nossos projetos”, detalha José Antonio.
Todos@Web contou com a participação de empresas do setor público e privado visando à inclusão de todos
Revista D+ número 12
TECNOLOGIA ASSISTIVA
TECNOLOGIA X REALIDADE Com jogos inclusivos, programas que facilitam leitura e escrita para cegos, acesso alternativo às redes sociais e ao correio eletrônico, escrita braile, telecomunicações, entre outros recursos desenvolvidos no Núcleo de Computação Eletrônica Instituto Tércio Pacitti (NCE), na Universidade Federal do Rio de Janeiro, o mestre José Antonio e sua equipe possibilitam o acesso à Internet a milhares de pessoas com deficiência no país. Para o NCE é necessário também adaptar os programas à realidade brasileira, considerando os diversos aspectos culturais e econômicos internos, disponibilizando os recursos de maneira gratuita, para um maior alcance da população de baixa renda, que carece de oportunidades. “O que diferencia os nossos produtos daqueles que existem no mercado internacional é a simplicidade operacional e a compatibilidade com o contexto social, que é bem menos desenvolvido no Brasil, quando comparado com os países de primeiro mundo, onde a
tecnologia assistiva pode ser considerada mais avançada em diversos aspectos”, afirma José Antonio. MULTIPLICANDO INCLUSÃO No Brasil, o Prêmio Todos@Web é resultado do incentivo a novas iniciativas que tornem o universo da internet mais acessível às pessoas cegas, com baixa visão, deficiência motora e auditiva, fomentando o envolvimento especialmente de desenvolvedores, gestores e empresas, do setor privado e governamental. Reinaldo Ferraz, especialista em desenvolvimento Web do Centro de Estudos sobre Tecnologias Web (Ceweb.br) e coordenador do Grupo de Especialistas em Acessibilidade na Web do W3C Brasil, relata a evolução da visibilidade da iniciativa. “Nas primeiras edições do prêmio nós tínhamos mais participantes de instituições com foco em acessibilidade ou pessoas com deficiência, mas hoje temos participantes e ganhadores do setor privado, como o Portal da Unimed Fortaleza, por exemplo.”
O prêmio reforça a necessidade de o site ser acessível para o maior número de pessoas possível, mas também analisa determinados aspectos individuais de cada site – como no caso dos de multimídia, onde total acessibilidade é mais difícil. “A ideia não é simplesmente dizer que só porque se ganha o prêmio o site é totalmente acessível, mas sim reconhecer o esforço da iniciativa para torná-lo acessível”, opina Reinaldo. A disseminação de novos projetos impulsiona empresas a cada dia, colocando sob a lupa as possibilidades trazidas a inúmeras pessoas com deficiência. “Os participantes se tornam multiplicadores, pois quando um site é premiado e tem esse reconhecimento é uma forma de mostrar o esforço que se teve e que isso não foi em vão. Isso ajuda especialmente a multiplicar esse tipo de informação, serve como case de boas práticas em acessibilidade”, exemplifica Reinaldo. D+
Confira programas gratuitos com tecnologia assistiva:
Navegando sem limites Os recursos de acessibilidade assistiva para pessoas com deficiência motora estão cada vez mais avançados. O microFênix v 2.0, por exemplo, foi inspirado no pássaro Fênix, facilitando a livre navegação de pessoas com deficiência motora e/ou de comunicação na web. De maneira simples, ele simula o uso do mouse e do teclado, possibilitando a ativação de programas e funções no ambiente Windows, como clicar, subir, descer, esquerda, direita, digitar, visualizar, entre outros; todos comandados por menus que aparecerem na tela. Onde acessar? intervox. nce.ufrj.br/microfenix/ Intérpretes de Libras garantiram acessibilidade para surdos usuários dessa língua durante todo o evento
Participantes com deficiência visual tiveram acesso à audiodescrição e às esculturas do prêmio
O professor da UFRJ José Antonio dos Santos abriu a cerimônia de premiação
Reinaldo Ferraz, especialista em desenvolvimento Web, e Tiago Maritan, professor da UFPB, comentaram sobre a importância dos recursos de acessibilidade na web
Para surdo ver
Tocando a letra
Pensando na autonomia das pessoas com deficiência auditiva, a ferramenta Suíte VLibras auxilia na tradução automática de conteúdos digitais (áudio, texto e vídeo) em Português para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Desenvolvido pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em parceria com o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MP), por meio da Secretaria de Tecnologia da Informação (STI), está disponível para computadores, smartphones e tablets. E, para 2017, adaptações para a TV Digital e o Cinema já estão em andamento. Como foi ressaltado na matéria, este aplicativo ainda não responde de forma eficiente às necessidades de comunicação dos surdos usuários de Libras. Onde acessar? vlibras.gov.br/#baixar
Com o gigantesco arquivo de dados da internet, ficou muito mais fácil a busca por partituras de quaisquer músicas na rede. Mas será que existe acessibilidade para pessoas com deficiência visual? O projeto Musibraille, do Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, aprimorou a técnica de Musicografia Braille – originalmente desenvolvida em 1828 por Louis Braille –, trazendo aprendizagem musical por meio da transcrição de partitura para a forma tátil; incluindo assim milhares de pessoas cegas e com baixa visão no universo musical. Onde acessar? intervox.nce. ufrj.br/musibraille/download.htm
Você sabe o quanto seu site é acessível às pessoas com deficiência? Faça o teste no Avaliador e Simulador de Acessibilidade em Sítios (Ases) do Governo Federal e descubra. Acesse: asesweb.governoeletronico.gov.br/ases Quer dicas de como deixar o seu site acessível? A World Wide Web Consortium (W3C), principal organização de padronização da World Wide Web (WWW), disponibiliza todas as normas necessárias para oferecer de maneira acessível o seu conteúdo na web. Confira os Fascículos I e II da Cartilha de Acessibilidade na Web, acesse: www.w3c.br/ Materiais/PublicacoesW3C
Revista D+ número 12
ACONTECE
A fachada do instituto foi decorada com trabalhos dos alunos do Colégio de Aplicação (CAp-INES)
Portas abertas aos saberes Congresso valoriza as comunidades surdas nacional e mundial Entrevistas Juliana Andrade S. Sales, do Rio de Janeiro texto Rosa Buccino fotos Divulgação (INES)
O
XV Congresso Internacional e XXI Seminário Nacional COINES 2016, promovidos nos dias 26, 27 e 28 de outubro, no Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), em Laranjeiras, Rio de Janeiro, seguiu literalmente o tema proposto: O INES de Portas Abertas. Marcelo Cavalcanti, diretor geral do INES, ressaltou que a experiência de realizar o congresso na sede do instituto foi absolutamente positiva. Quase 1.200 pessoas participaram da programação diversificada, incluindo apresentações de pôsteres, atrações culturais, aulas de dança, conferências, exposições, lançamentos de livros, minicursos, oficinas curtas e palestras dedicadas à comunidade surda.
Gabriela Rizo, diretora do Departamento de Desenvolvimento Humano, Científico e Tecnológico (DDHCT) do INES, principal responsável pela organização, destacou: “O congresso promoveu uma grande articulação do instituto com a comunidade surda, além de associações, instituições acadêmicas e redes de ensino de todo o país. Nesse sentido, os princípios do congresso se prolongam, não somente nos trabalhos ali desenvolvidos e no prazer que as pessoas tiveram durante a programação, mas também em ações futuras, já agendadas com os parceiros antigos e novos. Assim, o instituto foi mais uma vez reconhecido como lugar dinâmico em relação ao conhecimento e às políticas sobre a surdez”.
A presença de autoridades e pesquisadores brasileiros e estrangeiros; o lançamento do telejornal Primeira Mão, inédito na programação da TV INES (veiculado às quintas-feiras, às 19h); a consolidação da parceria com o festival francês de arte surda Clin d’Oeil, que será realizado em 2017, em Reims, França, tendo o Brasil como país convidado; a articulação com a Federação Brasileira de Profissionais Tradutores e Interpretes e Guia-Intérpretes de Língua de Sinais (Febrapils) para um curso de interpretação e tradução em eventos, que teve sua fase prática durante o congresso, também foram destaques. “Deste evento serão publicados artigos científicos e coleções de vídeos/palestras, que, em breve, poderão ser acessadas pelo site oficial do instituto”, revelou Gabriela. O COINES 2016 fomentou a apresentação de artistas surdos, observando que o campo da produção artística das pessoas surdas vem sendo solidificado no Brasil como algo emergente na cultura, favorecendo a circulação de seus trabalhos não só entre surdos, mas em toda a sociedade. REPERCUSSÃO POSITIVA A relevância do congresso foi uma das tônicas entre os participantes. Fabíola de Vasconcelos Saudan, 42 anos, surda, tradutora de Português/Libras e intérprete do INES disse: “As informações, palestras e experiências propagadas enriqueceram meu conhecimento, resultarão em mudanças e melhorias e serão multiplicadas, sempre focando a comunidade surda e o valor da língua de sinais para essa população”. Durante o congresso, Fabíola teve sua palestra traduzida para surdos, surdocegos e o público em geral. Sobre sua experiência como guia-intérprete, ela recordou que até pouco tempo nunca tinha traduzido/interpretado ou tido contato com surdocegos e que, quando começou a interpretar efetivamente, teve a sensação de que seria quase impossível estabelecer uma comunicação eficiente. No entanto, foi notando que, embora o surdocego também não enxergue, é absolutamente capaz de se comunicar. O Prof. Dr. Gláucio Castro Júnior (UnB), 29 anos, surdo, foi um dos palestrantes. Ele considerou o congresso como referencial para os surdos e observou que sua influência pode ser comparada a uma discussão de empoderamento. “O surdo precisa se posicionar e demonstrar sua capacidade. Pode viabilizar esse posicionamento através de trabalhos e pesquisas. Precisa ser atuante em várias áreas de conhecimento e se apropriar disso vigorosamente. Nesse contexto, a língua de sinais oferece diversas possibilidades e deve ser multiplicada aos alunos para formar uma rede de conhecimento e cultura para que eles se apropriem de maneira vigorosa”, detalhou.
O surdo precisa se posicionar e demonstrar sua capacidade Gláucio Castro Júnior, surdo, professor da UnB
Presentes na abertura do COINES 2016: Ivana de Siqueira, gestora da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação (MEC); Marcelo Cavalcanti, diretor geral do INES; Kátia Nunes, diretora do Instituto Municipal Helena Antipoff, responsável pela educação especial no município do Rio de Janeiro; e Gabriela Rizo, diretora do Departamento de Desenvolvimento Humano, Científico e Tecnológico (DDHCT) do INES
Núblia Lopes, 43 anos, ouvinte, mestranda em Letras, intérprete da Universidade Federal de Rondônia (UFR), participou pela primeira vez do congresso e comentou que o intercâmbio de informações foi altamente produtivo para seu aprimoramento em Libras. “A língua de sinais é um artefato cultural que fortalece toda a comunidade surda e através desse congresso tive total acessibilidade às informações de grande valia. Certamente, tudo que aprendi será propagado e aplicado não somente na universidade, mas entre a comunidade surda local e no Projeto Açaí com Libras, o qual participo, visando a contribuir para a disseminação e o fortalecimento da Libras e do Movimento Surdo em Rondônia”, revelou. Para Charlisson dos Santos Ribeiro Lopes, 31 anos, ouvinte, pedagogo, tradutor/intérprete de Libras na Universidade da Bahia (UFB), participar do congresso foi uma realização pessoal e profissional. Partindo do pressuposto de que não existe surdo sem intérprete e intérprete sem o surdo, ele comentou: “Atuo na área inclusiva e todas as informações relevantes sobre a Libras divulgadas neste congresso serão oportunamente compartilhadas com o corpo docente e os alunos surdos na universidade”. D+
Revista D+ número 12
MISTO QUENTE ACONTECE
UFSCar e ABPEE realizam o VII Congresso Brasileiro de Educação Especial Evento ocorreu juntamente com o X Encontro Nacional dos Pesquisadores da Educação Especial texto Rúbem Soares
Profa. Dra. Enicéia Gonçalves Mendes, a primeira da esquerda para a direita, com outros professores e coordenadores na UFSCar
D
e 1 a 4 de novembro de 2016, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) abrigou o VII Congresso Brasileiro de Educação Especial (CBEE) e o X Encontro Nacional dos Pesquisadores da Educação Especial (ENPEE). Desde 2003, o Programa de Pós-graduação em Educação Especial (PPGEES) da UFSCar, localizada no interior paulista (cerca de 240 km da capital), realiza o evento em parceria com a Associação Brasileira de Educação Especial (ABPEE). Um dos principais objetivos do evento, organizado a cada 2 anos, é proporcionar um espaço de intercâmbio científico específico na área da educação especial brasileira. A Profa. Dra. Enicéia Gonçalves Mendes (presidente da ABPEE e do CBEE) falou com exclusividade à Revista D+. Segundo ela, “o evento está consolidado, pois mesmo com o atual cenário de crise econômica do país, teve mais de 1.300 congressistas de várias partes do território nacional, a maioria pagando sua inscrição (principal fonte de financiamento do Congresso). Nesta edição, o evento aprovou quase 900 trabalhos científicos (apresentados em forma de comunicação oral ou pôster),
contou com 100 palestrantes em mesa redonda e 40 minicursos com os mais variados temas da área”. O Presidente da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), Francisco Eduardo Coelho da Rocha, estava no evento pela primeira vez como participante. Com a ex-titular da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, a Profa. Dra. Isabel Maria de Loureiro Maior (UFRJ), ele dividiu uma mesa redonda que discutiu o tema Movimentos sociais das pessoas com deficiências no Brasil. Para Francisco Rocha, um dos fatores positivos do CBEE é o fato de “alguns ouvintes de outros estados depararem com surdos – tanto palestrantes quanto participantes – conversando em Libras fluentemente. Isso ‘quebra’ a barreira da comunicação na Libras”. Durante o evento, foi realizada a assembleia que elegeu a nova diretoria da ABPEE para o biênio 2017/2018. A presidente eleita foi a Profa. Dra. Vera Lúcia M. Fialho Capellini (Unesp/Bauru), tendo como vice-presidente o Prof. Dr. Sadao Omote (Unesp/Marília). Apesar do sucesso que a iniciativa vem demonstrando até aqui, Enicéia Mendes, que deixa a presidência da ABPEE em janeiro de 2017, demonstra preocupação e vislumbra algumas dificuldades adicionais para a realização das próximas edições do CBEE. Uma das principais preocupações diz respeito às formas de financiamento e à organização estrutural do evento. Isso porque, segundo ela, recentemente a UFSCar aprovou algumas medidas que podem inviabilizar a continuidade do evento nas instalações da instituição (leia a entrevista completa em www.revistadmais. com.br/ed12_acontece_7cbeeufscar).
Para consultar os anais do VII CBEE, acesse o site www.2016.cbee-ufscar.com.br
Unicamp realiza colóquio sobre a formação de intérprete educacional de Libras texto Rúbem Soares fotos Rafaela Prado e Rafaella Sessenta
C
om o objetivo de oferecer formação continuada aos professores e intérpretes de Libras da rede pública que trabalha com surdos, a Unicamp realizou o Colóquio “A universidade pública como parceria na formação de Tils educacional da rede pública de ensino”. Aconteceu em 11 de novembro e contou com a participação do Prof. Dr. André Reicher (UFSC), que ministrou a palestra “A importância do Intérprete Educacional com Formação em Estudos da Interpretação”. O evento contou também com a participação do Prof. Dr. Luis Alberto Magna – Pró-Reitor de Graduação – PRG Unicamp; Prof. Dr. Oranid Mina Falsarella – Pró-Reitor de Graduação – PUC-Campinas dentre outras autoridades locais, foi coordenado pela pedagoga Andréa da Silva Rosa, doutora em educação, responsável pela Central de Tils Unicamp. A Central de Tradutores e Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Tils) da Unicamp foi criada em 24 de fevereiro de 2015. O objetivo principal da Central Tils é traduzir as aulas para os alunos regulares dos cursos de graduação e de pós-graduação da Universidade. O projeto é acolhido pela Pró-Reitoria de Graduação (PRG) da Unicamp, está alocado na Diretoria de Logística e Infraestrutura para o Ensino (DLIE), com o apoio e envolvimento do Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação Prof. Dr. Gabriel Oliveira da Silva Porto (Cepre). O Cepre, com mais de 40 anos de tradição no atendimento a surdos na Unicamp, nos últimos anos já oferecia serviços de tradução em Libras para a comunidade surda do entorno de Campinas. Com a Central Tils, foi possível contratar três intérpretes de Libras por concurso público, o que dá maior segurança para a continuidade do serviço. A prioridade do atendimento são as aulas de pós-graduação, em que tem cinco alunos surdos matriculados, visto que, na graduação, a Unicamp ainda não registra o ingresso de nenhum aluno surdo, conforme relatou o Pró-Reitor de Graduação Luiz Alberto Magna. O ingresso nos cursos de graduação da Unicamp se dá pelo vestibular, que é uniforme para todos os candidatos. Um grande desafio em relação ao ingresso é que a instituição não tem cotas para surdo ou para qualquer aluno com
Mesa de abertura do Colóquio e o Prof. Dr. André Reicher, ministrando palestra
deficiência. A via de entrada continua sendo com base no mérito. Mesmo assim, “a Unicamp estuda formas para melhorar a acessibilidade aos candidatos surdos e cegos nos exames vestibulares para ingresso nos cursos de graduação”, afirmou Magna. Além de atender os alunos surdos da Unicamp, a Central Tils Unicamp também oferece formação continuada para capacitação de Intérpretes Educacionais e Professores Interlocutores, sobretudo aos profissionais em atuação nas Diretorias de Ensino de Campinas Leste e Oeste. Apesar da preocupação com a formação profissional de Tils, quando questionada sobre a criação de curso de graduação nessa área, a Pró-Reitoria não deu garantias de que isso ocorra em curto prazo. A Unicamp oferece apenas projetos no plano de extensão. “Nós implantamos a disciplina de Libras como obrigatória em todos os cursos de licenciatura e fonoaudiologia e como optativa nos demais cursos de bacharelado”, informou o Pró-reitor Luis Magna. Sem descartar a necessidade de formação acadêmica do Tils educacional, o Prof. Dr. André Reicher assegura que “a melhor formação para o Tils é conviver com a comunidade surda. Assim, ele adquire cultura, identidade, interação e aspectos linguísticos da Libras, como sua sintaxe e morfologia. ” Reicher é surdo, usuário de Libras e tem menos de 30 anos de idade. Ele falou à Revista D+ sobre sua trajetória acadêmica e deu sugestões sobre a formação de Tils. Veja a entrevista em Libras no site www.revistadmais.com.br/ ed12_acontece_centraltilsunicamp Revista D+ número 12
Estudantes colocam ímã sob papel e espalham minúsculos pedaços de metal para mostrar como o campo magnético funciona
foto www.brookhill.org
PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
O ensino de Física na educação inclusiva com alunos surdos: noções sobre campo magnético Trabalhando noções de magnetismo com surdos e ouvintes texto Claudine Davids*, Rúbem Soares**, Silvana Zajac***
A
literatura da área de Física relata que se localiza na Grécia Antiga a origem do magnetismo. Ali, uma pedra desconhecida até então apresentava propriedades “mágicas” de atrair outros materiais. Diz-se que um pastor chamado Magnes observou que pequenos pedaços dessa pedra ficavam grudados sob seu cajado. Em função disso, essa pedra foi chamada de magnetita e, a partir desses fatos históricos, começaram os estudos sobre magnetismo. Segundo a literatura, o tema ganhou maior relevância a partir do tratado De Magnete publicado por volta do ano de 1600, de autoria de William Gilbert. Esse médico e físico inglês, considerado o “Pai do Magnetismo”, foi o primeiro a dizer que a Terra era um grande ímã.
Revista D+ número 12
PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Como o professor pode trabalhar os conteúdos do campo magnético na prática de sala de aula com alunos surdos e ouvintes?
Na prática do cotidiano, são vastas as aplicações do magnetismo e suas propriedades: na utilização da bússola na navegação, nos equipamentos de ressonância magnética, nos discos rígidos (hard disk) dos computadores, nos tablets, celulares etc. Conhecer as propriedades e os efeitos que o magnetismo causa em certos materiais e no corpo humano remetem a aspectos qualitativos e conceituais, importantes no conhecimento do aluno sobre o desenvolvimento da eletricidade que resulta na fabricação de objetos utilizados no dia a dia, como, por exemplo, telefones, geradores e televisores. Para entender o processo de construção de conceitos fundamentais da Física, é imprescindível que a pesquisa faça parte do processo de ensino e aprendizagem. Em outras palavras, é necessário que o professor, ao preparar suas aulas, estude e se fundamente na História e na Epistemologia da Física, e, analogicamente, trabalhe para que o aluno também trilhe esse caminho. Assim, o professor precisa ir além dos manuais e livros didáticos e estabelecer relações entre essa ciência e outros campos do conhecimento, de modo que os alunos também percebam essas relações. Mas, como o professor pode trabalhar os conteúdos do campo magnético na prática de sala de aula com alunos surdos e ouvintes? Utilizando também a língua de sinais, não faltam caminhos para motivar os alunos a estudarem. Certamente, um desses caminhos que pode encantar os alunos é a simples descoberta e manipulação dos ímãs. No entanto, a produção científica não é uma cópia fiel do mundo ou da realidade perceptível pelo senso comum: aquilo que pode ser tocado, manejado. Ela é uma construção racional, uma aproximação daquilo que se entende ser o comportamento da natureza. Para aprender o conhecimento científico, é necessária a ruptura com a realidade imediata e adentrar num mundo onde o real é uma construção e não um fenômeno dado. Essa perspectiva sempre deve estar em mente no momento em que o professor prepara a sua aula. Assim, quando ele for introduzir os conceitos, as propriedades e as definições presentes na teoria do campo magnético e como ele afeta nossas vidas, é fundamental que considere os conhecimentos trazidos pelos alunos, pois estes são fruto de experiências vividas em suas relações sociais. Para isso, o professor pode iniciar a aula investigando com os alunos quais as propriedades básicas do magnetismo. Nessa investigação, interessam, em especial, os diferentes conhecimentos prévios trazidos pelos alunos sobre
o assunto, que podem influenciar a aprendizagem de conceitos do ponto de vista científico. Como sugestão nessa abordagem inicial, o professor poderá levar um pequeno ímã e alguns materiais que são comuns em nosso cotidiano: fio de cobre, panela de alumínio, barrinha de ferro, régua de plástico, lápis de madeira, uma moeda, folha de papel etc. A princípio, pedir que os alunos hipoteticamente digam quais materiais serão atraídos pelo ímã. As respostas poderão ser anotadas na lousa. Em seguida, fazer a verificação experimental, aproximando o ímã de cada material. Esse experimento tem como objetivo levar o aluno a compreender que se um ímã natural tem propriedades magnéticas, então todos os materiais que ele atrair ou repelir também terão propriedades magnéticas. A experimentação é uma importante atividade que possibilita melhor compreensão sobre os fenômenos físicos, além de estabelecer relações entre conceitos, proporcionando uma melhor interação entre professor e alunos, o que pode propiciar o desenvolvimento cognitivo e social no ambiente escolar. Assim, uma aula desse tipo não deve ter o simples objetivo de verificar ou comprovar leis e teorias científicas. Nela, o professor, mais do que explicar um fenômeno físico, deve assumir uma postura questionadora de quem lança dúvidas para o aluno e permite que ele explicite suas ideias, as quais, por sua vez, serão problematizadas pelo professor. Para ilustrar uma das possibilidades de trabalho com esse conteúdo em sala de aula, com alunos surdos e ouvintes, a Revista D+ traz um dos experimentos feitos pelo professor interlocutor de Libras Rafael Dias Silva. Ele é licenciado em Ciências da Natureza, mestrando em Educação pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP) e coordena um Cursinho Pré-Vestibular para Alunos
fotos divulgação
Demonstração de campo magnético com ferrofluido
Surdos. Segundo Rafael Silva, “não é preciso desenvolver um material exclusivo para os surdos”. Como citado anteriormente, para planejar adequadamente, o professor precisa saber quais conhecimentos prévios cada aluno tem sobre o assunto. Nesse sentido, exemplifica Rafael Silva, “ao usar o termo nanopartículas, preciso descobrir o que meu aluno sabe sobre ele. Para explicar a escala nanométrica, posso trabalhar com imagens acerca da altura de um prédio (em metros), comparar com a altura de um cachorro (em centímetros), depois comparar com a de uma pulga (em milímetros), até chegar ao que eu realmente desejo. Primeiro, mostro a imagem; depois, faço a datilologia para que o aluno aprenda a palavra em português-por-escrito; e, por último, apresento o sinal em Libras. Conceitos abstratos são um desafio constante. Muitas vezes nem existe o sinal, então pensamos em um sinal que depois precisa ser validado pela comunidade surda”. É preciso ter uma preocupação com o uso adequado da linguagem científica, seja para os ouvintes, seja para os surdos. No caso dos surdos, há que se ter uma atenção redobrada na utilização de sinais de vocábulos específicos da área, os quais precisam exprimir e representar visualmente os conceitos de cada conteúdo. O simples uso de sinais do alfabeto manual da Libras (representando a letra inicial do vocábulo em português) não tem sido a melhor escolha para favorecer a produção de sinais nas diversas áreas das ciências. O experimento proposto pelo professor Rafael Silva consiste basicamente em aproximar um superímã do ferrofluido disposto em um potinho transparente, fazendo com que o campo magnético seja revelado. “Vamos mostrar que existem polos positivos e negativos, e que eles são inseparáveis, porque sempre teremos polos positivos e negativos. Revista D+ número 12
PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Quando aproximamos o ímã do ferrofluido, atraímos as partículas nano e exibimos as forças que vão de um polo a outro”, explica Rafael. Para desenvolver esse experimento, o professor Rafael Silva sugere o seguinte passo a passo:
1. Explicar como o material funciona; 2. Chamar atenção para suas propriedades; 3. Mostrar como o material deve ser manipulado (o ferrofluido mancha e por isso é necessário usar luvas e avental); 4. Orientar os alunos para que não se machuquem com o superímã; 5. Explicitar os objetivos do experimento; 6. Dar um tempo razoável para que o aluno o manipule o superímã, e teste seu efeito sobre diferentes materiais.
Em seguida, o professor faz a demonstração e depois oferece um potinho para cada aluno, para que toque o material, que adquire uma consistência gelatinosa quando ativado pelo ímã. Assim, o professor trabalhará junto com os alunos a construção de conceitos, de uma forma muito mais significativa e concreta do que simplesmente desenhar um campo magnético na lousa. Sobre o material utilizado nesse experimento, Rafael Silva sugere que, “se a escola não tem condições de providenciar esse material, que é importado e caro, o professor pode usar palha de aço queimada. Basta misturar o pozinho que sobra com óleo vegetal”. Professor Rafael Dias Silva: “não é preciso desenvolver um material exclusivo para os surdos”. Embora tenhamos apresentado o registro de uma prática de ensino de um dos conteúdos de Física, ressaltamos que para o ensino e aprendizagem de conhecimentos de campo magnético é possível um trabalho interdisciplinar. Por exemplo, daria para envolver as disciplinas de Matemática, Biologia, História, Geografia, dentre outras. D+
Problematização de situações que envolvam um conteúdo de Física Para que os alunos levantem hipóteses na tentativa de explicar as questões propostas pelo professor, as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Física, da Secretaria Estadual de Educação do Paraná, trazem as seguintes orientações: • Iniciar um conteúdo a partir de uma problematização exige do professor uma postura muito mais questionadora do que a de um professor que apenas responde às questões ou fornece explicações; • Cabe ao professor a organização do conhecimento para a compreensão do conteúdo problematizado, através do encaminhamento metodológico mais apropriado escolhido também por ele; • Privilegia-se o confronto entre as concepções prévias do estudante e a concepção científica, o que pode facilitar a formação de um conceito científico; • O encaminhamento dado pelo professor, através de diversas estratégias de ensino, deve possibilitar ao estudante analisar e interpretar as situações iniciais propostas e outras que são explicadas pelo mesmo conhecimento;
• A partir do encaminhamento metodológico e das relações entre professor/estudantes e dos estudantes entre si, intensificam-se as possibilidades de debates e discussões aproximando os sujeitos e facilitando a criação, a análise, a formulação de conceitos, o desenvolvimento de ideias e a escolha de diferentes caminhos para o encaminhamento da atividade. • Uma experiência que permite a manipulação de materiais pelos estudantes ou uma demonstração experimental pelo professor, nem sempre precisa estar associada a um aparato sofisticado; • Importa a organização, discussão e reflexão sobre todas as etapas da experiência, o que propicia interpretar os fenômenos físicos e trocar informações durante a aula, seja ela na sala ou no laboratório; • As atividades em espaços de laboratório não devem ter como meta a apresentação de uma ciência fechada, que está à espera de alguém que confirme suas verdades, mas que seja um ambiente de confrontação de hipóteses; • Acredita-se que a experimentação pode ser mais um componente, não o único na implementação de uma proposta de ensino centrada no conhecimento.
SAIBA MAIS
pedagógicos da Revista D+, mestra em
CAMPOS, Maria Cristina da Cunha. Didática de ciências: o ensino-aprendizagem como investigação. São Paulo: FTD, 1999
Educação (FE-USP), bacharela e licenciada
NOVAK, Miguel A., IF - UFRJ- Disponível em: www.cbpf.br/~labmag/miguel.pdf . Acesso em: 15/11/2016.
**Rúbem Soares é psicólogo, doutorando e
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica-Física. Disponível em:
Professor Rafael Dias Silva: “Não é preciso desenvolver um material exclusivo para os surdos”
*Claudine Davids é assessora de projetos
em Letras/Português e Francês (FFLCH-USP)
mestre em Educação (USP), diretor executivo da Revista D+ ***Silvana Zajac é professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/ diretrizes/dce_fis.pdf Acesso em: 15/11/2016.
Depto. Ciências Exatas e da Terra, doutora
VASCONCELOS. Geraldo M. S. Experimentos de Eletrostática de Baixo Custo para o Ensino Médio. Disponível em http://www.ifi. unicamp.br/~lunazzi/F530_F590_F690_F809_F895/ F809/F809_sem2_2005/GeraldoM_Assis_RF1.pdf. Acesso em: 15/11/2016.
Linguagem (LAEL/PUCSP), mestra em
em Linguística Aplicada e Estudos da Educação (Unimep)
IDOSOS Depoimento
Educação sem barreiras Reflexões acerca da aprendizagem na terceira idade texto Rosa Buccino fotos Divulgação
N
o fluxo das atuais discussões sobre o idoso, o direito à educação também tem despertado cada vez mais o interesse entre professores, profissionais do segmento educacional e estudiosos. Entendendo esse novo momento, o professor Júlio Furtado1 observa que deverá ocorrer um preparo estrutural que permita o acesso e a mobilidade do idoso à escola comum ou à universidade. No entanto, ele entende que, quando se pensa na aprendizagem do idoso em nosso país, deve-se considerar que aquele com menor poder aquisitivo provavelmente buscará mais as vias de aprendizagem justamente por não ter tido oportunidades nem condições favoráveis na juventude. Para a professora Marta Relvas2 as reformas educacionais se tornam emergenciais e devem atender às necessidades do idoso. Cabe ao educador modificar suas práticas pedagógicas e seus pensamentos diante da aprendizagem escolar desses novos educandos. O educador ainda necessita
buscar o conhecimento para lidar com o idoso. Outra questão a ser repensada, segundo ela, é a de que o cérebro estimulado realiza novas conexões neurais. “Estudos neurocientíficos evidenciam que através das imagens cerebrais não existem pessoas que não aprendem, mas as que são mais ou menos estimuladas diante das informações”, diz. Em suas aulas de práticas pedagógicas em sala de aula, Marta nota que seus alunos idosos são encantadores, cheios de sonhos e desejos que os motivam a seguir nos estudos. Além de desempenharem as atividades que lhes são propostas ou as tarefas de estímulos de reabilitação cognitiva, emocional e motora para fins de saúde ocupacional com responsabilidade, eles sempre demonstram interesses pelo aprendizado. E completa: “o papel da escola não é só conduzir o idoso ao mercado de trabalho. É preciso pensar em ações governamentais para que essa parcela da população encontre na escola espaços de convivência e socialização”.
O professor Júlio acredita que, além de priorizar a clareza das informações e adequar a linguagem à realidade do idoso, é fundamental que ele perceba o conhecimento inserido no mundo e no contexto em que ele se aplica. E ressalta: “O Brasil não tem programas ou políticas públicas educacionais voltadas para o idoso que é, em geral, tratado no campo da exclusão social. Torna-se urgente que políticas públicas sejam criadas para garantirem a oferta de uma educação voltada as suas reais necessidades”. D+
PELA APRENDIZAGEM ESCOLAR DO IDOSO Despertar o interesse na informação, pois só se obtém atenção quando a relação subjetiva é aguçada; Vale optar pela ludicidade, pois estimula os neurônios especializados da região do hipotálamo a liberar a dopamina, neurotransmissor no sistema límbico ou cérebro emocional; O cérebro pode assimilar melhor se motivado através de recursos pedagógicos diferenciados, como jogos, palavras cruzadas e brincadeiras.
1
Júlio Furtado é professor, mestre em Educação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Havana, Cuba. Mais informações: www.juliofurtado.com.br) 2
Marta Relvas é professora, bióloga, neurobióloga, membro da So-
ciedade Brasileira de Neurociência e Comportamento (SBNeC); escritora dos livros Sob o Comando do Cérebro - entenda como a Neurociência está no seu dia a dia, Fundamentos Biológicos da Educação e Como aplicar a Psicomotricidade.
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IDOSOS Negócios
Empreendedorismo e
determinação
Rede de salões inspira investidores do segmento de beleza e estética texto Rosa Buccino fotos Marcos Florence
U
m clima eufórico provocou mudanças consideráveis no Brasil dos anos 50. Com o fim da guerra mundial, a revolução comportamental e tecnológica passou a ser temática amplamente discutida. A televisão exibiu a primeira programação em 18 de setembro de 1951, orquestrada pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand, transformando definitivamente a cultura popular. Paralelamente à movimentação histórica, imigrantes de origem europeia elegeram o nosso país como destino, caso dos franceses Jacques Goossens, cabeleireiro, e Janine Goossens, esteticista, que aterrissaram na cidade de São Paulo para validarem a máxima que os conduz pessoal e profissionalmente: “com fé e amor pelo que se faz, é possível transpor barreiras e progredir”. Não é à toa que, hoje, passados quase sessenta anos, a rede Jacques
Janine é referência em nosso país e na América Latina e inspira investidores que estão à beira de planejar um novo negócio até mesmo na terceira idade. A trajetória bem sucedida de Jacques e Janine começou em 1958, quando se conheceram, apaixonaram-se e casaram-se para literalmente viverem felizes para sempre. Não tardou para inaugurarem no mesmo ano o primeiro salão, na Rua Augusta, cidade de São Paulo. Janine revela que sua formação como esteticista, em Paris, foi determinante para atrair a clientela naquela época. “Contava com poucos produtos e ferramentas. Recordo que atraia minha clientela pela atenção dedicada e, por imprimir meu toque manual em procedimentos de massagens que realizava”, recorda. A mesma fórmula certeira foi aplicável a Jacques, expert na arte dos cabelos. Janine comenta que o marido sempre
Janine Goossens: organização e foco como fundamentos do próprio negócio
procurou compreender as reais necessidades dos clientes. “Ele foi sempre um mestre nesse ofício, ensinando a equipe profissional desde segurar pente, escova e tesoura até como manter o atendimento impecável”, observa. Janine também sabe que o avanço da indústria cosmética e a expansão tecnológica revolucionaram o segmento de beleza e, consequentemente, foram determinantes para a prosperidade do próprio negócio. “A diversificação de nossos serviços, o bom atendimento à clientela e pesquisas permanentes sobre lançamentos e novidades foram ainda mais solidificadas como nossa missão”. Na área da estética, por exemplo, houve incremento de formulações dedicadas aos peelings faciais e rituais reservados à pele e massagens corporais. Para os cabelos, como a cosmetologia caminhou a passos largos, Janine entende que não haveria outro caminho senão a solidificação do negócio, ampliando, assim, o leque de serviços para além de cortes, colorações e penteados tradicionais. “Jacques chegou a modelar um penteado à base de cerveja! Até porque outrora os recursos eram escassos para finalizações. Hoje, com tantos avanços, um cabelo crespo pode ser alisado e vice-versa à base de produtos de qualidade, preservando-se a saúde capilar”, sublinha.
A área externa tem espaço dedicado aos procedimentos e às terapias alternativas
Com o boom do segmento de beleza, dos anos 80 em diante, no Brasil, Jacques Janine só acumula prestígio: assinou memoráveis shows de tendências em feiras segmentadas no país e no exterior; e o casal de proprietários presidiu a Associação Internacional de Mestres Cabeleireiros (Intercoiffure Brasil), entidade fundada em 1925, em Zurique, por um grupo seleto de cabeleireiros europeus. Além do mais, em busca de solidificar a brilhante participação mercadológica, a rede de salões dá total atenção aos clientes idosos, pois tem ciência de que representam as gerações de sua clientela. “Estamos preparados para lhes oferecer tratamentos com ativos e formulações que conservem a pele e promovam o rejuvenescimento facial; colorações que camuflem os fios esbranquiçados, como o efeito de mechas, entre outros; além de cortes, penteados, finalizações e procedimentos adequados”, indica Janine. O Mutirão da Beleza, ação promovida na sede Jacques Janine para atender idosos carentes assistidos pelo projeto Velho Amigo (associação não governamental e sem fins lucrativos que contribui para o melhor funcionamento de instituições de longa permanência), também representa a atenção dedicada a esse grupo populacional. “Durante a ação, os participantes usufruem gratuitamente de serviços de coloração, corte, manicure, pedicure e maquiagem com o auxílio de profissionais como voluntários”, comenta Janine. Diante desse histórico, a rede já inaugurou uma unidade em Orlando, Flórida, Estados Unidos, além das 64 unidades localizadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso, Bahia e Pernambuco. Todas com equipes treinadas, excelência em atendimento, qualidade dos produtos utilizados e serviços oferecidos. D+
A sede do Jacques Janine tem amplas dependências internas
Revista D+ número 12
IDOSOS Radar
além do tempo Aging in place é um conceito inovador exportado do exterior e perfeito para os idosos texto Rosa Buccino fotos Divulgação (Cerâmica Portinari)
E
screver sobre o tempo é sempre um prazer. Aliás, através de versos, prosas, letras de músicas ou roteiros teatrais, televisivos e cinematográficos, o tema teve e tem absoluta relevância porque é antes de tudo fascinante. Quiçá para a juventude o tempo simbolize sua incontrolável e frenética razão de ser. Em contrapartida, os idosos sabem que o tempo é implacável, mas estão compreendendo que ele flui reorganizado e acordado a inovadoras condutas sociais. Estudos em Design, realizado pela designer de produto Camila Feldberg Porto e pelo doutor em ciências da saúde, Edson José Carpintero Rezende, em 2016, para a Universidade do Estado de Minas Gerais (UFMG) figura entre os trabalhos que dão conta do novo tempo dos idosos brasileiros, pois menciona sobre como o ambiente onde vivem ao longo da vida pode influenciar o cotidiano deles: “um novo design universal surge como solução para a inclusão social e os conceitos relacionados ao ambiente construído para idosos se tornam mais relevantes”. É notório que quem envelhece realmente quer casa. Aliás, a casa de outrora e de sempre. Tamanha constatação tem um vasto histórico com base em um conceito propagado desde os anos 70, nos Estados Unidos: aging in place (envelhecer no
lugar), cujo sentido é justamente ir além dos valores comumente agregados ao envelhecimento, entre eles dependência e falta de autonomia. Outro dado recorrente é que desse conceito surgiram prestadores de serviços pelo mundo que viabilizam a real necessidade de uma pessoa envelhecer em um ambiente familiar entre praticidade e acessibilidade. Nos Estados Unidos, o National Aging in Place Council (NAIPC), conselho de ordem federal, age em busca de orientar o idoso a permanecer na própria casa o maior tempo possível e com boas condições de sobrevivência, em lugar de abandoná-la para viver em um lar de idosos, por exemplo. Nas entrelinhas de um de seus principais documentos, o conselho procura atender às necessidades dele através de um questionário que, preenchido, segue avaliado por uma equipe que propõe assistência e acompanhamento sobre acessibilidade na própria moradia, assistência médica e hospitalar, assessoria às finanças pessoais, educação, entretenimento, práticas de terapias ocupacionais e motivacionais, entre outras questões de relevância social. Reconhecido socialmente, portanto, o conceito aging in place é merecedor de atenção. Marianne Cusato, designer, professora de arquitetura e eleita recentemente uma das consultoras imobiliárias melhor sucedidas pela revista Fortune
norte-americana, reconheceu parte dos dados da pesquisa Aging in Place Survey Report (Relatório de Pesquisa Envelhecer no Lugar), realizada pela HomeAdvisor, em agosto de 2015 (veja adiante), que comprovou como a população norte-americana está se preparando para o envelhecer no lugar. A pesquisa consultou 237 prestadores de serviços que focam em projetos residenciais pela melhor acomodação de idosos. Com base no chamado Design Universal (DU), que propaga a acessibilidade arquitetônica para pessoas a partir de 50 anos e a construção de residências com design diferenciado, são encontradas soluções voltadas para esse grupo populacional, como paginação de pisos antiderrapantes; construção de balcões em desníveis que facilitam várias demandas culinárias, na cozinha; assentamento de barras de apoio em corredores e áreas estratégicas da casa; adaptação de vasos sanitários, pias, saboneteiras e papeleiras no banheiro, entre outras melhorias. Ao pesquisar sobre o conceito, Márcia Sena, farmacêutica e bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP), mestra em educação de Negócios pela Marquette University, Estados Unidos, experiente nas áreas farmacêutica e hospitalar, acabou se especializando em qualidade de vida na terceira idade pela própria dificuldade de equilibrar a vida profissional e os cuidados com os pais. Na época, ao buscar serviços e empresas que pudessem auxiliá-la em situações pontuais, uma vez que os pais precisavam de cuidados intensivos, como enfermagem e cuidadoras em tempo integral, ela observou uma lacuna no segmento dedicado à longevidade em nosso país.
PARA ENVELHECER NO LUGAR 3 de 4 proprietários colocaram barras de apoio 64% construíram rampa de acesso na entrada 44% aumentaram a largura das portas 1 de 3 proprietários construiu um banheiro no piso principal 30% colocaram novas maçanetas 29% repaginaram o piso para evitar lesões 19% mudaram o quarto principal da casa para o primeiro andar 1 de 10 proprietários diminuiu o total de interruptores elétricos Dados baseados em informações de custo apresentados ao HomeAdvisor True Cost Guide e conduzidos ao Survey Monkey em nome da HomeAdvisor. Fonte: www.homeadvisor.com
A postura do idoso é a mesma que nos Estados Unidos, Japão ou a dos ‘Novos Idosos’ do Brasil: necessitam de serviços para que sejam apoiados e auxiliados a viver em suas próprias casas pelo máximo de tempo possível e com qualidade de vida. Nunca querem ser tratados como doentes. Márcia Sena, Senior Concierge
A ESTRUTURA DO NEGÓCIO Reunião familiar com a presença do idoso e a de um gestor de relacionamento da empresa para entender às reais necessidades do serviço. Avaliação Sênior 360º realizada por uma terapeuta ocupacional geriatra, que avalia se a residência do idoso está apropriada para o processo de envelhecimento (avalia o risco de quedas, ergonomia, mobilidade e acessibilidade dos ambientes) e as condições de bem-estar em que esse idoso se encontra (se está se alimentando adequadamente, se hidratando e outras preocupações). Após essas avaliações, entrega-se um relatório para a família, orientando-o sobre que tipos de serviços, aula, cuidados ou suportes seriam mais adequados ao familiar idoso. Direcionamento aos profissionais especializados de acordo com as demandas identificadas. A equipe pode conduzir desde as obras de adaptação da residência até a fisioterapia, atividades lúdicas, como, musicoterapia, cantoterapia, entrega de alimentação e outros itens de conforto da residência.
Notou, ainda, o crescimento do conceito aging in place nos Estados Unidos e na Europa, e o fato de empresas nacionais ainda enxergarem os idosos como doentes ou acamados, esquecendo-se de atentar para autonomia, independência e serviços pontuais. Assim, surgiu sua empresa, a Senior Concierge, que atende às necessidades de idosos e os respectivos desafios inerentes ao envelhecimento. “A empresa foca na manutenção da autonomia do idoso no local de convívio, oferecendo resolução de problemas de mobilidade, bem-estar, tarefas domésticas e segurança contra males súbitos”, revela. POR DENTRO DO CONCEITO NO BRASIL Márcia explica que sua empresa foi inspirada em modelos norte-americanos e que a empresa cria condições para que seus usuários na idade 60+ continuem vivendo em seus lares com conforto e independência. Além de sua empresa, ela indica a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) por atuar de forma semelhante ao Revista D+ número 12
fotos divulgação
IDOSOS Radar
PROJETO BEM BRASILEIRO O programa Casa Segura do Idoso (Kit Idoso), criado pela Companhia Urbanizadora e de Habitação de Minas Gerais (URBEL), atende idosos carentes com dificuldade de locomoção em vilas, favelas e conjuntos habitacionais nas regionais de Belo Horizonte. Para 2017, esse programa prevê reformas em 330 apartamentos destinados aos idosos, proporcionando-lhes maior segurança com projeto exclusivo dos arquitetos e urbanistas Gabriel Velloso da Rocha Pereira, Luiz Felipe de Farias e Marcelo Palhares Santiago, Horizontes Arquitetura, que pontuam: “Na primeira fase, priorizaremos as áreas destinadas aos banheiros, pela melhor mobilidade dos moradores idosos”.
Projeto inclui barras de apoio e paginação de pisos antiderrapantes em benefício do morador idoso
NAIPC com um olhar holístico e amplo sobre o envelhecimento mesmo sem focar totalmente no conceito aging in place, apenas em alguns pontos. A Senior Concierge está no mercado desde junho de 2015. Atua no segmento chamado B2C (business to consumer), ou seja, lidando diretamente com os clientes (pessoa física), com planos individuais e personalizáveis. Os serviços também podem ser contratados de maneira avulsa. Outro padrão de serviço, o B2B (empresa para empresa) tem planos corporativos para profissionais que trabalham muito e precisam dar suporte e cuidados aos pais idosos. Além disso, a empresa oferece planos e serviços de atuação nacional, mas os serviços especializados Braço Amigo (acompanhamento a compromissos) e Senior Limp (limpeza doméstica especializada nas necessidades de idosos), são disponibilizados somente na Grande São Paulo. “Queremos ser um balcão de referência para nossos clientes provendo todas as informações e serviços possíveis relacionados a Envelhecimento e Longevidade”, propaga Márcia. A escolha do nome Senior Concierge foi pensada no significado da palavra Conciérge em francês: concierge é um profissional que fica em um balcão na entrada do hotel (conciergerie, em francês, ou conciergeria), responsável por assistir os hóspedes em qualquer pedido que estes tenham, dos mais extravagantes ao mais simples, como solicitar um táxi, oferecer informações sobre um hotel e respectivos serviços, sobre uma cidade e pontos turísticos, venda de passeios na região, locação de carros, reservas e indicações de restaurantes, ligações telefônicas para farmácia, floricultura ou tabacaria. Recentemente essa profissão tem abrangido diversas áreas de atuação, como a área da saúde: hospitais particulares têm contratado profissionais com o perfil concierge para ajudar seus pacientes. D+
IDOSOS Bem-Estar
Visitas ao
visual
Profissionais de beleza indicam como manter os cabelos saudáveis na terceira idade texto Rosa Buccino fotos Divulgação
E
ntre as questões associadas ao envelhecimento, as que se referem aos cabelos e à pele chamam atenção dos sessentões vaidosos e que vivem antenados em busca de segredinhos para driblarem o surgimento desde cabelos brancos até as indesejáveis rugas que dominam partes do rosto justamente nessa fase da vida. Por esse motivo, Tom Tofanello, experiente tricologista, visagista, hair stylist, make up artist e proprietário do Ton Sur Tom Beleza Valorizada, na cidade de São Paulo, considera que o momento é mais do que oportuno para as pessoas idosas conhecerem os melhores meios de cuidar dos fios e se embelezarem, seguindo à risca vários procedimentos disponibilizados em seu salão. “A última década evidenciou que os idosos estão mais vaidosos e buscam inovar o visual”, revela. Até por isso, o mercado nacional está ganhando muitas linhas cosméticas que concentram ativos benéficos e tem sido premiado com soluções que atendem às necessidades dessa clientela em ascensão. No entanto, parte da
população idosa ainda desconhece como proceder corretamente diante do envelhecimento de cabelos. As idosas, por exemplo, escondem os fios brancos evidentes ao retocarem a raiz, tornando esse serviço como um dos mais procurados nos salões de beleza nacionais. Aproveitando o gancho, Tom observa que cabelos brancos não estão necessariamente associados à presença ou ausência de melanina no corpo, mas a uma textura normalmente proveniente de fatores genéticos. Além desse dado, com o passar dos anos há a probabilidade de perda ou redução capilar, sendo necessários cuidados que atenuem o processo de queda e consequente envelhecimento dos fios. Ele orienta: “Aplicar colorações de qualidade, xampus com pH neutro e anti-idade, além de sessões de terapia capilar reduzem esses problemas.” Olivier Costa, hair stylist do Espaço Vip, na cidade do Rio de Janeiro, também julga que os idosos estão mais vaidosos, pois têm mais acesso às informações e estão mais dinâmicos. “Atendo clientes idosos até duas vezes por semana. Entre os procedimentos solicitados por eles estão colorações tradicionais e de efeito, mechas e
Dr. Álvaro Pereira de Oliveira: é preciso iniciar um tratamento assim que os cabelos começam a cair
corte. Mechas ou coloração de efeito conferem luminosidade e melhoram a expressão facial, resultando em uma aparência jovial. Já um corte moderno levanta qualquer astral”, conta. Outro problema que amedronta os idosos é a queda capilar. Sobre o tema, Tom avisa: “o problema está associado ao stress ou à genética e para tratá-la é preciso antes de tudo o acompanhamento de um dermatologista”. Ele também sabe que medicamentos de uso oral e tópico são igualmente importantes para tratar o problema. Outra dica é ser acompanhado por um tricologista, pois os resultados são surpreendentes, uma vez que envolvem laserterapia, microagulhamento e terapias à base de óleos essenciais. Para Olivier, a queda capilar pode ser prevenida com a aplicação de tônicos, pois encorpam os fios. Comprimidos à base de biotina podem ser prescritos por especialistas e, assim, complementar um possível tratamento. Outra dica dele é que as idosas evitem tinturas com percentual elevado de amônia, evitem colorir o cabelo sem que haja necessidade e priorizem retoques somente na raiz. Para os homens que não querem assumir os cabelos brancos, vale aplicar um bom tonalizante.
Olivier Costa: os cabelos pedem produtos de qualidade
Tom Tofanello: embelezar as pessoas idosas também é um grande negócio
O envelhecimento pode colaborar na rarefação capilar, mas não é um fator determinante Tom Tofanello
Fabinho Araujo: maquiar a pele madura está entre suas habilidades Revista D+ número 12
IDOSOS Bem-Estar
Tratamento à base de luzes de LED estimula o crescimento capilar
Tom comenta ser ideal evitar lavagem dos cabelos com água muito quente e dar preferência para xampus que contenham pantenol e jojoba, pois são excelentes revitalizadores. Já o Dr. Alvaro Pereira de Oliveira, cirurgião vascular, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia (SBLMC), comenta: “o homem sofre desse mal intensamente entre 18 a 35 anos. Passada essa fase, a intensidade da queda diminui. Já com as mulheres, a queda intensa ocorre após a menopausa. É um processo de miniaturização dos pelos que vão se tornando mais finos, fracos e reduzidos. Isso sem contar na chamada canície (pelos brancos)”. Para recuperar os fios, o Dr. Alvaro sugere o tratamento com o Capellux, um boné que tem luzes de LED embutidas e que foi desenvolvido para tratar a queda capilar de homens e mulheres. É preciso utilizar o equipamento com os cabelos limpos e secos, apenas uma vez ao dia, respeitando o timer automático de 12 minutos. Caso o tratamento inclua algum produto tópico que necessite de aplicação local, deverá ser utilizado imediatamente após o equipamento.
PELA PELE SAUDÁVEL Receitas para o envelhecimento Tom recomenda aplicar produtos com formulações à base de ácidos, como retinóico, hialurônico e glicólico, além de vitaminas C, A e E, colágeno e elastina. Ele também orienta que há cremes igualmente essenciais pela manutenção da pele com as seguintes classificações: cremes inteligentes (quando os princípios ativos detectam a região mais danificada da pele e liberam vitaminas e nutrientes nessa área); neurocosméticos (cuidam do bem estar da cútis, pois carregam substâncias que estimulam a produção dos precursores da endorfina [neurotransmissor do prazer e da alegria]); dermocosméticos (conhecidos como cosmecêuticos e que trazem substâncias que oscilam entre cosméticos e medicamentos) e nanotecnológicos (penetram nas camadas mais profundas da pele e são desenvolvidos a partir de pesquisas da nanotecnologia). Uma vez preservada, a pele madura pode ter uma make condizente. Sobre o tema, Tom indica: borrifar adstringente sobre um chumaço de algodão limpo, aplicar creme de limpeza, hidratante específico e primer pelo viço da pele. Feito isso, ele aconselha apostar em produtos de maquiagem indicados para peles maduras, como base cremosa para uniformizar a pele e cobrir traços, linhas ou rugas de expressão, sempre em camadas finas. Fabinho Araujo, beauty artist no salão Criar, na cidade de São Paulo, sugere valorizar o olhar na maturidade, investindo em uma paleta com os tons bege, marrom claro, salmão e nude. Para completar, cílios postiços e definição das sobrancelhas com cera ou gel. Para os lábios: batom e contorno labial são sempre bem vindos. D+
Makes deles e delas A pele madura não tem a mesma elasticidade que a pele jovem. Por isso, o processo de preparação exige mais cuidado. Homens e mulheres devem aplicar um hidratante potente antes de qualquer maquiagem. Em seguida, será a vez do primer. As idosas podem esfumar um pouco mais o olhar, aplicarem pó facial com textura extrafina e sombras acetinadas, pois não ressaltam linhas ou rugas ao redor dos olhos. O efeito iluminador é muito procurado. As sobrancelhas masculinas costumam crescer muito e, por isso, tornam a fisionomia pesada. É aconselhável, por isso, contar com o serviço de uma designer de sobrancelha especializada para manter a fisionomia leve. As sobrancelhas femininas vêm sendo definidas com a técnica de micropigmentação, que deve ser sempre aplicada por uma profissional experiente. As idosas podem usar um corretivo depois da base e aplicar só nos locais que aparecem manchas e imperfeições. Um contorno (jogo de luz e sombra) desde que bem esfumado pode minimizar essas imperfeições. O olhar pode ser valorizado com alguns pontos de iluminador e o rosto parecer mais fino com a aplicação de pó marrom opaco em regiões estratégicas.
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APRENDA LIBRAS
Aprenda sinais de Festa Natalina e Ano Novo por Célio da Conceição Santana e Joice Alves de Sá revisão Rafaella Sessenta ilustrações Luis Filipe Rosa
O
mês de dezembro é uma época de festas: a maioria das pessoas se une para celebrar o Natal com a família e os amigos, com comida farta e a tradicional troca de presentes. Também fechamos um ciclo com a entrada do novo ano no dia primeiro de janeiro. Desejosos de que todos possam comemorar essas datas em harmonia e envoltos no espírito de amizade, solidariedade e paz, reunimos nesta edição diversos sinais da Libras que representam os símbolos desta época do ano tão especial! Boas Festas! D+
Natal
Jesus Cristo
Árvore de Natal
Amigo Secreto
Festa
Fogos de ArtifĂcio
Ano novo Confira os vĂdeos desses sinais em revistadmais/ed12_aprendalibras
RUMOS & DESCOBERTAS
Marcela Mahayama, cega, com a Instrutora de Orientação e Mpbilidade do Instituto Laramara, Nelma Martinez de Meo se deliciaram com o sabor e o aroma da plantação de morangos
Um toque de
cachaça e morango O Turismo Sensorial abre novos caminhos acessíveis para que pessoas cegas e com baixa visão desfrutem do que há de mais puro no campo texto Cintia Alves e Brenda Cruz* fotos Brenda Cruz
O
projeto de viagens experimentais gratuitas, Ampliando Horizontes – Experiências Sensoriais no Turismo para Pessoas Cegas e com Baixa Visão, criado por Audy Veronese em seu trabalho de conclusão do curso técnico de Guia de Turismo, no Senac, chega a sua segunda edição em parceria com a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de São Paulo (Fresp) e pela primeira vez em parceria com o Ministério do Turismo de Atibaia. Nas curvas cinzentas da Rodovia Fernão Dias, seguimos rumo a essa simpática cidade no interior de São Paulo. O microfone circulava de mão em mão e as vozes do grupo de viajantes se apresentavam sem muitos rodeios. “Essa música é conhecida”, comentou o agente de gestão em Políticas Públicas, Mario Luiz Brancia, 55 anos, cego, antes de começar a cantar. Era o sinal que predizia a marca registrada do grupo ao longo de todo o passeio: a animação. Eram 12 cegos e 12 videntes, formando duplas. Primeira parada: Fazenda Paraíso, construída em 1860, onde os eucaliptos enfileirados indicando a entrada revelavam também todo o frescor da natureza. Próximo ao restaurante, Dona Ana, a proprietária, contou sobre a história das seis gerações de sua família, dos animais da fazenda – como Gabriel, o jacaré de estimação –, e as atividades no processo de fabricação da cachaça no alambique construído em 1910.
Revista D+ número 12
RUMOS & DESCOBERTAS
Todos puderam tocar a plantação de morango
Roselene de Souza Celoto, com baixa visão, e seu marido João Roberto conhecendo uma muda da fruta
Nelma mostra para Marcela o “rabo de gato“, usado para aquecer a garapa
CHEIRO DE NOVAS EXPERIÊNCIAS Por meio da descrição de Dona Ana, a máquina de moer cana para cachaça, original de Glasgow, em Nova Iorque, assumiu o protagonismo na aula de história sobre cada momento da produção. “A exploração tátil dos equipamentos me deu uma noção maior do tamanho das máquinas, da altura e do diâmetro dos barris”, comentou Sidnei Tobias de Sousa, 50 anos, analista de sistemas, cego desde os 13 anos. Com as correntes desligadas, tocamos o bagaço da cana – que vira artesanato –, sentimos o cheiro na textura áspera pós-moída e o gosto doce da garapa já filtrada. Já no “pulmão” do processo, como é chamada a sala de fermentação, o grupo descobriu na ponta dos dedos uma imensa panela, o “rabo de gato” (como uma colher de cabo bem longo, com uma ponta redonda para aquecer a garapa) e as máquinas de fermentação. Na última sala de produção, Dona Ana descreve minuciosamente as etapas da destilação com a ajuda dos funcionários e responde as dúvidas dos visitantes. “Quando a gente conhece os processos dos alimentos valoriza muito mais do que simplesmente comprar no supermercado”, confessa Alexandre Alves Toco, 42 anos, cego, analista de sistemas. “Esse conhecimento é importante, além de que sair de São Paulo e vir para o campo é uma ótima experiência para desacelerar e aprender”. O paladar, como não poderia deixar de ser, foi parte importantíssima do roteiro. Visitamos a loja do alambique repleta de doces, pimentas, geleias, bebidas como licor e cachaça, onde todos puderam apreciar diferentes sabores da água ardente. No restaurante de frente para o lago, uma feijoada feita no fogão à lenha, com iguarias como torresmo, bisteca, linguiça e saladas, além dos doces típicos para a sobremesa, conquistaram até os paladares mais exigentes. Para não perder o tom da descontração, a cantoria do grupo ganhou a companhia dos violeiros da Fazenda. NATUREZA É PARA SENTIR A viagem seguiu para o Parque do Morango Duílio Maziero, no Campo dos Aleixos, sítio produtor de morangos, onde o contato com a terra foi renovador para todos. “Eu sempre imaginei que morango nascesse somente no chão e foi muito interessante ver a altura, foi sensacional colher!”, contou Roselene de Souza Celoto, 58 anos, cega, pedagoga e instrutora de ioga. O sítio produtor, com 40 anos de tradição, ofereceu aos visitantes a possibilidade de tocar as flores e sentir os frutos em diferentes estágios de crescimento, além, é claro, de oferecer os morangos maduros tirados na hora para consumo.
Na loja do alambique, Sonia Miquelini Ferreira com Sidnei Tobias
Para Roselene, que está no grupo desde sua formação (a primeira viagem foi para um cafezal, em junho deste ano) a experiência tem muito valor. “Para nós, com deficiência visual, é importantíssimo estar no local, tocar, conhecer, sentir o cheiro, degustar, sentir a energia do lugar, além de ouvir a história dele”. A colheita dos morangos diretamente do pé foi uma verdadeira aula. O proprietário Osvaldo Maziero descreveu, com o bom sotaque interiorano, a terra batida, a água do regador, o toque nos morangos, sua paixão pelo plantio assim como as características do crescimento da frutinha.
O prazer de vivenciar as experiências, o aprendizado e o convívio entre cegos e videntes foi a tríade que garantiu o sucesso da aventura. “Foi além da minha expectativa, achava que seria como aqueles passeios turísticos mais segmentados onde você tem que fazer isso e aquilo. Foi uma coisa bem descontraída e muito natural”, opina Fernando Rodrigues, 35 anos, vidente, arquiteto convidado pela Fresp. Quando as oportunidades são dadas, todos podem desfrutar dos mesmos passeios e das mesmas experiências, seja com a visão, seja com a audição e o tato. Não falta público: o que falta é respeitar as individualidades e suas especificidades. “A iniciativa é muito importante para começar a mudar o cenário de autonomia das pessoas com deficiência”, ressalta Maria Regina Lopes, 62 anos, cega, assistente social na Fundação Dorina Nowill e participante do projeto desde o início. Ao fim da colheita fomos convidados a tomar um delicioso suco de morango da imensa plantação de Seu Osvaldo. Como pano de fundo, mais música e confraternização. D+ Fazenda Paraíso Rodovia Fernão Dias, Saída 52 – Pista Sul Bairro do Portão, Atibaia/ SP www.fazendaparaisoatibaia.com.br Parque do Morango Duílio Maziero Rodovia Edgard Máximo Zamboto, km 77 Saída 87 da Rodovia D. Pedro I, Atibaia/SP * As repórteres viajaram a convite do projeto
Revista D+ número 12 Todo o grupo confraternizou com o pessoal do Parque do Morango Duílio Maziero no último click do dia
GARFO & FACA
Pratos ousados, vasto menu de bebidas e um ambiente acolhedor e acessível fazem do restaurante Cantaloup um dos melhores em gastronomia contemporânea texto Brenda Cruz fotos Marcos Florence e divulgação
A
o passar pelo imponente portão de madeira, você depara com um ambiente confortável, bonito e cheio de graça, onde a harmonia entre os conceitos clássico e contemporâneo se reflete também em sua gastronomia. O restaurante Cantaloup é um dos ícones em gastronomia contemporânea da cidade de São Paulo. Há duas décadas no mercado gastronômico, carrega em sua identidade o conceito de unicidade “que potencializa a gestão e atenção com cada cliente”. O restaurante dispõe de 90 lugares para atender os comensais. Outro fator importante é a questão da acessibilidade: cardápio em braile, banheiros adaptados e rampas para o acesso ao restaurante estão garantidos no Cantaloup.
Tatiana Rolim Sahagoff, gerente da casa desde a sua inauguração, explica que o menu do Cantaloup tem como base as cozinhas francesa e italiana clássicas, mas há a junção de muitas outras culturas. “O que diferencia o restaurante dos demais é a alta gastronomia e o serviço exclusivo. Também fazemos festivais temáticos, como o Festival Junino, em que os ingredientes são exclusivamente da época. Os clientes gostam bastante!”. Chef há seis anos, Valdir de Oliveira já está há 14 na cozinha do restaurante e imprime a sua marca no menu. Segundo a gerente, os pratos preferidos dos clientes são: namorado em crosta de amêndoas com risoto de alho poró ao molho de laranja, gnocchi de milho verde gratinado com lascas de queijo pecorino trufado, ovo mollet
O piano fica no salão de festas ao lado do restaurante, também há rampas de acesso
O cardápio em braile faz parte da casa desde sua inauguração
Ovo Mollet é uma das entradas mais pedidas
Atum com cogumelos eryngui e farofinha de gergelim spicy ao molho
O praliné de paçoca é uma das sobremesas mais queridas pelos clientes
empanado com purê de cará trufado ao molho de funghi porcini, entre outros. As bebidas ganham no fator diversidade e quantidade. São mais de 500 rótulos de vinhos de todo o mundo, dispostos em uma adega que faz parte da decoração do salão. Não há como sair insatisfeito! Há ainda dezenas de opções de drinks, whiskies, cervejas e é claro, um sommelier para ajudar na harmonização do prato desejado. “Não tem como falar qual é a bebida mais pedida, pois os clientes variam muito suas escolhas, mas o que tem saído nos últimos meses com maior frequência são os vinhos portugueses e um drink chamado Negrone, que tem como base Vermute e Campari.” Por fim, as sobremesas que adoçam os paladares depois da intensa e marcante experiência gastronômica são: praliné de paçoca com mousse, sorvete de chocolate e calda de doce de leite e o petit gateau com sorvete de pistache. D+
Rampa de acesso ao restaurante Cardápio em braile Banheiro Adaptado Altura das mesas compatível com o cadeirante Corredores espaçosos, facilitando a circulação
Cantaloup Rua Manuel Guedes, 474 - Itaim - São Paulo (11) 3078-3445 www.cantaloup.com.br Revista D+ número 12
ESPAÇO DO TILS (TRADUTOR/INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS)
A diferença entre tradução e interpretação
Silvana Zajac
Professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL/ PUCSP), mestra em Educação (Unimep) e bacharelada em Letras/Libras (UFSC/Unicamp)
* Para participar com perguntas e sugestões, escreva para silzajac@revistadmais.com.br
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entre as diversas questões, conceitos e saberes que permeiam a profissão do Tils, tem-se a difícil tarefa de fazer as melhores escolhas para que se tenha a melhor clareza possível entre as línguas que estão sendo interpretadas ou traduzidas. Como já dito na edição anterior da Revista D+, o profissional tradutor/ intérprete precisa contabilizar o que se perde e o que se ganha ao “transmutar” o texto e administrar esse processo exige decisões, muitas vezes, incontornáveis. E nisso consiste, essencialmente, o mérito do tradutor/ intérprete de língua de sinais. Para compreendermos essa complexa tarefa, precisamos conhecer e refletir sobre diversos aspectos. Inicialmente, é importante sabermos a diferença entre a tradução e a interpretação: a primeira se ocupa com a escrita enquanto a segunda com a fala. Nas línguas orais essa diferença está bem marcada e materializada, ou seja, temos os profissionais que fazem somente tradução e outros que executam somente a interpretação. A maioria dos teóricos e dos profissionais dessas áreas entende o uso dos termos tradutor e intérprete para definir duas atividades distintas com paradigmas iguais. Elas se distinguem principalmente pelo seu contexto situacional, ou seja, o intérprete está presente na construção da interlocução; faz parte do “evento” no qual está interpretando; vê o participante, sua expressão, entonação; sabe quem são os interlocutores e qual a função de cada um ao falar.
A modalidade oral possui características específicas para a construção do texto. Já o tradutor, além de obedecer às normas da língua escrita, precisa identificar no texto uma realidade que não é dada a priori, ou seja, na época em que o texto foi escrito; o autor, suas intensões; o público original; dentre outros elementos próprios da modalidade escrita de uma determinada língua. Contudo, na língua de sinais, o mesmo profissional executa as duas tarefas e isso provavelmente ocorra devido ao fato de ainda não se ter uma escrita socialmente constituída das línguas de sinais. Então, a maioria dos Tils não trabalha com a modalidade escrita da língua de sinais. Sendo assim, a maior parte do tempo está interpretando a fala do interlocutor. A tarefa de tradução geralmente aparece nos contextos escolares, onde esse profissional traduz textos escritos para a língua de sinais. Por isso, na área da tradução/interpretação de línguas de sinais, não conseguimos demarcar uma diferença, assim como nas línguas orais, entre essas duas modalidades, porque na maioria das interlocuções, seja com textos escritos, seja com orais, estará em jogo a expressão “sinalizada” da língua de sinais. Assim, precisamos pensar até que ponto os profissionais que trabalham com a “conversão” de uma mensagem de um idioma escrito para outro “sinalizado” se identificam num ato tradutório. Voltaremos ao tema nas próximas edições da Revista D+ D+
SUPER NORMAIS NA D+
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CEREJA!
As aulas de dança abrem novos horizontes aos alunos
Explorando movimentos e
reabilitando a vida texto Cintia Alves fotos Franklin Souza
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e leves a ousados, os passos de dança da Associação Solidariedança de Arte e Cultura completam 10 anos com o espetáculo comemorativo Nossa história, por trás das cortinas, no Teatro Paulo Machado de Carvalho, em São Caetano do Sul. O sonho nasceu da fisioterapeuta e bailarina Cintia Paiva Lima Coelho, em 2003 – último ano de sua graduação –, com o conceito de que a dança vai muito além do estímulo ao corpo: é uma ligação à vida. Para aliviar a rotina de pacientes na clínica de fisioterapia, Cintia incluiu aulas de dança com o apoio de amigos que abraçaram o projeto, fundando, assim, a Associação para gerenciar os projetos. “Começamos com seis pessoas, e hoje contamos com mais de 300 associados, mais de 20 voluntários e uma equipe multidisciplinar de profissionais”, comemora Cintia. Dez anos depois o projeto conta com cursos gratuitos
de dança em cadeira de rodas e dança sênior; além de ballet clássico infantil e adulto (baby class, iniciante e intermediário), jazz adulto (iniciante e intermediário), dança do ventre, hip hop infantil, dança de salão, teatro e música. Com quase 30 cadeirantes, o projeto gera oportunidades para pessoas com deficiência física com diversas patologias, como paralisia cerebral, artrite reumatóide, mielomeningocele, entre outras lesões de coluna. “Percebo muitas vezes que o Solidariedança é o único lugar onde eles conseguem fazer uma troca social justa. Pois encontram os amigos, podem iniciar um namoro, mantêm uma conversa durante a semana, e é ali, também, que eles esperam para estar toda semana”, explica Cintia. E finaliza, orgulhosa: “O Solidariedança hoje é uma janela para o mundo da pessoa com deficiência, e da pessoa com deficiência para o mundo”. www.solidariedanca.org.br / (11) 3433-4340.
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