Revista D+ edição 13

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À flor da pele

Sexualidade após adquirir uma deficiência: é possível ter qualidade de vida

Investir com criatividade mesmo depois da aposentadoria PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA O acolhimento dos alunos na escola

VIOLÊNCIA Abuso de poder nas relações É CARNAVAL! VibraMão, o primeiro bloco de Surdos Bianca e Débora Silva Bargas de Jesus, irmãs, surfando na praia da Enseada, no Guarujá, São Paulo

Acessibilidade no turismo é um direito: todos querem ir, vir e se divertir! Conheça lugares que recebem muito bem o viajante com deficiência

NÚMERO 13 • PREÇO R$ 13,90 ISSN 2359-5620

AVENTURA

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nas asas da



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Obrigado por tonar o mundo mais inclusivo!

NO FACEBOOK Posts diários e interação com nossos seguidores. Acesse www.facebook.com/revistadmais “Impressiona a quantidade de boas matérias e informações relevantes para o segmento das pessoas com deficiência e seus familiares. Parabéns pelo enfoque editorial e pela qualidade gráfica! Vida longa à D+!, Guto Maia avaliou a Revista

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CONEXÃO Você vai encontrar um link no final de algumas reportagens. Ele lhe dará acesso a um conteúdo especial, com mais informações e fotos sobre aquele assunto. Alguns trazem até vídeos! Aproveite!

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É FESTA! Carnaval para todos A festa mais animada que mobiliza o país, o carnaval, já está aí! A alegria que move essa data é contagiante e é para todos. Por isso, acompanhe nossas redes sociais: vamos mais uma vez trazer o que há de mais divertido e interessante, para que pessoas com e sem deficiência curtam cada momento com mais inclusão e acessibilidade. Vamos juntos para essa festa!

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EDITORIAL

O poder dos novos horizontes

T Edição nº 13: Foto de capa por Taís Lambert, na Praia da Enseada, no Guarujá, em São Paulo

al como o sangue pelo corpo, que circula e se renova mantendo tudo em pleno funcionamento, a vida, sob todos os aspectos, também exige um fluxo. É esse constante movimento que garante funcionalidade, qualidade, alegria e prazer. Ir e vir em condições de igualdade, sem barreiras e sem limitações, é parte essencial desta jornada incrível que é cada um dos nossos dias. Imagine, então, caro leitor e cara leitora, o quão importante é poder viajar, conhecer outros modos de vida, conhecer os olhos em novas paragens e vivenciar experiências diferentes. Pensando neste bem maior – a liberdade, e neste direito – o de ir e vir, trazemos uma reportagem sobre turismo acessível. Como vários de nossos entrevistados disseram, nós temos leis que garantem acessibilidade a todas as pessoas com deficiência. Necessário é fazer com que se cumpram. “Muitas pessoas com deficiência têm medo de sair de casa, em razão de suas limitações e da falta de acessibilidade nos destinos”, disse Laura Martins, cadeirante, que mantém o blog de viagens A Cadeira Voadora. A partir da página 36 você poderá descobrir o que o Ministério do Turismo, o setor privado, como agências e hotéis, e gente visionária e empática têm feito para melhorar o que não está bom. Com exclusividade, visitamos a empresa Caterpillar, em Piracicaba, no interior de São Paulo. Ela levou o primeiro lugar no III Prêmio Melhores Empresas para Trabalhadores com Deficiência. Conhecemos alguns desses trabalhadores e a fábrica. Às portas do início das aulas, não poderíamos deixar de abordar um tema caro: o acolhimento dos alunos na escola inclusiva. A partir da página 56 você poderá conhecer atividades que promovem um vínculo saudável com o ambiente escolar. Tivemos um período riquíssimo de colóquios, palestras, workshops e congressos. Um deles, o I Congresso Nacional de Pesquisa em Linguística e Libras, aconteceu na Universidade Federal de Santa Catarina e nós estivemos por lá, buscando as novidades mais importantes da área. Sexualidade, próteses em impressora 3D, empreendedorismo e arte na terceira idade, o primeiro bloco de carnaval composto por Surdos e muitas outras novidades você acompanhará nas próximas páginas. Todos os começos enchem nosso peito de esperança. Nesta primeira edição do ano renovamos o desejo de um mundo mais inclusivo. Que ele comece e recomece em mim e em você, todos os dias e mais, para que possamos vislumbrar novos e melhores horizontes sempre. Ótima leitura! Rúbem Soares Diretor Executivo



DO LADO DE CÁ

Nos bastidores

da 1ª edição do ano Viagens, gente nova no time, correspondente em Potugal e um 2017 incrível pela frente!

Agora a Revista D+ e o site www.revistadmais.com.br contam com mais duas profissionais: a jornalista Audrey Scheiner e a designer Fernanda Grecco. Bem-vindas, meninas! Vamos arrasar!

Taléia Barreto trocou a cadeira de rodas pela prancha de surfe numa manhã de domingo: na Praia da Enseada, no Guarujá, posou pra gente (gatíssima! ) Aline Maria Pizzoquero, surda, colaboradora na empresa Caterpillar, de Piracicaba (SP) e a repórter Brenda Cruz: reportagem exclusiva na fábrica e entrevista em Libras (Na página 18!) Vida de repórter fotográfica: nossa editora-chefe, Taís Lambert, fotografando o

Projeto Praia Acessível – Esporte para Todos na Praia da Enseada. Na cadeira

anfíbia, Seu Raimundo com os netos e a equipe de fisioterapeutas A Revista D+ agora conta com correspondente internacional: Cintia Alves, nossa querida repórter, vai mandar notícias de Portugal. Boa viagem!

PORTUGAL

David Gomes de Souza, Eliza Padilha, Jennyfer Alves e Joyce Alves de Sá, com o diretor executivo Rúbem Soares (ao centro): Revista D+ patrocinou e apoiou o evento II Encontro dos Surdos com as Ciências – ESC, na Unifesp de Diadema

Lúcia Mara Duarte e Daniele Almeida, diretoras da Autoescola DF, com Denílson Nalin, diretor comercial da Revista D+ no coquetel de inauguração da nova DF em Sorocaba, no interior de São Paulo



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www.revistadmais.com.br

NOSSA CAPA 36

DIRETOR EXECUTIVO Rúbem da S. Soares rsoares@revistadmais.com.br REDAÇÃO Editora-Chefe Taís Lambert taislambert@revistadmais.com.br Departamento de Arte Samuel Ávila Fernanda Grecco arte@revistadmais.com.br

O direito de ir, vir e se divertir é intrínseco a nossa condição de indivíduos, mas o turismo acessível ainda não é predominante. Conheça alguns lugares e facilitadores para ser feliz longe de casa

Equipe de Jornalismo Audrey Scheiner Cintia Alves Brenda Cruz Revisora Eliza Padilha Fotógrafo Marcos Florence Ilustrador Luis Filipe Rosa Colaboradores nesta edição Mariana Santos Rosa Buccino DIRETOR DE PUBLICIDADE Denilson G. Nalin denilsonnalin@revistadmais.com.br (11) 5581.1739 e 9-4771.7622 COMUNICAÇÃO E MARKETING Rúbem S. Soares mkt@revistadmais.com.br RH E FINANCEIRO Coordenação Flávia Garcia Dias Contratos e licitações Luiz F. Mazieri Nicolini mais@revistadmais.com.br Equipe David Gomes de Souza Raquel Vidal de Lima TI Herick Palazzin Ivanilson Oliveira de Almeida Jonathan Vinicius DIRETOR ARTÍSTICO Dilson Nery PROJETOS DE MÍDIA INCLUSIVA Coordenação Rafaella Sessenta CONSULTORES DE LIBRAS (SURDOS) Célio da Conceição Santana Joice Alves de Sá INTÉRPRETES DE LIBRAS Carlos Silvério Carolina Gomes de Souza Silva Marco Antonio Batista Ramos Rafaela Prado Siqueira Rafaella Sessenta Yasmin Anunciato EQUIPE AUDIOVISUAL Conteúdo do portal Jéssica Aline Carecho Verônica Honorato de Souza ATENDIMENTO AO ASSINANTE E CIRCULAÇÃO Alessandra Rodrigues dos Santos assinaturas@revistadmais.com.br (11) 5581-3182 / 5583-0298 RECEPÇÃO Jennyfer Alves (11) 5581-3182 / 5583-0298 Edição número 13 – Janeiro/Fevereiro de 2017 REVISTA D+, ISSN 2359-5620, é uma publicação bimestral da MAIS Editora CNPJ n° 03.354.003/0001-11 Rua da Contagem, 201 – Saúde - São Paulo/SP - CEP 04146-100 Associada a:

Distribuída em bancas pela DINAP Ltda. Distribuidora Nacional de Publicação. Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678 CEP 06045-390 - Osasco - SP APOIO: A Revista D+ não se responsabiliza por opiniões e conceitos emitidos em artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo este de inteira responsabilidade dos anunciantes

Instituto de Apoio às Pessoas com Deficiência e à Inclusão Social

03 Na Rede 04 Editorial 06 Do Lado de Cá 08 Expediente & Aqui na D+ 10 Ponto de Vista Um breve ensaio sobre a complexidade do processo de aprendizagem de leitura e escrita 12 Misto Quente As novidades dignas de nota 16 Psique Violência e deficiência: qual a relação? Por Aline Wanderer 18 Por Dentro das Grandes A empresa Caterpillar conta como conseguiu modificar sua estrutura física e o conceito sobre o trabalhador com deficiência 24 Tecnologia Conheça projetos nos quais as impressoras 3D ganham uma nova e importante missão: ajudar crianças com deficiência a realizarem tarefas do cotidiano 28 Saúde Sexualidade após adquirir uma deficiência: é possível ter qualidade de vida 34 Resenha Tradutores-intérpretes de Libras na saúde: o que eles nos contam sobre questões éticas em suas práticas 50 Idosos: Negócio Empreender com criatividade na aposentadoria 54 Idosos: Atitude Produções artísticas que inspiram e motivam as pessoas idosas 58 Práticas na Educação Inclusiva Atividades que promovem o acolhimento dos alunos na escola inclusiva 62 Acontece UFSC traz congressos importantes para tradutores e intérpretes de Libras 64 Acontece Unifesp – I Encontro dos Surdos com as Ciências mobiliza a universidade 66 Acontece Virada Sumaré – Oficinas, brincadeiras e apresentação de projetos em prol da pessoa com deficiência 67 Acontece VibraMão, o primeiro bloco de Carnaval para Surdos 68 Aprenda Libras Aprenda sinais dos materiais escolares para a volta às aulas 70 Espaço do Tils O surdo tradutor/intérprete de língua de sinais 72 Universo Cultural Conheça o primeiro telejornal bilíngue do país para surdos e ouvintes 74 Cereja! Jovens com deficiência intelectual desenvolvem suas habilidades artísticas e gastronômicas em projetos de inclusão social


Janeiro/Fevereiro – Ano II – nº 13

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PONTO DE VISTA

Ler e escrever: seu caráter dialógico Um breve ensaio sobre a complexidade do processo de aprendizagem de leitura e escrita

Rúbem Soares

Psicólogo, mestre e doutorando em Educação (USP), diretor executivo da Revista D+

A

vida está envolta pelo dialogismo, nos ensinou Bakthin: fazer perguntas, dar respostas, atenção, responder, estar de acordo e assim por diante, no processo de comunicação. A comunicação pressupõe interlocutores que concordam, discordam, completam e opinam sobre um tema, construindo relações. As relações constituem o sujeito, desenvolvendo uma cadeia comunicativa ininterrupta baseada em signos. Dentre esses signos, destaca-se a palavra como material semiótico privilegiado da linguagem, uma vez que é constitutiva do homem e amplia possibilidades de significação como nenhum outro signo. Desse modo, o aprender a ler e escrever – a alfabetização – não deve ser uma atividade técnica/escolar. Ela deve vincular o sujeito interlocutivo, possibilitando uma atitude responsiva ativa diante do texto que lê ou que escreve, numa interação – princípio fundador da linguagem – que só se efetiva com a existência do “outro” (caráter dialógico). O caráter dialógico da linguagem se dá uma vez que é produzida na relação de quem fala e de quem ouve, bem como por que os dizeres de cada um dos interlocutores incorporam e respondem os do outro presente na relação e aos de outros que já fazem parte desses sujeitos, configurando uma atitude responsiva. Fica claro, assim, que a alfabetização deve superar a aprendizagem da escrita das letras. Ela deve implicar na construção de sentidos, necessariamente voltados para um interlocutor. Nesse caso, também a produção textual deve envolver o sujeito num esforço de traduzir-se ao outro, o que o obrigaria a reorganizar a própria fala. A Professora Silvia Colello, da Usp — inspirada em outro grande mestre, o Prof. João Wanderley Geraldi — entende que alfabetizar é ampliar os horizontes para que o sujeito tenha o que dizer, para quem dizer, por que dizer e como dizer. Ou seja, é preciso que o aluno se constitua como locutor para penetrar na corrente das interações típicas do mundo letrado. Indiscutivelmente, esse é o diferencial daqueles que, efetivamente, aprendem a ler e escrever. Esse posicionamento interlocutivo do sujeito condiciona três dimensões da produção textual: a abordagem temática dada pela construção de sentidos; a constituição de uma postura responsiva; e a produção da escrita propriamente dita, concretizada pela conformação de gêneros e tipos textuais. Nas escolas, é comum encontrarmos situações como: ensino da leitura reduzido aos ativismos pedagógicos que ignoram o prazer de ler; a concepção instrumental


Nas escolas, é comum encontrarmos situações como o ensino da leitura reduzido aos ativismos pedagógicos que ignoram o prazer de ler

da língua que, na alfabetização geralmente aparece como um jogo e decifração visando à aquisição do sistema e à ideia da leitura enquanto meio para apropriação de saberes, não necessariamente vinculada às práticas sociais. Tal cenário culmina no artificialismo linguístico das primeiras escritas e na “pedagogização” da leitura, que acabam por segregar o aprender a ler, o ler para aprender e o ser usuário da leitura. Acredito que é possível reverter esse cenário, desde que governo e sociedade priorizem a educação, não como mera condição que torna o cidadão produtivo para o mercado, mas dando a ela novo sentido, como forma de emancipação do sujeito interlocutivo. Para isso, deve-se reconhecer que a sala de aula se constitui do encontro de sujeitos distintos com histórias singulares que, no ambiente escolar, forma um mosaico. Nele, a vida social reflete-se e se refrata nesses aspectos individuais. O início de um novo ano se apresenta como momento propício para os professores, a escola e a sociedade como um todo refletirem sobre como ressignificar a aprendizagem de leitura e escrita para os nossos alunos, independentemente de terem algum tipo de deficiência. D+


MISTO QUENTE por Brenda Cruz imagens divulgação

CONEXÃO SEM LIMITE Já pensou que divertido ter um dispositivo que possa, apenas com um clique, acender luzes, ligar a televisão ou mesmo quaisquer dispositivos eletrônicos inteligentes? Sim, há diversos aplicativos que já fazem isso com maestria, no entanto, você pensou que isso seria possível com um aparelho auditivo? O Opn™ é um aparelho auditivo que oferece uma gama de recursos capazes de proporcionar às pessoas com perda auditiva experiências sonoras nunca antes experimentadas, incluindo a capacidade de se conectar de forma integrada a computadores, smartphones, TVs e outros equipamentos eletrônicos, via internet ou por meio de bluetooth. Desenvolvida pela dinamarquesa Oticon, a nova tecnologia permite uma audição completa, acabando com as limitações de direcionalidade do som presente nas próteses

atuais – problema relatado por muitas pessoas. Com isso, o usuário consegue ouvir com clareza a fala de diversos interlocutores e diversos sons em ambientes ruidosos, oferecendo ao usuário um panorama sonoro de 360º. “Eu achei o aparelho fantástico, além da conectividade ele traz maior qualidade de som. É muito interessante o uso com smartphone e smartvs”, contou Ricardo Alvez de Melo, 44 anos, que teve perda auditiva aos 30 anos por conta do abuso de som alto. “Não existe nada parecido no mercado mundial atualmente. O Opn™ é resultado de quase uma década de pesquisas e tornou possível superar um desafio que até mesmo as mais avançadas soluções presentes hoje não foram capazes de resolver”, explica a fonoaudióloga Isabela Carvalho, especialista em audiologia. O aparelho auditivo Opn™ já está sendo comercializado nas lojas da Telex Soluções Auditivas de todo o país. Mais informações pelo telefone: 0800 0249 349.



MISTO QUENTE

AMOR QUE VIBRA. PAIXÃO SEM LIMITES A paixão pelo futebol e por suas camisas arrebata os corações dos amantes do esporte, mexe com todos os sentidos, mesmo daqueles que não têm a visão. Buscando atender seus torcedores, a NBS e o Clube de Regatas do Flamengo criaram a ação “Paixão Cega”. O objetivo da campanha é estimular uma nova forma de

experiência para que pessoas cegas tenham uma plataforma de relacionamento em que tanto os cegos quanto voluntários se encontrem para ir aos jogos do Mengão. A campanha se baseia no Projeto de Lei Nº 837/2011, que garante a gratuidade para cegos e acompanhantes sem deficiência frequentarem eventos esportivos e culturais no Estado do Rio de Janeiro. Por meio do site www.paixaocega.com.br, acessível via desktop

e mobile para pessoas com e sem deficiência, o sistema listará e combinará entre si os cadastros de torcedores de ambas as categorias para realizar o encontro para os jogos. Em 2016 o Flamengo começou a trabalhar em suas redes sociais com a descrição de imagens com a hashtag #PraCegoVer. O clube quer se aproximar dessa parcela de torcedores. Assista ao vídeo do projeto aqui:

youtu.be/JRrx-RKQv5o

MAPA DA ACESSIBILIDADE O Google Maps lançou dentro do seu aplicativo uma função que permite a todos os usuários informar se o local é acessível para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Aqueles que usam cadeiras de roda, andadores ou muletas poderão finalmente receber informações sobre locais acessíveis dentro do aplicativo. A informação estará descrita na seção “Amenidades” para cada local consultado no Maps. A intenção é que vários locais públicos já sejam atualizados na nova versão do aplicativo.

OS JOGOS NUNCA ACABAM O ano de 2016 foi fantástico no quesito competições esportivas no Brasil. Tivemos os Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro e as Paralimpíadas Escolares em São Paulo. E eis que no terceiro mês deste ano, acontece no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, os Jogos Parapan-Americanos de Jovens São Paulo 2017, de 20 a 25 de março. Cerca de mil atletas com idade entre 13 e 21 anos, de mais de 20 países, participarão do Parapan. O programa da competição contará com 12 modalidades: atletismo, bocha, futebol de 5, futebol de 7, goalball, judô, halterofilismo, vôlei sentado, natação, tênis de mesa, basquete em cadeira de rodas e tênis em cadeira de rodas.


DIREÇÃO DE QUALIDADE A cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo, ganhou recentemente uma filial da Auto Escola DF. Especializada em habilitar pessoas com deficiência – inclusive a auditiva, pois conta com instrutor fluente na Língua Brasileira de Sinais, a Libras –, a autoescola oferece adaptações veiculares e total apoio para a aquisição de veículos com benefícios fiscais. “Nosso objetivo é informar e assessorar a pessoa com deficiência em absolutamente tudo o que ela precisar. Nós, que já trabalhamos há tantos anos nesta área, sabemos o quanto são hábeis e capazes”, afirma a diretora Daniele Almeida, que conta com outras duas unidades, no Butantã e em Osasco. Com larga experiência como executiva de atendimento ao cliente em multinacionais, a sócia-diretora Lúcia Mara Duarte observa que o interior anseia por empresas de prestação de serviços. “A maior preocupação que temos é tratar o cliente muitíssimo bem. Atendê-lo com excelência e respeito, visto que, em inúmeras vezes, autoescolas não querem nem sequer recebe-los”, ressalta.

www.autoescoladf.com.br. (15) 3346-1500/ (15) 97401-8919 (Whatsapp)

Daniele Almeida e Lúcia Mara Duarte, sócias-diretoras da Autoescola DF


PSIQUE

Violência e deficiência: qual a relação? por Aline Wanderer*

A

questão da violência tem sido amplamente discutida nos meios de comunicação e na área acadêmica. Considerada como problema de saúde pública, seu conceito, configurado e modificado historicamente, vem passando por intensas alterações, fazendo com que passemos a classificar como violência uma série de eventos antes considerados como legítimos e aceitáveis, em âmbito público e privado. A atuação de movimentos sociais organizados, que passaram a denunciar formas invisibilizadas de opressão, tem exercido papel essencial nesse processo. É assim que têm ganhado espaço as discussões acerca da violência contra a mulher e o idoso, da opressão em razão da orientação sexual e das formas aceitáveis de imposição de limites e educação das crianças. A violência, genericamente, relaciona-se a uma assimetria e abuso de poder nas relações, que nega o outro enquanto sujeito integral. Didaticamente, é classificada conforme sua natureza ou objeto. Assim, pode ser física, sexual, psicológica, por negligência ou patrimonial, praticada nas relações interpessoais e comunitárias ou no âmbito das instituições. Aspectos mais sutis, por serem comumente naturalizados e invisíveis, também podem compor a noção de violência. Nesse grupo, inserem-se, por exemplo, crenças, práticas e valores que são de tal modo repetidos e naturalizados, que originam preconceitos, mitos e discriminações contra grupos tidos por diferentes e que se tornam vulneráveis e marginalizados; além de estruturas sociais injustas que perpetuam abismos de desigualdade social. E o que toda essa discussão tem a ver com a deficiência? A compreensão do que é deficiência também tem se modificado ao longo do tempo. Passou de algo entendido do ponto de vista biomédico, como problema do corpo a ser diagnosticado e tratado por profissionais da saúde, sendo de responsabilidade individual e da família, a ser compreendida como uma construção social, estabelecida

no encontro entre os indivíduos e as barreiras impostas pela coletividade e suas estruturas, transformando diferenças corporais em desigualdades. Conceber a deficiência dessa maneira e deparar com a realidade de uma sociedade excludente levam a questionar como o desenvolvimento das pessoas com deficiência pode ser limitado a partir dela e como isso acarretaria uma maior vulnerabilidade a sofrerem violência. Na medida em que as pessoas com deficiência são privadas de ocupar os espaços de convivência coletivos, opera-se uma despreocupação ou descrença em suas possibilidades de desenvolvimento. Desse modo, acabam por ter prejudicadas suas funções psicológicas superiores que lhes garantiriam o exercício de habilidades de autoproteção e autonomia, não conseguindo colocar-se nos espaços públicos de reivindicação de direitos e, assim, perpetuando um ciclo perverso de exclusão. Percebe-se que existe uma dificuldade, no âmbito das famílias, das comunidades, das instituições e mesmo do Estado, de se nomear e dar sentido às violências dirigidas contra as pessoas com deficiência, havendo dados inconsistentes sobre sua incidência e natureza, bem como uma baixa crítica acerca da necessidade de seu estudo e enfrentamento, inclusive focalizando outras variáveis interdependentes, como a pobreza e o gênero. Para além de se reconhecer que as pessoas com deficiência são mais vulneráveis à violência em razão de impedimentos físicos ou intelectuais que lhes impossibilitariam a autodefesa ou a compreensão do que lhes acontece, é urgente considerar que essa vulnerabilidade se constrói nas relações de exclusão e negação a seu pleno desenvolvimento. Essa percepção é o que nos permitirá a construção de agendas positivas de ação, tirando da invisibilidade a opressão desse grupo e desnaturalizando atitudes que, por vezes, a título de proteção e assistencialismo, acabam por perpetuar a exclusão, que é uma violência em si mesma. D+

*Aline Wanderer é psicóloga, especialista em psicoterapia de casais e famílias, e mestra em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde pela Universidade de Brasília – UnB. Atua, desde 2008, no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – TJDFT, no Serviço de Assessoramento aos Juízos Criminais – Serav, com famílias em situação de violência. É pessoa com deficiência visual e militante pelos direitos do seguimento de pessoas com deficiência.

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POR DENTRO DAS GRANDES

Transformação gera bons resultados

Ganhadora do III Prêmio Melhores Empresas para Trabalhadores com Deficiência, a empresa Caterpillar conseguiu em poucos anos modificar, além de sua estrutura física, o conceito sobre o trabalhador com deficiência e assim provocar uma mudança positiva em toda sua estrutura organizacional

texto Brenda Cruz fotos Taís Lambert, de Piracicaba, São Paulo

S

uperando quaisquer expectativas sobre o possível vencedor do III Prêmio Melhores Empresas para Trabalhadores com Deficiência em 2016, promovido pela Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo no mês de dezembro, a Caterpillar levou o primeiro lugar, surpreendendo os veteranos em ações de inclusão. Há pouco mais de três anos, a empresa líder de mercado no segmento de fabricação de produtos como escavadeiras hidráulicas, tratores de esteiras, motoniveladoras, compactadores, carregadeiras de rodas e retroescavadeiras, iniciou o programa JUNTOS: Ser Diferente é Somar, que mudou o modelo de contratação e gestão dos funcionários com deficiência na empresa. “A Caterpillar percebeu que o recrutamento e a seleção de pessoas com deficiência por si só não era o bastante para proporcionar a inclusão desses profissionais, por isso, preocupou-se com uma atuação além da Lei de Cotas”, contou Michelle Bellini Marcello, coordenadora do programa. Ela afirma, ainda: “O primeiro passo foi revisar todas as

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Aline Maria Pizzoquero, surda de nascença, trabalha no setor operacional de logística.

práticas e políticas internas para que não houvesse condutas de favorecimento nem de exclusão pela mera condição da diversidade”. Marco Antônio Zurck, 52, trabalha no setor operacional e de logística e está há quatro anos na empresa. Seu trabalho é a última etapa da linha de produção: ele verifica se todas as peças estão saindo na quantidade e forma corretas para não haver erros na montagem. “Aqui é diferente de outros locais onde trabalhei, pois eles antecipam o que a gente precisa para trabalhar melhor. As meninas sempre nos perguntam o que pode ser melhorado no setor que trabalhamos”, conta. “Eles estão engajados em procurar melhorias para os funcionários e o que fazem aqui deveria ser referência para outras organizações. Não medem custos para oferecer acessibilidade nas dependências da empresa. Recentemente eles reformaram a entrada, colocaram rampas e corrimãos de diferentes tamanhos nas escadas”, opina Zurck, que tem paraplegia congênita hereditária, o que dificulta sua locomoção.


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Aqui tem interação. Foi muito bom o meu gestor ter aprendido Libras: se ele esquece alguma coisa, eu ensino de novo Aline Maria Pizzoquero, funcionária surda

“A empresa investiu no projeto de acessibilidade para eliminar as barreiras arquitetônicas e tecnológicas, permitindo, com isso, não só atender às necessidades dos funcionários, como também de visitantes, fornecedores e terceiros”, esclarece Michelle. São 3.300 funcionários em sua unidade de Piracicaba, em São Paulo, e em Campo Largo, no Paraná. A fábrica de Piracicaba, onde se concentra a maior quantidade de trabalhadores, reúne 163 profissionais com deficiência. Somados aos da fábrica sulista, são no total 180 funcionários. OPORTUNIDADES PARA TODOS Afastada da empresa durante três anos por ter descoberto um grave problema de coluna, devido a uma má-formação nunca antes detectada, Valdirene Jan Grossi, 48, voltou à Caterpillar há três anos como reabilitada. Hoje cumpre a função de assistente de controle de documentos, trabalho que não exige esforço físico. “Eu trabalhava no setor de pintura e o trabalho foi agravando o problema que eu tinha Revista D+ número 13


POR DENTRO DAS GRANDES

Fabio Luís do Nascimento, 37 anos, tem baixa visão no olho esquerdo e é funcionário da Catepillar há 22 anos

Valdirene Jan Grossi, 48 anos, foi reabilitada e trabalha como assistente de controle de documentos na Caterpillar

na coluna. Foi grave, tive que fazer diversas operações, tenho uma prótese na coluna e limitação nos braços, sofro também de dor crônica, por conta da artrite reumatoide, mas penso em seguir na área, e até mesmo conseguir chegar ao cargo de analista”, contou Valdirene. Ela aponta que a empresa não faz distinção no plano de carreira para os funcionários reabilitados. O colaborador Fabio Luís do Nascimento, 37, que tem baixa visão no olho esquerdo devido à ambliopia congênita, conta: “Eu entrei na Carterpillar com 15 anos, quando eu estava fazendo um curso no Senai. Nos cinco primeiros anos trabalhei na fábrica em diferentes áreas. Passei a trabalhar com logística, logo depois com os fornecedores e compras, setor que fiquei até 2010”. Naquele ano, Fabio participou de um processo seletivo interno e mudou para a área de sistemas de informação, em que trabalha até hoje. Apesar de ter a deficiência no olho esquerdo, garante que não precisa de adaptações para realizar qualquer atividade. “Se eu não contar que tenho a deficiência, ninguém nem percebe. O que eu preciso mesmo é apenas de um ambiente com boa iluminação. A empresa está investindo muito na infraestrutura, como, por exemplo, em nivelação de piso e banheiro adaptado”, diz ele. A acessibilidade para funcionários com deficiência é algo muito importante para a empresa. “Começamos a exigir que fornecedores dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), indispensáveis nos setores operacionais, nos oferecessem produtos com adaptações para que todos os funcionários estivessem protegidos adequadamente”, revelou Augusto César de Paula, 35, gestor de CPS – área de logística – há 12 anos na Caterpillar. “A empresa que venceu

a concorrência foi aquela que se comprometeu a adequar os EPIs com customizações sem que perdessem a efetividade da proteção para nossos funcionários”, afirma. Augusto ainda ressalta que não é de agora que a Caterpillar tem trabalhadores com deficiência em suas dependências. “Portanto, sempre houve a expectativa de suprir as necessidades deles. O que não havia antes era uma estratégia mais efetiva para que isso fosse feito em larga escala. Antes, nós pensávamos apenas em adequar o local de trabalho do funcionário, mas não pensávamos em como ele chegaria, por exemplo, em seu setor, como passaria pela fábrica ou chegaria ao local que ele iria almoçar”, detalha. “Isso se intensificou após a implementação do programa em 2013”, finaliza Augusto, esclarecendo a profunda importância de projetos inclusivos dentro das empresas.

Não é de hoje que a Caterpillar tem trabalhadores com deficiência em suas dependências. Sempre houve a expectativa de suprir as necessidades deles Augusto César de Paula, gestor de logística


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Marco Antônio Zurck, 52 anos, trabalha no setor operacional e de logística e está há quatro anos na empresa. “Aqui é diferente de outros locais onde trabalhei”

Patrícia A. B. Soares, psicóloga, Michelle B. Marcello, coordenadora do programa de inclusão e a fonoaudióloga Mariane S. de Lima

CONHECIMENTO E INTEGRAÇÃO Atenta ao desenvolvimento e à retenção dos profissionais com deficiência, a Caterpillar disponibiliza, por exemplo, desde 2014, o Curso de Libras para líderes e funcionários que têm contato direto com os colaboradores surdos, o que, além de facilitar a comunicação, integra todos no ambiente de trabalho. Também criou em 2015 a Oficina da Comunicação, que atua no desenvolvimento da comunicação de quem é surdo ou tem perda auditiva. Funcionária no setor operacional de logística, Aline Maria Pizzoquero, 30, está há três anos na empresa. Surda de nascença, cresceu em uma família de ouvintes. “Desde pequena eu aprendi a fazer leitura labial e aprendi Libras na Associação de Pais e Amigos de Surdos de Piracicaba (APASPI). Terminei o Ensino Médio em escola regular sem

intérprete de Libras. Foi difícil acompanhar, mas os colegas me ajudaram”. Aline conta que gosta da área em que atua e não pensa em mudar. “Já estou acostumada com esse setor. Tenho um pouco de receio, sei que a empresa oferece muitas oportunidades, até mesmo para ganhar mais se mudar de área, mas eu gosto daqui!”, afirma. Ela aponta também a boa relação com seus colegas de trabalho. “Aqui tem muitas pessoas legais, tem interação. Elas pedem para eu ensinar Libras, eu ajudo, às vezes não entendem e eu chamo alguém para explicar. Também foi muito bom o meu gestor ter aprendido Libras: se ele esquece alguma palavra, eu ensino de novo”. Aline comenta sobre como foi importante a empresa disponibilizar um uniforme que sinaliza que ela é surda. “O uniforme sinalizado ajuda a pessoa que vem conversar comigo a já perceber minha condição. No trabalho da embalagem também tem a empilhadeira, agora os operadores veem o uniforme e tomam mais cuidado para chegar perto. É muito importante em todos os setores da fábrica”, conclui. A fonoaudióloga Mariane Soares de Lima, 32, integrante do grupo de serviço social da empresa, que atende todos os funcionários para diferentes demandas, afirma que a pessoa surda tinha muita dificuldade em participar dos processos internos para mudanças de cargo. “Quando eu entrei aqui a grande dificuldade era na comunicação, então começamos a fazer atividades com os funcionários surdos, para que fosse desenvolvido o que eles já tinham de bom, como o português. Além de incentivar a empresa a colocar legendas nos vídeos institucionais para que eles praticassem a leitura e também a comunicação entre o gestor e a equipe”, conta Mariane.


POR DENTRO DAS GRANDES

A conclusão da primeira Oficina de Comunicação I foi um meio de aprimorar a escrita do surdo e esclarecer aos demais funcionários sobre as diferenças da gramática da pessoa surda para a do português. “A capacitação do surdo e da equipe foi importante para mostrar que a Libras tem uma gramática própria e que o surdo não está escrevendo errado, mas sim na gramática dele”, esclareceu a fonoaudióloga. A coordenadora Michelle Bellini Marcello é enfática: “A empresa reconheceu que seus funcionários surdos não participavam dos processos porque ela mesma não os havia preparado para tal. Por isso foi criada a Oficina da Comunicação: para que eles tenham condições de igualdade diante das oportunidades”.

Augusto César de Paula, gestor de logística

Caio Orlandini é supervisor do RH

ÁREAS DE ATUAÇÃO

TIPOS DE DEFICIÊNCIA

Os profissionais da Caterpillar

FÍSICA

67%

AUDITIVA

23%

VISUAL

9%

INTELECTUAL

1%

OPERACIONAL

90%

ADMINISTRATIVO

10%

Candidate-se www.caterpillar.com/pt/careers.html

DIREITO DE TODOS Caio Orlandini, 29, é o supervisor de Recursos Humanos. “O que nós pensamos para uma eventual seleção é que a pessoa tem que ser adequada ao cargo, se ela tiver condições, não importa a deficiência”, pontuou. A Carterpillar ainda faz um processo anual de discussão de carreira, através do qual funcionários com e sem deficiência podem concorrer a melhores colocações dentro da empresa, se for de sua vontade. Caio conta que há o setor de serviço social para auxiliar nas necessidades dos funcionários com deficiência. “Nós temos o departamento como uma consultoria com especialistas, onde os funcionários podem conversar diretamente e falar sobre suas necessidades e seus desconfortos. Mas não fazemos distinção: o que buscamos é que cada gestor resolva as questões, pois é função do líder atender seu funcionário independentemente de ter deficiência”. Psicóloga na área de Serviço Social, Patrícia Aline Bragança Soares, 29, desenvolve projetos para as melhorias estruturais, arquitetônicas e de mobiliário da empresa. “Nós também fazemos pesquisas anuais de monitoramento com todos os funcionários. Com base nisso traçamos as metas para serem alcançadas”, afirma Patrícia, que foi contratada para o desenvolvimento do projeto JUNTOS: Ser Diferente é Somar. Michelle aponta que a empresa tem um longo caminho pela frente para se desenvolver no âmbito da inclusão de funcionários com deficiência. “Ficamos surpresos em ganhar o prêmio, mas, mais importante que vencer é o impacto que isso traz para todo o sistema organizacional”, afirma a coordenadora, que ainda ressalta: “Para a equipe, além de reconhecer esse prestígio, o importante é sustentar o projeto. Em 2017, nosso foco é manter o cronograma do Selo de Diversidade Paulista [certificado instituído pelo Governo do Estado de São Paulo], com o objetivo de destacar boas práticas empresariais como ação estratégica pela igualdade e cidadania. Vamos continuar na caminhada”. D+



TECNOLOGIA ASSISTIVA

mãozinha high tech

As impressoras 3D, populares em todo o mundo, ganham uma nova e importante missão: ajudar crianças com deficiência a realizarem tarefas do cotidiano, aumentando sua qualidade de vida texto Brenda Cruz

fotos Marcos Florence


Rafael Fernandes Gabriel ganhou a mãozinha do Batman na Associação Dar a Mão

Q

uando o Rafa fez quatro anos, ele começou a perguntar se a mãozinha dele ia crescer, eu expliquei que não, mas que ele poderia ter uma de robô!”. Foi a partir desse diálogo que Mariângela Fernandes Martins Gabriel, 44 anos, teve a ideia de buscar uma alternativa para realizar o sonho de seu filho, Rafael Fernandes Gabriel, hoje com cinco anos, que tem malformação congênita no braço direito. Na internet ela buscou vídeos e informação sobre o assunto, e encontrou o contato da Associação Dar a Mão, que desde 2015 oferece uma estrutura de apoio organizada, direcionada a indivíduos com agenesia de membros ou nascidos com má-formações congênitas, e seus familiares. Com sede em São João do Ivaí, norte do Paraná, a Associação atende 150 pessoas e conta com parcerias para atender todos que a procuram. A parte técnica de pesquisa e desenvolvimento fica com a engenheira Lúcia Miyake e sua equipe do Pota – Produtos Orientados para Tecnologia Assistiva, do Curso de Pós Graduação em Engenharia e Produção de Sistemas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e com a equipe da Comissão de Acessibilidade do Lions Clube Curitiba Batel, além de um grupo de voluntários de diferentes localidades. “Uma equipe multidisciplinar foi montada na PUC-PR para dar suporte ao projeto, incluindo profissionais da área da saúde (fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e psicóloga), engenheiros, especialistas em tecnologia assistiva e voluntários de diversas áreas de atuação que, somados aos demais voluntários da entidade, prestam auxílio de forma solidária”, explica Geane Poteriko, presidente da Associação Dar a Mão. Foi através do apoio do Consórcio Intermunicipal de Saúde de Ivaiporã, que a Associação adquiriu uma impressora 3D para auxiliar na produção dos dispositivos. O engenheiro voluntário João Alberto de Oliveira (de Ivaiporã, PR) tem ajudado no desenvolvimento dos projetos, com um grupo de voluntários de várias regiões do Brasil que possuem impressora 3D e se sensibilizaram com a causa. Com quase dois anos de atuação, o Dar a Mão já entregou cinco dispositivos protéticos para crianças que seguem em acompanhamento na reabilitação, e “outros cinco projetos estão em fase de finalização na produção para serem entregues ainda neste mês”, conta Geane. A Associação recomenda o início da protetização depois dos quatro anos de idade, por medidas de segurança e melhor desempenho na reabilitação. “Quando o Rafa soube que ia ganhar a mão, ficou super feliz! Fazia o coração com as duas mãos toda hora. A primeira coisa que ele disse foi: ‘Agora eu consigo contar até dez!’. Para nós, pais, foi muita emoção”, revela Mariângela.

“As próteses feitas por impressão 3D possibilitam a recuperação da autoestima e qualidade de vida” Geane Poteriko, presidente da Associação Dar a Mão

Rafa já utiliza normalmente sua nova mão, estilizada com o tema do Batman, para as brincadeiras que todo garoto gosta. “Ele usa às vezes na educação física para tomar água ou suco, nas brincadeiras que precisa usar as duas mãos, sem falar na questão psicológica, que foi absurdamente positiva”, conta a mãe. BENEFÍCIO EM TODOS OS CAMPOS É natural que, quando uma criança nasce com ausência ou má-formação de membro, seja este braço, mão ou dedo, ela aprende a realizar todas as atividades à sua maneira. Mas em algumas situações a dificuldade pode ser mais acentuada. Geane Poteriko aponta que nos casos de amputação, com a perda da capacidade manipulatória, a criança tem uma vida menos funcional, e pode se tornar mais dependente e ter um futuro marcado pela exclusão na sociedade, além de dificuldades de autoestima e aceitação pessoal. “As próteses feitas por impressão 3D estão possibilitando a pessoas com deficiência física, em especial às crianças, a recuperação da autoestima e qualidade de vida”, declara Geane, que aponta os problemas das próteses existentes no mercado e oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Essas próteses mais populares no mercado não são capazes de repor a função do membro perdido, apresentam altos índices de rejeição, são inadequadas para o uso infantil por serem pesadas e não acompanharem o crescimento da criança, além do fato de terem elevados custos, o que as tornam inacessíveis à maioria da população brasileira”. Revista D+ número 13


TECNOLOGIA ASSISTIVA

Rafael, 5 anos, e Gabriel, 9, desenvolvem o uso da prótese a partir da reabilitação. Os garotos aprendem brincando

Sem dúvidas, uma prótese com temática de super-heróis, desenhos animados e coloridos são mais atrativas para as crianças. “O Rafa vai para a escola desde bebê, e os seus amigos ficaram tão ansiosos quanto ele. Temos um grupo de pais e eu enviei fotos do Rafa e todos os amigos começaram a mandar áudios dando parabéns, dizendo que era o máximo a mãozinha do Batman. Foi muito wemocionante!”. Com esse novo modo de produção, o dispositivo fica mais leve, mais barato e mais bonito, incentivando e motivando as crianças na aceitação de sua deficiência. É o que outro grupo, da Universidade Federal de São Paulo, do campus de São José dos Campos (Unifesp), vem fazendo com o projeto Mao3D. Coordenado pela Profa. Dra. Maria Elizete Kunkel, o grupo atua desde janeiro de 2015 e tem parceira com o Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) da Universidade Federal de São Paulo e o Centro de Reabilitação Lucy Montoro, ambos em São José dos Campos. O Mao3D faz parte da Rede Nacional de Núcleos de Pesquisa em Tecnologia Assistiva. O projeto tem o objetivo de protetizar e reabilitar crianças e adultos da Região do Vale do Paraíba que possuem má-formação ou amputação de braços, mãos ou dedos, com próteses feitas por impressão 3D.

“As próteses feitas por impressão 3D possibilitam a recuperação da autoestima e qualidade de vida” Geane Poteriko, presidente da Associação Dar a Mão

Reabilitação Muda Tudo A reabilitação para a o uso de próteses em 3D é de extrema importância para que a pessoa consiga realizar de forma funcional todas as possibilidades da nova prótese. Essa reabilitação consiste no fortalecimento muscular e também na preensão de diferentes objetos com a prótese, dando início pelos mais leves e progredindo para os pesados de acordo com a capacidade máxima do paciente. “As sessões variam conforme o usuário. Por exemplo, para crianças menores, as atividades são mais lúdicas: brincadeiras, disputas, exercícios com brinquedos etc”, explica Geane Poteriko, presidente da Associação Dar a Mão. Todos os exercícios são orientados e acompanhados por profissionais habilitados.


fotos: Arquivo pessoal

Você Sabia? O e-Nable é uma comunidade mundial que disponibiliza modelos de próteses de mão para impressão 3D. O projeto Mao3D está adaptando os modelos da e-Nable para que possam ser usados no Brasil. Conheça: enablingthefuture.org

As próteses em 3d são mais baratas e tem menos rejeição que as disponíveis no mercado. As crianças ficam empolgadas em escolher o tema de suas novas mãozinhas

Patrícia Abe é terapeuta ocupacional e voluntária do Mao3D. Ela faz o acompanhamento de Gabriel

Atividades lúdicas, exercícios com brinquedos fazem parte da reabilitação e ajudam no fortalecimento muscular da criança

“Ano passado tínhamos uma meta muito ousada de produzir 100 próteses. A meta era viável, mas não contávamos que o processo de reabilitação deveria ser bem mais explorado, pois é uma etapa fundamental para a protetização”, conta Maria Elizete. “Para 2017 não temos um número fixo, mas queremos focar mais na reabilitação de cada criança que receber a prótese. Esse é o caso do Gabriel, por exemplo, cuja reabilitação já acontece há três meses”, esclarece. Gabriel Moreira dos Santos, de nove anos, sofreu amputação das pernas e dos braços com apenas um ano de idade, devido à meningite. Morador de Taubaté, São Paulo, o garoto ganhou suas primeiras próteses – das pernas – pela Rede Lucy Montoro, unidade Lapa, com dois anos de idade, mas a primeira experiência com próteses de membros superiores foi através do projeto Mao3D. O pai de Gabriel, Ricardo dos Santos, 48 anos, fala sobre a adaptação: “Com as próteses das pernas, ele conseguiu se adaptar rapidinho, e com as dos braços não está sendo diferente. Até agora, ele só pôde levar para casa no período de férias, para treinar o que aprende na reabilitação. Enquanto ele não tiver alta da reabilitação a prótese não fica com a gente”. A coordenadora do Mao3D, Maria Elizete, conta que muitos pais escrevem pedindo uma prótese, mas a maioria não entende que não é só receber a prótese. “É necessário longo processo de reabilitação, ao qual precisamos garantir a presença da criança, por isso ainda não estamos atendendo pessoas de fora da região”, finaliza. D+ www.facebook.com/Mao3D www.associaçãodaramao.blogspot.com.br Revista D+ número 13


SAÚDE


Frederico Rios, 35, e Maria Alice Rios, 31, construíram um relacionamento baseado em confiança e bom humor

À flor da pele Sexualidade após adquirir uma deficiência: é possível ter qualidade de vida texto Cintia Alves colaboração Mariana Santos fotos Arquivo Pessoal

H

á um conjunto de aspectos que define a sexualidade da pessoa com e sem deficiência, entre eles, a autoestima, a orientação sexual, o gênero, o histórico de relacionamentos pessoais, familiares e amorosos e o ato sexual. Eles envolvem o estado psíquico, físico e social de uma pessoa, sustentando, assim, um dos pilares que garantem uma boa qualidade de vida. Para traçar alternativas seguras no caminho dessa descoberta, profissionais como psicólogos, psiquiatras, fisiatras, urologistas especializados em função sexual e assistentes sociais auxiliam pessoas com deficiência adquirida em sua nova realidade. Segundo Ana Rita de Paula, psicóloga, tetraplégica, autora do livro Sexualidade e Deficiência: rompendo o silêncio, a sexualidade está conosco mesmo antes do nosso nascimento. “A expectativa da mãe em relação ao filho ajuda na construção de personalidade e identidade da criança, até mesmo em relação ao sexo. Por isso, é importante o toque dos pés e mãos do bebê ainda no colo ao amamentar, por exemplo, de jeito amoroso e afetuoso, mas que serve como base da sexualidade, do prazer”, explica.

Revista D+ número 13


SAÚDE

O casal Vera Garcia, 47, pedagoga, amputada do braço direito, e Hélio de Faria, 61, comerciante, comemoram mais um ano de companheirismo e aprendizado

As pessoas precisam aprender que saúde sexual é um direito de todo ser humano e um elemento do conceito de qualidade de vida Maria Aparecida Vieira Souto, Assistente Social Deficiente Sim Criado em 2002 pelo empresário Anderson Macarrão, 35 anos, o site de relacionamento Deficiente Sim disponibiliza gratuitamente chat, correio, álbum de fotos, flertes, favoritos e busca de perfis para pessoas com e sem deficiência. Com mais de 12 mil usuários, Anderson elimina barreiras do preconceito e dá uma dica: “Defina o que você quer e acredite em si mesmo, estude, saiba conquistar, tenha um padrão mental positivo e terá a pessoa amada ao seu lado”.

www.deficientesim.com.br

EXPLORANDO O CORPO E A MENTE Para melhor entender como funcionam as fases da sexualidade, principalmente para pessoas com deficiência adquirida, o histórico de experiências construído ao longo dos anos deve ser analisado individualmente pelos profissionais, pois é nele que são identificados traços da autoestima, por exemplo, de cada paciente e a partir dele trabalhada a eliminação do sentimento de menos-valia – muitas vezes, conduzido pelo isolamento do preconceito. Um ponto importante para Maria Aparecida Vieira Souto, assistente social e líder do Núcleo de Pesquisa e Estudo em Diversidade Sexual, está na valorização e abordagem acerca da diversidade funcional de pessoas com deficiência em esferas públicas para trazer, cada vez mais, o assunto tabu “sexo e pessoa com deficiência” para dentro da roda, desmistificando e apresentando possibilidades a elas. “Elas precisam aprender que saúde sexual é um direito de todo ser humano e um elemento do conceito de qualidade de vida. A informação, assim como a existência de serviços de apoio, são elementos importantes para incentivar uma mudança de atitude em relação à própria sexualidade e a da sociedade na qual vivem”, afirma Maria. O trabalho realizado pela Associação de Apoio à Criança Deficiente (AACD) de São Paulo atende pacientes adultos com deficiência física adquirida em reabilitação física, emocional, educacional, sexual e questões de fertilidade. Para Marcelo Ares, fisiatra e diretor clínico da AACD, “O paciente com uma paraplegia, uma lesão na medula, pode ter alteração motora e de sensibilidade. E isso é o que mais prejudica, porque ele não vai ter nem a sensibilidade para sentir prazer. Algumas coisas, como o ato sexual, são automáticas para quem não tem deficiência, mas ao adquirir uma, passam a ser algo com que se preocupar”, explica. O PRIMEIRO PASSO Para desvendar a sexualidade a dois é preciso paciência, assim foi para Vera Garcia, 47 anos, pedagoga, amputada do braço direito aos 11 anos, e que tentava desde os 18 – em seu primeiro namoro – a segurança no relacionamento. Para lidar com as dificuldades, Vera criou o blog Deficiente Ciente, em 2009, em que compartilha pensamentos de que é possível seguir em frente mesmo com uma deficiência adquirida.


Na vida amorosa, por não sair muito para barzinhos e baladas, assim como muitas pessoas com e sem deficiência, optou por uma maneira alternativa de se relacionar com novas pessoas, e em 2013 conheceu o seu atual companheiro, Hélio de Faria, 61 anos, comerciante, em um site de relacionamento, e diz nunca ter escondido quem realmente era. “Não tinha motivo para esconder minha deficiência, até mesmo porque isso faria com que o homem que entrasse em contato estivesse realmente interessado em mim”. Para a psicóloga Tatiana Camargo Guimarães, 37 anos, “O parceiro ou a parceira tem suma importância na retomada ou descoberta da qualidade da vida sexual. Assim como o psicólogo deve fazer orientações aos casais quando necessário, pontuando questões referentes a posicionamento, redescoberta de novas zonas erógenas e prazerosas ao casal, sendo um facilitador na redescoberta da atividade sexual com qualidade e segurança”. Hélio, o parceiro de Vera, confessa que a princípio achou que ela fosse cadeirante “e mesmo se fosse, queria conhecê-la de qualquer forma!”, ele brinca; e explica que foi cativado desde o primeiro momento. “Para mim, a deficiência dela não era empecilho. As qualidades de uma pessoa vão muito além de sua condição física”, acrescenta.

Movimento Yes, We Fuck Conheça o movimento espanhol que se espalhou pela Europa e América do Sul apresentando uma reflexão sobre a sexualidade da pessoa com deficiência e depoimentos inspiradores.

www.yeswefuck.org


SAÚDE

No início do namoro não foi nada fácil. Geralmente, quando uma pessoa na minha situação consegue voltar a fazer algo que fazia antes, o primeiro sentimento não é de vitória, mas de ‘ineficiência’ Frederico Rios

Maria Alice e Frederico: no começo foi difícil, mas depois Fred conseguiu enxergar o lado positivo das coisas

Congreso Iberolatinoamericano Sexualidad Discapacidad Nos dias 20 e 21 de maio de 2017, o Hotel Costa Galana, em Mar del Plata, na Argentina, recebe o Congreso Iberolatinoamericano Sexualidad Discapacidad para debater assuntos relacionados à sexualidade de pessoas com deficiência, com a presença de palestrantes da Argentina, México, Paraguai e Uruguai. Se você tem interesse no tema acesse:

www.cubaquen.com/congreso1

SEGUINDO O PERCURSO DA VIDA REAL Diferente de casais que se relacionam via internet, Frederico Rios, 35 anos, paraplégico e veterinário, e Maria Alice Rios, 31 anos, fisioterapeuta, se apaixonaram onde menos esperavam: em uma sala de fisioterapia. Havia cinco anos que Frederico não namorava sério quando a conheceu – ela era comprometida na época: “Logo nos primeiros atendimentos já me sentia atraído... era mais uma atração física ‘imaginária’”, como ele explica. Mas os contras do futuro relacionamento pesavam muito na cabeça do veterinário. “Tinha receio de como as pessoas nos olhariam e se eu iria correspondê-la à altura. E, apesar de ter certa experiência com as mulheres, não tinha nenhuma com a minha nova realidade. Tive que reaprender e adaptar muitas coisas, física e psicologicamente”, conta Frederico. Com a aproximação e o casamento, Maria Alice ocupou o posto de esposa e cedeu o de fisioterapeuta para o primo de Fred, Léo Juno, educador físico, que toma conta dos treinos de reabilitação. “No início do namoro não foi nada fácil. Geralmente, quando uma pessoa na minha situação consegue voltar a fazer algo que fazia antes, o primeiro sentimento não é de vitória, mas de ‘ineficiência’, pois aquilo é realizado com dificuldade, mais lentamente e com menos precisão. Demorei um pouco para enxergar algo de positivo nas coisas que reconquistei, mas depois tudo começou a ser ‘normal’ e gostoso”, afirma Frederico. Para Ana Rita, psicóloga, “Uma pessoa com deficiência motora que passa por uma série de intervenções médicas e terapêuticas, como cirurgias, que são experiências dolorosas, atrapalha a vivência do corpo e a percepção do prazer, porque todo mundo olha e toca seu corpo com um enfoque profissional”. Para Maria Alice, as restrições de Frederico nunca foram um problema, pois foram elas que tornaram o casal mais unido e o relacionamento ainda mais forte. “Além do companheirismo maior, o Fred acaba sendo mais intenso em todos os sentidos”. “Hoje enxergo tudo isso de forma diferente. Não divido minha deficiência com minha esposa, mas divido minha vida, minhas tristezas, minhas vitórias, como qualquer outra pessoa casada”, finaliza Frederico. D+



RESENHA

Tradutoresintérpretes de Libras na saúde: o que eles nos contam sobre questões éticas em suas práticas*

texto Eliza Padilha

* Tese de Doutorado em Ciências, defendida em 2014 na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo – Usp

A

o longo de mais de dez anos, Patrícia Cristina Andrade Pereira vem testemunhando a má qualidade dos atendimentos prestados pelas equipes de saúde, isso porque está exposta diariamente à realidade vivida pelos Tils-GIs (tradutores e intérpretes de língua de sinais – guias-intérpretes) dessa área. Esse contato permitiu que ela fizesse diversos estudos na área da surdez e trouxesse, em sua tese, questões pertinentes e ao mesmo tempo angustiantes sobre o trabalho desses profissionais e seus desafios éticos, através de riquíssimos depoimentos colhidos de 30 deles, encontrados em associações de São Paulo e Rio de Janeiro. A primeira importante constatação feita é que os Tils-GIs não têm formação, habilidades e conhecimentos das terminologias próprias para exercer esse trabalho na área da saúde. Inclusive, não foram encontrados profissionais contratados especificamente a atuação. São casos pontuais, esporádicos, voluntários, informais ou na falta de familiares e acompanhantes. Dessa deficiência de treinamento específico surgem vários outros problemas, como, por exemplo, dificuldades de interpretações devido a termos médicos, jargões ou à interculturalidade – que geram ruídos de comunicação – ou mesmo à falta de tato tanto do Tils-GI quanto da equipe de saúde no contato com o paciente. A ética dos Tils-GIs é investigada sob três aspectos, que norteiam a pesquisa: comunicação, autonomia e privacidade. Sobre o primeiro aspecto, é importante ressaltar que a interpretação “é um constante exercício de linguística comparada atravessado por questões interculturais, de poderes e políticas, não apenas por desafios técnicos”, a mediação contextual também se faz necessária, e, por isso, falar a mesma língua não é sinônimo de boa comunicação. A autora mostra como a autonomia dos surdos, o segundo aspecto, é prejudicada, ao notar, por exemplo, que os Tils-GIs exercem muito mais do que a função de interpretação, são: mediadores, informantes, cuidadores, fiscais, acompanhantes e, aparentemente, tudo mais que o paciente surdo precisar desde a pré-consulta. Um dos depoimentos, por exemplo, relata um caso em que o paciente seria submetido a um exame incompatível com o implante coclear e o intérprete interveio além da mera transmissão comunicacional para que a equipe de saúde não realizasse o procedimento prejudicial. Houve unanimidade entre todos os entrevistados no que tange ao terceiro aspecto: a privacidade. É um princípio que deve ser seguido acima de tudo. Somente o paciente tem o direito de decidir quem terá informações sobre o conteúdo da consulta. Mas quando se trata de privacidade física, houve falta de consenso entre os profissionais, talvez pela falta de formação especificamente para atuação na área da saúde. Os exemplos de que a presença do Tils-GI confere mais autonomia e segurança ao paciente permeiam toda a tese, como o caso de uma paciente surda que estava infectada pelo vírus HIV e não sabia, pois quem a


acompanhava na consulta era sempre o marido, que, por ser o transmissor do vírus, omitiu tal informação da esposa. Mas o contrário também pode acontecer e a autora faz um alerta quanto a isso, relatando um caso em que a paciente adolescente estava grávida e desejava fazer um aborto, mas desconhecia completamente seus direitos e deveres legais sobre isso. Então, em uma combinação entre intérprete e médico, este disse à paciente que, nesse caso, precisaria de 30 mil reais para sustentar os filhos do Tils, que seria preso por cumplicidade à decisão dela. Ou seja, os profissionais decidiram por ela, além de fazerem julgamento moral – o que caracteriza falta de ética profissional – e constrangerem a paciente. No contexto médico, o Tils-GI tem o desafio de interpretar com o máximo de neutralidade possível, com certo distanciamento que permita a discrição e, ao mesmo tempo, mostrar-se aberto para conversa e calmo para confortar o paciente de modo que ele receba todos os cuidados necessários, às vezes em situações delicadas, de nervosismo ou de risco. E já que o ideal, que seria a equipe de saúde ser capacitada em Libras e conhecer a cultura surda, está muito longe de ser alcançado, a autora enfatiza a importância de cursos específicos para a interpretação na área da saúde.

Para Patrícia, é preciso que a oferta de especializações seja proporcional à oferta de empregos formais e que seja igualmente proporcional à demanda que já existe no setor, mas é simplesmente ignorada. A omissão também manifesta: “Aqueles serviços que se eximem de ofertar mediação qualificada a pacientes surdos comunica a estes que os compreendem como alguém não comunicante, possivelmente um sujeito menor”. O profissional não especializado fica sem o apoio de princípios éticos e isso consolida a exclusão do surdo. Que a presença do Tils-GI é de suma importância para que o paciente surdo tenha o mínimo de dignidade no atendimento, não resta dúvidas: além de promover a autonomia da pessoa com deficiência, é imprescindível para que ela solicite e receba os devidos cuidados. Mas Patrícia chama atenção para o tratamento digno direcionado a esses profissionais também, pois para exercerem trabalho de qualidade, necessitam de respaldo. Não tendo especialização, tampouco supervisão, os Tils-GIs trabalham solitários e não têm com quem dividir as angústias, os medos, as dúvidas, as dificuldades e as conquistas do dia a dia. Eles precisam de suporte, além da formalização advinda do tão esperado e merecido reconhecimento profissional. D+

Revista D+ número 13


NOSSA CAPA

Taléia Barreto, 29 anos: “Sempre venho à praia e amo a natureza”


Nas asas da aventura

O direito de ir, vir e se divertir é intrínseco a nossa condição de indivíduos, mas o turismo acessível ainda não é predominante. Conheça alguns lugares e facilitadores para ser feliz longe de casa Texto Taís Lambert Entrevistas Cintia Alves Colaboração Brenda Cruz

Wanderlust Expressão alemã usada para definir um implacável desejo de ir, de viajar, de conhecer o novo

A

música já dizia que a gente não quer só comida. Nós queremos também diversão e arte, saída para qualquer parte. Exatamente 30 anos depois, a canção Comida (1987), da banda Titãs, vem apoiar o legítimo e sempre atual desejo de querer muito mais do que apenas sobreviver: a gente também quer ser e estar, quer se divertir, ir e vir. Talvez até ficar. Quem nunca verbalizou um “Não vou mais embora!” quando no ápice de uma linda viagem? Viajar é seguramente uma das coisas mais encantadoras que há para se fazer. Contar com acessibilidade arquitetônica e urbanística, transporte, adaptações, tecnologia assistiva e, principalmente, atitudes inclusivas é elementar para que a pessoa com deficiência tenha condição de realizar esse desejo, que é também um direito universal. Remover os obstáculos que possam impedi-la de ter a mesma oportunidade que têm aqueles sem deficiência de desfrutar de recreações, paisagens, serviços, pontos turísticos e experiências variadas é tão urgente que cada vez mais pessoas, em muitas esferas, estão se preocupando com isso.

Revista D+ número 13


NOSSA CAPA

“Cada país tem suas ações efetivas para o incentivo da implantação da acessibilidade e do turismo acessível. O Brasil está avançando nas políticas públicas, mas toda cidade tem que fazer sua lição de casa”, ressalta Cristiane Ecker Fornazieri, 48 anos, que atua na elaboração e coordenação de projetos de turismo acessível e acessibilidade em municípios. O Ministério do Turismo tem entre as ações previstas para 2017 a atualização e o aperfeiçoamento do site Guia Turismo Acessível (www.turismoacessivel.gov.br). A ferramenta permite ao turista, com deficiência ou não, cadastrar e avaliar restaurantes, estabelecimentos e atrações turísticas segundo seu nível de acessibilidade. São informações sobre a existência de rampas em um hotel, de cardápios em braile em restaurantes e de banheiros adaptados em diversos estabelecimentos, entre outras informações essenciais ao turista com deficiência. O site permite a navegação de pessoas com deficiência visual, auditiva, física/motora e intelectual. Além disso, segundo o Ministério, neste ano serão fortalecidas as ações de sensibilização e divulgação do Guia Dicas para atender bem Turistas com Deficiência, cartilha lançada no ano passado para prestadores de serviços do setor.

O site possibilita avaliar estabelecimentos segundo o nível de acessibilidade

Cartilha auxilia com dicas para atender bem o turista com deficiência

Nos últimos anos, foram mais de R$ 75 milhões de investimentos em obras de acessibilidade, apoio à qualificação e capacitação de profissionais para atender turistas com deficiência. Mas ainda precisamos avançar Marx Beltrão, Ministro do Turismo

“O Ministério do Turismo apoia e investe, desde 2012, no programa Turismo Acessível, resultado de uma parceria da Pasta com a Embratur, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e o Conade. Nos últimos anos, foram mais de R$ 75 milhões de investimentos em obras de acessibilidade, apoio à qualificação e capacitação de profissionais para atender turistas com deficiência”, afirma à Revista D+ o Ministro do Turismo, Marx Beltrão. “A cada ano, nossas ações e investimentos voltadas para esse público aumentam. Mas ainda precisamos avançar. Precisamos estar preparados para atender com qualidade e eficiência as demandas desse perfil de viajante e criar condições para que o turista com deficiência conheça cada vez mais o Brasil”, afirmou ainda. Cristiane Ecker, que também realiza palestras e treinamentos voltados ao atendimento da pessoa com deficiência e mobilidade reduzida, além de sensibilizar o trade de turismo para a implementação de acessibilidade, chama a atenção: “No Brasil contamos com alguns instrumentos legais que garantem a acessibilidade a todos. De maneira geral, nossa legislação visa a garantir à pessoa com deficiência a plena integração social com acessibilidade. O que precisa é respeitar a legislação vigente”.


foto Marta Alencar

A CADEIRA VOADORA “Como essa moça viaja, hein?”. É automático pensar isso ao entrar no site www.cadeiravoadora.com. br – Turismo Acessível e Outras Conversas, da Laura Martins, 45 anos. Formada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais, mora em Belo Horizonte, trabalha como redatora e revisora de textos na Assembleia Legislativa de Minas e é cadeirante. Aos cinco anos Laura teve mielite transversa, uma inflamação na medula causada por vírus, para a qual não há vacina. Em 2011, pouco depois de ter intensificado suas viagens (“E isso aconteceu porque as viagens aéreas foram se tornando mais acessíveis para cadeirantes, assim como os hotéis e as próprias cidades”, diz ela) surgiu a ideia de ter um blog. Avaliação de hotéis e restaurantes, dicas de aventuras como o montanhismo, escapadas para a Bahia, ou para a França, dentre uma infinidade de outras coisas legais estão lá.

Por que o blog, Laura? Laura Martins: Queria que outros cadeirantes pudessem se beneficiar das minhas experiências e assim viajar com mais segurança e autonomia. Muitas pessoas com deficiência têm medo de sair de casa, em razão de suas limitações e da falta de acessibilidade nos destinos. Mas as informações que ofereço no blog são bastante detalhadas, o que acaba encorajando-as a se aventurarem. Muitas me escrevem contando as experiências e agradecendo pelo incentivo! Você já viajou muito... o que acha do Rio de Janeiro? Visitei diversas vezes, mas a acessibilidade na Cidade Maravilhosa sempre deixou a desejar, principalmente se considerarmos o estado das calçadas e o transporte público. Melhorou muito com a Paralimpíada. Por exemplo, agora todas as estações de metrô estão adaptadas para receber cadeirantes. Mas os ônibus continuam inacessíveis, em sua grande parte. E cadeirantes só têm acesso às praias por meio de

projetos de acessibilidade que acontecem apenas em alguns meses do ano... Quais são as principais dificuldades encontradas em suas viagens? Falta de transporte adaptado (tanto transporte público quanto privado); falta de acessibilidade nas calçadas (que, de modo geral, são precárias, quebradas e sem rebaixamento); falta de acessibilidade no comércio, incluindo bares, lanchonetes e restaurantes; falta de banheiro público com acessibilidade. O que é necessário para resolver os entraves do dia a dia numa viagem? Para resolver os desafios, é necessário que a sociedade seja cada vez mais inclusiva, possibilitando a todas as pessoas o acesso ao transporte e aos locais a que se dirigem. Leis, temos de sobra, e bem avançadas. Mas elas não valem de nada se não houver fiscalização e, principalmente, um processo permanente de educação do público para o respeito às necessidades específicas das pessoas com deficiência e aos direitos conquistados por elas.

Revista D+ número 13


NOSSA CAPA

A IMPORTÂNCIA DA AGÊNCIA DE TURISMO Gradativamente, alternativas turísticas vão se desenhando no horizonte. Está muito longe do ideal, é verdade, no entanto, mesmo o setor privado oferece hoje possibilidades inimagináveis há alguns anos. Uma década atrás, Fátima Monteiro da Silva se viu com uma demanda diferente: o diretor de uma escola especializada, que pretendia organizar um cruzeiro para um grupo de adolescentes com deficiência, não havia encontrado no mercado quem pudesse atendê-lo. “A partir disto, em 2007, criei a Accessible Tour, que se tornou a agência pioneira em turismo acessível no Brasil, especializada no atendimento de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida”, conta Fátima. Conforme a demanda dos clientes, a agência (www. (accessibletour.com.br) faz um checklist dos itens a serem observados, “como, rampas, intérpretes, sinalização, adaptações e pessoal treinado no atendimento”, enumera Maria da Conceição Monteiro, especialista em acessibilidade e ações inclusivas da Accessible Tour. “No entanto há dificuldade na realização de roteiros porque a cadeia produtiva do turismo não é acessível. Nesse sentido, desenvolvemos um curso à distância para eles, que será lançado em março”, revela. Segundo Fátima, os destinos mais procurados na agência, levando-se em consideração a acessibilidade nos hotéis e a infraestrutura da cidade, são Foz do Iguaçu, Natal e Porto Seguro. “Mas, vale ressaltar que a maior barreira é a atitudinal e que é fundamental a

Vale ressaltar que a maior barreira é a atitudinal e que é fundamental a capacitação das pessoas envolvidas no atendimento desses clientes Fátima Monteiro da Silva, diretora da agência Accessible Tour

capacitação das pessoas envolvidas no atendimento desses clientes”, finaliza. Reconhecida no mercado por ter democratizado o acesso dos brasileiros às viagens, a CVC é hoje o maior player do setor turístico das Américas. E como uma gigante de 45 anos atua em prol da pessoa com deficiência? Segundo sua assessoria de imprensa, no ato da reserva do pacote de viagem, a operadora já faz os requerimentos necessários, seja para a companhia aérea, seja para o hotel contratado ou para a sua equipe de receptivo baseada no destino turístico, segundo a necessidade de atendimento conforme a deficiência do viajante. “É comum e já natural ao processo da venda consultiva da viagem, por exemplo, as lojas da operadora acionarem o Centro de Controle de Operações da CVC para checarem a possibilidade de reservar carro adequado para o viajante no destino ou, então, verificar se determinado hotel ou pousada, por exemplo, está adaptado para atender às necessidades específicas daquele turista”. De acordo com a empresa, sua experiência mostra que, ao longo dos anos, com a modernização da rede hoteleira no Brasil, boa parte dos hotéis e resorts já se prepararam para receber esse público. Isso se vê na inclusão de rampas de acesso, elevadores, apartamentos adaptados, barras de acesso às piscinas e assim por diante. Na opinião da CVC, no entanto, ainda faltam iniciativas de acessibilidade do poder público para adequar os pontos turísticos à visitação dessas pessoas, melhorando assim, por exemplo, o acesso às igrejas históricas e às praias. LUGARES PARA VOCÊ IR Tanto o setor público quanto o privado têm um longo caminho pela frente na inclusão das pessoas com deficiência no turismo. A sociedade no geral, por sua vez, também tem sua parcela de responsabilidade quando o assunto é empatia e respeito. Em outras palavras, falta muito (MUITO mesmo) para as coisas ficarem realmente boas. Mas há que se reconhecer os acertos e avanços que delineiam possibilidades felizes. A seguir, escolhemos alguns locais e atividades (com diferentes faixas de preço – não vamos ignorar justamente isso, afinal...) em várias partes do Brasil que, por estas ou aquelas razões, se mostram boas escolhas de destino acessível na hora de você fazer as malas. Naturalmente, não viajamos para todos estes locais, mas conversamos com quem foi, com quem ajuda, com quem trabalha para tornar as experiências de outras pessoas algo realmente bom para se lembrar.


foto Hesíodo Góes

foto Deborah Ghelman

foto Deborah Ghelman

Mergulho e jangada adaptados em Porto de Galinhas e cadeiras anfíbias no Recife: Pernambuco na rota do turismo acessível

RECIFE E PORTO DE GALINHAS, PE A terra do frevo tem quase 200 km de litoral: algumas dessas praias estão no topo dos melhores destinos turísticos do país. A acessibilidade para a pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida ganhou a pauta: tem ou não tem? Não tinha. “Isso mobilizou a Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do Estado (SETUREL-PE), através da Empresa de Turismo de Pernambuco (EMPETUR) para formatar um projeto capaz de preencher essa lacuna”, conta Ana Luíza Accioly, Gestora de Comunicação na Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer de Pernambuco. Foi assim que o projeto Praia Sem Barreiras surgiu: disponibiliza cadeiras de rodas anfíbias, esteiras removíveis de acesso à faixa de areia e profissionais qualificados para o banho de mar assistido. A primeira a receber o projeto foi a Praia do Sueste, em Fernando de Noronha. Logo depois, foi a vez da Praia da Boa Viagem, no Recife. A Praia de Porto de Galinhas, em Ipojuca, e as praias de Candeias, no Jaboatão dos Guararapes e Tamandaré, no litoral sul do estado, também contam com a acessibilidade do Praia Sem Barreiras.

Há ainda piscina infantil, espaço para a prática de vôlei sentado e jangadas adaptadas. “Trabalhamos muito para que a acessibilidade seja completa em Pernambuco. Estamos sempre promovendo capacitação para empresários sobre atendimento e recepção dos turistas com deficiência nas suas diversas formas. Além disso, estamos dando continuidade ao projeto Vem Ser Acessível, que consiste em proporcionar qualificações, criar e confeccionar guias turísticos e cardápios em braile para Fernando de Noronha, Porto de Galinhas e Recife. Queremos tornar Pernambuco um destino referência em acessibilidade”, afirmou à Revista D+ o Secretário de Turismo, Esportes e Lazer de Pernambuco, Felipe Carreras. O projeto, que existe desde 2013, registrou nas cinco praias um fluxo de 8.081 pessoas entre crianças e adultos com deficiência e idosos. “Tratam-se de momentos de convívio social de imensurável benefício, pois propicia a inclusão de forma digna. De acordo com depoimentos de familiares, as pessoas que participam passam a dormir e se alimentar melhor, com mais qualidade de vida. É o exercício da cidadania”, finaliza Ana Luíza Accioly. www.praiasembarreiras.com Revista D+ número 13


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AQUÁRIO NATURAL, BONITO, MATO GROSSO DO SUL

fotos Arquivo pessoal

As paisagens de tirar o fôlego estão ali preparadas para encantar. Conhecida por seus rios de águas cristalinas e uma fauna aquática pra lá de colorida, a região guarda lindas surpresas para quem gosta de ecoturismo. Flutuação no Aquário Natural de Bonito ou no rio Sucuri são lei: não deixe de ir! São atividades contemplativas que vão encher sua memória de imagens inesquecíveis. Se você é mais aventureiro, o rafting no rio Formoso ou o rapel com 72 m de altura no Abismo de Anhumas também são acessíveis a pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e certamente garantirão sua dose de adrenalina. No Aquário, faixas de pedestres com sinalização visual e tátil, calçadas largas e piso antiderrapante e regular, trilhas e acesso próprios para cadeirantes e funcionários treinados para acompanhar o viajante com deficiência garantem a inclusão. “Fui para Bonito em dezembro de 2014 e um dos passeios nos quais me aventurei foi o Aquário. Foi também meu primeiro desafio na água depois do meu acidente, em 2012”, conta Bianca Ravagnani, com tetraplegia decorrente de um acidente de carro. “Tive muito medo porque eu não consigo mergulhar, mas fui acompanhada e muito bem assistida pelos instrutores do Aquário, que me deixaram extremamente confortável e confiante. Eu recomendo muito a cidade de Bonito e o passeio no Aquário para as pessoas que têm dificuldade de locomoção: além de ser um lugar maravilhoso, o atendimento e a assistência são muito bons”, indica Bianca. Bianca Ravagnani viveu sua primeira aventura na água, depois do acidente, no Aquário Natural de Bonito, em Mato Grosso do Sul. Bem assistida pelos instrutores locais, as lembranças que ficaram são das melhores: “Eu recomendo muito”

www.aquarionatural.com.br (67) 3255-1193


Fotos Beto Lima/EMBRATUR

Fernando de Noronha reserva acessibilidade nas passarelas de observação, como esta de frente para o Morro Dois Irmãos. A Praia do Sueste foi a primeira de Pernambuco a receber o projeto Praia Sem Barreiras

PARQUE NACIONAL MARINHO, FERNANDO DE NORONHA É difícil encontrar alguém que não diga que um de seus maiores desejos de viagem é conhecer Fernando de Noronha. Não por acaso, afinal, o arquipélago reúne praias, fauna, flora e paisagens inigualáveis, veneradas por turistas de todo o mundo. Nem todos os atrativos são adaptáveis, no entanto, algumas áreas principais receberam equipamentos facilitadores que tornam sua aventura por lá possível. Dá para fazer trilhas, ver os principais mirantes, ir à Praia do Sueste com cadeiras adaptadas e fazer mergulho livre. Há banheiros acessíveis no Posto de Informação e Controle (PIC) da Praia do Sancho e no PIC da Praia do Sueste. São mais de 1500 metros de passarelas suspensas e decks acessíveis ou com acessibilidade assistida: a Trilha do Golfinho segue as regras de acessibilidade

da ABNT e a trilha que leva ao Sancho, devido à sua grande declividade, pode ser acessada com o auxílio de um acompanhante. Segundo a assessoria do Parque, os profissionais recebem treinamento anual específico para atender as pessoas com deficiência de maneira inclusiva e adianta que, em 2017, será construída mais uma rampa de acesso: dessa vez para o mirante da Praia do Leão, reconhecida como uma das mais bonitas do Brasil e do mundo. Além disso, o objetivo é pôr em prática um projeto de interpretação ambiental, o que incluirá a elaboração de sinalização em braile e a reforma do Centro de Visitantes, para torná-lo acessível às pessoas com diferentes tipos de deficiência. A Praia do Sueste foi a primeira de Pernambuco a receber o Projeto Praia sem Barreiras. www.parnanoronha.com.br - (81) 3619-1220


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HOTEL FAZENDA PARQUE DOS SONHOS, SOCORRO, SÃO PAULO Se você gosta de natureza e adrenalina, a sua praia pode ser o turismo de aventura. Seis tipos de tirolesa, arvorismo, rapel, boia-cross, rafting, cavalgada, passeio de trole e passeio de quadriciclo não motorizado são algumas das atividades oferecidas pelo Hotel Fazenda Parque dos Sonhos, em Socorro, no Circuito das Águas Paulistas. A cidade como um todo é referência internacional em políticas inclusivas; já recebeu o Prêmio Rainha Sofia de Acessibilidade (2014), do governo espanhol. A especialista Cristiane Ecker Fornazieri, que participou dos projetos que tornaram tanto a cidade quanto o Parque dos Sonhos acessíveis, conta que testes de campo foram desenvolvidos através de atividades de aventura realizadas por pessoas com deficiência. “Assim pudemos mapear as barreiras arquitetônicas nos atrativos e empreendimentos turísticos do município”. Segundo a consultora, observaram que a arquitetura dos equipamentos de aventura, os atrativos turísticos públicos e privados, os estabelecimentos comercias e hoteleiros dificultavam e impossibilitavam o acesso da maioria das pessoas com deficiência. “O estudo contou com amostra intencional de estabelecimentos visitados no município. A coleta de dados foi realizada por meio de formulário tipo checklist e fotografias nos locais, cuja compilação formou a ‘matriz de acessibilidade’, que era norteada pela ABNT NBR 9050-2004 e o decreto nº 5.296/04, que regulamenta as leis federais nº 10.098/00 e nº10.048/00”. Certificado pela ABNT NBR 9050, o Hotel Fazenda Parque dos Sonhos tem todas as funcionalidades para todas as deficiências: “Conta com rampas, mapas táteis, rotas com piso tátil, corre mão duplo, espelho basculante, canil para cão guia, aparelho telefônico para deficientes auditivos, cardápio em braile, rechaud na altura correta, tomadas conforme norma, banheiros acessíveis, balcões rebaixados etc”, detalha José Eduardo de Moraes, gerente de atividades no Parque dos Sonhos. Há também dois colaboradores intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras), que quando solicitados, ficam no Parque. “As atividades de turismo de aventura são adaptadas e contam com equipamentos como a cadeira adaptada para rapel e tirolesa, a cadeira e o colete para rafting, trole para passeio traçado por cavalo e implantação de mudança em procedimentos operacionais”, explica Eduardo, que conta também uma novidade para 2017: “Estamos em fase de desenvolvimento de um pedalinho acessível”. www.parquedossonhos.com.br Reservas: (19) 3895-3161/ (19) 99715-8647 (Whatsapp)

Fotos Divulgação


A cidade de Socorro é internacionalmente premiada por sua acessibilidade. O Hotel Fazenda Parque dos Sonhos conta com todas as funcionalidades para todos os tipos de deficiência. Nas imagens, tirolesa, boia-cross e cavalgada acessíveis

Foto Cuca Jorge/ Projeto FotoVentura Revista D+ número 13


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Ana Borges e Cristiano Sousa Rodrigues, 42 anos, com cerca de 5% da visão, fazem trekking em Atibaia

EXPEDIÇÕES INCLUSIVAS Ana Lúcia Nogueira Borges, 42 anos, é formada em Direito e Educação Física, e para que não ficassem dúvidas de sua paixão pela aventura, iniciou o trekking subindo o Monte Kilimanjaro, na África, em 2011. Por outro lado, em 2010, tinha tido seu primeiro contato com pessoas com deficiência visual na ONG Grupo Terra, onde foi convidada a ministrar atividades físicas ao grupo. “Foi amor à primeira vista. Meu amigo Ricardo Panelli, fundador e presidente da ONG, e eu pensamos em ligar a deficiência a atividades na natureza, dando início, então, ao projeto social Expedições Inclusivas – Por um mundo sem fronteiras”, explica Ana. Ricardo Panelli, 43 anos, é economista e fundou a Grupo Terra em 2002. Foi ele o capitão da primeira equipe de corrida de aventura com deficientes visuais. Por meio do projeto, em 2013, dois deficientes visuais subiram a montanha Huayna Potosi, na Bolívia. “Em 2015 decidimos agregar a deficiência física e realizamos a Expedição Jalapão, no Tocantins, fazendo mountain bike e rafting com dois cadeirantes e um deficiente visual”, conta Ana. Até 2015, os dois amigos trabalharam pela causa da deficiência com pouca estrutura financeira. “No ano passado nos ligamos à Associação SAMAUMA (www.samauma. org.br), que trabalha com projetos sociais, culturais e esportivos há mais de 10 anos”. Com a parceria, 2017 ganhou um fôlego novo: o projeto Expedições Inclusivas fará mergulho em Paraty, no Rio de Janeiro, com dois cadeirantes

e dois deficientes visuais; e ciclismo no Vale Europeu, em Santa Catarina, com uma amputada, um cadeirante e um deficiente visual. “Também teremos o projeto Expedições Inclusivas no Exterior – Montanhismo Sensorial: o atleta Eduardo Soares, deficiente visual, subirá as seis maiores montanhas dos cinco continentes mais a da Antártica num período de aproximadamente três anos”, revela Ana Borges. AVENTURAS ADAPTADAS: UM LIVRO, MUITAS EXPERIÊNCIAS Ao lado do jornalista Paulo Khedi e do fotógrafo Arthur Calasans, Ana Borges levou alguns desses aventureiros com deficiência para seis destinos turísticos em São Paulo, num período de 30 dias, para viverem as mais diversas experiências. Paratrike em Caraguatatuba; trilhas na Pedra Grande, em Atibaia; rafting no rio Pepira, em Brotas; tirolesa e rapel em Socorro; paraquedas em Boituva e escalada na Pedra Bela, em Bragança Paulista: tudo isso se transformou no livro Aventura Adaptada: um roteiro turístico e cultural, lan-

çado no ano passado. “Foi a primeira vez que fiz rafting. O pessoal era qualificado, demonstrou larga experiência em atender pessoas com deficiência, foi espetacular! A melhor parte do passeio foi a decida da corredeira, o rafting em si: uma sensação que nunca tinha experimentado”, conta Augusto Toledo, 50 anos, advogado e cadeirante, que participou da aventura em Brotas.


Fotos Arthur Calasans

Augusto Toledo no rafting em Brotas: altas aventuras do advogado cadeirante que também é instrutor de paramotor

Toledo costuma viajar com frequência: ele tem uma escola de paramotor e paratrike. “Sou o único instrutor de paramotor brasileiro com deficiência na Associação Brasileira de Paramotor (ABPM)”, afirma. Eduardo Soares, 36 anos, é massoterapeuta e educador físico e tem deficiência visual congênita. Para o livro, ele saltou de paraquedas em Boituva. “É uma sensação muito louca, indescritível! Estar a quatro mil metros de altitude e saltar em queda livre, no nada, a 250 km por hora... a sensação que eu fui recebendo no corpo durante a queda foi muito boa e gostosa”, descreve Eduardo, o atleta que subirá as montanhas no projeto Expedições Inclusivas no Exterior. Na opinião de Ana, a acessibilidade no Brasil ainda é muito precária, tanto pelas estruturas físicas das cidades quanto pela falta de conscientização das pessoas em relação ao assunto. “Só melhoramos ou mudamos algo quando sentimos, na própria pele a necessidade para tanto. Acessibilidade parece algo necessário apenas para pessoas com deficiência, o que não é verdade. Essa visão denota uma falta de conscientização coletiva”, dispara. Depois de todas estas experiências em meio à natureza com pessoas com deficiência, ela acredita que ter independência para locomover-se e não conseguir ir a algum lugar que queira por falta de acessibilidade é uma violação constitucional. “Encontramos acomodações, transportes públicos, estabelecimentos comerciais e locais públicos acessíveis apenas nas grandes capitais ou em cidades turísticas. O mundo ainda tem muito a fazer para melhoria da acessibilidade”. No alto, Eduardo pulando de paraquedas pela primeira vez, em Boituva. Acima, Jaqueline Carmen de Moura, 33 anos, surda, fazendo escalada em Bragança Paulista

www.aventurahbrotas.com.br (Brotas) www.vistaazulparaquedismo.com.br (Boituva)

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NOSSA CAPA

Bianca e Débora no surfe. Abaixo, a tenda do projeto no Guarujá; Marli Aparecida Menezes, cega e com mobilidade reduzida; a turma de amigos da Rede de Reabilitação Lucy Montoro, amputados de membro inferior, e Fabinho Fernandes, do Instituto Novo Ser, do Rio de Janeiro


Fotos Taís Lambert

PRAIA DA ENSEADA, GUARUJÁ, SÃO PAULO Num domingo ensolarado, as irmãs Débora, 25 anos, e Bianca Silva Bargas de Jesus, 19 anos, nossas meninas da capa, fizeram como outra centena de pessoas: foram à Praia da Enseada, no Guarujá, litoral sul de São Paulo, para aproveitar o projeto Praia Acessível – Esporte para Todos, pela primeira vez na cidade. O projeto oferece às pessoas com deficiência e mobilidade reduzida uma opção para curtir ao máximo a temporada de verão. Cadeiras anfíbias, piscina infantil, vôlei sentado, surfe adaptado, handbike, corrida em cadeiras adaptadas e até sling desk, uma terapia alemã, são as atividades que garantem a inclusão. “Aqui temos profissionais de educação física e fisioterapeutas, pois para levar a pessoa com deficiência ao mar é necessário que sejam capacitados. Nós damos treinamento para cada um deles”, conta Fabinho Fernandes, 41 anos, da diretoria do Instituto Novo Ser, do Rio de Janeiro. O projeto desenvolvido por eles no Rio existe há nove anos, por isso foram procurados pelo secretário de Esporte, Lazer e Juventude, Paulo Gustavo Maiurino, para a parceria que beneficiasse o litoral paulista. “O programa foi concebido para atender pessoas que, aparentemente, não existem para a sociedade”, afirma o secretário em entrevista à Revista D+. “O esporte proporciona saúde e bem estar. Isto melhora a qualidade de vida destas pessoas e dá a elas acesso a um patrimônio – a praia e o mar – que é direito de todos”, completa. Débora nasceu com amiotrofia espinhal tipo 2 e joga bocha adaptada na Associação Paradesportiva da Baixada Santista (APBS) há cinco anos. “Achei o projeto muito legal e importante, pois tem bastante coisa à disposição. Eu gosto muito de vir à praia e assim fica bem mais fácil”, diz Débora, que surfou pela primeira vez com o apoio da irmã e a assistência da equipe do projeto Praia Acessível – Esporte para Todos. “A equipe é enorme e bem preparada. Tive insegurança porque me preocupo com ela, mas depois de vê-los em ação, me tranquilizei! São muito atenciosos, com atendimento bem diferente do que estamos acostumadas”, afirma Bianca Silva Bargas de Jesus, que encarou o surfe junto com sua irmã. Taléia Barreto, 29 anos, também não deixou por menos: apaixonada por natureza, a paulistana que mora há dois anos no Guarujá aproveitou para curtir a praia de um modo diferente. “O projeto é uma maravilha, eu adorei! Sempre venho à praia mas fico sentada na areia, não tem graça. Agora dá para se divertir de verdade!”. Linda e charmosa, Taléia abre nossa matéria de capa com um sorriso que ela conquistou com o tempo. Aos 16

Taléia Barreto com parte da equipe do projeto Praia Acessível – Esporte para Todos: acessibilidade no surfe e muita diversão anos foi lesionada por conta de uma bala perdida. “Eu era adolescente, fiquei com muita vergonha e entrei em depressão. Foi através da dança que me encontrei e tive paz”. Ela dançou por dois anos no grupo paulistano Solidariedança. “Aprendi muito e comecei a me relacionar com outras pessoas. Tudo ficou tão diferente que hoje estou aqui, até surfando!”, sorri. O Guarujá não contava com rampa de acesso à praia. Como projeto, a prefeitura construiu uma de madeira, além de disponibilizar dois banheiros químicos adaptados. Isto, segundo Fabinho, com a promessa de construir acesso e banheiros fixos. “A partir do momento que fazemos um projeto como este, a própria sociedade passa a cobrar que ele aconteça sempre e melhore. Vamos fazer isso acontecer”, finaliza Paulo Gustavo Maiurino. D+ www.selj.sp.gov.br/esporteparatodos Revista D+ número 13


IDOSOS Negócios

foto divulgação

Além da aposentadoria, Luiz Carlos Sacchi apostou em franquia do Divino Fogão para continuar ativo no mercado de trabalho


Investir e prosperar: nunca é tarde A população idosa comprova que tem preparo e criatividade para empreender e ser bem-sucedido mesmo após a aposentadoria texto Rosa Buccino fotos divulgação

M

esmo sabendo que o mundo dos negócios é concorrido, há um grupo de pessoas que decidiu virar o jogo a partir dos 60 anos para tocar a vida profissional a todo vapor. Alvaro Fernando, especialista em comunicação, que lida com os principais anunciantes nacionais e estrangeiros há 25 anos e sabe que qualquer alteração cotidiana pode parecer quase inatingível, aconselha: “É provável que a pessoa tenha dificuldade em alcançar a satisfação plena e seus objetivos. Por isso, vale superar desafios, valorizando as conquistas passadas, transformando-as num trunfo em busca da solidificação de novos projetos”. A lição do comunicador motiva empreendedores como Nelson Marques Schreiner, 70 anos, engenheiro metalurgista pela Escola de Engenharia Mauá, em São Caetano do Sul, São Paulo. De 1988 a 2002, ele foi sócio majoritário de uma revenda de material refratário, que teve as atividades encerradas repentinamente. Ele, então, reuniu parte da própria experiência acumulada para montar um novo negócio. Há 14 anos ele apostou na CrisCake Doces, no segmento de confeitaria, em sociedade com a esposa experiente na produção de bolos e doces. Durante os 12 anos iniciais, a empresa foi suportada na informalidade. No entanto, devido à demanda dos clientes, o negócio foi ampliado, inclusive fisicamente, com uma cozinha industrial de 45 m² e um escritório de 15 m². “Além de administrar a empresa, coordeno marketing, vendas, compras e o fluxo de entregas. Em breve, pretendo viabilizar a abertura de uma loja em Alphaville, São Paulo, para alavancar o faturamento e aumentar minha receita financeira”, revela. Nelson montou o novo negócio apoiado nas dicas de empreendedorismo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-SP), cujo auxílio foi fundamental para seu crescimento mercadológico. Com as orientações embasadas, que vão da disponibilidade financeira (recursos próprios, empréstimos bancários ou recursos de terceiros) à avaliação de vantagens e riscos do negócio de forma correta, o empreendedor teve plenas condições de seguir adiante no negócio. Mesmo com a evidente crise financeira nacional, a experiência bem-sucedida de Nelson é exemplo de determinação. Como ele, outros segmentos igualmente promissores foram ingressando no mercado e encontrando brechas para seguirem firmes e fortes. Revista D+ número 13


IDOSOS Negócios fotos divulgação

Empreender não tem idade. Basta ser determinado, motivado, estudar o mercado antes de abrir uma empresa e ter uma reserva financeira Paulo Frizzo

Heitor Romero, 66 anos, franqueado da Mineiro Delivery, em Manaus, Amazonas: a esposa e os dois filhos ajudam no negócio

APOSENTADORIA, QUE NADA! Luiz Carlos Sacchi, 67 anos, é engenheiro químico, exvendedor da Rhodia, e também atuou como gerente da filial carioca e diretor geral da filial de Lisboa em Portugal. De volta ao Brasil em 1994, se aposentou precocemente como gerente de vendas da divisão química da Rhodia. Aos 52 anos, teve uma rápida passagem como consultor na área de gestão. Mas queria algo mais... Não tardou e abriu sua franquia da rede Divino Fogão. “Fui além da aposentadoria ou de viver de aplicações no mercado financeiro. Optei por essa franquia mesmo sem familiaridade operacional, apenas conhecimentos gastronômicos herdados da avó e da mãe italianas. Minha empreitada fez com que, hoje, eu empregue 70 pessoas em minhas três lojas franqueadas. Atuo numa loja com minha esposa; as outras duas meus filhos tocam com eficácia”, detalha. Heitor Romero, 66 anos, após se aposentar como professor de educação física e direito, tentou lecionar em colégios particulares e públicos. No entanto, a renda obtida era insuficiente para arcar com suas costumeiras despesas. Diante da conclusão, ele encontrou motivação no segmento alimentício para montar o próprio negócio, tornando-se franqueado da Mineiro Delivery, em Manaus, Amazonas. O fato de sua esposa ter formação em logística empresarial colaborou decisivamente para sua escolha e seu progresso, além do que os dois filhos também passaram a trabalhar na unidade. Tal como todos os franqueados, Heitor participa de um treinamento na unidade piloto em São José do Rio Preto,

O economista aposentado Paulo Frizzo comanda a House Shine de Belo Horizonte há quase cinco anos


Com quase 100 alunos, Lucila Mara da Silva, 66 anos, segue à frente da Sigbol Fashion

ATRAIA A CLIENTELA! consultoria Ângelo Vieira*

5 PONTOS QUE DEVEM INTEGRAR A LISTA DE PRIORIDADES EM UM NEGÓCIO 1. ESCOLHA UMA BOA LOCALIZAÇÃO Um local privilegiado é parte do sucesso de um negócio. 2. ATENTE AOS PREÇOS Seja competitivo ao buscar alternativas para oferecer descontos e promoções oportunamente. 3. Capacite seus atendentes Mantenha uma equipe qualificada e que conheça o negócio com profundidade para prestar qualquer tipo de atendimento à clientela. 4. Busque facilidades Disponibilize os produtos em sua loja, fazendo com que estejam adequadamente visíveis. 5. Supere as expectativas Inove, atualize-se e surpreenda o cliente com o que existe de mais moderno no mercado. Ângelo Vieira é diretor operacional da Farmarcas, administradora de oito redes de drogarias (Ultra Popular, Super Popular, Maxi Popular, Entrefarma, Farma100, AC Farma, MegaPharma e Bigfort), com mais de 500 associados.

onde vivencia o dia a dia da operação, aprende como é feita a preparação e a apresentação dos pratos e como manusear a embalagem para entrega. Para quem ainda pensa que se aposentar significa estagnar, Heitor aconselha: “Não fique sentado numa cadeira de balanço, pois o tempo passa e sempre tem alguém que pode se antecipar a sua ideia. Aproveite as oportunidades com força total”. Outro segmento em expansão é o de prestação de serviços. Não é à toa que Cândido Mesquita, administrador e professor universitário de origem portuguesa, adquiriu a House Shine, em 2008, franquia líder absoluta no segmento de limpeza residencial e de escritórios no mercado português. Visionário, ele notou que o mesmo segmento tinha grande potencial e, por isso, exportou-o para o Brasil, onde também é líder. Além de baixo investimento, a franquia não requer um ponto. Só um escritório administrativo, e os franqueados são treinados e capacitados. Desde 2012 foi introduzida no Brasil e despertou o interesse de Paulo Frizzo, 67 anos, economista e aposentado, que queria continuar trabalhando. Notou, na ocasião, algumas lacunas quanto ao trabalho realizado por algumas faxineiras em sua residência e que a House Shine tinha tudo para imprimir um padrão de qualidade e o transformaria num empreendedor de sucesso. Resultado: há quase cinco anos ele comanda a unidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. PROSPERAR NUNCA SAI DE MODA Lucila Mara da Silva, de 66 anos, decidiu abrir o próprio negócio pela gravidade de sua saúde. Mesmo diante desse problema, aos 60 anos, ela queria retornar ao mercado de trabalho. Ao pesquisar sobre as oportunidades, ela descobriu que a Sigbol Fashion, rede especializada em cursos profissionalizantes de confecção e moda, era uma rede de franquia. Como ela já tinha experiência na área apostou e tem se dado bem. Hoje ela tem aproximadamente 100 alunos e segue prosperando no negócio. D+ Revista D+ número 13


IDOSOS Atitude

BEM QUE VEM DAS

Artes

Memoráveis produções inspiram e motivam as pessoas idosas texto Rosa Buccino fotos divulgação


Helly Nahmad Gallery nos Estados Unidos

S

obram reverências aos artistas ícones que conquistaram a soberania profissional à beira da terceira idade, como o gênio renascentista Michelangelo, famoso pela pintura do afresco no teto da Capela Sistina, no Vaticano, e o francês Claude Monet, mestre impressionista francês, dentre tantos outros talentosíssimos artistas ao longo da história. Tendo tamanho referencial, muitos idosos apoderam-se de motivação e seguem vidrados nesse fascinante universo. Por isso, eventos de magnitude continuam propagando as artes indistintamente. Caso exemplar foi o Art Basel Miami 2016, evento organizado em Miami, nos Estados Unidos, em várias locações, como no Miami Beach Convention Center, de 1 a 4 de dezembro de 2016, atraindo 77 mil pessoas, entre norte-americanos e estrangeiros.

Outra das galerias americanas: Edwynn Houk Gallery

Arte também é terapia Motivar o idoso é uma das missões da chamada Arte Terapia, que emprega materiais expressivos e plásticos para promover a realização de atividades criativas, ativar conexões neuronais diversas, beneficiar o metabolismo fisiológico, favorecer a autoestima e fortalecer a autonomia desse indivíduo. Nesse contexto, a pintura, por se tratar de uma atividade expressiva, favorece a fluidez emocional, a espontaneidade e a lucidez pelo contato e expressividade através das cores. O idoso também pode ser motivado a notar o importante papel exercido pelas artes, observando, por exemplo, casos de pessoas bem-sucedidas que desfrutam ou desfrutaram do envelhecimento ativo por estarem inseridas no meio artístico ou em atividades relacionadas ao fazer artístico. Angela Philippini, arteterapeuta e psicóloga, é diretora da clínica Pomar de Arteterapia e diretora acadêmica da Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro (AARJ). Ela conta que muitos clientes idosos se deprimem como consequência de isolamento familiar, social e pelas limitações naturais do envelhecimento. Eles consideram que na aposentadoria perdem status, renda e reconhecimento pessoal. “Quando os idosos ativam a criatividade, eles melhoram a qualidade de vida e o humor, descobrem-se autônomos e com capacidade de transformar qualquer ação de ser e estar no mundo de modo mais saudável, profissional ou pessoalmente”, afirma Angela, que também é autora do livro Linguagens e Materiais Expressivos em Arteterapia (Wak). Revista D+ número 13


IDOSOS Atitude

Antonio Fagundes, 67 anos, personificou o emblemático Mark Rothko na peça Vermelho. Foto: Caio Galluci

O evento teve a participação de 269 galerias de 29 países, cujos acervos apresentaram telas, painéis e murais em estilos distintos, entre clássico, moderno e contemporâneo, além de instalações e esculturas criativas. Essa programação foi igualmente prestigiada por colecionadores de arte, curadores, diretores, patrocinadores de museus, galerias, formadores de opinião e pelo público em geral, impactando positivamente o cenário cultural no Sul da Flórida com vistas ao mundo. Paralelamente, o Art Basel Salon teve palestras de peso, como Sleep of Reason, em que Francesco Clemente, artista italiano, dono de diversificada obra que transita entre o Renascimento, o Surrealismo e o Expressionismo, foi evidenciada. Ele que viveu em países como Itália, Estados Unidos, Índia e

Afeganistão, comentou: “A condição humana e a minha experiência de vida são minhas fontes inspiradoras”. Já o experiente Guilherme Simões de Assis, curador e diretor da Simões de Assis Galeria de Arte, em Curitiba, no Paraná, participou na Art Basel Miami pela primeira vez e viu a galeria que representa ampliar a visibilidade entre o público. “Essa e muitas participações futuras em feiras de alcance mundial globalizam a arte brasileira”, opinou. Paralelamente, a Miami River Art Fair, organizada no Miami Convention Center, região central da Brickell, divulgou a produção de um time seleto de artistas brasileiros, como Carlos Cesar Alves, presente no Pavilhão Brasileiro. Dono de pinturas abstratas e contemporâneas que o motivam a receber a maturidade de braços abertos, ele disse: “Quando crio, estou livre das limitações do cotidiano”.


Francesco Clemente completou 64 anos e divulgou seu rico acervo durante o Art Basel Salon. Foto: divulgação.

Em terras brasileiras, a arte também tem sido reverenciada pela dramaturgia. Recentemente, Vermelho, peça com os atores Antonio Fagundes e Bruno Fagundes, traduzida em português por Rachel Ripani, cujo texto original de 2009 é do dramaturgo norte-americano John Logan, destacou parte da carreira de Mark Rothko, artista russo radicado nos Estados Unidos desde os dez anos. Ele pintou grandes painéis para um luxuoso restaurante em Nova York, na década de 1950, além de vasta obra Expressionista Abstrata. Em cena, os atores personificaram um mestre e seu aprendiz e conduziram as reflexões acerca da maturidade profissional e das artes. D+

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PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

ACOLHENDO OS ALUNOS NA ESCOLA INCLUSIVA

Atividades que promovem o acolhimento dos alunos no início do ano letivo texto Rúbem Soares* e Silvana Zajac**


N

os primeiros dias de aula, proporcionar um acolhimento especial a todos os alunos é muito importante. Isso porque, esses primeiros dias poderão ser determinantes para que os alunos construam vínculos saudáveis com todo o ambiente escolar, o que não significa a total ausência de conflitos. Conforme Ortega (2002), conflitos ocorrem em qualquer ambiente social. Sendo a escola um deles, situações conflituosas são naturais. O ideal é que sejam pensadas ações preventivas para que tais situações não se deteriorem, evoluindo para atos de violência. Sabemos que alguns alunos estão mais expostos a tensões cotidianas na escola, desde o seu ingresso. Crianças cujos comportamentos o professor avalia como inadequados no relacionamento com os colegas – por exemplo, as impulsivas, ou não cooperativas – são as que mais se envolvem em conflitos. Encontramos na literatura da área alguns trabalhos recentes, como o de Marturano & Gardinal (2008), indicando que as crianças “socialmente competentes” estão menos expostas à rejeição e à vitimização pelos companheiros, enquanto as agressivas e as retraídas estão em maior risco de se tornarem alvo de maus tratos. Não é surpresa que alunos com necessidades educativas especiais sejam vistos como “incompetentes” no desempenho das atividades escolares, o que pode fazer com que eles sejam alvo de rejeição ou isolamento pelos demais. Desnecessário dizer que, embora totalmente

É compreensível que aflorem dúvidas e preocupações quando a escola recebe, pela primeira vez, uma criança com necessidades educativas especiais, seja com deficiência ou não

ATIVIDADE 1 Para promover o relacionamento inicial entre os alunos e criar vínculos de amizade é importante que o professor proponha um debate sobre o que é amizade, o que significa ser um bom amigo, como cultivar a amizade etc. Em seguida, o professor pode sugerir a seguinte atividade: • Pedir para cada aluno escrever seu nome num pedaço de papel; • Dobrar e colocar o papel na mesa do professor; • Embaralhar os papéis e pedir a cada aluno para escolher um e ler o nome do papelzinho; • O colega que foi chamado levanta a mão para ser conhecido pela turma; • Após todos serem escolhidos, cada aluno faz duas listas: uma com, no mínimo, três coisas que acha que esse colega gosta e outra com, no mínimo, três coisas que acha que esse colega não gosta. Importante não deixar o colega ver o que está sendo escrito; • Em seguida, cada dupla se junta e pergunta um para o outro sobre o que colocou em cada lista; • Na medida em que for ouvindo, o colega confere quantos itens acertou; • Depois, um pergunta ao outro o que mais gosta e o que mais detesta e marca na lista; • Na sequência, o professor pede para que cada aluno fale o que seu colega mais gosta e o que mais detesta e vai anotando na lousa; • Com tudo anotado, o professor faz uma análise da lista com todos os alunos e pode criar um gráfico sobre as preferências e antipatias da turma e fixar em local visível. Essa atividade pode ser ampliada para as outras turmas, e o gráfico afixado nos corredores da escola, de modo a fomentar a curiosidade sobre preferências e antipatias de cada turma. Dependendo do nível da turma, os próprios alunos podem construir os gráficos, oportunidade em que já praticam conhecimentos de conteúdos de matemática.

Revista D+ número 13


PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Outra atividade interessante para promover o relacionamento inicial entre os alunos e criar vínculos de amizade:

ATIVIDADE 2 Esta atividade tem como propósito fazer com que os alunos aprendam a ajudar uns aos outros e se adaptem a novas situações. Também promove uma reflexão sobre a diferença no enfrentamento das situações que podemos mudar e das que não conseguimos. O professor pode encaminhar a atividade da seguinte forma: • Pedir para que os alunos pensem em coisas que eram difíceis de serem realizadas e que agora não são mais; • Dependendo do nível da turma, que falem, desenhem ou escrevam: No passado, eu era... Agora, eu sou... • Pedir para que os alunos pensem em coisas que ainda são difíceis de serem realizadas; • Dependendo do nível da turma, solicitar que falem, desenhem ou escrevam: Agora, eu sou... No futuro, quero ser... • Para finalizar a atividade, o professor pode propor aos alunos que façam uma lista de colegas que podem lhe ajudar a mudar; • Proponha que o aluno fale com cada um desses colegas. Essa atividade pode ser ampliada para as outras turmas, e o gráfico afixado nos corredores da escola, de modo a fomentar a curiosidade sobre preferências e antipatias de cada turma. Dependendo do nível da turma, os próprios alunos podem construir os gráficos, oportunidade em que já praticam conhecimentos de conteúdos de matemática.

O professor deve estimular a participação de todos os alunos nas atividades. Ou seja, evitar que fique de fora um ou outro, sob qualquer pretexto

equivocada, tal visão ainda permeia o ambiente escolar, não apenas entre o alunado sem deficiência, mas até entre alguns docentes. É compreensível que aflorem dúvidas e preocupações quando a escola recebe, pela primeira vez, uma criança com necessidades educativas especiais, seja com deficiência ou não. É natural ansiedade ou mesmo temor por parte do professor diante da nova situação, para a qual, eventualmente, não está preparado. Para muitos professores, “estar preparado” significa se especializar academicamente no atendimento ao aluno com determinado tipo de deficiência. Fosse assim, o atendimento aos alunos com deficiência seria inviabilizado, uma vez que o conjunto de professores jamais poderia fazer tal especialização. E, neste cenário, seria impensável que um mesmo professor se especializasse no atendimento de alunos com os mais variados tipos de deficiência. Ou seja, poderíamos imaginar que cada professor se especializasse no atendimento de aluno com uma deficiência específica, situação em que talvez descaracterizasse o princípio da educação inclusiva. Sem desprezar a capacitação, a pesquisa e a formação acadêmica, a prática pedagógica é imprescindível ao profissional da educação. As possibilidades de atendimento a esse aluno se ampliam com a convivência, a experiência, ajuda de profissionais especializados e da família. É importante que o professor e a escola encarem esse desafio, o que implica em mudanças nas ações educativas, geralmente, cristalizadas. Ao acolher o aluno na perspectiva de educação inclusiva, é inócuo que o professor traga informações teóricas sobre a deficiência específica do ingressante. Na maioria das vezes, nem o próprio aluno e sua família sabem de


forma aprofundada sobre seu tipo de deficiência. Nesse momento, a prioridade deve ser desenvolver o relacionamento pessoal com os colegas que estão chegando à escola, sejam eles com deficiência ou não. O mais interessante é que no cotidiano da escola, em contato com o novato, os alunos passem a conhecer melhor as suas especificidades. Para que isso ocorra, é fundamental que o professor e a escola como um todo tenham um bom

planejamento de projetos e atividades que incentivem não apenas a relação inicial entre os alunos, mas fomentem o conhecimento efetivo do grupo, no que diz respeito a aspectos característicos coletivos e não necessariamente intimidades individuais. Dinâmicas de apresentação, feitas em sala no início do ano letivo, geralmente são vazias e não contribuem para que os alunos se conheçam efetivamente. Importante que o professor pense em atividades que

SAIBA MAIS ORTEGA, Rosário et al. Estratégias educativas para prevenção das violências; tradução de Joaquim Ozório – Brasília: UNESCO, UCB, 2002 Marturano, E. M., & Gardinal, E. C. (2008). Um estudo prospectivo sobre o estresse cotidiano na 1ª série. Aletheia, 27, 81-97. Programa Amigos do Zippy – http://www. amigosdozippy.org.br

tenham também cunho didático-pedagógico que favoreçam a aprendizagem de conteúdos atitudinais. Abaixo, segue proposta de algumas atividades que podem fazer parte de um projeto de acolhimento dos alunos no início do ano letivo. Elas foram baseadas no Amigos do Zippy, um programa de Educação Emocional idealizado especialmente para auxiliar crianças a desenvolverem habilidades emocionais e sociais. D+

*Rúbem Soares é psicólogo, doutorando e mestre em Educação (USP), diretor executivo da Revista D+ **Silvana Zajac é professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Depto. Ciências Exatas e da Terra, doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL/PUCSP), mestra em Educação (Unimep)

Revista D+ número 13


ACONTECE

UFSC realiza congressos importantes para tradutores e intérpretes de Libras Eventos nacionais de pesquisa na área reuniram participantes do Brasil e do exterior texto Audrey Scheiner entrevistas Mariana Dias Barreira fotos e vídeos Thiago Laubstein apoio Franciely Domingues tradução e interpretação Carlos Silvério, Rafaela Prado e Rafaella Sessenta

O

V Congresso Nacional de Pesquisas em Tradução e Interpretação de Libras e Língua Portuguesa, realizado entre 30 de novembro e 2 de dezembro de 2016, teve como tema principal essas atividades analisadas sob diferentes perspectivas do processo, discutindo elementos como: aspectos intermodais, interculturais, interlinguísticos e intersemióticos. Ocorrido dois dias antes, o I Congresso Nacional de Pesquisa em Linguística e Libras inaugurou o projeto Bases Linguísticas da Libras, espaço para que todos os pesquisadores dos estudos das línguas de sinais, em especial, da Libras, compartilhem os resultados de suas pesquisas.

Segundo Ronice Quadros, professora e pesquisadora na Universidade Federal de Santa Catarina, no Centro de Comunicação e Expressão (CCE), essa cerimônia é muito importante por causa das novas aulas de Libras que estão dentro do programa Viver Sem Limites. “É um projeto que visa ao planejamento linguístico estabelecido na criação desses cursos no país inteiro, que conta com 27 cursos de Libras em universidades federais”, relata. Em relação ao panorama brasileiro dessa área de estudo, Ronice opina que a tendência é só crescer. “Estamos vivenciando um momento muito especial, que é consequência da Lei de Libras [Lei nº 10.436] e do Plano Nacional de Educação. Nesses últimos anos foram implementadas ações efetivas que exigem a produção de


pesquisa. Então, a tendência é termos muita pesquisa daqui por diante e consolidar as áreas envolvidas nos estudos de sinais”. Sobre o I Congresso Nacional de Pesquisa em Linguística e Libras, realizado pela UFSC entre 28 e 30 de novembro, a pesquisadora afirma ser o mais importante, pois aconteceu pela primeira vez na universidade. “Contamos com um histórico por ter começado o primeiro curso de Letras-Libras no Brasil, aprovado em 2005 e iniciado em 2006. Nesses dez anos, percebemos que houve um desenvolvimento muito grande nos estudos relacionados a Libras”. Ronice também observa que a Língua Brasileira de Sinais começa a contar com referências, a partir de publicações de artigos e livros, o que enriquece a área e beneficia a todos. EXPECTATIVA E INOVAÇÃO O V Congresso Nacional de Pesquisas em Tradução e Interpretação de Libras e Língua Portuguesa contou com a presença de pessoas que darão a esse tema um futuro inovador. Markus Steinbach, 49, alemão, é intérprete e palestrante. Desde 2009, é professor de Linguística no Departamento Alemão da Georg-August-Universität Göttingen. Ele foi um dos palestrantes do V Congresso, onde discursou sobre os gestos da língua de sinais.

O intérprete Tom Min Alves, que interpretou Tropa de Elite 2

Professora Ronice Quadros no Congresso da UFSC

O palestrante fala sobre a importância da relação entre Brasil e Alemanha na questão da surdez. “Aqui há uma comunidade com deficiência auditiva muito grande. A maioria não tem implante de aparelho auditivo, talvez por problemas financeiros. Lá a situação é diferente. A língua de sinais não é muito usada, pois temos jovens que usam implante de ouvido há muito tempo. Há muitas pesquisas sobre língua de sinais, mas não tanto quanto no Brasil”, enfatiza Steinbach. Iury Moreas Eminergídeo, 22, catarinense, é surdocego e estudante de Letras-Libras pela UFSC. “Sou a primeira pessoa surdocega a entrar na Universidade”, enfatiza. Participante do V Congresso, ele tem como objetivo ensinar português como segunda língua, de maneira fácil, para as pessoas com deficiência auditiva. “Quero melhorar meu entendimento na estrutura e nos significados e também aprender como adaptar o meu ensino de Língua Portuguesa de uma forma que faça sentido para o surdo”, conta ele. “As pessoas acham difícil, mas eu acho que, interagindo, podemos descobrir muitos novos conteúdos e maneiras a serem trabalhados com os surdos”, finaliza. Outro participante do V Congresso foi o paulista Tom Min Alves, 32 anos, intérprete. Ele começou o curso de Letras na UFSC em 2012 e trabalhou na área de tradução com Chico Faganello, produtor da empresa Filmes Que Voam. O último projeto realizado pelos dois foi a versão em Libras do filme Tropa de Elite 2, lançada no dia 21 de novembro no canal da organização no Youtube. A produção, que demorou um ano para ficar pronta, foi apresentada no congresso. “Os intérpretes foram bastante performáticos, incorporando o personagem. Eu, por outro lado, utilizei uma expressão sempre muito forte, com os olhos fechados, começando e finalizando a maioria dos vídeos com as mãos fechadas na frente do peito, que é algo no teor acadêmico e mais sério”, explica. “No próximo congresso, queremos apresentar uma nova versão”, conclui. D+ Revista D+ número 13


ACONTECE

Ciência comunicada em Libras No II Encontro dos Surdos com as Ciências – ESC, na Unifesp, o ouvinte foi quem precisou do intérprete de Libras texto Rúbem Soares fotos Marcos Florence

S

im, você não leu errado! No II Encontro dos Surdos com as Ciências – ESC, foram os ouvintes quem precisaram do auxílio de intérpretes. O motivo? Praticamente todas as atividades do evento foram comunicadas direto em Libras (Língua Brasileira de Sinais). Em sua 2ª. edição (ocorrida em 26 de novembro de 2016), o evento foi realizado pelos alunos do curso de extensão de Libras e do curso de Licenciatura em Ciências da Unifesp, campus Diadema, e coordenado pela Profa. Dra. Silvana Zajac. O projeto proporcionou aos surdos experiências práticas nos laboratórios da universidade. A primeira edição ocorreu em dezembro de 2015. A proposta do evento – apresentar experimentos direto em Libras – envolve o compromisso dos alunos de se prepararem para interagir com os surdos nessa língua. A abertura do evento foi conduzida por Barbara Schwartz, aluna do curso de Licenciatura em Ciências. Além disso, teve a apresentação da história do Instituto Santa Terezinha, feita pelo aluno Gabriel Henrique de Petta. Ele e Natalia Helfstein, também aluna do Santa Terezinha, respectivamente, foram os vencedores do concurso de criação do sinal e do logo do ESC.

Acima, participante no Laboratório de Biologia. Abaixo, visitantes nas atividades de Matemática, recebendo explicações do Professor Doutor Renato Marconi


A apresentação foi resultado do projeto Ensino de Leitura e Escrita para Surdos, realizado pela Profa. Dra Silvana Zajac, em parceria com o Instituto, do qual ambos os alunos participam. “Nunca vi essas matérias explicadas de forma tão claras, diferente do que se vê na escola. Isso faz a gente gostar das ciências”, disse Gabriel. A explicação diretamente em Libras facilita a compreensão e “muitos surdos deveriam vir para o ESC, pois iriam gostar muito” avaliou Natália. Ainda na abertura, Joice Alves de Sá, surda, representante da Revista D+, fez a apresentação da publicação, reforçando que os conteúdos da revista estão acessíveis em Libras no site www.revistadmais.com.br A programação desse encontro foi ampliada. Além das estações de Biologia, Física, Matemática e Química, teve uma estação específica de vídeos com atividades realizadas na disciplina de Libras e curtas produzidos pelo Porta dos Surdos, canal cômico, em Libras, da Revista D+. A Revista D+, assim como na primeira edição, patrocinou e cobriu o evento, além de disponibilizar parte da equipe de intérpretes de Libras para todas as atividades. Rafaela Prado foi a coordenadora dessa equipe, composta por Antonia R. Bnfatti, Carlos Silvério, Thiago Laubstein, David Gomes e Jennyfer Alves (da Revista D+); Alice Stephanie, William Francioni; Vivian Pataro Moraes e Leilane de Morgado Bispo (ambas guias-intépretes). Com 113 participantes, incluindo ouvintes, o evento recebeu surdos da capital, grande São Paulo, Rio de Janeiro e Juiz de Fora. Um dos maiores desafios foi atender a um participante surdocego, Carlos Alberto Santana. Algumas das atividades foram adaptadas para que ele pudesse participar. Carlinhos – como é conhecido – ficou admirado com os experimentos de que participou: “nunca tive oportunidade de fazer essas atividades dessa forma nas escolas que estudei”, admitiu ele, derramando elogios aos alunos que organizaram o evento.

Carlos Alberto Santana, surdocego, participou pela primeira vez de atividades desse tipo

Gabriel Henrique de Petta e Natalia Helfstein foram os vencedores do concurso de criação do sinal e do logo do ESC

Silvana Zajac afirma: “este evento é uma oportunidade ímpar de promover e difundir a comunicação entre surdos e ouvintes por meio da Libras em contextos de aprendizagem. Ressalto que essas trocas são importantes tanto para os surdos participantes quanto para os alunos da universidade, que futuramente estarão exercendo a docência no atual contexto de educação inclusiva”. A professora entende, também, que nesse evento, a universidade cumpre o seu papel de extensão, ensino e pesquisa. “O evento também se configura numa riquíssima oportunidade de campo de pesquisa, principalmente, na formação de professores de ciências e na área da Libras no contexto educacional”, finaliza. A Profa. Dra. Ana Gouw, coordenadora do curso de Licenciatura em Ciências, entende que esse evento também faz com que a universidade esteja mais próxima da sociedade, respeitando e atendendo à diversidade e não só os que veem e ouvem. “Promover essas atividades de ciências e matemáticas é muito enriquecedor. Para mim está sendo, por ver como os alunos interagem com os surdos [em Libras], este público que está distante do nosso dia a dia”, avaliou. No final do evento, foi oferecido um delicioso coffe break e um divertido torneio de quebra-cabeças. O grupo vencedor foi o composto pelos surdos Gabriel e Hanna (do Santa Terezinha) e pelos ouvintes Robson e Ocnan, alunos da Unifesp Diadema. Apesar de estar apenas em sua segunda edição, o evento já é um sucesso no meio das comunidades surdas, com repercussão até em outras unidades da federação. Os organizadores estão empolgados, já pensando em diversas novidades para o III ESC, que ocorrerá no final de 2017. D+ Revista D+ número 13


ACONTECE

Entre a diversão e o engajamento Oficinas, brincadeiras e apresentação de projetos em prol da pessoa com deficiência marcaram a 7ª Virada Inclusiva de Sumaré texto Rosa Buccino foto Rafaella Sessenta

E

om comemoração ao Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, a 7ª Virada Inclusiva, promovida na Associação de Pais e Amigos (Apae), na cidade de Sumaré, interior de São Paulo, serviu para evidenciar que a inclusão social está sendo recebida de braços abertos pela sociedade brasileira. Para a organização do evento, a Apae teve os seguintes parceiros: Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, Prefeitura de Sumaré e Diretoria Regional de Ensino de Sumaré, além do apoio do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, da Organização Social Nisfram, Organização Social e da Associação Pestalozzi local. Cristine Elizabeth, coordenadora de Educação Especial da Diretoria Regional de Ensino, avalia o evento como outro marco em favor da pessoa com deficiência, uma vez que solidariedade, integração, respeito e determinação foram unânimes entre os organizadores, familiares, educadores e todos os presentes. “É gratificante notar tantas sensações positivas em um único evento. Faz entender que falar de inclusão social hoje é mais do que defender uma causa, mas notar um novo olhar para a diversidade”, opina Cristine. Ela lembrou que há 21 anos, quando ingressou na coordenação de Educação Especial, os educandos com deficiência eram totalmente segregados. Atualmente, para ela, o obsoleto modelo médico está cedendo lugar para avanços na área educacional a partir de leis específicas. Nesse contexto, Cristine menciona a participação de cuidadores, intérpretes, professores interlocutores e monitores, entre outros profissionais que estão se especializando para fazer valer todos os direitos adquiridos pelas pessoas com deficiência que atravessam esse campo. PROGRAMAÇÃO RICA E DIVERSIFICADA Diversas apresentações artísticas, oficinas culturais e muitas brincadeiras integraram a programação do evento, como a dos alunos do ensino médio da E.E. Vereador Euclides Miranda, que evidenciou o sentido de interação entre as pessoas com deficiência e o público.

Diversão e inclusão na 7ª Virada Inclusiva de Sumaré

Entre outros momentos igualmente representativos, dois grupos de alunos da E.E. Prof. José Claret Dionísio destacaram seus projetos: Detector de Som através de Vibrações para Deficientes Auditivos, de Carlos Eduardo Marangoni Brito, João Vinícius Galvão Barreto e Luiz Rafael Cortez; e Dispositivo de Detecção de Obstáculo para Deficientes Visuais, de Julia Natielle de Lima Rocha, Ludimila Marques Moraes e Gabriela da Silva Garrido. Na ocasião, a professora Fabiani Azevedo, orientadora dos projetos, e o professor engenheiro Aparecido de Moraes, co-orientador, acompanharam seus alunos que, em novembro de 2016, foram premiados na IV Mostra de Ciências e Tecnologia do Instituto 3M de Sumaré. Ela explicou: “Os projetos apresentados buscam propiciar a possibilidade de independência, acessibilidade e inclusão às pessoas com deficiência visual e auditiva. Foi emocionante notar a receptividade do público. Continuarei engajada pela projeção de recursos que auxiliem as pessoas com deficiência”. D+


A hora e a vez do Surdo no Carnaval VibraMão é o primeiro bloco de carnaval feito por surdos e para surdos. Projeto tem como foco a luta pelos direitos das pessoas com deficiência auditiva na inclusão e identificação cultural

C

texto Audrey Scheiner

om uma trajetória de nove anos ocupando casas noturnas e de cultura em vários endereços de São Paulo, como, Bela Vista, Paulista, Centro e Pinheiros, a festa VibraMão quer, nesse carnaval, invadir as ruas da cidade em forma de bloco. O projeto, que é a união dos grupos Vibração e Comuna, tem como segmento a luta pelo protagonismo das pessoas com deficiência auditiva no cenário cultural da cidade. Tratase do primeiro bloco de carnaval acessível para surdos, e foi elaborado e pensado por eles. “O objetivo é ter os próprios deficientes auditivos nas produções para que haja uma referência forte na comunidade surda, fazendo com que a comunidade ocupe as ruas na época de carnaval e aproveite para se integrar à sociedade”, afirma Leonardo Castilho, 29 anos, deficiente auditivo, produtor da festa inclusiva para surdos Sencity e participante do grupo Vibração há nove anos. De acordo com Castilho, o bloco mostrará para o público que a cultura brasileira tem como riqueza a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e que as pessoas com deficiência auditiva podem sentir as vibrações da música. “O bloco terá signdancers [intérpretes dançarinos] que têm experiência com produtores surdos em outros grandes eventos, para traduzir as músicas. Também teremos performers surdos e ouvintes. O projeto não é só para os surdos, também trata de pessoas com outras deficiências, como os surdocegos. Isso é para todos”, enfatiza o produtor.

Léo Castilho, produtor da festa inclusica Sencity e participante do grupo Vibração: neste ano, nas ruas com o bloco VibraMão

O bloco partirá da Rua Mourato Coelho, na altura do nº 20, em Pinheiros, e seguirá até a Rua Sebastião Velho. Participe! fotos divulgação

Amanda Lioli, do grupo Comuna que, junto com o Vibração, promete fazer um carnaval bem diferente para a comunidade surda

VIBRAÇÃO E COMUNA Os grupos Vibração e Comuna se completam quando o assunto é inclusão cultural e social. Vibração é um projeto independente que surgiu do desejo de incentivar as culturas e quebrar barreiras entre a comunidade surda e ouvinte de maneira inovadora e inclusiva. Daí a festa VibraMão percorrer a cidade há quase uma década. Já o Comuna nasceu do desejo de realizar ações culturais acessíveis, não somente por ter a Libras e intérpretes qualificados em cena, mas por trazer o artista surdo como protagonista de seu fazer cultural. Segundo Leonardo Castilho, a junção dos dois projetos só trouxe benefícios. “Trabalhamos fortemente em parceria com a Comuna desde sua fundação, com festas, oficinas e exposições, como a do artista surdo Bruno Vital. Foi um ponto de encontro para os surdos que gostam de cultura e artes”, finaliza. D+ Revista D+ número 13


APRENDA LIBRAS

Aprenda os sinais dos materiais a re s e scol por Célio da Conceição Santana e Joice Alves de Sá revisão Rafaella Sessenta ilustrações Luis Filipe Rosa

E

studar possibilita enriquecer nosso universo particular e abre portas para novos conhecimentos e boas oportunidades. Para as tarefas escolares diárias, precisamos de alguns itens de papelaria que nos auxiliam na execução de cada uma delas, como caneta, borracha e tesoura. Nesta edição, trazemos sinais dos principais materiais escolares para que você possa compartilhá-los ou pedi-los emprestados a amigos usuários de Libras na escola, faculdade ou no ambiente de trabalho. D+

Apontador

68

Caneta


Cola

Borracha

Caderno

Régua

Tesoura

Lápis

Mochila

Confira os vídeos desses sinais em revistadmais/ed13_aprendalibras


ESPAÇO DO TILS (TRADUTOR/INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS)

O Surdo Tradutor/ Intérprete de Língua de Sinais

Silvana Zajac

Professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL/ PUCSP), mestra em Educação (Unimep) e bacharelada em Letras/Libras (UFSC/Unicamp)

* Para participar com perguntas e sugestões, escreva para silzajac@revistadmais.com.br

O

s diversos trabalhos e pesquisas da área da tradução e interpretação das línguas de sinais, na sua grande maioria, fazem alusão ao tradutor/intérprete ouvinte. Contudo, devido aos avanços da tecnologia, a facilidade do acesso à informação e às oportunidades no mercado de trabalho vem emergindo outro perfil de profissional nessa área: o tradutor e/ou intérprete de língua de sinais Surdo. O Decreto 5.626/05, que regulamenta a Lei da Libras, cita o “profissional surdo, com competência para realizar a interpretação de línguas de sinais de outros países para a Libras, para atuação em cursos e eventos”. No entanto, desde 2006 encontramos na literatura acadêmica da área a atuação de Surdos tradutores de textos da língua portuguesa para a Língua Brasileira de Sinais no contexto específico do Curso de Letras Libras EAD, da Universidade Federal de Santa Catarina, em que Surdos atuam sistematicamente na tradução de textos. A Revista D+ também tem na sua equipe de Tils, Surdos que trabalham na tradução dos textos publicados. Mesmo que ainda seja um número muito pequeno de tradutores e intérpretes Surdos é possível

vislumbrar uma maior valorização da pessoa Surda no campo do trabalho. Isso não que dizer que o fato de ser Surdo o possa tornar, automaticamente, um bom Tils. Assim como os ouvintes, os Surdos que almejam trabalhar nesse campo precisam desenvolver todas as competências que essa área requer do seu profissional: 1. Conhecer profundamente as línguas que estarão sendo executadas no ato da interpretação/tradução. 2. Conhecer especificidades e estratégias da tarefa de tradução e interpretação enquanto uma profissão que se diferencia do sujeito falante da língua. 3. Estudar e conhecer o conteúdo que será traduzido ou interpretado. 4. Apropriar-se das diversas questões, conceitos e saberes que permeiam a profissão do Tils. Enfim, o fato de podermos contar com outro perfil de profissional na área da tradução e interpretação, além de nos colocar grandes desafios, nos traz uma gama de contribuições para a formação inicial e continuada de tradutores e intérpretes de língua de sinais, tanto Surdos, quanto ouvintes. D+


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Conheça o primeiro telejornal bilíngue para surdos e ouvintes do país texto Cintia Alves fotos Divulgação

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embro quando assistia telejornal com a minha família, e eu sempre queria saber o que estava sendo dito. Meus pais diziam: ‘Espere, daqui a pouco eu falo’, assim deixavam para depois e acabavam esquecendo. Agora, com o Primeira Mão, é diferente. Nós temos a oportunidade de levar a informação aos surdos em língua de sinais. Isso é respeitar a identidade surda!”, revela Áulio Nóbrega, 38 anos, surdo, formado em pedagogia pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e apresentador na TV INES. Assim como Áulio, 1,1% da população brasileira com deficiência auditiva (conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE de 2015) encontra dificuldades para acompanhar as notícias nos telejornais das grandes emissoras brasileiras de televisão, que não oferecem recursos de acessibilidade. Apesar de muitos serem bilíngues – em Libras e na Língua Portuguesa –, nem sempre a leitura das legendas, e sua compreensão, pode ser realizada com êxito, pois não transmitem por completo a mensagem. E você? Já se perguntou como uma pessoa com deficiência auditiva se atualiza a respeito do que acontece no mundo?

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SINAL ABERTO A TV INES, pioneira na programação bilíngue, lançou, em parceria com a agência de notícias France-Presse e as emissoras SBT e Rede TV, o primeiro telejornal para surdos e ouvintes do país. Ele traz as principais notícias nacionais e internacionais da semana contextualizadas e apresentadas por dois âncoras surdos: Clarissa Guerretta, 37 anos, e Áulio Nóbrega, 38 anos. “O Primeira Mão surge da necessidade de o Surdo ter um meio eficiente para obter informação, considerando que, no Brasil, as mídias tradicionais não abarcam a sua necessidade de forma integral, com a exibição de conteúdos com Libras e legendas”, explica Joana Peregrino, gerente da TV INES. O nome do programa foi escolhido pelo jargão jornalístico “em primeira mão”, que se refere ao imediatismo, ao “furo”: publicar uma notícia antes de todos os outros veículos. O objetivo é integrar ouvintes e surdos. Dirigido pela jornalista Isabelle Gomes, a equipe do Primeira Mão conta com uma produção inovadora, com narrativa audiovisual em Libras e Língua Portuguesa, além de profissionais de televisão surdos, ouvintes, bem como tradutores e intérpretes.


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Clarissa Guerretta, 37 anos, e Áulio Nóbrega, 38, são os dois âncoras surdos do primeiro telejornal bilíngue do país. Surdos e ouvintes podem curtir o Primeira Mão pelo site tvines.org.br, todas as quintas-feiras, às 19h

OS DOIS LADOS Para se comunicar com a comunidade surda, também foi preciso, além dos apresentadores, um profissional surdo de comunicação que participasse do processo de seleção das notícias fornecidas pelos parceiros, trabalho este realizado pela jornalista Roberta Savedra, surda e oralizada desde pequena. Especializada em mídia e surdez, a jornalista traz, juntamente com os apresentadores surdos e mais dois jornalistas ouvintes, um olhar diferenciado para os 25 minutos de produção jornalística adaptada. “Nossa equipe busca informações do Brasil e do mundo para que a gente consiga levar informação em Libras, não precisando, assim, ser filtrada por outra pessoa para que o surdo tenha o entendimento, ou para que a informação chegue a ele”, afirma o âncora Áulio Nóbrega. Joana explica que a equipe do telejornal ganhou um aprendizado de mão dupla: “Nós, ouvintes, estamos aprendendo diariamente com os surdos, compreendendo as suas necessidades e tentando adaptá-las na produção do Primeira Mão, de modo que o surdo se identifique com a produção como um todo e, claro, se informe dos principais acontecimentos do Brasil e do mundo”.

“Sempre gostei de encarar novos desafios. O jornalista atualizado deve saber fazer um pouco de tudo”, afirma a âncora Clarissa Guerretta, que também é professora de Letras/Libras na Universidade Federal do Rio de Janeiro. “No último ano, estive em um congresso nacional de pesquisas em linguística de Libras em Florianópolis e havia um pôster de uma criança, como se fosse uma jornalista, em que a professora dizia: ‘Você poderá ser uma jornalista. Basta você querer e correr atrás dos seus sonhos’. Então, procuro a luz do conhecimento para transmitir aos surdos tudo o que aprendi até o momento”, finaliza a apresentadora. Acompanhe online as notícias do Primeira Mão todas as quintas-feiras, às 19h, pelo site tvines.org.br. D+

ACOMPANHE MAIS NOVIDADE! Neste primeiro semestre será lançado um programa infantil, o Baú do Tito, apresentado por crianças surdas, que ensinará Libras e português com suporte de animações. Além de interprogramas com temáticas variadas, como o Histórias das Coisas e os MiniDocs.

Revista D+ número 13


CEREJA!

A arte de produzir Jovens com deficiência intelectual desenvolvem suas habilidades artísticas e gastronômicas em projetos de inclusão social texto Brenda Cruz fotos Divulgação

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quele que tem prática na realização de trabalhos manuais esbanja criatividade, mas além da manifestação artística, o trabalho pode fazer bem para a saúde. Entre os benefícios, pode estar o ganho de concentração, autoestima e foco. Quando a pessoa com deficiência intelectual capacita-se para expor sua arte, as suas possibilidades se ampliam consideravelmente. Acreditando nessa premissa e buscando melhorar as condições sociais de jovens com deficiência intelectual e de baixa renda, a Associação para Desenvolvimento, Educação e Recuperação do Excepcional (Adere) é uma instituição sem fins lucrativos que há mais de 40 anos oferece diversas atividades, cursos e ações para que esses jovens desenvolvam suas habilidades para a inserção no mercado de trabalho. A Adere une lições práticas com teoria, e dos muitos cursos que oferece, o Projeto Reciclando Vidas “busca alternativas para a construção de uma sociedade mais justa e que respeite o ecossistema”, conta Soeni Sandreschi, coordenadora institucional da Associação. O ponto de partida dos produtos se dá nas oficinas de reciclagem, tingimento, corte e vinco de papel; de papelaria, desenvolvimento e criação. Depois, profissionais da equipe da Adere fazem o acabamento. Os objetos e acessórios, como quadros decorativos e cestas elaboradas com papel jornal e de revistas, são vendidos pela internet ou nas lojas das quais a Adere recebe doações, como dos Shoppings Ibirapuera e Lar Center.

Projeto P.A.O: qualidade de vida pela alimentação saudável

O valor obtido com a venda dos produtos é revertido à manutenção do trabalho realizado pela instituição em prol das pessoas com deficiência intelectual e suas famílias. Outro programa da Associação que vai além da capacitação é o projeto P.A.O (Padaria Artesanal Orgânica), que busca fundamentalmente “qualidade de vida pela alimentação saudável e o fortalecimento dos vínculos familiares, já que esses jovens levam o conhecimento adquirido para casa, ensinando à família as receitas e como comer com critérios faz bem”, aponta Soeni. Todos os produtos feitos no P.A.O são divididos com os alunos que os produziram. D+ Conheça mais sobre a Adere em www.adere.org.br.



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nas asas da AVENTURA

Número 13

2017

Ano III


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