Revista IDEIAS 115

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r$ 10,00 nº 115 ano Vi www.revistaideias.com.br

maio 2011

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política, economia & cultura do paraná

paranÁ rombo no orçamento reportagem caos no iml pesQuisa Quem trai mais?




Índic� nesta ediÇão

colunistas

Um rombo de r$ 4,5 bilhões 14 Fábio Campana

rubens Campana 12 Não ao desarmamento

Templo é dinheiro 20 Fábio Campana e Sarah Corazza

Luiz Geraldo Mazza 28 Ternura, humor de Guevara

Prepare o estômago para o iML 30 Márcio Barros

Luiz Fernando Pereira 35 Cuba e o homem novo

os olhos que viram a guerra 46 Sarah Corazza

Ciro Correia França 38 o dia em que chamei o polaco Washington de fdp! Carlos Alberto Pessôa 40 eu, rato de biblioteca&livrarias

20

seÇÕes

rogerio Distefano 42 Verdadeiro não é autêntico

editorial 05

Deonisio da Silva 44 Burrice: passado glorioso, futuro promissor

Curtas 06 Frases 07 Gente Fina 08 Câmara dos Vereadores 41 Paraná Pesquisas 43 ensaio Fotográfico 50 Prateleira 56

14

Balacobaco 66 Cartas/expediente 73

Solda 45 o Bundão Marianna Camargo 49 Uma carta para elas Luiz Carlos Zanoni 55 A estrela da cordilheira izabel Campana 58 Meu vinho, meu vício Claudia Wasilewski 60 onde estão os príncipes? isabela França 62 Fábio Campana 72 A mulher do próximo Pryscila Vieira 74 Humor

especial ideias para comer Jussara Voss


115 Editorial FÁbio campana

U

m rombo de R$ 4,5 bilhões nas finanças públicas do Paraná. Este é o número expressivo que resulta de oito anos de desgoverno de um déspota pouco esclarecido. Deveria ser o suficiente para convencer os nativos

de que a experiência populista de Requião foi desastrosa. Vê-se agora que o poder nas mãos dessa gente é um perigo. Com Requião no poder, dá-se emprego aos amigos, socorrem-se outros, permite-se que as falcatruas tomem conta do Estado, do porto de Paranaguá à fronteira com o Paraguai. Assim foram os anos do PMDB no poder. E assim se desenrolou a vida do nosso pequeno Mussolini de província, vida boa, marcada apenas pela preocupação de ficar no trono pelo maior prazo possível para fruir as benesses e prebendas. Agora a pergunta que não quer calar: por que o novo governo, que se transformou em promessa de mudança nos métodos e nos costumes, se esforça para incorporar setores representativos do governo anterior, que é o responsável pelo rombo no erário e pelo atraso em nosso desenvolvimento? Só Macunaíma explicaria. Nesta área do planeta, o espírito macunaímico é uma praga pior que a maria-sem-vergonha. Os políticos nativos chamam isso de bom senso. Para eles, a conciliação é fundamental. Advogam que o governante de plantão deve se apoiar em forças que nada têm a ver com os seus princípios ou com as suas promessas de campanha eleitoral. De sorte que aos poucos vai pelo ralo a esperança de que o Estado possa passar por uma transformação em profundidade. Se o Paraná se quebra, Macunaíma exulta? Esta é uma pergunta chave. Uma resposta plausível é a seguinte: a nitidez ideológica, o rigor moral, a limpidez nos propósitos e nas ações não agradam Macunaíma. Ele gosta é da geléia geral. Pouco se lhe dá se lá estão a cuidar da máquina os responsáveis pelo desastre anterior. E nesse jogo, cada qual tem o seu projeto pessoal que muitas vezes se sobrepõe ao do governo como um todo. Por exemplo, o esforço para galgar um cargo qualquer num tribunal de segunda ordem pode levar o governo inteiro a erros de avaliação que podem trazer conseqüências funestas. Mas para atingir seu objetivo, a conciliação é fundamental, dizem os macunaímicos palacianos de ontem e de hoje. Tudo indica, porém, que fundamental é outra coisa: a definição. Aí começa o verdadeiro pragmatismo de quem pensa o futuro. Há uma providência especial até na queda de um passarinho, dizia Shakespeare, estar preparado é tudo.


Curtas Aposentadoria mantida No dia 18 de abril, os deputados estaduais rejeitaram a Proposta de Emenda Constitucional que previa o fim das aposentadorias vitalícias dos ex-governadores. Dos 51 parlamentares presentes, 24 votaram a favor da PEC, 13 se abstiveram e 12 votaram não. Como se tratava de mudança na Constituição, a PEC exigia quórum qualificado de dois terços ou 33 votos para ser aprovada. Com o resultado, ela será automaticamente arquivada.

REQUIÃO, O LOBISTA MULTINACIONAL Em uma reunião entre o secretário da Fazenda do Paraná, Luiz Carlos Hauly, e empresários paranaenses, Requião deu mais um motivo para virar chacota. Durante o evento, o senador ligou diretamente para o celular de Hauly, declarando urgência. O secretário depois relatou: “Ele quer que eu atenda a Dell Computers, que deseja investir”. Gargalhada geral, seguida do comentário de um empresário: “Ele demorou nove anos para descobrir que o Paraná pode receber investimentos estrangeiros? Acabou a fúria contra o capital norte americano?”.

BETO RICHA ELEITO PRESIDENTE DO PSDB-PR O governador Beto Richa é o novo presidente do PSDB do Paraná, assumindo o lugar do presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Valdir Rossoni, que agora será o vice-presidente do partido. Beto disse que não vai fazer mudanças na legenda. Na ocasião, o governador também comentou sobre as eleições de 2011 para a prefeitura de Curitiba. Disse que os possíveis candidatos Gustavo Fruet e Luciano Ducci (PSB) precisam conversar e se entender.

PT e o mensalão

Diante das incertezas do “ninho tucano”, Gustavo Fruet vem sendo assediado por diversos partidos, que garantem a sua candidatura à prefeitura de Curitiba. O PDT, o PSD, o PPS, o PSC e o PV figuram entre os partidos que disputam a atenção do ex-deputado. É provável que Fruet busque concorrer à prefeitura por uma frente partidária que reúna esses e outros partidos, deixando o PSDB, caso o mesmo siga indefinido até maio.

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Acabou a mamata

Demora é “natural”

Os secretários Luiz Carlos Hauly, da Fazenda, e Luiz Eduardo Sebastiani, da Administração, acabaram com a mamata de 429 favorecidos do governo passado que geravam gasto de R$ 12 milhões. Através dos encargos especiais, os salários eram elevados em até 4 vezes sem a criação de cargos.

Em uma entrevista recente, o ex-governador Orlando Pessuti afi rmou que “está demorando” para ser chamado a ocupar um cargo no governo federal. Mas de certa forma é “natural” porque “qualquer um que vai entrar outro terá que sair”. Para Pessuti, “isso cria certo frisson”.

Paraná mostra força De acordo com o IBGE, o comércio varejista do Paraná cresceu 18,5 % em fevereiro em comparação com o mesmo mês de 2010.

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Mínimo regional

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TODOS QUEREM GUSTAVO FRUET

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O PT está lutando com unhas e dentes para colocar como prioridade na reforma política o fi nanciamento público das campanhas. Tudo porque os principais nomes nacionais do partido estão envolvidos com o escândalo do mensalão, e as eleições estão se aproximando.

O governador Beto Richa apresentou à Assembleia Legislativa em abril a proposta para reajuste do salário mínimo regional de 6,9%. Se aprovado, a nova faixa salarial deve entrar em vigor em maio, e poderá variar de R$ 708,14 a R$ 817,78, a mais alta do Brasil.

Negócios em alta O Paraná ficou em terceiro lugar no ranking dos estados que mais receberam executivos estrangeiros no ano passado. O turismo de negócios trouxe 725 mil pessoas para cá em 2010, segundo levantamento do Ministério do Turismo, ficando atrás apenas de SP e RJ.


“A política é como uma peça teatral, só que no teatro os diálogos são melhores” Do ator Aldo Levi sobre o diálogo entre os políticos nativos.

“Talvez o maior crime seja você comer um McDonald’s” Paulo Teixeira, líder do PT na Câmara, ao defender

a liberação do plantio de maconha e a criação de cooperativas formadas por usuários.

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“Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os ‘movimentos sociais’ ou o ‘povão’, falarão sozinhos”

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Frases “A responsabilidade do governador é grande, assim como a do trabalhador também é, mas este último tem de contribuir 35 anos para poder ter assegurado o direito de se aposentar” A deputada Luciana Rafagnin, contra a aposentadoria de ex-governadores.

“Merdas são meus companheiros de governo que participam do governico de Beto, calados. No executivo e na Assembleia” Do ex-governador Roberto Requião sobre seus antigos companheiros que se bandearam em peso para o governo de Beto Richa.

O ex-presidente do Brasil, FHC, defendendo, em manifesto, nova estratégia para o PSDB.

“O que eu posso falar para o ministro da Justiça deste país, que é uma b...? Falei ‘Prazer, muito prazer’” Luana Piovani, atriz, após ser apresentada a José Eduardo Cardozo no show do U2.

“Já de criança, eu ia à floresta abraçar árvores e beijar as folhas” Frans Krajcberg, artista plástico polonês radicado no Brasil

que retrata a depredação da natureza em suas obras.

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gente

Talentos de

Christhiane

Dico Kremer

FINA

uem a vê pela primeira vez não adivinha na mulher de beleza de traços suaves, elegante, discreta, que lê Rimbaud no original e tem paixão pela literatura do argentino Borges, uma empresária determinada, que comanda pequeno exército à moda de Escoffier e transformou em sucesso o restaurante Pasta Gialla, onde oferece as criações do chef Sérgio Arno. Assim é Christhiane Mansur. Ela ampliou a casa, mudou seu endereço para a Praça Espanha, renovou o cardápio, reforçou a carta de vinhos e tem planos de novos voos na gastronomia, um negócio que exige cuidados diários, bom gosto e mão de ferro. Talentos que Christhiane esbanja e transforma em sabores. 8

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A arte de

Bento

gente

FINA

B

ento, doutor Bento, Bento Garcia Júnior, por extenso porque ele é inteiriço, foi consagrado, recebeu as bênçãos, é afortunado: muito cedo encontrou sua vocação, seu ofício, sua arte. E percorreu longo caminho até atingir a excelência; é um craque! Consumado artista-artesão, Bento faz o que ama, ama o que faz: seus cuidados&caprichos são os do amador pela coisa amada. E neste sentido, e sem paradoxo, ele é o profissional. Que não se contenta com menos que o ótimo, sendo o ótimo o seu padrão em dentística.

DiCo KreMer

Felizmente, o doutor Bento não é homem de uma nota só; sua vida fora do consultório é cheia, intensa – nada do que é humano lhe é alheio; elegante, de curiosidade onívora, perspicaz, infatigável trotamundo, suas viagens são pretextos para renovar gestos de amizade&estima. É excelente amigo. Ou melhor, é amigo, simplesmente amigo, outra forma de excelência. Aleluia! (CAP)

Assim

como se nunca tivesse parado nem parada

C

om este poema, o semioticista Alberto Puppi definiu a Christine dos anos oitenta, época em que ela dividia sua vida entre correrias e alegrias junto aos três filhos então pequenos, Gonçalo, Renée e Silvia, os indispensáveis amigos (muitos da intelectualidade curitibana), travessias e mergulhos com o companheiro Paulo Chamecki, as aulas na Faculdade de História e o trabalho na Secretaria de Estado da Cultura. Primeiro, na Coordenadoria do Patrimônio Cultural, e nos anos seguintes no Museu de Arte Contemporânea, Museu Paranaense e Museu de Arte do Paraná. Pesquisadora da história da arte, foi a primeira estudiosa a resgatar de seu relativo, imerecido e quase incompreensível esquecimento o trabalho artístico de Bruno Lechowski, talvez o mais notável artista em atividade no Brasil na década de 1930, pesquisa que resultou numa exposição internacional da obra do artista, promovida pelo MON, e que chegou à Inglaterra, Polônia e Alemanha. Já nos anos 90, ela implantou e fez acontecer, ao lado de uma equipe afinada, o então nascente Programa de Incentivo à Cultura, na Fundação Cultural. Também dirigiu a Cinemateca de Curitiba e o Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico municipal. Hoje, Christine coordena o Sistema Estadual de Museus do Paraná.

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gente

FINA

Dico Kremer

Mestre Bini

Fernando Bini cursou a Escola de Belas Artes de Curitiba e a UFP onde se formou em filosofia. Profundo conhecedor das artes e da história das artes começa a sua carreira como artista plástico e, depois, como crítico. É um dos criticos mais importantes do país. Poucos se rivalizam com ele por seu conhecimento, cultura e erudição. E, como todos os que têm inteligência, refinamento, sensibilidade, é modesto e inimigo mortal das plumas & paetês e igrejinhas que, com as devidas e honrosas exceções, acometem multidões de seres em que a cauda do pavão assenta melhor do que o verdadeiro saber. E escolheu trilhar o caminho mais difícil: o de Mestre - com M maiúsculo. Bini dedica-se a uma atividade que, para muitos nesse país, não tem o reconhecimento que tem em paises civilizados: o ensino, a transmissão do conhecimento que impulsiona o estudante para a vida prática e espiritual. Para o professor Bini a formação das mentes é essencial. E não tergiversa: briga, luta para que aqueles que estão sob a sua orientação, a partir desta atividade tão tênue e ao mesmo tempo tão forte e essencial que é a arte, percebam toda uma cultura humanista que ela e só ela pode aproximar um homem do outro.

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gente

FINA

A

s habilidades profissionais de Martha Dias Schlemm são múltiplas. Formada em português e inglês pela UFP fez mestrado, pós graduação e diversos cursos de aperfeiçoamento no Brasil, USA e Inglaterra. Especialista em traduções e versões, o que exige grande conhecimento de ambas as línguas, defronta-se com os mais variados campos da atividade humana. De 1974 a 1986 trabalhou com traduções e versões. Em 1986 dedica-se também a tradução simultânea ou intérprete de conferências. Fez outros cursos: os de técnica vocal, estética e psicologia da voz, técnicas de palco e dicção nos USA. Sobre a tradução simultânea um professor da Universidade da Sorbonne defende uma proposta curiosa: a de que essa está mais para

A voz do seu

palestrante

Tatiana,

a mulher versátil

DiCo KreMer

a pintura do que para a fotografia. Segundo o professor Maurice Gravier a fotografia reproduziria somente as palavras sem explicar o seu significado. A pintura, por outro lado, não é uma cópia e a interpretação não é uma tradução palavra por palavra. Martha, com seus 37 anos de profissão e 25 de intérprete de conferências, alia a competência à sua bela pessoa e à sua bela voz.

Desde pequena Tatiana Krzyzanoswki flertava com a moda. Passava suas tardes brincando na fábrica de roupas da mãe, em Londrina. Foi ginasta, fez cursos de Relações Públicas, morou nos Estados Unidos, mas a paixão de infância nunca foi embora. No seu projeto final do curso de Desenho Industrial, decidiu criar uma marca de fitness. O projeto acadêmico se transformou em plano real e, em 2001, nascia a Mulher Elástica. “Hoje a mulher trabalha, malha, vai pra faculdade. Ela é versátil. A mulher ‘elástica’ é flexível, faz tudo ao mesmo tempo. Uma verdadeira heroína”, explica a estilista. Foi pensando nela que Tatiana começou a desenvolver roupas de ginástica diferenciadas, que unem tecnologia e informação de moda. Tudo é feito em parceria com sua mãe, Maria Krzyzanoswki, que além de ter inspirado e incentivado a filha a criar sua marca, é também sua sócia no negócio. A Mulher Elástica possui três lojas próprias, uma em São Paulo e duas em Londrina.

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Rubens Campana

Não ao desarmamento

N

ão foi preciso esperar muito: instantes após as notícias do massacre no Realengo, os militantes do desarmamento já usavam a notícia como argumento em favor de maiores restrições ao comércio de armas. A atitude pode parecer asquerosa — o uso político tão imediato de qualquer tragédia sempre parece — mas é possível compreender que suas origens são bem-intencionadas. Tragédias como essa despertam nas pessoas a necessidade de fazer alguma coisa. Um novo referendo sobre o desarmamento, como o de 2005, aparece no horizonte. O método das repetidas consultas populares foi usado com sucesso por Hugo Chávez e pelos burocratas da União Européia: se a maioria rejeita uma proposta nas urnas, basta esperar algum tempo e propor o mesmo referendo. A insistência acaba vencendo o eleitor pelo cansaço, ou a natural variação no humor das massas permite aprovar aquela reforma que foi antes repelida. Os militantes da reforma do desarmamento seguem uma lógica que consideram infalível: tamanha violência, como a do Realengo, em tão pouco tempo, só é possível com armas de fogo; tira-se da equação a arma de fogo e os assassinos se tornariam, ao menos, não tão eficientes. O argumento é razoável. Mas o que a lógica do desarmamento não consegue levar em conta, por exemplo, são todos os crimes que não ocorrem devido à existência de armas de fogo. O temor de uma reação armada pode dissuadir um criminoso. A presença de um civil armado pode interromper um crime. Não é à toa que os massacres, como o do Realengo, só ocorrem em escolas — não se ouve falar de fatos similares transcorridos em clubes de caça ou estandes de treino de tiro. Vimos uma avalanche de comparações da tragédia brasileira com o massacre de Columbine, em 1999, nos Estados Unidos. Mas há outros casos norte-americanos de atiradores em colégios: em 2002, em Grundy, na Virgínia, um ex-aluno de 43 anos que já havia assassinado

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três pessoas e ferido outras três naquele dia foi impedido de continuar seu massacre por dois alunos que carregavam armas de fogo. Em 1998, em Edinboro, na Pensilvânia, durante um baile de graduação do primeiro grau escolar, um estudante matou uma pessoa e feriu outras três. O assassino de 14 anos só parou quando foi confrontado pelo dono do restaurante onde acontecia o evento, que lhe apontou uma arma. Em 1997, em Pearl, no Mississipi, um diretor de colégio conseguiu recuperar sua pistola no carro e interromper um aluno que já havia matado dois estudantes e ferido outros sete. Se civis armados podem evitar massacres como os de Columbine ou do Realengo, também é verdade que os massacres em si dependem das armas. As restrições governamentais podem evitar esses casos? As leis holandesas incorporam quase todas as demandas dos defensores do mais rígido con-

o que a lógica do desarmamento não consegue levar em conta são todos os crimes que não ocorrem devido à existência de armas de fogo

trole sobre o comércio de armas. Essa política teve resultados: há apenas três armas de fogo para cada 100 holandeses. E nada disso impediu que por lá ocorresse algo muito similar ao que se viu no Rio de Janeiro, quando no dia 9 de abril, apenas dois dias depois do massacre no Realengo, um atirador entrou em um shopping na Holanda e matou ao menos sete pessoas, ferindo também outras 16. Os psicopatas não seguem cálculo racional dos custos de suas ações, e nem mesmo suas motivações são explicáveis. Os criminosos não seguem leis. Os militantes em favor do desarmamento, por sua vez, preferem escolher sua própria realidade, onde a restrição ao comércio de um produto seria respeitada pelas mesmas pessoas que não observam regras civilizatórias fundamentais. As liberdades só têm algum sentido se continuarmos a acreditar nelas quando coisas terríveis acontecem. Armas e violência são um fato. A questão é se preferimos sempre esperar pela polícia ou se queremos ter a opção da autodefesa. Temos certeza de que os criminosos preferem a primeira opção. Ainda assim, é possível que o direito natural de defesa contra as ameaças comuns não seja nem mesmo o mais importante argumento contra o desarmamento. Se fosse verdade que a possibilidade de resistência popular armada à tirania é algo irrelevante, os piores regimes do século XX não teriam dedicado tanta energia ao desarmamento de suas populações. O confisco de armas de fogo ocorreu tanto na Itália fascista quanto na Alemanha nazista. Na União Soviética, a propriedade de armas de fogo não foi abolida até 1929 — data que coincide com o início do período mais repressivo do stalinismo.

rubens campana colunista da Revista Ideias.



Polític�

Um romBo de R$ 4,5 BilhÕes Fábio Campana Fotos AEN

Cenas da degradação em todas as áreas da administração pública deixadas pelo governo anterior

V

ivemos um momento de revelação. O Paraná que tem neurônios e justifica a ideia de que o homem se diferencia no reino animal pela capacidade de refletir, está perplexo. Estarrecido. Sente-se vítima do grande estelionato que sofreu em anos de desfalques e assaltos praticados por uma gangue que ocupou o poder. Muitos paranaenses sabiam que o período de governo de Roberto Requião e sua família foi um desastre, mas jamais imaginaram que nosso epígono de Mussolini usava mentiras e fanfarronices para esconder um rombo de R$ 4,5 bilhões aberto nas finanças do Estado. Sim, senhores, R$ 4,5 bilhões em oito anos. Fique claro que aí não estão contas a pagar de

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outros governos, nem mesmo o saldo devedor da privatização do Banestado ou os precatórios acumulados. Esse valor foi pelo ralo durante os oito anos de Requião, aquele que se dizia honesto e austero, enquanto permitia as maiores falcatruas e governava como se o Paraná fosse o seu próprio negócio. Aliás, ninguém notou que na vida privada Requião e seus irmãos sempre se deram mal e conseguiram levar à falência os negócios rentáveis que herdaram. Por que não eram revelados os desatinos cometidos por Requião? Há explicações para isso. Em primeiro lugar, como sói acontecer com todos os governos neste Paraná, bastou Requião assumir o cargo para que se formasse a submissa maioria na Assembleia Legislativa que endossou todos os seus atos, inclusive os

mais escabrosos. Traço marcante dos políticos nativos que se empenham para provar férrea coerência com um princípio único e que se sobrepõe a todos os demais. São políticos governistas. Qualquer que seja o governo. Estão sempre com o poderoso do momento e não saberiam sobreviver sem a sua proteção. Há outra característica marcante entre os nativos. Morrem de medo das bravatas e ameaças do poderoso e costumam usar o seu próprio medo para contagiar os demais. Os inventores do bicho-papão têm medo da sua invenção. É uma história espantosa – tocante, porém, na moral. Requião foi o bicho-papão, com variações sobre o tema, como se dá com o diabo, também chamado de Astaroth, Ramãozinho, Cão, Demônio, etc. Desde os anos 90 do século passado políticos, burguesotes e remediados do Paraná foram


reeducados na crença de que não é aconselhável se opor a Requião et famiglia porque o clã pode retaliar com armas que vão da perseguição com o uso da máquina policial ao linchamento moral dos adversários. Sem limites. Sem escrúpulos. As chamadas elites paranaenses lêem apressa­ damente os jornais e os livros de história, ou não lêem de vez, e sendo assim confirma tranquilamente contos da carochinha tecidos para mantê-las sob permanente pavor de se opor aos bárbaros. Entre os mais pobres, Requião fez prosperar a ideia de que suas incursões despóticas contra os adversários eram gestos em defesa dos humildes, incendiando o rancor de classe de franjas da sociedade que ainda o tratam como Anjo Vingador e o defendem com dose de fanatismo que lembra o das seitas fundamentalistas. Nesse quadro, a minoria denunciava sem a menor chance de se fazer ouvir. A progressiva desmoralização de Requião e sua caterva só foram percebidas na deterioração de sua base eleitoral nas últimas eleições. Requião elegeu-se senador com as calças na mão e agora usa o mandato como escudo para se proteger das denúncias de falcatruas cometidas ao longo de seu governo e que contribuíram para esse rombo de R$ 4,5 bilhões que serão pagos, é claro, pelo contribuinte, ou seja, por todos nós que devemos pagar pela insânia e desgoverno que nos infelicitou a todos, mesmo aqueles que não entenderam ainda que são vítimas do desatino de um bufão que esconde seus crimes administrativos sob a Carta de Puebla e o faz com maior desfaçatez. Não duvide, ele é capaz de imediatamente passar a culpar o governo atual pelo rombo que deixou. Mas suas manobras já não funcionam, ao menos entre os que aprenderam a reconhecê-lo como um bufão de circo de periferia destinado ao esquecimento. E não faltarão os defensores do paspalho. Sempre há os que torcem pelo bandido, o que não deixa de ser uma forma de perversão dos que gostam de se confundir com o mal para purgar suas fantasias, suas mágoas e suas frustrações.

SAÚDE A saúde pode ser descrita como um retrato do caos. Projetos com deficiências estruturais, obras inacabadas e equipamentos subutilizados ou em desuso são comuns a todos os hospitais recém-inaugurados. No restante, faltam equipamentos de informática e investimentos em reformas, ampliações ou obras de manutenção. Faltam ainda remédios especiais, material médico e de higiene e limpeza, além de haver contratos sem cobertura orçamentária em situações como aluguéis, oxigênio, limpeza e vigilância. Os recursos para repasse ao Fundo Estadual de Saúde e aos Fundos Municipais de Saúde são suficientes para apenas oito meses. Será necessá-

rio fazer uma suplementação orçamentária, por remanejamento ou por meio de projeto de lei encaminhado à Assembleia Legislativa. Para se ter uma ideia do rombo, no final de janeiro a Secretaria de Saúde tinha dívidas com

credores no valor de R$ 53 milhões e despesas sem empenho de R$ 99 milhões. O orçamento de 2011 para o custeio, de R$ 372 milhões é R$ 20 milhões inferior ao empenhado para 2010, que era de R$ 392 milhões.

Hospital Regional de Ponta Grossa

LACEN – Laboratório Central do Paraná

Hospital de Dermatologia Sanitária - Piraquara

Hospital de Dermatologia Sanitária - Piraquara maio de 2011 |

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EDUCAÇÃO Os problemas encontrados na Educação também foram graves. Cerca de R$ 57 milhões em despesas foram feitas sem empenho. A maior parcela refere-se ao pagamento de rescisões de contratos de professores temporários do Processo Seletivo Simplificado (PSS), que requer R$ 41,6 milhões. Outras despesas importantes da pasta que não foram pagas somam quase R$ 15 milhões, incluindo telefonia, energia, água, processamento de dados e convênios. Além disso, ao menos 143 escolas estão sucateadas e prejudicam as aulas de milhares de alunos. São salas que apresentam goteiras e infiltrações e sofrem inundações, ginásios e refeitórios inadequados ou com paredes e pisos comprometidos, além de instalações depredadas, com problemas elétricos, hidráulicos e nas tubulações de esgoto. Apesar das deficiências do setor, foram encontrados R$ 199 milhões em recursos disponibilizados pela União desde 2008 para construção de 18 Centros de Educação Profissional e Formação de Professores não utilizados. Também há repasses do governo federal feitos há três anos e parados em dezembro de 2010. Já no ensino superior, os restos a pagar e contas sem empenho somam R$ 5 milhões e o Estado deixou de repassar mais de R$ 100 milhões para manutenção de instituições de ensino superior, Tecpar, Fundação Araucária e Funpar.

CE José Pavan - Jacarezinho

HABITAÇÃO Dívida de R$ 450 milhões da Cohapar com a Caixa Econômica Federal. E a situação fica ainda pior. Das 200 mil casas prometidas pela gestão anterior, pouco mais de 27 mil foram entregues, menos de 14% da promessa. Só no ano passado, 40 prefeituras paranaenses pediram ao Governo do Paraná, a devolução dos terrenos cedidos a projetos de habitação, porque os mesmos ainda não haviam sido iniciados. 16

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CE Tancredo Neves - Almirante Tamandaré

CE Rio Vermelho – União da Vitória

CE Pilar Maturana - Curitiba – Bairro Alto

AGRICULTURA Só a Emater concentra R$ 8 milhões em precatórios e 780 ações judiciais. Já a Codapar, concentra R$ 3,5 milhões de passivo trabalhista, R$ 7 milhões de dívidas junto ao Governo Federal e R$ 1,3 milhão de dívidas junto a Copel. As dívidas da Claspar, entre trabalhistas e déficit orçamentário, ultrapassam os R$ 13,4 milhões. A Ceasa possui R$ 1,5 milhão de dívidas de 2010 e o mesmo valor em recursos bloqueados por ações judiciais. Esses problemas ainda se

somam a falta de profissionais em todo o quadro da Secretaria de Agricultura.

MEIO AMBIENTE Com um déficit financeiro de R$ 5 milhões e sem um aporte imediato do Governo do Estado, as atividades relacionadas ao meio ambiente paralisariam já neste mês. As dívidas de custeio, como água, luz, serviços de limpeza e manutenção da Secretaria de Meio Ambiente e de seus órgãos,


como IAP, INAPAR e ITCG chegam a R$ 1,6 milhão. E o IAP ainda concentra 30 ações trabalhistas no valor de R$ 450 mil e R$ 5,2 milhões em investimentos não pagos. Apesar de tudo isso, a atual administração encontrou R$ 16 milhões em créditos não utilizados na gestão anterior.

CULTURA As despesas sem empenho com a TV Paraná Educativa chegam a R$ 3,6 milhões. Já os Museus, com exceção do Museu Oscar Niemeyer - MON- em Curitiba, todos os outros estão com graves problemas na manutenção dos seus acervos. Já o MON apresenta graves ilegalidades no que se refere a contratação de pessoal e o Teatro Guaíra necessita de obras e reformas emergenciais, assim como a Escola de Dança do Teatro. SEGURANÇA Segundo o levantamento do governo, a escalada da criminalidade, principalmente na região de Curitiba, ocorreu ao mesmo tempo em que a estrutura da Segurança Pública era sucateada. Além da redução do contingente de policiais civis e militares, as delegacias estão superlotadas (40 foram interditadas), imobilizando mais de 2 mil policiais civis a trabalharem na custódia e carceragem dos presos, deixando de realizar investigações e prisões. No Instituto Médico Legal de Curitiba havia 119 corpos não entregues aos familiares, alguns desde 2008. A frota de veículos policiais está sucateada e defasada em tecnologia embarcada e de equipamentos de informática. Faltam vagas em presídios, colônias penais agrícolas e industriais, por isso apenas 21% dos presos de penitenciárias trabalham. Além disso, o déficit da alimentação dos presos chega a R$ 13 milhões. E os índices de violência da capital paranaense superam os de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Delegacia Almirante Tamandaré

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Também foram encontradas locomotivas sucateadas

DESENVOLVIMENTO URBANO Na área do Desenvolvimento Urbano pode-se dizer que há uma verdadeiro ‘apagão na infraestrutura’. São R$ 7,8 bilhões em defasagem dos investimentos, como na construção de rodovias, manutenção das estradas, conservação de prédios públicos e na patrulha rodoviárias. Além disso, foram encontrados graves problemas com a contratação ilegal de obras através do registro de preços e a falta da publicação no Diário Oficial do segundo termo aditivo de vários convênios firmados. No programa de Recap, foram encontrados mais de R$ 70 milhões em dívidas, além das publicações de convênios que foram feitas em pleno período eleitoral, o que é proibido por lei. Na Ferroeste os prejuízos também são exorbitantes. Foram R$ 5 milhões de prejuízo só no ano passado e dívidas que somam R$ 8,2 milhões.

em valores não recebidos em 2010, referentes a convênios não assinados, contratos não convalidados pelo então governador e contratos que sofreram cortes da Secretaria de Planejamento. São necessários R$ 63,5 milhões só para recuperar o parque de informática do Estado.

PORTO DE PARANAGUÁ Caracterizada pela absoluta falta de diálogo com a iniciativa privada, isolamento do Governo Federal e inexistência em investimentos na modernização e ampliação de suas operações. Como resultado, a Associação dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA) abriu mão de R$ 180 milhões em recursos federais que deveriam ser aplicados principalmente nas obras de dragagem. Para piorar, a APPA ainda soma R$ 914 milhões em dívidas trabalhistas, investimentos não pagos e ações judiciais. Tudo isso sem falar na Operação Dallas, realizada pela Polícia Federal, que investiga várias fraudes feitas em licitações. Somado a tudo isso, o que a atual administração encontrou no Porto de Paranaguá foram R$ 440 milhões em caixa no dia 1 de janeiro, sendo que R$ 353 milhões deveriam ser destinados à dívidas trabalhistas, R$ 189 milhões de restos a pagar com obras de manutenção e serviços de custeio. Um déficit de mais de R$ 102 milhões.

SANEPAR Na Sanepar também foram encontrados graves problemas. Desde a frota de veículos totalmente defasada a total falta de novos projetos. Além disso, R$ 35 milhões em projetos foram questionados pelos agentes financiadores, 20 mil desapropriações não registradas e uma ação judicial movida pelo grupo Dominó, pelo descumprimento de um acordo realizado com acionistas em 2008.

CELEPAR A Celepar concentra R$ 31,2 milhões 18

Roda Trincada das locomotivas

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COPEL Falta de investimentos na geração de energia, R$ 70 milhões em indenizações por rompimento de contratos, R$ 85 milhões ao Governo do Estado na forma de antecipação dos lucros, o que só deveria ocorrer este ano, R$ 70 milhões em multas aplicadas pela Aneel, R$ 36 milhões em prejuízo em aplicações em bancos, R$ 18,8 milhões pago a usuários por prejuízos decorrentes de problemas na distribuição de energia, quase 5 mil obras paralisadas, além de R$ 200 milhões de dívidas com a Petrobrás.

FOMENTO O saldo em sua carteira no final de 2010 era de R$ 593 milhões para o setor público e R$ 17,3 milhões para o setor privado. Seu grande problema foi a falta de visão estratégica de investimentos na atividade econômica, principalmente na gestão de fundos que são de sua atuação como o Fundo de Desenvolvimento Econômico e o Fundo de Aval. ADMINISTRAÇÃO O pagamento indevido de encargos especiais a comissionados quadruplicavam o salário de alguns servidores. Já foram identificados 419 casos assim, com gasto total de R$ 12

milhões. Também foram encontrados contratos irregulares e superfaturados. As ações contra o Estado também preocupam. São 65 ações de iniciativa das concessionárias de pedágio, relacionadas ao reajuste de tarifas, encampação e outros.

SAS O Sistema de Atendimento à Saúde que atende o funcionalismo público estadual, têm deficiências de várias naturezas na prestação de seus serviços, com elevado grau de insatisfação por parte dos usuários a despeito do dispêndio de R$ 100 milhões anuais. E para piorar o serviço que já é precário, as regiões de Guarapuava e Pato Branco estão sem cobertura porque hospitais credenciados deixaram de realizar os atendimentos. PLANEJAMENTO A situação encontrada na Secretaria de Planejamento foi definida pela atual administração como “uma visão míope do futuro do Paraná”. O sucateamento administrativo impediu a secretaria de cumprir várias funções executivas. Como consequência encontrou-se uma inexistência de planejamento, falta de recomposição de quadros técnicos, gestão irresponsável dos fundos financeiros, ideologização da gestão e fuga dos capitais. Para piorar, o orçamento de 2011 não é suficiente para suprir as necessidades prioritárias de vários órgãos e secretarias, não apenas para investimentos mas também para custeio. Em alguns casos, os recursos são suficientes apenas para seis meses. PARANÁ PREVIDÊNCIA Os recursos não repassados ao Fundo de Previdência na gestão anterior somam R$ 1,6 bilhão entre contribuição financiada e as contribuições de aposentados e pensionistas suspensas pelo governo em 2003. Os outros ativos chegam a R$ 2,4 milhões. Colaboração Sarah Corazza


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Reportage�

Templo é

Dinheiro

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“Crédito ou débito?” Quem pergunta é o pastor da Igreja Internacional da Graça de Deus que recolhe o dízimo e outras doações munido da máquina para registrar operação com cartão de crédito. Pois, pois, as novas pentecostais aderiram rápido à nova tecnologia bancária para não perder uma oportunidade sequer de faturar Fábio Campana e Sarah Corazza Fotos Rodrigo Félix Leal

D

urante um mês a jornalista Sarah Corazza e o fotógrafo Rodrigo Félix Leal percorreram os templos das neopentecostais em Curitiba para testemunhar o fenômeno de religiosidade que arrasta milhões e transforma as novas igrejas em eficientes centros de arrecadação de fundos, o que ajuda a explicar a rapidez com que proliferam essas instituições e a indiscutível influência que exercem no novo tecido social. Observaram os cultos, entrevistaram pastores e fiéis, consultaram os mestres do assunto e produziram a reportagem que leva no título uma expressão que se tornou comum pelo uso e pela verdade que encerra.

As neopentecostais fazem sucesso de público e de bilheteria Houve um tempo em que Curitiba era conhecida como a cidade que tinha uma farmácia em cada esquina. Isso na época em que o Fernando Pessoa Ferreira escreveu a crônica antológica “Curitiba, a fria, ou onde Jânio comia moscas”, pelos idos da década de 60 do século passado. Hoje, além das farmácias, Curitiba tem muitos templos em cada esquina. É uma das cidades do Brasil em que as novas igrejas pentecostais mais prosperam. Olhe a sua volta e verá. Onde havia um cinema, agora há uma igreja. Onde havia um supermercado, há um templo. E para coroar essa investida sobre os grandes imóveis urbanos que perderam a utilidade original, a Igreja Universal do Reino de Deus comprou a antiga fábrica do Matte Leão para abrigar o seu rebanho que não para de crescer. Logo se vê que as neopentecostais fazem sucesso não apenas de público, mas também de bilheteria. É incalculável o que arrecadam diariamente. O suficiente para abrir templos e

também para financiar o proselitismo eletrônico que ocupa boa parte do horário televisivo e radiofônico. Isso custa dinheiro. Muito dinheiro. Tanto que a Universal do Reino de Deus, do financista e bispo Edir Macedo, comprou a sua própria rede de televisão. A antiga Record, mais os restos da Manchete, agora são propriedade do Altíssimo e dedicam boa parte de seu tempo à pregação que oferece, em troca do dízimo e de outras ofertas pecuniárias, a felicidade imediata na forma do milagre. E felicidade para os novos pentecostalistas significa, além de saúde, dinheiro em caixa. Para o doador, é claro, mas principalmente para a Igreja. Assim caminha a humanidade. A grande transformação social das últimas décadas, que moveu grandes massas da população do campo para a periferia das cidades, criou o espaço perfeito para a instalação de novas crenças e novas igrejas que oferecem identidade, segurança e uma rede de iguais que comungam os mesmos valores e mesma fé, para gente que procura se encontrar no novo universo urbano e de relações competitivas e degradadas.

Para abrir uma Igreja são necessários apenas R$ 418,42 e cinco dias úteis

Mas essa é apenas uma parte da explicação para esse fenômeno que hoje mobiliza não apenas os fracos e oprimidos da periferia que ainda não conseguiram se integrar na vida urbana e moderna. É necessário perceber outro fenômeno mais amplo e que tem raízes idênticas. Contrariando todas as previsões erguidas no século XIX, a velocidade e amplitude da produção e distribuição de riquezas, em vez de nos darem asas, proporcionaram o surgimento de sociedades de maioria absoluta de pedestres morais e intelectuais. Entramos no século XXI angustiados pelo destino sem grandeza que é a marca de nosso tempo. Nem por isso conseguimos escapar facilmente da servidão ideológica que a sociedade industrial nos impôs. Sucumbimos às evidências e às tentações do progresso material e nos recusamos a questionar o empobrecimento da vida intelectual que patina no lamaçal da bricolagem pós-moderna que inclui a religiosidade mais chã. Ninguém, em sã consciência, põe em dúvida as vantagens que as descobertas científicas nos proporcionam. A medicina avançou em algumas áreas e com ela a expectativa de vida praticamente dobrou. Agora o homem vive mais e dispõe de mais tempo para o ócio criativo, mas prefere gastá-lo no consumo conspícuo da cultura de baixa densidade. As comunicações tornaram-se virtualmente instantâneas e compulsórias, além de universais, o que ampliou o mercado de ilusões e expectativas. O mundo contemporâneo, com sua classe média emergente, tornou-se ávido pelo besteirol produzido incessantemente pelos meios de comunicação. Besteirol que constitui 99% da programação da mídia de massa e do acervo da internet, fontes mais consultadas para esclarecer dúvidas da manada. maio de 2011 |

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Há um terreno em que as virtudes da moderna tecnologia mostraram-se pouco eficazes e até contraproducentes. É o da criação intelectual, que perdeu em quantidade e até em qualidade. Atrofiou-se. Ora, pois, a demanda cresceu, a produção encolheu, a solução do século foi mediocrizar para atender as expectativas da maioria. Basta ver as nossas universidades. De centros de produção do saber passaram a produtoras em massa de técnicos de baixa extração. O que a massa exige não é a grandeza, o gênio criador ou até a incômoda dimensão heróica de outras épocas. E isso carrega hoje ricos, pobres e remediados homogeneizados culturalmente pela mediocridade. Nesse chão, as pentecostais de baixa densidade avançam com extrema facilidade.

UM NEGÓCIO MUITO RENTÁVEL Vamos separar o joio do trigo. Nem todas as igrejas pentecostais ou neopentecostais são apenas balcões de negócios. E nem todas as seitas e correntes do tipo são protestantes. Há réplicas antigas e modernas dentro do catolicismo, que continua a ser majoritária. Ao menos nominalmente, como sabemos. As antigas igrejas evangélicas e pentecostais passaram a conviver com os novos empreendimentos religiosos que se instalam com a proteção da legislação e os benefícios fiscais que os eximem do pagamento de impostos e da declaração legal do quanto arrecadam e aplicam.

quanto mais crente melhor: o temPlo de salomão terá caPacidade de 13 mil Pessoas sentadas e altura de um Prédio de 18 andares 22

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Num país em que a carga tributária beira os 38% sobre os comuns dos mortais, a isenção tributária é um regalo divino que ajuda a explicar o sucesso financeiro das novas seitas. Para abrir uma Igreja são necessários apenas R$ 418,42 em taxas e emolumentos e cinco dias úteis. Simples. Não existem requisitos teológicos ou doutrinários para criar um culto religioso. Tampouco se exige número mínimo de fiéis. Com o registro da Igreja pode-se abrir uma conta bancária e realizar aplicações financeiras isentas de Imposto de Renda e Imposto de Operações Financeiras. Esses não são os únicos benefícios fiscais da empreitada. Nos termos do artigo 150 da Constituição, templos de qualquer culto são imunes a todos os impostos que incidam sobre o patrimônio, a renda ou os serviços relacionados com suas finalidades essenciais, as quais são definidas pelos próprios criadores. Ou seja, todos os bens colocados em nome da Igreja estão livres de IPVA, IPTU, ISS, ITR e vários outros impostos. Há também vantagens extratributárias. Os templos são livres para se organizarem como bem entenderem, o que inclui escolher seus sacerdotes. Uma vez ungidos, eles adquirem privilégios como a isenção do serviço militar obrigatório e direito a prisão especial. Sem controles, beneficiadas pelo princípio constitucional da liberdade de crença e de religião, as novas igrejas quando dirigidas por condutores sem escrúpulos podem se transformar em fachadas para um longo rol de crimes e contravenções. Um delegado da Polícia Federal, experimentado e que estuda esse fenômeno há anos, acredita que alguns templos podem servir de lavanderias de dinheiro e esconder redes criminosas. Mas essa é uma investigação policial que ainda está a caminho. Em sigilo absoluto, porque esse tipo de iniciativa sempre esbarra na forte reação de todas as igrejas em nome de seus direitos constitucionais. O certo é que as novas igrejas dão rendimentos vultosos que se tornam explícitos quando se materializam em grandes obras ou transferidos para sustentar a vida nababesca de bispos e pastores. Em tudo há um traço de desfaçatez que insulta a inteligência ao mesmo tempo em que entusiasma milhares de contribuintes. Um dos exemplos mais gritantes é a do bispo Edir Macedo e a campanha da Igreja Universal do Reino de Deus de coleta de doações para a construção da milionária réplica do Templo de Salomão, do tamanho de um estádio de futebol e custo em torno de R$ 200 milhões. Em seu proselitismo arrecadador, Macedo começa ressaltando que o projeto do templo foi “desenhado por Deus”. Segue com um discurso

o TeMPLo De eDir MACeDo

A réplica do templo de Salomão que o Bispo edir Macedo pretende construir para justificar uma campanha de arrecadação e dar magnitude à sua igreja terá mais de 70 mil metros quadrados de área construída e ocupará um quarteirão na zona leste de São Paulo. Haverá lugar para que 10 mil fiéis assistam sentados aos cultos. o estacionamento abrigará 10 mil veículos. o bispo, mestre desse tipo de pregação, cita três características para a construção: 1. Projeto desenhado por Deus; 2. Construção executada pelos Seus servos e 3. Única em todo o mundo. ele recorre à Bíblia para justificar seu pedido de dinheiro. Cita i Crônicas 29.5: “Quem, pois, está disposto, hoje, a trazer ofertas liberalmente ao Senhor?” edir informou que aplicará cerca de r$ 70 milhões só na terraplenagem do terreno e que as pedras serão importadas de israel. o custo total da obra está estimado em r$ 200 milhões.

muito usado por ele: “Se você for tocado pelo Espírito Santo a colaborar, então, por favor, use a seguinte conta bancária para fazer sua doação em nome da Igreja Universal do Reino de Deus e entregue o recibo de depósito numa IURD.” Termina citando a Bíblia, “Deus suprirá as necessidades de cada um dos doadores.” Filipenses 4.19. E repete os números das contas bancárias para os depósitos nos bancos do Brasil e Bradesco. Sucesso absoluto que provoca inveja e dissensões dentro da hierarquia das igrejas, provocando o surgimento de novas, que se multiplicam com a velocidade da cretinice. Um exemplo clássico é o do cunhado de Edir Macedo, o pastor R. R. Soares, que decidiu criar a sua própria Igreja e hoje é o recordista mundial de permanência na telinha. São mais de 16 horas em diversas redes, com horários comprados a preço de bezerro de ouro.


Para que se tenha uma pálida ideia da prosperidade alcançada pela dissidência da Universal, o pastor R. R. Soares, que é fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus e apresenta o programa “Show da Fé”, comprou por US$ 5 milhões (cerca de R$ 8,6 milhões) um avião turboélice King Air 350 com banheiro a bordo e capacidade para oito passageiros. A aeronave abençoada permite ao pastor percorrer o país e fazer shows e apresentações que lhe proporcionam uma arrecadação extra que não é de somenos. Além de apresentar o “Show da Fé” na Band — que também é exibido pela CNT e pela RIT (Rede Internacional de televisão), o pastor, uma espécie de Silvio Santos evangélico, mantém horários alugados nas madrugadas e fins de tarde na emissora Rede TV. Histórias de sucesso financeiro, maiores ou menores que os de Edir Macedo e R. R. Soares, há incontáveis em todo o país. E na esteira desse crescimento uma legião de fanáticos e outra de arrependidos que entregaram o que tinham e não receberam em troca o que esperavam. Vivem o inferno da desolação e de um sentimento envergonhado de que se deixaram enganar explorados pela cupidez.

Curitiba tem a maior Igreja Universal do Brasil No início deste mês a Igreja Universal do Reino de Deus começou a demolição da sede histórica da Matte Leão S.A. O terreno de 16,3 mil metros quadrados no bairro Rebouças, dará lugar a uma nova Catedral da Fé – a maior do país. A igreja do bispo Edir Macedo comprou a indústria por cerca de R$ 32 milhões, R$ 7 milhões a mais do o valor avaliado e com isso adquiriu o terreno e o direito de demolir o prédio histórico de 1901. Mas algumas questões referentes ao novo templo ainda são confusas. A Igreja não comenta o assunto, nem este e nenhum outro, já que todos estão orientados a não dar nenhum tipo de declaração para a imprensa. A prefeitura de Curitiba diz que desconhece a construção de uma igreja no local, já que a Secretaria Municipal de Urbanismo expediu até o momento apenas o alvará de demolição. Já os banners mostram a imagem de um templo da Universal. Apesar do projeto final ser uma incógnita, a parte que os técnicos do Ippuc e da Fundação Cultural tiveram

acesso, mostram que está previsto a construção de um subsolo gigantesco, heliponto, torres de diferentes alturas, anfiteatro e uma cobertura para as autoridades eclesiásticas.

A nova seita dos arrependidos “Se arrependimento matasse”, confessa o ex-deputado estadual Waldemar Alves Faria Jr. (PL-SP), “eu estaria morto e enterrado há muito tempo.” O desabafo do ex-parlamentar — que foi eleito com o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus — deve-se ao fato de ter doado diretamente ao fundador da igreja, bispo Edir Macedo, entre 1997 e 1998, cerca de US$ 3,2 milhões. O arrependimento se transformou numa Ação de Revogação de Doação por Ingratidão, acolhida pelo juiz Wanderlei Sebastião Fernandes, titular da 39ª Vara Cível de São Paulo, que determinou a imediata citação de Macedo. Faria Jr. disse que, na condição de ex-obreiro e crédulo seguidor dos ensinamentos evangélicos difundidos pela Igreja Universal, ficou totalmente submetido aos interesses pessoais e empresariais de Macedo: “Os US$ 3,2 milhões foram transferidos diretamente a Edir Macedo e não à Igreja Universal, como deveria ser feito. O bispo havia me pedido dinheiro como empréstimo pessoal, que acabou se transformando em “doação” a ele, Macedo, diante do seu irresistível apelo e da promessa de que todas as portas da igreja e da Rede Record me seriam abertas”, desabafa Faria Jr. “Eu destinava mensalmente dízimos milionários à igreja, chegando inclusive a doar um automóvel BMW 540I, que passou a ser usado por um dos bispos que atuam no Rio de Janeiro.” Ao se ver totalmente descapitalizado, já que sua empresa, que tinha 400 empregados, hoje só conta com quatro, o ex-deputado tentou maio de 2011 |

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Marcos Hermes

O padre Reginaldo Manzotti é um dos únicos que não cobra cachês por seus shows

de todas as formas contato com o bispo Macedo, que se recusava a recebê-lo. Faria Jr. diz ainda que o fundador da Universal, em diversos eventos religiosos, fez referências a ele, acusando-o de “não estar mais na fé e haver se transformado num perdido, que, por ter pecado tanto, tudo havia perdido”. Nos autos da ação há acusações também contra a Record: “A emissora teria emitido um grande número de duplicatas falsas, entre 1997 e 1999, apoderando-se de mais de R$ 15 milhões de recursos da empresa de telemarketing pertencente a mim e a meu irmão.” Faria Jr. adiantou que vai procurar o Ministério Público Federal para denunciar Macedo e a Rede Record, que fraudaram segundo afirma, a determinação que proibia a realização de sorteios lotéricos pela televisão, no sistema conhecido como disque 0900. Prestando serviços para a Record, segundo o próprio Faria Jr., sua empresa faturou R$ 125 milhões entre fevereiro de 1997 e julho de 1998. Nem o bispo Macedo nem a direção da Rede Record quiseram se manifestar sobre as acusações feitas pelo ex-deputado. Outra história emblemática é a de um empresário paranaense do oeste que entregou sua poupança para a Igreja. De católico fervoroso passou a membro fanático da Igreja Universal do Reino de Deus. Tudo começou quando a igreja comprou o cinema da cidade para construir seu templo. Toda a população via com curiosidade e desconfiança

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a nova igreja que se instalava. Assim que o templo iniciou suas atividades, o programa de rádio do bispo Edir Macedo se popularizou. O empresário, assim como milhares de outros fiéis, começou a ouvir o bispo todas as noites, antes de dormir. Sua curiosidade foi aguçando, afinal muitas graças e milagres eram propagados por Macedo. Interessado em conhecer mais a igreja, o empresário decidiu ir até o templo e ver como tudo realmente funcionava. Assim que entrou, começou a observar tudo. Estranhou a piscina infantil instalada em frente ao palco. Neste momento, o pastor responsável por arrebanhar as ovelhas no município, chegou simpático, conversou e convidou o empresário a participar do culto que começaria em seguida. Ele saiu encantado com a articulação e a oratória do pastor. No dia seguinte voltou e foi apresentado à

ex-deputado transferiu US$ 3,2 milhões a edir macedo, e não à igreja

família do pastor. A esposa acompanhava o celebrante nos cultos e ajudava nos serviços do templo, o que passou ainda mais credibilidade ao empresário. Em pouco tempo, o empresário passava ao menos uma hora do seu dia na igreja e as outras tentando converter a família e os amigos. Foi assim até que a família descobriu o rombo na conta bancária que essas idas diárias estavam causando. Em pouco menos de dois anos foram mais de R$ 100 mil. Entre a aquisição de um terreno no céu no valor de R$ 7 mil, doação de geladeira e de um terreno na terra, além de depósitos em dinheiro, os números no patrimônio e na conta bancária foram reduzidos gradativamente. Mas não foi isso que fez com que o empresário largasse a igreja. O que intrigou o fiel foi a mudança repentina de pastores. Após a saída do primeiro pastor que conheceu, os outros permaneciam menos de dois meses na cidade e já não apresentavam a família. Foi neste momento que ele começou a questionar a credibilidade da igreja e deixou de frequentar a Catedral da Fé.

Teoria da prosperidade Das igrejas procuradas, o padre Reginaldo Manzotti foi o único que se dispôs a conversar e permitiu que a celebração fosse fotografada. Disse que não concorda com a “teoria da prosperidade”, amplamente divulgada pelas outras igrejas. Contou que não cobra cachê pelos seus shows e nem permite que os organizadores cobrem bilheteria. “O que


O pastor R. R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, comprou por US$ 5 milhões um avião turboélice King Air 350 com banheiro e capacidade para oito passageiros

permitimos é apenas a doação de alimentos não perecíveis. Entendo que o show é um primeiro passo para que as pessoas voltem à Igreja e não acho certo que alguém deixe de participar por não ter R$ 3,00 para o ingresso. Sei que muitas vezes ela vai sem dinheiro nem para comprar um cachorro-quente e mesmo assim, passa o dia esperando a celebração”, conta Manzotti. O padre explica ainda que o dinheiro da venda dos seus Cds é todo revertido para a sociedade Evangelizar é Preciso, que mantém no centro da capital paranaense, junto a Igreja do Guadalupe. Esse recurso é utilizado na produção dos programas de rádio e TV que são distribuídos gratuitamente pelo Brasil. “Todas as nossas aquisições, equipamentos para a transmissão dos programas estão registradas em cartório em nome da arquidiocese. Nada está no meu nome. Eu sobrevivo com o salário que a Igreja me paga, assim como paga para todos os padres. Tudo isso ficará para os próximos sacerdotes que darão continuidade ao trabalho que iniciei”, explica Manzotti.

acompanhar a missa. A igreja estava lotada. Pessoas de diferentes idades, de jovens a idosos. Quando o padre entrou, a música animada começou a tocar. Talvez o que mais diferencie das celebrações católicas tradicionais. A maioria acompanhava os passos e demonstrava adoração ao rito. No meio da celebração, os coroinhas se posicionam em locais estratégicos com as sacolas para receber as doações. Antes disso, no momento do sermão, Manzotti já havia falado da importância de se doar o dízimo, os 10% de tudo o que se recebe para a igreja, como manda a bíblia. Esta outra doação, menor e simbólica, que acontece no momento da comunhão e que semanalmente recebe uma contribuição, por menor que seja, da maioria dos fiéis, ajuda a manter as necessidades básicas da igreja. Olhando ao meu redor, percebo que a maioria dos fiéis deposita valores baixos, moedas ou notas pequenas de R$ 2,00 e R$ 5,00. A missa durou exatamente uma hora. Quando termina as pessoas se apressam para sair da igreja. A maioria nem olha para o pedinte sentado junto ao portão. Uma senhora, que saía próA campo Para verificar como funcionava cada ximo de onde eu estava, comenta com a amiga: culto e como as pessoas conseguiam as doa- “Quer dinheiro para comprar pinga. Eu é que ções virtuosas, resolvemos percorrer anoni- não vou ajudar. Por que não vai trabalhar?”. A mamente as principais igrejas neopentecostais amiga apenas ri. Nesta hora entendo quando o de Curitiba. Iniciamos a peregrinação por uma padre ressalta que busca a qualidade dos crismissa do padre Reginaldo Manzotti, na Igreja tãos e não somente a quantidade. do Guadalupe. Da Igreja do Guadalupe sigo a minha peregriNa última quarta-feira de março, dia 30, ao nação para a Igreja Internacional da Graça de meio-dia, cheguei com centenas de fiéis para Deus. Lá o culto começa às 14 horas. Como fica

a menos de quatro quadras da católica, sigo direto. Chego com meia hora de antecedência. Na entrada, uma espécie de antessala, sou recebida pelo pastor. Simpático, pergunta se preciso de ajuda. Sem jeito digo que quero assistir ao culto. Ele me entrega uma rosa branca, brinca que não preciso pagar nada por ela e posso entrar e esperar. Assim faço. Quando chego somente uns três fiéis já estão no templo. Todos sentados distantes uns dos outros. Conforme os minutos vão passando, mais fiéis chegam. A maioria são mulheres e com mais de 50 anos. Uma senhora japonesa, sentada três fileiras a minha frente, entra sem a rosa. Acho estranho, mas como não sei qual o significado da flor só observo. Pouco antes do culto começar, o pastor que me recebeu na porta, passa entre as cadeiras entregando as rosas para quem não pegou na entrada. Ele é simpático com todos. Quando chega na senhora sentada a minha frente pergunta porque ela não pegou a rosa. Ela responde que não trouxe o dinheiro. Meus sentidos ficam aguçados. Ele sorri e brinca que ela pode trazer o dinheiro no dia seguinte, ou ele passa o número da conta para ela. Com certeza se soubesse que sou jornalista e estava ali para escrever esta matéria não brincaria com isso. Se é que era brincadeira. O culto começa com um menino engravatado no teclado e uma mulher que canta. Conforme ela aumenta o volume da voz e clama pelas graças de Deus, o som do teclado fica mais grave. maio de 2011 |

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Estranho porque eles utilizam muito a palavra de Satanás e Diabo. Logo percebo pelas falas e preces que a Igreja parte do princípio de que todos estão cheios e desanimados com tantos problemas. A mulher canta e ora por meia hora. Neste momento estava desconfiada que ela iria realizar toda a celebração. Mas eis que surge outro pastor. Ele inicia sua celebração com um tom de voz alto, o menino do teclado termina a música e sai do palco. Ele fala muito. Coisas comuns a outras igrejas como que devemos fazer o bem e não podemos julgar os outros. A única pessoa apta para isso, segundo ele, é o Senhor. Aliás, a palavra “Senhor” é usada quase como um vício de linguagem. Assim como as palavras “Diabo” e “Satanás”. Presto atenção ao discurso e vejo que em vários momentos o pastor se contradiz. Diferente do início, agora além “do Senhor” os pastores também estão aptos a julgarem as pessoas. Afinal, são os escolhidos. Ele lê alguns trechos do Novo Testamento e em seguida utiliza alguns exemplos pessoais, para aproximar mais a palavra dos fiéis. Conta quando ele chegou para cuidar da igreja em Paranavaí e só encontrou pessoas trajadas de maneira simples, a maioria de bermuda e chinelos. Na hora disse que pensou “Senhor, dê prosperidade para essa população senão não poderão ajudar a igreja”. Mais tarde, andando pela cidade, descobriu que aqueles homens de chinelos eram fazendeiros, e, portanto, poderiam contribuir — e muito — com a igreja. Olho no relógio e vejo que já passou 1h15 de culto, e apesar do pastor falar muito em dinheiro, ainda não pediu a doação. Mas não demorou a vir. Menos de 15 minutos depois, pede aos seus ‘obreiros’ para pegar a contribuição de todos. Duas senhoras surgem com dois tipos de envelopes nas mãos. Ambos com espaço destinado para o nome e o telefone do fiel. Noto que a senhora que no início da celebração não pegou a flor porque disse que não tinha dinheiro, colocou uma nota de R$ 20,00 em um dos envelopes. Em seguida surge outro pastor com uma sacolinha. Nela os fiéis, ao menos os que consigo observar, depositam moedas. Me espanto quando vejo ao longe o pastor que me recebeu na entrada com uma máquina de cartão de crédito. Ele passa em todas as fileiras e para os fiéis que preferem utilizar o cartão para dar sua contribuição pergunta se preferem no débito ou crédito. A senhora atrás de mim doa R$ 513,00. Durante a peregrinação dos obreiros pelas oferendas, o pastor ressalta do palco a importância de se doar. Esta também não permite que se tirem fotos das celebrações ou que os pastores deem entrevista para a imprensa.

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Já na semana seguinte (7 de abril, quinta-feira), inicio a minha peregrinação pela Igreja Universal do Reino de Deus. Chego para o culto do meio-dia. Imaginei que o templo estaria lotado, mas, para minha surpresa, somente umas 20 pessoas participam da celebração. Maioria mulheres e de idade variada. O pastor tem no máximo 25 anos, sotaque carioca e uma oratória irrepreensível. Para meu espanto ele já começa o culto falando do dízimo. A importância em se doar 10% de tudo o que “passar pela nossa mão”, como faz questão de frisar. E ressalta ainda a importância de ser fiel a este pagamento e a igreja, caso contrário, tudo o que se conquistar será perdido.

O REINO DO CÉU Na realidade, pelo discurso do pastor dá para perceber claramente que a ‘felicidade’ e o ‘reino do céu’ para eles está ligado ao dinheiro, às conquistas financeiras. O exemplo que ele utiliza, de um mendigo que chegou na igreja sem nada e que depois conquistou casa, carro, emprego e quando parou de pagar a igreja perdeu tudo, reforça a minha impressão. Como em todas as outras igrejas que frequentei, o pastor tem a ajuda de uma outra pessoa para recolher as doações. No caso da Universal é um outro pastor. Ele distribui uma sacolinha para as pessoas interessadas em pagar o dízimo. O celebrante reforça a importância de entregar o dinheiro à igreja no dia em que recebe, “para não ser tentado pelo diabo a gastar com outra coisa”. Muitas pegam o envelope. Diferente da Igreja da Graça de Deus, nesta não tem local para colocar os da-

dos pessoais do doador, mas os envelopes entregues são colocados sobre a Bíblia, uma forma de já abençoar.

JEJUM DE INFORMAÇÃO Outra coisa que chama atenção é o jejum praticado pela igreja. Os fiéis são convidados a ficar 21 dias sem consumir nenhuma espécie de notícia. É o “jejum da informação”. Não assistem a jornais, escutam rádio ou leem revistas. Só podem sair do jejum para escutarem a palavra do bispo Edir Macedo, diariamente às 6, 12 e 23 horas. Depois ele chama todos os fiéis a pegar o óleo consagrado. Todos fazem uma fila e ele passa o óleo nas mãos de todos, diz que é bom para atrair prosperidade, o que para eles é igual a dinheiro. Na saída, mais um convite para contribuir com a igreja, desta vez com o dinheiro que se tem na carteira, sem ser necessariamente o dízimo. Saio impressionada com a oratória do pastor e com a maneira como aquelas pessoas se deixam ludibriar. Quando o fotógrafo Rodrigo Felix Leal vai à Universal tirar fotos da igreja é coagido pelos seguranças. Félix pergunta ao pastor se pode fotografar o culto, e é imediatamente proibido. Então atravessa a Avenida 7 de setembro para tirar fotos da fachada e um dos seguranças se aproxima dele e manda que vá embora. Ao responder prontamente que está na rua e que a rua é pública escuta do segurança: “Estou conversando com você na boa, não queira que os outros engrossem”. Coagido, o fotógrafo deixa o local.

saraH coraZZa é jornalista.


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Luiz Geraldo Mazza

Ternura, humor de Guevara

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pesar da mitificação e quase beatificação do Che Guevara especialmente aquela imagem final que lembra Jesus, como se dava com o nosso Tiradentes, uma das suas frases clássicas foi aquela em que aconselhava o endurecimento sem perder a ternura. É evidente que a ternura pode aí ser olhada como humor porque ela pega mal como contraponto de um ato de violência. Dá para lembrar de Stalin: “a morte de uma família é tragédia, a de milhões, estatística”. O carioca morrendo na calçada e com a garganta transfixada por uma faca a dizer “só dói quando rio” também é humor premiado. A piada se torna fator mais forte do que o cenário num distanciamento brechtiano. Por isso é que uma das melhores formas de interpretar costumes políticos está em obras como a de Sebastião Nery com seu “Folclore” de tantas edições. Aliás, é rala a presença paranaense na listagem do jornalista como de resto é precário também o que temos como relevância especialmente no momento atual. Maiores contribuições obviamente são as de Manoel Ribas, Maneco Facão. Facão porque cortava despesas, dispensava pessoal e parecia ter o poder da ubiquidade com suas incertas por um Paraná que mal contava com estradas sequer macadamizadas. É clássica aquela, já transformada em clichê, de sua chegada à Lapa e decepcionado por não encontrar o médico no posto de saúde, o policial na delegacia e o servidor fazendário na agência, explodiu: “Lapa, berço de heróis, terra de vagabundos”.

Para o bem e o mal A anedota é arma política. Getúlio Vargas as produzia para mostrar-se bem humorado mesmo quando o Estado Novo matava os adversários. E acabava com isso ganhando popularidade e figurando como herói principalmente durante a Guerra. Lembro de uma carnavalesca ombreando Hitler e Getúlio “Quem é que usa um cabelinho na testa?// e um bigodinho que parece mosca// Só cumprimenta levantando o 28

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jardim suspenso. E tem aquela de Lupion, de aspecto formal, ao perguntar a um prefeito como estava a zona, referência geoeconômica ao que ocorria por lá. “Estava tudo bem até que o padre fez uma campanha e elas se mandaram pra zona vizinha do outro município!”.

braço// eh, eh, eh, palhaço! Quem tem um G que representa a glória// e um V que ficará na história// E um sorriso que nos dá prazer? Eh, eh, eh, vitória!”. Manoel Ribas, da mesma época e do mesmo estilo, era caricaturado pelos seus adversários como ignorante, tal qual os mineiros fizeram com Benedito Valadares. Vai a Castro e inaugura um bebedouro de cavalos tomando o copo d’água ritual. De outra feita, em meio a uma churrascada, ainda em Castro, quando o prefeito se prepara para falar olha o tamanho imenso do discurso e, pensando na longa viagem a fazer, toma o papel da mão do burgomestre justificando “você não vai me roubar o prazer egoísta de curtir pessoalmente essa página inspirada, como sempre de alto valor!”. Há pessoas austeras como o estadista Parigot de Souza em que o humor é peça didática quando, por exemplo, se inaugurou o edifício suntuoso do Tribunal de Contas ao observar que certamente os governantes tinham um discutível sentido de prioridade com aquele

Humildade como arma Jaime Lerner tem algumas sacadas. Dizem que muitas delas produzidas por seus seguidores de batidinhas e bolinhos de arroz no Passeio Público nos tempos do Bar do Pasquale. Como era citado seguidamente, quando no PDT, como uma das principais expressões e comparado à liderança de Leonel Brizola intervinha: “O engenheiro é um carismático e eu sou um cara asmático”. E às vezes para acentuar mostrava a bombinha para recuperar o oxigênio. Durante algum tempo escrevi quase diariamente artigos críticos em relação à sua atuação como prefeito (quando governador seus áulicos impuseram-me por quatro meses o silêncio obsequioso nas transmissões da CBN-Curitiba) e num determinado momento elogiei determinada providência que ele tomara. Um dos seus assessores levou-o a boa nova e Lerner, sem ver de que se tratava, reclamou o direito de resposta. Assimilei a estocada pela sutileza. Uma ocasião num coquetel Lerner vibrava com o fechamento do “Correio de Notícias” com uma frase que não ocultava ressentimento: “Era um jornal tamanho standard que não pegou, passou a tabloide não adiantou e só não virou selo porque não colou!” O Correio, tempos depois, iria ajudar em 1985 a derrotá-lo em favor de Requião. Como lamento qualquer fechamento de jornal, tasquei: “Quem nasceu para Jaime Lerner jamais chega a Jaime Ovalle!”. Esse um dos maiores frasistas do Brasil.

luiz geraldo mazza é jornalista.


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Reportagem

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IML A reportagem da Revista Ideias foi até o IML e constatou o horror em que se transformou o local M B F Á A

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m homem assassinado dentro de um carro, em uma rua escura do centro da cidade. O crime aconteceu no início da noite. Rapidamente, a polícia, os peritos criminalistas e o Instituto Médico-Legal chegaram ao local. Enquanto alguns policiais conversavam com as testemunhas, uma outra equipe colhia impressões digitais e fotografava todos os detalhes do local de morte. As cápsulas apreendidas no local foram recolhidas para ser analisadas no exame balístico. Essa parece uma forma ideal da polícia desempenhar o seu trabalho, mas infelizmente, é apenas a reprodução de uma cena do seriado americano CSI (Crime Scene Investigation). A realidade é diferente. Faltam policiais, e os que têm, fazem o trabalho com dificuldade e dificilmente chegariam rapidamente no local, pois é praticamente impossível ter duas equipes para trabalhar em um único caso. No Instituto de Criminalística os peritos estão sobrecarre-

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gados e assim como todas as outras instituições que integram a Secretaria de Segurança Pública, com os veículos sucateados. Mas o pior de tudo é o serviço prestado pelo IML. O rabecão costuma chegar ao local da morte pelo menos duas horas depois de ter sido chamado. Mas ultimamente, esse tempo chegou a ser triplicado, pois além de efetivo, faltam carros. E depois que o corpo é recolhido outro desgaste para os familiares que ficam horas aguardando o corpo ser liberado do exame de necropsia. Sem contar que o risco dele ser extraviado é bem considerável. Quem vê toda esta dificuldade pode achar que é muita exigência, baseada em um seriado de televisão, mas não é. Toda esta deficiência implica diretamente na qualidade da investigação. Ou seja, se o inquérito for mal feito no início, provavelmente não terá condições de se sustentar até o final do processo.

HORROR No início de março, o Jornal Tribuna do Paraná conseguiu com exclusividade entrar

no IML e fotografar as câmeras frias lotadas de corpos não identificados. A geladeira, que mais parecia um depósito de cadáveres, estava lotada de sacos pretos. Alguns arrebentados e com os ossos dos mortos à mostra. Como eles não possuíam identificação, os defuntos eram catalogados e o número de registro anotado em uma etiqueta adesiva, que facilmente poderia desgrudar-se do saco plástico, principalmente porque da maioria dos corpos escorre o necrochorume, uma mistura de sangue com uma substância viscosa, com coloração acinzentada, que saem do corpo quando ele entra em estado de decomposição. Segundo cientistas a composição é 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas, altamente tóxicas. Para evitar que, além do mal cheiro, o líquido ganhasse outras dependências, funcionários improvisaram uma vedação. Colocaram uma toalha vermelha embaixo da porta. Alguns dias depois das denúncias, os corpos foram em estado de urgência enterrados. Em 20 dias mais de 100 foram mandados para a cova,


no entanto, uma pergunta não quer calar. Para onde vai o necrochorume dos corpos que passam diariamente pelo instituto? Segundo relatório apresentado pelo diretor da entidade, a Comissão de Diretos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a bomba que separa o necrochorume da rede de esgoto estava estragada, e não soube explicar para onde a substância estava indo. Para a vice-presidente da comissão, Izabel Kugler Mendes, o maior problema não é o acúmulo de corpos, que rapidamente foi resolvido, mas sim, a falta de conhecimento dos riscos que podem ser causados caso o necrochorume esteja sendo lançado na rede de esgoto normal. “Se isso estiver acontecendo, o problema do IML ganha proporções muito maiores, pois deixa de atingir somente as pessoas que estão relacionadas diretamente, para chegar até as casas das pessoas, principalmente as mais pobres que moram na região ribeirinha”, explicou.

VISITAS Em menos de 20 dias, a Comissão de Direitos Humanos visitou duas vezes as instalações do IML. Na primeira, foram levantadas

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Izabel Kugler Mendes vice-presidente da Comissão de Diretos Humanos da OAB: “foi a primeira vez que vi corpos amontoados sem nenhum respeito”

todas as irregularidades, e na segunda, todas as iniciativas que já haviam sido tomadas. Izabel destacou o acúmulo de corpos como sendo algo abominável. “Nos filmes de guerra as vítimas são jogadas em uma vala e sepultadas, em outros casos, os corpos são queimados, mas amontoados, sem nenhum respeito, foi a primeira vez que vi”, contou.

FALTA Na segunda visita muitas coisas já tinham

NECROCHORUME PODE ESTAR SENDO LANÇADO NA REDE DE ESGOTO NORMAL sido feitas. Mais de 100 corpos haviam sido enterrados, e também havia a confirmação da locação dos novos carros. “Percebemos a boa vontade tanto da diretoria do IML quanto da Secretaria de Segurança Pública em corrigir um problema histórico. Sabemos que essa situação já existe há mais de 30 anos, e não é do dia para a noite que tudo vai ficar bem. Mas se as iniciativas forem sendo tomadas, temos certeza que em breve tudo será resolvido”, completou.

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s cenas de terror do Instituto Médico Legal chocam porque o que está sendo tratado com descaso pelo poder público é o corpo de um cidadão, indiferente de como ele conduziu a sua vida, e o motivo da sua morte. No Instituto de Criminalística (IC), o problema é muito parecido, mas o que é tratado com descaso é o material apreendido para ser periciado, que pode ajudar na investigação criminal e ser fator determinante em uma condenação ou absolvição. A diretora da divisão técnica da capital, Joice Malakoski, disse que o maior problema do IC é a deficiência de pessoal, tanto peritos criminais como auxiliares de perícia. Em todo o Estado são 172 peritos, que atendem os 399 municípios. Uma média de dois municípios para cada profissional. Essa média inclui cidades como Curitiba, Maringá, Londrina Cascavel, Foz do Iguaçu, entre outras. A falta de auxiliares de perícia, auxiliares administrativos, entre outros, dificulta o trabalho do perito. “Um serviço de checagem, por exemplo, conferir chassi adulterado, tirar o painel de um carro ou a forração de uma porta. Tudo isso pode ser feito por um auxiliar, no entanto, é o perito que tem que fazer, e isso faz

com que o trabalho fique com tempo reduzido”, explicou Joice.

SETE ANOS SEM MANUTENÇÃO Outro problema que ela enfrenta é a falta e a manutenção de todos os veículos. “Há mais de sete anos não há renovação da frota. Em todo esse tempo só foram realizadas manutenção, no entanto, esse ano ainda não foi liberado orçamento, e só é autorizada a manutenção emergencial”, contou. DEPÓSITO Na sede da Avenida Visconde de Guarapuava tudo o que é levado para ser periciado entra em uma fila, que segundo o secretário de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César, já conta com mais de 10 mil laudos pendentes. Computadores, notebooks e celulares apreendidos são mais de três mil. Estes aparelhos foram apreendidos em casos de fraudes contábeis, pedofilia e outros tipos de crimes. Muitos já estão arquivados há mais de dois anos. Em todo esse tempo, alguns processos já prescreveram, outros já foram julgados sem o juiz receber o laudo. Mas o maior problema são as armas apreendidas. O número exato não foi divulgado para não despertar o interesse de bandidos, mas sabe-se que pode passar de cinco mil. “Já pensamos em fazer um mutirão, mas esbarramos por falta de pessoal e também de equipamentos. Atualmente temos 12

peritos lotados na área balística forense. Eles se revezam para o plantão, mas o problema maior é quando eles têm que se revezar para usar o aparelho de comparação balística. Temos apenas um, que vive em manutenção”, explicou. O aparelho custa aproximadamente R$700 mil, e pelo visto não está nos planos da secretaria de Segurança adquirir mais algum desses. Para resolver todos os problemas, Joice disse que seria necessária a contratação imediata. “Em 2007 tivemos um concurso, e em 2009, 80 novos peritos foram contratados. Mas esse foi o primeiro concurso em 15 anos. Nesse período, 74 peritos se aposentaram. Ou seja, o número de profissionais permanece o mesmo há quase duas décadas”, completou. A diretora, mesmo com todas estas dificuldades é otimista. Ela acredita que agora que o governo do Estado viu a realidade do IML e de toda a polícia Científica, algumas medidas possam ser tomadas. “Sou otimista, mas tenho um pé na realidade. Todas as iniciativas do governo esbarram na Lei de Responsabilidade Fiscal. Sei que não vão nos atender no todo, mas mesmo que seja uma pequena parte, pode ser uma luz no fim do túnel. Não tem como sair de uma solução sufocante e ir para o ótimo”, comentou Joice. Ela disse ainda que de nada adiantaria receber equipamentos novos se faltam profissionais. Para ela é fundamental que seja feito um planejamento estratégico e trate as prioridades como tal. maio de 2011 |

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Passo a passo Diariamente o IML recebe para necropsia corpos de pessoas vítimas de morte violenta, em Curitiba e outros 28 municípios da região metropolitana, ou seja, homicídios, latrocínios, acidentes de trânsito, afogados, queimados, vítimas de queda, suicídios, e alguns casos que têm a causa da morte não esclarecida. As vítimas de morte natural, seja em residências, na rua ou nos hospitais são recolhidas diretamente pela funerária, depois que for expedido o atestado de óbito por um médico, particular ou do sistema público. Os corpos que dão entrada no IML passam pela necropsia, e quando são identificados, em no máximo 24 horas são liberados para a família fazer o sepultamento. Porém, as pessoas que foram encontradas sem documentos de identificação, ou que não

foram procuradas por familiares, ficam guardadas nas “geladeiras” do instituto. O prazo máximo para estes corpos ficarem guardados é de 30 dias, depois disso, com uma autorização judicial podem ser enterrados. De acordo com alguns funcionários, algumas vezes as famílias procuram pelos parentes depois que eles já foram sepultados como indigentes. Por isso, os cadáveres são fotografados antes de ser enterrados. A partir das imagens, os parentes fazem o reconhecimento e entram com processo para oficializar o óbito. Eles podem então escolher outro local para fazer novo enterro. Na câmera fria do IML foram encontrados corpos de 2008. Até agora ninguém deu uma explicação convincente por que motivo os corpos não foram sepultados.

Funcionários improvisam proteção para suas roupas. Para evitar que, além do mal cheiro, o líquido ganhasse outras dependências, funcionários improvisaram uma vedação. Da maioria dos corpos escorre o necrochorume, uma mistura de sangue com uma substância viscosa, com coloração acinzentada, que saem do corpo quando ele entra em estado de decomposição

Cronologia - A decadência do IML em 8 anos 2002 Funcionários do IML e do IC entram em greve e milhares de exames de toxicologia e química geral deixam de ser realizados. O motivo da paralisação era a exigência de um plano de cargos e salários e equiparação salarial. Na época 280 peritos em todo o Estado aderiram à paralisação, sendo 130 só em Curitiba.

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Por conta da falta de motoristas para os rabecões, o governo do Estado, em caráter emergencial, cedeu 13 bombeiros para suprir a necessidade. Além disso, contratou 10 digitadores temporários para normalizar a confecção de laudos no IML. Como desculpa para a demora no recolhimento dos corpos, a informação era de que dos cinco rabecões, dois estavam no conserto. Também em caráter emergencial o governador autorizou a contratação de 42 funcionários temporários pelo prazo de 180 dias.

2005 Em janeiro, 39 funcionários temporários começaram trabalhar. Treze motoristas e 26 auxiliares administrativos foram selecionados entre 182 candidatos. A última contratação

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havia sido feita em 1994, quando foram admitidos temporariamente três assistentes sociais e duas telefonistas. Além da falta de funcionários, o IML já tinha os problemas enfrentados hoje em dia. Em janeiro daquela ano, 29 corpos aguardavam identificação acomodados na câmera fria.

2006 Em agosto de 2006, uma viatura do IML, por conta da falta de manutenção, resultou em um capotamento e perda total do rabecão. O motorista, que não se feriu, disse que apesar de várias solicitações para troca, os pneus traseiros da viatura estavam carecas. Com o impacto do capotamento, o cadáver que estava sendo transportado voou para fora do camburão, criando uma situação constrangedora.

2007 Em julho de 2007, um corpo levou 12 horas para ser recolhido ao Instituto Médico-Legal. Enquanto o município e o Instituto de Criminalística não decidiam se o homem, que apresentava alguns hematomas pelo corpo, tinha sido vítima de morte natural ou não, a família tinha que esperar pacientemente com o cadáver dentro de casa.

2008 Em fevereiro foi decretada a intervenção militar no Instituto Médico Legal. Bem aos moldes do militarismo, várias regras foram impostas. A imprensa foi cerceada e as funerárias impedidas de adentrarem com os veículos no estacionamento do IML. O objetivo, segundo os interventores, era melhorar a qualidade no atendimento as famílias, mas a mudança ficou somente nas regras. Nos dois anos de intervenção, o sucateamento da instituição foi evidente, mas de certa forma ficou mascarado atrás das delimitações dos militares. Quando a direção passada para um profissional da área, a realidade veio à tona, e o caos, escancarado para toda a sociedade através da imprensa. Em março, dois motoristas do IML foram presos, suspeitos de tentar extorquir R$ 600,00 de uma família para encaminhar o corpo de uma senhora a uma funerária de Curitiba. A prisão aconteceu no pátio da instituição e alguns dias depois, por falta de provas, eles foram colocados em liberdade.

2009 Um ano depois da intervenção, a fachada estava pintada e o estacionamento funcionando


O RAbeCãO COstumA ChegAR AO lOCAl dA mORte pelO menOs duAs hORAs depOis de teR sidO ChAmAdO

perfeitamente, mas os “incêndios” continuavam a acontecer. Uma família denunciou que levou sete meses para conseguir liberar um morto e sepultá-lo. Algo jamais visto na história do instituto. Já nessa época, a imprensa denunciou que haviam mais de 40 corpos não identificados, amontoados nas câmeras frias. No entanto, nada foi confirmado, pois havia a censura imposta pela intervenção militar. E todas as informações eram blindadas.

2010 Uma determinação da direção do IML estipulou que os veículos de imprensa não poderiam mais ter acesso ao pátio do órgão no período noturno e durante a madrugada. Os relatórios com os nomes das vítimas de mortes violentas só poderiam ser divulgados a partir das 6h até as 20h. O motivo, segundo a direção, era o abuso de alguns profissionais que chegavam a pernoitar no pátio, causando constrangimento às famílias de vítimas. Como a Secretaria da Segurança Pública (Sesp) não divulga dados freqüentes sobre o número de mortes violentas, a listagem do IML é a principal fonte da imprensa.

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Entrevista

urante uma entrevista exclusiva, o secretário de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César, falou sobre o Instituto Médico-Legal, o Instituto de Criminalística, Instituto de Identificação e todos os projetos que a Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública) tem para estas instituições. Ele disse também que medidas emergenciais já foram tomadas e que a união dos profissionais é fundamental para que a transformação aconteça. Acompanhe: Com todos os problemas enContrados no Iml, qual o raIo X que o senhor faz dessa InstItuIção? O IML é uma das mais importantes unidades da estrutura da Sesp. Primeiro por estar incumbido da parte da perícia, que é fundamental no curso da investigação criminal. Uma boa sentença penal, seja condenatória ou absolvição, é fruto de um bom inquérito policial, e isso só é possível se ele tiver boa produção da prova. Toda perícia é fundamental para o julgamento da ação criminal. E se o órgão estiver estruturado, com perícia química, toxicológica e médica legal, o núcleo da realidade dos fatos, a materialidade, e até a autoria, contribuirá para que o juiz tenha mais condições de emitir um parecer próximo da verdade. Em segundo lugar, o IML é o órgão que presta serviço para a comunidade. Na nossa sociedade cristã, as pessoas têm o direito de ter com rapidez a liberação do corpo, e o IML precisa ter capacidade para fazer o trabalho necessário da medicina legal dentro do tempo estabelecido. Já temos um diagnóstico de que é preciso fazer investimentos imediatos, além de outros a curto, médio e em longo prazo. Como serão estes InvestImentos? O IML faz parte de uma espécie de cadeia produtiva. Por exemplo, quando acontece um homicídio, a Polícia Militar é chamada unicamente para isolar a área e pegar as informações preliminares e acionar o Instituto de Criminalística. O IML, na figura do rabecão, também é acionado e geralmente chega junto com o perito criminal ao local. Nesse meio tempo, a Delegacia de Homicídios já foi chamada e também o Instituto de Identificação, representado pelo perito papiloscopista. Cada um faz o seu trabalho no local até o cadáver ser recolhido e levado para a sede do IML, onde um médico legista aguarda para fazer o seu trabalho. Se um elo desta corrente estiver com problemas, tudo pode dar errado. Já temos confirmada a locação de 25 novos carros para as 17 sedes do IML no Para-

ná. Os veículos devem chegar nos próximos 40 dias, além disso, precisamos de profissionais. Peritos, auxiliares, motoristas e médico legistas, além de outros que entram nesse processo de produção. tudo demanda InvestImento, mas há outros projetos que vão ContrIbuIr no trabalho desenvolvIdo no Iml? Temos um projeto, que está bem próximo de se tornar realidade, que é a criação de uma divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, nos moldes da DHPP, que existe em São Paulo. O delegado geral Marcus Vinicius Michelotto já esteve lá, entendeu como a divisão funciona e deverá implantar por aqui. A nossa intenção é diminuir os crimes contra a vida e contra o patrimônio, neste caso o latrocínio, que é o roubo seguido de morte. Outro projeto, que já está em fase final, é a parceria da Sesp com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), onde acontecerá uma mudança de local para exames relacionados a crimes sexuais. O IML, pela função que desenvolve, é um lugar mórbido e tenso, e as vítimas de crimes sexuais geralmente chegam abaladas, traumatizadas, e a presença nesse ambiente não é agradável, e totalmente dispensável. A nossa ideia é fazer com que as vitimas de crimes sexuais sejam atendida em hospitais, sob o cuidado de um perito no local. Como fazer para reCuperar o Iml? Temos que devolver a capacidade de atuação do IML, de forma rápida, com condições de trabalho. Não me interessa de quem é a culpa pelo sucatemaio de 2011 |

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amento. O que me interessa é que temos que correr contra o tempo para transformar essa instituição. Quando recebo críticas dos funcionários, de especialistas e até da imprensa, não me abalo, levo tudo isso como diagnóstico. Atualmente, as 17 sedes estão passando por problemas parecidos. A nossa primeira providência foi acabar com a intervenção militar. Devolvemos o IML aos profissionais especializados, e a nomeação de uma pessoa da área, como é o caso do médico Porcídio Vilani, é a demonstração que temos um projeto grande de recuperação, e isso passa pela questão material e funcional. Na questão material vamos construir o novo IML, uma obra de mais de R$13 milhões, e que o projeto já está pronto desde junho do ano passado. No entanto, esse valor não foi colocado no orçamento que fechou em setembro. A intenção é que em no máximo um ano a obra esteja concluída. Onde será cOnstruídO O nOvO IML? O novo prédio do IML será construído na Vila Izabel, em um terreno em frente à Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos. Na verdade o projeto é maior. Tanto a DFRV, quanto a Escola de Polícia Civil e o Grupo Tigre, serão relocados. A escola deverá ser construída no Guatupê, ao lado do Laboratório Central, onde temos a intenção de fazer um complexo de segurança pública. Será construída uma área de formação de bombeiros e a Escola de Polícia Civil. A DFRV e o Grupo Tigre ainda não têm o local exato. E na Vila Izabel será construída a sede da Polícia Civil, com os gabinetes do delegado geral e alguns departamentos, além é claro do Instituto de Criminalística, Instituto de Identificação e o IML. Uma edificação moderna, e funcional. A Polícia Civil tem 157 anos e até hoje não possui uma sede própria. Atualmente são pagos mais de R$200 mil de aluguel. O edital de licitação para estas obras deve ser lançado nos próximos dias. O projeto do IML, que já está pronto, obviamente deve ser mais rápido. ALéM de uMA nOvA sede, há prevIsões de ALterAçãO nO quAdrO funcIOnAL, e nA recuperAçãO de MAterIAL e equIpAMentOs? A questão de pessoal e de material faz parte do nosso projeto de estruturação. Já estamos na fase final da locação de 25 rabecões. Não tem como conceber um carro que atende a comunidade ter rodado mais de 800 mil quilômetros e estar nas condições em que se encontram. Todas as 17 unidades receberão carros locados. O contrato já está sendo assinado e no máximo até o final de maio já devem estar em uso. Isso faz parte do investimento imediato, assim como a recuperação das condições de trabalho. Tudo o que significar investimento em tecnologia e mo-

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dernização, temos que fazer. O cromatógrafo, por exemplo, um aparelho que virou figura recorrente, mas extremamente necessário para a realização dos exames toxicológicos. Temos apenas uma unidade, que passa por manutenção permanente e frequentemente não está em condições de uso. O governador já sabe dessa necessidade e vai nos autorizar comprar duas unidades. Além disso, vamos entrar em contato com a secretaria Nacional Antidrogas e ver se ela consegue rever recursos para adquirimos outras duas unidades. Dessa forma, teremos cinco cromatógrafos no Paraná. Duas máquinas devem ficar em Curitiba, e as demais espalhadas nas sedes do interior do Estado. Com isso evitamos que todo o material que precisa ser analisado venha para a capital. Esse aparelho é muito importante, pois o que se percebe é que estamos com falta de segurança jurídica. Por exemplo: O preso está na cadeia e o prazo para a emissão do laudo do exame toxicológico já expirou, com isso, os advogados de defesa podem confiantemente pedir habeas corpus, e o problema vai parar na mão do juiz, que fica na dúvida de qual decisão tomar. nA questãO funcIOnAL. quAIs sãO As MedIdAs A sereM tOMAdAs? Vamos fazer uma recomposição do efetivo. Faltam médicos legistas, auxiliares, motoristas, e tudo de forma emergencial. Vamos contratar, e em um segundo plano preparar um concurso para suprir todas as necessidades de profissionais. Caso seja possível, vamos chamar os aprovados em concursos anteriores, que ainda estejam no prazo vigente. Além disso, será examinado o plano de cargos e salários. Esse é um projeto que demanda a iniciativa do governo, mas também estamos aguardando o julgamento de uma ação que pode reverter a criação da Polícia Científica, que aconteceu em 2001. Até então as polícias científicas não eram unidas em um órgão único. O governo da época tomou a iniciativa, unificou as polícias e criou o Instituto de Criminalística, mas não se preparou pra isso, não se estruturou, simplesmente assinou um documento. Nosso objetivo não é tomar decisões arbitrárias. Vamos ser democráticos e ouvir os peritos criminais, os médicos legistas e os papiloscopistas, o delegado geral, para depois sim tomar uma iniciativa. Existe uma proposta de criar um Instituto Geral de Perícias, que vai agregar todas as especialidades, mais ainda é um projeto. Não podemos tratar diferente quem tem as mesmas atribuições, e para resolver um problema, precisamos estar unidos, se cada um seguir para uma direção diferente, apesar dos esforços, não vamos melhorar muita coisa. Queremos agilizar o processo de conclusão do

Estatuto da Polícia Civil, afinal essa é uma reivindicação antiga. quAIs sãO Os prAzOs pArA que tOdAs estAs Ações sejAM reALIzAdAs? Como eu disse, algumas medidas no IML são imediatas. Outras precisam passar por uma burocracia básica e podem ser resolvidas entre 60 e 90 dias. Fizemos um cronograma e trabalhamos com prioridades. Dos 120 corpos que estavam amontoados, 80 já foram liberados e enterrados. Nos próximos dias tudo será resolvido. Além disso, a locação dos 25 rabecões, a contratação de servidores, e o conserto de uma bomba do esgoto. São medidas inadiáveis. Temos que dar uma resposta rápida para a Vigilância Sanitária, a Sanepar, a OAB e até a imprensa, mas principalmente para a sociedade que utiliza os serviços do IML. A nova sede deve levar no máximo 12 meses, e eu quero ter o prazer de ver essa obra concluída, seja como secretário, se ainda ocupar esta função, ou como cidadão. As outras sedes do IML no Estado e demais mudanças estruturais, estão orçadas para o restante do tempo de governo. O AcúMuLO de cOrpOs nO IML chAMOu A AtençãO dA sOcIedAde, MAs O InstItutO de crIMInALístIcA enfrentA uM prObLeMA pArecIdO cOM O AcúMuLO de MAterIAL pArA perícIA, IncLusIve ArMAs de fOgO. quAIs sãO As MedIdAs pArA resOLver Os prObLeMAs desse OutrO órgãO? Sei da importância do perito criminal. É praticamente impossível o juiz julgar bem sem ter material consistente colhido durante a investigação. A sentença é condicionada a qualidade da produção das provas. Ou seja, se uma arma é apreendida e demora dois anos para ser feito um exame balístico, é esse o tempo em que a prova levará para ser anexada no inquérito. Em muitos casos os processos já foram julgados, baseado em suposições. Sabemos que existe o acúmulo de laudos atrasados. Recebi a informação de que são mais de 10 mil. Temos a intenção de fazer um grande mutirão de peritos, e caso isso não seja possível por conta da falta de profissionais, vamos fechar convênios com outras instituições, como a UFPR, ou a UTFPR, em caráter emergencial. É fato que existe uma desunião e os profissionais precisam de uma força ideia. Ainda não sabemos se o diretor vai continuar ou se ele será substituído, mas de qualquer forma, precisam estar unidos, mesmo com todas as dificuldades humanas, materiais, financeiras. Precisamos de um projeto, e quem vai me apresentar serão os peritos. Nessa história toda eu sou apenas um advogado da Segurança Pública que intercede junto ao governo. Precisamos sensibilizar o governo para conseguirmos investir na Segurança Pública.


Luiz Fernando Pereira

Cuba e o homem novo

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epois de mais de uma década da primeira visita, voltei a Cuba. O regime está esfacelado. Funcionam duas economias paralelas: a oficial, em pesos cubanos; a real, em CUC, moeda convertible, equivalente ao dólar. Os salários oficiais são pagos em pesos cubanos – que servem para comprar apenas os “insumos” racionados das tablitas. Todo o resto está vendido apenas na moeda convertible, na proporção de um CUC para vinte e cinco pesos cubanos. Isso provoca uma corrida insana de todos os cubanos por CUC’s. Os taxistas cobram por fora, lesando a Cubacar, a estatal. Em todas as tiendas estatais os cubanos tentam vender produtos “fora de catálogo”. Há uma grande evasão de professores, migrando para o incipiente mercado privado, oficial ou clandestino. Os médicos colocam a família para vender produtos farmacêuticos no mercado paralelo. Um vale-tudo generalizado e compreensivelmente egoísta atrás da própria sobrevivência. Vendo aquilo tudo, lembrei de uma entrevista do Saramago, pouco tempo antes de morrer. À Revista Ler, portuguesa, o Nobel de literatura disse que tinha sempre desconfiado da criação do homem novo (naturalmente bom e altruísta), pressuposto antropológico do comunismo. Cuba criou um homem novo, mas bem distante daquele idealizado por Che. Como é que se acreditou nesta maleabilidade da natureza humana durante tanto tempo? Não devemos culpar Che, é claro. O problema

original está em Rousseau, com sua história do “homem bom por natureza”, corrompido pela sociedade. Um século depois, Marx e Engels negaram as condições naturais da existência social do homem. Mais um século adiante e Mao concluiu que o homem era uma folha de papel em branco – a ser bem moldado em tempos de comunismo. Isso tudo impulsionou Che a dizer que “para construir o comunismo, simultaneamente com a base material tem que se fazer o homem novo”. Acreditando em Che, Fidel queria antecipar a abolição do dinheiro (o homem novo, bonzinho, não precisava...). Mais ou menos pelos mesmos ideais, Giovanni Rossi e os anarquistas da nossa Colônia Cecília deixavam o dinheiro de todos em uma lata da comunidade. Até que um espanhol levou a lata embora e mostrou a todos que bellum omnium contra omnes ou o homem é o lobo dos homens (Hobbes, um século antes de Rousseau). Na Havana que eu vi agora, está todo mundo levando a sua própria lata para casa. Tem prevalecido por lá uma sombria perspectiva da relação intersubjetiva, como imaginava Hobbes. É rica a história de perseguição dos comunistas à turma de Freud ou aos darwinistas. Eram vistos como instrumentos de negação do pressuposto antropológico do comunismo (embora Marx tivesse flertado com o darwinismo no começo). Realmente não podiam aceitar a psicanálise. Falando das pulsões, Freud desmentia Marx: “a agressividade não foi criada pela propriedade”. No “Mal Estar

da Civilização” mostrou que as premissas psicológicas do comunismo eram uma ilusão insustentável. Os comunistas devolviam com a velha saída conspiratória: os capitalistas malvados haviam ideologizado a psicanálise para combater o comunismo. Acusações parecidas reservavam aos seguidores de Darwin, a ponto de terem criado uma das figuras mais bizarras da ciência moderna: Trofim Denisovich Lyssenko, o pai do evolucionismo marxista-leninista. Lyssenko, biólogo ucraniano dos tempos de Stalin, quis dar compatibilidade teórica entre o evolucionismo e o comunismo, temperando os aspectos nefastos de Darwin para o pressuposto antropológico do sistema: o homem novo e bonzinho. Mudava o ambiente para produzir plantas boas por natureza. Tudo para confirmar Marx. Eles sim ideologizaram a biologia. Coisa esquisitíssima. Alguém pode dizer que tudo isso é matéria vencida. E de fato é mesmo. Mas vendo tudo aquilo acontecer em Havana foi só o que me ocorreu: a entrevista de Saramago, Lyssenko, Mao. Um dia isso tudo será apresentado aos nossos netos como hoje nos apresentam, por exemplo, a história das ideias dos visigodos. É triste apenas que cem milhões tenham morrido em nome da construção do homem novo.

luiz Fernando Pereira é advogado. maio de 2011 |

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Ciro Correia França

O dia em que chamei o polaco Washington de fdp!

U

áxintão. Era assim que pronunciavam o nome do craque Washington nos domínios do saudoso estádio Franklin Delano Roosevelt, do Juventus, esquadrão conhecido como O Fantasma do Batel. E quem conheceu o látero-canho do poderoso “onze” do Junak sabe que desabonar a progenitora dele, como eu, que de forma descabida e sobretudo irresponsável, ousei, equivalia a prematurar o óbito. Para que o leitor amigo possa mensurar o risco do tresloucado gesto que cometi é preciso dizer que o Uáxintão tinha mais ou menos 1,90m de altura e por volta de 1,30m de largura. Sim, largura mesmo, não envergadura. Suas pernas eram rijos pilares cilíndricos, ornados com tufos de grossas cerdas à guisa de pelos, com panturrilhas que mais pareciam atlantes a sustentar a arquitetura do notável tronco sansônico. Some-se a essas qualidades físicas, uma característica psíquica do portento polônio: tinha temperamento assim… mercurial. Por qualquer contrariedade, muito pouca mesmo, ficava roxo e seus olhinhos míudos faiscavam com ira draconiana. Em suma, era brabo, muito brabo e, por isso mesmo, temido, muito temido. Diz a lenda que o Uáxintão foi proibido pela Federação de cobrar pênaltis depois que um goleiro desavisado, ao encaixar na caixa torácica a penalidade máxima cobrada por ele, caiu mortinho da silva, com os olhos esbugalhados, agarrado ao capotão murcho da pelota, que explodiu. Há relatos que antecedem essa fatalidade, dando-nos conta de que, em outra ocasião, antes de bater um pênalti, Uáxintão deu aquela corridinha sem sair do lugar, para esquentar os músculos, depois tomou uma boa distância e encheu a pata com tamanha disposição que a bola perdeu a sua “esfericidade legal” (como percebeu certa vez um narrador carioca

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ao descrever um petardo do Pepe) e arrancou o travessão da cidadela adversária ao atingi-la com violência antiesportiva. Pois deu-se que eu, meninote de meus onze-doze anos, depois de receber 35 dribles do Uáxintão, que brincava com a bola enquanto não começava a peleja Juventus versus Celeste, contrariado olhei bem para a cara de Gengis Kahn dele (lembrava o Jack Palance), e com todas as letras bradei: Seu fdp!!! O que sucedeu, amigo leitor, foi assustador… A primeira reação do portento foi de estupor. Depois seu rosto foi ficando roxo, suas narinas dilataram-se como as de um potro laçado, desandou a tremer todo e seu peitoral inflou-se com uma profunda inspiração… os olhinhos miúdos, leitor amigo, ficaram parecendo dois pontos de fogo encravados na caraça quadrada. Da sua boca começou a escorrer uma baba de conotação rábica, misturada com uma palavra que iniciou agudíssima, num falsete em vibrato e, à medida em que foi sendo completada, foi tomando vigor sonoro até ribombar como um relâmpago ensurdecedor...

A essa altura do campeonato eu já tinha dado as de Vila Diogo no rumo do bosque de gabirobeiras que ficava atrás da trave de fundo do campo, e ouvia o som cavo das passadas pesadas do velho Uáxintão me perseguindo. Hoje, quando evoco a cena, é inevitável associar a figura do meu perseguidor com A Coisa, aquele herói alaranjado, de pedra, do desenho animado, que vive correndo atrás de alguém.

Como um “Panzerkampfwagen” (aquele tanque de guerra alemão) Uáxintão empreendia uma perseguição implacável contra a minha frágil pessoa. As travas da sua chuteira - contaram-me depois - arrancavam leivas do gramado a cada passo que dava. A perseguição durou bem uns dez intermináveis minutos e só mesmo a minha serelepitude infanto-juvenil salvou-me de purgar um exemplar corretivo. Não foram poucas as firulas e as gingas que desenvolvi para escapar do Uáxintão. Socorreu-me também, é preciso que seja dito, o benemérito “seo” Pedro, gerente da velha sede do Juventus, com seus gritos de incentivo: “Corra, meu filho! Corra que se ele te pega é só pena que voa!!!” Passados cinquenta e poucos anos deste acontecido, ainda hoje sofro de um pesadelo recorrente, no qual corro desesperadamente sobre dois trilhos e não consigo sair do lugar... Na minha cola a figura do Uáxintão, vindo como um trem-bala. A propósito, “skurwysyn”, em bom polonês, é xingamento de nome de mãe - o nosso tão conhecido fdp - que proferi indevidamente e que o Uáxintão devolveu com justificada ira. Que o bom Deus o tenha!

Ciro Correia França colunista da Revista Ideias.


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Carlos Alberto Pessôa

Eu, rato de biblioteca&livrarias

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dor, e nada! PQP! Voltei à Saraiva e o que encontrei sem querer? O dito cujo! (É claro que o computador não poderia guardar título inexistente, pois batuquei economistas brasileiros... omiti, por esquecimento, a palavra conversas. É já o “mal de Alzheimer”?) Lá mesmo fui direto à entrevista com o Delfim. E quase explodi numa gigantesca gargalhada com o seguinte trecho: os entrevistadores perguntaram: - Na faculdade também havia uma divisão entre capitalistas e socialistas? Resposta do Delfim: - Ah, sim. Na verdade eu acho que as pessoas eram separadas entre os que tinham lido algum livro sobre teoria dos preços e outros que não tinham lido nada. Os que não tinham lido nada eram muito favoráveis ao socialismo, como até hoje (grifo meu, CAP). E os que tinham um conhecimento de teoria dos preços tinham uma certa desconfiança quanto ao seu resultado. É claro que o caro leitor não precisa que eu explique a razão da gargalhada, mas é talvez interessante explicar esse negócio da teoria dos preços. Grosseiramente é possível dizer que os socialistas não levam os preços a sério... O que é uma pena... Pois sem preços não há economia ou não há decisões econômicas razoáveis; apenas decisões administrativas. Ou decisões políticas. Quase sempre desastrosas como provam à náusea a finada URSS, o igualmente finado leste europeu e os estertores do regime dos irmãos Castro, que transformaram a bela ilha de Cuba numa pobre&irrespirável hacienda privada. Carl Spitzweg, O ratO de bibliOteCa, 1850

F

ui já rato da Biblioteca Pública do Paraná; peguei os tempos do velho Milton Carneiro, não confundi-lo com Newton Carneiro: Milton escreveu curiosíssimo livrinho, PROCISSÃO DE EUS, título que é verdadeiro achado; era figura carimbada nas salas de leitura. Com o tempo, a biblioteca foi assaltada por hordas de meninos que vão lá estudar e ocupar todas as mesas; com o tempo passei a morar um tanto longe dela; com o tempo o trajeto de onde moro até a BPP e vice-versa tornou-se pra lá de perigoso. E deixei de frequentá-la. Fui já rato de livrarias de Curitiba. Um espanto. Os livros me deixavam literalmente excitado. Atenção, cara pálida! Não é nada disso que você está a pensar. Excitado mentalmente, não excitado lá embaixo, nos países baixos, aqueles. Sacou? Entrava na velha Ghignone, na frente da finada Schaffer, no final da quadra que precede a Barão, e quando dava de cara com algo que procurava há muito, ficava quase em estado de choque, na iminência de um ataque. Coisa de louco. - E o alvoroço, em casa, ao abrir os pacotes? E querer ler todos os livros ao mesmo tempo? Sem esquecer os que estavam já meia rédia, em andamento. Com o tempo domei minha ansiedade e hoje entro em todas as livrarias sem sobressaltos, os batimentos cardíacos como em estado de repouso, as mãos secas, velho turista que retorna aos seus locais de amor&perdição. Sou um forte... Outro dia, a flanar pela Saraiva, no Crystal, dei de cara com um livro para mim de bastante interesse: “Conversas com Economistas Brasileiros”. O primeiro volume, organizado pela trinca Ciro Biderman, Luiz Felipe Cozac e José Marcio Rego, está já em segunda edição.

Levado ao ar pela editora 34, abriga papos que vão do Roberto Campos ao Eduardo Giannetti da Fonseca. Passando pelo Delfim, Conceição, Simonsen, Celso Furtado, etc. Ao todo, 13 largas entrevistas. Passei os olhos sobre o texto com o Campos e disse para mim mesmo – outro dia compro. No outro dia, de bobeira, não consegui achar o livro... Batuquei no computa-

Carlos alberto Pessôa é jornalista e escritor. escreve diariamente para o site da revista ideias. negopessoa.com


Vereadores

Por dentro da CÂmara Acompanhe o trabalho dos vereadores da Câmara Municipal de Curitiba

reGiÃo SUL Novas obras de infraestrutra mudarão o desenho dos bairros e a economia local da capital. A região Sul receberá a ampliação da Linha Verde Sul, liberando uma pista para a instalação de ônibus que ligará Curitiba e Fazenda Rio Grande.

AUDiÊNCiA Representando a Câmara de Curitiba, a vereadora Noemia Rocha (PMDB) compareceu à audiência pública que discutiu a distribuição do kit anti-homofobia nas escolas, realizada na Assembleia Legislativa.

AProVADo i Foi aprovado o projeto do vereador Tito Zeglin (PDT) que institui no Calendário de Eventos de Curitiba a Semana do Transtorno do Deficit de Atenção/Hiperatividade. A atividade será realizada na primeira semana do mês de junho.

PreSeNÇA O presidente da Câmara Municipal de Guaratuba, no litoral do Estado, Paulo Araújo (PSC), acompanhou uma sessão plenária ao lado do presidente da Casa, João Cláudio Derosso (PSDB), na mesa de direção dos trabalhos.

DeFeSA A vereadora Professora Josete (PT) fez defesa dos objetivos do kit antihomofobia, previsto para ser distribuído pelo MEC, como material de apoio na abordagem ao problema nas escolas. Em sua opinião, a discussão contrária não avaliou o conteúdo do kit.

AProVADo ii Durante este período serão promovidos eventos para propiciar à comunidade informações sobre o assunto, com a distribuição de materiais de divulgação em tendas. Também estão previstas palestras nas regionais.

ASSiNATUrA O líder tucano Emerson Prado participou da assinatura de criação do Centro da Juventude, no bairro Uberaba, com o prefeito Luciano Ducci, no fi nal do mês de abril.

reGiSTro A vereadora Renata Bueno (PPS) registrou em plenário a reportagem veiculada pela RPC sobre as fraudes de empréstimo consignado realizadas pela empresa VC Consultoria. Renata vem se dedicando ao tema há mais de um ano.

TrÂNSiTo Jair Cézar (PSDB) alertou para o problema de centenas de ônibus e vans que trazem doentes do interior para a capital, para atendimento preferencialmente nos hospitais de Clínicas e Evangélico, criando transtornos no trânsito.

rePreSeNTANTe O vereador Paulo Salamuni (PV) representa a Câmara de Curitiba em evento em Belo Horizonte. O parlamentar também participa de outras atividades com a presença da ex-senadora Marina Silva.

LiVro O vereador Caíque Ferrante destacou da autobiografia do jornalista Luiz Alfredo Malucelli, o popular Malu, de autoria de Gilberto Fontoura. A obra, intitulada “Casos do Malu: histórias, receitas e muitas risadas”, conta a trajetória profissional, os casos favoritos e suas conhecidas receitas.

BioDiVerSiDADe O vereador Juliano Borghetti (PP) sugere a concessão de prêmio anual a jornalistas, estudantes de ensino superior, professores e pesquisadores que pesquisem a biodiversidade local.

CÂMArA MUNiCiPAL De CUriTiBA • www.cmc.pr.gov.br R. Barão do Rio Branco, s/nº — CEP 80010-902 telefone: (41) 3350-4500 FAX: (41)3350-4737 maio de 2011 |

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Rogerio Distefano

Verdadeiro não é autêntico

V

ocê é verdadeiro? Então é autêntico. Errado, no Brasil há diferença entre autêntico e verdadeiro: o ser não é em sua essência; só pode ser se provar que é. Há tempos vivemos o nicho da “prova de verdadeiro”. Quem mexeu em nossa metafísica? Os desembargadores corregedores, magistrados da mais alta hierarquia do Judiciário, que fiscalizam e baixam regras para os tabeliães. Os corregedores reviram Parmênides (515 AC) e decretaram que o “ser não é”, exigindo que o ser prove que é. Não apenas que é, mas que é de verdade. Felizmente, para Kafka e nós outros, não para tudo. Ser verdadeiro é condição imperativa para operar a compra e venda de automóveis. Passo a usar o termo técnico, criado pelos desembargadores-corregedores: ‘reconhecimento por verdadeiro’. Deixemos de lado o paradoxo epistemológico do ‘reconhecimento por verdadeiro’. Examinemos o fenômeno econômico-judiciário em contraposição de imagens. Você contrata advogado para o processo na Justiça. A lei só exige que passe uma procuração particular

NO BRASIL O AUTÊNTICO NÃO É SEMPRE VERDADEIRO: O SER NÃO É EM SUA ESSÊNCIA; SÓ PODE SER SE PROVAR QUE É 42

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para o advogado. Ao juiz basta que você assine e a firma seja reconhecida no tabelião. ‘Firma reconhecida’ significa que o tabelião tem um cartão com sua assinatura, que você registrou em pessoa no cartório. Antes da informática o funcionário do tabelionato olhava sua assinatura na procuração e batia o carimbo declarando-a autêntica – portanto verdadeira, porque naquela época ‘autêntico’ era sinônimo de ‘verdadeiro’. Agora o funcionário limita-se a passar o papel por um escâner eletrônico e a memória do computador atesta que sua assinatura é autêntica. Ou verdadeira, que pelo dicionário e a metafísica são a mesma coisa. Com a procuração particular, assinada longe do tabelião e reconhecida autêntica, portanto verdadeira, pelo computador, o advogado pode acabar com seu patrimônio e sua vida. Outra situação: você tem o dinheirão no banco e quer sumir com ele. Simples, faz pela internet. Não precisa papel nem assinar coisa alguma. Basta uma senha eletrônica. Mas ai de você se comprar ou vender automóvel. Aí o bicho pega, você é triturado pela malha burocrático-tabelioa-corregitória. Entra no domínio da ontologia do reconhecimento por verdadeiro. Fique claro: para todos os efeitos legais e epistemológicos não é o mesmo que reconhecimento de autenticidade. Exemplo. Você compra a jabiraca, Opala 1976, três marchas, câmbio no volante (encavala em cada esquina, exige o pano sempre à mão para abrir o capô e destravar a engrenagem). Tem o certificado com o campo de transferência para

a venda. Antes a gente assinava ali, reconhecia a firma e levava ao Detran. O vendedor podia assinar em branco, bastava o reconhecimento da assinatura como autêntica – e verdadeira, tanto para os fins legais quanto para os epistemológicos. Agora vendedor e comprador precisam ir ao tabelião para reconhecerem suas assinaturas, mas ‘por verdadeiras’. O que é ‘por verdadeiro’? Que os dois têm que estar de corpos presentes na frente do funcionário do cartório. A lei manda? A lei não manda. Mas quem mandou mudar o sistema de reconhecimento de firma ‘por autenticidade’ pelo ‘por verdadeiro’? O desembargador-corregedor. Qual? Todos os corregedores, de todos os tribunais de Justiça deste Brasil. Os corregedores ordenaram, mas penso que foram usados pelas seguradoras, o braço mais rentável dos bancos, que mandam tanto neste país a ponto de mandar nos corregedores da Justiça. Neste particular e delicado espaço da atividade econômica, o Brasil institui a distinção entre o verdadeiro e o autêntico. Quem trafica automóveis está obrigado ao ‘reconhecimento por verdadeiro’. É sujeito e objeto da metafísica de Macunaíma: tem volante, não tem caráter. A compra-venda de automóveis é atividade econômica mais importante do País? Se for, pobre país. Não é atividade econômica mais importante – pelo menos no sentido econômico, afirmo com o vigor da tautologia do autênticoverdadeiro. Então os corregedores não exigem o ‘por verdadeiro’ nos outros negócios por que não exis­ tem fraudes? Realmente não exigem, embora fraudes existam. As seguradoras é que não têm interesse nessas fraudes.

Rogerio Distefano é advogado e colunista da Revista Ideias. maxblog.com.br


Pesquis�

Quem trai mais? Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, feito com exclusividade para a Revista Ideias, mostra que quando o assunto é infidelidade conjugal, a maioria trai, pelo menos em pensamento Quando o assunto é infidelidade conjugal, quem trai mais, o homem ou a mulher? 60 50 40

Entre os 17,07% que nos últimos doze meses traíram o namorado(a), esposo(a) ou companheiro(a): Quantas vezes?

O homem 51,95% A mulher 9,76% Os dois 34,88% Não sabe 3,41%

o que te motivou a trair? (rM) (eSPoNTÂNeA)

Uma 27,14% Duas 21,43% Três 20,00% Mais de três 28,57% Não respondeu 2,86%

30

Não sabe 0,49% Estava carente 5,37% Desejo sexual 4,39% Apenas atração 3,41% Precisava fugir da rotina 2,44% Havia brigado com o companheiro(a) 1,95% Por vingança 1,46% Ficou apaixonada(o) 1,22% Outras citações 1,22%

20 10

As mulheres são mais controladas que os homens, ou seja, elas pensam mais antes de trair? 80 70 60

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Sim 68,54% Não 26,83% Não sabe 4,63%

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Entre os 82,93 % que nos últimos doze meses NÃO traíram o companheiro(a):

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Nos últimos doze meses, você traiu seu namorado(a), esposo(a) ou companheiro(a)? 100 80

Sim 17,07% Não 82,93%

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e pelo menos em pensamento, nos últimos doze meses, alguma vez você traiu seu namorado(a), esposo(a) ou companheiro(a)?

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0

Esta pesquisa foi realizada com os habitantes do município de Curitiba maiores de 16 anos que atualmente mantém um namoro, casamento ou uma relação estável . Para a realização desta pesquisa foram entrevistados 410 habitantes. O trabalho de levantamento dos dados foi feito através de entrevistas pessoais em Curitiba durante os dias 11 a 14 de abril de 2011, sendo acompanhadas 19,51% das entrevistas. Tal amostra representativa do município de Curitiba atinge um grau de confiança de 95,0% para uma margem estimada de erro de 5,0%.

Sim 55,61% Não 43,41% Não respondeu 0,98%

Nos últimos doze meses, você teve algum relacionamento amoroso pela internet, com outra(s) pessoa(s) sem ser o seu parceiro(a)?

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Você contrataria um detetive particular para seguir seu parceiro(a) caso desconfiasse que estivesse sendo traído(a)? 80 70 60

Sim 25,37% Não 71,95% Talvez/ Depende 2,68%

Você perdoaria seu parceiro(a) por uma traição?

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Sim 18,29% Não 56,10% Talvez/ Depende 25,61%

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Sim 12,20% Não 87,80%

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Artigo

B:  ,   D  S

O

também ex-seminarista Roberto Campos disse certa vez, numa de suas famosas boutades, que no Brasil a burrice tem um passado glorioso e um futuro promissor. O jornal O Estado do Paraná demitiu o cartunista Luiz Solda. Motivo: ele fez uma charge mostrando um macaco dando banana ao presidente dos EUA, Barack Obama. O desenho mostra um macaco fazendo o simbólico gesto de “banana” com os braços e traz a inscrição: “Almoço para Obama terá baião de dois, picanha, sorvete de graviola e banana, muita banana”. Seus acusadores dizem que ele chamou de macaco o presidente norte-americano. Solda disse: “Jamais faria isso. Nas eleições, eu usei camiseta do Obama, vi que era a renovação”. Foi um terrível erro de seus editores. O tema é pertinente, a brincadeira é muito apropriada, vez que o Brasil durante muitas décadas foi chamado pelos EUA de Banana Republic. Sem contar que expressões “politicamente corretas” impedem o humor. Já escrevi sobre o tema no Observatório da Imprensa. Volto a ele nessas linhas. Em minha infância sofri um tipo de preconceito étnico muito singular. Como era moreno, da cor do meu pai, de ascendência portuguesa, era chamado preconceituosamente de “caboclinho”. E, por outros, de “gringuinho”, “filho daquela italia-

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na”: a minha mãe era filha de italianos. A escola representou redenção étnica e social. Passei a ser respeitado por uns e outros pelo meu desempenho escolar. Os boletins acabaram com esses preconceitos. Em recente reunião de intelectuais, um

dos escritores que mais combate o racismo referiu-se a Barack Obama como “fabuloso negão”. E quando o escritor Václav Havel era presidente da Tchecoslováquia, e depois da

República Tcheca, dizíamos tratar-se de um “polaco maravilhoso”. E ele era tcheco! Se escrevêssemos isso, seríamos demitidos também? Que horror esse “politicamente correto”! Vai matar o humor, a graça, a brincadeira! Vocês já notaram que Barack Obama jamais se vangloria de ser o primeiro presidente negro dos EUA? Inteligentíssimo e bem formado, ele sabe que apelar para a cor o diminui muito! Ele não foi eleito por ser negro, foi eleito por ser bem preparado, culto! Representou um avanço na sociedade americana, que aos poucos deixa de ser excludente e passa a inclusiva, respeitando a pessoa como ela é, independentemente de sua cor, sua opção sexual, sua religião etc. Pelo mesmo motivo, mulheres e gays estão sendo eleitos mundo afora para cargos importantes, não por serem o que são, mas porque a sociedade está diluindo preconceitos milenares. Por que só se lembram de punir? Cá para nós, esse “politicamente correto” vai deixar o mundo muito sem graça. Sem contar que, na bela síntese de Otávio Ianni, “o polaco é o negro do Paraná”, e os mesmos que criticam racismo onde não existe, jamais se incomodam quando as etnias atingidas são outras! DEONISIO DA SILVA, jornal Primeira Página, São Carlos


Solda

O 

O

bundão, essa água cristalina, disfarçada em amarga decepção, é uma doença insidiosa literalmente tomada por frases e locuções que dispensam apresentação, mas faz o que pode para discorrer sobre o tema sem parecer que está chovendo no molhado e que não resiste às duras críticas da carreira meteórica, ficando em polvorosa quando a desabalada carreira sai atrás da dama virtuosa, provocando escoriações generalizadas na grata satisfação, graças aos seus sólidos conhecimentos. O valoroso bundão, para se defender, põe a mão na massa com requintes de crueldade, volta sempre à estaca zero para colocar um ponto final e debelar as chamas que vão dar com os burros n’água, não hesitando em ser apenas uma mera coincidência dentro da obra faraônica, quando modifica suas próprias raízes para manter o semblante carregado e o silêncio sepulcral, apesar dos laços indissolúveis que sustentam a doce esperança e a viúva inconsolável. Filho exemplar, é um jogador voluntarioso, oriundo dos mais recônditos rincões, encarando a hercúlea tarefa como mais uma trágica ocorrência, perda irreparável para quem busca a fortuna incalculável. Em rápidas pinceladas ele se curva diante da palavra para mostrar os relevantes serviços, realizar os sonhos dourados, acertar os ponteiros e aparar as arestas sem baixar a guarda, dando a impressão de estar batendo em retirada para fazer as pazes com a vitória sem perder o bonde da história. Conjugando esforços, segue em compasso de espera como uma nau sem rumo em ponto de bala, consternando profundamente a mão beijada que, depois de um longo e tenebroso inverno, ensaia os primeiros passos para chegar a um denominador comum e tirar o cavalo da chuva. Apesar das vaias estrepitosas, enfrenta a

subida íngreme, seguindo as sólidas tradições que resultam, invariavelmente, em calorosa recepção, se a pista não estiver escorregadia e se for retirado com vida dos ferros retorcidos depois do pavoroso acidente. À procura de um lugar ao sol, agarra-se à certeza de agradar a gregos e troianos e proclama em alto e bom som que pretende levar a faca de dois gumes às barras dos tribunais antes de atear fogo às vestes, atingindo em cheio o propriamente dito para fechar com chave de ouro o esgoto a céu aberto e, numa cartada decisiva, ser submetido ao rigoroso inquérito

para localizar a pertinaz doença das tradicionais estirpes, causando tumulto generalizado no vetusto casarão, onde o ilustre se esconde das chuvas torrenciais ao lado da esposa dedicada (corpo escultural) e dos entes queridos. Vai de vento em popa dirimindo as dúvidas e fazendo das tripas coração, sempre inserido no contexto e em petição de miséria, apertando o cinto às escâncaras quando se imagina sentado no banco dos réus, o que lhe cai como uma luva de causar espécie. Para dar a volta por cima, criva de balas a

cortina de fumaça e corre por fora cantando vitória para não passar em brancas nuvens e termina por repetir à exaustão as cobras e lagartos que foram o divisor de águas entre a saraivada de golpes e as prendas domésticas. Com agradável surpresa, o bundão põe as barbas de molho, as cartas na mesa, a casa em ordem e preenche uma lacuna procurando chifres em cabeça de cavalo, quando deveria reencontrar o seu futebol sem tecer comentários ou considerações e trazer à tona o tiro de misericórdia. Desbaratada a quadrilha, é traído pela emoção ao abrir com mão de ferro o leque de opções que já é uma página virada e finca o pé, fugindo da raia na hora da verdade com a rapidez de um raio. Num gesto tresloucado, se atira à singela homenagem, minutos antes da suculenta feijoada, entregando de bandeja o infausto acontecimento, ao inteiro dispor da intriga soez e da trágica ocorrência, onde o último adeus traz de volta o fantasma da recessão e o bundão, em decúbito dorsal, se transforma finalmente no esporte das multidões. Morto prematuramente, em sã consciência, respira aliviado e é sagrado campeão, tirando o cavalo de batalha do bolso do colete e coroando de êxito o pomo da discórdia. Trila o apito ao apagar das luzes, jogando uma pá de cal sobre a tábua da salvação. Parece que foi ontem.

SOLDA é escritor, humorista e cartunista. cartunistasolda.blogspot.com maio de 2011 |

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Perfil Virgínia Leite

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GUERRA A iratiense Virgínia Leite conta como foi ser enfermeira da FEB na Segunda Guerra Mundial S C F E R

uando cheguei ao apartamento de Virgínia Leite, conhecida como Santa Leite, não sabia o que esperar. Apesar da simpatia ao telefone, ela havia deixado claro que sua memória não estava muito boa. Pediu que ligasse antes para que ela tivesse tempo de se arrumar, já que a artrose a impede de fazer movimentos rápidos. Assim fiz. Quando interfonei, dona Terezinha abriu a porta. Ela é acompanhante de Virgínia, a enfermeira da guerra, solteira, que hoje tem medo de ficar sozinha em casa, depois que uma conhecida morreu e só foi encontrada pela família dois dias depois. “Agora tenho a Terezinha que fica comigo durante a semana e a outra vem nos fins de semana. Só saio de casa para ir ao médico”, confidencia. Ao entrar no pequeno apartamento, Virgínia está na sala, sentada no sofá e demonstrando toda a sua fragilidade no alto dos seus 94 anos de vida. Na sala, a enfermeira está sentada num canto do sofá, com as duas bengalas ao lado. À sua frente, uma pequena prateleira com algumas das homenagens que recebeu pelo trabalho realizado na II Guerra. Atrás da porta, um banner, usado em uma homenagem prestada às grandes mulheres paranaenses pelo Museu Paranaense. Assim que me convida para sentar avisa que no dia anterior, quando saiu de uma consulta médica, entrou no táxi e havia esquecido o endereço de casa. “Por isso tenha paciência, minha memória não está muito boa. Faz 66 anos que voltei da guerra”. Dei um sorriso

receoso, com medo de ser verdade essa falta de memória e a minha matéria não sair da pauta. Mas, para a minha surpresa, quando ela começou a falar, notei que a memória mais antiga não havia sido afetada em nada pelas ‘amnésias repentinas da idade’. A primeira coisa que fez questão de me contar foi que das oito enfermeiras paranaenses que fizeram parta da Força Expedicionária Brasileira – FEB – apenas ela ainda está viva. Depois me confidencia que no total foram 73 enfermeiras e que além dela, apenas duas que moram no Rio de Janeiro e duas que moram em Minas Gerais continuam vivas. Todas participaram voluntariamente de um curso de enfermagem oferecido pela Cruz Vermelha e pouco depois partiram para a II Guerra Mundial. “Meu irmão mais velho participou da Revolução de 24 e o outro da segunda revolução de 1930. E eu senti que precisava fazer alguma coisa para mudar o horror da guerra que acompanhávamos pelos jornais e pelo rádio. Era professora e sem saber ao certo o que vinha pela frente me alistei no curso de enfermagem. Mandaram ficar com a mala pronta e eu fiquei”, recorda. Virgínia conta que ficou sabendo da sua convocação pelo seu irmão, que veio tirar satisfação de por que ela havia se alistado sem pedir sua autorização. Mas ela afirma que seus pais estavam sabendo e para ela isso já bastava. Assim, a caçula da família Leite, largou seu trabalho de professora em Irati e foi para o Rio de Janeiro. Depois disso, não sabia mais qual seria seu destino. “Quando cheguei ao Rio me deu medo. Subi a escadaria da Penha e pedi a Nossa

Senhora que permitisse que eu encontrasse a minha família bem quando retornasse ao Brasil. Não pedi pela minha saúde, mas pela saúde dos meus pais e irmãos”. Neste momento, ela abaixa a cabeça e mostra toda sua emoção. Nos seus olhos dava para ver que aquelas cenas ainda eram nítidas em sua memória. Virgínia contou que quando chegou ao Rio de Janeiro, acompanhada pelas outras sete enfermeiras paranaenses, ocorreu a primeira baixa na equipe. Uma das enfermeiras foi atropelada e machucou a perna, por isso nem chegou a embarcar para a Itália. Desembarcaram em Nápoles e lá encontraram uma cidade totalmente destruída. “Ali comecei a ver e vivenciar o horror da II Guerra”, afirma. Depois seguiram de navio até o hospital em Livorno, onde trabalhou a maior parte dos oito meses que participou da guerra. Ela relembra que assim que entrou no hospital, um soldado deitado em uma maca pegou sua mão e começou a beijar. Ela levou um susto e o combatente explicou que era ótimo escutar a voz de uma enfermeira brasileira, já que antes quem realizava este trabalho eram as americanas e eles não conseguiam se entender. Neste momento seus olhos azuis encheram de lágrimas novamente. Achei inacreditável aquela senhora, cheia de rugas, com seus cabelos brancos e apesar de sua aparente fragilidade, ter passado por tudo isso sem perder a delicadeza. Virgínia também contou que algumas enfermeiras voltaram antes por não terem suportado o terror da guerra. “Um dia um dos maio de 2011 |

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comandantes me chamou e disse que eu também estava na lista para voltar. Levei um susto, estava bem, mas o problema é que não saía da zona hospitalar, nem nos meus momentos de folga”. Inventava que tinha parentes doentes e conhecidos para permanecer na enfermaria. “Achei que ninguém tinha notado, porém me enganei”, conta. Neste dia o comandante disse que estava indo ao clube e a convidou. Ela aceitou o convite, mas explicou que não teve nenhuma segunda intenção. Reparei que ficou levemente ruborizada ao contar esta história. Depois a enfermeira pediu à sua acompanhante que buscasse um álbum de fotos. As medalhas ela não iria mostrar, havia escondido “porque tenho muito ciúmes das minhas coisas da FEB”, explicou e havia esquecido onde guardara. Mas para as mais de 400 fotos que estavam guardadas cuidadosamente num grande álbum de capa vermelha, sua memória estava ótima. Lembrava o nome da maioria das pessoas e em seguida falava “infelizmente já morreu também”. A maioria das fotos era referente a encontros realizados depois do término da II Guerra. Grande parte era de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e depois de apontar para elas, olhava para mim e para o fotógrafo e dava uma risada marota acrescentando “esta é de Campo Grande também”. Nestes momentos parecia uma menina, todavia bastava lembrar de todo o horror que viveu que seus olhos voltavam a ficar marejados e o semblante triste.

RETORNO Quando retornou ao Brasil, voltou ao seu trabalho de professora em Irati. Mas meses 48

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depois as consequências da guerra surgiram. Virgínia teve uma crise nervosa e alguns anos depois uma queda, que resultou em uma fratura na coluna. O incidente lhe rendeu nove meses de

internação em três hospitais. Dois em Curitiba e outro no Rio de Janeiro. O período internada foi quase tão difícil quanto o na guerra. “Quando voltei para o Paraná, só de ouvir a palavra hospital já começava a chorar”, lembra.

Depois deste tempo difícil, Virgínia foi reformada, deixou Irati e veio morar em Curitiba. Aqui, se dedicou integralmente a Legião Brasileira do Expedicionário. Até hoje sempre que pode e a saúde contribui participa das cerimônias. Homenagens ela recebe sempre. Todo comandante que assume o Exército em Curitiba faz questão de visitá-la e ouvir um pouco de suas histórias. Depois de quase duas horas de conversa digo que preciso ir embora. Confesso que o tempo passou rápido demais, a vontade era de ficar mais e continuar conversando, tendo uma verdadeira aula de história. De repente ela diz que vai buscar alguma coisa no quarto. Pergunto se quer ajuda para se levantar, porém Virgínia me explica que gosta de fazer as coisas ao seu tempo. Conta até três, impulsiona e se levanta. Pega suas bengalas posicionadas a seu lado e entra em um dos seus cômodos. Volta de mãos vazias. Me despedi sem saber se ela queria realmente me mostrar mais alguma coisa e não achou ou simplesmente esqueceu. Agradeço sua disposição em nos receber em sua casa e de nos contar tão pacientemente sua história. Ela me convida para voltar e passar uma tarde com ela para que possa me mostrar tudo o que tem da época da II Guerra. Vou embora com vontade de voltar. Se vou voltar, não sei. Indico a todos que querem aprender um pouco sobre a vida e sobre a nossa história sentar por algumas horas e escutar o exemplo de vida desta enfermeira, que apesar de todos os horrores que presenciou na guerra, não perdeu a doçura.


Marianna Camargo

Uma carta para elas

uando tinha 13 anos comecei a pensar que gostaria de ser escritora. Havia desistido da ideia de ser coreógrafa, ginasta ou jogadora de xadrez. Comecei a perceber que a maneira como melhor me expressava surgia quando me via diante de uma folha branca. Todos os pensamentos, planos, segredos eu marcava no papel. Gostava tanto que quando não havia onde escrever, era na pele. Talvez por isso meu gosto por tatuagens. Lia Sartre, Octavio Paz, Cecília Meireles, Agatha Christie, Rubem Fonseca, Drummond. Não era muito comum uma menina de 13 anos ler estas coisas. Mas a única coisa que sentia falta era alguém para compartilhar essas experiências. Que veio antes, desde pequena, quando aprendi a ler, e por minha sorte, na casa de meus avós no interior do Paraná, havia uma biblioteca imensa, alta, de madeira, com todos os livros possíveis. Lá, li a obra completa de Monteiro Lobato, descobri outro mundo nas Reinações de Narizinho, A Volta ao mundo em 80 dias de Julio Verne, os contos dos Irmãos Grimm e as enciclopédias de medicina ilustradas de meu avô, médico apaixonado

pelo ofício. Vivi dois mundos antagônicos até os cinco anos de idade. Eram os viadutos de São Paulo, com sua cinza paisagem, mas que me fascinavam, ou a terra vermelha e a natureza exuberante da casa de meus avós. Vivia esse antagonismo com alegria e curiosidade. Sempre atenta ao que vinha pela frente. Como toda menina de 13 anos, comecei a fazer um diário. Lá, escrevia o que sentia, o que gostava, o que aconteceu no dia. Era uma espécie de amigo, confidente. Passei a ter depois um caderno, que tenho até hoje, com poesias que comecei a escrever. Até hoje secretas. Reinventava meu mundo todo dia, a toda leitura, a cada história, a cada palavra. Era um universo mais palpável, já havia delineado um desenho do que me atraía, do que gostava, do meu caminho. Todavia, quantas possibilidades. Fiz várias coisas antes de me entregar à escrita plenamente, pois precisava experimentar outras formas de expressão. Algumas por sobrevivência, de modo feroz, outras por prazer, quando podia. Percebi que o que sou hoje foi definido por aquela menina de 13 anos, que lia e escrevia sem parar, que inventava todos os dias o seu mundo, que ficava ao fim do dia com a pele rabiscada de caneta azul e a sola dos pés verme-

lhos de andar descalça pela terra. Foi por isso que no dia 7 de abril, dia que comemorava ser jornalista pela felicidade de fazer o que gosto, foi por contradição um dos dias mais tristes que tive. Foi o dia que me chocou por ver todas aquelas crianças, na maioria meninas, mortas de uma maneira atroz. Fui um pouco elas aquele dia, morri um pouco. Dor avassaladora, cruel, paralisante. Pensar que com essa idade minha percepção do mundo começou a definir-se, que tinha pela frente tantos sonhos. Sonhos que consegui realizar. De repente, para 12 crianças, tudo se partiu, acabou. É para essas crianças que são um pouco de mim que dedico esta crônica, como uma maneira de continuidade dos seus sonhos, seus planos e seus futuros interrompidos drasticamente. Como uma possibilidade digna de final, me recolho à escrita, ao mundo que gostaria de compartilhar com elas.

Marianna CaMargo é jornalista. mariannacamargo.blogspot.com maio de 2011 |

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Ensai� Fotográfic�

Fragmentos de um caminho percorrido DiCo Kremer

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caminho físico, profissional e artístico que Glaucia Nogueira percorreu é, sem dúvida, bastante revelador. E revela-se pela sua inquietação. Daí a sua incansável busca: da Belo Horizonte natal à Paris passando por Curitiba. Da redação para a publicidade à direção de filmes comerciais à fotografia. Da sua primeira câmera, uma Konic 35 à Nikon F à Pentax 6x7 às digitais Sony Cyber Shot e Canon EOS 7D. Na UFMG fez curso de extenção em fotografia. Teve como mestres os melhores

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profissionais do país. Trabalhou com P&B, Ektachrome 64 subexposto, cianotipos, gomas bicromatadas, polaroids, fez projeção de fotos nas paredes dos prédios vizinhos. Como no filme “Cinema Paradiso”, segundo conta. Expõe no Palácio das Artes “Dez Mulheres Fotógrafas: o olhar feminino”. “As horas criando sombras, o novo invadindo os olhos, às vezes luzes, às vezes espaços... escreveu a fotógrafa. Em suas fotos, ao lado de um enquadramento preciso, a cor desempenha um papel fundamental. Glaucia dá atenção à sensação da cor. Sensação esta que é própria a cada pessoa, de natureza

psicológica. Está mais para o pensador/poeta Goethe que para o pensador/cientista Newton. E junto com a cor a autora dá destaque à textura. Atenta às diferenças entre os resultados obtidos por uma câmera com mais e outra com menos megapixeis (maior ou menor potência na captação da imagem) faz sua escolha na hora de realizar seu trabalho criativo. Em algumas situações o menos é mais. As fotografias impressas nesta Ideias dá uma pequena mostra do trabalho e do talento de Glaucia. O título deste texto tirei-o de um que a Glaucia enviou.


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Luiz Carlos Zanoni

A estrela da cordilheira

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esta de arromba foi essa. Animada, sem hora para acabar e em escala planetária, acontecendo, simultaneamente, nas cidades principais de trinta países. Houve brindes nas alturas, em balões aerostáticos, e eventos como o realizado na Biblioteca Nacional de Nova Iorque: iluminado em tom escarlate, cor do homenageado da noite, o austero prédio recebeu uma multidão disposta a não deixar garrafas cheias sobrarem, como manda a marchinha carnavalesca. E menos não poderia ser esse Dia Mundial do Malbec, celebração promovida no último 17 de abril pelos produtores de Mendoza, com o propósito de fortalecer a imagem do vinho que se tornou a estrela maior das adegas platinas. O desempenho do Malbec argentino impressiona. As exportações saltaram das 850 mil caixas de nove litros em 2002 para 8,6 milhões em 2010, um aumento de 916%. Em dólares, uma variação no período de 23,1 para 306 milhões. Crescimento de 1.220%. Há poucos dias em Curitiba, Roberto Gonzáles, enólogo da Nieto Senetiner, apontava o diferencial dos vinhos de Malbec produzidos em Mendoza. Originária de Bordeaux, na França, essa variedade tem ciclo alongado de maturação, motivo pelo qual sempre se ressentiu do clima úmido predominante na terra natal,

responsável pela disseminação nos vinhedos da coulure, doença que prejudica a fecundação, provocando a queda das flores. Pouco popular entre os vinhateiros bordaleses, foi por lá batizada com um pejorativo: mal-bec quer dizer mau gosto. Mendoza deu-lhe, porém, o que necessitava. O clima seco, desértico, e a amplitude térmica (variação da temperatura entre o dia e a noite) permitem um amadurecimento sadio e equilibrado da fruta, que desenvolve bem o seu potencial. Os bagos tendem a ser menores do que na França, com uma relação harmoniosa entre taninos, álcool e acidez. Mas de fato será o Malbec o grande vinho argentino? Está aí uma questão que provoca em Mendoza discussões mais acaloradas do que os clássicos entre River e Boca. Roberto Gonzáles condena o excessivo marketing em torno dessa casta, apoiado na reconhecida qualidade dos tintos de Cabernet Sauvignon, de Shiraz e de Tempranillo. Lembro também de outro enólogo, Rubem Sfragara, da Alta Vista, que jurava que a opção pela Malbec ocorreu por imposição de grupos franceses interessados em evitar a concorrência com as cepas onde são fortes. Já a corrente contrária, com numerosos adeptos, argumenta que cada país tem suas variedades líderes. Na Argentina, a Malbec assumiu tal função e a vem cumprindo com sucesso. Hoje, praticamente todas as vinícolas de

Mendoza exibem opções de Malbec em seus catálogos, tanto em vinhos varietais (os feitos de uma só uva), quanto em mesclas, sobretudo com a Cabernet Sauvignon. O Malbec argentino se distingue pela espessa cor púrpura, a maciez e doçura dos taninos, os aromas de violetas e ameixas, também frutas vermelhas e tabaco, o paladar carnudo e suculento. Podem ser bebidos jovens, quando o destaque é a intensidade da fruta. À mesa, combinam com um vasto leque de comidas, carnes assadas na linha de frente. Não são tintos profundos, de muita complexidade. Pelo contrario. Despretensiosos, mostram a que vêm sem rodeios. Algumas bodegas têm investido na produção de Malbecs de alta gama, mas com resultados discutíveis. A ênfase na extração e concentração dos caldos resulta no mais das vezes em xaroposas bombas frutadas. O Malbec médio, em geral rotulado como “Reserva”, revela-se bem mais agradável e acessível. Entre os melhores, os da Terrazas de los Andes, Catena, La Rural, Ruca Malen, Zuccardi, Trapiche, Alamos e Viña Cobos.

LUIZ CARLOS ZANONI é jornalista e apreciador de vinhos maio de 2011 |

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Prateleir�

LIVROS

comunista de casaca ou buldogue de marx Por Dico Kremer

direito empresarial

Luiz Fernando C. Pereira e Fernando Vernalha Guimarães Editora “Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipisicing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua. Ut enim ad minim veniam, quis nostrud exercitation ullamco laboris nisi ut aliquip ex ea commodo consequat. Duis aute irure dolor in reprehenderit in voluptate velit esse cillum dolore eu fugiat nulla pariatur. excepteur sint occaecat cupidatat non proident, sunt in culpa qui officia deserunt mollit anim id est laborum.” “Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipisicing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua.

Fernando pessoa: uma Quase autobiograFia

Maria José de Lancastre Imprensa Nacional - Casa da Moeda José Paulo Cavalcanti Filho queria descobrir quem era o homem real por trás do poeta português Fernando Pessoa. em oito anos de pesquisa, deparou-se com 127 Pessoas. esse é o número de heterônimos do poeta catalogado pelo livro “Fernando Pessoa: uma quase autobiografia”, que Cavalcanti acaba de lançar. As muitas personas de Pessoa vão muito além de Alberto Caeiro, ricardo reis e Alvaro de Campos. Supera o que pensavam os especialistas. editado pela record já está nas livrarias de Curitiba, que sempre recebem os lançamentos com atraso de no mínimo um mês.

o navio do destino Rosine De Dijn Editora Saraiva

“o Navio do Destino”, livro da belga rosine De Dijn, tem depoimentos de pessoas que viajaram no barco português Serpa Pinto, que levou à europa um grupo de 600 alemães e descendentes que pretendiam apoiar o nazismo. Uma das fontes básicas de rosine foram os diários do imigrante Gustav Bucholtz, um ativo integrante do partido nazista em Paranaguá. ele era um fanático seguidor de Adolf Hitler e foi à europa para ajudar a Alemanha a vencer os aliados. o livro é editado pela record e é de interesse para a história paranaense na época da Segunda Guerra Mundial.

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O jovem historiador, colunista dos prestigiosos jornais The Guardian e The Observer, apresentador de programas sobre história na televisão inglesa e político Tristram Hunt escreveu uma instigante biografia daquele que foi considerado um personagem secundário no pensamento político, econômico, filosófico, sociológico do século XIX, Friedrich Engels. Companheiro de Karl Marx, este sim, considerado o idealizador do pensamento comunista que, depois da vitória da revolução de 1917 na Rússia, teve suas teses mescladas ao pensamento de Vladmir I. Ulianov, o Lênin para fornecer o embasamento do regime com o nome de marxismo-leninismo. Na história oficial da ex-URSS não existe o marxismo-engelsianismo. Engels era citado como um companheiro de Marx com certas honras mas em segundo plano. Em primeiro lugar vinha O Velho. E o destino da dupla Marx-Engels faz-me lembrar o de uma outra. Em vez de um par de alemães, um par de ingleses: o Dr. Samuel Johnson e seu escudeiro James Boswell. Este e Engels foram ofuscados pela presença dos parceiros. Tornaram-se, para quem tem pouca afinidade com o pensamento do século XIX, personagens secundários. Mas Boswell além de biógrafo de Johnson foi grande memorialista, escritor e missivista. E o autodidata Engels não só foi parceiro de Marx em termos de igualdade contribuindo muito para com a obra deste não só levando-lhe estatísticas e informações sobre as relações capital/ trabalho como com suas próprias obras. Seus estudos da filosofia de Hegel iniciaram Marx na concepção dialética da história. De família abastada, foi colocado na Inglaterra para trabalhar junto com dois sócios holandeses de seu pai numa empresa. Bon vivant, apreciador de cervejas, vinhos, champagnes, boa comida e mulheres, caçador de raposas, sacrificou em parte os seus estudos para com o dinheiro de suas rendas sustentar tanto a si próprio como a família de Marx (mulher, filhas e genros), sua companheira e após a morte desta sua cunhada e afins. Ajudou também outros correligionários em difilcudades. Foi muito explorado. Hunt descreve magistralmente a vida entrelaçada com a obra deste incansável escritor, pensador, pesquisador, missivista, palestrante, organizador e dirigente de partido político. Depois da morte de Marx, em 1893, assumiu a organização de seus papéis o que lhe consumiu um tempo enorme e a sua saúde. Mas encontrou ainda tempo para escrever a sua “A origem da família, da propriedade privada e do estado”. Concorde-se ou não com a doutrina defendida por Marx e Engels com seus erros e seus acertos é impossível ficar alheio ao trabalho que a ela se dedicaram. Tristram Hunt mostra isso no excelente e isento livro que escreveu.

comunista de casaca

Tristram Hunt - Editora Record 2010


livro

CINEMA exposição

Ginger & Fred Por Dico Kremer

As Emoções & A Escola

Denise de Camargo Travessa dos Editores – 2004

As Emoções & A Escola, de Denise de Camargo, Doutora em Psicologia Social, é uma leitura necessária para compreen­ der a relação estreita entre os sentimentos e a educação. Fundamental neste momento em que toda a expressão parece muito mais frágil e seccionada, o que redimensiona de maneira avassaladora o que vivemos atualmente. O bombardeio nos noticiários sobre homicídios, suicídios, maus tratos entre alunos e professores, agressões físicas e bullyng, faz do livro As Emoções & A Escola um estudo pontual sobre a educação, a expressão e a emoção.

Congada da Lapa Considerada uma das principais expressões da cultura popular de matriz afro-brasileira, o auto da Congada faz parte das tradições do Paraná, Minas Gerais, São Paulo e Nordeste. A manifestação, realizada no dia de São Benedito, 26 de dezembro, tem como argumento central a colonização portuguesa na África, particularmente o domínio e cristianismo dos reinos do Congo e Angola. A exposição “A Congada da Lapa em três tempos” apresenta os festejos através da visão de Vladimir Kozák, Marcos Campos e Socorro Araújo. Local: Sala do Artista Popular anexa à Sec. de Estado da Cultura De 26 de abril a 26 de junho Entrada gratuita

documentário Cinematoso

2011 (Brasil) Direção: Bruno de Oliveira 80 min - Documentário O documentário de longa-metragem “Cinematoso”, dirigido por Bruno de Oliveira, é sobre Cyro Matoso, nome mais expressivo do litoral paranaense quando o assunto é a produção local de cinema. O filme conquistou o prêmio de melhor longa-metragem no Festival Cinema na Floresta e foi exibido em festivais na Bolívia e Chile.

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Federico Fellini realizou seu mais perfeito filme, “8 ½”, aos 43 anos de idade. Guido, personagem principal interpretado por Marcello Mastroiani, é diretor de cinema e tem 43 anos. O filme é uma soberba reflexão sobre a criação, a arte, a memória, o sonho, o desejo, o cinema, o espetáculo, os relacionamentos, a vida. Aos 66 anos filmou “Ginger & Fred” que pode ser resumido assim: dois artistas, interpretados por Giulietta Masina e Marcello Mastroianni, que fizeram sucesso há 40 anos imitando a famosa dupla americana Ginger Rogers e Fred Astaire, são convidados para os sempre terríveis programas de variedades da televisão com o nome de “Ed Ecco a Voi”, “Com Você”. É lá no ambiente da televisão que os horrores se mesclam: a banalidade, a superficialidade, o despreparo, o sempre curvar-se ao que de mais baixo o telespectador quer. A antiga dupla é misturada com diversos tipos: um velhíssimo almirante que foi herói, um transexual, anões, uma vaca com 18 tetas, um jovem mafioso perigosíssimo que é acompanhado de uma multidão de guardas armados, sósias de Clark Gable, Ronald Reagan (este natural de Grottaferrata), Woody Allen, Marcel Proust, Franz Kafka e outros. São hospedados em um hotel da periferia de Roma em meio a um monturo de lixo. Ao barulho de Roma soma-se o ruído infernal da televisão sempre ligada com toda a porcaria que lhe é inata: programas culinários, de ginástica bucal, filmes horrendos (na Itália são sempre dublados tanto nos cinemas como na tv), o onipresente futebol, lutas, anúncios e por aí vai. É um mafuá eletrônico. Mas muito além das críticas à televisão, à ditadura do telespectador e à do anunciante o filme é uma reflexão sobre a idade. Penso que nenhum cineasta foi tão feliz e pungente em mostrar o passar dos anos e as marcas que ele deixa em nosso pobre corpo. “Como passaram rápido estes anos…” Tenho a sensação de que as coisas me olham de uma maneira estranha, como a me saudar: adeus Pippo (nome de Mastroiani). “Somos como fantasmas…” Fellini é o humor mas este é ácido, corrosivo, a mostrar que sabe onde vai dar o caminho à velhice. Em momento algum mostra-se piegas. Depois de “Noites de Cabíria” seu olhar sobre o ser humano foi sendo mais e mais cáustico. Não tem pena, apenas mostra. “Ginger & Fred” foi seu penúltimo filme de ficção.

Ginger & Fred

1985 (Itália) Direção: Federico Fellini 130 min - Drama

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Izabel Campana

Meu Vinho, meu VÍcio

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enho um vício: Fernando Pessoa. Não chamaria de leitura recorrente. É mais uma leitura contínua. Comecei na adolescência e não parei desde então. Volta e meia, recorro ao meu autor predileto para divertimento, compreensão e conforto. Afasta o tédio e a melancolia. Remédio certo para as dores da alma. Por isso reafirmo: é um vício. Mas vício que não perde o gosto. O milésimo gole de Fernando Pessoa é tão bom quanto o primeiro. Ou melhor. A sensação de entender algo novo em obra tão conhecida é mágica. Mas só se têm com os grandes. Shakespeare, Machado. Pessoa oferece ainda outra vantagem. Vem em diversos blends. Uvas de várias safras. Diferentes designações de origem. Cada heterônimo tem seu sabor. Um é mais ácido, outro mais tânico. Mas no fundo. Ah, no fundo está lá a presença reconfortante de Fernando Pessoa. Uma certa continuidade difícil de descrever. Por muito tempo fui adoradora de Álvaro de Campos. O poeta cansado. Cansado da vida e de tudo. Cansado de si. Nada melhor para uma fossa. Álvaro de Campos entende os meus fracassos. Tropeçamos nos tapetes das etiquetas

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e escrevemos ridículas cartas de amor. Só eu e Álvaro de Campos no mundo levamos porrada. Uma noite, em uma peça de teatro, tive contato com outro Pessoa. Outra pessoa, se me permitem o trocadilho. Alberto Caeiro sempre me havia parecido bucólico demais. Tola, eu. Caeiro é o poeta sem pretensões. Objetivo, direto. Além disso tudo, Caeiro é quem faz possível a compreensão desse sentimento estranho, que é o carinho especial que a gente sente pela nossa aldeia. Mesmo que essa aldeia seja Curitiba. Aldeia fria. Fria, não. Gelada. Em Curitiba, a horda dos invisíveis se engalfinha por um mísero raio de sol. Mas quando se está longe, até o Rio Belém é mais belo que o Tejo. Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. Tem dias em que olho para o céu de Brasília, azul e pleno de nuvens redondas e fofas e penso: Que céu escandaloso! Aí sinto falta do cinza modesto e discreto da minha aldeota. Esse azul que compele ao bom-humor instantâneo. Arre, estou farta de azuis semideuses. Ricardo Reis é ainda outra persona. Veio ao Brasil em busca da monarquia, imaginem. O moreno mate de purismo exagerado. Mas o que ele escreve sobre a vida e a morte, sobre a razão

e a emoção, põe tudo em perspectiva. Reis é o poeta do equilíbrio. O prazer, mas devagar. Que a sorte inveja, Lídia. Biografia recente contou mais de 120 heterônimos do poeta português. Além dos mais famosos, cada um com sua identidade, cada um com suas características. Há ainda o que chamam de ortônimo. O escritor efetivo, real. Pretensamente, o verdadeiro Fernando Pessoa. Agora, pergunto eu, o que sabem do verdadeiro Fernando Pessoa? Ele que não sabia o que era? Ele que era 128 em um. Como somos todos nós. Pelo menos os que não são superficiais. Tomo as dores do meu poeta. Que mania chata as pessoas têm de definir os outros. Eu entendo Pessoa. Ele me entende. Ou eu leio nele aquilo que quero. Não me importa. Entrego-me ao vício em Fernando Pessoa e ouço quando me diz: come chocolates, pequena. Come chocolates.

iZabel campana é advogada e cronista.


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Claudia Wasilewski

Onde estão os prÍncipes?

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enho trauma de príncipes. Na década de 70, Silvio Santos fazia um programa chamado BOA NOITE CINDERELA. O programa era assim: três meninas eram selecionadas através de suas cartinhas. Uma rica, uma de classe média e uma pobre. Lá contavam suas vidas, qual o brinquedo que sonhavam e era exibido um vídeo mostrando suas casas. Entrava um príncipe, lindo, chiquérrimo e maravilhoso, que ficava ao lado de uma roda gigante cheia de sapatinhos. O príncipe provava os sapatinhos e obviamente em quem servisse era a Cinderela. O sapatinho só servia na menina que morava na casa de madeira. Aquilo era luta de classes e não programa infantil. Não existia critério para participar, somente para ser premiada. Não me conformava que jamais o sapato serviria no meu pé. Não veria o príncipe e muito menos ganharia qualquer brinquedo. Meus irmãos riam de mim, me provocavam. E eu finalmente chorava copiosamente. Não porque a menina pobre ganhou, mas de raiva mesmo. Talvez por isso não tive ilusões de debutante, casamento, com alguém que comandasse minha vida. Fui vivendo sem me preocupar ou me apaixonar por homens loiros de olhos azuis. Não era para mim. De qualquer forma sempre preferi os morenos. Acompanho o tormento de algumas, disse algumas, amigas que vivem procurando um amor idealizado. Elas não se satisfazem com o que existe para o momento. E aí vem o festival

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de lamúrias. Muitas se culpam pelos fracassos amorosos. Quando tento dar meus mais sinceros conselhos se ofendem. Tem uma em particular que só pode ser azar. Ela é linda, independente, inteligente, bem sucedida, MAGRA, tem corpo escultural. Nada vai... A cada desilusão ela me conta de forma indignada. Vejam como funciona: – O cara era bonito, cheiroso, rico e gay. Discutiu comigo que cremes com DMAE (antirrugas) estão ultrapassados. – O cara era maduro, grisalho, parecido com o George Clooney. Sadomasoquista. – O cara era inteligente, culto, uma biblioteca ambulante. Falido. Me pediu vintão para o táxi. – O cara tinha foto falsa no Facebook. Um horror, alcoólatra, inconveniente, fazia piada idiota. – Casado! Esqueceu a aliança. Se não fosse a aliança... Ele estragou tudo! Casos clássicos do famoso CHUTA QUE É MACUMBA. Mas ela tenta. Outras amigas acham que o príncipe irá chegar em um pégasus. Talvez por isso não saiam de casa. Devem esperar um relinchar na janela. Ficam fazendo terapia do sofá. Aí é caso perdido mesmo. Tem que sair de casa, ficar na área senão nada irá acontecer. O que eu gosto mesmo é das conversas para detonar os homens que se fazem de gostosos. As fantasias são criadas, investimentos são gerados. Salão, depilação, pé, mão, sobrancelha. E nada, absolutamente nada. Só um jantar. Isto é a morte. Sai de tudo. Nem seria maluca de abrir estes segredos. Mas uma dica para eles posso dar, se

a orelha direita ficar vermelha e quente, podem saber que a roda está formada. Estão sendo desqualificados e reduzidos a pó. Estes dias em uma conversa bem animada fui dar um palpite sobre o rapaz em pauta. Levei um VOCÊ É CASADA. Em coro, uníssono. Parecia bullying. Tá bom eu sei. Fiquei quieta um pouco, quando tentei me manifestar novamente, quase derreti com os olhares. Daí vi que era grave mesmo e me calei. A questão é que o rapaz está além do padrão do mercado e qualquer uma vira uma ameaça. Então todo o meu respeito e torcida. O que será que está acontecendo? Por que será que o mercado está tão ruim para os solteiros? A coisa está feia. Anotei a seguinte frase que ouvi em um jantar. “Homem está tão difícil, que por isso tenho que destruir um lar.” Claro que foi em tom de brincadeira. Nem escuto mais a expressão que a fila anda. E o caso independe da idade. São reclamações de todas as faixas etárias. Me parece que são poucas pessoas abertas às paixões. É mais fácil viver sem a ansiedade de dar certo, ter compromisso. Quem sabe não é o caminho. Mas por favor, esqueçam os príncipes. Não quero decepcionar, mas se existem, são raros.

claudia WasileWsKi é empresária e cronista da Revista Ideias. claudiawas.blogspot.com


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Divulgação

ISABELA FRANÇA

De volta para a casa no segmento de móveis em madeira. Marche, às margens do Mar Adriático, é uma região privilegiada. A arte e a indústria de design e marcenaria, além do turismo, são suas principais fontes econômicas. Dali, saem as principais tendências do setor moveleiro mundial. Na bagagem, os empresários trouxeram um desafio interessante: o aproveitamento dos resíduos da indústria madeireira. Por lá, muito se produz com este tipo de material, principalmente reaproveitados com outros resíduos, como o plástico.

COBERTURA A Stobag, indústria suíça líder no setor de toldos têxteis, está finalizando a construção de um business center com mais de 1 mil metros quadrados para show room e espaço de eventos voltado exclusivamente aos arquitetos e profissionais da área de construção e decoração.É o primeiro centro de negócios mundial da empresa e funcionará dentro da fábrica brasileira, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. O investimento faz parte do planejamento estratégico da indústria no Brasil. Segundo o diretor da empresa, Hans Peter Heller, o Brasil é um mercado promissor e ele espera ampliar a atuação de suas 200 revendas no País. Na Europa, a Stobag é patrocinadora de grandes eventos esportivos como a Ski World Cup. Por aqui, o marketing da empresa está atento à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016.

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O escritor curitibano Vicente Frare, editor da Pulp Ideias, não pára. Acabou de lançar o guia Europa de Cinema, num badalado coquetel organizado pela Araçá Eventos, no Piolla em Curitiba e, em seguida, embarcou para Nova York, mais que bem acompanhado. Com a festejada VJ Didi Wagner e o competente fotógrafo Jairo Goldflus - um dos maiores nomes da fotografia publicitária atual e marido da linda atriz Gabriela Duarte - para produzir mais um livro. Vai descrever a big apple sob o olhar de Didi e a lente de Jairo. O trio fez parar – literalmente – a Times Square no último dia 15 de março. A nova obra deverá ficar pronta ainda este ano e inclui a descolada prateleira de guias de turismo da curitibana Pulp.

Vicente Frare

Os empresários brasileiros do setor moveleiro Carlos Sost (RS), Michel Pires (MG), Eliso Cattaneo Estada (PR), Ademilse Guidini (ES), Canísio Henn (SC) e Orlando Ferreira Maia (SP) estiveram na Itália, no mês passado, a convite do Instituto de Comércio Exterior (ICE), para conhecer e buscar parcerias comerciais com as indústrias da Região de Marche.O grupo foi recebido em Ancona, no centro da Itália, e percorreu as principais indústrias de máquinas locais, além de visitar o Cosmob, em Pesaro, tido como o laboratório mais conceituado do mundo

A mil


PALCO NOVO

Vitrine sem graça

As executivas Lylian Vargas, gerente de eventos do Shopping Palladium, e Fátima Galvão, diretora da Galvão Locações, estrearam em abril a terceira edição do projeto História & Arte, iniciativa da Galvão Locações com a Associação de Bailarinos e Apoiadores do Balé Teatro Guaíra. Este ano, o projeto que engloba apresentações de dança, exposições e debates, tem o Shopping Palladium como palco.

arquivo pessoal

Uma exposição com alguns dos mais destacados figurinos usados pela companhia paranaense de balé nas montagens de Romeu e Julieta, O Quebra Nozes e o Grande Circo Místico marcou a abertura dos trabalhos. O encerramento deverá acontecer em novembro, com a Mostra Paranaense de Dança. O projeto engloba arte e ação social e traz para a comunidade um palco aberto com apresentações de dança de escolas diversas e do próprio Balé Guaíra, além de arrecadar roupas de dança e ginástica para bailarinos carentes.

Quem conta é a make up designer Regiane Molon, que acaba de voltar da Itália, após temporada de reciclagem pessoal e profissional. Segundo ela, esquiar nos Alpes, além de delicioso, é algo acessível a qualquer um. As estações européias costumam ser próximas a vilarejos encantadores, são seguras, têm meios de locomoção e pistas para todos os níveis de esquiadores e opções de aulas e estada para um , dois ou mais dias, dependendo da sua disponibilidade de tempo e dinheiro. De volta a Curitiba, Regiane acaba de ingressar na equipe do Beauty Batel.

quem conta

Mário Moysés, Marcelo Pedroso e Marco Antonio Lomanto - respectivamente presidente, diretor de mercados internacionais e diretor de produtos e destinos da Embratur – além de executivos dos escritórios brasileiros de turismo no exterior, apresentaram a executivos do mercado corporativo e de congressos de mais de 30 países dos cinco continentes o Brasil como destino turístico. A apresentação aconteceu na BRITE 2011 – Brazilian International Tourism Exchange, em meados de março. Porém, mais uma vez as praias do Rio de Janeiro e do Nordeste foram o destaque dado pelos representantes oficiais do

governo brasileiro. Será que o País não tem mais nada a mostrar? Se tivesse, talvez fosse possível acelerar a modesta participação do turismo no PIB - apenas 3,3% este ano. Segundo as pesquisas da Embratur este percentual pode crescer para 4,5% na próxima década. Ainda assim, longe dos mais de 6% de participação do setor no turismo espanhol, para onde vão 10 vezes mais turistas estrangeiros todos os anos.

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ISABELA FRANÇA

TEMPERO O chef de cuisine Thomas Troigros comandou as aulas-show patrocinadas pela Porto a Porto no Gastronomix, evento gastronômico que aconteceu paralelamente ao Festival de Teatro de Curitiba, no Museu Oscar Niemeyer. Troisgros, ao lado do sommelier Flávio Bin, também, da Porto a Porto harmonizou pratos, azeites e vinhos. De olho no crescimento do mercado de gastronomia, a Porto a Porto vem ganhando força e aposta pra valer nos importados de alto padrão. No final de maio, a importadora curitibana vai realizar no hotel Four Points by Sheraton a 1ª. Wine Gorumet Show. Já estão confirmadas as presenças dos produtores Santa Carolina, Deutz, Nieto Senetiner, Provam, Fernando de Castilla, Distel, Finca dos Alijares, Gramona, Altolandon, Quinta do Zambujeiro, Montes Toscanini, I Balzini, Bertani, Caldora, Camigliano, Chaberts, Caggiano, Poderi del Paradiso, Perelada, Veuve du Vernay, Tokaji, Marques de Tomares, Carrone e Labate, Denis Dubourdieu, Messias, Justinos, Carmim, JP Ramos, Filipa Pato, Paganini, Joseph Llorens, La Costeña, Geleia França – Épicurien, Reine Dijon e Bacalhau Dias.

cortesia Em tempos de redes sociais surgem regrinhas básicas para se manter a cortesia entre amigos virtuais. Se uma mensagem foi enviada a você e toda a lista do remetente, sinta-se desobrigado de responder. Mas, se a mensagem é dirigida a você, é de bom tom enviar resposta. Curta, comente e compartilhe apenas aquilo que realmente faz diferença para você. Não entre de gaiato na conversa alheia e não roube amigos dos amigos.

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A partir do conceito mais prosaico de amizade, a empresária Jussara Amaral lançou, em março, um projeto que ganhou fôlego e adeptos em pouquíssimo tempo. O Movimento Amiga dos Sonhos surgiu de uma iniciativa pessoal da empresária com o objetivo de realizar sonhos de mulheres carentes. Ao apresentar a proposta a um grupo de amigas, pela rede social e depois pessoalmente, Jussara ganhou o apoio de mais de 20 pessoas que desencadeou numa imensa rede de suporte e auxílio. Para não fugir do foco de “mulheres ajudando mulheres” o grupo está estudando casos de mulheres necessitadas e buscando em seu círculo de amizades formas de atender e realizar sonhos de mulheres. A primeira delas, Dona Léa, que comanda um asilo com 30 velinhos carentes em Pinhais, vai ganhar o refeitório do lar e muito mais do que ela pode sonhar.

Patrícia Klemtz

Daniel Isolani

Varinha mágica


Clicketz

DNA

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MILHÕES

O empresário e chef de cuisine Beto Madalosso comprova que quem sai aos seus não degenera. Acaba de inaugurar com grande sucesso, no Alto da Rua 15 de Novembro, em Curitiba, a Forneria Copacabana. No melhor estilo lounge, a casa decorada pela arquiteta Cláudia Pereira traz gastronomia, ambiente e freqüência de altíssima qualidade. A presença constante do dono, na cozinha e no salão - como já acontece nos demais empreendimentos da família – mostra ser uma das chaves do sucesso. Apenas uma... Uma pitada e sorte e outra de arte também fazem parte da receita.

Curitiba acaba de ganhar um novo jornal. Quando as mídias impressas diárias da capital paranaense pareciam envelhecer, eis que surge um novo ar. Lançado na última semana de abril em Curitiba, o Metro, maior jornal do mundo, chega a terceira capital brasileira. Com circulação em São Paulo e Rio de Janeiro, o diário é distribuído gratuitamente nos principais cruzamentos das regiões centrais da cidade, ao público jovem que trabalha e faz movimentar a sociedade local. Sueco, o Metro está presente em mais de 60 países, tem 23 milhões de leitores no planeta e, no Brasil, pertence ao grupo Bandeirantes.

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BALACOBACO

Maria Eugênia e Maria Augusta Kroetz, Alice Freitas, Tiffani Sit

José Puppo Filho, Adriana Oliveira, Gilson Werneck

Os últimos dias do verão Sábado de sol do dia 2 de abril. O Country Club realizou uma grande festa nas piscinas para o encerramento do verão, a Summer Ending. Os sócios foram animados ao som da DJ Patty Carvalho. No cardápio os famosos salgados do Neno.

André e Silvana Rassi, Clarice e Maurício Brik Amarildo Henning

Francisco Fruet, Luciane Virmond e seus �ilhos, Frederico e Bianca Virmond Fruet

Magda Pereira, Louiseana Mueller, Miriam Amaral, Giovana Lobo, Claudia Dedini, Fernanda Amaral e Brenda Scwabe

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Fernanda e Estela Athayde

Arsenio Almeida, Carolina Scott Almeida e Márcia Cunha


Festa de ideias

Daniel Isolani

A festa de abertura do 20o Festival de Curitiba foi um sucesso. Realizado pela competente produtora Muga Riesemberg, que pensou com maestria em todos os detalhes. O evento aconteceu no Museu Oscar Niemeyer e contou com a presença de personalidades da cena artística, mídia e autoridades. Estavam lá o brilhante ator Paulo José, o secretário de Cultura do Estado, Paulino Viapiana, o prefeito Luciano Ducci, o secretário de Planejamento, Cássio Taniguchi, e sua esposa Maria Taniguchi, a diretora da Fundação Cultural de Curitiba, Maria Christina de Andrade Vieira, o humorista Diogo Portugal. Gente de ideias, encontro de inteligências e poder. O diretor Leandro Knop�holz acertou em cheio. Curitiba faz, de�initivamente, parte do circuito dos grandes encontros. Olé! Paulo José e Leandro Knop�holz

Paulino Viapiana

Leandro Knop�holz e Jacqueline Vieira de Lemos

Luciano Ducci, Diogo Portugal e Leandro Knop�holz

Luciano Ducci e Paulino Viapiana Maria Christina De Andrade Vieira, Cassio Taniguchi e Maria Taniguchi

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BALACOBACO Dannielli Moreira Leite e Adriana Xavier de Miranda

Cris Dellamore, Maria Dolores Gasparin, Antônio Gasparin Neto e Cassiana Boesel Christofeler

Mix completo

Cassiana Boesel Christofeler e Norma Camargo

Rossana e Bebel Lazzarotto Thiago Straub

Naideron Jr.

No dia 12 de abril aconteceu o coquetel de inauguração da nova loja da Le Lis Blanc em Curitiba. Localizada no Piso L4 do Shopping Crystal, o novo espaço oferece um mix completo de produtos da marca com as linhas Le Lis Blanc moda feminina, Le Lis Blanc Casa, Aromas e a linha infantil Petit. A gastronomia do evento foi assinado pela chef Daniela Caldeira, do Buffet La Table Gastronomie

Nadia Geara e Celine Geara

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A Namix realizou um almoço, dia 13 de abril, no Torriton Taunay, para lançar o novo conceito visual da loja localizada no salão. As sócias da multimarca Cláudia Leal e Michelle Jamur apresentaram às clientes duas integrantes do staff da loja, as consultoras Débora Mateus e Carolina Tonsig.

Diego Pisante

Edenise Alves

Maria Luiza Vieira Fava e Márcia Zagottis

Os melhores das festas Na noite de quarta-feira, 6 de abril, o Clube Concórdia foi palco para um evento de gala que consagrou os melhores do segmento de festas do Paraná e do Brasil. O Wedding Party Award, idealizado pela jornalista Glória Bertin, premiou os destaques do setor em 35 categorias, incluindo as áreas de gastronomia, serviços, moda e decoração, além de prêmios especiais.

Parceria do bem A marca SAAD, localizada no Piso L4 do Shopping Crystal promoveu um coquetel bene�icente em parceria com o Graciosa Country Club. Assim, 10% de toda a renda da loja foi revertido para a Instituição Lar Hermínia Scheleder, mantida pela Associação Comunitária Presbiteriana (ACP). Renata e Beth Castro

Vimo Vídeo Foto

Cao Ferreira

Novo conceito

Cláudia Leal com sua �ilha, Catarina

Michelle Jamur

Rodrigo Alarcon, Glória Bertin e Vera Lupion no Wedding Party Award

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Cidad�

O milagre da multiplicaÇão do orÇamento Como a Prefeitura de Almirante Tamandaré convive com problemas de cidade grande e orçamento de cidade pequena

Denise Mello

“D

á vontade de queimar pneu junto com os moradores”. Esta frase foi dita pelo prefeito de Almirante Tamandaré, Vilson Goinski (PMDB), em janeiro deste ano, depois que, mais uma vez, as chuvas castigaram o município, na região metropolitana de Curitiba. Um desabafo diante da impotência de um governante que é tão cobrado quanto santo milagreiro, mas que ainda não aprendeu a fazer milagre. O contraste salta aos olhos. Enquanto Almirante Tamandaré tem uma população estimada de 103 mil habitantes e orçamento anual de R$ 73 milhões, o município de Araucária, por exemplo, na mesma região metropolitana e com população equivalente, arrecada cerca de R$ 494 milhões, seis vezes mais. A conta não fecha e os problemas vão sendo resolvidos de acordo com uma escala de prioridades de difícil escolha. Só para resolver a questão da drenagem do rio Barigui e a realocação das famílias que vivem às margens, seriam necessários, segundo Goinski, cerca de R$ 50 milhões. Valor totalmente fora da realidade do município. “Temos um orçamento anual de R$ 73 milhões, sendo que metade vai para pagamento de pessoal, 25% para educação e 15% para saúde. Sobra muito pouco para investir. Se o próprio prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB), disse que não tem orçamento próprio para obras de grande porte como essa, imagine os municípios da região metropolitana?”, questiona.

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Logo depois das chuvas que castigaram não só Almirante Tamandaré como também Curitiba e vários municípios da região metropolitana, veio à tona o debate sobre o que fazer para, ao menos, minimizar os efeitos de qualquer tempestade mais forte. Goinski enfrentou protestos de moradores que chegaram a fechar a Rodovia dos Minérios, principal acesso da cidade com Curitiba, para pedir obras no rio Barigui. Ele recebeu os moradores, ouviu as reivindicações e ficou do lado da população expondo a ferida chamada “orçamento”. Segundo o prefeito, tudo o que cabe à prefeitura fazer para resolver a questão dos alagamentos vem sendo feito. Resta agora que haja boa vontade por parte dos governos federal e estadual para que os projetos elaborados pelo executivo municipal saiam do papel. “Dá vontade de queimar pneu junto com os moradores, não em Almirante Tamandaré, mas lá na frente do Palácio Iguaçu ou em frente ao Palácio do Planalto”, disse o prefeito. “Esses projetos estão encaminhados no Ministério das Cidades. É preciso agora um trabalho político, senão, vamos continuar sofrendo com toda chuva forte que vier”, completou. A sinceridade do prefeito de Almirante Tamandaré diante dos moradores e da imprensa reflete um problema que afeta a maioria dos pequenos municípios, independente de se localizarem perto ou longe da capital. O que fazer diante de tantos problemas? Para Goinski, enquanto os recursos federais e estaduais não

vêm na medida das necessidades do município, é preciso valorizar cada real do orçamento que parece um cobertor curto demais. “Estamos valorizando cada centavo arrecadado com uma administração enxuta e eficiente. Aplicamos o dinheiro público em áreas consideradas chaves para oferecer qualidade de vida para a população”, diz o prefeito.

dá vontade de queimar Pneu junto com os moradores, lá na frente do Palácio iguaÇu ou em frente ao Palácio do Planalto


Pavimentação A Prefeitura de Almirante Tamandaré está revitalizando os principais eixos estruturais da cidade em vias utilizadas pelo transporte coletivo. Entre as vias beneficiadas pela parceria com o Governo do Estado estão as avenidas Domingos Scucato, Prefeito Antonio Johnson e Francisco Kruger, todas na ligação entre Almirante Tamandaré e Curitiba. Outra importante via que está sendo totalmente reestruturada é a avenida Vereador Wadislau Bugalski, que possuía de 6 a 7 metros de largura e agora contará com 11 metros de largura de asfalto, além de calçamento em seus 7,5 km de extensão

Saúde Na área da saúde, os 15% do orçamento vão para manter cerca de 220 mil consultas por ano, entre atenção básica, especializada e urgências. “Sabemos que é necessário ampliar esta quantidade, mas estamos atendendo à orientação do Ministério da Saúde, cuja meta mínima é de duas consultas por habitante/ ano. Estamos rea­lizando 2,3 consultas, o que ultra-

até a divisa com Curitiba. O investimento é de R$ 7 milhões. “Tivemos muitos problemas na Wadislau Bugalski com o abandono da obra pelas empresas responsáveis. Enfrentamos uma nova burocracia, contratamos outras empresas e hoje estamos em fase de conclusão das obras. A avenida terá nova iluminação, alargamento, calçadas e pavimentação de qualidade. São dois lotes que devem estar prontos até o início de julho. Certamente um grande problema de Almirante Tamandaré será resolvido com esta revitalização que beneficiará milhares de pessoas”, garante Goinski.

Avenida revitalizada pela Prefeitura

ainda maior. No último concurso público em Almirante Tamandaré, em que foram ofertadas 35 vagas, apareceram apenas cinco candidatos. “A dificuldade é imensa. Oferecemos um salário de R$ 8 mil por 40 horas semanais e quase não aparecem interessados. Muitos médicos que têm dois ou três empregos preferem não trabalhar em cidades mais distantes por causa do tempo de deslocamento. Eles não têm interesse. Ainda assim, estamos buscando novos profissionais constantemente”, afirma o prefeito. Ainda no orçamento da O Posto atende cerca de 220 mil consultas por ano Saúde estão os cerca de 20 mil exames por ano e a distribuição de medicamentos para a população. “Nós melhoramos muito a entrega de medicamentos na cidade. São cerca de 800 a 1,1 passa em 15% a meta estabelecida”, diz o prefeito. Em mil entregas gratuitas todos os dias. Mas sabemos que 2009, foi implantado o serviço do Pronto Atendimento a demanda é grande, faltam recursos, mas estamos 24 horas no bairro Cachoeira, que atende em média 65 trabalhando para melhorar a gestão da saúde. Curitiba mil usuários por ano. está saturada, não tem mais como receber pacientes Assim como o prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, que da região metropolitana e precisamos reforçar o atenadmitiu a falta de pelo menos 60 médicos hoje na capidimento à saúde no município”. tal, Goinski diz que nas cidades menores o problema é

Educação Na área da educação, Almirante Tamandaré está investindo em obras de ampliação e reforma de 35 escolas e CMEI’s (Centros Municipais de Educação Infantil), além da construção de quatro novas unidades. Dentro do projeto “Criança na Escola – Educando para Crescer”, a Prefeitura entrega desde 2005 um kit escolar contendo uniforme (um agasalho completo com 2 camisetas), mochila com todo o material escolar para o ano e um par de tênis para cada aluno da rede municipal de ensino. A partir de 2009, passou a ser entregue um segundo par de tênis para cada aluno. Para beneficiar cerca de 11 mil estudantes, a Prefeitura faz um esforço extraordinário com recursos próprios do município. “Não tratamos isso como milagre, mas como resultado de uma gestão integrada e de muito trabalho”, conclui Goinski.

As crianças recebem desde 2005 um kit escolar maio de 2011 |

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Fábio Campana

mementomori-stock.deviantart.com

A mulher do próximo

O

meu mais recente amigo de infância, o criminalista Figueiredo Basto, sustenta a tese de que cobiçar a mulher do próximo não é pecado. Afinal, diz ele, na cobiça não há ato consumado, apenas intenção. Intenção não é crime. Isso desde que o direito romano foi inventado para disciplinar as paixões e os desatinos dos humanos. Figueiredo ensina que a cobiça, antes de ser pecado, é castigo, sofrimento, muitas vezes atroz. Como pode o sofrimento ser ao mesmo tempo pecado? Quem não passou pela experiência do amor impossível, frustrado, é mais feliz que os mortais que se enredaram nessa experiência agônica, sem esperança. Há exemplos cruéis, além dos nossos que são inconfessáveis porque são intenções que um cavalheiro não revela. Vejam o exemplo de Edward Gibbon, que viveu em exílio voluntário em Lausanne dos 16 aos 21 anos. Ali se tornou amigo de Voltaire e Rousseau e ligou-se àqueles que seriam os seus companheiros e mais íntimos colaboradores da vida inteira.

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Mas em Lausanne, Gibbon viveu outra experiência. Apaixonou-se por uma jovem francesa, calvinista, chamada Suzanne Curchod, que morava numa cidadezinha próxima. Gibbon não chegou a casar-se com Suzanne porque foi impedido pelo pai. Tempos depois, Suzanne Curchod tornou-se, em Paris, a célebre Madame Necker, mãe da Madame de Stael e mulher do grande ministro das Finanças da França, responsável pela convocação dos Estados Gerais que contribuiu para a origem da Revolução Francesa. Gibbon continuou amigo de sua antiga namorada. Anos mais tarde, sempre que ia a Paris, visitava os Necker. Ele próprio conta sobre essas visitas em carta ao seu amigo, Lorde Sheffield. Aí vai o relato de Gibbon: “Suzanne gosta muito de mim e o marido é particularmente civil. Podiam, os dois, me insultar mais cruelmente? Convidar-me todas as noites para a ceia, ir para a cama, e deixar-me sozinho com a mulher – que maneira tão impertinente de demonstrar segurança! Prova-se assim que um antigo amante pode valer menos que um caracol”. Pobre Gibbon. Um gênio que nos deu uma

obra maravilhosa sobre o declínio e a queda do Império Romano não era homem atraente. Ele morreu em 1794, aos 56 anos, vítima de complicações subabdominais. Só. Ainda inconsolável com a perda de Suzanne. A paixão de Gibbon era aberta e conhecida pelo marido de sua amada, que jamais se preocupou em perdê-la, tão confiante estava na lealdade de Suzanne Curchod e nas poucas possibilidades do gorducho e desajeitado Gibbon conquistá-la. Gente civilizada. Mais de um século e meio desse tipo de sociedade e a França produziu Marcel Proust e o seu “Em busca do tempo perdido”, romance recheado de paixões impossíveis ou recusadas que nos fazem pensar sobre o amor e o pecado e a dar razão ao nosso Figueiredo Basto. Desejar a mulher do próximo não é pecado. E Deus nos livre desse sofrimento.

Fábio Campana é jornalista e escritor. fabiocampana.com.br


Cartas

Escreva para cartas@revistaideias.com.br

POLÊMICA CHARGE DO SOLDA

CURITIBA MANCHADA DE SANGUE

REVISTA Publicação da Travessa dos Editores ISSN 1679-3501 Edição 115 – R$ 10,00 www.revistaideias.com.br e-mail: ideias@revistaideias.com.br EDITOR-CHEFE Fábio Campana

A charge não demonstra o racismo do cartunista de forma alguma! A ideia é que no exterior o Brasil, como outros países da América Latina, já foi muito tachado de república de bananas, e pior, visto por alguns estrangeiros (estes sim racistas) como um país de macacos (lastimável). A charge faz piada com isto, àqueles que no passado já foram tachados de macacos e de república de bananas, agora estão em condição de mandar uma banana, muita banana, para os interesses da nação mais poderosa atualmente. Não tem nada relacionado com tachar o Obama de macaco, ou afrontar os negros de alguma forma. Hélio Evidente que não cabe censura ou patrulhamento. Quando muito, no caso, Solda não foi muito feliz na charge, pois ela não comunicou o que ele desejaria comunicar. Ficou aquém. Solda já fez melhor. Se publicaram devem assumir co-responsabilidade pela charge e nunca penalizar o chargista somente.E também não vamos fazer um caso nacional por isso. Ou somos uma república de bananas? João

NOMA

Parabéns pela reportagem de Marcelo Vellinho. Quem mora aqui recebe apenas as notícias maquiadas, não temos noção do que acontece. Sandra

NÃO É MOLE, NÃO Adorei! Adorei! Parabéns a TODOS! Parabéns! Edna Carmelia Audino Pires

REDAÇÃO Denise Mello, Karen Fukushima, Larissa Reichmann Lobo, Márcio Barros, Marisol Vieira, Sarah Corazza, Thais Kaniak. COLUNISTAS Carlos Alberto Pessôa, Ciro Correia França, Claudia Wasilewski, Izabel Campana, Luiz Carlos Zanoni, Luiz Fernando Pereira, Luiz Geraldo Mazza, Luiz Solda, Pryscila Vieira, Rogerio Distefano, Rubens Campana. COLABORADORES Átila Alberti, Eduardo Reinehr, Isabela França, Jussara Voss

A NOBRE ARTE DE SER TIA Gostei do “Kafka para crianças”... Vamos ver quais vão ser as preferências do pequeno Eduardo. A propósito, muito bom o texto. Daniel Parabéns! Adorei a crônica. É muito bem escrita e interessante. Giovana

DIRETOR DE FOTOGRAFIA Dico Kremer TRATAMENTO DE IMAGEM Carmen Lucia Solheid Kremer FOTO CAPA Dico Kremer CAPA Clarissa M. Menini

NO MEIO DO CAMINHO

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Clarissa M. Menini, Katiane Cabral e Luigi Camargo

Adorei o texto! Também sou adepta da caminhada... Nani Quer uma carona? Eu também acho maravilhoso não depender das quatro rodas. Tenho carro e se necessário utilizo, e curto. Mas o caminhar, poder olhar a estrutura urbana em passos (lentos ou não) é tudo. Poder fazer poesia da vida sem que ninguém se interponha, ouvir fluidos musicais de onde quisermos. Experiência muito gostosa. Experimentem. Quer uma carona? Licir

REVISTA IDEIAS Parabéns Jussara. O texto está rico em todos os aspectos, humano principalmente. Parabéns. Você se superou!!! Regina

CHEFE DE REDAÇÃO Marianna Camargo

Acho muito interessante e pertinente as reportagens levantadas pela revista, isto sim é uma boa IDEIA. Herivelto Abalem, Escrivão de Polícia

DIRETORA FINANCEIRA Clarissa M. Menini CONSELHO EDITORIAL Aroldo Murá G. Haygert, Belmiro Valverde, Carlos Alberto Pessôa, Denise de Camargo, Fábio Campana, Lucas Leitão, Paola De Orte, Rubens Campana. PARA ANUNCIAR comercial@revistaideias.com.br PARA ASSINAR assinatura@revistaideias.com.br

Rua Desembargador Hugo Simas nº 1570  80520-250 /   Tel.: [41] 3079 9997 www.travessadoseditores.com.br

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