its Teens Joinville - 35

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SEMINÁRIO Na contramão do preconceito

Revista Its Teens Joinville nº 35 2019 | R$ 11,77

SAIDEIRA Ler, sentir e saber: a literatura nas escolas




conteúdo MARÇO 2019

22 | CAPA

Enquanto esperava pela filha Emanuella da Silva, 8, ao lado da sala em que a pequena estuda ao final da aula, Josiane dos Santos da Silva viu uma cena que, certamente, jamais vai esquecer: em conversa com a professora Talita Nunes Francisco, Emanuella disse que iria pegar a mochila porque sua mãe a esperava para ir para casa. Uma situação que pode ser corriqueira para alguns, mas não para Josiane: aquele foi o primeiro momento, em oito anos, que ela viu sua filha chamá-la de mãe.

18 | PROGRAMA

Para ser representante de classe na Escola Municipal Professora Laura Andrade, os alunos precisam entender que as responsabilidades da função vão além da sala de aula: desde o primeiro trimestre de 2018, os estudantes passaram a fazer parte do conselho de classe da unidade escolar e, além de discutir sobre a relação aluno - professor, o olhar atento das crianças para as necessidades do espaço educativo ampliou a formação de ensino e aprendizagem.

14 | SEMINÁRIO

Desde que passou a frequentar a Escola Municipal Professor Sylvio Sniecikovski, no Jardim Paraíso, Agatha Emanuelle Carvalho dos Santos, 11, aluna do sexto ano, nunca havia se permitido ir à aula de cabelo solto. Negra e com os cabelos crespos com corte black power, o medo de sofrer bullying a fazia ir todos os dias com o cabelo preso.

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42 | SAIDEIRA

Desde pequena, os livros sempre estiveram muito presentes em minha vida. A importância da leitura foi bem explícita em casa. Mas, e quando a família não gosta de ler e nem estimula seus filhos? A responsabilidade é da escola?



EDITORIAL

Grupo RIC Fundador e Presidente Emérito Mário J. Gonzaga Petrelli Grupo RIC SC Presidente Executivo Marcello Corrêa Petrelli | mpetrelli@ricsc.com.br Diretor Comercial Gilberto Kleinübing | gilberto.k@ricsc.com.br Diretor Administrativo e Financeiro Albertino Zamarco Jr. | albertino@ricsc.com.br A Revista its é uma publicação da Editora Mais SC Conteúdo Renata Bomfim | renata.bomfim@portalits.com.br Designer Gráfico Leonardo Messias de Jesus Supervisora de Distribuição Marina Rosa - distribuicao@noticiasdodia.com.br NÚCLEO COMERCIAL REDE Santa Catarina, São Paulo, Distrito Federal, Minas Gerais e Rio de Janeiro Fabiano Aguiar | fabiano@ricsc.com.br Atendimento Regional Rio Grande do Sul e Paraná Gabriel Habeyche | gabriel.habeyche@ricsc.com.br Gerências Comerciais SC Gerente Comercial Oeste William Morelo | william.morelo@ricsc.com.br Gerente Comercial Joinville Cristian Vieceli | cristian@ricsc.com.br Gerente Comercial Blumenau Jackeline Moecke | jackeline@ricsc.com.br

Salve, galera da revista its!

RENATA BOMFIM

A primeira matéria de capa deste ano da revista já mostrou como a rede municipal de ensino desta cidade avança, em passos significativos, daquilo que sonhamos para a educação pública: de qualidade, inclusiva e de respeito. Ao longo de todo esse tempo que faço parte da its, esta não foi a primeira matéria que fiz com alunos surdos, mas foi a primeira que eu entrei numa sala de aula com todos os estudantes e professores se comunicando e eu, naquele momento, não conseguia fazer o meu trabalho sozinha e me senti, em vários momentos, como a limitada do processo. Falar sobre o pioneirismo no ensino com a implantação da primeira escola bilíngue de libras e língua portuguesa me fez pensar o quanto aquela educação que eu tive, também enquanto aluna da rede municipal por nove anos, só melhora a cada ano e, aquilo que na minha época poderia ser um sonho muito distante, hoje é realidade. Alunos e professora surda se compreendem num espaço para que a comunicação e o ensino se efetive. Estar atento às demandas vindas com o processo de evolução da educação é mostrar, sim, que os direitos existem e precisam ser respeitados. E é por isso que eu espero que você goste desta edição e dizer que: voltamos. Com carinho, Renata Bomfim

Gerente Comercial Itajaí Ivonete Cristina de Castro | ivonete.castro@ricsc.com.br EXECUTIVOS CONTAS SC - Sul Graziela Silveira | graziela.silveira@ricsc.com.br

O SOM QUE ROLOU NA REDAÇÃO, ENQUANTO FECHÁVAMOS A EDIÇÃO: Lady Gaga, Bradley Cooper - Shallow Ludmilla e Anitta - Favela chegou OutroEu - Zade

Florianópolis Crystiano Parcianelli crystiano.parcianelli@ricsc.com.br Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista, sendo de inteira responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução total ou parcial de reportagens e textos, desde que expressamente citada a fonte. Tiragem: 3.220 mil exemplares NÃO VACILA, FALA AÍ (47) 3419-8000

OS CULPADOS

Pontos de distribuição: Escolas de Rede Municipal de Joinville

Ana Beatriz Brandão 6 REVISTA ITS | É NA ESCOLA QUE A GENTE ACONTECE

Lucas Inácio

Neise Aparecida dos Santos



CULTURA POP

Baba Baby

nessa nostalgia! Se aquela história de que tudo que vai, volta… então, jovens, vocês recebam esta novidade: Kelly Key relança DVD ao vivo, gravado em julho de 2003, no Canecão. A novidade faz parte de um projeto da Warner Music Brasil em que busca resgatar e registrar seus produtos no catálogo do seu canal no YouTube. É hora de ativar o #tbt nas redes sociais e cantar os hinos de “Baba”, "Adoleta", “Cachorrinho” e relembrar as coreografias que ficaram guardadas no coração. Mas a novidade não para por aqui: além do show, também vai ter espaço na plataforma com makinf of, ensaios, conteúdos exclusivos e entrevista com a própria Kelly Key!

Como é que fala mesmo:

você não sabe o prazer que é estar de volta? É isso? Depois de passar por situações complicadas na carreira, como problema contratual com produtora e polêmica sobre os estudos, MC Loma voltou da mesma forma que surgiu: com hit. A nova música “Malévola”, sucesso no Carnaval, conseguiu em 24 horas o marco de 2,6 milhões de visualizações. No Instagram, a funkeira desabafou. “Eu e as meninas queremos dizer a vocês que nesses últimos meses não foi nada fácil para a gente. Choramos, ficamos sem esperança, tristes e muitas noites angustiadas”, escreveu. “No final da escuridão tem sempre aquela luzinha, então, cabe a gente correr, lutar, se machucar no caminho, mas, de maneira alguma, parar na metade do caminho e a gente não parou.”

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Uma boa menina faz como mesmo? A nova versão da música “Uma boa menina”, da Luisa Sonza, ganhou uma versão mais descontraída e até, digamos, real. A cantora regravou no estilo forró na sua própria casa, ao lado do Whindersson Nunes. De pijama, Luisa encontra a sua prima Nadine Gerloff e Gabriel Rocha que entram na brincadeira e saem dançando numa tour pela mansão. Whindersson, claro, não poderia estar em outro lugar que não fosse ao lado da caixa d’água, cenário em que grava os seus vídeos para o YouTube.

Quem comprou, comprou

Com anúncio de shows em São Paulo e Rio de Janeiro no mês de novembro, Shawn Mendes já anunciou uma data extra na capital paulista para a turnê Lost in Japan. De acordo com a Move Concerts, responsável pela produção do evento, o novo show vai acontecer um dia antes da primeira data: 29 de novembro. Quem ficou com o coração na mão com a novidade, uma dica: corre, porque os outros dias já estão e-s-g-o-t-a-d-o-s.

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Por Lucas Inácio

Tudo dobrando

Quem gosta de pesquisar sobre as novidades dos celulares já deve ter percebido que em 2019 a tendência é a tela dobrável. A Samsung já fala há algum tempo sobre essa novidade, mas a primeira mesmo que apareceu foi um modelo de uma startup chinesa chamada Royole, mas, infelizmente, ele não dobra por completo e custa 9 mil Yuans (aproximadamente R$ 5 mil). Das marcas grandes, a primeira foi mesmo a Samsung que anunciou para abril o lançamento do Galaxy Fold a preço de 2 mil euros (aproximadamente R$ 8,5 mil). Mais uma marca conhecida que deve lançar essa novidade em breve é a chinesa Huwaei com o modelo Mate X, previsto ainda para o primeiro semestre e a custo de 2,3 mil euros (aproximadamente R$ 9,8 mil). Outras companhias, como Xiaomi, TCL e Oppo, já mostraram protótipos, mas com poucos detalhes sobre quando poderão entrar no mercado. Você deve estar se perguntando: “mas e a Apple?!” Por enquanto, a marca da maçã não falou sobre o assunto, já patenteou uma tecnologia de tela dobrável semelhante a um celular flip, mas nada de produtos à vista. A dúvida é saber quem vai se desdobrar para pagar.

MARAVILHAS DA

tECnOLOGiA Fique ligado nas dicas da equipe its

Espaço pessoal para dormir

Imagina uma cama que ajusta automaticamente para melhorar seu sono. Essa novidade – que ainda não chegou no país – pode ser extravagante demais para os jovens que dormem sozinhos, mas seus pais, mães ou responsáveis, vão adorar. É uma cama que mantém os espaços, principalmente para aqueles parceiros inconscientemente folgados que não se mantêm no próprio lado da cama. Ela funciona como se fosse uma esteira automática e, quando um dos dorminhocos “resolve” invadir o espaço do outro, a cama se ajusta para deixar cada qual com seu espaço. O mais louco dessa novidade é que é desenvolvida pela Ford, a clássica empresa de que revolucionou o mercado de automóveis no começo do Século 20. Parece que o objetivo agora é revolucionar outras áreas. 10 REVISTA ITS | É NA ESCOLA QUE A GENTE ACONTECE


Novas línguas pela Netflix

Uma extensão para o Chrome (navegador de internet do Google) pode te ajudar a aprimorar o aprendizado de nova língua estrangeira. A Learning Languages with Netflix (LLN) é um recurso que traz legendas interativas a um catálogo selecionado de filmes para que possa treinar seu conhecimento, além de ganhar vocabulário. Caso apareça uma palavra desconhecida, basta passar o cursor do mouse sobre ela que os significados aparecem e também dá para ouvir sua pronúncia. Basta baixar a extensão no site da LLN e aproveitar o recurso que é gratuito.

Fique por dentro dos tops

Aqui vai a dica de um aplicativo para quem gosta de ficar por dentro das músicas pops ou para quem adora um ranking musical. O Musibook é um app que mostra as 100 músicas do momento, não apenas do presente, mas de várias décadas. Nos rankings atuais, além da lista original, mostra a evolução em relação à semana anterior, além de poder segmentar por gêneros internacionais: do rap ao rock, do jazz ao eletrônico. Já nos rankings históricos, dá para saber quais músicas seus primos mais velhos, pais e até avós ouviam em suas épocas. E em qualquer lista, com um clique, você encontra o clipe da música desejada para conferir.

Para testar conhecimentos O Word Ink é um aplicativo que testa seu conhecimento e vocabulário. Basta preencher as lacunas e formar as palavras conforme o aplicativo pede e, se não conseguir, tente novamente. Não há limites de tentativas nem de tempo, é só acertar que passa para o próximo nível. É um jogo divertido, leve para o celular, mas que pode esquentar sua cabeça. Que tal ferver o cérebro um pouco?!

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NOTÍCIA DAS ESCOLAS

Aulas na rede municipal de Joinville

Fotos: Jaksson Zanco/Secom/Prefeitura de Joinville

iniciam com entrega de uniformes e obras de reforma

Cerca de 70 mil alunos iniciaram as aulas no mês de fevereiro, na Rede Municipal de Joinville em 85 escolas e 70 Centros de Educação Infantil (CEIs). A cerimônia de abertura do ano letivo ocorreu na Escola Municipal Caic Professor Mariano Costa e no CEI Adhemar Garcia, na Zona Sul, com a presença do prefeito Udo Dohler, vice-prefeito Comandante Coelho e da secretária de Educação Sonia Fachini para recepcionar os estudantes. Durante discurso, o prefeito Udo Dohler reforçou o investimento em inovação e tecnologia nas escolas. “Os alunos vão ter mais aulas de robótica para estarem preparados para o futuro”, ressalta. A Secretaria de Educação também irá ampliar a oferta de vagas na Educação Infantil com abertura, em breve, de novo edital de credenciamento com 1.600 vagas em creches privadas. Durante do evento, houve a entrega da obra de revitalização da Escola Municipal Caic Professor Mariano Costa e do CEI Adhemar Garcia, que ficam no mesmo terreno. A estrutura passou por melhorias com instalação de cobertura, substituição de esquadrias, pintura geral, revestimento cerâmico de paredes e pisos e instalação de plataforma elevatória. O investimento foi de R$ 868.181,22. O evento teve ainda a entrega de uniformes escolares para novos alunos e àqueles que já pertencem à rede, mas necessitam fazer a troca. Até o final do mês, cerca de 200 mil peças do modelo de verão foram entregues.

Aluno da Escola Pedro Ivo Campo é ouro em olimpíada de física O estudante Lucas Ramos, 15 anos, faturou medalha de ouro na premiação estadual Olimpíada Brasileira de Física 2018. Lucas concluiu o 9º ano na Escola Municipal Governador Pedro Ivo Campos e foi o único vencedor de escola pública municipal. A premiação envolve unidades públicas e privadas e em Santa Catarina e é organizada pela Udesc. Em 2018, os alunos das escolas municipais de Joinville conquistaram mais de 290 medalhas em olimpíadas de robótica, física, matemática e astronomia. 12 REVISTA ITS | É NA ESCOLA QUE A GENTE ACONTECE


Crianças de CEI Peter Pan fazem resgate da obra do artista plástico Luiz Si O Museu de Arte de Joinville (MAJ) recebe exposição de trabalhos das crianças do CEI Peter Pan inspirados na obra do artista plástico Luiz Sí. As turmas da pré-escola realizaram 150 desenhos que podem ser visitados até dia 30 de março. O horário de visitação é das 10h às 16h, de terça-feira a domingo, na rua XV de Novembro, 1.400, bairro América. O projeto Reencontrando Luiz Sí, Uma Experiência Criativa ocorreu numa parceria entre o CEI e o MAJ com objetivo de resgatar e apreciar as memórias do artista e valorizar os talentos locais, pois Luiz Sí era morador do bairro Glória, onde fica a unidade de educação infantil. A intenção da atividade também foi despertar e ampliar o processo criativo e reflexivo das crianças de forma lúdica. O primeiro passo foi visita pedagógica das crianças ao MAJ. "Nosso objetivo foi desmistificar o lugar e mostrar para as crianças que o museu é um espaço vivo", explica a diretora do CEI, Vlaviane Pereira Koch. Elas também participam de uma oficina de pintura como parte da ação educativa do museu e conheceram as técnicas utilizadas por Luiz Sí. Outra ação foi a pintura de um mural no pátio do CEI Peter Pan, prática muito comum usada pelo artista e que está presente em diversas escolas municipais de Joinville. O projeto continua com a visitação das famílias ao MAJ para conferirem os trabalhos realizados pelas crianças. A diretora Vlaviane acredita é um incentivo à valorização da cultura. "Com isso, queremos ampliar o olhar cultural das famílias para nossos museus e incentivar a visita."


SEMINÁRIO

Por Renata Bomfim

Na contramão do preconceito

Desde que passou a frequentar a Escola Municipal Professor Sylvio Sniecikovski, no Jardim Paraíso, Agatha Emanuelle Carvalho dos Santos, 11, aluna do sexto ano, nunca havia se permitido ir à aula de cabelo solto. Negra e com os cabelos crespos com corte black power, o medo de sofrer bullying a fazia ir todos os dias com o cabelo preso. Bastou uma atividade proposta pela professora de artes, Cintia Soares, em sobrepor no corpo dos alunos imagens de personalidades negras do mundo todo, que Agatha surpreendeu a todos e a si: escolheu refletir uma modelo que estava com os cabelos soltos e, a partir dali, os dela também ficaram. Com o tema “Nossas cores, nossas histórias”, a atividade se espalhou pela escola toda, com turmas do primeiro ao nono ano envolvidas, e teve mais de 130 estudantes interessados em serem fotografados para a atividade. “Muitos alunos negros não se leram, mas uma grande maioria sim, assim como muitos alunos que são brancos quiseram tirar a foto e eu deixei”, comenta a professora. Para desenvolver a atividade, Cintia selecionou mais de 200 imagens de pessoas negras do mundo todo em diferentes áreas e fez um recorte dentro da cultura popular brasileira, africana, haitiana e até venezuelana, já que na escola haviam alunos imigrantes. Mas, para chegar até esse resultado em fazer com que o aluno se sinta parte pertencente da sociedade, o trabalho da professora Cintia começou na observação. “Eu sentia muito forte das crianças negras essa falta de autoestima e de se reconhecer: aonde eu estou? Qual o meu lugar no mundo? Todos esses anos eu fui fazendo fala, independente do conteúdo, sobre empoderamento, consciência negra, de cultura mesmo, porque eles sempre se viam no lugar do escravo”, comenta. “E a gente tem que fazer um resgate cultural para que ele se sinta pertencente ao espaço, não só dentro da escola, como na sociedade como todo: se reconhecer nas propagandas, nos artistas. Esse reconhecimento que eles não tinham acesso, eu comecei a colocar dentro dos conteúdos.”

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Fotos: Renata Bomfim

Seminário de Educação para Promoção da Igualdade Racial chega ao quinto ano e promove formações sobre a importância da cultura e história africana


Quando Cintia apresentou a atividade para os alunos, a professora deixou para que cada um ficasse à vontade em participar ou não do registro e, caso aceitasse, de ter o direito de escolher a imagem que mais o representasse. Vitor Roberto da Silva, 12, é aluno do sétimo ano. Ele se vê negro e já tinha em mente quem gostaria de refletir no seu corpo: Nelson Mandela. “Eu já o tinha visto na televisão e eu acho ele muito legal”, comenta o aluno sobre a identificação com o ex-presidente africano. Para Vitor, participar de todas as atividades sobre igualdade racial proposta pela professora Cintia o deixou feliz, já que a memória sobre o negro que o aluno sempre acompanhou não ocupava lugares de destaque na sociedade. “Eu sempre via só negros apanhando e não gostava disso.” Todo esse trabalho desenvolvido pela professora Cintia está alinhado a campanha da Organização das Nações Unidas (ONU), chamada “Década Internacional de Afrodescentes”, que de 2015 a 2024 busca combater o preconceito, a intolerância, a xenofobia e o racismo. Por isso, desde 2015, a Secretaria de Educação de Joinville passou a pensar em ações para responder as diretrizes propostas pela ONU e trabalhos que busquem, principalmente, a igualdade racial. Dessa forma, a “Década Municipal de Afrodescentes” chega ao quinto ano de caminhada com o “Seminário Municipal de Educação para Promoção da Igualdade Racial” que promove formação para gestores e professores com o intuito de combater o preconceito, o racismo e discriminação na escola e na comunidade. Com programação neste mês de março, Denize Aparecida da Silva, técnica pedagógica e uma das responsáveis pela organização do evento, comenta que a escolha da formação neste mês não foi em vão. "Foi intencional para pensar toda a comunidade negra e indígena em Joinville, principalmente pensar na questão escolar e como ela se envolve nessa situação, para que na Semana da Consciência Negra a gente não tenha que fazer por fazer, mas o que foi feito durante o ano que pode ser apresentado para a comunidade”, destaca. Ao lado dela, Nazaré Costa e Ana Paula Simão, técnicas pedagógicas, e mais uma comissão organizadora formada por integrantes das unidades escolares são os responsáveis em pensar e estruturar toda a formação. Com esse envolvimento e dois dias de eventos programados com exposições, palestras e participações de professores da rede, a expectativa da comissão organizadora não poderia ser outra: “que voltem motivados para suas unidades e mobilizem os professores a participarem”, comenta Nazaré.

Vitor Roberto da Silva escolheu a imagem de Nelson Mandela para sobrepor em seu corpo

Agatha Emanuelle Carvalho dos Santos passou a ir de cabelo solto à escola depois de participar de atividade sobre empoderamento

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Atividade no CEI Aventuras de Criança aproxima os alunos da cultura africana

E se a inspiração começa ao ver as ações do outro, Geane Vieira, professora volante no Centro de Educação Infantil (CEI) Aventuras de Criança, precisou participar de uma oficina oferecida pela Denize Aparecida da Silva, técnica pedagógica, e de palestras ofertadas no Seminário de Igualdade Racial, ainda em 2018, que a professora se permitiu ir mais a fundo sobre o estudo da África com as crianças do maternal e segundo período da unidade. O que antes ficava restrito a contação de histórias e estudos de palavras de origem africana, ao sentir a curiosidade das crianças e o interesse em ouvir as narrativas, Geane resolveu criar a Mala da África. Nela, tecido estampados, livros e instrumentos africanos e indígenas passaram a ser material pedagógico. Mas um, em especial, até saiu da mala, mas foi além do espaço educativo: a capoeira. Interessados na sonoridade, as crianças ficaram fascinadas pela luta e a professora, antes de se sentir segura em trabalhar em sala de aula com os alunos, buscou o conhecimento próprio e pessoas que pudessem inseri-la nesse contexto de ensino e aprendizagem. E é aqui que o contramestre Cica ganhou as

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crianças, a sala e a escola. “Ele fez umas brincadeiras com afetividade e trabalhava todos os planos: médio, alto e baixo”, relembra a professora. “A capoeira é um jogo de troca, em que você não avança sem estar seguro e isso bem garantido. E eu comecei a brincar de capoeira e eu fui vendo que não só os grandes estavam interessados, mas o maternal também. E aí veio uma chuva de pais perguntar onde tinha capoeira, porque as crianças estavam fazendo em casa. Foi algo que aconteceu a nível para além da escola.” Com didática diferente de ensino, para se desenvolver um planejamento na educação infantil é preciso, primeiro, que a criança sinalize o centro de interesse e, com isso, as professoras passam a buscar materiais para o desenvolvimento daquela sinalização. “Você vai vendo o que a criança mostra e para aonde você deve ir. É uma prática que ela conduz, mas a gente pesquisa para fazer o planejamento”, comenta Geane. Como resultado dos projetos desenvolvidos em suas unidades, Cintia e Geane compartilham seus trabalhos no 5º Seminário Municipal de Educação para Promoção da Igualdade Racial.

Foto: Renata Bomfim

Estudo da igualdade racial e étnica começa desde pequeno


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PROGRAMA

Fotos: Renata Bomfim

Por Renata Bomfim

Equipe escolar: olhe para os espaços

ocupados pelos alunos Implantado há dez anos na rede municipal como política pública, o Programa Reinventando os Espaços Escolares oferece centro de formação para as equipes gestoras das escolas

Para ser representante de classe na Escola Municipal Professora Laura Andrade, os alunos precisam entender que as responsabilidades da função vão além da sala de aula: desde o primeiro trimestre de 2018, os estudantes passaram a fazer parte do conselho de classe da unidade escolar e, além de discutir sobre a relação aluno - professor, o olhar atento das crianças para as necessidades do

espaço educativo ampliou o conhecimento de ensino e aprendizagem. Uma iniciativa que começou a ser praticada antes mesmo da diretora Aparecida de Oliveira Modesto receber o convite para participar do centro de formação, ação que faz parte do Programa Reinventando os Espaços Escolares que busca impulsionar práticas pedagógicas e que foi ao encontro da proposta implantada na rede

municipal de ensino. “Existem os representantes de turma, do primeiro ao nono ano. Quando acontece o conselho de classe, esses alunos têm um período de dez a quinze minutos para dupla/trio de representante pontuar o que tem de bom dentro da escola, da sala de aula”, comenta a diretora. “O que eles não gostaram e não está funcionando e as sugestões e trazem para os professores essas questões.”


Com o espaço aberto para as trocas de ideias, a equipe escolar entendeu que as necessidades dos alunos se estendiam para além da sala de aula, já que as questões levantadas se davam em torno de ocupação e apropriação do espaço. De um lado, crianças do fundamental I estavam convictas do desejo: um espaço na árvore. “ O primeiro ano trouxe isso com muita força. O que fazer e como fazer? Para mim, era colocar uma grama e arrumar bonitinho, pronto”, relembra Aparecida. “Mas não, eles querem ocupar esse espaço. A questão da ocupação do espaço e apropriar do lugar é que foi a grande diferença dentro da formação e aí, sim, ter funcionalidade.” Com participações constantes no centro de formação que começou em agosto do ano passado, Aparecida passou a ter um novo olhar e entender que quando o aluno passa a ser inserido no contexto de apropriação do espaço, ele vai saber respeitar e a zelar por aquilo que foi feito. Para Lesani Becker, técnica pedagógica e uma das formadoras dos encontros, se o aluno participa do processo com sugestões, ele passa a cuidar porque sabe que foi feito para ele. O Programa Reinventando os Espaços Escolares vem sendo vivenciado na rede há dez anos, quando foi criado para atender a educação infantil. “Hoje, é uma prática diária, mas como se tornou uma política pública, ele faz parte do plano municipal de educação e a meta é ampliar para o ensino fundamental. Então, desde o ano passado a gente está trabalhando em cima disso: como inserir essas ações do programa dentro do ensino fundamental, porque são realidades diferentes”, destaca Lesani. Para Aparecida, o centro de formação é um meio de embasar a forma de recepcionar a criança que sai do Centro de Educação Infantil (CEI) e chega na escola com a conscientização de observar e desfrutar os espaços. “Então, quando eles veem para as escolas, que se tenha essa continuidade, porque aqui eles vão passar nove anos, essa é a expectativa.” E, dessa forma, o Programa Reinventando os Espaços Escolares se consolida em fazer com que todos os

espaços sejam educadores sustentáveis. “Esses cantinhos que não tinham movimento se tornam espaços para todos”, comenta Marlene Terezinha Zimmer, também responsável pelas formações. Com encontros de quatro horas e carga horário de 160, a missão do programa, também, passa a atender os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (ONU) e busca estabelecer metas globais de ações para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade. Para colocar o programa em prática, além de toda a mobilização da escola e comunidade, Vanessa Cristina Melo Randig, diretora executiva, destaca o investimento feito pela rede municipal na formação dos educadores, no investimento dos recursos financeiros e na mobilização das pessoas que acreditam na eficácia do programa. “Precisamos da participação da comunidade, porque a intenção é que o projeto se reinvente e se multiplique, que não sejam questões estáticas”, reforça. Durante seis meses, a Escola Municipal Professora Laura Andrade passou a mudar o comportamento e ouvir as demandas de ocupações dos próprios alunos. Por isso, ao iniciarem o ano letivo de 2019, uma mudança já começou a ser colocada em prática: divisão do recreio. Agora, os alunos do primeiro ao quinto ano fazem a parada em um horário; enquanto os do sexto ao nono em outro. “E todo último dia de cada mês todos se reúnem”, ressalta a diretora sobre a ideia que veio dos próprios alunos e, também, um dos resultados das participações do centro de formação. Além disso, as crianças devem ganhar no primeiro semestre o espaço na árvore para leitura e descanso, enquanto outras ações também passam a ganhar força no ambiente escolar. Vale ressaltar que todas as mudanças feitas na escola estão dentro do Projeto Político Pedagógico (PPP), apresentado em assembleia geral como prestação de contas para que toda a comunidade escolar possa saber das ações e planejamento feito na escola.

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Além de cumprir com as responsabilidades de aluno do oitavo ano no período da manhã, Samuel Bieging, 13, estudante da Escola Municipal Professora Laura Andrade, no contraturno escolar o papel se inverte e, no lugar de aprendiz, o aluno se torna mestre. O laboratório ao ar livre troca a teoria pela prática e, no espaço da horta pedagógica, Samuel ensina os alunos de duas turmas dos quartos anos, durante as aulas de ciências, os cuidados e manutenção do espaço que, agora, se tornou pedagógico. Com todo o planejamento feito até o final do ano, Samuel compartilha com os colegas da escola embasamento teórico para cada atividade desenvolvida na horta. Fascinado pe-

las plantas, há três meses fez um dos seus sonhos se tornar realidade e abriu a sua própria floricultura. “Eu sempre fui aos finais de semana na casa da minha vó que sempre tinha planta e eu ajudava a cuidar”, relembra. O Samuel não é representante de classe, mas foi quem sinalizou, na prática, sobre a importância de se ter um olhar para a hora como espaço de aprendizagem. Agora, ao lado da horta e junto com o espaço de captação de água da chuva, o aluno conseguiu um laboratório coberto para desenvolver atividades com os outros estudantes. Ações como essa de sustentabilidade já eram projetos trabalhados pela secretaria antes mesmo de

incorporá-lo no Programa Reinventando os Espaços Escolares. “Um processo que se alterou com o tempo é a horta escolar, onde a escola tinha o espaço que era operado pelos agentes operacionais e hoje ela tem um entendimento pedagógico em que os alunos participam”, comenta Vanessa. “É um programa que tem um aprofundamento no conhecimento, acho que essa é a grande reinvenção para os espaços. Por isso o entendimento de trazer as ODS para esses lugares, porque nós conseguimos ter os sentidos junto com o conhecimento estabelecido pela sociedade para que sejam experimentados e aprofundandos, nós não vamos ficar em mergulhos rasos.”

Todo mundo ganha! Para as técnicas pedagógicas, Lesani Becker e Marlene Terezinha Zimmer, responsáveis, também, pela formação dos educadores, o objetivo desses encontros, além de fazer com que a escola tenha espaço educador sustentável, o programa busca despertar na comunidade escolar outros três pontos importantes, como destaca Lesani, que é a interiorização, formação de liderança e pertencimento. Interiorização: a primeira prática é que as gestões das escolas interiorize essa proposta desses espaços para que os alunos possam usufruí-los, não apenas por ser bonito, mas para ser vivenciado. Formação de liderança: despertar no próprio aluno, de forma natural, sobre os interesses pela ocupação dos espaços. Alô, Samuel! E outras histórias que temos nas escolas da rede municipal. #parabéns. Pertencimento: é fazer com que o aquilo se sinta parte do processo, em harmonia com a natureza.

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Foto: Renata Bomfim

E os espaços educativos já existentes, como ocupá-los?

Samuel Bieging faz da horta pedagógica espaço para ensinar outros alunos sobre a preservação e cuidado


CURTIÇÃO É SER VOCÊ.

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Foto: Emily Milioli

Por Renata Bomfim

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nquanto esperava pela filha Emanuella da Silva, 8, ao lado da sala em que a pequena estuda ao final da aula, Josiane dos Santos da Silva viu uma cena que, certamente, jamais vai esquecer: em conversa com a professora Talita Nunes Francisco, Emanuella disse que iria pegar a mochila porque sua mãe a esperava para ir para casa. Uma situação que pode ser corriqueira para alguns, mas não para Josiane: aquele foi o primeiro momento, em oito anos, que ela viu sua filha chamá-la de mãe. Aluna da primeira escola bilíngue de Santa Catarina em libras e língua portuguesa, a pequena estudante passou a fazer a troca no espaço educativo de conversar e interagir ao se reconhecer entre os outros sete colegas da primeira turma de surdos da rede municipal de ensino de Joinville.

Pioneira em Santa Catarina como unidade escolar bilíngue em libras e língua portuguesa, a Escola Municipal Monsenhor Sebastião Scarzello, no bairro Itaum, foi inaugurada em janeiro de 2018, quando passou a pertencer ao município. Com o maior número de atendimento para crianças surdas na zona sul da cidade, o processo de reforma e adequação do espaço educativo já foi estruturado em fazer da unidade escolar totalmente inclusiva, desde as sinalizações até o planejamento da grade curricular. Com duas turmas do ensino fundamental I com alunos surdos, a rede municipal de ensino de Joinville contratou a primeira professora surda, com formação em pedagogia, para lecionar história, geografia, ciências e línguas de sinais para estudantes

das séries iniciais. Talita é professora há nove anos e, desde o ano passado, quando o projeto da escola ainda era piloto, a professora observou que a dificuldade da turma estava na comunicação. “No começo, eles não sabiam nada de libras. Eles ficavam muito agitados e aqui na escola eles passaram a se desenvolver melhor”, comenta. Diferente dos alunos surdos, Talita nasceu ouvinte. Com dois anos e meio, ao contrair meningite, a sequela foi perder a audição. “Eu tinha muita dificuldade de aprender e chorava, não gostava de estudar, porque a escola era uma sala própria para ouvintes”, relembra. “Eu não tinha intérprete e as minhas notas sempre eram baixas. Aos 16 anos, eu comecei a estudar libras e passei a entender melhor, porque eu entendia as falas, mas não o significado das palavras.”

Alunos surdos do ensino fundamental I estudam no ensino regular com ensino de libras como primeira língua

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Fotos: Emily Milioli

Gabriele Djalma e Angélica dos Santos são as duas auxiliares de professor que falam em libras e ficam em sala de aula para auxiliar os alunos nas atividades entre os estudantes surdos e ouvintes Durante as sessões com a fonoaudióloga, Talita recebeu o incentivo para fazer faculdade de pedagogia e se tornar professora de crianças surdas. Apesar de querer seguir a profissão de veterinária, a semente da educação já havia sido plantada. Ingressou na faculdade de pedagogia e, ali, conseguiu uma intérprete para acompanhá-la. Ao se reconhecer entre os alunos, a professora pontua a importância desse espaço para o ensino e aprendizagem, já que o surdo tem um jeito próprio de ensinar, assim como de aprender. De acordo com a Secretária de Educação, Sonia Victorino Fachini, ter uma escola bilíngue é respeitar que essas crianças, desde pequenas, aprendam libras como sendo a primeira língua. “Além disso, eles convivem com as crianças ouvintes que também terão a aprendizagem de

libras para que essa comunicação se efetive e não tenha só o direito de se comunicar com quem é surdo.” Isso porque a grade curricular dos alunos do primeiro ao quinto ano da primeira escola bilíngue passou a ter como disciplina o ensino de libras, já que em aulas, como educação-física e artes, as turmas se unem. Além disso, os pais com os filhos surdos frequentam, uma dia da semana, o espaço escolar para ter aulas de sinais e toda a comunidade escolar tem horários para ter aula com a professora de libras. A diretora da unidade, Ilma de Souza Alves, já havia feito aulas de libras. Mas com a falta de prática, alguns sinais já haviam sido esquecidos. “Quando a gente faz esses encontros com funcionários, professores, você vai reavivando a memória”, comenta. De acordo com a diretora, a primeira reunião de pais feita na escola

este ano foi um momento de receber o retorno sobre o ensino da língua de sinais na grade. “Em duas semanas de aula eles já estão cumprimentando os pais”, destaca. “Para nós, que estamos aqui dentro da escola, a gente percebe que está plantando uma semente e os frutos estão sendo colhidos. É muito prazeroso.” A secretária, atenta ao crescimento da educação no Brasil, sabe que é preciso olhar o ensino em todas as direções. “Em Santa Catarina e, em específico, Joinville, tem um diferencial. Temos mais de 70 mil alunos atendidos na rede, um grupo de quase seis mil professores, todos eles acreditando que é possível transformar pela educação e, portanto, abraçando projetos como esse, entendendo a diversidade que nós temos e a obrigatoriedade que a gente tem de adequar os nossos espaços.”

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Busca de referência Para implantar a escola bilíngue em libras e língua portuguesa, a Secretaria de Educação de Joinville visitou dois estados em que esse ensino já é realidade. No Paraná e em Brasília, escolas inclusivas já desenvolvem o trabalho com crianças surdas, apesar de que a forma como o projeto foi estruturado na maior cidade do estado de SC o torna diferente. Integrante desde as discussões iniciais para implementação da esco-

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la, Valdirene Simão passou a ter um contato mais próximo com as mães das crianças surdas. “Elas são muito participativas e se deslocam dos bairros para trazer os filhos até aqui”, comenta. Para a técnica pedagógica, a partir do momento em que a criança surda passa a ser compreendida, ela muda o comportamento. E foi nesse processo de compreensão que as mães também sentiam essa necessidade de estar

perto de quem pudesse entender o que cada uma, dentro da sua história, vive. Foi assim com o Deivid Rauan de Lima, filho da Jaqueline Aparecida Inácio. “Fazia tempo que a gente estava esperando por esse espaço, porque aqui eles ficam mais soltos, interagem e se divertem”, destaca a mãe que relembra do sofrimento que era quando começou a levar o filho para ingressar na educação infantil.


Direito de um é direito de todos!

Fazer uma educação cada vez mais inclusiva sempre esteve em pauta na rede municipal de Joinville. Com o olhar atento às transformações do espaço educativo e com a perspectiva de que a escola se tornou para todos, as crianças com atendimento especializado passaram a frequentar o ensino regular. “Diante disso tudo, as escolas têm que se preparar para o acolhimento dessas crianças”, destaca a Secretária de Educação. “Nós, enquanto educação de Joinville, sempre tivemos um grupo interno que olhava muito para isso. Nós fomos, então, estudando e verificando a possibilidade de crianças pequenas e do ensino fundamental I pudesse ter a aprendizagem da libras como sendo a sua primeira língua.” Ao todo, são 24 alunos surdos matriculados em toda a rede municipal. Com a chegada da escola bilíngue em libras e língua portuguesa, sete famí-

lias resolveram matricular os filhos no novo espaço, as outras 17 continuam com as intérpretes em sala de aula com alunos ouvintes. Neste modelo de escola, segundo Sonia, por enquanto só é possível fazer o atendimento para crianças do ensino fundamental I, já que ainda é difícil encontrar professores com formação técnica e em libras. “Ainda não existe, no Brasil inteiro, professor de matemática graduado em matemática e libras junto. Isso é uma caminhada que está acontecendo. Levar isso para o ensino fundamental II vai ser algo mais tardio, porque eu não tenho pessoas formadas para isso.” Por isso, os alunos surdos que estão matriculados em outras unidades da rede, seguem com o Atendimento Educacional Especializado (AEE), no contraturno escolar, e com um auxiliar de professor em sala de aula como intérprete.

Fotos: Emily Milioli

Mães participam ativamente na educação dos filhos surdos e se sentem felizes com a educação inclusiva oferecida da rede municipal de ensino de Joinville

Professora Talita Nunes Francisco nasceu ouvinte, mas perdeu a audição após contrair meningite

Reconhecimento!

Desde 2002, o Brasil reconhece a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como o idioma oficial da comunidade surda, apesar de já ser disseminada no país desde o século 19. Atentos às leis e aos direitos dos estudantes, a escola bilíngue de libras e língua portuguesa ensina aos deficientes auditivos a língua brasileira de sinais como primeira língua, seguido do português, por ser o idioma majo-

ritário no país. “Diante disso, nós passamos a desenvolver o projeto de escola bilíngue e que tivesse as crianças, também ouvintes, aprendendo também libras, acreditando que o melhor passo é a inclusão porque no dia a dia, no seu trabalho, ele vai lidar com pessoas que não tem o conhecimento da libras, por isso ele tem que saber o português escrito”, diz a Secretária de Educação, Sonia Victorino Fachini.

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OBR

Por Renata Bomfim

É POSSÍVEL

PROGRAMAR MEDALHAS?

Estreia na Olimpíada Brasileira de Robótica rendeu cinco medalhas e 18 certificados para os alunos da rede municipal de ensino de Joinville em 2018

Maratonistas de olimpíadas que fortalece a resistência dos neurônios, os alunos da rede municipal de ensino de Joinville já estão acostumados com o ritmo de provas que participam por ano. É Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) de um lado, Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA) de outro e, junto disso, ainda em 2018, os alunos do ensino fundamental II participaram pela primeira vez da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR) e já colocou os estudantes no pódio: ao todo, cinco alunos conquistaram medalhas.

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Francisco Josef Budzisch, medalhista de bronze

Além disso, mais 18 estudantes conseguiram certificado. O resultado, de acordo com Sandra Trapp, gerente de tecnologias educacionais, faz com que todos se sintam orgulhosos. “A gente sabe que eles são bons”, afirma. “O mais importante, para nós, é ver que eles (alunos) levam a sério.” Tão a sério que o primeiro contato que eles passaram a ter com robótica também começou ainda no ano passado, quando a Secretaria de Educação passou a instigar nos gestores a criação de um espaço maker nas escolas para o ensino de arduino e linguagem de programação. Paralelo


Murilo Tomaselli Teichert, medalhista de prata

Atentos aos campeonatos relacionados a robótica, os alunos passaram a se sentir engajados e motivados em levar para fora da escola as novidades do mundo da programação. Não é à toa que já marcaram presença duas vezes no Torneio de Robótica First Lego e conquistaram bons resultados. Letícia da Silva Sousa, 15, participou com uma equipe no torneio com o tema Espaço em 2018. Os alunos precisavam estudar um problema e apresentar soluções diante do desafio. “O nosso foi o excesso de CO2 e a nossa solução foi aplicar a hidroponia”, relembra. “Isso é uma plantação em que a gente não utiliza o solo, apenas água e nutrientes e aí as plantas crescem mais rápidas e saudáveis, além de absorver o CO2.”

a isso, foi inaugurada duas salas modelo, no Centro XV, no bairro Glória, e no Cesita, no Itaum, com todos os materiais e disponibilidade para que os alunos no contraturno escolar possam se deslocar e ter mais um tempo de estudo. Francisco Josef Budzisch, 15, já se formou no ensino fundamental, mas até o ano passado era aluno da Escola Municipal Professora Anna Maria Harger e foi lá onde teve o primeiro contato com o arduino. “Quando a escola entregou uma folha com todos os assuntos que a gente iria aprender nas aulas de robótica, primeiramente, eu achei que poderia escolher qual

Letícia Silva Sousa, medalhista de bronze

O que é OBR?

A maior Olimpíada Brasileira de Robótica da América Latina é totalmente construída com conteúdos relacionados a robótica e busca engajar jovens para a escolha da profissão em áreas de tecnologia. Dividida em duas modalidades, teórica e prática, é aberta para alunos do ensino público e privado sem nenhum custo.

Fotos: Renata Bomfim

Daniela Nessler, medalhista de prata

Aulas de robótica para além do espaço maker

atividade faria”, relembra o estudante. “Mas depois eu vi que eram todas: programação de lego, programação de arduino, desenho técnico, elétrica teórica e prática.” Matriculado no ensino médio no Cedup, o contato com a robótica no ensino fundamental contribuiu na escolha do estudante em escolher cursar informática na unidade, atrelada aos estudos do ensino regular. A Olimpíada Brasileira de Robótica conta com o apoio do Ministério da Educação (MEC), Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e CNPq.

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Educação financeira

Por Neise Aparecida dos Santos

Educação financeira para jovens Como desenvolver? Existe uma enorme ânsia dos jovens para serem independentes e senhores das suas decisões e, por isso, esta editoria vai tratar de ensinar você a gerir seus gastos pessoais e ajudar com o futuro da sua educação financeira. Com uma certa idade, muitos adolescentes já podem deixar de ter mesadas dadas pelos pais para obter seu próprio sustento: às vezes em programa do governo; outras por desenvolver pequenas atividades e receber uma remuneração em troca. É interessante para a família que o dinheiro se torne sinônimo de ganhos financeiros aliado a objetivos bem definidos. Nesse contexto, as famílias brasileiras tiveram que se adaptar à nova realidade econômica do país, o que torna o tema da educação financeira não

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Mobills

só atual, mas também essencial para auxiliar no restabelecimento de alguns desses grupos por meio de práticas saudáveis de planejamento financeiro. E aí que vem a virada na vida do jovem: acesso a educação financeira que irá apresentar a ele um grande ganho de autonomia para lidar com seu dinheiro e até ajudar a família. Também permite um fortalecimento da capacidade de autoconhecimento, pois ele começa a compreender quais são seus hábitos de consumo e de que forma isso reflete nas suas finanças e até mesmo na sua vida pessoal. E, para tudo isso ser estimulado, um bom aliado pode estar dentro do próprio celular: aplicativos de gestão financeira que podem ser baixados gratuitamente.

Um dos aplicativos mais conhecidos e de fácil manuseio é o Mobills, ele ajuda a economizar dinheiro e atingir a tranquilidade financeira. A grande sacada desse aplicativo é que tudo fica guardado nas nuvens e não usa a tal disputada memória do celular.


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Expense IQ

O aplicativo para controlar gastos Expense IQ disponibiliza 12 relatórios diferentes, como fluxo mensal de caixa, despesas por categorias e rendimento x despesa. Mas ele só está disponível, até o momento, para o Android.

A boa e velha planilha

Além destes aplicativos gratuitos, para quem tem mais conhecimento e gosta de criar a sua própria forma de controle, faça uma planilha de excel e separe ganhos e gastos ao mês. Ao longo de um período, pode-se analisar o que pode ou não ser cortado para melhoria das finanças. Fazer todo esse controle é uma forma de refletir as ações e experimentações de novos comportamentos e, claro, saber com o que você mais gasta e como controlar aquele trocado que você nunca sabe como gastou.

Neise Aparecida dos Santos é fundadora da Quales Treinamentos Empresariais e especialista em Docência do Ensino Superior e em Finanças, Controladoria e Auditoria. REVISTA ITS | É NA ESCOLA QUE A GENTE ACONTECE

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GALERIAS

Eduardo e Guilherme

Natali

Roberta e Julia

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Amanda, Leticia e Bárbara

Camila, Maria e Júlia

Gabriel, Vinicius e Gabriel Jarafack


Paranaguamirim

Escola Municipal Professora Ada Sant'Anna

joão

Leticia Vargas

Fotos: Foco Eventos

Gustavo, William e Nicolas

Natali, Anabelli e Monike

João e Leticia

Eduardo, Caleb e Guilherme

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GALERIAS

FELIPE, HIGOR E JEAN

ESTEFFANY E MARIANA

JESSICA E GABRIELA

JULIA E THAYNI

MILENA, GABRIELA, MARIA ESTEFFANY, MARIANA, TATIANE, JULIA, SUPERVISORA JUCICLEA E PROFESSORA CARLA

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MICHELE E EDUARDA


Ulysses Guimarães

Escola Municipal Amador Aguiar

GIOVANA, SARAH, EDUARDA, MIRELLA, MICHELE, RAFAELA E PROFESSORA CARLA

RAFAELA E MIRELLA

SARAH E GIOVANA

Fotos: Foco Eventos

MILENA E MARIA

KELTOM, MURILO, CARLOS MUELLER E CARLOS SIRQUEIRA

KALEO, KRYZAN, CARLOS SIRQUEIRA, CARLOS MUELLER, DAVI E KELTOM

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GALERIAS

Beatriz, Geovana e Evilyn

Luan e Thiago

Kaynã, Rhuan, Thiago, Meri e Luan

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Davi, Luan, Lucas, Dominique, Thiago, Lucas e Erick

Nicolly, Pedro, Leonardo, Gustavo, Meri e João

Thaise, Maria e Brendha


Fátima

Escola Municipal Professor Edgar Monteiro Castanheira

Vitoria

Maibly e Jayne

Rhuan e Kaynã

Fotos: Foco Eventos

Sarah e Diretor

Mabily, Kaynã, Jayane, Rhuan e Idilon

Melissa, Nicole e Sarah

Vitoria e Thuany

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GALERIAS

Analice e Camilly

Emanuel e Matheus

Emanuel, Ihaynara, Djeison, Vinicius e Julia

Matheus, tiago, Geferson, Julia e Ihaynara

Julia e Ihaynara

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Djeison, Luana e Thamires

Cecilia e Beatriz

Luana, Thamires, Djeison e Emanuel


Fátima

Escola Municipal prefeito Geraldo Wetzel

Matheus

Cecilia, Betriz, Analice e Camily

Thamyres

Guilherme, Vinicius e Yaksshalôm

Fotos: Foco Eventos

Miguel, Arthur, Avraan e Wesley

Luana e Thamyrs

Luana

Julia

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GALERIAS

Luis, Sup.Kennie e João V.

João e Natalia

Pablo, Yuri, Pedro e Willian

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João, Willian, Guilmar, Kamila, Marili e Natanael

Sabrina e Alice

Lucas e Felipe

Thaiza e Vitoria


Adhemar Garcia

Escola Municipal prefeito Luis Gomes

Kassandra, Jéssyca e Phelipe

Pedro, Willian, Marilli, Guilmar e Ruan

Fotos: Foco Eventos

Thaiza

William, Pedro, Thaiza, Sup. Kennie e Prof. Silvio

Jose, Sup. Kennie e Daniela

Yuri, Pablo e Kamila

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SAIDEIRA

Por Ana Beatriz Brandão

Ler, sentir e saber:

a literatura nas escolas Desde pequena, os livros sempre estiveram muito presentes em minha vida. A importância da leitura foi bem explícita em casa. Mas, e quando a família não gosta de ler e nem estimula seus filhos? A responsabilidade é da escola? O mundo ideal seria que as pessoas criassem o hábito da leitura tanto em casa como no colégio, infelizmente, essa não é a realidade. Ler, muitas vezes, é visto mais como obrigação curricular, do que como forma de lazer e fonte de conhecimento. Acredito que isso se deva, em parte, pelos títulos impostos aos alunos que, geralmente, mostram histórias que se distanciam muito da realidade em que eles vivem e da linguagem que eles conhecem. Transformar “dever” de ler para costume não é tão complicado quanto parece. Basta escolher obras que despertem nas crianças e adolescentes a curiosidade de saber o que está escrito na próxima página. E isso vem da escolha de títulos que provoquem essa necessidade de saber mais, que aproxime o leitor do mundo que lhes é mostrado durante a leitura.

Sobre a autora:

Com cinco anos já era uma ávida leitora, aos treze iniciava uma jornada cercada de magia junto aos seus personagens e atualmente, com dezoito anos, já publicou cinco livros e embarca na forte emoção de acompanhar o filme baseado em seus dois best-sellers, O Garoto do Cachecol Vermelho e A Garota das Sapatilhas Brancas. Targaryen, potterhead, narniana, semideusa e tributo, Ana Beatriz Brandão vive intensas aventuras todos os dias e celebra suas

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Como, geralmente, o primeiro contato com os livros vem por meio da escola, é importante que eles sejam de acordo com a idade do aluno, que se aproximem de sua realidade e mostrem que ler é também uma forma de diversão. Histórias que criam identificação com personagens, vivências e mostram de forma lúdica acontecimentos, que até podem ser profundos, torna a leitura mais leve e divertida, além de levar informação e conhecimento ao aluno. Eu deixaria como dica que os professores criem grupos de leitura entre os alunos, que estimulem a visita de autores nas escolas, promovam feiras e trocas de títulos, montem peças baseadas em obras literárias e intercalem títulos contemporâneos com os clássicos na grade curricular. Essas são as ferramentas que podem ajudar a transformar uma "obrigação" em hábito. A leitura é a melhor arma para se enfrentar o mundo lá fora. Ela estimula a criatividade, melhora o vocabulário, nos mostrar lugares e culturas diferentes, apenas com um virar de páginas!

publicações, desde a mais recente obra Sob a Luz da Escuridão, até aquela que pela primeira vez cativou o público, Sombra de um Anjo. Não esquece as emoções vivenciadas em Caçadores de Almas que também tem um valor inestimável à jovem escritora. Seu maior sonho é poder continuar contando suas histórias para todos aqueles que, assim como ela, acreditam que os livros são a melhor forma de tocar o coração das pessoas e mudar suas vidas.


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