Revista Jornalismo e Cidadania Nº 48

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número 48 - MAIO/AGOSTO 2022 Marcos Costa Lima, Presente!

Expediente ÍNDICE

Editor Geral | Heitor Rocha Professor PPGCOM/UFPE

Editor Internacional | Marcos Costa Lima Pós-Graduação em Ciência Política/UFPE

Concepção Gráfica | Ivo Henrique Dantas Professor Caesar School

Diagramação | Rafaela Lima Bacharel em Biblioteconomia

Revisores | Laís Ferreira e José Bruno Marinho Doutorandos de Comunicação PPGCOM/UFPE

Colaboradores |

Alfredo Vizeu

(Professor PPGCOM UFPE)

Pedro de Souza

(Ex-supervisor executivo do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento)

Túlio Velho Barreto

(Fundação Joaquim Nabuco)

Gustavo Ferreira da Costa Lima (Pós-Graduação em Sociologia/UFPB)

Anabela Gradim

(Universidade da Beira Interior Portugal)

Ada Cristina Machado Silveira

(Professora da Universidade Federal de Santa Maria- UFSM)

Antonio Jucá Filho

(Pesquisador da Fundação Joaquim NabucoFUNDAJ)

João Carlos Correia

(Universidade da Beira Interior Portugal)

Leonardo Souza Ramos

Professor do Departamento de Relações

Internacionais da PUC –Minas Gerais e coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Potências Médias (GPPM)

Rubens Pinto Lyra

(Professor do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas da UFPB)

Alexandre Zarate Maciel

(Professor da UFMA e Doutor em Comunicação pela UFP)

Editorial | 3

Heitor Rocha

Presente e Futuro – Os Horizontes à Vista e os Distantes | 4

Ivo Pedrosa

Por que não discutir os impactos socioambientais dos negócios do vento? | 7

Heitor Scalambrini Costa

Reflexões sobre Conflitos Socioambientais Amazônicos | 10

Antônio Jucá

Telejornalismo, desinformação e negacionismo no Brasil | 13

Adriano Rodrigues de Oliveira

Escritores de livros-reportagem estabelecem contato direto com leitores | 15

Alexandre Zarate Maciel

Entre Oligarcas e Bilionários: um Estudo de Discurso | 18

Thiago Diniz do Nascimento

Da vaia à consagração: o centenário da Semana de Arte Moderna | 21

Rômulo Santos de Almeida

The Stakes in Brazil’s Election Couldn’t Be Higher | 24

Francisco Dominguez

Nota de Pesar do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF | 26

Prof. Vágner Camilo Alves

Homenagem a Marcos Costa Lima | 27

Rubens Pinto Lyra

Das minhas conversas com meu avô | 29

Francisco Costa Lima

UFPE lamenta o falecimento do professor Marcos Costa Lima | 31

Ascom

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Revista Eletrônica do Grupo de Pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade -

EDITORIAL

Heitor Rocha

ARevista Jornalismo e Cidadania chega à edição 48 estendendo a sua periodicidade para quadrienal devido às dificuldades enfrentadas na sua produção, agora enormemente ampliadas com o falecimento do professor Marcos Costa Lima, que se constituía no suporte fundamental da publicação pela diligente disposição de mobilizar seu extraordinário leque de pesquisadores parceiros e amigos para atrair artigos significativos de reflexão atualizada sobre os desafios enfrentados não só nacionalmente, mas pela humanidade em todos os cantos do planeta, seja na Europa, na Ásia, na África ou nas Américas.

Contudo, destaca-se, especialmente, os textos regulares de Marcos Costa Lima com denúncias sobre as injustiças do sistema capitalista e seus malefícios para as populações mais vulneráveis e para o meio ambiente.

Vale registrar também que a Revista Jornalismo e Cidadania foi inspirada na admirável experiência da Revista Vidas Secas, editada pelos professores Marcos Costa Lima e Deniz Bernardes e pelo artista plástico Rodolfo Mesquita, no final da década de 70 do século passado.

Uma avaliação geral da carreira do professor Marcos Costa Lima precisa distingui-lo como uma daquelas pessoas imprescindíveis que lutam pela humanidade toda a vida e que, por isso, merecem ser homenageadas como fizeram seus alunos na missa de sétimo dia, o que aqui repetimos:

MARCOS COSTA LIMA, PRESENTE!

Heitor Rocha é Editor Geral da Revista Jornalismo e Cidadania, é professor do Departamento de Comunicação Social e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.

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PPGCOM/UFPE

Presente e Futuro – Os Horizontes à Vista e os Distantes

Vivemos um período em que estamos diante de inúmeras tarefas: as relacionadas com o esforço redobrado para a mudança, em outubro deste ano, dos detentores de poder nos Executivos e Legislativos federais e estaduais e as referentes à reconstrução do ambiente viável para o convívio social e das instituições democráticas.

Além da imprescindível e permanente luta pelas mudanças na esfera de atuação de cada cidadão, as eleições de outubro são o primeiro horizonte de destaque à vista. Não será tarefa fácil, mas é inadiável. Os 25 a 30% da população com direito a votar que, em pesquisas de opinião, se mantêm favoráveis à extensão do regime fascista exigem, dos engajados na transformação do país, além do esforço de planejar e começar as tarefas da reconstrução, o de enfrentar as ameaças, as provocações e mesmo a violência dos que se sentem próximos do momento de serem retirados do poder.

Os problemas graves e imediatos a enfrentar - É do conhecimento de todos e de discussão diária o conjunto de problemas graves e imediatos a enfrentar, passíveis de serem expressos em uma ou poucas palavras singulares. Alguns exemplos de elevado destaque: a fome; o desemprego; a falta de renda ou de transferências públicas, ou a maior redução do poder de compra delas com a alta da inflação; e a carência aguda de habitação. A este primeiro grupo de problemas, somam-se outros, e tornam-se evidentes suas interdependências ou sua combinação de políticas.

Essa questão de superposições de políticas fica bem clara na entrevista de Esther Dweck a Breno Altman, conforme re -

portagem de Camila Alvarenga, do Portal Opera Mundi, publicada no site Brasil 247 (https://www.brasil247.com/entrevistas/ esther-dweck-reindustrializacao-depende-da-intervencao-do-estado). Veja-se, por exemplo, a passagem: “Por isso, falo do setor de saúde, que é uma demanda enorme da população e precisa da indústria, já que hoje importa equipamentos, fármacos e uma série de outras coisas. O Brasil tem potencial para atender à demanda da população de um serviço de saúde pública de qualidade por meio da industrialização, pode combinar demandas”. Continua a entrevistada, segundo a reportagem: “O Estado é quem deve capitanear esse projeto [...] mesmo que crie políticas que estimulem ou atraiam o capital privado. A economista citou algumas das medidas necessárias para que o governo possa financiar a reindustrialização do país”.

Caráter das medidas macroeconômicas para enfrentamento dessas demandas - Ao se abordar o enfrentamento das inúmeras demandas relativas, fundamentalmente, às carências decorrentes do nível do emprego e da renda, cabe considerar rapidamente o caráter macroeconômico do enfrentamento dessas demandas. Qualquer sociedade considera o ideal que a atividade econômica – produção de bens e serviços e sua distribuição menos desigual entre as diferentes classes sociais –apresente uma tendência de crescimento, com pleno emprego, nível mínimo de inflação e com a propriedade de reduzir, gradativamente, as desigualdades existentes, seja de riqueza, seja de renda. Nem aponto, no momento, a questão mais complexa da propriedade coletiva dos meios de produção e a consequente abolição da exploração do trabalho alheio.

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É complexo, como se pode acompanhar nos noticiários e nos debates, o conjunto de políticas econômicas necessárias para implementar medidas voltadas para o alcance desse ideal. A complexidade se deve, sobretudo, ao embate de interesses em jogo, principalmente resultantes da luta de classes, que toda sociedade enfrenta.

As teorias econômicas, embora aceitando o caráter intrinsecamente instável do capitalismo, divergem quanto à explicação dessas instabilidades e das interações das diferentes políticas, consequentemente sobre as políticas a implementar em determinados períodos. Por exemplo: numa conjuntura de estagnação do nível da produção social (costumeiramente referida como o PIB – Produto Interno Bruto), principalmente com os impactos sobre o agravamento da miséria, pergunta-se: faz sentido se defender, como é próprio das correntes neoliberais, uma adesão irracional ao “equilíbrio fiscal”, cuidando-se apenas dos interesses dos detentores de capital; em especial, dos rentistas do capital financeiro? Ou se deve ampliar os gastos de modo a ocupar as capacidades ociosas da sociedade, gerando-se mais produção e recursos públicos, seja para o orçamento “fiscal” (receitas e gastos para a prestação dos vários serviços públicos), seja para o orçamento “da previdência e assistência social”?

A perspectiva dos direitos sociais - No quadro a seguir, buscou-se trazer para marco dessas reflexões os “direitos sociais”, tais como estão no artigo 6º da Constituição da República.

É importante chamar a atenção para o que foi acrescentado (com ênfase em negrito) na segunda coluna – três direitos sociais que não constavam na Constituição até setembro de 2015: alimentação, moradia e transporte, tendo sido adicionados pela Emenda à Constituição nº 90/2015. Destaque-se também que, no exame de todos os direitos, mas, sobretudo, à alimentação, ressalta a urgente distinção entre as tarefas do presente e do horizonte à vista, daquelas do futuro ou dos horizontes próximos e invisíveis de tão distantes.

Quais foram os recursos disponíveis no Orçamento Federal e suas destinações em 2020 e 2021?

Examinando-se a execução do orçamento no âmbito do Governo Federal (“Resultado do Tesouro Nacional”, Boletim, vol. 27, n. 12, 28/01/2022; páginas 6 e 7), a comparação dos resultados gerais, nos anos de 2020 e 2021, impressiona. Vejam-se alguns destaques.

a) Descontada a inflação com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a receita total aumentou 21,6%, e a despesa foi reduzida em 23,6%! Pergunta-se: como a sociedade, na situação de fome, causada, entre outros fatores, pelo desemprego e pela falta de programas assistenciais à altura das calamidades, poderia entender isso, mesmo que fosse minimamente informado e explicado?

b) Em números absolutos, os valores são: a receita cresceu de R$ 1,5 para 1,9 trilhão; a despesa decresceu de R$ 1,9 para 1,6 trilhão!

Ao serem detalhados esses números, mais

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surpresas desinteressantes provocam os dados da Secretaria do Tesouro Nacional.

a) A receita de tributos (impostos, taxas e contribuições, inclusive as previdenciárias) alcançou, nos dois anos, respectivamente, R$ 900 bilhões e 1,2 trilhão, uma variação de 23%, se descontada a inflação.

b) Dentre as “receitas não administradas pela Receita Federal do Brasil”, o estudo destaca o crescimento, descontada a inflação, de 501% em Dividendos e Participações, “aumento explicado principalmente pelo recebimento de dividendos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mais de R$ 14 bilhões pelo aumento real nos dividendos pagos pela Petrobras (+ R$ 19,8 bilhões) e pela Caixa Econômica Federal (+ R$ 1,8 bilhão). Considerando-se a Caixa e o BNDES, ambos de propriedade exclusiva da União, aumento de pagamento dividendos ao Tesouro, em vez de capitalização, representa, de algum modo, menos destinação de recursos para as finalidades das entidades, como a de fomento financeiro público, destinado ao investimento e com longo prazo para pagamento.

c) Chama a atenção no item “demais receitas não administradas pela Receita Federal do Brasil” a “devolução de R$ 6,6 bilhões relativa ao Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte)”, certamente esperados pelas empresas diante da situação de estagnação do volume do PIB.

d) No âmbito das despesas, merecem destaque as reduções, em valores descontados da inflação, nos itens de Benefícios Previdenciários (R$ 9,8 bilhões, ou 1,3% de redução); Despesas com Pessoal e Encargos Sociais (R$ 19,6 bilhões, ou 5,4% de redução); Abono e Seguro Desemprego (R$ 19,2 bilhões, ou 28,3% de redução); Apoio Financeiro a Estados e Municípios (R$ 89,4 bilhões, ou redução de 100%); “Créditos Extraordinários (exceto PAC)” e “Subsídios, Subvenções e Proagro” apresentaram redu-

ção total de R$ 382,8 bilhões em termos reais e ambos os grupos se referem a “despesas às medidas de combate à Covid-19 [...] e enfrentamento das consequências econômicas e sociais decorrentes do estado de emergência causado pela pandemia do Coronavírus coronavírus (Covid-19). No caso da redução das Despesas com Pessoal e Encargos Sociais, o documento do Tesouro explicita: “redução real influenciada pela ausência de reajustes salariais aos servidores públicos”.

f) No caso do Abono e Seguro Desemprego (R$ 19,2 bilhões, ou redução real de 28,3%), o estudo registra, entre os fatores, “postergação dos pagamentos de abono salarial do 2º semestre de 2021 para o ano de 2022”.

Vê-se, desse modo, que a gestão dos recursos federais privilegiou a geração do superávit primário, para atender aos interesses com pagamento de juros e dividendos aos investidores; sobretudo, os estrangeiros.

Sabemos que, numa economia capitalista, as decisões de investir, motivadas pelos lucros buscados, dependem de boas expectativas de crescimento dos mercados, que, por sua vez, estão vinculados ao clima esperado para a operação dos negócios. A governabilidade abrangerá não somente as decisões de investimentos públicos e apoios aos privados, mas também a garantia de condições para a implantação e o bom andamento dos projetos.

Ivo Vasconcelos Pedrosa p ossui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Pernambuco (1971) e doutorado em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas, São Paulo (1991). É professor e pesquisador aposentado pela Universidade de Pernambuco (UPE). E-mail: ivovpedrosa@gmail.com

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Por que não discutir os impactos socioambientais dos negócios do vento?

Aenergia eólica, aquela que produz energia elétrica pela força dos ventos, tem crescido em vários países do mundo, em particular no Brasil, na região Nordeste. Dos nove estados, oito contam com complexos eólicos instalados em seus respectivos territórios, em áreas rurais e costeiras (onshore) além de vários projetos, em fase de licenciamento, para áreas afastadas da costa marítima (offshore).

Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica), que congrega os interesses das empresas da cadeia produtiva da energia eólica, a potência instalada em dezembro de 2021 ultrapassou os 20 gigaWatts (GW), com aproximadamente 751 parques eólicos e mais de 8.800 aerogeradores instalados, o que representa, aproximadamente, 11% da matriz elétrica nacional. As estimativas é que, no final de 2025, a potência instalada atinja 35 GW, o que corresponderia a 2,5 usinas de Itaipu.

O potencial eólico brasileiro é de 500 GW em terra, avaliado na atualização do Atlas Eólico Brasileiro feita em 2017, a partir de levantamentos realizados em 2013. Esse valor é um pouco menor que o triplo da atual potência total instalada para geração de energia elétrica, incluindo todas as fontes disponíveis, como hidrelétricas, biomassa, gás natural, óleo, carvão e nuclear. A energia eólica ocupa o quarto lugar na matriz elétrica nacional. Sem dúvida, uma das principais fontes de energia elétrica para a transição energética.

Todavia, são constatados inúmeros impactos socioambientais diante do crescimento vertiginoso, desordenado e, muitas vezes, predatório, respaldados na frouxidão da legislação ambiental, justificada como necessária para atrair os empreendedores dos negócios do vento. A prova da ausência das boas práticas (https://congressoemfoco.uol.com.br/temas/meio-ambiente/geracao-eolica-nao-cumpre-as-boas-pratica-socioambientais/), que respeitem a natureza e as pessoas, é descrita nos vários estudos acadêmicos realizados, principalmente, por pesquisadores e cientistas das universidades federais de Pernambuco, do Rio Grande

do Norte e do Ceará, além das denúncias frequentes realizadas pelos povos indígenas, agricultores familiares e comunidades pesqueiras, atingidos, direta ou indiretamente, pelos impactos das instalações dos complexos eólicos de grande porte (https:// portal.unicap.br/-/nem-tudo-e-verde-para-a-energia-eolica-em-larga-escala).

Mesmo com esse acúmulo de conhecimento científico, de denúncias à sociedade, de provocações realizadas junto ao Ministério Público Federal e Estadual, à Defensoria Pública da União, aos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente; os impactos socioambientais não são considerados, e sua discussão é evitada. Só falta, ainda, recorrer ao bispo de Itu.

Os problemas apontados atingem desde o desmatamento de grandes áreas para a instalação dos aerogeradores e transformadores (em torno de 1 ha/torre) até as vias de acesso, com a construção de estradas de até 12 metros de largura. As áreas de plantio e criação de animais são afetadas, e os depoimentos de moradores são categóricos em afirmarem a diminuição da produção de leite e de ovos, assim como os abortos de animais prenhes, devido à proximidade das torres eólicas.

O movimento das pás, durante o dia e a noite, tem afetado a saúde mental da população do entorno (efeito estroboscópico). Segundo pesquisas, o sombreamento e o ruído intermitente causam incômodo e prejudicam pessoas que sofrem de epilepsia, além de provocar insônia, ansiedade, depressão, perda da audição e dores de cabeça.

O grau de sombreamento projetado pelas pás e o ruído causado pelo movimento (mecânico e aerodinâmico) delas dependem da distância dos aerogeradores até as moradias e locais de criação de pequenos animais. Quanto mais próxima for a distância, mais relevante é esse efeito. Uma tentativa legislativa (Projeto de Lei Ordinária 620/2019) de limitar a distância mínima a 500 metros, entre as torres e as moradias, foi barrada pela Comissão de Constituição, Legislação e Justiça da Assembleia de Pernambuco (Alepe), mesmo considerando que

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a proximidade das torres eólicas também é uma questão de segurança das pessoas. Acidentes nos aerogeradores, mesmo que raros, podem atentar contra a vida de moradores e funcionários das empresas eólicas. Em julho de 2019, no Sítio Pau Ferro, em Caetés (a 245 km de Recife), no Agreste de Pernambuco, a turbina de um dos aerogeradores do Complexo Eólico Ventos de São Clemente, propriedade da Echoenergia (controlada pela empresa britânica de private equity Actis), desabou após o rompimento da torre que a sustentava.

Em dezembro de 2021, ocorreu outro acidente no Complexo Eólico da Casa dos Ventos, localizado no Sítio Sobradinho, também no município pernambucano de Caetés. Uma das pás de um aerogerador quebrou ao meio, precedido de um forte barulho, causando pânico aos moradores. Esse complexo pertence a Cubico Sustainable Investments (cujos proprietários são três sócios: Banco Santander, o fundo de pensão dos professores de Ontario - Teacher´s Pension Plan, e o administrador de fundos de pensão do Canadá - Public Sector Pension Investment Board). Nesse complexo, as torres eólicas estão situadas a menos de 150 metros das residências.

Acidentes aconteceram em parques eólicos instalados em outros estados nordestinos. No Rio Grande do Norte, no Parque Eólico Rei do Ventos, em fevereiro de 2021, dois aerogeradores ficaram avariados. Em um deles, o rotor da turbina eólica incendiou; e, no outro, as pás e os equipamentos de conversão, que ficam no topo da torre de sustentação, despencaram. No Parque Eólico Arizona, no município de Rio do Fogo, no litoral norte, em janeiro de 2022, uma das torres desabou. No Piauí, em fevereiro de 2020, no parque eólico operado pela Omega Geração, no município de Ilha Grande, pás e rotor despencaram da torre de sustentação, que permaneceu intacta. No Maranhão, em setembro de 2019, no Parque Eólico Delta 6, no município de Paulino Neves, a empresa Omega Geração registrou um acidente em uma turbina eólica que feriu um empregado.

Atualmente, em Pernambuco, verifica-se o avanço dos negócios do vento sobre os Brejos de Altitude (resquícios da Mata Atlântica), nos municípios de Bonito e Brejo da Madre de Deus, colocando sob ameaça

a sua biodiversidade e a grande quantidade de nascentes existentes, que alimentam aquíferos e vários rios importantes. Também a Terra Indígena Kapinawá é outro território almejado para a instalação de parques eólicos. Os Kapinawás são um grupo indígena que habita a Serra do Macaco, nos limites dos municípios de Buíque, Tupanatinga e Ibimirim, todos no estado de Pernambuco. Nesse caso, a área abrangida pela empresa Energia de Buíque Ltda é de 3.000 ha, atingindo, além de três aldeias indígenas, a parte sul do Parque Nacional do Catimbau, o segundo maior parque arqueológico do Brasil.

Com a chancela de que a energia eólica é uma fonte “limpa”, a legislação ambiental considera essa fonte energética de menor impacto (https://www.ihu.unisinos. br/78-noticias/576649-energia-eolica-nao-e-limpa), eximindo, assim, os empreendedores de apresentarem, para o processo de licenciamento, o Estudo de Impactos Ambiental (EIA) e o Relatório de Impactos do Meio Ambiente (Rima). Assim, basta o empreendedor apresentar o Relatório Ambiental Simplificado (RAS) que, como o nome indica, é “simplificado”. Sem o EIA/Rima para os projetos eólicos, a “porteira está aberta” para empreendimentos que não atentam para os cuidados que se deva ter com as questões socioambientais, em todas as fases de implantação dos parques eólicos. A motivação para escrever este artigo é o que acontece hoje no Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema/PE), órgão colegiado, consultivo e deliberativo, formado por representantes de entidades governamentais e não governamentais. Diante de uma proposta aprovada de criação de um Grupo de Trabalho para discutir os impactos da energia eólica em Pernambuco, se pode perceber, claramente, a existência de uma aversão, para que não somente não seja discutido esse tema, como também uma censura a estudiosos e cientistas para discutirem e opinarem nesse fórum.

As pressões exercidas pelos “negócios do vento” são na direção de que não ocorra tal debate nem que se reconheçam os impactos causados nem que se acate a legislação vigente, procurando encontrar “brechas” que facilitem as agressões ao meio ambiente e às pessoas, com o apoio de funcionários públicos. A própria direção da Abeeólica tem

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exercido um forte e poderoso “lobby” para evitar a discussão dos impactos causados e as propostas para minimizar os problemas decorrentes do “mau” uso dessa importante fonte energética renovável. Inclusive, nas últimas entrevistas da presidenta executiva dessa organização, tem “alertado/ameaçado” os estados nordestinos que, caso ocorram cobranças e exigências a seus filiados, estes poderiam abortar projetos e ir para outro estado que tenha maior flexibilidade em sua política ambiental com relação às eólicas. (http://www.tribunadonorte.com. br/noticia/se-o-estado-aplica-uma-meta-restritiva-vai-perder-investimento-diz-presidente-da-abbea-lica/531840)

Então, diante de fatos que mostram a negação dos efeitos trágicos que o modelo de expansão das eólicas adotado tem produzido, perguntas que não querem calar vêm à tona: A quem interessa não discutir os impactos socioambientais dos negócios do vento? Por que o poder público nega, dificulta e inibe tal discussão?

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Heitor Scalambrini Costa é Professor associado aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Reflexões sobre Conflitos Socioambientais Amazônicos

Antônio Jucá

Emissões de Gases de Efeito Estufa, Aumento do Nível do Mar e Inundações - Temos verificado os desastres anunciados das emissões dos gases de efeito estufa, que, elevando a temperatura média do planeta ao nível da superfície dos continentes e oceanos, têm promovido a formação de nuvens e a maior frequência e intensidade das precipitações pluviais.

As inundações passaram a ser um fato corrente no planeta, como pode ser observado em sítios da Internet sobre desastres naturais, que trazem vídeos com notícias de chuvas torrenciais, ou contínuas, quando não resultantes de tufões ou tempestades.

Nesta estação, tais eventos extremos parecem se localizar mais próximos ao Equador; contudo, observam-se chuvas de granizo grosso também ao norte e até em deserto africano.

As emissões de metano no Círculo Polar Ártico também preocupam os cientistas do clima. Esse gás é, muitas vezes, mais capaz do que o CO2 de incrementar o efeito estufa. Essas emissões resultam não apenas no derretimento do gelo que cobre a tundra siberiana, que se sobrepõe e retém a emissão de uma quantidade extraordinária de metano, mas também da plataforma costeira submarina que circunda todo o Círculo Polar Ártico e envolve, sobretudo, a Rússia, o Canadá, o Alaska e a Groelândia. Além disso, o próprio gelo guarda metano, portanto seu derretimento gera um duplo efeito de emissões desse gás em um processo incremental cíclico e global.

Os cientistas informam, ainda, que há certa liberação natural de metano nas áreas submarinas referidas, e tais quantidades liberadas têm crescido muito e são potencialmente catastróficas. Essas liberações podem ter comportamento descontínuo, explosivo e imprevisível de emissões, como já ocorre em solo siberiano, quando grandes quantidades de metano são liberadas em curtíssimo período de tempo.

Além disso, há o consequente aumento do nível do mar, que, segundo bases de dados que remontam há mais de um século, não está ocorrendo de modo linear. Por exemplo, segundo dados coletados desde

1870 no Estado da Carolina do Norte, nos EUA, a taxa de elevação do nível do mar tem crescido aos poucos, mas exponencialmente. Essas observações indicam que há uma duplicação da taxa de elevação do nível do mar em períodos menores em anos. Dito de outro modo, a elevação (levemente acelerada) do nível dos oceanos como efeito da elevação da temperatura média dos mesmos resulta, por recursividade incremental, em maior formação de nuvens, o que explica e confirma, indiretamente, a maior frequência de chuvas torrenciais, tempestades e tufões, inclusive, por terem se tornado maiores as diferenças de pressão atmosférica entre oceanos e continentes.

O Desmatamento da Floresta Amazônica e seus Efeitos - É de notório saber, hoje, que as queimadas na floresta amazônica brasileira representam a maior parte de nossas emissões de CO2 na atmosfera. Possivelmente, já revertemos, artificialmente, o papel dessa floresta como emissor de O2 para emissor de CO2 e estamos reduzindo, drasticamente, sua capacidade de fixação do CO2 no solo, com a derrubada das árvores e a formação de rios aéreos que alimentam as chuvas no Centro-Oeste e no Sudeste do país.

Buscamos, então, informações sobre a importância relativa da Amazônia na captura de CO2 e emissão de O2 na atmosfera, e sobre sua importância para a estabilidade do clima global, mas apenas verificamos sua maior importância direta, relativa a nós mesmos, ou seja, na rarefação dos rios aéreos e na perda de biodiversidade (que é uma riqueza enorme e incalculável). Contudo, observa-se, ainda, mudanças nas correntes aéreas oceânicas, provavelmente por menor entrada de ventos ao norte do continente e a leste da Cordilheira dos Andes, o que deve resultar no incremento de correntes em direção ao Caribe.

Os Conflitos Socioambientais Atuais na Exploração da Amazônia - Como já tive oportunidade de colocar noutro artigo, o processo de invasão e ocupação europeia do Brasil se deu, segundo o notável geógrafo pernambucano Manuel Correia de Andrade,

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através das seguintes fases: guerra contra os indígenas, desmatamento, busca de metais e pedras preciosas, pecuária bovina e monocultura da cana de açúcar associada ao trabalho escravo — primeiro de indígenas, que não deu os resultados esperados; depois de alguns povos africanos.

O sistema colonial funcionava como uma economia circular expansiva, pois o desmatamento proporcionava insumos para a construção civil e naval, exportações e outras atividades. Além disso, o desmatamento abria espaço à pecuária bovina, que era alimento e força de tração no plantio, transporte e moagem da cana nos engenhos antigos.

Com a descoberta do ouro (diz-se por africanos) e com as entradas e bandeiras, não apenas a partir de São Paulo, mas também advindas de Salvador e do Recife, ocupou-se o restante do Nordeste e, depois, o Norte. A ocupação dessa última região ocorreu por ondas de emigrações predatórias de colonização, sobretudo a partir do Nordeste. Esse processo motor de ocupação atravessou os séculos desde 1500. Mais recentemente, desde a segunda metade do século passado, o Ceará expediu levas de migrantes para o Norte, registradas como uma ameaça ambiental em artigos do Correio Brasiliense por volta do ano de 1979. Tivemos, à época, a descoberta de Serra Pelada, outro evento que relevou a permanência das motivações originárias de ocupação que ainda perduram.

Nos últimos anos, o conflito latente e esporádico entre parte da sociedade brasileira e os indígenas se agravou com a criminalidade organizada e predatória do ambiente, sob múltiplas formas, que já é política e institucionalmente aparelhada para burlar, em larga escala, os controles de estado que buscam preservar ou conservar a vida da floresta amazônica brasileira e os indígenas. A Criminalidade Global e a Ausência dos Estados Nacionais - Primeiro, é preciso colocar que não se sustentam os argumentos ou temores daqueles que veem a ação de ONGs conservacionistas e a existência de nações indígenas dentro do território brasileiro como uma ameaça à soberania nacional, ou mesmo a preservação da floresta como impedimento ao desenvolvimento. Isso porque o modelo de desenvolvimento subjacente a tais temores, hoje, como se

constata, é a reedição do velho modelo colonial predador, que deverá vir a prejudicar a própria agricultura brasileira e, possivelmente, a de todo o sul do continente e o clima global já em níveis preocupantes de emissões de CO2. A tese conspiratória de tomada estrangeira da Amazônia brasileira também não tem bases relevantes. A questão é que o anarcocapitalismo atuante hoje tem exatamente gerado, por ausência do Estado brasileiro, a destruição de nossos ativos futuros, no lugar de utilizá-los por um modelo de desenvolvimento a partir da preservação da floresta, que, infelizmente, ainda não ganhou o apoio político necessário. Por isso, tal negligência deverá se voltar contra aqueles que cultivam tais temores em nome de interesses mais gerais. Além disso, é preciso colocar que a Amazônia não é apenas brasileira e que há, desde muito tempo, a exportação de madeira, ouro e outros bens para países ricos e outros que, com certificação forjada ou não, recepcionam tais bens com a vista grossa de suas autoridades.

Como se diz na Teoria do Caos, o erro ou a falta não é algo externo aos sistemas, o erro faz parte e é parte, o sistema global como um todo é subdesenvolvido e corrupto. O que varia é a dimensão que isso toma e o lugar onde se realiza; portanto, temos que fazer nossa parte, assim como nossos vizinhos e clientes, de forma coordenada. Perspectivas - O nó górdio do conflito socioambiental tem, de um lado, parte da sociedade brasileira, e amazonense em particular, que vive da predação da natureza e a vê como oportunidade de enriquecimento ou de poder; do outro lado, temos outra parte da sociedade em questão, o ambiente e os indígenas. A prevalência dos que estão do lado da natureza depende também de políticas públicas de inclusão que respondam as perguntas: Quais são as oportunidades alternativas ao crime ambiental, ao contrabando de ouro e madeira etc. como fonte de renda? Como lograr controle da situação sem medidas de contenção das demandas desses produtos no nível internacional?

Ademais, o problema não é apenas uma questão de comando e controle, ou um problema de polícia na Amazônia. Isso vai, inclusive, para além da adoção de outro modelo de desenvolvimento regional, pois também se demanda o estabelecimento de

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novos padrões de relações de trocas sobre cadeias produtivas, com maior agregação de valor a montante do fluxo dessas cadeias para uma maior qualificação das sociedades amazônicas na relação com a natureza que as envolve. A redução do tabagismo não se deu também por campanhas dirigidas aos consumidores?

Referências

IPCC, 2021: Summary for Policymakers. In: Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Masson-Delmotte, V., P. Zhai, A. Pirani, S. L. Connors, C. Péan, S. Berger, N. Caud, Y. Chen, L. Goldfarb, M. I. Gomis, M. Huang, K. Leitzell, E. Lonnoy, J.B.R. Matthews, T. K. Maycock, T. Waterfield, O. Yelekçi, R. Yu and B. Zhou (eds.)]. Cambridge University Press. In Press.

GLEICK, James. Chaos: making a new science. E-book: Open Road, Integrated Media, NY.

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Antônio Jucá é pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais.

Adriano Rodrigues de Oliveira

Atelevisão é um meio de comunicação que possui uma inegável influência sobre a vida das pessoas, seja em assuntos privados ou na vida do cidadão no exercício dos seus direitos. Mesmo nos dias atuais, em que ela concorre com as poderosas redes sociais da internet, ainda há milhões de brasileiros e de brasileiras que observam nas telas dos televisores a programação das grandes emissoras, que expõem a sua seleção de recortes e interpretações da realidade. Nesse ambiente onde o debate público é descentralizado em diversas plataformas, com excepcional crescimento de canais independentes na internet, as concessões públicas de televisão e rádio têm importante papel de representar o rigor do trabalho jornalístico, que apresenta os fatos verdadeiros por meio da apuração e da verificação. Contudo, os jogos de poder no Brasil fazem com que nem sempre o telejornalismo das grandes emissoras adote o republicanismo e o interesse público como prioridade.

O telejornalismo brasileiro, que pode ser exemplificado por meio de seu mais conhecido programa, o Jornal Nacional, na TV Globo, nem sempre esteve ao lado da democracia. As relações dessa emissora com a ditadura civil-militar de 1964 a 1985 são de conhecimento público (https://www.infomoney.com.br/politica/relembre-o-editorial-de-roberto-marinho-apoiando-a-ditadura-e-a-retratacao-da-globo-em-2013/), além de outros episódios de franca manipulação política já na Nova República, como a edição do debate entre Lula e Collor nas eleições de 1989 (https://www.uol.com.br/splash/noticias/2021/03/10/qual-foi-a-mutreta-que-lula-acusa-globo-de-ter-feito-nas-eleicoes-de-1989.htm).

Contudo, a Globo e outras grandes emissoras sempre tiveram suas concessões públicas renovadas sistematicamente. As concessões públicas no Brasil são como uma moeda política: o governo concede, as emissoras recebem e a contrapartida se dá na troca de apoio e retribuição de determinados interesses. Nesse sentido, cabe questionar se há de fato uma discussão séria no país acerca das concessões públicas e cumprimento da lei por parte das emissoras de televisão no Brasil, ou se essas corporações sempre encontram uma forma de garantir

seu espaço a despeito das regras do jogo democrático e republicano.

O avanço da internet e das plataformas digitais de comunicação e notícias fez avançar também, por um lado, a pluralidade de conteúdo – inclusive de canais alternativos aos discursos hegemônicos da grande mídia -, e por outro a vulnerabilidade do público em geral às investidas da desinformação e das notícias falsas. Ao mesmo tempo, e por causa do avanço desenfreado dos processos de desinformação, a importância do trabalho jornalístico também se revigora, pois passa a ter um novo papel nesse contexto.

A todo momento diversos conteúdos circulam no ambiente digital. Essa mudança do paradigma comunicacional, que é potencializada pelas redes sociais e pela veloz inovação tecnológica, está diretamente relacionada à crise de credibilidade que vive a imprensa tradicional. Contudo, é possível questionar se a ascensão do debate acerca da desinformação e das notícias falsas também não pode reforçar a necessidade e a importância do trabalho jornalístico profissional, pois o jornalista tem a competência para fazer a seleção e checagem dos fatos que serão noticiados.

Diante da complexidade desse cenário, em que a própria noção de realidade e os rumos do país estão em jogo, não é mais cabível que os veículos de comunicação brasileiros de comportem como meros porta-vozes do poder, como observamos em diversas ocasiões na história do Brasil contemporâneo. Mais do que nunca, o telejornalismo profissional precisa ter compromisso com o Estado Democrático de Direito e com o debate público honesto, e as concessões públicas de comunicação devem ser levadas a sério. A pandemia da Covid-19 trouxe à tona por todo o mundo o debate intenso sobre temas científicos, especialmente sobre saúde pública e biociências, que são técnicos e relativamente estranhos ao público mais amplo. Se por um lado isso leva informações novas e conhecimento a esse público, por outro lado são lançados no debate público ferozes ataques de desinformação e de negação da credibilidade da ciência.

Esses ataques servem apenas a quem quer validar o discurso irresponsável e igualmente mentiroso que vem partindo do Gover-

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Telejornalismo, desinformação e negacionismo no Brasil

no Federal desde o início dessa monumental crise, seguindo incessante em sua cruzada pelo enfraquecimento das instituições republicanas e pelo fortalecimento do culto à sua imagem de mito perante seus convertidos. Ressalta-se, ainda, que os fatos recentemente revelados pela CPI da Pandemia no Senado sugerem que por trás do negacionismo inconsequente há também o negocionismo, com transações no Ministério da Saúde típicas do subterrâneo da política brasileira (https://www.cartacapital.com.br/politica/ luis-miranda-reforca-a-pf-que-avisou-bolsonaro-sobre-corrupcao-na-compra-de-vacinas/), o que tem inclusive mudado a percepção do público geral sobre o discurso hipócrita anticorrupção.

Contudo, ainda seria compreensível se esses ataques à ciência, às vacinas e a proliferação de discursos mentirosos como do suposto tratamento precoce para Covid-19 ficassem restritos aos círculos informacionais do bolsonarismo e suas cercanias. O absurdo vem à luz quando observamos a defesa de teses mentirosas e a distorção de informações relevantes para a saúde pública, ao vivo, em pleno programa telejornalístico de uma grande emissora de televisão (https://www.uol.com.br/splash/colunas/ alineramos/2021/06/13/negacionismo-de-alexandre-garcia-compromete-credibilidade-da-cnn.htm). A concessão de espaço na televisão a defensores ferrenhos das teses inconsequentes do bolsonarismo sobre a pandemia, muitos deles com credencial de jornalista, fornece o material perfeito para que os celerados de extrema-direita celebrem suas desinformações perigosas como algo chancelado pelo jornalismo profissional, ou ao menos como sendo uma opinião legítima.

Mais uma vez vale destacar que por trás do negacionismo há sempre o negocionismo. Tanto os jornalistas de grandes emissoras quanto os influenciadores digitais que defendem os interesses políticos e as mentiras do bolsonarismo, foram flagrados recebendo pagamentos do Governo Federal. De fato, não se pode afirmar de forma clara a presença de ilegalidade nesses pagamentos, mas pode-se constatar com toda a certeza que esses indivíduos são “gargantas de aluguel” perigosos à segurança sanitária da população.

Até quando vamos tolerar que concessionárias de rádio e televisão coloquem à dis-

posição da desinformação, do discurso anticientífico, do negacionismo das vacinas e da defesa de remédios imprestáveis um espaço tão importante para a divulgação de informações com credibilidade e seriedade? Até quando vamos colocar essa desinformação em um grau de equivalência com a sensatez, como se fossem “os dois lados”? Nessa toada de normalização do absurdo, não seria tão surpreendente se fossem colocados no telejornal um judeu e um nazista para discutirem o holocausto pelos “dois lados” e isso fosse chamado de “O Grande Debate”.

Em um mundo onde a diversidade informacional atinge um patamar nunca antes visto, em decorrência do avanço da internet e das redes sociais, cabe indagar se o Brasil tem levado a sério o debate sobre a real importância do trabalho jornalístico para a garantia da verdade e da democracia. A pós-verdade vêm tomando espaço a cada dia, e sem o compromisso dos veículos de telejornalismo com a verdade, ela pode tomar todo ou quase todo o debate público.

A construção desse compromisso não se dá somente por reposicionamentos e autocríticas pontuais, mas pela ampla discussão na sociedade civil e nos parlamentos acerca do papel e das obrigações das instituições da imprensa. O que é relatado sobre o mundo e mostrado na TV deve ser contextualizado. O papel central ocupado pelo telejornalismo na atualidade deve ser valorizado e destacado. Contudo, é necessário também cobrar responsabilidade e postura ética dos responsáveis pela informação que será distribuída à sociedade.

Assim, com os riscos reais ao ambiente democrático que observamos hoje, não podemos nos dar ao luxo de ter uma imprensa, sobretudo o telejornalismo das grandes emissoras, que seja descompromissada com a garantia da democracia, da apuração rigorosa dos fatos e informações. E isso passa por levarmos a sério a avaliação das concessões públicas e o combate a desinformação.

Adriano Rodrigues de Oliveira é graduado em Gestão de Políticas Públicas pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) com especialização pela Pós-Graduação Lato Sensu em Comunicação Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Email: adri_oliveira93@ hotmail.com

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Livro-reportagem, Jornalismo e Contexto

Por Alexandre Zarate Maciel

Escritores de livros-reportagem estabelecem contato direto com leitores

Durante as entrevistas que fez para a sua tese de doutorado com jornalistas escritores de livros-reportagem intitulada “Narradores do Contemporâneo” (2018), o autor desta coluna percebeu a importância de uma relação mais direta dos autores com os leitores dessas obras. Esse fenômeno se dá, principalmente, devido ao fato desses repórteres, ao assinarem um livro, não estarem representando um órgão de imprensa, mas, sim, exercitando um trabalho mais autônomo. Na condição de autor de obras de expressiva vendagem, como 1808 e Escravidão, o jornalista e escritor Laurentino Gomes avalia que o livro-reportagem brasileiro perpassa um espectro amplo da sociedade, tanto em termos de renda, classe social ou preferências políticas. “Eu já recebi comentários de governadores, de presidentes de banco, de empregada doméstica, de estudante, de tudo o que você pode imaginar.” Para atender a esse leitor tão complexo de estratificar, é preciso “pesquisar muito, mas, na hora de escrever, ser muito simples e didático”, explicando todos os detalhes e não supondo que o leitor saiba alguma coisa, como brinca o escritor: “É como se você desse papinha na boca do leitor, assim. Ele é um bebê, você tem que ser muito generoso. Daí o leitor fica muito grato”. Fernando Morais é outro jornalista escritor que estabelece contato constante com os seus leitores, pois viaja bastante pelo Brasil e mantém uma página no Facebook com mais de 80 mil seguidores. Ele comenta um caso envolvendo uma de suas obras mais expressivas, Olga. Embora os leitores tenham absoluta consciência de que se trata de uma obra de não ficção, muitos já confessaram ao autor que quando liam o trecho do livro na qual Olga Benário está retornando à Alemanha, deportada para o campo de concentração onde morreria, eles tinham a sensação de que o escritor preparava uma surpresa e que relataria, em seguida, o seu resgate. “Não tem nada, nada, nada que dê à pessoa o direito de supor, sabe? Mas cria uma esperança de que a história vá mudar, mas é um livro de não ficção. A Capitu, os seus tataranetos vão discutir se ela corneou o Bentinho, mas o livro de não ficção...”,

brinca Fernando Morais.

Contato com os leitores se dá tanto na internet quanto por vias presenciais

O contato com os leitores via redes sociais é uma forma de aproximação, mas as palestras em universidades, a convite dos cursos mais diversos, também são ocasiões ideais para os jornalistas encontrarem quem os lê. Daniela Arbex conta que recebeu via Instagram mensagem de um leitor de Holocausto brasileiro emocionado com o resgate de sua origem nas páginas do livro, já que sua mãe, rejeitada pelo marido, o seu pai, adentrou o hospício grávida dele. A escritora lembra-se de casos em que leitores confessaram a escolha de uma carreira, um curso universitário, como psiquiatria ou jornalismo, a partir da leitura da obra. Como

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forma de apreço, Daniela Arbex tenta responder a todas as mensagens, para surpresa dos leitores. Na opinião do biógrafo Ruy Castro, trata-se de uma via de mão dupla: “Não só o leitor fica grato ao autor que lhe dá atenção, como eu me sinto na obrigação de ser grato a esse leitor. Eu aprendi uma vez: Frank Sinatra nunca deu um autógrafo na vida em que ele não dissesse um muito obrigado”. Leonencio Nossa, por sua vez, menciona vários leitores que se encontram com ele e recordam de livros mais antigos, como Homens invisíveis, sobre indígenas desconhecidos da Amazônia, e conversam como “se o livro tivesse sido lançado ontem”, um sinal da perenidade desse produto jornalístico. Ele também faz questão de distribuir seu livro entre pessoas mais simples, como habitantes da região do Araguaia, que compõem a matéria-prima de outra obra, Mata!: “Eles leem, mas não têm uma visão crítica em relação ao que está escrito. Pensam: ‘Poxa, minha história está aqui’. Mas eu tenho dificuldades de entender o que eles acharam. Para eles é como se o fundamental é que fosse representado”.

Leitores percebem a diferença do trabalho mais autoral do escritor

Apesar de a base do seu trabalho jornalístico ser a televisão, Caco Barcellos considera que começou a se dar conta de que as pessoas se atentavam para o seu estilo quando se tornou escritor de livros-reportagem. “Antes estava na rua e as pessoas falavam: ‘Ah, repórter do Jornal Nacional’. Mas aí, de repente, começaram a falar dos livros. Daí é outra pegada. Quer parar, quer conversar: ‘Como é que foi aquela história lá? Me conta melhor...”’ Visitando a Bienal do Livro de São Paulo certa ocasião, um leitor esbarrou em Caco Barcellos e contou que é sobrinho de um dos policiais denunciados no livro Rota 66 pela morte de inocentes: “Ele disse: ‘Você escreveu o livro e todo mundo da família não podia falar do seu nome. Todo mundo ficava enlouquecido. Agora, eu preciso te dizer: você escreveu só 5% do que o meu tio fez’”. Pioneira na escrita de um livro-reportagem infantil no Brasil, Malala: a menina que queria ir para a escola, Adriana Carranca, apesar de lamentar que se leia pouco no país, fica encantada com a recepção da obra entre as crianças,

uma maneira de formar futuros leitores para a não ficção. Ela se impressionou com um evento que fez para crianças na Cracolândia, de São Paulo: “Tem uma praça ali, eles ficam na rua. E nós fomos na praça. E na hora que eu saí, as crianças se misturaram ali de novo. E então você via aquele cinza da Cracolândia, que eles ficam com o capuz, não é? E você vê os coloridos do livro, aquilo me pareceu flores”. Mesmo sem pedir para que nenhuma criança lesse o livro, o fascínio foi natural entre os meninos e meninas, que não tinham o hábito de ler, mas ficaram “grudados” na leitura. Reações díspares, às vezes totalmente diferentes, despertadas pelo mesmo livro, chamam a atenção de Lira Neto. Por ocasião do lançamento da trilogia Getúlio, o autor diz ter lido em um blog que o livro era “profundamente getulista” e, em outro, que a obra era “tucana, udenista”. Um site evangélico também garantia que Lira Neto tinha sido “regiamente recompensado por Roma” pelo livro Padre Cícero, já que seu texto teria “canonizado” o personagem. Foi justamente o oposto do que interpretou um articulista de um jornal de Juazeiro do Norte, que o acusou de ter “ofendido” a memória histórica do líder religioso. “Você não tem controle sobre a recepção. Por mais que você escreva pensando nela e tentando criar essas pontes, você nunca tem o controle absoluto sobre o resultado final.” Fica patente, pelas respostas, que um desafio para os futuros pesquisadores de livros-reportagem no Brasil é justamente organizar uma ampla pesquisa qualitativa, com grupos focais de leitores, por exemplo, que fossem os mais diversificados possíveis.

Referências

ARBEX, Daniela. Holocausto brasileiro. São Paulo: Geração Editorial, 2013.

CARRANCA, Adriana. Malala: a menina que queria ir para a escola. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2015.

GOMES, Laurentino. 1808. São Paulo: Planeta, 2007.

MACIEL, A. Z. Narradores do contemporâneo: jornalistas escritores e o livro-reportagem no Brasil. 2018. 209 f. Tese (Comu-

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nicação) - Centro de Artes e Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

MORAIS, Fernando. Olga. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

NETO, Lira. Getúlio (1882-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

________. Padre Cícero. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

NOSSA, Leonencio. Mata! São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

________. Homens Invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Elaborada pelo professor do curso de Jornalismo da UFMA, campus de Imperatriz, e doutor em Comunicação pela UFPE, Alexandre Zarate Maciel, a coluna Prosa Real traz, todos os meses, uma perspectiva dos estudos acadêmicos sobre a área do livro-reportagem e também um olhar sobre o mercado editorial para esse tipo de produto, seus principais autores, títulos e a visão do leitor.

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Entre Oligarcas e Bilionários: um Estudo de Discurso

Thiago Diniz do Nascimento

Após uma pandemia sem precedentes, o mundo do ano de 2022 mergulha em um novo conflito que gera tensões com pouco do cheiro do século XX. A invasão da Rússia em território ucraniano trouxe um novo ingrediente à estrutura do discurso jornalístico. E, em meio ao ensaio para uma nova Guerra Fria, surgem, na esfera capitalista mundial, duas figuras aparentemente opostas, odiadas e admiradas pelos meios de comunicação. De um lado, os russos oligarcas e, de outro, o bilionário chamado de excêntrico pelos veículos de imprensa, Elon Musk.

Apesar de frutos de uma mesma era e de um mesmo produto — as oportunidades para acúmulo de capital —, jornais, sites e demais veículos de imprensa parecem trazer, ao mundo novo da Guerra Fria do século XXI, heróis americanos e vilões russos no maior estilo hollywoodiano Rocky x Drago, da franquia “Rocky, um Lutador”, expoente máximo da propaganda pró-Estados Unidos dos anos 1980.

Essa abordagem apresenta, mais uma vez, a formidável estratégia de diplomacia pública estadunidense. Influenciar pensamentos por meio de uma imagem positiva ligada à liberdade e à democracia sempre foi o objetivo do soft power dos Estados Unidos. Na falta de uma China beligerante, os magnatas russos cumprem o papel de inimigos da vez.

Nesse sentido, faz-se necessário considerar uma análise de acordo com a característica do jornalismo como uma área da comunicação que manifesta um discurso dialógico, polifônico, opaco, ao mesmo tempo efeito e produtor de sentidos e elaborado segundo condições de produção e rotinas particulares (Benetti, 2007).

Embora relações culturais e de influência aconteçam de modo orgânico, seja por intercâmbio estudantil, turismo ou mesmo casamentos entre pessoas de nacionalidades diferentes (ARNDT, 2005), elas também são estimuladas através de construções secundárias de análise dos fatos pelo jornalismo internacional, por exemplo.

Linguagem e Discurso - Segundo Bakhtin, na linguagem todos os enunciados são dialógicos. Sendo assim, a palavra é

sempre perpassada pela palavra do outro, de forma que quem constrói um discurso sempre leva em consideração outros discursos, que assim estarão, de uma forma ou de outra, presentes no seu discurso (BAKHTIN, 2000, p. 291).

Do ponto de vista jornalístico, no entanto, essa questão proposta assume outra perspectiva. O jornalismo – como área da comunicação – prevê a polifonia em oposição à monofonia. Ou seja, as vozes podem expressar origens, abordagens e conclusões distintas sobre determinado assunto. Essa propriedade é essencial ao mesmo tempo que proprietária do discurso jornalístico, em sentido antagônico, por exemplo, ao da publicidade, que trabalha com repetição e monofonia, uma vez que representa o objetivo de venda na voz do anunciante.

Ao analisar notícias publicadas pela CNN Brasil, é possível inferir formações discursivas, conforme sugerido por Benetti, que salientam, numa acepção ainda mais clara, a capacidade do discurso jornalístico de reforçar imagens de país – nesse estudo específico, Rússia e Estados Unidos – de acordo com o interesse da diplomacia pública estadunidense. Ainda por esse ângulo, o jornalismo utiliza mapas culturais de significado (HALL et al, 2016) que existem na sociedade e é uma ferramenta que pode atuar discretamente para perpetuar ou apagar tais códigos.

Para a Agência de Informação dos Estados Unidos, a diplomacia pública cumpre a função de “promover o interesse e a segurança dos Estados Unidos através da compreensão, informação e influência de públicos estrangeiros bem como aumentar o diálogo entre instituições norte-americanas e suas equivalentes de outros países” (AMR, 2004, p. 4). Quer dizer, a diplomacia pública estadunidense é um instrumento de amplificação da influência dos Estados Unidos sobre o público estrangeiro.

O american way of life e a pretensa política da boa vizinhança com as nações do sul são imagens projetadas para que o público estrangeiro conceba os Estados Unidos como a terra da liberdade e das oportunidades, a despeito da disparidade social existente no país e das políticas intervencionis-

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tas sobre a América Latina.

Metodologia - Para fins metodológicos, é importante entender que a escolha do veículo se deu por conveniência, mas também encontra sentido no contexto e nas rotinas de produção da notícia, além da própria nacionalidade, sendo a CNN Brasil um veículo brasileiro de imprensa, porém com sede internacional nos Estados Unidos da América. As matérias são do mês de junho de 2022, momento em que foi noticiado o aprofundamento das negociações de compra do Twitter pelo empresário Elon Musk ao mesmo tempo em que se iniciaram as sanções de governos ocidentais, notadamente o dos Estados Unidos, contra empresários russos.

Por outro lado, foi utilizado o método da Análise de Discurso (AD), que sugere a existência de duas camadas: a discursiva e a ideológica. Nesse sentido, seguindo a análise de discurso, é preciso apresentar quais Formações Discursivas (FD) identificam as regiões de sentido, sendo FD1 pró-Estados Unidos e, por conseguinte, alinhadas aos ideais da diplomacia pública estadunidense; e FD2 contra-Rússia, o que reforçaria o contexto pró-Estados Unidos e também atenderia aos interesses desse país na exposição positiva da própria imagem.

Assim, investigamos como os textos constroem, por meio de marcas discursivas, imagens positivas a respeito do bilionário Elon Musk, em contraposição às imagens de oligarcas russos. Vamos chamar de Sequência Discursiva (SD) o trecho recortado em consonância com as formações discursivas apresentadas. Nesse caso, as matérias selecionadas foram:

a) SD 1 - “Há questões não resolvidas para compra do Twitter, afirma Musk”, publicada em 21/06/2022;

b) SD 2 - “EUA aprovam apreensão de dois aviões particulares de Abramovich”, publicada em 06/06/2022.

Caso CNN, Elon Musk e Oligarcas Russos - Na SD1, é possível considerar diversos marcadores que atribuem Formações Discursivas que sugerem uma visão mais pró-Estados Unidos e que reforçam os ideais da diplomacia pública dos Estados Unidos, conforme prescrito em FD1.

SD3 - No mês passado, o bilionário suspendeu temporariamente a compra do Twitter, ao questionar dados sobre o porcentual de contas falsas na rede

social.

SD4 - O bilionário Elon Musk reiterou que a questão de contas falsas no Twitter está entre assuntos “não resolvidos” com os quais ele precisa lidar antes de completar sua aquisição da empresa de mídia social, numa transação avaliada em US$ 44 bilhões.

SD5 - No mês passado, o CEO da Tesla e da SpaceX suspendeu temporariamente a compra do Twitter, ao questionar dados sobre o porcentual de contas falsas na rede social.

Essas etapas do texto apresentam Elon Musk como um homem de negócios interessado em proteger a credibilidade da rede social que está adquirindo. Necessário discorrer sobre a influência do Twitter como ferramenta política nos tempos atuais e no simulacro pretendido de criar, no empresário, a imagem de um defensor da democracia.

O termo “CEO” (Chief Executive Officer) constrói a ideia de alto executivo de empresas de sucesso e reconhecidas mundialmente como sinônimos de inovação.

Na SD4, observa-se uma predominância de adjetivos que suscitam conclusões a respeito do bilionário americano como ícone de sucesso capitalista.

SD6 - No total, os veículos do oligarca russo estão avaliados em quase 2 bilhões de reais de acordo com Formação Discursiva 2.

SD7 - Um juiz dos EUA aprovou a apreensão de dois aviões particulares do oligarca russo Roman Abramovich avaliados em mais de US$ 400 milhões (R$ 1,92 bilhão) por violar as leis de exportação e sanções dos EUA, conforme FD2.

Ao longo do texto, o termo “oligarca” é utilizado para identificar o bilionário russo, em vez do termo “bilionário”. No entanto, por ser uma matéria que trata de uma denúncia, não se apresentam dados sobre como o empresário enriqueceu ou mesmo a origem da sua fortuna. O termo “oligarca” qualifica o empresário necessariamente como alguém que faz parte de um grupo seleto de pessoas que se beneficiam de relações espúrias com o governo.

Conclusões - Observando o exposto na teoria da Análise do Discurso, as duas matérias foram analisadas à luz da Formação Discursiva (FD). Na definição de Pêcheux (1995, p. 160 apud Benetti, 2007),

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Formação Discursiva é o que mais se aproxima de uma formação ideológica apresentada por sujeitos em particular instados ideologicamente.

Outrossim, não é de se esperar de um texto jornalístico o ingênuo posicionamento positivista que defende a isenção do profissional. Há um componente ideológico em qualquer modo de expressão discursivo. Estabelecendo uma ligação entre as intenções da diplomacia pública estadunidense, a estrutura textual das matérias estudadas indica uma aproximação maior de um posicionamento pró-Estados Unidos e menos pró-Rússia. A escolha de adjetivações distintas para personagens semelhantes na esfera econômica capitalista deixa clara tal intenção.

Referências

ARNDT, R. T. The First Resort of Kings: American Cultural Diplomacy in the Twentieth Century. Paperback, 2007.

ASSIS, Ângelo de; BULHÕES, Marcelo. Dialogismo de Bakhtin no jornalismo econômico brasileiro. Estudos em Jornalismo e Mídia. Florianópolis, p. 138-152. 21 abr. 2015.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

BENETTI, Marcia. Análise do Discurso em Jornalismo: estudo de vozes e sentidos. In: LAGO, Cláudia; BENETTI, Márcia (org.). Metodologia de Pesquisa em Jornalismo. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2007. Cap. 1. p. 107-121.

HALL, Stuart et al. A produção social das notícias: o mugging nos media. In: TRAQUINA, Nelson (org.). Jornalismo: questões, teorias e estórias. Florianópolis: Insular, 2016.

PÊCHEUX, Michel. Semântica e Discurso. Uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Eni P. Orlandi (et al.). 2. ed. Campinas: Ed. da Unicamp, 1995.

Thiago Diniz do Nascimento é doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE, mestre em Marketing pela University of Huddersfield e publicitário da Agência Ampla.

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Da vaia à consagração: o centenário da Semana de Arte Moderna

Rômulo Santos de Almeida

Este ano de 2022, tão desafiador para o Brasil e para o mundo, é um momento único de reflexão crítica sobre o nosso passado, presente e futuro. Há um século, presenciávamos grandes acontecimentos que se inserem no quadro de intranquilidade da República Velha (1889-1930), com destaque para o levante do Forte de Copacabana, a fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a Semana de Arte Moderna, até hoje uma das efemérides mais significativas da cultura brasileira. Apesar dos numerosos estudos realizados sobre o evento, com seus altos e baixos, com seus acertos e erros, a Semana de Arte Moderna ainda pode ser uma fonte de rebeldia e inspiração iconoclasta, sobretudo agora quando a arte e os artistas sofrem ataques diretos do governo federal.

Sob o mecenato do riquíssimo cafeicultor Paulo Prado e incentivada por Olívia Guedes Penteado, uma fina flor da oligarquia cafeeira, a Semana de Arte Moderna foi realizada entre os dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, e aos poucos se apresentou como uma força renovadora e propulsora de novas ideias. Contou, para tanto, com a participação, direta ou pelo envio de amostras individuais, de artistas e escritores – nem todos “modernistas” –, muitos dos quais ainda figuravam na época como ilustres desconhecidos. Entre os participantes estavam Graça Aranha, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Renato de Almeida, Ribeiro Couto, Plínio Salgado, Sérgio Milliet, Ronald de Carvalho, Di Cavalcanti, Yan de Almeida Prado, John Graz, Regina Gomide Graz, Anita Malfatti, Zina Aita, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret, Wilhelm Haarberg, Antonio Garcia Moya, Georg Przyrembel, Guiomar Novais, Heitor Villa-Lobos, e tantos outros. Houve recitais de poesias, exposição de pinturas, esculturas, maquetes de arquitetura e concertos musicais. A maioria das apresentações, não obstante restritas ao seleto e heterogêneo grupo – nem todos da elite econômica –, desafiou os padrões formais da arte clássica, escandalizando, com sua

ebulição “futurista”, o público conservador e provinciano, acostumado com os cânones estéticos do academicismo (ALMEIDA, 2020; CAMARGOS, 2007; COELHO, 2012; GONÇALVES, 2012; MOTTA, 2022; NICOLA; NICOLA, 2021).

De acordo com Jorge Schwartz (1983), ao longo de décadas a Semana de 1922 rompeu com toda uma tradição, criticando, reescrevendo e reinventando-a. Sua premissa básica residia na superação de tradições acadêmicas sacralizadas para, em seguida, direcionar os debates sobre a nacionalidade. Entretanto, parte da crítica adverte que o prenúncio deste episódio tem início em 1913, com a exposição do pintor lituano Lasar Segall. Outra parte, porém, prefere o ano de 1917, durante a exposição da pintora Anita Malfatti, alvo de duras críticas do escritor Monteiro Lobato, que escreveu o artigo “Paranoia ou mistificação?”, comparando as pinturas da artista aos “desenhos que ornam as paredes dos manicômios”, “produtos de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses”, não passando, por isso, de “ramos da arte caricatural” (GONÇALVES, 2012, p. 107). O repúdio do autor do Sítio do Picapau Amarelo obteve, contudo, um efeito contrário, pois, saíram em defesa de Anita Malfatti, intelectuais e artistas já relativamente afinados pelas artes de vanguarda. Como afirmou Mário de Andrade, no dia 3 de fevereiro de 1922, em um artigo escrito para o jornal A Gazeta: “Há exageros em nossa arte? É natural. Não se constrói um arranha-céu sobre um castelo moçárabe. Derruba-se primeiro a mole pesadíssima dos preconceitos, que já foram verdades, para elevar depois outras verdades, que serão preconceitos num futuro, quiçá muito próximo (ANDRADE, 1922, p. 1).

Embalado pelo clima de modernidade que se seguiu após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Brasil e a América Latina se tornavam, cultural e economicamente, mais ligados ao Velho Continente, canalizando o processo de absorção das vanguardas artísticas europeias. Segun-

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do Belluzzo (1990, p. 18), os movimentos vanguardistas dos países centrais e dos países periféricos estavam sujeitos ao “mesmo processo histórico”, embora fossem estruturalmente diferentes, comportando-se como faces opostas de uma mesma moeda. Antonio Candido explicita essa questão ao reconhecer que as vanguardas agiam sobre nós, mas recebiam de nossa parte novas reinterpretações e novos usos, de modo que muitos modernistas reencontraram “a influência europeia por um mergulho no detalhe brasileiro” (CANDIDO, 2010, p. 128).

Dialogando com as tendências históricas de sua época, em especial com o universo de desorganização artística que se abria, a Semana de Arte Moderna representou “o engatinhar de uma nova mentalidade na vida cultural brasileira que já se encontrava latente desde a década de 1910” (BOAVENTURA, 2008, p. 14). Paulatinamente, ela será interpretada como a primeira manifestação coletiva em prol de um “espírito artístico moderno” que reuniu artistas e intelectuais na criação de uma arte brasileira, comparável apenas, por sua repercussão, à chegada da missão francesa ao Rio de Janeiro no século XIX ou, no século XVIII, à obra do Aleijadinho (AMARAL, 1998; ZILIO, 1997).

Entretanto, nem tudo é celebração. Mesmo tendo de enfrentar um ambiente cultural bastante retrógrado a rupturas muito ousadas no terreno experimental e artístico, é necessário questionar o triunfalismo hegemônico criado em torno da Semana de Arte Moderna de 1922. Embora tenha iniciado, como afirma Bosi (2013, p. 369), uma fase “especialmente rica de aventuras experimentais tanto no terreno poético como no da ficção”, não existe unanimidade em relação aos seus saldos. Camargos (2007, p. 30) defende, por exemplo, que “se tivesse realmente pretendido representar tudo de novo que se fazia em termos artísticos no país, a Semana de 1922 poderia ser taxada de “retumbante fracasso”. Pois tanto em artes plásticas, quanto em literatura e música, teve uma abrangência que deixou a desejar”. Foi também um evento, em princípio, pouco conhecido e relativamente ignorado pela imprensa. Com raríssimas exceções, a lista de seus participantes se restringiu ao

velho clichê Rio-São Paulo, ignorando, naquele momento, o que de relevante ocorria nos demais Estados (CAMARGOS, 2007). Noticiada pelo jornal Correio Paulistano, em 29 de janeiro de 1922, e depois pelo jornal A Gazeta, em 22 de fevereiro do mesmo ano, a imprensa se mostrava dividida e a maior parte das informações acabou sendo divulgada por Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Graça Aranha e Menotti Del Picchia.

Mesmo nos anos 1960, quando começou a se estabelecer a sua aceitação coletiva, a Semana de Arte Moderna de 1922 ainda não era o grande tema que despertava o interesse das novas gerações, muito mais preocupadas com os rumos nefastos que o Brasil tomava com a instauração da ditadura civil-militar. Manipulada pelo nacionalismo ufanista dos militares, a grande comemoração viria somente em 1972, criando-se uma espécie de “consenso público” ao redor da sua importância, tornando-a “parte fundamental de uma visão oficial de Estado” (COELHO, 2012, p. 110). Uma questão, porém, se impõe: esse reconhecimento da Semana de Arte Moderna não ficou restrito à propaganda da ditadura, mas manteve, principalmente entre os mais jovens, a sua fonte de insatisfação com a ordem. Vista por esse ângulo, a Semana pode ser uma fonte de iconoclastia que, com idas e vindas, rupturas e continuidades, ainda acende a necessidade de novas atualizações, mais plurais e inclusivas, no cenário artístico e cultural brasileiro. Um dos elementos efetivos para uma compreensão abrangente desse fenômeno é pensar que o país comportou não um “Modernismo”, resultante de um marco fundador que se generalizou monoliticamente, mas “Modernismos”, diversos e heterogêneos, que aos poucos adquiriam cores próprias e definiam propostas que, em maior ou menor medida, dialogavam entre si.

Referências

ALMEIDA, Rômulo Santos de. Oswald de Andrade e Gilberto Freyre: sentidos do “nacional” e do “regional” na construção da brasilidade. Recife: Ed. UFPE, 2020. (Coleção Sociologia).

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ANDRADE, Mário de. Arte moderna I: terno idílio. A Gazeta, São Paulo, 3 de fevereiro de 1922, p. 1 (coluna “Notas de Arte”). In:

BOAVENTURA, Maria Eugenia (org). 22 por 22: A Semana de Arte Moderna Vista pelos Seus Contemporâneos. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2008.

CAMARGOS, Marcia. 13 a 18 de Fevereiro de 1922: a semana de 22: revolução estética?. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.

CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 11.ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010.

SCHWARTZ, Jorge. Vanguarda e Cosmopolitismo na década de 20: Oliveiro Girondo e Oswald de Andrade. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 1983. (Coleção estudos).

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Revista Eletrônica do Grupo de Pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade - PPGCOM/UFPE |
Rômulo Santos de Almeida é Sociólogo e doutorando em sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

The Stakes in Brazil’s Election Couldn’t Be Higher

Ahead of October’s election, with leftist Lula leading the polls, fears are rising of a Bolsonaro coup – meaning it’s the entirety of Brazil’s democracy at stake.

President of Brazil Jair Bolsonaro at the Liberal Party (PL) national convention where he was official officially appointed as candidate for re-election on 24 July 2022 in Rio de Janeiro, Brazil. (Buda Mendes / Getty Images)

After four years of a right-wing Bolsonaro government, Brazilians will vote for a new pre-

sident on 2 October 2022. Former president Lula—currently high in the polls—is confronting an increasingly delirious incumbent, who appears to have threatened violent unconstitutional action should he lose.

Bolsonaro’s victory came two years after the impeachment of Workers’ Party president Dilma Rousseff in 2016, the first woman to be president. The Workers’ Party (aka Partido dos Trabalhadores, or PT) had held office since 2003. The period 2010-2016 was dominated by the ‘credit crunch’ crisis that sent the world into turmoil, with a generalised economic contraction, huge indebtedness in the advanced economies, and a considerable reduction in the consumption of raw materials. Brazil was badly hit. By 2015 GDP had declined by three percent, inflation was high (10 percent), and public debt went through the roof to 63 percent of GDP, making it tough for the government to maintain its poverty-eradication social policies. Brazil’s right wing capitalised on the crisis. A reactionary Movemento Brasil Libre (MBL) unleashed a wave of street protests that also fed on the Lava Jato investigation on corruption in Petrobras, one of the largest state oil companies in the world. This allowed Brazil’s right to create an atmosphere of instability which they would use both to impeach Dilma by a parliamentary vote on false charges of ‘cooking the books’, and to launch an anti-PT witch hunt, to which the global mainstream media contributed massively and daily. Brazil’s media was much worse.

The interim government of Michel Temer, riding on this intoxicating campaign, took steps to reverse the PT’s social policies, freezing state spending on health and education for twenty years.

What the MBL began would not be complete without removing Lula as a presidential candidate for 2018. Judge Sergio Moro was entrusted to conduct an investigation seeking to convict Lula on charges of corruption. Moro achieved this after a four-year investigation, leading to the former president’s illegal imprisonment for 580 days—first as an arrest, followed by a nine-year prison sentence in 2017, then increased to twelve years in 2018 when Lula appealed. Moro deployed every dirty trick in the lawfare arsenal to jail Lula, for which he enjoyed the full support of Brazil’s establishment and from the domestic and world mainstream media.

Fernando Haddad, the PT presidential candidate who replaced Lula, had barely three weeks to fight the 2018 presidential election. The generalised anti-PT climate created after Dilma’s

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impeachment and Lula’s imprisonment allowed pro-Bolsonaro businessmen to break all election norms and pay millions of dollars to inundate social media with fake news portraying Haddad ‘as a perverted monster, recommending the distribution of penis-shaped baby bottles to crèches and ‘gay kits’ teaching homosexuality in schools.’ Bolsonaro won in the second round with 55 percent of the vote.

Jair Bolsonaro is unashamedly racist, misogynistic, and homophobic. He has repeatedly insulted and denigrated women, the LGBT community, and Black and indigenous Brazilians. He openly supports the 1964-85 military dictatorship and dedicated his speech in support of Dilma’s impeachment to Colonel Ustra, who back in 1970 commanded her torture. That this type of hate speech is being uttered by the president represents a huge setback for democracy and human rights in Brazil.

Bolsonaro described Covid-19 as a ‘little flu’, advised people not to wear masks (which could cause pneumonia and death, he said), and claimed women could grow beards and people could turn into crocodiles as a result of the vaccines’ side effects. Brazil recorded 34 million cases and nearly 700,000 deaths, one of the worst tolls in the world.

Bolsonaro’s economic policies, meanwhile, saw spending on health fall drastically, along with spending on education. Between 2019-21 state expenditure aimed at women fell 46 percent.

Bolsonaro has dismantled labour protections, frozen the minimum wage, and privatised the state electricity company, which generates 30 percent of the country’s energy, as a prelude to the privatisation of Petrobras. More than hundred state energy assets have also been privatised. Under his watch the deforestation of Brazil’s Amazon reached a record high in the first half of 2022 (1,500 square miles, 80 percent larger than in same period in 2018), and by mid 2022 it was estimated that 32 million Brazilians were suffering from hunger.

By contrast, during thirteen years of PT government, thirty million Brazilians were lifted out of poverty. By 2015 real wages were 78 percent higher than the accumulated inflation since 2002. Over 90 percent of beneficiaries of the poverty-eradication Bolsa Familia programme were women—68 percent of those being Black women— and unemployment fell to less than six percent, the lowest level in history. 214 technical schools and 18 state universities were created with free education at all levels made available to millions of students, many of whom were given scholarships (51 percent of those were women). 10.5 million low-income people were placed in 2.6 million houses through the housing programme, and basic healthcare reached 70 percent of the

population—another historic record. Bolsonaro’s disastrous mismanagement led his approval to sharply decline (to below twenty percent in November 2021), compounded by having to face a presidential contest against a greatly strengthened Lula, who was fully exonerated in 2021 by the Supreme Court of all charges of corruption. The latest Datafolha poll (20 Aug 2022) shows Lula with 47 percent of the vote intention against 32 percent for Bolsonaro. In response, Bolsonaro and his supporters have gone berserk. Marcelo Arruda, a PT local leader, was murdered—shot three times—by a Bolsonaro supporter during his 50th birthday party on 10 July. A PT election rally in Rio de Janeiro was also interrupted by the explosion of homemade bomb. Since then, Lula wears a bulletproof vest. Bolsonaro has issued more than a dozen decrees in favour of Brazilians’ right to bear arms, leading to a boom in gun ownership. He has said that Brazil’s electronic voting system is not reliable and has threatened not to recognise the results or cede power if he loses, hinting at a Brazilian storming-of-the-Capitol-a-la-Trump. One can only imagine what he will get up to if Lula does not win in the first round.

The stakes are high: Bolsonaro represents a grave threat to Brazil’s already battered and bruised democracy. Prominent figures in politics, business, science, and the arts have issued a Citizens’ Manifesto to defend the rule of law and oppose his ‘authoritarian delirium’, which has been signed by more than a million and endorsed by over 500 civil society bodies. Private associations like Brazilian Federation of Banks and the main trade union federations have issued a similar declaration. In Britain, parliamentarians have signed a special motion denouncing Bolsonaro’s election threats and the political violence. In the face of this situation, we must support Brazilians’ struggle to defend their democracy, which has already been damaged by Dilma’s impeachment, by Lula’s imprisonment, and by the curtailing of social, economic, and political rights. We must redouble our solidarity, and condemn and oppose Bolsonaro’s assault.

Francisco Dominguez is head of the Research Group on Latin America at Middlesex University. He is also the national secretary of the Venezuela Solidarity Campaign and co-author of Right-Wing Politics in the New Latin America (Zed, 2011). This article was previously published on UK Tribune Magazine, 25 August 2022.

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Nota de Pesar do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF

Com

sentimento de muita tristeza informamos o falecimento do professor Marcos Costa Lima, ocorrido ontem, 29 de junho de 2022, no Recife, Pernambuco

O professor Marcos Costa Lima foi um dos mais brilhantes e destacados cientistas sociais de sua geração. Graduado em Filosofia Política pela Universidade de Montpellier na França, Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas, cumpriu seu estágio pós-doutoral na Universidade de Paris XII, França. Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) foi também professor visitante na Universidade da República do Uruguay, na Universidade de Leiden (Países Baixos), na Universidade de Walles-Swansea (Grã-Bretanha), na Universidade Sorbonne Nouvelle e no Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Lille (França). Exerceu a presidência da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) no biênio 2011/2012). Foi um dos fundadores do FoMerco (Fórum Universitário Mercosul) e seu primeiro Presidente entre 2005 e 2007, tendo sido reeleito

para o mandato seguinte, 2007/2009. Coordenou projetos de pesquisas em rede na Grã-Bretanha, Argentina, Índia e França. Seus estudos e pesquisas encontraram expressão em livros e artigos publicados no Brasil e no exterior, com uma ampla pauta de interesses, tais como globalização e política internacional comparada com ênfase na América latina e Ásia.

Marcos Costa foi um colega que, por onde passou, deixou amigos e admiradores, sempre mantendo sua postura solícita, cordial e invariavelmente generosa. Durante sua gestão como Presidente da ANPOCS, em visita ao INEST, não deixou de manifestar seu apoio e consideração pelo trabalho que aqui se desenvolvia.

O Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense expressa sua admiração e louvor ao querido colega e leva aos seus familiares e amigos votos de solidariedade e conforto.

Niterói, RJ, 30 de junho de 2022.

Prof. Vágner Camilo Alves Diretor Instituto de Estudos Estratégicos Universidade Federal Fluminense

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Homenagem a Marcos Costa Lima

Marcos Costa Lima, no dia 29 de junho passado, despediu-se de nós, seus admiradores, profundamente consternados, especialmente colegas, alunos e ex-alunos que, com ele, tiveram o privilégio de conviver e, dentre os quais, fez sólidas amizades. Não são poucos, felizmente, os que, nas universidades, também partiram deixando lembranças, não só dos seus predicados intelectuais, mas também de suas qualidades como cidadão e ser humano. Porém, o que há de peculiar na trajetória luminosa desse grande colega e amigo, que contribuiu sobremaneira para que seu brilho acadêmico se irradiasse mais amplamente, contagiando os que o conheceram, foi seu “seu trato gentil e generoso”, conforme se expressou, em Nota de Pesar, a Diretoria do Centro Celso Furtado, onde teve atuação marcante. Ela destaca ainda, que Marcos deixou “não somente um patrimônio intelectual, mas também afetivo”.

Não se trata de confetes lançados, muitas vezes por mera formalidade, aos que morrem. As opiniões sobre Marcos não deixam dúvidas, por serem unânimes e enfáticas. Ele era, com efeito, “uma pessoa cativante, fora de série, que sempre procurava conciliar”, conforme frisou nota da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Já para a Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs), da qual foi presidente entre 2011 e 2012, “foi uma personalidade agregadora e uma liderança gentil e alegre”.

Os aspectos de sua personalidade, aqui ressaltados, foram fortemente influenciados pelo seu ilustre genitor, Osvaldo Lima Filho, ministro da Agricultura do Governo João Goulart e vice-presidente da Câmara dos Deputados, na década de 60 do século passado. Ele também atuou, de forma marcante, na Constituinte de 1988, como importante lide-

rança do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Em 1991, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT).

Pai e filho foram espíritos conciliadores e tolerantes. Mas essas características não se confundem com leniência, pois os seus posicionamentos políticos e ideológicos sempre foram firmes e claros, comprometidos com a busca de mais igualdade e justiça social. Destarte, a sua gentileza nunca foi expressão de sociabilidade alienada, mas, sim, reflexo de uma práxis humana impregnada de virtù.

Marcos Costa Lima, este “ser humano fantástico, autor de vastíssima obra, foi uma figura ímpar, que deixa grandioso legado acadêmico”, conforme divulgado na Nota de Pesar emitida pela Coordenadoria dos Estudos da Ásia da UFPE. Transitou por múltiplas esquinas das Ciências Sociais, tendo publicado trabalhos em temas tão diversos como Desenvolvimento, Meio Ambiente, Política Internacional, Mercado Comum do Sul (Mercosul), Globalização, Pensamento Social Brasileiro e sobre a China, a Coreia do Sul e a América Latina.

Sua reconhecida competência o fez, desde 2015, coordenador dos Estudos da Ásia, além de professor visitante de várias instituições internacionais, como as universidades de Leiden e de Walles-Swamsea, a Sorbonne Nouvelle e a Sciences Politiques de Lille. Foi, também, membro do Conselho Científico do Centro Internacional Celso Furtado de Estudos para o Desenvolvimento (20132017).

Fui um dos muitos beneficiários de sua atuação, voltada para criar pontes e estabelecer os mais diversos intercâmbios. Ele levou-me a participar, como colunista, da revista eletrônica Jornalismo e Cidadania, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da

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UFPE, e a figurar como membro do Conselho Editorial da Revista de Estudos da Ásia. Marcos também prefaciou o meu livro sobre o bolsonarismo e escreveu a contracapa da minha última obra, que versa sobre teoria política, transcrita em forma de apresentação no site A terra é redonda, tendo sido este seu derradeiro texto publicado.

O legado de Marcos Costa Lima vai muito além da obra que produziu, pois não poucos, como eu próprio, ampliaram, ainda que modestamente, sua contribuição às Ciências Sociais e à Ciência Política graças à sua estimulante mediação, que descortinou novos horizontes para meus trabalhos.

Assim, as referências aparentemente superlativas a esse extraordinário colega são apenas a expressão fiel da fecundidade de sua atuação voltada para o engrandecimento das Ciências Sociais e para o seu aprimoramento como instrumento de transformação. Seu comovente exemplo de vida e de trabalho continuará a inspirar a todos que comungam de seus ideais.

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Rubens Pinto Lyra é Professor Emérito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Organizador e co-autor de diversos livros, entre outros, de Teoria Política: dos clássicos à contemporaneidade (2022).

Das minhas conversas com meu avô

Francisco Costa Lima

Difícil essa tarefa de dizer esse adeus, né? Mais difícil para mim, que não tenho nenhum plano de dizer adeus tão cedo, que ainda planejo ter tantas conversas com ele.

Bem, vou lá:

Alguns dias atrás, quando já sabia que a morte do meu avô se aproximava, mas ainda não sabia quando viria, escrevi um poema:

até aí tudo bem. O que me deixou sem entender nada foi que, no Tao, a morte não é vista nem como algo que entra no conceito de natural ou eterno.

Confuso, talvez um pouco contraditório para uma mente criada sob o dogma cristão do descanso eterno no reino de Deus, a morte sempre me pareceu parte da natureza, parte do ciclo natural das coisas.

Melancolia # 2

As ondas dependem do vento, mas o rio segue sempre para o Leste.

(Por uma curiosa coincidência, nossos dois oceanos apontam para lá.)

As ondas não dependem do rio, surgem, crescem e morrem.

Uma onda depois da outra, o rio não depende das ondas.

Eu me consolo que o caminho é bonito.

Da última vez que fui visitá-lo, então, em sua casa, aproveitei um momento em que ele estava dormindo para pegar emprestado de sua estante seu Tao Te Ching (Obra maior e fundadora do Taoismo). Numa versão de capa dura, branco, grande, uma edição lindíssima.

O que entendi a partir do seu livro (muito mais completo e profundo do que o pocket que eu tenho e que estava consultando), foi que a questão é que, quando se diz que a morte não faz parte das coisas naturais, não significa que ela é antinatural. Ela está simplesmente fora dessa dicotomia. Nem a morte, nem tão pouco a vida, são naturais.

De lá para cá, apesar de ter sido pouco tempo, sinto que aprendi muito, e que já não leio, já não falo o poema que eu mesmo escrevi da mesma forma.

Meu avô era um grande estudioso da Ásia, em particular da China, e, em grande parte por conta dele, eu acabei tomando gosto pelo assunto e estudando uma coisa ou outra de filosofia oriental.

Há uns meses, me deparei com um conceito que não consegui digerir muito bem, estudando Taoísmo. Tratava-se de como aquilo que é eterno é também natural, é imutável por natureza. Não são coisas que no Ocidente, com a nossa lógica de progresso, estão necessariamente conectadas, somos mais a favor da eterna mudança para frente, mas

A metáfora usada então é a seguinte: se o Tao - que se traduz em caminho, verdade, mas que em verdade não se traduz, pois diz daquilo que se experiencia - se o Tao é o Rio, metáfora já consagrada, a vida é uma onda no Rio, ela depende da existência do mundo, da materialidade do mundo para existir, mas ela é alheia a ele, independente.

(Uma visão que diz muito do costume coletivista da tradição Chinesa, que contrasta fortemente com meu livro pocket, uma tradução certamente inspirada na onda new age ocidental que parece apresentar o rio como caminho da vida individual - meu caminho, meu rio, com começo, meio e fim, sendo o fim do rio o fim da vida. A lógica Chinesa coloca o indivíduo como algo muito menor. Não é que a sociedade seja uma junção de homens e mulheres, a lá Thatcher, mas que os homens e as mulheres são uma parte pequena da sociedade).

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Eu entendi naquele momento parte da ideia, mas só vim realmente a entender e digerir num nível mais emocional, alguns dias depois que ele faleceu.

Como assim a morte não é eterna? Ora, eu ainda planejo ter muitas conversas com meu avô, mesmo ele estando morto.

O esclarecimento me veio quando passei a pensar na última vez que estive em sua casa.

Quando eu estava na sua casa, lendo um livro seu sobre o taoísmo, eu estava tendo uma conversa com ele, mesmo ele estando dormindo.

Quando eu, com quinze anos, fui ler um Hobsbawm que ele me deu de aniversário, estava conversando com ele, mesmo estando em cidades diferentes. Quando entrei numa espiral/buraco negro na Wikipedia sobre Bhagat Singh e outros comunistas indianos da década de 30 cuja biografia meu avô havia me recomendado anos antes, estou conversando com ele. Quando assisti uma série coreana que ele me recomendou, estava vendo com ele. Toda vez que jogo xadrez com algum amigo meu, estou também jogando xadrez com ele, que me ensinou a jogar e a gostar de jogar xadrez. (E de quem ganhei tão poucas vezes).

Quando paro para apreciar as plantas de uma bonita paisagem, e me lembro da bela casa dele e de Juju, em Aldeia, estou apreciando aquela vista com ele. Quando olho para os olhos marejados da minha mãe, para o sorriso gostoso do meu irmão, para o jeito sem jeito do meu tio, eu vejo um pouquinho dele.

Quando aprecio o meu silêncio, quando me empolgo em explicar algum tema um pouco intelectual demais, quando vou a rua protestar, posso até não estar com ele, mas sei que só sou quem sou e sinto o que sinto porque ele me moldou, porque passei pelos seus silêncios, suas empolgações, suas lutas.

Se me permitem uma última viagem ao oriente, dessa vez ao Budismo, gostaria de trazer uma imagem que acho muito bonita

e que me ajuda a entender o que sinto: se chama a Teia de Indra:

A teia de Indra é como uma teia de aranha com orvalho

Uma rede que conecta cada ponto a outro ponto, em cada ponto uma pérola

E cada ponto é um reflexo de toda a rede, em cada pérola dez mil pérolas

E no reflexo da gota tem outra gota que também ela reflete toda a teia e a si mesma.

E que vira assim uma grande corrente do ser, as vidas se encontram pelos fios e se refletem infinitas vezes umas nas outras.

Eu vou sentir saudades do meu avô, mas eu tenho a tranquilidade de saber que meu avô reflete em mim, e que eu, quando reflito nos outros, reflito também nos outros o meu avô, e que ainda vamos conversar muito.

Francisco Costa Lima

Neto de Marcos Ferreira da Costa Lima

Texto lido na Missa de 7º dia de meu avô.

Francisco Costa Lima é bacharelando em Direito pela UFPE

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UFPE lamenta o falecimento do professor Marcos Costa Lima

Ele atuou na graduação e na pós de Ciência Política

29/06/2022 14:24 Ascom

AUFPE e, em especial, o Departamento de Ciência Política lamentam o falecimento do professor Marcos Ferreira da Costa Lima, aos 71 anos, ocorrido no dia 29 de junho. Ele iniciou sua atuação na UFPE em 1980, no Departamento de Ciências Sociais, e foi um dos fundadores do Departamento de Ciência Política (DCP). Costa Lima criou e dirigiu o Instituto Ásia (que hoje integra o Centro de Estudos Avançados da UFPE), comandando discussões sobre os principais países daquele continente na UFPE. Ele deixa viúva a professora Maria de Jesus Britto Leite, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE.

O chefe do DCP, professor Adriano Oliveira, divulgou nota do departamento sobre o falecimento do colega: “Informamos com muita tristeza que o professor Marcos Costa Lima, do Departamento de Ciência Política da UFPE, faleceu no dia de hoje. Professor e intelectual dedicado à universidade pública, à pesquisa e ao ensino. A nossa gratidão ao professor Marcos.”

Já o professor Ernani Carvalho, também do DCP, ex-pró-reitor de Pesquisa e Pós-Gradu-

ação da UFPE, disse que, “com bastante pesar, recebemos a notícia do falecimento do professor Costa Lima, um dos fundadores do Departamento de Ciência Política, super atuante na pós-graduação, uma pessoa cativante, fora de série, que sempre buscava conciliar. Ele dirigiu o Instituto Ásia e teve uma forte participação no incremento nas discussões sobre a Ásia na UFPE, tanto nos estudos relativos à Índia, quanto à China, grande objeto do seu estudo nos últimos anos”.

CURRÍCULO – Marcos Costa Lima tinha graduação em Philosophie Politique - Université Montpellier 2 - Sciences et Techniques (1978), mestrado em Sociologia pela UFPE (1985) e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (1998). Fez pós-doutorado na Université Paris XIII- Villetaneuse (2003). Autor de diversos livros sobre capitalismo, política internacional, relações internacionais, Mercosul, Ásia, América Latina, planejamento regional e desenvolvimento do Nordeste (especialmente o pensamento de Celso Furtado), ele orientou inúmeros trabalhos de conclusão de curso (TCCs) defendidos nos cursos de Ciências Sociais, Ciência Política, Direito e Economia na UFPE, além de dissertações e teses apresentadas nos programas de Pós-Graduação em Ciência Política e em Sociologia na universidade. Foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais - Anpocs (2011-2012), professor convidado de diversas universidades estrangeiras, integrou conselhos científicos de instituições internacionais e também foi parecerista de fundações de pesquisa brasileiras.

INSTITUTO ÁSIA - A Coordenadoria de Estudos da Ásia (antigo Instituto Ásia) divulgou nota de pesar: “É com imenso pesar que a Coordenadoria de Estudos da Ásia informa o falecimento de seu coordenador-geral, professor Marcos Ferreira da Costa Lima. O professor Marcos foi uma figura ímpar que deixa grandioso legado acadêmico. Transitou por múltiplas esquinas das Ciências Sociais. E por variadas instituições.” Diz ainda a nota que ele lecionou, pesquisou e

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publicou sobre diversos assuntos. “Desenvolvimento, Meio Ambiente, Política Brasileira, Política Internacional, China, Coreia do Sul, Índia, Economia Política Internacional, Integração Regional, Mercosul, Globalização, América Latina, Pensamento Social Brasileiro, Política Externa, Inovação, Educação, etc., são apenas alguns dos tópicos cobertos pela vastíssima obra de Marcos Costa Lima. Orientou e fez parte da formação de mais de duas centenas de cientistas sociais ao longo das últimas décadas. Desde 2015, coordenava o Instituto de Estudos da Ásia da UFPE, depois renomeado para Coordenadoria de Estudos da Ásia, em 2021. Acima de tudo, um ser humano fantástico”, destacou.

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