MIP Mag 10

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make itmag positive

psicologia positiva • neurociência • coaching • saúde • conhecimento

CONHECE-TE A TI MESMO...

...e encontrarás propósito em teu trabalho

Conheça algumas questões a serem levadas em conta e iniciativas nas empresas

Veja também: A teoria da autodeterminação Hedonismo não é felicidade Diversão ganha impulso científico Jogo desenvolve as forças pessoais

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NĂƒO PERCA!

Certificação em Coaching Positivo Uma abordagem essencialmente pråtica

acerca das tÊcnicas båsicas e avançadas do coaching, à luz da Psicologia Positiva.

Programa

• Fundamentos da Psicologia Positiva: O “Estado da Arteâ€?; • Positive Psychology Coaching: Um novo campo da Psicologia Positiva, uma nova possibilidade de coaching; • As emoçþes positivas e o seu impacto no desempenho; • Intervençþes eficazes para o desenvolvimento das emoçþes positivas; • Strengths Coaching: O trabalho de coaching a partir das forças pessoais; • Flow e Peak Performance: Ressignificando a relação homem / trabalho. ResponsĂĄvel: Profa. Dra. Lilian Graziano PsicĂłloga e doutora em Psicologia pela Universidade de SĂŁo Paulo (USP). Tem pĂłs-graduação em Psicoterapia Cognitiva Construtivista e especialização lato sensu na ĂĄrea de gestĂŁo empresarial, com especialização em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA, certificação em Coaching Positivo pelo Positive Acorn, EUA e Especialização em Psicologia Positiva pela Universidade da Pensilvânia. Treinou e atendeu milhares de funcionĂĄrios de grandes organizaçþes, tais como: Coca-Cola, Basf, BankBoston, Accenture, British Petroleum, Merrill Lynch, KPMG, Natura, Bradesco, 3M, Lenovo, Unilever. É docente em programas de pĂłs-graduação e cursos in company da Fundação Dom Cabral (FDC), eleita a 12ÂŞ melhor escola de negĂłcios do mundo pelo ranking do Financial Times 2017.

Dias 9, 10 e novembro, 0

11 de 1 e 02

de dezembro

(5 dias de for mação)

diferenciais • ConsistĂŞncia acima de tudo. Formamos alunos capazes de pensar a prĂĄtica do coaching, de criar suas prĂłprias intervençþes. • Sem “enrolaçãoâ€?. Mais de 30 ferramentas discutidas em profundidade e sob referĂŞncias atuais. • O aluno em primeiro lugar. Trabalhamos com turmas pequenas, nas quais os alunos conseguem participar. • Plano de Retorno do Investimento. Discutimos o mercado, seus mitos verdades e estratĂŠgias para potencializar os negĂłcios.

INSCREVA-SE AQUI! http://psicologiapositiva.com.br/curso/certificacao-em-coaching-positivo/

INFORMAÇÕES: secretaria@psicologiapositiva.com.br • www.psicologiapositiva.com.br

R. Helena, 140 – Edifício Delta One, Cjs. 111-112, Vila2Olímpia – CEP 04552-050 – São Paulo, SP


editorial

Ser feliz (dá) no trabalho

Q

uando ser feliz se torna uma missão consciente, dedicar mais horas a esse projeto torna-se imperativo. Com pouco tempo livre – e muito dele dedicado à carreira –, encontrar meios de ser feliz no trabalho faz-se necessário e urgente, levando as empresas a se adaptarem em proporcionar os recursos que tornam isso possível, abandonando práticas e valores degradantes, desmotivadores e capazes de levar qualquer indivíduo ao seu esgotamento e não ao florescer humano. Entre as várias estratégias utilizadas para aumentar o bem-estar subjetivo no ambiente corporativo está a promoção de significado – demonstrar formas de encontrar algum propósito na atividade laboral diária. Para tanto, porém, poucas medidas surtem tanto efeito, na opinião de Lilian Graziano, diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento – IPPC, quanto promover o autoconhecimento dos funcionários. É o momento em que o profissional se torna capaz de encontrar o seu propósito, refletir sobre o trabalho que faz, se está alinhado ao propósito da empresa. Quando esse alinhamento acontece, trata-se de uma comunhão das mais eficazes para gerar resultados nas companhias, além de tornar as pessoas mais felizes, em uma verdadeira corrente do bem. No texto destacado na capa desta edição, algumas das estratégias que envolvem propósito, autoconhecimento e felicidade são mencionadas no exemplo do Grupo Gaia, liderado por João Paulo Pacífico, adepto da Psicologia Positiva, palestrante popular e uma das Top Voices da rede social profissional LinkedIn. Criar valores que integram pessoas e evidenciam aquilo de melhor que têm a oferecer está entre algumas das máximas propostas pela empresa. O que se revela nesse destaque, sem sombra de dúvida, é que ser feliz encontrando significado na vida laboral é um processo contínuo, exige engajamento com essa causa e um olhar atento a si e aos outros (uma melhor escuta interna e dos outros, também). Felicidade no trabalho dá trabalho. Mas ambos (o trabalho que dá e o que se faz no dia a dia) podem ser prazerosos, relevantes formas de mudar o mundo e alicerçar pilares de instituições cada vez mais positivas. Confira essas e outras revelações nas páginas a seguir. Boa leitura, Jussara Goyano Editora e coach positiva

Ano II – n o 10 – jul./ago./set./out. 2018 www.makeitpositivemag.com

MIP Mag é uma publicação quadrimestral do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento (IPPC). É proibida a reprodução sem autorização do IPPC e dos autores. As informações ou opiniões contidas nesta publicação não refletem necessariamente a posição do IPPC. DIRETORIA Lilian Graziano Fabio Appolinário CONSELHO EDITORIAL Lilian Graziano APOIO

Associação de Psicologia Positiva da América Latina REALIZAÇÃO:

PONTO A comunicação • conteúdo • desenvolvimento humano www.ponto-a.com • comunicacao@ponto-a.com @PontoA_falecom • Tel./Fax (11) 3042-5900

Edição e coordenação: Jussara Goyano Arte e projeto gráfico: Monique Elias Pesquisa e traduções: Marina Werneck Colaborou nesta edição: Juliana Tavares CONTATOS COM A REDAÇÃO: E-mail: mipmag@psicologiapositiva.com.br Endereço para correspondência/ Adress: Rua Helena, 140, cj. 111/112, Vila Olímpia, S. Paulo – SP – Brasil CEP 04552-050 COMERCIAL E MARKETING: secretaria@psicologiapositiva.com.br

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SUMÁRIO

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make itmag

EDITORIAL

positive CORPORATE Propósito gera performance, mas depende de autoconhecimento. Veja a iniciativa do Grupo Gaia a respeito

psicologia positiva • neurociência • coaching • saúde • conhecimento

CONHECE-TE A TI MESMO...

...e encontrarás propósito em teu trabalho

Conheça algumas questões a serem levadas em conta e iniciativas nas empresas

Veja também: A teoria da autodeterminação Hedonismo não é felicidade Diversão ganha impulso científico Jogo desenvolve as forças pessoais

ENTREVISTA Renata Livramento fala sobre o Positive Experience Game e a divulgação da Psicologia Positiva

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05/09/2018 14:48:43

imagem da capa: freepik/montagem: Monique Elias

NEUROCIÊNCIA O modelo da autodeterminação e as variáveis que minam a motivação humana

LEITURAS Happy Together. Using the Science of Positive Psychology to Build Love That Lasts, de Suzann Pileggi Pawelski e James O. Pawelski

IMAGENS: FREEPIK/DIVULGAÇÃO

BEM-ESTAR Um ensaio sobre o hedonismo e por que não se trata de uma proposta consistente de felicidade

PESQUISA Achados para maximizar a diversão

E MAIS... Positive News Positive wiki Sua Felicidade

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entrevista

Experiência IMAGENS: FREEPIK

positiva

Jogo expõe as dificuldades do trabalho com os conceitos centrais da PP. Uma das criadoras do Positive Experience Game, Renata Livramento afirma que passar da teoria ao concreto é o grande desafio que o produto transpõe. Ultrapassar a superficialidade seria, por sua vez, o obstáculo daqueles que trabalham com a abordagem positiva no Brasil • Da Redação • 5


entrevista

R

enata Livramento é Recomendado dentro workshop que aprofundou mineira, psicóloga, o tema no III Congresso e fora dos fundadora e Brasileiro de Psicologia presidente do Instituto Positiva, ocorrido em São Brasileiro de Psicologia Paulo, capital, em junho de Positiva. Doutora e mestre em 2018, organizado pela ,o administração, especialista Universidade Presbiteriana novo jogo cria uma em Psicologia Clínica e Mackenzie. graduada em em Administração. oportunidade Recomendado dentro Coordenadora do MBA e fora dos settings de aprender sobre em Psicologia Positiva organizacional e terapêutico, e da Pós-graduação em o novo jogo cria, na opinião Psicologia Positiva Educação Positiva pelo Centro de Renata, uma oportunidade e fazer o usuário Universitário UNA. Certificada lúdica de aprender sobre em Disciplina Positiva pela Psicologia Positiva e fazer o perceber que Positive Discipline Association. usuário perceber que pode É Master Coach, tendo cursado exercitar suas melhores suas Positive Psychology Coaching com mais melhores características características com Dr. Tal Ben Shahar e frequência e aumentar o Appreciative Coaching com seu bem-estar no cotidiano. com mais frequência Dra. Ann Clancy. Idealizadora O produto é “diferente dos e aumentar o seu dos programas Felicidade em jogos existentes, como os Ação® e Doe Sentimentos vários baralhos, dentre Positivos®. Coordenadora outros de dinâmicas mais do Action for Happiness em simples”, afirma Renata. Belo Horizonte-MG. Encabeça, E o seu principal trunfo, junto a outros dois colegas psicólogos, ela conta, é trazer para o plano concreto, de maneira o lançamento do Positive Experience mais aprofundada, conceitos por demais abstratos Game, um jogo criado para o trabalho para algumas pessoas. Trata-se, também, de ampliar com forças pessoais e virtudes, os pontos de contato do grande público com temas conceitos-chave da PP, lançado sob um do movimento de Seligman, pois o novo jogo tem por detrás de si uma certificação sobre as suas dinâmicas – que é praticamente um mergulho na PP sob propostas aplicáveis ao dia a dia.

settings organizacional e terapêutico

lúdica

pode exercitar

bem-estar no cotidiano

ARQUIVO PESSOAL

COMO SURGIU A IDEIA DE UM JOGO PARA EXERCITAR AS FORÇAS PESSOAIS?

O jogo surgiu porque um colega de trabalho e professor, que trabalha com Psicologia Positiva, tinha um treinamento pra dar e perguntou de que forma ele poderia ensinar as forças de caráter de uma maneira mais lúdica e que fosse mais fácil de as pessoas aprenderem, sem ser de uma forma tão teórica. Fui pensar nessa forma e a gente chegou nessa ideia do jogo. Aí chamamos uma amiga e então eu, o professor Flavio Costa e a Andreia Saad (nós todos damos aula em um MBA de Psicologia Positiva) desenvolvemos o jogo. A partir daí a gente começou a idealizar o formato. A

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temos a carta-tarefa e a carta-imagem pra cada força. Basicamente, a pessoa abre um saquinho jeans, tira uma pecinha – e cada peça tem uma cor. Ela vê a cor e já sabe qual virtude vai trabalhar. Ela vai nas cartas da mesma cor, que podem ser uma carta de tarefa ou de imagem. Se for uma carta-tarefa, ela vai ter ali uma ou duas atividades que vai escolher uma e desenvolver naquele momento. (A gente queria um jogo em que tudo fosse exercitado ali naquele momento, que não precisasse fazer tarefa em casa… depois.)

gente queria que fosse algo com que as pessoas não fossem só aprender, mas algo que também fossem E ESSAS TAREFAS SÃO DO TIPO QUE exercitar. Não só ter o conhecimento, mas desenvolver PODEM SER TRANSPOSTAS PARA O DIA A as forças de caráter. Demorou seis meses para criar, DIA, EM QUE A PESSOA VAI LEMBRAR DA pensar em todas as possibilidades. Tinha de ser FORÇA QUE EXERCITOU E COMO E REPETIR um jogo colaborativo, por exemplo, que não fosse O EXERCÍCIO EM CASA OU NO TRABALHO? competitivo (não tem um vencedor, porque a proposta Exatamente. As tarefas se relacionam é as pessoas se conscientizarem, usarem suas forças, com coisas do dia a dia e com coisas que explorarem, aplicarem). Pode ser jogado em grupos, a pessoa pode realizar naquele momento. individualmente, entre o terapeuta e o cliente, o coach Se estiver jogando em grupo, ela valida com o coachee. Pode ser jogado de diversas maneiras, a realização do exercício. E aí a peça do inclusive. Não tem uma única forma de se jogar – há indivíduo é colocada no tabuleiro. No a principal, a primeira forma que a gente desenhou, final do jogo, todos estarão mas há múltiplas possibilidades de “O game pode construindo uma imagem utilizar os elementos do jogo para coletivamente, cada um dá a criar novas formas de jogar. É um ser utilizado sua contribuição. A pessoa tabuleiro, de madeira… com peças por colabora na construção coloridas formando quebra-cabeças. uma imagem, todos São seis cores de peças (uma para mas, para de colaboram na construção cada virtude). Cores escolhidas de acordo com teorias sobre cores o melhor proveito, de algo. Pode ser que ela também tire uma carta e não de maneira aleatória – a é interessante que de imagem, quando terá virtude da Sabedoria, por exemplo, é amarela, porque é a cor da luz, aquilo sejam pessoas que de identificar a força nela contida. Esse momento é que ilumina. A Transcendência, por já muito interessante porque sua vez, é roxa, que é uma cor que já é associada ao tema. Além disso, , existe toda uma projeção, que a gente sabe que as pessoas dentro de cada virtude tem as suas uma formação fazem com imagens, que por respectivas forças de caráter, cada si só pode ser trabalhada em uma com seu ícone próprio – a ideia em Psicologia um processo de coaching, ou é que as pessoas aprendam de uma Positiva. E pra isso no processo terapêutico. Mas forma fácil lúdica, então precisa ser bem visual. Temos cartas que a gente criou uma na dinâmica do jogo, a ideia é a pessoa dizer qual força está chamamos de carta-conceito [com ali representada, e o porquê. a descrição da força], e além disso

qualquer pessoa,

IMAGENS: FREEPIK

têm algum conhecimento

certificação” 7


entrevista

É uma forma de as pessoas se conscientizarem de cada força e de como elas podem ser aplicadas no cotidiano. Porque as imagens são de cenas do cotidiano. QUAL O TIPO DE PESQUISA QUE FOI FEITA PARA SELECIONAR ESSAS IMAGENS?

Nós fizemos pesquisas com especialistas, depois de uma pré-seleção. O jogo passou por uma testagem, fizemos um piloto para poder ir para o modelo final. O JOGO PRECISA DE ALGUMA MEDIAÇÃO ESPECIALIZADA OU PODE SER ADQUIRIDO E UTILIZADO POR QUALQUER PESSOA?

“Pode ser que [o jogador] também tire uma carta de imagem, quando terá de identificar a força nela contida. Esse momento é muito interessante porque existe toda uma projeção, que a gente sabe que as pessoas

fazem com imagens, que por si

só pode ser trabalhada em um processo de coaching, ou no processo terapêutico”

Ele pode ser utilizado por qualquer pessoa, mas, para o melhor proveito, é interessante que sejam pessoas que já tenham algum conhecimento, uma formação em Psicologia Positiva. E pra isso a gente criou uma certificação, para que as pessoas possam ter esse conhecimento mais profundo das virtudes e forças de caráter, conceitos da Psicologia Positiva que baseiam todo o jogo. Se uma família quiser comprar o jogo para se divertir ela vai conseguir usar, ter essa diversão. Depende da finalidade para a qual se quer aplicar esse instrumento: se for pura diversão, você pode simplesmente comprar, jogar, está tudo certo! Se você quer usar como ferramenta de desenvolvimento, aí é interessante que se tenha um conhecimento a respeito. Principalmente das virtudes e forças de caráter. O QUE É MAIS DIFÍCIL NO TRABALHO COM AS FORÇAS PESSOAIS, O ENTENDIMENTO OU A APLICAÇÃO DAS FORÇAS? PORQUE O JOGO É UM CAMINHO PARA O EXERCÍCIO DAS FORÇAS… TALVEZ NÃO ENTENDIMENTO PARA O SEU ENTENDIMENTO…

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O jogo é um caminho para a pessoa tomar conhecimento do que são as forças – não as suas –, conhecer o conceito. A Psicologia Positiva não é conhecida do grande público, e essa é uma maneira de levá-la para outros locais que não sejam exclusivos desse movimento, algo que realmente possa fazer a diferença na vida da pessoa. Já no trabalho com as forças, a dificuldade que eu percebo reside justamente no fato de que é tudo muito abstrato – um conceito muito abstrato que algumas pessoas têm muita dificuldade em compreender, entender sua importância e partir para a ação, colocar em prática. Porque uma coisa é você saber que tem uma determinada força, outra é entender como usá-la no seu dia a dia para que isso realmente contribua com seu


bem-estar – o que é o principal objetivo do trabalho com forças. Ou seja, o difícil é sair do abstrato e passar para o concreto, e o jogo pode ajudar nisso. O jogo, dependendo de como for jogado – e por isso a gente quer fazer uma certificação para lidar com ele –, pode funcionar como uma sessão terapêutica, como material de consultoria e treinamento dentro de uma organização. Porque o jogo pode ser um start para algo mais profundo. Uma ferramenta para trazer a teoria para o concreto e facilitar o trabalho com as forças em diversos contextos. tradução da tradução da tradução, ou o resumo da COMO VOCÊ VÊ A DIFUSÃO DA PP NO PAÍS? tradução de não sei o quê, que acaba esvaziando A forma como as pessoas conhecem um pouco o conteúdo. As pessoas que realmente se a Psicologia Positiva no Brasil ainda é dispõem a estudar na fonte e entender são poucas. uma forma superficial. Elas ouviram falar, Estão indo mais atrás de fórmulas, de receitas para mas a forma como ouviram aplicar mais rapidamente, é quase exclusivamente “A Psicologia Positiva do que na fonte, realmente sobre a Ciência da Felicidade. conhecer. Então quando me não é conhecida do perguntam se a PP está se A PP é algo muito além disso. E acho que é pouco ampliando no país, creio que grande público, e difundida, ainda. A PP só está sim, mas (e aí é a minha essa é uma maneira entrou nas universidades percepção, somente, pois e espaços organizacionais não tenho dados sobre isso) de fora do eixo Rio–São Paulo muitos acabam indo no obamais recentemente. Está oba, pegando disso tudo mais crescendo, mas me preocupo uma receita de como ser feliz que não sejam muito com a qualidade desse do que tratar a PP como uma exclusivos desse crescimento. abordagem integrativa do ser humano. Claro que há excelentes movimento, algo ONDE VOCÊ VÊ MAIOR profissionais na área, mas essa que realmente SUPERFICIALIDADE? é a minha percepção.

levá-la para outros locais

IMAGENS: FREEPIK

ESPAÇO ORGANIZACIONAL, EDUCACIONAL? ONDE?

fazer a diferença na possa

Eu acho que isso é geral, depende muito vida do profissional que está trabalhando com a Psicologia Positiva. Um conhecimento novo, que ainda está sendo construído, exige um esforço em estudar, em buscar as informações na fonte. A gente tem um dificultador sério no Brasil, que é o fato de as obras desse campo serem a maioria em inglês. E há quem siga somente a

da pessoa”

O POSITIVE EXPERIENCE GAME É COMERCIALIZADO EM QUE CANAL? HÁ ALGUMA NOVIDADE PREVISTA APÓS O LANÇAMENTO?

Ele está no site www.positiveexperience.com.br. E nós já estamos trabalhando na atualização do jogo. Que esse lançamento é algo geral, mas vamos supor que se queira trabalhar mais com nichos – para isso estamos trabalhando nas cartas At Work e For Kids. [A certificação mencionada abriu suas inscrições na semana do fechamento desta edição de MIP Mag.] •

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corporate

Propรณsito e performance

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PROPORCIONAR UM AMBIENTE EM QUE O TRABALHO TEM SIGNIFICADO MANTÉM EQUIPES MOTIVADAS E COM ALTO DESEMPENHO

IMAGENS: FREEPIK

• POR JULIANA TAVARES •

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corporate

A

tire a primeira pedra quem nunca realizou uma atividade sem sentido, num ambiente desmotivador. Atribuir ao trabalho uma carga de sofrimento e degradação é uma crença tão antiga que o mito de Sísifo foi criado pelos gregos como forma de justificar os serviços degradantes e sem significado como um tipo de castigo a quem ofendia os deuses do Olimpo. De acordo com a mitologia, Sísifo, que passara a vida enganando o panteão, foi condenado a empurrar uma pedra até o cume de uma montanha. Sempre que ele estava prestes a chegar ao seu objetivo, a pedra rolava até a base, fazendo com que Sísifo tivesse de executar o trabalho novamente. E assim, por toda a eternidade. Da Grécia Antiga à sociedade atual, muita coisa mudou no mercado de trabalho e, aos poucos, a concepção de que trabalho significa sofrimento e sacrifício vai sendo substituída pelo senso de propósito. De acordo com o professor da Universidade de Michigan, Kim Cameron, autor do livro Liderança Positiva, as pessoas anseiam pelo bem, pela virtude e pela felicidade. Quando o indivíduo consegue atribuir relevância em sua atividade profissional, efeitos extraordinários começam a ser percebidos, entre eles redução do estresse, altos níveis de engajamento, empowerment, satisfação e felicidade.

Para que isso aconteça, Cameron estabelece quatro princípios de liderança básicos que contribuem para que as organizações floresçam e obtenham resultados excepcionais, entre eles a criação de um clima positivo, que promova o perdão e o reconhecimento do trabalho; o desenvolvimento de uma rede de relacionamentos positivos, que influenciam positivamente os colaboradores; uma rede de comunicação positiva, que incentiva as contribuições e descarta as críticas e a criação de um significado positivo no trabalho, evidenciando o impacto no bem-estar das pessoas.

A criação de significado no trabalho, evidenciando seu impacto no bem-estar das pessoas, é uma das práticas corporativas indicadas por Kim Cameron, na promoção de

TEORIA X PRÁTICA Tanto a busca pelo propósito no trabalho é uma verdade que uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup, em 2017, revelou que 51% da força de trabalho americana, embora empregada, estão de olho em novas oportunidades. Segundo o estudo, embora o desemprego continue caindo, as pessoas seguem mudando de emprego porque a nova geração de trabalhadores não quer só um emprego, mas crescimento profissional – e isso implica em trabalhar com significado. Embora oferecer um trabalho com propósito seja um objetivo comum em um número cada

lideranças positivas

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“Não significa que o aspecto financeiro deixa de ser necessário. Se eu encaro o trabalho como uma missão, o meu sentimento de dono, ou ownership, será maior” Graziano. A segunda maneira de se relacionar com o trabalho é compreendê-lo como uma carreira, de forma que a ascensão profissional e o poder passam a ser o maior objetivo da pessoa. Por fim, o indivíduo pode ver seu trabalho como um chamado e, nesse caso, sua motivação será a de realizar algo que contribua para transformar o mundo em um lugar melhor. “Nesse caso, não significa que o aspecto financeiro deixa de ser necessário. Se eu encaro o trabalho como uma missão, o meu sentimento de dono, ou ownership, será maior.” Dessa forma, entender como cada pessoa se comporta com relação ao próprio trabalho ajuda o líder a harmonizar o grupo e a promover um estado de desempenho ótimo, também chamado pelo especialista em Psicologia Positiva, Mihaly Csikszentmihalyi,

IMAGENS: FREEPIK

vez maior de organizações, para a psicóloga Lilian Graziano, fundadora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento – IPPC e doutora pela Universidade de São Paulo, esse discurso, na maioria das vezes, não passa de retórica. Segundo ela, a questão do propósito exige autoconhecimento. “Antes de falar em propósito, as pessoas precisam saber o que podem oferecer de melhor e entender o que, de fato, representa o próprio trabalho e como ele impacta diretamente em seu desempenho profissional”, explica. “Por isso, sem autoconhecimento, falar de significado no trabalho é repetir um discurso vazio.” Lilian Graziano se baseia em uma pesquisa de Amy Wrzesniewski, professora de Comportamento Organizacional da Yale School of Management, que mostrou que há três formas diferentes de se relacionar com o trabalho. A primeira é quando o trabalho é apenas uma forma de ganhar dinheiro pela execução de algo. “Neste caso, a pessoa trabalha apenas para obter a recompensa financeira”, explica

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corporate

EMOÇÕES POSITIVAS De acordo com Tony Hsieh, fundador da Zappos, empresa de venda de sapatos comprada pela Amazon e autor do livro Satisfação Garantida, o que a empresa tem de mais importante são seus valores – e não os funcionários, pois estes entram e saem, mas a cultura organizacional permanece. Ao ler esse livro, João Paulo Pacífico, fundador do Grupo Gaia, hoje um dos palestrantes mais conceituados do Brasil e um dos adeptos da Psicologia Positiva, decidiu criar, implementar e vivenciar os valores na sua empresa. Para ele, o predomínio das emoções

Vivenciar momentos de flow não apenas traz gratificação como promove o autoconhecimento do profissional. É quando ele atinge o ápice da sua performance sem precisar que um

líder o estimule

positivas, sobretudo compaixão, perdão e gratidão, além de produzir um clima bom e saudável para a produtividade, fortalecendo vínculos e ajudando a construir a confiança necessária ao trabalho em equipe, ajuda a criar um modelo de negócio que não sacrifica a vida das pessoas. “Na Gaia, os valores vêm antes do lucro a qualquer custo”, explica Natália Zanela, cujo cargo VIP (ou Valores Integrando Pessoas) é equivalente ao de Recursos Humanos. “Por isso, alguns valores da Gaia buscam criar nas pessoas o hábito de olhar o mundo de um ângulo positivo, tornando-as mais otimistas e felizes. Ao todo, são dez valores, cinco dos quais focados em comportamento e atitude: pratique a gratidão; sorria e faça sorrir; vá além e surpreenda; viva com garra; comunique-se sincera e honestamente. Os outros cinco valores são focados em produtividade: crie valor, gere resultado; simplifique, faça mais com menos; fortaleça o grupo, unidos vamos mais longe; espalhe gentileza, engrandeça as relações; celebre.” Segundo ela,

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IMAGENS: FREEPIK

de estado de flow, no qual corpo e mente fluem em perfeita harmonia, tal como um estado de excelência caracterizado pela alta motivação, alta concentração, alta energia e alto desempenho. As experiências de flow, muitas vezes, são lembradas como os momentos mais gratificantes da vida. “Ao mudar a relação do sujeito com o trabalho, é possível encontrar motivação inclusive na realização de tarefas burocráticas – que deixam de ser feitas apenas para se atingir uma meta ou conseguir benefícios, e passam a ser realizadas simplesmente porque se nasceu para fazer aquilo. Portanto, vivenciar momentos de flow não apenas traz gratificação como promove o autoconhecimento do profissional, que atinge o ápice da sua performance sem precisar que um líder o estimule para isso.”


o elogio sincero e o agradecimento verdadeiro não apenas são fortes motivadores, mas também um reconhecimento pela atividade bemfeita. Mas de nada adianta atingir resultados se a equipe não celebra cada conquista. “Criamos valor para uma empresa quando atendemos bem o cliente, ao tratar bem os colegas, ao falar bem da empresa, ao vivenciar e difundir nossos valores. Mas de nada adianta ter uma empresa onde todo mundo é feliz e se diverte, mas convive com salários atrasados. Por isso, na Gaia, o lucro é uma consequência do bom trabalho, nunca a meta principal. Contudo, e isso é importante ressaltar, um bom vendedor que esteja desalinhado com qualquer um dos nossos valores, pode até trazer excelentes resultados para a empresa, mas não fica conosco por muito tempo.”

Na empresa brasileira Gaia, foram criadas ferramentas para ouvir

os funcionários, possibilitando saber quais líderes estão

desmotivando equipes, que desavenças minam esforços,

facilitando a solução dessas questões. Lucro = bom trabalho nunca é a meta principal

Para incentivar o propósito, a empresa criou o programa Onda Azul, com o objetivo de espalhar uma onda positiva de realizações entre os funcionários, baseada no entusiasmo, na fé e nas ações de cada um deles. “Criamos ferramentas para ouvir os funcionários que possibilitam, por exemplo, perceber quais líderes estão desmotivando equipes e que desavenças minam esforços, o que nos permite agir rapidamente para resolver essas questões. Também incentivamos nossos funcionários a encontrar seus propósitos de vida. Assim, é comum envolvermos todos em atividades que contribuam para um bem maior, como trabalhos voluntários e doação de sangue. Trocamos avaliações por feedbacks contínuos e jamais atrelamos uma tarefa à recompensa, pois isso não funciona. Ao contrário, acreditamos que premiar inesperadamente e proporcionar autonomia e desafios, além de mostrar o propósito da tarefa, estimulam os funcionários a desenvolver um sentimento de dono.” Desenvolver pessoas saudáveis, felizes, profissionalmente realizadas e interessadas em tornar o mundo melhor. Quando as empresas entenderem que tudo isso é possível, e ainda puderem aumentar a produtividade e a longevidade nos negócios, trabalhar deixará de ser um fardo para muita gente. O castigo de Sísifo deixará, então, de ser uma referência para se tornar, de fato, apenas um mito. • JULIANA TAVARES é jornalista e escreve sobre Ciência e Psicologia, entre outros assuntos relevantes.

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bem-estar

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ensaio sobre o

prazer

POR QUE O HEDONISMO NÃO É A FELICIDADE QUE BUSCAMOS

VENUS E MARS, DE FRANS FLORIS (1519/1520–1570)/WIKIMEDIA COMMONS

• POR JUSSARA GOYANO •

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bem-estar

N

Muito da referida associação decorre não só de erro epistemológico, quando esta se encontra sob o guarda-chuva da PP, mas também de interpretação errônea de construtos desse movimento, desconsiderando sua ideia central de felicidade, que impõe a necessidade de um sentido maior à vida, alcançado por meio das

virtudes humanas

DANAE, DE GUSTAV KLIMT (1862–1918) /WIKIMEDIA COMMONS

ão é incomum, naquilo que se lê e pratica em desenvolvimento humano, encontrar que o hedonismo, em sua concepção de pura busca pelo prazer, seja sinônimo de felicidade. O estranhamento surge quando essa associação aparece no escopo da Psicologia Positiva (PP). Não só isso vai contra o conceito de felicidade proposto no cerne do movimento iniciado por Seligman, Peterson e colegas, sob uma perspectiva eudaimônica, como também, em suas bases epistemológicas, a relação entre felicidade e hedonismo já foi atualizada, desde os epicuristas, passando ao utilitarismo dos filósofos Mills e Bentham, considerando-se o freio racional e o equilíbrio necessários

para uma vida feliz, no que diz respeito ao prazer, e inserindo a empatia e o altruísmo na agenda de uma boa vida. Sendo o homem, em sua natureza, um ser social (e empático, segundo estudos de Bloom), cuja atuação ocorre em grande parte sob alguma forma de cooperação (o que garantiu sua evolução e sobrevivência no planeta), e sendo também cercado de dilemas éticos de toda forma, tomar o hedonismo, em sua essência, como caminho exclusivo para a felicidade, levando-se em conta o caráter egoísta dessa proposta de vida, é, na verdade, condenar a espécie à insatisfação e à frustração, entre outros aspectos que, nesse modo de viver, podem levá-la à infelicidade. Muito da referida associação decorre não só de erro epistemológico, quando esta se encontra sob o guarda-chuva da PP, mas também de interpretação errônea de construtos desse movimento, desconsiderando sua ideia central de felicidade, que impõe a necessidade de um sentido maior à vida, alcançado por meio das virtudes humanas. De um lado temos a afirmação de Ryan e Deci, dois grandes expoentes da PP, em distinção categórica entre ambas as vertentes – hedonismo e eudaimonismo –, para fins teóricos na Psicologia Positiva: “As duas tradições (…) são fundadas em perspectivas distintas da natureza humana e daquilo que constitui uma boa sociedade”, dizem os autores internacionais. De outro, no entanto, uma interpretação de Diener e colegas (sendo

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DESCOBERTAS IGNORADAS

Não se trata apenas de fazer considerações epistemológicas

Ao considerar o hedonismo sinônimo de felicidade, não se trata, portanto, de fazer considerações epistemológicas e reparar enganos teóricos e semânticos, apenas, mas de levar em conta as descobertas em estudos com marcadores biológicos, neuroimagem, comportamentais, correlacionais ou longitudinais, que mostram que uma proposta exclusivamente hedônica de vida não traz uma felicidade sustentável ou está relacionada a fatores que contribuem para um menor bem-estar geral do indivíduo. Apenas para citar um exemplo de como isso não se sustenta, em longo prazo, vale lembrar que ocorre em nosso cérebro um fenômeno chamado memória de habituação – quando um estímulo prazeroso tem seu impacto cada vez mais atenuado, fazendo com que seja necessário outro mais potente para manter os níveis de satisfação do sujeito. Literalmente a pessoa enjoa daquilo que antes era prazeroso, tornando a felicidade associada ao prazer uma busca infinita.

ou reparar enganos teóricos e semânticos, mas as pessoas ignoram descobertas em

estudos com marcadores biológicos, neuroimagem, que mostram que uma proposta exclusivamente hedônica de vida

não traz uma felicidade

sustentável ou está relacionada a fatores que contribuem para um menor bem-estar geral do indivíduo

PANDORA, JOHN WILLIAM WATERHOUSE (1849–1917)/WIKIMEDIA COMMONS

Diener outro importante nome na construção de conhecimento em PP) leva à associação do conceito de bem-estar subjetivo (BES) a uma perspectiva hedônica, de satisfação pessoal, na busca pelo prazer para equilibrar afetos positivos e negativos – até porque afetos positivos podem estar ligados à gratificação, algo relacionado ao eudaimonismo. (É preciso estar particularmente atento, pois bem-estar subjetivo é expressão tomada como a própria definição de felicidade. O que também facilita o imbróglio é o conceito de bem-estar psicológico (BEP), mais associado a uma proposta eudaimônica de vida, aparecer dissociado do bem-estar subjetivo (BES), para efeitos de pesquisa e aplicações diversas. O fato é que o próprio Seligman considera ambos como elementos na construção de uma vida feliz e que as pesquisas recentes trazem achados significativos para além das teorias.

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bem-estar

Corroborando com a liquidez da felicidade hedônica em nosso cérebro, estudos de Friedrickson, uma das maiores cientistas a se debruçar sobre o tema e outra importante expoente da PP, verificaram a resposta imunológica humana a diferentes estados de bem-estar (eudaimônico e hedônico). Seus achados mostram que a eudaimonia traz vantagens, diminuindo a expressão gênica de inflamações e aumentando a resposta imunológica a doenças. O hedonismo, por sua vez, demonstrou efeito oposto. Considerando-se a saúde física ou o bem-estar físico como preditores de felicidade, a descoberta é altamente significativa. Ter um propósito de vida, algo central na perspectiva eudaimônica de felicidade, mostrou-se eficaz, ainda, em outros estudos cujo foco foi a saúde física, realizados fora do setting científico da Psicologia Positiva.

Achados de Barbara Friedrickson mostram que a eudaimonia traz vantagens, diminuindo a expressão gênica de inflamações e aumentando a

DE ALZHEIMER A DOENÇAS CARDÍACAS

efeito oposto

resposta imunológica a doenças. O hedonismo, por sua vez, demonstrou

A DANCE TO THE MUSIC OF TIME, NICOLAS POUSSIN/WIKIMEDIA COMMONS

Os estudiosos Cohen, Bavishi e Rosanski, sob metanálise, reuniram dados de dez estudos que envolveram 136.265 participantes adultos. A conclusão dos autores foi de que ter um propósito de vida reduz os índices de mortalidade por doença, principalmente doença cardiovascular. Já Hill e Turiano analisaram a relação entre propósito e expectativa de vida em uma amostra de mais de 6 mil voluntários, durante 14 anos. Cerca de 9% dos participantes do estudo morreram no período, justamente aqueles que haviam relatado não ter experimentado significado em sua vida, sugerindo maior longevidade aos que tinham um.

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Steptoe, Deaton e Stone, por sua vez, após acompanhar 9.050 idosos com uma idade média de 65 anos, verificaram que o maior bem-estar psicológico desses indivíduos, fortemente associado a um propósito, elevou sua expectativa de vida em aproximadamente 30% (uma média de 2 anos). O propósito de vida também aparece como determinante de um menor risco de desenvolver a doença de Alzheimer, em estudos de Boyle e colegas (2010). Pessoas que sentem que suas vidas têm um significado, segundo Turner, Smith e Ong, são 63% menos propensas a ter apneia do sono e têm 52% menos probabilidades de ter síndrome das pernas inquietas. Elas também apresentaram qualidade de sono moderadamente melhor, em relação a uma métrica global relacionada a distúrbios do sono. Trata-se de um fator importante na prevenção de transtornos como depressão e ansiedade, doenças que minam a satisfação com a vida e os índices de bem-estar subjetivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A longevidade, uma melhor qualidade de vida, uma proposta consistente de


PAINTING BY GAETANO BELLEI (1857–1922)/WIKIMEDIA COMMONS

A longevidade, uma melhor

qualidade de vida, uma proposta consistente de felicidade – tudo isso se associa, apoiado em Ciência, a uma perspectiva eudaimônica de vida, tal qual prega a Psicologia Positiva. Insistiremos naquilo que mais se associa ao senso comum, ao legado capitalista da publicidade e a outras propostas

felicidade – tudo isso se associa, apoiado em Ciência, a uma perspectiva eudaimônica de vida, tal qual prega a Psicologia Positiva. Insistiremos naquilo que mais se associa ao senso comum, ao legado capitalista da publicidade e a outras propostas imediatistas de felicidade? É possível concluir objetiva e subjetivamente que o mundo dá pistas de ser essa a contramão da humanidade. Bons multiplicadores do movimento de Seligman certamente apostarão naquilo que, de verdade, der conta da transformação necessária – uma sociedade que vive na mais absoluta anomia do consumo e da urgência pode ser refeita em suas bases, conectando melhor os seus membros, com mais significado à existência individual e coletiva.• JUSSARA GOYANO é jornalista e coach positiva.

saiba mais Bloom, P. 2013. Just babies: the origins of good and evil. Bodley Head Publisher Boyle, P. A.; Buchman, A. S.; Barnes, L. L. e Bennett, D. A. 2010. Effect of a purpose in life on risk of incident Alzheimer disease and mild cognitive impairment in community-dwelling older persons. Archives of General Psychiatry Cohen, R.; Bavishi, C. e Rozanski A. 2016. Purpose in life and its relationship to all-cause mortality and cardiovascular events: a meta-analysis. Psychosomatic Medicine Friedrickson, B. et al. 2013. A functional genomic perspective on human well-being. PNAS Diener, E.; Diener, M. e Diener, C. 1995. Factors predicting the subjective well-being of nations. Journal of Personality and Social Psychology Hill, P. L. e Turiano, N. A. 2014. Purpose in life as a predictor of mortality across adulthood. Psychological Science Ryan, R. M. & Deci, E. L. 2001. On hapiness and human potentials: a review of research on hedonic and eudaimonic well-being. Anual Review of Psychology Steptoe, A.; Deaton, A. e Stone, A. A. 2014. Subjective wellbeing health and ageing. The Lancet Turner, A. D.; Smith, C. E. e Ong, J. C. 2017. Is purpose in life associated with less sleep disturbance in older adults? Sleep Science and Practice

imediatistas de felicidade? 21


pesquisa

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IMAGENS: PIXABAY

Organizar

pouco, não adiar, valorizar mais

DIVERSÃO NÃO DEVE SER MUITO PLANEJADA. NEM PRECISA SER POSTA EM ÚLTIMO PLANO PARA SER PROFUNDAMENTE PRAZEROSA. NA CIÊNCIA, TEMA SEGUE TÃO VALORIZADO QUANTO NA VIDA COTIDIANA: FICA GRANDE PARTE EM SEGUNDO PLANO • Da Redação (com informações da Agência Fapesp) •

E

m que pese não viver exclusivamente sob uma perspectiva hedonista de vida, a diversão deve ser levada a sério em nosso cotidiano. Mas não a ponto de ser rigidamente planejada, o que pode minar os seus efeitos benéficos. Uma revisão de estudos feita por pesquisadores da Ohio State University e Rutger Business School, EUA, para a revista Current Opinion in Psychology, revelou que a programação rígida de atividades de lazer pode torná-las menos divertidas e prazerosas, pois seriam experiências de fluxo naturalmente livre. Marcar (e seguir) hora de início e término seria prejudicial à vivência, enquanto estimar aproximadamente o momento e o tempo para sua realização seria mais eficaz em maximizá-la. Realizar outras atividades, ainda que agradáveis, logo na sequência da diversão vivenciada, também seria um erro. Em um dos estudos avaliados para a Current os participantes já concluíam, de cara, que uma atividade desejável (uma massagem) seria menos agradável se ocorresse antes de outra atividade programada (encontrar-se com amigos) – a mente

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pesquisa

sempre vagueia para a próxima experiência, creem os pesquisadores autores da análise. A máxima da atenção plena ao momento segue valendo também para as horas lúdicas e divertidas para aumentar o nosso bem-estar.

NÃO ESPERE

Você, leitora ou leitor da MIP Mag, ainda que se organize devidamente para o lazer, costuma adiar a diversão, a brincadeira e outras atividades igualmente agradáveis, em função de trabalho, estudo e outras responsabilidades? Crê que com isso divertir-se será algo mais intenso ou gratificante? Se sua resposta foi sim, pode ser ledo engano seu. Achados substanciais de uma pesquisa publicada recentemente na Psychological Science, revista da Association for Psychological Science, dos EUA, sugerem que as experiências de lazer

tendem a ser prazerosas, independentemente de quando as experimentamos. Não que devamos deixar as obrigações de lado, e mergulhar naquilo que é mais prazeroso, mas adiar demais a diversão também não surtirá nenhum efeito em aumentar a intensidade dessa experiência, dizem os cientistas envolvidos, na Universidade de Chicago, EUA. Segundo os pesquisadores, há uma falsa crença no fato de que se tivermos trabalhos por fazer, isso nos tornará culpados ou preocupados demais, diminuindo o prazer do lazer. E mencionam que, na verdade, esses momentos são capazes de suplantar tais sentimentos, que tais atividades lúdicas e prazerosas têm o potencial de nos absorver profundamente, fazendo com que esqueçamos o mundo lá fora – nós simplesmente não valorizamos isso. Para desconstruir esse imaginário, voluntários se submeteram a duas atividades que sugeriam, respectivamente, um trabalho e uma diversão. A ordem de realização de ambas foi aleatória, sorteada entre os participantes da pesquisa. Os locais escolhidos: 181 diferentes museus, de onde a amostra de indivíduos foi selecionada. Depois de cada tarefa, cada um deles relatou suas reações, classificou o quanto gostou ou não do que fez, quanto prazer ou desprazer sentiu, e quão positiva ou negativa teriam sido as experiências. Alguns visitantes dos museus foram convidados a simplesmente imaginar a experiência de trabalho, e, outros, a prever como se sentiriam enquanto realizavam as atividades. Na experiência real não foi registrada percepção de menor intensidade quando o lazer era realizado antes do trabalho. Na situação imaginária, permanecia a crença de que adiar o lazer o tornaria mais intenso. Fora do cenário experimental o mesmo também aconteceu. Longe dali, 259 estudantes em meio de suas atividades foram convidados a uma experiência relaxante, com música, velas e massagens, logo após uma aula. Outros foram orientados a apenas imaginar essas atividades. Os resultados foram idênticos aos registrados nos museus.

VALORIZAR É IMPORTANTE Embora os próprios cientistas envolvidos considerem que determinadas atividades não podem ser simplesmente abandonadas para dar espaço ao lazer, estudo aponta para a necessidade de valorizá-lo e desfrutá-lo sempre que possível,

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IMAGENS: PIXABAY/DIVULGAÇÃO

não sendo necessário extenuar-se em tarefas maçantes ou pesadas, mas esforçar-se na medida. No âmbito da pesquisa parece haver um comportamento parecido, de pouca atenção e valorização à diversão e ludicidade das experiências, aos poucos sendo substituído pelo maior número de estudos a respeito e o maior investimento em experimentos que desvendem a biologia e a fisiologia do lazer em humanos. É como se a Ciência também viesse “adiando” sua relação com o tema. Um exemplo de empenho sobre a questão é o neurocientista alemão Michael Brecht, que chegou a receber o Prêmio Gottfried Wilheim Leibniz por suas pesquisas sobre diversão, em 2012. O troféu concedido a Brecht é considerado o Nobel alemão. Os vencedores recebem até € 2,5 milhões para seus próximos sete anos de trabalho. Seu prêmio foi pelo desenvolvimento de

técnicas de avaliação da atividade elétrica de neurônios de animais em movimento, como a in vivo whole cell recording, que ele utilizou para avaliar o comportamento de brincar entre ratos. A partir daí desenvolveu estudos que associam o gosto por brincar de roedores à sua sensibilidade para cócegas e a relação desta com o toque sexual, examinando o cérebro desses animais enquanto interagem socialmente nessas situações. Segundo Brecht, brincar, e divertir-se é um comportamento compartilhado entre mamíferos, provavelmente relevante, pois permaneceu preservado ao longo de 100 milhões de anos. E parece ter uma importante função social nos roedores, segundo seus achados, além de claramente estar associado ao humor positivo dos animais observados. “A maioria das pessoas acredita que é mais importante estudar a dor, a depressão ou o autismo. Classicamente, esses são os temas que recebem financiamento. A neurociência da diversão é ainda pouco explorada. Pensam que se trata de um assunto simples e pouco sério. Mas ambas as suposições estão erradas”, afirmou Brecht em visita ao Brasil, na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), respondendo a perguntas de jornalistas da instituição. •

Embora os próprios cientistas envolvidos considerem que determinadas atividades não podem ser simplesmente abandonadas para dar espaço ao lazer, estudo aponta para a necessidade de

valorizá-lo e desfrutá-lo sempre que possível, não sendo

saiba mais

necessário extenuar-se em tarefas maçantes ou pesadas,

Selin A. Malkoc, Gabriela N. Tonietto. Activity versus outcome maximization in time management. Current Opinion in Psychology, 2019; 26: 49 DOI: 10.1016/j.copsyc.2018.04.017

mas esforçar-se na medida

Ed O’Brien, Ellen Roney. Worth the Wait? Leisure Can Be Just as Enjoyable With Work Left Undone. Psychological Science, 2017; 095679761770174 DOI: 10.1177/0956797617701749

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neurociĂŞncia

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Motivação Positiva:

a Teoria da Autodeterminação A MOTIVAÇÃO POSITIVA, QUE VEM DE DENTRO, É RESPONSÁVEL POR MAIS FELICIDADE, REALIZAÇÃO E SATISFAÇÃO COM A VIDA • POR MARCO CALLEGARO •

A

Teoria da Autodeterminação, ou SDT, na sigla em língua inglesa, surgiu nas décadas de 1970 e 1980 a partir do trabalho dos pesquisadores Edward L. Deci e Richard M. Ryan sobre motivação. Os princípios básicos da teoria vêm do livro seminal de 1985 de Deci e Ryan sobre o tema. Desde então, a Teoria da Autodeterminação cresceu e teve várias investigações realizadas, se expandindo e sendo cada vez mais utilizada em diversas áreas. É uma teoria que liga personalidade, motivação humana e ótimo funcionamento, propondo que existem dois tipos principais de motivação, a intrínseca e a extrínseca, e que ambas são forças poderosas na formação de quem somos e como nos comportamos (Deci & Ryan, 2008).

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neurociência

De acordo com os autores (Deci & Ryan, 1985), a motivação extrínseca é um impulso para se comportar de certas maneiras que vem de fontes externas e resulta em recompensas externas. As fontes podem ser exemplificadas com prêmios e elogios, avaliações de funcionários, pontos ou sistemas de classificação em organizações, admiração e o respeito e dos colegas ou amigos. Já a motivação intrínseca está ligada a impulsos de origem interior, que nos motivam a agir de certas maneiras. Os motivos são internos, como nosso senso pessoal de moralidade, nossos interesses e nossos valores fundamentais. A autodeterminação, portanto, se refere à capacidade ou processo de fazer as próprias escolhas e controlar a própria vida, o que é um componente crucial do bem-estar psicológico, que está sempre associado a se sentir-se no controle de sua própria vida. A Teoria da Autodeterminação distingue entre motivação autônoma e motivação controlada (Ryan & Deci, 2008). Essa é uma outra distinção importante nos tipos de motivação, diferente da divisão entre motivação intrínseca, que nos impulsiona de acordo com o nosso “eu ideal”, e a motivação extrínseca, mais voltada para estar em conformidade com os padrões dos outros. A motivação autônoma envolve a

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Teoria da Autodeterminação liga personalidade, motivação humana e ótimo funcionamento, propondo que existem dois tipos principais de motivação, a intrínseca e a

extrínseca

motivação que vem de fontes internas, mas também inclui a motivação de fontes extrínsecas, na medida em que a pessoa percebe que se identifica com os valores inerentes a uma atividade e sente que ela se alinha com seu senso de identidade. Já a motivação controlada envolve regulação externa (um tipo de motivação na qual as ações da pessoa é controlada por recompensas e punições externas) e também a regulação introjetada, um tipo de motivação que vem apenas de atividades e valores parcialmente internalizados, como proteger o self e evitar vergonha, ou buscar aprovação dos outros. Quando alguém é impulsionado por motivação controlada, se sente pressionado a se comportar de uma determinada maneira e sente pouca ou nenhuma autonomia. Quando impelido por uma motivação autônoma, o indivíduo se sente autodirigido e autônomo (Ryan & Deci, 2008). No modelo de Deci e Ryan, não somos motivados apenas um tipo de motivação ou o outro, temos diferentes fontes motivacionais e se torna útil pensar em um continuum de nãoautodeterminado a autodeterminado. A figura abaixo mostra o espectro da motivação, o continuum da autodeterminação:


CONTINUUM DA AUTODETERMINAÇÃO não-autodeterminado

autodeterminado

Motivação DESMOTIVAÇÃO

Estilo Não-regulação regulatório Fonte da motivação

Impessoal

MOTIVAÇÃO EXTRÍNSECA

Regulação externa

Regulação introjetada

Regulação identificada

Regulação integrada

Regulação intrínseca

Externo

Um pouco externo

Um pouco interno

Interno

Interno

Autocontrole, envolvimento do Ego, recompensas internas e punições

Importância pessoal, valoração consciente

Congruência, consciência, síntese do Self

Interesse, prazer, satisfação inerente

Fator Não intencional, Submissão, regulatório sem valoração, recompensas Incompetência, Perda de controle

MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA

externas e punições

Baseado em Ryan, RM & Deci, EL (2000). Self-Determination Theory and the Facilitation of Intrinsic Motivation, Social Development, and Well-Being. American Psychologist. 55(1), 68-78

CONTINUUM DA AUTODETERMINAÇÃO:

MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA: na extremidade direita do continuum a pessoa está inteiramente motivada por fontes intrínsecas, com automotivação e autodeterminação. O sujeito é impelido pelo interesse, gozo e satisfação inerente ao comportamento em que ele está envolvido. REGULAÇÃO INTEGRADA: pessoa está iniciando a ser motivada por fontes intrínsecas e é impulsionada pelo desejo de agir em congruência com seus valores centrais e sua autopercepção. REGULAÇÃO IDENTIFICADA: a motivação da pessoa é interna, baseada naquilo que é pessoalmente importante para o indivíduo e em valores conscientes. REGULAÇÃO INTROJETADA: nesse nível de motivação extrínseca, a motivação é externa mas delineada pelo autocontrole, com esforços para proteger o self, dirigida por recompensas e punições internas. REGULAÇÃO EXTERNA: a motivação é exclusivamente externa e o comportamento é regulado pela conformidade, recompensas e punições externas. DESMOTIVAÇÃO: no extremo esquerdo do espectro, temos a desmotivação, onde a pessoa não tem motivação para agir. Na desmotivação, o indivíduo é completamente não autônomo, sente-se incompetente e sem controle.

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Pessoas que culpam os outros e percebem a si mesmas como vítimas constantes, realizando coisas exclusivamente por causas externas como aprovação ou reconhecimento, não são autodeterminadas A motivação externa está sempre presente e não é possível abandoná-la, embora a autodeterminação geralmente seja o objetivo mais desejado. A motivação intrínseca e a extrínseca são ambas determinantes do nosso comportamento, e nos impelem a satisfazer as três


neurociência

necessidades básicas identificadas pelo modelo SDT (Deci & Ryan, 2008). AUTONOMIA: necessidade de sentir que temos controle sobre nossas vidas e sobre nosso próprio comportamento. COMPETÊNCIA: necessidade de desenvolver nossa competência e desenvolver o domínio sobre atividades que consideramos importantes. Impulso de ampliar conhecimentos, habilidades e atingir realizações. CONEXÃO: senso de pertencer e estar conectado com os outros.

TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO COMPETÊNCIA Necessidade de ser eficaz em lidar com o seu meio ambiente

TRÊS NECESSIDADES BÁSICAS DOS HUMANOS

AUTONOMIA Necessidade de controlar os rumos da própria vida

CONEXÃO Necessidade de relacionamentos próximos e afetuosos com outros indivíduos

A Teoria da Autodeterminação tem implicações importantes para que possamos assumir a responsabilidade por nossas ações. Pessoas que culpam os outros e percebem a si mesmas como vítimas constantes, realizando coisas exclusivamente por causas externas como aprovação ou reconhecimento, não são autodeterminadas. Já aqueles que fazem coisas porque se alinham com seus próprios valores e objetivos pessoais exibem autodeterminação. Ou seja, uma pessoa autodeterminada acredita que ela está no

A figura a seguir ilustra as três necessidades básicas sugeridas por Deci e Ryan (2008): Os objetivos de vida ou orientações de causalidade referem-se a como as pessoas se adaptam e se orientam em seu ambiente, refletindo o grau de autodeterminação, em geral, em contextos diferentes. As três possíveis orientações de causalidade são a autônoma, onde todas as três necessidades básicas são satisfeitas; a controlada, na qual competência e relacionamento são um parcialmente satisfeitas, mas a autonomia não, e finalmente a impessoal, quando nenhuma das três necessidades é satisfeita. Os objetivos de vida são o que as pessoas usam para guiar seu próprio comportamento, e geralmente se enquadram em motivação intrínseca ou extrínseca. Afiliação e desenvolvimento pessoal são exemplos de objetivos de vida intrínsecos, enquanto riqueza, fama e atratividade são objetivos de vida extrínsecos (Deci & Ryan, 2008).

Os objetivos de vida ou

orientações de causalidade referem-se a como as pessoas se adaptam e se

orientam em seu ambiente, refletindo o grau de autodeterminação, em geral, em contextos diferentes 30


controle de sua própria vida, assume responsabilidade por seu próprio comportamento, e é automotivada, em vez de orientada pelos padrões dos outros ou por fontes externas, determinando suas ações com base em seus próprios valores e objetivos internos. Como exemplo, podemos citar uma estudante que se sai mal em um teste importante. Se essa estudante tem alta em autodeterminação, pode assumir aos seus pais que deveria ter passado mais tempo estudando e que planeja se esmerar mais, pois se sente responsável por suas ações, e acredita que ela está no controle de seu comportamento. Sua conduta e plano de ação são motivados por um desejo interno de ser competente e experiente. Já se essa estudante tem baixa autodeterminação, pode culpar o professor, seus pais ou seus amigos, pois sente que não está no controle de sua vida e é uma vítima das circunstâncias. Sua preocupação com a nota é devida não a um desejo interno de se sair bem, mas à necessidade de conquistar a aprovação de seus pais ou impressionar seu professor com seu conhecimento. A Teoria da Autodeterminação aponta que estamos mais que satisfeitos e somos mais bem-sucedidos na vida quando somos capazes de alcançar nossos objetivos de forma autônoma, por meio de nossos valores pessoais e de nossos próprios recursos (Deci & Ryan, 2000), em vez de procurarmos recompensas extrínsecas como a riqueza ou a fama. Um estudo sobre metas em organizações, por exemplo, apontou que quando as metas eram autônomas, os resultados em termos de bem-estar eram elevados,

contrastando com os efeitos de metas controladas (Koestner & Hope, 2014). Muitas pesquisas foram feitas em diversas áreas como organizações, esporte e saúde mental, trazendo evidências que confirmam aspectos da Teoria da Autodeterminação. A motivação positiva obtida dessa forma nos impulsiona a maior felicidade, realização e satisfação com a vida. • MARCO CALLEGARO é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011). É expresidente da Associação de Psicologia Positiva para a América Latina (APPAL). www.appal.org.br (Associe-se!)

saiba mais ACKERMAN, C. & TRAN, N. What is Self-Determination Theory? Definition and Examples (21/06/18). https:// positivepsychologyprogram.com/selfdetermination-theory/#theory-selfdetermination DECI, E. L., & RYAN, R. M. (2000). The “what” and “why” of goal pursuits: Human needs and the self-determination of behavior. Psychological Inquiry, 11, 227-268. doi:10.1207/S15327965PLI1104_01 DECI, E. L., & RYAN, R. M. (2008). SelfDetermination Theory: A macrotheory of human motivation, development, and health. Canadian Psychology/Psychologie Canadienne, 49, 182-185. doi:10.1037/ a0012801 KOESTERN, R., & HOPE, N. (2014). A selfdetermination theory approach to goals. In M. Gagne (Ed.) The Oxford Handbook of Work Engagement, Motivation, and SelfDetermination Theory. doi:10.1093/ oxfordhb/9780199794911.001.0001 RYAN, R. M., & DECI, E. L. (1985). Intrinsic motivation and self-determination in human behavior. New York, NY, US: Plenum Press.

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leituras

Felicidade juntos

Casal de autores reúne intervenções para melhorar relacionamentos • por ANDRÉA PEREZ CORRÊA •

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O

amor, desde a Antiguidade até os dias atuais, tem sido tema central das relações humanas. Como seres relacionais que somos, as interações uns com os outros, ao longo de nossa história, contemplaram essas relações amorosas, sejam no campo das concepções carnais, sacramentadas pelas relações sexuais, como por configurações nomeadamente platônicas, de um amor abstrato de contemplação, ou numa interação


Ao final da obra, os autores destacam que o amor é

um verbo de ação, já que

é preciso exercitar o amor, com

estratégias a serem aplicadas em exercícios que devem ser realizados

IMAGENS: FREEPIK

pelos pares

harmoniosa, na qual os pares vivenciam um amor genuíno, nutrido de atração envolvente e de mútuo respeito e acolhimento. E nessas relações humanas, inúmeras foram as formas de efetivar uniões, sendo o casamento uma delas, e que, segundo dados estatísticos, vem apresentando declínio. Na pesquisa Estatística do Registro Civil de 2016, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, houve uma redução total de 3,7% do número de matrimônios, comparativamente a 2015, incluindo os casamentos entre cônjuges de sexos diferentes e entre cônjuges do mesmo sexo, em todas as regiões do Brasil, com exceção das

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regiões Sudeste e Centro-Oeste. Em contrapartida, houve um aumento de 4,7% do número de divórcios (em 1ª instância ou por escrituras extrajudiciais) com relação ao ano de 2015. Fora isso, nessa nova era pós-moderna do século XXI, os ambientes tecnológicos – que aumentam a nossa acessibilidade a diversas informações e pessoas em qualquer lugar do mundo – fomentam os relacionamentos amorosos com novas configurações virtuais, atrativas a uma gama significativa da população mundial, que lança mão de aplicativos de relacionamento e paquera para dar início a novas relações. Nesse cenário de transformações e de novas concepções de relacionamentos amorosos, trago à MIP Mag uma obra que vem apresentar ao público não apenas sugestões de ações e práticas para melhoria de relacionamentos amorosos, baseadas nas pesquisas e na ciência da Psicologia Positiva, mas produzida, também, com base na vivência da relação amorosa de dois estudiosos do campo e autores da obra. Isso mesmo. Os autores da obra


leituras

idealismo

apresentam seus relatos conceber práticas que Tamanho é o sobre como funciona elevem a relação do amor o que sugerem com e o respeito ao que de de autores base em seu próprio melhor se apresenta em que reservam um site relacionamento amoroso, cada um dos pares. Ainda ao longo das 256 páginas no prefácio, destaca-se a (buildhappytogether. que compõem a obra. importância do elemento com) para aqueles que Logo ao abrir o livro, Relacionamento do você já se espanta com a Perma, o que Seligman aspiram o qualidade de declarações aponta como sendo, e dadas sobre o conteúdo possivelmente, a parte da obra por ícones da mais importante de queiram compartilhar Psicologia Positiva, como uma vida feliz e de suas experiências Angela Duckworth, Tom florescimento, lembrando a Rath, Tal Ben-Shahar, frase ícone de Christopher Ed Diener, Sonja Lyubomirsky, Neal Mayerson, Ryan Peterson quando resumia a Psicologia Niemiec, entre outros, seguidos por um prefácio escrito Positiva em: Other People Matter por ninguém menos que Martin Seligman. (Outras Pessoas Importam). Inspirada pelas declarações de Seligman – que Logo na introdução da obra, os autores abre o prefácio já trazendo à tona a base estrutural apontam a felicidade a dois como sendo, da Psicologia Positiva, que concebe o estudo da vida definitivamente, um grande desafio, ótima –, dou destaque a exatamente isso que a obra mas é nessa relação que indicam que vem abordar no campo dos relacionamentos amorosos: podemos viver as grandes alegrias um olhar que foge da correção dos gaps individuais da vida, apontando que os efeitos que negativos na relação a dois, para uma viabilidade de oferecem a nossa felicidade são imensos. E quem tem dúvida disso? Tanto no prefácio de Seligman como na introdução dos autores, o livro é apontado como sendo a primeira obra que aborda a Psicologia Positiva Aplicada ao relacionamento amoroso. Entenda que o apontado, aqui, diz respeito a ser o tema único e central da obra, fora o destaque quanto à aplicabilidade do que aborda. Até porque outras existem com a temática do amor, com vínculo aos estudos da Psicologia Positiva, como o caso do livro Positive Psychology of Love, organizado por M. Hojjat e Ducan Cramer, de 2013, que, logo no seu primeiro capítulo, apresenta a temática da Psicologia Positiva vinculada ao amor romântico, entre outros capítulos sobre aspectos relacionados ao amor. O que é muito especial, e que norteia o tom de leitura do livro – pelo menos da minha, já que aprecio quem vive a Psicologia Positiva “na veia”, como

do casal

amor aristotélico ideal

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costumo dizer –, é a intencionalidade do casal, ambos experts em Psicologia Positiva de, ao se casarem, terem considerado que a vivência a dois seria uma oportunidade e, ao mesmo tempo, um desafio, para aplicar as pesquisas, que conheciam, em sua vida amorosa, com a proposta de conceber algo que apresentasse um formato mais acessível às pessoas. Adoro isso! Ou melhor, já que estamos falando de amor: amo isso! Só que, como bons estudiosos, apenas suas impressões não foram suficientes para chegar à composição da obra e de suas propostas. Em 2013, criaram um workshop – o qual é, até hoje, aplicado em todo o mundo, Romance and desenvolvendo melhoria de performance ao longo da Research™ –, ministrado pela primeira persistência de exercícios, assim também podemos vez no Third World Congress on Positive desenvolver, no que chamam “relationship gym”, com Psychology da Associação Internacional base em preceitos da Psicologia Positiva, a melhoria de de Psicologia Positiva, quando, numa nossos relacionamentos amorosos com sabedoria. plenária vasta de A ação: outra coisa que amo na participantes, começaram coerência de quem não reserva Os autores a coletar novas reflexões apenas o discurso técnico e para seu projeto. “exemplar” à Psicologia Positiva, aprofundam-se Outra postura séria mas o discurso humano factível da na análise de que também pode ser aplicação. Voltando... observada em Suzann e Na construção da obra, após a James é quando destacam introdução e um breve primeiro que o livro não vende capítulo, os autores apresentam, a promessa de “finais recorrendo à Grécia em duas partes com um total felizes” de contos de fadas, de nove capítulos e mais uma Antiga, ou melhor, mas que a possibilidade conclusão, os temas sobre os de melhoria das relações quais se embasaram para conceber à amorosas perpassa, por a sua proposta, para melhoria de Aristóteles, muito esforço, para gerar dos relacionamentos amorosos, relações felizes e reais, recaindo, prioritariamente, a abordando a sem enaltecerem a sua sua investigação sobre quatro relação amorosa como temas centrais: paixão, emoções perfeita ou sem problemas. positivas, savoring e caráter. e, ainda, a E é com essa abordagem Mas antes de iniciar o que usam de metáfora tratamento de cada um – o que sempre adoro desses campos temáticos, os para em propostas de livros autores aprofundam-se na – sugerindo que, assim desenvolvimento de análise de características de como numa academia em relacionamentos saudáveis, que trabalhamos o corpo, recorrendo à Grécia Antiga, ou

relacionamentos saudáveis, sabedoria

IMAGENS: FREEPIK/DIVULGAÇÃO

eudaimonia

racionalidade prática,

nossas virtudes 35


leituras

Os autores discorrem sobre um aprofundamento do tema da paixão, incluindo nessa parte do livro a Romantic Passion Scale, de Carbonneau e Vallerande, e, ainda, três estratégias para cultivar

a paixão harmoniosa

melhor, à sabedoria de Aristóteles, quando abordam a eudaimonia e, ainda, a racionalidade prática, para desenvolvimento de nossas virtudes, ao longo de nossas vidas em nossas relações amorosas. Com esse uso, os autores salientam a importância do enxergar a virtuosidade em si mesmo e no outro. E esse amor aristotélico é o que, na obra, norteia seus temas centrais desenvolvidos nos capítulos que se seguem. Os autores discorrem sobre um aprofundamento do tema da paixão, considerando como saudável a paixão harmoniosa, incluindo nessa parte do livro a Romantic Passion Scale de Carbonneau e Vallerande, e, ainda, três estratégias para cultivar a paixão harmoniosa, as quais podem ser produzidas com a sugestão de três exercícios a serem realizados pelos leitores. Seguindo na obra, abordam as emoções positivas com base nas pesquisas de Barbara Fredrickson, além de transitar por reflexões já concebidas sobre o positivo ou negativo de nossas emoções. Apresentam como medição desse tema a Positive Self-Test de Fredrickson, abordam cada uma das dez emoções pesquisadas por essa estudiosa e apresentam, da mesma forma que no tema anterior, três estratégias para cultivar emoções positivas, alinhadas a três exercícios sugeridos aos leitores. Na parte seguinte da obra, com foco sempre destacados aos “amantes aristotélicos”, discorrem com detalhes sobre os estudos sobre savoring, logicamente, de Fred Bryant e Joseph Veroff, de sua obra ícone, Savoring: A New Model of Positive Experience (2007), sugerindo cinco práticas de savoring nos relacionamentos amorosos, com indicação de quatro exercícios, tendo indicado, ainda, o uso de uma escala: The Affective Affirmation Test de Veroff, Douvan e Hatchett.

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Nesse ponto, terminam a parte 1 – A Filosofia e a Psicologia por Trás do Amor Duradouro – e engrenam, na segunda parte da obra, reservada ao tema: Por que Cultivar o Caráter é Importante para Relacionamentos Comprometidos. Aqui, recorrendo mais uma vez a Aristóteles, William James e a trabalhos contemporâneos de Psicologia Positiva, especificamente, uma apresentação sucinta do VIA Classification of Character Strengths and Virtues (2004), dá-se início da abordagem sobre o caráter humano, e seu impacto sobre a nossa felicidade, e, logicamente, no que isso pode favorecer os nossos relacionamentos amorosos. Seguindo o livro, os autores começam a detalhar em termos práticos e com a indicação de intervenções e exercícios de como usar as forças pessoais em relacionamentos românticos, sugerindo cinco exercícios extremamente simples a serem aplicados na vida amorosa entre os pares.


Desse ponto, os autores reservam um capítulo, unicamente, à força pessoal da gratidão, ressaltando a sua importância nos relacionamentos amorosos, em especial a sua expressão genuína junto ao seu parceiro, trazendo a indicação de intervenções positivas com essa temática e ainda três exercícios aos leitores. Chega o momento de os autores apresentarem o que chamam de Interaction Model of Relationship para aplicação com as forças pessoais, o qual dividem em duas partes: iniciação e resposta, tendo, cada uma, três etapas distintas – cultivo, contextualização e construção para a primeira e conscientização, assessment e ação para a segunda. A partir daí, indicam a força pessoal da bondade, com maior aprofundamento e importância aos relacionamentos amorosos, com a sugestão de sua aplicação nas etapas do Interaction Model, apresentando, ao final, sugestões de exercícios práticos de generosidade entre os pares, e, ainda, estratégias de uso do modelo apresentado, elencando três estratégias de aplicação. Ao final da obra, os autores destacam que o amor é um verbo de ação, já que é preciso exercitar o amor com estratégias a serem aplicadas em exercícios que devem ser realizados pelos pares nos relacionamentos amorosos. O interessante é que, quando indicam o público-alvo da obra, não restringem apenas a quem está num relacionamento amoroso, há pouco, ou há muito tempo, mas também a outras pessoas as quais convidam a, ativamente, cultivar um amor que perdura. Considerando a própria indicação dos autores, não se trata de um livro de estudo da Psicologia Positiva, mas um livro de aplicação prática de uma temática, que, como vimos no início, permeia a nossa existência

humana ao longo de nossas vidas: as relações humanas de amor. Sua linguagem é extremamente coloquial e muito acessível a um público leigo, não acadêmico, pois não reserva a preocupação de formular um texto técnico ou rebuscado, mas é nítida a intenção de fazer chegar às pessoas a mensagem das relações humanas de um amor virtuoso e que gera muita felicidade na vida das pessoas. Tamanho é o idealismo do casal de autores que reservam um site (buildhappytogether.com) para aqueles que aspiram o amor aristotélico ideal e queiram compartilhar suas experiências. Um livro que me cativou e inspirou a escolher esta obra para apresentar a vocês, amantes da Psicologia Positiva, que desejam não apenas melhorar a felicidade em suas vidas, mas que, como profissionais, aspiram por favorecer a vida de muitos casais nesta sociedade, tão carente, em muitos momentos, de virtuosidade, empatia e amor. Se eu indico a leitura? Claro que sim. • ANDRÉA PEREZ CORRÊA é pós-graduada em
Psicologia Positiva e coaching, mestre em
Sistemas de Gestão na Universidade Federal
Fluminense, membro-fundadora do Instituto Brasileiro de Psicologia Positiva (IBRPP), docente do MBA Desenvolvimento
Humano e Psicologia Positiva do Instituto de
Pós-Graduação (IPOG). Dedica-se à disseminação
da Psicologia Positiva e é criadora da Biblioteca Positiva. 
E-mail: acorrea97@hotmail.com. Site: www.ibrpp.com.br. Facebook
Andréa: http://on.fb.me/1O97CZm. e Biblioteca Positiva: http://on.fb.me/1Mejd8T

Ficha técnica

Happy Together. Using the Science of Positive Psychology to Build Love That Lasts Autores: Suzann Pileggi Pawelski e James O. Pawelski Editora: Penguin Ano: 2018

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positive news

EXERCÍCIOS E FELICIDADE Quando o foco é o florescimento humano, é importante fazer alguma atividade física A prescrição de exercícios físicos para a prevenção e o combate à ansiedade e à depressão é velha conhecida de especialistas, assim como a investigação sobre o impacto da atividade física em estados negativos de humor e saúde mental vem ocupando diversos cientistas. Alguns têm se dedicado, no entanto, a entender como esta pode impactar estados positivos de humor. Na Universidade de Michigan, uma revisão de estudos já publicados sobre o tema verificou quais aspectos da ginástica estariam associados à felicidade e benefícios possíveis entre determinadas populações. As informações constantes desse levantamento eram dadas sobre a saúde de milhares de adultos, idosos, adolescentes, crianças e sobreviventes de câncer de vários países. Ao todo, 23 pesquisas sobre felicidade e atividade física foram analisadas, com 15 delas, observacionais, mostrando uma associação direta ou indireta positiva

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entre felicidade e exercícios. Oito estudos de intervenção, por sua vez, mostraram resultados inconsistentes. A análise traz a público uma sugestão importante, de que parece haver um limiar no tempo de atividade física para sua interferência no nível de felicidade. Ele permaneceria o mesmo com a prática de exercícios em 150 a 300 minutos por semana, ou tendo o indivíduo se exercitado mais de 300 minutos por semana. Comparando pessoas ativas com as sedentárias, acessando-se as modulações de ambos os níveis de atividade, surge uma escala de possibilidades: 20% mais chances de ser feliz entre as pessoas insuficientemente ativas; 29% entre as suficientemente ativas e em torno de


Vale lembrar

Felicidade é associada ao maior tempo que se passa em contato com o meio ambiente

50% entre as muito ativas, dentre outras descobertas e constatações.

IMAGENS: FREEPIK

PARA SABER MAIS Zhanjia Zhang, Weiyun Chen. A Systematic Review of the Relationship Between Physical Activity and Happiness. Journal of Happiness Studies, 2018; DOI: 10.1007/ s10902-018-9976-0

Não precisa seguir uma trilha complexa no meio do mato, nem passar uma semana na praia: o mínimo de contato com a natureza já nos propicia emoções positivas. Na verdade, prestar atenção ao que nos conecta ao meio ambiente no dia a dia já seria algo importante para tanto, segundo descoberta de cientistas da University of British Columbia. Durante duas semanas, voluntários foram solicitados a fotografar e documentar como a natureza presente em sua rotina diária (árvores do meio urbano, plantas e animais pela casa, a presença da luz do sol no ambiente, entre outras manifestações) os fazia sentir. Outro grupo fez o mesmo com relação a objetos e paisagens introduzidas/construídas pelo homem. Um terceiro grupo foi utilizado como controle. Outros participantes rastrearam suas reações a objetos feitos pelo homem, tiraram uma foto e anotaram seus sentimentos, enquanto um terceiro grupo não fez nenhum dos dois. As manifestações de 395 voluntários foram analisadas, bem como seu bem-estar, avaliado. As diferenças na percepção do nível de felicidade, na conexão dos participantes com outras pessoas, foram particularmente notáveis, com índices maiores no grupo atento à natureza ao seu redor. Mais de 2,5 mil registros foram gerados pela pesquisa, cuja conclusão pode subsidiar políticas públicas e terapias diversas visando maior bem-estar subjetivo da população. PARA SABER MAIS Holli-Anne Passmore, Mark D. Holder. Noticing nature: Individual and social benefits of a two-week intervention. The Journal of Positive Psychology, 2016; 12 (6): 537 DOI: 10.1080/17439760.2016.1221126

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EMPATIA E MÚSICA Pessoas com maior empatia processam músicas conhecidas com maior envolvimento do sistema de recompensa do cérebro, bem como em áreas responsáveis ​​pelas interações sociais, provavelmente experimentando um maior prazer na escuta. É o que diz um estudo relativamente recente envolvendo cientistas da Southern Methodist University, de Dallas (EUA), alardeado como o primeiro a encontrar conexão, em nível neural, entre música e empatia. Pesquisas anteriores, datadas de 2014, relataram que cerca de 20% da população é altamente empática, especialmente sensível e responde fortemente aos estímulos sociais e emocionais. O novo estudo, fazendo uso de ressonância magnética funcional, parece revelar, por sua vez, ao menos entre pessoas de alta empatia, que a música não é apenas uma forma de expressão artística, e, sim, também está relacionada à forma de interagir e processar o mundo social. Entre os 20 participantes da pesquisa em Dallas (estudantes universitários), os mapeamentos cerebrais dos mais empáticos registraram a maior ativação nas áreas medial e lateral do córtex pré-frontal responsáveis pelo ​​ processamento do mundo social e na junção temporoparietal, que é crítica para analisar e compreender os comportamentos e intenções dos outros. PARA SABER MAIS Zachary Wallmark, Choi Deblieck, Marco Iacoboni. Neurophysiological Effects of Trait Empathy in Music Listening. Frontiers in Behavioral Neuroscience, 2018; 12 DOI: 10.3389/fnbeh.2018.00066

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EMOÇÕES POSITIVAS

Alegria estimula comunicação visual entre aves Araras podem eriçar suas penas e esboçar certo rubor quando interagem vocalizando com seus pares e com humanos, especialmente quando a comunicação expressa emoções positivas. Estudo sobre a vida social dessas aves liderado por cientistas franceses, publicado na revista PLOS ONE, chegou a essa conclusão após observar uma pequena amostra desses animais, criados em cativeiro. Na pesquisa, as aves interagiram entre si e com seus cuidadores humanos. Manifestações nas penas da coroa, da nuca, bem como a presença ou ausência de rubor na pele nua da bochecha foram avaliadas durante as interações. O rubor e o arrepio das penas da coroa apareceram quando o cuidador humano interagiu mais ativamente com

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cada ave, falando e mantendo o contato de olho, em interações sociais positivas. A importância do estudo, sugerem seus autores, é que levanta a hipótese de o rubor não ser prerrogativa de seres humanos expostos a determinadas emoções. As araras também seriam capazes de se expressar emocionalmente por meio da comunicação visual. PARA SABER MAIS Aline Bertin, Arielle Beraud, Léa Lansade, MarieClaire Blache, Amandine Diot, Baptiste Mulot, Cécile Arnould. Facial display and blushing: Means of visual communication in blue-and-yellow macaws (Ara Ararauna)? PLOS ONE, 2018; 13 (8): e0201762 DOI: 10.1371/journal.pone.0201762


positive wiki

Nesta seção você verá conceitos e definições da Psicologia Positiva abordados ao longo da revista. (Elaboração: Equipe IPPC)

FLOW

FELICIDADE

Partindo da ideia de felicidade de Aristóteles (eudaimonia), ainda no século IV a.C., a Psicologia Positiva acredita na felicidade como resultado de uma vida virtuosa. Não parte da ideia de que só devemos ter ocorrências positivas na vida para nos considerarmos felizes, mas, sim, colocarmos na balança todos os momentos e ter uma percepção positiva da vida, um foco no que há de bom e que pende a balança para uma vida feliz.

LOCUS DE CONTROLE

Trata-se de um constructo que visa explicar de onde o indivíduo percebe ser a fonte de controle de sua vida. Existem dois tipos de locus de controle: o locus de controle externo (quando o indivíduo percebe sua vida como sendo controlada por fatores externos a ele mesmo) ou o locus de controle interno (quando o indivíduo sente estar ele próprio no controle de sua vida). Embora oscilem entre essas duas percepções, as pessoas têm um estilo de locus de controle predominante, e na pesquisa de Lilian Graziano sobre felicidade e locus de controle, essa pesquisadora encontrou uma correlação positiva significativa entre locus de controle interno e felicidade. (Para saber mais acesse: http://www.teses. usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-23052006164724/pt-br.php)

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O conceito de flow foi desenvolvido pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, que, a partir do estudo do processo criativo, interessou-se pelo fenômeno da motivação intrínseca. O estado de flow, também chamado de experiência máxima, faz com que o indivíduo se envolva completamente na atividade que está exercendo, empregando nela aquilo que de melhor ele tem a oferecer. Por essa razão, nos momentos de flow, atividade e sujeito tornam-se um só. Ao agir na sua zona de excelência, o sujeito que experimenta o estado de flow não precisa de supervisão, controle ou qualquer tipo de monitoramento externo na medida em que a atividade exercida lhe é intrinsecamente recompensadora. O flow pode ser conseguido em qualquer tipo de experiência. Porém há pessoas que o conquistam no exercício profissional, tornando seu trabalho uma importante fonte de gratificação e, por extensão, de felicidade. Hoje já existem empresas no mundo todo interessadas em promover o flow no ambiente organizacional, numa típica iniciativa na qual todos saem ganhando.


Eudaimonia e hedonismo

O hedonismo se refere à busca por experiências prazerosas, enquanto a eudaimonia, um conceito originalmente formulado por Aristóteles, envolve ter propósito e direcionamento profundos na vida. A felicidade eudaimônica, proveniente de uma vida com significado, é aquela que se propõe nas bases da Psicologia Positiva.

Forças pessoais

• Gratidão • Bravura e Valor • Justiça e Equidade • Humor • Liderança • Perdão • Bondade e Generosidade • Cidadania • Entusiasmo e Energia • Criatividade e Originalidade • Curiosidade • Espiritualidade e Senso de Propósito • Apreciação da Beleza e da Excelência

• Capacidade de Amar e Ser Amado • Humildade e Modéstia • Esperança • Amor pelo Conhecimento • Inteligência Social • Integridade e Autenticidade • Perspectiva e Sabedoria • Prudência • Pensamento Crítico e Lucidez • Perseverança • Autocontrole e Autorregulação

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SAVORING

Enquanto as correntes tradicionais da Psicologia tendem a buscar meios de lidar com experiências negativas, a Psicologia Positiva busca maximizar os efeitos das experiências positivas. O Savoring, por sua vez, visa saborear os bons momentos, e é uma forma de intensificar e ampliar seus poderes, de modo a fazer as lembranças, reminiscências e antecipações positivas mais fortes e ativas do que as negativas em nosso funcionamento mental.

Peak performance

IMAGENS: FREEPIK

IMAGENS: FREEPIK

A partir do conceito de felicidade como resultado de uma vida virtuosa, os pesquisadores estudaram vários códigos de conduta da cultura oriental e ocidental, tais como bíblia, alcorão, bushidô etc., procurando virtudes comuns a todos eles. Chegaram, assim, a seis virtudes: sabedoria, coragem, humanidade, justiça, moderação e transcendência. O próximo passo surgiu do questionamento: quais as características que um ser humano deveria ter para conquistar tais virtudes? Os pesquisadores chegaram, assim, a 24 características, as quais denominaram de forças pessoais. Nesse sentido, as forças pessoais são:

Peak performance, ou performance de pico, é um conceito bastante confundido com o estado de flow. Porém, especialistas costumam fazer a seguinte diferenciação: flow seria um estado mental, enquanto a performance de pico diria respeito a um desempenho físico ótimo, que por sua vez favoreceria o estado de flow.


FREEPIK ARQUIVO PESSOAL E

sua felicidade

“M

NO SILÊNCIO DO MAR

ergulhar me faz feliz porque, ao mesmo tempo que é uma atividade altamente excitante, também é algo que me traz um sentimento de pura calma e paz.” Flávio Simonetti, jornalista, 43 anos, adorou mergulhar nos mares do Recife (PE), local do registro acima. Viajar é uma de suas paixões, ao que dedicou um período de 15 meses sabáticos. Além do litoral do Norte do Brasil, ilhas asiáticas fazem parte de seu repertório de mergulho. Registros de passagem pela Tailândia, pelo Egito e por países europeus e da América do Sul constam de seu passaporte, que aguarda muitos outros carimbos até o final de sua viajante existência.

Este espaço é seu! Conte pra gente suas vivências no email mipmag@psicologiapositiva.com.br 44


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