Revista Make It Positive 8

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make itmag positive

Psicologia Positiva • neurociência • coaching • saúde • conhecimento

COmO viver

mais e melhOr ensinamentos consagrados, reforçados pelas pesquisas mais atuais

Veja também:

Sustentabilidade e felicidade são inseparáveis

O segredo da prosperidade

Autocontrole, um item indispensável ao seu bem-estar Uma formação de qualidade em Psicologia Positiva


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ENTRE EM CONTATO! (011) 95328 4010 secretaria@psicologiapositiva.com.br • www.psicologiapositiva.com.br R. Helena, 140 – Edifício Delta One, Cjs. 111-112 Vila Olímpia – CEP: 04552-050 – São Paulo, SP 2


editorial

Dicas do bem

N

o melhor estilo das publicações que se dedicam a divulgar listas de dicas, ensinamentos e regras para comportar-se, vestir-se e alimentar-se, entre outras, MIP Mag traz a você, leitor(a), 20 dicas de bem-estar. Não se trata, porém, de conteúdo banalizado pelas estratégias editoriais e de comunicação em autoajuda, que são pródigas em eleger números “cabalísticos” de recursos para você desenvolver isso ou aquilo em sua vida. O que se pretendeu, nesta edição, foi oferecer um balanço daquilo que permanece relevante no trabalho diário do cultivo de bem-estar e felicidade no atual estado da arte do movimento da Psicologia Positiva (PP). Isso porque, desde o seu surgimento, a PP vem impulsionando e incorporando resultados de pesquisas de ponta diversas, e as “dicas” aqui enumeradas só o foram por serem confirmadas, ano após ano, pelos mais variados estudos. Isso valida e enaltece as fontes e especialistas citados, pioneiros nesses “ensinamentos” – lembrando que parte deles figura prestigiosamente em nosso rol de entrevistados ao longo de dois anos de MIP Mag. Ainda na linha das “dicas do bem”, Lilian Graziano, diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento (IPPC), comenta a importância de uma boa formação na área para o trabalho em desenvolvimento humano sob os preceitos da PP. É preciso um perfil protagonista (e muito amor) diante do conhecimento para aproveitar, de maneira crítica, os cursos livres disponíveis e não ser um mero consumidor de conteúdo, transformando-se em alguém que colabora com a ampliação do movimento da PP e que seja capaz de desenvolver seus próprios métodos positivos para promover a excelência e o bem-estar de indivíduos. Consequentemente, alguém com esse perfil contribuirá muito mais para o crescimento e o fortalecimento das instituições positivas, empreendendo a mudança de mindset tão necessária, pendendo-a para o vértice do bem-estar e da felicidade em vez da atual cultura das deficiências, dos fracassos e da pesquisa e da clínica psicológica pautadas em doenças e cura e não na plenitude humana. Sendo assim, só é possível terminar este editorial recomendando que leia toda a revista, mas não fique só nela. Aprofunde-se nas referências, estude, aplique, teste os conceitos, as ferramentas e os recursos desenvolvidos pelos principais expoentes da PP. Desenvolva sua linha de trabalho e faça desta publicação aquilo que é nossa intenção ao disponibilizarmos este conteúdo a você, leitor(a): um trampolim democrático para o mergulho efetivo neste que é um dos mais vibrantes movimentos da Psicologia. Jussara Goyano Editora e Coach Positiva

Ano II – n o 8 – jul./ago./set. 2017 www.makeitpositivemag.com

MIP Mag é uma publicação trimestral do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento (IPPC). É proibida a reprodução sem autorização do IPPC e dos autores. As informações ou opiniões contidas nesta publicação não refletem necessariamente a posição do IPPC. DIRETORIA Lilian Graziano Fabio Appolinário MEMBROS DO INSTITUTO Arthur Ranieri Claudia Ribeiro Cléa Graziano Fabiola Bernardo Frank Roman Lidia Pagni Mara Laimgruber APOIO

Associação de Psicologia Positiva da América Latina REALIZAÇÃO:

PONTO A

comunicação & conteúdo www.ponto-a.com • comunicacao@ponto-a.com @PontoA_falecom

Edição e coordenação: Jussara Goyano Arte e projeto gráfico: Monique Elias Revisão: Jussara Lopes Pesquisa e traduções: Marina Werneck Colaborou nesta edição: Juliana Tavares CONTATOS COM A REDAÇÃO: E-mail: mipmag@psicologiapositiva.com.br Endereço para correspondência/ Adress: Rua Helena, 140, cj. 111/112, Vila Olímpia, S. Paulo – SP – Brasil CEP: 04552-050 COMERCIAL E MARKETING: secretaria@psicologiapositiva.com.br

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SUMÁRIO

• clique nos assuntos para ler o conteúdo! •

EDITORIAL

RICARDO ALCARÁ

ENTREVISTA Lilian Graziano e a qualidade da formação profissional em Psicologia Positiva

BEM-ESTAR 20 dicas para viver mais e melhor (que continuam valendo, há quase 20 anos do surgimento da PP)

imagem da capa: freepik

NEUROCIÊNCIA Autocontrole e felicidade, uma dupla inseparável

LEITURAS Scientific Advances in Positive Psychology, de Meg A. Warren e Stewart I. Donaldson (org.)

IMAGENS: FREEPIK/DIVULGAÇÃO

MEIO AMBIENTE Estratégias positivas para a sustentabilidade

PERFORMANCE Fatores da prosperidade

E MAIS... Positive News Positive Wiki Sua felicidade

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entrevista

Estudo para uma

vida

IMAGENS: FREEPIK

Atuação profissional em Psicologia Positiva requer atualização constante, diz Lilian Graziano, fundadora e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. Caso contrário, o indivíduo será mero reprodutor acrítico de técnicas e dinâmicas aprendidas durante sua formação • Por Equipe MIP Mag •

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entrevista

“Hoje, mais do que nunca, é preciso que a pessoa seja

protagonista do seu conhecimento

a m de ser capa , principalmente, de assumir uma postura

crítica

diante dele”

fundadores era, desde o início, não falhar na entrega de conteúdos de qualidade, perseguindo a excelência também na atuação em desenvolvimento humano e prática clínica sob o escopo da PP, junto a indivíduos e empresas. O resultado disso foi também o envolvimento com pesquisas nesse campo, fazendo com que a ciência fosse um norte de todo e qualquer trabalho desenvolvido pelo instituto. Sob esse mesmo direcionamento, a entidade engaja-se, agora, em uma proposta de modernização

IMAGENS: RICARDO ALCARÁ E FREEPIK

O

Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento (IPPC), fundado pelos psicólogos Lilian Graziano e Fabio Appolinário, comemora 15 anos de existência em 2018. Isso sob a responsabilidade de seu pioneirismo (foi o primeiro do Brasil a oferecer cursos na área, ainda em 2003, e criou, há aproximadamente dois anos, a primeira revista de divulgação da Psicologia Positiva – PP no Brasil, dentre outras iniciativas pioneiras). A missão assumida por seus

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de suas ofertas, aumentando sua presença on-line nas formações e apostando em estratégias diferenciadas in company. São diversas as consultas que recebe de empresas de médio e grande porte, multinacionais e brasileiras, sobre mudanças radicais (algumas nem tanto) em suas culturas organizacionais (seu portfólio de clientes abrange companhias como 3M, Bradesco, Suncoke Energy, Grupo Ernst Basler, dentre outras). Os indivíduos interessados em conhecer e praticar a PP na vida e na profissão continuarão encontrando no instituto, por sua vez, aulas com grande consistência teórica e prática, ministradas a um seleto pessoal com um perfil específico – o de quem busca o life long learning, ou o aprendizado constante ao É também como docente em “O longo da vida, percebendo programas de pós-graduação, é que o que, para dominar os temas e de cursos in company da da área, é preciso atualizar-se Fundação Dom Cabral – FDC pro ssional ue frequentemente, ir além das (eleita pelo ranking do Financial busca a formação Times como a 12 a melhor escola referências oferecidas. É o que garante Lilian, que além de negócios do mundo), que em Psicologia de fundar o IPPC mantém-se, Lilian faz um alerta: “Hoje, Positiva, além de também, como sua diretora. mais do que nunca, é preciso Doutora em Psicologia pela que a pessoa seja protagonista a Universidade de São Paulo – do seu conhecimento a fim de USP (sua tese de doutorado instituições idôneas ser capaz de não apenas se foi a primeira do Brasil a aprodundar na área pretendida, e veri car o abordar o tema da felicidade por exemplo na Psicologia sob o enfoque da Psicologia Positiva, mas principalmente histórico do Positiva), com pós-graduação para ser capaz de assumir formador , em Psicoterapia Cognitiva uma postura crítica diante do Construtivista e especialização conhecimento, o que é muito tenha em na área de gestão de negócios diferente de ser um mero mente que deve e também em Virtudes e consumidor de conteúdos e Forças Pessoais pelo VIA certificados que, ingenuamente, Institute on Character, EUA, acaba se tornando presa fácil o máximo possível” Lilian comenta, em entrevista dos cursos de consistência à MIP Mag, as atividades do duvidosa que se multiplicam a IPPC e os requisitos para a formação cada dia. Assumindo, desde o princípio, uma postura de um bom profissional no campo da mais crítica e protagonista diante da literatura Psicologia Positiva. produzida na área, o profissional interessado

importante

vincular-se

aprofundar-se

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entrevista na Psicologia Positiva POSITIVA, SÃO CAPAZES DE pro ssional ue consegue, dessa forma, EMPREENDER MUDANÇAS passar mais rapidamente E RESULTADOS INCRÍVEIS para um outro nível de NA PROMOÇ ÃO DO em PP precisa ter conhecimento, no qual BEM-ESTAR SUBJETIVO. em mente que deve ele deixa de ser um mero NO ENTANTO, NO ÂMBITO consumidor da PP mas DA MULTIDISCIPLINARIDADE sim alguém capaz de DESSE MOVIMENTO, NÃO SE pensar a PP, o que é muito ATEVE A UMA PROPOSTA e ter um per l diferente. Essa capacidade ESPECÍFICA DE FORMAÇ ÃO protagonista, que de pensar a Psicologia NESSE CAMPO. POR SUA Positiva começa com um EXPERIÊNCIA NO IPPC E lhe garanta uma olhar crítico acerca da COMO DOCENTE, EM GERAL, profundidade e consistência O QUE TEM A DIZER SOBRE do que é oferecido no e facilite ISSO? EM SUA OPINIÃO, O mercado e culmina com QUE SERIA UMA FORMAÇ ÃO o link deste com outras CONSISTENTE EM PP? a capacidade desse profissional para a criação áreas de conhecimento” Costumo evitar a palavra de seus próprios conteúdos “treinamento”, porque ela e métodos de trabalho e, consequentemente, remete a um tipo de aprendizado robotizado, para a capacidade de inovar em termos de em que as pessoas se tornam meras aplicações e resultados. consumidoras de conteúdo… (e o reproduzem, sem muito critério). Obviamente que, para a MARTIN SELIGMAN É CATEGÓRICO EM proposta do Seligman de popularização da DIZER QUE PROFISSIONAIS DE QUALQUER PP, dentro de um movimento multidisciplinar, ÁREA, SE BEM TREINADOS EM PSICOLOGIA faz sentido não engessar o modelo de formação. E esta existe, majoritariamente, por meio de cursos livres, sobre os quais não se tem controle específico. Também não há um número específico de horas para essa formação, apenas o conteúdo indispensável para apresentar os preceitos da Psicologia Positiva e um diferencial que vai da experiência de cada instituição e do currículo do professor. Eu diria que o importante é que o profissional que busca a formação em Psicologia Positiva, além de vincular-se a instituições idôneas e verificar o histórico do formador, tenha em mente que deve aprofundar-se o máximo possível, ter um perfil protagonista, que lhe garanta uma atualização constante do conteúdo recebido em um curso e facilite o link deste

busca a formação aprofundar-se

atuali ação constante

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com outras áreas de conhecimento que lhe são úteis em seu campo de atuação. Não basta consumir conteúdo e certificados na área, é preciso buscar referenciais científicos e práticos que possibilitem um trabalho consistente com a PP. Ela é um movimento relativamente recente e em construção, são inúmeros os estudos que a atualizam, diariamente, corroborando a proposta para além de Seligman e criando novas frentes de aplicação de seus preceitos. ESSA QUESTÃO DO “CONSUMO” DE CERTIFICADOS É ALGO COMUM NÃO SÓ NAS FORMAÇÕES EM PP, MAS EM ÁREAS DIVERSAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO, EM QUE ESSES “CONSUMIDORES” VALORIZAM O DOCUMENTO E NÃO A CONSISTÊNCIA DA FORMAÇ ÃO EM SI. EM SUA ATUAÇ ÃO JUNTO ÀS EMPRESAS (QUE CADA VEZ MAIS ADEREM À PP EM SUA CULTURA ORGANIZACIONAL), QUAIS SÃO AS EXIGÊNCIAS DE FORMAÇ ÃO EM RELAÇ ÃO À CONTRATAÇ ÃO DE ALGUÉM ESPECIALIZADO EM PP? VÊ-SE COMO DIFERENCIAL ALGUM NÍVEL DE FORMAÇ ÃO ESPECÍFICO NA ÁREA, A CHANCELA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇ ÃO E CULTURA (MEC) NOS CERTIFICADOS?

“O que as empresas procuram é alguém que tenha consistência

IMAGENS: RICARDO ALCARÁ E FREEPIK

no conhecimento

Como a Psicologia Positiva é campo de conhecimento difundido muito mais por meio de cursos livres que de qualquer outra maneira, não há nenhuma exigência específica. Continua-se verificando, no entanto,

e na prática da PP, uma formação sólida do ponto de vista de sua área de atuação e que seja capa de empreender

as mudanças demandadas ” 9

a obrigatoriedade de chancela do MEC para atestar a procedência de diplomas de graduação e pós-graduação em geral – mas isso nada tem a ver com o conhecimento em PP. Há entidades que se associam a universidades de qualidade duvidosa para garantir a chancela do MEC a uma pós-graduação na área, o que não tem, absolutamente, nenhuma relevância. O que as empresas procuram é alguém que


entrevista tenha consistência no sabemos a teoria que está por “O que nos conhecimento e na prática trás dela não conseguimos preocupamos da PP, uma formação obter os resultados sólida do ponto de vista de pretendidos por outros meios sempre foi com sua área de atuação e que que perpassem essa linha a seja capaz de empreender teórica. Em outras palavras, as mudanças demandadas há inúmeras formações em pela organização, além que se aprende a abraçar adequados do de outras qualidades árvores, fazer cartas de perdão específicas para cada vaga. e diários de gratidão sem que ponto de vista de O grande problema dessa se explique o princípio por trás área é que as formações disso, e, se isso não funciona são pródigas em dinâmicas para o indivíduo, seu cliente, o e prática cujos referenciais teóricos “especialista” em Psicologia escapam ao domínio dos Positiva não encontra outros atuali adas em PP, alunos. Lá na frente eles métodos de atuar. sempre pautadas em serão meros reprodutores das técnicas e dinâmicas COMO O IPPC VEM SE cient cos aprendidas e não verão POSICIONANDO FRENTE A sentido naquilo que estão aplicando. No coaching, ESSA INDÚSTRIA DE CERTIFICADOS por exemplo, quando uma ferramenta falha, se não EM ÁREAS DO DESENVOLVIMENTO

composição de programas

disseminação de teoria estudos

Isso nunca esteve nos nossos planos, uma vez que a Psicologia Positiva nasceu como um campo multidisciplinar e livre de conhecimento. Até porque, com mais de 30 anos como educadora brasileira, seria um contrassenso que eu acreditasse na chancela do MEC como atestado de qualidade de alguma coisa. O Sedes Sapientiae, por exemplo, instituição bastante conhecida na área de Psicologia, oferece cursos, muitos dos quais inclusive chamados de especialização, sem jamais pleitear a chancela do MEC. O reconhecimento do Sedes vem do mercado e da sua reputação. E é exatamente isso que o IPPC pretende. O que nos preocupamos sempre foi com a composição de programas adequados do ponto de vista de disseminação de teoria e prática atualizadas em PP, sempre pautadas em estudos científicos. Trabalhamos com turmas seletas e reduzidas e

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IMAGENS: FREEPIK

HUMANO? O VÍNCULO AO MEC ESTÁ NOS PLANOS DO INSTITUTO?


sempre nos propusemos a ir além das referências mais comuns, buscando o que há de mais inovador em técnicas e pesquisas nesse campo. O QUE DIZER PARA QUEM ESTÁ BUSCANDO UMA FORMAÇ ÃO NA ÁREA? COMO ATESTAR A QUALIDADE DE UM CURSO?

Em primeiro lugar, cuidado com o marketing. Em tempos de midias sociais, onde qualquer pessoa com um celular na mão pode fazer bastante barulho, a realidade nem sempre é o que parece. Recentemente até o atual presidente da APPAL foi vítima de um plagiador que fez uma clonagem dos anúncios do curso que ele ministra. Também não são certificados que atestam a qualidade dos cursos. Alguns certificados de entidades internacionais são vendidos por menos de U$ 200 àquele que quer ter o refém de novos cursos e “Naturalmente existe direito de utilizar a tal publicações que se propõem para a chancela internacional a oferecê-las (razão pela qual nos certificados dos formação de co inheiros fica fácil compreender por que cursos que oferece. a maioria dos cursos se limita e de chefs e o aluno Vale dizer que a tal a formar cozinheiros). entidade sequer Já o chef de cozinha é deveria se preocupa com o diferente. Ele entende de sobre qual seria mais conteúdo ministrado nutrição, da química dos no curso, muito menos alimentos, da física envolvida adequada com o currículo de na preparação dos pratos, dos seus professores. Acho princípios que regem a arte ” que aqui vale também da culinária e, por essa razão, falar sobre a metáfora do cozinheiro e ele consegue a magia de criar. Um chef é capaz do chef de cozinha que costumo utilizar de abrir um armário e, a partir dos ingredientes para alinhar as expectativas dos nossos disponíveis, criar um prato maravilhoso. No IPPC alunos em relação aos cursos que formamos chefs de cozinha. Até porque chefs oferecemos. Cozinheiro é aquele que são perfeitamente capazes de, se quiserem, fazer aprende a seguir receitas. Com prática, o papel de um cozinheiro. O contrário, jamais. ele até pode fazer uma substituição aqui, Naturalmente existe mercado para a formação outra ali em termos de ingredientes. de cozinheiros e de chefs e o aluno deveria Mas, na hora de cozinhar, quando falta refletir sobre qual seria mais adequada às suas um produto ele tem que ou desistir da necessidades. O que ele deve evitar é comprar gato receita ou correr ao supermercado para por lebre. E por fim, se quiser mesmo ser um chef, comprá-lo. O cozinheiro estará sempre vale a pena verificar antes se a pessoa que está preso a uma receita e, portanto, sempre oferecendo o curso também o é.

mercado

re etir

às suas necessidades

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IMAGENS: FREEPIK

bem-estar

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20 dicas

para viver

mais e melhor Os ensinamentos que permanecem atuais para conquistar a plenitude na vida pessoal, no trabalho e em sociedade • Por Juliana Tavares •

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bem-estar

E

m que pesem inúmeros debates filosóficos a respeito, “felicidade” e “como ter uma vida plena” foram temas que, por serem imensuráveis e subjetivos, demoraram a chegar à ciência, que também os desprezava por puro preconceito. Com o desenvolvimento de novas tecnologias de imagem que permitiram aprofundar o conhecimento sobre o cérebro, a “ciência da felicidade” ganhou novo status e a Psicologia Positiva, por sua vez, permitiu a observação dos aspectos necessários para desenvolver condições de viver a vida de maneira plena e da melhor forma possível. Após pouco mais de 20 anos de sua origem, os conceitos e achados iniciais da Psicologia Positiva seguem sendo corroborados por estudos nas mais diversas áreas do conhecimento, consagrando ensinamentos de seus principais expoentes e estudiosos, alguns dos quais já entrevistados pela nossa equipe. A seguir, 20 dicas baseada em pesquisas recentes e que confirmam e atualizam o que esses especialistas já diziam, fazendo-os figurar como fontes-chave, ainda, no atual estado da arte desse movimento.

SEJA GRATO A gratidão pode melhorar o seu bem-estar, além de reduzir a depressão e ansiedade, segundo estudo de Robert Emmons, psicólogo da Universidade da Califórnia e autor do livro Gratitude Works! A 21-Day Program for Creating Emotional Prosperity. Outro estudo publicado recentemente no Journal of Positive Psychology mostrou que expressar gratidão regularmente pode aumentar as emoções positivas e o bom humor, e até mesmo manter o estado de bem-estar por algum tempo.

ATITUDES POSITIVAS

Achados iniciais da

Para o psicólogo Martin E. P. Seligman, um dos pioneiros da PP no mundo, em seu livro Florescer: uma Nova Compreensão sobre a Natureza da Felicidade e do Bem-estar, pessoas que têm estilos de vida saudáveis e que possuem uma atitude positiva diante dos acontecimentos são mais felizes e, ao longo da vida, poderão prevenir e lidar melhor com doenças.

Psicologia Positiva seguem sendo confirmados por pesquisas recentes, consagrando ensinamentos de seus principais expoentes

e estudiosos 14


PREFIRA O EQUILÍBRIO Segundo o psicólogo e ex-professor da Harvard (EUA), Tal Ben-Shahar (entrevistado na edição 2 da MIP Mag), levar uma vida equilibrada, incluindo hobbies, lazer e atividade física (ele mesmo nada, dança, pratica yoga e já foi campeão de squash), ajuda a aumentar os níveis de bem-estar, além de melhorar o desempenho das pessoas no trabalho, nos estudos e nos esportes.

Diminuir o número de atividades realizadas e priorizar aquilo que o faz se sentir completo é uma maneira de encontrar a plenitude ACEITE AS EMOÇÕES Também segundo Ben-Shahar, aceitamos como naturais emoções como medo, tristeza ou ansiedade nos tornamos mais propensos a superá-las. Rejeitá-las, sejam elas positivas ou negativas, leva à frustração e à infelicidade.

IMAGENS: FREEPIK

VALORIZE-SE Altos níveis de bem-estar estão relacionados à autoestima elevada. Segundo Seligman, ao observar o quadro completo da realidade e valorizar os próprios pontos fortes, e usá-los de novas maneiras, é possível experimentar os níveis mais elevados de felicidade e menores níveis de depressão.

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TENHA UM PROPÓSITO Para Ben-Shahar, a felicidade situa-se na intersecção entre prazer e significado. Seja no trabalho, seja em casa, o objetivo é se engajar em atividades que são tão significativas quanto agradáveis, ou garantir pequenos incentivos de felicidade ao longo da semana.

SIMPLIFIQUE Ben-Shahar também sugere diminuir o número de atividades realizadas e priorizar aquilo que o faz se sentir completo, como dedicar mais tempo às pessoas com quem nos preocupamos e que se preocupam com a gente.

PRATIQUE A ATENÇÃO PLENA Pela meditação ou mantendo-se focado no presente durante a realização de tarefas cotidianas, como lavar as mãos, estudos apontam que a prática da atenção plena (mindfulnes) é capaz de promover mudanças estruturais e funcionais em regiões como o córtex pré-frontal (área de processamento de informações, da regulação da atenção e das funções executivas) e a amígdala (área de ativação de circuitos do medo), o que reduz os sintomas da ansiedade, contribuindo significativamente para a melhora do bem-estar.


bem-estar

CUIDE DA SAÚDE Estudos mostram que pessoas com bem-estar físico elevado dormem o suficiente para acordarem descansadas, praticam exercícios diariamente, fazem boas escolhas alimentares e se preocupam com a saúde. Ao priorizar os hábitos saudáveis, mesmo que a genética trabalhe contra o seu organismo, é possível mudar a expressão de genes ligados a inflamações crônicas e alergias.

VIVA O COLETIVO

REALIZE ATIVIDADES PRAZEROSAS De acordo com o PhD em Desenvolvimento Humano pela Universidade de Chicago Mihaly Csikszentmihalyi (você pode ler entrevista completa na edição 3 da MIP Mag), encontrar o flow (experiência máxima) em atividades que fornecem oportunidades para o crescimento, e que potencialmente ajudem outras pessoas, possibilita ao sujeito experimentar um estado em que não precisa de supervisão, controle ou qualquer tipo de monitoramento externo na medida em que a atividade exercida lhe é intrinsecamente recompensadora.

TENHA BONS AMIGOS Pesquisa realizada pelo Instituto Gallup mostrou que a presença de um “melhor amigo” no trabalho é fator de mais produtividade e mais bem-estar profissional. Isso porque ter amigos no trabalho torna as tarefas diárias mais satisfatórias e deixa as pessoas mais felizes e mais dispostas.

De acordo com os pesquisadores Tom Rath e Jim Harter, do Gallup, pessoas que vivem o coletivo encontram maneiras de contribuir com a sociedade segundo suas paixões e características, o que favorece o sentimento de pertencimento e segurança.

PERMITA-SE As pessoas que se permitem ser vulneráveis sem se paralisarem diante do medo e da vergonha são mais felizes, além de transformarem a condição de vulnerabilidade associada ao fracasso e à fraqueza em autenticidade. Isso foi o que mostrou um estudo realizado pela professora e pesquisadora da Universidade de Hounston (EUA) Brené Brown, apresentado pela MIP Mag na edição 6. Para experimentar relacionamentos mais significativos, mais inovação e criatividade, é preciso estar disposto a se arriscar e a se expor.

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SEJA OTIMISTA As emoções positivas têm capacidade de abrir nossas mentes e, portanto, contribuir com a expansão de nosso repertório de pensamentos – o que é essencial para a superação dos desafios profissionais e pessoais do dia a dia. Segundo a pesquisadora Barbara Fredrickson, emoções positivas, tais como alegria, otimismo, esperança, dentre outras, fortalecem nossos recursos intelectuais, físicos e sociais.

Uma renda mais elevada não significa

maior bem-estar entre pessoas acima do

nível da pobreza TENHA BONS HÁBITOS FINANCEIROS

COMPROMETA-SE De acordo com Shawn Archor, autor do livro The Happiness Advantage: the Seven Principles of Positive Psychology that Fuel Success and Performance at Work, trabalhadores altruístas e verdadeiramente comprometidos se beneficiam e impactam positivamente as pessoas ao seu redor com seu comportamento. Pessoas felizes no trabalho são três vezes mais criativas e 31% mais produtivas que as que não se consideram assim.

O bem-estar financeiro deve ser incrementado por hábitos que proporcionem segurança financeira – além de evitar o estresse diário causado por dívidas, pesquisas mostram que pessoas que gastam dinheiro com experiências e outras pessoas, e não apenas com bens materiais e consigo mesmas, têm maior satisfação. Isso não quer dizer que dinheiro traz felicidade. Segundo os estudiosos Ed e Daniel Diener, uma renda mais elevada auxiliaria as avaliações de bem-estar subjetivo no caso de pessoas extremamente pobres, porém, a partir de uma determinada renda, não se verifica a correlação entre aumento da riqueza e aumento do bem-estar subjetivo.

AUTOCONHECIMENTO

IMAGENS: FREEPIK

TENHA FÉ Segundo Ed Diener, professor de Psicologia da Universidade de Illinois, quando comparados a ateus, os crentes são mais saudáveis e se recuperam melhor depois de um trauma. Além disso, estudos apontam uma ligação entre práticas religiosas e espirituais à jovialidade.

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bem-estar

Segundo mais de 30 estudos, pessoas felizes vivem em média até 10 anos a mais que as outras que não se

consideram assim

LUTE PELA FELICIDADE

NECESSÁRIO O desenvolvimento dos recursos pessoais (forças e virtudes) contribui para o aumento do bem-estar e vice-versa, de acordo com estudos de Seligman que mostraram que características (forças) como esperança, curiosidade e humor têm correlações de maiores magnitudes com o bem-estar subjetivo.

FAÇA BOAS ESCOLHAS Segundo estudos em neuroplasticidade e neurogênese, nossas ações afetam nossos circuitos cerebrais, de modo que a felicidade é algo aprendido e não somente determinado por nossa genética. Quando intencionalmente trabalhamos em prol de nossa felicidade, por meio de nossas escolhas, cria-se um ciclo virtuoso do qual nos beneficiamos na prática e mentalmente, solidificando um mindset capaz de nos tornar mais felizes.

Para os estudiosos Tom Rath e Jim Harter, diferentemente de outros projetos, quando o assunto é bem-estar, não há outra prioridade possível – e por isso é preciso dedicar esforço, disciplina e estabilidade emocional para se conquistar a própria felicidade. Tanto empenho vale a pena: de acordo com o professor de Psicologia Social Ruut Veenhoven, da Erasmus University Rotterdam (Países Baixos), depois de analisar mais de 30 estudos conduzidos pelo mundo, percebeu que as pessoas felizes vivem em média até 10 anos a mais que as demais. Como se não bastasse, uma revisão de toda a literatura disponível revelou que a felicidade possui numerosos subprodutos positivos, que parecem beneficiar não só os indivíduos, mas as famílias, as comunidades e a sociedade em geral, como maior renda, maior produtividade e maior qualidade de trabalho, casamentos mais satisfatórios e mais longos, mais amigos, suporte social mais forte e interações sociais mais ricas, mais atividade, energia e fluxo e melhor saúde física. JULIANA TAVARES é jornalista e escreve sobre Ciência e Psicologia, entre outros assuntos relevantes.


meio ambiente

Estratégias da

Psicologia Positiva para a sustentabilidade Flow e emoções positivas são essenciais para uma relação melhor com o meio ambiente • Por Juliana Tavares •


meio ambiente

U

Ao fortalecer os pontos fortes e promover

m artigo publicado recentemente pelo jornal The New York Times mostrou que os jovens entre 18 e 24 anos estão se importando mais com os outros e com o mundo em que vivem, superando antigos valores e necessidades de consumo que já não os satisfazem. No Brasil, a pesquisa “Rumo à Sociedade do Bem-Estar”, realizada pelo Instituto Akatu, mostrou que 90% dos entrevistados (cerca de 800 pessoas de 12 grandes cidades de todas as regiões do país) admiram as empresas comprometidas com a redução de consumo de energia, relacionando o bem-estar ao convívio social – e não ao consumo. Os resultados de ambos os estudos são importantes porque reconhecem uma mudança de consciência na sociedade, mas os números do consumismo seguem assustadores: de acordo com estudos do Worldwatch Institute (WWI), a população mundial já consome 30% a mais do que o planeta consegue repor; hoje, são extraídos, anualmente, 60 bilhões de toneladas de recursos naturais, o que representa 50% a mais do que era extraído há 30 anos. Estudos da Psicologia Positiva vêm contribuir com a criação de estratégias criativas que apoiam e reforçam a importância da sustentabilidade para a manutenção do bem-estar social. De acordo com Niki Harré, autora do livro

Better World: Strategies to Inspire Sustainability, para que mais pessoas se engajem na questão, é preciso criar (ou permitir que as pessoas criem) oportunidades adequadas para aumentar a sustentabilidade a partir das suas próprias paixões e talentos. Para tanto, ela recorre aos estudos de flow de Mihaly Csikszentmihalyi, que depois de entrevistar alpinistas, monges, pastores e uma variedade enorme de pessoas com diferentes níveis de educação e cultura, verificou alguns elementos comuns que indicam o que é estar em flow, entre eles: envolvimento completo com o que está fazendo com foco e concentração; sentimento de êxtase por estar fora da realidade do dia a dia; maior claridade interna, com segurança sobre o que está sendo realizado; consciência de que aquela atividade é possível de ser realizada a partir das próprias habilidades; a sensação de expansão do self; foco no momento presente e motivação. “Uma ação que leve em conta essas prerrogativas tem mais chance de ser bem-sucedida”, diz. Para reforçar a importância do estado de flow no engajamento de pessoas, Harré cita outra pesquisa, desta vez realizada pelo neurologista Scott Sherman (2003) com comunidades que lutam pelo meio

emoções positivas, é possível construir resiliência em torno das questões ambientais e ainda expandir as capacidades na resolução de problemas

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Ao expandir e

ambiente. Pelo estudo, foram descobertos três processos-chave que alcançaram bons resultados nesse quesito: expor a injustiça envolvida, por exemplo, no consumo excessivo e na exploração da natureza e de comunidades; promover o que ele chamou de “Aikido social”, ou seja: transformar aspectos negativos em positivos e unir pessoas em torno de um objetivo comum; e estimular o desenvolvimento de um programa de ações construtivas que apresentam “melhor alternativa e visão para o futuro”. Dessa forma, Harré conclui que, ao fortalecer os pontos fortes e promover emoções positivas, é possível construir resiliência em torno das questões ambientais, expandir as capacidades na resolução de problemas, ser inovador, aprimorar os relacionamentos com os outros e, enfim, estimular novos

aprofundar a

consciência da nossa conexão com os sistemas de vida que nos rodeiam, as emoções positivas estimulam o uso de habilidades para

criar soluções para uma vida sustentável a

IMAGENS: FREEPIK

partir de relações cooperativas

comportamentos que sejam ambientalmente responsáveis. A autora do estudo “Integrated Well-being: Positive Psychology and the Natural World”, Aislinn Pluta, por sua vez, concorda com o fato de as emoções positivas serem cruciais para inspirar comportamentos sustentáveis. “Ao expandir e aprofundar a consciência da nossa conexão com os sistemas de vida que nos rodeiam, as emoções positivas estimulam o uso das próprias habilidades para criar soluções para uma vida sustentável a partir de relações cooperativas e ações compartilhadas que vislumbrem um futuro positivo”, finaliza. “As próxima gerações agradecem”, emenda.

JULIANA TAVARES é jornalista e escreve sobre Ciência e Psicologia, entre outros assuntos relevantes.

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performance

segredo da

prosperidade ESTUDO IDENTIFICA OS MELHORES TRAÇOS DE PERSONALIDADE E FATORES EXTERNOS QUE, COMBINADOS ENTRE SI, PROMOVEM PROSPERIDADE • POR JULIANA TAVARES • 22


FREEPIK

D

e um adolescente que vai bem nos exames escolares a um funcionário que tem sucesso no trabalho, a prosperidade pode ser encontrada em todas as idades e culturas. Não é de hoje que a ciência tenta descobrir um denominador comum entre as pessoas bem-sucedidas. Pesquisas já conseguiram provar, por exemplo, que a mentalidade positiva garante bom desempenho em quase todos os níveis, melhorando a produtividade, aumentando a criatividade e estimulando o engajamento. Mas uma dúvida recorrente sempre vem à tona quando surge esse assunto: o sucesso precede a felicidade, ou é uma consequência de quem é feliz? Pesquisadores da Universidade de Bath (Reino Unido) revisaram uma série de estudos sobre o tema, levando em consideração várias fases da vida humana, do desenvolvimento infantil ao sucesso de artistas, atletas, funcionários públicos, idosos, militares, entre outros, e conseguiram identificar os melhores traços de personalidade e fatores externos que, combinados entre si, promovem prosperidade. Entre as qualidades essenciais apontadas pelos cientistas como determinantes para o sucesso, em praticamente todas as situações da vida, estão o otimismo; espiritualidade ou religiosidade; proatividade; motivação; flexibilidade; resiliência; disposição para aprender; sociabilidade e autoconfiança. “Percebemos que não é preciso ter todas essas qualidades juntas, mas pessoas bem sucedidas conseguem desenvolvê-las ao longo da vida”, explicou Daniel Brown, que encabeçou o estudo. Já os fatores externos que favorecem o sucesso, segundo a pesquisa, são aproveitamento das oportunidades; apoio de empregadores, familiares e amigos; ambiente calmo; alto grau de autonomia; desafios constantes, mas gerenciáveis e confiança das outras pessoas. O estudo fortalece as evidências de causalidade direcional entre a satisfação da vida e resultados profissionais bem-sucedidos apontados por pesquisas anteriores de Sonja Lyubomirsky, Laura King e Ed Diener. Também reforça aspectos de outra pesquisa, desta vez de Julianne Holt-Lunstad, Timothy Smith e Bradley Layton, que mostra que altos níveis de apoio social também preveem longevidade, enquanto o baixo apoio social é tão prejudicial quanto a pressão arterial elevada. A relação entre otimismo e autonomia com o sucesso

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Entre as qualidades essenciais apontadas pelos cientistas como

determinantes

para o sucesso em praticamente todas as situações está o otimismo é apontado em outro estudo, desta vez da Universidade da Califórnia, Riverside, que concluiu que “pessoas felizes” estão mais satisfeitas com seus empregos e apresentam melhores resultados do que seus colegas menos felizes, além de serem menos propensas ao desemprego e mais interessadas em se manter fisicamente saudáveis. “Desde o final do século 20, a ciência quer entender melhor a prosperidade, mas as pesquisas a respeito estavam limitadas em algumas áreas. Ao identificar as características mentais e ambientais que favorecem o sucesso, ficou evidente a necessidade de se realizar um exame minucioso sobre o assunto, mas, principalmente, verificar se, nos casos em que se apresenta, ele é duradouro e cumulativo nos indivíduos”, informa Brown. JULIANA TAVARES é jornalista e escreve sobre Ciência e Psicologia, entre outros assuntos relevantes.

saiba mais FRANKENHUIS, Willem E. & FRALEY, R. Chris. What Do Evolutionary Models Teach Us About Sensitive Periods in Psychological Development? European Psychologist, v. 22, n. 3, p. 141, 2017.


neurociĂŞncia


A conquista do

autocontrole

ESTRATÉGIAS PARA VENCER NOSSOS IMPULSOS IMEDIATISTAS DE PRAZER ALICERÇAM O CAMINHO PARA UMA VIDA MAIS SAUDÁVEL • POR MARCO CALLEGARO •

C

onquistar o autocontrole não é nada fácil, mas é algo de enorme importância para uma vida saudável e feliz. O famoso experimento do marshmallow (Mischel, 2014) é uma ilustração do enorme impacto do autocontrole ao longo do desenvolvimento humano. Nesse experimento clássico, crianças de cinco anos de idade são submetidas ao terrível dilema de escolher entre poder comer um marshmallow colocado a sua frente na hora, seguindo seu impulso imediato, ou exercer autocontrole para esperar e assim conquistar a recompensa em dobro, ganhando dois marshmallows. Uma metáfora de tantos dilemas que a criança, o adolescente e, mais tarde, o adulto irão se deparar na vida. Nesse experimento, as crianças que comeram o doce no primeiro impulso tinham toda uma trajetória de vida diferente daquelas que exerceram seu autocontrole. Todos os indicadores de saúde, qualidade de vida, sucesso profissional e relacionamentos interpessoais foram

dramaticamente diferentes nos dois grupos de crianças quando acompanhadas ao longo de 30 anos de vida, com os impulsivos ficando em desvantagem em relação às crianças que se controlaram para obter maior recompensa. Estudos recentes em neurociências têm apontado que o autocontrole através da vontade e deliberação funciona como usar um músculo que entra em fadiga quando muito usado. Os circuitos neurais que exercem papel inibitório em comportamentos que nos levam a recompensas imediatas se cansam e esgotam, fazendo o sujeito sucumbir perante seus impulsos imediatistas. Seguir uma autodisciplina saudável envolve praticar exercícios vigorosos, seguir hábitos alimentares muitas vezes duros, e nossas metas profissionais e pessoais requerem estudar ou trabalhar de forma extenuante, o que implica em resistir às tentações sedutoras de gratificação imediata. Ao usar a força de vontade, no início se consegue atingir as metas, mas logo o cérebro fica esgotado e os impulsos vencem. Portanto, não é uma boa estratégia cultivar a crença no poder da força

O uso de truques

internos e externos baseados

IMAGENS: FREEPIK

em conhecimento científico pode

energizar nosso autocontrole 25


neurociência

de vontade interior como exclusivo meio de autocontrole, pois assim inevitavelmente seremos vencidos por nossos impulsos, mais cedo ou mais tarde. O modelo do processo em autocontrole (Duckworth, Gendler & Gross, 2014) oferece uma rica estrutura teórica que privilegia estratégias situacionais em lugar das intrapsíquicas, e tem se mostrado um caminho efetivo para melhor regulação do comportamento. Esse modelo sugere que a manipulação de nosso meio ambiente imediato pode ser uma forma altamente efetiva de autocontrole. Uma interação direta com uma tentação particular muito forte leva a extenuante esforço de autocontrole, portanto é melhor tirá-la de nossa frente e facilitar o acesso a uma alternativa positiva. No modelo de processo, as estratégias situacionais são enfatizadas como mais efetivas, pois são vistas como ocorrendo mais cedo do que as estratégias intrapsíquicas na cadeia de geração de impulsos. Segundo esse modelo, as estratégias voltadas para influências fora da mente são em geral melhores do que estratégias elaboradas nos processos mentais interiores. Podemos definir autocontrole como a regulação autoiniciada de impulsos conflitivos a serviço de metas valorizadas a longo prazo. Em geral, os teóricos se referem a diferentes termos para designar o caráter dual da motivação nos conflitos de autocontrole. Desejos de primeira ordem versus de segunda ordem, sistema quente versus sistema frio, sistema reativo versus deliberativo,

impulsivo versus reflexivo, saliência de incentivo versus metas de ordem superior são algumas entre muitas outras designações. O modelo do processo em autocontrole postula a existência de múltiplos sistemas de avaliação que podem ser ativados simultaneamente em uma dada situação. Cada sistema é sensível a determinados aspectos da situação, e cada um ativa impulsos de ação relevantes de acordo com sua avaliação. Os sistemas podem se reforçar mutuamente ou entrar em conflito. Por exemplo, comer uma fruta pode reunir os sistemas de avaliação que levam ao impulso de satisfazer a fome e ao de manter-se saudável a longo prazo, o que leva ao autocontrole. Já se existe conflito entre os impulsos do sistema de saúde a longo prazo com um sistema que avalia a gratificação imediata ao ver um doce delicioso, caracteriza uma situação que leva a dificuldades no autocontrole. A figura 1a ilustra os estágios através dos quais os impulsos são aumentados ou diminuídos ao longo do tempo. A figura 1b mostra o impulso de comer um doce sendo

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IMAGENS: FREEPIK

O modelo do processo em autocontrole postula a existência de múltiplos sistemas de avaliação que podem ser ativados simultaneamente em uma dada situação


processado, e, conforme a forma dos impulsos atinge um limiar, são descarregados em ação concreta (comer o doce, no caso). No modelo do processo em autocontrole, a intervenção mais eficaz é aquela que ocorre cedo, logo que o impulso está nascendo. Devemos agir preventivamente para atingir o autocontrole, e não depois do impulso se fortalecer. Conhecendo as etapas de processamento que terminam desencadeando o comportamento, e

figura 1a SITUATION

AVALIAÇÃO

ATENÇÃO

RESPOSTA

funcionam como gatilho, temos ferramentas poderosas para intervir cedo e conquistar o

autocontrole

SITUAÇÃO

figura 1b PENSAR SITUATION

“PETISCO GOSTOSO”

OLHAR O DONUT

Conhecendo as etapas de processamento que terminam desencadeando o comportamento, e as circunstâncias que

COMER O DONUT COZINHA COM DONUTS

as circunstâncias que funcionam como gatilho, temos ferramentas poderosas para intervir cedo e conquistar o autocontrole. Podemos reconhecer cinco famílias de estratégias de autocontrole, sendo que duas destas são

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voltadas para selecionar e modificar nossas circunstâncias externas de modo a favorecer ações que nos fazem sentir melhor a longo prazo. Outras três estratégias são intrapsíquicas e descrevem como podemos usar com vantagem nossa atenção, mudança cognitiva e modulação de resposta. As estratégias de seleção de situação envolvem intencionalmente escolher situações que favorecem sistemas de avaliação orientados para metas a longo prazo sobre tentações a curto prazo. Se abster de comer doces é mais fácil em casa do que em uma confeitaria, por exemplo. As estratégias de modificação de situação já envolvem deliberadamente mudar nossas circunstâncias vantajosamente. O conto de Odisseu retornando da guerra de Troia é um exemplo interessante. Alertado pela deusa Circe sobre o perigoso canto das sereias, Odisseu preventivamente enche de cera os ouvidos de seus marinheiros antes de passar pela ilha onde estas se


WILLIAM ETTY/WIKIPEDIA

neurociência

As Sereias e Ulisses (ou Odisseu): épico é o maior exemplo de estratégia de modificação de situação para um maior autocontrole, na qual Odisseu, amarrado a um mastro, não pôde ser hipnotizado pelo canto das sereias

encontravam. Odisseu se amarra no mastro da embarcação e dá ordens ao seu homens que não o libertem, não importa o que faça, até passar pela ilha e todos ultrapassarem o hipnótico canto das sereias. Podemos ter a geladeira com porções de frutas prontas para comer e não comprar uma torta deliciosa para aumentar o autocontrole, segundo esse tipo de estratégia. As estratégias intrapsíquicas também podem ser de implementação de atenção, onde dirigimos o foco da atenção para facilitar, e não prejudicar, o autocontrole. Se colocamos uma jarra com balas na sala de casa, é mais difícil se autocontrolar do que se estas estiverem longe do alcance da visão, em um armário. Outro tipo de estratégia intrapsíquica é a de mudança cognitiva, ou reestruturação cognitiva como é mais freqüentemente denominada na terapia cognitivo-comportamental. A reestruturação cognitiva envolve pensar de forma diferente sobre a situação, mudando nossa avaliação, o que pode favorecer

nossos impulsos desejados e diminuir os indesejados. Pensar sobre o dinheiro que temos na carteira como disponível nos leva a gastar; se reformulamos a avaliação para enxergá-lo como um recurso essencial para nosso futuro nos inclina a poupar, por exemplo. Uma forma especialmente efetiva de reestruturação envolve a retirada do self do aqui e agora e a construção mental abstrata, em alto nível, da situação. Um exemplo desse truque é imaginar a si mesmo como um espectador e não um combatente em primeira pessoa em uma discussão conjugal. No campo das negociações, essa técnica de regulação da emoção usando a perspectiva de terceira pessoa é muito usada. De modo geral, a ideia é transcender uma perspectiva egocêntrica configurando a situação como separada de nosso self (não sou eu) no tempo (não é agora), espaço (não é aqui), vêla como hipotética (não real). A modulação de resposta é a mais direta das estratégias intrapsíquicas, empregando a supressão dos impulsos indesejados, ou amplificação dos desejados. Essa estratégia depende de nosso controle executivo que requer esforço, se esgota e, em geral, é aversiva. De forma similar à supressão de impulsos, a supressão das emoções nem sempre funciona e pode levar a um aumento de respostas de estresse fisiológicas. O modelo do processo em autocontrole foi testado em uma variedade de situações e tem recebido evidências de eficácia muito favoráveis. Na área de abuso de substâncias, é bem conhecido que, entre dependentes de drogas, é mais fácil largar o vício com

De forma similar à supressão de impulsos, a supressão das emoções nem sempre funciona e pode levar a um aumento de respostas de estresse

fisiológicas

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Comemos mais sozinhos do que

uma mudança global de ambiente. O encontro com estímulos-gatilho para uso de drogas, tanto sociais como físicos, é o mais poderoso impedimento para a abstinência. Quando se evitam esses gatilhos, a chance de permanecer sem uso aumenta em quatro vezes. No campo da alimentação, as evidências mostram que uso de pratos menores leva a comer menos, uso de copos finos e altos leva a beber menos, pessoas comem menos balas quando colocadas em um recipiente opaco versus transparente, ou ao alcance da mão versus distante. Comemos mais sozinhos do que quando jantamos em família, ingerimos maior quantidade de comida quando vemos os outros comerem, e até mesmo por estar em companhia de pessoas que comem muito. No campo do estudo e trabalho acadêmico, o conjunto de estratégias chamado de estruturação ambiental envolve remover estímulos atraentes de diversão, compondo um ambiente quieto para estudar. Crianças inquietas, por exemplo, têm melhor

desempenho quando colocadas nas carteiras da frente na sala de aula. O modelo do processo em autocontrole e as estratégias situacionais que dele derivam são ferramentas úteis para a conquista do controle pessoal, e repousam mais em uso sábio do conhecimento, preparação e planejamento do que na força bruta do poder da vontade. Esse modelo não minimiza o papel da vontade e deliberação consciente, mas sim sugere canalizar a força de vontade para caminhos produtivos e eficazes, a partir de uma compreensão mais acurada dos mecanismos envolvidos na geração do comportamento humano.

quando jantamos em família, ingerimos maior quantidade de comida quando

FREEPIK

vemos os outros comerem ou na companhia de pessoas que comem muito

MARCO CALLEGARO é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011). É ex-presidente da Associação de Psicologia Positiva para a América Latina (APPAL). www.appal.org.br (Associe-se!)

saiba mais DUCKWORTH, A. L., GENDLER, T. S. & GROSS, J. J. Selfcontrol in school-age children. Educational Psychologist, n. 49, p. 199-217, 2014. DOI: 10.1080/00461520.2014.926225 DUCKWORTH, A. L., GENDLER, T. S. & GROSS, J. J. Situational strategies for selfcontrol. Perspectives on Psychological Science, v. 11, n. 1, p. 35-55, 2016. DOI: 10.1177/1745691615623247 MISCHEL, W. The Marshmallow Test: mastering selfcontrol. New York, NY: Little, Brown & Co., 2014.

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leituras

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Balanço acadêmico Livro reúne os principais avanços nas pesquisas em Psicologia Positiva

IMAGENS: FREEPIK

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• por Andréa Perez •

efletir sobre o que representa o tempo em nossas vidas é sempre uma questão, no mínimo, curiosa. Este século XXI parece que sofreu uma aceleração no cronômetro, tamanha a rapidez com que as informações caducam, os novos conhecimentos são substituídos, os processos são redirecionados, culminando, pelo menos para mim, sempre numa expressão de espanto. Só que essa perplexidade toma uma conotação mais de admiração que de espanto, pois somente a mudança permite que a humanidade caminhe em seu processo evolutivo, ressignificando a sua existência, por meio dos desdobramentos ou refutação do conhecimento produzido pelo empirismo, pelas teorias ou novas possibilidades conceituais. Essa perplexidade se traduz, de igual forma, no campo da Psicologia Positiva, que tendo atingido já a maioridade – o que para um campo de ciência é ainda muito pouco – multiplica-se exponencialmente em novas pesquisas a cada dia, agregando, acima de tudo, uma gama de novas aplicações. Olhando para um cenário de crescimento nacional e mundial da Psicologia Positiva – no que apostamos, acreditamos e trabalhamos com vigor – é possível perceber o quanto suas fronteiras se estendem, o quanto se agrega, a cada piscar de olhos, a um novo campo do conhecimento humano ou aplicabilidade. Transitando em áreas e abordagens, tais como: jornalismo, psiquiatria, educação, coaching, organizações, tecnologia, economia, políticas públicas, psicologia, recursos humanos, mentoria, medicina, entre tantas outras, a Psicologia Positiva renova-se com resultados de inúmeras pesquisas, o que é extremamente construtivo e

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leituras

favorecedor a toda sociedade, pois permite atalhos avanços obtidos, até hoje, em campos para atingir de forma positiva e significativa a vida de estudo da Psicologia Positiva, de mais pessoas. tomando como referência um review, Essa abrangência e crescimento são tão publicado no Journal of Positive relevantes e expressivos, que talvez haja a Psychology em 2015, com o título necessidade de se aprofundar numa reflexão Happiness, Excellence, and Optimal sobre o quanto a sua denominação – Psicologia Functioning Reviewed: Examining Positiva – é dissonante e cerceadora diante de the Peer-Reviewed Literature Linked sua multidisciplinaridade ou transdisciplinaridade, to Positive Psychology. Nessa sobretudo quando aplicada. Uma percepção quanto revisão foram levantados, entre os a isso se verifica quando nos confrontamos com anos de 1999-2013, por Donaldson, diversas teorias e conceituações que surgem Dollwet e Rao (2015), mais de 1.300 em outras áreas, que se revisões de estudos feitas inebriam em suas fontes em pares de estudiosos Olhando para de pesquisas, produzindo ou pesquisadores de inúmeros desdobramentos competências similares um cenário de de estudos. Seu crescimento – que originaram, neste global e mais significativo livro, uma amostra dos precisa ser potencializado, cada temas mais abrangentes, vez mais, através de novos apontando para um segmentos, recodificando-se aprofundamento maior em em seus respectivos léxicos, cada um deles. da Psicologia jargões e linguagens, para Dentre os temas que se permita o acesso e destacados, surge o Positiva – no o entendimento por mais bem-estar como tópico que apostamos, indivíduos, favorecendo mais estudado, seguido das a quebra de paradigmas forças pessoais e da gratidão. acreditamos e ceticistas a respeito de Além desses, no que tange trabalhamos suas temáticas sobre a às intervenções mais felicidade humana. Com essas - é possível populares, destaca-se considerações, alio-me a Sonja o estudo dos afetos positivos perceber o quanto Lyubomirsky, que nomeia nas abordagens voltadas esse estudo como a Ciência à felicidade e às emoções suas fronteiras do Bem-Estar”, como declara positivas. A obra ainda traz na obra Psicologia Positiva: destaque aos temas do Teoria e Prática (Corrêa, desenvolvimento positivo da 2016). Denominação mais plural, abrangente, juventude, dos contextos educacionais indiscriminatória e abarcadora de inúmeros vieses positivos e da Psicologia Organizacional de estudos e campos do conhecimento humano, Positiva, como os domínios mais uma vez que felicidade e bem-estar são parte de medidos e mais aplicados. nossas vidas. Retratando o crescimento da Essa turbulência de mudanças e avanços Psicologia Positiva no que se coaduna com a obra Scientific Advances in Positive refere a estudos acadêmicos, os Psychology, organizada por Meg A. Warren e organizadores ao lado, ainda, de Scott Stewart I. Donaldson, publicada pela Praeger. I. Donaldson, apresentam a grandiosa O livro, que traz uma coletânea de artigos dos proporção de estudos na área principais pesquisadores dos temas descritos, revelados numa pesquisa no Google foi construído com o propósito de identificar os Scholar entre os anos de 1999 a

crescimento nacional e mundial

com

vigor

se estendem

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Para dar uma noção de uma média de

estudos reali ados em

Psicologia Positiva entre 1999 e 2016, teríamos, a cada ano, 2.117, a cada mês, 176 e, por

dia, quase 6 estudos

IMAGENS: FREEPIK

2016, da ordem de 36.000 resultados. Para dar uma noção de uma média de estudos realizados, teríamos, a cada ano, 2.117, a cada mês, 176 e, por dia, quase 6 estudos. Coadunando com minhas reflexões iniciais, os organizadores destacam a orientação da Psicologia Positiva se estendendo longe da Psicologia, em campos “díspares” como sociologia, filosofia, ciências pol íticas, engenharia, legislação, criminalidade, forças armadas, oncologia,

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farmacologia, epidemiologia, religião, antropologia, linguística, design, trabalho social, sem mencionar todos. Ainda no capítulo que abre a obra – “Evaluating scientific progress in positive psychology” – recebe destaque a menção às críticas direcionadas à Psicologia Positiva quanto à prevalência de perspectivas ocidentais e ainda sobre a carência de foco em segmentos como gênero, raça e etnia. Desenhado o cenário sobre os estudos realizados até a construção da obra, apresentados no capítulo 1, seguem-se mais 10 capítulos com temáticas nas áreas do bem-estar, das emoções positivas, das virtudes e forças


leituras pessoais, da gratidão, de convicções engessadas, Em 306 páginas, do crescimento esses estudiosos são o estudioso pós-traumático, do imensamente inspiradores, desenvolvimento ao apontar as necessidades, positivo da juventude, ainda existentes, de da Psicologia Positiva novos resultados acerca pela no contexto do de inúmeras variáveis, contemplação de trabalho, da educação e vislumbrando que e do contexto cultural são inesgotáveis os textos elaborados com em Psicologia Positiva. desdobramentos, ainda por Em suas 306 páginas, vir, no campo da ciência da o estudioso mais felicidade humana. encontrará muitas aguçado e apaixonado Não se trata de um livro de pesquisas, hipóteses, pela contemplação cabeceira para quem não está de textos elaborados abordagens, perspectivas procurando aprofundamento com refino acadêmico e atualização sobre as de encontrará muitas temáticas abordadas ou para pesquisas, hipóteses, ainda não conhece os e resultados quem abordagens, temas com maior substância. perspectivas de de muitas investigações É uma obra para ser lida, futuros estudos e com critério e reflexão, por resultados de muitas investigações. aqueles que desejam compreender o que há de Todos os artigos regados, muito novo nos temas abordados – o livro é de abundantemente, por referências 2017 – e que vislumbram, com muita seriedade, bibliográficas, a exemplo do capítulo participar de alguma forma do progresso e avanço sobre emoções positivas que, da Psicologia Positiva para o favorecimento de uma sozinho, referencia 242 artigos, vida significativa e feliz em nossa sociedade. estudos e publicações, permitindo Se eu indico a obra? Claro que sim. a quem deseja se aprofundar na Boa leitura. temática uma vantagem significativa. ANDRÉA PEREZ CORRÊA é pós-graduada em Psicologia Numa leitura, com fluidez precisa, Positiva e coaching, mestranda em Sistemas de Gestão na mas densa e nutrida de muito Universidade Federal Fluminense, membro-fundadora do conteúdo, temos contato com a Instituto Brasileiro de Psicologia Positiva (IBRPP), docente percepção de notórios estudiosos do MBA Desenvolvimento Humano e Psicologia Positiva do de cada um dos campos que aborda, Instituto de Pós-Graduação (IPOG). Dedica-se à disseminação da Psicologia Positiva e é criadora da Biblioteca Positiva. como: Sonja Lyubomirsky, Nansook E-mail: acorrea97@hotmail.com. Site: www.ibrpp.com.br. Park, Fred Luthans, Lea Waters, para Facebook Andréa: http://on.fb.me/1O97CZm. e Biblioteca não revelar tudo antecipadamente. Positiva: http://on.fb.me/1Mejd8T Mas, acima de tudo, o que permeia a fala desses estudiosos, e que conquista quem acredita na Ficha técnica transformação necessária no campo da ciência, é a lucidez e o Scientific Advances in Positive Psychology aguçado reconhecimento de que Autores: Meg A. Warren e muito há ainda a ser contemplado, Stewart I. Donaldson (Org.) pesquisado, conceituado, mesmo Editora: Praeger no que diga respeito aos temas já Páginas: 306 mais investigados. Desprovidos

mais aguçado e apaixonado

re no acadêmico

DIVULGAÇÃO

futuros estudos

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positive news

Conhecimento para um mundo melhor MENINAS NA MOLDÁVIA APRIMORAM SUAS HABILIDADES NA ÁREA DE EXATAS E TOMAM POSIÇÃO CONTRA A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

IMAGENS:GIRLSGOIT/DIVULGAÇÃO E FREEPIK

Sessenta e cinco meninas de 16 a 20 anos de 13 regiões da Moldávia aprenderam desenvolvimento web, robótica e impressão 3D na terceira edição do acampamento de verão GirlsGoIT que aconteceu de 21 a 30 de

julho em Chisinau, na Moldávia. A maioria das meninas interagiu pela primeira vez com uma impressora 3D para imprimir seus projetos, escreveu um código para um robô e criou suas primeiras páginas da web. Além de adquirir novas habilidades técnicas, as meninas também aprenderam mais sobre seus direitos. Em uma sessão organizada pela ONU Mulheres, as meninas participaram de uma discussão com a equipe da ONU Mulheres e Maia Taran, uma sobrevivente de violência e um “Campeão Positivo” que inspira outras mulheres sobreviventes de violência doméstica a buscar ajuda. (Fonte: http://www.unwomen.org/en/news/ stories/2017/9/feature-girls-in-moldova-honetheir-stem-skills-and-take-a-stand-againstdomestic-violence - Good News Agency)

Esta seção prestigia o trabalho da Good News Agency, que proporciona boas notícias às mídias do mundo inteiro, com material em inglês, italiano e português (clique no link para saber mais).

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positive news

Armas sob controle, diplomacia em evidência IRÃ ESTÁ CUMPRINDO SEUS COMPROMISSOS NUCLEARES, DIZ AGÊNCIA DA ONU O Irã está implementando seus compromissos sob “o mais robusto regime de verificação nuclear do mundo”, disse recentemente, em setembro, a agência de energia atômica das Nações Unidas (ONU), enquanto ao mesmo tempo lembrava a “grave preocupação” com o programa nuclear da Coreia do Norte. “Os compromissos nucleares adotados pelo Irã sob o JCPOA (Plano de Ação Conjunto Global) estão sendo implementados”, disse o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, na abertura da conferência geral anual da agência em Viena, na Áustria. Aprovado por unanimidade pelo Conselho de Segurança da ONU em 2015, o plano firmado entre cinco membros permanentes do Conselho (China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos), mais Alemanha, União Europeia e Irã, estabeleceu rigorosos mecanismos de monitoramento para limitar o programa nuclear iraniano, enquanto abria caminho para a retirada das sanções da ONU contra o país. Sobre a Coreia do Norte, foi solicitado que o país seguisse completamente suas obrigações

diante de todas as resoluções do Conselho de Segurança e da AIEA. O teste nuclear da Coreia do Norte em setembro, seu sexto e maior teste realizado até o momento, é lastimável, entendem dirigentes da ONU. Segundo seus executivos, a agência está trabalhando para manter sua prontidão para retornar à Coreia do Norte quando os desenvolvimentos políticos tornarem isso possível. Em 11 de setembro, o Conselho de Segurança decidiu de forma unânime ampliar as sanções contra a Coreia do Norte, incluindo limites para a exportação de petróleo para o país, banindo suas exportações têxteis e seu acesso a gás líquido e a inspeção mais próxima de navios de carga que chegam e saem de seus portos. O Conselho aprovou oito resoluções sobre o programa nuclear da Coreia do Norte desde que o país saiu do Tratado de Não Proliferação Nuclear em 2003, muitas delas envolvendo severas sanções. (Fonte: https://nacoesunidas.org/ira-estacumprindo-seus-compromissos-nucleares-dizagencia-da-onu/)

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A célula do hábito

IMAGENS: FREEPIK

DESCOBERTA PODE INSPIRAR MANEIRAS DE MODIFICAR COMPORTAMENTOS NOCIVOS

Hábitos certamente liberam nosso cérebro para que se ocupe de tarefas bem mais grandiosas que lembrar-se de um caminho efetuado diariamente ou escovar os dentes, trocar a marcha do carro ou o jeito certo de fazer a barba. O problema acontece quando automaticamente realizamos tarefas nocivas, como beber, fumar, ou mesmo adotamos uma certa dieta que, apesar de ser uma má escolha, nos parece indispensável. Até o presente momento, era sabido que redes de neurônios acabam sendo envolvidas na manutenção desses hábitos, bons ou ruins. A repetição desses comportamentos fortaleceria a circuitaria envolvida, em um sistema de retroalimentação do hábito. O que não se sabia é que um tipo único de neurônio – uma célula rara que

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possuímos – é o grande controlador de tal circuitaria. Inibi-lo com uma droga deu resultado em ratos dependentes de açúcar, fazendo com que os animais interrompessem o comportamento habitual de consumi-lo. Pesquisadores da Universidade de Duke são os responsáveis pelo achado, que, segundo eles, pode ser a chave para o controle de vícios, além de importante pista para a criação de mecanismos que fortaleçam hábitos saudáveis – dentre eles, quem sabe, o de cultivar as emoções positivas e o otimismo. PARA SABER MAIS: O’HARE, Justin K. et al. Striatal fast-spiking interneurons selectively modulate circuit output and are required for habitual behavior, eLife, 5 set. 2017.


positive news

ocê não est so inho, ACREDITE! TER A PERCEPÇÃO CORRETA SOBRE ISSO AFETA POSITIVAMENTE A SUA FELICIDADE Você não está sozinho, mas o simples fato de acreditar que isso é verdade pode afetar a sua felicidade, segundo um estudo da British Columbia em cooperação com a Harvard Business School e a Harvard Medical School. A pesquisa envolveu o contato com estudantes recém-chegados à universidade, que acreditavam que seus colegas tinham mais amigos do que eles e que passavam muito mais tempo se socializando. Bastava a crença nesse fato para que o bem-estar desses jovens fosse afetado – mesmo que este não fosse verdadeiro. O senso de entrosamento dos alunos também se modificou conforme a percepção que tinham sobre suas redes sociais quando em comparação com as dos colegas. Segundo os pesquisadores envolvidos, a natureza pública das atividades sociais é, provavelmente, o motivo pelo qual os estudantes sentem que seus colegas estão se saindo melhor socialmente. O achado dá pistas para outros estudos e iniciativas sobre relações sociais como suporte de bem-estar, dentro e fora do ambiente acadêmico.

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Quando emoções “negativas” nos auxiliam REAÇÃO EMOCIONAL APÓS FRACASSO MELHORA RESULTADOS EM UMA PRÓXIMA TENTATIVA Enquanto diversos estudos buscam identificar emoções e pensamentos envolvidos em reações ao sucesso ou ao insucesso, e possíveis consequências advindas destes, uma nova pesquisa trilhou um caminho diferente. Liderada por um professor de marketing da Universidade do Kansas, a investigação procurou comparar resultados provenientes de reações emocionais com aquelas advindas de processos cognitivos

envolvidos na elaboração de um fracasso. As primeiras, ao contrário das cognitivas, são mais eficazes em melhorar os resultados das pessoas na próxima vez que abordarem uma tarefa semelhante. Certos tipos de pensamento – quando a pessoa tende a racionalizar o insucesso, algo muito comum – poderiam, por sua vez, afetar a produtividade. Aceitar as emoções negativas seria o primeiro passo da elaboração bem-sucedida de um fracasso, rumo a uma performance melhor no futuro.

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PARA SABER MAIS: NELSON, Noelle; MALKOC, Selin A. & SHIV, Baba. Emotions know best: the advantage of emotional versus cognitive responses to failure. Journal of Behavioral Decision Making, 8 Set. 2017.

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positive wiki

Nesta seção você verá conceitos e definições da Psicologia Positiva abordados ao longo da revista. (Elaboração: Equipe IPPC)

Forças pessoais

Peak performance

A partir do conceito de felicidade como resultado de uma vida virtuosa, os pesquisadores estudaram vários códigos de conduta da cultura oriental e ocidental, tais como bíblia, alcorão, bushidô etc., procurando virtudes comuns a todos eles. Chegaram, assim, a seis virtudes: sabedoria, coragem, humanidade, justiça, moderação e transcendência. O próximo passo surgiu do questionamento: quais as características que um ser humano deveria ter para conquistar tais virtudes? Os pesquisadores chegaram, assim, a 24 características, as quais denominaram de forças pessoais. Nesse sentido, as forças pessoais são: • Gratidão • Bravura e Valor • Justiça e Equidade • Humor • Liderança • Perdão • Bondade e Generosidade • Cidadania • Entusiasmo e Energia • Criatividade e Originalidade • Curiosidade • Espiritualidade e Senso de Propósito • Apreciação da ele a e da E celência • Capacidade de Amar e Ser Amado • Humildade e Modéstia • Esperança • Amor pelo Conhecimento • Inteligência Social • Integridade e Autenticidade • Perspectiva e Sabedoria • Prudência • Pensamento Cr tico e ucide • Perseverança • Autocontrole e Autorregulação

Peak performance, ou performance de pico, é um conceito bastante confundido com o estado de flow. Porém, especialistas costumam fa er a seguinte diferenciação: flow seria um estado mental, enquanto a performance de pico diria respeito a um desempenho físico timo, ue por sua ve favoreceria o estado de flow.

Locus de controle

Trata-se de um constructo que visa explicar de onde o indivíduo percebe ser a fonte de controle de sua vida. Existem dois tipos de locus de controle: o locus de controle externo (quando o indivíduo percebe sua vida como sendo controlada por fatores externos a ele mesmo) ou o locus de controle interno (quando o indivíduo sente estar ele próprio no controle de sua vida). Embora oscilem entre essas duas percepções, as pessoas têm um estilo de locus de controle predominante, e na pesquisa de ilian ra iano sobre felicidade e locus de controle, essa pesquisadora encontrou uma correlação positiva significativa entre locus de controle interno e felicidade. (Para saber mais acesse: http://www.teses.usp.br/teses/ disponiveis/47/47131/tde-23052006164724/pt-br.php)

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Eudaimonia e hedonismo

O hedonismo se refere à busca por e periências pra erosas, en uanto a eudaimonia, um conceito originalmente formulado por Aristóteles, envolve ter propósito e direcionamento profundos na vida. A felicidade eudaimônica, proveniente de uma vida com significado, é aquela que se propõe nas bases da Psicologia Positiva.

Felicidade:

Partindo da ideia de felicidade de Aristóteles (eudaimonia), ainda no século IV a.C., a Psicologia Positiva acredita na felicidade como resultado de uma vida virtuosa. Não parte da ideia de que só devemos ter ocorrências positivas na vida para nos considerarmos feli es, mas, sim, colocarmos na balança todos os momentos e ter uma percepção positiva da vida, um foco no que há de bom e que pende a balança para uma vida feli

IMAGENS: FREEPIK

Savoring

Enquanto as correntes tradicionais da psicologia tendem a buscar meios de lidar com experiências negativas, a Psicologia Positiva busca ma imi ar os efeitos das experiências positivas. O savoring, por sua ve , visa saborear os bons momentos, e uma forma de intensificar e ampliar seus poderes, de modo a fa er as lembranças, reminiscências e antecipações positivas mais fortes e ativas do que as negativas em nosso funcionamento mental.

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Flow

O conceito de flow foi desenvolvido pelo psic logo Mihal Csi s entmihal i, ue, a partir do estudo do processo criativo, interessou-se pelo fenômeno da motivação intrínseca. O estado de flow, também chamado de e periência m ima, fa com que o indivíduo se envolva completamente na atividade que está exercendo, empregando nela aquilo que de melhor ele tem a oferecer. Por essa ra ão, nos momentos de flo , atividade e sujeito tornam-se um só. Ao agir na sua ona de e celência, o sujeito que experimenta o estado de flow não precisa de supervisão, controle ou qualquer tipo de monitoramento externo na medida em que a atividade exercida lhe é intrinsecamente recompensadora. O flow pode ser conseguido em qualquer tipo de experiência. Porém há pessoas que o conquistam no exercício profissional, tornando seu trabalho uma importante fonte de gratificação e, por extensão, de felicidade. Hoje já existem empresas no mundo todo interessadas em promover o flow no ambiente organi acional, numa t pica iniciativa na qual todos saem ganhando.


sua felicidade

Impermanente e imprevisível como o cotidiano

“F

elicidade é estar ciente da impermanência do mundo e, mesmo assim, acreditar na possibilidade de recriar a própria realidade. Felicidade tem diferentes cores para diferentes momentos da vida. Quando se é jovem, se tem status ou dinheiro, ela tem um signi cado uando se está velho, doente ou miserável, esse sentimento tão almejado ganha outros rumos. A gente nasce e morre só. Emprego, amigos e até valores mudam durante uma vida. Tudo é passageiro, menos você. Felicidade é estar presente no agora, ocupado em dar signi cados ao próprio existir. O resto é alfaiataria.” CRISTINA LIVRAMENTO, jornalista e fotógrafa, 44 anos. Escreve a coluna “Diário de uma ex-jornalista” (www.medium. com/@cristinalivramento) Instagram: @cristinalivramento

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