Morashá - Ed 114

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DESTAQUE

A história dos laços de Israel com Ucrânia e Rússia POR JAIME SPITZCOVSKY

Ao longo dos seus 73 anos de independência, Israel testemunhou diferentes momentos em suas relações com Moscou e com Kiev, da cooperação a enfrentamentos, dos boicotes a diálogos. E, em meio à tragédia da guerra entre Rússia e Ucrânia, o primeiro-ministro Naftali Bennett protagonizou um momento de ação diplomática no começo de março, buscando mediar uma solução negociada para o trágico conflito, com a invasão de território ucraniano por tropas russas.

B

ennett, a 5 de março, esteve no Kremlin, depois falou ao telefone com o líder ucraniano, Volodymir Zelensky, e, em seguida, voou a Berlim, para reunião com o premiê alemão, Olaf Scholz. Dialogou também, à distância, com o francês Emmanuel Macron e, segundo vários relatos na mídia israelense, tinha coordenado a iniciativa diplomática com Washington. Enquanto o ministro das Relações Exteriores, Yair Lapid, e o presidente de Israel, Chaim Herzog, condenavam com veemência a invasão da Ucrânia, Bennett buscava, ao mesmo tempo em que criticou o Kremlin, preservar algum canal de diálogo com o governo russo.

iniciativas, em 1947, para votação da Resolução 181, arquitetada para criar um Estado judeu e outro árabe, com o fim do mandato britânico na região. O voto soviético e de seus aliados foi favorável à criação de Israel. O cenário global testemunhava os primórdios da Guerra Fria, modelada pela bipolaridade da disputa entre EUA e URSS. O Kremlin estimulava o processo de descolonização, de olho em ampliar zonas de influência antes dominadas por potências coloniais, como Reino Unido e França. Com essa visão, Stalin deixou de lado as críticas bolcheviques ao Sionismo, descrito como “movimento nacionalista burguês”. O pragmatismo do Kremlin na política internacional contrastava com crescente antissemitismo implementado pela ditadura stalinista dentro das fronteiras soviéticas.

Bennett se movimentou diplomaticamente em um tabuleiro geopolítico, o da Europa Oriental, bastante conhecido dos israelenses pelos vínculos históricos, políticos, econômicos e culturais com a região. E, ao voltar aos anos de 1947 e 1948, verifica-se que a União Soviética do ditador Josef Stalin também desempenhou papel importante na criação do Estado de Israel.

A 14 de maio de 1948, Israel declarou sua independência, em seguida reconhecida pelas superpotências EUA e URSS. Países árabes, refratários à partilha da Palestina, invadiram o Estado judeu, numa guerra que se estendeu até 1949, com a vitória israelense.

“O Povo Judeu tem uma conexão com a Palestina por um longo período histórico”, discursou na ONU o embaixador soviético Andrei Gromyko quando das 30


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