Morashá - Ed 114

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BRASIL

Os militares brasileiros foram contra, mas o próprio Vargas intercedeu para conceder a permissão. É possível encontrar documentos nos arquivos do Itamarati com esses pedidos. O segundo foi de um historiador brasileiro (paraense), Cristovão Lins. Ele cita essa expedição em seu livro Jari – 70 anos de história. Consegui um exemplar em uma biblioteca, em Macapá. O terceiro foi um livro de 2008, do jornalista alemão Jens Glüsing, intitulado O projeto Guiana: uma aventura alemã na Amazônia, que não foi traduzido para o português. O autor também refez os passos dos alemães na Amazônia e revelou diversos documentos dos arquivos alemães. Também descobri no YouTube o filme (editado) sobre a expedição, que tinha o mesmo nome do livro e foi exibido nos cinemas alemães em 1938. Durante minha pesquisa, descobri que os alemães tinham a intenção de estabelecer uma base na América do Sul e essa expedição pretendia mapear a região. Isso está registrado

que falava português e ajudava na tradução e na comunicação com os nativos.

Na partida para o Pará: Kahle, SchulzKampfhenkel e o engenheiro Krause

na comunicação de Heinrich Himmler, alto comandante da SS, com Otto Schulz-Kampfhenkel, o chefe da expedição. Foram realizados voos de reconhecimento de terreno pela equipe, para escolher o melhor lugar para estabelecer uma base no continente – essa é uma das razões para que os alemães trouxessem um hidroavião para cá, que acabou debaixo d’água (um dos flutuadores do avião bateu em algum tronco de madeira do rio, causando o capotamento da aeronave). Otto era ainda jovem, 24 anos, assim como seu companheiro de empreitada, o piloto Gerd Kahle, com 26. Já no Brasil, foi contratado Joseph Greiner (o que morreu devido à malária), de 30 anos,

Nos arquivos federais alemães, há um documento chamado de Guayana-Projekt, no qual Otto recomenda explicitamente a invasão e a conquista da Guiana Francesa para marcar a presença alemã no continente, já que os ingleses tinham a Guiana e os holandeses, o Suriname. “A tomada das Guianas é uma questão de primeira importância por razões político-estratégicas e coloniais”, afirma ele, no documento. E Otto já tinha o caminho para fazer isso acontecer: aproveitar a amizade com os indígenas e as boas relações com o Brasil, cujo presidente, Getúlio Vargas, segundo ele, seria admirador de Hitler e Mussolini. Quando voltou para a Alemanha, Otto foi recebido com honras e foi aceito na SS, a principal agência de segurança nazista. Quando acabou a Guerra, ele foi capturado e preso pelos norte-americanos. Além de marcar a presença alemã na região, os nazistas queriam usar o local para ser base de seus submarinos. Eles tinham em torno de mil dessas embarcações. Por isso, precisavam de uma base para fazer manutenção e treinamento das equipes durante a Guerra, e aquela região seria ideal. Com a eclosão da 2ª Guerra e a atenção dos alemães voltada prioritariamente a seus vizinhos, e com a posterior derrota nazista, o projeto nunca saiu do papel.

Seguindo os passos da Alemoa Outra descoberta foi que, durante a expedição, eles deixaram uma

Membros da expedição alemã e caboclos da região

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