Morashá - Ed 114

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COMUNIDADES

elemento no imaginário antissemita ucraniano: a figura do “judeubolchevique”, do “opressor judeucomunista”, uma associação que iria custar aos judeus muito caro na década de 1940.

Domínio soviético Em 1934, Kiev tornou-se a capital da República Socialista Soviética da Ucrânia, a segunda mais poderosa, econômica e politicamente, república da URSS.

Em 1923 viviam na Ucrânia 1,5 milhão de judeus, desses 128 mil em Kiev e, em 1939, já eram 224 mil. Toda a população da URSS passara por um processo de proletarização e, em Kiev, os judeus passam a trabalhar nos órgãos burocráticos estatais ou do partido e nas indústrias estatais.

A Ucrânia sempre foi vista com desconfiança por Moscou. Os líderes soviéticos sabiam do enraizado nacionalismo ucraniano, e que teriam que enfrentar uma contínua resistência a menos que fizessem concessões à autonomia cultural de seu povo. No início da década de 1920, o regime soviético adotou uma política chamada korenizatsiya, em sentido literal, “arrancar raízes”. O lema era “nacionalista em sua forma, mas socialista em seu conteúdo”. Os judeus foram incluídos na korenizatsiya, como uma minoria cultural distinta. Essa política acrescentaria mais um conflito aos existentes entre os judeus e os ucranianos. Esse últimos acreditavam que os judeus ucranianos deviam se “assimilar” totalmente à sua cultura.

CERTIFICADO EM NOME DE E.I.SHRAER, ATESTANDO TER COMPLETADO O CURSO DE ELETROMECÂNICA NA ESCOLA TÉCNICA JUDAICA DE KREMENCHUG, 1930

Acuados pelo nacionalismo ucraniano intrinsecamente antissemita, os judeus optaram por se aproximar dos russos. Essa aproximação e o fato de muitos judeus terem tido participação na Revolução Russa fez com que eles passassem a ser associados com os bolcheviques e a opressão soviética. Surge, então, mais um

TEATRO IÍDICHE ESTATAL, KIEV. CARTAZ DO REPERTÓRIO ITINERANTE EM IÍDICHE E UCRANIANO, CHERNOVTSI, 1945

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Nos primeiros anos do domínio soviético a maioria dos judeus (76%) ainda falavam iídiche, e Kiev continuava sendo um centro de cultura iídiche, desprovida, no entanto, de qualquer conteúdo religioso.

O ateísmo como ideologia política A União Soviética abraçara o ateísmo enquanto parte da sua ideologia política. Apesar do governo soviético realizar campanhas contra o antissemitismo até o início dos anos 1930, a religião judaica era, no minimo, malvista. As duas principais sinagogas de Kiev foram transformadas em “clubes para artesãos” e os soviéticos entregaram a condução da comunidade judaica à Yevsektsiya, a seção judaica do Partido Comunista. Todos os seus esforços visavam romper os vínculos judaicos com sua religião, fechar as instituições comunitárias e prender os sionistas. Em 1921, a Yevsektsiya organiza uma farsa judicial colocando o Judaísmo no banco dos réus. Este é acusado e condenado, por ser o responsável pela “opressão burguesa da classe operária judia”.


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