shoá
referindo-se às experiências. Ao que Mengele respondeu: – “Meu amigo, isto vai ser útil para a posteridade e vai continuar sempre, sempre, sempre”.V
Médicos julgados em Nuremberg por crimes de guerra e contra a humanidade, 1947
EXPERIMENTOS COM BOMBAS INCENDIÁRIAS Entre novembro de 1943 e janeiro de 1944, em Buchenwald, o Dr. Ding-Schuler testou o efeito de vários preparados farmacêuticos de fósforo. Estas queimaduras com fósforo extraído de bombas incendiárias foram infligidas a mil prisioneiros, muitos dos quais não sobreviveram.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Em 9 de dezembro de 1946, iniciouse o Julgamento dos Médicos, em Nuremberg, quando foram julgados 23 médicos considerados criminosos de guerra. Foram ouvidas 54 testemunhas e 117 acusações. Em 19 de agosto de 1947 conheceuse o veredito, que condenou à morte sete dos acusados. Outros sete foram absolvidos e os demais foram condenados à prisão, com penas variadas. E nós perguntamos: Onde ficaram as centenas de médicos, professores, cientistas, físicos que apoiaram o Regime Nazista? Como ficaram suas descobertas?
referências
Müller-Hill, 193, p.106 II Cornwell, 2003, p. 316 III Koren, 2006, p.86 IV Spitz, 2005, p. 209 V Spitz, 2005, p. 115 I
Andrew Ivy, médico que representou a Associação Médica Americana, afirmou que os médicos que foram julgados eram de menor expressão. Todos os demais haviam fugido ou tinham sido recrutados por outros países. Durante o julgamento, a testemunha Zofia Macska, sobrevivente, perguntou: “Que tipo de recompensa o mundo pode oferecer àqueles que passaram pelas experiências? Que tipo de penalidade pode a Justiça oferecer àqueles que causaram estas experiências?”IV Fica a questão e a reflexão: Como foi possível que cientistas, médicos conceituados, acadêmicos tivessem endossado uma ideologia desprovida de humanidade, ética e moral? Pode a ciência aproveitar dessas experiências assassinas? Hoje em dia, como consequência dos abusos cometidos pelos nazistas, há Códigos de Ética Médica e normatizações que começaram a ser redigidos com base nos julgamentos médicos de Nuremberg e que norteiam a pesquisa científica que envolve seres humanos. Conforme cita Benno Müller-Hill, sob o título “Advertência”: – “Afinal, quando vai terminar este extermínio?” perguntou o Dr. Nyiszli ao Dr. Mengele, em Auschwitz, 74
Apesar dos crimes de guerra cometidos, ao término da 2ª Guerra Mundial cientistas e médicos nazistas receberam imunidade e emigraram para os Estados Unidos, União Soviética e outros países aliados. Esses países estavam interessados em suas inovações científicas: agentes nervosos como o gás Sarin, tratamento contra malária, metanfetaminas, bem como suas descobertas sobre desidratação, hipotermia e hipóxia, entre outras. Todos eles fruto de “avanços” gerados a partir de experimentos humanos em campos de concentração. Sendo assim, constitui uma triste realidade o fato de que “avanços científicos” imoralmente conseguidos pelos nazistas infectem o corpo do conhecimento científico e biomédico mundo afora, enquanto as vítimas desses carrascos, aqueles que passaram pelas piores torturas para se chegar a esses “avanços científicos”, nunca tenham obtido justiça. BIBLIOGRAFIA
Koren, Yehuda e Negev, Eilat. Gigantes no Coração. Ed. Relume Dumará, Rio de Janeiro, 2006. Cornwell, John. Os Cientistas de Hitler, Ed. Imago, Rio de Janeiro, 2003. Muller-Hill, Benno. Ciência Assassina. Ed. Xenon, Rio de Janeiro, 1993. Spitz, Vivien. Doctors from Hell, Sentient Publications, United States of America, LLC, 2005. Bibliografia na íntegra disponível no site www.morasha.com.br Silvia Rosa Nossek Lerner é especializada em Estudos sobre o Holocausto, com graduação em Direito, História e Pedagogia. Tem pós-graduação em História do Século XX e Mestrado em Psicanálise, Sociedade e Cultura.