FLORIANÓPOLIS
289 anos
Floripa
é nº 4 • Março 2015
ENTREVISTA
Prefeito Cesar Souza Jr. revela suas metas para a segunda metade do mandato ECONOMIA
Como Florianópolis se tornou referência internacional no mercado de startups SAÚDE
Atividade física ao ar livre cresce na capital menos sedentária do país
VOU DE BIKE
Com Com o o USO USO DA DA BICICLETA BICICLETA COMO COMO MEIO MEIO DE DE TRANSPORTE TRANSPORTE AUMENTANDO AUMENTANDO A A CADA CADA DIA, DIA, A A CIDADE CIDADE BUSCA BUSCA SOLUÇÕES SOLUÇÕES PARA PARA DAR DAR MAIS MAIS MOBILIDADE MOBILIDADE EE SEGURANÇA SEGURANÇA AOS AOS CICLISTAS CICLISTAS
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editorial l índice l
minha cidade l #floripa l entrevista l mobilidade l saúde l urbe l empreendedores l economia l gastronomia l cultura l esporte l grupo RIC
Gustavo Almeida @gu2702 Praia do Campeche
CAPITAL BRASILEIRA DA QUALIDADE DE VIDA Conhecida em todo o mundo como um dos principais destinos turísticos do país, a capital catarinense tem qualidades de sobra para atrair muito mais que visitantes temporários. É cada vez maior o número de pessoas que estão escolhendo Floripa para morar, vindas de diferentes estados brasileiros em busca principalmente de uma coisa: qualidade de vida. Além da proximidade com o mar e da paisagem exuberante, há algo na cidade que nos inspira a viver com mais saúde, a cuidar melhor do corpo e da mente. Não é à toa que pesquisas apontam Florianópolis como uma das cidades brasileiras onde mais se praticam atividades físicas regularmente e também como a segunda capital com maior percentual de trajetos percorridos utilizando bicicletas. São estes dois assuntos – que envolvem questões como mobilidade, saúde e até mesmo economia – o foco principal desta quarta edição da revista Floripa É, em reportagens que aprofundam as discussões entre a população, a sociedade civil organizada e o poder público. Ainda nesse contexto, abrimos espaço para debater o futuro do transporte público na cidade com uma matéria que explica as mudanças ocorridas neste serviço essencial para a população após a implantação do novo modelo de gestão do Sistema Integrado de Mobilidade (SIM). Completando o conteúdo desta edição que comemora os 289 anos de Florianópolis, a revista Floripa É traz ainda um panorama da cidade como ela é hoje, envolvendo seus aspectos culturais, naturais, históricos e econômicos em uma série de reportagens que vão te fazer conhecer melhor a cidade que encanta tanto os visitantes quanto seus velhos e novos moradores. Marcello Corrêa Petrelli Presidente-Executivo Grupo RIC SC
FLORIPA É l 2015
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índice l minha cidade l #floripa l entrevista l mobilidade l saúde l urbe l empreendedores l economia l gastronomia l meio ambiente l cultura l esporte l grupo RIC
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minha cidade
ROBERTO COSTA GAZU SANDER DeMIRA
18 RETRATOS DA ILHA 20 UMA NOVA FASE PARA A PREFEITURA 24 A HORA E A VEZ DAS BIKES #floripa
FUNDADOR e Presidente Emérito
Mário J. Gonzaga Petrelli
Grupo RIC SC
entrevista
mobilidade
presidente-Executivo Luiz F. Gevaerd @n
andogevaerd For
Marcello Corrêa Petrelli
te e Ponte
Diretor Comercial
Reynaldo Ramos
NOVOS RUMOS NO TRANSPORTE
Diretor Administrativo e Financeiro
32 CIDADE EM MOVIMENTO 36 TEMPORADA DE ACERTOS saúde
Albertino Zamarco Jr. Diretor de Redação Notícias do Dia
urbe
Luís Meneghim
FLORIPA É TOP NOVO MERCADO: ATÉ QUANDO ESPERAR? SÁBADO É DIA DE FEIRA DA LONA AO CAMELÓDROMO MOTIVOS PARA COMEMORAR
GERENTE RIC Editora
Paulo Arthur Moreira Schenk
Revista FLORIPA É Coordenação Heloisa Najar @heloisanajar Mar Doce Lar
Editor-executivo
52 PARA BEBÊS MODERNOS empreendedores
Diógenes Fischer REPORTAGEM
APOSTANDO NO BÁSICO TRADIÇÃO RENOVADA
Ana Carolina Brambilla, Daniela Pacheco, Fábio Bianchini, Jerônimo Rubim, Juliete Lunkes, Letícia Mathias, Letícia Kapper, Marco Túlio Brüning,
58 A ILHA DAS STARTUPS economia
Matheus Joffre, Mônica Pupo e Stefani Ceolla fotografia
ESTAGNAÇÃO IMOBILIÁRIA UM SÉCULO DE ENGAJAMENTO
70 DO MAR À MESA 76 CONHECER PARA PRESERVAR 80 SURPRESA EM ACORDES FOLK
Fernando Willadino Diagramação
gastronomia
Diógenes Fischer Alessandra Giacomin @alegiacomin Armação
FOTO DA capa
Vinícius Leyser da Rosa (Divulgação)
meio ambiente
REVISÃO
Lu Coelho
cultura
Distribuição
RIC Editora
UM CIRCO SÓ DELA SAUDADE CRIATIVA
86 UM MANEZINHO NO OCTÓGONO 92 ESPALHANDO O BEM PELA CIDADE
IMPRESSÃO
Coan Gráfica
esporte
www.ricmais.com.br/sc/revistafloripae
grupo RIC
LIGADO EM FLORIPA
Paulo Arthur Moreira Schenk
Chiara Chiriani @chthet
FLORIPA É l 2015
raveler Praia do Santinh
o
Avenida do Antão, 1857 Altos do Morro da Cruz – Centro CEP 88025-150 – Florianópolis/SC (48) 3251 1440
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.Fábio Bianchini NMarco Santiago e Rosane Lima (Arquivo ND)
minha cidade l #floripa l entrevista l mobilidade l saúde l urbe l empreendedores l economia l gastronomia l meio ambiente l cultura l esporte l grupo RIC
TESOURO ARQUEOLÓGICO “Instalado dentro do Colégio Catarinense, o Museu do Homem do Sambaqui é um lugar surpreendente. Foi montado pelo Padre João Alfredo Rohr, pesquisador que reuniu um grande material arqueológico sobre o Homem do Sambaqui, que viveu na nossa costa há mais de 4 mil anos.” O museu fica na Rua Esteves Júnior, 711, Centro. Visitas devem ser agendadas. (48) 3251 1516.
HISTÓRIA NAS RUAS
A FLORIANÓPOLIS DE
ROBERTO COSTA
O PRESIDENTE DE UMA DAS MAIORES AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE DO ESTADO NOS LEVA PARA CONHECER CINCO DE SEUS LUGARES PREFERIDOS NA CAPITAL
“O centro histórico de Santo Antônio de Lisboa com seu casario colonial, a
Para o empresário Roberto Costa, é difícil indicar apenas cinco locais a serem aproveitados
igreja do século 18, a Feira das Alfaias,
em Florianópolis. Mesmo depois de suas escolhas, ele não para de lembrar: “Ainda poderia
o circuito gastronômico e a linda vista
indicar a Ilha do Arvoredo, os três fortes construídos pelos portugueses para guardar a
para a Baía Norte são alguns dos lugares
entrada da Baía Norte, a pedra/cama da Ponta do Gravatá. Não falei do Emporium Bocaiúva,
imperdíveis da nossa cidade.”
do Armazém Vieira e do Box 32, dos 35 melhores restaurantes relacionados no livro
Santo Antônio de Lisboa fica a 17 km do Centro.
Gourmandises Catarinenses, do delicioso pastel de camarão do Bar do Quinha”, prossegue.
Depois da Av. da Saudade, entre à esquerda para a
Costa é presidente da Propague, uma das três agências brasileiras de publicidade mais
SC-401 e siga mais 10 km até a entrada do bairro.
antigas entre as que seguem em atividade. Ele chegou à empresa ainda na década de 1970, na área criativa, e acabou se tornando sócio e diretor.
ENCANTO AÇORIANO
PARAÍSO ESCONDIDO
A LAGOA VISTA DE CIMA
“A Lagoinha do Leste é uma praia
“É magnífica a vista do alto do Morro da
com traços açorianos, a charmosa
preservada com acesso pelo mar ou por
Lagoa com a histórica igreja numa colina
Igreja Nossa Senhora da Lapa e ótimos
uma trilha que passa por costões e mata
à esquerda, as duas partes da Lagoa da
restaurantes especializados em ostras
nativa. A dificuldade do passeio compensa
Conceição, dividida pela pequena ponte,
e frutos do mar. Vale uma visita ao
quando se vislumbra toda a beleza em
e as dunas com a Joaquina ao fundo.
Ecomuseu Açoriano, que descreve a vida
volta e se chega à mais bela praia da Ilha.”
Vista para cobrar ingresso.”
rural e os hábitos dos imigrantes.”
Duas trilhas levam à Lagoinha: a da Praia do
O Mirante está a 11 km do Centro, seguindo pela
O Ribeirão da Ilha fica a 23 km do Centro e tem
Matadeiro (8 km) e a do Pântano do Sul (4 km).
Rod. Admar Gonzaga (SC-404) até o alto do morro.
como via principal a Rod. Baldicero Filomeno.
FLORIPA É l 2015
“O Ribeirão da Ilha rivaliza com Santo Antônio pelo conservado centrinho
PARABÉNS, FLORIANÓPOLIS PELOS SEUS 289 ANOS.
UMA HOMENAGEM DA ESTÁCIO VIEIRA ANDRÉ MATOS / WDG CONTENT MEDIA
CONSTRUINDO COM VOCÊ UM FUTURO MELHOR
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.Fábio Bianchini NDivulgação / Daniel Queiroz (Arquivo ND)
minha cidade l #floripa l entrevista l capa l saúde l mobilidade l urbe l empreendedores l economia l gastronomia l meio ambiente l cultura l esporte l grupo RIC
A FLORIANÓPOLIS DE
GAZU
O VOCALISTA DO DAZARANHA TE CONVIDA PARA DAR UM ROLÊ PELA ILHA
LAGOA ENCANTADA “Para quem gosta de natureza e trilhas, a Lagoinha do Leste proporciona uma caminhada de cerca de uma hora em ambiente totalmente preservado, mar limpo e areia branca. Além do
Sandro Costa, o Gazu, está acostumado a cantar Florianópolis. Há mais de
mar, ainda tem a lagoa rasa com água
20 anos é vocalista do Dazaranha e várias das letras da banda falam sobre a
quente.”
cidade: suas belezas, suas particularidades irônicas, seus aspectos culturais,
Duas trilhas levam à Lagoinha: a da Praia do
mas também seus problemas, sempre com olhar atento e fugindo do óbvio. Em
Matadeiro (8 km) e a do Pântano do Sul (4 km).
2013, lançou seu primeiro disco solo. Como não podia deixar de ser, suas dicas
.
são de quem tem intimidade com a Capital. “Florianópolis hoje oferece mais
PERTO DA NATUREZA
opções para vários tipos de pessoas. Às vezes o mesmo lugar pode propiciar alternativas diferentes para pessoas diferentes, então é só ver quais seus interesses e aí correr atrás”, resume Gazu.
“A Praia do Campeche é o endereço ideal para quem busca o contato com a natureza. Fica perto do Centro, tem boas ondas e areia branquinha. A água transparente é um atrativo à parte.” A Praia do Campeche fica no Sul da Ilha, a 14 km do Centro, seguindo pelo Túnel Antonieta de Barros, passando pela Rodovia Gov. Aderbal Ramos da Silva e pela SC-405 até entrar à esquerda, na Rua Pequeno Príncipe.
CULTURA NO BALCÃO
TRADIÇÃO E AGITO
“Não há lugar melhor que o Mercado
“Outro endereço típico e disputado
Público para ter o contato com a cultura
na cidade é Santo Antônio de Lisboa.
“O Lagoa Bonita, na Costa da Lagoa, serve
e os costumes típicos da Ilha. Vale muito
Os restaurantes apresentam comida
comida típica, simples e de ótima qualidade.
a pena explorar os restaurantes e bares
típica mais elaborada, com ostras,
Uma boa opção é começar com porção de
do local – é muito peixe! Ótima opção
mariscos, peixes... Tem também uma
camarão à milanesa, depois uma porção de
para quem procura entrar em contato
vida noturna com música ao vivo e
tarapeva frita e uma moqueca de caranha.
com o povo ilhéu.”
uma comunidade que sabe receber
Além da boa comida, tem o clima de
O Mercado Público fica na Rua Conselheiro
o turista. É lá também o melhor
vilarejo, com as casas sem muros entre os
Mafra, Centro. As lojas ficam abertas das 7h às
carnaval de Floripa.”
terrenos, o banho de lagoa...”
19h em dias úteis e das 7h às 13h aos sábados.
Santo Antônio de Lisboa fica a 17 km do Centro.
www.restaurantelagoabonita.com.br
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SIMPLES E DELICIOSO
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.Fábio Bianchini NDébora Klempous e Flávio Tin (Arquivo ND)
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A FLORIANÓPOLIS DE
sander demira
SABORES DA COSTA
UNINDO AMBIENTES URBANOS COM BELEZAS NATURAIS, O PRESIDENTE DA ACIF SUGERE UM ROTEIRO COM CINCO LUGARES PARA SE APRECIAR TODA A BELEZA DA CIDADE Em 2015, a Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (ACIF) completa 100 anos. O presidente da associação, Sander DeMira, é empresário do setor de entretenimento.
“A partir do Parque do Rio Vermelho, fazer
Florianopolitano de nascença, dedica-se com carinho especial aos detalhes quando
a travessia de baleeira até os restaurantes
vai descrever o que mais o atrai na cidade. Suas indicações observam tanto as belezas
da Costa da Lagoa é um programa
naturais quanto os aspectos urbanos, a ocupação humana e a interação de todos esses
que recomendo muito. O passeio nas
fatores. Faz questão de destacar também o papel da ACIF na preservação e valorização
embarcações é lindo e as opções de
do espaço da cidade, como no caso do Centro Histórico. “Andar pela região que abrange a
restaurantes, com a comida típica da Ilha,
Praça XV, a Catedral e o Palácio Cruz e Sousa nos permite conviver com muito da história de
são ótimas.”
Florianópolis”, observa o empresário.
O Parque do Rio Vermelho fica na região nordeste da Ilha, a 38 km do Centro.
PAISAGEM ÚNICA “Não é exatamente um lugar, mas gosto da vista aérea da cidade em dias de céu claro. Do alto, os morros, as praias, os prédios, a ponte, enfim, os elementos todos que tão bem conhecemos formam uma paisagem única, que ajuda a explicar por que tantas pessoas são apaixonadas pela nossa capital.” O Mirante do Morro da Cruz fica no Centro, com acesso pela Avenida do Antão. De lá é possível avistar até seis bairros da cidade.
AVENIDA DA SAÚDE
ONDE TUDO COMEÇOU
DE ENCHER OS OLHOS
“No entorno da Praça XV, além da beleza
“A paisagem do Mirante do Morro das
pessoas caminham e praticam esportes,
de prédios como o Palácio Cruz e Sousa e o
Pedras é deslumbrante, com a vista do
numa mostra desse gosto pela atividade
casario antigo, há também os desenhos do
costão e das praias. Além disso, o que
física que é tão característico dos
piso da praça feitos pelo mestre Hassis que
mais chama a atenção ali é a cor da água,
moradores daqui. À noite, iluminada e
retratam tão bem aspectos e personagens
especial.”
com a intensa movimentação de carros,
da Ilha de tempos atrás, como a rendeira e
O Morro das Pedras fica a 18 km do Centro,
a avenida ganha uma nova cara.”
o pombeiro.”
seguindo pela SC-405 até o Trevo do Erasmo
A Avenida Beira-Mar Norte, oficialmente chamada
A Praça XV fica no Centro da cidade.
e ali entrando à esquerda para a SC-406.
Avenida Rubens de Arruda Ramos, fica no Centro.
FLORIPA É l 2015
“Na Beira-Mar Norte, centenas de
SAC Sicredi - 0800 724 7220 / Deficientes Auditivos ou de Fala - 0800 724 0525. Ouvidoria Sicredi - 0800 646 2519.
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minha cidade l
#floripa l entrevista l capa l saúde l mobilidade l urbe l empreendedores l economia l gastronomia l cultura l meio ambiente l esporte l grupo RIC
RETRATOS DA ILHA Chiara Chiriani @chthet
Através das lentes de seus celulares, usuários do aplicativo Instagram compartilham belos flagrantes do dia a dia na cidade
Heloisa Najar @heloisanajar Ilhas
Luiz Fernando Gevaerd
@nandogevaerd Beira-M
Três Irmãs
raveler Costão dos Ingle
ses
Gustavo Almeida @gu2702 Praia do
Santinho
ar Nor te
Juliana Schiavo @julyschiavo Ponte Hercílio Luz
Cleudon Jr. @donjrjr Praia da Lagoinha
Phil de Rozarieux @phildezar 1 Lagoa FLORIPA É l 2015
da Conceição
Angelita Oliveira @angelitaof Campeche
Maryani Fuzetti Loureiro @maryfuze
tti Canasvieiras
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Rosana Oliveira @miss.r
oses Canasvieiras
Luiz Fernando Gevaerd @nandogev
aerd Jurerê Internacional
Heloisa Najar @heloisanajar Vento terral
Chiara Chiriani @chthetraveler Praia do Campeche 2 Pântano Gustavo Almeida @gu270
do Sul
Gabriela Grimes @gabygrimes Coruja
buraqueira
Heloisa Najar @heloisanajar Praia da Armação Thiago Araújo @thieicosaraujo Igreja
Gabriela Grimes @gabygrimes Praia
de Jurerê
Vitória Borba @vitoriasb9
de Sto. Antônio de Lisboa
5 Prainha da Barra da Lag
FLORIPA É l 2015
Isabele Azevedo @beleaz
evedo Figueira da Praç
a XV
oa Alessandra Giacomin @alegiacom
in Catedral
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minha cidade l #floripa l
entrevista l capa l saúde l mobilidade l urbe l empreendedores l economia l gastronomia l meio ambiente l cultura l esporte l grupo RIC
UMA NOVA FASE PARA A PREFEITURA Em entrevista exclusiva, O prefeito Cesar Souza Júnior fala sobre o aumento do IPTU, a POLÊMICA DA PontA do Coral, AS obras EM ANDAMENTO e o que sonha para o futuro da cidade Depois de dois anos dedicados a “arrumar a casa”, o prefeito Cesar Souza Júnior promete entrar agora na fase de execução de obras. No leque de ações estão a conclusão do Mercado Público, o restauro da Casa de Câmara e Cadeia e a construção de corredores exclusivos para ônibus. Como desafios, o prefeito cita os já enfrentados, como o embate em torno do aumento do IPTU e as recentes críticas causadas pela aprovação do empreendimento na Ponta do Coral. Garante, no entanto, que encontrou o equilíbrio, e que um mandato não se faz apenas de medidas “simpáticas”. No aniversário de Florianópolis, faz um pedido à população: “Todo mundo pode ter um pequeno gesto de gentileza com a cidade”. Como o senhor analisa seu mandato até aqui? Destacaria os prêmios que a cidade tem recebido. Fomos recentemente eleitos pela revista Exame como a melhor cidade do país para criar seus filhos. Isso deve-se aos nossos índices em saúde, educação, renda, assistência social, segurança. Recebemos também do Ministério da Saúde o prêmio como a primeira capital brasileira a atingir 100% de cobertura do
programa Saúde da Família. Outras premiações que havíamos recebido são de melhor saúde pública entre as capitais brasileiras, o melhor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) nas séries iniciais, a
“Foram dois anos de arrumar a casa para a gente avançar. E agora vem a exteriorização das obras que foram viabilizadas nos anos iniciais” maior cobertura em educação infantil entre as capitais brasileiras, a melhor capital do Brasil para se empreender. Tudo isso mostra que conseguimos avançar muito nesses dois anos. O que a população deve esperar para 2015 e 2016? Agora vai para um outro momento, que é o momento das obras, da meFLORIPA É l 2015
lhoria do transporte público, dos corredores de ônibus, com obras que já se iniciaram, o elevado do Rio Tavares. É o ano das pavimentações, das revitalizações de praças, da abertura da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Continente, da construção de mais dez creches. Ou seja, foram dois anos de arrumar a casa para a gente avançar. E agora vem a exteriorização das obras que foram viabilizadas nos anos iniciais. Há duas questões polêmicas debatidas no início deste ano. Uma delas é o aumento do IPTU, que passou pela Justiça, por um embate na Câmara, e agora chega à população. Como o senhor avalia a questão? Quem quer que sentasse na cadeira em que eu estou sentado e tivesse o mínimo de responsabilidade teria que fazer esse processo. Parece que só aumentou, mas eu recebi diversas pessoas do IPTU Social que tiveram redução. Eu tenho absoluta noção do preço político que paguei por isso, mas quando me elegi prefeito não me elegi só para tomar as medidas simpáticas. Se eu só tomo medidas simpáticas certamente vou desagradar a cidade no futuro. Cabe agora a gente mostrar em obras e ações que esse recurso vai ser bem aplicado.
21 .Stefani Ceolla NDaniel Queiroz (Arquivo ND)
“Sou criticado por alguns que querem transformar Florianópolis em uma Dubai e outros que querem transformar em uma reserva ecológica” relação ao trânsito, que vai piorar muito naquele ponto. Como resolver esse problema? É o que está pendente para aprovar o projeto: a demonstração por parte do empreendedor de ações mitigatórias que resolvam o trânsito no local. O alvará está submetido a isso. Se o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF) entender que o proposto não é o correto, a obra não sai. Vai ter que ser feita pista de desaceleração, passarela para pedestre, a comunicação com o corredor de ônibus que vai passar pela frente. A aprovação da obra da Ponta do Coral é alvo de muitas críticas. Como o senhor as recebe? Fui criticado quando eu disse que o outro projeto não poderia ser feito, que seria o triplo do atual. Meu posicionamento guarda absoluta linha de razoabilidade com o que eu falei na campanha: eu era contra aterrar o mar para fazer um projeto gigantesco. Agora, o projeto como ficou, que é um terço do que seria, vai usar a área que ele tem. As pessoas falam em fazer um parque. Mas são R$ 100 milhões para indenizar o proprietário, é mais do que a gente vai arrecadar com o
incremento da receita do IPTU. É um terço do que a gente tem para manter a saúde. Eu também gostaria de ver um parque ali, se tivesse dinheiro para pagar o terreno. Não tendo essa possibilidade, a prefeitura é obrigada a permitir que o empreendedor exerça seu direito. Sou criticado por alguns que querem transformar Florianópolis em uma Dubai e outros que querem transformar em uma reserva ecológica, mas tem que ter equilíbrio. E o equilíbrio foi encontrado. Uma crítica que o senhor fez a essa obra durante sua campanha era em FLORIPA É l 2015
A mobilidade urbana é hoje uma das principais preocupações do morador de Florianópolis. Que medidas estão sendo tomadas para melhorar a situação do trânsito? Estamos trabalhando no Plamus com os demais municípios da região metropolitana e os projetos estão alinhados. O que não podemos fazer é o que sempre foi feito: deu problema ali, faz um elevado sem nenhum critério. Você abre caminhos e depois vai correndo atrás dos problemas. Temos hoje um sistema já aprovado pelo Ministério das Cidades de faixa exclusiva para ônibus. O que cabe no
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NDaniel Queiroz (Arquivo ND)
nosso bolso hoje é isso. Não vou executar tudo nesse mandato. Também aguardamos que o Estado avance na parte que lhe cabe, com novos acessos ao aeroporto e ao Sul da Ilha, que, somados ao elevado do Rio Tavares, darão um alívio para aquela região. Temos hoje uma visão geral, um projeto integrado aos demais municípios, e todas as obras que são executadas se comunicam com esse projeto. Há questões que não são de responsabilidade da prefeitura, mas afetam diretamente a vida da população, como a ponte Hercílio Luz e o aeroporto. O senhor está acompanhando estas questões? Confio muito que a ponte, com a ida do governador aos EUA e trazendo para cá a empresa que a construiu, terá uma solução. Até porque ela não é importante só como patrimônio histórico, é a ligação mais curta que temos entre a ilha e o continente. Em relação ao aeroporto, nós temos assegurado da Secretaria Nacional de Aviação
“Sonho com uma cidade que continue sendo referência para o Brasil. Já somos o melhor lugar do país para empreender e para criar os filhos” Civil a retomada das obras tão logo o orçamento seja aprovado, com a segunda colocada entrando. O atraso no aeroporto é um problema brutal do ponto de vista econômico. Podíamos ter muito mais linhas, inclusive internacionais. No verão negaram novos voos para cá. Isso acarretou em outro problema: o encarecimento do preço da passagem. Havia muita demanda FLORIPA É l 2015
para vir para Florianópolis e pouca oferta de malha aérea. Chegamos a ter, em momentos do verão, passagens de R$ 1.800 entre São Paulo e Florianópolis a ida. É o preço de uma passagem para os Estados Unidos. No aniversário da cidade, o que o senhor sonha para o futuro de Florianópolis? Sonho com uma cidade que continue sendo referência para o Brasil. Já somos inegavelmente o melhor lugar do país para empreender e para criar os filhos. Que a gente siga avançando também na mobilidade urbana, com um sistema que faça o trabalhador deixar o carro em casa e usar o ônibus para trabalhar. Desenvolvimento com qualidade. Por exemplo: o antigo Plano Diretor permitia prédios em Santo Antônio de Lisboa, na Lagoa... Não vai ter mais! Florianópolis é hoje a cidade com o maior número de áreas preservadas do Brasil. Mais da metade do nosso solo é área de preservação. Cabe a nós, agora, cuidarmos bem disso.
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minha cidade l #floripa l entrevista l
mobilidade l saúde l urbe l empreendedores l economia l gastronomia l meio ambiente l cultura l esporte l grupo RIC
A HORA E A VEZ DAS BIKES
Na Avenida Beira-Mar Norte está uma das mais antigas e mais frequentadas ciclovias da capital catarinense
FLORIPA É l 2015
25 .Jerônimo Rubim NFlávio TIn (Arquivo ND)
COM UM NÚMERO CADA VEZ MAIOR DE PESSOAS USANDO A BICICLETA PARA SE LOCOMOVER PELA CIDADE, FLORIANÓPOLIS SE ESFORÇA PARA MELHORAR A ESTRUTURA E A SEGURANÇA DE SUA MALHA CICLOVIÁRIA
FLORIPA É l 2015
Florianópolis está entre as grandes cidades no Brasil onde mais se usa a bicicleta como meio de transporte. Foi o que apontou o estudo “Ciclo-inclusão na ALC: Guia para impulsionar o uso da bicicleta”, realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e divulgado em fevereiro durante o 4º Fórum Mundial da Bicicleta em Medellín, na Colômbia. A pesquisa abrangeu 38 cidades da América Latina e do Caribe, entre elas cinco capitais brasileiras. Com 2,8% dos trajetos feitos por bicicleta, Floripa ficou com o segundo lugar no país, atrás apenas do Rio de Janeiro, com 3,2%. Mas tanto na opinião dos ciclistas locais quanto na comparação com outras cidades latino-americanas ainda é muito pouco. No ranking estabelecido pela pesquisa do BID, estão à frente cidades como Rosário (5,3%), na Argentina, e Bogotá (5%), capital da Colômbia. Isso só para ficar na América Latina. Quando se compara estes índices com cidades como Amsterdã, na Holanda – onde o percentual dos deslocamentos chega a 30% –, percebe-se que há muita margem para se ampliar o uso da bicicleta por aqui. A pesquisa do BID mensurou também a infraestrutura instalada para ciclistas em cada cidade. Desta vez, a posição de Floripa se inverteu: foi a segunda menor entre as brasileiras, com apenas 57 km. Composta por 25 km de ciclovias (separadas das vias por muretas e guard rails) e 32 km de ciclofaixas (pintadas no chão e sem barreiras físicas), nossa malha cicloviária é considerada insuficiente pelos usuários. “Temos uma demanda reprimida, o número de ciclistas na cidade aumenta a cada dia. Ainda falta envolvimento político das pessoas, mas se existir estrutura as pessoas virão, não há dúvida”, afirma Daniel
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NFernando Willadino
Araújo Costa, da ONG ViaCiclo, uma das muitas organizações sociais pró-bicicletas a surgir na capital nos últimos anos. Para Daniel – um ciclista urbano que percorre grandes distâncias todas as semanas –, apesar das promessas, a gestão do prefeito Cesar Souza Jr. não tem atendido às necessidades dos ciclistas, expondo as pessoas aos perigos de pedalar nas mesmas pistas que os carros. E as condições da maioria das pistas ainda são precárias, segundo a ONG. No começo da atual gestão, em 2013, 40 km a mais de ciclovias foram prometidos no prazo de um ano. Em março de 2015, apenas um quarto disso havia sido terminado. A demora na implantação da ciclovia da Rua Vereador Osni Ortiga, no Porto da Lagoa, que já dura um ano e nove meses para construir 1,9 km de pista (a previsão de término é para abril), é usada por muito ciclistas como símbolo da lentidão da prefeitura. “Nosso sistema viário é muito sensível, todas as obras interferem no cotidiano da cidade. No caso específico da Osni Ortiga, além dos entraves ambientais, precisamos diminuir o ritmo
A prefeitura prevê para abril a conclusão da ciclovia da Rua Osni Ortiga, na Lagoa, em obras há quase dois anos
durante o verão”, explica o secretário de Obras, Rafael Hahne. Engenheiro e funcionário de carreira da prefeitura, ele diz que a burocracia excessiva na gestão pública dificulta muito a implantação. “Todos os projetos de mobilidade da cidade dão muita importância ao cicloviário”, garante o superintendente do IPUF, Dácio Medeiros. “Mas é preciso haver um ponto pacífico en-
Obra na Av. Madre Benvenuta faz parte do projeto de criar uma “ciclovia universitária” entre a UFSC e a Udesc
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tre os modais. Não podemos seccionar a cidade inteira, para cada tipo de transporte, então os modais terão que aprender a conviver juntos”, diz. Para as duas autoridades, o desafio é conseguir estabelecer a conexão da malha cicloviária, ligando bairros estratégicos. Um exemplo é o projeto da ciclovia universitária, que liga a Bacia do Itacorubi, a Rodovia Admar Gonzaga, a Udesc e a UFSC, que segundo Hahne é prioridade e já está em sua versão final. O secretário divulgou recentemente sua intenção de implementar permanentemente a ciclofaixa de Coqueiros, que tem sido testada aos domingos. Muitos comerciantes e moradores do bairro já protestaram contra a ideia, afirmando que causaria mais transtorno a um bairro com tráfego crescente. A região do continente é uma das mais carentes em percursos cicloviários na cidade, com apenas 2 km de pistas. “Há diversas limitações físicas de áreas construídas, e em alguns lugares da cidade uma das soluções seria o compartilhamento das calçadas, por exemplo”, afirma o superinten-
´ Floripa Parabens
289 ANOS
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dente do IPUF. Para ele, o convívio entre modais é uma questão essencial. Quanto às críticas às faixas instaladas na SC-405, de que seriam mal instaladas e inseguras, Medeiros lembra que muitos dos projetos cicloviários estão em rodovias estaduais como a SC-401 e a SC-405 e precisam contar com a parceria do Governo do Estado, o que dificulta ainda mais o processo.
Apesar das diferentes opiniões, os representantes dos ciclistas e da administração pública concordam em um ponto essencial: é preciso estabelecer uma cultura da bicicleta como modal de transporte, e não apenas lazer. “O processo de educação deve ser feito de forma contextualizada, e inclui gestores e órgãos públicos, motoristas e os próprios ciclistas”, diz Hahne. Ele afirma que
Depois de ser atropelada, Naiara deu a volta por cima: voltou a circular de bike e ainda criou um blog sobre o tema
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houve grandes avanços ao falar sobre ciclovias em Florianópolis. “Sou otimista quanto ao futuro, mas deveria haver um trabalho de conscientização constante da prefeitura”, sugere Daniel. Campanhas educativas frequentes e de longa duração são tão importantes quanto a construção de infraestrutura, segundo ele. “Há muita vontade, mas o uso da bicicleta ainda é embrionário aqui”, afirma Medeiros. O superintendente do IPUF acredita que projetos como o Zona 30, que reduz para 30 km/h a velocidade máxima nas vias urbanas com histórico de insegurança, ajudarão nesse processo. A partir de abril, o Ribeirão da Ilha e o centrinho da Lagoa da Conceição receberão o projeto-piloto, segundo previsão da prefeitura. Há anos, muitos usuários de bicicleta da cidade travam essa batalha educacional em seu dia a dia. André Xavier é um advogado que mora no Centro e trabalha de bicicleta: vai aos fóruns, à OAB e resolve todas as suas obrigações profissionais sobre duas rodas. “O pessoal estranha. Nunca vi outro advogado usando bicicleta como transporte. A necessidade de status da profissão não ajuda, mas acho que nossa profissão deveria chamar mais a atenção para a importância das bicicletas”, argumenta. Através de requerimentos, ele reivindica mais bicicletários por onde passa, e também luta para inserir a questão da mobilidade urbana no OAB Cidadã, ação em que advogados trabalham em projetos de cidadania junto à comunidade. Já Naiara Lima teve que dominar o medo e (re)aprender a andar de bike. Depois de ser atropelada, levou três anos para voltar a circular. Hoje, depois de contar com a lições de como se comportar no trânsito dadas por um usuário da Bike Anjo – uma rede
29 NVinícius Leyser da Rosa (Divulgação) / Fernando Willadino
nacional que ajuda as pessoas a pedalarem com mais segurança –, faz tudo com a sua magrela. De compras a idas em formaturas (sim, de vestido). “O transporte público aqui sempre foi uma opção ruim e cara. A bicicleta me dá o que nenhum outro modal consegue: autonomia, flexibilidade, saúde e uma relação muito mais completa com a cidade”, diz a designer. E, apesar de sofrer com o assédio de homens que passam por ela nos carros (ou exatamente por isso), usa seu blog pedalglamour.com como um manifesto de independência ciclística e empoderamento feminino. “Nunca tinha pensado nisso, mas não lembro de ter sido tratada de forma diferente por ser uma mulher pedalando. Então acho que somos todos iguais em cima de uma bicicleta!”, empolga-se Valéria Mendes, paulistana que já pedalava na megalópole e se mudou de bike e cuia para Florianópolis há 16 anos. No Bairro da Armação, onde ater-
O advogado André Xavier mora no Centro e dá conta de todas as suas obrigações profissionais sobre duas rodas
rou, todos estranhavam ela usar capacete para pedalar. Hoje, a maioria usa também. “Era muito mais difícil antes, não havia qualquer estrutura. Melhorou muito – mas pode melhorar muito mais”, provoca. Ela
conhece bem os caminhos: usuária diária, costuma ir a bairros como o Campeche e Ribeirão da Ilha de bicicleta, e três vezes por semana percorre os 22 km que separam sua casa da UFSC.
SETE DIAS SOBRE DUAS RODAS Valéria Mendes pedala cerca de 180 km por semana. De acordo com a calculadora do site euvoudebike.com – uma brincadeira inteligente que estimula o uso da bicicleta – a cada sete dias ela:
economiza
R$
58,50
EM COMBUSTÍVEL deixa de emitir
49,5 kg
de cO 2 NA ATMOSFERA
Ciclista experiente, Valéria costuma ir pedalando da Armação até a UFSC
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queima
10.575 calorias
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Em solenidade realizada em janeiro no Palácio Cruz e Sousa, o presidente Sander DeMira apresentou o carimbo especial do centenário e um selo postal comemorativo
NOVOS RUMOS NO TRANSPORTE O QUE MUDOU NO SERVIÇO DE ÔNIBUS DA CAPITAL COM A ADOÇãO DO NOVO MODELO DE GESTÃO DO SISTEMA INTEGRADO DE MOBILIDADE O transporte coletivo é um serviço essencial para o desenvolvimento de qualquer cidade. Em Florianópolis, essa engrenagem que permite a mobilidade de milhares de pessoas diariamente vai ganhar investimentos significativos em 2015. O pontapé inicial para uma série de mudanças foi a licitação lançada em 2013 que, no ano passsado, divulgou seu vencedor – o Consório Fênix – e deu iní-
cio a uma nova fase no transporte coletivo da capital. O sistema que era operado por cinco empresas distintas passou a ser controlado por uma única operadora, reunindo as mesmas cinco empresas sob um novo nome. Olhando de longe, parecia que nada ia mudar. Analisando mais de perto, contudo, as melhorias já estão aparecendo e este ano devem tomar uma proporção ainda maior. FLORIPA É l 2015
O consórcio que ganhou o direito de operar o transporte coletivo de Florianópolis por mais 20 anos é formado pelas empresas Transol, Estrela, Emflotur, Insular e Canasvieiras. O contrato firmado com o poder público prevê a implementação de uma série de medidas que vão desde a implantação de um sistema inteligente para gestão do sistema de transporte até ações envolvendo a renovação da frota, uma nova fórmula de cálculo tarifário, além da ampliação da tarifa social e da gratuidade para estudantes carentes. Hoje o que se vê nas ruas é que os ônibus aos poucos estão ganhando a logomarca do Sistema Integrado de Mobilidade (SIM), criada pela Prefeitura Municipal de Florianópolis, e que alguns exemplares estão saindo de circulação e sendo substituídos por novos veículos. De acordo com o Consórcio Fênix, 40% dos ônibus já
31 .Letícia Kapper NEduardo Valente, Flávio Tin e Daniel Queiroz (Arquivo ND)
estão pintados e 14,88% da frota foi renovada, o que representa 78 novos veículos. A padronização completa acontecerá até novembro deste ano e outros novos ônibus estarão em circulação. Outra pequena mudança já efetivada é relativa ao tempo de tolerância para o usuário fazer a integração entre uma linha e outra. Esse tempo, que anteriormente era de 30 minutos, passou para duas horas. Ocorreram mudanças também nas passagens subsidiadas para a população. A Tarifa Social, que até o início do ano passado contemplava apenas uma região da cidade, atualmente abrange todos os bairros da capital, o que elevou o número de beneficiados para 14 mil. Além disso, pela primeira vez estudantes que comprovaram não poder pagar pela passagem de ônibus podem obter o Passe Livre. Segundo informações do consórcio, já são cerca de 8 mil beneficiados. Outras modificações significativas no sistema de transporte coletivo ainda estão por vir. Este ano deve entrar em funcionamento o Sistema de Ajuda à Operação (SAO), o “cérebro” de novo modelo que trará para o usuário benefícios como o fornecimento de informações em tempo real para smartphones, tablets e computadores pessoais. Quando o sistema estiver funcionando, será possível saber a localização do ônibus que se está esperando, a previsão de chegada do veículo ao ponto e as condições do tráfego no trajeto. O SAO também gerenciará o sistema de forma inteligente. Será possível, por exemplo, controlar o cumprimento das viagens e o monitoramento de sua lotação. “Se uma linha estiver lotada, um ônibus extra será enviado”, explica o secretário municipal de Mobilidade Urbana, Vinícius Cofferri. “Esse modelo é re-
Cofferri: prefeitura vai priorizar o transporte coletivo com três corredores para ônibus e novos abrigos
ferência mundial e vem sendo utilizado com grande êxito nas maiores cidades do mundo. A implantação de uma gestão com padrão internacional possibilitará maior racionalização das operações e mais controle sobre o uso dos veículos, oferecendo muito mais conforto aos usuários”, ressalta o advogado e porta-voz do
Consórcio Fênix, Anderson Nazário. Com 524 veículos operando em 218 linhas, a empresa transporta atualmente 200 mil passageiros por dia, ou seja, 5,4 milhões de pessoas por mês. Na opinião do poder público, para que os gargalos de mobilidade na capital sejam sanados, além da melhoria da frota e de um sistema de gestão e de informação transparentes, a malha viária precisa priorizar o coletivo. E é isso o que está sendo feito, garante o secretário municipal de Mobilidade Urbana. “Os projetos dos corredores de ônibus já estão aprovados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”, afirma Cofferri. Segundo ele, a cidade deve ganhar três corredores de ônibus: um na região Central – que já começou a ser viabilizado e está sendo chamado de “anel viário” –, um corredor Norte até o Terminal de Canasvieiras (Tican) e um corredor Sul até o Terminal do Rio Tavares (Tirio). Os dois últimos ainda estão em fase de projeto. “Além disso, vamos investir R$ 3,5 milhões em novos abrigos para pontos de ônibus até o final deste ano”, acrescenta o secretário.
Com 524 veículos operando em 218 linhas, o Consórcio Fênix transporta atualmente 200 mil passageiros por dia
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CIDADE EM MOVIMENTO
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CONSIDERADA A CAPITAL MAIS ATIVA DO PAÍS, FLORIPA OFERECE BOA ESTRUTURA E LINDOS CENÁRIOS PARA SE EXERCITAR
33 .Mônica Pupo NDaniel Queiroz (Arquivo ND) e Fernando Willadino
Uma das capitais mais belas do Brasil, Florianópolis também se destaca por ser uma das menos sedentárias. Basta um breve passeio pelas praias e ruas para avistar um número cada vez maior de pessoas caminhando, correndo e pedalando em todos os períodos do dia, chova ou faça sol. Não por acaso, a cidade está em primeiro lugar no ranking das capitais brasileiras mais fisicamente ativas. As belas paisagens e locais propícios para a prática de esportes ajudam a motivar a população, além de atrair grandes eventos do gênero – como o Ironman –, movimentando um mercado que não para de crescer. Segundo dados da pesquisa Vigitel, divulgada pelo Ministério da Saúde em 2014, Florianópolis é a capital do país com o maior percentual de adultos que praticam atividade física regularmente durante o período de lazer (44%). Criado em 2006, o levantamento feito por telefone avalia os hábitos de saúde, atividade física e alimentação dos brasileiros. A última edição incluiu 23 mil habitantes maiores de 18 anos, moradores das 26 capitais do país e Distrito Federal. Para Marino Tessari, vice-presidente do Conselho Federal de Educação Física, a pesquisa confirma uma tendência que se consolidou na última década na cidade. “É visível o aumento do número de pessoas interessadas em atividades físicas em Florianópolis, algo que também é impulsionado pelo fato da região possuir três grandes universidades com cursos na área de Educação Física, atraindo diversos profissionais que depois acabam se estabelecendo na cidade”, diz ele, que também é professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Além da abundância de espaços naturais propícios para a prática de atividades físicas – incluindo praias,
Seja nas praias ou na cidade, a capital conta com diversas opções de espaços para exercício e lazer ao ar livre
dunas, morros e costões – a cidade conta ainda com diversas áreas públicas pavimentadas com calçadões e ciclovias. Um exemplo é a Avenida Beira-Mar Norte, com cerca de seis quilômetros de extensão, demarcados a cada 200 metros. O local é bem iluminado e possui também equipamentos para alongamento e
Tessari: interesse pela atividade física é bom não apenas para a saúde, mas também para a economia
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ginástica, reunindo diariamente pequenas multidões em busca de um pouco mais de endorfina em suas vidas. “Há também a Beira-Mar Sul e a Beira-Mar Continental, sem falar nos parques do Córrego Grande e de Coqueiros, muito procurados por quem deseja se exercitar ao ar livre”, completa Tessari. Já para o cardiologista Artur Herdy, especializado em medicina esportiva, a realização de importantes competições na cidade ajuda a disseminar o estilo de vida saudável entre a população. “Além do Ironman, que já acontece em Floripa há 14 anos, temos outros grandes eventos de atletismo e corrida de aventura, como a Volta à Ilha e o Mountain Do”, aponta o médico. “Controle do estresse, maior contato com a natureza e menos monotonia estão entre os principais benefícios da prática de atividades físicas ao ar livre.” Mas quando se trata dos motivos que colocaram Floripa no topo do ranking das capitais mais saudáveis do país, há questões que vão além dos fatores ambientais ou possíveis indicações médicas. A preocupa-
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Competições como o Ironman atraem a atenção da população local e estimulam um estilo de vida saudável
ção com a estética também é outra motivação que faz os moradores da capital catarinense se exercitarem. “Em cidades litorâneas geralmente há uma preocupação maior com a aparência, pelo fato dos corpos ficarem mais em evidência nas praias”, aponta o pesquisador Giovâni Firpo Del Duca, autor de uma tese de doutorado que avaliou os indicadores sociodemográficos da atividade física em Florianópolis. Inspirado no mesmo questionário aplicado na pesquisa Vigitel, o trabalho do pesquisador foi mais a fundo ao avaliar a prática de exercícios em seus diferentes domínios, incluindo trabalho, domicílio e deslocamento. “Os resultados mostraram que Floripa realmente possui uma vocação para a prática de esportes, sobretudo no domínio do lazer”, relata. Entre os esportes mais praticados pelos florianopolitanos, destaque para a caminhada, modalidade preferida por 32,9% do público, seguida da musculação (16,7%) e do futebol (15,3%). “O perfil dos praticantes varia conforme a modalidade, mas de modo geral indivíduos
do sexo masculino e com maior grau de escolaridade tendem a se exercitar mais durante o tempo livre. Já as caminhadas são as preferidas das mulheres, enquanto na musculação há um equilíbrio entre os gêneros”, explica Giovâni. Mas não é só a saúde dos moradores de Florianópolis que sai ganhando com estes hábitos saudáveis. A economia também se aquece com o
crescimento de um mercado que envolve empresas e prestadores de serviços, incluindo academias de ginástica, assessorias esportivas, lojas e aluguel de equipamentos esportivos, entre outros. “De uns dez anos para cá, temos visto surgir muitas empresas voltadas ao treinamento e capacitação de atletas”, informa Tessari. É o caso da Tribo do Esporte, uma das pioneiras no ramo de assessoria esportiva na cidade. Fundada em 2003, a empresa surgiu a partir de um grupo de amigos que se reuniu para participar da primeira edição da corrida de revezamento Volta à Ilha. Sob o comando da atleta e empresária Andrea Teixeira, a companhia hoje oferece treinamentos personalizados de corrida, caminhada orientada, triathlon e ciclismo, além de organizar suas próprias competições, como a Corrida da Lua Cheia, realizada anualmente durante o mês de março pelas ruas de Jurerê Internacional. “Nossos treinos são realizados em contato com a natureza, explorando as belezas naturais que Florianópolis oferece”, diz Andrea. Lagoa da Conceição, Beira-Mar Norte,
Herdy: atividade física ao ar livre controla o estresse, traz maior contato com a natureza e menos monotonia
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35 NPaulo Schenk / Fernando Willadino / Daniel Queiroz (Arquivo ND)
Segundo pesquisa do Ministério da Saúde, 44% da população adulta de Florianópolis costuma praticar atividades físicas regularmente durante seus períodos de lazer
Campeche e Jurerê estão entre os pontos de encontro para os mais de 120 alunos da Tribo do Esporte. “Atendemos pessoas de todos os níveis e idades, pois embora os treinos sejam em grupo, cada um recebe uma planilha de treino individualizada”, relata a treinadora. Outra empresa que nasceu inspirada pelos eventos esportivos da cidade é a Vidativa. Criada em 2006, no início dedicava-se unicamente à prestação de serviços de ginástica laboral dentro de outras empesas. Até que, em agosto de 2009, o treinador e proprietário Leonardo Aguiar decidiu treinar um grupo de pessoas para participar da corrida de aventura Mountain Do. A ideia foi tão bem-sucedida que acabou mudando de vez os rumos do negócio. “Em 2010 deixamos de trabalhar com ginástica laboral para nos dedicarmos unicamente aos serviços de assessoria esportiva e personal trainer”, afirma. Como um dos focos são as chamadas corridas de aventura – que misturam diversas modalidades – os
treinos envolvem atividades como canoagem, mountain bike, rafting e stand up paddle. “Não tem espaço para monotonia. A cada treino exploramos um novo local e uma modalidade diferente, de acordo com os objetivos de cada aluno e sempre
Andrea: oportunidade de negócio com treinamento personalizado e organização de eventos esportivos
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aproveitando o cenário belíssimo da região”, diz Leonardo, que trabalha a partir de duas bases fixas: às segundas e quartas, os treinos partem do trapiche da Avenida Beira-Mar Norte e, às terças e quintas, o ponto de encontro é no Lagoa Iate Clube (LIC), na Lagoa da Conceição. “Treinamos tanto a corrida de rua quanto em trilhas, o que propicia maior diversidade de estímulos e melhor condicionamento físico aos praticantes.” Apesar da intensidade das atividades, Leonardo diz que os treinos podem ser adaptados à faixa etária e à condição física de cada praticante. “Seja caminhando ou correndo, cada um vai no seu ritmo, seguindo o plano de treinamento elaborado sob medida para a necessidade de cada um”, completa o treinador, que atende desde iniciantes que nunca correram até atletas já consagrados em busca de condicionamento para alguma prova específica. “O que importa é não ficar parado. Seja lá qual a idade ou tipo físico, sempre é tempo de se mexer”, finaliza.
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temporada DE ACERTOS COM BOM MOVIMENTO DE TURISTAS E SEM PROBLEMAS DE ABASTECIMENTO, FLORIPA COMEMORA OS RESULTADOS DO ÚLTIMO VERãO
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37 .Jerônimo Rubim NEduardo Valente (Arquivo ND)
Pergunte por aí, e empresários, turistas e até moradores dirão: foi uma boa temporada de verão. Os números atestam, com grande ocupação dos hotéis e o consumo em bares, restaurantes e comércio considerado positivo dentro de um cenário de pessimismo com a economia do país. O carnaval aconteceu cedo e caiu dentro da temporada, o que ajudou em seu sucesso. A atuação da Secretaria Municipal de Turismo, que desenvolveu diversas ações em parceria com entidades municipais e estaduais dentro da Operação Presença 2015, foi muito elogiada por empresários, enquanto o problema da mobilidade urbana foi seriamente criticado. Mas, em comparação ao ano passado, o que talvez tenha causado mais impacto foi o melhor abastecimento de água e luz na capital, resolvendo, pelo menos em grande parte, um dos mais sérios problemas do verão de 2014.
“Adoro a cidade, litoral belíssimo, bons restaurantes. Continuarei voltando porque realmente me sinto acolhida e bem recebida no lugar e pelas pessoas”, diz a brasiliense Bianca Medeiros, depois de sua quarta visita a Florianópolis. Uma pesquisa da Fecomércio, realizada na capital com 479 turistas, mostra que 91,6% deles pretendem voltar. É o diagnóstico que toda cidade turística espera receber. “Ninguém pode se queixar da temporada”, comemora o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Florianópolis (SHRBS), Tarcísio Schmitt. Ele cita como exemplo a taxa média de ocupação dos hotéis de 90%, com picos no réveillon e carnaval detectados pela pesquisa. Schmitt lembra que os argentinos, que lotavam a Ilha durante as décadas de 1980 e 1990, deixaram de vir em massa no começo dos anos 2000, e a realidade agora é outra,
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com os brasileiros sendo o maior número de visitantes. Na capital, 78,9% dos turistas vieram de outros estados, a grande maioria do Rio Grande do Sul, seguidos por paranaenses e paulistas. Mas o aumento no número de argentinos, sendo 15,7% do total de visitantes, não pode ser desconsiderado. “Temos que olhar o faturamento, não só o movimento. E o brasileiro gasta mais que os argentinos e uruguaios”, observa Schmitt. Essa percepção também foi captada por uma pesquisa da Associação de Bares e Restaurantes de Santa Catarina (Abrasel/SC). Realizada no litoral catarinense logo após o carnaval com 100 empresários do setor, 75% acharam o movimento bom ou excelente (muito superior ao ano passado, de 53%), e 55% consideraram esta temporada melhor que a anterior. A declaração da turista brasiliense sobre a qualidade dos estabelecimentos da Ilha – especialmente por
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Segundo pesquisa da Fecomércio, 78,9% dos turistas que visitaram a capital vieram de outros estados brasileiros, principalmente Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo
vir de quem mora em uma cidade com reconhecida excelência no setor – indica que os empresários estão no caminho certo. “As pessoas hoje viajam mais, têm mais referências – inclusive internacionais – e estão mais exigentes”, analisa o presidente da Abrasel/SC, Fábio Queiroz. “Isso força a evolução do setor e hoje temos restaurantes de excelente padrão.” Na pesquisa da Fecomércio, o serviço de hotelaria foi o item mais bem avaliado, mas a opinião sobre bares e restaurantes também foi muito boa. Há diversos fatores que influenciam no sucesso de uma temporada turística, mas os empresários concordam que o papel do poder público é essencial nesse processo. A atual gestão da Secretaria de Turismo do município, que tem como secretária Maria Cláudia Evangelista, foi muito exaltada pelos representantes dos empresários. A escolha da equipe para gerir o órgão, formada por técnicos da área do turismo, e a atuação conjunta com outros órgãos municipais são
alguns dos acertos citados. A Operação Presença, aplicada pela secretaria no período entre agosto de 2014 e abril de 2015, vem trabalhando com outras secretarias, polícias, órgãos públicos e fundações para garantir mais efetividade na realização das
A gestão da secretária Maria Evangelista na Setur tem sido elogiada pela formação técnica de seus quadros e pela integração com órgãos municipais
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ações e o menor número de imprevistos. Entre diversas ações pontuais e estruturantes, a operação aumentou e endureceu a fiscalização com o comércio irregular ou ilegal, por exemplo – uma das grandes demandas das associações de empresários da cidade. A estratégia da Setur, segundo a secretária adjunta Luciane Camilotti, é melhorar a infraestrutura da cidade e fortalecer os setores que não sejam apenas sol e mar. “Estes nós já temos”, ela diz, referindo-se às praias. “Precisamos agora de produtos melhor formatados, que possam atrair turistas o ano inteiro.” Ela também cita o fortalecimento do Conselho Municipal de Turismo, composto por diversas associações e entidades como Floripa Convention Bureau, como um fator muito importante no desenvolvimento do setor. Na opinião do professor e líder do Grupo de Pesquisa em Gestão do Turismo (GPGTur) do Instituto Federal de Santa Catarina, Tiago Savi Mondo, os primeiros passos para ga-
39 NMarco Santiago, Rosane Lima e Janine Turco (Arquivo ND) / Fernando Willadino
rantir um fluxo crescente do turismo já foram dados pela Setur, com um planejamento de médio e longo prazo. “O que precisamos agora é fazer um extenso inventário de oferta e demanda, o que estamos ofertando e quem consome a cidade”, observa. O grupo coordenado por Mondo realiza diversos estudos sobre o setor , cujas conclusões e dados têm ajudado a Setur a entender e a planejar melhor o turismo na capital. “A secretária está perto, sempre nos consulta, e está fazendo um ótimo trabalho com a pouca verba que tem”, reconhece. Um exemplo do trabalho do GPGTur é o estudo de avaliação – ainda incompleto – dos serviços no Mercado Público Municipal, que mostra em suas avaliações preliminares que ainda há muita margem para melhorar a experiência. “Sabia que apenas 8% dos visitantes usam o serviço de guia para conhecer o Mercado? E até agora só conseguimos entrevistar 150 turistas para a nossa pesquisa por lá. É muito pouco para o seu potencial”, observa Mondo. Para entidades como o SHRBS e a Abrasel, ter o Mercado funcionando apenas
Entre os proprietários de bares e restaurantes locais, 55% consideraram esta temporada melhor que a anterior
parcialmente foi uma das grandes perdas do verão. Houve muitas críticas na cidade também quanto à instalação de uma rede de fast-food no prédio, que substituiu um bar tradicional do Mercado e destoaria da proposta do lugar. Para muitos, locais como este traduzem a alma de uma cidade, são patrimônios que expressam sua riqueza cultural – e deveriam ser mantidos assim.
Mondo: estudos acadêmicos que avaliam serviços prestados ao turista revelam que ainda há muito a melhorar
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Integrar as diversas áreas que fazem o turismo funcionar em uma cidade como Florianópolis é um desafio e tanto. Em boa parte, os problemas estão fora do alcance da Setur ou de qualquer outro órgão da área. Como avalia o professor Mondo, “não adianta oferecer bons serviços sem a garantia de estrutura básica. Não há turismo sem luz, água ou mobilidade, por exemplo”. Podemos não ter repetido os erros da temporada passada, mas vale questionar se os problemas de abastecimento de energia e água foram resolvidos ou se foi apenas uma solução de momento. A mobilidade urbana, um problema que se agrava a cada dia com a chegada de mais moradores, foi citada por todos os entrevistados como o maior entrave para o turismo em Florianópolis. Bianca Medeiros, a brasiliense citada no começo desta matéria, passou a virada em Florianópolis, mas já está escaldada: em sua quarta visita, ela e a família preferiram visitar as praias fora da Ilha, chegando e saindo cedo para evitar congestionamen-
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O problema da mobilidade urbana continua sendo citado por empresários e turistas como o maior entrave para o desenvolvimento do turismo na capital catarinense
tos. “Pode ser desgastante, são muitos engarrafamentos. Voltaremos, mas num período mais tranquilo”, prevê. Mas há quem diga que não vem mais passar as férias aqui pois não quer ficar preso no trânsito. Além da má impressão dos turistas – e das dificuldades bastante reais de se chegar de um ponto a outro – a falta de mobilidade atrapalha também a operação dos estabelecimentos comerciais. Segundo o presidente da Abrasel, Fábio Queiroz, muitos restaurantes sofrem com atrasos de funcionários e fornecedores devido à dificuldade de se transitar pela cidade durante o verão. “A temporada foi positiva, recebemos muita gente. Mas isso também acabou prejudicando a mobilidade”, explica o secretário de Obras do município, Rafael Hahne. Ele garante que algumas obras pontuais, como o elevado do Rio Tavares e o anel viário da Beira-Mar Norte, estão sendo colocadas em prática como parte de um planejamento a
curto e médio prazo que, espera-se, trarão grande melhoria no fluxo do trânsito. Também está prevista a construção de corredores exclusivos para ônibus, que passariam a se deslocar com mais rapidez pela
Schneider: baixa remuneração dificulta o acesso a mão de obra mais capacitada para o setor turístico
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cidade. “Com a melhora esperamos que todos usem o transporte público, inclusive os turistas”, diz Hahne. A Setur ainda busca uma metodologia confiável para saber quantos visitantes vêm à capital durante a temporada, mas a expectativa gira em torno de 1,5 milhão de pessoas – número que leva os serviços básicos da cidade ao limite e coloca pressão sobre as ações da prefeitura. Apesar de comemorar os resultados da temporada, os empresários do setor já perceberam que os turistas estão economizando mais, cautelosos pelas alardeadas projeções nacionais de recessão. “O Brasil está muito caro”, defende Fábio Queiroz. “Hoje trabalhamos com margem muito reduzida de lucro. Os salários estão mais altos, os aluguéis e os produtos mais caros. Isso também exige uma maior profissionalização da gestão, trabalhar de forma mais enxuta”, explica o presidente da Abrasel. Já na opinião do professor Tiago Mondo, o que falta a muitos
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empresários é profissionalizar a gestão. “Melhorou, há exemplos bons, mas em geral falta maturidade”, analisa o especialista. Estes dois fatores, os preços praticados e a gestão dos negócios, nos levam a outra discussão: a qualidade da mão de obra e as condições de trabalho no setor. De acordo com a pesquisa da Abrasel/SC, 54% dos empresários não ficaram satisfeitos com a capacitação dos funcionários contratados, resultado pior do que no ano passado e que pode ter sérios reflexos na percepção de qualidade dos serviços. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Turismo de Florianópolis, Anésio Schneider, afirma que há muitos trabalhadores qualificados na capital mas a remuneração é muito baixa, com piso de R$ 1.042, mais adicionais. Ele afirma que o sindicato patronal nunca ofereceu nenhum aumento a mais do que a lei estabelece, e isso provoca a evasão de pessoas qualificadas para outras áreas, como a construção civil. “Além disso, há excesso de jornada na alta temporada, pois muitos trabalham com o quadro reduzido.
Queiroz: “As pessoas hoje viajam mais, têm mais referências – inclusive internacionais – e estão mais exigentes”
Essas condições provocam rotatividade”, assegura Schneider. “As empresas têm condições de pagar mais. É só olhar os preços nos cardápios, as diárias cobradas”, provoca. Em contrapartida, os empresários do setor dizem que esse é um problema enfrentado por qualquer destino movimentado em alta temporada, pois quando a necessidade de mão de obra triplica há espaço tanto para
Uma das ações bem-sucedidas da Setur foi a regulamentação e fiscalização do comércio ambulante nas praias FLORIPA É l 2015
pessoas qualificadas quanto para aquelas com pouca qualificação. O que todos concordam é que a oferta de cursos de formação na área é mais do que suficiente. Senac, Sebrae, Sesc, sindicatos e universidades oferecem desde cursos rápidos e técnicos até graduações e especializações. O Instituto Federal de Santa Catarina é muito procurado e tem diversos cursos gratuitos na área. O último vestibular para a graduação em Gastronomia registrou 90 candidatos por vaga. Como professor da instituição, Tiago Mondo acredita que a profissionalização influencia diretamente na qualidade dos serviços prestados, o que trará mais turistas e nos fará entrar em um “ciclo virtuoso”, em que a sazonalidade diminui e o empresário não precisa mais demitir fora da temporada. O professor acredita que estamos em uma ascendente no turismo regional e se mostra otimista com o futuro da atividade em Florianópolis: “Temos potencial para ser um dos principais destinos do mundo se fizermos as coisas certas nos próximos 15, 20 anos”.
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. Stefani Ceolla NArquivo ND
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FLORIPA é top
ALGUMAS CONQUISTAS Cidades Criativas (Unesco) Reconhecida pela experiência única em aromas, sabores e vivências gastronômicas, Florianópolis é a primeira cidade brasileira a participar da Rede Mundial de Cidades Criativas da Unesco – categoria Gastronomia. Ministério da Cultura Três unidades de educação infantil da Secretaria de Educação de Florianópolis foram vencedoras do prêmio “Escola: lugar de brincadeira, cultura e diversidade”, entre 40 ganhadores de diversas partes do país.
EM 2014, A CIDADE ACUMULOU PRÊMIOS E FOI reconhecida nas áreas De turismo, saúde, educação e desenvolvimento econômico Foram nove prêmios em diferentes áreas no decorrer de 2014. Passando pela saúde, educação e desenvolvimento econômico, o destaque foi – mais uma vez – o setor do turismo. No ano passado Florianópolis faturou um prêmio da Unesco na área de gastronomia, foi reconhecida pelo turismo de eventos e por viajantes de todo o mundo através do site TripAdvisor. Além disso, foi destaque em publicações internacionais, onde teve as belezas naturais e a cultura enaltecidas. “Esses prêmios credenciam a cidade em diferentes áreas, mas ao mesmo tempo criam o desafio de manter a qualidade”, acredita a secretária de Turismo, Maria Cláudia Evangelista. O desafio também vem com o reconhecimento na área da saúde. A capital foi mais uma vez premiada pelo projeto Brasil Sorridente, que destaca boas práticas na área odontológica, avaliando os profissionais, a estutura física e os indicadores de saúde bucal. “Nossa intenção é continuar ampliando o acesso a este tipo
de atendimento”, comenta o secretário de Saúde, Carlos Daniel Moutinho Júnior. Na educação, os prêmios destacam principalmente o bom desempenho na área infantil. “A educação infantil tem realizado ações que vão além da rotina. O reconhecimento nos estimula a pensar no desenvolvimento amplo”, comenta o secretário Rodolfo Pinto da Luz. A cidade se sobressai também na inovação e empreendedorismo. “Florianópolis perde a característica da cidade do funcionalismo público e mostra sua vocação para a indústria não poluente”, avalia o secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico Sustentável, Ronaldo Brito Freire. Ele também aponta desafios. “Com a capital sendo divulgada como cidade atrativa para novos negócios, aumenta a responsabilidade do poder público como agente facilitador do processo de abertura de empresas, revendo a questão tributária e resolvendo os gargalos de mobilidade urbana.” FLORIPA É l 2015
Top Turismo ADVB A prefeitura da capital foi uma das dez entidades vencedoras do prêmio em 2014. O case premiado foi o projeto “Fim de Ano da Magia”, realizado em 13 bairros da cidade durante 25 dias no mês dezembro. Travellers’ Choice 2014 Na edição de 2014 do prêmio promovido pelo site TripAdvisor, Florianópolis foi considerada o 5º melhor destino turístico do país e o 13º da América do Sul. Prêmio Brasil Sorridente O Conselho Federal de Odontologia escolheu Florianópolis para a entrega do prêmio que reconhece as melhores políticas públicas em saúde bucal do país. A capital ficou em primeiro lugar no Estado e em segundo lugar no país entre municípios com mais de 300 mil habitantes. Cidade Inovadora Em novembro do ano passado, a revista Exame, da Editora Abril, destacou Florianópolis como uma das cidades mais amigáveis para empresas inovadoras. Impar No ano passado, o Índice das Marcas de Preferência e Afinidade Regional (Impar) apontou Florianópolis como a cidade turística mais citada pelos entrevistados, que também indicaram a capital como a cidade catarinense com maior qualidade de vida.
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Com a conclusão da ala sul prevista para o dia 18 de junho, o Mercado terá um novo mix com 117 boxes padronizados, atendimento ao turista e um museu temático
NOVO MERCADO:
Até quando esperar?
APÓS ADIAR POR DUAS VEZES A CONCLUSÃO DAS OBRAS, A PREFEITURA GARANTE QUE O MERCADO PÚBLICO FICA PRONTO ATÉ JULHO FLORIPA É l 2015
O Mercado Público de Florianópolis foi construído em duas etapas, quando toda a área onde hoje é o Aterro da Baía Sul ainda era coberta pelo mar. A ala norte foi erguida em 1899 e a ala sul 29 anos depois. Desde essa época, os comerciantes sempre atuaram no local sem necessidade de licitação pública. Mas entre 2010 e 2011, após uma determinação do Tribunal de Justiça que obrigou o município a licitar a ocupação da área comercial do mercado, começou um novo processo para reestruturar a ocupação de um dos mais famosos patrimônios culturais da capital. A proposta apresentada foi um novo mix de produtos, além da reforma estrutural do prédio.
45 .Letícia Mathias NRosane Lima, Eduardo Valente e Daniel Queiroz (Arquivo ND)
Mas até hoje os moradores e visitantes ainda esperam para aproveitar este novo espaço por completo. A obra foi dividida em duas etapas. A ala norte já foi concluída e está aberta ao público. O fato de ter passado por uma restauração em 2005 após um incêndio facilitou o trabalho, pois parte da estrutura já tinha sido recuperada. Mas a ala sul – que segundo o projeto inicial devia ter sido concluída em julho do ano passado, ao custo de R$ 7,2 milhões – continua em obras. E ficará R$ 3,5 milhões mais cara do que o previsto. Se tudo correr como anunciado pela prefeitura, até julho deste ano o mercado será finalmente reaberto de maneira plena. Todas as extensões de prazo e acréscimos de valor à obra na ala sul ocorreram no ano passado. O primeiro foi em abril, com adição de R$ 1,5 milhão ao contrato com a JK Engenharia de Obras, empresa vencedora da licitação. O segundo, em julho, estendeu o prazo para janeiro deste ano. O terceiro e o quarto foram firmados em dezembro, com o acréscimo de mais R$ 1,9 milhão, chegando ao total de R$ 10,7 milhões, extensão do prazo em mais seis meses – ou seja: até o dia 18 de junho. Apesar do prazo estendido, a prefeitura afirma que a entrega do prédio para ocupação dos comerciantes será ainda na primeira quinzena de abril. A justificativa para os aditivos é a precariedade da estrutura construída na década de 1920. Segundo o secretário de Obras do município, Rafael Hahne, ao longo da reforma foram descobertos novos problemas, as fundações precisaram ser mexidas e o trabalho ficou maior, mais caro e demorado. O secretário considera a obra desafiadora e diz que o trabalho é complexo devido às características históricas que precisam ser preser-
Brito: “Hoje 99% dos comerciantes acreditam no Mercado. Além de ponto turístico, será referência na cidade”
vadas. “No início tivemos o desafio de manter o patrimônio de pé. Obra de reforma é sempre uma surpresa, ainda mais em uma estrutura com quase 90 anos. Removemos a estrutura inadequada e agora temos valor e prazo consolidados”, explica. O novo mix contará com 117 boxes padronizados, serviço de atendimento ao turista – já em funcionamento – e um museu do Mercado Público. Entre os serviços estão empórios, armazém de produtos orgâni-
Hahne: reformas revelaram problemas estruturais que deixaram o trabalho mais caro e demorado
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cos e regionais, sapateiro, chaveiro, cafeteria, gelaterias, restaurantes, artesanato, além das tradicionais peixarias. O presidente da associação do novo Mercado Público, Aldonei Brito, conta que até o fim do ano passado ele e os comerciantes tinham muitas dúvidas, mas desde o início deste ano “as coisas começaram a andar” e agora “a perspectiva é boa”. Para instalação de todos os concessionários, Brito prevê entre 60 e 90 dias após a entrega da obra. “Mudou tudo, o mix agora atrai mais pessoas. Hoje, se não for 100%, 99% dos comerciantes acreditam no mercado. Além de ser ponto turístico, será referência de novo na cidade”, afirma. O secretário de Administração do município, Gustavo Miroski, acompanha o processo desde o início e se considera um entusiasta do Mercado Público. Na sua opinião, com o passar dos anos o lugar deixou de ser atrativo e se tornou apenas local de passagem. Para atrair o público novamente, a secretaria pretende promover eventos culturais, abrir aos domingos e apostar na mistura do tradicional ao contemporâneo: “A ideia é criar um grande espaço de convivência. Teremos o comércio que muitos desejavam e um Mercado à altura da capital.”
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SÁBADO É DIA DE FEIRA CRIADA EM 2013, A FEIRA SEMANAL PERMANENTE VIVA A CIDADE DEU UMA NOVA CARA ÀS RUAS DO CENTRO DA CAPITAL E HOJE ATRAI CERCA DE 4 MIL PESSOAS A CADA EDIÇÃO
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47 .Fábio Bianchini NPaulo Schenck
Como muitas das pessoas que vêm a Florianópolis, a curitibana Soeli Dahmer também chegou à capital catarinense em busca de sossego, há pouco mais de um ano. Diante do sorriso fácil e da conversa animada que mostra hoje é difícil de acreditar que há menos de dois anos ela sofria com sintomas de depressão. Mas não foi diante do mar que ela encontrou a tranquilidade procurada, mas sim no ambiente urbano mais tradicional da cidade. Soeli é uma dos cerca de 60 expositores que todo sábado participam da Feira Semanal Permanente Viva a Cidade, nas ruas João Pinto e Nunes Machado e arredores. Logo que chegou a Florianópolis, as vizinhas lhe contaram do evento. Ela foi conhecer, se encantou e, desde então, semanalmente leva suas toalhas, trilhos e outros bordados. Além de vender, aproveita para fazer amizades. “As pessoas passam, admiram; é o que a gente mais gosta, mesmo que não comprem”, garante. A feira reúne expositores de toda espécie: discos usados e novos, camisetas, jogos de videogame, artefatos militares, garrafinhas de refrigerante, livros, selos, brinquedos do passado, máquinas fotográficas antigas, artigos de brechó, filatelia, e o que mais vier à imaginação dos expositores, nas manhãs e comecinho das tardes de sábado. Algumas lojas do comércio local aproveitam a chance para expor seus produtos na rua, integrando-se ao evento ao invés de fazer dele um concorrente. O samba e a feijoada na Travessa Ratcliff completam o clima festivo e familiar. Ocasionalmente, também são realizadas outras apresentações culturais na rua, com grupos de música e teatro. Não foi só Soeli que ganhou novo ânimo com a feira. A região passava
Ao expor seu artesanato na feirinha do Centro, Soeli ampliou seu círculo de amizades e se livrou da depressão
por processo de degradação desde 2003, quando a inauguração do Terminal Integrado do Centro, mais próximo do Aterro da Baía Sul, tirou dali boa parte do fluxo de pedestres que se destinava ao Terminal Cidade de Florianópolis. Com a diminuição do movimento, o comércio
Goeldner: “A gente fala muito de História por aqui. O que nos traz são as conversas e o gosto pelo antigo”
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local perdeu força e toda a área se desvalorizou. Em 2013, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Florianópolis levou à prefeitura o projeto da feira, com o objetivo de revitalizar as ruas do lado leste da Praça XV de Novembro. “O secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, Dalmo Vieira Filho, se encantou com a ideia na hora e fez tudo para facilitar”, lembra o gestor de Negócios da CDL, Hélio Leite. A feira começou a ser realizada em agosto de 2013 e logo caiu nas graças da comunidade. “São cerca de 4 mil pessoas que passam por aqui a cada sábado”, observa Leite. “O pessoal vem com a família, cachorro, bicicleta. A população perdeu o medo de circular, se sente à vontade.” Ele aponta como resultado direto a chegada de novos estabelecimentos, lanchonetes e a volta para o Centro de Florianópolis do Bar do Alvim, tradicional estabelecimento que havia saído do Mercado Público em 2014. A distribuição dos expositores não é rígida, mas a organização da
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NPaulo Schenk
Feira, a cargo da CDL, procura condensar as barracas em blocos com artigos afins. “No começo, a Feira ocupou a parte mais próxima à Rua Hercílio Luz. Depois, invertemos e fomos ocupando a partir da Praça XV, para atrair o público cativo dessa parte do Centro”, lembra o produtor audiovisual Guto Lima, que há cerca de um ano leva sua Tralharia todos os sábados. As antiguidades de todo tipo que ele apresenta têm ainda a charmosa companhia da Kombi, ou melhor, Komba, como ele faz questão de dizer, chamada Charlote. “É a minha grande parceira de feira, uma atração que faz muitos pararem e baterem fotos dela e com ela, ajuda a passar o conceito e fazer novos clientes. Mas o mais importante são as novas amizades e todo o aprendizado com as tralhas a cada dia. Tem muitas histórias perdidas por aí”, destaca. Várias dessas histórias estão nas notas, moedas, selos e cartões-postais apresentados por Ademar Goeldner, também comerciante assíduo da Feira. As fotos antigas de Florianópolis e artefatos como uma cédula antiga autografada pelo capitão da Seleção Brasileira na Copa de 1958, Hilderaldo Bellini, recuperam a memória de diversos períodos. “A gente fala muito de História por aqui, o que nos traz são as conversas e o gosto pelo antigo. Cada comerciante é um colecionador”, diz.
PROGRAME-SE A Feira Semanal Permanente Viva a Cidade acontece todos os sábados nos arredores da Rua João Pinto, das 9h às 16h. Mais informações com o Projeto Viva a Cidade, pelo telefone (48) 3229 7064. www.facebook.com/vivaacidade
As lojas de antiguidades da região aproveitam a ocasião para se juntar aos feirantes e expor seus produtos na rua
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49 .Letícia Mathias NDivulgação
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O que começou com uma grande tenda de lona ao lado do Mercado Público é hoje um centro comercial organizado, com ar-condicionado, caixa eletrônico e banheiros
DA LONA AO CAMElÓDROMO NASCIDO DA UNIÃO DOS COMERCIANTES, O MAIS FAMOSO CENTRO POPULAR DE COMPRAS DA CAPITAL CONTA ATUALMENTE COM 125 LOJAS Quem hoje faz compras ou passa pelo Camelódromo Municipal de Florianópolis pode não imaginar como tudo começou há pouco mais de 20 anos. O local atualmente oferece centenas de produtos, desde eletrônicos até artesanato, em um centro comercial organizado, com ar-condicionado, caixa eletrônico e banheiro. Mas nem sempre foi assim. A estrutura atual só existe devido à reorganização dos comerciantes a partir da criação da Associação dos Pequenos Comerciantes do Camelódromo Municipal de Florianópolis (Assopecom), na década de 1990.
Antes disso, os comerciantes se reuniam entre o Largo da Alfândega e Mercado Público em barracas de lona apelidadas de “chiqueirinhos”. O atual presidente da associação, José Roberto Leal, o “Zezinho”, conta que a situação era alvo de muita discussão até que a prefeitura interviu e ofereceu o atual espaço para os comerciantes trabalharem. Porém, na época, foi colocada apenas uma grande lona, semelhante às lonas de circo, para que eles pudessem se reunir em um único espaço. A partir desse primeiro passo, os comerciantes começaram a se ajusFLORIPA É l 2015
tar. Em 1995 o camelódromo recebeu o primeiro telhado de alvenaria, instalado com recursos da própria associação, e entre 1998 e 1999 mudou completamente para uma estrutura parecida com a que tem hoje. Na época da instalação, a polícia federal fiscalizou o espaço diversas vezes e na maioria delas apreendeu mercadorias. Zezinho conta que isso serviu de lição para que os comerciantes legalizassem seus negócios: “Começamos a procurar empresas que importavam mercadoria legal. Hoje todos têm registro de microempresários e trabalham dentro da legalidade”. Atualmente o camelódromo tem 125 lojas, 12 funcionários ligados à associação e gera indiretamente cerca de 2 mil empregos. Em impostos, arrecada ao Estado e município cerca de R$ 350 mil. Entre maio e abril a Assopecom pretende lançar um site para contar essa história e informar sobre os serviços do local. “Queremos resgatar a história que muitos desconhecem e acompanhar o desenvolvimento da cidade”, afirma o presidente da associação.
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Fundado 24 anos após a criação da Irmandade, o hospital ganhou em janeiro uma nova ala com 40 leitos e oito salas cirúrgicas com equipamentos de última geração
motivos para comemorar A IRMANDADE DO SENHOR DOS PASSOS CELEBRA SEUS 250 ANOS INAUGURANDO UM NÚCLEO DE ALTA COMPLEXIDADE NO HOSPITAL DE CARIDADE No mesmo dia em que a Seleção Brasileira tomava a goleada de 7x1 da Alemanha na Copa do Mundo do ano passado, Mauricio Fogaça conseguiu achar um motivo e tanto para não se abater. Foi naquele dia que ele rece-
beu a notícia de que realizaria o sonho de morar em Florianópolis: seu nome fora aprovado pela Irmandade do Senhor Jesus dos Passos para ser o primeiro diretor administrativo do Hospital de Caridade na nova fase, FLORIPA É l 2015
com as atribuições gerenciais do hospital e da Irmandade separadas. O aniversário de 250 anos da Irmandade, comemorado no primeiro dia de 2015, foi marcado com procissão, missa e a inauguração do Centro Intensivo de Alta Complexidade Senhor Jesus dos Passos, o mais moderno de Santa Catarina, com 7 mil m², 40 leitos, oito salas cirúrgicas, quartos individuais, heliponto e equipamentos de última geração. “Temos ainda a proposta de ter escola com cursos para técnicos de enfermagem e outros, fazer novamente residência médica, pesquisa e ensino”, anima-se o provedor em exercício e secretário-adjunto da Mesa Administrativa da Irmandade, Diogo Ribeiro.
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Para essa nova perspectiva, a mudança administrativa foi fundamental. O gerenciamento da Irmandade e o do hospital confundiam-se: “O provedor tinha que deliberar sobre tudo, questões do hospital que ele não tinha como lidar. Isso dificultava as ações”. Desde 29 de dezembro, com a separação das entidades, o Caridade é um dos braços da Irmandade, que agora pode ser mais fiscalizadora, provedora e mantenedora do que executiva, explica. Do lado executivo, Fogaça também vê com bons olhos o futuro a médio e longo prazo. Já para 2015, ele projeta um superávit de 3% no saldo que antes era deficitário. E quer resultados sustentáveis. Para isso, é preciso correr muito até junho, reconhece, mas garante que o horizonte é bem construído e com metodologia consistente. “É a necessidade do paciente que vai definir o modelo a ser utilizado”, ressalta. A lembrança ecoa o lema citado por Machado: o paciente em primeiro lugar. Ribeiro diz que não há como esquecer a demonstração de apreço e
Fogaça: missão do primeiro diretor administrativo da entidade é sanear as finanças ainda em 2015
VOCAÇÃO PARA O ASSISTENCIALISMO A Irmandade do Senhor Jesus dos Passos foi fundada em 1765, inicialmente como guardiã da imagem do Senhor Jesus dos Passos, que seguia para o Rio Grande do Sul, mas atracou em Desterro, onde ficou. Um ano depois, a Irmandade realizou a primeira Procissão do Senhor Jesus dos Passos, realizada anualmente desde então. Em 1782, a Irmandade passou a praticar, entre suas obras de assistência, o auxílio a doentes pobres, com cuidados médicos e alimentação. A iniciativa teve forte incentivo Ribeiro: mudanças na gestão executiva e planos de retomar atividades de pesquisa e ensino no hospital
envolvimento por parte da comunidade, que não hesitou em correr para ajudar, resgatar pacientes e até guardar equipamentos em suas casas quando, em abril de 1994, um incêndio destruiu 70% da Ala Norte. “Ali ficou claro o significado que o hospital tem para a população.” O Imperial Hospital de Caridade, nome completo da instituição, tem 192 leitos distribuídos em 15 unidades de internação. Atende pelo Sistema Único de Saúde (para o qual são reservados 10 dos 40 leitos do Centro de Alta Complexidade) e convênios privados. Um levantamento realizado em 2013 aponta que o hospital subsidia cerca de 50% dos custos de alguns pacientes.
O livro de atas de 1782 a 1797 é o documento mais antigo da Irmandade e registra todo o processo de fundação do Imperial Hospital de Caridade
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de Joaquim Francisco da Costa, conhecido como Irmão Joaquim, e levou à fundação do hospital em 1789, ainda pequeno, ao lado da Capela Menino Deus, construída para abrigar a imagem sacra e que permanece lá até hoje. A casa de saúde recebeu ampliações ao longo dos anos e, no século 19, passou a ser chamada de Imperial Hospital de Caridade. O “Imperial” do nome foi retirado com a proclamação da República no Brasil, mas retomado há alguns anos. Hoje, além do Imperial Hospital de Caridade, a Irmandade Nosso Senhor dos Passos administra bens imóveis, sua fonte de renda histórica, a Capela Menino Deus, a Casa de Apoio Joana de Gusmão, o cemitério atrás do Caridade e as atividades religiosas com destaque para a procissão.
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.Marco Túlio Brüning NFernando .NCREDITOS Willadino
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A chegada do pequeno Davi há dois anos foi determinante para que a jovem mãe Laís Oliveira se desse conta de que seguiria uma vocação de família: tornaria-se empresária do ramo de confecções, assim como a mãe, que mantém uma malharia em sociedade com sua tia. A partir da descoberta da gravidez, Laís decidiu buscar um projeto que reunisse três atributos. Para começar, a possibilidade de ficar junto ao filho durante todo o dia. Na época cursando a universidade e trabalhando em uma multinacional, ela sabia que teria problemas para se dedicar ao bebê. Então pediu demissão e trancou a faculdade. Em seguida considerou aproveitar a “consultoria” da mãe, empresária com experiência no ramo de confecção. Em terceiro, usar sua vivência como consumidora responsável, que prioriza produtos sustentáveis. Laís percebeu a oportunidade de negócio ao conversar com amigas que também estavam grávidas e que buscavam no mercado local um produto já comum nos EUA e em muitos países da Europa: as fraldas de pano para bebês. Desta forma nasceu a Nós e o Davi, marca que começou sendo vendida pela internet e hoje já conta com revendedoras em 20 cidades brasileiras. A empresária revela que esta equipe – formada principalmente por mães que compravam seu produto – gera hoje 60% do faturamento da empresa, sendo que 40% vem da loja on-line. Para 2015 o plano de Laís juntamente é consolidar um novo produto, uma fralda que imita ao máximo as descartáveis, não necessitando dobraduras e montagem. Já vem com botões ajustáveis e após a lavação não é preciso passar a ferro. A ideia de lojas físicas onde potenciais clientes possam observar e conhecer o produto também está no horizonte, já que a presença da marca nas mídias sociais fez a demanda pelas fraldas disparar. “A procura foi incrível, realmente não conseguimos dar conta de tantos pedidos. Agora já realizamos ampliações, melhorias na estrutura, e estamos preparados para uma nova fase”, diz a empresária.
Laís Oliveira
para bebês modernos FLORIPA É l 2015
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Raul Pomba Rhó e Maria Alejandra Pomba
APOSTANDO no básico BAL.FLORIPA CAMBORIÚ ÉlÉ 2015 l 2014
Transformar, criar, vender e atender o público sempre marcaram o trabalho da argentina Maria Alejandra Pomba, que veio em 2006 morar em Florianópolis com o marido Raul Pomba Rhó e os filhos, e no mesmo ano criou um negócio próprio por aqui. No verão, o casal alugou espaço numa feira para vender um único produto: regatas de malha sem estampa, oferecidas em seis tamanhos e 20 cores. Foi um sucesso para a família: 3,2 mil peças vendidas em 72 dias. Animados com o resultado, decidiram continuar o projeto e procurar o Sebrae para ajudar a definir e gerenciar a empresa em consolidação. “Foi assim que custos, capital de giro, retorno de investimento e outros termos passaram a integrar nossas vidas”, lembra Maria Alejandra. A primeira loja veio quase que por acaso, quando uma amiga da família se mudou para outro país e precisou repassar o ponto, que fica na tradicional Rua Vidal Ramos, muito valorizada após a recente transformação em shopping a céu aberto. Surgia ali a Mais Q Básica – nome que, segundo a empresária, traduz em poucos termos tudo o que os produtos representam: conforto, leveza, qualidade e praticidade. Toda a produção de roupas, acessórios e calçados – que já passa de 5 mil peças por mês – é terceirizada e Maria trabalha apenas com a criação. O carro-chefe ainda são as regatas, mas há muita procura por artigos femininos como blusas e vestidos. “Desde o início nosso negócio é uma empresa familiar. Embora digam que é difícil conciliar família e trabalho, eu acredito nessa conquista”, destaca a empresária. Hoje a Mais Q Básica se tornou uma marca franqueadora, com planos a curto e a longo prazo. Além de mais uma loja própria no Floripa Shopping, a marca tem três franquias abertas no interior de São Paulo, e ainda o e-commerce. A meta é atingir 50 lojas franqueadas até 2020.
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Os amigos de infância Thiago e Rodrigo resolveram se desafiar: há seis anos, quando ambos tinham apenas 21, decidiram apostar em um empreendimento próprio. Rodrigo Gonçalves – cujo pai é barbeiro – precisava de um case de estudo para o projeto de conclusão no curso de Administração de Empresas. Formado em Design, Thiago Furtado se especializava em Marketing e Inovação nos Empreendimentos. Dessa junção de interesses surgiu a Barbearia Tradicional. Foram três anos de preparação intensiva, incluindo viagens de estudo para pesquisar e desenvolver um modelo que pudesse ser levado a qualquer cidade de grande porte no país. Tanto trabalho resultou em muitas alterações nos planos dos amigos – agora sócios. Ao inaugurar o negócio, em 2012, decidiram investir em uma área de atendimento com cerca de 300 m2, quando a ideia inicial era começar com apenas 60 m2. “Foi uma ousadia começar com tal porte, mas levamos em conta a escolha do endereço, na esquina da Rio Branco com a Prefeito Osmar Cunha, um dos mais icônicos da cidade”, explica Thiago. Como não poderia deixar de ser, o seu Arnoldo, pai de Rodrigo e profissional com três décadas de experiência, tornou-se o primeiro barbeiro da casa. O diferencial da Barbearia Tradicional está nos detalhes: decoração agradável, cadeiras de barbeiro vintage, mesa de sinuca, adega, café com bebidas e petiscos, além de cervejas finas e artesanais. Para completar o ambiente retrô e refinado, há também uma alfaiataria. No vasto cardápio de serviços, divididos entre barba, cabelo, remoção de pelos, podologia e tratamentos de pele, há também pacotes promocionais, utilizados a partir de um cartão de fidelização entregue a toda a clientela. O preço para toda essa conveniência não chega a ser 20% maior do que uma barbearia convencional. Segundo Thiago, o gasto médio por cliente fica em torno de R$ 52.
Thiago Furtado e Rodrigo Gonçalves
TRADIÇÃO RENOVADA FLORIPA É l 2015
Trajeto do Anel Viário de Florianópolis.
PROSUL A empresa, também nat�ral de Florianópolis, é a responsável pela elaboração dos projetos de uma das obras mais ag�ardadas pela população Em janeiro deste ano, a Prefeitura Municipal de Florianópolis iniciou as obras de um dos projetos mais aguardados pela população florianopolitana. O Anel Viário, que deve ligar as principais avenidas e ruas da cidade, é apenas uma das obras em que a Prosul está trabalhando em parceria com Prefeitura Municipal. Além dele, há também outros quatro projetos em andamento que merecem destaque: o Corredor Continental Sul Norte e os Corredores Insular das regiões Leste, Norte e Sul da ilha. Juntos, são pouco mais de 100km de vias em obras, cujos projetos incluem a implantação de corredores de ônibus com a remodelação de ruas existentes, a inclusão de passeios e ciclovias e, em alguns locais, a implantação de novas vias. Com as alterações, os moradores de Florianópolis não serão os únicos a sentirem os benefícios da redução do tempo de viagem. Residentes das cidades próximas, como Palhoça, São José, Biguaçu e toda a região metropolitana também receberão as mudanças de maneira positiva, melhorando as condições de tráfego na capital.
“Por ser�os uma empresa de engenharia com raízes florianopolitanas, é um g�ande org�lho ter a opor��nidade de t�abalhar nessas obras. Sabemos da impor�ância que elas têm para a cidade e, mais impor�ante, para as pessoas que passam ou vivem aqui”
A empresa atua ainda em outros projetos em parceria com a Prefeitura Municipal de Florianópolis, como a reforma do Mercado Público e a elaboração dos projetos de reforma e ampliação de escolas municipais.
Projetos de Vida
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A ILHA DAS STARTUPS ATRAINDO CADA VEZ MAIS PROFISSIONAIS DA ÁREA DE TECNOLOGIA, FLORIPA VÊ surgir DEZENAS DE NOVAS EMPRESAS FOCADAS NA CRIAÇÃO DE SOLUÇÕES DIGITAIS INOVADORAS
Florianópolis tem obtido grande destaque no cenário nacional das startups – novas empresas com baixos custos programadas para crescer rapidamente – e atrai cada vez mais empreendedores envolvidos com este mercado, normalmente ligado à área tecnológica. “Temos muitas empresas grandes de tecnologia na região. É natural que as pessoas que trabalham nessas empresas também queiram, em algum momento, ter o seu próprio empreendimento, e normalmente começam com uma startup”, avalia Alexandre Souza, coordenador do programa Startup SC e organizador do Startup Weekend, evento idealizado pelo Google e que teve sua quarta edição na capital catarinense entre os dias 20 e 22 de março. Segundo Souza, Florianópolis reúne uma série de fatores que contribuem para fomentar esse tipo de empresa: as universidades, que oferecem diversos cursos de administração e computação; iniciativas como a criação do Sapiens Park, um complexo voltado ao desenvolvi-
mento tecnológico; e também a atuação das incubadoras como o Celta e MIDI/Acate. “Nesse segmento, a capital catarinense está na liderança no país”, afirma o coordenador do Startup SC. O programa foi criado há dois anos pelo Sebrae para direcionar recursos que já eram destinados a empresas de tecnologia, mas não especificamente para o segmento de startups. O Startup SC engloba cinco principais iniciativas, mas a de mais destaque é o programa de capacitação, onde são escolhidas 20 startups que, em um período de quatro meses, participam de uma série de workshops, palestras e cursos sobre temas como inovação, criatividade, competitividade e modelo de negócio. Duas turmas são formadas a cada ano e até agora 80 startups já foram treinadas. A Moblee é uma das que participaram da última de 2014. Criada em 2011, quando o mercado de aplicativos para dispositivos móveis teve uma grande expansão no país, a empresa surgiu quando os sócios FLORIPA É l 2015
perceberam uma oportunidade no mercado de promoção de feiras e eventos. “Nós não estávamos nesta área de eventos, mas participávamos de muitos”, diz André Rodrigues, um dos sócios da Moblee. “Notamos que havia uma lacuna muito grande de informações, da agenda, da lista de expositores, tan-
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Equipe da Moblee: foco do aplicativo é aprimorar a experiência de quem participa de feiras e eventos
to nos websites quanto nos locais. As informações eram apresentadas de formas obsoletas, em catálogos, mapas impressos. Queríamos resolver esse problema do ponto de vista de um participante destes eventos”, diz o empreendedor. Hoje a empresa atende, a partir de Florianópolis, os maiores
players no mercado de organização de eventos do Brasil e tem clientes também no México. André considera que a chave do sucesso foi ter vendido o aplicativo, ainda no primeiro ano da Moblee, para o maior organizador de feiras do país. “Acreditávamos tanto na ideia, e havia tamanha vontade em fazer FLORIPA É l 2015
nosso projeto dar certo, que quando fizemos a primeira venda ainda eram apenas ‘prints’ das telas. Logo em seguida lançamos uma versão com usabilidade”, lembra. As vantagens de distribuir as informações através do aplicativo são inúmeras, a começar pela possibilidade de customização (cada evento conta
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Nielson, da Chaordic: a startup começou em 2010 com apenas seis pessoas e hoje, com 120 funcionários, atende 16 das 20 maiores operações de e-commerce no país
com seu próprio app, que o usuário pode visualizar de forma personalizada), até a chance de interagir com outros participantes por meio das redes sociais. Com um escritório localizado nos arredores da UFSC, André afirma que a cidade favorece quem deseja investir em novos empreendimentos tecnológicos. “Há um verdadeiro ecossistema em formação, com a presença dos estudantes, das incubadoras, do Sebrae, das outras startups mais experientes. Nós ainda somos de porte pequeno, mas com o processo de aceleração e atendendo oito grandes clientes no Brasil, já despontamos nesse nicho como a maior provedora de aplicativos para eventos no país”, arremata o sócio da Moblee. Um exemplo de startup que já superou as fases iniciais de desenvolvimento é a Chaordic, ex-incubada do Celta que conta atualmente com 120 colaboradores. “Começou com duas pessoas que já trabalhavam
com pesquisa e desenvolvimento de tecnologia na Fundação Certi, entre 2004 e 2006”, conta Anderson Nielson, diretor de pessoas da empresa. Foi na Certi que ele conhe-
Souza: grande parte dos empreendedores por trás da onda de startups na cidade já trabalhou em grandes companhias de tecnologia da região
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ceu os fundadores da empresa, João Bernartt e João Bosco, que na época estavam começando seus mestrados em Ciências da Computação e Engenharia de Controle e Automação, respectivamente. “Mas eles decidiram por fazer conjuntamente um mestrado na área da Inteligência Artificial, estudando especificamente o conceito de mineração de dados (data mining) que precedeu o que hoje chamamos de ‘big data’”, explica Nielson. Os futuros sócios precisavam ter acesso a uma grande quantidade de dados para desenvolverem sua pesquisa, mas no Brasil eram poucos os bancos de dados que podiam atender tal demanda. Descobriram que o provedor de vídeos digitais Netflix havia lançado um concurso global de desenvolvimento de software, que incluía o fornecimento de dados anonimizados sobre as preferências dos usuários, que eram usados para indicar recomendações de filmes. Para a Netflix, as recomendações
61 NAndréia Takeuchi (Divulgação) / Fernando Willadino
eram vistas como algo muito importante para o modelo de negócio. O desafio do concurso era melhorar o algoritmo deles em 10%, com direito a uma premiação de US$ 1 milhão para a melhor solução. Os fundadores da Chaordic haviam encontrado a oportunidade perfeita: acesso a imensa quantidade de dados e a chance de ganhar muito dinheiro. Depois de uma competição que durou quatro anos, com 40 mil competidores do mundo todo, o resultado atingido pelos mestrandos da UFSC chegou a pouco mais que 6%. Mas foi nessa trajetória que a maior das oportunidades se revelou. Ao perceberem que a gigante do e-commerce Amazon já fazia uso extensivo de personalização e recomendação em suas páginas, eles resolveram criar um modelo de negócio que possibilitasse a cada usuário enxergar sua própria loja virtual individualizada e diversa dos outros clientes. Com uma pesquisa elaborada para entender o que funcionaria no mercado brasileiro, eles foram atrás de fundos de fomento à inovação (CNPq, Finep, Fapesc) e conseguiram levantar R$ 1 milhão. Surgiu então a Chaordic, que começou com a meta de criar um produto com usabilidade para então conseguir aporte de fundos de investimento. O software desenvolvido não previa instalação na máquina do utilizador, e sim acesso remoto a um servidor – um modelo de licenciamento conhecido como “software as a service” (SAS). Bosco e Bernartt descobriram que havia um fundo investindo apenas nesse tipo de licenciamento e finalmente conseguiram os recursos para dar o próximo passo. Determinados, os sócios procuraram as livrarias Saraiva para
Santos: “A riqueza de networking em Florianópolis facilita muito, as empresas surgem num contexto propício”
oferecer o algoritmo de recomendações. Com um perfil similar ao da Amazon, a empresa aceitou a proposta, e o primeiro produto da Chaordic entrou em uso. Anderson relembra que os primeiros números comparativos indicaram um aumento de 40% na taxa de conversão
Rodrigues: “Há um ecossistema em formação, com a presença dos estudantes, das incubadoras, do Sebrae e de outras startups com mais experiência”
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do site, índice que mede as vendas realizadas em comparação ao número de acessos à loja. E aquilo que em 2010 começou com um time de seis pessoas, passou no ano seguinte a 20, depois a 40, a uma centena e hoje são 120 colaboradores, 12 deles estrangeiros. Com quatro produtos no portfólio, atende 16 das 20 maiores empresas de comércio eletrônico no Brasil. Este crescimento rápido também se verifica na Contentools, startup catarinense acelerada pela 500 Startups, no Silicon Valley, Estados Unidos. Especializada em marketing de conteúdo, instalou-se na capital das empresas de tecnologia para uma jornada prevista para durar quatro meses e que começou a tomar forma dentro do programa Startup SC. “Nós tínhamos outro nome, outra ideia na época, mas mudamos e aprimoramos o produto dentro do programa do Sebrae”, relembra Elton Miranda, que fundou a empresa com a sócia Emília Chagas. Em 2013 eles integraram a primeira comitiva do Startup SC para o Silicon Valley e se surpreenderam com as oportuni-
62 NDivulgação
Elton e Emília, sócios na Contentools, conseguiram vaga em uma aceleradora de startups no Vale do Silício e planejam abrir um escritório nos EUA, mas sem sair de Floripa
dades do mercado norte-americano. “Aqui é o local para se testar ideias globais”, diz Miranda. “Nos candidatamos a uma vaga na 500 Startups e, para nossa surpresa, nosso projeto foi aprovado.” De acordo com ele, o principal diferencial que fez a Contentools ser selecionada para fazer parte da aceleradora – uma versão “turbinada” das incubadoras de empresas – foram os resultados que já haviam obtido com seu produto. “Na verdade já chegamos com 300 clientes no Brasil, uma empresa operando e um produto funcionando. Tudo isso com certeza foi muito significativo”, avalia Miranda. Para ele, os números falaram tanto quanto a ideia em si. A rotina da dupla nos Estados Unidos é dinâmica. “Pela manhã resolvemos as coisas com o Brasil e durante a tarde são muitas palestras, cursos, um circuito muito intensivo de eventos e reuniões”, diz o empreendedor, que deixou em Florianópolis uma operação com 28 pessoas.
Os planos para a Contentools após o período de aceleração incluem a abertura de um escritório comercial em São Francisco. A operação e o desenvolvimento, entretanto, seguem na capital catarinense. “Florianópolis é sensacional. Tenho viajado, conhecido bastante o Brasil, encontrado empreendedores de toda parte, e nenhum lugar se compara em termos de empreendimentos que envolvem tecnologia. Nossa equipe é um exemplo. Não teria como eu e a Emília termos vindo para os EUA sem as pessoas que compõem nosso time. A empresa ficou na mão da galera, que está mandando muito bem”, diz Miranda. “A riqueza de networking existente em Florianópolis facilita muito, as empresas surgem dentro de um contexto propício”, analisa Gabriel Sant’Anna Santos, coordenador do MIDI Tecnológico, segunda incubadora mais antiga da cidade – atrás apenas do Celta. Gerido pela Associação Catarinense de EmpreFLORIPA É l 2015
sas de Tecnologia (Acate), o MIDI existe há 16 anos e já graduou nesse modelo 77 empresas. Ele é mantido pelo Sebrae/SC, que também oferece consultores, programas de capacitação, e ainda a proximidade com as grandes empresas do setor. “Na Acate temos 420 empresas associadas diretamente, e mais de 300 indiretamente, em parceria com os polos regionais”, explica Santos. As empresas são agrupadas em 12 “verticais” – grupos de empresas que atuam em mercados semelhantes e complementares. “Uma startup pequenina pode trabalhar em parceria com grandes empresas locais, como a Dígitro ou a Intelbras, e acelerar muito seu desenvolvimento”, afirma. O grande diferencial desse modelo, segundo ele, é a taxa de sobrevivência das incubadas. “Nossa média é de mais de 90%, bem superior à realidade das pequenas empresas brasileiras. Além disso, as empresas que se graduam e saem passam a colaborar com as que estão aqui dentro.”
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ESTAGNAÇÃO IMOBILIÁRIA AUMENTO NOS JUROS, INCERTEZAS NA ECONOMIA E ESGOTAMENTO DO ESPAÇO DISPONÍVEL FREIAM A EXPANSÃO DO MERCADO DE IMÓVEIS NA CAPITAL Parado. Segundo dados apurados pela Fecomércio/SC, é assim que se encontra o mercado imobiliário em Florianópolis. A pesquisa divulgada pela entidade em janeiro, com base em dados colhidos durante nove meses de 2014, mostra que já se caracteriza uma estagnação. Um exemplo é o preço do metro quadrado no aluguel anual, que em abril do ano passado tinha como valor de referência R$ 25,28 e fechou dezembro valendo R$ 25,57. É um mercado grande, que
conta com quase 40 mil unidades atualmente sob contrato, segundo o último Censo do IBGE. Na comercialização, houve uma queda nos valores médios. Em abril registrou-se R$ 4.650 por metro quadrado, com pico de R$ 5.041 no mês seguinte. No último mês do ano, o valor médio aferido foi de R$ 4.274. As áreas mais valorizadas na cidade continuam sendo o Centro e Jurerê, mas no decorrer da pesquisa uma
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região foi destaque: o Bairro Abraão, em quarto lugar, ultrapassando Agronômica, Itacorubi e Coqueiros. Foi o único lugar onde se verificou pequeno aumento no preço do metro quadrado, e os investimentos feitos pelo poder público na melhoria da infraestrutura certamente contribuíram para o bom desempenho. Para Helio Bairros, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Florianópolis (Sinduscon), a dificuldade de comercializar os imóveis se acentuou a partir de 2014. “O que era uma percepção
65 .Marco Túlio Brüning NDaniel Queiroz (Arquivo ND)
mercadológica, pode-se dizer que agora é fato. A economia de modo geral não cresceu, e o aumento dos juros gera dificuldade para que haja mais financiamentos. O setor imobiliário é muito sensível. Ao subirem os juros, já ocorre um desaquecimento”, afirma Bairros. O crédito para quem financia imóveis até R$ 700 mil segue disponível, já que para esta faixa não houve aumento de juros. Para valores maiores já se percebem as mudanças. A ordem do dia é ter criatividade. “É o elemento mais forte nesse momento. Tem que ouvir, pesquisar, entender o mercado e apresentar aquilo que ele deseja. Em seguida vêm três fatores: localização, localização e localização. Estar nos pontos estratégicos vai facilitar demais a comercialização”, avalia o presidente do Sinduscon.
E como a maior parte da capital está em uma ilha, onde há grandes dificuldades para expansão das áreas detentoras de alvará de construção, em um olhar atento para a cidade percebe-se que endereços tradicionais continuam a se reinventar a ganhar mais valor. Comercialmente, as proximidades do cruzamento das avenidas Rio Branco e Prefeito Osmar Cunha têm sofrido grande modernização, com boa disponibilidade de novos imóveis executivos de alto padrão. Para os compradores residenciais, os arredores das ruas Desembargador Arno Hoeschl e Almirante Lamego, no sentido Rua Esteves Júnior. “Florianópolis mantém seu apelo, o charme, as belezas naturais e a qualidade de vida. Apesar do impacto, ainda há nichos de mercado que podem ser bem explorados. Depende da qualidade do produto, da infraestrutura ofertada e da criatividade, que cada vez mais está em alta”, recomenda Bairros. Para ele, apesar de não crescer com o mesmo vigor e desenvoltura, a tendência do mercado na capital catarinense é sempre de
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alta nos valores. “Aqui temos muitas limitações. É uma ilha e já está se esgotando. Não há mais grandes terrenos disponíveis como em outras épocas, aumentaram as restrições ambientais, novos planos diretores. O produto escasso sempre fica mais caro”, prevê o presidente do Sinduscon/SC. O vice-presidente da Fecomércio na Grande Florianópolis, Marcelo Brognoli, destaca que as dificuldades se estendem a todos os segmentos. “Apenas ocorre que o mercado de imóveis não é diferente. Ele é perfeitamente integrado à cadeia econômica e sente os sobressaltos da economia.” Segundo ele, a preocupação e a falta de confiança dos empresários e dos consumidores ajudam a compor este cenário de desaceleração. O dirigente afirma que é natural uma contração, mas que por outro lado o mercado imobiliário tem lá suas peculiaridades: “Em um mo-
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NRosane Lima (Arquivo ND) / Divulgação
mento de incerteza na macroeconomia, é natural que parte do que está aplicado para render na ciranda financeira venha parar em imóveis”, lembra Brognoli. Em 2016 as medidas econômicas devem começar a dar resultado e, segundo ele, o crescimento deve ser retomado. “Nosso sistema financeiro é muito bem amarrado, o mercado é sólido, não vejo risco de ocorrer a ‘bolha’ como muitos até andaram falando por aí. O investimento em imóvel é considerado um dos mais seguros e rentáveis, há crédito imobiliário, está tudo dentro de uma normalidade”, conclui Brognoli. A economista do Sinduscon/SC, Ludmilla Custódio, não tem dúvidas de que o atual estado da economia afeta empresas e desestimula consumidores. “As empresas têm dificuldade em conseguir capital de giro, as famílias avaliam melhor seu orçamento. Por ora, o emprego e a renda da maioria dos trabalhadores ainda estão sustentados, mas há expectativa de ocorrer uma reversão deste quadro”, adverte a economista. Nas pesquisas realizadas pelo Sinduscon, verificou-se que grande parte dos consumidores procura imóveis de 2 e 3 dormitórios. “É exatamente nesses segmentos que o preço está não apenas sustentado, mas em ligeira alta. Já os imóveis de 4 dormitórios ou mais enfrentam uma pequena desvalorização, tanto devido aos custos como pela demanda”, esclarece Ludmilla. Quanto ao perfil do comprador, conforme mostra o Sinduscon, está ocorrendo uma grande mudança, de “investidores” para “compra para uso”. Para a economista, “essa é uma troca muito interessante, uma vez que diminui a especulação de preços, além de ser uma demanda mais sustentada no longo prazo”.
Bairros: para um empreendimento se destacar no mercado é preciso qualidade, criatividade e boa localização
Para Fernando Willrich, presidente do Sindicato da Habitação de Florianópolis (Secovi), o achatamento da liquidez na economia é o principal fator na estagnação que se apresenta neste começo de ano. “As medidas tomadas recentemente pelo Governo, ao menos em um primeiro
Brognoli: mercado sólido e sistema financeiro bem amarrado afastam o risco de uma “bolha” imobiliária
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momento, afetam o dinamismo que o mercado vinha demonstrando nos últimos anos. A valorização fica mais lenta e há um aumento no tempo que os imóveis levam até serem vendidos ou alugados”, explica Willrich. Segundo o especialista, tende a ocorrer ainda uma superoferta no mercado, pela maior dificuldade em ocupar o que está disponível. “No entanto, não está no horizonte uma baixa nos preços dos aluguéis. O que existe é uma maior flexibilidade na hora da renovação dos contratos existentes, um ajuste natural da demanda”, diz o presidente do Secovi. Fernando Willrich destaca um elemento regional que ajuda a compor o cenário desfavorável: o grande aumento dos valores do IPTU em Florianópolis. “A renda disponível para uma pessoa, ou família, gastar com moradia, ou mesmo de um empresário com o seu empreendimento, é limitada. O aumento de até 50% na taxa cobrada consome boa parte desse valor. Sobra menos para o aluguel, para pagar o condomínio, afeta toda a cadeia produtiva”, pondera.
67 .Stefani Ceolla NDaniel Queiroz (Arquivo ND)
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Em solenidade realizada em janeiro no Palácio Cruz e Sousa, o presidente Sander DeMira apresentou o carimbo especial do centenário e um selo postal comemorativo
UM SÉCULO DE ENGAJAMENTO A ACIF, Entidade QUE REÚNE OS empresários da cidade, tem histórico marcado por lutas que favorecem toda a população É um ano histórico para a Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (ACIF). Em 2015, a entidade completa 100 anos e preparou cerca de 40 ações para comemorar a data. Uma das mais marcantes ocorreu no dia 14 de fevereiro, quando sua história foi contada na Passarela Nego Quirido pela escola de samba Protegidos da Princesa. Com um enredo marcante, que falou da evolução do comércio na cidade, a escola se consagrou campeã do Carnaval 2015. “São muitas atividades e elas foram programadas para ter uma estratégia e falar com públicos diferentes”,
diz o presidente da entidade, Sander DeMira. “Temos ainda seções solenes no Legislativo municipal, estadual e federal, além de uma missa na Catedral Metropolitana”, exemplifica. Mas as ações vão muito além. “Recentemente, no Palácio Cruz e Sousa, lançamos o selo feito em parceria com os Correios e o carimbo especial do centenário”, acrescenta. Um site exclusivo foi lançado para o centenário, que contempla todas as ações, além de contar a história da entidade e homenagear seus ex-presidentes. As atividades não se restringem aos associados. “No segundo semesFLORIPA É l 2015
tre teremos um ciclo de palestras com referências mundiais para discutir a Florianópolis do futuro. Não queremos apenas contar a história, mas também olhar para frente”, resume DeMira. “A ACIF tem ocupado um espaço cada vez maior no dia a dia não só da classe empresarial, mas também no desenvolvimento sustentável da cidade.” Ele cita como exemplo o envolvimento nas discussões sobre o aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e pela ampliação do aeroporto Hercílio Luz. A entidade conta hoje com 4 mil empresas associadas, seis unidades regionais e uma unidade móvel. Para Doreni Caramori Júnior, coordenador dos 100 anos da ACIF e presidente da entidade entre 2009 e 2013, o engajamento com o desenvolvimento local faz parte da história da entidade. “As pautas mudaram, mas os ideais são os mesmos. Tentamos contribuir com a cidade discutindo suas demandas, além de acompanhar o crescimento e tentar ordená-lo. Isso além do desafio específico da entidade que é manter a categoria unida”, defende.
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DO MAR À MESA
TODO O SABOR DOS PEIXES PESCADOS NA ILHA EM SETE PRATOS DE RENOMADOS RESTAURANTES LOCAIS
Servida apenas no inverno, a Tainha na Telha do Barracuda Grill leva em seu recheio farofa de camarão, alcaparras e azeite de dendê
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Quem gosta de peixe sabe: quanto mais fresco, melhor. E que lugar pode garantir o ingrediente com qualidade superior senão uma ilha rodeada de mares e entrecortada por lagoas? Rota natural no trajeto de cardumes das mais diversas espécies, Florianópolis tem boa parte de sua cultura ligada à pesca. Comum na mesa da população nativa, os pescados também ocupam lugar de destaque no cardápio de muitos restaurantes especializados. De receitas simples e tipicamente açorianas até preparações mais sofisticadas, os peixes encontrados na região são um dos principais atrativos da gastronomia local. E quando se pensa em peixe típico da Ilha, a tainha é, sem dúvida, a espécie mais famosa. Além de fundamental para a economia da cidade, sua pesca é um importante elemento de identificação dos florianopolitanos com os antepassados açorianos. Previsto para ocorrer de maio a julho – época em que a espécie busca os grandes estuários para desovar – o ritual de pesca é complexo e segue o ritmo dos ventos. Primeiro, é preciso aguardar que o vento sul traga os peixes e, depois, a força do vento nordeste deve conduzi-los até as encostas. Embora a tainha seja comum em praticamente todo o litoral brasileiro, Santa Catarina responde por aproximadamente 60% do total pescado no país. A safra de 2014, por exemplo, foi de 1,3 milhão de toneladas. Verdadeira unanimidade no cardápio dos restaurantes locais, a iguaria pode ser degustada nas mais variadas formas, que vão dos tradicionais filés até ceviches, sushis e sashimis. “Trata-se de um peixe tenro, firme e de sabor marcante”, resume o chef Rivaldo Moises Silva, que há oito anos comanda a cozinha do Barracuda Restaurante & Grill, localizado na Avenida das Rendeiras, às margens
A Casa do Chico serve filés de anchova grelhados e guarnecidos com polvo, castanha-do-pará, batatas e arroz
da Lagoa da Conceição. Fundada em 1997, a casa preza pela releitura de receitas tradicionais, como a tainha na telha. Nesta preparação, o peixe é cortado ao estilo que ficou popular como “escalada”, que consiste em fazer um corte no sentido longitudinal pelas costas. Recheado com farofa de camarão, alcaparras, cebola, alho e
No Pitangueiras, os filés de linguado vão ao forno com molho de alho poró, creme de leite fresco e funghi
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azeite de dendê, o peixe é levado ao forno para assar numa telha especial de cerâmica vitrificada. Após receber uma camada de molho feito com tomates, pimentões e azeitonas pretas, a iguaria chega à mesa guarnecida de lascas de batata frita e arroz branco (R$ 89 para duas pessoas). Nem bem acaba a safra da tainha e tem início a alta temporada de outro peixe tão popular e saboroso quanto: a anchova. Conhecida pela sua voracidade – que lhe garante o apelido de “piranha dos mares” – a espécie está presente em quase todo o território brasileiro, com maior prevalência em águas agitadas próximas a costões de ilhas como Florianópolis. Embora predomine nos cardápios entre meados de agosto e novembro, a anchova também pode ser degustada praticamente durante todo o ano graças à parceria entre restaurantes e pescadores artesanais. “Damos preferência ao produto fresco capturado na região, então nem sempre certos pratos estão disponíveis”, explica o chef Fabrício Zanatta Junkoski, responsável pela cozinha de um dos restaurantes mais
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NFernando Willadino
Segundo pesquisa do Ministério da Saúde, 44% da população adulta de Florianópolis costuma praticar atividades físicas regularmente durante seus períodos de lazer
Empanado com flocos de milho, o “namorado crocante” do Porto do Contrato vem coberto com molho de maçã e acompanhado de batatas recheadas com três queijos
tradicionais da cidade, a Casa do Chico, inaugurada em 1974. Instalados no salão com vista para a Lagoa da Conceição, os clientes podem provar a deliciosa “Maricota atrevida” – filés de anchova grelhados e guarnecidos com polvo cozido salteado no azeite, castanha-do-pará, batatas cozidas e arroz com brócolis (R$ 99,50 para duas pessoas). “A anchova tem a carne um pouco mais escura e é muito saborosa, razão pela qual utilizamos apenas temperos com sal, pimenta e azeite de oliva”, conta Fabrício. Quem prefere pescados de sabor menos acentuado vai se render à suavidade do linguado, outra espécie
muito comum na Ilha. Habituado às profundezas do oceano, este tipo de peixe costuma ser encontrado durante todo o ano na costa catarinense. De carne branca e magra, geralmente aparece em preparações que levam alcaparras ou outros ingredientes marcantes. É o caso de uma das receitas elaboradas pelo restaurante Pitangueiras, situado na Ponta do Sambaqui, ao norte da Ilha. Com o objetivo de ressaltar seu gosto delicado, os filés de linguado são levados ao forno para gratinar com molho de alho poró, creme de leite fresco e funghi. Para acompanhar, arroz branco e farofa (R$ 96,70 para duas pessoas). FLORIPA É l 2015
Outro peixe típico do litoral catarinense que se destaca pelo sabor suave é o namorado, muito encontrado em alto-mar na região que se estende do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul. “É um peixe muito suculento, que vai bem nas mais diversas combinações”, afirma o chef Rodrigo Silva, do restaurante Porto do Contrato, localizado ao sul, no Ribeirão da Ilha. Entre os carros-chefe da casa está o chamado “namorado crocante”, que consiste em filés do peixe empanados com flocos de milho e regados com molho de maçã, com acompanhamento de arroz, salada e batata recheada com requeijão, gorgonzola
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Na Marisqueira Sintra, o robalo vai ao forno coberto por uma generosa camada de sal grosso e tem seus filés cortados na hora, preservando todo o sabor do pescado
e parmesão (R$ 89 para duas pessoas). “Outra vantagem dessa espécie é que conseguimos encontrá-la fresca durante quase todo o ano”, completa Rodrigo. Ainda entre os pescados de sabor ameno, outra espécie abundante em Florianópolis é a carapeva. De porte pequeno, costuma habitar praias arenosas e tem especial predileção por estuários, como é o caso da Lagoa da Conceição. Não por acaso, o melhor lugar para provar este peixe é na Costa da Lagoa, comunidade pesqueira acessível apenas por barco ou trilha. Onipresente no cardápio dos diversos restaurantes do vilarejo, a carapeva geralmente é servida na forma de iscas, em filés ou inteira e frita. Pescado ali mesmo, com maior frequência entre os meses de novembro e dezembro, o peixe muitas vezes nem chega a ir para o gelo – segue diretamente para a cozinha. “O sabor é muito delicado, tão suave quanto o linguado, sendo ideal para aquelas pessoas que não têm o paladar adap-
tado ao pescados mais fortes”, explica Clóvis Cabral, do Restaurante Cabral. Na casa, instalada às margens da lagoa, os clientes podem experimentar o peixe em diferentes receitas: desde uma porção de carapeva frita até a mais clássica das combinações da gastronomia ilhéu: filés de carape-
va grelhados ou à milanesa, acompanhados de arroz branco, pirão de peixe e fritas (R$ 69 para duas pessoas). Quem quiser variar pode optar também pelo ceviche de carapeva (R$ 32). Um dos pratos mais tradicionais da culinária ilhéu, a moqueca pode ser preparada com diversos tipos de
Pescada ali mesmo, na Costa da Lagoa, a carapeva frita é um dos pratos mais pedidos no Restaurante Cabral
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pescado. Mas são as espécies de carne mais firme, porém suculenta, que garantem o verdadeiro sucesso da receita, impedindo que o peixe se desmanche durante o cozimento. “Por isso, a garoupa é um dos peixes mais utilizados em preparações do tipo”, relata o chef Rámon Santos, do Toca da Garoupa, localizado no Centro da cidade. Disponível durante praticamente todo o ano, a garoupa é uma espécie que vive escondida nas profundezas do mar e costuma ser pescada de forma artesanal, através de arpões. “A carne clara, de textura macia e sabor envolvente, é muito valorizada na gastronomia”, descreve Ramón. Dentre as opções do cardápio, a moqueca feita com o peixe que dá nome à casa é um dos pratos mais pedidos. Levadas ao fogo em panela de barro, as postas de garoupa são cozidas com rodelas de cebola, tomate, pimentão verde, azeite de dendê, leite de coco e especiarias. A refeição inclui o tradicional pirão feito com o caldo do peixe, arroz com açafrão e farofa amarela com bacon e azeite dendê (R$ 135 para duas pessoas). Considerado um dos peixes mais nobres do litoral catarinense, o robalo tem a carne branca e muito macia, que se desfaz em lascas. Para tirar proveito de todas as qualidades da espécie, o restaurante Marisqueira Sintra aposta numa preparação simples, mas de sabor certeiro. “Do jeito que sai do mar, o peixe é coberto com uma camada de sal grosso e levado ao forno para assar em alta temperatura”, conta a chef Andréia Arruda de Paula. Depois de assada, a iguaria segue para a mesa, onde os filés serão cortados na hora. Entre os acompanhamentos estão legumes na manteiga, batatas ao murro e molho de manteiga com alho e limão siciliano (R$ 90 o quilo).
Das profundezas do mar para o fundo da panela, a garoupa é a estrela da moqueca servida na Toca da Garoupa
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Avenida das Rendeiras, 1620, Lagoa da
da Ilha. (48) 3337 1026 e 3234 4454
Conceição. (48) 3232 5132
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CONHECER conhecer PARA para PRESERVAR preservar A TRILHA ECOLÓGICA DO RIO VERMELHO OFERECE A EXPERIÊNCIA ÚNICA DE ENTRAR EM CONTATO COM EXEMPLARES DA FAUNA NATIVA RESGATADOS PELA FATMA E PELA POLÍCIA AMBIENTAL
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Caminhar em meio à natureza na companhia de animais silvestres, mas com a segurança e o conforto necessário para acomodar crianças, cadeirantes e idosos. Essa é apenas parte da proposta da Trilha Ecológica do Rio Vermelho, aberta ao público desde maio de 2014. O passeio é indicado para pessoas de todas as idades e pretende ir muito além da mera contemplação: acompanhados por guias especializados, os visitantes recebem uma verdadeira aula de preservação ambiental, incluindo informações detalhadas sobre cada uma das espécies da fauna e flora locais observadas pelo trajeto. Com aproximadamente um quilômetro de extensão, a trilha é composta por um deque suspenso que visa interferir o mínimo possível na passagem de macacos, pássaros e animais rasteiros, além de oferecer completa acessibilidade às pessoas com dificuldades de locomoção. Para comodidade do público, o local ainda inclui banheiros, bebedouros e mirante com vista panorâmica para a Lagoa da Conceição. A grande atração por ali, no entanto, são os 16 viveiros que abrigam mais de 200 animais silvestres, com
Mesmo cercado pela mata, o caminho de cerca de 1 km de extensão é acessível a pessoas de todas as idades
representantes de pelo menos 35 espécies da fauna catarinense. “Mas não tem nada a ver com zoológico”, avisa a guia florestal e engenheira de aquicultura Maíra Magdaleno, enquanto se prepara para conduzir mais um grupo através do trajeto, que está inserido na unidade de conservação do Parque Estadual do Rio Vermelho, na região entre a Lagoa da Conceição e o Norte da Ilha. Ela explica que a diferença entre a trilha e um zoológico é mais do que mera questão conceitual. Enquanto
os zoológicos basicamente são empresas que se dedicam ao encarceramento e exposição de animais com o objetivo de gerar lucro, a estrutura montada no Rio Vermelho faz parte de uma projeto de preservação ambiental inédito no país. A fauna que habita o espaço é composta por animais resgatados pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma) e Polícia Ambiental. “São animais que não possuem condições de voltar à natureza, geralmente resgatados em péssimas condições, feridos em ações de con-
A trilha é na verdade um deque suspenso, projetado para facilitar a locomoção dos visitantes e interferir o mínimo possível na passagem dos animais nativos da região
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REFÚGIO DA FAUNA LOCAL Quem visita a Trilha Ecológica do Rio Vermelho tem a chance de observar mais de 200 animais de pelo menos 35 espécies da fauna catarinense que foram resgatados de situações de abuso e maustratos. A maioria dos cerca de 3 mil animais resgatados anualmente é devolvida à natureza, mas aqueles sem condições de serem reinseridos encontram ali abrigo e tratamento por toda a vida.
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trabando, maltratados, etc.”, explica Maíra, utilizando como exemplo o viveiro onde está uma família de macacos-prego, muito procurados no mercado negro devido às habilidades para apresentações circenses. Além dos macacos, araras, corujas, gaviões e papagaios distribuem-se pelos viveiros ao redor. Um pouco mais à frente, os visitantes são convidados a entrar numa espécie de gaiola gigante, que propicia a aves menores – como sabiás e bem-te-vis – a chance de um contato quase pleno com a natureza. Por fim, há um tanque com dezenas de cágados e um jardim repleto de jabutis. A Trilha Ecológica do Rio Vermelho foi idealizada pelo subtenente Marcelo Duarte, da Polícia Ambiental, que desejava criar um espaço para conscientizar os cidadãos sobre a situação de risco dos animais silvestres. Mas foi apenas com o incentivo da Fundação do Meio Ambiente que o projeto finalmente se concretizou. “Não há em nenhum outro local do Brasil – e também ainda não soubemos de nada semelhante no mundo – que faça essa conexão entre turismo,
Voluntários da ONG R3 Animal são responsáveis pelo manejo dos animais e por acompanhar as visitas à trilha
educação ambiental e preocupação com a fauna”, afirma Márcio Luiz Alves, diretor de proteção ambiental da Fatma. Segundo ele, R$ 1,75 milhão foram investidos na construção da trilha, que inclui um amplo espaço para tratamento e recuperação de animais silvestres, com biólogos e veterinários disponíveis 24 horas. Todo o trabalho de manejo dos animais, assim como o acompanha-
No fim do passeio, um amplo espaço oferece a infraestrutura perfeita para um piquenique em meio ao verde
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mento dos visitantes pela trilha, é feito por voluntários da R3 Animal, uma ONG dedicada à proteção animal. “No total, resgatamos mais de 3 mil animais por ano. A maioria é encaminhada para a soltura, mas alguns infelizmente terão que viver para sempre em cativeiro”, conta Márcio. A degradação da flora nativa também não fica de fora das observações feitas ao longo do passeio. No local, é possível observar os danos causados por espécies como pinus e cedrinho, ambos trazidos para a Ilha com fins comerciais na década de 1960. Dos 1,5 mil hectares do Parque Estadual do Rio Vermelho, mais de 70% é composto por estas plantas exóticas. “Pode parecer bonito à primeira vista quando olhamos para esta floresta repleta de pinheiros, mas trata-se de uma floresta morta, pois o pinus se espalha feito uma praga, impedindo o crescimento da vegetação nativa e a sobrevivência de diversas espécies da fauna local”, explica Maíra, enquanto conduz o grupo pela parte final da trilha, que desemboca numa imensa floresta dominada por imensos e áridos pinheiros.
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cultura l esporte l grupo RIC
O RIZO DO CAMALEÃO Impossível circular pelas ruas de Floripa sem se encantar com a beleza dos diversos desenhos grafitados em muros, paredes, marquises e viadutos. Um dos pioneiros e principais entusiastas deste movimento que não para de crescer é o artista plástico Rodrigo Rizo, de 27 anos. Nascido em São Paulo e radicado na Ilha há 18 anos, ele é o autor dos camaleões que se espalham pela cidade, totalizando mais de cem pinturas em diferentes estilos, texturas e locais. Os répteis multicoloridos do artista são sucesso mundial e já integraram mostras de grafite na Itália, Suécia, Dinamarca, Chile, Peru e Estados Unidos.
VELHA-GUARDA EM DVD A tradição dos antigos carnavais da Ilha se mantém
SURPRESA EM ACORDES FOLK
viva nas velhas-guardas das escolas de samba locais.
Enquanto muitos grupos musicais demoram a emplacar, a Balcony
Foi pensando em valorizar a memória viva da cultura
precisou de pouco tempo – não mais de um ano – para conquistar
popular local que surgiu o DVD “Tradição: O Som das
a plateia da capital e abrir caminho no interior do Estado. Fundada
Velhas Guardas de Florianópolis”. O projeto traz a
em dezembro de 2013, a banda reuniu cinco amigos decididos a
gravação de um espetáculo realizado em fevereiro
apostar num gênero musical até então incomum na Ilha: o folk rock.
de 2014 com as velhas-guardas da Protegidos da
Inspirados pelos clássicos de Bob Dylan e The Beatles – além de
Princesa, Coloninha e Copa Lord. O DVD inclui ainda
nomes mais recentes como Mumford and Sons e The Lumineers – eles
histórias e causos dos pioneiros do samba na cidade.
apostam em covers e composições próprias que se destacam pela
Para acompanhar os sambistas, uma equipe de dez
sofisticação dos arranjos. Depois da boa recepção nos palcos, a banda
músicos foi escalada pelo violonista e diretor musical
se prepara para lançar o primeiro CD e um videoclipe, que devem
Luiz Sebastião Juttel.
chegar ao público no segundo semestre de 2015. FLORIPA É l 2015
81 .Mônica Pupo NBruno Ropelato, Flávio Tin, Daniel Queiroz e Eduardo Valente (Arquivo ND) / Cleia Braganholo (Divulgação)
TODAS AS CORES DE ELI Pintora, escultora, ceramista, poetisa e desenhista autodidata, Eli Heil é uma das mais versáteis e completas artistas plásticas de Santa Catarina. Aos 85 anos, a manezinha nascida na Barra do Aririú, em Palhoça, acumula participações em algumas das principais mostras de arte ao
DA HISTÓRIA PARA AS TELAS
redor do mundo. Conhecida por
Nascido em Florianópolis, José Henrique
seu estilo autêntico, ela é adepta
Nunes Pires – ou Zeca Pires, como ficou
das cores fortes e costuma utilizar
conhecido – é um dos profissionais
materiais inusitados em suas obras,
com produção cinematográfica mais
como saltos de sapato, rolos de
representativa de Santa Catarina. Seguindo
papel higiênico, canos de PVC e
na missão de resgatar os principais fatos da
tubos de tinta. Para celebrar os 53
história catarinense, ele lança este ano um
anos de carreira, Eli ganhou este
documentário sobre os desdobramentos
ano uma exposição individual no
do nazismo e do movimento integralista no
Museu de Arte de Santa Catarina.
Estado. Intitulado “Anauê”, o filme é fruto de
A retrospectiva incluiu pinturas e
extensa pesquisa e inclui entrevistas com
desenhos, além de três grandes
historiadores e autoridades no tema. A estreia
painéis inéditos.
está prevista para o segundo semestre.
AS AVENTURAS DE UM ILUSTRADOR Natural de Caxias do Sul (RS), Sandro Zamboni iniciou a carreira em 1991, ainda na adolescência, ao publicar seus primeiros desenhos em um diário local. De lá para cá, o gaúcho radicado em Florianópolis já atuou em diversos jornais e editoras nas funções de chargista e infografista. Atualmente, Zambi – como prefere ser chamado – trabalha como ilustrador do jornal Notícias do Dia, além de tocar projetos paralelos, como o livro “As Aventuras de Sir Holland, O Bravo”, lançado em Comic Con Experience, em São Paulo, em dezembro do ano passado. A obra narra a história de um cavaleiro medieval que foge do estereótipo de herói: baixinho e narigudo, Sir Holland também é atrapalhado, medroso e não muito esperto. FLORIPA É l 2015
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.Juliete Lunkes NFernando Willadino
editorial
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Instalado em um amplo terreno no Sul da Ilha – com direito a restaurante, loja de conveniências e estacionamento – está o primeiro e único circo permanente e genuinamente mané de Florianópolis. Localizado a poucos metros do mar do Morro das Pedras, o Circo da Dona Bilica é fruto do esforço de uma nativa da Ilha e de um palhaço espanhol, e que não só deu certo como cresce a cada ano. Vanderléia Will, 45 anos, é a figura por trás da personagem que dá nome ao espaço e já acumula mais de duas décadas de experiência em fazer plateias rirem e se emocionarem. Em 1988, graças a um curso de teatro promovido pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), a então jovem Vanderléia finalmente descobriu o porquê de nunca passar nos vestibulares de engenharia: sua vocação definitivamente não tinha nada a ver com números ou conhecimentos científicos. Ela tinha nascido para ser a Dona Bilica. Em 1994, após entrar na faculdade de artes cênicas da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), ela passou a fazer parte do grupo A Tormenta, fase em que foi habituada a sua veia cômica. Mais tarde, ao conhecer o marido, o palhaço Pepe Nuñez, em um festival internacional de teatro, nasceu a Cia. Pé de Vento, que os levou a circular com espetáculos pelo Brasil e exterior. Mas após anos na estrada, a vontade de ter um espaço fixo e poder ficar mais perto dos dois filhos, hoje com nove e 13 anos, surgiu a ideia do Circo da Dona Bilica. Graças a um terreno que já possuía no Morro das Pedras, a uma lona comprada pouco antes para montar espetáculos pela cidade e um pouco de teimosia do marido, em 2013 ele virou realidade. “O Pepe que começou com essa ideia, eu sou mais pé no chão e ficava pensando em como manteríamos isso o ano todo. Mas ele planejou tudo e deu certo”, revela a atriz, sem esconder o orgulho do que construíram.
Vanderléia Will
UM CIRCO SÓ DELA FLORIPA É l 2015
Parabéns, Florianópolis, pelos seus 289 anos. Uma homenagem do Shopping Iguatemi.
Baixe o app do Iguatemi Florianópolis
iguatemi.com.br/orianopolis
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.Juliete Lunkes NFernando Willadino
editorial
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Muito mais do que viver na eterna nostalgia de um passado que, em parte, nunca conheceu, o engenheiro e artista plástico Átila Ramos transforma sua saudade em trabalho. Seja em seus livros já lançados, que abordam a história do saneamento básico de Florianópolis e de Santa Catarina e do Carnaval da cidade. Seja no próximo, ainda em fase de pesquisa, que contará a inédita história do cinema mudo da Capital. Seja nos quadros e desenhos que produz quase que diariamente. Aposentado da Casan, onde passou 37 anos de sua vida profissional como engenheiro, Átila conciliou todo esse tempo com o trabalho vinculado às artes, e além de retratar elementos da cidade na ponta do pincel em suas telas, chegou a atuar como cartunista no jornal O Estado na década de 1970, e foi ainda o responsável pela primeira logomarca da Casan, da Viação Catarinense e de uma série de outras companhias. Em sua pilha de contribuições, uma das mais recentes é a criação de um projeto que pode resgatar o antigo Miramar, desenvolvido ao lado de outros artistas da capital. Mas sua incansável pesquisa sobre a história da cidade onde nasceu, cresceu e vive até hoje – em busca de material para transformar em livros ou em quadros – não é nem de longe considerada por ele um trabalho. “Eu não gosto e não entendo nada de futebol, então essas pesquisas são a minha cachaça”, brinca. E logo emenda: “O passado de Florianópolis me fascina, é algo prazeroso”. Quando não está em seu escritório, localizado bem no meio do Centro Histórico, na Rua Tiradentes, Átila pode ser encontrado em casa, em meio aos pigmentos, na biblioteca pública folheando jornais antigos, se divertindo com os dois netos, ou na praia da Armação, onde mantém uma casa para escapar do Centro quando precisa relaxar.
Átila Ramos
SAUDADE CRIATIVA FLORIPA É l 2015
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esporte l grupo RIC
GAROTA DE FIBRA Com apenas 17 anos, a josefense Taynara Bonetti já caminha para ser uma das principais triatletas do Brasil. Quinta colocada no Mundial Júnior de Aquatlon, no ano passado, no Canadá, a número 1 do país tem como projeto ingressar no triatlo olímpico em 2015. O objetivo é fazer parte da seleção brasileira e disputar a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, e depois
BONS VENTOS o LEVAM
testar seus limites no Ironman, em Florianópolis. O primeiro desafio de Taynara este ano é o Campeonato Brasileiro em João
Um dos principais nomes da vela brasileira nos últimos anos, Bruno Fontes já iniciou a
Pessoa (PB), que acontece em
preparação para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. O curitibano radicado
março, mas a principal prova da
em Florianópolis fechou a temporada passada no top-3 do ranking mundial na classe
temporada será o Mundial em
Laser e iniciou o ano com o hexacampeonato brasileiro, na Baía de Guanabara, que
Chicago, nos EUA, em setembro.
será palco das disputas de vela na Olimpíada. O principal objetivo do iatista de 35 anos em 2015 é o Mundial, que será disputado em junho, na Jamaica, além das etapas da Copa do Mundo e dos eventos testes para os Jogos Olímpicos. “Este ano vai ser muito importante, é o último antes da Olimpíada”, avalia o atleta. “Começar com o título brasileiro mostra que estou no caminho certo.”
DO MATADEIRO PARA O MUNDO Campeão do ISA World Junior, na categoria sub-18, em 2014, Luan Wood é um dos surfistas mais promissores de Santa Catarina. Adepto do surfe moderno, com muitos aéreos e “rasgadas”, estilo consagrado pelo campeão mundial Gabriel Medina, o manezinho de 19 anos também quer cravar seu nome no cenário mundial. Em 2015, Luan quer atingir a pontuação para disputar, no ano que vem, os eventos primes do WQS, a segunda divisão do surfe, e brigar por uma vaga no WCT para 2017. No ano passado, o surfista da praia do Matadeiro fez sua estreia em um campeonato seis estrelas no WQS de Florianópolis e caiu na terceira fase.
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87 .Matheus Joffre NDivulgação
UM MANEZINHO NO OCTÓGONO Um dos precursores do MMA em Florianópolis e primeiro representante local no Ultimate Championship Fighting (UFC), Thiago Tavares quer trazer o cinturão dos pesos-pena para Santa Catarina em 2015. Com um cartel de 19 vitórias – duas por nocaute e 13 submissões – e cinco derrotas, o faixa-preta em jiu-jitsu vem de dois triunfos consecutivos. Dono de uma das academias de MMA mais conceituadas de Floripa, Thiago baixou do peso-leve para o pena para ter mais chances de disputar o cinturão e lutará novamente em maio. No ano passado, tentou sem sucesso entrar para a vida política ao se candidatar a deputado estadual. “Quando entro no octógono, me sinto o representante da Ilha, do meu povo”, afirma.
EM BUSCA DO OURO INÉDITO Bicampeão mundial de caratê, Douglas Brose, atualmente, é o maior nome brasileiro no esporte. Gaúcho de Cruz Alta, o carateca de 29 anos mora desde os seis em Florianópolis e não para de colecionar medalhas. Em 2015, o atleta que compete na categoria até 60 quilos tentará conquistar o único título que lhe falta: o Pan-Americano de Toronto, que acontece em julho, no Canadá. A ajuda para correr atrás do sonho vem de dentro de casa. Casado desde 2010 com a também carateca Lucélia Ribeiro, tetracampeã do Pan e atual técnica da seleção brasileira de caratê, Douglas promete entrar forte na disputa pelo inédito ouro.
rumo ao hexa do skate mundial Pentacampeão mundial de skate na modalidade bowlriding, Pedro Barros começou com o pé direito sua caminhada para a conquista do sexto título ao vencer no início do ano a primeira etapa do circuito, no Rio de Janeiro. O skatista de Florianópolis tem 19 anos, já faturou cinco medalhas de ouro nos X Games e é apontado como o sucessor de Sandro Dias e Bob Burnquist como o principal representante do esporte no país. Pedrinho tem no pai, o também skatista André Barros, um grande parceiro. Os dois viajam juntos para as competições e estão sempre cercados pelos amigos, que costumam frequentar a pista de bowl no quintal da casa deles no Bairro Rio Tavares.
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NLuis Prates (Arquivo ND) / Divulgação
20 anos de volta à ilha Criada em 1996, a prova de revezamento Volta à Ilha colocou Florianópolis no circuito das principais competições do gênero na América Latina. A corrida tem um caráter peculiar e é caracterizada por desafiar as equipes a darem uma volta completa na Ilha, aventurandose por trechos de asfalto, dunas, trilhas e praias. Outra característica da prova, que reuniu 400 equipes e 3,7 mil competidores no ano passado, é a interação entre atletas profissionais e amadores. A participação do público, que acompanha a corrida nos principais pontos de revezamento espalhados pela cidade, faz do Volta à Ilha um evento imperdível para os amantes do atletismo. A edição deste ano acontece no dia 11 de abril, com largada no trapiche da Beira-Mar Norte.
FESTA do surfe INTERNACIONAL Pelo segundo ano consecutivo, a praia da Joaquina será sede do Santa Catarina Pro e receberá alguns dos principais surfistas do mundo. A etapa catarinense faz parte do World Surf League Qualifying Series, antigo WQS, a segunda divisão do surfe mundial. A competição reunirá 144 atletas e distribuirá uma premiação total de US$ 150 mil, além de 6 mil pontos na corrida por uma das dez vagas ao World Championship Tour (WCT) de 2016. O evento, que este ano contará apenas com a disputa masculina, ocorre entre 27 de outubro e 1º de novembro. No ano passado, o título ficou com o
ABRAM ALAS PARA O SUP
cearense Michael Rodrigues (abaixo).
Conhecida internacionalmente pela variedade de opções para a prática de esportes radicais e aquáticos, Florianópolis segue como palco do Battle of the Paddle Brasil em 2015. Depois do sucesso da primeira edição em 2014, o evento ocorre novamente entre 18 e 22 de novembro na Barra da Lagoa. Se no surfe existe uma lei de que dois surfistas não podem pegar a mesma onda, no stand up paddle (SUP) uma das cenas mais clássicas são dez ou mais atletas remando na mesma crista. FLORIPA É l 2015
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minha cidade l #floripa l entrevista l capa l saúde l mobilidade l urbe l empreendedores l economia l gastronomia l meio ambiente l cultura l esporte l
ESPALHANDO O BEM PELA CIDADE AO PROMOVER VALORES DE CIVILIDADE, O MOVIMENTO SOU BEM FLORIPA CONQUISTOU O CORAÇÃO DOS MORADORES DA CAPITAL Ser mais cordial no trânsito, preservar o meio ambiente, cuidar dos animais e respeitar os idosos são atitudes simples e um primeiro passo para a construção de uma cidade ainda melhor. Pensando nisso, o Grupo RIC/SC criou o Movimento Sou Bem Floripa. Lançado em outubro de 2013, o projeto tem como objetivo mobilizar a população da ca-
pital catarinense a discutir temas de interesse da sociedade e incentivar pequenas atitudes positivas que juntas podem gerar grandes resultados. Desde o seu lançamento o movimento vem reunindo milhares de admiradores e seguidores. A marca Sou Bem Floripa já é reconhecida tanto pela população local quanto pelos turistas que a visitam. Os toFLORIPA É l 2015
grupo RIC
tens instalados em diversos pontos da cidade já se tornaram verdadeiras atrações turísticas e geram inúmeras fotos compartilhadas nas redes sociais, divulgando a cidade para o Brasil e para todo o mundo. “O Sou Bem Floripa já se tornou uma marca para Florianópolis. A iniciativa do Grupo RIC em espalhar totens pela cidade criou mais uma atração para o turismo e ainda promove nossa imagem, principalmente no meio mais rápido de disseminar informação atualmente: as redes sociais. Bela iniciativa, a cidade agradece”, afirma Maria Cláudia Evangelista, secretária de Turismo de Florianópolis. Ao longo da sua trajetória o Sou Bem Floripa também foi o responsável por provocar debates em torno de três grandes temas prioritários do movimento: mobilidade, cuida-
93 .Daniela Pacheco N#soubemfloripa no Instagram
dos com animais e meio ambiente. Os debates foram transmitidos ao vivo pelo portal RIC Mais, para um público estimado em mais de 35 mil pessoas. Posteriormente, foram exibidos na íntegra pela Record News Santa Catarina. Do mesmo modo, outras ações foram idealizadas e colocadas em prática pelo Movimento Sou Bem Floripa. Uma ação de foco comunitário foi a revitalização da praça localizada na subida do Morro da Cruz, em Florianópolis. O Grupo RIC investiu mais de R$ 9 mil na compra de mil mudas de plantas e na mão de obra para realizar reparos no parque da praça. Como resultado, centenas de crianças da comunidade foram beneficiadas com a recuperação de uma área de lazer e equipamentos públicos importantes para uso e socialização cotidiana dos moradores da região.
Outra ação foi o show beneficente com a banda Dazaranha organizado em dezembro de 2013 pela RICTV Record. A apresentação reuniu mais de 10 mil pessoas que movimentaram o Point do Riozinho, na praia do Campeche, e colaboraram diretamente com a Sociedade Espírita Obreiros da Vida Eterna (Seove) e a Comunidade Terapêutica Recanto da Esperança. O evento arrecadou mais de 3 mil quilos de alimentos não-perecíveis que beneficiaram as duas instituições. Somando-se a isso, em uma iniciativa conjunta com a prefeitura de Florianópolis, o Movimento Sou Bem Floripa instalou placas nas principais praias da ilha alertando para a proibição de cães nos balneários. Todo este esforço culminou com o reconhecimento pela ADVB SC, com o prêmio Empresa Cidadã conFLORIPA É l 2015
cedido ao Grupo RIC em 2014. “Se cada um fizer sua parte teremos uma cidade e um futuro melhor. Ao levar essa mensagem, tanto através da comunicação quanto em ações práticas, estamos contribuindo como empresa socialmente responsável”, defende Santiago Edo, gerente de marketing do Grupo RIC SC. Motivadas pelo sucesso do Sou Bem Floripa, outras cidades acabam de lançar suas versões do movimento. Nasceram assim o Sou Bem Joinville, Sou Bem Itajaí, Sou Bem Blumenau e Sou Bem Chapecó.
COMO PARTICIPAR Para conhecer e fazer parte do movimento, basta ficar ligado na programação da RICTV Record e acessar: ricmais.com.br/sc/soubemfloripa facebook.com/SouBemFloripa
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. Ana Carolina Brambilla NRosane Lima (Arquivo ND)
minha cidade l #floripa l entrevista l capa l saúde l mobilidade l urbe l empreendedores l economia l gastronomia l meio ambiente l cultura l esporte l
Um manezinho envolvido com a cidade, um jornalista com o desejo de estreitar a relação da imprensa com a sociedade ou ainda um colunista “ligado, comprometido e apaixonado – pela vida, por Florianópolis e pelo trabalho”, como ele próprio se define. Otimista incorrigível, Carlos Damião escreve sobre a cidade e a política porque afirma não deixar de lado a esperança por tempos melhores. Foi em um momento de preocupação com os rumos do país que descobriu a vocação para o jornalismo: sob o Regime Militar, Damião e os colegas que compartilhavam da efervescência estudantil lançaram o jornal da escola. “O jornalzinho representava para nós o que representam hoje as redes sociais”, afirma. Esperançoso, acredita que as dificuldades do momento possam ser ajustadas e corrigidas e que a base para isso são a educação e a cultura. “Um povo educado e culto faz a diferença, é inovador por natureza, vive melhor e aprende a superar crises de qualquer natureza”, acrescenta. Atuando há oito anos no jornal Notícias do Dia – os últimos cinco também como colunista –, o jornalista busca diariamente ampliar o vínculo que tem com a cidade agregando sempre novos temas e formas de abordagem. “Valorizar a informação local faz toda a diferença. É o presente e o futuro dos grupos de comunicação”, acredita. Damião também é escritor e afirma que está preparando três publicações. O tema dos livros não poderia ser outro: Florianópolis, sua memória e sua identidade cultural e social. Enquanto a cidade completa 289 anos, o jornalista concretiza neste ano 35 anos de profissão, sempre compromissado em bem informar os leitores. “É uma profissão apaixonante, um apostolado. Quem não tem essa percepção e vocação deve procurar outra atividade. O jornalismo nasce com a gente, é sanguíneo”, conclui.
grupo RIC
Carlos Damião
ligado em floripa FLORIPA É l 2015
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