´ FLORIPA e nº1 Março 2012
Para conhecer mais sua cidade
Panorâmica
Expansão da construção civil e da indústria de TI aquece a economia local Horizontes
Novos rumos e perspectivas para o turismo, a cultura e a educação no município Almanaque
Da culinária à arquitetura, descubra o que faz de Floripa um lugar especial
EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO
Elevado da Seta, uma das obras que visam solucionar o problema da mobilidade urbana na Capital catarinense
286 anos AS LIÇÕES DO PASSADO, os desafios DO PRESENTE E os planos para o FUTURO de florianópolis
Conheça nossos roteiros turĂsticos: www.santur.sc.gov.br
Eleve o seu conceito sobre férias a 1.800 metros acima do nível do mar. Santa Catarina é um paraíso com 560 quilômetros de litoral, ondas perfeitas para o surf, cidades de arquitetura colonial e que, todo ano, é berçário natural das baleias francas. Um lugar com uma rica gastronomia, rios para a prática de rafting, cachoeiras incríveis e paisagens de tirar o fôlego. Viva toda a diversidade do seu Estado, o melhor destino turístico do Brasil.
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Editorial
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FLORIPA
Uma publicação do Grupo RIC PRESIDENTE
Mário J. Gonzaga Petrelli
Grupo RIC/SC Vice-presidente-Executivo
Marcello Corrêa Petrelli Diretor Comercial
Reynaldo Ramos Diretor Administrativo e Financeiro
Albertino Zamarco Jr. Diretor Operacional
Paulo Hoeller Diretor de Redação Notícias do Dia
Luís Meneghim
Revista FLORIPA É Coordenador-geral
Alexandre Gonçalves Gerente Comercial
Lauro Cordeiro Editor-executivo
Diógenes Fischer Edição de arte e Diagramação
Victor Emmanuel Carlson REPORTAGEM
Carol Macário, Emanuelle Gomes, Everton Palaoro, Fábio Bispo, Giovana Kindlein, Oliveira Mussi, Pedro Santos e Saraga Schiestl Fotografia
Daniel Queiroz, Débora Klempous e Victor Emmanuel Carlson Foto de Capa
Victor Emmanuel Carlson distribuição
Simone Cristina de Souza e Cláudia Catani REVISÃO
Giovanni Secco IMPRESSÃO
Gráfica Posigraf www.ndonline.com.br/revistaFloripaE Av. do Antão, 1857 Altos do Morro da Cruz – Centro CEP 88025-150 – Florianópolis/SC (48) 3251-1440
Uma revista para inspirar o futuro No aniversário de 286 anos de Florianópolis, o Grupo RIC, por meio do jornal Notícias do Dia, inova mais uma vez e apresenta um produto diferenciado e muito especial para marcar a data. Mais do que um produto, um presente: a revista Floripa É. Com um conteúdo singular, que destaca a história, o momento atual e as perspectivas para o futuro de Florianópolis, Floripa É faz juz ao seu slogan – “Para conhecer mais sua cidade” – ao apresentar um valioso material no bloco Almanaque que renderia boas e animadas conversas no Senadinho ou à sombra da figueira da Praça XV. Com a revista, queremos que os florianopolitanos, tanto os de nascimento quanto os de coração, sintam orgulho do lugar onde vivem. Por isso, buscamos espelhar o que nossa cidade tem de melhor. E fomos além. Esperamos que Floripa É também sirva de inspiração para o surgimento de novas ideias que ajudem a cidade a consolidar suas vocações para o turismo, para a tecnologia, para a construção civil, para a qualidade de vida, para a geração de emprego e renda. Há questões nas quais a cidade precisa avançar, rever conceitos e apontar caminhos que valorizem o que temos de melhor. Que Floripa É sirva de inspiração também para isso e para despertar a necessidade de se estabelecer uma convergência para o bem de Florianópolis, uma participação mais responsável de todos os segmentos da sociedade, levando em conta o passado, o presente e o futuro da cidade. Um pedaço importante de nossa história está aqui como referência, mas ainda há muito para ser escrito. Por isso, que todos tenham uma boa e inspirada leitura desta Floripa É. E parabéns para Florianópolis por mais um aniversário.
Marcello Corrêa Petrelli Vice-Presidente-Executivo Grupo RIC
“Esperamos que Floripa É sirva de inspiração para o surgimento de novas ideias que ajudem a cidade a consolidar suas vocações”
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Índice
Horizontes
Florianópolis 286 anos
Ponto de referência e de encontro..................................10 Turismo em evolução.....................48 Daniel Queiroz
Acervo Casa da Memória de Florianópolis
Cultura de casa nova......................54
CIC reabre, e a cidade recupera seu espaço cultural
Segurança redobrada.....................58 Formando nosso futuro.................60
Almanaque Presentes dos chefs.......................64
O Miramar marcou época como local de lazer e convivência dos florianopolitanos
Parabéns, Floripa...........................................................18
Panorâmica
Saúde à beira-mar..........................76 Um caso de amor por Floripa.........80
Victor Carlson
Victor Carlson
Inovação acelerada........................................................22
Memórias do poder.........................72
Hélio Costa confessa sua paixão pela cidade Potencial criativo das incubadoras transforma a Capital em polo de tecnologia
Surfe à moda antiga......................82
Renovação no morro......................................................30
História nos detalhes.....................86
Crescimento ordenado...................................................34
Belezas de vidro e luz....................90
Mobilidade urgente........................................................40
Os sinos da nossa aldeia.................96
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Florianópolis 286 anos Victor Carlson
Construído em 1926 e demolido com a chegada do aterro em 1974, o Miramar foi resgatado como símbolo histórico da cidade em 2001
Ponto de referência e de encontro Embora não tão conhecido quanto a ponte hercílio luz, o monumento ao miramar é símbolo de uma florianópolis que deixa saudades
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Texto Alexandre Gonçalves
a história da capital catarinense – desde que, em 23 de março de 1726, houve a separação da Vila de Nossa Senhora do Desterro do município de Laguna – a região onde hoje estão o memorial do Miramar, a praça Fernando Machado, a Praça XV de Novembro e a Catedral Metropolitana tem papel fundamental no crescimento da cidade. Pode-se considerar a região como o “ponto
zero” de Florianópolis porque foi ali que desembarcou o bandeirante Francisco Dias Velho, em 1675, dando início à vila. Dois séculos e meio depois, o local adquiriu nova importância para a cidade com a construção do Trapiche Municipal do Miramar, considerado um divisor de águas na urbanização de Florianópolis no início do século 20. Inaugurado no dia 28 de setembro de 1928, o trapiche tinha como objetivo dar maior segurança para
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Florianópolis 286 anos4Ponto de referência e de encontro Banco de Imagens da Casa da Memória de Florianópolis
Além de melhorar as condições de embarque e desembarque na Ilha, o Miramar tornou-se um local de lazer e convivência para a população as embarcações que chegavam ou partiam da Ilha de Santa Catarina. Antes disso, de acordo com a pesquisadora Eliane Veiga, em seu livro Florianópolis: Memória Urbana, o embarque era feito de forma precária e arriscada. O novo cais mereceu menção especial em nota no jornal O Estado: “O velho trapiche que serve de ponto de embarque e desembarque de passageiros à Praça XV de Novembro, e que aliás tanto destoa daquele elegante trecho da nossa capital, vai, felizmente ser demolido”. Na época, o Mercado Público também ficava na região da praça Fernando Machado, o que só reforçava a necessidade de um trapiche mais adequado. Carlos Humberto Corrêa conta no livro História de Florianópolis Ilustrada que a travessia entre Ilha e Continente não havia sofrido mudança desde que iniciada com a fundação da Capitania de
Santa Catarina, em 1738. “Era feita por pequenas embarcações que sempre estavam sujeitas ao humor e a intempéries variáveis”. Segundo relatos históricos, naquele início do século 20 a cidade passava por um período de mudanças, sob o impacto do regime federalista e também da troca de nome de Desterro para Florianópolis. Na economia, os números ainda eram tímidos. De acordo com a obra de Carlos Humberto Corrêa, em 1914 existiam apenas 606 casas comerciais na Capital. “Além da fábrica de pregos, do estaleiro Arataca e da fábrica de bordados Hoepcke, havia uma pequena indústria de bens de consumo que resumia-se em móveis, torrefação de café, telhas de cimento, vinagre, bebidas, sabão, cigarros, massas alimentícias e refinação de açúcar”, escreve Corrêa. F L O R I P A
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Fortalecer a econOmia LOCAL já seria motivo mais do que suficiente para a construção de um trapiche mais seguro e adequado para a cidade – o que se refletia também na construção da Ponte Hercílio Luz, inaugurada em 13 de maio de 1926. Mas no caso do Miramar havia também outro fator: um contraste entre o velho e degradado trapiche e a praça bem cuidada, além de uma preocupação estética relacionada ao modo de vestir e agir das pessoas que formavam a elite da cidade. Na edição do dia 18 de novembro de 1926 do jornal Folha Nova era anunciado que Mário Moura, com uma proposta de 90 mil-réis, havia vencido a concorrência que incluiu a construção do novo cais municipal e do bar e restaurante Miramar como anexo. “O local foi um dos principais pontos de encontro da sociedade flo-
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Florianópolis 286 anos4Ponto de referência e de encontro Acervo Instituto Histórico Geográfico de Santa Catarina
Planta antiga de Florianópolis mostra como a ocupação urbana se concentrou inicialmente na região central, no entorno da Praça XV rianopolitana e destacou-se por estar localizado em uma região de fácil acesso”, escreve a historiadora Caroline Soares de Almeida, em artigo na Revista Santa Catarina em História. “Por isso, era palco de eventos desportivos náuticos, sendo esta descrição pouco abrangente para dar conta da verdadeira importância sociocultural do edifício”, completa. E foi exatamente assim ao longo dos 46 anos de existência do Miramar: ponto de referência da cidade que sempre reuniu uma eclética clientela – de músicos a políticos, de empresários a boêmios. O Miramar foi demolido em 24 de outubro de 1974 por conta das obras de construção do Aterro da Baía Sul, que modificaram a paisagem da região e afastaram o mar do centro da cidade. Na época, os protestos contra a demolição foram poucos e isolados, incapazes de evitar que parte importante da história da cidade fos-
se ao chão. “O Miramar nasceu como reflexo da onda de modernização que tomou conta de Florianópolis na década de 20”, escreve a historiadora Caroline Soares de Almeida. “Por isso que a demolição seja ainda hoje lamentada”. Em 2001, foi construído o monumento em memória ao Miramar na praça Fernando Machado, reproduzindo a arquitetura original do prédio, que serve para lembrar que a história da cidade passou por ali.
A chegada de Dias Velho Uma vertente de historiadores defende que a chegada de Francisco Dias Velho à Ilha, em 1675, deveria ser considerada como a data da fundação da cidade. Por este cálculo, no dia 23 de março de 2012, Florianópolis completaria 337 anos. F L O R I P A
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Inicialmente, o bandeirante Dias Velho, natural de Santos (SP), havia enviado o filho, José Pires Monteiro, com o objetivo de expandir atividades agrícolas na região. Monteiro veio com mais de 100 homens de São Paulo para dar conta da tarefa que lhe foi passada pelo pai. Hoje homenageado com uma estátua na entrada da cidade, Dias Velho veio para cá em 1675, já acompanhado do restante da família e de outros agregados vindos de São Paulo, reforçando o processo de povoamento da Ilha. Permaneceu até 1679, mas antes tratou de edificar, ao lado da casa que ergueu para morar, uma “casa de reza”, que viria a tornar-se um dos símbolos da cidade, a Catedral Metropolitana. Com seu perfil desbravador, Dias Velho também tratou de escolher a melhor localização para a construção de casas e para o plantio de novas culturas, visando à consolidação de Nossa Senhora do Desterro, que anos depois, em 1726, seria elevada à categoria de vila.
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Florianópolis 286 anos4Ponto de referência e de encontro Banco de Imagens da Casa da Memória de Florianópolis
Pintura de Victor Meirelles retratando o Centro visto do morro da Igreja Nossa Sra. do Rosário
Outros fatos históricos Fortalezas – Em 7 de março de 1739, o brigadeiro Silva Paes, nomeado o primeiro governador da Capitania de Santa Catarina, assume com a missão de construir fortificações a partir da posição estratégica da Ilha de Santa Catarina. Açores – Silva Paes também teve como tarefa promover a colonização sistemática da região. Aliciados por meio de editais publicados pelo governo português, imigrantes vindos da ilha dos Açores começaram a desembarcar na Ilha. Estes primeiros açorianos chegaram por volta de 1748. Inicialmente, instalaram-se às margens da Lagoa da Conceição, dando origem à primeira colônia de portugueses açorianos na região. Cidade – Elevada à categoria de cidade, Desterro tornou-se capital da Província de Santa Catarina em 1823, o que representou o início de um período de prosperidade. A partir da proclama-
ção da República, em 15 de novembro de 1889, com as resistências locais diante da mudança do regime, houve um distanciamento do governo central. Nome – Em 1894, foi determinada a troca de nome de Desterro para Florianópolis, homenagem prestada por autoridades locais ao presidente da época, Marechal Floriano Peixoto. Uma homenagem controversa já que Floriano foi o responsável pela execução de opositores desterrenses na Fortaleza do Anhatomirim, entre outras atrocidades. Novembrada – Uma homenagem a Floriano Peixoto, em novembro de 1979, com a colocação de uma placa na Praça XV, foi o estopim para as manifestações contra o presidente João Figueiredo, durante visita à cidade. O episódio, que resultou na prisão de cinco estudantes, ficou conhecido como “Novembrada”, uma das primeiras grandes manifestações pelo fim da ditadura militar iniciada em 1964.
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Memória resgatada Texto Giovana Klinden A instituição canadense Center for Research Libraries digitalizou milhares de documentos e registros governamentais do período provincial de Santa Catarina, dos anos de 1830 a 1930, que hoje podem ser acessados pelo público no Arquivo Público do Estado. Os documentos foram escaneados a partir de cópias em microfilmes dos originais. Entre as pérolas históricas estão mensagens como a do coronel Antônio Vicente Bulcão Vianna, presidente do Congresso Representativo e governador do Estado em exercício, em 21 de agosto de 1926. Ele comenta a arrecadação com o pedágio da ponte Hercílio Luz, três meses após sua inauguração: “A renda do pedágio e de trânsito de veículos nos primeiros meses tem dado para fazer face ao cumprimento do contrato sem ônus para o Estado”. Em outro documento, de 1927, o governador Adolpho Konder também presta contas do valor da tarifa recebida pelo governo. “Convém assinalar o aumento do pedágio da ponte Hercílio Luz, que em oito meses de 1926, teve a média mensal de 16 contos e 260 mil-réis, e no ano de 1927 a de 17 contos e 160 mil-réis.” Outra mensagem, que resgata a opinião do coronel Bulcão Vianna sobre o orçamento da Vila de Nossa Senhora do Desterro, em muito lembra uma discussão da atualidade: “Somente exigindo do contribuinte novos sacrifícios, cortando largo nas despesas públicas, reduzindo-as ao mínimo possível, (...) somente assim, senhores deputados, poderemos, dentro de algum tempo, equilibrar a nossa receita com a nossa despesa”. l Arquivo Público do Estado Rua Duque de Caxias, 261 – Saco dos Limões (48) 3239-6000 arquivopublico@sea.sc.gov.br
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Florianópolis 286 anos
Parabéns, Floripa Personalidades contam o que Florianópolis representa na vida delas e qual o
João Nilson Zunino, presidente do Avaí
Amor à primeira vista Radicado desde o inicio dos anos setenta, originário de Turvo, no sul catarinense, Florianópolis é minha cidade de adoção e de coração. É nela em que já vivi mais da metade da minha vida, onde constitui minha família e foi ela que me deu o privilégio de estudar e
seguir meu rumo profissional. A Florianópolis, que aprendi a amar desde o primeiro dia que transpus a então Ponte Hercílio Luz, devo os melhores momentos de minha vida, tanto no aspecto profissional como pessoal. A ela, em mais um natalício, só tenho mais duas palavras a lhe dizer: muito obrigado. Nestor Lodetti, presidente do Figueirense
Gente pioneira
União de esforços Aniversários são eventos festivos, próprios para a celebração. Ainda mais quando a aniversariante é uma cidade como Florianópolis, encantadora por suas belezas naturais e a riqueza de seu povo. Mas a passagem de mais um ano de história pode servir também para reflexão. Que rumo está tendo nossa cidade? Como será a capital catarinense daqui a 20 anos? Ao pensar assim, temos de definir que presentes daremos para a cidade. Como contribuíremos para o futuro F L O R I P A
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da capital? A opção mais adequada é a união de esforços em prol da solução de problemas que já comprometem e podem comprometer ainda mais a qualidade de vida futura na cidade. Doreni Caramori Júnior, presidente da ACIF – Associação Comercial e Industrial de Florianópolis
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Não nasci em Florianópolis, mas moro aqui desde meus 15 anos de idade. Já tive oportunidade profissional para mudar para São Paulo, mas disse que não iria. É a cidade mais maravilhosa que eu conheço. Gosto demais da nossa Ilha e minha família também. Todos familiares que precisam sair sempre voltam para esta terra. Florianópolis cresce em um bom ritmo, mais do que gostaríamos. Para melhorar, só precisamos que essa evolução seja acompanhada com mais obras de infraestrutura viária.
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Alexandro Albornoz/Arquivo ND
Quem sai sempre volta
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tamanho do amor que têm pela cidade onde nasceram ou que escolheram para viver
Florianópolis é terra de gente pioneira. Foi aqui, há mais de meio século, que nasceu o movimento lojista catarinense, proporcionalmente o maior do país, com 183 entidades representando 293 municípios. Da cidade de praias quase intocadas ao destino turístico internacional que se consolidou no novo século, nossa capital simboliza um estado multicultural,
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repleto de belezas, que se desenvolveu a partir de vários polos regionais. É destino para quem quer estudar, trabalhar, curtir, descansar, comprar, se aventurar. Para pessoas de todas as idades e origens, Florianópolis é hoje o primeiro passo para descobrir e se encantar com Santa Catarina.
Rosane Lima/Arquivo ND
Juras de amor eterno Falar de Florianópolis e seus 286 anos me emociona e me comove. Afinal, boa parte deste tempo convivemos como um casal apaixonado, com juras de amor eterno. Falar de Florianópolis é difícil e requer muita sensibilidade e força de coração. Vi este pedacinho de terra crescer. Afinal, a família Koerich, carinhosamente chamada de Gente Nossa, também faz parte desta história, que muito nos orgulha e motiva. Florianópolis é sempre um encanto, seu povo, sua cultura, sua arquitetura açoriana, suas ruelas e becos, seu linguajar bucólico e único, tradições e encantos, enfim, uma cidade que merece todo o nosso respeito e gratidão. Antônio Koerich, empresário
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Pedro Paulo de Abreu, presidente da CDL de Florianópolis
Floripa é mais que uma terra, é mais que uma cidade, é mais que um simples lugar. Floripa é meio de vida, é costume, é manezês, é vida à beira mar. Floripa, com tantas pessoas, se sente só no meio do mar. Floripa habita o coração destas pessoas, tem magia, faz rir e faz chorar. Floripa ama, mas sente a invasão da violência, que faz perder a paciência. Floripa ensina sobre convivência e sobre natureza, e eu perco o pensamento só de olhar. Floripa me recebeu de braços abertos, assim como todos, estamos cobertos. Floripa tem seus causos e tem história pra contar. Do esporte das águas ao talento das quadras, nossos meninos tem do que se orgulhar. Nosso pescado, dá voltas ao mundo e volta pra nos alimentar. Floripa tem onde ir jantar à luz do luar. Floripa me faz pensar. Floripa me faz amar...”. Teco Padaratz, músico e ex-surfista profissional
Equilíbrio e alegria Vivi 14 anos fora e tenho o privilégio de poder desenvolver F L O R I P A
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Floripa me faz pensar, me faz amar
meu trabalho mundo afora, morando aqui. Florianópolis significa para mim equilíbrio e alegria para minha vida e inspiração para o meu trabalho. O fato de conviver diariamente com minha cultura, com meus amigos e com a gente da cidade me faz uma pessoa mais realizada e feliz. Amo minha cidade e todos os dias agradeço a Deus por viver aqui em Florianópolis. Luiz Meira, Músico
Bons ventos
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Como ja dizia o Zininho no Rancho de Amor à Ilha, “num pedacinho de terra perdido no mar (...) jamais a natureza reuniu tanta beleza...”. Assim é Floripa para mim: o melhor lugar do mundo, uma beleza natural incomparável. Sua natureza me oferece uma das melhores condições do planeta para meu trabalho, que é velejar. Ainda possui uma das melhores qualidades de vida, com uma população linda e cheia de alegria. É onde carrego minhas energias para tantas viagens e o principal: é aqui onde sou muito feliz. Bruno Fontes, velejador
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Panorâmica Inovação acelerada
Panorâmica
Inovação acelerada SAIBA COMO UM GRUPO DE instituições e empresas deu um novo rumo À economia LOCAL ao apostar na vocação da cidade para tornar-se um polo da indústria de tecnologia da informação Texto Oliveira Mussi Fotos Victor Carlson
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lorianópolis é hoje um dos maiores centros produtores de Tecnologia da Informação (TI) do Brasil, pergunte para qualquer especialista na área. Desde 2007 o setor contribui mais para o PIB do município do que a atividade turística. Esse desempenho deve-se em grande parte à iniciativa pioneira da Fundação Certi, que criou em 1986 a primeira incubadora de empresas da área de tecnologia no país: a Incubadora Empresarial Tecnológica (IET), atual Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas (Celta), localizado no Parque Tecnológico Alfa, no início da rodovia SC-401. Carlos Alberto Schneider, superintendente geral da Fundação Certi, conta que todo o movimento de criação desse primeiro modelo de incubadora nasceu por razões políticas. Ele diz que a geração de emprego por meio do incentivo ao incipiente mercado da informática fazia parte do discurso de todos os candidatos à pre-
Simulação que deu certo Um dos empreendimentos incubados pelo Celta, a Simultech é fruto do trabalho de Daniel Maia Cruz, que desde criança gostava de inventar coisas para mostrar aos amigos em Maceió. Hoje ele produz
feitura da capital em 1985, principalmente porque o serviço público já começava a dar sinais de inchaço. Edison Andrino de Oliveira ganhou as eleições, e a conversa caiu no esquecimento. Pelo menos até Esperidião Amin, então governador, convocar uma reunião na Secretaria de Indústria e Comércio, encabeçada por Décio Moser. Carlos Schneider, junto com representantes da Udesc, UFSC e empresários, estava presente na reunião representando a Certi, que então ainda se chamava Centro Regional de Tecnologia em Informática. Ele aproveitou a oportunidade para sugerir um mecanismo que fortalecesse a geração de empresas inovadoras na cidade. “Tínhamos o potencial dentro das faculdades e da Escola Técnica, mas os trabalhos acadêmicos terminavam parados nas prateleiras ou mesmo no lixo. Precisávamos de um espaço onde essas empresas pudessem começar, um lugar onde elas tivessem respaldo até poderem caminhar com as próprias pernas. Ciente de que
em Florianópolis um equipamento simulador de direção que pode ser adaptado de acordo com a necessidade do cliente. “As aplicações mais imediatas são para entretenimento ou treino em autoescolas e para pilotos profissionais”, explica o
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empreendedor. Na primeira opção, são utilizados jogos já existentes de PC ou videogame. Mas a Simultech também criou seu próprio simulador para uso profissional e oferece ao cliente a possibilidade de digitalizar um circuito já existente e recriá-lo no ambiente virtual.
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Panorâmica4Inovação acelerada
O Parque Tecnológico Alfa, ou “Tecnópolis”, foi criado em 1993 e hoje contabiliza 76 empresas incubadas, com taxa de sucesso de 93% isso geraria empregos e dividendos para o Estado, o governador apostou na ideia e alugamos um prédio na Lauro Linhares, onde montamos o IET”, lembra Schneider. Em 1991, já no governo de Vilson Kleinübing, entra em cena Sergio Luiz Gargioni, então secretário adjunto da Secretaria de Tecnologia, Energia e Meio Ambiente. Era hora de adquirir um terreno maior e transformar o prédio em condomínio, até porque as empresas incubadas estavam ganhando vulto e precisavam de espaço. A chácara do senhor João Boabaid, na entrada do bairro João Paulo acabou sendo o local escolhido para sediar o Parque Tecnológico Alfa. O terreno foi dividido em 13 lotes (todos vendidos hoje) e entregue como capital para o Badesc, então presidido por Adolar Pieske, que se encarregou de vendê-los a empresas de desenvolvimento tecnológico. Atualmente, no espaço de 100 mil metros quadrados (com 40% do terreno convertido em área de preservação permanente) apenas dois dos lotes
ainda não têm construção terminada. Um deles pertence a um investidor privado e o outro deve receber um prédio público que abrigará a administração da Fundação do Meio Ambiente (Fatma) e da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc).
O lugar ficou conhecido como “Tecnópolis”, já que é praticamente uma cidade – com serviços de alimentação, academia de ginástica, bancos, papelaria, etc. O próprio modelo físico do local facilita o contato de empresa com empresa, e também com fornecedores e estudantes universitários buscando aprimoramento em programas de estágio. Contudo, para instalar-se ali, o negócio tem de necessariamente agregar algo ao espaço. Quem avalia isso é o comitê gestor do Parque Alfa, com base em seu regimento interno. Uma das “moradoras” do complexo é a Softplan, empresa especializada em sistemas de gestão, que começou como uma incubada ainda na IET, muF L O R I P A
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dou-se junto com o Celta e hoje possui mais mais de 1,2 mil clientes no Brasil e no exterior. Todo esse processo foi alavancado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do Softex 2000, um programa que tinha como objetivo dar apoio ao setor de desenvolvimento tecnológico no Brasil para atingir a meta de exportar pelo menos US$ 1 bilhão em software anualmente até o ano 2000. O Softex existe até hoje, mas sua meta ainda não foi atingida. Contudo, o legado ficou. E o estimulo às empresas de desenvolvimento tecnológico acabou gerando três núcleos: o Blusoft, em Blumenau; o Softville, em Joinville – ambos ainda em funcionamento –; e o Softpolis, que foi dissolvido após a implantação da Tecnópolis. “Toda essa estrutura que vemos hoje nas margens da SC-401 foi criada graças à parceria entre o professor Schneider e o governador Kleinübing, que por ser engenheiro percebeu a importância do projeto, criado aos moldes
O ADVOGADO EM PRIMEIRO LUGAR
Nestes 2 anos de gestão, a NOSSA CAASC já atendeu a inúmeras reivindicações de seus associados, com ações espalhadas por todo o estado de Santa Catarina, descentralizando o atendimento e estendendo sua atuação.
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Panorâmica4Inovação acelerada Divulgação
Sergio Gargioni, presidente da Fapesc; Carlos Schneider, superintendente da Fundação Certi; e Tony Chierighini, diretor do Celta das incubadoras europeias e norteamericanas”, diz Sergio Gargioni, hoje presidente da Fapesc, que administra o Parque Tecnológico Alfa. A ideia do professor Schneider, de acordo com Gargioni, era criar um parque de incubadoras o mais próximo possível da Universidade, de forma que os alunos pudessem desenvolver seus espíritos empreendedores. “O que vem dando certo, como pode ser notado pelo número de empresas bem-sucedidas que passaram por ali”, observa.
Hoje são 35 empresas abrigadas pelo Celta, onde o processo de incubação começa. Ao longo dos anos, pelo menos 69 empresas que passaram por ali se estabeleceram no mercado, enquanto apenas sete “morreram”. “Essa ‘taxa de óbito’ das empresas que aqui são incubadas traduz-se em um índice de 7%, muito baixo comparado com qualquer estatística no Brasil, talvez no mundo”, diz o diretor executivo do Celta, Tony Chierighini. Ele também conta que para a manutenção do prédio de 10,5 mil metros quadrados, que abriga o Celta, é gasto anualmente algo em torno de R$ 1 milhão, mas tra-
ta-se de uma operação bancada pelas próprias empresas, que pagam uma taxa de ocupação de R$ 15 por metro quadrado/mês. Ele também diz que a relação de empresas por vaga fica em torno de 50 empresas por posição disponível, ou seja, entram apenas os melhores projetos. De acordo com ele, para conseguir um posicionamento no Celta, a empresa tem de ter um projeto de grande diferencial, pelo menos no que tange ao nacional. Como exemplo ele aponta a empresa CSP Controle e Automação Ltda. Sistemas e Produtos para a Segurança no Trânsito, que criou o primeiro bafômetro 100% latino-americano. “O Celta nasceu ainda na Lauro Linhares (Trindade), veio para o Alfa, ajudou muita gente e transformou Florianópolis, onde o maior contribuinte do PIB era o turismo e hoje é a tecnologia, uma atividade limpa e sustentável”, fala Chierighini. As empresas, de acordo com o diretor executivo, ficam no Celta uma média de quatro anos antes de caminharem com as próprias pernas, mas algumas fazem muito mais que isso, tornam-se destaque no cenário da tecF L O R I P A
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nologia. Observando o crescimento do ramo da tecnologia na cidade, em 2000, em uma reunião que acontece a cada dez anos, onde a Fundação Certi decide seu Plano Estratégico da Nova Década, foi levantada a necessidade de um parque maior, que abrigasse a demanda crescente de empresas do ramo da tecnologia. Em 2001 o projeto do Sapiens Parque estava pronto, faltava o terreno. A antiga Colônia Penal, que estava em posse do Governo Estadual, com 4,5 milhões de metros quadrados, parecia o lugar perfeito. Coincidentemente, o governador do Estado era Esperidião Amin novamente, o que facilitou a negociação, de acordo com Schneider. Como adicionais ao ideal de abrigar empresas sem chaminé, grande vantagem do setor da tecnologia, o parque tecnológico abrigaria arena multiuso, hotéis, museus, centros gastronômicos e de compras, centros de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico, praças com equipamentos de entretenimento, uma parque natural com 2 milhões de metros quadrados, centro de serviços para a comunidade, centro de eventos e de convivência.l
A Eletrosul se orgulha de fazer parte desta hist贸ria e de levar a energia do Sol para a vida de Florian贸polis.
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Panorâmico Fernando Mendes/Arquivo ND/15-07-11
O prefeito Dario Berger caminha pelas ruas da região do maciço e projeta para o ano que vem a conclusão das melhorias iniciadas em 2008
Renovação no morro POR MEIO DE INVESTIMENTOS do poder público e INICIATIVAS DE REINSERÇÃO SOCIAL, O MACIÇO DO MORRO DA CRUZ está aos poucos ganhando novos ares Texto Saraga Schiestl
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epois de décadas segregadas e no esquecimento, as 16 comunidades que formam o Maciço do Morro da Cruz, na área central de Florianópolis, podem voltar a ter orgulho da sua vizinhança. Um projeto em execução pela prefeitura desde 2008 e com previsão de entrega para este ano quer mudar a imagem e elevar a autoestima de toda a região. Tudo se resume a ações de saneamento, construção de muros de contenção, colocação de asfalto e entrega
de novas casas aos moradores em áreas de risco. Um investimento total de R$ 70 milhões, oriundos de recursos do município, do Estado e da União. Atualmente o Maciço concentra uma população de mais de 25 mil habitantes. Essas pessoas puderam ver de perto a mudança chegando na forma de máquinas pesadas e toneladas de asfalto, pedras, areia e cimento. Onde antes mal passavam carros, devido à precariedade das vias, agora já se faz até teste para novas linhas de ônibus, como é o caso da nova ligação entre a Caieira
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Panorâmica4Renovação no morro
Marcelo Bittencourt/Arquivo ND/24-04-08
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Uma das principais obras do projeto é a construção de muros de contenção nas encostas que antes ofereciam risco aos moradores do Saco dos Limões e a Trindade, que passa por dentro do Maciço. Com estas ações, o que se deseja é eliminar a divisão que havia entre quem morava na parte de baixo da cidade e os moradores do morro. “O objetivo é a inclusão social, reformando áreas desassistidas e criando condições dignas de convivência”, disse o prefeito ao jornal Notícias do Dia. “É uma regularização fundiária, as pessoas aqui não tinham endereço, eram excluídas”. De acordo com a prefeitura, as obras já estão 40% concluídas, e só na parte de infraestrutura 68% do que foi planejado já é utilizado pela comunidade. Cinquenta famílias que hoje moram em casas alugadas por meio de aluguel social devem receber novas residências, 19 na comunidade do Morro do Céu e 31 nas proximidades da rua José Boiteux, Santa Clara, Monsenhor Topp e Monte Serrat. Um investimento que chega perto de R$ 3 milhões. Ainda neste semestre, outra ação importante será a instalação do sistema de esgoto, feita em parceria com a Casan. No próximo semestre será a vez da inauguração do parque do Maciço do Morro da Cruz. Em uma área de 1,4 milhão de metros quadrados está prevista a construção de dois esta-
cionamentos, dois lagos, um anfiteatro, duas quadras poliesportivas, dois playgrounds, duas áreas para ginástica ao ar livre, dois pórticos de entrada e um bondinho. Um mirante voltado para a avenida Mauro Ramos, áreas administrativas e viveiros de mudas também devem ser incluídos na estrutura. “Ainda está um pouco atrasado por conta de situações como a construção das novas casas. Porém, acredito que até agosto esse projeto esteja entregue à comunidade”, assegura Américo Pescador, diretor de Habitação do município. O presidente do Conselho Comunitário do Monte Serrat, Adalberto Machado, defende a criação do parque. “Será uma importante área de lazer para a comunidade, que hoje só tem a quadra de esportes do colégio.”
Muito antes da revitalização proposta para o Maciço, a realidade das comunidades era bem diferente. Abismado por ter de realizar enterros seguidos de jovens mortos em virtude do tráfico de drogas, o Padre Vilson Groth decidiu criar no Monte Serrat um local para receber crianças e adolescentes no período em que elas não estivessem nas salas de aula. Tudo para evitar que eles se tornassem mais um número de morF L O R I P A
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te. Assim, em junho de 1994, surgia o Centro Cultural Escrava Anastácia (CCEA). Dezoito anos depois, o Centro inicia o ano de 2012 na gestão de 14 projetos, que incluem o cuidado de crianças e adolescentes vítimas de violência, inclusão de moradores de rua e atendimento a 60 crianças de 11 a 16 anos no contraturno escolar. A iniciativa também alcançou outras comunidades, com a criação de uma sede no bairro do Estreito, na região continental. No ano passado, o CCEA atendeu mais de 3 mil pessoas em suas duas sedes. O ex-morador de rua Nilson Domingues, 34, é uma dessas pessoas que já começou 2012 com o objetivo de mudar de vida. Ele faz parte de um dos projetos mais recentes do Centro Cultural. Tão novo que ainda nem foi batizado ou apresentado oficialmente. Por enquanto, o objetivo é reunir mais pessoas dispostas a sair de sua situação de rua, seja voltando para casa ou aprendendo uma profissão. Por enquanto, Nilson, que é natural do Paraná e veio a Santa Catarina em busca de uma vida melhor, colabora nas construções pontuais que o CCEA precisa. “Quero que o morador de rua seja respeitado. Por isso conto com o apoio do Centro para mudar de vida”, diz.l
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Crescimento ordenado Preocupada com questões ambientais e de mobilidade urbana, a indústria da construção civil na capital quer continuar EM expanSÃO sem descaracterizar a cidade Texto Oliveira Mussi Fotos Victor Carlson
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Estudos Socioeconômicos (Dieese), somente com o aumento mais recente no salário mínimo – referência na renda de cerca de 48 milhões de brasileiros – serão injetados R$ 47 bilhões na economia brasileira. Isso sem contar o efeito multiplicador que o mínimo exerce sobre os demais salários, dos pisos de categorias aos pagamentos Divulgação
O mercado de construção em Florianópolis cresce em média 10% a cada ano desde 2008
quase uma unanimidade entre os empresários do ramo da construção em Florianópolis a avaliação de que o setor vem crescendo cerca de 10% ao ano desde 2008, apesar de não existirem números do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) que precisem essa expansão. Mesmo sem estatísticas oficiais, quem vive o dia a dia do mercado também arrisca dizer que essa média de crescimento tem tudo para manter-se estável pelos próximos três ou quatro anos. Segundo os empresários, o principal motivo para isso é o sólido perfil econômico da população florianopolitana. O rendimento per capita domiciliar médio na capital catarinense é hoje o maior do país, chegando a R$ 1.573 mensais. Outro fator que impulsiona a construção é o crescimento populacional: em 2000 a capital catarinense tinha 342 mil habitantes, hoje já são mais de 421 mil. Um aumento populacional de 23,05% em pouco mais de dez anos. De acordo com José Álvaro de Lima Cardoso, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e
Helio Bairros: setor precisa de poder público eficiente, leis claras e cidadãos conscientes
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Aluisio Wollinger (Formaco), Eduardo Irani (EIS) e Aliator Silveira (Hantei), com o projeto da Ponta do Coral na mesa vigentes na economia informal. Se considerarmos somente o menor valor do piso, que passou para R$ 700, o acréscimo foi de R$ 70 – que, multiplicado por 500 ou 600 mil, representa um incremento significativo na massa salarial. Em consequência disso, aumenta também o consumo dos artigos de primeira necessidade, como a habitação. Mesmo diante de perspectivas favoráveis, a indústria da construção civil em Florianópolis enfrenta alguns gargalos que impedem um crescimento ainda maior. Segundo executivos do setor, entre os principais estão a dificuldade de adquirir terrenos que se enquadrem em seus empreendimentos e a obtenção de licenças ambientais para a construção. “As exigências dos órgãos para liberação ambiental são de um nível muito alto”, salienta Aluisio Wollinger, gerente comercial da Formaco. “Contudo, temos que considerar que estamos em uma ilha, portanto é válido esse nível de cuidado para manter o padrão de ocupação urbana”,
reconhece. Diante dessa realidade, a empresa de Wollinger passou a dar preferência para obras no continente, onde ainda há mais espaço para construir. Outra grande construtora da cidade, a Hantei, utiliza uma estratégia diferente. De acordo com o diretor executivo Aliator Silveira, nos últimos quatro anos a empresa cresce a uma média de 30% anuais porque identificou uma demanda reprimida no setor de hospedagem. “O turismo de eventos vem crescendo e gerando a necessidade de aparelhos hoteleiros que vão além da praia e que ofereçam outro tipo de infraestrutura, como auditórios para convenções, por exemplo”, afirma o executivo da empresa responsável pelo projeto da Ponta do Coral, que prevê construção de sete equipamentos para a cidade e para o turismo nacional e internacional na região da Beira-mar Norte.
Quem observa este mercado de perto percebe também que todas as construtoras hoje valorizam F L O R I P A
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a questão da sustentabilidade. “Isso vem acontecendo porque o comprador notou que se trata de uma questão de economia”, explica Silveira. De acordo com ele, a aplicação de conceitos de sustentabilidade nos imóveis, como iluminação natural, isolamento térmico, captação de água da chuva e outros, pode reduzir em até 50% o custo do condomínio. “Se as pessoas vêm para cá por causa da qualidade de vida, temos que mantê-la. Hoje, fazer bobagem é desagregar valor, e o cliente está atento”, observa. Enquanto alguns empresários da construção civil lamentam a falta de incentivos para a aplicação de novas tecnologias voltadas à sustentabilidade nas construções, para Helio Cesar Bairros, presidente do Sinduscon-SC, o governo “não deveria interferir tanto, pois não tem conhecimento e nem domínio do assunto”. Ele defende a criação de um novo Plano Diretor, mais atualizado, mas aponta que isso não seria a solução para todos os problemas. “Trata-se
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de um tripé formado por uma lei clara, um poder público eficiente, com investimentos nos órgãos fiscalizadores, e um cidadão consciente, que respeite a lei”, comenta Bairros. Eduardo Irani da Silva, diretorpresidente do Grupo EIS, diz que a procura por imóveis de praia ainda é grande, já que muitas pessoas de fora desejam ter uma residência em Florianópolis para passar fins de semana ou férias. Também afirma que um boom deve acontecer na região em volta do Sapiens Parque, no norte da Ilha. “Serão pelo menos 10 mil funcionários bem remunerados que precisarão de local para morar perto do trabalho”, destaca Silva. Ele afirma que a Ilha deverá passar por uma transformação nos próximos anos. Ele diz que a tendência é que a cidade se setorize, que cada bairro tenha todos os equipamentos que uma pessoa necessite. Dessa forma, o maior problema da Capital – o trânsito – seria contornado. Inclusive, esse é mais um dos entraves ao crescimento apresentados pelos empresários da construção civil. Para Aluisio Wollinger, apesar de ações pontuais, como a construção de elevados e pistas reversíveis, a falta de um Plano Diretor contribuiu muito para o descontrole do trânsito no município. “Alguns bairros cresceram demais, inviabilizando a malha viária local. Se quisermos continuar crescendo, temos que levar em conta a locomoção do florianopolitano, precisamos de indicadores de onde se pode construir e onde não se pode, mas isso passa por um estudo macro”, afirma o gerente comercial da Formaco. l Conceitos de sustentabilidade aplicados aos imóveis já reduzem em até 50% o custo de alguns condomínios na Capital
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Cansado de perder quatro horas por dia em filas de trânsito, o estudante Bruno Negri (ao lado) trocou o carro por uma bicicleta dobrável
Mobilidade urgente diante de um crescimento urbano sem precedentes, florianópolis precisa encontrar soluções para a situação caótica do trânsito na cidade Texto Giovana Kindlein
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odos os dias, Bruno Negri, formando em economia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) anda de bicicleta, trabalha, passeia com o cachorro e veleja. Como ele consegue? É simples. Bastou vender o carro e economizar as quatro horas que costumava perder todos os dias nas filas de trânsito. Mas não foi nada fácil. “O conforto de andar de carro é inexplicável”, reconhece o estudante de 22 anos que agora circula pela cida-
de com uma bicicleta dobrável. O veículo pesa 11 quilos e meio e pode ser transportado dentro do ônibus que ele toma todos os dias para percorrer parte do trecho entre a Ponta dos Araçás, na Lagoa da Conceição, e seu local de trabalho, no Itacorubi. Foi a alternativa consciente encontrada por Negri para lhe garantir independência e agilidade de deslocamento no intricado trânsito de Florianópolis, considerado o segundo pior em mobilidade urbana do mundo pelo urbanista
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Valério Medeiros, da Universidade de Brasília (UnB). O pesquisador baseou-se em um estudo feito em 2009, que levou em consideração apenas o traçado das ruas. “É mais rápido andar de bicicleta do que de carro ou ônibus, em qualquer lugar onde há ciclovia em Florianópolis”, garante Negri. É de senso comum apontar o crescimento urbano desordenado da Capital como causa principal do caos instalado hoje no tráfego da cidade, o que provoca um surdo descontentamento na população. O diagnóstico propalado ano após ano por urbanistas e administradores públicos parece nortear o pensamento do atual secretário municipal de Transportes, o vice-prefeito João Batista Nunes. “Isto é um problema crônico de todas as cidades que não foram planejadas e mantêm a cultura do carro, do transporte particular. Todas as cidades que conseguiram vencer esta batalha tiveram que tomar um choque de gestão muito grande, a exemplo de Bogotá (capital da Colômbia), que implantou um excelente sistema integrado de transporte público”, diz. Nunes defende um plano de mobi-
Ciclovias ainda são pouco utilizadas lidade regional, a exemplo da medida adotada pelo consórcio intermunicipal da região de São Bernardo do Campo, em São Paulo, que no início de fevereiro lançou edital para a implantação de um plano de mobilidade ao custo de R$ 1 milhão (R$ 800 mil vindos do governo e R$ 200 mil do consórcio). “Nós vamos reduzir a quantidade de carros tendo um trans-
porte público de qualidade integrado aos outros municípios. Precisamos de um Plano Diretor de Mobilidade que possa ligar todos os municípios da Grande Florianópolis, porque hoje um usuário de Governador Celso Ramos, por exemplo, paga R$ 5 para vir e depois pega outro ônibus para ir à universidade e paga de novo”. A mudança, segundo o vice-prefeito, é uma responsabilidade da administração municipal e do governo do Estado, “mas principalmente do governo, que deveria ter a sensibilidade e o compromisso de motivar a transformação da Secretaria Regional na Secretaria da Mobilidade Urbana da Grande Florianópolis, trabalhando os projetos de forma integrada ou fazendo com que os municípios se consorciem”.
A NECESSIDADE DE Planejar o território conurbado de Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu, através de uma gestão metropolitana e integrada, também é uma visão compartilhada pelo doutor em Engenharia de Tráfego Werner Krauss Junior e pelo engenheiro doutor em Geografia Urbana Elson Manoel Pereira. “Antes
DIAGNÓSTICO DA MOBILIDADE URBANA EM FLORIANÓPOLIS Pontos contra
Pontos a favor
Possíveis soluções
4 Ineficiência e baixa qualidade
4Obras de infraestrutura, como os
4Edital de licitação do transporte
dos equipamentos do transporte coletivo
elevados Rita Maria, da Seta, da Vargem Grande e a duplicação da SC-401
público
4 Ineficiência do sistema de inte-
4 Aumento do número de linhas
gração dos ônibus
dos ônibus executivos para diversas regiões da cidade
troncal do BRT Beira-Mar Norte (Centro-Universidade) em 2014
4 Carro é o modal que mais ocupa
o espaço público e que mais causa engarrafamentos
4 Assinatura de convênio para teste
do carro elétrico 4 Dois anos seguidos sem greves
e paralisações de motoristas e cobradores por conta de negociações com os sindicatos da categoria
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4Implantação da primeira linha
4Criação de um Plano Diretor de
Mobilidade para a Região Metropolitana
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A conclusão de obras como o elevado do Trevo da Seta soluciona parcialmente o problema do trânsito, mas ainda falta planejamento
Embora não exista medição da lentidão do trânsito em Florianópolis, os transtornos que ela provoca são evidentes. Sob uma chuva fina, no final da tarde do dia 9 de fevereiro, o cientista político Rodrigo Leite Victor Carlson
de tudo é preciso retomar o planejamento do território. Hoje a cidade reage aos problemas ao invés de se antecipar a eles. Ou planejamos ou temos que aceitar o futuro, seja ele qual for”, argumenta Pereira. “Por exemplo, tomam-se decisões pouco pensadas e que às vezes são irreversíveis, como a localização da quarta ponte num local já extremamente congestionado (Beira-Mar Norte) e não relacionada com uma visão de conjunto do sistema de transporte metropolitano”, avalia. As perspectivas para uma boa gestão da mobilidade urbana, de acordo com o professor Krauss, passam necessariamente pelo fortalecimento dos institutos ou organismos de planejamento. “Ao longo dos anos, o transporte público foi sendo definido pelas empresas de ônibus, com um leve controle do governo municipal. A visão empresarial prevaleceu em detrimento do sistema coletivo. É preciso priorizar modelos mais modernos de transporte”, diz.
Krauss: “A visão empresarial prevaleceu em detrimento do sistema coletivo” F L O R I P A
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era o retrato da sujeição involuntária. Desde as 18 horas, ele aguardava a linha do executivo Córrego Grande, que só passou em frente à Catedral às 19h10. “Pior do que ficar uma hora em pé esperando é a falta de segurança quanto aos horários. Somos reféns do trânsito. Estamos quase chegando ao insólito de marcar uma reunião e termos que responder: Quando o ônibus passar, eu vou!” A frota operante de Florianópolis é de 468 ônibus para 5,5 milhões de passageiros/mês, que circulam pelo Terminal Central (Ticen). Para o usuário Rodrigo Leite, é inconcebível que o planejamento do transporte público de Florianópolis seja em grande parte voluntarioso. “Com um canal de águas calmas e sem tráfego de navios entre a Ilha e o continente, sequer discutem a instalação de um ferry-boat nas proximidades da ponte Hercílio Luz, a exemplo do que já existe em Itajaí-Navegantes, Salvador-Itaparica, Rio de Janeiro-Niterói”.
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Panorâmica4Mobilidade urgente
Para driblar a lentidão e os congestionamentos, muitos motoristas adotam medidas paliativas para amenizar o problema, como utilizar rotas alternativas. Foi justamente o que aconteceu com o próprio professor Werner Krauss Junior, que na tarde do dia 14 de fevereiro não conseguiu chegar a tempo para a entrevista marcada porque ficou preso no trânsito, na altura da Via Expressa. A solução foi alterar o trajeto através das ruas do Jardim Atlântico, mas não esca-
pou do afunilamento no acesso à ponte Pedro Ivo Campos. A primeira opção para livrar a cidade do “mal do carro parado no trânsito com um só passageiro” seria o uso regular do transporte coletivo. Entretanto, como até os ônibus ficam trancados em Florianópolis, esta alternativa torna-se pouco viável. Restam, em curto prazo, soluções como o uso da motocicleta – considerada arriscada devido ao fluxo intenso de veículos – ou então um meio de transporte
mais sustentável: a bicicleta. “Esta seria a alternativa ideal, mas ela só é eficiente para pessoas que circulam numa extensão de até oito quilômetros e em locais planos”, explica o professor. Também já se observa uma movimentação imobiliária de cidadãos saindo do bairro onde moram para viver no Centro. “Conheço gente que deixou a Barra da Lagoa e foi para o Centro única e exclusivamente por causa da falta de mobilidade”, conta Krauss Junior. l
Apostando nas bicicletas Victor Carlson
Hewerton e José: funcionários da empresa adotam a bike para trabalhar F L O R I P A
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Apenas um dos 12 funcionários da Bikedream, loja e assistência técnica há 19 anos no mercado, usam a bicicleta como meio de transporte para ir ao trabalho. Desta maneira, eles participam da política de benefícios implementada pelos empresários Alexandre Füllgraf e Murilo Krüeger. “Vindo de bicicleta, ele vai ter mais qualidade de vida, a saúde vai melhorar, consequentemente vai menos ao médico e falta menos ao serviço”, afirma Füllgraf. A cultura de incentivo ao uso da bicicleta estende-se à infraestrutura da empresa. O banheiro dos funcionários foi ampliado e tornou-se um vestiário. Os equipamentos também têm espaço de garagem. O próprio Füllgraf, quando vai ao Centro, usa a bicicleta. “O desafio é saber onde deixá-la”, diz, referindo-se à falta de estacionamentos seguros para ciclistas na cidade. Ele costuma usar três lugares: o bicicletário da Câmara de Vereadores, o estacionamento do edifício Top Tower, e um estacionamento de motos na esquina das ruas Tenente Silveira com Jerônimo Coelho. Outra instituição que recentemente criou um bicicletário e instalou um vestiário para os seus funcionários foi o Tribunal Regional do Trabalho (TRT).
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Horizontes Victor Carlson
A praia de Canasvieiras, no norte da Ilha, é uma das muitas opções de lazer de Floripa que encantam veranistas do Brasil e do exterior
Turismo em evolução conhecida internacionalmente como um dos principais destinos turísticos brasileiros, Florianópolis prepara-se para receber ainda melhor os visitantes Texto Emanuelle Gomes
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lorianópolis é uma cidade com características únicas no Brasil e no mundo. Suas belezas naturais atraem turistas de todos os cantos do globo. Mas o que, afinal, a torna um exemplo de turismo de qualidade? “Cerca de 50% de seu território é reserva ambiental. É a cidade com maior número de localidades no mundo e ambientes diversos. Possui uma diversificação enorme de lugares paradisíacos. Isso tudo faz parte do nosso universo turístico e faz da Capital um lugar único”, afirma o
secretário municipal de Turismo, Vinícius Lummertz. Além disso, segundo ele, a sociedade catarinense também é um atrativo para os visitantes. “Florianópolis tem civilidade, a melhor qualidade de vida do Brasil, além de possuir o melhor sistema de saúde do país. Por esse motivo, a população vive bem, com maior crescimento de renda: 6%, contra 3% da média nacional”, destaca o secretário. E se o “manezinho” vive bem, também recebe bem os turistas que visitam a cidade. A qualidade do turismo local está
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Horizontes4Turismo em evolução Débora Klempous
Tarcísio Schmitt: a presença de turistas de maior poder aquisitivo tem crescido entre o Natal e o Revéillon, mas precisa ser ampliada para ir além da alta temporada diretamente ligada ao bom astral dos moradores e à hospitalidade do ilhéu. “Florianópolis tem os cinco Cs essenciais para a atividade turística: cama, comida, compras, caminho e carinho. Oferece isso tudo e ainda bons restaurantes, excelentes hotéis e uma variada cultura local”, complementa o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis
de Santa Catarina (ABIH-SC), João Eduardo Amaral Moritz. O presidente do Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Florianópolis, Tarcísio Schmitt, reforça a afirmação de que o turismo da Capital tem crescido nos últimos anos e que tem trazido um público com maior poder aquisitivo na alta temporada. “É uma pena F L O R I P A
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que isso acontece apenas nas épocas de festas, como Réveillon e Natal”, comenta.
Mesmo sendo considerada um dos principais destinos turísticos brasileiros, Florianópolis ainda precisa resolver algumas questões que atrapalham o desenvolvimento dessa atividade. Na opinião do secretário Vinícius Lummertz, a cidade necessita de um Plano Diretor que reflita sua vocação para receber visitantes. “Temos problemas a serem resolvidos, como a situação do aeroporto, melhor uso dos aterros, o desenvolvimento do transporte marítimo e a sustentabilidade”, adverte. João Moritz, da ABIH-SC, reforça as observações de Lummertz ressaltando que a Ilha é a porta de entrada para o turismo no Estado, mas deixa a desejar em transporte por terra, mar e ar. “Por terra a mobilidade é problemática, e um exemplo disso pode ser visto na BR-101. O aeroporto está 20 anos atrasado, sendo o pior aeroporto da região Sul. Para completar, a cidade ainda não tem marina nem porto”, observa. Tarcísio Schmitt, chama atenção para a falta de uma sinalização turística adequada. “O acesso à ponte está ultrapassado, mas houve melhoras nos acessos ao norte e sul da Ilha”, avalia. Para resolver esse problema – um dos mais debatidos atualmente na Capital – Lummertz aponta para a necessidade de um plano de mobilidade urbana regional, que apresente estudos comparativos de fluxo. “Com o resultado desses estudos será possível identificar as melhores saídas. O governo realizou grandes obras, como a duplicação na SC-401 e a terceira faixa na SC-405, mas a cidade precisa de coisas maiores”, diz o secretário.
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Horizontes4Turismo em evolução Débora Klempous
João Eduardo Moritz: é preciso aproveitar as características únicas da cultura local e reforçá-las como produtos turísticos por excelência (49%) não é a desejável e não tem sofrido alterações consideráveis. “Florianópolis é um dos melhores destinos do mundo em ecologia e opções de lazer, mas muitas dessas opções Victor Carlson
Problemas com saneamento básico também são apontados por Schmitt. “Faltam banheiros fixos nas praias, o que leva muitos turistas a fazer uso dos sanitários de restaurantes e bares, que não suportam uma carga tão grande de pessoas”, explica. Para resolver essa questão, Lummertz lembra que um conjunto de obras para saneamento básico está sendo executado para que 90% da população tenha acesso ao sistema de tratamento de esgoto. “Precisamos de uma solução definitiva para esse problema, por isso seria melhor uma estratégia global que atingisse as duas baías”, argumenta.
Os problemas dE ESTRUTURA da cidade também têm impacto no índice de ocupação dos hotéis, de acordo com Schmitt. A temporada de verão, que antes se estendia até março, agora vai até fevereiro. A média de ocupação anual dos leitos
Lummertz: Plano Diretor precisa levar em conta a vocação da cidade para o turismo F L O R I P A
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deixam de existir depois da temporada. Além disso, é um destino consolidado, apesar das diferenças de custos. Em um local uma garrafa de água mineral custa R$ 1, enquanto em outro chega a custar R$ 7. A meu ver, são coisas como estas que mantêm nosso percentual de ocupação nessa faixa, sem alterações”, afirma o presidente do Sindicato dos Hotéis. Moritz, da ABIH, comenta que a cultura local deveria ser mais bem explorada como produto turístico. “Temos o produto na prateleira e precisamos vender lá fora. Temos que mostrar o que o ‘manezinho’ faz, os artistas e a gastronomia local”, diz. Na questão da segurança pública, os três concordam que Florianópolis está no caminho. “Mas é preciso ampliar investimentos no que já está sendo feito”, admite Lummertz. Tanto Schmitt quanto Moritz acreditam que deve haver um incremento no efetivo das Polícias Civil e Militar. l
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Horizontes
Cultura de casa nova Inaugurado em 1949, o Museu de Arte de Santa Catarina ganhou mais espaço e tecnologia para preservar um acervo com 1.775 obras
A Reabertura do CIC devolve A Florianópolis seu mais importante espaço de manifestação artística e intelectual Texto Carol Macário Fotos Daniel Queiroz
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em só de pão vive o homem. A cultura e a arte em suas infinitas manifestações são parte dos direitos de cada cidadão e fundamentais para a formação e a manutenção da identidade social. Na reta final das reformas do principal equipamento multicultural de Santa Catarina, o Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis, a cultura do Estado recupera sua dignidade e a população recebe de volta seu espaço maior de manifestação intelectual e artística. “O CIC é como
o coração pulsante de diferentes formas de manifestação cultural não só de Florianópolis, mas de toda Santa Catarina”, afirma o presidete da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Joceli de Souza. Inaugurado em 1982, o CIC é um centro de referência cultural para todo o Brasil. “É um polo irradiador de cultura, promovendo e divulgando a produção artística catarinense e sendo um importante centro de lazer, debate, convivência”, ressalta Lygia Helena Roussenq Neves, administradora do Masc. São quase dez mil me-
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tros quadrados de concreto e memórias sonoras e imagéticas que abrigam cinema, teatro, escolas de artes, o Museu de Imagem e Som (MIS) e o Museu de Arte de Santa Catarina (Masc). O prédio do CIC foi fechado para reforma em 2009, quando todas as suas alas e espaços foram abaixo para ter sua estrutura recuperada. Depois de mais de dois anos de espera, o primeiro espaço – a ala sul, onde está o Masc – foi devolvido à comunidade, em junho do ano passado. Cerca de R$ 20 milhões foram investidos nas obras de melhoria. À exceção do Teatro Ademir Roza, cujo prazo final de entrega é agosto deste ano, as antigas oficinas de arte já estão funcionando em novas e mais amplas salas, assim como o museu de arte e o cinema. “É a nossa casa maior de volta. O museu é a morada dos artistas, o templo das nossas artes”, celebra o artista plástico Nilton Maia da Silva. Com um acervo de 1.775 obras, muitas delas raras, o Masc está entre os três museus de arte mais importantes do país. Criado em 1949, sua história está diretamente relacionada com o movimento de efervescência cultural do Brasil
Maia: “O museu é a morada dos artistas, nossa casa maior”
O presidente da FCC, Joceli de Souza, confere o novo espaço ao lado da administradora do Masc, Lygia Neves
dos anos 1940 e principalmente com o grupo de obstinados defensores da renovação artística em Santa Catarina da época: o Círculo de Arte Moderna, também conhecido por Grupo Sul. Entregue totalmente revitalizado em junho passado, o Masc agora tem mais espaço e tecnologia adequada para conservar seu acervo. “Temos muita alegia em viver essa transformação e esperamos que a última etapa da reforma do CIC se concretize para que possamos desfrutá-lo integralmente”, afirma Lygia Neves. Há menos de dois meses, foi a vez de o cinema do CIC ser reaberto. O local é um espaço fundamental de divulgação da produção cinematográfica catarinense, brasileira e alternativa. Para o cinéfilo Frederico Campos Didoné, que assumiu provisoriamente a operação do cinema, o espaço vai ampliar a gama de filmes cult e de arte na Capital. “Agora a cidade pode contar com uma programação com a mesma variedade oferecida nas grandes capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo”, diz. Em junho, o cinema do CIC vai sediar o Festival Varilux de Cinema Francês, um dos mais importantes do Brasil.l
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A central de monitoramento da Polícia Militar controla 140 câmeras espalhadas pela cidade e até abril outras 150 devem ser instaladas
Segurança redobrada TRABALHANDO EM CONJUNTO, AS SECRETARIAS DE TURISMO E DE SEGURANÇA PÚBLICA investem em novas estratégias e equipamentos para reduzir a criminalidade Texto Fábio Bispo Fotos Daniel Queiroz
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epois de consolidar-se como destino turístico, Florianópolis tem agora o desafio de reduzir os índices de criminalidade que chegaram junto com as transformações que a cidade sofreu ao longo de uma década de crescimento econômico e populacional tanto na Ilha como no Continente. Neste período, os investimentos na área de segurança pública foram mínimos, realidade que vem mudando desde o ano passado, quando as secretarias de Segurança Pública e de Turismo uniram esforços para reduzir o número de crimes e garantir a sensação de segurança a
moradores e turistas. Em 2011, depois de anos de espera, foram anunciadas contratações de policiais civis e militares. A Capital também ganhou uma delegacia especializada em roubos e deverá receber ainda este ano uma nova divisão de combate ao narcotráfico. O destaque fica por conta do aparato tecnológico investido na Operação Veraneio 2011/2012: a instalação de novas câmeras de videomonitoramento e a chegada de bases móveis e de veículos que deverão permanecer depois da temporada, quando a população flutuante diminui quase dois terços. O tráfico de drogas ainda é apontado como um dos
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Segurança redobrada Horizontes
principais responsáveis pela criminalidade em Florianópolis. Segundo o coronel Araújo Gomes, comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar, a polícia tem trabalhado incansavelmente para reduzir o tráfico. “Mas para que isso ocorra é preciso o envolvimento de outros setores. A polícia não pode acabar sozinha com o caso do crack, por exemplo. É preciso que isso seja tratado também como um problema de saúde pública”, explica. O coronel Gomes destaca que no último ano a PM deu início a um plano de comando que visa descentralizar as ações e buscar uma maior aproximação com as pessoas. “É uma característica da cidade, a população pede uma polícia mais comunitária e mais próxima”, afirma. Segundo ele, depois do estágio de aproximação, a meta é iniciar parcerias com as entidades atuantes nas comunidades.
Assim como a geografia da cidade, as ações criminosas também podem ser bem diversificadas. O norte da Ilha registra os casos mais graves, como homicídios e assaltos. O sul e o leste sofrem principalmente com tráfico de drogas, pequenos furtos e arrombamentos. No Centro, os registros são em sua maioria roubos ou uso de drogas. Recentemente, em conjunto com o Ministério Público e a prefeitura, a polícia deu início a uma ação de humanização da região central de Florianópolis. Durante todo o mês de janeiro foram realizadas ações para retirar os usuários de crack das ruas. Batidas frequentes nos pontos de vendas de drogas também acabaram diminuindo o número de usuários circulando no Centro e, consequentemente, os pequenos delitos cometidos por eles. Entre os principais aliados da polícia atualmente estão os Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs). Um dos pedidos antigos destes conselhos – as câmeras de videomonitora-
mento – está finalmente tornando-se realidade. Atualmente, são 140 câmeras espalhadas pela cidade e a meta é que esse número chegue a 290 até abril. O investimento de R$ 2,5 milhões no projeto é um dos resultados do programa Forçatur, elaborado em uma parceria entre as secretarias da Segurança Pública e Turismo. Outros equipamentos também foram adquiridos por meio do Forçatur com o objetivo de melhorar a qualidade do policiamento nas ruas. Entre eles estão as bases móveis, que serão usadas pelos comandantes de área como verdadeiros escritórios, podendo rapidamente montar uma base da polícia em qualquer local do bairro. Além das bases, foram adquiridos veículos elétricos, novas viaturas e até bicicletas. Até um ano atrás, o policiamento com bicicletas era algo inédito por aqui. Hoje já são seis policiais pedalando pelas ruas de Florianópolis. A entrada e a saída da cidade também ganharam câmeras, instaladas nas pontes Colombo Salles e Pedro Ivo Campos. Os equipamentos de última
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geração fazem a leitura das placas dos veículos e podem facilmente identificar os casos de roubos, assaltos ou sequestros, por exemplo. Ao total são 13 câmeras nas pontes e em suas passarelas. Câmeras de reconhecimento facial também serão instaladas no Terminal Rita Maria, no Aeroporto Hercílio Luz e no Ticen. O sistema será interligado a um banco de dados e poderá encontrar foragidos e procurados pela Justiça. Carlos Thadeu Lima Pires, presidente da Associação dos Conselhos de Segurança (Amecon), diz que as polícias têm se esforçado e já estão mais próximas da comunidade, mas acredita que faltam ações mais integradas para que a cidade realmente tenha uma sensação de segurança. “É preciso investir nas políticas de prevenção para evitar que as crianças cheguem até as drogas e dali partam para o crime”, alerta. Entre os programas desenvolvidos pelos Consegs destacam-se o “Vizinho Solidário”, que incentiva os moradores a cuidar uns das casas dos outros, e o programa de tratamento de vítimas de crimes violentos, realizado pelo Conseg de Santo Antônio de Lisboa.l
O policiamento com bicicletas é uma das ações para dar mais mobilidade ao trabalho da PM F L O R I P A
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Este ano a UFSC recebe mais de 3 mil novos alunos em busca da tão sonhada formação superior
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Formando nosso futuro As instituições de ensino superior de florianópolis ampliam sua oferta de cursos de olho nas novas exigências da sociedade e do mercado
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Texto Emanuelle Gomes Além da vocação para o turismo, Florianópolis ainda aposta do potencial da indústria de Tecnologia da Informação (TI). “O perfil da cidade tem mudado e a demanda do mercado apresenta hoje um grande viés para a informatização. Por isso, cursos de desenvolvimento de software, produtos eletrônicos e mecatrônica entraram nas ofertas da instituição”, diz Golberi de Salvador Ferreira, pró-reitor de extensão e relações externas do IFSC. Para aliar a profissionalização com os anseios dos alunos, o Instituto ainda oferece opções de cursos técDébora Klempous
mercado de trabalho abre oportunidades diariamente, muitas delas em áreas inovadoras que podem mudar o futuro das próximas gerações. Em Florianópolis, com sua população crescente e uma economia em ebulição, as instituições de ensino superior desempenham papel fundamental na formação de profissionais para atender a estas novas demandas. O setor turístico, por exemplo, é uma das áreas em constante evolução no Estado. No entanto, falta mão de obra qualificada para que a Capital tenha um turismo de qualidade internacional. Além disso, a cidade passou a ser um polo tecnológico, com incubadoras e empresas voltadas para o desenvolvimento de softwares. O Instituto Federal de Educação (IFSC) é uma dessas instituições que começou a investir na implantação de cursos que têm relação direta com o cenário atual do mercado de trabalho catarinense. Gastronomia, panificação e confeitaria, serviços, atendimento em eventos, hotelaria e condutores culturais são algumas das carreiras que, apesar de pouco valorizadas atualmente, devem trazer ganhos econômicos para a cidade em um futuro não tão distante. “Hoje, 78% dos profissionais dessas áreas são trabalhadores informais”, observa Nelda Plentz de Oliveira, diretora geral do Campus Florianópolis Continente do IFSC. “Infelizmente, empregos na área de serviços – como garçom ou camareira, por exemplo – não são bem vistos, especialmente na questão salarial. Com a profissionalização, apostamos na valorização.” Ela acredita que a qualificação da mão de obra para o turismo na Capital possa trazer um maior fluxo de visitantes durante o ano inteiro.
Roselane Neckel, reitora eleita da UFSC: As novas profissões devem guiar-se pela demanda do mercado, mas não podem perder de vista as questões sociais
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Sandra Makowiecky: é preciso investir também na formação de professores qualificados
NA UFSC, As ciências humanas não perderão sua importância. Cursos de inclusão e equidade social já se posicionam como atividades-chave para a instituição. “As novas profissões devem se guiar pela demanda de mercado, mas também têm relação com as conquistas dos movimentos sociais”, destacou Roselane Neckel, diretora do Centro de Filosofia e Ciências Humanas e reitora eleita da UFSC, cuja posse está marcada para maio deste ano. Nos últimos anos, a UniVictor Carlson
nicos com menor duração. “São profissionais valorizados e com garantia de empregabilidade. Os estágios são bem remunerados e, pela falta de mão de obra, as empresas buscam inclusive quem ainda está na universidade”, diz Ferreira. Além da ênfase nos cursos de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alvaro Prata, diz que a universidade prioriza uma visão baseada na importância da interdisciplinaridade. “No futuro, necessitaremos de profissionais que sejam capazes de agregar diversos conhecimentos. As profissões clássicas precisam se modernizar, ampliando sua abrangência para outras áreas”, afirma Prata, destacando como exemplo o curso de Bioengenharia, que une os conhecimentos da Engenharia tradicional com a Biologia. Entre os cursos que ganharão relevância em um futuro próximo, Prata cita o de Relações Internacionais, que deve tornar-se cada vez mais procurado com o aumento da proximidade entre os países. “A área de meio ambiente também terá enorme importância, integrando-se com outras profissões para criar uma consciência ambiental.”
Prata: inovação e interdisciplinaridade F L O R I P A
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versidade Federal criou outros novos cursos, como os de Arquitetura e Urbanismo, Engenharia de Mobilidade e Oceanografia. “Com o aumento dos desastres naturais causados pela ocupação irregular do território brasileiro, abrimos o curso de Geologia, uma profissão antiga, mas que precisa de profissionais qualificados”, diz Roselane. Com foco na preservação da memória cultural e histórica, a UFSC oferta ainda o curso de Museologia e Antropologia. A necessidade de formar professores qualificados também é uma discussão presente nas instituições de ensino. “Lecionar é uma das profissões mais antigas e temos o desafio de formar, discutir e dar condições de produção social para que, no futuro, os professores possam formar sujeitos preocupados com as questões sociais”, observa Roselane Neckel. A pró-reitora de Ensino da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Sandra Makowiecky, concorda com a preocupação da nova reitora da UFSC e diz que a falta de incentivo e valorização dos educadores causa um abandono da área. “Não adianta pensar em outras áreas se não teremos professores para formar alunos qualificados para entrar na universidade. Há uma deficiência no conhecimento básico”, comenta. Para Sandra, as áreas já existentes não podem ser esquecidas no futuro, pois é ao redor delas que surgem novos conhecimentos. “Mas também investimos em cursos novos, como o de Engenharia do Petróleo, para formar profissionais para atender a uma nova demanda do mercado.” Além disso, a Udesc é a única que ainda tem cursos voltados para a área de artes. “Nem sempre essas profissões têm demanda ou são bem pagas, mas são estratégicas para o desenvolvimento do país”, completa a pró-reitora.l
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Da esquerda para a direita: Vitor Gomes, Narbal de Souza Correa, Gian Paolo Bonfiglioli, Helton Costa e Rodolpho Gualtiere
Presentes dos chefs CINCO DOS MELHORES CHEFES DE COZINHA DA capital SUGEREM PRATOS ESPECIAIS PARA COMEMORAR O ANIVERSÁRIO DE FLORIPA
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m Florianópolis, as delícias da cozinha manezinha dividem a atenção com pratos inspirados em tradições de diversos países. Nessa disputa bem temperada, quem sai ganhando é o público, que a cada dia ganha novas opções para apreciar os variados sabores da Ilha. São casas que têm se consolidado com diferentes propostas culinárias, mas com uma coisa em comum: chefes de cozinha talentosos e apaixonados pelo que fazem. Imagine, por exemplo, que você está em um restaurante e gostaria muito de comer determinado tipo de peixe. Ao perceber que não existe tal opção no menu você faz outro pedido, é muito bem atendido, mas não deixa de mencionar seu desejo ao chef. Para sua surpresa, ele responde que vai pessoalmente pescar o tal peixe e que dentro de um ou dois dias você pode voltar para saboreá-lo. Pois é exatamente isso que acontece no Recanto dos Brunidores, no canto sul da praia de Ingleses,
Texto Saraga Schiestl Fotos Victor Carlson sob o comando de Narbal de Souza Correa, pescador há mais de 40 anos. “Não temos um cardápio fixo. Aqui, o que importa é manter a tradição da culinária da Ilha”, garante.
A atenção aos detalhes é outra característica desses restaurantes. No Villa Maggioni, no Canto da Lagoa, o sabor das massas, peixes, frutos do mar e sobremesas feitas pelo chef Rodolpho Gualtiere é complementado pelo minimalismo do ambiente. Aconchegante e com jeito de sala de estar, a casa mantém um orquidário cujos cuidados são dispensados pelo próprio chef. A ideia de criar uma “extensão da casa” também inspirou o Ponto G, em Santo Antônio de Lisboa. A proposta do chef Vitor Gomes é abrir o próprio lugar onde mora para receber o público. Sem um cardápio definido, Vitor aproveita o que há de mais fresco no dia para compor um típico menu confiance com três entradas, quatro pratos principais e sobremesa. Misturar culinária com arte, tudo F L O R I P A
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temperado com produtos catarinenses. Esta é a proposta da Cantina Sangiovese, também em Santo Antônio de Lisboa, que serve massas e frutos do mar em um espaço anexo a uma galeria de arte, e que tem no comando o chef Helton Costa, eleito o chef do ano pela revista Veja 2011/2012. Especializado na culinária italiana, Costa destaca a sua preferência pelo uso de produtos orgânicos e a adega da casa com espaço especial para vinhos da Serra Catarinense. Em Ponta das Canas, o jardim impecável chama a atenção de quem visita o Lo Estivale. No ambiente intimista à luz de velas, o chef italiano Gian Paolo Bonfiglioli exibe com orgulho o selo “Ospitalitá Italiana – Ristoranti Italiani Nel Mondo”, que garante o uso de ingredientes como massas e tomates vindos diretamente da Itália. Os pratos são servidos individualmente, e o cardápio é escrito todo em italiano, com tradução para o português. Nas páginas a seguir, cinco sugestões dos chefs. Bom apetite.
Presentes dos chefs Almanaque
Salmão com fettuccine de legumes à moda oriental Um prato destinado para os dias mais quentes, criado pelo chef Vitor Gomes com uma seleção de temperos e especiarias. “Trata-se de um prato leve, fresco e saboroso, com detalhes como gengibre, molho de soja e cogumelos frescos”, explica Vitor. 4Ponto G Rua padre Rohr, 1717, Santo Antônio de Lisboa. O bistrô funciona de quinta a sábado, mas há possibilidade de atendimento em outros dias para grupos de no mínimo 10 pessoas. (48) 8815 0608
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Prato do pescador Pensando no aniversário de Florianópolis, o chef Narbal de Souza Correa fez questão de homenagear a data criando o “Prato do pescador”. A combinação dos ingredientes é a cara da Ilha de Santa Catarina: peixe, camarão, polvo e arroz. Para dar o toque final, o manjericão, vindo da horta que o chef faz questão de cultivar e de onde colhe temperos todos os dias. Para harmonizar, ele indica um bom vinho branco da Serra Catarinense. 4Recanto dos Brunidores Costa sul da Praia dos Ingleses, s/n (acesso pela estrada Dom João Becker). Aberto de quinta a domingo, das 12h às 18h. Jantares somente com reserva. (48) 9972 2143
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Grigliata Mista di Pesci A combinação de frutos do mar feita pelo chef Gian Paolo Bonfiglioli prova que a culinária italiana não se resume a pizzas e massas. “Neste prato, faço questão de usar o polvo e o camarãopistola”, observa Gian Paolo, ele mesmo um italiano legítimo, nascido na Bologna. Para a apreciação do prato, ele indica um vinho tinto não muito encorpado. 4Lo Estivale Av. Luiz Boiteux Piazza, 4838, Ponta das Canas. Aberto no inverno de quinta a domingo. No verão, atende todos os dias. (48) 3284 2079
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Papardelle de açafrão salteado com coxa de pato A massa fresca feita artesanalmente e o tomate orgânico definem o sabor e a textura do prato feito pelo chef Helton Costa, especializado em culinária italiana. A escolha do prato, segundo o chef, deve-se ao fato de Santa Catarina ser a maior produtora de patos do país. Para combinar com essa escolha, ele sugere um vinho Cabernet da Serra Catarinense. 4Cantina Sangiovese Rua Padre Lourenço Rodrigues de Andrade, 496, Santo Antônio de Lisboa. Aberta aos sábados, para almoço e jantar, e domingos apenas para almoço. (48) 3371 1200
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Gamberi Tunisiano A união de sete pimentas brasileiras faz toda a diferença para o Gamberi Tunisiano elaborado pelo chef Rodolpho Gualtiere, especializado em cozinha mediterrânea. O molho apimentado que acompanha o prato é típico da Líbia, Tunísia, Egito e Marrocos. O cuidado do chef revela-se na junção do molho e do cuscuz marroquino com o camarão. Nesta combinação o fruto do mar não ganha tempero, sendo grelhado rapidamente. “É um prato que pode ser consumido tanto quente quanto frio”, observa Gualtiere. 4Villa Maggioni Rua Canto da Amizade, 273, Canto da Lagoa. Aberto de quarta a sábado para jantar. Serve almoço aos sábados, domingos e feriados. (48) 3232 6859
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Em reforma desde 2007, o imóvel tornou-se sede do Centro Cultural Ruth Hoepcke e está quase pronto para receber visitantes
Memórias do poder A casa onde morou o ex-governador aderbal ramos da silva está sendo restaurada para transformar-se em centro cultural Texto Oliveira Mussi Fotos Victor Carlson
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ntre 1947 e 1951, muitas das decisões sobre os rumos de Santa Catarina foram tomadas entre as paredes desta casa, localizada na avenida Trompowski, 355, bem no centro da Capital. Foi ali que o então governador Aderbal Ramos da Silva preferiu continuar morando com a esposa, Ruth, mesmo depois de tomar posse do cargo, em março de 1947, e ter direito a residir no Palácio Rosado, atual Palácio Cruz e Sousa. Para resgatar a memória daqueles
tempos, as empresárias Anita Hoepcke da Silva e Sílvia Hoepcke da Silva, filhas do ex-governador, organizaram um movimento de revitalização do imóvel, que está prestes a tornar-se um centro de cultura. Por meio do Instituto Carl Hoepcke (ICH) elas criaram o Centro Cultural Ruth Hoepcke da Silva e começaram os trabalhos de recuperação do prédio, em reforma desde 2007. Quando estiver pronto, o local abrigará um museu com a história da família Hoepcke e Ramos da Silva, das empresas Hoepcke e da
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Memórias do poder 4Almanaque
Construída em 1937, a casa tinha projeto avançado para a época trajetória política do ex-governador, que construiu a casa e morou nela até o fim da vida, vindo a falecer no próprio imóvel, em 1985. O terreno foi cedido ao casal da Silva em 1935 pelo pai de Ruth, Carl Hoepcke, empresário alemão que impulsionou o comércio na Ilha. Com conceitos modernos de arquitetura e engenharia, a casa ficou pronta em 1937 e logo a família mudou-se para lá. “Um dos maiores problemas foi a aprovação de um banheiro que era ligado ao quarto principal. Isso era extremamente incomum na época, quando os banheiros ficavam isolados em um canto da casa”, lembra Silvia. É interessante notar que já existia um box com chuveiro no banheiro, outra coisa incomum na década de 1930.
Ramos da Silva adorava serestas e festas, e frequentemente gostava de receber os amigos na grande varanda do primeiro andar.
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A sala foi cenário de reuniões e importantes decisões políticas A casa também foi palco de reuniões oficiais e cenário de grandes decisões políticas durante seu mandato como governador. De acordo com Silvia, a decisão de permanecer na casa nesse período deveu-se à qualidade do imóvel e sua utilização pela família. O casal tinha duas filhas pequenas, e o terreno era ideal para que elas pudessem brincar com segurança: começava na casa de Aderbal e descia até o pé da rua, na esquina com a Bocaíuva, indo até a 14˚ Brigada de Infantaria Motorizada, repleto de árvores frutíferas e localizado em uma rua tranquila, arborizada e de boa vizinhança. “Minha mãe argumentou que tínhamos todo esse espaço e não queria morar na Praça XV, então acabamos ficando na casa mesmo”, conta Anita. Muitos momentos políticos, profissionais e familiares estão eternizados em fotografias dipostas em um dos cômodos da casa. Há também mostruários com cor-
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O imóvel foi um dos primeiros a ter o banheiro ligado ao quarto principal, algo bastante incomum para a arquitetura da época respondências, canetas usadas por Ramos da Silva, livros, kit de toucador, passaportes e muito mais. As paredes exibem quadros pintados ou bordados por Ruth, bem como enfeites que ela fazia para embelezar as vitrines das lojas da rede Hoepcke.
“Mais de 80% da casa é original, como era em 1937”, Anita faz questão de destacar. Um trabalho quase arqueológico foi feito nas paredes de cada cômodo do primeiro andar para que a cor e a textura das paredes fossem recriadas em mínimos detalhes. No segundo andar funcionam os escritórios do ICH, mas também há mostruários, o quarto do casal, banheiro do casal e quarto de vestir, tudo conservado com extremo cuidado. Um detalhe: tanto o quarto de vestir quanto a cozinha, no andar de baixo, são dotados de armários embutidos, coisa rara naqueles tempos. De acordo com Silvia e Anita, ainda não há previsão para a abertura do centro cultural, mas a ideia é de em breve abrir o espaço para grupos com hora marcada. l
Objetos de decoração combinam-se com os quadros nas paredes, pintados ou bordados pela proprietária da casa
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Saúde à beira-mar LUGARES COMO A BEIRA-MAR NORTE, A BEIRA-MAR CONTINENTAL E O PARQUE DE COQUEIROS SÃO CENÁRIOS IDEAIS PARA PRATICAR ATIVIDADES FÍSICAS AO AR LIVRE Texto Emanuelle Gomes Fotos Daniel Queiroz
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Saúde à beira-mar Almanaque
A Beira-mar Continental proporciona um espaço para fazer exercícios com uma vista privilegiada da Ponte Hercílio e da orla da Ilha
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m meio à paisagem deslumbrante da capital catarinense, moradores e turistas têm espaços privilegiados para cuidar do corpo e da mente. Caminhar, correr e andar de bicicleta – ou então simplesmente parar para apreciar o mar azul que une a Ilha e o Continente – são as opções que a Beira-mar Norte, o Parque de Coqueiros e, mais recentemente, a Beira-mar Continental trouxeram para o cotidiano de Florianópolis. No Parque de Coqueiros, próximo à cabeceira das pontes, o hábito de praticar atividades esportivas é acompanhado por um trabalho de acompanhamento e orientação de profissionais da saúde. Eles dão dicas como a importância do alongamento antes e durante os exercícios físicos. O local foi o primeiro a receber a Academia da Saúde, um espaço com diversos equipamentos para a prática de exercícios.
No local, as opções de praticas esportivas e de lazer vão além da pista de 850 metros para corridas, caminhadas e pedaladas. O local oferece ainda parque infantil e áreas para outras práticas esportivas como futebol, vôlei e basquete – tudo gratuito e aberto à comunidade, o que faz do Parque de Coqueiros um ponto de encontro não só de moradores da região, mas também de bairros próximos. Além disso, o espaço também é palco para eventos como show musicais, voltados para toda a família. Já a infraestrutura oferecida pela Beira-mar Norte, na região insular, foi totalmente reformulada entre 2010 e 2011. As calçadas aumentaram de 2,5 m de largura para 5 m e toda a extensão da ciclovia foi recuperada. Além disso, deques de madeira foram construídos ao longo da avenida, o trapiche foi reformado e um novo projeto de arborização implantado. Esse movimento de revita-
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Almanaque4Saúde à beira-mar Alexandro Albornoz/Arquivo ND
Além de pista para caminhar, correr ou pedalar, o Parque de Coqueiros oferece também outras opções de lazer e práticas esportivas lização atraiu ainda mais usuários para o espaço, desde quem pratica esportes diariamente quanto aqueles que preferem passear, descansar ou namorar diante da bela paisagem da baía.
A novidade entre os espaços de lazer ao ar livre em Florianópolis é a Avenida Beira-Mar Continental. Antes mesmo de sua conclusão e inauguração, neste mês de março, a via já havia se tornado um importante instrumento de incentivo à saúde para moradores e visitantes, que antes não tinham local específico para dedicar-se aos exercícios físicos ao ar livre. A avenida ainda se destaca como um novo cartão-postal de Florianópolis, por proporcionar uma visão única tanto da ponte Hercílio Luz quanto da
orla e dos prédios da parte insular da Capital. Quem frequenta ambas as avenidas concorda que as mudanças foram positivas para a cidade. Carlos Fialho, 31, e Kayra Reis, 19, aproveitavam a sombra das árvores da Beira-mar Norte para descansar e olhar a paisagem. Os dois são ciclistas e aprovaram a revitalização do espaço. “Está melhor, mais agradável. Têm áreas para alongamento, barracas ao longo da via que medem pressão”, conta Fialho. Os deques de madeira, segundo ele, tornaram-se pontos de encontro para os ciclistas da região. “Para quem caminha ficou muito bom. Para os ciclistas ainda existem algumas coisas que desagradam. Muitos corredores usam a pista de bicicletas e, por isso, não conseguiF L O R I P A
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mos treinar aqui”, diz. A turista Kelly de Quadros Cerbaro, 17, vem todos os anos passar as férias na Capital e disse que sempre que pode caminha na Beira-mar. “O lugar é lindo, tem incentivos para ter saúde, área de lazer, parques com equipamentos para exercícios, além da ciclovia”, afirma. Quando venho pra cá quero ficar fora de casa e nada melhor do que andar na Beira-mar Norte sempre que posso”. Na Beira-mar Continental, as opiniões são parecidas. Filipe Medeiros, 20, disse que sentia falta de um lugar como o da avenida para caminhar e andar de bicicleta. “O local veio valorizar os moradores da região. Seria muito legal se a avenida tivesse uma ligação melhor com a Beira-mar Norte, como tem com o Parque de Coqueiros”, destacou.l
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Um caso de amor por Floripa Apaixonado por Florianópolis e pelo trabalho, o apresentador Hélio Costa diz que não consegue viver longe do mar e sonha com o dia em que poderá levar os netos para passear na Ponte Hercílio Luz Texto Saraga Schiestl Foto Victor Carlson
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ncerrado o Jornal do Meio-Dia às 13h30, de segunda a sábado, Hélio Costa passa pelas portas do seu estúdio localizado no Morro da Cruz, no prédio da RIC Record, depois de uma jornada de trabalho que começou às 5h, na Rádio Record. Simpático, cumprimenta todos nos corredores e, por vezes, ainda é surpreendido por grupos de fãs que o esperam para abraçá-lo e tirar algumas fotos para levar de recordação. Foi por todo esse carisma, além da qualidade no trabalho em veículos do Grupo RIC (RIC TV, Notícias do Dia e Rádio Record) e o respeito pelos telespectadores, que o apresentador foi considerado pela pesquisa Ímpar/ Ibope o segundo nome mais lembrado entre os catarinenses no ano de 2011, ficando atrás apenas do tenista Gustavo Kuerten. Nascido há 57 anos no bairro Estreito, região continental de Florianópolis, Hélio apaixonou-se pelo jornalismo há 35 anos e desde então não fez outra coisa senão dedicar-se a levar informação às pessoas. Todos os dias ele pede licença para entrar na casa dos catarinenses na hora do almoço, em seu jornalístico diário exibido pela RIC TV Record. Em tantos anos de profissão, Hélio deixou sua marca principalmente na cobertura de assuntos ligados à segurança. Entretanto, pouca gente sabe que durante 22
anos ele se dedicou ao jornalismo esportivo. “Já passei por todas as editorias dos jornais, não consigo definir uma preferida”, revela o jornalista. Em tanto tempo de carreira, Hélio já teve propostas para trabalhar em cidades como Curitiba e também no interior de Santa Catarina. Porém, nenhuma das propostas foi adiante, por um motivo especial: o apresentador não consegue viver longe do mar de Florianópolis, cidade que ele carrega no coração, apesar de morar em São José. “Eu preciso ver o mar todos os dias”, garantiu Hélio, que não diz não saber escolher apenas um lugar preferido na Ilha. “Sou filho de pai nascido no Ribeirão da Ilha e mãe do Sambaqui, mas apesar disso eu fui conhecer a Lagoa só aos 21 anos, quando comprei meu primeiro carro”, relembra Hélio, acrescentando que nas décadas de 60 e 70 os acessos dentro da Ilha eram complicados, o que dificultava conhecer os cartões-postais da Capital. Pai de cinco filhos e avô de quatro netos, Hélio diz que ainda guarda um sonho que gostaria de realizar com toda a família: caminhar pela passarela da Ponte Hercílio Luz. “Quero levar meus netos para entenderem o que é Florianópolis vista de cima da ponte, de preferência à noite”, disse o nostálgico apresentador, que torce pelo sucesso da restauração da ponte-símbolo dos catarinenses.l
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Nascido no Estreito, HĂŠlio conquistou telespectadores e ouvintes de toda a regiĂŁo nos seus 35 anos de carreira
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Mailyn Kafer/Divulgação
Surfe à moda antiga
Nas ondas da Barra da Lagoa, Felipe Siebert lembra um surfista da década de 1960 ao testar um dos “pranchões” que ele mesmo desenhou
dois irmãos apostam nas pranchas de madeira para expressar SEU amor pela prática que, além de UM esporte, é também um estilo de vida Texto Pedro Santos Fotos Daniel Queiroz
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inda é cedo em Florianópolis. Mas na cidade que é referência no surfe mundial, as ondas do mar já estão agitadas. A maioria dos turistas e nativos ainda não acordou para ir à praia. A essa hora da manhã só é possível ver alguns corredores matutinos, um ou outro guarda-sol e eles – os surfistas –, cada um com seu modelo, cor e tamanho de prancha. No meio deles, um “pranchão” se destaca. Em vez de ser feito de espuma, como a maior parte das pranchas, ele é construído com madeira oca. Mas o que parece uma novidade no mar não é uma ideia tão recente assim. Pelo contrário, é uma inspiração lá do passado,
quando o surfe ainda não era moda. Em 1920, o norte-americano Tom Blake foi um dos primeiros a fabricar uma prancha dessas. Na época, antes do surgimento da espuma de poliuretano, que é a matéria-prima utilizada nas pranchas da atualidade, a experimentação com diferentes materiais era bem-vinda, e Blake sagrou-se campeão em inovação ao desbancar os rivais em um campeonato na Califórnia. As pranchas de madeira atingiram o auge na década de 60, não por acaso um período em que o surfe popularizou-se em todo o mundo como esporte e estilo de vida. Questões como leveza, envergadura e capacidade de flutuação foram preponderantes nos materiais experimentados na
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Almanaque4Surfe à moda antiga
Felipe (esq.) é o responsável pelo design das pranchas, enquanto seu irmão Fábio encarrega-se das vendas e da loja virtual época. “Hoje, a prancha de madeira é como um carro antigo que você cuida e tem muito carinho. Ela conta a história do esporte”, destaca Felipe Siebert, 33, que, junto com o irmão Fábio, 25, fundou a única loja especializada em pranchas de madeira em Santa Catarina, a Siebert Woodcraft Surfboards que funciona no bairro Pantanal. Felipe destaca que essas pranchas são bem aproveitadas dependendo das condições do mar. De fato, há uma diferença em relação ao chamado “surfe progressivo”, que utiliza pranchas mais tradicionais. Em geral, os modelos de madeira são mais resistentes e apropriados quando o mar está repleto de ondas pequenas. “Não tem essa história de prancha ideal. Os surfistas têm que experimentar diferentes tipos para decidir com qual vão se adaptar melhor”, afirma Felipe.
Fabricar pranchas de madeira foi a forma que os irmãos Siebert encontraram para viver daquilo que mais gostam. Há cinco anos, Felipe havia acabado de formar-se em Biologia, quando decidiu ar-
As pranchas fabricadas em Florianópolis são exportadas para diversos países F L O R I P A
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riscar a abrir o próprio negócio em um trabalho artesanal que sempre exigiu técnica, tempo e dedicação exclusiva. “Meu pai é desses metidos a marceneiro, que têm todas as ferramentas em casa, sabe? Um dia eu resolvi montar minha própria prancha. Ela tinha alguns problemas de medidas, de peso, mas deu certo. Então eu resolvi estudar mais sobre isso e acabei abrindo uma empresa especializada na fabricação de pranchas de madeira”, conta Felipe, enquanto mostra livros de fotografias dos anos 60, quando os “pranchões” ocupavam a cena. A fábrica dos irmãos Siebert é uma das únicas do Brasil a fornecer pranchas de madeira para os Estados Unidos, uma forma de, ao mesmo tempo, manifestar o amor pelo esporte e manter ligadas as tradições que colaboraram com a própria evolução histórica do surfe. l
Eternamente bela O Grupo Engevix parabeniza Florianópolis pelos seus 286 anos O Grupo Engevix, que atualmente investe cerca de R$ 1 bilhão no estado de Santa Catarina, se orgulha de estar presente em Florianópolis por meio de duas de suas empresas, a Desenvix Energias Renováveis e a Engevix Engenharia, onde emprega 500 funcionários. O grupo também atua socialmente por meio do Instituto Engevix, atendendo 92 crianças e adolescentes dos bairros próximos ao Maciço do Morro da Cruz, cuja meta é a educação e o resgate da cidadania.
Hist贸ria nos detalhes
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História nos detalhesAlmanaque
Pelo centro da cidade ou pelos bairros históricos, é possível observar a variedade e a beleza das cimalhas sob os telhados antigos
UM OLHAR ATENTO Às FACHADAS do casario histórico preservado REVELA tRAÇOS ARQUITETÔNICOS QUE trazem À TONA o passado dA CAPITAL Texto Carol Macário Fotos Victor Carlson
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aminhar pelas ruas históricas do Centro de Florianópolis é como ativar uma memória ancestral e vivenciar o passado. Marcos da história não muito recente estão impregnados na fisionomia da cidade por meio da arquitetura e do traçado urbano. São detalhes singelos como maçanetas e arabescos, telhas, janelas e portas de casas antigas que representam um rico acervo a céu aberto.
Em ruas como a Felipe Schmidt, Conselheiro Mafra, João Pinto, Fernando Machado e pelas ruelas no entorno da avenida Hercílio Luz, no Centro, estão conjuntos urbanos que expressam a memória da Ilha nas fachadas de imóveis que já abrigaram acontecimentos históricos, políticos e culturais. As antigas freguesias no interior, como Ribeirão da Ilha e Santo Antônio de Lisboa, também conservam casas com características originais. A maioria delas tem
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História nos detalhesAlmanaque
paredes feitas de pedras unidas por uma argamassa que misturava óleo de baleia e conchas. “As edificações eram construídas uma ao lado da outra, com uma porta e uma janela na frente. Entrando, têm-se a sala, os quartos sem janelas e, no final do corredor, a cozinha”, explica a arquiteta e urbanista Mariana Pesca. Quem olhar para o alto pode observar o formato característico das telhas, produzidas utilizando-se as coxas dos escravos como formas. Os beirais das casas indicavam o poder aquisitivo das famílias. “Beiral com duas fileiras significava que ali vivia alguém com dinheiro e cultura”, conta Mariana. Como se dizia na época, a família tinha “eira e beira”. Muitos, no entanto, não tinham “nem eira, nem beira” – uma expressão que herdamos do período colonial e que é usada até hoje. Observando os desenhos externos dessas casas, percebem-se as cimalhas, características marcantes da arquitetura luso-açoriano-
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brasileira. Eram utilizadas para emoldurar janelas e portas, como enormes arabescos. Podiam ser também faixas horizontais destacadas na parede, sempre pintadas com uma cor diferente.
EraM meados do século 18 quando cerca de 6 mil açorianos e portugueses chegaram para colonizar a então Nossa Senhora do Desterro e trouxeram consigo um estilo próprio de edificar moradias, que logo se combinou com as tradições locais. Como lembranças desse tempo, o Centro Histórico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) já registrou mais de dez conjuntos urbanos tombados, compreendendo um total de cerca de 330 edificações. “Preservar nossa arquitetura é valorizar a memória da cidade. Não somente para os turistas tirarem fotos, mas para as gerações futuras poderem sentir como era viver aqui”, observa a arquiteta Mariana Pesca.l F L O R I P A
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Detalhes nas casas ajudam a imaginar como era viver na Florianópolis de antigamente
Na página ao lado, todo o colorido das sacadas e janelas das edificações coloniais
Belezas de vidro e luz
Detalhe de vitral do Teatro Ă lvaro de Carvalho
Belezas de vidro e luzAlmanaque
Um dos três grandes vitrais instalados sobre o altar da Catedral Cenáculo do Espírito Santo na avenida Mauro Ramos
ENFEITANDO JANELAS DE templos, COLÉGIOS E PRÉDIOS PÚBLICOS, a milenar arte doS vitraIS MANTÉM-se viva em floriANÓPOLIS Texto Pedro Santos Fotos Victor Carlson
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or trás da arquitetura de capelas, igrejas e teatros espalhados por Florianópolis estão majestosas peças de vidro que brilham imponentes nas janelas ao serem tocadas pela luminosidade que vem de fora. Reforçados por imagens de arte sacra e da cultura popular, os vitrais provocam uma experiência curiosa em quem os observa – uma espécie de volta ao passado, mais especificamente à Idade Média, quando esta forma de arte surgiu na Europa com a intenção de divulgar passagens bíblicas e difundir a catequese. Na capital catarinense, um dos vitrais que mais chama a atenção é o da centenária Capela Santo Inácio de Loyola, construída dentro do prédio que desde 1905 abriga o Colégio Catarinense. Quan-
do bate a luz do sol, imagens de símbolos religiosos e a figura de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, colorem todo o piso da capela, criando uma atmosfera ao mesmo tempo sacra e de profundo deleite estético. Na Igreja de Santa Catarina de Alexandria, que também pertence ao Colégio, os vitrais obedecem a outro critério. As imagens retratam figuras de santos, como São Francisco Xavier e Santa Terezinha do Menino Jesus, ao lado de passagens bíblicas como a Anunciação, a Santa Ceia e até o Sacrifício de Abraão. Os vitrais foram desenvolvidos no tradicional ateliê Casa Genta, de Porto Alegre. “Além da beleza, há o lado do mistério, de provocar interesse nas pessoas para que elas mergulhem na história que os vitrais contam”, explica o teólogo Sinésio Fernandes.
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A Catedral Metropolitana
Detalhe do vitral na janela do Salão Vermelho do Palácio Cruz e Sousa
Um olhar mais atento aos vidros coloridos feitos pelo artista alemão Lorenz Heilmair, em 1966, revela o périplo de Jesus Cristo. As lanças vermelhas simbolizam os soldados na hora da prisão. Depois vêm a coroa de espinhos, as cruzes que significam o calvário e a crucificação. Por fim, surgem os raios, em uma metáfora para a glória de Jesus. Na foto de fundo, os vibrantes vitrais da Igreja Nossa Senhora de Lourdes e São Luiz F L O R I P A
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de Florianópolis, apresenta 14 vitrais, sete de cada lado. Os temas sacros – confeccionados pelos artesãos da Casa Conrado, em São Paulo, e inaugurados em 1949 – tratam do nascimento do Messias e de Jesus reunido com os apóstolos. Em menor escala, figuram obras mais artísticas e sem caráter sacro, como detalhes da ponte Hercílio Luz. Perto dali, na Capela do Colégio Bom Jesus Coração de Jesus, o que mais chama a atenção nos vitrais datados de 1914 são os ricos detalhes com que foram elaborados. O mesmo colégio abriga – na Igreja da Santíssima Trindade, que pertence à Congregação das Irmãs da Divina Providência – um dos maiores vitrais em extensão da cidade. À primeira vista, parecem enfeites de diversas formas, cores e tamanhos espalhados aleatoriamente, mas na verdade escondem símbolos da Igreja Católica. “Tem gente que apenas vê um enfeite bonito. Mas quem tem fé enxerga o significado por trás dos vitrais”, acredita Ofélia Heinen, a irmã responsável pela igreja. Na capela do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, tudo remete à padroeira do Estado, Santa Catarina de Alexandria, que dá nome ao templo ecumênico construído em 2001. De acordo com o arquiteto Aldo Eickhoff, que projetou o espaço, os vitrais foram desenvolvidos para dar a impressão de ondas de energia e criar um ambiente onde todos possam experimentar momentos de paz interior.
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Sagrado Coração na Capela do Colégio Bom Jesus
Detalhe de um dos vitrais da Catedral Metropolitana
Atenção as crianças na Igreja do Divino Espírito Santo
Projeto diferenciado da Capela do Tribunal de Justiça
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Já na Igreja Nossa Senhora de Lourdes e São Luiz, os tons roxos e azulados têm a mesma intenção de oferecer um sentimento de paz. Ao bater da luz, as cores ficam ainda mais vibrantes. O mesmo acontece na Igreja do Divino Espírito Santo, construída no início do século passado. Seu conjunto de vitrais retrata imagens de santos cuidando de crianças – uma provável relação daquele espaço com o asilo de órfãs, um dos projetos da Irmandade do Divino Espírito Santo que construiu a igreja. Na Catedral Cenáculo do Espírito Santo, da Igreja Universal do Reino de Deus, 28 vitrais com a cruz de Jesus Cristo efeitam as laterais do prédio. Sobre o altar estão três grandes peças de vitral. O mais alto com o chamado de “Jesus Cristo é o Senhor”, o maior, logo abaixo, traz um trecho do Salmo 23 da Bíblia. E logo atrás do altar, um belo vitral junto ao batistério que lembra as águas do batismo. No Museu Santa Catarina, no Palácio Cruz e Sousa, e no Teatro Álvaro de Carvalho, no Centro, o tom religioso dá lugar à inspiração cultural das tradições açorianas presentes no imaginário ilhéu. Ambos foram construídos pela empresa do artesão paulista Conrado Sorgenicht. Das mãos de sua equipe saíram mulheres que parecem desfilar alegres no vitral da dança folclórica do pau de fita, presente no TAC. O mesmo ocorre em outras janelas, que exibem festas populares como o carnaval e a dança do quicumbi. “Os vitrais são responsáveis por contar uma história, seja de cunho religioso, seja uma expressão artística. É uma forma poética de registro”, destaca a restauradora Susana Cardoso, que faz questão de salientar a importância de conservar estes espaços. “Como qualquer obra arquitetônica, eles se deterioram com o tempo e por isso é fundamental que tenham manutenção constante.” l
Acima, o conjunto de vitrais na capela do Colégio Catarinense. Na sequência à direita, algumas das janelas do Teatro Álvaro de Carvalho que retratam costumes e danças folclóricas da Ilha de Santa Catarina F L O R I P A
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Almanaque 4Crônica
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..á quem diga que a magia de Florianópolis nos permite aguçar e enriquecer os cinco sentidos, tais as sutilezas inspiradas pela paisagem física e humana da cidade. A visão parece a sensação mais óbvia, a que provoca o primeiro êxtase. Mas conhecer Florianópolis vai muito além de desnudá-la visualmente. A cidade tem seus cheiros característicos, puros ou impuros, naturais ou urbanos, nas praias, no Mercado Público, na Praça XV de Novembro, na Avenida Beira-mar Norte. Tem seus sabores, que fascinam o paladar nos restaurantes praieiros ou na sofisticada gastronomia que se impôs nos últimos anos. E o que dizer das texturas que sentimos nas areias das praias, nos troncos das árvores, nos toques sutis dos cenários? Além de tudo isso, e muito particularmente, “ouvir” Florianópolis é qualidade desafiadora, que exige certa atitude transcendental. Não me refiro apenas ao alarido dos pássaros, ou às perturbações urbanas, menos ainda aos poderosos sons humanos das grandes concentrações no calçadão e arredores. Há um som em particular que evidencia a presença contemporânea da aldeia que já fomos. Vem da sinfonia produzida pelos sete sinos da Catedral Metropolitana, dois deles presenteados por Dom Pedro II, os outros cinco adquiridos na Alemanha, no início do século 20. Tenho a certeza de que, no cotidiano frenético, ou mesmo nos fins de semana vazios, a presença dos sinos é muito mais do que musical, é espiritual. Tive a prova disso quando ouvi, numa gravação resgatada pelo documentarista Roberto Lacerda Westrupp, o último discurso do governador Jorge Lacerda (1914-1958), no Palácio Rosado, hoje Cruz e Sousa. Quando Lacerda começa a falar, provavelmente ao meio-dia, os sinos invadem o ambiente do palácio e parecem “ilustrar” e imortalizar o tom solene da fala do governador, um notável intelectual e orador, que morreria horas depois do registro sonoro, em 16 de junho de 1958, junto com o senador Nereu Ramos e o deputado Leoberto Leal, num desastre aéreo ocorrido nas proximidades de Curitiba (PR). Eu incluiria um sexto sentido, que mexe com todos os outros. “Sentir” o vento Sul é uma qualidade que qualquer mortal pode desenvolver, desde que tenha exercitado todos os outros sentidos e tenha vivido Florianópolis em sua gostosa plenitude poética. Mas esse é assunto para uma próxima crônica.l
Os sinos da nossa aldeia
Texto Carlos Damião Pintura Cipriano
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MESMO FORA DAS QUADRAS ELE NÃO PARA DE COLECIONAR TÍTULOS. Desde 1955 o International Tennis Hall of Fame & Museum homenageia os tenistas que mais se destacaram em todo mundo. O prêmio é considerado o mais importante deste esporte, e Guga Kuerten é o primeiro atleta do tênis masculino brasileiro a vencer uma votação e a ingressar neste seleto grupo de lendas do Tênis Mundial. Parabéns Guga e continue fazendo acontecer.