BMW e GM
Santa Catarina é a nova fronteira automotiva do Brasil
Pesquisa
As empresas que são referência do setor industrial catarinense
SantaCatarina.ind Anuário da Indústria Catarinense w n.1 w 2013 w R$ 9,90
Motor acelerado Como a inovação e a chegada de novos segmentos vão renovar o ciclo de crescimento da indústria nas próximas décadas e aquecer a economia do Estado
100 100
MAISMAIS DE DE RODOVIAS RODOVIAS EM OBRAS EM OBRAS
2.000 2.000 kmkm
MAIS MAIS DE DE DE OBRAS DE OBRAS EM ESTRADAS EM ESTRADAS
INVESTIMENTO INVESTIMENTO DE MAIS DE DE MAIS DE
33
R$ R$BILHÕES BILHÕES
OBRAS OBRAS EM TODAS EM TODAS AS AS REGIÕES REGIÕES DO ESTADO DO ESTADO
OOPACOTE PACOTEDE DEOBRAS OBRAS QUE QUEVAI VAIMUDAR MUDARAAVIDA VIDA DOS DOSCATARINENSES CATARINENSES No maior No maior investimento investimento em infraestrutura em infraestrutura de nossa de nossa história, história, o Governo o Governo de Santa de Santa Catarina Catarina vai vai trazer trazer maismais oportunidades, oportunidades, maismais segurança, segurança, maismais empregos, empregos, maismais agilidade, agilidade, maismais tempo tempo parapara vocêvocê trabalhar, trabalhar, estudar, estudar, se divertir. se divertir. Através Através de obras de obras comocomo a pavimentação a pavimentação completa completa da Serra da Serra do Corvo do Corvo Branco, Branco, o novo o novo acesso acesso ao sul aoda sulIlha da Ilha de SC deeSC Aeroporto e Aeroporto Hercílio Hercílio Luz,Luz, a duplicação a duplicação da Avenida da Avenida Santos Santos Dumont Dumont em Joinville, em Joinville, a Via a Rápida Via Rápida entre entre Criciúma Criciúma e a eBR-101, a BR-101, a nova a nova ligação ligação entre entre Tangará Tangará e Campos e Campos Novos, Novos, a restauração a restauração da da rodovia rodovia Fraiburgo-Videira-Luzerna, Fraiburgo-Videira-Luzerna, recuperação recuperação da rodovia da rodovia em Chapecó em Chapecó - Goio-Ên - Goio-Ên e pavimentação e pavimentação de Romelândia de Romelândia a Anchieta, a Anchieta, entreentre muitas muitas outras. outras. É mais É mais respeito respeito com com você.você. E com E com todos todos aqueles aqueles que que querem querem crescer crescer juntojunto com com Santa Santa Catarina. Catarina. Conheça Conheça e acompanhe e acompanhe todastodas as obras as obras em sc.gov.br/pactoporsc em sc.gov.br/pactoporsc
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EDITORIAL
SantaCatarina.ind Uma publicação do Grupo RIC FUNDADOR e Presidente Emérito Mário J. Gonzaga Petrelli
A valorização merecida da indústria catarinense
Grupo RIC SC presidente-Executivo Marcello Corrêa Petrelli Diretor Comercial Reynaldo Ramos Diretor Administrativo e Financeiro Albertino Zamarco Jr. Diretor Operacional Paulo Hoeller Diretor de Redação Notícias do Dia Luís Meneghim
Revista SantaCatarina.ind Coordenador-geral Victor Emmanuel Carlson Editor-executivo Alexsandro Vanin Diagramação Victor Emmanuel Carlson REPORTAGEM Adão Pinheiro, Alexandre Lenzi, Andressa Fabris, Beatrice Gonçalves, Cléia Schmitz, Daniel Cardoso, Daniele Martins, Deise Furtado, Eduardo Kormives, Fabricio Umpierres, Lorena Trindade, Luciana Zonta, Paulo Clóvis Schmitz e Vandré Kramer Ilustrações Felipe Parucci MAPAS Joice Balboa e Rogério Moreira Jr. distribuição Hannah Mattos Cláudia Catani REVISÃO Sérgio Meira IMPRESSÃO Gráfica Posigraf
www.santacatarina.ind.br Junho 2013 Avenida do Antão, 1.857 CEP 88025-150 – Florianópolis/SC (48) 3221-4100
A revista “SantaCatarina.ind” nasce para valorizar o setor industrial catarinense. Nosso objetivo é contribuir com a valorização de uma atividade muito representativa para o desenvolvimento de Santa Catarina. Queremos mostrar o que vem fazendo a indústria, quais as perspectivas de crescimento e como as organizações estão agregando a inovação e a tecnologia para serem mais competitivas. Para apresentar um raio-x do setor industrial, o Instituto Mapa foi contratado para realizar um levantamento junto à opinião pública, que indicou as empresas que lideram os seus segmentos, trabalhando informações sobre os projetos, estratégias, investimentos, novidades e perspectivas diante de um cenário desafiador como o atual. Critérios como gestão inovadora, conquista de mercados, superação das adversidades e a contribuição que dão para o desenvolvimento econômico do Estado foram levados em conta nesta abordagem, que contempla 20 setores de presença destacada na produção industrial. Esperamos assim, contribuir, junto com a sociedade, para a compreensão da importância de um setor industrial catarinense forte. O Grupo RIC, através de todas as mídias, trabalha fortemente na comunicação regional. Essa visão permite uma melhor interação com o público e fortalece nossa identidade com Santa Catarina. Nossa missão é estar presente no dia a dia das pessoas valorizando o desenvolvimento do nosso Estado. Em seus 25 anos de atuação, o Grupo RIC vem cultivando uma frutífera parceria com os catarinenses. Não seria diferente com a indústria, que é pujante, empreendedora e sempre foi motivo de orgulho para a população de Santa Catarina. Marcello Corrêa Petrelli Presidente-Executivo Grupo RIC SC
Opinião
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Prioridades e inovação
Capa Engrenagens do futuro
Nilson Bastian/divulgação
índice
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Nova Fronteira Automotiva Vetor de transformação
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Panoramas Setoriais Confira os 20 segmentos mais expressivos de SC 40 Alta tecnologia 44 Aparelhos e materiais elétricos 46 Máquinas e equipamentos 48 Alimentos 52 Celulose e papel 56 Madeira e reflorestamento 58 Cerâmica 62 Construção civil 66 Cooperativa de produção 70 Couro e calçados 74 Eletroeletrônicos 78 Energia 82 Indústria naval 86 Material de construção 90 Produtos de plástico 92 Metalurgia 96 Indústria de autopeças 98 Moveleiro 102 Tecnologia e informática 106 Têxtil e vestuário
Artigo A indústria deve crescer em 2013 Rumo firme à nova economia
Educação Volta às aulas
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Comércio Exterior Caminho definitivo 114
Gestão Casa arrumada
110 DANIEL qUEIROZ/nOTÍCIAS DO DIA
Entrevista
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118 SantaCatarina.ind
Fotos DIVULGAÇÃO
índice
Amostra de valor 32 WEG 36 BRF 50 Klabin 54 Portobello 61 FG Empreendimentos 65 Cooperativa Central 69 Aurora Alimentos
PESQUISA Empresa mais votada / Alta tecnologia / Aparelhos e materiais elétricos / Máquinas e equipamentos Alimentos Celulose e papel / Madeira e reflorestamento Cerâmica Construção civil
Cooperativa de produção
Viposa 72
Couro e calçados
Intelbras 76
Eletroeletrônicos
Celesc 81 Schaefer Yachts 85 Tigre 89 Tupy 95 Rudnick 101 Totvs 105
Energia Indústria naval Material de construção / Produtos de plástico Metalurgia / Indústria de autopeças Moveleiro Tecnologia e informática
Cia. Hering 108 Têxtil e vestuário SantaCatarina.ind
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Grupo RIC Janine Turco/notícias do dia
Pioneirismo
Primeira transmissão em HD do programa “SC No Ar”; no dia 08 de maio
regional
Grupo comemora 25 anos de atuação em Santa Catarina com a instalação dos estúdios em HD Por Paulo Clóvis Schmitz
H
á 25 anos atuando no mercado de Santa Catarina, o Grupo RIC nunca se afastou do mandamento que orientou a sua fundação – a vocação regional. É com base nessa premissa que vem se consolidando em todas as partes do Estado, a ponto de ser o único a oferecer seis horas diárias de conteúdo regional, na soma de todas as emissoras do Grupo. E assim é também com o jornal Notícias do Dia, nas sedes SantaCatarina.ind
onde atua, na Record News, na Rádio Record e na internet, por meio do RIC Mais e do ND Online. “Só em Joinville a emissora tem duas horas por dia de conteúdo local, interagindo e ajudando no desenvolvimento da região”, diz o diretor responsável pela RICTV Florianópolis, Roberto Bertolin. O mesmo critério dita a realização de eventos e campanhas da empresa. Outra conquista, esta mais recente, é a produção de todo o con-
Grupo RIC teúdo para a Grande Florianópolis em HD, a partir de um investimento que renovou integralmente os estúdios na Capital. O mesmo será feito em Joinville, no segundo semestre de 2013. “Com isso, podemos oferecer ao telespectador o que há de melhor em tecnologia”, afirma Bortolin. Reynaldo Ramos Junior, diretor comercial do Grupo, diz que a TV digital chegou para facilitar ainda mais a transmissão da informação. “As pessoas vão utilizar as plataformas disponíveis, contando agora com a facilidade do mobile”, ressaltou. A RICTV Record passa a ser a primeira emissora do Sul do Brasil a produzir e transmitir toda a sua programação em alta definição (HD). A RICTV vai ampliar, a partir desse investimento, a produção de conteúdo próprio, fortalecendo a posição de maior produtora de conteúdo regional do País. O Grupo RIC opera com base no tripé regionalização, interatividade e convergência, permitindo maior participação dos telespectadores, leitores, ouvintes e internautas e a cobertura integrada de assuntos de interesse da população catarinense. “Estamos avançando na execução de pautas comuns a todos os veículos em cada praça, o que dá mais repercussão ao nosso trabalho jornalístico”, festeja Bertolin. Para o diretor presidente do Grupo, Marcello Petrelli, a população catarinense há muito tempo identifica essa política como uma marca da empresa. “Somos a rede que os catarinenses se acostumaram a ver como parceira”, enfatiza. Nos últimos anos, a internet passou a ter importância estratégica com a criação do portal RIC Mais, de acesso gratuito, que agrega todo o conteúdo produzido pelo Grupo. Em pouco tempo, foi possível desenvolver um produto inovador a partir da convergência de diferentes mídias.
Veículos de mídia impressa da RIC/SC também têm foco regionalizado
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liderança em revistas Não menos importante é o foco dado às revistas, em especial a “Its”, que oferece informações de cultura, esportes, saúde, literatura e comportamento voltadas para o público jovem. Com periodicidade mensal, a revista conta com 60 páginas e 56 mil exemplares, em média, e chega a 1.350 escolas dos 293 municípios catarinenses. Publicação com maior tiragem no Estado, ela ajuda a colocar o Grupo RIC na liderança do segmento de revistas em Santa Catarina, com mais de 850 mil exemplares por ano. A RIC vem investindo forte em nichos editoriais segmentados e pouco explorados além do público jovem, como é o caso da revista “Show Me”, voltada para os turistas que visitam Santa Catarina. A “Show Me” é distribuída gratuitamente nos principais hotéis e pousadas do litoral. Um case de sucesso premiado pela Associação Nacional dos Editores de Publicações (Anatec). Outro nicho explorado são as revistas que comemoram os aniversários dos municípios catarinenses, também com distribuição gratuita e dirigida. O sucesso dessas edições se verifica com o aumento de cidades contempladas com a revista em 2013, como é o caso da “Bal. Camboriú É”. A série de revistas “Município É” tem suas pautas voltadas para o público local, apresentando um panorama da cidade. Recentemente, o diretor presidente Mário José Gonzaga Petrelli passou o comando do Grupo RIC em Santa catarina a Marcello Petrelli, dentro de um processo de mudança na gestão administrativa. Quase simultaneamente, Mário Petrelli assumiu a vice-presidência da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, entidade importante na área em que o empresário atuou durante grande parte de sua carreira.n
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opinião
Prioridades
e inovação S
anta Catarina tem uma produção agrícola respeitável no Oeste, um parque industrial em expansão no Vale do Itajaí e no Norte e avan-
ça na consolidação de uma nova economia baseada em tecnologia e inovação na Grande Florianópolis. O Estado cresce de maneira equilibrada e uniforme respeitando a vocação produtiva de cada região. Divulgação
Com apenas 1,1% do território brasileiro, Santa Catarina é o maior exportador de carne suína e o quinto produtor de leite do país. A excelente condição sanitária, nosso cartão visita, conquista mercados cada vez mais exigentes e rentáveis. As pequenas propriedades respondem por números excepcionais no resultado da agroindústria. Somos líderes na produção de cebola e de maçã, cultura que foi criada na Serra Catarinense como alternativa ao fim do ciclo da madeira na região. O aumento da produção
João Raimundo Colombo Governador
e a mecanização da lavoura já demandam por mais energia elétrica. A produção de arroz ocupa cerca de 150 mil hectares no Alto, Médio e Baixo Vale do Itajaí, no Litoral Norte e na região Sul. O polo metal-mecânico no Norte do Estado, que abriga gigantes do mercado como GM, Embraco, Tigre, Tupy e WEG, além da indústria têxtil e moveleira, ganha um novo impulso com a instalação da BMW, nossa mais nova conquista. A BMW não nos enche de orgulho apenas por ser uma das mais cobiçadas SantaCatarina.ind
Governador João Raimundo Colombo
empresas do mundo, mas porque em torno dela se desenvolve uma cadeia produtiva de excelência. Faço essa apresentação para mostrar que, assim como o empresariado, o Governo do Estado também está fazendo a sua lição de casa. Santa Catarina está investindo R$ 9 bilhões e são esses recursos que subsidiam o Pacto por Santa Catarina, o grande programa de gestão que garante obras com começo, meio e fim. Todos os projetos que constam no Pacto – infraestrutura, saúde, educação, proteção social, segurança pública e justiça e cidadania – foram selecionados a partir de um amplo estudo que identificou as prioridades reais do Estado. Mas todo este investimento só está se viabilizan-
É preciso se reinventar, quebrar paradigmas, fazer mais com menos. Essa não é uma tarefa fácil e precisa ser enfrentada com coragem e dignidade
do por conta dos ajustes feitos nos dois últimos anos. Reduzimos o custeio, cortamos os aditivos e reavaliamos contratos. Essas medidas nos deram credibilidade para obtermos financiamentos nacionais e internacionais. E são essas verbas que sustentam a execução de obras fundamentais para garantir nossa expansão econômica e o bem-estar das pessoas, o real motivo de o Estado existir. Santa Catarina – assim como todos os estados – amarga a queda na arrecadação. O Fundo de Participação dos Estados (FPE) encolheu com os incentivos fiscais concedidos pelo governo federal, sob a forma de abatimento ou desoneração do IPI. Também houve perda de ICMS com a redução da tarifa de energia. Isso significa que parte do benefício concedido pelo governo federal está sendo pago pelos estados. Mas como enfrentar essa situação? É preciso se reinventar, quebrar paradigmas, fazer mais com menos. Essa não é uma tarefa fácil e precisa ser enfrentada com coragem e dignidade. E isso nós fazemos dia após dia.n
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Capa
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Ilustração Felipe Parucci
Engrenagens
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do futuro Somente investimentos significativos em logística e inovação podem levar a indústria catarinense mais longe e mais forte Por Alexandre Lenzi
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m em cada três reais de toda a riqueza gerada por Santa Catarina é de responsabilidade da indústria. Para aumentar ou mesmo manter essa participação de um terço do PIB do Estado, o setor tem grandes desafios pela frente. Entre demandas antigas, como a tão sonhada redução da carga tributária, industriais e economistas reconhecem dois pontos como fundamentais para a evolução das fábricas catarinenses nos próximos anos: a necessidade de investimentos em logística, o que passa necessariamente pelo poder dos governantes, e a busca por inovação de produtos e também de modelos de produção, essa mais dependente da ousadia e da capacidade de aplicação de recursos dos próprios empresários. Duas frentes de trabalho para manter as engrenagens em ritmo acelerado e a importância de Santa Catarina na economia nacional. Hoje, a indústria de transformação catarinense é a quarta do país em quantidade de empreendimentos e a
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Capa Divulgação
Para Celso Grisi, a economia brasileira não tem reagido às medidas governamentais
avanços significativos em relação aos atuais problemas de infraestrutura deficiente e carga tributária pesada que afetam o país. O empresário não pode ficar duvidoso, tem que se mostrar apto a investir para se manter competitivo”, afirma. O economista Cláudio Gonçalves, professor da Trevisan Escola de Negócios, diz que é justamente a falta de competitividade o maior problema da indústria brasileira, prejudicada pelo que ele chama de “arcabouço tributário e trabalhista”. As reduções da carga de impostos e do custo da mão de obra deveriam vir do governo, segundo o especialista, acompanhadas de um maior investimento dos empresários, tanto em inovação quanto na qualificação dos trabalhadores. “Em Santa Catarina, assim como nos demais estados do Sul e em São Paulo e no Rio de Janeiro, a indústria está mais adiantada do que a das demais regiões. Mas estes ainda são problemas que afetam os empresários do país inteiro e falta hoje um plano de governo pensando o Brasil para daqui a 20 ou 30 anos.” Enquanto a contrapartida não vem do governo, Gonçalves defende que os empresários se organizem em SantaCatarina.ind
câmaras setoriais para se aproximar do legislativo e, aos poucos, tentar melhorar esse cenário. Em Santa Catarina, a Fiesc tem a tradição de apresentar anualmente uma agenda legislativa da indústria, que traz um resumo da posição da entidade catarinense sobre os projetos em tramitação na Assembleia Legislativa e relacionados ao setor industrial. Neste ano, a sexta edição do documento foi entregue aos deputados em março. A Fiesc analisou 330 proposições que tramitaram no parlamento, com possível interesse da indústria. Destas, foram selecionadas 105 para serem monitoradas e 34 proposições foram escolhidas para compor a agenda, com destaque para questões ligadas à área tributária. “Temos uma posição firmada há alguns anos e reiteramos ao governador Raimundo Colombo que seremos sempre contra qualquer proposição que trate de elevar a carga tributária. Pelo contrário, o Estado deve ter um plano de redução que possa ser discutido com a sociedade. Nossa expectativa é pela redução”, disse o presidente da Fiesc, Glauco José Corte, no lançamento da agenda. Divulgação
quinta em número de mão de obra, segundo dados da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc). São 45 mil empresas e 763 mil trabalhadores, respondendo por 37% dos empregos formais do Estado. Os segmentos de artigos do vestuário e alimentar são os que mais empregam, seguidos pelo de têxteis. Mas a diversidade da economia industrial de Santa Catarina é um dos seus pontos fortes, com a produção concentrada em diversos polos: cerâmico, produtos plásticos e carvão no Sul; alimentar no Oeste; móveis no Norte; têxtil, vestuário e naval no Vale do Itajaí; metalurgia, máquinas e equipamentos, materiais elétricos e autopeças, além da recente indústria automotiva, no Nordeste; madeireiro e papel e celulose na região Serrana, e o núcleo tecnológico na Capital. Trata-se de uma diversidade e uma vocação empreendedora que chama a atenção no atual cenário nacional. O economista Celso Grisi, presidente do Instituto Fractal de Análises de Mercado, cobra dos empresários brasileiros a manutenção dos investimentos e diz que Santa Catarina tem apresentado bons resultados nessa linha. “O empresário brasileiro está muito assustado, mais preocupado do que deveria com inflação e intervenções do governo. Com medo de não ter demanda futura, ele não investe e assim deixa de ser competitivo”, avalia. Nesse contexto, ele afirma que os catarinenses têm reagido de forma interessante e cita empresas como a WEG, de Jaraguá do Sul, a têxtil Döhler, de Joinville, e o polo de tecnologia de Florianópolis como exemplos daqueles que não pararam de investir. Para Grisi, Santa Catarina tem realizado sua vocação industrial e confirmado sua relevância no cenário nacional. “Os empresários de São Paulo estão atrasados em relação aos de Santa Catarina, pois os paulistas estão esperando o Brasil melhorar para investir. E, em um curto prazo, não vejo
Para o economista Gonçalves, o PIB só cresce em ambiente com regras claras e estáveis
Capa Divulgação
Molim, da Secretaria da Fazenda, calcula perda de R$ 2 bilhões ao ano com a unificação
longo prazo, como foi o caso da montadora BMW, que vai instalar sua primeira fábrica brasileira em Araquari, no Norte do Estado. O diretor lembra, ainda, que Santa Catarina conta com o Prodec, programa voltado exclusivamente para a indústria e que amplia o prazo para o pagamento dos impostos estaduais, gerando flexibilidade no fluxo de caixa das empresas. Ele explica que, com a unificação do ICMS, a potência desses benefícios seria reduzida.
Molim diz que o governo catarinense tem mantido uma série de reuniões com a equipe do governo federal na tentativa de, pelo menos, aumentar o prazo para que a mudança ocorra, na tentativa de garantir mais tempo de adaptação. Outro ponto das negociações é a compensação prevista para os estados afetados. O governo federal prevê colocar até R$ 296 bilhões no Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR) para estimular o crescimento das regiões mais prejudicadas e disponibilizar R$ 8 bilhões anuais em um outro fundo para compensar a perda de arrecadação. Mas os governadores temem que o FDR tenha o mesmo fim da Lei Kandir, criada em 1996 para compensar os estados que deram isenção de ICMS para empresas exportadoras. O fundo da Lei Kandir se esgotou e não tem recebido novos recursos da União. O peso que a indústria tem na arrecadação do Estado acentua a preocupação. Em média, 25% do ICMS catarinense é pago pelo setor industrial. Em 2012, essa participação chegou a 28%, representando R$ 3,56 bilhões, o sexto maior valor entre os estados brasileiros. Miriam Zomer/Assembleia Legislativa/Divulgação
Unificação polêmica Ainda no âmbito tributário, algumas questões que preocupam especificamente Santa Catarina são tratadas pelo governo federal. Uma das maiores polêmicas é a proposta de unificação das alíquotas do ICMS em todo o país, a exemplo do que foi feito com o ICMS dos importados neste ano. Cobrado quando uma mercadoria passa de uma unidade federativa para outra, o ICMS interestadual incide da seguinte forma: o estado produtor fica com 12% ou 7% do valor. E o estado consumidor com a diferença entre esses percentuais e a alíquota total. A proposta do governo federal é padronizar o ICMS do estado produtor em 6% nas regiões Sul e Sudeste, exceto Espírito Santo, já em 2014, reduzindo 1% ao ano até chegar em 4% em 2016. Para as demais regiões, a alíquota seria de 11% no próximo ano, chegando em 4% apenas em 2025. A exceção seria a Zona Franca de Manaus, que seguiria com 12%. Para o governo catarinense, a medida preocupa principalmente por significar queda de arrecadação. Além disso, regiões favorecidas por questões logísticas, como São Paulo, grande centro comercial do país, seriam ainda mais atrativas para as novas empresas. Para a indústria, a unificação assusta por representar perda de competitividade, já que alguns segmentos catarinenses hoje são beneficiados com alíquota reduzida de ICMS em relação ao praticado em outros estados. É o caso do têxtil, da agroindústria, do náutico e da indústria do pescado. O diretor de Administração Tributária da Secretaria de Estado da Fazenda, Carlos Roberto Molim, afirma que a meta do governo estadual ao conceder benefícios fiscais para determinado segmento é justamente ajudar a torná-lo mais competitivo no cenário nacional. Além disso, são oferecidos descontos ou isenções para empresas que vão garantir geração de emprego e ganho de arrecadação em médio ou
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O presidente da Assembléia Legislativa, Joares Ponticelli, recebe a Agenda Legislativa da Indústria, “um mecanismo de diálogo”, segundo Glauco Corte, da Fiesc
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Logística travada Em relação à infraestrutura, o alerta da indústria é de que os gargalos atuais podem, dentro de alguns anos, travar o escoamento da produção para o mercado interno e para exportação. Pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e as federações de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, divulgada em agosto de 2012, revela que a Região Sul necessita investir R$ 70 bilhões em 177 projetos para desatar nós que elevam os custos de logística. Para acelerar a recuperação da infraestrutura, no entanto, a proposta é que 51 destes 177 projetos sejam priorizados por gerarem maior competitividade para a região. Juntas, as 51 obras exigiriam investimentos de R$ 15,2 bilhões, 22% do total, e evitariam gastos anuais de R$ 3,4 bi-
lhões, o que equivale a 80% das perdas totais causadas devido ao deficit de infraestrutura de transportes verificado atualmente nos três estados. A estimativa é de que as perdas logísticas nos 177 projetos equivalem a R$ 4,3 bilhões por ano. A análise considerou rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos e dutos. Os valores levantados referem-se ao montante ainda pendente de ser realizado para a finalização das obras em abril de 2012. Dos 51 projetos apontados como prioridade, 22 estão em ou passam por Santa Catarina – nove envolvem rodovias, sete ferrovias e seis melhorias nos portos. Destes, apenas um foi concluído: a ampliação da área portuária de Imbituba. Dos outros 21, cinco estão em obras e 16 ainda na fase de estudos. Hoje, em Santa Catarina, segundo SantaCatarina.ind
dados da Fiesc, 76% das cargas são feitas por meio de caminhão. A proposta do levantamento é reduzir esse índice. Entre as ferrovias sugeridas, a grande obra seria a construção da Ferrovia Norte-Sul entre Panorama (PR) e Rio Grande (RS), passando por Chapecó. O projeto está em fase de estudo de viabilidade técnica e ambiental. O contrato com a vencedora da licitação foi realizado em dezembro de 2012 e o consórcio deve entregar o resultado do estudo até o início de 2014, segundo a Valec, empresa pública responsável pelas obras no setor ferroviário. O projeto também é conhecido como Ferrovia do Milho, pois traria o cereal do Centro-Oeste brasileiro para Santa Catarina. Outra obra em estudo para os catarinenses, a Ferrovia Leste-Oeste, conhecida como da Integração ou do Frango, não está entre as 51 priorida-
Victor Carlson
A ALL, por meio da Malha Sul, cruza o Estado e atende o porto de São Francisco do Sul
Capa des apontadas pela CNI, mas é reivindicada por lideranças do Oeste do Estado, pois ligaria a região ao Porto de Itajaí. O edital para a contratação da empresa que realizará os estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental foi lançado no dia 10 de maio. A previsão é assinar o contrato até o final de junho e concluir os estudos em fevereiro de 2014. Investimentos mais concretos ocorrem nos portos catarinenses. Santa Catarina elevou a participação no total de contêineres movimentados no país de 13,46% em 2008 para 17,23% em 2012, conforme dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). No mesmo período, a participação do Estado no volume movimentado no país, em toneladas, subiu de 3,35% para 5,26%. Com 500 quilômetros de extensão costeira, Santa Catarina se destaca pelas características
específicas de cada um de seus portos, entre eles Imbituba, Itajaí, Navegantes, São Francisco do Sul e Itapoá. Em abril, a Fiesc lançou o programa Portos.SC, que marca o início da atuação conjunta dos portos catarinenses na busca de cargas por meio de articulação liderada pela entidade. Segundo levantamento da federação, estão previstos investimentos da ordem de R$ 2 bilhões nos próximos cinco anos para melhorar a infraestrutura, reforçar e realinhar berços, expandir terminais e comprar novos equipamentos. O mais jovem dos portos catarinenses, o de Itapoá, começou a operar em junho de 2011, mas já está projetando uma nova leva de investimentos. Segundo o diretor-superintendente do terminal, Patrício Junior, o porto está entrando em uma nova fase do projeto, que prevê a expansão física e operacional do
empreendimento – o cais passará de 630 metros para 1.200 metros e o pátio, de 150 mil para 450 mil metros quadrados. Hoje, o terminal tem capacidade para movimentar 500 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) por ano. Com a ampliação, poderá movimentar até 2 milhões de TEUs por ano, um crescimento de 300%. “Desta forma, esperamos nos consolidar entre os principais terminais portuários do continente. Santa Catarina está inserida no mais promissor polo logístico da América Latina. Além do mercado catarinense, altamente industrializado, somos uma opção muito atrativa para Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Essa estrutura nos dá uma visão otimista para o segmento portuário e também o logístico como um todo”, afirma Junior. Divulgação
A Marinha autorizou o Porto de Itapoá a receber navios de até 350 metros de comprimento, uma tendência da navegação mundial
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Infogrรกfico Joice Balboa
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Inovar é preciso A inovação, tanto de processos quanto de produtos, aparece em outra frente de trabalho da indústria de Santa Catarina. Para Carlos Alberto Schneider, superintendente geral da Fundação Certi, entidade voltada à pesquisa e inovação, o cenário catarinense é positivo dentro do contexto brasileiro, mas ainda existe muito trabalho pela frente. Ele ressalta, no entanto, que é preciso reconhecer que existem diferentes graus de inovação. “A geração de algo realmente inédito, mundialmente, é bastante raro. Fundamental é a empresa ter a capacidade de, de tempos em tempos, aplicar ao seu produto um salto de desempenho pela agregação de novas tecnologias, de forma que constitua sempre uma inovação no mercado e gere uma marca reconhecida”, afirma. Para despertar a busca pela inovação em indústrias mais conservadoras, Schneider sugere confrontar o empresário com exemplos de sucesso local, nacional e internacional e demonstrar a factibilidade econômica e tecnológica alcançada por empresas que são referência, ressaltando ainda a competitividade gerada. “A inovação é um diferencial competitivo instalado e quanto melhor o efetivo domínio do processo de inovação tecnológica pela equipe técnica gerencial da empresa, maior será a dinâmica de desenvolvimento, ou seja, a competitividade nacional e internacional”, acrescenta o superintendente. Hoje, Schneider vê a inovação catarinense mais presente nas empresas de maior porte ou crescimento, o que comprova a importância estratégica do investimento nessa área. Para mudar o cenário no decorrer da próxima década, ele cobra que mais e mais empreendimentos se engajem na efetiva prática do processo de inovação tecnológica. “O maior
Schneider, da Certi, promove cooperações técnico-científicas em projetos de inovação
desafio está na capacitação para a geração da inovação, na disponibilidade de recursos humanos empreendedores e talentosos, no acesso a tecnologias e a infraestruturas tecnológicas avançadas”, afirma. Estruturas de apoio Ele cita o Programa Inova@SC, do governo do Estado, como uma das ferramentas que podem ajudar a melhorar o cenário nos próximos anos. Entre as ações previstas, está a construção de 11 centros de pesquisa em cidades polos de Santa Catarina para abrigar incubadoras de tecnologia, laboratórios, centros de treinamentos, educação profissionalizante ou qualquer outra iniciativa de inovação. Segundo o diretor de Desenvolvimento de Ciência, Tecnologia e Inovação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico Sustentável, José Roberto Provesi, a previsão é de que os centros estejam operando no final de 2014. As obras devem ser iniciadas em agosto, e o tempo para construção de cada prédio, que têm tamanho entre 2,5 mil e 4,5 mil metros quadrados, varia entre 12 e 18 meses. SantaCatarina.ind
Provesi explica que a proposta é ajudar as 11 cidades catarinenses a tanto atraírem novos investimentos quanto qualificar a inovação dentro das empresas já instaladas na região. “Queremos criar condições para as empresas melhorarem seus processos, instrumentalizá-las para aumentar a competitividade de seus produtos ou desenvolver ideias para novos produtos, abrindo espaço para o mercado até mesmo internacional”, defende o diretor. Serão investidos R$ 40 milhões para a construção de 10 centros nas cidades de Florianópolis, Joinville, Blumenau, Criciúma, Chapecó, Itajaí, Jaraguá do Sul, Joaçaba, São Bento do Sul e Tubarão. Em Lages, décimo primeiro município contemplado, já foi dada a largada para as obras. As prefeituras doaram os terrenos. Paralelamente à construção dos centros, o governo busca recursos que permitam lançar os editais para equipar os prédios. Além dos 11 municípios, Concórdia também faz parte do Programa Inova@SC, mas não entra nesta etapa do projeto. Outra iniciativa na área é a parceria entre o Senai e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que em abril assinaram um protocolo de intenções para cooperação em oito institutos de tecnologia e dois de inovação a serem implantados no Estado. O acordo prevê intercâmbio de know-how e de tecnologias e ações conjuntas em programas de ensino, pesquisa e extensão. O projeto integra o Programa de Apoio à Competitividade da Indústria Brasileira, que conta com verba do governo federal, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A implantação dos 10 institutos catarinenses prevê a aplicação de R$ 230 milhões, sendo R$ 113,2 milhões do BNDES e os outros R$ 117,5 milhões do Sistema Fiesc.
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Os investimentos em inovação da Zen Metalúrgica, de Brusque, convertem-se em produtos como a “polia OAD”, que permite um funcionamento mais suave do motor
Existe ainda uma área de Novos Negócios (NPP – New Profit Pools), empenhada em identificar mercados nos quais as soluções desenvolvidas pela empresa possam ser aplicadas. “Para nós da Embraco, o conceito de inovação é aplicado com o objetivo de antecipar tendências e criar soluções inovadoras para uma melhor qualidade de vida dos nossos consumidores. Essa inovação é colocada em prática por meio do Divulgação
Empresas inovadoras Apesar de ser evidente a necessidade de avanços no Estado, já é possível, sim, identificar bons exemplos de empresas de diferentes portes que reconhecem a importância de investir em inovação. A joinvilense Embraco, hoje líder mundial no mercado de compressores herméticos para refrigeração, tem uma postura agressiva nesse sentido. Com atuação global e capacidade de produção de 37 milhões de compressores por ano, a companhia tem 1.400 patentes registradas globalmente. O diretor corporativo de desenvolvimento tecnológico da Embraco, Fábio Klein, explica que a empresa tem uma área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) que se dedica a estudar e a identificar mundialmente soluções em refrigeração em parceria com universidades e institutos de pesquisa. São 450 profissionais e 40 laboratórios presentes em países como Brasil, China, México, Itália e Eslováquia. Anualmente, são investidos entre 3% e 4% do faturamento global da companhia em pesquisa e desenvolvimento.
Divulgação
Os institutos de inovação serão nas áreas de uso de laser (previsto para São José) e de sistemas embarcados (Florianópolis). Os institutos de tecnologia serão nos setores metalmecânico (Joinville), alimentos (Chapecó), eletroeletrônico (Jaraguá do Sul), automação e tecnologia da informação e da comunicação (Florianópolis), logística (Itajaí), materiais (Criciúma), design têxtil e do vestuário e na área ambiental (os dois últimos em Blumenau). Os institutos de inovação terão cooperação com a Sociedade Fraunhofer, da Alemanha, e com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), dos Estados Unidos. A previsão do Senai é de que todas as unidades sejam instaladas até 2014.
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Klein defende parceria com universidades e pesquisas regulares com clientes
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oferecimento de produtos que proporcionam, por exemplo, economia de energia e melhor eficiência na conservação dos alimentos. A cada lançamento de produto, estamos de duas a três gerações à frente dos nossos concorrentes”, define Klein. Mas não é preciso ser uma gigante como a Embraco para contar com departamentos e equipes específicas para pensar a inovação dos produtos. A Zen Metalúrgica é uma indústria de Brusque fundada em 1960 e que desde 2006 vem se estruturando para se tornar uma empresa líder em inovação, principalmente dentro do mercado automotivo. E os resultados já aparecem. A participação dos novos produtos no faturamento subiu de 14% no ano de 2007 para 25% em 2012. “A proposta é desenvolver pessoas com espírito inovador e criar um ambiente que proporcione a geração de ideias para criação de novos produtos e processos”, afirma o gestor de P&D, Cristiano Foppa. Hoje, a Zen mantém uma estrutura de P&D com recursos próprios, composta pelas áreas de engenharia de produto e processo e laboratórios. Segundo Foppa, a empresa, que tem
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cerca de mil colaboradores diretos e atuação no mercado internacional, investe de 6% a 7% do faturamento anual em P&D. Entre as inovações recentes, a empresa catarinense vem desenvolvendo produtos que auxiliam na redução de consumo e emissões de veículos automotores, respeitando as rigorosas legislações ambientais internacionais. São exemplos concretos de que as engrenagens catarinenses prometem muitas novidades para continuar ampliando mercado para os produtos “Made in SC”.n
Oeste zz Agroalimentar zz Bens de capital zz Biotecnologia zz Celulose e papel zz Móveis e madeira
Norte zz Automotivo zz Bens de capital zz Economia do Mar zz Metal-mecânico e Metalurgia zz Móveis e Madeira
Plano
de voo
A
Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) apresentou, no fim de maio, os resultados da primeira fase do Programa de Desenvolvimento Industrial Catarinense (PDIC). Com este planejamento estratégico, a entidade espera identificar segmentos indutores de desenvolvimento e perspectivas de médio e longo prazo para cada um, além das ações necessárias para que eles sejam competitivos. O Programa identificou 16 segmentos industriais com maior potencial de desenvolvimento ao longo de 10 anos. Os chamados “setores portadores de futuro” são: agroalimentar, bens de capital (máquinas e equipamentos), celulose e papel, cerâmica, construção civil, economia do mar, energia, indústrias emergentes (como aeronáutica, nanotecnologia e biotec-
nologia), meio ambiente, metalmecânica e metalurgia, móveis e madeira, produtos químicos e plástico, saúde, tecnologia da informação e comunicação, têxtil e confecção, e turismo. Agora serão traçadas estratégias de desenvolvimento para cada segmento, identificando os desafios e as soluções para que estes sejam superados. O PDIC será finalizado em 2014, com a apresentação do Masterplan, que consolidará a construção das chamadas “rotas estratégicas setoriais”. “Com o estudo, esperamos ter uma agenda positiva, com os papéis dos protagonistas envolvidos no desenvolvimento desses setores. Assim, teremos propostas de ações para a indústria, o governo, a academia e para o próprio Sistema Fiesc, de modo a atingir essa visão de futuro”, diz o coordenador do programa, Carlos Henrique Ramos Fonseca.n
zz Produtos Químico e Plásticos zz Têxteis e Confecções
zz Agroalimentar zz Bens de capital zz Economia do Mar zz Naval zz Metal-mecânico e Metalúrgico zz Têxteis e confecções
Serrana
Grande florianópolis
zz Aeronáutico
Sul
zz Biotecnologia
zz Automotivo
zz Bens da capital
zz Cerâmica
zz Bens de capital
zz Cerâmica
zz Economia do Mar
zz Biotecnologia
zz Metal-mecânico e metalurgia
zz Naval
zz Celulose e papel
zz Economia do Mar
zz Nanotecnologia
zz Agroalimentar
zz Móveis e madeira
zz Produtos químicos e plásticos zz Têxteis e confecções
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Infográfico Rogério moreira
Vale do Itajaí
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nova Fronteira automotiva
Vetor de
transformação Fabio Gonzalez/Divulgação
Investimentos de mais de R$ 1,5 bilhão para instalação de fábricas da BMW e GM podem garantir um novo ciclo de crescimento ao Estado, mas impõem desafios para que as oportunidades sejam plenamente aproveitadas Por Vandré Kramer
O
terreno que vai sediar a primeira unidade da BMW na América Latina, no km 66 da BR-101, em Araquari, começa a receber as primeiras máquinas neste mês. Elas serão responsáveis por fazer a terraplanagem da área que vai receber o investimento de 200 milhões de euros (R$ 523 milhões, pela cotação de 30 de abril). E, para a cidade de 26 mil habitantes, é a expectativa de uma profunda transformação chegando.
Fábrica da GM em Joinville é considerada uma das mais sustentáveis do mundo
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nova Fronteira automotiva Jonatar Evaristo/Divulgação
Tratores e escavadeiras que também simbolizam a concretização de um sonho catarinense de quase 20 anos: ter uma grande montadora em seu território. Ao longo do tempo, as negociações não foram poucas: Renault, Mercedes Benz, GM, Skoda e TVR são algumas empresas que chegaram a conversar com o governo do Estado. Veículos “Made in SC” chegaram a ser produzidos pela TAC em Joinville, mas a produção acabou sendo transferida para Sobral, no interior do Ceará, em 2012. O grupo alemão já chegou ao Estado. O escritório pré-operacional está funcionando, desde fevereiro, no Perini Business Park, em Joinville. Na última semana de abril foi entregue uma área de 9 mil metros quadrados, onde funcionará a área administrativa e o Centro de Treinamento da BMW. Segundo Jonas Tilp, diretor comercial do parque empresarial, a expectativa é de que o centro comece a funcionar em junho. Serão instalados máquinas e equipamentos que simularão as linhas de montagem a serem instaladas na fábrica de Araquari. Os primeiros carros produzi-
João Woitexem, prefeito de Araquari, que vai ceder imóvel para instalação de escola do Senai
Andre Kopsch/Divulgação
Jons Tilp, diretor do Perini Business Park, o maior condomínio multissetorial do Brasil
dos pela empresa devem chegar às ruas no segundo semestre de 2014. Dois exemplos inspiram o que pode ser o futuro de Araquari: o mais próximo está a 140 quilômetros de distância, em São José dos Pinhais (PR). O mais distante, em Spartanburg, no Leste dos Estados Unidos. A instalação dos complexos automotivos da Renault, em 1998, e da Volkswagen, em 1999, mudou a realidade da cidade paranaense. O lugar, que era conhecido como uma cidade-dormitório de Curitiba e sede do aeroporto da capital daquele estado, viu o PIB crescer mais de cinco vezes entre 1996 e 2009, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isto significou um salto de quatro posições no ranking das maiores economias do Paraná. Hoje, está em terceiro lugar, atrás das vizinhas Curitiba e Araucária. Com a Volkswagen e a Renault, a indústria passou a ser o setor que gera mais riqueza na cidade. Antes, era o de serviços. O surgimento de oportunidades de trabalho e de negócios levou mais gente para a cidade. No ano passado, eram 273,3 mil SantaCatarina.ind
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moradores em São José dos Pinhais, 87,46% a mais do que em 1996. A expansão foi três vezes e meia superior à registrada no Brasil durante o mesmo período. A BMW instalou uma fábrica de carros em Spartanburg, na Carolina do Sul, em 1994. No início, foram investidos US$ 300 milhões e empregadas 2 mil pessoas para produzir carros para o mercado norte-americano. Hoje, trabalham na unidade 8 mil pessoas e já foram feitos mais de US$ 6 bilhões em investimentos. Araquari já começa a respirar os novos tempos. “Já percebemos um crescimento na procura por cursos de inglês”, diz o presidente da Associação Empresarial de Araquari (ACIAA), Jorge Laureano. Ele acredita que, em um ano, a cidade vá mudar por completo, com mais oportunidades de trabalho e com uma economia mais forte. Os mil empregos diretos que a fabricante de carros deve gerar correspondem ao que todas as empresas do município geraram entre janeiro de 2012 e março de 2013. Chamariz de negócios Também são esperados mais investimentos. Um dos que já estão confirmados é o de uma fábrica de porcas, parafusos e fendados da Ciser. A empresa vai investir R$ 100 milhões para transferir sua linha de produção, que está no Centro de Joinville. Ao mesmo tempo em que está otimista, Laureano alerta para a necessidade de reforçar os investimentos em infraestrutura. Segundo ele, as prioridades são uma nova adutora para ampliar o abastecimento de água, pavimentação de estradas que se conectam com as BRs280 e 101 e novos investimentos da Celesc para reforçar o fornecimento de energia elétrica. O prefeito de Araquari, João Pedro Woitexem, acredita que a pre-
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nova Fronteira automotiva
Professor na Sustentare, Torres é economista com especialização em mercados financeiros
empregada direta e indiretamente, além de ter reflexos em outros segmentos devido à sua capilaridade”, destaca Torres, professor de economia da Sustentare Escola de Negócios. O segmento emprega cerca de 150 mil pessoas e movimenta 18% do PIB industrial brasileiro. A fabricante alemã de carros é encarada como um indutor de futuros investimentos no Norte do EstaPeninha Machado/Divulgação
Profissionais gabaritados Um desafio importante para a cidade é em relação à mão de obra. A BMW está com dificuldades para encontrar mão de obra na região que domine o inglês. Segundo o professor Ricardo Della Santina Torres, da Sustentare Escola de Negócios, problemas como esse podem viabilizar salários mais elevados para os trabalhadores com as qualificações desejadas. “Por outro lado, também há a possibilidade do acirramento da concorrência profissional, com a vinda de gente de fora”. Tanto a BMW, quanto a GM – que inaugurou uma fábrica de motores em Joinville, em fevereiro – já procuraram o Senai para conhecer os cursos de formação de mão de obra e apresentar as necessidades de qualificação de mão de obra. Laureano, da associação empresarial, espera que, com o crescimento da demanda por mão de obra, cursos técnicos se instalem em Araquari. “O Instituto Federal Catarinense (IFSC) também poderá ajudar na qualificação”. Atualmente, a unidade de ensino instalada no município está focada na área de agrárias. Os impactos da instalação da BMW também devem se estender além dos limites de Araquari. “A indústria automobilística é de extrema importância porque envolve uma grande quantidade de mão de obra
Luciano Andrade/Divulgação
sença da BMW pode facilitar a liberação de recursos e a realização de obras estaduais e federais no município. “Já começamos a ser enxergados de forma diferente. A BMW é um cartão de visitas, uma grife mundial.” Uma das possibilidades de parceria com o governo do Estado é na realização de um planejamento estratégico de longo prazo. Segundo Woitexem, é preciso pensar a cidade para os próximos 20 anos para evitar erros futuros.
Aguiar, presidente da Acij entre junho de 2012 e 2013, é do ramo da construção civil
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do. “Ela e a GM dão maior visibilidade para a região, estimulando outras empresas de porte a se instalarem aqui”, afirma Mario Cezar de Aguiar, presidente da Associação Empresarial de Joinville (Acij) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc). O complexo metal-mecânico deve ser beneficiado diretamente. “É uma grande contribuição para a expansão das grandes companhias do segmento”, afirma o professor. A Arcelor Mittal Vega, de São Francisco do Sul, vê uma grande oportunidade de negócio com o investimento do grupo alemão em Araquari. Ela já é fornecedora de aço para as unidades europeias. “Após a definição de quais veículos serão produzidos na unidade do Brasil, podemos iniciar a homologação dos materiais necessários para a montagem das carrocerias”, ressalta o gerente geral da Arcelor Mittal Vega, Fernando Teixeira. Mas as oportunidades são extensas; a instalação deve estimular ainda mais o empreendedorismo na região. Aguiar destaca que há mais empresas nesse padrão de qualidade e de desenvolvimento. Ele lembra que sempre há espaço para fazer mais e melhor, adequar-se ao padrão exigido pelas montadoras e adaptar-se ao estilo de trabalho. As áreas de construção civil, logística e de serviços em geral também podem colher bons dividendos. Torres projeta o surgimento de boas oportunidades de negócios para investimentos relativamente pequenos. “O retorno vai ser compensador para quem tiver feito um bom planejamento”, diz Torres. Outro investimento da cadeia automotiva que é esperado para a Santa Catarina é a segunda fase da expansão da General Motors em Joinville. Ela prevê a construção de uma fábrica de câmbios e transmis-
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Divulgação
Fábrica da BMW em Spartanburg, nos EUA, é exemplo do potencial de desenvolvimento local da montadora
sões. O investimento, que pode superar os R$ 700 milhões, depende da recuperação do mercado europeu, um dos principais destinos da futura produção. No momento, as expectativas não são nada favoráveis. Segundo a Jato, consultoria especializada no mercado automotivo, no primeiro trimestre do ano, as vendas de carros novos na Europa encolheram 9,8% comparativamente a igual período de 2013. Dos cinco grandes consumidores, apenas houve crescimento no Reino Unido. A consultoria PwC projeta que o ano encerre com uma queda de 4% na produção europeia. A primeira fase da GM, a fábrica de motores e de cabeçotes, entrou em operação em outubro e foi inaugurada no final de fevereiro, resultado de R$ 350 milhões em investimentos. A expectativa neste ano é produzir 70 mil motores e 150 mil
cabeçotes – a capacidade instalada é de 120 mil e 200 mil, respectivamente – que serão destinados às fábricas de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, e de Rosário, na Argentina. O faturamento previsto é de R$ 250 milhões. Já a Sinotruk não dá mais detalhes sobre o projeto de R$ 300 milhões para a produção de 8 mil caminhões ao ano em Lages. Apenas informa que a construção da unidade está prevista, junto com a importação dos veículos, e que os investimentos em médio prazo podem chegar a R$ 1 bilhão. Outra instalação anunciada é a da fabricante coreana de tratores LS Mtron, que confirmou a aplicação de US$ 30 milhões em Garuva para a construção de sua primeira unidade fora da Ásia. Anunciados, já são quase R$ 2 bilhões de investimentos em Santa Catarina feitos por montadoras de SantaCatarina.ind
veículos automotores. Os projetos instalados e em implantação somam mais de R$ 850 milhões. Além de um incremento considerável na receita fiscal do Estado, essas indústrias vão aquecer outros setores e segmentos da economia catarinense, beneficiando empresas e pessoas que estejam preparadas.n
Investimentos de montadoras em SC Recursos já aplicados e previstos reforçam a posição de SC como nova fronteira automotiva GM = R$ 1,05 bilhão R$ 350 milhões já aplicados na instalação da fábrica de motores e cabeçotes R$ 700 milhões previstos para a construção da fábrica de câmbios e transmissões BMW = R$ 523 milhões* (em aplicação) Sinotruck = R$ 300 milhões (previsto) LS Mtron = R$ 60 milhões* (previsto) *Cotações de euro e dólar em 30/04/2013 Fonte: empresas
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Ilustração Felipe Parucci
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Amostra
de valor
Pesquisa exclusiva do Instituto Mapa e RIC/SC indicou as empresas que lideram em cada segmento da indústria catarinense
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revista “Santa Catarina.ind” traz, em sua edição de lançamento, um panorama dos 20 segmentos mais significativos da indústria catarinense. Com a proposta de apontar as empresas referências de cada um destes ramos a RIC/SC contratou o Instituto Mapa para elaborar uma pesquisa exclusiva. O levantamento de informações detalhadas a respeito da opinião do público teve uma metodologia composta pelos seguintes itens: A) Cobertura da pesquisa: o levantamento cobriu o estado de Santa Catarina de forma geral, tanto no que se refere às indústrias potencialmente concorrentes aos títulos de “empresa destaque” quanto ao público votante. Foram cobertos 20 segmentos industriais. B) Público-alvo da pesquisa (público votante, junto ao qual foram realizadas as entrevistas): empresários das indústrias de grande e médio porte dos 20 segmentos selecionados – proprietários, sócios ou executivos com cargo de diretoria – e formadores de opinião com conhecimento da indústria (profissionais da área de economia, professores, consultores, presidentes de associações comerciais e industriais). C) Método: pesquisa quantitativa, descritiva, por amostragem. D) Técnica de coleta dos dados: questionários de autopreenchimento, enviados por e-mail a partir de contato prévio por telefone, para obtenção de adesão à pesquisa. Em alguns casos, por conveniência do respondente, as entrevistas foram aplicadas por telefo-
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ne, já no momento do contato inicial. E) Instrumento de coleta de dados: questionário estruturado, segundo modelo desenvolvido pelo Instituto Mapa e aprovado pela RIC/SC. F) Seleção da amostra de respondentes: por conveniência, dentro dos segmentos selecionados de indústrias de grande e médio porte, com base em listagem de empresas associadas à Fiesc. G) Amostra final obtida: foi alcançado um total de 154 entrevistas finais válidas, sendo 145 empresários da indústria e nove formadores de opinião. O período de coleta dos dados foi de 20 de março a 5 de abril de 2013. H) Votação: estes 154 votantes apontaram de forma espontânea uma empresa que considerassem destaque em cada um dos 20 segmentos selecionados (naqueles em que cada um se julgava apto a votar), mais uma indústria de destaque estadual de forma geral. I) Conjunto de critérios colocados como orientação para a indicação das “empresas destaque” pelos votantes: – gestão inovadora; – conquista de mercados; – superação das adversidades do seu segmento; e – contribuição para o desenvolvimento econômico de Santa Catarina. As indústrias indicadas estão listadas no índice (pág.7). Cada uma das empresas ganhou uma cobertura especial junto com matérias dos segmentos econômicos abordados pela revista. A indústria com maior número de votos no geral, a WEG, recebeu destaque equivalente na página 36.n
O simples prazer de admirar cada detalhe da sua vida.
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Empresa mais votada
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Weg quer aproveitar a crescente demanda por equipamentos que ofereçam maior eficiência energética e industrial
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Salto em
distância
Gigante catarinense planeja mais do que triplicar o faturamento até 2020, a partir de inovação e expansão dos negócios no exterior Por Vandré Kramer
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Só neste ano, a empresa espera investir R$ 265 milhões na expansão e modernização da sua capacidade produtiva. Entre janeiro e março foram aplicados R$ 56,8 milhões. As prioridades foram as plantas localizadas no Brasil, que receberam 89% dos recursos. Mas o executivo destaca que, ao longo do ano, a distribuição vai ocorrer de maneira relativamente uniforme nas diversas unidades de negócios e fábricas. Gomes ressalta que a empresa vai continuar apostando na conquista de novos mercados e na ampliação da linha de produtos, por meio de aquisições e de parcerias estratégicas. Pistas sobre quais podem ser os próximos passos da WEG. Divulgação
m grande salto em direção ao futuro. A estratégia da WEG até 2020 está preparada: atingir um faturamento de R$ 20 bilhões. Para isso planeja avançar no processo de internacionalização da empresa, dar muita atenção à inovação e fortalecer ainda mais a sua posição nos mercados em que atua. Meta ousada. Significa crescer mais de três vezes em um prazo de oito anos. Mas uma expansão nesse ritmo não é novidade para uma das maiores fabricantes de motores elétricos do mundo: as vendas da empresa quase triplicaram entre 2004 e 2012, quando atingiram R$ 6,2 bilhões. A WEG quer aproveitar a crescente demanda por equipamentos, como motores elétricos e sistemas de automação, que ofereçam maior eficiência energética e industrial. Outras oportunidades vêm da preocupação com os impactos ambientais dos meios tradicionais de geração de energia e a mais intensa utilização de equipamentos e sistemas de sensoriamento e controle digital na geração, transmissão, distribuição e consumo de energia. Segundo o diretor de finanças e relações com investidores, Laurence Beltrão Gomes, a base para crescer com vigor é a flexibilidade financeira. “Isto permite aproveitar momentos como os que passamos (o desaquecimento da atividade econômica mundial) para penetrar em novos mercados e lançar novos produtos.”
Beltrão Gomes assumiu a diretoria de finanças em maio de 2010
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A WEG possui aproximadamente 26 mil colaboradores e desenvolve constantemente treinamento e desenvolvimento de pessoal
O executivo destaca que a procura de oportunidades de negócios no exterior acontecerá “mesmo nas chamadas economias maduras, com ambiente macroeconômico menos favorável. Estamos prontos, tanto operacional quanto financeiramente, para analisar qualquer negócio que se apresente”. A ideia é incorporar produtos e tecnologias complementares às da WEG e que resultem em ampliação na
Passo à frente Inovar é fundamental para a WEG chegar à meta de faturamento de R$ 20 bilhões em 2020. Tradicionalmente, a empresa investe anualmente 2,5% de seu faturamento líquido em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novos produtos. No ano passado, foram aplicados R$ 148,3 milhões, 10 % Divulgação
Motor externo A internacionalização é peça-chave nos planos de crescimento da empresa jaraguaense, que é a segunda maior exportadora do Estado. No primeiro trimestre, ela foi responsável por 9,45% das vendas catarinenses para o exterior, segundo o Ministério do Desenvolvimento (MDIC). Atualmente, os produtos fabricados pela WEG são distribuídos em mais de 100 países. Os Estados Unidos e a Europa são os principais clientes no exterior. As exportações responderam por 47,7% das receitas da fabricante de motores nos três primeiros meses deste ano. Elas atingiram R$ 704,6 milhões, 7,5% a mais do que no mesmo período de 2012. “Queremos utilizar nossa presença com alguns produtos em mercados externos para alavancar nosso crescimento, introduzindo itens complementares”, afirma Gomes. Uma das possibilidades é aproveitar a posição relevante no segmento de motores elétricos em diversos países para introduzir produtos da linha de automação industrial, aproveitando a marca reconhecida.
participação daqueles mercados. Desde 2010, a fabricante de motores elétricos comprou empresas na Áustria, Argentina e Estados Unidos, além de ampliar a participação no capital da Voltran, uma fábrica de transformadores no México, e adquiriu operações industriais na África do Sul, como parte da compra do Zest Group. A WEG também tem unidades industriais em Portugal, China e Índia. As últimas aquisições da empresa se concentraram no segmento de tintas e vernizes, que atende prioritariamente ao mercado interno. No ano passado, foram adquiridas a Stardur, de Indaiatuba (SP), e a Paumar, de Mauá (SP). Outra compra foi a da Injetel, de Curitiba (PR), que fabrica interruptores, plugues e tomadas para aplicações comerciais e prediais.
Aproveitar a posição relevante no segmento de motores elétricos em diversos países para introduzir outros produtos é uma das estratégias da empresa
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a mais do que em 2011. Os focos são os projetos de automação, de geração de energia para fontes renováveis, como eólica e solar, e de eficiência energética, com novas linhas de motores elétricos. Segundo o diretor de finanças e RI, a empresa tem um plano de atuação na área de equipamentos para geração de energia a partir de fontes renováveis. Ele destaca que, tradicionalmente, isto significou forte presença em fontes como as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e as térmicas a partir de biomassa. A WEG vem diversificando sua atuação neste segmento. Ela introduziu produtos para o mercado de geração de energia eólica, a partir de uma joint-venture firmada com a espanhola MTOI, e está preparando uma solução completa para a energia solar fotovoltaica. “Estas fontes terão papel importante na expansão do sistema de geração elétrica no Brasil, que deve ser diversificado para garantir a sua estabilidade”, destaca Gomes. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 44,1% da oferta interna de energia vêm de fontes renováveis, principalmente a biomassa de cana-de-açúcar, a hidráulica e a lenha e o carvão vegetal. A expansão nas áreas de inovação e de P&D passa pelos acordos com institutos de pesquisa e universidades no Brasil e no exterior. Um importante apoio é dado pelo comitê científico e tecnológico da WEG, formado por professores brasileiros e estrangeiros, que discute anualmente as tendências nas áreas de atuação da empresa. Atualmente, a empresa mantém convênio com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pelo qual ocorre desenvolvimento de projetos conjuntos, realização de consultorias e financiamento de bolsas de pesquisa no mestrado. Parcerias já foram feitas com as Universidades Federais de Minas Gerais (UFMG), Rio Grande do Sul (UFRGS), Campina Grande (UFCG), Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). No exterior, elas envolveram as Universidades de Hannover e Wuppertal, na Alemanha; Texas, nos Estados Unidos; e Glasgow, na Escócia. “Também contratamos cursos para especialização e mestrado dos profissionais da WEG”, diz Beltrão Gomes. No primeiro trimestre do ano, a empresa aplicou R$ 1,4 milhão em treinamento e desenvolvimento de pessoal, 16% a mais do que no período de janeiro a março de 2012. Afinal, conhecimento e inovação impulsionam a WEG neste grande salto rumo ao futuro.n
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Política contínua de investimentos em P&D foi reconhecida com o Prêmio Finep de 2012
Forte recupação pós-crise
WEG registrou um crescimento de 46,6% na receita líquida e de 19,7% no lucro líquido no período 2009-2012 Receita Líquida (em R$ milhões) 6.173,9
5.189,4 4.502,0 4.210,6 2008
2009
4.392,0
2010
2011
2012
Lucro Líquido (em R$ milhões) 656,0
586,9 560,0
548,0 519,8
2008
2009
2010
2011
2012
Investimentos (em R$ milhões) 457,2
2008
226,3
233,0
2009
2010
238,4 187,9
2011
2012
Fonte: Empresa, CVM
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ALTA TECNOLOGIA
Pacote
completo Victor carlson
Com a evolução do mercado, sobrevivem apenas aqueles que oferecem uma solução que atenda a todas as necessidades do cliente
Indústria catarinense une hardware e software para atuar em nichos de mercado e áreas estratégicas para o país Por Daniel Cardoso
A
indústria de tecnologia de Santa Catarina é conhecida em todo o Brasil pela força do setor de software, mas as empresas que fabricam hardware também são extremamente importantes para a economia da região. Em Florianópolis, por exemplo, os primeiros empreendedores de tecnologia surgiram para atender demandas do mercado de hardware. É o caso da Intelbras e da Digitro, por exemplo, que desbravaram o potencial tecnoSantaCatarina.ind
lógico da Capital (onde concentram-se 90% das indústrias catarinenses de eletrônica, telecomunicações e automação). Desde o início do polo, nos anos de 1980, até agora, muita coisa mudou. Software e hardware, que eram desenvolvidos separadamente, passaram a ser pensados de maneira complementar. Quem explica os detalhes dessa mudança no perfil é o presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Aca-
ALTA TECNOLOGIA divulgação
te), Guilherme Bernard. Segundo ele, para desenvolver hardware hoje em dia gasta-se boa parte do tempo projetando e desenhando um software, que será embarcado na parte rígida do produto. A ideia é produzir soluções integradas, unidas e completas para o cliente. Hardware vendido de maneira isolada não possui apelo comercial e está fadado ao fracasso. “Em Florianópolis, o mercado era muito maior na parte de hardware. Com o desenvolvimento da tecnologia, a situação se inverteu. Hoje, o segmento de software tem mais força e quem atua com hardware também precisa entender de programação para se manter competitivo”, afirma Bernard, também diretor da Reason, empresa da Capital especializada em fornecer equipamentos para monitorar linhas de distribuição de energia. É um case de sucesso que une o desenvolvimento de hardware com software embarcado e que ajuda a manter em alta o crescimento do segmento em Santa Catarina. Adaptadas às novas características do mercado, as empresas catarinenses atuam em áreas estratégicas para o país, como energia, telecomu-
Fadul, do CPC da Certi, centro que ajuda a agir antes que problemas de produção ocorram
divulgação
Bernard, da Reason, vencedora do Prêmio Finep de Inovação 2011 e da etapa Sul de 2012
nicações, agronegócio, segurança e saúde. A estimativa é que o Estado esteja alinhado à expansão média do mercado nacional. Em 2012, o crescimento da indústria foi de cerca de 5%, de acordo com estudos da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Mas o mercado catarinense apresenta algumas especificidades. De acordo com Carlos Alberto Fadul Alves, diretor do Centro de Referência em Produção Cooperada da Fundação Certi, as empresas da região trabalham direcionadas para o consumo doméstico, diferenciando-se do restante do Brasil. “Nos outros estados, o segmento tem uma característica de ser muito mais importador do que exportador. Também não existe uma cultura sedimentada nas empresas de buscar uma competição em outros mercados ou partir para uma atuação mais global”, diz Alves. Limites produtivos Porém, algumas dificuldades ainda limitam o crescimento de Santa Catarina. A principal é o volume da produção reduzido, o que impacta diretamente nos níveis de custos SantaCatarina.ind
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das fábricas. Segundo Bernard, toda vez que se trata de hardware a empresa precisa comprar componentes de alta tecnologia – uma negociação que só vale a pena se o volume for expressivo. “No Brasil, não se produz componente eletrônico. É tudo importado. Quando se compra em grande volume, o preço baixa e começa a compensar. Caso contrário, fica caro demais e se torna praticamente impossível enfrentar a concorrência”, explica. Uma das estratégias da indústria local é atuar em nichos de mercado. Dessa forma, a concorrência é menor, a disputa por preços é menos acirrada e se consegue agregar mais valor ao hardware. “Posso usar como exemplo a própria Reason. Vendemos para o mundo inteiro: Taiwan, Israel, Hong Kong e Estados Unidos. Isso porque atuamos em um nicho específico e conseguimos entrar com valor agregado e oferecer preços na mesma faixa dos nossos concorrentes”, diz Bernard. Outro desafio que precisa ser superado pelos empreendedores de Santa Catarina, em especial de Florianópolis, é a infraestrutura para seguir em expansão. Alexandre D’Ávila da Cunha, presidente da Câmara de Tecnologia e Inovação da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) e diretor da Cebra (fabricante de fontes chaveadas para equipamentos de informática), lembra que o Estado possui vários gargalos que inibem o fortalecimento das indústrias locais. “A internet, por exemplo, é muito lenta e cara se compararmos com as de outros países. Isso é muito ruim porque disputamos mercado com empresas de vários continentes, que têm condições melhores do que as nossas. Só para dar um exemplo, ressalto que atualmente vários softwares são desenvolvidos para rodarem na nuvem e exigem um acesso
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de alta velocidade”, afirma Cunha. Segundo o diretor da Fiesc, Santa Catarina ainda enfrenta problemas como imóveis caros, mão de obra qualificada escassa e falta de espaço físico para implementar fábricas industriais, mesmo com linhas de produção de pequeno porte. “No setor de hardware, exige-se um ambiente de trabalho mais completo do que para o desenvolvimento de software. É necessário mais espaço, componentes importados e também um capital significativo para dar início ao negócio. Sem um ambiente favorável, tudo fica mais complicado.” mecanismos de fomento Outra ameaça para o setor em Santa Catarina é o crescente investimento que regiões concorrentes estão fazendo no ramo da tecnologia. José Fernando Xavier Faraco, diretor do Sindicato das Indústrias de Informática de Santa Catarina (Siesc), afirma que o nosso risco está na medida em que os outros estados fizeram o dever de casa e começaram a dispor de ferramentas de atratividade, primeiro perigosamente parecidas, mas depois, muito mais
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Cunha, membro da P&D Brasil: país tem uma política tímida de compras de fabricantes locais
efetivas que as nossas. Hoje, vários estados brasileiros dispõem de mecanismos de fomento inclusive de capital de risco, de participação societária e de financiamentos de fundo perdido, por exemplo. “Vários deles que dispõem de empresas e instituições federais importantes instaladas em seus territórios (e isto chama-se competência política pretérita) agem claramente em prol de usar o poder aquisitivo e/ou influência decisória destas organizações públicas nacionais para fomentar as aquisições às suas empresas locais. Neste particular, Santa Catarina demonstra quase ingenuidade”, alerta Faraco. Já na área ambiental, o grande desafio do ramo não está na fase de fabricação, considerada de baixo impacto – o nível de resíduos gerado é bem menor em comparação com os segmentos tradicionais da indústria. Segundo Alves, o que preocupa é a etapa de descarte, principalmente dos produtos de consumo – celulares, computadores e televisores, por exemplo – que necessitam após o término de sua vida útil de todo um processo de logística reversa: transporte, classificação, desmontagem, reciclagem de matéria-prima e disposição adequada de resíduos. Apesar de haver desafios a serem superados, há um grande otimismo em relação ao futuro da indústria de tecnologia catarinense. “Os investimentos recentemente anunciados no segmento automobilístico pela BMW e no segmento aeronáutico pela empresa Novaer certamente trarão demandas específicas a serem atendidas pelas empresas da região”, diz Alves. Segundo ele, o Estado possui um ecossistema fértil para o empreendedorismo, graças à presença de universidades que são referência no país com cursos voltados para a área de tecnologia. Santa Catarina também possui centros de
Faraco, ex-presidente da Fiesc, diz que o Estado ficou para trás no apoio ao segmento
inovação tecnológica para o desenvolvimento de produtos e processos diretamente para as empresas, além das incubadoras consolidadas. Na fundação Certi, por exemplo, há o Laboratório-Fábrica, que tem como foco dar suporte para as empresas da região em projetos de manufatura e testes de placas eletrônicas. n
Vale do Silício brasileiro Vigor do segmento na Grande Florianópolis é comparável ao famoso polo americano Santa Catarina Faturamento R$ 2,5 bilhões Número de empregos diretos 20 mil Número de empresas 1,8 mil Fonte: Acate (estimativa 2011
Florianópolis Faturamento R$ 1 bilhão Número de empregos diretos 6 mil Número de empresas 600 Cerca de 30 empresas de tecnologia são constituídas por ano O faturamento do setor cresce cerca de 20% ao ano Em 2011, havia 489 empresas ativas de software e serviços e 71 de hardware Fonte: Prefeitura de Florianópolis, Acate, CAGED/MTE – 2011
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APARELHOS E MATERIAIS ELÉTRICOS
Luz de
alerta
Produção do segmento em Santa Catarina continua em queda, apesar da recuperação nacional e do bom resultado de alguns expoentes Por Lorena Trindade
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o que representa um aumento de 19%, com a margem de 17,1%. Em 2012, foram realizados investimentos em ativos fixos de R$ 238,4 milhões. Fundada em 1961 em Jaraguá do Sul, a WEG é uma das maiores empregadoras brasileiras na área de manufatura e, atualmente, gera 27 mil empregos. Destes, cerca de 22 mil estão no Brasil. No Estado, são mais de 19 mil trabalhadores. Os 14 parques fabris do país estão em Santa Catarina e em outros seis estados: Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Espírito Santo, Pernambuco e Amazonas. No exterior, a WEG possui dez fábricas na Argentina, México, Estados Unidos, África do Sul, Portugal, Áustria, Índia e China. Divulgação
segmento de máquinas, aparelhos e materiais elétricos de Santa Catarina continua correndo atrás de sua recuperação. De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), enquanto a produção brasileira da área expandiu 6,4% no primeiro bimestre de 2013, a catarinense recuou 14,5%, dando continuidade a um processo que vem se desenvolvendo há vários meses. No fim de 2012, outra pesquisa da federação apontou para uma diminuição de 41,5% na produção deste segmento, em relação a 2011. Uma contradição é o fato de a WEG fazer parte do ramo e ser uma das principais empresas do segmento de motores elétricos. Na indústria catarinense, ela tem se destacado não só no seu campo de atuação como também em máquinas e equipamentos e alta tecnologia. Conforme Antônio Cesar da Silva, diretor de marketing corporativo da WEG, mesmo em um ambiente econômico difícil e com baixo crescimento, tanto no Brasil como nos países desenvolvidos, a companhia conseguiu obter um aumento de 19% da receita líquida consolidada, em 2012. A WEG também comemorou, no ano passado, a ampliação de seus negócios no exterior. “Expandimos nossa presença e nossa linha de produtos, o que permitiu um crescimento de receitas na ordem de 38%”, comenta. Segundo Silva, a geração operacional de caixa (EBITDA) foi de R$ 1 bilhão,
Antônio da Silva, na WEG desde 1976, assumiu a diretoria de Marketing em 2010
APARELHOS E MATERIAIS ELÉTRICOS
Empresas mais competitivas Prova de que mesmo um 2012 turbulento no segmento não foi capaz de incomodar a WEG, foi a expansão dos negócios. A empresa adquiriu a Eletric Machinery, tradicional fabricante norte-americana de turbogeradores e outros equipamentos elétricos de alta tensão, baseada em Minneapolis, estado de Minnesota, Estados Unidos. Entrou no mercado de redutores e motorredutores por meio de uma joint venture no Brasil, com a paulista Cestari, e no exterior, com a compra da austríaca Watt Drive. Na avaliação de Silva, o governo tem sinalizado com várias ações que podem ajudar na retomada da expansão do PIB industrial brasileiro. Medidas como a desoneração da folha de pagamento, o Reintegra (programa federal que desonera resíduos de tributos indiretos – Cide, IOF, PIS, Confins – sobre produtos industrializados brasileiros exportados), as linhas especiais de financiamento do BNDES, entre outras, fortalecem um maior crescimento da indústria nacional. “Entretanto ainda há necessidade de alguns aperfeiçoamentos e ajustes em relação às regras de conteúdo nacional e à própria taxa de câmbio”, avalia. Porém, segundo o diretor, a WEG adotou uma meta: desenvolver estratégias para que a sua competitividade não dependa somente das ações de governo. Outra empresa de Santa Catarina
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Para Silva, as grandes dificuldades enfrentadas pela WEG em 2012 foram o enfraquecimento da indústria nacional e o crescimento, segundo ele sem precedentes, da participação dos importados no mercado brasileiro. De acordo com o diretor, a forma que a companhia encontrou para superar o PIB industrial fraco foi elaborar produtos e realizar serviços de qualidade diferenciada. “Aliados à ampliação da oferta de produtos e soluções aos nossos clientes”, acrescenta.
Alexandre Felippi, da Taschibra, investe em inovação para vencer a falta de incentivo
no segmento de máquinas, aparelhos e materiais elétricos é a Taschibra, de Indaial. A companhia de iluminação é, de acordo com seu diretor de marketing, Alexandre Felippi, 100% catarinense e iniciou suas atividades em 1995. Atualmente, conta com 600 colaboradores e tem uma produção mensal de luminárias de cerca de 350 mil peças. Parte da produção da Taschibra está na China. Neste caso, as fábricas chinesas atuam como fornecedoras, ou seja, não são unidades do grupo. Segundo Felippi, desde o início de 2012 a companhia soube que o mercado de iluminação deveria ser muito mais eficiente e competitivo do que em 2011. Para dar conta dessas exigências mercadológicas, a Taschibra preparou-se para um maior desenvolvimento, mas não foi suficiente. “A empresa conquistou crescimento tanto em volume quanto em faturamento em relação a 2011, mas acreditávamos que seria possível obter um resultado ainda melhor”, diz o diretor. A queixa da Taschibra não é diferente das queixas de empresas de outros segmentos. De acordo com Felippi, a maior dificuldade enfrentada pela companhia é a burocratização SantaCatarina.ind
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de processos do governo, a carência de ações para a reforma tributária e a não redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para luminárias. “Nas luminárias o IPI deveria ser zero, assim como nas lâmpadas eletrônicas compactas. Uma vez que luminárias com lâmpadas fluorescentes são tão econômicas quanto as compactas e têm o mesmo apelo ecológico”, afirma. Segundo ele, as lâmpadas eletrônicas têm a Ásia como polo de fabricação, enquanto as luminárias, na grande maioria, são produzidas no Brasil. Para tentar vencer a falta de incentivo governamental, conforme Felippi, a Taschibra investe na modernidade do seu parque fabril, no desenvolvimento de produtos inovadores e na qualificação de seus colaboradores. “A empresa vem tendo um ótimo desempenho em 2013, seja por suas novas estratégias comerciais ou pela diversidade dos produtos ofertados.” Uma dessas novas estratégias vem sendo trabalhada pela empresa de iluminação desde janeiro. É um novo formato comercial. A Taschibra foi segmentada e passou a ter diretores comerciais para: Home Center, Construção, Bazar e B2B (transações de comércio entre empresas). Conforme Felippi, nesta nova formatação, a empresa tem se estruturado para focar em cada canal de distribuição. “O objetivo é ter política, atendimento e serviço exclusivo por canal, possibilitando, assim, a conquista de uma parcela maior do mercado em que atua”.n
Perfil exportador Segmento responde por quase 10% das exportações catarinenses Indústrias 338 (2010) Trabalhadores 29,5 mil (2010) Valor da Transformação Industrial de SC 9,3% (2010) Exportações de SC 9,1% (2011) – US$ 828 milhões Fonte: Fiesc
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Máquinas e EQUIPAMENTOS
Liderança
inovadora A
Empresas fortes no segmento nacional precisam enfrentar, principalmente, o fim da redução do IPI para manterem desempenho crescente em 2013 Por Lorena Trindade Divulgação
Estado é o maior exportador de motocompressores herméticos do Brasil, com participação de 77% no volume total
o contrário do que alguns economistas apregoaram em previsões pessimistas no fim de 2012, o primeiro bimestre deste ano surpreendeu o segmento de máquinas e equipamentos. Em fevereiro, as vendas deste ramo industrial subiram 13,9%, em relação a janeiro. Mesmo com o recuo de 4,8% em relação ao mesmo período do ano passado, a indústria fechou o segundo mês de 2013 com faturamento bruto real de R$ 5,981 bilhões. Os números são da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). De acordo com o presidente da Abimaq regional, Waldir Albrecht, as exportações do segmento no país cresceram 11,2% em 2012, impulsionadas, sobretudo, pela alta do dólar. Do total produzido, 15% é exportado. Mesmo com os resultados positivos, Albrecht afirma que o ano passado apresentou um comportamento abaixo do esperado. “A falta de competitividade da indústria nacional é consequência de uma economia baseada na falta de infraestrutura e logística, política cambial desequilibrada e pesada carga tributária”, opina. “É preciso atuar de forma contundente na raiz do problema e estimular o investimento no país, a partir do aumento da credibilidade e confiança na indústria nacional”, complementa. Ações pontuais para desoneração da folha de pagamento, incentivos fiscais e alterações nas regras de importação minimizaram impactos maiores sobre o desempenho de 2012, segundo Albrecht. É o caso da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), um importante estímulo para os bons índices da indústria de máquinas e equipamentos no ano passado. O diretor da planta Brasil da Embraco, Emerson Zappone, reforça a afirmação do presidente regional da Abimaq, tanto que analisa 2013 como um ano de maior desafio para a corporação, principalmente pelo fim dos incentivos fiscais, como a redução do IPI. Outro obstáculo a ser rompido é a inflação acima do previsto e um PIB menor em 2012. Zappone acrescenta que a situação política e econômica de alguns países da América Latina também tem gerado instabilidade para as vendas da companhia. “De fato, este ano vai exigir de nós, Embraco, uma atenção ainda maior e contínua para minimizar as instabilidades vindas do mercado.”
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Máquinas e EQUIPAMENTOS
Líder mundial Em 1971, a Embraco foi fundada em Joinville, onde atualmente estão instaladas a fábrica de compressores, a fundição e a Embraco Eletrônicos, dedicada ao desenvolvimento e comercialização de controles eletrônicos para os sistemas de refrigeração. A corporação conta com outra unidade no Estado, em Itaiópolis, onde se produz componentes para compressores e montagem de sistemas de refrigeração. Em todo o mundo, 12 mil pessoas trabalham para a Embraco, 6.587 só no Brasil. As outras plantas estão na Eslováquia, Itália, Estados Unidos, México e China. Líder mundial na fabricação de compressores, com 37 milhões de unidades anualmente, a empresa não para de pensar em novos produtos. Uma área chamada NPP (New Profit Pools) é responsável por desenvolver projetos e antecipar tendências para possíveis mercados de atuação. “Atualmente, estamos desenvolvendo a tecnologia plasma, com forte aplicação no setor automotivo”, destaca Zappone. Dois itens são derivados deste processo: o reator à plasma, para o recobrimento de peças, e o aço autolubrificante. Embora a Embraco não divulgue re-
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Waldir Albrecht, da Abimaq, entidade que defende a desoneração total de investimentos
sultados financeiros, o diretor da planta Brasil afirma que 2012 foi o segundo melhor resultado da história da corporação e se consolidou como um ano de crescimento para a companhia. “Além disso, melhoramos nossa performance em indicadores fundamentais para o nosso negócio, como qualidade de produtos e serviços, produtividade, segurança e sustentabilidade.” Outra catarinense que não tem do que reclamar é a Irmãos Fischer. A empresa trabalha em três segmentos (eletrodomésticos, bicicletas e construção civil), e teve um 2012 de bons resultados. “As metas foram alcançadas e o crescimento foi na ordem de 15%”, comenta o diretor-presidente, Ingo Fischer. Ele conta que o grupo lançou uma nova linha de produtos, os eletroportáteis, que tiveram uma aceitação muito positiva no mercado. A Fischer vem caminhando para ampliar a gama de mercadorias em todos os segmentos da companhia. “Para este ano, estima-se o lançamento de 30 novos itens. Dez outros serão direcionados a novos mercados”, informa Ingo. Assim como a Embraco, a Fischer é genuinamente catarinense, fundada há 47 anos em Brusque, onde está até hoje. São 1.200 colaboradores numa unidade de 140 mil m². Para Fischer, a empresa tem posição de destaque diante do cenário econômico brasileiro e pode se considerar vitoriosa, apesar de algumas dificuldades. O diretor-presidente as enumera: “a elevada carga tributária e altas taxas de juros. Os excessivos impostos são difíceis de serem driblados pelos industriais, já que há uma complexidade tributária que inclui entraves na burocracia, encargos trabalhistas; além de déficit na infraestrutura e problemas com logística”. Os desafios, segundo Fischer, também estão na falta de mão de obra profissionalizada. “É preciso assegurar às empresas que contratam, garantia de bons profissionais e oferecer à comunidade oportunidades de estudo e
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Fischer iniciou com uma oficina de bicicletas, passou a fabricá-las e seguiu diversificando
boa formação”, ressalta. Crítica semelhante à de Rolf Decker, presidente do Sindicato de Trabalhadores nas Indústrias de Refrigeração da Joinville (Sinditherme), que representa cerca de 10 mil empregados da categoria – além da Embraco, a cidade tem neste segmento a Whirlpool, do mesmo grupo. “Faltam 9 mil trabalhadores com formação técnica”, afirma. Para ele, há uma dissonância entre escolas e governo, que não proporcionam qualificação devida. “As empresas têm se instalado muito rapidamente e são necessários até três anos para a formação do trabalhador”, diz. No fim de 2012, a Whirlpool abriu 900 novas vagas e teve dificuldade para preenchê-las. “Nos próximos dois anos a indústria terá dificuldades com este déficit”, prevê Decker.n
Presença internacional Estado é líder no mercado latino-americano de compressores de ar comprimido a pistão Indústrias 1.422 (2010) Trabalhadores 37,1 mil (2010) Valor da Transformação Industrial de SC 6,7% (2010) 16,5% das exportações de SC US$ 1,5 bilhão (2011) Fonte: Fiesc
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Status de zona livre de aftosa faz de Santa Catarina um dos principais fornecedores de suínos e aves do mundo, mas abastecimento de grãos compromete a lucratividade Empresas do Estado estão investindo em rastreabilidade para dar aos compradores internacionais a certeza da qualidade de sua produção
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atividade industrial mais representativa de Santa Catarina quer ampliar a participação no mercado internacional. O segmento de alimentos, que responde por 16% no valor da transformação do Estado, está de olho em novos consumidores de carne suína e atento ao crescimento mundial do consumo de aves. As empresas catarinenses – com destaque para a indústria de carnes no Oeste – exportaram em 2012 o total de US$ 3,7 bilhões, uma participação de 5% do montante nacional comercializado no mercado externo. Este, aliás, é o primeiro item da pauta de exportação do Estado. No ano passado, carnes e miudezas comestíveis renderam US$ 2,5 bilhões para Santa Catarina, a maior parte ligada à venda de frangos e suínos para países como Rússia, Hong Kong e Arábia Saudita. O valor corres-
ponde a 28% das vendas totais catarinense e 18% das exportações de carnes e miudezas brasileiras para o mercado internacional. O próximo passo é ampliar a participação do segmento de suínos lá fora, em especial no Japão. Técnicos da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura acabam de aprovar o modelo de certificação da carne suína enviado pelo governo japonês. O certificado foi a última fase de 12 etapas a serem cumpridas para abertura deste mercado exclusivamente à Santa Catarina – estado com rebanho livre de febre aftosa – numa negociação que dura mais de sete anos. “Estamos apostando todas as nossas fichas no Japão e nos negócios que esta parceria promete criar”, diz o presidente do Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados de SC (Sindicarne), Clever Pirola Ávila. SantaCatarina.ind
Por Luciana Zonta Tanto empenho e paciência tem um motivo forte. Segundo o governo do Estado, as exportações de suínos para o país asiático devem gerar um volume extra de 120 mil toneladas ao ano para as indústrias, com previsão de faturamento de R$ 50 milhões por mês. O Japão é o maior comprador mundial de suínos. Somente no ano passado, importou US$ 5,1 bilhões, equivalentes a 779 mil toneladas da proteína animal. Esta é a primeira vez que o governo japonês concorda em liberar importações de apenas uma região – no caso Santa Catarina – que tem o status de livre de febre aftosa sem vacinação. Normalmente, o país só aprova quando todo o território de uma nação é reconhecido como livre da doença. No ano passado, o Brasil – quarto maior exportador de carne suína do mundo – vendeu
alimentos
Ricardo Gouvêa, da Acav e do Sindicarne, que reclamam da demora nas licenças ambientais
Ponto fraco Um dos principais desafios do setor de alimentos em 2013, segundo Ricardo Gouvêa, é manter o status sanitário conquistado perante as entidades internacionais e buscar uma Divulgação
Grande empregador A indústria de aves e suínos do Estado gera nada menos que 49,6 mil empregos diretos e quase 100 mil indiretos, segundo dados da Pesquisa Industrial Anual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Somente a BRF, criada a partir da associação entre Perdigão e Sadia em 2009, emprega 20 mil trabalhadores no Estado, dos 110 mil que mantém no país. A empresa nasceu como um dos maiores players globais do segmento alimentício, reforçando a posição do Brasil como potência no agronegócio mundial. A grandeza de números da BRF acompanha os resultados econômicos da companhia. Em 2012, a empresa produziu 5,8 milhões de toneladas de alimentos em solo brasileiro, com uma receita de R$ 28,5 bilhões e lucro líquido de R$ R$ 813,2 milhões. “Um portfólio com marcas e produtos posicionados para atender diferentes perfis de consumidores, somado a uma robusta estrutura física, compõem um conjunto de ativos intangíveis que fornecem vantagens competitivas à empresa”, afirma o diretor-presidente da
BRF, José Antônio Fay. Já a JBS, que em 2012 incorporou a marca Agrovêneto, emprega 1,5 mil pessoas nas duas unidades em Nova Veneza e Morro Grande. A empresa também tem unidades no Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Juntas, as duas fábricas de Santa Catarina têm capacidade de processamento de 260 mil aves por dia, devidamente aprovadas para exportar para os principais mercados do mundo, principalmente na Ásia, Europa e Oriente Médio. Com importante participação internacional, a JBS é a maior indústria de processamento de aves do mundo e está presente em praticamente todos os mercados consumidores. As operações da empresa, distribuídas no Brasil, Estados Unidos, México e Porto Rico, garantem uma capacidade de processamento de aproximadamente 9 milhões de aves por dia.
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o produto para mais de 70 mercados, totalizando US$ 1,3 bilhão. O Estado está no topo da lista dos exportadores brasileiros, vendendo US$ 500 milhões, isto é, cerca de 180 mil toneladas em 2012. O segmento de aves – em especial a linha de congelados de alto valor agregado – é outro destaque. Segundo o diretor executivo da Associação Catarinense de Avicultura (Acav) e do Sindicarne, Ricardo Gouvêa, Santa Catarina abateu 729 milhões de cabeças de aves em 2011, o que respondeu por 17,98% da produção brasileira, a segunda maior do país, conforme dados mais recentes da União Brasileira de Avicultura (Ubabef). No mesmo ano, foram exportados 1 milhão de toneladas.
Ávila prevê aumento de custos de produção em 2013, diminuindo a competitividade
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política eficiente de abastecimento de grãos (milho e farelo de soja), matéria-prima básica para a alimentação dos animais. Hoje, Santa Catarina compra o insumo principalmente do Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás, além do Paraguai como opção internacional. Santa Catarina cultiva 540 mil hectares e produz cerca de 3 milhões de toneladas de milho, mas consome 6 milhões. Criadores e indústrias são os mais prejudicados. O Estado tem mais de 17.000 suinocultores e avicultores integrados às agroindústrias. As previsões para 2013 são de aumento do preço dos alimentos à base de carne. Por causa da escassez de insumos, existe uma forte pressão para aumento de preço dos grãos. De acordo com Gouvêa, as empresas do Estado têm buscado subsídios para aquisição destes produtos a preços competitivos, como ocorre em outras regiões produtoras brasileiras. “As estratégias são, para curto espaço de tempo a adoção do subsídio no frete do transporte dos grãos até Santa Catarina, e a médio e longo prazo a construção de silos para ampliar a capacidade de armazenamentos dos grãos e de ferrovias”.n
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ALIMENTOS
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Made in
Santa Catarina
Uma das maiores empresas do segmento no mundo remodela sua marca para se consolidar no mercado externo Por Luciana Zonta
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raiz catarinense, com berço no Oeste do Estado, deu origem a uma das maiores indústrias de alimentos do mundo. Criada a partir da associação entre Perdigão e Sadia em 2009, a BRF atua nos segmentos de carnes (aves, suínos e bovinos), alimentos processados de carnes, lácteos, margarinas, massas, pizzas e vegetais congelados, com marcas consagradas como Sadia, Perdigão, Batavo, Elegê e Qualy. Com faturamento líquido de R$ 28,5 bilhões registrado em 2012, está entre as maiores empresas globais do ramo em valor de mercado. Responsável por mais de 9% das exportações mundiais de proteína animal, a BRF mantém nove unidades industriais na Argentina e duas na Europa (Inglaterra e Holanda), além de 19 escritórios comerciais para atendimento a mais de 120 países dos cinco continentes. Em 2012, iniciou a construção de uma fábrica em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, prevista para ser entregue no segundo semestre de 2013, e consolidou uma joint venture com a Dah Chong Hong Limited, que faz a distribuição no varejo no mercado chinês. As vendas exWilson Mello possui larga experiência em ternas responderam por complexos processos de integração SantaCatarina.ind
40,8% das receitas líquidas da empresa no ano passado. Atualmente, a BRF opera 50 fábricas em todas as regiões do Brasil. É a única companhia do país com rede de distribuição de produtos em todo o território nacional, a partir de 33 centros logísticos. No início do ano, a empresa mudou o nome oficial (antes, era BR Foods) e reposicionou a sua marca corporativa com o objetivo de dialogar com o mercado global. Para chegar às novas características da marca, a companhia fez um estudo de dois anos, respaldado em uma pesquisa com públicos estratégicos e na consultoria das agências Interbrand e A10. Segundo o vice-presidente de assuntos corporativos da BRF , Wilson Mello, “um alinhamento de cultura interna e engajamento foi trabalhado pensando na nova estratégia de negócios da BRF de ser uma marca global e estar entre as maiores empresas de alimentos do mundo”. As unidades da companhia espalhadas no Brasil e outros países vão substituir de forma gradativa a identidade visual. As novas mensagens e logomarca estão sendo apresentadas ao mercado por meio de campanhas institucionais em rádio, jornais e revistas, além da inserção nas embalagens dos produtos de marcas administradas pela BRF.n
Gigante mundial Receita líquida da BRF cresceu 10,9% frente a 2011, e as exportações 15,2% em receitas Faturamento líquido: R$ 28,5 bilhões (2012) Vendas externas: 40,8% das receitas líquidas
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Visão de longo prazo e inovações tecnológicas são condições para assegurar competitividade à indústria do segmento, que no Brasil é uma das mais produtivas do mundo Por Daniele Martins
Aumento do valor de mercado das florestas ajudou a Irani a obter um lucro líquido de R$ 26,4 milhões em 2012, 182% a mais do que no ano anterior
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.ários fatores tornam o Brasil um país bastante atrativo para negócios nos segmentos de papel, celulose e outros produtos florestais. Entre eles, se destacam a dimensão e localização geográfica e as condições naturais para o cultivo. De acordo com a Bracelpa, as razões para o alto nível de produtividade brasileiro são o clima e o solo favoráveis à plantação de árvores, investimento em pesquisa e desenvolvimento e avanços nas áreas de genética e SantaCatarina.ind
biotecnologia, mão de obra qualificada e um setor privado organizado. Em 2000, o Brasil era o sétimo produtor mundial de celulose com 4% de participação no mercado, e em 2010 subiu para a quarta posição, alcançando 7,6%. Com relação à produção de papel, neste mesmo período o Brasil passou a fazer parte do ranking dos dez maiores produtores mundiais, na décima posição. Em 2011, o País foi o quarto maior fabricante de celulose do
CELULOSE E PAPEL
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mundo, com 13,9 milhões de toneladas (Bracelpa), e assumiu a nona posição na produção de papel, com 10 milhões de toneladas (Risi). O estado de Santa Catarina é atualmente o maior exportador do Brasil de papel/cartão “kraftliner”, o primeiro em exportação de sacos de papel ou cartão com largura da base maior ou igual a 40 centímetros e é líder nas vendas ao mercado internacional de papel Kraft para sacos de grande capacidade. O segmento catarinense é formado por 238 micro e pequenas empresas e 35 empresas de médio e grande porte. Anatoly Surin, responsável mundial do segmento de papel da “Industrial” (federação fundada em 2012 que representa mais de 50 milhões de trabalhadores de 140 países em diferentes ramos da indústria), diz que a maior preocupação dessa indústria era sair da crise econômica mundial. “Por mais que tenham existido perdas, o segmento está melhor do que antes. Na América Latina, o Brasil tem se destacado bastante e deve ocupar um papel ainda mais importante nesse cenário, ao lado da Argentina, do Chile e principalmente do Uruguai”, afirma. De acordo com Nereu Baú, presidente do Sindicato das Indústrias de Celulose e Papel de Santa Catarina, “a falta de infraestrutura, insegurança jurídica, o excesso e a complexidade da legislação brasileira, além da burocracia são as principais dificuldades que as empresas enfrentam”. Para Mircon Roberto Becker, superintendente de Administração e Finanças da Irani, o primeiro desafio é a sustentabilidade. “No segmento, por ser intensivo em capital e em recursos naturais e muito competitivo, as empresas que sobrevivem são as que têm esta visão de longo prazo, com equilíbrio entre os aspectos econômicos, sociais e ambientais. Conciliar as metas de curto, médio e longo prazos também é um dos principais desafios”, afirma. Recentemente a área de sustentabili-
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Embalagens produzidas na unidade de Vargem Bonita possuem certificação de Cadeia de Custódia FSC
dade da Irani foi incorporada à gerência de gestão para excelência porque a empresa cultiva um modelo que busca esse equilíbrio. “A Irani adotou esse modelo de gestão porque quer ser mais competitiva e acredita que o equilíbrio e a sinergia entre esses pilares produzem resultados duradouros e admiráveis.” Segundo Becker, a expectativa é que o segmento continue crescendo esse ano, com uma produção com custos cada vez menores, melhor qualidade e através da construção de relações de valor dentro da cadeia produtiva. Em Santa Catarina a Irani conta com 1.148 colaboradores. Já a MWV investe no aumento da produção. Em 2011, foi responsável pela maior obra privada do Estado. Com um investimento de R$ 1 bilhão, a ampliação da fábrica de papel da MWV Rigesa em Três Barras foi uma aposta da empresa com o objetivo de praticamente dobrar a fabricação de papel para embalagens da unidade. Em abril deste ano, a MWV anunciou que este projeto de expansão vai ser responsável pela geração de 145 postos de empregos permanentes e já teve mais de 10 mil trabalhadores temporários nas suas obras, contribuindo para a movimentaSantaCatarina.ind
ção econômica da região e gerando novas oportunidades de negócios. A ampliação de vagas é uma tendência da indústria de papel e celulose do Estado. No mês de janeiro de 2013, o segmento apresentou um crescimento de 0,92% no nível de emprego; e em fevereiro este índice subiu para 1%. Nos últimos cinco anos, foram criados mais de 3.800 mil postos de trabalho, segundo levantamento da Fiesc. Além desta fábrica de papel no planalto norte de Santa Catarina, a MWV Rigesa possui uma de suas unidades em Blumenau. A empresa é líder no mercado de embalagens de papelão ondulado para os segmentos industriais e de bens de consumo, carne congelada e produtos frescos, como frutas, verduras e legumes.n
Foco internacional Crescimento da produção é absorvido principalmente pelo mercado externo Exportações US$ 226 milhões (2011) Crescimento de 23% em relação ao ano anterior Principais mercados consumidores Argentina (US$ 98 milhões) e Venezuela (US$ 24 milhões) Balança comercial US$ 127 milhões (2011) Fonte: Fiesc
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Celulose e papel madeira e reflorestamento
PESQUISA
Atuação de
destaque
Maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil exporta para mais de 70 países Por Daniele Martins
A
Klabin é a maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil. Com 16 fábricas em oito estados brasileiros e uma na Argentina, possui uma posição de destaque no mercado global, exportando para mais de 70 países. Em Santa Catarina, a empresa atua nas áreas florestal, papéis e embalagens, sacos industriais, embalagens de papelão ondulado e portos. As iniciativas em pesquisa, desenvolvimento e inovação fazem parte da estratégia da empresa para garantir mercado, com foco na melhoria dos processos para reduzir custos operacionais e assegurar produtos mais competitivos. De acordo com o relatório de sustentabilidade da Klabin (2011), “o trabalho está sendo orientado a partir da elaboração de um Plano para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, a ser aplicado nas áreas industriais e florestais. Para uma atuação mais eficiente, a companhia conta com o apoio de institutos de pesquisa e universidades no Brasil e no exterior e mantém parcerias com fornecedores de equipamentos e insumos. A prioridade tem sido o desenvolvimento de papéis e cartões de menor gramatura, que incrementem o padrão de qualidade consagrado pela empresa”. Embora o volume de vendas domésticas tenha aumentado 11% no mercado interno no primeiro trimestre de 2013, enquanto as exportações caíram 12%, a Klabin, que pretende manter a presença no Brasil, “não planeja reduzir o seu papel como fornecedora mundial”, afirmou Fabio Schvartsman, diretor-
SantaCatarina.ind
-geral da empresa, ao jornal Valor Econômico (26/04/2013). A unidade do município catarinense de Otacílio Costa, maior fábrica de papel kraftliner da América do Sul, é a segunda maior planta do grupo, perdendo apenas para a unidade de Telêmaco Borba, no Paraná. Produz papéis para embalagens, com capacidade de 350 mil toneladas/ano, além de comercializar toras de pinus e eucalipto. Sua área florestal abrange 138 mil hectares: 61 mil hectares de florestas plantadas de pinus e eucalipto e 65 mil hectares de mata nativa preservada. A escolha de cidades de pequeno e médio porte para instalação das suas fábricas é devido a base florestal estar no cerne das principais atividades da empresa. A Klabin ainda se destaca no Estado pelo Programa Caubí, de capacitação e conscientização ambiental que desde 2007 já atingiu 830 educadores de 300 escolas e 100 mil estudantes. O projeto é desenvolvido em parceria com secretarias de Educação e com a participação de profissionais da Udesc (Universidade Federal de Santa Catarina), Polícia Ambiental e a Apremavi (Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida).n
Rentabilidade alta Redução de custos, investimentos de alto retorno e mudanças na taxa de câmbio favoreceram resultados Receita líquida R$ 4,2 bilhões (2012) R$ 3,9 bilhões (2011) Variação de 7%
Lucro líquido 2012: R$ 752 milhões 2011: R$ 183 milhões Variação de 311%
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MADEIRA E REFLORESTAMENTO Divulgação
Florestas
Criada em 1956, a Divisão Florestal da MWV Rigesa garante a autossuficiência e qualidade superior da matéria-prima
de ponta
Para as empresas do Estado, investir em tecnologia e inovação é a melhor estratégia para manter a participação no comércio exterior Por Daniele Martins
D
e acordo com informações divulgadas pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) durante a décima edição do Fórum das Nações Unidas sobre Florestas, realizada em abril deste ano em Istambul, na Turquia, os produtos florestais contribuem com aproximadamente US$ 468 bilhões por ano para a economia global. No cenário nacional, segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), o setor gerou, em 2012, R$ 53,9 bilhões, e SantaCatarina.ind
movimentou 4,7 milhões de empregos diretos e indiretos. O Brasil conta com aproximadamente 513 milhões de hectares de florestas nativas e 7 milhões de hectares de plantios florestais. A indústria da madeira de Santa Catarina é a segunda do país em vendas para o exterior. Dados da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) mostram que em 2012 foram exportados US$ 401 milhões, o que representou 21% do total de madeiras exportado pelo Brasil. Entre os grandes destaques estão produtos
MADEIRA E REFLORESTAMENTO
almente mais de 10 milhões de mudas de pinus e eucalipto de última geração e excelente performance, principais matérias-primas para a fabricação do papel. De acordo com Laércio Luiz Duda, gerente de Melhoramento Genético, “a pesquisa iniciada há 50 anos resultou em sementes com capacidade de produzir florestas com incremento médio anual estimado em 51 ton/ha/ ano, além de apresentar características importantes como: maior resistência às variações de temperatura, troncos mais retilíneos, galhos mais finos, melhor desrama natural, que facilita o manejo e maximiza o aproveitamento, além de garantir florestas com maior uniformidade, reduzindo os custos de cultivo e colheita florestal”. O Oeste de Santa Catarina é palco das maiores operações florestais de outra empresa importante do segmento, a Irani Celulose. Suas florestas plantadas de pinus, além de ajudar a suprir a demanda de matéria-prima para a produção de celulose e energia nas fábricas de papel e embalagem do Estado, fornecem madeira comercializada no mercado regional. “Nossas maiores florestas estão localizadas nas regiões de Água Doce, Catanduvas, Vargem Bonita, Irani e Ponte Serrada”, aponta Mircon Roberto Becker, Superintendente de Administração e Finanças.n
Argentina. É o caso da Nereu Rodrigues, da cidade de Correia Pinto, que exportava principalmente para Alemanha, Bélgica e Inglaterra, mas mudou de estratégia para enfrentar a crise. A expansão da construção civil também foi um ponto fundamental para a recuperação do segmento madeireiro em 2012, quando registrou crescimento de 6,9% nas vendas. Além de fornecer matéria-prima para fábricas de papel e celulose, desempenha papel de relevo na cadeia de suprimentos da construção e também da indústria moveleira.
como portas, caixilhos, alizares e soleiras para os quais o Estado ocupou a posição de líder no fornecimento para o mercado internacional. Com foco voltado para exportação, Santa Catarina tem mantido a participação média de 20% das vendas internacionais do segmento nos últimos 12 anos. Embora a crise tenha dado um pouco mais de espaço para a América Latina e o mercado interno, os principais destinos das madeiras catarinense continuaram sendo Estados Unidos (US$ 170,3 milhões), Reino Unido (US$ 40,6 milhões) e Arábia Saudita (US$ 14,8 milhões). Já o comportamento das vendas (faturamento real) das indústrias madeireiras do Estado apresentou uma maior oscilação no período de 2004 a 2012, tendo sofrido duas grandes quedas: em 2005 (-25,26%) e em 2008 (-27,19%). Para Maurício Rombaldi, coordenador de projetos para a América Latina da Internacional da Construção e da Madeira, “voltar as exportações para a América Latina e focar mais no mercado interno foi uma solução encontrada para a indústria brasileira de madeira para não quebrar durante os períodos mais críticos da crise”. Algumas madeireiras que vendiam principalmente para a Europa apostaram em países vizinhos como Chile e
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Árvores hi-tech Para as empresas do Estado, investir em tecnologia e inovação é a melhor estratégia. A Klabin, por exemplo, investe na área de biotecnologia e desenvolveu, em um trabalho conjunto entre as áreas florestal e industrial, o Programa da Qualidade da Madeira com o objetivo de tornar as árvores mais produtivas e resistentes a pragas e problemas como secas e geadas. A Unidade Florestal da Klabin é a maior fornecedora brasileira de toras de madeira de florestas plantadas e certificadas. Já a MWV Rigesa é reconhecida mundialmente por ser líder na área de melhoramento genético de pinus. A divisão florestal da empresa está em Três Barras, onde são produzidas anu-
Exportações de móveis Gráfico das vendas para o exterior realizadas por Santa Catarina e Brasil mostra a participação catarinense estável
Fonte: MDIC
Valor das exportações catarinenses (US$ milhões) Valor das exportações brasileiras (US$ milhões)
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570
401
1,766 387
1.492 322
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2.082
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Participação catarinense (%)
349
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2012
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CERÂMICA Divulgação
Nome
Investimentos tecnológicos garantem à Ceusa a melhor média em qualidade e na “avaliação geral” segundo pesquisa da Anamaco
a zelar
Indústria catarinense estabeleceu um nível de qualidade de produtos e serviços que atende aos padrões internacionais mais exigentes Por Andressa Fabris
“A
reputação é o maior patrimônio da indústria cerâmica catarinense”. A frase dita pelo presidente da Associação Sul Brasileira de Cerâmica para Revestimento (Asulcer) e do Sindicato das Indústrias Cerâmicas de Criciúma (Sindiceram), Otmar Müller, parece uma premissa dentro das empresas do segmento. Qualidade, assistência técnica, inovação e design formam um conjunto de atributos que elevou pisos, azulejos e porcelanatos catarinenses ao exigente mercado dos produtos com alto valor agregado e sustentaram a imagem do revestimento fabricado no Estado durante SantaCatarina.ind
o período em que câmbio e a China afetaram bruscamente a competitividade das indústrias brasileiras. A imagem zelada pelo segmento cerâmico catarinense tem a ver com a qualidade dos produtos. Uma norma pouco exigente e fiscalização inexpressiva dos órgãos de controle de qualidade dá espaço para peças com variações e imperfeições. “Trabalhar de acordo com a norma é simples porque a norma é simples, mas temos que ter um sistema de classificação mais rigoroso para que o cliente perceba a diferença quando o produto está assentado”, afirma Anderson Patrício Eziquiel, coordenador de garantia da
CERÂMICA Divulgação
Otmar Müller, após três anos à frente do Sindiceram, deixa o cargo agora em 2013
transformaria, dois anos depois, na grande tendência do segmento. Até agora, R$ 10 milhões já foram aplicados pela Ceusa para atingir 100% de produção com impressão digital. A última máquina adquirida vai permitir que o trabalho seja realizado em peças de grandes formatos, como 0,90m X 1,80m. Paralelamente aos investimentos em equipamentos, a Ceusa aplica 4,5% de seu faturamento em marketing, pesquisa e desenvolvimento para colocar no mercado uma novidade a cada seis meses. “São duas patentes novas por ano. Além disso, a cada dois anos participamos da Revestir (principal feira de revestimentos no Brasil) sempre com uma grande tendência, que ninguém tem”, conta Menegon. Em 2010, a impressão digital foi a novidade. Em 2012, a Ceusa apresentou o 3D holográfico. A expectativa é para saber o que a empresa prepara para 2014.
ou o assentamento malfeito. Mas os problemas com o produto nós assumimos e resolvemos.” A inovação, o marketing e o design somam-se à qualidade e à assistência técnica no conjunto de virtudes que diferenciam o produto catarinense no mercado nacional. “As empresas têm lutado para manter a competitividade, mas também para inovar”, afirma Otmar Müller. A adoção de um modelo de negócio que coloca o design e a inovação no centro de tudo o que faz, por exemplo, levou a Ceusa Revestimentos Cerâmicos, de Urussanga, a alcançar um crescimento médio de 20% ao ano, desde 2010, chegando aos atuais R$ 150 milhões de faturamento. “Aumentamos o faturamento sem produzir mais, somente melhorando a performance e agregando valor ao produto”, diz o diretor superintendente Gilmar Menegon. O ano de 2010 não é citado por acaso, pois foi quando a Ceusa começou, de forma pioneira, a utilizar a impressão digital. Com investimento de R$ 2,5 milhões no primeiro equipamento, a empresa saiu na frente no uso da tecnologia que se Divulgação
qualidade da Eliane Revestimentos. Para o presidente da Asulcer e do Sindiceram, a falta de fiscalização na qualidade dos produtos ainda caracteriza uma lacuna. “O Inmetro não tem um sistema de controle e certificação. Se houvesse esta certificação, o produto catarinense estaria bem à frente”, diz Otmar Müller. Somada à qualidade, as empresas de Santa Catarina reforçam a imagem com o serviço de assistência técnica e pós-venda. “Dispor-se a dar suporte ao cliente é diferente de efetivamente dar este suporte”, afirma Eziquiel. Além do rigor na produção, com uma norma interna que determina que o espaço entre as peças tem que ser 50% menor do que a norma oficial determina, a Eliane Revestimentos mantém uma equipe de 18 técnicos Brasil afora trabalhando para atender ocorrências e realizar prevenção através de treinamentos e orientações. Outro grupo, com oito profissionais, atua internamente na resolução dos problemas. “Em média, 50% dos casos cadastrados são classificados como improcedentes, normalmente porque houve uma compra inadequada
Gouvêa, da Cerâmica Elizabeth, que chegou ao Estado adquirindo as estruturas da De Lucca
SantaCatarina.ind
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Inovação e qualidade Os investimentos em inovação e qualidade técnica, segundo o presidente da Asulcer e do Sindiceram, são os grandes atributos da cerâmica catarinense. “Foi indispensável o avanço na inovação e a qualidade técnica sempre foi de ponta, tanto que competimos em igualdade de condições no mercado externo”, afirma Otmar Müller. Destino atual de 12% dos mais de 150 milhões de metros quadrados de revestimentos cerâmicos fabricados em Santa Catarina, o mercado externo já foi o carro-chefe dos negócios das empresas locais, chegando a consumir 40% da produção, no período de 2000 a 2005. O câmbio começou a afetar o setor em 2004 e, no ano seguinte, quando o dólar teve queda de 9,23% em seu valor, exportar já não era mais rentável e as indústrias reduziram a produção. O pico da crise provocada pelo
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CERÂMICA
câmbio foi registrado em 2007, quando a moeda americana chegou a R$ 1,77. Equipamentos foram desligados e houve demissões. Em 2008, o mercado interno começava a acenar como a grande oportunidade para as indústrias de revestimentos cerâmicos, mas o consumidor era diferente, pedia outro estilo de produtos e peças em formatos maiores. Ao mesmo tempo, a China passava a ser reconhecida mundialmente como fonte de itens industrializados de baixo custo. Se o produto chinês era atraente para todo o mundo, não seria diferente para o Brasil e as próprias indústrias cerâmicas passaram a comprar porcelanato em grandes formatos para manter seu espaço no mercado. “Este foi um processo danoso para as empresas daqui, porque nenhuma investiu na produção de porcelanato técnico; preferiram focar na redução de custos e na produtividade”, relata Otmar Müller. A exceção ficou por conta da recém-chegada Cerâmica Elizabeth. Atraída para Santa Catarina quatro
anos atrás pela oportunidade de adquirir um parque industrial em Criciúma, a marca paraibana substituiu os equipamentos da fábrica leiloada por um equipamento para a produção de porcelanato esmaltado, um investimento inicial de R$ 100 milhões. “Instalamos aqui os dois maiores fornos do Brasil, com 250 metros de extensão cada”, orgulha-se o diretor Manfredo Gouvêa Junior. Atualmente, a Cerâmica Elizabeth também fabrica porcelanato polido e, com novos investimentos, a produção dos dois itens chegará ainda em maio a 600 mil metros quadrados na unidade de Criciúma. A corrida contra o tempo provocada pelas mudanças cambiais e a invasão de produtos chineses obrigaram as cerâmicas catarinenses a fazerem a tarefa de casa para aumentar a competitividade. Reduzir custos foi uma das óbvias e principais ações. “Era condição sine qua non naquele momento. Se não reduzisse custos, cairia fora”, recorda Otmar Müller que, além de dirigir as entidades do setor, responde pela direção indusSantaCatarina.ind
trial da Eliane Revestimentos, uma das principais marcas de cerâmica do país. Na empresa, houve substituição de matérias-primas e fornecedores para reduzir os custos logísticos, buscaram-se ganhos de eficiência energética e, ainda, ajustes de processos e pequenas modernizações de equipamentos que aumentaram a performance da indústria. “No período de 2006 a 2013, as três fábricas da Eliane em Santa Catarina aumentaram em 37% a capacidade produtiva sem colocar nenhuma máquina nova”, comemora Müller.n
No topo do ranking Santa Catarina é líder nacional na fabricação de cerâmica para revestimento Empresas 15 Produção 150,35 milhões de metros quadrados Faturamento R$ 3,303 bilhões Empregos 9.500 Exportação 18,07 milhões de metros quadrados Participação na produção nacional 21% Fonte: Asulcer
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Fundada em 1960, a Eliane foi a primeira cerâmica brasileira a fabricar Porcellanato
Cerâmica
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Ritmo forte Empresa de Tijucas tem resultados superiores aos do segmento e espera manter crescimento na faixa dos 20% ao ano Por Andressa Fabris
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rescimento de 169% no lucro líquido, em 2012. Receita operacional líquida 20% maior do que em 2011, totalizando R$ 706 milhões. Valorização de 154% nas ações, representando, em 31 de dezembro de 2012, valor de mercado equivalente a R$ 711 milhões. Os números da fabricante de revestimentos cerâmicos Portobello S.A., de Tijucas, surpreendem quando comparados ao desempenho do mercado. O segmento de revestimentos cerâmicos, segundo dados da Anfacer (Associação Nacional de Fabricantes de Cerâmica para Revestimento), obteve, em 2012, vendas no mercado interno 3,69% superiores a 2011. O índice da Bovespa ficou ainda mais distante do resultado da Portobello, com alta de 7,40%. O desempenho da empresa está relacionado a questões internas e externas, segundo o vice-presidente Cláudio Ávila da Silva. Nos últimos quatro anos, a Portobello fez ajustes internos que provocaram uma redução de 3% a 4% nos custos. O aquecimento do mercado de materiais de construção também alavancou as vendas. Mas, para o vice-presidente, o fator que mais influenciou o desempenho da Portobello foi o desenvolvimento de novos produtos. “Nosso grande sucesso se deve Silva revela que nova fábrica vai se enquadrar no programa de desenvolvimento industrial à busca permanente de SantaCatarina.ind
inovação”, diz Silva. Ele explica que em 2011 e 2012 as coleções da empresa foram bem recebidas pelo consumidor, aumentando o espaço da marca no mercado. Em 2013, a Portobello mantém a meta de crescimento na faixa dos 20%. Para isso, levou à principal feira do segmento, a Revestir, a coleção “Habitat Natural - Seu Espaço”, formada por peças componíveis, em que o consumidor poderá personalizar o ambiente à sua moda. Outros lançamentos inspiram-se nas já tradicionais madeiras e pedras, mas com novos formatos e tamanhos. A empresa também investe no aumento da produção. Em julho de 2013, entra em operação uma nova fábrica de porcelanatos esmaltados em grandes formatos, em Tijucas. Com R$ 86 milhões aplicados no parque fabril de 50 mil metros quadrados, a unidade terá produção mensal de 400 mil metros quadrados. Ainda em fase de pré-projeto, a Portobello planeja uma fábrica de massa seca em Alagoas. Com investimento previsto de R$ 200 milhões, a empresa pretende produzir um produto mais barato e muito consumido no Nordeste. “Cerca de 90% irá para o mercado do Nordeste e o saldo para o Caribe e o Leste da América”, explica Silva.n
Bem de saúde Resultados refletem a capacidade da empresa em se aproveitar do bom momento da construção civil Receita operacional líquida R$ 706 milhões (crescimento de 20% em relação a 2011) Valor de mercado R$ 711 milhões (valorização de 154% nas ações em relação a 2011) Crescimento de 169% no lucro líquido em relação a 2011
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construção civil Victor Carlson
Mãos à Uma das principais atividades econômicas do Estado deve manter o bom desempenho e registrar crescimento de 5% em 2013 Por Beatrice Gonçalves
A
Praia Brava, em Itajaí, é a nova fronteira imobiliária do litoral catarinense
obra
construção civil é uma das principais atividades econômicas do Estado. Representa cerca de 6% do PIB e emprega mais de 100 mil pessoas. A previsão para este ano é que o segmento registre um crescimento de 5% em relação a 2012, segundo dados da Câmara de Desenvolvimento da Indústria da Construção, da Fiesc. Além da geração de emprego e renda, destaca-se também pelo alto padrão construtivo, o que faz de Santa Catarina uma referência em projetos inovadores e sustentáveis. A indústria da construção civil no Estado é formada por 12 mil empresas, a maior parte de pequeno e médio porte. O perfil dos imóveis construídos varia de acordo com a região. “O cliente que compra um imóvel no litoral procura, além de um empreendimento de alto padrão, opções de lazer. SantaCatarina.ind
Já na região Oeste tem crescido a procura por imóveis para atender à classe média”, explica Nivaldo Pinheiro, presidente da Câmara de Desenvolvimento da Indústria da Construção da Fiesc e diretor da Procave. Uma das cidades que é referência em construção civil em Santa Catarina é Balneário Camboriú. A cidade chama a atenção não só por suas belezas naturais, mas também pela imponência de seus prédios. “A construção civil está na base da economia de Balneário Camboriú. Hoje o segmento ajuda também a mobilizar o turismo na região. É cada vez maior o número de turistas que vêm à cidade para conhecer os empreendimentos que estão sendo construídos.” A construtora Embraed é uma das empresas que investe no município. Ergueu 29 edifícios e outros nove es-
construção civil Edson Beline/Divulgação
tão em construção. Um dos empreendimentos é o Villa Serena Home Club, o mais alto prédio residencial construído no Brasil, com 46 andares. A Embraed é também referência na prestação de serviços. A construtora administra o condomínio por pelo menos cinco anos dos empreendimentos entregues. “A Embraed acompanha cada fase da obra, desde a concepção do projeto, fundações até os últimos detalhes da decoração”, diz Rogério Rosa, presidente do Grupo. Quem também investe em empreendimentos de alto padrão é a Procave. A empresa está construindo em Balneário Camboriú o Ibiza Towers, com quatro suítes e quatro vagas de garagem. “Na praia Brava em Itajaí estamos construindo o Brava Home Resort. O empreendimento terá apartamentos com até cinco suítes e mais de 60 opções de lazer”, informa o diretor da Procave, Nivaldo Pinheiro. Pinheiro considera que o segmento da construção civil do Estado tem potencial para crescer mais, porém isso não acontece, muitas vezes, por conta da insegurança jurídica. “Quando a gestão de uma prefeitura muda, o novo prefeito costuma alterar as
Rogério Rosa, do grupo Embraed, formado por seis empresas além da construtora
Divulgação
No Villa Serena, apartamentos de quatro dormitórios custam a partir de R$ 2,3 milhões
regras para a concessão de alvarás; e isso faz com que o setor da construção civil seja penalizado.” Em Balneário Camboriú e em Florianópolis, durante os primeiros meses do ano, foram suspensas as concessões de novos alvarás para a construção de prédios. As prefeituras alegaram que era preciso rever os critérios utilizados. “Em Florianópolis, deixaram de ser investidos R$ 500 milhões. No ano anterior, neste mesmo período, foram concedidos alvarás para 23 prédios residenciais e outros 35 comerciais”, afirma Hélio Bairros, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil da Grande Florianópolis (Sinduscon). Segundo a entidade, na Capital cerca de 17% da arrecadação vem do setor da construção, através de taxas como IPTU, Imposto sobre Serviços (ISS) e Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis. O segmento é também um dos que mais emprega na região: são cerca de oito mil trabalhadores registrados. “A construção civil é um dos ramos que mais movimenta a economia porque também gera emprego e renda no comércio e no setor de serviços”, afirma Bairros. SantaCatarina.ind
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Para o alto e avante Florianópolis e Balneário Camboriú estão entre as cidades mais verticalizadas do Brasil. Do total de imóveis na capital cerca de 40% são apartamentos. Bairros avalia que para o crescimento sustentável é preciso que as cidades se verticalizem ainda mais. “Precisamos investir em empreendimentos multi-familiares ao invés de unidades unifamiliares como casas. Quando a cidade se verticaliza há uma ocupação menor dos terrenos, a cidade fica mais compacta e com isso a infraestrutura necessária fica mais barata para o setor público.” A Hantei Engenharia tem 52 empreendimentos na capital e na Grande Florianópolis. Uma das obras é o Águas do Santinho Residence. O condomínio fica em frente à praia e oferece uma ampla infraestrutura de lazer, com quadra poliesportiva, piscinas aquecidas e brinquedoteca. O empreendimento se destaca também pela sustentabilidade: há sistemas de tratamento de esgoto e de captação e reúso das águas pluviais. Em São José, a Hantei está construindo o Kennedy Towers, empreendimento corporativo que terá duas torres, 13 pavimentos e espaço para 52 lojas. “O Kennedy Towers irá mudar a cara de Campinas. Uma das torres terá andares corporativos e a outra, salas com espaço privativo de 74 m²”, afirma Aliator Silveira, diretor da Hantei. A Koerich Imóveis também investe em empreendimentos corporativos, como o Koerich Empresarial Rio Branco, no Centro de Florianópolis. A obra foi projetada para promover conforto térmico e acústico ao ambiente. Foram utilizados vidros que reduzem em até 50% a incidência de raios solares. “Utilizamos em nossas obras uma laje mais grossa para reduzir os ruídos entre um pavimento e outro. Em alguns empreendimentos, as esquadrias têm atenuação acústica no alumínio e o próprio vidro é lami-
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construção civil
nado para garantir isolamento térmico e acústico”, diz Wagner Souza, engenheiro da Koerich Imóveis. O segmento da construção civil do Estado tem se destacado por projetos sustentáveis e a tendência é que as construtoras passem a investir ainda mais nesse mercado. Este ano entra em vigor a NBR 15575 que exige a utilização de sistemas construtivos de alto desempenho. “Muitas empresas já vinham atendendo aos padrões. Embora não seja uma lei, deverá ser am-
Silveira, da Hantei, que em 15 anos já entregou mais de 560 mil m2 construídos
DivulgaçÃo
A Speranzini ocupa a 83ª colocação no ranking do ITC 2012 , com mais de 140 mil m2 de área construída,
victor Carlson
Divulgaçao
Para Bairros, empresas com alvarás cancelados precisam de tempo para se defenderem
plamente seguida, já que o Código de Defesa do Consumidor assegura aos clientes a compra de produtos ou serviços que respeitem as normas técnicas vigentes”, considera Mário Corsini, presidente do Sinduscon de Joinville. Corsini avalia que os recentes incentivos do governo federal, como a desoneração da folha de pagamentos, a redução do Regime Especial de Tributação e a nova linha de crédito da Caixa Econômica Federal, que disponibilizará R$ 2 bilhões, vão beneficiar o setor. “Temos bons motivos para acreditar que este ano será promissor”. Em Joinville, a construtora Vectra irá lançar nos próximos 18 meses empreendimentos que totalizarão mais de 100 mil m². Um deles é o Joinville Corporate Towers. “Nós acreditamos muito no crescimento da cidade. Temos cinco empreendimentos em andamento e iremos lançar outros três este ano”, afirma Mário Aguiar Filho, diretor da Vectra. Uma das maiores empresas do segmento no Brasil é a Criciúma Construções. Ela ocupa o 37º lugar no ranking das cem maiores construtoras brasileiras feito pelo instituto Inteligência Empresarial da Construção (ITC). Atua em 24 cidades de Santa Catarina e do Rio Grande do
Sul e ao longo de 18 anos já construiu 120 empreendimentos. “Temos 46 obras em andamento dos mais diferentes portes e perfis. Projetos que se encaixam no perfil do programa Minha Casa, Minha Vida até apartamentos luxuosos no valor de R$ 1,5 milhão”, afirma Rogério Cizeski, diretor da Criciúma Construções. A construtora Speranzini, de Blumenau, também está entre as cem maiores empresas de construção do Brasil, segundo o ranking do ITC de 2012. Ao longo de 20 anos de trabalho, a empresa entregou 55 empreendimentos, entre edifícios residenciais e comerciais em Blumenau. “Estamos trabalhando na construção de 25 empreendimentos. Um dos nossos lançamentos é o Fritz Mueller Center, centro de negócios que terá 18 andares e cinco salas comerciais por andar”, diz Nilton Speranzini, diretor da construtora.n
Segmento empregador Dentro do setor industrial, a construção civil é um dos ramos que mais gera empregos Empresas 12 mil Empregos gerados 105 mil Participação na economia de SC 6% do PIB
Fonte: Ocesc (2012)
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Construção civil
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Metas de
arranha-céu Divulgação
Mercado de luxo sustenta perspectiva arrojada de crescimento a 45% ao ano da construtora Por Beatrice Gonçalves
A
FG Empreendimentos tem como meta crescer 45% ao ano investindo no mercado de imóveis luxo. E mudar a paisagem de Balneário Camboriú. A empresa está construindo nove prédios de alto padrão, e este ano se prepara para lançar outros seis, entre eles o Infinity Coast, que será o maior edifício da América Latina. Em 2012, a construtora registrou um volume geral de vendas de R$ 800 milhões e, em 2013, a expectativa é que chegue a R$ 1,4 bilhão. Um dos empreendimentos que está em construção é o Millennium Palace. O edifício de alto padrão localizado no Centro de Balneário Camboriú terá quatro suítes e quatro vagas de garagem. “O Millenium Palace será o único na cidade com piscina privativa em cada apartamento”, diz José Roncaglio, diretor comercial da empresa. Para divulgar seus empreendimentos a construtora tem como garota-propaganda a atriz Sharon Stone. “A associação da FG Empreendimentos com a estrela transforma a marca em uma grife de luxo e traz visibilidade nacional e internacional para os empreendimentos da construtora.” A maior parte dos clientes da FG Empreendimentos é composta por pessoas da classe A de Santa Catarina, do Paraná e do Mato Grosso. Segundo Roncaglio, os imóveis da FG são adquiridos como um projeto de vida por quem sonha em morar em Balneário Camboriú. “Mas além da realização de um sonho, o cliente faz também um grande investimento já que a valorização dos nossos imóveis é maior do que a média do mercado”, afirma. Millennium Palace conta com uma piscina por apartamento
SantaCatarina.ind
Com mais de mil funcionários, sendo 80% do total formado por mão de obra própria e 20% por trabalhadores terceirizados, a FG Empreendimentos também se destaca pela geração de empregos na região. Para este ano, a construtora pretende contratar outros mil operários. Nem mesmo a medida da prefeitura, de suspender temporariamente a concessão de alvarás para a construção de novos prédios, abala os planos da empresa. “É uma medida pontual que trará benefícios para a cidade, pois exigirá do mercado a busca pela inovação. O grupo FG trabalha com planejamento a longo prazo e esta medida nos traz tranquilidade para que possamos tomar a melhor decisão de como e quando serão feitos novos lançamentos”, diz Roncaglio. O grupo FG tem um estoque de terrenos equivalente a 2,5 milhões de metros quadrados em Santa Catarina, o que suporta cerca de 20 anos de atividade construtiva. “Para estruturar o crescimento da empresa estamos investindo em um sistema de gestão com ênfase na governança corporativa, e por conta disso criamos um conselho de administração que irá orientar e fiscalizar as ações e resultados do grupo”.n
Escalada de vendas Construtora espera crescimento de 75% no volume comercializado no ano, em relação a 2012 Vendas (em R$ milhões) 1,400 800
2012
2013
Empreendimentos Em construção = 9 prédios A serem lançados = 6 prédios
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Cooperativa de produção Divulgação
Hora do Garantia de capital de giro e com preço menos suscetível a influências externas, produção leiteira surge como nova aposta Por Eduardo Kormives
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Copercampos possui mais de 40 unidades em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul
leite
omo um estado que detém apenas 1,2% do território nacional pode ostentar os títulos de principal produtor de suínos e segundo maior de frango do país? A explicação para o sucesso do segmento de carnes, responsável por 8,12% do PIB industrial catarinense – e do agronegócio como um todo – passa necessariamente pelo cooperativismo, sistema de produção que conta com quase 1,5 milhão de associados em Santa Catarina. SantaCatarina.ind
Apostando num modelo que dá escala às pequenas propriedades e faz do agricultor um acionista do negócio, as 54 cooperativas agropecuárias catarinenses faturaram R$ 11,2 bilhões em 2012, uma alta de 17% em relação ao ano anterior, contra uma expansão de apenas 0,9% da economia brasileira, que viveu seu pior momento dos últimos três anos. O cooperativismo ainda gerou um saldo de 2,7 mil novos empregos e obteve sobra de R$ 429,4 milhões – como é
Cooperativa de produção Divulgação
Para Zordan, da Ocesc, Brasil deve controlar as importações excessivas de leite
Divulgação
designado o lucro das cooperativas. Apesar do avanço de dois dígitos, o cooperativismo não se dá por satisfeito. O setor se prepara para uma revolução em curso nas pequenas propriedades rurais de Santa Catarina, que pode se transformar na maior bacia leiteira do país até o fim desta década. Quinto no ranking, o Estado vê a sua produção crescer na faixa de 10% ao ano, contra 2% a 3% da média nacional. “Santa Catarina, associado à parte do Rio Grande do Sul e do Paraná, será o maior produtor de leite do Brasil, sem dúvida”, afirma Marcos Antônio Zordan, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc). Até alguns anos atrás, o leite era um produto secundário em granjas de suínos e aves. Agora, vem assumindo o papel de carro-chefe. A primeira explicação para essa virada é de ordem financeira. O leite é muito menos suscetível ao mercado internacional – de cada US$ 10 exportados por Santa Catarina em 2012, US$ 2,8 vieram de venda de carne de porco e de frango. E o preço pago ao produtor praticamente dobrou desde 2008, passando de R$ 0,55 a quase
R$ 1 por litro. Com um detalhe importantíssimo: a renda do leite é uma espécie de capital de giro do produtor, um dinheiro que entra todo mês. Avicultores e suinocultores recebem apenas no fim de seus contratos, a cada 40 e 120 dias, respectivamente. “Logo o Oeste será referência nacional. Há um investimento muito alto em tecnologia para bater de frente no mundo inteiro”, diz Mario Lanznaster, presidente da Coopercentral Aurora Alimentos, terceira maior cooperativa do país. Graças ao melhoramento genético das raças bonivas holandês e jersey, o Estado vai atingindo novos patamares de produtividade. Desde 1984, a média catarinense foi multiplicada por quatro, passando de 3,4 litros para 12,7 litros – no Oeste, o indicador chega a quase 30 litros. Um dos segredos para avançar na produção leiteira é seguir na trilha da Nova Zelândia, que usa muita pastagem rica e pouca ração concentrada para produzir o melhor e mais barato leite do mundo. Este último item, cujas principais matérias-primas são milho e soja, tira o sono de muitos produtores catarinenses.
Chiocca, da Copercampos, que distribuiu R$ 10,5 milhões em lucros em 2012
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Explica-se: para produzir um quilo de carne de porco são necessários 3,2 quilos de milho. Com o frango, a relação é de um para 1,7. E o ano passado foi especialmente assustador em função da forte estiagem que atingiu o Oeste entre novembro de 2011 e junho de 2012. A região, que precisa importar em torno de 2 milhões de toneladas de milho por ano, um terço da demanda total, viu o preço da saca de 60 quilos do cereal disparar para R$ 35 no fim do ano, o dobro do valor pago dois anos antes. A crise do milho, agravada pela quebra da safra nos EUA, um dos maiores produtores globais, levou à venda ou quebra de várias agroindústrias pelo país afora. Segundo Luiz Carlos Chiocca, presidente da Copercampos, com sede em Campos Novos, terceira maior cooperativa do Estado, 2012 foi o terceiro ano consecutivo de prejuízo com a atividade. Apesar do momento ruim, o futuro é promissor. No ano passado, Santa Catarina conquistou o acesso ao mercado japonês, cobiçado há mais de duas décadas. A projeção inicial é de abocanhar 10% da demanda do país que é o maior importador global (1,3 milhão de toneladas) e o que paga melhor. Os primeiros embarques devem ocorrer até o início de 2014, mas os investimentos já começaram, entre eles os frigoríficos da BRF em Campos Novos (R$ 145 milhões), inaugurado em 2011, e da Aurora em Joaçaba (R$ 46 milhões), que entra em operação este ano. Para produtores de grãos, os preços altos compensaram com sobra a quebra da safra que, na Copercampos, chegou a 35% na lavoura de milho, 50% no trigo e 15% na soja. O faturamento da cooperativa alcançou novo recorde e chegou aos R$ 604 milhões, ficando 8% acima do registrado em 2011. Os custos de produção, no entanto, avançaram com
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Cooperativa de produção Divulgação
Fatores climáticos e aumento da área plantada fizeram a safra catarinense de soja crescer 48% este ano em relação a 2012
os preços, especialmente o diesel, que subiu 30%, além de sementes e adubo. Chiocca aponta novos investimentos de R$ 15 milhões e a projeção de que a receita bata nos R$ 700 milhões, mas enxerga que o futuro do setor exige olhar para fora do Estado. Limites de produção “É muito difícil que ocorram novos investimentos vultosos em Santa Catarina. Estamos quase no limite de produção, enquanto o Centro-Oeste ainda tem muita área”. Os limitadores de produção no Estado são bem conhecidos. O primeiro é a armazenagem. Nos países que são grandes produtores globais de grãos, a capacidade média de estocagem equivale a 130% da safra. Em Santa Catarina, essa média não passa de 60%. “Quando a safra quebra, a armazenagem é mais importante ainda, porque você compra o milho na hora certa e vai buscá-lo na entressafra, quando o frete é mais barato”, afirma Zordan, da Ocesc. O segundo limitador é justamen-
te o preço absurdo do frete. O milho comprado no Centro-Oeste roda mais de 2,5 mil quilômetros em 66 mil carretas todos os anos por estradas em condições ruins para chegar ao Estado. Isso faz com que a saca comprada a R$ 12 em Mato Grosso custe mais R$ 14 para ser transportada até o produtor. A solução é investir em novos corredores ferroviários – apenas 5% das cargas são transportadas de trem em SC, contra a média de 25% no país. Uma extensão da Ferrovia Norte-Sul permitiria trazer milho do Centro-Oeste a preços competitivos. A Valec, estatal federal que administra a ferrovia, contratou via licitação um estudo de viabilidade técnica para o trecho entre Paranapanema (SP) e Rio Grande (RS), que corta o Oeste e passa por Chapecó. O documento fica pronto até dezembro deste ano e só então poderá se discutir um cronograma de obras. Outra obra vital para as cooperativas parece ter mais chances de sair do papel. Em 10 de maio, foi assinaSantaCatarina.ind
do, em Chapecó, o edital da Ferrovia de Integração, que ligará o Oeste aos portos catarinenses. A expectativa é iniciar a obra daqui a dois anos. O trajeto está definido (Itajaí-Chapecó-São Miguel do Oeste-Dionísio Cerqueira), mas o estudo pode propor derivações de até 50 quilômetros. Se tudo for cumprido à risca, a obra fica pronta em 2019. É bem possível que a inauguração da ferrovia seja brindada com leite da melhor qualidade, produzido com os melhores padrões de Santa Catarina.n
O cooperativismo em Santa Catarina As cooperativas agropecuárias representam 65% do movimento do sistema Cooperativas 263 Receita R$ 17,3 bilhões (Crescimento 2012-2013: 12,7%) Cooperados 1,5 milhão Empregados 42,6 mil Arrecadação de impostos R$ 1 bilhão (Crescimento 2012-2013: 25,9%) Patrimônio líquido R$ 5,5 bilhões Lucro (sobras) R$ 854,7 milhões Fonte: Ocesc (2012)
Cooperativa de produção
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Força da
união
Um dos maiores conglomerados país superou os prejuízos da crise financeira de 2008/09 sem parar de investir Por Beatrice Gonçalves
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.erceira maior cooperativa do país e oitava maior exportadora do Estado, a Coopercentral Aurora Alimentos mostrou na prática a força do associativismo quando acumulou perdas de R$ 260 milhões durante a crise financeira de 2008-2009. Foram as 12 cooperativas filiadas ao conglomerado agroindustrial Aurora que absorveram o golpe e bancaram a retomada. A cooperativa com sede em Chapecó fez valer a confiança dos 60 mil produtores rurais que representa. O balanço voltou ao azul em 2010, e, desde o estouro da crise, a receita operacional bruta avançou 73%, somando R$ 4,61 bilhões em 2012. Nada mal para um grupo que nasceu em 1968 da reunião de oito cooperativas agrícolas que planejavam deixar de apenas fornecer matéria-prima. “Há 44 anos, a Aurora começou industrializando 250 suínos por dia. Hoje, são 14,5 mil”, diz o presidente da cooperativa, Mário Lanznaster. O leque de produtos chegou a 650, entre carnes de aves e suínos, lácteos, pizzas e massas. O carro-chefe continua sendo a suinocultura, responsável por 48% da receita. Neste segmento, a Aurora é referência em tecnologia do campo, que Segundo Lanznaster, sistema inédito de está ao alcance do pequerastreabilidade garante a qualidade do leite
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no produtor. Além do apoio de 300 veterinários e técnicos agrônomos em campo, os integrados têm acesso à Unidade de Disseminação de Genes (UDG), inaugurada em 2012. A cooperativa só compra suínos dos seus 16 mil integrados. Deles, exige um controle rigoroso, que inclui a restrição de nutrição e genética a três opções. O resultado é uma carne de altíssima qualidade. “Há 50 anos, o grande produto do porco era a banha. Hoje, a carne representa 70% da carcaça e 58% dessa carne é magra”, afirma Lanznaster. Única das grandes agroindústrias em Santa Catarina com capital 100% catarinense, a cooperativa começou a operar, em abril, o Frigorífico de Xaxim, que deve ajudar a bater a marca de 1 milhão de abates de frangos diários em 2013. E, em dezembro, a Aurora espera enterrar definitivamente a crise global. Fechado no auge da turbulência, o frigorífico de Joaçaba deve ser reinaugurado sob um novo padrão de qualidade e capacidade triplicada para abate e processamento de 3 mil suínos/dia. Dali devem sair os cortes destinados aos exigentes e lucrativos mercados japonês, americano e coreano a partir de 2014. O investimento de R$ 61,5 milhões inclui um sistema de rastreabilidade total.n
Cooperação eficiente A Cooperativa Central Aurora Alimentos é hoje um dos maiores conglomerados industriais do Brasil Funcionários 18,3 mil em 29 unidades Abates de suínos 3,6 milhões Abates de aves 152 milhões Captação de leite 443 milhões de litros Exportações 60 países
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Couro e calçados Divulgaçao
Passos
Nova unidade fabril da Bárbara Krás, que começou em um barracão de 50 m2 em 1998
confiantes
Investimentos em design e desenvolvimento de produtos trazem boas perspectivas ao segmento, que espera crescer ao menos 5% Por Luciana Zonta
O
cuidado com o design e a aposta no desenvolvimento de produto têm garantido uma nova perspectiva de crescimento para a indústria de couro e calçados de Santa Catarina. Responsável por 2,18% da produção nacional, o segmento percebeu que conferir valor à peça é mais vantajoso do que ampliar o volume de produção. A nova leitura do mercado teve início há menos de uma década, mas já ajudou a ampliar o faturamento e a SantaCatarina.ind
participação internacional de várias empresas catarinenses. No Estado, o segmento calçadista emprega diretamente 7,3 mil pessoas, segundo dados da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc). Em 2012, somente o parque fabril gerou 181 novos empregos, um acréscimo de 2,5% no contingente de trabalhadores. Em São João Batista e entorno concentram-se 120 das 140 indústrias calçadistas do Estado, segundo infor-
Couro e calçados Divulgação
mações do Sindicato das Indústrias de Calçados de São João Batista (SINCASJB). O restante está espalhado por cidades do Sul e do Oeste catarinense, a exemplo de Sombio e Araranguá, Saudades e Caçador. O foco de mercado de São João Batista é bem definido, já que 99% das indústrias da cidade produzem sapatos para o público feminino. Marcas consagradas que levam nomes de mulheres, a exemplo de Raphaella Booz, Bárbara Krás e Suzana Santos, revelam o DNA do segmento na região para o mercado nacional e internacional. “O polo se especializou, o que acaba facilitando também para fornecedores de componentes, que já conhecem a demanda da nossa indústria”, explica o diretor-executivo do SINCASJB, Rosenildo Amorim. A estratégia de reforçar a marca e dar valor agregado ao produto catarinense nasceu dentro das grandes indústrias e tem ganhado adesão gradativa entre as menores. O reposicionamento do segmento foi forçado pela entrada do produto chinês a preços inferiores no mercado nacional. A solução para não sucumbir ao alto valor da matéria-prima e da carga tributária nacional foi apostar em design de moda, com criação e pesquisa em centros europeus consagrados como Milão e Paris. Um trabalho realizado em parceria com o Sebrae de Santa Catarina presta consultoria e treinamento especializado ao segmento. Há alguns anos, empresários também passaram a viajar anualmente para a Europa em busca de referências internacionais. Designers e industriais visitam feiras e centros tecnológicos de ponta em missões de trabalho organizadas. “O desafio tem sido criar um produto que reúna design diferenciado e conforto para um mercado exigente em expansão”, define Amorim. A mudança de foco vem acompanhada de uma percepção coletiva de
Filho do fundador Ary Booz, Cláudio “nasceu” na fábrica que hoje administra
que é preciso projetar. O SINCASJB contratou uma empresa que definirá o planejamento estratégico do segmento para os próximos cinco anos. As perspectivas iniciais, pelo menos, são positivas para 2013, segundo representantes do sindicato, que apostam em um crescimento de 5% a 8% no ano. O produto de maior valor agregado produzido em São João Batista tem permitido a prospecção de novos negócios no Sul e Sudeste do Brasil, já que grande parte das marcas locais focava apenas nas vendas para os mercados do Norte e Nordeste com um calçado de valor acessível a vários públicos. Recobrar o fôlego Há seis anos, a indústria calçadista catarinense exportava nada menos que 25% de sua produção. A crise econômica nos mercados europeu e americano, aliada aos novos preços do dólar, baixou este índice para 7%. Em 2012, o segmento exportou US$ 24,5 milhões para países como Alemanha, Holanda, Bolívia e Cuba, segundo dados oficiais da Fiesc. No entanto, importou US$ 45,3 milhões, quase tudo da China. A realização de eventos focados SantaCatarina.ind
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em gerar negócios e fomentar o relacionamento entre o segmento tem contribuído para retomar parte do fôlego internacional. O SC Trade Show, assinado pelo sindicato com o apoio de entidades como Sebrae, Fiesc e Banco do Brasil, tem atraído importadores de toda a América Latina interessados no design do produto catarinense. Realizada duas vezes ao ano, a feira chega a comercializar 1 milhão de calçados em três dias de encontros. A ideia é apresentar as coleções ao mercado antes dos outros polos nacionais do ramo. A participação em eventos do segmento é parte da estratégia de marketing de marcas como Raphaella Booz, que em 2012 produziu 900 mil pares de sapatos femininos para o Brasil e exterior. Segundo o presidente da empresa, Cláudio Cesar Booz, a marca passou a aproximar-se de feiras promovidas pela Associação Brasileira de Calçados e Afins (Bicalçados) com o objetivo de reforçar a visibilidade dentro e fora do Brasil. Com 47 anos de história, a Raphaella Booz é a marca de calçados femininos mais antiga de Santa Catarina. A unidade fabril gera 670 empregos diretos entre produção própria e 20 atelieres parceiros que ajudam a atender à demanda de pedidos. A linha de sapatos e acessórios está presente em 1.500 pontos multimarcas e em 21 franquias nas cinco regiões do País, além de três lojas em Encarnacion, no Paraguai, e em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. O planejamento estratégico da Raphaella Booz, segundo Cláudio Booz, prevê um crescimento médio de 20% ao ano, o que indica que o faturamento deverá dobrar até o fim de 2016. A aposta no reforço da marca está diretamente relacionada aos investimentos em equipe criativa e capacitação profissional. Um dos cinco designers da Raphaella Booz está concluindo um curso de estilo de acessórios no
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Couro e calçados
Resistência
consagrada
Um dos maiores curtumes do país investe em tecnologia e obtém reconhecimento internacional Por Luciana Zonta
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marca de quase 50 anos de história é referência na produção de couros e calçados de segurança em Santa Catarina. Com sede em Caçador, no Oeste do Estado, e filiais no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia, o Curtume Viposa projeta um crescimento de 5% e 10% em 2013. Pertencente ao Grupo Seleme, a empresa gera 1.850 empregos e exporta metade da produção – especialmente cabedais para calçados e couros em diferentes estágios – para países da Europa, Ásia e América do Norte. Fundada em 25 de agosto de 1954, a marca investe em tecnologia nos seus parques industriais, capazes de desenvolver projetos exclusivos e personalizados. Segundo o presidente da Curtume Viposa, Elias Seleme Neto, a empresa tem investido em inovação e produtividade para se destacar no mercado nacional e internacional do segmento. Na fábrica, especialistas, engenheiros e designers desenvolvem pesquisas avançadas na produção do couro, matéria-prima especialmente selecionada para a produção de calçados de segurança e cabedais Viposa. “São produtos reconhecidos dentro e fora do Brasil pela excelência, resistência e design”, observa. Além do curtume, que atingiu um faturamento de R$ 293,2 milhões em 2011, Elias fundou a Madeireira Seleme, a Agropecuária Seleme, a Construtora Seleme e a Seleme Materiais de Construção.n Divulgação
conceituado Instituto Marangoni, de Milão, na Itália. “Nossos profissionais participam dos principais eventos de moda internacionais em busca de informações e conceitos para as nossas coleções. É preciso estar permanentemente atento aos caminhos que os principais estilistas do mundo estão trilhando”, explica o presidente da empresa. A aposta em pesquisa e no desenvolvimento de produto é seguida também pela Bárbara Krás, marca catarinense de calçados com 15 anos de história. O diretor financeiro da empresa, Adalberto Carlos Soares, explica que os investimentos na equipe de estilismo e em pesquisa nos principais mercados de moda, como Itália, Reino Unido, França, Espanha e Estados Unidos, contribuem para a criação de um sapato diferenciado nas prateleiras. A marca lança cinco coleções por ano, com uma média de 80 novos modelos. A pesquisa, segundo Soares, é segmentada também dentro do Brasil com o objetivo de identificar regionalismos que podem orientar a criação de produtos específicos para cada região do País. A unidade fabril da Bárbara Krás, que gera 500 empregos diretos na região de São João Batista, produziu 1,5 milhão de pares de sapatos femininos em 2012.n
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Pegadas Maior parte das empresas do segmento encontra-se na região de São João Batista Estabelecimentos 337 (2011) Trabalhadores 7.158 (2011) Participação no valor da transformação industrial catarinense 0,57% (2010) Participação sobre a indústria de calçados nacional 2,8% (2010) Exportações US$ 24,5 milhões (2012) Principais mercados compradores: Alemanha US$ 6,4 milhões Países Baixos US$ 5,1 milhões Bolívia US$ 1,5 milhões Cuba US$ 1,1 milhões
Fundação do curtume Viposa foi estopim do crescimento do bairro Berger, em Caçador
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Fazer o Brasil crescer com responsabilidade, qualidade e sustentabilidade.
A Aurora é uma cooperativa Catarinense que acredita no potencial Brasileiro. Com 12 cooperativas filiadas, mais de 60 mil famílias cooperadas, 18 mil colaboradores diretos e mais de 100 mil clientes, trabalhamos em prol do desenvolvimento econômico com qualidade de vida no campo e na cidade. www.facebook.com/auroraalimentosoficial www.auroraalimentos.com.br
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Cooperando ooperando é possível
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eletroeletrônicos
Vocação
tecnológica
Estado destaca-se no desenvolvimento de produtos com tecnologia avançada agregada Por Adão Pinheiro
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portância da área, o Imposto Sobre Serviços (ISS) arrecadado por essas empresas em Florianópolis em 2010 girou em torno de R$ 12 milhões, sendo superior à soma dos segmentos da construção civil e do turismo, mesmo sendo a cidade um dos principais destinos turísticos do Brasil. Conforme o professor, não há como separar o fortalecimento da indústria eletroeletrônica catarinense da qualidade das instituições de ensino e da mão de obra preparada por elas. O empresário Roberto Zagonel, diretor da Eletro Zagonel, de Pinhalzinho, no Oeste, por exemplo, iniciou a vida de empreendedor aos 22 anos, quando concluiu um curso técnico do Senai. Fundada em 1989, a empresa tinha como principal atividade o conDivulgação
aposta de Santa Catarina para promover o desenvolvimento econômico com a atração de investimentos em segmentos da chamada Nova Economia já é conhecida. Um dos mais importantes polos de tecnologia e empreendedorismo em solo catarinense está localizado em Florianópolis e se destaca na produção eletroeletrônica de informática, mas a indústria do ramo se alastra por regiões como Oeste, Vale do Itajaí e Norte Catarinense. O Estado oferece infraestrutura, qualidade de mão de obra e oportunidades para os que desejam abrir uma empresa na área de eletroeletrônica. Entre 2001 e 2010, as exportações estaduais de refrigeradores, congeladores, máquinas e aparelhos para a produção do frio tiveram um incremento de 139,61%, conforme o relatório da Análise do Comércio Internacional Catarinense da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc). A pesquisa mostra que, no mesmo período, o segmento de transformadores elétricos e conversores eletroestáticos aumentou as vendas para o exterior em 145,48%. O professor Mauro Tavares Peraça, chefe do Departamento Acadêmico de Eletrônica do Instituto Federal de Educação (IFSC), no campus de Florianópolis, explica que o fortalecimento da indústria eletroeletrônica catarinense ganhou maior visibilidade nas incubadoras de negócio em funcionamento, principalmente na Capital. Para se ter uma ideia da im-
Roberto Zagonel, fundador da Eletro Zagonel, que hoje emprega 173 pessoas
eletroeletrônicos
Boas perspectivas Fundada em 1949, a Mueller, fabricante de eletrodomésticos da linha branca com sede em Timbó, mostra-se confiante no reaquecimento da economia nacional e também nas vendas lá fora. “A atual taxa de câmbio tem tornado a situação das exportações melhor do que encontramos no ano passado. O patamar de US$1,00 por R$2,00 torna os negócios com o exterior viáveis”, diz o presidente John Müller. As estratégias adotadas pela empresa para atingir o mercado externo
incluem a oferta de novos produtos com maior diferencial competitivo, promoção comercial em feiras internacionais e o desenvolvimento de novos nichos de mercado. A Mueller efetua negócios com países da América do Sul, América Central, América do Norte, África e Europa. Historicamente, porém, a participação do mercado interno no total dos negócios da marca tem sido bastante superior à das vendas internacionais. Recentemente a Mueller diversificou o mix de produtos no segmento de cozinha. Com duas novas linhas de fornos elétricos, a empresa alargou a oferta de produtos de bancada e estreou no segmento de embutir. Além disso, reforçou a oferta de cooktops, com novos designs para os produtos e o lançamento de um modelo que oferece tripla chama. O portfólio mais completo deu força à marca no crescente mercado de cozinhas planejadas. Entre os lançamentos estão também 13 modelos de fogões de piso com queimador dupla-chama e novos designs, mais alinhados com o perfil da nova consumidora brasileira. Produtos inovadores Com a evolução do segmento eletroeletrônico, a Dígitro Tecnologia, com sede em Florianópolis, espera crescer 15% no mercado brasileiro e 25% na América Latina em 2013. Hoje, a empresa atua em todo o mercado nacional, em nove países latino-americanos (Argentina, Colômbia, Equador, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela e Chile) e em Moçambique (África). O executivo líder de Marketing da Dígitro Tecnologia, Ednilson Guimarães Hummig, explica que, como os negócios da empresa estão focados no desenvolvimento de soluções para os mercados de inteligência, tecnologia da informação (TI) e telecom em função da crescente utilização de aparelhos de telefone celular e tablets, existe uma tendência de migração desses equipaSantaCatarina.ind
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serto de eletrodomésticos, ferramentas elétricas, rebobinagem de motores elétricos e instalações industriais. Três anos depois, iniciou a fabricação de aparelhos de eletrificação de cerca. Em 1994, após vários anos de investimentos em tecnologias avançadas, a Zagonel criou a Ducha Máster Eletrônica. O produto foi desenvolvido para priorizar economia de água e de energia elétrica, além de conforto no banho. Segundo Roberto, na época, a indústria não tinha verba para marketing e as expectativas de vender em grande volume eram pequenas. “Havia muita resistência dos lojistas em apostar em uma nova marca. Nosso crescimento iniciou com o marketing “boca a boca” e quando decidimos pedir aos nossos colaboradores que ligassem nas lojas do segmento pedindo por chuveiro da marca Zagonel”, lembra. Um ano mais tarde, a marca lançou a ducha com regulagem eletrônica, comando a distância e resistência blindada, pioneira no segmento. Em 1999, trocou a peça blindada por uma resistência espiral, diminuindo custos e tornando a empresa mais competitiva. Com o objetivo de aumentar a participação no mercado nacional na linha de chuveiros, foi dado início a uma série de estratégias em administração e vendas. Assim, a marca Zagonel tornou-se uma empresa de referência nacional.
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Müller ressalta o espírito inovador de quem fabricou a 1 a máquina do Brasil em 1951
mentos para os ambientes corporativos. “Uma aposta da Dígitro é o incremento de soluções de mobilidade para integrar esses dispositivos móveis às plataformas de comunicação”, destaca. Conforme Hummig, o mercado de inteligência deve continuar crescendo devido a um aumento da demanda da área de segurança pública para os grandes eventos internacionais que o Brasil sediará nos próximos anos. Como a Dígitro tem uma dependência pequena de itens importados para o desenvolvimento de suas soluções, a taxa de câmbio não tem influência direta nos negócios da empresa, o que contribui para estimular o crescimento projetado. A Dígitro atende empresas privadas, operadoras de telefonia e órgãos governamentais. Desde a fundação, fomenta o avanço tecnológico através de parcerias com centros de pesquisa científica, como a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e investe permanentemente em qualidade; por isso, mantém a certificação ISO 9001 desde 1996. Também foi a primeira empresa brasileira certificada pela TL 9000, principal norma internacional do setor de telecomunicações.n
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eletroeletrônicos
PESQUISA
Presente
no dia a dia
Empresa de São José espera crescer 25% este ano e aumentar sua participação nos mercados de comunicação, redes e segurança Por Adão Pinheiro
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eja numa ligação telefônica, seja numa sala de telemarketing, seja num sistema de segurança eletrônica, milhões de pessoas no Brasil, América Latina e África podem estar diariamente em contato com os avanços tecnológicos da Intelbras. A empresa, líder no mercado nacional de centrais telefônicas, telefones, redes e centrais condominiais, espera um crescimento linear de pelo menos 25% ao longo de 2013. Com 100% de capital nacional e matriz em São José, na região metropolitana da Grande Florianópolis, a Intelbras está presente em todas as regiões do Brasil, com 40 mil pontos de venda no varejo e 20 mil revendedores corporativos. “A mais recente aposta de mercado é a filial no México, onde já atuamos há oito anos, porém, desde setembro de 2012, também com Divulgação
A Intelbras recebeu em abril o Prêmio Mérito Lojista Brasil, da CNDL, na categoria Destaque Excelência Comercial
SantaCatarina.ind
segurança eletrônica”, diz o presidente da empresa, Altair Silvestri. A Intelbras, fundada em 1976, atua nas áreas de telecomunicação, redes e segurança eletrônica, com produção distribuída em quatro unidades fabris localizadas em Santa Catarina, Minas Gerais e Manaus. Conforme o seu presidente, a valorização da gestão de pessoas – aproximadamente 1,8 mil colaboradores – e o investimento em pesquisa e desenvolvimento são o que diferencia a Intelbras das demais companhias do setor. Um dos grandes projetos da empresa, que entrou em 2007 no segmento de segurança eletrônica com a aquisição da Maxcom, é a participação no monitoramento em vídeo de uma área de 490 quilômetros quadrados no litoral do Rio Grande do Sul, considerado o maior programa do país no segmento. As 156 câmeras da Intelbras captam áudio e vídeo e ajudam a prevenir e investigar ocorrências em 24 cidades da região. Outro destaque da atuação da Intelbras no segmento é a implantação de sistemas de segurança em 3.123 agências do Banco do Brasil em todo o território nacional. No total, são 3.123 gravadores digitais de vídeo e 38 mil câmeras de monitoramento. A empresa ainda atende às necessidades do chamado Projeto Arena, fornecendo todos os produtos que monitoram a construção dos estádios que vão sediar os jogos da Copa 2014 no Brasil. A meta é avançar nos três segmentos de atuação da marca e na participação no mercado nacional. “Contamos com uma rede de assistência técnica em todo o mercado brasileiro, o que nos permite ter alcance nacional na oferta de produtos e soluções”, orgulha-se Silvestri.n
MALVINO SALVADOR E SUA FILHA SOFIA POR HERING
Malvino Salvador e sua filha Sofia doaram seus cachês para a campanha O Câncer de Mama no Alvo da Moda® marca licenciada do Conselho de Moda da América - Fundação CFDA Inc., EUA.
ESSA HIStóRIA cONtINUA EM hering.com.br
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Energia
fumaça As sete unidades geradoras do complexo termelétrico Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo, possuem capacidade instalada de 857 MW
Reinclusão do carvão nos leilões da Aneel pode viabilizar a instalação de nova termelétrica no Sul do Estado Por Eduardo Kormives
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uas hidrelétricas orçadas em R$ 950 milhões puxam a fila de 11 projetos em execução no Estado e outros 43 já autorizados pela Aneel, que devem garantir para Santa Catarina a capacidade de agregar mais 1.450 megawatts (MW) de energia elétrica ao Sistema Integrado Nacional. Esse volume representa um acréscimo de 20% à potência atual de 7.208 MW – o Estado responde hoje por 5,28% da capacidade instalada de geração do país. O grosso do investimento – R$ 780 milhões – está concentrado na Usina Garibaldi, a única hidrelétrica de porte avantajado em construção no Estado hoje. Outros dois grandes projetos, que custaram R$ 3,1 bilhões, entraram em operação nos últimos três anos: as usinas Foz do Chapecó (855 MW) e Salto Pilão (182,3 MW). SantaCatarina.ind
Incluída no segundo pacote do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal, a obra da nova hidrelétrica está fincada entre as cidades de Abdon Batista e Cerro Negro, no meio-oeste, a 350 quilômetros de Florianópolis. A Usina Garibaldi exigiu aporte de R$ 780 milhões do consórcio Rio Canoas, liderado pela Triunfo Participações e Investimentos, e poderá gerar até 177 MW quando as três turbinas estiveram funcionando – a primeira delas entra em operação em agosto. No mesmo mês será inaugurada a pequena central hidrelétrica (PCH) João Borges, a segunda a ser concluída pela Eletrosul no Estado desde que a estatal foi autorizada a retomar a geração de energia em 2004. Com capacidade instalada de 19 MW, o suficiente para abastecer uma cidade do tamanho de Jaraguá
Plinio Bordin/Divulgação
Sinais de
Energia Divulgação
Mescolotto, da Eletrosul, que em 2012 investiu cerca de R$ 2,4 bilhões
turo distante. Seu custo está na casa dos R$ 450/MW, segundo a consultoria Eficiência Energética. No segmento das hidrelétricas, responsável por 64% da energia produzida no país, dificilmente se verá grandes investimentos no Sul e Sudeste do país daqui em diante. Todos os olhos do setor estão voltados para o Norte, especialmente a região amazônica, que concentra 70% do potencial hidrelétrico brasileiro e será palco de obras gigantescas. A Eletrosul é sócia em duas delas: tem 24,5% da Usina Teles Pires, em Mato Grosso, e 20% da Jirau, no Rio Madeira (RO). Com esses dois projetos, a Eletrosul agregará uma oferta de 1.855 MW. Mas são justamente as novas hidrelétricas em andamento, um grupo que inclui ainda Belo Monte e São Luiz dos Tapajós, ambas no Pará, dentre outras usinas, que geram uma outra oportunidade para Santa Catarina. Os projetos incorporam o conceito de fio d’água, ou seja, eliminam os grandes reservatórios a pretexto de reduzir o impacto ambiental de áreas alagadas. Na prática, tal decisão gera outro problema. Com menos água acumulada para geração Divulgação
do Sul, com 150 mil habitantes, a usina de R$ 170 milhões é a maior de uma lista de 10 PCHs em obras em Santa Catarina, que fazem do Estado o campeão nacional de projetos deste tipo em execução. São consideradas PCHs aquelas com potência de até 30 MW e área de reservatório inferior a 3 km². A João Borges segue o conceito de usina a fio d’água, comum nas PCHs, em que a própria vazão do rio é aproveitada. Embora o preço médio final da energia fique mais caro, na faixa de R$ 140/MWh, contra R$ 80 das grandes hidrelétricas, o impacto ambiental é menor, o que facilita a obtenção de licenças ambientais. Além dos incentivos federais, como linhas especiais de financiamento, Santa Catarina ainda oferece a vantagem adicional de contar com uma geografia favorável, com diversas quedas d’água. Quando voltou ao mercado gerador, a Eletrosul fez uma aposta nas PCHs – a estatal teve seu braço de geração arrematado pela Tractebel (GDF Suez) durante os leilões de privatização em 1998. Construiu a Usina Passo São João, no Rio Grande do Sul, e a Barra do Rio Chapéu (15,2
MW), no Sul do Estado. Localizada no rio Braço do Norte, no limite entre Santa Rosa de Lima e Rio Fortuna, esta entrou em operação em dezembro do ano passado. A empresa ainda recebeu, em 2012, a autorização da Aneel para mais duas PCHs em Lages, a Santo Cristo e a Coxilha Rica, que podem sair do papel nos próximos anos. Juntos, os quatro projetos apresentam uma capacidade de produção de 53 MW. “Acho que há possibilidade de construir novas PCHs em Santa Catarina, mas obviamente é um segmento que está bastante explorado”, afirma o presidente da Eletrosul, Eurides Mescolotto. Em sua retomada, a Eletrosul fez um investimento de R$ 6 bilhões que começa a se consolidar. Um das premissas foi posicionar a empresa como referência em energias renováveis entre as geradoras estatais. Em Santa Catarina, a Eletrosul decidiu instalar sua usina-piloto de energia solar, a Megawatt Solar, que produzirá 1,1 gigawatt-hora/ano – o equivalente ao consumo de 570 residências. Diferentemente da energia eólica, que se tornou competitiva, a energia solar ainda é uma ideia para um fu-
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PCH João Borges, na Serra catarinense, exige reservatório de apenas 4 km 2 por ser a fio d’água
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Energia
posterior, as hidrelétricas dependem muito mais das condições climáticas. Ocorre que no ano passado São Pedro não colaborou. A seca fez com que os reservatórios registrassem o nível mais baixo desde 2001, trazendo de volta o fantasma do racionamento. No Estado, as usinas de Machadinho, Foz do Chapecó e Campos Novos, com potencial instalado de 2,8 mil MW, tiveram de ser desligadas em abril por causa da estiagem. Energia cara No fim das contas, o governo teve que acionar as termelétricas, a gás e a carvão, que funcionarão à plena carga até o fim de 2013, e a energia mais cara teve impacto na conta de luz dos consumidores industriais. Apesar do preço, as termelétricas, como se vê, são estratégicas: mesmo sem água, seguem funcionando. “A estiagem trouxe a conscientização de que o país precisa de térmicas. O mais importante foi que se abriu a janela para o carvão. Os investidores estavam sumidos e agora voltaram a estabelecer conversas com a gente”, afirma Luiz Fernando Zancan, presidente da Associação Brasileira de Carvão Mineral (ABCM).
Zancan se refere ao leilão marcado pela Aneel para 29 de agosto que contratará novos projetos de geração de energia com entrega em 2018. Ele marca o retorno do carvão depois de três anos fora das compras do governo. No setor energético, um projeto só sai do papel se houver venda assegurada do que for gerado, uma vez que a energia não pode ser estocada. Neste caso, são estabelecidos contratos de 25 anos. Será a maior chance real de desengavetar o projeto da Usina Termelétrica Sul Catarinense (Usitesc), em Treviso, no Sul do Estado. Esboçado desde 1999 pelas carboníferas Metropolitana e Criciúma, ele já tem as licenças ambientais necessárias para entrar no certame do governo. Se vingar, será o maior investimento privado de Santa Catarina, avaliado em R$ 2 bilhões, destinado a produzir 440 MW, metade da capacidade instalada do complexo termelétrico Jorge Lacerda, da Tractebel, em Capivari de Baixo, considerado o maior a carvão da América do Sul. A maior empresa privada de geração do país, com sede em Florianópolis, antecipou a intenção em participar do certame. “O grupo GDF Suez SantaCatarina.ind
(controlador da Tractebel) tem experiência e conhecimento para participar deste leilão e está interessado. Apresentamos uma geração de caixa significativa e orientação do grupo para procurar crescer aqui no país”, afirmou o presidente da Tractebel, Manoel Zaroni Torres, na teleconferência de apresentação dos resultados do primeiro trimestre de 2013, realizada em 30 de abril. Se empresa que há 10 anos ostenta o maior lucro líquido de Santa Catarina – R$ 1,5 bilhão só em 2012 – tem interesse, é sinal de que o negócio é bom.n
Maiores usinas de Santa Catarina Oito estabelecimentos em operação respondem por 86% da potência instalada Nome Fonte Potência (MW) 1) Itá hidrelétrica 1.450 2) Machadinho hidrelétrica 1.140 3) Campos Novos hidrelétrica 880 4) Jorge Lacerda* termelétrica 857 5) Foz do Chapecó hidrelétrica 855 6) Barra Grande hidrelétrica 698,3 7) Salto Pilão hidrelétrica 191,9 8) Garibaldi** hidrelétrica 177,9 9) Quebra Queixo hidrelétrica 121,5 * valor corresponde ao complexo ** em construção Fonte: Aneel
Divulgação
PCH Barra do Rio Chapéu, com 15,15MW de potência instalada, pode abastecer uma cidade de 110 mil habitantes
Energia
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Celesc
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Em
recuperação Maior estatal catarinense implementa duras medidas para tentar superar o quadro difícil pelo qual passa desde 2010 Por Eduardo Kormives
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Divulgação
sinal inequívoco de as coisas não iam bem na Celesc foi enviado pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) em janeiro de 2010. Depois de 12 anos, a maior estatal catarinense deixou de integrar o Ibovespa, índice que reúne os papéis das 65 empresas mais relevantes nos pregões. Naquele ano, o bloco dos acionistas minoritários, liderado pelo investidor Lírio Parisotto, maior acionista individual da companhia, entrou em pé de guerra com a diretoria da empresa. Inchada e anacrônica, a Celesc havia se tornado uma das concessionárias mais ineficientes do setor de energia. Em 2011, uma nova gestão de perfil técnico começou a estabelecer uma cultura de resultados. “Os minoritários que estavam em conflito estão administrando a empresa conosco e têm participado de todo esse processo de recuperação”, diz André Luiz de Rezende, diretor de RI, Controle de Participações e Novos Negócios. O novo estatuto social, aprovado em 2012, foi fundamental. Hoje, decisões importantes do conselho de administração exigem nove dos 13 votos – o governo estadual tem apenas sete cadeiras. A blindagem política da Celesc também permitiu a elaboração do Rezende, diretor de RI desde 2010, manteve-se no primeiro planejamento cargo após a entrada do novo presidente SantaCatarina.ind
estratégico de longo prazo desde a fundação da empresa, em 1955, chamado de Celesc 2030. Um plano de eficiência operacional, elaborado pela consultoria alemã Roland Berger, deve ser concluído em julho. O documento apontará o tamanho adequado para tocar o negócio e para onde a estatal deveria crescer. O gasto com pessoal de R$ 300 milhões, acima do que Aneel considera aceitável, é outro problema espinhoso a ser atacado pela empresa. O Plano de Demissão Voluntária saiu do papel em setembro do ano passado. Com a adesão de 734 funcionários (20,2% do total), ao custo de R$ 290 milhões, a Celesc estima que ele permitirá economizar R$ 579 milhões até 2018. Outra decisão da Celesc foi não aceitar as condições impostas pelo governo federal com a medida provisória 579, de setembro. No intuito de reduzir em 20% as contas de luz, essa MP previa a renovação antecipada das concessões de geração e transmissão que vencem entre 2015 e 2017 a preços bem inferiores aos atuais. Com isso, a companhia devolverá ao governo sete das 12 pequenas usinas hidrelétricas (PCHs) que opera em Santa Catarina em 2017. Juntas, elas representam 86% da sua capacidade atual de geração (81,15 MW). A fim de compensar esta perda, a estatal abriu uma chamada pública, em novembro, para captar novos projetos de geração com fontes renováveis em Santa Catarina e em outros estados. No novo modelo de parceria com a iniciativa privada, a companhia entrará com até 49% do capital necessário. Os projetos inscritos somam 966 MW e serão avaliados com a ajuda de uma consultoria externa. A ideia é substituir o parque gerador antigo por projetos novos e modernos. A lição de casa foi feita. Agora é esperar os resultados.n
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iNDÚSTRIA NAVAL VICTOR CARLSON
Mar
aberto Características geográficas e tradição pesqueira, entre outros fatores, tornam o estado um polo de atividades náuticas
Tradição no Estado, a construção de embarcações de transporte e lazer ganha força nos últimos anos com a situação econômica favorável do país Por Fabrício Umpierres
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s 560 quilômetros de litoral fazem Santa Catarina olhar para o mar tanto como oportunidade de diversão quanto para negócios. E quando se trata de indústria naval, o estado se destaca em dois segmentos distintos, mas com grande potencial de desenvolvimento: a construção de navios para transporte e apoio marítimo, ancorado na possibilidade de novas reservas de petróleo na camada do pré-sal, e de embarcações de lazer, que vêm atraindo algumas das maiores marcas do mundo ao mesmo tempo em que consolida empresas locais. A construção de barcos, lembra o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Naval de Itajaí e Navegantes, Carlos Frederico Cunha Teixeira, “é uma vocação centenária de Santa Catarina”. “A colonização SantaCatarina.ind
portuguesa trouxe isso para a região, mas na época era uma atividade artesanal, com as embarcações feitas à base de madeira para pesca”, comenta Teixeira, engenheiro mecânico e professor que trabalha com construção naval desde a década de 1960. A pesca criou as bases da indústria na região de Itajaí e, com o passar dos anos, levou à instalação de estaleiros para construir embarcações de aço. Uma das pioneiras foi a Empresa Brasileira de Construção Naval, a Ebrasa, no início da década de 1970. “Foi ali que Santa Catarina começou a construção naval e industrial na forma como se vê hoje”, diz Teixeira, testemunha daquele período. O segmento naval no Estado emprega em torno de 3 mil pessoas, o que representa 5% do total de profissionais trabalhando neste ramo
INDÚSTRIA NAVAL Divulgação
Carlos Frederico Teixeira é ex-presidente do estaleiro Detroit Brasil
blocos de petróleo e gás, marcada para o mês de maio pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). Serão licitados 289 blocos em 11 bacias sedimentares, sendo 166 destas no mar. “O Estado tem muito a se beneficiar, pois há uma série de outros polos de serviço que beneficiam a indústria naval, como os segmentos moveleiro e metal mecânico, que são muito fortes em Santa Catarina”, avalia. Esta possibilidade de agregar outras cadeias produtivas está na pauta de discussões do Comitê Catarinense de Petróleo e Gás, iniciativa da Fiesc que pretende intensificar a criação de empresas fornecedoras de componentes que hoje são importados pelos estaleiros. Luxo e passeio A construção de barcos de lazer, por sua vez, é bem mais recente. Enquanto o Brasil viu seus primeiros estaleiros dedicados à área surgirem na década de 1950 e 1960 no eixo Rio-São Paulo, em Santa Catarina as empresas pioneiras do segmento têm pouco mais de 20 anos, como a Schaefer Yachts, na Grande Florianópolis, e a Fibrafort, em Itajaí. Divulgação
no país. A liderança absoluta, neste quesito, é do Rio de Janeiro, que tem mais de 30 mil trabalhadores. Contudo, lembra Teixeira, Santa Catarina pode ser considerada líder em produtividade e eficiência. Diferente de outros estados, a indústria catarinense não é especializada em petroleiros ou grandes plataformas, mas sim em embarcações de apoio marítimo, “que custam menos da metade de um petroleiro, demandam 10 vezes menos recursos, mas têm grande valor agregado”, explica o presidente do Sindicato. Entre os principais estaleiros que operam no Estado se destacam o Navship, de capital americano, que entregou 25 embarcações nos últimos cinco anos, e o Detroit Brasil, de origem chilena, que produz em torno de 15 rebocadores por ano. Estas empresas chegaram a Santa Catarina no período em que o pré-sal era a grande promessa para o futuro econômico do país, mas não se aproveitaram apenas disso. “Mesmo sem a descoberta do pré-sal, o crescimento do país já demandava um aumento também na produção e exploração de petróleo e gás”, diz o engenhei-
ro Marcos Antônio Polli, sócio da PJ Naval, que completou 10 anos de atuação em Itajaí e produz navipeças (acessórios obrigatórios para agregar aos navios). A empresa começou com 15 funcionários, cresceu ao ponto de contratar 200 pessoas, mas, hoje, com o amadurecimento do mercado e a chegada de empresas estrangeiras, focou em nichos mais especializados e conta com 100 colaboradores. O segmento naval catarinense também aguarda o início das operações, previsto para o final de 2013, da unidade da Oceana Offshore em Itajaí, com investimentos anunciados de R$ 220 milhões e expectativa de geração de mil empregos. Junto com a Oceana, outras cinco empresas que prestam serviço na construção e manutenção de embarcações e módulos para plataformas estão chegando a Itajaí e Navegantes, como o estaleiro holandês Huisman, que tem filiais na China e na República Tcheca. Para o engenheiro Polli, há espaço para um crescimento maior do mercado em Santa Catarina, e isso pode acontecer a partir da nova rodada de licitação para exploração de
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A linha Focker, da Fibrafort, ajudou a popularizar o lazer náutico no Brasil
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iNDÚSTRIA NAVAL VICTOR CARLSON
Juntas, elas produzem o maior número de embarcações de passeio em seus respectivos segmentos no país: a Schaefer fabrica anualmente em média 200 barcos de luxo de 26 a 80 pés, enquanto a Fibrafort, no segmento mais popular, entrega cerca de mil por ano, entre 16 e 31 pés. Além destas campeãs de vendas, há dezenas de outros estaleiros de menor porte, concentrados entre a Baía da Babitonga e a região metropolitana da Capital, que fazem o Estado ser o segundo polo do ramo no país. Um exemplo da representatividade catarinense no segmento está em eventos nacionais como o Rio Boat Show, no qual cerca de 20% dos estandes são de empresas catarinenses. Com o mercado náutico brasileiro crescendo acima dos 10% ao ano, enquanto os EUA e Europa amargam a ressaca da crise financeira internacional, muitos estaleiros – principalmente italianos e americanos – começaram a olhar o país não só para vender seus produtos, mas para instalar fábricas. Neste período, chegaram a Santa Catarina grupos como o Azimut-Be-
Para “Mané” Ferrari, são necessários projetos e parcerias para desenvolver a estrutura náutica no Estado
netti, que fabrica barcos de luxo de 43 a 70 pés em Itajaí, a americana Brunswick (instalada em Joinville e que constrói embarcações de 35 a 37 pés) e a italiana Sessa Marine, que fez parceria com a local Intech Boating para produzir barcos de alto padrão. O presidente da Associação Náutica Catarinense para o Brasil (Acatmar), Leandro “Mané” Ferrari, Divulgação
confirma esta tendência expansionista. “Estivemos recentemente em missão à Itália e num só dia atendemos 50 empresas interessadas em vir para cá. E não só construtores de embarcação, mas produtores de insumos, acessórios e produtos.” “Queremos tornar nossos barcos um pouco mais brasileiros”, confessa Francesco Ansalone, diretor de marketing do grupo italiano Azimut-Benetti, sobre a característica mais solar, com destaque para o uso externo, das embarcações que mais vendem no país. Uma prova de que até mesmo uma tradição de quase meio século – e a força de um faturamento global bilionário – pode se adaptar às águas catarinenses.n
No balanço da economia A indústria naval catarinense voltou a ganhar força nos últimos 10 anos Indústrias* 56 (2011) Trabalhadores 4,1 mil (2011) Valor da Transformação Industrial de SC 0,7% (2010) Exportações de SC US$ 2,5 milhões US$ 2,5 milhões / 0,03% (2011) * em Itajaí e Navegantes
Cerca de 300 trabalhadores produzem uma média de 100 barcos por mês na Fibrafort
Fonte: Fiesc
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Indústria naval
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Desbravador de
novos mares
Estaleiro foi pioneiro ao construir embarcações adaptadas ao clima do país e ao gosto dos brasileiros Por Fabricio Umpierres
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á pouco mais de 20 anos, o projetista naval Márcio Luz Schaefer decidiu que era hora de transformar o hobby cultivado desde os 17 anos – desenhar embarcações – em negócio. Os primeiros anos foram muito difíceis, já que a indústria náutica era praticamente inexistente na região. “Não existia nada antes. Os funcionários nós formamos um a um”, lembra Schaefer. Com a experiência de quem velejou por décadas, se formou em Arquitetura Naval em Buenos Aires e trabalhou em estaleiros na Europa, Schaefer apostou em embarcações que pudessem aproveitar melhor as características do litoral brasileiro, algo que os modelos europeus, desenvolvidos para encarar invernos rigorosos, não tinham. “O brasileiro quer aproveitar mais a parte externa, os espaços solares”, explica Schaefer, considerado um dos precursores do polo náutico do Estado. Este foi o principal diferencial dos modelos que seu estaleiro na Grande Florianópolis começou a produzir, o que ele define como “uma nova forma do brasileiro se relacionar com o mar”. O primeiro grande sucesso se deu no começo da década passada, com o esMárcio Luz Schaefer fundou o maior estaleiro de luxo 100% nacional touro de vendas da PhanSantaCatarina.ind
tom 290, embarcação de 29 pés que custa a partir de R$ 350 mil e que, numa única feira, teve 40 encomendas. À época, com o dólar mais valorizado frente ao real, a Schaefer conseguiu abrir um bom canal de vendas para o exterior, mas o mar virou com a crise internacional de 2008 e 2009, e agora são os estrangeiros que procuram o Brasil para vender barcos. A estratégia então foi focar em um público cada vez mais segmentado, com o desenvolvimento de embarcações maiores e mais luxuosas. Em 2007, foram lançadas as lanchas de 50 pés com modelos equipados com teto solar (HT) e terraço (flybridge) com comando. A empresa iniciou um ciclo de investimentos que, em cinco anos, somou mais de R$ 30 milhões em novos produtos, tecnologia e unidades. Além da fábrica em Palhoça, onde são construídos os barcos de 26 a 60 pés, a Schaefer tem um Centro de Inovação e Design em Biguaçu e inaugurou no início de 2013 a terceira planta, na cabeceira da ponte Hercílio Luz em Florianópolis. Isso permitiu o lançamento de modelos maiores, como a Schaefer 620, lançada em 2011 e que marcou a parceria com o estúdio italiano de design Pininfarina, e a Schaefer 800, a maior embarcação de passeio produzida no Brasil, com preço a partir de R$ 12 milhões, e que já tinha quatro encomendas antes mesmo de ser lançada.n
Mar aberto Expansão do mercado nacional de náutica alimenta expectativa de crescimento Faturamento R$ 150 milhões (2011) Expectativa de crescimento para 2013 10% a 15% Empregos 900 (diretos) e 2.000 (indiretos)
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A Tigre financiou R$ 313 milhões em 2012 por meio dos cartões caixa e BNDES
Horizonte
promissor
Puxado pelas obras de infraestrutura e habitação, segmento deve continuar aquecido com as medidas do governo Por Beatrice Gonçalves
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m 2012, as vendas de materiais de construção no comércio varejista atingiram R$ 55 bilhões, o maior número já registrado, segundo a Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção (Anamaco). O crescimento está associado ao aumento nas linhas de crédito e à redução de impostos, o que tem feito com que o consumidor invista mais na construção e reforma de imóveis. A previsão é de que o segmento SantaCatarina.ind
continue aquecido este ano. A Anamaco considera que em 2013 as vendas de materiais de construção devem registrar crescimento de 6,5% no Brasil, estimuladas pelas obras de infraestrutura e pelo mercado imobiliário. A expectativa é de que a procura seja maior por produtos de acabamento, que são utilizados nas fases finais das obras. Uma pesquisa realizada pela Pyxis Consumo, ferramenta de mercado do Ibope, também indica que haverá
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aumento das vendas de materiais de construção em 2013. A expectativa é de que o segmento movimente este ano R$ 119 bilhões. Segundo o levantamento, quando se analisa as compras realizadas por pessoas físicas, a classe B é a que apresenta o maior potencial de consumo – deve gastar em média R$ 49 bilhões com a aquisição de itens de construção gRANDE FORNECEDOR O aumento na procura beneficia diretamente a indústria do Estado. Santa Catarina é um dos maiores produtores de insumos para a construção civil, de vidros, cimento e gesso a tubos e conexões. “A região de Joinville se destaca pela produção de materiais hidráulicos, o litoral norte pela fabricação de vidro e o Alto Vale do Itajaí por produtos elétricos e cerâmicos”, afirma Nivaldo Pinheiro, presidente da Câmara de Desenvolvimento da Construção da Fiesc. Os municípios da Grande Florianópolis também se destacam nesse segmento. “São José é a sexta maior economia do Estado e parte significativa dessa riqueza vem da indústria de materiais de construção. No
Thiago Zin, do Grupo Cassol, que atua em quatro ramos, do comércio à fabricação
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no canteiro. O sistema modular também permite que o prazo de execução seja menor: a estrutura de um edifício pode ser montada em apenas dez dias. “As estruturas pré-fabricadas são testadas na fábrica e isso traz mais segurança para a obra e para os empregados que trabalham nela.” Referência nacional A Cassol Pré-Fabricados foi vencedora do Prêmio PINI, que destaca as melhores fornecedoras de materiais da construção civil, por cinco anos. A premiação avalia, entre outros itens, o desempenho financeiro das empresas e a satisfação dos clientes e dos funcionários. A fabricante é também vencedora do Prêmio Obra do Ano em pré-fabricados de concreto, que reconhece as melhores organizações e profissionais que utilizam esse sistema construtivo. No litoral norte do Estado o destaque é a produção de vidros. A Cebrace, que é líder no mercado de vidros planos no Brasil, produz em Barra Velha vidros Float incolor e colorido e vidro de controle solar Reflecta Float. “Produzimos vidros com antirreflexo, extra clear, proteção solar, Divulgação
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Nivaldo Pinheiro, da Fiesc, é também fundador da Procave Incorporações
município há empresas especializadas na fabricação de esquadrias, vidros, portas, luminárias, divisórias e móveis”, afirma Hélio Bairros, presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil da Grande Florianópolis (Sinduscon). Uma das empresas pioneiras no Estado na fabricação de materiais de construção é a Cassol, fundada em 1958 em São José – hoje referência no ramo de pré-fabricados. É o maior complexo industrial deste sistema construtivo da América Latina, com fábricas em Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. A empresa produziu em 2012 mais de 220 mil m³ de concreto. “Este ano iremos inaugurar a sexta planta fabril da Cassol Pré-Fabricados e esperamos registrar um aumento nas vendas de cerca de 10%”, avalia o gerente da fábrica da Cassol Pré-Fabricados em Santa Catarina, Thiago Zin O sistema construtivo de pré-fabricados de concreto produzido pela Cassol é uma das soluções mais sustentáveis disponíveis no mercado. Como os materiais já chegam prontos na obra, não há geração de resíduos
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Vanderlei, da Cebrace, joint-venture entre a Saint-Gobain (França) e a NSG (Japão)
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MATERIAL DE CONSTRUÇÃO
autolimpante, baixo-emissivos, de segurança, para decoração e espelhos. Oferecemos produtos com alto valor agregado que ajudam a promover o conforto térmico dos ambientes ao mesmo tempo em que contribuem para a redução do consumo de energia”, explica o gerente da Cebrace no Brasil, Flávio Vanderlei. A empresa produz cerca de 3,6 milhões de toneladas de vidros por dia no Brasil. Além de Barra Velha, a Cebrace tem outras quatro fábricas no país e unidades na Argentina, Chile e Colômbia. “Não estamos exportando nossos produtos no momento porque a demanda por vidros no mercado nacional é muito grande”. Em Criciúma, destaca-se a produção de telhas de fibrocimento produzidas pela Imbralit. Em 2012, a empresa comercializou 20 milhões de metros quadrados do produto. “A telha ondulada de fibrocimento é a mais utilizada para a cobertura de casas e é um dos produtos mais econômicos vendidos no mercado”, afirma o gerente de relações institucionais da Imbralit, Rui Inocêncio. Segundo ele, mais da metade dos telhados instalados no Brasil são
Mais acessível A redução no Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para materiais de construção tem feito com que o segmento permaneça aquecido. A medida que entrou em vigor em 2009 terá validade até dezembro deste ano. Na lista de materiais beneficiados estão mais de 40 itens da construção, entre eles cimento, argamassa, telhas e chuveiros. O presidente da Mexichem no Brasil, Maurício Harger, empresa detentora das marcas Amanco, Bidim e Plastubos, avalia que a redução do IPI para materiais de construção tem contribuído, mas que a medida não é a única responsável pelo aumento nas vendas. “A redução do custo da energia, o aumento na oferta de crédito, a melhora da renda dos trabalhadores e a redução da taxa de desemprego têm beneficiado o segmento e feito com que ele se mantenha aquecido.” A Mexichem Brasil estima crescimento de 8% nas vendas neste ano. Em 2012, as marcas da empresa reSantaCatarina.ind
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Rui Inocêncio, da Imbralit, que espera concluir a quinta planta fabril de telhas no fim do ano
cobertos com o material. “A Imbralit detém 10% do mercado nacional de telhas de fibrocimento e está entre as quatro maiores fabricantes do produto no Brasil”. O gerente de relações institucionais da Imbralit explica que os produtos fabricados pela empresa estão de acordo com os critérios exigidos pela NBR 15575, norma que define parâmetros de qualidade para os materiais de construção e que entrará em vigor em julho. “A Imbralit investe na certificação de seus produtos e serviços. A empresa foi a primeira do segmento a conquistar a certificação ISO 9001 de gestão da qualidade; e antes mesmo da NBR 15575 entrar em vigor nossos produtos já atendiam aos requisitos da norma.” As mercadorias são comercializadas no Brasil e em países da América do Sul e da África.
CEO desde 2012, Harger foi eleito o melhor CFO da Mexichem em todo mundo em 2011
gistraram aumento médio nas transações de cerca de 11% no Brasil. “A tendência é que o mercado da construção civil seja influenciado positivamente pela aproximação dos megaeventos esportivos como a Copa e as Olimpíadas e pelo desenvolvimento de projetos ligados aos programas do governo federal como o PAC e o Minha Casa, Minha Vida.” Nas duas fábricas da Mexichem em Joinville foram realizados nos últimos três anos investimentos na ordem de R$ 53 milhões; e para 2013 estão previstos outros R$ 35 milhões. “Em Joinville, o foco da empresa é na fabricação de tubos e conexões. Hoje a Amanco tem 30% de market share nesse segmento no Brasil”, diz Harger.n
Boas perspectivas As projeções de crescimento das vendas no varejo animam o segmento Anamaco 6,5% sobre 2012, ano em que foi registrado um volume recorde (R$ 55 bilhões) Destaques regionais Nordeste materiais hidráulicos Litoral Norte vidros Vale do Itajaí produtos elétricos e cerâmicos Sul cerâmica Sâo José pré-fabricados de concreto
Material de construção e PRODUTOS de Plástico
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Fera
catarinense
Multinacional criada em Santa Catarina lidera mercado interno e ainda tem fôlego para competir em 30 países Por Beatrice Gonçalves
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pós registrar um faturamento de mais de R$ 3 bilhões em 2012, a Tigre espera registrar este ano um crescimento de cerca de 10%. A multinacional de origem brasileira é líder na fabricação de tubos e conexões no país e é uma das maiores empresas do mundo no segmento de materiais de construção. “Temos nove fábricas no Brasil e 14 no exterior. Produzimos cerca de 15 mil itens que são exportados para 30 países”, explica Evaldo Dreher, presidente do grupo Tigre. Em 2013, a Tigre passou a integrar o ranking Global Challengers, do Boston Consulting Group, como uma das 100 principais companhias de países emergentes que estão em franca expansão e internacionalização. Os negócios internacionais representam hoje 25% da receita anual da empresa, mas a expectativa é ampliar para 35% nos próximos cinco anos. Até o fim de 2014, espera-se chegar a R$ 5 bilhões de faturamento, a partir de crescimento orgânico e aquisições, como a compra recente de um grupo fabricante peruano. Os principais destaques da Tigre no estudo foram inovação e desenvolvimento de noEvaldo Dreher é considerado o responsável pela internacionalização da empresa vos produtos. SantaCatarina.ind
A Tigre foi a primeira empresa no país a utilizar o plástico na fabricação de tubos e conexões em substituição ao ferro galvanizado. “De forma pioneira, há 70 anos, a Tigre introduziu o plástico na construção civil, o que representou um avanço em termos de sustentabilidade. O PVC é 100% reciclável, é um excelente isolante térmico, contribui para a diminuição do consumo de energia e emissão de gases poluentes.” Assim como os tubos e conexões de PVC, a Tigre tem uma série de produtos que se destacam por promoverem a eficiência energética e o uso racional dos recursos hídricos. A linha de tubos e conexões para sistemas de água quente Aquatherm é feita de CPVC, material que não sofre corrosão e evita o desperdício de calor durante seu funcionamento, o que reduz o consumo de energia. “Os produtos da Aquatherm são resistentes às mais rígidas situações de pressão e temperatura da água. As juntas dos tubos e conexões são soldadas a frio utilizando um adesivo para evitar vazamentos”, diz Dreher.n
Salto das receitas Previsão para 2014 é dobrar o faturamento em relação a 2009, conforme o plano estratégico Faturamento (em R$ bilhões) 6%
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2,9
3,1
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2011
2012
2013
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*previsão
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PRODUTOS DE PLÁSTICO DivulgaçÃO
A Thermovac tem uma capacidade de produção de 40 milhões de copos/potes por mês
Desafios nada
descartáveis
Inovação garante participação expressiva na produção nacional, mas dificuldades logísticas diminuem a competitividade dos fabricantes catarinenses Por Andressa Fabris
U
m segmento altamente diversificado, com mais de 900 empresas instaladas em Santa Catarina, preso a uma matéria-prima controlada por monopólio e tão leve que faz com que o frete represente, em média, 10% do custo do produto. Assim é a indústria plástica que, apesar dos entraves logísticos e do aumento nos preços dos insumos, cresceu 3% em 2012 comparado a 2011, mantendo o Estado como segundo produtor nacional, responsável por 16% do total fabricado no país. “Para continuar com esta participação, tem que ter inovação”, acredita o presidente do Sindicato da Indústria de Material Plástico no Estado de Santa Catarina (Simpesc), Albano Schmidt. “Santa Catarina é referência neste sentido”, afirma. SantaCatarina.ind
Na indústria plástica, a palavra inovação está diretamente associada a investimentos em tecnologia. Uma das principais fabricantes de embalagens flexíveis e descartáveis do Estado, a Canguru tem investimento contínuo de 5% de seu faturamento em desenvolvimento tecnológico. “É preciso responder aos desafios apresentados pelos clientes”, diz o gerente de relações institucionais Rui Inocêncio. Ele explica que a venda de embalagens plásticas é técnica, pois é realizada a partir da necessidade apresentada pelo cliente. “A embalagem vai influenciar na durabilidade, na manutenção das características dos produtos”, explica. Os investimentos em tecnologia na Plasc Embalagens significam a possibilidade de abrir novos mer-
PRODUTOS DE PLÁSTICO Divulgaçao
Para Schmidt, os preços dos insumos determinam o fim da competitividade
Dificuldades logísticas A leveza do plástico faz com que o frete seja outro gasto que compromete a competitividade. “O frete representa cerca de 10% do custo dos Lucas COLOMBO/Divulgação
cados dentro do próprio setor. “Nós temos que ter um mix de produtos variados para fugir da sazonalidade”, esclarece o diretor comercial Wagner Luis Facundini. Para isto, a empresa investiu R$ 18 milhões nos últimos dois anos, alcançando uma diversificação de mix de produtos que já representou 20% a 25% do faturamento. Neste ano, a Plasc vai aplicar mais R$ 20 milhões em novas máquinas para ampliar as possibilidades de embalagens principalmente para as indústrias de fraldas e petfood. Nos próximos anos, novos investimentos estão previstos para ampliar a participação na linha de alimentos, segmento em que ainda atua pouco. Além de possibilitar a entrada em novos mercados, a tecnologia favorece a competitividade. A Guará Embalagens, empresa que tem quase 80% de sua produção concentrada em rótulos para bebidas, investiu, nos últimos anos, em duas impressoras que passaram a produção de 80 metros por minuto para 400 metros por minuto cada uma. A produtividade também aumentou em 50% na fabricante de descartáveis plásti-
cos Cristalcopos, após a aplicação de R$ 10 milhões em novos equipamentos. O investimento feito pela Thermovac Embalagens já na época da sua implantação, há 15 anos, traz benefícios à empresa até hoje. A produção de garrafas plásticas para água mineral, potes e copos descartáveis é feita em circuito fechado, com todas as sobras de materiais retornando automaticamente ao processo de fabricação. “Com um produto em que a resina é responsável por 60% do custo final, não se pode dar ao luxo de ter perdas, tudo é reaproveitado”, argumenta o diretor geral da empresa, Ricardo Remor Oliveira. A preocupação com o aproveitamento total da matéria-prima é constante na indústria plástica. “Há uma absurda concentração de fornecedores e os principais insumos aumentaram de 15% a 45%, uma paulada nos custos”, desabafa o presidente do Simpesc, Albano Schmidt.
Freitas, diretor da Cristalcopo, empresa criada em 2002 para ter alta produtividade
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descartáveis”, revela o presidente da Associação Brasileira de Descartáveis (Abrade), Anselmo Freitas. A dificuldade logística vem fazendo com que Santa Catarina reduza sua participação na produção nacional de descartáveis plásticos. O Estado já foi responsável por 80% de toda fabricação de copos, pratos, talheres e outros itens descartáveis do país. “Agora, apenas 50% da produção está em nosso estado”, revela Freitas. O problema é que o mercado consumidor, Sudeste e Nordeste, está distante. A solução encontrada foi implantar novas fábricas em outras regiões. A Canguru foi uma das pioneiras, instalando há 10 anos uma segunda unidade produtiva em Três Corações (MG). “A escolha por Minas tem a ver com a presença de grandes distribuidores naquela região e a cadeia comercial dos descartáveis é muito dependente deles”, explica o gerente de relações institucionais Rui Inocêncio. As 15 indústrias de descartáveis de Santa Catarina estão localizadas no Sul do Estado e a maior parte já tem uma segunda unidade em outra região do país. Quem ainda não tem, está para instalar. A Totalplast inaugura neste ano sua segunda planta industrial, em Glória do Goitá(PE), e com isso vai dobrar a produção. Enquanto as indústrias de descartáveis daqui se deslocam para outras regiões do país em busca de competitividade, fábricas instaladas em outros estados são obrigadas a correr atrás para cumprir a norma de qualidade NBR 14865, estabelecida em 2002, mas nunca cumprida à risca e que agora deve sofrer uma intensificação na fiscalização. Em Santa Catarina, a partir de um acordo com o Ministério Público, em 2005, as fabricantes cumprem a norma. “Vai ser melhor para Santa Catarina”, diz Anselmo Freitas. n
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METALURGIA
reluzente
Faturamento das metalúrgicas segue crescente, mas investimentos em expansão comprometem lucro atual Por Vandré Kramer
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Fabrício porto
Destino
METALURGIA feito à base de dióxido de titânio, que possibilitará maior resistência à corrosão, especialmente em locais altamente expostos ao ambiente. “Não mudou nada no produto”, diz Ganassali, explicando que este pode ser direcionado para segmentos como a construção civil, o agronegócio e as indústrias automotiva, naval e aeroespacial. A única modificação na linha de produção é a instalação de um equipamento adicional, prevista para acontecer em maio. Os valores investidos não são revelados. A Ciser também vai atuar como difusora da tecnologia. Ela pretende qualificar empresas para usar a nanotecnologia em outras áreas. As primeiras negociações estão em andamento com uma empresa paulista.
Ebner Gonçalves/Divulgação
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Ganassali, diretor de P&D da Ciser, estimula o desenvolvimento de ideias na empresa
Mudança estratégica Outra prioridade da Ciser é a mudança do parque fabril do Centro de Joinville para a cidade vizinha de Araquari. A empresa vai aplicar R$ 100 milhões na transferência da fábrica. A construção dos galpões que vão abrigar a linha de produção de porcas, parafusos e fendados deve demorar de seis a oito meses após o início das Divulgação
uscar oportunidades para fazer os resultados brilharem como o metal com que trabalham é o maior desafio para as empresas do setor metalúrgico que atuam em Santa Catarina. Os negócios estão em expansão, mas os lucros não. No ano passado, as vendas foram de R$ 4,7 bilhões, 17% a mais do que em 2011, segundo dados apresentados à Comissão de Valores Mobiliários ou publicados no Diário Oficial do Estado. E os lucros, de R$ 127,6 milhões, apresentaram redução de 61%. Parte desta queda está vinculada à consolidação de investimentos feitos pelas empresas para conquistar novos mercados e diversificar a produção. A Tupy começou a estratégia de internacionalização da produção, comprando duas fundições no México e a Tuper inaugurou uma unidade de tubos voltada para o segmento de óleo e gás. Outra estratégia usada para garantir o crescimento e melhores resultados é o investimento em inovação. Ela está no centro das prioridades da Ciser, a maior fabricante de porcas e parafusos da América Latina, e da Docol, uma das líderes brasileiras do mercado de metais sanitários. “Dá para imaginar que um parafuso ou porca incorpora tanta tecnologia?”, brinca Guido Ganassali, gerente de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Ciser. A empresa está de olho nas aplicações que a nanotecnologia oferece para a área em que atua. A intenção é ampliar o leque de itens – atualmente são 27 mil – que incorpora este recurso. “O futuro da Ciser passa pela nanotecnologia”, afirma Ganassali. O namoro da Ciser com a nova tecnologia começou em 2009, quando surgiram nos Estados Unidos os primeiros estudos sobre a aplicação em fixadores. Os primeiros produtos incorporando esta tecnologia começam a chegar ao mercado em julho. Eles terão um revestimento cerâmico muito fino, de um milésimo de milímetro,
Levi Garcia, da Docol, a maior exportadora de metais sanitários da América Latina
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obras. Também devem ser transferidos o centro de distribuição e as áreas de manutenção e ferramentaria. A Ciser já projeta os benefícios: “Vamos ter um ganho muito grande em produtividade e redução nos custos. O layout da nova fábrica vai agilizar o processo de produção”, diz o diretor Vinícius Allage. Outro impacto será a possibilidade de criar o terceiro turno. Atualmente, isto não é possível por causa da localização central da unidade. Na Docol, o foco da inovação está no desenho dos produtos e na tecnologia diferenciada para reduzir o consumo de água. Para este ano, a empresa deve lançar 20 novas linhas ou produtos, voltadas para os mercados brasileiro e externo. Uma das novidades que está sendo apresentada é um novo conceito de sensoriamento para produtos que utilizam recursos eletrônicos. O diretor industrial, Levi Garcia, explica que o sensor é a própria torneira, dispensando o uso de infravermelho. As maiores oportunidades para a empresa estão na linha residencial, uma vez que o segmento de produtos de uso público está consolidado.
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METALURGIA Divulgação
Para Bollmann, sucesso da Tuper deve-se à solidez na condução dos negócios
E a faixa de mercado formada pelas classes C e D, beneficiadas por programas habitacionais do governo, tem se mostrado cada vez mais relevante. Sem mostrar números, o diretor diz que a Docol tem participação crescente, uma vez que os programas do governo impõem regras de qualificação dos materiais empregados nas obras. “Esta qualidade não é normalmente atendida por empresas informais ou por produtos importados da China”. Para atender a esta demanda crescente e às perspectivas para o futuro, a fabricante de metais sanitários está investindo R$ 40 milhões na ampliação e renovação do parque fabril, localizado no Distrito Industrial de Joinville. Investimentos em expansão e novos produtos também fazem parte da realidade da Arcelor Mittal Vega, laminadora de aço em São Francisco do Sul. As boas expectativas para a indústria automobilística, com a chegada de novas montadoras, fizeram com que a empresa aplicasse mais recursos na unidade. Em fevereiro, implantou um sistema de pós-tratamento em uma das linhas de galvanização, no qual investiu US$ 10 milhões. “O objetivo é agregar valor ao
aço fornecido para a indústria automotiva, facilitando a estampagem das peças”, diz o gerente geral, Fernando Teixeira. O foco é oferecer soluções para atender à crescente demanda por carros mais elaborados. As primeiras chapas de aço que passaram pelo processo estão em fase de homologação com clientes da empresa. Segundo o executivo, a utilização é uma tendência para as montadoras, principalmente as asiáticas. “O mercado deve crescer nos próximos anos”. Na Tuper, de São Bento do Sul, o momento é de consolidar a presença no segmento de óleo, gás e petróleo. No ano passado, a empresa concluiu o investimento de R$ 198 milhões na construção de uma fábrica de tubos, que também poderá atender à demanda das indústrias naval, ferroviária, sucroenergética, de telecomunicações e de construção pesada. Os primeiros resultados já começam a ser colhidos. Três mil toneladas de tubos foram embarcadas para os Estados Unidos no final do ano passado. “É a abertura de um espaço importante, em um dos maiores mercados mundiais de equipamentos de petróleo do mundo”, diz o presidente da empresa, Frank Bollmann. A Tuper também se credenciou para ser fornecedora da Petrobras. Em abril, a empresa fechou o primeiro contrato para o fornecimento de tubos para a rede de distribuição de gás natural. Serão fornecidas duas mil toneladas para a SC Gás utilizá-los na terceira fase do projeto que pretende levar o gás à Serra Catarinense. A instalação será feita em um trecho de 40 quilômetros entre Ibirama e Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí. Outra área que vem absorvendo a produção da empresa é a de infraestrutura. A Tuper forneceu tubos para as construtoras de alguns dos principais estádios que serão utilizados na Copa das Confederações e na Copa do Mundo e que trabalham nas obras de modernização dos aeroportos. SantaCatarina.ind
A estratégia de diversificação da empresa se mantém acelerada. A Tuper investiu R$ 8 milhões no início do ano para entrar no mercado de andaimes e estruturas metálicas. A intenção é atender à demanda do mercado sul-americano. Segundo Bollman, uma das metas do investimento é ajudar a aumentar a participação das exportações nos negócios. Atualmente, elas respondem por 7% das vendas.n
À espera dos frutos Investimentos quatro vezes superiores aos do ano anterior fizeram o lucro cair 60% Faturamento líquido (em R$ bilhões) 3,27 2,44
2,42
2,80
1,69
2008
2009
2010
2011
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Lucro líquido (em R$ milhões) 230,07
228,55 175,13
179,43
80,97
2008
2009
2010
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Investimentos (em R$ milhões) 1.017,2
207,8
2008
93,8 2009
168,6 2010
275,4
2011
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Obs.: inclui somente as sociedades anônimas de capital aberto com ações listadas na Bovespa, entre elas Tupy, Wetzel, Altona e Metisa. Fonte: CVM
Metalurgia e indústria de autopeças
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redobrado Empresa sinaliza para investimentos em mais países após compra de duas fundições no México Por Vandré Kramer
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Tupy completou 75 anos em 9 de março e pretende continuar se expandindo com vigor redobrado. Depois de ter investido quase R$ 1,5 bilhão nos últimos quatro anos, incluindo a compra de duas fundições no México, a empresa joinvilense tem planos ambiciosos para o futuro. O sinal está em uma minuta inicial de um prospecto preliminar de oferta pública de ações, encaminhado em 18 de fevereiro para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os recursos seriam destinados a projetos de redução de custos, expansão e adequação de capital. Um dos planos com o dinheiro a ser captado é “a continuidade na internacionalização da manufatura de blocos e cabeçotes em regiões estratégicas e crescente participação na carteira de peças automotivas com geometria e metalurgia complexa.” A estratégia de internacionalização da empresa ganhou força no primeiro semestre de 2012 com a concretização da compra de duas fundições mexicanas, no valor de US$ 439 milhões. A entrada naquele país foi motivada pela proximidade dos Estados Unidos, o principal cliente no exterior e responsável por 28,5% do faturamento em 2012. Também foram relevantes a possibilidade de intensificar, com maior agilidade e globalmente, os negócios com fabricantes de máquinas e equipamentos nos ramos de mineração, infraestrutura e agrícola; além das condições adequadas para ampliar as suas aplicações em segmentos off-road e em mercados emergentes. Ainda não há um cronograma definido para a oferta de ações. Ela vai envolver papéis que
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serão emitidos e que são de propriedade da empresa e de seus acionistas, como os fundos de pensão Previ, BNDESPar, Telos e Aerus. A emissão deve ser feita sob a coordenação do BB Investimentos, do BTG Pactual, do Citigroup Global Markets Brasil e do Itaú BBA. A empresa não se manifesta sobre o assunto, por estar em “período de silêncio”. A medida de segurança deve-se ao andamento no processo de entrada no Novo Mercado, da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Mas não é só o exterior que é relevante para a Tupy. O parque fabril de Joinville também vem recebendo investimentos. No final do primeiro semestre de 2011, foi inaugurada uma nova unidade de fundição, onde foram aplicados R$ 157 milhões e criadas 600 novas oportunidades de trabalho. A produção é destinada para atender à demanda mundial. Nos três primeiros meses do ano, a empresa exportou US$ 105,2 milhões, 19,1% a menos do que no mesmo período de 2011, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).n
Números em ascensão Após queda em 2009, devido à crise mundial, empresa voltou a crescer acima de 15% ao ano Vendas (em R$ bilhões) 1,78
2008
1,87
2,18
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1,22 2009
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iNDÚSTRIA DE Autopeças Divulgação
Cartão de Com grandes clientes na carteira, fabricantes catarinenses podem ter mais facilidade para fornecer autopeças a GM, BMW e Sinotruk Por Vandré Kramer
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A Ciser, maior fabricante de fixadores da América Latina, tem parte de sua produção voltado ao segmento automotivo
visitas
uem pretende acelerar com a instalação das montadoras no Estado é a indústria de autopeças. O cartão de visita já foi apresentado: “muitas empresas são fornecedoras de outras fabricantes de veículos e isso as credencia para trabalharem com as que estão chegando”, diz o diretor regional do Sindicato da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) em Santa Catarina, Hugo Ferreira. Foi justamente este polo consolidado de autopeças que favoreceu a instalação SantaCatarina.ind
das unidades da General Motors, em Joinville, e o anúncio dos investimentos da Sinotruk, em Lages, e da BMW, em Araquari. “É um segmento altamente desenvolvido e com mão de obra qualificada”, disse Jaime Ardila, presidente da GM na América do Sul, rasgando elogios durante a inauguração da fábrica de motores em Joinville, no final de fevereiro. Três empresas catarinenses estão fornecendo componentes para a unidade da GM em Joinville. Outra já está credenciada para trabalhar com a
iNDÚSTRIA DE Autopeças
Novos caminhos As montadoras não são encaradas como a única alternativa para a indústria catarinense. Até porque a negociação para se tornar fornecedor é demorada e os carros e caminhões catarinenses devem começar a ganhar as ruas no segundo semestre de 2014. Novas linhas de produtos são a estratégia da Riosulense, que fábrica peças e acessórios para os motores dos veículos. Ela desenvolveu, no ano passado, artigos para o setor ferroviário. Os contratos de fornecimento de componentes devem ajudar na recuperação das vendas da empresa em 2013. Outro fator que pode ajudá-la é a ampliação da capacidade de produção da linha voltada para a reposição. A recuperação do mercado interno de veículos comerciais também anima o setor. No primeiro trimestre de 2013, a produção brasileira de
Vinícius Allage, da Ciser, que está instalando nova fábrica em Araquari
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indústria de câmbios e transmissões que a montadora americana pretende instalar na cidade, mas que depende da recuperação do mercado europeu, o principal destino da produção. Uma das empresas que está de olho nas oportunidades que as montadoras podem trazer é a Ciser. “Já tivemos conversas preliminares com a BMW”, conta o diretor Vinícius Allage. A divisão automotiva da empresa, com fábrica em Sarzedo, na região metropolitana de Belo Horizonte, é fornecedora da Fiat e da General Motors. Os investimentos do complexo automotivo em Santa Catarina são um estímulo a mais para a recuperação de um segmento que sentiu fortemente a queda na demanda por caminhões e ônibus no ano passado. Em 2012, o faturamento da indústria catarinense de veículos automotores e de autopeças encolheu 11,1%, segundo a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc). O principal motivo foi a queda na demanda por veículos comerciais. “É o mercado que mais atendemos”, diz Ferreira. No ano passado, o licenciamento de caminhões fabricados no Brasil encolheu 20,2%, em relação a 2011,
segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). O de ônibus caiu 16,9%. Para este ano, as expectativas do dirigente do Sindipeças-SC são otimistas: ele projeta um crescimento de 5% a 6% nas vendas de veículos comerciais.
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Para Ferreira, do Sindipeças, empresas sentiram as mudanças do padrão da Europa
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O colombiano Jaime Ardila ressalta que a GM investiu R$ 5,2 bilhões no Brasil de 2008-12
SantaCatarina.ind
caminhões foi de 43,6 mil unidades, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). É um crescimento de 39,1% em relação a igual período do ano passado. A fabricação de chassis de ônibus aumentou ainda mais: 56,8%. Foram 9,9 mil unidades produzidas entre janeiro e março. Outra esperança vem de fora do país. A expectativa do Sindipeças-SC é de que, com o dólar oscilando em torno dos R$ 2,00, seja possível conquistar mais clientes no exterior. “É mais em função da recuperação da economia norte-americana. A situação na Europa é mais complicada”, diz Ferreira. Quem está centrando fogo nesta estratégia externa é a divisão automotiva da Schulz. No ano passado, a empresa joinvilense se tornou fornecedora global certificada de grupos como a Caterpillar, John Deere, ZF, MAN e Jost. Os primeiros resultados já foram colhidos: no ano passado contribuiu para aumentar a importância das exportações no faturamento. Em 2011, os negócios com o exterior correspondiam a 13,6% da receita. Em 2012, passou para 16,2%.n
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Olhar para Tradicionalmente exportadora, a indústria de móveis do Estado volta-se ao mercado interno para superar crise Por Adão Pinheiro
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A Artefama produz móveis com design e acabamento diferenciados para a casa inteira
o Brasil
orte nos custos, reestruturação das fábricas e aposta no mercado interno são algumas das soluções encontradas pela indústria moveleira de Santa Catarina para driblar o baixo custo do que chega ao Brasil de navio, principalmente vindo da China e Singapura. Nos últimos anos, os processos produtivos foram otimizados com redução de desperdícios, melhor aproveitamento da matéria-prima, renegociação com fornecedores e diminuição do quadro pessoal, SantaCatarina.ind
segundo o presidente da Câmara de Desenvolvimento da Indústria do Mobiliário da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), explica Arnaldo Huebl. São Bento do Sul e Rio Negrinho são as cidades com maior concentração de empresas do setor, mas o Oeste catarinense – segundo maior polo moveleiro do Estado –vem ganhando espaço no segmento. “Acreditamos que o ano será promissor, mas com a necessidade de mais investimentos
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em capital humano, infraestrutura, tecnologia e inovação”, observa Osni Carlos Verona, vice-presidente da Associação dos Moveleiros do Oeste de Santa Catarina (Amoesc) e do Sindicato das Indústrias Madeireiras e Moveleiras do Vale do Uruguai (Simovale). Ele acrescenta que a aplicação de recursos em processos industriais, que incluem tecnologias em máquinas e equipamentos, são fatores que deverão fazer de 2013 um ano mais competitivo para o segmento. Segundo o empresário, o foco da indústria do Oeste catarinense é customizar o parque fabril, investindo em produtividade e diminuindo gastos, de modo que produza mais, mas com um custo menor. “Também segue a tendência de utilização de materiais reciclados e de uso cores que proporcionem alegria nos ambientes. O segredo está em um design voltado aos desejos e soluções criativas que aperfeiçoem e personalizem espaços cada vez menores, mesmo com produções em larga escala”, acrescenta. Devido às metas atribuídas pelo Governo Federal em manter a mão de obra e não repassar preços ao mercado, a indústria moveleira conseguiu
O arquiteto Duvoisin aposta no reposicionamento da marca
assegurar uma nova prorrogação do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) em 2013 e a permanência da desoneração da folha de pagamento. As medidas deve dar novo fôlego ao segmento, que de 2005 a 2011 apresentou redução de 28% no número de trabalhadores.
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reconhece que o grande problema da indústria moveleira é o câmbio, mas ressalta que o dólar é apenas um dos elementos que emperram as exportações, já que as dificuldades do segmento também estão atreladas ao alto custo da logística e da matéria-prima. “Para colocar um contêiner no porto, só de frete, os gastos giram em torno de R$ 1.200, custo que não pode ser diluído”, diz o empresário. Segundo ele, para tornar as empresas nacionais competitivas, o governo precisa desenvolver uma política de exportação mais clara e com incentivos fiscais, a exemplo do que é oferecido por países concorrentes. A alternativa para a Weihermann manter o volume de negócios foi apostar no mercado interno. Voltar-se aos clientes nacionais, no entanto, não foi uma opção tão simples. Com uma estrutura direcionada para o exterior, foi preciso reavaliar as necessidades do consumidor brasileiro para desenvolver uma linha de produtos específica, explica Huebl. Já Ângelo Luiz Duvoisin relata que a Artefama decidiu apostar em design como alternativa para manter o volume de negócios. A marca assinou Divulgação
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Verona preocupa-se com a escassez de mão de obra qualificada para o ramo no Oeste
Mudança de foco As vendas da indústria moveleira catarinense para o exterior ganharam maior projeção a partir de 1990, com a abertura do país para o mercado internacional. Com a disparada do dólar, as exportações atingiram o pico em 2005. Pouco tempo depois, a queda da moeda americana obrigou as empresas a revisarem as estratégias de negócios. Ângelo Luiz Duvoisin, diretor comercial da Artefama, de São Bento do Sul, maior exportadora de móveis do Brasil, explica que o dólar despencou de R$ 3,60 para R$ 1,60, praticamente inviabilizando os negócios internacionais do segmento. Em São Bento do Sul, por exemplo, empresas tradicionais do segmento voltadas principalmente para o mercado externo foram obrigadas a fechar as portas. Arnaldo Huebl, que também é presidente da Móveis Weihermann,
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Huebl, em missão da Fiesc ao Japão, se surpreendeu com uso de madeira de florestamento
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um contrato com o designer paulista Marcelo Rosembaum, profissional que busca inspiração nos valores da brasilidade. Ele desenvolveu a linha de móveis Caruaru, que reposicionou a marca no mercado nacional. A coleção, de alto padrão e exclusiva para a empresa, foi inspirada no improviso de Caruaru, uma das maiores feiras livres do mundo, patrimônio cultural do Brasil em Pernambuco. O desenho dos móveis resgata os fundamentos construtivos e as formas dos mobiliários de exposição do famoso comércio popular nordestino. Duvoisin explica que, como o Brasil é um país multifacetado, com descendentes de várias etnias, desenvolver uma linha de produtos aqui é mais complicado do que em qualquer país europeu, acostumado a um estilo único. Com o reposicionamento da marca no mercado nacional, a empresa passou a desenvolver também uma linha de móveis com madeira maciça de reflorestamento, de aspecto envelhecido e que muito se aproxima às peças feitas com material de demolição. Como havia certa rejeição para os móveis de pinus no Brasil, os de madeira maciça quebraram a barreira e abriram novas perspectivas para a Artefama. As estratégias adotadas ajudaram
Empresa de São Bento do Sul sofreu bastante com a apreciação do Real, mas continua líder em exportação
a empresa a superar os momentos de maior dificuldade e também a retomar as vendas para outros países. Hoje, 60% dos produtos da marca são vendidos no mercado externo, principalmente para os Estados Unidos. Quem também aposta em design diferenciado, arrojado e exclusivo é a Formaplas, de Palhoça. Segundo o diretor de franchising da empresa, Fernando Demétrio, algumas características específicas da marca podem ser facilmente identificadas, como a ergonomia do mobiliário re-
sidencial e a customização dos produtos, com a eliminação de pontas que podem machucar com o contato do corpo. “São quatro acabamentos em laminados plásticos. As linhas de cozinhas, dormitórios, closet, home e banho de alto padrão ditam as tendências do mercado nacional”, enfatiza. Atualmente a empresa conta com 17 franquias. “Para ganhar mercado, buscamos constante atualização de produtos e conceitos, olhando atentamente para onde o mercado está caminhando.n
Exportações de móveis Exportações realizadas por Santa Catarina e Brasil e a participação catarinense em queda. Valor das exportações (US$ milhões) / participação catarinense (%)
Valor das exportações brasileiras (US$ milhões)
2003
2005
2006 SantaCatarina.ind
2007
2008
2009
911 214
272 2010
2011
19
1.063
23
260
331
378
378
449
441 2004
31
202
31
828
29
883
33
1.131
36
703 340
561 2002
Participação catarinense (%)
42
1.151
44
1.003 2001
291
234
509
514 232 2000
Valor das exportações catarinenses (US$ milhões)
1.052
48
1.076
52
46
45
Fonte: MDIC
2012
MoveleirO
PESQUISA
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Talhando o
sucesso
Design diferenciado e inovação fizeram de uma pequena marcenaria criada em 1938 referência do segmento no Brasil Por Adão Pinheiro
C
Parque industrial moderno e mão de obra qualificada tornam a Rudnick apta a atender ao mercado internacional
SantaCatarina.ind
Sul. “Em 75 anos de história a Rudnick passou por grandes mudanças e acompanhou diversas transformações da história e da economia local e nacional”, enfatiza. Investimentos constantes na qualidade dos produtos, no aprimoramento do design e no acompanhamento das tendências de decoração, aliados à consolidação de parcerias estratégicas com lojistas, são algumas das estratégias adotadas pela marca para crescer no segmento. Kahlow acrescenta que o Grupo Rudnick pretende investir principalmente em inovação, acessórios e acabamentos com o objetivo de ampliar a fatia do mercado dentro e fora do Brasil. O desafio, segundo ele, é viabilizar os negócios e posicionar a empresa em sintonia com o mercado e a mudança nos hábitos de vida e do consumo. “As adversidades e desafios são ultrapassados com a mesma motivação, ideais e sonhos deixados pelo fundador da fábrica, que não mediu esforços e dedicou todo o seu talento no trabalho com a madeira para conduzir a pequena fábrica ao caminho do sucesso”.n
História de sucesso A Rudnick hoje é um dos maiores complexos moveleiros do Brasil Funcionários 700 Área construída 65 mil m2 Exportações 10% da produção
Divulgação
onstruir móveis que se encaixem nos anseios do cliente fazem dos Móveis Rudnick, de São Bento do Sul, uma referência no Brasil e no exterior. Há 75 anos no segmento, a Rudnick destaca-se no mercado pela fabricação de itens com design diferenciado e inovação. Com produtos comercializados nas cinco regiões do Brasil, a empresa exporta 10% do total fabricado para os países da América Latina, Estados Unidos e África. Fundada em 12 de setembro de 1938 por Leopoldo Edmundo Rudnick, a empresa iniciou como uma pequena marcenaria instalada em um galpão localizado na Estrada Dona Francisca, interior de São Bento do Sul. Em 1946, o empresário resolveu se mudar para o bairro Oxford, no local onde hoje se encontra a unidade principal do grupo. A partir de 1959, com a entrada dos filhos como sócios, o empreendimento adquiriu novo impulso, iniciando uma fase de expansão e crescimento, culminando com o conglomerado atual. Hoje, o Grupo Rudnick conta com cerca de 700 funcionários, uma sede administrativa, três unidades fabris e um centro de distribuição que, juntos, somam 65 mil metros quadrados de área construída. Conforme o diretor de mercado Sandro Kahlow, a empresa mantém todas as unidades fabris em São Bento do
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tecnologia e informática Divulgação
Softplan/Poligraph lançou em janeiro a pedra fundamental de sua nova sede no Sapiens Parque
Coréia do Sul
brasileira
Empresas catarinenses constroem marcas próprias para seus produtos com o objetivo de expandirem o mercado Por Daniel Cardoso
O
s computadores pessoais que iriam revolucionar o mundo da informática davam os seus primeiros passos no Vale do Silício, no início da década de 1970, e os catarinenses já se mobilizavam para desenvolver o mercado de tecnologia por aqui. A primeira iniciativa emergiu em Blumenau, pegando carona na força do segmento têxtil – a grande vocação econômica da região. Na época, as indústrias tinham vários gargalos para organizar o volume crescente de dados, principalmente em relação à folha de pagamento. Para se ter noção do desafio, era comum uma grande empresa têxtil ter em seu quadro de funcionários SantaCatarina.ind
cerca de 10 mil pessoas. Um trabalho imenso que não poderia mais ser feito de maneira braçal. Preocupadas com a situação, as gigantes do segmento se uniram para montar uma espécie de cooperativa tecnológica. Era o Centro Eletrônico da Indústria Têxtil (Cetil). O Cetil criou uma infraestrutura tecnológica para dar assistência aos parceiros e processar toda a informação financeira e de pagamento de pessoal. Com o passar o tempo, os equipamentos de tecnologia foram barateando e as indústrias mudaram de estratégia, internalizando todo o serviço de informática. Seria o fim do Cetil? Pelo contrário. Foi aí que o mercado de
tecnologia e informática Divulgação
Secretário de CT&D de Florianópolis vai implantar uma rede digital no município
Referência internacional A Nexxera oferece todas as linhas de meios de pagamento, recebimento e conciliação, adaptadas à característica local de cada país, mas com base no know how brasileiro. “A estratégia principal Divulgação
tecnologia começou a se expandir e se firmou como alternativa viável para a economia local. “O Cetil não ficou de braços cruzados. O centro aproveitou a boa infraestrutura que tinha construído e galgou novos mercados, vendendo soluções para indústrias do país inteiro”, lembra Joe Linder, presidente do Blusoft. Depois, houve uma nova mudança radical. “Muitos funcionários do Cetil resolveram empreender e abrir suas próprias empresas, desenvolvendo softwares para demandas diferentes, principalmente programas voltados para gestão de indústrias”, complementa. Surgia o embrião que veio transformar a indústria local em um dos principais polos de tecnologia do país. Com o tempo, o segmento ganhou uma magnitude tão grande que o secretário de Tecnologia de Florianópolis, Rui Gonçalves, não se acanha em dizer que o Estado é quem puxa a inovação no país e sonha em ver Santa Catarina se transformar em uma Coréia do Sul em terras brasileiras. Isso por causa de uma característica única
das empresas locais. Segundo Gonçalves, os empreendedores daqui desenvolvem negócios com uma marca própria, enquanto o restante do país costuma trabalhar sob demanda puxada por necessidades de grandes companhias, como a Petrobras, por exemplo. “Em geral, as empresas da região criam seus produtos e serviços para, só depois, partir em busca de clientes. Por isso, fortaleceram as marcas para desbravar o mercado de tecnologia. Criaram soluções que podem ser replicadas e consumidas no mundo inteiro”, explica Gonçalves. O secretário cita como exemplos a Nexxera (sistema para bancos) e a Segware (segurança). As duas desenvolvem plataformas e soluções que pouco a pouco começam a ganhar penetração no mercado internacional.
Para Marafon, há oportunidades para empresas com atuação local e regional
SantaCatarina.ind
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é oferecer soluções para o mercado financeiro, onde o Brasil é referência internacional”, diz Edson Silva, presidente do grupo, que iniciou operações nos Estados Unidos e Colômbia em 2008, mas precisou rever o plano original de internacionalização. “A crise internacional nos fez recuar da estratégia inicial de vendas no exterior e focar em organizações globais e internacionais com presença no Brasil, visando um crescimento da Nexxera no mercado exterior a partir delas”, afirma. Hoje a empresa atende multinacionais presentes nos Estados Unidos, América Latina e Europa. Já a internacionalização da Segware é mais recente. “Nosso processo de abertura tem menos de oito meses. Neste momento, estamos focados na conquista de parceiros, e também em participações em feiras e seminários”, diz o presidente Luiz Henrique Bonatti. Após dois anos de planejamento e adequação de produtos e serviços, a empresa fechou contrato em dezembro do ano passado com a colombiana CECOM, especializada em monitoramento de grandes petroleiras. Desde agosto de 2012 a Segware mantém um escritório em Miami, o que vem trazendo importantes resultados, segundo Bonatti. Carlos Alberto Schneider, presidente do Conselho de Entidades de TIC de Santa Catarina (CETIC-SC), também reforça o DNA diferenciado dos empreendimentos digitais como motor para o desenvolvimento. “As empresas de tecnologia da informação e comunicação catarinenses se destacam pelo grau de inovação e por estarem mais centradas em produtos do que na prestação de serviços. De especial destaque é o grande número de empresas que oferecem soluções em hardware e software, resultando em produtos de elevado grau de valor agregado”, diz Schneider.
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tecnologia e informática Divulgação
Porte acanhado Apesar dos bons resultados conquistados pelos catarinenses, as maiores empresas regionais de tecnologia não conseguem se firmar como megacompanhias. É possível contar nos dedos quantas faturam mais de R$ 100 milhões por ano. Mas por que elas não superam esta barreira? Para Gonçalves, o que está faltando é mais incentivo público para capitalizar nossos empreendimentos. As linhas públicas de fomento oferecidas pelos governos são focadas em start ups (empresas nascentes) e oferecem linhas reduzidas. É uma iniciativa excelente para empreendedores que recém-abriram algum negócio, mas pouco útil para aqueles que já estão consolidados no mercado e almejam crescimento rápido. Sem uma injeção significativa de recursos, fica difícil dar um salto de crescimento. “Uma alternativa para driblar o problema de capitalização seria ingressar no Bovespa Mais (programa da BM&F Bovespa voltado para pequenas empresas)”, afirma Gonçalves. Ao abrir o capital, uma empresa de tecnologia catarinense poderia receber um aporte de recursos suficiente para acelerar o crescimento. “Porém, ainda há muita burocracia, dificultando a implementação dessa estratégia”, pondera o secretário. Quem decidiu encarar de frente os desafios e acelerar a expansão é a Softplan, de Florianópolis. Em 2010, quando o negócio completou 20 anos de fundação, os sócios-diretores traçaram uma meta ousada: crescer duas décadas em cinco anos – em termos de faturamento. Para isso, a empresa passou a olhar com mais atenção não apenas para o mercado, mas também para dentro de suas paredes. A Softplan elaborou um plano estratégico com consultoria da renomada Fundação Dom Cabral e
Edson Silva, da Nexxera, diz que o Brasil é a bola da vez para o mercado internacional
colhe resultados rápidos. Em 2013, já está perto da meta inicialmente estipulada para 2015, graças ao investimento em processos inovadores, desenvolvimento de lideranças e atuação em novos setores. Processos dinamizados Um programa de inovação implantado há um ano tem atuado com o objetivo de melhorar e dinamizar processos na empresa. “É a busca da inovação não somente no desenvolvimento de soluções, softwares e sistemas, mas também na forma de se fazer negócios, na gestão organizacional, no desenvolvimento das pessoas e equipes, no marketing, suporte, em todas as áreas”, explica Moacir Antônio Marafon, sócio-diretor da Softplan. Para seguir marchando com passos firmes, a empresa precisará superar outro desafio: a escassez de mão de obra, que atinge todo o segmento. Um estudo realizado em 2011 pela Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) estima que a área de software terá quase 9 mil vagas em aberto até 2015. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego em SantaCatarina.ind
TI, publicada em março pelo Sindicato das Empresas de Processamento de Dados do Estado de São Paulo, Santa Catarina registra um crescimento médio de 14,7% ao ano da demanda por profissionais de TI desde o fim de 2006, bem acima da média nacional, de 9,5%. Em novembro de 2012, o Estado empregava 29,7 mil pessoas na área, 6,9% do total brasileiro. Abismo que assusta os empreendedores e pode comprometer a expansão do segmento. Para evitar esse quadro negativo, a indústria já arregaçou as mangas e tentar vencer o problema, como explica Linder, da Blusoft: “nos últimos cinco anos investimos pesado em capacitação; formamos mais de 2,5 mil programadores e analistas de sistemas em Blumenau durante o período.” Esse número se refere apenas aos trabalhos realizados no polo de informática, sem contar os estudantes formados nas faculdades e nos cursos técnicos. Com recursos para expansão e mão de obra em formação, Santa Catarina persegue o sonho de ser a Coréia do Sul em terras brasileiras.n
Mão de obra escassa Programa GeraçãoTec, do governo estadual, vai ajudar a formar profissionais na área 10.098 pessoas trabalham nas empresas pesquisadas (354), a maioria em Florianópolis (36%). 2.272 vagas estavam abertas para contratação imediata. 11.771 vagas estarão em aberto no Estado até o ano de 2015. Desse total, 8.731 só no ramo de software. 74% dos empregados estão trabalhando em empresas de software, 20% em serviços e 5% em hardware. Até 2015, os perfis de profissionais mais demandados serão: analista desenvolvedor (1.047 postos de trabalho até 2015), analista de sistemas (1.030), programador Java (523), analista de implantações (399) e programador .Net (381). Fonte: Acate/2011
Tecnologia e Informática
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Trajetória
exemplar
Empresa abriu capital, comprou concorrentes e alcançou faturamento acima de R$ 1 bilhão Por Daniel Cardoso
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aior empresa de software de gestão do país, a Totvs desembarcou com força em Santa Catarina no ano de 2008. A porta de entrada foi a aquisição da Datasul, de Joinville, que na época também era considerada uma potência no ramo. Graças à negociação, a Totvs ganhou ainda mais envergadura e se firmou como um dos principais players globais. Alguns números expressam a força da Totvs. Em 2012, a empresa conquistou uma receita líquida de R$ 1,4 bilhão, um aumento de 10% se comparado com o desempenho do ano anterior. No total, está presente em 23 países, possui 71 franquias e nove filiais, além de 26 mil clientes. É a 6ª maior desenvolvedora de sistemas de gestão integrada (ERP) do mundo. Nesse universo, Joinville passou a ter um papel preponderante. Com a aquisição da Datasul, a Totvs transformou a cidade em seu maior centro de pesquisa e desenvolvimento, com 1.200 empregados. “A gente reconhece que Santa Catarina tem características muito interessantes, como a formação de profissionais competentes, a cultura de valorizar as carreiras no ramo da tecnologia e de incentivar o empreenGilsinei Hansen iniciou sua carreira na Datasul em 1994, no desenvolvimento de software dedorismo. Em JoinvilSantaCatarina.ind
le, desenvolvemos soluções e tecnologias voltadas para o mercado, como o projeto do novo e-learning”, diz Gilsinei Hansen, vice-presidente de Sistemas e Segmentos da Totvs. Para alcançar o status de empresa bilionária, a Totvs trabalhou duro. Ganhou musculatura com a estratégia de fusões e aquisições (47 no total), muitas vezes utilizando transferência de ações como pagamento. Outra decisão vital para o sucesso foi lançar-se à Bolsa de Valores. Com os recursos provenientes da abertura de capital, ganhou fôlego para seguir se expandindo. De acordo com informações da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital, em abril de 2006, antes do IPO (realizado em abril daquele ano), a empresa apresentava faturamento de R$ 220 milhões. No final de 2009, o valor já ultrapassava R$ 980 milhões. “Para alavancar o crescimento, o empresário precisa pensar formas de chegar a um outro patamar. Hoje, por exemplo, há linhas de créditos bem interessantes”, ressalta Hansen. “As empresas também podem recorrer a IPOs, Bovespa Mais e a fundos de investimentos. Há cinco anos, as estratégias eram mais escassas. Agora, tudo está mais acessível”, complementa. Uma trajetória que poderia servir como inspiração para empresários de tecnologia do Estado.n
Líder absoluta A Totvs, sexta maior empresa de ERP do mundo, tem 55,4% do mercado brasileiro e 35% do Latino-americano Receita R$ 1,4 bilhão (2012) Crescimento em relação a 2011 10% Estrutura 71 franquias e nove filiais Clientes 26 mil em 23 países
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tÊXTIL e vestuário Divulgaçao
Suspiro
desejado
Aquecimento da economia deve ajudar o segmento a superar dois anos de retração, mas valorização da marca é essencial para concorrer com mercado asiático A Círculo detém o maior parque fabril de fios para artes manuais da América Latina
O
segmento de têxteis e confecções precisa de inovação constante. A afirmação é do diretor da Fakini Malhas, de Pomerode, Francis Fachini. Segundo ele, a necessidade de se adequar às tendências vindas do exterior, àquelas lançadas pela mídia e às estratégias usadas pelas grandes grifes exige uma evolução permanente. “Isso traz muito dinamismo ao segmento. Algumas marcas têm se destacado por fazer um trabalho no mercado nacional, valorizando seu produto, sua marca e se transformando em referência em sua áreas, como a Dudalina e Hering, por exemplo, que se reinventaram nos últimos anos.” Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário (Sintex), Ulrich Kuhn, está na mão do segmento um 2013 melhor para aqueles que tiverem ati-
tudes mais dinâmicas, eficientes, inovadoras e flexíveis nas operações. “É preciso entender o mercado, atender a demanda e ter noção da capacidade inerente de cada atividade e empresa.” Segundo ele, o crescimento deve variar entre 3% e 5% durante o período, mesmo com o continuado movimento de importação. Perspectiva semelhante à da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), que prevê crescimento nacional de cerca de 2% em 2013. De acordo com o presidente do Sintex, há uma tênue interrupção de um processo negativo, porém ainda existe muita indefinição no horizonte das relações comerciais. A expectativa de um ano melhor está relacionada à possibilidade de que o crescimento do PIB será maior em 2013, segundo Kuhn. Pimentel SantaCatarina.ind
Por Deise Furtado
explica ainda que medidas como desoneração da folha salarial, redução do custo da energia, fim da guerra dos portos e queda na taxa de juros devem refletir positivamente nas indústrias têxteis de Santa Catarina. Prova dessa melhora é que nos primeiros dois meses de 2013 o segmento já admitiu mais do que no ano passado inteiro. Em todo o Brasil, as indústrias têxteis contrataram 14 mil funcionários. Só em Santa Catarina foram cerca de 5 mil – proporcionalmente é o estado que mais cresceu. Segundo o presidente do Sintex, o fato é ainda mais relevante se levarmos em conta que, devido à situação de pleno emprego que vivemos, a empresa, mesmo que tenha uma atividade industrial menor, acaba não demitindo, porque depois não terá como preencher a vaga.
tÊXTIL e vestuário Edson Pelence/Divulgação
Em 2014, Ulrich Kuhn completa 30 anos à frente do Sintex
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Perigo à vista Hoje, segundo o diretor-presidente da Círculo S/A, José Altino Comper, o que mais preocupa é a falta de mão de obra qualificada – cada vez mais cara – e o chamado custo Brasil. “O setor têxtil não vê nenhuma catástrofe pela frente, o Brasil é que precisa mudar”, afirma Kuhn. Para ele, o Paraguai ainda vai atrair muita gente. Será um território para onde certamente as indústrias irão imigrar, já que lá é tudo mais barato, tem mão de obra e possui processos bem menos burocráticos. Para resolver o problema da falta de profissionais no mercado, as empresas de Santa Catarina devem passar por uma gradativa migração das atividades de mão de obra intensiva para outras regiões do país, como Norte e Centro-Oeste. “Esse é um processo que já está em andamento. Se você olhar, há 10 anos tínhamos mais de 40 mil pessoas, só na região de Blumenau, ligadas diretamente à indústria têxtil. Hoje temos no máximo 22 mil com envolvimento direto nesse mercado. E esse é um processo absolutamente normal. A Hering, por exemplo, tinha uma confecção em Rodeio que trabalhava dois
turnos. Atualmente, trabalha apenas um turno porque não tem quem ocupe as vagas.” A Altenburg, de Blumenau, é outro exemplo dessa migração. Segundo o diretor comercial e de marketing, Gláucio Gil de Souza Braga, a empresa ampliou a cobertura de mercado por meio de novas linhas de produtos nas unidades do Nordeste (Sergipe) e com a abertura de uma área de produção em São Roque (SP). “Com mais unidades produtivas, aumentamos nosso poder de distribuição. Em especial dos travesseiros, categoria que exige uma alta expertise logística”, afirma. Outra preocupação do segmento, destaca Comper, é a facilidade para importações com custos menores, o que deixa as indústrias brasileiras com muitas dificuldades para competir com as empresas asiáticas mesmo no mercado doméstico. De janeiro a novembro de 2012, houve queda de 4,6% na produção do segmento têxtil e recuo de 10,5% na de confecções. No varejo, o ramo de vestuário avançou 3,4% em volume, movido pelo aumento de 19,6% nas importações no período. Em 2010, o Brasil importou U$ 616 milhões na área de vestuário. Em
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2011 foram U$ 1 bilhão e em 2012 U$ 1,25 bilhão. Segundo Kuhn, nossa moeda está forte e os brasileiros de melhor renda estão viajando para comprar produtos em Miami. “Isso reduz nossa capacidade de negócios, pois, em média, 60 toneladas de produtos brasileiros deixam de ser vendidos no mercado interno, afetando diretamente a rentabilidade das empresas que aqui produzem.” A participação do vestuário importado no mercado interno, no entanto, ainda é pequena, na faixa de 11% do consumo nacional. Kuhn enfatiza que, por enquanto, o foco está na importação de itens que não são fortes por aqui como, por exemplo, peças de inverno ou ainda produtos que exigem muita mão de obra, como uma bermuda cargo de 10 bolsos. “Mas isso pode mudar; e é essa uma das nossas grandes preocupações”, alerta. Além do aumento das importações e da diminuição da atividade econômica nos últimos anos, a instabilidade dos preços da principal matéria-prima do segmento, o algodão, fez de 2011 e 2012 uma época particularmente complicada para a indústria têxtil. “Teve gente que comprou por um preço caro e depois essa situação se reverteu muito rapidamente”, diz Kunh. Durante esse período a produção chegou a cair 15% em todo o país. A indústria têxtil não irá desaparecer, afirma o presidente do Sintex, mas ele assegura que haverá uma mudança nas atividades mais intensivas, como confecção. “Não adianta remar contra a maré. Esse é o caminho que o segmento precisa seguir para se manter estável”.n
A indústria têxtil e de vestuário O segmento é tradicionalmente representativo no setor industrial do Estado
José Altino Comper, da Círculo, tem como foco o fortalecimento da marca no exterior
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Número de estabelecimentos 9.702 mil Número de empregados 169.434 Fonte: Sintex (2011)
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Têxtil e vestuário
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Marca
valiosa
Empresa centenária superou a crise do segmento e continua fazendo parte da história dos brasileiros Por Deise Furtado
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aior franquia de vestuário do Brasil, a Cia. Hering comemora os mais de 130 anos de uma história da qual se orgulha muito. Reconhecida por mais de 90% dos brasileiros de todas as classes sociais, desde 2006 a empresa vem se reestruturando para continuar crescendo. Foram desenvolvidas estratégias, desde captação de recursos em Bolsa de Valores até a reestruturação de marcas, passando pela renegociação de dívidas e remodelação de contratos, investimentos em tecnologias da informação e formação de capital de giro. Todas essas ações contribuíram para o crescimento e melhoria da companhia nos últimos anos. “Empresas que investem em seus produtos, em suas marcas e acreditam na comunicação direcionada aos seus stakeholders podem se diferenciar em sua estratégia de desenvolvimento. E chamo atenção: a questão da inovação é fundamental para a competitividade no mercado”, diz Carlos Tavares D´Amaral, diretor administrativo da Cia. Hering. O conceito inovação é empregado por D´Amaral em seu sentido mais amplo: inoEmpresa opera no mercado com as marcas Herinng, Hering Kids, PUC e Dzarm vação de processos, de SantaCatarina.ind
produtos, de modelos de gestão e de negócios. “Só um novo olhar sobre toda cadeia produtiva poderá gerar valor dentro de um modelo sustentável. Agregar valor e gerar desejo de consumo a partir do entendimento do comportamento e life style do público-alvo são desafios que as indústrias precisam encarar.” A Cia. Hering é fundadora do Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC), um programa que há oito anos promove o diálogo entre empresas, instituições de ensino, alunos, governo e sociedade. “O objetivo é capacitar e ampliar o olhar para um estado que sempre foi reconhecido por seu parque industrial e, em algum momento, mostrar ao Brasil e ao mundo, que o que se produz neste Estado vai além da qualidade: aqui temos design, inovação e criatividade”, afirma D´Amaral. “Acreditamos nesta forma de associativismo para a inovação”, ressalta. Em 2012, a Hering foi indicada pela consultoria Interbrands como a empresa que mais cresceu em valor de marca, chegando à cifra de US$ 212 milhões. Com o crescimento, assume o 6º lugar no ranking das marcas mais valiosas do país.n
Descontentamento Apesar de positivo, desempenho da empresa ficou abaixo do esperado pela administração Receita Líquida R$ 1,5 bilhão (crescimento de 10,2% em relação a 2011) Lucro líquido R$ 311 milhões (crescimento de 4,6% em relação a 2011) Valor de marca US$ 212 milhões Fonte: Hering e Interbrands (2012)
aRTIGO
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A indústria deve
crescer em 2013 S
.etor dinâmico da economia, que promove a inovação e o desenvolvimento tecnológico e gera emprego de qualidade, a indústria brasileira deverá ter um ano melhor em 2013. Depois de uma que-
da de 0,8% no ano passado, liderada pela indústria de transformação, que recuou 2,5%, as estimativas mais recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam para um crescimento da indústria de 2,6% em 2013, com o PIB, o Produto Interno Bruto,aumentando 3,2%. São números tímidos, é verdade, principalmente se comparados com as perspecDivulgação
tivas econômicas de outros países emergentes, mas contrastantes com a baixa performance do produto industrial em 2012. O comportamento da indústria no primeiro trimestre, confirmando uma recuperação gradual verificada a partir de meados do segundo semestre de 2012, fortalece a perspectiva de um ano melhor para o setor. A pesquisa Indicadores Industriais, realizada mensalmente pela CNI, apontou um aumento do faturamento real de 3,6% em março comparativamente a fevereiro, sem a influência dos fatores sazonais. Na mesma base de comparação, o emprego na indústria cresceu 0,2%, a massa salarial, 0,8%, e o rendimento médio real manteve-se estável. A utilização
Marcelo Souza Azevedo Economista da Unidade de Política Econômica da CNI
da capacidade instalada registrou um leve recuo, de 82,2%, em março, contra 82,5% no mês anterior, pelos dados dessazonalizados. Tal recuo, porém, não é alarmante, porque o baixo ritmo da recuperação da indústria resulta em maior volatilidade dos indicadores. A recuperação da atividade industrial, embora lenta, se deve principalmente aos fatores combinados de fim dos estoques indesejados, já no ano passado, e da manutenção do consumo familiar. A perspectiva de que a indústria cresça 2,6% em 2013 se baseia, sobretudo, na possibilidade de aumento dos investimentos privados, como resposta às medidas do governo de redução dos custos das empresas, como a diminuição das tarifas de energia e a desoneração da folha de pagamentos, e do estímulo às participações de recursos privados em infraestrutura.n
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Entrevista
Rumo firme à
nova economia A indústria automotiva é apenas um dos sete segmentos econômicos considerados essenciais pelo governo para o futuro de Santa Catarina Por Alexsandro Vanin e Victor Emmanuel Carlson
Daniel Queiroz/Notícias do Dia
A BMW representa o início de um novo ciclo na economia catarinense? Ela é a nova economia. Ela é o acordar do Estado para uma realidade já diagnosticada. Os segmentos econômicos instalados em Santa Catarina, que nos trouxeram até aqui durante as últimas décadas, vem perdendo dinamismo econômico por razões estruturais e conjunturais, e não se sustentam na passagem para a nova economia. Por isso nós temos que atrair segmentos dinâmicos da economia mundial que podem vir para cá, que no Brasil é o melhor estado para se instalar. Santa Catarina é um Estado Premium. Só que nós temos que fazer valer essa condição. Para isso precisamos investir na nova economia. Dois segmentos estratégicos já são dinâmicos e estão andando bem: tecnologia da informação e logística. Os outros que precisamos atacar são energia, saúde, defesa, automotivo e educação (este como cluster, como negócio). Enfim, são esses sete segmentos que hoje Santa Catarina tem que desenvolver. Esses setores representam essa nova economia? Fazem parte da economia dinâmica, da nova economia. A partir daí, com um trabalho muito forte junto da pequena empresa, que é a base da economia catarinense, e no investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação, temos um novo ciclo virtuoso para o Estado. SantaCatarina.ind
Qual a perspectiva de que Santa Catarina ser a nova fronteira automobilística no Brasil? Já é. A empresa que está se instalando em Santa Catarina é a número um do mundo. Já temos a perspectiva da vinda de outras montadoras? Isso é tudo consequência. Provavelmente sim. Com a BMW vai se desenvolver uma indústria de serviços e de fornecedores muito grande. Outras montadoras ou outras empresas fornecedoras? Ambas. Teremos um salto qualitativo em pesquisa e desenvolvimento no Estado com a participação da BMW, que tem um acordo para trazer tecnologia com uma base de pesquisa da própria empresa instalada aqui. Nesse acordo há uma obrigação da BMW de multiplicar os negócios aqui? Não é uma obrigação. O acordo ele é claro: a BMW vem, o Estado é parceiro e ela traz tudo que tem. É uma indústria que vai trabalhar com gestão territorial integrada, com obrigações que ela já faz sem que o Estado exija. Mas ela tem obrigações com o governo federal de aplicar em Santa Catarina uma linha “Roll-on/ Roll-off” (para desembarque de carros através de navios especializados nesse transporte) nos portos e trazer uma nova atividade que o Estado não tem, valorizando nossas atividades portuárias.n
EDUCAÇÃO
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Volta às A
Governo e Senai lutam contra a baixa escolaridade e a falta de qualificação da mão de obra para elevar a produtividade Por Eduardo Kormives
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Segundo Clara, oferta de cursos considera necessidades apontadas em pesquisas
aulas
prosperidade recente do Brasil criou uma situação impensável algumas décadas atrás: ficou difícil encontrar gente suficiente – sem falar em mão de obra qualificada – para preencher as 461,5 mil vagas que a indústria catarinense deve abrir até 2015, segundo o cálculo do Senai. “Vivemos um momento de modernização do parque industrial. Hoje, a pessoa com nível fundamental não consegue se encaixar às vezes até em funções básicas, que exigem conhecimento de informática”, afirma a reitora do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Clara Kaschny Schneider. O governo federal tem procurado melhorar a qualificação profissional do brasileiro, como mostram os números da instituição, que se reinventou para crescer sete vezes nos últimos sete anos, multiplicando os campi espalhados pelo Estado, de três para 21. Mais do que isso, passou a considerar o potencial econômico de cada região na hora de decidir os cursos serão ofertados. Os resultados positivos não demoraram a surgir. O IFSC conta hoje com um orçamento de R$ 250 milhões e 20 mil estudantes – com meta para ultrapassar os 30 mil daqui a cinco anos – que frequentam desde a educação continuada até a pós-graduação. Em torno de 60% das vagas referem-se a cursos técnicos, com duração mínima de um ano e meio na área industrial. O IFSC é hoje o melhor instituto federal do país, segundo o MEC, e o 22º colocado no ranking das universidades, faculdades e centros universitários. SantaCatarina.ind
A educação técnica é uma das prioridades, sem dúvida, mas é fato que o desafio começa muito antes. Segundo dados do Ministério do Trabalho, dos 740 mil trabalhadores empregados na indústria catarinense, 53% – quase 400 mil – não têm o ensino básico completo. Dentre as várias opções de cursos que o IFSC oferece está o Proeja, um programa que acelera a formação de jovens e adultos ao oferecer educação básica e profissional simultaneamente. O envolvimento das empresas é visto como fundamental, e a Fiesc lançou o movimento “A Indústria pela Educação” em setembro. A instituição pretende investir R$ 330 milhões em infraestrutura e ações educacionais a fim de ampliar em 54% a oferta de vagas de formação básica, continuada e técnica no sistema Fiesc, num total de 795 mil matrículas até 2014. Além disso, o movimento busca a adesão de empresas, que assumem o compromisso de incentivar seus funcionários a retornarem às aulas – 550 já integram o movimento. Nestas indústrias, a evasão na educação de jovens e adultos é de 2%, contra a média de 30% no Estado e de 50% no País. Um segundo desafio é que mais trabalhadores concluam o ensino médio – apenas 39% dos funcionários das indústrias catarinenses. O ideal seria 85%, para nivelar com o índice de países desenvolvidos e garantir mão de obra suficiente para operar um maquinário cada vez mais sofisticado.n
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COMÉRCIO EXTERIOR
definitivo
Estrutura portuária de Santa Catarina facilita o despacho de mercadorias
Estado vem perdendo participação nas exportações brasileiras, mas as empresas devem procurar manter suas operações no mercado externo como estratégia de crescimento no médio e longo prazo Por Cléia Schmitz
Q
uem exporta sabe que os desafios são grandes. E velhos conhecidos: política cambial desfavorável, alto “custo Brasil”, concorrência acirrada e crise nos principais países compradores. Tudo isso – somado ao crescimento do mercado interno e à redução da participação de produtos industrializados na pauta de exportações brasileiras – foi determinante para que Santa Catarina perdesse na última década cinco posições no ranking dos maiores estados exportadores. Éramos o quinto até o início do século 21, com 5,2% das vendas externas, e hoje somos o décimo, com 3,8% registrados no primeiro bimestre de 2013. No ano passado, as exportações catarinenses fecharam em queda de 1,44%, totalizando US$ 8,9 bilhões, SantaCatarina.ind
segundo dados da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc). O resultado do país foi ainda pior: queda de 5,3%em relação a 2011, motivada principalmente pela fraca atividade econômica mundial. Os dois primeiros meses de 2013 não indicam uma mudança de cenário. Pelo contrário. De janeiro a fevereiro, as vendas das empresas do Estado para o exterior tiveram queda significativa de 14,35%, comparadas ao mesmo período do ano anterior. Para o professor Manoel Antônio dos Santos, coordenador do curso de Comércio Exterior da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), a principal razão para o declínio da participação do Estado nas exportações brasileiras é que Santa Catarina absorveu como poucos estados os efeitos da crise in-
Victor Carlson
Caminho
COMÉRCIO EXTERIOR Divulgação
ternacional. “Além disso, temos uma pauta de exportações cada vez mais carente de produtos industrializados. Em 2012, exportamos 52% de manufaturados contra 44% de produtos básicos, com menor valor agregado”, explica o professor. Em 2001, os manufaturados representavam 62% das vendas externas de Santa Catarina. Uma pesquisa da Fiesc com indústrias exportadoras mostra que a participação das exportações sobre o faturamento caiu nos últimos anos. Quatro em cada dez empresas disseram ter reduzido o volume de vendas ao mercado externo. O levantamento também mostrou estagnação no número de exportadores em Santa Catarina. Em 2001, existiam 1.447 empresas nesta condição; em 2004, eram 1.613; o ano de 2011 fechou com 1.436. “Atender ao mercado interno é mais fácil para muitas empresas do que enfrentar o pesadelo das exportações”, afirma a economista Maria Teresa Bustamante, presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc. Mais fácil com certeza, mas não necessariamente melhor. Para Bustamante, investir no comércio exterior independe de momento e tem que fazer parte da estratégia das empresas que buscam alavancar o crescimento.
Kreis Júnior, da Raumak, referência mundial em movimentação de produtos
“Existe um leque de benefícios no comércio internacional que não pode ser visto apenas do ponto de vista da remuneração. O olhar globalizado traz acesso a tecnologias diferenciadas e novas políticas comerciais. Isso faz com que as organizações estejam prontas a qualquer momento para atender às demandas do mercado”, explica a economista. Kreis Júnior, diretor presidente da Raumak Máquinas, de Jaraguá do Sul, concorda que as exportações fortalecem os negócios no mercado in-
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terno. “É uma ótima vitrine”, afirma. Fundada em 1981, a empresa fabrica equipamentos com alta tecnologia para acondicionamento e movimentação de produtos e começou a exportar no ano 2000. Hoje, as vendas para o exterior representam cerca de 50% do faturamento da Raumak, mas a última década trouxe altos e baixos para a empresa. Em 2009, a participação do mercado externo na receita caiu de 58% para 25%. Apesar do momento crítico, a Raumak decidiu não descartar os investimentos já feitos na área. “Investimos por ano R$ 700 mil em quatro feiras internacionais e três no Brasil. Elas costumam gerar uma carteira de negócios para seis meses”, conta o empresário. A América Latina e os Estados Unidos são os principais destinos das exportações da empresa, mas a Raumak já começou a negociar com o mercado asiático, particularmente com a Tailândia. “Nosso Plano Raumak 2017 prevê dobrarmos o faturamento. Novos mercados para as exportações fazem parte dessa estratégia,” afirma Júnior. Os famosos obstáculos impostos aos exportadores também não assustaram a cooperativa Sanjo, de São Joaquim. Recentemente, a vinícola exportou 126 caixas do seu premiado
Exportações de móveis Balança Comercial Catarinense (Bilhões US$ FOB – 2013 = Janeiro e fevereiro)
Fonte: MDIC/SECEX
Exportações e Importações / Saldo
Importações catarinense (US$ milhões) Saldo (%)
11.9
0.3
2002
2003
2004
2005
7.5
(5.8)
(5.6)
(1.0)
1.1
(4.3)
2006
2007 SantaCatarina.ind
2008
2009
2010
2011
2012
2.1
7.2
6.4
7.9
8.3 5
7.3 3.4
5.9 2.1
1.5
5.5
4.8 0.9
3.7 0.9
0.8
3.1
3.0
(0.8)
2001
14.5
14.8
2.3
8.9
2.5
9.0
3.3
2.7
2.2
2.1
Exportações catarinenses (US$ bilhões)
3.4
2013
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COMÉRCIO EXTERIOR
Sanjo trabalha para conquistar o mercado externo
dirmos nossa linha de produtos. Isso significa que podemos manter crescimento de receitas mesmo em mercados em que não observamos crescimento econômico geral”, afirma Laurence Beltrão Gomes, Diretor de Finanças e de Relações com Investidores. Os principais mercados da WEG são Estados Unidos e Europa, mas há um crescimento significativo na África e uma forte presença na América Latina. Divulgação
Plano de ação A Sanjo está desenvolvendo um plano de exportação para traçar estratégias de inserção da marca no mercado externo. Por enquanto, o trabalho é feito por uma trade de São Paulo. Entre 16 e 20 de junho próximos, a cooperativa participa, junto com outras vinícolas da Serra Catarinense, da Vinexpo, em Bordeaux, na França. “Ainda estamos desenvolvendo o mercado interno, mas precisamos projetar o vinho brasileiro no exterior porque, em pouco tempo, as vinícolas que não exportarem não vão conseguir se manter”, acredita Maiara. E, segundo ela, o maior obstáculo ainda é provar que é possível fazer vinhos de qualidade no Brasil. Para quem não precisa provar mais nada e já consolidou sua vocação como exportadora, as vendas ao exterior seguem em ascensão. É o caso da Weg, de Jaraguá do Sul. Em 2001, a empresa exportou R$ 284 milhões. No ano passado, foram R$ 3,2 bilhões. Nos últimos cinco anos, a participação do comércio externo na receita da empresa passou de 41% para 51%. O resultado inclui tanto as exportações feitas a partir do Brasil como a produção nas cinco unidades produtivas que a WEG mantém no exterior. “Este crescimento é resultado da execução de nossa estratégia de buscarmos novos mercados e, uma vez consolidada nossa presença, expan-
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Núbio Sauvignon Blanc para Londres, no Reino Unido. Os primeiros contatos com o importador foram feitos durante a edição 2012 da London Wine Fair, que reuniu 2.400 vinícolas do mundo inteiro. “As vendas em Londres foram um sucesso, tanto que continuamos negociando com o importador, inclusive para inserir outros produtos da cooperativa”, afirma Maiara Alves Tomaz, do departamento comercial da Sanjo.
Maria Teresa esteve à frente do comércio exterior da Embraco até dois anos atrás
SantaCatarina.ind
Segundo Gomes, a expansão no mercado externo é fundamental para o cumprimento dos objetivos traçados pelo Plano WEG 2020. “As metas são bastante agressivas. Buscamos uma ampliação das operações no exterior da empresa, incluindo estratégias para a consolidação de posições conquistadas, expansão do portfólio de produtos e a entrada em negócios complementares. Este crescimento será tanto orgânico, com a ampliação das operações existentes, como por aquisições”, adianta o executivo. Para a empresa, o crescimento frente a uma conjuntura mundial de baixa produtividade é uma prova da competitividade conquistada pela WEG. E dois são os principais fatores que levaram a este cenário: o reconhecimento que a marca conquistou no mercado externo e a constante atualização tecnológica de seus produtos. Na avaliação da economista Maria Teresa Bustamante, quem conseguiu resistir aos entraves para as operações de exportação saiu fortalecido. “Quem recuou, quando quiser voltar infelizmente vai encontrar seus clientes sendo atendidos por outros”.n
COMÉRCIO EXTERIOR
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Ranking dos principais destinos Os Estados Unidos se mantiveram no topo com US$ 1,017 bilhões em compras;, alta de 2,6%
6º Reino Unido 1ºEstados Unidos
4º
Países Baixos Alemanha
7º
8ºRússia 5º
2ºJapão
China
10º México
Hong Kong
12ºParaguai África do Sul
Argentina
11º
3º
Principais produtos exportados por SC em 2011 (US$ mil) Carnes e miudezas de aves comestíveis, frescas, refrigeradas ou congeladas 1.933.145,6 Tabaco não manufaturado; desperdícios de tabaco 898.880,5 Motores e geradores elétricos, exceto os grupos eletrogêneos 591.226,7 Bombas de ar ou de vácuo, compressores de ar ou de outros gases e ventiladores 508.813,2 Carnes de animais da espécie suína, frescas, refrigeradas ou congeladas 452.018,8 Partes reconhecíveis como exclusiva ou principalmente destinadas a motores 435.487,3 Outras preparações e conservas de carne, miudezas ou sangue 396.580,8 Carnes e miudezas comestíveis, salgadas ou em salmoura, secas ou fumadas 263.434,3
Soja, mesmo triturada 217.934,6 Outros móveis e suas partes 186.439,4 Papel e cartão kraft, não revestidos, em rolos ou em folhas 163.551,0 Tortas e outros resíduos sólidos, mesmo triturados ou em “pellets”, da extração do óleo de soja 147.467,3 Obras de carpintaria para construções, incluídos os painéis celulares e os painéis para soalhos 126.410,0 Ladrilhos e placas (lajes), para pavimentação ou revestimento, vidrados ou esmaltados, de cerâmica 107.379,6
Fonte: SECEX/MDIC, 2012 SantaCatarina.ind
Ranking das empresas exportadoras em 2012 (US$ FOB) Weg Equipamentos Eletricos S/A 753.787.156 Seara Alimentos Ltda. 739.791.144 Whirlpool S/A 625.219.156 BRF 601.776.432 Sadia S/A 576.718.019 Tupy S/A 467.886.645 Souza Cruz S/A 449.374.182 Cooperativa Central Aurora Alimentos 311.532.926 Bunge Alimentos S/A 200.382.172 Alliance One Brasil Exportadora de Tabacos Ltda. 185.143.533 Fonte: MDIC/SECEX (2013)
Infografia Rogério Moreira
9º
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GESTÃO Divulgação
Casa arrumada
Gilson Bugs, da Plena Portas, recebe o Prêmio MPE Brasil 2011, categoria indústria, na etapa catarinense
Indústrias que adotam modelos de administração de excelência são mais competitivas e têm melhores resultados Por Beatrice Gonçalves
E
mpresas que investem em gestão de excelência lucram mais, ficam menos endividadas e ainda têm mais recursos para aumentar sua capacidade produtiva. Um estudo feito pela Serasa Experian durante onze anos com 96 indústrias que utilizam modelos de gestão de excelência mostrou que elas tiveram desempenho melhor e foram competitivas em comparação com outras seis mil do setor. Segundo o levantamento, as indústrias que aplicaram modelos de gestão tiveram margem de lucro ajustada de 15% contra 9% daquelas que não adotam esses sistemas. O endividamento bancário das 96 empresas pesquisadas foi de 37%, enquanto das demais foi SantaCatarina.ind
de 49%. Os investimentos sobre o faturamento líquido das que utilizam modelos de gestão foi maior, de 12% contra 7% aplicados pelas outras seis mil indústrias. Para Jairo Martins, superintendente da Fundação Nacional de Qualidade, o resultado mostra que as empresas que adotam modelos de gestão de excelência sabem identificar melhor suas necessidades e pontos fortes e fracos. “As empresas devem ter em mente a importância da realização periódica de um diagnóstico da gestão em que seja avaliado o grau de maturidade do negócio e os processos que precisam ser melhorados.” A Fundação Nacional de Qualidade tem trabalhado para dissemi-
GESTÃO
Martins, da FNQ, incentiva a adoção de práticas de gestão para mais competitividade
mos conseguindo identificar novas oportunidades”, afirma José Zambenedetti, diretor da Mércur.
Divulgação
nar os critérios de excelência por meio do Modelo de Excelência da Gestão (MEG), um sistema de avaliação de desempenho que pode ser aplicado em empresas de diferentes formatos e perfis. O Modelo foi desenvolvido a partir de indicadores que servem como parâmetros para analisar itens como planejamento estratégico, relacionamento com os clientes, processos e resultados. Para estimular a aplicação dos fundamentos da excelência, a Fundação Nacional de Qualidade, o Sebrae, o Movimento Brasil Competitivo e o Grupo Gerdau criaram o Prêmio MPE Brasil. A premiação destaca empresas que conseguiram mudar seus processos e se tornaram mais competitivas ao utilizar o Modelo de Excelência da Gestão. A Paintech, de Rio do Sul, especializada em pintura de peças metálicas, ganhou o MPE Brasil em 2010 na categoria indústria. “Desde 2005, aplicamos o questionário do MEG e através dele conseguimos perceber algumas deficiências do negócio. Tínhamos dificuldade em fazer planejamento a longo prazo; e isso fazia com que não con-
Divulgação
Divulgação
Camarano, do MBC, procura levar a cultura da gestão de excelência para o poder público
seguíssemos ter um controle financeiro eficaz”, avalia Candido Prada, diretor da Paintech. Depois que passou a avaliar seu desempenho, a empresa começou a buscar soluções para a melhoria de seus processos, fez pesquisas de satisfação com clientes e organizou um programa de treinamento para os funcionários. “A conquista do MPE Brasil é o reconhecimento de que as práticas implementadas estão nos levando para o caminho da excelência. Nos últimos quatro anos, o crescimento médio anual da Paintech foi de 20%.” A melhoria nos processos de gestão também trouxe bons resultados para a gráfica Mércur de Chapecó. A empresa tem registrado crescimento de 16% ao ano. “Nosso maior mercado é o de embalagens industriais; ajudamos nosso cliente a vender seu produto e por conta disso precisamos também conhecer o segmento em que ele atua. Com o Modelo de Excelência da Gestão observamos que precisávamos aumentar os investimentos em pesquisa de mercado. Ao entender melhor as necessidades dos clientes, esta-
Nério Amboni é também consultor de empresas na área da gestão estratégica
SantaCatarina.ind
119
Nível internacional O professor de Administração da Udesc e membro do Conselho do IEL/Fiesc, Nério Amboni, avalia que uma das principais vantagens de quem utiliza modelos de excelência em gestão é que a empresa passa a equiparar seus processos a padrões de qualidade internacionais. Mas ele ressalta que o Modelo de Gestão da Excelência é um sistema que envolve planejamento, liderança, visão sistêmica e inovação, e que não basta aprimorar apenas alguns aspectos da gestão. “Todos os critérios de excelência precisam ser trabalhados de forma conjunta. Não adianta melhorar os processos e a liderança, deixando de lado o bom relacionamento com os clientes e com as pessoas que dão vida às organizações.” Nesse processo, Amboni considera que o líder deve ser o grande disseminador dos valores e das diretrizes da gestão de excelência. “Não basta o gestor determinar de cima
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GESTÃO
Sempre em frente O professor de administração da UFSC, Maurício Pereira, avalia que para alcançar a gestão de excelência é preciso paciência, disciplina, determinação e perseverança. “O empresário precisa trabalhar a partir da lógica de que é preciso fazer melhor a cada dia. Ele precisa inovar, mas não ficar reinventando a roda. Inovar é fazer melhor aquilo que ele já faz bem.” A Rioar Automação Industrial, de Rio do Sul, melhorou seus processos ao investir em inovação. “No mercado altamente competitivo e focado em tecnologia em que a empresa atua, uma gestão bem estru-
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para baixo. Ele tem que ter domínio de todo o processo para poder orientar e motivar os colaboradores.” Ao assumir os negócios da família em Pinhalzinho, Gilson Bugs observou que era preciso desenvolver ações para a melhoria da gestão do grupo Portas Bugs/Incomel. “O mercado da construção tinha mudado, mas a empresa não. Foi quando resolvi criar a marca Plena Portas.” As portas, antes feitas com madeira de lei, passaram a ser produzidas com madeira reflorestada, e a empresa começou a trabalhar com o conceito de instalação rápida e prática. No início, a mudança proposta pelo empresário causou desconfiança. “O maior problema era provar o quão importante é investir em inovação. Houve muita resistência, porque tivemos que alterar a linha de produtos e a cultura da empresa.” Hoje em dia ninguém mais se arrepende das mudanças. “As ações para a melhoria da gestão fizeram com que a empresa crescesse mais de 200%. Passamos de nove funcionários para 28 e em breve contaremos com mais de 100 colaboradores”, diz Gilson Bugs, diretor da Plena Portas.
Maurício Pereira é autor de cinco livros na área de planejamento estratégico
turada e voltada para a inovação é necessária. Estamos conseguindo disseminar na empresa a cultura da inovação através de reuniões com os colaboradores para discutir novas soluções em automação”, avalia Luana Theis, gerente da Rioar. O questionário do Modelo de Excelência da Gestão é aplicado desde 2010 pela Rioar, que faz constantemente a avaliação do negócio. “Trabalhamos com indicadores que são levantados mensalmente e discutidos em reuniões com todos os colaboradores. Nossa proposta é investir em uma gestão compartilhada, em que os colaboradores acompanham o desempenho da empresa e auxiliam na tomada de decisões.” A AceTecno, de Indaial, especializada em sistemas de filtros industriais, precisou aprimorar seus processos e trabalhar a partir da gestão de excelência para conquistar mercados. Para se tornar fornecedora de produtos para a Petrobras, a AceTecno teve que sistematizar seus processos para conquistar o CRCC, que é o certificado que permite às empresas vender produtos e serviços para a petrolífera. “A certificação de SantaCatarina.ind
nossos processos é um diferencial que permite que possamos vender os produtos para grandes empresas. Intensificamos também nossos investimentos na qualificação dos colaboradores e em ações de responsabilidade social”, diz o diretor comercial César Arruda. Assim como as empresas precisam buscar a excelência para se tornarem mais competitivas, o setor público também deve aprimorar seus processos para se tornar mais eficiente. O Brasil é a sétima maior economia, mas está em 48º lugar no ranking mundial de competitividade. “Precisamos fazer a reforma tributária, a trabalhista e a previdenciária, melhorar a infraestrutura e a educação para nos tornamos mais competitivos. Ainda há muito que fazer, mas é possível observar que tanto as empresas quanto os governos estão cada vez mais buscando a excelência. Há uma revolução silenciosa sendo feita que trará resultados a médio e longo prazo”, avalia Erik Camarano, presidente do Movimento Brasil Competitivo, organização que busca disseminar a cultura da excelência no país. n
Os 11 fundamentos da excelência Os fundamentos do MEG são os pilares, a base teórica de uma boa gestão empresarial – Comprometimento dos líderes com valores e princípios da organização; – Visão de futuro para traçar metas a médio e longo prazo; – Conhecer o cliente e o mercado; – Atuação baseada em relacionamento ético e transparente com os públicos da empresa; – Tomada de decisões com base na análise de desempenho; – Valorização das pessoas; – Compreensão e gerenciamento da organização por meio de processos; – Orientação para resultados; – Visão sistêmica; – Inovação; – Proatividade.
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