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A correria do dia-a-dia não te faz parar e prestar atenção nos detalhes da cidade. O trânsito, a confusão, o movimento. O beco é o lugar que você para, e observa. A BECO foi criada pensando em como solucionar a ausência do incentivo à arte no sistema de ensino e na inacessibilidade da arte no dia a dia de muitas pessoas. Ela existe para mostrar aos educadores como utilizar a arte para ensinar, democratizando o acesso à ela e ajudando aqueles que aprendem melhor de maneiras alternativas. É uma revista para aqueles que querem articular maneiras de introduzir a arte na hora de ensinar, principalmente estudantes e profissionais da área da educação. Trazendo em cada edição uma linguagem artística diferente, incluindo artes visuais, música, cinema, literatura, dança e teatro. Ao longo da revista você lerá conteúdo que mostra a relação da arte com o ensino, eventos de arte que estão acontecendo agora na cidade de São Paulo, um artista que está começando agora e está divulgando sua arte na nossa revista, respiros visuais ao longo da leitura, mostrando trabalho de grandes artistas conhecidos e muito mais.
Escola Superior de Propaganda e Marketing Graduação em Design | Turma DSG3A 2022.1 Cor, Percepção e Tendências Paula Csillag Ergonomia Matheus Pássaro Finanças Aplicadas de Mercado Alexandre Ripamonti Marketing Estratégico Leonardo Aureliano Produção Gráfica - Materiais e Processos Marcos Mello Projeto III Marise De Chirico Projeto Editorial e Gráfico Daniela Alves Juliana Maria Arneiro Mariana Chinarelli Priscila Parente Théo Oku
OSGEMEOS
@osgemeos Otavio e Gustavo Pandolfo, mais conhecidos como OSGEMEOS, cresceram no bairro do Cambuci e desde sempre trabalham juntos. Desenvolveram um modo de se comunincar através da arte, e estão sempre em busca de explorar diversas técnicas de criar, tendo as ruas como lugar de estudo.
Marcos Mello
@mellotipografo Professor, tipógrafo, letterpress printer, designer e artista gráfico, é graduado em Artes Plásticas pela FAAP. Sócio diretor da Oficina Tipográfica São Paulo (otsp) desde 2004 e também sócio da Letterpress Brasil.
Camila Actum
Thomaz Aquino
@thxaquino Thomaz Aquino, artista nascido em São Paulo, 18 anos, que começou cedo no design e transicionou rápidamente para todo tipo de arte visual, retratando suas vivencias e sentimentos.
Thales Machado
@omentejovem Conhecido como omentejovem, Thales é um artista carioca de 20 anos. Depois de 4 anos sendo designer, ele percebeu que seu propósito na vida é criar arte, e com ela, experimentar tudo que cruzasse seu horizonte. Cada peça em sua coleção representa alguma visão ou experiência particular do artista.
@cactum Designer Gráfica pela Faculdade Belas Artes de São Paulo, apaixonada por branding e tipografia. Se dedica à caligrafia e ao lettering com trabalhos compostos por letras feitas à mão.
Sophia Sampaio
@so.sampaio_ Com 19 anos, hoje estudante do curso de Design na ESPM, no 3º semestre. É apaixonada por arte, pela natureza, por animais e por desenhar.
Guilherme Costa
@guihermecosta Capixaba, vivendo em São Paulo desde os 18 anos. Estuda Design na ESPM que busca por meio de suas artes e designs mesclar um estilo urbano e agressivo aos padrões.
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UM DIÁLOGO ENTRE ARTE URBANA E EDUCAÇÃO 24
OMENTEJOVEM
EDUCAÇÃO E ARTE INCLUSIVA 60 62
OSGEMEOS ARTE E EDUCAÇÃO, O PODER DA TRANSFORMAÇÃO
OSGEMEOS ARTE URBANA PARA AS ESCOLAS
ARTE NA EDUCAÇÃO IMPORTÂNCIA E PRINCIPAIS DESAFIOS 36 REFLEXÕES SOBRE A
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CACTUM
ARTE E O TEMPO
CIÊNCIAS E MATEMÁTICA COM UMA PITADA DE ARTE COMO USAR A ARTE PARA IMPULSIONAR A APRENDIZAGEM ARTE URBANA PARA APROXIMAR PROFESSORES E ALUNOS 48
A IMPORTÂNCIA DAS ARTES NA EDUCAÇÃO
50 52
MARCOS MELLO
EDUCAÇÃO INCLUSIVA 82
ARTE COMO BASE DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM
A IMPORTÂNCIA DA CONEXÃO ENTRE EDUCAÇÃO E ARTES
06 NESSE BECO
38 TÁ ROLANDO
72 GENTE DAORA
112 FAZENDO ARTE
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DIÁLOGO ENTRE ARTE URBANA E EDUCAÇÃO Escola Criativa do Instituto Choque Cultural busca estratégias para reestruturar o pensamento educacional e criar espaços de diálogo entre aluno e escola texto
Giulia Garcia
arte
Basquiat
Bird on Money, 1981
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m olhar sobre Paulo Freire nos permite conceber a educação para fora da sala de aula, para além da configuração – que muitos de nós conhecemos – das paredes acinzentadas, muros altos e grades de proteção. É nessa ideia que o projeto Escola Criativa do Instituto Choque Cultural se constrói. Encabeçado pela educadora Raquel Ribeiro e pelo casal Baixo Ribeiro e Mariana Martins, sócios da galeria Choque Cultural, a iniciativa teve início em 2011 e, ao longo desses dez anos, atuou em mais de 40 escolas, alcançando cerca de 275 professores e milhares de crianças e jovens paulistanos com ações que usam a arte urbana para repensar atividades pedagógicas. “Nossos modelos de escola pública em sua estrutura física ainda espelham muito uma visão de educação que Paulo Freire descreve como ‘educação bancária’, que se estrutura como uma ‘linha de produção’ tal qual as fábricas, com turmas divididas em faixas etárias, aulas em tempos de 50 minutos e sinais sonoros que marcam esses tempos”, explica Raquel Ribeiro, coordenadora do projeto. Porém, hoje já sabemos que essa não é a única opção, é possível transformar a escola em um ambiente acolhedor e convidativo, um lugar no qual estudantes e professores se sintam instigados a criar e inovar. Partindo dessa premissa, o Escola Criativa leva artistas consagrados da arte urbana para ressignificar, por meio de intervenções, áreas comuns de escolas públicas de São Paulo.
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“No Escola Criativa entendemos que o tempo, os espaços físicos e as relações de aprendizagem na escola são partes de uma mesma engrenagem. Mudando um, impactamos os demais”, afirma Raquel. Aliado às ações artísticas, o projeto também oferece à comunidade escolar uma formação conceitual, que contempla ações e ferramentas que possibilitem que as transformações nos espaços escolares continuem após a finalização das intervenções. “Acreditamos que intervindo no espaço físico da escola com a arte, oferecemos um apoio ao professor para que ele mude sua prática e com isso também contribuímos com a quebra desse modelo de organização escolar que muitos educadores e críticos da educação já avaliaram como ultrapassado.” 20
Grillo, 1984
Na opinião dos organizadores, a arte urbana vem como um caminho muito pertinente para esse objetivo. “Ela é uma linguagem que serve a essa conversa e integração entre a estética e a arquitetura, ela conversa com os espaços.” Para Raquel, ao trazer a arte de forma viva e integrada ao cotidiano da comunidade escolar, torna-se possível compreender que a arte e a criatividade não estão circunscritas à uma disciplina apenas, mas fazem parte de outros processos de decisão, criação e resolução de problemas na nossa vida. “Desenvolver o pensamento criativo está entre uma das principais competências a serem desenvolvidas na educação contemporânea, pois hoje estamos formando alunos para profissões que ainda nem foram criadas e realidades sociais que não podemos ainda prever”, explica. Com a pandemia, uma nova pergunta reiterou a importância do projeto: após meses de isolamento, como reintroduzir as crianças ao espaço escolar? A necessidade de tornar o ambiente convidativo e repensar as práticas educacionais nesse momento pandêmico e pós-pandêmico tornou-se ainda mais perceptível. Neste mês de julho, o Escola Criativa está trabalhando na Escola Estadual (EE) Brigadeiro Faria Lima e, em seguida, começará sua ação nas Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Gabriel Prestes e EE Caetano de Campos, com intervenções do Coletivo Cicloartivo e dos artistas Gitahy, Jota, Presto e Tec.
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Untitled, 1982
Nesses casos, porém, algumas dinâmicas propostas pelo Instituto Choque Cultural tiveram que ser alteradas. Os organizadores explicam que antes da pandemia as intervenções artísticas eram feitas em grandes mutirões, envolvendo alunos, educadores, pais e toda a comunidade escolar; atualmente, as pinturas são feitas só com os artistas e os registros desse processo são compartilhados com a comunidade escolar em um sarau cultural virtual. As reuniões com professores, para compreender as necessidades dos colégios, também passaram a acontecer de forma remota. A iniciativa é uma das frentes de atuação do Instituto Choque Cultural, junto aos projetos Ponte – iniciativa que promove intercâmbios e desenvolvimento de cenas artísticas locais – e Redes – que atua como uma interface entre a sociedade civil, a iniciativa privada e o poder público em nome de um urbanismo mais democrático ligado à cultura. 22
Jean-Michael Basquiat
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ARTE NA EDUCAÇÃO: IMPORTÂNCIA E DESAFIOS a arte pode fazer toda muitas pessoas, sobretudo texto
Equipe Educamundo
a na
diferença na vida de infância e adolescência arte
BANKSY
Esta arte era localizada em Londres, porém foi removida
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s várias modalidades de arte contribuem para a formação do indivíduo. Elas melhoram, por exemplo, a cognição, fortalece laços e renova a auto estima, fatos que elevam essa prática a outro patamar: o de instrumento benéfico para a saúde. Assim, enxerga-se que a presença da arte é importante para que as pessoas conheçam sua origem, história e também façam valer sua subjetividade. Isto é, aproveitem o poder que ela tem sobre seus sentimentos, sensações e expressões. Ana Mae, pioneira da arte-educação no Brasil, disse em seu livro “A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos” (1991) que assim “como a matemática, a história e as ciências, a arte tem domínio, uma linguagem e uma história. Se constitui num campo de estudos específicos e não apenas em meia atividade. A arte-educação é epistemologia da arte e, portanto, é a investigação dos modos como se aprende arte na educação infantil, no ensino fundamental e médio e no ensino superior”. Deste modo, é preciso enxergar a arte como um objeto de estudo aprofundado e não somente como uma atividade a mais nas instituições brasileiras. A mesma especialista critica em muitos de seus estudos que a arte ensinada nas escolas hoje em dia é mecanizada. Ela se faz a partir de aulas repletas de métodos engessados, sem levar em conta que ela deve ser mostrada com a finalidade de estimular a criatividade e a capacidade de interpretação.
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Além disso, é muito comum que se ensine apenas alguns poucos tipos de arte, sobretudo os conceitos dentro das artes plásticas. Todavia, é essencial que a exposição da arte na educação seja feita de modo completo. Os professores podem inserir teatro, cinema, música, dança, fotografia, entre outras variações para agregar ao conhecimento. Vale saber que esse ensino pode ser realizado, inclusive, de forma multidisciplinar (reunindo inúmeras modalidades em uma mesma atividade). 32
Os desafios da arte-educação no Brasil
Well Hung Lover, 2006
Desde 1996 a área da educação é regida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, mais conhecida como LDB nº 9.394. Em seu artigo 26, é exposto que: “a arte é um patrimônio cultural da humanidade, e todo ser humano tem direito ao acesso a esse saber”. A partir dessa determinação, a mesma legislação dita que “o ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. Contudo, como nós sabemos, a educação básica no Brasil ainda engatinha e precisa de uma renovação para atingir resultados melhores. Do ensino fundamental ao médio os problemas mais recorrentes a falta de professores, baixa qualidade e desinteresse do aluno. Os dados são da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Por essas e outras que é necessário começar a mudar essa realidade, sendo que você pode fazer a sua parte. Afinal, parte dessa problemática se resolve com capacitações e metodologias desenvolvidas para atrair os alunos. Como educador, você pode trabalhar a arte de forma lúdica e interessante em sala de aula, ouvindo a opinião dos estudantes, utilizando o que eles trazem do mundo externo à escola, entre outras didáticas.
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Benefícios da arte no contexto escolar A arte pode fazer toda a diferença na vida de muitas pessoas, sobretudo na infância e adolescência. Segundo a especialista Ana Mae Barbosa, “é absolutamente importante o contato com a arte por crianças e adolescentes. Primeiro, porque no processo de conhecimento da arte são envolvidos, além da inteligência e do raciocínio, o afetivo e o emocional, que estão sempre fora do currículo escolar. Além disso, grande parte da produção artística é feita no coletivo. Isso desenvolve o trabalho em grupo e a criatividade”. Nesta via, um dos papéis do educador é proporcionar a estes jovens um curso de artes amplo e que valorize a capacidade de cada um. É tendo contato com as variadas vertentes que eles poderão se beneficiar com tudo o que elas podem oferecer. No Curso Online Arte na Educação é explicado para os participantes como essa prática atua no desenvolvimento de bebês, crianças e adolescentes. Para introduzir essa temática a você, elencaremos as seis principais vantagens, veja só: 34
Ensina a lidar com os sentimentos: A arte amplia a forma que as crianças têm de se expressar. De acordo com a psicóloga Lucilene Zavadzki, “por meio do criar em arte e do refletir sobre os trabalhos artísticos, pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, lidar melhor com a raiva, tristeza, estresse, experiências traumáticas e desenvolver recursos físicos, cognitivos e emocionais. A exploração do conteúdo artístico pode ser um recurso valioso para qualquer profissional da saúde”.
Balloon Girl, 2002
Eleva a autoestima: estar em contato com as artes é estar sujeito às falhas. São elas que ajudarão as crianças, jovens ou adultos a aperfeiçoarem suas técnicas, ou seja, se superar. Com isso, elas ganharão uma boa dose de coragem para poder melhorar cada vez mais, desenvolvendo a autoconfiança e autoestima, essenciais para o bem estar de qualquer pessoa. Incentiva a criatividade: os professores de artes, de quaisquer que sejam as modalidades, devem incentivar seus alunos a pensar e criar seus próprios objetos artísticos. Pode ser uma pintura, desenho livre ou composição de uma música, por exemplo. Impulsiona a coletividade: qualquer arte trabalha a introspectividade, mas há algumas que impulsionam bastante as atividades em grupo, como teatro, música e cinema. Portanto, elas são uma ótima forma de combater o bullying, a solidão, a depressão e timidez. ecoando pelas brechas | 35
Paris, 2018
Transmite consciência corporal: bebês e crianças ganham muito com o aprendizado de artes, como a coordenação motora e a noção de espaço. Através do tato, do contato com tintas, pincéis, sons, eles interpretam o mundo que os rodeia e aguçam a curiosidade. Muitos cursos EAD podem ajudar a entender esse fundamento, como o Psicomotricidade na Educação Infantil, que aborda a integração das funções motoras e psíquicas durante o desenvolvimento da primeira infância. Ajuda em outras disciplinas: para Marcos Méier, educador e psicólogo, o papel da escola é flexibilizar a mente das crianças por meio da arte. Isto é, aprendendo música, dança, artes plásticas, entre outros, elas poderão melhorar seu desempenho em outras disciplinas também, pois desenvolve a cognição. Experiências com artes ajudarão na resolução de problemas, na construção de textos e a enxergar questões diversas com um olhar crítico. 36
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REFLEXÕES SOBRE A ARTE E O TEMPO O galerista Marco Mello, da instiga-nos a olhar a produção artística de por
Marco Mello
Casa forma
da pouco
Imagem, pretensiosa
ilustração
SHIIOOKU
Em sua primeira visita ao local onde seria erguida a nova capital federal, Oscar Niemeyer foi inquirido pelo Marechal Lott, ministro da guerra de Juscelino: “Doutor Oscar, o senhor vai construir pra gente uns palácios bem bonitos, feito os clássicos, não é?” A resposta não poderia ser mais direta e eloquente: “Marechal, o senhor, na guerra, prefere combater com uma arma antiga ou nova?” Não tivesse Juscelino Kubitscheck escolhido um arquiteto fabuloso para desenhar a nova cidade, não bastasse tantas, Brasília padeceria de outra grande mazela: uma coleção de edifícios medonhos e kitschs esquadrinhando os seus horizontes. O causo envolvendo a capital brasileira demonstra que o julgamento a propósito de algo não se mantém ad aeternum e que é perfeitamente possível que uma coisa, em determinado momento, seja tomada como expressão máxima da beleza e, em outro, seja considerada como demonstração da feiura e do mau gosto. As linguagens e os seus produtos não são fatos que podemos sacar e utilizar a bel-prazer: não são completamente flexíveis e também não estão despidas de vontades próprias. As variadas criações que nos cercam nasceram e cresceram em percursos definidos e mantêm, com esses tempos, estreita sintonia. A pintura, a escultura e a literatura clássica se desenvolveram em um universo em que o ritmo das experiências transcorria bem mais lento e muito menos complexo. Não existia luz elétrica, não havia veículos automotivos, tampouco o trabalho obedecia ao ritmo fabril. De tal modo, os produtos da linguagem figuravam mais estáveis e menos frenéticos. Com o advento da modernidade, veio à tona um conjunto de experiências inéditas, obrigando não só a transformação das linguagens existentes como, igualmente, o aparecimento de outras, tais como o cinema e a fotografia. As obras de Matisse, Picasso e de outros grandes artistas responderam a essas radicais mudanças e, para avaliá-las corretamente, nunca devemos esquecer o contexto aos quais elas pertencem. Há décadas, vivemos em um período diverso do moderno e as obras contemporâneas se promovem respondendo às sociabilidades e às sensibilidades de nossa época. Em muitas obras, as naturezas artísticas podem parecer pouco evidentes, o que é perfeitamente natural, já que a extrema proximidade também inviabiliza a visão. Aos opositores desses trabalhos, por antecipação, lembro o trecho de uma música de Caetano Veloso: “pipoca ali, aqui, pipoca além, desanoitece a manhã, tudo mudou”. É possível que, tal como o ocorrido com o Marechal Lott, outros tantos se obriguem a dar a mão à palmatória. Entretanto, cabe um alerta: uma pretensão não é igual a uma realização; ambicionar responder às questões de uma época, necessariamente, não concretiza boa arte e nem fornece qualquer garantia de que o que se realizou, ao menos, seja arte. 38 36
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ESPUMA DELIRANTE DE RAFAEL SILVEIRA período de visitação: 25 mar – 07 ago 2022 onde: Farol Santander horário: Terça à domingo, das 9h às 20h sobre: A exposição Espuma Delirante, gera uma energia criativa que instiga pensamentos e estimula sensibilidades. BEYOND VAN GOGH período de visitação: 17 mar – 03 jul 2022 onde: Morumbi Shopping horário: 10h às 21h sobre: Vicent Van Gogh é um dos mais importantes nomes da arte ocidental. Os visitantes poderão vivenciar uma experiência imersiva com os principais trabalhos do artista. ADRIANA VAREJÃO: SUTURAS, FISSURAS, RUÍNAS período de visitação: 26 mar – 01 ago 2022 onde: Pinacoteca de São Paulo horário: Quarta à segunda, das 10h às 17h sobre: A seleção dos trabalhos propõe uma narrativa da obra de Varejão, que evidencia a diversidade e a complexidade de sua produção. DESIGN E INDÚSTRIA - A HISTÓRIA DA TRADICIONAL BOTICA GRANADO período de visitação: 05 mar – 29 mai 2022 onde: Museu da Casa Brasileira horário: Terça à domingo, das 10h às 18h sobre: Com mais de 250 peças, o público passeia pela origem da marca, com seus rótulos, embalagens e impressos de diferentes épocas. VOLPI POPULAR
25 fev – 05 jun 2022 MASP horário: Terça a domingo, das 10h às 19h sobre: Esta exposição abrange cinco décadas da carreira de Alfredo Volpi, e tem como enquadramento o contínuo interesse pela cultura popular brasileira. período de visitação:
onde:
SP URBANOGRAM período de visitação: 27 abr – 03 jul 2022 onde: Museu de Arte Brasileira horário: quarta a segunda, das 10h às 18h sobre: É a primeira exibição institucional solo de Tolis Tatolas, artista grego. A principal premissa da exposição, é perceber a arte enquanto pesquisa científica. ecoando pelas brechas | 41
ARTE URBANA PARA APROXIMAR PROFESSORES E ALUNOS “Eduqativo” quer capacitar educadores para trabalhar grafite, skate e hip-hop para ensinar disciplinas tradicionais em sala texto
Vagner de Alencar
arte
Keith Haring
Pile of People
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Tuttomondo, 1989
alar sobre as pinturas de Picasso, mas sem deixar de mencionar Speto, famoso grafiteiro brasileiro que cria sua arte inspirado tanto no pintor espanhol quanto nos cordéis. Ensinar química a partir das composições das tintas ou das influências que elas sofrem por conta da ação do tempo. São inúmeras as formas de levar a arte urbana para dentro da sala de aula, por meio de diferentes disciplinas. E para que as linguagens artísticas sejam levadas ao currículo escolar, um projeto realizado pela ONG Eduqativo – Instituto Choque Cultural, que desenvolve iniciativas baseadas no conceito da educomunicação aplicado à arte, está capacitando professores para trabalhar a arte urbana com os jovens em sala de aula. O curso gratuito Linguagens Artísticas para Professores que acontece em maio, em São Paulo, vai abordar conceitos teóricos sobre a história da educação e da arte contemporânea, além de levantar discussões sobre como aplicar e desenvolver projetos sobre o tema com os estudantes. Segundo Raquel Ribeiro, educadora há mais de 20 anos e atual coordenadora da ONG Eduaqtivo, o objetivo é, principalmente, discutir e apontar para os professores como trabalhar essas linguagens artísticas já familiares aos jovens. A ideia é orientar os educadores sobre como usar as diferentes culturas juvenis (grafite, skate, hip-hop, rock etc.) como ponte para realizar mudanças em sala de aula, ajudando a aproximar os educadores dos estudantes.
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De acordo com ela, a própria escola ao longo da sua história e de sua formalidade foi se distanciando do universo do jovem pela forma de ensinar e sua organização. Um exemplo desse distanciamento são os próprios espaços físicos. “Até hoje, muitas escolas carregam o mesmo visual de organização institucionalizada, com paredes metade de uma cor, metade de outra. Esse é o mesmo tipo de pintura de outras instituições, como hospitais e presídios”, diz. Para fornecer diferentes instrumentos aos professores, a capacitação será realizada em momentos teóricos, voltados à discussão, e a um último com atividades práticas. Nos dois primeiros, os educadores terão acesso a conteúdos teóricos, passando pela história da educação e da arte contemporânea, como porta de entrada para entender como reformular novas linguagens na educação. 46
Untitled, 1984
Raquel diz que esses bate-papos servirão especialmente para ajudar os professores a quebrar os paradigmas que carregam do jovem, que, diferente de antes, está mais conectado com o mundo. “Muitos educadores acreditam que esses adolescentes não se aprofundam nas coisas, por exemplo. Ao contrário, o jovem de hoje fala com três pessoas ao mesmo tempo, está no Facebook, assistindo TV e ouvindo música, o que demanda dele uma conexão mental muito grande para processar tudo isso”, diz. Além das discussões, que visam tirar o rótulo negativo que os educadores têm de muitos jovens, durante o último encontro da formação, os professores terão contato com artistas que desenvolvem arte urbana, além de experimentar técnicas que vão desde o manuseio de lambe-lambe (espécies de cartazes que podem ser presos na parede), fanzines (tipo feito por “fãs” e produzida sem fins comerciais), stickers (adesivos), estêncils (técnica que usada moldes de superfícies furadas para aplicar figuras) e outros materiais. “Eles vão experimentar e procurar diferentes formas de usar esses produtos para a criação de projetos, que podem ser aplicados não isoladamente em suas disciplinas, mas especialmente em atividades interdisciplinares”, diz Raquel. “Essas técnicas ajudam a tornar a aula interativa, abrindo um canal direto e efetivo de comunicação. Os jovens já estão habituados com essa arte, mas normalmente fora da escola, quando poderiam tê-la em um contexto escolar”, afirma Raquel.
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Crack is Wack, 1986
Para sair do discurso à prática, como último quesito da capacitação, os professores precisam criar um projeto mais curto, na disciplina que leciona – em uma ou duas aulas – ou mais longos, normalmente interdisciplinares, de um semestre, por exemplo. Os melhores projetos são selecionados pela ONG, que, inclusive, ajuda os educadores a dar vida à iniciativa. A educadora explica que em um curso puramente teórico o professor normalmente concorda com o que é dito, mas quando chega em sala de aula não consegue transportar as ideias apreendidas à prática, como em um projeto. “Na sala a realidade é diferente. O professor encontra realidades diversas. Tentamos mostrar um caminho possível”, diz. Ainda como parte da formação, as escolas dos professores que participam do curso recebem um artista, escolhido pela instituição e que seja pertinente à proposta – para realizar um bate-papo com os estudantes, além de alguma intervenção – pintar um muro, criar peças de artes, pintar quadros etc. “A intenção não é fazer uma oficina. Afinal, não queremos tirar a autoridade do professores, mas levar o artista para mostrar como acontece o processo produtivo e de criação dos artistas. Acabar com a ideia da arte como algo elitizado”, assegura a educadora. Além disso, a visita tem o intuito também de mostrar aos professores e à direção da escola a possibilidade de trabalhar a estética jovem de uma forma organizada. “A escola geralmente lida com experiências do tipo de maneira desastrosa ou tenho receio em adotá-las. Quando o artista visita a escola e produz algo bacana numa parede, por exemplo, ou o professor, que consegue criar um trabalho interdisciplinar dentro da instituição, mostram o quão possível é possível desenvolver iniciativas como essas”, afirma. 48
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A IMPORTÂNCIA DAS ARTES NA EDUCAÇÃO “Como seria bonito se todas as escolas brasileiras pudessem oferecer um teatro para que os centros educacionais fossem um verdadeiro celeiro de artistas” - Agência Brasil por
Heleno Araujo
ilustração
SHIIOOKU
No último dia 21 de março, comemoramos o Dia Universal do Teatro, que homenageia uma das artes mais antigas da humanidade. A interpretação teatral está ligada às manifestações mais antigas do ser humano, que a usavam para rituais religiosos e ligados à mitologia. Tenho uma ligação muito próxima com o teatro de rua. Quando jovem, por meio do GRUPI, o Grupo Teatral Unidos pelo Ideal, fazíamos na cidade de Paulista/PE, onde morava, dramas, comédias e improvisações de toda ordem. Dançávamos muito também! Nessa semana em que comemoramos esse dia do teatro, fico pensando no papel e importância das artes em geral no processo educacional. Como seria bonito se todas as escolas brasileiras pudessem oferecer aos estudantes um teatro para que os centros educacionais fossem um verdadeiro celeiro de artistas. E o teatro como espaço físico também atenderia as manifestações artísticas para a música e para a dança. Sem contar que a função das artes na educação é fundamental para o próprio processo de crescimento psicomotor das crianças e jovens. Se esse é um projeto bonito para que todos nós nos empenhássemos para que ele realmente acontecesse, o sonho de uma escola em tempo integral que sempre defendemos, com possibilidades diversas para uma formação integral de nossas crianças, adolescentes e jovens, está cada vez mais distante. Desde que houve o golpe em 2016, quando as elites desse país tiraram uma presidenta honesta de seu posto de trabalho, as possibilidades de arte nos nossos sistemas de ensino serão cada vez mais raras. O governo Temer aprovou, logo após o golpe na ex-presidenta Dilma Rousseff, ainda no ano de 2017, uma Reforma do Ensino Médio que obrigou, na sequência, a aprovação de uma nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para essa etapa de ensino. Hoje, as redes estaduais de ensino de todo o Brasil estão se vendo obrigadas a adequar as suas bases curriculares a essa nova BNCC. E essa nova proposta curricular para o ensino médio brasileiro transformou o ensino de Artes nas nossas escolas como uma disciplina ou área não obrigatória. O que veremos a partir de agora, temos certeza disso, é a instituição de um modelo de escola para ricos e outro para os pobres. A destruição das possibilidades de formação integral dos nossos estudantes impactará, ao menos, em toda uma geração. Até reconstruir tudo o que está sendo destruído no Brasil, custará tempo e empenho nossos quando, enfim, derrotarmos esse governo nas urnas. A derrota de Bolsonaro e de todo o seu projeto agora em outubro desse ano possibilitará o resgate de um modelo educacional que volte a oferecer o ideário de uma Escola de Ensino Médio de Tempo e Formação Integral. Fundamental será agora repararmos na importância que nosso voto terá na conformação desse novo projeto de educação para o país. E queremos uma educação com arte! Com todas as artes possíveis! Nossos estudantes merecem. 50
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A IMPORTÂNCIA DA CONEXÃO ENTRE EDUCAÇÃO E ARTES Educação e artes andam sempre juntas! Que tal aproveitar as férias para expandir seu olhar para o mundo e encontrar novas ideias que inspirem você e os seus alunos? por
Vivescer
@stelabarbieri
O período de aulas remotas levou vários professores a se questionarem sobre o que era de fato essencial investigar com os seus alunos na sala de aula. Agora, durante as férias, isso vale também para o próprio educador, que pode encontrar na arte uma forma de mudar o olhar para o mundo e para si mesmo. É sobre esse tema que conversamos com a educadora Stela Barbieiri. A artista e escritora foi curadora do educativo da Fundação Bienal, em São Paulo (sp), diretora do educativo do Instituto Tomie Ohtake e prestou assessoria para diversas instituições de ensino e cultura. Sempre trabalhando com a relação entre educação e arte. Na entrevista com a Vivescer, ela falou sobre a potência artística dos territórios escolares e a importância da arte permear todo o currículo escolar. Stela também ressaltou que a pandemia ressignificou o trabalho artístico: “Em busca da sobrevivência do espírito, muitos artistas foram inventando meios para expressar o que os mobilizava. Enquanto uns passaram a bordar, outros projetaram palavras de indignação.
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BECO: Em um perfil da senhora para o site Diálogos e Vivências Pedagógicas, sua relação com a escola é definida assim: “Já na hora de ir para a escola, ah, a escola, essa deixava a desejar. Stela gostava de estar com os amigos, mas o jeito que o ensino era feito não era algo bom”. Até hoje o grande desafio da escola é dialogar com as diferenças para que todas as crianças e jovens possam habitá-la”, explica Stela. Ela reforça uma palavra bem importante, que apareceu várias vezes durante a nossa conversa: “possibilidade”. Isto posto, a senhora pode explicar um pouco mais a sua relação com a escola e com o desempenho escolar? Stela: A minha relação com a escola era por meio da relação com as pessoas, gostava de conviver com meus colegas e professores, mas os processos pedagógicos não me engajavam. Eu pulava o muro da escola pra ir com meus amigos pra praça. Nas aulas, minha atenção estava voltada para as histórias da minha imaginação. Meus pais eram rigorosos e me orientavam a me envolver mais com a escola, mas o modo como as questões eram apresentadas não me gerava curiosidade ou vontade. Fazia as lições porque era necessário fazê-las, mas raramente com desejo ou envolvimento. Foi na biblioteca municipal de Araraquara onde mais aprendi sobre artes, literatura, convívio com diferentes universos e faixas etárias, e também as singularidades dos modos de ser e as diferentes expressões por meio das linguagens. Na biblioteca, fazíamos saraus de poesia, aulas de xilogravura, grupos de leitura e escrita. Também nos quintais das minhas três tias educadoras, aprendi sobre a educação com afeto e com escuta atenta. Meus pais percebiam estes movimentos e sempre me apoiaram. BECO: Como a senhora avaliaria o impacto que o isolamento social causou? Stela: A pandemia escancarou muitos problemas na vida do nosso planeta e a arte fala da vida o tempo todo. Muitos artistas foram inventando meios para expressar o que os mobilizava. Alguns fazendo aquarelas semanais, outros fotografando o cotidiano, outros experimentando tintas fritas em casa.Ficaram gritantes para a grande maioria da população do planeta, as questões de saúde, políticas, as disparidades econômicas e sociais, os problemas com o meio ambiente, as questões raciais, de gênero, as questões familiares e comunitárias. Esta situação nos convocou a olhar para a vida e nos perguntar: o que é essencial aprender agora? Como nos relacionamos neste momento? Como “acordar” a casa para viver o isolamento físico num ambiente de imersão total, onde tudo acontece no mesmo lugar (trabalho dos
pais, estudo das crianças, necessidades essenciais de sobrevivência). Como acordar a escola para não repetir a infelicidade de uma educação sem sentido para os seus participantes, ainda mais agora com a distância física e as dificuldades sociais que se desdobram na falta de acesso à tecnologia? BECO: Como as novas formas de apresentação artísticas, notadamente aquelas desenvolvidas durante a pandemia, como o teatro, online e os shows em formato de live, podem impactar o ensino de arte? Stela: A arte tem sido um caminho de sanidade para muitas pessoas ao longo da pandemia, ouvir músicas, assistir shows, filmes, ler poemas, romances, ouvir histórias narradas, assistir peças de teatro nos trás deslocamentos e abre caminho para re-existir inventando outros modos para cuidar do planeta e de nossa própria alma. As ferramentas tecnológicas estão sendo investigadas na construção das linguagens e creio que, neste sentido, temos um longo caminho pela frente. BECO: Como educadores podem criar uma cultura forte de visitas a exposições, peças de teatros e shows na rede pública? Stela: A escola aberta à cidade, aberta à floresta, a escola aberta às instituições culturais e as manifestações artísticas se nutre do vivo, gerando mais vida. Esta prática da escola em diálogo com o mundo, produz um movimento de aproximação entre a riqueza dos pensamentos e expressões das crianças, encontrando com a riqueza dos pensamentos e linguagens de outros habitantes da cidade. BECO: Como a escola pode dialogar com a comunidade artística onde houver deficiência de espaços culturais? Stela: Penso que os artistas locais podem estar mais presentes na escola, dando oficinas para toda a comunidade escolar, crianças, professores e famílias. A escola também pode se deslocar visitando os ateliês dos artistas. BECO: E dentro da escola, o que pode ser feito para utilizar os diferentes espaços para um trabalhar da arte como componente curricular e como uma forma de desenvolvimento do estudante? Stela: Os espaços escolares comunicam valores e revelam sistemas de estruturação e de funcionamento de cada lugar, são expressões do cotidiano. Para que os espaços tenham significação no dia a dia, é preciso problematizá-los e transformá-los constantemente em formação e troca entre educadores, por meio da escuta atenta aos estudantes e aos colegas, além da criação de contextos de aprendizagens ricos (levando em conta tempo, espaço e materialidade) com perguntas de qualidade como sustentação, gerando caminhos de investigação engajadores. ecoando pelas brechas | 55
ARTE E EDUCAÇÃO INCLUSIVA a arte social texto
na de
Giuliano Freitas
educação pessoas
como com
instrumento de inclusão necessidades especiais arte
Binho Ribeiro
Container Peixe, 2019
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arte como instrumento de inclusão social pode e deve ser vista como fator de complemento nas diversas formas de desenvolver aprendizagens ligadas a diferentes áreas do conhecimento. Essa questão é abordada claramente pela interdisciplinaridade, ou seja, o diálogo entre uma ou mais disciplinas com o intuito de solidificar a aprendizagem através de oportunidades e de diferentes maneiras de entender e contextualizar os conteúdos escolares. Nesse sentido, pretende-se aqui tentar elevar a manifestação artística dos educandos para bem aprimorar seus conceitos quanto às faces da aprendizagem. A educação especial deve, de acordo com a lbd, nº 9.394/96, art. 58, da educação nacional, ser entendida como “modalidade da educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais” e, com intuito de complementar o que já foi promovido na Lei, vê-se instituído as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, a promoção de uma “proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica”.
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Consonante, desenvolver potencialidades em alunos com necessidades especiais requer compromisso político e ético, para bem educar é preciso compreender as necessidades específicas de cada aluno, e quando se trata de alunos especiais, é necessário que o educador se supere, buscando meios e mecanismos que atenda o perfil de cada necessidade. Para o cientista das inteligências múltiplas, Haward Gardner, “a educação precisa justificar-se realçando o entendimento humano”, para o autor, a escola não pode sufocar as aptidões dos alunos, pelo contrário, ela precisa canalizar as potencialidades de cada um e adequá-las ao processo de ensino. E aqui entra o papel da Arte na Educação Inclusiva, propiciar um ambiente multiplicador de aprendizagens, aguçando a vontade de aprender através daquilo que gera prazer. 60
A música, a pintura, a dança, a poesia, o artesanato, a culinária; inúmeras extensões da arte podem contribuir para aquisição de aprendizagens ligadas às normas de conteúdo, bem como elevar os conhecimentos acerca de cultura, valores e especificidades da vida cotidiana. A amplitude do ensino de artes na educação de pessoas com necessidades especiais, no sentido de ver, fazer e contextualizar pode referenciar-se por ser uma linguagem universal, não precisa ser traduzida. Basta sua aplicação no sentido de evoluir o homem que deseja espaço na sociedade para poder contribuir com seu talento e com seu potencial.
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OSGEMEOS
ARTE E EDUCAÇÃO, O PODER DA TRANSFORMAÇÃO A É por
arte
IRLAN MELO
consegue expressão
cativar e
e
fixar também
a
atenção. cultura.
ilustração
SHIIOOKU
Fico cada vez mais motivado e incentivo a todos a compreender o poder que há no uso das artes para educar e transmitir conhecimento. Essa ferramenta multitarefas possui em seu repertório a dança, teatro, música, artes visuais, dentre outras e todas se adequam e cabem nos ambientes de educação e ensino. A arte é expressão e também cultura. A arte como expressão capacita o indivíduo a interpretar ideias através de diferentes linguagens e formas. Já a arte como cultura relembra o conhecimento da história, a trajetória de figuras públicas e a importância de cultos e tradições. Ao vivenciar a expressão, abrimos um leque de conhecimento acerca de nosso país e do mundo. Vale lembrar, que em culturas antigas, quando um povo era conquistado, a primeira coisa que se fazia era destruir todo o referencial cultural. Sem lembranças e sem expressão ficava mais fácil dominar. A verdade é que não se conhece um país, ou seu povo, sem conhecer a sua história e a sua arte.O uso das artes colabora com a formação do pensamento, da imaginação, da percepção e da sensibilidade das criança. Elas devem ser trabalhadas de forma integrada, favorecendo o desenvolvimento de suas capacidades criativas, de acordo com a faixa etária. Ao trabalhar com as artes, envolvemos o aluno em um contexto social, onde ele amplia conhecimentos e se torna um cidadão do mundo, permitindo que crie ideias, invente, construa e quebre a barreira de uma nova língua. A arte cria uma linguagem universal e convida a todos a participar. É fundamental que os educadores e professores compreendam como se dá o processo de inserção da arte como ferramenta de educação em cada faixa etária, propiciando a cada aluno a oportunidade de crescer e desinibir, por meio de suas experiências artísticas de interpretação e expressão. Hoje, um dos maiores desafios do nosso país é a educação de qualidade. Por isso, como vereador, desde os primeiros dias desse ano, época de férias na Câmara Municipal, me reuni com vários diretores de escolas da capital para entender as diversas realidades e captar as principais necessidades da educação de Belo Horizonte. Ainda neste campo, estamos terminando o processo de organização de um telecentro comunitário no bairro Conjunto Betânia onde moradores, principalmente jovens e adolescentes, terão acesso à informação, cultura, artes e educação, além de vários cursos e palestras gratuitas. Creio que a arte como ferramenta de educação é um meio e gera um potencial enorme como caminho para a transformação e humanização de uma sociedade melhor. 64 62
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CIÊNCIAS E MATEMÁTICA COM UMA PITADA DE ARTE Grupo formado por educadores e que o design se some às para agregar o conhecimento texto
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Mariana Fonseca e Vinícius Bopprê
artistas ciência no arte
defende exatas mundo Daniel Melin
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Ausência, 2012
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izia o poeta português Fernando Pessoa que “a ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são”. É seguindo essa lógica que um grupo de designers, educadores e artistas está propondo que a arte se junte a parceiros, digamos, menos usuais: a ciência, a tecnologia, a engenharia e a matemática. Em escolas e universidades americanas, essas quatro áreas são comumente agrupadas em uma só, que chamam de stem (sigla para Science, Technology, Engineering and Maths). Agora, a proposta que esse grupo, liderado pelo reconhecido designer John Maeda, está trazendo é que o Stem seja substituído pelo Steam, que sustenta as mesmas áreas do conhecimento anteriores, mas acrescenta a arte como um fio que interliga as outras disciplinas. Uma escola que já utiliza a Steam para ensinar é a Blue School, em Nova York, fundada por uns rapazes azuis que você já deve ter visto na televisão. “O que estamos fazendo é trazer o máximo de neurociência para a escola, não para testar as crianças mas sim para que entendam como o cérebro delas funciona e como aprendem. E a arte ajuda nisso”, afirma Goldman, membro do Blue Man Group. Na escola, os alunos são sempre estimulados a encontrar a dimensão artística de todas as atividades que desenvolvem, desde uma ida ao museu até uma aula mais tradicional de matemática.
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A ideia de trazer a sigla para a escola veio da experiência nos palcos. “Nas loucuras que fazemos nas apresentações, não estamos só fazendo arte, mas também engenharia e ciências. Catapultamos gelatina na platéia, mas não podemos acertar as senhoras de idade. Isso tem matemática envolvida”, afirma Goldman, de bom humor. Independente do lugar em que essa metodologia é aplicada, o que ajuda a fazer com que as diferentes áreas do conhecimento se encontre, no fim das contas, é a criatividade. Ainissa Ramirez, da Universidade de Yale e também defensora da mudança, acredita que até hoje a educação treina as pessoas para responder perguntas assim como em um jogos de cartas , que traz as as respostas no verso. Para ela, as escolas e universidades precisam “preparar os alunos para um jogo onde atrás de uma carta de perguntas não há uma resposta”. 70
Mural R-Existir, 2016
E não pense que os educadores estão sozinhas na luta por um ensino mais artístico. Durante o SXSWEdu, a Adobe apresentou uma pesquisa realizada com profissionais de diversos segmentos que comprova a importância da criatividade no mundo atual. Entre as 1.025 pessoas entrevistadas, 80% dizem que ser criativo é fundamental para levar o mundo para frente; 62% afirmam que a escola é incapaz de desenvolver isso e 71% acreditam que a criatividade precisa ser ensinada como outros cursos ou perpassar por todas as outras disciplinas. Mas existe mesmo uma maneira de ensinar a criatividade? Ken Robinson, um dos maiores defensores da inovação e criatividade no ensino, tem algumas das palestras TED mais assistidas do YouTube. E até o mit entrou na dança. Em fevereiro desse ano lançou, pela primeira vez, um curso aberto e on-line de aprendizagem criativa.
Fora dos muros acadêmicos John Maeda, presidente da Rhode Island School of Design, é tão entusiasta desse movimento que lançou um site devotado à causa, o stem to steam. Quando criança, seu pai dizia para ele dar mais importância para a matemática, porque arte não dava emprego para ninguém. “Hoje a arte tem grande importância. A revolução do mp3 só aconteceu com o iPod porque ele tinha design. O mesmo com os carros depois que a Ford inovou nos seus modelos”, diz. Para ele, mudar o nome da sigla não vai terminar com ela, ao contrário, acrescentar artes e design à sigla vai “unir mentes criativas para agregar conhecimento no mundo”.
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E até na televisão a steam já está presente. Rosemarie Truglio, presidente da organização que produz o Sesame Street (série norte-americana que teve no Brasil a versão chamada de Vila Sésamo na década de 70), afirma que o objetivo é fazer com que as crianças se questionem, observem, investiguem e reflitam sobre suas ideias. Durante o episódio Figure it out, baby–por uma gravação realizada por um usuário–os personagens percebem que precisam ter uma banda para alcançar o sucesso e, para isso, constroem seus próprio instrumentos. “Tecnologia é uma ferramenta como outra e eles descobrem isso. Eles próprios fizeram seus microfones, guitarras e o design de cada um dos objetos”, explica Truglio. 72
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“Your strong colors.”
THOMAZ AQUINO @thxaquino
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA Qual arte texto
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a importância possui dentro
Blog Sabra
e
a da
influência educação
que a inclusiva? arte
Alex Senna
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Mural para o Straat Museum
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Mural para o “The Crystal Ship Festival”
inclusão social é um assunto bastante discutido e que merece atenção. Dentre os instrumentos para este trabalho, podemos citar a importância da arte na educação inclusiva. Para as pessoas que são portadoras de necessidades especiais, o contato com a arte oferece a oportunidade de ampliar o potencial de cada um, por meio da reflexão, criatividade e do conhecimento da sociedade e também de si próprio. A educação inclusiva pode usar o estudo artístico, como escultura, pintura, músicas e danças, para estimular que os alunos desenvolvam todas as suas possibilidades, dentro das limitações. Assim, há a descoberta das afinidades na realização de atividades, que fazem o processo de aprendizagem ser mais prazeroso.
Integração para o desenvolvimento A arte tem o papel de ir além das fronteiras, sendo uma ferramenta que traz integração e leva ao desenvolvimento humano, por isso há o destaque para a importância da arte na educação inclusiva. Pela arte é possível atingir o belo, que tem a apreciação por todos, independentemente de nacionalidade, cor, sexo ou idade. Desta maneira, a arte torna-se um instrumento de integração na educação inclusiva, levando ao desenvolvimento cultural e também sendo uma ferramenta de terapia.
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O uso da arte na educação inclusiva atende as necessidades daqueles que precisam de metodologias específicas para desenvolver o aprendizado. São três os eixos que são trabalhados na educação artística inclusiva, que envolvem a produção de artes, o processo de apreciação de trabalhos artísticos e o contexto das artes em termos de história e cultura. Estas formas diferentes de aprendizado deixam o aluno mais à vontade e servem como terapia, ao oferecer oportunidade para a criação. Tudo isso ajuda na socialização e integração com o grupo. 80
Desenvolvendo as potencialidades Um papel importante da educação é proporcionar um ambiente onde as aptidões se aflorem, desenvolvendo as potencialidades dos alunos com processos de ensinos adequados para cada necessidade. A arte na educação inclusiva cumpre este objetivo, ativando a criatividade, em um ambiente que proporciona prazer na aprendizagem, dando vontade ao aluno de aprender cada vez mais. Como a arte se apresenta como um importante canal de comunicação e de desenvolvimento de potenciais, sendo uma forma de representar a vida, ela proporciona, ao aluno especial, experiências que ajudam em seu ajustamento na sociedade e sua evolução pessoal. Pode-se dizer que a arte leva ao desenvolvimento de forma integral.
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Mural para o “Sprayseemo Mural Festival”
Arte na educação inclusiva pela igualdade A educação inclusiva, como o próprio nome diz, visa incluir as pessoas especiais, e, neste ponto, a arte é excelente, visto que atende a necessidade de um desenvolvimento integral, de forma lúdica. Na expressão artística há o prazer da descoberta, assim as limitações não impedem a participação de ninguém, igualando todos independente de diferenças que possam existir. Em atividades que envolvem danças, músicas e expressão corporal, por exemplo, uma pessoa que é portadora de necessidades especiais pode participar pelo prazer, e, em um ambiente educacional, aprender muito com esse envolvimento. Portanto, vale a pena inserir a arte na educação inclusiva, com criatividade, para proporcionar novas aprendizagens e um ambiente prazeroso aos alunos. 82
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ARTE COMO BASE DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM Práticas processos por
Sean Quinn
artísticas nos de criação
sistemas educacionais e desenvolvimento
contribui nos de habilidades ilustração
SHIIOOKU
Nos últimos anos, é notório o destaque que as artes ganharam no espaço escolar. Tais resultados advêm dos esforços governamentais e, também, privados, na implementação de diversas ações voltadas à valorização das expressões artísticas, como a produção de projetos culturais. Além da promoção de outras iniciativas que têm como objetivo proporcionar aos estudantes experiências de valor, influenciando o processo criativo dos alunos e contribuindo para o desenvolvimento de suas habilidades criativas e de caráter. Fato é que essa valorização das investigações artísticas é muito importante para a construção de uma sociedade mais plural, atuante e inclusiva. Além de ser uma ferramenta de transformação social, o uso dessas práticas artísticas como base de ensino permite aos alunos assimilarem, com mais eficiência, o conteúdo ensinado no espaço acadêmico, facilitando o processo de aprendizagem e trazendo mais fluidez nos projetos. Neste sentido, a atenção dada à arte no cenário educacional deve ser um dos pilares culturais das escolas e, portanto, foco de investimentos contínuo para que se consiga bons resultados.
Como a arte pode tornar processo de aprendizagem mais eficiente? As práticas artísticas trazem muitos benefícios ao ambiente escolar, sendo defendida por diversos especialistas, como, por exemplo, a professora e presidente do Departamento de Currículo e Instrução da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), Erika Rosenfeld. Em seu livro “Como as artes podem salvar a educação: transformando o ensino, a aprendizagem e a instrução”, a autora argumenta que a aplicação da Arte nas escolas, bem como seus princípios básicos de aprendizado, pode tornar o ensino mais produtivo. Neste sentido, ainda de acordo com a escritora, a educação precisa adotar os modelos de criação utilizados pelos artistas em seus processos criativos, pois isso deve tornar o aprendizado mais significativo. A inspiração nestas formas de concepções artísticas, que se iniciam a partir de uma ideia, impacta fortemente a produção de conhecimento no espaço acadêmico. Diferentemente dos modelos tradicionais, que utilizam testes em exames para mensurar resultados e aprendizados, um ensino de qualidade, que tenha práticas artísticas entre seus pilares norteadores, consegue obter resultados de aprendizagem melhores na medida em que concede maior liberdade e autonomia aos alunos para propor ideias, projetos e transformá-los em representações.
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OSGEMEOS: ARTE URBANA DA RUA PARA AS ESCOLAS A arte d’OSGEMEOS é necessária para deixar que a razão dê lugar ao imaginário, se permitir perceber as sutilezas numa experiência que excede o visual texto
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Tamara Castro
arte
OSGEMEOS
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Untitled, 2013
desse modo que o próprio site oficial d’OSGEMEOS descreve a experiência com as obras dos artistas paulistanos Gustavo e Otávio Pandolfo. Nascidos em 1974 e criados no tradicional bairro do Cambuci, região central de São Paulo, OSGEMEOS se tornaram um dos principais nomes da arte urbana brasileira, tendo seu trabalho reconhecido nacional e internacionalmente. São deles os famosos personagens amarelos Gigantes, que podem ser encontrados tanto em muros embaixo das pontes em São Paulo, como nas fachadas de prédios e museus nos Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Inglaterra e por aí vai. Desde outubro do ano passado, é possível conferir algumas de suas principais pinturas, instalações imersivas e sonoras, esculturas, intervenções, desenhos e cadernos de anotações na exposição OSGEMEOS: Segredos, em cartaz na Pinacoteca de São Paulo. Dado o sucesso, a exposição foi prorrogada até 3 de maio. Os ingressos são adquiridos on-line, sendo que são disponibilizados na tarde de sexta-feira para os 7 dias subsequentes. Devido à popularidade da exposição e ao atendimento com apenas 40% da capacidade de visitação do museu, a procura pelos ingressos tem sido bem alta.
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Por causa da pandemia, as visitas guiadas para grupos seguem temporariamente suspensas. Mas para professores e professoras que querem trabalhar a vida e obra dos grafiteiros em sala de aula, o Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca (nae) disponibilizou dois vídeos e um material físico impresso. Um dos vídeos é uma visita guiada realizada com os próprios artistas à exposição OSGEMEOS: Segredos. Nesse vídeo, os artistas passam por todas as sete salas da exposição, explicando detalhes de algumas obras e peças que fazem parte da mostra. A ideia do vídeo é nmostrar os bastidores, os segredos do processo criativo que os levaram até aqui–e que podem inspirar outros(as) artistas a acreditarem em seus trabalhos e continuarem seus caminhos. 92
Untitled, 2018
A dupla chama atenção para a diversidade de técnicas, os estudos de caligrafia e os experimentos com diferentes linguagens e suportes por exemplo, as lonas de caminhão, as telas e as caixinhas de madeira que arrumavam na rua para fazer sua arte. Além disso, os artistas apresentam seu universo lúdico e criativo, chamado por eles de Tritez, a sua visão da rua como uma escola e o que mais influenciou o seu trabalho ao longo dos anos–tais como o cotidiano do bairro em que cresceram, o Cambuci, a família, e a cultura hip-hop. Já a vídeo-aula, a seguir, quem apresenta é uma das educadoras do Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca. Ela traz uma contextualização da obra d’OSGEMEOS, passando pela definição de arte contemporânea e arte urbana, e trazendo provocações sobre intervenções no espaço público, o grafite e outros conflitos relacionados à separação e segregação, que dialogam com esse tipo de arte. São apontadas referências de outras artes urbanas, como em obras de Alex Vallauri e Banksy.
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Ao final, o vídeo apresenta e explica o material de apoio à prática pedagógica, que consiste em duas imagens de obras dos artistas presentes na exposição, com sugestões de leituras de imagens e de propostas poéticas. Educadores e educadoras de escolas públicas e privadas podem retirar gratuitamente esse material na Pinacoteca. É preciso ir pessoalmente ao museu portando um comprovante de que trabalha em uma instituição de ensino (holerite ou carteira de trabalho, por exemplo). A distribuição acontece às segundas, quartas, quintas e sextas-feiras, das 10h às 17h30. Para maiores informações sobre a retirada do material, é possível entrar em contato com o Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca de São Paulo através dos telefones (11) 3324 0943 ou 3324 0944. 94
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COMO USAR A ARTE PARA VIMPULSIONAR A APRENDIZAGEM Caderno, lápis e borracha não são – e nunca foram – os únicos recursos que prendem a atenção das crianças em sala de aula. texto
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Redação Pátio
arte
Eduardo Kobra
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Raori, 2017
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Etnias, 2016
preciso mais. Dispositivos tecnológicos? Sim, são bem-vindos. Mas, se os professores usarem a arte nos processos de ensino e de aprendizagem, talvez o resultado seja tão significativo quanto a adoção de tecnologia. Algumas escolas estão levando a ideia a sério, utilizando as artes em tudo o que fazem. Elas descobrem que a abordagem não apenas aumenta o desempenho escolar como também promove a criatividade e a autoconfiança nos alunos. A arte é tão relevante que, desde 2016, tornou-se componente curricular obrigatório na nova Base Nacional Comum Curricular (bncc). A bncc define o mínimo que os estudantes devem aprender a cada etapa de ensino. Aprovada em 2017, a Base para a educação infantil e o ensino fundamental passou a valer em 2020 nas escolas. No ensino médio, 13 estados fizeram ou estão fazendo consulta pública sobre os novos currículos. A disciplina pode aparecer nos currículos escolares na forma de artes visuais, dança, música e teatro. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, o conhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão de mundo maior – e na qual a dimensão poética esteja presente e adaptada a cada realidade.
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A arte da experiência Em Porto Alegre (rs), alunas da Escola Municipal de Ensino Infantil Girafinha foram desafiadas pela professora Gisele Rodrigues Soares a criar uma fotonovela (artes visuais). Seis meninas aceitaram a tarefa. Elas dividiram as ocupações. Uma foi fotógrafa e as demais, atrizes–mas também cenógrafas, figurinistas, maquiadoras e narradoras. Após a finalização do filme, incluindo a colocação de legendas, trilha sonora e efeitos visuais, a produção foi vista pelas demais crianças da escola em sessão de cinema com direito a ingressos confeccionadas pelas meninas. 102
Anne Frank, 2016
“Após essa experiência coletiva e cooperativa de produções audiovisuais com crianças pequenas, percebemos como os filmes são altamente produtivos no trabalho junto a elas, que estão imersas em uma cultura midiática desde a mais tenra idade e são autoras de fotos e vídeos no cotidiano de suas famílias”, escreveu a professora e outras colegas, em artigo publicado no portal Desafios da Educação. “Tais produções e linguagens também são ferramentas de expressão, produzem conhecimento e se constituem em memória de um grupo.” Também na capital gaúcha, presente em seis instituições da rede municipal, ocorre o projeto Iberê nas Escolas . Fruto de uma parceria entre a Fundação Iberê Camargo e a Prefeitura de Porto Alegre, o projeto propõe que arte-educadores conduzam trabalhos artísticos e brincadeiras lúdicas com o objetivo de auxiliar a formação dos alunos nos quatro eixos de ensino: letramento, numeramento, iniciação científica e educação sensível. As atividades do Iberê nas Escolas ocorrem no turno inverso das aulas, cinco dias por semana. Cerca de 250 alunos são beneficiados pelo programa. Uma turma da Escola Municipal de Ensino Fundamental Leocádia Prestes, localizada no bairro Vila Nova, recriou retratos de artistas de diferentes estilos e épocas da história da arte. As crianças participaram da criação e da montagem dos figurinos e fizeram sua interpretação de cada obra, para que as fotografias fossem editadas digitalmente.
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O resultado da encenação deu origem a um jogo de memória, no qual a dupla deve ser formada pela obra original e pela obra interpretada pelos alunos. Segundo Mariah Pinheiro, arte-educadora da escola Leocádia Prestes, a atividade “valeu a pena ao perceber as carinhas de surpresa e alegria deles ao se vestirem, maquiarem-se e se ‘transformarem’ em diferentes obras de arte”. Em termos de desempenho escolar, um experimento realizado em duas escolas do distrito de Burlington, Vermont (eua), resultou em um aumento de 23 para 49% a porcentagem de alunos que obtiveram proficiência no exame do Programa de Avaliação Comum da Nova Inglaterra (necap) entre 2009 e 2013. Como foi a integração da arte nas escolas norte-americanas? Uma lição do 4º ano sobre geometria, por exemplo, examinou o trabalho do famoso artista plástico russo Wassily Kandinsky. A turma falou sobre seu trabalho e, em seguida, criou sua própria arte usando ângulos no estilo de Kandinsky. Os alunos tinham que ser capazes de identificar os ângulos que eles usaram e apontá-los em sua arte. 104
Tolerância, 2018
Os professores alternaram formas de arte visual, música, dança e teatro. Uma turma do 5º ano do ensino fundamental apresentou representações dramáticas da Guerra de Independência dos Estados Unidos. Os alunos usaram os fatos que aprenderam para criar cenas e depois discutiram as conexões dramáticas envolvidas. A integração artística no currículo pode ser uma ação difícil para os professores que não se sentem criativos demais. Mas não é preciso ser especialista para encorajar os alunos. Basta agir. “Quando se amplia o repertório cultural, se amplia o olhar para além da sala de aula”, disse Robson Bento Outeiro, superintendente executivo da Fundação Iberê, ao jornal Folha de S. Paulo. Para ele, a ação colabora com o futuro dos jovens que participaram da atividade. “Não é só cidadania, [o professor] sensibiliza.” ecoando pelas brechas | 105
Durante a pandemia do novo coronavírus as atividades artísticas podem (e devem) se adaptarem ao ensino remoto. Neste momento, com aulas virtuais e escolas se preparando para abrir, é importante estimular a sensibilidade nos alunos e ensiná-los com os estímulos corretos. Incentivar a criatividade em casa é essencial para melhorar o aprendizado das crianças. Além disso, colabora na melhoria e no engajamento dos responsáveis nas atividades dos filhos. 106
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