R$30,00
Ed. nº1
1 de abril de 2022
DESAFIANDO OS PADRÕES EM EUPHORIA
NEM DO NEM DA, DI! Abril 2022 1
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TMJ É Nóis
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TMJ É Nóis
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E AÍ, BELÊ? Não é de hoje que a nossa sociedade não entende que existe mais de uma masculinidade, mas é possível observar que essa visão errada de masculinidade vêm tomando uma proporção gigantesca, dando cada vez mais força à discursos de ódio e à masculinidade tóxica. Diante desse cenário caótico, nasce a Di!, a revista que fala de masculinidades! Estamos cansados de ver os homens da geração Z sem um lugar para se expressarem. Aqui é o local para você botar tudo pra fora e quebrar com os padrões impostos pela sociedade. Sem medo e sem amarras. Por meio da divulgação de notícias, entrevistas e matérias, a Di! apresenta um novo jeito de ver e perceber as masculinidades que têm muito a nos oferecer e ensinar. Nesta primeira edição, dedicamos à matéria de capa ao programa que representa a nossa geração: Euphoria. Jacob Elordi e Hunter Schafer nos concedem uma entrevista sobre como o programa desafia os padrões de masculinidade. Na seção “Conte Comigo”, trazemos grupos de apoio para os jovens da geração Z que os ajudaram a lidar com os diversos problemas que enfrentam. Em outras seções, trazemos também entrevistas e matérias com esportistas, dicas de maquiagem e cuidados com a pele, além de trazer reportagens sobre as condições de saúde dos homens. Uma revista que não é nem do, nem da, mas Di!.
Escola Superior de Marketing e Propaganda Graduação em Design Turma DSG 3A 2022.1 Projeto III: Marise de Chirico Cor, Percepção e Tendência: Paula Csillag Produção Gráfica: Marcos Mello Finanças: Alexandre Ripamonti Marketing Estratégico: Leonardo Aureliano Projeto Editorial Gráfico Carolina Nishimoto; Fernanda Prismich Tarandach; Guilherme Costa; Paula Tawil; Sophia Teixeira.
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capa
TMJ |É Nóis
62 Desafiando padrões em Euphoria
TMJ
SÓ CRAQUE
Que tá pegando? 10 Notas rápidas 18 Tô malzão 28 Tá pesado 44 Eli é f*da 74 É nóis 86 Conte comigo 92 Cabelin 96 Bigodin 100 Make 104 Coluna assinada
20 Os impactos da masculinidade tóxica na saúde emocional 34 Como estereótipos da masculinidade afetam os homens 52 “Roda Tripla” : definindo masculinidade 62 Desafiando padrões em Euphoria 78 Masculinidade, expressão e RuPaul’s Drag Race
Heartstopper
LANÇAMENTOS DA NETFLIX EM ABRIL DE 2022 Baseado na hq de mesmo nome da autora inglesa Alice Oseman, o seriado teen conta a história de amor entre dois meninos adolescentes, além de outros assuntos envolvendo a temática lgbtqia+ e a descoberta da sexualidade durante a adolescência. Alice participou da adaptação como roteirista na primeira temporada e continuará com a mesma função nas sequências. Título Original: Heartstopper Episódios: 8 Ano produção: 2021 Estreia: 22 de abril de 2022 Distribuidora: Netflix Dirigido por: Euros Lyn Classificação: 12 anos Gênero: Romance, Drama País de Origem: Reino Unido
SÉRIES
The Home Edit – A Arte de Organizar – temporada 2: 01/4/2022 Disque Prazer: 08/4/2022 No Xadrez: 12/4/2022 Elite -Temporada 5: 08/04/2022 A Sogra Que Te Pariu: 13/4/2022 Os Herdeiros da Terra: 15/4/2022 Anatomia de um Escândalo: 15/4/2022 DC’s Legends of Tomorrow – temporada 6: 15/4/2022 Boneca Russa – temporada 2: 20/4/2022 Coração Marcado: 20/4/2022 Better Call Saul – temporada 6: 19/4/2022 Sunset –Milha de Ouro – temporada 5: 22/4/2022 Ozark – temporada 4 - Parte 2: 29/4/2022
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BOHEMIAN RAPSODY Com suas habilidades vocais impecáveis, Freddie Mercury e sua banda de rock, Queen, alcançam o estrelato. No entanto, em meio a seu sucesso vertiginoso, ele luta com seu ego, sexualidade e uma doença fatal. Lançada em 2018, a produção ganhou quatro Oscars, incluindo o de melhor ator para Rami Malek. O intérprete de Freddie Mercury também foi premiado na mesma categoria pelo Globo de Ouro, Bafta e Screen Actors Guild. Título Original: Bohemian Rapsody Duração: 2h 15min Ano produção: 2018 Estreia: 30 de abril de 2022 Distribuidora: Netflix Dirigido por: Bryan Singer Classificação: 14 anos Gênero: Biografia, Drama e Musical Países de Origem: Reino Unido e eua
FILMES
Eternamente Demais pra Mim: 01/4/2022 Metal Lords: 08/4/2022 Ainda Estou Aqui: 12/4/2022 As Garotas de Cristal: 08/04/2022 Escolha ou Morra: 15/4/2022 A Princesa de Yazuka: 20/4/2022 A Caminho do Verão: 22/4/2022 Silverton – Cerco Fechado: 27/4/2022 Lua de Mel com minha Mãe: 29/4/2022
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VAI CURTIR O LOLLA? SE LIGA NA PROGRAMAÇÃO, CRONOGRAMA COMPLETO DE SHOWS E DIVISÕES ENTRE OS PALCOS!
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DIA 1 SEXTA-FEIRA PALCO BUDWEISER: 13h05 Detonautas 14h45 Turnstile 16h40 LP 18h50 Machine Gun Kelly 21h15 The Strokes
DIA 2 SÁBADO PALCO BUDWEISER: 13h05 Terno Rei 14h45 Silva 16h55 King Gizzard & the Lizard Wizard 19h05 Emicida 21h30 Miley Cyrus
PALCO ONIX: 12h30 89 FM 13h55 jxdn 15h35 The Wombats 17h45 Marina 20h10 Doja Cat
PALCO ONIX: 12h15 Lamparina 13h55 Clarice Falcão 15h50 Jão 18h00 A Day To Remember 20h10 A$AP Rocky
PALCO ADIDAS: 13h05 Edgar 14h45 Matuê 16h40 Pabllo Vittar 18h50 Caribou 21h15 Jack Harlow
PALCO ADIDAS: 13h05 MC Tha 14h45 Jup do Bairro 16h55 Remi Wolf 19h05 Alessia Cara 21h45 Alexisonfire
PALCO PERRY’S BY DORITOS: 12h30 Beowülf 13h30 Barja 14h30 Meca 15h40 Vinne 16h50 Jetlag 18h00 070 Shake 19h00 Ashnikko 20h15 Chris Lake 21h30 Alan Walker
PALCO PERRY’S BY DORITOS: 12h00 Fatnotronic 13h00 Ashibah 14h00 Victor Lou 15h15 Chemical Surf 16h30 DJ Marky 17h45 Boombox Cartel 19h00 WC No Beat and Kevin o Chris + Haikaiss + PK + Felp 22 + MC TH + Hyperanhas 20h15 Deorro 21h30 Alok
DIA 3 DOMINGO PALCO BUDWEISER: 12h00 Lagum 13h45 Rashid 15h55 IDLES 18h05 Jane’s Addiction 20h30 Foo Fighters PALCO ONIX: 12h55 Aliados 14h50 Fresno 17h00 Black Pumas 19h10 Martin Garrix PALCO ADIDAS: 12h00 Menores Atos 13h45 Planta & Raiz 15h55 Marina Sena 18h05 Djonga 20h30 Kehlani PALCO PERRY’S BY DORITOS: 12h00 FractaLL x Rocksted 13h00 Malifoo 14h00 Evokings 15h00 Fancy Inc 16h00 Cat Dealers 17h00 Goldfish 18h30 Kaytranada 20h00 Gloria Groove 21h15 Alesso
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LIVROS PARA DEBATER MASCULINIDADES Seja Homem JJ Bola expõe a masculinidade como uma performance para a qual os homens são socialmente condicionados. Através de exemplos de tradições culturais e ecoando uma pluralidade de vozes, Bola desmascara diversos mitos, como aquele que proíbe os garotos de chorarem ou demonstrarem fraquezas. A masculinidade, calcificada numa sociedade patriarcal, se encontra no âmago do amor e do sexo, do cenário político, das interações sociais, da competição esportiva, de problemas de saúde mental. Seja homem é um chamado urgente para, em conexão com o feminismo e a igualdade de gênero, desvendar a masculinidade e redefini-la. AMAZON: R$43,71
Seja Foda! Aposto que você quer, no final da sua vida, olhar para trás, bater no peito com o coração cheio de felicidade, sem falsa modéstia, com plena convicção e serenidade, e dizer: minha vida foi FODA. Mas calma, encontrar este livro é só o começo. Agora, você precisa levá-lo com você. Com ele, você vai aprender comportamentos e atitudes necessários para conquistar, em todos os aspectos da sua vida, resultados incríveis. Ele vai provocar e inspirar você não só a ter o espírito elevado e sonhar com coisas inimagináveis, mas também se tornar consciente do que precisa fazer para realizar cada um desses sonhos. Vamos juntos? AMAZON: R$29,90
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Guia prático antimachismo para pessoas de todos os gêneros “Ruth Manus coloca o dedo na ferida e fala da necessidade de ser antimachista, algo que pode salvar mulheres e homens de uma cultura tóxica. A luta contra a violência patriarcal é um projeto refinado de humanismo e interessa a todas, todos e, claro.... todes.” – Leandro Karnal AMAZON: R$24,20
Os homens explicam tudo para mim Em seu ensaio icônico Os Homens Explicam Tudo para Mim, Rebecca Solnit foca seu olhar inquisitivo no tema dos direitos da mulher começando por nos contar um episódio cômico: um homem passou uma festa inteira falando de um livro que “ela deveria ler”, sem lhe dar chance de dizer que, na verdade, ela era a autora. A partir dessa situação, Rebecca vai debater o termo mansplaining, o fenômeno machista de homens assumirem que, independentemente do assunto, eles possuem mais conhecimento sobre o tema do que as mulheres, insistindo na explicação, quando muitas vezes a mulher tem mais domínio do que o próprio homem. Com graça e energia, e numa prosa belíssima e provocativa, Rebecca Solnit demonstra que é tanto uma figura fundamental do movimento feminista atual como uma pensadora radical e generosa. AMAZON: R$28,08
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QUE TÁ PEGANDO? Tô malzão
HOMENS NÃO ESTÃO CUIDANDO DA SUA SAÚDE
A EXPECTATIVA DE VIDA DOS HOMENS É MENOR, EM PARTE PORQUE A SOCIEDADE PROMOVE COMPORTAMENTOS DE BUSCA DE RISCO
Os homens têm cuidado mais da saúde nos últimos anos, mas ainda deixam muito a desejar. Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia mostra que embora tenha aumentado em 49,96% a procura do público masculino pelo médico, entre 2016 e 2020, os homens estão bem atrás das mulheres em termos de atenção à saúde. Em 2019, a proporção de mulheres que buscaram um médico (82,3%) foi maior que a homens (69,4%), segundo dados do Programa Nacional de Saúde (pns). De acordo com o urologista e professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da ufmg, Daniel Xavier Lima, é comum o homem só buscar os serviços de saúde quando o problema já está instalado. Esse comportamento leva a outro dado: os homens vivem em média sete anos a menos que as mulheres no Brasil. Mas isso não é exclusividade brasileira: “O homem tem mais chances de morrer prematuramente em praticamente todos os países do mundo. Eles não sabem que ao se negligenciarem estão contribuindo para a maior mortalidade de praticamente todas as causas do sexo masculino em relação ao feminino”, destaca o professor Xavier Lima em sua frase. Alguns motivos que explicam maior negligência masculina com a saúde incluem os fatores culturais, que levam à masculinidade tóxica. Com isso, o homem pode se achar mais forte, que não adoece e não pode demonstrar sinais de fraqueza, mas na verdade ele não é. No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens. Está atrás apenas do câncer de pele não-melanoma, de acordo com Instituto Nacional do Câncer (inca). Um diagnóstico do câncer de próstata é feito a cada sete minutos, e a cada 40 minutos, um homem morre por essa doença em todo o mundo. Não é apenas a próstata e nem o câncer de próstata que exigem maior atenção. As taxas de doenças cardíacas, diabetes, suicídios e, inclusive, mortes violentas, como acidentes de trânsito, são maiores entre os homens. Eles também abusam mais de álcool e drogas. São eles também que mais morrem vítimas da Covid-19. A mortalidade entre homens idosos é duas vezes maior que a das mulheres da mesma idade. Para Daniel Xavier Lima, essa diferença pode estar relacionada ao
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O homem tem mais chances de morrer prematuramente estilo de vida dos homens, que se encontram mais vulneráveis a doenças que, comprovadamente, são de risco para maior gravidade da Covid. A realidade é que todos esses fatores levam a menor expectativa de vida comparada às mulheres e reforçam a importância de frisar que cuidar da saúde fisíca e mental também é coisa de homem.
Quantos fazem exames v oltados á próstata :
Sim
89% 1% 10%
65% 35%
Exame de sangue par para dosar o PSA
Exame de toque retal
Não
Base: 952 (50 anos ou mais)
Não sei / não lembro
13% 1% 86%
42% 1%
Bió Bi ópsia da p prrósta stata
Ultrrassom Ult da p prrósta stata
Por que não fizeram o exame que dosa o PSA e rastreia problemas na próstata?
44%
O médico não indicou
Base: 970 (50 anos ou mais)
Ainda é cedo para fazer
Achou que não fosse necessário
57%
Outros motivos
28%
23% 5%
Por que não fizeram o toque retal?
62%
Base: 336
O médico não indicou
Ainda é cedo para fazer
Achou que não fosse necessário
18% 2%
Outros motivos
Não se sentiria bem fazendo o exame
8%
10%
GRÁFICO SOBRE EXAME DE PRÓSTATA
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TMJ É Nóis
OS IMPACTOS DA MASCULINIDADE TÓXICA NA SAÚDE EMOCIONAL A CHAMADA MASCULINIDADE TÓXICA LIMITA O HOMEM A ESTEREÓTIPOS QUE PODEM SER NOCIVOS. COMO A ESCOLA PODE ABORDAR ESSE TEMA? por Ana
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Carolina de Agostini
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QUE TÁ PEGANDO? Tô malzão
O
debate em torno de temas relacionados ao feminino e sobre o significado de ser mulher, inclusive na escola, tem se refletido na busca pela igualdade, respeito e a quebra de estereótipos que limitam a mulher. Mas é importante dizer que há estereótipos que atingem também o gênero masculino e sem um debate para construção dos papeis sociais, teremos como consequência a chamada masculinidade tóxica que esta bem em pauta. O termo masculinidade tóxica se refere a uma série de ideias associadas ao que significa ser homem. Algumas ideias como homens não podem falar sobre sentimentos, devem desprezar comportamentos que sejam sinal de fragilidade vindo de outros homens; mostrar coragem a qualquer custo, entre outros, são alguns dos aspectos comumente associados à virilidade do homem desde muito jovens. Homens também devem ser encorajados a buscar autoconhecimento, a falar sobre seus sentimentos, a refletir sobre seus valores pessoais e a questionar de maneira crítica o que significa para eles estar no mundo além de míticas masculinas limitantes impostas.
… MENINOS DESDE CEDO RECEBEM MENSAGENS DA MÍDIA E SE SENTEM PRESSIONADOS
O documentário em exibição na Netflix, A máscara que você vive, dirigido e produzido pela norte-americana Jennifer Siebel Newsom, usa o tema da masculinidade como fio condutor para abordar a construção do papel social do homem e pode possibilitar um debate interessante na escola sobre o assunto. O documentário, por meio de casos reais e de entrevistas com especialistas em neurociência, psicologia, sociologia, esportes, educação e mídia, aponta para a necessidade de se olhar além da “máscara” que define de forma restrita o que é o masculino sendo que não deveria. Os problemas da masculinidade tóxica Segundo Jennifer Newsom, meninos desde cedo recebem mensagens da mídia e se sentem pressionados por seu grupo de amigos e por adultos a resolver conflitos por meio da violência, a objetificar mulheres e a se distanciar de suas emoções para se tornarem homens “reais”. Tais estereótipos de gênero são também atravessados por questões raciais e de classe, criando circunstâncias frágeis para a construção da identidade. O documentário cita pesquisas que apontam que meninos têm
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HOMEM EM SOFRIMENTO
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QUE TÁ PEGANDO? Tô malzão
o dobro de probabilidades de abandonar os estudos e têm quatro vezes mais chance de serem expulsos da escola do que as meninas. Índices indicam ainda que meninos apresentam maior comportamento de risco e cometem mais suicídio. Esta é, inclusive, a terceira maior causa de mortalidade entre os garotos. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, aproximadamente 1 milhão de pessoas no mundo tiram a própria vida por ano. Os homens lideram o ranking de suicídio na grande maioria dos países, mesmo que dados indiquem que as mulheres apresentam maiores índices declarados de transtornos mentais como depressão, por exemplo. Em 2018, o número de suicídios no Brasil aumentou 34%, e acompanhando as estatísticas mundiais, no topo do ranking estão os homens, correspondendo a 79% do total de óbitos registrados. Cerca de 90% das pessoas que cometeram tentativas ou que chegaram a se suicidar, apresentavam algum tipo de transtorno mental, seja afetivo, de ansiedade ou de personalidade.
O PROBLEMA EM NO BRASIL
Taxas de suicído de 100 mil pessoas, por ano
0a2 2a4 4a6 6a8 + de 8
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suicídios acontecem por dia no Brasil
30%
foi o aumento no número de suicídio no Brasil nos últimos 25 anos
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M NÚMEROS
GRAFICO SOBRE TAXA DE SUICÍDIO MUNDIAL
O número de suicídios cresceu principalmente entre os jovens de 15 a 29 anos, o que indica que as novas gerações carecem de cuidados em saúde emocional e apontam para a importância da detecção de sinais precoces de instabilidade emocional. Com base em tais dados alarmantes, o Ministério da Saúde estabeleceu como meta juntamente à Organização Mundial de Saúde (oms), a redução de óbitos por suicídio até 2020 por meio de um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio. Tal plano implica, dentre outras medidas, em maior capacitação de profissionais habilitados em saúde, maior orientação para a população e expansão da rede de assistência em saúde mental. O suicídio, embora tema bastante delicado e atrelado às consequências da masculinidade tóxica, deve ser discutido sem medo, pois é justamente essa ânsia em calar o sofrimento que pode levar a consequências. Segundo a pesquisa “Violência e sofrimento mental na atenção primária à saúde”, atos violentos são vistos como elementos naturais do processo de socialização dos homens e do chamado exercício da masculinidade, levando os homens a negligenciar sua saúde e como cuidam de si mesmos. Já dados de estudos so
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QUE TÁ PEGANDO? Tô malzão
bre o tema do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero (nemge) indicam que o adoecimento psíquico masculino é visto como um fracasso social, tornando-se uma condição não tolerada pela família e sociedade. Os relatos masculinos desse estudo sobre saúde mental são mais carregados de estigmas sobre adoecimento psíquico, e os homens, ao sentirem que perderam a identidade de trabalhador ou de estudante devido a tais questões, enfrentam maiores dificuldades de reinserção na sociedade e de reconstrução da identidade. Já que toda mudança começa com a tomada de consciência, a escola, juntamente com a família e a sociedade, também tem o seu papel na discussão sobre masculinidade tóxica. Professores e gestores podem inicialmente refletir sobre as suas próprias concepções do que é
Jogar luz sobre o tema da masculinidade tóxica não significa criticar
o masculino e nas consequências que essa noção tem em suas atitudes e nos cuidados com a própria saúde mental. Devem atentar-se às suas falas e nos elementos ali presentes, além de enriquecer as discussões em sala de aula com debates sobre o tema. Cabe também ao gestor combater estereótipos no clima escolar, criando um ambiente acolhedor para a expressão de sentimentos, combatendo focos de violência como o bullying, descontruindo estereótipos do que é o masculino, enfatizando estratégias de resolução de conflitos saudáveis e incluindo de maneira intencional o trabalho com as competências socioemocionais, tais como o autoconhecimento, o autocontrole, as habilidades sociais e a tomada de decisões responsáveis atreladas ao tema da construção da masculinidade entre os jovens. Jogar luz sobre o tema da masculinidade tóxica não significa criticar os homens ou limitá-los a essa concepção. Em última análise, assim como no documentário, devemos refletir sobre como nós, como sociedade, podemos criar uma geração mais saudável de homens e meninos.
ILUSTRAÇÃO FEITA PELO GRUPO DI! 26
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QUE TÁ PEGANDO? Tá pesado
HOMENS NÃO VÃO ATINGIR OS 50 ANOS A EXPECTATIVA DE VIDA DOS HOMENS NA REGIÃO DAS AMÉRICAS É 5,8 ANOS MENOR QUE O DAS MULHERES
O resumo executivo do relatório “Masculinidades e saúde na região das Américas” (disponível em espanhol e inglês) destaca que as expectativas sociais dos homens de serem provedores de suas famílias, terem condutas de risco, serem sexualmente dominantes e evitarem discutir suas emoções ou procurar ajuda – são comportamentos comumente referidos como “masculinidade tóxica”– e estão contribuindo para maiores taxas de suicídio, homicídio, vícios e acidentes de trânsito, bem como doenças crônicas não transmissíveis. “Não devemos perder de vista o fato de que as mulheres assumem riscos diferenciais associados à sua condição de mulher”, disse Anna Coates, chefe do escritório de Equidade, Gênero e Diversidade Cultural da opas. “Mas a socialização dos homens também leva a uma ampla gama de problemas de saúde que só podem ser resolvidos por meio de políticas, programas e serviços de saúde receptivos que foquem em suas necessidades particulares”. O relatório também destaca que um em cada cinco homens morre antes dos 50 anos e muitas das principais causas de morte nas Américas, incluindo doenças cardíacas, violência interpessoal e acidentes de trânsito, estão diretamente relacionadas a comportamentos “machistas” construídos socialmente. Segundo o relatório, os papeis, normas e práticas de gênero socialmente impostas aos homens reforçam a falta de autocuidado e a negligência de sua própria saúde física e mental. O relatório também destaca que a discriminação por idade, etnia, pobreza, estado laboral e sexualidade agravam ainda mais esses resultados negativos para a saúde dos homens.
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As diferenças na mortalidade de homens e mulheres nas Américas começam a surgir por volta dos 10 anoS As diferenças na mortalidade de homens e mulheres nas Américas começam a surgir por volta dos 10 anos de idade e aumentam rapidamente a partir dos 15 anos, quando predominam causas violentas de morte, como homicídios, acidentes e suicídio. Como resultado, a taxa de mortalidade de homens jovens é de quatro a sete vezes maior que a de mulheres jovens o que não é aceitável. A partir dos 50 anos, as doenças crônicas não transmissíveis começam a afetar desproporcionalmente os homens, que têm menor probabilidade de cuidarem de si mesmos ou procurarem atendimento médico precocemente. Para abordar questões relacionadas à socialização masculina e alcançar a igualdade de gênero na saúde, mulheres e homens precisam de acesso a serviços de saúde que levem em consideração suas necessidades particulares. Para isso, o relatório pede aos países que implementem nove recomendações para ajudar a melhorar a saúde dos homens, como melhorar, sistematizar e disseminar dados sobre masculinidades e saúde e garantir a participação de todas as comunidades (incluindo homens, mulheres e comunidades lgbtqia+).
IMAGEM DE PAI LENDO PARA O FILHO
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QUE TÁ PEGANDO? Tá pesado
TIRE A MÁSCARA! SEJA HOMEM!
O LIVRO “SEJA HOMEM: A MASCULINIDADE DESMASCARADA”, DE AUTORIA DE JJ BOLA, DESMASCARA ESTEREÓTIPOS MASCULINOS
JJ Bola é um escritor, poeta e educador congolês que reside em Londres. Trabalhou na assistência de jovens com distúrbios de comportamento e problemas de saúde mental, lidando com os problemas de saúde mental, insegurança e baixa autoestima vividos por muitos jovens hoje. Ou seja, conhece de perto a realidade que meninos e meninas enfrentam diante das pressões impostas pela masculinidade hegemônica, também chamada de tóxica. De acordo com JJ Bola, a condição do sujeito na qualidade de homem, bem como a masculinidade associada a esse ideal, não é uma unidade fixa, é uma condição que está em permanente mudança. Porém, existem várias máscaras sobre a masculinidade que são transmitidas geracionalmente como verdades absolutas. Qualquer menino que por acaso não se encaixe nos estereótipos é virtualmente exilado do clã masculino. Esses estereótipos acerca da masculinidade (heteronormativo, fisicamente apto, corajoso, forte, no controle, ativo, sexualmente experiente, prontidão sexual, fala firme, não demonstra emoções, sabe se defender, não chora, sexualmente impositivo, trabalhador, provedor, não comete erros, não desiste, aguenta o tranco, competitivo, bem-sucedido, dominante em relação à mulher) funcionam para reforçar noções limitadas do que um homem pode e não pode ser. Os estereótipos são subjetivados, funcionam em múltiplos contextos e exercem acentuada pressão sobre os homens. Uma dessas máscaras está presente na ação discursiva “Seja homem” que dá título ao livro. Essa expressão é usada como uma ferramenta de silenciamento e restrição emocional, em especial com meninos durante a infância. Os meninos aprendem que expressar sentimentos, ainda mais com demonstrações da vulnerabilidade, como o choro, são fraquezas. Eles internalizam a censura de um modo que, quando fazem a transição da infância para a adolescência e, depois, para a vida adulta, eles reprimem internamen-
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Essa expressão é usada como uma ferramenta de silenciamento e restrição emocional para os homens
te as emoções e nunca se dão conta da violência a que foram submetidos. As máscaras da masculinidade são usadas para reforçar uma perspectiva estereotípica do que um homem deve e não deve ser. O livro de JJ Bola nos ajuda a tirar essa máscara, mostrando que a masculinidade é fluida e está sempre mudando. O sistema do patriarcado não é permanente: ele foi criado pelas pessoas, assim como todos os sistemas de opressão e, por isso, também pode ser transformado pelas pessoas. Mas o sistema social só é modificado pelas pessoas que trabalham pela visão de uma vida melhor, um caminho que preserva o oikos (a casa comum) no lugar de destruí-lo. Um caminho que nos estimula no lugar de oprimir, que nos enche de alegria e esperança no lugar de tristeza e raiva. É o momento que estamos vivendo. Sem as máscaras conseguimos enxergar nossos rostos, nossas faces. Quando removemos as máscaras, vemos o que existe por trás.
IMAGEM DO AUTOR JJ BOLA
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COMO ESTEREÓTIPOS DA MASCULINIDADE AFETAM OS HOMENS O PATRIARCADO E O MACHISMO FACILITAM A VIDA DO HOMEM, MAS GERAM UMA SÉRIE DE ANGÚSTIAS por
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Natan Fernandes
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professor pede para primeiro fechar os olhos e procurar por algum lugar que marcou a sua infância. Na sala, as pessoas vasculham seus hds pessoais, acessam emoções soterradas por boletos, repressões e papeis que muitos ali representam anos. Ao se verem como crianças, é normal que gotas de água comecem a brotar dos olhos para estabilizar a sensação de perda de controle natural em momentos de alegria ou tristeza. Ninguém ali estranha o fato de que as pessoas que choram na sala são homens héteros. Ninguém ali estranha o fato de que estão expondo em público a intimidade das suas lágrimas algo considerado tão privado que fez Antoine de Saint-Exupéry escrever em O Pequeno Príncipe: “É um lugar secreto, a terra das lágrimas”. O professor é Claudio Serva, 46, fundador do Prazerele, músico e terapeuta que ministra em São Paulo cursos dedicados a repensar o sexo e a masculinidade. “Trabalho com o resgate da sensorialidade”, explica ele. “Mas primeiro tento resgatar a criança que cada um traz dentro de si, o que é difícil porque muitos homens nem se lembram de como eram quando crianças.” A ideia é fazer os participantes se reconectarem com o que eram antes de vestirem suas máscaras de ferro toxíca e imposta.
Como afirma Serva, os homens são educados a renegar socialmente tudo que é feminino. E, ao passar pela “máquina de formatar meninos”, a educação machista, começam a ser castrados de afeto. “Se você der cerveja para cinco homens héteros, dentro de alguns minutos todos começam a se abraçar, a se beijar, a dizer que se amam. Eles não podem demonstrar isso naturalmente por medo de acharem que são gays, uma afronta à sua masculinidade frágil” perante a sociedade atual. Nas ciências sociais, a “caixa” na qual os homens são colocados é conhecida como masculinidade hegemônica, um conceito criado pela cientista social australiana Raewyn Connell, em 1982. “Ele é entendido como o padrão de práticas (…) que permitem a continuidade do domínio dos homens sobre as mulheres”, escreveram Connell e James Messerschmidt no artigo Masculinidade Hegemônica: Repensando o Conceito. No sexo, essa valorização do masculino se torna evidente –e problemática. “Em geral, as pessoas fazem um sexo mais focado na performance do que nas sensações”, explica Serva. “E, como à mulher foi reservado esse papel de objeto de desejo, muitas vezes elas acabam querendo agradar e reforçando o lado performático dos homens.” declara o autor.
Para o terapeuta, a fixação masculina pela penetração como sinônimo de sexo, que nem sempre corresponde ao ideal feminino é reflexo da pornografia, da idealização de uma relação sexual que não se traduz na realidade. Não à toa, de acordo com pesquisa do canal Sexy Hot, 76% dos 22 milhões de brasileiros que consomem pornografia são homens. “A pornografia pode influenciar na vida sexual de alguns homens”, explica o psiquiatra e terapeuta sexual Carlos Eduardo Carrion. “Homens sem nenhuma experiência sexual podem achar que é assim que as coisas devem ocorrer. Outros, em menor número, veem reforçadas suas ideias de desconsideração pela parceira.” declara o terapeuta. É ainda por meio da pornografia que muitos encontram um porto seguro para fantasias inconfessáveis. Isso faz com que o Brasil, o país que mais matou travestis e transexuais em 2017, de acordo com o “Mapa dos Assassinatos de Travestis e Transexuais”, viva um conflito entre desejo e aceitação social, já que a busca por conteúdo desse tipo por aqui é 84% maior do que no restante do mundo, segundo o portal de vídeos Pornhub. E a transfobia é só um dos preconceitos gerados por essa rejeição ao feminino. Outro, que afeta os próprios homens, é o medo do toque retal. Apesar de o estímulo na próstata proporcionar prazer, a maior parte das informações sobre isso vem de piadas, como escreveu o especialista Roy Levin, da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, em estudo
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publicado em dezembro de 2017 no periódico Clinical Anatomy. Na pesquisa, Levin afirma que, assim como demonstraram os estudos sobre orgasmos femininos, a sensação de prazer gerada pelo massageamento da próstata pode ser resultado de uma maior consciência corporal, que leva o homem a pensar em novas formas de estímulo. Para Carrion, o tabu vem da ideia da penetração como algo reservado apenas a gays e mulheres, o que contribuiria para a desconstrução da imagem de “macho”. “A perda da identidade é sempre algo assustador, muitos reagem até com violência”, afirma o psiquiatra. “É preciso muita maturidade para entender que homossexualidade é amar sexualmente outro homem e não o ato em si.”. O tabu vira preocupação ao relacionar isso aos casos de câncer de próstata, o segundo mais comum entre os homens no Brasil. Pesquisa do Datafolha encomendada pela Sociedade Brasileira de Urologia revela que 21% da população masculina acima de 40 anos não faz o exame de toque retal, essencial no diagnóstico do câncer, por não considerar “coisa de homem”; 48% assumem que, em geral, não realizam o exame por machismo.
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Na média mundial, os homens têm menor expectativa de vida, mas, segundo o levantamento que analisou 41 países europeus, esse problema é mais grave em locais cujos indicadores socioeconômicos são menos equilibrados entre homens e mulheres. Nesses lugares, eles são mais propensos ao tabagismo e alcoolismo, dieta não saudável e rica em sal e violência. “Morar em um país em que há igualdade de gênero beneficia a saúde do homem, transparecendo em menores taxas de mortalidade, mais bem-estar, metade do risco de depressão, maior chance de fazer sexo com proteção, menores taxas de suicídio e 40% a menos de risco de morrer de forma violenta”, destacam os pesquisadores no relatório. A falta de conhecimento do próprio corpo e a pressão por performance na hora do sexo são ingredientes para uma bomba que muitas vezes explode em questões como impotência e ejaculação precoce ou atrasada . O medo de falhar faz com que muitos jovens acabem recorrendo a remédios estimulantes, como Viagra, Levitra e Cialis. Um em cada cinco homens entre 22 e 30 anos que usaram esses medicamentos nos seis meses antes de um levantamento realizado pelo instituto
gfk, em 2015, passaram a usá-los em todas as ao gênero. “Aceitar a sensibilidade masculina é relações sexuais mesmo que, na maioria dos uma provocação nova, e é bacana a gente recasos, os remédios funcionem apenas como considerar valores”, avalia. O rapper lembra do ditado homofóbico uma muleta emocional. O urologista espanhol Manuel Lucas “puta negão bom pra encher laje, fazendo esse Matheu diz que, ao focar nas acrobacias, as tipo de coisa…”, dirigido quando um negro sensações que vêm com o prazer do toque na demonstra sensibilidade ou quando é gay. “Por pele, por exemplo, são esquecidas. Segundo uma construção colonial, a gente foi condicioele, a pele é o verdadeiro ponto sexual do ser nado ao serviço braçal, à virilidade. A gente humano. “O problema é que convertemos a tem que ser forte, tem que ser insensível, messexualidade em uma atividade de ginástica, mo que isso nos afete.”. O sociólogo, pesquisador e curador de na qual o homem primeiro tem que ter uma ereção, depois tem que mantê-la a todo custo conhecimento Tulio Custódio, que estuda a para não ejacular antes do tempo”, afirmou masculinidade negra, lembra como a conso membro da Academia Internacional de trução racial é eficiente em fazer o homem negro questionar sua humanidade. Conforme Sexologia Médica à bbc. Não surpreende, portanto, que muitos ho- o racismo hierarquiza as pessoas, priorizando mens tenham fixação pelo tamanho do pênis o homem branco, o negro se torna, segundo –pressão que pesa uma tonelada, principalmen- Custódio, “a base do não humano, o oposto te sobre o estereótipo do homem negro. O ra- do civilizado, uma representação de marginapper paulistano Rincon Sapiência, 33, parece lização e subalternidade”. Para o pesquisador, não querer corresponder a esses estereótipos. essa construção causa a separação entre a raAlém das questões sociais e provocações refle- zão e o corpo. É um simples corpo. E isso se reflete na xivas que povoam suas letras, não esconde o interesse pela moda, que o faz trocar as roupas de imagem do homem negro, com o tamanho do cores tediosas reservadas às vitrines masculinas pênis e uma série de fantasias e estereótipos por peças vibrantes e questionáveis em relação em cima disso.” Custódio resume duas formas
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de comportamento com as quais esse homem vai exercer o ideal de masculinidade: sendo o “homem bom” ou o “bicho danado”. Enquanto o primeiro, para provar sua condição de homem, procura emular uma figura moralmente honrada, provedora da família e com ar de autoridade, o segundo é o garanhão, que controla através do sexo. O problema é que esses ideais são brancos nada se compara ao real. “O ‘bicho danado’ vai continuar não sendo reconhecido como um ser pleno, mas sim como um pedaço de corpo. E o racismo estruturado, tanto no mercado quanto no governo, vai impedir o papel de destaque do ‘homem bom’. Você pode ter casos individuais, mas estruturalmente é mais difícil. Assim, eles vão tentar exercer a honra de outras formas, como, por exemplo, através da violência, que representa sua virilidade.” Ou como diz a letra em que Mano Brown, dos Racionais MC’s, expõe o peso de suas lágrimas, Jesus Chorou: “Eu sei, você sabe o que é frustração: máquina de fazer vilão”afirou o rapper brasileiro. Rincon Sapiência lembra também como o comportamento masculino induz à violência, principalmente nas periferias, onde “você tem de estar sempre pronto para brigar, para ser durão” afirmou o cantor. O etnógrafo Adam Baird usou essa ideia para explicar a motivação por trás dos jovens que se associam às gangues de Medellín, na Colômbia. “A acumulação do ‘capital masculino’, os significados materiais e simbólicos da masculinidade e as manifestações estilísticas e oportunas que acompanham esse capital levam a crer que os jovens frequentemente
a sociedade precisa que os homens conversem entre si …
percebem as gangues como espaço de sucesso masculino”, escreveu o cientista em estudo publicado no periódico Journal of Latin American Studies, da Universidade de Cambridge. Uma vez associado, o participante passa a defender os interesses do seu grupo em troca desse “capital masculino”. No Brasil, o racismo combinado à educação baseada no “homem não leva desaforo para casa” tem suas particularidades. parado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada. (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. E os homens são os mais afetados: representam 92% dos homicídios, o que escancara o claro problema de gênero na questão da violência fisíca entra os homens. “Se você analisar o feminicídio, vai ver que quem mata mais as mulheres são homens conhecidos, muitas vezes o companheiro, fazendo com que estatisticamente elas corram mais perigo em casa”, explica o psicólogo Tales Mistura. “Já o homem é morto por outros homens, em geral desconhecidos. Ele morre no bar, na rua…o que é lamentavel.”. Essa violência não é dirigida apenas às mulheres, claro. Segundo o mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, o Brasil teve 11.433 mortes por suicídio em 2016 (o equivalente a 31 casos por dia). A taxa de mortalidade é maior entre os homens, com 9,2 casos a cada 100 mil habitantes, com um crescimento de 28% nos últimos dez anos.
“O suicídio tem muito a ver com a formação da masculinidade. Note que a maioria dos usuários dos serviços de saúde no Brasil são mulheres. Os únicos serviços em que os homens são maioria são os Centros de Atenção Psicossocial (caps), voltados à saúde mental e ao abuso de álcool e outras drogas. Como o homem não fala, ele recorre a essas substâncias para amortecer a angústia”, afirma Mistura. Para Rafa Rios, “a sociedade precisa que os homens conversem entre si, sobre masculinidade, sobre emoções, para que tudo isso não se reprima, reverberando de forma negativa”. E as lágrimas são uma ferramenta importante nesse processo –mais precisamente, as lágrimas de emoção, que, diferentemente das lágrimas basais e de reflexo, conseguem resumir toda a complexidade do nosso universo pessoal. Biologicamente, elas podem conter altos níveis de hormônios do estresse, que estabilizam as emoções e acalmam. Hoje ele integra grupos de discussão masculina como o Brotherhood Brasil, que o fez entrar em contato com a criança perdida dentro de si por meio da ioga, da meditação e da ayahuasca. “Fico pensando em quantos talentos não estão apagados simplesmente porque os caras não se permitem”, lamenta Rios, e completa: “As flores transformaram minha vida, tornaram-se um processo terapêutico, o que me fez me conhecer melhor e aprimorar meus relacionamentos. Hoje, vejo-as como uma forma de acessar a questão da masculinidade e da espiritualidade”. Entretanto, para o poeta William Blake, as lágrimas são uma questão intelectual, porque derivam dos pensamentos. Quando um homem chora, ele não está demonstrando fraqueza, e sim exibindo para o mundo todos os sentimentos que podem ser contidos em uma gota.
IMAGEM DO FLORISTA RAFA RIOS
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JOVEM BAILARINO “DRIBLA” PRECONCEITO KAYKY TREINA DESDE OS SEIS ANOS EM UMA ACADEMIA DE DANÇA EM GUARUJÁ E ACUMULA VÁRIAS CONQUISTAS
Um menino de Guarujá, no litoral de São Paulo, tem lutado contra o preconceito e a falta de apoio em busca do sonho de tornar-se um bailarino profissional. Kayky Santana Silva, de apenas 10 anos, tem se destacado em festivais de dança e, apesar da pouca idade, já demonstra maturidade suficiente para entender e ignorar as críticas que sofre por conta da paixão pela dança. O interesse de Kayky pelo ballet começou aos seis anos, quando acompanhou a mãe até uma academia de dança, na Vila Zilda, para buscar uma amiga que estava terminando uma aula. A partir desse dia, o menino decidiu aprender a dançar. Em entrevista ao G1, ele garantiu que está focado em se tornar um grande bailarino e, para ele, não há obstáculos que o façam desistir. “Todos os dias eu acordo de manhã, vou para a escola e depois volto para a casa. De noite, minha mãe me leva para o ballet, por volta das 19h, e eu treino até as 22h. Nas horas livres, ainda aproveito para continuar treinando um pouco mais na minha própria casa. O ballet é sempre a melhor hora do meu dia”, afirma Kayky. E para alcançar seus sonhos, o bailarino não enfrenta apenas dificuldades físicas. Ele também precisa vencer muitos preconceitos, já que é constantemente ofendido por outras crianças. Silva conta que muitos falam que ballet é “coisa de menina” e também já foi chamado várias vezes de gay. “Eu não me importo, eles podem me zoar que eu não ligo. Só me importa fazer o que eu amo”. Kayky também teve dificuldade em conquistar o apoio da família. A tia do bailarino, Edvania da Silva, de 41 anos, que também é sua mãe de criação, conta que os familiares tiveram preconceito no início, por pensarem que um garoto não poderia dançar ballet. Após várias conversas e discussões, porém, todos aceitaram e passaram a respeitar a paixão do menino.
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Alguns familiares não quiseram aceitar a situação
“Alguns familiares não quiseram aceitar a situação. Mas, como ele vive comigo e sou eu quem crio, decidi levá-lo para fazer as aulas de ballet. Hoje eles não implicam mais, mas não costumam assistir as apresentações. Eu não falo mais nada e também não convido mais ninguém. Meu apoio é o suficiente para ele”, explica Edvania. Apesar das brigas familiares, nada tirou o foco do menino. Com apenas 10 anos, ele é um colecionador de vitórias. Kayky ganhou bolsas para dançar em Portugal e Estados Unidos. Até o momento, ele ainda não pôde viajar, pois Edvania luta por sua guarda definitiva na Justiça. “Estamos resolvendo isso. Ele está muito animado para treinar nos Estados Unidos. Essa é uma ótima oportunidade para ele mudar de vida”. Kayky começou o treinamento na academia de dança ‘Mônica Andrade’, criada em uma garagem com o intuito de tirar as crianças da rua e oferecer a oportunidade de terem uma vida diferente por meio da arte. Atualmente, o curso conta com 140 alunos, com idades entre 3 e 22 anos. Segundo a professora e proprietária da escola, Mônica Andrade, o objetivo do curso é ajudar todos que desejam dançar e tenham o sonho de serem bailarinos, inclusive aqueles que não podem arcar com os custos. “A maioria dos meus alunos é bolsista. Nunca vamos deixar nenhuma criança na mão. A gente sempre dá um jeito”, conta Mônica. No decorrer dos anos, vários talentos já passaram pela academia, e atualmente, Kayky vem se destacando nas aulas e nos festivais pelo Brasil. Segundo a professora, o bailarino revelou um grande talento para a dança e é o aluno mais novo da escola a conquistar tantos prêmios. “Ele é muito esforçado e está crescendo como bailarino. Cada dia está com mais vontade de dançar. O que impressiona também é a responsabilidade de nunca faltar às aulas, mesmo em dias de chuva ou quando está muito cansado. Venho torcendo para que ele consiga realizar o sonho, para que isso mude sua história”. “Eu já me decidi. É isso que eu quero para a minha vida. Quando eu estou no palco eu me sinto livre, finjo que não tem mais ninguém ali. Também fico muito feliz quando meus amigos assistem minhas apresentações e falam que eu sou lindo dançando. Vou continuar treinando para alcançar o meu sonho”, finaliza Kayky.
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TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE TOM DALEY
TOM DALEY, CONHECIDO PELO SEU TALENTO NO ESPORTE SURPREENDEU AO FAZER CROCHÊ PARA UMA BOA CAUSA
Um aspecto em especial vem chamando a atenção durante as Olimpíadas de Tóquio: a empatia e a solidariedade dos atletas. As atitudes dos participantes são louváveis dentro e fora da competição, como mostra Tom Daley, medalhista de ouro no salto ornamental. Durante a final feminina da modalidade, o britânico foi flagrado na arquibancada do Centro Aquático de Tóquio tricotando. Os produtos por ele confeccionados são vendidos e a renda é totalmente revertida para pesquisas de combate ao câncer cerebral. O campeão olímpico criou, durante a pandemia, o perfil Made With Love By Tom Daley, no qual expõe suas criações. O atleta de 27 anos afirmou que foi seu amor pelo tricô, pelo crochê e pela costura foi essencial para a manutenção de sua sanidade ao longo de todo o processo que o levou até as Olimpíadas. Além disso, a causa escolhida está diretamente vinculada à biografia de Daley –seu pai morreu em 2011 de um tumor cerebral. O atleta afirma que, desde então, tenta arrecadar o máximo de dinheiro possível como forma de contribuição na pesquisa pela cura e por tratamentos.
O câncer cerebral é o câncer que mais mata pessoas
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“O câncer cerebral é o câncer que mais mata pessoas com menos de 40 anos e temos muito mais a aprender!” declarou em sua página de crowdfunding, na qual suas peças, que variam de casacos a roupinhas para pets, encontram-se para venda. O atleta ainda divulgou em suas redes sociais um mimo que fez para si próprio: uma bolsinha para a tão desejada medalha de ouro. “Esta manhã fiz um pouco de aconchego para a minha medalha, para evitar que ficasse arranhada. Então aqui está”, contou. Em 2008, Tom, com 14 anos, foi o atleta mais jovem da delegação britânica a participar das Olimpíadas de Pequim. Ele também foi um dos primeiros atletas a assumir publicamente a homossexualidade, atitude pioneira, que não deixou de ser depreciada por uns, como também elogiada por outros. Seja dentro ou fora das piscinas, a postura de Tom é surpreendente e exemplar.
IMAGEM DE TOM DALEY RETIRADA DE SEU INSTAGRAM Abril 2022 47
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CANADENSE É OURO NO SNOWBOARD MAX PARROT COROA CICLO OLÍMPICO DE SUPERAÇÃO COM TÍTULO NO SLOPESTYLE
O ouro do snowboard slopestyle foi uma coroação para um ciclo olímpico de superação para o canadense Max Parrot. O snowboarder de 27 anos venceu um câncer em 2019 e quase três anos depois deu show nesta segunda-feira nas Olimpíadas de Inverno de Pequim para puxar uma dobradinha com o compatriota Mark McMorris, bronze. O chinês Su Yiming ficou com a prata . Max foi vice-campeão do slopestyle nos Jogos de PyeongChang 2018. No fim daquele ano, o canadense anunciou que tinha sido diagnosticado com um Linfoma de Hodgkin, um tipo de câncer que se origina no sistema linfático. Ele perdeu uma temporada do snowboard e passou por 12 sessões de quimioterapia até junho de 2019. Se eu tivesse a chance de voltar dois anos e ser capaz de não ter câncer e viver uma vida normal, eu não gostaria disso. É muito estranho dizer, mas eu aprendi muito, e hoje eu sou grato pelo que aconteceu porque sou uma pessoa totalmente diferente. Eu realmente amo a pessoa que estou me tornando e que me tornarei no futuro também” disse Parrot, ao site do Comitê Olímpico Internacional. O canadense encarou o câncer como uma lição. Pouco tempo depois de acabar o tratamento, Parrot voltou ao snowboard e se tornou campeão do big air dos X-Games. A coroação estava reservada para as Olimpíadas de Pequim. E ele ainda vai disputar o big air nos Jogos da China na próxima semana.
se eu tivesse a chance de voltar dois anos e ser capaz de não ter câncer…
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“RODA TRIPLA” DEFININDO MASCULINIDADE COMO CLUBES DA ELITE ABORDAM O CONCEITO NA BASE E OS IMPACTOS DA MASCULINIDADE NO FUTEBOL
por Bárbara Mendonça
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episódio 53 do podcast Rodada Tripla, comandado por Amanda Kestelman, Ana Thais Matos e Bárbara Coelho, levantou um debate: você sabe o que é a masculinidade e como ela impacta o futebol brasileiro? As “regras” de comportamento impostas aos homens, em um contexto social, criam um estereótipo muito conhecido no esporte: o “macho alfa”, viril, que não chora. Para debater o tema, o trio recebeu Gustavo Andrada Bandeira, doutor em educação e autor de estudos sobre masculinidade no futebol. A construção do que é “ser homem” num contexto social (incluindo o esporte), na opinião de Gustavo, não é muito animadora. Jornalista do Estadão e autor do livro “O que fazemos da nossa vida não tem a ver com nascimento, com genitália. Resolvi inves- “BICHA! - Homofobia estrutural no futebol”, tigar, então, como é que nos fazemos homens João Abel lembra que o futebol é sempre num contexto social. Lamento que o que vi posto na “caixinha” social destinada ao sexo não é das coisas mais agradáveis: é brigando, masculino. Para o imaginário cultural, há um enfrentando, provocando, não aceitando de- efeito claro: prevalece a ideia de que o esporte é dos homens masculinizados, o que afeta saforo” disse o pesquisador. mulheres, negros e até torcedores lgbt. “Tudo isso cria um caldo cultural para que o futebol seja um esporte muito masculino, masculinizante e viril. É diferente do estereótipo que se cria, infelizmente, do homem lgbt efeminado. Sabemos que não existe um padrão, mas são estereótipos que se chocam: o boleiro e o homem lgbt. A partir desse choque, se cria um contexto de muita homofobia, ofensas.” analisa João.
O “macho alfa”, viril, que não chora.
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A base dos clubes assume, então, um papel cada vez maior na formação de jogadores e IMAGEM DE UM MENINO JOGANDO BOLA
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cidadãos livres de preconceitos. As iniciativas de desenvolvimento psicossocial e pedagógico são previstas na lei 12.935/11, que ampliou a redação do artigo 29 da lei 9.615/98 -esta, popularmente conhecida como Lei Pelé. A partir da redação do artigo 29, surgem os critérios para emissão do Certificado de Clube Formador pela cbf, em 2012. É o que explica a advogada Flávia Zanini, mestre e doutoranda em Direito Desportivo pela puc-sp. “(Os clubes devem) fornecer programa de treinos, alojamento e instalações adequados, assistência –educacional, psicológica, médica, odontológica–, assim como alimentação, transporte e convivência familiar. A cbf delegou às federações o poder de emitir um pré-parecer conclusivo sobre os requisitos legais dos clubes. A federação verifica se os clubes estão suprindo esses critérios legais.” afirma.
Como a masculinidade é pautada nos clubes? Dentre os 20 clubes da elite do Brasileirão, o termo “masculinidade tóxica” é citado especificamente como pilar do trabalho psicossocial de apenas dois clubes: Bahia e RB Bragantino. No geral, a maioria das equipes não tem uma ação voltada ao conceito particular de masculinidade. Mas o panorama é favorável ao debate: temas como violência, cidadania e questões sociais são abordados, em palestras e aulas obrigatórias, pela maioria absoluta dos clubes na Série A do Brasileirão. Confira na próxima página:
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Corinthias Tem o Núcleo Educacional-Social-Psicológico (nesp), comandado por uma psicóloga, uma assistente social e uma orientadora educacional. Atua da categoria sub-10 até o sub-17, com trabalhos pontuais no sub-20. Estrutura visa desenvolver habilidades educacionais, sociais, emocionais e potencialidades físicas, cognitivas, afetivas e valores humanos. Família tem “papel fundamental”. Pensamento crítico é estimulado com ações sobre questões sociais, abuso sexual, dependência química, legislação e arbitragem, entre outros.
Flamengo Tem um programa de acompanhamento psicossocial na base e atua com relação a diversos tópicos. Semanalmente, para todas as categorias, o clube promove palestras/aulas obrigatórias. Alguns dos temas abordados são suicídio, drogas, álcool, sexualidade, violência doméstica e feminicídio.
Grêmio A psicóloga da base atende da categoria sub-14 à sub-20; não há acompanhamento psicológico no profissional. Clube cita o Masia 360º, do Barcelona, como exemplo. Num âmbito social, o Grêmio tem o movimento “Clube de Todos”, que visa trabalhar questões relacionadas ao racismo. Há ações voltadas para a “adaptação à nova cultura” e os valores do clube. A última atividade realizada com os atletas foi sobre a Lei Maria da Penha.
Palmeiras Utiliza de abordagens semelhantes ao Masia 360°, do Barcelona. O clube tem palestras socioeducativas e trabalha com atletas de todas as categorias, tendo a inclusão dos pais em algumas delas (categorias menores). Os temas são variados: álcool e drogas, sexualidade, dsts, abusos no esporte, etc. Não há algo específico sobre masculinidade, mas há uma orientação com temas bastante semelhantes e importantes para o convívio em sociedade.
São Paulo O clube oferece aos atletas trabalho com psicólogos, pedagogo e assistente social desde o sub-14 até o fim do processo de formação. O tema da masculinidade está inserido no planejamento do trabalho, que é feito de forma a abordar o processo de formação da pessoa (ações sociais, questões raciais, espírito esportivo) e também do atleta (demandas de jogo). Há um pedagogo com uma equipe de reforço e assistente social, que lida com a relação com a família, principalmente com os atletas mais jovens.
Santos Tem um psicólogo, um assistente social e uma profissional destinada a cuidar da escolaridade dos jovens atletas. Ao longo do ano, o trio organiza palestras e orientações sobre diversos temas. Todos atuam desde o sub-11 até o sub-23 e, se preciso, com o profissional.
ATLETA LEVANTANDO A TAÇA DA COPA
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DESAFIANDO PADRÕES EM EUPHORIA COMO UMA SÉRIE DE TELEVISÃO DESCONSTRÓI A IDEIA DA MASCULINIDADE E DA HETERONORMATIVIDADE DESDE O DIÁLOGO ATÉ O FIGURINO
por Tati Alves
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heteronormatividade vai muito além do padrão heterossexual e atua como uma série de regras que são vistas dentro da nossa sociedade como um modelo a ser reproduzido. Aquele que não segue a norma é visto como diferente ou alguém a ser excluído. A heteronormatividade diz mais do que apenas sobre gênero ou sexualidade, mas dita como verdade um único padrão, não abrindo margem para questionamentos ou para viver livre dessas regras impostas. Em Euphoria, esse tópico retorna ao debate não apenas nos diálogos entre os personagens, mas também nos figurinos, maneirismos e formas de se expressar de cada um deles. O uso dessa metalinguagem faz com que quem assista a série reflita sobre as entrelinhas das histórias de cada personagem, não somente veja aquilo que está em evidência. Isso faz com que a audiência saia de sua zona de conforto, atuando como peça ativa dentro da dinâmica de assistir aos episódios. É quase impossível não se tornar a pessoa que cria teorias ou que busca por elas ao final de cada episódio. Dentre os aspectos já abordados na primeira temporada, Euphoria explora ainda mais esses conceitos e insere novidades para a discussão dos padrões.
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Atenção: este texto contém SPOILERS!
Os efeitos da masculinidade tóxica Durante a primeira temporada, ao acompanhar o relacionamento entre Nate ( Jacob Elordi) e Cal Jacobs (Eric Dane), vemos como a dinâmica entre pai e filho foi moldada e cimentada em cima de um conjunto de estereótipos da masculinidade tóxica. Na segunda temporada, quando descobrimos mais sobre o passado de Cal, compreendemos melhor como sua personalidade foi moldada e, consequentemente, o presente de Nate e o reforço do trauma causado pelo abuso geracional. No episódio Ruminations: Big and Little Bullys temos a oportunidade de conhecer Cal Jacobs quando ele é adolescente e se apaixona pelo melhor amigo. Com medo da homofobia dentro da própria casa e devido à manipulação feita pela namorada que engravida para que eles se casem assim que concluírem o ensino médio, a não-vivência de sua verdadeira identidade e o afogamento dos seus sentimentos faz com que Cal se torne um homem amargo e violento com ele mesmo e as pessoas ao seu redor. No entanto, é importante frisar que mesmo Cal sendo vítima isso não faz a violência causada por ele ser justificável ou lhe faz menos abusador. O ciclo de dor e trauma é o que faz todos esses padrões e pressões serem horríveis e a sua discussão, mais urgente.
Já adulto e com filhos, Cal passa por um momento de catarse ao perceber que perdeu uma vida inteira sendo outra pessoa quando poderia ter sido verdadeiro a si mesmo. O resultado dessa epifania é outro momento traumático e violento com sua família em ordem para que ele expresse o que guardou durante todos esses anos. Enquanto isso, Nate passa por um processo durante essa temporada bem interessante, onde sendo filho de seu pai e herdado todos os traumas geracionais, ele se agarra a cada oportunidade de tentar não se tornar um homem como seu progenitor, ainda assim falhando em diversos aspectos. Não é difícil entender como Nate se transformou de uma criança amorosa para um homem violento: o trauma que carrega por ser fruto de um sistema abusivo e controlador, vivendo em um lar regado à masculinidade tóxica, o fez quem é. Quando percebe que seu pai o transformou no homem que recorre à violência para se afirmar, Nate decide se vingar. O desenvolvimento de Nate na segunda temporada de Euphoria se dá por meio desse processo de compreender como seu pai fez com que ele odiasse determinadas coisas e quais partes suas ele ainda pode tomar de volta após confrontar Cal.
IMAGEM DE JACOB ELORDI COMO NATE JACOBS DE EUPHORIA
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O male gaze, a imagem do feminino e o ciclo do abuso Um aspecto interessante dos episódios mais recentes de Euphoria é o foco na jornada de alguns personagens que não receberam muito tempo de tela na primeira temporada cujo objetivo era introduzir seu elenco. Agora, o roteiro sai do óbvio e analisa mais de perto a vida de personagens que até então ficavam às sombras –e uma dessas personagens é Cassie (Sydney Sweeney). Após terminar com seu relacionamento com Cris McKay (Algee Smith), Cassie se envolve com Nate, ex-namorado de sua melhor amiga, na festa de Ano Novo. Essa simples ficada se transforma em um relacionamento em que todos sabem muito bem onde irá acabar, mas que, mesmo assim, faz com que Cassie crie expectativas. Nate e Maddy haviam terminado o relacionamento na temporada anterior devido às violências e abusos cometidas por ele, mas mesmo assim ainda acompanhamos cenas em que Maddy precisa se convencer a não retomar o relacionamento com o seu agressor. Para Jacob Elordi, estrela de The Kissing Booth e Euphoria, há um motivo para esse ciclo de abuso entre seu personagem e Maddy, interpretado por Alexa Demie. “Acho que o relacionamento dele com o pai meio que informa todo o seu comportamento, até o relacionamento que ele tem com Maddy –é meio dominante e controlador. Seu pai tem tanta ne-
cessidade de ordem e isso foi passado para ele e ele faz a mesma coisa, tenta manter tudo em ordem. Acho que o pai dele é a razão de 100% de seus problemas.” conta. O interesse de Nate em se relacionar com Cassie vem dessa necessidade de se rebelar contra tudo o que lhe foi ensinado por seu pai, conscientemente e inconscientemente. Em contraponto, Cassie conhece a verdadeira face de Nate melhor que qualquer outra pessoa, uma vez que ela acompanhou o trauma que ele causou em sua melhor amiga, Maddy. No entanto, ela ainda está suscetível a cair na conversa do abuso para preencher as lacunas que foram deixadas por anos de abandono parental. Para tentar manter Nate e se sentir desejada, Cassie passa por diferentes alterações ao longo desta temporada. É quase como se Cassie precisasse se esforçar mais do que o necessário para se reafirmar como mulher e conforme isso vai acontecendo no decorrer dos episódios, vemos que ela está simplesmente tentando se transformar em Maddy, questão que é evidenciada no momento em que as duas aparecem com a mesma roupa na escola. A transformação de Cassie atinge um ponto tão artificial que ela parece mais como alguém que está performando feminilidade e que não existe de verdade.
IMAGEM DE SYDENEY SWEETNEY E ALEXA DEMI COMO CASSIE E MADDY DE EUPHORIA Abril 2022 67
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A feminilidade conquistada e desafiada No especial Fuck Anyone Who’s Not a Sea Blob – Part 2: Jules acompanhamos uma conversa entre Jules e sua terapeuta após seu retorno depois dos acontecimentos da primeira temporada. Neste especial temos a oportunidade de ver com muita delicadeza as entranhas da narrativa de Jules, sua vida, seus sentimentos, como se sente sobre crescer. “Eu sinto que isso realmente nos deu espaço para ir mais fundo em sua mente e seu subconsciente e seu espaço mental”, disse Hunter sobre o episódio. Esse viés delicado, real e cru se deve a entrada de Hunter Schafer, que dá vida à Jules em Euphoria, como escritora para esse episódio, colocando sua experiência pessoal dentro da narrativa da personagem. Na primeira temporada discutimos sobre como Jules se guiava pela perspectiva masculina de como deveria se portar e se vestir. Como uma menina trans, o senso de feminilidade para ela estava muito conectado em ser desejada por homens: se ela fosse desejada por eles, isso significava que havia chegado onde queria, que havia conquistado a sua feminilidade. Ao se apaixonar por Rue, o senso de identidade de Jules desmorona. Tentando se encaixar dentro do heteronormativo, Jules, como uma garota, se apaixonar por outra garota a faz questionar não apenas a sua sexualidade mas também a sua identidade de gênero. Logo no início do episódio, Jules fala sobre parar de tomar hormônios. Com o questionamento da terapeuta a respeito dessa ideia, ela fala sobre querer se desvincular da figura de desejo pelo olhar masculino, que não se interessa mais em ser essa figura para os homens porque sente que não é ela mesma e não consegue se expressar da forma como realmente quer. É muito simbólico ver Jules passando por esse momento em que percebe como sua noção de si mesma está conectada ao que outros pensam, e isso acontece com qualquer pessoa. Na segunda temporada percebemos que o visual de Jules está diferente. Das cores pasteis, o cabelo liso e comprido e o foco nos figurinos femininos, ela abraça agora as cores
escuras, corta o cabelo, que ganha uma tonalidade mais escura, e o figurino se transforma em algo mais andrógeno. Em alguns episódios desconfiamos que algumas roupas não parecem muito certas, desengonçadas e até esquisitas em Jules, mas é para retratar esse momento de descoberta e busca pelo senso de si mesma. Em um episódio é até mencionado que Jules passou a usar binder, um compressor peitoral usado para ter uma aparência masculinizante na região. Durante a temporada outros tópicos se conectam com esse momento de descoberta de Jules. Em meio a tormenta da recaída de Rue, Jules começa a se envolver com Elliot (Dominic Fike) e ele, infelizmente, não parece um tipo diferente de relacionamento, mostrando que, aparentemente, Jules caiu em um padrão. Elliot surge na segunda temporada como alguém que Rue conhece enquanto procura drogas na festa de Ano Novo e já sabemos que Jules liga muito o vício de Rue com a sua própria mãe, como mostrado em seu especial. O diferencial é que, pela primeira vez, um homem se interessa por ela de uma forma que não seja pela sua aparência feminina ou pelos desejos que ela causa em sua imaginação. Mas, ainda sim, ele não foge muito da semelhança com Rue e seu histórico de abuso. Para Jules, talvez o mais importante é que enquanto Rue está caindo cada vez mais no buraco do seu vício, Elliot está disponível para ela, lhe dando atenção. A validação das vivências segundo quem? Com certeza, o maior foco dessa temporada é Lexi Howard, que durante a temporada anterior não passava de uma coadjuvante das narrativas das pessoas ao seu redor. Nesta temporada, ela se encontra um pouco no clube de teatro ao se perceber uma escritora com a necessidade de se concentrar em algo para si mesma. É por meio da arte que ela consegue verbalizar e expressar todas as dores e momentos essenciais que lhe tornaram quem Lexi é, o bom e o ruim. A peça de teatro, chamada Our Life (“Nossa Vida”), é um retrato da vida de um grupo de adolescentes baseado nas
IMAGEM DE HUNTER SCHAFER COMO JULES
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experiências da própria Lexi. Na peça, Lexi retrata momentos chaves que acompanhamos em episódios anteriores e também sobre a sua vida pré-seriado que envolvem não apenas ela, mas todas as pessoas ao seu redor. Durante a estreia da peça, nos dois últimos episódios da temporada, vemos Lexi retratar cenas perfeitamente observáveis da vida das outras pessoas, além de expor seus sentimentos sobre ser irmã de Cassie e viver à margem das pessoas ao seu redor. É um momento bem vulnerável da personagem, mas que ela se sente confortável em compartilhar por meio da arte. Pessoas como ela são observadoras e introvertidas e muitos utilizam a arte para se expressarem de uma forma que o vulnerável os fortalece. Por se manter em segundo plano, Cassie a ataca dizendo que Lexi nunca viveu, porque ela não corre riscos, não sofre e não tem experiências que julga válidas para uma adolescente. Cassie invalida todas as experiências de Lexi, todos os seus traumas e seus sentimentos ao dizer que ela não é normal por não ter “regras” que apontam que uma pessoa precisa experiências padrões da adolescência, o que, beijar aos 12 anos ou precisa fazer sexo antes na verdade, são coisas que muitos adolescen- dos 18, e se tratando de mulheres existe a lites fazem mais por pressão do que por querer nha ténue entre a vulgaridade e o recato. Ao não se encaixar nesse lugar da dita norrealmente fazê-las nessas idades. A heteronormatividade também está presente nessas malidade, Lexi é constantemente invalidada por suas posições ao ser considerada imatura pois não teve experiências que são julgadas como ponto chave do crescimento e amadurecimento na puberdade. É interessante notar até a forma como Lexi se veste e se comporta em relação às outras personagens: Lexi é mais nova do que Cassie, mas a diferença de idade entre elas não deve ser maior do que um ano. Porém, mesmo assim, Lexi é vista de forma mais infantil apenas para ressaltar as tais “faltas de experiências.”. Só que nada disso invalida as vivências de Lexi que cresceu precisando lidar com as consequências do abandono parental, de acompanhar o vício da melhor amiga, de testemunhar de perto as dores da irmã que também foi afetada pelas mesmas coisas que ela.
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A forma como Lexi e Cassie responderam aos mesmos tipos de situações e traumas é muito importante de se observar, uma vez que uma se tornou introspectiva e protetora de todos, escolhendo pensar muito em seus passos antes de agir, enquanto a outra tem a necessidade de se entregar totalmente à próxima pessoa e de ser amada a ponto de machucar a si mesma e as pessoas ao seu redor para se sentir querida. As duas vivências são válidas. O ponto alto de Euphoria é mostrar como essas experiências, vividas nos poucos anos entre nossa adolescência e juventude, nos moldam como seres humanos. Para além do universo da ficção, estamos vivendo momentos importantes enquanto sociedade e Euphoria tem levado essas percepções para a tela por meio das experiências de seus personagens. Ao mostrar as dores e os traumas de seus personagens, a série mostra como as marcas das dificuldades são capazes de nos acompanhar por gerações.
IMAGEM DE MAUDE APATOW COMO LEXI
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RICON SAPIÊNCIA FALA SOBRE ESTEREÓTIPOS O RAPPER RICON SAPIÊNCIA CONTA COMO DESAFIA ESTERIÓTIPOS E ENFRENTA CRÍTICAS POR USAR SAIA EM SHOW
Você é músico, poeta, artista, tem uma sensibilidade que fica evidente no seu trabalho. Acha que o machismo atrapalhou na percepção dessa sensibilidade? Acho que passei pelo mesmo processo que todo homem vivência. Fui construído com os mesmos valores. O que me fez me relacionar com a rua –e o que me levou até a música– foi o futebol. E aí rola muita homofobia, por estar relacionado à questão da força. Se você pede uma falta que os caras não entendem como infração, já falam: “Ah, vai brincar de boneca”. A sensibilidade eu diria que é um pouco natural; aceitá-la é que levou mais tempo. Meu processo de desconstrução é recente. E como deu esse estalo? Existe um contraponto no hip hop, porque ele reproduz muito machismo e homofobia mas, ao mesmo tempo, é um ambiente desafiador para você criar novos valores, conceitos e sair do que é padrão. Então, por mais que eu tenha visto esse tipo de coisa ser reproduzida nesse meio, foi o hip hop que me levou a querer ler, a querer me informar, a questionar valores que já são tradicionais. Nesse processo, acabei desconstruindo muita coisa. Diria também que tenho sorte por estar em um ambiente de pessoas engajadas, mulheres, gays, que ensinam e falam sobre esses preconceitos. Na capa do seu disco de estreia, Galanga Livre, você está de saia. Enfrentou alguma resistência? Bastante. Mas, no momento atual, acho que a sociedade como um todo está sendo provocada, principalmente pela arte. As minas estão dando as ideias, estão se posicionando. A classe lgbt também procura seu espaço cada vez mais. Isso faz as pessoas acompanharem o processo e não quererem ficar para trás. Claro que existe gente com pensamento mais tradicional. Já me chegaram várias coisas. A mais explícita foi uma vez em que participei de um evento com um rapper americano dos anos 1990. Fiz o show de saia, e na plateia tinha uma galera mais clássica, mais tradicional, que se chocou. Um deles expôs isso explicitamente nas redes sociais. E deu o maior rebuliço de gente que concordava ou discordava. Eu vi isso de forma positiva, porque me vi nessa recolocação do artista masculino de rap. Acho que a vestimenta fala muito da nossa personalidade. Me senti contemplado por ter fomentado essa discussão e essa retomada de pensamento.
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O rosa é uma cor bonita, usar saia é confortável, chorar é um alívio… Além de você, Mano Brown declarou recentemente que não canta mais algumas músicas por considerá-las machistas. Como você vê a influência disso nos fãs? A influência é positiva. Acho que aceitar nossa sensibilidade é uma provocação nova. O rosa é uma cor bonita, usar saia é confortável, chorar é um alívio... São coisas naturais, mas que por conta de conceitos engessados, a gente não se permite sentir, e isso faz mal para nós mesmos. O sociólogo Tulio Custódio fala sobre a angústia e a frustração do homem negro ao tentar emular o ideal de masculinidade, que sempre é branco. Você percebe isso? Sim. Por uma construção colonial, a gente foi condicionado ao serviço braçal, à virilidade. A gente tem que ser forte, tem que ser insensível, mesmo que isso nos afete. Aí misturam-se esses valores com o lugar em que eu nasci e fui criado, na periferia, onde você tem que ter uma certa malandragem, tem de estar sempre pronto para briga, para ser durão. Como preto, você tem essa responsabilidade, de ser forte, de não se abater. Tem também esse discurso de homofobia, como quando falam “puta negão bom pra encher laje, fazendo esse tipo de coisa...”, quando o homem preto apresenta sensibilidade, quando chora ou se é gay. As particularidades da masculinidade preta são bem nocivas. E existe um estigma racista também em relação ao cara preto ser bom de cama. É a hipersexualização do homem preto –da mulher negra, então, nem se fala... Qual é o lugar do homem agora que ele está vendo seu protagonismo ser questionado? A gente precisa entender e reconhecer que as coisas devem ser plurais. Tudo que se mantém igual, sem ciclo de mudança, é ruim. Em se tratando de cultura, sou muito a favor de expandir mais a cultura preta, nossa música, nossos comportamentos, nossas vestimentas. Mas também, se for tudo preto, perde-se a pluralidade. Eu não tenho ranço do bairro italiano, por exemplo, mas é preciso respeitar também os bairros pretos que existiram. Outra coisa: houve líderes legais que são referência até hoje, mas seria legal se as lideranças femininas tivessem o mesmo respeito e o mesmo valor dado aos homens. Se você pensar em militância preta, vai pensar mais em Zumbi, Malcolm X, Martin Luther King e muito menos em Acotirene, Aqualtune e Angela Davis. Acho que, quanto mais pluralidade de gênero, mais resultados positivos podemos conseguir.
IMAGEM POR ANDREH SANTOS
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MASCULINIDADE ILUMINADA
SURGE UM NOVO HOMEM, LIVRE E EMPODERADO QUE DESAFIA CADA VEZ MAIS OS ESTEREÓTIPOS ULTRAPASSADOS DE MASCULINIDADE
A primeira vez que conheci este termo, “Masculinidade Iluminada”, foi num report da Stylus e ele se tornou um dos meus paradigmas favoritos. Talvez por ser mãe de dois meninos e vivenciar em casa uma transformação que vem acontecendo em todo o mundo: os homens estão reformulando suas identidades e desafiando preconceitos de masculinidade. Eles estão adotando um conceito mais empoderador e iluminado. Os estereótipos ultrapassados d e masculinidade criaram uma camisa de força para muitos homens, da mesma forma que os ideais femininos limitaram as mulheres – mas eles estão sendo cada vez mais desafiados. Os homens estão percebendo que as limitações da masculinidade tradicional não se encaixam mais na maneira como querem viver. Eles estão questionando os valores tradicionais e regressivos e abraçando a inclusão, com pesquisas do Facebook mostrando que 75% dos homens preferem marcas que promovem a positividade de gênero. Na contramão da masculinidade iluminada, temos o conceito mais familiarizado da masculinidade tóxica. Ele está entrando na cultura popular, e, com isso, os homens estão explorando um menu mais amplo de identidades pessoais, redefinindo a força masculina e repensando seu papel na sociedade. Há uma crescente conscientização de que a masculinidade tóxica pode prejudicar a saúde e as oportunidades dos homens. Quando retomamos a ideia do “homem de verdade” nas lentes de uma coletividade mais antiga, seus atributos girariam em torno de valores heteronormativos masculinos, como agressividade, força física, status financeiro ou apetite sexual. Entretanto, o quanto de fato eles representam os homens da atualidade? Uma pesquisa realizada pela organização brasileira de igualdade de gênero Promundo (patrocinada pelo spray corporal Axe, da Unilever) descobriu que a maioria dos homens jovens que vivem no Reino Unido, EUA e México se sentem pressionados a viver no que chamaram de ‘Man Box’ – tentando ser autossuficiente, durão, heterossexual, tradicionalmente atraente, agressivo ou experiente sexualmente (Promundo, 2017). A pesquisa descobriu que tentar atingir ideais masculinos estereotipados pode afetar sua satisfação com a vida, bem como a saúde mental e física dos homens – e dar origem a comportamentos de risco ou violentos.
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surge um novo homem, livre e empoderado… Há a necessidade de flexibilizar e ampliar a definição enrijecida sobre masculinidade. O homem deveria poder não gostar de futebol, vestir rosa, usar o cabelo em qualquer formato e se sentir vulnerável, ter medo, se sentir nervoso, fazer yoga, cuidar da pele. Em nosso mundo envolvo de ideias surgindo a todo instante, empresas como a Hims (dele em inglês) já trabalham com uma comunicação voltada para eles. Na pesquisa por produtos para queda de cabelo ou disfunção erétil, a marca foi criada para atender problemas reais e cotidianos. Cuidados masculinos e bem-estar são englobados, mas de forma objetiva e por categoria: cabelo, sexo, pele; sem tempo para tabus. Ou a Tiffany, onde os homens também têm vez, após o lançamento de uma coleção especialmente dedica a esse universo e depois de 184 anos, agora também foi desenhado o primeiro anel de noivado solitário masculino da marca, batizado a partir de Charles Lewis Tiffany, fundador da empresa. Agora, falando de grandes quebras de paradigmas, está o modo como nos comunicamos, mas não com qualquer um, mas com a geração Z. Em uma pesquisa da jwt, 81% dos adolescentes globais afirmam que “gênero já não define uma pessoa tanto quanto costumava” e apenas 48% da geração Z se identificam como exclusivamente heterossexuais, e apenas 44% dizem que sempre compram roupas desenhadas para seu próprio gênero. Muito provavelmente o cantor Harry Styles é um nome conhecido, não apenas por singles como Watermelon Sugar, mas por personificar essa abordagem nova e mais fluida no modo de se vestir, inspirando toda uma geração e sendo recorrentemente destaque no mundo da moda. Ou o ator Thimotee Chalamet, sempre referência em tapetes vermelhos, cujo reconhecimento se elevou após o filme Call me by your name, produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira e o novo queridinho de diretores como Wes Anderson. Mais do que apenas ícones robustos como James Bond ou o Marlboro Man, os homens buscam inspiração em uma ampla gama de contrapartes, com novos modelos surgindo nos mundos do entretenimento e da arte. Marcas como Harry’s e Bonobos estão respondendo muito bem com representações mais diversas de masculinidade. Acredito que as organizações devam explorar esse espaço emergente, oferecendo aos homens e meninos autoconfiança, permissão e uma plataforma segura para deixar em aberto o papel social que eles precisam cumprir.
IMAGEM POR RAFAEL PAVAROTTI
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MASCULINIDADE EM RUPAUL’S DRAG RACE COMO UM REALITY SHOW MOSTRA QUE É POSSÍVEL SE SENTIR CONFORTÁVEL EM SUAS MASCULINIDADES, INTIMIDADES E SEU CORPO
por Matheus Moraes Inácio
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enho a percepção que textos iniciam fazendo algum tipo de disclaimer ganham um tom desconfiado no restante da leitura, há de se ter uma boa noção da sua escrita para que o texto não vire um grande Eu acho tal coisa, MAS…, enfim, todavia, na reflexão que hei de fazer no decorrer de todo esse ensaio, a meu ver, apenas soma e não deixa instável. RuPaul’s Drag Race está na sua décima primeira temporada. Já são onze anos, isso quer dizer que o programa iniciou em 2008. No decorrer dessa uma década, a realidade universal, pelo menos ocidental, –literalmente– nos mostram completamente acompanhou uma dinâmica em que o status o contrário ao que foi dito anterior, onde é, quo não mudou, porém, meio que todo indubitavelmente revolucionário, homens se mundo percebeu que estava tudo um tanto expressando com feminilidade, arte, estética, quebrado e em crise, os seres humanos estravaganza e paus aquendados. Ando fascinado a meses por RuPaul’s e o se mostraram um tanto quanto mais animalescos e selváticos do que se pensava quanto mais eu penso sobre o conceito de que seriam na pós-modernidade, a soltura drag, mais eu fico fascinado. RuPaul’s é facildos preconceitos sem véus, as ofensas fáceis, mente a forma mais acessível –ainda que não as mortes fáceis. Vocês todes sabem do que seja tanto– e massiva de conseguir enxergar estou falando, entretanto, em meio a esse essa cultura e, apesar dos pesares, uma formomento de balas, sangue e chorume, as drag ma que destrincha inúmeros aspectos do que queens, desde os tempos shakespearianos é essa expressão e, se tratando de expressão, eu arrisco dizer que expressar-se drag é uma das maiores formas de arte e expressão que já aproximei minha compreensão, pelo menos pensando em seres únicos. As drag queens abarcam um aglomerado glorioso de inúmeros aspectos de expressão que se conversam de forma em que não haveria palavra melhor do que posto em extravagância, onde essa mesma expressão usufrui de moda, dança, discurso, música, teatro, adaptação, estética e perspicácia. Faz usufru-
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IMAGEM POR DAVID AYLON
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Quanto mais me aproximava desse microcosmo cultural, mais havia a afetação…
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IMAGEM POR MICHELLE WATT Abril 2022 83
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extravagância e vez ou outra, transforma o absurdismo num cotidiano. A redução de superficialidade na didática falha e reduzida em “homens se vestindo de mulher” além de tudo, é completamente injusta. Há muito mais, tanto mais que essa sentença oprimida se perde na facilmente no horizonte em se ver diante de drag queens desfilando ou cantando ou simplesmente desfilando numa passarela. Um ser que se denomina drag queen é imediatamente e eloquentemente político. Não há como frente uma sociedade ocidental completamente machista e homofóbica, um ser tomar um símbolo e extravasar ele para que seja uma contracultura, um ataque e uma resistência é muita coisa, muita mesmo. Quanto mais me aproximava desse microcosmo cultural, mais havia a afetação, não só por tudo que foi citado, mas por ver pessoas completamente humanas. O programa está longe de ser criatividade e desfiles. O que há por trás e o que há na frente das drags são uma outra interpretação sobre passado, presente e futuro, em que é concretizado em performances existenciais que vivem num mesmo ser e isso é tão surreal que, de fato, eu pensava estar vendo mágica em sua maioria, pois, o deslumbre faz parte da magia e, com certeza, em suas diversas formas, é atingido com maestria brilhante. Eu me vi, naquele momento, confortável mais rápido do que eu pude e, desse conforto, deixando-me não só afetar, mas absorver o que me cabia, assim como maioria de expressões artísticas, mas, dessa vez, lidava com minha masculinidade e, inevitavelmente, com a minha sexualidade também, afinal, as imposições sociais são espinhos na garganta que demoram a descer e, confesso que independente do quão ampla for a desconstrução, esses mesmos espinhos vão demorar alguns séculos para serem digeridos, isso se forem. Eu achava aquilo tão bonito e a intimidade que se cria é notória também, pois, grande parte do programa se passa dentro de uma sala de trabalho onde são mostradas através e além do glamour drag, são mostradas as angústias, os
risos, as gírias internas, o cuidado, a desavença e isso aproxima muito daquele que assiste, junto as frases memoráveis das diversas participantes e da própria RuPaul que me encantou com uma sagacidade, oralidade e habilidade discursiva que é invejável, na irmandade e em toda a forma que as relações se formavam. Era fabuloso como realmente é para parecer ser. Acho que ao final das contas, me deixei absorver pelas afetações que foram dadas diante as minhas afetações como homem, conseguindo quase que como obter um alvará para também ser expressivo, não como uma drag, mas compreender que naqueles seres tinham expressões que é provável que eu não fosse encontrar tão facilmente no meu meio e arriscaria dizer que na maioria dos meios. Meu olhar sobre como eu me olhava ganhou mais camadas, hora dessas eu peguei olhando no espelho e analisando detalhes do meu próprio corpo que eu não para analisar, fazendo inúmeras expressões para que eu visse como elas ficariam, a moda já convive comigo a um tempo, ainda que de forma superficialíssima, mas os detalhes foram atentados também, em como eu me expressaria, afinal, aquilo é o que cobre meu corpo inteiro, que, ao meu ver, é a vestimenta primária do ser e se eu tenho que cobri-la pela pressão moral e ética da sociedade, que expresse algo que seja o mais próximo que eu poderia expressar se estivesse completamente nu e isso inclui afrouxar ainda mais as linhas entre a imbecilidade de divisão entre roupas masculinas e femininas, me aproximar não só de uma realidade que não é minha, mas me aproximar do seu próprio exagero e sátira frente a sociedade e isso é incrível. A frase We all born naked and the rest is drag é uma verdade incrível, pois, tudo que performado só por existir, não passa de uma falta de exacerbação e grito nosso. As drag queens mostram que da existência dá pra se sugar até o talo. Que o exagero é existencialmente extravagante. Que a verdade pode nascer sim de uma ilusão. E tudo isso só prova que nós, os normalopatas, sabemos existir pouco.
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TMJ Conte Comigo
GRUPOS DE APOIO A GENTE SABE A IMPORTÂNCIA DOS HOMENS SE AJUDAREM, ENTÃO TROUXEMOS ALGUNS GRUPOS DE HOMENS AJUDANDO HOMENS. É IMPORTANTE FALAR QUE APESAR DESSES GRUPOS EXISTIREM, É IMPORTANTE SEMPRE BUSCAR AJUDA DE UM ESPECIALISTA
GRUPO MASCULINITIES O propósito do grupo é fortalecer uma rede solidária entre homens via o autoconhecimento, práticas corporais, conversas e vivências sobre masculinidades, sociedade e cuidado. As vivências são realizadas em Brasília e sob orientação de facilitadores e palestrantes do grupo. Você pode conhecer mais acessando o site deles.
GRUPO MEMOH O propósito do grupo é promover a equidade de gênero, fazendo o homem refletir sobre seu modo de agir consigo, com o outro e com a sociedade. As inscrições para o grupo acontecem semestralmente e podem ser realizadas pelo site do Grupo Memoh.
GRUPO LUMOS O grupo Lumos é um grupo terapêutico de homens que promove um espaço de troca, uma roda de conversa aberta e gratuita, mediada pelo psicólogo Alexandre Coimbra Amaral. Os encontros são quinzenais e acontecem às terças-feiras. A programação pode ser vista no site do grupo Lumos.
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GRUPO AFRO PAI Por meio de um podcast, o grupo conversa sobre paternidade negra, daqueles que você precisa ouvir, independente da sua cor. O podcast é semanal, com episódios novos às segundas às 10h.
GRUPO RESSIGNIFICANDO MASCULINIDADES O propósito do grupo é fomentar conversas sobre as diversas masculinidades. As datas dos encontros podem ser achadas no Instagram (@ressignificando_masculinidades) e acontecem via Zoom.
GRUPO HOMENS EM bsxbsdxbCONEXÃO Um grupo formado por homens que dividem um propósito em comum: incentivar a conexão consciente entre homens com uma linguagem nova e espontânea, criando espaços de confiança, força e amorosidade masculina. São realizados dois Encontros Abertos por ano e um grande Encontro. Além disso, eles promovem a “Jornada dos Homens”, toda primeira segunda feirado mês às 20h no Zoom.
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GRUPO HOMEM INTEIRO Consiste em um programa de desenvolvimento para homens com cursos, palestras, intensivos e extensivos voltado para o autoconhecimento e para as emoções. É possível conhecer mais sobre o grupo no seu Instagram (@homeminteiro).
GRUPO GUERREIROS DO jkxdcb CORAÇÃO O propósito do grupo é do grupo é os homens se conectem com o próprio coração e com o coração dos outros homens, para assim, cuidar de si, dos outros e do mundo. É possível conhecer mais sobre o grupo acessando o site deles.
GRUPO COLETIVO SISTEMA NEGRO O Sistema Negro é um coletivo formado por produtores, artistas, empreendedores e educadores negros, que mescla cultura e ação no combate ao racismo. É possível entrar em contato com o grupo por meio da sua conta no Facebook.
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GRUPO 4DADDY É uma plataforma de produção de conteúdo e conhecimento sobre parentalidades, masculinidades e economia do cuidado. Acontecem workshops, cursos, jornadas, rodas de conversas nas quais são introduzidas os conceitos já mencionados.
GRUPO REFLETINDO bcdisbcos MASCULINIDADE O grupo propõe uma mesa redonda discutindo a participação dos homens para o fim da violência contra a mulher, abordando temas como: masculinidade, gênero, sexualidade e saúde. As reuniões acontecem todas segundas-feiras na ufsc.
GRUPO MASCULINO DA ALMA É uma rede colaborativa de homens que procuram reencontrar a essência do masculino na alma. É possível conhecer mais do grupo por meio da sua conta do Instagram (@masculinodaalma).
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NA RÉGUA Cabelin
100 ANOS DE BELEZA MASCULINA SELECIONAMOS UMA BREVE CRONOLOGIA DO ÚLTIMO SÉCULO SOBRE OS DIFERENTES CORTES DE CABELO
1900 e 1910 Durante quase todo o século XX, a barba foi considerada sinônimo de sujeira e era feita como processo de higienização, mas ela também teve seus momentos de brilho neste século. A moda masculina de cabelos não mudou radicalmente na primeira metade do século XX, prevalecendo o look clean que tinha a influência militar das duas guerras mundiais. Em 1900 o destaque fica por conta do bigode. O bigode representava honra. Como prova da honestidade de um homem, e para que sua palavra valesse, tirava-se um fio do próprio bigode. Tal gesto valia, em um acordo, mais do que qualquer documento. O bigode concedia uma posição de prosperidade socioeconômica. Isso acontecia porque seu uso era quase obrigatório entre as personagens importantes e influentes naquele período, e dessa forma ele era associado à sofisticação. 1920 - 1940 Nos anos 20 os abastados bigodes foram substituídos por cara limpa ou no máximo um discreto bigodinho. Os cabelos eram usados curtos e simples ao longo da linha do pescoço e acima das orelhas. Muitos deixaram crescer a parte de cima do cabelo e colocaram-na para baixo, alisando com tônico capilar. Já o visual masculino nos anos 30 tinha um “ar esnobe”, Hollywood e estrelas como Clak Gable no filme Aconteceu Naquela Noite marcaram a década. Já na época da Segunda Guerra Mundial, anos 40, a referência era militar. De cara limpa e já com um topetinho, uniformes e trend coach são uma verdadeira sensação. 1950 Nos anos 50 o rosto masculino permanece liso, os topetes ganham altura e viram uma marca da década. Surge o Rock n’ Roll, o ritmo que marcou a década. Elvis Presley foi o grande ícone da década, com as suas costeletas compridas e o topete brilhante, ele começa a trazer flexibilidade ao homem com seus inigualáveis rebolados. Mas, foram os Beatles que, pela primeira vez em muitas décadas, tornaram-se novamente populares os cabelos mais compridos para homens, o que foi se popularizar mesmo na década seguinte.
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IMAGENS RETIRADAS DO VÍDEO 100 ANOS DE BELEZA DA CUT
1910 os bigodes eram o must-have do momento…
1960 Na cultura corporativa do século XX, a barba foi banida quase completamente dos altos escalões, mas voltou com força nos anos 60 e 70, como símbolo da contracultura. Os cabelos ficam mais compridos, por influência principalmente dos Beatles e a barba aos poucos começa aparecer. O nascimento de uma nova juventude serviu para que a moda masculina seguisse novas tendências, abandonando o estilo clássico. Na segunda metade da década, os rapazes começaram a usar roupas mais coloridas e estampadas, buscando inspiração no movimento Pop Art. 1970 A partir da década de 70, houve ampla aceitação de estilos variados tanto para homens quanto para mulheres. Tempo de liberação sexual e igualdade de direitos entre homens e mulheres. Os padrões de beleza masculinos sofrem mudanças drásticas. “As distinções ficaram mais tênues; os homens deixaram crescer os cabelos, ficaram menos musculosos e usaram roupas unissex”, diz a professora Denise Sant’Anna. Astros do rock como Mick Jagger e David Bowie consagram o visual andrógeno. 1980 Os anos 80 serão eternamente lembrados como uma década onde o exagero e a ostentação foram marcas registradas. Os punks já haviam se estabelecido com seus looks mohicanos e os yuppies ficaram conhecidos por quererem ganhar muito dinheiro. O rosto limpo dos anos 80, contrastava com o exagero típico da década com suas ombreiras e cabelos repicados ou trabalhados com com gel.
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NA RÉGUA Cabelin
Freddie Mercury e Village People são os maiores ícones com o visual bigodudo da época. Em meados da década de 80 surgem os Grunges (às vezes chamado de Seattle Sound ou Som de Seattle), uma mistura de punk e heavy metal em Seattle, cidade no noroeste dos Estados Unidos. 1990 Nos anos 90 acontece o ápice do movimento Grunge com seus cabelos desgrenhados, barba por fazer e camisas xadrez símbolos da contracultura. Começa a ganhar força a tendência das tatuagens e piercings, entre ambos os sexos. No começo da década, o rosto limpo virou sinônimo de sucesso financeiro e profissional. Serviços públicos, por exemplo, não permitiam que seus funcionários utilizassem um visual com pelos no rosto, mas isso começou a mudar em 1999. Na contracultura, advindo da influência de movimentos como o Grunge, é um subgênero do rock alternativo. O termo grunge –que em seu sentido original significa “sujeira” ou “imundície” em inglês– descreve tanto o estilo visual via cabelos desgrenhados e a barba começa a aparecer, mas na moda como um todo, prevalece o rosto limpo que virou sinônimo de sucesso financeiro e profissional. 2000 Rosto lisinho marca a década, mas na década de 2000, continuou a tendência de tatuagens e piercings, entre ambos os sexos, que tinham começado nos anos 90.
IMAGENS RETIRADAS DO VÍDEO 100 ANOS DE BELEZA DA CUT
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Nesta década, a moda foi profundamente influenciada pela tecnologia. Do final de 1999 até o final de 2001, houve uma abordagem futurista de looks monocromáticos, com metálicos, negros brilhantes. 2010 Com o nascimento do novo milênio, a vaidade masculina ganhou um padrão diferente. Saem de cena os corpos extremamente musculosos dos anos 80 e entram Robert Pattinson e Justin Bieber, os meninos que, de tão sensíveis, se parecem com meninas, sem que isso seja ofensivo, muito pelo contrário. O homem atual pode voltar a se preocupar com a estética. Isso o deixa mais conectado ao universo feminino, o que é essencial para uma aproximação com a mulher contemporânea. Passa a ser valorizada a silhueta mais longilínea, a franja… A imagem do homem que fica em casa tomando cerveja enquanto a mulher vai à academia caiu por terra. Os adeptos do mma (Mixed Martial Arts) compartilham um padrão corporal que caiu no gosto masculino. Boxe, muay-thai, jiu-jítsu ou krav magá são alternativas para construir músculos e desenvolver atributos como agilidade, equilíbrio e coordenação.
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NA Bigodin RÉGUA Bigodin NA RÉGUA
BARBAS PARA CADA TIPO DE ROSTO HOJE VAMOS FALAR SOBRE OS DIFERENTES TIPOS DE BARBA PARA CADA FORMATO DE ROSTO
quadrado
Rosto redondo Quem tem o rosto nesse formato, precisa redondo optar por um tipo de barba que não valorize isso. Já conseguiu identificar o que evitar, né parceiro? Exatamente isso que você pensou, volume nas laterais. Em razão disso, tente alongar o seu rosto por meio da barba. Para fazer isso, pegue aqueles estilos que alongam o comprimento ou aqueles mais ralos nas laterais.
Rosto quadrado Quem tem o rosto quadrado possui uma característica bem única e marcante, que é o queixo quadrado. Podemos citar três tipos de barba para rostos quadrados. A questão aqui é, por meio da barba, equilibrar a angulação do rosto e a simetria entre o comprimento e a largura da barba. O que fazer então? Alongar um pouco a face e destacar mais o próprio volume da barba na quadrado parte de baixo do rosto, assim é possível arredondar um pouco a região do queixo e disfarçar a marcação.
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Rosto triangular Os barbudos que possuem o rosto triangular, tem uma mandíbula mais marcada. Por conta disso, o tipo de barba para o rosto triangular precisa ser mais cheio nas laterais. Utilizar um bigode também não é descartado, assim você aprimora ainda mais no visual. Dessa forma, é possível esconder um pouco o queixo ou mesmo deixar os fios cheios como um todo, mas sem alongar muito.
Rosto retangular Esse formato é bem parecido com o rosto quadrado, mas com o comprimento mais alongado e maior do que a largura do rosto, o que torna um formato alongado e com linhas estreitas. A barba para o rosto retangular deve acrescentar largura, com a adoção de fios mais longos nas laterais do rosto e mais curto na região da mandíbula. Entre os estilos de barba mais indicados para o rosto retangular, estão aquelas que circulam o queixo e são mais cheias. Mas não abuse no comprimento, pois assim seu rosto ficará mais alongado. Por isso, para ser certeiro, coloque volume nas laterais.
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NA RÉGUA Bigodin
4 PRODUTOS DE BELEZA PARA A PELE MASCULINA SELECIONAMOS ALGUNS PRODUTOS DE BELEZA PARA TE AJUDAR NA SUA ROTINA DE SKINCARE OU NIGHTCARE
LIMPEZA FACIAL Os cuidados com a pele podem começar no banho. Sem esfoliante e com uma textura em gel, o Sébium Moussant é ideal para homens com a pele oleosa, pois, além de limpar e proteger contra cravos e espinhas, o produto ainda deixa a pele do rosto macia, com um ar mais refrescante e aparência clean. É recomendável usá-lo duas vezes ao dia (manhã e noite) para SEBIUM GEL um resultado rápido e eficaz. MOUSSANT BIODERMA R$47,90
ESFOLIANTE A textura é bem arenosa e os resultados são imediatos. Basta ensaboar o rosto com o produto para sentir a pele mais lisinha e jovem. No entanto, não abuse do gel, especialmente se você tem pele seca (caso não tenha pele oleosa ou normal, o uso recomendado é de 2 a 3 vezes por semana). Ideal pra dar um up na cara de cansado. ESFOLIANTE TEA TREE THE BODY SHOP
R$69,90
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HIDRATANTE FACIAL Para quem tem pele seca, esse produto é bem bacana. Apesar de, a princípio, dar uma consistência oleosa, de protetor solar (ele vem com fator 20 fps na composição), o Ureadin Facial absorve bem e deixa a pele hidratada o dia inteiro. Também sai fácil com a água e ajuda a prevenir o envelhecimento precoce, segundo a marca. UREADIN FACIAL R$80,90
MANUTENÇÃO DIÁRIA Além de refrescar, as águas termais são cheias de nutrientes. Na redação, sempre deixamos na mesa a água da linha La Roche-Posay. O efeito não é imediato, mas no caso de quem tem pele seca, a longo prazo (borrifando 3, 4 vezes por dia), já dá pra senti-la mais hidratada e com menos marcas de alergia. ÁGUA TERMAL LA ROCHE POSAY
R$ 88,99
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ZODÍACO MAKE
NA RÉGUA Bigodin
ÁRIES
20 de março a 21 de abril A cor vermelha promete dar mais co ragem e autoconfiança. Abuse de tons vermelhos –acabamentos laqueado e metalizadas são tendência– e sombra esfumada em toda pálpebra, como mostra acima.
TOURO
20 de março a 21 de abril Não se apresse para lidar com os sentimentos, faça a rotina de skincare, tome banhos prolongados, cuide de si mesmo. O verde estimula sua vaidade e autocuidado. Que tal começar substituindo o clássico delineado pela versão neon e gráfica?!
GÊMEOS
A ASTRÓLOGA MARIANA HENRIQUES CONTA NO QUE INVESTIR QUANDO O ASSUNTO É MAKE
por Camila Sawamura
21 de maio a 20 de junho Hora de se conectar com as outras pessoas. Aproveite para reforçar laços com amigos, aprofundar sua sensação de pertencimento, de comunidade e de fé. Use a cor amarela nos olhos e têmporas (se você for mais ousado) para ativar seus poderes intelectuais e de inovação.
CÂNCER
21 de junho a 22 de julho Lute pelo que acredita, se imponha mais no dia a dia e deixe de lado as cores “cheguei”. O branco será seu ponto de equilíbrio e pode aparecer traduzido num delineado rente aos cílios ou desconstruído, como um ponto de luz no canto do olho.
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Di!
FOTOGRAFIA POR DONNA TROPE
FOTOGRAFIA POR JADE TAYLOR
LEÃO
23 de julho a 22 de agosto Será uma temporada boa para sair da rotina, viajar e se inscrever em novos cursos. Só não se esqueça do lado espiritual: esta será uma das principais tarefas para alcançar o equilíbrio emocional diante das mudanças. O dourado vai te ajudar a se sentir ainda mais magnífico.
VIRGEM
23 de agosto a 22 de setembro Dê uma desacelerada na rotina profissional, área na qual você tende a colocar muita energia. Sossegar em casa na companhia da família vai te fazer bem. O verde-bandeira é seu aliado nesse ano introspectivo. Invista no poder calmante da cor nos olhos. Combine com a pele iluminada –seu lado perfeccionista agradece.
LIBRA
23 de setembro a 22 de outubro Quem está procurando por mais estudo, profundidade ou contato com o mundo místico, a hora é agora! Tempos propícios para buscar propósitos que fujam da superficialidade. O rosa vai te fazer sentir amor, carinho e proteção, acredite! Tente dar um acabamento diferente com sombras e pigmentos metalizados.
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NA RÉGUA Bigodin
ESCORPIÃO
23 de outibro a 21 de novembro Caminho aberto para ver as coisas de um novo jeito. Só tome cuidado com a necessidade de dominação, porque ela pode levar à autodestruição (ui!). Seu magnetismo estará potencializado quando usar vinho, um detalhe pequeno como um lápis no olho irá potencializar seu look!
SAGITÁRIO
22 de novembro a 21 de dezembro Tente transformar os momentos nos quais você se sente confusa em oportunidades: é possível, mesmo que se sinta perdida. Confie na sua imaginação. O laranja vai te trazer mais alegria. Aposte num visual monocromático nos olhos, bochechas e boca.
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FOTOGRAFIA POR DONNA TROPE
CAPRICÓRNIO
22 de dezembro a 20 de janeiro Se você está esperando um grande chamado para se libertar de algo que te prende mentalmente, a hora é agora. Tente não se julgar tanto para ter um ano leve, feliz e com caminhos abertos. Use o prateado, matiz luminosa do cinza, em partículas glitterizadas.
AQUÁRIO
21 de janeiro a 18 de fevereiro Continue seguro de suas prioridades emocionais e saiba o que deseja, porque 2022 tem muito potencial de felicidade e realização de desejos. O azul facilita esse momento de paz interior. Uma ideia facílima para fazer os olhos saltarem é apostar em máscara para cílios azul.
PEIXES
19 de fevereiro a 20 de março Sua missão é justamente levar paz e compreensão espiritual e evolutiva para outras pessoas. Só cuidado para não ser esponja e absorver todas as energias. Use o lilás para encontrar a estabilidade. Combine sua maquiagem com alguma peça de roupa, ou algo mais simples como um delineado.
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Masculinidade Tóxica O que há para além dela? por Isabela Venturoza ilustração por GUIDE Diferentes sujeitos têm empregado o termo “masculinidade tóxica” para iniciar um debate sobre os efeitos nocivos da socialização dos homens e sobre os comportamentos que derivam desse aprendizado das masculinidades. Em linhas gerais, vivemos em uma sociedade em que crianças assignadas ao nascimento como meninos aprendem desde o jardim da infância a se valerem de ferramentas agressivas e verem o mundo a partir de um prisma no qual ou você subjuga ou é subjugado. Nesse mesmo contexto, são ensinados que o lugar daquele que é dominado e reduzido à vontade do outro é o lugar do feminino, o que faz com que as mulheres sejam inferiorizadas e que os homens subjugados sejam aproximados das mulheres em termos de ausência de poder. Enquanto muitos estão endereçando a resolução dos problemas à discussão da masculinidade tóxica, em busca de masculinidades mais saudáveis, Stoltenberg é radical ao afirmar que os homens precisam desistir da masculinidade. Em entrevista à vice, ele compara a ideia de “masculinidade saudável” à ideia de “câncer saudável”. Para ele, a masculinidade seria uma identidade produzida inteiramente sobre a opressão de terceiros. As partes da masculinidade que não seriam vistas como “tóxicas”, que não colocariam alguém em posição inferior ou representariam risco ao sujeito, seriam apenas qualidades e ações sem gênero. Quando uma mulher ou um homem tomam decisões morais agindo de maneira a respeitar a própria integridade ou de outros sujeitos, não se trata de uma mulher boa ou de um homem bom, mas de uma pessoa boa ou que tomou boas decisões. O que Stoltenberg quer nos dizer é que, embora tenhamos sido ensinados o contrário, nosso caráter é divorciado de nosso gênero. A tarefa dos homens é então desenvolver a habilidade de tomar decisões, refletindo e combatendo a perspectiva que os ensinou a estar sempre atuando de modo a provar a própria masculinidade, frequentemente por meios violentos e dolorosos. Se queremos um mundo no qual as pessoas possam viver vidas mais livres e com justiça social, sem ter que escolher entre performar uma masculinidade ou feminilidade ideal, é preciso que entendamos de uma vez por todas que o mundo é composto por um grande e múltiplo espectro de possibilidades em termos de gênero e não só por caixinhas descritivas e normativas correspondentes a homens e mulheres.
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Vamos falar de masculinidades? por Gustavo Tanaka ilustração por GUIDE Conviver com os homens nunca foi difícil para mim. Nasci em uma família grande, com muitos tios e primos, a maioria homens. Sendo assim, tive muitas referências masculinas na minha vida. Eu me espelhava no meu pai, meus tios e nos meus primos mais velhos. Brincávamos de luta, de guerra, jogávamos futebol e videogame. Tudo natural e muito divertido para mim. Na adolescência, comecei a escutar bandas de rock, tocar violão, ir a festas, estádios de futebol e a churrascos onde a cerveja sempre estava presente. Fazia o que os outros meninos também faziam e me sentia pertencente ao grupo. Nesse meio tempo, me dei conta de que as respostas que eu buscava encontravam eco nos livros de autoconhecimento e espiritualidade. Aos poucos, comecei uma transição de vida. Passei a dedicar mais tempo aos meus estudos, à minha meditação e às práticas que acalmavam as inquietações da minha alma. Foram alguns anos nesse processo. Em determinado momento, me dei conta de que muito havia mudado. Nas minhas relações havia muito mais presenças femininas. As mulheres passaram a ser, em verdade, as minhas principais relações. Ter mais contato com elas me ajudou a compreender melhor suas realidades e me trouxe ainda mais reflexões. Várias de minhas amigas participavam de encontros de círculos de mulheres, onde elas conversavam e aprendiam sobre ensinamentos denominados sagradosentrellas, o sagrado feminino. Foi assim que começaram a nascer em mim, os primeiros questionamentos sobre o masculino. Foi quando me vi homem. E vi que não havia aprendido nada sobre ser homem. Notei que eu apenas cresci e me desenvolvi replicando o que via outros homens fazendo. Foi nesse contexto que senti o chamado para começar a me reunir com homens e conversar sobre tudo isso que eu vinha questionando. Numa conversa com um amigo que também vinha refletindo sobre essas questões, decidimos organizar um encontro de homens. Inspirado no que minhas amigas já vinham fazendo há um bom tempo. A partir disso, nasceu o Brotherhood, um movimento para trazer consciência no universo masculino e provocar uma mudança na cultura de masculinidades. Assim, ao longo dos últimos quatro anos de Brotherhood, escutamos muitas histórias dos mais de mil homens que já passaram pelos nossos encontros. E também de algumas centenas de mulheres.
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Maquiagem masculina: A tendência que veio para ficar por Matheus Ganchu ilustração por GUIDE Há tempos notamos que o mercado da beleza tinha apenas mulheres como alvo principal de seus produtos. Mas isso mudou. Graças ao surgimento de tutoriais de beleza e ao momento em que vivemos, onde tudo é registrado, os homens também se renderam à maquiagem. E não é para menos né!? Quem não quer estar bem na foto? Com aquele ar descansado e saudável. Antes este privilégio era de artistas trabalham na indústria da moda ou televisiva, mas hoje em dia vem sendo vista na nossa rotina de cuidados ( meros mortais heheh). É uma mudança gigante no mercado da beleza e que derruba paradigmas. A vaidade não é uma exclusividade feminina, porém muitos homens ainda resistem a maquiagem, talvez por não saber usar ou por preconceito mesmo. O que para muitos soa como futilidade, para outros este cuidado tem uma grande participação na hora de se apresentar. É importante debater o tema, pois ele desempenha um papel social, já que desconstrói a ideia de que homem precisa ser viril e nos prova que a masculinidade tóxica e frágil é coisa do passado. Maquiagem é uma questão de autoestima, se sentir bonito, confiante. Óbvio, que existem algumas diferenças na forma como aplicamos em homens e mulheres. Seja utilizando em grande quantidade ou de uma forma mais natural, ela pode te ajudar em algo que muitas vezes te atrapalha emocionalmente no seu dia a dia.
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MASCULINIDADE
Homens não choram. Homens não abraçam outros homens. Homens não ficam deprimidos. Homens não tem medo de barata. De rato. De aranha. Homens não fazem bolos. Homens não ganham menos do que suas companheiras. Homens não colocam botoz. Homens não usam antirrugas. Homens não se protegem do sol. Homens não fazem dieta. Homens não usam cor-de-rosa. Nem lilás. Nem amarelo clarinho. Homens não têm medo de altura. Nem de voar de avião. Nem de montanha-russa. Homens não têm disfunção erétil. Homens não perdem a vontade de transar nunca. Homens não precisam de apoio psicológico. Homens não se depilam. Homens não pintam cabelo. Nem tem cabelo comprido. Homens não são cabeleireiros. Homens não são professores de educação infantil. Homens não são babás. Homens não dizem que amam seus amigos. Nem dizem que amam o pai. Homens não ouvem Lady Gaga, Beyoncé, Rihanna, Jennifer Lopez, Madonna, Cher, Amy Whinehouse, ABBA. Homens não sonham com um grande amor. Homens não sofrem em términos de relacionamento. Homens não bebem drinques enfeitados. Nem vinho rosé. Nem cerveja sem álcool. Homens não ficam uns tempos sem beber. Homens não usam brincos. Nem colares. Nem anéis. Homens não fazem a unha. Homens não vão ao podólogo. Nem ao urologista. Homens não fazem cirurgia plástica. Nem cuidam da pele. Homens não gostam de jardinagem. Homens não são vegetarianos. Nem veganos. Homens não sonham em se casar.
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