EGO

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PRIMAVERA VERÃO ANO1 No1 JUN24 R$175,00 JUNHO 2024 EDIÇÃO 01

Esta é a EGO. Aqui, vemos a moda através de uma lente baseada na autocrítica de um sistema que possui diversas pautas que precisam ser discutidas. Nós reconhecemos essas questões e nos comprometemos a abordá-las de frente, porque acreditamos que a moda vai muito além do ato de vestir. Tratar a moda com a complexidade que esse tema demanda é o primeiro passo: moda é expressão cultural, é manifestar externamente seus desejos, aspirações e experiências.

A partir do entendimento de que o ego não é apenas uma força individual, reconhecemos também o seu protagonismo como um fenômeno cultural que molda as tendências, os padrões estéticos e as normas sociais no universo da moda. Por isso, somos o caminho para uma investigação mais profunda das nossas próprias identidades através da moda!

Este é um convite para a autoexploração, para a reflexão crítica e para a celebração da diversidade de expressões humanas.

Entre o dever e o desejo, a EGO espera por você.

Escola Superior de Propaganda e Marketing

Projeto Integrado | 3º Semestre

2024/1

Projeto III

Marise de Chirico

Cor, Percepção e Tendências

Paula Csillag

Produção Gráfica

Mara Martha Roberto

Finanças Aplicadas de Mercado

Alexandre Ripamonti

Marketing Estratégico

Leonardo Aureliano da Silva Ergonomia

Matheus Passaro

Carolina Bustos

Infografia e Visualização de Dados

Marcelo Pliger

Motion Design

Henrique Sobral

COLABORADORES

Maju Trindade é uma influenciadora digital conhecida por seu estilo único e sua capacidade de ditar tendências. Sua presença nas redes sociais é marcante, com milhões de seguidores devido a sua influencia na moda e a forma como explora novas marcas e estilos. Suas habilidades em fotografia e produção de conteúdo visual a tornam uma colaboradora valiosa para este mundo, onde pode compartilhar seu conhecimento e perspectiva única, inspirando aos leitores e impulsionando essa indústria.

Foganoli é uma figura icônica nas redes sociais, que recentemente entrou para o meio dos influenciadores de moda. Reconhecido por seu estilo extravagante, sua capacidade de transformar a moda em uma forma de arte e sua estética vibrante e ousada, ele vem conquistando cada vez mais esse público. Sua presença carismática, sua habilidade em criar conteúdo visualmente im pactante e a forma como se identifica com o nosso público tem feito com que ele se destaque neste meio.

Carol Barreto é uma escritora reconhecida por sua perspicácia e profundidade na abordagem de questões sociais e culturais. Sua voz literária é marcada por um olhar voltado para as questões de gênero, raça e identidade, suas obras desafiam as normas estabelecidas e convidam os leitores a refletir sobre temas importantes da sociedade contemporânea. Assim, ao trazer sua perspectiva única para o mundo da moda, Carol Barreto não apenas enriquece o discurso sobre estilo e beleza, mas também amplia o alcance das questões sociais.

Com um olhar criativo e uma sensibilidade para a estética, Ju4rez transforma simples momentos em obras de arte visualmente cativantes. Sua abordagem única para a fotografia de moda combina técnicas inovadoras com uma compreensão profunda das tendências e da cultura contemporânea. Se destaca por trazer sua visão singular para o mundo editorial, elevando o padrão e inspirando outros profissionais da indústria.

CAROL BARRETO MAJU TRINDADE

10 EDITORIAL

12 COLABORADORES

14 SUMÁRIO

O QUE VOCÊ SE IMPORTA

18 VITRINE

20 O AMANHÃ, HOJE

22 FORA DO RADAR

34 DE PASSAGEM

36 INDISPENSÁVEL

O QUE IMPORTA É COPIAR

40 ENREDO

52 MP3

O QUE DEVERIA

IMPORTAR: BRASILIDADES

66 PONTO DE VISTA

68 ANTROPOFAGIA

70 MADE IN BRAZIL

O QUE IMPORTA

É SER LEMBRADO

82 LEGADO

84 CONTRACULTURA

86 DEJA VU

98 ODISSEIA

1 00 FUSÃO

O QUE REALMENTE IMPORTA

102 ECODRAMA

104 TRANSLÚCIDO

106 FAST FASHION

108 ROUPA NÃO TEM GÊNERO

110 QUEM A MODA ALCANÇA

O QUE ALGUÉM SE IMPORTOU

116 ALTERNATIVAS

118 HOLOFOTE

120 A TECNOLOGIA POR TRÁS DO CORSET

16 QUADRO CREATIONS

38 PÓDIO

54 FORECAST

74 SESSÃO DE FOTOS

128 ROUPA MANIFESTO - MAJU TRINDADE

129 PORQUE MARC JACOBS É RELEVANTE? - GUSTAVO FOGANOLI

130 TEMOS UMA MODA GENUINAMENTE BRASILEIRA? - CAROL BARRETO

131 SERÁ QUE ME SERVE? - ANA CARDOSO

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O
OLHAR DE KUBRIK E SUA INFLUÊNCIA NA MODA
24
IRIS VAN HARPEN E A MODA 3D

56 ENTREVISTA COM PAULA

118
88 O LEGADO DA OAKLEY HANA YAGI E A MODA SUSTENTÁVEL KIM

QUADRO

WORK SHIRT QUADRO CREATIONS RODES DOUBLE-ZIP BROWN

Preço: R$ 359,92

Descrição da peça: Work-shirt em sarja leve; Monograma QC refletivo no peito esquerdo; Dois. Bolsos cobertos por lapela frontal; Lapela traseira com painel telado interno para melhor respirabilidade e fluxo de ar; Zíper YKK com dois cursores.

TEANO GREY TOP

Preço: R$349, 90

Descrição da peça: Camisa reversível por possuir sua costura toda enviesada; Aplicação ‘QC’ refletiva no peito esquerdo; Aplicação ’Name Logo’ nas costas do outro lado; Zíper YKK; Bolso no peito com acesso via zíper invisíveis localizados nos dois lados da peça.

Aplicação ’Name Logo’ nas costas do outro lado; Zíper YKK; Bolso no peito com acesso via zíper invisíveis dos dois lados

Ajustes de manga em botão e caseado.

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CREATIONS

BLACK T-SHIRT

R$319, 90

Descrição da peça: Aplicação refletiva monograma QC no centro do peito; Sobreposição de tecido em toda lateral esquerda; 100% algodão 250GSM.

Preço: R$699, 90

Descrição da peça: A calça toda se baseia na técnica Tromp-Lóeil, onde optaram por um processo de lavagem que proporciona uma ilusão de ótica; Dupla aplicação ‘QC Jeans’ espelhada na traseira.

R$319, 90

Descrição da peça: Aplicação refletiva monograma QC no centro do peito; Modelagem exclusiva Quadro Creations, sem costura entre o ombro e a manga.

Preço: R$699, 90

Descrição da peça: A calça toda se baseia na técnica Tromp-Lóeil, onde optaram por um processo de lavagem que proporciona uma ilusão de ótica; Dupla aplicação ‘QC Jeans’ espelhada na traseira.

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BLACK T-SHIRT ANTON CHLORINE BLACK JEANS ANTON CHLORINE BLUE JEANS

OLHAR NADA ÓBVIO: Gentle Monster

Disruptiva e contemporânea, a marca Gentle Monster consegue mostrar que o mercado de óculos pode ser tão luxuoso quanto às passarelas colecionando uma A-List de celebridades e astros do K-Pop, Rosalía, Pharrell, Jennie do Blackpink, BamBam, Timothée Chalamet, Lewis Hamilton e outros nomes.

Com campanhas hiper criativas e linhas de eyewear com grandes nomes da moda, a sul-coreana Gentle Monster, fundada em 2011 por Hankook Kim –que ganhou investimentos da lvmh em 2017– prova que customer experience combinado a boas estratégias de marketing –como espaços artísticos, flagship stores e parcerias– podem criar uma base de consumidores fiéis independente do preço de seus produtos.

A marca se popularizou na Coréia do Sul por seus designs revolucionários e que se diferenciavam de óculos comuns –com frames bem maiores e modernos– além de sua aparição em diversos k-dramas –séries sul-coreanas muito populares nos streams asiáticos. Alguns exemplos dessas produções ficam para ‘‘Her Private Life’’, ‘‘Landing on You’’, ‘‘Crash Landing on You’’, ‘‘Itaewon Class’’ e ‘‘The King: Eternal Monarch’’. Esses dramas, que possuem uma enorme base de fãs tanto na Coreia do Sul quanto internacionalmente, foram vitais para a disseminação da marca. Cada uma dessas

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GENTLE

séries ajudou a associar a marca a personagens icônicos e estilos de vida aspiracionais.

GENTLE JELLY: A CAMPANHA VIRAL

Seu mais recente lançamento viral foi a coleção ‘‘Gentle Jelly’’. Inspirada em balas de goma e doces de gelatina, a marca criou cinco modelos que brincavam com essa estética nostálgica e vibrante dos anos 2000 –com direito a embalagens que imitavam pacotes de doce e se tornaram virais.

Para criar uma experiência completa de imersão na temática da coleção, como de comum as ações da marca, foram abertas lojas pop-ups em Seul, na Coréia do Sul, e outra em Pequim, na China, onde o público podia explorar um pouco do universo colorido e sensorial da marca por meio de macro esculturas das embalagens e dos produtos da linha com muitas aulas marciais e atmosfera robótica.

Após sua primeira collab com os infames ceo Sunglasses, a segunda parceria da Gentle Monster com Alexander Wang intitulada “M.PRI$$.” teve seu debut em 2019 na New York Fashion Week com o lançamento de dois óculos de sol super adorados pelo público.

A ascensão da Gentle Monster é um exemplo inspirador de como a criatividade, a inovação e a paixão podem transformar uma marca em um fenômeno global.

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www.gentlemonster.com

SPRAY

SPRAY ON DRESS: Bella

Hadid na Coperni

A Coperni revelou um vídeo dos bastidores que ilumina a criação do vestido de spray apresentado no desfile da marca na primavera/verão de 2023 –desde os ensaios até o próprio desfile.

Quem poderia esquecer o momento literalmente espetacular durante a Semana de Moda Primavera/Verão de 2023 envolvendo Bella Hadid e um vestido de spray? Sebastien Meyer e Arnaud Vaillant, os fundadores da ultra-moderna marca parisiense Coperni, pararam o mundo da moda com seu desfile que viu um vestido ganhar vida depois de ser pulverizado diretamente no corpo de Bella Hadid. Dê uma olhada nos bastidores deste momento memorável através do vídeo abaixo.

Antes de revelar seu desfile primavera/verão de 2023, que foi realizado na Salle des Textiles do Musée des Arts et Métiers em Paris, a dupla de designers conversou com a Vogue sobre sua nova coleção. “É nossa celebração das silhuetas femininas de séculos passados,” disse Vaillant à Vogue em uma prévia via Zoom antes do desfile. “E queríamos atualizar nossa estética de uma maneira mais adulta e científica,” acrescentou Meyer. A dupla brincou com proporções através de enchimentos em calças de lã e muitos drapeados, além de revisitar peças básicas do guarda-roupa como calças cargo em materiais técnicos.

22 O QUE VOCÊ SE IMPORTA

O momento de destaque do desfile foi, sem dúvida, o final, executado na forma de uma performance, que viralizou nas redes sociais em questão de segundos. Uma Bella Hadid de roupa íntima desfilou e se posicionou no centro da passarela. Foi lá que uma equipe de especialistas, liderada pelo Dr. Manel Torres, o inventor do tecido pulverizável Fabrican (um material patenteado pulverizado de uma lata que endurece para se tornar um tecido vestível), criou o vestido mais futurista da coleção, diretamente na pele da modelo.

A Coperni acabou de lançar um vídeo de bastidores de oito minutos, documentando os testes iniciais realizados pelos especialistas, os ensaios do momento mágico com Bella Hadid e a própria performance, capturando a reação imediata da modelo a essa experiência incrível.

A Coperni, com sua ousadia e criatividade, demonstra que a moda está em constante evolução, sempre buscando novas formas de se expressar e de se conectar com o público. A marca tem se destacado por suas abordagens inovadoras e por desafiar as convenções tradicionais da moda, explorando novas tecnologias e materiais em suas criações. Um exemplo marcante dessa visão futurista foi o uso do Fabrican na Semana de Moda de Paris, um material revolucionário que pode ser pulverizado diretamente sobre o corpo para criar roupas instantaneamente.

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Salvatore Dragone
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GAIJIN PARIS: vintage japonês em Paris por Maria Machado
GAIJIN

A história da Gaijin Paris teve seu início em 2015, quando Robert e Bettat embarcaram em sua primeira jornada ao Japão. Imersos ficaram na rica cultura e na estética singular da moda japonesa, a dupla se deparou com diversos brechós que ofereciam tesouros vintage de renomados designers japoneses. Essa experiência transformadora, foi combinada com uma perspectiva única de serem “gaijins” (estrangeiros), que plantou uma semente do que viria a se tornar a Gaijin Paris.

O que começou como uma série de lojas pop-up logo se transformou em um pilar fundamental do cenário da moda parisiense. Guiados por uma paixão profunda por compartilhar a cultura, os tecidos e a estética japonesa, Robert e Bettat dedicam-se meticulosamente à seleção e curadoria de uma coleção rotativa de peças únicas e atemporais. Entre os tesouros que adornam as prateleiras da Gaijin Paris, encontram-se designs cobiçados de nomes como Yohji Yamamoto, Kenzo, Tsumori Chisato, Comme des Garçons, Issey Miyake e muitos outros mestres da moda japonesa. Mais do que um mero empório de roupas, a Gaijin Paris convida os visitantes a uma imersão profunda na cultura japonesa. Ao cruzar o limiar da boutique, você se depara com um ambiente aconchegante e minimalista, cuidadosamente adornado com peças vintage e obras de arte japonesas. A

música ambiente, composta por artistas japoneses contemporâneos, completa a atmosfera autêntica, transportando os visitantes para o coração pulsante do Japão.

A Gaijin Paris transcende a mera compra de roupas, tornando-se uma experiência sensorial que celebra a criatividade, a tradição e a beleza inigualável da moda japonesa. Cada peça conta uma história, sussurrando contos de um passado rico e abrindo portas para um futuro de expressão individual. Se você busca algo além do comum, algo que reflita sua Individualidade e paixão pela moda, a Gaijin Paris convida você a embarcar em uma jornada sensorial inesquecível. Descubra a beleza atemporal da moda japonesa e deixe-se encantar pela rica cultura que ela representa.

A Gaijin Paris é uma experiência imersiva que transcende a simples compra de roupas. Ao entrar na loja, os clientes são transportados para o coração do Japão, graças a um ambiente cuidadosamente projetado para evocar a serenidade e a elegância da cultura japonesa. O espaço é caracterizado por um design minimalista que enfatiza a simplicidade e a harmonia, criando uma atmosfera tranquila e contemplativa. A trilha sonora composta por música japonesa tradicional e contemporânea complementa a experiência, enriquecendo a ambientação e permitindo que os visitantes se sintam verdadeiramente imersos na cultura do Japão.

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Courtesy de Gaijin Paris
FORA DO RADAR

E A MODA IRIS VAN HARPEN

EM UM MERGULHO OUSADO NO FUTURO DA MODA, IRIS VAN HERPEN LIDERA A VANGUARDA DA INOVAÇÃO

3D

HARPEN

Amarca Iris van Herpen é conhecida por suas criações de alta moda que combinam tecnologia, arte e moda de uma forma única e inovadora. A estilista holandesa Iris van Herpen utiliza técnicas avançadas de produção, como a impressão em 3D e o corte a laser, para criar peças únicas e experimentais. As roupas de Iris van Herpen são frequentemente descritas como futuristas, com formas incomuns e materiais inovadores. Por exemplo, em sua coleção “Voltage” de 2013, ela usou tecnologia de corte a laser para criar formas orgânicas em tecidos metálicos. Além disso, a marca tem colaborado com artistas e designers de tecnologia para criar peças que integram tecnologia avançada, como leds e sensores, em suas roupas. Em sua coleção “Shift Souls” de 2019, a marca apresentou um vestido com sensores que reagiam aos movimentos da modelo, criando uma ilusão de que a roupa estava viva.

28 O QUE VOCÊ SE IMPORTA
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Ella Klarke para MS MIN SS 2019] Skylar White para Vogue Maria Petrovna para SIXTEEN JOURNAL

com a equipe de design da marca, contribuem para a direção futurista da marca Iris van Herpen e para sua abordagem única e inovadora à moda. Isaie Bloch trabalhou com Iris van Herpen desde 2012, trazendo suas habilidades em arquitetura e modelagem 3D para o processo de design de moda da marca.

Ele colaborou em várias coleções da marca, incluindo “Magnetic Motion” (2014), “Hacking Infinity” (2015) e “Shift Souls” (2019). Neri Oxman, por sua vez, é uma designer de produtos, arquiteta e professora no mit Media Lab, que colaborou com a marca em várias coleções, incluindo “Voltage” (2013), “Quaquaversal” (2013) e “Biopiracy” (2014). Ela é conhecida por sua abordagem biomimética ao design, que se inspira na natureza para criar soluções tecnológicas. Jólan van der Wiel é um designer de tecnologia que colaborou com a marca na coleção “Magnetic Motion” (2014). Ele criou um processo de produção de roupas que utiliza magnetismo para moldar o tecido em formas únicas e incomuns. Iris van Herpen fundou sua marca homônima em 2007, após se formar na Academia de Moda de Arte e Design de Arnhem, Holanda.

A tecnologia também é utilizada nos processos de produção da marca, com a utilização de softwares avançados de design e produção. A marca também tem explorado a sustentabilidade em suas coleções, utilizando materiais reciclados e orgânicos em algumas peças. Em resumo, a marca Iris van Herpen é uma pioneira na integração da tecnologia e moda, criando peças inovadoras e experimentais que desafiam as convenções da moda tradicional, é a diretora criativa e fundadora da marca que leva o seu nome.

Ela é a principal designer por trás da direção futurista da marca e tem sido reconhecida por suas criações inovadoras que combinam moda e tecnologia. No entanto, Iris van Herpen também colabora com uma equipe talentosa de designers, artistas e engenheiros para trazer suas visões à vida. Entre os colaboradores frequentes da marca estão o arquiteto de moda Isaie Bloch, a designer de acessórios de moda Neri Oxman e o artista e designer de tecnologia Jólan van der Wiel. Esses colaboradores, juntamente

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Stella Harrison para MS MIN SS 2019 Peyton Moore para DAZED Sofia Conti para SIXTEEN JOURNAL
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No início, a marca de Iris van Herpen era pequena e operava em um ateliê em Amsterdã. Suas primeiras coleções foram apresentadas em desfiles de moda locais, mas ela rapidamente chamou a atenção da indústria da moda internacional com suas criações inovadoras e experimentais. O grande sucesso da marca veio em 2011, quando Iris van Herpen foi convidada a apresentar sua coleção “Crystallization” na semana de moda de Paris. A coleção apresentava peças de alta moda criadas com impressão em 3D e outras tecnologias avançadas, o que chamou a atenção da imprensa de moda internacional e a estabeleceu como uma designer de ponta no mundo da moda. Desde então, a marca cresceu e expandiu sua presença globalmente. Além de suas coleções de moda de alta costura, a marca também lançou linhas de roupas prêt-à-porter, sapatos e acessórios. A marca também colaborou com outras marcas e artistas, incluindo a marca de automóveis Audi e o artista contemporâneo norte-americano Dustin Yellin. Hoje, a marca Iris van Herpen é conhecida por suas criações inovadoras que combinam tecnologia, arte e moda de uma forma única e incomparável.

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Elise Moreau para VOGUE RUSSIA

UTILIZA TÉCNICAS AVANÇADAS

DE PRODUÇÃO, COMO A IMPRESSÃO EM 3D E O CORTE A LASER, PARA CRIAR PEÇAS ÚNICAS E EXPERIMENTAIS

A cantora canadense Grimes é uma grande fã da marca Iris van Herpen e já usou várias vezes criações da marca em eventos públicos, apresentações musicais e tapetes vermelhos. Grimes também já colaborou com Iris van Herpen em algumas ocasiões.

Em 2016, Grimes usou um vestido da coleção “Hacking Infinity” da Iris van Herpen em um evento beneficente do Metropolitan Museum of Art, em Nova York. O vestido, que apresentava uma impressão em 3D inspirada em fractais, foi elogiado pela imprensa de moda e chamou a atenção para a marca por conta da cantora que o vestiu no evento. Ela até mencionou a Iris van Herpen como uma das suas principais influências na moda e na arte.

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A visão inovadora de Iris van Herpen não apenas redefine os limites da alta moda, mas também inspira a próxima geração de designers a explorar a fusão entre tecnologia e arte. Suas criações são mais do que peças de vestuário; são declarações audaciosas que desafiam as percepções convencionais de moda e estilo. À medida que a marca continua a evoluir, permanece um farol de inovação, estimulando a criatividade e encorajando a experimentação no mundo da moda. A colaboração contínua com artistas e tecnólogos, além de seu compromisso com a sustentabilidade, garante que Iris van Herpen continue a ser uma força pioneira que molda o futuro da moda.

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Giorgia Bianchi para VOGUE RUSSIA
COW BOY

CORE:

será que emplaca?
36 O QUE VOCÊ SE IMPORTA
por Vinicius Alencar
COWBOY

Em junho, durante a temporada de desfiles masculinos em Paris, Pharrell Williams, diretor criativo da Louis Vuitton, causou frisson ao apresentar uma coleção com forte inspiração no Velho Oeste. Botas, chapéus, jeans e fivelas gigantes dominaram a passarela, questionando a tradicional imagem do cowboy branco norte-americano. O próprio Pharrell, inclusive, adotou o visual como seu novo uniforme, ostentando um maxi chapéu de boiadeiro, fivelão, jeans e botas em suas aparições públicas.

COUNTRY NO UNIVERSO POP

E a onda western não parou por aí. Poucos meses depois, Beyoncé surge com a temática em sua nova era, “Act II”, anunciada com os singles “Texas Hold Em” e “16 Carriages”. Vestindo um look da Louis Vuitton, a diva elevou a estética country a outro patamar, ressignificando os símbolos do Velho Oeste e impulsionando ainda mais a tendência.

Como se não bastasse, Lana Del Rey anuncia que seu próximo álbum, “Lasso”, terá influências country. A artista, conhecida por sua estética melancólica e vintage, confirma a força desta tendência e a leva para um novo universo do mundo da musica.

O interesse pela estética country no universo pop não é algo novo. Tudo começou com o hit “Old Town Road”

de Lil Nas X, que em 2019 dominou as paradas musicais e introduziu o country para um público mais jovem. Desde então, a temática vem ganhando força gradativamente, abrindo espaço para novas interpretações e ressignificações. A moda também não ficou de fora desse revivalismo. Na temporada de desfiles de Inverno 25/25, que ainda está em andamento, diversos estilistas já apresentaram suas versões da estética western. Willy Chavarria, na nyfw, e Molly Gorddard, na lfw, são apenas alguns exemplos. A onda western parece estar apenas começando! Com a união de grandes nomes da moda, da música e da cultura pop, a estética do Velho Oeste se reinventa e ganha novos significados, prometendo influenciar ainda mais as tendências nos próximos meses, é um convite para celebrarmos a diversidade, a autenticidade e a liberdade de expressão.. O futuro do country no universo pop é promissor, repleto de possibilidades emocionantes e inovações criativas. Com a criatividade e o talento de artistas e estilistas, essa estética continuará a se reinventar e a conquistar novos públicos, transcendendo suas raízes tradicionais e se adaptando às tendências contemporâneas. Essa evolução é impulsionada pela fusão de elementos clássicos do country com influências modernas do pop, criando um estilo híbrido que ressoa com audiências diversas e globais.

EGO.COM.BR 37 DE PASSAGEM
eu.louisvuitton.com

%99 AR

AIR SWIPE: a bolsa de 99% ar

Brilhar sob os holofotes é frequentemente a pedra angular do sucesso, uma façanha que a Coperni realizou com maestria durante a Semana de Moda de Paris. Com sua abordagem inovadora de hype’n’tech, a marca brilha intensamente, guiada pelos fundadores Sébastien Meyer e Arnaud Vaillant. Eles traçam novos territórios criativos ao misturar perfeitamente moda, tecnologia e ciência. Sua mais recente empreitada, a bolsa Coperni Air Swipe, confeccionada com 99% de ar e 1% de vidro, e apresentando o nanomaterial de sílica Aerogel da nasa, é uma sensação inovadora. Já está reescrevendo recordes como a bolsa mais leve da Terra e o maior objeto já criado com esse material de ponta. A bolsa Air Swipe fez sua estreia na passarela da Semana de Moda de Paris Outono-Inverno 2024-25, adornada com um elegante terno de lã bege com gola única combinado com os speedcats brancos Puma x Coperni.

Nos últimos anos, a Coperni adotou uma abordagem única e cativante para marketing e comunicação, especialmente com seus lançamentos de produtos, principalmente sua icônica bolsa Swipe. Este acessório emergiu como um dos itens mais procurados da década de 2020, visto em ícones de estilo como Dua Lipa, Doja Cat e Kylie Jenner. Desde sua estreia na coleção Outono-Inverno 2019/20, Sébastien Meyer e Arnaud Vaillant têm consistentemente infundido

38 O QUE VOCÊ SE IMPORTA

energia nova, introduzindo novas versões comerciais e incorporando elementos de alta tecnologia nos desfiles para gerar buzz ao seu redor. Esta estratégia sustenta o apelo da bolsa, solidificando seu status como um favorito cult enquanto mantém preços competitivos, tornando-a notablemente mais acessível do que outras bolsas icônicas.

A bolsa Air Swipe fez sua estreia na passarela Outono-Inverno 2024/25 da Coperni, idealizada por Sébastien Meyer e Arnaud Vaillant. Meyer e Vaillant compartilharam sua visão com o dscene, traçando paralelos com a colocação revolucionária do sol no centro do universo por Copérnico. Eles visam priorizar mulheres em seus designs, capacitando-as a se sentirem excepcionais nas roupas da Coperni. “Queremos que elas se sintam ótimas em nossas roupas. É também um aceno à inovação, às novas tecnologias, que estão no centro de nossas preocupações como designers”.

A Air Swipe é um exemplo perfeito dessa filosofia, utilizando tecnologia de ponta para criar uma bolsa que é ao mesmo tempo elegante e funcional. A marca se destaca ao integrar de maneira harmoniosa inovações tecnológicas com um design sofisticado, resultando em um produto que não só atende às necessidades práticas do usuário moderno, mas também se destaca como um acessório de moda desejável.

EGO.COM.BR 39 INDISPENSÁVEL www.gentlemonster.com

JORDAN

EFEITO MJ: influência na moda e na NBA

O maior de todos os tempos em quadra era também um ícone de estilo fora dela. O famoso jogador de basquete, Jordan, deu origem ao status do sportswear, elevando-o e tornando-o muito desejável. Ele foi o grande influenciador original, estabelecendo um precedente para estrelas do esporte comercializarem seu bem mais precioso –seu rosto– em uma marca.

Uma de suas assinaturas, o terno oversized, hoje existe como um dos itens mais cobiçados. “Eu sou um cara de ternos. Tenho de 100 a 150 deles”, ele disse à qg em uma entrevista nos anos 90. Claro que apenas usar ternos não era o interessante –e sim, como os usava. “O que Michael fez, ele começou a usar esses lindos ternos italianos, mas eles eram modificados. Ele os modificava não apenas para ajustar, mas também brincava um pouco com a aparência e reestruturava um terno Armani para que caísse de maneira diferente.”, disse Tinker Hatfield, diretor criativo de design de produtos da Nike e o responsável pelo desenvolvimento do Air Jordan em 1999.

O basquete antes de Jordan era algo não relacionado à moda. Hatfield inclusive argumenta que os jogadores “eram muito mal vestidos” e atribui à Michael a mudança no estilo dos jogadores, chamando-a de “efeito Michael Jordan”. “Ele realmente começou a se arrumar tão bem e

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fez isso de uma maneira elegante que era realmente atraente para outros atletas”, acrescenta. Os ternos usados por ele em entrevistas coletivas pós-jogo abalaram toda a concepção da nba em torno de códigos de vestimenta de jogadores. Inclusive, seu amor por shorts extremamente largos inspirou toda a liga a abandonar os shorts curtos em que jogavam há anos, criando o que agora definimos como “shorts de basquete”.

Projetado em colaboração com a Nike, nas cores dos Bulls –vermelho, branco e preto–, Jordan os usava em cada jogo, apesar das regras da nba. E claro, em cada jogo, ele recebia uma multa de U$5.000, que a Nike mesmo pagaria –sua melhor forma de publicidade. O império Air Jordan, agora estimado em 3.6 bilhões de dólares, mudou completamente a forma como os jogadores se comercializam, alterando todo esse mundo de roupas esportivas. Por fim, ele não apenas mostrou seu talento nas quadras de basquete, mas moldou a maneira como os jogadores se vestem hoje em dia, em todos os esportes, como tênis, vôlei –dentro e fora da quadra.

O império Air Jordan, agora estimado em 3,6 bilhões de dólares, revolucionou completamente a forma como os jogadores se comercializam, alterando para sempre o mundo das roupas esportivas.

EGO.COM.BR 41 PÓDIO
Walter Iooss

DUNA

DUNA PARTE DOIS: figurino futurista

42 O QUE IMPORTA É COPIAR
Everett por Laura Budin

Superando a bilheteria do primeiro filme em menos de um mês em cartaz, Duna: Parte 2, do diretor Denis Villeneuve, não brilha apenas pelo casting estrelado –com Timothée Chalamet, Zendaya, Florence Pugh, Austin Butler, Anya Taylor-Joy e Léa Seydoux– mas também por seu figurino repleto de referências e contrastes.

A figurinista Jacqueline West retorna de forma magnífica e traz de volta o que ela chama de “mod-eval” –a dualidade entre o moderno e o medieval. Assim como a produção, o roteiro mais rico e aprofundado na história reflete a construção de figurinos mais bem trabalhados e uma estética melhor construída: ‘‘A diferença é que a história realmente evolui e por isso muda o guarda-roupa’’, relatou West em entrevista para a Harper’s Bazaar. O trabalho de pesquisa para o figurino foi de artesãos em Budapeste a joalheiros do Oriente Médio.

A figurinista também confessa ter encontrado inspiração na arte medieval, em pinturas árabes, no Norte da África e no antigo Islã: ‘‘Eles não adotaram a fé islâmica, mas vemos os vestidos como uma combinação de diferentes religiões’’. Além disso, West também olha para as joias Tiffany dos anos 1920 e para a alta-costura dos anos 1950.

Para Paul Atreides (interpretado por Timothée Chalamet), West escolheu abordar um visual com um ar reli-

gioso e sábio onde as capas são as peças chave. Já para Chani (interpretada por Zendaya), a figurinista manteve seu guarda-roupa simples: ‘‘Essa escolha foi para amolecê-la e tirá-la dos stillsuits’’.

Nos figurinos da irmandade Bene Gesserit, West se inspirou particularmente na Rainha de Espadas de um baralho de tarô –não era sobre catolicismo ou islamismo, mas uma junção religiosa que foi traduzida para as roupas das personagens. O figurino de Irulan (Florence Pugh), por exemplo, se destaca pelos acessórios de cabeça feitos por artesãos de Budapeste e referências medievais no vestido de malha e capacete de metal. Já para Lady Jessica (Rebecca Ferguson), West buscou referências nos tecidos usados pela cultura Touareg do Marrocos com muito linho e em cores claras –destaque para a impressão feita à mão por Matt Reitsma do alfabeto Fremen em um de seus trajes. Já os figurinos de Margot (Léa Seydoux) são diretamente inspirados pelos desfiles de alta-costura dos anos 1950 e pela Balenciaga (da época de Cristóbal) e exalam uma estética de realeza. Essas escolhas de figurino não só apeenas conseguiraam complementar a caracterização das personagens, mas também foram enriquecedoras na ambientação do filme, criando uma paleta visual rica e diversificada que reflete a complexidade do universo.

EGO.COM.BR 43 ENREDO Niko Tavernise

O OLHAR DE

E SUA INFLUÊNCIA NA MODA KUBRICK

A INFLUÊNCIA E GENIALIDADE DE STANLEY KUBRICK NA CINEMATOGRAFIA

por Eduarda Bogo foto Mert & Marcus

KUBRICK

Ainfluência e genialidade de Stanley Kubrick na cinematografia são inegáveis. Spielberg, Wes Anderson, Ridley Scott, os irmãos Coen, Christopher Nolan, David Lynch, Guillermo Del Toro e inúmeros outros foram influenciados pelo diretor. O prêmio bafta pelo conjunto da obra leva até o nome de Kubrick, uma prova da reverência que a indústria cinematográfica tem por ele no país.

Colegas de Kubrick e aqueles que seguiram seus passos citam frequentemente sua habilidade incomparável de contar uma história, seu estilo de narrativa meticuloso e da maneira que trabalhava em set. Mas é a estética de seus filmes que é mais frequentemente citada.

O trabalho de câmera, enquadramento, composição se destacam como os elementos mais geniais de sua obra. Uma das técnicas mais características de Kubrick chamado “on point perspective” –enquadramento direciona a visão a um ponto específico da estética singular de Kubrick está no seu apreço pelo enquadramento e pela simetria, que vem de sua obsessão pela fotografia.

46 O QUE IMPORTA É COPIAR
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Campanha da coleção da Gucci inspirada no filme The Shinning de Stanley Kubrick

O INÍCIO DE SUA CARREIRA

Nascido em 1928 e criado no Bronx, Kubrick começou a fotografar no início da adolescência. A partir de então, a fotografia ocupou grande parte de seu tempo e, em 1946, tornou-se aprendiz de fotógrafo da revista LOOK, antes de se tornar fotógrafo oficial da equipe. No final dos anos 40, Kubrick ficou obcecado por cinema e, em 1951, começou a produzir curtas-metragens documentais, filmes que ele podia fazer com um orçamento apertado.

A filmografia de Kubrick engloba várias épocas, desde a hitória da Primeira Guerra Mundial, Guerra do Vietnã, até o futurismo ficcional a dramas de época ambientados em 1800 e filmes de terror psicológico, e é ao longo de 36 anos, de 1964 e 1999, que consuma os trabalhos de maior relevância de Staanley Kubrick.

Desde o início da carreira cinematográfica de Kubrick, as roupas e o design de forma geral foram usadas para enquadrar a percepção do público em relação aos personagens.

2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO

Foi realmente com 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968) que o estilo dos filmes do diretor passou a ser inegavelmente importante. Não é por acaso que 2001 também é considerado o filme esteticamente mais agradável dele, graças à simetria fotográfica e ao uso da cor, mas também a estética e proporção presentes em seus cenários. O futurismo inerente a composição e seus cenários desempenhou um papel importante na fotografia revolucionária do filme, pois a ficção científica apresenta desafios: não sabemos como será o futuro, então como criar algo que pareça atemporalmente futurista?

O filme usa o modernismo arquitetônico como ponto de partida para imaginar um futuro plausível.

Ainda assim, também equipa o seu universo com mobiliário e detalhes especialmente criados para dar a estes quartos um sentido vivido. Kubrick esteve fortemente envolvido com a produção e cenografia, selecionando peças significativas de móveis, atores e figurinos. As cadeiras Djinn vermelhas brilhantes criadas por Olivier Mourge, exibidas com destaque na Estação Espacial Hilton, são os móveis mais notáveis do filme. As mesas de pedestal de Eero Saarinen de 1956, são outro exemplo bem conhecido de design “modernista”. Campanha da

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Stanley
Stanley Kubrick
coleção da Gucci inspirada no filme The Shinning de
Kubrick Campanha da coleção da Gucci inspirada no filme 2001: uma odisseia no espaço de
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A verdade é que Kubrick acabaria prevendo grande parte da tecnologia que conhecemos hoje em dia. À medida que o tempo passou e a humanidade realmente alcançou as estrelas e viajou pelo espaço, tornou-se quase assustador o quão precisas eram as representações do futuro de Kubrick e sua equipe –salientando que se trata de um filme de 1968. Apesar da extensa pesquisa realizada no filme ‘2001’ e das inúmeras horas de conversa que o diretor manteve com especialistas em todas as áreas científicas relacionadas, ainda assim parecia que o cineasta tinha a capacidade sobrenatural de prever o futuro. À luz dos recentes avanços e preocupações relativas à inteligência artificial, as previsões de Kubrick são ainda mais precisas.

No livro de making of do filme, que está repleto de imagens inéditas, destaca-se a tensão central do design do filme: mesmo enquanto Kubrick e sua equipe, incluindo o diretor de fotografia Geoffrey Unsworth e o diretor de arte John Hoesli, criavam

A VERDADE É QUE KUBRICK

ACABARIA PREVENDO GRANDE

PARTE DA TECNOLOGIA QUE

CONHECEMOS HOJE EM DIA

um futuro fictício ambientado no espaço, a nasa estava correndo para colocar um homem na lua. O cenário e os adereços em 2001: Uma Odisséia no Espaço tiveram que ultrapassar dramaticamente a tecnologia emergente, para que a nasa, durante as filmagens no espaço não fizesse a visão de Kubrick parecer desatualizada ou totalmente errada. A solução foi contratar artistas astronômicos, engenheiros aeroespaciais e ex-funcionários da nasa, que prestavam consultoria sobre projetos de naves espaciais, painéis de controle, sistemas de exibição, dispositivos de comunicação e muito mais. Esta consultoria estreita não só criou um sentido de precisão científica, mas também produziu uma série de previsões visionárias sobre as tecnologias futuras da humanidade, todas baseadas em possibilidades reais. Kubrick trabalhou com Hardy Amies, o lendário alfaiate de Savile Row, para criar trajes que fossem inovadores, mas ainda assim enraizado na alfaiataria clássica. O resultado foram roupas modernas, trajes espaciais descomplicados e uniformes simples para os astronautas. 2001 oferece mais um lembrete de que Kubrick via as roupas como outro meio de promover sua narrativa e cinematografia.

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Campanha da coleção da Gucci inspirada no filme De Olhos Bem Fechados de Stanley Kubrick

A capacidade visionária de Stanley Kubrick não só definiu uma era no cinema, mas também continua a influenciar gerações futuras. Sua combinação de estética precisa, inovação tecnológica e narrativa profunda criou um legado que transcende o tempo. Kubrick não apenas previu aspectos do futuro com precisão assustadora, mas também estabeleceu novos padrões na arte de fazer filmes. Suas obras, especialmente 2001: Uma Odisséia no Espaço, permanecem como um testemunho duradouro de sua genialidade e visão incomparável. O impacto de Kubrick vai além das telas, inspirando avanços tecnológicos e reflexões culturais, solidificando seu lugar como um dos cineastas mais influentes da história.

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Campanha da coleção da Gucci inspirada no filme Barry Lyndon de Stanley Kubrick
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REGGAE E JAZZ: nova coleção da No Future

CAMISETAS

Homenageie os seus ídolos musicais com as camisetas estampadas com grandes figuras como John Coltrane e Bob Marley.

Preço: R$189,00

Descrição da peça: Camiseta confeccionada em malha 30.1 peletizada e perfumada. Composição 100% algodão 170GSM. Algodão sustentável com certificação do BCI. Gola com 3cm em ribana. Estampa em plastisol na frente.

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REGGAE

CAMISAS

Elegância e conforto com as camisas da No Future. Perfeitas para o trabalho, lazer ou ocasiões especiais.

Preço: R$289,00

Descrição da peça: Camisa confeccionada em malha com 315GSM. Composição de 70% algodão, 22% viscose e 8% elastano. Algodão sustentável com certificação do BCI. Aplicação de etiqueta bordada do lado direito do peito.

BONÉS

No Future Primavera 23 é uma declaração de estilo, um manifesto urbano que te convida a celebrar a sua individualidade e a se conectar com a cultura que te move. Vista-se com peças que homenageiam grandes nomes como John Coltrane e Bob Marley, ícones que transcenderam barreiras.

Fundada por: Higor Hugo e Thomas Oliveira Ano de criação: 2016

Instagram: @nofuturebrand

SHORTS

Conforto e estilo para o dia a dia com os shorts da No Future. Escolha entre modelos lisos ou estampados, ideais para acompanhar suas camisetas favoritas.

Preço: R$179,00

Descrição da peça: Shorts confeccionado em tecido leve com elastano e recorte frontal. Composição de 88% poliamida e 12% elastano. Cós ajustável com alça. Aplicação de etiqueta bordada na perna direita.

COLETES

O novo colete puffer reversível da No Future é a peça-chave para o seu guarda-roupa.

Preço: R$299,00

Descrição da peça: Colete dupla face confeccionado em tecido sintético matelassado. Lado externo verde com zíper YKK nos bolsos laterais e frontal. Lado interno preto com aplicação de etiqueta bordada no peito e bolsos laterais sem zíper.

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NEW ERA: como tecnologia e cultura se fundem
por Antonio Talarico
NEW ERA

A tecnologia tornou-se uma força motriz por trás da evolução cultural, impactando não apenas a forma como designers e marcas operam, mas também os produtos que criam. O que podemos esperar do próximo passo evolutivo para a moda –e a sociedade?

Para a moda, isso significa encontrar o ponto de encontro entre a rica herança da indústria e as novas fronteiras digitais, reconhecendo que os símbolos de status agora podem ser tão digitais quanto físicos. A moda não é apenas sobre produtos a serem comprados e usados, mas também influencia a conversa cultural mais ampla. Embora seja difícil provar o impacto direto do consumo digital sobre o consumo físico, é claro que a indústria está despertando uma consciência sobre o excesso do consumo de roupas na década que estamos vivendo.

No entanto, surge a questão: até que ponto a próxima geração de criadores e consumidores de moda compreende e valoriza a rica herança física do setor? Uma geração que doi criada e cresceu na era da moda digital corre o risco de perder de vista a história do artesanato, do marketing e da comunicação na indústria? Ou o futuro é uma fusão positiva entre o digital e o físico?

Para responder a essas perguntas, é necessário compreender por que e como a tecnologia se tornou uma força cultural

tão influente. Nas últimas décadas, a tecnologia moldou, interrompeu e permeou a sociedade, influenciando estética, comportamento e opiniões. Isso é especialmente evidente na moda, onde a tecnologia do consumidor impactou o mercado de acessórios, transformando dispositivos em ferramentas de expressão pessoal e criando uma nova forma de moda que mescla funcionalidade digital com estética.

A moda digital está em busca desse espaço, desafiando noções estabelecidas sobre valor, desejo e status. Enquanto os dispositivos tecnológicos, como AirPods e smartwatches, ganham status de luxo, a indústria da moda precisa acompanhar essa mudança de paradigma.

Além disso, a ascensão de subculturas impulsionadas pela tecnologia, como jogos, cosplay e filtros de realidade aumentada, está transformando a paisagem da moda. Essas subculturas, antes marginalizadas, estão se tornando cada vez mais influentes.

A moda do futuro será uma fusão de tradição e inovação, representando de maneira eloquente os valores e aspirações da sociedade contemporânea. Essa combinação harmoniosa se refletirá na maneira como os designers incorporam elementos clássicos e históricos com avanços tecnológicos e materiais modernos, criando peças que são ao mesmo tempo atemporais e futurísticas.

EGO.COM.BR 57 FORECAST Felix Meritis

PEDRO ENTREVISTA COM: ANDRADE

O ESTILISTA PEDRO ANDRADE FOI DESTAQUE NA SPFW, NÃO É DE HOJE QUE ELE É RELACIONADO À INOVAÇÃO E DESIGN.

por Haco foto André Costa

Os estilistas Pedro Andrade e Paula Kim foram destaque recentemente na spfw com a marca P Andrade. No entanto, não é de hoje que ambos são relacionados à inovação, design e estilo. Tanto Pedro quanto Paula estão à frente de marcas consolidadas, ele a Piet e ela a Lapô, entregando a cada coleção o conjunto de elementos do streetstyle, elegância e simplicidade. O resultado do sucesso? Parcerias grandiosas com empresas como Renner, Nike, c&a, nba e Haco. Além disso, Pedro é atualmente embaixador da Haco e contribui para que cada novo lançamento seja único.

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Foto da Jaqueta Curupira Quilted, design por Pedro Andrade desfilada na SPFW. Foto para ELLE MAGAZINE Paisagem pelo fotógrafo yukikumagai e foto promocional do Tênis Masc Mod Teeth Slipon Piet, collab com a OAKLEY.

Fundador e designer da Piet, Pedro Andrade se destacou na moda por unir dois grandes estilos, o streetstyle e a elegância. Pedro cconseguiu ser um grande destaque no spfw, e já produziu várias coleções colaborativas para Nike, c&a e nba

EGO: Você cursava design industrial, mas criou a Piet. Como surgiu a ideia e o processo da identificação da marca?

Sempre tive interesse não só em moda, mas na criação de produtos no geral, mas foi através da moda em que pude encontrar uma maneira mais ‘democrática’ de me expressar e alcançar mais pessoas através das minhas criações.

A Piet nasceu antes de seu próprio lançamento, pois ela era um projeto de faculdade sobre uma marca fictícia. Eu queria que ela me representasse, mas, ao mesmo tempo tivesse um nome simples, jovem e sofisticado. Então, lembrei do meu apelido de infância, e assim surgiu a Piet.

A ideia sempre foi ter uma marca jovem, com a essência que refletisse meus desejos pessoais.

Qual foi o momento que você se deu conta de que o seu nome começou a crescer na moda?

Apesar da marca ter ganhado um espaço relevante no streetwear nacional em seu terceiro ano, acredito que foi em 2017 que eu realmente senti que eu não era mais tão nichado. Foi quando comecei a ter uma exposição global maior, por conta dos projetos colaborativos e materiais em mídias interacionais. mídias internacionais.

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SOU CLIENTE DA HACO DESDE QUANDO A PIET AINDA ERA APENAS UM BEBÊ. QUANDO RECEBI O CONVITE, FIQUEI MUITO FELIZ, POIS SABIA QUE ISSO RENDERIA ÓTIMOS FRUTOS

Paisagem pelo fotógrafo yukikumagai e foto promocional do Moletom Oakley x Piet Moletom Monster Dog Solid Black no modelo Adriano Smith Paisagem pelo fotógrafo yukikumagai e foto promocional do Babuche Frog Pedro Andrade x Rider

Tenho aprendido muito com a Paula ao longo dos últimos anos. Sempre tive a intenção de trazer soluções sustentáveis para a Piet, mas confesso que sempre foi um assunto incrivelmente complexo para implementar em uma empresa que não nasceu sustentável.Hoje, depois de muito estudo e esforço, percebi que ser sustentável se tornou algo básico em nossas empresas. Tudo que fazemos hoje é pensando de maneira sustentável.

No final de 2021 a sua nova marca, a P. Andrade estreou na sp Fashion Week, com a proposta de incorporar a tecnologia no estilo e nos materiais. Como a sustentabilidade ajudou nessa criação e quais os objetivos estéticos da nova marca.

Não é bem que a sustentabilidade “ajuda” nas criações, acho que, na verdade, ela está mais para algo como um dever nosso. Inclusive, muitas vezes, pensar de maneira sustentável torna o processo extremamente mais difícil, mais caro, mais demorado, porém é essencial que haja um entendimento de que isso é nossa nova realidade.Não temos mais tempo para não pensarmos de maneira sustentável e acreditamos que a marca possa ser uma porta voz disso, onde une tecnologia, inovação e sofisticação, sendo o mais sustentável possível sempre.

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Pedro Andrade em seu ateliê para um evento promocional da revista online NOTHESAMO Foto promocional do OAKLEY x PIETÓculos Radar EV Path “Bone/Prizm Trail” para campanha.
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A trajetória de Pedro Andrade e Paula Kim na moda é marcada por uma constante busca por inovação e sustentabilidade. A P Andrade, marca que destacou ambos na SPFW, é um reflexo dessa junção de tecnologia, estilo e consciência ambiental. As colaborações com gigantes do setor, como Renner, Nike e C&A, não só consolidaram suas presenças no mercado, mas também permitiram que eles ampliassem suas visões criativas. Pedro, em particular, destaca a importância das parcerias colaborativas, tanto no enriquecimento da marca quanto no crescimento pessoal e profissional. A relação com a Haco, por exemplo, simboliza essa sinergia entre inovação e sustentabilidade, dois pilares fundamentais para o futuro da moda.

Foto promocional da campanha de verão da PIET. Modelo Adriano vestindo a camiseta Dada Black vestida pelo modelo Adriano Smith. Foto da campanha moda verão PIET.

BORGES

LUCAS BORGES: mente responsável pela Quadro Creations

A Quadro Creations, marca de streetwear fundada em 2017 por Lucas Borges, tem conquistado amantes da moda utilitária e confortável, destacando-se por sua abordagem única, que combina influências do mundo do skate com a moda contemporânea, resultando em peças funcionais e estilosas. A marca também é conhecida por sua estética que mescla elementos vintage com uma abordagem moderna e tecnológica.

A Quadro Creations ganhou reconhecimento ao vestir artistas e perfis de destaque na moda, mas Lucas permanece comprometido com a busca da excelência e da inovação em sua carreira, almejando expandir sua marca globalmente com lojas em São Paulo, Nova York e Paris no futuro.

Atualmente, a marca pode ser encontrada em seu e-commerce próprio e em multimarcas como Working Title.

Abaixo, leia o papo que tivemos com Lucas:

EGO: De onde veio o interesse por moda?

Talvez o interesse por me vestir e consumir/pesquisar determinadas marcas tenha surgido na época do skate, meados de 2008, o que, em algum momento evoluiu para o interesse pelo produto em si. Mais tarde entendi que o produto é um veículo, uma ferramenta de comunicação não verbal, o que duplicou meu interesse.

Qual seu papel como artista na sociedade?

68 O QUE VOCÊ DEVERIA SE IMPORTAR: BRASILIDADES

Abrir caminho para os que virão após atuar como pivô para um novo movimento de arte e moda.

O que você faz?

Eu sou responsável pela pesquisa do tema central de todas as coleções e por brifar o restante da equipe.

Um recado para quem almeja trabalhar na área.

Se você sente esse chamado, se inspira nas tendências e sonha em fazer parte dessa indústria fascinante, tenho uma mensagem para você: tenha certeza, a moda te espera.

Abrace todas as oportunidades.

O que influencia sua estética?

Eu sou muito influenciado pela funcionalidade de artigos de esporte, mas gosto de adaptá-los de maneira casual, tipo um pai ou um professor de faculdade. Muito de vintage, mas muito contemporâneo e tecnologia.

Como suas peças foram destacados?

Acredito que fazendo um trabalho bem feito, em algum momento esse tipo de coisa acontece naturalmente.

E quais seus planos a partir de agora?

Continuar com um trabalho bem executado e consistente, pensando em longevidade e não me acomodando em zonas de conforto.

Qual é o seu projeto dos sonhos?

Três lojas: SP, NY e Paris.

EGO.COM.BR 69 PONTO DE VISTA
André Salvador

TARSILA

70 O QUE VOCÊ DEVERIA SE IMPORTAR: BRASILIDADES
WTNB: desfile e coleção de celebração à Tarsila do Amaral
por Matheus Torres

Desde que deixou a direção criativa da Anacê, a marca co-fundada por ela e Cecília Gromann, em 2022, Ana Clara Watanabe tem se dedicado a uma série de projetos de moda que refletem sua paixão e comprometimento com a indústria. Esse período de transição não apenas marcou uma mudança em sua trajetória profissional, mas também a levou a explorar novas oportunidades e expandir seus horizontes criativos.

Ao deixar o time de estilo da Animale, onde contribuiu por um longo período desde o início de 2022, Ana Clara teve a oportunidade de mergulhar mais profundamente em seu trabalho com a Dod Alfaiataria, focando especificamente no desenvolvimento de camisaria. Essa mudança de foco permitiu-lhe explorar novas técnicas e aprimorar sua habilidade na criação de peças sob medida, enriquecendo ainda mais seu repertório como designer de moda.

Em outubro de do mesmo ano, Ana Clara deu um passo significativo em sua jornada educacional ao realizar uma especialização na renomada Central Saint Martins, localizada em Londres. Essa oportunidade foi concedida a ela por meio de uma bolsa de estudos, destacando seu talento e potencial como designer emergente. A experiência enriquecedora na Central Saint Martins proporcionou-lhe novos insights e inspirações, ampliando sua visão criativa.

Durante sua estadia em Londres, Ana Clara mergulhou na efervescente cena da moda europeia, absorvendo influências e tendências que influenciariam seu trabalho futuro. A cidade cosmopolita e diversificada serviu como um laboratório criativo, onde ela teve a oportunidade de colaborar com designers locais, explorar novos materiais e técnicas, e expandir sua rede de contatos na indústria da moda e arte.

Em agosto de 2023, Ana Clara anunciou o lançamento da wtnb, sua marca de grife autoral, com um foco distintivo em projetos de upcycling e na criação de peças feitas sob medida. Essa iniciativa reflete seu compromisso com a sustentabilidade e a individualidade, enquanto continua a explorar novas formas de expressão através da moda. O lançamento da wtnb marcou o início de uma nova fase em sua carreira, onde ela tem a liberdade de experimentar e inovar sem restrições.

Agora, à convite do Grupo Tarsila e em celebração ao centenário das pinturas de Tarsila do Amaral, Ana Clara decidiu apresentar uma coleção de dez peças que será desfilada no dia 28 de maio no Edifício Martinelli. Este retorno à cena da moda não só representa um marco importante em sua carreira, mas também uma oportunidade de compartilhar sua visão única e sua paixão pela moda com o mundo.

EGO.COM.BR 71
Clara Watanabe
ANTROPOFAGIA

JOVENS

9 JOVENS marcas que estão mudando a moda brasileira

MARTINS

Tom Martins, da Martins, é desse grupo. “Percebi que muitas marcas fazem castings com modelos negras, ou trans, por exemplo, mas não empregam nenhuma minoria”, fala. Para ele, tudo o que aparece na passarela é um reflexo de suas políticas internas, como por exemplo a representatividade de corpos. “Não fazemos só para o desfile, as roupas realmente vestem todo mundo”, completa. “Escolhemos as nossas modelos e, quando vimos, nós tínhamos seis pessoas trans. Isso não foi planejado, percebi que é simplesmente um espelho da minha própria comunidade.”

Fundada por: Tom Martins

Ano de criação: 2016

Preço médio das peças: R$110,00 - 980,00

Instagram: @martins______

MENINOS REI

Para os irmãos Céu e Júnior Rocha, dupla soteropolitana que comanda a Meninos Rei, a única maneira coerente de participar do SPFW é trazendo para perto marcas que também não fazem parte do eixo Rio-São Paulo, como Tsuru, Luana Rodrigues e Ilê de Odé, que assinaram os acessórios do último desfile da grife.

David Lee, diretor criativo da grife homônima que tem sede em Fortaleza, mas que vende em maior escala para a capital paulista, diz não imaginar tirar a sua produção do Ceará. “Quero gerar um impacto positivo na minha cidade, e isso inclui ter a empresa aqui, pagar impostos aqui”, diz. Sua influência vai além: ano passado, foi nomeado embaixador da Escola de Moda da Juventude, uma iniciativa da prefeitura cearense voltada à população periférica.

Fundada por: Céu Rocha e Júnior Rocha

Ano de criação: 2015

Preço médio das peças: R$349,00 - 3000,00

Instagram: @meninosrei

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ATELIÊ MÃO DE MÃE

“Quero gerar um impacto positivo na minha cidade, e isso inclui ter a empresa aqui, pagar impostos aqui”, diz. Sua influência vai além: foi nomeado embaixador da Escola de Moda da Juventude, uma iniciativa da prefeitura.

Fundada por: Céu Rocha e Júnior Rocha

Ano de criação: 2020

Preço médio das peças: R$79,90 - 2990,00

Instagram: @ateliemaodemae

ISAAC SILVA

“Qualquer manifestação política que faço vem de uma verdade muito genuína dentro de mim”, diz Isaac Silva, que homenageou a drag queen Márcia Pantera em sua última coleção, uma celebração da resistência dessa cultura.Para todos eles, a moda é política, seja de maneira mais ou menos explícita. Mônica Sampaio, da Santa Resistência, enxerga isso com clareza: “Todos os segmentos estão reagindo ao momento socioeconômico de alguma maneira, dependendo de seus princípios a remuneração justa.

Fundada por: Isaac Silva

Ano de criação: 2018

Preço médio das peças: R$269,90 - 2999,90

Instagram: @isaacsilvabrand

NAYA VIOLETA

Os meus clientes, as pessoas que fomentam a minha marca, têm valores muito alinhados com os meus, por isso não tenho medo de me posicionar”, diz Naya Violeta, que chamou Sonia Guajajara para fechar o seu desfile no São Paulo Fashion Week com uma bandeira com os dizeres “São Paulo é terra indígena”, em junho passado. “Tenho mais chance de perder dinheiro se não tomar partido do que o contrário. Esse é o lado bom de lidar com um público inteligente”. Ela integrou o Projeto Sankofa: é a primeira grife de Goiás a participar do spfw, ter uma figura indígena na passarela é representativo.

Fundada por: Naya Violeta

Ano de criação: 2007

Preço médio das peças: R$99,00 - 980,00

Instagram: @violetasdanaya

73 MADE IN BRAZIL

VIRGIL

ABLOH:

84 O QUE IMPORTA É SER LEMBRADO
VIRGIL o legado por Gabriel Monteiro

Nascido em 1980, em Rockford, Illinois, Virgil Abloh era filho de imigrantes de Gana, que se mudaram para os Estados Unidos, para fazer a vida. A mãe era costureira e o pai trabalhava em uma fábrica de tintas e, por influência dos dois, Abloh se formou em engenharia pela Universidade de Wisconsin em 2002. Depois, virou mestre em arquitetura pelo Instituto de Tecnologia de Illinois.

Eis que John Monopoly, o então empresário de ninguém mais, ninguém menos que Kanye West, fez a ponte. Ele estava em busca de designers para colaborar com West (que é fortemente atraído por moda) e indicou Abloh.

Abloh tinha 22 anos e começou a trabalhar com West desde os primeiros projetos de roupa do rapper, como a marca Pastelle. Não demorou muito para Abloh virar o diretor criativo do músico. Os olhos do mundo passaram a ficar muito interessados em Abloh, principalmente depois da turnê Watch The Throne em 2011, de Kanye West com Jay ZO, fazendo com que os dois gigantes do rap cantassem bem no meio da plateia (uma criação do próprio Abloh).

Depois, juntos e já bem conhecidos, Abloh e West decidiram fazer um estágio numa casa tradicional de luxo. Foram atrás da Fendi, em 2009, onde conseguiram o emprego, em que ambos levavam muito a sério o trabalho, apesar de ganharem uma bonificação bem reduzida.

Mas é em 2013 que Abloh funda a marca de moda de rua que viraria a maior sensação de streetwear nos últimos tempos: a Off-White. Você provavelmente se lembra dos tênis com lacre de plástico não-removíveis e da bolsa tiracolo, com alça preta e amarela, que lembra as faixas zebradas de trânsito. Praticamente a carteirinha de entrada dos hypebeast A Off-White foi cada vez mais ficando conhecida como uma roupa de alto-padrão. Era o design estadunidense feito em Milão, com a tradição artesanal italiana na produção. Em 2015, a marca foi uma das finalistas do Prêmio lvmh

Em 2018, Virgil Abloh foi convidado pela Louis Vuitton para suceder a Kim Jones na direção criativa do masculino da marca. Assim, o estilista virou a primeira pessoa negra nesse tipo de cargo dentro da centenária marca francesa. Abloh foi um multifacetado artista, arquiteto de ideias e um verdadeiro disruptor. Desafiou normas, quebrou estereótipos e redefiniu o papel do designer no mundo moderno. Sua história inspiradora serve como um lembrete de que o sucesso é alcançado através da paixão.

Portanto, a vida e obra de Abloh são um testemunho do poder da criatividade, da inovação e, acima de tudo, da paixão para impulsionar a mudança e deixar um impacto mais duradouro no mundo e na indústria da moda, assim como na geração futura.

EGO.COM.BR 85 LEGADO
Alice Newbold

TEDDY

TEDDY BOYS: da segunda guerra mundial à subcultura

Originados durante a Segunda Guerra Mundial, os populares Brothel Creepers foram usados pela primeira vez por soldados britânicos que andavam por territórios arenosos e de extremo calor. No entanto, o calçado chegou ao mercado popular nos anos 1950, por meio de George Hamilton Cox, pioneiro do modelo, que comercializava os “creepers” sob o nome de ‘‘Hamilton’’ pela empresa de seu pai.

A SUBCULTURA BRITÂNICA DOS TEDDY BOYS

A partir disso, a famosa e conhecida subcultura da moda nomeada ‘‘Teddy Boys’’ torna-se uma grande ferramenta. Ela serviu para a popularização do modelo internacionalmente. O movimento acabou se difundindo entre vários dos jovens britânicos, marcando uma estética conhecida por readaptar o ‘‘romantismo eduardiano’’, que foi um período entre 1901 e 1910 no Reino Unido de quando a região era comandada pelo rei Eduardo VII –época mais conhecida na moda e na arte como ‘‘Belle Époque’’. Nomeados também de ‘‘Teds’’, os adolescentes de classe trabalhadora fixados por jazz e rock, nasceram no período pós-guerra na Grã-Bretanha e ficaram responsáveis por serem parte raiz de outras subculturas como rock e punk.

Na moda, os Teddy Boys eram conhecidos por usarem blazers de veludo, jaquetas drapeadas, gola alta, camisas

86 O QUE IMPORTA É SER LEMBRADO

de botão e gravatas estreitas, completando seus looks com Oxfords ou sapatos de couro com sola grossa, os então Brothel Creepers. Já nas manchetes da época, os trendsetters eram chamados de ‘‘juventude selvagem’’, grupos temidos pela polícia britânica, que foram lembrados por não apenas usarem os “creepers” como estilo, mas como arma contra o governo, guardando lâminas afiadas nas solas grossas do calçado.

POR TRÁS DA HISTÓRIA

De origem desconhecida, o nome atual dos calçados (Brothel Creepers) foi supostamente originado dos soldados que frequentavam boates londrinas, mas fontes também responsabilizam os Teds pela criação –pois eram chamados de muitos por ‘‘creepers’’, após o lançamento da canção ‘‘The Creep’’ de Ken Mackintosh em 1953. Assim, com o fim dos “Teds”, os “creepers” também deixaram de ser consumidos pelo gosto popular. No entanto, dois períodos marcam o seu comeback para os pés dos jovens ao redor do mundo: anos 1970 e anos 2010. Portanto, os creepers não apenas sobreviveram ao teste do tempo, mas também se reinventaram para se adaptar aos gostos e tendências em constante evolução da moda contemporânea e antiga.

EGO.COM.BR 87 CONTRACULTURA Puma

CORSET: a volta dos corsets

Das amarras da sociedade, tão bem exploradas em Bridgerton –que lança sua nova temporada no próximo mês–, à efervescente semana de moda de Xangai, o retorno dos corsets tem sido mais do que uma mera tendência passageira; tornou-se um elemento marcante tanto nas passarelas quanto na estética ultra-romântica que permeia a moda contemporânea. Esse renascimento do corset é uma demonstração clara da incessante busca da moda por elementos que resgatem o passado e os reinterpretem de forma relevante para o presente.

No Brasil, o último desfile da coleção de Inverno 2024 de Paula Raia trouxe o acessório em releituras menos estruturadas e mais adaptáveis à vida moderna, com amarrações delicadas arrematando saias e vestidos fluídos –um contraste fascinante entre o tradicional e o contemporâneo. É interessante observar como até mesmo a própria Paula incorporou o corset em seu estilo pessoal, usando-o sobreposto a uma t-shirt durante a apresentação, reforçando assim sua presença nas tendências da moda nacional.

Nomes como Shu Shu Tong e Dion Lee também contribuíram para a ressurreição do corset, trazendo suas próprias interpretações da peça em contextos inusitados durante a semana de moda de Xangai. Enquanto Shu Shu Tong optou por uma abordagem de alfaiataria, adicionando uma

88 O QUE IMPORTA É SER LEMBRADO
CORSET

dose de elegância e sofisticação à peça, Dion Lee explorou as possibilidades do tricô, criando corsets modernos e texturizados que combinam perfeitamente com a estética contemporânea de hoje.

Além disso, a banda londrina The Last Dinner Party, emergindo como uma das novas sensações do rock britânico, tem adotado o estilo old-fashion como parte integrante de sua imagem. Em videoclipes e aparições públicas, os membros da banda não apenas incorporam corsets em seus figurinos, mas também os reinventam, adicionando um toque de rebeldia e irreverência à sua estética vintage. Entre as celebridades, o ressurgimento do corset também é evidente. Na última coleção de alta-costura da Maison Margiela, o corset foi reinventado de maneiras surpreendentes e inovadoras, destacando-se como uma peça central em looks deslumbrantes e memoráveis. Além disso, no tapete vermelho do Oscar, tanto Florence Pugh quanto Margot Robbie foram vistas usando releituras de corsets, evidenciando a influência crescente dessa tendência no mundo da moda. E quem poderia esquecer a impactante aparição de Dua Lipa no último Brit Awards, onde ela deslumbrou em um corset de couro assinado pela Chrome Hearts, agregando uma dose extra de atitude e estilo à sua performance contemporânea.

EGO.COM.BR 89 DÉJÀ VU Brooke Fischer Getty

E ESPORTES: O LEGADO OAKLEY

A OAKLEY ULTRAPASSOU A BARREIRA DOS ESPORTES E HOJE É PARTE DO UNIVERSO DA MODA

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OAKLEY

Originalmente criados para surfista e pilotos de motocross, os óculos da Oakley ultrapassaram a barreira dos esportes radicais e hoje fazem parte da moda –um item muito visto pela quebrada até as celebridades. O que antes era um projeto pequeno, idealizado em sua garagem, Jim Jannard o transformou em uma marca mundial e muito adorada. Durante uma viagem de carro, Jim teve a epifania de adaptar uma lente de um goggles de esqui para um óculos de sol. O “Factory Pilot Eyeshade” acabou nascendo e foi projetado especificamente para esportes de alta velocidade. Os óculos atingiram visibilidade mundial quando Greg LeMond venceu o Tour de France em 1985 usando um par. No mesmo ano, a Oakley mudou completamente sua direção ao lançar o primeiro óculos de lifestyle no mercado –o “Frogskin”. Seus designs, diferentes dos clássicos da época, exploravam a estética neon e a combinação com equipamentos de alto desempenho. Seus designs, diferentes dos clássicos da época, exploravam a estética neon e a combinação com equipamentos de alto desempenho.

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Relançamento do modelo “Metal X” Dennis Rodman usando Oakley Pares da linha Oakley “Eye Jacket”

O que antes era um projeto pequeno, idealizado em sua garagem, Jim Jannard o transformou em uma marca mundial e muito adorada. Durante uma viagem de carro, Jim teve a epifania de adaptar uma lente de um goggles de esqui para um óculos de sol.

O COMEÇO

A marca, que começou em 1975 por Jim Jannard, a marca, que começou em 1975 por Jim Jannard, era apenas uma empresa que vendia empunhaduras de guidão em eventos de motocross. Seu investimento inicial de $300 serviria para criar a primeira empunhadura que teria um design orbicular único. Seu investimento inicial de $300 serviria para criar a primeira empunhadura que teria um design orbicular único.

A marca, que começou em 1975 por Jim Jannard, era apenas uma empresa que vendia empunhaduras de guidão em eventos de motocross. Seu investimento inicial de $300 serviria para criar a primeira empunhadura que teria um design orbicular único.

Antigamente, as empunhaduras eram basicamente feitas de plástico, o que acabava tornando o encaixe escorregadio. Assim, Jim acabou desenvolvendo um material chamado de Unobtainium, que ajudou a patentear o “The Oakley Grip” –uma empunhadura de motocross revolucionária.

EXPANDINDO A MARCA

Após alguns anos, Jannard expandiu a Oakley para o ramo de óculos. Seguindo o mercado de motocross, ele desenvolveu o Oakley Goggle –limitado a algumas opções de cores, com plástico de alto impacto, leve e resistente. No entanto, eles ainda precisavam de ajustes.

Agora focando no mercado de BMX, Jim e uma equipe de vendas começaram a distribuir os goggles para os melhores pilotos de BMX. Porém, ao invés de usá-los, eles apenas deixavam os óculos sob seus capacetes. Isso foi uma jogada de marketing essencial que, sem querer, tornou os goggles desejáveis. Já em 1983, a Oakley resolveu abranger os óculos de esqui e snowboard, com o “The Frame”, com design semelhante das linhas de motocross.

OS ÓCULOS DE SOL

Durante uma viagem de carro, Jim teve a epifania de adaptar uma lente de um goggles de esqui para um óculos de sol. O “Factory Pilot Eyeshade” acabou nascendo e foi projetado especificamente para esportes de alta velocidade.. Os óculos foram capazes de atingir uma visibilidade mundial quando Greg LeMond venceu o Tour de France em 1985 usando um par.

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Ado Bolton usando Oakley James Davis para a Oakley “Kato” Tasha Okereke para a Oakley x Piet

Durante uma viagem de carro, Jim teve a epifania de adaptar uma lente de um goggles de esqui para um óculos de sol. O “Factory Pilot Eyeshade” acabou nascendo e foi projetado especificamente para esportes de alta velocidade. Os óculos atingiram visibilidade mundial quando Greg LeMond venceu o Tour de France em 1985 usando um par. No mesmo ano, a Oakley mudou completamente sua direção ao lançar o primeiro óculos de lifestyle no mercado –o “Frogskin”. Seus designs, diferentes dos clássicos da época, exploravam a estética neon e a combinação com equipamentos de alto desempenho acima de tudo. Ao adquirir uma impressora 3D em 1992, a Oakley revolucionou o design da época, sendo a única marca de sportswear a investir na tecnologia. Ao adquirir uma impressora 3D em 1992, a Oakley revolucionou o design da época, sendo a única marca de sportswear a investir na tecnologia. O modelo “Eye Jacket” foi o primeiro óculos a ser projetado com CAD e em uma impressora 3D. Com uma forma mais arredondada, o modelo adentrava a nova década.

UTILIZA TÉCNICAS AVANÇADAS DE PRODUÇÃO, COMO A IMPRESSÃO EM 3D E O CORTE

A LASER, PARA CRIAR PEÇAS ÚNICAS E EXPERIMENTAIS

O lançamento do modelo em 1994 fez a empresa explodir e sair do ramo de esportes radicais para o caminho de óculos de sol obrigatórios da época. A Oakley se tornou mainstream com a iniciativa de Jannard de colocar Michael Jordan como o rosto da campanha do Eye Jacket. A Oakley se tornou mainstream com a iniciativa de Jannard de colocar Michael Jordan como o rosto da campanha do Eye Jacket. Com fotos do próprio Jim, a nova estética era elegante e orientadas para o produto.

Nos anos 90, a Oakley já começou a invadir o mundo da televisão: Tom Cruise e o Oakley Romeo em ‘Missão Impossível 2’; Wesley Snipes e o Fours em ‘Blade’; Brad Pitt e o Mars em ‘Clube da Luta’. Obviamente, os ícones dos esportes continuavam a usar os óculos de sol tão queridos –Dennis Rodman popularizou mais ainda os novos modelos que estão por vir.

Os óculos da Oakley, inicialmente concebidos para surfistas e pilotos de motocross, transcenderam os esportes radicais para se tornarem um ícone da moda, adotados tanto por comunidades locais quanto por celebridades. O que começou como um projeto humilde na garagem de Jim Jannard evoluiu para uma marca globalmente adorada. A visão de Jannard durante uma viagem de carro, de adaptar uma lente de goggles de esqui para óculos de sol, levou ao nascimento do “Factory Pilot Eyeshade”, projetado para esportes de alta velocidade. Este modelo ganhou visibilidade mundial quando Greg LeMond venceu o Tour de France em 1985 usando um par.

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Simon Dube usando Oakley “Eye Jacket”

A trajetória da Oakley reflete uma combinação de inovação e visão de mercado que transformou a marca de um projeto de garagem em um ícone global. O lançamento dos "Factory Pilot Eyeshade" e "Frogskin" não apenas diversificou o portfólio da Oakley, mas também solidificou sua presença tanto no esporte quanto na moda. A introdução de tecnologias avançadas, como a impressão 3D para o modelo "Eye Jacket", exemplifica o compromisso da Oakley com a inovação. Com parcerias estratégicas e presença em filmes icônicos dos anos 90, a Oakley não apenas se tornou mainstream, mas também redefiniu os padrões de design e funcionalidade nos óculos de sol. Hoje, a marca é sinônimo de qualidade e estilo, usada por atletas, celebridades e pessoas comuns, destacando-se como um símbolo de performance e elegância.

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Danny Borchers para a BERLIN BRAVES

DIOR À MAISON,

100 O QUE IMPORTA É SER LEMBRADO
John Galiano
GALIANO
por João Esteves

Estilista inglês, considerado um dos nomes mais importantes da indústria, levantou a Dior, foi cancelado e retornou à moda de forma triunfante.

John Galiano nasceu em 28 de novembro de 1960 em Gibraltar, no filho de encanador e dona de casa. A paixão por roupas veio de sua mãe, que adorava vestir crianças e usar lindos vestidos. Mais tarde, a família mudou-se para Londres, onde Galiano ingressou na Central Saint Martins College of Art and Design. O desfile de sua coleção de formatura foi um triunfo –no dia seguinte ao desfile, sua coleção inspirada no grotesco francês estava exposta nas vitrines da extinta loja de departamentos Browns. A primeira compradora foi a cantora Diana Ross –ela comprou um colete do recém-nascido gênio da indústria da moda, que ainda tinha muito para mostrar.

Durante os estudos, Galiano trabalhou no Teatro Nacional, o que acabou influenciando muito suas futuras coleções, que muitas vezes contêm elementos de trajes teatrais. O designer uma vez disse repetidamente que em sua juventude frequentou muitas casas noturnas e sua aparência extravagante foi moldada por sua intensa vida nos clubes das ruas de Londres.

O CONVITE PARA ASSUMIR A DIREÇÃO

CRIATIVA

GIVENCHY E LOGO DEPOIS, A DIOR

Em 1995, foi escolhido por Bernard Arnault, proprietário da LVMH, para ser o novo director criativo da Givenchy. John Galiano foi o primeiro britânico a assumir o controle criativo de uma casa de moda francesa.

Passado dois anos, Bernard Arnault pediu para que ele levasse sua excentricidade inglesa para a Christian Dior, que naquela época encontrava-se em decadência. Galiano também mantinha a sua própria marca homômina que acabou sendo comprada pelo conglomerado de Arnault. Galiano passou a lançar 12 coleções por ano à frente da casa francesa. Sob sua visão, a Dior realizou desfiles espetaculares em que o céu era o único limite com as coleções exuberantes, exageradas e riquíssimas (e caríssimas).

A QUEDA

Em 2011, em estado de embriaguez, Galiano foi filmado num bar em Paris fazendo declarações antisemitas. Ele acabou demitido da Dior e mais tarde processou o ex-empregador. Depois disso, a carreira de John Galiano passou por momentos difíceis.

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ISSEY MIYAKE & ARVIN PENN:

102 O QUE IMPORTA É SER LEMBRADO
TOKYO
Tokyo para Vogue por Polina Scherer

No mundo da moda, do design, da fotografia e até da arquitetura, Issey Miyake é uma figura emblemática que transcende fronteiras e categorias, incorporando uma multiplicidade de valores e influências que refletem a rica tapeçaria cultural do Japão. Sua obra não se limita apenas à inovação técnica ou ao ludismo estético, mas é um testemunho de uma profunda compreensão da essência da criatividade e da colaboração como forças que impulsionam a expressão humana e corporal.

A ASCENSÃO DE IRVING PENN

Nascido em 1917, filho de imigrantes judeus russos em Nova Jersey, Penn frequentou a Escola de Artes Industriais do Museu da Filadélfia, onde estudou com o lendário fotógrafo e diretor de arte da Harper’s Bazaar, Alexey Brodovitch. Embora inicialmente quisesse ser pintor, Penn acabou trabalhando para a Vogue e rapidamente se tornou uma referência em retratos, fotografando ícones como Salvador Dalí, Sophia Loren, Yves Saint Laurent, Pablo Picasso, Duke Ellington, Louis Armstrong; assim como naturezas-mortas. É impossível mencionar fotografia de natureza morta sem mencionar Irving Penn - um mestre em criar narrativa, dinamismo e intriga em objetos, é aqui que o olhar único de Penn está em plena força.

UMA HISTÓRIA DE INSPIRAÇÃO MÚTUA

Na época em que Miyake frequentava a Universidade de Tama Art em Tóquio, Penn já era um fotógrafo de moda renomado, na verdade, Miyake credita a Penn uma forte influência já naquela época. O que se seguiu ao seu primeiro encontro foi o que provavelmente deveríamos chamar de destino em ação. À medida que Miyake e Penn começam a trabalhar juntos, cada um fornece a essa colaboração uma experiência e filosofia de vida sem paralelo. Não querendo interferir no processo de Penn, Miyake permaneceu em Tóquio e deu a ele todo o suporte de sua equipe, enquanto Penn desenhava e se preparava para fotografar os designs assim que chegavam.

Ao refletirmos sobre o legado de dois ícones como Issey Miyake e Irving Penn, sua colaboração se ergue como um farol de beleza, inovação e o poder transformador da sinergia criativa. Esses dois visionários da moda e da fotografia, embora pertencentes a diferentes esferas artísticas, compartilham uma compreensão profunda da importância da colaboração e da interdisciplinaridade.

A sinergia criativa entre Miyake e Penn transcendeu os limites da moda. O legado desses dois mestres é uma inspiração para todos que buscam romper barreiras e criar algo novo e extraordinário.

EGO.COM.BR 103 FUSÃO
eu.louisvuitton.com

ECO

ECO COURO realmente existe?

Se no passado as roupas confeccionadas com tecido de origem animal eram uma das poucas opções do mercado, atualmente já existem opções de couro ecológico fabricado com insumos vegetais e tecnológicos.

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (abnt), o couro é um “material oriundo exclusivamente da pele animal, curtida por qualquer processo constituído essencialmente de derme”. Ou seja, conforme a Lei 4888/65, é proibido o uso da palavra, mesmo que modificada com prefixos ou sufixos, para denominar produtos de origem diferentes dos comuns.

“A Lei 4.888 de 1965 proíbe a utilização do termo ‘couro’ para materiais de origem não animal. Na prática? Acaba se tornando um termo de identificação do material e a qualidade do produto. Também se encontra no mercado o nome Corino para denominar este tipo de produto”, explica a stylist brasileira Stephanie Wengerkiewicz.

O COURO ECOLÓGICO É BOM PARA O MEIO AMBIENTE?

Criado em 1950 pelo químico alemão Otto Bayer, o tecido foi desenvolvido como uma alternativa mais barata ao couro legítimo. A invenção utilizava como matéria-prima polímeros de poliuretano, eliminando a necessidade de explorar animais para confeccionar roupas. Apesar de o

104 O QUE REALMENTE IMPORTA

corino sintético substituir os tecidos de origem animal, existem materiais que são prejudiciais à natureza.

Bolsas e acessórios podem ser fabricados com polipropileno, enquanto as roupas costumam adotar o polivinílico como matéria-prima. Ambos são derivados do petróleo, insumo poluente e não-renovável.

No entanto, entre as imitações de couro, já existem esforços para criar tecelagens mais sustentáveis. O couro ecológico pode ser fabricado a partir da borracha vegetal ou de fibras de frutas como abacaxi, maçã e uva, com opções de tecido vegano.

O COURO LEGÍTIMO TAMBÉM NÃO É ALIADO DA SUSTENTABILIDADE

Apesar da alta durabilidade, o tecido fabricado a partir de pele animal pode gerar impactos negativos para o ecossistema. Na fabricação das peças é utilizado o cromo, um metal pesado e considerado tóxico. Em temperatura ambiente, o produto é utilizado para pigmentar e dar brilho ao couro tradicional.

A coordenadora de moda aponta que as principais diferenças entre os materiais estão no preço e na qualidade. “O couro sintético traz acessibilidade a um produto que o mesmo em animal custaria mais que o dobro do mesmo.

EGO.COM.BR 105 ECODRAMA Getty Image

ETICA

A MODA ÉTICA: materiais e volumes de produção

A moda busca transparência a tempos. A organização sem fins lucrativos Fashion Revolution lançou seu primeiro Índice de Transparência da Moda em 2016, como parte de sua contribuição para dissipar a falta de clareza, negligências e graves violações do dever de cuidado que se acumularam antes do colapso da fábrica da Rana Plaza em 2013. O número de marcas no escopo do Índice saltou de 40 para 250 em menos de uma década, demonstrando uma demanda crescente por visibilidade da cadeia de suprimentos em todos os níveis da moda, do luxo ao mercado de massa. O apetite das marcas para fornecer essa visibilidade, no entanto, não é tão grande, já que apenas 61% das 250 marcas contatadas participaram de fato do Índice de 2023, que é o relatório mais recente do órgão.

Esse impulso contínuo pela transparência da Fashion Revolution e de organizações como essa sem dúvida moveu a agulha ao longo do tempo. Mas com cada vitória –listas de fornecedores de nível 1 aparecendo em sites de marcas ou divulgações em prol dos direitos humanos, por exemplo–surge uma nova faceta da indústria que ongss, ativistas e, cada vez mais, formuladores de políticas e legisladores estão determinados a desmistificar, desvendar e regulamentar. Nesse contínuo redesenho das linhas de batalha, duas áreas-chave estão emergindo como as novas fronteiras da

106 O QUE REALMENTE IMPORTA

transparência na moda: honestidade material e volumes de produção. Os primeiros campos de interesse, como dados de salário-mínimo, mapeamento da cadeia de suprimentos e reformulação das práticas de compra, focavam principalmente em questões sociais - nas quais a indústria fez progressos decepcionantemente limitados. Essas duas novas fronteiras, no entanto, voltam os holofotes para o impacto da seleção, utilização e rendimento de materiais - e os detalhes granulares de como o planejamento se traduz em produção. É uma mudança natural de rumo por parte de ativistas e formuladores de políticas, já que o crescente fardo físico da produção irresponsável se tornou evidente para todos no mundo.

Afinal, podemos dizer que roupas não são peças homogêneas. Elas tem várias texturas e propósitos dependendo do material: podem ser rendadas, sedosas, felpudas, de malha, tricotadas, macias, elásticas, veganas, recicladas, impermeáveis –tudo isso é muito descritivo quando se trata de tomar alguma decisão de compra, mas não particularmente preciso da perspectiva da transparência.

Além disso, há uma crescente conscientização sobre os materiais utilizados na fabricação de roupas e seu impacto no meio ambiente e na sociedade. Roupas podem ser feitas de materiais veganos.

EGO.COM.BR 107 TRANSLÚCIDO Danni Pujalte
108 O QUE REALMENTE IMPORTA
20 ANOS: cada estilo,
TRENDS A CADA
cada era
TRENDS

A sensação agora é de que todas as tendências e referências estão ocorrendo simultaneamente, especialmente desde 2020 e intensificando-se em 2022 pós-lockdowns. Microtendências surgem organicamente no TikTok, onde usuários descrevem estilos ou estéticas agrupadas, criando uma espécie de “vibes” modernas. A moda está se inspirando em todas as subculturas, a música não está mais restrita ao domínio do pop e do hip-hop, e as tendências estão se movendo mais rápido do que nunca.

Simon Reynolds, em seu livro “Retromania” de 2010, argumenta que a cultura pop contemporânea está obcecada com seu próprio passado recente. Antes, as tendências de cultura pop levavam cerca de 20 anos para retornar, mas agora isso acontece em intervalos muito mais curtos, de cinco a dez anos. Hoje em dia, parece que todas as décadas são referenciadas o tempo todo.

Essas tendências são desorientadoras e estão em toda parte, com ciclos de vida cada vez mais curtos. Isso coincide com a chegada à idade adulta da geração WW dos anos 2000, que cresceu imersa nesse mundo retrô. A acessibilidade instantânea à cultura significa que as tendências perdem parte de seu contexto original, quase vazias de significado.

A rápida rotatividade das tendências é alimentada pela moda rápida, apesar de seu impacto ambiental devasta-

dor. A sociedade atual está imersa na era da informação, passando cada vez mais tempo online, o que contribui para essa cultura de referências rápidas e desprovidas de profundidade e singularidade.

No entanto, esse fenômeno também reflete uma sensação de falta de sentido e nihilismo em nossas vidas, agravada pela consciência das mudanças climáticas e da incerteza em relação ao futuro. Em vez de criar algo completamente novo, nos apegamos ao familiar e nostálgico, buscando conforto em tempos turbulentos.

Resumindo, estamos presenciando uma saturação de tendências que ocorrem em um ritmo frenético, impulsionadas pela rápida circulação de informações e pela necessidade de conforto e familiaridade em um mundo incerto.

A rápida rotatividade das tendências é um reflexo complexo da nossa sociedade contemporânea, marcada pela era da informação, pela busca por conforto em tempos incertos e pelo impacto da moda rápida. É preciso questionar essa cultura do “descartável” e buscar um equilíbrio entre a inovação e a sustentabilidade. Nesta era da informação instantânea e da conectividade digital, somos constantemente bombardeados com imagens de celebridades, influenciadores e modelos desfilando as últimas tendências nas passarelas, nas redes sociais e nas capas de revistas.

EGO.COM.BR 109
Emma Mcintyre
FAST FASHION

DESIGN EM MULHER criado por homens e mulheres

110 O QUE REALMENTE IMPORTA
MULHER
por Camila Yahn

Recentemente os desfiles da Saint Laurent e Chloé polarizaram o público da moda por evidenciarem a diferença entre o design feminino criado por homens e mulheres. O ponto central da discussão é como o corpo feminino é revelado através de transparências, comprimentos e recortes nas roupas.

De um lado, a Saint Laurent recebeu críticas duras por apresentar uma coleção que erotiza a mulher com uma série de looks transparentes e ultra colados, exibindo o corpo (em especial os seios) de uma forma glamourosa à la anos 1920, porém irrealista.

“O que quer que fosse, era colante e transparente. Dos 48 looks balançando em saltos agulha no desfile de Saint Laurent, apenas 12 não tinham seios em destaque (e desses 12, três eram minivestidos com cintas-ligas)”, escreveu Vanessa Friedman no New York Times.

Do outro, temos a Chloé e sua nova diretora criativa, a alemã Chemena Kamali, que estreou nesta temporada com uma coleção que acordou a maison francesa, adormecida desde que Phoebe Philo saiu, em 2006, trazendo de volta o espírito original da mulher Chloé –aguarde um boho core forte no horizonte.

Também há transparências no desfile da Chloé que revelam o peito por baixo de blusas e vestidos delicados, mas

aqui parece ter outra conotação. A roupa está a serviço da mulher e não o contrário. É uma escolha colocar uma camisa ou um vestido solto sem sutiã, que parece partir de um pensamento de liberdade e expressão que ganhou forca nos anos 1970 com o movimento hippie.

A visão de Vaccarello pode ter um efeito estético na passarela, mas é muito distante da realidade e ainda mais afastada da vivência real enquanto mulher. Me parece uma coleção alienada e que não considera a mulher em nenhum momento. É a moda pela moda, o glamour a qualquer custo, onde a mulher é retratada como uma musa e não como uma pessoa. Mas estamos em 2024 e a evocação da musa hoje também ganhou outros contornos.

A imposição de padrões de beleza inatingíveis é uma característica marcante da imagem feminina na moda, passando pela representação limitada de tipos de corpo que contribui para uma visão distorcida da autoimagem. E a influência masculina colabora para a perpetuação desses padrões que excluem as mulheres que não se encaixam nos estereótipos preestabelecidos. Essa representação limitada de tipos de corpo não apenas promove uma visão distorcida da autoimagem, mas também perpetua uma cultura de exclusão e marginalização para as mulheres que não se encaixam nesses estereótipos preestabelecidos.

EGO.COM.BR 111 ROUPA NÃO TEM GÊNERO
Getty Images

RACISTA

MUNDO DA MODA: uma indústria racista

O mundo da moda prometeu abraçar a diversidade após os protestos do Black Lives Matter em 2020 e então depois do evento, uma série de incidentes racistas na indústria. Para verificar se houve mudança, uma investigação buscou números concretos sobre representatividade racial em equipes executivas, conselhos administrativos, funcionários, campanhas publicitárias e nas passarelas, prateleiras e capas de revistas. Foram analisadas 64 marcas influentes, 15 grandes lojas de departamento, e revistas como Vogue, Harper’s Bazaar, Elle e InStyle.

As respostas obtidas variaram em transparência e completude. Enquanto algumas marcas como Tory Burch e Coach responderam completamente, outras ofereceram respostas parciais ou se recusaram a participar. Algumas empresas europeias citaram leis de privacidade como impedimento para fornecer informações.

A falta de números abrangeu não apenas a representação racial, mas também outras formas de diversidade. Enquanto algumas marcas estão fazendo esforços para coletar dados demográficos e formar planos de ação, os obstáculos vão além de questões legais e incluem a redução da força de trabalho durante a pandemia.

Apesar das dificuldades, iniciativas como o 15 Percent Pledge e o Black in Fashion Council têm pressionado por

112 O QUE REALMENTE IMPORTA

mudanças, destacando a importância dos dados na medida do progresso. Ainda assim, marcas de propriedade negra muitas vezes são marginalizadas devido a falta de apoio financeiro dos bancos.

Houve lampejos de mudança, especialmente em plataformas como capas de revistas, campanhas publicitárias e desfiles de moda, que têm adotado mais diversidade. Além disso, muitas marcas estão aumentando seu compromisso financeiro com instituições historicamente negras e programas de mentoria para promover uma força de trabalho mais diversificada.

No entanto, a indústria da moda continua enfrentando desafios para alcançar uma verdadeira representatividade e inclusão em todos os níveis, devido a obstáculos legais, financeiros e culturais. O caminho para a mudança requer não apenas promessas, mas também ações concretas e medidas transparentes de progresso. Embora a indústria da moda tenha feito progressos nos últimos anos em direção à representatividade e inclusão, ainda há um longo caminho a ser percorrido.

Embora a indústria da moda tenha feito progressos significativos nos últimos anos em direção à representatividade e inclusão, é claro que ainda há um longo caminho para a mudança, que requer não apenas promessas vazias.

EGO.COM.BR 113 QUEM A MODA ALCANÇA
Dana Scruggs

COURO

6 ALTERNATIVAS mais sustentáveis ao couro

TÔMTEX, FEITO A PARTIR DE CONCHAS DE FRUTOS DO MAR E GRÃOS DE CAFÉ

Usando resíduos de conchas de frutos do mar e grãos de café que seriam descartados, a designer vietnamita Uyen Tran conseguiu desenvolver um material chamado Tômtex, capaz de replicar o couro, a borracha e até o plástico. Flexível, o tecido também consegue imitar outros tipos de peles animais.

Criado por: Uyen Tran

Ano de criação: 2020

Instagram: @yentrangnguyen

PIÑATEX, FEITO A PARTIR DE FOLHAS DE ABACAXI

Criada em 2013, a empresa Ananas Anam é a produtora do Piñatex, uma das alternativas ao couro animal mais famosas no mercado. O material sintético é feito a partir de fibras das folhas de abacaxi, que normalmente seriam descartadas, em produções já existentes. A empresa foi fundada por Carmen Hijosa, uma especialista em couro que percebeu os impactos ambientais da produção do couro animal enquanto fazia um trabalho de consultoria nas Filipinas. O produto já foi usado por marcas como Hugo Boss e H&M. O produto já foi usado por marcas como Hugo Boss e H&M.

Criado por: Ananas Anam

Ano de criação: 2013

Instagram: @ananas.anam

DESSERTO”, FEITO A PARTIR DE CACTOS

Uma dupla de méxicanos desenvolveu um couro vegano feito de cactos. O Desserto, como é chamado o projeto, não leva produtos químicos tóxicos e é parcialmente biodegradável para o mundo.

Criado por: Adrián López e Marte Cázarez

Ano de criação: 2019

Instagram: @adrianlopez__ @martecazar

114 O QUE ALGUÉM SE IMPORTOU

“MYLEA”, FEITO A PARTIR DE COGUMELO

Uma startup da Indonésia chamada Mycotech criou uma pequena coleção de relógios feitos de cogumelos. Com aparência semelhante ao couro da vaca, o objeto foi desenvolvido em parceria com o relojoeiro

Pala Nusantara e ganhou o nome de Pala X Mylea. O acessório foi criado com o biocouro batizado de Mylea, um material desenvolvido pela marca a partir do micélio do cogumelo.

Criado por: Mycotech

Ano de criação: 2019

Instagram: @mycotechagroasia

PALM LEATHER, FEITO DE FOLHAS DE PALMEIRA

O designer holandês Tjeerd Veenhoven é o criador do Palm Leather, uma alternativa vegana ao couro animal feita a partir de folhas da palmeira-areca. Para o processo de produção, são usados exclusivamente ingredientes não tóxicos à saúde humana. O resultado final pode ser usado na fabricação de uma ampla gama de itens, como capas de livros, bolsas, e até tapetes!

Criado por: Tjeerd Veenhoven

Ano de criação: 2019

Instagram: @studiotjeerdveenhoven

“MYLO”, TAMBÉM PRODUZIDO A PARTIR DE COGUMELOS

Outra alternativa criada foi um couro produzida a partir de cogumelos é o Mylo, um material que uniu alguns dos grandes nomes do mundo da moda em uma parceria inédita. O biomaterial promete imitar quase perfeitamente a textura e a aparência do couro animal. Além disso, ele vem com o diferencial de não utilizar nenhum tipo de plástico ou PVC.

Criado por: Sustentability Indusries

Ano de criação: 2018

Instagram: @industries__mylo

EGO.COM.BR 115 ALTERNATIVAS

LATINOS ocupam novos lugares na moda

Adrian Appiolaza fez seu debut na Moschino, no qual o argentino virou o nome da vez, não só por substituir Jeremy Scott –responsável por manter acesa a curiosidade de uma nova geração na marca–, como por ser um latino à frente de uma casa europeia.

O desfile em si foi bem interessante, com um humor menos Instagramável e mais contido, nota-se que Appiolaza olhou bastante para os arquivos e propôs algo divertido e inteligente bem aos moldes do que Franco, fundador da marca, faria: conside em uma alfaiataria descomplicada, elementos pop, um quê de o aspecto de surrealismo e até um ar ufanista.

Essa estreia nos fez pensar sobre o crescimento e posições de destaque que vêm sendo ocupadas por nomes latinos no mercado internacional. Poucos sabem, mas Gabriela Hearst é latina (Uruguaia!) –a presença da escola de samba Mangueira, em sua saída da Chloé, se deu por conta da sua veia latino-americana.

Haider Ackermann e Esteban Cortazar são dois colombianos que fizeram seu nome para além dos trópicos, assim como o dominicano Fernando Garcia (Monse e Oscar de La Renta). Willy Chavaria e Raul Lopez (Luar), ambos de

116 O QUE ALGUÉM SE IMPORTOU
LATINOS

ascendência latina, vem transformando a nyfw

O Brasil mesmo viveu um ótimo momento nos anos 2000 com criadores desfilando internacionalmente: Alexandre Herchcovitch, Fause Haten, Osklen e Rosa Chá –quando ainda era uma marca de biquínis e Francisco Costa à frente da Calvin Klein são ótimos exemplos.

Pedro Lourenço foi outro talento proeminente –com passagem pela La Perla e marca própria, a Zilver, estabelecida em Londres. E, antes deles, Ocimar Versolato assinou para a Lanvin, no final dos anos 1990.

Atualmente duas brasileiras vem construindo suas trajetórias internacionais e fazendo o mundo olhar para nós de uma nova forma: a veterana Patrícia Bonaldi, na nyfw, e a newcomer Karoline de Vitto, na lfw

Há, como sabemos, ainda uma série de limitações socioeconômicas que intimidam esse avanço quando comparado, por exemplo, ao número de designers asiáticos nas semanas de moda internacionais. Mas é interessante observar esse crescimento. Que eles abram portas para que mais profissionais de origem latina possam conquistar mais posições de destaque na moda global pois com certeza temos talento de sobra.

EGO.COM.BR 117 HOLOFOTE
Dragone
Salvatore

A TECNOLOGIA POR TRÁS DO CORSET VITORIANO

O corset é feito de seda, barbatanas, renda feita à máquina e fabricado na França ou na Grã-Bretanha, em 1864.

processo de fabricação

Para a confecção, é escolhido um tecido parao exterior e outro para o forro; Forros sintéticos como cetim proporcionam conforto, enquanto o algodão é preferível para quem transpira mais.

MODELAGEM E CORTE

O estilista cria moldes a partir do desenho da peça, cortando o tecido conforme as medidas definidas e utilizando máquinas adequadas para evitar desfiamento ou buracos.

COSTURA E ESTRUTURAÇÃO

Barbatanas são aplicadas para estruturar o tecido, suas pontas são arredondadas e inseridas nas canaletas, seguidas pela costura.

ACABAMENTO E PREGAR ILHÓS

Costure o forro de algodão para um acabamento limpo, adicionando rendas ou fitas. Escolha entre fecho de correr ou ilhós para o fechamento, sendo os ilhós inseridos na parte frontal para cordões.

CONFERIR MEDIDAS

Conferir as medidas garante o ajuste preciso e o conforto necessário para a peça. Essa etapa assegura não apenas a qualidade do produto final, mas também a satisfação e bem-estar do usuário.

TECIDO

Esse modelo é feito de seda azul adornado com uma faixa de renda feita à máquina. Outros materiais comuns da época eram o cetim, o algodão e o linho, complementados por materiais de reforço, como barbatanas de baleia. O cetim e a seda eram preferidos por sua suavidade e luxo, enquanto o algodão e o linho proporcionavam durabilidade, conforto e segurança.

OSSOS

Esse modelo de corset é reforçado com barbatanas de baleia. Esse material era um componente essencial dos corsets, fornecendo rigidez e suporte para modelar a figura feminina de acordo com os padrões de beleza da época. Nos modelos atuais esse material foi substituido pelo aço inoxidável.

BUSK

Os busks são o fechamento frontal que foi inventado em 1830, o busk facilitou a vestibilidade, permitindo que se vestisse o corset sem auxílio. Por ser de aço, suporta a pressão e ajuda na estruturação do corset.

ILHÓS E AMARRAÇÃO

Os “Ilhós” são pequenos anéis metálicos usados em diversos produtos têxteis. Nesse corset eles são feitos de metal e usados de suporte para a amarração de renda, que ajuda no suporte e na fechamento da peça assim como os “busks”.

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1550: HOMENS E MULHERES COMEÇAM A USAR CORSET PARA MODELAR A SILHUETA POPULARIZAÇÃO DO USO DE CORSETS NA EUROPA E INÍCIO DE UMA TENDÊNCIA DURADOURA 1660: CORSETS COMEÇAM A INCLUIR O USO DE BALEIA (OSSOS DE BALEIA) NA SUA ESTRUTURAÇÃO 1780: CORSETS SE TORNARAM MAIS ELABORADOS E DECORATIVOS 1650: CORSETS SE TORNARAM POPULARES ENTRE AS MULHERES DA NOBREZA NA EUROPA 1500 1600 1720 1770

https://collections.vam.ac.uk/item/O15546/corset-unknown/

ERA VITORIANA

119 irisvanherpen.com 1910: MUDANÇA GRADUAL PARA ROUPAS MAIS LEVES E FLEXÍVEIS. DECLÍNIO DO CORSET
1800 1890 1850 1900 1920
AUGE DO USO DOS CORSETS

DESIGNER RECONSTRUINDO TECIDOS HANA

COMO A DESIGNER HANA YAGI

ORQUESTRA SUA PRÓPRIA SINFONIA

Numa indústria dominada pelo pulso da moda rápida e produção em massa, é muito comum ser levado pela correnteza. Então, como a designer de 24 anos, Hana Yagi, orquestra sua própria sinfonia, uma que harmoniza com os princípios da sustentabilidade e da arte consciente?

VOCÊ PODE NOS DAR UMA BREVE INTRODUÇÃO SOBRE VOCÊ?

Eu nasci em Tóquio em 1999. Estudei arte no ensino médio e depois segui moda em uma escola independente de moda chamada “coconogacco”. Em 2019, me tornei finalista em um concurso de moda chamado “International Talent Support”. Atualmente, atuo como designer de moda e artista, criando coleções que expressam minhas raízes e temas que me interessam. Ao trabalhar sob encomenda, crio figurinos para artistas, itens exclusivos feitos à mão e vestidos de noiva sob medida. Meu trabalho envolve principalmente a desconstrução e reconstrução de quimonos antigos e vestidos de noiva de segunda mão para criar peças únicas.

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Conceito de lookbook do vestido vermelho da coleção Retalhos de Hana Yagi. Campanha de todas as roupas da coleção up da modelo com tinta no rosto e usando o chapéu da coleção, imagem conceito da coleção Retalhos de Hana

COMO QUE SEU PROCESSO CRIATIVO SE DESENVOLVEU AO LONGO DOS ANOS?

Eu sempre amei desenhar desde criança. Fiz meu primeiro vestido aos 17 anos. Isso aconteceu porque fui selecionada como finalista no “So-en Award”, um antigo concurso de moda japonês. Essa experiência despertou meu profundo interesse pela moda. No entanto, não estou interessada em desenhar novos padrões ou fazer roupas com novos tipos de tecidos.

Eu me interesso em vez disso pela desconstrução e reconstrução de tecidos que já foram usados e têm uma história para contar, e para criar uma nova imagem a partir deles. A grande indústria da moda se presta a essa abordagem. Ao contrário da tinta, as roupas já são feitas em grandes quantidades e diversos designs, seria um desperdício não usá-las.

SUA ORIGEM FAMILIAR FOI MUITO INFLUENTE?

Minha avó materna trabalhava como modelista. Como minha avó era uma mulher trabalhadora, minha mãe cresceu em uma família relativamente liberal no Japão da era Showa. Eu herdei meu espírito independente e senso de moda de minha mãe. Meu pai é um artesão especializado em fabricar telhados de metal para arquitetura japonesa. O negócio da família foi passado por gerações, com meu pai sendo a terceira geração. Meu pai proporcionou a base ideal para criar meu trabalho e me ensinou a importância de respeitar o espírito da tradição. Boas criações surgem quando os valores de minha mãe e pai colidem em minha mente.

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Campanha de dois vestidos da coleção Retalhos de Hana Yagi Conceito de lookbook do vestido branco da coleção Retalhos de Hana Yagi,uma releitura do vestido de casamento. Campanha de dois sobretudos confeccionados por Hana Yagi em sua coleção Retalhos

COMO VOCÊ DESCREVERIA SEU ESTILO VISUAL?

Quando eu era pequena, adorava vestidos que pareciam saídos de um mundo de fantasia. Mas tais vestidos têm suas raízes na Europa, na imagem da alta-costura esfarrapada. Estudei a história do vestuário japonês. A peça têxtil mais bonita com raízes japonesas, na minha opinião, é o “Boro”. “Boro” foi feito em Aomori, durante o período Edo. Naquela época, Aomori era muito fria e as pessoas lá eram pobres. Como não havia lã em Aomori, eles faziam suas próprias roupas com camadas de tecido de cânhamo e costuravam com linha.O design de “Boro” está profundamente relacionado ao fato de o Japão ser um país insular. Meu trabalho é influenciado pela espiritualidade, visual e processos do “Boro”, expressando alta-costura e moda através de seu filtro único.

COMO VOCÊ EXPERIMENTA A ATMOSFERA DA CENA DA MODA DE TÓQUIO?

Acho a cena da moda em Tóquio fascinante, especialmente a originalidade nos estilos dos jovens. Embora tenha havido períodos de estagnação na cena da moda de Tóquio, tenho a sensação de que está prestes a se tornar mais interessante no futuro. Quanto à criatividade, acredito que os designers estejam principalmente ativos na criação de peças de vestuário usáveis e prontas para vestir. No entanto, parece haver escassez de designers que se envolvam em atividades criativas e de confecção de roupas em comparação com a Europa. É uma pena que não haja muitas designer mulheres, especialmente no Japão. Espero que as mulheres de minha geração e até mesmo as gerações mais jovens se tornem mais ativas no mundo criativo. No entanto, não há dúvida de que a cultura tradicional do Japão e a vibrante cultura pop são únicas. Os designers devem encontrar um equilíbrio sem depender muito de um ou de outro, enquanto acreditam em sua própria identidade para criar uma nova visão.

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Conceito delookbook do vestido de retalhos azul da coleção Retalhos de Hana Yagi

OS MOMENTOS EM QUE MINHA

IMAGEM PRESUMIDA E O SENSO COMUM SÃO DESAFIADOS SÃO OS MAIS MARAVILHOSOS

QUAL PARTE DO PROCESSO CRIATIVO VOCÊ MAIS VALORIZA?

Eu valorizo uma mentalidade de faça-você-mesmo. Os momentos em que minha imagem presumida e o senso comum são desafiados são os mais maravilhosos.

O QUE VEM A SEGUIR PARA HANA YAGI?

Recentemente, tenho me interessado na imagem dos vestidos de noiva no Japão. No Japão, as pessoas frequentemente usam um quimono branco chamado “Shiromuku” ou um vestido de noiva branco para casamentos. Por que as noivas usam branco para o casamento? Aqui, uma história diz que é para mostrar a intenção da noiva de ser tingida na cor da casa do homem. Acho que isso é um valor muito antigo e não uma história moderna. Então, gostaria de fazer agora peças punk que quebrem a imagem existente dos vestidos de noiva. Planejo apresentá-lo no próximo ano.

Hana Yagi é uma jovem designer de 24 anos que, em meio à indústria da moda rápida e produção em massa, destaca-se por harmonizar sustentabilidade e arte consciente. Nascida em Tóquio em 1999, Hana estudou arte e moda, tornando-se finalista do “International Talent Support” em 2019. Atualmente, ela é designer de moda e artista, criando coleções que expressam suas raízes e interesses pessoais. Hana trabalha sob encomenda, criando figurinos, itens exclusivos feitos à mão e vestidos de noiva sob medida, principalmente desconstruindo e reconstruindo quimonos antigos e vestidos de noiva de segunda mão para criar peças únicas. Inspirada pelo espírito independente de sua mãe e a tradição artesanal de seu pai, Hana integra essas influências em suas criações. Sua abordagem criativa, focada na desconstrução e reconstrução de tecidos com histórias, reflete um compromisso com a sustentabilidade, evitando o desperdício na indústria da moda. Hana valoriza uma mentalidade "faça-você-mesmo" e é influenciada pela espiritualidade e processos do "Boro", um estilo de vestuário japonês tradicional. Olhando para o futuro, Hana pretende desafiar as convenções dos vestidos de noiva no Japão, introduzindo peças punk que rompem com a imagem tradicional.

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Conceito de lookbook, da coleção Retalhos de Hana Yagi Campanha de todas as roupas da coleção Retalhos de Hana Yagi.

MAJU TRINDADE

manifesto: a pele no mundo

Otêxtil é protagonista desde o nosso nascimento até nossa morte. A pele é o primeiro tecido que nos veste. E é no tecer da vida, que descobrimos a importância do corpo ser nosso próprio manifesto. A pele abraça nossos processos; a continuidade do sentir, elaborar, evoluir, resistir, permanecer ou partir. A característica da pele é sentir junto da gente. Somos feitos de muitas cores, indivíduos diversos. O que nos conecta é a força de nossa humanidade. Quanto mais humanos somos, mais conectados estamos. As emoções que sentimos também compõem os fios que nos aproximam. Essa relação de tecer emoções reflete nossas vivências e culturas. Para muitos povos nativos, o tecido é uma tradição passada de geração em geração. Os povos andinos têm o aguayo como uma referência estética e cultural do povo. São utilizadas pelos povos pré-colombianos e comunidades Aymaras e Quéchuas. O aguayo resgata uma antiga tradição, pois é uma peça única 100% artesanal, desde o corte e fiação da lã, passando pelo trabalho exclusivo das mulheres no tear manual. Outro exemplo, são povos indianos, que reconhecem o tecido como um viés espiritual, que traz a tradição poética de enxergar possibilidades transformadoras. Na cultura das famílias indianas, alguns tecidos são cuidados e guardados por mais de 300 anos. E sua manutenção é feita por artesãos de uma mesma linhagem. Como se descarta uma roupa pensada como parte de uma história de vida?

Esse é um dos pontos pelo qual precisamos pensar a sustentabilidade milenar dos povos originários e suas diversidades culturais. Por outro lado, historicamente o tecido mais antigo do mundo que se tem notícia é o linho. Não era feito em tear, mas através de uma técnica bastante rústica, que consistia na prensagem das fibras. Arqueólogos encontraram múmias egípcias de 2500 a.C. enroladas em linho, tão bem tramados como os encontrados atualmente.

É puramente ancestral manifestar nosso corpo político e suas práticas antes de nossas roupas. Fazer a mão, com a essência de construir para si e o outro é ancestral. Nós que desaprendemos. O que vestimos hoje é um reflexo de nossa memória. Nem sempre por escolha, mas porque somos atravessados por vias capitalistas. Mas ainda assim, acredito no vestir expressando o sentir individual; algo que conecta além da estética. Se a gente refizer o caminho das nossas expressões genuínas, entendemos que a moda é parte e não o centro dessa discussão.

Penso muito sobre o fazer moda de forma afetiva. Na perspectiva da criação, isso me ajuda a compreender que a nossa força não mora nos desafetos sociais, mas na condução das manualidades do sentir.

Ao abraçarmos a moda como uma forma de expressão genuína e afetiva, reconhecemos o poder transformador que reside em nossas próprias mãos, ada peça que criamos ou escolhemos vestir pode se tornar um elo entre passado e presente, entre culturas e tradições, entre os indivíduos

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GUSTA FOGANOLI

porque marc jacobs é relevante?

Marc Jacobs comemora 40 anos de carreira sendo um dos estilistas mais conhecidos do globo. Mas o que faz Marc ser um dos criadores contemporâneos mais célebres e respeitados?

Nascido em Nova York, ele se formou na emblemática Parsons, aos 21 anos ganhou o concurso do Council Fashion of America (primeiro de muitos!), tamanha notoriedade precoce lhe garantiu seu primeiro emprego: diretor criativo da Perry Ellis. Na época, a marca estava um tanto perdida com a morte do seu criador e o jovem Marc parecia a solução perfeita para trazer frescor, novas ideias e recolocá-la no mapa. O que os executivos ainda não sabiam é que Marc possuía muita personalidade e zero medo de arriscar.

Na sua estreia se inspirou no movimento grunge (olá Nirvana!), que começava a ganhar força para além de Seattle, na passarela todas as supermodels em camisas de flanela xadrezes, moletons desgrenhados, coturnos, um fashion anti-fashion –pros padrões Marc. A imagem provocativa não agradou os executivos, mas colocou o estilista no centro da moda.

Certa vez li no Twitter que Marc era uma espécie de Madonna e faz todo o sentido: eras, fases em que sua própria imagem e seu trabalho colidem. Ele já foi o garoto nerd, geek e tímido com cabelos compridos, minimalista e discreto, super malhado e bronzeado, atualmente não se limitando a conceitos binários. Se nos anos 1990, McQueen e Galliano disputavam o posto de número 1, na Europa, Marc ocupava esse lugar nos Estados Unidos sem se preocupar. Enquanto Calvin Klein e Donna Karan eram vistos como tradicionais, ele mostrava paixão e todo um otimismo que se reinventava a cada temporada. Esse poder de reinvenção e de criar imagens de impacto midiático chamou a atenção de Bernard Arnault, do grupo lvmh que lhe deu um desafio: criar pela primeira vez roupas para a Louis Vuitton, até então uma marca de malas e bolsas. Sua trajetória na marca de luxo mais pop do mundo foi muito bem sucedida e, claro, carregada de pressão, que ele equilibrou com maestria por 16 anos.

Enquanto isso, na sua marca própria moldava não apenas novas silhuetas, como estéticas: o apreço pelo vintage, o lady like e o sexy-girlie, devemos tudo à ele. Sensível e com um olhar de dar inveja em qualquer time de marketing, debochado entregou imagens virais em tempos pré Instagram, como a que Victoria Beckham saía de uma sacola. A Marc by Marc Jacobs, que ganhou vida em 2001, é outro ótimo exemplo dessa auto-referência e humor.

Marc Jacobs não se contentou em apenas seguir as tendências da moda; ele as moldou e as desafiou constantemente. Desde suas ousadas coleções grunge até suas colaborações icônicas com marcas de luxo como Louis Vuitton, Marc demonstrou uma versatilidade e um instinto para o que ressoa com o público. Sua marca própria também reflete essa diversidade, incorporando elementos vintage, feminilidade e humor de forma única e impactante além de suas conquistas na moda por sua curiosidade incessante.

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CAROL BARRETO uma moda de brasileira?

Ahistória da moda remonta a cerca de 600 mil anos a.C., quando a necessidade primordial de proteção contra as intempéries impulsionou o surgimento das roupas. No entanto, o conceito de “moda”, derivado do latim modus, significando costume, só ganhou destaque por volta do século XV, marcando uma mudança significativa nos hábitos de vestimenta.

A moda brasileira, ao longo dos anos, tem sido influenciada por uma multiplicidade de elementos culturais, desde estampas alusivas à flora e fauna até aspectos do artesanato. Essas influências são reflexo não apenas da diversidade cultural do país, mas também de sua geografia variada, que abrange cinco regiões com climas distintos, moldando não apenas a vestimenta, mas também a culinária, música, língua e arquitetura locais.

A formação da moda brasileira remonta ao período colonial, influenciada por três civilizações fundamentais: indígena, portuguesa e africana. Essas influências persistem até os dias atuais, evidenciando-se não apenas na vestimenta, mas em diversos aspectos da cultura e identidade brasileiras.

Ao longo da história, a moda no Brasil passou por diversas transformações. Desde a influência da Família Real e das importações europeias durante o período imperial até a conquista de direitos pelas mulheres na República, cada era trouxe consigo mudanças significativas no estilo e na expressão da moda brasileira.

Hoje, a moda brasileira busca sua identidade em meio a uma indústria cada vez mais globalizada. Enquanto a estética tropical continua a ser uma referência importante, há uma crescente preocupação com a funcionalidade, propósito e sustentabilidade das peças. As marcas enfrentam o desafio de se destacar em um mercado competitivo, buscando não apenas inspiração externa, mas também uma voz autêntica e sustentável.

A moda brasileira é um reflexo da rica diversidade cultural do país, moldada ao longo dos séculos por uma multiplicidade de influências. À medida que a indústria se adapta aos desafios do século XXI, a busca por uma identidade autêntica e sustentável continua a ser uma prioridade, garantindo que a moda brasileira permaneça relevante e desejável, tanto em casa quanto no cenário global.

A diversidade cultural do Brasil se reflete não apenas nas passarelas, mas também nos bastidores da moda, onde designers, estilistas, artesãos e trabalhadores da indústria colaboram para criar um cenário vibrante e multifacetado. Essa interseção de talento e criatividade é alimentada pela riqueza das tradições locais, que se fundem com influências globais para produzir coleções únicas e inovadoras. Do samba ao frevo, da capoeira ao carnaval, as expressões culturais brasileiras servem como fonte inesgotável de inspiração para os criadores de moda, que capturam a essência da identidade nacional em suas criações. Além do aspecto estético, a moda brasileira gera empregos e impulsionando o comércio tanto a nível nacional quanto internacional.

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ANA CARDOSO mas será que me serve?

Vez ou outra, uma customização de roupas viraliza nas redes sociais. Quase sempre a pessoa magra, que facilmente encontra roupas do seu tamanho em qualquer loja, pega uma roupa maior que seu manequim e a diminui.

A calça jeans manequim 48 vira uma calça skinny manequim 38, a camiseta XGG vira um cropped oversized. Todos aplaudem.

Agora visualize outra situação. Uma pessoa, gorda, entra em uma loja para comprar uma peça de roupa, qualquer uma. Na grande maioria das vezes, essa pessoa não encontrará uma peça do tamanho de seu corpo.

Essa dualidade do “tenho acesso a roupas de todos os tamanhos e vou diminuir uma delas” e do “não tenho acesso a roupas do meu tamanho, por mais que eu procure”, me incomoda muito.

De acordo com a Associação Brasil Plus Size, só em 2018, a produção de vestuário para tamanhos acima do 46 movimentou cerca de R$ 7,2 bilhões. Este número cresce todo ano, mas a dificuldade que as pessoas gordas têm em encontrar peças do seu tamanho não diminui. A moda, enquanto indústria, tem interesse único e exclusivo no capital. Do catador de algodão até as revistas de moda, o que se vende é a roupa. Mesmo assim, essa indústria não parece muito interessada em vender roupas grandes.

A indústria da moda não produz mesmo havendo demanda de consumo. É, por isso, que precisamos voltar um pouco mais na história para tentar entender em que momento a gordofobia se apresenta nesta questão.

Lá na Grécia Antiga, a definição de beleza era espelhada em um corpo gordo, maior. Esse exemplar do belo se seguiu na Renascença, em que ser gordo indicava riqueza.

Na Era Vitoriana, tudo era amarrado em espartilhos, a silhueta de am pulheta virou o modelo. No período das duas Grandes Guerras, o corpo e a beleza deixaram de ser uma preocupação primária. A partir dos anos 1960, a magreza imperou na mídia, nas roupas e na concepção daquilo que é considerado belo das pessoas.

Ao entrarmos na História da Arte, o espaço em que muitos criadores de moda procuram suas inspirações, a presença do corpo gordo foi inicial mente, bastante representada.

Na Hollywood dos anos 1950, Marilyn Monroe era o ideal, seios e qua dris fartos, porém, magra.

A discrepância entre a facilidade de acesso à moda para corpos magros e a dificuldade enfrentada por pessoas gordas é um reflexo da gordofobia arraigada na sociedade e na indústria da moda. Esse desequilíbrio não apenas perpetua estereótipos prejudiciais sobre corpos e tamanhos, mas também reforça a exclusão e a marginalização das pessoas gordas no espaço da moda. Apesar do crescente mercado de moda plus size e do potencial econômico desse segmento, a indústria da moda continua a privilegiar padrões de be leza estreitos e a marginalizar corpos fora desse padrão. acesso igualitário à moda e possam se sentir representadas e valorizadas.

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