por um mundo mais livre, mais autentico, mais elu
Quem somos? Nossa revista tem como objetivo ser uma grande amiga daqueles que mais precisam de nós para serem guiados durante esse percurso de descobertas e realizações dentro da comunidade. Viemos para mostrar a diversidade, suas complicações e a busca por compreensão dentro dessa sociedade que ainda fecha os olhos para ela, de forma criativa e não invasiva. Traremos entretenimento informativo sobre a luta das minorias, para jovens que sintam interesse pelo assunto, sem que haja qualquer segregação ou barreira, fazendo os se sentirem confortáveis para realizar a leitura. Com isso em mente, nós da revista ELU esperamos que nossos objetivos sejam atingidos, esclarecendo os pontos que serão citados e assim sendo uma fonte confiável para os nossos leitores. Nessa edição traremos um conteúdo explicativo sobre a diferença entre igualdade de gênero e orientação sexual, onde engloba as minorias que sofrem com uma opressão desnecessária e injusta, como exemplo a luta feminista, contra a homofobia e o racismo. ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing Graduação em Design Projeto integrado do 3º semestre. Projeto III - Prof. Marise de Chirico Proução Gráfica - Mara Martha Roberto Marketing - Leonardo Aureliano da Silva Finanças - Alexandre Ripamonti Ergonomia - Auresnede Pires Stephan e Matheus Alves Passaro Cor, Percepção e Tendências - Paula Csillag
Alunos:
Henrique Bloj
Yago Nascimento
Giovanna Perracini
Papo Reto Entrevista com Chimamanda Ngozi Adichie..............................6 Entrevista com Rosa Caldeira......................10 Entrevista com VIRGINIJA LANGBAKK...........12
De olho aqui Mulheres trans morrendo todos os dias................................28 desigualdade recai sobre os cis genero...........................................32
sentiu? black lives matter: um rumo incerto...................................................42
curta filmes sem abuso do pink money.................56 5 podcasts sobre feminismo..........................58 3 livros para pensar sobre igualdade de gÊnero..........................60 horóscopo..............................................................62 è pela vida das mulheres..................................64
Matérias Direitos humanos................................................20 O que é pink money?............................................36 Falta de protagonismo feminino: animes.....................................................48 visibilidade lgbtq no k-pop.......................................................58 maio 2021
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PAPO RETO
Chimamanda Ngozi Adichie: “Não estava em meus planos ser um ícone feminista” a conversa reflete sobre os rumos da sua figura pública e questões como raça, identidade, a evolução do MeToo a relação com os homens e o poder das mulheres no século XXI. Ela é sempre parada nos aeroportos, e não é por sua fama. Chimamanda Ngozi Adichie (Enugu, Nigéria, 1977) mantém seu passaporte nigeriano para ser fiel a suas raízes, mas isso começa a pesar. Mudou-se para os Estados Unidos há mais de uma década. Vive em Maryland com seu marido e sua filha de quatro anos, a quem ensina a usar uma linguagem que lhe foi vetada quando criança. Viaja com frequência à Nigéria, onde vivem seus pais e seus irmãos. Lá é uma diva recriminada por defender a homossexualidade, a escritora mais célebre, a quem pediram um resgate quando seu pai foi sequestrado. Tornou-se um ícone feminista a contragosto, depois que uma das suas palestras Ted foi vista em todas as partes, fazendo dela a autora de um livro global, que as escolas da Suécia distribuem entre os adolescentes. Descobriu com sua filha que educar no feminismo não é tão fácil como pregava, que ainda há brinquedos para meninos, divertidos, e para meninas: “As estúpidas bonequinhas”. Passou pela Espanha há algumas semanas para participar de um encontro sobre estereótipos organizado pelo EL PAÍS. E depois se sentou para conversar com este jornal a respeito do MeToo, de raça e de identidade. Fala com ironia, ri muito e alto. É uma contadora de histórias. E tem muito a dizer.
Pergunta: Em seu livro Mulheres e Poder, Mary Beard revisou os 100 melhores discursos da história e percebeu que a maioria das contribuições femininas fala de mulheres. Resposta: “É terrível. Eu escolhi falar sobre feminismo, mas sou uma escritora, uma contadora de histórias. Não estava nos meus planos ser um ícone feminista. Sou feliz de ser, mas tem suas contrapartidas. Tem vezes que não quero ser. E uma razão é que não quero ser a mulher conhecida só por falar de coisas de mulheres. Eu gostaria que não fosse assim. Chegam-me centenas de convites para falar sobre feminismo e vou no máximo a um. O triste é que não deveria ser um problema, mas é. Como maio 2021
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quando as pessoas negras só são levadas a sério quando falam sobre raça, quando os negros falam de ser negro. Às vezes, na televisão americana, se aparecer uma pessoa negra, as pessoas inconscientemente pensam: “Olha, vão falar de racismo”. Uma pena.”
P. Numa conversa com Beard, justamente, você defendia mudar a linguagem que as mulheres usam para falar de sua sexualidade e seus corpos. corpos. R. “Interessa-me muito a vergonha. É uma parte importante da socialização feminina. Quando era pequena, usávamos a palavra ike (traseiro em igbo) para falar de tudo o que há aí embaixo. Não nos ensinavam uma palavra para vagina. Comecei a ouvi-la na aula de biologia, já com 15 anos, quando aprendíamos as partes do corpo. E os meninos riam na classe quando a usávamos. O problema é que a palavra para vagina em igbo é um palavrão, enquanto que a palavra para pênis não é. Quando a menstruação desce, tudo também está cercado de vergonha. Para mim veio com 10 anos. Minha mãe me disse: “Esconda essas calcinhas. Quando você menstruar, assegure-se de esconder tudo”. Todas estas coisas nós temos que mudar, temos que criar nossas meninas explicando-lhes que não fizeram nada de errado por serem mulheres. E será preciso mudar a linguagem, fazer que seja neutra. Estou criando uma menina de quatro anos e ela conhece a palavra vulva desde os dois, porque é uma parte do corpo a mais. Agora me diz: “Mamãe, você não limpou a minha vulva”. E eu lhe respondo: “É verdade, abra as pernas”. É muito natural. Além disso, meu marido é médico, então também sabe as partes do corpo da mulher. Tenho sorte, porque há muitos homens que não têm nem ideia. Frequentemente não estão familiarizados com histórias de mulheres. Com os livros já sabemos o que acontece, os homens leem homens, e as mulheres leem homens e mulheres. 10
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PAPO RETO Por dentro da trajetória de Chimamanda Ngozi Adichie
Recentemente eu estava lendo sobre uma audiência no Congresso dos Estados Unidos sobre direitos das mulheres. Um congressista disse: “Por que deveríamos falar sobre as mulheres e sua menstruação? Por que simplesmente não a aguentam?”. Ele achava que a menstruação era como fazer xixi. Não têm nem ideia.”
P. Você contou o assédio que sofreu quando jovem. O que a motivou a torná-lo público? R. “Senti que devia isso a todas as mulheres corajosas que começaram o movimento MeToo. Que não podia ser esta feminista famosa, dizer que não devíamos estar envergonhadas e, mesmo assim, não contar minha própria experiência. Não tinha muita vontade de fazer isso, não queria que virasse “minha história”. Mas após ler tantos testemunhos, com essas mulheres tão corajosas, pensei que tinha que fazer minha parte. Mesmo assim, não quis identificar o homem, porque não quero que fique famoso. Às vezes, especialmente em lugares como a Nigéria, que lhe apontem assim não é algo necessariamente negativo. Eu era jovem, tinha 17 anos, estava a ponto de publicar um livro de poemas e pensava no seu lançamento. Então fui ao escritório de um senhor importante. Foi muito amável comigo. Surpreendeu-me muito a informalidade do assunto. “Que legal que você gosta de livros e blábláblá...”. Colocou-se atrás de mim e pôs suas mãos na minha camisa. Fiquei tão desconcertada que não soube o que fazer. Simplesmente lhe sorri, não queria ofendê-lo. É o que mais me zanga quando penso nisso. Eu estava sorrindo.”
P. Acha que as mulheres ainda pagam um preço alto por denunciar um estupro? Digo isso, por exemplo, pelo caso do juiz norte-americano Brett Kavanaugh e de Christine Blasey Ford, que o acusou de abuso sexual. R. “Sou otimista numa coisa: antes ninguém estava disposto a acreditar numa mulher. Agora algumas pessoas estão, e isso me leva a ser cautelosamente otimista. Acompanhei em detalhes o caso de Christine Blasey. Chorei muito vendo-a, e acreditei profundamente nela. Porque sei o que significa estar calada durante décadas. E conheço muitas outras mulheres em situações similares. Havia pessoas que lhe perguntavam: “E por que você não foi à polícia imediatamente?”. No meu caso, quando este homem me agarrou pelos peitos, que provas tinha eu para denunciar? É difícil transformar-se na mulher que foi assediada sexualmente. Além disso, agora há muitos homens fazendo-se de vítima. Que dizem coisas como “Não vou poder estar a sós com uma mulher em um quarto, vai que ela me acusa”. Isso diz muito de uma pessoa e do que pensa das mulheres se acha que vão inventar histórias sobre terem sido assediadas.” maio 2021
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‘As pessoas trans existem, criam e pensam’ Entrevista com cineasta Rosa Caldeira
“Quantas pessoas trans tem no seu trabalho? No seu bairro? No seu ciclo de amizades? Por que, às vezes, é tão difícil sermos aceitos como somos no lugar de onde viemos?”, questiona o cineasta trans Rosa Caldeira, 24, morador da Vila Remo, distrito do Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo. Nascido no bairro Jardim Nossa Senhora Aparecida, em Francisco Morato, na Grande São Paulo, Rosa diz que, ser uma pessoa trans nos espaços da sociedade é desafiador e, em muitos lugares, uma vivência ‘solitária’. Para driblar essa realidade, o cineasta diz que as pessoas transexuais criam guetos e atuam como autônomas, na prostituição ou na beleza. “A gente cria espaços de resistência e se une. Ser trans na periferia é difícil da mesma forma”, afirma. Rosa participa da Maloka Filmes, um coletivo de audiovisual periférico com outras pessoas LGBTs. No grupo, dirigiu o filme ‘Perifericu’, eleito melhor curta-metragem no Festival de Tiradentes de 2020 e no Mix Brasil de 2019. A obra fala sobre experiências LGBTs no extremo sul de São Paulo. “Costumo dizer que se nem o transporte chega na quebrada, pensa o tanto que a informação demora para encontrar com a favela”, observa. “Só a partir do cotidiano em cada beco e viela que a consciência dos moradores se abre para esse debate: a cabeça pensa onde os pés podem pisar”. Para contextualizar o assunto, Rosa cita uma fala de Gilmara Cunha, mulher transexual, ativista dos direitos civis e moradora da Favela da Maré, no Rio de Janeiro. “Quem é gay, lésbica ou transexual de território de favela não usufrui dos avanços que os LGBTs do país vêm experimentando. Não lutamos para adotar um filho. Ainda estamos lutando para sobreviver”, disse Gilmara em 2015. Parte dessas dificuldades começam desde a escola, que serve como mecanismo de opressão para LGBTs, segundo o cineasta. Rosa relata agressões físicas e verbais que sofreu durante a adolescência. “Já apanhei por ‘ser diferente’, ‘esquisito’, ‘querer maio 2021
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chamar atenção’. Também tem coisas menos explícitas, tipo você ser o zoado do rolê pela forma como você se veste, pela aparência, pessoas sentirem nojo de você, enfim, isso acaba gerando muita solidão”. Para o cineasta, o Estado e as escolas não têm interesse de educar sobre respeito e diversidade. “Quando você sofre um preconceito e vai tentar o apoio da coordenação, a primeira coisa que eles dizem é que você tem que mudar, que você é o problema. Você entende que aquele corpo estudantil não está preparado para receber o corpo trans”, pontua. Com isso, a população trans fica esquecida, ao invés de ser valorizada nas comunidades. Na educação formal, 82% da população trans sofre com a evasão escolar segundo estudo da Ordem dos Advogados do Brasil em 2016. “A escola é um dos espaços onde as pessoas trans mais sofrem preconceito”, cita. “O mínimo que a gente espera da escola é que ela seja um lugar acolhedor, não produtor de violências como ela é hoje”. Há preconceito dentro da própria classe social e bairro onde vive. “Precisamos trabalhar e mostrar que ser LGBT e ser de quebrada não são coisas contraditórias. A gente, trans de periferia, existe, cria e pensa”, pontua. A dificuldade de aceitação também tem sido evidenciada em mortes todos os anos. O Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo. O Dossiê Trans, pesquisa organizada pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) e pelo IBTE (Instituto Brasileiro Trans de Educação) em 2019, mostrou que foram 124 casos de assassinatos de pessoas trans no ano passado. O Brasil ocupa essa posição há 11 anos, de acordo com o projeto Trans Murder Monitoring, que analisa dados em todo o mundo. Entre as vítimas, 82% se identificavam como pretas e pardas. Há três semanas, Rosa recebeu a notícia de que tinha sido aprovado no mestrado da faculdade espanhola EQZE (Elias Querejeta Zine Eskola). Dias depois, também foi aceito na EICTV (Escuela Internacional de Cine y Television), na cidade de San Antonio de Los Baños, em Cuba. O cineasta foi aprovado no curso de direção de fotografia da instituição, considerada uma das mais prestigiadas escolas do mundo em produção de cinema. “Sou um cineasta trans e, contrariando todas essas estatísticas, 14
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coletivo de audiovisual periférico com outras LGBTs, a Maloka Filmes, na zona sul / Crédito: Acervo pessoa
passei em uma das melhores escolas de cinema do mundo, porém, como jovem periférico e trans, ainda me falta o dinheiro”, comenta. “O processo seletivo é muito concorrido, sendo que só eu e mais quatro pessoas do mundo fomos aceitos para estudar esse mesmo curso”. Sem dinheiro para bancar a estadia e a viagem, o cineasta abriu um financiamento coletivo para contribuições financeiras em em prol do estudo. “Se tirar a ajuda das pessoas, não consigo realizar esse sonho”, lembra. “Estudar fora do país é um sonho muito recente na minha vida. Demorei para entender que a quebrada também podia ocupar esse espaço, mas agora que descobri, não largo mão e não vou só, mas inspiro e levo todas as pessoas trans e periféricas comigo”. maio 2021
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Igualdade de Género: Entrevista com Virgija Langbakk Entrevista feita pela euronews sobre igualdade de gÊnero na união européia
EURONEWS: Senhora Langbakk, obrigada por estar connosco. Vimos na nossa reportagem que as leis e a educação podem ajudar ao progesso na igualdade de género. Acha que um aspeto pode ser mais importante do que o outro? VIRGINIJALANGBAKK: “As leis estabelecem as normas básicas, o que permite a ligação entre Direitos das Mulheres e Direitos Humanos. Se tivermos as normas, podemos controlar comportamentos. E podemos fazer com que as leis sejam cumpridas, por exemplo, pelos Governos. Algo que seria mais difícil de fazer sem leis. A educação tem mais a ver com mentalidades, com uma mudança no comportamento. É um processo mais longo. Tem a ver com a vida, com a nossa vida, em casa e no trabalho. E ambos domínios são importantes para a igualdade de género.”
EURONEWS: O que pensa, por exemplo, das quotas para mulheres? VIRGINIJALANGBAKK: “Não sabemos ainda qual é o impacto real da medida nos países onde foi implementada. Não podemos ainda avaliar o efeito. Mas o que sabemos até agora, se analizamos países como Itália ou Eslovénia, é que, com a introdução de quotas, a evolução foi importante. E os debates foram intensos. As quotas fazem com que as pessoas reflitam. Sei que, em algumas companhias, especialmente no mundo dos negócios, alguma sempresas preferem pagar multas em vez de acomodarem mais mulheres. Tentam encontrar desculpas. Mas as quotas fazem com que as pessoas pensem no estado das coisas e costumam fazer com que haja algum progresso.”
EURONEWS: Alguns analistas defendem que a igualdade de género é mais fácil de implementar em países escandinavos, graças a uma cultura e história específicas. VIRGINIJALANGBAKK: “Não me parece que história tenha criado uma situação específica no caso dos países nórdicos, porque tiveram os mesmos desafios que os outros países. As mulheres maio 2021
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não podiam votar, depois tiveram esse direito, depois houve as guerras mundiais. As mulheres começaram depois a trabalhar. E claro que o movimento pelos Direitos das Mulheres é importante. Mas há movimentos pelos Direitos das Mulheres noutros países. A forma como os países nórdicos chegaram à igualdade de género é seguida pela União Europeia. É um modelo que tem sido imitado.”
EURONEWS: A seu ver, quais são os desafios mais importantes, as batalhas a travar, no sentido de chegar à igualdade de género na União Europeia? VIRGINIJALANGBAKK: “O aspeto onde a desigualdade de género mais tem vindo a agravar-se é na forma desigual como ocupamos o nosso tempo fora do trabalho. Na família, em casa e com os mais velhos. Há realmente diferenças enormes neste setor. Podemos dizer que há alguns homens na União Europeia ajudam uma hora em casa, em trabalho que não é pago. Mas a maioria não faz nada. Outro problema continua a ser o emprego, porque temos ainda grandes diferenças nas pensões, que é o resultado das políticas de emprego. Mesmo os empregos continuam a criar diferenças nos salários. Outra área que deve ser alvo de atenção é a violência exercida sobre as mulheres.”
EURONEWS: Acha que existe uma divisão na União Europeia, entre o norte, o sul, o oeste e o leste. Ou é algo demasiado simplista? VIRGINIJALANGBAKK: “Sim, parece-me uma divisão demasiado fácil ou simplista, dizer que podemos dividir as coisas assim. A Bulgária está entre os países com mulheres a trabalhar em novas tecnologias. Se nos referimos ao sul, pensamos na Espanha, que faz um trabalho muito importante na violência contra as mulheres. Têm multiplicado as políticas nesse sentido e têm muitas medidas. E a Itália tomou medidas para aumentar a presença das mulheres na política.” 18
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direitos humanos: O que esses direitos visam para todos? Aluizio Mathias
codigo de acesso para a música “O Que Se Cala” da Elza Soares
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expressão Direitos Humanos já diz,claramente,o que isto significa. Direitos Humanos são os direitos do homem. Diria que são direitos que visam resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana,ou seja,direitos que visam resguardar a solidariedade,a igualdade,a fraternidade,a liberdade,a dignidade da pessoa humana.No entanto,apesar de facilmente identificado,a construção de um conceito que o defina,não é uma tarefa fácil,em razão da amplitude do tema.
Vejamos quais os conceitos elaborados pelos estudiosos da área,sobre Direitos Humanos:
Freedom of Speech poster feito por Pei-Ling
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“Direitos Humanos são as ressalvas e restrições ao poder político ou as imposições a este,expressas em declarações,dispositivos legais e mecanismos privados e públicos,destinados a fazer respeitar e concretizar as condições de vida que possibilitem a todo o ser humano manter e desenvolver suas qualidades peculiares de inteligência,dignidade e consciência,e permitir a satisfação de suas necessidades materiais e espirituais.” “Os Direitos Humanos colocam-se como uma das previsões absolutamente necessárias a todas as Constituições,no sentido de consagrar o respeito à dignidade
entende-se por Direitos Humanos,aqueles direitos inerentes à pessoa humana humana,garantir a limitação de poder e visar o pleno desenvolvimento da personalidade.” “Direitos Humanos são uma ideia política com base moral e estão intimamente relacionados com os conceitos de justiça,igualdade e democracia.Eles são uma expressão do relacionamento que deveria prevalecer entre os membros de uma sociedade e entre indivíduos e Estados.Os Direitos Humanos devem ser reconhecidos em qualquer Estado,grande ou pequeno,pobre ou rico,independentemente do sistema social e econômico que essa nação adota.” O ilustre mestre João Baptista Herkenhoff,assim conceitua Direitos Humanos: “Por direitos humanos ou direitos do homem são,modernamente,entendidos aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem,por sua própria natureza humana,pela dignidade que a ela é inerente.São direitos que não resultam de uma concessão da sociedade política.Pelo contrário,são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir”. Podemos afirmar,portanto,como já o fizemos em trabalho anterior,que entendese por Direitos Humanos,aqueles direitos inerentes à pessoa humana,que visam resguardar a sua integridade física e psicológica perante seus semelhantes e perante o Estado em geral.De forma
a limitar os poderes das autoridades,garantindo,assim,o bem-estar social através da igualdade,fraternidade e da proibição de qualquer espécie de discriminação.
Porcentagem de acessibilidade dos direitos humanos que cisgeneros tem e que diversos não tem
As décadas finais do século XX foram de inédita efervescência no que concerne à atuação dos movimentos sociais ligados à sexualidade e à identidade de gênero. As mobilizações sociais dos anos 1960 foram fundamentais para impulsionar o questionamento dos valores conservadores e das relações de poder da época. Sobretudo o movimento pelos Direitos Civis da população negra nos Estados Unidos, os movimentos feministas e os movimentos de lésbicas e homossexuais reivindicaram demandas antes associadas à vida privada, como o direito ao próprio corpo, à existência livre de violência racial e a liberdade de expressão do desejo sexual. Criaram, com isso, o ambiente de contracultura para que outros atores sociais pudessem ter voz e visibilidade (MISKOLCI, 2013). Em um segundo momento, ao longo dos anos 1980, esses movimentos foram questionados pelo que veio a ser chamado movimento queer. O termo em inglês queer poderia ser traduzido como “bicha” ou “veado” e, portanto, tem conotação pejorativa de xingamento, um palavrão. O queer expressa, portanto, as experiências de rejeição social, de vergonha e de desprezo vivenciadas diariamente por determinados grupos sociais. Retirar esse termo maio 2021
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do contexto de ofensa e com ele nomear uma teoria e um movimento representou uma estratégia política de ressignificação da rejeição social. Buscou-se, desse modo, atribuir um sentido socialmente positivo, de empoderamento, a uma palavra usada com a intenção de ridicularizar e inferiorizar um grupo social. Nesse sentido, a retomada do queer serve para criticar e explicitar as violências “invisíveis” no cotidiano de lésbicas e homossexuais. O movimento denunciava, com isso, a existência de moralismos, tabus e humilhações que orientam a construção social da sexualidade, demonstrando o caráter heteronormativo da ordem social vigente. O sexo, nessa ordem normativa, é visto como a base biológica dos corpos, podendo ser dividido em duas possibilidades exclusivas: macho ou fêmea. Trata-se do binarismo biológico: a tentativa de encaixar todos os corpos em dois tipos ideais de constituição supostamente inata. As ciências biomédicas têm, nos últimos séculos, tornado a ideia do sexo mais complexa, buscando características sexuais não apenas na genitália, mas também em gônadas, órgãos internos, estruturas anatômicas externas, cromossomos, e até mesmo no cérebro. Essa divisão determinística, supostamente da ordem da natureza, vem sendo fortemente colocada em xeque mesmo no âmbito das ciências biológicas, como veremos adiante. O que esses novos estudos afirmam é que o sexo não pode ser dividido de forma binária – macho e fêmea – pois as estruturas biológicas são muito mais diversificadas do que essas duas possibilidades, abrangendo, por exemplo, arranjos como os dos corpos das pessoas intersexo 26
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representação gráfica da sensação de se encontrar em um corpo que não parece ser seu
(conferir o ponto 1.2.3 abaixo). Por sua vez, o gênero diz respeito às construções sociais do que é ser homem ou ser mulher, bem como às relações entre os grupos sociais que preenchem de sentido o que é “masculino” e o que é “feminino”. O conceito de gênero tem sido amplamente utilizado pelo feminismo como categoria analítica útil para destacar esses papeis e as possibilidades das mulheres para além de qualquer determinismo biológico. As críticas feministas mostraram que gêneros masculino e feminino são construções sociais assimétricas em que há dominação e desigualdades entre homens e mulheres. Nesse sentido, o gênero é visto como a roupagem cultural que se associa à natureza dos corpos. Nas sociedades ocidentais considera-se, por exemplo, que a feminilidade está associada à delicadeza, à fragilidade, ao cuidado e à vida doméstica no âmbito privado. A masculinidade, por outro lado, é construída com referência à força, à virilidade e à atuação na esfera pública. Essa divisão de estereótipos não representa apenas uma descrição das relações existentes, mas é
O sexo, nessa ordem normativa, é visto como a base biológica dos corpos, podendo ser dividido em duas possibilidades exclusivas: macho ou fêmea um modo de normatizar os corpos: espera se que homens e mulheres se encaixem e se adequem a esses modelos do que é a masculinidade e a feminilidade. No contexto da ordem heteronormativa, especialmente definida pelos saberes médicos, o gênero diz respeito à identidade social e psicológica sempre associada, em última instância, por um sexo biológico bem delimitado. Em outras palavras, a identidade de gênero seria a autoidentificação individual de uma pessoa com um gênero ou com outro (ou mesmo com ambos ou nenhum gênero), segundo parâmetros culturais do que é ser “homem” ou “mulher”. Assim, como veremos adiante, é possível que a alguém seja atribuído um gênero quando do seu nascimento, com base em sua genitália, mas ao longo da vida essa pessoa pode vir a se identificar como pertencente a outro gênero. É o caso das mulheres transexuais, que são consideradas meninos quando nascem, mas passam a se identificarem e se construírem como mulheres em algum momento de suas vidas. A sexualidade, por fim, englobaria desejos, afetos e práticas sexuais que se enquadrariam
“naturalmente” em uma orientação heterossexual. Esse caráter natural da heterossexualidade remete inclusive ao sexo, que, por ser binário, seria destinado à procriação e às relações reprodutivas – o que conforma, inclusive, os modelos familiares considerados “tradicionais”, que privilegiam as relações entre homens e mulheres. Contrariando essa lógica, estariam outras orientações sexuais, como a homossexualidade, a lesbiandade e a bissexualidade. A sexualidade, portanto, se expressa em formas de orientação sexual que se dividiriam em: 1. Heterossexualidade: o direcionamento do desejo e das práticas sexuais apenas para pessoas de gênero diferente. É a orientação tida socialmente por “normal”, “natural” ou “saudável”. 2. Homossexualidade, lesbiandade e bissexualidade: abrangem a possibilidade de desejos e relacionamentos afetivos sexuais com pessoas do mesmo gênero. São orientações sexuais consideradas “desvios”, “anormalidades” ou “patologias”. Essa definição da heteronormatividade foi formulada pela teórica feminista Judith Butler no começo dos anos 1990. Em retrospecto parece mais pertinente, inclusive, falar de cisheteronormatividade, termo que adotaremos neste curso. O que significa, em termos práticos, a cis-heteronormatividadade? A construção dominante do gênero e da sexualidade em nossas sociedades se dá em termos binários e restritos, delimitando as formas consideradas legítimas de ser e de se relacionar. Acredita se, por exemplo, que corpos identificados, ao nascimento, como de fêmeas têm de ser socializados de acordo com determinados padrões e características e se voltarão, maio 2021
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A continuidade entre sexo, gênero e orientação sexual é uma construção social necessariamente, à atração por pessoas do gênero masculino. Ainda, corpos tidos como masculinos se tornarão homens e desejarão mulheres. Uma série de expectativas sociais é formulada a partir dessa identificação dos sexos nos corpos: antes mesmo de que uma criança nasça, um nome considerado masculino ou feminino lhe é atribuído, bem como são escolhidas brincadeiras e vestimentas que lhe sejam adequadas, além de ressaltarem-se gestos e comportamentos mais ou menos femininos ou masculinos – como a delicadeza ou a agressividade, a beleza ou a força, respectivamente. Começam também os gracejos sobre as relações futuras do menino ou da menina que se forma: “vai ser namoradinha dele” ou “bonito assim vai pegar todas”. O que a teoria queer ressalta é que essas expectativas sociais são normativas e traduzem vivências sociais nas quais as pessoas são formadas para adotar em modelos de masculinidade e de feminilidade. A continuidade entre sexo, gênero e orientação sexual é uma construção social e não deriva de dados naturais, pré-determinados e imutáveis. Somos culturalmente ensinados, por meio de discursos, práticas e disciplinas a adotarmos normas que prescrevem como ser (mulher 28
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ou homem – cis gênero) e como se relacionar (heterossexualmente). Esses métodos de aprendizado de gênero e sexualidade perpassam toda a vida social: envolvem desde as brincadeiras e vestimentas para tornar meninas femininas e meninos masculinos, até a divisão de banheiros, passando pelas divisões de tarefas domésticas que se traduzem, na vida adulta, em divisões sexuais de trabalhos. O que o movimento queer ressaltou é que essa construção social é um processo de imposição violenta de normas. Os corpos, prazeres e relações são controlados para se adequarem à norma cisheterossexual, como se essa fosse um destino natural. Aquelas e aqueles que não se enquadram em modelos vigentes de feminilidade ou masculinidade são produzidos como anormais. Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgênero e intersexos são apenas algumas das identificações desqualificadas como desvios dessas normas de gênero e sexualidade.
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DE OLHO AQUI
mulheres trans que vivem na pele a transfobia e o machismo estão morrendo todos os dias dados e gráficos do descaso explicando a problemática
“11 lindos retratos capturam o espírito de jovens transgêneros” modelo: Farida Lemeatrag
O Brasil continua a ser o país que mais mata travestis e transexuais em todo o mundo. Esse é o alerta do novo dossiê da Associação Nacional de Travestis e Twransexuais (Antra), publicado nesta quarta-feira (29) em razão do Dia Nacional da Visibilidade Trans. De acordo com o documento,124 pessoas trans foram assassinadas em 2019. O México, que está em segundo lugar no ranking global, reportou metade do número de homicídios. A maioria das mortes em território brasileiro foi registrada na região Nordeste, onde 45 pessoas trans foram assassinadas. No entanto, em relação a números absolutos, São Paulo foi o estado que mais matou essa população no ano passado, com 21 assassinatos. O Ceará aparece logo em seguida, com 11 casos. Outro dado revelado pelo levantamento explicita a gravidade da violência: 80% dos assassinatos apresentaram requintes de crueldade, ou seja, a maioria das mortes ocorreram após violência excessiva. Do total, apenas 8% dos casos tiveram suspeitos identificados. Bruna Benevides, secretária de articulação política da Antra e autora do dossiê, ressalta a importância do levantamento, que está em sua terceira edição. “A LGBTfobia, especialmente a transfobia, é estrutural e estruturante de nossa sociedade. Por conta disso, esse trabalho vem dizer à população em geral que a população trans é extremamente vulnerabilizada e marginalizada. E que são necessárias ações focais e emergenciais para frear essa violência e garantir que possamos nos desenvolver. [Que possamos] ser inseridas na sociedade de forma plena, com respeito à nossa autonomia e à nossa identidade de gênero em sua integralidade”, afirma Benevides. O número de assassinatos em 2019 foi menor em relação aos últimos dois anos. Em 2017, foram 179 assassinatos e, em 2018, 163. Entretanto, Bruna pondera que, apesar da queda maio 2021
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dos números, não há diminuição efetiva da violência. Apenas de 1º a 24 de janeiro de 2020, por exemplo, houve um aumento de 180% no número de homicídios em relação ao ano anterior. “Qual pessoa trans se sente segura no Brasil? Saímos de casa e não sabemos se iremos voltar. Se iremos ser proibidas de acessar serviços públicos ou espaços comuns, especialmente neste momento em que tem piorado a forma com que a sociedade tem reagido ao avanço de nossas conquistas, muito motivado por um discurso e agenda ‘antitrans’ e ‘antigênero’ que se instalou na esfera governamental”, denuncia, acrescentando que o Brasil passou do 55º lugar para o 68º no ranking de países seguros para a população LGBT. Conforme dados divulgados pela organização Gênero e Número, no ano passado também foi registrado um aumento de 800% das notificações de agressões contra a população trans, chegando ao número de 11 pessoas agredidas diariamente no Brasil.
Perfil
O dossiê também apresenta as principais características das vítimas da transfobia em 2019. Segundo a Antra, entre o total de vítimas, 80% eram negras e 97,7% do gênero feminino. A associação assinala que uma pessoa trans tem mais chance de ser assassinada entre 15 e 45 anos. Mas, a cada ano, a idade das vítimas é ainda menor. Ano passado, por exemplo, três adolescentes trans de 15 anos foram mortas. Duas delas apedrejadas até a morte e a terceira espancada e enforcada, com sinais de violência sexual. Na avaliação da porta-voz da Antra, a compilação dos dados revela a omissão do Estado brasileiro frente a essa violência. “O país segue no topo de assassinatos contra pessoas trans e nada tem sido feito. Nada. Nem mesmo o levantamento destes dados que, até então, são feitos exclusivamente pela sociedade civil. A violência enfrentada pela população trans é específica, devido à discriminação pelo gênero e a própria condição trans, e precisa de formas específicas de combate da mesma”, aponta Bruna Benevides. A vulnerabilidade socioeconômica e de trabalho, a qual as pessoas trans estão submetidas também são destacadas pela Antra. De acordo com o dossiê, estima-se que 90% das mulheres trans estejam na prostituição, sujeitas a diversas formas de violência. Prova disso é que mais da metade dos homicídios de 2019 aconteceram nas ruas. 32
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Fonte: Bruna Benevides (Antra) Arte: Fernando Bertolo
Subnotificação
A Antra argumenta ainda que a falta de informações sistematizadas pelo Estado dificultam o monitoramento do índice de assassinatos e leva a a uma subnotificação dos casos. Para a produção do dossiê, por exemplo, foram utilizadas notícias veiculadas em mídias de todo o país. “O não registro não gera dados e mascara os números reais. A subnotificação é um problema tão grave quanto a violência em si. Pois ela é uma violência institucional que não reconhece a LGBTIfobia por suas causas, e ignora também suas consequências”, critica Bruna Benevides. Ela exemplifica que só foi possível a sistematização de dados completos sobre o feminicídio quando a Lei do Feminicídio foi aprovada, mas, no caso da violência contra LGBTs, isso não acontece. “Apesar de termos a decisão do STF [que reconheceu a discriminação contra a população LGBTI como uma forma de racismo], ela não foi incorporada no dia a dia e nos transcursos das ações de segurança. Existe todo um lobby fundamentalista que quer derrubar a própria decisão do STF”, diz. A autora do dossiê lamenta que, sob o governo atual, o transfeminicídio - classificado como o assassinato sistemático de travestis e mulheres transexuais - pode recrudescer. O termo é descrito pela associação como uma “política disseminada, intencional e sistemática de eliminação da população trans, motivada pelo ódio, abjeção e nojo.” “A fala de Bolsonaro que diz que a minoria deve se curvar à maioria se reflete em reações odiosas contras nós. É um incentivo direto à violência”, critica em referência à frase dita pelo presidente brasileiro durante as últimas eleições. O documento da Antra registra ainda que travestis foram assassinadas aos gritos de “Bolsonaro”. O mesmo aconteceu no período eleitoral, em 2018. maio 2021
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O problema de desigualdade também recai nos cis gêneros! Também é preciso Lutar por inclusão do protagonismo do gênero feminino
O que é Igualdade de gêneros:
Fotografia de Retrato de Belas Artes e Beleza Escura Por Haris Nukem
Igualdade de gêneros significa que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos e deveres. Também conhecida como igualdade sexual, esta é considerada a base para a construção de uma sociedade livre de preconceitos e discriminações.Homens e mulheres devem ser livres para fazer as suas escolhas e desenvolver as suas capacidades pessoais sem a interferência ou limitação de estereótipos. Todas as responsabilidades, direitos e oportunidades devem ser igualmente concedidas para todos os gêneros, sem haver qualquer tipo de restrição baseada no fato de determinada pessoa ter nascido com o sexo masculino ou feminino. A luta pela igualdade de gênero se intensificou em meados do século XX, impulsionada, principalmente,pelo movimento feminista. Um importante ícone neste processo é a feminista francesa Simone de Beauvoir, que marcou a consolidação de uma nova etapa do Feminismo com a publicação do livro “O Segundo Sexo”, em meados da década de 1960. Muitos direitos já foram conquistados em nome da igualdade de gêneros (como o direito ao voto das mulheres, por exemplo), mas existe ainda um longo caminho para desconstruir a visão preconceituosa e estereotipada que está entranhada na sociedade. Exemplos de desigualdades de gênero estão presentes em pequenas situações do cotidiano, onde mesmo as mulheres participam como incentivadoras para a segregação entre “tarefas masculinas” e “tarefas femininas”. Por exemplo, em muitas famílias as meninas são as responsáveis em arrumar a cozinha, lavar a roupa e a louça após o jantar, enquanto que os homens vão assistir televisão, ler o jornal ou simplesmente descansar. maio 2021
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O Brasil é um dos países com maior desigualdade entre os gêneros
O feminismo não é uma luta pela superioridade do sexo feminino sobre o masculino, pelo contrário, trata-se de alcançar a igualdade de gênero.
Igualdade de gênero no Brasil
O Brasil é um dos países com maior desigualdade entre os gêneros. De acordo com informações da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad), em 2014, as trabalhadoras brasileiras recebem aproximadamente 27% menos do que os homens que desempenham funções similares. O aspecto profissional é apenas um exemplo de muitos existentes no país e que fazem com que o abismo da desigualdade entre os gêneros continue enorme.
Igualdade de gênero na escola
A educação para a conscientização das pessoas sobre a importância da igualdade entre gêneros para o desenvolvimento de uma sociedade mais igualitária e democrática, deve estar presente desde os primeiros anos de vida da criança. Em 2014, o debate para a inserção de metas relacionadas ao combate à discriminação e a desigualdade de gêneros no Plano Nacional de Educação (PNE) se intensificou. De acordo com a proposta do PNE, todos os municípios e estados. maio 2021
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O que é ganância por pink money? Pink Ads — Publicidade
codigo de acesso para a música “money” do pink floyd
ustentabilidade e desenvolvimento verde eram tendência na década de 90. Todas as marcas queriam mostrar o seu lado eco-friendly com iniciativas que protegem o meio ambiente e, muitas vezes, não estavam fazendo mais do que a obrigação. A cor da vez é o rosa. O Pink Money mostra o potencial de consumo da comunidade LGBT+ e as marcas têm enxergado isso como uma oportunidade mercadológica. O dinheiro rosa é uma parte do capitalismo movimentada pelo consumo LGBT+, e isso representa mais de três trilhões de dólares ao redor do mundo. O poder do consumo rosa atrai cada vez mais marcas que querem se aproveitar dessa parcela da população responsável pela movimentação de 150 milhões de reais ao ano no Brasil, segundo a consultoria InSearch Tendências e Estudos de Mercado. O senso do IBGE de 2010 mostrou que casais homoafetivos possuem duas vezes mais renda que os casais heterossexuais, além de gastarem cerca de 30% mais.
Parada do Orgulho LGBT+
A 21ª Parada do Orgulho LGBT+ em 2017 contou com a presença de mais de 18 milhões de pessoas e turistas do mundo inteiro na cidade de São Paulo. As marcas não deixaram isso passar despercebido e criaram diversas ações de guerrilha no dia do evento. A Doritos distribuiu uma versão especial do seu produto durante evento, conhecido como Doritos Rainbow. Era possível adquirir a versão arco-íris do salgadinho online fazendo 40
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está dando visibilidade para a causa LGBT+, visibilidade que nunca tivemos uma doação para a Casa 1, que acolhe e apoia jovens LGBT+ que foram expulsos de casa. A ação gerou uma grande repercussão nas redes sociais e muitas mensagens de apoio e parabenização pela iniciativa. O Burger King, que já realizou ações em prol da causa LGBT nos Estados Unidos, tomou o mesmo posicionamento no Brasil. Durante a Parada do Orgulho LGBT+ de 2017, distribuiu mais de 100 mil coroas com as cores da bandeira LGBT+ estampadas. A marca também já trabalhou com a drag queen Anny B. na divulgação da campanha “King em Dobro” e brincava com o alter ego da drag. A Skol lançou latas exclusivas com a bandeira LGBT+ em seu logo, reforçando o seu apoio ao movimento de uma maneira incrível e, mais uma vez, quebrando a imagem machista que temos da comunicação
das marcas de cerveja. Essa lata especial foi comercializada no dia do evento e parte da renda foi destinada à Casa 1. A Skol também era patrocinadora oficial da 21ª Parada do Orgulho LGBT, e o seu posicionamento faz parte da campanha #RespeitoIsOn, que contou com diversos inlfuenciadores, como Lorelay Fox, Karol Conká.
Oportunismo ou apoio?
Com tantos artistas e marcas se posicionando a favor da causa LGBT+, levantamos o questionamento: isso é real ou apenas uma estratégia de marketing? Os mais radicais podem dizer que é tudo encenação e oportunismo, mas ainda assim, está dando visibilidade para a causa LGBT+, visibilidade que nunca tivemos. Essa representatividade midiática mostra como a causa cresceu e como estamos tendo mais oportunidades, tanto de fala,como de direitos. O termo pinkwashing (mostrar inclusão de uma maneira oportunista e não ser inclusivo) já foi criado, e tem o mesmo sentido que o greenwashing (discurso sustentável enganoso e não aplicado aos processos produtivos da empresa). Algumas marcas podem tentar viver de aparência, tentando mostrar um posicionamento gay-friendly, mas se for algo inconsistente e oportunista, o público irá perceber e todo o apelo maio 2021
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LGBT+irá se voltar contra ela. Empresas que querem mostrar inclusão, devem ser inclusivas. Queremos ver em seus corredores todos os tipos de pessoas; queremos ver diversidade. Quais marcas realmente praticam essa militância em ambiente interno? Saber disso é tão importante quanto os seus anúncios gayfriendly, muitas vezes criados por homens heterossexuais, brancos e ricos, e que não vivem na pele a essência do que estão falando. A vivência diz muito sobre nós e como queremos nos ver representados na mídia, seja em programas de TV ou em anúncios publicitários.
Intimidação das marcas
Posicionamentos relacionados à identidade de gênero e orientação sexual ainda são vítimas de ataques de ódio nas redes sociais, além de ameaças de boicote e denúncias ao CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), causando uma sensação de intimidação nas marcas. Nem sempre o público da marca está de acordo com a causa LGBT+, e a repercussão, como foi o caso da OMO, passa a ser muito negativa. Embora a iniciativa da OMO tenha sido incrível, a marca sofreu ameaças de 42
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boicote usuários furiosos com o seu posicionamento. A marca levantou um questionamento importante para os pais em relação aos estereótipos de gênero, mas depois desse feedback, não sabemos qual será o seu próximo movimento. Falamos sobre o case da OMO. É preciso estudar o público e saber como falar. A diversidade e a inclusão são temas importantes, mas devem ser planejados com cautela. Não podemos nos reprimir por ataques de ódio, e não podemos deixar que as marcas abandonem esse posicionamento por ameaças de boicote. A comunidade LGBT+ deve lutar ao lado das marcas que nos trazem visibilidade, e ajudam a desconstruir conceitos tão arcaicos. Já conquistamos espaço midiático e não devemos recuar. Vemos gays, lésbicas, trans, drag queens (como Pabllo Vittar que anunciou parceria com a Coca-Cola) em anúncios de grandes marcas e isso deve ser recorrente. Além do papel importante em construir uma sociedade mais igualitária e plural.
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SENTIU ?
Black Lives Matter, o rumo incerto do grande movimento antirracista Os protestos conseguiram dar visibilidade à discriminação racial e a violência policial nos EUA e se tornaram um dos maiores movimentos sociais da história do país. O desafio agora é se materializar em propostas concretas
São apenas três palavras, escritas em cartazes fincados nos jardins de casas espalhadas por todos os cantos dos Estados Unidos. Pintadas, em gigantescas letras amarelas, numa rua junto à Casa Branca. Em manchetes da imprensa do mundo todo, nas vitrines das lojas, nos anúncios das grandes marcas, em fotos de perfis nas redes sociais de cidadãos comuns e de personalidades famosas do esporte, da cultura e da política. Black Lives Matter (BLM): vidas negras importam. Uma frase de três palavras que catalisa o que muitos acadêmicos concordam em qualificar como o maior movimento de protesto da história norte-americana. “Em intensidade e em alcance geográfico, é o movimento de protesto mais amplo da história dos Estados Unidos”, afirma Neal Caren, professor de Sociologia da Universidade da Carolina do Norte, especialista em movimentos sociais contemporâneos nos EUA. “Nunca antes houve tantos protestos, durante tanto tempo e em tantas comunidades diferentes.” Desde a morte de George Floyd, um homem negro enforcado por um policial de Minneapolis em 25 de maio, houve pelo menos 7.750 manifestações associadas ao movimento Black Lives Matter em 2.000 localidades dos 50 Estados e no distrito de Columbia, segundo uma contagem da Universidade de Princeton e do Armed Conflict Location and Event Data Project (Acled), organização que pesquisa sobre protestos no mundo todo. Quase um em cada 10 norte-americanos adultos disse ter participado de alguma dessas manifestações, segundo um estudo publicado em junho pela empresa Civis Analytics, e metade dos que disseram ter participado dos protestos informaram que era a primeira vez que se manifestavam. A imensa maioria dessas manifestações transcorreu de forma pacífica: em 93% delas não houve nenhum dano grave a pessoas ou propriedade, segundo o mesmo estudo do Acled. É difícil estabelecer até que ponto cada um desses protestos foi influenciado pelo Black Lives Matter, surgido há sete anos como um movimento minoritário de protesto contra a brutalidade policial em relação à população negra. Mas é igualmente difícil maio 2021
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negar que ele proporcionou um lema, uma guia, um canal de comunicação e um marco para atrair novos ativistas. “Não há uma carteirinha de sócio, parece mais um slogan”, explica Pamela Oliver, professora-emérita da Universidade de Wisconsin, especialista em ação coletiva e movimentos sociais. “Há uma ampla gama de pessoas que protestam e uma organização que trata de controlar sua marca. Ao menos desde o movimento de direitos civis dos anos sessenta falamos de protestos sociais complexos e descentralizados, e agora inclusive há múltiplas organizações locais na mesma cidade.” Sem uma hierarquia, sem um manifesto e sem uma estrutura clara, o BLM se tornou um poderoso instrumento para a mudança e uma voz fundamental no tema racial nos Estados Unidos. Depois da morte de Floyd, houve uma inédita onda de doações a coletivos que lutam pela justiça racial, o que redesenhou em questão de semanas o mapa do ativismo. A ActBlue, plataforma líder em doações online para causas progressistas, registrou em junho seu período mais ativo, acima dos picos mais altos das recentes primárias presidenciais. A fundação Black Lives Matter Global Network criou um fundo de 6,5 milhões de dólares (34,5 milhões de reais) à disposição das organizações locais filiadas, para financiar seu trabalho de base. “Virou uma marca de movimento social com a qual as pessoas conseguem se identificar”, diz Caren. “Falamos de muita gente local socializando o que tem através de organizações que existiam, mas se renovam, outras novas, ou simples convocações em redes sociais. Não há um comitê central. Essa flexibilidade permite se adaptar às necessidades de cada comunidade. Demonstraram que são bons chamando a atenção sobre temas. Também, em muitas cidades, obtiveram mudanças notáveis em políticas concretas, pressionando políticos locais, e é raro que um movimento consiga isso tão rápido”. O BLM nasceu em 2013, apenas como uma hashtag, depois que o vigilante de bairro civil George Zimmerman foi inocentado pela morte a tiros do adolescente negro Trayvon Martin, em fevereiro de 2012, na Flórida. Foi concebido por três mulheres negras, Alicia Garza (Los Angeles, 1981), Patrisse Cullors (Los Angeles, 1984) e Opal Tometi (Phoenix, Arizona, 1984) como “uma rede global dirigida por seus membros” que representa “uma intervenção ideológica e política em um mundo onde as vidas negras são sistemática e propositalmente marcadas para morrer”. 46
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SENTIU ? “stephanie obasi” por Oye Diran
Em 2014, o movimento começou a ter relevância nacional nos protestos pelas mortes de Eric Garner em Nova York e de Michael Brown em Ferguson (Missouri) pelas mãos da polícia. A violenta repressão dos protestos de Ferguson mobilizou uma nova geração de ativistas. Também aumentou a sensibilidade midiática à sistemática morte de negros pela polícia. Em 2016, o BLM tinha mais de 30 seções nacionais. “O movimento não surgiu do nada, se conecta ao passado”, afirma Oliver. “Desde o Occupy, em 2011, houve movimentos de protesto de maneira consistente. Pode-se falar de uma onda de protestos, que cresceu com a chegada de Trump. Recordemos que esta Administração enfrentou protestos desde o primeiro dia: a marcha das mulheres, a imigração, a mudança climática. A morte de Floyd inspirou muita gente, mas já havia uma rede preparada para organizar protestos.” A confluência da pandemia do coronavírus, concordam os especialistas, tem a ver com a mobilização maciça depois da morte de Floyd. “Por um lado, a pandemia mudou a estrutura das vidas, as pessoas têm mais tempo, estão mais em casa. Por outro lado, houve uma mudança no sentimento de empatia, de compreensão: as pessoas se identificam mais com os problemas dos outros”, diz Caren. Sob a influência do BLM, ocorreu uma evolução significativa na opinião pública. Segundo um levantamento de junho do The Washington Post, 69% dos norte-americanos acreditam que a morte de Floyd reflete um problema mais amplo de como a polícia trata os negros, frente a 29% que acreditam ser um incidente isolado. Em 2014, 51% acreditavam que as mortes de afro-americanos por policiais eram incidentes isolados. No fim de junho, segundo o estudo do Civis Analytics, 62% dos norteamericanos manifestavam apoio ao BLM ― sendo 47% entre os que votaram em Trump em 2016. Os recentes episódios violentos em Kenosha (Wisconsin) e Portland (Oregon) e o empenho do presidente Trump em falar de “caos” e “terrorismo doméstico”, o que levou os protestos ao centro da campanha para as eleições presidenciais de novembro, constituem novos desafios para o movimento. Não houve pesquisas eleitorais importantes depois do ataque a tiros contra Jacob Blake em Kenosha, mas as enquetes indicam que os picos de apoio ao BLM registrados depois da morte de Floyd estão recuando. Além disso, manter a chama viva fica mais difícil quando é hora de baixar a políticas concretas. Em um primeiro momento, até o senador republicano Mitt Romney, ex-candidato presidencial e crítico a Trump, apoiou o movimento BLM no Twitter. Mas dificilmente apoiará, como já disse, a exigência dos ativistas de reduzir as verbas dos corpos policiais, dedicando esse dinheiro a políticas sociais. “O desafio é, dentro de alguns meses, como continuar influindo em políticas concretas sem perder apoios. Como articular esse movimento de protesto para propostas específicas de mudança quando as cidades debaterem seus orçamentos”, conclui Caren. maio 2021
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A falta de protagonismo feminino no mundo dos animes Rukhnoteikoku codigo de acesso para a música “Kuusou Mesorogii” da Yousei Teikoku
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ausência do protagonismo feminino é algo que atinge não somente o universo dos animes, mas também dos filmes, séries e livros no geral. Para que vocês tenham uma ideia do quão evidente é a falta de representatividade das mulheres na indústria do entretenimento, basta que façam um rápido teste criado em 1985 pela cartunista Alison Bechdel (posteriormente conhecido como teste de Bechdel) que consiste na seguinte análise: Quantas obras (animes/filmes/séries/livros) vocês conseguem citar dentro de 1 minuto que tenham: a) no mínimo duas mulheres com nomes; b) as mulheres conversam uma com a outra; c) sobre alguma coisa que não seja um homem. É difícil, não? Principalmente se excluirmos as obras que obviamente têm o público feminino como alvo.
Demografias
Akane Tendo é uma
personagem
que pertence a série de mangá e anime Ranma ½
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vejam bem, nós sabemos que assim como os filmes, as séries e os livros, os animes também têm suas demografias, ou seja, títulos que são direcionados a um público específico (shoujo para meninas adolescentes, shounen para meninos adolescentes, josei para mulheres adultas, seinen para homens adultos, são alguns exemplos). Mas no fim das contas, elas apenas servem para garantir que o material venda para aquele público específico. Da mesma forma que cores e brinquedos não têm gênero masculino/
as meninas devem sonhar em encontrar o seu príncipe encantado, enquanto os meninos podem ser aquilo que quiserem feminino (meninas podem gostar de azul e meninos podem gostar de rosa, assim como meninas podem gostar de carrinhos e meninos podem gostar de bonecas), os animes e mangás também não têm: uma menina pode gostar de shounen/seinen e um menino pode gostar de shoujo/josei. Portanto, o que queremos discutir aqui é a falta de representatividade feminina em todos os gêneros (ação, ficção científica, mistério, mecha, etc). É muito comum encontrar o protagonismo feminino em animes shoujo, pois geralmente eles envolvem o padrão daquilo que é considerado “coisa de menina”. Por exemplo, se você for olhar os 10 títulos de animes shoujo mais populares do MyAnimeList, você vai encontrar: → Ouran Koukou Host Club → Kaichou wa Maid-sama! → Tonari no Kaibutsu-kun → Kimi ni Todoke → Vampire Knight → Fruits Basket → Lovely -Complex → Sukitte Ii na yo. → Ao Haru Ride → Vampire Knight Guilty
O que todos eles têm em comum? Romance. Mas não é só isso: geralmente estão inseridos num contexto escolar, slice of life, dentro da normalidade do dia a dia (com exceção de Vampire Knight). Agora, se formos olhar os 10 títulos de animes shounen mais populares, vamos encontrar: → Shingeki no Kyojin → Fullmetal Alchemist: Brotherhood → Naruto → Bleach → Mirai Nikki (TV) → Fullmetal Alchemist → Soul Eater → Fairy Tail → Ao no Exorcist → Naruto: Shippuuden A variação de gêneros dentro dessa demografia é muito maior: encontramos ação, superpoderes, magia, mistério, fantasia, sobrenatural; lutas envolvendo titãs, demônios, ninjas… Tem tudo que é tipo de coisa.
Vamos comparar?
A partir dessa comparação, o que podemos assumir? Falando a grosso modo, é aquela visão perpetuada em nossa sociedade de que as meninas devem sonhar em encontrar o seu príncipe encantado, enquanto os meninos podem ser aquilo que quiserem (um ninja, um exorcista, um mago, o que for, nesse caso). Se levarmos em consideração o conservadorismo da sociedade japonesa, essa questão fica ainda mais evidente. Não estou querendo dizer que não existam shoujos que abranjam outros gêneros ou shounens que não possuam um certo foco em romance, pois eles existem, mas não são tão comuns assim. Eu consigo pensar, por exemplo, em três shoujos que fujam do padrão escolar: Nana, Akatsuki no Yona maio 2021
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e Akagami no Shirayuki-hime. Entretanto, eles não escapam do romance, embora eu considere as três obras até bastante representativas por possuírem protagonistas que buscam o amadurecimento e a independência, sem exercerem o típico papel da princesa que precisa ser eternamente salva pelo seu príncipe. Encontrar shounens com um certo foco em romance, por outro lado, já é mais difícil, mas acredito que daria pra citar três exemplos também: Shigatsu wa Kimi no Uso, Gekkan Shoujo Nozaki-kun e Bakuman. Nesses três casos, porém, não temos ação, ficção científica, mistério, robôs (as “coisas de menino”)… Diria que é um público mais meio a meio do que shounen realmente. Mas sim, eles existem, só que estão longe de ser uma parcela expressiva para dizermos que não falta o tipo de representatividade que estou me propondo a discutir. Eu sei que em todos esses títulos citados é possível encontrar personagens que são meninas e personagens que são meninos. Contudo, observem os protagonistas. Por que no shoujo só temos protagonistas femininas e no shounen protagonistas masculinos? (Sim, tem uma briga por causa disso dentro do fandom de Fairy Tail, Lucy x Natsu, mas mesmo que consideremos Lucy a protagonista, ainda é só uma). Responderão que é por causa do público alvo das demografias. Certo, mas aqui eu me refiro aos gêneros que acompanham os shoujos e os shounens. Visualizem, nesse momento, como o senso comum do que seria o shoujo (coisas fofas) e do que seria o shounen (porradaria), por exemplo. 54
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Se o foco de uma obra não for romance, é dificílimo encontrarmos uma protagonista feminina. De títulos que sejam minimamente famosos, eu só consigo pensar em dois: Chihayafuru (mas ainda é um josei!) e PsychoPass. É possível que haja outros papéis principais exercidos por mulheres, mas o central quase nunca pertence a uma. Por quê? Por que é tão difícil retratarem mulheres que estejam em uma posição de poder? E mesmo que elas estejam em um papel principal, ainda estão a serviço do protagonista. Por exemplo: Mikasa quer proteger o Eren. Riza vive em função do Roy. Yuno quer proteger o Yuki. Percebem? Por que tudo tem que girar em torno dos homens? Por que não podemos ter mulheres fortes, guerreiras, que não dependam ou vivam em função de homens como protagonistas? Sempre que eu encontro uma personagem que possua as características que citei acima, ela é secundária. Eu poderia até abrir uma exceção pra Erza, mas todos sabem como o Mashima trabalha com ela quando o assunto diz respeito ao Jellal. Eu tenho a impressão de que ter uma mulher assim, numa posição de poder, sendo o foco de uma trama, é algo que incomoda. Parece que não querem aceitar mulheres empoderadas. Não querem ver mulheres como protagonistas de grandes histórias de ação, mistério, ficção científica. Nossa representatividade é praticamente inexistente nesses gêneros.
Futaba Yoshioka Personagem ficcional anime e mangá: Ao Haru Ride
Além disso, mesmo quando o protagonismo tem tudo para ser de uma mulher, ele acaba sendo roubado. Por exemplo, quando você lê o título “Akame ga Kill!”, você pensa que a protagonista seria a Akame, né? Mas não: é o Tatsumi. Quando você vê pôsteres de Black Lagoon, você imagina que a protagonista seria a Revy, certo? Mas não: é o Rock. Sem contar que muitas vezes personagens femininas maravilhosas são estragadas por causa de interesses românticos em personagens masculinos. Eu não superei até hoje o que fizeram com a Hakaze de Zetsuen no Tempest, por exemplo. Personagens femininas de harém também são um desperdício total muitas vezes, tipo a Sayaka de Strike the Blood. Era uma personagem bacana, mas o desenvolvimento foi jogado fora depois que ela se apaixonou pelo Kojou.
Esportes: desvalorização e preconceito
E ainda tem os animes de esporte! Com exceção de Chihayafuru (e ainda é misto!) que já falei, quantos títulos famosos de animes de esporte com times femininos vocês conhecem? Por que existe essa noção de que times masculinos são mais interessantes do que times femininos? Por que essa ideia de que homens jogam melhor? Por que uma trama com times masculinos seria mais interessante e mais emocionante do que uma com times femininos? Por que sempre homens? O preconceito, sobretudo com o futebol
feminino, ainda é gigantesco. É tanto que não existe o menor esforço e investimento aqui no Brasil, por exemplo. Ano passado tivemos a Copa do Mundo de Futebol Feminino. Quantos de vocês acompanharam? Quantos de vocês não foram estudar/trabalhar no dia que teve jogo do Brasil? Quantos de vocês sequer sabiam que aconteceu? Percebam, a desvalorização é enorme. Quando a EA Sports anunciou que haveria seleções femininas no novo FIFA, há um ano, houve uma chuva de comentários machistas, dizendo que “futebol era coisa de homem” e que não tinha nada que ter seleções femininas no jogo. Porque, obviamente, quando se trata da inclusão feminina em qualquer tipo de ambiente ou de conceder direitos às mulheres, sempre há “coisas mais importantes para se fazer/discutir/preocupar”. Porque, é claro, mulheres são burras e não entendem de futebol (vide a “incapacidade” de entender a regra do impedimento). Desvalorização do futebol feminino? Check. Tudo isso reflete nos animes também. Kuroko no Basket, Haikyuu!!, Diamond no Ace, Free!, Yowamushi Pedal… As meninas sempre recebem um único papel: manager. Sim, Kuroko no Basket tinha a Alex e a Masako. Haikyuu!! tinha o time das meninas. Mas qual o tamanho da relevância dessas personagens quando comparadas a toda a história? Ademais, estamos cientes de que há alguns animes de esporte com times femininos que foram produzidos, mas a quantidade de títulos é escassa e muitas vezes eles são difíceis de encontrar. Eles maio 2021
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também não chegam nem perto da qualidade dos títulos mais populares (todos com times masculinos) e, enquanto você pode encontrar títulos com times masculinos de diversos esportes, com times femininos a variedade é minúscula. Honestamente, como mulher, me sinto decepcionada e muito mal representada (ainda mais na questão dos esportes, tendo em vista que já pratiquei handebol na época de escola e também já fui acompanhante assídua de futebol por alguns anos, enquanto tinha tempo de sobra). Para quem é homem, essa discussão pode até parecer uma besteira, afinal de contas, vocês são representados em absolutamente todos os lugares, em todas as mídias, podendo ser qualquer coisa. Nós não. Com tudo isso eu não estou querendo dizer que as obras que têm protagonistas masculinos são ruins. Muito pelo contrário, eles são os protagonistas dos meus animes preferidos (com exceção de PsychoPass), inclusive até já recomendei Haikyuu!! aqui. A questão é que essas obras poderiam ser igualmente boas com protagonistas femininas, considerando que o que diz se uma obra é boa ou não, é todo o conjunto que a forma. Haveria uma única diferença: nesse caso, estariam contribuindo com a representatividade das mulheres, que é um fator muito importante. 56
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Questão Cultural
Eu também sei que existe uma questão cultural envolvida. No Japão, é difícil até para as mulheres conseguirem publicar mangás que fujam das demografias que esperam que elas publiquem (vide Hiromu Arakawa, criadora de um dos melhores mangás shounen de todos os tempos, Fullmetal Alchemist, que teve que modificar o seu nome para colocálo em suas publicações). Sabem por que a Arakawa fez isso? Porque muita gente deixaria de ler o mangá dela se soubessem que era feito por uma mulher. Parece familiar? Pois é, J. K. Rowling, autora da saga mundialmente reconhecida de Harry Potter, teve que abreviar o seu nome pelo mesmo motivo. Existe uma espécie de consenso entre os fãs de anime que Fullmetal Alchemist é o melhor shounen de todos. Fullmetal Alchemist: Brotherhood (a adaptação em anime mais fiel ao mangá) estreou em 2009 e acabou de ser televisionada na metade de 2010, e até pouquíssimo tempo atrás (cerca de um ou dois meses) estava em primeiro lugar na lista geral de melhores animes do MyAnimeList, com mais de 670 mil membros. Ele só cedeu o lugar para Gintama que, por sua vez, ainda está no ar e só possui cerca de 87 mil membros. Vocês conseguem imaginar que teria gente que deixaria de ler/ assistir essa obra tão incrível que é Fullmetal Alchemist simplesmente pelo fato da criadora dela ser uma mulher? E que a mesma coisa aconteceria com fucking Harry Potter? Na minha opinião, o melhor shounen realmente é FMA, que logo depois é seguido por Magi: The Labyrinth of Magic de Ohtaka Shinobu, meu mangá preferido. Eu fico feliz que os dois melhores shounens para mim sejam
Mikasa Ackerman Personagem ficcional Anime e magá: shingeki no kyojin
criados por mulheres (e eu nem sabia disso na época que comecei nenhum dos dois), mas eles são exceções, e infelizmente não fogem dos problemas que discuti acima (ausência de protagonismo feminino, personagens femininas que vivem em função de um homem, etc). O machismo, sobretudo no Japão, ainda é muito forte. Mesmo que Arakawa ou Ohtaka desejassem fazer histórias com protagonistas femininas, elas não venderiam ou seriam reconhecidas tão bem quanto foram, portanto essa limitação ainda existe e não muda pelo fato de elas serem mulheres.
Considerações Finais
Se formos observar os sucessos de cinema mais recentes, até que o Ocidente tem progredido mais rápido no que diz respeito ao protagonismo feminino (Hunger Games, Star Wars), mas obviamente nem todo mundo recepcionou isso de uma boa forma (comentários de machistas são o que não falta), e ainda é pouco, muito pouco. Vamos continuar exigindo que abram espaço para as mulheres, para que possamos trabalhar com o que quisermos (seja como mangaká ou como diretora de cinema), para que encontremos a nossa representatividade no material de entretenimento que consumimos. Chamem-nos de feministas chatas, de feminazis, do que quiserem. Não vamos mais nos contentar com conteúdos que tratem apenas de romance como se isso fosse tudo para uma mulher, não vamos permitir que a retratação dos nossos corpos seja apenas uma ferramenta para vender mais, não vamos nos contentar em sermos representadas somente como personagens secundárias ou que vivam pelo interesse em um homem ou por um homem. Nós vamos lutar, maio 2021
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Holland, Neverland e a visibilidade LGBTQ no K-pop Beatriz Filippo
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Foto do acervo pessoal do artista
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olland, um novo cantor solo na indústria do K-Pop, conseguiu agitar a internet com um simples teaser para seu debut. Tudo porque o vídeo mostrou o relacionamento amoroso entre dois homens. Apesar de se tratar de imagens mais comum para muitos fãs internacionais, que já tem uma familiaridade maior com esse tipo de cena – seja por testemunhar no dia a dia ou em produções audiovisuais, como séries e filmes –, todos sabemos que é um grito de resistência na Coreia do Sul, país onde existe uma pungente indústria do entretenimento, na qual a relação com a homossexualidade é frequentemente resumida a brincadeiras, interações planejadas entre os artistas e pouquíssimas figuras públicas assumidas. Quando rola o papo de que representatividade importa, é real! Quem participa da comunidade de K-Poppers brasileiros, por exemplo, sabe que não apenas shippar casais do mesmo gênero é uma prática recorrente entre os fãs, mas também uma parte significativa de seus participantes de fato pertence a comunidade LGBTQ. A resposta dos fãs de K-Pop ao surgimento de um ídolo com o qual possam se identificar genuinamente – não partindo de suposições derivadas de interações entre artistas que nunca assumiram sua orientação sexual – mostra a importância de termos, como
na vida real também é lindo, mas descriminado, então precisamos respeitar a coragem de quem se expõe dessa forma referência, pessoas públicas que realmente se assemelham conosco. Holland, que recebeu uma quantidade esmagadora de amor dos recentes fãs brasileiros, compartilhou uma mensagem de encorajamento no twitter: “Mantenha seus medos para si próprio e divida sua coragem com os outros. Obrigado!”. Dessa vez não partiu dos fãs a premissa de que a barreira linguística não os impede de se comunicar e se envolver com os artistas coreanos. Holland percebeu o expressivo interesse e apoio dos brasileiros – que já enchem suas redes sociais de “come to Brazil” – e mostrou seu esforço ao traduzir uma pequena mensagem para o português e outra para o espanhol, tudo para facilitar a compreensão dos interessados no lançamento de seu MV. O lançamento do clipe, assim como o teaser, movimentou os K-Poppers nas redes sociais. A hashtag #HollandDebutDay trendou, enchendo o Twitter de declarações de apoio ao artista. Para alguns o MV pode soar clichê ou mais do mesmo, trazendo cenas comuns de um relacionamento: momentos mais românticos, felizes; e as partes mais complicadas como as brigas. Afinal é o que mais temos visto ao longo de anos em vídeo clipes: com casais héteros. O simples fato do contexto trazer um casal homossexual já mostra a coragem e a
tentativa de quebrar com o cenário conservador da indústria. Os fãs especulam que, no clipe, a razão do término, durante a briga deles na praia, é a pressão e rejeição da sociedade sobre um casal gay. Sendo assim, todas aquelas cenas fofas, onde os meninos estão juntos e felizes, tratam-se apenas de memórias de Holland, que ao longo do clipe aparece diversas vezes sozinho e triste. A letra da música também pode dar uma interpretação diferente. Holland canta sobre como crescemos ouvindo o quão errado é ser gay e, muitas vezes, aceitamos esse e outros discursos preconceituosos, percebendo o erro conforme vamos crescendo e entendendo melhor sobre o mundo e nós mesmos. A “Neverland” que o cantor menciona seria o local de pureza e felicidade etérea que encontramos quando nos apaixonamos e o amor se mostra a escolha certa, não importa sua natureza. A melancolia e o sentimento que a música e o MV passam, de um desejo de felicidade distante da própria realidade, lembram um pouco o trabalho do Troye Sivan – artista australiano conhecido também por colocar no mainstream a realidade da juventude LGBTQ. Outro ponto semelhante entre os dois cantores é a estética presente em seus clipes. Assim como Troye Sivan, Holland se utiliza do que na internet é chamado de “eye pleasing” – ou estética agradável – que não apenas complementa as cenas de romance, mas também consegue incoporar beleza às cenas mais tristes. Explorando comentários sobre o maio 2021
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Imagem retirada do videoclip de Holland, da música “NEVERLAND”
debut de Holland podemos encontrar também muitas declarações sobre fãs felizes em ver as cenas de romance entre dois meninos, mas o que precisamos lembrar é que se tratam de dois profissionais: um cantor e outro modelo/ator. O MV é importante no que tange a visibilidade gay na Coreia do Sul, não consiste em um material para shippers. Tudo bem acharmos as cenas lindas, mas o ponto ali é que: na vida real também é lindo, mas descriminado, então precisamos respeitar a coragem de quem se expõe dessa forma. Como o próprio Holland, que, segundo os artigos sobre seu lançamento, é assumidamente gay. Como fã de K-Pop há nove anos e parte da comunidade LGBTQ, sempre esperei pelo momento em que veríamos um K-Idol se assumindo e inspirando seus fãs e pessoas no geral, afinal a influência de um ídolo na vida de seus fãs e da comunidade K-Popper é muito grande. Por outro lado, o receio diante do que tal ídolo passaria me fez repensar esse desejo várias vezes. O abraço da comunidade internacional de K-Poppers é um grande alívio e incentivo para um artista que corre grande risco de ser marginalizado em seu país de origem. Até porque, até então, é esse grupo que vem apoiando e permitiu que o MV de Holland atingisse 1M de views em apenas um dia. Enquanto isso, o MV foi classificado como indicado para maiores de 19 anos por um simples beijo e não houve nem sombra de qualquer opinião da comunidade coreana de K-Poppers. maio 2021
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CURTA
filmes sem abuso do pink money e com renda convertida para ONGs de movimentos de gênero 5 obras que falam um pouco sobre algumas situações na comunidade LGBTQ+ e feminismo cartazes dos filmes citados no texto
1. As Sufragistas
O início da luta do movimento feminista e os métodos incomuns de batalha. A história das mulheres que enfrentaram seus limites na luta por igualdade e pelo direito de voto. Elas resistiam à opressão de forma passiva, mas, a partir do momento em que começaram a sofrer uma crescente agressão da polícia, decidiram se rebelar publicamente.
2. Meu nome é Ray
Ray nasceu mulher, mas nunca se identificou com o gênero e se prepara para fazer a cirurgia de redesignação de gênero. Sua mãe, Maggie, tenta encontrar a melhor forma de lidar com a questão, mas a avó homossexual de Ray, Dolly, recusa-se a aceitar a resolução e cria um conflito familiar.
3. Call me by ypur name
O sensível e único filho da família americana com ascendência italiana e francesa Perlman, Elio (Timothée Chalamet), está enfrentando outro verão preguiçoso na casa de seus pais na bela e lânguida paisagem italiana. Mas tudo muda quando Oliver (Armie Hammer), um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai, chega.
4. Hoje eu quero voltar sozinho
Leonardo, um adolescente cego, tenta lidar com a mãe superprotetora ao mesmo tempo em que busca sua independência. Quando Gabriel chega em seu colégio, novos sentimentos começam a surgir em Leonardo, fazendo com que ele descubra mais sobre si mesmo e sua sexualidade.
5. Eu
Marcelo é um empresário que tem um desejo incontrolável de estar na companhia de belas mulheres. Ele está circulando com Renata (Monique Lafond) e Lila (Nicole Puzzi), garotas de programa, com quem planeja passar as festas de final de ano em sua casa de praia, que fica num local privilegiado. Porém ele nutre uma paixão secreta por Berenice (Bia Seidl), sua filha, que não vê há vários anos. maio 2021
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CURTA
5 podcasts sobre feminismo para ouvir e refletir Tire um tempinho para ouvir importantes reflexões sobre o universo feminino
1. Mamilos
“Jornalismo de peito aberto”. Assim é a definição do Mamilos, comandando por Juliana Wallauer & Cris Bartis. Um podcast para quem quer ficar bem informada, que traz debates sobre os principais assuntos da atualidade em política, economia, sociedade e claro, o feminismo.
2. Lugar de Mulher
Comandado pelas historiadoras Kelly Morato, Maria Visconti e Natália Ribeiro, traz debates sobre humanidades, educação, ciência, cultura pop e o lugar da mulher em todos estes assuntos.
3. Conexão Feminista
Feminismo, igualdade, violência contra a mulher, experiências de vida e saúde feminina: estes são os temas dos bate-papos trazidos em cada episódio do podcast Conexão Feminista comandado por Heloisa Righetto e Renata Senlle - e que também recebem convidados especiais.
4. Afetos
A ideia do podcast é falar sobre tudo aquilo que afeta as comunicadoras Gabi Oliveira e Karina Viana e dessa forma, aproximar pessoas do que sensibiliza a dupla. Nos episódios, elas questionam a maneira que as mulheres lidam com o prazer na vida.
5. Bom dia, Obvious
código para acesso dos podcasts no spotify
A CEO e diretora criativa da Obvious, Marcela Ceribelli, recebe convidadas para conversas abertas sobre assuntos atuais do universo feminino: saúde mental, autocuidado, carreira, autoestima, relacionamentos, entre outros. O podcast questiona: o que você vai fazer pela sua felicidade hoje? maio 2021
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CURTA
Horóscopo: veja as previsões para seu signo entre os dias 3 e 9 de maio
André Mantovanni revela como estão as influências dos astros para a primeira semana do mês.
O astrólogo André Mantovanni contou tudo sobre as influências dos signos para esta semana, entre os dias 3 e 9 de maio, no “Melhor da Tarde”. Curioso para saber o que os astros reservam pra você? Energias boas, ótimas e ruins rondam o mês. Confira abaixo o que o astrólogo tem a dizer:
Signos com ótimas influências Câncer: caminhos abertos, progresso e desenvolvimento profissional marcarão sua semana. Seja forte, independente e corajoso. Virgem: você terá clareza interior para buscar realizações e oportunidades. A prosperidade e o amor estarão presentes nessa fase. Sagitário: solução para antigos problemas vão chegar logo. Use esta fase para aproveitar melhor as oportunidades de crescimento e progresso no campo profissional e financeiro.
Signos com influências difíceis Áries: semana de cautela com a comunicação e a falsidade. Preste atenção e não vacile, seja racional. Touro: lembre-se que as aparências enganam e muito. Semana de muitas ilusões e falsas promessas, cuidado com gastos excessivos.
Leão: esteja conectado com seu poder pessoal e não se deixe levar por inseguranças. Serão dias de muito trabalho e objetividade. Libra: estabilidade e segurança vão deixar um clima de mais tranquilidade. Não arrisque nem inicie nada novo. Capricórnio: novidades a caminho. Procure Capricórnio: leveza para tomar decisões e não olhe para o passado. Essa fase pede que você se abra para novos horizontes. Aquário: semana de bons amigos ao seu redor, oportunidades e alianças felizes. Não faça nada sozinho e procure por aqueles que estejam na mesma sintonia que você.
Signos com boas influências
Escorpião: momento ideal para você fazer uma reavaliação do que deseja construir em sua vida. Você vai encontrar muitas possibilidades para construir uma nova história.
Gêmeos: semana traz mais leveza, harmonia e alegria de viver. Procure por amigas e mulheres importantes que possam ajudar você.
Peixes: boa saúde e energia positiva para seus caminhos. Você está prestes a colher tudo o que plantou pelo caminho. maio 2021
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CURTA
É pela vida das mulheres: vamos fazer ele cair! Por Débora Sá, Fernanda Maria Caldeira, Kelli Mafort e Renata Porto Bugni
O pior lugar do mundo é aqui e agora! Pelo menos em termos da crise sanitária, pois além de termos uma rápida proliferação do vírus da covid-19 e suas mutações genéticas, convivemos com um projeto de morte liderado por Bolsonaro. A pandemia evidenciou as deficiências de um sistema que prioriza o lucro à vida, que privatiza serviços essenciais, e, pior, que nega vacina à maioria da população global enquanto países ricos as armazenam em números suficientes para imunizar suas populações inteiras por três vezes. Com apoio de um governo que assiste ao surgimento de 33 novos bilionários em 2020 só no Brasil, a gestão do país escolhe não organizar o combate à pandemia, e cortar o auxílio emergencial na quantidade e velocidade necessárias, ao mesmo tempo em que outras milhões de pessoas perdem seus empregos e muitas delas voltam à extrema pobreza. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 100 milhões que compõem a população economicamente ativa, 14 milhões estão desempregados, 6 milhões desalentados, 40 milhões de pessoas vivem de bico e apenas 40 milhões têm carteira assinada (e mesmo estes, com direitos solapados pela reforma trabalhista). Portanto, são 60 milhões de brasileiros e brasileiras em condição de vulnerabilidade e parte disso é tida como massa sobrante que pode ser eliminada – por vírus, fome ou tiro, que pode sair da arma de polícia, milícia ou das forças armadas que seguem ameaçando a incipiente democracia brasileira. A diminuição das políticas sociais, a desvalorização do salário mínimo e a redução no poder de compra das famílias da classe trabalhadora agrava a situação. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese), atualmente o salário mínimo pode comprar apenas 1 cesta básica e meia e não sobra recursos para outras despesas como aluguel, remédios etc. A pandemia escancarou a histórica desigualdade social, e mesmo entre a classe trabalhadora, não somos atingidos da mesma forma. Para nós mulheres, a lata d’água é cada vez mais pesada. As mulheres são responsáveis por 45% das famílias (chefes de família). A metade das que acessaram o auxílio emergencial no ano passado, estão fora do desidratado Programa Bolsa Família e, com isso, já estão mais expostas, tendo que administrar os conflitos decorrentes da falta de alimentos e renda. Nos processos de trabalho, as mulheres atuam nos quatro setores mais atingidos pela crise global da pandemia - hotelaria, restaurantes, varejo e manufaturas - foram, portanto, as que mais perderam empregos no mundo. Também são elas que estiveram (e estão) na linha de frente na área da saúde - elas compõem cerca de 67% da mão de obra do setor no mundo, especialmente na enfermagem – além de estarem elas também na linha de frente do cuidado nas casas e comunidades. Nosso grito vem de Marielles, Dandaras, Olgas e Marias Mahins. Com elas e com todas, vamos construindo desde a Periferia Viva, o nosso Trabalho de Base permanente, a Formação Política inspirada na educação popular de Paulo Freire e nos preparando para os tempos possíveis das lutas rebeldes e insubordinadas. Resistir é a palavra de ordem, mas junto com ela, as mulheres “vão traçando novos planos para poder contra atacar”. dizeres da foto: “se eu quisesse politicos na minha vagina, eu foderia um senador”
Poema Visual - Perfil “Garotices” no Tumblr