EDIÇÃO 01 R$20,00 ABRIL DE 2020
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46. Reacendendo a paixão
18. Qual o preço psicológico do empreendedorismo?
32. Entenda diferenças entre burnout, estresse e depressão
64. Pessoas bem-sucedidas aprenderam com seus erros
78. O que é uma startup e como começar uma
Colaboradores Marcos Mello é designer conhecido principalmente por suas composições tipográficas e seu trabalho com letterpress. Mello ajudou no desenvolvimento do logo da BIZI, além de ter criado as composições tipográficas utilizadas nas aberturas de eixos.
Joan Cornellà é cartunista e ilustrador, conhecido por seus trabalhos controversos e repletos de humor ácido. Ele ilustra nossa matéria Entenda as diferenças entre estresse, burnout e depressão.
Rogério Miranda é fotógrafo, ele trabalha bastante com propaganda ao mesmo tempo que desenvolve trabalhos pessoais. Ele tirou as fotos que estão nas aberturas de eixos.
Escola Superior de Propaganda e Marketing Graduação em Design Turma DSG 3B 2020/1 Projeto III Marise de Chirico Comunicação e Linguagem II Celso Cruz Marketing II Guilherme Umeda
Schessa Garbutt é artista gráfica e está sempre experimentando novas maneiras de criar experiências digitais memoráveis. Ela é a responsável pelas ilustrações de nossa matéria O preço psicológico do empreendedorismo.
Módulo de Cor e Percepção Paula Csillag Produção Gráfica Marcos Mello Projeto Editorial e Gráfico João Vitor Rossetti Júlia Dias Pereira Lucas Sitta Paganelli Maria Julia de Oliveira
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A BIZI foi criada para informar e ajudar o jovem empreendedor. Nossa revista mostra maneiras simples e inovadoras de realizar projetos, lidando com a parte burocrática do mundo dos negócios e resolvendo apertos de maneira prática e efetiva. Vamos te guiar nessa jornada, sem perder tempo e ganhando dinheiro. Além de tudo, vamos ajudar você a clarear a cabeça, enfrentar inseguranças e perceber que mesmo quando as coisas não ocorrem do jeito que planejamos, é possível seguir em frente, tentar novamente e alcançar realizações. Nesta edição iremos abordar desde o preço psicológico do empreendedorismo até mostrar como criar uma startup, de forma a te fazer refletir sobre seus hábitos e pensamentos ao mesmo tempo que desejamos te inserir ainda mais no mundo dos negócios. Nossa primeira capa reflete o universo que desejamos transmitir, os contrastes entre a confusão e a calma e como a união entre eles pode gerar resultados harmoniosos. Dá sim pra cuidar da sua saúde mental e ao mesmo tempo tocar uma empresa pra frente, não acredita? Vira a página pra ver! Inspire. Expire. #Bebizi.
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Suicídio e trabalho: um pesadelo real “Fadigados pela sobrecarga, pela tensão, desconfiança, solidão e angústia, nós ficamos vulneráveis para o adoecimento mental”
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Quero falar disso porque é um tema muito ignorado quando falamos de suicídio
No Brasil, 5,8% dos habitantes – a maior taxa do continente latino-americano – sofrem de depressão
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Eu sei que já escrevi sobre suicídio, mas dessa vez quero trazer uma questão diferente, não relacionada à minha experiência pessoal, mas profissional. Quero falar do suicídio relacionado ao trabalho. Quero falar disso porque é um tema muito ignorado quando falamos de suicídio. Na realidade, quando falamos de saúde mental, muito se fala de questões individuais e pouco se fala de questões sociais e – também, portanto – do trabalho. Eu já falei, no meu texto sobre terceirização, sobre reestruturação produtiva. Um dos efeitos maléficos dessa reestruturação é a fragilidade de vínculos de trabalho, ou seja, a grande chace de se ficar sem trabalho. Vivemos numa sociedade na qual o trabalho é fundamental. É através do trabalho que garantimos nossa sobrevivência. É através do trabalho – infelizmente não como ferramenta de transformação do mundo, mas de produtividade – que somos socialmente valorizados. E é através do trabalho, também, que muitos de nós transformamos.
Estar excluído do trabalho é estar à margem de uma sociedade que deposita seu valor naquilo e no quanto você produz – em valores econômicos, apenas. Quem trabalha, portanto, trabalha sempre sob a angústia da possibilidade de perder seu emprego – seu sustento, seu valor social, ferir parte de sua identidade. Quem não tem emprego tem ainda mais medo: de não aparecer outro bico, outro freela, de não ter o pagamento garantido. Esse medo faz com que nos submetamos a condições de trabalho que não nos fazem bem. Isso é mais grave para pessoas pobres, que tem menos opções de escolha e para quem as consequências de perder uma “oportunidade” são muito mais graves – mas é fácil pensar também em categorias consideradas mais privilegiadas que sofrem intensamente com isso, como programadores, designers, publicitários e bancários. Aceitamos horas extras sem pagamento, trabalhos aos finais de semana. Aceitamos sobrecargas que nos roubam convívio social e espaço para o fortalecimento de outros aspectos de nossa vida, que nos deixam exaustos e fragilizados. Aceitamos, por vezes, até mesmo humilhações, agressões – ou mesmo passarmos por cima de nossa ética – aceitamos, ou aturamos assédio moral. Passamos a ver nossos colegas e outros profissionais da nossa área como competidores – visão muitas vezes disseminada já nas faculdades 13
e até mesmo nas escolas – pois podem “roubar nossa vaga”, o que reduz oportunidades de compartilharmos experiências, aprendizagens, de nos apoiarmos e confiarmos uns nos outros. Isso produz sensações de isolamento e de permanente desconfiança e tensão, além de, novamente, nos forçarmos a constantemente ignorarmos nossos limites para nos demonstrarmos importantes, úteis e necessários aos nossos locais de trabalho. Em locais nos quais a produção é medida por equipe, passamos a ser vigias e carrascos uns dos outros, temendo que o mal desempenho de um colega nos afete. Acima de tudo, essa competitividade exacerbada dificulta ou impede que nos unamos para lutar contra trabalhos massacrantes. Nesse cenário, trabalhos que poderiam nos dar prazer e orgulho vão, por vezes, perdendo seu sabor. A vida se torna acelerada, cansativa, solitária e sem sentido. Somada a uma cultura que exalta a excelência e o valor por produção e que atribui resultados a fatores individuais, como personalidade e capacidade, nos sentimos fracos, incapazes. Fadigados pela sobrecarga, pela tensão, desconfiança, solidão e angústia, nós ficamos vulneráveis para o adoecimento mental. Não é à toa que os índices desse tipo de adoecimento só têm crescido, bem como os afastamentos do trabalho por questões de saúde mental. É importante destacar que esse cenário do mundo do trabalho está inserido numa sociedade machista, racista, heteronormativa e transfóbica. Isso significa que pessoas que não são do gênero masculino, brancas, heterossexuais e cissexuais sofrem muito mais intensamente com essas questões, visto que suas chances de perder empregos e não conseguirem se recolocar no mercado são ainda maiores, motivadas por preconceitos. 14
Cacau Bridmad é psicóloga, com interesses nas áreas de gênero e saúde do trabalhador.
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Fotografia concedida pela acessoria de Cacau Bridmad.
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Entre bancários, no período de 1996 a 2005, havia tentativas de suicídio diárias, acarretando em uma morte a cada 20 dias. Não à toa, afinal a categoria bancária é considerada uma das mais afetadas pela reestruturação produtiva, com transformações gigantescas a sua forma de trabalho, que os transformou de pessoas que te auxiliavam no cuidado com seu dinheiro no banco em vendedores submetidos a metas exaustivas e medidas inescrupulosas para que sejam atingidas, contra as quais seu sindicato luta arduamente. Outra categoria marcada pelas tentativas de suicídio são atendentes de telemarketing. Trabalho em não se exige grande especialização, ou seja, no qual parece fácil ser substituído (o que não é verdade), em que há grande controle daquilo que se faz e de como se fala, por vezes com frases prontas e cheias de regrinhas que se precisa lembrar o tempo todo, grande isolamento, violência (seja assédio moral de supervisores, seja a violência de clientes), pouca clareza ou controle dos resultados – muitas vezes não se sabe se o problema do cliente pôde ser resolvido, por exemplo, e não importa quanto se argumente, nem sempre vendas são garantidas,
dependendo muito de outros. Ou seja: trabalho recheado de fatores prejudiciais à saúde mental. Se o índice de tentativa de suicídios é maior em alguns tipos de trabalho, categorias e vínculos trabalhistas (terceirizados, trabalhos informais), por que ainda falhamos em ver suas relações com o trabalho? Precisamos começar a falar sobre isso para que possamos compreender e transformar essas situações produtoras de tanto sofrimento. Para que possamos reconhecer as armadilhas nas quais somos colocados e procurarmos caminhos para nos livrarmos delas. Para que compreendamos que não estamos adoecendo por sermos fracos, incapazes ou inadequados – mas porque nossos trabalhos estão sendo pensados e feitos de modo a nos prejudicar. Para que possamos nos unir e lutar por outras condições sociais, por outros modos de trabalhar. Para que pessoas possam ter outras saídas desses cenários que não a morte. Se você está percebendo que seu trabalho está te gerando sofrimento, procure ajuda. Na saúde pública você pode recorrer aos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador. Há também na Clínica Ana Maria Poppovic, em São Paulo, o projeto da Clínica do Trabalho, nos quais os atendimentos psicológicos olham cuidadosamente para essas questões. Alguns sindicatos, como o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, oferecem semestralmente grupos terapêuticos e de enfrentamento.
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O enorme tabu sobre saúde mental no ambiente de trabalho A Saúde Mental é uma das principais preocupações que devemos ter sobre nós, ainda mais com a rotina exaustiva de trabalho que podemos ter 16
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Isso pode levar as pessoas se sentirem isoladas
Um dos tabus mais frequentes é não possuir tempo para família e vida pessoal
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Está cada dia mais evidente a importância da saúde mental e sua estreita relação com a saúde física. Profissionais de alta performance (sejam atletas ou profissionais do mercado financeiro) reconhecem e investem cada vez mais em uma desenvolver uma estrutura psicológica forte e saudável. Mas apesar desses avanços, a saúde mental ainda não é reconhecida da mesma forma que a saúde física, especialmente no ambiente de trabalho. Muitas pessoas ainda tem muito receio de falar do assunto ou buscar ajuda. Um exemplo: não trabalhar por estar gripado é socialmente aceitável. Não trabalhar por estar estressado ou com crise de ansiedade é considerado “frescura”. Em uma pesquisa feita pelo instituto britânico de saúde mental Mind, descobriu-se que 90% das pessoas que ficaram longe do trabalho devido ao estresse, não citaram o estresse como razão de sua ausência. Na verdade, a maioria delas dizia como justificativa que
estava com um problema físico, como por exemplo, dor de cabeça. Isso mostra como a saúde mental é um tabu no local de trabalho. Mas isso não deveria ser assim. Ela é estigmatizada de tal forma que pode tomar até a forma de discriminação. Nisso incluímos intimidação, demandas abusivas, metas irreais, carga de trabalho excessivo, exclusão e bullying. A própria equipe pode se sentir desconfortável perto de alguém que estava de licença por motivo psicológico. “Embora as posturas estejam mudando, a saúde mental ainda não é reconhecida da mesma maneira que a saúde física, principalmente no local de trabalho.” Isso pode levar as pessoas a se sentirem isoladas. Se alguém estava afastado do trabalho devido a uma cirurgia, os colegar se preocuparão com seu bem estar. Mas infelizmente isso não acontece quando alguém está afastado devido a um problema de saúde mental. Por isso o medo da discriminação. A pesquisa da Mind aponta que a maioria dos indivíduos que contaram sobre seus problemas mentais para seus empregadores foram discriminados como resultado. Alguns até mesmo dispensados. Daqueles que disseram aos seus chefes sobre seu problema mental, 6% disseram que foram forçados a sair e 2% disseram que foram demitidos.
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Qual é o preço psicológico do empreendedorismo? Casos de depressão e ansiedade são muito mais comuns entre empreendedores do que imaginamos Texto Tuani Mallmann e ilustrações Schessa Garbutt
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Empreendedorismo virou uma das palavras mais vistas e debatidas na última década. Ao redor do termo, formou-se uma grande aura de glamour e admiração. Afinal, quem não quer ser bem-sucedido fazendo algo que se ama? Essa é a imagem que as pessoas visualizam quando se fala sobre empreendedores, mas não imaginam que também existe um lado obscuro nessa trajetória. O preço psicológico do empreendedorismo é caro, e precisamos falar sobre ele. O texto e as reflexões do texto de hoje surgiram a partir de um artigo muito interessante, escrito por Jessica Bruder em 2013, que você pode conferir aqui. Mesmo com quatro anos já, o conteúdo aborda pontos tão relevantes e que ainda carecem de debate. Ao longo do texto iremos usar algumas aspas retiradas diretamente do artigo, mas traduzidas para o português. Ao observarmos jovens que alcançaram sucesso internacional antes dos 30 anos, idealizamos e até mesmo idolatramos essas pessoas. Mas, o quanto nós realmente sabemos delas, além do que observamos durante leitura da Forbes Magazine? “Empreendedores bem-sucedidos alcançam status de heróis na nossa cultura. Nós idolatramos os Mark Zuckerbergs e os Elon Musks. E nós celebramos o crescimento extremamente rápido das empresas. Mas muitos desses empreendedores abrigam demônios secretos: antes de eles se tornarem famosos, eles lutaram contra momentos de ansiedade e desespero — em tempos que as coisas pareciam que iriam desmoronar.” 19
Conduzir negócios totalmente inovadores e revolucionários não é nenhuma tarefa fácil. Imagine então quando esses grandes nomes à frente de startups precisam manter a pose de que tudo está indo bem, quando, às vezes, nem mesmo eles têm forças para acreditar no seu próprio trabalho e esforço. “Até pouco tempo, admitir tais sentimentos era tabu. Ao invés de mostrar vulnerabilidade, líderes empresariais têm praticado o que psiquiatras chamam de gerenciamento de impressão — também conhecido como ‘fingir até você conseguir’. Toby Thomas, ceo da EnSite Solutions, explica o fenômeno com a sua analogia favorita: um homem cavalgando um leão. ‘As pessoas olham para ele e pensam que ele é realmente bravo e corajoso!’, diz Thomas. ‘E o homem cavalgando o leão só consegue pensar sobre como é que ele foi parar em cima de um leão e como ele faz para não ser comigo pelo leão?’” A angústia está muito mais presente do que imaginamos Porém, todo o desespero desse grupo começa a aparecer em manchetes que não gostaríamos de ler. Aos 22 anos, Ilya Zhitomirskiy,
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co-founder da rede social Diaspora, cometeu suicídio, bem como Jody Sherman, fundador do e-commerce Ecomom, aos 47 anos. Os sinais já haviam começado a aparecer. “Ultimamente, mais empreendedores começaram a falar sobre suas lutas internas na tentativa de combater o estigma da depressão e ansiedade que tornam difícil de procurar ajuda. Em um post profundamente pessoal intitulado “Quando a morte parece uma boa opção’, Ben Huh, ceo da Cheezburguer Network, escreveu sobre seus pensamentos suicidas após a falha de uma startup em 2001. Sean Percival, ex-vice-presidente do MySpace e co-founder da startup de roupas de criança Wittlebee, escreveu em seu site o texto ‘Quando não está tudo bem, peça ajuda’. ‘Eu estava no limite neste último ano com o meu negócio e a minha própria depressão’, ele escreveu. ‘Se você está prestes a se perder, por favor, contate-me.’” Não são poucos os empreendedores com sintomas de ansiedade. Com alguns casos começando a aparecer, mais e mais nomes revelaram que também sofriam com silenciosos demônios. Distúrbios mentais e emocionais
Ter sucesso na primeira tentativa é um dos tabus mais frequentes sobre empreender
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Fotografia Amelia Brum, escritora, fotógrafa e designer.
são bastante comuns, principalmente para pessoas que estão no início de seus empreendimentos, naquela fase em que ainda não se sabe se as apostas vão dar muito certo ou muito errado. “Empreendedores muitas vezes conciliam muitos papeis e enfrentam muitos contratempos — clientes perdidos, disputas com sócios, aumento da concorrência, problemas de staff — tudo isso enquanto lutam para fazer a folha de pagamento. ‘Há eventos traumáticos ao longo da linha’, diz o psiquiatra e empresário Michael A. Freeman, que está pesquisando sobre empreendedorismo e saúde mental.” Precisamos falar sobre a saúde mental dos empreendedores Tocar um negócio é estressante e pode acabar gerando turbulências emocionais. Por isso esse debate é tão importante, para que os empreendedores saibam que as dificuldades irão aparecer ao longo do caminho. Parar de glamourizar o empreendedorismo e alertar os profissionais para as incertezas é essencial para que, quando a crise pegar, eles compreendam que não são os únicos e que devem procurar ajuda.
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“Para complicar as coisas, novos empreendedores muitas vezes fazem-se menos resilientes por negligenciar sua saúde. Eles comem demais ou comem pouco. Eles não dormem o suficiente. Eles falham em se exercitar. ‘Você pode entrar em um modo de startup, onde você se esforça demais e abusa do seu corpo’, diz Freeman. ‘Isso pode disparar o gatilho da vulnerabilidade.’” Existe outro ponto bem delicado nesta questão: de acordo com pesquisadores, muitos empresários compartilham traços de caráter inato que os tornam mais vulneráveis a constantes mudanças de humor. “‘As pessoas que estão do lado energético e também do lado criativo são mais propensas a ser empreendedoras e mais propensas a ter estados emocionais fortes’, diz Freeman. Esses estados podem incluir depressão, desespero, desesperança, sentimento de inutilidade, perda de motivação e pensamentos suicidas.”
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De acordo com um estudo da Universidade de Tecnologia de Swinburne, na Austrália, os donos de negócios podem ser mais vulneráveis ao lado negro da obsessão. A partir de entrevistas, os pesquisadores descobriram que os empreendedores mostravam sinais de obsessão clínica, incluindo fortes sentimentos de angústia e ansiedade. Ou seja, a mesma paixão de fazer o negócio acontecer pode ser a responsável por consumi-los. “Os empreendedores têm lutado silenciosamente. Há uma sensação de que eles não podem falar sobre isso, que é uma fraqueza.” Para finalizar essa conversa tão necessária, deixamos aqui alguns conselhos básicos para uma melhor sobrevivência. Tente levar uma vida saudável, cuidando da sua alimentação e do seu sono e, se possível, insira em sua rotina alguns exercícios. Mantenha a família e os amigos por perto, eles são uma arma importante quando os primeiros sinais de depressão e/ou ansiedade aparecem. Fale sobre as suas angústias e procure ajuda quando sentir que não consegue lutar sozinho. E, lembre-se sempre: você é uma pessoa e não a sua empresa. Sua vida não está acabada porque um negócio não deu certo ou porque as coisas não estão fluindo como você imaginava.
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Você sabe o que é saúde mental? Ser mentalmente saudável vai muito além de não ter nenhuma doença psicológica. Aprenda como melhorar seu bem-estar mental.
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Fotografia retirada do acervo Freud Museum London.
O bem-estar mental está relacionado à forma como alguém reage às exigências da vida
Divã de Sigmund Freud em seu consultório na cidade Viena, Austria
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Quando ouvem ou leem sobre saúde mental, a maior parte das pessoas logo pensa em doença mental. Mas a saúde mental implica em muito mais do que estar livre de doenças mentais. Por isso, quero compartilhar com você o que realmente significa ser uma pessoa mentalmente saudável. O bem-estar mental está relacionado à forma como alguém reage às exigências da vida; à maneira como harmoniza seus desejos, capacidades, ambições, idéias e emoções frente às dificuldades, adversidades; e o modo como concilia tudo isso de uma maneira funcional e adaptativa mesmo diante de cenários adversos e de crises, vide o momento atual que estamos passando com a pandemia do covid-19. Quem tem saúde mental compreende que ninguém é perfeito, que todos possuem limites e que não se pode ser tudo para todos. Essas pessoas vivenciam diariamente uma série de emoções diversas, como alegria, amor, satisfação, tristeza,
raiva e frustração. Mas elas são capazes de enfrentar os desafios e as mudanças da vida com equilíbrio e procuram ajuda quando têm dificuldade em lidar com conflitos, perturbações, traumas ou transições importantes nos diferentes ciclos da vida de uma pessoa. Lembre-se de que todas as pessoas podem apresentar sinais de sofrimento psíquico em alguma fase da vida, pois os transtornos mentais não têm preferência por classe social, etnia, religião ou cargo. Para facilitar a compreensão, listei os principais pontos que compõem a saúde mental: Estar bem consigo mesmo e com os outros; Exercer a inteligência emocional por meio da autoconsciência; Ter flexibilidade cognitiva, ou seja, conseguir se adaptar às mudanças sem perder o equilíbrio; Exercer o Accountability Pessoal, tendo interesse em estudar a si mesmo. A isso aplicamos o Autoconhecimento; Aceitar as exigências da vida; Saber lidar com as boas emoções e também com as desagradáveis, mas que fazem parte da vida; Reconhecer suas vulnerabilidades, seus limites e buscar ajuda quando necessário Quais características? Vamos listar algumas das características que podem indicar uma boa saúde mental: Atitudes positivas em relação a si próprio, crescimento, desenvolvimento 25
e auto-realização, integração e resposta emocional, autonomia e autodeterminação, percepção apurada da realidade e domínio ambiental e competência social.
Como manter sua saúde mental: As atitudes abaixo são fundamentais para que você consiga encontrar esse equilíbrio mental. Convido você a começar a praticá-las agora: Mantenha sentimentos positivos consigo, com os outros e com a vida Faça terapia com profissionais especializados, neste caso os psicólogos; Aceite-se a si mesmo e às outras pessoas com suas qualidades e limitações; Evite consumo de álcool, cigarro e medicamentos sem prescrição médica; Não use drogas Pratique sexo seguro; Reserve tempo em sua vida para o lazer, a convivência com os amigos e com a família. Para o momento atual, precisaremos ser criativos e cautelosos no tamanho da convivência, aqui a qualidade será imprescindível à quantidade; Mantenha bons hábitos alimentares, durma bem e pratique atividades físicas regularmente. E, acima de tudo, como diria Sócrates, “Conheça-te a ti mesmo”. O autoconhecimento deve ser uma prioridade de todos nós.
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Fotografia concedida pela acessoria de Edwiges Parra.
Como ajudar quem tem alguma doença mental? Como abordamos pouco acima, é muito fácil piorar o quadro de uma pessoa que tenha algum tipo de transtorno mental. Por isso, se você conhece pessoas que apresentem qualquer um dos sintomas, confira algumas dicas para auxiliá-la. Aprender sobre as doenças podem ajudar a compreendê-la e conseguir lidar com ela sem muitos preconceitos. Isto serve tanto para a pessoa que lida com os transtornos quanto para aqueles que estão ao seu lado.
Edwiges Parra é psicóloga organizacional, especialista em recursos humanos e fundadora da emind Mente Emocional
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Exercícios para quem tem pouco tempo Sem tempo? Tire 5, 10, 15 ou 20 minutos para fazer uma sequência rapidíssima de exercícios.
Com várias obrigações a cumprir durante o dia, pode ser difícil tirar um tempinho para realizar alguma atividade física. Carros, elevadores, controles remotos e outras facilidades acabam nos deixando distantes dos esforços – por isso, é importante compensar, segundo a professora da Academia Gustavo Borges Barigui, Paula Ramos. “Incluindo exercício em nossa
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rotina, nos tornamos mais dispostos para as demais atividades e ganhamos mais expectativa de vida.” Os benefícios para a saúde incluem a diminuição do risco de doenças do coração, de pressão alta, de osteoporose e diabetes. Diminuindo estresse e ansiedade. Embora se recomende em média 30 minutos diários de exercícios, há dias em que reservar esse tempo é impossível. Para essas emergências, os profissionais sugeriram quatro sequências de exercícios para fazer em qualquer lugar e em tempos curtíssimos, que devem ser adaptadas de acordo com seu condicionamento:
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5 minutos 1 minuto de caminhada + 30 segundos de polichinelo + 30 segundos de flexão de braços (com os joelhos no solo ou não) + 1 minuto de caminhada + 30 segundos de abdominal + 30 segundos de agachamento livre + 1 minuto de caminhada. 10 minutos 3 minutos de corrida moderada + 20 abdominais com as mãos no chão e os pés no alto + 15 elevações de quadril + 10 passadas grandes, descendo formando um ângulo de 90° + 1 minuto de descanso. Repita a sequência três vezes. 15 minutos Cada atividade a seguir, por 1 minuto: corrida parada + sobe e desce (com cadeira ou degrau) + flexão de cotovelo + caminhada leve + burpee (agachamento seguido da colocação das mãos no chão e chute com as pernas, seguido de novo agachamento e salto com os braços para o alto) + agachamento sem peso + tríceps banco + abdominal infra (elevação do quadril com pernas dobradas) + caminhada leve + salto na caixa ou no degrau + 3 minutos alongando. 20 minutos 20 agachamentos sem peso + 20 flexões de cotovelo (apoio solo) + 1 minuto de corrida parada + 1 minuto de descanso + 25 afundos sem peso (passada grande à frente flexionado o joelho) + 20 tríceps banco + 1 minuto de polichinelo + 45 segundos a 1 minuto de descanso + 20 abdominais supra solo (pernas dobradas no chão, eleve o tronco)+ 3 minutos alongando.
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Durante suas atividades não esqueça de hidratar--se e ter breve períodos de descanço
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Há uma série de estudos que atestam a eficácia dos treinos intensos e curtos. Um deles, publicado no PLoS One, mostrou que treinar 10 minutos traz os mesmos benefícios para a saúde que passar 50 minutos malhando. Do ponto de vista do emagrecimento, os treinos curtos são eficazes por gerarem uma demanda calórica e metabólica mesmo após o fim das atividades. “É o que chamamos de consumo de oxigênio pós-exercício. Ao fazer 10 minutos muito intensos, seu organismo leva horas para se recuperar do esforço (mesmo que você não perceba)”, explica Erico Caperuto, educador físico e professor do programa de qualidade de vida e saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo. No entanto, segundo Panissa, a maioria dos estudos foram realizados com atividades aeróbicas e não treinos com o próprio peso do corpo, como tem aos montes no YouTube. Ou seja, os resultados não foram cientificamente comprovados. Mesmo assim, segundo Caperuto, essa metodologia é interessante para quem não tem muito tempo disponível para treinar ou não gosta de atividades físicas e quer emagrecer em um prazo curto. Esses treinos menores são ainda uma boa opção para melhorar a aptidão física, já que a alta intensidade obriga todo o organismo a trabalhar na potência máxima. “Por exemplo, seu coração precisa
ejetar muito mais sangue porque seus músculos necessitam de mais oxigênio por unidade de tempo. No músculo, diversos sistemas de captação de oxigênio também terão que ter seu funcionamento otimizado”, explica Panissa. Para que o exercício traga o efeito esperado, quanto mais curto o treino, maior deve ser sua intensidade. Isso aumenta os riscos do treinamento. “Em tese, todo mundo pode fazer atividade física. Mas há pessoas que tem problemas de saúde e não sabem. Por isso, a importância de procurar um médico, principalmente cardiologista, já que essas atividades podem provocar um infarto ou avc em alguém com problemas no coração”, alerta Santiago. Os movimentos mais rápidos e intensos também podem gerar lesões ortopédicas, principalmente se não forem executados com boa técnica. “Se é um treino com muitos saltos, desce e sobe, e isso é feito em alta intensidade, a chance de trauma e contusão aumenta. Por isso, é importante o acompanhamento de um profissional de educação física”. Alguns benefícios do treinamento a curto prazo: diminuição no percentual de gorduras, perda de peso, melhoras no VO2 (capacidade cardiorespiratória), corpo mais modelado e sem barriga, ganho de massa muscular e força. Outro ponto é que você pode montar circuitos que visem treinos mais pesados, com repetições menores e assim treinar outras características físicas, mas como sitado anteriormente grande maioria dos estudos é baseado apenas em atividades aeróbicas.
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Entenda diferenças entre burnout, estresse e depressão Apesar das semelhanças, condições são classificadas de modo diferente pela Organização Mundial da Saúde (oms) Texto Alba Valéria Mendonça e ilustrações Joan Cornellà
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Burnout, depressão e estresse são problemas de saúde específicos. Apesar de terem sintomas semelhantes, as três condições são tratadas e classificadas de maneira distinta pela Organização Mundial da Saúde (oms). Para a oms, o burnout não é uma condição médica, mas um fenômeno ligado ao trabalho. Já a depressão é uma doença psiquiátrica crônica. O estresse, por sua vez, é uma resposta do corpo às circunstâncias do dia a dia. Ele pode ser um indício de alguma doença ou apenas uma reação pontual a condições externas, negativas ou positivas. Burnout Necessariamente relacionado ao trabalho, o burnout é um transtorno que se desenvolve gradualmente por conta de desajustes entre o trabalho e o indivíduo. Ele afeta homens e mulheres que vivem situações de estresse constante ou prolongado no ambiente de trabalho. Os sintomas são: cansaço extremo, irritabilidade, alterações repentinas de humor: os sintomas do burnout muitas vezes são semelhantes aos de outras condições de saúde como a ansiedade e a depressão. Os principais efeitos do burnout são: cansaço excessivo físico e mental; dor de cabeça frequente; alterações no apetite; insônia; dificuldades de concentração; alteração nos batimentos cardíacos. Por ter sintomas parecidos com os da depressão e da ansiedade, a síndrome muitas vezes não é identificada corretamente pelas pessoas. 33
Assim como outros problemas psicológicos, o burnout precisa ser tratado por um psiquiatra e acompanhado por um psicólogo. Segundo o Ministério da Saúde, “o diagnóstico é feito por psiquiatras e psicólogos após análise clínica do paciente e são eles os profissionais de saúde indicados para orientar a melhor forma de tratamento, conforme o caso”. A psicoterapia é o tratamento mais comum, mas o médico psiquiatra pode também prescrever medicamentos como antidepressivos e ansiolíticos. Parte do tratamento consiste em mudar as condições do trabalho que levaram a pessoa à exaustão profunda. Também costuma-se recomendar atividade física regular, atividades de lazer, passar mais tempo com familiares e amigos, e exercícios para aliviar a tensão, por exemplo. Depressão A depressão é uma doença psiquiátrica crônica, que pode afetar pessoas de todas as idades, incluindo crianças e idosos. Segundo a OMS, mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem da doença, que pode ser uma condição de saúde muito grave, especialmente quando é classificada com intensidade
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moderada ou severa. Nos piores cenários, a depressão pode levar ao suicídio, que é a segunda maior causa de morte em jovens de 15 a 29 anos em todo o mundo. Diversos fatores podem contribuir para o aparecimento da depressão. Os três mais comuns são: predisposição genética, eventos traumáticos e estresse crônico. Esses elementos podem provocar uma diminuição nos níveis da serotonina, que é um neurotransmissor essencial na comunicação entre os neurônios. Ele ajuda a produzir sensações de bem-estar vitais para o bom funcionamento do organismo. Quando o corpo identifica a falta da serotonina no cérebro, as transmissões de impulsos elétricos ficam prejudicadas e, com o passar do tempo, surgem reações em cadeia. Os sintomas são: perda de prazer; irritabilidade; distúrbio do sono; cansaço; falta de vontade de fazer coisas ou esforço extra para fazer as coisas; choro fácil ou apatia; falta de memória e de concentração. O tratamento para a depressão, segundo a oms, é dividido em níveis. Para os casos iniciais de depressão ou para pessoas com depressão leve são recomendados tratamentos voltado areas psicossociais
Sintomas da depressão como distúrbios da concentração, do sono e do apetite podem ocasionar enxaquecas
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Os antidepressivos são eficazes no caso de depressão moderada e grave. Entretanto, os médicos e pacientes devem ficar atentos aos efeitos adversos associados aos medicamentos, como náuseas tonturas, disfunção sexual e aumento de peso. No caso das crianças e adolescentes, o cuidado deve ser ainda maior. Em um estudo britânico publicado no periódico médico “The Lancet” foram identificados cerca de 14 antidepressivos ineficazes em crianças, que podem inclusive ser perigosos se usados na infância. Os medicamentos para depressão também são receitados para combater o desequilíbrio químico no cérebro, restabelecendo a produção de serotonina. Os primeiros efeitos da medicação podem demorar algumas semanas para aparecer e o tratamento completo dura, no mínimo, um ano podendo extrapolar esse tempo. É extremamente importante seguir o tratamento de maneira correta, tomando a medicação nos horários recomendados pelo psquiatra, para alcançar um resultado positivo. Medicamentos para depressão também são receitados para combater o desequilíbrio químico no cérebro, restabelecendo a produção de serotonina.
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Medicamentos para depressão também são receitados para combater o desequilíbrio químico no cérebro, restabelecendo a produção de serotonina. Estresse O estresse, diferente da depressão, é a maneira como o corpo reage diante de diferentes situações de grande esforço emocional. Ele também pode atingir pessoas de todas as idades. Quando o corpo é estimulado, a mensagem chega à parte do cérebro chamada de hipotálamo, que a envia para uma glândula que fica logo abaixo. Ela produz hormônios que se espalham pela corrente sanguínea até chegar a outras glândulas que ficam acima dos rins. São elas que produzem os hormônios adrenalina e o cortisol. A liberação de cortisol é importante para a manutenção da sobrevivência, mas deve ocorrer na dosagem certa. Quando atinge picos, pode causar problemas.
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Segundo a Sociedade Americana do Coração, comer, fumar ou beber para se acalmar, trabalhar de forma exagerada, adiar tarefas e dormir menos ou mais podem ser os primeiros sintomas do estresse. Em casos de estresse contínuo, alguns sintomas físicos podem surgir com o tempo. Os mais comuns são alergias, doenças de pele, doenças autoimune, refluxo, doenças intestinais, insônia, infecção urinária e aumento de sintomas em pacientes que possuem problemas cardíacos. Quando a pessoa já está inserida em uma situação de estresse, a orientação é identificar o principal fato estressante e resolvê-lo. A principal forma de tratamento para o estresse é a prevenção das situações que podem causar grande esforço emocional. As formas de fazer esta prevenção são as mais diversas e cada pessoa encontra a melhor forma de relaxar. Entretanto, algumas dicas valem para todas as pessoas, como fazer alimentações saudáveis e, principalmente, atividade física, que é responsável por liberar os hormônios do prazer: endorfina, serotonina e dopamina. Esses hormônios melhoram o humor e trazem a sensação de bem-estar.
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Uma pessoa nada รณbvia Isabela Gaidys, 21 anos, conta o que aprendeu apรณs ter criados duas empresas; a Ilustralle com 18 anos e a Coolmmerce com 20 Por Maria Julia de Oliveira
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Fotografia concedida pela acessoria de Isabela Gaidys.
As pessoas tem muita pressa de chegar no sucesso
Isabela Gaidys e as encomendas de sua papelaria virtual Ilustralle
O que é a Ilustralle? E porque vc decidiu cria-la? A Ilustralle nasceu sem a intenção de virar um negócio de papelaria, na verdade eu criei o Instagram da Ilustralle para postar minhas artes gráficas porque na época eu estava fazendo faculdade de design gráfico. Também havia começado a fazer meu bullet journal, que são cadernos feitos a mão e postei vídeos fazendo ele no Snapchat. Muitas pessoas que me seguem começaram a pedir um, e aí eu tive a ideia de fazer meu primeiro bullet journal impresso para vender, mas não pensava em transformar isso em um negócio. Mas aí eles começaram a vender e as pessoas começaram a compartilhar, amigos meus de outros estados também queriam e foi aí que decidi criar o site e assim nasceu a Ilustralle. Você fazia faculdade, mas decidiu sair dela para focar na empresa. Como foi tomar essa decisão? Eu criei a Ilustralle meio que em
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paralelo com a faculdade, então eu percebi que não estava conseguindo dar 100% de mim para a faculdade nem para a empresa. Eu chegava em casa da faculdade cansada, cheia de trabalho para fazer, coisas para estudar e ainda tinha que enviar pedido, então como a Ilustralle estava dando certo eu decidi sair da faculdade para focar nela. Eu fiquei mais apreensiva pelas coisas que as pessoas iriam falar, mas por mim, eu estava de boa. Também fiquei um pouco insegura por ser a única das minhas amigas sem ter feito uma faculdade, elas sempre falavam de trabalhos e festas da faculdade e eu não tive essa experiência. Você faz tudo sozinha na empresa? Inicialmente eu fazia tudo sozinha porque era tudo artesanal, mas quando o número de pedidos aumentou e eu comecei a ter que encadernar 50 planners sozinha, deixando de ser uma atividade prazerosa. Então uma das maiores dificuldades do começo foi ter que lidar com a empresa crescendo, mas ainda não ter dinheiro para mandar outra pessoa fazer. Outra dificuldade foi ter que lidar com a parte burocrática, lembro que só criei um cnpj porque os Correios estavam obrigando que você enviasse nota fiscal junto com a encomenda, enfim, muita coisa chata, principalmente porque não entendia muita coisa. 39
Recentemente, você criou a Coolmmerce, que aborda assuntos de Marketing e Ecommerce, por que você decidiu criá-la? Eu comecei a prestar mais atenção no marketing quando percebi que não era somente vender, que estratégia e criativade eram necessárias. Eu li um livro que se chama “Sacadas de Empreendedor” do Erico Rocha que me ajudou a começar a fazer mais coisas e eu percebi que estava me dando bem. Decidi fazer alguns cursos e comecei a me interessar pelo assunto e aplicar o que aprendia na Ilustralle e os clientes começaram a notar isso e a pedir dicas. Então, mais uma vez decidi criar um Instagram despretensiosamente para dar essas dicas, eu nem sabia que pessoas conseguiam ganhar dinheiro com contas como o Coolmmerce. Aí as pessoas gostaram e começaram a compartilhar o conteúdo e ele começou a crescer. Você interage bastante com seu público pelos stories do instagram. Eu me lembro de você inicialmente incentivando as pessoas a não terem vergonha de postar conteúdo ou o que quisessem, por que você tomou essa decisão? É tanta história que envolve isso, mas eu vou contar mesmo assim. Na adolescência eu tive muito problema com autoestima, era muito insegura em relação aos julgamentos dos outros, eu não conseguia fazer um coque porque achava que as pessoas iriam me achar feia. Fui muito refém disso, eu não conseguia ser eu mesma, mas um dia o meu pai falou assim para mim “O que você pensa de alguém que usa coque?” e eu falei que não pensava nada, e ele respondeu “Então porque alguém vai pensar alguma coisa de você?”. Isso fez a minha percepção mudar, porque ninguém pensa sobre 40
Se comprar produtos da Ilustralle, tire uma foto e poste com a hashtag #tãoilustralle para a Isa ver!
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você, tá todo mundo preocupado com si próprio para focar em você. Eu vi que muita gente tinha esse mesmo problema, por isso eu decidi começar a postar essas coisas como uma forma de ajudar essas pessoas, foi algo que me fez sofrer muito durante muito tempo.
Fotografia retirada da conta instagram @ilustralle
Durante o processo de se tornar uma mulher empreendedora, como a sua vida mudou? Em relação a saúde, eu comecei a desenvolver muita ansiedade. Comecei a não ter tempo para fazer exercício e a me alimentar mal, a minha mente não para, até quando estou descansando, mas isso vem melhorando, porque comecei a perceber que eu não consigo fazer tudo sozinha. As vezes acabo gastando mais dinheiro delegando tarefas para outras pessoas, mas sei que vai ser melhor para mim no final, eu não vou ficar tão estressada.
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Você passou por alguma situação desconfortável por ser mulher, empreendedora e jovem? Passei por situações do tipo quando meu pai me leva em algum lugar. Eu começo a falar com as pessoas, pedindo tudo que preciso, sendo bem clara e quando vaõ me responder, respondem olhando para o meu pai. Ninguém acha que eu vou poder gastar tanto dinheiro ou entender essas coisas. Mas meu pai já corta essas pessoas na hora.
Algo que eu gosto muito é que você não passa a imagem de que tudo na sua vida é perfeito ou dá certo. Por que você decidiu passar essa imagem? Bom, a gente sempre gosta de mostrar o melhor lado das coisas, mas eu tento também mostrar as coisas ruins que acontecem para as pessoas confiarem em mim. Por exemplo, se eu falar que algo deu errado na Ilustralle e que vou ter que atrasar pedidos, as pessoas vão acreditar por que elas sabem que sou verdadeira nisso. Já precisei atrasar pedido por que eu estava me sentindo horrível comigo mesma e eu precisava ser realista em relação a isso. Fui internada na uti por conta de estresse, meu coração chegou a 220 batimentos, por isso eu decidi ser sincera com as pessoas, para elas verem que existe uma pessoa real por trás de tudo isso. Você tem alguma lição ou conselho que você gostaria de passar para os outros? Quando me perguntam isso eu sempre falo a mesma coisa, acaba sendo meio clichê, mas as pessoas tem muita pressa de chegar ao topo. Só comecei a considerar a Ilustralle uma marca bem sucedida ano passado. Você tem que aprender com o tempo, você vai mudar e a sua marca vai mudar com você. As ideias que eu tenho hoje, só existem porque eu tive as do começo. Então eu acho que é isso, dar tempo ao tempo.
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Como a imagem do sucesso no empreendedorismo pode prejudicar a sua saĂşde mental Chega de esconder suas dores: falhar ĂŠ a coisa mais natural do mundo, dentro ou fora dos negĂłcios 42
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Steve Jobs no palco, fotografado por Justin Sullivan.
O sucesso também pode ser bastante opressor
Steve Jobs, considerado pela revista Fortune como o principal empreendedor da atualidade
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de lançar um produto de criação de sites para venda de imóveis, voltado para o mercado de construção civil. “Um ano de preparação. Quando a gente lançou, foi um fracasso.” Então surge o desespero de não saber para onde correr. “Se vai manter a empresa ou desistir de tudo, o que fazer para pagar as contas. Toda motivação que tu tinhas vai pelo ralo. Fica sem vontade de fazer nada, meio “A famosa história de sucesso é depressivo mesmo”, narra ele, à muito boa para inspirar. Mas, para época, com dois funcionários. A ensinar, ela é terrível, porque você crise emocional só não teve um não conseguirá replicar o sucesso impacto maior porque a ansiedade de outra pessoa”, argumenta já era uma característica que vinha Flávio Steffens, 38 anos. Aos 32, ele trabalhando em terapia há mais conheceu de perto os efeitos de se tempo. Mas alerta: “No momento apaixonar por uma ideia de negócio do fracasso, isso pode vir com tudo”. e levá-la até (quase) as últimas A dica dele é tentar reduzir consequências. Flávio ficou tão cego ao máximo o tempo prévio ao de amores por seu novo projeto lançamento de um produto, para que não conseguiu ver alguns perceber, o quanto antes, os ajustes sinais importantes pelo caminho. E que só aparecem na prática. A dedicou R$ 50 mil do próprio bolso virada da empresa chegou com a desenvolver uma ideia que, ao uma ideia desenvolvida em 45 final, deu errado. dias. “Perder 45 dias é diferente de Exploramos a história de Flávio perder um ano inteiro”, exemplifica. para encontrar alguns dos motivos O período de estagnação após a que o levaram - e levam muita gente queda durou dois anos, muitas vezes - ao fracasso nos negócios, algo tão pegando trabalhos baratos para temido quanto comum na vida de pagar as contas e sem obter lucro. qualquer pessoa que empreende. Neste meio tempo, Flávio A primeira coisa que você precisa descobriu a FailCon, evento saber é: não importa o quanto você criado em São Francisco (eua) que se dedique e estude, em algum evidencia as histórias frustradas momento, você vai errar. dos empreendedores, a fim de Flávio, que é formado em dar o exemplo, trazer o assunto à Sistemas de Informação, abriu a tona e evitar que outros repitam Woompa em 2010 com o objetivo os mesmos erros. Ele e o parceiro 43
Rafael Chanin conseguiram licenciar a marca, trazer a FailCon para o Brasil e espalhar a palavra de que a inovação é inerente ao fracasso. “Saber que vai errar ajuda a pessoa conscientemente a lidar com isso quando acontecer.” O céu voltou a ficar azul em 2012, com o lançamento do Bicharia, crowdfunding voltado para a causa animal. “No terceiro mês, a plataforma estava se sustentando sozinha e praticamente sustentando a empresa. “A gente nem acreditou.” O Bicharia foi comprado pelo Vakinha Online, e Flávio virou sócio da empresa, na função de Diretor de Relacionamento. Estar entre cinco sócios também possibilitou outra coisa na vida do empreendedor: tirar férias sem culpa com a família. Você não é uma pessoa ruim se sua empresa vai mal Doutor em Psicologia do Esporte pela Universitat Autònoma de Barcelona (uba), nos últimos três anos, o psicólogo Maurício Pinto Marques, 36, passou a receber muitas demandas referentes ao mundo dos negócios no consultório. A especulação é que empreendedores, empresários e funcionários insatisfeitos têm motivos que não são assim tão diferentes aos dos esportistas na terapia: querem entregar uma boa performance, precisam dos resultados, vivem sob pressão. O sofrimento começa, segundo ele, quando empreendedores não conseguem cumprir metas nos prazos que imaginavam. “Geralmente, o estresse está ligado ao resultado que a pessoa não está atingindo”, diz. Isso gera uma cadeia de comportamentos que não contribuem para a qualidade de vida e acabam alimentando a bola de neve de uma precária saúde mental, baixa autoestima e desequilíbrio. “Do estresse 44
Flávio Steffens atualmente é diretor de relacionamento no Vakinha, palestrante de inovação e fracasso, e empreendedor
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Fotografia concedida pela acessoria de Flávio Steffens.
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surge a irritação, aí passam a comer mal, durante o dia está no trabalho pensando que dormiu pouco, à noite não consegue dormir pensando que não rendeu. É um ciclo”, afirma. E, às vezes, os resultados dos negócios passam a corresponder “na medida do quanto você se considera bom enquanto pessoa”. Ou seja, se os negócios vão mal, a bad trip se instaura. “Um pensamento comum é que, se a empresa não vai bem, quer dizer que sou uma pessoa ruim, inapto, burro. Não é assim. É preciso dissociar a pessoa disso”, entende. Esse pacote completo é típico das situações de burn-out, que, de um lado, se expressa em ansiedade, dificuldade de dormir e de se concentrar, irritabilidade e distúrbios alimentares, fatores que podem desencadear crises de pânico. De outro, depressão e melancolia. O perfil de clientes empreendedores de Maurício é majoritariamente formado por jovens de 25 a 30 anos, “e que, normalmente, não têm metas claras”, observa. Um agravante é o sofrimento gerado pela comparação social, bastante alimentada pelo Instagram e Facebook. “Vai se criando um estereótipo bem norteamericano do empreendedor todopoderoso. Como se empreender fosse para todo mundo. E não é, nem todo mundo tem esse perfil. É preciso se conhecer.” No campo das sugestões de hábitos que podem auxiliar
empreendedores a terem experiências melhores, Maurício indica compartilhar os problemas com a rede de amigos e familiares, organização e pausa. Parar e escrever, por exemplo, quais são as prioridades, as possibilidades a curto prazo, os medos. “Justamente para pensar no presente e evitar pensamentos catastróficos”, analisa. Sem síndrome de super-heróis Um dos estigmas do mundo do empreendedorismo é o estereótipo de super-herói atribuído a quem empreende. “Se você vir as revistas e publicações de empreendedorismo e negócios, as capas são sempre daquela pessoa poderosa, que conseguiu. E você acha que vai conseguir também, porque você é inteligente e capaz. Uma história assim é muito mais vendável”, afirma Flávio Steffens. A diferença é que, na prática, essa mesma história está recheada de percalços, comuns a qualquer experiência de vida. Separamos algumas frases e dicas do psicólogo Maurício Pinto Marques para te ajudar a desconstruir esta imagem. “As pessoas não falam muito sobre seus fracassos, e isso gera imagens de Super-Homem e Mulher Maravilha no mundo dos negócios. Existe um longo caminho a ser percorrido no sentido de mostrar suas fraquezas.” Sobretudo, é preciso entender que o sucesso é relativo para cada um. “Tente identificar o que você precisa, antes de se encaixar no que acha que deveria desejar.”
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Reacendendo a paixão Desenvolver o amor pelo trabalho demanda reflexão e resistência a frustações. O primeiro passo é entender que a satisfação construída aos poucos Texto Bárbara Nór e ilustrações Isa Hilario
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Reacendendo a paixão Faça o que ama e nunca terá que trabalhar um dia na sua vida” — essa é a ideia por trás da frase atribuída ao filósofo chinês Confúcio repetida em livros, palestras e cursos para ajudar a encontrar o emprego perfeito. Isso traz esperança, mas também pode trazer sofrimento. Se não estamos felizes, é porque não encontramos o trabalho certo e é preciso continuar procurando. O pior: muitas vezes nem sabemos o que, afinal, queremos. Pesquisas indicam que, em grande parte, o que determina nossa relação com o trabalho são as crenças cultivadas em relação a ele. Um estudo publicado em 2015 pela revista Personality and Social Psychology Bulletin, nos Estados Unidos, definiu duas categorias de pessoas em termos de sua relação com o trabalho. Os chamados fit! theorists (teóricos do encaixe) acreditam que exista o emprego ideal para eles. Já os develop theorists (teóricos do desenvolvimento) acreditam que possam se adaptar a diferentes tipos de serviço. Os participantes do estudo que se encaixavam no modelo fit, por exemplo, mostraram menos interesse na leitura de um artigo que não correspondesse ao que eles julgavam como seu perfil, enquanto os outros aproveitaram o conteúdo. De acordo com a pesquisa, os dois grupos tendem a ter índices de felicidade parecidos se são bem-sucedidos em agir de acordo com suas convicções. Por outro lado, o discurso que defende a busca pelo emprego ideal é muito mais comum. “A teoria do fit é muito
mais prevalente e corresponde a algo entre 60% e 80% das amostras que temos”, diz Patricia Chen, coautora do estudo e hoje pesquisadora na Universidade Nacional de Singapura. Para ela, isso pode explicar porque essa mensagem é largamente difundida na mídia e nas escolas. “Há certo romantismo sobre ter coragem de seguir sua paixão e seus sonhos”, diz Patricia. “Quem se concentra no desenvolvimento, porém, tende a ter mais tolerância com as dificuldades ao integrar novas vocações e ambientes de trabalho.” Isso porque essas pessoas não estão preocupadas em encontrar um “encaixe” ideal logo no início. Em vez disso, cultivam a relação de forma a torná-la mais positiva, conforme descobrem como usar suas paixões e habilidades no que fazem. “Essa é uma grande vantagem, especialmente para quem ainda não tem certeza do que ama fazer”, afirma Patricia. O modo como encaramos o trabalho é o que realmente influencia na satisfação. Outrapesquisa, realizada pela Universidade de São Paulo, avaliou 4100 pessoas de nível superior para entender o papel do emprego na autorrealização. “O resultado deixa
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claro que o problema não é o que a pessoa faz, mas como ela faz”, diz Alexandre Pellaes, autor da pesquisa e fundador da consultoria Exboss. Altos e baixos Para melhorar a maneira como encaramos a carreira, é preciso entender que as frustrações fazem parte do pacote. “A felicidade no trabalho é uma aspiração legítima e saudável. Mas aspiração é algo de uma vida inteira, não algo que você chega um dia e está feliz e pleno”, diz Denise Fleck, professora e coordenadora da área de estratégia da Coppead, escola de negócios da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Esse é, portanto, um caminho a ser percorrido. Vale lembrar que esse sentimento depende do ambiente e de nós mesmos — características que sempre podem variar, com altos e baixos. Por isso, esperar que um emprego corresponda perfeitamente àquilo que julgamos ser nosso perfil pode, além de causar mais sofrimento, nos fazer perder chances de aprendizado e crescimento. Refletir e avaliar o que nos agrada ou não em nosso dia a dia é um passo importante para descobrir outras maneiras de atuar e para
O ambiente de trabalho pode tornar-se muito estressante.
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ampliar a perspectiva. Muitas vezes, a pessoa não está insatisfeita porque não gosta do que faz, mas porque o ambiente ou a cultura da empresa desmotivam. Assim, elas não se sentem tão desafiadas e tendem a ter um trabalho repetitivo.Aproveitar as oportunidades para se envolver com aspectos novos do que você já faz é uma forma de contornar isso. Fernando Gavinhos, de 23 anos, desenvolvedor na Tapps Games, tomou essa atitude. Desde o fim de 2014, ele trabalhava com desenvolvimento de softwares em um grande banco. A oportunidade era única, mas em pouco tempo ele já estava achando difícil ir ao trabalho. “Eu não tinha identificação com o produto nem com o negócio em si”, diz. Também não ajudava o fato de a empresa ser grande e seu time pequeno, o que dava a sensação de baixo impacto no que fazia. Mas isso não era algo novo — há anos Fernando trabalhava na área e nunca parecia encontrar o emprego certo. “Estava cansado de pular de um lugar para o outro e de me decepcionar”, diz. Quando sua namorada perguntou se não havia nada que ele gostasse em seu trabalho, ele resolveu encontrar coisas que o agradassem. Fernando anotou o que valorizava no dia a dia - como aprender
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a lidar com uma tecnologia complexa e ajudar a desenvolver programas que poderiam ser usados no mundo todo. “A partir daí, foquei em perseguir tarefas que me permitissem exercitar o que estava na lista”, diz. Além disso, tornou-se mais proativo: conversou sobre seus objetivos com colegas e chefia e pediu para participar de atividades alinhadas às suas metas. “Quando chegou um projeto de inovação com foco em sistemas de caixas eletrônicos, logo pensaram em mim. Conseguir separar o que não gostava do que gostava me dava ânimo,” diz. Os projetos no banco se tornaram um meio de exercitar sua capacidade de resolução de problemas e de aprendizagem. “As coisas mudam e as coisas que a gente gosta também mudam e precisamos estar preparados”. Hora de redescobrir Para conseguir despertar o gosto pelo que fazemos, vale elaborar um inventário de reflexão. Primeiro, pense no que pode e consegue fazer
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Descobrir o que você gosta otimiza o seu tempo com suas habilidades. Em seguida, identifique as oportunidades que existem onde está. Depois, pense sobre o que prefere fazer e o que deveria fazer do ponto de vista de seus valores. “Esse é um exercício constante, não algo que se faça de um dia para o outro”, afirma Denise, da Coppead. Em alguns casos, é preciso conciliar paixões, como aconteceu com Moacyr Godoy Moreira, de 46 anos, médico do trabalho do Hospital BP — a Beneficência Portuguesa de São Paulo. Durante a faculdade de medicina, ele não sentia que iria se encontrar na área médica. Apesar disso, seguiu trabalhando como clínico e, em paralelo, investiu no que poderia ser outra carreira: fez mestrado e doutorado em literatura brasileira na Universidade de São Paulo. Em 2002, publicou o que seria o primeiro de quatro livros de ficção. Apesar disso, Moacyr nunca abandonou a medicina, por acreditar que seria melhor conciliar as duas carreiras. Desde 2010, atuava na medicina do trabalho, como perito médico independente, fazendo a avaliação de funcionários em ações trabalhistas uma área diferente, e ainda achava o dia a dia monótono e pouco aprofundado.
80% dos novos negócios criados 2017 são micro empresas individuais
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Mesmo assim, em busca de mais estabilidade, passou a ocupar uma posição como médico do trabalho em uma grande montadora multinacional em 2016. “Eles queriam criar um setor de perícia, e eu comecei a ajudálos a montar isso”, diz. Esse envolvimento também fez com que ele entrasse em contato com os aspectos de gestão envolvidos na área, o que, para Moacyr, era um mundo novo em sua profissão. Motivado, começou um mestrado, retomando o gosto pelos estudos. “É uma área pobre em termos científicos e senti a necessidade de estudar isso”, afirma. Quando entrou na bp no final de 2017, em princípio, sua função seria mesma: atender os mais de 8000 fauncionários do hospital. Mas, como demostrou interesse em liderança, ele pode atuar na coordenação da atividade de equipes médicas, na elaboração de campanhas e de protocolos. Assim, seu escopo aumentou. “Descobri que gosto de métodos e diretrizes que permitam otimizar coisas que funcionam de forma caótica em situações simples e eficientes. Sou muito organizado e nunca tinha pensado que transferir isso para o trabalho poderia gerar bons frutos e uma satisfação pessoal tão grande”, diz Moacyr. O peso do propósito Experiências como essa deixam claro que, muitas vezes, o emprego é o que fazemos dele. “O desagradável sempre vai existir. Mas dá para equilibrar isso com as conexões que temos na empresa, tentando entender o panorama do negócio, descobrir pessoas e ideias diferentes”, diz Carolina Fouad, coordenadora do núcleo de carreira do Insper. Só tome cuidado com o peso do propósito perfeito. A crença de que tudo precisa ter um grande valor pode agravar as frustrações diante da rotina e das tarefas mais maçantes. No lugar disso, pense sempre em quais resultados você busca, quais são seus objetivos de curto prazo e quais são os relacionamentos que pode criar por meio de seu trabalho. “Minha provocação é se não seria mais interessante prezar pela entrega, e não necessariamente pela vocação”, diz Alexandre Pellaes, da Exboss. Ou seja, valorizar o trabalho pelo que ele pede: dedicação, esforço e aprendizado.
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O mercado e o jovem empreendedor O término da faculdade não significa mais buscar carreira em empresas públicas ou privadas, ou pelo menos não é mais o objetivo predominante do jovem brasileiro. Houve um crescimento no número de empreendedor jovem no mercado
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Fotografia Amelia Brum ecritora, fotógrafa e designer.
Os empreendedores têm lutado silenciosamente
Devido as grandes exigencias solicitadas pelo mercado, muitos jovens optam por empreender
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O término da faculdade não significa mais buscar carreira em empresas públicas ou privadas, ou pelo menos não é mais o objetivo predominante do jovem brasileiro. Houve um crescimento no número de empreendedor jovem no mercado brasileiro. O gem, do Sebrae/ibqp fez uma pesquisa mostrando o crescimento do empreendedorismo jovem no mercado de 50% para 57%, são em geral pessoas entre 18 e 34 anos que buscam ser donos do seu próprio negócio. Esse crescimento já consiste em 15,7 milhões de novos empreendedores. Essas informações fazem parte do relatório da Global Entrepreneurship Monitor (gem), realizado no Brasil pelo Sebrae em parceria com ibqp. Hoje o jovem brasileiro vê o empreendedorismo como uma válvula de escape para falta de oportunidades, em um mercado saturado e que as vagas exigem muito e pagam pouco na maioria das vezes. Sair da faculdade após
4, 5, 6 anos de aprendizado e se deparar com um mercado cada vez mais exigente tem levado o jovem ao mercado como empreendedor. No entanto esse crescimento não surge apenas por necessidade, o acesso a informação traz uma visão de oportunidades e inovação para o mercado, e eles buscam no empreendedorismo nichos que não são tão explorados pelos experientes empresários, principalmente na área da tecnologia. O crescimento das startups reflete muito esse cenário, isso não significa que os decanos do empreendedorismo não estejam nesse meio, mas com certeza a juventude tem sido muito fortes no meio empresarial, com um jeito diferente de pensar, e com ajuda da tecnologia, enfrentam as diversas possibilidades de frente. Mas a experiência de um empreendedor veterano ajuda e muito no crescimento dos jovens, pois eles já sabem o caminho das pedras e já passaram por muitas situações que talvez a juventude não saiba lidar da melhor forma, então podemos consideram que o jovem empreendedor tem as ideias e a fome de realizar, mas o veterano tem a expertise de solucionar os problemas que surgem durante a caminhada. Para o “velho de guerra” é muito mais fácil de enfrentar, mas para o jovem talvez seja inicialmente mais assustador pelo fato de ser a primeira vez. 55
Como abrir sua prรณpria empresa? Veja um passo a passo simplificado de como fazer o registro da sua microempresa
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No Brasil existem 6,4 milhões de estabelecimentos, sendo 99% micro e pequenas empresas
Ande sempre com caderniho em seu polso para notar suas ideias
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Abrir uma empresa é um processo burocrático no Brasil. Para tirar o seu sonho do papel, você vai precisar de muita paciência e ao menos 100 dias para concluir todas as etapas. Os primeiros passos para você encontrar maneiras mais simples de como abrir uma empresa vão exigir cuidados específicos. Antes de abrir sua empresa, é preciso se informar. Faça uma pesquisa antecipada sobre a existência de empresas constituídas com nomes empresariais idênticos ou semelhantes ao nome pesquisado. Essa é uma etapa obrigatória, que deve ser preenchida no site oficial da Junta Comercial. Além da consulta de viabilidade do nome empresarial, é importante que nesta etapa você procure a prefeitura onde sua empresa será instalada para verificar os critérios de concessão do Alvará de Funcionamento para o exercício da sua atividade no local escolhido. O registro legal de uma empresa é tirado na Junta Comercial do estado ou no Cartório de Registro
de Pessoa Jurídica. Para as pessoas jurídicas, esse passo é equivalente à obtenção da Certidão de Nascimento de uma pessoa física. A partir desse registro, a empresa existe oficialmente - o que não significa que esta pessoa possa começar a operar. Para fazer o registro é preciso apresentar uma série de documentos e formulários que podem variar de um estado para o outro. Os mais comuns são: contrato Social e documentos pessoais de cada sócio (no caso de uma sociedade). O que é contrato social Contrato Social é a peça mais importante do início da empresa, e nele devem estar definidos claramente os seguintes itens: interesse das partes, objetivo da empresa, descrição do aspecto societário e a maneira de integralização das cotas. Para ser válido, o Contrato Social deverá ter o visto de um advogado. As micro empresas e empresas de pequeno porte são dispensadas da assinatura do advogado, conforme prevê o Estatuto da Micro e Pequena Empresa. Os preços e prazos para abertura variam de estado para estado. Para isso, o ideal é consultar o site da Junta Comercial do estado em que a empresa estiver localizada. Registrada a empresa, será entregue ao seu proprietário o nire (Número de Identificação do 57
Registro de Empresa) que é uma etiqueta ou um carimbo, feito pela Junta Comercial ou Cartório, contendo um número que é fixado no ato constitutivo. cnpj: registro online Com o nire em mãos, chega a hora de registrar a empresa como contribuinte, ou seja, de obter o cnpj. O registro do cnpj é feito exclusivamente pela internet, através do site da Receita Federal por meio do download de um programa específico, contendo o Documento Básico de Entrada. Você preenche a solicitação e os documentos necessários, que são informados no site, devem ser enviados por Sedex ou pessoalmente para a Secretaria da Receita Federal, e a resposta é dada também pela Internet. Ao fazer o cadastro no cnpj, é preciso escolher a atividade que a empresa irá exercer. Essa classificação será utilizada não apenas na tributação, mas também na fiscalização das atividades da empresa. O ideal é que você tenha uma atividade principal e, no máximo, 2 secundárias. Uma boa dica é avaliar, ainda no momento de elaboração do contrato social, se a empresa se enquadra no Simples Nacional. Caso se enquadre, as alíquotas de tributos serão reduzidas e a forma de pagamento junto aos órgãos do Fisco será simplificada.
Muitos dos processos para abertura de nova empresa podem ser realizados em sua própria casa
Inscrição Estadual e Registro Para as empresas que trabalham com a produção de bens e/ou com venda de mercadorias é necessário o registro na Secretaria Estadual da Fazenda, a chamada Inscrição Estadual. Ela é obrigatória para os setores do comércio, indústria e serviços de transporte intermunicipal e interestadual. Estão incluídos os serviços de comunicação e 58
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energia. Ela é necessária para que se obtenha a inscrição no icms (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Esta solicitação deverá ser via internet. Para isso, é necessário ter um contador, e este deve estar préautorizado (ter senha de acesso). Essa inscrição, em alguns estados, pode ser solicitada após o pedido do alvará de funcionamento.
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Registro municipal Para as empresas que trabalham com prestação de serviços é necessário o registro na Prefeitura Municipal. Na maioria dos estados esse registro sairá automaticamente após o registro da empresa na Junta Comercial. Para os demais, o processo varia de acordo com as regras de cada município. Consulte como funciona no seu. As edificações e áreas de risco de incêndio deverão ter Alvará de Prevenção e Proteção Contra Incêndio - appci, expedido pelo Corpo de Bombeiros Militar do estado. Esta solicitação deverá ser protocolada juntamente ao Corpo de Bombeiros, que avaliará o grau de risco da edificação.
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Alvará de Funcionamento Qualquer empresa em processo de abertura precisa de uma licença prévia do município para poder funcionar, chamada de Alvará de Funcionamento e Localização Para fazer a requisição, é necessário solicitar na própria prefeitura.
A depender da atividade exercida pela empresa, outras secretarias podem estar envolvidas no processo de legalização das atividades do negócio, como as de Saúde, Planejamento, Meio Ambiente, Obras e Viação. Todas as exigências relacionadas ao município de atividade são obtidas no momento em que se faz a consulta de viabilidade, no primeiro passo. Cadastro na Previdência Social A esta altura do campeonato, a empresa já pode iniciar suas operações. Porém, o processo ainda não está 100% concluído. É necessário realizar o cadastro na Previdência Social, mesmo que a empresa não possua funcionários. Esse passo é necessário para o processo de contratação de funcionários, visto que é necessário arcar com as obrigações trabalhistas deles. Assim, mesmo sem funcionários a empresa precisa estar cadastrada e pagar os tributos. Para realizar o cadastro, basta ir até a Agência da Previdência de sua jurisdição. O prazo para finalizar o cadastro é de 30 dias após o início do processo. Autorização de Aparato Fiscal É necessário preparar o Aparato Fiscal para que a empresa seja autorizada a emitir notas fiscais e a autenticação de livros fiscais. Essa etapa pode ser feita na prefeitura de cada cidade. O aparato fiscal permite que a empresa comece a exercer atividades de forma legal.
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Mitos do empreendedorismo O Brasil poderia ter muito mais negĂłcios surgindo se as pessoas nĂŁo se autoboicotassem por causa de conceitos irreais
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Alguns tem dinheiro, mas não tem atitude empreendedora
65% dos brasileiros desejam ter um negócio próprio
Mais de 65% dos brasileiros desejam ter um negócio próprio, segundo uma pesquisa das empresas MindMiners e PayPal. Mas por que eles ainda não o fizeram? Nem todos possuem o que é preciso para iniciar um negócio. Alguns têm o dinheiro, mas não a atitude empreendedora. Outros têm a vontade, mas não os recursos. Ainda assim, o número de empresas no Brasil poderia ser bem maior se as pessoas não se autoboicotassem por causa de conceitos irreais. A seguir, alguns dos mitos mais propagados no país sobre o perfil do empreendedor. Empreendedores trabalham 24 horas por dia Muitos hesitam em abrir o próprio negócio ao ouvir que, depois de empreender, não haverá mais tempo livre. O empreendedorismo requer comprometimento, mas é possível ter equilíbrio organizando listas de tarefas e delegando. Um empresário que tenta ser sempre multitarefa acaba reduzindo sua produtividade.
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É necessário assumir riscos Realmente, não dá para obter grandes retornos sem riscos, mas empreendedores assumem riscos calculados — aqueles com grande chance de se converter em certezas. Não se deve empreender com capital próprio Muita gente só começa um negócio depois de obter empréstimos com teceiros. Se você deseja ser um empresário bem-sucedido, inicie com o próprio capital. Isso porque fica mais difícil arriscar quando o dinheiro não é seu, o que pode lhe custar a perda de bons retornos. Para empreender, é preciso ter uma ideia original Não há nada de errado em criar um negócio com base em modelos já existentes, desde que sua criação não infrinja as marcas registradas, as patentes ou a propriedade intelectual de outra pessoa. É obrigatório ter formação acadêmica Apesar de a educação formal ser uma aliada, não é preciso ensino superior para abrir um negócio. Não que o empreendedor não deva estudar — ele só não deve acreditar que seu sucesso dependerá de ter ou não uma graduação.
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O que pessoas bemsucedidas aprenderam com seus erros Assumir os deslizes e começar tudo de novo faz parte de dar a volta por cima ao errar Texto Mariana Amaro e ilustrações Sowieso Wies
Como qualquer usuário de rede social já sabe, sucesso é algo para ser compartilhado, curtido e comentado. Uma promoção, um elogio, um faturamento no azul, tudo é motivo para avisar a todos como a sua carreira está muito bem, obrigado. O fracasso, por outro lado, é algo íntimo, para ser degustado sozinho, de preferência escondido no quarto, debaixo das cobertas. “As pessoas acham que uma trajetória de sucesso é linear, que aquele presidente ou empreendedor foi construindo sua carreira de maneira espetacular e nada deu errado. Mas esse caminho é todo quebrado, de tentativas e erros”, diz Rafael Chanin, de 34 anos, que já perdeu as contas de quantas vezes quebrou e por isso mesmo trouxe para o Brasil, em 2012, a FailCon, uma conferência criada em San Francisco, na Califórnia, três anos antes, com a nobre missão de “naturalizar a falha”.
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Coragem para encarar É difícil assumir um fracasso. Tão difícil que Rafael tem problemas em encontrar pessoas dispostas a falar sobre suas falhas. “Quando a maioria das pessoas sobe em um palco, quer falar das suas virtudes, mostrar seu lado bom. Muita gente não entende a proposta de dividir também seu lado humano”, afirma Rafael. Há quem tenha essa coragem, como exemplo é Robinson Shiba, de 48 anos, dono e presidente da Trendfoods, que no ano passado teve um faturamento de 430 milhões de reais e é conhecida pelas marcas China in Box e Gendai.
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Descendente de japoneses e nascido na cidade paranaense de Maringá, Robinson trocou a carreira estável na odontologia, herança paterna, pelo empreendedorismo. Para conseguir os 60 000 dólares de que precisava para abrir um negócio, ele vendeu dois dos seus consultórios e pediu um empréstimo ao pai. Com o dinheiro no bolso, inaugurou em 1992, em São Paulo, a primeira loja do restaurante que viraria sinônimo de comida chinesa entregue em casa, o China in Box. A ideia surgiu em uma viagem de Robinson pelos Estados Unidos, quando notou que pratos asiáticos comercializados em caixinhas eram um sucesso. O negócio demorou alguns meses a engatar. Enquanto isso, Robinson fazia de tudo: de distribuir folhetos a cortar legumes. Em 1993, abriu a segunda loja ao lado de um amigo e o negócio deslanchou – o que o levou a querer expandir. Em uma feira de franquias no ano seguinte comercializou 35 lojas. “Eu tinha 25 anos. Com essa idade, você não tem medo de nada, acha que é imortal e que tudo que fizer vai dar certo”, diz Robinson. A ânsia pelo crescimento agressivo foi responsável por um de seus primeiros erros: não dedicar tempo
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para a estruturação de sua rede de franquias. “Não tinha nem um organograma, não havia diretoria, gerente, área de recursos humanos, nada. Não havia nenhum controle de alimentos, de desperdício ou de pratos, de quais davam lucro e quais davam prejuízo. Os franqueados recebiam as receitas e procuravam seus fornecedores. Começou a ficar tudo fora de controle”, diz. Mesmo à beira do caos, Robinson percebeu o problema a tempo. Parou de abrir lojas por um ano e meio para arrumar a casa: contratou uma consultoria que desenvolveu indicadores de negócios e implantou um operador logístico. Passado esse primeiro tombo, o empreendedor recomeçou a expansão. Em 2007, decidiu que era hora de ir para fora do país. “Foi uma decisão mais emocional. É o sonho do empreendedor ver sua marca pelo mundo”, afirma. Mas o sonho não é para qualquer um. O China in Box chegou a ter uma loja na Argentina e outras cinco no México. Ele só se esqueceu de perguntar se os latinos gostavam de yakissoba. Ao que parece, não gostavam. As seis lojas fecharam em menos de dois anos. “Eu precisaria ir para lá para tentar fazer acontecer. Mas, se deixasse
Robinson Shiba, dono e presidente da Trendfoods
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Fotografia concedida pela acessoria de Robinson Shiba.
a operação no Brasil, poderia desandar aqui de novo”, diz. Hoje, ele mantém o foco dos negócios apenas em território nacional e toma cuidado ao selecionar os franqueados, para não fechar nenhuma loja. Este ano, seu papel será visitar todas as 200 lojas do China in Box e do Gendai, que foi comprado em 2008, para conversar com franqueados e funcionários. “Quero acabar com o mito de que empreendedor é um cara diferente, que não erra.” Mais confiança nos outros Rachel Maia desafiou as estatísticas para se tornar uma das mulheres mais poderosas do Brasil. Filha mais nova de sete irmãos, cresceu no bairro Cidade Dutra, na carente zona sul de São Paulo, onde estudou em escolas públicas toda a infância, mas acabou trilhando um caminho de sucesso no mercado de luxo, joias e atualmente de roupas esportivas. Aos 49 anos, com um diploma de Ciências Contábeis da fmu, Faculdades Metropolitanas Unidas, Rachel fez história por sua liderança na Pandora no Brasil, ficou nove anos à frente da joalheria, e agora se destaca sendo a ceo da marca Lacoste no Brasil.
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São poucas mulheres como ela a conquistar este status no mundo executivo: apenas 0,4% dos ceo do país são mulheres negras, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Ethos em 2016. Mesmo uma carreira que parece à prova de qualquer falha, Rachel teve seus altos e baixos. “O mercado da América Latina é muito machista, mas não me intimido. Sei muito bem que mereço meu lugar na mesa de negócios”, diz Rachel. Com um currículo invejável que inclui curso em Harvard e longas passagens pela farmacêutica Novartis e pela glamourosa Tiffany’s, ela sabe reconhecer o poder que anos experiência tiveram em melhorar suas habilidades na liderança. “A líder que eu era no começo da carreira, a que eu era no ano passado e a que sou hoje são diferentes. Acredito que estou em uma constante evolução”. Hoje, já entende que é impossível cuidar de todos os detalhes da operação. Antes, por ser muito
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Acredito que estou em uma constante evolução meticulosa, Rachel deixava o time mais próximo muito mal-acostumado. Mas, com o crescimento da empresa, percebeu que estava exigindo muito de si e pouco dos outros. “Acredito mais na minha equipe agora, e isso melhorou inclusive a nossa relação, porque eles confiam mais em mim e, consequentemente, neles próprios. Isso faz o trabalho de todo mundo ficar melhor. Entendi que confiança é um fator motivacional”, diz. Antes, ela não conseguia delegar. Um dos erros de liderança mais comuns, segundo a coach Eliana Dutra, ceo da ProFit, consultoria de carreira, no Rio de Janeiro. “É mais comum principalmente entre os líderes recém-promovidos. As pessoas têm dificuldades em entender que a função mudou e que agora devem supervisionar o trabalho dos outros. Isso é muito desgastante para o gestor, que faz o seu trabalho e o dos outros, e para os subordinados, que se sentem inseguros com o chefe”, diz Eliana. Outro problema de liderança de Rachel surgia por seu jeito simpático. A forma como ela tratava e conversava com a equipe fazia surgir laços fortes de amizade. “Aprendi que posso gostar muito de uma pessoa, mas tenho que
Rachel Maia ceo da marca Lacoste no Brasil
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Fotografia concedida pela acessoria de Rachel Maia.
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pensar no negócio. Não estou escolhendo meu grupo de amigos, estou decidindo quem é melhor para aquela posição dentro da companhia”, afirma. Responsável pelo crescimento da joalheria, que quando ela entrou tinha duas lojas e hoje tem 70 espalhadas pelo Brasil, Rachel, na verdade, quase não entrou no mercado de luxo e de varejo. “Eu não queria ir para a entrevista na Tiffany’s em 2003, queria trabalhar na indústria. Só fui porque o recrutador me convenceu de que me arrumaria uma entrevista em outra área se eu fosse lá para conversar”, conta a executiva. Com 1,83 m. de altura, é difícil para Rachel entrar em uma sala sem ser notada pelos outros. Entrar em uma sala com cinco homens engravatados aguardando sua vez para conversar sobre uma vaga de diretor financeiro (ou cfo) sem causar certo impacto então, era impossível. “Já que eu estava lá, ia fazer o meu melhor”, diz. Ela fez, convenceu os recritadores e conseguiu a vaga. “Tive um pouco de sorte também, mas sempre trabalhei muito e pude contar com mentores ao longo da carreira. Mas faria muita coisa diferente”, diz. Uma dessas “coisas” é tirar mais férias. Em sete anos que passou na Tiffany’s, a executiva só saiu de férias uma vez, por alguns dias. Quando sua filha Sara nasceu, ela tirou uma micro-licença-maternidade (de 20 dias), mas desde então sai de férias todos os anos. “É importante descansar e entender também que sou presidente da Lacoste, mas não sou só isso. Sou mulher, sou negra, sou mãe solteira e sou até professora de catecismo há mais de 15 anos”, diz. Mais importante que isso, Rachel tenta mostrar à sua equipe que é uma pessoa, com dias difíceis, dias melhores, que também precisa voltar para a casa à noite e fazer o jantar da filha e, principalmente, que também comete muitos erros, como qualquer pessoa – e se levanta depois deles com mais força ainda. Como dizia o ex-primeiroministro da Inglaterra, Winston Churchill, “sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”.
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A Persona Uma série de ilustrações e brincadeiras que achamos que definem (nem que seja apenas um pouco) o perfil do jovem empreendedor
A bolsa ecofriendly e a bicicleta. Mesmo sem muito tempo para si mesmo, você vai dar um jeito de salvar o planeta
Aplicativos que não param de tocar. Notificações que não param de chegar. Séries atrasadas para continuar a assistir. Falta de tempo para concretizar isso tudo
O extremo cansaço acúmulado das milhares de noites sem dormir já que você tem que conciliar faculdade, família e a futura melhor empresa do Brasil. Tudo isso com pensamento positivo para não atrair nada ruim. Vai dar tudo certo no final, relaxa
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Uma alimentação consistente (quase exclusivamente) de fast food e um número maior que o recomendável de copos de café por dia A cerveja de sexta que faz tempo que você nao vê
O copo de café que antes também era o de cerveja
Seus amigos que você jura que vai ver até cancelar os planos em cima da hora. Mas a saudade tá grande, né meu filho?
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Jovem baiana é primeira brasileira a ganhar prêmio global da ONU sobre meio ambiente A baiana Anna Luisa Beserra, de 21 anos, acaba se tornar a primeira brasileira a vencer o prêmio Jovens Campeões da Terra 72
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Fotografia retirada site da Organização Nações Unidas (onu)
Criou 10 versões distintas até chegar a tecnologia atual
Anna Luisa Beserra vencedora do prêmio Jovens Campeões da Terra
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Acostumada a laboratórios químicos e termos científicos desde a adolescência, Beserra explica com simplicidade a invenção para aqueles nunca viram um tubo de ensaio na vida. “A gente passa protetor quando vai à praia justamente para nos protegermos contra a radiação ultravioleta. Em humanos, ela causa câncer de pele. Mas, para vírus e bactérias, ela é letal. A gente aproveita a mesma radiação ultravioleta para fazer tratamento na água, que passa ser potável”, diz. Nascida em Salvador, Beserra começou a desenvolver a tecnologia aos 15 anos, em 2013, depois de ganhar uma bolsa para jovens cientistas oferecida pelo cnpq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), do governo federal. De lá para cá, ela criou 10 versões distintas até chegar à tecnologia atual, que purifica água não-potável usando a luz solar, sem produtos químicos ou filtros descartáveis. Segundo a onu, 1,8 bilhão de
pessoas bebem água imprópria ao consumo humano no mundo. No Brasil, segundo dados divulgados neste ano pelo Intituto Trata Brasil, cerca de 35 milhões de pessoas não têm acesso a redes de água potável. Batizado de Aqualuz, o dispositivo foi acoplado em fase de testes a cisternas na região do semi-árido do nordeste brasileiro e já garante acesso a água limpa para 265 pessoas. “Até o fim do ano chegaremos a mais 700”, afirma. “É uma metodologia muito fácil e viável para estas regiões. O dispositivo dura 20 anos, em média, e só precisa ser limpo com água e sabão.” Vencedora da categoria América Latina e Caribe da premiação oferecida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Beserra quer agora expandir a tecnologia para fora do Brasil. “A gente não esperava (o prêmio), foi uma grande surpresa. Agora, sabemos que não só vamos ter o retorno financeiro para investir no projeto, como também estamos abrindo portas para expandir a tecnologia para África, Ásia e outros países da América Latina”, diz. O dispositivo também batiza uma startup que Beserra criou durante a graduação no curso de biotecnologia na Universidade Federal da Bahia (ufba). “A meta é democratizar o acesso a agua potável”, prossegue a criadora do Aqualuz, que é capaz de limpar até 10 litros de água em 4 horas. 73
As periferias são territórios de saberes singulares Os hábitos e as práticas empreendedoras dos moradores das periferias levam uma vida melhor para essas regiões. E pouca gente sabe disso
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Fotografia retirada site de notícias Carta Capital.
Eles vivem o que estão se propondo a solucionar
Feira Preta realizada cidade de São Paulo
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“Há pouco mais de 17 anos, decidi empreender em uma iniciativa que pudesse dar visibilidade à comunidade negra. Para isso, eu me virei vendendo peças de roupas usadas nas ruas de São Paulo. Uma década e meia depois, em 2017, estava eu, em Nova York, entre as 100 pessoas afrodescendentes - com menos de 40 anos - mais influentes do planeta, em um ranking que incluía estrelas do esporte, como Serena Williams e Usain Bolt, da música pop, Rihanna e Beyoncé, sendo premiada pela iniciativa do Festival Feira Preta.” Adriana Barbosa vem de uma família de empreendedoras. Sua bisavó, sempre que faltava dinheiro para pagar as contas, criava algo para terminar o mês no azul. “Ela inventava alguma coisa e empreendia”, diz. Trilhou o mesmo caminho e encontrou no empreendedorismo uma oportunidade de inventar e criar como sua família. A Feira Preta nasceu quando Adriana tentava encontrar uma
resposta para a seguinte pergunta: se mãos pretas produzem, por que o dinheiro vai parar no bolso de pessoas brancas? A indagação veio após observar a movimentação da renda gerada por festas de cultura negra na capital paulista. Quem organizava estas festas eram pessoas brancas e, no final, eram elas que tinham o dinheiro. Enquanto as pessoas que estavam na festa, na maioria dos casos, voltavam para a rotina e tinham que se virar com pouco que tinham. “Em 17 edições, a Feira Preta mobilizou mais de 200 mil visitantes e movimentou mais de R$ 5 milhões. Além de São Paulo, já passamos por Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Maceió Recife e São Luís. A última edição, sozinha, reuniu na capital paulista mais de 100 empreendedores e 50 mil pessoas em três dias de evento aberto na região central da capital de São Paulo. Propósito, resistência e necessidade versus oportunidade foram os ingredientes que me levaram a empreender. Hoje, entendo que a Feira Preta foi um dos primeiros modelos pautados no tema de raça no cenário de negócios de impacto social no país. Um negócio de impacto social pode ser definido como tudo aquilo que traz transformações e resultados positivos para a vida das pessoas, a médio ou longo prazos. Normalmente, no Brasil, partem de uma lógica de escassez 75
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Fotografia concedida pela acessoria de Adriana Barbosa.
e são criados para gerar mudanças em situações de necessidade e vulnerabilidade dos grupos de pessoas historicamente colocados à margem da sociedade. Muita gente ainda acha que as pessoas da periferia não têm poder aquisitivo para comprar determinados produtos ou inventividade para estar em certos espaços empreendedores, mas quem pensa assim não conhece a realidade de territórios detentores de saberes e tecnologias singulares, desenvolvidas localmente. Os hábitos e práticas empreendedoras dos moradores das periferias são pouco conhecidos em sua essência e sobre eles se criaram muitos mitos e paradigmas. Os grandes “investidores sociais” que atuam no país tendem a focar suas ações nas periferias, a partir de um olhar “estrangeiro”, de fora para dentro, sem considerar que são as pessoas que já pertencem a esses territórios que conhecem como ninguém os seus códigos e, consequentemente, são aquelas que têm uma compreensão mais apurada das dores e delícias de viver nas regiões periféricas. É assim que a periferia e o morro fazem. Compreendem os contextos, inventam e reinventam a sua própria forma e linguagem, levando em consideração as especificidades do território e de seus públicos, com um diferencial dos empreendedores que, de fora, criam soluções para a periferia. Eles vivem o que estão se propondo a solucionar. Não estão distantes se colocando como “liderança salvadora”. Os empreendedores das margens da sociedade desenvolvem produtos, serviços, tecnologia e soluções para uma vida melhor nessas regiões, com profundo conhecimento e propriedade. Temos todos muito a aprender com eles.”
Adriana Barbosa é presidente da Feira Preta, especialista em empreendedorismo e considerada uma das mulheres negras mais influentes do mundo, segundo o mipad
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O que é uma startup e como montar a sua Uma ideia inovadora capaz de solucionar um problema que afeta muitas pessoas (ou empresas) Texto Mariana Amaro e ilustrações Sowieso Wies
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Poucos recursos financeiros e muita disposição para correr riscos e aprender com cada erro. A busca por um modelo de negócio escalável, com alto potencial de crescimento, em curtíssimo prazo. Combinando todos esses ingredientes, você tem a receita para uma startup. O termo americano chegou ao vocabulário brasileiro em meados da década de 1990, junto com o forte crescimento da internet no país. Mas, nos últimos anos, o conceito ganhou um novo impulso por aqui, com um aumento significativo no números de empreendedores apostando nesse modelo. “De maneira prática, uma startup é uma empresa que busca resolver uma dor ou problema de seus clientes, ao mesmo tempo em que tenta descobrir uma maneira de ganhar dinheiro. Ela abraça cultura de fazer mais com menos, de agir com velocidade e de aprender sempre”, define Edson Rigonatti, sócio da Astella Investimentos, que investe em negócios inovadores. Mesmo sendo um fenômeno recente, a Associação Brasileira de Startups (ABStartups) já possui mais de 3150 startups cadastradas em seu banco de dados e estima que existam mais de 20 mil empreendedores que se enquadram nesse perfil no Brasil. A entidade acredita também que, juntas, as startups brasileiras movimentaram 2 bilhões de reais em 2014. Por que esse negócio é diferente? Apesar de mais numerosas, as startups ainda causam confusão para quem não conhece de perto o mercado. Muita gente ainda acha, que o termo se aplica a qualquer empresa 79
recém-criada. “Enquanto uma empresa já ganha dinheiro executando um modelo de negócio existente, uma startup ainda está em busca do seu”, explica Antônio Ventura, consultor de inovações. Dentro dessa busca, Yuri Gitahy, investidor anjo e fundador da Aceleradora, lembra de outra característica indispensável às startups. “Elas precisam desenvolver um modelo de negócio que seja repetível e escalável, isto é, que aumente a receita mantendo mais ou menos o mesmo custo”, diz. Para esclarecer a diferença, vamos a um exemplo. Se um empreendedor abre uma padaria, sua capacidade de crescer está restrita a uma determinada área de atuação, ao número de clientes da região e à sua capacidade de produzir pães. Tudo isso faz com que seu negócio seja pouco escalável, ou seja, tenha limites para crescer. Se quiser continuar ampliando seu negócio, ele terá que abrir uma nova padaria, em outro local o que exigirá altos investimentos. Se esse mesmo empreendedor criasse um software online de administração de padarias, ele poderia vender esse único produto para infinitas padarias, espalhadas por todo o Brasil e até em outros
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países, sem grandes custos adicionais. Ou seja, o negócio é escalável porque seu potencial de crescimento é muito maior e muito mais rápido. Inovando na prática Na teoria, é simples. Mas na prática, o desafio é bem maior. Lançar uma ideia realmente inovadora no mercado exige disposição para correr riscos e aprender com os erros no processo. “Não é para empreendedores de coração fraco”, diz Gitahy. As estatísticas mostram que nove em cada dez startups acabam falhando. Em contrapartida, o modelo traz vantagens. Usando técnicas de desenvolvimento ágil e experimentação, quem se aventura nesse negócio tende a errar mais rápido e perder muito menos dinheiro no processo. Os custos de se criar um negócio online hoje são muito menores que no passado e os recursos são mais acessíveis. Gastando poucos reais é possível colocar um site no ar e começar a promovê-lo para ver se o serviço proposto realmente faz sentido para os consumidores. Tudo isso antes de fazer grandes investimentos. Por isso, esse mundo tem atraído muitos jovens recém-saídos ou ainda
Florian Hagenbuch ceo da startup imobiliária Loft que em 16 meses chegou a valer US$1 bilhão
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Fotografia concedida pela acessoria de Florian Hagenbuch.
cursando a faculdade. De acordo com a ABStartups, empreendedores entre 20 e 23 anos de idade estão à frente de 55% das startups. Essencialmente, esses jovens têm formação profissional em tecnologia, administração, marketing e finanças. Passo a passo O primeiro passo para quem quer criar uma startup é identificar um problema que afete determinados grupos de pessoas ou empresas. Um possível ponto de partida é conversar com familiares, vizinhos e amigos. “Você deve fazer um levantamento com outras pessoas para saber se esse problema realmente existe ou é só da sua cabeça”, pondera Ventura. Em seguida, o empreendedor deve levantar uma série de ideias criativas como soluções para aquele problema. Tudo fica mais fácil com a elaboração de um pré-plano de negócios, no qual devem estar presentes o público alvo, recursos necessários para viabilizar o projeto, canal de divulgação e proposta de valor. Um modelo muito utilizado para isso é o lean canvas, que permite o usuário estruturar todas as suas informações em um único quadro visual.
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A próxima etapa é criar um protótipo (chamado de mvp, sigla para Produto Mínimo Viável em inglês) para testar se a solução pensada realmente resolve os problemas dos usuários. Começa então uma série de experimentos que vão permitir que o empreendedor avance na criação do produto final ou desista no meio do caminho, se suas hipóteses se provarem infundadas. Em 2010, Eduardo L’Hotellier, ceo do GetNinjas, percebeu que não existia nenhum canal na internet para prestadores de serviços oferecerem seus trabalhos a clientes. A partir dessa constatação, decidiu criar sua startup. “Esse tipo de site é muito comum lá fora, mas não tinha nada no Brasil”. Para testar a viabilidade do projeto, ele criou um mvp. “Criei uma versão beta do site, uma plataforma supersimples e operacional. Quando vi que começou a ter uma projeção, passei a aprimorá-lo”, diz L’Hotellier.
Sempre é bom momento começar uma empresa Atualmente, o GetNinjas tem mais de 700 mil profissionais cadastrados em todo país, entre pedreiros, diaristas, professores, e outros. David Abuhab e Cristian Aquino apostaram na mesma fórmula ao fundar a startup VejoaoVivo. Aquino, que trabalhava com instalação de câmeras de segurança, certo dia ficou preso em um congestionamento e pensou que seria interessante utilizar a tecnologia de monitoramento em tempo real para obter informações sobre o que estava acontecendo. Hoje, o portal possui uma rede de quase mil câmeras que monitoram 24 horas trânsito, praias, aeroportos e outros pontos turísticos de diversos estados brasileiros. “Com uma interface simples e apenas 25 câmeras instaladas em Joinville, chegamos a ter picos de 30 mil acessos diários”, conta Aquino. A partir desse momento, a startup expandiu sua ideia para mais de 110 cidades e hoje já recebe 15 milhões de visitas por mês.
Eduardo L’Hotellier, ceo do GetNinjas maior plataforma de contratação de serviços do Brasil
Investimento Hoje já existem no Brasil diferentes perfis de investidores que colocam dinheiro nesse mercado. O investidor anjo é uma pessoa física que, em geral, injeta entre 100 82
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Fotografia concedida pela acessoria de Florian Hagenbuch.
mil reais e 1 milhão de reais em uma startup que está começando, em troca de uma participação no negócio. Há também as aceleradores, que apoia grupos de startups não só com capital, mas também com espaço de escritório e ajuda de mentores desenvolver a ideia. Para negócios um pouco mais maduros, que já saíram do papel e estão faturando, os fundos de capital de risco são uma opção. Reunindo dinheiro de diversos investidores, eles costumam fazer aportes maiores em troca de uma fatia menor do negócio. “Além de injetar recurso financeiro, os investidores auxiliam o empreendedor a amadurecer o negócio e servem de conexão com talentos, potenciais clientes e outros investidores”, diz Rigonatti. Foi esse o caminho trilhado por L’Hotellier para desenvolver seu projeto. O GetNinjas conta com três investidores e já captou mais de 7 milhões de reais. Realidade brasileira Embora o número de investidores anjos, fundos e aceleradoras tenha crescido muito nos últimos anos, assim como o próprio número de empreendedores, o ecossistema de startups brasileiro ainda está em fase de amadurecimento. “Em termos de produtos e serviços, o Brasil está 50 anos atrasado em relação aos países desenvolvidos. Há muita coisa ainda para se fazer aqui. O nosso grande problema é a burocracia e o excesso de impostos”, diz Antônio Ventura Germano. Já Gitahy defende que não existe lugar e época certos. Para ele, a criação de startups sempre será um bom negócio. “Em períodos de economia forte, busca-se inovações em escala - em períodos de crise, busca-se oportunidades para gerar mais renda ou reduzir custos de pessoas e empresas”, conclui.
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Com ‘G-10 das favelas’, moradores querem atrair investimentos e transformar exclusão em startups Oferta de serviços como aplicativos de entrega é limitada para moradores de favelas em diversas cidades do país 86
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Fotografia retirada site de notícias e educação Startupi.
O cara que cria uma startup na favela quer ser tratado como empreendedor, porque ele é
Encontro G10 das Favelas, bloco de líderes e empreendedores de Impacto Social das favelas
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Na vizinhança onde mora o carioca Herbert Veloso, de 20 anos, pedir comida por aplicativo é difícil: poucos entregadores e empresas aceitam chegar até os endereços que ficam no Complexo do Alemão, que abriga um dos maiores conjuntos de favelas da Zona Norte do Rio e que, não raramente, atrai atenção no noticiário nacional em episódios relacionados a crimes, assassinatos e operações policiais. São problemas sociais que atingem, além do Alemão, muitas outras favelas e periferias de cidades em todo o país, mas viraram oportunidade de negócios para o programador, que pretende lançar até dezembro a versão definitiva do aplicativo de entregas Brotaki, “mistura de Rappi e iFood”, na definição dos criadores. Voltada para os clientes e comerciantes da favela em que ele vive e trabalha, a ferramenta já está em fase de testes. “Tem muita gente na favela que tem necessidade de ser atendida e não tem ninguém oferecendo o
serviço. O buraco dessa exclusão gera um nicho de negócio absurdo”, diz Herbert, um dos sócios fundadores da startup de tecnologia Agência Cptech, formada por jovens desenvolvedores. A empresa funciona no contêiner da ONG Educap, que oferece oportunidades de educação para os moradores e foi onde os empreendedores estudaram programação no Alemão. A ideia do Brotaki é resolver dois problemas importantes: aumentar as vendas dos comerciantes locais e possibilitar um serviço, até então, inacessível aos moradores da favela. “A gente viu que muito comerciante trabalhava com esses aplicativos e depois acabava saindo do aplicativo, porque não dava certo. Pensamos: qual o problema?”, diz o sócio da startup. “No prazo de um ano estaremos rodando 100% do nosso produto, mostrando que nasce muita coisa boa dentro da favela. Soluções que resolvem não só o problema da favela, mas que podem ser levadas para outras regiões”, diz o empreendedor, que acaba de ganhar um apoio para o crescimento da Agência Cptech. A startup foi um dos 16 projetos selecionados pelo Investe Favela, fundo criado a partir do investimento de empresários e gerenciado por líderes comunitários do Complexo do Alemão e de Paraisópolis, voltado a financiar startups das favelas de todo o país. 87
E a ideia, daqui em diante, é começar a buscar mais projetos como estes: no dia 23 de novembro, um evento em Paraisópolis batizado de Slum Summit lançará oficialmente o G-10 das favelas, bloco que, assim como os países ricos (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) do G-7, unirá forças em prol do desenvolvimento econômico e protagonismo de seus membros. No mesmo evento, mais empreendedores das comunidades do G-10 poderão candidatar seus projetos de startups a financiamentos. “O G-7 e o G-20 não juntam os países em blocos para decidirem os rumos deles? Queremos decidir os nossos próprios rumos”, compara Gilson Rodrigues, 35, presidente da União dos Moradores de Paraisópolis desde 2009. Foi ele quem liderou na última década, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, o movimento de urbanização de Paraisópolis, favela na Zona Sul da capital paulista onde vivem cerca de 100 mil pessoas e funcionam 12 mil estabelecimentos comerciais. Fintech para ambulantes e camelôs O caxiense Hugo Miranda, de 34 anos, não tinha ideia de quanto dinheiro circulava entre os comerciantes da periferia até prestar atenção ao mercado para criar a Silicon Pay, máquina de cartões de débito e crédito voltada para camelôs e mercado informal. Estudo do Instituto Locomotiva divulgado em agosto, por exemplo, aponta que o Brasil ainda tem 45 milhões de pessoas vivendo totalmente excluídas do sistema bancário, movimentando fora dos bancos um total anual estimado em R$ 820 bilhões, especialmente no mercado informal. 88
Gilson Rodrigues é um dos responsáveis do G10, o baiano de Itambé é também é consultor, líder comunitário e empreendedor social
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Fotografia concedida pela acessoria de Giilson Rodrigues.
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“É um volume muito alto, eu não tinha ideia do quanto se transacionava dentro do setor informal e dentro das comunidades”, afima Miranda, nascido e criado em Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense que fica a cerca de 15 km do Complexo do Alemão. “Atendemos o cliente que não sabe usar a máquina e tem vergonha de falar, está com nome sujo ou o comerciante que dá o cartão para os funcionários que pedem para receber em dinheiro porque a conta (bancária) está com uma pendência e precisam levar dinheiro para casa. A gente ensina a mexer em tudo e dá um cartão preto pra ele, um cartão black pré-pago de crédito, para elevar a autoestima dele”, diz o ceo da fintech. Miranda afirma ser esse o diferencial de sua empresa em relação aos concorrentes. “É o valor que damos ao cliente. No cartão pré-pago você bancariza ele de novo”, diz Miranda, que tomou dinheiro emprestado para comprar a primeira leva de máquinas e contou com o investimento de um empresário para comprar segundo lote de máquinas. Criada há um ano, a Silicon Pay tem 400 clientes cadastrados em Caxias e no Complexo do Alemão, com transações mensais que giram em torno de R$ 2 milhões, segundo Miranda. A estimativa do empresário é de que, só no Alemão, existam 2 mil pontos comerciais.
A meta da Silicon Pay é chegar a R$ 10 milhões em transações só no Alemão em até um ano. Miranda mora sozinho e paga as próprias contas desde os 14 anos, mas demorou a se sentir empreendedor de verdade. Formou-se em Marketing estudando à noite e vendendo sacolas plásticas no Ceasa durante o dia, mas diz que aprendeu mesmo sobre o mundo dos negócios convivendo com empresários que o inspiram e que ele considera mentores, como Luciano Vital e Daniel Orlean, com quem diz ter conhecido a “a rotina dos empreendedores de alto padrão” para entrar no mundo das fintechs. “O cara que cria uma startup na favela quer ser tratado como empreendedor, porque ele é. É muito mais difícil para ele empreender do que para o cara que nasceu do lado do Shopping Leblon com o investimento inicial do pai dele. O cara começa do zero e tem que vender para pagar salário. Fica endividado, sem credibilidade nenhuma”, diz Miranda, que não vê como exclusão a ausência das grandes empresas nas favelas, mas reconhece que elas estão perdendo uma enorme oportunidade de negócios, o que abre espaço para empreendedores locais. “Naturalmente acho que eles preferem atuar em áreas melhores, com mais segurança, mais pavimentação. Destesto vitimismo”, diz. “Os empresários têm que começar a prestar atenção nessas startups que estão crescendo nas comunidades. Verdadeiros heróis, sem estrutura”, acrescenta.
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Querida pessoa que ouviu a playlist “Forever Alone” por 4 horas no dia dos namorados, Você ta bem? 92
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Por dentro de tudo Saber as necessidades do seu público alvo é fundamental para o sucesso de um negócio e, nos dias de hoje, o mais facil é se conectar pelas redes sociais. A #BeBIZI é criada pra isso. Uma série de enquetes feitas no twitter para o nosso leitor saber as preferências do seu público alvo.
Perfil da revista no Twitter onde aumentamos o contato direto com nossos leitores e seu público alvo. Fotos enivadas por nossos seguidores com suas opções de capas preferidas 94
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73%
27%
53% 47% 53% valoriza mais a qualidade so produto.
52% 48% 73% dos entrevistados não verificam se o produto é testado me animais. Da porcentagem que verifica, 52% desistem de comprar o produto.
Não é novidade dizer que as redes sociais promoveram grandes mudanças no relacionamento cliente x empresa. A oportunidade de falar diretamente com quem consome o produto ou serviço e, entre outras coisas, a de dar ao público um retorno imediato tornou tais canais indispensáveis para quem tem como grande meta crescer no mercado e firmar-se nele. abril 2020
58% 42%
70%
30%
70% dos entrevistados afirmaram que se um fomoso que ele gosta indica um produto ou serviço, ele tem mais vontade de comprar.
58% já se arrependeu de comprar algo pela internet.
O fato é que nunca a comunicação das empresas com seus clientes foi tão intensa quanto agora. As redes sociais, que são poderosas ferramentas de marketing de relacionamento, tornaram-se um meio propício para que marcas apresentem suas propostas, explorem todo seu potencial criativo para conquistar o cliente mais exigente e, sobretudo, testem a capacidade que têm de lidar com reclamações. É lá onde as pessoas mais falam de seus descontentamentos, visto que esse tipo de atitude, dada a exposição, acelera possíveis correções a fim da garantir a tão desejada satisfação do cliente. 95
5 filmes que você precisa assistir! Veja a lista de filmes que ajudaram empreendedores a serem mais motivados Desde 1895, filmes foram feitos para emocionar, alegrar e surpreender seu público. Muitos deles mostram personagens com características marcantes, como gírias, sotaque, no modo de viver ou através de fatos relembrados de acordo com seu lugar de origem. Desde os primórdios as produções cinematográficas, sejam produtores ou diretores de cinema 96
a consideravam como uma poderosa ferramenta para instrução, educação e reflexão humanas. Os filmes tem o poder de mostrar ao público o que ele não poderia ver na realidade. Ele não é apenas feito de ficções, é também feito de histórias de pessoas que tiveram grande relevância pública ou moldes de vida diferentes dos nossos. Para ajudar nos dias desanimados e cansativos, que podem prejudicar seu desempenho durante trabalho, nós da equipe Bizi indicamos alguns filmes que podem ajudar trazer novas motivações . BIZI
SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS Em 1959 na Welton Academy, uma tradicional escola preparatória, um ex-aluno (Robin Williams) se torna o novo professor de literatura, mas logo seus métodos de incentivar os alunos a pensarem por si mesmos cria um choque com a ortodoxa direção do colégio, principalmente quando ele fala aos seus alunos sobre a “Sociedade dos Poetas Mortos”. PRENDA-ME SE FOR CAPAZ Frank Abagnale Jr. (Leonardo DiCaprio) já foi médico, advogado e co-piloto, tudo isso com apenas 18 anos. Mestre na arte do disfarce, ele aproveita suas habilidades para viver a vida como quer e praticar golpes milionários, que fazem com que se torne o ladrão de banco mais bem-sucedido da história dos Estados Unidos com apenas 17 anos. Mas em seu encalço está o agente do fbi Carl Hanratty (Tom Hanks), que usa todos os meios que tem ao seu dispor para capturá-lo.
A GRANDE APOSTA Michael Burry (Christian Bale) é o dono de uma empresa de médio porte, que decide investir muito dinheiro do fundo que coordena ao apostar que o sistema imobiliário nos Estados Unidos irá quebrar em breve. Tal decisão gera complicações junto aos investidores, já que nunca antes alguém havia apostado contra o sistema e levado vantagem. Ao saber destes investimentos, o corretor Jared Vennett (Ryan Gosling) percebe a oportunidade e passa a oferecê-la a seus clientes. Um deles é Mark Baum (Steve Carell), o dono de uma corretora que enfrenta problemas pessoais desde que seu irmão se suicidou. Paralelamente, dois iniciantes na Bolsa de Valores percebem que podem ganhar muito dinheiro ao apostar na crise imobiliária e, para tanto, pedem ajuda a um guru de Wall Street, Ben Rickert (Brad Pitt), que vive recluso. FOREST GUMP Quarenta anos da história dos Estados Unidos, vistos pelos olhos de Forrest Gump (Tom Hanks), um rapaz com QI abaixo da média e boas intenções. Por obra do acaso, ele consegue participar de momentos cruciais, como a Guerra do Vietnã e Watergate, mas continua pensando no seu amor de infância, Jenny Curran.
O HOMEM QUE MUDOU O JOGO Brad Pitt interpreta o gerente de um time de beisebol que tem o desafio de tirar a equipe do buraco. Felipe Camargo, dono da produtora de vídeo Guará Filmes, acredita que o filme ensina muito sobre liderança e motivação e merece ser compartilhado com toda a equipe infância, Jenny Curran.
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5 séries que você precisa assistir! Quer aprender mais sobre ter um negócio próprio sem deixar de se divertir? Confira algumas ótimas séries que também dão lições de empreendedorismo Finalmente chega a sexta-feira, começa o tão esperado fim de semana e, para muitos, não há programa melhor do que ficar em casa, de pijamas relaxando na companhia da TV. Sobre isso, alguns estudos afirmam que, desde que o hábito não atrapalhe nossas tarefas nem nossa vida social, assistir a seriados é uma forma divertida de relaxar a mente. 98
O mesmo estudo explica que, quando nos dispomos a assistir a um seriado com atenção, os níveis de dopamina aumentam em nosso corpo, provocando no cérebro uma sensação de entusiasmo e “recompensa” por estarmos exatamente onde queremos. Apesar de ser divertido sentir todas essas emoções com uma nova série, algumas pessoas preferem reassistir sua série preferida. Um dos motivos que estão por trás dessa atitude é a saudade. O psicólogo Neel Burton argumenta que reassistir seriado, nos leva ao contexto em que estávamos assistindo pela primeira vez. BIZI
GIRLBOSS (2017) Baseado na trajetória de Sophia Amoruso, uma jovem batalhadora que começou a vida vendendo roupas antigas no eBay e hoje, aos 27 anos, tem uma marca multimilionária baseada em Los Angeles. Claro que a série inclui muitas coisas que não ocorreram na vida da verdadeira Sophia, assim como modificaram a personalidade da personagem, com o intuito de trazer um tom mais cômico aos episódios, afinal, é uma releitura de sua trajetória de vida. Mas a essência da história continua a mesma. THE OFFICE (2005) No formato de pseudodocumentário, a série retrata o cotidiano de um escritório em Scranton, na Pensilvânia, filial da empresa fictícia Dunder Mifflin, de suprimento de papel. Michael Scott é um patrão insensível mas que se preocupa com o bem estar de seus empregados, enquanto a série traça um olhar sobre todos eles, destacando suas diferenças e particularidades.
BROOKLYN NINE-NINE (2013) Ambientada na 99ª Delegacia de Polícia de Nova York, no Brooklyn, a série acompanha as maluquices do imaturo detetive Jake Peralta (Andy Samberg) e a relação que ele tem com o novo capitão, Ray Holt (Andre Braugher). Embora seja uma série de comédia, Brooklyn 99 também é uma série policial, e não deixa a desejar quando se trata de prender bandidos. Normalmente temos um ou dois casos por episódio, sendo resolvidos até o final e mostrando que os detetives da 99º são competentes. MAD MEN (2007) Don Draper é um dos mais talentosos nomes da cena publicitária da Nova York dos anos 60. Ele guarda um importante segredo sobre sua vida passada e tem dificuldades em administrar seu dia a dia e de sua família. Em seu escritório, lida com a ambição de colegas como Pete Campbell ao mesmo tempo em que incentiva a novata Peggy Olson.
SINTONIA (2019) Sintonia traz as histórias de Doni, Nando e Rita, todos moradores da mesma favela em São Paulo. Crescendo juntos pelas ruas da comunidade, eles descobriram aos poucos o mundo do tráfico de drogas, da religião e também da música. No entanto, as experiências da infância os levaram a trilhar caminhos bem diferentes. abril 2020
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5 apps que você precisa ter! Veja aplicativos indispensáveis para ser bom empreendedor: desde os que administram as finanças empresariais até os que promovem a automotivação Empreender requer muito mais que uma boa ideia de negócio e já faz parte do senso comum entre empreendedores experientes que a execução bem-feita de um projeto é o diferencial entre cases de sucesso e fracasso. Por isso, nós da equipe Bizi reunimos os aplicativos para empreendedores desenvolverem seu negócio. Aqueles que desejam a disciplina e organização encontrarão 100
os fatores essenciais para definir os rumos que sua empresa pode tomar a longo prazo. A popularização dos smartphones fez com que eles se tornassem centrais no desenvolvimento das atividades no mundo dos negócios. Existem mais de um milhão de aplicativos em todo o mundo. Nesse sentido, a tecnologia tem atuado como uma grande aliada dos empreendedores, através de sistemas e aplicativos que facilitam vários aspectos da administração de um negócio e esses são alguns exemplos de aplicativos para empreendedores que podem ser diferenciais. BIZI
EVERNOTE O Evernote quer ser o aplicativo ideal para “gerenciar tudo na vida”: é possível escrever e armazenar notas de diversos assuntos, em formatos como texto, áudio e foto. É possível acessá-la em diversos dispositivos e compartilhar com quem desejar. QIPU Lançado pelo Sebrae e pelo Buscapé, o Qipu é uma ferramenta que ajuda a controlar as obrigações das microempresas, mandando alertas sobre contribuições fiscais, sobre a arrecadação do microempreendedor ou sobre os benefícios a que ele tem direito. O aplicativo, por exemplo, tem lembretes inteligentes para os que perdem a data de pagamento do das (Documento de Arrecadação do Simples Nacional); tem um sistema de controle financeiro, que vincula as receitas e gastos com a declaração anual; e permite registrar e emitir notas fiscais e recibos.
TRELLO O Trello é um visualizador de listas descolado. Por meio de cartões, é possível dividir áreas de um projeto e acompanhar o progresso de cada um dos setores, por exemplo. A ideia é se livrar de post-its, planilhas e softwares complicados. A ferramenta se baseia em um método de produtividade chamado “kanban”, que utiliza cartões para indicar fluxos de produção. Há tanto um plano gratuito quanto dois planos pagos: o Business Class (10 dólares por mês e por usuário) e o Enterprise (até 20,83 dólares por mês e por usuário). PRIMER Criado pelo Google, o Primer é um aplicativo gratuito com lições de negócios e marketing digital express. A versão 3.0 do aplicativo traz 127 aulas em português (60 a mais que em 2016) distribuídas em quatro grandes temas: Negócios, Métricas, Marketing e Conteúdo. O material pode ser acessado offline, sem necessidade de gastar o plano de dados, e foi pensado para ser estudado de maneira prática e rápida (as aulas têm, em média, cinco minutos de duração).
SLACK O Slack é um aplicativo para trocar mensagens em grupo (pense em um WhatsApp mais profissional). Ele é cheio de ferramentas: é possível criar grupos públicos e privados; enviar arquivos de serviços como Google Drive e Dropbox; e realizar integrações com serviços como Twitter e Asana para agrupar notificações, por exemplo.
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Eventos que você não pode perder! Para você não perder de vista tudo que está para acontecer, fizemos uma lista com os principais eventos que você não pode perder ao longo deste ano. Uma realidade cada vez mais comum no setor de empreendedorismo e marketing é a realização de eventos que proporcionam contato direto entre colegas de profissão, clientes, parceiros, mentorados e alunos. No marketing digital, eles são chamados de “eventos ao vivo”, eventos que auxiliam na criação de vínculos pessoais e desenvolvem a relação das pessoas com os cursos e treinamentos oferecidos. Enquanto um workshop, por exemplo, faz uma abordagem mais ampla sobre um determinado assunto, um evento desse tipo 102
expõe para os participantes um apanhado de insights e aprendizados de anos em apenas um final de semana. É possível apertar a mão e olhar nos olhos daquela pessoa que você segue, curte, lê, faz negócios, tem aulas. Há histórias de sócios que só se conheciam pela rede, e que tiveram a chance de se conhecerem em algum evento importante. Num evento de empreendedorismo, você pode obter insights que não teria de outra forma, recebendo aquela chave que faltava para abrir portas incríveis em sua vida e negócios. Nunca se sabe o que pode acontecer. Talvez você encontre um cliente grande, se torne amigo de um grande player, o que pode abrir muitas oportunidades. O simples fato de você sair de lá com o telefone e o e-mail de algumas pessoas já pode fazer toda a diferença em seu negócio. Diante disso, nós da Bizi selecionamos alguns eventos que podem agregar muito a sua carreira. BIZI
LET’S GROW – POWERED BY LINKER Data: 20 de maio -13h30 às 16h30 Custo: gratuito Onde: via Zoom A 6a edição da Trilha B2Mamy focada em vendas, tração e networking. A diretora financeira da B2Mamy, Juliana Lopes, e a fundadora da Linker, Ingrid Barthc, vão discutir como fazer a organização financeira de um negócio com poucos recursos. PROGRAMA DE ACELERAÇÃO INOVATIVA DE IMPACTO Data: segundo semestre Custo: gratuito Onde: online Estão abertas as inscrições para o InovAtiva de Impacto, programa de aceleração para startups de impacto social e ambiental que oferece capacitação, conexão e mentoria para negócios inovadores. Fazendo parte do conjunto de produtos oferecidos pelo InovAtiva Brasil, o InovAtiva de Impacto seleciona 40 startups para uma aceleração online de até 6 meses. No final da aceleração, 20 startups participam do InovAtiva Experience, evento de conexão com organizações, empresas voltadas para impacto e se apresentam para uma banca de investidores e representantes de aceleradoras e de outras instituições ligadas ao tema.
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AFILIADOS BRASIL Data: 8 a 10 de dezembro Local: Centro de Convenções Frei Caneca, São Paulo Custo: R$479,00 Tem sido considerado “o melhor congresso de Marketing de Afiliados da América Latina”. Mas nós acreditamos apenas que é diferente. E essa diferença faz-se no networking e na experiência vivida pelas empresas que expõem na Expo Afiliados ou os participantes que vêm de todo o Brasil para o nosso evento. Os nossos palestrantes são os melhores do Mundo, e o nosso networking é “incrível” FEIRA DO EMPREENDEDOR 2020 SEBRAE-SP Data: 22 a 26 de agosto Hora: das 10 às 20 horas Local: São Paulo Expo A Feira do Empreendedor do Sebrae-SP é o maior evento de empreendedorismo do mundo. Em sua última edição, realizada em 2019, mais de 122 mil pessoas passaram pela Feira. O evento representa uma grande vitrine para quem quer fazer contatos, além de oferecer serviços, novos produtos e soluções para dar início à jornada empreendedora ou melhorar a prórpia empresa.
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5 estudos que apontam os incríveis benefícios da meditação Muitos benefícios da meditação já estão na boca do povo. Geralmente associamos a meditação ao senso de calma, tranquilidade, leveza e paz interior. Essas associações são corretas e confirmam benefícios promovidos pela prática. 104
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Stress é a resposta às exigências colocadas sobre o corpo e a mente
A meditação pode ajudar a externalizar seus sentimentos
1. Diminui o estresse O papel da meditação é ajudar o praticante a lidar com o estresse sem fugir da dor e do sofrimento de algumas situações, explicou Jon Kabat-Zinn, Ph.D., e diretor da Clínica de Redução de Estresse no Centro Médico da Universidade de Massachusetts à revista americana Psichology Today: “O stress é a resposta às exigências colocadas sobre o corpo e a mente. Quanto mais angustiado pela dor ou ansiedade, pior você vai se sentir e terá consequências fisiológicas. Eles pensam que vamos fazer todo o seu estresse ir embora. Mas, na verdade, nós movemos no estresse ou dor e começamos a olhar para ele, para perceber a reação da mente e para deixar ir essa reatividade. E então você descobre que há uma quietude interior e paz dentro de algumas das situações de vida mais difíceis.” 2. Meditação ajuda em atividades multitarefa em ambiente estressante
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Aplicar multitarefas pode ser um desafio e o estudo de pesquisadores da Universidade de Washington avaliou os efeitos da meditação no comportamento multitarefa de trabalhadores em um ambiente com alto nível de estresse. Três grupos de 12 a 15 pessoas foram testados. Os pesquisadores observaram que somente o Grupo A (foi submetido a treinamento de 8 semanas de meditação mindfulness) permaneceu nas tarefas longas e fez menos interrupções nas atividades, comparado com os outros dois grupos. Além de reportar menos emoções negativas após o experimento. 3. Melhora a função imunológica O estudo “Alterações no cérebro e função imunológica produzidos pela Meditação Mindfulness” avaliou os efeitos dessa prática em um programa de treinamento clínico de 8 semanas aplicado em profissionais saudáveis. A atividade cerebral foi medida antes e após meditação e então 4 meses depois do programa de meditação Mindfulness de 8 semanas. Logo depois, tanto os participantes do grupo de meditação quanto do grupo controle de uma lista de espera foram vacinados contra influenza. Os pesquisadores reportaram que houve aumento significativo nos anticorpos em reação à vacina nos participantes que meditavam em comparação ao grupo controle. Eles concluem que seus achados 105
4. Reduz a probabilidade de sintomas relacionados à depressão em adolescentes Esse estudo foca na aplicação de meditação Mindfulness na escola, o que reduz a probabilidade de sintomas relacionados à depressão em adolescentes. Quatrocentos alunos de cinco escolas em Flanders, na Bélgica com idades em 13 e 20 anos foram avaliados divididos em um grupo de teste e um de controle. O grupo teste recebeu treinamento de meditação e o grupo controle não. Antes do estudo, ambos os grupos responderam questionários com questões indicativas de sintomas de depressão, estresse e ansiedade. Eles ainda completaram o questionário novamente assim que fizeram o treinamento e uma terceira vez seis meses depois. Antes do treinamento de meditação, o grupo teste reportava evidências de depressão em 21% e o grupo controle 24%. Logo após o treinamento, 15% no grupo teste e 27% no grupo controle. Seis meses depois, média de 16% no grupo teste e 31% no controle.
Fotografia concedida pela acessoria de Jon Kabat-Zinn.
demonstram que um programa curto de meditação Mindfulness produz efeitos positivos no cérebro e na função imunológica.
Jon Kabat-Zinn, diretor da Clínica de Redução de Estresse no Centro Médico da Universidade de Massachusetts
5. Ajuda na qualidade do sono O efeito da meditação na qualidade do sono foi avaliado no estudo de pesquisadores da Universidade da Califórnia. Dois grupos de adultos com 55 anos que sofriam de transtornos moderados de sono passaram por duas intervenções distintas: meditação (24 pessoas) e programa de educação da higiene do sono (25 pessoas). Como resultado, a meditação resultou em menos insônia, fadiga e depressão do que o grupo do programa altamente estruturado de higiene do sono.
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Melhores podcasts de meditação guiada e relaxamento O tempo parece cada vez mais curto com tantos compromissos. É raridade encontrar uma brecha para fazer uma atividade de cada vez. Mais difícil ainda é achar um tempo para respirar, repensar o dia, meditar. Pensando nisso, foram criados podcasts para diversas finalidades, que podem ser ouvidos sem comprometer a rotina. Um bom exemplo são os podcasts de meditação guiada. Esses áudios são uma alternativa bem bacana para quem quer relaxar ou refletir ao longo do dia. A melhor notícia é que você pode baixá-los no celular e ouvi-los em
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qualquer lugar, mesmo que o tempo disponível seja curto. Imagine poder meditar enquanto o trânsito está parado ou enquanto aguarda ser atendido em uma fila: é uma ótima forma de evitar o estresse em situações tão presentes nos dias de hoje. O que é um podcast? São áudios semelhantes a programas de rádio, que são ouvidos sob demanda. O usuário escolhe o tema que mais lhe interessa e baixa o aplicativo voltado para aquele assunto. Assim como existem podcasts sobre meditação, também há sobre vários outros assuntos. Em geral, os áudios são ouvidos por meio de aplicativos , que podem ser baixados no celular. Muitos deles também estão disponíveis online. Basta fazer uma rápida busca e começar a se divertir, informar ou relaxar com o podcast escolhido.
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MEDITATION OASIS O podcast contém instruções em inglês para meditar e apresenta músicas relaxantes. Há áudios gratuitos e pagos, disponíveis para Android e iOS. THE MEDITATION PODCAST Essa é uma proposta diferente, em que os podcasts de meditação possuem batidas binaurais que afetam as ondas cerebrais. O resultado é que essas ondas induzem nosso cérebro a entrar em um estado de relaxamento profundo, parecido com o sono REM. MEDITA! Esse é o primeiro podcast de meditação totalmente desenvolvido no Brasil e é uma excelente opção para quem não fala inglês. No app, Mirna Grzich oferece 65 tipos de meditações guiadas, que são dividas nas categorias: relaxando & meditando, mindfulness, orações & mantras, meditações essenciais, insights & reflexões, meditando com tradições espirituais.
RADIO HEADSPACE Esse é um aplicativo de meditação bem famoso, que aborda também a técnica mindfullness. Além da meditação guiada, há entrevistas e artigos científicos que falam sobre os efeitos dessa prática no nosso cérebro e corpo. SMILING MIND Disponível para Android e iOS, esse aplicativo foi desenvolvido por uma equipe de psicólogos. Seu diferencial é que os podcasts de meditação são divididos por faixa etária. Há indicações específicas para pessoas a partir dos 7 anos de idade. ZEN Criado pela blogueira e YouTuber Juliana Goes, o podcast oferece um conteúdo amplo de reflexões, trilhas sonoras relaxantes, vídeos de relaxamento e meditações guiadas feitas por ela. O Zen está disponível para Android e iOs.
DEEP ENERGY 2.0 A proposta desse aplicativo é a meditação guiada e também ajudar quem sofre de insônia. Por isso, conta com músicas para relaxar e dormir. Disponível gratuitamente on line e em aplicativo para iOS.
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Não há controle Texto Cris Guerra
A irmã do meu pai era incapaz de matar um mosquito. Tinha pavor de incomodar quem quer que fosse. Até o controle remoto ela deixava quietinho em cima da TV e, acredite, levantava-se do sofa cada vez que ia usar aparelhinho que rapidamente devolvia ao seu lugar como quem pede desculpas pelo incômodo. Sua etiqueta a impedia de deter algo ou alguém que não fosse ela mesma. Discreta, minha tia fazia o diabo para permanecer invisível. Um acidente vascular cerebral provou que até o autocontrole tem um quê de utopia. A doença foi coerente com sua vida: foram mais de 30 anos desde a primeira crise até a sua partida. Minha tia foi deixando o mundo, para que aos poucos nos habituássemos á sua falta. Minha ilusão de poder controlar as coisas se manifestava em meus armários organizados. Era a minha forma de tentar domar os fatos. Quando meu pai disse que na vida era preciso ter um salário fixo, cavei um emprego ainda na faculdade e segui trocando de empregador, crescendo nos limites do possível. Era como estar em uma gaiola aberta, mas apegada ao prato de alpiste. O maior perigo era a falsa sensação de segurança. 110
Aos 40, aprendi que o incerto pode ser estímulo para ir mais longe. A rotina tem lá o seu valor, mas o frio na barriga revigora. A vida de autônoma é uma batalha por dia, como arrumar um emprego hoje e ter de encontrar outro amanhã. Mas a sensação de estabilidade que a carteira assinadaproporciona, costuma engessar, até escorrer por entre os dedos em um telefonema do rh. Foi um alívio descobrir que a vida não está sob meu controle e que algumas coisas simplesmente não dependem de mim. Viver é verbo perigoso e deliciosamente incontrolável: só nos resta atuar e talvez mudar a nossa forma de reagir a cada acontecimento. Para os que insistem em não aprender, a vida repete a lição com igual teimosia. Como na história do casal que uma amiga conheceu. Comemoravam emocionados a gravidez viabilizada por uma barriga de aluguel. “Nosso filho não terá problemas degenerativos”, disseram, orgulhosos. A encomenda do embrião foi meticulosa. O dinheiro é bom nessas coisas e consegue fazer tudo parecer estar correndo de acordo com o previsto, exceto por um detalhe: eles teriam pedido por um menino. Vem aí a pequena Lua, com a missão de ser o Sol de suas vidas.
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O que te prende? Texto Amelia Brum
Segunda-feira, 14:30. Me encontro sentada na poltrona da psicóloga chorando como se não houvesse amanhã. Ela já está acostumada, sabe que eu choro por qualquer coisinha e nessa sessão não foi diferente. Nessa sessão chorava por não conseguir controlar minha ansiedade. Eu sinto ela vindo, eu sei que na maioria das vezes ela surge do nada e eu sei que é somente coisa da minha cabeça. Mas por que não consigo fazer seu efeito passar? Por que continuo me sentindo mal? A resposta de minha terapeuta foi curta e simples: “É por que você não está aqui”. Logo depois que ela disse isso, minha face antes coberta de lágrimas se tornou um ponto de interrogação. Como assim? Eu tô aqui, na sua frente, eu saí de casa no meio de uma pandemia, coberta da cabeça aos pés com álcool gel e você vem me dizer que eu não estou aqui? Ela riu da minha resposta e disse: “Eu estou falando em relação aos seus pensamentos. Por mais que você esteja presente, sua cabeça ainda está pensando na revista que você tem que entregar segunda e acredito que seja assim também quando você percebe que está ficando ansiosa”. E foi nesse momento que percebi que eu nunca havia dado a devida abril 2020
atenção para os meus sentimentos. Eu sempre coloquei outras coisas acima deles e, ao mesmo tempo que me sentia mal por não conseguir solucioná-los, eu não me dava a oportunidade de focar somente neles, pois sempre estava com a cabeça em outro lugar. Penso nos trabalhos que tenho que entregar, nos quilos que eu tenho que perder e até naquela vez em 2018 que eu escorreguei na entrada da escola e acabei derrubando uma criança de 7 anos no chão. Mas como eu faço para ficar aqui? Tipo, aqui mesmo. Bom, de acordo com a minha psicóloga, se a gente parar pra pensar, tudo aquilo que me mantém presa no presente pode ser considerado uma maneira para que eu lide melhor com essa ansiedade que possuo. E desde então venho tentando achar coisas que me mantém presa, mas que no caso podem me libertar desse ciclo ansioso que venho vivendo desde que me conheço por gente. Não é algo fácil, por isso decidi perguntar para minha família o que os ajuda a se manter no presente. Pra minha mãe são caminhadas matinais, para o meu avô é vir aqui em casa tomar pinga e pro meu pai é matar nazistas no vídeogame. Com isso percebi que minha mãe é muito diferente de mim. Mas além disso, vi que a forma de lidar com a ansiedade difere de pessoa para pessoa. Eu ainda estou aprendendo a encarar a minha, mas até o momento constatei que vídeos engraçados de bichinhos e a cena do jogo de beisebol de Crepúsculo conseguem facilitar esse processo. E você? O que te prende?
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O mercado de trabalho mudou Texto Ricardo Amorim
No Brasil, o ambiente de negócios é desafiador. Há burocracia, impostos elevados e alto custo de financiamento. Apesar disso, em função da mais profunda crise econômica da história e de uma transformação tecnológica e comportamental significativa, o mercado de trabalho se reconfigurou. Cada vez mais gente empreende, e atualmente, do total de trabalhadores na força de trabalho, apenas um em cada três possui carteira de trabalho. Se somarmos também os 65 milhões de pessoas sem trabalho, apenas um em cada cinco brasileiros é empregado formal. Os demais empreendem, trabalham por conta própria ou trabalham sem carteira. Cada vez mais, o Brasil se assemelha a países desenvolvidos. Lá, há algum tempo, aumenta o trabalho por conta própria e o empreendedorismo, em função de novas tecnologias e mudanças na sociedade. No entanto, ao contrário de lá, aqui sobra empreendedorismo, mas falta uma legislação trabalhista que ajude a inovação a ocorrer. Mesmo com a recente Reforma Trabalhista, nossa legislação ainda precisa de muita modernização. 112
O mercado de trabalho transformou-se completamente desde que a atual legislação foi criada, há quase um século. Na época, empregados eram a maioria absoluta dos trabalhadores. Hoje, são minoria. Na prática, nossa legislação trabalhista anacrônica e as interpretações ainda mais anacrônicas feitas pela Justiça do Trabalho deixam a grande maioria sem emprego ou desamparados. Com transformações tecnológicas aceleradas, o problema vai se agravar se não adaptarmos nossas leis. Para um mundo de inteligência artificial, robôs, transformação digital, indústria 4.0, e tantas outras tecnologias revolucionárias, precisamos de uma Reforma Trabalhista 4.0. Tecnologias mais eficientes aumentam a rentabilidade das empresas e a remuneração dos trabalhadores, mas só de quem participar deste movimento. Não acompanhar as transformações será mortal para negócios, para carreiras e para o próprio País. Se o Brasil não se adaptar aos novos tempos, alijaremos os brasileiros do desenvolvimento das próximas décadas. Precisamos reduzir burocracias, aperfeiçoar a segurança jurídica, diminuir a complexidade tributária e facilitar o acesso aos novos mercados, abrindo a economia brasileira. Quem poderia parar um Brasil assim? Mas para que isso se torne realidade, é necessário aplicar cada vez mais a inovação na própria forma de pensarmos. A tecnologia, os modelos de negócios e o mercado de trabalho já mudaram, mas a cabeça das pessoas é uma das coisas mais difíceis de mudar. BIZI
O aprendizado da angústia Texto Marcia Tiburi
Uma sensação difusa, próxima de uma ansiedade, mas sem objeto, parecida também com o medo, mas sem causa específica. Uma inquietude metafísica, mas sem linguagem organizada. Nem bem um pavor, nem bem horror ou terror, mas um mal estar, uma falta flutuante, uma ameaça fantasmática e um sobressalto iminente. Eis o quadro de uma experiência conhecida individualmente e que hoje se torna um sintoma social. Ele diz respeito a um conceito filosófico fundamental, a angústia. A angústia é um sentimento disperso e desagradável e, ao mesmo tempo que carrega uma inquietação, é algo paralisante. Um filósofo que pode nos ajudar a compreendê-la é Kierkegaard que viveu no século 19 na Dinamarca. Kierkegaard vai influenciar muitos pensadores com seu tratado sobre O conceito de Angústia escrito em 1844 sob o pseudônimo de Vigilius Haufniensis. Ele apresenta o conceito de angústia como algo fundamental e essencial no desenho do complexo ser humano. E por que a angústia seria tão fundamental? Porque ela que ensina o que é a “interioridade existencial”. É a angústia que nos dá a medida da experiência do sujeito enquanto sujeito humano. No abril 2020
lugar de um “penso, logo existo”, poderíamos definir a experiência da angústia como aquilo que está no lugar do pensamento. Como se a angústia fosse o nascedouro da consciência. Na visão do filósofo dinamarquês, a angústia faz parte da vida. Inevitável, ela surge no momento em que somos confrontados justamente com as possibilidades da vida, sejam elas boas ou não aos olhos acostumados. A angústia é o efeito do nosso contato com as possibilidades da vida conforme as circunstâncias vividas por cada um. Ao falar de angústia, estamos diante daquilo que nos oprime, um obstáculo a ser atravessado. Mas ela é mais do que um sentimento, ela é a posição que implica a percepção, um saber sobre o caráter absurdo da vida e, no meio dele, a consciência do ser humano lançado entre o brilho e o apagamento, a grandeza e a miséria de sua própria condição. Talvez a angústia ceda de sua imobilidade diante da aceitação da finitude. Mas como aceitar a finitude nesse tempo em que perdemos a capacidade de meditar sobre a morte e, ao mesmo tempo, tudo parece tão morto? Bem vivida, a angústia é a chance de estabelecer uma relação autêntica com a gente mesmo. Nela é que podemos nos perguntar “como me relaciono comigo mesmo?”, que é algo bem mais complexo do que a crença em um “autoconhecimento”. É a angústia que pode nos dar as condições de fazer a pergunta “como me torno quem eu sou?”. É a angústia, portanto, que me devolve a mim mesmo. 113
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