SAUDAÇÕES! Ei você! Sim, você meu pequeno gafanhoto artístico! Nós somos a GriT, uma revista good vibes que ama muito arte, design e cinema! Nós estamos aqui, para te guiar nesta incrível jornada que é ser um gafanhoto criativo no mundo. Sabemos que seguir esse caminho não é para qualquer um, mas junto com nosso Mestre Gafanhoto vamos deixar sua vida mais paz e amor, te mantendo atualizado sobre essa indústria que é o bicho! Se você não é um gafanhoto, sem crise! A GriT é para todos os insetos que existem por aí, então sem neura, embarque nessa com a gente! Nesta edição, trazemos nossa incrível GriT porque fazer arte não tá fácil, um compilado com os maiores e melhores conteúdos do bimestre sobre a indústria da arte, cheia de bastidores, eventos que estão por vir, matérias incríveis e muito conteúdo paz e amor. E por falar neles, deixamos claro que não somos livro de auto-ajuda, mas ajudamos os nossos pequenos gafanhotos a relaxar e deixar a vida mais saudável e menos estressante! Enfim, chega de spoilers e entrem logo para o nosso mundo, onde tudo é mais colorido e psicodélico, onde o poder da flor é supremo e todo mundo é good vibes! Aproveitem e lembrem-se: façam arte, não façam guerra. Escola Superior de Propaganda e Marketing Curso de graduação em Design com Habilitação em comunicação visual e ênfase em marketing Projeto integrado do 3º semestre Projeto III: cultura e informação: Profª Marise de Chirico Marketing II: Prof. Leonardo Aureliano Cor, Percepção e Tendências: Profª Paula Csillag Produção Gráfica: Profª Mara Martha Ergonomia: Prof. Matheus Passaro e Prof. Auresnede Stephan Finanças Aplicadas ao Mercado: Prof. Alexandre Ripamonti Projeto Editorial e Gráfico Bruna Marques | Caroline Lopes Maria Júlia Alves | Marina Monteiro
COLABORADORES Conheça alguns dos profissionais que colaboraram para deixar esta edição ainda mais incrível GREGÓRIO DUVIVIER Ator, humorista e escritor. Conhecido pelo seu trabalho no cinema e no teatro. Agora ele escreve a sua coluna “Du-Viver”.
WILLIAM SANTIAGO Ilustrador brasileiro, é dono de obras incríveis marcadas pela combinação de cores vibrantes. É o ilustrador da edição e possui um perfil em sua homenagem.
CRIS GUERRA Autora incrível de vários best-sellers brasileiros. Escreve para a coluna “Cris Paz”.
MARCELLO DANTAS Curador brasileiro, em exposições, museus e outros projetos. Escreve para sua coluna, nesta edição.
TEJAL PATINI Incrívrel fotógrafo, conhecido mundialmente por seu estilo único e artístico. É um dos nossos fotógrafos.
DAVID LACHAPELLE Fotógrafo, conhecido por suas imagens inusitadas, coloridas e irreverentes. É o segundo fotógrafo da edição.
JAIRO MALTA Especializado em editorial e direção de arte. Se envolve nos movimentos culturais periféricos e afro. Ele é colunista nesta edição.
YASMIN THAYNÁ Cineasta brasileira, roteirista e diretora. Fundadora da Afroflix, curadora da Flupp. E agora, colunista da GriT.
VITOR DICASTRO Nosso querido influenciador e astrólogo é o autor do melhor horóscopo já visto, o “Gafanhoto Lunático”, somente na GriT.
O QUE HÁ DE NOVO? VEM AÍ
novidades no 10 Melhores mundo do entretenimento
44
GALERIA
reviews mais sinceros 14 Os dos úlltimos lançamentos
18
AUGE
Ganha-ganha é moda no design afetivo
digitais abrem 20 Eventos chamada para artistas
22 26
FAÇA ARTE, NÃO FAÇA GUERRA
Marcello Dantas fala sobre arte em sua coluna
O QUE É ARTE AFINAL?
Incrível matéria que traz uma reflexão sobre arte
VOCÊ QUE LUTE
ganham espaço em 36 Artivistas museus e galerias X Grafite: 38 Pichação crime ou arte
QUAL O PREÇO DA SUA ARTE Uma reflexão profunda e importante sobre quanto os artistas cobram por seu trabalho STONKS
é decidido o valor 50 Como das obras de arte talentos e tire uma 52 Descubra grana na pandemia
CARA, ISSO É BARRA
do Jairo Malta mostra que 54 Coluna violência e racismo tem cor!
DU-VIVER
do Gregório Duvivier fala 56 Coluna sobre como nós vivemos o futuro
O CIRCO PEDE AJUDA
ficaram os artistas 60 Como circenses na pandemia
66
CLAQUETE
Mulheres gigantes na direção do cinema VINIL
não está difícil só 68 Trabalho para os artistas
CONSOLE
sonora tão punk 70 Trilha quanto o game
PERFIL NAMASTÊ
Carol faz pessoas 98 Sweet dormirem ao redor do mundo
PAZ & AMOR
102 Vivendo com a ansiedade CRIS PAZ
74
lado de dentro de 104 Do um sorriso
MIC DROP
O DNA do sucesso de Lizzo!
GAFANHOTO LUNÁTICO
YASMIN THÁON
maravilhoso e hilário 110 Ohoróscopo da GriT
da Yasmin Thayná, traz 78 Aumacoluna reflexão sobre imagens
SORORIDADE
A GRANDE EPIDEMIA
visual que traz 112 Poema uma homenagem a todas
segunda epidemia está 82 Uma chegando e ela é silenciosa
as mulheres
DESBLOQUEIE-SE
92 Bloqueio criativo não pode! QUEM VIVE PARADO É PLANTA
94 Exercícios agora só em casa! SUSSUR
O que é o asmr e porque 96 atrai milhões
108
WILLIAN SANTIAGO
Um nome e um artista marcante e inesquecível
NÃO MOSQUE | VEM AÍ
14
www.grit.com.br
O DESIGN WEEKEND SÃO PAULO
O dw! Semana de Design de São Paulo chega a sua 8ª edição como uma das cinco maiores semanas de design do mundo. Profissionais das áreas de design, arte, decoração vindos de todo país se encontram em São Paulo para as mais de 300 atividades do evento. É o momento ideal para lançar uma marca, apresentar uma nova coleção ou fazer uma ação de relacionamento com seu público. A criatividade está provando ser uma das forças motrizes do ativismo social e da mudança. Por isso, a forma como usamos o design para amplificar vozes diversas e iniciativas cruciais está entre as prioridades da dw! Por meio da produção de conteúdo e de ações presenciais e digitais reunimos milhares de criativos talentosos e apaixonados por design. Como um festival que amplia as vozes de nossa comunidade, encontramos uma oportunidade para fazer o bem e reunir pessoas para discutir temas urgentes e relevantes e ainda oferecer a oportunidade de contribuir com eles. Por isso criamos, o dw!+comunidade: um projeto que fortalece nossas diretrizes para a participação no festival visando garantir que os eventos e ações sejam mais inclusivos e representem todas as vozes de nossa comunidade. 15
imagem de Grupo Alegria
imagem de Miguel Oliveira
imaagem deWest Side Gallery
imagem de Donizete Souza
NÃO MOSQUE | VEM AÍ
KOMBOSAS
WOMEN ON WALLS
A comunidade Instagrafite, que incentiva a arte urbana em empenas no Brasil e no mundo, abriu gratuitamente as inscrições para a segunda edição do Women on Walls (wow), programa de capitação. Data: 11/6 e 12/6 Praça Mauá, Rio de Janeiro WOW.com.br
16
www.grit.com.br
Criado pelo artista e grafiteiro Bonga Mac, que faz das laterais de cada veículo pintado, uma obra de arte. Kombozas ressignifica esses veículos na sociedade. O artista, em suas redes sociais convida o público amante da querida perua Kombi, para estilizá-las e aprender de graça a fazer a arte de uma forma divertida, por 4 dias seguios. Data: 14/6 a 17/6 Rua Praça Samuel Sabatini, 200, São Paulo originalbonga.com.br
ALEGRIA DE ARTISTA
DC FANDOME
Esta convenção gratuita apresenta informações sobre conteúdo baseado na DC Comics, incluindo a franquia de filmes DC Extended Universe, a franquia de televisão Arrowverse, histórias em quadrinhos e jogos eletrônicos. Data: 21/6 Sítio Online DC Comics dcfandome.com.br
O grupo trabalha nos centros das cidades, com apresentaões musicais, improvisações e pinturas de variados estilos, atingindo o público trabalhador, que não tem acesso à cultura, e através da arte que compartilham, levantando críticas e soluções sociais, junto com empatia e amor gratuito.
Data: 25/6 a 27/6 Avenida Alda, Diadema catracalivre.com.br
BELINARE
Horror, ficção científica e fantasia, o real, o estranho, o absurdo e o afrofuturismo. Gêneros e subgêneros do cinema fantástico estão comtemplados com o 1° Festival de Cinema Brasileiro Fantástico Online.
imagem de Hannibal Hanschke
imagem de Pedro Alves
Data: 12/7 a 14/7 Online no Youtube FCFB fcfb.com.br
Data: 15/7 Online Youtube do Festival Berlinale belinare.com
Durante duas semanas, serão exibidos 198 títulos de 71 países em três plataformas: o Belas Artes Drive- in e o CineSesc Drive- in. A edição do festival, reflete a pandemia e o futuro do audiovisual no IV Fórum Mostra. Data: 22/10 a 4/12 Rua da Consolação, 2423, São Paulo mostra.com
NARRATIVAS DO NORDESTE
Baseado no livro “A Invenção do Nordeste e Outras Artes”, a peça gratuita conta a história de um diretor contratado para realizar a missão de selecionar um ator nordestino que possa interpretar com maestria um personagem também nordestino. Data: 28/11 Online no Youtube do Grupo Carpim narrativas.com.br imagem de Alessandro Potter
FESTIVAL DE CINEMA BRASILEIRO
MOSTRA DE CINEMA INTERNACIONAL
imagem de Pedro Almodóvar
Conhecido por ser um festival político, a Berlinale deste ano, apresentará títulos com foco em questões atuais, incluindo Courage, um documentário sobre a situação em Belarus, e WhoWeWhere, sobre questões ecológicas.
17
imagem de Pete Docter
NÃO MOSQUE | GALERIA
SOUL
Os três atos de Soul diferem muito entre si e isso é algo que dificulta, em partes, a compreensão do que o filme quer passar ao espectador. Mas, por outro lado, são diversos os símbolos e materiais para reflexão em sua forma final. Se no primeiro ato temos um personagem que está em negação diante da morte e no segundo o clima de aventura se propaga do jeito que muitos esperam, existe algo no ato final que une todos os detalhes do que foi visto anteriormente –e que talvez passem despercebidos. Assim como na vida, às vezes perdemos de vista certas particularidades que, lá na frente, vemos que foram necessários para dar sentido a tudo.
18
www.grit.com.br
imagem de Laerte Coutinho
LAERTE-SE
Um documentário sobre uma pessoa tão excepcional quanto Laerte, mas deixa a desejar no quesito direção pois às vezes a gente sente que tanto diretor quanto o personagem se perdem na linha de raciocínio, assim, deixando o expectador sem a informação completa.
MULAN
imagem de Joshua James
imagem de Pam Coats
A diretora Niki Caro optou por fazer uma versão mais realista da lenda chinesa. A proposta é trazer uma narrativa bem diferente daquela que já conhecemos. Tanto que o novo Mulan nem se assemelha a um filme da Disney, mas sim uma trama que retrata a guerra.
NOMADLAND
Nomadland podia ter dado muito errado. Podia ser dramático demais, monótono demais ou opaco demais. Felizmente, o que vemos é algo singelo, pois a direção de Zhao não ignora a frieza da realidade, mas sabe encontrar a magia da naturalidade.
19
NÃO MOSQUE | GALERIA
imagem de Tyler Thompson
OS 7 DE CHICAGO
imagem de Claudia Andujar
imagem de Filip Custic
Os 7 de Chicago tem sua maior qualidade na capacidade de conversar com a atualidade em níveis bastante profundos. Apesar de contar episódios ocorridos há cinco décadas, o roteiro de Sorkin toca em pontos bem atuais: perseguição política, violência policial e instituições públicas em descrédito.
MONTERO
AMARELO
Embora falte ousadia e uma maior inspiração por parte da direção, o ritmo da montagem e edição tornam a experiência em geral consistente e muito prazerosa a todos que escutarem a obra.
20
www.grit.com.br
Lil Nas X foi genial em fazer com que as pessoas sentissem uma “empatia forçada”, fazendo com que as pessoas que fazem comentários ofensivos como “quem é homossexual vai para o inferno” vizualize o que de fato fala.
DYNAMITE
imagem de Atlantics Records
imagem de Stargarte
imagem de BigHit Music
Dynamite foi um presente do bts para o mundo. Com o conceito totalmente retro, o grupo nos entrega um mv com uma narrativa colorida e cheia de menções.
GIRL FROM RIO
Em sua nova música, Anitta traz uma vertente próxima da realidade dos brasileiros que se enxergam diariamente com um sorriso no rosto e encontram orgulho, felicidade, e principalmente, beleza em torno da família e dos amigos.
TRUTH HURTS
Truth Hurts nos chama a atenção, desconstruindo o trap, o synth-pop e até mesmo o rap em prol de uma reconstituição extremamente sagaz.
21
NÃO MOSQUE | AUGE
GANHAGANHA É MODA NO DESIGN AFETIVO Reaproveitamento de materiais, propósito e relação econômica texto
Luminária da marca catarinense RatoRói, que trabalha com sacolas plásticas descartáveis
22
www.grit.com.br
Haus
fotografia
RatoRói
No segundo dia de Expo Revestir 2021 –neste ano realizada de forma totalmente online– a fashion week da arquitetura trouxe conversas voltadas ao design de interiores e ao design afetivo –foi esse o tema da mesa entre Walter Rodrigues, coordenador do Núcleo Design e Pesquisa do Inspiramais, e o jornalista Jackson Araujo, especializado em Análise de Comportamento em Cultura, Moda, Design e Comunicação. Valorização de produtos locais e máximo aproveitamento de materiais são algumas das tendências apontadas pela dupla, que aponta que vivemos em uma era da “economia afetiva”. Valorização do coletivo (fazer com quem e para quem) é o ponto de partida que deve guiar o design atual, segundo Araujo. “Não cabe mais a ideia de fazer alguma coisa por estar fazendo. Temos que ter cuidado em propor novas coisas e produtos, para que sirva a uma melhora coletiva”, ponderou o jornalista. O modelo de economia afetiva, enfatiza a identificação e a relação emocional que os consumidores estabelecem com suas marcas preferidas como fator decisivo nas suas decisões de compra. Em um contexto de grandes transformações no mundo dos negócios, motivadas pelas mudanças nas necessidades das pessoas e na crescente presença digital de empresas e clientes, a economia afetiva propõe o abandono dos velhos hábitos de manufatura e consumo para dar lugar a novas formas de produzir e comprar. O funcionamento emocional das pessoas em relação às marcas aparece como elemento catalizador nas principais decisões de audiência e compra.
Linhas de móveis e produtos em geral que sejam ecologicamente corretos –reaproveitando materiais que seriam descartados, como madeira de demolição, por exemplo– e socialmente justos, com uma relação ganhaganha na produção são outras tendências apontadas pela dupla, que ainda trouxeram exemplos de empresas como a RatoRói. A empresa de design de Jaraguá do Sul (sc), é um estúdio criativo que desenvolve trabalhos de inovação, design, sustentabilidade e expressões de marca como marketing de conteúdo e comunicação. que cria objetos, mobiliários e outros produtos com um laminado feito com sacolas e embalagens plásticas que iriam ao aterro sanitário. Design orientado a inovação, valorização artesanal, desenvolvimento sustentável e coletivo da sociedade.
Luminária de canto sustentável
Para Walter Rodrigues, a criatividade é algo que fica ainda mais desafiador quando se trabalha com materiais que seriam descartados. “É muito bom ser criativo quando se trabalha com fontes virgens de matéria, mas ela tem que explodir no reaproveitamento e dar novas vidas às matérias”, salientou. “O designer é responsável por todo o lixo criado, isso deve ser uma reflexão sempre. O design não é válido só pela ideia”. Com essa frase, Walter apresentou ao mercado de moda, incluindo designers, estilistas e formadores de opinião as inspirações e referências para a cadeia da moda, assim como aos players das indústrias que desenvolvem materiais inovadores e tenham a capacidade de transmitir valores essenciais e verdadeiros ao consumidor, algo fundamental para que as empresas obtenham sucesso.
Luminária sustentável RatoRói
23
NÃO MOSQUE | AUGE
imagem de Lorna Wills
EVENTOS DIGITAIS ABREM CHAMADA PARA OS ARTISTAS A Homeostasis Lab reunirá obras de arte digital para exposições online e inéditas texto
Arte de Addie Wagenknecht, representando as faíscas do mundo digital
24
www.grit.com.br
Roberta Pinheiro
Artistas do mundo todo que criam obras dentro da linguagem da arte digital têm até 20 de abril para se inscrever no novo projeto da plataforma Homeostasis Lab. Criada há oito anos pelos curadores Julia Borges Araña e Guilherme Brandão, a iniciativa tem como focos o mapeamento, a catalogação e a exibição de arte digital na internet, bem como é um espaço de fomento às pesquisas, discussões e reflexões sobre o assunto. Com o objetivo de mapear e evidenciar o cenário da arte nacional e estrangeira sob os efeitos da realidade digital, mostrando a influência que as novas tecnologias exercem sobre a arte e o fazer artístico, a chamada aberta vai selecionar obras para exposições online e inéditas e, também, para integrar o acervo do projeto. As inscrições serão analisadas pela equipe curatorial e a notificação sobre a aprovação de cada artista será anunciada individualmente por e-mail. A curadoria também vai eleger três “obras revelação” para uma premiação em dinheiro (R$1 mil cada). “É importante que o digital esteja em alguma etapa desde a concepção democratização e resistência. Todos os trabalhos devem pertencer a qualquer modalidade de net-art e arte digital: arte cibernética, arte algorítmica, arte em código, arte generativa, net-art, glitch-art, machine
imagem de Harry Rios imagem de Larry Hills
learning, deep fake e outras formas de inteligência artificial, instalação transmidiática, escultura digital, animação 2d e 3d, game-art, hologramas, performance transmidiática, comunidades virtuais, cripto arte, aplicativos de arte, arte imersiva (ar, vr e mr), filtros, gif animado, meme, boomerang, arte hacker, arte cibernética, pintura digital, fotografia digital, poesia digital, bio-arte, arte sonora, pixel art, software art e outras denominações análogas. A iniciativa integra a programação da nova fase do Homeostasis. Neste primeiro trimestre, a plataforma passou por uma reformulação e, a partir de 22 de abril, apresentará o projeto Homeostasis Lab –Novo tempo, uma realização do Ministério A Mulher, obra do Turismo, Secretaria Especial da Cultu- de Martina ra, Governo do Estado de São Paulo, por Menegon meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, com idealização e organização de Phi Projetos e ugi Projetos Culturais. Em Novo tempo, a plataforma trará exposições inéditas assinadas por oito curadores brasileiros. Cada um foi convidado a criar uma mostra autoral com o foco no impacto com pensadores e artistas da cultura e da dos meios digitais na poética e na estética da arte digital que debatem, junto ao público, arte contemporânea. A programação con- questões que entrelaçam o campo das artes tará ainda com encontros online e gratuitos visuais com as ciências e novas tecnologias. Nascida dentro do The Wrong Biennale, festival internacional de arte e cultura digital, a partir do desejo de Julia e Brandão em criar um espaço catalisador de experiências no campo das artes digitais, a Homeostasis já passou por duas fases, incluindo uma exposição presencial, em 2017, no Centro Cultural São Paulo. Ao iniciar o trabalho, Julia comenta que os curadores se depararam com uma pluralidade de obras. “São obras do mundo todo, de artistas reconhecidos e outros ainda estudantes, com formatos bem diferentes, mas que conversam entre si”, diz a curadora. Atualmente, a plataforma conta com mais de 580 artistas de diversas nacionalidades e gerações, dentre os quais Addie Wagenknecht, Alfredo Salazar-Caro, DC Spensley, Fred Forest, François Quévillon, Giselle Beiguelman, Martina Menegon, Owen Mundy, Robert Lisek, Sabato VisO rosto de François conti, Sandrine Deumier e Sara Araújo. Quévillon representação do homem no mundo digital
25
FAÇA ARTE, NÃO FAÇA GUERRA
NÃO MOSQUE
Marcello Dantas é um
premiado curador interdisciplinar com ampla atividade no Brasil e exterior. É responsável por inovar o conceito de museologia no país, trabalhando na fronteira entre a arte e a tecnologia em museus, exposições e projetos que enfatizam a experiência e a percepção. 26
www.grit.com.br
Você sabe o que é NFT? Fazer negócio no mundo da arte é diferente de apreciá-la. Para se dar bem neste universo, é preciso separar as coisas coluna
Marcello Dantas
ilustração
Willian Santiago
Aquilo que não é, mas é; e aquilo que é, mas não é. É preciso separar o negócio da arte da sua apreciação. Essencialmente, quem ama arte não precisa possuí-la, enquanto quem a possui não necessariamente ama. São duas coisas bem distintas. A arte não nasceu para ser possuída mas como necessidade de expressão de quem a fez. A arte como investimento existe para dar lastro a liquidez excessiva do mundo capitalista. Esse negócio é uma das práticas mais vulneráveis do mundo. Algo pode valer muito, ou nada. Recheado de obras falsas, ou de procedência questionável, reconhecimentos tardios, e uma constante subjetividade em valorar o artista. Este que, na maioria das vezes, menos vê o dinheiro da especulação em torno de sua obra. Nas últimas semanas o mundo da arte foi assaltado com o advento de uma nova tecnologia que colocou por terra boa parte dos paradigmas que sustentam este ecossistema: os nfts (non-fungible tokens). Os nfts são uma evolução das criptomoedas que geraram repentinamente uma imensa riqueza sem nenhum lastro na economia real. De 2017 para cá, os bitcoins multiplicaram o seu valor em quase 60 vezes, criando uma nova classe de milionários virtuais, sem que por trás deles houvesse alguma ideia, empresa ou economia real. O grande montador de cinema Mair Tavares costumava dizer que se você filma doidão, você deve editar doidão e assistir doidão. Essa máxima vale para o dinheiro criado na economia virtual: o que você ganha virtualmente deve ser gasto virtualmente e ostentado virtualmente. É absolutamente racional que essas novas fortunas buscassem um novo lugar para simbolizar-se, assim como todas as outras fortunas do passado o fizeram.
27
O QUE É ARTE AFINAL?
imagem de David Lachapelle
Muitas são as perguntas e discussões sobre o conceito de arte, mas o significado é relativo para muitos. Descubra qual o valor de uma obra e quem o atribui e se existe um conceito definido texto
Carlos Sepol
imagem de Museu Mauritshuis
A
cultura não avançou um único Naturalmente, abriu-se espaço para semilímetro no Brasil nos últimos rem ditas as mais espetaculares bobagens anos, mesmo a do Brasil sendo –em geral, bobagens ditas com indignação e muito diversa –coisa mais do que normal, na embrulhadas em “postura política”. A disverdade, quando se leva em conta que temos puta não faz sentido, por estar se tornando aqui um Ministério da Cultura, artistas que um debate ético, político ou sociológico recebem verba do governo para sobreviver quando não se trata de nada disso. ao desinteresse do público pelas suas obras Foram invocados valores morais. Dividie uma lei que mistura artes e espetáculos, ram-se os campos em progressista e reacioincluindo exibições de circo, com abatimen- nário, de “esquerda” e de “direita”. O resuto do imposto de renda. O que esperar de mo da ópera, para falar claro, é o seguinte: uma fraude desse tamanho? Os fatos, em a arte contemporânea e sem compromisso todo caso, acabaram chamando a atenção com os “padrões artísticos tradicionais” é de muita gente para a discussão geral sobre considerada no meio cultural de hoje como arte que existe no mundo inteiro –mais sendo popular, criativa e libertadora. A arte exatamente a discussão sobre o que é arte clássica é elitista, atrasada e totalitária. Por e o que não é, ou, mais inquietante ainda, consequência, criticar uma Queermuseu sobre o que é arte boa e o que é arte ruim. como algo bobo, inútil ou simplesmente Esse debate chegou ao Brasil de 2017, de ofensivo não é apenas uma opinião –torforma mais visível e barulhenta, com o nou-se um manifesto do mal. prodigioso episódio da Queermuseu, uma Deveria, obviamente, haver lugar para exibição de artefatos que envolvem a ideia tudo. Não pode ser um pecado, certamente, de sexo, e da exposição do Homem Pelado aplaudir a qualidade superior de um tipo de como obra de arte. arte que, por consenso da imensa maioria,
ao longo dos séculos, produziu maravilhas que estão entre as mais sublimes expressões do espírito humano. Não há nada errado com os critérios regulares de qualidade, técnica e talento que valorizam um quadro ou uma escultura. A arte clássica, além disso, não é uma inimiga da liberdade; inimigos da liberdade são os que querem mandar no pensamento dos outros. Mais que tudo, é preciso admitir que há, sim senhor, convenções em matéria de arte. Se você não gostar delas, paciência, são convenções fortíssimas, que definem o que é beleza, genialidade e excelência numa obra artística, e estão acima de pontos de vista pessoais no assunto. É por causa delas que se considera a Pietà de Michelangelo uma obra de arte superior à estátua do et de Varginha. É por causa delas que Moça com Brinco de Pérola, de Vermeer, é uma obra-prima da pintura universal e Criança Viada da Queermuseu não é nada. Isso não quer dizer, certamente, que só os gênios têm o direito de pintar quadros;
é necessário, apenas, que não sejam condenados como parte de “um mundo burguês que já morreu”. Que viva em paz, espalhada pelo mundo, toda essa multidão de artistas plásticos que se dedicam com mais ou menos empenho, alegria e honestidade a produzir trabalhos que eventualmente serão expostos e vendidos a alguém –e esse alguém, obviamente, só os comprará por sua livre e espontânea vontade e pelo preço que aceitar pagar. É arte contemporânea, sem dúvida, pois é produzida nos dias de hoje. Se é mesmo arte –bem, aí já depende do julgamento de quem vê a obra ou é informado sobre ela. A maioria acha que não é, ou simplesmente não se interessa pelo assunto. Os demais formam o público que atualmente vai a bienais, museus, galerias, exposições e outros espaços onde são exibidas pinturas, esculturas ou objetos de qualquer natureza, de gaiolas com urubus a juntas de cabeçote. Quem quer vai, quem não quer não vai; na verdade, o grosso do público nem toma conhecimento de
imagem por Bia Leite
ART IS MY PASSION
Obra “criança viada” que foi alvo de críticas
que há algo a ser visto. Qual poderia ser o problema? Nenhum. A única coisa que se pode fazer a respeito disso é a seguinte: nada. Irritar-se com a arte contemporânea, ou com o conjunto de atividades apresentadas como tal, é uma postura mental sem propósito e, sobretudo, inútil– tanto quanto é estúpido considerar a arte clássica como coisa de “direita”. Mais deformada ainda é a ideia de que deveria ser tomada alguma “providência” a respeito, ou de que se faça alguma “regulamentação” sobre o tema. Estamos aqui, muito simplesmente, no mundo da liberdade de expressão –e a liberdade de expressão, ao contrário do que gostam tanto de propor os seus inimigos disfarçados, não pode ser “aperfeiçoada”. Deve existir, só isso, e ficar naturalmente dentro dos limites da lei –que são poucos, sensatos e perfeitamente conhecidos. Os resultados disso serão bons, ruins ou neutros, de acordo com o julgamento de cada um. Se forem considerados bons, serão transformados num valor. Se forem considerados ruins, vão virar apenas mais um punhado de lixo no oceano de dejetos que o mundo rejeita a cada dia. É útil acrescentar, também, que a arte contemporânea faz parte do universo do 32
www.grit.com.br
trabalho, e isso, por si só, já lhe faz merecer uma medida de respeito. Muitos dos artistas atuais fazem o melhor que podem, dentro dos limites de seu talento, sua imaginação e suas habilidades. Outros, jamais mencionados ou nem sequer considerados artistas, produzem, a mão ou em escala industrial, os milhões de quadros, esculturas e objetos que estão nas paredes de quartos de hotel, em saguões de prédios de apartamentos ou em edifícios de escritórios, salas de espera de dentistas, restaurantes, bares, lojas, aeroportos, hospitais, delegacias de polícia, e mais outros milhões de lugares pelos quatro cantos do mundo. Eles representam, no conjunto, toda a arte que a maioria da população mundial verá do começo ao fim da vida. A eles se somam os artistas que trabalham na infinidade de tarefas estéticas e funcionais geradas pela tecnologia e pelo avanço econômico. Ao lado de todos esses, inevitavelmente, convivem os diletantes para os quais a arte funciona como um círculo social. Outros são aproveitadores mal-intencionados das verbas que o Estado brasileiro, em suas 1001 maneiras de ser roubado e, ao mesmo tempo, fazer o mal na cultura, distribui “à arte”. Outros, enfim, no Brasil e no resto do mundo, são experientes charlatães que trapaceiam o público, com a cumplicidade de “galeristas” e demais intermediários, criando arte que não existe e traficando sua produção no mercado. Vendem, como
A arte faz parte do universo do trabalho –e por isso, por si só, já lhe faz merecer uma medida de respeito”
imagem de Eric Wayne
O Museu de Arte de Los Angeles exibe apenas a rocha, avaliada em 10 milhões de dólares
imagem por Wikipedia
obra artística, o equivalente ao elixir universal contra a queda de cabelo ou à ultima relíquia encontrada no Santo Sepulcro. Praticam, apenas, uma modalidade a mais de estelionato. Contam, necessariamente, com a colaboração ativa dos compradores, que pagam bom dinheiro pelos artefatos que adquirem, por ignorância, na crença de estarem comprando “arte moderna legítima”, ou por ganância, achando que a coisa vai se valorizar e pode, no futuro, ser passada adiante com lucro. Há, enfim, os que simplesmente não sabem pintar, nem esculpir, nem desenhar, nem fazer um barquinho de papel, mas se apresentam como artistas. É seu direito. A cada um, portanto, o seu trabalho, a sua liberdade e as suas circunstâncias. Mas esta não é a postura de grande parte do mundo artístico, no Brasil e nas grandes capitais da cultura internacional, no debate sobre a natureza, a qualidade e os limites da arte em nosso tempo. Há ali todo um esforço feroz para elevar à categoria de “arte”, na qual
David, por Michelangelo, que trabalhou por três anos num bloco de mármore
as obras recebem preço e podem ser vendidas, toneladas de artefatos, “instalações” e bugigangas que não têm valor comercial nenhum, do ponto de vista objetivo –a não ser, talvez, o peso do material usado na sua fabricação. Transformadas em arte, porém, passam a valer dólar. É uma imensa farsa em escala mundial, em que o mandamento principal é inventar gostos artísticos que não existem, por serem artificiais e contrários à natureza. Em seguida se produzem objetos talhados a satisfazer esses desejos pré-fabricados. Por fim, se tudo dá certo, vende-se uma moldura sem tela, ou um tronco de árvore, ou qualquer coisa, como obra “importante” da vanguarda da arte moderna. No caminho entre A Primavera de Botticelli e O Grafite do Zé Mané, promovido a “artista da rua” pela máquina de fabricar estoques para o mercado artístico, perdeu-se um bocado de coisas. “O belo, o inspirador e o profundo foram substituídos pelo novo, pelo diferente e pelo feio”, diz o professor de arte americano Robert Florczak. Ele faz uma comparação interessante. Michelangelo, lembra Florczak, esculpiu o David, com seus 5 metros de altura, trabalhando durante três anos num bloco de rocha de mármore.
33
imagem de usuário do reddit /RvBVakama
Hoje, o Museu de Arte Moderna de Los Angeles exibe, como ápice da arte, apenas o bloco de rocha –que nem de mármore é. Mostra bem de onde saímos e aonde chegamos. O pedaço de pedra tem 340 toneladas. É avaliado em 10 milhões de dólares. O público, admirado, junta-se em volta tentando descobrir por que uma coisa daquelas valeria tanto dinheiro. Por que não? Na última Bienal de São Paulo, em 2016, havia uma sala com 4 000 moscas. Era de um artista internacional com nome “no mercado”. Críticos de arte escreveram artigos sobre “a dimensão artística” da obra; ficaram incompreensíveis, é claro. Não é a estética que está no centro da fraude mundial que se armou em torno da arte contemporânea. Não é o valor artístico segundo padrões racionais, ditados pela disciplina, pelo rigor do desenho e pela habilidade na execução. Não é a definição da excelência pela perícia técnica competente e pelo senso comum. Trata-se de elementos indispensáveis para que a conversa faça sentido; sem padrões estéticos definidos, não há, pura e simplesmente, como determinar qualidade ou inferioridade. Qualidade, numa obra de arte, não é meramente uma opinião particular –é algo que pode ser medido objetivamente. Mas a multidão de interessados em arte, hoje em dia, não está interessada em discutir nada disso. Ao contrário, sustenta na mídia (e desde as escolas de arte) que é uma atitude retrógrada pensar em padrões artísticos de “antigamente” –esses padrões que vêm caindo desde o ocaso dos pintores impressionistas, a ponto de não haver, hoje, padrão nenhum. Tudo o que sobrou foi a
“expressão pessoal”: a ideia, cada vez mais triunfante, segundo a qual “tudo pode ser arte” se assim o autor o desejar e o mundo econômico da arte aprovar. O que mantém em vida e prosperidade essas crenças todas, pelas quais um Rembrandt vale a mesma coisa que uma “performance” qualquer, é o interesse financeiro. Não há mais Rembrandts disponíveis; em compensação, a oferta de “performances” é ilimitada, como a de moscas, borrões de tinta ou cachimbos de crack para montar “instalações”. Por isso, como dito anteriormente, essas coisas todas precisam ser declaradas objetos de arte e, a partir daí, ganhar um valor monetário. É um mundo em que as sentenças sobre o bem e o mal dependem do consórcio de interesses materiais que une marchands, donos de galerias de arte e leiloeiros. Há os curadores de museus, organizadores de exposições e avaliadores de obras. Ganham a vida com isso críticos que escrevem na imprensa, patrocinadores de eventos e executivos de bancos gestores de patrimônio. A eles todos se juntam ongs, burocratas da cultura, corretores da Lei Rouanet –e, por fim, alguns que têm a função de desempenhar o papel do artista. Esse é o mundo real, que move e sustenta a arte contemporânea. Não é outro. O que vai fazer um curador de museu se não comprar nenhuma obra para o acervo? Pense duas vezes, portanto, na próxima vez que lhe falarem sobre arte.
ART IS MY PASSION | VOCÊ QUE LUTE
imagem de Lourdes Grobet
ARTIVISTAS GANHAM ESPAÇO EM MUSEUS E GALERIAS Trabalhos com teor político carecem de rigor formal texto
La Briosa, lutadora mexicana e mãe
38
www.grit.com.br
Daniel Rangel
No auge da ditadura militar, o poeta Décio Pignatari afirmou: “Nada mais parecido com a guerrilha do que o processo de vanguarda artística consciente de si mesma”. No mesmo período, Cildo Meireles realizou as primeiras versões de “Inserções em Circuitos Ideológicos”. O projeto se tornou um ícone da produção artística engajada –e genericamente chamada de arte-política– dos anos 1970. O artista se apropriou de dois sistemas de circulação existentes e que simbolizam o capitalismo –cédulas de dinheiro e garrafas retornáveis de Coca-Cola– para inscrever e espalhar mensagens revolucionárias contra o apoio norte-americano ao governo militar brasileiro. Cildo é um artista conceitual com enorme consciência política e, junto com outros de sua geração como Antonio Manuel e Carmela Gross e alguns precursores como Pignatari e Hélio Oiticica, tem uma produção marcada por abordagens conceituais feitas com inteligência e aliadas ao rigor formal e estético com forte teor político, muitas vezes introduzido de maneira subliminar. Mais de 50 anos após o golpe militar e 40 anos depois de “Inserções em Circuitos Ideológicos”, percebemos que as artes visuais voltam a se aproximar das demandas sociais e políticas. A maioria dos novos artistas que estão na dianteira dessa retomada se coloca como defensora de uma causa, representante dos ideais de um grupo específico, podendo assim assumir o “lugar de fala” em nome deste. Temáticas relacionadas a questões de gênero, raça, classe social e político-partidárias começaram gradativamente a ocupar as paredes dos espaços culturais brasileiros nos
Projeto Cédula, do brasileiro Cildo Meireles é um exemplo de arte política
imagem de Lourdes Grobet
últimos cinco anos, incluindo as últimas edições da Bienal de São Paulo. Museus como o masp, a Pinacoteca e o mar e instituições culturais têm promovido importantes exposições com temas de relevância social. Existem ainda os locais centrados nestas questões, alguns menos formais e com estruturas improvisadas, como a Ocupação 9 de Julho, e outros com produção e espaços expositivos de qualidade internacional, como o Galpão Videobrasil. Até mesmo as galerias comerciais abriram-se para conteúdos que podem ser considerados polêmicos pelos colecionadores mais conservadores. Recentemente, uma importante galeria carioca promoveu uma espécie de batismo artístico com direito a banheira com água e imersão de corpo inteiro, enquanto outra, no bairro do Jardim Paulista, Zona Sul de São Paulo, exibiu frases de apoio aos ex-presidentes Dilma e Lula escritas pelo artista em exposição. Enquanto parte do mercado incorpora essa produção de caráter mais engajado, outra renega o “artivismo” como arte e questiona, sobretudo, a qualidade dos trabalhos, com o que devo muitas vezes concordar. Boa parte das propostas “artivistas” apresentam narrativas complexas, o que costuma deixar a compreensão das obras restrita ao grupo que representam. Em sua maioria, esses trabalhos são frutos de processos momentâneos e carecem de um discurso artístico coerente e uma formalização rigorosa. O “artivismo” segue como um neologismo conceitual que não foi incorporado nem pelo campo artístico nem pelas ciências sociais, encontrando-se ainda nessa fronteira. O termo foi primeiramente utilizado como nome de um festival de cinema nos Estados Unidos, em 2003, tendo sido incorporado de forma mais ampla pela academia a partir de 2008.
Sabemos, entretanto, que a relação entre arte e política é bem mais antiga, e a partir de uma leitura ampla, podemos afirmar que todo fazer artístico é, em sua essência, político, mesmo que não esteja sendo produzido em defesa de algo, aliás, talvez justamente por isso. A arte tem o potencial de promover discussões que estão além da sociedade política ou, como bem definiu o crítico Mário Pedrosa, “a arte é um exercício da liberdade”. A aproximação da disputa eleitoral, impulsionada por uma polarização nunca antes vista na sociedade brasileira e pela situação de instabilidade político-institucional em que o país se encontra, deve servir como combustível criativo para “artivistas”. Desde 2014, uma série de acontecimentos mobilizou a classe artística, seja como um coletivo, seja a partir de obras individuais. A ameaça de fechamento do Ministério da Cultura logo após o impeachment de Dilma, a defesa da liberdade de expressão artística, a rejeição ao presidente Michel Temer, a revolta contra o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, a violência policial contra negros e pobres nas favelas do Rio de Janeiro e o protesto contra a prisão de Lula foram alguns dos temas explorados pelos artistas em obras e manifestos que se espalharam principalmente pelas redes sociais –ferramentas essenciais para a circulação do “artivismo” hoje. E, assim como as fake news, que são fonte de preocupação, devemos estar atentos à fake art para podermos diferenciar os artistas politicamente conscientes daqueles aproveitadores que querem apenas usar a arte para fazer política. 39
ART IS MY PASSION | VOCÊ QUE LUTE
imagem de @instagrafite
PICHAÇÃO X GRAFITE: CRIME OU ARTE? A diferença entre essas formas de comunicação urbana é mais política do que parece texto
Camila Freitas
A obra Deus é mãe, pintada no edifício Itamaraty, na região central de Belo Horizonte, é a maior empena de arte do país. O mural de 1.892 m² foi pintado por Robinho Santana, de Diadema, São Paulo, e hoje é alvo de um inquérito da Polícia Civil. Isso porque o mural, que fez parte da 5ª edição do cura (Circuito Urbano de Arte), contém grafismos de pixo em seu entorno. A proibição da pichação tem como base a lei de crimes ambientais que prevê penas de detenção de três meses a um ano e multa. Mas o que define se pichação é ou não arte e no que ela se diferencia do grafite? Ecoa conversou com alguns especialistas para responder essas e outras questões sobre esse tema.
PIXO É ARTE?
Mural no centro de BH é alvo de investigação
40
www.grit.com.br
O curador Sergio Miguel Franco, em sua tese “Engodo na arte contemporânea: a luta da pixação contra o campo da arte; uma escultura social”, defende que sim, a pichação é arte quando inserida no debate da arte contemporânea. Para ele, esse entendimento se dá por meio da influência do pensamento do artista Marcel Duchamp que “enunciou a ideia de que todos são artistas, basta reconhecermos a capacidade criativa partilhada pela humanidade”. Os pixos nunca foram descartados mesmo com a possibilidade de se investir algum recurso ou tempo para a pintura e agora eu vou entrar no assunto principal desse texto: Pixo é arte. Eu sei que muitos que leem aqui vão discordar mas essa é a nossa opinião e agora eu explico o motivo pelo qual a gente defende com unhas e dentes.
Para Djan Ivson, conhecido também como Djan Cripta, “o pixo é a própria política das ruas”, isso porque, para ele, o pixo é a forma que o jovem que vem da periferia encontra para ocupar principalmente o centro da cidade, local que o foi negado “por causa dessa especulação imobiliária que sempre jogou as pessoas com menos renda para as periferias.” Mesmo que o pixador não tenha uma mensagem política declarada, ou defenda algum partido, ele está defendendo os interesses coletivos de uma classe da periferia que está reivindicando um espaço de uso na cidade. Para a conselheira do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (cau), Raquel Schenkman, há, contudo, outras formas de ocupar a cidade. “Um dos exemplos que a gente tem é a Jornada do Patrimônio que chama a atenção para a ocupação da cidade de várias maneiras”, explica.
MAS SE PICHAÇÃO É ARTE, ENTÃO POR QUE É CRIME?
imagem de Flavio Samelo
PARA ALÉM DA ARTE, QUAL A RELAÇÃO ENTRE PICHAÇÃO E POLÍTICA?
Para Sergio Franco, todo o processo artístico feito por pessoas marginalizadas, como negros e periféricos, “é entendido como fora da lei”. O curador traz o exemplo do samba que, durante muito tempo, viu seus artistas serem enquadrados na “lei da vadiagem” de 1890. Hoje, por outro lado, o ritmo é considerado patrimônio cultural brasileiro. “Acho que a questão não é o pixo ser aceito, mas pelo menos ser entendido. A sociedade tem que entender que ele é consequência de alguma coisa que te deu errada no sistema” –Djan Cripta.
Não podemos reclamar da pichação enquanto existe grande discrepância de realidades
41
ART IS MY PASSION | VOCÊ QUE LUTE
POR QUE O GRAFITE DEIXOU DE SER CONSIDERADO CRIME E O PIXO NÃO?
A diferença entre pichação e grafite é que a primeira está ligada à escrita, fundamentalmente, enquanto a segunda à imagem, à forma. Então, por que uma é criminalizada e a outra não? Crítico, Djan entende que isso se dá pelo fato de que o grafite se deixou “domesticar” por meio do muralismo. “A questão é que alguns grafiteiros se adequaram aos interesses do poder público e privado e por isso que tem essa aceitação”, comenta. “Parece que as pessoas se incomodam menos com os desenhos, eles são compreendidos como menos provocadores. E o pixo, muitas vezes, é associado à sujeira. As pessoas gostam do que elas entendem” –Raquel Schenkman. De acordo com a Lei 12.408, o grafite deixou de ser considerado crime desde que ocorra com o consentimento do proprietário, e “com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística”. Essa não, por outro lado, não é uma realidade para o pixo. Para Djan “o pixo depende da transgressão para existir”.
O pixo é uma manifestação que é super polêmica porque é provocadora”
42
www.grit.com.br
Em Curitiba, a vereadora Professora Josete ( pt) e o atual deputado estadual Goura ( pdt) enxergaram a necessidade de especificar ainda mais a lei federal de descriminalização do grafite. Para isso, criaram um projeto de lei municipal que visa, entre outras coisas, definir locais onde os grafites possam ser realizados. Mesmo tendo mais aceitação do que o pixo, o projeto de lei gerou muito debate e muitas críticas na capital do Paraná. “Nossa cidade é muito conservadora, ainda há nela esse caráter ainda punitivista” explica Josete.
DEVEMOS, ENTÃO, DESCRIMINALIZAR A PICHAÇÃO?
“Acho que a pichação deveria ser encarada mais ou menos como as multas de trânsito, porque realmente a gente está transgredindo. Mas eu acho que existe punição adequada, as pessoas não podem achar que matar o pichador justifica a brancura do muro dela”, comenta Djan Cripta. Raquel Schenkman concorda que há outras maneiras de lidar com a ilegalidade e punição referente ao pixo. “Você pode pedir para o pixador remover o pixo, por exemplo”. Para ela, esse tipo de conflito que faz com que o movimento do pixo exista vai sempre acontecer na cidade. “Você depredar um patrimônio público ou privado é um crime, então o pixo é uma manifestação que é super polêmica porque é provocadora. Mas isso faz parte da dinâmica dos grandes centros urbanos e acontece em todos os lugares do mundo. Uma metrópole tem conflitos e posições contraditórias”, explica.
imagem de Eduardo Kobra
“Coexistência” por Eduardo Kobra: “Unidos em uma mesma oração”
43
QUAL O PREÇO DA SUA ARTE
imagem de David Lachapelle
Pequeno gafanhoto, não se menospreze! Nós sabemos que você coloca um preço bem abaixo do que merece na sua arte, então vamos aprender a precificar e a empreender texto
Paulo Varella
imagem de FXExtreme
U
ma das questões mais comuns que os artistas perguntam é como precificar a própria arte. A boa notícia é que este processo não precisa ser complicado. Separamos algumas dicas que vão te ajudar nesse processo.
por quanto e por quê, mais preparado você estará ao precificar sua arte para que ela tenha a chance de ser vendida em uma ampla gama de circunstâncias. Lembre-se que para fazer comparações válidas, você precisa de uma boa ideia de como a qualidade de sua arte e a extensão PRIMEIRO PASSO de suas realizações estão em relação às de Você precisará fazer uma pesquisa inicial pa- outros artistas, especialmente aqueles com ra estabelecer onde sua arte está no mercado os quais você concorre diretamente. –quais são os outros artistas de experiência e habilidade semelhantes e por quanto eles ESCOLHA UMA FÓRMULA QUE vendem o trabalho deles? Uma vez tendo FUNCIONE E MANTENHA essa “base” de preços da concorrência, você Dentre as fórmulas mais usadas, você pode pode dar sequência aos próximos passos. cobrar por: Entretanto, se você der atenção demais •Centímetro quadrado (o comprimento a um nicho muito específico, ou seja, não vezes a largura da sua peça) pensar no restante do mercado, seus preços •Centímetro linear (o comprimento mais podem fazer sentido e ficarem restritos a largura da sua peça) apenas para você e algumas pessoas ao seu Escolha o que funciona para você e conredor, não ao público geral. Quanto mais tinue com isso em cada peça que você criar. consciente você estiver do quadro geral, Então, quando estiver pronto para aumentar do que os outros artistas fazem, do quanto seus preços, será fácil e simples para você e cobram por seus trabalhos, quem compra, seus colecionadores entenderem.
NÃO FLUTUE SEU PREÇO
BASEIE SEUS PREÇOS EM FATOS,
CUIDADO COM OS PREÇOS DOS SEUS MÚLTIPLOS
BASEIE-SE NO QUE VENDE
Não reduza seus preços para uma feira de NÃO EM SENTIMENTOS arte e em seguida, aumente-o de volta para Não confunda: o que você acha sobre como uma exposição em uma galeria. Isso não o mundo da arte deveria ser não vai alterar é profissional e pode ser prejudicial para a realidade. seus relacionamentos com galerias posteSe você estiver dizendo coisas como “As riormente. Você deve vender seu trabalho pessoas não entendem o meu trabalho” ou pelo mesmo preço em todas as plataformas. “As pessoas não me apreciam”, ou “Eu não Os colecionadores estarão mais propen- valho tudo isso”, você pode estar fazendo sos a comprar sua arte se reconhecerem a alguns erros de julgamento. Convide alconsistência e não estiverem preocupados gumas pessoas a olharem para sua arte com a possibilidade de perderem uma oferta e dizerem o que pensam –de preferência através de um canal de vendas diferente do profissionais que sabem algo sobre arte– qual não estiverem cientes. não seus melhores amigos ou maiores fãs.
Se você está vendendo impressões, não coloque o preço muito baixo. Seu preço deve cobrir o custo da impressão em si e te dar lucro. Em contrapartida, impressões com preços muito próximos do original não são bem vistos pelos colecionadores. Procure um meio-termo nessa situação.
Se as peças caras não vendem, isso indica que os compradores não querem pagar pelos preços mais elevados. Uma estratégia é colocar preços mais elevados nas obras originais. Isso vai fazer com que o comprador inevitavelmente foque nas impressões de preços mais acessíveis. Esta é uma técnica de vendas chamada priming.
imagem de Mamaru
PREÇOS COMPETITIVOS
Agora vamos olhar para comparação de compras do ponto de vista do comprador. A arte não é diferente de qualquer outro produto ou serviço em que muitas pessoas que compram tendem a comparar preços antes de comprar. Precificar um pouco mais abaixo do seu mercado, especialmente se você estiver menos estabelecido, aumenta suas chances de fazer vendas. Afinal, você está competindo com outros artistas. A comparação é inevitável e as pessoas que compram arte fazem isso; você deveria fazer também. Além disso, provavelmente vão existir pessoas que admiram seu trabalho mas que não podem pagar. Dê a eles uma chance de comprar algo, uma pequena pintura, uma gravura, um desenho, qualquer coisa. Tenha opções acessíveis. Sua arte é seu cartão de visita. Quanto mais arte você vende, mais pessoas você encontra. Quanto mais lugares você expõe, mais as pessoas passam a te conhecer (tanto online quanto em locais físicos).
QUANDO AUMENTAR O PREÇO
À medida que a demanda por seu trabalho cresce e você evolui em sua carreira, não tenha medo de aumentar seus preços. Seu trabalho provavelmente é mais valioso do que você pensa. Os melhores momentos para fazer isso são quando: •Sua arte vende regularmente por pelo menos seis meses a um ano ou mais; •Em uma exposição sua arte vende pelo menos metade de seus trabalhos; •Você está vendendo pelo menos metade alguns meses depois de produzir.
CONCLUSÃO
Quando alguém lhe perguntar sobre um preço, fale sobre as vendas que você fez através de revendedores, galerias, online ou diretamente de seu estúdio. Explique sobre a concorrência. Quanto mais vendas você mencionar, melhores serão suas chances de convencer o cliente de que um determinado valor que você estipula é um preço justo a pagar pela arte. As pessoas querem provas; se sentir confiantes em gastar tanto dinheiro e entender o que estão recebendo em troca. Isto é especialmente verdadeiro para os compradores “em cima do muro”, que não conhecem bem o seu trabalho ou que estão apenas começando nesse ramo. Não é um processo complexo, mas que exige uma certa atenção sobre que está a volta e honestidade consigo mesmo.
Se as vendas forem boas, aumente os preços entre 10 e 25%. Mais perto dos 10% se você estiver vendendo consistentemente e mais perto de 25% se atingir algum marco na carreira após realizar grandes exposições
ART IS MY PASSION | STONKS
imagem de @pychmateusz
COMO É DECIDIDO O VALOR DAS OBRAS DE ARTE Sabemos que é difícil calcular o preço da sua arte, mas e quanto as obras de museu? texto
Mona Lisa é um dos quadros com mais releituras de todos os tempos
52
www.grit.com.br
Júlio Hanauer
Não importa tamanho, cor ou local onde esteja exposta. O valor de uma obra de arte pode ser determinado por uma série de detalhes e motivos que não seguem um rito específico. Mona Lisa, o quadro mais valioso e famoso do mundo, já foi cotado em 5,5 bilhões. Este valor pode ter sido fruto de toda a história que envolve a obra durante estes 515 anos de existência. No entanto, atualmente, não há outra obra que seja tão comentada como Menina com Balão, do artista de rua britânico, Banksy. Uma menina tentando alcançar um balão, vermelho, em formato de coração, foi grafitada no muro de uma loja localizada em Londres, em 2002. Porém, foi somente uma década depois, que um cartão com a pintura da imagem foi vendido por cerca de 73 mil euros. No ano passado, a Menina com o Balão foi eleita a obra favorita dos ingleses. Um ano depois, em 5 de outubro de 2018, um quadro com o desenho do artista Banksy foi leiloado por R$ 5 milhões (1,04 milhão de libras). O que ninguém esperava é que ao ser confirmada a venda um triturador de papel, escondido dentro da moldura do quadro, seria ativado e destruiria metade da pintura. O artista explicou em um vídeo, no dia seguinte ao fato, que a intenção era autodestruir a obra e citou uma frase do pintor espanhol Pablo Picasso: “A necessidade de destruir é também uma necessidade criativa”. Porém, um erro fez com que a destruição completa do desenho não fosse concluía. A partir disso, a casa de leilões Sotheby’s lançou um comunicado dizendo que a performance do artista britânico
se transformou, em um instante, em história da arte mundial. “É a primeira vez que um novo trabalho artístico é criado durante um leilão”, completou a casa. De acordo com a imprensa do Reino Unido, a obra pode dobrar de valor graças à relevância de sua destruição. Todos esses fatos possuem algum tipo de explicação dentro do mundo da arte. No entanto, pouca gente entende como o valor de uma obra é estimado e quais os fatores que influenciam nisso. Além disso, não é somente o valor financeiro, mas o valor artístico apresentado.
SISTEMA DA ARTE PODE DEFINIR VALOR
Formado em Artes Visuais pela uergs Montenegro e Mestre em Educação e Artes Visuais pela Universidade de Brasília (unb), Lucas Pacheco Brum, 29 anos, explica que as obras de Bansky possuem crítica social, questionando até a própria sociedade. De acordo com Brum, um trabalho artístico, independente de feio ou bonito, para ter valor financeiro alto, precisa entrar no sistema da arte. “A obra deve estar em exposições, ser avaliada pela crítica, comentada por historiadores e ter merchandising. Isso pode gerar um bom preço”, diz. Porém, a maioria dos artistas do mundo entra neste sistema após a morte. “A arte é criada para a produção de pensamento, questionamento. Ela não é criada com a finalidade de uso”, aponta. Outros detalhes que fazem o trabalho ganhar apreço podem ser definidos quando cai no gosto do público. Brum destaca que a área artística é uma praia movediça. “Um acontecimento inesperado pode tornar um feito valioso. A arte acompanha e é próxima do momento trivial que a gente vive, tendo como principal função falar de questões da atualidade em que vivemos”, diz. Conheça as cinco obras de arte mais caras do mundo:
Salvator Mundi, Leonardo da Vinci, vendida por $450,3 milhões
Interchange, Willem de Kooning, vendida por $300 milhões
The Card Players, Paul Cézanne, vendida por $250 milhões
Nafea Faa Ipoipo, Paul Gauguin, vendida por $210 milhões
No. 17A, Jackson Pollock, vendida por $200 milhões
53
ART IS MY PASSION | STONKS
imagem de @pychmateusz
DESCUBRA TALENTOS E TIRE UMA GRANA NA PANDEMIA Por causa da pandemia, Dona Maria descobriu no crochê uma terapia e uma grana extra texto
Crochê é visto como uma forma de terapia para muitos
54
www.grit.com.br
Hanelise Brito
Depois de trabalhar por 11 anos em uma empresa de costura em Campo Grande, a aposentada Maria de Jesus Nantes, 67, se redescobriu no talento para o artesanato. Por causa da pandemia, a aposentada foi demitida e descobriu no crochê, na técnica de amigurumi, uma terapia e uma forma de ganhar uma renda extra. “Eu já sabia fazer crochê tradicional. Mas, trabalhava como costureira. Com o início da pandemia a empresa teve que demitir funcionários. Por causa do grupo de risco, demitiu todos os mais idosos. Foi assim que comecei a procurar uma nova atividade que pudesse ser feita em casa, porque fiquei em isolamento. Precisava aumentar a renda e me ocupar”, disse à GriT. Ao ver uma boneca da neta feita na técnica do amigurumi, despertou a vontade de aprender, mas ao elaborar a primeira peça, viu que o método exigia mais conhecimento e prática e passou a aprender pela internet. “Quando vi a boneca, pensei que conseguiria fazer, mas não foi tão simples. Comecei a assistir vídeos na internet que ensinavam e em um mês, consegui fazer a primeira boneca. Ficou razoável, mas eu sabia que precisava melhorar, principalmente se fosse para vender”, comentou. A busca pelo aperfeiçoamento continuou e entre uma entrelaçada de linha e outra, a crocheteira conseguiu produzir a boneca perfeita. A costureira conta que o tempo para produção, depende de quanto a peça é elaborada, mas que leva mais ou menos 1 semana para produzir. “Há seis meses mais ou menos comecei a vender. Já até enviei para outras cidades fora de Campo Grande e também
imagem de Acritica
outros estados. Sempre damos um jeito de enviar caso a pessoa queira comprar”, disse. Diferente dos trabalhos tradicionais de crochê, o amigurumi exige mais que os rolos de linha para a produção. São necessários outros materiais, como enchimento para o corpo da boneca, laços, os olhos, dentre outros acessórios. “Eu uso um enchimento siliconado e antialérgico, que também é mais flexível e a boneca fica mais maleável. Como o trabalho é personalizado, faço do jeito que encomendam, então os acessórios nas bonecas variam”, explicou Maria. A costureira afirma que as crianças adoram brincar com as bonecas, que também servem para decoração. “As pessoas gostam muito, tenho recebido diversos elogios”.
Uma das bonecas feitas por Maria
imagem de Acritica
Dona Maria, que descobriu o seu talento no artesanato
Diante da nova oportunidade de fazer negócio, a costureira criou o “Apego Crochê”. A página criada no Instagram com a ajuda e apoio da família vende o seu trabalho. O trabalho com a técnica japonesa tem ajudado nas despesas em casa e alegra a crocheteira que, com a agulha na mão, produz as peças com amor e também contribui financeiramente em casa. “Tive todo apoio da minha família, inclusive para lidar com a internet e tecnologia, me sinto muito bem com minha nova atividade. Para mim é um recomeço, já estou tendo retorno do meu trabalho”, pontuou. 55
CARA, ISSO É BARRA
ART IS MY PASSION
Jairo Malta periférico, es-
critor e também designer, sempre está se envolvendo em movimentos culturais periféricos e afro. No seu blog escreve não só sobre a cena musical das periferias do país, mas também qualquer manifestação audiovisual que tenha a identidade do subúrbio brasileiro. 56
www.grit.com.br
Violência e racismo tem cor Tentamos de tudo para não morrer. Política, música, esporte, estudos, mas continuamos morrendo. Qual é a solução? coluna
Jairo Malta
ilustração
Willian Santiago
“Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte/ Porque apesar de muito moço, me sinto são e salvo e forte.” Já se sentiu assim como Belchior em Sujeito de Sorte? Eu não. Sou preto de quebrada, e sorte é um produto que, quando compramos no AliExpress, sempre fica preso em algum país racista. Em Dois Estranhos, curta indicado ao Oscar e disponível na Netflix, Carter James acorda depois de uma noite aparentemente romântica com a linda Perri. Ele está na casa dela e precisa voltar para dar comida a seu cachorro. Ao descer as escadas do prédio, é abordado pelo oficial Merk. A partir dali, é bala, bala e bala. São 30 minutos de um único homem preto morrendo porque correu, porque fumou, porque deixou cair o dinheiro no chão ou porque disse algo que o policial não entendeu. O ditado “basta estar vivo para morrer” deveria ser “basta ser preto para não viver”. Viver com medo de morrer não é viver. Se o filme fosse filmado no Brasil, duraria 23 minutos. Interessante que, em todas essas tantas mortes a que Carter é submetido, ele sempre faz papel do mocinho. É educado ao descer as escadas, elogiando as pessoas, cumprimentando-as e abrindo a porta para um estranho. Até que é visto por Merk. E bala. Se você é preto, sabe que isso é normal. Se vai ao mercado, por exemplo, o segurança vai te seguir, surgir nos corredores, aparecer no campo de visão de longe, te olhando. A dica é: faça amizade com o segurança, cumprimente-o, isso ameniza a relação. Mas, para ele, você ainda é um suspeito. Pedimos de todas as formas. Panteras Negras, Movimento Negro Unificado, Marielle Franco. A maioria deles está morta ou na cadeia. Então, agora, o que acha que vamos fazer?
57
DU-VIVER
Como era o futuro do passado? 2001: Uma Odisseia no Espaço imaginou ida a Júpiter, mas não o celular coluna
Gregório Duvivier é um
ator, humorista, roteirista e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos. Ficou conhecido pelo seu trabalho no cinema e no teatro e, a partir de 2012. É o autor de livros como A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora. 58
www.grit.com.br
Gregório Duvivier
ilustração
Willian Santiago
No filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, o protagonista viaja da Lua a Júpiter num confortável ônibus espacial. Quando precisa ligar pra família, ele entra numa cabine telefônica, passa um cartão e aperta botões de metal como se estivesse num orelhão. Isso significa que: Arthur C. Clarke imaginou a vida em Júpiter, mas não conseguiu imaginar o telefone celular. A culpa não é dele. O próprio Clarke já tinha dito que falharia, num livro sobre os perigos da profecia e as falhas da imaginação. “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia.” A única certeza que a gente tem sobre o futuro é que não existem ferramentas no mundo de hoje pra imaginá-lo. Na época, era mais fácil imaginar um ônibus espacial do que um telefone sem fio. Nos anos 1940, todas as distopias apontavam pra novas guerras, nos anos 1970 pra novos planetas. Quando penso no futuro, só penso em novas pandemias. Mas resta um consolo: se conseguimos imaginar, é porque não vai acontecer. Ufa. A história nos mostrou que o futuro nos reserva um tipo muito surpreendente de desgraça. Reli 1984. Clássico é um livro cujo autor não está vivo pra reclamar da capa. E que clássico. As falhas da imaginação do Orwell deixam claras as falhas da nossa imaginação. Acho que Orwell foi o primeiro a imaginar que essas telas também te filmariam o tempo todo. Errou ao imaginar que as telas seriam instaladas por um governo autoritário, e que a população resistiria a essa violência. A culpa não é dele. Ninguém podia imaginar que a gente cederia tão facilmente a nossa privacidade. E pior: que a gente pagaria milhares de reais pra ter um aparelho que pegasse nossos dados e vendesse pra corporações de graça. A gente trocou nossa vida e meses da nossa força de trabalho por meia dúzia de likes. Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da estupidez.
59
O CIRCO PEDE AJUDA
imagem de Tejal Patni
Com o início da pandemia, o circo entrou em crise. Não há possibilidade de realizar os espetáculos. Os Anjos da Leste não ficaram de fora e dependem de doações para se manter. É necessário ajudá-los!
texto
Mariana Montes
O
imagem de Lăzuran Călin
artista de circo é um otimis- implacável os artistas. “No ano passado, ta por vocação. A natureza no início da pandemia, tínhamos acabado itinerante do trabalho, os de chegar com o circo a Taipas (região no perrengues e os riscos nunca foram um noroeste de São Paulo). Nosso primeiro final obstáculo para quem vive do picadeiro. de semana foi muito bom –o que indicava Por isso, a história a seguir é mais sobre que aquela seria uma ótima temporada. Esesperança, força e companheirismo do que távamos cheios de esperança”, falou Kuxixo. sobre a tragédia pandêmica que fechou as A covid começou a deixar os artistas em lonas e bilheterias da cidade. alerta. “Parou tudo. Tivemos que interrom“Respeitável público”, repetiu Hudson per nossa temporada. A pandemia pegou Rocha, o palhaço Kuxixo, tataraneto do a arte em cheio. O circo, a mãe de todas palhaço Polydoro ( José Ferreira Polydoro as artes, é uma das que mais vêm sofrendo. –um dos pioneiros do circo brasileiro), no Vivemos de bilheteria, não tem espetáculo, picadeiro vazio do circo Ilusion (montado não tem dinheiro”, disse o palhaço. em frente ao sambódromo do Anhembi). A Como, então, estão sobrevivendo os pavoz de Kuxixo ecoou por uma plateia vazia, lhaços, trapezistas, equilibristas, mágicos e ricocheteou por tábuas e objetos cênicos, até outros? Claro, nesse período, alguns projetos se transformar em uma reflexão. “O artista online, editais e programas de transferência de circo se alimenta do aplauso. Temos fome direta de recursos foram acessados por uma de aplauso. Nós vivemos de gente, vivemos parte deste contingente de artistas –que, seda presença das pessoas ao nosso redor”, gundo o Portal Brasileiro da Dados Abertos, afirmou Kuxixo. estariam espalhados por 651 circos pelo país. Não à toa, o coronavírus mudou o coti“O problema é que, quando ganho um diano e a rotina do circo, atingindo de forma edital, um projeto, outros tantos deixam de
(1º Festival de Circo Contemporâneo totalmente online e gratuito
fecico
ganhar. É preciso uma ação global para toda a categoria”, argumentou Kuxixo. Então, a sobrevivência da maioria dos artistas circenses depende das próprias forças. Muitos estão temporariamente vivendo como ambulantes –e podem ser encontrados pelas ruas, vestidos de palhaço, vendendo brinquedos e balões (principalmente aqueles animais feitos com balões entrelaçados). Além disso, a experiência com comida de circo é um fator importante. Hoje, profissionais do circo também estão vendendo algodão-doce, pipoca, maçã do amor, biscoito de polvilho e tudo aquilo que faz parte do universo gastronômico onde vivem. O trapezista Jhonatan Cáceres (e a família, a mulher, também trapezista, Deise Olivares, e a filha de 5 meses, a Milena) é um dos que estão sobrevivendo como ambulante no momento. Em alguns dias da semana, ele carrega o próprio carro com o que for possível vender e sai pela cidade. Mas a trajetória de Cáceres apresenta uma outra característica marcante da
comunidade de circo: a união. Com a pandemia e o fechamento temporário do circo em que trabalhava no Rio de Janeiro, o trapezista caiu na estrada. Ao chegar a São Paulo, estacionou o seu trailer no terreno em que hoje está montado o circo Ilusion (ao lado do sambódromo). “Fui muito bem-recebido. O artista de circo é acolhedor. Mesmo não fazendo parte da trupe, pude estacionar minha casa aqui”, contou. Além de Cáceres, outras duas famílias moram hoje no terreno do circo –uma tradição que tem sido muito útil em tempos de dinheiro curto para coisas básicas, como o aluguel, por exemplo. O equilibrista Fabio Stevanovich tem aproveitado os dias vazios de circo fechado para treinar seus números. “Apesar da pandemia, treino de 5 a 6 horas por dia. Minha maior preocupação no momento não é com o dinheiro. Ele será consequência do meu trabalho. O que me dói é a falta de público e a impossibilidade de apresentar minha arte para as pessoas”, lembrou.
imagem de Sérgio Souza
Na mesma linha, vai o especialista em globo da morte Dione Meirelles. “Eu vivo do globo da morte. O globo da morte é simplesmente a minha vida. O que representa a morte é esse vírus que nos impede de trabalhar”, comenta. “Agora, dependo da venda de maçã do amor, biscoito, comidas simples para viver… e também das pessoas e de ongs que acabam nos ajudando e apoiando”, completou.
AUXÍLIO
O grupo já conhecido cujo nome é Anjos da Leste tem feito entregas de cestas básicas em circos por São Paulo. “Nós já atuamos em comunidades carentes, mas percebemos a situação dos circos, dos artistas que vivem no próprio espaço ou que estão sendo dispensados por falta de espetáculos. A pandemia tem sido muito dura com essas pessoas. Começamos com alguns circos da Zona Leste, mas estamos fazendo um levantamento para entrega de mais cestas básicas”, conta a cofundadora do projeto, Mayra Alegro. Quem quiser colaborar com o grupo e apoiar pode procurá-lo no Instagram (@anjosdaleste). Verônica Tamaoki, que é coordenadora do Centro de Memória do Circo, ligado à Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, fala da importância de preservar a história do circo. “Mesmo com todos os livros e pesquisas, é uma história basicamente oral. No Centro de Memória,
O grupo conhecido como Anjos da Leste tem feito entregas de cestas básicas em circos por São Paulo”
trabalhamos pela preservação dessa cultura em um momento tão delicado como agora”, disse. No dia 24 de maio, o Centro de Memória do Circo também vai lançar o Programa Emergencial da Memória do Circo Brasileiro, que consiste no registro de entrevistas realizadas por artistas circenses. Para o segundo semestre, está prevista a realização do fic (Festival Internacional do Circo –com a colaboração da Associação dos Amigos do Centro de Memória do Circo e apoio da Secretaria de Cultura). A Secretaria também lançou, em fevereiro, a 6ª edição do Fomento ao Circo, com orçamento de R$ 3,6 milhões.
A VOLTA
O palhaço Kuxixo, que, segundo ele mesmo, é sempre o primeiro a chegar e o último a sair do picadeiro, avisa que tem esperança de retomar as atividades até o Dia das Mães –com promoções e novidades. “Minha preocupação como artista de circo não é morrer: é sobreviver. É da natureza do circo renascer, retomar, recomeçar. A vida do circo é recomeçar, recomeçar em cada praça, em cada cidade. E é isso que vamos fazer assim que for possível. Vamos recomeçar mais uma vez”, entusiasma-se Kuxixo que, agarrado à lona amarela que protege o seu picadeiro, repetiu: “O circo vai responder. O respeitável público quer sair de novo. O circo não vai ser derrubado, o circo precisa ser tombado”.
O funcionamento dos circos foi autorizado, desde que sejam respeitadas as medidas de proteção, incluindo a lotação máxima de 50% da capacidade total
HOLOFOTE | CLAQUETE
imagem de Taylor Jewell
MULHERES GIGANTES NA DIREÇÃO DO CINEMA Mulheres sempre assumiram diversos cargos atrás das câmeras na história texto
Alice GuyBlaché, primeira cineasta, no set do filme “The Great Adventure”(1918)
68
www.grit.com.br
Gabriela Rassy
Todos sabemos que as mulheres são gigantes na frente das câmeras desde sempre na história. Basta lembrar de Fernanda Montenegro, Viola Davis, entre muitas outras que nos encantam nas telas. Mas o protagonismo da mulher dentro da 7ª arte não para por aí. Direção, produção, roteiro e trilha sonora. A mulheres estão e sempre estiveram por toda parte movimentando essa indústria ao redor do mundo. Muitas vezes menosprezadas, é essencial falar o nome delas! A história de Alice Guy-Blaché é uma das provas disso. Ela, que foi a primeira mulher diretora, produtora, roteirista e diretora de estúdio da história do cinema e da ficção, terá sua devida homenagem neste mês da mulher. A estreia do documentário Alice Guy-Blaché: A História Não Contada Da Primeira Cineasta Do Mundo (Be Natural: The Untold Story Of Alice Guy-Blaché) acontece no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, no hub de cinema Telecine. Vale lembrar que novos assinantes ganham os primeiros 30 dias de acesso ao serviço de streaming e que poderão conferir a estreia do longa. Outro destaque poderoso, agora dentro do cinema de ação, é a Kathryn Bigelow. A cineasta norte-americana se tornou a primeira mulher a ganhar um Oscar de melhor direção por Estado de Guerra (The Hurt Locker). O prêmio também era disputado por Avatar de James Cameron, ex-marido de Kathryn. Vale ainda assistir ao documentário Varda por Agnès, último filme e uma declaração de amor ao cinema feito pela referência feminista da Nouvelle Vague, a diretora Agnès
imagem de Taylor Jewell
imagem de Ryan Lash
Chloé Zhao também faz história ao lado do diretor Lee Isaac Chung, de Minari –Em Busca da Felicidade, sendo a primeira vez na história do oscar que dois cineastas asiáticos apareciam na mesma categoria. Zhao nasceu em Pequim, na China, mas aos 14 anos foi para um internato no Reino Unido, onde aprendeu inglês, e acabou terminando o ensino médio em Los Angeles, nos Estados Unidos. Ela se formou em ciências políticas, mas decidiu estudar cinema na Universidade de Nova Iorque. Chloé Zhao sempre teve um fascínio pelo Velho Oeste dos Estados Unidos. Depois de morar no país como adulta, ela queria Wanuri Kahiu, contar histórias sobre aquela parte. Assim, que recebeu ela fez o filme Domando o Destino, de 2017, diversos que coloca atores não profissionais interpreprêmios pelo seu trabalho tando versões de si mesmos –membros de uma família nativa americana que passou Varda. Ela foi uma das primeiras cineastas por muitas dificuldades. a filmar com câmeras digitais, dirigiu mais Seu maior projeto, Nomadland –que tem de 20 longas-metragens. Agnès Varda foi histórias incríveis nos bastidores–, é estrelauma diretora de destaque no Nouvelle Vague. do por Frances McDormand, que interpreta Ela foi uma das primeiras cineastas a filmar uma mulher chamada Fern que perde tudo com câmeras digitais, dirigiu mais de 20 e reconstrói sua vida como uma nômade nos longas-metragens com o estilo inovador e Estados Unidos moderno. Baseado no livro nunca antes visto. homônimo de Jessica Bruder, é um relato Dentro do gênero drama, o destaque vai abrangente de nômades contemporâneos para a diretora, produtora e autora quenia- após a crise de 2008, então Chloé Zhao na Wanuri Kahiu. utilizou seus conhecimentos de ciências Ela já recebeu vários prêmios e indicações políticas para fazer um retrato honesto da pelos filmes que dirigiu, incluindo de Melhor situação sociopolítica dos Estados Unidos. Diretora, Melhor Roteiro e Melhor Filme no Africa Movie Academy Awards em 2009 por seu dramático longa-metragem From a Whisper. No Telecine está em cartaz o maravilhoso Rafiki. Quer conhecer outras mulheres que brilham por trás das câmeras? Acesse a seleção “Mulheres que Fazem Cinema”, dentro do hub da Telecine, e se encante dentro de todos os gêneros do cinema. Vale lembrar que novos assinantes ganham os primeiros 30 dias de acesso ao serviço de streaming. O gênero drama, traz como destaque a diretora, produtora e autora queniana Wanuri Kahiu. Ela está em ascensão e gannha destaque no meio dia a dia. Chloé Zhao, diretora de Nomadland, fez história no Oscar 2021 ao se tornar a segunda mulher na história a vencer na categoria de Melhor Direção. Em um ano marcado pela diversidade entre seus indicados, Zhao foi era uma das duas mulheres disputando Chloe Zhao, o prêmio de direção ao lado de Emerald diretora Fennell, de Bela Vingança. vencedora do A diretora da China é a primeira mulher Oscar de Melhor Filme em 2021 não-branca a ganhar o prêmio de direção. 69
HOLOFOTE | VINIL
imagem de Wendy Wei
TRABALHO NÃO ESTÁ DIFÍCIL SÓ PARA OS ARTISTAS Posições e a magia daqueles que trabalham atrás das câmeras! texto
Tarcila Rezende
O mundo da música é mais amplo do que se pode imaginar. Não é somente dos artistas tocando seus instrumentos e soltando a voz no palco que é feito um show, por exemplo. Mas existem profissionais imprescindíveis para que uma apresentação seja bem-sucedida. Os artistas são as estrelas, os que trabalham atrás do palco fazem a magia acontecer. Para que um show ocorra, primeiro é necessário uma produção competente. Existem vários tipos de produção: a artística, a executiva e a cultural. Luna Moreno passou por todas essas etapas. Hoje, é produtora da cervejaria Criolina, mas também trabalha com a produção da banda Surf Sessions. “São coisas parecidas, mas diferentes”, explica Luna. “Na Criolina, eu cuido de tudo para que a casa fique pronta para receber a banda e o público. Com o Surf Sessions, eu tenho que fazer com que tudo esteja pronto para que a banda não passe por nenhum imprevisto na hora de tocar”, completa a produtora. E, para que uma banda fique pronta para tocar, existem muitas providências a tomar nesse processo. Depois da produção, vêm os roadies, os técnicos de som, os operadores de som e os iluminadores. Tudo vai depender do tamanho do show ou do festival. Quando as apresentações são maiores, a quantidade desses profissionais aumenta e também vão surgindo outros, como cenografistas e vj. Instrumentos musicais no backstage de um concerto musical
70
www.grit.com.br
TRABALHO BRAÇAL
O roadie é uma das peças-chaves de uma banda, já que ele é quem apoia ou substitui os músicos nas montagens do espetáculo que os artistas fizeram, garantindo que tudo
MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Quem trabalha nesse ramo já fez de tudo. Luna é produtora, mas já foi coordenadora artística e até social media do festival Cerrado Jazz, por exemplo. “Em Brasília, a cultura não é o foco. O nosso meio é muito solto e sucateado e, por isso, a gente tem que fazer um pouco de tudo. E aí vira uma cultura do ‘faz-tudo’. O mercado consegue desenvolver, mas é muito difícil, porque a gente tem
imagem de Marcelo Dischinger
que se virar para conseguir”, relata Luna. Ela é produtora, mas já foi coordenadora artística e até social media. Frango Kaos foi coordenador de palco nos aniversários de Brasília, fez manutenção de equipamento e trabalhou 20 anos no backstage do Porão do Rock. “Quem trabalha na área tem que saber fazer de tudo um pouco. E quem fica são os melhores, porque muita gente entra nesse ramo e vê fique tecnicamente ligado de acordo com a banda, cervejinha e deslumbra: esquece o gosto dos músicos. Entre outras coisas, o equipamento, perde horário. Não é assim, roadie também faz o trabalho braçal de uma não é esse brilho todo”, diz Frango Kaos. montagem, como descarregar e carregar o Marcel Papa é roadie, mas também é carrinho com o material e a montagem de produtor executivo da banda Alarmes e todos os equipamentos no palco. “O roadie trabalha no backstage da Scalene. “Bandas tem essa de faz-tudo. Mas nós somos respon- surgem e acabam, mas os técnicos se mansáveis por afinar os instrumentos e deixar têm, por ter sempre algum artista novo, é um tudo pronto para a banda tocar”, explica mercado que renova. Se uma banda acaba Marcel Papa, roadie da banda Natiruts. agora, eu poderia migrar para outra, porque Frango Kaos é o maior destaque da cena já tenho experiência em roadie e produção. musical de Brasília sem estar à frente dos É um mercado de networking, não pode ter palcos. Técnico de som e vocalista do Gali- vergonha, é o espírito de; vamos fazer o nha Preta, Frango começou a trabalhar com show acontecer”, opina Marcel. Hamilton de Holanda, quando o conheceu na Universidade de Brasília (unb). “Eu sou O MELHOR PARA OS ARTISTAS bom em acústica porque sei o que eu estou Para Marcel, vestir a camisa da banda é fazendo. Eu estudava física e curtia muito uma das coisas mais importantes. “Por mais trabalhar com ondas, acho que esse é o que eu não esteja tocando no show, eu faço meu diferencial”, conta Kaos. parte da banda na qual estou trabalhando. Frango Kaos é vocalista da banda Gali- Quem chega primeiro ao palco sou eu. Se nha Preta e técnico de som: ele estudou física chego lá e trato mal as pessoas, a impressão Frango viaja o mundo ao lado de Hamil- que dá é de que a banda trata mal. Você ton, além de trabalhar bo Clube do Choro leva no peito o nome da banda”, explica. “há um tempão”, afirma. Nos shows de Já Frango entende que o técnico de som Holanda, ele é responsável por controlar é importante para uma apresentação ser o retorno dos músicos e também o que o completa e redonda. “A galera do som conpúblico vai escutar. “O som é o produto. tribui para a qualidade do show. Ninguém Se o som tiver ruim, o público pode pedir aguenta um som ruim, né? Nós ajudamos a o dinheiro de volta”, comenta Frango. transmitir o que o músico quer, é quase tão A gente não está lidando com o pop, é um importante quanto o artista”, fala Frango. trabalho braçal, corriqueiro e pesado. “É Para Luna, ser produtor significa resolver gratificante, porque você está fazendo todo e conseguir organizar todas as demandas mundo gostar do som. As únicas coisas que e especificações que existem num evento afinam o tempo é a lembrança e a música. ou banda. “É entender que cada músico A gente lida com uma coisa que ninguém funciona de uma maneira diferente, um come, não se toca, não tem validade e as fica nervoso e o outro questiona”. Para ela, pessoas ainda compram”, afirma Frango. o principal da função é não deixar que os músicos sejam afetados de forma alguma.
Frango Kaos, um ícone do underground de df e vocalista do Galinha Preta
71
HOLOFOTE | CONSOLE
imagem de Taylor Jewell
TRILHA SONORA TÃO PUNK QUANTO O GAME Altas de expectativas pelos fãs de games por Cyberpunk 2077 texto
Ilustração do game liberada para promoção
72
www.grit.com.br
Bruna Penilhas
Não há dúvidas de que, para que a imersão de um game seja completa, a trilha sonora da obra precisa corresponder e funcionar em sincronia com o restante da experiência. O estúdio CD Projekt Red já provou que sabe muito bem realizar tal harmonia de elementos visuais e sonoros, como comprovam os games de The Witcher –a trilha sonora de Wild Hunt é simplesmente fantástica do começo ao fim, diga-se de passagem. Nos últimos anos, o estúdio deixou o “conforto” do mundo medieval e topou o desafio de nos levar para uma viagem ao futuro com Cyberpunk 2077. Marcin Przybyłowicz, diretor musical de The Witcher 3, cumpre o mesmo papel no mais novo lançamento da CD Projekt, ao lado do compositor P.T. Adamczyk, que nos deu um vislumbre dos bastidores de desenvolvimento do game. Em entrevista exclusiva ao ign Brasil, Adamczyk fala sobre o impacto da trilha sonora na experiência do jogador, os bastidores do processo criativo e mais. “Eu diria que para um rpg focado na narrativa, a trilha sonora é uma parte essencial de toda a experiência. Vale notar que a trilha sonora do game já está disponível no Spotify para quem quiser apreciá-la. Ao ouvir as seis músicas disponíveis na plataforma, me senti mais próxima do universo futurista do game. Imagens da Night City cheia de neons, carros e prédios logo passaram pela minha mente. Mesmo sem estar jogando, já deu para perceber a sinergia entre as mídias –mal posso esperar para ver o resultado completo.
P.T. Adamzyk, um dos produtores da trilha sonora do game
imagem de Taylor Jewell
imagem de Taylor Jewell
Embora as batidas eletrônicas e o toque futurista das músicas sejam perceptíveis em cada segundo, Adamczyk explica que a equipe buscou inspirações menos tradicionais para obras cyberpunk. “Muitos dos gêneros que nos inspiraram, como industrial, techno, rave, idm e hip-hop, não se adaptam facilmente às nossas necessidades narrativas, então nós tivemos que usar a criatividade e pensar em outras maneiras de seguir o sentimento, textura e características do gênero e, em seguida, tentar manipulá-los para que se encaixem no contexto do jogo. Foi muito divertido!” Ele ainda menciona como a equipe se preocupou em criar algo que respeitasse o rpg de mesa que inspira o game, Cyberpunk Foto tema do 2020. “O jogo é baseado no trabalho de game Cyberpunk Mike Pondsmith, que oferece um mundo 2077 como nenhum outro, então criar uma típica ‘trilha sonora cyberpunk’ não faria justiça. Este é um universo único, com uma narrativa tão única, então tivemos que compor algo que correspondesse a tudo.” Um ponto importante é que, além das músicas instrumentais, a trilha sonora de Reeves) aqui, a trilha sonora aproveita para Cyberpunk 2077 conta com colaborações resgatar o bom e velho rock. com artistas reais, como Run the Jewels, “A ideia criada por Marcin sobre fazer Refused, Grimes, A$AP Rocky, Gazelle uma referência aos anos 90 na trilha foi Twin, Ilan Rubin, Richard Devine, Nina muito refrescante e inspiradora, deu-nos Kraviz, Deadly Hunta, Rat Boy e Tina Guo. um ponto de partida interessante e parece Além disso, a CD Projekt criou canções ser um território inexplorado no mundo da para a Samurai, banda fictícia do jogo que composição”, diz Adamczyk, que fala sobre é liderada por Johnny Silverhand (Keanu como a criação da trilha sonora de Cyberpunk 2077 foi bem orgânica. “Depois que você mergulha na história e no cenário, você se sente guiado. Mal consigo me lembrar de um momento em que senti algum tipo de bloqueio criativo. O que mais senti foi que a trilha ‘se escreveu sozinha’.” Adamczyk também afirma que ele teve “uma liberdade sem precedentes para um jogo aaa”. Ele completa: “O feedback de Marcin foi essencial, especialmente no começo. Com o tempo, quando a nossa lista de informações foi crescendo e sabíamos mais sobre o game e como iríamos marcá-lo, confiei na opinião de Marcin em momentos difíceis. Adam Badowski, presente no processo, tínhamos avaliações regulares com ele e sua opinião e orientação nos ajudaram a encontrar o caminho certo e a nos sentirmos confiantes. No final, foi um esforço de equipe e, como equipe, acho que realmente entregamos algo especial.” Poderemos embarcar para Night City e explorar o futuro de Cyberpunk 2077 em 10 de dezembro, data marcada para o lançamento do jogo. 73
HOLOFOTE | MIC DROP
76
www.grit.com.br
DNA DO SUCESSO DE LIZZO! “Sucesso não acontece da noite para o dia. Trilhei meu caminho na música muito tempo antes do sucesso” entrevista
Mariana Montes
A
fotos
David LaChapelle
primeira surpresa de Lizzo ao chegar ao Rio de Janeiro em fevereiro passado foi o tempo nublado que a impediu de conhecer o monumento que mais esperava ver no Brasil: o Cristo Redentor. Logo no primeiro dia, dirigiu-se à estação de trem no pé do Corcovado. Chegando lá, diante das nuvens que encobriam a vista, deu meia-volta e, acompanhada de cerca de 20 pessoas, entre maquiadores, stylists, agentes, bailarinos e seguranças, rumou em direção à praia de Ipanema. Acomodou-se no rooftop de um hotel famoso na região e, uma vez no Brasil, fez como os brasileiros e abasteceu-se de caipirinhas para a tarde de folga. Alguns drinks depois, entendeu que seu look –top e shorts– não era apropriado para o ambiente, então pegou uma tesoura e ali mesmo fez do shorts um biquíni para mergulhar na piscina. De sua parte, disse que estava adorando o Brasil e se sentia realizada de estar em uma fase da carreira que a permitia conhecer o país. “A cultura é especial. A comida aqui tem muita carne e é uma delícia. Mas ainda quero ver as bundas brasileiras”, brincou, e emendou dizendo que, mesmo há poucos dias na cidade, arrumou tempo para flertar com caras bonitos e sente que precisa aprender mais português para desenvolver uma conversa. “Eu digo ‘oi’ e eles sorriem de volta. Existe algo sexy no ar.” A praticidade e sinceridade com que lida com o processo que envolve fotografar uma capa de revista é a mesma que vemos em seus clipes e músicas. De cara, conta que não é adepta do small talk –as famosas “conversas de elevador”– e é categórica na escolha dos looks. Lizzo conhece seu corpo
e sabe do que gosta. Poucos cliques bastam para arrancar um “uau” da equipe que acompanha as fotos. “Sim, tenho problemas com homens, esse é meu lado humano. Prontinho, resolvo isso e esse é meu lado deusa”, letra de Truth Hurts, canção que a colocou por sete semanas seguidas no primeiro lugar das paradas da Billboard e rendeu um de seus três Grammys, o de Melhor Performance Solo de Pop. Dias antes de vir ao Brasil, ainda faturou Melhor Álbum Urbano Contemporâneo por Cuz I Love You e Melhor Performance Tradicional de r&b com o single Jerome. Há quem diga que a ascensão de Lizzo, 31 anos, foi meteórica. A esses, ela responde: “Meteoros são relativos, passam pela Terra e impressionam as pessoas que só conseguem enxergá-los naquele momento. O sucesso é diferente, não acontece da noite para o dia. Trilhei meu caminho na música por muito tempo e tenho uma história incrível. Quando as pessoas a descobrem, vêm até mim e dizem: ‘Isso é inspirador’”, afirma. Nascida em Detroit, uma das cidades mais violentas dos Estados Unidos, Melissa Vivianne Jefferson teve contato com a música gospel desde muito cedo. Seus avós foram os responsáveis por fundarem uma unidade da cogic, Igreja de Deus em Cristo, instituição cristã Pentecostal com afiliação predominantemente afro-americana com mais de 5 milhões de membros nos eua. “Cresci na igreja com primos e tias. Minha criação foi muito religiosa, baseada na crença evangélica. Não podíamos usar calças na igreja porque diziam que era coisa do diabo. Era proibido ouvir rap, pop, r&b, e até ir ao cinema, tudo era do diabo. Então só escutava música gospel.” Aos 9 anos, mudou-se para Houston, no Texas, com seus pais, Michael e Shari, e dois irmãos mais velhos, Vanessa e Michael. Lá, conta, teve que aprender a se distanciar de todos os preconceitos que tinha adquirido em sua criação extremamente religiosa. “Eu era muito, muito nerd. Vivia com medo da ‘condenação eterna’.” Enquanto seus amigos iam a festas, diz, ela lia a Bíblia.
77
HOLOFOTE | MIC DROP
“Li tudo, do início ao fim. Eu não era louca, apenas dedicada. Fui criada assim”, lembra. Hoje, Lizzo desenvolveu sua própria relação com a espiritualidade. Aprendeu com Missy Elliot que “quanto mais inserida você estiver na indústria da música, mais perto tem que estar de Deus”. Antes de todos os shows, faz uma prece com sua equipe para agradecer por tudo e pedir proteção. “É uma troca de energia muito grande. Acordo às lágrimas, me sentindo extremamente grata. Essa é uma indústria selvagem, você tem que cultivar sua espiritualidade. As bênçãos só virão se você estiver nos braços Dele ou Dela, seja lá como você enxerga Deus.” A cantora formou sua primeira banda de rap com duas amigas aos 14 anos. Na busca por um nome artístico, deu vida a Lizzo, mix entre Lissa (abreviação de Melissa) com Izzo, música de Jay-Z que fez sucesso no início dos anos 2000. Seu pai, a quem considera seu maior apoiador, comprou a primeira flauta, instrumento no qual se especializou na Universidade de Houston e que a acompanha em suas apresentações até hoje. “Embora minha mãe diga que foi ela quem deu o dinheiro para ele”, ri. “Tocar flauta era tudo para mim. Eu queria estar na Boston Pops Orchestra, estudar em Paris e tocar em Londres, tinha tudo planejado. Meu pai me incentivou muito.”, diz a rapper, “Ele acreditava genuinamente em mim, queria que eu fosse uma flautista bem-sucedida e tocasse o hino nacional em um jogo de beisebol.” Quando perdeu o pai, há 11 anos, Lizzo conta que continuar na música perdeu o sentido. A constante comparação com seus colegas de faculdade e a sensação de que não era boa o suficiente a levaram a abandonar o curso. “Não foi uma decisão fácil, foi uma merda. Eu não era a melhor ou a mais brilhante. Lá eu não me destacava como no ensino médio. Não me sentia especial e hoje vejo que foi um pensamento muito egoísta da minha parte. Mas foi por isso que dei o fora o mais rápido possível.” Com isso, também perdeu o direito de morar no campus e passou a dormir em seu carro. “Chorei até pegar no sono no Dia de Ação de Graças.” Não se sentir especial, ser ignorada e deixada de lado, conta, ainda são gatilhos para um estado autodiagnosticado de depressão e ansiedade que a acometem de tempos em tempos e foram desencadeados pela morte do pai. “Tenho pensamentos negativos e uma sensação de que estou 78
www.grit.com.br
morrendo. Quando isso acontece, aprendi a respirar. Parece besteira, mas fiz isso uma vez e vi que realmente funciona”, explica. Compartilhar os sentimentos ajuda a amenizar a “síndrome do bebê”, como ela mesma chama. “Entendi o privilégio que tenho de ser capaz de praticar respiração circular até diminuir minha ansiedade. Choro e converso com um terapeuta até aquele sentimento opressivo ir embora.” Lizzo faz questão de ressaltar que a relação de cada um com sua saúde mental é particular. “Existem pessoas que têm um desequilíbrio químico e apenas respirar não vai fazer os sintomas desaparecerem. É necessário apoio psicológico e remédios em alguns casos. O importante é não guardar para você. Converse com as pessoas.” Em busca de um novo propósito para a carreira e a convite de um produtor musical com quem tinha escrito algumas músicas em parceria, Lizzo mudou-se para Minneapolis, em Minnesota. “Todas as bandas que ouvi eram de lá. Pensei: ‘Tem alguma coisa acontecendo naquela cidade’.” Foi ali que Lizzo teve a oportunidade de colaborar em uma música com ninguém menos que Prince. Na época, o cantor flertava com o feminismo e gravava o novo álbum de sua banda, 3rdeyegirl, formada apenas por mulheres, além dele próprio. Boytrouble abriu as portas do mainstream para a cantora, que logo mudou-se para Los Angeles após assinar contrato com uma grande gravadora. É apenas uma questão de tempo até todos amarem Lizzo tanto quanto ela ama a si própria. A aceitação de seu corpo gordo e o empoderamento de mulheres negras são os temas mais trabalhados em suas músicas. Ela, no entanto, evita o títulos que a colocam como representante do body positive. “As pessoas podem me associar ao que quiserem, mas eu não faço isso. Não vou perder tempo falando do meu corpo. Você pode vê-lo, entende? Falo de coisas positivas, mas não vou esfregar ‘amo meu corpo, veja minha bunda’ na cara das pessoas. Sou uma garota grande e tenho consciência disso”, diz. “Faço a mesma merda que a Bella Hadid (postar fotos e vídeos sensuais), mas ninguém está acostumado a ver esse tipo de corpo fazendo isso. Canto a mesma coisa que a Rihanna, mas
A aceitação de seu corpo gordo e o empoderamento de mulheres negras são os temas mais trabalhados em suas músicas”
Lizzo posando em meio aos manequins de forma luxuosa e bela
no fim do dia sou maior do que ela e isso choca as pessoas. Mas não estou fazendo nada fora do comum, nada além de ser eu mesma.” O choque a que Lizzo se refere volta para ela de duas maneiras. A positiva é o retorno do impacto que suas músicas causam em mulheres que lutam contra seus corpos todos os dias. “É difícil enxergar seu impacto no mundo, sabe? Não é algo matemático. Mas em algum momento você tem que começar a acreditar no que as pessoas te falam. Quando vejo garotinhas dançando livres em vídeos ou mulheres como eu fazendo comerciais, aí eu entendo”, reflete. Já o efeito negativo, que ela chama de backlash, foi o principal motivo pelo qual abandonou o Twitter. Lizzo recebia diariamente ataques ao seu corpo, a suas músicas, sua atitude, comentários desrespeitosos em reação a si prórpria. “Não costumo me importar com comentários negativos sobre mim, mas aquilo era demais. Estava vendo muita coisa negativa e estava me deprimindo. Há muito mais pessoas boas e livres no mundo do que o contrário, mas é esse pequeno grupo de pessoas que controla um monte de coisas. Eles controlam o governo, o dinheiro. E atacam o tempo todo.” 79
HOLOFOTE
YASMIN THÁON
Faltante imagem do dia a dia
Yasmin Thayná é cineasta,
diretora e pesquisadora de audiovisual no its-rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro). Dirigiu Kbela, o filme, Batalhas, que é sobre a primeira vez que teve um espetáculo de funk no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e a série Afrotranscendence. 80
www.grit.com.br
As imagens são fontes de vivências, mas elas podem ser construídas até em um mundo tão imagético quanto uma memória coluna
Yasmin Thayná
ilustração
Willian Santiago
A imagem é uma das ferramentas mais poderosas para se ativar a memória. Quando nos deparamos com uma fotografia, somos transportados para um outro tempo, aquele da lembrança. Do que acessamos nesse grande armazenamento de histórias, podemos reviver as cores que não enxergamos mais, os movimentos que a nossa estrutura óssea já não é mais capaz de reproduzir, as roupas usadas que nos causaram traumas ou nos deixaram mais confiantes, o programa que passava na televisão –e sabíamos o horário exato do início sem olhar no relógio–, o disco que aguardamos, eufóricos, ser lançado. A imagem é como aquele pagode: “ela mexe comigo e o pior que não sabe”. Atualmente, a imagem é o principal escape da realidade que temos em um período tão conturbado. Presente todos os dias como forma de distração ou informação. Mas também é muito necessário para revivermos memórias de um passado tão próximo, como distante. Os álbuns de fotos da infância ou até a galeria de fotos de um celular são capazes de nos levar a um acontecimento que em algum momento fora gravado com a intenção de torná-lo eterno. O cinema, os filmes, o audiovisual como um todo é um tranporte para tempos difíceis, como para os tempos bons aos quais sentimos tantas saudades no cotidiano. E o mais importante, quando nos conectamos com essa realidade diferente da nossa apresentada no audiovisual, sentimos tudo mais intensamente, como se vivéssemos aquele mundo real de um mundo fictício. As memórias por si só são importantes, nos ajudam a nos guiar, lembrar delas é sempre bom. Ao mesmo tempo são conforto e uma mistura de sentimentos intensos. Uma fotografia pode nos lembrar de alguém importante ou de um momento que nunca vai voltar, mas não há nada como revivê-las na mente. Obviamente tentando trazer apenas os que de melhor teve naquele tão específico momento.
81
imagem de Tejal Patni
A GRANDE EPIDEMIA IGNORADA
Com transtornos psicológicos em alta, psiquiatras e psicólogos precisam aprender a lidar com uma segunda epidemia silenciosa e praticamente ignorada
texto
Leonardo Neiva
imagem de Flavia Marques
M
uita gente reclama que o Brasil ocupa posições baixas em alguns dos principais rankings e índices globais, perdendo posições em vários casos para países vizinhos de status semelhante. No entanto, quando se trata de um tema triste e preocupante como as questões de saúde mental, nós subimos direto para as cabeças. Ao menos é o que aponta uma pesquisa recente realizada pela Universidade de São Paulo (usp). Segundo o estudo, que levou em conta dados de 11 países, o Brasil ocupa a dianteira absoluta no número de casos de depressão e ansiedade durante a pandemia de covid-19, acima de nações como Estados Unidos e Irlanda. O isolamento, a falta de alternativas de lazer e problemas financeiros teriam sido alguns dos principais fatores que empurraram esse números para cima, embora o país já viesse enfrentando uma alta na quantidade de casos, especialmente entre os jovens. Eles, além de mulheres, pessoas
com histórico de distúrbios psicológicos e desempregados são apenas alguns dos grupos que mais relataram sofrer com estes sérios problemas. Em meio à sobrecarga de trabalho e emocional que profissionais de saúde têm enfrentado no atendimento aos infectados com o vírus, psiquiatras observam com preocupação a onda de distúrbios psicológicos que está se formando devido ao estado prolongado de pandemia –e que, segundo alguns, deve se manifestar de forma ainda mais forte nos próximos meses e anos, mesmo após o fim do isolamento, como um reflexo da pandemia. Para entender melhor essa tendência e como ela tem afetado aqueles que trabalham diretamente com saúde mental, a GriT conversou com profissionais que relataram um grande aumento no volume de atendimentos, problemas na relação com os pacientes devido ao distanciamento e impactos da situação em seu trabalho em suas vidas pessoais.
O ESTADO DAS COISAS
Na clínica particular ppi (Psicologia e Psiquiatria Integradas), onde trabalha, o psicólogo analítico Kleber Marinho viu a procura por atendimento crescer entre 40% e 50% desde o ano passado. Além de um aumento significativo nos casos de depressão e ansiedade, boa parte chegou com distúrbios que podem ter sido causados ou acentuados pela pandemia e o isolamento, como insônia, síndrome do pânico, uso de drogas e até estresse pós-traumático. “Muitos casos foram de pessoas que já tinham um quadro de crises e experimentaram um retorno acentuado do problema”, conta o psicólogo. “Por outro lado, também vimos bastante gente que vinha de um contexto psicologicamente estável e acabou sofrendo um desequilíbrio, passando a precisar de ajuda por meio da terapia ou uso de medicamentos.” Para ele, além de o brasileiro ter histórico de ignorar ou buscar tratamento tardiamente para distúrbios psicológicos,
há também os fatores sociais e financeiros que dificultam o acesso, algo que fica claro pela alta procura por atendimento gratuito. Fora isso, a alta de casos, aliada ao cerceamento de alternativas de escape gerado pelo isolamento, teria feito com que mais gente buscasse ajuda profissional para sair da crise. Numa situação como a que a sociedade vive hoje, há também algumas pessoas que desenvolvem formas de lidar com o mundo ao redor para evitar o colapso psicológico, diz o psiquiatra Cyro Masci. Ou se adaptam aos novos tempos e aprendem a viver de acordo ou passam a negar o problema. “São esses que vão para as festas e aglomerações, muitas vezes sem máscara, como se nada estivesse acontecendo.” De acordo com o médico Eduardo Teixeira, coordenador de psiquiatria no Hospital puc-Campinas, a demanda por atendimento na instituição cresceu mais de 50% no período. Dentro desse contexto, quadros depressivos já existentes têm apresentado um agravamento, enquanto muitos casos
imagem de Vie Studio
RELAXA, PEQUENO GAFANHOTO!
de ansiedade estão ligados a um exagero na percepção da gravidade da contaminação pelo vírus, diz o psiquiatra. “É uma mistura de fatores que se associam e pioram quadros já existentes ou geram novos.”
PRECISAMOS FALAR SOBRE OS JOVENS
Longe das salas de aula por quase um ano inteiro, com poucas opções de atividades físicas ou de lazer e contato restrito com colegas, num momento em que a interação social é das mais importantes, crianças e adolescentes estiveram entre os grupos mais afetados socialmente na pandemia. Segundo pesquisas dentro e fora do país, essa situação tem se refletido em um aumento no número de casos de depressão e tristeza dentro dessa faixa etária. “Têm aparecido mais casos de adolescentes com sintomas, inclusive alguns até mais graves do que costumamos ver normalmente”, afirma o psiquiatra Sérgio Tamai, Acalmar a mente nesta pandemia tem sido um trabalho difícil para todos nós
O Brasil ocupa a dianteira absoluta no número de casos de depressão e ansiedade durante a pandemia de covid-19, aponta pesquisa”
diretor secretário da Associação Brasileira de Psiquiatria (abp). O fato de serem forçados a falar com colegas e professores principalmente por meio de conferência ou nas redes sociais, que favorecem falhas na comunicação, além das maiores dificuldades de aprendizagem, teriam sido relevantes para gerar uma maior sensação de distanciamento, explica Sérgio. Além disso, há questões complementares, como a redução nos exercícios físicos e um consequente ganho de peso, que podem gerar problemas com a autoimagem.
OS PERCALÇOS DA TELEMEDICINA
Com sua prática aprovada emergencialmente em março de 2020 pelo governo federal, com o objetivo de evitar aglomerações e facilitar o atendimento na pandemia, a telemedicina tem sido cada vez mais utilizada por médicos e demandada por pacientes. No caso de consultas para tratar de distúrbios psicológicos, porém, ela pode
88
www.grit.com.br
imagem de Angela Roma
trazer algumas dores de cabeça embutidas, A falta de como relatam profissionais do ramo. privacidade e a O principal dos problemas é que há maior proximidade de dificuldade para avaliar adequadamente os pacientes à distância, considera Sérgio, da familiares também abp. Segundo ele, alguns fatores corporais podem inibir a são mais difíceis de se perceber no vídeo. Outra questão é que a relação do paciente pessoa e impedir com a câmera acaba sendo diferente da que ela se abra interpessoal. A falta de privacidade e a prototalmente com ximidade de familiares também podem inibir a pessoa e impedir que ela se abra seu psiquiatra” totalmente com seu psiquiatra, dificultando o diagnóstico e o tratamento. Kleber, que divide o tempo na clínica entre atendimentos online e presenciais –reservados para casos mais graves–, diz que a rotina é estafante para os profissionais de saúde que precisam se desdobrar. Segundo ele, cada vez mais pacientes têm buscado a modalidade de atendimento à distância, FORMAS DE LIDAR COM com receio de se infectar. A PRESSÃO “Do ponto de vista pessoal, cansa muito A sobrecarga em cima de profissionais de mais do que o presencial, porque você perde saúde mental é perceptível, de acordo com a leitura automática dos gestos e emoções. Eduardo Teixeira, do Hospital puc-CamNo online, é preciso ficar muito mais atento pinas. Para tentar lidar com a situação, ele em busca dos pequenos detalhes, o que re- tem presenciado e integrado esforços para quer uma concentração maior. No final do criar uma rede de apoio entre os médicos dia, acaba sendo exaustivo”, diz o psicólogo. do departamento, fisicamente ou por meio de um grupo no WhatsApp, numa tentativa de prover acolhimento e auxílio mútuo, nesse momento tão difícil. Ele também diz ter percebido as pessoas ao redor mais inseguras, tensas e negativas. Pessoalmente, conta que tomou algumas medidas para evitar fazer parte dessa mesma tendência. “Tenho procurado ajuda e dado uma atenção especial para minha saúde mental e física.” Para Kleber Marinho, é essencial que todo profissional de saúde se dedique a atividades físicas e criativas, como arte ou música, além de se submeter ele mesmo à terapia. Por experiência própria, aconselha
Não é fácil pedir ajuda, porém, ás vezes é preciso deixar o orgulho de lado
89
imagem de Anna Alexes
a reservar períodos para fazer pequenas pausas ao longo do dia de forma a evitar que o estresse do trabalho se acumule. Uma das saídas que encontrou para escapar dos impactos da pandemia, que reduziram drasticamente sua atividade física, foi repor as energias por meio da prática da meditação. Além de continuar fazendo terapia, deu um jeito de incluir na rotina mais períodos de lazer com as filhas, o que ficou mais fácil, já que passa a maior parte do tempo em home office. E, como muitos outros pelo mundo que se viram com tempo extra num período tão complicado, aprendeu a fabricar pão de fermentação natural em casa. “Gosto muito de cozinhar e nunca tinha feito! Para mim, foi terapêutico. É algo que vou levar comigo mesmo depois que tudo isso passar.”
É preciso aproveitar a pandemia como oportunidade de consolidar uma estratégia de acessibilidade, num país com dificuldades crônicas de saúde mental”
Para ele, em parte devido a uma cultura que ignora os sintomas de distúrbios psicológicos, o país vive hoje um “acúmulo de Segundo o coordenador de relações ins- sofrimento” que em algum momento deve titucionais do Instituto de Psiquiatria do transbordar. “O que chama a atenção é esse Hospital das Clínicas da usp, Rodrigo Leite, sofrimento mental não identificado, que no entanto, o pior ainda está por vir. Apesar muitos não reconhecem. As pessoas ainda do visível aumento de pacientes com trans- estão se segurando. Isso deve ficar cada vez tornos psicológicos no atendimento privado, mais evidente ao longo dos próximos meses segundo ele os números no hospital público e anos e pode desembocar numa epidemia ainda estão baixos. O que não significa que de problemas de saúde mental.” os casos de transtornos como depressão e Um dos fatores que contribuem para ansiedade, entre tantos outros, não estejam isso é a dificuldade de monitorar dados crescendo na pandemia. relacionados à saúde mental, vivida pela atual gestão federal, aponta o psiquiatra. O mais provável, lembra, é que a subnotificação tenha aumentado desde o ano passado, no começo da pandemia, já que praticamente todos os olhos estão voltados para os sintomas imediatos do vírus. Rodrigo também enxerga um futuro com profissionais de saúde mental mais fragilizados. Para que tenham suporte, seria de grande importância, um investimento forte em telemedicina, na conscientização sobre a importância da saúde mental e em preparar as unidades de atendimento para o aumento de demanda que está se aproximando a galope.
UMA OUTRA EPIDEMIA IGNORADA E SILENCIOSA
RELAXA, PEQUENO GAFANHOTO! | DESBLOQUEIE-SE
imagem de Anna Shvets
BLOQUEIO CRIATIVO NÃO PODE! Como superar este monstro que assombra todos os artistas texto
Laís Elena
O bloqueio criativo, como o nome já diz, nada mais é do que a perda temporária de habilidade para realizar alguma atividade que envolva produção de conteúdo. Geralmente, acontece por falta de criatividade ou inspiração, causando frustração e estresse em quem o tem, principalmente em estudantes, que estão iniciando a rotina de trabalhos acadêmicos. Mas fique calmo, pois apesar de muito frustrante, o bloqueio de criatividade é comum de acontecer e tem suas formas de superação. E nós vamos te mostrar os motivos pelos quais ele acontece e como superar esse problema. Vamos lá!
CAUSAS DO BLOQUEIO CRIATIVO
É normal nos sentirmos imprestáveis ás vezes! Não se culpe!
94
www.grit.com.br
Para superar este problema, primeiro precisamos entender como ele funciona e quais as suas possíveis causas. Identificando-as, conseguimos ter uma melhor visualização de como lidar com cada uma e, por fim, vencê-las. Excesso de trabalho: quando você recebe uma demanda muito grande de trabalho e tem que realizá-lo exercitando a sua criatividade, é muito provável que ocorra o bloqueio criativo, devido a muitas tarefas acumuladas e sendo feitas ao mesmo tempo. Com isso, a sua mente não tem espaço para pensar em ideias, nem produzir qualquer tipo de conteúdo. Portanto, evite fazer várias coisas ao mesmo tempo. Cansaço físico e mental: sem dúvidas, um dos motivos ligados ao bloqueio de criatividade é o cansaço, seja ele físico ou mental. Dormir bem e ter uma pausa para o cérebro descansar é essencial, neste caso, para ajudar na retomada de criação.
É HORA DE SUPERAR O BLOQUEIO CRIATIVO!
Agora é hora de aprender a dar adeus aos seus momentos de bloqueio criativo, ou pelo menos, a superá-los de um jeito mais rápido e fácil. Confira 5 melhores dicas do nosso Mestre Gafanhoto: Dê um break! Sua mente precisa disso: Não deixe que a sua mente trabalhe incessantemente em algum projeto. Ela, assim como o seu corpo, precisa de um descanso. Dar uma pausa, dar uma espairecida, respirar ar puro, fazer uma caminhada, são atitudes que podem ajudar e muito no seu processo criativo. Coloque seus fones e aumente o som!: Escutar música na hora de criar qualquer coisa pode ser um ótimo estímulo para a sua mente. Essa prática pode ser feita em dois momentos: na hora do seu descanso diário e na hora em que a sua mente estiver trabalhando para criar. O ideal é que você coloque músicas relaxantes ou uma playlist com as suas músicas preferidas. Isso com certeza é uma das práticas mais recomendadas quando o bloqueio criativo insiste em aparecer.
Pesquisa, pesquisa, pesquisa!: Se o bloqueio criativo insistir em assombrar você, um dos motivos pode ser a falta de conhecimento sobre tal assunto. Ser um pesquisador assíduo levará você a grandes pensamentos e ideias. Sendo assim, exercite a pesquisa diária e deixe os seus conhecimentos em dia. Um joguinho pra distrair sempre dá certo: O bloqueio criativo, na maioria das vezes, é causado por cansaço da mente, isso é fato. Portanto, é importante que você consiga identificar quando ela estiver precisando de um break. Jogar o seu jogo favorito é algo que pode ajudar e muito! Afinal, sua cabeça estará distraída com algo leve e entretida com o seu joguinho favorito. Portanto, não se prive de tirar um momento de lazer, de vez em quando. Escolha um ambiente saudável: Mas o que seria um ambiente saudável, afinal? É simples. É aquele lugar que faz bem a VOCÊ. Que te traz paz, que não te deixa ansioso ou nervoso, que deixa a sua mente leve e livre para trabalhar como quiser. Pode ser uma praça, um escritório, seu próprio quarto, uma varanda… bom, não importa! O importante mesmo é você se sentir bem e conseguir vetar o bloqueio criativo da sua jornada.
imagem de Joseph D. Tran
Perfeccionismo: ser perfeccionista tem seu lado bom e ruim. É bom porque nada sairá mal feito, no seu ponto de vista. Porém, tem seu lado ruim devido a sua mente trabalhar demais para deixar aquele trabalho simplesmente perfeito. Com isso, se não sair como você espera, causará uma certa frustração e consequentemente, o bloqueio criativo. Falta de conhecimento: obter conhecimento é importante para várias áreas da nossa vida. Quando se tem conhecimento sobre algum assunto, rapidamente você tem ideias e insights para elaborar um material. Logo, quando você tem, acontece o contrário, fazendo sua mente bloquear.
AGORA É COM VOCÊ!
Depois de todas essa dicas, chegou a hora de colocar em prática, não é?! Faça pelo menos um desses exercícios listados, no seu dia a dia, e veja como você conseguirá combater o bloqueio criativo de forma simples e sagaz.
O bloqueio criativo pode acontecer com todos! Ele não escolhe quem
95
RELAXA, PEQUENO GAFANHOTO! | QUEM VIVE PARADO É PLANTA
imagem de Cottonbro
EXERCÍCIOS AGORA SÓ EM CASA! Ir num lugar com gente suando, tossindo e pulando, não parece mais boa ideia não é? texto
Estamos em pandemia, mas não estamos engessados. Movimente-se!
96
www.grit.com.br
Willian Vieira
Após meses fechadas, as academias reabrem pelo país –e mesmo com lotação reduzida e protocolos de higiene, nos assustamos com o cenário que podemos encontrar. Fora o incômodo de malhar de máscara, trocá-la quando molhar, tentar não tocar o rosto após pegar em halteres compartilhados e se banhar eternamente em álcool em gel. O futuro do exercício, ao menos no curto prazo, passa longe da academia.“Não creio que a maioria agora vá gastar R$ 500 com isso se pode fazer em casa”, diz Márcio Lui, personal trainer das celebridades. Na quarentena, ele dobrou o número de alunos (remotos) e ganhou cem mil seguidores, ávidos por seus vídeos de treinos. Pois muitos aproveitaram os meses de isolamento para se adaptar a uma nova rotina de exercícios, através de tutoriais no Youtube, apps, lives, aulas por vídeo, vale tudo. Parques também surgem como alternativas. Ainda que existam riscos de contaminação ao ar livre, são menores que em locais fechados sem ventilação natural. “Com a pandemia ficou claro que é possível se exercitar em qualquer lugar, sem depender de aparelhos ou gastar tempo e se deslocar até a academia”, diz Thiago Pugliesi, um dos principais treinadores da plataforma de vídeos de exercício Weburn –como a Queima Diária e outras, elas já funcionam como uma espécie de “Netflix fitness”. A Weburn fez até parceria com o NOW, serviço on demand da Claro, para chegar diretamente à tv. É bom lembrar, no entanto, que sem um instrutor por perto fica mais difícil ter certeza de que o exercício está sendo feito corretamente. E é por isso também que, no futuro,
imagem de Anna Shvets
quem gosta do ambiente da academia e prefere se exercitar com acompanhamento especializado tende a retornar. Mas a tendência geral do exercício pós-pandêmico parece ser a do “faça você mesmo” –com ajuda da internet. E pensando nisso, nós da GriT, vamos te ajudar a se adaptar essa nova vida fitness em casa, até porque fontes de conteúdo e motivação não faltam. Basta se organizar, ficar mais atento aos movimentos e intensidade para evitar lesões e aproveitar.
VÁ ÀS COMPRAS, MAS COM MUITA CALMA
A quarentena é a terra do peso livre e o chão é o melhor amigo. Então garanta um colchonete ou ioga mat. Ter halteres ajudam a treinar bíceps, tríceps, ombros –escolha dois de peso diferente e use de forma unilateral; já uma única barra oca com rosca e algumas anilhas dá conta de uma gama enorme de pesos. Uma corda ajuda no aquecimento e caneleiras garantem treino extra para as pernas. Elásticos ou bands fortalecem os músculos, ajudam no aquecimento e evitam lesões –use-os para malhar braço, perna e costas. Ter alguns itens amplia muito as opções. Na dúvida sobre o que comprar, comece aos poucos e seja realista.
PERSONAL TRAINER DE ZOOM?
a melhor saída –uma prática customizada por um especialista sempre foi o mundo dos sonhos para quem malha. Como nem todos podem bancar a rotina, pense em contratar o personal por um período curto, de forma remota, para montar uma prática que poderá repetir sozinho.
Exercite sua mente também! Ioga e meditação são ótimas opções
Fuce nas páginas da web e verá que, há muitas ofertas de consultorias online –de personal trainer à distância. Sim, a consulto- MONTE UMA PRÁTICA SÓ SUA, ria de exercícios online virou uma realidade. PELA INTERNET Se dinheiro não for problema, contar com Apps, lives e vídeos no Youtube são a nova um instrutor remoto (Zoom, Skype, etc.) é realidade para quem quer se exercitar. Primeiro, é crucial checar as credenciais dos autores. Hoje, qualquer influencer dá aula na internet, então é importante ler sobre a pessoa, confirmar se é um profissional de educação física habilitado. De resto, bastam bom senso, motivação, perseverança (e muita pesquisa na internet) para criar uma rotina de exercícios para chamar de sua. “Aulas ou lives são excelentes para motivar”, diz Lui. Há canais focados em maromba, outros em ioga e relaxamento, outros em treinos para mulheres, todos com verdadeiras bibliotecas de treinos, com estilos, focos e durações diversas. Encontre um ou mais, “faça um mix”, diz Lui, e transforme-os em rotina. Pois a tendência é que as pessoas assumam a responsabilidade por seus corpos. O que importa é brincar com o corpo. O resultado vem por si só. 97
RELAXA, PEQUENO GAFANHOTO! | SUSSUR
imagem de Karolina Grabowska
O QUE É O ASMR E PORQUE ATRAI MILHÕES Os vídeos que estão mudando o mundo e não é bruxaria! texto
Ana Rízia
Tem gente que adora ouvir gotas de chuva caindo para relaxar, enquanto outras pessoas acham que o vento entre a folhagem das árvores é ótimo para se concentrar. Essas são algumas das ideias do que o asmr –Resposta Sensorial Autônoma do Meridiano, em português– pode fazer pela sua capacidade produtiva. A aplicação dos sons asmr desperta sensações de prazer por meio de estímulos repetitivos. Até parece estranho gostar tanto de escutar um copo de água sendo completado, por exemplo, mas vídeos com experiências sonoras similares estão viralizando a cada dia. E haja criatividade para desenvolver essas “terapias sonoras”, já que os ruídos podem ser extraídos de qualquer tipo de objeto ou até da voz e ponta dos dedos. Nesse universo, o que vale são reproduções prazerosas para se ouvir durante vários minutos. Assim como diversas pessoas se sentem mais conectadas com suas tarefas escutando música, vídeos de asmr também podem ter o mesmo efeito, desde que sejam agradáveis para o ouvinte. Então, se escutar alguém sussurrar em um microfone te deixa mais agoniado do que relaxado, talvez o asmr não seja para você.
ALÍVIO MENTAL
Para esses vídeos usam-se diferentes tipos de microfones
98
www.grit.com.br
Ao conhecer o asmr, uma pergunta bem simples pode ocorrer: como alguém sussurrando ou arranhando uma escova no seu fone de ouvido pode ajudar na produtividade? A resposta começa um pouco mais simples. Os vídeos de asmr raramente exigem efeitos especiais ou edições
POR TRÁS DA CIÊNCIA
imagem de Mariane Caroline
complexas. Os estímulos mais comuns são produzidos com sussurros, sopros no microfone, toques em objetos e insinuação de que a cabeça do ouvinte está sendo acariciada. Muitas pessoas concordam que essa escuta melhora a relação com certos problemas cotidianos, como o estresse, e ajuda a aliviar crises de ansiedade ao propor um momento de relaxamento. Mas é importante lembrar que esta “terapia” não substitui um acompanhamento especializado. Com os relatos e fãs de asmr cada vez mais em alta, os pesquisadores de neurociência começaram a investigar se os sons podem oferecer mais benefício para a saúde mental. Em um estudo de 2018, as respostas sobre os efeitos dessa prática se apresentaram relativamente promissoras. Nessa pesquisa foi indicado que o asmr provoca uma sensação calmante com benefícios para as conexões sociais. Além disso, os inúmeros vídeos desse universo geram uma redução significativa na frequência cardíaca, justificando seu efeito relaxante.
níveis moderados de som ambiente (não ultrapassando os 70 decibéis) podem aumentar o desempenho em tarefas criativas. O principal conceito dos vídeos de asmr está em obter sons em volumes moderados ou bem baixos e isso pode ser interpretado pelo cérebro como um som ambiente. Já na pesquisa lançada pelas Universidades de Sheffield e Metropolitana de Manchester, mais uma vez o asmr se mostrou como um estímulo positivo para a saúde mental e física. O bônus aqui foi o aumento expressivo nas emoções positivas de cada indivíduo. A fórmula final é bem simples: estresse e ansiedade reduzem significativamente a produtividade. Portanto, minimizar esses transtornos amplia a realização de tarefas diárias com mais confiança e rendimento.
Sweet Carol, grande youtuber de asmr, com 2 milhões de inscritos no canal
O asmr é um termo que descreve as sensações físicas e emocionais das pessoas ao entrarem em contato com imagens e sons estimulantes, assim como quando elas participam de atividades que envolvem atenção em si, mesmo que inconscientemente, como escovar o cabelo, se maquiar, receber massagens e afeto. Isso explica de forma mais científica o crescente sucesso da comunidade de asmr, que já passa dos 13 milhões de vídeos somente no Youtube. E não somente pessoas aderiram aos canais para se sentirem mais relaxadas e produtivas como empresas estão apostando na ideia para lançar seus próprios vídeos nas campanhas de marketing. Outro estudo de 2012 publicado no Jour- COMEÇAR OU NÃO? nal of Consumer Research mostrou que Novamente, vamos esclarecer uma coisa: o asmr pode não ser para você, e está tudo bem. Nem todo mundo quer apostar nele, seja pela dúvida quanto aos seus benefícios ou por realmente não se sentir atingido por seus efeitos. Mas para aqueles que acreditam que essa possa ser uma das formas de garantir o desejado estado de flow e de se conectar com os próprios métodos de produtividade, esta é a hora de começar a conhecer o asmr e nada melhor do que mergulhar no YouTube e ver vários canais como o da Sweet Carol, que possui quase 2 milhões de inscritos e tem milhares de vídeos sensacionais que vão te fazer arrepiar até a alma.
99
PERFIL NAMASTÊ
RELAXA, PEQUENO GAFANHOTO!
100
www.grit.com.br
Sweet Carol faz pessoas dormirem ao redor do mundo texto
Breno Marquês
ilustração
Willian Santiago
Mariane Carolina Rossi é a youtuber responsável pelo canal Sweet Carol, que existe desde 2012 e ultrapassa 2 milhões de inscritos. Ela mora em Itapira, interior de São Paulo e grava seus vídeos em sua casa, em um estúdio montado especificamente para a gravação de seus asmrs. Lançou seu blog quando ainda estava no ensino médio e encontrou na internet um refúgio para o bullying e a solidão que vivia na escola. Ela se formou em enfermagem e tem o curso de comissária de bordo, porém nunca atuou em nenhuma das profissões por falta de oportunidade e com isso acabou seguindo sua intuição e acabou criando o seu canal Sweet Carol direcionado a asmr, criando um tipo de janela para que as pessoas pudessem dar a devida atenção aos problemas de saúde mental da sociedade. Em 2012, Carol começou a produzir conteúdo também para o YouTube, que hoje é o foco do seu trabalho. O canal estourou na plataforma depois que começou a fazer vídeos de asmr, que são específicos para relaxar e dormir. Ela possui milhões de visualizações mensais e fãs por todo o mundo que já dizem que não conseguem mais viver sem seus vídeos diários. Através do asmr ela ajuda diversas pessoas a relaxarem, dormirem, aumentarem a sua produtividade e descansarem depois de um longo dia. Alguns dizem que com seus vídeos ela ajuda na ansiedade e em suas depressões. Além de tudo isso, a criadora é cantora e lança músicas em seu canal de vez enquando. Carol também lança produtos como livros, pijamas e outros produtos relacionados a ela e ao seu canal que fazem o maior sucesso entre seus inscritos. Quem nunca ouviu falar sobre asmr essa é uma grande oportunidade de ouvir esse chamado e fazer a tentativa dessa técnica que vem ajudando milhares! Para saber mais temos uma seção falando sobre isso nesta edição.
101
RELAXA, PEQUENO GAFANHOTO! | PAZ & AMOR
imagem de Isabela Catão
VIVENDO COM A ANSIEDADE Se controlar essa aflição tem sido uma tarefa difícil, aqui estão algumas dicas valiosas texto
Leonardo Neiva
Viver com a ansiedade não é uma tarefa fácil, é um eterno testar de coisas para ver se ajudam ou não a controlá-la. É na prática e no dia a dia que vemos aquilo que serve para nós e assim construimos um arsenal de práticas para quando ela vier, nós estarmos bem preparados. Pensando nisso, a GriT traz mais algumas armas para o seu arsenal pessoal contra a ansiedade. Aqui estão algumas dicas simples, porém muito eficazes que irão ajudar controlar a sua ansiedade.
EXERCÍCIO DOS PÉS À CABEÇA
Aprender a viver com a ansiedade não é um processo rápido e está tudo bem!
102
www.grit.com.br
Do ioga e do cooper à meditação, cuidar do corpo e da mente pode ser uma das melhores formas de lidar com os efeitos adversos causados pela ansiedade. Além de produzir substâncias como a endorfina e a serotonina, que geram uma sensação de bem-estar, a melhora do condicionamento proporcionada pela atividade física ainda pode trazer ganhos pessoais, como o aumento da autoestima e melhora da saúde. Uma pesquisa de 2018 da Michigan Technological University mostrou que a meditação mindfulness, que busca um estado de plena consciência sobre pensamentos e sentimentos, pode ajudar a reduzir a ansiedade por até uma semana. “Exercícios respiratórios, de concentração, técnicas de ioga, trabalhos corporais como pilates e outros que ajudam a levar uma conscientização do corpo, trazem um nível de controle para quem sofre de ansiedade”, explica o psicanalista Hélio Deliberador, professor do departamento de psicologia social da puc-sp.
CRIE UMA ROTINA SAUDÁVEL
Outra dica é estabelecer uma rotina regrada e saudável, com uma alimentação nutricionalmente equilibrada. Consumir substâncias como o álcool, apesar de um efeito imediato de relaxar a tensão e, em alguns casos, melhorar o humor, pode levar a um quadro de abuso e a problemas de saúde. Açúcar e cafeína em excesso também não são recomendados e podem agravar a ansiedade. Mesmo com as dificuldades causadas pela pandemia e o isolamento social, estabelecer horários fixos e um cronograma detalhado funciona como forma de lidar com o problema. Mas atenção: o exagero causa o efeito contrário. “Para alguns, a ansiedade pode acabar fazendo com que a pessoa marque compromissos e atividades demais, excedendo sua própria capacidade”, afirma a psicoterapeuta Jocelaine Silveira, professora da Universidade Federal do Paraná.
NÃO DEIXE O DESCANSO PARA DEPOIS
Embora pareça uma sugestão um tanto óbvia, o padrão de sono de muita gente ao redor do mundo foi afetado pela pandemia, levando a um aumento na ocorrência de distúrbios. Dormir pelo tempo adequado e com qualidade é um fator essencial para garantir o funcionamento correto do corpo e das emoções de uma pessoa, evitando que ela sucumba à ansiedade.
Para fugir das dificuldades com o sono, é recomendável buscar ambientes relaxantes, com pouco barulho e luz, evitar pensar em problemas na hora de dormir e tentar manter uma rotina de descanso saudável, com períodos pré-definidos de pausa no trabalho e horários fixos para deitar e levantar todos os dias. Alguns aplicativos de meditação guiada como Calm e HeadSpace têm sessões que auxiliam a cair no sono. Dormir melhor não só aumenta a sensação de bem-estar como torna a pessoa mais produtiva para as atividades diárias.
AS REDES NÃO SÃO SUAS AMIGAS
Com o fortalecimento do home office e as pessoas em geral passando muito mais tempo em casa em meio à pandemia, a internet e as redes sociais parecem uma tentação impossível de resistir. No entanto, como explica Hélio Deliberador, em excesso, as mídias sociais podem levar a um agravamento do quadro do ansioso, que tende a se isolar emocionalmente, a uma dependência das redes e até a um certo desprendimento da realidade, passando a idealizar algumas relações virtuais. Em vez de ficar de olho grudado na tela por muito tempo, o ansioso pode procurar hobbies de sua preferência, como a leitura, jardinagem ou mesmo alguma atividade solidária.
BUSQUE UM PROFISSIONAL
imagem de Ivan Sankov
Em quadros onde a ansiedade causa grande sofrimento e prejuízos sociais e profissionais, pequenas mudanças na rotina e nos hábitos diários podem não ser suficientes. Nesses casos, é mandatório buscar atendimento profissional. “Se a própria pessoa, um familiar ou amigo perceber que ela está sofrendo com um grau alto de ansiedade, é essencial procurar a opinião de um médico”, aconselha Jocelaine Silveira.
Aqui não tem guru zen, mas você vai poder relaxar como se fosse um
103
CRIS PAZ
RELAXA, PEQUENO GAFANHOTO!
Cris Guerra escritora, mãe,
ama moda e palavras. Cris nos tira da zona de conforto e nos leva a enxergar um assunto por outro ponto de vista. Uma opinião, uma ideia, um fato, uma biografia. Cada vez, uma reflexão, comportamento e tudo o que faz a vida ficar mais interessante –e estimulante. 104
www.grit.com.br
Do lado de dentro de um sorriso Onde nasce a alegria, o contentamento com o mundo, e o que podemos fazer para tê-la bem pertinho de nós coluna
Cris Guerra
ilustração
Willian Santiago
Se pararmos para pensar, é contraditório que o gesto humano de mostrar os dentes seja sinônimo de abrir uma janelinha da alma. O homem é o único animal que mostra os dentes em sinal de alegria. As outras espécies, em sua grande maioria, fazem-no para avisar que não estão de brincadeira. Há exceções, como o chimpanzé, que faz algumas expressões parecidas com as nossas para demonstrar descontração –nada que possamos chamar de alegria. Nem mesmo a “gargalhada” da hiena tem a sinalidade de expressar riso ou simpatia. Por outro lado, não é por sermos racionais que a nossa alegria tem receita. O sorriso aparece porque a alegria já está ali e pronto. Talvez seja por isso que algumas vezes é difícil ficar alegre no Natal. Essas datas “programadas para nos fazer sorrir” costumam dar um nó na cabeça. E como a alegria é uma transgressora nata, não aparece forçada, não está nem aí para a foto; ao contrário, adora bagunçar o cabelo e fazer careta. Certinha é a última coisa que uma alegria é. A arcada pode até ser alinhada, mas é no defeito que mora o selo de autenticidade de um sorriso: espontâneo, torto, escandaloso –se for perfeito estraga tudo. Precisamos aprender a reconhecer essa sensação no momento em que ela acontece, em lugar de só notar quando ela nos falta. E compreender, de uma vez por todas, que a alegria tem um quê de anarquista. Não quer dominar o mundo nem se mete na vida alheia. Melhor seria chamar quem está alegre de contente –veja você que palavra linda. Se o alegre é bonito, o satisfeito é meio esquisito e o feliz anda meio desgastado pelo uso, já o contente diz tudo. Palavra plena, repleta, contida do suficiente. De hoje em diante, quero ficar contente. Melhor que alegre ou feliz. Olhar em volta e reconhecer: tenho motivos. Sempre tenho.
105
WILLIAN SANTIAGO 106
www.grit.com.br
Um nome, um artista. Genial e inesquecível texto
Mariana Montes
Cresci cercado por mulheres fortes e isso sempre inspirou meu trabalho” Willian Santiago foi um designer e ilustrador renomado e de reconhecimento internacional de apenas 30 anos. Nascido em Londrina, estudou na Universidade Estadual de Londrina. Conhecido internacionalmente pelas obras repletas de cores vibrantes e reprodução digital de pinceladas e texturas naturais, Willian ilustrou diversos livros, revistas e campanhas publicitárias. Dentre as suas obras está o livro ganhador do Prêmio Jabuti de 2017, Kidbook, pelas ilustrações do primeiro livro infantil de Luis Fernando Veríssimo, chamado O Sétimo Gato, que era parte da Coleção Itaú Criança. A capa do romance A Visão das Plantas, da angolana Djaimilia Pereira de Almeida também foi um trabalho seu. Além disso, Willian tinha uma produção autoral definida por ele como “um universo colorido e lúdico cheio de brasilidade” e acompanhada, apenas em seu Instagram, por mais de 70 mil seguidores. Nela, víamos a influência dos cordéis, do seu amor pelas plantas, que julgava místicas e utilizava “sempre que podia”, e a força das figuras femininas que tanto admirava. Suas obras homeanageavam muito o cenário brasileiro, com a nossa flora exuberante e nossa diversa fauna, como pássaros, macacos e onças. Ele deixará em seu legado um imenso carinho à sua terra natal e à todo o Brasil, com grande amor a suas origens e estará em nossos corações. As grandes conquistas de sua carreira que alcaçaram níveis internacionais são resultados de um trabalho único e extraordinário de Willian Santiago.
107
ÁRIES
GAFANHOTO LUNÁTICO
21/3 a 20/4
texto
Vitor diCastro
Pronto para mais um gafanhoto lunático, pequeno gafanhoto? Desta vez, parece que os astros querem mesmo que nossos artistas trabalhem bastante, usem muita criatividade, ganhem muito dinheiro e brilhem mais que o Sol! Para esse bimestre, vejo muitas good vibes e muitas movimentações nas relações amorosas, então se joguem! A seguir confiram as nossas previsões do bimestre para nossos amados gafanhotos! 108
www.grit.com.br
Venda sua arte pequeno gafanhoto! Essa é sua hora de brilhar! Com a sua lua entrando na fase Nova, é a indicação certa para se concentrar nas finanças e melhorar seus ganhos! Aproveite e se organize, Marte e Urano vão dar o maior apoio para isso. No trabalho, suas iniciativas serão bem-sucedidas e você vai contar com criatividade abundante. Good vibes, criatividade e muitos contatinhos, no amor, te resumem.
TOURO 21/4 a 20/5
Se tem alguém que estará brilhando mais que o Sol é você gafanhoto! A Lua se associa ao Sol em seu signo, trazendo um período perfeito para você parar de arranjar desculpas e despertar o grande artista que há dentro de você! O Universo está te dando uma empurradinha (ou um grande empurrão) e te dando mais carisma, voz ativa e criatividade. Não desperdice! Faça arte, não faça guerra.
GÊMEOS 21/5 a 20/6
Xô problema, xô desgraça! Tá na hora de desenrolar esses assuntos complicados e ficar logo só na tranquilidade! Mercúrio e Saturno estão em paz, favorecendo sua saúde e elevam o clima de harmonia no lar. Urano, está te dando garra e criatividade para você melhorar seus ganhos, então aproveite! E no amor, Vênus segue lindo, leve e solto em seu signo, destacando seu charme e seducência! Paz e amor te definem gafanhoto!
CÂNCER 21/6 a 21/7
Meu pequeno gafanhoto, o Universo está te trazendo muitas good vibes na sua vida e nas suas interações sociais. O Sol está incentivando seus objetivos e avisa que o momento é oportuno para colocar seus planos em prática. Marte, que segue em seu signo, forma aspecto positivo com Urano, destacando seus talentos e impulsionando suas conquistas na carreira! Então trabalhe meu artista! Good vibes e hard work é o seu maior mantra, não os ignore.
LEÃO
22/7 a 22/8
Se depender das estrelas, já deu certo para você pequeno gafanhoto! A Lua soma forças com o Sol enviando vibes poderosas para você, com mais visibilidade e prestígio, então se joga na arte! O Sol também troca likes com Netuno, fortalecendo a sua saúde e sua seducência. Pode se achar a vontade gafanhoto, porque ninguém te segura com tanto poder!
VIRGEM 23/8 a 22/9
A vida não anda fácil para você pequeno gafanhoto! Mas eu trago notícias melhores, a Lua fecha parceria com o Sol, dando sinal verde para você começar coisas diferentes que podem te trazer muita realização. Além disso, Marte te trará mais alívio e você vai poder escolher fazer arte ao invés de fazer guerra! No amor, fique mais em paz, sua vida já está bem cheia agora. Respire, expire e medite!
LIBRA
23/9 a 22/10
Você é o pequeno gafanhoto do amor! Sedução e contatinhos são seus sobrenomes. Aproveite que Marte e a Lua fecham acordo e te dão ainda mais poder no amor! Porém, quem tem sorte no amor, não tem sorte no jogo, então se livre de pepinos para ficar só na good vibes! Júpiter desembarca no setor da saúde e da prosperidade, então aproveite! Ao invés de arte, faça amor e não faça guerra.
ESCORPIÃO
23/10 a 21/11
Um gafanhoto de negócios! A Lua e o Sol te dão uma ajuda para firmar acordos! Júpiter desembarca em seu paraíso astral, anunciando um período glorioso pela frente e os setores mais privilegiados serão o financeiro e o amoroso. Então pegue o pincel e produza! Terra do amor à vista! Marte vem te dizer que o amor está para bater na sua porta! Seguuura!
SAGITÁRIO 22/11 a 21/12
Esse pequeno gafanhoto é sinônimo de saúde! A Lua fecha com o Sol e eleva a sua vitalidade física e mental. Suas habilidades vão sobressair, seus esforços serão valorizados e podem dar em ganhos. E não é só isso! Uma onda de good vibes vai tomar conta do seu lar e das suas relações, então se joga! No romance, Mercúrio e Saturno mandam ótimas vibes, favorecem o diálogo e garantem que você e o mozão estarão em perfeita sintonia. É muita sorte para um gafanhoto só!
CAPRICÓRNIO 22/12 a 20/1
O escolhido do Universo! O gafanhoto caprica está com tudo a seu favor, seu paraíso astral, sinal de que seus caminhos estarão abertos e os seus interesses vão fluir às mil maravilhas.Seu poder de sedução vai ficar no auge e você pode ser alvo de muita paquera: vai ter crush disputando sua atenção, seu coração e seu sucesso será absoluto. Mercúrio e Saturno também formam aspecto maravilindo, blindando sua saúde, suas finanças e os assuntos de trabalho. Com todo esse poder, você agora é o Rei Gafanhoto!
AQUÁRIO 21/1 a 19/2
Paz e amor né gafanhoto? Os assuntos domésticos e familiares estarão na ordem da semana e quem avisa é a Lua, que se alia ao Sol. Tudo indica que você terá uma porção de coisas para fazer e resolver com os parentes e o mozão nestes dias, mas vai contar com bons estímulos dos astros.O astro da prosperidade vai duplicar sua sorte com grana e promete expandir sua criatividade, deixando sua mente ainda mais afiada! Consciência tranquila e muita arte é a fórmula perfeita para você!
PEIXES
20/2 a 20/3
Sem crise gafanhoto! Se você tem assuntos pendentes, mal-entendidos e pontas soltas para resolver com alguém, aproveite essa semana, meu bombonzinho! Na saúde, a energia solar vai elevar seu vigor e bem-estar. Em matéria de grana, Marte manda as melhores energias ao trocar likes com Urano e garante um período positivo para os seus ganhos. No trabalho, vai contar com a determinação e coragem de que precisa, então sai pra lá preguiça e olá artista! 109