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Nº 1 | JUN 2024 | R$ 35,00 TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA...

Querido leitor, Você está perdido? Se sim, estamos aqui para te ajudar. Bem-vindo à Revista Alexy!

Este é um espaço seguro e acolhedor, criado especialmente para apoiar homens héteros que convivem com ideias ultrapassadas, como aquela de que homens não podem chorar. Vamos te incentivar a explorar seus sentimentos escondidos. Estamos aqui para dizer que você não está sozinho. É hora de mudar essa história, e queremos estar ao seu lado.

Na Alexy, somos como uma amiga conselheira, pronta para te ouvir, aconselhar e, acima de tudo, te informar. Queremos proporcionar um espaço onde você possa se sentir à vontade para ser quem realmente é, sem medo de qualquer tipo de julgamento.

Então, relaxe e aproveite a leitura. Estamos aqui para acolher, conversar e caminhar ao seu lado, sempre com um sorriso no rosto e uma mão amiga pronta para ajudar. Juntos, podemos desafiar e mudar os estereótipos que nos prendem. Vamos nessa?

ESPM 2024.1

Projeto Integrado 3° semestre

Projeto editorial

Ana Luisa Mustafá

Helena Lacombe

Julia Butturi

Julia Fontes

Lara Bocchini

Lina Guessi

Projeto III

Marise de Chirico

Produção Gráfica

Mara Martha Roberto

Cor Percepção e Tendência

Paula Csillag

Infografia

Marcelo Pliger

Ergonomia

Auresnede Pires

Carolina Bustos

Marketing Estratégico

Leonardo Aureliano

Finanças Aplicadas a Mercado

Alexandre Ripamonti

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ANA LUISA TORRES

Jornalista, publicitária, mãe e militante de questões femininas nas horas (nunca) vagas

MIHAI TURCULET

Renomado fotógrafo, formado pela Universidade Estadual da Moldávia

MAUD FERNHOUT

Formada em psicologia, fotografia e antropologia, atualmente trabalha no Fotoacademie

RONALDO LEMOS

Advogado, professor e pesquisador, especialista em temas como tecnologia e mídia

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Os homens estão morrendo porque não falam 20 22 24 34

Se alimentar bem

7 dicas de como melhorar a dieta vegetariana para quem treina

Fala como homem

Mas o que é falar como homem?

Se relacionar

David Bowie abriu o jogo sobre sua sexualidade

46 36 54 44 56

Se cuidar

Você já fez o seu checkup?

Pai presente Dedicação e compromisso

97% dos homens

Se veêm como o Brad Pitt

Se conhecer

O homem Infantil

Se conhecer

Várias masculinidades e a importância da pluralidade

MIHAI TURCULET MAX HIBERSCHBERGER

66 68

Se alimentar bem

Proteína e carboidrato: quanto você deve comer para ganhar músculos

Meu amigo ser gay me faz gay?

70

Se relacionar

Sem roupas nem pudor -uma entrevista em casal

78

Negro Drama a ferida, a chaga a procura da cura

80 88 90

Se cuidar

A maioria dos homens reconhece que precisa tratar melhor a saúde

Revelando o lado macho dos homens que choram

Hoje não, querida não estou no clima

98

Se conhecer

A leveza do pai separado

100

Se conhecer

Pesquisa mostra que homens não se acham machistas

MAUD FERNHOUT ANGEL JACKSON

Explorando a Noite Paulistana

o cigarro e a impotÊncia sexual

No pênis, o volume sanguíneo precisa chegar em quantidade suficiente ao que chamamos de corpo cavernoso para que ele aumente o seu diâmetro e determine assim a ereção. Ocorre que, no fumante, esse fluxo está continuamente diminuído porque a nicotina - a mais famosa das 4.720 substâncias contidas na fumaça de um cigarro - é um potente agente vasoconstritor que atua diretamente na musculatura do vaso, produzindo uma importante redução no calibre da artéria cavernosa, responsável pela irrigação peniana. A redução da luz dos ramos dessa artéria em 25% já é suficiente para provocar a disfunção erétil.

Prédio antigo no centro, vista para a cidade, terraço ao ar livre, boa acústica. Repleto de atrações para paulistanos e visitantes da cidade. As filas se formam no térreo desde de a abertura. O bar é localizado no Edifício Carlos Rusca. Não se trata exatamente de um lugar para ficar sentado. Há algumas mesinhas baixas, outras altas, e uma área externa, ou, então, se postar em frente à “cabine” de DJ, que tem atrás uma janela com vista para a cidade. Os gêneros de música passeiam por eletrônica, jazz, soul e brasilidades,.

O Tan Tan é aquele tipo de endereço que dificilmente um paulistano antenado em gastronomia não tenha ido ao menos uma vez na vida. É constante nas listas de melhores bares de coquetelaria da cidade e do mundo, Thiago Bañares, desde que abriu as portas, um menu ousado, e marcante. O bar ficou em 61º lugar na renomada premiação mundial TOP 500 BARS Apesar de ter a fama de bar, é um bar/ restaurante. Erra feio quem só vai para beber. Por favor, não cometa esse erro e vá com o estômago preparado para ambos.

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Tan Tan Bar
IMAGEMGETTY IMAGES REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

os famosos drinks dos filmes

Muitas bebidas dispararam em popularidade em bares e restaurantes depois de aparecerem na tela grande. De todas as bebidas que se tornaram associadas a cenas e personagens de filmes, os coqueteis podem ser os mais icônicos. Você encontrará coqueteis aprimorando o momento ao longo da história do cinema, quer esteja assistindo a um filme glamoroso ou a uma série de televisão moderna.

Aqui, iremos te ensinar duas receitas dos icônicos drinks: o Vodka Martini, o clássico drink favorito de James Bond, e o Old Fashioned, frequentemente presente nas mãos de Don Draper em “Mad Men”. Preparar esses coquetéis é mais simples do que parece , trazendo um toque cinematográfico à sua próxima reunião com os amigos e família.

Seguindo essas receitas, você poderá saborear um Vodka Martini impecável, agitado, não mexido, como 007, ou um Old Fashioned perfeitamente equilibrado, com a sofisticação característica de Don Draper.

VODKA MARTINI

Ingredientes:

60 ml de gim

20 ml de vodca

Quer deixar um pouco mais fácil?

Acesse os vídeos que ensinam as receitas dos clássicos drinks.

10 ml de vermute branco (ou Lillet)

Casca de limão-siciliano

Modo de preparo:

Coloque gelo no copo de martini para deixá-lo gelado enquanto você prepara a bebida. Encha a coqueteleira com gelo até a metade. Despeje o gim, a vodka e o vermut. Feche bem a coqueteleira e agite vigorosamente. Remova o gelo do copo de martini. Coe a mistura da coqueteleira para o copo de martini resfriado. Decore com a casca do limão.

OLD FASHIONED

Ingredientes:

45 ml de bourbon

2 gotas de bitter Angostura

1 cubo de açúcar

Lances de água mineral

1 fatia de laranja ou cereja fresca

Modo de preparo:

Coloque o cubo de açúcar em um copo baixo e hidrate com o bitter e a gotas de água. Macere. Encha o copo com gelo e coloque o uísque. Misture levemente.Finalize com uma fatia de laranja, um twist de casca de laranja ou com uma cereja.

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DIVULGAÇÃO POR MARKETVIEW
VODKA MARTINI OLD FASHIONED

BYD Shark, a nova picape híbrida

Chega ao mercado a BYD Shark, primeira picape híbrida plug-in da marca. O novo modelo é equipado com a Plataforma DMO Super Híbrida Off-road. É a primeira vez que um carro fabricado pela BYD é lançado fora da China e a BYD Shark promete agitar o mercado com tecnologias avançadas e diversas qualidades que vão conquistar os consumidores. O lançamento da BYD Shark teve como tema “Poder Híbrido, Espírito Selvagem”. O evento apresentou uma exibição imersiva de experiências e testes em cenário off-road, transformando o pavilhão em um “parque temático tecnológico” repleto de diversão e interações. Foram mais de 800 convidados para o lançamento da BYD Shark na Cidade do México.

Como um modelo híbrido plug-in, a BYD Shark, ostenta modos de energia dual de combustível e elétrico, alcançando uma notável resistência. Com uma autonomia de 840 km pelo ciclo NEDC, possui autonomia puramente elétrica de 100 km, ideal para deslocamentos urbanos ou viagens mais longas. A picape conta com bateria blade de 29.6 kWh. Com carregamento rápido de 30% a 80% em apenas 20 minutos.

Além de seu desempenho excepcional e experiência de direção, a BYD Shark prioriza a segurança. Integrando a Bateria Blade a um chassi de aço de alta resistência através da tecnologia CTC (cell to chassis), ela garante uma proteção elevada. A Bateria funciona tanto como unidade de energia quanto parte da estrutura do veículo. Ainda em termos de segurança, um aumento de 22% na rigidez torsional do corpo melhora significativamente a dirigibilidade e a estabilidade, reforçando a confiabilidade em terrenos off-road. OS usuários podem gerenciar remotamente seus veículos por meio de aplicativo BYD, como ativar o ar-condicionado e ajusta a ventilação e o aquecimento dos acentos.

As características da picape BYD Shark divulgadas podem variar de acordo com cada país.

Quando se trata de cuidados com a pele, muitos homens se sentem perdidos, sem saber ao certo por onde começar. No entanto, o processo de skincare masculino contribui significativamente para a autoestima do indivíduo. Limpeza, hidratação, tonificação e controle de oleosidade não precisam fazer parte do dia a dia apenas das mulheres. O cuidado com a pele, traz uma série de vantagens: redução da oleosidade; diminuição de espinhas e cravos; menos pelos encravados e inflamados. Claro, sem falar no importante momento de autocuidado e na autoestima, que não tem gênero!

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o valor do skincare masculino
POR ALINE ERTHAL
IMAGEMGETTY IMAGES
DIVULGAÇÃO/ BYD

novo hotel de luxo

Nos últimos anos foram adicionados novos hotéis de luxo no roteiro de São Paulo. O tradicional Fasano inaugurou uma nova unidade próxima a avenida Faria Lima, a luxuosa rede internacional Rosewood abriu suas portas na Cidade Matarazzo, e agora próximo à avenida Rebouças foi inaugurado o Pulso Hotel.

No entanto, antes de mencionar os quartos, decoração e amenities, o hotel quer se destacar pela curadoria de arte, música e gastronomia, e ser um ponto de visita para moradores de São Paulo, e não apenas aos hóspedes.

O hall com abertura para a rua Henrique Monteiro funciona como uma grande sala de estar com diversos sofás, com um jardim de inverno “Nosso objetivo é trazer o melhor da cidade para dentro do hotel, colocando em convivência as artes, o design, a música e a gastronomia”, diz Otávio Suriani, CEO do Pulso.

O hotel possui certificação da coleção independente global de hotéis de luxo, Preferred Hotels & Resorts e as diárias variam de 2.000 a 2.500 reais.

Nos próximos anos, o grupo pretende inaugurar uma unidade próximo ao shopping Vila Olímpia.

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REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

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Sete dicas de como

se conhecer coluna assinada se conhecer coluna assinada

Melhorar a dieta vegetariana para quem treina

MESMO PARA QUEM AINDA COME CARNE, MAIS VEGETAIS MELHORA A PRODUTIVIDADE ESPORTIVA

POR JADER PIRES

Quando eu comecei a praticar mais esportes, me vi com a necessidade de começar orientação também com a nutricionista, pelo simples fato de que a coisa não estava rendendo como eu gostaria, estava mais difícil de avançar com os treinos e a própria produtividade nas coisas que eu fazia. E daí que a coisa caminhou para uma rotina com menos carne. Naturalmente. Quando se começa a melhorar a alimentação, vai incluindo mais vegetais e menos porções de carne. Essas dicas aqui embaixo não servem apenas para vegetarianos, mas pra todo mundo que pode se alimentar com mais qualidade e com menos carne.

1. Mapeie sua dieta

Você não precisa mudar completamente sua dieta para fazer a transição para um estilo de vida mais natural. Comece mapeando os alimentos que já consome: quais são os macronutrientestos, proteína e micronutrientes?

Substitua produtos de origem animal por outros de origem vegetal que tenham perfil nutricional semelhante, prestando atenção aos micronutrientes que são mais facilmente encontrados em fontes animais, como vitamina B12, ferro, zinco e cálcio.

2. Explore o supermercado

Desafie a si mesmo a provar uma fruta, legume ou outro vegetal novo a cada semana. Isso vai obrigá-lo a sair da zona de conforto (de um jeito positivo) e experimentar receitas diferentes. Além disso, você poderá descobrir novos sabores que podem se tornar os seus favoritos, tornando suas refeições muito mais interessantes.

3. Misture tudo

“Mas e a proteína?” Há uma razão para vegetarianos e veganos ouvirem essa pergunta o tempo todo: produtos de origem animal contêm os nove aminoácidos essenciais necessários para a construção de proteínas.Fontes vegetais? Apenas quinoa e soja oferecem isso. Para incluir proteínas suficiente na dieta, combine alimentos diversos: feijões e arroz, lentilha e grão-de-bico com substitutos da carne, como tofu e seitan (espécie de carne feita com a proteína do glúten).”

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GETTYIMAGES
IMAGEM

4. Sem carne, por favor!

Não me tornei pessoa vegetariana da noite para o dia. Dê pequenos passos para seguir essa escolha de vida. Escolha uma refeição na semana para ser vegetariano.

Se não acredita (ainda) nas suas habilidades culinárias vegetarianas, recorra aos profissionais. Peça a opção vegetariana no restaurante a fim de expandir seu paladar.

5. Prepare com antecedência

Reserve uma hora no fim de semana para preparar uma grande salada ou prato à base de vegetais e separe em porções para organizar o almoço e o jantar ao longo da semana para conseguir manter o foco.

6. Seja malandro

Se você não ama vegetais, não se preocupe: boa parte dos vegetarianos não é fã deles também. Acrescente folhas verde-escuras, como espinafre ou couve, no seu suco matinal. Você vai ingerir uma dose de nutrientes e a fruta vai mascarar o sabor.

7. Aventure-se

Graças aos pratos étnicos que existem nos livros de culinária, é possível garimpar um mundo de novos sabores. A grande variedade de temperos e os diferentes modos de preparo mantêm tudo mais fresco e criativo.

Experimentar essas receitas não só diversifica a dieta vegetariana, mas também demonstra como é possível obter refeições completas e satisfatórias sem a necessidade de produtos de origem animal. Além de ser uma jornada culinária, é uma forma de adotar uma alimentação mais sustentável e consciente, honrando as práticas alimentares que muitas culturas têm aperfeiçoado por séculos. Essa aventura ao descobrir novas receitas, quebra a rotina da cozinha do dia a dia. No final das contas, explorar esses sabores diferentes é uma maneira divertida de expandir nosso próprio repertório culinário e trazer mais equilíbrio e consciência para nossa alimentação.

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OS HOMENS ESTÃO morrendo PORQUE NÃO falam

O SUICÍDIO É A PRINCIPAL CAUSA DE MORTE ENTRE OS HOMENS NA INGLATERRA E PAÍS DE GALES NAS IDADES ENTRE 20 E 34 ANOS

CHRISTOS REID ILUSTRAÇÃO MAX HIRSCHBERGER

As taxas de suicídio entre homens são as maiores no Reino Unido desde 2001. As Estatísticas Nacionais mostra que nos últimos trinta anos, o equilíbrio dos gêneros em relação ao suicídio mudou de 63% de suicídios de homens em 1981 para 78% em 2013. Os homens estão se matando numa taxa que supera bastante a das mulheres, e essa questão não está sendo tratada.

O suicídio é a principal causa de morte entre os homens na Inglaterra e País de Gales nas idades entre 20 e 34 anos. Isso é efetivamente assustador – não deveria haver um escritório de estatísticas divulgando a informação de que a causa principal de morte numa faixa demográfica é o suicídio – que mais frequentemente ocorre por enforcamento.

O problema do silêncio

Há mais risco de suicídio entre homens, diz o professor do Grupo de Aconselhamento Nacional para Prevenção do Suicídio na Inglaterra, Louis Appleby, porque eles “relutam em buscar ajuda”, além de serem mais propensos a beber muito e a impulsos de autodestruição. O problema não vai diminuir tão cedo, e mesmo internacionalmente – cada um dos países do mundo se depara com suicídios de homens superando os de mulheres, e isso ocorre porque os homens não falam. Ou, mais do que isso, porque eles são treinados para não falar.

A socialização dos homens, é importante compreender, é baseada em homofobia, sexismo e uma incrível pressão da mídia e dos outros homens para apoiar estas mentalidades. Desde o nascimento, nos é ensinado para sermos fortes, inabaláveis perante a adversidade, e nunca mostrar qualquer tipo de sensibilidade ou fraqueza, já que receberá o rótulo de “gay”, “triste” ou uma variedade de outros termos pejorativos que querem dizer algo como “feminino: que nem uma mulher”.

É por isso que feministas muitas vezes se deparam com a questão de ensinar aos homens que o patriarcado é tão prejudicial para os homens quanto para as mulheres – e que isso cria uma prisão para as duas identidades de gênero, enquanto que, além disso, prejudica muitas outras identidades. O patriarcado não é apenas um clube privilegiado para gurizões – trata-se de um conceito regimentado controlado de identidade masculina, que força sobre os homens a ideia de que seu silêncio estoico é uma parte tão inerente de quem são que abandoná-la significaria a rejeição perante os círculos sociais.

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Muitos homens perdem a oportunidade de abraçar sua individualidade e autenticidade

Há, porém, expressões de identidade masculina que são aceitáveis por nossa sociedade patriarcal, por exemplo a raiva, o ódio e o desprezo pelas mulheres, a homofobia e a cultura dos manos. É fácil reconhecer estas coisas por todo lado – até mesmo outros homens feministas que conheço tem o hábito de se dirigir para uma audiência predominantemente masculina com “rapazes” ou “camaradas”, e assim excluindo completamente as mulheres da discussão sem nem perceber que é isso que está acontecendo. Porém estas expressões de identidade masculina são, quando muito comuns, tóxicas e autodestrutivas. Não há nisso nada de positivo – só aumenta um problema que já existe.

É ensinado aos homens que eles têm um Ponto de Ruptura, e que esse ponto envolve qualquer coisa, de uma briga de bar até violência doméstica. A mídia problemática nos ensina que, como homens, devemos aceitar a ideia de que para sermos Homens Fortes isso significa que algumas vezes nosso temperamento não vai estar à altura do problema em questão, e de alguma forma iremos externalizar isso – sempre justificados por conceitos como Mulher Provocante ou Aquele Cara que Passou dos Limites. Aos homens é ensinado que a violência é uma solução para conflitos, e que se permitir a expressão e abrir a válvula de pressão é o que acontece quando algo não pode ser parado.

O maior desafio da saúde mental é fazer com que as pessoas falem – parar com o silêncio. O silêncio é autodestrutivo. Eesorri enquanto você sofre, e no Reino Unido é um problema enorme – nosso Stiff Upper Lip (N. do T.: “lábio superior teso”, enfrentar a dificuldade com simples força de vontade, sem esmorecer ou reclamar, um valor inglês) se integrou no livro de regras do patriarcado de tal forma que a masculinidade ficou quase irreparavelmente ligada, com questões de saúde mental ligadas ao alto risco de suicídio. Ficamos em silêncio, e, sendo assim, morremos.

Os recursos tóxicos precisam ser abandonados

A maior questão que encaramos enquanto homens é ir além do medo da autoexpressão até um nível que nos permita conversar de forma saudável sobre nossos estresses, medos e traumas.

Tenho a boa fortuna de não me identificar como hétero – abandonei essa identidade e assim sou menos apegado ao conceito tóxico da identidade masculina do que o homem hétero médio. Mas são os héteros, creio eu, que encontram mais esse problema – estereótipos homofóbicos quanto a homens LGBTQ+ são forçados sobre os

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jovens héteros até um ponto tal que se expressar/aliviar pressão saudavelmente com moda, gêneros musicais ou mesmo cores que eles pessoalmente e instintivamente apreciem é visto como um abandono ou uma distorção de suas identidades. Não são apenas os homens gays que tem motivos para temer outra notícia de surra fatal na TV – é ensinado aos héteros que isso ocorre quando nos desviamos do modelo que o patriarcado determinou.

Se você olhar o conselho sobre sinais de sobreaviso quanto ao suicídio fornecido pela Fundação Americana de Prevenção ao Suicídio, você perceberá que ele começa com a análise de alguém expressando pensamentos suicidas. E esse é o problema principal, no que diz respeito aos homens suicidas – somos treinados a não falar, e assim uma fonte crucial de sinais de sobreaviso para aqueles que se importam conosco é completamente inútil. Assim precisamos tratar dessa questão – o problema de não haver conversa – em vez de tentar tapar buracos com meras adivinhações e julgar. Já tive amigos, amigos homens, que conseguiam falar sobre um histórico de ideação suicida. Já tive amigos homens que preferiam não falar sobre o assunto, mesmo que houvesse sinais muito óbvios, ao ponto de ser difícil não entrar em pânico mesmo que eles não manifestassem obsessão pela morte em público duas da madrugada. Então como derrubamos essa parede?

O primeiro passo é apagar o mito destrutivo de que as diferenças mentais entre homens e mulheres, inclusive a masculinidade tóxica que impede os homens de se expressarem adequadamente. Essa coisa de pensar que ‘homens são de Marte’ precisa ser erradicada para que possamos capacitá-los para falar sobre sua saúde mental. Mas é a sociedade e a mídia que reforça esses conceitos, e são essas duas áreas que precisamos cobrir. Precisamos falar dos benefícios para a saúde mental e da masculinidade positiva dos homens que se expressam, seja numa discussão de mídia social ou na narrativa de um show de TV.

O patriarcado promove a violência e reprime a expressão emocional, contribuindo para problemas graves de saúde mental

O que não ajuda são postagens tóxicas como esse conselho postado no eHarmony que sugere que os homens tem outra configuração cerebral, e que as mulheres devem cuidar das deficiências emocionais dos homens para evitar conflito. Isso não é produtivo – está se tratando os sintomas, e não a própria doença, e fico chocado e desapontado que um site de encontros propague visões tão antiquadas sobre relacionamentos entre homens e mulheres. Isso e a falta de pensamento “fora da caixa” no site da ASFP está piorando as coisas – as pessoas estão recebendo conselhos sobre suicídio que não se aplicam a situação tóxica em que os homens suicidas se encontram.

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Quebre o cadeado e sobreviva

Se você está lendo isso e é homem, por favor, me ouça – eu salvei minha vida ao finalmente me permitir conversar sobre as coisas. Passei de um estado em que internalizava tudo, incluindo minha própria ansiedade social, depressão e um TOC muito forte, ao ponto da total instabilidade, para um estado de maior calma, maior saúde e mais estabilidade.

Mas não é só sobre falar da saúde mental com amigos no pub – há recursos profissionais e gratuitos no sistema nacional de saúde. Se preferir, pode usar um convênio privado. Profissionais da saúde podem ajudar melhor e tudo é confidencial.

Estava sendo tratado devido a um TOC bastante grave e depressão moderada. Tenho um histórico de ideação suicida e de comportamento compulsivo com perda de qualidade de vida. E estou dizendo isso para você, eu sou homem. Agora permita-me mostrar meu progresso. As colunas são diversos testes que fiz antes de cada sessão para quantificar coisas quanto níveis de depressão, ansiedade e comportamentos obsessivo-compulsivos.

Viu os números caindo? E isso não ocorreu porque eu estava falando com amigos, ou com minha namorada –isso aconteceu porque estava falando com um terapeuta que foi capaz de sugerir e incentivar o engajamento em comportamentos construtivos que eu pude utilizar para melhorar minha situação. Minha depressão não foi tratada com o mesmo grau de sucesso do meu TOC, mas isso ocorreu porque eu estava me focando em meu OCD.

É importante que os homens compreendam que há lugares seguros onde eles podem se expressar e onde podem receber ajuda. Enquanto que os homens são encorajados pela sociedade para jamais demonstrar fraqueza, mesmo diante do prospecto de dano físico, o homem médio não terá problemas em ir para um hospital fazer uma cirurgia ou tirar uma perna. Mas a sociedade construiu uma imagem consolidada da saúde mental como algo imaterial por tanto tempo que não tratamos a questão da mesma forma – não vemos a depressão como algo com o mesmo valor do tratamento médico de qualquer outra doença. Quando uma doença não é tratada, pode passar de algo que incomoda até uma grande fatalidade numa questão de meses, e não é diferente com saúde mental. Os homens não buscam ajuda para suas cabeças, mesmo que estejam como que, metaforicamente, com uma hemorragia.

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Eu salvei minha vida ao me permitir conversar

Às vezes, precisamos deixar as lágrimas fluirem para liberar o peso que carregamos

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Sua espada é para lutar, não para se amparar

Uma das preocupações principais que vejo em homens engajados em conceitos tóxicos de masculinidade, é a ideia de que de alguma forma são mais corajosos porque não falam sobre sua depressão. Sua indisposição de se expressar, mesmo quando potencialmente pode salvar suas vidas, é quase o sinal de um herói, um homem que devemos seguir como exemplo.

Ouça-me, homem: não estamos falando de uma trincheira na Segunda Guerra Mundial. Você tem depressão. Essas duas coisas não são iguais, e me frustra ter que dizer de novo. Silêncio não é coragem, no que diz respeito à saúde mental. O silêncio nos isola. Quando as pessoas perguntam o que está errado com você, sim, há um risco de que sua resposta honesta pode desencadear uma série de comentários tóxicos e irrelevantes que bagunçaram com o seu psicológico.

Mas há pessoas que ouvirão, e que não são da área da saúde. Espaços seguros em seus grupos de amigos podem ser bastante cultivados. Pessoas com quem você se importa e que se engajam em pensamento progressivo e quanto à saúde mental o ouvirão, e se você precisar priorizar o encontro com esse grupo em detrimento daqueles que estoicamente seguem o oposto, então faça.

O clube secreto de entusiastas da autoajuda masculina

Descobri que os homens me procuram bastante em busca de conselhos de saúde mental. Costumo conceder muitas palestras focadas em minhas experiências no assunto, e sou um defensor público da educação e apoio para a saúde mental. Muitas vezes essas conversas começam de uma forma muito devagar e cautelosa, de forma parecida com aquela forma sorrateira na qual as pessoas na televisão compram drogas.

Estas conversas são comuns e importantes. Os homens falam uns com os outros sobre questões ligadas a seu próprio gênero, e o mesmo pode ser dito das mulheres. Mas com os homens, uma dessas questões específicas de gênero parece ser a forma peculiar com que tratam com problemas de saúde mental. Ser uma pessoa aberta a essas discussões e encontrar recursos e conselhos pode fazer uma enorme diferença, e uma vez que alguém os encontre, mais adiante no caminho de seu próprio processo de cura, outros homens podem encontrar apoio nessas pessoas. A coisa se espalha. A situação melhora. Compartilhar experiências e buscar apoio mútuo pode não só aliviar o fardo emocional, mas também encorajar mais homens a enfrentarem suas próprias batalhas.

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Falar sobre sua dor não é fraqueza, é o primeiro passo para a cura

Alguns homens tem o hábito de discutir questões ligadas a seus paus com amigos que tem genitais do mesmo tipo. Isso é interessante, não é? É um assunto tão pessoal, e ainda assim, não parecem se importar de falar sobre isso: seja alguma infestação de chatos, hábitos de limpeza ou simplesmente o cheiro de saco. Mas eles não discutem saúde mental. Novamente, isso é culpa da sociedade em que vivemos –paus são celebrados mais do que qualquer outra parte do corpo na história da espécie humana. Construímos enormes paus com janelas que as pessoas usam para fazer escritórios. A mídia fala de paus e de seu direito de entrar em Coisas que Não São Paus.

Mas o que não temos é algo equivalente para uma coisa tão pessoal quanto nossas emoções e saúde mental. Não há piadas positivas sobre saúde mental. Há poucas representações positivas de saúde mental na mídia voltadas para homens que precisam de ajuda. Breaking Bad é um ótimo programa, mas é sobre homens completamente incapazes de discutir suas fraquezas, ao ponto de que um homem cria um império de metanfetamina em vez de pedir aos amigos que paguem por seu tratamento de câncer. O mito do Homem Forte Que Está Morrendo está por toda parte, e não estamos o contrabalançando bem o suficiente. As representações positivas de saúde mental na mídia são essenciais para combater o preconceito e encorajar a busca de ajuda.

Mas homens conversam discretamente sobre seus paus, sobre suas namoradas, e sobre qual é o melhor jeito de fazer um pedido de casamento. São pequenas janelas para os corações justificadamente frágeis desses homens, e precisamos as escancarar e abrir mais janelas para lidar com suas depressões.

Você tem uma boca, por favor grite

Me preocupa que homens estejam cometendo suicídio em massa, muito por motivos completamente evitáveis. Preocupa-me que vivemos em uma sociedade em que as pessoas misturam a ideia de “deixe-me aqui com alguma munição e fuja você” dos filmes de ação com alguém se recusando a discutir a depressão por mero medo ao ponto de serem encontrados depois largados no chão.

É fundamental que todos entendam a importância de buscar ajuda e conversar. O estigma em torno da saúde mental precisa ser combatido para que ninguém se sinta envergonhado ou fraco por procurar apoio. Todos merecem viver uma vida plena e saudável, e isso inclui cuidar da saúde mental. Falar sobre nossos problemas não nos faz menos fortes; pelo contrário, nos ajuda a encontrar a força necessária para superar as dificuldades.

O mito do homem forte que está morrendo está por toda parte ‘‘
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Os homens, frequentemente retratados como criaturas temíveis, têm sido associados a um padrão de violência

Os homens são criaturas assustadoras com um hábito cada vez mais documentado de matar mulheres, homens gays, animais e outros homens de quem não gostam. Porém, precisamos também começar a documentar e perceber o fato de que há uma chance de 24% de que um jovem na Inglaterra ou no País de Gales perca a vida por suas próprias mãos.

Além dos atos de violência direcionada e a alarmante taxa de suicídio entre jovens homens na Inglaterra e no País de Gales, é crucial reconhecer as pressões que os homens enfrentam na sociedade. Normas rígidas de masculinidade, expectativas de sucesso financeiro e a repressão de emoções vulneráveis contribuem significativamente para o desespero que muitos homens sentem. A combinação desses fatores cria um ambiente onde os homens são frequentemente incapazes de buscar ajuda ou expressar suas dificuldades de maneira saudável, resultando em comportamentos autodestrutivos. Esta dinâmica complexa sublinha a necessidade de uma maior compreensão e documentação das questões específicas que afetam os homens, para que possamos abordar de forma eficaz as raízes dessa crise silenciosa. Ser deprimido, ser até mesmo suicida, não é uma força, e nem é uma fraqueza. É apenas o que é, da mesma forma que fica frio no inverno. Quando passo por fases ruins

de depressão e ansiedade, sento no chuveiro sob a água quente por meia hora mais ou menos, ou como um pote de sorvete.Porém, se isso fosse tudo que eu fizesse – se eu como homem fizesse essas coisas e nunca contasse a ninguém como me sinto, é bem possível que eu já estivesse morto. Há uma boa chance de que eu nunca teria encontrado a pessoa com quem vou casar, ou sua filha. Há uma boa chance de que meus pais tivessem que ter me enterrado – e como alguém que viu a própria mãe enterrar um de seus filhos que tirou a vida.

Os homens fazem o que fazem porque querem ser fortes. Não morrer. Viver. Então conversem. Busquem ajuda. Mesmo que discretamente. Lutem contra os estereótipos e o preconceito que deixam os homens em silêncio. E esse conselho é para todos, não apenas para os homens. O câncer não é o que mais mata os homens, mas comparado ele com o suicídio, vemos que há muito mais campanhas de caridade focadas em vencer tumores. Podemos consertar essa disparidade. A força está na coragem de reconhecer nossas fraquezas. Podemos derrubar o patriarcado e salvar o máximo de pessoas. Homens: amem a si próprios. Esse dia nublado e escuro não é a realidade inteira. Eu os amo

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FOTOGRAFIA POR ZIGGY STRADUST

DAVID BOWIE ABRIU O JOGO SOBRE SUA SEXUALIDADE

EM

ENTREVISTA REVELADORA

DAVID BOWIE DISCUTE SUA SEXUALIDADE, DESAFIANDO AS NORMAS SOCIAIS E INFLUENCIANDO A CONVERSA SOBRE

IDENTIDADE SEXUAL NA CULTURA POP

Foi em 1972 do jornal Melody Maker,a que o versátil cantor falou, de forma direta e sincera, sobre o assunto, em entrevista à Playboy feita por Cameron Crowe. Os trechos da entrevista em que David Bowie fala sobre sua sexualidade, e sobre como ele a explorou, você confere na entrevista feita abaixo.

ALEXY: O quanto de sua sexualidade é uma farsa?

É verdade — eu sou bissexual. Mas eu não posso negar que me aproveitei disso muito bem. Acho que foi a melhor coisa que me aconteceu na vida.

Por que foi a melhor coisa que te aconteceu?

As meninas sempre presumiam que eu era heterossexualmente virgem, não sei por quê. Então tinha todas aquelas garotas querendo me puxar para o canto: “Vamos lá, David, não é tão mal assim... deixa eu te mostrar!” Eu sempre me fazia de bobo. Por outro lado — estou certo que você quer ouvir sobre o outro lado também — aos 14 anos, de repente, sexo se tornou a coisa mais importante para mim. Não importava com quem ou como fosse.

Mesmo assim você nunca foi visto ficando com um homem. Por quê?

Ó céus, eu já passei dessa fase faz tempo. Por um tempo foi meio a meio, atualmente só fiquei tentado quando fui para o Japão. Tem tantos novinhos bonitinhos por lá. Novinhos? Não tão novinhos, de 18, 19 anos. Eles têm uma mentalidade ótima: são gays até os 25, depois se casam e tem um monte de filhos.

Por que, numa época em que ninguém no rock falava sobre o assunto, você ousou explorar sua bissexualidade?

Eu diria que os Estados Unidos me obrigaram a isso. Alguém me perguntou numa entrevista, acho que em 71, se eu era gay. Eu disse: “Não, eu sou bissexual”. O entrevistador não sabia o que aquilo significava, então eu expliquei para ele e aquilo foi tudo publicado. É tão nostálgico agora, né? Aquele foi um bom ano americano – sexo ainda era chocante e todo mundo queria ver o exótico. Mas eles eram tão ignorantes em relação ao que eu fazia. Havia muito pouco diálogo sobre bissexualidade ou orgulho gay antes de eu aparecer. Sem dúvida, eu coloquei aquela coisa toda em pauta. Eu não vi uma única vez a palavra gay quando fui para a América pela primeira vez.

Bastou um pouco de exposição e alguns boatos pesados sobre mim para os gays dizerem: “Nós descomungamos David Bowie.” E de fato fizeram, com certeza. Eles sabiam que eu não era aquilo pelo qual eles estavam lutando.

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POR ANDRÉ GARCIA

Mas o que é falar “como homem”? fala como homem!

HOMENS TÍMIDOS, COM VOZ FINA OU MENOS IMPONENTE E AUTORITÁRIA... NEM A VOZ ESCAPA DAS COBRANÇAS PARA SERMOS CONSIDERADOS “HOMENS DE VERDADE”

POR ADRIO ROBERT ILUSTRAÇÃO JOÃO MACHADO

nós homens recebemos muitas ordens, desde a infância, para sermos vistos como “homens de verdade”, “Senta que nem homem!”, “Anda que nem homem!”, “Se vista que nem homem!”, “Faça que nem homem!”. E mais importante, temos também uma outra ordem que não pode ser esquecida: “fala como homem!”

Falar com voz fina ou ser gay: alguma dessas coisas te faz menos homem? Esse é um ponto interessante pra gente pensar, né?! E se esse homem de voz mais fina for mesmo gay? Acho que com essa pergunta simples a gente começa a encontrar o que está escondido por trás dessa cobrança. Há ali um dedinho de homofobia. Os homens gays tendem a não serem vistos como “homens de verdade” e por isso toda essa cobrança em torno do homem para que cada elemento do seu corpo grite que ele é HOMÃO, MACHO ALFA.

Definitivamente essa cobrança por uma masculinidade evidente, que salta aos olhos, aquela que todo mundo olha e diz “É homem!”, está por todos os cantos. Eu sou um homem gay, moro em Mandirituba, região metropolitana de Curitiba no Paraná. Filho de produtores rurais, minha vida até os 14 anos foi a roça. Ainda moro em um bairro rural. Até meados dos anos 2000, nossas TVs aqui em casa eram em preto e branco e eu só fui ter internet em casa no ano de 2017, depois de me formar na faculdade e conseguir uma bolsa de mestrado.

Um menininho quieto, tímido e meio solitário… As minhas primeiras memórias escolares já são recheadas de cobrança por masculinidade ou acusações de que eu não a tinha: “Boiola!”, “Viadinho!”.Tudo isso fazia com que eu me aproximasse mais das meninas que não me julgavam dessa forma. Bem, era um prato cheio para os meninos virem pra cima: “Menininha!” “Menininha!”.

Você também percebeu como desde pequenos, nós homens, somos ensinados a odiar as mulheres e a feminilidade? Esses garotos usavam a feminilidade como xingamento, sabendo que isso tinha potencial para incomodar um outro garoto, que ficaria bravo por não querer ocupar um lugar feminino ou que se parecesse.

No artigo “Contribuições dos estudos de gênero às investigações que enfocam a masculinidade”, a pesquisadora Amanda Oliveira Rabelo (2010) vai nos dizer que, dentro dessa lógica de cobranças de virilidade até na voz, ser homem: “Está em torno de não ser homossexual, não ser afeminado na aparência ou nas maneiras”Daniel Wezer-Lang (2001) pensando nessa construção do mas culino, também vai concordar que essa masculinidade

@alexy 36
Num mundo onde ‘masculinidade’ é medida pela profundidade da voz, as vozes finas são muitas vezes silenciadas pelo peso do machismo.

sob pressão é construída para: “Rechaçar tudo o que é associado ao feminino, sob pena de ser também assimilado a uma mulher e ser tratado como tal.”

E como eu não tô sozinho nessa, o pesquisador de masculinidades, Michael Kimmell (1998), pensando a produção dessa masculinidade imposta como ideal, vai nos fazer refletir que: “Dois dos elementos constitutivos da construção social das masculinidades são o sexismo e a homofobia.” O que isso quer dizer? Em miúdos… Toda essa performance cobrada de nós homens, de corpo, voz e comportamento, é para que não sejamos comparados e confundidos com mulheres e homossexuais. Já que esses dois lugares, o feminino e o homossexual, são vistos ainda, por muita gente, como lugares inferiores.

Na roça, na escola, no aplicativo de relacionamento…

A masculinidade da roça é vista dentro desse estereó tipo de homem forte, rústico, que levanta qualquer peso, enfrenta qualquer animal, aguenta qualquer dor e, geralmente, tem baixa escolaridade. Eu, ma gricelo, quieto, sem jeito pra nenhum esporte, não aguentava carregar nenhum peso, gostava de andar com as meninas e me dedicava aos estudos… Viado, Bichinha, Boiola. Anos e anos ouvindo isso.

Para piorar a minha situação, eu ainda gostava de estudar e era visto pelos “meninos do fundão” como o CDF. Mais um prato cheio para que eu não tivesse paz. Me recordo de sentar sempre nas primeiras car teiras da sala. E colado com a mesa dos professores, de preferência. Por quê? Era uma forma de estar protegido. Os meninos teriam menos coragem de me xingar ou me provocar. A gente vai achando espaços de sobrevivência, vai sendo obrigado a achar…

As consequências das pressões, das fobias, das violências:

Vivi uma tentativa de enforcamento por um ga roto que era super homofóbico e fazia extremo bullying comigo em uma aula de Educação Físi ca, também me lembro das várias cusparadas quando eu descia do ônibus e os meninos corriam pra janela gritando: V-I-A-D-O! Sem contar, que eu também desviava caminhos na cidade ou dentro da escola pra não encontrar o grupo de meninos que iam zombar de mim no caminho.

Se incomodavam com a minha voz, com a minha roupa, com a forma que eu cruzava as pernas, com o “jeitinho”, com a “desmunhecada da mão”,com os gritinhos, com a

A pressão para corresponder a padrões de masculinidade muitas vezes marginaliza a voz fina

@alexy 38

Quando eu cresci, lá pelos meus 20 e poucos anos, e já tinha entendido a minha sexualidade, comecei a usar aplicativos de relacionamento. Um dia me deparei com algo que acontece muito entre homens gays: é comum que um rapaz que esteja interessado em você peça pra ouvir a sua voz por áudio de whatsapp antes de um encontro. Sabe por que? Para tentar descobrir se você é um cara gay afeminado.

Alguns caras vão sumir depois desse áudio, caso percebam que a sua voz não é suficientemente masculina, de acordo com as expectativas deles. Confesso que já me peguei algumas vezes reouvindo áudios com medo de ser rejeitado ou engrossando mais a voz na hora de gravar. A minha infância me lembrava das atrocidades que os meninos faziam com os garotos afeminados.

O patriarcado impõe padrões de masculinidade, marginalizando vozes finas de homens, alimentando preconceitos e reforçando estereótipos nocivos

A gente vai se adequando para sobreviver… Ainda que a gente saiba que existem muitas masculinidades e que existem muitas formas de ser homem, todas elas, de alguma forma, são pressionadas a caminhar na direção de se tornar o “homem de verdade”, da voz grave.

E quem tem falado isso são os estudos e os fonoaudiólogos. Mara Behlau, fonoaudióloga e professora de comunicação, realça: “As vozes mais graves são associadas ao sucesso. Nas organizações, elas provocam uma percepção de maior competência, confiança e segurança apenas pelo tom de sua voz. Não é incomum se deparar com profissionais que não se sentem “levadas a sério”.

Na reportagem “Mulheres ainda precisam “falar grosso” para serem ouvidas nas empresas”, da Revista Época Negócios, encontramos um estudo sobre voz: “Essa relação entre voz grave e sucesso já foi divulgada em um estudo realizado entre homens pela Fuqua School of Business, a escola de negócios da Duke University, em 2013. A pesquisa feita com 792 líderes de empresas mostrou que os executivos de vozes mais graves tinham mais relevância e autoridade, como também salários mais altos, bônus mais “gordos”.

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Mas se a voz é poder, que vozes podem falar? Será que a voz é apenas um elemento fisiológico ou também cultural? Dentro de uma estrutura desigual de gênero, classe e raça, determinadas pessoas têm maior poder de fala e de voz do que outras.

A voz do homem pobre tem o mesmo poder da voz do bilionário? A voz do homem negro tem a mesma credibilidade do que a voz do homem branco? A voz de um homem gay é respeitada da mesma maneira que a voz de um homem heterossexual? A voz de uma mulher é respeitada da mesma forma que a voz de um homem?

A minha capacidade profissional pode ser medida pela minha voz?

É claro que não! Mas muitas pessoas acabam nos julgando por isso. Aqui nós podemos pensar no exemplo do Anderson Silva, campeão de UFC, bem sucedido e com uma voz considerada “feminina”.

Entretanto, uma fala dele no programa “Mais Você” da Rede Globo me chamou a atenção: “Nunca tive problemas profissionais em relação a minha voz. É um pouco difícil mostrar liderança se você tem a voz baixa, mas tem a postura e vários outros fatores que ajudam a voz”.

É interessante pensarmos como as nossas masculinidades são construídas em um jogo de compensação: se minha voz é fina, vou compensar com uma “postura de homem”, “atitude de homem”, para que isso que é visto como “feminino” em mim seja deixado de lado. Homens gays, por exemplo, podem tentar compensar a sua masculinidade obtendo sucesso acadêmico e destaque profissional, para que sua sexualidade saia de foco.

Será que a voz de Anderson Silva pesou, em alguma medida até inconsciente, na escolha de sua profissão? A luta. Uma profissão vista como viril, máscula e de “macho”, para compensar sua voz considerada “feminina”?

Essa cobrança de “falar que nem homem” vai nos afetar de diversas formas: Não sermos promovidos no trabalho, não termos nossas ideias consideradas e também na faculdade, alto risco de homofobia e transfobia, e a desqualificação do nosso lugar como pai por não termos a suposta “voz de autoridade”.

Imagina como deve ser para um homem que é professor em escolas, mas tem uma voz mais fina? Muitas vezes será desrespeitado por alunos, pais, colegas e diretores. Tudo por uma expectativa construída de que homens tem que falar de certa maneira, por que se não são menos homens. Essas expectativas limitantes reforçam a ideia de que há uma forma única e correta de ser homem, ignorando a diversidade e complexidade masculinas.

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As nossas masculinidades são construídas em um jogo de compensação
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As mulheres também são afetadas…

A fonoaudióloga Mara Behlau declarou à Revista Época que as mulheres têm buscado treinamentos de voz para serem mais respeitadas e terem suas ideias, sugestões e projetos acatados dentro das empresas: “A ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, que tinha um tom mais agudo (combinado a um sotaque que destoava da alta classe do país), passou por treinamento antes de se tornar a figura de comando que fez história. Da mesma forma, muitas profissionais estão assumindo um tom mais grave para captar a atenção de seus interlocutores.”

Ela conta que uma jovem desabafou para ela relatando que havia feito todo o trabalho para um projeto, mas na última hora, não foi ela que fez a apresentação, mas sim um homem, porque alegaram que ela tinha “voz de criança”. É muito comum também que vozes femininas recebam mais avaliações negativas em podcasts, conferências e aulas gravadas. Não apenas por, geralmente, serem mais agudas. Mas pela espera dos ouvintes por um tom materno e dócil.

“Ela soa autossuficiente demais!”,”Ela não tem aquela voz acolhedora!”, críticas expostas no texto “Voz de homem, por favor!” da médica e pesquisadora Dr.Leticia Kawano Dourado.

Por onde podemos começar a mudar?

Podemos começar nos conscientizando que o seu tipo de voz não tem conexão com a sua orientação sexual e que mesmo que tivesse, isso não deveria ser lido como algo negativo. A capacidade de alguém não está no seu tipo de voz, mas na sua dedicação, trajetória, experiência profissional e habilidades técnicas adequadas para qualquer atividade que essa pessoa deseja desenvolver.

Nossos corpos são diversos, nossas sexualidades são diversas, nossas profissões são diversas e nossas vozes são diversas. Homens com vozes finas, mulheres com vozes graves e um mundo plural para além disso.

Se você presenciar alguma pessoa sendo discriminada ou diminuída no seu trabalho por ser tímido, por ter uma voz diferente ou aguda, intervenha, converse com seus colegas e comunique os responsáveis pelo seu setor. Romper com essas construções que também nos violen tam, marcam a nossa infância, adolescência e a própria vida adulta faz parte da construção de masculinidades

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A voz fina de Anderson Silva não define sua força nem sua habilidade como lutador, destacando que sua verdadeira grandeza reside em seu talento e técnica no ringue

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INFORMAÇÃO É A MELHOR

PREVENÇÃO CONTRA O CÂNCER DE PRÓSTATA

CÂNCERES MAIS FREQUENTES EM HOMENS NO BRASIL:

PRÓSTATA

COLON PULMÃO

ESTÔMAGO BOCA

CERCA DE 1 A CADA 7 HOMENS TERÃO CÂNCER DE PRÓSTATA AO LONGO DA VIDA

OS CÂNCERES QUE MAIS MATAM OS HOMENS NO BRASIL:

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Próstata Pulmão 27,2% 18,2% 27,9% 15,5% 11,4% Esôfago Estômago
Cólon

LOCAL DO CÂNCER: SINTOMAS:

PRÓSTATA NORMAL

PRÓSTATA COM CÂNCER

EXAMES PARA DETECTAR O CÂNCER:

EXAME DE SANGUE PARA DETECTAR O PSA

EXAME DE TOQUE

CASOS POR REGIÃO A CADA 100 MIL HOMENS:

PREVENÇÕES:

Dores ao urinar

Sangue na urina ou no sêmem

Vontade de urinar com frequência

Dor óssea

Exames médicos regulares Exercícios físicos

Peso saudável

Evitar tabagismo

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28,40 73,28 61,60 77,89 57,23

pai presente

dedicação e compromisso

A EXPOSIÇÃO “PAIS DA MOLDÁVIA E DA SUÉCIA”, DO FOTÓGRAFO

MIHAI TURCULET DESAFIA ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO AO DESTACAR

IGUALDADE NOS CUIDADOS FAMILIARES, ORGANIZADA PELA

EMBAIXADA DA SUÉCIA EM PARCERIA COM A ONU NA MOLDÁVIA

FOTOGRAFIA MIHAI TURCULET

97% dos homens se vêem como brad pitt

9 A CADA 10 HOMENS ESTÃO SATISFEITOS COM SUA APARÊNCIA. ISSO SIGNIFICA QUE OS HOMENS SE SUPER VALORIZAM?

POR GREGORY AZEVEDO ILUSTRAÇÃO BRYANT

na última semana, as atenções se voltaram para a “Pesquisa GQ: O que o homem brasileiro pensa sobre sexo, moda, machismo e dinheiro”, realizada pelo Instituto Ideia. Um dos dados que mais chamou atenção foi que apenas 3% dos homens se consideram feios, enquanto praticamente 1 a cada 2 (47%) se consideram bonitos e 44% acredita estar na média. Na soma, 9 a cada 10 está relativamente satisfeito com a sua aparência.

Esse dado chamou atenção de muita gente e vem sendo republicado em vários portais de notícias e trazendo um questionamento muito importante quando falamos de Masculinidades: a autoestima do homem.

No queríamos destacar alguns questionamentos sobre lacunas em relação a diversidade da população e a amostra da pesquisa. Quem são os homens brasileiros com a autoestima lá em cima?

A amostragem da pesquisa atende aos critérios de validade técnica, no entanto o número total pesquisado foi de 600 homens (relativamente pouco), considerando que mais de 40% era do Sudeste e apenas 8% eram do Norte e Centro-Oeste do Brasil.

Diante dos dados divulgados, também gostaríamos de ponderar alguns fatores importantes para uma análise completa, os quais não constavam: como raça, orientação sexual e classe social.

Autoestima é sobre achar-se bonito?

Para falar de autoestima, podemos trazer a perspectiva psicológica, tendo em vista que autoestima está muito longe de estar relacionada apenas à aparência física.

O professor e sociólogo Morris Rosenberg, que é também o responsável também pela criação da Escala da Autoestima, explica que autoestima é o conjunto de sentimentos e pensamentos do indivíduo sobre seu próprio valor, competência e adequação (Rosenberg). Não é apenas sobre aparência física, é o sentimento e o pensamento que reflete em uma atitude positiva ou negativa em relação a si mesmo.

Outro estudioso sobre o tema, Coopersmith (1989) ressalta que o ponto fundamental é o aspecto valorativo, ou seja de valor, que influencia na forma como o indivíduo elege suas metas, aceita a si mesmo, valoriza o outro e projeta suas expectativas para o futuro (Bednar & Peterson, 1995). A autoestima é a avaliação interna do próprio valor, moldando atitudes, objetivos, conquistas, realizações e bem-estar.

@alexy 54

A valorização pessoal dos homens vai além da beleza

sendo influenciada pela autoimagem, conquistas, relacionamentos e propósito

física,
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É possível ter um bom senso de apreciação sobre si mesmo

Autoestima masculina requer autoconhecimento e reconhecimento da influência das experiências passadas

Como os homens avaliam sua autoestima como um todo?

Na pesquisa “O silêncio dos homens”, realizada em 2019 com uma amostragem de 40 mil pessoas (20 mil homens no total), obtivemos o dado de que 53% dos homens consideram sua autoestima excelente ou boa enquanto 19% dos homens considera sua autoestima ruim.

Neste sentido, ainda vemos mais da metade dos homens satisfeitos consigo, mas também pode-se ver uma porcentagem bem maior de homens que enxergam seus problemas de autoestima.

Separando por alguns recortes específicos vemos também que a proporção de homens brancos satisfeitos é maior que a de homens negros, que nas regiões do Brasil, a região norte é a que tem a maior quantidade de homens avaliando sua autoestima como péssima, e que, se a média de homens que considera sua autoestima péssima é de 6%, entre jovens de 18 a 24 essa porcentagem quase dobra, chegando a 11%.

A autoestima das mulheres é mais baixa que a dos homens?

Ainda baseados nos dados de “O silêncio dos homens”, observamos que 66% das mulheres consideram sua autoestima excelente ou boa, contra 15% que percebem sua autoestima como ruim ou péssima.

Crises entre homens

Volta a pesquisa da GQ, apesar das boas considerações sobre aparência, a pesquisa trouxe dados que apontam insatisfações dos homens com outros fatores da vida: 70% estaria endividado; 60% avalia que posição profissional está abaixo do esperado; 83% estão estressados; 74% se declaram ansiosos; 34% dizem ter depressão; 26% reportam sofrer com pânico; 44% afirmam que não praticam exercícios e 16% dizem já ter feito terapia. Fica a pergunta: qual seria essa autoestima masculina que alta?”

Talvez possamos dizer que, como os homens são menos cobrados esteticamente pela sociedade e como consequência, a grade maioria se sentem razoavelmente satisfeitos com sua aparência No entanto, existe uma diferença muito grande entre o que é autoestima (no sentido de apreço por si) e o que é ego, vaidade, ou indiferença em relação às aparências.

A sua história, formação, experiências e o resultado de tudo isto, que é a sua visão

Cultive a autoestima com humildade e reflexão sobre falhas, promovendo crescimento pessoal e revisão constante de atitudes

de mundo é única e estes são fatores que elegem como será esta avaliação de si. Porque só conhecendo o que influenciou durante sua infância, adolescência e também tudo o que veio antes do seu nascimento, será possível que você observe seus pontos a melhorar, os pontos que você gosta e não gosta e também tudo aquilo que pode interferir na vivência dos outros na sociedade, incluindo as questões que impactam questões igualitárias às mulheres.

Valores, pressões e desigualdades e gênero

Os familiares que construíram a base da sua formação reforçaram uma visão de que mulher tem que se cuidar, tem que ser “feminina “ e delicada. Já os homens, não.

O homem deveria manter uma barba bem feita, às vezes até caprichar no perfume, mas sem fazer muito esforço para isso, se não seria até um sinônimo de fraqueza, ou de desvio.

Assim, com base nestes valores distorcidos, vamos construindo uma sociedade em que, com pouco esforço vemos homens satisfeitos com a sua aparência enquanto estes mesmos, cobram das parceiras uma estética sexual que cansa e é injusta com as mulheres. Por isso, é necessário este conhecimento para tratarmos de questões como machismo tanto individualmente, quanto socialmente.

Da beleza às questões de gênero

Qual é o problema de apenas 3% dos homens se acham feios? Primeiro que levantamos a questão de “será que este dado realmente representa a população brasileira?”. Mas supondo que sim, a princípio não é problema que 9 de 10 homens se sintam bonitos.

O problema é vivermos em uma realidade em que há uma cobrança estética absurda direcionada às mulheres, pressão esta que é reforçada e transmitida também pelos homens: “baranga”, “não se cuida”, “anda desarrumada” são frases muitas vezes proferidas por homens que certamente não despejam as mesmas cobranças sobre si mesmos.

É importante que as pessoas no geral, se gostem, se sintam confortáveis em suas peles, em suas vidas, se apreciem e que façam isso sem deixar que o ego te coloque como melhor que alguém.

Ainda quando se aponta de maneira perjorativa sobre a elevada “autoestima do homem hétero”, precisamos ter em mente que o problema não é a autoestima, é o ego. É uma possível arrogância e uma cobrança estética que se faz desigual entre homens e mulheres. É possível ter um bom senso de apreciação sobre si mesmo, e ainda assim guardar espaço para uma postura de humildade, de reflexão sobre si, que permite ao longo dos dias e

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dos anos, que nós possamos nos gostar e, ao mesmo tempo, entender que somos falhos, que temos muito o que melhorar, que precisamos rever apontamentos.

Muitas vezes, seu pai, seus avô e os outros, participam da educação nos construíram a base da sua formação trazendo mulheres de maneira sexualizada ou até mesmo se sua mãe comentava que lugar de mulher é na cozi nha, esses são fatores que tiram a igualdade entre nós, enquanto seres humanos

Portanto, é fundamental reconhecer que nossa cons trução social e familiar influencia diretamente nossa per cepção de gênero e autoestima. Ao desconstruirmos esses padrões e promovermos um ambiente de equidade e respeito, podemos cultivar uma autoestima saudável e consciente em todos, independentemente do gênero. A verdadeira autoestima não se baseia na superioridade so bre os outros, mas sim no reconhecimento do nosso valor intrínseco e na capacidade de evoluir constantemente. Somente assim, poderemos construir uma sociedade mais justa e harmoniosa, onde todos tenham a oportunidade de se desenvolver plenamente

@alexy 58
Há uma injusta pressão estética sobre mulheres, reforçada por homens que não enfrentam as mesmas cobranças

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O HOMEM-INFANTIL

DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

NÃO HÁ NENHUMA CRIATURA MAIS DESCONTENTE E DESLOCADA DO QUE O HOMEM-INFANTIL

RONALDO LEMOS é advogado, professor e pesquisador brasileiro, diretor do Instituto de Teconologia e Sociedade do Rio de Janeiro. É especialista em temas como tecnologia e mídia.

Existe uma expressão em inglês que deveria ter uso corrente também no Brasil: manchild (homem-infantil). O termo diz respeito a integrantes do sexo masculino que, mesmo tendo chegado à maturidade, continuam a se comportar como crianças mimadas. O exemplo clássico é a pessoa que, embora na casa dos 50 anos, mantém os mesmos valores, ídolos e falta de noção da adolescência, achando tudo “irado”.

O problema do manchild é principalmente seu individualismo e irresponsabilidade. Em geral, dá para reconhecer um homem-infantil porque ele fala um monte (de besteiras, inclusive), mas não faz praticamente nada. Em outras palavras, adoram um mimimi, especialmente quando isso os coloca no centro das atenções. Querem aparecer pelo que falam, não pelo que fazem.

Esse homem cultiva também um perfil de eterno iconoclasta. Para isso, tem orgulho do seu humor “politicamente incorreto” e “livre”, que, na maioria das vezes, é só ofensivo e irresponsável. Costuma cercar-se de outros homens-infantis, formando duplas, trios ou mesmo bandos de pessoas parecidas. Seu habitat natural é a estagnação. Como uma criança mimada, não enxerga nem entende o que é o outro, ou qualquer coisa que seja diferente do seu mundo.

Uma das características mais infelizes do homem-criança é sua propensão ao machismo (e outros tipos de “ismos” igualmente horríveis). O que faz sentido, pois muitas vezes ele próprio é produto de vários tipos de desigualdade, inclusive entre homem e mulher, que se

@alexy 60 se relacionar entrevista se relacionar entrevista

materializam nos lares brasileiros, especialmente nos mais ricos. Ao crescer em um ambiente em que o deixaram atuar como pequeno déspota, passou a achar que o mundo pode ser assim (e, vale avisar, não é).

Não dá mais

Nos relacionamentos, o homem-infantil é em geral uma fonte de grande sofrimento para sua parceira (ou parceiro) e sua família. Primeiramente, porque sabe como ninguém transformar insegurança em agressividade. A pessoa ideal para um manchild precisa enxergar nele o gênio incompreendido que ele acredita que é (e que somente outros como ele conseguem enxergar). Seus familiares precisam também achar seus defeitos “divertidos” e tolerar suas falhas de caráter.

Em resumo, não há nenhuma criatura mais descontente, e deslocada do que o homem-infantil. E apesar do nome, ele é na verdade só um velho, produto de um mundo que não existe mais.

Secretamente, espera que “coisas” como “igualdade”, “feminismo”, “ações afirmativas” e todo o “politicamente correto” desapareçam. E que tudo volte a ser como antes (vale de novo avisar, não será).

Infelizmente, o manchild não é uma questão apenas individual, é também uma questão política. Foram tolerados por muito tempo e, agora que seu tempo finalmente passou, pela primeira vez precisarão encarar de frente as suas responsabilidades.

Da mesma forma que é preciso acabar com a cultura do machismo, é preciso acabar também com a cultura do manchild. É como diz o Talmud [uma coletânea de livros sagrados dos judeus] sobre o amadurecimento das crianças: “Cada folha de grama tem seu próprio anjo que se inclina sobre ela e sussurra: ‘cresça, cresça!’”. Portanto, para todos os homens-infantis: sejam como a grama.

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Querem aparecer pelo que falam, não pelo que fazem
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várias masculinidades

E A importância DA PLURALIDADE

NÃO EXISTE UM ÚNICO HOMEM, POR ISSO TEMOS

ATRAVESSAMENTOS DIFERENTES. O DEBATE SOBRE

AS MASCULINIDADES PRECISA LEVAR EM CONTA OS CONTEXTOS SOCIAIS

JOÃO MARQUES é escritor, pesquisador da psicologia das masculinidades e questões raciais e academicista de psicologia, aborda saúde mental a partir da perspectiva antirracista

Por muito tempo, se referia ao homem como um ser único, um modelo que abrangia todos os homens cheios de regras, normas e padrões que construíram esse homem que é o cara forte, viril, machão, que afirma seu valor no trabalho, honrado e sempre pronto para briga para defender sua posição, mas também é o homem bloqueado para emoções, que considera tudo o que é feminino negativo, mas sustenta esse “homem ideal”.

Para ficar mais claro, quando falamos sobre um modelo de masculinidade hegemônica, podemos pensar em grandes personagens do cinema, como Rambo, John MCclane de Duro de Matar, James Bond em 007, Martin Riggs em Máquina Mortífera, entre outros. O que há em comum entre eles é a virilidade, a resolução de problemas com base na violência, na maioria das vezes sozinhos contra o mundo, inclusive para lidar com as suas próprias questões. São homens que se bastam e se completam, e a maioria tem companheiros que são leais a eles até o fim, reforçando o que chamamos de pacto narcísico masculino, um homem sempre apoia e protege outro homem, mesmo que não o conheça a princípio.

O problema desse ideal único, hegemônico, que muitas vezes parece uma regra imutável, é invisibilizar outras existências, principalmente quando pensamos sobre masculinidade de forma a essencializar o caráter dos homens, ou  impor uma unidade falsa, afinal, os homens não são todos iguais.

Para que você entenda a pluralidade, até o local onde esse homem nasce e cresce resulta numa masculinidade

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única: você que mora em São Paulo é formado, subjetivado, de uma forma; já o homem nascido em Pernambuco terá outras concepções. Por mais que compartilhem certos conjuntos de regras, o ideal de masculinidade hegemônica Paulistana tende a ser diferente do Recifense. As masculinidades subordinadas são aquelas que estão em relação às masculinidades hegemônicas, por exemplo, o patriarcado é essencialmente constituído por homens brancos, héteros e cisgenero.

Qualquer homem que não se encaixe nessas características estará subordinado, subalternizado, em relação a esse homem hegemônico, porque não alcançará o topo do patriarcado, por mais que lute por isso.  Perceba, mesmo dentro de um grupo de homens brancos, os que são fortes e bem sucedidos estão subordinando os que não o são, como os nerds, os que são magros e baixos.

Conversar sobre as diferentes masculinidades é compreender aonde nos encontramos nessa dinâmica social, não existe solução fácil para problemas complexos. Não é porque me encontro em uma situação de subordinação, que eu não posso estar subalternizando outro homem, por

exemplo, as relações de poder mudam a todo momento, mas ter consciência delas nos faz melhores e com relações mais saudáveis com o mundo.

Não há como discutir masculinidades sem consciência social, porque reforça a desigualdade com alguns homens, em detrimento de outros, e isso certamente não é produtivo para sermos homens melhores e com uma melhor relação com o mundo. Quando consideramos as várias masculinidades, estamos respeitando a existência e aprofundando a compreensão de nós mesmos.

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O que há em comum entre eles é a virilidade
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proteína e carboidrato:

o que comer para ganhar músculos?

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PARA QUEM ESTÁ FOCADO NA HIPERTROFIA MUSCULAR

Ganhar músculos é o desejo de muitos que iniciam na musculação, porém, apenas os treinos não garantem o aumento da massa magra. A alimentação adequada é indispensável para atingir este objetivo.

A proteína é uma grande aliada no ganho de massa muscular, e o consumo de carboidratos também tem sua importância para um corpo saudável. A GQ Brasil conversou com nutricionistas que explicaram como deve ser a alimentação de quem visa a hipertrofia muscular.

Quanto de proteína comer para hipertrofia?

Para promover a hipertrofia muscular, a ingestão de proteínas é fundamental, por serem as responsáveis pela construção e sustentação dos músculos.A quantidade recomendada varia conforme o nível de atividade física, idade e peso corporal. Mas um ponto de partida é consumir entre 1,4 a 2,2 gramas de proteína por quilo de peso por dia, indica a nutri Alice Paiva.

“Por exemplo, uma pessoa pesando 70kg poderia mirar em uma ingestão de 112 a 154 gramas de proteína diariamente. Sendo esse consumo fracionado ao longo do dia nas refeições”, acrescenta.

A nutricionista Vanessa Costa lista alguns bons exemplos de fontes de proteína: peito de frango, carne bovina magra, peixe, salmão, atum, ovos, iogurte, queijo cottage, tofu, feijão, lentilhas e quinoa.

“Esses alimentos fornecem uma combinação de aminoácidos essenciais e não essenciais, bem como outros nutrientes importantes, como ferro, zinco e vitaminas do complexo B, fundamentais para a saúde muscular e o crescimento”, pontua.

E os carboidratos?

Não menos importante que as proteínas, os carboidratos tem um papel crucial na recuperação muscular. São eles que fornecem energia para os treinos, ajudando a reabastecer o glicogênio muscular esgotado durante a execução do exercício físico.

Para apoiar o treinamento intenso, é recomendado ingerir uma quantidade adequada na dieta, que pode variar dependendo do tipo, duração e intensidade do exercício, como também das necessidades individuais.

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Alice diz que a orientação geral é consumir entre 3 a 7 gramas de carboidratos por quilo de peso corporal por dia. Isso significa que, para uma pessoa de 70kg, a ingestão seria de aproximadamente 210 a 490 gramas por dia.

Exemplos de fontes de carboidratos saudáveis incluem grãos integrais, como arroz integral, quinoa e aveia; frutas como banana e maçã; vegetais ricos em amido, como batatas, batata-doce e abóbora.

Alimentação para quem deseja ganhar músculos

As nutricionistas separaram algumas dicas para o foco em hipertrofia. Confira:

Consistência: Manter uma alimentação equilibrada e consistente, focando em alimentos ricos e nutritivos

Fracionamento das refeições: Consumir de 4 a 6 refeições ao dia, distribuindo a ingestão de proteínas para otimizar a síntese proteica muscular;

Hidratação: Manter-se bem hidratado é essencial para o funcionamento ideal dos músculos e recuperação; Pré e pós-treino: Consumir uma combinação de proteínas e carboidratos antes e depois do treino para suportar a energia durante a atividade e promover a recuperação muscular após.

Alimentação pré e pós-treino: Consumir uma combinação de proteínas e carboidratos antes e depois do treino para suportar a energia durante a atividade e promover a recuperação muscular.

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meu amigo ser gay

A HISTÓRIA DE ART PEREIRA E NICK GALLUCCIO, ILUSTRA REFLEXÕES SOBRE A HOMOHISTERIA

POR RHAINA COHEN ILUSTRAÇÃO CONSTANCA TALBOT

Em 2019, Art Pereira fez as contas sobre sua fortuna de pontos de cartão de crédito, que ele havia acumulado após abrir um novo cartão, e percebeu que tenha o suficiente para cobrir duas viagens de ida e volta para o Havaí. Pereira mal podia esperar para compartilhar sua boa sorte com seu melhor amigo, Nick Galluccio, e depois que os dois se encontraram no apartamento de Galluccio, Pereira contou-lhe a novidade. Qualquer entusiasmo que Galluccio pudesse sentir sobre a viagem subsidiada foi superado pela preocupação por temer que outras pessoas pensassem que ele e Pereira estavam indo para uma daquelas escapadas românticas a dois.

Eles tinham um tipo de amizade que estava propensa a ser mal interpretada. Os dois pastores jovens de vinte e poucos anos eram próximos o suficiente para se considerarem irmãos e planejavam morar juntos. Galluccio era a pessoa em quem Pereira se sentia seguro para contar sobre uma discussão que teve com seu pai antes da morte dele. Pereira ajudou Galluccio a se recuperar de um desgosto amoroso. Eles dedicavam tempo juntos por meio de seu ritual de café da manhã de sexta-feira e jogos de tabuleiro, que consideravam sagrados. Eles eram parceiros de vida, apenas sem o romance. Contrariando ainda mais as expectativas das pessoas em relação à amizade masculina, Galluccio é heterossexual e, em 2017, Pereira se assumiu gay.

Poucos americanos estão acostumados a ver amigos homens tão próximos quanto eles são. Muitas vezes, a primeira pergunta que Pereira recebe depois de se assumir gay para alguém é: “Galluccio também é gay?” Como se as pessoas tivessem uma regra na cabeça: qualquer homem que passe muito tempo com um cara gay também deve ser. Pereira talvez não tivesse lido tanto neste momento se várias situações semelhantes não tivessem acabado de acontecer em rápida sucessão – incidentes em que Galluccio abertamente se preocupava que outras pessoas pensassem que ele era gay.

A homohisteria

O sociólogo Eric Anderson chama o medo de ser percebido como gay de “homohisteria”. A inclusão da palavra “histeria” torna o termo provocativo, talvez desconfortável, mas o conceito é valioso. Isso ajuda a explicar por que homens como Galluccio limitam seu comportamento - evitando atividades, pessoas ou organizações que poderiam marcá-los como gays.

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Uma sociedade pode ter altos níveis de homofobiadefinida como ódio ou preconceito contra gays, lésbicas ou bissexuais – sem que os homens sintam que precisam reforçar sua heterossexualidade. Só faz sentido para os homens ajustarem seu comportamento se a homossexualidade não apenas for estigmatizada, mas também considerada prevalente; então, há motivos para se preocupar que outras pessoas possam pensar que eles são gays e que tal rótulo possa ter consequências. Segundo Anderson, um ponto de viragem na homohisteria nos Estados Unidos foi o estudo de sucesso do sexólogo Alfred Kinsey sobre práticas sexuais masculinas. O estudo, lançado em 1948, afirmava que 10% da população era homossexual - muito mais comum do que a maioria das pessoas que se assumia. Por volta dessa época, os homens começaram a manter distância emocional e física uns dos outros.

Embora a homofobia tenha diminuído nas últimas décadas, os homens americanos, em geral, não devem ficar muito próximos de outros homens se quiserem se encaixar. Na adolescência, os meninos aprendem que seu repertório de afeto físico entre si é limitado a tapinhas nas costas e abraços laterais. Eles são treinados para agir de forma competitiva dentro de suas amizades, e espera-se que se unam por meio de atividades, não de intimidades compartilhadas.

Ao relatar sobre relacionamentos platônicos comprometidos como o de Pereira e Galluccio, vi como as amizades masculinas são examinadas de maneira diferente das amizades femininas. Quando eu contava às pessoas sobre um par de amigos homens se eles eram realmente héteros. As pessoas não reagiam dessa maneira quando eu contava histórias sobre amigas mulheres heterossexuais. O subtexto era: se um homem está muito próximo de outros homens, sua heterossexualidade é suspeita.

Pereira foi libertado dessas preocupações sobre o que as pessoas poderiam supor sobre sua sexualidade porque, segundo ele, “como homem gay, eu não estou realmente tentando me encaixar em visões estereotipadas de masculinidade. Se alguém me olha e pensa que sou gay, eles estão simplesmente corretos. Mas para Nick, ele quer ser percebido como quem ele é, o que eu acho que ele merece reconhecer e honrar.”

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Se um homem está muito próximo de outros homens, sua sexualidade é suspeita
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A amizade de Elton John e Bernie Taupin é uma colaboração musical e uma ligação pessoal duradoura,baseada na confiança e no respeito

Quinto e Pine se tornaram amigos durantes as filmagens de “Star Trek” em 2009, criando uma amizade que cresceu ao longo dos anos

Pereira encorajou Galluccio a se importar menos com os julgamentos de outras pessoas. Quando Galluccio se afastava de Pereira porque achava algum tipo de afeto físico estranho, Pereira apontava que a percepção de Galluccio sobre o que é normal entre amigos é culturalmente específica. Pereira é brasileiro-americano, e é normal para homens brasileiros se beijarem na bochecha ou colocarem os braços ao redor um do outro. Lá, essas ações não são consideradas gays.

Amizade masculina ao redor do mundo

As ideias americanas sobre o que é normal entre amigos homens não se baseiam em algo universal sobre os homens. Amigos homens na Coreia se envolvem em “skinship”, um termo que se refere a afeto físico não sexual - videoclipes de bandas de K-pop oferecem muitos exemplos. Depois que George W. Bush e o Príncipe Herdeiro Abdullah da Arábia Saudita andaram de mãos dadas enquanto davam um passeio juntos em 2005, os veículos de notícias americanos informaram seu público doméstico que é comum em culturas árabes homens darem as mãos. O mesmo é verdadeiro na Índia e em vários países da África. Altos níveis de segregação de gênero nessas sociedades significam que as pessoas frequente-

mente formam seus relacionamentos mais íntimos com pessoas do mesmo gênero. Algumas dessas mesmas sociedades condenam a homossexualidade, mas porque é tratada como uma aberração, às vezes até associada ao Ocidente, os homens não precisam provar constantemente que são heterossexuais.

Até o início do século XX nos Estados Unidos e na Europa, você não teria problemas em perceber o afeto físico entre homens. Em 1851, um jovem engenheiro chamado James Blake descreveu ficar acordado até tarde na noite anterior à partida de seu amigo porque “nossos corações estavam cheios daquela verdadeira amizade que não podia ser expressa por palavras, deitamos nossas cabeças no peito um do outro e choramos, pode ser pouco masculino chorar, mas não me importo, o espírito foi tocado.” O que ultrapassou a linha da masculinidade para Blake não foi colocar a cabeça no peito de outro homem, mas chorar. Em “Picturing Men”, um estudo de milhares de fotografias comuns de homens tiradas entre os anos 1850 e 1950, o professor da California State University, Fullerton, John Ibson, mostra como homens de todas as raças, classes e regiões se envolviam abertamente em intimidade física com outros homens. Poses comuns incluíam sentar no colo um do outro ou dar as mão.

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Reflexões sobre a sexualidade

À medida que Galluccio começou a examinar suas intuições, ele começou a acreditar que seu desconforto nem sempre era um sinal preciso de que algo estava errado. Mas essa nova ideia era desorientadora. Como Galluccio poderia saber o que queria se tivesse sido criado em uma cultura que negava a ele experiências como conexão emocional com outros homens? É uma cultura em que é comum o suficiente para os homens serem emocionalmente fechados, que há um termo clínico para o que estão experimentando: alexitimia masculina normativa. Os psicólogos acham que alguns homens têm tanta dificuldade em expressar seus sentimentos em palavras por causa da maneira como são socializados para serem duros, firmes e estoicos.

Cerca de um ano após Pereira aceitar que era gay, Galluccio começou a se perguntar se também era. Ele estava se sentindo mais confortável em amizades próximas - “Mas eu deveria?”, perguntou a si mesmo. Em uma caminhada em um parque estadual em Kentucky, Galluccio disse a Pereira que achava que poderia ser gay. Pereira fez perguntas para detectar desejo por homens, como: Galluccio já quis beijar um homem? Ele se sentia atraído por Pereira? Não e não. Até onde Pereira pôde perceber, nada indicava a direção da atração pelo mesmo sexo, então ele perguntou a Galluccio o que o fez pensar que poderia ser gay. Galluccio disse que gostava quando Pereira o abraçava e sentia falta de Pereira quando ele estava fora por uma semana. “Oh, isso é apenas intimidade”, disse Pereira. “Isso é apenas amar alguém.” Galluccio havia equiparado intimidade emocional com atração sexual; ele não sabia que era possível experimentar intimidade emocional em um contexto platônico - ele só havia feito isso com uma namorada.

Embora os homens americanos no passado expressassem abertamente amor por seus amigos do mesmo sexo, hoje, os homens heteros procuram em outro lugar a intimidade. Pesquisadores descobriram que, embora muitas mulheres héteros sentissem mais intimidade emocional com a sua melhor amiga do que com um parceiro romântico masculino, esse geralmente não era o caso para os homens héteros. Seu parceiro romântico era mais provável que fosse sua principal fonte de intimidade emocional. Em uma pesquisa de 2021, os homens eram cerca de metade tão propensos quanto as mulheres a relatar terem recebido apoio emocional de um amigo recentemente, e os homens casados eram significativamente mais propensos do que as mulheres casadas a dizer que seu cônjuge é a primeira pessoa com quem falam.

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Os homens evitam afirmar verbalmente suas amizades; cerca de metade das mulheres disse a um amigo que o amava na semana passada, em comparação com um quarto dos homens. Andrew Reiner, autor de um livro sobre masculinidade, concluiu que os quase 200 homens que entrevistou tendiam a confiar em amigos homens para resolver problemas específicos que provavelmente não inspirariam julgamento - o que ele chamou de “transparência direcionada”. Eles preocupavam-se que seus amigos não quisessem discutir seus problemas emocionalmente carregados, ou não queriam “sobrecarregar” eles. Se procurassem apoio emocional, geralmente recorriam aos parceiros românticos ou amigas mulheres - forçando as mulheres a fornecer cuidados aos homens que os homens não estão dando uns aos outros. Um escritor chamou a tendência de homens héteros colocarem todas as suas necessidades emocionais em suas parceiras .Em um webinar em que Galluccio e Pereira discutiram sua amizade, Galluccio descreveu uma dinâmica que costumava ter com Art: “Para mim, como pessoa heterossexual, tem sido tão fácil... para mim ir, ‘Bem, estou desconfortável, então você precisa mudar porque estou na maioria.’ “ Galluccio disse que agora sabe que existem várias razões que poderiam explicar seu desconforto. Talvez “seja um bom e saudável limite, mas talvez haja homofobia ou problemas de percepção ou intimidade com os quais cresci”, disse ele. Virando-se para Pereira, Galluccio disse: “Só porque estou desconfortável não significa que você está errado.” O diálogo entre Galluccio e Pereira ilustra a importância de confrontar nossos próprios preconceitos e estar aberto ao aprendizado e à mudança. Ao reconhecer a complexidade do desconforto e explorar suas raízes.

Novas bases para amizades

De certa forma, quando se trata de amizades entre homem héterossexual e homossexual, a responsabilidade está com o homem hétero. Se eles têm uma mente aberta em relação a fazer amizade com homens gays e fazem um esforço para tentar forjar uma relação baseada em interesses em comum. Então qual homem hétero tem mais chances de fazer amizade com um homem gay, e vive-versa? E o que determina se essa amizade?

Para começar, o timing de quando essas amizades se formam talvez seja crucial. Sabemos que homens gays estão se assumindo mais cedo. Gays que revelam sua orientação sexual para seus amigos homens mais cedo na vida talvez consigam construir amizades mais honestas e abertas com eles na vida adulta.

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Muitos homens são ensinados desde cedo que chorar em público é sinal de fraqueza Ian McKellen e Patrick Stewart compartilham uma amizade duradoura, frequentemente visível em seus projetos conjuntos e interações públicas

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FOTOGRAFIA POR JAQUES DEQUEKER

Sem roupa nem pudor

UMA ENTREVISTA EM CASAL COM HUGO MOURA E DEBORAH SECCO

CONVIDAMOS A PSICANALISTA E ESCRITORA REGINA

NAVARRO LINS PARA BATER UM PAPO FRANCO

COM O CASAL DEBORAH SECCO E HUGO MOURA

POR MILLY LACOMBE

Convidamos a psicanalista Regina Navarro Lins, autora de livros sobre relacionamentos amorosos e que atende casais há 45 anos, para bater um papo franco com os atores Deborah Secco, 38, e Hugo Moura, 27. Juntos desde 2015 e pais de um filha de 2 anos, o casal nos recebeu no apartamento onde mora. “Porra, com certeza vou ter tesão por ela daqui a 40 anos”, diz ele. “É muito louco porque nunca pensei em ser monogâmica”, completa ela

Regina: Como vocês se conheceram?

Deborah:  Vi uma foto dele no Instagram e escrevi falando que ele ia ser meu marido e pai dos meus filhos. Hugo: Foi [risos].

Deborah: Decidi terminar com o cara que namorava e passei o réveillon de 2014 para 2015 sozinha. Rezava muito pedindo uma orientação e no dia 12 de janeiro lembro de ter ajoelhado chorando, pedindo ajuda. Nesse dia deitei na cama e abri o Instagram. Nessa hora apareceram fotos dele e fiquei paralisada. Vi que era amigo de uma das minhas melhores amigas, a Fernanda, que é também minha personal trainer. Acordei às 6 da manhã no dia seguinte para treinar

com ela e falei: “Como que é o nome do meu marido? Como faço para encontrar esse cara?”. E o outro personal falou: “Segue ele e curte um monte de foto”, e eu fiz tudo isso e fui trabalhar. À noite, fui para casa e chegou uma mensagem dele: “Vi que você começou a me seguir”. Falamos um pouco e ele disse: “Então a gente precisa se encontrar, né?”. Eu: “Vem pra cá agora”. Ele veio, a gente transou e lá pelas 3h30 ele disse que ia embora. Eu disse: “Não vai. Olha, acho que você não entendeu: tá vendo esse armário aqui? É todo seu”.

Regina: Vocês já tiveram alguma briga?

Deborah: A gente teve um desentendimento na época da gravidez, eu fiquei muito ciumenta.

Regina: Vocês têm um pacto de exclusividade?

Deborah: Sim, e é muito louco porque nunca pensei em ser monogâmica.

Hugo: Eu também não.

Deborah: Somos muito abertos um com o outro. Mas quando a gente brigou durante a gravidez, tive certeza de que precisava contar para ele quem eu era. Para ele eu falei: “Cara, olha, eu dei muito, sim, e é essa a minha vida. Eu te amo, e tô a fim de ter uma família”.

Regina: O que é importante para uma relação amorosa?

Hugo: Sinceridade.

Deborah: Liberdade e sinceridade.

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Revelando o Lado Macho dos Homens que choram

A SÉRIE “WHAT REAL MEN CRY LIKE”, QUESTIONA TABUS DO GÊNERO AO RETRATAR A EMOÇÃO MASCULINA, COVIDADANDO OS ESPECTADORES A REPENSAREM SOBRE OS CONCEITOS PRÉ-ESTABELECIDOS DE MASCULINIDADE

FOTOGRAFIA MAUD FERNHOUT

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Maioria dos homens reconhece que

Precisa tratar melhor da saúde

OS HOMENS ACABAM AGRAVANDO QUADROS DE SAÚDE QUE PODERIAM TER SIDO DIAGNOSTICADOS PRECOCEMENTE

De cada dez homens, oito (83%) reconhecem que precisam cuidar mais da própria saúde, mas parcelas significativas ainda identificam, no dia a dia, empecilhos. De acordo com a pesquisa A Saúde do Brasileiro, do Instituto Lado a Lado pela Vida, em parceria com o QualiBest, 51% deles apontam a rotina estressante como o principal obstáculo e 32%, o acesso à saúde. Ao todo, 63% disseram que se preocupam muito com a própria saúde. Para conhecer a percepção do grupo, a entidade entrevistou 815 pessoas, dos quais mais da metade (52%) é usuária do Sistema Único de Saúde (SUS), pouco mais de um quarto (27%) utiliza o sistema suplementar (planos e seguros de saúde) e cerca de um quinto (21%) usa ambos os sistemas de saúde.

A equipe de sondagem apurou, ainda, que a proporção de homens que dizem ir ao médico ao menos uma vez ao ano é significativa, de 88%. Um ponto que se destaca é o fato de que 84% dos entrevistados

disseram que quem agenda as próprias consultas médicas são eles mesmos, restando 10% que ainda dependem das companheiras para realizar essa tarefa em seu lugar.

Maior conscientização?

Embora haja os que permanecem delegando a responsabilidade, a presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, Marlene Oliveira, avalia que o que se viu, ao longo dos anos, foi progresso em relação a isso. “É que a gente fala do Brasil, que tem dimensão continental. Tem regiões em que o homem ainda tem preconceito muito forte e ele não se cuida. Mas a campanha Novembro Azul tem cumprido seu papel, que é de orientação”, explicou.

Muitas vezes, como ressalta Marlene, os homens acabam agravando quadros de saúde que poderiam ter sido diagnosticados precocemente, o que, inclusive, onera as redes de saúde, já que os tratamentos acabam custando mais em fases mais avançadas.

Essa mudança de comportamento, impulsionada por campanhas de conscientização como o Novembro Azul, é crucial para transformar a cultura de prevenção e cuidado com a saúde entre os homens. Ao promover o diálogo e a educação sobre a importância dos exames preventivos, conseguimos reduzir significativamente a incidência de

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doenças graves e os custos associados a tratamentos tardios. Além disso, fomentar um ambiente onde os homens se sintam à vontade para cuidar de si mesmos sem medo de julgamento contribui para uma sociedade mais saudável e equilibrada. O progresso é visível, mas ainda há muito a ser feito para que todos os homens, independentemente da região, compreendam e adotem práticas de cuidado contínuo com sua saúde.

“Nós temos um dado do ano passado, de uma pesquisa que fizemos, que é o de que 62% dos homens só procuram o sistema de saúde se estão sentindo algo insuportável”, revelou.

Cuidados atuais

A pesquisa identificou ainda alguns tipos de tratamento que os homens têm feito. No total, 16% dos respondentes informaram tratamento de doenças do coração realizado nos últimos 5 anos; 15% trataram a obesidade e 14% as doenças respiratórias.

Uma porcentagem bastante inferior, de apenas 3%, tratou algum tipo de câncer. Marlene Oliveira defende que, por conta dos problemas relacionados ao modelo de virilidade que a sociedade alimenta, que reforça a ideia de que homens não podem ter fragilidades, as famílias fomentem discussões sobre a saúde do homem desde cedo com os meninos, da mesma forma como fazem a educação das meninas nesse âmbito, além de campanhas promovidas pelo poder público.

“As meninas, a partir de 12, 13 anos, a gente já educa que vai ter que acompanhar sua saúde ginecológica e outras coisas. E a gente, mulher, se toca e acende um alerta quando percebe alguma coisa diferente. O homem, não, vai convivendo com aquilo, porque acha que é normal”.

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negro A ferida, a chaga, à procura da cura

SER HOMEM NEGRO NO BRASIL É CONVIVER COM

UMA SÉRIE DE ESTEREÓTIPOS, QUE ENVOLVEM

GÊNERO, RAÇA E CLASSE SOCIAL

POR CAROLITO

ILUSTRAÇÃO ANGEL JACKSON

Colocar uma lupa sobre a maneira como homens negros experimentam sua masculinidade não algo simples. O tema ainda é tabu. “É um debate que tem se encaminhado aos poucos, as mulheres estão anos-luz da gente”, diz Caio César, estudante de geografia. A hipersexualização do corpo negro, a idealização do “negão” bom de cama, selvagem e viril é um dos estereótipos que acompanham o ideal da masculinidade do homem negro. “Não somos o padrão de beleza, nem o padrão de racionalidade e muito menos o padrão de homem de família. Então, se enquadrar nesse estereótipo muitas vezes é o que nos resta”, conclui Caio, sobre como a idealização também age como um mecanismo para driblar a baixa autoestima, o que dificulta a discussão aberta sobre o tema.

Para Túlio Custódio, sociólogo e membro do coletivo Sistema Negro, pensar em masculinidade negra em um país como o Brasil é pensar em gênero, raça e classe em conjunto, pois todas as relações de poder influenciam na construção da identidade. Ele considera que “o bom homem negro é o que performa a ética branca”, como se a masculinidade do homem branco fosse o parâmetro do que é correto, o que implica em resgatar os estereótipos de homem provedor. “Como agem a maioria dos jogadores de futebol negros, por exemplo? Eles ostentam o poder de consumo, escolhem parceiras brancas, atitudes que aumentam o status”, exemplifica.

O filósofo e psiquiatra martinicano e francês, Frantz Fanon, já refletia sobre a expectativa de que o homem negro se encaixe em uma ética que não é dele em “Pele negra, máscaras brancas”, livro publicado na década de 50. Outro estudioso que abordou a questão foi o sociólogo jamaicano Stuart Hall, em seu livro “Cultura e representação”, em que analisa a presença do negro no cinema e na publicidade ocidental. Uma de suas reflexões é de que os estereótipos se formam enfatizando as diferenças: se o homem branco é civilizado e trabalhador, o homem negro é primitivo e preguiçoso. Apesar das imposições, há uma “luta histórica em torno da imagem” que precisa ser levada em consideração.

Hip hop: construção de identidade própria Embora o parâmetro seja a masculinidade branca, o homem negro convive com um cenário particular. O Atlas da Violência 2017, produzido com base em estudo realizado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Seguran ça Pública, confirma um diagnóstico antigo: jovens negros

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O uso do pente pendurado no cabelo para os negros é um ato de resistência contra o racismo, afirmando a identidade cultural

“O homem negro quando reduzido a um pênis é objeto de uma reificação grosseira”

são as principais vítimas de violência. Entre os casos de homicídio, 92% das vítimas são homens e os negros têm 23,5% a mais de chances de serem assassinados, em comparação a brasileiros de outras raças.

Alessandro de Oliveira Campos é psicólogo e coordena encontros para discutir masculinidades, em São Paulo. “Há angustias que impactam na saúde mental. Homens negros cogitam frequentemente a possibilidade de suicídio. Esse é um sintoma assustador ”.

Jé Oliveira é ator e diretor da peça “Farinha com açúcar ou sobre a sustança de meninos homens”, que aborda as vivências dos homens negros de periferia, com trilha sonora composta por singles dos Racionais MC’s. A cultura hip hop, como um todo, foi uma referência na construção de identidade de homens negros ao longo das últimas décadas: “ali a gente encontra uma ética da rua, uma de masculinidade que é, sim, machista, mas também é uma ética de respeito ao acordo, de respeito às amizades, às mães, às avós”, observa o diretor.

A condição socioeconômica é um agravante que dificulta a desconstrução dos estereótipos e limita as vivências dos homens negros. “As pessoas da periferia não conhecem muito além do próprio bairro, porque não têm a possibilidade, não se sentem bem circulando por outros lugares, se sentem observadas e julgadas.”

Muito além do “negão de tirar o chapéu” “Aos 16 anos, uma amiga disse que eu tinha cara de quem fazia sexo bem. A julgar pelas opiniões que ela já tinha emitido em outros momentos, aquele bom sexo era um sexo violento”, relata Caio César, morador do Rio de Janeiro. “É importante frisar que a amiga em questão nunca havia se relacionado comigo. Sua opinião foi baseada em estereótipos sexuais ligados a corpos negros”.

No artigo “Na cama com o super negão: masculinidades, estéticas, mitos e estereótipos sexuais do homem negro”, do historiador Daniel dos Santos, é abordada a relação entre a objetificação do corpo negro e o passado escravocrata do país. O negro escravizado era avaliado “a partir de seus dotes físicos e sua robustez anatômica”, que seriam seriam úteis nos serviços agrícolas e de mineração. Ainda que seja difícil encontrar documentos oficiais, há histórias

Homens

negros cogitam

frequentemente a possibilidade de suicídio

A desconstrução do homem negro é desafiada pelo papel do machismo que marginaliza sua identidade

de homens que tinham como função gerar filhos com escravas. Eram conhecidos como reprodutores, que eram escolhidos pelo porte físico.

“O homem negro quando reduzido apenas a um pênis é objeto de uma reificação grosseira, de um ato de desumanização. E quando ele acolhe essa objetificação caminha para uma solidão inevitável, porque, em algum momento, não será mais objeto de interesse do outro”, pontua Alessandro de Oliveira Campos.

Não é pessoal

No campo dos afetos, a discussão sobre relacionamentos inter-raciais adquire cada vez mais relevância. Em 2015, Helen Lobanov, feminista negra, fez um vídeo que ainda causa comoção nas redes sociais. Na ocasião, ela expôs sua revolta ao perceber que muitos homens negros recriminavam publicamente mulheres negras que mantinham relações com brancos, ao mesmo tempo em que elas são preteridas nas relações afetivas, como comprovado no Censo do IBGE de 2010.

“É difícil para o homem negro se desconstruir porque o machismo é o único poder que ele tem dentro dessa sociedade”, sintetiza Lobanov, que hoje mora nos Estados Unidos. “Eu nunca culpei o homem negro, em específico,

pela solidão da mulher negra, o branco também pretere.

A responsabilidade do homem negro é admitir que isso acontece e ouvir o que as mulheres negras têm a dizer.

A crítica não é pessoal”, Campos explica que é preciso pensar nos modos de sedução e conquista além das preferências individuais, mas também “no reconhecimento histórico de um corpo que foi tratado como mercadoria por séculos e permanece quase exclusivamente como fetiche”. Custódio concorda que “mesmo o desejo e o afeto são construídos socialmente”.

Além de negro é bixa?

A homossexualidade é outro tabu: “a gente vê homens negros não podendo ter uma sexualidade mais ampla”, observa Jé Oliveira. Ele acredita que os estereótipos vão formando cascas que dificultam que o homem exerça suas potencialidades e desejos.

“São dois preconceitos que sofremos, por sermos negros e bixas”. Essa frase é do cineasta Bruno Victor que roteirizou e dirigiu o curta-metragem Afronte, junto com Marcus Mesquita. A produção conta a história de um personagem negro e gay que mora na periferia do Distrito Federal. O curta foi viabilizado

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graças a grande adesão que tiveram na campanha de financiamento coletivo pela internet e agora circula em festivais e premiações. “Queríamos de falar sobre nossa realidade, nossas vivências. Nessa mesma época tivemos contato com o coletivo Afrobixas. Eles foram uma grande motivação para o filme”, complementa Bruno. “O machismo está enraizado na construção do imaginário do homem gay, que só é minimamente útil quando se apropria das características viris do padrão heteronormativo. Ser um negro, gay e afeminado, muitas vezes, é sinônimo de solidão. A não aceitação dos nossos corpos e do nosso comportamento é incisiva.”

O filme Moonlight, vencedor do Oscar 2017, traz essa discussão através do personagem principal. “Ele foi muito representativo em relação às opressões vividas pelos negros gays, a sensibilidade do filme é algo que nos toca profundamente”, comenta Bruno. Ele indica outros filmes sobre o assunto: Línguas Desatadas, de Marlon Riggs, Paris is burning, de Jennie Livingston, Favela Gay, de Rodrigo Felha e Madame Satã, de Karim Ainouz.

Questionar os padrões de masculinidade da perspectiva racial implica em “entender que homens negros são mais do que corpos, mais do que performance sexual, mas sim, homens com multiplicidades, diferenças, receios e vontades próprias”, sintetiza Caio César. Para Campos é preciso pensar no plural: “não há masculinidade, mas masculinidades”. muito representativo em relação às opressões vividas pelos negros gays, a sensibilidade do filme é algo que nos toca profundamente”, comenta Bruno. Ele indica outros filmes sobre o assunto: Línguas Desatadas, de Marlon Riggs, Paris is burning, de Jennie Livingston, Favela Gay, de Rodrigo Felha e Madame Satã, de Karim Ainouz

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Homens negros homossexuais enfrentam estereótipos e preconceitos tanto por sua raça quanto por sua sexualidade

Júlia, 32 anos, e Sérgio, 31, ficaram em casa naquele sábado à noite. Alugaram uma comédia romântica e antes da meia-noite estavam na cama. Juntos há seis anos e casados há três, fazia 30 dias que cada um virava para um lado sem sequer dar um beijo na boca. A ausência de sexo, silenciosamente conduzida por ele, persistia desde o segundo ano de namoro. Nos últimos tempos, o argumento era o cansaço de tanto trabalho. Ela não se lembrava da última vez que havia dito “não” – o que não significa que tomasse a iniciativa. Só que naquela noite, já deitados, o desajuste chegou ao ápice quando Júlia foi direto ao ponto: colocou a mão dentro da cueca dele. Sérgio a tirou e lançou: “Tô com dor de cabeça”. Ao escutar a frase, um turbilhão de ideias autodestrutivas invadiu o cérebro de Júlia. “Pensava: ‘Não acredito que ele deu a desculpa mais usada pelas mulheres. Será que estou gorda? Feia?’.” Mas perguntou apenas: “Quer que eu pegue um remédio?”.

Júlia suspirou e virou para o outro lado, tentando ignorar a sensação de rejeição. O quarto, antes cheio de paixão e cumplicidade, agora parecia frio e distante. O silêncio entre eles só aumentava o abismo, e ela não conseguia entender como tinham chegado a esse ponto. As noites, antes cheias de intimidade e desejo, agora eram um mar de insegurança e silêncio. Eles precisavam falar sobre o que estava acontecendo na cama, mas parecia que nunca era a hora certa. Eles precisavam falar sobre o que estava acontecendo na cama, mas parecia que nunca era a hora certa, e o medo de ouvir verdades dolorosas ou de enfrentar sentimentos reprimidos só tornava tudo ainda mais difícil.

Sim, os tempos mudaram

A videomaker Lara, 31 anos, também fica indignada com a falta de sexo: transa uma vez na semana com o marido, gerente de marketing, 33, com quem está há dois anos. E vem escutando a frase “estou cansado” como justificativa para as dispensadas. Diz ser a primeira vez na vida que tem mais vontade de transar do que o parceiro, mas agora, morando há um ano em Buenos Aires, acostumou-se a procurar “o momento ideal” para abordá-lo. Histórias como as de Júlia e Lara acontecem em muitas outras camas de casal e têm deixado cada vez mais mulheres inseguras e insatisfeitas. “O problema sou eu?

Será que estou gorda e feia?” foram as principais questões apresentadas pelas mais de dez entrevistadas (entre 20 e 40 anos) pela reportagem da Tpm. O maior interesse feminino por sexo, associado à recusa masculina, até

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A valorização pessoal dos homens vai além da beleza física, sendo influenciada pela autoimagem, conquistas e relacionamentos

décadas atrás seria inimaginável. Afinal, um dos clichês sociais é que o homem está sempre a postos. Por isso, a maioria das mulheres se sente rejeitada quando ouve um “não” e evita o assunto até com os parceiros, o que só aumenta a distância e, portanto, a chance de resolver a situação. Quando cogitamos a hipótese de entrevistá-los, as respostas foram negativas. “Só toco no tema ironicamente, tipo: ‘E aí, vai comparecer?’. Não sei até que ponto ele entende”, diz Júlia. Quando elas falam sério, em geral, é em uma briga, em tom de acusação. Assim, fica difícil para a mulher ter uma conversa madura sobre o que a incomoda e escutar o que o parceiro tem a dizer. “Tenho medo de parecer insaciável, de ouvir algo sério que não queira, de descobrir que ele tem outra...”, explica Júlia, em coro com a maioria das entrevistadas.

Acontece com os melhores casais

Agora imagine o contrário: será que um homem que escuta “não” da mulher acha que está feio, gordo ou que o problema é com ele? Por que as mulheres logo pensam que tem algo errado com elas e não aceitam que o cara possa estar de fato cansado, esgotado ou com alguma outra questão pessoal?

O publicitário Lucas, 40 anos, que namora há dois uma artista plástica, 30, conta que era seguro de sua sexualidade até que, em uma discussão, ela falou que queria mais quantidade. “Perguntei: ‘Por que não disse?’. E ela respondeu que se insinuou várias vezes, que estava se sentindo mal por parecer atirada. Mas juro que não percebi”, afirma Lucas. Como assim não percebeu? É isso que as mulheres questionam quando ouvem o parceiro dizer o que lhes soa como atestado de falta de atenção. E vale explicar: quando a namorada de Lucas diz que se insinuou, significa que, na cama, encostou seu corpo no dele, deu um beijo na orelha e umas passadas de mão. Minutos depois, sem ver reação, afastou-se. O psicanalista Nelson da Silva Junior, da USP, confirma o desconhecimento de muitos homens em relação a sentimentos da mulher que dorme ao lado: “Eles realmente não percebem o que está acontecendo. E o desejo que o outro adivinhe o que se quer é mais comum nas mulheres. Então, o melhor a fazer é elas falarem sinceramente do que sentem falta, o que desejam”, sugere ele, que atende dezenas de pacientes na faixa dos 30 anos com questões muito similares.. Mas o que significa esse descompasso? Rotina é a resposta clássica.

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Tenho medo de parecer insaciável, de ouvir algo sério que não queira

Autoestima masculina requer autoconhecimento e influência das experiências passadas, permitindo uma avaliação autêntica de si mesmo.

Outro fator relevante hoje é a liberdade que a mulher tem de tomar a iniciativa, mesmo que algumas ainda se sintam desconfortáveis quando isso vira regra. Como uma geração atrás o comum era o homem tomar iniciativa, não dá para saber se o interesse sexual deles diminuiu ou se a demanda delas é que aumentou. O fato é que eles agora também dizem não. O psicanalista Nelson acredita que a novidade, em geral, é fruto das mudanças de papéis. “Se as mulheres foram conquistando o lugar de desejantes, os homens também foram convidados a ocupar o lugar de desejados. E aqui temos um problema para ambos: não havia cartilhas culturais para isso. Então, a mulher se pergunta: ‘Será que seduzir não é coisa de vadia?’. Enquanto ele pensa: ‘Será que não sou homem?’.”

Nesse novo cenário, entra a vontade que os chefes de família têm de participar mais ativamente da vida doméstica, como confessam quando estão no divã do consultório de Nelson. Isso significa, por exemplo, trocar a fralda do filho e lavar a louça. “Só que o homem não está acostumado a ter vários papéis, ao contrário da mulher, que lida com essa diversidade naturalmente. Quando a equação masculina não fecha, alguma coisa tem que ser excluída. E às vezes é o sexo”, observa o psicanalista. Para a historiadora Mary Del Priore, autora de livros como A história das mulheres no Brasil, a queixa da ala feminina denota que ainda há estranhamento a essa nova realidade.

Insegurança X vontade

Junte a isso o ritmo de trabalho que se tem hoje. Para o psicanalista Nelson, a difusão da internet nos últimos 15 anos aumentou significativamente a carga de trabalho, o que reflete no sexo. “Não há mais tempo para namorar sem compromisso. É tudo com hora marcada. E o sexo também. As pessoas transam como se tomassem um calmante para relaxar e dormir”, diz, comparando relações sexuais a remédios tarjas pretas, álcool, televisão. Essa observação apareceu no discurso das entrevistadas, que associam o desinteresse sexual com a dificuldade dos parceiros se desconectarem do trabalho, do iPhone, do videogame e de dizer “não” para baladas, cigarros e bebidas alcoólicas. Para chamar a atenção do marido, a videomaker Lara pensa a toda hora em uma forma de sair da rotina e, assim, aumentar o desejo dele. Dia desses, mandou um SMS, no meio da tarde: “Hoje quero pau”. “Ele ignorou, respondeu qualquer coisa, como se eu tivesse es crito: ‘Vamos nos ver mais tarde’. Não

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sei se ficou com vergonha...”, palpita ela, que, de vez em quando, se esforça para falar sobre o tema.

De acordo com o psicólogo Aílton Amélio, da USP, existe a ideia de que os homens estão sempre prontos para o sexo, mas não é assim. “Eles podem ficar prontos mais rapidamente logo que se conhecem, mas na intimidade não é a regra”, diz. “Pressionar, às vezes, pode deixá-lo inseguro com sua masculinidade. Nesse ponto, o homem é muito frágil”, esclarece ele, também a favor do papo aberto, sem intenção de apontar culpados para isso.

Vamos falar de sexo?

Enquanto isso, no universo feminino, romantismo, sedução e demonstrações de carinho são fundamentais para a autoestima. Mais do que chegar ao orgasmo, elas enxergam no sexo um termômetro do relacionamento. “O que pega mais é a minha segurança do que a vontade física”, admite Lara, que diz não ter aumentado a frequência com que se masturba. Já a relações-públicas Renata, 29 anos, que namora um engenheiro, 30, garante ter energia para transar todo dia. “Ele me acha insaciável”, queixa-se. Segundo ela, o rapaz prefere guardar a energia para “sexo de qualidade”. Logo, ela se sente desprezada: “Fico achando que ele não se diverte comigo, sinto ciúme se fica na rua até tarde se saímos com amigos, mas em casa dorme cedo”, conta.

Não dá para esquecer que, da mesma forma que a dependência financeira feminina concedia poder maior aos homens até uma geração atrás, o sexo sempre foi uma arma feminina de controle – atire o primeiro sutiã a mulher que nunca se recusou a transar por birra. “Quando o homem diz ‘não’ tira esse poder da mulher, que sente, de alguma forma, que não pode mais prendêlo”, observa o psicanalista Nelson da Silva Junior. Muito melhor do que “prender” seria construir uma relação em que ambos têm liberdade de abrir mão de padrões para fazer o que querem sem dramas, não?

Sejam quais forem as negociações, Laura Muller, psicóloga e educadora sexual há mais de 15 anos, acredita que o fato de os homens estarem dizendo mais “não” é motivo de comemoração. “Minha indicação no consultório é que todos, homens e mulheres, possam dizer ‘não’ quando realmente não estiverem a fim. Temos que tirar esse peso da cobrança social, deixar a relação mais livre, mais sincera”, resume. Afinal, a verdadeira intimidade se constrói na honestidade e no respeito mútuo, e não na imposição de desejos ou na manutenção de poderes desiguais e desgastantes. Queremos beijo na boca!

Será que um homem que escuta “não” da mulher acha que está feio ‘‘
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As mulheres entrevistadas para esta reportagem chamaram a atenção para outro aspecto que as deixa insatisfeitas: a falta de beijo na boca. Algumas reclamam que seus parceiros só dão beijo de língua quando, em seguida, sabem que vão acabar transando. Ou então quando elas insistem, depois de semanas só no selinho. Outras comentam que, às vezes, nem durante o sexo rola beijo. O psicólogo Aílton Amélio aponta esse sintoma como corriqueiro entre casais de longa data, porém afirma que sinaliza a diminuição do romantismo, de maneira mais ampla, o que considera um “empobrecimento” da relação. O psicanalista Nelson da Silva Junior acredita que o beijo de língua é um gesto de “erotismo cotidiano, entre olhares, provocações, toques secretos”. “Se o beijo está em extinção, esses gestos também estão, e isto é o problema: a cultura do erotismo e da sedução está sendo substituída pela cultura do ato concreto da relação sexual, totalmente visível, sempre acessível.”

Essas observações destacam uma mudança na dinâmica dos relacionamentos íntimos, onde a comunicação não verbal e os gestos de intimidade estão sendo deixados de lado em nome da praticidade. Para muitas mulheres, o beijo de língua não é apenas um ato físico, mas uma expressão de conexão emocional e erotismo que a for-

talece o vínculo afetivo. Portanto, a ausência desse gesto pode indicar uma lacuna mais profunda na qualidade da interação entre os parceiros, exigindo uma reflexão sobre as prioridades e valores dentro do relacionamento.

Portanto, é importante valorizar os abraços, os beijos demorados e os olhares cheios de paixão. Eles podem ser pequenos gestos, mas fazem toda a diferença.

Em um mundo onde as demandas da vida moderna muitas vezes parecem sufocar a intimidade e a conexão emocional, é muito importante lembrar que os relacionamentos íntimos duram com atenção e cuidado constantes. Não podemos permitir que a comodidade interfira nos gestos afetuosos e nas expressões de amor. É necessário cultivar a valorização da intimidade e do romantismo, onde os pequenos momentos de carinho sejam priorizados. Ao reconhecer o poder dos gestos simples, como um beijo apaixonado, estamos fortalecendo os laços dos nossos relacionamentos e nutrindo a essência da conexão humana. Que possamos, assim, continuar a buscar e a valorizar esses momentos de intimidade, construindo relacionamentos mais profundos

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A LEVEZA

Do pai separado

A SEPARAÇÃO É UMA LUPA DE AUMENTO NAS DIFERENÇAS ENTRE MATERNIDADE E PATERNIDADE

ANA LUISA TORRES é Jornalista, publicitária, mãe e militante de questões femininas nas horas (nunca) vagas

Dos criadores de “a leveza da paternidade”, veio aí “a leveza do pai separado”. Também podemos chamar de “a leveza do homem”, já que “pai separado” é um aposto de impacto quase insignificante nas possibilidades masculinas. E do alto dos meus privilégios, nem vim aqui falar do pai que não paga pensão e que desaparece do mapa. É daquela pessoa decente e capaz, mas que jamais vai enfrentar uma fração das dificuldades sociais, psicológicas e afetivas da mãe separada.

Não vou entrar no aspecto da carga mental relativa à subsistência da criança, porque hoje estou generosa e facilitando. Aqui fingimos que está superada essa assimetria onipresente – que obviamente é acentuada na separação. Questões de pensão também vamos supor resolvidas, para isolar o exercício dessa pensata.

Vamos falar sobre perspectivas: de novos relacionamentos, da reconstrução da vida social. Quando a gente termina um relacionamento que romanticamente estava esgotado, de alguma forma, é natural procurar “o lado bom”: a emoção da paquera é iminente, assim como o frio na barriga do flerte. Que gostoso. Pro pai separado, é claro. A mãe mal sente esse gostinho para já ser esmagada com a realidade. Flertes? Só se for com alguém compreensivo, empático, de bom caráter, ótimos valores e livre de preconceitos.

Não dá pra desperdiçar tempo e energia, ambos muito escassos, numa aposta incerta que pode levar a um caminho errado. Preciso acertar. Precisa ser “o” cara. E mesmo assim – meus filhos vão perceber? Como vão reagir? .

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E a vida social, então?

Para a mãe, envolve pensar estrategicamente como usar seus finais de semana “livres” para chegar no rolê e ouvir perguntas como “com quem está seu filho?”, “você não fica com saudade?”. Envolve buscar a medida entre responder e não monologar sobre a criança, já que quem não tem filhos tem um interesse bem limitado. Para o homem, é sobre passar vários dias sem lembrar de perguntar como a criança está, com a tranquilidade de que está tudo certo, ela está com a mãe. E se ocorrer de ele mostrar fotos da criança no rolê, é visto como um paizão, um fofo!, é ponto a mais para ele.

É difícil editar exemplos ilustrativos das 1001 diferenças de pontos de vista do “depois”. Para mim são muitos, são quase todos. Como criar coragem para pedir pra eventualmente trocar os finais de semana? Como ouvir a criança chorar desesperadamente para dormir na sua casa, mesmo que se dê bem com o pai, porque obviamente o vínculo com a mãe é maior?

A separação é uma lupa de aumento nas diferenças entre maternidade e paternidade, que por sua vez são uma lupa de aumento nas diferenças entre ser mulher

ou homem. Ainda assim, não escolheria ser o pai – vim nessa vida pra ser uma pessoa daora, e certamente ser mãe me desafia a ser cada vez mais. Mas que dói ser diariamente esmagada pelo peso dessa assimetria, dói. E dá vontade de experimentar, pelo menos por um dia, a leveza do pai separado. A leveza da paternidade, a leveza do homem.

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Para o homem, é sobre passar vários dias sem perguntar como a criança está

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PESQUISA MOSTRA QUE

HOMENS NÃO SE ACHAM MACHISTAS. MAS...

PARECE TÍTULO DO ”SENSACIONALISTA”, MAS

ESTUDO MOSTRA QUE 76% DOS CARAS NÃO SE CONSIDERAM MACHISTAS

LOWNDES

NINA LEMOS é jornalista, piadista e candidata a mulher superior.Colaboradora da Tpm e uma das responsáveis pelo 02 Neurônio, responde pelas pérolas da seção Badulaque da Tpm.

“Será que você sofre preconceito por ser homem brasileiro?” Eu mesma ri de mim depois de fazer essa pergunta em um grupo da internet de brasileiros que vivem em Berlim. O sujeito apareceu perguntando se alguém conhecia um manual para lidar com mulheres alemãs.

Seguiu um bate-papo acalorado, simpático e engraçado entre brasileiros rindo das diferenças de costumes entre homens e mulheres brasileiras e alemãs.

Até que eu pensei que, para ser homem brasileiro na Alemanha e arrumar uma namorada, talvez esse homem tenha que encarar o seu machismo de frente e mudar. O que pode ser bem interessante. Para ele, principalmente. Quando falo que os homens brasileiros podem ser alvos de preconceito em países menos machistas, não estou com pena deles, veja bem. Desculpa, amigos, eu sei que vocês são legais, e que alguns de vocês (poucos) não são machistas. E nem é preconceito. É um conceito mesmo. Um medo baseado em números alarmantes. Na lista de países onde é melhor ser uma menina, o Brasil figura no numero 104, atrás de lugares como Afeganistão e Iraque. Um cara criado nessa cultura, pode ter, sim, hábitos e atitudes machistas que ele nem se dá conta que tem (ele foi criado assim). Quando esse sujeito dá de cara com mulheres que são mais independentes e não toleram machismo faz tempo, ele vai ter que mudar. O que, repito, pode ser ótimo.

Um conhecido uma vez disse que pediu para uma amiga islandesa o apresentar para alguma amiga e ouviu: “não, elas não vão te querer porque você é brasileiro”. A Islândia

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é o pais com mais igualdade de gênero do mundo. As mulheres lá são fortes e fodas. Elas lutaram para isso. Elas vão querer um homem de um país que tem fama de ser extremamente machista? Talvez sim. Mas com um pé atrás.

Não podemos generalizar, eu sei. Mas estou generalizando sim, pronto. Falo da cultura machista. E da fama que vocês, homens brasileiros, carregam aí pelo mundo. Ela não é boa. Vocês podem ter fama de amantes calientes (mas não se achem por isso, porque isso nem é legal, é um estereótipo idiota, assim como aquele que diz que todas as mulheres brasileiras são as deusas da cama dançarinas de samba (nada contra as dançarinas, mas não somos todas assim!).

E uma coisa é ser o macho latino da cama (um fetiche). Outra é dividir a vida com um homem que “ajuda” em casa ao invés de dividir.

Assim como acho que um monte de garotas novas e bacanas, essas que ocupam as ruas do Brasil pedindo pelos seus direitos, também não vão topar. Os caras vão ter que correr atrás e agir de jeito decente. Senão, desculpem, vão perder, playboys. Seja no Brasil, na Alemanha ou na Islândia.

E, no caso dos caras machões, assumo, eu acho bem feito. No caso dos legais, como esses colegas imigrantes do grupo, sinceramente, fiquei com pena e apego querendo ajudar. Principalmente depois de ouvir de um deles: “tá difícil mesmo, pelo menos o frio nos envolve. As alemãs não querem nem nos ver. Salve o frio, e a geladeira é a nossa companheira.” HAHAHA! #Ôdó

PS.: Nessa mesma conversa, rimos muito sobre os homens alemães que, às vezes, podem ser travados demais. Aqui acontece do seu namorado perguntar se pode passar a mão na sua bunda. Acho exagero. E engraçado. E fora que um homem alemão, assim como qualquer alemão de qualquer espécie, pode ser bem grosso. Ou seja, não tô aqui idealizando nada. E, no fundo, todo mundo é difícil. Até nós mesmas, claro.

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Na lista de países onde é melhor ser uma menina, o Brasil ficou em 104º

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HOMENS DE 40 ACHAM AS Mulheres DE 40 VELHAS

Se você passou dos 37 anos, prepare-se. Isso significa que a maioria dos homens de mais de 40 vai achar que você é velha. E vai te descartar como possível objeto de conquista sexual. Mas como eles podem achar velha alguém que é, na verdade, alguns anos mais nova do que ele? Coisas da matemática masculina.

Talvez eles te achem velha porque não podem te impressionar com bobagens. Você não vai achar o máximo ele ter um trabalho legal (porque você também tem e sabe que isso não significa tanta coisa assim). Nem com o fato de ele ter vários livros na estante (porque você também tem e sabe que os livros na estante já não têm tanta importância).

E, antes que você me acuse de mal-amada (porque mulher quando reclama ganha essa fama, você sabe), ninguém aqui está reclamando de falta de homem. Inclusive porque não falta. Existem vários meninos de 30 e poucos anos que nos acham o máximo. Muitos deles nem querem saber a nossa idade. E, em vez de competir, eles nos admiram. “Talvez eles tenham sido criados por mães mais modernas”, diz uma amiga. Pode ser. Mas o que interessa é que muitos deles são uns fofos. Sorte a nossa.

Barba, a maquiagem do homem

Para muitos homens, a barba não é apenas uma característica física, mas uma expressão de sua identidade e personalidade. A recente tendência de cuidados com a barba, popularizada por celebridades, levantou a questão: a barba é a maquiagem do homem? Muitos diriam que sim. A barba pode ser usada para realçar as características faciais, esconder imperfeições. No entanto, assim como a maquiagem, a barba requer cuidados diários e personalizados. Cada tipo de pele e barba tem necessidades específicas, e é importante escolher os produtos e técnicas certos para garantir a saúde e a beleza da barba.

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Festival de Cannes 2024

O festival de Cannes, um dos mais importantes da indústria, traz lançamentos de Coppola e uma prequela de Mad Max. Um dos mais importantes eventos da indústria cinematográfica. O Festival de Cannes apresenta em cada edição alguns dos maiores lançamentos do ano.

Furiosa (Direção: George Miller)

Estrada da Fúria teve uma grande exibição de gala fora de competição em Cannes (um dia antes de ser lançado) em 2015, então não é surpresa que George Miller estreasse sua prequela — que nos conta a origem história de Furiosa — no festival. Anya Taylor-Joy calça as botas surradas e empoeiradas de Charlize Theron para interpretar uma versão mais jovem da anti-heroína pós-apocalíptica. Também acompanham o passeio: Chris Hemsworth, interpretando um personagem com o nome de Dementus; Tom Burke como o guerreiro mais durão da cidade.

Oh, Canada (Direção: Paul Schrader )

Megalopolis (Direção: Francis Ford)

Há quase 40 anos que Francis Ford Coppola persegue uma história construída em torno do conceito de utopias, da ascensão e queda de impérios. Agora, ele finalmente capturou sua baleia branca e transformou um sonho em realidade. As primeiras palavras sobre o épico de Coppola apresentando Adam Driver, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Giancarlo Esposito, Laurence Fishburne, Dustin Hoffman, Jon Voight, Chloe Fineman, Kathryn Hunter e membros da família Coppola Talia Shire e Jason Schwartzman têm causado sentimentos divididos.

Em seu mais novo filme, Paul Schrader aborda o trabalho do romancista Russell Banks, o mesmo autor que lhe deu o material de origem para Affliction, de 1997. Um escritor (Richard Gere) decide fazer as pazes com seu passado como americano que se mudou para o Grande Norte Branco para evitar ser convocado durante a Guerra do Vietnã. Sua decisão de contar tudo não agrada seus amigos e entes queridos, entretanto. Uma Thurman, Michael Imperioli e o atual cara do momento, Jacob Elordi, estrelam a produção.

Bird (Direção: Andrea Arnold)

Se você viu o trabalho da cineasta britânica Andrea Arnold, sabe que ela tem um talento especial para encontrar pungência em vidas difíceis e momentos de ternura nas circunstâncias mais difíceis da maioridade. Seu filme mais recente parece estar dentro de seu ponto ideal: uma menina de 12 anos (Nykia Adams) mora em Kent com seu pai (Barry Keoghan) e seu irmão (Jason Buda). Um estranho misterioso ( Franz Rogowski) logo entra em cena. Arnold promete entregar uma narrativa envolvente, explorando as complexidades das relações humanas.

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POR ROLLING STONE FOTO: DIVULGAÇÃO

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