lapso

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dezembro_23




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/nesta edição nicolli damaceno_

letícia botelho_

julia rodrigues_

prezado leitor, é com muita emoção que inauguramos a primeira edição da revista Lapso, extraindo conversas urgentes e questionadoras sobre a contemporaneidade. nesta primeira edição, a Lapso teve a honra de contar com muitas participações especiais e generosas para te fazer refletir sobre a construção da sua própria autenticidade na era digital. em nossas páginas rosas, buscamos refletir sobre como a influência da sociedade na formação molda, educa e influencia nossas atitudes e também nossa percepção de mundo. nossos colunistas também contribuem para essa discussão, oferecendo insights sobre a intensa densidade digital que está presente em nosso cotidiano. nossas seções também aderem a essa abordagem: trazer o contraponto do digital - mas algumas firmando propostas de serem o que você quiser que elas sejam. esperamos que as reflexões presentes em nossas páginas contribuam para uma visão mais autêntica e enriquecedora das suas conexões digitais e consigo mesmo(a). com carinho, área de proteção = 1/2 retângulo lapso

patrick castro_

escola superior de marketing e propaganda

josé aranha_

projeto III marise de chirico_ cor, percepção e tendências paula csillag_ produção gráfica mara martha roberto_ finanças aplicadas ao mercado paulo faria_ marketing estrátegico luis americo_ ergonomia matheus passaro_ auresnede pires sthephan_ infografia e visualização de dados marcelo pliger_ projeto editorial e gráfico josé aranha_ julia rodrigues_ letícia botelho_ nicolli damaceno_ patrick castro_



/colaboradores

andré alves_

luiza voll_

especialista em psiqueanálise e pesquisador de cultura e comportamento. também discute temas como saúde mental, internet e relacionamentos humanos.

aborda temas como tempo, qualidade de vida e o impacto da internet. sócia do estúdio Contente, dedicado a promover o bem-estar

vanessa rozan_

daniela arrais_

apresentadora de TV, curadora de bem-estar e dona do Liceu de Maquiagem.

jornalista e co-fundadora da Contente, método de conteúdo para uma vida mais significativa.


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/sumário_001 retalhos_ sobrecarga digital e

14 óleos essenciais panfleto_

16 um game, livro, álbum e filme itinerário_

18 conheça santo amaro 20 conheça freguesia do ó 22 conheça mooca 24 conheça barra funda

panóptico_

26 byung chul han

impressão_

32 noelia ramírez burnout_

38 genesson honorato panorama_

44 consumo de drogas


lente_

46 artificialidade autêntica 48

o zap tira a poesia das conversas?

50 52 essa tecnologia audaciosa quando escolher não dar um Google

arquivo_

54 editorial de moda scan_

62 serial experiments lain liminal_

68 espaços liminares

diagnóstico_

76

saiba quão ferrado a pandemia te deixou

tarot_ veja o que as cartas têm

77 a te dizer

rabisco_

80 rabisque livremente na manga_

82 seu console portátil


/re talhos

sobrecarga digital_ o tempo online no brasil supera a média global, mas essa conectividade intensa trouxe um desafio significativo: o burnout.

reprodução: getty Images

sobre impacto na saúde mental aumento no tempo gasto online, especialmente nas redes sociais e na exposição constante de notícias e informações, está agravando os sintomas de burnout digital, incluindo fadiga, ansiedade, estresse, dificuldade de concentração e também casos de isolamento.

brasileiros ultrapassam média global de tempo online segundo a consultoria da você rh, os brasileiros passam em média mais de 9 horas conectados à internet, superando a média global de quase 7h por dia.

reprodução: unsplash

o burnout digital, como um novo fenômeno, está levando empresas a incentivarem a desconexão de seus funcionários, com a maior implementação do home office em diversas funções e áreas já acontecendo.

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óleos essenciais conheça alguns benefícios FOLHA DE CRAVO benéfico para recuperar do esgotamento físico e mental. estimula o raciocínio lógico, a simpatia e o bom humor.

LAVANDA relaxante e sedativo, acalma a angústia e a insônia, controla e emotividade. promove relaxamento profundo trazendo uma sensação de paz e liberdade. ALECRIM atua no sistema circulatório e vascular. estimula a memória e a circulação sanguínea, combate a fadiga mental e física. BERGAMOTA promove otimismo, poder pessoal e autoconfiança, eliminando medos em geral e dissipando a raiva, ressentimento e também ciúmes. CAPIM-LIMÃO melhora a intuição, a concentração e limpa os pensamentos. ajuda na depressão e insônia, sendo saudável até para crianças hiperativas ou com problemas durante o sono.

OS ÓLEOS ESSENCIAIS são compostos naturais, voláteis e aromáticos extraídos de plantas. a aromaterapia, como é chamada, utiliza esses óleos para promover saúde e bem-estar, estimulando áreas do sistema límbico no cérebro, relacionadas a emoções, memória, comportamento e olfato. quando usados em cosméticos, os óleos essenciais podem aprimorar os produtos, oferecendo não apenas aroma, mas benefícios como redução de estresse e ansiedade, alívio de enxaquecas, melhora do sono, aumento de energia e estimulação.

reprodução: getty Images

LARANJA DOCE reduz a ansiedade e o estresse, pois proporciona ânimo, motivação e alegria. amenizam problemas de circulação auxilia no combate a celulite.

autenticidade 17


/pan fleto

conheça_

um filme, livro, álbum e jogo

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o filme drive my car, segue duas pessoas solitárias que encontram coragem para enfrentar o seu solitario passado. yusuke kafuku é um ator e diretor de sucesso, casado com oto. dois anos depois da morte de oto, ainda sem sair do luto, ele aceita dirigir uma peça em hiroshima, embarcando em seu precioso carro saab 900. lá, ele conhece misaki watari, uma jovem chauffeur, linda. apesar de suas dúvidas iniciais, uma relação especial se desenvolve entre os dois.

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após 1989, o capitalismo se apresentou com sucesso como o único sistema político-econômico viável no mundo – uma situação que só começou a ser questionada para fora dos círculos da esquerda a partir da crise bancária de 2008, começa-se a entender a urgência de se desmontar a ideia de que “não existe alternativa”. escrito pelo filósofo e crítico cultural mark fisher, desnuda o desenvolvimento e as principais características do “realismo capitalista”, que delineia a estrutura ideológica em que vivemos. usando exemplos de política, ficção, trabalho e educação, argumenta que o “realismo capitalista”. devido a inconsistências e falhas internas ao programa de realidade do capital, o capitalismo é tudo – menos realista.


3

o quinto disco de fiona apple está sem restrições. nenhuma música jamais soou assim. apple gravou fetch the bolt cutters dentro e com sua casa, batendo nas paredes, pisando no chão. a autossuficiência é a sua regra, a curiosidade é a sua chave. fetch the bolt cutters parece diminuir quase completamente o volume da história da música, enquanto aumenta a vida real e crua - palmas, cantos. percussões improvisadas, em harmonia com o espaço, ecos, sussurros, gritos, respiração, piadas.

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stardew valley é um rpg sem fim da vida no campo! você herdou a antiga fazenda de seu avô no vale do orvalho. equipado com ferramentas de segunda mão e algumas moedas, você irá começar sua nova vida. será que você consegue aprender a viver da terra e transformar esses campos absurdamente vegetados em uma casa próspera? não vai ser fácil. desde que corporação joja veio à cidade, os antigos modos de vida quase desapareceram. o centro comunitário, uma vez o lugar mais visitado da cidade, agora está em ruínas. mas o vale parece cheio de oportunidades. com um pouco de dedicação, você pode ser a pessoa que restaurará o vale do orvalho!

indicações 19


/iti nerário

conheça santo amaro_ ZONA SUL

a origem da região de santo amaro está ligada a uma aldeia indígena à margem do rio jurubatuba ou jeribatiba, que somente em 1950 foi nomeado oficialmente como rio pinheiros. o nome santo amaro, é de um santo nascido em 513 d.c. na itália, identificado como protetor dos carroceiros, carregadores e fabricantes de velas. em 1832 santo amaro tornou-se município, porém, após 103 anos, em 22 de fevereiro de 1935, o interventor armando sales de oliveira resolveu anexá-lo à cidade de são paulo. um dos motivos foi a construção do aeroporto de congonhas, inaugurado em 1934, que serviu como local para o transporte aéreo em são paulo. além do autódromo de interlagos, o bairro reúne um dos loteamentos de mais alto padrão da cidade. um otimo comércio, e o largo 13 de maio. nos últimos anos, indústrias, grandes escritórios e sedes de bancos estabeleceram-se nas áreas próximas à marginal do rio pinheiros. essa urbanização tem contribuído para a diversificação econômica e cultural da região.

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BIBLIOTECA PREFEITO PRESTES MAIA av. joão dias, 822 ocupa um prédio de sete andares. um destaque são os livros dedicados à arquitetura e ao urbanismo, que tambem compõem a história da cidade.

TEATRO ALFA r. bento branco de andrade filho, 722 atualmente pertence ao conglomerado alfa. vários eventos consagrados aconteceram na inauguração: Chick Corea, Jobim Morelenbaum, Toda Nudez Será Castigada, protagonizada por Pêra e a ópera La Boheme.

ABADOM SP r. ada negri, 448 adentre o cenário pós-apocalíptico de infectados, onde o mundo foi devastado por uma praga. a sobrevivência é a sua única prioridade.

SESC SANTO AMARO r. amador bueno, 505 o Sesc Santo Amaro é diferente. tem uma estrutura de bambu sob grama artificial para crianças brincarem e containers, banquetas e mesas, pneus de borracha para parkour e bambus. este lugar é ótimo para visitar com a família, não perca essa oportunidade!

cidade 21


/iti nerário

conheça freguesia do ó_ ZONA NORTE

a freguesia do ó foi fundada por manuel preto em 1580, quando com sua família e índios escravos, tomou posse daquelas terras. o local, inicialmente era apenas para descanso dos bandeirantes que acreditavam que o pico do jaraguá tinha ouro. em 1610 solicitou à sede da paróquia autorização para erguer uma capela em honra de nossa senhora do ó, que deu nome ao lugar. a principal cultura era a de cana-de-açúcar, para a produção de aguardente, que durante muitos anos foi seu principal negócio. café, mandioca, algodão e legumes eram outras culturas, porém utilizadas para a subsistência. a importância da cana foi tamanha, que ainda hoje algumas casas conservam uma plantação em seus quintais. um dos fatores que contribuíram para que o bairro mantivesse aspectos preservados foram as constantes enchentes do rio tietê, que também era de traçado tortuoso, da topografia íngreme e do seu relativo afastamento do centro de são paulo. essa interação única com a agricultura e as características geográficas específicas proporcionaram ao bairro uma identidade única.

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LARGO DA MATRIZ largo da matriz de n sra. do ó o local mais famoso da região e tem tradições antigas, incluindo festas religiosas e feiras de artesanatos. é rodeado por bares, botecos e restaurantes badalados.

CASA DE CULTURA LIGABUE largo da matriz de n sra. do ó, 215 localizada bem atrás da igreja de nossa senhora do ó. oficinas enchem seus corredores. o local conta com auditório, salas de atividades, mezanino de exposições e área para leitura.

FRANGÓ largo da matriz de n sra. do ó, 168 um dos botecos mais amados do bairro. evoluiu para um bar descolado, o carro-chefe é a coxinha de frango.

SOCIEDADE ROSAS DE OURO r. coronel euclides machado, 1066 a sociedade rosas de ouro reside na freguesia! os bares e restaurantes da região ficam lotados de roseiros, que se juntam para ver o desempenho da escola do coração. na quadra, a emoção de um ensaio é ímpar, capaz de contagiar até a pessoa menos dançante do rolê.

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/iti nerário

conheça mooca_ ZONA LESTE

a região começou a se tornar mais fortemente explorada com o desenvolvimento do centro da cidade, mas o primeiro marco histórico sobre o bairro consta de 17 de agosto de 1556. nesta época, o local era povoado pelo povo indígena, o qual deu nome à mooca, que significa “faz casa”, em alusão às primeiras casas que os brancos levantaram. no primeiro século pós-império, a mooca era repleta de grandes casas e chácaras, e até recebeu a ilustre morada do regente feijó. ao longo dos anos, a região foi sendo loteada e passou a receber vendas e pequenas fábricas, que, ao longo da história, constituíram um dos principais polos industriais do século xx. da cultura indígena restaram os nomes das ruas: javari, taquari, cassandoca, itaqueri, ariboia, guaimbé e outras inúmeras cujos nomes foram substituídos. com o forte potencial econômico, o bairro se tornou operário, e recebeu o jockey club, o estádio de futebol do clube juventus, e a forte imigração italiana que povoou a mooca e lá fortaleceu suas raízes. os descendentes de italianos participam ativamente, até hoje, como mooquenses mais do que verdadeiros.

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BENDITA MARIA r. dos trilhos, 1269 não dá para não se aventurar em uma das várias pizzarias espalhadas pelo bairro. uma delas é a Bendita Maria, famosa por oferecer pizzas retangulares e que são vendidas por metro.

ROLLER JAM r. fernando falcão, 393 o lugar oferece uma pista de patinação inspirada nos anos 1970 e 80. a decoração com luzes neon e a lanchonete estilo diner melhoram a experiência. há instrutores dispostos a ajudar os que não se garantem em cima dos patins.

CASARÃO DO VINIL r. dos trilhos, 1212 tem uma vitrola e precisa renovar seu estoque de discos? visite o casarão de discos, loja que conta com mais de 700 mil lps em acervo.

MUSEU DA IMIGRAÇÃO r. visconde de parnaíba, 1316 instalado em uma antiga hospedaria, o museu da imigração se propõe a estudar os movimentos imigratórios que ajudaram a formar a são paulo que conhecemos hoje. a estrutura conta com muitos espaços expositivos, auditório e um jardim enorme.

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/iti nerário

conheça barra funda_ ZONA OESTE

antigamente, a barra do rio tietê na região era muito funda – daí o nome do bairro. nos últimos anos do século xix, a chácara foi loteada e, por estar próxima do centro e receber trilhos da são paulo railway em suas terras, cresceu. com os trilhos e os moradores vieram também as indústrias, o que fez a região crescer desordenadamente. uma parte da barra funda tornou-se bairro eminentemente operário, em que as epidemias de febre amarela, varíola e cólera eram constantes devido às más condições das moradias e aos frequentes alagamentos do tietê. está no tradicional bairro um dos principais teatros da capital: o grande teatro são pedro, construído pelo imigrante português manuel fernando lopes e fundado em 17 de janeiro de 1917. durante décadas ele levou aos paulistanos peças com atores importantes com sadi cabral, procópio ferreira e a polônia pinto. mas também estão na barra funda edificações que no seu tempo foram orgulho da capital e que hoje vão morrendo lentamente, tijolo a tijolo, ladrilho a ladrilho, numa clara mostra de que são paulo enterra suas casas antes mesmo de enterrar seus mortos.

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TEATRO BRADESCO r. palestra itália, 500 o teatro bradesco oferece shows, apresentações de comédia e mais em um espaço com capacidade para 1400 pessoas. é considerado o melhor teatro paulistano para se visitar.

PARQUE DA ÁGUA BRANCA av. francisco matarazzo, 455 além de espaços para exposições e até equipamentos de ginástica, o local abriga atrações como o museu geológico e a casa de caboclo, uma réplica de residências da zona rural, o aquário e o relógio do sol.

AUDIO CLUB av. francisco matarazzo, 694 centro de curadoria de música que seleciona os melhores artistas de cada gênero. o local é de fácil acesso: está bem perto da estação de metrô e trem.

MEMORIAL DA AMERICA LATINA av. auro soares de m. andrade, 664 tem como proposta difundir manifestações culturais latino-americanas, de criatividade e saber. desenhado pelo renomado arquiteto oscar niemeyer, o local abriga salões de exposições e biblioteca, todos em homenagem a grandes figuras latino-americanas.

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entreato / burn out

panóptico de Byung Chul Han_ a antropotecnologia converte olhos em motores de busca, nos vigia e devora os instantes contemplativos, única chance para sermos felizes texto JOSE MARÍA ROBLES imagens BETH FREY

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a

tualmente tudo fica elegante. em breve viveremos em uma cidade elegante onde tudo, sim, completamente tudo estará interligado, não só as pessoas, mas também as coisas. receberemos e-mails não só de amigos, mas também de eletrodomésticos, animais de estimação e alimentos na geladeira. a internet das coisas torna isso possível. na cidade elegante andaremos todos com óculos google. nos fornecerão informações úteis em todos os lugares e em todos os momentos, sem que as tenhamos consultado expressamente. também tomarão decisões por nós. com

um aplicativo de namoro, nos ajudarão a ter ainda mais sucesso e eficácia em assuntos relacionados ao amor e ao sexo. os óculos de dados examinam nosso campo visual em busca de informações úteis. nos tornamos sortudos buscadores de informação e então assumimos a perspectiva do caçador. os campos visuais dos quais nenhuma informação pode ser esperada são eliminados. a demora contemplativa nas coisas, que seria uma fórmula de felicidade, dá lugar completamente à busca por informações. a percepção humana finalmente atinge a eficiência total. você não se permite mais se distrair com coisas que merecem pouca atenção ou ainda mais com pouca informação.

performace 29


entreato / pa burnnóptico out

sociedade da transparência e a internet das coisas

a internet das coisas consome simultaneamente a sociedade da transparência, que se tornou indistinguível de uma sociedade de vigilância total. as coisas ao nosso redor nos observam e nos vigiam. eles enviam continuamente informações sobre o que fazemos e o que não fazemos. por exemplo, a geladeira conhece nossos hábitos alimentares. a escova de dentes interligada conhece a nossa higiene dentária. as coisas operam ativamente na protocolização total da vida. a sociedade digital de controle transforma até óculos de dados em câmeras de vigilância e o smartphone em microfone espião. cada clique que fazemos é registrado hoje. cada passo que damos é reconstruível. estamos deixando nossas impressões digitais por toda parte. nosso hábito digital é reproduzido

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exatamente na internet. a protocolização total da vida substituirá totalmente a confiança pela informação e pelo controle. a confiança possibilita o relacionamento com outras pessoas, mesmo que não saibamos mais nada sobre elas. a interconexão digital facilita o fornecimento de informações a tal ponto que a confiança se torna cada vez mais irrelevante. dê lugar ao controle. desta forma, a sociedade da transparência é estruturalmente semelhante à sociedade do controle. onde a informação pode ser obtida com muita facilidade, o sistema social passa da confiança para o controle e também a transparência. o big brother é substituído pelo big data, onde pode-se ver a protocolização total e sem reservas da vida consuma a sociedade da transparência. o que faz, de forma gradual de um panóptico digital quase estruturado.


sociedade de controle

a ideia do panóptico vem do filósofo britânico jeremy bentham. no século xviii concebeu um edifício prisional que permitia a vigilância total dos reclusos. as celas estão dispostas em torno de uma torre central de vigilância, que dá ao big brother uma visão total. os presos são isolados para fins disciplinares e não podem falar uns com os outros. ao contrário deles, os habitantes do panóptico digital comunicam-se intensamente entre si e despem-se voluntariamente. a sociedade digital de controle faz muito uso da liberdade. isso só é possível por meio da auto-revelação voluntária e da auto-exposição. na sociedade do controle digital, a exibição pornográfica acaba sendo identificada com o controle panóptico. a sociedade da vigilância consuma-se onde os seus habitantes comunicam não por coerção externa, mas por uma necessidade interna, onde o medo de ter que renunciar à esfera privada e íntima dá lugar à necessidade de se expor descaradamente, e onde a liberdade e o controlo tornar-se indiscernível. o big brother no panóptico de bentham só pode observar os presos de fora. ele não sabe o que está acontecendo dentro deles. ele não consegue ler seus pensamentos. já no panóptico digital é possível penetrar até no pensamento de seus habitantes. esta é a enorme eficácia do panóptico digital. o controle psicopolítico da sociedade torna-se possível.

a sociedade da transparência tem a estrutura semelhante à sociedade de controle

sociedade de controle

no estado policial de george orwell, a linguagem ideal é chamada novilíngua. tem que substituir completamente o oldspeak. a novilíngua tem como único objetivo reduzir a margem de pensamento. os crimes mentais só devem ser impossíveis eliminando do vocabulário as palavras que seriam necessárias para isso. é por isso que a palavra “liberdade” também foi eliminada. já neste sentido, o estado policial de orwell distingue-se do panóptico digital de hoje, que faz uso excessivo da liberdade. o estado policial de orwell com teletelas e salas de tortura é algo totalmente diferente do panóptico digital com internet, smartphones e óculos google, onde prevalece a aparência de liberdade e comunicação ilimitadas. aqui não há tortura, mas as postagens são postadas ou tuitadas. a vigilância que se identifica com a liberdade é muito mais

performace 31


entreato / pa nóptico

eficaz do que qualquer outra vigilância que atue contra a liberdade. a técnica de poder do regime neoliberal não é nem proibitiva nem repressiva, mas sedutora. uma força elegante é aplicada. em vez de proibir, seduz. não se impõe exigindo obediência, mas agradando. submete-se à situação de dominação enquanto consome e se comunica, e até mesmo ao clicar no botão curtir. o poder elegante molda-se à psique, lisonjeando-a em vez de reprimi-la ou discipliná-la. não nos impõe nenhum silêncio. pelo contrário, exorta-nos constantemente a comunicar, a partilhar, a participar, a expressar as nossas opiniões, necessidades e desejos e a contar a nossa vida. hoje estamos diante de uma técnica de poder que não nega nem reprime a nossa liberdade, mas antes a explora. é nisso que consiste atualmente a história chamada crise de liberdade.

princípio da positividade na sociedade de controle

o princípio da negatividade que define o estado policial de orwell é substituído pelo princípio da positividade. isso significa que as necessidades não são reprimidas, mas sim estimuladas. a comunicação não é reprimida, mas maximizada. em vez de confissões extraídas através de tortura, surge a exposição voluntária da esfera privada e o desvelamento digital da alma. o smartphone substitui a sala de tortura. o big brother de bentham é invisível, mas onipresente na cabeça dos presos. no panóptico digital, por outro lado, ninguém se sente realmente vigiado. é por

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a comunicação não é reprimida, mas maximizada isso que o termo estado policial não é inteiramente apropriado para caracterizar o panóptico digital de hoje. nele a pessoa se sente livre. mas precisamente este sentido de liberdade, totalmente ausente no estado policial de orwell, é um problema, porque impede a resistência. em 1987 houve fortes protestos – na coreia do sul – contra a preparação do censo demográfico nacional. hoje a vigilância passa por liberdade. a liberdade acaba sendo, na verdade, um certo tipo de controle.


transição à sociedade de controle

o comercial da apple que foi ao ar em 1984 durante o super bowl é lendário. nesse anúncio, a apple apresenta-se como uma libertadora contra o estado policial de orwell. alguns trabalhadores com aparência apática e apática entram em um grande pavilhão e ouvem atentamente o discurso fanático do grande irmão na teletela. de repente, um corredor irrompe no pavilhão, perseguido pela polícia do pensamento. corra para frente imperturbável. diante dos seios balançantes ela carrega um grande martelo. ela se dirige resolutamente em direção ao big brother e atira o martelo com toda a força contra a teletela, que pega fogo ao ser atingida. os homens acordam da sua apatia. uma voz proclama: “no dia 24 de janeiro, a apple computer apresentará o macintosh. e você verá por que 1984 não será como 1984.” mas, ao contrário do que diz a mensagem da apple, o ano de 1984 não marca o fim do estado policial, mas sim o início de uma nova sociedade de controle, cuja eficácia excede em muito a do estado policial de orwell.

foi recentemente anunciado que a agência de segurança nacional chama steve jobs, nos seus documentos internos, de “big brother”. os usuários de telefones celulares são designados como “zumbis”. é por isso que é coerente que se fale em “exploração de smartphones”. mas a agência de segurança nacional não é o verdadeiro problema. não só a google ou o facebook, mas também empresas de dados como a acxiom, uma empresa de marketing que opera a nível mundial, estão a ser vítimas da febre da recolha de dados. só nos estados unidos, a empresa possui dados de 300 milhões de cidadãos norte-americanos, ou seja, quase todos eles. “oferecemos a você uma visão de 360 graus ​​ de seus clientes”, diz o slogan publicitário panóptico da acxiom. tendo em conta este desenvolvimento, edward snowden não é nem um herói nem um criminoso. ele é um fantasma trágico num mundo que se tornou um panóptico

performace 33


entreato / im pressão

“os millenials perceberam que a meritocracia não existe“_ anne helen petersen sabe de quem é a culpa pela epidemia de burnout e no seu livro não aguento mais não aguentar mais ENTREVISTA NOELIA RAMÍREZ

embora seja uma das repórteres mais intuitivas e que melhor entenderam a sociologia e a cultura da internet nos últimos 15 anos, anne helen petersen (idaho, 39 anos) ainda se surpreende, em conversa via zoom, ao mencionar a explosão de um texto seu sobre a incapacidade de cumprir afazeres simples, como levar as botas ao sapateiro, marcar hora no dermatologista ou passar aspirador no carro. seu ensaio intitulado como os millennials se tornaram a geração do burnout, publicado em 2019 no buzzfeed, foi lido mais de sete milhões de vezes em inglês, colhendo outros milhões de leitores a mais ao ser traduzido para diversos idiomas. uma interessante versão ampliada acaba de ser publicada sob o título de não aguento mais não aguentar mais (harpercollins, 2021), uma exaustiva investigação e análise que contextualiza o cansaço geracional e oferece chaves, e muitos dados, para entender do que falamos quando nos referimos a uma geração queimada (ou esgotada). sobre por que as redes sociais são tão exaustivas, como o lazer desapareceu das nossas vidas, e de que maneira a cultura trabalhista se perdeu.

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nossos pais, avós e tataravós passaram penúrias como a guerra, doenças, trabalho físico muito intenso e inúmeros fatores que os levam a nos dizer: “você não tem nem ideia de como isto foi duro; para você tudo foi mais fácil”. aqui ninguém nega que a vida seja atualmente muito menos árdua em diversos aspectos, mas também é mais complicada. há muitos fatores de pressão sobre os indivíduos, como consumir notícias o tempo todo ou ter que representar nossa vida a todo momento, não só no trabalho, mas também nas redes sociais. sei que se você disser ao seu avô “estou esgotado por como me apresentar no instagram”, ele te dirá: “mas que tipo de problema é esse?”. basicamente, essa constante autorrepresentação é de fato exaustiva, obrigando a se conceber a todo momento como uma mercadoria e a pensar em como seu valor.

ilustração por: karine albuquerque

não é a primeira vez que a sociedade fica cansada. você conta que a chamada síndrome do burnout, ou esgotamento, foi, antes, detectado pela primeira vez em 1974 e que esta tem sido uma sensação cíclica diante as mudanças, do “cansaço melancólico do mundo” diagnosticado por hipócrates à “neurastenia” que, no século xix afligia os indivíduos atropelados “pelo grande ritmo da vida moderna”. por que agora ela parece diferente? o que mudou de lá para cá?

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Imagem: beth frey

entreato / im pressão

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você diz que ouvir um podcast, ler um livro ou ver uma série é trabalho não remunerado

sim, é parte do nosso contínuo aperfeiçoamento do eu. é ótimo que as pessoas queiram aprender e conhecer mais coisas, serem curiosas. por esse motivo se leram livros a vida toda, mas a diferença com esta geração é que agora todo este consumo também serve para compartimentar marcadores que definem nossa representação social. você precisa anunciar: “estou escutando este podcast”, muitas vezes não o ouve porque gosta ou porque te interesse, mas porque basicamente são deveres.

você também diz que somos a geração que derrubou o mito da meritocracia

acho que os millennials perceberam que, independentemente do seu esforço e de seguir o caminho certo, as coisas podem mudar muito rapidamente e você será substituído, a não ser que provenha de uma família muito rica e poderosa. você pode ter ido aos melhores colégios, ter batalhado muitíssimo, conseguir um emprego e trabalhar duro, mas isso não garante sucesso nem estabilidade. e isto tem pouco ou nada a ver com o indivíduo, e mais com os sistemas que o puseram nessa posição de vulnerabilidade.


mas quem critica isso é chamado de molenga e mimimizento. no livro você inclui um tuíte viral sobre esta alta guerra geracional: “os baby boomers fizeram isso de deixar só um pedaço de papel higiênico no rolo e fingir que por ora não era a obrigação deles de trocá-lo, mas com toda uma sociedade”

nós, os millenials, somos acusados de sermos uns mimados, de nos acharmos especiais, mas essa afirmação de alguma forma apaga a maneira como chegamos até aqui. quem nos disse que éramos especiais? quem nos construiu desta forma? se nossos avós e pais nos disseram que éramos tão especiais e válidos, por que não tenho esta vida tão ímpar e perfeita que deveria alcançar depois de ter feito tudo o que justamente me pediram para fazer? aí vêm e lhe dizem: “você é uma malcriada”. isto é parte do ressentimento que agora socializamos. fomos criados achando que progrediríamos como nossos avós e pais, mas os mecanismos que tornavam a classe média robusta se fragilizaram ou foram erradicados. a metáfora do papel higiênico também poderia ser aplicada à da escada: eles subiram por uma, e quando chegaram, simplesmente a jogaram no chão, e agora ainda por cima nos gritam: “por que vocês não têm forças para pular e chegar até aqui?”.

foto: anne helen peterson, arquivo pessoal

por que vocês não têm forças para pular e chegar até aqui?

performace 37


entreato / im pressão

agora lido muito melhor com isso, já conheço o lugar onde estou. também me imponho barreiras: já não viajo a trabalho tanto como antes. poder me assentar no meu espaço e ter mais calma me ajuda num nível extremamente alto. é muito imporante para mim.

você diz que nem a meditação nem uma máscara de autocuidado nos salvarão. o que salvará?

uma reforma estrutural do sistema? o capitalismo nos leva a acreditar que as coisas são assim. mas não tem por quê. usar menos o instagram e passar um creme pode aliviar, mas devemos pensar no trabalho de forma coletiva para conseguir a mudança.

Foto: Anne Helen Peterson, arquivo pessoal

você passou por um grande burnout sem ter consciência dele. depois de escrever um livro, enviar sua newsletter semanalmente por email e preparar outro livro, sabendo toda a teoria, não voltou a se esgotar?

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a atenção humana foi hackeada_ a economia da atenção está fragmentando as percepções de mundo, a produtividade e as experiências a todo momento texto Genesson Honorato imagens beth frey


a

lguém já deve ter dito ou ouvido outra pessoa dizer que o tempo está voando, passando rápido demais. quando param para prestar atenção, já passou o primeiro quarter, a metade do ano, então já é natal. a boa notícia é que não, o ano não está passando mais rápido, o dia continua tendo 24 horas e os meses e semanas são os mesmos. já a má notícia é que a percepção do tempo está muito fragmentada, porque a atenção humana virou o produto mais concorrido do planeta e isso tem nome: economia da atenção – termo cunhado pela primeira vez pelo economista, psicólogo e cientista político herbert alexander simon na década de

1970, que explica como a atenção virou algo a ser capitalizado e transformado em mercadoria atuallmente. vale ressaltar que toda essa inovação (e manipulação) de ponta, já era debatida mesmo quando o primeiro protótipo de internet, a arpanet (advanced research projects agency network), tinha apenas dois anos de idade. ou seja, alexander simon chegou a essa conclusão antes mesmo da invenção de fato da internet como é conhecida hoje, levantando inúmeras discussões sobre os rumos que a sociedade poderia tomar. esse viés econômico atrelado à atenção tem afetado a vivência coletiva de variadas formas, seja em atividades pessoais, ou até mesmo corporativas.

performace


entreato / burn out

uma breve e pequena olhada no celular durante uma tarefa importante e veja bem, lá se foi toda a sua atenção, hackeada por uma rede social ou por uma informação irrelevante para a sua vida naquele momento. e, com isso, minutos ou horas preciosas se foram que não voltam mais. quando isso acontece, é comum não perceber de primeira o que levou a perder o foco. é comum a pessoa não lembrar o que estava fazendo antes de ter sua atenção capturada pela engenharia sociodigital. é menos provável ainda que ela deixe de repetir o padrão poucos minutos depois de lembrar a atividade que estava desempenhando anteriormente, ainda que essa “pausa” já tenha tomado um longo período de tempo até que essa pessoa consiga se reconectar àquilo que precisava fazer naquele momento. por serem comportamentos rotineiros, é difícil perceber as problemáticas – e, principalmente, as motivações – de a cada dez minutos ou até menos, ter a sua atenção hackeada de diferentes maneiras. talvez as

pessoas ainda não tenham percebido que o celular é uma arma de desatenção em massa, portada a todo tempo e em todos os lugares. o cientista social escocês johann hari conta, em um artigo, como o seu sobrinho é aficionado pelas redes sociais, uma reflexão perfeita do quanto as pessoas estão sendo hackeadas pelo uso do celular a todo tempo. fazendo uma conexão com a cultura sci-fi, parece que se as pessoas não estiverem conectadas em tudo e em todo lugar ao mesmo tempo, como é o caso da protagonista evelyn wan do longa metragem ganhador do oscar, não estarão antenadas e incluídas o suficiente. quando, na verdade, estão inseridas no multiverso da infodemia, à deriva em um fluxo de informações que se espalham pela internet e se multiplicam no scroll infinito da batalha em busca de atenção.

[...] inseridas no multiverso da infodemia, à deriva em um fluxo de informações 42 lapso


hackeamento em bolhas

o cambridge dictionary define o termo “hacking” como a atividade de usar um dispositivo para acessar informações armazenadas em outro sistema sem permissão ou para espalhar um vírus. e, apesar dos seres humanos serem uma das invenções mais incríveis do universo, é importante dizer que somos, sim, passíveis de hackeamento e isso vem sendo feito em larga escala por meio da dopamina gerada pelos likes. existe uma disputa diária e um condicionamento operante para manter a atenção das pessoas virada para a palma de suas mãos. uma pesquisa realizada pela nordvpn, sobre os hábitos digitais dos brasileiros maiores de 18 anos, trouxe dados impactantes. o estudo mostra que os internautas passam, em média, quatro dias inteiros por semana totalmente conectados. isso seria o equivalente a 197 dias por ano. e, levando em consideração que a expectativa de vida no país é de cerca de 76 anos, esses dados resultam em um total de 41 anos, três meses e 13 dias. ou seja, é aproximadamente 54% do tempo de vida gasto em telas. chega a ser assustador pensar que muitas pessoas nem se dão conta do tipo de conteúdo que estão consumindo no período em que estão entregues aos algoritmos. em síntese, não estão prestando atenção no que estão prestando atenção, uma necessária e urgente metafísica da atenção. sem tentar encontrar uma resposta, é bem capaz que muitos indivíduos se rendam às tentações dos lançamentos de novas redes sociais, que tentam superar umas às outras no que diz respeito à atenção.

cyber disputa por atenção

certa vez o cofundador da netflix, reed hastings, disse que um dos seus principais competidores é o sono das pessoas, sugerindo que ali há um grande tempo a ser hackeado. ele disse: “pensem bem, quando veem uma série da netflix e ficam viciados nela, ficam acordados até tarde da noite. estamos competindo com o sono, na margem. portanto, trata-se de uma grande quantidade de tempo”. ou seja, dormir, uma atividade humana central, é um péssimo negócio para a economia da atenção. outro inimigo do sono no brasil é o aplicativo chinês de vídeos curtos e de rolagem infinita, o tiktok – que só no brasil tem mais de 80 milhões de usuários ativos, segundo dados do datareportal. a consultora da oms, ilana pinsky, analisou que o aplicativo gera no cérebro uma ideia de que a vida é

performace 43


entreato / burn out

sua atenção é dinheiro

muito simples e acelerada, o que pode atrapalhar o desenvolvimento cognitivo, especialmente para quem têm tendência a evitar interações com outras pessoas. o x (antigo twitter), por exemplo, já capturou tanto as pessoas que nenhuma outra novidade parece ser tão atrativa e confortável a longo prazo. na antiga rede do passarinho já há asas moldadas, um ninho confortável, então para que arriscar em terra desconhecida? esse argumento foi comprovado por um levantamento recente da br media group. segundo a pesquisa, o threads, rede social da meta inspirada no twitter, perdeu força nos dias posteriores ao lançamento, registrando uma queda de 20% de seus usuários ativos em comparação ao primeiro final de semana no ar. o tempo que os usuários passaram na plataforma caiu 50% na comparação com os primeiros dias de lançamento. na luta por atenção, o x ainda ganha de lavada.

44 lapso

um dos responsáveis pelo hackeamento da atenção são os algoritmos. esses pautam os principais assuntos das bolhas e levam muitos usuários a mergulhar de cabeça em um quebra-cabeças de informações soltas. e é aí que elas precisam parar suas tarefas importantes para tentar encaixar as peças. essa é uma crítica, inclusive, debatida a fundo no documentário “o dilema das redes”, lançado em 2020 pela netflix. é inocente pensar que é gratuito baixar aplicativos e viver com o que algoritmos direcionam. como disse o ex-designer do google, tristan harris: “se você não está pagando pelo produto, então você é o produto”. agora, é importante parar e questionar: o quanto o universo virtual influencia o estilo de vida das pessoas? existe uma forma de estar 100% em todas essas camadas sociais de forma segmentada e particular e mantendo o foco? o tempo de uso de tela, mostrado por alguns smartphones, condiz com o tempo dedicado a outras atividades em sua vida? ou as pessoas viverão culpadas por não conseguirem se dedicar a algo de forma plena dado o fluxo de informações que sofrem todos os dias? não existe apenas uma resposta para todas essas perguntas. diferentemente da homogeneidade das bolhas, na vida real é preciso analisar o quanto o excesso de informação está impactando a produtividade e o bem-estar. é comum que em casos de excesso de redes sociais as pessoas sintam-se mais lentas para desempenhar atividades que antes eram fáceis, fiquem mais cansadas e, consequentemente, mais insatisfeitas com elas mesmas. a culpa por não conseguir cumprir as tarefas enquanto o planeta dá uma volta em torno de si mesmo também pode ser sufocante, visto que é impossível esgotar os conteúdos que são ofertados no scroll infinito dos algoritmos.


se você não está pagando pelo produto, então você é o produto

a importância de criar hábitos fora das telas

descansar a mente fora das telas, como ler um livro, por exemplo, pode ser um ato revolucionário. um estudo feito por pesquisadores da universidade de sydney, mostrou que uma pausa para tomar um cafezinho no meio do expediente, uma breve caminhada pelo escritório ou até mesmo passar cinco minutos sem fazer nada, ajuda a recuperar a concentração. diante desse cenário caótico e imagético, o documentário “o dilema das redes”, citado acima, também pode ser uma boa fonte para visualizar como bilhões de pessoas se comportam e escrevem as próprias histórias de vida diante dos likes e dos conteúdos de 15 segundos produzidos em massa ao redor do mundo. os depoimentos dos próprios desenvolvedores das plataformas no filme fazem críticas à criação desenfreada de gatilhos tecnológicos. em uma de suas falas, justin rosenstein, ex-engenheiro da meta e do google e coinventor do botão de like do facebook afirma: “nós criamos isso, é nossa responsabilidade mudar”. como criar soluções para quebrar o vício, os desenvolvedores destacam a importância de, às vezes, desligar as notificações e ficar atento aos dados pessoais cedidos, mas lembre-se, o despertar é um processo e não precisa

ser aniquilador. pelo viés poético e contemplativo, pode ser reconfortante refletir sobre o hackeamento de seu tempo. e falando em poesia, a música ‘oração ao tempo’, na qual caetano diz: “peço-te o prazer legítimo. e o movimento preciso. tempo, tempo, tempo, tempo. quando o tempo for propício. tempo, tempo, tempo, tempo”, pode apontar um caminho. no fundo, é tentar tomar de volta sua atenção para perceber a passagem do tempo de forma mais consciente, porque ele é a moeda que tem o maior valor no mercado. marshall mcluhan diz: “primeiro fazemos as ferramentas, depois as ferramentas nos fazem”, o que as ferramentas estão fazendo com as pessoas e a vida em sociedade passa diretamente por isso, então, ter atenção e pensamento crítico sobre o que vem acontecendo é uma questão vital.

performace 45


entreato / pa norama

substâncias sociais_

te an a nh o l am qu co bac coo et n a f a l a n r m t á a t in

as

z ili

/quais substâncias os jovens estão consumindo para performance social

a grande e atual pressão pela performance em nossa sociedade afeta diretamente milhares de jovens por todo brasil. para poder lidar com isso, esses estão a utilizar dos mais variados psicoativos, como drogas, cafeína e outros, para poderem manter os níveis de performance da maneira em que lhes são requisitados com o tempo.

consumo elevado do café não usa nunca 1 ou 2 vezes uso anual uso mensal uso frequente

em média, a maioria dos jovens entrevistas fazem o uso frequente do cafeína para aumentar sua perfome social.

46 lapso

em contrapartida, percebe-se que há uma procura inicial por parte destes jovens de substâncias no qual os ajudem a lidar com a pressão cotidiana.


/por quê há muita procura dessas substâncias?

em vez de recorrerem em massa às drogas, muitos jovens estão agora buscando alternativas para melhorar seu bem-estar social. em um mundo acelerado e cheio de pressão, a geração está procurando soluções para equilibrar sua vida. as drogas servem como uma maneira de desacelerar e encontrar conexão em meio a um ambiente social cada vez mais agitado. simultaneamente, a

cafeína se destaca como um recurso essencial para manter a produtividade e cumprir as metas que são impostas unicamente pela sociedade. essas escolhas refletem a busca por equilíbrio em um mundo onde as expectativas são altas e o ritmo é frenético. em um mundo onde a positividade excessiva e a cultura do trabalho excessivo são celebradas, os jovens se veem sob pressão constante para atender a essas expectativas. a busca por substâncias que ajudam a equilibrar essa pressão é uma resposta à necessidade de corresponder a padrões cada vez mais elevados.

produtividade excessiva_

80%

dos estudantes brasileiros experimentam situações de estresse diário

1 em cada 5 brasileiros com até 30 anos estão suscetíveis ao desenvolvimento de burnout.

80%

dos entrevistados relataram sentir ansiedade e desesperança

performace 47


/len te

artificialidade autêntica_ um fenômeno em que a inautenticidade se torna estranhamente real, influenciando a cultura e criando conteúdo viciante

texto André alves

artista alice meteignier

48 lapso


artificialidade autêntica é o sintoma coletivo de um tempo em que a inautenticidade se tornou estranhamente real. habitamos em um estado de tamanha distorção da realidade e de nós mesmos que a pergunta “mas isso é real?” parece até mesmo descartável. sim, nós queremos e precisamos saber o que é verdade, mas também ressentimos de qualquer realidade que coloque nossas ficções constantes em perigo. essa vibe é também uma estratégia corporativa de criar objetos culturais que articulem o desejo por autenticidade do público

com a ambição de megaescala do nosso mercado. é um movimento que faz um ultraprocessamento de referências, dobrando a aposta na valorização do maravilhamento visual. nada parece real e o real é cada vez mais inacreditável, saber que algo é intencionalmente e assumidamente falso pode ser o alívio que não sabíamos que precisávamos. poucos movimentos tangibilizam tão bem os tempos artificialmente autênticos quanto a trend de npcs no tiktok. são vídeos de criadores como @natuecoco, @pinkydollreal e @cherrycrush_tv que se comportam sempre como personagens figurantes de games, com bordões fofos, atos repetitivos e gestos hipnóticos. npc é a abreviação de non-player character e se refere aos personagens secundários dos games, aqueles que os jogadores não podem controlar. ironicamente, os npcs humanos bombam em lives do tiktok nas quais respondem aos presentes que ganham de seus diários seguidores, como se os streamers fossem fetichizados exatamente por oferecerem às suas audiências a possibilidade de controlade. trata de uma instrumentalização dos desejos altos e onipotentes de controle, podendo render até $10k em uma única live. tudo nesse universo é profundamente estranho, excessivamente fofo, vagamente sexual e consideravelmente sombrio. já surgiram até versões npc do filósofo slavoj žižek. os seus ciclos repetitivos são projetados para sobrecarregar e confundir, colocando o espectador em um alto estado de relaxamento altamente estimulado ou uma excitação anestesiante.

são conteúdos tão engajadores, prazerosos e viciantes que é impossível não assistir e reassistir — como se estivéssemos reproduzindo uma brincadeira digital de humanos que se comportam como bonecos. as novas skins da objetificação foram definitivamente destravadas. os efeitos intensos, os stickers e os adesivos coloridos que piscam na tela em rápida sucessão criam a sensação de um contínuo sem fim. sem pensamentos, sem anseios, sem sofrimento. quando tantos creators passam a se comportar como sims, parece que entramos no capítulo final do entretenimento do viralismo, uma lógica em que qualquer conteúdo é projetado só para captar nossa atenção e aumentar engajamentos.

André alves é psicanalista e pesquisador de cultura e comportamento. ele também costuma falar sobre saúde mental, internet, relacionamentos e outros temas relevantes para os tempos atuais em suas redes sociais e outros formatos de mídia.

autenticidade 49


/len te

o zap tira a poesia das conversas?_

como a comunicação rápida afeta a poesia nas nossas relações e como buscar maneiras mais significativas de se comunicar texto Daniela ARRAIS artista leah han

50 lapso


consegui! desde a coluna que escrevi falando que ia parar de acelerar áudios, parei. não acho mais que todo mundo tem aquela mesma voz robótica e apressada. ouço o tom de voz, consigo entender como cada pessoa está… voltei a me comunicar como um ser humano, e não como uma máquina. tão simples, mas definitivamente tão importante. mas sabe uma coisa que ainda não consegui mudar? a necessidade de zerar as mensagens diariamente – e tenho pensado que isso tem me tirado a poesia de todas as minhas relações.

nunca fico com 500 mensagens não lidas, ou 10.000 emails assim. tenho uma obsessão por responder tudo. se for contar o tempo que gasto, ficarei apavorada. deve ser por isso que só vou no flow, rs. as mensagens pessoais se misturam com as mensagens de trabalho, e sinto pressa de “resolver” os assuntos. se toda conversa vira um item a responder, como distinguir o papo com uma amiga daquele documento que recebi por zap e preciso enviar assinado já? (aliás, galera, bora tornar o e-mail legal novamente? sei que é prático documento por zap, mas, de novo, pra quem, né?). aqui em casa a gente até tenta separar assuntos criando grupos. um para contas de casa, outro para assuntos relacionados ao filho. mas não são poucas as vezes que a troca de mensagens vira telegráfica. saudades de quando tinha espaço pra alguma fofura no meio do expediente. é problema da ferramenta, da velocidade impossível em que insistimos em viver? me sinto como os mais e os incas precisando pensar demais em algo que poderia ser mais bem desenhado. aí vou experimentando… áudio-podcast de amiga com quem falo uma vez por semana? espero um momento tranquilo e ouço como se estivéssemos em uma ligação, é tão gostoso. e, exatamente por isso, me lembra que, apesar de não substituir um encontro ao vivo, dá para tentar dar uma melhorada na forma como nos comunicamos. e isso deve ser feito diariamente. tudo o que fazemos é de forma acelerada, de forma instantânea e rápida, e por isso me questiono sobre a poesia em nosso cotidiano momentâneo. por isso tenho me

questionado constantemente sobre isso, e principalmente, sentido bastante também. de novo, essa é uma conversa sobre tempo, onde todos podem tentar chegar nas conclusões que bem quiserem. um lembrete para que as trocas que importam não virem um item a mais pra resolver no dia. e espero também que a gente cave espaço para alguma poesia, nem que seja, pelo menos, uma estrofe por vez. até porque qualquer conteúdo é projetado exclusivamente para captar nossa atenção e aumentar engajamentos.

Daniela Arrais é jornalista e sócia fundadora da contente, onde publica textos relacionados à vida digital. cria contedo com marcas e agências fazendo o movimento #ainternetqueagentequer, por uma vida digital mais consciente e crítica para todos os usuários presentes.

autenticidade 51


/len te

quando escolher não dar um google_

muitas vezes nos preocupamos antecipadamente com diversos cenários cotidianos que muito raramente se concretizam texto luiza voll

artista holasoyka

52 lapso


em uma terça-feira comum, às 20h, meu marido, que trabalhava em outra cidade, me liga e diz: “estava passando mal e fui para o hospital, meus exames estão muito alterados e eles querem me internar com urgência.” assim começou um dos grandes sustos da nossa vida: meu amor estava doente, longe de casa e o pior - não sabíamos o que era. voei para perto dele e passamos um dia inteiro de aflição aguardando por um diagnóstico. na madrugada, o diagnóstico chegou com tom de preocupação na voz dos médicos – malária

falciparum (ele havia sido infectado em uma viagem à trabalho para a amazônia). no estado frágil em que ele estava teria que ser internado na uti para receber o tratamento. após os médicos saírem da sala, abri o computador e digitei o nome da doença no google. comecei a ler: “malária falciparum ou malária cerebral…” fechei a janela imediatamente. pensei comigo: não vou ler. eu só preciso saber perfeitamente como tratar, não preciso saber tudo o que pode acontecer, o que pode dar errado. assim, respirei fundo e consegui acalmar a minha sogra, dar notícias a todos os familiares e amigos aflitos pelo telefone, desabafar com minha rede de apoio, mas não mais do que eu precisava. na sequência ele foi internado na uti e só poderíamos nos comunicar durante 1h por dia. eu passaria 24h sem falar com ele. na primeira noite de uti, a mais perigosa, eu passei a noite rezando e pensando positivo e também não me preocupando com tudo o que podia dar errado. e deu tudo certo. no fim do processo, nos permitimos entender 100% do que aconteceu, e o resumo da história é que ele nasceu de novo. fiquei pensando nesse google que eu decidi não ler, nesse ato de proteção primeiro para comigo mesma (coloque a máscara de oxigênio primeiro em você) e segundo com o meu marido, que precisava de mim com a energia lá em cima, já que a dele estava baixa. na hora, foi a intuição que mandou fazer isso, não a cabeça. no fim, achei uma linda estratégia que quero levar comigo para sempre. tantas outras vezes já mergulhei em cenários terríveis para inúmeras situações

e, na maioria absoluta das vezes, a verdade é que esses cenários nunca se concretizavam. a vida tem seus golpes, não há como evitar, mas a maioria deles vem de surpresa e não de cenários que inventamos em nossa mente. drenamos nossas energias (e a de quem nos ama, também) sofrendo antecipadamente, com enorme ansiedade. essa história me ensinou que, quando a tempestade chega, a gente sempre tem a opção de se guiar pela intuição, e assim ter a força para lidar com o que o momento pede. podemos escolher confiar. assim, não só não sofremos gratuitamente, como economizamos energia para quando de fato temos o que enfrentar. cuide de você: não dê aquele google sem precisar.

LUIZA VOLL escreve e fala sobre tempo, bem viver e sobre o que a internet tem feito com a gente. É sócia da contente, estúdio digital de criação e comunicação que trabalha para mostrar e assim como promover o bem-estar digital nas redes sociais e como um todo.

autenticidade 53


/len te

essa tecnologia audaciosa_ é preciso um filtro crítico com pouco glamour e nada audacioso que nos faça ver os efeitos das redes sociais em nossa autoestima

texto vanessa rozan

artista andrea devia-nuño

54 lapso


tem filtro novo no tiktok e o nome dele é bold glamour, algo como glamour audacioso. eu escrevi “novo” mas acho que a essa altura, entre digitar essa coluna e publicar, pode ser que ele já esteja velho dado o ritmo que as coisas operam nessa rede social. o tal bold glamour, se você não testou ainda, vale o experimento e aqui me explico: ele aplica sobre o seu rosto uma face toda “harmonizada”. você que me lê deve estar pensando que é só mais um filtro que modifica seus volumes faciais ou te aplica maquiagem ou melhora a luz do vídeo e

até tira os poros. pois ele faz tudo isso e mais, ele parece real demais. é possível ver ainda traços de realidade, talvez um sinal de leves poros, uma textura pouco editada de pele, maquiagem suave, bem trabalhada nos claros e escuros, que evidenciam partes do rosto como centro e parte alta das maçãs. ele basicamente faz uma harmonização facial em você sem te perguntar se algo estava precisando ser harmonizado antes do processo começar. diferente de filtros usuais ou antigos, o bold glamour acompanha perfeitamente seus movimentos, mesmo quando você passa a mão sobre o rosto. ele não dá margem para dúvidas. quando você retira o filtro e se olha refletida na tela, tem certeza que voltou pior do que quando resolveu selecionar o glamour audacioso. é sério, você quase pede desculpas por se apresentar assim depois que o filtro deixa seu rosto sem os efeitos dessa inteligência artificial. e sim, dá o maior gatilho. você começa a pensar se deveria ter mais boca: ficaria melhor? talvez a questão seja a sobrancelha, melhor seria se ela fosse mais alta, mais arqueada, mais definida? tem algo errado com meu rosto e me parece que a passagem natural dos anos acabou mesmo comigo, qual o zap daquela dermato mesmo? o que a gente não está olhando com essa audácia toda é o aumento de 390% no número de procedimentos estéticos e o aumento de cirurgias plásticas em 141% entre adolescentes nos últimos dez anos. isso tudo sem contar os casos de dismorfia corporal ou síndrome do snapchat, que já conta com vários questionários onlines do tipo quiz para saber se você tem ou não, parece teste

capricho. imagina se a gente cruzasse o diagnóstico de dismorfia corporal entre pacientes de intervenções estéticas, será que seria alto o número? sim, existem alguns estudos sobre o assunto, e poucas pessoas debatem ele. no livro a geração artificial, de nicholas carr, o autor comenta que “como nossa janela para o mundo e para nós mesmos, um meio popular molda o que vemos e como vemos – e por fim, se usarmos o suficiente modifica quem somos, como indivíduos e como sociedade”. pode parecer que muita coisa mudou com a gordura localizada? transformar o corpo real em um avatar de si mesmo é o caminho que estamos percorrendo como sociedade. e os filtros e redes sociais só aceleraram ainda mais este processo.

Vanessa Rozan é apresentadora de tv e curadora. é proprietária do liceu de maquiagem. fez mestrado em comunicação e semiótica pela puc-sp, onde estudou o corpo da mulher no instagram e também sua presença nas redes digitais.

autenticidade 55










/sca n

tudo está conectado_ uma resenha de serial experiments lain texto Jacob Wingate-Bishop artista fauux

serial experiments lain é uma série de televisão de anime experimental de 1998, escrita por chiaki j. konaka e dirigida por ryūtarō nakamura, com grande animação da triangle staff. embora nunca tenha se tornado o titã animado que neon genesis evangelion provou ser, além de que lain é frequentemente comparado à criação de hideaki anno – principalmente em seu uso de uma psicologia complexa e existencialismo; ao tentar descobrir quem somos e o que pode tornar ou fazer de uma pessoa que seja real.

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então, sobre o que é sel? bem, uma jovem problemática (lain) se vê atraída para um mundo virtual - a wired - não muito diferente da internet que conhecemos. à medida que lain se envolve mais em seu ciberespaço, ela ouve rumores de um grupo de hackers transformado em culto religioso, os cavaleiros, e começa a ver coisas estranhas em seu próprio mundo. seus amigos e familiares são sugados, e logo a realidade que lain conhece se funde com algo completamente diferente, e as fronteiras entre nosso mundo e a wired começam a sumir. uma palavra mencionada repetidamente em relação a lain é ‘estranho’. e é estranho. quero dizer, é realmente estranho. eu achava que o fim de evangelion era estranho, mas lain dá uma boa corrida por seu dinheiro. é relativamente comum ficar perplexo durante boa parte do tempo e, às vezes,


não ter absolutamente nenhuma ideia do que está acontecendo. você terá que se conformar com isso. eu diria que faz sentido após o clímax da série, mas isso provavelmente não seria verdade. certamente, é um anime que merece ser assistido de novo e de novo se você é rigoroso com esse tipo de coisa. serial experiments lain apresenta vários temas diferentes e diversos, sendo o principal deles o conceito mostrado de ciberespaço. ao longo do show, também há constantes imagens externas; quase sempre povoadas por linhas telefônicas, ou cenas internas atormentadas por telas de computador e também telefones celulares. lain verifica regularmente seu navi (computadores de alta potência que se tornaram tão comuns e de fácil acesso que até crianças têm), e as sombras não aparecem como simples manchas pretas - não à medida que a série avança. em vez disso, vemos cada vez mais ‘manchas de sangue’ nelas, usadas principalmente para simbolizar e representar as

lain 65


/sca n

profundezas obscuras da wired (o mundo virtual que está constantemente se misturando com o nosso mundo "real"). uma voz computadorizada lê o nome de cada episódio; e desde o início, somos apresentados a algo chamado "accela", uma espécie de droga cibernética que faz com que o mundo de alguém pareça incrivelmente rápido por um curto período. o pai de lain só quer falar com ela quando se trata de sua paixão - computadores insistindo para que ela obtenha um navi ja "maduro" o suficiente para atender às suas necessidades. a cada episódio, o quarto da garota é cada vez mais consumido pelos autômatos sibilantes da computação; de caixas de metal a monitores expansivos e cabos que correm como capilares pelos espaços (mínimos) entre eles, bombeando fluido de resfriamento daqui para lá. tudo reforça a ideia de que tudo está conectado, tudo está sempre conectado. dentro ou fora, nunca conseguimos escapar dos sons de zumbido elétrico, onde nenhum outro som pode ser ouvido. e lain nos atinge com essa repetição constante; em como quase todos os episódios começam da

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mesma maneira exata, com as mesmas tomadas exatas; um semáforo ficando vermelho, as ruas à noite. é como um computador inicializando. torna-se rotina. e não podemos escapar dessa monotonia azul-iluminada. assim, a comunicação é outro tema que se entrelaça ao longo de lain. há tão pouco diálogo durante todo o show. a própria lain é particularmente retraída, mas sua irmã mal fala e sua mãe ignora completamente sua existência. não há comunicação entre eles. e, no entanto, à medida que vemos lain passar mais tempo na wired, ela está constantemente buscando informações; encontrando aqueles que podem fornecer a ela algo que ela não sabe. ela obtém sua comunicação de outro mundo; um mundo digital. todo o serial experiments lain tem a sensação daquela narrativa antiga: de que ninguém mais se dá ao trabalho de


conversar. e dado que este anime foi, na verdade, lançado pouco antes mesmo da internet realmente se consolidar, é bastante assustador nessa grande premonição. já ninguém gosta de parecer aquele boomer na mesa do café da manhã; ficando triste com a mera menção de um ipod, mas lain é, de muitas maneiras, mais relevante do que nunca. vidas duplas também são algo que surge muito; ou a ideia de duplos em geral. já no primeiro episódio, os grandes amigos de lain têm certeza de que a viram em uma nova boate, agindo como o oposto de seu eu normal. sua personalidade flutua de episódio para episódio; e nós até mesmo os personagens dentro se perguntam onde termina e onde começa essa lain da wired?

lain 67


/sca n

mas o que se destaca acima de tudo para mim é como lain se prova algo incrivelmente minimalista. em termos de estilo e modo artístico, o espaço branco é avassalador, com a sombra ou a escada ocasional indicando que há alguma coisa ali. o show quase cria prédios e estruturas bem a partir do vazio, de uma maneira que parece interessante e também estranhamente claustrofóbica. você se sente preso, fechado - com apenas as grandes imponentes e esqueléticas linhas telefônicas para demarcar o caminho. muitas tomadas e cenas são repetidas, e o diálogo é, como dito e também mencionado antes, escasso. você pode ouvir as mais suaves e lindas teclas de piano ao fundo, o pequeno som dos passos de lain. você realmente sente a grande dissociação dentro dela; essa ideia de que o mundo real não é realmente real. é distante - sempre se esquivando dela. alguém provavelmente poderia até mesmo argumentar que o mesmo vale para o espectador, que é levado a se sentir cada vez mais desiludido, assim como lain, mas, bem, não distribuímos análises acadêmicas sofisticadas. mas, talvez o mais importante, é um bom

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anime? quero dizer, é surreal, estranho e profundamente psicológico - questionando se alguém realmente existe se não é lembrado, ou se os corpos humanos são nada mais do que recipientes de informação - mas é realmente um bom anime? é agradável? eu admito, é aqui que a maioria discordará de mim. eu realmente não entendi serial experiments lain. e eu não digo isso de maneira normal. você entenderá parte disso, questionará mais parte. mas isso é normal. é apenas um daqueles animes que você deve absorver, refletir e nunca realmente compreender. nesse sentido, é como neon genesis, para ser justo. mas pessoalmente, achei lain difícil de assistir. não sou alguém que precisa de ação, mas achei lento e monótono na maior parte do tempo; e com cada episódio mal ultrapassando os 20 minutos, isso é um feito e tanto. por volta do episódio seis, as coisas começaram a ficar mais claras; e aspectos foram introduzidos na história que eu realmente gostei e me vi investido. mas meu interesse foi perdido rapidamente e, embora eu esteja feliz por ter assistido a


todos os episódios, acho que isso se deve mais ao meu perfeccionismo do que a qualquer estímulo real. sinto que ainda tenho que experimentar tudo o que posso com lain, e bem, isso é uma pena, mas não é por falta de tentativa. mas eu recomendaria o show? sim. com treze episódios, é um anime incrivelmente curto, mas é bem feito. e, embora pareça depressivamente claustrofóbico às vezes.

acredito que ele deve ser assim. é uma declaração; sobre não depositar sua fé em uma única realidade, ou na internet. você é mais do que seu corpo - você é você mesmo, todos seus pensamentos, seus sentimentos, e esses nunca desaparecem realmente, não completamente. pode ser difícil decifrar um show tão codificado, mas há algo nele para todos. há uma mensagem, perdida na matriz infinita, mas embora você possa nunca ler tudo, pode arrancar algo dos números embaralhados. serial experiments lain é estranho e talvez felizmente permanecerá um favorito cult. ele consegue te deixar completamente sem palavras mais de uma vez. e quem sabe? pode fazer você pensar duas vezes antes de se conectar à matriz que se prova inevitável nos dias de hoje. onde você termina, e onde começa seu eu virtual?

lain 69


minar /li minar

espaços liminares: a era da realização de falsas promessas_ como o fracasso do “sonho americano” tem sua própria estética distópica texto artinformation artista kane parsons

os espaços liminares são lugares estranhos, atmosféricos e às vezes misteriosos, que parecem a porta de entrada para outro reino. eles são um pouco difíceis de explicar e todos os dias as pessoas discutem o que constitui um “espaço liminar”. mas a maioria das pessoas concorda que a maioria das fotos enviadas no fórum reddit r/ liminalspace compartilham aquela qualidade especial de estar um pouco off. e esse off-ness é o que torna um espaço liminar, “liminar”. na antropologia, liminaridade é a qualidade de ambiguidade ou desorientação que ocorre no estágio intermediário de um rito de passagem, quando os participantes não mantêm mais seu status pré-ritual, mas ainda não iniciaram a transição para o status que manterão quando o rito está completo. por que liminaridade? a razão pela qual ficamos fascinados com estas imagens de locais vazios, abandonados e misteriosos é que, geralmente, representam as falsas promessas da era moderna.

70 lapso


talvez as melhores fotos do espaço liminar sejam aquelas que mostram algum tipo de arquitetura moderna. seja uma casa ou o interior de um hotel ou shopping. essas fotos não costumam nos apresentar assuntos humanos. em alguns casos, os espaços internos também não possuem janelas. sem a distração dos sujeitos vivos nas nossas fotos, a grande amplitude por vezes absurda ajuda-nos a perceber que mesmo no conforto da nossa casa, bairro ou cidade. não estamos em nada mais do que um deserto artificial, feito para nos distrair da realidade e também da respontaneidade do nosso mundo natural. mas, pior ainda, estes espaços interiores são como câmaras. uma coisa é estar perdido no deserto, mas estar perdido nos

corredores da sua própria criação é outra coisa completamente diferente. somos produtos das nossas criações. essas imagens claustrofóbicas nos ajudam a compreender a solidão e a futilidade das realizações arquitetônicas modernas. os espaços liminares permitem que as pessoas partilhem suas memórias dolorosas de uma forma sutil e de bom gosto, em que todos podemos imaginar um mundo sem nós, em que nossa existência é deixada para trás.

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minar /li minar

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/li minar

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/li minar

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/di /diag agnóstico nóstico

você desenvolveu algum transtorno na pandemia? faça esse quiz para descobrir quão ferrado(a) a pandemia te deixou 1. nos diga qual é o status atual da sua agenda social? a) eu amo ver os

meus amigos

b) eventos online

são a minha especialidade!

c) eu tenho um

encontro marcado com minha cama

2. quantas novas habilidades culinárias você adquiriu durante o isolamento? a) comer bem é

o que importa

b) sou um chef

de fazer miojo descobri que

c) queimar água

é possível

3. o que é “horário de expediente” para você? a) das 9h às 17h,

ou algo assim

b) eu achava que

era só mais uma chamada de zoom

c) o horário do

desânimo

4. quantas vezes você pensou em se tornar mestre do xadrez ou aprender um instrumento na pandemia? a) usei o tempo

para aprimorar minhas habilidades

b) me considero

um prodígio do xadrez online

c) desisti depois

da segunda tentativa de tocar na flauta

5. como você define seu guarda-roupa pós pandemia? a) refletem

minha personalidade

b) um desfile de

pijamas estilosos

c) pó e teias de

aranha

5. qual foi sua relação com exercícios físicos na pandemia? a) mantive uma

rotina regular

78 lapso

b) sou um atleta

virtual, pratico esportes nos videogames

c) exercício? isso

contava como sair da cama, certo?

maioria a vacinado e imune

parabéns! você saiu inteiro(a) da pandemia e encontrou um equilíbrio saudável entre a vida online e offline! continue aproveitando o melhor de ambos os mundos.

maioria b

modo on você se adaptou à sua nova normalidade com estilo para poder fugir da realidade, mas tome muito cuidado para não deixar somente a vida online te consumir! a vida real pode ser boa.

maioria c

contando os dias bem, talvez seja hora de considerar algumas mudanças para melhorar o equilíbrio entre vida online e offline. tente buscar ajuda com um especialista, e lembre-se: você não está sozinho(a).


escolha uma carta

destino 79


reprodução: cartas do tarot waite

entrelinha / ta rot

80 lapso


você escolheu: THE TOWER

THE SUN

algo pode mudar. a torre tem a ver com mudanças abruptas. a torre pode sugerir que estamos enganados em relação a algo e temos a chance de reparar nossos erros, mesmo que de maneira dolorosa. o significado básico é a arrogância, ou seja, podemos estar errados a respeito de algo e precisamos reconhecer, tentando reparar o engano. seja qual for o caso, as coisas voltam ao seu lugar no seu devido tempo e a harmonia sempre retorna.

o sucesso é inevitável. o sol traz energia para realizar, nos enche de confiança e ilumina nosso caminho. qualquer situação em questão recebe seu brilho e pode ser resolvida. esse arcano maior é a própria representação da vida e da luz. ou seja, se você estava passando por tempos difíceis, ou alguma situação parecia sem solução, essa carta vem para indicar que boas coisas virão. o sol traz otimismo, confiança e energia para que tudo se resolva e melhore.

THE EMPRESS

THE LOVERS

cada coisa está em seu devido lugar, exatamente como desejado. a imperatriz é uma figura poderosa e muito segura de si. sugere proteção e não questiona as decisões. com a certeza de uma mãe cria bem seus filhos, ela não sugere dúvidas. esta carta geralmente indica um bom presságio, assim como realização e sucesso.

uma importante decisão deve ser tomada. quando a situação envolve trabalho ou amor, ela sugere que você siga sua intuição. se o seu coração está mandando você seguir um caminho, confie em seus instintos. só não faça as coisas pensando somente em você, pois o tiro pode sair pela culatra. pense sempre em quem está envolvido, tente fazer o melhor para todos.

destino 81


entrelinha / ra bisco

origâmi_ aprenda a fazer uma linda galinha de papel

1

2

3

4

5

6

7

8

9

82 lapso

3


como você vê a autenticidade na sua própr ia vida? você sente que está vivendo de acord o com seus valores e crenças, ou está dese mpenhando papéis que a sociedade ou outra s pessoas esperam de você? escreva aqui!

cas seu top 3 músi do momento

faça o que você quiser

83


entrelinha / na manga

seu console portátil_ se deleite em meio ao tédio com essa seleção de jogos analógicos para você curtir sozinho ou com seus amigos!

/play_sudoku

Puzzle 1 (Easy, difficulty rating 0.42)

8

suas regras são simples: um quadrado 9 por 9 deve ser preenchido com números de 1 a 9 sem números repetidos em cada linha, horizontal ou verticalmente. para desafiá-lo ainda mais, há quadrados 3 por 3 marcados na grade, e cada um desses quadrados também não podem ter números repetidos.

1

2

4 2 6 8 1

7

4

7

9

3

6

5

2

5

9

8

4

3

6

2 5

8 3 6

5

2

8

Puzzle 1 (Very hard, difficulty rating 0.75) Generated by http://www.opensky.ca/sudoku on Mon Oct 30 02:09:31 2023 GMT. Enjoy!

6

8

5

1

9

9

6 3

8

3

4

5

2

8

7

7

9 2

8 6

1 7 2

5

Generated by http://www.opensky.ca/sudoku on Mon Oct 30 02:09:40 2023 GMT. Enjoy!

84 lapso

7

6

1

4

4

9

3


/play_nanograma o objetivo do nanograma o é descobrir um tabuleiro composto de quadrados pintados e lugares livres. você pode fazer isso observando as definições das linhas e das colunas – sequências de números que descrevem grupos de quadrados azuis consecutivos relacionados a cada linha ou coluna. por exemplo, 1 5 2 significa três grupos, cada grupo tendo 1, 5 e 2 quadrados pintados consecutivos (nessa ordem); os grupos estão separados entre eles por um ou mais espaços em branco. no final uma imagem irá surgir! o que será que é?

/play_futoshiki o objetivo do futoshiki é colocar os números de 1 a 5 em cada linha e coluna do grid, de modo que nenhum número se repita em uma linha ou coluna e para que todos os sinais de desigualdade ( < e >) sejam obedecidos, parece fácil mas o desafio é maior que você espera.

games 85


entrelinha / na manga

/play_labirinto

Hexagonal delta maze with 20 cells side

labirinto é um jogo bem simples, vocês já devem conhecer. comece com um lápis no meio do hexágono e tente achar o caminho para fora!

86 lapso


/playsuper_jogodavelha nesse jogo, semelhante a sua verão original, os jogadores se revezam escolhendo os 81 espaços vazios. o adversário deve sempre jogar no pequeno tabuleiro determinado pela jogada anterior, se você jogou no canto superior direito do pequeno tabuleiro, seu adversário deve jogar no pequeno tabuleiro do canto superior direito em seguida. ganhar um pequeno tabuleiro significa marcar o tabuleiro maior. depois de ganho ou preenchido, nenhum movimento pode ser feito no pequeno tabuleiro, quando este é escolhido para ser jogado seu adversário pode escolher qual tabuleiro jogar. o jogo acaba quando alguém ganha o tabuleiro maior ou não há mais movimentos legais. bem melhor e mais emocionante que o original, não?

/respostas

games 87


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