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JUNHO 2022 | N° 01 | R$ 60,00






oie Vivemos em um mundo onde muito do que é necessário saber para uma vida melhor ainda não está escrito nos livros escolares nem nas apresentações dos professores. Jovens estão saindo das escolas sem saber coisas que são consideradas “básicas” na vida adulta. Além disso, pautas e assuntos de extrema importância são sempre negligenciados. A revista ctrl é para o jovem da geração z, que está perdido nos anos de ensino médio e faculdade. Não é novidade que o sistema educacional brasileiro prefere ensinar aos alunos o movimento circular uniforme a informá-los a respeito dos mil e um impostos que vão enfrentar na vida adulta. Através de conteúdos claros, interessantes, úteis e diversos, desejamos esclarecer assuntos como: educação emocional, financeira, sexual, espiritual, nutricional, ambiental e entre outros. Iluminando e inspirando de forma livre, diversa e experimental, assim como o jovem. A ctrl te convida a ir além do usual. Te tira da caixinha nas mais diversas áreas e te ajuda no que você precisar. Nesta que você segura em suas mãos, vai encontrar apoio para ir morar sozinho, desvendar o mundo dos nfts, entender um pouco sobre saúde mental e até descobrir a sua linguagem do amor. Aprender e evoluir é um processo lento e doloroso, mas a ctrl está aqui para ser a sua melhor amiga nesse momento.

ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING Graduação em Design Turma dsg 3 2022/1 PROJETO INTEGRADO DO 3 SEMESTRE Projeto iii: Marise De Chirico Produção Gráfica: Mara Martha Roberto Marketing Estretégico: Leonardo Aureliano Cor, Percepção e Tendências: Paula Csillag Ergonomia: Auresnede Pires Stephan Finanças Aplicadas ao Mercado: Alexandre Ripamonti PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO Amanda Dellacqua Beatriz Barreto Clara Sauaia Giovanna Laureano Maria Fernanda Seibel

bibson

mandi

gijoca

clair

mafer



colaboradores

Jornalista, escritora e documentarista. Publicou oito livros no Brasil e é colunista do jornal espanhol “El País” e colaboradora de vários jornais e revistas da Europa e dos Estados Unidos, como “The Guardian” e “The New York Times”.

Filósofa, feminista negra, escritora e acadêmica brasileira. É pesquisadora e mestra em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo. Autora do “Pequeno Manual Antirracista”, tornou-se conhecida no país por seu ativismo na Internet.

djamila ribeiro

eliane brum

Kezia é diretora de arte, ilustradora e animadora, conhecida por sua prática ousada e vibrante que explora o tema da conexão humana através de formas abstratas e design de personagens irregulares.

Ilustradora e artista visual romena. Teve sua popularidade aumentada em meio à pandemia com suas ilustrações sobre momentos internos e paisagens emocionais.

livia falcaru

kezia gabriella

Fotógrafa britânica que trabalha com clientes do mundo todo. Voltada à fotografia de produtos para marcas, tem a missão de criar uma conversa com o consumidor por meio da fotografia.

Visual Designer, atualmente trabalhando como designer em Estúdio Gole. Busca com seu trabalho usar de pensamentos sistêmicos para criar soluções visuais envolventes e culturamente orientadas.

marianne taylor

vinicius queiroz


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iniciar 12

Agora você tá sabendo

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Porca Gorda

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Mão na massa

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A falta de cuidado com a Amazônia

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Se vira!

44

Quer que eu desenhe?

58

Érótico como poder feminino

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Bla bla bla

72

Quem sou eu?

78

Doentes de Brasil

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Freud explica

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Você deveria procurar alguém

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Adultecer

98

Lucas Ksenhuk

114

Boto fé

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S.O.S Cartomante


14 A cultura

60 10 mitos sobre

22 Corpo são

66 Sexo ou

30 Eco

74 Sagrado feminino

40 Aventuras de

84 Dormir

46 NFT: o que é e

104 Escolha

54 Pílula do dia

110 Você escolhe

da dieta

mente sã

ansiedade morar sozinho

como funciona seguinte

menstruação

antidepressivos? e a autoestima

virou luxo seu guia sua religião?

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agora você tá sabendo

Jennifer Fogaça

Lucas Moreira

@preparaenem

@portaleducação

Se uma panela com óleo começa a pegar fogo: não toque na frigideira, desligue o fogo e coloque um pano úmido por cima da frigideira para impedir que o oxigênio alcance as chamas. Se for necessário, acionar as autoridades de emergência.

Ivan Auresnede

Carlos Sanchez

@aguasustentavel

@ativainvestimento

Uma tonelada de papel reciclado poupa cerca de 22 árvores, economiza 71% de energia elétrica e polui o ar 74% menos.

Amanda Oliveira @capricho

Nas Filipinas, 49% das meninas não tomam sorvete nem qualquer bebida gelada quando menstruadas, por causa da relação de ambientes/alimentos frios e o aumento de cólicas.

As mulheres vêm aumentando sua participação na bolsa e em 2020 chegaram a representar 26,2% dos 3,2 milhões de investidores pessoa física.

Gabriela Junqueira @capricho

Apesar de não ser tão comum, algumas mulheres conseguem chegar ao orgasmo enquanto realizam algum exercício físico, principalmente abdominais. São os coreorgasmos! Que coisa, não?

Gabriela Junqueira

Caroline Iara

@capricho

@blogleiturinha

Em Ulyanovsk, uma região da Rússia, o governador criou uma data para incentivar as pessoas a fazerem sexo para reprodução, ou seja, para terem filhos. É o Dia da Concepção, celebrado em 12 de setembro.

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No Egito Antigo, a pessoa com deficiência integrava-se nas diferentes e hierarquizadas classes sociais e os papiros contendo ensinamentos morais ressaltam a necessidade de se respeitar as pessoas com nanismo e com outras deficiências.

Você sabia que na Floresta Amazônica existe uma centopeia que se alimenta de sapos, pássaros e até cobras? É a Centopeia Gigante, que além disso, pode viver até 10 anos!


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dieta A CULTURA DA

Especialista explica sobre como a busca pelo corpo ideal pode gerar compulsões e hábitos alimentares ruins por Sofia Dellamad

fotos Daniela Menegatti

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N

ão tem jeito: lembrar que está de dieta e, ao mesmo tempo, pensar em uma refeição gostosa faz o cérebro ter pensamentos negativos. Culpa, proibição, tentação, raiva, tristeza… Não importa a intensidade com que esses sentimentos surgem, tampouco em que estão ancorados. O fato é que a comida raramente está ligada à ideia de nutrir o corpo. Assim, ora nos privamos de coisas gostosas na busca incessante do peso que a sociedade, há anos, nos embute como ideal; ora nos esbaldamos em potes de sorvete e colheradas de brigadeiro para aliviar algum tipo de emoção, seja ela negativa ou positiva. “A questão alimentar para a mulher sempre foi sinônimo de restrição”, afirma Liane Dahas, psicóloga clínica e pesquisadora na área de comportamento e transtornos alimentares. “E isso se deve ao contexto sociocultural em que elas estão inseridas, em associar o corpo, se dentro do padrão estabelecido, a beleza, juventude, performance ou sucesso”, completa. Cansadas desse circuito marcado por privação e compulsão, grande responsável pelo efeito sanfona e pelas oscilações na relação com a comida, passa a ser defendido pela ala médica científica um modelo de prática alimentar que desconstrói e rejeita a mentalidade dietética. O método de comer intuitivamente colocou em discussão, de forma vanguardista, o que ainda é um problema nos dias atuais: a vilanização de determinados ingredientes, e os planos de alimentação restritiva como regra de vida.

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A comida raramente está ligada à ideia de nutrir o corpo

Nutricionistas e endocrinologistas estão cada vez menos adotando o termo “dieta”e, ao invés disso, estão apresentando a ideia de um “programa alimentar” que leva o paciente a uma reeducação, na qual a saúde e bem estar são imprescindíveis, muito diferente de fórmulas extremas que acompanhamos durante muito tempo, que levava pessoas a transtornos alimentares e psicológicos em busca do corpo perfeito e inatingível e que podiam desencadear diversos problemas de saúde.

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De acordo com a nutricionista Mônica Dalmacio o termo “dieta”, inclusive, não é mais recomendado pelo Conselho Federal de Nutrição, pois ela traz uma ideia de algo temporário e restritivo. “A ideia é que você faça uma mudança no estilo de vida, é uma reeducação alimentar e assim você tem um resultado, que é um resultado duradouro”, revela a profissional. Um dos nomes que aboliu a “cultura da dieta” é a modelo e apresentadora Chrissy Teigen. Em entrevista para a People ela revela: “Acho que agora, neste ponto da minha vida, é mais importante para mim aproveitar as coisas como elas vêm. Coloco minha mente acima de meu corpo um pouco, mente e espírito sobre o corpo. Se isso vai me fazer feliz e me fazer sentir bem, então eu me entrego a isso”. Mas por que é necessário abolir esse pensamento da “cultura da dieta”? Para ajudar a compreender essa situação, convidamos quatro profissionais da área para falar sobre esse assunto, a Nutricionista Aline Monteiro, do Rio de Janeiro, a Nutricionista Mônica Dalmacio, o Dr. Rodrigo Mendes, endocrinologista e a Dra Isabela Bussade, endocrinologista.

Por que a cultura da dieta é prejudicial para as pessoas?

Ao questionar isso aos especialistas, duas principais questões foram pontuadas: o problema de saúde mental, bem como os resultados serem rápidos e momentâneos. “É um padrão, uma busca momentânea e você começa a seguir sua vida em função disso. Você não faz isso porque é saudável, você faz isso em busca de um corpo que para você é considerado seu padrão de beleza, não necessariamente saudável. O principal problema dessa busca são os problemas de saúde mental”, revela a nutricionista Mônica Dalmacio. O Dr. Rodrigo Mendes fala também sobre o sentimento que a palavra “dieta” traz, falando que ela remete a privação, castigo e punição “e acaba não dimensionando o seu verdadeiro sentido que é gerar saúde”. Outro fator pontuado são os riscos para saúde que essas mudanças drásticas podem trazer ao corpo. “A grande maioria dos estudos mostram que dietas por curto período de tempo podem trazer uma redução do peso e variáveis ligadas a risco cardiovascular, mas por elas serem autolimitadas fazem que quando o indivíduo volta ao hábito alimentar anterior ele não só recupera o peso como volta a ter todos

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Segundo a oms, cerca de 10% dos jovens brasileiros sofrem com transtornos alimentares


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os outros marcadores de risco cardiovascular”, explica a Dra Isabela Bussade. “Dessa forma, essa oscilação entre reduzir e aumentar peso, gera um maior estresse oxidativo e desgaste metabólico, Por isso que a gente não trabalha dentro desse raciocínio.”

Quais os perigos dessa cultura?

“Um dos grandes perigos é fazer a dieta por conta própria sem supervisão de um profissional de saúde”, explica o Dr. Rodrigo. “Muitas pessoas acabam seguindo as dietas por conta própria e a dieta da moda e muitas vezes essas dietas são restritivas, sem um embasamento científico e que existem contra indicações que podem gerar distúrbios hidroeletrolíticos, deficiências de vitaminas, minerais, podendo desencadear anemia, constipação, cansaço, cãibras, diminuição na performance da atividade física, perda de cabelo, desmaio, entre outras complicações”. Outros pontos negativos são “o risco de consumir cronicamente menos calorias do que seu corpo precisa e perder massa magra e óssea, e em longo período osteoporose”, explica a Dra. Isabela.

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Ainda é relevante seguir um plano alimentar restrito?

O plano alimentar restritivo tem suas indicações, e elas são principalmente para pacientes com problemas de saúde. “Eu prescrevo para pacientes como alguma doença, como por exemplo doença renal, doença como diabetes, hipertensão arterial, doença de Crohn, além de cardiopatia e gastrite. Normalmente só é indicada para esses casos”, revela a nutricionista Aline. “Se o paciente não tem nenhuma doença, não é necessário excluir alguns alimentos, não há a necessidade de restrição severa ”. O Dr. Rodrigo pontua ainda a importância do plano alimentar restritivo para pacientes com obesidade. “Outro benefício é para reduzir riscos cirúrgicos, melhorar apneia do sono, melhorar o perfil metabólico e promover alívio de dores articulares causadas por excesso de peso, entre outros.”

95% das pessoas que fazem dietas restritivas, voltam a engordar um tempo depois


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Como manter uma relação saudável com a comida?

Há diversas formas para manter uma relação saudável com a comida “a gente tem que conhecer bem nossa fisiologia e nossa saúde, para saber que o que é bom para mim pode não ser bom para meu amigo, meu vizinho ou qualquer outra pessoa.” Outro ponto essencial é conhecer também o tipo de fome que você está sentindo, se ela é emocional ou orgânica. “ A emocional geralmente tem relação com situações de ansiedade, estresse, normalmente ela não tem uma hora para chegar, está ligada a esses episódios. Geralmente se busca alimentos ricos em gordura, ricos em açúcar e esses alimentos a saciedade é momentânea. Enquanto isso, a orgânica é acompanhada por outros sintomas, além da fome, dor de estômago, dor de cabeça, tontura, ela tende a melhorar depois do consumo de alimentos, geralmente não tem preferência por um tipo específico de alimento e a fome acaba cessando depois que a pessoa come”, explica o Dr. Rodrigo. Tudo pode ser consumido desde que com equilíbrio. Fazer as pazes com a comida, isso é o mais aconselhável, não vilanizar as comidas e comer um pouco de tudo, respeitando também suas vontades.

Fazer as pazes com a comida, isso é o mais aconselhável

Por que é importante manter um olhar neutro sobre a comida?

Julgar a comida,como saudável ou não saudável, com muitas ou poucas calorias, ou ainda dizer que o que pode ou não pode comer, nos leva a um lugar de culpa em relação a alimentação. E a culpa sempre será disfuncional nessa relação. Por isso, é importante compreender que os alimentos são diferentes. Alguns são mais nutritivos e outros menos nutritivos. No entanto, todos eles podem fazer parte da alimentação já que existem diferentes contextos para diferentes alimentos. Qualquer um entende quando está com vontade de ir ao banheiro e dificilmente se julga por isso. É fácil perceber que precisa colocar um casaco quando sente frio. O seu corpo se comunica com você o tempo todo. Mas quando se trata em atender a fome esse julgamento é muito comum, porém, não é bom que aconteçam. Honrar a fome é um dos pontos mais importantes para ter uma boa relação com a comida. Afinal, não tem como viver bem e ter bons relacionamentos, seja consigo mesmo, com os outros ou com a comida, se você não está bem alimentado e nutrido.

40% das mulheres fazem dietas constantes

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Porca Gorda

Por que as pessoas acima do peso nos incomodam tanto? por Eliane Brum

ilustração Clara Barreto

A

ssisti à “Gorda”, peça teatral em cartaz no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo. Ri muito. Em certo momento, meu riso ficou triste. Eu estava triste. Não pela gorda da peça, mas por me reconhecer no preconceito contra ela. No final, chorei. Este é o enredo. Helena e Tony se conhecem num restaurante. Ela é gorda. Não gordinha. Gorda mesmo. Helena é vivida com muita competência pela atriz Fabiana Karla, de Zorra Total (tv Globo). Segundo a sinopse oficial, a personagem está 30 quilos acima do peso. Se compararmos com uma das modelos da moda, deve estar uns 50. Tony (o ótimo Michel Bercovitch) gosta dela. Ela é inteligente, divertida, sensual. Bonita. Helena gosta dele. Os dois se apaixonam. Mas, como um cara jovem, bem sucedido, magro e disputado pelas mulheres magras pode escolher uma gorda, amar uma gorda, ser feliz com uma gorda? A reação social diante da versão de amor impossível da nossa época é protagonizada por Caco (Mouhamed Harfouch), amigo e colega de trabalho de Tony, e por Joana (Flávia Rubim), sua ex gostosa, cujo maior temor da vida é engordar. São eles que representam, no enredo e no palco, pessoas como nós – sempre menos magras do que gostariam, magras o suficiente para não serem chamadas de gordas na rua. O texto do americano Neil Labute é inteligente, rápido, fatal. Rimos muito. Primeiro, com ela. Helena é uma mulher bem-humorada. Como muitos gordos, defende-se fazendo piadas sobre seu tamanho. A velha regra: adiante-se, ria de si mesmo, antes que os outros o façam com a crueldade habitual. Se perder o timing, não acuse o golpe, ou nunca mais o deixarão em paz. Aos poucos, começamos a rir muito dela (e não mais “com” ela), pelas piadas de Caco, ao descobrir que o amigo está namorando uma “porca gorda”. Fat Pig é o nome original da peça. Mas gostamos de Helena, testemunhamos o apaixonamento dos dois, sabemos que eles são felizes juntos. E passamos a nos sentir mal de rir, ainda que continuemos rindo. Não queremos ser como Caco, muito menos como Joana. Mas somos tão parecidos! Nós, o senso comum sentado na plateia, somos o mais próximo de um vilão que esta peça produz. O texto e os atores são competentes o suficiente para fazer com que a gente prefira não vencer. Torcemos para que Helena e Tony consigam ficar juntos, apesar de nós. Torcemos para que eles consigam vencer nosso preconceito e nos tornar melhores do que somos. Não sei se torceríamos assim num episódio da vida real. E esta é a questão que a peça também nos deixa. O final é brilhante. Acho que vale a pena pensar sobre as questões que esta peça provoca. Começando por: qual é o nosso problema com os gordos? Sobre a transformação do padrão de beleza, das rechonchudas musas da Renascença às modelos esquálidas e/ou musculosas de hoje, já se escreveu bastante. A pergunta que me desperta maior interesse não se refere apenas ao fato de acharmos as gordas feias, de relacionarmos gordura com feiúra. A questão que mais me intriga é: por que muitos acham as gordas

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Começando por: qual é o nosso problema com os gordos?

(e os gordos) repugnantes? Se você não disse ou pensou, já ouviu alguém dizer: “olha que gorda nojenta!”. Horrível. Mas tão comum que nos obriga a ir em frente. Com todas as diferenças que, para nossa sorte, garantem a diversidade do mundo, somos impelidos a ser politicamente corretos. Fazer piadas com aquelas que foram as vítimas de sempre até não muito tempo atrás, como negros, gays, deficientes etc, pega mal hoje em dia. Temos de ser politicamente corretos ou corremos o risco de ser processados ou mesmo de acabar na cadeia. Por que o privilégio de não ser ridicularizado não foi estendido aos gordos? Sobre os gordos podem ser ditas as coisas mais cruéis. E ainda se manter do lado certo da força. O que diz o senso comum sobre os gordos? Primeiro, que são feios. Em geral, o máximo de elogio que um gordo consegue arrancar é: “Que pena, tem um rosto tão bonito…”. Dizem que são preguiçosos. Se fizessem exercícios e, como ousar não se exercitar neste mundo? Perderiam

aquela pança. Afirma-se também que são sem-vergonhas. Se tivessem vergonha na cara, respeito próprio, fechariam a boca e seriam magros. E, então, poderiam pertencer ao clube dos magros felizes (????!!!!). Portanto, segundo o senso comum, além de feios e preguiçosos, gordos também teriam falhas de caráter. E, como tudo, para as mulheres acima do peso é ainda pior. Neste mundo em que se compram peitos, bocas e bundas no crediário, soa imperdoável não arrancar a gordura à faca. Já ouvi muitas vezes frases como estas, referindo-se a alguém com mais quilos do que o “permitido”: por que não faz logo uma cirurgia de redução de estômago? Seguida por uma cirurgia reparadora e uma lipoescultura? Simples assim. “Gorda” nos dá a oportunidade de enxergar mais que um acúmulo de células adiposas em outro ser humano. Ao olhar para Helena, a personagem da Fabiana Karla, nos deparamos também com o tamanho extra-large de nosso preconceito. Mesmo quando embalado em nossas melhores intenções.

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Especialistas explicam como e por que a prática de esportes pode ajudar no tratamento de transtornos de saúde mental por Cristina Nabuco e Mariana Payno fotos Thiago Quadros

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etirada de uma sátira do poeta romano Juvenal, a célebre máxima reconhece o valor da atividade física para a paz de espírito desde a Antiguidade, “Mens sana in corpore sano”. Parte de uma espécie de lista de desejos para a vida, a frase aparece no verso “Deve-se orar para que a mente seja sã em um corpo são”. Bem, dois mil anos depois não é preciso apelar aos deuses: estudos e especialistas atestam que praticar esportes melhora a saúde mental. Mesmo para quem nunca foi diagnosticado com algum tipo de transtorno, colocar o corpo em movimento pode trazer benefícios contra a baixa autoestima e a tristeza. O psiquiatra Arthur Guerra que o diga. Supervisor do grea (Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas) do Hospital das Clínicas, em São Paulo, ele descobriu as vantagens da atividade física na vida pessoal antes de associá-las ao trabalho com seus pacientes. “Há uns 18 anos, meu filho chamou minha atenção, dizendo que eu estava sedentário. Respondi que eu trabalhava muito e não tinha tempo. Ele me indicou um nutricionista, procurei depois um personal trainer e, com a orientação dele, comecei a correr. De repente eu me encontrei”, conta. Hoje maratonista e triatleta, Guerra levou os exercícios para o tratamento de dependentes químicos e deprimidos e, embora tenha enfrentado a resistência de alguns no começo, não raro, ele ouvia frases do tipo “Esporte? Nem pensar, nunca fiz, não faço e nunca vou fazer”, observou bons resultados. “Os que aderiam tinham recuperação mais rápida e mais eficiente, inclusive necessitando de

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É um estímulo para a recuperação não só da saúde física, mas também da saúde mental

menos remédios. O esporte é um estímulo essencial quando se trata da recuperação não só da saúde física, mas também da saúde mental”, diz o médico. E ele não é o único que tem apostado nesse tipo de abordagem. “Não dá pra pensar em tratamento de saúde mental sem considerar as várias frentes existentes: psicoterapia, medicação, se necessário, e atividade física”, defende Lívia Basseres, mestre pelo ipq-fmusp (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

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Ela participa de uma pesquisa, ainda em fase inicial, que pretende avaliar a diminuição de recaídas em usuários do álcool por meio da atividade física e tem trabalhado em parceria com o educador físico Eduardo Rocha na elaboração de treinos específicos para cada tipo de transtorno psiquiátrico. Existem indícios, por exemplo, de que a musculação ajuda a combater a depressão e exercícios aeróbicos, como corrida e bicicleta, são bons para quem sofre de ansiedade ou dependência química. Gama conversou com Guerra, Basseres e outros especialistas para entender como e por que o esporte pode melhorar nossa saúde mental. As explicações incluem da produção de hormônios àquele empurrãozinho que faltava para ser mais disciplinado. Spoiler: ao final do texto, dá vontade de sair correndo em direção ao prometido (e comprovado) bem-estar.

O esporte produz endorfinas

Mais do que escultora do corpo, a atividade física “é praticamente uma musculação cerebral”, diz Lívia Basseres. “Libera vários mensageiros químicos, endorfinas, serotonina, noradrenalina. Promove mais sinapses (ligações entre os neurônios) e aumenta a vascularização cerebral, beneficiando o hipocampo, estrutura relacionada à memória”, explica. Por possuir todo

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esse poder químico sobre o corpo, o esporte melhora a frequência cardíaca, o sono e a qualidade de vida de uma forma geral. Os hormônios produzidos durante os exercícios conferem sensação de bem-estar, como se fossem uma droga não à toa, os remédios mais usados para tratar transtornos mentais, como fluoxetina e paroxetina, são inibidores da recaptação de serotonina, ou seja, aumentam a disponibilidade desse hormônio no organismo. “Você está cansado, e a tendência é pensar: nunca mais na minha vida. Mas esse pensamento não dura mais de 15 minutos, logo em seguida você está exaurido e feliz. A adrenalina produzida provoca uma sensação viciante”, diz Arthur Guerra. A social media Gabriela Marques, 24, experimentou esse sentimento pela primeira vez aos 18 anos. Diagnosticada com transtorno bipolar desde os 14, ela estava em uma recaída quando a irmã a convidou a participar de uma corrida de cinco quilômetros. “Eu nunca fui do tipo esportista. Falava que estava com cólica para fugir da Educação Física na escola. Mas resolvi participar. Durante a corrida, me lembro de ter parado e olhado o sol. Fazia anos que eu não sentia aquela vontade de viver. Passei uma semana dolorida, mas queria aquela sensação de novo”, conta. Para o psiquiatra e nutrólogo Frederico Porto, os treinos podem ser bons aliados no tratamento da depressão, como aconteceu com Gabriela. Isso porque, além dos hormônios do bem-estar, se colocar em movimento aumenta em 30% os fatores de crescimento nervoso, responsáveis por prevenir a morte de células nervosas, que tendem a ser mais baixos em quem tem depressão. “Em casos leves e moderados, a atividade física tem efeito comparável ao remédio e provavelmente mais durável”, diz o médico.

Uma rotina de exercícios deve ser adotada por pessoas de todas as idades


O esporte aumenta a autoestima

De novo, não é só pela consequente perda de peso e eventual adequação a um tipo de corpo considerado padrão que os exercícios dão um up na autoestima. Segundo os especialistas, um dos efeitos mais evidentes do hábito é a melhora do humor. “O foco sai da doença, criando um fato novo que interfere na autoimagem e na autoestima”, explica Páblius Staduto, especialista em medicina do esporte pela Sociedade Brasileira do Exercício e do Esporte.“A pessoa relata que se sente mais disposta.” É o caso de Sara Vigiano, 29, que sofre de transtorno afetivo bipolar. A empreendedora começou a correr pouco depois que sua filha nasceu, quando ela tinha 21 anos. “Foi amor à primeira passada. Era um momento só meu, 50 minutos, duas vezes por semana”, relata. Para ela, a trail run (ou corrida de montanha) é uma forma de encontrar o melhor de si. “Estou na corrida não em busca de performance, mas da minha melhor versão. Estar na natureza me reconecta com a minha essência.” Além disso, mesmo que não esteja em uma modalidade coletiva, como vôlei ou futebol, o praticante pode criar vínculos de amizade no grupo de treinamento – um combate à solidão. “Gosto da energia da largada, da interação com as outras pessoas, daquele barato no final do treino. É a minha dose de euforia”, conta Sara. Na pandemia, ela tem corrido sozinha na rua, mas não deixou de participar de aulas online e lives com outros esportistas, se arriscando até em novas modalidades, como a yoga. “Foi o que me salvou.”

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Os hormônios produzidos durante as atividades conferem sensação de bem-estar, como se fossem uma droga

O esporte dá mais disciplina

Treinar diariamente, se alimentar bem e diminuir a ingestão de álcool estão entre as mudanças na vida de quem passa a praticar esportes regularmente, o que ajuda a administrar os transtornos de saúde mental. “O esporte ensina a criar estratégias de resistência, a fazer planejamento”, avalia Basseres. De acordo com ela, isso pode ser especialmente importante para os dependentes químicos, que tendem a ser mais impulsivos e a buscar prazeres instantâneos. “Os que mantêm a rotina de exercícios físicos a longo prazo têm um ganho maior, ficam mais tempo abstinentes.”

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Foi exatamente o que aconteceu com Murilo de Campos, 50. Durante anos ele foi dependente de álcool, cigarro e remédios para dormir. Em 1999, quando conheceu os Alcoólicos Anônimos, percebeu que não bastava apenas se manter sóbrio, seria preciso reformular a própria vida e tirar os maus hábitos. Começou uma mudança radical: transformou sua alimentação e passou a praticar exercícios, primeiro caminhada, depois foi migrando para a corrida. Hoje, sóbrio há 21 anos, faz academia diariamente e corre no mínimo 15 quilômetros quatro vezes por semana. “O treino dá uma adrenalina gostosa, você se sente bem e a autoestima vai lá em cima”, diz.

O esporte ensina a lidar com as frustrações

Afinal, não são só vitórias. Você pode não conseguir correr cinco quilômetros logo de cara ou cair da bicicleta e se machucar; em uma prova, às vezes começa bem e depois tem uma queda de energia que prejudica o rendimento. Segundo os médicos, enfrentar os desafios e os resultados negativos faz bem para a mente. O importante é insistir, diz Staduto, “ainda que você fique cansado durante o treino e com medo de não conseguir”. Até porque é preciso ter resiliência: os efeitos não surgem da noite para o dia, como sabe Gabriela Marques. Na pandemia, depois de uns meses parada, ela tem retomado os exercícios aos poucos. “Sem me cobrar, respeitando o meu corpo. É preciso entender o que está acontecendo na sua cabeça. Não dá para ficar buscando só a performance. Há alguns meses consegui voltar para a minha estabilidade”, conta. Staduto afirma que o bem-estar aparece à medida que a atividade física se torna uma repetição. “O corpo passa a jogar na sua rotina a sensação de bem-estar.” Como hábito recorrente, o exercício vai ficando cada vez mais fácil e é comum aparecer até uma espécie de necessidade. “O treino regular cria um ambiente fisiológico diferenciado, depois é difícil tirar. Para a pessoa que pratica, a sensação de ficar sem fazer é muito pior do que em quem nunca fez nada.”

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Escolha algo de que você goste

“Pode ser academia, dança. Toda atividade é válida. O que importa é a regularidade: no mínimo três vezes por semana por cerca de 40 minutos”, explica Lívia Basseres. É essencial que você tenha prazer com o exercício para ter ânimo de continuar e transformá-lo em um hábito.

Comece aos poucos e tenha paciência

O ideal é ter um bom educador físico para traçar metas e fazer um acompanhamento. “Ainda que esteja ansioso para correr uma maratona, é preciso dar um passo por vez”, diz Basseres. Afinal, ninguém nasce com corpo de atleta e forçar a barra pode provocar lesões. Na impossibilidade de receber orientação profissional, o sedentário deve começar levinho, com caminhadas ao ar livre ou bicicleta ergométrica sem carga. “No início a pessoa não deve ficar cansativa demais, sentindo respirar mais forte. Nada de correr por conta própria se estiver obeso, com pressão alta”, recomenda Páblius Staduto.

Mantenha a rotina

Para sentir os efeitos de bem-estar, o tempo mínimo de atividade tem que ser de 30 minutos, de preferência cinco vezes na semana; se for um exercício mais intenso, de três a quatro vezes na semana. É preciso ter em conta que os benefícios não aparecem logo de cara e são mais sentidos quando já estamos um pouco em forma, por exemplo, sendo capazes de correr por pelo menos 20 minutos. Por isso, não desista. “Ninguém começa correndo 20 minutos, O ganho é cumulativo”, diz Frederico Porto.

Tome cuidado ao recomeçar

Se você já era praticante ou mesmo um atleta de alta performance que ainda não conseguiu retomar os treinos no ritmo de antes, é importante se orientar com um médico do esporte para avaliar sua condição física e reorganizar o treinamento. “O praticante preserva a memória esportiva e muscular da atividade mas é preciso cuidado porque o corpo pode estar meio enferrujado”, explica Staduto.

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mão na massa

Cookie vegano Ingredientes

60g óleo vegetal (qualquer um, exceto de soja) 40 g leite de coco integral 50 g açúcar cristal 60 g açúcar mascavo 5 g extrato de baunilha (ou 2-4mL essência) 150 g farinha de trigo ½ colher de chá sal refinado ¼ colher de chá bicarbonato de sódio ¼ colher de chá fermento químico em pó 150 g chocolate meio amargo (ou ao leite feito com leite de coco)

Modo de Preparo 1.

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Misture óleo, leite de coco, açúcares e baunilha. Bata por 30 segundos e deixa descansar por 3 minutos. Repita mais 2 vezes. Misture farinha, sal, bicarbonato e fermento Coloque o chocolate picado e misture bem. Leve para geladeira por 30 minutos. Ideal é 24 horas. Divida a massa em bolinhas de mais ou menos 45g para cookies grande ou 30g para cookies um pouco menores. Coloque sobre uma assadeira forrada com plástico e leve ao congelador até ficarem congeladas. Entre 15-25 minutos elas devem estar prontas para assar, vai depender do seu congelador. Aqueça o forno a 180°C. Forre uma assadeira com papel manteiga e reserve para o próximo passo. Coloque de 4 a 6 cookies por assadeira e deixe um espaço entre eles. Os cookies devem ser assados congelados. Asse a 180ºC entre 15 a 18 minutos ou até ficarem com as bordas douradas. Cookies menores gastam cerca de 15 minutos, enquanto os cookies maiores gastam cerca de 18 minutos. Retire do forno e deixe esfriar na assadeira por 10 minutos. Transfira os biscoitos para uma grade e deixe esfriar completamente.


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Você pode ou não já ter visto as mil e uma postagens sobre a Semana da Terra em seu feed de mídia social por Rita Shurman

fotos TalkOpportunity

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E

u percebi recentemente que se desesperar não é a resposta para esse problema. Claro, esse problema poderia ter sido evitado? Definitivamente. Há algo que possamos fazer para mudar o passado? Não, a menos que a máquina de viajar no tempo seja inventada em breve. Então, qual é a melhor abordagem para esta questão?

Eco-ansiedade

Primeiro, precisamos entender o que exatamente é a eco-ansiedade para enfrentá-la. De acordo com o Dicionário Oxford, é “um sentimento de preocupação com ameaças ao meio ambiente, como poluição e mudanças climáticas”. Agora, para entender a eco-ansiedade, precisamos entender o estresse. O estresse, em excesso, é prejudicial ao bem-estar de uma pessoa, tanto mental quanto fisicamente. No entanto, o estresse, nas quantidades certas, pode ajudar a ter um melhor desempenho. Se você está preocupado com isso, significa que você se importa. A meu ver, ter altos níveis de eco-ansiedade é um bom sintoma para mostrar como nação, instituição ou como um grande grupo de pessoas em geral. Isso mostra que eles estão cientes de quão terrível a situação realmente é. Como indivíduo, não é uma coisa agradável de se sentir. A absoluta desesperança de uma situação que queremos enfrentar, mas sobre a qual não temos poder. Ou pelo menos é o que pensamos.

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Se você está preocupado com isso, significa que você se importa

Doomism Climático vs Otimismo Climático

Doomism climático é essencialmente uma mentalidade na qual um indivíduo desiste de trabalhar para as mudanças climáticas, pois sente que nenhuma de suas ações poderia contribuir para qualquer mudança impactante. É fácil se deixar levar e dizer que nada pode ser feito e deixar assim. No entanto, é importante notar que o pessimismo climático não é ação climática. Se a maioria dos cientistas ainda acredita que este planeta pode ser salvo, realmente não há razão para desistir. Ao nos desesperarmos e não fazermos nada, estamos falhando com nossas futuras gerações como nossos predecessores, apenas de uma maneira diferente. Muitos até dizem que o pessimismo climático é a nova negação do clima. “Não estamos condenados, mas uma ação rápida é absolutamente essencial. A cada mês ou ano que atrasamos a ação, as mudanças climáticas se tornam mais complexas, caras e difíceis de superar.” Diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Inger Andersen. Se você já se sentiu assim antes, não fique tão chateado. Não é que você não se importe, mas você provavelmente se sentiu impotente demais para fazer qualquer coisa.

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Reduzindo sentimentos de ansiedade

É definitivamente impossível para as ações de uma pessoa fazer qualquer mudança. No entanto, lembre-se que você não está sozinho. Coletivamente, nossas ações podem fazer uma mudança significativa. Saber que você fez o seu melhor e que existem milhões ao redor do mundo fazendo a mesma coisa que você pode ajudá-lo a se sentir melhor. Coma menos carne e coma mais local (é fresco, impulsiona a economia e apoia sua comunidade também!); Plante algumas árvores ou torne-se um pai de plantas (tenho certeza que todos adorariam isso.); Participe de limpezas em sua área; Faça campanha para que seu governo local; faça alguma mudança real (isso é ainda mais importante se seu país desempenha um papel importante nas mudanças climáticas). Os três R’s: Reduzir, Reutilizar, Reciclar. A reciclagem é mais frequentemente falada quando se trata dos três R’s, mas um que não estamos dando ênfase suficiente é “Reduzir”. Em uma sociedade onde o hiperconsumismo é comum e até incentivado, isso pode ser um pouco difícil de fazer, mas há uma razão pela qual é o primeiro R e não o último. Reduzir a quantidade de recursos da Terra que consumimos pode

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ajudar tremendamente. Entenda seu poder como consumidor e o que você pode fazer com ele; Mostre gratidão à mãe terra; Tornar-se alfabetizado em mídia ou aprender a pensar mais criticamente.

Técnica de Terapia A.C.E

Encontrei este truque de terapia muito útil aqui, que acho que pode ser aplicado a todos. Afinal, nem todos podem se dar ao luxo de ir à terapia: reconheça os sentimentos e as situações que estão surgindo. Isso pode ser tão simples quanto simplesmente dizer o pensamento ou se preocupar em voz alta. “A é para realização”, diz Spelman ao Metro.co.uk. “Isso não precisa ser um grande domínio do solo, mas apenas fazer as coisas do dia-a-dia, onde você pode se sentir orgulhoso e satisfeito depois.‘O C é para proximidade com os outros. Certifique-se de estar recebendo doses suficientes de contato social de acordo com o que é preferível.


E é para diversão. A vida não é só trabalho, trabalho, trabalho, mas também diversão. Isso pode ser qualquer coisa, desde criatividade ou apenas fazer algo que seja puramente para sua diversão, não é necessariamente sobre a sensação de realização que você obtém disso.’ Conecte-se de volta a este momento. Nosso cérebro gosta de nos levar para o futuro ou para o passado, que estão fora do nosso controle. Você pode usar qualquer técnica de aterramento para se reconectar ao momento presente. Algumas pessoas gostam de usar sua respiração. Para marcar o A de conquista, por exemplo, você pode querer criar uma lista de tarefas, uma que seja realmente factível, não tão longa que impeça você até mesmo de começar, todas as manhãs, e certifique-se de realmente riscar cada uma você faz, certificando-se de fazer pelo menos uma coisa a cada dia que vai fazer você se sentir realizado. Talvez seja tão simples quanto fazer uma loja de comida, cozinhar o jantar ou finalmente deixar essas roupas velhas na loja de caridade. Qualquer coisa que você pode definir para fazer e depois fazer vai fazer o truque. Então, para C, talvez você possa marcar um telefonema com um amigo.

Conclusão

Lembre-se, não é o fim até que seja o fim. Eu gostaria que houvesse uma maneira melhor de dizer tudo o que foi dito aqui, mas parece não haver maneira de adoçar isso. Enfim, espero que este artigo tenha ajudado você de alguma forma. Ou que talvez tenha lhe dado algo novo em que pensar.

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A falta de cuidado com a Amazônia

Para boa parte dos brasileiros, a floresta não passa de uma abstração. Se a Amazônia é nossa, por que não cuidamos dela? por Eliane Brum

ilustração Clara Barreto

U

m amigo me procurou tempos atrás porque queria usar suas férias para conhecer a Amazônia. Não as capitais, nem os hotéis engana-turistas, com seus macacos amestrados, pesca de piranhas e índios contratados para fazer dancinhas. Mas a floresta e o povo da floresta. Expliquei a ele que não existe uma Amazônia, mas muitas, e que uma vida não basta para conhecê-las. Mas, se ele quisesse ter um contato real, precisaria sair do turismo previsível e se entregar à experiência. Meu amigo foi, então, para a reserva de Mamirauá, no estado do Amazonas, e, depois, comprou uma rede e embarcou num barco de linha pelo rio Solimões. A única parte previsível da viagem é que ele voltaria apaixonado, transformado e transtornado. E foi o que aconteceu. Meu amigo agora é um brasileiro com uma memória amazônica dentro dele, que o sobressalta a cada (má) notícia anunciada pelos jornais de São Paulo, onde vive. A experiência do meu amigo me ajudou a compreender por que boa parte dos brasileiros pouco se importa com a Amazônia. Se você perguntar para qualquer pessoa na rua ou numa festa de família, ela vai enfaticamente dizer que a Amazônia é nossa, é o pulmão do mundo, é importantíssima. Mas, na prática, vai testemunhando a devastação da floresta pelo noticiário enquanto toma um pingado ou uma cerveja. Porque a Amazônia, para a maioria, não passa de uma abstração. Uma floresta meio mitológica e longe, muito longe, não digo distante como Marte, mas muito mais distante do que Miami, Cancun ou mesmo o deserto do Atacama ou a Patagônia, destino dos que se consideram um pouco mais aventureiros. Até porque a Amazônia real exige força de espírito, uma entrega ao incontrolável da vida. A relação me lembra da inauguração do Animal Kingdom (Reino Animal), parque temático da Disney, nos anos 90, em que as crianças presentes ficaram profundamente entediadas porque os leões de verdade não falavam com elas nem faziam show aeróbicos, mais preocupados eles mesmos em dormir de tédio naquela selva de mentira. Em Mamirauá, meu amigo era o único brasileiro do grupo. Havia dois britânicos, dois australianos e um austríaco. Nenhum deles fazia o tipo Indiana Jones. Meu amigo é roteirista de tv, dois dos visitantes eram do mercado financeiro e mexiam com a Bolsa, uma mulher estava estudando mandarim porque seu banco a mandaria para a China no mês seguinte, outra era publicitária, e o austríaco era um aposentado que cuidava da mulher doente havia duas décadas

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Por que a discussão do novo Código Florestal não mobiliza multidões em vez dos mesmos de sempre?

e uma vez por ano tirava férias e saía pelo mundo. Todos eles conheciam o Brasil, não o país turístico, mas um bem mais interessante e melhor do que o meu amigo, o que o deixou primeiro chocado, depois envergonhado. Deram-lhe dúzias de dicas preciosas sobre lugares pouco badalados. E não, não estavam atrás da biodiversidade brasileira. Queriam apenas conhecer o Brasil profundo e voltar para a rotina de suas vidas em seus países de origem com experiências e não apenas com fotografias. Fico me perguntando: por que a discussão do novo Código Florestal não mobiliza multidões em vez dos mesmos de sempre? Ou por que o povo não protesta pela aprovação açodada da usina de Belo Monte, concedida pelo Ibama neste início de junho mesmo sem que o consórcio tenha cumprido todas as exigências, num processo claramente atropelado desde o início? Tão atropelado que já gerou no passado o pedido de demissão do responsável pelo licenciamento no ibama, que saiu denunciando

que não suportava mais a pressão. Está em curso a aprovação de um Código Florestal que contraria o bom senso ao anistiar desmatadores, entre outras liberalidades, e que representa um retrocesso na política ambiental do país em um momento crucial para o Brasil. Isso dito não por mim, mas por gente que dedicou a vida a estudar o tema. E ninguém faz passeata nas capitais. A bacia do Xingu, onde o governo quer construir a usina de Belo Monte, é a moradia de 28 etnias indígenas, 440 espécies de aves, 259 de mamíferos e 387 de peixes. A obra vai deslocar pelo menos 20 mil pessoas de suas casas e outras 100 mil poderão migrar para uma região conhecida pelos conflitos de terraconvenientemente esquecida. Não, não são os gringos que estão dilapidando a Amazônia. Se a culpa fosse deles, seria bem mais fácil. Somos nós mesmos. E estamos à beira de sermos coniventes com mais dois golpes de morte: o novo Código Florestal e a aprovação descuidada da usina de Belo Monte.

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se vira!

esfoliante de café A cafeína, que também possui propriedades anti-inflamatórias, pode reduzir a inflamação acalmando a vermelhidão da pele, melhora a elasticidade da pele e remove linhas finas ou rugas.

Pele limpa: café, açúcar e mel

Adicione uma colher de sopa de cada ingrediente em uma tigela e misture bem até obter uma mistura homogênea. Se você estiver usando café moído, deixe descansar por 2-3 minutos. Aplique a mistura no rosto limpo. Massageie suavemente o esfoliante de café no corpo e deixe secar por 15 a 20 minutos.

Olhos inchados: café e aloe-vera

Misture uma colher de sopa de gel de aloevera com uma colher de café moído em pó. Deixe descansar por 2-3 minutos e comece a aplicar sob os olhos com cuidado. Esfregue as áreas afetadas suavemente por alguns minutos e deixe secar. Enxágue com água fria, seque e aplique um hidratante. Repita este tratamento todos os dias até ver os resultados.

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Pele macia: café, açúcar e óleo de coco

Adicione 2 colheres de sopa de cada ingrediente em uma tigela e misture bem. Se você estiver usando café moído, deixe descansar por 2-3 minutos. Aplique a mistura no rosto limpo. Massageie suavemente o esfoliante de café no corpo e deixe secar por 15 a 20 minutos.

Áreas escuras: café em pó, açúcar e limão

Adicione uma colher de sopa de cada ingrediente em uma tigela e misture bem até obter uma mistura homogênea. Se você estiver usando café moído, deixe descansar por 2-3 minutos. Aplique a mistura no rosto limpo. Massageie suavemente o esfoliante de café no corpo e deixe secar por 15 a 20 minutos. Depois lave o corpo com água fria. Repita este tratamento uma vez por semana.



para ir além

Okja

Sushimar Vegano

Um imenso animal e a menina que o criou se veem no fogo cruzado entre o ativismo animal, a ganância empresarial e a ética.

Niguiri de coco e gunkan de salada de repolho roxo com tomatinhos. Essas são algumas das receitas que estrelam o cardápio do Sushimar Vegano - primeiro restaurante japonês vegano do Brasil.

FromFuture

Você não precisa mais ficar buscando novas marcas em diferentes canais para consumir de forma consciente. Nós iremos te dar opções alternativas para que você possa comprar itens do seu cotidiano (e fora dele) de marcas com propósito sócio-ambiental.

@samantaluz

Samanta Luz nos apresenta novos ingredientes e receitas bacanas para fazer. Ela destrói o mito do vegano caro com receitas fáceis feitas a partir de casca de banana, por exemplo.

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@natalyneri

Nataly Neri é sucesso no YouTube e que busca autonomia intelectual, mental e de consumo. A cientista social e comunicadora fala sobre os mais diversos assuntos sustentáveis nas redes sociais.

@chloe_t

Chloe tem como objetivo tornar a saúde e o condicionamento físico acessíveis a todos, fornecendo programas de exercícios gratuitos e compartilhando receitas gratuitas com seu público.


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Aventuras de morar sozinho

Lutas contra boletos, mares de perrengues, a travessia pelas terras da responsabilidade e independência. Como enfrentar essa odisseia da vida adulta? por Graninhas

ilustração Euclides da Silva

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A

jornada do jovem adulto que quer morar sozi nho começa com a vontade de abrir as asinhas e voar… ou pela necessidade mesmo, né galera. Já nos primeiros passos se descobre que a missão morar sozinho tem um preço. O saldo positivo dessa aventura depende muito do quanto você está preparado e gosta de desafios. As finanças são uma parte muito importante quando o assunto é morar sozinho. Anote e calcule os gastos fixos e variáveis que vai ter: aluguel (inclusive com contrato, caução, seguro-incêndio, etc), água, gás, internet, supermercado, transporte, serviço de mudança, compra de móveis e eletros, etc. Um método simples que você pode usar pra organizar o orçamento é a regra 50-30-20. Nela, você divide sua renda mensal em três categorias pra criar um limite de gastos, assim: 50%: pra gastos fixos e essenciais: alimentação, moradia, transporte, contas de água e luz, estudos, saúde. 30%: pra gastos variáveis, desejos pessoais e lifestyle: assinaturas, delivery, roupas, lazer, presentes, viagens, eletrônicos, decoração. 20%: pra prioridades financeiras: reserva de emergência, investimentos, poupança pra objetivos.

Planejamento pra que te quero, a caminhada tá só começando

Sabendo os custos de se bancar sozinho, se organize financeiramente com antecedência (pelo menos 6 meses) pra não passar tanto sufoco ou se endividar ao sair do ninho. Analise sua renda e gastos, veja onde dá pra economizar, quanto pode poupar por mês e comece. Spoiler: imprevistos vão acontecer, então é bom ter uma graninha de reserva pra te dar um help (o ideal é guardar 3 meses de despesas).

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Nem só de boleto é feito o terror

Pra ganhar fôlego, faça um teste drive da vida solo

Simule as responsabilidades que terá morando sozinho. Por uns 3 meses, prepare a comida, lave as roupas, faxine, conserte coisas, pague as contas... Essa experiência vai te dar uma noção se você está preparado pra uma nova etapa da sua vida adulta.

Muitas distrações surgem no caminho, prioridades bebê

Tá que não se aguenta pra comprar coisinhas pra decorar seu futuro lar, né?! Mas foca no básico pro início, tipo colchão, fogão, geladeira, itens de cozinha e banheiro. O mesmo vale pra busca do seu cantinho. Não vai com a expectativa de manter o padrão de vida da casa da mamis. Pesquise bastante em sites, apps e grupos de aluguel e priorize localização, características e preço que caibam no seu bolso. (Essa procura é cansativa e talvez você pense em desistir, mas se é isso mesmo que quer, se já se planejou, não desista, acione seu networking e pergunte para conhecidos).

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Aliás, aceite uma mãozinha para os desafios da jornada

Toda ajuda é bem-vinda: doação ou empréstimo de móveis, eletrodomésticos e utensílios, frete que o tio oferece e uma forcinha com instalações que um amigo se dispõe a fazer.

Empacotando sua nova vida pra grande mudança

Na hora de fazer as trouxas, você pode conseguir caixas de papelão de graça em supermercado, papelarias e farmácias. Se for fazer a mudança com uma empresa, tente negociar um pacote de caixas grátis.

O maior teste é ter que se virar

Invista em coisas que podem te salvar: kit primeiro socorros, caixa de ferramentas e, claro, o combo Google, YouTube e Whats da família pra perguntar como se faz algumas cositas que sozinho acabam complicando um pouco mais.

Mas, se encontrar um companheiro de jornada

Tudo pode ficar mais leve. Ter alguém pra dividir as contas (e as tarefas da casa, ihuul) ajuda no orçamento, na adaptação longe dos pais e a lidar com a solidão e as baratas.

A saga da economia continua

Isso faz parte da sobrevivência do jovem adulto que mora sozinho. A batalha pra sobrar dinheiro é constante, por isso: use lâmpadas de led, faça receitinhas caseiras pra limpeza, faça uma lista de compras antes de ir ao mercado, congele e reaproveite alimentos, acompanhe ofertas e pesquise preço, cozinhe pra não gastar com delivery, compre coisas de segunda mão, não atrase os boletos, vire fã de cupons de desconto, mantenha planejamento e controle das finanças.

Tenha telefones e endereços para emergências ao alcance

Ficar doente ou se machucar provavelmente é o momento mais difícil da vida de quem mora sozinho. Por isso, saiba com quem contar nesses momentos e conheça os arredores do seu bairro. Verifique onde estão localizados hospitais, ubss, centros-médicos e, se possível, tenha o contato de algum vizinho próximo que possa te ajudar em uma emergência.

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O que fazer quando se sentir sozinho?

Eventualmente, você irá se sentir sozinho. Não tenha medo de ficar apenas em sua própria companhia, esse pode ser um ótimo momento para se autoconhecer. Não veja o sentimento de solidão apenas como algo ruim, ele te permite saber quais pessoas são mais importantes na sua vida, pois é delas que você irá lembrar. Essa pode ser uma ótima oportunidade para ligar para essas pessoas e bater um bom papo.

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Não tenha medo de ficar apenas em sua própria companhia

O celular não é seu companheiro de quarto

Às vezes, pessoas que moram sozinhas transformam os celulares em seus roomates. Tome cuidado para não passar todo seu tempo livre grudado no telefone ou passar muitos dias seguidos sem ver nenhum ser humano ao vivo, principalmente se você trabalhar em casa. Ficar sozinho de vez em quando é bom, mas não deixe que a solidão seja toda sua realidade. Eventualmente, chame amigos e familiares para um café ou convide-os para uma visita na sua casa. Há uma série de outras atividades que também podem te fazer sentir menos sozinho: saia de casa para tomar um sol, caminhar e ver as pessoas nas ruas; escute uma música sem fones de ouvido; assista a um bom filme ou leia um bom livro. Tempo livre pode ser uma boa opção para criar novos hobbies, como plantar uma horta de apartamento, tocar um instrumento ou aprender algo novo. Ter um apartamento de solteiro é sinônimo de liberdade total, você poderá fazer o que quiser e quando quiser. As regras da casa serão totalmente suas: você pode cantar, dançar, andar sem roupa ou passar o dia inteiro no sofá, ninguém irá te perturbar. A televisão também será toda sua, e a decoração escolhida também.

Tem dias de lutas, mas tem dias de glória

Morando sozinho você vai sentir orgulho de si mesmo com as conquistas domésticas (ex: comprar um filtro de água) e pessoais e vai curtir mais sua companhia. A faxina não está em dia? Sem julgamentos, minha casa, minhas regras. Também vai amadurecer muito e alcançar sua independência financeira. Bora colocar o pé na estrada?

E para ajudar na hora do controle de gastos, imprima e preencha o Planejamento de Gastos!

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quer que eu desenhe?

reduz em

aumenta em

39%

67%

18%

15%

Ansiedade

Cortisol

Resistência à dor

Resultado em provas

50%

47%

AUMENTO DA MASSA CINZENTA NO HIPOCAMPO (%) 0,01 0,008

Chance de ataque cardíaco e infarto

Recaída de pacientes com depressão

0,005 0,003 0

Grupo controle

Com meditação

DIMINUIÇÃO DA ATIVIDADE DA AMÍGDALA (%) 0,05 0 -0,05

Com meditação Grupo controle

-0,1 -0,15

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tação



NFT: o que é e como funciona

Proposta é dar autenticidade a itens digitais, criando uma peça “original” a partir de um arquivo digital por Saori Almeida

imagens Bored Ape Yacht Club

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O

s nfts se tornaram uma das maiores tendências do mundo dos criptoativos em 2021, com um aumento de 55% nas vendas em relação a 2020, que saíram de 250 para 389 milhões de dólares. E você provavelmente não entendeu nada do que isso quer dizer. Apesar de também funcionar num mundo virtual, esse tipo de investimento, e é um investimento, não é igual a comprar bitcoins, como se pode pensar de primeira. Nesse artigo, vamos explorar o que são esses nfts e como eles funcionam.

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Eles não podem ser reproduzidos, mas sim transferidos

O que são nfts?

virtualmente qualquer tipo de item, seja ele real ou intangível, incluindo: trabalhos artísticos, itens virtuais dentro de videogames, como skins, moedas digitais, armas e avatares música, colecionáveis, como cards digitais, ativos do mundo real tokenizados, desde imóveis e carros a cavalos de corrida e tênis de marcas famosas, terrenos virtuais, vídeos de momentos icônicos do esporte. Esse é o conceito por trás de nfts: eles são como um tipo de assinatura digital que transforma qualquer tipo de mídia digital um gif ou jpeg, fotos, vídeos, mensagens, arquivos de áudio etc.

Foto por MaskOn

nfts é a sigla para o termo non fungible token, ou “token não fungível”. Eles são tokens, ou seja, códigos numéricos com registro de transferência digital que garantem autenticidade aos seus donos. Na prática, eles funcionam como itens colecionáveis, que não podem ser reproduzidos, mas sim transferidos. Diferente das criptomoedas, como o Bitcoin, e vários tokens utilitários, os nfts não são mutuamente intercambiáveis. O token não fungível representa algo específico e individual, com “cartão de autenticidade” e que não pode ser substituído. Por exemplo, um bitcoin é fungível, troque um por outro bitcoin e você terá exatamente a mesma coisa. Um cartão comercial único, no entanto, não é fungível. Se você o trocasse por um cartão diferente, você teria algo completamente diferente. Os nfts podem ser qualquer coisa digital, mas muito do hype gira em torno da arte digital. Eles podem representar

MaskOn lança o nft mask on assortman com rostos conhecidos do rap vietnamita

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Um token não-fungível serve para garan- que ocorre com as criptomoedas. Basicamente, qualquer tir que determinado item é original. Nesse item digital que o autor ou proprietário julgue necessário sentido, se você comprar algo com nft, definir sua autoria pode ser atrelado a um nft como uma você tem a garantia de que aquele arquivo forma de resguardar sua originalidade, na expectativa é único. É a chave completamente única de comercialização. que garante a autenticidade do arquivo. A maioria dos nfts faz parte do Blockchain Ethereum. Os Os nfts são projetados para dar a você nfts são armazenados em carteiras digitais (embora seja algo que não pode ser copiado: proprie- importante notar que a carteira precisa ser especificamente dade da obra (embora o artista ainda possa compatível com nft). reter os direitos autorais e de reprodução da obra física). Para entender, podemos Como funciona os nfts? dizer que qualquer um pode comprar uma Um nft pode ser criado por qualquer pessoa, afinal gravura da Monalisa, mas apenas uma pes- praticamente tudo no meio digital pode virar um nft. soa pode possuir o original. Transformar seu gif ou imagem jpeg em um nft, na verdade, Essa relação entre dados e valores – rea- é extremamente simples e não requer grande conhecilizada pela nft, é possível por causa de mento do mercado de criptomoedas. O Ethereum tem uma tecnologia chamada Blockchain. Esta o maior ecossistema de nfts, e seu maior marketplace é uma base de dados descentralizada que atualmente é o OpenSea. Abaixo, você confere um passo a passo resumido de ficou famosa por servir de fundamento como criar um nft: para as criptomoedas, como a Bitcoin e também a Ethereum. É um sistema onde é Para começar, escolha qual blockchain será utilizado possível rastrear o recebimento e envio para a emissão de seus nfts. Atualmente, o Ethereum é de determinados tipos de informações. o blockchain mais utilizado para isso. Considerando o Todas as transações ficam registradas em Ethereum como escolhido nesse exemplo, você precisará um tipo de documento oficial que pode de: a) Uma carteira compatível com a rede que suporte ser acessado por qualquer usuário. tokens erc-721; b) Cerca de us$50 a us$100 em ether (eth). Dada a natureza descentralizada do Em seguida, considerando o OpenSea como marketplace blockchain, há uma grande margem de escolhido, você cria o “pacote”/coleção para os seus nfts segurança de que as informações arma- com nome, logo e descrição Agora você seleciona o zenadas são seguras e invioláveis, o que arquivo, define nome e descrição, e também determina encoraja o surgimento de um mercado à qual coleção o seu nft pertencerá. Pronto, você possui em torno de nfts de forma parecida com o o seu primeiro nft.

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Contudo, essa criação não garante que o item que o nft está vinculado irá ter valor no mercado. Tendo algum valor, esse nft vai ser lançado no mercado, podendo ser comprado e vendido. Tudo isso é operado pela Ethereum, que registra cada transação através dos contratos inteligentes ou smart contracts. Em 2019, a Nike patenteou o sistema de blockchain chamado CryptoKicks, no qual a marca pode verificar a autenticidade dos tênis, por meio de nfts. Outro exemplo foi em fevereiro de 2021, quando o meme do Nyan Cat foi vendido por us$ 590 mil. Se você digitar agora no Google Nyan Cat, você vai encontrar diversas cópias e versões deste meme. No entanto, quem comprou o meme recebeu o arquivo original junto com o código que garante sua originalidade e exclusividade. Apesar de comprovar que determinado item é original, o nft não garante que não serão lançadas cópias e variações do item. No entanto, ele garante que determinado item é o original, mesmo que existam cópias e variações disponíveis na internet. Caso seja o criador de um nft, existe também um recurso que você pode ativar e que vai pagar uma porcentagem cada vez que o nft é vendido ou muda de mãos, certificando-se de que, se seu trabalho se tornar super popular e aumentar o valor, você verá parte desse benefício.

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As transações de NFTS acontece, por meio de uma tecnologia chamada Blockchain

NÃO-FUNGÍVEL: Na economia são ativos cujas unidades não podem ser trocadas sem alterar o valor. Non-fungible token (nft) quer dizer token não fungível, ou que não pode ser trocado ou substituído em virtude de suas características exclusivas ou propriedades.

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Cuidados ao investir em nft

Para investir em nft, também é necessário entender que o investimento está sujeito à alta volatilidade tanto do jogo, por exemplo, quanto do mercado. É possível se ganhar muito em um curto período de tempo, mas esse tipo de investimento deve ser pensado para médio ou longo prazo. O especialista em criptomoedas da Empiricus, André Franco, por exemplo, sugere que ninguém coloque mais do que 3% de seu patrimônio nesses ativos. O segredo está na assimetria de lucros. Com o potencial de valorização, basta uma pequena parcela para que o investidor mude seu patamar financeiro. Por outro lado, ele não arrisca seu patrimônio nem o dinheiro de que possa vir a precisar para coisas básicas. Uma regra básica, inclusive, do investimento em criptomoedas. A diferença aqui é que o que você vende e recebe é uma peça única, enquanto numa transação de bitcoins você vai dar e receber a mesma coisa.

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Mas vimos grandes marcas e celebridades como Marvel e Wayne Gretzky lançarem seus próprios nfts, que parecem ser voltados para colecionadores mais tradicionais, em vez de criptotusiastas. Os nfts ainda não são mainstream como os smartphones ou Guerra nas Estrelas, mas parecem ter, pelo menos até certo ponto, algum poder de permanência. Alguns investidores acreditam que eles tendem a se valorizar com o passar do tempo, enquanto outros defendem que, em algum momento, o mercado não verá mais valor. Além disso, dão espaço para os artistas que, de outra maneira, poderiam não ter a mesma sorte de trabalhar e vender suas obras de forma tradicional. As pessoas que compram nfts fazem isso porque atribuem grande valor a itens originais e exclusivos. Portanto, o fato de os itens por vezes terem um valor tão alto, deriva justamente do fato de que eles são exclusivos, o que gera escassez. O que difere de coleções do mundo real é que aqui não se tem um quadro tangível ou um cd, por exemplo. A valorização e desvalorização usam os mesmos termos de oferta e demanda que temos no mundo real, mas estamos falando de arquivos digitalmente únicos e registrados como tal.



para ir além

Me Poupe!

Dad, How do I?

Descubra tudo o que ninguém nunca teve tesão de te falar sobre dinheiro, e de um jeito que você nunca imaginou! A Nath (eu) e todo o meu time estão aqui pensando em como te enriquecer licitamente.

Farei o meu melhor para fornecer conteúdo útil e prático para muitas tarefas básicas que todos deveriam saber fazer. Neste canal, você encontrará uma variedade de conteúdos como How To’s, Story times, Dad Chats e muito mais!

Girls Revolution

É o lugar de todas as mulheres que acreditam em sororidade, em rede de apoio, em crescermos juntas. Em compartilharmos, ouvirmos, dividirmos, seja conhecimento, alegrias ou aflições. Redefinir nosso sucesso e aprender a usar ferramentas que nos transformem na melhor versão de nós mesmas não precisa, e nem deve, ser um trabalho solitário.

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Falando sobre dinheiro de um jeito divertido. Quando “falar umas verdades” pra quem está endividado tem mais a ver com diminuir e constranger do que de fato ajudar. ️ 🗣 Papo reto: não seja essa pessoa!

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@omorandosozinho

Somos formados em Publicidade e Propaganda e decidimos materializar essa paixão criando conteúdos pra galera que mora sozinha (ou que planeja isso) de uma forma prática, divertida e colorida.

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Quem já viveu a experiência de rolar a tela no automático já sentiu: tem uma hora que cansa. Promovemos o uso ético, cidadão, responsável e seguro da Internet, com foco nos direitos humanos.


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´ PiLULA seguinte DO DIA

Especialista desmistifica o uso desse método de contracepção e efeitos da pílula no corpo por Joana Rodrigues Stumpo fotos Paula Neto

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A

verdade é que ninguém quer que ter que recorrer à pílula do dia seguinte, mas acidentes acontecem e não há nada de errado com isso. Então, mais vale estarmos prevenidas e informadas, até porque não faltam mitos que só nos deixam assustadas. A Vogue falou com a ginecologista Ana Isabel Machado para verificar todas as informações que circulam por aí sobre este método de contracepção de emergência, que pode ser utilizado “sempre que há relações sexuais desprotegidas ou quando há falha de um método contraceptivo”, seja a pílula, o anel ou o adesivo.

Como funciona

A pílula do dia seguinte atua inibindo ou adiando a ocorrência da ovulação, diminuindo a chance de fecundação do espermatozoide e ocorrência de gravidez, desde que tomada na primeira fase do ciclo menstrual. Além disso, a pílula do dia seguinte, quando tomada na segunda fase do ciclo menstrual, que corresponde à fase ovulatória, atua alterando a mobilidade do espermatozoide e do óvulo na tuba uterina, diminuindo o risco de fecundação e posterior implantação no útero. Essa pílula também pode alterar o muco cervical, o que interfere na migração do espermatozoide até a trompa, dificultando o contato entre o espermatozoide e o óvulo. Apesar disso, a pílula do dia seguinte não tem efeito após a implantação do óvulo fecundado no útero.

Como tomar a pílula do dia seguinte

É recomendado que a pílula do dia seguinte seja tomada o mais rápido possível, preferencialmente dentro de 12 horas ou até no máximo 72 horas depois da relação sexual desprotegida. A pílula do dia seguinte pode ser tomada em qualquer dia do ciclo menstrual, exceto quando se

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Acidentes acontecem e não tem nada de errado com isso

tem atraso na menstruação, e pode ser ingerida com água ou junto com alimentos. Em casos de vômito ou diarreia dentro de 3 horas após a ingestão da pílula do dia seguinte, é importante que um outro comprimido seja tomado imediatamente. Caso esteja sendo feito o uso de pílulas anticoncepcionais, não é necessário interromper o uso. Após usar a pílula do dia seguinte, é recomendado utilizar a camisinha ou o diafragma a próxima menstruação.

Possíveis efeitos colaterais

Após o uso da pílula do dia seguinte, a mulher pode sentir dor de cabeça, náusea e cansaço, além disso, após alguns dias ela poder sentir outros sintomas como: dor nas mamas; dor abdominal; diarréia; vômito; pequeno sangramento vaginal que não está relacionado com a menstruação;

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Atraso da menstruação, que pode surgir 5 a 7 dias depois da data esperada. Se a próxima menstruação atrasar 5 dias ou mais, é importante fazer um teste de gravidez. Estes sintomas estão relacionados aos efeitos colaterais do medicamento e é normal que a menstruação fique desregulada por algum tempo. O ideal é observar estas alterações e se possível anotar na agenda ou no celular as características da menstruação, para poder mostrar ao ginecologista numa consulta. Saiba mais sobre os efeitos colaterais da pílula do dia seguinte.

Quando não é indicada

A pílula do dia seguinte não deve ser usada por mulheres grávidas ou com suspeita de gravidez, e nem por mulheres em fase de amamentação. Também é importante ter atenção com quem toma Efavirenz, pois esse é um medicamento capaz de reduzir a eficácia da pílula em até 50%. Além disso, existem outros fármacos que podem reduzir a eficácia da pílula e que por isso a pílula não deve ser consumida quando a mulher está fazendo tratamento com esses medicamentos, como os barbitúricos, fenitoína, carbamazepina, rifampicina, ritonavir, rifabutina e griseofulvina.

Ela só é eficaz 24 horas depois da relação sexual

Não é bem assim. Antes de tudo, a ginecologista explica que existem dois tipos de pílulas diferentes disponíveis no mercado: “O levonorgestrel, que está licenciado para utilizar até três dias e quanto mais precocemente é tomado, melhor e mais eficaz é; e o acetato de ulipristal, que são comprimidos eficazes nos primeiros cinco dias e não perdem eficácia ao longo do tempo. Se for utilizado numa fase antes da ovulação e até 24 horas após a relação sexual desprotegida, o levonorgestrel é 95% eficaz e se for até 72 horas a proteção cai para cerca de 58%”. Contudo, Ana Isabel Machado deixa o alerta que “no período da ovulação, a pílula de levonorgestrel não tem qualquer eficácia”. Já a “pílula de acetato ulipristal tem eficácia de 99% a 98% ao longo dos cinco dias após o relacionamento desprotegido.”

Esse é o único método de contracepção de emergência

Além das duas pílulas disponíveis, também existe um outro método de contracepção de emergência: o dispositivo intrauterino de cobre. A ginecologista esclarece que “o DIU de cobre pode ser colocado até

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ilustração por Tyler Spangler

cinco dias após relações sexuais não protegidas e a eficácia é muito grande, perto dos 99%.” Em relação ao ciclo hormonal, ela salienta que este é o método mais seguro “se estivermos muito perto da ovulação.” Para além disso, tem a vantagem de, uma vez colocado, ficarmos “com contracepção futura.” Talvez a única desvantagem é que “a sua colocação depende de um médico.”

Só podemos tomar 3 pílulas em toda a vida

Não há número máximo de pílulas que se possa tomar ao longo do tempo. No entanto, se você tomar esse método de emergência uma prática recorrente, isto pode ser um sinal de que está se protegendo pouco. É importante destacar que essa pílula só deve ser utilizada de forma esporádica, ou no máximo 1 vez por mês, porque ela contém uma dose muito alta de hormônios, podendo causar irregularidades no ciclo menstrual e, por isso, só está indicada para situações de emergência e não como um método contraceptivo frequente. Caso seja utilizada

mais de 2 vezes no mês, a pílula do dia seguinte pode aumentar o risco do surgimento de doenças como trombose e comprometimento cardiovascular.

É necessário consultar um médico para ter acesso

Ana Isabel Machado diz que a pílula de levonorgestrel “pode ser comprada, por exemplo, em qualquer farmácia”, já a pílula de acetato ulipristal pode ser mais difícil de ser encontrada. Em ambos os casos, “nem sequer precisa de receita médica.”

A pílula do dia seguinte pode causar infertilidade

Este método de contracepção de emergência “não tem impacto negativo na fertilidade”, garante Ana Isabel Machado.

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Erótico como poder feminino É preciso pensar no erótico para além da questão sexual, e visualizado como força de poder para a mulher contemporânea por Djamila Ribeiro

ilustração Clara Barreto

O

erótico não é sobre o que fazemos; é sobre quão penetrante e inteiramente nós podemos sentir durante o fazer. E uma vez que saibamos o tamanho de nossa capacidade de sentir esse senso de satisfação e realização, podemos então observar qual de nossos afãs vitais nos coloca mais perto dessa plenitude.” Esse é um trecho do artigo “Os Usos do Erótico: O Erótico como Poder”, da feminista e pensadora negra Audre Lorde, que nos traz reflexões muito profundas sobre transcender as normas impostas para poder sentir o erótico como força vital. Em uma sociedade patriarcal e racista, Lorde argumenta que o erótico foi destituído do seu sentido real, tornando-se algo superficial, mecanizado, confinado somente “ao quarto” e utilizado para benefício dos homens, uma vez que foi esvaziado pelos modos masculinos de poder para negar às mulheres o conhecimento dessa força transgressora. Para ela, erotismo tem a ver com plenitude, entrega, ter alegria em alcançar a excelência de algo para além da mediocridade incentivada na sociedade. Porém, afirma a autora, negar o erótico como força vital cumpre um objetivo de impor às mulheres um lugar de submissão, de mantê-las presas em amarras ideológicas. Para Lorde, os homens difamaram o erótico a partir do momento que o usaram contra as mulheres para transformá-lo em algo plastificado, fazendo assim com que elas não o enxerguem como fonte de poder e informação. Reduzi-lo à pornografia cumpre esse papel. Porém, para a autora, “a pornografia é uma negação direta do poder do erótico, uma vez que representa a supressão do sentimento verdadeiro. A pornografia enfatiza a sensação sem sentimento”. Suprimir o erótico em nome de algo sem sentimento seria uma das amarras que confinariam as mulheres ao lugar de objetos e não sujeitos de suas histórias, fazedoras de caminhos de libertação. É algo que vai muito além de uma questão de moralismo ou até mesmo de ética, como acusam muitas mulheres que criticam a pornografia. Para Lorde, não se trata disso, mas de romper com uma existência mecanizada que incentiva a falta de sentimento e nega às mulheres poder para conhecerem a plenitude. Pois negar o erótico seria não ter consciência do próprio ser nos relegando à superficialidade. Esse artigo é de uma beleza e de uma coragem sem tamanho. Pensar o erótico para além da questão sexual e botá-lo como força motriz de realização e consciência de si é poderoso, e Lorde enfatiza que a

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A pornografia é uma negação direta do poder do erótico

sociedade patriarcal tem medo de mulheres poderosas. “E essa é uma grande responsabilidade, surgida desde dentro de cada uma de nós, de não nos conformarmos com o que é conveniente, com o que é falseado, convenientemente suposto ou meramente seguro”, afirma. O contato direto com o erótico seria uma forma de se rebelar contra uma estrutura que enfraquece, nega oportunidades, é lutar contra o autoaniquilamento e contra opressões que ligam trabalho ao lucro e não foram feitas para atender às necessidades humanas. “O medo de que não vamos dar conta de crescer além de quaisquer distorções que possamos achar em nós mesmas é o que nos mantém dóceis, leais e obedientes, definidas pelo que vem de fora, e que nos leva a aceitar muitos aspectos da opressão que sofremos por sermos mulheres”, afirma em outro trecho. Ou seja, a imposição do medo também seria uma forma de temer a transcendência ou a luta para superar as imposições de uma sociedade patriarcal e racista. Esse é

um tipo de artigo que precisa ser lido, é quase impossível escrever a respeito do tema sem o citar o tempo todo. Penso que Audre Lorde nos brindou com uma reflexão poderosa sobre as distorções que se impõem sobre conceitos que poderiam nos emancipar. Essa tem sido uma tática de quem está no poder: negar ou confundir, esvaziar de sentido e potência instrumentos importantes de libertação para manter confinados e sujeitos a opressões determinados grupos. Porém, quando conhecemos o erótico, somos impelidas a lutar por transcendência e a perder o medo da plenitude. “O erótico é um lugar entre a incipiente consciência de nosso próprio ser e o caos de nossos sentimentos mais fortes. É um senso íntimo de satisfação ao qual, uma vez que o tenhamos vivido, sabemos que podemos almejar. Porque uma vez tendo vivido a completude dessa profundidade de sentimento e reconhecido seu poder, não podemos, de modo algum, por nossa honra e respeito próprio, exigir menos que isso de nós mesmas.”

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10 mitos sobre

menstruação

Cuidado para não cair nos mitos sobre seu ciclo menstrual, vamos explicar tudinho que você precisa saber! por Elizabeth Denton

ilustração Marília Antunes


P

or alguma razão, a menstruação ainda é uma coisa estranha de se discutir, mesmo sendo um processo natural da vida. O pior é que não falar abertamente sobre menstruação levou a inúmeros mitos bobos que as pessoas ainda acreditam hoje. Eu admito, eu tinha hoje anos quando descobri que minha menstruação não me tornaria mais propensa a ataques de tubarão. Infelizmente, os períodos geralmente são discutidos apenas em sussurros com seus amigos mais próximos e às vezes isso pode levar a muita desinformação. Então, para nos ajudar a esclarecer alguns desses mitos infames do período, consultamos a Dra. Deborah Nucatola, Diretora Sênior de Serviços Médicos da Planned Parenthood Federation of America e realmente chegamos à verdade sangrenta. Aqui está tudo o que você achava que sabia sobre menstruação, mas na verdade não sabia.

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Não falar abertamente sobre menstruação levou a inúmeros mitos que as pessoas ainda acreditam

1. O sangue atrai tubarões no oceano

De onde veio esse mito louco?! Se sua mãe (ou avó) disse para você ficar fora do oceano quando estiver menstruada, eles estavam um pouco mal informados. Os tubarões não sentirão o cheiro do sangue em você e virão atacá-lo. “Não há evidências científicas que sugiram que as mulheres sejam mais suscetíveis a ataques de tubarão, ou ataques de ursos, durante a menstruação”, explica o Dr. Nucatola. Bom saber que isso oficialmente não é verdade.

2. Sua menstruação para quando você entra na água

Não caia nesse mito e fique em uma situação complicada! “Sua menstruação não diminui ou para na água, ela pode simplesmente não fluir para fora da vagina por causa da contrapressão da água”, diz Dr. Nucatola. “Quando você está na banheira ou no chuveiro, sua menstruação não para e não é diferente de estar em uma piscina ou

no mar.” Então, se você estiver indo a uma festa na piscina, você ainda vai querer um absorvente interno ou coletor menstrual.

3. Você deve menstruar até...

Não existe uma idade considerada “normal” para ter a primeira menstruação. O normal é que você e suas amigas menstruam em períodos diferentes. A maioria começa a menstruar entre 9 e 15 anos, geralmente na época em que outras pessoas de suas famílias tiveram as suas. Mas, se não houver nenhum sinal de seu período aos 15 anos, é uma boa ideia consultar o médico, aconselha Dr. Nucatola.

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4. Você não pode engravidar quando está menstruada

Embora incomum, pode acontecer. Graças à aula de saúde, você provavelmente sabe que quando você menstrua, você não está ovulando, então você pode pensar que isso significa que você não conseguiria engravidar. Mas esse não é realmente o caso. O negócio é o seguinte: sua ovulação e seu ciclo menstrual podem ser imprevisíveis, e a ovulação pode acontecer antes, durante e depois da fase de sangramento, especialmente se sua menstruação for irregular. Você também pode sangrar mesmo se não estiver menstruada, isso se chama spotting e, quando isso acontece, pode parecer que você está menstruada. Mesmo que você não esteja ovulando durante o sexo, o esperma pode viver em sua vagina por até cinco dias; portanto, se um óvulo for liberado durante esse período, ele poderá ser fertilizado. Resumindo: Você pode engravidar a qualquer momento que fizer sexo, menstruar ou não menstruar. É por isso que é importante ainda usar anticoncepcionais e preservativos ao fazer sexo durante a menstruação, tanto para prevenir a gravidez quanto para se proteger contra dsts.

5. Se você estiver atrasada, está grávida

A gravidez é o motivo mais comum para a falta de menstruação, mas há outras razões pelas quais ela pode desaparecer. “Estresse, doença e mudanças de peso ou nutrição podem afetar seu ciclo menstrual”, diz o Dr. Nucatola. Seu período provavelmente não estará em um ciclo exato, como a cada 28 dias. Além disso, a falta de um período é ainda mais comum no primeiro ano após o início da menstruação. Pode levar de seis meses a um ano para que sua menstruação se torne regular após a primeira menstruação. E para algumas pessoas, pode nunca ser regular. Ainda assim, se você for sexualmente ativa e perder um período, consulte seu médico para um teste de gravidez, apenas por segurança.

6. Um O.B pode se perder dentro de sua vagina

Boas notícias: nada pode se perder em sua vagina. Sua vagina termina no colo do útero e um tampão não pode ir além disso. Mas se você não consegue lembrar se removeu o absorvente interno ou não (isso acontece!), tente deitar-se e enfiar a mão na vagina com os dedos limpos.

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Existem vários tamanhos de O.B, basta procurar o ideal para você

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20 a 50% das mulheres têm sintomas da síndrome pré-menstrual cinco dias antes do início do período


Foto por healthline

Colagem que representa a menstruação

A vagina tem apenas cerca de 3 a 4 po- 8. A TPM está na sua cabeça legadas de comprimento (embora possa Aquelas mudanças de humor e desejos que você sente se esticar para acomodar a relação se- pouco antes da menstruação chegar? Totalmente real e xual vaginal ou ter um bebê), então as totalmente normal. Ufa! Vinte a cinquenta por cento das chances são de que, se um absorvente mulheres têm sintomas emocionais e físicos da síndrome interno estiver lá, você poderá senti-lo. pré-menstrual cinco dias antes do início do período. “Os “Se você sentir o absorvente interno, mas sintomas podem variar de inchaço, fadiga e alterações no não conseguir retirá-lo sozinho, seu mé- apetite, ansiedade, tensão, tontura e/ou seios sensíveis”, dico ou enfermeiro podem ajudar”, diz diz o Dr. Nucatola. Tanto o exercício quanto os analgésicos o Dr. Nucatola. Então, não surte ou tenha vendidos sem receita são conhecidos por diminuir os medo de usar tampões. (E não, usar um ab- sintomas, mas se forem muito ruins, consulte seu médico sorvente interno não afeta sua virgindade para outras opções. de forma alguma. Você pode começar a usar absorventes internos sempre que se 9. Não é saudável pular a menstruação sentir confortável. Ponto final.) “Não há nenhuma razão médica para que você precise menstruar todo mês”, diz o Dr. Nucatola. “Não há problema 7. Ninguém realmente tem em usar anticoncepcionais hormonais para controlar o sangramento ou parar a menstruação.” Algumas pulam Síndrome do Choque Tóxico Pode não estar nas notícias com tanta fre- seus períodos por problemas de saúde, como anemia quência quanto no início dos anos 2000, ou cólicas dolorosas, e outras simplesmente não quemas isso não significa que você deva rem sangrar naquele mês (como por causa de férias ou ignorar esse aviso na caixa do absor- noite de formatura) e tudo bem. Apenas verifique com vente interno. A Síndrome do Choque seu médico primeiro. Se você é sexualmente ativa e usa Tóxico (ou tss) é rara, mas ainda é real e anticoncepcionais para pular a menstruação, é melhor muito perigosa. A maioria das pessoas fazer testes de gravidez de rotina apenas por precaução. recebe tss por usar um tampão de alta absorção por dias seguidos. “Para evitar tss, é melhor trocar seu absorvente 10. É nojento fazer sexo interno a cada 3 a 4 horas e usar o ab- durante o período menstrual sorvente menos absorvente que você Contanto que você e seu parceiro se sintam confortáveis​​ precisa”, diz o Dr. Nucatola. Se você e usem proteção, não há problema em fazer sexo durante acidentalmente deixou o seu por mais a menstruação. Você pode até perceber que quer fazer tempo, não surte. Você provavelmente mais sexo enquanto está menstruada e isso é totalmente está bem, mas consulte um médico ime- normal também. “A menstruação causa uma flutuação dos diatamente se achar que pode ter tss. “Os hormônios e aumenta o fluxo sanguíneo, o que pode sintomas de tss incluem vômitos, febre realmente aumentar a excitação”, explica o Dr. Nucatola. alta, diarréia, dores musculares, dor de “Muitas acham que a excitação sexual e o orgasmo ajudam garganta, tontura, desmaio ou fraqueza a aliviar as cólicas menstruais.” É sobre o que você se sente e uma erupção cutânea do tipo queima- mais confortável. Apenas certifique-se de usar camisinha dura solar”, diz o Dr. Nucatola. para se proteger contra dsts e gravidez indesejada.

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bla bla bla

Precisamos falar sobre SEXO Suas perguntas respondidas sem tabu por Kristin Koch

Quão dolorosa é a primeira vez?

Varia. Para algumas pessoas, não há dor alguma; para outros, o sexo pode ser desconfortável. Alguns sentem desconforto quando o hímen se estica ou se rompe, o que pode causar um pequeno sangramento. Às vezes, você pode não estar excitado (ou está se sentindo nervoso) para que sua vagina não seja lubrificada o suficiente para uma experiência confortável. Preservativos lubrificados podem ajudar. E, claro, os casais devem sempre usar camisinha toda vez que fizerem sexo para se proteger contra gravidez não planejada ou doenças sexualmente transmissíveis (dsts). Às vezes, será desconfortável nas primeiras tentativas e depois começará a se sentir melhor. Em geral, porém, se você sentir muita dor durante o sexo, converse com seu médico.

Como você sabe quando está realmente pronto para fazer sexo?

O sexo é muito íntimo. Não é apenas físico, pode ser emocional também. É normal que os adolescentes tenham fortes sentimentos sexuais, mas isso nem sempre significa que você precisa agir de acordo com eles. Você pode se sentir fisicamente pronto para o sexo, mas não estar no relacionamento certo por várias razões. Porque fazer sexo pode ser tão emocionalmente poderoso, é fácil se machucar. Sexo é apenas parte de um relacionamento. Outras coisas importantes, como confiança e respeito mútuo, também precisam estar em vigor. Finalmente, apesar de toda a sua magia, o sexo pode ter desvantagens, como uma gravidez não planejada ou dst, então certifique-se de estar se protegendo contra isso.

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Meu parceiro está me pressionando para fazer sexo. Como eu sei se eles estão apenas me usando?

Às vezes, nos relacionamentos, uma pessoa está pronta para fazer sexo, mas a outra não. Isso pode ser estressante porque você não quer comprometer o que você Se eu fizer sexo com uma garota, não está pronto ou o que você acredita. estou tecnicamente Você precisa fazer o que é certo para você. perdendo minha virgindade? Qualquer um que tente pressioná-lo a fa- A virgindade é um assunto complicado zer sexo não está realmente pensando por causa de como é tratado de maneira no que é mais importante para você. As diferente quando se trata de rapazes e pessoas que pressionam os outros a fazer garotas. Os rapazes são encorajados a sexo estão apenas procurando satisfazer acabar com a virgindade. Enquanto isso, seus próprios sentimentos e desejos em as meninas são informadas de que a virrelação ao sexo. Se você se sente pres- gindade é um presente que você precisa sionado a fazer sexo porque tem medo manter, que é algum tipo de mercadoria e de perder seu parceiro, pode ser um sinal que você está “perdendo” algo quando de que você não está no relacionamento faz sexo pela primeira vez. A virgindade certo. Sexo não é algo que você deve é sua e só sua, e você escolhe o que fazer sentir que deve fazer. Relacionamentos com ela. Sexo é sobre intimidade intensa são feitos para serem divertidos para am- com outro ser humano, então você pode bas as pessoas. Eles devem fazer você se “perder sua virgindade” de várias maneiras sentir apreciado, respeitado e apoiado, não pressionado ou desconfortável. Se Qual é o problema com a o seu parceiro realmente se importa com masturbação? você, ele não vai pressioná-lo a fazer algo É sujo, ou ruim para você? em que você não acredita ou não está Muitas pessoas já ouviram todos os tipos pronto. Então converse com eles sobre de mitos e desinformação sobre a masturcomo você se sente. Se eles são a pessoa bação. Alguns temem que a masturbação certa para você, eles vão entender. possa causar problemas emocionais ou de saúde, mas isso não é verdade. É normal que os adolescentes se masturbem. Se alguém está se masturbando tanto que interfere em sua vida diária, isso pode ser um problema. A masturbação é muitas vezes considerada um assunto privado e algumas pessoas podem sentir vergonha de pensar ou perguntar sobre isso. E quando você está muito envergonhado para falar sobre algo, você pode ouvir e acreditar em coisas que não são precisas. Se você tiver dúvidas ou perguntas sobre masturbação, converse com seu médico, enfermeiro ou outro conselheiro de saúde, qualquer dúvida que você possa ter, tenho certeza de que eles já ouviram antes.

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Um dos medicamentos mais consumidos nesses tempos de pandemia pode reduzir o desejo e a resposta sexual. Interromper o uso sem orientação médica não é a melhor saída. Há outras soluções à vista. por Cristiana Nabuco

ilustração Euclides da Silva

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E

le chegou causando em 1988. Embalado numa supercampanha de marketing, prometia trazer de volta o bem-estar, sem os efeitos colaterais dos psicofármacos disponíveis até então. O Prozac (fluoxetina) foi um dos primeiros de uma nova classe de antidepressivos: os inibidores seletivos da recaptação da serotonina. Sucesso imediato, passou a ser chamado de pílula da felicidade. Só que não. Mais de 30 anos depois, sabe-se que, embora melhore o humor e colabore no tratamento de vários transtornos, até 73% das pessoas que tomam antidepressivos podem ter diminuição do apetite sexual. Quem usa, como um consultor empresarial de 50 anos que não quis se identificar, mas já recorreu a três versões do remédio para controlar suas crises de ansiedade (escitolapram, fluoxetina e venlafaxina), conta que uns mexiam com a ereção, outros comprometiam a ejaculação. “É como se o cérebro perdesse a comunicação com a genitália”, diz. Até 73% das pessoas que tomam antidepressivos podem ter diminuição do apetite sexual. Os prejuízos à esfera sexual também incomodam as mulheres: 83% afirmam que afetam a resposta sexual e 72% que interferem na libido; dentre as usuárias de medicações como a fluoxetina, 42% relatam dificuldade para ter orgasmo, constatou a psicóloga Tierney Lorenz, da famosa Clínica Mayo, nos Estados Unidos, numa revisão de estudos publicada em setembro de 2016 no Mayo Clinic Proceedings. Esse efeito colateral é

Até 73% das pessoas que tomam antidepressivos podem ter diminuição do apetite sexual

uma das principais causas de abandono do tratamento. “É um erro”, adverte a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. “Ao suspender a medicação ou diminuir a dose sem acompanhamento médico, a pessoa fica sujeita a outros episódios da depressão, que pode se tornar crônica. Apenas um tratamento efetivo, no tempo necessário e na dose adequada consegue controlar o quadro”.

Momento complexo

Durante o ano de 2020 foram comercializadas quase 100 milhões de caixas de antidepressivos e estabilizadores de humor, ambos medicamentos controlados, num aumento de 17% em comparação com o ano anterior, segundo levantamento realizado pelo Conselho Nacional de Farmácias. Só na primeira metade do ano, de janeiro a julho, o consumo de antidepressivos cresceu 13,8% em comparação com o mesmo período de 2019.

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Em número de unidades, as vendas pularam de 56,3 milhões em 2019 para 64,1 milhões em 2020. Esse crescimento é atribuído às preocupações e incertezas trazidas pela pandemia – o isolamento, a mudança de rotina, o medo de adoecer e morrer, a perda de emprego e renda. “A maior parte das pessoas foi afetada emocionalmente. Só não ficou ansioso quem não entendeu o que estava acontecendo”, diz o psiquiatra Higor Caldato, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas nem todos adoecem. “A depressão acomete quem tem vulnerabilidade genética para uma desregulagem na química cerebral”, explica o psiquiatra. A maior parte das pessoas foi afetada emocionalmente. Só não ficou ansioso quem não entendeu o que estava acontecendo O estresse pode servir de gatilho para quem estava equilibrado em tempos normais entrar agora em crise. Por isso se prevê um aumento na incidência de depressão e ansiedade como consequência da pandemia. “Havia a expectativa de que, por volta de 2030, a depressão se tornaria mais frequente e incapacitante do que as doenças cardiovasculares, principal causa de morte no Ocidente, mas essa previsão pode ser antecipada por conta da pandemia”, informa Carmita Abdo. Duas vezes mais presente na mulher do que no homem, além de tristeza, a depressão provoca desinteresse geral por atividades antes agradáveis, dificuldade para se concentrar e realizar os afazeres cotidianos, insônia, alteração do apetite e falta de interesse por sexo. “Pessoas deprimidas não conseguem sentir prazer, mesmo que ainda não cheguem ao ponto de passar o dia inteiro deitadas no quarto”, diz a médica ginecologista Lilian Fiorelli, especialista em Sexualidade Feminina e Uroginecologia pela usp. E, para complicar, a pandemia, por si só, já apaga o desejo “Na crise sanitária, com tantos medos e incertezas, questões urgentes que dizem respeito a defender a vida ficam em primeiro plano”. Então, às vezes fica difícil saber quem de fato assassinou o desejo: foi o remédio, a própria depressão ou o contexto desfavorável?

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Luz no fim do túnel

A boa notícia é que situações decorrentes do uso de antidepressivos são reversíveis. “Não precisa se conformar com o fim de sua vida sexual”, tranquiliza Higor Caldato. A libido pode voltar assim que o corpo se acostumar à medicação ou melhorar quando a doença estiver controlada. Nos casos em que o problema persiste, é possível cogitar outras possibilidades, como trocar de remédio. Nem todos os antidepressivos têm o mesmo impacto sobre o sexo. No seu estudo, a psicóloga Tierney Lorenz observou que os maios nocivos para o desejo e a resposta sexual são os psicofármacos que atuam sobre a serotonina (fluoxetina, paroxetina, sertralina, citalopram, escitalopram e venlafaxina), além de um antidepressivo mais antigo, a clomipramina. A perda de libido ou redução na satisfação sexual às vezes antecede a mudança positiva de humor ou a redução de sintomas, o que requer paciência Ao aumentar o mensageiro químico do bem-estar, a serotonina, eles geralmente reduzem a dopamina, fundamental para a excitação. Os que menos interferem sobre o apetite sexual são bupropiona, mirtazapina, trazodona, nefazodona, vilazodona, por apresentarem outros mecanismos de ação. Por que então os psiquiatras não receitam de cara essas medicações menos lesivas? Segundo Carmita Abdo, a escolha do tratamento depende do perfil do paciente, cuidar de si, bebe menos água, alimenta-se se manifesta mais inquietação, se fica mais choroso. “O mal, dorme pouco, sua imunidade cai e principal objetivo é aliviar os sintomas para que a pessoa fica mais propenso a contrair infecções. possa dar sequência à sua vida, não prevenir efeitos No caso do consultor ouvido por Gama e colaterais, como perda de libido, ganho de peso ou citado no começo da matéria, a saída foi sonolência. Se forem eficazes diante das características estabelecer prioridades: “Se eu tivesse apresentadas pelo paciente, eles podem ser receitados”. 25 anos, ia me desesperar, marcar uma Além do tipo de antidepressivo, o efeito também de- consulta virtual com o urologista no pripende da dose e do tempo de uso. Essa classe de me- meiro horário e tomar logo um remédio. dicamentos não age de um dia para outro. Os benefícios A maturidade me fez aceitar que isso é começam a surgir depois de 2 a 4 semanas de uso. Já o provisório, faz parte do tratamento e é prejuízo sobre a esfera sexual pode aparecer no intervalo possível lidar com o problema, sabendo de 1 a 3 semanas após o início do tratamento. “A perda de que ele está dentro de um combo”, diz. libido ou redução na satisfação sexual às vezes antecede “Primeiro preciso me livrar da agitação, da a mudança positiva de humor ou a redução de sintomas, angústia, da confusão mental, da taquicardia e da sensação de morte iminente que o que requer paciência”, alerta Tierney Lorenz tanto atrapalham a minha vida”. O efeito indesejado pode ser adminisSoluções possíveis O mais importante é abrir o jogo com o psiquiatra – um trado com bom senso. O médico pode estudo revelou que metade dos pacientes não fala so- ajustar a dose do remédio ou trocar por bre sexualidade com seus médicos. Avisar que valoriza um antidepressivo que interfira menos na a vida sexual a fim de que o profissional leve isso em vida sexual. Ele também pode associar consideração na medida do possível. Cada caso deve outro fármaco que acorde o desejo ou ser analisado. “Vale a pena perguntar para o médico melhore a ereção, como a famosa pílula quanto tempo isso vai durar e, se for o caso, preparar o azul. Técnicas comportamentais também parceiro para alguns meses de menor interesse sexual são úteis, como programar a relação sexual em prol de resolver uma condição incapacitante”, orienta para horários mais promissores, recorrer a profissional Carmita Abdo. a acessórios e filmes, investir em terapias A psiquiatra lembra que doenças como depressão complementares como acupuntura ou até podem matar, não só pelo intenso desconforto emocional, psicoterapia, que ajuda, inclusive, na conque pode levar ao suicídio, mas porque o doente para de versa com o parceiro.

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para ir além

Sex Education

HeartStopper

O inexperiente Otis entede tudo de aconselhamento sexual, graças à sua mãe sexóloga. Ele se junta com a rebelde Maeve para abrir uma clínica de terapia sexual na escola.

Os adolescentes Charlie Spring e Nick Nelson não têm quase nada em comum. Eles descobrem que são mais que apenas amigos e precisam lidar com as dificuldades da vida escolar e amorosa, descobrindo e aprendendo mais sobre si mesmos e sobre sua sexualidade.

Generation

Generation segue um grupo de alunos do ensino médio que explora sexualidade, amor, família e amizade no mundo moderno e tecnológico ao seu redor. testando crenças profundamente arraigadas sobre a vida, o amor e a natureza da família em sua comunidade conservadora.

@prazerobvious

Por que o prazer feminino ainda incomoda tanta gente? Por que falar de sexo ainda é tabu? Além do Podcast, Prazer, Obvious também está no Instagram.

70

@catiadamasceno

Cátia Damasceno é especialista em sexualidade feminina e fala sobre sexo e relacionamentos em vídeos no YouTube. Também posta conteúdos em seu Instagram.

@digavulva

Acredita em viver a fisiologia com prazer e saúde, sem misticismos. Atua na construção de uma nova narrativa para pensar e produzir conhecimento sobre corpos.



quem sou eu

Descubra a sua Linguagem do Amor Considere as frases a seguir. O que te deixa mais feliz?

a) seu colega diz “Você realmente fez um

a) ser elogiado pelas conquistas e ter mi-

Considere as frases a seguir. O que te deixa mais feliz?

Quando faço um bom trabalho, como me sinto mais reconhecido?

ótimo trabalho. Parabéns!” b) seu colega, inesperadamente, faz alguma coisa no escritório que você aprecia. c) seu colega traz para você um presente surpresa da loja. d) seu colega te convida para uma caminhada, apenas para conversar. e) seu colega faz um esforço apenas para te dar um abraço antes de ir embora.

a) seu colega te diz o quanto te aprecia.

b) eu colega faz uma tarefa chata que você

deveria fazer e te encoraja a descansar. c) seu colega traz para você uma guloseima especial da padaria. d) seu colega te convida para sentar e conversar sobre seu dia. e) seu colega gosta de receber um abraço seu quando você está passando por ele.

Considere as frases a seguir. O que te deixa mais feliz?

a) durante uma festa, seu colega fala com

as pessoas presentes sobre um recente sucesso seu. b) seu colega leva o seu carro para lavar. c) seu colega surpreende você com um presente inesperado. d) seu colega te chama para dar um passeio à tarde. e) seu colega anda de braços dados com você quando vocês estão passeando.

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Quando chego em casa depois de um dia estressante, o que me energiza?

nhas qualidades enaltecidas. b) outra pessoa se oferecer para resolver meus próximos afazeres. c) ser surpreendido com um jantar, onde seja servido meu prato predileto. d) passar algum tempo com a família ou em atividades como ler, estudar, assistir filmes ou meditar. e) receber abraços, beijos e carinhos das pessoas que amo.

a) sendo elogiado em frente aos meus co-

legas e amigos. b) sendo liberado das minhas atividades para que consiga me organizar no trabalho, ou dar andamento em novo projeto. c) recebendo um pequeno prêmio físico. d) sendo premiado com uma folga. e) através da interação mais próxima de meus superiores.

Imagine um aniversário de alguém muito importante para você, e que estivesse passando por um momento triste. Supondo serem possíveis as seguintes ações, o que você faria?

a) enviaria uma mensagem sobre o quanto

aquela pessoa é especial. b) perguntaria se poderia ajudar em algo. c) enviaria um presente pelo correio. d) pagaria uma estadia em um hotel para que ela pudesse relaxar um pouco. e) passaria apenas para dar um abraço nela.


Considere as frases a seguir. O que te deixa mais feliz?

Como que melhor consigo exercer a minha espiritualidade?

a) seu colega te elogia por causa de uma

a)

Sinto-me mais desconfortável...

Quando me encontro em dificuldades, como me sinto mais ajudado pelas outras pessoas?

a) quando elogio alguém e a pessoa não

TOQUE FÍSICO ATOS DE SERVIÇO

Você se identifica com Atos de Serviço e deseja estar com alguém confiável, responsável e leal, e também deseja ser isso para a pessoa. Ama ser uma equipe, seja ajudando nas tarefas domésticas, ajudando a planejar as férias, ou coisas do tipo. Ver a pessoa se oferecendo para ajudar sempre te faz sentir amor.

Você se identifica com Tempo de Qualidade. Você gosta de criar momentos especiais a sós, seja em uma viagem de fim de semana ou simplesmente ficando em casa e assistindo a um filme juntos. É fundamental para você que o companheiro a conheça bem e valorize a sua companhia.

quando me incentivam e enaltecem minha capacidade de superação. b) quando me ajudam a pensar em alternativas e a realizar as ações. c) quando recebo ajuda financeira. d) quando me fornecem tempo para refletir sobre as alternativas e obter insights. e) quando me confortam e demonstram proximidade para apoiar.

Você tem uma afinidade grande com Palavras de Afirmação e gosta de demonstrar o amor através de elogios e palavras de incentivo. Você simplesmente gosta de ser lembrado do quanto é especial, e gosta de lembrar a mesma coisa aos outros! Continue assim!

a)

TEMPO DE QUALIDADE

PALAVRAS DE AFIRMAÇÃO

RESULTADOS

Agora conte quantas e quais letras você marcou em cada pergunta e a mais marcada condizirá com a sua respectiva linguagem do amor.

PRESENTES

Você apresenta forte ligação com a linguagem dos Presentes. Você aprecia pequenos presentes e gestos que têm um significado muito maior. Reações decepcionantes a presentes e esquecer ocasiões importantes são duas coisas que te tiram do sério.

retribui numa próxima oportunidade. b) quando tenho serviço e, ao invés de me oferecerem ajuda, me dão mais serviço. c) quando participo de um “amigo secreto”, dou um presente bom e recebo algo que eu não gosto. d) quando preciso escolher entre dois compromissos: um muito importante pra mim e outro com pessoas que amo. e) quando abraço uma pessoa e ela não me abraça com a mesma intensidade.

cantando, falando sobre minha fé com os outros, orando. b) participando da organização e realização de eventos de caridade. c) fazendo doações de recursos financeiros. d) frequentando missas, cultos, grupos de e) estudo e eventos religiosos, meditando. fornecendo amparo presencial e físico a pessoas em momento de dificuldade.

Você tem uma afinidade por Toque Físico. Você lê constantemente a linguagem corporal para avaliar o que os outros estão pensando ou sentindo e precisa estar fisicamente perto de alguém para se sentir, de fato, perto. Além de que você adooora demonstrações públicas de afeto e carinho.

de suas qualidades especiais. b) seu colega te dá uma carona e te poupa de ter que pegar aquele ônibus lotado. c) seu colega, que tem sustento completo, paga academia para você por 2 meses. d) seu colega planeja uma saída para vocês. e) seu colega prepara um lanche e leva para onde você está.

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Sagrado Feminino e a autoestima O Sagrado Feminino potencializa o entendimento sobre o próprio corpo e o papel da mulher na sociedade por Roberta Minelli

ilustrações Luiza Melo

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M

ulheres de todo o mundo têm resgatado a sua essência com o Sagrado Feminino e obtido ganhos para a sua autoestima. Essa filosofia, que também pode ser considerada um estilo de vida, propõe o reconhecimento e a aceitação do próprio corpo, desde a autoanálise emocional ao perfeito equilíbrio entre você e a natureza. Mas, afinal, o que é o Sagrado Feminino? Vamos entender melhor esse conceito neste post e saber como aplicá-lo no dia a dia.

O que é Sagrado Feminino?

O Sagrado Feminino é um resgate da essência feminina e representa um estado de consciência relacionado ao que é ser mulher, independentemente de classe social, cor da pele, tipos de personalidade, crenças ou experiências vividas. Ele representa a conexão da mulher com a natureza, com os seus ciclos e consigo mesma. Entender e vivenciar o Sagrado Feminino desperta a mulher para uma nova consciência sobre si mesma. Ele a ajuda a se aceitar e a entender o próprio corpo. Também auxilia na valorização dos ciclos naturais, como menstruação, gestação, parto, amamentação, maternidade e maturidade. Além disso, o Sagrado Feminino ajuda a mulher a aceitar suas emoções e a explorar sua sexualidade.

Entenda o significado do Sagrado Feminino

Considerado uma filosofia, o Sagrado Feminino é o conjunto de ensinamentos que ajudam as mulheres a se conectarem consigo mesmas e com a natureza. Assim, estimula nossos instintos e desperta uma consciência nova, voltada para a nossa harmonia. Esse despertar pode ser visto de diversas maneiras. Seja se libertando de amarras sociais, padrões autoimpostos ou do patriarcado que interfere em nosso dia a dia. Em suma, o Sagrado Feminino propõe que a mulher se compreenda como um ser absoluto, que não precisa de nada além do que já habita dentro de si.

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Propõe que a mulher se compreenda como um ser absoluto

O portal Terra traz uma matéria muito interessante sobre como essa ideologia tem colaborado para que as mulheres retomem o seu lugar na sociedade. Nas culturas antigas, as mulheres tinham um papel social fundamental e uma maior conexão com sua própria natureza, seu ser interior e sua intuição. Com a imposição do patriarcalismo, suas funções foram se tornando cada vez mais restritas à casa e à família, e a conexão com si mesmas e a natureza foi se perdendo. A pressão social imposta é de que as mulheres devem se destacar como leões na selva ou são fracas. Afinal, tudo é possível para uma mulher que se conhece, se aceita e se compreende como única no mundo.

Por que o Sagrado Feminino é importante?

Entender o que é o Sagrado Feminino é importante porque ajuda a nos reconectarmos com as nossas consciências e a aceitar com mais naturalidade os ciclos pelos quais nós mulheres passamos.

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Além disso, uma mulher que entende e aplica o conhecimento do Sagrado Feminino no dia a dia tem um ganho considerável de autoestima. Por meio do despertar da consciência, ela se sente bem consigo mesma e entende o poder da feminilidade. O Sagrado Feminino também ajuda as mulheres a encontrar alternativas à organização patriarcal da sociedade e a definir suas próprias regras, promovendo mais afetividade e liberdade. Considerando a sociedade em que vivemos atualmente, ser mulher não é nada fácil. Sermos subjugadas e silenciadas, infelizmente, é algo recorrente em nossas vidas. Seguir a filosofia do Sagrado Feminino, portanto, traz uma nova visão sobre o que, continuamente, ouvimos ser fraquezas. Ser sensível não é sinônimo de ser frágil, é uma condição humana. E menstruar não é sinônimo de instabilidade emocional. Ao contrário, são características inerentes do ser humano e, por isso, merecem ser abraçadas e valorizadas. Por isso, esse estilo de vida ajuda as mulheres a se enxergarem como figuras completas e perfeitas. Dessa forma, esse processo acaba contribuindo para nos tornarmos mais felizes e estarmos em total equilíbrio com o mundo à nossa volta.

Como o Sagrado Feminino se relaciona com o conceito de empoderamento?

O empoderamento feminino está relacionado à consciência coletiva e à percepção individual que busca tomar o poder para si. Ele representa o poder de escolha, a liberdade individual, a autoestima e a forma como a mulher se enxerga. Empoderar-se é reconhecer as próprias capacidades e qualidades, aplicando esse entendimento no dia a dia da mulher. O conhecimento sobre o próprio corpo é um dos maiores fatores de empoderamento e o Sagrado Feminino ajuda a alcançá-lo por meio do conhecimento e da aceitação dos ciclos da mulher. O empoderamento e a autoestima também estão relacionados ao poder intrínseco da mulher de gerar uma vida, nutrir e parir. Ele também está ligado ao coletivo, o que significa que uma mulher empoderada consegue influenciar outras ao seu redor e promover uma sociedade mais igualitária. Mesmo que o conceito do empoderamento esteja se perdendo ou sendo ironizado, ele é parte do Sagrado Feminino.

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Esse processo acaba contribuindo para nos tornarmos mais felizes e estarmos em total equilíbrio com o mundo à nossa volta


A palavra “empoderamento”, tão ouvida e discutida na atualidade, tem um significado simples: ter poder de decisão sobre a própria vida. Considerando as premissas da ideologia, a mulher que conecta com o seu Sagrado interior está assumindo esse poder de decisão. Afinal, sua proposta primordial é o amor próprio e a libertação das amarras sociais. Portanto, mulheres que conseguem essa conexão entre o seu íntimo e a natureza, são empoderadas. Elas acreditam em si mesmas, em seu potencial e em sua capacidade de reger seus caminhos. A partir do momento em que você se liberta das imposições sociais, passa a se amar com mais verdade. Esse é um dos principais pilares dessa filosofia. Entender o que é Sagrado Feminino está mudando a forma como nós, mulheres, nos vemos e como nos relacionamos. Ao aplicar esse conhecimento na rotina, despertando a Deusa interior que cada uma de nós tem em si (símbolo do poder da mulher), é possível ganhar mais qualidade

de vida, além de aumentar consideravelmente a autoestima e melhorar a conexão com o mundo. Não há nenhuma loucura no que propõe essa ideologia. Apenas um reforço de que somos perfeitamente capazes de sermos felizes e completas pelos nossos próprios méritos e atitudes. Aceitar as coisas com mais naturalidade contribui para o seu equilíbrio e sua felicidade. Dessa forma, eleva grandemente a sua autoestima.

Como aplicar os ensinamentos do Sagrado Feminino no dia a dia?

É importante reservarmos um tempo para nós mesmas, aprender mais sobre nosso próprio corpo, nossas vontades e desejos. Devemos começar a olhar para nós mesmas e desligar do mundo à nossa volta. Dessa forma é possível ter uma melhor percepção da natureza do feminino. Em vez de se sentir desconfortável durante a menstruação, por exemplo, reflita sobre o que ela significa, busque entender melhor o seu corpo e acompanhar com atenção as mudanças que ele passa nesses momentos, sem julgamentos. Aproveite esses dias para cuidar melhor de você mesma: medite, exercite seu corpo, faça algo que a deixe feliz e satisfeita.

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Doentes de Brasil

Como resistir ao adoecimento num país (des)controlado pelo perverso da autoverdade e controlado por um antipresidente por Eliane Brum

ilustração Clara Barreto

B

olsonaro é um perverso. Não um louco, nomeação injusta (e preconceituosa) com os efetivamente loucos, grande parte deles incapaz de produzir mal a um outro. O presidente do Brasil é perverso, um tipo de gente que só mantém os dentes (temporariamente, pelo menos) longe de quem é do seu sangue ou de quem abana o rabo para as suas ideias. Enquanto estiver abanando o rabo, se parar, será também mastigado. Um tipo de gente sem limites, que não se preocupa em colocar outras pessoas em risco de morte, mesmo que sejam funcionários públicos a serviço do Estado, como os fiscais do ibama, nem se importa em mentir descaradamente sobre os números produzidos pelas próprias instituições governamentais desde que isso lhe convenha, como tem feito com as estatísticas alarmantes do desmatamento da Amazônia. O Brasil está nas mãos deste perverso, que reúne ao seu redor outros perversos e alguns oportunistas. Submetidos a um cotidiano dominado pela autoverdade, fenômeno que converte a verdade numa escolha pessoal, e portanto destrói a possibilidade da verdade, os brasileiros têm adoecido. Adoecimento mental, que resulta também em queda de imunidade e sintomas físicos, já que o corpo é um só. É desta ordem os relatos que tenho recolhido nos últimos meses junto a psicanalistas e psiquiatras, e também a médicos da clínica geral, medicina interna e cardiologia, onde as pessoas desembarcam queixando-se de taquicardia, tontura e falta de ar. Um destes médicos, cardiologista, confessou-se exausto, porque mais da metade da sua clínica, atualmente, corresponde a queixas sem relação com problemas do coração, o órgão, e, sim, com ansiedade extrema e/ou depressão. Está trabalhando mais, em consultas mais longas, e inseguro sobre como lidar com algo para o qual não se sente preparado. O fenômeno começou a ser notado nos consultórios nos últimos anos de polarização política, que dividiu famílias, destruiu amizades e corroeu as relações em todos os espaços da vida, ao mesmo tempo em que a crise econômica se agravava, o desemprego aumentava e as condições de trabalho se deterioravam. Acirrou-se enormemente a partir da campanha eleitoral baseada no incitamento à violência produzida por Jair Bolsonaro em 2018. Com um presidente que, desde janeiro, governa a partir da administração do ódio, não dá sinais de arrefecer. Pelo contrário. A percepção é de crescimento do número de pessoas que se dizem “doentes”, sem saber como buscar a cura. Vou insistir, mais uma vez, neste espaço, que precisamos chamar as coisas pelo nome. Não apenas porque é o mais correto a fazer, mas porque essa é uma forma de resistir ao adoecimento. Não é do “jogo democrático” ter um homem como Jair Bolsonaro na presidência. Tanto como não havia “normalidade” alguma em ter Adolf Hitler no comando da Alemanha. Não dá para tratar o que vivemos como algo que pode ser apenas gerido, porque não há como gerir a perversão. Ou o que mais precisa ser feito ou dito por Bolsonaro para perceber que não há

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A percepção é de crescimento do número de pessoas que se dizem “doentes”, sem saber como buscar a cura

gestão possível de um perverso no poder? “Acabei de atender a um homem de 45 Bolsonaro não é “autêntico”. Bolsonaro é anos, negro, sem escolaridade. Nos últiaquilo que chamamos de mentiroso. mos cinco anos, viu seus colegas de setor Podemos e, devemos, discutir como serem demitidos um a um e ele passou a chegamos a ter um presidente que usa, acumular as funções de todos. Disse-me como estratégia, a guerra contra todos que nem reclamou por medo de ser o próque não são ele mesmo e o seu clã. Como ximo da fila. Tem sintomas de esgotamento chegamos a ter um presidente que mente que descambam para ansiedade. Qual sistematicamente sobre tudo. Podemos e, o diagnóstico para isso? Brasil. Adoeceu devemos discutir como chegamos a ter de Brasil. Se eu tivesse algum poder iria um antipresidente. Assim como podemos sugerir ao dsm (o manual de transtornos e, devemos perceber que a experiên- mentais da psiquiatria) esse novo diagcia brasileira está inserida num fenômeno nóstico. Adoecer de Brasil é a mais prevaglobal, que se reproduz, com particulari- lente das doenças. Entrei agora na Internet dades próprias, em diferentes paísesEsse e vi que a reforma da previdência corre esforço de entendimento do processo, de para ser aprovada sem sustos. O povo, interpretação dos fatos e de produção de adoecido de Brasil, permanece inerte e memória é insubstituível. Mas é necessá- sem consciência. Vai trabalhar sem direito rio também responder ao que está nos a aposentadoria até morrer de Brasil”. adoecendo neste momento, antes que Não há normalidade nem jogo democrános mate mais ainda. tico quando um perverso governa a partir Em 10 de julho, o psiquiatra Fernando da administração do ódio e da mentira Tenório escreveu um post no Facebook É preciso dizer: não vai ficar mais fácil. que viralizou e foi replicado em vários Não estamos mais lutando pela democracia. grupos de Whatsapp. Aqui, um trecho: Estamos lutando pela civilização.

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freud explica

Narcisismo Entenda o mito e o conceito freudiano no dia a dia por Caio Cabral

ilustração Anna Salles

O que é Narcisismo

Narcisismo é um conceito da psicanálise que define o indivíduo que admira exageradamente a sua própria imagem e nutre uma paixão excessiva por si mesmo. O termo é derivado de Narciso, que segundo a mitologia grega, era um belo jovem que despertou o amor da ninfa Eco. Mas Narciso rejeitou esse amor e por isso foi condenado a apaixonar-se pela sua própria imagem refletida na água. Narciso acabou cometendo suicídio por afogamento. Posteriormente, a mãe Terra o converteu em uma flor (narciso). Estando relacionado com o auto-erotismo, o narcisismo consiste em uma concentração do instinto sexual sobre o próprio corpo. Os indivíduos narcisistas são frequentemente fechados, egocêntricos e solitários.

Narcisismo segundo Freud

De acordo com o psicanalista Sigmund Freud, o narcisismo é uma característica normal em todos os seres humanos. Está relacionado com o desenvolvimento da libido (com o desejo sexual, eros). Na linha psicanalítica de Freud, o narcisismo como perversão sexual é uma fixação de uma fase de transição da infância, em si normal. Está correlacionado, em parte com a homossexualidade e o exibicionismo, entre outras características da conduta sexual. O narcisismo se transforma em patologia, ou seja, passa do estado normal para o doentio, quando entra em conflito com ideias culturais e éticas, tornando-se excessivo e dificultando as relações normais do indivíduo no meio social. De acordo com os estudos de Freud, o narcisismo pode ser dividido em duas etapas: narcisismo primário (fase auto-erótica) e o narcisismo secundário (quando o indivíduo desenvolve o ego e consegue se diferenciar, os seus desejos e o que o atrai, do resto do mundo).

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você precisa procurar alguém

Síndrome de burnout

Se você dissesse que estava sofrendo de “burnout” no início dos anos 1970, as pessoas pensariam que você estava usando drogas pesadas por Zaria Gorvett

ilustração Cristiane Lindner

Na época, o termo era usado informalmente para descrever os efeitos colaterais do consumo destas substâncias, como um prejuízo às faculdades mentais, por exemplo. No entanto, quando o psicólogo alemão-americano Herbert Freudenberger reconheceu o problema do esgotamento profissional na cidade de Nova York em 1974, em uma clínica para viciados e pessoas sem-teto, ele não estava pensando em usuários de drogas. Os voluntários da clínica também estavam lutando contra um problema: a rotina de trabalho intensa levava muitos a se sentirem desmotivados e emocionalmente esgotados. Embora uma vez tivessem achado seus empregos gratificantes, eles estavam deprimidos e não davam aos seus pacientes a atenção devida. Freudenberger definiu essa nova condição como um estado de exaustão causado pelo excesso de trabalho prolongado, e pegou emprestado o termo burnout para descrevê-lo. Hoje, o esgotamento profissional é um fenômeno global. Neste ano, a condição foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como uma síndrome ocupacional “resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”. Segundo a oms, esse tipo de esgotamento não é uma doença ou condição médica, mas um fator que influencia nossa saúde. Há três elementos principais: sentimentos de exaustão, distanciamento mental do trabalho e pior desempenho profissional. Mas, ao notar esses sinais, não espere estar totalmente esgotado para fazer algo a respeito, você não aguardaria para tratar qualquer outra doença até ser tarde demais.Quando alguém parece ser o pai perfeito, um ídolo do fitness e um ótimo amigo simultaneamente, provavelmente esta pessoa está enganando as outras ou recebendo muita ajuda. Então, se você acha que pode estar perto de se juntar ao clube do burnout, dê um passo para descubra o que está acontecendo de errado, e seja menos duro consigo mesmo: qualquer que seja a causa do seu esgotamento, a principal dica de Murray é ser gentil consigo mesmo e compreender o momento que está passando.

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Sentindo a exaustão

Então, como você pode saber se está quase, mas não completamente esgotado? “Muitos dos sinais e sintomas do pré-burnout são muito semelhantes à depressão”, diz Siobhán Murray, psicoterapeuta e autora de The Burnout Solution (A solução burnout, em tradução livre). Murray sugere observar os maus hábitos, como o aumento do consumo de álcool, a dependência de açúcar ao longo do dia e um sentimento de cansaço que não desaparece. E como você pode saber se está realmente prestes a ficar esgotado ou se apenas está passando por um mês especialmente desafiador no trabalho? “O estresse é importante, e a ansiedade é o que nos motiva a fazer o bem. Mas, quando estamos continuamente expostos ao estresse e à ansiedade, isso começa a se transformar em esgotamento”, diz Murray. Pense em um grande projeto em que você está trabalhando. É normal sentir uma pontada de adrenalina quando você pensa sobre isso, e talvez seja algo que tenha mantido você acordado à noite. Mas Murray diz que, se você ainda se sentir inquieto depois que terminá-lo, é hora de considerar se pode estar com síndrome de burnout. Outro sinal clássico é o cinismo: sentir que seu trabalho tem pouco valor, evitar compromissos sociais e se tornar mais suscetível à decepção. “Alguém à beira do esgotamento provavelmente começará a se sentir emocionalmente ou mentalmente

distante, como se não tivesse a capacidade de se envolver tanto com as coisas comuns da vida”, diz Jacky Francis Walker, psicoterapeuta especializada em burnout. Ela também diz que um sinal de esgotamento é a sensação inabalável de que a qualidade do seu trabalho está começando a cair. “As pessoas dizem ‘mas este não sou eu’, ‘não sou assim’, ‘normalmente consigo fazer x, y e z’. Mas, obviamente, se estão em um estado de esgotamento físico, não estão em sua plena capacidade”, diz Walker.

Você está quase esgotado: e agora?

A única maneira de impedir o burnout, e bani-lo para sempre de sua vida, é atacar a origem do problema. “O que você faz em sua vida que pode temporariamente ou permanentemente deixar de lado para se recuperar dos sinais físicos de esgotamento?”, diz Murray. Walker tem um programa de três etapas, que inclui descobrir por que há uma incompatibilidade entre o que uma pessoa pode oferecer e o que ela sente que está sendo solicitada a dar. “Às vezes, uma pessoa sente a necessidade de ser perfeita demais, ou pode ter uma síndrome de impostor, em que acha que não é tão boa no que faz quanto os outros pensam e imagina que precisa trabalhar muito para tentar disfarçar isso.” No entanto, o ambiente de trabalho pode ser o problema. De acordo com um estudo da Gallup em 2018 com 7,5 mil profissionais nos Estados Unidos, o esgotamento pode ocorrer devido a tratamentos injustos no emprego, uma sobrecarga de trabalho e uma falta de clareza sobre o papel que uma pessoa deve exercer.

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dormir VIROU LUXO

Hoje em dia, dormir virou símbolo de status e uma forma de aumentar a produtividade durante o dia e o trabalho por William Vieira

ilustração Ilya Kazovka

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Da janela antirruído no quarto silencioso onde dorme sozinho, você vê a noite chegar. Hora de pôr o pijama do Tom Brady, ligar o aparelho de ruído branco, deitar no colchão ergonômico com temperatura autorregulável, ajeitar o travesseiro da Nasa e puxar o edredom de gravidade, cujo peso produz alento (e ocitocina). Oito horas de paz separam o ontem do amanhã, quando você acordará restaurado, pronto para ser superprodutivo. Parece ficção científica esse tanto de aparatos, que ainda incluem gadgets e aplicativos, para dormir. Mas é a nova rotina idealizada por quem tem recursos suficientes para investir na noite de descanso ideal. Se desde tempos bíblicos dormir é associado à preguiça e desvios de ordem moral, o sono é hoje tido como “o grande melhorador de performance, o segredo de sucesso para vida”, diz à Gama Simon J. Williams, autor de “The Politics of Sleep” . Dormir virou símbolo de status “Graças às novas afinidades forjadas entre capitalismo “Durma até chegar ao topo”, diz o bestseller e sono, ele deixou de ser o inimigo da produtividade e “A Revolução do Sono”, de Arianna Hufse tornou o grande aliado da performance e da otimiza- fington. Para a guru da autoajuda sonífera, ção de si”, diz o sociólogo. Dormir deixa de ser pecado dormir bem é a única garantia de sucesso contra o capital e vira fórmula de sucesso: é indicado para na vida. Oito horas de descanso, garante, melhorar o resultado na academia e a memória, o foco e a importam mais para ascender socialmente produtividade. Médicos aconselham, chefes demandam, do que mais horas de trabalho. pais e mães sonham com ele. Em vez de ignorá-lo ou Dormir virou símbolo de status porque criticá-lo, apostam-se nele todas as fichas. E o sono ideal o sono confortável é um luxo: não só deacaba virando um luxo para quem pode bancar. manda recursos para bancar paliativos e

Dormir deixa de ser pecado contra o capital e vira fórmula do sucesso

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Por volta de 78% dos brasileiros tem o hábito de levar o celular para cama ao se deitarem

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invenções como exige um estilo de vida. Morar em um lar seguro e silencioso com quartos separados ajuda, assim como não passar horas na condução ou se preocupar com violência e dívidas. É quase uma higiene social do sono. Porque a forma como dormimos reflete também a nossa desigualdade social. Se pesquisas mostram que pessoas brancas dormem melhor do que a população negra é porque essa última acaba habitando áreas mais barulhentas e violentas. Pessoas que acordam cedo e dormem tarde, alternando turnos de trabalho e sono para, de maneira geral, atender as classes altas que compram os gadgets para dormir melhor. Se Arianna Huffington dorme bem é porque é rica e tem nove assistentes. Mas não é só questão de posses: dormir bem se relaciona com educação emocional. “Mesmo quem tem as condições não as aproveita, são os que mais utilizam a tecnologia inadequadamente”, afirma o psiquiatra especialista em distúrbios do sono João Borgio. Sabemos que as telas atrapalham. Mas seguimos deslizando o feed do Instagram.

Assim, não basta apenas ter tempo, dinheiro, conforto, silêncio, é preciso equilíbrio, saúde em dia e disposição, mas não muita pois a ansiedade atrapalha. Ficou tão difícil conjugar tantos fatores que a noite perfeita se tornou um distante objeto de desejo. E quem alcança sai na frente.

O direito ao sono

Dormir mal é uma epidemia mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde. Só no Brasil, a insônia atinge 73 milhões de pessoas. Ou seja, um a cada três brasileiros dorme mal. O que aumenta o risco de doenças como obesidade, diabetes e doenças mentais, males que sobrecarregam sistemas de saúde e afetam a economia. “A gente se acostuma a dormir tarde e acordar cedo sem perguntar se o acúmulo de funções que nos deixa sempre alerta é necessário”, diz à Gama Andrea Bacelar, presidente da Associação Brasileira de Sono (Absono). Daí o chamado jet lag social. “No fim de semana as pessoas tentam hibernar, tirar o atraso, como se fosse um luxo para o domingo. Mas dormir dez horas num dia não refaz a carência da semana.” Para isso, seria preciso “uma revolução que fosse além da superfície das conveniências do mercado”, afirma. Não bastam novos gadgets ou remédios: o mundo necessita equacionar o ritmo da economia e da sociedade, ao ritmo das pessoas. Uma mudança social, econômica, cultural, mas sobretudo individual.


Apague as luzes: sono não é performance

Estamos numa constante batalha contra o sono. Já há quem pesquise como ter “sonhos lúcidos”, aproveitando esse “tempo perdido” na vida acordada. Na rotina, dormir tem se tornado uma prática dotada de regras, demandas e idealizações. De tão importante, o sono passou a ser visto como uma performance a ser dominada. “O que é novo, em termos históricos, é essa transformação do sono em estado ativo em vez de passivo”, diz Williams. Queremos melhorá-lo e controlá-lo cada vez mais. “Sequestrado pela lógica da produtividade, o sono virou uma competência que é preciso performar bem”, diz a psicóloga Silvia Conway, diretora da Absono. “Você precisa dormir para ser produtivo no dia seguinte, se não se sente incompetente. Então busca uma fórmula para alcançar esse sono ideal à força, o que explica a banalização de medicamentos, que também traz culpa. É um ciclo de frustração.” No fim, não sabemos exercitar o silêncio: vivemos imersos em ruídos internos e externos, o tempo todo conectados, de tarefa em tarefa, num grau de alerta que nos impede de desacelerar. “Pela noite, os desconfortos internos que negamos de dia afloram e ficamos ansiosos.” Tomar um remédio vira opção e o sono, um “problema” a ser resolvido. Por outro lado, acabamos crendo que o sono natural é um luxo para poucos. O boom recente de informações sobre o sono traz uma maior consciência sobre a importância de dormir sete, oito horas por noite. Mas traz, como efeito colateral, certo pânico: o de não se conseguir alcançar a meta universal. “A ideia do sono único de oito horas é uma idealização que passou a ocupar nossas mentes”, diz Conway. Queremos controlar o sono, encaixá-lo numa fórmula vencedora, igual para todos. “Corremos o risco de que a população em geral passe a ver esse espaço do sono estéril, idealizado pela indústria e da mídia (o quarto blindado de sons, o sono sem interrupções, etc.) não mais como um luxo, mas como a norma.”Para dormir bem, porém, vale mais ouvir os ruídos de insatisfação da vida diurna em vez de silenciá-los. Para isso, é preciso disciplina emocional. Precisamos estar bem quando acordados para poder dormir bem. Em vez de gastar uma fortuna para se isolar do lado de fora, melhor fazer como a monja Coen: se voltar para dentro. É de graça.

Cerca de 65% dos brasileiros dromem mal, enquanto só 7% buscam ajuda médica

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adultecer

Crescer

Um pouco sobre a loucura que é virar adulto por Carol Figueiredo

ilustração Lívia Falcaru

Das coisas que mais gosto de fazer hoje em dia, com certeza uma das principais é tomar um banho quente, acender uma vela e colocar uma playlist de música clássica para tocar. Depois, lavar o meu rosto com algum produto de skincare que não sei direito pra que serve, ficar bastante tempo deixando a água jorrando em minha nuca enquanto descarrego todas as minhas energias por meio de minhas lágrimas. Quando era mais nova, achei que ia parar de chorar tanto quando fosse adulta. Não parei, agora só choro com menos espectadores. São nesses momentinhos específicos que percebo que virei gente grande. Antigamente, quando chorava no banho, tinha que controlar os soluços para a minha mãe não ouvir e entrar no banheiro preocupada. Hoje em dia posso berrar. Berro, esperneio tal qual uma menina, mas ninguém vem me confortar. Uma vez um vizinho ouviu um choro meu, caçou meu número no grupo do prédio e perguntou se eu estava bem. Respondi que sim, que não era nada demais. O que ele iria fazer caso eu dissesse o contrário? Me confortar? Ele não era minha mãe. Na verdade, acho que nem a minha mãe poderia me confortar desses choros de agora. Virar adulta é um processo complicado e solitário. Solitário, porque mesmo que existam milhões de pessoas no mundo inteiro que possuem a sua idade ou já passaram por ela, ninguém, sente da mesma forma. Sentimentos são provindos de vivências únicas e particulares, e mesmo que você tenha um irmão gêmeo siamês, ainda assim ele não vai se sentir igual a você, pois são duas perspectivas diferentes, duas vidas diferentes, dois jeitos de viver o mundo. Bem, é um pouco do que sinto quando tento conversar com alguém que está passando ou já passou pela mesma coisa que eu. Até rola uma compreensão, um entendimento, mas no finalzinho sinto que só posso buscar amparo em mim mesma. Adultecer. Um fato inevitável e sem escapatória. Todo mundo tem que passar por isso e irá passar, de um jeito ou de outro. Só que aprendi com as pessoas que convivo que, mesmo existindo características que são bem similares e que ocorrem na maioria dos processos, este é um momento muito singular. Alguns demoram a passar por ele. Outras pessoas passam que nem percebem. Para muitos é doloroso, para outros é libertador. Para alguns, é tudo isso e um pouco mais.

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E assim, não é que eu não queira adultecer. Posso afirmar aqui que a minha vontade maior atualmente é falar esse termo sem sentir um estranhamento ou um não pertencimento. Quero me sentir adulta. É uma vontade diferente daquela que a gente tinha quando pré-adolescente e falava pros pais que não aguentava mais ser tratada como criança, sabe? Naquela época, a gente não entendia muito bem o que queria. Nossos pais falavam: “você vai se arrepender de querer tanto ser adulta quando for”. Bem… no momento, só quero me sentir mesmo. A diferença é que antes eu não tinha as obrigações de “gente grande”. Só queria ser adulta para me sentir livre. Hoje em dia eu acordo sozinha, trabalho, pago conta, choro sozinha no banheiro, moro só, transo sem medo dos meus pais descobrirem, viajo sozinha, vou pros cantos sem dar satisfação, e no fim do dia ainda me sinto… uma adolescente. Até criança às vezes me sinto. Por que será? A verdade é que vivemos baseados na espera do ser adulto. “Quando eu crescer”, “vou fazer isso quando tiver 30”, “você vai poder fazer isso quando for adulta”, e essa sensação de futuro não nos prepara para quando esse tal “você vai” vira presente. Ficamos presas nessa espera e acabamos não sabendo exatamente quando o futuro

chega, já que nos acostumamos com ele estando distante. E quando finalmente bate na porta, a gente não quer abrir logo de cara porque tá tudo uma bagunça. Assim, do nada, ela aparece. Bem mal educada, por sinal. Nem bate direito e já quer entrar, assim mesmo, sem nem pedir permissão. Deixar a fase adulta entrar é aceitar que muitas coisas precisam ir embora. Não dá pra ficar chorando até tarde no chuveiro porque a gente gasta muita água e a conta vem mais cara no fim do mês. Gasta muita energia física também e no dia seguinte temos que acordar às 7h da manhã pra trabalhar. Não tem skincare que ajude a cara inchada após uma noite de chororô. É saber liberar espaço pros novos hábitos e responsabilidades entrarem, deixando coisas antigas irem. No fim das contas, acredito que essa é a forma mais fácil de adultecer sem sentir tanto peso. Deixar ir o que pesa e não cabe mais, pra novos ares poderem habitar. Pois assim não há conflito de costumes. E então, começamos a ver beleza no ser adulto. Dormir cedo pra acordar de manhã mais cedo ainda pode ser cansativo, mas nesse horário que a gente consegue ouvir os pássaros cantando. É na busca de liberar o choro do banho em algum lugar que a gente recorre à terapia, ou até mesmo à conversa com a mãe ao invés de chorar baixinho pra não incomodar ela. A gente vai aprendendo a lidar melhor. Eu vou aprendendo a lidar. Adultecer deixa de doer quando entendemos que é um processo necessário e, claro, inevitável.

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para ir além

Chapadinhas de Endorfina

Jout Jout de saia

Nesse podcast, Jout Jout, escritora, jornalista e vlogueira quinzenalmente quebra barreiras e preconceitos e te faz enxergar as coisas de uma nova forma.

Chapadinhas de Endorfina é a plataforma que convida a se apaixonar pelas coisas incríveis que seu corpo é capaz de fazer, agora também com produtos que incentivam o estilo de vida em movimento.

Bom Dia, Obvious

Marcela Ceribelli, CEO e diretora criativa da Obvious, recebe convidadas para conversas abertas sobre assuntos atuais do universo feminino: saúde mental, autocuidado, carreira, autoestima, novas curas, relacionamentos e outros. Bom Dia, Obvious, o que você vai fazer pela sua felicidade hoje?

@ana_suy

Ana Suy é um apsicanalista e escritora que ao utilizar as redes soiais explica conceitos de psicanalise e freudianos de uma forma simples e interessante.

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@quepaz.cc

O Que Paz foi criado no início da pandemia com o principal objetivo de destacar a importância da saúde mental em um momento extremamente delicado.

@shemisteriosa

Desvendando os mistérios do universo feminino. Vamos falar sobre autoestima, relacionamentos e autoconhecimento?


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vê ão

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u q e m a r p n

Para pessoas com deficiência visual, automaquiagem apresenta uma barreira além da aplicação do produto: a falta de acessibilidade nas embalagens por Andressa Algave

fotos Fabrizio Chaves

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E

m uma penteadeira, uma pessoa com deficiência visual decide se dedicar à automaquiagem e, tateando os produtos com cuidado, relembra dicas pesquisadas no YouTube e em podcasts. Na busca por algum produto específico, esbarra em um frasco cilíndrico de base, que rola pela mesa e cai no chão. Depois de tatear o piso e não achar o item, a saída é pedir ajuda a uma pessoa com visão (chamados de videntes) e abrir mão da própria autonomia. A cena é mais do que comum entre pessoas com deficiência visual com gosto pela beleza. Iniciativas como o podcast “Sentidos da Beleza”, do maquiador profissional Tássio Santos, ajudam a aproximar um público com limitações de visão ao mundo da maquiagem por meio de dicas de tato para passar o produto no rosto. Mas apesar das técnicas e sugestões, como a contagem de vezes da aplicação do produto de cada lado do rosto e a utilização de produtos em pó em vez dos líquidos, ainda existe um impasse para a autossuficiência de pessoas com deficiência visual para o uso de make: a experiência sensorial dos frascos. A youtuber canadense Molly Burke, que convive com a doença degenerativa retinite pigmentosa, narrou ao canal da marca de cosméticos Allure a sua experiência: “Obviamente, quando algo rola e cai no chão e você pode ver, você procura e pega. Mas quando acontece conosco, temos que nos apoiar nas mãos e joelhos para procurar”, explicou. Dentre os acertos citados por Molly, os frascos com textura e as fragrâncias específicas servem para uma comunicação mais abrangente entre consumidores e a marca, faciliatndo identificar o produto, mesmo sem conseguir enxergar o rótulo.

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Uma alternativa até mais eficiente que o braile

Essas seriam uma alternativa até mais eficiente que o braille, considerando que essa linguagem não é aderida por todos os deficientes visuais. Isso porque apenas 3% de 6,5 milhões de brasileiros com deficiência visual lidam com a perda completa da visão, de acordo com um estudo do ibge. Ao lidar com limitações que não causam a perda completa das capacidades visuais, pessoas com baixa visão que possuem alguma noção de luz, profundidade e cor costumam optar pelo uso dos sentidos no dia a dia, especialmente o tato. Para pessoas que não enxergam e dependem das suas habilidades táteis para se maquiar, é indispensável que as embalagens sejam amigáveis. O uso de embalagens lisas, sem cheiro, sem detalhes em alto-relevo e sem adaptações táteis por empresas de beleza são uma barreira.

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Obstáculos palpáveis

Cerca de 29 milhões de pessoas declararam possuir alguma dificuldade permanente de enxergar, ainda que usando óculos ou lentes

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A assistente social Diana Barroso, de 43 anos, foi diagnosticada aos 8 anos com a doença de Stargardt, uma condição degenerativa da retina. Ela acreditava que a maquiagem, mais cedo ou mais tarde, se tornaria uma atividade impossível. “Eu sou uma pessoa vaidosa e gosto de me maquiar, e temia ter que abrir mão da maquiagem”, contou. A relação com o hobbie mudou após a perda da noção de cor, e a necessidade de produtos com uma comunicação tátil se tornou vital. Enquanto morava com a mãe, Diana aprendeu a usar o tato e a mãe ajudava a identificar as cores. Para Diana, a relação com a maquiagem, além da estética, se relaciona a autossuficiência, pela autoafirmação e também pelo autocontrole em uma sociedade capacitista. Ela explica que mais que um exercício de vaidade, o engajamento na maquiagem cumpre papel importante na construção da autoestima de uma mulher. “É uma questão de autoimagem e do meu lugar enquanto pessoa com deficiência visual em uma sociedade que prega que uma mulher como eu não tem vaidade”, diz. Ainda convivendo com a perda gradativa da visão, Diana hoje participa de lives e workshops sobre a deficiência visual, e segue uma rotina de maquiagem com cuidados. “Comecei a procurar produtos com pouca pigmentação para não parecer uma palhaça quando exagerar. Passei a buscar atendimento para ter certeza sobre a cor e o toque, e entender que produto estou levando de fato.”


Custo de produção x acessibilidade

O uso de embalagens com variedade de texturas e mais acessíveis é contabilizado como embalagens premium, de acordo com o estudo da Mordor Intelligence. Além do custo ser mais alto, há uma subvalorização do designer e do potencial de consumo das pessoas com deficiência, afirma André Demaison, mestre e professor da Universidade Federal do Maranhão (ufma). “A indústria é bem ‘Tempos Modernos’ [diz em referência ao filme de 1936 de Charles Chaplin, que mostra a revolução industrial]. E moral da história: não evolui. Existem necessidades, pesquisadores, ideias e pessoas que podem implantar essas ideias, mas entra no grande gargalo da falta de investimento empresarial”, diz. No Brasil, apesar da existência da norma abnt 9050, que orienta a acessibilidade a prédios públicos, a comunicação visual acessível ainda não é regulamentada. A adoção de medidas acessíveis por marcas fica a critério das próprias empresas. A agência Euromonitor International publicou em 2020 estudo que aponta para uma maior cobrança por inclusão na experiência do cliente. Um complicador: para aumentar os componentes táteis de um produto, aumenta-se também a utilização do plástico, a matéria-base mais utilizada em embalagens

comuns. A saída encontrada pela linha de produtos capilares da Herbal Essences foi gravar círculos e listras nos frascos associados à primeira letra de cada item, assim o usuário pode saber se toca o shampoo ou o condicionador. Outra tendência é a extensão do uso de dispositivos tecnológicos para a interação com embalagens. Henry Assef, especialista em realidade aumentada e virtual, citou o uso da tecnologia como ferramenta, como já ocorre com o qr code, para prover a consumidores com deficiência o acesso a legendas, vídeos e áudios especiais.

A exclusão, também acontece em momentos simples do dia a dia, como abrir uma embalagem de shampoo ou passar um rímel

Iniciativas de mudança

No Brasil, a youtuber e empresária Themis Briandcriou a marca Beleza Para Todos inspirada na amiga Thaís Frota, que convive com a Amaurose Congênita de Lebe, uma doença degenerativa da retina. Em uma viagem, a amiga pediu para Themis maquiá-la e a experiência abriu interesse para a rotina de maquiagem. A youtuber então

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Pessoas com deficiência não são assistidas quando o assunto é vaidade

elaborou dicas básicas para a automaquiagem de Thaís: Quando se fala em acessibilidade, a um dedo do lado do nariz para marcar o limite do blush, ideia é de que algo que seja viável para a contagem de passadas do dedo na sombra, a textura pessoas com deficiência seja direcionado da boca com e sem batom. A ideia virou série de vídeos apenas para pessoas com deficiência, expara o YouTube. “Quando a Thaís conseguiu se maquiar plica Themis. “Tive um feedback de pessozinha, eu propus que a gente compartilhasse. Imagina soas idosas com dificuldade para enxergar o tanto de mulher nesse Brasil na mesma situação e com que usavam as técnicas.” o mesmo desejo?”, contou. A assistente social Diana Barroso aponta O sucesso dos vídeos rendeu uma colaboração com que o problema seria mais brando com a a marca cearense Lab You para o desenvolvimento de presença de pessoas com deficiência no um batom acessível. Os batons contém um adesivo com desenvolvimento desses produtos, dando um código qr que, ao ser escaneado com o celular, re- opiniões e mostrando suas dificuldades. direciona para um vídeo que explica a cor, a textura e “Existe um lema chamado ‘nada sobre nós como fazer a aplicação. “As embalagens são de baixo sem nós’. Tudo que é feito para nós ou facusto porque só precisava adicionar o qr code e fazer lado sobre nós tem que ter a nossa particio vídeo. Se fosse o braille, teria que ter uma impressora pação. É muito importante que as pessoas especial e poderia custar mais. O adesivo simplificou o saibam o que nós estamos achando e a processo”, explica Themis. nossa dificuldade”.

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por Paula Andrade

fotos UP Time Art Gallery

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KSENHUK


Escrevendo um livro, e comecei a ter que falar sobre minha infância, as coisas que eu lembro

As páginas possuem textos leves, onde Lucas Ksenhuk, é um promissor artista plástico. Foi diagnosticado com autismo quando ainda era bem pequeno. o pintor expõe a sua história, com imagens Ele encara a arte como um trabalho que pode transfor- de suas obras de arte. Destacam-se ainda mar muito mais do que sua própria vida. Lucas é um dos os prefácios assinados por Kobra, artista principais artistas plásticos paulistas da atualidade. Seu de rua que se tornou um dos mais recotraço inconfundível, extrapolou seus cadernos e vem nhecidos muralistas da atualidade, e Cris conquistando as principais exposições de rua de São Campana, consagrada artista plástica, que Paulo, como Egg Parade, Cow Parade, Elephant Parade, possui experiências com escultura, pintura, Football Parade e Vitruviano Parade. Sua arte é intensa e pesquisa e fotografia. seu objetivo é transmitir vida e alegria. Seu sonho é seguir O pintor leva consigo o sonho de seguir neste caminho e mostrar sua arte para o mundo. o caminho artístico e continuar mostrando Ainda na infância, Lucas Ksenhuk já desenhava e de- suas artes ao mundo, com o objetivo de senvolvia sua técnica artística de listras coloridas. Diag- reviver a cada pintura e se autoconhecer. nosticado com autismo, ele sempre encarou a sua arte “A arte pode ter uma influência muito procomo um trabalho que podia transformar a vida de outras funda e única na vida de qualquer pessoa. pessoas e trazer independência e reconhecimento para Ela pode fazer renascer emoções que esa sua jornada pessoal. Aos 11 anos, produziu uma coleção tavam escondidas, pode mexer com áreas com 30 cadernos de desenhos e seus pais o incentiva- dentro de você que, se não fosse por ela, ram a transferir sua arte do papel para as telas. “Nelas, jamais seriam tocadas”, finaliza o artista. A edição número 14 da Revista Autismo, reconheci no meu trabalho uma chance de ir mais longe do trimestre de setembro, outubro e noe, assim, fiz minha primeira exposição com 30 quadros, vembro de 2021, conta com uma capa de todos vendidos em poucas horas”, explica Lucas. Hoje, as obras do artista têm chamado a atenção de autoria de Lucas. Ele é responsável pela muitas pessoas, não somente no Brasil, mas também nos ilustração do jogador Messi, que repreEstados Unidos e no Canadá. “As obras produzidas por senta a reportagem ‘Messi não é autista’. Lucas são notoriamente intensas e, por isso, apenas com Lucas, que já tem um estilo próprio inum olhar conseguimos identificar o seu principal objetivo confundível em suas obras, desenvolve por meio da arte, que é transmitir vida e alegria para as há muito tempo ilustrações para a Revista outras pessoas. São, justamente, esses fatores que fazem Autismo, normalmente para a coluna do com que ele consiga alcançar a tantos com a sua arte ao fotógrafo e ativista Nicolas Brito Sales, e, redor do mundo”, conta Marisa Melo, curadora artística e desta vez, foi encarregado da missão de fundadora da UP Time Art Gallery, galeria de arte itinerante compor uma capa. “Uau, eu fiquei muito na qual Ksenhuk faz parte. feliz por esse convite, que era pra fazer Além de influenciar as pessoas por meio da sua arte, a capa do Messi. Eu gosto muito mesmo Lucas tomou a decisão de registrar toda a sua história ar- de futebol e do grande jogador Lionel tística em um livro para crianças e adolescentes, publicado Messi, gosto de jogar futebol e também em 2020 e intitulado “História real em traços coloridos”, assistir os jogos. Mas enfim, foi uma grande e foi escrito nas versões português e inglês, disponíveis experiência pra mim. Fico muito feliz por para Brasil, Américas, Europa e Ásia. isso”, disse ele.

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Em 2021, ressaltando o seu tradicional incentivo à arte, o Shopping Frei Caneca inaugurou a exposição “Natureza em Traços Coloridos”. As 20 obras expostas foram assinadas por Lucas Ksenhuk e retratam os movimentos da natureza e a sutileza da arte e da vida. Todas as obras inspiradas em cenas presentes na natureza convidam os visitantes a olharem o comum com outros olhos. Cada pincelada das obras, assim como na natureza, mostra que a atenção aos detalhes pode mudar uma mesma paisagem. O site Learn From Autistic People realizou uma entrevista com Lucas e sua mãe, por volta de setembro de 2020. Nesse encontro, Lucas e sua mãe falaram sobre a criação de seu novo livro e compartilharam algumas experiências específicas que teve com bullying na escola. Lucas espera que o compartilhamento de suas experiências possa ser instrutivo para outras pessoas no espectro e suas famílias.

Qual é a história por trás disso?

Quadro “Árvore ao Vento” de Lucas Ksenhuk, dimensões de 120 x 80 cm

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Tatiana: Tudo começou no ano passado; era outubro. Eu estava me sentindo uma mãe incompetente porque via o trabalho do Lucas e não sabia o que poderia fazer para expressar o trabalho dele de forma mais relevante. Já era tarde a noite, e eu pesquisei no Google para saber sobre artistas fora do Brasil. Então me deparei com um site da Focus Brasil. É uma fundação sediada nos Estados Unidos que atende a comunidade brasileira fora do Brasil. Eles valorizam os profissionais, têm prêmios para todos os tipos de arte, artes cênicas, literatura e imprensa. Comecei a escrever para o pessoal da fundação, e não sabia na época, mas estava escrevendo para Nereide Santa Rosa, (autora e proprietária da Editora Underline). Nereide é responsável pela parte de Nova York da Focus Brasil. Soube no dia seguinte que Nereide me respondeu e havia proposto este livro onde Lucas contaria sua história. Então eu sou muito grato pela sensibilidade de Nereide e por nos dar a chance de fazer isso. Lucas: Sim, foi bem assim que tudo começou, e eu também fiquei muito grato pela oportunidade de escrever um livro. Foi um pouco diferente porque foi a primeira vez que eu fiz isso e comecei a ter que falar sobre minha infância, as coisas que eu lembro, e minha mãe também tinha muitas coisas que ela lembrava como eu estava crescendo, então foi um pouco difícil.


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“ Você poderia elaborar uma história específica relacionada ao bullying ou que destaque algo importante em seu livro?

Lucas: Posso contar uma história de quando fui vítima de bullying. Posso compartilhar com vocês algo que aconteceu comigo na minha escola. Ficou muito claro que tem gente que não aceita nada que seja diferente. É diferente deles, eles não aceitam, e na verdade consideram isso uma fraqueza. Então eu tinha garotos que me provocavam muito, e uma vez em particular que eu lembro quando criança, havia esse jogo, não lembro o nome do jogo, mas era um jogo em que todo mundo tinha uma bola e nós estavam brincando e esses meninos começaram a me provocar bastante. Eles me xingaram e estavam me provocando e fugindo de mim. Naquele momento, tudo que eu podia sentir era confusão. Eu estava muito confuso e assustado, e tudo que eu podia fazer era chorar porque eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Tatiana: Eu só queria compartilhar com vocês porque eu acho necessário, que quando eu fosse buscá-lo na escola, eu me lembrasse que ele corria para o carro. Ele juntava as pernas no banco e chorava, chorava, chorava. Ele tinha problemas para falar. Ele não falou. Ele estava imitando perfeitamente sons de animais, mas não conseguia falar. É tão doloroso lembrar disso porque eu podia ver que ele choraria tão profundamente. Foi um choro tão profundo, tão profundo que eu sabia que ele estava sofrendo. Eu sabia que ele podia compreender o que aqueles garotos estavam fazendo com ele. Havia um monte de coisas que ele não entenderia, mas ele sabia que não estava tudo bem. Ele era um menino muito inocente.

Você já teve adultos em sua vida que o tratavam de forma inadequada porque não entendiam o autismo?

Lucas: Sim. Sempre. Lembro-me de ser criança e ter adultos que simplesmente não entendiam, professores ou até terapeutas. Há uma história sobre um professor. Lembro-me dessa professora que costumava me provocar muito. Eu era constantemente provocado. Isso é exatamente como o padrão, nunca mudou. Não importa o que eu fizesse, ela iria provocar sem motivo. Tatiana: Lucas nunca foi um garoto agressivo. Eu sei que às vezes os autistas podem ser agressivos, mas Lucas nunca foi assim. Um dia o professor disse que ele a havia atacado. Eu conheço meu filho. Até hoje não sei a verdade. Isso foi na pré-escola, ele era muito jovem, e a verdade nunca veio à tona. Mas no dia seguinte, mesmo conhecendo meu filho, comprei uma flor, e fiz Lucas dar a flor para ela

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Naquela época não tinha muitas leis quando se trata de autismo

e pedir desculpas, e ela realmente nem se importou. Ela ainda o estava tratando mal. Foi-me dito que eu tinha que contratar um terapeuta companheiro. Naquela época não tinha muitas leis quando se trata de autismo e mesmo que o terapeuta ficasse com ele o tempo todo, o professor ainda o tratava de forma diferente. Ela não o deixou ser promovido para o ano seguinte, ela fez questão de colocar isso na papelada dele.

Você estaria interessado em ler uma citação ou passagem favorita de seu livro?

Lucas: Sim, claro. Esse aqui é um trecho que eu gosto muito: “Falar sobre o futuro traz borboletas no meu estômago. Pense em algo que parece estar tão distante, mas na verdade não está. Especialmente quando você tem 18 anos, a ansiedade vem. Mas tudo o que você precisa fazer é respirar profundamente e viver cada dia de cada vez.” “As coisas sempre foram um pouco mais complicadas para mim. Sempre fui desprovido de habilidades quando se fala sobre comunicação verbal. Eu costumava sentir como um trava-língua na minha boca. Quando as palavras finalmente saíram, parecia uma brisa de verão, chuva de outono, uma música composta por Beethoven, o coqueiro fazendo sombra em uma mini ilha, uma pipoca no cinema! Tudo isso por causa de uma frase bem falada dita na frente de um grupo de faculdades da minha idade. Embora, quando saiu da minha boca, foi um pouco diferente e confuso, eles até vieram me perguntar se eu era russo!”.

Quadro abstrato de Lucas Ksenhuk, dimensões de 100 x 100 cm


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Escolha seu guia Qual é o tipo de meditação que mais combina com você? Explicamos as diferenças e as características das técnicas mais praticadas no Brasil e no mundo por Mariana Payno

fotos Antonious Ferret

Proposta é dar autenticidade a itens digitais, criando uma peça “original” a partir de um arquivo digital por Saori Almeida

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popularização da meditação, principalmente na internet, expandiu o leque de opções para os interessados em levar uma vida mais zen. As práticas guiadas, por exemplo, são cada vez mais populares: milhares de aplicativos e playlists estão nas mais variadas plataformas com receitas meditativas promissoras. Mas essa abundância de tipos e modos de meditar pode acabar nos deixando mais perdidos do que centrados, afinal, não era para aumentar o foco que decidimos fazer isso? Para acabar com a desorientação, listamos aqui as principais técnicas adotadas no Brasil e ao redor do mundo. Seja qual for a que mais se encaixa no seu propósito, todos os especialistas concordam: a meditação tem melhores efeitos se for praticada com regularidade. Para não desanimar depois, é melhor escolher bem antes de começar.

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Diversos artistas adotaram a prática, alegando que ela melhorava a criatividade

Meditação Transcendental

Da solidão das montanhas do Himalaia aos holofotes mais brilhantes de Hollywood: essa foi a trajetória da meditação transcendental nos últimos 60 anos. Originada da linha do mestre védico Adi Shankaracharya, a técnica se tornou a queridinha dos famosos desde que seu guru e disseminador, o mestre Maharishi Mahesh Yogi, começou a popularizá-la nos anos 1960, e talvez seja hoje a mais praticada e estudada do mundo. É claro que ele teve uma ajudinha especial: depois que os Beatles visitaram Maharishi na Índia, a meditação transcendental ganhou ares descolados, e diversos artistas adotaram a prática, alegando que ela melhorava a criatividade De lá para cá, a lista de adeptos só cresceu e hoje conta com nomes como Madonna, Gisele Bündchen, Oprah Winfrey, Wagner Moura, Jerry Seinfeld, Katy Perry, Sting e,

o mais notável, David Lynch. A meditação que conquista tanta gente promete um estado de relaxamento profundo, duas vezes mais intenso do que o sono, para tornar a mente calma e alerta, melhorar a concentração e diminuir a ansiedade, dores de cabeça e problemas de pressão. E, embora não seja preciso muito esforço para isso, não há posturas ou respirações específicas, por exemplo, só é possível aprender os ensinamentos de Maharishi Mahesh Yogi com um professor qualificado e credenciado pela famosa Sociedade Internacional de Meditação.

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Muitas pessoas preferem meditar com os olhos fechados para se concentrarem mais facilmente

Mindfulness

Atire a primeira pedra quem nunca se deparou com a palavra “mindfulness” em propagandas que prometem paz de espírito para lidar com o estresse do dia a dia (ou talvez você não atire a pedra, porque já embarcou nesse tão sonhado estado de serenidade). A banalização do termo esconde que, na verdade, o mindfulness é um tipo bem específico de meditação, nascido do casamento de tradições milenares com a medicina moderna e respaldado por estudos científicos. “Usamos técnicas derivadas do budismo e do hinduísmo, mas adaptadas a protocolos laicos e a uma linguagem mais acessível”, explica o médico Marcelo Demarzo, fundador do Mente Aberta, grupo de referência em pesquisas sobre o tema. O objetivo do mindfulness é atingir um estado mental de atenção plena e consciência sobre os pensamentos e sentimentos, que permite compreendê-los melhor. “Ajuda no combate a dores crônicas, a doenças como a hipertensão e o diabetes, à dependência de álcool e drogas e, principalmente, ao estresse e à ansiedade”, diz Demarzo. Ele afirma que, se praticada corretamente e com regularidade, a meditação mindfulness ajuda no combate a dores crônicas, a doenças como a hipertensão e o diabetes, à dependência de álcool e drogas e, principalmente, ao estresse e à ansiedade, inclusive prevenindo o tão temido burnout e não à toa, a técnica se popularizou entre líderes e funcionários de grandes empresas, como o Google. Por isso, há muita informação na internet e aplicativos para quem quiser se aventurar, mas Demarzo alerta: atenção ao charlatanismo. “Tem que ter cuidado, porque hoje tudo virou mindfulness.” Para dar o primeiro passo, ele recomenda o Headspace e a playlist do Mente Aberta.

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É um estado que todos os seres humanos têm a capacidade de acessar, porém desenvolvem pouco


Budismo Zazen

Budismo Vipassana

Zazen, palavra que vem do sânscrito, significa literalmente Imagine ficar em completo silêncio por “sentar zen”, isto é, em estado meditativo profundo. É o dez dias, meditando 12 horas por dia. Essa tipo de meditação praticado pelos seguidores do Zen é a proposta do retiro Vipassana Dhamma Budismo japonês, como a líder espiritual brasileira Monja Sarana, em Santana de Parnaíba, um dos Coen, que ganhou popularidade na internet nos últimos 200 centros espalhados pelo mundo para anos, ao compartilhar seus ensinamentos e reflexões sobre difundir a técnica, que tem entre seus fãs e a vida e a espiritualidade em um canal do Youtube que adeptos o escritor israelense Yuval Harari. hoje conta com mais de um milhão de inscritos. A técnica Embora seja uma das mais antigas da Índia, é regida por uma série de normas escritas pelo mestre a meditação Vipassana manteve ao longo Eihei Dogen no Japão do século 13, mas a Monja Heishin do tempo uma forma bastante autêntica Gandra, discípula da Monja Coen, a resume em poucas e até hoje é ensinada gratuitamente aos linhas: “O zazen é uma prática de você com você mesmo. indivíduos que estejam interessados. Você é seu próprio conteúdo, a mente observando a E a promessa é grandiosa: “ver as coisas própria mente”. como realmente são”, e isso se faz pela Não é parar de pensar; é observar os pensamentos, autotransformação e auto-observação, prestando atenção em como eles se formam e como eles pela erradicação das impurezas mentais e terminam, mas não pegar carona neles. por meio de uma conexão profunda entre Atingir esse estágio, no entanto, não é tarefa tão fá- corpo e mente. O caminho é árduo, e o cil. É preciso, antes de tudo, caprichar na postura: sen- voto de silêncio é apenas uma parte do tar-se voltado para uma parede (para evitar estímulos rígido código de disciplina do retiro. Os e distrações), formar uma elipse com as mãos (o “mu- praticantes também devem abster-se de dra cósmico”) e manter a coluna ereta e o queixo um uma série de atividades e atitudes, como o pouco para baixo, para os olhos, semiabertos, ficarem sexo, a mentira e o uso de álcool e drogas; numa inclinação de 45 graus. Depois, prestar atenção no além disso, devem aprender a fixar a momento presente: sua respiração, batimentos cardíacos, atenção na respiração e, depois, observar movimentos e sons próximos, cheiros. “Com presença e as sensações que percorrem todo o corpo. consciência da postura, você observa sua mente. Não Por fim, aprendem a meditação “de amor é parar de pensar; é observar os pensamentos, como ou boa vontade frente a todas as coisas”. eles se formam e como eles terminam, mas não pegar A prática inteira é um treinamento mental. carona neles. Você está simplesmente presente”, diz a Exatamente como usamos exercícios físicos Monja Heishin. Ela garante que a técnica, que pode ser para melhorar a saúde de nosso corpo, a praticada por cinco ou até 40 minutos, ajuda a oxigenar Vipassana pode ser utilizada para deseno cérebro, aumentando a lucidez. volver uma mente saudável.

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Hare Krishna

O mantra está nas canções de George Harrison e Nando Reis e fica na cabeça: hare krishna, hare krishna, krishna krishna, hare hare, hare rama, rama rama, hare hare. Quem só conhece as versões musicais mais pop talvez não saiba que essas palavras têm uma dimensão sublime para os seguidores da religião hare krishna. A meditação mântrica, também chamada de japa, é considerada um canal direto para o amor e a proteção divinas. Hare, por sua vez, invoca o aspecto feminino de Deus, Krishna é um de seus nomes; e Rama é uma fonte de boa aventurança. Muito antes de ecoar nas vozes do ex-beatle e do músico brasileiro, a icônica oração estava inscrita na Bhagavad Gita, um célebre texto da tradição indiana, e foi passado adiante pelos ensinamentos de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupãda, fundador da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna. Em geral, os adeptos do hare krishna meditam sentados, com as pernas cruzadas e as costas eretas, além disso usam o japamala, um cordão de 108 contas como guia para as repetições do mantra.

Kundalini Yoga

Muitos tipos de meditação estão relacionados à yoga, e a kundalini é considerada a primeira formas de yoga praticada, mas ela só ficou conhecida no Ocidente a partir de 1968, quando o mestre Yogi Bhajan quebrou a tradição que não permitia o ensino da técnica ao público e a fez chegar até no festival de Woodstock. Um sistema de técnicas para que a energia flua de maneira mais natural e melhor dentro do indivíduo. “A kundalini pode ser traduzida como energia vital, e a kundalini yoga é um sistema de técnicas para que a energia flua de maneira mais natural e melhor possível dentro do indivíduo”, explica o professor Rodrigo Yacubian no site da 3HO Brasil. Os objetivos dessa meditação que é feita com concentração total na respiração, mantras e movimentos com as mãos (os “mudras”) incluem uma melhora no sistema imunológico e a eliminação de toxinas, além do desenvolvimento de uma maior consciência das próprias ações e da intuição. Para funcionar, no entanto, é preciso fazer uma série de exercícios e posturas de yoga (as chamadas “asanas”) e alguns minutos de relaxamento profundo antes de começar a efetivamente meditar.

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Meditação das Rosas

A abordagem holística ganha cada vez mais seguidores no Brasil e, por isso, a procura pela meditação das rosas tem crescido. Surgida na Califórnia entre os anos 1950 e 1960, a técnica foi trazida para o Brasil pela portuguesa Angelina Ataíde e é ensinada em cursos da Comunidade Inkiri, na praia baiana de Piracanga, e da Escola da Aura. Para se dar bem com esse tipo de meditação é preciso justamente entender o conceito de aura, que seria um campo de energia que envolve todos os seres. É sobre esse campo que a meditação das rosas atua, promovendo uma limpeza energética. “Isso ajuda a gente a proteger nossa aura sem acumular energias, nossas ou de outras pessoas, que estão ali velhas, guardadas, carregadas”, explica o professor de meditação das rosas Rael Godoy. Tem uma proposta investigativa porque serve como uma ferramenta poderosa de autoconhecimento e mergulho interior. Ele afirma que “a meditação das rosas tem uma proposta investigativa porque serve como uma ferramenta de autoconhecimento: quanto mais a pessoa faz, mais ela vai ficando sensível ao tipo de energia que está limpando e, enquanto faz isso, percebe quais são os pontos da vida dela que precisam ser trabalhados.”

Dança Circular Sagrada

As danças circulares são práticas coletivas por natureza: resgatadas pelo coreógrafo alemão Bernhard Wosien na década de 1970, elas remetem a celebrações ancestrais de ritos de passagem. “O principal enfoque na dança circular sagrada não é a técnica, e sim o sentimento de união de grupo, o espírito comunitário que se instala”, diz o portal brasileiro que reúne os focalizadores do exercício, uma das práticas integrativas e complementares oferecidas pelo SUS no país, onde chegou no início dos anos 1990 e ganhou inúmeros adeptos. Apesar de serem feitas em movimento e em grupo, as danças circulares são consideradas meditativas. “A meditação não precisa ser necessariamente imóvel”, explica Deborah Dubner, psicóloga e focalizadora de danças circulares. Segundo ela, uma das propostas da técnica é “ajudar a entrar num estado de recolhimento e conexão, que muitas vezes leva a um estado meditativo, através da atenção plena, da música e do movimento ritmado”.

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VOCÊ ESCOLHE A SUA RELIGIÃO? Se as crenças não são atos voluntários de vontade, o que as causam? por Austin Cline

ilustração Sabrina Gama

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questão de como e por que acreditamos nas coisas é um ponto crucial de desacordo entre ateus e teístas. Os ateus dizem que os crentes são excessivamente crédulos, acreditando nas coisas com muita facilidade e rapidez do que a razão ou a lógica podem justificar. Os teístas dizem que os descrentes deliberadamente desconsideram evidências importantes e, portanto, são injustificadamente céticos. Alguns teístas até dizem que os incrédulos sabem que existe um deus ou que há evidências provando um deus, mas ignoram deliberadamente esse conhecimento e acreditam no oposto devido à rebelião, dor ou alguma outra causa. Sob essas discordâncias superficiais há uma disputa mais fundamental sobre a natureza da crença e o que a causa. Uma melhor compreensão de como uma pessoa chega a uma crença pode esclarecer se os ateus são ou não excessivamente céticos ou os teístas são excessivamente crédulos. Também pode ajudar tanto ateus quanto teístas a estruturar melhor seus argumentos na tentativa de alcançar um ao outro.

Voluntariado, Religião e Cristianismo

De acordo com Terence Penelhum, existem duas escolas gerais de pensamento quando se trata de como as crenças voluntarista e involuntarista. Os voluntaristas dizem que a crença é uma questão de vontade: temos controle sobre o que acreditamos tanto quanto temos controle sobre nossas ações. Os teístas muitas vezes parecem ser voluntaristas e os cristãos em particular costumam argumentar a posição voluntarista. Na verdade, alguns dos teólogos mais prolíficos da história, como Tomás de Aquino e Soren Kierkegaard,

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Há uma disputa mais fundamental sobre a natureza da crença e o que a causa

escreveram que acreditar, ou pelo menos acreditar em dogmas religiosos, é um ato de livre vontade. Isso não deveria ser inesperado, porque somente se pudermos ser moralmente responsáveis ​​por nossas crenças, a descrença poderá ser tratada como pecado. Não é possível defender a ideia de que os ateus vão para o inferno a menos que possam ser moralmente responsabilizados por seu ateísmo. Muitas vezes, porém, a posição voluntarista dos cristãos é modificada pelo “paradoxo da graça”. Esse paradoxo nos atribui a responsabilidade de escolher acreditar nas incertezas da doutrina cristã, mas depois atribui o poder real de fazê-lo a Deus.

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Somos moralmente responsáveis ​​por escolher tentar, mas Deus é responsável pelo nosso sucesso. Essa ideia remonta a Paulo que escreveu que o que ele fez não foi feito por seu poder, mas por causa do Espírito de Deus dentro dele. Apesar desse paradoxo, o cristianismo ainda geralmente se baseia em uma posição voluntarista de crença porque a responsabilidade é do indivíduo escolher a crença incerta, até mesmo impossível. Os ateus se deparam com isso quando os evangelistas exortam outros a “apenas crer” e “escolher Jesus”. São eles que afirmam regularmente que nosso ateísmo é um pecado e um caminho para o inferno.

Involuntarismo e Crença

Os involuntaristas argumentam que não podemos escolher simplesmente acreditar em qualquer coisa. De acordo com o involuntarismo, uma crença não é uma ação e, portanto, não pode ser alcançada por comando, seja por sua própria ou por outra pessoa para você. Não houve uma tendência perceptível entre os ateus em direção ao voluntarismo ou involuntarismo. É comum os evangelistas cristãos tentarem dizer aos ateus que escolheram ser ateus e que serão punidos por isso; escolher o cristianismo, porém, me salvará. Essa ideia de escolha está altamente correlacionada com a ideia de Max Weber no livro a Ética do Trabalho Protestante, que vê todos os resultados sociais como uma escolha. Mas para alguns, o ateísmo é a única posição possível dado seu estado atual de conhecimento. Os ateus não podem “escolher” apenas acreditar na existência de um deus mais do que alguém pode escolher acreditar que este computador não existe. A crença requer boas razões e, embora as pessoas possam divergir sobre o que constitui “boas razões”, são essas razões que causam a crença, não uma escolha arbitrária.

Os ateus escolhem o ateísmo?

Frequentemente ouço a afirmação de que os ateus escolhem o ateísmo, geralmente por alguma razão moralmente censurável, como o desejo de evitar assumir a responsabilidade por seus pecados. Minha resposta é: você pode não acreditar em mim, mas eu não escolhi tal coisa, e não posso simplesmente ‘escolher’ acreditar. Talvez você possa, mas eu não posso. Não acredito em nenhum deus. Evidências me

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Mas para alguns, o ateísmo é a única posição possível dado seu estado atual de conhecimento


fariam acreditar em algum deus, mas toda a encenação do mundo não vai mudar isso. Por quê? Porque a própria crença simplesmente não parece ser uma questão de vontade ou escolha. Um problema real com essa ideia de “voluntarismo” em crenças é que um exame da natureza de manter crenças não leva à conclusão de que elas se parecem com ações, que são voluntárias. Quando um evangelista nos diz que escolhemos ser ateus e que estamos deliberadamente evitando a crença em um deus, ele não está totalmente correto. Não é verdade que se escolhe ser ateu. O ateísmo, especialmente se for racional, é simplesmente a conclusão inevitável das informações disponíveis. Eu não “escolho” não acreditar em deuses mais do que “escolho” não acreditar em elfos ou que “escolho” acreditar que há uma cadeira no meu quarto. Essas crenças e a ausência delas não são atos de vontade que eu tive que tomar conscientemente - são, antes, conclusões que eram necessárias com base nas evidências disponíveis. No entanto, é possível que uma pessoa deseje que não seja verdade que um deus exista e, portanto, tenha direcionado suas pesquisas com base nisso. Pessoalmente, nunca encontrei ninguém que não acreditasse na existência de um deus baseado simplesmente nesse desejo. Como argumentei, a existência de um deus não importa necessariamente, tornando a

verdade emocionalmente irrelevante. É arrogante simplesmente assumir e afirmar que um ateu é indevidamente influenciado por algum desejo; se um cristão acredita sinceramente que é verdade, ele é obrigado a demonstrar que é verdade em algum caso particular. Se eles são incapazes ou não querem, eles não deveriam sequer pensar em trazer isso à tonaPor outro lado, quando um ateu argumenta que um teísta acredita em um deus simplesmente porque quer, isso também não é totalmente correto. Um teísta pode desejar que seja verdade que um deus existe e isso certamente pode ter um impacto em como eles veem as evidências. Por esta razão, a queixa comum de que os teístas estão se engajando em “pensamentos desejosos” em suas crenças e no exame de evidências pode ter alguma validade, mas não da maneira exata como geralmente se entende. Se um ateu acredita que algum teísta em particular foi indevidamente influenciado por seus desejos, então ele é obrigado a mostrar como isso ocorre em um caso particular. Caso contrário, não há razão para trazê-lo à tona. Em vez de focar nas crenças reais, que não são escolhas em si, pode ser mais importante e mais produtivo focar em como uma pessoa chegou às suas crenças, porque isso é o resultado de escolhas voluntárias. Na verdade, é minha experiência que é o método de formação de crenças que, em última análise, separa teístas e ateus mais do que os detalhes do teísmo de uma pessoa. É por isso que sempre disse que o fato de uma pessoa ser teísta é menos importante do que se ela é ou não cética em relação a: tanto as suas quanto as dos outros. Esta é também uma razão pela qual eu disse que é mais importante tentar encorajar o ceticismo e o pensamento crítico nas pessoas do que simplesmente tentar “convertê-las” ao ateísmo, sem esclarecimento. Não é incomum que uma pessoa perceba que simplesmente perdeu a capacidade de ter fé, cegas nas afirmações feitas pela tradição religiosa e pelos líderes religiosos. Eles não estão mais dispotos a calar suas dúvidas e perguntas. Se essa pessoa falhar em encontrar quaisquer razões racionais para continuar acreditando em dogmas religiosos, essas crenças simplesmente desaparecerão. Eventualmente, até mesmo a crença em um deus cairá, tornando essa pessoa um ateu, não por escolha, mas simplesmente porque a crença não é mais possível.

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Budismo: os princípios Um olhar sobre os principais preceitos e crenças budistas por Fátima Gruger

ilustração Therese Luna

O budismo é uma religião baseada nos ensinamentos deixados pelo Buda Sakyamuni. A palavra “buda” significa aquele que despertou do sono da ignorância, aquele que se iluminou, e “Sakyamuni” significa o sábio do clã dos Sakya. Ele nasceu com o nome de Siddhartha Gautama, na Índia, e viveu aproximadamente entre 563 e 483 a.C. em uma região que hoje pertence ao Nepal. O pai do príncipe Siddharta, o educou para ser um guerreiro, cercado de luxos e prazeres. Até os 29 anos, Siddharta viveu no palácio, isolado do mundo, sem conhecer a velhice, a doença, nem a morte. Um dia, ao sair do palácio, Siddharta teve contato com o sofrimento e a miséria. Foi então que resolveu isolar-se a fim de encontrar um método que pusesse fim ao sofrimento humano. Abandonou a vida mundana no palácio, tornando-se discípulo de respeitados ascetas. Anos depois, sozinho, aos 35 anos de idade, Siddhartha realizou sua própria natureza búdica e, consequentemente, compreendeu o sofrimento, sua causa, sua extinção e o meio para extingui-lo. Iluminado, ele passou a ser conhecido como Buda Sakyamuni e proferiu ensinamentos até os 80 anos, quando morreu. A base de sua doutrina são as Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho de Oito Passos. O objetivo principal é escapar do sofrimento, cuja constatação é apontada na Primeira Nobre Verdade. Na Quarta, o Buda afirma que há um caminho para a superação do sofrimento, que é explicado no Nobre Caminho Óctuplo. O budismo saiu da Índia e expandiu-se por toda Ásia. Sua capacidade de adaptação às culturas locais facilitou o estabelecimento da religião na China, no Japão e em todos os países em que chegou, se expandindo cada vez mais. No século VI, foi a vez do Tibete conhecer a doutrina do Buda. Lá, floresceu de modo singular.

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O Buda

Sidarta foi um príncipe que viveu na Índia, por volta do século 6 a.C., e que trocou uma vida de luxo por um caminho espiritual. Ele visitou muitos religiosos e passou anos jejuando e meditando com o objetivo de superar todos os desejos do corpo. Foi ele que propagou a filosofia do desapego e a busca por iluminação da consciência que, mais tarde, a partir da sua morte, seria sistematizada e se tornaria a religião budista.

O paraíso

Ao atingir a iluminação, o adepto chega ao nirvana e liberta-se dos sofrimentos, fugindo da Roda de Samsara (encarnações). O nirvana não é um lugar, como o paraíso católico, mas um estado de de extinção do Eu e de comunhão com a Fonte Criadora. A palavra significa “apagado” em páli – língua derivada do sânscrito.

Os preceitos

A jornada até o nirvana passa pelo aprendizado das Quatro Nobres Verdades: o sofrimento é inerente à condição humana; a origem do sofrimento está nos desejos do Ego; o fim do sofrimemento depende do desapego aos desejos; a trilha para conseguir isso está no Nobre Caminho.

A nobre cartilha da iluminação

Inspirado nos ensinamentos do príncipe indiano Sidarta Gautama (563 a.C. – 483 a.C.), o budismo é uma mescla de religião e filosofia de vida que busca nos libertar do sofrimento humano por meio da elevação da consciência. E a meditação tem tudo a ver com isso.

Meditação

Está na base do budismo, embora não seja necessariamente obrigatória. Com os exercícios, o adepto pode acalmar a mente e direcionar seu foco para a essência interior, buscando elevar o estado de consciência até a iluminação.

Deus(es)

Pra muitos, o budismo é uma religião ateísta porque os praticantes não creem em um Deus como o cristão, o grande responsável pelo Universo. Mas algumas correntes aceitam a ideia de um Buda Primordial, que dá vida a tudo. Sidarta teria sido uma encarnação dessa força divina. E muitas escolas acreditam em divindades, no plural.

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O mantra básico

OM AH HUM OM, a sílaba inicial de quase todos os mantras, encarna um tremendo poder criador e representa o Infinito, a Mente Única, a consciência que tudo abrange e a própria essência da existência. AH mantém e preserva tudo que OM cria. HUM imbui aquilo criado com energia vital e assim submete a paixão e a destruir o pensamento dualístico.

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Antes de virara a página escolha uma carta e veja um conselho ou lembrete

sos cartomante


lembre-se que a relação que você tem com você mesma (o) afeta todas as outras

descobrir quem você é requer desapego com a pessoa que você imagina ser, se permita crescer

descubra o que realmente vale sua energia e se dedique a isso, não dá pra fazer tudo



para ir além

Atypical

Outra Igreja

Sam, um adolescente com traços de autismo, resolve arrumar uma namorada. Sua busca por independência coloca toda sua família em uma aventura de autodescoberta.

Outra igreja é mesa com alimento pra quem não tem. Todos são bem vindos. Independentemente de quem você é. Independentemente do seu passado. Independentemente de quem foi seu candidato nas eleições.

A Cabana

Um homem vive atormentado após perder a sua filha mais nova, cujo corpo nunca foi encontrado, mas sinais de que ela teria sido violentada e assassinada são encontrados em uma cabana nas montanhas. Anos depois da tragédia, ele recebe um chamado misterioso para retornar a esse local, onde ele vai receber uma lição de vida.

@omeditante

Dedicado às pessoas que querem expandir a consciência, para que explorem todos os seus potenciais adequando para si, nesse universo, a realidade que querem. Amor, Paz e Luz para todos nós!

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@tabata_meumundoatipico

A designer Tabata Cristine foi diagnosticada tardiamente com autismo e se propõe a conscientizar sobre o autismo de forma leve e franca com seus vídeos no Instagram.

@ chimurawill

Willian Chimura é um jovem ativista que tem autismo leve. Willian é programador e um dos participantes do podcast Introvertendo, criado, produzido e apresentado só por autistas.


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desumaniza ç ã o.

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