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semear
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Arte de Andreia Freire
Olá, caros leitores. Sejam bem-vindos ao universo Fruto! Como todo início de amizade, estamos aqui para nos apresentar e se você nos permitir, iniciar a nossa jornada nas diversas pautas importantes da modernidade. Fruto representa todos nós filhos que temem não serem ouvidos e entendidos pela sua rede de apoio. Uma revista feita por jovens para qualquer um que deseja compreender a juventude e seus questionamentos. Não estamos aqui para julgar ninguém, longe disso! Nosso intuito é proporcionar uma maior comunicação e um compartilhamento de experiências positivas em diversas famílias brasileiras. Mas calma... sabemos que são assuntos delicados e fora da sua zona de conforto, e queremos que você se sinta o mais à vontade possível, sendo uma leitura leve e agradável. Por isso, para facilitar a sua compreensão, a revista é dividida em três eixos: germinar, desfrutar e semear; seguindo um nível crescente de aprofundamento e amadurecimento sobre a temática principal da publicação. Nessa primeira edição da Fruto, apresentamos um detalhamento em duas das maiores causas de discussões nas relações familiares: a política e a fé. Com um caroço matéria da capa que proporciona uma rica reflexão e aprendizado. Importante ressaltar que não iremos tomar um partido político, somos à favor da diversidade e da liberdade de expressão. Sabemos que é muita informação, mas fique tranquilo que tudo dará certo no final.
Escola Superior de Propaganda e Marketing Graduação em Design Turma DSG3A 2021.2 Projeto iii Marise De Chirico Cor, Percepção e Tendências Paula Csillag Produção Gráfica Mara Martha Ergonomia Matheus Pássaro e Auresnede Stephan Finanças Alexandre Ripamonti Marketing Estratégico Neusa Nunes Projeto Editorial e Gráfico Amanda Camille Lopes da Silva Leandro Lorencini Calenzani Lígia Gimenes Corrêa Mariana Brito Gonçalves
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Colaboradores
Catarina Bessel Artista, designer e ilustradora, graduada em Arquitetura pela fau/usp. Entre os seus clientes possui revistas, editoras e agências de comunicação como Revista Pesquisa fapesp, Folha de S. Paulo, Valor Econômico, Editora Mol, Editora Abril, GettyImages, CooperVision, Siegel+Gale, entre outros. Ganhou menção honrosa no 25º concurso do cartaz para o Museu da Casa Brasileira.
Vagner Rezende
Breno da Matta Mineiro radicalizado em São Paulo, faz retratos de pessoas com personalidade forte, sempre trazendo um olhar fresco sobre a juventude, que tem sido seu objeto de estudo constante ao longo dos últimos 10 anos. Imagens de pessoas comuns se misturam às de famosos, mostrando toda a amplitude de uma geração que está desde sempre no ambiente digital.
Nascido no rj mas morador do es, tem 26 anos, é designer de moda formado, fotógrafo e apaixonado por todo o universo da criação. Ganhou o segundo lugar do desfile de novos talentos do Vitória Moda no ano de 2012, criador da extinta revista virtual de moda Lumier Magazine, criador/fotógrafo do Estúdio Tokyo e atualmente trabalhando como fotógrafo nas áreas de festas, moda e life style.
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BATE - PAPO
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MANTER UMA BOA RELAÇÃO
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DE VOLTA PARA O PASSADO
a revista Fruto é a conversa entre gerações
relações entre pais e filhos é muito importante
contexto histórico
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ANOTA AÍ
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CAROÇO
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indicações de filmes, séries e podcasts
fé e política
TÁ TUDO BEM
notícias e experiências sobre casos reais
SEXOLOGIA POLÍTICA sexo com tabu
TUDO ERRADO 100 TÁ explicações de coisas que não devem ser ditas ENTENDE 108 QUEM coluna assinada MAIS 114 SAIBA indicações de livros, artigos e palestras
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bate-papo Entenda a capa: A criação de Adão, por Michelangelo
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A obra renascentista intitulada A criação força divina no ato da criação. Os dedos de Adão foi feita por volta de 1511 pelo das personagens, quase se tocando, são o famoso artista italiano Michelangelo. Esse ponto alto da composição. é um trabalho realizado com a técnica do A mão de Adão ainda denota falta de afresco e integra o conjunto de pinturas vitalidade, que será conferida a ele através feitas no Teto da Capela Sistina, produ- do toque de Deus. O criador exibe o dedo zidas entre 1508 e 1512 por encomenda indicador esticado, em um gesto simples e do papa Júlio ii. A criação de Adão é a re- direto, agraciando o homem com a vida. presentação da passagem bíblica em que Segundo o historiador Ernst Gombrio criador do mundo, Deus, dá origem à ch, essa é considerada uma das maiores humanidade, simbolizada na figura do obras de arte já produzidas. Assim como primeiro homem, Adão. na obra de Michelangelo, nesta proposta Essa foi a primeira obra em que um de capa conceitual, o pai e o filho tentam artista consegue expressar todo o misté- alcançar um ao outro, fazendo uma referio, espontaneidade e, ao mesmo tempo, rência direta ao tema principal da edição.
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Destaque o postal e envie para o nosso endereço contando uma experiência que você viveu com seus filhos/pais
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como manter uma boa relação entre pais e filhos?
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A relação entre pais e filhos é algo muito importante que começa a ser cultivado desde a descoberta da gravidez. Nesse momento, o bebê depende totalmente da mãe, no qual as bases desse elo começam a ser construídas Texto Arnaldo Silva Fotografia Vagner Rezende
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Importância de um bom relacionamento entre pais e filhos A relação com os pais é uma das mais importantes na vida de qualquer pessoa. Assim, é fundamental que a criança nunca se sinta sem apoio ou sem amor, porque esse tipo de carência afetiva pode fazer com que ela tenha a sensação de impotência ou desamparo diante dos desafios da vida. Dessa forma, o bom relacionamento deve ter início antes mesmo do nascimento do bebê e continuar assim pelos próximos anos. Nesse sentido, é preciso considerar que é a partir das relações com a família que a criança aprende a se relacionar com as outras pessoas e a entender ele mesmo. Assim, quando a criança tiver filhos, eles também serão muito amados. Da mesma forma, o jovem será capaz de construir relações saudáveis com as outras pessoas ao longo de toda a sua vida. Um bom relacionamento entre pais e filhos, portanto, é fundamental para a criança
crescer com segurança, confiança e autonomia. Dessa maneira, ela aprende a ter respeito ao próximo e a identificar o que realmente importa. Além disso, a relação familiar vai influenciar diretamente os valores das próximas gerações. Possíveis dificuldades nas relações, principalmente entre pais e filhos A maioria dos conflitos que surgem na relação entre pais e filhos tem origem na falta de comunicação dentro de casa. De um lado, os filhos, principalmente na adolescência, geralmente pensam que os pais só querem impor regras e proibir. Do outro lado, os pais podem pensar que os filhos só querem permissões. Quando, no final das contas, os conflitos só escondem uma verdade: a necessidade de querer ser amado pelo outro. Cada fase tem as suas peculiaridades, seus desafios e formas de construir e manter uma intimidade que deve perdurar pelo resto da vida. Na infância, os pais geralmente precisam lidar com a impulsividade e a dificuldade que a criança tem de controlar emoções intensas, como a raiva. Na adolescência, a rebeldia e o desaforo dificultam uma comunicação saudável dentro de casa. Por parte dos responsáveis, uma postura rígida, que não garante um espaço para a criança se expressar e dizer como se sente, impossibilita a criação de uma intimidade – a qual é tão necessária para os pais conhecerem seus filhos e saberem como se comunicar com eles. Este entendimento de boa uma comunicação é essencial.
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epois do nascimento, contudo, a criança ainda precisa dos pais para ter apoio emocional e psicológico – o que perdura por toda a sua vida.
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Outro fator que influencia bastante a relação de pais e Converse bastante filhos é a ausência de tempo. A rotina de trabalho repleta A base desse relacionamento deve ser de compromissos, muitas vezes, torna-se uma questão a conversa – mesmo quando a criança decisiva para a interação familiar. ainda não souber falar. Esses momentos Para superar esse problema, aproveite de maneira sa- de diálogo são fundamentais para os petisfatória cada instante juntos. Lembre-se de que estamos quenos perceberem que seus pais se imo tempo todo criando memórias. Por isso, priorize pas- portam com eles. Por isso, converse sobre seios e compromissos capazes de criar momentos agra- como foi o dia na escola ou o que ele quer dáveis, fortalecendo o laço entre pais e filhos. Também fazer mais tarde – o importante é esses é importante ter a consciência de que presentes não su- momentos serem frequentes e constantes. prem a ausência de tempo. Da mesma maneira, a conversa é fundamental para a criança aprender a compreFormas de manter um relacionamento bom ender as próprias emoções. Nesse sentido, e de alta qualidade entre os membros da família quando ela estiver triste, irritada ou assusPor mais que as crianças cresçam e surjam as dificulda- tada, é essencial que os pais expliquem a des na relação, a confiança, o respeito e o diálogo devem natureza da situação e ofereçam ajuda o estar sempre presentes na família. A partir das conversas mais rápido possível. frequentes e da manutenção do vínculo entre pais e fiDessa forma, ela saberá lidar melhos, o relacionamento poderá ser construído diariamen- lhor com essas sensações que está vivente com base no amor e na confiança. ciando. No futuro, a criança se sentirá Para isso, é preciso que o cuidado seja diário. Saiba segura para conversar sobre qualquer coiagora o que você pode fazer visando a cultivar uma boa sa e ficará mais madura em relação aos relação com os seus filhos. sentimentos que estão passando.
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Manter o diálogo aberto é um ponto crucial para o sucesso de qualquer relacionamento. Por meio de uma boa comunicação, os vínculos são fortalecidos e ambas as partes têm a oportunidade de entender melhor o outro Erica Macedo Educadora
Ser amigo envolve parceria, lealdade, fidelidade, compromisso. Mostre ao seu filho que você pode ser alguém assim para ele. Mostre que você pode ser um amigo com que ele pode contar e ter apoio em todos os momentos. Afinal, não há nada mais eficaz para se aproximar do filho do que sendo um verdadeiro amigo para ele Erica Macedo Educadora
a apresentação de dança na escola. É importante para a criança se sentir apoiada e motivada pelos pais – um sentimento insubstituível. Crie um tempo livre De tempos em tempos, os pais precisam de um momento a sós com seus filhos, pois isso ajuda no fortalecimento da relação. Reserve um tempo para brincar junto à criança, ler, conversar, fazer um piquenique e dar abraços. Esqueça todos os problemas no trabalho, as contas a pagar, estreesse diário e aprecie o presente.
Elogie As crianças devem reconhecer suas habilidades e saber Seja presente que os pais se sentem muito orgulhosos por isso. Portanto, Você precisa estar presente em qualquer mostre como você se sente feliz pelo crescimento e pelas momento da vida de seu filho, seja ele conquistas delas. Afinal de contas, quem não gosta de bom, seja ele mau. Por isso, não perca ne- escutar elogios de vez em quando, não é mesmo? Essas nhuma das ocasiões especiais, como aque- pequenas atitudes são essenciais para tornar a relação le final do campeonato de futebol ou até ainda mais próxima, saudável e até mesmo mais íntima.
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Divida uma paixão Quando pais e filhos dividem uma mesma paixão, um hobby ou uma atividade que podem fazer juntos, o relacionamento é reforçado. Essa paixão deve oferecer a oportunidade de passarem algum tempo juntos, em momentos de interação e de sentimentos compartilhados. Pode ser um esporte, uma atividade artística, o amor por determinado filme ou um estilo musical. Essa é uma excelente maneira de estreitar o vínculo familiar e de melhorar a intimidade.
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É extremamente importante considerar que muitas coi- É preciso ter firmeza quando necessásas que, para os adultos, são corriqueiras, para as crianças rio, orientar sobre assuntos importantes, representam grandes conquistas. Assim, elas esperam que mas sem nunca optar pela agressividahaja o reconhecimento das suas superações diárias. Dessa de. Até nos momentos de conflito os fiforma, comemore com ela cada avanço em seu desenvol- lhos precisam saber o quão são amados. vimento com muito entusiasmo. Dê liberdade A fim de manter do relacionamento famiEnsine o que sabe Sempre que possível, ensine o que você sabe ao seu filho. liar, é importante dar liberdade ao seu filho. Pode ser uma atividade profissional, uma tarefa doméstica Deixe-o se expressar como achar melhor: ou mesmo um passo antigo de dança. Não desperdice pela dança, pelo canto, nas brincadeiras nenhum momento de aprendizagem, pois isso colabora de faz de conta ou por meio de conversas. fortemente para a relação entre pais e filhos. Além disso, Isso é fundamental para a construção da seus conhecimentos e suas histórias passarão adiante até personalidade de cada um. Não imponha o as próximas gerações. que você gosta, afinal, cada pessoa é única. Da mesma maneira, você pode aprender com o seu filho. É preciso que as relações em casa seConsidere essas oportunidades como trocas importantes jam baseadas na confiança e no respeito. para aproximar a família. Por isso, fale sobre as coisas que Assim, quando existe diálogo, a liberdade sabe, mas esteja aberto a ouvir e aprender mais. Os jovens acontece naturalmente. Isso acaba estitambém têm coisas incríveis a ensinar. mulando a independência e a responsabilidade dos jovens. Tenha amor As relações sólidas e saudáveis devem ter como base o Faça críticas construtivas amor, portanto, o relacionamento entre pais e filhos não Os pais têm a função de ajudar na formapoderia ser diferente. Ame seu filho e deixe-o saber disso ção dos filhos. Nesse sentido, eles devem se em qualquer situação. Aceite as particularidades de cada esforçar para que os jovens se desenvolvam um e, por mais que ele cometa deslizes ou tome decisões da melhor maneira possível. Por isso, fazer com as quais você não concorda, não deixe de amá-lo e críticas construtivas pode ser necessário e apoiá-lo ao longo de sua vida. extremamente importante. Nesse sentido, quando em algum momento os filhos Contudo, isso deve ser feito sem julnão se sentem amados pela família, todas as relações gamentos e com muita delicadeza para que vocês construíram ao longo da vida ficam abaladas. que assim não haja mal-entendidos.
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Os conflitos entre pais e filhos não precisam ser vividos de forma violenta, podem ser vistos como uma oportunidade de lidar com percepções diferentes, respeitando e solidificando uma base de interações Gláucia Rezende Tavares Psicóloga clínica e professora da Fumec
Não existe relação ideal entre pais e filhos Fazer comparações com a família dos amigos, perceber que os filhos dos vizinhos são mais compreensivos ou menos barulhentos é algo normal, uma hora vai acontecer. O problema acontece se as relações fora de casa são consideradas modelos perfeitos, quando, na verdade, todas A sabedoria nasce com a experiência as famílias têm problemas, embora em situações às vezes Não existem limites em relação ao aprendizado, sobretu- distintas, isso é normal. do quando falamos sobre interações. Por mais que já tenhamos vivenciado muitas situações na posição de filhos, A rede de apoio é fundamental as soluções para os problemas nunca são as mesmas – e A relação entre pais e filhos é única, nenhuma outra no nem serão únicas para todas as famílias. mundo pode ou poderá substituir essa. Por isso, quando O manejo nas relações vai se criando com a experiência. a família não apoia ou não compreende as crianças e os É importante ter a consciência de que os pais não sabem adolescentes, eles acabam procurando apoio em outras de tudo, principalmente na hora de dar conselhos. Vale a pessoas. Portanto, cultive, acima de tudo, a união com pena escutar os filhos e ajudá-los a encontrar as melhores seus filhos. Mantenha o diálogo e a empatia, que o amor soluções. Os problemas nunca serão os mesmos, e os jo- e o carinho não faltarão. vens também sempre terão algo para ensinar.
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Caso a crítica seja feita sem o devido cuidado, a autoestima do seu filho pode ser afetada. Por isso, escolha o melhor momento para falar, ressalte as qualidades da criança e mostre como determinados aspectos, quando aprimorados, poderiam ser melhores.
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convívio entre pais e filhos: questões para refletir
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Tanto na prática clínica quanto no cotidiano, muitas são as perguntas e questionamentos que as pessoas possuem sobre relacionamentos e vida pessoal, muitas vezes em relação aos filhos e a dificuldade em lidar com algumas situações específicas do cotidiano Texto Sara Kronbauer
Fotografia Ryan Franco
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partir disso, elaborei esse confundir os papéis dessa relação, podendo haver a perda texto em forma de questões do respeito e da autoridade necessária para impor alguns que abordam esses aspectos, limites, sendo esses fundamentais no desenvolvimento buscando compreender, es- infantil. Infelizmente, muitas vezes as confidências entre clarecer e enriquecer ainda filhos e pais estão voltadas para situações que acontecem mais essa relação entre pais e filhos e seus entre o pai e a mãe, por exemplo, sem se dar conta, a mãe inúmeros desafios. fala do pai para o filho, o pai fala da mãe e a criança acaba ficando no meio das frustrações do casal. Qual a principal “falha” no É preciso ter cuidado com o que falamos às crianças, relacionamento entre pai e filho muitas vezes não damos importância a isso, mas essas ações que impossibilita uma relação de e experiências vividas irão servir de referência para as amizade entre os dois? suas relações futuras. Acima de tudo, a relação entre pais Acredito que o termo ideal para isso não e filhos deve ter muito afeto, aceitação e perdão. seja “falha”, mas sim um conjunto de questões que envolvem esse tipo de relação, Tanto o pai quanto a mãe trabalham fora nos muitas delas determinadas culturalmente. dias atuais. Como driblar o problema da falta de Vejamos bem: muitos pais transmitem aos tempo para ficar com os filhos para que isso não seus filhos uma postura mais rígida duran- afete diretamente nessa relação? te toda sua infância, e essa postura muitas Hoje em dia, com a falta de tempo, é um grande desafio vezes contribui para um afastamento de curtirmos momentos em família, ainda mais quando os seus filhos, pois lhes remete a ideia de que pais trabalham e os filhos passam o dia na escola, creos pais não irão compreender seus confli- che ou com alguém que propicie cuidados no próprio tos ou não poderão ouvir seus dilemas e lar da família. Porém, a grande questão aqui não é pasdar uma possível orientação, que seria o sar o dia fora, longe dos filhos, pois é uma ação necespapel fundamental deles. sária para o sustento da família. O grande desafio que A amizade entre pais e filhos não é um tenho observado nos dias atuais é a dificuldade de nos problema, pelo contrário, pode tornar-se doarmos por inteiro, no pouco tempo que temos para uma relação de companheirismo e coopera- estar junto de nossa família. O que quero dizer com ção, porém é preciso ter cuidado para não isso? Quando chegamos do trabalho, nos finais de
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semana e em outros momentos, acabamos muitas vezes melhor o tempo em família para realizar conectados mais ao celular ou com nossas tarefas, sem atividades juntos, envolver os pequenos nos darmos conta disso, ou até mesmo, os próprios fi- em passeios, piqueniques ou até mesmo lhos que também possuem celular (aliás, cada vez mais em casa, que possamos nos doar por incedo), jogando em computador e afins. Nos últimos dias, teiro sempre, aproveitando cada momencirculou nas redes sociais um texto com o título: “Seu filho to, fazendo coisas que talvez nunca nos pode estar querendo ser um celular nesse momento” que permitimos fazer ou que há muito tempo aborda justamente essa questão. não praticamos. Lembrando que o tempo Acabamos assim, nos perdendo em meio a essa tec- somos nós que criamos! nologia e não aproveitamos os momentos com nossa família de modo mais intenso e verdadeiro. Isso não Baseado na psicologia existe significa que todos agem assim, mas é um comportamento alguma “fórmula secreta” para ter social que muitas vezes repetimos sem nos darmos conta um bom relacionamento com seu disso. E também existem muitas tarefas que precisamos exe- filho ou um jovem no geral? cutar e tomam muito de nosso tempo e acabamos não con- Pois bem! Se existe alguma fórmula seseguindo nos organizar. Diante disso, será mesmo que nos- creta ou mágica para quaisquer situações so problema é a falta de tempo? Ou será que o problema é de nossa vida eu desconheço. Aliás, acrede aproveitar pouco o tempo que temos? A maneira de dri- dito que seja improvável que exista, visto blar esses desafios evidencidos, acredito que seja organizar que somos seres humanos diferentes,
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Se buscamos pensar nosso relacionamento com a vida, devemos reservar um tempo para a reflexão de amor, coisas que apreciamos e condutas motivadas pelas sensações
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Tatiana Pimenta Estudiosa em Psicologia Positiva
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Pense como se aplicam à sua realidade, aos seus problemas ou objetivos. Permita que elas cutuquem seu (auto)conhecimento, lhe apontem caminhos novos e deem fôlego para persistir em propósitos
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Tatiana Pimenta Estudiosa em Psicologia Positiva
com sentimentos diferentes, pensamentos e emoções diferentes, passando por inúmeras situações diferentes ao longo de nossa vida, como poderia haver uma única receita ou fórmula mágica que pudesse servir para a vida de todos? Porém, algumas orientações são válidas para cultivar um bom relacionamento entre pais e filhos, sempre de modo muito saudável, claro! Algumas delas já citei nas respostas anteriores: tire mais tempo para
atividades diferenciadas com seus filhos, brinque, deixe o celular em segundo plano, assista filmes ou desenhos educativos com eles, pergunte o que seu filho deseja fazer, deixando que ele faça parte das decisões que lhe cabem, crie um ambiente de cooperação em sua casa ouvindo mais, busquem juntos estratégias para a resolução de problemas. E aproveite intensamente cada momento com eles, pois esses serão eternos!
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esquerda e direita: o que diz a história e a teoria?
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Para se entender como os termos “esquerda” e “direita” entraram no repertório político, é necessário saber como tudo começou Texto Alessandro Nicoli de Mattos Fotografia Clay Banks
Alexis de Tocqueville 1805–1859, filósofo político francês
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quase não constituem uma vantagem. (Entende-se “classe” aqui como grupos que possuem direitos e deveres diferentes perante a lei, como a nobreza ou o clero, por exemplo, e não classes sociais do ponto de vista econômico.) A política desta época ainda não tinha a influência de ideias como o socialismo ou comunismo – Karl Marx (1819 – 1883) nem havia nascido ainda. O capitalismo industrial ainda estava em sua infância – lutando para substituir o capitalismo mercantilista – e os sindicatos de operários urbanos estavam longe de surgir. Mas isto estava prestes a mudar. O século xix trouxe enormes avanços na industrialização, os centros urbanos cresceram muito e o capitalismo liberal se desenvolveu. Foi um tempo de profícua produção de ideologias dos mais diversos tipos, que teriam impactos imensos no século seguinte. Uma das ideologias que tiveram mais influência no cenário político foram o socialismo e o comunismo
Arte de Andreia Freire
Após a revolução francesa (1789), os parlamentos formados por toda a França entre 1789 e 1799 eram organizados de forma que os representantes da aristocracia se sentavam à direita e os comuns à esquerda do orador. Os aristocratas, que se sentavam à direita do orador, defendiam os privilégios da aristocracia, da igreja e a sociedade de classes que existia no antigo regime, ou seja, eram conservadores no sentido de manter as estruturas sociais vigentes até então. Já os que se sentavam à esquerda representavam os interesses da burguesia, a classe que estava pagando a conta da aristocracia e da igreja, mas que até aquele momento não tinha poder político. Entre os seus interesses estavam o republicanismo, o secularismo e o livre mercado, que iam ao encontro de seus objetivos para fortalecer o comércio e retirar os privilégios das classes que até então dominavam a política. Naquele contexto, trabalhadores, camponeses e pobres em geral não eram representados nessas assembleias e a ideia de democracia ainda era bastante restrita. Nesse momento da história, o foco da discussão política estava na divisão de classes e nos privilégios econômicos e políticos existentes, mas com o avanço do liberalismo político e o reconhecimento da ideia de que todos os cidadãos devem ser iguais perante a lei, esses antigos sistemas de classes, com direitos transferidos hereditariamente, sucumbiram ou diminuíram de importância. Mesmo em sociedades oficialmente classistas, como o Reino Unido, a nobreza teve os seus privilégios tão esvaziados ao longo do século xx que hoje
Instituições humanas podem ser mudadas, mas não o homem: qualquer que seja o esforço geral de uma comunidade para fazer seus membros iguais e semelhantes, o orgulho pessoal dos indivíduos sempre buscará elevar-se acima da linha e formar em algum lugar uma desigualdade para a sua própria vantagem
Rogério S.
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até antagônicos entre si, é possível traçar alguns pontos comuns sobre o entendimento de como o mundo e o ser humano funcionam. Se o leitor entender estas diferenças filosóficas, poderá identificar imediatamente políticas públicas, atitudes e retóricas alinhadas com essas visões de mundo. Perceberá também que muitas das discussões e desentendimentos políticos são antes de tudo um reflexo das diferenças de como as pessoas enxergam, entendem e sentem o mundo e a sociedade. O ponto de partida para entender essas visões de mundo e sociedade é Thomas Hobbes (1588 –1679), filósofo inglês que viveu durante a guerra civil inglesa (1642 - 1651). Por ter vivido em um período tumultuado da história inglesa, não é surpreendente que ele tenha defendido governos absolutistas com governantes poderosos capazes de garantir a ordem e resolver conflitos internos. A grande novidade é que ele foi um dos primeiros filósofos modernos a rejeitar a ideia de ordem social baseada na Visões de mundo doutrina cristã – comum na Idade Mée de natureza humana Para entender o que esquerda e direita re- dia – e procurar entendê-la e legitimar o presentam, é necessário entender as bases poder dos governantes de um ponto de filosóficas que explicam a visão de mundo vista racional. O resultado foi a sua e sobre a natureza humana de cada lado do eixo. Embora seja impossível determinar valores e políticas comuns a toda a esquerda e direita, pois cada uma destas acolhe pensamentos muito distintos e
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concebidos por Karl Marx, e que serviram de base a muitos movimentos operários e ao surgimento dos sindicatos urbanos. Com o passar do tempo o socialismo deu origem a diversas vertentes, entre elas a social democracia. Nesse momento, o foco da discussão política passou a ser as disputas entre o capital e a força de trabalho. Em seguida, o século xx testemunhou o sufrágio universal (ou seja, a ideia de que todos podem votar), a expansão de outros setores da economia que não a indústria e o fortalecimento das democracias liberais no mundo, inclusive das sociais-democracias, que equacionaram em parte as disputas entre capital e força de trabalho. A política passou a ter como questões predominantes o papel do Estado na sociedade e na economia e quais valores políticos devem ser promovidos, o que impacta diretamente nas discussões de esquerda e direita. O diálogo é imprescindível para desenvolver a sociedade.
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teoria do contrato social, um acordo tá- da discordância entre esquerda e direita: cito pelo qual os governados se submetem qual a natureza da condição humana e do ao poder do governante – abrem mão comportamento humano? Para responder de parte de sua liberdade – em troca de a essa questão, Hobbes imaginou como proteção e garantia de seus direitos e de- seria a condição do ser humano no “esmais liberdades. Para ele, um governo só tado de natureza”, uma situação teórica é legítimo enquanto o governante cumpre da humanidade antes da introdução de o seu papel no contrato, caso contrário estruturas sociais e instituições do Estado. o seu governo perde a legitimidade e os Para Hobbes, a humanidade no “estado governados tem o direito de substitui-lo. da natureza” teria uma liberdade absoluMas para chegar a essa ideia, Hobbes filo- ta – sem restrições –, mas uma vida de sofou sobre uma das questões mais difíceis constante guerra entre seus pares, de mie polêmicas para os pensadores moder- séria e caos. Para ele, a natureza humanos e que até hoje é o ponto fundamental na é intrinsecamente egoísta e o caráter
humano é falho e imutável. Nesse cenário, condições para uma “vida boa” – não no as pessoas aceitam submeter-se ao poder sentido material ou de riqueza, mas condo Estado para usufruírem de suas vanta- dições nas quais os indivíduos consigam gens, como a ordem, a paz, a proteção à viver de maneira virtuosa, que não sejam vida e à propriedade, mesmo que ao custo obrigados a tomar atitudes imorais para da perda de parte de sua liberdade. poder sobreviver. Essa é a visão de mundo Nessa visão de mundo baseada em e da natureza humana que fundamenta a Hobbes, não há instituições ou ações po- direita e seus ideais. Quase um século delíticas que sejam capazes de eliminar as pois, o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseimperfeições humanas ou criar uma so- au (1712 – 1778) propôs uma nova aborciedade utópica. A melhoria da sociedade dagem ao tema do contrato social e uma depende da evolução de cada indivíduo definição totalmente oposta sobre a natuque faz parte dela. O objetivo da políti- reza humana. Rousseau ainda não sabia, ca deve ser fazer o possível para criar as mas seria fonte de inspiração para
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No primeiro semestre de 2020, uma série de manifestações contra violencia policial e racismo se iniciaram no mundo após morte do americano George Floyd. A Geração Z foi uma das que mais participou dos protestos nas redes sociais e continua se involvendo na política, assegurando direitos humanos
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a revolução francesa (1789) e lançaria as bases filosóficas para o desenvolvimento da esquerda nos séculos seguintes. Rousseau era originário da pacata e organizada cidade de Genebra e talvez por isso tenha tido uma compreensão de mundo tão diferente de Hobbes. Para Rousseau a humanidade no “estado da natureza” seria feliz, benevolente e as pessoas viveriam em harmonia, guiadas por um sentimento de compaixão e empatia. As pessoas não são inerentemente más, mas podem se tornar quando sujeitas a governos e instituições ruins, especialmente a propriedade privada. Rousseau fez críticas duras à propriedade privada, embora não tenha defendido aboli-la completamente e sim distribui-la de maneira mais igualitária. Segundo sua visão, a propriedade privada origina todas as divisões e desigualdades existentes na sociedade. Essas divisões, desigualdades e instituições imperfeitas criadas pelo homem seriam a origem dos vícios e defeitos de caráter das pessoas, pois estas teriam desviado o ser humano de suas qualidades inatas. Essa é a visão de mundo e da natureza humana que fundamenta a esquerda. Rousseau também propôs uma teoria sobre o contrato social que não o considera originário do medo e da necessidade de proteção, mas sim como um meio para melhorar a existência humana. Para Rousseau, quando as leis são criadas por aqueles que se sujeitam a elas, podem se tornar uma extensão e melhoria da liberdade existente no “estado de natureza”. Essa visão contrasta com a de Hobbes, que via nas leis uma restrição
necessária à liberdade, que só poderia ser plena no “estado de natureza”. Mas, para o contrato social rousseauniano funcionar, é necessário que as pessoas sejam iguais. Para Rousseau, liberdade e igualdade caminham lado a lado e não há conflito entre esses valores. Essa é uma ideia fundamental para a esquerda, que embora apresente inúmeras variações de doutrinas e ideologias, tem na igualdade o valor político que define e une todas elas. Uma conclusão inevitável dessa visão de Rousseau, que traz uma diferença clara de esquerda e direita, é que o Estado e as instituições podem modelar a sociedade e o comportamento humano, e, portanto, instituições perfeitas poderiam em teoria levar a uma sociedade perfeita e capaz de evitar a degradação do caráter humano naturalmente benevolente. Nessa concepção, a ação política e o Estado podem e devem ser usados como meios para mudar a sociedade. Essa visão serviu de base filosófica para o desenvolvimento de ideias que pretendem reformar a sociedade para o bem comum por meio da política – às vezes chamadas de reformistas –, incluindo as doutrinas desenvolvidas por Marx. As visões de mundo de Hobbes e Rousseau são antagônicas e
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representam os pontos extremos do entendimento da natureza humana. Para um lado, a condição natural do homem é de guerra e caos, os indivíduos são egoístas e motivados somente pelo auto interesse. Para o outro, essa condição é de harmonia e benevolência, as pessoas são altruístas e podem ser motivadas por interesses comunitários. Entre esses dois extremos, outras visões possíveis e foram exploradas por outros filósofos. Na prática, a experiência tende a mostrar que a natureza humana está em algum lugar entre estes dois extremos. Nem todas as ações humanas podem ser explicadas pelo egoísmo, mas parecem muito mais motivadas pelo altruísmo, pela lealdade ou por alguma convicção moral. Afinal, a mesma pess2oa que se preocupa em promover seus próprios interesses no dia a dia pode colocar sua vida em risco para salvar alguém de uma inundação ou de um incêndio, ou uma pessoa de negócios pode dedicar parte do seu tempo e dinheiro para ações de interesse social, ou um voluntário usa o tempo de seu final de semana para trabalhar num asilo de idosos. Essas visões diferentes de mundo levam a diferenças fundamentais na abordagem da política partidária de esquerda e direita. A esquerda tem um caráter eminentemente reformista e acredita no uso da política e do Estado como a maneira mais apropriada para melhorar a sociedade
– ou seja, a filosofia e a política devem alterar a realidade. Por isso, a esquerda desenvolve como características na sua prática política uma grande militância e uma forte burocracia partidária. Já a direita enxerga que a melhoria da sociedade se dá pela melhoria da qualidade dos indivíduos, o que é um objetivo essencialmente pessoal e não político. Para a direita, a política é um meio de garantir a ordem e a liberdade, criando um ambiente benigno no qual as pessoas possam exercitar as suas virtudes. A política não é vista como uma ferramenta de reforma da sociedade ou da natureza do ser humano, ou seja, a filosofia e a política devem refletir a realidade. Por este motivo, a direita costuma ser menos militante quando comparada aos movimentos de esquerda. É possível perceber estas visões de mundo refletidas em várias posições políticas de esquerda e direita. Uma das mais evidentes é a atitude com relação ao crime e à segurança pública. Para a direita, o crime, os vícios e as mazelas da sociedade são originários das falhas de caráter e da natureza imperfeita do ser humano. Por essas falhas serem pessoais, todos os indivíduos são responsáveis por suas decisões
A politica não deveria ser a arte de dominar, mas a de fazer justiça
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Aristóteles
O governo não é uma razão, também não é eloquência, é força. Opera como o fogo; é um servente perigoso e um amo temível; em nenhum momento se deve permitir que mãos irresponsáveis o controlem
e devem arcar com as suas consequências. Para a esquerda esses fenômenos são fruto de instituições ruins, das desigualdades e das condições sociais adversas impostas, e não do caráter intrinsicamente benevolente do humano. Por essas falhas terem um forte componente ambiental e social, não é justo atribuir aos indivíduos toda a culpa e consequências, principalmente àqueles de origem social vulnerável, comum nos casos da criminalidade urbana. Diferentes visões levam a reações distintas sobre isso: enquanto a direita pode parecer excessivamente dura, a esquerda é criticada por parecer leniente. Outra questão em que as divergências ficam claras é a promoção do valor igualdade. As polêmicas em torno desses temas são reflexo das diferentes visões de mundo.
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George Washington
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germinar
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Cringe Vídeo Maria Homem explica o embate entre as gerações. Envolve principalmente millenials e gen z, contando sobre o recente meme “cringe” e suas conotações para além do humor. Cringe, millenials, geração z: difícil alguém que não tenha se deparado com alguma dessas expressões nos últimos dias. Nas redes sociais, o assunto tem gerado memes, testes e até reflexões sobre os conflitos e diferenças intergeracionais.
CAOScast 12/11/20 Vídeo Uma reflexão sobre a geração z e sua visão sobre política. #caoscast é o espaço de debate do grupo Consumoteca, com distribuição de tab uol. Quinzenalmente, a gente traduz pra você os comportamentos e tendências que estão fazendo a cabeça dos brasileiros.
Modern Family Série A série oferece uma perspectiva honesta do cotidiano familiar. O patriarca Jay se casa com uma mulher bem mais jovem e colombiana chamada Gloria Delgado, ela se muda para a casa da família com seu filho adolescente Manny. Claire é a primeira filha de Jay, casada com Phil, com quem tem dois filhos, e Mitchell é o filho homossexual de Jay. Ele tem um companheiro chamado Cameron e acabaram de adotar um bebê vietnamita. Juntos eles vão dar boas gargalhadas e superar as diferenças... ou não.
One Day at a Time Série A história acompanha uma família cubanoamericana que tenta levar a vida após o divórcio dos pais, enquanto ganha o apoio e a ajuda de Schneider, filho do dono do edifício que trabalha como síndico do prédio em que vivem. A série trata sobre sexualidade, drogas, política, perdas, desenvolvimento pessoal e divergências familiares.
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Meritocracia Vídeo Rita Von Hunty reflete sobre os mitos e verdades da meritocracia. No percurso vital de cada um o esforço conta, como é natural, mas o esforço sozinho é mais um fator onde também é preciso considerar outros que escapam ao nosso controle e vontade: o berço, a sorte e o talento. A vida é uma loteria, já cantava Marisol, e também tem muito de herança e de contatos.
Sex Education Série Ao lado da frequente idealização de Hollywood e da supervalorização ou simplificação da maior parte das produções que o público geral tem acesso, Sex Education é quase um refresco, apresentando uma visão realmente realista dos questionamentos adolescentes: dst, disfunção, questionamento de preferências sexuais, aborto, descoberta da própria sexualidade e demais assuntos.
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O modelo de família tradicional é aquele cujo alicerce é formado por pai e mãe. Mas, de acordo com o último censo do IBGE, em nossa sociedade, existem 19 tipos de laços de parentescos. Dentre eles, há mães ou pais solteiros, netos com avós, pais divorciados que se casam novamente e moram com os filhos do antigo casamento, além dos
50,1% das famílias brasileiras estão fora dos padrões considerados tradicionais.
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casais homoafetivos com filhos adotados ou gerados por processos de produção assistida. Ao todo, a formação clássica representa 49,9% dos domicílios e outros tipos de família já somam 50,1%, tratando-se da maioria. Novas maneiras de se relacionar e a queda de tabus levaram a uma verdadeira revolução na composição familiar e seus ecos são tanto produto da transformação social em curso quanto desafios para a população.
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Relação entre fé e política
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Um dos graves erros das Forças políticas progressistas foi se distanciar da Fé popular Texto Frei Betto Fotografia Christian Buehmer
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O Datafolha registrou também a intenção de voto segundo preferências das várias denominações religiosas. Entre os católicos a vantagem de Bolsonaro foi pequena: 51%, diante de 49% que preferiam Haddad. Sim, os evangélicos tiveram peso na eleição de Bolsonaro, mas não decidiram a vitória do candidato direitista. Na Região Sul do país (rs, sc e pr), ele teve votação expressiva entre pessoas de nível superior e com renda mensal acima de cinco salários-mínimos. A rejeição a Bolsonaro no segmento evangélico foi baixa (28%), enquanto na média geral dos eleitores chegava a 39%. Pesou muito o modo como ele explorou valores tradicionalistas ao defender família heterossexual, Escola Sem Partido, condenação ao suposto kit gay etc. Dados demonstram que, no Brasil, 34% das pessoas com escolaridade de nível médio são evangélicas, como 32% dos que recebem, por mês, de dois a cinco salários-mínimos. Em 2014 o voto preferencial desses segmentos tinha ido para o Partido dos Trabalhadores, o pt. Agora, virou. O que garantiu a vitória de Bolsonaro graças a essa classe média. O fator religioso, considerado isoladamente, não explica o voto negado ao pt e dado ao Partido Social Liberal ( psl). Dados apontam que, entre o segmento lgbtqia+, tão repudiado pelo candidato eleito, ele mereceu 30% dos votos. Como explicar? A Geni gosta que joguem pedras nela? De modo algum. Além do fator moral, muitos outros influíram na decisão do eleitor, como a crise econômica, o desemprego e o repúdio à corrupção. Além de claro,
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air Bolsonaro é o primeiro candidato com discurso evangélico eleito presidente da República pelo voto direto. Café Filho era presbiteriano, e Ernesto Geisel, luterano. Porém, chegaram à presidência pelo voto indireto, ou seja, sem ser pelo povo.Bolsonaro foi batizado na Igreja Católica. E, como muitos políticos brasileiros, transferiu--se para o segmento evangélico ao ser batizado no rio Jordão, em Israel, em 12 de maio de 2016, pelo pastor Everaldo, presidente do Partido Social Cristão ( psc), com quem rompeu posteriormente quando o pastor foi acusado de corrupção. A nova primeira-dama, Michelle, terceira esposa do presidente eleito, é evangélica e frequenta templos dessa tendência cristã. Os evangélicos garantiram a eleição de Bolsonaro? Os dados comprovam que, entre 42 milhões de eleitores evangélicos, ele obteve 20 milhões de votos, e Haddad, 10 milhões. Brancos, nulos e abstenções somaram 12 milhões. Bolsonaro, portanto, mereceu 67% dos votos válidos de evangélicos, enquanto Haddad, 33%, conforme dados de pesquisas do Datafolha divulgados em 25 de outubro de 2018, e do Ibope, divulgados no dia 27, véspera da eleição.
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ter pesado à insegurança pública. Bolsonaro se afirmou como a negação da “velha política”, como o “novo”. O que explica o resultado eleitoral insignificante de partidos tradicionais, como o Movimento Democrático Brasileiro (mdb) e o Partido da Social-Democracia Brasileira ( psdb), que dispunham de ampla capilaridade nacional e usufruíram de espaço privilegiado no horário eleitoral de rádios, como a fm e tv, como a Globo. O setor evangélico conservador é praticamente o único da sociedade brasileira que, há décadas, faz trabalho de base para congregar, politizar e mobilizar fiéis. O Brasil outrora foi considerado o maior país católico do mundo. Em 1950, os católicos representavam 93,5% da população; os evangélicos, apenas 3,4%. Nos últimos 70 anos, a percentagem de pessoas que se declaram católicas caiu rapidamente e chegou a 64,6% em 2010. No mesmo período, os protestantes (tradicionais e evangélicos) cresceram e atingiram 22,2% (2010). Houve também crescimento de outras religiões (como espiritismo, entre outras) e do percentual de pessoas que se declaram sem religião. Em fins de 2018, os evangélicos aglutinavam 34% da população, quase metade da população brasileira.
Religião, principal sistema de sentido Um dos graves erros das forças políticas progressistas foi se distanciar da fé popular. Houve muita proximidade entre as décadas de 1960 e 1980, no Brasil e na América Latina. Com a eleição do Papa João Paulo ii em 1978 e seu longo pontificado de 26 anos, a mobilização pastoral dos católicos de baixa renda arrefeceu. João Paulo ii e seu sucessor, Bento xvi, eram avessos às Comunidades Eclesiais de Base e à Teologia da Libertação. Bispos progressistas foram sucedidos por conservadores, a teologia crítica perdeu espaço nos seminários encarregados da formação de sacerdotes, o espwaço eclesial se viu invadido por movimentos pouco afeitos à dimensão social da fé cristã, como Opus Dei (instituição hierárquica que tem por finalidade participar da missão evangelizadora da Igreja), etc.
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A ignorância mata e quando regada com fé e política, causa o genocídio Fabrício Capinejar
Os cruzados do capitalismo não dormem em serviço. Em 1967, o presidente Richard Nixon, dos Estados Unidos, enviou seu assessor, Nelson A. Rockefeller, a um giro pela América Latina, com a missão de analisar como a Igreja Católica reagia à ameaça comunista. Da viagem resultou um relatório no qual constavam anexos secretos. Em um deles, Rockefeller propunha que Igrejas Evangélicas, financiadas pela Agência Central de Inteligência dos eua, a cia, pelo Departamento de Estado e por outras fontes, fossem remetidas aos países do continente para incutir nos fiéis uma religiosidade conservadora. Os movimentos pastorais de base popular representavam maior ameaça aos interesses do capital do que o marxismo. Foi então que se iniciou a intensa cruzada de implantação de Igreja neopentecostais de perfil conservador inspiradas em matrizes estadunidenses. Um cristianismo prêt-à-porter; um deus criado à imagem e semelhança do sistema capitalista; uma Teologia da Prosperidade capaz de incutir nos fiéis a ambição da riqueza e, portanto, de total adesão ao sistema; a hegemonia do Antigo Testamento sobre o Novo; e a prevalência do demônio como fator de intimidação e medo. Já que aos pobres o sistema nega direitos básicos, como saúde e educação, o jeito é buscar a cura nos milagres da Igreja e acatar a hermenêutica fundamentalista do texto bíblico feita pelo pastor sem formação teológica suficiente. Porém, a palavra dele tem peso, pois, para os fiéis, manifesta a vontade de Deus. É ele quem, nas eleições, aponta o nome dos candidatos que também são evangélicos (“irmão vota em irmão”) e aquele que haverão de favorecer a obra de Deus neste mundo, como impedir que o demônio continue a operar por meio do comunismo, do ateísmo e de “graves pecados” como a homossexualidade, sexo e o aborto... Em áreas habitadas por populações altamente vulneráveis, a Igreja Evangélica cria redes de proteção e solidariedade, o que já não faz a Igreja Católica, com raras exceções. Como declarou o cientista político Sergio Fausto, no jornal Valor, em novembro de 2018, “em muitos lugares do Brasil a opção são três Cs: crime organizado, cocaína ou Cristo”. Pesquisas do ibge comprovam que 87% da população brasileira se assume como cristã, e apenas 20% frequentam cultos religiosos ao menos uma vez por mês.
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Na América Latina, a porta da razão é o coração; a chave do coração, a religião. Pergunte “O que você pensa da vida?” a uma faxineira ou a um porteiro de prédio, artesão popular ou pequeno agricultor. Com certeza, a resposta virá tecida em categorias religiosas. A religião é o maior sistema de sentido já criado pelo ser humano. Abarca desde a criação do mundo até a ofensa de um amigo a outro. Só ela contém respostas para os fins da vida e da Terra; a existência de pessoas boas e más; a beleza da natureza e a harmonia de suas leis. Ela penetra o mais fundo da alma e da consciência humanas. Culpabiliza e perdoa; castiga e recompensa; gratifica e salva. Toda a atividade de Jesus foi marcada por permanente conflito religioso. Conflito entre a concepção religiosa que oprimia o povo, professada por saduceus, escribas e fariseus, e a concepção libertadora contida em sua palavra. Do setor progressista da Igreja Católica na América Latina, irmanado a segmentos de Igrejas Protestantes históricas, como luteranos e presbiterianos, brotaram as Comunidades Eclesiais de Base, no início da década de 1960. Esse segmento se apropriou da leitura popular da Bíblia e criou a Teologia da Libertação. Desse expressivo movimento pastoral surgiram os militantes cristãos que lutaram nas guerrilhas da Colômbia, da Nicarágua e de El Salvador. No Brasil, os fiéis das Comunidades Eclesiais de Base favoreceram a capilaridade nacional do pt, da Central Única dos Trabalhadores (cut) e da Central de Movimentos Populares (cmp) nas décadas de 1980 e 1990. Foi dessa Igreja popular que despontaram tantos movimentos combativos, como o mst (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), movimento ativista brasileiro.
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relação entre fé e política Fé e política têm, em última instância, o mesmo objetivo de criar uma sociedade na qual todos vivam com iguais direitos e oportunidades, e sem antagonismos de classes. Se as duas visam a aprimorar nossa convivência social, também podem servir para dominar, como fizeram a fé dos fariseus ou a política dos opressores. A fé é um ato pelo qual o ser humano se posiciona diante do mistério de Deus. A política é a ferramenta de construção da sociedade de justiça e liberdade. Orienta-se por algo que não é próprio da fé, como as estratégias de realização do bem comum. A vivência da fé é necessariamente política. No Céu não haverá fé. Vive-se a fé em uma comunidade politicamente situada. Quando a comunidade religiosa afirma que só faz religião, não sabe o que diz ou mente para encobrir com a fé seus reais interesses políticos. Toda comu-nidade religiosa aparentemente apolítica só favorece a política dominante, ainda que injusta. Jesus, em razão de sua fé, morreu assassinado como prisioneiro político. Como Jesus, o cristão deve viver sua fé no compromisso libertador com os mais pobres. Seja qual for o modo de o cristão viver seu compromisso evangélico, ele sempre terá consequências políticas. Pode sacralizar a desigualdade social ou favorecer sua erradicação. O Concílio Vaticano ii reconheceu a autonomia da política. E ela pode ser bem feita por quem não tem fé. E nem sempre os que têm fé fazem política bem-feita. Um ateu pode fazer uma política justa, favorável à maioria da população, assim como há muitos cristãos corruptos que buscam na política proveitos pessoais. É uma antinomia falar em política “cristã”. A política jamais deve ser confessionalizada. Em princípio, ela representa os anseios de crentes e descrentes. Deve
haver uma política justa, democrática, voltada para a maioria. E uma política assim inevitavelmente incorporará os valores da fé, como a libertação dos pobres e a construção da sociedade sem desigualdades. A fé não tem receitas para resolver administrativamente problemas como dívida pública, reforma da Previdência ou melhoria da saúde. Isso é tarefa da política. A fé mostra o sentido da política: dar vida a todos. O jeito de fazê-lo depende da política. Se ela for injusta, muitos estarão privados das condições mínimas de dignidade e alcance da felicidade. Fé e política são instâncias diferentes que se completam na prática da vida. Para ser cultivada, a fé exige participação em uma comunidade religiosa. Para ser consequente, a política exige participação nas demandas populares e o conhecimento dos problemas sociais. A política deve se pautar por valores que, em geral, coincidem com os valores das propostas religiosas, como direitos dos excluídos, vida para todos, partilha de bens, poder como serviço e outros. Sem esses valores, a política vira politicagem, e a corrupção produz a inversão que prioriza o pessoal ou o corporativo em detrimento do social e do coletivo. O que importa é o bem comum, e não os interesses de determinado segmento religioso ou até mesmo político.
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Christian Buehner
A respeito de política eu continuo a não ter fé em ninguém e a achar todos os mesmos
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A hegemonia pentecostal no Brasil
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Como os evangélicos pentecostais passaram a dominar importantes espaços na política, no mercado e nas mídias Magali do Nascimento Cunha
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Dossiê Cult
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Tentaram silenciar um sonho, mas acabaram acordando uma nação
Alan Santos
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Bispo Edir Macedo e o presidente Bolsonaro no Palácio da República.
Evangélicos pentecostais e neopentecostais O segmento evangélico é bastante diverso. Tem origem na Reforma Protestante do século xvi que abriu caminho para o surgimento de luteranos, congregacionais, presbiterianos, batistas, metodistas,
anglicanos. No século xx, surgiram os pentecostais, expressão de um movimento de protesto contra o racismo e o classicismo nas Igrejas, e de afirmação da população negra, migrante, feminina e pobre nos Estados Unidos. Os primeiros evangélicos chegaram ao Brasil por meio de missionários estadunidenses, na primeira metade do século xix. A identidade “protestante” nunca foi bem afirmada por boa parte deles, que sempre optaram por se denominar “evangélicos”, reforçando disputas religiosas com o histórico catolicismo romano ao colocarem-se como detentores “do verdadeiro Evangelho”. Atualmente, o grupo mais significativo desse mosaico religioso são os pentecostais. Representam a maior fatia numérica (são cerca de 60% dos evangélicos, segundo o Censo de 2010), com presença geográfica importante, ocupação de espaço nas mídias tradicionais (rádio e tv) e intensa atuação na política partidária. O que diferencia evangélicos pentecostais dos históricos é a crença no segundo batismo, uma experiência mística atribuída à ação do Espírito Santo, que leva os fiéis a falarem línguas estranhas como sinal de sua presença. Essa ação do Espírito Santo também atribuídos especiais, como profecia e cura pela oração. Missionários trouxeram o pentecostalismo ao Brasil na primeira década do século 20 e se estabeleceram no Pará (suecos, Assembleia de Deus) e em São Paulo (estadunidenses, Congregação Cristã do Brasil e Evangelho Quadrangular). A partir dos anos 1950, com os intensos movimentos migratórios do campo para as cidades e o processo de industrialização do país, surgiram as Igrejas pentecostais fundadas por brasileiros, como a Casa da Bênção, a Brasil para Cristo, a Deus é Amor, entre outras. Várias delas tiveram em programas de rádio um importante apoio para disseminar sua fé.
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ispo Edir Macedo, missionário R. R. Soares, apóstolo Estevam Hernandes, pastor Silas Malafaia, bispo Valdemiro Santiago, pastora Damares Alves, apóstolo Rina, pastor Marco Feliciano, apóstola Valnice Milhomens, pastora Cassiane. O que essas lideranças religiosas, destacadas por mídias brasileiras, têm em comum? São pentecostais, o segmento religioso cristão que mais se expandiu, numérica e geograficamente, no Brasil nas últimas décadas. Hoje, compreender o pentecostalismo é imprescindível para quem se interessa pelas dinâmicas socioculturais e políticas que envolvem o nosso país, Brasil. O pentecostalismo é uma das ramificações evangélicas formada por uma variedade de grupos, desde grandes igrejas, como a Assembleia de Deus (que também tem suas divisões), até pequenas denominações de uma única congregação, como a Igreja Evangélica Pentecostal Maná do Céu, em São Vicente (sp), e tantas outras congregações vistas Brasil afora.
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A ação pentecostal no país é historicamente marcada por presença mais voltada à população empobrecida e às periferias das cidades. Essa prática tornou possível maior enraizamento nas culturas populares, com lugar garantido para a emoção e expressões corporal e musical, ainda que marcada por um puritanismo de restrições morais e culturais. Isso deu aos grupos pentecostais condições de consolidação nos espaços religiosos e crescimento numérico mais expressivo. Mas o boom pentecostal, de fato, ocorreu a partir da década de 1980 e transformou significativamente o perfil do segmento evangélico brasileiro. Essa expansão tão marcante tem alicerces nas transformações do mundo naquele período. Foi o momento dos processos de derrocada do socialismo, simbolizado pela queda do Muro de Berlim, e a consolidação do capitalismo globalizado e da cultura do mercado, baseados na lógica da plena realização do ser humano pela posse de produtos e serviços e pelo acesso à tecnologia da informática. Grupos cristãos estadunidenses adequaram seu discurso à nova ordem mundial e criaram a Teologia da Prosperidade. Ela foi abraçada por uma parcela de pentecostais brasileiros que passou a pregar que as bênçãos de Deus, na forma de prosperidade material (posse de finanças, saúde e felicidade na família), são concedidas
aos fiéis que se empenham nas práticas de devoção aliadas às ofertas em dinheiro às igrejas. A elas também é destinada a prosperidade, por meio de amplo número de fiéis, ocupação geográfica, aquisição de patrimônio e influência no espaço público. Os estudiosos da religião dizem que se trata de uma relação de troca com Deus, bem própria do clima social estabelecido pelo mercado neoliberal. Como essa noção de prosperidade também tem a dimensão da saúde plena, as propostas de cura se amplificaram, bem como se intensificaram as práticas de exorcismo contra os males (demônios) que impedem a felicidade. Isso representou um reprocessamento de elementos da matriz religiosa brasileira com a farta (re) utilização de símbolos e representações do catolicismo e de religiões de terreiros. Cura, exorcismo e prosperidade tornaram-se marcas de uma forma de pentecostalismo, que deixava de enfatizar a necessidade de restrições de cunho moral e cultural para alcançar a bênção divina.
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Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo, mas tudo sobrou ou foi pouco – não sei qual – e eu sofri Roberta Goldfarb
Mídias, política e mercado O neopentecostalismo não significa a superação do pentecostalismo clássico do início do século xx. Pelo contrário, a Assembleia de Deus consolidou-se como a maior denominação pentecostal, e é também a maior Igreja Evangélica do Brasil, em termos numéricos e geográficos, com suas grandes e pequenas divisões em “ministérios”. A Congregação Cristã do Brasil, a Evangelho Quadrangular, a Deus é Amor e a Brasil para Cristo continuam a ter presença significativa em todas as regiões do país, assim como os grupos neopentecostais que ganharam visibilidade.
Na virada para o século xxi, pastores e líderes neopentecostais tornaram-se empresários de mídia e detentores do que se poderia chamar “verdadeiros impérios” no campo da comunicação, buscando competir até mesmo com empresas não religiosas historicamente consolidadas (caso das Universal do Reino de Deus, Renascer em Cristo e Internacional da Graça de Deus). Chegou ao ponto de alguns desses grupos religiosos já nascerem midiáticos, Ao mesmo tempo, as grandes mídias (seculares) assimilam essa atmosfera e passam a produzir programas, ou parcelas deles, para disputar a audiência evangélica: espaço para a música cristã contemporânea (“gospel”) e seus artistas; patrocínio de festivais e megaeventos de rua; veiculação de programas de entretenimento com temática religiosa (inclusive com a concepção de personagens para telenovelas e criação das próprias telenovelas bíblicas, principalmente da rede Record). A tudo isso se conecta o crescimento de um mercado da religião. Os cristãos tornam-se um segmento de mercado com produtos e serviços especialmente desenhados para atender às suas necessidades religiosas, sejam de consumo de bens, sejam de lazer e entretenimento. Passou a ser possível encontrar produtos os mais variados, como roupas, cosméticos, doces, viagens, filmes e jogos com marcas formadas por slogans de apelo religioso, versículos bíblicos ou, simplesmente, o nome de Jesus. A Igreja Católica passou a seguir a mesma trilha. A maior presença dos evangélicos no campo da política partidária é parte desse contexto. Desde o Congresso Constituinte de 1986 e a formação da primeira bancada evangélica e seus desdobramentos, a máxima “crente não se mete em política” foi sepultada. A máxima passou a ser “irmão vota em irmão”. A atuação daquela primeira bancada no Congresso Constituinte (1986 - 1989) foi marcada por fisiologismo e pela histórica farta distribuição de estações de rádio e canais de tv aos deputados evangélicos (determinante para a ampliação da presença de pentecostais nas mídias), ou seja, ganhando visibilidade.
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Esse pentecostalismo se expandiu no Brasil pelos anos 1990 e 2000, com a formação de um sem-número de igrejas. Estudiosos da religião denominam essa expressão religiosa de neopentecostalismo, ao qual estão vinculadas as Igrejas Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus, Renascer em Cristo, Mundial do Poder de Deus, Sara Nossa Terra, Bola de Neve, entre as maiores, somadas a inúmeras igrejas autônomas. O crescimento pentecostal passou a exercer influência decisiva sobre o modo de ser das demais Igrejas cristãs. A influência se concretizou de maneira especial no reforço aos grupos chamados “avivalistas” ou “de renovação carismática”, que têm similaridade de propostas e posturas com o pentecostalismo e que, em busca de crescimento numérico, passaram a conquistar espaços importantes na prática religiosa das Igrejas chamadas históricas, incluindo a Católica.
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Depois de altos e baixos numéricos, decorrentes de casos de corrupção e fisiologismo nas legislaturas pós-Congresso Constituinte, a bancada evangélica consolidou-se como força a partir dos anos 2000, chegando a alcançar 92 parlamentares (88 deputados e 4 senadores) em 2014, e nas eleições de 2018, 94 (85 deputados e 9 senadores), sendo os pentecostais uma força hegemônica. Essa potência solidificou-se na última década e meia, muito especialmente por conta da força de duas Igrejas Evangélicas que concretizaram, desde 1986, projetos de ocupação da política institucional do país: as Assembleias de Deus (ad) e a Igreja Universal do Reino de Deus (iurd). Ambas passaram a ocupar, depois de 2003, espaços plenos de poder em partidos (respectivamente o Partido Social Cristão, psc, e o Partido Republicano Brasileiro, prb), maior quantidade de deputados e senadores no Congresso, conquistas de cargos públicos, como as nomeações de ministros de Estado de Dilma Rousseff (dois da iurd) e de Michel Temer (dois da iurd), e lançaram dois candidatos à Presidência da República (Marina Silva e pastor Everaldo, ambos da ad). A iurd conseguiu ainda eleger o bispo, ex-senador e ex-ministro Marcelo Crivella como prefeito da cidade do Rio de Janeiro. Além disso, dois fatos impulsionaram o poder pentecostal na política. Um deles foi a inusitada nomeação do deputado Marco Feliciano (hoje, Podemos, o pode/ sp) como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, em 2013. Ela culminou no revigoramento de campanhas por legislação pautada pela moralidade sexual religiosa, sob o rótulo “Defesa da Família Tradicional”, contra movimentos feministas e lgbti em aliança com a bancada católica. Essas pautas encontraram eco na população conservadora não religiosa e reforçaram movimentos reacionários às conquistas de direitos alcançadas nas últimas duas décadas. Outro fato foi a eleição do deputado federal pentecostal Eduardo Cunha (Movimento Democrático Brasileiro, mdb/rj) à presidência da Câmara dos Deputados, em 2015. Representou um poder sem precedentes para
a bancada evangélica e facilitou tanto a defesa das pautas descritas aqui como a abertura à concessão de privilégios a Igrejas no espaço público. A prisão e a cassação do deputado, em 2016, não afetaram significativamente as conquistas políticas da bancada. Tanto a iurd como a ad ofereceram amplo apoio à eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República em 2018, acompanhadas por outras denominações pentecostais, no rastro das propostas conservadoras apresentadas por ele. Bolsonaro candidatou-se à Presidência com um discurso identificado como cristão, marcadamente evangélico conservador, embora declarando-se católico. Nesse contexto, a bancada evangélica se fortaleceu como interlocutora do novo governo e ganhou representantes nos ministérios da Casa Civil (Onyx Lorenzoni) e da Mulher, Família e Direitos Humanos (pastora Damares Alves), com fiéis alocados em cargos estratégicos no Ministério da Educação. Para refletir Esse quadro retrata a ampliação da visibilidade pública alcançada pelos evangélicos no Brasil nas últimas décadas, por conta da hegemonia (neo)pentecostal. É um fenômeno que marca o momento sociopolítico e cultural do país, em que os evangélicos se colocam na arena como bloco organicamente articulado. Eles não são mais “os crentes” ou os grupos fechados de outrora; desenvolvem uma cultura “da vida normal” que combina a religião com presença nas mídias e na política.
Tanto o barulho pentecostal como o silêncio tradicional histórico reformado estão sujeitos à análise
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Israel Lopes
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catolicismo saudosista e militante
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Grupos historicamente contrários ao concílio vaticano ii ameaçam o pontificado progressista do papa Francisco Maria Clara Bingemer
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Diana Vargas
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PMDF/Divulgação
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Sem foice Sem martelo Pátria verde e amarelo
Marcha da Família Cristã pela Liberdade, abril de 2021.
movimentos organizados e aprovados oficialmente pelo Vaticano. Outras, aglutinam-se ao redor de um líder ou guru e atuam sem o apoio de uma corporação ou instituição. Também há indivíduos isolados que buscam o espaço público para disseminar suas ideias e propostas. Quais as linhas mestras de pensamento e atuação dessas pessoas e grupos, e como se configura sua ação no panorama do catolicismo atual? O distanciamento do concílio vaticano ii O divisor de águas entre catolicismo conservador e renovado encontra-se no grande evento eclesial ocorrido de 1962 a 1965: o Concílio Vaticano ii. Definido pelo Papa João xxiiii como “uma flor espontânea de uma inesperada primavera”, trouxe algumas aberturas extremamente importantes para a Igreja. Além de dispor-se não a corrigir heresias, mas a dialogar com o mundo moderno, o Concílio elaborou documentos que abriam as portas ao ecumenismo e ao diálogo com outras religiões. Afirmou igualmente a liberdade religiosa. Entendeu a missão da Igreja como abertura irrestrita às realidades terrestres e às angústias e esperanças dos seres humanos, desejando tornar-se “perita em humanidade”. Reformou a liturgia, e muito concretamente o rito da missa, introduzindo a celebração em vernáculo e não mais em latim, e posicionando o sacerdote voltado para o povo e não de costas, dirigido ao Oriente, como no rito tridentino do Papa Pio v.
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odos os que vivemos entre a década de 1960 e 1980 na Igreja Católica, pujantes de inovação, profetismo e criatividade, hoje vemos, com perplexidade, grupos dessa mesma Igreja ocupando o espaço público para propagar uma linha conservadora e mesmo ultraconservadora. Os ventos de renovação trazidos pelo Concílio Vaticano ii são questionados e criticados. Correntes teológicas inovadoras e práticas pastorais de vanguarda, que brotaram em diversas partes do mundo após o Concílio, continuam vivas. Porém, parecem ter menos visibilidade e não suscitar mais tanto interesse nos fiéis e nas outras pessoas. As mídias tradicionais e novas exibem perfis diferentes de protagonistas do cenário religioso católico, que se destacam por atividade intensa e até febril. Muitos são indivíduos, grupos e movimentos de corte extremamente conservador, porém bem ativos. Fazem ouvir suas vozes a propósito de fatos e acontecimentos intra e extra eclesiais. Sua atuação não repercute apenas dentro da Igreja, mas igualmente na esfera social, e muito concretamente na política. Algumas vezes estão em
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A nova Teologia que emanava dos documentos conciliares introduziu outro modo de conceber a Revelação, a partir do ser humano e da história; voltou a Igreja para as questões humanas e sociais, como a justiça e a autonomia da ciência; reinterpretou pontos da moral católica
Tal abertura sacudiu os fundamentos da instituição e, ao mesmo tempo, fez brotar frutos altamente positivos, mas assustou a muitos com a deserção de numerosos seminaristas, sacerdotes e religiosos da vocação e das casas de formação. A nova Teologia que emanava dos documentos conciliares introduziu outro modo de conceber a Revelação, a partir do ser humano e da história; voltou a Igreja para as questões humanas e sociais, como a justiça e a autonomia da ciência; reinterpretou pontos da moral católica. A Igreja passou a ser concebida como “povo de Deus”, com uma comum vocação selada pelo sacramento do batismo. Nesse sentido, os cristãos leigos seriam membros de relevância igual aos sacerdotes, bispos e cardeais, e outros responsáveis pela mesma Igreja. Os grupos conservadores viram no Concílio uma ameaça a sua fé, e consideraram que ele acarretou sérios danos à vida eclesial, com afirmações heterodoxas, na visão deles. A dificuldade desses conservadores se dá, muito especialmente, com a liturgia reformada pelo Concílio e as correntes teológicas que, para eles, traem o fundamento da verdadeira doutrina católica. O fato de o Concílio ter sido pastoral e não dogmático – ou seja, tratou da vida e da ação da Igreja, e não de formulações dogmáticas contra heresias – deu margem para que contestassem algumas de suas afirmações, uma vez que não trazem o selo inamovível da verdade de fé em que não se pode tocar, como trazer inclusão para a Igreja. A teologia ensinada nos seminários e institutos de teologia renovou-se. As fontes da Revelação – como a Sagrada Escritura e os escritos dos Padres dos primeiros séculos – foram revalorizadas e destacadas. A vida religiosa simplificou seus sinais externos, de forma que muitos padres e freiras passaram a não usar mais batina ou hábito, vestindo-se com roupas seculares.
A liturgia passou a integrar elementos contextuais e culturais dos povos e culturas. Essa integração pode ser percebida nos cânticos litúrgicos, na participação dos fiéis, na partilha das leituras da Palavra de Deus e das funções litúrgicas, agora assumidas por homens e mulheres leigos. A ação social junto aos pobres e pela justiça, e o engajamento político em qualquer nível passam a ser entendidos como indissociáveis da espiritualidade e da vida de fé. A Igreja se abriu ao mundo e às coisas do mundo. E isso despertou crítica e rejeição de grupos católicos que não aceitam esse novo modo de ser Igreja e que gostariam de retornar ao período pré-conciliar. Os papas que governaram após o Concílio procuraram ser fiéis ao espírito daquele grande evento eclesial. Em alguns pontos, no entanto, às vezes fizeram concessões ao saudosismo dos conservadores, ou mesmo reagiram contra iniciativas novas que eram consequência do Concílio. É assim que vemos o movimento que nasceu na América Latina em 1968, com a Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, em Medellín (Colômbia), quando a Igreja assumiu a “opção preferencial pelos pobres” e uma nova forma de fazer teologia, chamada Teologia da Libertação, o que levou muitos segmentos católicos a enfrentar sérias dificuldades.
bispo francês Marcel Lefebvre (1905 –1991). Lefebvre notabilizou-se pela resistência às reformas da Igreja Católica instauradas pelo Concílio Vaticano ii, notadamente a reforma litúrgica. Personalidade controversa, foi um dos promotores do movimento tradicionalista católico que começou pequeno, mas cresceu e permanece até os dias de hoje, após sua morte. Ele fundou a Fraternidade Sacerdotal de São Pio x, que se dedica à formação de padres e ao apostolado no estilo pré-conciliar. A tensão entre o bispo Lefebvre e o Vaticano teve momentos agudos e difíceis a partir do momento em que ele passou a ordenar seus próprios sacerdotes. O Papa João Paulo ii o excomungou, mas o Papa Bento xvi revogou a excomunhão, movido pelo desejo de reintegrar o bispo e a sociedade plenamente na comunhão da Igreja Católica. Esse pequeno grupo integrista, que de início se pensava ser mais uma seita que desapareceria em pouco tempo, não só resistiu, mas cresceu e permaneceu. Os lefebvristas contam com 600 padres ao redor do mundo, a maioria na França. Atualmente, têm mais de 200 seminaristas, enquanto o número total dos seminaristas nas dioceses francesas é de apenas 650. Outro grupo conservador é o Arautos do Evangelho. Fundado em 1999, foi aprovado e reconhecido em 2001 por João Paulo ii e em 2009 foi elevado à condição de sociedade de vida apostólica. Conhecidos por seu hábito muito peculiar, semelhante ao dos cavaleiros templários da Idade Média, eles imitam os cavaleiros cruzados que saíram da Europa rumo a Jerusalém, durante o período medieval. Acreditam que sua missão é evangelizar o mundo. Estão presentes em vários países, envolvendo jovens e adultos de ambos os sexos. Merece menção também a Legião de Cristo, fundada em 1941, na Cidade do México. Com visão conservadora da Igreja e da teologia, tem como alvo de seu apostolado sobretudo as elites econômicas e sociais, nas quais Os principais movimentos pretendem formar líderes para a Igreja. Seu fundador, católicos conservadores Marcial Maciel, foi denunciado e investigado por peO primeiro desses movimentos católicos dofilia, entre outros delitos. Retirado da atuação pública ultraconservadores, que se situam em à frente do grupo, sua congregação ficou submetida confronto com a linha de abertura, di- a um delegado pontifício, a fim de passar por reforma. álogo e reforma da Igreja Católica, foi A congregação continua ativa e dispõe de um altíssimo o dos lefebristas. Foram fundados pelo poder econômico e financeiro.
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Em 2005 aconteceu a eleição de Bento xvi, direto colaborador do papa polonês e presidente da Congregação para a Doutrina da Fé. Durante sua gestão, cerca de 140 teólogos foram punidos, impedidos de ensinar ou instados a prestar esclarecimentos por seus escritos, suspeitos de heresia. Tendo sido ele participante do Concílio como teólogo, Joseph Ratzinger, depois Bento xvi, jamais renegou explicitamente o Concílio, mas em muitas ocasiões mostrou-se dubitativo e com algumas suspeitas a respeito de sua positividade para a Igreja Católica. Recentemente, já como Papa Emérito, publicou um longo texto no qual questiona se a atual crise dos abusos sexuais dentro da Igreja não teria origem no Concílio, em que se deu, a seu ver, a flexibilização da moral católica. Com a renúncia de Bento xvi em 2013 e a eleição do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, o espírito do Vaticano ii voltou a estar presente e visível. Assim também sua linguagem, seu estilo e sua mística. A centralidade dos pobres foi sempre uma prioridade do novo papa, que não cessa de advogar por eles em seu discurso e em sua prática. Com isso, os católicos conciliares sentemse respaldados e recobram o ânimo. Mas os conservadores e tradicionalistas reagem com força e hoje promovem uma mobilização de oposição a Francisco e ao modelo de Igreja que ele defende, aonde defende a inclusão.
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Todo mundo nas ruas, pela família, por Deus e Pela Liberdade Marcha da Família Cristã pela Liberdade
de moral pessoal e sexual, como aborto, direitos , acesso aos sacramentos para divorciados e recasados. Mas também não deixam de tangenciar a questão social e política, defendendo, nesse campo, posições integristas e conservadoras. Trata-se de uma luta para mudar a própria Igreja e afastá-la definitivamente da trilha aberta pelo Concílio: diálogo com o mundo e atenção às questões sociais e políticas como constitutivas do Evangelho e da fé cristã. Diante de todos esses ataques, acrescidos pelos volumosos escândalos de pedofilia, que continuam aparecendo, Francisco se mantém firme, levando adiante seu projeto de pontificado que inclui essa inclusão. Ao lado desses detratores de sua pessoa e de seu projeto, ele conta com muitos grupos e pessoas que o apoiam incondicionalmente. Pelos lugares onde passa, é aclamado calorosamente por multidões. Tem, além disso, uma imagem altamente positiva fora da Igreja. Foi eleito “personalidade do ano” pela revista Time, por ter tirado o papado do palácio para levá-lo às ruas. É de esperar, por isso, que a Conclusão: católicos contra o papa? primavera conciliar continue florescendo, A Igreja Católica hoje carrega, dentro de si, um continteimosamente fiel ao Evangelho de Jesus gente de fiéis conservadores que se voltam contra a atiCristo, que tem no centro o amor ao prótude progressista do Papa Francisco. Acusam-no de trair ximo, sobretudo ao pobre, ao infeliz, ao a Igreja, pedem sua renúncia e contestam suas posições vulnerável. E que a unidade que sempre de forma pública e agressiva. Utilizam-se de todos os predominou no catolicismo continue someios para comunicar o que julgam que deveria ser o brepondo-se a essas divisões internas. discurso católico, o que, em geral, diz respeito a questões
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Além dos grupos mencionados, que seriam os que mais se destacam por sua atuação e poder de influência, há outras agremiações católicas de direita que surgiram desde os anos 1980, com estreitas alianças entre os bispos, e que alcançaram proeminência que as converte em força atuante contra o atual pontificado do Papa Francisco, atual chefe de Estado do Vaticano. Nos Estados Unidos, esses grupos sofreram influência de Michael Novak, filósofo e diplomata que, em sua vasta obra, trabalhou por conciliar capitalismo liberal e catolicismo. Crítico da Teologia da Libertação, Novak teve fases de seu pensamento afinadas com o discurso mais liberal, contra a guerra do Vietnã e iniciativas do governo de seu país. Mas seu legado fundamentou os grupos conservadores, sobretudo com a interpretação que deu à encíclica Centesimus Annus, de João Paulo ii em 1991, afirmando que, ali, o papa apoiava incondicionalmente o livre mercado. Há também indivíduos que, nas mídias digitais, proferem palestras e produzem textos criticando o Concílio Vaticano ii e sua abertura, e conclamando a volta ao catolicismo tridentino, pré-conciliar. São clérigos e leigos, e conseguem obter considerável audiência e repercussão nas esferas em que atuam. São extremamente críticos ao Papa Francisco.
Marcha da Família Cristã pela Liberdade, abril de 2021.
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PMDF/Divulgação
Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça
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o amor vai muito além da tradição
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A estrutura familiar mudou, hoje já não vemos mais famílias com a formação de pai, mãe e filhos. Temos famílias com dois pais, duas mães, só o pai, só a mãe, só o homem e a mulher sem filhos. Texto Bruna Rasmussen Fotografia Clay Banks
Em 2011, nas traseiras de automóveis de todo o Brasil, a Família Feliz ganhou destaque. Os adesivos, vendidos em bancas de jornal, postos de gasolina e até na internet, estampavam pais, mães, crianças, avós e até mesmo os animais de estimação Luiz Edson Fachin que faziam parte de cada família. MuiAdvogado e professor de Direito to além de qualquer opinião sobre gosto pessoal, contudo, pode-se afirmar que a moda desses adesivos foi útil para revelar, da forma mais despretensiosa possível, somam 60 mil, sendo 53,8% delas forque a família não é mais somente aquela mada por mulheres. Mulheres que vivem formada por pais e mães heterossexuais sozinhas são 3,4 milhões, enquanto que e seus filhos. Mães e pais solteiros, di- 10,1 milhões de famílias são formadas vorciados que unem suas famílias, casal por mães ou pais solteiros. Quem é a sua de homossexuais que têm filhos de um família? Se ela não segue os moldes tradirelacionamento heterossexual anterior, cionais, ela pode ser considerada menos crianças que são criadas pelos avós, pes- válida? Parece óbvio que a resposta é não. soas que só tem seu animal de estimação Entretanto, principalmente no caso de como família, praticantes do poliamor, composições envolvendo casais homosseheterossexuais que adotam, homossexuais xuais e praticantes do poliamor, a resposta que adotam, casais sem filhos, amigos que para essa pergunta não raro vem com um moram juntos, três gerações que dividem “sim”, recheado de preconceito e desinforo mesmo teto, divorciados que vivem na mação. Também respondem dessa forma mesma casa. Por isso que os adesivos dos alguns parlamentares em Brasília. membros da Família Feliz eram vendidos É o caso do deputado Ronaldo Fonseseparadamente. Cada um podia montar a ca ( pros-df), relator de um dos mais posua própria família feliz com eles. lêmicos projetos de lei dos últimos anos: o Estatuto da Família. Neste documento, Famílias do Brasil ele busca definir família exclusivamente O Censo de 2010 do ibge mostra que a como a união entre um homem e uma família brasileira se multiplicou, trazendo mulher. Segundo ele, “faz necessário dife19 laços de parentesco, contra 11 presen- renciar família das relações de mero afeto, tes no censo de 2000. O conceito tradicio- convívio e mútua assistência; sejam essas nal de família, composta por um casal he- últimas relações entre pessoas de mesmo terossexual com filhos, esteve presente em sexo ou de sexos diferentes, havendo ou 49,9% dos lares visitados, enquanto que não prática sexual entre essas pessoas”. Se em 50,1% da vezes, a família ganhou uma família não é quem provê afeto e suporte nova forma. As famílias homoafetivas já recíproco, o que é família?
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A verdade sociológica da filiação se constrói, relevando-se não apenas da descendência, mas através do comportamento de quem expende cuidados, carinho e tratamento, quer em público, quer na intimidade do lar, com afeto verdadeiro
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Do que é feita uma família? “Uma definição que me agrada é a de pensar que a minha família é composta por aqueles com quem eu conto. Hoje, todas as formas de família são aceitas pela Associação Brasileira de Terapia Familiar (abratef). Pelo ibge, a única forma não aceita de família é a de um grupo de adultos que mora no mesmo local sem laços de sangue ou relacionamentos romântico-afetivos. Nesse caso, o ibge classifica esse grupo como ‘moradia em conjunto, explicou Marcos Naime Pontes, psiquiatra e terapeuta de família e de casal, em entrevista ao Hypeness. Segundo ele, o que hoje nós chamamos de “novas con- foi mais que suficiente para que o stj lhe figurações de família” é algo que sempre garantisse esse direito. Afinal, a Justiça existiu, embora sem que houvesse um re- cada vez mais entende que o nome civil conhecimento público ou jurídico. faz parte da formação e consolidação da Mesmo com propostas como o Estatuto personalidade e que a família se constitui da Família, a Justiça Brasileira tem mos- no afeto. Foi também por decisão judicial trado grandes avanços no que diz respeito que uma família conseguiu alterar a certià desbiologização da família e à quebra do dão de nascimento do garoto Guilherme modelo familiar baseado em uma relação Zaroni, colocando, além do nome da mãe heterossexual monogâmica em que o pai e do pai biológicos, o nome da madrasta. é a figura-chefe. Diferente do que defenCom a morte da mãe biológica ainda de o Deputado Ronaldo Fonseca, o afeto nos primeiros anos de vida, o garoto e adquiriu um papel bastante relevante juri- Margit Zaroni, a esposa de seu pai, tivedicamente, permitindo que as discussões ram uma grande aproximação afetiva e sobre filiação fossem levadas a um outro então surgiu o desejo de ter isso marcado nível. Como resultado disso, temos casos também legalmente. A isso se dá o nome como o do rapaz que, tendo sido abando- de filiação socioafetiva e a decisão colonado pelo pai ainda na infância, foi auto- cou na certidão de nascimento o nome de rizado pelo Superior Tribunal de Justiça duas mães e de seis avós. O Supremo Tri(stj) a remover o sobrenome paterno de bunal Federal garantiu a um casal homosseu nome civil e adicionar o sobreno- sexual o direito de adotar. Ao negar um me de sua avó materna, que o educou e recurso do Ministério Público do Paraná, cuidou durante toda a infância e adoles- a Ministra Cármen Lúcia defendeu que o cência. A ausência de um vínculo afetivo conceito de família, envolvendo regras de
Margit Zaroni |Arquivo Pessoal
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Podemos pensar que homens e mulheres estão em todos os lugares e em todas as famílias. As famílias se relacionam com esses homens e mulheres o tempo todo, como indivíduos. As crianças teriam esses modelos não só dos pais ou das mães. Outra forma de pensar é a de que a construção de homem ou mulher é apenas uma das formas de dividir o mundo. Aquilo que foi atribuído ao masculino ou feminino é muito mais variado hoje e está mais ligado a identidade de cada pessoa do que a um ou dois gêneros, ou à uma definição
visibilidade, continuidade e durabilida- busca o mesmo precisa dar entrada judide, também podem ser aplicados a casais cialmente a seu pedido – uma caminhada homossexuais. A decisão teve como base que, embora agora com mais chances de também o reconhecimento, em 2011, da ser bem sucedida juridicamente, é desunião estável entre parceiros do mesmo gastante e tortuosa, devido à exposição sexo, feita pelo ministro Ayers Britto. “A direta aos limites estabelescidos pelo preConstituição Federal não faz a menor di- conceito, derivado da estruturação ideoferenciação entre a família formalmente logica da sociedade atual, que permanece constituída e aquele existente aos rés dos interfirindo sobre a legislação do país e fatos. Como também não distingue entre os direitos de todos. Apesar disso, muitos a família que se forma por sujeitos hetero- ainda se perguntam sobre o desenvolviafetivos e a que se constitui por pessoas de mento das crianças em um meio familiar não tradicional e quais são as possíveis fuinclinação homoafetiva”, afirmou ele. turas consequências dessa situação sobre Contudo, apesar de todas essa decisões, o amadurescimento do indivíduo e, infeé preciso que haja leis e políticas públicas lizmente, suas visões perante a sociedade. mais claras em relação às novas famílias. Essa preocupação não deixa de ser plaAfinal, se um casal heterossexual que desetaforma para ser fala que tenta validar jusja adotar uma criança só precisa se canditificação da homofobia. datar para tal, um casal homossexual que
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Marcos Naime Pontes Psiquiatra
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Stanley Dai
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O amor é a coisa mais linda que existe, ele muda o mundo. Não vou me esconder porque você não consegue entender a minha forma de amar
novas famílias e as crianças família como referência na Psicologia deve-se ao fato de que este era o único considerado pela ciência há algumas décadas. Isso vem mudando. Até mesmo quando menciona-se a necessidade de haver papéis masculinos e femininos como base para o desenvolvimento de uma criança, hoje isso não é exclusivo à família. A fortaleza em que se colocava a distinção entre o masculino e o feminino, bem como a constituição tradicional da família deixa, aos poucos, de existir. É crescente a insatisfação com delimitações de gênero. Cores, brinquedos e profissões ainda hoje são encaradas como masculinas ou femininas, mas a consciência de que isso é um limite culturalmente imposto e que está prestes a ruir está cada dia mais presente. A diversidade sexual, a igualdade de gêneros e a pluralidade afetiva não representam ameaça à família, mas integram-se como novas possibilidades. Deixemos que todas as famílias sejam felizes, cada qual à sua maneira, na traseira de automóveis, no mundo.
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Em uma enquete pública no site da Câmara dos Deputados, questiona-se o posicionamento da sociedade em relação ao Estatuto da Família. “Você concorda com a definição de família como núcleo formado a partir da união entre homem e mulher, prevista no projeto que cria o Estatuto da Família?” Até o momento em que escrevo este texto, mais de 5 milhões de votos já foram computados, sendo 53,6% deles para “Sim” e 46,08% para “Não”. Em muitos dos comentários, cita-se Deus e a Bíblia como bases para concordar com o Estatuto e questiona-se a influência dos novos conceitos de família no desenvolvimento das crianças. Como afirmou o psiquiatra Marcos Naime Pontes em entrevista ao Hypeness, “os estudos mostraram que essa diversidade não traz patologias ou distúrbios de comportamento diferentes dos que já acontecem nos modelos tradicionais de família. Isso tudo ajuda a diminuir o preconceito e a abrir espaço: discussão, informação pública e a constatação de que essas novas formações não são fontes de sofrimento psíquico para integrantes dessas famílias. Já o preconceito e a exclusão são.” Segundo ele, o uso do modelo tradicional de
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discutir política de um modo saudável?
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Houve uma época em que discutir esse assunto era um grande tabu, e era muito comum ouvir aquela frase “futebol, política e religião não se discutem” Texto Isabela Souza Fotografia Maskus Spiske
Por que debater política nas eleições? O resultado das eleições perpassa toda a nossa vida nos anos seguintes a ela. Parece exagero que os 45 dias de campanha possam moldar o nosso futuro durante tanto tempo, mas não é. A qualidade dos candidatos eleitos reflete diretamente na qualidade da administração pública, da transparência e da participação política. Portanto, discutir política nesses 45 dias é mais do que fundamental para garantirmos uma vida de qualidade para todos. É ao falar de política com nossos amigos, familiares ou colegas de trabalho que podemos exercer nosso papel de cidadão ao conscientizar outras pessoas sobre a importância do voto consciente. Infelizmente, muitas pessoas podem dar as costas à política durante a maior parte do tempo, mas é nas eleições que elas se mostram mais abertas a esse tipo de debate. Por isso, precisamos aproveitar tal janela de oportunidade para conscientizar o maior número de pessoas. Aproveite as eleições para fazer a sua parte: por que não convidar seus amigos para um jantar e apresentar a eles os caminhos para um voto de qualidade? Que
tal aproveitar as reuniões de família para mostrar para aquele tio que adora falar sobre política quais são os requisitos de um bom candidato? Podem parecer ações muito simples, mas elas têm potencial de gerar consequências bastante positivas para a nossa política. Por melhor que seja nossa intenção, quando se trata de política a conversa pode seguir um rumo que não queremos nem de longe. Considerando isso, e para que você possa exercer sua parte levando às pessoas conhecimento sobre o voto consciente nessas eleições, vamos aprender o que fazer e não fazer nesse tipo de debate. Antes, vamos analisar alguns cenários. Em quais das seguintes situações você já se viu por causa da política? Brigar com a família por causa de política Imagine a seguinte situação: você está em um jantar de família, todos os seus tios, tias, primos e primas se reúnem após um longo tempo sem se encontrarem. As conversas são intensas, sobre os mais variados assuntos. Até que alguém faz um comentário que você julga equivocado, um ponto de vista totalmente oposto de tudo
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Hoje, mais do que necessário, falar de política tem sido frequente no nosso dia a dia. No trabalho, no ônibus, nas reuniões de amigos e familiares, durante o happy hour. Não queremos que todos esses obstáculos a um debate saudável desmotive você a falar sobre política no momento em que isso é mais importante: as eleições. Vamos conhecer o motivo.
Política no WhatsApp virou um assunto delicado, especialmente após eleições de 2018. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo Internet Lab, centro de pesquisa em tecnologia e direito digital. Pela sensibilidade do assunto, 63% dos brasileiros usam memes e mensagens de humor para debater política sem gerar brigas
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aquilo que você acredita. O que você faz nesse momento? Atire a primeira pedra quem nunca entrou em uma discussão calorosa com um membro da família, chegando até a ficar brigado com aquela pessoa por um breve período. Atire a primeira pedra ainda quem nunca fez isso por causa de política. O que as brigas com a nossa família por causa da política têm a nos ensinar é: saber avaliar quando vale a pena entrar em uma discussão. trocarmos informações às quais normalExiste uma série de fatores que qualificam mente não temos acesso, principalmente o que é um bom debate político. Quan- pela “bolha social” em que estamos insedo esses fatores não estão presentes, você ridos (quando temos acesso apenas a pesdeve saber perceber que não vale a pena soas que pensam muito parecido conosco, se envolver na discussão, pois será fácil ela o que é algo bastante comum nas redes virar uma grande briga. De quais fatores sociais, por exemplo. Quantas pessoas se fala? Veremos logo mais. você mantém na sua rede de contatos que pensam completamente o oposto?). É ao Discutir política no trabalho debater com outra pessoa, de realidade Você está no trabalho e seus colegas co- diferente da nossa, que temos a oportunimeçam a falar sobre política. Você, como dade de conhecer informações diferentes, entusiasta do assunto, logo participa da que são muito válidas.Por isso, aproveite a conversa. A partir de um certo momento, oportunidade para aprender algo com os você já não está mais prestando atenção argumentos opostos. Não é porque uma nos argumentos dos colegas que pensam pessoa pensa diferente de você que ela diferente de você, apenas aguarda que está necessariamente errada. eles terminem de falar para começar a sua Aproveite a chance para ouvir argufala, às vezes nem espera o outro terminar. mentos contrários. Mesmo que para critiOs erros que você está cometendo nes- car, precisamos conhecer a fundo os fatos sa situação são os primeiros a serem evi- apresentados pelo outro lado. Lembre-se tados em um bom debate. É simples: não também de ser educado durante a consaber ouvir os argumentos contrários. As versa. É bastante comum nos deixarmos discussões políticas devem ser um meio de influenciar pelas emoções do momento,
Discutir política no facebook Em tempos de internet, discutir política através das redes sociais já virou um clássico. Quem nunca se deixou levar por um debate no Facebook? Talvez você já esteja cansado de saber os problemas que aparecem em uma discussão de Facebook, mas vamos relembrar aqui alguns deles. O primeiro é a facilidade com que um debate sai dos trilhos e se torna uma troca de ofensas. Esse é o primeiro sinal de que
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o que nos leva ao uso de sarcasmo, interromper o outro com frequência ou falar alto. O bom debate é aquele em que tanto você quanto os outros debatedores estão em busca de ouvir o outro e aprender algo com isso da forma mais educada possível. Do contrário, são apenas dois monólogos acontecendo ao mesmo tempo, não é mesmo? Se você perceber ao início de uma conversa sobre política que esse não é o caso, talvez não seja uma boa ideia participar.
os argumentos de alguém já chegaram ao fim, por isso a pessoa passa a ofender gratuitamente quem está do outro lado. Por que será que fazemos isso? As razões podem ser muitas, mas a principal delas é que o debate deixou de ser uma troca de ideias e virou uma competição. O importante da conversa passa a ser ganhar a qualquer custo, sair de lá se sentindo vitorioso por derrotar o outro ou mudar opiniões. Portanto, lembre-se sempre que o objetivo de um debate deve ser a troca de conhecimentos e experiências. No lugar de tentar convencer o outro debatedor a concordar com você, exerça sua empatia e tente compreender por quais motivos aquela pessoa pensa daquela forma, quais situações de vida a fizeram pensar daquela maneira. Com certeza você terá muito a aprender a partir disso. Outra característica bastante frequente nos debates de internet é algo que a gente falou por aqui, as notícias falsas. É bastante comum que pessoas apoiem seus argumentos em informações inverídicas ou incompletas. É por isso que antes de incluir uma informação em seus argumentos, você precisa seguir os princípios de fact checking e comprovar a confiabilidade delas. Uma notícia verdadeira deixa seu argumento mais forte, enquanto uma Fake News coloca em cheque toda a sua credibilidade. Sabe como reconhecer uma notícia falsa?
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O que é um bom argumento? Por falar em argumentos fortes, existem alguns critérios imprescindíveis que caracterizam uma boa argumentação. O primeiro deles é nunca esquecer de fazer o dever de casa. Muitas vezes gostamos muito de um tema e fica difícil resistir a um debate sobre ele. Mas você tem certeza de que domina realmente o assunto?
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1. Evite achismos e generalizações Antes de falar sobre ele, tenha certeza de que pesquisou o suficiente, em diferentes fontes, todas elas bastante confiáveis. Se você consegue discutir a questão de forma aprofundada e sem recorrer a generalizações ou achismos, está no caminho correto. Caso contrário, pense duas vezes antes de se animar e participar da discussão. Não existe problema algum em assumir que não sabe o suficiente sobre um tema, todos nós precisamos aprender e às vezes isso leva tempo. Seja paciente, consigo e com os outros.
2. Opinião não é argumento Essa frase pode doer em muita gente, mas de fato opiniões não são argumentos, ainda que nossas crenças possam inferir sobre nossa argumentação. Nossas opiniões são embasadas em vivências de vida, na forma com que enxergamos o mundo. O problema disso é que podemos esquecer que nem todo mundo vive como a gente. Temos acesso a uma visão bastante limitada da realidade e isso coloca em cheque o quanto sabemos de algo, quando não recorremos à ciência. Por isso, procure ler o maior número de estudos científicos sobre o tema em debate. Evite buscar respostas apenas na sua vivência, pois ela diz respeito somente à sua própria realidade e quase sempre carregada de muitas emoções. E lembre-se, nunca tente mudar a opinião do outro. Você já viu, em um debate entre candidatos, algum deles mudando de opinião durante a conversa? Então não espere que o desfecho do seu debate seja necessariamente alguém mudando a forma com que pensa. Existem diversas razões para que alguém pense da forma que pensa. Se não somos capazes de entender quais são elas, cabe a cada um de nós ao menos respeitar, o famoso “concordar discordando”.
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humanas no cotidiano se agravou com a pandemia e o isolamento social, principalmente com a reprodução exacerbada de discursos de ódio pelas redes sociais. Segundo levantamento realizado em 2020 pela Safernet Brasil, organização que monitora violações de direitos humanos na
Safernet Brasil registra crescimento de 5.000% de crimes de ódio durante a pandemia. A falta de relações
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internet, em parceria com a Unicef Brasil e com o Google.org, registraram um crescimento de 5.000% de crimes de ódio durante a pandemia. Os dados apontaram quase três vezes mais denúncias de racismo em 2020 do que em 2019, a maior parte no Facebook. Já os casos de violência contra a mulher dobraram. A maioria no Twitter. É importante saber o que é o discurso de ódio. Ele não pode ser confundido com liberdade de expressão.
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sexologia política
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O sexo, por tanto tempo perseguido e demonizado, tantas vezes falado e pesquisado, vem sendo deixado de lado em muitas análises que se beneficiariam de uma atenção maior ao seu âmbito Marcia Tiburi
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Gaelle Marcel
Vagner Rezende
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para o cidadão comum como a imagem do mal. Resta, a quem tiver tempo, divagar sobre o uso que se deu a esse objeto pornográfico em posse dos adultos que o inventaram, publicaram e o expulseram a todos. A questão da pedofilia é das mais sérias e graves. Ela representa um limite para a compreensão, sobretudo porque as crianças são sujeitos vitimados que não têm como defender ou responder por si mesmos. Não há espaço para nos dedicarmos a esse tema no momento. Mas é importante levantar a questão para que possamos compreender o horizonte ao qual dedicamos nossa atenção. Por muito tempo, o Brasil levou fama de país liberado sexualmente. Ainda em vigência fora do país, a imagem dos trópicos erotizados mostra mais do que uma mera fantasia. Está sempre em jogo o interesse ou a projeção dos colonizadores na sexualidade dos colonizados que, segundo os clichês de sempre, viveriam soltos em praias, matas e ilhas selvagens, a gastar seu tempo infinito em orgias longe de culpas cristãs. O campo do desejo é o campo de mil projeções, onde surge todo tipo de delírio. Os índices de assassinatos de pessoas lgbt’s e de feminicídios, de estupros e violência doméstica sempre relacionadas também à questão de gênero, demonstram a falta de sentido dessas fantasias. Misoginia, homofobia, lgbtfobia são provas de que não estamos de bem com o desejo em termos coletivos e culturais, de que há algo que ainda não foi elaborado entre nós no campo da sexualidade. A proximidade entre sexualidade e morte é uma pista que devemos seguir.
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ornado algo banal e corriqueiro, presença cada vez mais comum nos programas e novelas de televisão, o sexo vem sendo subestimado em nossa vida social. É como se, de tanto aparecer, ele tivesse perdido a sua força. Ninguém mais quer saber de sexo. Todo o interesse que havia no sexo dos jovens, dos casais, dos burgueses, das mulheres, dos religiosos, dos amantes deixou de ser importante diante de um único tema, a perversão da pedofilia. Hoje em dia só se fala em pedofilia. Como se tudo o que diz respeito ao sexo estivesse bem, exceto a pedofilia. A propósito, seu uso estratégico na campanha presidencial brasileira, com a fabricação de uma imagem perversa de uma “mamadeira em forma de pênis”, se não chegou a substituir o uso estratégico dado à corrupção na fabricação de inimigos, certamente reforça a ideia de que a esquerda é o mal. A estratégia dos grupos que criaram essa mamadeira e dedicam-se a sustentar a mentira do “kit-gay” segue sem limites ao imaginário voltado à produção de uma narrativa da perversão da esquerda. A esquerda corrupta e pedófila é traduzida
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Aquilo que é tratado pelo senso comum ou pelas instituições de maneira fundamentalista deve ser sempre investigado criticamente. A pergunta que podemos nos colocar, portanto, diz respeito ao que essas categorias têm a nos dizer quando somos corpos viventes e sobreviventes que lutam contra opressões em nome de direitos básicos, tais como simplesmente existir. Ora, quando falamos de sexo estamos também a falar de vida, de desejo, de potencialidades, de erotismos, de ludicidades e, necessariamente, de todo um modo de estar no mundo que, em termos simples, foi chamado de alegria de viver, algo que se perdeu do cotidiano ao ser transformado em mercadoria ao alcance do capital. Ou seja, o sexo foi transformado em obejtivo fácil de ser obtido.
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Taras Chernus
O poder se coloca entre a sexualidade e a morte em seu lugar mais confortável. Se seguirmos Foucault em suas investigações históricas e filosóficas sobre a sexualidade, podemos entendê-la como o conjunto dos discursos e práticas, as tentativas de compreender e teorizar, o imaginário e o simbólico em torno da ideia de sexo. Sexo é o que se diz e o que se faz, o que se imagina, o que se usa, o que se troca, se dá ou se vende em seu nome. Sexo é o objeto de teorias, de pesquisas, de leis e instituições. Sexo é um objeto de poder, ou até mesmo uma forma de poder. Assim como o gênero, sexo pode nos servir como categoria de análise válida para pensar a nossa época. Precisamos falar mais em sexo, em identidades e diferenças sexuais, em violências e abusos envolvendo o lugar do sexo. É preciso falar de sexo como categoria de análise, assim como se deve falar de capital, de Deus e de poder. Perceber a função dessas categorias em nossas vidas é o caminho da nossa libertação de dominações e violências que nos são impostas, como os atentados ao povo lgbtqia+.
Todas as mais repugnantes manifestações de assédio vêm disfarçadas de brincadeira. Constranger pelo poder é coisa de covarde. Não há graça nenhuma Fabrício Capinejar
dos esforços da psicanálise, da estética, da filosofia, da antropologia, da semiótica, da reflexão no campo da ética e da ciência política. Essa ciência não busca apenas o conhecimento, mas um enfrentamento dos fantasmas que são produzidos por sujeitos especializados em mistificar nossas vidas humanas, simples e crédulas. Com o objetivo de descortinar as relações entre sexo e poder é que criamos a sexologia política e oferecemos, os trabalhos que seguem, alguns sinais iniciais do que essa ciência pode vir a ser em um futuro próximo. O lugar da covardia entre o poder e o sexo Muitos dizem não acreditar nas promessas hiper autoritárias de cancelamento de direitos e até matanças de opositores feitas pelo novo presidente do Brasil e alguns governadores eleitos nos estados. Há quem, da boca para fora ou de fato, concorde com o assassinato em massa, mas muita gente não acredita que se possa chegar a tanto. É certo que os motivos pelos quais não se pode acreditar no que vem sendo pregado envolve, de um lado, a negação do horror. O desejo de que o que se promete não aconteça ou a aposta de que as pessoas eleitas não sejam tão loucas ou tão más pode ser real. Curiosa, no entanto, é a manifestação de não se acreditar nas promessas, quando esses candidatos, na verdade, não prometiam muito mais do que isso. Quem saberia dar resposta à pergunta sobre o que eles realmente prometiam além da aniquilação do inimigo? Ora, um fator eleitoral no ato em que se elegem candidatos.
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Há uma aliança entre sexo e poder, uma aliança sustentada em um acordo de aparências que devemos compreender. O sexo tem sido mantido em um nível inconsciente e, justamente por meio disso, livrado da responsabilidade que, assumida, reinscreveria o sexo na ordem do desejo e o salvaria da ordem do poder no qual ele é usado contra a própria vida. É porque o sexo está a serviço do poder, porque foi sequestrado por ele, que o desejo vai mal. Na guerra de todos contra todos, que se torna cada vez mais visível, devemos voltar a Freud. À oposição entre pulsão de vida e de morte. Tânatos impera contra Eros em nossa cultura. A morte é um princípio, um ambiente mais atraente do que a vida porque, de fato, não há mais espaço e tempo para o prazer. Mas por que o prazer se perdeu dando lugar ao que chamamos de “gozo perverso”? O gozo do ódio, da crueldade e da ignorância? O gozo da maldade? Uma análise mais profunda da sexualidade em nossa época se faz mais do que necessária. Para isso, é urgente uma ciência adequada ao objeto. Darei a ela o nome provisório de sexologia política. Essa ciência interdisciplinar surge a partir
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Em política, o importante não é ter razão, mas que a dêem a alguém
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Konrad Adenauer
De fato, o ódio a um “inimigo”, essa outra figura que emerge na política contemporânea, vem sendo fundamental há anos no Brasil. Por menos impactante que seja a descrença quando comparada ao ódio, ela pode não ser muito diferente dele. Sua função concreta é a de servir de desculpa para dar aval à matança. Se ainda se pode ter alguma vergonha em relação ao ódio que se sente, e certa culpa, a descrença vem a apaziguar de toda culpa. Aquele que diz “não acreditar” vive menos o seu próprio ódio no instante em que ele é recalcado. Aquele que não acredita talvez não seja nem cínico, nem hipócrita, nem simplesmente uma vítima do seu próprio recalque. Talvez ele nos revele uma outra categoria importante para a análise política, a covardia. Tão covarde quanto aquele que ameaça matar enquanto posa de valentão é aquele que diz não acreditar para não posar de culpado. Ao falarmos de covardia, nos referimos a um vício moral por oposição à virtude da coragem. Covarde é a figura de uma negação. Do sujeito “em cima do muro” ao que disfarça, há o fraco que enfrenta os mais fracos para parecer forte. Mas a covardia é mais do que uma filosofia das virtudes morais poderia nos sugerir. A covardia é também uma tática do poder muito bem utilizada e administrada. Há uma figura da covardia complexa no Brasil, aquele que se mostra valentão ameaçando matar e ao mesmo tempo conta com um covarde que não quer acreditar. Em geral, o cínico que está no poder é também um covarde que convence um outro, que coloca esse outro na posição de otário. Esperto, ele vive de administrar um grande escamote amento. Mas não é só o elo que une cínicos e otários, ou mistificadores e descrentes, o que está em jogo. A maior parte dos que não elegeram o mal também não acreditam que ele seja possível. Sabemos que, na Alemanha nazista,
muitos não acreditaram, sejam alemães ou judeus, sejam sobreviventes ou vítimas. A descrença acoberta a covardia e, por isso mesmo, é valorizada. Tendo isso em vista, podemos nos colocar a questão sexual. No Brasil das últimas décadas, os jogos de poder político se fazem como jogos sexuais. Jogos em que a linguagem sexual assume uma característica eminentemente política de um modo que nos obriga à análise. É nesse sentido que coragem e covardia são mais do que problemas morais, são problemas políticos. Podemos falar de coragem ou covardia para respeitar a democracia, por exemplo. Mas devemos, a partir dessas categorias, levantar outra hipótese que pode nos ajudar a descortinar os jogos de poder político no Brasil. Isso porque a questão da oposição entre coragem e covardia encontrou uma configuração que até agora permanece não analisada e visualizada. Coragem e covardia são também categorias que nos permitem pensar a sexualidade. Levando a sério que o sexo é um dispositivo de poder, tal como expresso na teoria de Foucault, gostaria de sustentar que há entre nós jogos de poder que são, em tudo, não apenas aplicação do dispositivo, ou seja, um certo uso que se faz do sexo, por exemplo, tornando-o algo incompreensível e sempre passível de uma “vontade de saber”. É verdade que o sexo
Alexis de Tocqueville
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Na política, os ódios comuns são a base das alianças
Um rombo na subjetividade, o retorno de Tânatos Todos os que vociferam contra a vida alheia querem não apenas que os outros morram, mas querem também morrer. A subjetividade à qual demos o nome de fascista é esfacelada, efeito de um grande rombo produzido por relações doentias e más. Sejam os fascistas de Estado, aqueles que ocupam cargos de poder, sejam os “fascistas em potencial” do dia a dia, todos têm um profundo rombo na subjetividade. Esse rombo interno é ocultado por um véu de agressividade que se torna estilo de ser e de viver e, no limite, objeto de mistificação. A agressividade é um valor que os otários submissos reconhecem em seu líder cínico autoritário. Ora, o que uma subjetividade fascista deseja é o que ela justamente projeta para fora de si por meio da linguagem e de seus atos. O desejo de morrer. Ela sabe quais são seus próprios crimes. Ela é movida pelo desejo de matar, um desejo de matar que é projeção de um desejo infinitamente mais radical, o de morrer. Não há Deus, drogas, dinheiro que seja suficiente para conter esse desejo irrealizável, pois o sujeito está já morto. Quem possa vir a conter esse desejo tem que ser eliminado. Quando o fascismo, todavia, se torna um movimento político com perspectivas de poder – para compreendê-lo e combatê-lo – é preciso localizar na subjetividade dominante os seus esconderijos mentais mais reservados e na conduta dos sujeitos políticos as suas manifestações mais soturnas (e violentas) na vida cotidiana.
Norbu Gyachung
se confunde com o poder e é por ele usado, mas do mesmo modo o sexo também usa o poder. Nesse caso, o sexo não seria algo simplesmente submetido ao poder. Hetero e homossexualidade são “cenas” do poder ou de um contrapoder. A heterossexualidade é a ideologia em vigência. Ideologia, por sua vez, nada mais é do que a grande mentira na qual todos estão mergulhados como se ela fosse a grande verdade. Isso não quer dizer que a homossexualidade seja a verdade, apenas que, na lógica do poder, ela faz outro papel. Em certa época se falou muito de “orgulho gay”, mas hoje em dia podemos falar em algo como “coragem lgbt”. A coragem é a capacidade de assumir, de não esconder, em oposição à covardia que sempre escamoteia. A coragem lgbt vem sendo fortemente combatida há séculos e com mais força há anos no Brasil autoritário, pois ela rompe com regras de um jogo previamente estabelecido pelos representantes da heterossexualidade compulsória que estão desde sempre no poder, pelos donos do poder que fazem a cena da heterossexualidade. O poder tradicional se sustenta por meio da aparência da heterossexualidade.
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Dito tudo isso, podemos falar do uso político da sexualidade nos últimos anos. Não foi por acaso que Dilma Rousseff foi objeto de tanta misoginia. Sexo é uma categoria de análise tanto quanto gênero, e ajuda a entender o seu caso. Mas ajuda a entender também a ascensão de Bolsonaro nas eleições de 2018. A homofobia mostra-se hoje como um padrão bastante manipulável no contexto autoritário. Ela não é mais rejeitada ou ocultada por vergonha. Com Jean Wyllys, a homossexualidade foi objeto de preconceito, mas não por si mesma. O mal de Jean foi declarar-se a partir de seu “orgulho gay”, a coragem lgbt de nossos dias. Ao declarar-se como o único deputado que assume sua homossexualidade, ele quebrou com um acordo prévio sobre o ocultamento da homossexualidade que garante o poder derivado da cena “tradição, família, propriedade”. Ele rompeu com a hipocrisia e praticou a maior heresia possível, uma heresia tão imensa quanto ser uma mulher incorruptível e de esquerda, como Dilma Rousseff,
Abolova
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sexo – da misoginia e homofobia à fama e ousar ser presidenta de uma república autoritária e machista comandada por corporações midiáticas. Há uma camada mais complexa e incontornável da sexualidade, ela diz respeito ao desejo, mas a um desejo que, deixando de ser vivido de modo saudável, se deixa corromper em ódio. Esse desejo se expressa como ordem de matar. Ora, o ódio é um afeto marcado por projeções. Odeia-se aquilo que se deseja e não se pode ter por falta de autorização externa (pais) ou interna (corpo). Destruir aquilo que se deseja e não se pode ter é uma regra do inconsciente. Que o Brasil seja o campeão em assassinatos de pessoas lgbt’s é um sintoma de algo que nossa sexologia política deve nos ajudar a compreender e superar.
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está cada vez mais fácil praticar o ódio?
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Especialistas explicam que a pandemia deixou a internet mais propícia para ofensas, mas a inteligência das plataformas também tem sua responsabilidade nisso Texto Alessandro Nicoli de Mattos Fotografia Clay Banks
A publicação de uma foto no Instagram bastou para Stefany das Neves Silva, 27 anos, repensar sua vida. Ela imaginava que dividir um momento de descontração após surfar em uma praia reuniria não mais que meia dúzia de comentários eloStefany das Neves giosos, mas recebeu o que jamais esperava: gordofobia. Minutos depois de compartilhar a fotografia na rede social, Stefany recebeu uma mensagem um perfil fake que criticava o seu corpo. “Você está extrema- sofrem com a violência verbal na internet. mente gorda. Seu corpo não está legal e A prática do hate speech, assim conheciquero dizer que você tem um longuíssimo do mundialmente, atinge não só pessoas caminho pela frente […] Olhei suas fotos gordas, como também minorias sociais: hoje de você surfando e está horrível”, di- negros, lgbtqia+, indígenas, pessoas com zia um trecho do texto da pessoa anônima deficiência, entre outros. que afirmou querer o bem dela. O problema pode chegar a casos igualEla rebateu as críticas e viu uma enxur- mente graves, como a exposição de falas rada de outros comentários odiosos che- de cunho nacionalista branco, como a degar em tempo real pela tela do celular. A fesa do nazismo e do fascismo – e então analista de qualidade e processos até ten- cria-se uma bola de neve de ataques às tou não se abalar, mas questionou todo o mesmas pessoas socialmente invisibilizaprocesso de aceitação do corpo que ela das. As redes sociais, principalmente em construiu nos últimos anos. Após refletir meio a uma pandemia que se arrasta por sobre o acontecimento, ela publicou um mais de um ano e meio, se tornaram terlongo desabafo no mesmo Instagram e reno fértil para a propagação do ódio. dormiu em seguida. O psicólogo Diego Barboza procura exAo acordar, viu que a sua publicação plicar por que as pessoas têm carregado recebeu milhares de curtidas e comentá- nas mãos um passe livre para descarregar rios de apoio. “Eu engordei bastante de- esse sentimento tão negativo e potencialpois que saí de um relacionamento abu- mente destrutivo em um período tão delisivo. Foi isso que me fez começar a surfar, cado na história da humanidade. Para ele, eu queria me sentir livre e viva”. o ódio sempre esteve presente no ser humano, e a internet serve como ferramenta À vontade para odiar para potencializá-lo. Quando o isolamento social é uma Vítima de discurso de ódio, Stefany até regra para se manter vivo, a entrada no hoje desconhece quem a ofendeu gramundo virtual é a alternativa para coexistuitamente. No entanto, ela faz parte de tir – para alguns, em especial, ter o um grupo cada vez maior de pessoas que
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Eu juro que a minha vontade foi de apagar as redes sociais, não postar foto minha em lugar nenhum. Como que uma pessoa se acha no direito de me criticar? Eu não preciso disso. Eu pensei por um momento em parar de surfar e sumir
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passe livre para dizer insultos. “Certamente o isolamento intensificou o uso das redes sociais, sendo inclusive o único meio de contato humano de muita gente. A internet possibilita que qualquer pessoa expresse sua opinião e, mesmo quieto, sem escrever um post, um simples ‘curtir’ expressa a ratificação da opinião de outrem e isso também é opinar”, declara Barboza. Ele adiciona: “Se é atualmente a única forma de comunicação, associado ao alcance de uma massa incomensurável e adicionado aos tempos desesperançosos que passamos, o resultado pode ser catastrófico para muita gente.” Real x virtual A facilidade de derramar a raiva vem acompanhada de uma impressão de impunidade dis farçada de liberdade de expressão, que jamais pode ferir os fundamentos assegurados na Constituição de 1988 de respeito à pessoa. De acordo com a psicóloga Milena Reis, os usuários de redes sociais tendem a criar dois mundos distintos: o real e virtual, que são separados por suas ações no tête-à-tête e na frente de um smartphone ou computador. Ela considera um erro.
Resumidamente, Milena acredita que o ódio está dentro do ser humano, independente da situação. “A internet é o reflexo da nossa sociedade. As redes sociais trazem essa noção de sermos diferentes [do mundo lá fora] quando, na verdade, não somos”, diz. A psicóloga ainda guarda uma previsão amarga do que ela espera para o mundo pós-pandemia, sobretudo porque repara que as vítimas são colocadas em uma caixinha de vitimistas e reprodutoras de mimimi. Diego Barboza diz ainda que os algoritmos, podem ter um viés racista. Em 2020, o Twitter entrou em uma polêmica depois usuários notaram que o algoritmo de fotos da rede social mostra mais brancos do que negros. Da mesma maneira, influenciadores pretos brasileiros perceberam que o Instagram prioriza o engajamento de publicações com pessoas brancas, e limita o alcance de conteúdos de negros. O ceo da InfoPreta, empresa de tecnologia voltada para a inserção de negros, lgbtqia+ e mulheres
Nós ouvimos que a pandemia veio para melhorar as pessoas. Eu acho que não. Elas são o que são e vão continuar assim se não observarem que precisam de mudanças
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Diego Barboza
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no mercado, Akin Abaz, aponta que as tecnologias discriminatórias possivelmente não são feitas de forma consciente. A presença massiva de homens brancos nessa área inviabiliza uma questão importante: a representatividade. O ódio traz lucros Fernanda Bruno, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ufrj) e conselheira da Data Privacy Brasil, acredita que, para além do racismo, as empresas de tecnologia têm lucrado em cima do discurso de ódio. Ela explica que essas plataformas têm se empenhado em impulsionar o engajamento na rede por meio de conteúdos que geram identificação com os usuários, e assim aumentar o seu tempo online
seja no Facebook, Twitter ou Instagram. Fernanda diz que ainda é cedo para saber se essas coordenadas são muito bem intencionadas ou se há um acidente no percurso que permite a entrega de vídeos, imagens e textos repletos de violência verbal. Em junho de 2020, mais de 1,2 mil marcas anunciaram um boicote de 30 dias ao deixarem de investir em publicidade no Facebook para alertar que a empresa melhorasse suas diretrizes de combate ao discurso de ódio. A ação ganhou o nome de Stop hate for profit (Pare de dar ódio ao lucro, em tradução livre) e trouxe avanços após a pressão, segundo líderes da campanha. Os destaques incluem esforços para banir grupos supremacistas brancos, remover conteúdos racistas e enquadrar a negação
Se não há diversidade dentro da parte de desenvolvimento, de inteligência, essas pessoas (minorias sociais, especialmente negros) serão excluídas. Existem múltiplos olhares que podem ser analisados dentro de um algoritmo Akin Abaz
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do Holocausto. “Esse engajamento é o que vai gerar mais conteúdos, que vai gerar mais dados. O algoritmo começa a criar problemas quando os critérios para o que chamam de otimização de experiência online são completamente reduzidos a s quando os critérios para o que chamam de pessoas prejudicadas, como o auto-ódio, um mecanismo de exclusão e destruição gerado pela depreciação de quem você é – além de outros prejuízos à saúde mental, como ansiedade e depressão.” Se conseguimos nos afastar de situações virtuais que não contribuem para o nosso bem-estar ou o bem-estar de outras pessoas. E se mesmo sem perceber, não sou eu que alimento o sistema de exclusão ou se sou eu o opressor.”
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Arte de Andreia Freire
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orgulho LGBTQIA+ não é sobre amor, nem consumo O que estamos de fato celebrando? Texto Rita Von Hunty Ilustração Cassandra Fountaine
Se as vozes que você tem ouvido não te contemplam, talvez o que falte seja a sua voz
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Drag Queen e professora
Chegamos a mais um mês sem a consciência de todo o processo histórico envolvido na data no qual celebramos a diversidade de gênero e sexualidade. O que estamos celebrando de fato? Este é um ponto ao qual sempre importa retornar: “amor é amor”, sem a politização de nossos entendimentos sobre seus significados e usos, resulta apenas em mais um slogan, puído por seu uso exaustivamente reproduzido e esvaziado de conteúdo. Junho marca o mês no qual ocorreu a famosa revolta de Stonewall. Ela tinha muito pouco a ver com amor e muito mais a ver com a decisão de enfrentamento a um sistema de injustiças políticas e sociais. Era sobre melhores acessos e plenitude de garantias civis. Com o tempo, os movimentos de orgulho e resistência foram apropriados
e cooptados, tanto por dentro quanto por fora da comunidade lgbtqia+, manobraram as passeatas de modo a torná-las mais palatáveis à opinião pública. Os atos, que eram demonstrações de poder e demanda por justiça social, foram tornando-se, aos poucos, outra coisa mais morna, identitária, festiva e lucrativa. Hoje é possível ver como uma data de celebração e luta é apropriada como forma de mercadoria ao estilo “feriado-lucrativo”. O Orgulho lgbtqia+ pode tornar-se uma espécie de Natal ou Dia das Mulheres, datas que foram gradativamente esvaziadas de seus conteúdos originais e preenchidas por ideais de festa e consumo, contrários às suas próprias origens. Nosso orgulho é sobre luta e é sobre emancipação. Ela continua...
dizer que nunca viu racismo denota ignorância Sistema funciona independentemente da vontade do sujeito
Minha luta diária é para ser reconhecida como sujeito, impor minha resistência em uma sociedade que insiste em negá-la Filósofa e feminista
Tomar as reflexões a partir unicamente de experiências individuais sem contexto pode produzir julgamentos precipitados. É muito comum vermos pessoas dizerem o quanto abominam o racismo, pois é algo absolutamente condenável do ponto de vista moral. Porém, essa mesma pessoa nunca presenciou uma situação de racismo ou se presenciou, foi um ou outro evento apenas em toda a sua vida. É muito importante perceber o racismo como uma estrutura. Trata-se do resultado histórico de séculos, muito antes de nós nascermos e independente da vontade do sujeito que o repudia moralmente. É um sistema que cria privilégios, se atualiza e busca manter a dinâmica da desigualdade. É impossível não ver o racismo, uma vez que ele organiza a sociedade.
Podemos perceber inúmeras manifestações de racismo e patriarcado, no número de mulheres negras como empregadas domésticas, herança direta do colonialismo. Nesse ponto já percebemos um distanciamento desse grupo de mulheres do grupo de mulheres brancas. Basta ligar a tv e ver o número de representações de pessoas brancas na tela. Ver o racismo, portanto, é ir além da manifestação de uma injúria racial de uma pessoa dirigida a outra. Ou seja, nunca diga que você não viu racismo, pois isso apenas denotará sua ignorância sobre o que é. O racismo, tal qual o patriarcado, é um sistema que extrapola as experiências individuais. Por isso, precisamos estudar e agir de forma antirracista em todos os espaços.
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Texto Djamila Ribeiro Ilustração Sacrée Frangin
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a dificuldade de manter relacionamentos Precisamos mudar algumas de nossas concepções Texto Rosely Sayão Ilustração Kaleigh McLelland
As famílias enfrentam dificuldades de convivência devido, em parte, a essa nossa dificuldade de relacionamento intergeracional
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Psicóloga
Neste último fim de semana, vi no algo Faz tempo que temos tido dificuldade que me interessou: “Veto de crianças em de manter relacionamentos intergeraciocasamento é moda, mas pode pegar mal nais. Temos, portanto, um bom convite à para noivos”. Ao ler isso, soube que muitos reflexão sobre o estilo de vida que temos noivos não querem a presença de crianças adotado. O fato é que perdemos a mão de em seu casamento, deixando isso muito como nos relacionar com pessoas de idades claro e em evidência no convite. distantes da nossa, principalmente as duas Imediatamente, me veio a mente um pontas geracionais –crianças e idosos– os momento: me lembrei de uma cerimô- mais prejudicados. nia de casamento à qual compareci, com Fica bem mais difícil viver dessa maneiconvidados de todas as idades. O que me ra, segregados em grupos etários. Por isso, chamou a atenção nessa celebração não podemos e precisamos mudar algumas de foi só a presença de todas as gerações, mas nossas concepções sobre a vida. Primeitambém o relacionamento entre todos. Fi- ramente, é preciso lembrar: todos fomos quei surpresa ao ver que jovens dançaram crianças, e todos seremos idosos. com idosos e adultos com crianças. Minha Finalmente: o relacionamento entre pesagradável surpresa teve um motivo: não soas com idades diferentes é enriquecedor têm sido comuns situações de relaciona- para todos os envolvidos. Criança não dá mentos sociais entre todas as idades, não é? trabalho, apenas: criança é vida!
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você quer aquilo que deseja? Essa é uma das grandes questões humanas
Inteligente é aquele com capacidade de criar um mundo melhor com suas próprias palavras Psicanalista
Essa é uma das questões fundamentais da psicanálise. Por que sabemos tão pouco do que somos e do que desejamos? Queremos realmente o que desejamos? Ou criamos mecanismos de repressão diante do que nos atrai mas apavora? Quando Freud escutou o inconsciente que se expressava nos sintomas e nas artes, tivemos a certeza de que racionalidade e livre-arbítrio não se casavam muito bem com outras camadas do ser. Mas hoje, gostaria de trazer essa conversa para desdobramentos contemporâneos. Como esta pergunta passa a circular em nossa cultura, as respostas a ela são as mais variadas e curiosas. Como diria Schopenhauer, “o homem é livre para fazer o que quer, mas não para querer o que quer”.
Nem sei se eu diria que o homem é livre para fazer o que quer. De todo modo, surgia aí uma nova sensibilidade subjetiva que começa a interrogar mais profundamente o desejo humano e nossa limitada consciência. E a tirar preceitos éticos disso. Enfim, vemos que, mais que uma das questões fundamentais da psicanálise ou mesmo da filosofia, essa é uma das grandes questões da humanidade. “Conhece-te a ti mesmo”, na boca de Sócrates. E hoje respondemos: “Conhece a ti mesmo, mas não muito, se não dá vontade de chorar”. Ou: “Beleza, me autoconheci e não gostei. E agora, o que faço? ”. E para fechar: “ok, já me conheci, agora acho gostaria de me desconhecer”. Nos resta, por fim, saber o que fazer com tudo o que vemos e não gostamos.
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Texto Maria Homem Ilustração Olivia Waller
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por que a política está perdendo os jovens? A política clássica há muito tempo deixou de interessá-los Texto Juan Arias
A política tenta conquistar os jovens esquecendo que eles são surdos à bajulação dos que lhes dão ordens e slogans
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Jornalista
Ilustração Cassandra Fountaine
Poderia ter surpresas porque em uma grande maioria, são apolíticos e não confiam nos partidos. Consideram-nos antiquados, o que não significa que odeiem a democracia. E sobretudo, não têm medo. Os jovens exaltam hoje, por exemplo, os ídolos do mundo da Internet. Se no passado o ideal do jovem, por imposição da sociedade, era poder herdar o posto seguro do pai em um banco ou uma empresa, hoje preferem criar eles mesmos o próprio negócio, começar do zero, guiados por seu instinto e criatividade. É cada vez mais difícil “politizar” os jovens pois a política clássica deixou de interessá-los. Gostam de mudar as coisas, são dinâmicos, ao mesmo tempo em que veem a política como estática. Querem mudar tudo, com pressa excessiva,
porque eles mesmos estão mudando biologicamente. Por isso gostam da velocidade, são os filhos do movimento, do instantâneo, llíderes de si mesmos. Eles têm os olhos colocados em um futuro que talvez não saibam definir nem entender, mas sabem que é esse o que querem para sua vida. Os políticos que pretendam conquistar os jovens com violência acabarão decepcionados, eles não conhecem o medo. Podem até ser amedrontados por um momento, mas depois surgirão com nova força. E o mais complexo é que nem mesmo são conquistados com os agrados fáceis. Eles gostam dos líderes que têm a marca da autenticidade, algo que os políticos e os adultos costumamos esquecer com muita frequência e facilidade.
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O que é lugar de Fala Djamila Ribeiro Parte da colação Feminismos Plurais, traz ao público questões importantes referentes aos mais diversos feminismos de forma didática e acessível. Com o objetivo de desmistificar o conceito de lugar de fala, Djamila Ribeiro contextualiza o indivíduo tido como universal numa sociedade cisheteropatriarcal eurocentrada, para que seja possível identificarmos as diversas vivências específicas e, assim, diferenciar os discursos de acordo com a posição social de onde se fala.
Pequeno manual antirracista Djamila Ribeiro Racismo, negritude, branquitude, violência racial, cultura, desejos e afetos. É uma reflexão para aqueles que queiram aprofundar sua percepção sobre discriminações racistas estruturais e assumir a responsabilidade pela transformação do estado das coisas. Há muitos anos se solidifica a percepção de que o racismo está arraigado em nossa sociedade: trata-se de um sistema de opressão que nega direitos, e não um simples ato de vontade de um sujeito.
AmarElo: é tudo pra ontem Documentário Emicida conecta o conteúdo de canções com um potente discurso por união, amor e resistência. Aborda, de forma tão envolvente quanto didática, a história da cultura negra no Brasil. Isso é feito por meio da apresentação de personagens cruciais, alguns deles pouco conhecidos do grande público.
Ensinando a transgredir bell hooks Repleto de paixão e política, associa um conhecimento prático da sala de aula com uma conexão profunda com o mundo das emoções e sentimentos. Sobre Eros e a raiva, o sofrimento e a reconciliação e o futuro do próprio ensino. Segundo Bell Hooks, “a educação como prática da liberdade é um jeito de ensinar que qualquer um pode aprender”.
Sociedade do cansaço Han ByungChul Pessoas se cobram cada vez mais para apresentar resultados. Em uma época onde poderíamos trabalhar menos e ganhar mais, a ideologia da positividade opera uma inversão perversa: nos submetemos a trabalhar mais e a receber menos. Essa onda do “eu consigo” tem gerado um aumento significativo de doenças como depressão, transtornos de personalidade, síndromes como hiperatividade e burnout.
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Disclosure Documentário Traz uma leitura riquíssima sobre transgêneros em Hollywood. Entrevista apenas pessoas trans que atuam nessa indústria, tão desrespeitosa às questões de gênero. Dentre os entrevistados, há nomes proeminentes, como Laverne Cox (Orange is the new black), o ator Chaz Bono, a diretora Lilly Wachowski (Matrix e Sense 8), Yance Ford (diretor, primeira pessoa trans a ser indicada ao Oscar) e Angelica Ross (American Horror Story), dentre vários outros.
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Vivemos em um mundo de famílias fragmentadas. Acreditamos que, nessa nova era da comunicação, há um imenso bloqueio de relações , principalmente relações entre pais e filhos. Aqui, temos a oportunidade de apresentar o quão longe o fruto caiu do pé… mas calma, de maneira empática e delicada. Com abordagens que priorizam a compreensão e não a revolta do leitor. Na Fruto, acreditamos na força de cada filho e seu lugar de fala na sociedade. Somos uma revista que apoia a diversidade e aliberdade de expressão, sem necessariamente tomar um partido político. Neste novo canal de contato tentamos, mais do que expor temas, ser um instrumento de diálogo em que cada rede de apoio poderá ter acesso a diversos assuntos relevantes da juventude. Procuramos assim, dissolver essas barreiras distanciais que insistem em sobreviver.
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