Guilherme Tripa, São Conrado.
Não suje Reciclável. a cidade.
Gustavo Cabelo
40 8W: Praia da Macumba O Espaço mais democrático do Surf do Rio de Janeiro. 50 Inverno no Rio Altas fotos da estação mais esperada do ano. 58 Entrevista Monster ataca na redação da Surfar.
64 Trip Surfar Conheça a esquerda mais extensa da América do Sul. 68 Nas Oficinas The Originals: a volta das pranchas que marcaram época. 70 Miss Surfar Uma suiça com o jeitinho brasileiro.
76 Surfar Art Tiúba apresenta seu quiver artístico. Stephan Figueredo descendo a montanha russa. Itacoatiara.
A energia que vem do mar De onde vem essa energia que atrai tanta gente para o mundo do surf? São milhares de pessoas que acabam entrando nessa onda, seja consumindo surfwear, lendo uma revista, vendo um filme de surf (agora a novela das 7 da TV Globo), ou torcendo para o Kelly Slater, não importa, quase todo mundo tem uma história pra contar da nossa tribo. Já se foi o tempo em que rolava aquela imagem negativa de que surfista é vagabundo, não estuda e só quer pegar onda. Cada vez mais o surf está virando um estilo de vida, onde todos procuram o bem estar e a saúde na prática desse esporte, e é claro, pela forte ligação com a natureza. Principalmente nas cidades grandes, o refúgio para a correria do cotidiano acaba sendo a praia. Acreditamos que a Revista Surfar ajuda cada vez mais a aumentar a ligacão do esporte com esses milhares de simpatizantes, levando um pouco dessa energia do mar para o dia-a-dia agitado do Rio de Janeiro. Então vamos pra dentro d´água Surfar! José Roberto Annibal.
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Nesta: Marcelo Trekinho nas primeiras luzes do amanhecer, São Conrado. Na capa: Guilherme Tripa estendendo os limites em São Conrado. Fotos: Fábio Minduim
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Com esta bomba, Evaristo “Kiko” Ferreira entrou na briga pelo prêmio de maior onda dropada no Brasil nessa temporada. Itacoatiara.
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AndrĂŠ Cyriaco
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Arquivo HB
Rodrigo “Monster” Resende dropando uma das maiores ondas que já surfou na remada, em Todos os Santos, México. Alguém se habilita a dizer o tamanho?
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Fotocom.net Divulgação
Carlos Burle dropando atrás do pico em Dungeons.
Spanner, campeão sem patrocínio.
Esquenta a luta pelo título
Brasil faz história na África A Cidade do Cabo, na África do Sul, foi palco no último mês de julho do Red Bull Big Wave África, um dos eventos de ondas grandes mais tradicionais do calendário mundial. Big riders dos quatro cantos do planeta entraram para a história na edição que celebrou o aniversário de dez anos do evento, ao protagonizarem um legítimo espetáculo de big surf na remada, com ondas de até 20 pés sólidos no pico de Dungeons. Carlos Burle, único brasileiro convidado, terminou a competição na segunda colocação, totalizando 23.5 pontos na grande final, contra 26.2 do vencedor, o local Grant “Twiggy” Baker. Burle ainda levou US$5 mil (cinco mil dólares) pelo tubo mais profundo do Red Bull BWA 2008.“Foi sensacional participar mais uma vez do Red Bull Big Wave África. O evento está fazendo história, cada vez mais tradicional e reconhecido mundialmente”, disse Burle. Segundo ele, o campeonato rolou em condições perfeitas para o pico. “Na verdade, a onda em Dungeons não é perfeita como em Jaws ou em Mavericks, mas é uma onda extremamente difícil, balançada, pesada e muito casca-grossa.” O big rider definiu Dungeons como uma das ondas mais desafiadoras que já surfou e um dos lugares mais difíceis de competir. “Foi uma maratona. Ir até a final é puxar o limite da resistência, entre 8 horas no mar, baterias, balanço no barco e ondas monstruosas na cabeça e, depois de tudo isso, só torci o joelho direito e nem sequer quebrei uma prancha. Aliás, foram várias delas quebradas durante o evento, 24 ao todo, além de três contusões de competidores. Mas valeu o resultado final, estou muito feliz com minha performance. Chegar aos 40 anos e poder competir em igualdade de condições com os garotos foi muito bom!”, conclui Burle em seu depoimento exclusivo para a redação da Surfar no seu retorno ao Brasil.
O Circuito Profissional Carioca ganhou força com a entrada da Vivo que realizou duas etapas simultaneamente nos meses de julho e agosto, no Arpoador e em Saquarema. A primeira etapa o cabofriense Victor Ribas, ex-top da elite mundial, mostrou que conhece bem o pico e deu um show de surf. Além de ter conquistado a vitória desta etapa, Vitinho, conseguiu realizar um sonho. Seu filho Lucas, de cinco anos, o viu competir. “Nunca tive oportunidade de levá-lo aos campeonatos, é uma motivação a mais para mim. O sonho de todo pai surfista é levar o filho para levantar o troféu”, comentou o campeão pouco tempo depois de falar para o filho que iria vencer o evento. Na segunda etapa a praia de Itaúna não decepcionou. Com excelentes ondas de 1 metro e vento terral o nível de surf foi alto. O carioca Jorge Spanner surfou com precisão e mesmo sem patrocínio destruiu as ondas de Saquá, marcando a maior somatória do campeonato, 18, 65 pontos. Guga, líder do ranking carioca garantiu o segundo lugar, seguido do niteroiense Guilherme Sodré e do cearense Adilton Mariano, que cavou a única nota 10 na semifinal. O Circuito Vivo de Surf Profissional, que terá etapa decisiva na Barra da Tijuca, de 7 a 9 de novembro, ainda contou com a participação dos alunos do projeto social Especialmente Surf, em parceria do Instituto Benjamim Constant (IBC) e a Escola Carioca de Surf, que proporcionaram 12 deficientes visuais o prazer de deslizar sobre as ondas. Ranking Profissional do Rio de Janeiro: 1 2 3 4 5 6 7 8 9
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Gustavo Fernandes - RJ - 4.110 Jorge Spanner - RJ - 3.540 Alexandre Almeida - RJ - 3.280 Guilherme Sodré - RJ - 3.050 Victor Ribas - RJ - 3.000 Anselmo Corrêa - RJ- 2.880 João Guttemberg - RJ - 2.840 Eduardo Rollins - RJ - 2.830 Angelino Santos - RJ - 2.700
Palestras abrem discussão sobre mercado do Rio Alunos do curso Gestão em Negócios de Surf, da Universidade Estácio de Sá, promoveram o Ciclo de Palestras Surf e Desenvolvimento, entre os dias 18 a 21 de agosto. O evento contou com convidados importantes do cenário surf. Rico de Souza, contou sua visão e perspectivas sobre o mercado empreendedor do surf no Brasil. No segundo dia, os alunos do curso e o público presente participaram de uma discussão com a presença do diretor-executivo da ABRASP, Marcelo Andrade. O debate trouxe a tona temas relevantes do mercado surf competição. Já no terceiro dia, foi a vez dos jornalistas Diogo Mourão (Media Guide), que palestrou sobre a importância da assessoria de imprensa e seus retornos, e em seguida Zé Roberto Annibal (editor da Surfar) falou da sua experiência na Revista Hardcore, onde trabalhou por 15 anos, e o lançamento da primeira revista de surf gratuita no Rio. O último dia foi fechado com a presença do empresário Marcelo Plaisant, que atualmente está à frente da rede de lojas WQSurf. Ele contou como conseguiu em pouco tempo abrir 10 lojas na zona norte, o seu trabalho com o surf e a necessidade de um plano estratégico para entrar nesse negócio. O debate proporcionou uma ampla discussão sobre a importância das marcas voltarem a investir no Estado. A Federação também foi alvo de duras críticas de todos os lados pela falta de organização para captar novos patrocínios aos eventos no Rio. Na platéia alguns representantes das marcas Quiksilver, Rip Curl, Vans, Rusty, entre outros do meio do esporte.
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Os paulistas levaram, mas Yan Guimarães venceu em casa.
Rio de volta ao topo Altas ondas de até um metro e meio presentearam a final do Circuito Brasileiro de Surf Amador, em Saquarema, de 5 a 7 de setembro. O local Yan Guimarães mostrou que domina bem o pico e ficou com o título da etapa com a maior nota do campeonato, 10 pontos nas triagens. A equipe de São Paulo mostrou surf afiado no último dia do Maresia de Surf Amador, que rolou com muito sol. Os paulistas, além de vencerem a etapa faturaram também o título do circuito. O time do Rio de Janeiro, que competiu em casa, ficou com o segundo lugar e terminou como vice-campeão, na classificação final. Yan, que agora faz parte da Confederação Brasileira de Surf (CBS), foi convidado para ocupar uma das vagas do time brasileiro que irá disputar o mundial da International Surfing Association (ISA), em Portugal. “O mar estava muito bom, apesar de ser uma onda muito difícil. O fato de eu ter nascido aqui e conhecer bem o pico me favoreceu bastante. Não me desempenhei como queria ao longo do curcuito, mas como dizem, fechei com chave de ouro”, disse Yan. O título brasileiro Open, foi para o atleta da Bahia Leandro Alberto, de 21 anos . Na disputa entre equipes, São Paulo virou o jogo e assumiu a liderança com cem pontos, contra 94 do Rio de Janeiro. As disputas por equipe rolou no sábado (6/09), com ondulações quebrando em cerca de três metros. “Apesar de não ter vencido a competição, tivemos atletas em cinco, das seis finais do circuito, com dois vencedores, dois segundos colocados e um quarto lugar”, disse Abílio Fernandes, técnico da equipe carioca. (resultados em www.feserj.com.br).
Barra decide campeão do SuperSurf É cada vez mais acirrada a briga pelo título do Super Surf 2008. Desta vez, a arena foi a praia de Itamambuca, litoral norte de São Paulo, onde aconteceu a quarta etapa, entre os dias 9 e 13 de julho. No campeonato, que este ano está com novo formato igual ao WCT, rolou altas ondas de até 1.5 metros quebrando forte no outside. A rivalidade entre paulistas e cariocas deu um toque emocionante à final. E quem levou a melhor foi o local Renato Galvão, que contou com o apoio da torcida e da sua família. Galvão está confiante na briga pelo título brasileiro. “Tentei variar bem nas manobras e surfar fluído, mas sempre com bastante pressão. Estou indo para a Barra com chances de brigar pelo título”, comemorou Renato, que ainda luta na justiça com Jihad pelo título da temporada passada. O atual campeão carioca Gustavo Fernandes representou bem o Rio, com suas batidas de backside garantiu o segundo lugar. “O campeonato foi eletrizante. Na final não consegui me achar, entrei um pouco atrasado na última bateria, o que me atrapalhou um pouco. Agora é focar na última etapa e pensar em ser campeão brasileiro”, disse Guga que, aos 25 anos, também pode conquistar o título de bicampeão carioca. No Feminino, a cearense Tita Tavares sagrou-se tetracampeã brasileira por antecipação. Mas na final quem se deu bem foi a ubatubense Suelen Naraisa, que conquistou o tricampeonato da etapa. A última etapa do circuito acontece na Barra da Tijuca, entre os dias 24 a 28 de setembro.
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É constante a presença do Onda Boa nas praias cariocas. O projeto - que conta com ações vinculadas entre as principais escolas de surf do Rio, como a Escola Carioca de Surf Pedro Cunha, a de Ipanema Paulo Dolabella e a do Pedro Muller na Barra – está cada vez mais voltado para o seu principal objetivo, formar cidadãos. Audacioso, o projeto tem como meta fazer com que crianças e adolescentes não se percam no submundo das drogas e do álcool. Todo o material didático é constantemente reciclado, sempre buscando e adquirindo novas informações, além da criteriosa escolha dos profissionais envolvidos, que segundo o comissário Lula Menezes, deve servir de exemplo para as crianças. “O retorno é quando os jovens buscam de livre e espontânea vontade, pois assimilam e absorvem melhor as informações”, disse Lula.zv Para Pedro Cunha, é fundamental que os pais se integrem no projeto de aprendizado junto com o filho, para viabilizar um maior diálogo em casa. “Estamos dando início à nossas ações, entrando, em contato com a garotada. O objetivo é envolver ainda mais os alunos com o esporte, além de proporcionar um melhor convívio familiar”, disse Cunha, da Escola Carioca de Surf. O próximo desafio é viabilizar essa inserção também entre os jovens das comunidades carentes. “Temos previsão para começar no final do ano a trabalhar com as crianças das comunidades do Terreirão, no Recreio, e Cidade de Deus”, disse Pedro Muller empolgado com a iniciativa. O Onda Boa está sempre presente também nos campeonatos que rolam no Rio, mas para ter acesso às palestras e ao material didático basta solicitar à comissão organizadora através do telefone (21) 3814-1375 e 38142095 ou através do site www.blogdaprevencao.com.br. Por Viviane Freitas
O Homem da Capa Para quem não conhece, o autor da nossa tão comentada capa (julho/agosto 2008) é o renomado fotógrafo niteroiense André Cyriaco. Com suas lentes sempre bem posicionadas nos maiores swells do Rio de Janeiro, Cyriaco é presença garantida na Surfar. E quem quiser conferir seu trabalho é só acessar o site www.itacoatiara.com
Guga atacando de backside em Itamambuca.
James Thisted
Diogo Freire
Esporte na luta contra as drogas
James Thisted
Resultado da Promoção Electra Rodolfo Machado e Gabriela Sales foram os grandes vencedores da promoção Electra e além de levar para casa os foguetes shapeados por Mário Flávio ainda vão poder treinar com os surfistas Ian Cosenza e Stalney Cieslik, durante uma semana no CT Surf da Barra. Parabéns!
Rodolfo Machado, Puerto Escondido.
Gabriela Sales, Arpoador.
Qual a sua praia preferida do Rio?
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Jessica Lopes, 15 anos Estudante.
Felipe Figueiredo, 25 anos Administrador de Empresas.
Gosto da Prainha e da Zona Sul que, pra mim, são as mais bonitas.
São Conrado, melhor onda do brasil, melhor visual do Rio de dentro d’agua e nada melhor do que surfar em frente de casa.
Bruno Araújo, 17 anos Estudante.
Álvaro Freitas, 25 anos Veterinário e Fotógrafo.
Prefiro a Prainha e Grumari pelas ondas e por serem menos urbanizadas.
Prainha, porque é aonde você vê a preservação da natureza diante de uma grande cidade.
Roberta Muniz, 19 anos Estudante Gosto da Reserva pela tranqulidade, e por ser a praia mais vazia.
Paola Ribeiro, 18 anos Estudante. Ipanema é a que mais gosto pelo astral, vou sempre.
Bruna Regazzi 20 anos Estudante de Direito. Eu me identifico mais com a Prainha, pelo público que é mais selecionado.
Gustavo Assunção, 25 anos Comerciante. Gosto do posto 6 da Barra, pela comodidade mesmo e meus amigos estão todos lá.
Fotos: Annibal
Midia Bacana
Midia Bacana
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4 Fotos: Annibal
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Viviane Freitas
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Annibal
Luciano Cabal
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Álvaro Freitas
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Luciano Cabal
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Grimaldi Leão
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Alan Simas
Viviane Freitas
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Viviane Freitas
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1- A ex-BBB Natália Casassola aprovou a Surfar 2- Beach Girls 3- Guga Fernandes e família no Super Surf 4- Trekinho checando as últimas novidades do surf 5- O diretor do Sportv Claudinho Moraes e o apresentador Marcos Bocayuva 6- O locutor Marcos Bucão e Marcelo Andrade (ABRASP) 7- Difícil é manter a concentração na sala de imprensa 8- Igor Moraes, no Brasileiro Profissional 9- Stephan Figueiredo e Paulo de Castro (Blackwater) 10- A descolada Marina Werneck 11- Victor Ribas comemorando a vitória com seu filho Lucas 12- Quanta simpatia! Natasha e Mila, Circuito Vivo 13- Galera da 8W marcando presença no Arpoador 14- Mais um candidato para o surf,Marinho Filipo e Alexandre Pretão (Favela Surf Clube) 15- A Miss Surfar Mariana Motta na redação 16- O campeão da 2ª etapa do Vivo, Jorge Spanner e o amigo Guilherme Sodré 17- Sangue de surfista, veia de político, Leonel Brizola “Brizolinha” 18- O time de surf da 8W 19- Silvana Lima lifestyle 20- Os amigos na Prainha. Roni, Renan Pitangueiras, Beto Cavaleiro e Paulo Proença 21- O Rio é uma maravilha!
Supremacia Brasileira nas Ondas Grandes
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Em 2003, mais precisamente em janeiro, aconteceu na ilha havaiana de Maui o primeiro grande evento de surf rebocado mundial, o Tow-In World Cup. A competição rolou em condições épicas na baía de Pe’ahi, no pico de Jaws, com ondas que chegaram aos 50 pés sólidos e, mais uma vez, nosso time de ondas grandes roubou a cena. O carioca Rodrigo Resende foi o grande vencedor em parceria com o havaiano Garret MacNamara. Já a dupla 100% brasileira, Carlos Burle e Eraldo Gueiros, finalizaram o evento na terceira posição. O Tow-In World Cup é considerado o primeiro campeonato mundial de tow-in, fato que tornou Resende o segundo brasileiro a sagrar-se campeão mundial de ondas grandes na história do surf. Nos anos seguintes pude acompanhar mais de perto a consolidação da hegemonia do surf brasileiro no cenário internacional, com nossos atletas de ondas grandes aparecendo sempre nas primeiras colocações das diversas categorias do XXL Big Wave Awards. Além do vice-campeonato mundial de tow-in de Burle e Eraldo em 2007, o terceiro em 2003 e o segundo lugar em 2008, alcançados por Carlos Burle no Red Bull Big Wave África. Bem como o segundo lugar de Resende e Yuri Soledade, e o terceiro lugar de Eraldo e Pato, conquistados no Nelscott Reef Tow-in 2007, em Oregon, EUA. Será ainda que eu preciso de mais embasamento para afirmar que o Brasil é reconhecido internacionalmente no cenário surf principalmente pelas performances de seus surfistas de ondas grandes? Temos, além dos homens no big surf mundial, ninguém menos que Maya Gabeira. Bicampeã do XXL, Maya com apenas 21 anos é a única mulher a desafiar ondas gigantes nos picos mais temidos do planeta. E digo mais sem pestanejar, essa menina carioca vai reinar no big surf feminino por muitos anos, surpreendendo-nos a cada novo swell gigante ao botar para baixo em morras cada vez maiores. Posso ser suspeito para comentar o desempenho dos atletas brasileiros no cenário mundial das ondas grandes, mas a grande realidade é que ao longo dos últimos dez anos o surf brasileiro conseguiu projeção e reconhecimento internacional através de nossos big riders, que chegaram ao topo do surf mundial com performances consistentes nas mais temidas bancadas de ondas grandes do planeta. Isso é fato incontestável. Go Big!
Por Roger Ferreira Divulgação
Arquivo Pessoal
Lembro-me bem quando assisti em 1998 a matéria sobre o primeiro campeonato mundial de ondas grandes da International Surfing Association (ISA). Fiquei chocado, completamente atônito ao ver imagens sensacionais de Todos os Santos quebrando gigante. O som punk eletrônico arrebatador do Prodigy dava o tom perfeito para aquele que é considerado até hoje o evento com as maiores e mais assustadoras ondas surfadas na remada. Carlos Burle e Rodrigo Resende, nossa equipe no México, mostravam para o mundo que dali em diante o Brasil estaria definitivamente no topo. Burle, com um verdadeiro show de surf nas morras mexicanas, faturou o título, e Rodrigo Resende foi o quinto colocado. O que tornou o Brasil vencedor por equipe em Todos os Santos. Na época gravei a matéria em VHS e assisti várias vezes, prestando atenção em todos os detalhes. Burle venceu o evento no México de forma heróica e incontestável. Digo heróica, pois, além do atleta vir de um país onde não temos incidência de grandes ondulações, venceu o evento após tomar um caldo incrível e ser resgatado no limite, o que lhe rendeu um corte profundo no rosto. O atleta quebrou também todas as suas pranchas, sendo forçado a finalizar a competição com uma 9’6 emprestada pela equipe japonesa. Poucos anos após o memorável evento no México teve início a era do tow-in, que levou o surf de ondas grandes para um novo patamar. Com o início dessa nova modalidade, Carlos Burle seria mais uma vez o centro das atenções no universo do surf mundial. Em novembro de 2001, ele e seu parceiro Eraldo Gueiros entraram para a história ao desafiarem o maior swell já surfado em Mavericks, situado na baía de Half Moon Bay, na cidade californiana de São Francisco, norte dos EUA. Mavs é um dos picos de ondas grandes que mais me chamam atenção pelas condições adversas como água e clima gelados, além de ondas extremamente pesadas e tubarões brancos rondando regularmente o line up. Foi lá que, no dia 21 de novembro de 2001, Eraldo rebocou seu parceiro Burle para uma morra gigante estimada em 68 pés (22 metros aproximadamente). A maior surfada até aquela data em todo o planeta, consagrada no ano seguinte como a grande vencedora do XXL 2002, o prêmio máximo do big surf mundial. Vale ressaltar que naquela tarde de novembro a dupla brasileira era a única no mar desafiando as maiores ondas já surfadas no pico californiano. O Brasil se tornaria mais uma vez campeão mundial, graças à performance de seus surfistas de ondas grandes.
Roger Ferreira é jornalista do CarlosBurle.com, assessor de comunicação e agencia atletas.
Para o lançamento da Surfar, rolou no final de julho, num sabadão, uma festa vip total com muita comida e bebida liberada a noite inteira. O clima não poderia ter sido melhor, todos que estiveram presentes comemoraram com muita energia a primeira revista de surf grátis do Rio. Apoio:
Fotos: Luicano Cabal
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1- O editor Zé Roberto Annibal recebe os shapers Victor Vasconcellos e Thiago Cunha e o artísta plástico Marítmo 2- O shaper Mário Flávio, Bruno da CT Surf, Stanley Cieslik (atleta) e Rick (locutor) 3- As gatas Bruna Guimarães, Aline Rocha, Michelle Andrade, Isis Aquino e Marcela Pimenta 4- O campeão Guga Fernandes e a esposa Nayara 5- Quanto charme... 6- A bela e as feras. Roger Ferreira (colunista), Vivi Freitas e Gerson Filho (Mídia Bacana) 7 - Rodrigo Tirré, Guilherme Tripa e Marcelo Braz 8- Os editores Grimaldi Leão e Annibal 9- Hélio Bittencourt, Rafael Neto e esposas 10- O técnico de surf Pedro Robalinho com a namorada Rafaela 11- A galera da Bintang, Ricardo Viana, Bill, Victor Jóia, Victor Gitirana e Rodrigo Kotait 12- Mila,Gabi e Perceva 13- Nova geração, Filipe Braz, Tiago Barcellos e Patrick Barcellos 14- Michelles e amiga 15- Descontração marcou o clima da festa 16- Cariocas brindam o lançamento da Surfar 17- Camila Estrela, jornalista da 1ª edição da Surfar 18- Claudio Emerick e esposa 19- DJ Leo comandando as pick-ups 20- Zé Roberto com o designer gráfico da Surfar, Marcos Myara 21- Stephan “Fun” Figueiredo veio do Hawaii para prestigiar a Surfar 22- Rodrigo Oliveira da Unity e Juliana Magalhães Costa 23- Os donos da 39 house, Guilherme Braga e sua mãe Margaret Vellozo 24- Cachaça Montanhesa fez a cabeça da galera 25- Staff de peso da Surfar 26 até 29 - Girls, girls, girls...
Texto: Robalinho
Nos dias de hoje está cada vez mais difícil surfar em praias sem localismo. Mas num canto de praia do Rio, ao lado da pedra da Macumba, existe um espaço democrático no outside, onde surfistas de vários estados, que vieram morar na cidade, se divertem sem os famosos brigões de plantão. Esse pico se chama 8W, referência à rua em frente onde a galera pega onda. Grandes nomes do surf evoluíram ali para ganhar eventos em todas as partes do planeta. Silvana Lima, Heitor Alves, Pablo Paulino, Jano Belo, Lucinho Lima, entre outros, são alguns dos atletas que treinam no pico para destruir as ondas mundo a fora. 40
Manoel Campos
O paraibano Jano Belo veio para o Rio atrĂĄs das ondas fortes. A mudança de estado parece que deu resultado, ele esteve o ano inteiro entre os lĂderes do Super Surf.
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Manoel Campos
No Brasil se dá nome de pessoas a quase todas as ruas do país. Na praia da Macumba isso não é diferente. As ruas anteriores, como a 4W, a 5W e a 6W, já perderam sua forma simples de serem identificadas e agora têm nomes bem mais complicados. No entanto, a 8W permanece firme e forte, conhecida da mesma forma pelos correios e pela comunidade local. Acaba, assim, que o pico recebe o mesmo nome. As opções de “valas” são variadas e se pode surfar ondas bem diferentes umas das outras nos arredores. Essa região, entre a pedra que divide a praia da Macumba no meio e o “curvão”, que vem logo em seguida, deve ter uns 400 metros de extensão e se torna um lugar, de certa forma, reservado e preservado. Grandes nomes do surf brasileiro estão diariamente procurando as melhores condições de treino nas ondas da 8W. Assim como acontece em Florianópolis, o Rio de Janeiro também recebe vários surfistas profissionais e amadores em busca de patrocínio, condições de treinamento e proximidade das competições do eixo Rio-São Paulo. Eles acabam fixando residência e até constituindo famílias por aqui. É uma forma de êxodo bem conhecida pelos cariocas. Pedro Henrique e Silvana Lima se classificaram para o WCT treinando com muita freqüência naquele local. Pablo Paulino já se tornou bicampeão mundial Pro Junior e estaria dentro da lista do WCT 2009 se o WQS acabasse hoje. Diversos atletas do Super Surf como Jano Belo também estão sempre presentes. O pico passa despercebido por algumas pessoas, talvez por não conhecerem bem o lugar ou por preferirem ir direto para o Curvão, Prainha ou Grumari e isso ajuda a distribuir melhor o “crowd”. Pois, estão todos em busca do mesmo objetivo: ondas para surfar. A comunidade do surf de lá é bem unida. Existe um clima cordial e de tolerância entre todos. São raros os incidentes relativos a qualquer tipo de localismo, nada importante. A rua também tem figuras diferentes que dão um tom de mascotes da galera. O Biro-Biro é um cão vira-lata conhecido por todos. Vive pela rua e está sempre com o pessoal checando o pico de manhã cedo, já virou rotina. Para completar, ele ainda tem uma mancha nas costas que parece um número 8. Parece brincadeira, mas tem até um pit bull que surfa lá com seu dono. São muitos os dias clássicos com vento terral e bons tubos na maré seca. A ondulação que funciona melhor ali é de sudeste, já o vento ideal é o norte/nordeste, mas pode estar até de leste, que ainda assim não deforma a onda, a não ser se for uma “lestada” realmente forte. O pico é bem constante, mas tende a não funcionar na maré cheia, quando o “back wash” acaba atrapalhando. Infelizmente a praia da Macumba principalmente da pedra em diante, sofre também com a ação desordenada do homem em relação à natureza. A faixa de areia da praia está cada vez menor e isso já traz prejuízos grandes à qualidade das ondas nessa hora da maré. Com isso, o mar acaba invadindo as pistas e faz uma bagunça por falta do espaço natural que existia antes. Quem treina ali, coloca a remada em dia, pois as ondas têm na sua força uma grande característica. Alguns bancos de areia se formam, definindo os picos, mas dificultando a volta ao fundo. As ondas que ficam em frente a grande pedra de Itapoá (aquela que divide a Macumba), os bancos que formam as valas e os surfistas dali, proporcionam um show de surf!
Martins Bernardo até faz parecer fácil esse aéreo reverse de backside.
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Ă lvaro Freitas
Manoel Campos
O baiano FlĂĄvio Costa aprimorando sua linha.
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Pedro Monteiro
O Cearense Pedro Michel trocou o TitĂŁnzinho para fazer carreira no Rio. Treinando ao lado de bons surďŹ stas ele estĂĄ sempre puxando o limite e evoluindo. Ao lado, a galera da 8W reunida para mais uma surf session.
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Manoel Campos
Manoel Campos
Ă lvaro Freitas
Manoel Campos Pedro Monteiro
O top Heitor Alves destruindo o lip da Macumba.
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Pablo Paulino mostra que nĂŁo estĂĄ para brincadeira.
Manoel Campos Ă lvaro Freitas
Ulisses Meira decolando em mais um aĂŠreo.
Lucinho Lima com a turbina ligada.
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Fotos: Manoel Campos, Luciano Cabal, Alan Simas, Beto Paes Leme, Álvaro Freitas, Jurandréia Santos, Zeca Cascão.
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Na estação mais surf do ano, não poderíamos deixar passar batido as centenas de imagens que chegaram na redação da Surfar. O Inverno foi bem servido de swells, quem entrou dentro d’agua e fez a diferença, garantiu seu espaço aqui. Esse é nosso objetivo, mostrar o que o Rio tem de melhor, ALTAS ONDAS !!! 50
André Cyriaco
O momento certo e o ângulo perfeito! Guilherme Sodré, Itacoatiara.
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Marcelo Piu
Ă lvaro Freitas
Luiz Blanco Álvaro Freitas
Ao lado: Na Prainha, Ricardo Alla conhece os atalhos de uma boa onda e Pedro Scooby se divertindo no Recreio. Nesta: Jerônimo Vargas verticalizando em Grumari.
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Marcelo Piu Alexandre “Dadazinho” Almeida sabe bem o caminho da felicidade. Ao Lado: Claudio Emerick simplesmente deixando água cair da água cair sobre sua cabeça. Ambas no Recreio.
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Marcelo Piu
Álvaro Freitas Álvaro Freitas
Erick de Souza, explodindo tudo que via pela frente. Prainha.
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Ian Guimarães, surf de linha jogando muita água nas esquerdas de Itaúna.
Álvaro Freitas Álvaro Freitas
Acima: Biel Garcia, voar é a especialidade da firma!, Recreio. Nesta: Manhã de muito surf e sol no canto do Recreio. Na velocidade, Daniel Hardman.
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Quem conhece Rodrigo Resende sabe que ele é uma pessoa que está sempre de bem com a vida. Sorriso estampado no rosto, dificilmente esquenta com alguma coisa. Médico de profissão e surfista de alma, Rodrigo poderia muito bem estar nos hospitais dando plantão. No entanto, Monster, como é conhecido, preferiu seguir outro caminho: desafiar as maiores ondas do mundo. Antes disso, se profissionalizou em 91, mas a faculdade de Medicina o fez abandonar as competições, retornando num evento de ondas grandes, no ano de 98, em Todos os Santos, onde conquistou a 5º colocação e foi campeão por equipes. Em janeiro do ano seguinte, Monster despontou no big surf após descer uma bomba em Waimea e faturar o Big Trip Hawaii, prêmio oferecido pela Revista Trip ao brasileiro que dropasse a maior onda na temporada. Após levar por três anos consecutivos o prêmio (99-2000-2001), ele ganhou projeção internacional ao se tornar campeão mundial do Tow-in World Cup, em Jaws, na Ilha de Maui, ao lado do havaiano Garett McNamara. Daquele primeiro campeonato de Todos os Santos, já se passaram 10 anos de dedicação no big surf. Hoje Resende é um cara respeitado em qualquer parte do mundo e seu nome está na lista dos surfistas mais corajosos desse planeta. Após um almoço no Alfa Barra, sede da Revista Surfar, Rodrigo falou de alguns pontos polêmicos que ninguém jamais havia dito. É, mas para quem dropa ondas de 60 pés, não seria um gravador ligado que iria intimidá-lo! Por: José Roberto Annibal
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Ă lvaro Freitas
Começou a bater muito mais na mídia a busca da onda de 100 pés. Todo mundo está falando do prêmio de um milhão de dólares pra quem pegar essa morra. Essa repercussão muitas vezes ajuda, porque através dela se consegue patrocínio, mas também faz com que muitos queiram surfar ondas gigantes sem nunca ter remado numa de 20 ou 30 pés. Tem gente que pega o jet ski e já quer surfar 40 pés, sem amor ao esporte, apenas pela foto e para dizer que surfou. Nada por satisfação pessoal, mas para aparecer mesmo. Os surfistas que desafiam as maiores ondas do mundo são reconhecidos como deveriam aqui no Brasil? Lá fora são valorizados, mas aqui no Brasil muito pouco. É necessário trabalhar bem o marketing. Este ano consegui fazer umas duas pranchas boas, porém estamos sempre atrasados neste sentido em relação aos gringos. O equipamento é mais caro que o convencional, o que acaba dificultando (uma prancha de tow-in custa, em média, U$ 1800 dólares). Os brasileiros têm mais raça e pouca estrutura. Após dez anos nessa batalha, só agora posso dizer que tenho um material legal, que estou bem estruturado para ir lá e arrebentar. As marcas gringas dificilmente patrocinam alguém no Brasil, os heróis são sempre de lá, nunca daqui do terceiro mundo.
Os últimos campeonatos tiveram resultados um pouco duvidosos, como você enxerga isso? Se você for ver o evento XXL Global Big Wave Awards que rola todo ano, vai notar que é uma palhaçada. Isso desde o ano (2005) que o Danilo Couto merecia ganhar, mas deram para uma onda gorda do Peter Cabrina. Depois o Eraldo Gueiros pegou o tubo do ano em Jaws e o título foi para outro que surfou na Tasmânia numa marola. Esse ano, o Burle em Ghost Tree foi capa de duas ou três revistas estrangeiras. A onda lá não roda tanto, mas ele pegou uma rodando, gigante e linda, tudo em perfeita harmonia. Porém, mais uma vez, deram o prêmio para o Shane Dorian dando uma cambalhota. Os caras estão de sacanagem com a gente! E a minha onda em Todos os Santos, a maior que eu já surfei remando (ver Melhor da Série)! Tava gigante, um buraco de 35, 40 pés e deram para o Greg Long numa onda gorda. É impressionante o que os caras fazem. Palhaçada aquilo, mas é isso aí. Ao encarar ondas gigantes você está sempre no limite entre a vida e a morte. É essa adrenalina que vicia entrar no mar? Minha paixão vem desde que comecei a surfar e, aos 12 anos, já caía nas ressacas no Meio da Barra. Os caras mais velhos não entravam e eu ficava sozinho durante horas surfando no mar gigante. É uma adrenalina que vicia você querer sempre uma onda maior. Todo ano, quando embarco para o Hawaii, penso em dropar a maior onda da minha vida. Foi o que aconteceu, nesse inverno
Monster botando pra baixo em Maverick’s, e acima na capa da Hardcore de abril 2001.
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Arquivo Pessoal
O surf de ondas grandes tem gerado uma grande repercussão nesses últimos anos. Quais as mudanças mais significativas que você sentiu desde então?
James Thisted
Rodrigo vencendo o crowd de Pipeline. consegui pegar remando no México. É muito boa a sensação quando vou até o final e completo a onda. Fale um pouco do campeonato em Oregon que você ficou em segundo lugar. O que você achou do resultado? O campeonato foi alucinante! Sol, ondas lisinhas com algumas séries de 18 pés sólidos, quebrando perfeito. Eu e o Yuri Soledade mandamos muito bem. A gente treina há muito tempo em Maui. Na final peguei um tubão, o lip deu uma amassada no final, mas eu segurei e consegui sair. Fiquei amarradão, todos os juízes deram 10. O mais engraçado foi quando chegamos na hora da entrega e anunciaram o terceiro lugar para o Pato e o Eraldo. Daí eu já fiquei apreensivo, não quiseram dar a dobradinha brasileira, os caras não iam fazer isso... Daí eles disseram: “em segundo lugar, Yuri e Rodrigo”. Pensei: não! Não acredito que os caras fizeram isso! Logo depois vieram me falar que aquele tubo foi 9.8. Quando fui ver as papeletas perdi por um décimo. Foi muito estranho, tudo na cara dura mesmo, todo mundo viu, foi aquele silêncio constrangedor. O cara que ganhou o campeonato achou que nem havia ganhado, pegou o carro e foi embora, nem estava lá na hora da premiação. É um evento que rola há três anos, mas foi muito ridículo.
mais importantes na vida: viajar. Pouca gente no mundo fez o que eu fiz e poucos vão fazer. Os momentos que eu vivi são coisas que não voltam, picos que, de hoje em diante, vão estar crowd, o mundo está mudando muito rápido. Qual o equipamento que você utiliza? Aqui no Brasil e lá fora até 30 pés, eu surfo com as pranchas do Victor Vasconcellos. Peguei em Waimea e Phantons com as suas pranchas e elas funcionaram muito bem. O Victor arrebenta! Tenho pranchas de 5’10 a 9’6. Tenho de 5’6 até 5’9, que é o tamanho que eu faço minha towboard no Brasil, a qual durante vários anos estávamos testando e só agora chegamos num modelo ideal. Lá fora eu usava muito o shape do Timpone, mas atualmente estou usando a Stretch, que ganhou prêmio de melhor shaper.
“As marcas gringas dificilmente patrocinam alguém no Brasil, os heróis são sempre de lá”
O que levou você ter deixado de seguir a carreira de medicina para virar surfista profissional de ondas grandes? Eu acho que fiz uma história muito bonita no surf, peguei ondas que jamais vou esquecer, mares que me marcaram, amigos que fiz, pessoas que conheci, lugares, culturas, isso é demais e não tem preço. É uma das coisas
Como é a sua estratégia de pré-temporada agora que você está visando o inverno no hemisfério norte? O treinamento é sempre o mesmo: surfando muito, fazendo alongamento, correndo, treinando jiu-jitsu, é mais ou menos isso. Temos que ficar durante o ano inteiro segurando a onda, pois chega o inverno e é preciso muita grana pra ficar no Hawaii. Se gasta muito dinheiro com material, gasolina, jet ski, pranchas, etc. E a gente viaja sempre na última hora, vê o swell e já sai correndo para a Califórnia, México, então, as passagens são sempre caras, não é aquela passagem baratinha que você compra com antecedência.
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Qual a disciplina que você tem que ter para encarar qualquer tipo de mar? Tem que estar em todos os mares grandes. Atualmente com a internet é possível saber se tem onda na Califórnia, México ou Maui, mas tem que ir atrás do swell. O Mark Foo, por exemplo, foi considerado o maior big rider, pois ele perseguia o swell, isso faz toda a diferença. É preciso ter experiência, estar sempre levando caldo, caindo, sempre apanhando, é isso que vai dar a base. Tem uns caras que ficam muito presos, sabe que tem onda em Mavericks, mas não vão. Outros que estão no Hawaii, rola onda em Jaws e ninguém vai. Rolaram altas no México e ninguém foi, só o Danilo. É raro ver os brasileiros acompanhando os swells. Eu não vejo ninguém que está no Hawaii pegar um avião e ir para Califórnia surfar. Esse ano, o Stephan me pediu pra ir junto comigo, mas já era final de temporada. Eu queria ver os garotos pegando o avião e indo atrás das bombas. Eles querem ser big riders parado no mesmo lugar. Por que a sua parceria com o Danilo Couto deu certo? Um é mais tranqüilo, outro mais agitado, porém os dois têm paixão por ondas grandes e nossa vida é surfar as morras. Um está sempre dando pilha no outro: “vamos nessa, vamos nessa, olha o swell, atividade, prepara as pranchas, já fiz as reservas, vam’bora”… E a gente vai! O que foi difícil esses anos todos é que a gente viu muito swell gigante passando, isso dói no coração. Ver na internet um mar perfeito quebrando na Califórnia, olhar para o bolso e não ter um centavo (risos), ter que comprar a passagem, alugar carro e não poder pegar as ondas é desesperador! A gente enlouquecia e começava a discutir um com o outro, dava idéia de colocar no cartão e pagar mais para frente, mas o cartão já estourou! Vende a prancha! E vamos surfar com o que? Pede emprestada! É loucura cara, a gente já fez cada coisa por amor ao surf de ondas grandes. Por isso que a parceria deu certo, dois fissurados. E eu confio nele legal, porque sei que ele vai estar tranqüilo com o jet ski debaixo de uma onda de 80 pés para me resgatar. Com ele também é a mesma coisa, vou lá até ele. Um confia muito no outro.
“Eu queria ver os garotos pegando o avião e indo atrás das bombas. Eles querem ser Big Riders parados no mesmo lugar” Quais são seus planos para esse ano? Vou correr dois campeonatos de tow-in, um no Chile e outro em Maresias que a Red Nose esta fazendo. Este ano abri um restaurante com estilo oriental no Recreio chamado Deck. Tem rolado uns eventos bem legais. A galera tem pirado no hambúrguer de carne de javali, chamado Greg Noll, fazendo homenagem a um dos primeiros big riders do mundo. No final de novembro vou para o inverno no Hawaii.
Arquivo Pessoal
Foto maior: Respeito nas maiores em Jaws; Fotos menores: Rodrigo ao lado do chef de cozinha Rafael em seu mais novo empreendimento; com o seu parceiro Danilo Couto; Descontração no Tahiti; Final de tarde em Mavericks.
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James Thisted Fotos menores: Fred Pompermeyer
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Fotos: James Thisted Scooby entocado em Weiko.
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Manoel Campos
Line-up de Weiko.
Manoel Campos
Manoel Campos
A esquerda que parece nunca acabar fica bem próxima do Brasil. Lobitos, localizado ao sul de Mancora, no Peru, é uma das melhores opções para quem gosta de aventura e surf de alto nível. São mais de quatro pontos diferentes em ondas de qualidade impressionantes em meio ao deserto. No inverno, as ondas são maiores e o terral que sopra pela manhã parece deixar a temperatura ainda mais baixa, portanto, não esqueçam a roupa de borracha. Texto: Vandão 7000
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Vand達o 7000
Manoel Campos As adrenalizantes esquerdas de Point.
LUGAR DE ORIGEM: Ao norte do Peru, cidade mais próxima: “Talara”.
frutas, entre outros, pois no pico não tem nada, nada mesmo.
PICO: No começo uma esquerda tubular. Depois de passar a sessão “Beros”, começa uma onda de pura manobra até a areia.
CROWD: A vantagem é que tem muita onda, mas quando se está na alta temporada tem, no mínimo, uns 20 dentro d’água. Mas há muitas opções por perto.
COMO CHEGAR: De avião, Rio de Janeiro/Lima, depois siga de ônibus ou de avião até Trujillo, onde dá para alugar um carro 4x4 por U$ 70 (70 dólares) ou vá de ônibus até Talara ou Los Organos, que é bem próximo do pico. Do centro da cidade ao pico você pode ir também de moto-táxi. INSTALAÇÃO: Existem três pousadas com poucos quartos (cerca de 8 a 10 e quatro camas cada). A mais frequentada chama-se Fanucho-Kike. E lembre-se, as reservas devem ser feitas com antecedência.
DIA E NOITE: De manhã é surf até os braços caírem, pois é a melhor hora do mar, os ventos são bem fracos. Já à tarde, o vento favorece o surf até o pôr-do-sol, que é lindo. À noite é só para dormir, pois o pico fica no meio do deserto. SE LIGA: Caso você deseje realizar esta trip sem roubadas e com reservas antecipadas em hotéis, transfer, pousadas, entre em contato com “Vandão 7000” pelo e-mail: penhascal@hotmail.com ou pelos telefones (21) 9709-9035 ou 9648-2844. Apoio: Hay Level.
James Thisted
ALIMENTAÇÃO: Ao chegar a Talara é necessário comprar mantimentos como água, pão, queijo,
CLIMA LOCAL: No verão é um calor insuportável. No inverno faz sol durante o dia, mas à noite é muito frio, portanto deve-se levar bastante agasalho e, claro, roupa de borracha.
Manoel Campos
ÉPOCA DO ANO: Lobitos funciona melhor com ondulaçoes de sul , que são mais constantes de junho a outubro.
Surf Session nos canudos do Point.
James Thisted
As piscinas naturais de Weiko.
Vandão 7000
Pablo Paulino destruindo.
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Por Carlos Eduardo
Fotos: Arquivo HB
As tendências se repetem da mesma maneira no esporte das ondas, bem como no modo de se vestir, num corte de cabelo, entre muitas outras coisas. Mas o que isso tem a ver com o surf? Bem, acontece que, pranchas que foram desenvolvidas há pelo menos 30 anos podem voltar com força e ganhar a cabeça das novas gerações. Entretanto, se você é das antigas mesmo, a não ser que seja um cuidadoso colecionador, é difícil manter uma prancha por tanto tempo em condições de proporcionar uma sessão de alto rendimento. Comparando com um vestuário que se pode guardar por anos, a prancha fica cheia de “mofo”, além de defasada, amarelada, com bolhas, pesada...
Década de 70, aonde tudo começou...
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Voltando para o assunto de tendências, o que foi inovação fica velho, pensa-se que está ultrapassado, mas pode voltar anos depois modernizado com o apoio das novas tecnologias. Numa época em que o surf é acima de tudo veloz, com quebras de linha, manobras aéreas e radicalismo, nada impede a busca por fluidez, diversão, enfim, curtir a essência do esporte. Testar seus limites em foguetinhos enxutos, mas desenvolvidos há décadas, também se torna viável. Os modelos que marcaram época retornam como obras de arte. Como Terry Fitzgerald diz: “são as pranchas Originals”.
Terry Fitzgerald Para falarmos dessa tendência é preciso contar um pouco de história, de quem começou boa parte da revolução que resultou nos foguetes que vemos hoje. Um dos caras que fez os equipamentos darem um salto e influenciou os que transformaram o surf. Nascido em Sydney, no dia 2 de abril de 1950, foi em Narrabeen que Terry Fitzgerald começou a marcar época. Campeão de eventos, como o Australian Open, Bells Beach e OM Bali Pro (primeiro campeonato na Indonésia), Fitzgerald foi muito além das competições. Ele revolucionou o surf mundial com seu estilo e, principalmente, com as pranchas que elaborou. Terry desbravou picos por todo o mundo. Hawaii, África do Sul e, principalmente, Indonésia, foram locais que o surfista e shaper marcou época. Em 1973, ao lado do igualmente lendário Gerry Lopez, ele apresentou Grajagan para o mundo. Para cada pico que ia, Terry desenvolvia uma prancha específica, com fundo, borda, rabeta ou colocação de quilhas diferentes. Sua linha de onda também era admirável. Cenas do histórico filme “Morning of the Earth” mostram um pouco do seu estilo, considerado por alguns como excêntrico e um surf forte. Em 1971, fundou a Hot Buttered Surfboards, a conhecida HB. Nessa mesma época, esteve no Hawaii para evoluir suas técnicas de fabricação e apresentou em Rock Point e Sunset Beach um estilo inovador de correr as ondas. Basta dizer que anos mais tarde um de seus pupilos, Simon Anderson, influenciado pelas idéias inovadoras de Terry, inventou a triquilha, o modelo usado pela maioria esmagadora dos surfistas até hoje.
Ao lado, Terry no Brasil com Guilherme Herdy e André Cebola; e nesta, testando seu foguete.
“Poucos caras no mundo têm a visão que ele teve de pranchas naquela década e continua tendo.” - André Cebola
No Brasil... A tendência retrô nas pranchas de surf começou fora do país, principalmente na Austrália. Mas não demorou muito para chegar ao Brasil. E para fazer as Originals, modelos desenvolvidos pelo próprio Fitzgerald, somente com o aval do mestre. Por aqui, quem tem essa grande responsabilidade é o carioca André Cebola. “Em 2006 estive na Austrália e já estava rolando essa tendência com bastante força. A Hot Buttered veio para o Brasil e o Terry precisava de alguém para fazer as pranchas. Desde então, estive na Austrália várias vezes na fábrica dele”, comenta Cebola que faz pranchas há 18 anos. “Sempre foi um sonho trabalhar com um expoente como o Terry. Várias particularidades da prancha de hoje, como borda, concave, sting, swallow..., tudo isso foi ele quem desenvolveu na década de 70. Poucos caras no mundo têm a visão que ele teve de pranchas naquela década e continua tendo”, finaliza.
CLASSIC DRIFTA
5’10 - 6’4 monoquilha c/ estabilizadoras Essa prancha é uma drifta mais estreita no bico e na rabeta. Foi redesenhada para modern drifta para surfar o dia-a-dia. Tem o mesmo fundo da modern, porque na verdade essa foi a que deu origem a ela. No entanto, para surfistas mais pesados é o mais indicado, pois só pode shapear nos tamanhos 6’3 e 6’4. Ela tem a mesma característica da outra, é mais segura no drop.
Para o shaper, as “manufaturas” de Terry são verdadeiras jóias. “Essas pranchas têm muita importância na vida do Terry. Trabalho com muito respeito e honestidade com o que ele construiu. Até as pinturas psicodélicas que vemos em muitas pranchas hoje, ele já fazia nos anos 70”, diz Cebola. Surfistas que tiveram destaque mundial, como Vitea David e Derek Hynd, aprovaram os modelos. Segundo Cebola, as pranchas que estão sendo trazidas de volta para o presente foram testadas e aprovadas ao longo do tempo por grandes nomes das ondas. “Cada uma tem um fundo diferente, uma colocação de quilha determinada, coisas que o Terry levou anos testando e desenvolvendo”, explica. E para os que pensam que as pranchas funcionam apenas nas marolas, os limites podem ser testados em vários patamares. “O pessoal chama de fish, ele chama de originals. São pranchas que dão uma velocidade ferrada e podem ser utilizadas em vários tipos de mar. Costumam dizer que são apenas para as marolas, mas se você pegar o filme “HB Soul”, vai ver a galera em ondas de até oito pés com pranchas monoquilhas.
MODERN DOUBLE WING SWALLOW 6’0 até 6’6 monoquilha
Essa prancha foi uma das mais usadas em suas trips desbravando Uluwatu, em Bali, Sumatra, Subawa, Jefrey’s Bay, África do Sul, um modelo de 1972. Com ‘V’ no bico, mais um concave no fundo todo, essa prancha dá um speed incrível. Para passar as sessões de J’Bay e os tubos de Bali, que poucos surfistas conseguiam na época. Tanto que seu apelido não era à toa: “Sultan of speed”. Era velocidade e um surf agressivo, que ele executava com sua double wing swalow.
MODERN DRIFTA
5’8 - 6’2 monoquilha c/ 2 estabilizadoras A Drifta foi um modelo muito usado no Hawaii em Haleiwa, Narraben, Austália e Bell’s Beach. Foi criada para executar um surf ‘hot dog’ bastante avançado para a época, com uma troca de bordas e mandando manobras bem radicais. A história desta prancha e a transição das monoquilhas para triquilhas demonstra que Terry fez um trabalho genial no fundo, criando um ‘V’ bottom no bico com um single to double concave. Com uma monoquilha ou uma biquilha, era velocidade de fluidez que ele buscava. Essa prancha já foi questionada se não era uma fish. A rabeta é swalow, mas nada exagerado como aquelas que parecem um rabo de peixe.
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Sofia Hereda
20 anos Salvador (BA) Fotos: Rick Werneck
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A estudante de psicologia Sofia Hereda, 20 anos, encontrou a felicidade no Recreio dos Bandeirantes, onde mora há seis meses. Local da Macumba, praia que mais freqüenta, Sofia também se joga nas ondas e sonha em poder surfar na Indonésia. No Rio, a suíça naturalizada na Bahia adora comer sushi ou curtir uma balada de hip hop.
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Alan Simas
Alan Simas
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Idade: 15 anos Patrocinador: Cyclone, CT surf, BIQUINES 021 Apoio: LM Shaper Boards Quiver: 5’9, 5’10, 5’11
Álvaro Freitas
Idade: 19 anos Patrocínio: WQSurf Apoio: Ability Shaper: TBC Quiver: 5’10, 5’11 e 6’2
Arquivo WQSurf
Gabriela Teixeira, 19 anos, só está há dois disputando campeonatos como profissional e já mostrou que não está para brincadeira. Em seu primeiro ano de Super Surf, já conquistou o primeiro lugar na etapa de Saquarema, garantindo a sexta posição no ranking nacional. Mas seu maior desafio foi vencido recentemente ao surfar a onda dos seus sonhos no Rio Araguari, Pará, onde se sagrou campeã brasileira da Pororoca 2008. E não pára por aí. Gabi também foi campeã open/mirim do Petrobrás Feminino em 2005, 9° lugar no ISA Games 2003 e 10° também em 2005. Mas não há resultados sem dedicação, além de um trabalho de preparação física na academia, ela passa, no mínimo, seis horas do seu dia no mar do Recreio.Para se distrair, Gabriela curte jogar vôlei com seus amigos e andar de skate que, segundo ela, a ajuda também com o surf. Sua trip mais alucinante foi feita já há algum tempo para a Califórinia, com a equipe brasileira. “O surf é a minha alegria, minha paixão, a profissão que escolhi, não existe Gabi sem surf”, conclui.
Tudo começou aos 12 anos quando passava o dia inteiro na praia com sua família e amigos. E foi um dos seus colegas que a empurrou numa onda, pela primeira vez. A menina moleca gostou tanto que não parou mais. Campeã Carioca Universitário, Campeã do VOLCOM Qualifyng Series, Campeã SEA CULT, 2º lugar no Circuito Estadual , 4º lugar no Intercolegial , todos em 2007; 3º lugar na primeira etapa do Estadual e 4º lugar no Intercolegial, deste ano. As ondas dos seus sonhos estão na Austrália e no Peru de tanto ouvir as histórias das surf trips dos seus amigos e companheiros de esporte. A carioca que adora Strogonoff com arroz e batata frita, também pratica pilates, natação e uma corridinha na areia. No surf, sua inspiração vem da surfista profissional Stephanie Gilmore porque, segundo ela, a australiana surfa como os homens, mas com um jeito feminino. Mais do que um esporte, para ela surf é sua vida, o qual se dedica por amor. “Já faz parte de mim, não conseguiria me imaginar sem surfar”, disse. Seu maior sonho como atleta é competir no mundial e, enquanto esse dia não chega, tem se dedicado ao o Brasileiro Amador. Michelle é treinada pelo ex-surfista profissional Rui Costa a quem se espelha pelo seu surf que, para ela, é agressivo mais com muito estilo.
Texto: Viviane Freitas Fotos: Álvaro Freitas
Já se tornou senso comum dizer que a arte é um dom e que o talento de um artista vem de uma sorte concedida pelos deuses. No entanto, quem conhecer o trabalho e a trajetória do jovem artista baiano local do Pontão do Leblon, Elísio Lincoln Tiúba, descobre que sua vocação está no sangue. Herança genética moldada com a curiosidade e o fascínio por linhas e cores, somadas a sentimentos e percepções.
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Filho caçula de mais três irmãs, Tiúba não restringe sua obra apenas para surfistas, pois, segundo ele, o formato da prancha foi adotado com a intenção de desenvolver uma técnica e um estilo novo, para não se limitar ao convencional. Obstinado, pensa em ser um referencial no mundo da arte por meio de suas andanças e pranchas que já correram o planeta, o qual vem conseguindo, a cada viagem, o reconhecimento das pessoas que se sentem impressionadas. Contudo, Tiúba sempre deixa bem claro que não se trata de comércio, mas sim da imensa paixão que tem pelo que faz. “Não me preocupo em vender, porém em evoluir cada vez mais. E se for preciso trabalharei em áreas não ligadas ao surf para sustentar meu vício, a arte. Na realidade, minhas pinturas não são nada mais que sonhos, e esses, na maioria das vezes, não têm dinheiro que pague, pois amor não se compra, se conquista. E posso dizer que assim é minha relação com a vida e com o que nela estou realizando”, finaliza. Influenciado com os traços da arquitetura, sua profissão, o artista-surfista retrata as cidades que conhece como uma espécie de diário de bordo. Sob um olhar diferente, como se estivesse em outra dimensão, ele vê o mundo de outro ângulo, algo surreal, como se abrisse uma porta para sua realidade vivenciada, mas despercebida. Seu talento já foi reconhecido mundo a fora, ao expor em lugares como a Box220 Surfshopbcn, em Barcelona, Espanha, onde apresentou pranchas pintadas no Hawaii e na Europa. Mas seu trabalho de maior impacto foi realizado em Sumatra, Indonésia, após o Tsunami, ao participar das filmagens do documentário Indo. doc, sobre as comunidades afetadas com o fenômeno. Chocado com a realidade que viu na cidade de Banda Aceh, a mais atingida, o baiano de 25 anos não se conteve e subiu a bordo de um navio encalhado para, então, levar um pouco mais de cor e vida através da sua arte urbana. Para Elísio, as imagens de destruição foram as mais impressionantes que poderia imaginar e, sem dúvida, mudaram seus valores e percepção de mundo.
Arquivo Pessoal
Impressionado com as caricaturas do seu tio, o cartunista Flávio Luiz, Tiúba desenvolveu sua paixão pela arte. Fez seu primeiro quadro aos 10 anos de idade, uma réplica de Van Gogh, o qual reproduziu com fidelidade, já aos 16 anos, desenvolveu o gosto pela pintura em óleo sobre tela. Entretanto, foi em uma de suas viagens ao Hawaii que Tiúba viu que poderia ir mais além. Por acaso, descobriu que seus desenhos poderiam ganhar cores. “Estava de bobeira pintando minha prancha, daí comprei um jogo de canetas Posca, mas percebi que costumava usar apenas o preto e o azul para contornos e ondas, logo, essas acabavam rapidamente. Então, para economizar tais cores, passei a usar todas, uma vez que havia cerca de 20 cores. No Brasil, além de caras, era muito difícil ter acesso a essa variedade de cor”, lembrou. O trabalho com o surf surgiu naturalmente e, desde então, passou a usar a prancha como veículo para mostrar e divulgar sua arte e idéias. As primeiras pranchas foram feitas para seus amigos, que por acaso faziam parte da equipe do shaper Ricardo Martins (Wetworks), a quem atribui suas principais conquistas no surf. “Meus amigos se amarravam nas pinturas, mas nada teria sido possível sem o Ricardo. Tive a oportunidade de conhecê-lo e pintar suas pranchas, ou seja, desde o começo meu trabalho esteve vinculado a um dos melhores shapers do mundo, o que, sem dúvida, ajudou bastante. Não teria conseguido alcançar o que já conquistei se não fosse pela minha família e por ele, que além de shaper e profissional como poucos, é também um exemplo de amor ao esporte”, disse. Saturado com a mesmice das perfeitas ondas retratadas nas obras mais recentes ligadas ao surf, Elísio propõe expor uma nova tendência, surgindo, daí, a idéia de trabalhar com o abstrato e cenas do seu cotidiano. “Nos meus desenhos retrato as cidades por onde passo, aspectos e singularidades das minhas viagens, além das coisas que descubro, aprendo e vejo. A prancha de surf é apenas mais uma superfície para expor meus sentimentos”, explicou.
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TiĂşba conta com o apoio da Bintang e pranchas Ricardo Martins.
www.tiuba.com
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O campeão profissional do Rio, Gustavo Fernandes ,25 anos, hoje têm dois objetivos; ser bicampeão estadual e lutar pelo título brasileiro. Com uma carreira de bons resultados Guga, fez uma sólida base no amador, conquistou o tri-campeonato carioca, foi vice campeão brasileiro e campeão sul-americano pró-júnior, até se tornar profissional. Nas suas excelentes performances esse ano, o local da praia da Macumba mostrou está preparado para brigar pelo título do Super Surf, onde ocupa a terceira colocação no ranking geral. Antes de partir para os eventos ele deu uma passada na redação da Surfar para bater um papo. Por: Viviane Freitas Foto: Álvaro Freitas
O que significou pra você ser campeão carioca profissional?
Quem é o seu shaper e quais as pranchas que você surfa?
Foi muito legal para mim isso, mudou bastante coisa, foi meu primeiro título como profissional. O fato de poder contar com um bom patrocinador me deu mais confiança e tranqüilidade nas competições, que eu vou conquistando aos poucos. Fico mais focado nas baterias.
Eu tenho umas dez pranchas em casa, mas as que eu uso mesmo é uma 6’0, uma 5’11 e outra 6’2. Tenho 6’4 e 6’8 para quando o mar está grande. Faço prancha com o Joca Secco desde os 12 anos de idade, tenho total confiança nas pranchas dele. Minha 5’11, a minha menor prancha que tem uma rabeta swallow e a minha 6’0 squash. Nas maiores uso a round pin.
Como você está se preparando para a última etapa do Super Surf? Tenho me preparado, principalmente, na parte psicológica para estar tranqüilo e focado no que eu estou buscando. Tenho treinado bastante. Até abri mão de correr as etapas do WQS para manter a minha cabeça voltada para o Super Surf e me dedicar ao máximo nas etapas do carioca e conquistar bi-campeonato. Qual sua estratégia para manter o equilíbrio? Penso que a bateria já vai ser agora e que preciso estar calmo. Também procuro passar mais tempo com meu filho. A experiência que tenho adquirido em competições me ajuda, pois já estou a cinco anos no tour. Entro na bateria mais confiante, não fico mais nervoso. Você foi criado na praia da Macumba, como as ondas desse pico favorecem você? A Macumba dá muito preparo físico para o surfista, além de a onda ser longa, para voltar para o outside tem que remar muito. Uma caída de duas horas equivale a um dia inteiro. É uma boa onda de linha, dá para fazer bastantes manobras. Você procura sempre surfar de backside na bateria ou é uma conseqüência? Eu sempre treinei muito de backside. Eu moro na Macumba, mas ao lado tem o Canto do Recreio que é um pico que sempre quebrou altas direitas. Quando moleque era viciado naquela onda, sempre que tinha uma direitinha eu estava lá. E isso ficou natural no meu surf, qualquer direita que eu pego tenho confiança de dar uma batida boa e tirar as notas que eu preciso.
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Como você analisa seu desempenho na etapa de Ubatuba? Foi a minha reviravolta. Estava em sétimo no ranking geral e não tinha chances nenhuma de ser campeão. Mas com esse resultado pulei para terceiro colocado e agora estou brigando pelo título. O campeonato foi alucinante, na final eu me desconcentrei um pouco, havia muita gente em volta e não tive tempo de olhar o mar. Quando me dei conta já estava faltando um minuto para acabar a bateria anterior e ainda estava na areia vendo o Renato Galvão no outside. Isso me deixou um pouco nervoso e ainda fiquei esperando a série que não veio e não peguei onda nenhuma. O você pensou quando surfou as duas ondas da virada no Super Surf? Parti para o tudo ou nada. Foram duas baterias que virei na última onda. Contra o Hizunomé saí da água e ficou aquele suspense e com o Adilton a mesma coisa. Já é constante eu virar essas baterias assim, algumas que nem eu acreditei. Consegui ficar tranqüilo esperando a onda certa. Numa bateria contra o Dunga Neto precisava de 8,60 e eu consegui 8,77, faltando 30 segundos. Acho que já estou me acostumando a essas viradas (risos). Esses últimos eventos podem mudar muita coisa na sua vida, está confiante? Estou procurando me preparar bem para os últimos campeonatos. O importante é manter a calma, pois já fiz o que eu poderia e espero vencer, se Deus quiser.
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aÁlvaro Freitas
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Guilherme Herdy escalando o lip em Grumari.
Editor chefe: José Roberto Annibal - annibal@revistasurfar.com.br. Editor executivo: Grimaldi Leão Jr. - grimaldi@revistasurfar.com.br. Projeto gráfico e Arte: Marcos Myara - marcos@revistasurfar.com.br. Redação: Viviane Freitas. Colaboradores de texto: Vandão 7000, Roger Ferreira (colunista), Pedro Robalinho, Carlos Eduardo, Deborah Fontenelle (revisão), Fotos: Lika Maia, Beto Paes Leme, André Cyriaco, Aleko, James Thisted, Alvinho Duarte, Alan Simas, Damea Dorsey, Pedro Tojal, Álvaro Freitas, Arthur Toledo, Wagner Duque, Marcio David, Fred Pompermayer, Kalani Brito, Zeca Cascão, Julia Worcman, Marcelo Piu, Bruno Lemos, Rick Werneck, Tiago Navas, Pedro Monteiro, Claudio Paschoa, Manoel Campos, Jurandréia Santos, Diogo Freire, Fábio Minduim, Gustavo Cabelo, Luiz Blanco. Tratamento de imagens: Aliomar Gandra e Ricardo Gandra. Publicidade: (21) 2433 0235. Jornalista responsável: José Roberto Annibal MTB 19.799. Impressão: Gráfica Ediouro. A Revista Surfar pertence a Forever Surf Editora e as matérias assinadas não representam obrigatóriamente a opinião desta revista e sim de seus autores. Distribuição gratuita no Rio de Janeiro. Endereço para correspondência: Av. Ayrton Senna 250, sala 209 - Barra da Tijuca - Cep. 22793-000 E-mail para contato: surfar@revistasurfar.com.br - Tel.: (21) 2433-0235.
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