OUT | NOV 2014 R$ 11,90
B RAZI L I AN GROWE R COMO A SEÇÃO MAIS TUBULAR DE DESERT POINT FOI DOMINADA PELOS BRASILEIROS
FILIPE TOLEDO ENTREVISTA EXCLUSIVA COM O SURFISTA “SHOWMAN“ DO CIRCUITO MUNDIAL
MEDINA SALINA ESPETACULAR CRUZ A VITÓRIA SOBRE O MAIOR SURFISTA DE TODOS OS TEMPOS NO MELHOR CAMPEONATO DA HISTÓRIA
TRIP SURFAR: ÁGUA QUENTE, ONDAS PERFEITAS E MUITOS TUBOS
Guilherme Tripa, Grower
I
h
a
n
g
l
o
o
s
e
.
A
c o
N
m
.
G
b
r
O
U
V
E
I
A
SHANE DORIAN & TIA BLANCO CHINELO PHANTOM FLIGHT J U ST P A S S I N G T H R O U G H
O’NEILL INC. 2014 | ONEILL.COM
JORDY SMITH PHOTO: LAWRENCE
O N E I L L S H O P . C O M . B R
ร NDICE
Um momento mรกgico do surf: o tubo. Sinta-se na bancada mais rasa de Desert Point, o Grower. Foto: Pedro Tojal.
10
Brazilian Grower
.74
Filipe Toledo
.96
Billabong Pro Tahiti 2014
.108
Trip Surfar
.118
Ensaio Surfar
.139
Um registro de Pedro Tojal sobre a bancada mais brasileira de Desert Point, na Indonésia.
Uma entrevista exclusiva com o showman da elite do surf mundial e atual campeão do Vans US Open.
A história contada pelo fotógrafo Bruno Lemos, que sentiu de perto cada baforada de Teahupoo e viu a consagração de Medina em condições épicas.
Dessa vez, a Surfar te leva a Salina Cruz, no México. Sol, água quente e tubos, muitos tubos.
A capa da Playboy de janeiro, Arícia Silva, dessa vez embelezou as areias de Grumari, Rio de Janeiro.
11
EDITORIAL Os destinos da felicidade Nessa edição escolhemos dois destinos bastante procurados pelos surfistas: México e Indonésia! Neste segundo destino estão localizadas as melhores praias do mundo para a prática do surf e durante a temporada de ondas, que vai de maio a setembro, diversas tempestades são formadas no Oceano Índico, gerando ondulações perfeitas e tubulares. Profissionais e amadores de todas as partes do planeta visitam as ilhas nessa época em busca de um mesmo sonho: surfar a onda perfeita! Em uma pesquisa realizada por uma revista americana especializada, dois mil jovens entre 18 a 20 anos citaram o arquipélago como o destino favorito dos surfistas.
Diante de tudo isso, enviamos nosso fotógrafo Pedro Tojal para passar seis meses naquele paraíso cobrindo todos os swells para a Surfar. E ele não deu mole! Preparou uma matéria especial mostrando como um grupo de brasileiros dominou a seção mais tubular de Desert Point, conhecida como Grower, a parte mais rasa e perigosa da bancada, onde quebram os maiores e mais intensos tubos. Na Trip Surfar do mês, nosso destino foi o México. Fizemos uma verdadeira “varredura” na região de Salina Cruz para trazer aos leitores um lugar para todos os gostos: água quente, sol, ondas tubulares e mano-
NA CAPA: Guilherme Tripa tem sorte no Grower, emplacou mais uma capa, agora com a visão do tubo. Nesta página: O visual de cima de Super Suck para você ter a exata noção da perfeição da onda que deixa a surfistada babando. Fotos: Pedro Tojal.
16
bráveis, esquerdas, direitas, pouco crowd... Enfim, o suficiente para fazer a cabeça dos mais graduados. Com certeza, depois de ver essa matéria, você começará a juntar uma grana para comprar aquela passagem para a sua próxima viagem. Já na nossa entrevista do mês, escolhemos o verdadeiro “showman”, o ubatubense Filipe Toledo. Atualmente morando na Califórnia, o bicampeão do US Open abriu o jogo e disse “que nunca foi um moleque de arregar na hora da pressão”, mostrando que, apesar da pouca idade, os anos de competições lhe deram mais maturidade para absorver esse bom momento que vive na carreira como surfista da elite mundial.
Bem, chegamos à penúltima edição do ano eufóricos com a vitória histórica de Gabriel Medina no Tahiti. O surf brasileiro alcançou uma projeção enorme, com direito a encerramento do Jornal Nacional mostrando Gabriel num tubo gigante em Teahupoo. Desde o terceiro lugar conquistado por Victor Ribas, nunca estivemos tão perto do sonhado título mundial. Se tratando da falta de ídolos no Brasil, Medina chegou em boa hora para cobrir esse espaço. E o melhor ainda: esse ídolo é surfista, apagando de vez todo aquele preconceito de vagabundos que sofremos durante muitos anos. Enquanto o verão não chega, vamos todos para dentro d’água Surfar! José Roberto Annibal
17
MELHOR DA SÉRIE
22
“O Grower proporciona diferentes tipos de ondas. Procuro escolher as mais de oeste, elas parecem que vão fechar, mas é quando a corrida maluca fica mais emocionante.” Ian Cosenza em um tubo com iluminação divina no Grower, Desert Point. Foto: Pedro Tojal.
23
FA C E B O O K / L O J A S W Q S U R F
W Q S U R F. C O M
BÔNUS INDONÉSIA
28
Estileira é mais que executar uma manobra difícil... É uma forma única de expressão. Dávio Figueiredo encaixou no trilho de um “secret”, apresentado pelo fotógrafo Diogo d’Orey, em Bali. Foto: Diogo d’Orey.
29
POR TRÁS DAS ONDAS
Enxurrada de vitórias brasileiras vinha embalado depois da vitória no Maui and Sons Arica
seis edições do ASP Prime nas Ilhas Açores, Portugal.
Wolrd Star Tour, etapa 3 estrelas disputada no Chile.
Além de embolsar 40 mil dólares, o brasileiro garantiu
Vale lembrar que o Brasil faturou três das quatro etapas
6.500 pontos subiu da quadragésima para a sexta
Primes disputadas até o momento. Agora restam três até
colocação do ranking classificatório. O guarujaense
o final do ano. A chapa esquentou mesmo para os gringos.
Poullenot /ASP
JESSE MENDES conquistou a quarta vitória brasileira em
Jesse é mais um candidato brasileiro a integrar a zona de classificação para a elite do surf em 2015.
36
A sua estrada, também é a nossa. Primavera Verão Fico 2015.
www.co.com.br
POR TRÁS DAS ONDAS
PRA VALER! Pedro Monteiro/ Quiksilver
AGORA É
Wiggolly Dantas venceu em Saquarema o primeiro Prime do ano.
O final do ano já está aí e chegou a hora das decisões. Restam apenas mais duas provas na briga do título mundial e também pelos preciosos pontos para se manter na elite: o Moche Rip Curl Pro Portugal e o Billabong Pipe Masters, a etapa que dá mais status para quem levantar o caneco. Já no lado dos surfistas que buscam o seu lugar no seleto grupo do WCT, quatro eventos Primes recheados de dinheiro e pontuação serão importantíssimos na definição dos classificados, além do seis estrelas de Santa Catarina. ---- por Luís Fillipe RebeL Já se passaram mais de sete meses desde que os tops entraram na água em Snapper Rocks para abertura do WCT 2014. Logo de cara, o Brasil saiu na frente! Vitória de Gabriel Medina em plena Gold Coast ao enfileirar Taj Burrow, Mick Fanning e Joel Parkinson. A partir daí, o brasileiro tomou gosto pela primeira colocação e só deixou escapar uma vez quando caiu no Round 3 do Billabong Rio Pro. Mas ele não perdeu tempo. Na etapa consecutiva, Medina foi campeão nas esquerdas de Fiji, retomando a liderança. Os destaques até então são os campeonatos de Jeffreys Bay e Teahupoo que mostraram o porquê do nome “Dream Tour”. As direitas sul-africanas quebraram clássicas para cada um colocar em prática a sua linha. Já o evento na praia dos crânios quebrados, no Tahiti, foi o ápice. O mar estava grande com tubos secos e perfeitos que exigiam preparo físico e muita atitude dos surfistas. Para ficar melhor ainda, Gabriel levou mais esse título em condições extremas, onde não era considerado favorito (matéria completa na página 108).
CALENDÁRIO WCT 2014 12 A 23 DE OUTUBRO - MOCHE RIP CURL PRO PORTUGAL – Peniche, Portugal. Atual campeão: Kai Otton. 08 A 20 DE DEZEMBRO - BILLABONG PIPE MASTERS – North Shore, Hawaii. Atual campeão: Kelly Slater.
38
DOMÍNIO BRASILEIRO NO WQS Com cinco vitórias no ano, sendo três em quatro eventos Primes, a bandeira do Brasil é a que mais aparece no ranking dos classificados para entrar no WCT em 2015. Até o fechamento dessa edição, seis brasileiros compõem o top 10 do WQS: Adriano de Souza (2º), Filipe Toledo (3º), Wiggolly Dantas (5º), Jesse Mendes (6º), Tomar Hermes (7º) e Jadson André (8º). Willian Cardoso em 11º também está na zona de classificação, já que Mineiro e Filipinho estão entre os 22 classificados pelo WCT. Para dar uma força ainda maior nessa luta, a ASP South America resgatou a perna brasileira com três etapas. Os campeonatos em território brazuca são cruciais para os surfistas da casa conquistarem as vagas sem depender de resultados no Hawaii, onde a pressão dos locais deve ser grande.
CALENDÁRIO WQS – PRIMES / PERNA BRASILEIRA 07 A 11 DE OUTUBRO - CASCAIS BILLABONG PRO – Cascais, Portugal. Atual campeão: Jadson André. 18 A 25 DE OUTUBRO - OCEANO SANTA CATARINA PRO14 (6 ESTRELAS) – Praia da Joaquina, Florianópolis, Brasil. 27 DE OUTUBRO A 01 NOVEMBRO - MAHALO SURF ECO FESTIVAL (4 ESTRELAS) – Itacaré, Bahia, Brasil. Atual campeão: Halley Batista. 03 A 09 DE NOVEMBRO - O’NEILL SÃO PAULO PRIME – Praia de Maresias, São Paulo, Brasil. 12 a 23 de novembro - Reef Hawaiian Pro – Haleiwa, Hawaii. Atual campeão: Michel Bourez. 24 DE NOVEMBRO A 06 DE DEZEMBRO - VANS WORLD CUP – Sunset, Oahu, Hawaii. Atual campeão: Ezekiel Lau.
©2014 Luxottica Group. All rights reserved.
CONNECT WITH US | ARNETTE.COM | @ARNETTE | #LIVEARNETTE
SEE THE REST OF THE INTERVIEW AT YOUTUBE.COM/ARNETTE
”I DON’T THINK I’M GOING AGAINST THE GRAIN, I’M JUST DOING WHAT I WANT TO DO”
KC
Já imaginou como seria ter um cantinho na Costa Rica para você e a sua família desfrutarem de todo o potencial do lugar? Vamos além... E se o seu pai fosse um shaper e desenvolvesse um foguete na medida para você? Os Bouillons arriscaram e hoje vivem o sonho de qualquer família do surf. Entre as ondas perfeitas e um sítio localizado no coração da América, o laços familiares
Fotos: Arquivo pessoal/ KC Cassie Rossi/ Bob Rober Stonefish
se estreitam ainda mais quando eles partem para mais uma trip juntos. ––––– por Rômulo Quadra
“SOU MUITO SORTUDA DE TER UM PAI SHAPER. COMO SURFISTA, EU DIRIA QUE GANHEI NA LOTERIA.” –– Michelle de Bouillons
41
Bob
KC
Márcia, Playa Negra.
Michelle e Jean em Pavones.
KC
Pegamos um swell bom em Pavones.
KC
Chegando em Pavones.
Michelle se aventurou como fotógrafa.
“ME SENTI PELA PRIMEIRA VEZ COMO FILHA ÚNICA! FAZER UM SURF TODOS OS DIAS COM MEU PAI E MINHA MÃE É UM PRIVILÉGIO.”
DO RECREIO PARA A COSTA RICA O shaper carioca Jean Noel foi o primeiro a visitar a Costa Rica no ano de 1990. Desde então, ele se apaixonou pelo lugar. Lá teve a oportunidade de vender muitas pranchas e até comprar um terreno em Playa Negra. Entre idas e vindas, Jean e sua esposa, Márcia des Bouillons, já chegaram a passar seis meses consecutivos no país, onde gastam tempo entre o cultivo de árvores frutíferas e, claro, algumas horas diárias na prática do surf. Com raízes no Recreio dos Bandeirantes, a família Bouillons tem o surf na veia e sempre que possível programam uma surf trip. Isabelle e Jean, os filhos mais velhos do casal, já tiveram o gostinho de curtir o país a sós com os pais, mas agora foi a vez da filha caçula Michelle. “Foi uma experiência maravilhosa! Me senti pela primeira vez como filha única! Fazer um surf todos os dias com meu pai e minha mãe é um privilégio. Isso sem falar das ondas e de ser um lugar com uma beleza única”, contou a jovem de 24 anos. Michelle foi a que teve mais sorte entre os irmãos na carreira como surfista. Ela foi tricampeã carioca amadora e hoje participa do programa “Por Elas” do Canal OFF.
42
Jean, Márcia e Michelle desembarcaram em San José, capital do país. Com o destino traçado para Playa Negra, local do sítio da família que fica a 320 km do aeroporto, eles optaram por alugar um carro. Depois de cinco horas de estrada, Playa Negra quebrava de gala, com ondas de 6 a 8 pés, para alegria da família. “Deu muita onda boa! A Michelle está em um ritmo de surf espetacular, talvez um dos melhores da vida dela”, disse o pai coruja. Da sua vida como surfista, a jovem sabe que deve muito ao pai. A experiência passada diariamente e o respeito conquistado por ele no universo do surf lhe abriram portas. “Meu pai é muito conhecido na Costa Rica. Sem dúvidas, o fato de ser filha dele faz com que os locais me vejam com bons olhos. Eles sempre me liberavam umas boas da série. O respeito existia tanto dentro como fora d’água. Sou muito sortuda de ter um pai shaper. Vejo todo o carinho que ele tem ao fazer as minhas pranchas. Como surfista, eu diria que ganhei na loteria!”, falou Michelle. A atmosfera “Pura Vida” da Costa Rica, expressão muito usada pelo povo costa-riquenho que indica um estado de
Bob
Direitas de Playa Negra.
“MEU PAI É MUITO CONHECIDO NA COSTA RICA. SEM DÚVIDAS, O FATO DE SER FILHA DELE FAZ COM QUE OS LOCAIS ME VEJAM COM BONS OLHOS. ELES SEMPRE ME LIBERAVAM UMAS BOAS DA SÉRIE.”
No terreno da família.
KC
Rio Pavones.
De Jacó para Pavones.
Atmosfera “Pura Vida”.
KC
espírito cheio de energia, contaminou até a dona Márcia, que no Rio de Janeiro possui uma rotina diferente dos demais Bouillons. “Acordávamos entre cinco e seis horas da manhã para checar as condições do mar, tomávamos o café e íamos direto para a praia. Minha mãe não compartilha essa rotina de surf diário, mas lá ela nos acompanhava todos os dias dentro d’água com sua Fun”, contou Michelle. Depois de curtirem duas semanas de altas ondas em Playa Negra e praias próximas, como Juquillal, a família decidiu ir em busca de um bom swell que chegava em Pavones. Uma viagem que leva cerca de oito a dez horas por estradas nem sempre confiáveis. Por se tratar de um país essencialmente rural, os obstáculos durante o deslocamento são constantes. “As estradas principais têm muito trânsito de caminhão e aí perdem-se horas, tendo que pacientemente esperar, não tem o que fazer. Nas pequenas, os contratempos são as boiadas e quando chove você pode pegar uma enchente. É comum passar por dentro de rios nas estradas costa-riquenhas”, relatou o Jean Noel.
43
FAMÍLIA FISSURADA NÃO PERDE TEMPO:
Antes de pegar a estrada, bem cedinho, os fissurados aproveitaram umas ondas no quintal de casa e seguiram para Jacó, que fica na metade do caminho. Lá, puderam descansar. Acordaram às cinco horas da matina e às dez horas estavam em Pavones surfando.
KC
Pancada no lip.
“DEU MUITA ONDA BOA! A MICHELLE ESTÁ EM UM RITMO DE SURF ESPETACULAR, TALVEZ UM DOS MELHORES DA VIDA DELA”, DISSE JEAN NOEL, O PAI CORUJA
KC
KC
Rio Pavones.
KC
Descanso em família.
44
Fim de tarde em Pavones.
Bob
Bob
Jean, Playa Negra.
KC
Michelle seguindo os passos da mãe ,professora de yôga.
Momento relax.
Direitinha dos sonhos.
“EU ADMIRO MUITO O MEU PAI POR SER ESSE GRANDE SURFISTA DE CORPO E ALMA... E TER PROPORCIONADO ESSE ESTILO DE VIDA PARA A NOSSA FAMÍLIA!”
FAMÍLIA LIGADA, CELULAR DESLIGADO Em uma época que os smartphones e as redes sociais consomem cada vez mais o tempo das pessoas, uma surf trip se torna uma boa oportunidade de estreitar o convívio e troca de experiências familiares. Michelle soube aproveitar muito bem essa chance, que certamente será lembrada para o resto da sua vida. “Com a família, me preocupo sempre em deixar as melhores ondas para os meus pais. A fase do puxão de orelha passou, era apenas quando eu competia. Agora o importante é que eu esteja dentro d’água me divertindo. Poder sair de casa para fazer um surf todos
os dias com meu pai e minha mãe é um privilegio para poucos e eu sou muito grata por isso. A interação foi ótima, revezávamos na hora de fazer as refeições e trabalhamos juntos no nosso terreno. É claro que, como toda família, tínhamos umas horas de discussões, faz parte. Mas isso foi o de menos diante de tanta coisa legal que rolou. Eu admiro muito o meu pai por ser esse grande surfista de corpo e alma, que procura me passar sempre suas melhores experiências e ter proporcionado esse estilo de vida para a nossa família!”, falou Michelle.
45
T H E N AT H A N F L E TC H E R C O L L EC T I O N Nathan Fletcher é, sem dúvida, uma lenda viva. Surfando ondas de um pé até 100, em qualquer lugar do planeta, com uma diversidade de equipamentos experimentais, Nate é o homem renascentista do surf. Um indivíduo que exige conforto em todas as situações, inclui em sua coleção duas variações do novo Vans Surf Sider Aldrich.
Š2014 Vans, Inc. photo: Stu Gibson/A-Frame
VANSBR.COM
DESURFISTAPARASURFAR As melhores fotos dos nossos leitores.
#DESURFISTAPARASURFAR Quer ver a sua foto na Revista Surfar? Siga-nos no Instagram e marque suas postagens com a hashtag #desurfistaparasurfar e @revista_surfar. A nossa equipe irá escolher as cinco melhores e repostar outras muito iradas.
@ A N A C ATA R I N A P H O T O
@D C O M I N S K I
“As mulheres que se aventuravam realmente quebravam e mostravam intimidade com o esporte. Na foto, uma delas preparando pra entubar no triângulo de Canggu. “
“Meu amigo Yago Dora acelerou e quando decolou eu estava totalmente contra o sol. Um belo registro. ”
@G A B R I E L S A M P S
“Nada melhor do que após ter surfado boas ondas ser presenteado por um amigo com este registro! Preserve!”
@I C A R O R O N C H I
@M A R I N H O S A N T I A G O
“Beng Beng é considerada por muitos a onda mais fácil de Mentawai. A esquerda quebra sempre no mesmo lugar e possibilita todos os tipos de manobras. ”
“Para fazer esta foto, acordei às três da manhã em Guaratiba e atravessei a cidade dirigindo por uma hora até o alto do morro Dona Marta, onde fica o mirante para pegar o dia clareando.”
48
INSTAGRAM BRASIL Entre um “pit stop” e outro durante suas trips ao redor do planeta, os surfistas brasileiros
Fotos Arquivo Pessoal
aproveitam para registrar seus melhores momentos de lazer. Se liga!
@miguelpuposurf aproveitou a água cristalina do Tahiti para fazer esse clique.
@alejomuniz em um daqueles momentos únicos que o Tahiti proporciona.
@fa_binhonunes prestou homenagem ao surfista e skatista Jay Adams que faleceu em agosto.
@gabrielmedina deu de cara com uma pintura em sua homenagem no caminho para Trestles.
@gabrielpastori amarradão com a criançada de Desert Point.
@trekomias sem coragem de passar parafina na alaia zerada que ganhou do @umbesodre.
@victorbernard0 já está com saudades do paraíso Mentawai
@williancardoso encontrou o irmão em San Francisco.
@patoteixeira foi abençoado com esse dia clássico em J-Bay.
Não deixe de ficar por dentro de tudo que acontece no mundo do surf. Siga @Revista_Surfar no Instagram.
50
BBooaiaghhtt s ddaarlNdNSuirSfginag nAwuarkd o a ASPFWest 54
A marca californiana de calçados Sanuk marcou sua chegada ao Brasil com um coquetel em Ipanema no bar Complex Esquina 111. O espaço ficou pequeno para tanta mulher bonita junto. A comemoração bombou noite adentro com a presença do surfista Marcelo Trekinho, embaixador da marca no país, alguns admiradores da Sanuk e uma galera formadora de opinião. Difícil foi ir embora para casa...
01
04
02
03
05
06
07
08
11
12
15
16
09
10
13
14
17
18
19
21
22
24
25
23
26
28
31
20
29
32
27
30
33
01 – Os produtos Sanuk desembarcam no mercado brasileiro. 02 – Daniel Rangel, Guilherme Braga, organizador do evento, e Jessica Biot no clima da festa. 03 – Galera reunida: Ana Macanham, Mariana Pantera, Rafael Feijó, Grasi Delamutta, Natasha Cerqueira, Cintia Benite, Cecilia Bergman, Ligia Dib e Tiago Marincek. 04 – Jessica Biot caprichou no modelito. 05 – Vai uma gelada aí? Joana Campista e amiga com Jessica Biot e Isadora Alves. 06 – Marcelo Trekinho se divertindo com amigos. 07 – Camila Jung e amigas. 08 – Marcelo Motta, gerente comercial da Sanuk. 09 - A descontração de Manuela e Emy. 10 - Ligia Dib e Grasiela Dellamutta. 11 – Produtos com muito estilo e qualidade... . 12 – A festa bombou de mulher bonita! Priscila Lago, Cecilia Bergman, Ligia Dib, Grasi Delamutta, Isabelle des Bouillons, Ana Paula Cintra, Cintia Beniti, Mariana Pantera e Natasha Cerqueira. 13 – Figuraça! 14 - Pedro Neves da banda Sent U Feelin’. 15 – As belas Isabelle des Bouillons e Ana Paula. 16 - Luiza Favorito e amigos. 17 – Daniel Rangel e Gabizinha. 18 – John Magrath e Di Couto. 19 – A festa rolou noite adentro... 20 – A animação de Roberto Dias, Guilherme Braga e Jessica Biot. 21 – Trekinho, embaixador da Sanuk no Brasil, e Sofie Mentens. 22 – Brad muito bem acompanhado por Helena Barbosa e Manoela Caiado. 23 – Os irmãos Arraes curtindo a festa com os amigos. 24 - Luiz Arthur, CEO da Majal & Brandshouse, e André Almeida, coordenador de marketing da Sanuk. 25 – A longboarder Chloé Calmon também marcou presença. 26 – Quarteto animado: Jessica Biot, uma amiga, Isadora Alves e Joana Campista. 27 - Sent U Feelin’ comandou o som da festa. 28 - Manuella Rangel, Minduim, Emy Michels e Bruno Marinho. 29 - Sofia Graça Aranha e Sofie Mentens com Marcelo Trekinho e Daniel Rangel. 30 – Beleza em dose tripla: Thayane Saraiva, Michelle des Bouillons e Marina Baggio. 31 - Luiz Tepedino do Sent U Feelin’ mandando um solo no violão. 32 – A banda Sent U Feelin’. 33 – A marca Sanuk desembarca no Brasil.
55
WAINUI
O “CAMISA AMARELA” por BRUNO LEMOS
Bruno Lemos/Liquid Eye
Medina passou por mais um teste de fogo em Teahupoo.
Não sei ao certo quando foi que a ASP decidiu que o líder do ranking surfaria nos eventos com uma lycra de cor diferente dos outros atletas. A impressão que tive foi que isso começou agora em 2014. Será que isso é bom ou ruim para os competidores? Principalmente para os que estariam usando essa lycra diferenciada. Mas achei no mínimo interessante pelo fato da cor da camisa ser amarela. Apesar de não ser supersticioso, ver o Medina usando durante quase todo o ano a lycra com a mesma cor usada pela seleção brasileira de futebol brasileira me intriga. Depois que fomos derrotados na Copa, a carência do brasileiro em ver o “ex-país do futebol” fazer bonito em algum outro esporte teria aumentado. Durante anos os brasileiros tentaram fazer bonito no Tour da ASP. No início dessas investidas, eles se deparavam com atletas de outros países bem mais preparados e com equipamentos
56
superiores, além disso, o investimento feito pelos patrocinadores deles era sempre maior. Lembro da época em que o formato do Tour era um pouco diferente do atual agora e o surfista brasileiro mal tinha grana para competir em todas as etapas, mas quando tinha geralmente ficavam hospedado nos picos mais “humildes”. Também não posso deixar de citar a quantidade e a qualidade das pranchas (sem querer desmerecer o shaper brasileiro), que muitas vezes eram inferiores a dos gringos, sem falar da estrutura, pois os caras já tinham a mentalidade de viajar com técnico, preparador físico, etc. Não demorou muito e as coisas começaram a mudar. Hoje os brasileiros que estão na elite mundial viajam com uma estrutura decente. Seria razoável dizer que, de um tempo para cá, nossos atletas estavam brigando de igual para igual em algumas etapas. Adriano de Souza, por exemplo, conseguiu bons
resultados, chegando até a liderar o ranking mundial por um breve tempo. Na opinião de muitos, Adriano, pela sua garra e determinação, poderia vir a ser realmente o primeiro brasileiro a lutar pelo tão sonhado título mundial. Mas não podemos deixar de ser realistas e esquecer que ainda vivemos na “era” Kelly Slater. Enquanto esse cara ainda estiver competindo, as chances de qualquer outro surfista ganhar um título mundial serão sempre menores. Slater simplesmente parece ser um “imã” para atrair títulos mundiais, além disso, depois que seu maior oponente, Andy Irons, partiu para a eternidade, as coisas ficaram mais fáceis para ele. É claro que Parko e Fanning até dão uma durinha, porém quando o assunto é titulo mundial, pode ter certeza, Kelly estará sempre na disputa. A etapa do Tahiti provou que essa teoria é verdadeira. Kelly Slater, que parecia não estar ameaçando os Top 3, con-
FINALMENTE NO BRASIL A MARCA MAIS IRREVERENTE DO MUNDO
Tahiti e até os gringos já estavam aceitando isso. Matematicamente, Medina pode muito bem sagrar-se campeão antes que chegue ao Hawaii. Com três vitórias nessa fase do ano e com as próximas etapas sendo realizadas em algumas das ondas que ele já tem um histórico em surfar e competir bem, eu acho que o título mundial é apenas uma questão de tempo. Tive a oportunidade de trocar uma ideia com o Gabriel Medina. E quando esse assunto é abordado, ele sempre se manifesta dando a entender que não está pensando nisso, que quer apenas surfar bem e que se isso acontecer será um sonho realizado. Acho fantástica essa linha de raciocínio e, pelo jeito, está funcionando. Medina está focando bateria por bateria, campeonato por campeonato e, desse jeito, vai longe, muito longe... Para mim, Gabriel tem “a marca da promessa” e a impressão é que Deus lhe escolheu para essa missão. Com a oportunidade e o privilégio de assistir e filmar todas as baterias
do Medina na etapa de Teahupoo, vi muito de perto como tudo conspirou para que a sua vitória acontecesse. Foi incrível, surreal... Não sou muito fã de futebol, basquete, tênis ou alguma outra atividade esportiva, gosto mesmo é de surf, Sou fissurado! Nunca consegui terminar uma faculdade, pois fui morar no North Shore porque “precisava” estar o mais próximo possível das melhores ondas do planeta. Dediquei grande parte da minha vida a esse esporte e ficaria muito amarradão em ver pela primeira vez o Brasil ter um campeão mundial de surf, algo que vai ficar para a história. Tenho certeza de que esse é um esporte tão lindo e tão emocionante que em breve seremos o “país do surf”. Se é que já não somos! Pelo menos a camisa amarela já esta sendo usada pelo “nosso campeão”! Vai Medina, vai... Traz esse título para nós! Aloha! BRUNO LEMOS é fotógrafo carioca radicado há mais de vinte anos no North Shore, Hawaii.
Kirstin/ ASP
seguiu inverter a situação e agora é o mais próximo de Gabriel Medina. Depois de Teahupoo, quando indagado sobre suas chances de disputar o titulo desse ano, Slater afirmou que gosta mesmo desses desafios. Para mim é sempre bom ter o Kelly de volta na briga do título mundial. Se existe alguém que atrai o público, a mídia e principalmente fortes emoções nas disputas, esse cara é ele, que vem fazendo isso há anos. Confesso que teve uma época que cheguei a pensar que quando Slater se aposentasse, o circuito da ASP iria perder um pouco do brilho. Mas graças ao talento e o carisma de caras como John John, Medina e alguns outros, ainda teremos muito “entretenimento” no circuito mundial. Não gostaria de tentar prever ou especular sobre o futuro do surf de competição, porém focar nesse momento que o Brasil está vivendo. Pela primeira vez, não só eu, mas muita gente consegue ver um brasileiro sendo campeão mundial. Saí do
O “camisa amarela” veio pra ficar.
58
Foto: Pedro Tojal
Já pensou em registrar os tubos na sua próxima trip? Agora você também pode com a Neo Cam!
- eletrônicos www.see-eletronicos.com.br Rua Major Acácio 234, sala 2 Taubaté – SP – Brasil Tels.: 12 99128-6609 | 12 3622-1988 e-mail: adm@see-eletronicos.com.br
Fotos Arquivo Pessoal
SURFAR ART
Carlos Carpinelli em processo de criação na sua casa em Garopaba, SC.
CARLOS CARPINELLI O sonho de viajar o mundo para pintar quadros e surfar os picos mais perfeitos só poderia ser alcançado através de muito trabalho e estudo. O primeiro passo foi dado ao ingressar em uma marca multinacional de surfwear australiana, mas como a sede ainda era na capital de São Paulo, mais uma vez surgiu a necessidade da busca pelo ideal. Os ventos sopraram para o sul do país, mais precisamente Garopaba, Santa Catarina, onde encontrou trabalho e pode desenvolver sua arte. Na Mormaii desde 1999, com a responsabilidade pelo departamento de criação e do branding da marca, CARLOS CARPINELLI, 40 anos, finalmente está onde sempre quis. Agora Carpinelli mora perto do mar, na Praia da Silveira, e retrata tanto os picos do quintal de casa quanto as ondas gringas. ––––– por Rômulo Quadra
60
“Baía dos Sonhos” (2014): pintura sobre tela 50x70 cm em tinta acrílica, inspirada em uma praia na região de Big Sur, California.
Como você definiria a sua arte? O sonho dos surfistas. O mar de gala nos picos que a gente ama, a cena que todos nós gostaríamos de ver quando chegamos para o surf... Enfim, uma coisa boa, algo que nos inspire a continuar na busca infinita pelo mar da vida, que possa ir além de vender ou conquistar algo, mas sim deixar e sentir algo de bom. Passar um momento de felicidade para quem vê minha arte, mostrando até de forma purista as coisas e momentos que vivi ou gostaria de ter vivido, visto ou imaginado. No meio de tanta tristeza e crueldade, um respiro de pureza, beleza e uma sensação de paz. É como eu contribuo com o mundo e como digo para as pessoas “Aloha”!
Que material você normalmente utiliza para pintar? Pinto com tinta à base de água, acrílica, e uso pincéis quase sempre, mas também uso rolo, esponja e até os dedos em muitos casos. Funciona assim: tenho uma imagem na cabeça e uso o que for mais eficiente para conseguir chegar ao efeito que busco. Gosto de pintar sobre tela, pois faz a obra ter uma maior durabilidade. Como moro perto do mar, os papéis tendem a estragar com o tempo. Ou, então, desenho em metal, madeira... Vale tudo.
Quais são as suas principais influências no meio artístico? Christian Lassen (artista que mora no Hawaii) foi o cara que me inspirou quando eu era criança. Ele é incrível! As cores e as pinceladas são perfeitas... Não vi nada igual até hoje. Mas têm vários que eu poderia citar, desde os mais renomeados como Cézanne, Paul Gauguin, Van Gogh, Moebius e Gustavo Doré, além de alguns amigos como Gustavo Rolim, Tom Veiga, Duka Machado e Fukuda que também me inspiram, tanto na forma como pintar ou na postura de investir em sua carreira como artista e em seus sonhos. São artistas incríveis, cada um com suas qualidades e também sequelas típicas de artista (risos).
Atualmente é possível viver de arte no Brasil? Creio que sim, mas não é o meu caso. Venho conciliando meu trabalho como diretor de criação com a minha evolução como pintor. Tenho amigos que são artistas profissionais, como Tom Veiga e Duka Machado, que vivem da arte, comercial ou não. Tem a ver com sustentar cada estilo de vida e, principalmente, gostar do que se faz. A grana fica em segundo plano e pode rolar como consequência ou não.
“NO MEIO DE TANTA TRISTEZA E CRUELDADE, UM RESPIRO DE PUREZA, BELEZA E UMA SENSAÇÃO DE PAZ. É COMO EU CONTRIBUO COM O MUNDO E COMO DIGO PARA AS PESSOAS ALOHA!”
61
“A onda sem fim” (2005): pintura em tela medindo 150x130 cm, onda que circula uma ilha e nunca acaba. Esse é o sonho de pico ou o pico que saiu de um sonho.
“QUANDO EU PINTO, FAÇO O QUE QUERO. JÁ QUANDO DIRIJO UM FOTÓGRAFO, FAÇO O QUE A MARCA PRECISA, ISENTO DE EGO E FOCADO SOMENTE NO COMPROMISSO FIRMADO, POIS SE O TRABALHO NÃO FOR BEM FEITO, NÃO HAVERÁ O SEGUINTE, AÍ, NÃO TEM VIAGEM OU SURF EM ONDAS PERFEITAS (RISOS)!”
62
Como foi que você se tornou diretor de arte? Desenho profissionalmente desde os 13 anos, quando fiz minha primeira estampa de camiseta para uma marca de surfwear. Me formei em Design aos 22 anos pela FAAP, SP, já trabalhando nessa área e pintando paralelamente. Acho que me tornei diretor de arte quando começaram a me chamar assim, mas para mim eu só fazia o meu trabalho como sempre fiz. É uma missão que a gente ganha sem perceber. Parece diferente de se tornar advogado ou médico, que vem como um título ou nomeação acadêmica. No meu caso vem com a experiência prática. E qual a principal diferença entre as artes plásticas e o seu trabalho de diretor de arte? A liberdade. Quando eu pinto, faço o que quero. Já quando dirijo um fotógrafo, faço o que a marca precisa, isento de ego e focado somente no compromisso firmado, pois se o trabalho não for bem feito, não haverá o seguinte, aí, não tem viagem ou surf em ondas perfeitas (risos)! Artes plásticas e branding são totalmente diferentes, como água e vinho, ambos são importantes, mas um é fundamental e outro é opcional. Qual é qual? Depende de nossas prioridades que revezam ao longo da vida.
Você é autodidata ou fez algum tipo de especialização em pintura? Jamais tive aula de pintura, mas já trabalhei com alguns ótimos artistas. Muito do que faço hoje traz o que vivenciei com eles, principalmente o período em que fazia cenários para comerciais, na época em que ainda era muito cara a computação gráfica. Os painéis de fundo de vídeo clips de bandas, como Capital Inicial ou de shows como o de Roberto Carlos, eram todos pintados à mão, hiperrealismo feito com rolo de tinta e pincel, uma fase de grande importância na minha formação como pintor, pois tínhamos obras grandes e um tempo super reduzido para terminá-las. Quantos quadros você já pintou e qual foi o mais especial? Não sei exatamente quantos quadros já pintei, cerca de 200 ou mais, muitos se perderam sem registro. Acho que o mais importante é sempre o último, pois o que mais me interessa é todo o processo de aprendizado que acontece durante o caminho e as soluções que encontro para cada imagem que quero representar. Agora, por exemplo, estou fazendo um registro do litoral de Santa Catarina de um ângulo totalmente diferente, o que
Fotos: divulgação
Detalhe da obra “Amazônia”.
Cacimba do Padre, em Fernando de Noronha. me faz ter que achar uma forma nova de pintar. Isso é o que mais me interessa, pois embora os quadros pareçam iguais quanto à técnica, sempre tenho que usar um pincel de forma diferente e, muitas vezes, eu até esqueço como foi que fiz em um quadro anterior e tenho que recriar o caminho para fazer a superfície da água ou outro detalhe qualquer. Você retrata ondas nacionais e internacionais. Viaja muito para isso? Sim. Tenho viajado como diretor de criação da Mormaii desde 2000 com o compromisso de trazer imagens que mostrem o feeling do surf, retratando os atletas patrocinados com um olhar de quem pega onda, o que é um grande diferencial. Somente um surfista olha para uma praia com aquele olhar de quem procura um line up perfeito e entende como isso é especial de se mostrar para outro surfista. São detalhes simples que passam despercebidos para alguém que não pega onda, como colocar as quilhas, caminhar pela bancada ou uma remada no canal com um tubão de fundo. Tudo isso sempre em parceria com fotógrafos, como James Thisted, Sebastian Rojas, Alberto Sodré, Motauri Porto, caras que têm décadas viajando com os melhores
Praia do Rosa, SC.
Praia da Ferrugem, em Garopaba. surfistas do Brasil. Traduzir as composições artísticas em pinceladas nas telas, entender como nossos olhos focam objetos próximos ou distantes e transferir essa impressão para as pinturas, tornando-as mais realistas e depois misturando o lado lúdico, resgatando assim o imaginário. Viajar bastante aprimorou mais a sua arte? Já pintava ondas antes de viajar, mas depois que conheci picos como Pipeline, Scar Reef, Lobitos, Galapagos ou Papua Nova Guiné, entendi que são possíveis combinações de ondulação, marés e bancadas que jamais poderia ter imaginado. Misturas que parecem impossíveis simplesmente acontecem naturalmente. Ondas quebrando com coqueiros de fundo, como em Nias. Ou outras que têm a base abaixo do nível da superfície do mar, como Teahupoo. Ou ainda as que beiram a praia durante 300 metros sem fechar, como Desert Point. E outras tão quadradas na maré seca, como Cacimba do Padre, apreendendo um pouco de como a natureza pode parecer surreal, muito além do que a razão pode supor.
“SOMENTE UM SURFISTA OLHA PARA UMA PRAIA COM AQUELE OLHAR DE QUEM PROCURA UM LINE UP PERFEITO E ENTENDE COMO ISSO É ESPECIAL... SÃO DETALHES SIMPLES QUE PASSAM DESPERCEBIDOS PARA ALGUÉM QUE NÃO PEGA ONDA.”
63
Praia da Silveira, em Garopaba.
Ilustração com caneta POSCA vista de dentro do tubo. Obra “Amazônia”, com a Pororoca e outros detalhes da fauna e mata da região.
“O PINCEL, O MOUSE, A CÂMERA FOTOGRÁFICA OU O SPRAY SÃO APENAS MEIOS DE MOSTRAR O QUE ESTÁ EM NOSSA MENTE E CORAÇÃO. COMO NOS COMUNICARMOS COM O MUNDO, DEIXARMOS NOSSA MARCA...”
64
Qual sua análise sobre a arte manual X digital? Arte é arte e técnica é técnica. Trabalhei como diretor de arte durante 15 anos, então há trabalhos que fiz no computador que me orgulho tanto quanto minhas pinturas. É uma coisa pessoal, independente do que os outros pensam. Para mim, o cara que quebra fazendo arte digital de qualidade e conceito tem a mesma moral. O pincel, o mouse, a câmera fotográfica ou o spray são apenas meios de mostrar o que está em nossa mente e coração. Como nos comunicarmos com o mundo, deixarmos nossa marca, talvez por mais tempo que nós mesmos estaremos aqui, um legado, uma razão de ter existido, por isso vejo muita responsabilidade sobre todo o conteúdo que criamos e dividimos com os outros, que não pode ser apenas um conteúdo vazio. Querendo ou não, esse conteúdo vai ter um impacto, grande ou pequeno, em quem percebe. A minha mensagem eu quero que seja de amor... Amor pelo oceano, pelas ondas e pela vida.
Qual Carlos é o mais feliz? O artista, o diretor de arte ou o surfista? O surfista (risos)! É verdade! Nem a pintura, nem a fotografia e nem nenhuma outra arte supera o prazer que tenho quando estou no mar. Surfar é, sem dúvida, o que me faz sentir mais vivo e de longe minha maior paixão. Esse mês eu tenho algumas pinturas para entregar, mas está dando muita onda aqui em Garopaba, além de altas na Silveira, Ferrugem, Vila... Aí fica difícil de conseguir parar para pintar, fotografar ou trabalhar (risos). Essa vai me deixar meio mal com os sócios (risos)! Mas a real é que temos uma filosofia de liberdade com responsabilidade, onde podemos fazer o que gostamos desde que tenhamos bom senso de ter nossas funções em dia.
Pintura inspirada em foto de surfista em Nias (2000).
“Sem noção point”. Imagem fictícia criada a partir de G-Land e Madagascar, pintura sobre tela 40x60 cm (1999). Vista aérea da Praia da Silveira, pintura em tela medindo 100x130 cm.
Como profissional e artista realizado, que mensagem você deixa para as futuras gerações?
Instagram do artista: carloscarpinelli_art
Na praia da Guarda com a esposa Cecilia e os filhos Yan e Maya.
Everton Luis
A realização está em colocar em prática o que a gente tem prazer. Pode ser pintando, desenhando, esculpindo, fotografando ou qualquer outra forma de expressão. Sem tesão, não rola. Daí, se rolar reconhecimento ou não, já valeu a pena. Como o amor, tem que ser incondicional, assim sai mais genuíno, sem uma cara de comercial ou do que está na moda. A dedicação não deve ser baseada na grana, que vem como recompensa. Ganhar dinheiro é bom, mas se entrar nessa pela grana provavelmente vai rolar uma frustração. O dinheiro vem como bônus, isso se a obra for realmente bacana. Se quiser entrar nessa para ganhar dinheiro, então é melhor ser advogado ou outra coisa qualquer.
“PODE SER PINTANDO, DESENHANDO, ESCULPINDO, FOTOGRAFANDO OU QUALQUER OUTRA FORMA DE EXPRESSÃO. SEM TESÃO, NÃO ROLA.”
Surfando na Cacimba do Padre em 2012.
65
INSTAGRAM GATAS DO SURF
Fotos Arquivo Pessoal
Nessa edição resolvemos dar uma “renovada” para alegria da rapaziada. Fizemos uma seleção dos melhores cliques do Instagram das mais gatas do surf, que fazem bonito tanto dentro quanto fora d’água!
@alessaquizon em algum paraíso mundo afora.
@cocoho bem “à vontade” no pico.
@lauraenever é só alegria dentro d’água.
@nicolepacelli esbanjando beleza.
@chantallafurlanetto atenta aos detalhes do seu equipamento.
@chloécalmon num belo visual de fim de tarde.
@marcelawitt e @claudinhagonçalves no maior astral.
@quincydavis mostra que o surf se começa desde cedo.
@alanablanchard em versão mais “comportada” dentro d’água.
Não deixe de ficar por dentro de tudo que acontece no mundo do surf. Siga @Revista_Surfar no Instagram.
66
NA WEB
Kirstin/ ASP
Fotos: Instagram
Fique por dentro do que a comunidade do surf anda falando nas redes sociais pelo mundo afora!
“HÁ MAIS PESSOAS ODIANDO O GABRIEL
“ELE É O CARA MAIS PERIGOSO NO MUNDO
“O IMPORTANTE É SABER PERDER,
MEDINA DO QUE QUALQUER SURFISTA
DO SURF. MEDINA PODE VENCER E VENCE
QUE EU POSSO PENSAR. NÃO POSSO
EM ONDAS/CONDIÇÕES ONDE AINDA NÃO
APRENDER COM OS ERROS E SEGUIR
TEM TANTA EXPERIÊNCIA E AS PESSOAS
FALADO SOBRE ESSE GAROTO. UM GAROTO
NÃO SABEM O QUE ESPERAR. ELE É MAIS
CONSEGUIR O SEU MELHOR.
QUE TEM 20 ANOS E VENCEU KELLY DE UMA
DETERMINADO E FAMINTO PELA VITÓRIA DO
FORMA JUSTA E CLARA NUMA FINAL
PERDEMOS UMA BATALHA, MAS A
QUE QUALQUER OUTRO SURFISTA.”
GUERRA AINDA ESTÁ EM JOGO!”
EM UM TEAHUPOO ENORME.”
@Shane Dorian se manifestou em relação às críticas que Medina recebeu de muitos gringos.
@Kelly Slater
@Willian Cardoso
que também usou as redes sociais para defender Gabriel Medina.
deixou claro, após perder no Round 5 na Ilha de Açores, Portugal , que está determinado a não deixar a vaga do WCT escapar esse ano.
“UMA ONDA VIAJA QUILÔMETROS
“ME FAZ QUESTIONAR COMO TODA NOSSA
ATÉ CHEGAR A VOCÊ. E ANTES DELA
CULTURA DO SURF TRATARIA CADA UM SE A
ANO, MAS AMANHÃ SERÁ DIFERENTE!
MÁQUINA DA ASP FOCASSE EM DIVERSÃO,
VOCÊS ESTÃO PRONTOS PARA VER O MELHOR
“EU NÃO PASSEI MUITAS BATERIAS ESSE
MORRER NA AREIA, VOCÊ TEM
DIVERSIDADE E COMUNIDADE AO INVÉS DE
SURFISTA QUE JÁ VIVEU CAIR NO ROUND 2
O PRIVILÉGIO DE SURFÁ-LA...
HIPER COMPETITIVIDADE, INDIVIDUALIZAÇÃO
NO PICO QUE ELE ABSOLUTAMENTE DOMINA
VAI ME DIZER QUE O SURF
E ADORAÇÃO ÀS CELEBRIDADES.”
DESDE ANTES DE EU NASCER? EU ESTOU
NÃO É ALGO MÁGICO?”
@Dave Rastovich
@Chloé Calmon gosta de filosofar durante suas viagens pelo mundo.
refletiu após vencer o Four Seasons Champions Trophy 2014 em Maldivas.
Acompanhe a Surfar pelo Twitter: www.twitter.com/revistasurfar.com.br
68
EM FRENTE PARA NO PRÓXIMO
ACREDITAR EM QUANTA MERDA TEM SE
PRONTO!”
@Jeremy Flores o polêmico francês colocou fogo na bateria contra Slater, mas na hora do vamos ver foi eliminado.
Booaaighhtt B Niging Awards N a d a d orld oSunréf sia d
70
Divulgação ASP. Fotos por: Pedro Tojal
ASP WIn
Essa temporada na Indonésia está sendo considerada umas das melhores dos últimos anos e, como ninguém é de ferro, a surfistada caiu na noitada no Single Fin. O problema é fazer bonito no dia seguinte no outside. Mas isso já é outra história...
01
04
07
11
03
02
05
06
08
10
09
12
13
01 – Single Fin bombando! Em pé: Candice, Luiza, Maria, Audrey, Rebecca e Ana. Sentadas: Camila e Fernanda. 02 – O alto astral de Guilherme Tripa, Milla Bikinis e Bruno Santos. 03 – Ernesto Nunes muito bem acompanhado por Aline e Luciana. 04 – Beleza em dose dupla que deixou muito marmanjo babando! 05 – Eric de Souza com sua namorada Rebecca. 06 – Mulherada brasileira marcou presença forte. 07 – Raoni Silva e Ana Thais. 08 – O fotógrafo Pedro Fortes e Joana. 09 – Ian Cosenza com Maira Lobato. 10 – Bernardo Pigmeu e sua esposa Bárbara. 11 - Peterson Marchese entre as belas Carol, Larissa e Marcela. 12 - O fotógrafo Fábio Dias com o casal Diego Santos e Fernanda. 13 – Galera brasileira reunida.
SHARPEYE MODELO DISCO DE 4’9”A 6’4” PRANCHA DE ALTA PERFORMANCE COM O ROCKER BAIXO QUE IMPRIME BOA VELOCIDADE EM ONDAS MÉDIAS E PEQUENAS .
SURFPRESCRIPTIONS MODELO NEW TOY DE 5’2”A 6’2” PRANCHA DOUBLE WING ROUND INCRIVELMENTE SOLTA E RÁPIDA PARA CONDIÇÕES PEQUENAS E MÉDIAS. PODE SER USADO 4 OU 3 QUILHAS
NA MEDIDA Natural de Florianópolis, SC, RODRIGO SILVA já se interessava pela arte de shapear desde moleque na época que era competidor. Aos 16 anos, ele ganhou um bloco em um campeonato e resolveu shapear sua própria prancha. “Ela ficou boa, então ali começava o início da minha carreira de shaper e o fim da minha carreira como competidor. Meus amigos começaram a me pedir para fazer as pranchas deles até que resolvi levar isto como uma profissão”, conta. E assim surgiu a SRS Surfboards sob o comando de Rodrigo, que hoje, aos 34 de idade, já contabiliza mais de 6300 pranchas produzidas. E entre seus parceiros, os atletas Pedro Husadel, Yan Söndahl, Moa Soares e BETO MARIANO, cuja parceria vem rendendo frutos desde 2005.
BETO MARIANO POR RODRIGO SILVA
RODRIGO SILVA POR BETO MARIANO
Conheci o Beto ainda garoto, moramos no mesmo bairro e surfamos juntos desde que comecei a pegar onda, mas o pontapé inicial da nossa parceria aconteceu mesmo somente em 2005. De lá pra cá, ele tem sido o atleta que mais uso como referência, pois está sempre aqui na fábrica. A nossa proximidade e o fato de usarmos medidas parecidas de pranchas facilitam o meu trabalho. Muitas vezes eu uso as dele e vice-versa, então quando falamos o que vamos mudar sei exatamente o que ele está sentindo em relação à prancha. Além disso, também sempre me passa um feedback correto. A versatilidade é a principal característica do Beto, que tem um bom repertório de manobras e pega altos tubos. Normalmente quando quero criar novos modelos, o chamo para testar, já que se adapta bem com qualquer prancha e isso fez dele o meu principal piloto de testes. O Beto possui um quiver bem diversificado, mas para surfar no dia a dia tem usado bastante o modelo DS3 5’11 swallow, que usa um fundo single to double concave e um double V na saída da rabeta, bem versátil para as nossas condições. Agora estamos trabalhando em um novo modelo de performance chamado Black Cross e os resultados estão muito bons. Também devo começar os testes de outro modelo para small waves nos próximos meses e lançar no início do ano que vem.
Eu estava retornando às competições e não tinha um shaper fixo, mas como já conhecia o Rodrigo desde os meus 10 anos começamos um trabalho. Nós surfamos juntos desde garotos, então ele conhece bem meu estilo e sabe o que preciso. O Rodrigo mantém os arquivos de minhas pranchas guardados, portanto, quando preciso de algo novo, olhamos o que havia sido feito na prancha anterior e tentamos adequar as minhas necessidades atuais. Ele é um cara que está sempre buscando evoluir e tem bastante contato com marcas gringas, isso faz com que as pranchas dele estejam cada vez mais refinadas e, assim, me disponibiliza sempre o melhor para que eu possa evoluir ao máximo minha linha de surf. Agora minha prancha mágica é a 5’11 DS3, que tem uma resposta muito boa em ondas de até um metro. Com ela consegui meus melhores resultados e nos treinos é uma prancha que me deixa muito confortável em qualquer tipo de onda: cheias ou tubulares. Também estamos trabalhando em um modelo novo chamado Black Cross, de performance, prancha para ondas de até um metro e meio e mais cavadas. Os resultados estão muito bons. No momento estou participando do Circuito Catarinense Profissional e produzindo imagens, mas tenho programado para o ano que vem uma trip para a Austrália e Indonésia.
DS3 5’11 swallow – fundo single to double concave e um double V na saída da rabeta.
Christian Herzog
Beto Mariano entubando no Campeche.
72
O DOMÍNIO DOS BRASILEIROS NA
SEÇÃO MAIS TUBULAR DE DESERT POINT
Eric de Souza buscando a vis達o que foi eternizada na capa da Surfar #15.
76
D
esert Point é uma das ondas mais perfeitas do mundo, porém é no final da bancada, na parte mais rasa e perigosa, que quebram os maiores e mais intensos tubos. Durante seis
meses nossa equipe cobriu todos os swells que entraram no Grower para responder a pergunta: Como um grupo de brasileiros dominou a seção mais tubular de Desert Point, conhecida atualmente como Brazilian Grower? –––– texto e fotos por PEDRO TOJAL
O potencial do Grower já rendeu quatro capas da Surfar.
77
“ Q ua n d o e u v i m p ra D esert em 200 6, ni ng uém fa lava de Grower e eu só peguei no Point. E sse an o quand o ch eg u ei su r fei c o m to da a ga lera no “ Bra zilia n G r ower ” e n e m o lh ei pr o P oi nt. . . ( Ri sos) ” Paulo M oura , ex-top W C T
DESERT X GROWER A palavra em inglês Grow significa crescer e é justamente isso que acontece quando a ondulação chega na última seção da bancada de Desert Point, conhecida como Grower. É normal ver o Point com 4 a 6 pés e o Grower quebrando com 6 a 10 pés, mas é raro ver a onda conectando de ponta a ponta, então é preciso escolher qual seção surfar. Se você não tem medo de tubos largos e intensos seu lugar é no Grower,
78
porém se você busca pelas ondas longas e perfeitas do Point é melhor ter paciência para disputar com o crowd que, às vezes, passa dos 100 surfistas. O motivo disso é que no Point o drop é mais fácil, a onda é mais previsível e raramente fecha. O Grower exige mais do surfista e do equipamento, pois o drop é vertical, a onda é extremamente rápida e geralmente fecha em cima de uma bancada rasa e afiada.
Ian, Eric, Pastori, Stanley, Tatiane e Tojal festejando com a galera local.
Penso logo existo.... Fun.
Grower.
Assim o crowd vai aumentar.
Cinegrafistas e fotógrafos estão se dedicando ao Grower pelo seu potencial fotográfico, já que a onda é maior, o tubo é mais largo e o crowd é quase inexistente. Surfistas profissionais se aproveitam desse fato para produzir vídeos e fotos para anúncios e revistas. Para quem não é profissional, se aventurar no Grower pode ser um risco. Todos os melhores “Brazilian Growers” já se machucaram e quebraram pranchas por lá. A divisão
do crowd entre o Grower e o Point é diretamente proporcional ao nível de surf. Enquanto no Point existem ondas para todos os níveis, no Grower o surf é bem mais intenso e requer habilidade extrema para dropar e acelerar dentro dos tubos ocos e rápidos. Quem surfa nos dois picos diz que no Point é possível tirar um tubo mais longo e no Grower um maior.
79
“Eu s u rf ei o Gr owe r p e la p ri meira vez n o c amp eo n ato da S u rfa r em 2 0 11 e se mp r e q ue posso vol to p ra c á. Es s a é a onda da I n do n é sia m a i s pa recida c o m Pi p e lin e .” S tephan F igueired O
80
81
Ian Cosenza se dedica tanto ao Grower que já está sendo chamado de “Mister Grower”.
A HISTÓRIA Nunca saberemos quem foi a primeira pessoa a surfar em Desert Point. Várias versões fazem dessa história um grande mistério e a única certeza que temos é que o americano Paul Miller, conhecido como Mister Desert, é o surfista que mais tubos pegou por lá. Desde os anos 80, ele dedica parte de sua vida à onda e hoje é apenas mais um no meio do intenso crowd. Questionado por nossa equipe sobre se refugiar no Grower, ele respondeu: “... eu só surfo lá quando pego uma onda perfeita que emenda
82
na bancada inteira. Nunca dropei direto no Grower porque a onda é muito perigosa e acredito que em breve alguém pode morrer ali. A pior situação que passei em Desert foi quando conectei uma onda do Point até o Grower. Quando sai do tubo, fui surpreendido por uma série de oito ondas que quebraram na minha cabeça e que me prenderam na parte mais rasa dos corais... Eu quase morri!”
Ian, Gabriel e Stanley com os futuros locais do pico.
Lucas Vicente, 11 anos, é um futuro “Brazilian Grower”.
Yan Söndahl, nove anos, é o surfista mais novo a surfar no Grower.
Um brinde aos tubos. Stanley, Pet, Eric, Ian, Tripa, Gabriel e Fun.
Durante anos a onda ficou esquecida, afinal por que se arriscar no Grower quando se tem Desert quebrando perfeito? A resposta veio com o crowd e a dificuldade de surfar no Point. Em 2008, o freesurfer Marco Giorgi pegou um tubão de 10 segundos que foi capa do Surfline, o maior site de surf do planeta. O vídeo desse tubo mostrou para o mundo que a onda era domável
e, a partir daí, o Grower deixou de ser o “patinho feio” para se tornar destaque em filmes e revistas. Em 2009, o americano Rob Machado foi até Desert gravar o filme The Drifter e, por causa do número excessivo de surfistas, teve que se dedicar exclusivamente ao Grower para essa produção hollywoodiana.
83
84
“ Semp r e su rfei no Poi nt, mas d e doi s anos p ra c á o c r owd me fe z olhar p ro Gr ower c om ou tro s olhos. Além de ter menos gente , a onda do Grower é bem ma is i ntensa e adr enali z ante ! ” L eandro K eesse , surfista local de M aresias
85
A onda dobra de tamanho quando chega no Grower.
“Pa sse i se te me s e s na Ind onési a e p er d i as co n tas d e quantos tubos p egu e i n o G rower . ” I an C osenza
O DOMÍNIO BRASILEIRO Depois que o filme The Drifter foi exibido ao redor do mundo, o crowd em Desert Point só aumentou. Surfistas do mundo inteiro passaram a sonhar com as ondas perfeitas surfadas por Rob Machado e isso fez com que Desert chegasse ao seu limite. Havaianos e australianos se rabeavam sem parar e várias brigas rolaram no outside e na areia. Em 2010 alguns havaianos chegaram a criar um grupo chamado de “Desert Posse”, uma referência ao “Pipeline Posse” e aí as confusões ficaram mais intensas. Quem não gostou disso foram os
86
locais, que passaram a ter prejuízos com o afastamento dos turistas. Em 2011, um grupo de brasileiros, que surfava apenas no Grower, resolveu botar ordem na casa e sempre que algum havaiano ou australiano rabeava era rapidamente repreendido. Depois de algumas brigas em defesa da paz e tranquilidade, esse grupo passou a ser respeitado e admirado pelos locais. A moral foi tão grande que a Revista Surfar teve o aval para fazer o primeiro campeonato da história de Desert, apenas com brasileiros e indonésios na água.
“Ano pa ssa do peguei uma o nda a nima l no Grower e ga nhei R$1 0 mil c o m o prêmio da Surfa r, o Indoba rrels. Mesmo de bac kside, c onsidero es sa uma da s minha s onda s favo ritas.” E ric de S ouza
Depois da competição, vários surfistas do Brasil passaram a se dedicar exclusivamente ao Grower. Alguns deles nem sequer olham para o Point e só entram na água quando a última seção da onda está funcionando. O fluxo de brasileiros é tão grande nessa seção que surfistas de outros países não se sentem à vontade para surfar ali, apesar do clima ser tranquilo e ninguém se rabear. A galera se dedica tanto ao pico que os próprios indonésios passaram a chamar a seção de Brazilian Grower. Na praia também existe um território
brasileiro, já que um dos restaurantes, batizado de Grower Warung, virou ponto de encontro da galera. Sempre que tem swell, surfistas e gatas do Brasil lotam o Warung e fazem do lugar um cantinho verde e amarelo em pleno paraíso das ondas perfeitas.
87
“ Eu ven h o para D e se rt e quase não su rfo n o P o in t . M e sm o o Grower sendo mu ito m ai s pe r i go so , e u c onsi go p egar a l tos tub o s só c o m o s meu s ami gos e isso não t e m p r eç o ! ” G abriel Pastori
88
89
“Esta é u ma das t r ê s m el h ores on das d o m un do pa ra mi m, j un to co m Pipe e Te ah up o o .” B runo S antos
O FUTURO Desert é, sem dúvida, uma das melhores ondas do mundo e esse título pode comprometer seu futuro. Além do crowd, alguns fatores preocupam quem mora e frequenta a região. A sujeira, a falta de saneamento básico e a especulação imobiliária são alguns dos problemas que botam esse paraíso em risco. A cada swell muito lixo é produzido e não existe nenhuma espécie de coleta. A questão do esgoto também preocupa, já que as fossas foram construídas muito perto dos lençóis freáticos, o que contamina a água e gera doenças. É
90
muito comum ver surfistas com infecções no estômago e intestino. Apesar desses transtornos vários turistas estão procurando terrenos para comprar e até uma mansão já foi construída em frente ao pico. Fora de Desert é possível ver o investimento que o governo de Lombok fez no aeroporto e nas estradas. Os moradores sabem que em breve a eletricidade e o asfalto chegarão até a praia e isso não é tão bom quanto parece. O receio da comunidade local é que o desenvolvimento traga grandes hotéis e resorts, o que pode acabar com os negócios locais.
O tube rider Bruno Santos não poderia ficar fora da festa.
Finais de tarde para guardar na memória.
Apesar de todas as especulações, os tubos perfeitos continuarão sempre por lá e a nova geração de surfistas locais terá o privilégio de escolher sempre a melhor onda. Os brasileiros podem até dominar o Grower, porém nunca serão locais de nenhuma praia da Indonésia. É muito comum ver estrangeiros, que moram ou visitam a Indonésia há muito tempo, gritando e brigando como se fossem donos dos picos. Lembre sempre que somos visitantes e que só pelo fato de poder surfar essas ondas perfeitas já é motivo
de gratidão. Imagina se Desert Point fosse no Brasil? Os “locais” dariam até tiro para mostrar quem manda mais! Nossa sorte é que Deus escolheu a Indonésia para ser o destino das ondas perfeitas e o povo faz questão de dividir isso com o resto do mundo. Não se esqueça de respeitar os surfistas locais e estrangeiros, espere pela sua vez, não drope nas ondas dos outros e, o principal, respeite para ser respeitado. Assim sempre seremos bem-vindos e poderemos continuar a viver o sonho da onda perfeita.
91
“N a p r imei ra v ez qu e sur f e i n o Poi nt, fu i rab e ado p or u m loc al de P i p e l i ne e a c onfu são se e st e n deu até a ar e i a. Hoj e eu só su rfo n o Gr ower e o ú ni c o p r o b le ma qu e tenho é c o m a banc ada. . . ( r i so s) ! ” S tanle y C ieslik
92
93
Marcio Canavarro
C o m a p e n a s 1 9 a n o s , F i l i p i n h o ĂŠ u m d o s s u r f i sta s d e m a i s p ot e n c i a l d o WC T e e stĂĄ p r o n to pa ra voa r a l to !
O SHOWMAN
FILIPE TOLEDO N
o início de agosto, Filipe Toledo levantou a bandeira do Brasil na etapa Prime de Huntington Beach no melhor estilo “Nós vamos invadir a sua praia!” em plena terra do Tio Sam. O brasileiro venceu a final 100% verde-amarela contra Willian Cardoso e sagrou-se campeão do “super midiático” Vans US Open of Surfing. A repercussão foi gigante! Filipinho estampou a capa dos sites especializados no mundo inteiro e ganhou destaque nos principais jornais da região (Orange County). Das perfeitas ondas do Baguari na Praia Grande, Ubatuba, ele passou pelas direitas pesadas da Vermelha do Centro até chegar às rampas de Lower Trestles em San Clemente, Califórnia, para onde se mudou há pouco tempo. Filipe surpreendeu em cada fase do seu surf. Ao olhar todas as suas conquistas e performances, algumas de deixar a praia de boca aberta, é normal esquecer que o currículo é de um garoto de 19 anos. Na infância, o filho do bicampeão brasileiro Ricardo Toledo venceu em todas as categorias amadoras que disputou. Quando adolescente, mais precisamente com 16 anos, colocou o seu surf em destaque no cenário mundial ao vencer John John Florence e os queridinhos da torcida americana Kolohe Andino e Conner Coffin na final do Pro Junior de Huntington Beach em 2011. Já no ano seguinte, Filipe conseguiu na primeira temporada o que muitos surfistas sonham a carreira inteira: classificar-se para o WCT. A partir daí, Filipinho atingiu um sucesso meteórico. Aos 17 anos, o ubatubense estreava entre o seleto grupo dos 36 surfistas da elite do surf mundial. Logo na segunda etapa, ele conquistou um 5º lugar no clássico campeonato de Bells e, em seguida, fez a festa da torcida brasileira no Postinho com um show de aéreos. O melhor resultado veio na França, onde ficou em 3º lugar ao chegar às semifinais e terminou o ano como o 17º do ranking da ASP, isso com apenas 18 anos. Agora, em 2014, Filipe se despediu dos amigos e da água morna de Ubatuba para buscar uma nova experiência nas ondas geladas da Califa, melhorar o inglês e ficar mais perto do patrocinador e da mídia internacional. Depois de realizar o sonho de vencer o evento principal do US Open, o garoto está cheio de confiança para conquistar novos desafios! Façam suas apostas! –––– por Luís Fillipe Rebel
97
Daniel Smorigo
O c o m p e t i t i v o F i l i p e ta m b é m s e d e s ta c a n a s s e s s õ e s d e f r e e s u r f , c o m o e s s a e m P o r t u g a l .
INFÂNCIA Como foi o início da sua trajetória no surf? Meu pai estava no auge
Você chegou a sentir alguma pressão por ser filho de um campeão brasileiro ou as portas se abriram mais facilmente? Pressão não.
da carreira e tinha sido campeão brasileiro (91) quando o Matheus nasceu. Logo depois, eu nasci, ele conquistou o segundo título brasileiro (95) e já me colocou na água também. O Matheus ingressava no surf com uns quatro para cinco anos. Fiz o meu primeiro campeonato aos cinco anos e comecei a amar esse esporte. Venho de uma família muito surf, onde meu pai competiu a vida toda e o meu irmão também.
Nunca fui um moleque de “arregar” na hora da pressão. Sempre consegui absorver muito bem isso. O meu pai, minha família e meu irmão abriram muito as portas para mim. Acho que se não fosse eles, eu não estaria aqui hoje. Quem eram os seus ídolos de infância? Sempre me amarrei em ver o Andy Irons surfar, até por sermos da mesma equipe na infância (Billabong). Um cara que eu também gostava muito era o Mick Fanning. Foram dois ídolos que me inspiraram bastante.
Quando começou o sonho de se tornar um surfista profissional?
Marcio Canavarro
Isso é uma coisa que puxei do meu pai. Ele sempre foi muito competitivo, teve muita garra e determinação para chegar ao seu objetivo. Então, qualquer coisa que perco, eu já fico puto e quero jogar de novo para ganhar. Pode ser besteira, até mesmo bolinha de gude. O meu primeiro ano no circuito paulista amador, eu terminei com a vice-colocação na Petit e, a partir daí, me apaixonei em botar a lycra de competição para um dia chegar ao WCT.
UBATUBA A cidade tem altas ondas e respira surf. O quanto isso contribui para a sua formação como atleta profissional? Minha família toda
foi muito abençoada por ter morado naquela cidade durante a maior parte de nossas vidas. Ubatuba é um lugar que tem mais de 100 praias diferentes. Vamos supor: se tem um campeonato no Rio de Janeiro, lá tem ondas parecidas com as do Rio, também do Guarujá e de todos os lugares do Brasil. Foi muito bom para poder treinar, evoluir o meu surf e ganhar experiência em onda grande.
R i c a r d o To l e d o passa toda a experiência de um bicampeão brasileiro para seu filho.
98
James Thisted
Daniel Smorigo
E m Ke r e m a s , F i l i p i n h o c o lo c o u e m p rát i c a a t é c n i c a a d q u i r i da n a s d i r e i ta s da Ve r m e l i n h a .
Por que a Vermelha do Centro se tornou a sua onda favorita em Ubatuba? Quando eu era moleque sempre surfei na Praia Grande,
uma ondinha mais fácil. Depois comecei a evoluir e passei a buscar a Vermelhinha do Centro por ser mais pesada. A ondulação bate em um costão no canto da pedra e faz um triângulo para a direita. Quando está muito bom, tem altos tubos. Com o power da onda, consigo executar todas as manobras: rasgada, batida, aéreo... Sempre que estou em Ubatuba, surfo o dia inteiro lá com os meus amigos. Me amarro naquela praia!
A @ s u r fa m i ly é u m d o s “ s e g r e d o s ” d o s u c e s s o d e F i l i p e .
E as outras praias da cidade? Eu ia bastante com meu pai e meu ir-
mão na praia do Félix. Eles, por serem goofies, sempre gostaram de lá, uma esquerda de triângulo no canto que quebra um tubão. Eu era molequinho, mas estava lá junto com eles e a galera local sempre respeitou muito a minha família. O Félix deixou o meu surf mais rápido e melhorou o meu posicionamento nos tubos. Mas quando dava um swell, a gente também ia para Brava da Almada ou do Camburi. Sempre procurei ir para os lugares que tinham o melhor tipo de onda.
“Nunca
fui um moleque
de ‘arregar’ na hora da
Como é ser o principal representante do surf da cidade atualmente?
Anos atrás, a gente teve o Tadeu Pereira que foi um surfista do WCT e eu tenho essa oportunidade hoje. Não tenho nem o que falar da galera, pois quando volto para lá eles me recebem muito bem. Eles passam, veem e dão parabéns. Uma cidade maravilhosa e sinto muito orgulho de representá-la. (Wiggolly Dantas é outro atleta de Ubatuba que está na briga para entrar na elite).
pressão.
Sempre
consegui
a b s o r v e r m u i t o b e m i s s o .”
99
Morris/ ASP
Mais uma vez, os aéreos no beach break de Huntington foram as “armas” de Filipinho para alcançar o lugar mais alto do pódio.
BI-CAMPEÃO DO US OPEN OF SURFING
“N a
Você venceu o Pro Junior em 2011 e agora o evento principal com Huntington Beach lotada. Qual o levante que um título em plena Califórnia, berço do surf mundial, dá à carreira de um surfista? Ganhar o
hora que a gente
f i n a l i z av a a o n d a , e u v i a u m
Pro Junior em 2011 já tinha sido uma das minhas maiores vitórias. Esse ano eu venci o evento principal que era o meu sonho. Foi engraçado porque quando começou o campeonato eu estava gripado de cama e morrendo de dor no pé. Fazia três dias que não saía de casa. Fiz a primeira bateria, passei com duas notas baixas, sem estímulo nenhum. A segunda bateria foi a mesma coisa. Mas depois comecei a melhorar da gripe, fui a um fisioterapeuta e aos poucos comecei a acreditar que podia vencer. Deu no que deu! (Risos) Cheguei à final, consegui ganhar e nunca, nunca, vou esquecer! Comecei lá de baixo e cresci durante o campeonato, então dá um gostinho melhor ainda. É muito importante para o atleta ser campeão em um evento desses na Califórnia, o centro das atenções, onde estão todos os fotógrafos, revistas e donos das marcas.
Brasil. A g a l e r a g r i tav a m u i t o , t o d a a q u e l a pa i x ã o p e l o s u r f ! ” monte de bandeira do
Como foi feito o tratamento para conseguir competir mesmo com a lesão no tornozelo? Eu me machuquei no Prime de Ballito, África
do Sul, quase um mês antes do US Open. O fisioterapeuta Dr. Tim Brown, que estava com um grupo muito bom no evento, fazia uma botinha com o tape que impedia do meu pé de trás virar para o lado de fora. Isso ajudou a sentir muito menos dor. Também tomei um remédio para dar uma aliviada. Infelizmente a lesão se agravou e tive que pular fora da etapa seguinte no Tahiti para ficar 100% para Lower Trestles.
100
Marcio Canavarro
Lallande/ ASP
Marcio Canavarro
Ao lado: Final brasileira na casa do “inimigo”. Acima: Sonho realizado, campeão do evento principal do US Open Of Surfing.
Por que a decisão de competir um WQS (US Open) mesmo com o risco de agravar a lesão e não poder competir no Tahiti? Quando cheguei
da África faltavam dois ou três dias para o campeonato começar. Descansei e o pé ficou inchado. Já estava em cima do campeonato e falei: “Pô, surfei J-Bay sem dor, vamos ver o que acontece!” Então, não sei, acho que quando Deus prepara uma coisa assim, Ele faz de tudo para a gente ir lá e dar tudo certo. É… Quando eu cheguei no meio do campeonato, a ficha caiu que poderia agravar mais a lesão e, de alguma forma, o Tahiti sairia de fora dos meus planos. Foi o que aconteceu. Meu pai conversou comigo, fui até o team manager da Hurley e o doutor falou que a melhor opção seria deixar a competição de lado para se tratar. irado! A gente sabia que poderia acontecer uma final brasileira, pois eu, Jadson e Willian Cardoso estávamos em chaves diferentes. Queria muito que isso acontecesse porque o Willian me venceu em uma final em Newcastle alguns anos atrás. Era a oportunidade de dar o troco (Risos). Acho que metade da praia era brasileira. Na hora que a gente finalizava a onda, eu via um monte de bandeira do Brasil. A galera gritava muito, toda aquela paixão pelo surf! Fazia alguns anos que isso não acontecia. A última final com brasileiros foi em 99 com o Neco Padaratz e o Fabinho Gouveia. A gente fez história ali em Huntington mais uma vez!
Orgulho nacional, Filipinho levou a bandeira do Brasil ao pódio.
101
Lallande/ ASP
Como foi fazer uma final brazuca na casa dos rivais? Cara, foi muito
Marcio Canavarro
A c a s a e a s p ra n c h a s n ova s e m p o u c o t e m p o j á r e n d e ra m b o n s r e s u l ta d o s pa ra F i l i p e .
CALIFÓRNIA gar à prancha mágica. Quando cheguei aqui já tinha umas 20 pranchas prontas. Todo dia pegava cinco novas e ia para a praia treinar. Eu pegava duas, três ondas com cada, já via qual era a boa e guardava de canto para poder levar nos campeonatos.
Por que a escolha de morar em San Clemente? Não queria me mu-
dar de Ubatuba por nada. Sempre falei para os meus pais: “Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira.” (Risos) Um dia toda a família foi para o Hawaii e eles pensaram em se mudar. Eu falei: “Não... Vocês estão doidos? Já não vou me mudar de Ubatuba, muito menos para o Hawaii.” (Risos) Aí, no ano passado, vim com meus pais para a etapa do WCT na Califórnia e comentei com eles que em San Clemente eu moraria. Aqui tem altas ondas para poder treinar, além disso, estaria mais perto do patrocinador, da mídia gringa e melhoraria o meu inglês.
Como foi o trabalho para desenvolver o modelo de prancha que vai levar sua assinatura? Na verdade, ele fez essa prancha para teste.
Era um modelo que ele já tinha, mas deu uma mudada na rabeta. Foi a prancha que ganhei o US Open. Ela entrou no meu pé de uma forma impressionante e eu conseguia fazer o que quisesse. Decidimos que poderia ser o meu modelo e agora a gente só está no trabalho do logotipo. Espero que dê tudo certo e saia o mais rápido possível. (A prancha é 5’8 18 x ¼ 2 x ¼ rabeta squash)
A adaptação está sendo mais fácil por ter trazido a família inteira?
Com certeza. A família é a base de tudo, a estrutura, porque eles significam muito para mim e ajudam com o psicológico nessa fase de adaptação. Você vê o Gabriel, que viaja para a maioria dos lugares com toda a família. O Miguel também. Isso é bom para o atleta, a gente se sente confortável, tranquilo e não tem tanta preocupação.
WCT Em pouquíssimo tempo você entrou no WCT e na época algumas pessoas falaram que deveria esperar. O que achou dessas críticas? Na
real, o meu pai sempre falou para eu fazer a minha parte e o que sempre gostei. O WCT foi uma coisa que eu não esperava naquele ano, fui tendo os resultados que precisava e quando entrei demorou muito para cair a ficha. Claro, sempre tem uma galera que critica e fala que eu devia esperar por não ter experiência. Realmente não tinha. Entrei no WCT com 17 anos e tinha viajado muito pouco, mas foi só questão de tempo para me adequar às ondas do Tour. Claro que tenho muito para aprender ainda.
EQUIPAMENTO Você recentemente trocou a Firewire pela Sharp Eye. Por a marca ser de um shaper brasileiro, isso tem facilitado para desenvolver as pranchas? Ajudou muito sim. Entrei no WCT e competi o meu
primeiro ano com as pranchas da Firewire, que são muito boas. Mas assim que testei a Sharp Eye, eu consegui encaixar o meu surf e deu tudo certo. As pranchas voam! Pelo Márcio ser brasileiro e eu estar na Califórnia fica muito mais fácil a gente che-
102
Marcio Canavarro Marcio Canavarro
Feliz da vida enquanto vive o “sonho americano”.
A parceria com o shaper Marcio Zouvi começou esse ano.
Desde o início você já se sentiu preparado para enfrentar os grandes nomes, como Mick, Joel E Kelly? Na primeira etapa na Gold Coast
ano passado, eu fiquei bem nervoso, mas ao mesmo tempo instigado para entrar na água com os caras. Perdi no terceiro round e pensei: “Caramba, cheguei aqui com o Taj e quase ganhei dele!” Era um passo grande que eu já tinha dado, uma motivação a mais. Tanto que, logo depois, cheguei em Bells muito feliz, bem à vontade e consegui meu quinto lugar. Fiz baterias muito boas e uma no Round 4 contra o Jordy e o Mick, dois surfistas que amo ver nesse tipo de onda. O Jordy ganhou, fez um nove e um oito e tanto. Eu fiz um nove e um oito, já o Mick fez dois oitos. Isso é o que eu preciso: surfar e tirar o peso das costas. Foi o que deu certo aquele ano para mim. Você é apontado como um surfista de grande potencial no Tour, até por ser o mais novo. Como você vem lidando com isso? Além do trei-
namento funcional que o atleta precisa para aguentar o tranco e as ondas pesadas durante o ano todo, também é necessário fazer um trabalho psicológico para o stress das viagens, ficar longe da família, de tudo e mais um pouco. Outra coisa que meu pai sempre falou é para quando entrar no mar eu me divertir. Isso me ajudou muito a ter resultados bons, pois eu entrava lá sem pressão, fazia o que queria e muitas vezes acertei as manobras, sem aquele peso nas costas de ter que mostrar alguma coisa para alguém.
“Q u a n d o c h e g u e i a q u i j á t i n h a u m a s 2 0 p r a n c h a s p r o n ta s . T o d o d i a p e g av a c i n c o n o v a s e i a pa r a a p r a i a t r e i n a r .”
Marcio Canavarro
Com o treinamento funcional, Filipinho, que tem um 5º lugar em Bells no seu currículo, não para de evoluir as manobras de borda.
No trabalho de fortalecimento que você tem feito, existe a preocupação de não perder a agilidade para os aéreos? No ano que entrei
“N ã o
no WCT, eu treinei bastante o funcional para ganhar força nos músculos e não massa, continuando magrinho e forte. Os juízes gostam muito de ver o power e o surf de linha, e tem ondas que só favorecem esse tipo de surf que usa a borda com bastante pressão para poder jogar água. Consegui alguns resultados bons em etapas assim, mas, é claro, tenho muito a melhorar. Agradeço muito ao David Prates que foi o meu treinador.
depende só de
d e s t r u i r e s u r fa r m u i t o , você precisa ter uma e s t r at é g i a n a c a b e ç a pa r a
Você costumava não entrar nas disputas das ondas com os adversários nas baterias no WQS. Como foi a mudança de estratégia agora na elite do surf mundial? No WCT a gente precisa mudar um
e m q ua lq u e r e v e n t ua li d a d e
pouco, pois são os 34 melhores do mundo e, tanto as ondas quanto o psicológico, são totalmente diferentes. É necessário analisar mais o mar e ter paciência na hora de escolher a onda. Não depende só de destruir e surfar muito, você precisa ter uma estratégia na cabeça para em qualquer eventualidade poder usá-la. Já o WQS é um beach break que entra onda em todo lugar. Então, eu pegava duas, três ondas, dava um aéreo e passava as baterias.
p o d e r u s á - l a .”
104
Rowland/ ASP
Depois da entrevista, Filipinho se recuperou da lesão e venceu com esse aéreo gigantesco de backside o “Innovation Award”, prêmio dado à manobra mais inovadora do Hurley Pro at Trestles.
AÉREOS Desde o início você já tinha a tendência para manobras aéreas como o seu irmão? Teve alguma outra inspiração? A minha maior inspira-
ção foi o Matheus sim. Quando comecei, ele já mandava aéreos em um grau de dificuldade muito alto e eu queria fazer também. Isso ajudou bastante porque desde moleque tento essas manobras diferentes, por isso as tenho no pé hoje, de tanto treinar. Claro que sempre assisti a muitos vídeos de surf do Dane Reynolds, Dion Agius, Chippa Wilson, de caras que são especialistas nesses tipos de manobras.
EQUIPE HURLEY Como é fazer parte de uma equipe com tantos atletas no WCT? Cara,
eu fui muito feliz de poder fazer parte desse time que hoje é um dos melhores. A gente tem o Julian Wilson, John John, Miguel Pupo, Alejo Muniz, Kolohe Andino, Nat Young... Por ser uma equipe muito grande, com diferentes tipos de surf, acaba um puxando o nível do outro, principalmente o meu que sou o mais novo da turma e quero evoluir, mostrar para eles que estou no mesmo nível. É uma equipe muito boa e tem tudo para ter um campeão mundial. O time é bem unido (10 atletas no WCT), viajamos sempre juntos porque a Hurley aluga as casas juntas, e eu sempre estou zoando muito a galera. Troco bastante ideia com o Kolohe, o Nat e o Michel Bourez, um cara muito sangue bom.
Você procura trocar experiências com os skatistas para puxar o limite e inovar nos aéreos? Sempre gostei de vê-los andar. Assisti
muitos vídeos e vi a variação de grabs. De vez em quando, a gente troca uma ideia de um grab diferente, de um aéreo que eles executam... O varial é uma manobra que eu trouxe do skate para o surf e sei fazer nos dois. Tem muita semelhança, então procuro olhar algumas coisas que eles mandam para eu treinar e executar nas baterias.
RELAÇÃO COM O PAI Como é a relação com seu pai nas competições e treinamentos? Rola aquela “faísca” entre pai e filho? Com certeza. A intimidade de pai
Para terminar, como você vê o futuro do surf de aéreo? Hoje em
e filho é mais intensa, então ele pode dar um puxão de orelha, coisa que um técnico e um amigo não faria igual. É o que faz a diferença, principalmente para mim que sou um moleque novo. Ele me passar a experiência é muito bom. Ele olha pequenos detalhes que não vejo no mar: “Está vendo ali? Tem aquela onda, ela está abrindo um pouco mais, mas a esquerda está com um potencial melhor. Então, vai para a esquerda e tenta mandar uma manobra forte, um aéreo...”
dia os especialistas em aéreos fazem umas coisas meio fora do comum, tem neguinho que já deu flip na prancha. O Brasil tem uma vantagem muito grande nisso com uns atletas que mandam aéreos sinistros, como o Ícaro Rodrigues e uma galera ali do Guarujá do grupo Visão Acima do Lip. Sempre troco ideias e vejo os vídeos deles. A tendência do surf é ficar cada vez mais sinistro nos aéreos. A galera vai inventar uns grabs diferentes, rotação de prancha... Tem tudo para ficar bem emocionante!
105
DANILO COUTO
TEAHUPOO
“Acho que o Brasil vai enlouquecer quando o Gabriel ganhar o título mundial esse ano.”
Kirstin/ ASP
disse KELLY SLATER ao fotógrafo BRUNO LEMOS em cima do pódio.
Gabriel Medina quebrou o estigma de que brasileiros não se dão bem em ondas grandes.
PRO
TAHITI
Quer saber a real? O Tahiti esse ano foi algo excepcional! Sem sombra de dúvida, as melhores condições já vistas em um campeonato da ASP. Desde o início do evento até o fim, o nível de surf foi incrível, as condições estavam no limite que se pode remar em Teahupoo e, no último dia, o próprio Kelly Slater disse ter visto cerca de 30 a 40 ondas impossíveis de serem surfadas. Nosso colunista Bruno Lemos acompanhou de perto a vitória de Gabriel Medina, que entrou para a história do surf mundial. –––– por BRUNO LEMOS 109
XXXXX
Ace Buchan, campeão de 2013, também deu seu show esse ano.
110
O visual tranquilo da ilha contrasta com os tubos pesados.
Will H S / ASP
Owen Wright se atirou nas maiores e mereceu o Troféu Andy Irons dado ao surfista de mais atitude no campeonato.
O primeiro round contou com ondas clássicas e logo na primeira bateria Kelly Slater deu show, tirou dois tubaços e somou um total de 16,40. No entanto, esse não foi o maior somatório do round. No quarto confronto, Mick Fanning alcançou 18,16 ao marcar duas notas acima de nove. Só que os primeiros sinais de que o evento seria diferente apareceram na disputa seguinte. Joel Parkinson, apesar do bom histórico em vencer as baterias do Round 1, fez um somatório igual ao de Adrian Buchan, 16,30. O desempate ficou por conta da terceira maior nota e nessa Ace levou a melhor, surfando um dos tubos mais incríveis de todo o campeonato. Ele desapareceu completamente e conseguiu passar por uma baforada turbulenta. Mesmo assim, não foi suficiente para convencer os juízes de o recompensarem com a nota máxima, mas sim com um 9,97 que deixou muita gente surpresa. Já na décima bateria, Jadson André varou excelentes tubos e mandou Josh Kerr e Julian Wilson para a repescagem. Outro que fez uma bela performance nesse dia foi Kai Otton. Com muita atitude botando para baixo e para dentro, ele conseguiu despachar Jordy Smith e John John Florence com uma “cajadada” só. A média do australiano foi 18,24 e sua maior nota um 9,57. Por falar em atitude, não temos como deixar de mencionar a coragem de Owen Wright, que se jogou nas mais “cabulosas”. Naquelas que ninguém remava, ele dropava e fazia a galera delirar com sua coragem. Owen ficava tão dentro dos tubos que não conseguiu sair de nenhum, mas, mesmo assim, conquistou pontos suficientes para avançar. E entre os brasileiros, Gabriel Medina foi o único que venceu. Sua maior nota foi um 7,40 em um bowl de oeste perfeito, que o permitiu passar por dentro do tubo com os dois braços para cima, uma das imagens mais bonitas do round. A previsão para o resto da janela do evento estava muito incerta e, diante disso, a ASP não perdeu tempo em colocar algumas baterias do Round 2 na água. Na primeira, Joel Parkinson se redimiu de sua apresentação. As ondas cresciam durante todo o dia e esse talvez tenha sido o momento auge do mar. Parko aniquilou o taitiano Taumata Puhetini ao pegar duas bombas. O surfista local infelizmente foi levado ao hospital depois de cair num drop sinistro. O dia chegava ao fim, mas as surpresas não. A primeira nota 10 aconteceu na última bateria, onde Nathan Hedge, que se classificou pelas triagens, completou um drop absurdo. Após passar por dentro de um salão esbranquiçado, ele comemorou como se tivesse vencido o campeonato.
Tem que ter coragem porque o lip é pesado!
Jadson André aproveitou muito bem os trinta minutos de bateria: surfou vários e vários tubos.
Will H S / ASP
ASP
Wil H-S/ ASP
PRENÚNCIO DA CONSAGRAÇÃO
111
Wil H-S/ ASP
Nota 10! Nathan Hedge completou um drop insano no primeiro dia.
Depois desse dia clássico muita gente achou que as melhores ondas do evento já haviam sido surfadas. Ninguém esperava que os dois últimos dias de competição seriam tão bons quanto ou até melhores. O segundo round continuou com ondas menores que as do primeiro dia, mas a previsão apontava que um novo swell encostaria no Tahiti. Era apenas uma questão de tempo para as bombas aparecerem. Já de cara, Josh Kerr descolou duas notas bem altas e venceu Mitchel Coleborn com uma certa facilidade. Esse round seria decisivo para o resto dos brasileiros. Adriano de Souza já estava fora da competição e o próximo a cair foi Raoni Monteiro, que até fez a estratégia correta contra John John Florence. Ele segurou a prioridade para vir nas ondas da série, mas quando elas entraram foram muito de oeste e fecharam. Miguel Pupo também não conseguiu passar pelo “rookie” Mitch Crews. Enquanto Alejo Muniz precisou de uma combinação de notas e foi derrotado pelo havaiano Sebastian Zietz, que conseguiu um 9,97 em uma de suas ondas. Agora apenas Gabriel Medina e Jadson André continuavam no evento. O local de Maresias enfrentou Nathan Hedge, que provou não estar de bobeira com a única nota 10 da competição até aquele momento. Nathan iniciou a bateria com um 9,27. Porém, enquanto comemorava mais um tubaço, Medina vinha com tudo fazendo uma onda linda e garantiu o maior “score” da bateria, 9,77, que somados a outro 9,03 deixaram Hedge precisando de um 9,54. O paulista estava decidido a manter a liderança do circuito e não foi só a sua determinação que colaborou para isso, pois tudo parecia conspirar a favor dele. Os três caras que o ameaçavam no ranking perderam naquele round: Taj Burrow para Tiago Pires, Joel Parkinson para Brett Simpson e Mick Fanning para Dion Atkinson. Então, restou para Medina conseguir um bom resultado. Já Jadson não teve a mesma sorte e pegou pela frente um Kelly Slater super inspirado, que teve quase dois 10 no seu somatório de 19,44 contra 6,43 do potiguar.
112
SUPERANDO A TUDO E A TODOS A segunda-feira, dia 25 de agosto, começou nublada, sem vento e com ondas grandes e perfeitas. Restava apenas um integrante do time verde-amarelo na competição. Gabriel Medina, que nunca havia surfado as ondas de Teahupoo naquele tamanho, teria que superar tudo e todos caso almejasse um bom resultado na etapa. O paulista teve tempo suficiente para descansar um pouco e reorganizar as estratégias. Super focado, ele despachou Kolohe Andino com um 9,57 e um 7,70, garantindo vaga na semifinal contra Bede Durbidge, que teve um “perfect ten” e um 9,87 nas quartas contra Ace Buchan. Mas nem ele soube explicar como que depois disso passeou bonito na “kombi” do Medina. Durbidge somou 4,17 enquanto o brasileiro 18,67. Se a primeira semifinal foi bastante desequilibrada, a segunda foi completamente diferente. John John Florence contra Kelly Slater em Teahupoo entraria para a história do surf como a bateria mais disputada dos campeonatos da ASP. Tanto Kelly quanto John John surfaram muito. Pela primeira vez tive pena dos juízes, pois com tanta perfeição e performance ficava difícil dar a nota. A impressão foi que todas as ondas daquela bateria eram 10. Para ter uma ideia, o havaiano surfou quatro ondas durante esses 35 minutos e as suas notas foram 9,99, 9,10, 9,40 e 9,87. Já Slater conseguiu um 10, um 8,17 e um 9,77. E o mais incrível foi o somatório dos dois terem sido iguais: 19,77. Mas o 11 vezes campeão levou a melhor, pois contava com a maior nota da bateria. Com uma semifinal desse nível, a expectativa para a finalíssima era das melhores e as ondas continuavam extremamente perfeitas.
Wil H-S/ ASP
John John Florence impressionou a todos atĂŠ as semifinais, mas foi eliminado em uma disputa acirrada e polĂŞmica contra Kelly Slater.
Kirstin/ ASP
Logo na primeira bateria, Medina deu show e garantiu uma das imagens mais bonitas de todo o evento.
113
HITI BONG RO
114
Bruno Lemos/ Liquid Eye
“Nunca vi nada assim! Sem dúvida, hoje vai ficar guardado como um dos
melhores dias de ondas da minha carreira.”
KELLY SLATER
Não importava o tamanho, Slater entubava à vontade e saía em meio a baforadas imensas.
115
O público vibrava com cada bomba surfada na final.
Will H S / ASP
Medina, assim como Slater, chegou à final sem cair uma vez.
O brasileiro bateu o 11 X campeão mundial no melhor campeonato da história da ASP.
116
LOUROS DA VITÓRIA
1 - Gabriel Medina
5 - Owen Wright
2 - Kelly Slater
5 - Kolohe Andino
3 - John John Florence
5 - Adrian Buchan
3 - Bede Durbidge
5 - Dion Atkinson
Mais um título de WCT nas mãos do nosso garoto prodígio.
Kirstin/ ASP
Voa Medina!
BILLABONG PRO TAHITI 2014
Wil H-S/ ASP
Wil H-S/ ASP
Slater havia perdido a final desse evento no ano anterior para Adrian Buchan e muita gente acreditava que esse seria o ano dele. Mas o dia era de Gabriel Medina. O garoto parecia estar “iluminado” por Deus. As maiores e mais perfeitas ondas entraram justamente quando ele tinha a prioridade e pôde computar 9,43 e 9,53. Mesmo depois de cometer um erro, que levou Kelly Slater a pegar uma das séries no último minuto de bateria, o americano ficou a 0,03 décimos da virada. Sem acreditar, Medina explodiu de alegria no canal e não conseguiu conter suas emoções. “Vocês não perderam a Copa do Mundo... foram aniquilados!”, com uma gargalhada e certa irônia, essa foi a frase que Kelly Slater iniciou uma conversa comigo ainda em cima do pódio, logo depois da premiação. E continua: “Acho que o Brasil vai enlouquecer quando o Gabriel ganhar o título mundial esse ano. Ele já provou que consegue ganhar em ondas tubulares e em point breaks de direita. Ele já passou por todos os testes que surgiram em seu caminho. O garoto parece não ter nenhum ponto fraco. Foram poucas as vezes que um competidor chegou nessa fase do Tour com três vitórias e não conseguiu ser campeão mundial”. A minha impressão foi que, com essa declaração, o 11 vezes campeão mundial parecia assumir a superioridade de Medina. Com a vitória em Teahupoo, nosso prodígio Gabriel Medina embolsou 100 mil dólares e disparou na liderança do ranking com mais 10 mil pontos, além de ganhar confiança e o respeito que precisa para quem sabe trazer ao Brasil o tão sonhado titulo mundial de surf. #VAIMEDINA
117
MEXICO
Á
gua quente, sol escaldante, ondas perfeitas e tubulares, assim é Salina Cruz, no México, um local para quem busca
qualidade e perfeição de ondas.
–––– por DUNGA NETO fotos HENRIQUE PINGUIM
119
A australiana Tyler Wright jogando para o alto o nível do surf feminino.
Estava na Califórnia em julho, mas de olho em um
telefonei para o Ian Gentil, brasileiro radicado no
potente swell que estava ganhando pressão no México.
Hawaii, que incluiu o irmão mais novo, Conan, na barca
Todos os sites especializados confirmavam a previsão de
para o México com o intuito do moleque aperfeiçoar
um swell épico. Entrei em contato com o Yuri Soledade,
o surf para as etapas do NSSA, circuito nacional
big rider casca-grossa que reside em Maui e expert em
amador americano.
previsão de ondas, que confirmou a notícia. Também
120
Dunga Neto em Punta Chivo.
Linhas mexicanas.
Yuri Soledade rasgando em La Bamba.
A trip estava formada, eu, Yuri e Conan Gentil, mas
de onde partimos todos juntos rumo ao México, mais
faltava o fotógrafo. Nem pensei muito e já telefonei para
precisamente ao Golfo de Tehuantepec, para cidade de
o Henrique Pinguim, pois para acompanhar essa galera
Salina Cruz. A viagem não saiu de nossas cabeças, tanto
“fominha” por onda o cara tinha que ser trabalhador.
que 10 dias depois o fotógrafo Pinguim retornou com
Pinguim prontamente aceitou o convite e embarcou
os freesurfers cariocas Biel Garcia e JD Edde para pegar
no dia seguinte. Fui para Maui pegar umas pranchas,
um novo swell e mais tubos naquela região.
121
Escollera quebrando nas condições certas.
Sol, água quente e um biquini. Nick Van Dijk vivendo o sonho.
ÁGUA QUENTE E ONDAS TUBULARES Com o litoral bastante recortado, água quente,
ondas em água quente. A cidade tem apenas um
sol escaldante, ondas perfeitas e tubulares, Salina
hotel e as praias propícias para o surf são de difícil
Cruz é um local perfeito para quem busca qualidade
acesso, sendo assim a melhor e mais indicada opção
e perfeição de ondas. A maior parte do turismo é
para quem quer surfar as melhores ondas, sem ficar
direcionada a surfistas do mundo todo, buscando os
perdido no caminho do surf ou escolher o pico
melhores beach breaks do planeta com suas potentes
errado, são os surfcamps, que incluem até motorista
122
Citada por Dane Reynolds como uma das ondas mais manobráveis do mundo, La Bamba liberou suas pistas para o carioca Biel Garcia.
Pedro Scooby
com uma pick up. O bom é que esses motoristas são
deve ser observado e respeitado pelos visitantes é a
surfistas e sabem qual a praia que está com a melhor
cobrança de uma taxa de US$ 500 pela associação
condição, ondulação e vento certo. E o ruim é que
local para fotografar ou filmar as ondas da região,
certamente eles são locais e estarão disputando as
sendo essa verba revertida em benfeitorias para a
ondas também. Mas fique tranquilo, pois sobra onda
população local.
e o crowd, esse sim, é muito na paz. Um detalhe que
123
Os freesurfers cariocas Biel Garcia (em cima) e JD Edde (embaixo) pegaram dias clássicos e voltaram já pensando na trip do ano que vem.
O big rider Yuri Soledade saiu de Maui para pegar os cilindros mexicanos.
REGIÃO COM MUITAS OPÇÕES
Picos como Jetty, Conejo, Chivo, La Bamba, Es-
cactos e montanhas arenosas. E é essa variedade que
condida, Beach Break, dentre outros, possuem ex-
faz dessa região um destino a ser explorado.
celentes ondas e uma beleza única, onde a poucos
As opções em Salina são as melhores e mais
quilômetros de distância temos montanhas com
variadas em qualidade e tamanho de ondas. Depois
cliffs de pedra, vegetação verde e um oceano azul
de dias tão intensos, quando anoitece estamos todos
turquesa, já em outras praias uma vegetação de
literalmente exaustos e é hora de reunir a galera à
124
mesa de jantar para desfrutar a deliciosa culinária
E após oito dias em Salina Cruz, infelizmente
mexicana, além de rever as imagens captadas
chegou a hora da partida, mas com a certeza que
durante o dia e depois o merecido descanso. Nos
voltaremos no próximo ano para surfar lugares
surfcamps, às nove da noite parece ser madrugada.
poucos explorados, conhecendo mais o fantástico
Todos já estão dormindo, pois o sol intenso, as ondas
litoral mexicano com suas belezas distintas e interagir
e o caminho à procura dos picos cansam bastante.
com o receptivo povo local.
125
A equipe Roxy foi a Salina Cruz com suas principais atletas. A campeã mundial de longboard Kelia Moniz cheia de estilo.
Line-up dourado.
COMO CHEGAR
ALIMENTAÇÃO
A melhor forma para se chegar é pelo aeroporto de Huatulco devido ao maior número de opções de voos. Aproximadamente duas horas de Salina Cruz. Também se pode chegar por Puerto Escondido, onde existe um ônibus confortável que dura umas quatro horas de viagem até Salina.
A comida mexicana é espetacular! Suas saladas, os pratos à base de pescado e as quesadilhas são bastante comuns na região.
O QUE LEVAR: Todos os dias que passamos em Salina tiveram boas ondas. E quando o mar diminuía um pouco, o tamanho de prancha não mudava. Mesmo nos dias bons, usamos a prancha do dia a dia, no máximo uma ou duas polegadas a mais para ter mais remada nos dias maiores. As ondas são perfeitas e de fácil adaptação com pranchas pequenas, pois permite mais agilidade e fluidez nas manobras. Usamos bastante os tamanhos de 5’10 a 6’1.
ONDE SE HOSPEDAR Os surfcamps são os melhores lugares e existem cinco na cidade. Os preços variam de 130 a 170 dólares, incluído as três refeições, quarto com ar condicionado, pick up e guia. Escolha essa opção e tenha a certeza que você vai surfar uma das melhores ondas da sua vida.
126
Yuri Soledade no beach break de Mare単os.
Dia grande no Jetty.
127
O sombreiro mexicano de Dunga Neto.
Brasileiro naturalizado havaiano, Conan Gentil foi treinar em ondas perfeitas pelo México.
MELHORES/PRINCIPAIS PICOS PARA SURFAR CONEJO: point break de direita, com aproximadamente 300m de extensão, onda super divertida e extremamente manobrável, sendo a melhor hora na maré vazia, enchendo e baixando. CHIVO: uma das melhores ondas da região. Muito longa, drop difícil ao lado da pedra, uma seção oca com tubo no drop e depois a onda fica bastante manobrável, entra em mais uma seção de tubo e ou manobra. Os mais experientes pegam até três tubos na mesma onda e são grandes as chances de pegar o tubo da vida. Quebra melhor na maré baixa, com 4 a 6 de sul. Locação de vários filmes de surf.
JETTY: essa onda é a da cidade, mais crowd, porém nada de assustar. Quebra ao lado de um mole artificial de pedra, direita forte, bom para tubo e manobra. Melhor na maré vazia e é o único pico que oferece condições de vento e tamanho quando os outros estão ruins. LA BAMBA: direita com parede sólida e perfeita, ideal para o surf progressivo. Melhor na maré baixa e enchendo. ESCONDIDA: onda forte, balançada, com tubo largo e perfeito. BEACH BREAK: tubão oco (quadrado) para direita e esquerda.
O cearense Dunga Neto se sentiu em casa nos tubos e água quente.
Dunga, Conan e Yuri.
Desfrute das belezas Mexicanas.
VIDA NOTURNA A vida noturna em Salina é muito fraca, então, a melhor coisa a ser feita é tomar uma boa cerveja mexicana (considerado uma das melhores do mundo) e rever as fotos e vídeos da caída, caso você tenha contratado um guia para filmar e fotografar. Além disso, devido os dias serem bastante intensos, a noite todos estão cansados e é praticamente impossível sair à procura de balada.
QUANDO O MAR ESTÁ FLAT... Uma boa opção nos dias flats é fazer passeios por ruínas e pirâmides, onde um bom guia pode te levar para conhecer a cultura local, além de apreciar o pôr do sol nas dunas da
região. Na cidade também existe um mini skate park, que não é dos melhores, mas nos dias flats pode ser um divertimento, isso para quem tiver disposição para andar no sol de 450 graus. Outra opção é ver filmes, pois em Salina Cruz existe um cinema moderno.
QUEM LEVA THE SURF TRAVEL CO - Rua Cardeal Arcoverde, 1749 / Blc. B / Cj. 27/28 - Pinheiros São Paulo - SP - Tel: (11)5052-4181 - www.surftravel.com.br NIAS TOUR - Rua Genebra, 264 / CJ 63 – República - São Paulo - SP Tel: (11) 3105-6856 / (11) 95244-0015 - www.niastour.com.br
Valclei Lemos
NOVA GERAÇÃO
Deivid Silva voando alto em Prainha Branca, Guarujá.
IDADE: 19 ANOS APOIOS: GLASSER, ZAMPOL (SHAPER), SURFUNCIONAL, ELITE SURF e FEEL LIKE QUIVER: 5’6, 5’8, 5’9 e 5’10 SHAPER: ZAMPOL SURFISTAS PREFERIDOS: KELLY SLATER e MICK FANNING MELHOR MANOBRA: TUBO
DEIVID SILVA começou cedo sua carreira
DEIVID SILVA
132
nas competições. Aos seis anos, conquistou seu primeiro título no bertioguense de surf e depois seguiu para o guarujaense e o paulista. Como muitos outros atletas, também sofre com a dificuldade da falta de patrocínio, mas isso nunca o desestimulou a seguir em frente. Treinando em picos como Tombo, Camburizinho e Prainha Branca, todos no Guarujá, além de Enseada em Bertioga, hoje, aos 19 de idade, ele mostra que todo seu esforço tem valido a pena. Esse ano, Deivid conquistou a vitória no Red Nose Pro Junior em Baía Formosa (RN) e pela segunda vez consecutiva levou vice-campeonato do Vans Pro, etapa ASP 4-Star nas ondas de Virginia Beach (EUA). “Acho que tive calma e consegui desenvol-
ver bem o que eu vinha treinando em casa. Fui muito focado porque precisava dar a volta por cima depois de perder um bom patrocínio, sofrer uma lesão e ficar um mês e meio parado. E deu certo, graças a Deus”, fala sobre ambas as conquistas. Com várias viagens no currículo, Deivid já passou pela Austrália, Hawaii, Fiji, México, Peru, Costa Rica, Nicarágua, Mentawai e Indonésia, que para ele, sem dúvida, foi a melhor por causa da maior variedade de ondas: “É a onda dos sonhos. As pessoas do lugar também são bacanas.” Agora o guarujaense tem como meta, além de uma trip para o Tahiti, continuar correndo todos os campeonatos importantes, principalmente para conseguir vaga nos Primes e somar pontos para entrar no WCT em 2015.
Valentin aperfeiçoando seu surf nas ondas de Saquarema.
Luciano Santos Paula
NOVA GERAÇÃO
VALENTIN NEVES IDADE: 12 anos APOIO: Neves Surf Brasil QUIVER: 4’8 e 5’0 SHAPER: Lee Neves SURFISTAS PREFERIDOS: Leonardo Neves e Kelly Slater MELHOR MANOBRA: Super Man
Local de Saquarema, VALENTIN NEVES começou a surfar apenas há dois anos e já vem mostrando garra dentro d’água. Filho do surfista Léo Neves, o garoto está sempre treinando baterias e surfando ondas grandes, o que vem o ajudando bastante. Valentin só começou a levar mais sério as competições esse ano, mas seu esforço está sendo recompensado. Entre suas principais conquistas, a primeira colocação na categoria Iniciante do
Macaé Eco Surf em 2013, além do segundo lugar no ASN em Niterói e a quarto posição no estadual do Rio, ambos em 2014 na categoria Infantil. Ainda sem nenhuma viagem internacional, ele pretende em breve ir para o Hawaii. “Lá é onde estão os melhores surfistas e as melhores ondas”, diz. Enquanto a trip não rola, Valentin tem como objetivo competir os campeonatos estaduais e continuar treinando para surfar ondas cada vez maiores.
Henrique Pinguim/ Liquid Eye
Conan na sua última trip no México.
CONAN GENTIL IDADE: 14 anos
Filho de pais brasileiros, o havaiano
que a dedicação é a certeza de colher bons
PATROCÍNIO: Billabong
CONAN GENTIL apesar da pouca idade já tem
frutos nas competições. E os resultados já
em seu currículo várias trips para aprimo-
começaram a surgir. Em julho desse ano,
rar seu surf. Residindo em Maui, ele tem
ele representou o Hawaii na etapa final
SHAPER: Ricardo Martins
as ondas de Hookipa e Honolua Bay como
do circuito nacional americano, o NSSA
SURFISTAS PREFERIDOS: Ian Gentil, Joel Parkinson, Gabriel Medina e Taj Burrow
seus locais de treinos diários, além disso,
em Huntington Beach. O moleque busca
MELHOR MANOBRA: manobras que usam a borda e tubo
nunca recusa o convite de uma caída, seja
seu destino para cada vez mais alcançar
ela na marola ou em onda boa, pois sabe
sucesso na sua carreira de competidor.
QUIVER: 5’5, 5’6, 5’8 e 5’10
134
R D O
S U R F
C
O
A
A R P
B LU
D
A
SI L
O R I E
B J A N E I R O
R
Annibal
POUSADA PRAIA & CONFORTO BÚZIOS - RJ
Suítes aconchegantes apenas a 100m da famosa Rua das Pedras. Roupas de cama exclusivas em 100% algodão e percal 200 fios feitas pela própria pousada, além de um delicioso café da manhã. Um excelente convite para curtir as belas praias de Búzios.
Rua Luiz Joaquim Pereira, 50 – Centro – Búzios-RJ | www.wix.com/praiaeconforto/praiaeconforto www.facebook.com/praiaeconforto | praiaeconforto@hotmail.com | tel. 22 2623 2072
E N SA I O
Aricia Silva 21 anos fotos Davi Borges
139
PRÓXIMO NÚMERO
Eduardo “Rato Fernandes” em Bank Vaults.
Clemente Coutinho
MENTAWAI
EXPEDIENTE Editor Chefe: José Roberto Annibal – annibal@revistasurfar.com.br Editora: Déborah Fontenelle – deborah@revistasurfar.com.br Redação: Luís Fillipe Rebel – luisfillipe@revistasurfar.com.br Rômulo Quadra – romulo@revistasurfar.com.br Arte: João Marcelo – joaomarcelo@revistasurfar.com.br Fotógrafo staff: Pedro Tojal – tojal@revistasurfar.com.br Colunistas: Bruno Lemos e Otavio Pacheco. Colaboradores edição – Texto: Bruno Lemos e Dunga Neto. – Fotos: Bruno Lemos, Cassie Rossi, Clemente Coutinho, Christian Hersog, Daniel Smorigo, Davi Borges, Diogo d’Orey, Everton Luis, Henrique Pinguim, Kirstin/ASP, Lallande/ASP, Luciano Santos Paula, Marcio Canavarro, Morris/ASP, Pedro Monteiro, Poullenot/ASP, Rober Stonefish, Rowland/ASP, Valclei Lemos, Will H-S/ASP.
Publicidade: Thaís Havel – thais@revistasurfar.com.br Marcelo Souza Carmo – marcelo@revistasurfar.com.br Sérgio Ferreira – serginho@revistasurfar.com.br Financeiro: Claudia Jambo – claudia@revistasurfar.com.br Tratamento de Imagem: Aliomar Gandra Jornalista Responsável: José Roberto Annibal – MTB 19.799 A Revista Surfar pertence à Forever Surf Editora e as matérias assinadas não representam obrigatoriamente a opinião desta revista e sim de seus autores. Endereço para correspondência: Av. Ayrton Senna, 250, sala 209, Barra da Tijuca, Cep:22793-000. Circulação: DPACON Cons. Editoriais Ltda - dpacon@uol.com.br Tel: (11) 3935-5524 Distribuição Nacional: Dinap S/A - Distribuidora Nacional de Publicações Contato para publicidade: (21) 2433-0235 / 2480-4206 – surfar@revistasurfar.com.br Surfar #39 é uma publicação da Forever Surf Editora.
146
GA B R I E L M E DI NA W E A R S M I R AG E GA M E ON