HOMENAGEM A RICARDINHO | EDIÇÃO HISTÓRICA | HAWAII 2015
MEDINA
CAMPEÃO
FEV | MAR 2015 R$ 11,90
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ÍNDICE
Em 21 de janeiro de 2015 entrou um swell de oeste enorme em Jaws, gerando tubos gigantes. Essa onda, uma das maiores do dia, explodiu na cabeça de todos os surfistas, quebrou diversas pranchas e fez outside ficar vazio por quase 20 minutos. Ossos do ofício... Foto: Bidu.
Homenagem a Ricardo Dos Santos Ainda comemorávamos o título mundial quando perdemos um dos maiores freesurfers do Brasil e do mundo.
Gabriel Medina – Campeão do WCT 2014
.48 .70
Uma cobertura especial com 30 páginas dedicadas ao maior feito da história do surf brasileiro.
Free Surf Hawaii
.100
Palavra Final
.122
Ensaio Surfar
.115
Enquanto os holofotes estavam virados para o Pipe Masters, os freesurfers fizeram a festa em Off The Wall, Rocky Point e em Pipeline nos day offs do evento.
Alejo Muniz, o “anjo da guarda” de Medina, conversou com a Surfar sobre a bateria contra Slater, WQS e muito mais.
Um tour pelas curvas da mineira Bruna Machado.
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EDITORIAL Aplausos para o nosso campeão mundial! Na hora que comecei a escrever esse editorial com o Medina campeão mundial na capa, um filme veio na minha cabeça. Final dos anos 80... Eu tinha um amigo americano, filho de um diplomata, que viajava constantemente para os EUA e trazia umas roupas de borrachas. Lembro que ficávamos viajando nos modelos, nas cores, no sonho de surfar sem passar frio. Na verdade, quase todas as novidades vinham de fora: protetor solar, pranchas com maior durabilidade, parafinas, óculos, leash... No Brasil, o mercado do surf crescia, com alguns empresários visionários e corajosos começando a investir pesado. Empresas como a Hang Loose, Fico, Sundek, Lightning Bolt, Town & Country e mais tarde a Cyclone, começaram a fazer grandes eventos.
Com campeonatos de surf bem estruturados, surfistas passaram a receber salários das marcas e viver do esporte. Surgia aí a carreira de “surfista profissional”. Mas trinta anos depois muita água salgada rolou. Hoje temos um campeão mundial que virou ídolo nacional. Esse título do Gabriel Medina foi muito comemorado por todos, já que o mercado de surfwear vem sofrendo bastante nos últimos três anos, especialmente em 2014. Em janeiro, um lojista me confidenciou que estava evitando colocar vitrine “exclusivamente de surf”, apesar de ele vender 80% de roupas desse segmento. Nosso “ibope” estava em baixa. Mas com a vitória do Medina, o surf nas telinhas da Globo, jornais de grande circulação abrindo espaço para o surf, mídias sociais bombando
A praia de Pipeline ficou completamente lotada para ver Gabriel Medina ser campeão mundial pela primeira vez. Foto: Pedro Tojal.
e grandes empresas patrocinando o nosso campeão mundial, podemos afirmar que “existe uma luz no fim do tubo”. O garoto, que recém completou 21 anos de idade, empolgou todos os brasileiros com seu carisma e determinação. Estávamos precisando de um ídolo nacional e Gabriel Medina assumiu o posto. O momento é esse para o esporte voltar a crescer novamente. Para tanto, preparamos uma matéria exclusiva de 30 páginas com toda a trajetória do nosso campeão. Mas quando ainda estávamos comemorando, recebemos a informação que o freesurfer Ricardo dos Santos, so Ricardinho, tinha sido baleado na porta da sua casa, na Guarda do Embaú. No dia seguinte, veio a trágica notícia do falecimento do nosso amigo. Quem teve a
sorte de conhecer Ricadinho, pôde compartilhar a vibe positiva que ele passava. Quando fez a primeira capa da Surfar, em fevereiro de 2013, ele estava de passagem pelo Rio de Janeiro e o convidamos para fazer uma noite de autógrafos no bar Pe’ahi, na Barra. Como foi em cima da hora, não conseguimos encher o local, mas Ricardinho deu toda a atenção aos fãs que estiveram lá, distribuindo sorrisos, autografando e fazendo fotos com todo mundo. Nessa edição, você vai poder conhecer um pouco mais da história desse tube rider na matéria que fizemos em sua homenagem. E para fechar a nossa primeira edição do ano, preparamos uma galeria do Hawaii com imagens exclusivas da temporada. Vamos todos pra dentro d’ água Surfar! José Roberto Annibal
Capa: Medina em seu momento apoteótico. Foto: Keale Lemos.
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MAIOR DA SÉRIE
Danilo Couto na maior onda surfada no swell do dia 21 de janeiro em Jaws, Maui. Segundo o próprio Danilo, essa foi a maior já surfada por ele nesse pico. Foto: Bidu.
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RATO FERNANDES
GREENBUSH
PIOR DA Sร RIE
O carioca Pedro Calado, 18 anos, tomando uma das piores vacas jรก registradas em Jaws. Essa imagem rodou o mundo e deu destaque internacional para o surfista. Na pรกgina 64, uma entrevista exclusiva com Calado. Foto: Bidu.
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WAINUI
A TAÇA É NOSSA! Bruno Lemos/Liquid Eye
por BRUNO LEMOS
Medina sendo carregado pelo público que foi à loucura com a conquista do inédito título mundial para o Brasil.
Nessa edição vou falar sobre a vitória histórica de Gabriel Medina em Pipeline. O evento foi transmitido ao vivo com recorde absoluto de audiência e a WSL, prevendo isso, até aumentou a capacidade do servidor. Mas, mesmo assim, em alguns momentos a transmissão chegou a cair, pois o número de acessos foi tão grande que não deu vazão. Imagino que a grande maioria desses internautas era de brasileiros. Mais uma vez, mostramos que se tem uma coisa que a nossa pátria amada sabe fazer é torcer e fazer festa. A praia de Pipe estava repleta de verde e amarelo. Antes mesmo da janela do Pipe Masters começar, já se ouvia uns boatos aqui no Hawaii que o melhor seria que os brasileiros chegassem devagar e não “apavorassem” muito durante o campeonato. Enfim, não adiantou nada! A brasileirada chegou em peso para torcer e apoiar o Gabriel e, é claro, todos que estavam ali também queriam de alguma forma vivenciar um momento único e histórico no meio do surf. Quando Medina entrava e saia da
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água, milhares de fãs falavam frases para encorajar o nosso campeão. Alguns tinham cartazes, outros bandeiras e a maioria vestia algo com as cores brasileiras. A impressão era que ainda estávamos em clima de Copa do Mundo, mas dessa vez os torcedores brasileiros tinham a esperança e a certeza de que não teríamos mais nenhuma surpresa ou decepção, como tivemos no jogo contra a Alemanha. Alguns dos tradicionais “coros” que são usados nos estádios de futebol foram cantados nas areias de Pipeline. Os gringos nem conseguiam ficar bolados... A energia que vinha da galera era tão positiva e contagiante que não tinha como ninguém ficar bolado. Enquanto a vibe positiva rolava na areia, Gabriel Medina dava um show na água. E quem falou que ele não conseguiria surfar direito para o Backdoor, teve que engolir suas palavras “a seco”! Medina pegou uns tubos incríveis de backside! Também teve gente que não acreditava que ele conseguiria vencer o Dusty Payne, que estava surfando muito em 2014. Payne quebrou
durante os dois primeiros eventos do Triple Crown e não tenho dúvidas que entrou como favorito naquela bateria. Mas nosso garoto prodígio parecia não estar preocupado contra quem estava surfando e o menos esperado aconteceu: o havaiano foi passear “na Kombi” do Medina. E essa vitória contra Payne deu muita segurança para que Gabriel continuasse a sua trajetória ao título. Era nítido que a mão de Deus estava ali ajudando e foi apenas uma questão de tempo para que a praia entrasse em erupção. Porém, o mais legal foi do jeito que aconteceu. Alejo Muniz simplesmente conseguiu fazer o que muita gente não consegue: vencer Mick Fanning numa bateria em Pipeline. E, depois que isso aconteceu, o carnaval brasileiro no Hawaii começou e só terminou após a entrega da taça de campeão mundial na mão de Gabriel Medina. Momento histórico que vai ficar em nossa memória por muito, mas muito tempo! Aloha! BRUNO LEMOS é fotógrafo carioca radicado há mais de vinte anos no North Shore, Hawaii.
DIOGO SOUTELO
NAZARÉ
ROD R I G O KO XA - S W ELL HISTÓR ICO - 29/11/2014 - PORTUGAL
#DESURFISTAPARASURFAR Quer ver a sua foto na Revista Surfar? Siga-nos no Instagram e marque suas postagens com a hashtag #desurfistaparasurfar e @revista_surfar. A nossa equipe irá escolher as cinco melhores e repostar outras também muito iradas.
@ J P S F R E I TA S
“Ode ao sol e ao mar!”
@ R I C S T R AT I E V S K Y
“Dávio Figueiredo deixando sua assinatura numa direita no Postinho.”
@S E R G I O R I O 1
“Muitos criticam a qualidade das ondas em Ipanema, mas para nós que moramos próximo, temos sorte de presenciar dias como esse constantemente. Respeite Ipanema!”
@ B L O PA H E L L N O S O
“Me lembro dessa onda. Quando vi a junção dobrando de tamanho, joguei para o alto em uma rotacao de kerrupt grab air perfeito!” @G P M G A B R I E L
“Um belo momento do atleta Yan Söndahl em Off The Wall na sua primeira temporada havaiana.”
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BACKSTAGE
O SURF BRASILEIRO ESTÁ EM ALTA?
Cestari/ WSL
por GABRIEL PASTORI
O título mundial de Gabriel Medina precisa trazer mais investimentos aos campeonatos nacionais e estaduais. Sem dúvida, um dos assuntos mais falados nos papos de line up nas últimas semanas foi a conquista do Medina. Eu mesmo participei ou escutei de longe diversas vezes a galera debatendo as possíveis consequências do primeiro título mundial de surf para o Brasil. Muita gente já está preocupada com o aumento do crowd que, segundo alguns amigos que trabalham com aulas de surf, já é uma realidade. As escolinhas estão bombando como nunca! Outra parte da galera já falava no aumento do consumo de surfwear e equipamentos de surf, mudança que alguns profissionais do ramo dizem ainda não ter acontecido a ponto de gerar um resultado expressivo no mercado nacional. Apesar de toda essa conversa, o que mais me intriga é a opinião do grande público. Pessoas que nunca viram uma prancha ou não davam a mínima para o surf, hoje sabem que o esporte existe, que temos uma campeão mundial e que agora o “surf brasileiro está em alta”. Mas quem vive de perto as movimentações desse mercado, sabe que a situação não é essa, pelo menos ainda não. Alguns fatos já são realidade. Nunca tivemos como ídolo de verdade um surfista nacional, reconhecido e assediado em todos os cantos do país; conquistamos um espaço na mídia aberta que o esporte jamais presenciou nesses mais de trinta anos de circuito mundial. Sem dúvida, isso tudo vai gerar resultado e a gente torce para que seja positivo para todo mundo que, de alguma forma, vive do surf. Mas a grande verdade é que essa mudança ainda não aconteceu e o esporte passa por um dos seus piores momentos dos últimos anos no Brasil. Mesmo não sendo competidor, não me conformo com a situação dos campeonatos no país. Há alguns anos, o circuito nacional profissional nem existe e o campeão brasileiro é definido por algumas etapas (cada vez mais escassas) de competições estaduais. Hoje em dia, pouca gente sabe quem é o atual campeão brasileiro de surf, muito menos
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quem são os tops do ranking. Nesse momento, o ranking brasileiro profissional conta com 53 atletas. Você acha isso normal num país tão grande e cheio de praias como o Brasil? Sendo que desses 53, apenas 17 somam cinco resultados, ou seja, participaram de pelo menos cinco etapas durante o ano todo. Outro problema é a atual falta de apoio aos surfistas. As empresas argumentam que não estão vendendo bem e os atletas são os primeiros a sofrer os “cortes”. Muitos não têm condições de viajar para competir as poucas etapas dentro do país, que dirá para “correr” o circuito mundial. São inúmeros os casos de atletas que estão abandonando a carreira e se virando como podem para viver e sustentar suas famílias. Os amadores também não estão de fora dessa crise. No país inteiro, as etapas regionais e estaduais estão sumindo ou já não existem mais e o circuito brasileiro nunca foi tão desprestigiado. A molecada fica sem estímulo e não resta dúvida de que as próximas gerações profissionais já estão perdendo com isso. O que as pessoas acabam esquecendo é que a classe dos surfistas profissionais não pode se restringir aos seis que hoje estrelam como tops do circuito mundial e que, sem dúvida, merecem todo o destaque. Mas não se deve esquecer que tem muita gente além deles. Portanto, nós que vivemos o surf de perto, esperamos mais do que nunca que esse título (que veio em boa hora) traga muitas consequências positivas. Lembro da própria mãe do Medina dizer logo após a final em Pipeline que esse título não era importante só para o Gabriel, mas para todo o surf brasileiro, e que aquilo mudaria a vida de várias famílias no país. Também acredito e tenho esperança que isso aconteça e que aí o esporte possa estar de fato em alta no Brasil. GABRIEL PASTORI, 26 anos, freesurfer profissional. gabrielpastori9@hotmail.com | Instagram: @gabrielpastori
POR TRÁS DAS ONDAS PEOPLE ON TOUR
EM BUSCA DE UMA NOVA JORNADA...
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01. Hossegor.
03. Cascais.
02. Hossegor.
04. Peniche.
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carioca Pedro Burckauser sempre trabalhou com som, gravando bandas, editando longa metragens e finalizando novelas para a TV, mas não estava feliz com o que fazia e isso o fez repensar no que realmente deveria estar se dedicando. Desde garoto, Pedro sempre foi fã do circuito mundial de surf e tudo que envolvia o Tour. “Passava o dia inteiro acompanhando o webcast, até que resolvi me mexer nessa direção. Fiz contato com o Mano Ziul (brasileiro responsável pelo system score) e comecei a ajudá-lo na etapa aqui Rio na parte técnica do áudio do webcast português”, conta.
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Fotos: Pedro Burckauser
Mesmo assim, Pedro sentia a necessidade de fazer algo a mais, novo, diferente... Depois desse pontapé inicial, ele começou sua “jornada” na busca de um olhar diferente e, então, decidiu partir para as etapas da Europa com três câmeras diferentes, sem saber ao certo o que iria fazer e sem a menor ideia qual história poderia surgir. Na etapa de Hossegor, ano passado, o carioca estava fotografando apenas para seu registro pessoal e buscando um olhar diferente do evento. “Eu não queria as fotos de surf... A emoção dessas fotos a gente já conhece. Eu estava buscando outro olhar, algo que mexia muito comigo. Foi aí que me toquei do que estava sentindo: uma alegria imensa de estar ali, grato por estar em lugar lindo com pessoas que também estavam na mesma vibe”, disse Pedro.
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E foi assim que nasceu o projeto “People on Tour” (peopleontour.com), um espaço único para que todos pudessem compartilhar dessa energia, focado apenas na galera que estava presente nas competições do Tour. Desde a praia até o backstage, Pedro percebeu que todos estavam muito felizes apenas por estar presentes ali. Burckauser começou, então, a focar apenas nas famílias, meninas, garotos, surfistas, seguranças, juízes... Enfim, todos os personagens que simplesmente estavam curtindo estar ali. Esse foi ponto de conexão que deu o “start” de todo seu trabalho. “Posso dizer que foi a boa energia que me mostrou o caminho ao ‘People on Tour’. Foi algo libertador e necessário. Como engenheiro de som, eu sempre trabalhei trancado dentro de estúdios sem janelas e sempre sozinho, algo que não me fazia mais feliz. E agora, com essa virada de vida, fiz questão de buscar o oposto: ambiente exterior, sol e muitas pessoas, com as quais sou obrigado a dialogar, explicar o projeto e pedir a foto. Life changer na alma!”, finaliza Pedro Burckauser, que agora em fevereiro parte rumo à Austrália para cobrir as três primeiras etapas do Tour.
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INSTAGRAM GATAS DO SURF
Fotos Arquivo Pessoal
Para começar bem o ano, nossa equipe ficou de olho no Instagram das mais gatas do surf e fez uma seleção para deixar a galera com um sorriso de “orelha a orelha”. Não perca os melhores cliques!
@nicolepacelli recorda um momento de diversão com seu irmão @caio_a_cruz quando ele ainda era pequeno.
@ma_werneck e o belo visual da Pedra Bonita no Rio de Janeiro.
@mibouillons em ensaio fotográfico de tirar o fôlego!
@sally_fitz partindo para uma session em algum pico havaiano.
@lauraenever esbanjando beleza e sensualidade!
@lakeypeterson de encontro às ondas em algum secret spot mundo afora.
@dominikpupo e good vibes no primeiro raio de sol do ano.
@alessaquizon com suas amigas nas águas cristalinas de Barbados.
@chloecalmon mostra que uma dose de sol e sal por dia é o suficiente para fazer qualquer um feliz.
Não deixe de ficar por dentro de tudo que acontece no mundo do surf. Siga @Revista_Surfar no Instagram.
POR TRÁS DAS ONDAS
RICARDO DOS SANTOS
ESPÍRITO GUERREIRO Leonardo Neves
por LEANDRO BREDA
Não importava se estava grande, fechando ou com corrente forte, Ricardinho encarava com muita garra condições como essa em Pipeline.
Estávamos em Ballito, ao norte de Durban, África do Sul, onde o Ricardo participou do evento Prime da ASP na época. Então, surgiu na previsão um grande swell e tivemos a ideia de ir para Jeffreys Bay de carro. Mas um local nos disse que não seria um bom swell para a região sul, no entanto, encaixaria muito melhor no Moçambique, país vizinho ao norte, onde pegaríamos ondas de 4 pés perfeitas. Colocamos as pranchas pequenas no carro e seguimos viagem. Foram várias horas trocando ideia sobre a vida num visual muito irado. Chegamos ao pico de noite e, olhando o mar, percebemos que tinham longas linhas de direitas. Acordamos cedo, olhamos o mar e as ondas estavam longas, porém meio cheias. Enquanto tomávamos café, elas iam melhorando e pareciam que estavam com um bom tamanho. Depois, nós fomos para o surf. Como não havia ninguém na água, o Ricardo pediu para eu não ficar filmando e entrar com ele.
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Remamos em direção ao pico e tinha uma corrente muito forte. Logo no inside, já percebemos que as ondas chegavam a quase dois metros. Quem surfa na Guarda do Embaú tem um bom rip de remada por causa da corrente do rio, mas Ricardinho confessou esse ser o dia que mais remou na vida. As direitas vinham quebrando perfeitas e solitárias, com cerca de 10 pés no pico. No entanto, não conseguimos chegar, a maré ia vazando e as ondas vinham rodando pesadas. Eu não aguentava mais remar, virei numa das ondas que passavam e surfei por uma longa extensão. Com certeza, eram as ondas mais longas já vistas por mim. Saí da água muito longe e o Ricardo continuava lá tentando chegar ao outside. Ele remou por mais algum tempo até pegar uma no meio do caminho e sair também. Aí falei: “Vamos atrás de outra onda.” E ele disse: “Vamos alugar um jet ski”. Demos muita risada olhando ondas incríveis de 10 pés tubulares sem ninguém na água, a condição que ele mais amava.
Ficamos observando e, como a maré havia vazado mais, era possível passar caminhando atrás do Costão. Ricardinho falou: “Vamos nessa, bicho! Vamos entrar lá no meio da praia e pegar essas ondas.” Eu acompanhei o guerreiro e quando pulamos na água tinha um quebra coco enorme. O Ricardo saiu remando para fora enquanto eu fui varrido para cima de umas pedras sem conseguir varar a arrebentação. Ele varou, conseguiu chegar lá fora e pegou uma onda animal! Foram várias horas viajando por estradas sinistras no meio do nada para encontrarmos um pico com ondas incríveis! Pegamos duas ondas e voltamos para a África do Sul. Esse é o espírito do Ricardo... Não ter limites de buscar ondas, picos e surfar com toda energia que possa ter independente da condição do mar... Encarar os desafios e dar seu máximo apenas para alimentar seu espírito guerreiro. LEANDRO BREDA treinador de Ricardo dos Santos, ex-competidor e pai do surfista Yago Dora.
Fotos Arquivo Pessoal
Depois da correria de final do ano e da decisão do título mundial, os tops aproveitaram para relaxar e se divertir um pouco, mas, é claro, sem esquecer de correr atrás das melhores ondas pelo mundo afora. E entre uma session e outra, sempre sobra um tempo para fazer uns cliques do cotidiano. Confira as imagens que bombaram no Instagram!
@aecioneves não resistiu e fez uma selfie com o nosso campeão mundial Gabriel Medina.
@mattwilko8 “matando” o apetite das garotas.
@ricardoborghi se divertindo entre um clique e outro nos tubos de Maresias.
@carlosburle ficou impressionado ao ver Mike Parsons nessa onda gigantesca em Jaws.
@adrianodesouza e sua noiva comemorando o Ano Novo em algum pico mundo afora.
@gabrielmedina comemorando o título mundial e a tattoo que o pai fez em sua homenagem..
@filipetoledo partindo para uma session com seus amigos @gabriel_andree e @pedroscooby.
@kellyslater com seu amigo Albert “Rabbit” Kekai, lendário surfista havaiano e um dos verdadeiros Waikiki Beach Boys.
@sacaneta_sondahl entre uma série e outra
Não deixe de ficar por dentro de tudo que acontece no mundo do surf. Siga @Revista_Surfar no Instagram.
brincando com sua go pro num final de tarde alucinante em Rocky Point.
RICARDO DOS SANTOS
A
inda estávamos comemorando o título de Gabriel Medina quando todos foram surpreendidos com a morte do catarinense Ricardo dos Santos, que teve repercussão nacional. Em meio ao boom do surf brasileiro, perdemos de maneira trágica um dos nossos representantes de maior destaque. Após ser atingido por dois tiros disparados pelo policial militar Luiz Paulo Brentano, em 19 de janeiro, o surfista da Guarda do Embaú faleceu no dia seguinte durante a quarta cirurgia para interromper as hemorragias causadas pelas perfurações. Aqui, você acompanha uma homenagem a um dos maiores freesurfers do Brasil e do mundo, sem deixar de lado, é claro, o nosso desejo de justiça. ––––– por LUÍS FILLIPE REBEL
Depois do velório, que reuniu cerca de mil e quinhentas pessoas, muitos seguiram para homenagear Ricardinho no Rio da Madre, na praia da Guarda do Embaú.
James Thisted
William Zimmermman
William Zimmermman
Plínio Bordin
Sessão de surf com o preparador físico Marcelo Amaral.
William Zimmermman
Ricardinho com o avô Nicolau, a mãe Luciane, o irmão caçula Martin e a tia Jociane no protesto S.O.S. Guarda.
Ricardo dos Santos rumo ao canto esquerdo da Guarda, onde tudo começou.
“QUANDO ELE TINHA UNS CINCO ANOS, O LEVEI PARA SURFAR. O MAR TAVA BEM ‘PEQUENININHO’, TINHA UMAS ESQUERDINHAS NO CANTO ONDE ELE ADORAVA. O BOTEI NUMA ONDINHA, TALVEZ A PRIMEIRA DELE. ELE FOI, FOI... E NÃO PARAVA MAIS DE IR. ATÉ ENCALHAR NA AREIA E QUEBRAR AS QUILHAS PORQUE NÃO QUERIA DESCER, QUERIA IR ATÉ O FINAL. LEMBRO ATÉ HOJE, UMA IMAGEM LINDA. DALI PARA FRENTE, NÃO PAROU MAIS, TODO DIA QUERIA IR SURFAR.” VINICIUS PEREIRA PRIMO DE RICARDINHO
“Quando o frio e o tamanho da prancha não me impediam de ser feliz. Foi muito bom ser criança!” – Ricardinho.
RICARDINHO DA GUARDA Assim também era conhecido Ricardo dos Santos. Criado em uma das mais perfeitas esquerdas do Brasil, ele carregava por onde passava o amor e o orgulho pela Guarda do Embaú. Aprendeu a surfar com a ajuda de vários surfistas do local, como Nodin Silveira, Juninho Maciel, Carlos Kxot, Evandro Naza e, principalmente, seu primo Vini Pereira, que participou das primeiras remadas dele. Fissurado desde criança, Ricardinho vivia pedindo carona aos turistas até a praia. “Sempre havia um fluxo de turistas. Eu pedia para os inquilinos da pousada que minha mãe tocava para me levarem para surfar. Fiz vários amigos de muitos lugares que me ajudavam com parafina, leash e dinheirinho para comprar prancha. Quando eu entrava sozinho na água, ficava pedindo pra galera me empurrar: ‘Dá uma empurradinha aí...’ (risos)”, disse Ricardinho para uma revista especializada. Ricardo lutou muito pela conservação da Guarda, não aceitava a desordem que tomava conta do local e lamentava não poder ajudar mais por causa das constantes viagens da profissão. No seu blog, em 2011, fez um desabafo: “Bons eram os tempos que
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Ao lado do filmmaker Bruno Zanin na Guarda do Embaú.
a Guarda era lugar de maconheiro, vagabundo, hippie e etc.. Agora, ao invés disso, nós temos bandidos! Que ficam com seus carros de som a noite toda circulando ou parados no meio da praia, tocando uma música medíocre no volume mais alto possível e deixando lixo para todos os lados. Os moradores não fazem nada porque ficam com medo de tomar um tiro. E tudo isso por estarem pedindo um pouco de paz...” A mãe de Ricardinho, Luciane dos Santos, que doou as córneas do filho, destacou todo esse carinho dele pelo lugar em entrevista ao globoesporte. com: “Ele sempre teve esse cuidado de preservar a Guarda. Ele tentou fazer alguma coisa, se juntou à associação de surf para fazer manifestações. No ano passado (2014), se juntou ao protesto que teve, o S.O.S. Guarda, no Rio da Madre.” E ainda completou em outra resposta: “Hoje estou com 43 anos e costumava dizer que estou cansada de morar na Guarda. Quero ir para um sítio, um lugar mais calmo, respirar outros ares... Ele sempre falava: ‘Ô mãe, você está louca? Olha o paraíso que a gente mora, olha o lugar lindo que a gente mora, não vou sair daqui nunca’”.
William Zimmermman
Ricardo fazendo o que mais gosta três dias antes do ocorrido. Como ele diz: “Poucas coisas são tão boas quanto surfar em casa.”
FREESURFER DA GERAÇÃO BRAZILIAN STORM Foi na Praia da Guarda que Ricardo aperfeiçoou a técnica nos tubos e nas ondas pesadas, mas a coragem é de nascença. O primo Vini Pereira garante que desde novo Ricardinho se atirava nas maiores. Quando começou a disputar os campeonatos amadores, ele assistia Alejo Muniz ganhar tudo em Santa Catarina, então, decidiu investir nesse seu ponto forte em condições extremas como as do Tahiti e Hawaii. Assim, começou a surgir um dos freesurfers de maior sucesso da nova geração em todo o mundo. O seu treinador Leandro Breda (pai do Yago Dora), com quem Ricardinho chegou a morar em Floripa, soube definir bem os objetivos dele como surfista: “O espírito do Ricardo é não ter limites para buscar ondas e picos, surfar com toda energia que possa ter independente da condição do mar, encarar os desafios e dar o seu máximo apenas para alimentar seu espírito guerreiro.” Ricardo dos Santos participava de alguns eventos do WQS pelo prazer de surfar ondas boas e sem crowd. Sempre fez questão de explicar que competir não era prioridade, os seus títulos eram as capas das revistas e os prêmios destinados às performances no free surf.
“Fiquei em terceiro no trials, por uma bateria não entrei no evento. Foda! Mesmo assim estou amarradão, peguei zilhões de tubos hoje. Auuuuu”, postou Ricardinho em seu Facebook ao ser eliminado da triagem do Billabong Pro Tahiti ano passado. Apesar disso, o objetivo era vencer a partir do momento que entrava no campeonato. As chances de título cresciam proporcionalmente ao tamanho dos tubos. Por isso, nas etapas em picos tubulares, os organizadores queriam ter Ricardinho entre os competidores. Pouco antes de falecer, ele foi escolhido pelo público através de uma votação online para ser um dos três estrangeiros a participar do Allianz Capítulo Perfeito em Peniche, Portugal, uma competição exclusiva para tube riders. Em sua página no Facebook, que já chegou a atingir 1,1 milhão de visualizações em uma semana, agradeceu os fãs por votarem nele: “Muito obrigado a todos que votaram em mim, galera! É muito irado participar e vencer competições nas quais o público ajuda. É importante ter esse apoio e é muito gratificante saber que vocês confiam no meu trabalho! Agora é ficar tranquilo e torcer pra chegar em Portugal com altas ondas e quebrar tudo no evento!”
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“SEMPRE TIVE DIFICULDADE DE EXPRESSAR MEUS SENTIMENTOS E, SE HOJE EVOLUI UM POUCO NISSO, DEVO A ELE.” MARCELO AMARAL PREPARADOR FÍSICO DE RICARDINHO
“DIFÍCIL FALAR DELE E NÃO O IMAGINAR FALANDO, BRINCANDO, INCOMODANDO... O FAMOSO ‘RICHATINHO’! ELE ME ABRAÇOU E LANÇOU MEU NOME NO MERCADO QUANDO NINGUÉM IMAGINAVA QUEM EU ERA.” BRUNO ZANIN FILMMAKER E AMIGO PESSOAL
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“QUANDO EU PERGUNTAVA SE ELE TINHA MEDO DAS ONDAS GRANDES QUE PODERIAM TIRAR SUA VIDA, ELE DIZIA: ‘TENHO CARA, MAS PRECISO IR. SE EU NÃO FOR, O CARA DO LADO VAI E É ELE QUE VAI SAIR NA FOTO, NA CAPA, NO VÍDEO E NÃO EU. A ADRENALINA DE PEGAR UMA ONDA REALMENTE GRANDE É O QUE ME ALIMENTA E ME SATISFAZ’.” WILLIAM ZIMMERMMAN FOTÓGRAFO DA GUARDA
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UMA VIDA DENTRO DOS TUBOS Quase todo surfista diz que a melhor sensação é estar dentro de um tubo e, sendo assim, não há dúvidas: Ricardo foi um cara realizado. Ele estava sempre em busca de uma onda tubular e ao encontrar o show começava, principalmente quando o mar subia. Em meio a tantos profissionais de qualidade, se destacou nos dois mais falados picos de tubos do mundo: Pipeline e Teahupoo. Stephan ‘Fun’ Figueiredo, que não perde uma session em Pipe, dividiu muitas vezes o line up com Ricardinho. “Quantas histórias engraçadas tenho ao seu lado em Pipe e Waimea. Tenho certeza que surfei em algum dos maiores mares da minha vida e dei muita risada, mesmo nos momentos mais extremos que já passei surfando ondas grandes. Estava sempre muito instigado (a ponto de me irritar), me chamando para surfar quando Pipe estava grande e não tinha ninguém! Ricardinho ajudou a puxar o limite de muito surfista do Brasil e do mundo em ondas de alto nível, sua
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performance vai fazer muita falta nas ondas tubulares!”, disse ‘Fun’ em uma homenagem ao amigo no Instagram. No Tahiti, Ricardo surfou pela primeira vez em 2007, aos 16 anos, quando se tornou o mais novo a já ter competido na triagem para a etapa do WCT no local. Deixou a ilha apaixonado por Teahupoo e determinado a ser especialista nessa onda. Em 2011, ele venceu a triagem do Billabong Pro Tahiti e no ano seguinte foi o primeiro da história a conquistar o título duas vezes consecutivas. Com o bicampeonato, ainda fez um estrago no evento da elite do surf: eliminou Kelly Slater, Taj Burrow e só parou nas quartas de final contra Mick Fanning. Mesmo derrotado, Ricardinho teve um desempenho memorável com duas notas acima dos nove pontos. A performance lhe rendeu o troféu que leva o nome do seu ídolo, o Andy Irons Forever Inspiration Award, que premia o surfista de maior atitude do evento. Em novembro passado, fez uma postagem homenageando o havaiano tricampeão mundial com a foto do troféu: “Uma inspiração para toda
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a vida. O cara era simplesmente diferente, era a fusão do estilo com a frieza monstra. Infelizmente não conheci o mestre, mas estará para sempre muito próximo de mim em forma de troféu. Valeu #AI, você foi bruto.” Ricardinho sempre ia atrás dos grandes swells que atingiam a bancada para encarar os tubos em condições extremas, inclusive em sessões de tow in. Em 2013, durante a janela de espera do Billabong Rio Pro, ele deixou o Brasil em um domingo à noite para ir atrás de uma ondulação gigante no Tahiti, fez a cabeça por lá na terça-feira, voltou e competiu na etapa carioca na sexta-feira a convite do patrocinador. Foram seis voos, 22 mil quilômetros em 80 horas, 34 no ar e oito em aeroportos. Ricardo ficou 10 horas na água pegando os “tubos da vida”, como ele mesmo disse na época. Bruno Santos guarda boas lembranças da felicidade com a qual Ricardinho encarou as bombas na última vez que estiveram em Teahupoo no ano passado: “Todos os 32 melhores do mundo treinavam antes do campeonato come-
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çar e quando entrou a maior de todas quem pegou? Claro que ele. Um drop impossível e um tubo que cabia um ônibus. Ele não saiu, foi amassado literalmente e, mesmo assim, voltou com um sorriso gigantesco no melhor estilo Ricardinho, como se nada tivesse acontecido. Irmão, foi um prazer compartilhar tantos mares inesquecíveis!” O sucesso alcançado na ilha da Polinésia Francesa foi ainda maior no Hawaii. Extremamente dedicado ao North Shore, Ricardinho já tinha oito temporadas havaianas no currículo quando, aos 22 anos, na temporada 2012/2013, foi convidado para competir o Pipe Master a pedido do Joel Parkinson, seu companheiro de equipe que estava na luta contra Kelly Slater para ser campeão mundial. Ele deixou sua marca com uma bomba surfada nos minutos finais do Round 1, o que rendeu muito elogios de surfistas renomados como Occy e Gerry Lopez. Vale ressaltar: o freesurfer foi o primeiro brasileiro a receber o wildcard do patrocinador do evento, vaga que costuma ser dedicada a Shane Dorian.
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01. Fevereiro de 2013: Capa da edição #29. 02. Fevereiro de 2014: Entrevistado da matéria “Hawaii Na Pressão”. 03. Abril de 2012: Palavra Final na edição de aniversário de quatro anos da Surfar. 04. Agosto de 2014: Atitude recompensada na Pior da Série. 05. Abril de 2013: Campeão do “Tubo da Temporada”. 06. Fevereiro de 2014: Capa da edição #35. 07. Fevereiro de 2012: Dupla na matéria sobre Padang Padang. 08. Abril de 2012: Dupla no Índice da edição de aniversário de quatro anos da Surfar.
Paulo Barcellos
O tubo em Pipe que rendeu a ele “a melhor capa da vida”, segundo o próprio Ricardinho.
Ainda nessa temporada, Ricardinho teve um dos maiores destaques de um brasileiro na história de Pipeline. Ele passou três meses focado em fazer capas e conquistar os prêmios oferecidos pela mídia especializada. Missão dada, missão cumprida! Ricardo dos Santos fez quatro capas, incluindo a Surfar e a americana Surfing. Além disso, ele venceu a nossa premiação para o “Tubo da Temporada” e mais outras duas de melhor onda surfada no inverno havaiano, uma delas foi o “Wave Of The Winter”, do principal site de surf do mundo, o Surfline. “Sempre que surfava em Pipeline, eu pegava pelo menos um tubo bom... Eu queria muito ganhar os prêmios da Surfar, do Surfline e render boas fotos para matérias e anúncios. Minha dedicação foi tanta que consegui ganhar todos os prêmios e ainda fiz capa de quatro revistas, inclusive da Surfing, uma das principais publicações de surf do mundo. Os locais ficaram loucos! Imagina um brasileiro ganhando todos os prêmios e ainda levando a capa da revista mais cobiçada?”, disse Ricardo em entrevista para a Surfar.
SEM STRESS As conquistas e os holofotes da mídia voltados para ele lhe renderam uma “certa” pressão por parte dos havaianos. Para piorar, se envolveu em um problema com Jamie O´Brien, o mais local de Pipe, durante a disputa de uma bateria da triagens no Tahiti. Por esses motivos, a temporada 2013/2014 não foi nada fácil. “Quando eu entro em Pipeline, sou marcado como se fosse campeonato, e alguns locais que não sabem que a novela foi resolvida ainda me olham torto”, contou Ricardinho para a equipe da Surfar. Para amenizar o problema ele teve a ajuda da lenda havaiana Tony Moniz, do brasileiro muito respeitado no Hawaii Fabio Bopp e do ubatubense Wigolly Dantas, que chegou a intervir junto a ‘Fast’ Eddie Rothman, levando Ricardinho na casa do líder dos Da Hui. Cansado da marcação cerrada dos havaianos, Ricardo ignorou uma previsão que indicava o melhor swell para Pipeline no últimos tempos e partiu para P-Pass. Nesse momento, deixou claro a sua preferência ao colocar de
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lado a pressão na rainha do North Shore, uma de suas paixões, para ir em busca de tranquilidade, felicidade e tubos, muitos tubos profundos na Micronésia: “Cada escolha uma renúncia! Resolvi deixar para trás a pressão do Hawaii e fui viajar só com meus amigos. Queria pegar onda sem stress... Preocupação para quê?!” Essa pergunta de Ricardo dos Santos virou a chamada de capa da matéria principal na edição #35, com uma foto dele entubando de braços abertos em P-Pass. “Extremamente contente em divulgar a nova capa da Revista Surfar. Foto tirada pelo nosso amigo Henrique Pinguim em uma das melhores trips da minha vida. Foram três dias de muito surf e felicidade em P-Pass. Muito obrigado galera da revista, estou realmente muito honrado em ser capa novamente. Valeu galera, espero que todos gostem! Yewww!”, comemorou Ricardinho nas mídias sociais.
William Zimmermmann
Annibal
“Ele tinha muita coragem e atitude dentro do mar. Muitos brasileiros têm a vontade que ele tinha, mas na hora do ‘vamos ver’, só o Ricardo estava lá.” –––– ADRIANO DE SOUZA 01
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“Nós tínhamos muito em comum, a começar pelo sobrenome. Até hoje muitas pessoas acham que nós éramos irmãos. E por que não? Não de sangue, mas de alma.”
Pedro Tojal
“Ricardo dos Santos foi realmente um dos melhores tube riders em sua curta vida. Regularmente foi destaque em qualquer tubo ou condição pesada ao redor mundo.”
–––– BRUNO SANTOS
“Quem vai ficar enchendo o meu saco para pegar a onda mais buraco, pegar a maior onda, mandar o melhor aéreo...? Quem vai ficar pedindo meus equipamentos emprestados?“
–––– KELLY SLATER
–––– STEPHAN ‘FUN’ FIGUEIREDO 04
“Por que isso acontece com gente do bem? Não entendo isso! Moleque gente boa, sempre ajudando o próximo, sorriso de orelha a orelha todos os dias, exemplo de pessoa.”
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“O lema de Ricardo, ‘Preocupação pra que?!’, era evidente quando o mar ficava grande e assustador. Nós celebramos a vida de um líder dentro e fora da água.”
Píinio Bordin
–––– BILLABONG INTERNACIONAL
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01. Noite de autógrafos no restaurante Pe’ahi na Barra, RJ. 02. Comemorando na Guarda o bicampeonato do Trials do Tahiti. 03. Homenagem em Pipeline. 04. Os skatistas do mundial de bowl no Rio lembraram de Ricardinho. 05. Na festa do título mundial no Hawaii, ao lado de Miguel e do campeão Medina. 06. Manifestação na Guarda do Embaú. 07. Equipe de treinos do Aprimore Surf. 08. Com o “checão” de R$10.000 do “Tubo da Temporada” da Surfar.
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Arq. Pessoal
–––– MEDINA
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remiações, títulos, tubos, capas e páginas duplas, nada disso se compara ao carinho que Ricardinho conquistou em sua vida. As redes sociais lotaram, primeiro com mensagens de apoio quando ele tomou os dois tiros e, depois, centenas de pessoas lamentaram o seu falecimento, exaltaram o catarinense e pediram justiça. Lindas homenagens foram realizadas em várias praias de todo o Brasil. Na Guarda do Embaú, o velório e enterro tiveram a presença de cerca de mil e quinhentas pessoas. Em seguida, uma multidão lembrou-se dele no Rio da Madre, quintal de sua casa. Entre os presentes estavam o CEO da World Surf League, Paul Speaker, o gerente geral de eventos da entidade, Graham Stapelberg, e surfistas profissionais como Adriano de Souza, Renan Rocha, Alejo Muniz, Luan Wood e Jacqueline Silva.
Pedro Tojal
A marcante homenagem no Hawaii foi muito bem descrita pelo fotógrafo Pedro Tojal nas redes sociais. A foto com os surfistas fazendo um círculo no outside de Pipeline chegou a atingir mais de 400 mil visualizações no Facebook e o post mais curtido de todo o Instagram da Surfar: “A previsão era de mar flat e a esperança era que Ricardinho sobrevivesse. A vida é imprevisível mesmo! Quando acordamos, as ondas estavam perfeitas e nosso amigo já havia partido. Os brasileiros então fizeram uma roda no outside de Pipeline e logo foram seguidos por todos os locais, que deixaram o pico somente para o Ricardinho surfar pela última vez... Descanse em paz!” Sem Ricardo dos Santos, o mundo fica menos humano, a Guarda sem um de seus “filhos” e o outside mais pobre.
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Surfistas do mundo inteiro deixaram Pipeline quebrando sozinho e perfeito para Ricardinho aproveitar as suas condiçþes favoritas uma última vez.
Homenagem nas areias de Pipe.
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Fred Pompermayer
BATE E VOLTA RIO-TAHITI Convidado para competir no WCT do Rio em 2013, Ricardinho já tinha passado uma bateria quando foi avisado que um swell gigante estava indo em direção ao Tahiti. Seu espírito “go for it” falou mais alto. Pegou o telefone e ligou para seu amigo pessoal da Guarda do Embaú Fabrício Sousa: Ricardinho –– Brício, preciso de um favor teu e só tu podes me ajudar. Seguinte, preciso que tu venhas para o Rio amanhã porque estou indo para o Tahiti e a prancha que vou usar está lá no Grilão (Leandro Breda). Já comprei tua passagem para o Rio. Fabrício –– Como assim, cara?! Velho, tu estás no WCT, passou a bateria, como quer ir para o Tahiti? Para de ficar de palhaçada, fala logo o que tu queres, anda! Ricardinho –– O que eu quero é isso! Já comprei suas passagens. Tu chegas aqui domingo no final de tarde às 18h e às 20h eu viajo. Não vai dar onda nesses dias... Só vai rolar o campeonato na quinta ou sexta. Vem, é sério!
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Pontualmente, assim como Ricardinho tinha falado, o avião pousou às 18h no aeroporto do Galeão e os dois se encontraram. “Fabrício, vou viajar quase dois dias e não vou ficar nem 24h lá. Só vou pegar a maior onda para fazer uma capa e volto a tempo de competir o WCT”, garantiu Ricardo. Dito e feito, o catarinense chegou no Tahiti, pegou várias bombas enormes, fez uma capa, colocou foto em todas as revistas de surf nacionais e ainda competiu no Rio. Na quinta-feira, a imprensa, os tops do WCT e todo mundo queria saber detalhes dessa trip e parabenizar Ricardinho. Em dois dias foram 15 entrevistas e o telefone do quarto não parava de tocar. O shaper Marcelo Barreira, MB Surfboards, que trabalhou com Ricardo por dez anos e estava com ele nesses dias, contou: “Fiquei muito orgulhoso ao perceber que ele tinha adquirido um respeito e admiração de todos do circuito. Mesmo não fazendo parte da elite, era como se fosse.”
NA WEB
RICARDO DOS SANTOS e MEDINA
Fotos: Instagram
O surf brasileiro dropou a maior onda de toda sua história com o título inédito de Gabriel Medina. Mas, infelizmente, dias depois tomou uma vaca inesperada com a perda repentina de Ricardo dos Santos. Fique por dentro do que a comunidade do surf mundial falou nas redes sociais sobre esses acontecimentos.
“O QUE DIZER MEU BROTHER RICARDO DOS SANTOS... CARA, TU ERA PICA, GUERREIRO E CHATO PRA CARALHO DENTRO DA ÁGUA. DEI MUITAS RISADAS E VOCÊ PUXOU MUITO O MEU SURF. TE AGRADEÇO IMENSAMENTE POR TER EXISTIDO NA MINHA VIDA. QUANDO O BICHO PEGAVA, VOCÊ ERA SEMPRE UM DOS PRIMEIROS A ENTRAR NO MAR. DEUS, RECEBA ESSE FIGURAÇA DE BRAÇOS ABERTOS. VOU SENTIR SUA FALTA IRMÃO, PRINCIPALMENTE QUANDO EU FOR SURFAR NA GUARDA DO EMBÁU. DESCANSE EM PAZ! ”
“NA ÚLTIMA VEZ QUE NOS VIMOS, ELE QUERIA
“MEUS PARABÉNS A ESSE MENINO!
COMBINAR DE TOMARMOS UMA CERVEJA E
ELE REALMENTE MERECE
DE ME MOSTRAR A SUA CIDADE NATAL, MAS A GENTE FICOU COM PREGUIÇA E DEIXOU PARA
TUDO QUE CONQUISTOU ESSE ANO!
LÁ. SE PUDESSE VOLTAR NO TEMPO E TOMAR
GOOD ON YA MATE LOVE YA DAWG!”
AQUELA CERVEJA, EU GOSTARIA DE FAZER ISSO E MUITO MAIS. TE AMO BROTHER... SEI QUE AÍ DE CIMA NO PARAÍSO VOCÊ ESTÁ GUARDANDO
@Mick Fanning
AQUELA CERVEJA PARA MIM E SORRINDO PARA TODOS NÓS.”
@Jack Freestone
@Adriano de Souza
“ENTRE CHOCOLATES
“VOCÊ CONSEGUIU BROTHER! ESTOU
E CANETINHAS,
AMARRADÃO PELA SUA CONQUISTA!
JÁ VIVI NO HAWAII, COM DOIS
O SONHO VEIO RÁPIDO!
@GABRIELMEDINA, VOCÊ DEVE
TÍTULOS E TAMBÉM CORRENDO
PARABÉNS
UMA OU DUAS CERVEJAS AO
@GABRIELMEDINA!”
@ALEJOMUNIZ. #THECHAMP”
@Fabio Gouveia
@Julian Wilson
“PRA QUEM VIVEU O QUE EU
PRA NÃO MORRER, FINALMENTE NÓS CONSEGUIMOS. EMOCIONADO E REALIZADO QUANDO PENSO FAZER PARTE DISSO TUDO! VALEU GABRIEL MEDINA, NOSSO HERÓI!” @Neco Padaratz
Acompanhe a Surfar pelo Twitter: www.twitter.com/revistasurfar.com.br
Como a decisão do título mundial ficou para a etapa do Pipe Masters, o Hawaii ficou lotado de brasileiros que lotaram as areias de Pipeline para assistir o feito inédito de Gabriel Medina. É claro que a Surfar não ficou de fora e, em mais uma temporada, montou seu QG no arquipélago para ficar por dentro de tudo que está rolando por lá!
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Fotos: Pedro Tojal
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01 – Carlos Burle foi uns dos brasileiros que estava na torcida por Medina. 02 – Kelly Slater, como sempre, muito assediado pela mídia. 03 – Bruno Santos, Márcio Freire e Lucas Chumbinho não tiravam os olhos do mar. 04 – Filipe Toledo até deu uma pausa na entrevista para não perder nada do que estava rolando dentro d’água. 05 – Charles, pai de Medina, e a torcida brasileira vibravam a cada onda do nosso campeão mundial. 06 – Dávio Figueiredo também marcou presença. 07 – Backside brazuca. 08 – Gabriel Medina muito focado e atento a tudo que rolava nas baterias. 09 – O havaino Jamie O’Brien. 10 – Diego Santos, Jerônimo Vargas e Gustavo Camarão. 11 – A mulherada invadiu as areias de Pipe. 12- É Mick Fanning... Dessa vez não deu para levar o título! 13 - Jamie O’Brien se divertindo com os amigos. 14 – O que será que chamou tanto a atenção da gata?!
Pedro Tojal
Pedro Calado, surfista da nova geração de big riders brasileiros, na trilha de Jaws depois de entrar e sair do mar pelas pedras.
DESTAQUE
Pedro Calado botando para dentro do tubo de Jaws.
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Bidu
InternacionaL
edro Pinto foi para o Hawaii pela primeira vez há três anos quando tinha 16 de idade. Chegou quieto e logo foi apelidado de ‘Calado’. “Não dá para um big rider ser chamado de Pinto!”, disse Felipe ‘Gordo’ Cesarano, autor do apelido e um dos principais incentivadores do atleta. Depois de
três anos treinando entre Puerto Escondido, Jaws, Waimea e Pipeline, Pedro Calado ganhou experiência suficiente para se destacar nos dois maiores swells que rolaram em Jaws nessa temporada havaiana. No primeiro (10 de dezembro de 2014), ele teve destaque no XXL Big Wave Awards por ter surfado a maior onda do dia. E no último (21 de janeiro de 2015), se destacou por ter sofrido uma das piores vacas já registradas no pico. As imagens dessas ondas rodaram o mundo e fizeram esse menino “calado” ser respeitado pelos big riders mais “casca-grossas” do planeta. Direto do Hawaii, conversamos com esse surfista tímido e cheio de atitude, que sonha em pegar a maior onda já surfada na remada. 65
Igor Hossmann
Essa foi considerada uma das piores vacas já registradas em Jaws.
Bidu
Pedro Tojal
O treinamento nas fechadeiras de Off The Wall.
Pedro Tojal
Bidu
Acima: Calado, Scooby e Lucas Silveira formam a equipe Furnas de big surf. Nessa foto: Calado vem se destacando nas esquerdas de Waimea, pico pouco explorado pelo perigo de parar nas pedras.
Calado com o fotógrafo Bidu e o surfista Felipe Cesarano, amigos e parceiros no big surf. Como você decidiu ser surfista de ondas grandes? O Felipe ‘Gordo’ Cesarano criou um concurso online de onda grande para a garotada do Rio de Janeiro até 16 anos. Ganhei esse concurso com uma onda que eu achava que era grande, surfada na praia da Macumba (risos). Naquela época, as maiores ondas que eu havia surfado tinham sido no Posto 11 do Recreio, Sorriso de Copacabana e na Macumba. Depois disso, fui para o Hawaii com o Gordo em 2012, surfei Jaws pela primeira vez e voltei decidido a ser big rider. Desde então, não perco uma temporada havaiana e passo pelo menos três meses em Puerto Escondido todo ano. Como foi sua primeira vez em Jaws? Lembro que estava no banheiro e o Gordo veio me chamar para ir pra Jaws. Eu já estava com dor de barriga e só piorou (risos). Quando chegamos lá, ele pegou um monte de espuma, sobras do colete dele e enfiou dentro da minha roupa de borracha. A adrenalina que senti chegando no pico foi extrema, mas depois peguei uma direita animal e fiquei mais tranquilo.
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Você tomou uma das vacas mais feias já vistas em Jaws no dia 21 de janeiro, quando rolou um swell épico por lá. Conte como foi. Meu objetivo é pegar um tubo para a direita em Jaws de backside. No último swell, tentei fazer isso e acabei voando de cabeça para baixo olhando para o lip. Quando bati de costas na água, “quiquei” várias vezes até ser explodido pela onda, que me segurou por uns 10 segundos. Essa foi, sem dúvida, a vaca mais bizarra da minha vida! Qual seu quiver e acessórios para Jaws? Eu deixo em Maui três pranchas do Kazuma: 10’6’’, 10’4’’ e 10’. Uso o colete Nob com o short john por cima para não correr o risco de sair e também um strep da Dakinebem grosso, especial para ondas grandes. Você atualmente mora em Waimea, que já foi a meca do surf de ondas grandes e hoje já é considerada ultrapassada para alguns. Conte as suas experiências na maior onda do North Shore: Quando Waimea quebra de 25 a 30 pés é sinistro, mas nos dias menores eu procuro as esquerdas que dão uma adrenalina
Keale Lemos
Pedro Calado, de 18 anos, em uma das maiores ondas surfadas nessa temporada havaiana.
maior. Não quero desmerecer o lugar, mas de 15 a 18 pés na direita é só botar reto que a onda não vai fechar. Já a esquerda é mais tubular e consigo cair com uma prancha 7’8”, bem menor do que a Waimea Gun clássica. Você pensa em fazer tow in? Eu tenho vontade de fazer em Teahupoo, mas no momento o meu objetivo é surfar na remada mesmo. Para fazer tow in, você precisa de um jet ski, pranchas especiais, gasolina e tudo isso é muito caro. O surf na remada também não é barato, por isso eu tento deixar minhas pranchas no Hawaii e no México. Custa caro ser big rider? Minhas pranchas Kazuma custam em média 850 dólares e podem partir ao meio na primeira caída. O transporte também é bem complicado e caro pelo tamanho do equipamento. O lado bom é que eu tenho um suporte dos meus patrocinadores Jonny Size, Jamf e principalmente de Furnas, que é uma empresa grande fora do surf que dá todo apoio para os meus projetos e viagens em busca das ondas grandes. A minha única preocupação é pegar onda.
Além do lado financeiro, existe a preocupação com a questão física. Como você se prepara? É um conjunto: meditação, yôga, natação, trabalhos físicos e treinamentos de apneia que me permitem chegar aos três minutos e 50 segundos. Todas essas atividades somadas me dão uma tranquilidade psicológica grande. Quais são seus ídolos no big surf? O Shane Dorian por escolher a onda certa, Mark Healey pela técnica de entubar de backside com pranchas grandes, Jamie Mitchell pela maluquice de botar pra baixo sempre nas maiores e o Greg Long por saber esperar. Qual o seu objetivo como surfista de onda grande? Meu objetivo e sonho é pegar a maior onda possível na remada.
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NA MEDIDA Aos 19 anos, o paulistano ROGÉRIO ARENQUE se mudou para Florianópolis, SC, e começou a trabalhar em uma fábrica de pranchas. De lá pra cá, passou por todas as etapas de produção, trabalhando para vários fabricantes até montar uma oficina de laminação. “Quando considerei ter o mínimo conhecimento necessário, comecei a me aventurar pelo shape e softwares de design de pranchas”, diz. E assim surgiu em 2005 a Arenque Surfboards, que quatro anos depois deu um enorme salto através da parceria criada com o treinador da Aprimore Surf, Leandro Dora. Essa união perdura até hoje e o alicerce principal de seu trabalho está na performace e necessidade de seus atletas, entre eles LUCAS SILVEIRA, que em 2014 venceu o título Rookie of The Year, como o melhor surfista estreante pelo desempenho na segunda etapa da Tríplice Coroa Havaiana em Sunset Beach.
LUCAS SILVEIRA POR ROGÉRIO ARENQUE
ROGÉRIO ARENQUE POR LUCAS SILVEIRA
O Lucas foi o primeiro atleta da Aprimore Surf, então, quando comecei a parceria com o Leandro foi natural ele experimentar algumas pranchas e os resultados foram positivos. Grande parte do nosso trabalho consiste na análise dos treinos. Ao vivo e através de vídeos, avaliamos sua performance com diferentes configurações de prancha e fazemos as modificações procurando melhores resultados. Outro aspecto relevante é o uso de nossos modelos nas mais variadas condições pelo mundo, além da utilização de renomadas pranchas “gringas”, que também contribuem no nosso aperfeiçoamento. Como o Lucas tem um porte físico forte e um surf “pesado”, é possível colocar um pouco mais de volume nas pranchas. Já nas medidas e configurações, ele me deixa à vontade. Também sempre me pede umas pranchas específicas para viagens, como algumas mais reforçadas e com mais volume, ou mais maroleira para locais que geralmente não apresentam boas condições. No momento, a Fire Shark 6’ tem se mostrado muito eficiente. Com bastante curva de fundo, kick tail e concave acentuados, bordas arredondadas e um posicionamento especial das quilhas, com mais ângulo de ataque. Agora, em 2015, vamos antecipar a produção de acordo com o calendário de provas, pois o Lucas poderá correr todos os eventos Prime. Também vamos fazer mais testes e adquirir maior conhecimento sobre big guns (Waimea, Puerto Escondido...) para que ele possa ter suporte nessa categoria de ondas.
O Arenque começou uma parceria com o Yago Dora e, vendo o resultado durante os treinos do Aprimore Surf, resolvi fazer algumas pranchas para testar. Depois disso, o número de foguetes com ele foi só aumentando e nossa parceria vem dando certo. Além disso, o Arenque também tem uma relação muito boa com meu treinador, o Leandro Dora. Eles estão sempre conversando, trocando ideias e desenvolvendo novos modelos, então, acabamos formamos um time e nós três evoluímos juntos. Para mim, uma das principais características do Arenque é ter a mente bem aberta para também absorver informações de outras pranchas trazidas de fora. Sem falar que ele sempre escuta bem o que falamos, fazendo o máximo para atender tudo que pedimos para o nosso quiver. Atualmente tenho pranchas de 5’9 até 10’6. Estou me dando muito bem com a skinnygoat 5’10, que é para marola, e gostando demais da 6’0 fireshark, um modelo recente que usei bastante no Hawaii nos dias menores, bem versátil e solta para tentar manobras. Acertei boas com ela. E, a partir de agora, nossos planos é de continuar acrescentando detalhes para encontrar a prancha perfeita para meus novos desafios, entre eles, buscar uma vaga para o WCT nos próximos anos!
Lucas Silveira voando em Rocky Point.
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Henrique Pinguim/Liquid Eye
Fireshark - 6’0” x 19.0” x 2.44” 28.2L
GABRIEL
CAMPEテグ MUNDIAL DE SURF
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Pedro Tojal
FENÔMENO MEDINA ENFIM NOSSO PRIMEIRO CAMPEÃO MUNDIAL
Keale Lemos
“ESSE É O MOMENTO MAIS FELIZ DA MINHA VIDA! CONSEGUI REALIZAR MEU SONHO... SONHO DA MINHA FAMÍLIA, EM ESPECIAL, DO MEU PAI CHARLES E MINHA MÃE SIMONE. TAMBÉM O SONHO DE TODOS OS BRASILEIROS QUE AMAM O SURF! SOU REALMENTE ABENÇOADO POR DEUS!”
A consagração do nosso herói.
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A TRAJETÓRIA ESPORTIVA DE GABRIEL MEDINA FOI METEÓRICA. DE PROMESSA DO SURF ATÉ CAMPEÃO DO MUNDO FORAM APENAS CINCO ANOS. EM 2009, AOS 15 DE IDADE, MEDINA VENCEU NECO PADARATZ EM UMA BATERIA VÁLIDA PELO WQS, SE TORNANDO O SURFISTA MAIS NOVO A CONQUISTAR UMA ETAPA DA DIVISÃO DE ACESSO. NO MESMO ANO, FOI CAMPEÃO DO THE KING OF GROMS, NA FRANÇA, COM DIREITO A DUAS NOTAS 10 NA FINAL, FAÇANHA ATÉ ENTÃO SÓ CONQUISTADA POR KELLY SLATER NO TAHITI. CURIOSAMENTE, NO FIM DE DEZEMBRO, O PAULISTA SE IGUALOU NOVAMENTE A SLATER AO CONQUISTAR O TÍTULO MUNDIAL COM APENAS 20 ANOS DE IDADE, FEITO QUE APENAS OS DOIS SURFISTAS CONSEGUIRAM ATÉ HOJE. ––––– por RÔMULO QUADRA surf nunca teve tanta atenção no país e a culpa é toda dele, Gabriel Medina, o mais novo campeão mundial. Ele resgatou o orgulho de uma nação que estava carente de heróis. O povo brasileiro voltou a torcer, a se emocionar e a comemorar uma vitória expressiva de âmbito internacional. Prodígio, herói... Muitos adjetivos podem defini-lo, mas fenômeno talvez seja o mais fiel. Além da grande conquista inédita de ser o primeiro campeão mundial de surf do país, Medina vem quebrando todos os recordes nas redes sociais com mais de 1,5 milhão de seguidores no Instagram e uma grande audiência na TV aberta. A trajetória até o título impôs respeito entre os adversários. Foram três vitórias na temporada 2014: Gold Coast, Fiji e Tahiti. Para se ter ideia do feito histórico, Snapper Rocks foi dominada por regular footers nos últimos 10 anos, Cloudbreak é uma das ondas mais clássicas do Tour e Teahupoo estava enorme, quase impossível de ser surfada no braço. Medina liderou o ranking praticamente durante todo o ano, saindo do topo apenas depois da etapa do Rio de Janeiro, retomando em maio com a vitória nas perfeitas e tubulares esquerdas de Fiji. Apesar de duas vezes ficar na 13ª colocação, nas etapas do Rio e Moche, em Portugal, Gabriel manteve uma constância em toda a temporada. Mas a consagração do nosso primeiro campeão mundial só veio no Hawaii, no momento em que garantiu o 5º lugar em Pipeline, passando para as quartas. O título inédito estava no bolso, a multidão brasileira presente no North Shore incendiou as areias e o herói nacional recebeu as devidas honras. Medina foi carregado em ombros e ovacionado. Só faltou o título do Pipe Masters, vencido por Julian Wilson na última onda da bateria.
Keale Lemos
ELE É O CARA MAIS PERIGOSO DO MUNDO DO SURF. O MAIOR OBSTÁCULO QUE ELE IRÁ ENFRENTAR EM SUA CARREIRA SERÁ SE MANTER MOTIVADO POR UM PERÍODO LONGO E SABER LIDAR COM UMA TORCIDA BRASILEIRA FANÁTICA –– KELLY SLATER / INSTAGRAM Sem dúvida nenhuma, a etapa do Tahiti foi um divisor de águas na carreira de Gabriel Medina. No dia final, as ondas passavam dos quatro metros de altura. Os competidores se alternavam entre tubos épicos e as fechadeiras. Na decisão, Medina venceu Kelly Slater por apenas três centésimos, levando o campeonato considerado por muitos como um dos mais incríveis da história do esporte. A vitória chegou a render uma homenagem de Slater para o brasileiro em seu Instagram: “He’s the most dangerous guy in the world of surfing” (Ele é o cara mais perigoso do mundo do surf ). Gabriel Medina passa a liderar a nova geração do surf mundial, e não é nenhum absurdo arriscar que a vitória do brasileiro caracteriza o primeiro indício da “passagem de bastão” da velha guarda. Os quatro primeiros colocados do ranking por ordem decrescente foram Gabriel, Mick Fanning, John John Florence e Kelly Slater. É indiscutível o potencial de caras como Mick e Kelly, que inclusive estiveram muito perto do título nessa temporada. Mas Medina e John John são a prova de uma renovação natural e necessária na ordem do circuito mundial. O nome do brasileiro ganhou as redes sociais. No Instagram, por exemplo, antes da final do Tour, Medina tinha 830 mil seguidores e entre os surfistas profissionais ficava atrás apenas de Kelly Slater (909 mil). Agora, como campeão mundial, o número de fãs cresceu e o seu perfil conta com 1,5 milhão de seguidores. A primeira bateria disputada por Medina em Pipeline bateu recorde de audiência nas transmissões online da ASP (hoje WSL), com estimativa de 200.000 pessoas conectadas. O jovem de 21 anos apareceu até mesmo em lugares que raramente falam do esporte. O Jornal Nacional foi o maior exemplo disso ao dar evidência à reta final do título e até destinando um de seus quadros para uma entrevista exclusiva. A lista é grande... A mídia internacional deu um amplo destaque para a vitória do brasileiro e Gabriel Medina virou uma celebridade do esporte.
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A TRAJETÓRIA DO CAMPEÃO GABRIEL MEDINA
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AUSTRÁLIA AUSTRÁLIA 5º LUGAR 1º LUGAR DRUG AWARE QUIKSILVER PRO GOLD COAST MARGARET RIVER
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AUSTRÁLIA RIO DE JANEIRO 9º LUGAR 13º LUGAR RIP CURL PRO BILLABONG BELLS BEACH RIO PRO
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FIJI ÁFRICA DO SUL 1º LUGAR 5º LUGAR FIJI PRO J-BAY OPEN
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TAHITI CALIFÓRNIA 5º LUGAR 1º LUGAR BILLABONG HURLEY PRO AT TRESTLES PRO TAHITI
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PORTUGAL FRANÇA 13º LUGAR 5º LUGAR QUILSILVER MOCHE RIP CURL PRO FRANCE PRO PORTUGAL
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PIPELINE 2º LUGAR BILLABONG PIPE MASTERS
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Kirstin/ WSL
TAHITI: O DIVISOR DE ÁGUAS
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A vitória conquistada no Tahiti foi tão importante, que fechou uma edição do Jornal Nacional. É o surf conquistando novos espaços.
––––– por RÔMULO QUADRA
“Melhor competidor de todos os tempos? Medina bate Slater” –––– CARVE SURFING MAGAZINE
“Porque o surf precisa de Gabriel Medina campeão mundial neste ano” –––– SURF EUROPE MAG
“Como Medina se
tornou o ‘novo Andy Irons’ de Kelly Slater” –––– SITE SURFLINE
“Gabriel Medina domina Kelly Slater em final épica no Tahiti” –––– THE SYDNE Y M O RN I N G H ERA L D
( jornal mais antigo e tradicional do país)
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or muitos anos, os atletas brasileiros que participavam do Tour Mundial foram questionados no exterior (e até mesmo por nós) quando a pauta das mídias especializadas se tratava de performance em ondas grandes e tubulares. Leia-se: Fiji, Tahiti e Hawaii, etapas que foram apontadas como “pedras nos sapatos” dos nossos representantes. Mas, certamente, todo esse estigma que girava em torno dos nossos atletas foi por água abaixo nessa temporada. Sem dúvidas, esse divisor de águas foi a vitória de Gabriel Medina em ondas que beiravam os quatro metros de altura em Teahupoo. O Billabong Pro Tahiti 2014 foi definido pelos próprios locutores gringos, incluindo o super astro Mr. Kelly Slater, como o maior evento da história da ASP. A vitória foi noticiada em diversos veículos e ganhou uma mega divulgação no Jornal Nacional. A vitória de um brasileiro em condições extremas e ainda na final vencer Kelly Slater, campeão quatro vezes dessa etapa (2000, 2003, 2005 e 2011), certamente vão causar uma mudança de mentalidade na forma dos comentaristas e jornalistas analisarem os atletas brasileiros nas etapas tubulares do circuito. A mídia foi à loucura e manchetes incendiadas correram o mundo. “Best comp ever? Medina beats Slater” (Melhor competidor de todos os tempos? Medina bate Slater), disse a Carve Surfing Magazine. A conceituada revista Surf Europe Mag foi taxativa: “Why surfing needs Gabriel Medina to win the world title this year” (Por que o surf precisa de Gabriel Medina campeão mundial neste ano). Já o site Surfline foi mais além: “How Medina’s become Kelly’s new AI” (Como Medina se tornou o “novo Andy Irons” de Kelly Slater). O fato é que hoje uma nova geração vem ganhando cada vez mais destaque em ondas pesadas. Miguel Pupo, Alejo Muniz e Jadson André provaram nossa evolução com ótimos resultados conquistados em “barrels” nas últimas duas temporadas. Pupo conquistou a permanência na elite mundial para a temporada de 2014 com uma bomba, seguido de um tubão alucinante em Pipeline. O potiguar Jadson André firmou de vez no Hawaii a boa atuação nos cilindros, completando uma das melhores ondas do Round 2, que para muitos merecia uma nota 10, mas parou num contestado 9,37. E em uma performance espetacular em Pipe, Alejo eliminou Kelly Slater e Mick Fanning da etapa, tirando o australiano da briga pelo título. Agora, para a temporada 2015, ganhamos um reforço de peso, o “black trunk” Wiggolly Dantas. O ubatubense conquistou respeito após longas temporadas passadas no Hawaii e muita dedicação para surfar a onda de Pipeline. A prova mais recente de que ‘Guigui’ é um dos destaques brasileiros nessa evolução nas ondas cilíndricas foi a bela atuação no Volcom Pipe Pro na temporada de 2014. Evento vencido por Kelly Slater e que teve personagens como Mason Ho e outro brasileiro, Adriano de Souza, na final.
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HAWAII VERDE E AMARELO
Medina s贸 relaxou quando a ta莽a estava nas m茫os. Treinou forte em Pipe enquanto o evento estava parado e fez a alegria dos fot贸grafos.
Pedro Tojal
Marcio Canavarro
Clima de final de Copa do Mundo com a cobertura da rede Globo.
Pedro Tojal
Crowd pesado.
A atriz Fiorella Mattheis e seu novo namorado, o jogador Pato.
HAWAII VERDE E AMARELO ––––– por PEDRO TOJAL Por onde se andava no North Shore, se escutava português. Camisas do Brasil estavam por todas as para ver o momento mais histórico do surf nacional. Até personalidades de fora do nosso esporte, como o jogador Alexandre Pato e o empresário João Paulo Diniz (Grupo
Rafael Moura
partes. Brasileiros de todos os tipos invadiram o Hawaii
Pão de Açúcar), apareceram para ver Gabriel Medina ser campeão mundial. Várias equipes de jornais, revistas e televisão vieram do Brasil registrar esse fato. A Rede Globo enviou uma equipe de 25 pessoas para a cobertura do evento e a produção do campeonato “Nas ondas” para continuidade do quadro do Medina no Esporte Espetacular. Com a janela de espera grande, o preço ficou salgado para manter a galera toda. Nos dias de competição, a praia de
Pedro Tojal
exibir em fevereiro. A emissora também está estudando a
Pipeline ficava tomada pelo verde e amarelo. Os gringos não reclamavam, já que as brasileiras também vieram com seus micros biquínis. No final demos um show de surf, festa e respeito, mostrando para todos que somos a mais
Momentos de tensão no último dia do evento.
nova potência do surf mundial!
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Pedro Gomes
Pedro Burckauser
Pedro Burckauser
Pedro Tojal
Pedro Burckause
r Pedro Tojal
Pedro Tojal
Pedro Gomes
Pedro Tojal
Pedro Tojal
Pedro Tojal
Pedro Gomes
Pedro Burckauser
Pedro Gomes
Pedro Tojal
Pedro Tojal
Pedro Tojal
Rip Curl
Pedro Tojal
Pedro Tojal
Pedro Tojal
A SEMANA QUE ANTECEDEU O PIPE MASTERS ––––– por PEDRO TOJAL
ANSIEDADE MÁXIMA
A n t e s d o B i l l a b o n g P i p e Ma s t e r s c o m e ç a r, a s
ondulações de norte predominaram e a bancada de Pipe ficou cheia de areia. O clima de tensão entre a organização e os atletas ficou evidente, já que ninguém queria que o um título mundial fosse disputado em condições precárias. Mesmo com ondas ruins, Gabriel Medina e Mick Fanning treinaram diariamente entre Pipe e Off The Wall, praia onde fica localizado o QG da Rip Curl, que foi dividido pela família dos dois atletas durante o mês de dezembro. O diretor do programa “Mundo Medina”, Henrique Daniel, que ficou na casa com eles, passou para nós um pouco do dia a dia. “O clima era de concentração total. Gabriel Medina não falava com a imprensa e era totalmente
Dan Warbrick/ Rip Curl
protegido das influências externas. Mick Fanning até falava
Descontração: Medina , Julian e Fanning
Fotos: Corey Wilson/ Rip Curl
O treino não pode parar...
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com os repórteres, mas também se mantinha focado para tentar o tetracampeonato mundial. Mesmo tendo objetivos iguais, ambos conviviam em harmonia e até brincavam entre si...”
Kelly Slater, que também disputava o título mundial,
não foi visto treinando, já que se recuperava de uma fratura no dedão. Sua primeira aparição no Hawaii foi durante o Surfer Poll, evento realizado no hotel Turtley Bay pela revista americana Surfer, que toda temporada havaiana premia o melhor surfista do ano. Kelly, que costuma
Casa dos atletas da Rip Curl.
ganhar sempre esse troféu, teve que ver John John Florence receber o prêmio pela primeira vez. Slater acabou em segundo e Medina em terceiro. A votação para a escolha desses surfistas foi feita online e mostrou que o ‘careca’ não é mais unanimidade entre o público. Levando em conta
Miguel, Charles e Medina na varanda.
que essa foi uma votação realizada por gringos, Gabriel ficou muito bem colocado. Quando subiu no palco para receber seu troféu, ele foi aplaudido de pé pelos havaianos
Fanning e Medina dividiram até as ondas durante os treinos, uma disputa de título mundial em alto nível.
Dan Warbrick/ Rip Curl
e mostrou que está com moral dentro e fora de casa.
Aonde tem uma rampa, Medina Airlines decola...
Momento de reflexão na hora do rango.
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Fotos: Corey Wilson/ Rip Curl
TRIALS POLÊMICO: MENOS LOCAIS, MAIS GRANA
Assistindo aos Trials.
No North Shore, o principal assunto entre os locais era
o fato de a ASP cumprir a promessa feita alguns meses antes de reduzir o número de surfistas havaianos no Pipe Masters. Nos anos anteriores, 16 locais participavam do evento principal como wild cards, depois passou para oito e, em 2014, apenas duas vagas foram disponibilizadas. Os havaianos não gostaram dessa decisão e o clima ficou tenso, incluindo ameaças aos organizadores feitas por Fast Eddie, considerado o xerife do North Shore. Para acalmar os ânimos, a ASP dedicou US$100 mil de premiação somente para o Trials dos locais, que esse ano foi chamado de Pipe Masters Invitational e contou com 32 surfistas. Por um lado, os havaianos perderam vagas no evento principal; por outro, tiveram a certeza de que ganhariam pelo menos
Homenagem na camisa a Andy Irons.
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Dan Warbrick/ Rip Curl
US$2mil se perdessem de cara. Bruce Irons também não
Medina se manteve isolado e focado nas ondas.
ficou nada satisfeito ao ser barrado, literalmente, do evento em homenagem ao seu irmão Andy Irons, já que não foi convidado nem mesmo para o Trials.
No dia que a ASP parou o evento por falta de condições, o carioca Lucas Chumbinho pegou um tubão de braços levantados, impressionando todos que estavam na praia.
O Round 1 da triagem foi realizado no dia 9 de
que o mar ficou completamente storm, acabando com a
dezembro em excelentes condições, com destaque para
alegria dos freesurfers. No dia 11, o vento maral estragou
o tubo nota 10 de Joel Centeio e para o show de surf de
completamente a formação das ondas e a expectativa de
Jamie O’Brien, que fez um somatório de 18,40. A decisão
ver o Medina na água ficou para o dia seguinte.
ficou entre Reef McIntosh, Jamie O’Brien, Hank Gaskell e
Makai McNamara. Por falta de condições, a organização
com a final do Trials, onde Jamie O’Brien era considerado
parou a competição e deixou a pergunta no ar: Qual seria
o favorito, porém, contrariando todas as expectativas, JOB
o havaiano que enfrentaria Medina no primeiro round do
ficou fora do evento principal, já que terminou em terceiro
evento principal?
lugar (US$6mil) atrás de Makai McNamara, que ficou
O dia seguinte amanheceu com ondas grandes e
em segundo (US$8 mil), e de Reef McIntosh, que levou o
alguns tubos insanos. Em uma decisão polêmica, a
primeiro lugar (US$10mil). Com esse resultado foi definido
organização preferiu não botar a final na água. Por ironia
que McIntosh seria o local havaiano a enfrentar Gabriel
do destino, enquanto os locutores anunciavam ao vivo que
Medina no primeiro round e isso preocupou a torcida
o campeonato não seria realizado por falta de condições,
do Brasil, já que Reef é considerado um especialista em
o saquaremense Lucas Chumbinho, 19 anos, pegou um
Pipeline. Mesmo Medina sendo um fenômeno, é sempre
tubo absurdo bem na frente das câmeras. Sem graça, os
complicado enfrentar um surfista local que conhece todos
comentaristas mudaram de assunto, pararam de transmitir
os macetes da onda.
A primeira bateria do dia 12 de dezembro entrou na água
do estúdio. Chumbinho e mais alguns surfistas insanos continuaram surfando e pegando tubos enormes até
Pedro Tojal
imagens das ondas e cortaram a transmissão para dentro
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Dan Warbrick/ Rip Curl
O destino os colocou lado a lado para a decisão do título, até mesmo dividir a casa do patrocinador.
Quiver de 100 pranchas, tá bom pra você?
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Dan Warbrick/ Rip Curl
CAMPEONATO EM ESPERA Os lay days foram cinco dias de muita expectativa e
tensão para os brasileiros. O clima no North Shore era de Copa do Mundo e todos só falavam da mesma coisa: Gabriel Medina. A especulação sobre quando seria a final da competição também foi assunto nesses dias de “off”. As
Medina, Chales e Fernando da Rip Curl indo pro surf.
previsões mudavam a todo o tempo e a organização estava 27 baterias de 30 minutos, o que demandava 13 horas
Relaxando no day off.
e 30 minutos de campeonato. Várias hipóteses foram levantadas, até que a ASP anunciou que iria terminar o evento em apenas um dia, realizando baterias simultâneas. Para o público essa notícia foi boa porque a competição seria mais dinâmica, já para os surfistas a novidade não agradou, pois esse formato exigiria muito mais deles. Nas redes sociais, a Rip Curl aproveitou que os dois principais concorrentes eram atletas da marca e postaram fotos do dia a dia de cada um. Jogavam poker, faziam treinamento físico, brincavam com o cachorro na praia, surfavam, checavam o swell no computador e celular... E nada do evento recomeçar. Chegamos até a publicar um post no Instagram da Surfar com os seguintes dizeres: O “inimigo” mora ao lado... Parece até nome de filme, mas não é! Medina dividia a casa com Fanning, seu adversário direto pelo título mundial. Rivalidade? Imagina... (Risos) Uma das vantagens de a última etapa ser no Hawaii é que o mar dificilmente fica flat nessa época do ano, sempre tem onda
Será que estava valendo?
em algum lugar para os competidores treinarem. Até que no dia 19 de dezembro a espera acabou e chegou a hora da verdade...
Dan Warbrick/ Rip Curl
Momento em família.
Fotos: Corey Wilson/ Rip Curl
preocupada com as condições ruins do mar. Faltavam
A HORA DA VERDADE ROUND 1
Kirstin/ Rip Curl
A benção materna.
Medina 8.83
McIntosh 5.10
––––– por LUÍS FiLLIPE REBEL
O primeiro passo de Gabriel Medina no Pipe Masters foi dado
em uma bateria com poucas ondas contra Dion Atkinson e Reef McIntosh. Enquanto os dois adversários esperavam as maiores da série que entraram fechando, Medina usou a estratégia correta, se posicionou mais embaixo para pegar as intermediárias e somar perigosa repescagem que rolou no dia seguinte. Vale lembrar que esse já é o quarto ano que o brasileiro compete em Pipeline, sempre com boas performances: 5o, 9o, 13o e 2o, respectivamente.
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Fotos: Rip Curl
pontos. Com a vitória, Gabriel não precisou encarar a difícil e
Atkinson 3.30
ROUND 3
Os cinco “day offs” consecutivos deixaram todos ansiosos
para a terceira fase e o clima de disputa só aumentava. A ASP aproveitou para botar mais pilha publicando em seu site vídeos abordando o possível primeiro título mundial de um brasileiro. O confronto contra Dusty Payne era
Medina 17.66
uma tarefa árdua, pois o havaiano vinha embalado como
Payne 11.84
líder do Vans Triple Crown of Surfing, após vencer o Reef Hawaiian Pro, na praia Haleiwa, e ser vice-campeão do
Corey Wilson/ Rip Curl
Pipeline.
Vans World Cup, na famosas direitas de Sunset Beach. Mas Medina não deixou a pressão afetá-lo e muito menos deixou o havaiano se impor. Gabriel surfou um bom tubo aos oito minutos e, no fim da disputa, o goofy mostrou muita habilidade quando pegou um tubão para Backdoor e saiu de braços levantados. Uma vitória importante em cima de um dos surfistas favoritos da comunidade havaiana, principalmente quando o assunto é Pipeline. Consequentemente, já colocou Kelly Slater para escanteio e a briga agora era contra o tricampeão Mick Fanning, que necessitava alcançar algo inédito em sua carreira: chegar em uma final no Pipe Masters.
Kirstin/ WSL
Backdoor.
ROUND 4
O quarto round protagonizou uma disputa acirrada
entre Gabriel e Filipinho, que não deu moleza para o compatriota, enquanto Josh Kerr apenas assistia ao show dos brasileiros. O ubatubense deixou a torcida apreensiva com o 9.23 faltando pouco mais de seis minutos para acabar a bateria. Só que novamente Medina teve a frieza para aguardar a série até os minutos finais. Pegou um tubo para Backdoor, saiu comemorando e levou seu pai, irmão, todo mundo à loucura na areia. Teste para cardíaco!
Medina 15.67
Filipe 15.23
Kerr 4.97
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QUARTAS DE FINAL Medina 4.30
Filipe 3.27
Igor Hossmann
Erguido pelo crowd brasileiro.
A buzina toca... E o que daria início às quartas de final dá
novo herói e ídolo nacional. O público grita: “É CAMPEÃO! É
o start da maior comemoração de um título mundial que já
CAMPEÃO...” Até os gigantes seguranças havaianos estavam
foi vista em Pipeline. Um roteiro de cinema, digno de Oscar.
comemorando. Medina concede entrevistas, dá um forte
Alejo Muniz se torna o “anjo da guarda” de Gabriel Medina
abraço em Alejo e festeja com os familiares e amigos. O sonho
e ergue os braços após eliminar Mick Fanning no Round 5.
virou realidade! O Brasil tem um campeão mundial de surf!
Filipinho abraça o novo campeão e aponta para a grande
Enquanto rolava a festa, Filipe Toledo acompanhava tudo
festa que se tornou as areias de Pipeline. Medina desaba e
dentro d’água e parecia estar garantido para as semi. Até que,
começa a chorar. Não tinha como Gabriel seguir na bateria,
inesperadamente, o campeão mundial volta para o outside,
ele sai da água e vai em direção à torcida brasileira que o
acha algumas ondas mais no inside, vira a bateria e segue vivo
espera de braços abertos pronta para comemorar junto ao seu
no evento, agora relaxado como o melhor surfista do mundo.
90
SEMIFINAL Medina 13.60
Kerr 9.43
“FOI IRADO TER DISPUTADO O TÍTULO MUNDIAL COM DOIS DOS MEUS SURFISTAS FAVORITOS DESDE QUE EU TINHA 10 ANOS. SÃO DOIS CARAS QUE EU ADMIRO MUITO E QUE SEMPRE SERVIRAM DE EXEMPLO PRA MIM.”
Pedro Gomes
Em Pipe, o show acontece na cara da galera.
Gabriel Medina entrou na água visivelmente se divertindo.
Saía de cada tubo com um sorriso no rosto e arriscava um aéreo como se estivesse fazendo um free surf em Maresias. Tanto ele quanto Josh Kerr obtiveram uma nota alta, mas a estrela de Gabriel brilhou novamente e aumentou ainda mais o sonho. Imagina um brasileiro campeão mundial e do Pipe Masters? Pela terceira vez no ano, Medina chegou em uma final de ondas fortes e tubulares: Fiji, Tahiti e Pipe, mostrando uma grande evolução, exatamente onde o histórico dos atletas brasileiros no Tour não é nem um pouco favorável.
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FINAL
Wilson 19.63
Medina 19.20
“EU QUERIA VENCER AQUI EM PIPELINE TAMBÉM, SÓ QUE O JULIAN (WILSON) ME TIROU O TÍTULO ALI NO FINAL, MAS TUDO BEM, ESTOU MUITO FELIZ DO MESMO JEITO PORQUE O SONHO JÁ ESTAVA REALIZADO, QUE ERA SER CAMPEÃO MUNDIAL.”
No último dia do WCT 2014, a ação não parou em
torcida brasileira apreensiva. Mas por pouco tempo, já
Pipeline durante oito horas seguidas de competição,
que antes mesmo da nota do Julian sair, Gabriel fez mais
uma maratona de 27 baterias. Um dia dinâmico, intenso
uma “mágica”. Encaixou em um trilho para a direita e saiu
e emocionante do início ao fim. E que fim! A ASP fechou
do tubo feito uma bala! Os brasileiros na praia explodiram!
o ano com chave de ouro, o capítulo final do Pipe Masters
Ninguém sabia bem o que fazer, pulavam para todos os
foi eletrizante. Nas baterias anteriores, Julian Wilson
lados, parecia um golaço do Brasil no Maracanã. A nota?
esteve bem encaixado para o Backdoor, demonstrando
O único 10 do evento para provar a todos que Backdoor
absoluta tranquilidade. Na decisão não foi diferente, o
não é um ponto fraco de Medina no Pipe Masters, assunto
aussie abriu a final repetindo a receita, o que deixou a
muito comentando durante a janela de espera.
92
Masurel/ WSL
Foi a primeira nota 10 de um goofy para Backdoor em um Pipe Masters? A WSL ainda não soube responder.
Nos minutos finais, mais uma troca de high scores.
a virada para Julian Wilson. Seria demais para os juízes
Quando o título da etapa já caminhava para mãos de
gringos deixarem o Brasil levar tudo... Alguns poucos
Gabriel Medina, uma série entrou na bancada como se
segundos de frustração da torcida, que em seguida se
o mar tivesse cronometrado com o relógio da ASP para o
tornaram em uma euforia maior ainda. Nada naquele
ato final. Julian vem na primeira onda, Medina na maior
momento poderia parar a empolgação brasileira, todo
de trás, um para direita e o outro para a esquerda. Os dois
mundo em êxtase na praia! Hoje o dia era nosso e
saíram da água e aguardaram a decisão. Gabriel mais
ninguém iria roubar a cena. Já o título do Pipe Masters?
uma vez foi carregado pelo público. O suspense fica no
Ah, esse fica como objetivo para 2015...
ar até os juízes definirem as pontuações que decretaram
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MÁQUINA DE RECORDES 2009 Com Neco no WQS 6 estrelas de Imbituba.
Smorigo/ WSL
––––– por LUÍS FiLLIPE REBEL
Pela primeira vez, a promessa brasileira mostrou as garras para o mundo. Era uma prévia de que um novo fenômeno do surf surgia para fazer história e quebrar recordes. Aos 15 anos, Gabriel Medina se tornou o mais jovem a ser campeão de uma etapa do WQS ao vencer Neco Padaratz na final do seis estrelas de Imbituba. Meses depois, no King of the Groms, realizado durante o WCT de Hossegor, ele somou 20 pontos dos 20 possíveis na final.
2010 Medina manteve o domínio nos campeonatos amadores eventos: o mundial amador ISA Games na Nova Zelândia e o Rip Curl Grom Search
ISA/ Cory Skott
vencendo dois importantes
em Bells Beach, Austrália. Também foi o primeiro ano em que ele correu o WQS inteiro e, com 16 anos, já conquistou resultados expressivos, como o segundo lugar no Costão do Santinho e as terceiras colocações em Imbituba e San Miguel, Espanha.
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Isa Games da Nova Zelândia.
E TÍTULOS 2011
WCT Hossegor, QuikSilver Pro France.
Campeão em todas as categorias! O ano em que definitivamente Gabriel Medina chocou toda a comunidade do surf. Venceu o Prime de Imbituba, conquistou em menos de duas semanas o Pro Junior e o seis estrelas de Lacanau, França, e ainda na Europa levou o título da etapa do WQS de San Miguel na Espanha. Ufa! Em 2011, a ASP testou um formato
Cestari/ WSL
para dar mais rotatividade ao circuito e, assim, rolou um corte na metade da temporada: os melhores no ranking do WQS pegaram os lugares dos últimos colocados da elite. Com as três vitórias no ano, Medina entrou no Tour com apenas
Rip Curl The Search San Francisco.
17 anos, tornando-se o mais novo atleta a ingressar e vencer uma etapa do WCT. O rosto de adolescente no meio dos ídolos parecia inofensivo, até ele vestir a lycra e entrar na água. Medina tem uma frieza quando está competindo que poucos possuem. Em Hossegor, ele fez Kelly Slater passear na “Kombi” durante as quartas de final e, em seguida, se tornou o campeão do evento. Um mês depois, aumentou ainda mais o seu feito ao levar o caneco da etapa The Search, São Cestari/ WSL
Francisco, numa final contra Joel Parkinson. Foram duas vitórias das cinco etapas que ele competiu. Um belo cartão de visita para impor respeito entre os tops!
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2012
WQS Prime Trestles, Nike Lowers Pro.
Já com a pressão de se tornar o primeiro brasileiro campeão mundial, Medina correu o circuito inteiro aos 18 anos e ficou em 7º lugar. Conquistou resultados expressivos, como a final em Fiji contra Slater e quando perdeu para Julian Wilson em Portugal, em uma decisão dos juízes contestada até hoje. Fora o bom desempenho no WCT, Gabriel ainda arrumou tempo para vencer o Prime de Trestles, levar o vice-campeonato da Tríplice Coroa Havaiana e, de quebra, ainda ganhou um grande Rowland/ WSL
destaque na mídia internacional quando acertou o “backflip” (mortal para trás que apenas um
2013 Gabriel teve um ano mais difícil em relação aos anteriores. Com o ganho de massa muscular, ele precisou adaptar o surf e as pranchas ao seu corpo que continuava em formação aos 19 anos. Mas na trajetória de Medina não existe uma temporada sem títulos. Em novembro, ele confirmou o favoritismo quando levantou o caneco de campeão mundial Pro Junior na Praia da Joaquina. Ainda levou uma grana com o “Wave of The Winter” do site Surfline, prêmio dado à melhor onda de cada mês da temporada havaiana.
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Mundial Pro Junior na Joaquina.
James Thisted
surfista havia completado).
2014
Snapper Rocks.
Para sempre na galeria dos
Kirstin/ WSL
maiores nome do surf mundial! Em 2014, Medina conseguiu vitórias inéditas e alcançou vários recordes. Já na etapa inaugural, ele faturou o evento ao ser carrasco dos australianos Mick Fanning, Taj Burrow e Joel Parkinson em plena Gold Coast. Com a vitória, foi o segundo goofy a ser campeão nas direitas de Snapper Rocks e o segundo não australiano a vencer esse campeonato, já que antes dele só Kelly Slater tinha conquistado esse feito. A partir daí, Gabriel tomou gosto pela liderança do ranking e só deixou escapar uma vez, quando caiu no Round 3 da etapa do Brasil. Mas retomou o
Pipe
topo na competição seguinte, quando se tornou o primeiro brasileiro a vencer o Fiji Pro. Dois meses depois, ele derrotou no Tahiti ninguém menos que Kelly Slater na final do campeonato que foi apontado
Kirstin/ WSL
Fiji
por muitos, inclusive pelo próprio Slater, como o melhor da história da ASP. Em dezembro, aos 20 anos, se igualou a Kelly Slater como o mais jovem a terminar o
Teahupoo
circuito na primeira colocação. Alcançou a melhor posição do Brasil no Pipe Masters, quebrou um jejum de 12 temporadas sem um goofy de todos os seus feitos: o de se Pedro Tojal
Will H-S/ WSL
vencer o Tour e, claro, o maior tornar o primeiro brasileiro campeão mundial de surf. Que venha 2015!
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A PALAVRA DO CAMPEÃO
“SÓ VEIO AQUELA SENSAÇÃO DE FELICIDADE E DE ALÍVIO PORQUE A ANSIEDADE ESTAVA GRANDE. DEPOIS, CLARO, É QUE PASSOU AQUELE FILME NA CABEÇA E POR ISSO ME EMOCIONEI.”
O orgulho da família.
Dan Warbrick/ Rip Curl
Corey Wilson/ Rip Curl
Em meio à confusão, o choro aliviado com a mãe.
C
Medina chegou às quartas de final em seu primeiro Pipe Masters e agora foi finalista.
om o título mundial na mão, a agenda de Gabriel Medina ficou lotada. Entrevistas, fotos, gravações para programas de TV... Um assédio digno de ídolo nacional. De passagem pelo Rio de Janeiro pela segunda vez esse ano para cumprir compromissos profissionais com seus patrocinadores, a Surfar bateu um papo com o nosso campeão, que se mostrou bastante à vontade no posto de melhor surfista do planeta. A VITÓRIA NA ETAPA DO TAHITI FOI COMO UM “DIVISOR DE ÁGUAS”, JÁ QUE OS BRASILEIROS NÃO TINHAM UM BOM HISTÓRICO EM ETAPAS COMO TAHITI, FIJI E PIPELINE. COMO FOI VENCER EM ONDAS PESADAS DO SLATER? FICOU MAIS CONFIANTE PARA O TÍTULO?
Foi irado! Nem imaginava conseguir naquele mar gigante, mas fui passando bateria a bateria, sem pensar no resultado e sim em sair vivo do tubo (risos). Já em relação ao título, fiquei mais confiante, ainda mais porque na sequência vinham as ondas que eu mais me adapto.
NA BATERIA CONTRA O DUSTY PANE SAIU TUDO COMO VOCÊ QUERIA OU TRAÇOU ALGUMA ESTRATÉGIA PARA GANHAR DO HAVAIANO? Na verdade, eu estava muito focado. Sabia que ele iria usar da minha tática, sair pegando tudo para tentar fazer o resultado e me deixar na pressão. Então, resolvi escolher mais e ir nas melhores. Deu certo! No final, acho que ele é que ficou na pressão.
QUANDO A LOCUÇÃO ANUNCIOU VOCÊ COMO CAMPEÃO MUNDIAL, LEMBRA O QUE VEIO NA SUA CABEÇA NAQUELE MOMENTO? Sinceramente, não. Só veio aquela sensação de felicidade e de alívio porque a ansiedade estava grande. Depois, claro, é que passou aquele filme na cabeça e por isso me emocionei.
COMO FOI SEU ENCONTRO COM O ALEJO DEPOIS? Foi irado! Dei o maior abraço nele e sabia que ali ele também estava em busca do seu próprio objetivo.
Kirstin/ WSL
VOCÊ TEM BASTANTE SANGUE FRIO PARA COMPETIR. ISSO VEM DESDE CRIANÇA OU FOI APRIMORANDO? Acho que desde pequeno sou assim e, quando fui crescendo, comecei a perceber que isso me deixava mais calmo. Acho que fui aprimorando sim.
QUAL A BATERIA EM PIPE QUE VAI FICAR MARCADA PARA VOCÊ? A do Dusty Payne foi a mais marcante.
Ted Grambeau/ Rip Curl
A rivalidade ficou apenas nas baterias.
VOCÊ TINHA IDEIA DA GRANDE REPERCUSSÃO DO SEU TÍTULO NAS MÍDIAS ANTES DE VOLTAR AO BRASIL? Quando sai do Brasil, a expectativa já estava grande, mas acho que o período ajudou também. Já não tínhamos mais as emoções do futebol e nenhum outro esporte rolando. Só tinha o surf, por isso foi dessa forma.
AGORA QUE CAIU A FICHA, COMO ESTÁ SENDO A AGENDA DE COMPROMISSOS, O ASSÉDIO DOS FÃS... ESTÁ CONSEGUINDO CURTIR UM POUCO O TÍTULO? Nossa, nem fala! Muita coisa! Mas foi legal e curti bastante. Porém, agora, já estou concentrado no meu treinamento... Já começou tudo de novo e estou pensando no WCT 2015.
PODERIA MANDAR UM RECADO AOS LEITORES DA SURFAR E SEUS FÃS ? Galera, gostaria de agradecer a todos pelo carinho e pedir que continuem torcendo, porque a luta vai começar de novo!
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O O S O T S N I N A U ENQ
Free surf
E
nquanto o WCT pegava fogo em Pipeline, os freesurfers se jogavam nos tubos de Off The Wall. O público na areia vibrava vendo os “tops” arrebentando no Pipe Masters e os malucos “se matando” em OTW. Sempre que a direção de prova parava o campeonato, uma multidão lotava o line up de Pipe e
os brasileiros se destacaram. Nossa equipe acompanhou toda a movimentação dos freesurfers em Oahu e
Marcio Canavarro
mostra para vocês aquilo que não foi pro ar na transmissão do Pipe Masters. ––––– texto e fotos por PEDRO TOJAL
Pipeline clássico no dia em que o WCT parou.
101
Marcio Canavarro
A maestria de Fabio Gouveia em Pipeline.
Antes do WCT comeรงar, John John Florence treinou forte em Backdoor.
102
Leonardo Neves
Alan Saulo aproveitou a pausa do WCT para garantir seu tubo em Pipe.
Marcio Canavarro
Os brasileiros têm que dropar no último momento para pegar uma onda boa em Pipe e nem sempre o plano dá certo. Não é verdade Ian Gouveia?!
103
Wiggolly Dantas ĂŠ um dos melhores brasileiros em Pipe. Esse ano, ele se classificou para o WCT e a expectativa ĂŠ que se destaque nos picos tubulares para a esquerda, como Teahupoo, Fiji e Pipeline.
104
Leonardo Neves
Leonardo Neves
Ian Gouveia provando que a persistência é fundamental para entubar em Pipeline.
Stephan ‘Fun’ Figueiredo se animou vendo os tops voando e também mandou seus aéreos.
105
106
Enquanto as baterias do Pipe Masters pegavam fogo, Diego Santos surfava praticamente sozinho os tubos perfeitos que quebravam em Off The Wall.
107
Marcio Canavarro
Wiggolly Dantas relaxado em Pipe.
Marcio Canavarro
Jean da Silva em Pipe.
Leonardo Neves
Nathan Fletcher ĂŠ californiano, mas tem moral de local em Pipeline.
108
Danilo Couto.
Diego Silva na esquerda de Off The Wall.
Banzai Pipeline.
Leonardo Neves
Depois das 04 p.m, os campeonatos tĂŞm que parar no Hawaii. Danilo Couto aproveitou a lei para garantir esse tubo perfeito em Pipeline.
109
O australiano Jack Robinson, local de The Box, usando toda sua técnica nos tubos de Off The Wall.
Gabriel Mureb em Backdoor.
André Moura
O caminho para Off The Wall.
Alexandre Ferraz na direita de Off The Wall.
110
Felipe ‘Gordo’ Cesarano garantindo sua nota 10 no freesurf.
Bidu
Bidu
Lucas Silveira não aguentou ficar na areia vendo o Pipe Masters e correu para garantir seus tubos em Off The Wall.
111
Diego Silva fugiu do crowd provocado pelo campeonato e se refugiou nas pesadas esquerdas de Off The Wall.
112
113
Annibal
PALAVRA FINAL Alejo Muniz
O MAIOR CAMPEONATO DA MINHA VIDA! O Billabong Pipe Masters 2014 foi um marco na carreira de ALEJO MUNIZ, que mostrou amadurecimento ao vencer Kelly Slater e Mick Fanning. Eliminando a concorrência, Alejo entregou de bandeja o título mundial para seu amigo Gabriel Medina, que o apelidou de “anjo da guarda” nas redes sociais. Mas o sonho vivido pelo catarinense acabou virando pesadelo. Na temporada passada, ele foi comprometido por uma lesão sofrida ainda na perna australiana. Alejo passou o ano inteiro com dores no tornozelo, sem poder dar aéreos e sofrendo quando a água esfriava. Nosso representante chegou em Pipeline precisando fazer a final para se manter no WCT e infelizmente parou nas quartas. A única esperança era receber o ‘injury wildcard’ da ASP (devido às duas etapas que ficou de fora por lesão), que o garantiria na elite do surf mundial para a próxima temporada, no entanto, isso não aconteceu. O catarinense conversou com a Surfar no começo do ano na praia da Macumba, Rio de Janeiro, aonde veio treinar para o início de temporada. Com a fisionomia tranquila e bastante motivado com o bom desempenho que teve no Hawaii, Alejo contou como foram os momentos que ele viveu na última etapa do circuito mundial. “Foi emocionante, acho que foi o maior campeonato da minha vida até hoje! Independente da desclassificação do WCT, competi contra 14 títulos mundiais e venci”, disse o atleta, se referindo aos 11 títulos de Slater e os três de Fanning. ––––– por RÔMULO QUADRA Qual foi a sensação de vencer em Pipe o maior surfista de todos os tempos na sua primeira bateria homem a homem que você fez com ele?
A pior coisa para mim foi esperar por uma semana até o momento da bateria. Imagina você cair contra Kelly Slater em Pipeline, precisando de resultado para se manter no WCT! Sem contar que o cara estava na disputa de um título mundial contra um amigo seu! O campeonato não recomeçava, as horas não passavam e você fica pensando em tudo isso. A minha sorte foi meu irmão estar lá. Às vezes é difícil você acreditar que vai ganhar uma disputa dessa contra o Slater, não é tão fácil... Mas Santiago sempre me falava: “Tu vai ganhar, acredita, acredita!”. Qual foi a estratégia para vencer o Slater nos 30 minutos de bateria?
Entrei nervoso e ele saiu pontuando na minha frente. Faltando cinco minutos, veio uma onda e eu sabia que ela não teria o potencial que precisava para virar a bateria. Então, eu pensei: “O Kelly tem que ir nessa para eu ganhar a prioridade numa próxima onda melhor!” Eu ameacei remar, aí ele bateu braço comigo, olhou bem no meu olho, tipo me botando uma pressão, e foi na onda. Cara, na hora eu fiquei meio travado, mas depois me deu um clique: “Se ele fez isso é porque está com medo de eu vencer a bateria!” Naquele momento, decidi que só droparia uma onda se ela fosse boa o suficiente. Se não viesse, eu acabaria a bateria sentado no outside. Mas ela veio e eu estava um pouco atrasado, só que era a única chance que tinha. Eu remei e botei para dentro, passei dois foam balls, um tubo muito profundo. Foi aí que eu pensei: “Se eu sair, vou virar a bateria.” Quando eu completei o tubo não consegui me controlar, comemorei igual a um maluco. O Slater fez algum jogo psicológico durante a bateria? Ele tentou te desestabilizar? Na hora de pegar a lycra, ele veio me
cumprimentar, mas eu nem olhei para ele. Dentro d’água, antes
da bateria começar, ele me disse: “Boa sorte, Alejo. Vamos ver quem pega as melhores, está meio difícil”. O Kelly sempre joga com o psicológico. Você foi chamado de “anjo da guarda” pelo Medina por eliminar Fanning e Slater da disputa do título mundial. Como foi o encontro de vocês depois do Pipe Masters? Foi destino mesmo... Primeiro ganhei
do Slater da forma que foi. Depois, o campeonato seguiu em baterias de três, eu fiquei em segundo na minha e o Mick ficou em terceiro na dele. Se eu tivesse ficado em primeiro ou em terceiro, não o enfrentaria na repescagem. Todo mundo sabe que quando o “bicho pega”, o Mick é um dos caras mais difíceis de vencer. É só ver o que ele fez em 2013 em Pipe. Mas eu estava tranquilo, a bateria contra o Kelly me deu confiança. A forma como eu joguei e segurei a prioridade foi perfeita. Quando a bateria acabou foi emocionante, fui o segundo cara a abraçar o Gabriel, o primeiro foi o Filipinho. Olhar para areia e ver a galera gritando “É campeão! É campeão!” foi irado! O Gabriel conseguiu o que todos nós queremos. Quando eu saí da água, veio uma multidão me abraçar, comemorar comigo e gritavam: “Alejo, Alejo!”. Juro que quase chorei, mas não podia me desestabilizar porque eu ainda tinha que competir e cumprir o meu objetivo. Eu lembro também do ‘Charlão’, pai do Gabriel, correr em minha direção, pular em cima de mim e dizer: “Obrigado, obrigado”. Isso vai ficar gravado na minha memória para sempre. No meio da confusão, ainda apareceu o meu irmão, correndo igual a um maluco todo molhado. Ele me deu um abraço e continuou me motivando: “Vamos que ainda tem mais”. Depois, quando o Gabriel subiu no palanque para dar entrevista, ele fez questão de vir me abraçar. Eu competi para mim, mas como estava ajudando um amigo por tabela, dei um gás a mais, é claro. O reconhecimento de todos foi realmente especial para mim.
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Junior Enomoto
PALAVRA FINAL Alejo Muniz
Muita gente veio falar comigo depois de Pipeline... Que era uma pena eu ter caído para o WQS, que o meu lugar não é lá. Todos nós vivemos altos e baixos, mas eu não acredito que estou em baixa.
Qual foi a razão do seu baixo aproveitamento na temporada passada, que resultou na perda da vaga no WCT 2015? Um dia antes da etapa
de Margaret River, torci o meu tornozelo no momento em que eu completava um cutback. Estirei meus ligamentos e precisei ficar fora das etapas de Margaret e Bells Beach. Ao todo foram dois meses sem surfar. Voltei a competir na etapa do Rio de Janeiro e eu estava 60/70% recuperado. Acabei competindo o ano inteiro machucado. Não consegui realizar meus aéreos e quando a água estava mais fria a dor aumentava. A lesão foi a minha grande desvantagem em relação aos outros competidores. Na verdade, os únicos eventos que competi sem dor nenhuma foram os dois últimos, em Portugal e no Hawaii. A ASP foi polêmica ao eleger o americano CJ Hobgood e o irlandês Glenn Hall para as duas únicas vagas de ‘injury wildcards’ da temporada. Você ficou decepcionado com essa decisão? Eu tinha quase certeza
que receberia o ‘injury wildcard’. O CJ se machucou no final do ano e eu no começo, então ele teve o ano inteiro para ir bem no Tour. O cara perdeu uma etapa só, a de Pipeline, que já entrava no
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descarte. Sem contar que a minha lesão foi ligamentar e a dele um corte que, apesar de profundo, tem uma recuperação bem mais simples que a minha. Acho que o título mundial dele pesou na hora da decisão. O caso do Glenn Hall foi diferente, pois me pareceu que a ASP tinha uma dívida com ele. O irlandês se machucou em 2013 e entrou como primeiro alternate na temporada passada, o que para muitos foi injusto. Para corrigir o erro do passado, deram a segunda vaga ‘injury wildcard’ para ele esse ano. Então, ele foi beneficiado dois anos seguidos e eu estou pagando pelo erro da ASP. Ficou clara a ligação muito forte entre você e seu irmão (Santiago Muniz). Como vai ser a preparação de vocês dois para o WQS esse ano?
Meu irmão terminou o ranking WQS 2014 melhor do que eu por duas posições (risos). Ele está se preparando na Argentina. Lá, como é muito frio, só rola de treinar no verão. É até engraçado, mas todo campeonato que eu corro com ele a gente se dá bem. Acho que é a energia de nós dois, o apoio... Não tem melhor torcedor que alguém da família. Se der para a gente entrar juntos no WCT, vai ser demais!
Pedro Tojal Rafael Moura
A onda da virada sobre Fanning e que coroou Medina campeão mundial.
Qual a principal diferença entre o WCT e o WQS? Às vezes, as ondas do
WQS são muito ruins. Os picos são até bons, mas talvez naquela semana não esteja bom. Você tem que competir mais no instinto, remar forte... É muito diferente do WCT, onde as baterias têm mais tempo, existe prioridade e que normalmente acontece em point breaks. O WCT é muito mais técnico. Os seus patrocinadores estão te apoiando? Só posso agradecê-los. O Bobby Hurley mandou um e-mail me apoiando. Ele me disse que a Hurley está comigo para o que der e vier. A Dragon e o Márcio Zouvi fizeram o mesmo. Agora firmei parceria com a G-Shock, que é uma empresa muito grande. Eles já patrocinavam alguns surfistas no exterior, mas acho que é a primeira vez que patrocinam alguém que corre o mundial. Eu fico muito feliz porque a filosofia da empresa tem tudo a ver com o esporte que pratico. Espero fazer um ano bom para representar essas marcas e pessoas que acreditam em mim.
Alejo Muniz rodeado pela imprensa em Pipe.
Podemos esperar por uma apresentação diferenciada em algum evento esse ano? Lowers Trestles, que acaba de voltar para o WQS! Esse é
o campeonato que eu quero ir bem. Vai estar todo mundo lá... Com certeza, muitos tops do WCT. Vai ser a oportunidade de mostrar que eu posso estar na elite. Será um campeonato bom para todo mundo assistir. Como está a motivação para essa temporada? Muita gente veio falar comigo depois de Pipeline... Que era uma pena eu ter caído para o WQS, que o meu lugar não é lá. Todos nós vivemos altos e baixos, mas eu não acredito que estou em baixa. Estou bem da minha lesão, me sinto 100%. Estou me preparando com as melhores pessoas que eu conheço. Hoje, trabalho com o shaper carioca Márcio Zouvi, mas que vive na Califórnia. Ele é um cara experiente. Não estou triste por ter caído.
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PRÓXIMO NÚMERO
Pedro Tojal
EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO - 7 ANOS
Stephen Koehne pegou essa direita perfeita em Off The Wall durante o Pipe Masters e levou o público da areia à loucura. Parecia que alguém tinha tirado uma nota 10 no campeonato!
EXPEDIENTE Editor Chefe: José Roberto Annibal – annibal@revistasurfar.com.br Editora: Déborah Fontenelle - deborah@revistasurfar.com.br Redação: Luís Fillipe Rebel – luisfillipe@revistasurfar.com.br Rômulo Quadra – romulo@revistasurfar.com.br Arte: João Marcelo – joaomarcelo@revistasurfar.com.br Fotógrafo staff: Pedro Tojal – tojal@revistasurfar.com.br Colunistas: Bruno Lemos, Gabriel Pastori e Otavio Pacheco. Colaboradores edição – Texto: Leandro Breda. – Fotos: Bidu, Bruno Lemos, Cestari/WSL, Corey Wilson/Rip Curl, Cory Scott/ISA, Dan Warbrick/Rip Curl, Davi Borges, Fernanda Izabel, Fred Pompermayer, Henrique Pinguim, Igor Hossmann, James Thisted, Junior Enomoto, Keale Lemos, Kirstin/WSL, Leonardo Neves, Marcio Canavarro, Masurel/WSL, Paulo Barcellos, Pedro Burckauser, Pedro Felizardo, Pedro Gomes, Plínio Bordin, Rafael Moura, Rowland/WSL, Smorigo/WSL, Ted Grambeau/Rip Curl, Wiliam Zimmermman e WillH-S/WSL.
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PA R A B É N S
G A B R I E L M E D I NA