JUN | JUL 2015 R$ 11,90
Lucas Silveira, Noronha.
FI LI P E A POTEÓTICO VI T Ó R I A D E F I L I P I NHO NO MA IO R C A M PEO NAT O D E T O D O S O S T EM P O S
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ÍNDICE
OI RIO PRO APOTEÓTICO
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PLAYGROUND EM MENTAWAI
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NORONHA TUBULAR
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Por uma semana, o Brasil deixou de ser o país de futebol para ser o país do surf e a “cereja do bolo” foi a vitória espetacular de Filipe Toledo.
Sete dos melhores grommets do Brasil se juntaram em uma boat trip e mostraram que talento não falta para a nova geração verde-amerela.
Fabio Gouveia, Lucas Silveira, Ian Gouveia e outros tube riders investiram em um swell durante o final da temporada no arquipélago.
ENSAIO SURFAR
A carioca Giulia Gallart é bem ligada à vida esportiva, diga-se de passagem ao surf. Por isso e outros motivos, ela foi a nossa escolhida para o ensaio desse mês. .
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CASA CHEIA: Mais de 20 mil pessoas compareceram na final do Oi Rio Pro e comemoraram a vitória de Filipe Toledo. Foto: WSL.
DANE REYNOLDS VA N S D O B R A S I L . C O M
©2015, Vans Inc.
EDITORIAL Sonhar é preciso! Outro dia estava no Baixo Leblon tomando um chope com um amigo que mora na Inglaterra e estava de férias no Brasil. Papo vai, papo vem... e entramos no assunto sobre os nossos sonhos. Ele perguntou se eu conseguiria lembrar de algum sonho marcante que tive nos últimos dias. Fazia tempo que ele não vinha de férias e estava um pouco desatualizado dos acontecimentos por aqui. Aí eu comecei uma história mais ou menos assim... Era um lindo domingo de sol, sem nuvens, e estava acontecendo um campeonato de surf mundial na Barra da Tijuca, com uma mega estrutura e um brasileiro na final. As ondas estavam propícias para dar aéreos, manobra que o nosso representante era especialista. Na areia, mais de 20 mil pessoas se espremiam para ver todos os detalhes. Um público bastante extrovertido gritava e torcia com bandeiras do
O grande momento: Filipe Toledo sendo ovacionado pela multidão. Foto: Pedro Tojal. Na capa: Lucas Silveira em sua primeira trip para Noronha. Foto: Henrique Pinguim
Brasil. Dezenas de máquinas fotográficas e câmeras de filmagem na beira d’água faziam um cenário de uma final de Copa do Mundo no Maracanã. Um total de 280 jornalistas credenciados para a cobertura e mais 300 pessoas trabalhando na organização do evento. Direto da bancada do Jornal Nacional, Willian Bonner tinha anunciado na sexta-feira que o Esporte Espetacular iria transmitir ao vivo a final no domingo com um brasileiro na disputa pelo título. “Como assim?! Campeonato de surf com o Brasil disputando o título sendo transmitido ao vivo na TV Globo?”, questionou meu amigo, que logo mandou baixar mais uma rodada de chope. Parecia que ele estava gostando da minha história. Para completar, disse a ele que o sonho terminou com o brasileiro saindo da praia ovacionado como campeão da etapa e que o nome dele era Filipe Toledo. Páginas de vários
jornais estamparam na capa a vitória e a notícia correu o mundo! Meu amigo disse que isso era realmente o que o surf precisava para atingir outro patamar e voltar a crescer. Não esperei muito e logo fui dizendo para ele que todo esse sonho tinha sido realidade, que realmente Filipinho tinha vencido na Barra. Puxei o celular, mostrei as fotos no Instagram @revista_surfar e o cara ficou literalmente de boca aberta! A noite terminou em muitas risadas e, é claro, falando sobre surf. Nas próximas páginas, você vai poder acompanhar toda a nossa cobertura do Oi Rio Pro em 20 páginas com uma abordagem de tudo que aconteceu de mais importante nesse mega evento de surf, talvez o maior da história da WSL (antiga ASP). Nossa equipe, com nove profissionais, chegava à praia no primeiro raio de sol, fotografando, postando fotos nas redes sociais, publicando notícias no nosso site, distribuindo
exemplares da Surfar (seis mil revistas distribuídas nos sete dias de evento), montando barraca, etc. Um trabalho árduo, mas com um resultado bastante gratificante. Na onda do domínio do surf brasileiro, também apresentamos sete atletas dos melhores surfistas Sub 15 do país em uma barca para Mentawai. Uma molecada que trocou o vídeo game por um playground de ondas perfeitas. Além da zoação, muita qualidade técnica e inovação nas manobras, o que nos deixa tranquilo quando pensamos em quem vai suceder a atual geração de Medina, Filipe, Mineiro e Cia. E para fechar nossa edição, uma galera de peso investiu nas ondas do arquipélago Fernando de Noronha no final de março e se deu bem. Ondas perfeitas e tubulares fizeram a cabeça dos surfistas que passavam até seis horas por dia dentro d’ água surfando. Viva o surf! Viva Filipe Toledo! José Roberto Annibal
mentawaii ways
FA C E B O O K / L O J A S W Q S U R F
W Q S U R F. C O M
marca mais presente no surf
carioca
POSTINHO - OI RIO PRO
Essa foto do Joel Parkinson foi feita de manhãzinha, antes de começar o primeiro dia de competição do Oi Rio Pro. O mar estava clássico e se manteve assim até o final de tarde. Sem dúvida, a condição mais perfeita que já rolou no Postinho durante uma etapa do World Tour, com um show de todos os melhores surfistas da WSL. Foto: Pedro Tojal
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ALFABARRELS - RIO DE JANEIRO
Tubo de “no grab” ou tubo de backside sem a mão na borda. Eric de Souza se especializou em entubar assim lá na Indonésia e agora aplica isso em todas as esquerdas tubulares que encontra, como nesse dia perfeito no Alfa Barra, Rio de Janeiro. Foto: Pedro Tojal
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BACKSTAGE
UM RAIO NA TEMPESTADE Filipinho não precisa da onda boa para tirar nota, ele faz isso em qualquer onda.
Daniel Smorigo/ WSL
por GABRIEL PASTORI
Eu tinha até pensado em outro tema para a coluna dessa edição, mas dificilmente conseguiria escrever sobre alguma coisa hoje que não passasse por Filipe Toledo. No dia seguinte da vitória do “moleque” em casa, que foi transmitida ao vivo pela Rede Globo, eu acordo com o Filipinho na capa do jornal. Em seguida, ligo a TV e lá está ele novamente, desta vez, no programa da Ana Maria Braga. Por mais que as pessoas digam que o surf brasileiro está abrindo essas portas ao longo de gerações, às vezes tenho impressão de que a mudança aconteceu de uma hora para outra. Há uns três anos, nem os mais otimistas diriam que em 2015 teríamos o atual campeão mundial e dois brasileiros liderando o ranking com certa vantagem após as quatro primeiras etapas. Sem contar que nos dois QS10. 000 (antigo prime) também deu Brasil, com o Filipe em Trestles e Alex Ribeiro em Saquarema. Ou seja, dos seis eventos mais importantes até o momento, cinco foram vencidos por brasileiros. Isso porque o Mineiro empatou na final contra Mick em Bells, senão estaríamos literalmente invictos! Mas voltando a falar do Filipinho, está difícil encontrar mais palavras para descrever o que ele tem feito em certos eventos. Poucas vezes na história do surf se teve um atleta tão acima do nível dos demais, principalmente em determinadas condições. Todas as suas recentes vitórias foram simplesmente arrasadoras e parecia que desde o primeiro round todos já sabiam que ele venceria. Se você parar para pensar que pelo fato de estarmos lidando com a natureza o surf é um esporte onde o fator sorte conta muito,
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essa superioridade se torna ainda mais gritante. O Toledo não precisa da onda boa para tirar nota, ele faz isso em qualquer onda. Durante o evento no Rio, troquei uma ideia com o Paulinho Vilhena, que tem acompanhado o Filipe em alguns campeonatos e ganhou o apelido de “amuleto”. Na conversa, chegamos à conclusão que ele ainda não viu o amigo perder nenhuma bateria. Paulinho assistiu três eventos na praia: O SP Prime em Maresias no final do ano passado, o QS10.000 em Trestles e o Oi Rio Pro esse ano. Em todos esses eventos, Filipe não perdeu sequer uma bateria. O mais legal de tudo isso é ver que ele continua com a mesma postura. Quem conhece, sabe que apesar de todo o prestígio, Filipinho se destaca pela humildade e é o mesmo moleque brincalhão e sangue bom de sempre. O Circuito Mundial nunca foi tão bom de ser assistido por nós brasileiros. Hoje, não temos apenas um número expressivo de representantes no Tour, nós estamos no topo da lista. Apesar de alguns gringos ainda insistirem que os brasileiros não são tão bons em ondas pesadas, já provamos com resultados que podemos vencer qualquer etapa. Eu mal posso esperar por esse final de ano. Imagina dois brasileiros disputando o título mundial em Pipe?! Eu acredito! GABRIEL PASTORI, 26 anos, freesurfer profissional. gabrielpastori9@hotmail.com | Instagram: @gabrielpastori
Foto: Pablo Vaz
Alejo Muniz •Resistência a Choque •Resistência a Água (200m) •Luz de fundo LED (super illuminator) •Horário Mundial •Dados da lua •Tábua de marés •Cronômetro de 1/100 seg. •Temporizador •3 Alarmes multifuncionais •Alerta piscante •Duração da bateria: 7 anos (com CR2025)
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#DESURFISTAPARASURFAR Quer ver sua foto na Revista Surfar? Siga @revista_surfar + @lostbrasil e marque suas postagens com a hashtag #desurfistaprasurfar e @lostbrasil. As cinco melhores serão publicadas nesta coluna e de quebra levam um kit ...LOST de roupas cada uma.
@A L E X A N D R E R I B E I R O _XANDINHO
“Na vibe em Padang Padang, Bali, Indonésia!”
@_ F E R N A N D O A N D R A D E
“Só felicidade aqui na Baja Califórnia.”
@ M A R C E L O M O R I N I D O VA L O
@_ J j p s f r e i t a s
“Voando em Uluwatu Beach.”
@ R I C S T R AT I E V S K Y
“Bruno Santos ejetando!”
@_ J J E A N PAT R I C K
“Dia de altas ondas e muita zoação dentro d’água.”
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INSTAGRAM GATAS DO SURF
Fotos Arquivo Pessoal
Não perca os melhores cliques do Instagram das mais gatas do surf pelo mundo afora. Uma seleção que tira o fôlego de qualquer marmanjo!
@camillacallado e suas amigas sabem como se divertir dentro d’água. .
@stephaniegilmore se diverte entre uma caída e outra.
@alessaquizon exibindo seu belo backside nos treinos do #OiRioPro.
@nikkivandijk esbanja sensualidade em ensaio fotográfico.
@chloecalmon mostra que nas Ilhas Marshall a única conexão disponível é com a natureza.
@alanapacelli e sua irmã @nicolepacelli mostram que mandam bem dentro e fora d’água.
@camilastorchi descobrindo os mistérios que o oceano pode revelar.
@claudinhagoncalves em momento de felicidade total: “Sorria para a vida que ela irá sorrir de volta”.
@annaveronicafr
@anastasiaashley num verdadeiro “dream team”. Haja fôlego!
Não deixe de ficar por dentro de tudo que acontece no mundo do surf. Siga @Revista_Surfar no Instagram.
WAINUI
BRASIL, A NOVA POTÊNCIA DO SURF MUNDIAL! Muitos podem até ignorar ou fazer vista grossa, mas o Brasil está se tornando a nova potência do surf mundial.
WSL
por BRUNO LEMOS
Quando comecei a surfar no início da década de 80, logo me apaixonei pelo esporte. De imediato, o fascínio pelo surf me cativou de uma maneira que fui deixando as outras atividades de lado. Nessa época, o surf não era marginalizado como ouvíamos falar na década de 70, mas pela reação dos meus pais quando eu disse que queria ser surfista, deu para perceber que a sociedade em geral não simpatizava muito com aqueles que “deslizavam sobre as ondas”. Só sei que não conseguia diminuir o que sentia pelo surf, pelo contrário, era algo mais forte do que eu. Cada vez mais fui me envolvendo a ponto de querer abandonar todos e tudo que tinha para vir morar no North Shore. O fascínio pelo Hawaii era tão grande que me propus a passar por cima de qualquer problema, desafio ou situação para poder estar e ficar perto de onde se encontram as melhores e maiores ondas do planeta. Olhando para trás, são vinte e tantos anos de fortes emoções que dariam para escrever um livro ou fazer um filme. E agora, depois de assistir o que aconteceu durante o Oi Rio Pro, tive a certeza de que o surf realmente é algo muito especial e que evoluiu em proporções absurdas, não só em relação às performances e estrutura, mas também de uma forma que tomou conta da
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emoção de milhares de pessoas. Apesar de viver envolvido pelo surf há mais de 30 anos, não conseguiria explicar o que ele tem de tão especial, só sei que é algo que consegue nos cativar de uma maneira muito encantadora. E hoje pude ver isso não apenas na vida dos surfistas, como também em muitos torcedores fanáticos que deram um show à parte lotando a praia como nunca havia se visto antes em nenhum lugar. Os gringos e a organização da WSL devem estar em choque com o que vem acontecendo. Há algum tempo vem se falando que o Brasil seria a nova potência do surf mundial. Muitos no início até queriam ignorar isso ou fazer vista grossa, mas aos poucos as coisas foram acontecendo, os surfistas brasileiros no Tour começaram a ter melhores resultados e, quando Gabriel Medina conquistou o primeiro título mundial para o Brasil, as coisas engrenaram de vez! Mais recente, no início desse ano na Austrália, veio a vitória do Filipe Toledo logo no primeiro evento e depois Mineirinho dominando o resto da perna australiana. E, como se não bastasse, entre o intervalo da etapa em M-River e a do Rio tivemos dois QS, o de Trestles, onde Filipinho aniquilou todos seus adversários, e o de Saquarema, vencido por Alex Ribeiro que surfou muito e se der mole esse ano também
entra para o WCT. Mas, sem dúvidas, o ápice de tudo foi no campeonato da Barra da Tijuca. Presenciei a vitória de Filipe em Trestles, porém confesso que quase não o reconheci surfando na etapa do Rio. Filipinho continuava com a mesma garra e determinação, mas seu surf estava mais forte, mais agressivo, mais sólido... Acho que ninguém duvidava de que ele era o principal candidato ao título, porém foi incrível de ver como ele conseguiu deixar todos de boca aberta, completando com facilidade algumas manobras jamais vistas antes em competições. Não temos como negar: o que vimos no Rio de Janeiro durante o Oi Rio Pro foi algo sobrenatural! Filipinho teve uma performance que ninguém conseguia explicar. E assim como foi seu desempenho, o sentimento que o surf nos dá é algo também inexplicável! Deslizar sobre as ondas é maravilhoso, passar por dentro de tubos é algo incrível, então, isso só me faz acreditar que o surf seja um presente divino de Deus para nós! O que me incentiva mais ainda a continuar a surfar e viver para o surf! E espero que essa energia também esteja contaminando você! Aloha! BRUNO LEMOS é fotógrafo carioca radicado há mais de vinte anos no North Shore, Hawaii.
INTRODUCING THE OFFSHORE
FACEBOOK.COM/SANUKBRASIL INSTAGRAM.COM/SANUKBRASIL
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Fotos Zé Roberto Annibal e Pedro Tojal
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Uma multidão lotou as areias do Postinho na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, para ver os melhores surfistas do ranking da WSL na briga pelo título do Oi Rio Pro. Um dos maiores recordes de público vistos em competições pelo mundo afora. A Surfar montou seu QG e garantiu os melhores momentos do que rolou durante todos os dias do evento.
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1 – O público vibrou a cada vitória dos brasileiros. 2 – A surfista carioca Marina Werneck e sua amiga Michele. 3 – Quarteto de peso: os shapers Márcio Zouvi, ‘Amiguinho’, Gustavo Kronig e Merrê. 4 – Miguel Pupo e Luiz Henrique ‘Pinga’. 5 – A longboarder Marcia Porter levou seu filho para ver os tops no Postinho. 6 – Equipe Surfar sempre a postos. 7 – Dupla casca-grossa de Saquarema: Marcos Monteiro e Patrick Reis. 8 – Renan Pitanguy e seu filho também marcaram presença. 9 – Com um trio desse, o que não faltou foi marmanjo querendo beber uma Corona. 10 – Filho do fotógrafo Bruno Lemos, Keale Lemos já começou com o pé direito na profissão: emplacou a capa da edição Surfar #41. 11 – O big rider carioca Rodrigo Rezende e seu filho. 12 – Lenda vida do surf, Daniel Friedmann estava atento a tudo que rolava dentro d’água. 13 – Armando Diniz e Gustavo Kronig. 14 - Michele (marketing) e Duda Plaisant da WQSurf. 15 – Cauã Reymond, sempre presente nos eventos de surf, com Adriano de Souza.
Megan é uma jovem artista gráfica e ilustradora australiana, residente na cidade litorânea de Torquay. Quando ela não está dentro da água para surfar, Megan dedica-se a criação de suas obras. Seu estilo pessoal é único e tem como fonte de inspiração gráficos vintage dos anos 60/70, de pôsteres e capas de discos das bandas dos anos 80. Ganhadora do prêmio “DIA Professional Encouragement”, oferecido pelo Design Institute Of Australia, ela já emprestou seu talento para grandes marcas do universo da moda surfe e agora assina uma linha exclusiva de estampas para a WG.
Fotos: Pedro Monteiro
SURFAR MUSIC
CIDADE NEGRA
A banda chega aos 28 anos de carreira.
“o surf foi uma das forças que fizeram o grupo dar certo”
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título do Quiksilver Pro Saquarema estava em jogo e o final de semana apontava as baterias decisivas da etapa. Os nervos estavam à flor da pele! Então, na noite de sexta-feira o reggae do Cidade Negra foi convocado para acalmar os ânimos do público e dos atletas envolvidos no campeonato. No mesmo dia do show era comemorado o aniversário de 174 anos de Saquarema, o que justificou o enorme público presente nas areias de Itaúna para assistir a banda. A Surfar cruzou com o Cidade Negra nos bastidores depois de uma apresentação vibrante de mais de duas horas e aproveitou para uma conversa que, obviamente, teve o surf como pauta. –––– por RÔMULO QUADRA
O PÚBLICO E A CIDADE DE SAQUAREMA FORAM PRESENTEADOS COM UM SHOW DE MAIS DE DUAS HORAS DE DURAÇÃO QUE CONTOU COM MÚSICAS DE DIVERSOS ÁLBUNS DA BANDA. FOI UMA APRESENTAÇÃO ESPECIAL? LAZÃO: Esse show comemorou os 20 anos do primeiro disco que fizemos junto ao Toni, chamado “Sobre todas as forças”, que foi um trabalho especial, um sucesso. Nós esperávamos vender no máximo 100 mil cópias e vendemos três milhões. O show também foi uma espécie de preparação para o Rock in Rio no mês de setembro. Para um músico, estar no palco mundo do Rock in Rio pode ser comparado a um surfista que dropa Waimea. Não pode cometer erro e muito menos puxar o bico, porque a segunda onda vem logo atrás e aí você pode tomar na cabeça e acabar dando trabalho aos salva-vidas. Está me entendendo? O swell entrou e você tem que remar na maior da série.
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BINO: Fizemos um retrospecto dos nossos maiores sucessos. Foi bem legal, pois nós tocamos duas horas ou mais e a galera cantou sem parar e ainda pediu bis. QUAL É A RELAÇÃO DE VOCÊS COM O SURF? LAZÃO: É como a minha relação com Deus. É onde busco energia. Onde eu reflito sobre tudo: vida, música... No surf, eu deixo os meus anseios, crio os meus sonhos... Surf é minha religião e posso te afirmar que Jesus Cristo foi o primeiro cara a surfar quando caminhou sobre as águas... E olha que o mar estava revolto! Ele ainda mandou Pedro se juntar a ele, mas o apóstolo tomou uma vaca e quase se afogou (risos)!
BINO: Eu tive pouquíssimas experiências com o surf. O meu primeiro contato
foi através de um amigo que já faleceu, o Olimpinho (longboarder baiano). Ele me levou uma vez para pegar onda no Recreio. Até então, eu só ficava da areia admirando. Mas a minha experiência mais recente foi a de pilotar um jet e colocar o Lazão numas bombas em Arraial do Cabo. As ondas estavam grandes e eu tive coragem. Só não coloquei a prancha no pé. Mas um dia quem sabe eu faço tow in (risos)! TONI: Eu preciso me dedicar ao drop. Quando boto para baixo, normalmente eu levo uma vaca. Hoje, eu prefiro aquela onda mais cheinha! Preciso aprender a dropar, botar para baixo nas mais difíceis! É coisa para um mês de treino, sabe? Mas antes preciso me resolver com a minha hérnia de disco (risos).
O show foi em comemoração ao álbum “Sobre Todas as Forças” que vendeu 3 milhões de cópias.
A BANDA SOFRE INFLUÊNCIA DO SURF? TONI: Um dos sonhos de um dos integrantes era poder surfar. Só que ele morava na Baixada Fluminense e tinha a maior dificuldade para entrar no mundo do surf. Além da distância, o equipamento era caro e ele ainda sofria preconceito por ser morador da Baixada. Todos esses paradigmas, de certa forma, foram quebrados graças ao sonho do Lazão (baterista). O sonho de ser surfista fez com que ele se comprometesse com a nossa banda. Ele viu no Cidade Negra uma oportunidade realizar o sonho de ser surfista. Deu certo! Hoje ele mora perto do mar e é respeitado na Prainha. Por isso, digo que o surf foi uma das forças que fizeram o grupo dar certo. COMO VOCÊS INTERPRETAM ESSE NOVO MOMENTO DO SURF BRASILEIRO? LAZÃO: Com certeza, o Medina foi o primeiro de uma série de brasileiros vitoriosos. O nível brasileiro deu um “up” maior do que o resto do mundo. Essa molecada surfa como se estivesse andando de skate na Praça Tim Maia lá do Recreio. Eles realizam aéreos muito arriscados. Mas não podemos nos esquecer do pessoal das “antigas”, que é a base de tudo. Lendas vivas como Renan Pitanguy, Italo Marcelo, Daniel Friedman, Carlos Burle, Rodrigo Rezende, que são nossos amigos da Prainha. Para finalizar, quem manda na Prainha é uma família!
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O MÊS DE MAIO É MARCADO PELO ANIVERSÁRIO DA MORTE DO BOB MARLEY. QUAL SERIA A IDENTIFICAÇÃO DA BANDA COM O MÚSICO? TONI: O Bob Marley é um gênio! Ele junto de outros fizeram o reggae ganhar notoriedade no mundo. O Cidade Negra curte Bob Marley, mas também os caras que o inspiraram. Marvin Gaye e Stevie Wonder são outros exemplos bem influentes no nosso som. Bino.
A VOLTA DO TONI GARRIDO À BANDA RETOMA A ENERGIA DO INÍCIO? LAZÃO: É uma química igual à da Coca Cola. Não tem igual! A vibração agora com o Toni Garrido de volta é bem parecida com a do início mesmo.
BINO: A volta do Toni traz a energia do início, só que com um aditivo. O Toni lançou o CD solo dele e nós (Lazão e Bino) continuamos os trabalhos da banda com outro cantor. O aditivo é justamente essa experiência vivida nesse tempo que estivemos separados.
O baterista Lazão.
COMO VOCÊS ANALISAM ESSA NOVA FASE DA BANDA? TONI: Voltamos a tocar juntos há muito tempo, mas não fizemos uma grande divulgação. Por isso, ainda tem uma galera que se surpreende. Nós estamos sem gravadora e afastados dos veículos de massa. É o mesmo que acontece com o Capital Inicial e o Paralamas do Sucesso. Hoje nossa estrutura é de banda independente, não temos verba de gravadora e muito menos um departamento de marketing trabalhando para a gente. Toni garrido.
Fotos Arquivo Pessoal
Apesar da correria entre as competições e da eterna busca pela onda perfeita ao redor do planeta, os tops e freesurfers sempre arrumam um tempinho para relaxar e postar seus melhores cliques nas redes sociais.
@filipetoledo depois de tantos momentos de tensão, relax com @marcelod2: “Satisfação total! Humildade pura, muito sucesso!”
@whoisjob relembra dia de diversão com “these crazies” @kellyslater @thomasvictorcarroll @rcj6666 #dougiesilva @worldsurflols @catchsurf.
@gabrielmedina postou essa foto durante a entrevista com @sabrinareal.
@italoferreira15 aproveitou a folga entre uma competição e outra para fazer turismo no Rio de Janeiro.
@fa_binhonunes mostra como começar bem o dia com um “Late Coffee Acid Drop”.
@alexbbb33 curtindo a vibe de fim de tarde com a galera.
@rob_machado deu uma pausa no surf para curtir o Halloween com a família.
@miguelpuposurf preparado para jogar uma pelada com seus parceiros.
@leonevesrj já com saudades do belo pôr do sol na
Não deixe de ficar por dentro de tudo que acontece no mundo do surf. Siga @Revista_Surfar no Instagram.
Indonésia: “Estou sentindo falta desse lugar. Acho que é hora de voltar!”.
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Zé Roberto Annibal e Pedro Tojal
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Filipe Toledo deu um show nas ondas do Postinho para derrotar o australiano Bede Durbidge na final e conquistar o título da etapa brasileira do WCT no Rio de Janeiro. Confira mais um pouco dos bastidores do evento!
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1 – #surfarnowct. 2 e 3 – Xande Fontes e Teco Padaratz, os organizadores do Oi Rio Pro. 4 – O ex-judoca Flavio Canto não perdeu um dia da competição. 5 – Radicado na Califórnia, o shaper Márcio Zouvi garantiu a edição de aniversário 7 anos da Surfar. 6 – Guaraná Antarctica muito bem representado. 7 – Yuri Sodré marcou presença com sua família. 8 – Não faltou mulher bonita nas areias do Postinho. 9 – O skatista Bob Burnquist também compareceu para ver o show dos tops. 10 – Guilherme Zattar do Canal Off e sua filha. 11 – Ricardo Toledo incansável. 12 – Marcos Monteiro e Aldemir Calunga com uma amiga. 13 – “Go vodka” para a galera... 14 – Carlos Burle foi prestigiar os atletas brasileiros na Barra da Tijuca. 15 – A mulherada não parava de fazer ‘selfies’. 16 – Paulinho Vilhena não aguentou e acabou “passando mal” depois de carregar Filipinho até o pódio no meio da multidão.
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Fotos: Divulgação Fred Rozário ASP.
WYo HASAPP
A Hawaiian Dreams promoveu em maio um happy hour para seu atleta Adriano de Souza, atual líder do ranking do WSL. O evento aconteceu no Pe’ahi/Extreme Club, Rio de Janeiro, e contou com a presença de nomes de peso do esporte, além de muita gente bonita que pode degustar do melhor da culinária japonesa e, de quebra, levar para casa a camiseta oficial, “a amarelinha”, criada especialmente pela HD para a etapa brasileira de surf.
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1 - O anfitrião da noite, Adriano de Souza, autografando a “amarelinha”. 2 – Felipe ‘Gordo’ Cesarano e seu brother Jô Paiva. 3 – Esse trio fez sucesso na noite! 4 – Jessica Biot e amigas. 5 – Marta Lisboa (de preto) e Luana Maggini com uma amiga. 6 – Carla, Júlia, Veridiana e Eraldo Gueiros. 7 – Daniel Travassos com suas irmãs Tathiana e Juliana. 8 – Ricardo Bocão e Mineirinho com Fernando e Naum da HD. 9 – O fotógrafo Paulo Barcellos com Stephan Figueiredo e sua noiva Lulu Campos. 10 – Wiggolly Dantas, Armando Daltro, Yuri Sodré e camarada. 11 – Beleza em dose dupla! 12 – Não faltou mulher bonita! Difícil foi ir embora pra casa!
All i can promise you is Danger
SEJA UM FRANQUEADO franquia@franquiapeahi.com.br
* Barra - (21) 2492-1286 G谩vea - Tijuca Shopping - Plaza Shopping Niter贸i
Selfie com o ídolo, no sentido horário: Gabriel Medina, Sage Erickson, Jadson André, Chloé Calmon, Alejo Muniz, Luana Coutinho, Miguel Pupo, Italo Ferreira e Strider Wasilewski.
Fotos: Annibal e Luciano Cabal
#SELFIECOMOÍDOLO @REVISTA_SURFAR
NA MEDIDA Natural de Santos (SP), SYLVIO de Oliveira Jr, mais conhecido como ‘TICO’, despertou a vontade de trabalhar com pranchas por influência do seu irmão Adriano ‘Teco’. Juntos, construíram em 1994 a Silver Surf Surfboards, desejo de dois adolescentes que sonhavam em viver da arte de fazer pranchas de surf. “Teco foi o primeiro a se aventurar nos shapes e aos poucos foi me ensinando a shapear. Como antes eu trabalhava como sander, tinha facilidade com a lixadeira e finalizava os blocos que ele desbastava com a plaina. A partir daí, surgiu nossa parceria que já dura há 20 anos”, conta. Com aproximadamente 10.000 pranchas produzidas, os irmãos já shapearam para diversos atletas no Brasil, mas hoje o foco é o potiguar ITALO FERREIRA, com quem trabalham com os modelos do shaper californiano T.Patterson, representado pela dupla com exclusividade no Brasil.
ITALO FERREIRA POR SILVIO ‘TICO’
SILVIO ‘TICO’ POR ITALO FERREIRA
Meu trabalho com Italo começou através do Pinga, que nos apresentou quando ele tinha 14 anos. Na época, representávamos o shaper Timmy Patterson no Brasil e optamos por utilizar seus modelos nas pranchas do Italo. Mesmo muito jovem, ele já se mostrava um garoto de futuro promissor e, por isso, sempre demos uma atenção especial em suas pranchas, que sempre foram produzidas pela Silver Surf aqui no Brasil. De lá para cá, Italo conquistou sua vaga no Circuito Mundial e apareceu para o mundo do surf, consagrando a parceria entre a Silver Surf e o shaper T.Patterson. Hoje trabalhamos em cima do modelo “IF”, batizada assim durante a visita de Timmy ao Brasil, e responsável pela passagem meteórica de Italo pelo QS no ano passado. Além dos tamanhos 5’9 e 5’10, estamos em cima de um modelo menor, 5’8, com as mesmas medidas de largura e flutuação, 18’ ½” x 2’ 1/8, um pouco mais de área (largura) no final da rabeta e um single concave um pouco mais acentuado e um pouco mais de volume. Já suas pranchas para ondas maiores vão desde 6’0 até 6’6. Italo é um garoto bem atento e sua convivência com os surfistas do Tour já influenciou bastante na sua performance dentro d’água. Ele vem trabalhando mais o surf com as bordas da prancha, além de suas manobras aéreas. Uma de suas qualidades é que ele aprende bem rápido e, com certeza, trará muitas alegrias ao surf brasileiro. Para todos nós é um grande prazer poder trabalhar com ele.
Nosso trabalho começou quando eu tinha 14 anos e no início foi um pouco difícil, pois não tinha muito contato com ele, era tudo por e-mail! Além disso, eu não tinha noção de tamanho e de medida das minhas pranchas, mas fomos acertando aos poucos e elas começaram a funcionar de forma inexplicável! Essa parceria com o Tico e Teco da Silver Surf e com o shaper T. Patterson tem me ajudado muito. Eles estão sempre preocupados com as pranchas, tentando melhorar a cada produzida. Hoje, como temos um modelo bem definido, conversamos mais sobre os tamanhos que vou precisar para onde eu estiver indo e quando é preciso fazemos os ajustes necessários. No momento, minha prancha mágica é uma 5’9 round, que usei em Saquarema e na Barra, um tamanho um pouco menor do que costumava usar como oficial. Ajustamos uma rabeta round, que deu bastante segurança, e ela tem funcionado muito bem em diferentes condições de ondas. Sinto que posso forçar bem na manobra que ela não perde a linha e, por ser um pouco menor, consigo colocá-la com mais facilidade onde quero. No momento, vamos continuar trabalhando com o modelo “IF Model”, alternando somente os modelos de rabeta e, talvez, algo bem suave que não mude muito as características porque tudo está funcionando muito bem. Quero continuar conseguindo resultados e evoluindo meu surf. Espero terminar o ano entre os 10 melhores e ser o Rookie Of the Year. Eu consigo! IF Model – 5’9 rabeta round - 18’ ½” x 2’ 1/8 - 23.1 L.
Daniel Smorigo/WSL
Italo Ferreira mostra muita garra dentro d’água para alcançar seus objetivos no Tour esse ano.
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NA WEB
Fotos: Facebook
Fique por dentro do que a comunidade do surf anda falando nas redes sociais pelo mundo afora!
“QUANDO ENTRAMOS NO TOUR, A EXIGÊNCIA MAIOR É UM BASE LIP MAIS AGUÇADA, MAIS POWER, ENTÃO A GENTE ACABA ESQUECENDO UM POUCO DA NOSSA ESSÊNCIA.”
@Miguel Pupo
“O GABRIEL É UM DOS MEUS ÍDOLOS. ENTÃO, COMPETIR CONTRA ELE E TER A MELHOR PERFORMANCE É UMA HONRA. EU SABIA QUE PRECISAVA TRAZER NA ‘MOCHILA’ TUDO O QUE TENHO, ESSAS HORAS PEDEM POR GRANDES MOMENTOS.”
@Keanu Asing
@Matt Banting se inspirou em Italo para eliminar de Kelly Slater no Oi Rio Pro.
muito amarradão por vencer Gabriel Medina no Brasil.
Cestari/ WSL
se recuperou 100% da lesão no pé e readquiriu confiança para voltar às suas origens com as manobras aéreas que sempre mandou.
“VENCER KELLY SLATER É O SONHO DE TODO SURFISTA JOVEM. ASSISTI O ITALO FERREIRA FAZENDO ISSO EM SNAPPERS NO INÍCIO DO ANO E PENSEI: WOOW, É POSSÍVEL! ELE ESTÁ FICANDO MAIS VELHO E NÓS GAROTOS ESTAMOS CHEGANDO, ACHO QUE É TEMPO DE MUDANÇA.”
“EU ENTENDO NÃO COMPETIR EM UM LUGAR POR RAZÕES NATURAIS, MAS A POLUIÇÃO NÃO É NATURAL. É RUIM QUANDO VOCÊ NÃO PODE IR A UM EXCELENTE PICO DE SURF NO BRASIL POR CAUSA DE UMA SITUAÇÃO FEITA PELO HOMEM.”
“DEPOIS DE TIRAR A NOTA 10, ESCUTEI A GALERA GRITANDO E PARECIA UM ESTÁDIO DE FUTEBOL LOTADO. QUERO OFERECER ESSA VITÓRIA PARA AS MILHARES DE PESSOAS QUE VIERAM AQUI TORCER POR NÓS BRASILEIROS. ESSE TÍTULO É PARA VOCÊS!”
@Tyler Wright
@Filipe Toledo
não ficou nem um pouco feliz por não ter rolado o palanque em São Conrado.
se sentiu no Maraca durante a bateria.
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“O SURF SE TORNOU MAIS SEXY E ISSO NÃO ME INCOMODA. O QUE ME INCOMODA É SER NECESSÁRIO MAIS DO QUE SÓ TALENTO PARA OS PATROCINADORES NOTAREM UM ATLETA. ESPERO QUE ISSO MUDE.” @Silvana Lima disse para o site da WSL sobre sua difícil missão de conseguir um patrocínio.
P
or uma semana, o Brasil deixou de ser o país do futebol para ser o país do surf. Adriano de Souza, Filipe Toledo, Gabriel Medina, Italo Ferreira, Jadson Andre, Wiggolly Dantas, Miguel Pupo, Alejo Muniz, Alex Ribeiro, David do Carmo e Silvana Lima formaram a seleção brasileira do Oi Rio Pro. Um público jamais visto em um evento de surf. Mais de 20 mil pessoas estiveram presentes no Postinho no último dia da competição! A “cereja do bolo” foi a vitória espetacular de Filipe Toledo, que levou a multidão ao delírio, como se a Barra da Tijuca tivesse virado o Maracanã e Filipinho o autor do gol na final. ––––– por GABRIEL PASTORI, RÔMULO QUADRA e LUÍS FILIPE REBEL
Filipe Toledo reverenciado pelo maior público já visto em um campeonato de WCT no Brasil.
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Pedro Tojal
Igor Hossman
POSTINHO CLÁSSICO
A laje do Postinho também deu as caras.
Luciano Cabal
Slater para a direita....
Quem chegou à praia naquele primeiro dia de compe-
tição, não acreditou quando viu as séries que entravam no Postinho. Não eram apenas ondas grandes, elas estavam perfeitas! Tudo conspirava a favor: céu azul e sol forte. A ondulação que entrava de sul batia na laje e espumava, lembrando até “Banzai” com as suas devidas proporções. Quando a onda chegava no inside, ficava muito tubular e o que se viu foi um verdadeiro espetáculo de surf protagonizado pelos melhores surfistas do mundo. Foram tubos e mais tubos ao longo de todas as baterias daquele dia. O vento soprou de terral durante a manhã e à tarde virou para um maral fraco que não chegou a estragar as ondas. A torcida e os surfistas estavam felizes com a condição clássica do mar. Os brasileiros tinham motivos para comemorar, já que seis dos nossos dez representantes passaram direto para o terceiro round.
“Vi a previsão e já fiquei felizão porque sabia que ia ser show de surf. Quando estou numa onda de tubo, fico muito mais tranquilo, pois sei que posso vencer qualquer bateria”,disse Guigui.
Luciano Cabal
Dificilmente poderíamos imaginar um início de evento
tão bom em casa. Para começar, tivemos três representantes a mais no time brazuca, já que David do Carmo, Alex Ribeiro e Alejo Muniz foram convidados e se uniram aos outros sete brasileiros do Tour. Alguns cilindros que quebraram no Postinho faziam frente com qualquer outro pico gringo. Os fotógrafos extasiados clicavam sem parar! Era possível escutar o barulho dos obturadores das máquinas fotográficas em toda área de competição. Não era para menos, os integrantes da elite abusavam dos tubos e aéreos.
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Igor Hossman
... e Medina para a esquerda. O público presenciou os melhores do mundo em condições clássicas.
Todos os brasileiros membros do WCT passaram ilesos
Parte da imensa estrutura do palanque de competição.
pelo Round 1, a exceção foi Miguel Pupo. Nossos wildcards, Alejo Muniz, David do Carmo e Alex Ribeiro, campeão repescagem. Adriano de Souza e Filipe Toledo foram os destaques. Mineiro tirou um tubo animal para a direita, já
Pedro Tojal
da etapa de Saquarema, também tiveram que encarar a
Filipinho apostou na sua especialidade e voou alto num aéreo full rotation para inflamar a torcida presente que no primeiro dia, em plena terça-feira, já era bem grande. E o “alienígena” Kelly Slater para variar pontuou o maior somatório do dia: 19,27. Um bom começo com altas ondas
Mineirinho enfrentou com muita garra e qualidade o lip pesado do Postinho.
Luciano Cabal
para todos os atletas esquentarem as turbinas.
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Com o passar do tempo, a maré foi enchendo e aéreos, como esse de Josh Kerr, foram aparecendo.
Daniel Smorigo/ WSL
Igor Hossman
CONDIÇÕES EXTREMAS
No segundo dia de competição, a ondulação virou para
sudeste, o mar continuava grande e a correnteza ficou extremamente forte. A realização do campeonato só foi possível naquele dia por causa dos jet skis pilotados pela equipe brasileira do Surf Resgate, que enfrentou muitas dificuldades para levar os surfistas até o outside. Pilotar naquelas condições em ondas pesadas quebrando perto da areia é tarefa complicada e alguns pequenos acidentes ocorreram, como a perda de um jet e um “eject de filme” protagonizado pelo Parko. Mesmo assim, o resultado final foi positivo e essencial para a realização do evento.
Além das boas atuações dos brasileiros, não podemos
deixar de falar do verdadeiro show que Mick Fanning e John John Florence deram nesse segundo round. JJ, que é considerado por muitos o melhor tube rider do mundo,
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Igor Hossman
JJF conquistou o público brasileiro.
Pipeline? John John Florence se sente em casa quando surfa tubos grandes e pesados.
Luciano Cabal
Luciano Cabal
Além dos tubos, Mick Fanning também aumentou seu somatório com boas manobras.
fez jus à fama e dropou ondas que pareciam impossíveis, pegando tubos que lembravam o seu quintal de casa. Em uma de suas investidas, a praia foi à loucura depois de um drop insano seguido de um tubo que, apesar de não ter
Muita gente queria chegar perto de Fanning após ele completar o tubo mais impressionante do campeonato.
sido muito profundo, foi tão largo que lhe rendeu uma nota 8,5 e também fotos que rodaram o mundo através de sites e redes sociais.
Fanning também usou toda a sua experiência e técnica
repetir a façanha do ano passado, quando mandou o campeão mais cedo para casa. O australiano aproveitou as condições clássicas do Postinho e entubou com maestria para garantir sua passagem para o terceiro round. Os outros três representantes, Miguel Pupo, Alejo Muniz e
Surf Resgate
nos canudos para não dar chances para David do Carmo
Seria impossível rolar as baterias sem a ajuda do jet. Mas ainda assim era complicado e Parko sentiu isso na pele.
Alex Ribeiro, foram as demais baixas do dia.
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Luciano Cabal
Apesar de acertar um bom aéreo, as ondas não ajudaram e Mineiro não conseguiu avançar.
Luciano Cabal
QUEDA DE MEDINA E MINEIRO
Adriano estava com muita vontade de ir bem no campeonato, portanto foi visível o quanto ele ficou abalado ao perder.
Quem já competiu sabe que o velho ditado “bateria é bateria e só termina quando a sirene toca” é muito real. Não importa o quanto melhor você é do que o seu adversário, ou o quanto aquelas condições são ideais para você, tudo pode acontecer numa bateria. A prova disso foi o que aconteceu em duas disputas do Round 3. O havaiano Keanu Asing acertou um aéreo que ninguém esperava! A praia lotada ficou em silêncio... E o Ricardo Christie jamais surfou tão bem uma bateria como fez naquela fase! Essas duas “zebras” caíram na nossa conta e custou bem caro. Perdemos dois dos nossos principais representantes. Gabriel Medina precisava muito de um bom resultado em casa para mudar a má fase, mas caiu diante do estreante Keanu, quem todos achavam que nunca venceria o campeão mundial naquelas circunstâncias. Depois foi a vez do líder do ranking Mineiro, que vinha embalado de uma bateria impecável no primeiro round, perder para o Ricardo, que até então não tinha mostrado um surf convincente no Tour. Adriano poderia ter ampliado ainda mais a vantagem, mas infelizmente amargou seu pior resultado do ano até o momento. Na noite anterior, Mineirinho estava febril, a mídia chegou até a fazer uma relação direta entre o seu mal-estar e a polêmica da qualidade da água no Postinho. Quando perguntado sobre se a poluição da água tinha prejudicado seu desempenho, ele desconversou e respondeu apenas com um olhar dando a entender que sim. Fora do evento, Mineiro e Medina foram atender os fãs e dar autógrafos, mos-
Luciano Cabal
trando profissionalismo na condição de ídolos do esporte.
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Annibal
A popularidade e idolatria de Gabriel Medina não diminuíram nem um pouco após a derrota.
O PREÇO DE SE TORNAR UM POP STAR
pronto! Partiu Fiji!”
Assim como no ano passado, Medina saiu frustrado após perder no Round 3.
Annibal
Na verdade, Medina não teve uma vida fácil no Rio. Apesar de ter alugado uma cobertura em frente ao evento, como fez no Hawaii, o assédio dos fãs foi tão grande que ele mal conseguia treinar, isso quando não acabava em confusão antes mesmo dele entrar na água. Até um drone que sobrevoava a cobertura foi confiscado pela família do surfista, sendo devolvido com o cartão de memória apagado. A repercussão do título mundial rendeu ao jovem o status de pop star. A rotina de compromissos com os patrocinadores, as muitas participações em programas de televisão, as entrevistas para os veículos de comunicação, tudo isso pode ter tirado um pouco da sua concentração. Até aquela “frieza” de costume na hora de competir, escolhendo com critério as ondas na bateria, parecia que era outro Medina. Entrou em algumas ondas fechadas que não dariam a virada em cima do havaiano e errou aéreos que dificílmente erra. Mesmo que todos possam dizer que é apenas uma má fase, sem dúvida Medina sentiu o peso de virar um pop star. Alguns dias depois, já treinando em Maresias, Medina postou em seu Instagram a seguinte frase de Ayrton Senna: “No que diz respeito ao empenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou não faz”. E completou: “Foram bons esses dias em casa, me sinto bem e
Abaixo: Keanu Asing disse que precisa trazer tudo “na mochila” para vencer campeões mundiais como Parko e Medina. No Round 3, ele trouxe um alley-oop para derrubar Medina.
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TIETES VÃO À LOUCURA
TIETES E MÍDIA
Seria difícil afirmar que se o Justin Bieber estivesse no
Postinho durante aqueles dias, ele seria mais assediado do que o Medina ou o Filipinho. Todos já sabemos que o surf está em evidência no nosso país, porém ver meninas “acampando” na frente do prédio em que o Gabriel estava hospedado foi no mínimo curioso. Elas ficavam ali por horas no sol escaldante, muitas vezes para ver apenas um tchauzinho do campeão mundial. Quando isso acontecia, todos que estavam assistindo ao campeonato conseguiam ouvir os gritos enlouquecidos das tietes.
Do palanque dava para ver toda a movimentação nas
Annibal
areias, e um dos fatos mais marcantes eram as centenas de
Era só um dos tops aparecer na beirada do palanque que todos os braços se levantavam e os gritos surgiam.
pessoas que passaram o campeonato todo de costas para o mar, debruçadas nas grades de frente para os atletas. A cada movimentação dos surfistas era uma gritaria geral, sendo que os brasileiros mais assediados eram o Medina, Filipe, Mineiro e Alejo. Todas as fãs queriam fotos com os ídolos e sempre que podiam tentavam beijar ou tirar uma casquinha dos nossos Brazilian Storms.
Mas isso não se restringia apenas aos brasileiros. O
havaiano John John Florence não conseguia tomar nem seu café da manhã no quiosque da praia. Isso porque os fãs não permitiam e o interrompiam a cada garfada para pedir uma foto. Era comum ver vários tops chegarem à praia sem as pranchas e com o rosto coberto para tentar passar despercebido no percurso até a área reservada do palanque. A euforia dos fãs era tanta que Filipinho chegou a ser proibido de jogar camisas ao público, já que a organização ficou preocupada com o tumulto e acidentes que poderiam acontecer.
Luciano Cabal
Annibal
A disputa por fotos dos surfistas profissionais foi intensa.
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Gabriel escolheu um sortudo no meio da multidão para entrar na área do palanque e, assim, entregar a sua prancha para o garoto.
O PODER DA MÍDIA
Globo, SBT, Rede TV, Band e Record, Sportv, ESPN, todos esta-
O trânsito e as parabólicas de TV tomaram conta da avenida do Pepê.
vam lá por um único motivo: Gabriel Medina. Quando ele entrava na água, os espaços reservados aos fotógrafos eram dominados pelos cinegrafistas dessas emissoras. O evento ganhou uma grande visibilidade com milhões de espectadores levando o esporte a entrar em outro patamar, consequentemente, atraindo grandes patrocinadores para a etapa, como a Jeep, Oi, Corona, entre outros.
Mas para quem realmente entende de surf e quer ver os surPedro Tojal
fistas nas melhores condições, o poder desses canais pode ser de “certa forma” preocupante. Nos bastidores todos sabiam que o campeonato terminaria no domingo por volta do meio-dia, independente se as ondas estivessem boas ou não, com vento ou sem vento. O boato que rolava era que eles estavam segurando para a final rolar durante o Esporte Espetacular, o que realmente aconteceu. Outra “pressão” da Globo foi para que o campe-
Eram necessários muitos seguranças para o atleta conseguir chegar tranquilo na água.
onato não saísse do Postinho por questões de logística de toda a parafernália que é carregada para uma transmissão ao vivo. Levando em consideração o grande público que compareceu, a localização do Postinho, com muitas linhas de ônibus passando em frente ao campeonato, restaurantes e várias ruas na redondeza para estacionamento de quem optou em ir de carro, realmente o lugar é bem acessível para um evento desse porte.
Polemicas à parte, no final deu tudo certo e Netuno colabo-
rou com boas ondas para o show de surf. Parabéns a organização do Oi Rio Pro pelo sucesso e pioneirismo em transmitir um pe Toledo caiu ainda mais no gosto dos brasileiros e em breve deverá alcançar o mesmo patamar de visibilidade atingido por Medina ano passado. É só uma questão de tempo e, claro, de um
Luciano Cabal
evento de surf ao vivo em TV aberta. E com essa vitória, Fili-
O crowd de câmeras de televisão na disputa pelo melhor ângulo de Filipe Toledo antes da final.
Pedro Tojal
título mundial.
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DUELO POTIGUAR Italo 14,30
O manager Pinga dando instruções a Jadson André durante o campeonato.
Jadson 13,74
O manager Luiz ‘Pinga’ Campos viveu uma situação
inusitada no Oi Rio Pro 2015. Dois de seus principais atleLuciano Cabal
tas, Jadson André e o calouro Italo Ferreira, se enfrentaram pelas quartas de final da etapa considerada por muitos a mais badalada da história do surf mundial. Uma verdadeira “sinuca de bico” que, pelo menos, aparentemente foi encarada com naturalidade pelo experiente profissional. “Em específico, nessa bateria, os dois atletas trabalhavam estratégias bem distintas. Busquei passar a maior tranquilidade possível e tentar fortalecer as estratégias e táticas de cada um. Tentei agir com naturalidade também para que eles procurassem vencer aquela bateria como qualquer outra”, explicou Pinga, que também foi manager de Adriano de Souza, desde a época amadora até ele se consagrar na elite.
É possível comparar a condição vivida por Pinga com
a de um jogador de xadrez que joga contra si, controlando tanto as peças brancas como as pretas do tabuleiro. Obviamente, não há vencedor e nem perdedor. Porém, se
Jadson chegou até as quartas de final apostando mais nas manobras de base.
tratando das performances dos surfistas, Jadson começou surf de batidas e rasgadas, enquanto Italo arriscava manobras aéreas e levantava o público presente no Postinho. “O Italo fez o de sempre, procurou surfar no crítico e arriscar. Ele sabe que hoje na elite mundial precisa jogar forte, mas dentro de um controle. É necessário saber a hora certa de executar cada manobra”, analisou Pinga sobre a perfomance vitoriosa de Italo. O somatório final foi 14,30 a 13,74, um placar apertado que evidenciou ainda mais o equilíbrio do jogo sustentado por um único técnico.
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Luciano Cabal
melhor e até pontuou a maior nota da bateria, mas fez um
Igor Hossman
Os aéreos de backside de Italo podem ser mortais nas baterias.
VALE LEMBRAR QUE...
Italo Ferreira teve o melhor resultado da sua carreira.
Além de terem o mesmo técnico, Jadson e Italo possuem
o mesmo patrocinador principal, a Oakley, e ambos nasceram no Rio Grande do Norte, sendo o primeiro da cidade de Natal e o segundo de Baia Formosa. Mas as coincidências não param por aí... A dupla chegou à etapa
Annibal
do Rio empatada na 17º colocação do ranking mundial e esta também foi a primeira vez que os conterrâneos se enfrentaram numa bateria homem a homem no WSL. “Eu adoro o Rio de Janeiro e só não foi legal ter que competir contra o Jadson, que é um grande amigo e companheiro de equipe. Consegui vencê-lo para fazer minha primeira semifinal no WCT com o Filipe. Quero agradecer essa galera incrível na praia que vem apoiando a gente e o nosso esporte. O Rio de Janeiro realmente é demais”, disse Italo, que perdeu para Filipe Toledo na semifinal.
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APOTEOSE FILIPINHO
Depois do título mundial do ano passado, o país enxerga-
va apenas um herói no surf. Isso porque a maioria das pessoas começou a ouvir sobre o WCT através do Gabriel Medina. No entanto, quem acompanhava todo o movimento da geração atual sabia do forte time de competidores brasileiros possivelmente tão bons quanto o Medina, um potencial que só a minoria do público leigo conhecia. Mas essa história começou a mudar bem no início desse ano na primeira etapa do circuito mundial, quando um novo ídolo começou a explodir também fora dos limites do nosso esporte.
Na Gold Coast, Filipinho chocou o mundo não apenas
pela vitória, mas pela postura e discurso de campeão que trouxe antes mesmo do título. Tudo isso ganhou proporções muito maiores, pois a mídia nacional estava atenta a todas as movimentações da elite do surf. Não tinha hora melhor para outro brasileiro “botar a cara” e era o momento do Fi-
A vibração de Filipinho durante as baterias contagiou o público.
lipe. Dava para ver isso no olhar do moleque. Ele saiu de lá com a desejada lycra amarela e como mais uma esperança
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Cestari/ WSL
Estilo de sobra nos aéreos.
Cestari/ WSL
Luciano Cabal
dentro do “novo” esporte da nação verde-amarela.
Depois de alguns resultados medianos no restante da
perna australiana, Filipe Toledo chegou ao Brasil na terceira colocação do ranking do WCT e cheio de moral com a vitória arrasadora no QS10000 em Trestles. Naquele momento, já não se tratava mais do mesmo Filipe do ano passado. O público já sabia quem ele era e o que era capaz de fazer.
O público vibrava cada vez que via Toledo no ar, pois era certeza de nota boa chegando.
Luciano Cabal
A expectativa em cima do mais jovem atleta do World Tour ficou muito maior em casa. Mas parece que nada disso abala o carismático moleque de 20 anos. Por falar em carisma, dá gosto de ver Filipinho vencer não só por sermos brasi-
A confiança ficou ainda mais em alta quando avançou para a final após vencer Italo Ferreira.
leiros, mas porque humildade, respeito e alto astral nunca faltam a esse atleta que alcançou grande prestígio com tão pouca idade.
Nem o próprio campeão poderia imaginar uma semana
tão perfeita. “O dia mais feliz da minha vida”, como definiu Filipe Toledo, não teve nenhuma gota d’água fora do lugar. No Brasil, com família e amigos, boas ondas, praia lotada e transmissão ao vivo em rede nacional, ele ganhou o cam-
Luciano Cabal
A modernidade de Filipinho também está presente nas manobras de base lip.
O campeão fez questão de passar em frente ao público presente para comemorar com todos.
Luciano Cabal
A constância com que Filipe volta dos aéreos é tão grande que nem a junção pesada do Postinho no primeiro dia o impediu de fazer um 9,70.
Pedro Tojal
peonato e nos proporcionou verdadeiros shows de surf.
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Cartão de visitas aos três minutos de bateria! Filipe passou uma sessão com esse aéreo, completou uma difícil aterrissagem no “seco” onde quebrou a prancha e, mesmo assim, finalizou a onda nota 10.
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Luciano Cabal
NOTA 10!
Pedro Tojal
Chegar ao palanque foi muito mais difícil do que voltar dos aéreos e sair dos tubos.
O povo brasileiro assistia naquele momento um novo ídolo nacional no esporte que mais tem dado alegria ao país do
O campeão dedicou o título à multidão presente na praia.
ano passado para cá.
Quem viu de casa, no computador ou na TV, ficou cho-
cado com a performance do Filipe. Para a galera que estava na praia, ou melhor, para a multidão que gritava quando um moleque voava, foi acima de tudo emocionante. Não era somente uma vitória, mas sim uma festa na praia da Barra da Tijuca lotada em um lindo domingo de sol no Rio de Janeiro.
O australiano Bede Durbidge surfou muito bem e até
levantou uns aéreos, fugindo do estilo que costuma apremelhor resultado do ano, porém naquelas condições não viraria o placar nem se tivesse mais uma semana de bateria. Daquele jeito, Filipinho estava muito superior não só
Luciano Cabal
sentar nas competições. Com a vice-colocação, ele fez seu
ao Bede, mas a qualquer outro surfista do planeta. O novo fenômeno do surf mundial é o melhor aerealista do mundo e dificilmente erra. Mesmo sob a pressão de uma final de campeonato mundial em casa, ele aterrissou com perfeição até quando quebrou a prancha. Com aéreos impressionantes, ele quase anotou duas notas 10, somou incríveis 19,87 pontos dos 20 possíveis, fez história no Brasil e entrou forte na briga pela ponta do ranking mundial. Obrigado pelo show Filipinho! #GO77!
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Cabal
Annibal
Annibal
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gora que somos uma potência, será que temos surfistas de qualidade para suceder essa geração atual? O fotógrafo e videomaker Gustavo Camarão juntou sete dos melhores grommets do Brasil numa barca em Mentawai e garante: talento nós temos de sobra! Imagina então o show dessa molecada nesse “playground” de ondas perfeitas. Toda essa galera estava lá para participar da gravação de um novo programa do Canal OFF que conta a história de Kian Martin, um pequeno prodígio de 13 anos nascido na Suécia, criado em Bali e filho do brasileiro David Hernandez. Como na Indonésia o moleque é considerado uma grande promessa, a barca teve o objetivo de colocá-lo entre os melhores surfistas do Brasil com até 15 de idade. Assim, se formou mais do que uma trip onde todos evoluíram no surf... Foi construída uma forte e importante relação de amizade entre eles. Nas próximas páginas, se liguem no elenco que vai brilhar na telinha e promete incomodar muitos nos próximos anos. ––––– por LUÍS FILIPE REBEL ––––– fotos BRUNO VEIGA
Diversão e muito surf com essa equipe Sub 15. Em pé (da esq. p/ dir.): Lucas Vicente (13 anos), Giada Legati (14 anos), Mateus Herdy (14 anos), Hayanna Iguchi (15 anos), Kian Martin (13 anos). Sentados (da esq. p/ dir.): Vitor Ferreira (15 anos), Daniel Templar (12 anos), Raphael Castro (11 anos) e Samuel Pupo (15 anos).
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Lu c a s Vicente 13 anos Florianópolis – SC Billabong
Uns elogiam os tubos de Luquinhas, outros destacam as manobras e tem gente que fala da naturalidade com a qual ele surfa. Realmente, o catarinense tem bons aéreos, entuba muito de backside e não bate prancha, assim faz
tudo com uma linha invejável. Lucas aproveitou a trip para aprender tanto dentro quanto fora d’água. “Evoluí muito a minha posição nos tubos e nas manobras, mas principalmente em conviver com pessoas em um barco”, disse ele rindo.
Muita habilidade e tranquilidade. Lucas Vicente entuba sem as mãos na borda como quem está brincando.
“O Luquinhas é muito constante nas suas performances, sempre pega ondas boas independente da condição do mar. Tem uma linha muito animal de manobras, entuba muito bem para a idade que tem e está evoluindo bastante nos aéreos.” YA G O D O R A
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O estilo bonito de Kian Martin combina com o visual animal de Mentawai.
Kian M a rt i n 13 anos Denpasar – Bali Rip Curl
O motivo principal da organização da barca foi ver Kian entre os melhores Sub 15 do Brasil. Se ele já impressiona no cenário em Bali, nessa trip não foi diferente. Todo mundo ficou maluco com as performances dele, como
disse Samuel Pupo: “É um moleque realmente muito corajoso. Dropava umas maiores e nos tubos era o principal.” Um exímio tube rider com um talento natural, que evolui a cada dia e no final da trip deu um salto gigante na qualidade dos seus aéreos.
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EM
O pequeno Kian entuba como gente grande.
“Quando conheci o Kian em Sumbawa, fiquei chocado com o estilo dele. Mas o que mais me chamou atenção nessa viagem foi a facilidade com a qual ele entubava. Encontrava os tubos tanto de backside quanto de frontside, até de base trocada ele conseguia pegar vários! Depois a gente fez uma sessão de tow aqui em Itacoatiara e o moleque é destemido. Gosta de pegar umas ondas mais pesadas e sempre com aquele sorrisão dele.” BRUNO SANTOS
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“É difícil com o tanto de aéreo que tem hoje em dia, tu ver um moleque fazendo uma linha com o estilo do Raphinha. A força, o lugar e o estilo com que ele faz as manobras, acho que já são de um adulto. Se ele continuar nesse caminho, acreditar e ter boas pessoas ao lado, tem tudo para ser da elite com certeza.” ALEJO MUNIZ
No meio de tantas inovações, Raphinha consegue manter e evoluir uma linha clássica aos 11 anos.
Ra ph a e l C a st r o 11 anos Rio de Janeiro – RJ WQSurf
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O mais novo da barca aproveitou cada dia para evoluir com os mais velhos. Com um ótimo surf base lip, Raphael ficava sempre de olhos atentos e instigado para aprender cada movimento: “Foi irado porque eles davam várias
batidonas na cara, chutavam a rabeta e eu tentava imitar. Eles falavam ‘Bora Raphinha! Bora lá para fora!’ Aí me ajudaram, ficaram me ensinando. O Samuel e o Mateus mandavam altos aéreos e aí me davam várias dicas para as manobras”, explicou ele.
M at e u s H e r dy 14 anos Florianópolis – SC Volcom
Segundo Gustavo Camarão, Mateus é um mini gringo adulto. Tem um surf extremamente polido e um vasto repertório de manobras modernas de nível profissional. Quando soube da trip, ele estava no Hawaii e na hora já
ficou amarradão, pois, como ele disse, “estava indo para o melhor lugar do mundo só com amigos.” Além de perder um pouco mais o medo do coral, Mateus pôde conhecer melhor a galera fora do clima das competições. “Foi a melhor barca da minha vida”, concluiu.
Enquanto Filipe Toledo chocou o WCT em Snapper Rocks com seus “club sandwichs”, Mateus Herdy também acertou com perfeição a manobra em Mentawai.
“Ele é um dos melhores surfistas de 14 anos do mundo. Vem de uma família de competidores, o Guilherme Herdy é tio dele e o Alexandre o pai. É muito instigado em bateria, arrisca manobra, não tem medo de errar. Lembra muito o Taj quando era moleque, mesma linha com estilo e manobras parecidas. O Mateuszinho é bem consistente nos aéreos: reverse, girando, aéreo normal, com todas as pegadas e grabs que os aéreos têm. É uma mistura de Taj Burrow, Bruce Irons e ainda tem um pouquinho de Tom Curren.” MARCELO TREKINHO
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O tĂŁo falado estilo polido de Mateus Herdy estĂĄ evoluindo cada vez mais em treinos com Yago Dora e Marcelo Trekinho, seus companheiros de equipe.
EM
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O surf do Daniel é assim: batida na “cara” da onda sem perder a técnica.
“Caio direto com o Daniel ali em Itaúna. O moleque é um surfista bem técnico com muita força na borda por causa das ondas aqui de Saquarema. Muito explosivo e agressivo. Ele vai representar muito bem nossa cidade no futuro, seguindo os meus passos e os do Léo Neves.” RAONI MONTEIRO
Daniel Te m p l a r 12 anos Saquarema - RJ Cyclone
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Power surf na veia! Assim já é Daniel aos 12 anos. O garoto espanca a onda sem dó e arrisca tudo sem medo de errar. “Para ele é tudo ou nada, não tem meio termo. Não vai chegar e dar uma batida passando para pegar o lip melhor
mais ali na frente. Ou ele acerta ou ele erra, dane-se”, explicou Gustavo Camarão. Em alguns momentos, essa atitude deixava a galera de queixo caído quando ele voltava das manobras. Go For It, Daniel!
V i to r F e r r e i ra 15 anos Rio de Janeiro – RJ Cyclone
O espírito competidor de Vitinho chamou atenção. Ele escuta as dicas sobre o que precisa melhorar, assimila, volta para a água e acerta com perfeição. Foi sua primeira vez em Mentawai, onde evoluiu muito nos tubos e conheceu
Macaronis. “Essa é a onda dos meus sonhos!”, definiu ele. Além disso, Vitor se amarrou no dia a dia da barca: “A gente pulava do barco, fazia piada, zoava muito quem dava mole, brincava com a tripulação... Todo dia depois do surf era só curtição!”
Através de muito treino e dedicação, Vitinho vem se tornando um surfista completo com um bom conhecimento de como executar cada movimento.
“Uma das maiores características do Vitor é a força de vontade, ele é super dedicado. Várias vezes o mar está horrível, as condições para treinos péssimas, mas mesmo assim ele quer ir lá treinar. É muito bom de tubo, principalmente de frontside, e tem boas batidas de backside. Fora isso, ele tem uma leitura boa da onda, sempre sabe o que fazer no momento certo.” PEDRO MULLER
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Samuel sempre apresenta um surf radical com muita variação nas manobras aéreas.
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“O Samuel vai dar trabalho quando entrar em um WQS ou no WCT, quem sabe... Gosta de dar aéreos e de inventar coisas. Tem o mesmo sentimento que eu tinha de aprimorar o surf com manobras inovadoras. É um moleque com quem eu treino todo dia, ele me instiga e eu instigo ele... É assim que a gente leva o nosso dia a dia em casa (praia de Maresias).” GABRIEL MEDINA
O irmão mais novo de Miguel Pupo é tratado como uma das maiores joias da nova geração. Crescendo no meio de uma família de sucesso no surf e sendo integrante da equipe Rip Curl que tem o primeiro campeão mundial brasileiro, o moleque está no caminho certo.
Samuel Pupo 15 anos São Sebastião – SP Rip Curl
Samuca, o atual vencedor do Rip Curl Grom Search internacional, é bem focado no sonho de ser campeão mundial. Claro que ele estava amarradão por poder se divertir com os amigos fora do ambiente de competição,
mas ao mesmo tempo queria surfar ainda melhor ao ver a galera arrebentando. “Evoluí o ‘combo’ de manobras. Você conseguir ‘linkar’ uma manobra na outra é muito difícil. Lá, como a onda é bem longa, você pode evoluir bastante nisso”, disse ele.
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01 – Giada Legati representou bem o surf feminino na trip. 02 - Além do surf, Giada também curtiu uma de modelo. 03 - Vitor Ferreira recebeu o carinho das meninas. 04 - A bagunça tomou conta na hora do lanche. 05 - Vitor Ferreira em ação. 07
06 - Amizade com a molecada local.
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07 - Luquinhas progredindo o repertório de aéreos. 08 - Diversão também nas areias. 09 - Com ou sem onda, Kian arruma um jeito de se divertir com a prancha. 10 - Vivendo um sonho... Boat Trip só com os amigos em Mentawai. 11 - Depois do surf é hora de checar as imagens. 12 - Hayanna tem um ótimo surf de backside. 09
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13 - Pizza para repor as energias.
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1 4 - As meninas proporcionaram outro clima para a trip. 15 - A mistura da beleza japonesa com a brasileira de Hayanna. 16 - O bonito surf de Hayanna. 17 - Zoação no quarto dos moleques. 18 - Pose para foto. 19 - Mateus deu mole e a galera não perdoou. 20
20 - Davi Hernandez e Kian Martin, uma relação muito especial entre pai e filho que rendeu o programa.
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21 - Mais um pouco de surf feminino na trip. 22 - Mateus no concurso de dança. 23 - Giada e Hayanna apreciando o paraíso que são as Ilhas Mentawai. 24 - Tubos e mais tubos em um fim de tarde mágico. 25 - Vitinho se empolgou no campeonato de dança. 26 - Os aéreos de Mateus Herdy ficaram ainda mais animais com o visual de Burger’s World atrás. 22
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oronha fora de temporada? Que nada! A máquina de ondas continuou funcionando e no final do mês de março surfistas passearam nos salões azuis do arquipélago. Foram alguns dias de altas ondas e a Surfar estava presente para registrar os melhores momentos. Acompanhe nas próximas páginas algumas imagens desse paraíso. ––––– fotos HENRIQUE PINGUIM
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Depois de um dia de surf... Uma pausa para o fim de tarde.
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Relaxa, vocĂŞ estĂĄ em Noronha... Fabio, Ian e Lucas.
Clamente Coutinho
“Vou para Noronha desde os meus 14 anos e me apaixonei pela ilha. Tenho muitos amigos por lá e isso faz o paraíso ser ainda mais perfeito para mim. Durante minha estadia, não peguei grandes swells, mas em compensação peguei um dia de seis pés clássico junto a muitos surfistas de qualidade.”
ALVARO BACANA Pouco crowd na praia.
Go surf!
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“São poucos os lugares em que passo o dia inteiro na praia, mas em Noronha geralmente faço isso. Criei um sentimento de apego pelo arquipélago, agora não me imagino passar uma temporada sem uma visita.”
MARCOS MONTEIRO
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“Foi minha primeira vez em Noronha. É um paraíso... Nem acredito que demorei tanto tempo para ir para lá. Tiveram alguns dias épicos e, no último, eu e o Pinguim ficamos sete horas direto dentro d’água. Valeu muito.”
LUCAS SILVEIRA
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Lucas Silveira mais alto que um pรกssaro.
Ian Gouveia acelerando na Cacimba do Padre
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Marcela Witt, toque feminino nas ondas do arquipĂŠlago.
Clamente Coutinho
Romero Rodrigues fugindo do sol quente de Noronha.
“Dessa vez passei 13 dias na ilha e o dia em que o Bode bombou foi show! Fiquei umas seis horas na água nesse dia e fiz a cabeça. Aliás, sou suspeito em falar desse arquipélago, pois nunca fui uma única vez a Noronha que não tenha rendido um bom material.”
FABIO GOUVEIA
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Claudinha Gonçalves num momento de reflexão.
Paulo Vilhena também pegou algumas boas.
Ian Gouveia entocadinho de backside.
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O local Patrick Tamberg n達o perde um swell na temporada.
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“Foi a minha primeira vez no arquipélago sem compromissos, só para um free surf. E foi muito irado poder surfar altas ondas sem o crowd dos campeonatos só com a galera local! Foi uma semana intensa com altos tubos!”
IAN GOUVEIA
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EVENTOS
QUIKSILVER SAQUAREMA PRO
Pedro Monteiro
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BRASIL VOLTA A LIDERAR EM SAQUAREMA
Alex Ribeiro comemorando a vitória mais expressiva de sua carreira.
Pedro Monteiro
Diante de uma multidão sedenta pelo título, o paulista Alex Ribeiro, 25 anos, não decepcionou e venceu o francês integrante da elite mundial Jeremy Flores em uma final disputada até o último minuto. Com a vitória, Alex conquistou mais que o troféu e os 10.000 pontos do evento. Ele também pulou da 57ª posição para a segunda do ranking do QS, carimbou o passaporte para o Oi Rio Pro e garantiu a virada brasileira sobre os australianos em vitórias na etapa.
Neste ano, o Quiksilver Pro Saquarema foi realizado antes da etapa do WCT do Rio, o Oi Rio Pro. A cidade recebeu turistas, principalmente estrangeiros, como nunca. Uma verdadeira Torre de Babel foi montada a poucos quilômetros da metrópole. Não era raro você esbarrar em uma pessoa e ouvir “sorry”, “excusez moi” e por aí vai... Ou ir à padaria e ver gringos lutando para conseguir pedir um simples pão na chapa. E, como sempre, Saquarema surpreendeu aos desavisados pela qualidade e constância das ondas. Até mesmo quando decretado day off pela comissão de prova no Point de Itaúna, algum outro pico da surf city funcionava. Quem não ouviu falar do free surf que aconteceu na Barrinha? Thiago Camarão, Willian Cardoso, Marco Giorgi, Pedro Müller, acompanhados dos australianos Jake Paterson, Tom Whitaker e Adam Mellin fizeram a mala em direitas tubulares e ondas manobráveis.
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Praia de Itaúna com a igrejinha ao fundo.
WSL
---- por RÔMULO QUADRA
Carlos Muñoz, da Costa Rica, completou um aéreo incrível, arrancou o 9,5 dos juízes e se classificou para as oitavas.
WSL
‘Orelhinha’ superou o francês Jeremy Flores na última onda surfada da bateria.
na sua bateria válida pelo Round 2 e pontuou em apenas uma única onda. Por outro lado, Caio Ibelli ganhava moral a cada vitória e surfava tranquilo sem qualquer sinal de pressão. “As ondas estão perfeitas! Eu queria que as baterias fossem eternas. Consegui achar esquerdas boas e estou me divertindo muito”, disse Caio, depois de se classificar para as oitavas. Alex Ribeiro, que já havia conquistado vaga nas oitavas no ano passado, seguia confiante agora e mostrava a cada bateria um conhecimento impar sobre a adaptação do seu equipamento às condições do mar. “Estou me sentindo confiante, troquei de prancha e quilhas para essa bateria e o equipamento me deixou solto. Estou amarradão por alcançar de novo vaga nas oitavas!”, explicava Alex.
O crowd nas areias de Itaúna aumentava dia após dia.
WSL
Pedro Monteiro
Mas de volta ao assunto competição, surfistas de 19 países participaram dos confrontos, sendo a grande maioria australiana (24) e brasileira (23). Nações que disputam a hegemonia do evento e que esse ano ficou marcada pela virada verde e amarela. Dos sete eventos já realizados, vencemos quatro, contra três dos aussies. E olha que os surfistas da terra do canguru até começaram bem na briga pelo título. Ryan Callinan e Michael Wright, irmão dos tops Owen e Tyler, surfaram as melhores ondas do primeiro dia de baterias. Mas nos dias seguintes de campeonato, o mar foi baixando e junto dele o número de australianos também. Wiggolly Dantas foi a primeira grande perda brasileira. Guigui, que defendia o título da etapa, ficou visivelmente perdido
Wiggolly Dantas era o defensor do título, mas caiu no Round 2 do evento.
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QUIKSILVER SAQUAREMA PRO
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EVENTOS
Alex não era um dos favoritos, mas desde o início mostrou intimidade com as esquerdas de Itaúna.
Alex Ribeiro, natural de Praia Grande, chegou a Saquarema um pouco despercebido. Poucos citavam seu nome na sala de imprensa e acredito que ninguém o cotava para a finalíssima. Mas o paulista construiu resultados e a cada entrevista era possível enxergar um atleta amadurecido e com grande conhecimento sobre o seu equipamento. As areias foram crowdeadas por um público fervoroso, que clamava pela vitória. A responsabilidade caía sobre os seus ombros, porém ele não parecia abalado. A conquista lhe daria não só o título da etapa, o maior de sua carreira, mas também a chance de disputar o Oi Rio Pro, já que os 10.000 pontos lhe colocariam em posição a cima do australiano Jack Freestone no Ranking do QS. Para desespero da multidão presente, Alex começou perdendo a bateria final e um silêncio aflitivo tomou conta da praia. O paulista então decidiu se posicionar no outside e esperar por uma da série. Foram alguns minutos de calmaria do mar, mas ela veio e o nosso representante trocou uma nota 6,67 por uma 8,00, superando a pontuação do gringo. O troféu foi
Muitos cogitavam a possibilidade de termos Caio Ibelli na final.
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Pedro Monteiro
A GRANDE FINAL
Depois de Alex Ribeiro mandar o top mundial Italo Ferreira para casa mais cedo e Caio Ibelli despachar o australiano Michael Wright, que até então era cogitado como um dos favoritos ao título da etapa, surge a possibilidade de uma final brasileira. A matemática era simples: vencer as próximas baterias a todo custo! E ambos venceram as quartas de final, Alex passou pelo veterano Nathan Yeomans e Caio seguiu com a fama de carrasco australiano, eliminando outro aussie bem cotado, dessa vez, Tom Whitaker. “O Tom não costuma errar e sabia que seria difícil. Eu não esperava mesmo que ele deixasse aquela onda passar. Estou muito amarradão por ter reconhecido o potencial da onda e ter arrancado o 9,5 dos juízes”, disse o guarujaense, após virar uma bateria difícil na última onda surfada. Mas a sorte de Caio ficou definitivamente nas quartas. Na semifinal contra o francês Jeremy Flores, o paulista não tirou as cartas da manga, não foi surpreendente e o top mundial não perdoou. No fim, o somatório ficou 18,17 contra 12,20 e fim da linha para Caio Ibelli. WSL
POSSIBILIDADE DE FINAL BRASILEIRA
Tom Whitaker tinha a prioridade e deixou passar a última onda da bateria que deu a virada a Caio Ibelli nas quartas.
Pedro Monteiro
Dos sete eventos que já aconteceram em Saquarema, o Brasil soma quatro vitórias contra três da Austrália.
Pedro Monteiro
assegurado para o Brasil, Alex estava 40 mil dólares mais rico e a festa começou. “Eu tive a frieza de esperar até o fim por uma onda boa porque sabia que ela ia vir. O Jeremy tinha a maior nota da bateria e duas medianas, sabia que se viesse uma onda boa eu ia conseguir a nota que precisava, então minha tática deu certo e estou muito feliz”, disse Alex Ribeiro aliviado e vitorioso, segundos antes de subir no pódio.
RESULTADO QUIKSILVER SAQUAREMA PRO 2015 5 – Nathan Yeomans
2 – Jeremy Flores
5 – Cooper Chapman
3 – Noe Mar McGonagle
5 – Tom Whitaker
3 – Caio Ibelli
5 – Carlos Munoz
Jeremy Flores liderou praticamente toda a final e sofreu a virada na última onda.
Show da banda Cidade Negra para comemorar o aniversário de Saquarema.
WSL
Pedro Monteiro
1 – Alex Ribeiro
Alex Ribeiro venceu na final pelo placar de 14,93 a 14,17.
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Lima Jr
NOVA GERAÇÃO
Michael promete muita garra e dedicação para conquistar a tão sonhada vaga no WCT.
IDADE: 20 ANOS PATROCÍNIO: MORMAII APOIO: CHICLETE TRUNKS QUIVER: Oito 5’10, duas 5’9, uma 5’8 e duas 6’0 SHURFISTA PREFERIDO: MIGUEL PUPO SHAPER: MAURÍCIO GIL (MG) e MATT BIOLOS MELHOR MANOBRA:RASGADA
O surf aconteceu na vida do cearense MICHAEL RODRIGUES de uma forma bem natural. “Eu tinha
MICHAEL RODRIGUES
sete anos e morava ao lado de uma escola de surf, então, não tinha como não começar a surfar (risos)”, conta. De lá para cá, Michael nunca deixou de manter o foco e o resultado vem aparecendo a cada ano. Entre seus principais títulos, o de campeão Brasileiro Junior (2011), campeão Brasileiro Open (2012), campeão Mundial Isa Games Open Hainan Classic na China (2013) e, o mais recente, campeão WQS 6 estrelas na Joaquina (2014). E, para 2015, o surfista promete ainda muita garra e dedicação para conquistar a tão sonhada vaga no WCT.
COMO FOI VENCER O QS DA JOAQUINA ANO PASSADO EM CONDIÇÕES TÃO DIFÍCEIS COM ONDAS MUITO PEQUENAS? Muito legal, uma sensação indescritível! Eu estava voltando de uma lesão e me preparando muito fisicamente com meu fisioterapeuta Marcelo Pinson e meu grande amigo Filipe Kita. Foi um evento que vai ficar para sempre em minha memória por estar com minha “segunda família” na praia. Sem dúvidas, isso foi muito importante para mim.
e pelo som da locução estar muito baixo. Mas isso é normal e, com certeza, nas próximas competições vou ficar mais ligado.
ESSE ANO VOCÊ FOI MUITO ELOGIADO PELA SUA PERFORMANCE NO LOWERS PRO EM TRESTLES. JÁ NO PRIME SAQUAREMA, NÃO CONSEGUIU TER O MESMO DESEMPENHO. COMO ANALISA SUA ATUAÇÃO DURANTE OS DOIS EVENTOS? Em Lowers, as condições de onda eram muito boas, já em Saquarema estavam muito difíceis. Acredito que errei muito na estratégia, mas também fui prejudicado pela demora na divulgação das notas
QUAIS TRIPS QUE VOCÊ FEZ ESSE ANO E O QUE ELAS AGREGARAM NO SEU SURF? ALGUMA OUTRA JÁ PROGRAMADA? Comecei em janeiro e só voltei depois do Lowers Pro: Hawaii x Austrália x Indonésia x Califórnia x Saquarema. Foi muito importante esse começo de ano. Troquei de prancha, treinei muito na Indonésia, cheguei na Califórnia uma semana e meia antes do evento e peguei boas ondas. O surf
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DEPOIS DESSES DOIS EVENTOS, O QUE PRETENDE APRIMORAR PARA AS PRÓXIMAS COMPETIÇÕES? Estou treinando muito. Essa estrutura que a Mormaii proporciona deixa sempre o atleta mais confiante e preparado. E, nesse momento, os nossos planos são de polir o surf e aprimorar as estratégias. Estamos trabalhando e uma hora o resultado vem.
deu uma evoluída e é muito bom sentir isso. Mas quero surfar as ondas do WCT: JBay, Teahupoo e Fiji. Com isso, já vou “conhecendo o gramado” para um dia, quando eu for da elite, não estar indo pela primeira vez em pleno evento. QUANDO O MAR ESTÁ FLAT, QUAL SEU TREINO PARA APRIMORAR SEU DESEMPENHO DENTRO D’ÁGUA? Quando o mar tá flat, eu surfo também (risos)! Não gosto de mais nada que não seja o surf e meu descanso é dentro d’água. Amo surfar e vou estar de pé em cima de uma prancha até quando minhas pernas suportarem. E quando elas não aguentarem mais, eu vou de peito mesmo (risos)! QUAIS SUAS PRÓXIMAS EXPECTATIVAS NA CARREIRA PARA O RESTANTE DE 2015? Entrar no WCT esse ano, mas o objetivo maior é atingir um nível de surf que me possibilite chegar ao Tour mundial batendo de frente.
CAROL BONELLLI IDADE: 14 Anos APOIO: Vila Beach Surf e Movimente-se Menina SURFISTA PREFERIDO: Filipe Toledo e Coco Ho SHAPER: Joca Secco MELHOR MANOBRA: Layback
IDADE: 13 Anos PATROCÍNIO: Snapy Surfboards APOIO: Fernando Ricci Personal Studio, Açaí Paradise, Eco Board, Pier Sushi Bar, Klinik, Manga Wax e The Box SM SURFISTA PREFERIDO: Mick Fanning SHAPER: Alexandre Snapy MELHOR MANOBRA: Tubo
GUILHERME MARQUES 122
Nas competições desde os nove anos, CAROL BONELLI já coleciona alguns títulos na sua carreira. Ano passado, ela conquistou o de campeã estadual do Sub 14 e do Sub 18 no Rio e agora, em 2015, pretende alcançar o bicampeonato. “Como no feminino não há divisão por idades, sempre surfei com meninas mais velhas e aprendi muito. Meu objetivo é evoluir sempre e, se isso me levar ao bicampeonato, vou ficar feliz, mas o foco é me superar”, diz. Morando em Saquarema, Carol não poderia ter lugar melhor para treinar: “O pico onde treino é típico de esquerdas, mas também quebram
direitas perfeitas, assim posso treinar tanto o backside quanto o frontside. Quem surfa em Saquá se sente bem em qualquer mar...” Esse ano Carol foi pela primeira vez ao Hawaii, onde passou 45 dias “respirando surf”. Surfou Rocky Point, Pipeline, Backdoor, Off The Wall, entre outras, mas as preferidas foram Haleiwa e Mali Point. “Apesar da correnteza, a onda forte de Haleiwa é muito manobrável. E Mali tem uma parede perfeita para treinar o backside. Sem dúvida, essa trip me trouxe uma maior consciência das manobras e da leitura das ondas”, conta. Essa menina vai longe!
O catarinense GUILHERME MARQUES começou sua carreira nas categorias de base da Associação de Surf de Balneário Camboriú (ASBC) em 2009, quando tinha apenas sete anos. E, dela pra cá, procura cada vez mais adquirir maturidade de competição nas baterias para conquistar bons resultados. “Tento ser o mais estratégico possível para não dar espaço aos outros competidores. No início foi bem difícil para eu conquistar o sangue de competidor, mas acho que agora peguei o jeito”, conta. Campeão do ASBC e do TCT
Bunda Fish, ambos em 2014, ele já começou o ano com um bom resultado ao ficar com a terceira colocação na Iniciantes na primeira etapa do Estadual Sub 14 no Arpoador (RJ), mas o moleque não quer parar por aí. “Continuo atrás de um patrocinador principal, pois facilita as minhas viagens. Mesmo assim, no final do ano farei uma trip para a América Central. Também estou em busca do título catarinense, onde estou numa boa colocação no ranking, e de outros campeonatos, como o Sub 14 Rio”, fala. Boa sorte!
Guilherme Marques cada vez mais procura maturidade nas baterias para alcançar bons resultados.
Daniel Gustavo
Pedro Monteiro
Carol Bonelli no Arpoador durante a primeira etapa do Estadual Sub 14 esse ano.
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G iulia ga lla rt 18 anos fotos Fred Rozรกrio
A carioca GIULIA GALLART desde cedo cultiva uma relação bem próxima ao mar. “Minha ligação com o surf vem desde pequena, sempre fui apaixonada pelo esporte. No mar se aprende lições e se vive sonhos. Nada se compara à sensação de dropar uma onda e ao alívio depois de passar uma arrebentação tenebrosa. Confesso que só o surf salva”, diz. Local da Joatinga, a jovem tem um carinho especial pela praia da Barra da Tijuca: “A Barra foi onde eu cresci e dei os meus primeiros drops. Me lembro como se fosse ontem, eu aprendendo a surfar na escolinha do Dadá Figueiredo.” Além de surfar, Giulia pratica Muay Thai, se exercita na academia e descontrai jogando Altinha com os amigos. O skate é o meio de transporte oficial da gatinha que não perde a chance de dar um “rolé” nas ladeiras do condomínio Mundo Novo à noite. E, mesmo com uma vida divida entre atividades físicas e a rotina de estudos, a jovem arruma tempo para se cuidar. “Procuro me alimentar bem, de forma equilibrada. Também sigo os cuidados de beleza da minha mãe, uma mulher incrível e que já foi modelo profissional”, conta. Hoje, com 18 anos, a estudante pretende se tornar jornalista esportiva num futuro próximo. No currículo, ela frisa o seu diferencial: “Meu trabalho ‘profissional’ anterior foi viajar pelo mundo, o que me agregou sabedoria e alto conhecimento.”
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EN S A I O
Carolina Gi ulia Gallart Veronesi 23 18 anos
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PRÓXIMO NÚMERO
Pedro Tojal
INDONÉSIA
A visão que todo surfista sonha. Grower, Indonésia.
EXPEDIENTE Editor Chefe: José Roberto Annibal – annibal@revistasurfar.com.br Editora: Déborah Fontenelle - deborah@revistasurfar.com.br Redação: Luís Fillipe Rebel – luisfillipe@revistasurfar.com.br Rômulo Quadra – romulo@revistasurfar.com.br Arte: João Marcelo – joaomarcelo@revistasurfar.com.br Fotógrafo staff: Pedro Tojal – tojal@revistasurfar.com.br Colunistas: Bruno Lemos, Gabriel Pastori e Otavio Pacheco. Colaboradores edição – Texto: Gabriel Pastori. Fotos: @annaveronicafr, Bruno Veiga, Cestari/ WSL, Clemente Coutinho, Daniel Gustavo, Daniel Smorigo/WSL, Fred Rozário, Henrique Pinguim, @Jjpsfreitas, Igor Hossmann, Lima Jr, Luciano Cabal, Pedro Monteiro, Surf Resgate.
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