Surfar #44

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AGO | SET 2015 R$ 11,90 I SSN 2316-291

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NIAS O SWELL DA TEMPORADA COM 10 PESSOAS NA ÁGUA

Dave Rastovich de biquilha em Nias.

PERFIL FICO

FANNING: O DIA DA CAÇA

PSYCHIC MIGRATIONS

O APELIDO QUE VIROU MARCA DE SURFWEAR. SUA HISTÓRIA É UMA SAGA DE PERSEVERANÇA E CORAGEM

DESTRINCHAMOS O ATAQUE DE TUBARÃO SOFRIDO POR MICK FANNING DURANTE O J-BAY OPEN 2015

YAGO DORA É O PRIMEIRO BRASILEIRO CAPA E PROTAGONISTA EM UM FILME DE SURF INTERNACIONAL


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R E E F S U R F A R I S W O R N B Y THI AGO CAMARテグ




NATHAN FLETCHER VA N S D O B R A S I L . C O M

©2015, Vans Inc.


ÍNDICE MICK FANNING: O DIA DA CAÇA

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NIAS

.66

PSYCHIC MIGRATIONS

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FICO

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ENSAIO SURFAR

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Destrinchamos o ataque de tubarão sofrido por Mick Fanning durante o J-Bay Open 2015.

Com a previsão de um swell épico, a Surfar abandonou o QG em Desert e tocou o barco para as direitas de Nias, Indonésia.

Conversamos com Yago Dora, protagonista do novo filme da Volcom Internacional.

Surfista, empresário e exemplo de superação. Saiba mais sobre Raphael Levy, o Fico.

A carioca Nikole Fávero em uma sessão exclusiva feita pelas lentes do fotógrafo Fred Rozário.

Yan Söndahl, de 10 anos, pegando tubo com a mão pra cima no Grower. A prancha? 4’11, seu modelo favorito, que inclusive dá nome à série do canal Woohoo sobre a família Söndahl. Foto: Pedro Tojal.


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EDITORIAL Saldo Positivo! A notícia de um swell gigante vindo em direção da Indonésia deixou toda a comunidade do surf em alerta. Mas com tantas bancadas perfeitas, como fazer essa difícil escolha? O fotógrafo staff da Surfar, Pedro Tojal, que está lá desde o final do mês de maio para a cobertura desta temporada, jogou suas fichas na direitas de Nias. A escolha rendeu uma matéria histórica de 20 páginas em um dos maiores dias de Nias, direitas tubulares em umas das melhores ondas do mundo.

Outra notícia que causou alarde e chocou o mundo foi o ataque de tubarão que Mick Fanning sofreu em Jeffreys Bay durante a bateria final do J-Bay Open. Como somos mídia especializada, não poderíamos deixar esse assunto passar batido. Nossa equipe entrevistou Renato Hickel, Tour Manager da WSL, para saber quais providências serão tomadas pela entidade. Além disso, fizemos um levantamento dos lugares onde têm mais ataques de tubarões. Um perigo inerente ao esporte, mas que pode ter seus cuidados redobrados.


Já no Perfil desta edição, trazemos a história do surfista, empresário e batalhador incansável Raphael Levy, o Fico, cujo apelido de infância virou marca de surfwear. Nos final dos anos 80, depois de muitos exames, ele descobriu que sofria de esclerose múltipla, uma doença rara e pouco estudada no Brasil. Até hoje Fico luta contra as fases mais agudas e brandas, porém se manteve forte, trabalhando e surfando. Um exemplo disso é que ele foi também um dos fundadores do Circuito Brasileiro Profissional em 1987. Uma história contagiante de perseverança e coragem.

A Revista Surfar também não poderia deixar de parabenizar a todos os envolvidos no retorno do Circuito Brasileiro Profissional, o Oi SuperSurf, que marcou a reestreia da etapa do circuito, reunindo um total de 160 surfistas de 13 estados do país. A expectativa pela volta do evento foi grande e uma galera de peso marcou presença na Praia de Maresias para ver os confrontos de gerações entre grandes estrelas do passado, do presente e do futuro do surf brasileiro. O saldo foi positivo e todos comemoraram a volta das competições. Boas ondas! José Roberto Annibal

O santista Rodrigo Sino durante o melhor swell da temporada em Nias, que foi marcado por tubos perfeitos e line up vazio. Na capa: Dave Rastovich surfando com uma biquilha em Nias. Fotos: Pedro Tojal.

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MAIOR DA SÉRIE

A havaiana Keala Kennelly, de 36 anos, redefiniu os limites do surf feminino ao pegar essa onda que está sendo considerada por especialistas a maior e mais pesada já surfada por uma mulher. Foto: Tim McKenna / Billabong. “Larguei a corda e dropei a onda! Logo já tive que colocar pra dentro dela e no trilho certo, pois quando essa onda suga toda água abaixo do nível do oceano, você tem que estar no trilho para não ser pego. Eu senti que fiz uma boa linha e estava muito determinada a sair do tubo, mas logo depois a onda se tornou uma mutante e o bowl de Oeste dobrou em um ângulo de 45 graus atrás de mim, então a onda me engoliu.”


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BÔNUS INDONÉSIA


Pedro Tojal

Muita t茅cnica! Dave Rastovich na maior onda surfada em Nias nesta temporada com uma prancha retr么 e biquilha. Vai encarar?!






BACKSTAGE

SOMOS TODOS CARETAS Mineiro, atual número 1 do ranking mundial, foi um dos precursores em garra, atitude e bons exemplos para a nova geração brasileira no surf competição.

Cestai/ WSL

por GABRIEL PASTORI

Já estava mais do que na hora de acabar aquele papo de que todo surfista é maconheiro e “vagabundo”. E o atual time “brazuca” que “entrou de sola” no circuito mundial é a prova real disso. É claro que algumas pessoas desatualizadas ainda vão bater naquela velha tecla e dizer que “nesse negócio de surf só tem doidão que passa o dia inteiro na praia”. Mas isso acabou! A nova geração de surfistas do mundo todo está vindo com uma cabeça totalmente diferente. As promessas do surf mundial entre 14 e 20 anos são em sua grande maioria caretas. A evolução ocorreu ao longo dos anos e o envolvimento com drogas foi diminuindo na medida em que o esporte se tornava cada vez mais profissional. Alguns fatos como a morte precoce de um dos maiores ídolos da história do surf, Andy Irons, também pode ter influenciado. Mas a verdade é que o negócio realmente muda quando a atitude atinge um consenso, e o “errado” passa a ser visto com maus olhos por todos. Para essa nova molecada está claro que se você quer ser campeão, o certo é não se envolver com drogas. O Brasil é um grande exemplo de tudo isso. Temos hoje sete representantes entre os tops do WSL que confirmam essa nova tendência. É evidente que em determinadas ocasiões um ou outro tome uma cerveja aqui ou ali, mas nada daquelas histórias que se ouvia em outros tempos. Vale dizer que essa “nova ordem” ainda não prevalece em meio aos atletas do atual circuito mundial, mas tudo indica que em poucos anos a tendência “careta” se concretizará. Esses dias estive conversando com meu amigo Marcelo Trekinho, que competiu o circuito mundial QS durante

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anos. Treko hoje, além de estar sempre produzindo como freesurfer, acompanha de perto a nova geração, pois participa das edições de campeonatos amadores realizados por seu patrocinador. Ao final, ele vai para a etapa mundial na Califórnia, que reúne os melhores de todas seletivas regionais. Quando toquei no assunto, Trekinho foi enfático ao dizer que as drogas estavam fora da vida de todos aqueles moleques. Tanto nas etapas nacionais que rolam do Sul ao Nordeste do Brasil quanto na Califórnia, ele não conheceu e nem ouviu história de qualquer atleta que tivesse envolvimento com drogas. A verdade é que dá orgulho saber que os brasileiros são presença massiva no circuito e carregam essa bandeira. Um dos motivos é o fato de termos atletas muito jovens formados nesse novo movimento. Além disso, esse pelotão teve como precursor Adriano de Souza, que puxou com atitude, garra e acima de tudo bons exemplos essa nova geração. A competição nos esportes de alta performance exige uma “disciplina de samurai” e as drogas estão perdendo espaço dentro dessa realidade, pelo menos no surf. Isso não é bom apenas para o Brasil ou para os surfistas brasileiros, mas para o esporte de uma maneira geral. Hoje, dentro do surf, falamos sobre contratos milionários, abertura nas mídias e até olimpíadas, e esse crescimento não poderia acontecer sem essa nova postura.

GABRIEL PASTORI, 26 anos, freesurfer profissional. gabrielpastori9@hotmail.com | Instagram: @gabrielpastori



#DESURFISTAPARASURFAR Quer ver sua foto na Revista Surfar? Siga @revista_surfar + @lostbrasil e marque suas postagens com a hashtag #desurfistaprasurfar e @lostbrasil. As cinco melhores serão publicadas nesta coluna. De quebra, cada uma leva um kit ...LOST de roupas.

@ F L AV I O M O N T E I R O ___

“Minha quarta temporada em Bali. Layback na pressão em Pecato Uluwatu .”

@B R U N O B O R D O V S K Y

“Estava na praia de Pacasmayo, Peru, com um grupo de amigas e com o fotógrafo local.”

@R A P H A E L R E I S 9 3

Edu Machado

“Esse dia vai ficar na memória, altos tubos e uma vibe incrível com os amigos. Obrigado Deus por esse momento único!”

@ LU C A S _ R AT I N H O P 5

“Foi uma esquerda da série em frente as pedras na Prainha, RJ. A onda armou legal no inside e deu para soltar a manobra.”

@ FA B I A N O L I O N

“Esta foto foi tirada no Píer de Mongaguá (Huntington Beach do litoral paulista) num dia clássico no lado direito. A onda começava na ponta do ‘T’ e terminava na pilastra.”



POR TRÁS DAS ONDAS

O bom filho a casa torna Com a vitória no Balito Pro, evento QS 10.0000 realizado na

pontuação do Qualifying Series! Sendo três disputadas até o

ALEJO MUNIZ retorna ao WCT

dado momento. Filipe Toledo venceu a primeira de 10.000 em

em 2016 com o “pé na porta”. Alejo conquistou a cobiçada

Trestles, nos Estados Unidos, e outro paulista, Alex Ribeiro, foi

pontuação já nas quartas de final do evento sul-africano,

o campeão do Quiksilver Pro Saquarema no Brasil. Por último,

que fecha o primeiro semestre de disputas do calendário da

mas não menos importante, o nosso representante Alejo foi

WSL deste ano. Em outras palavras, classificação em tempo

convocado para quatro etapas do WCT 2015, sendo o quinto

recorde! O feito fica ainda maior por ter garantido o 100%

lugar no Jeffreys Bay Open, a colocação mais expressiva do

de aproveitamento do time brasileiro nas etapas de maior

surfista até o momento neste ano.

Cestari/ WSL

África do Sul, o catarinense

Alejo Muniz comemorando a vitória no Balito Pro, evento que marcou sua volta ao WCT 2015.

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WAINUI

SUPERAÇÃO, DETERMINAÇÃO E TENSÃO! por BRUNO LEMOS

Impressionante como ultimamente o mundo do surf está cada vez mais INTENSO. Confesso que novamente fiquei super indeciso em qual dos assuntos que estavam em evidência eu deveria explorar. Primeiro considerei a hipótese de comentar a incrível performance do australiano Owen Wright em Fiji. Ele alcançou a vitória em grande estilo, conseguindo algo jamais visto no surf profissional. Owen venceu duas baterias no mesmo campeonato com duas notas 10, a primeira no Round 5 e a outra para fechar com chave de ouro a final , onde surfou como nunca, provando para si mesmo que está totalmente recuperado depois de uma lesão que lhe deixou fora do Tour por algum tempo. Um perfeito exemplo de superação e determinação que poderia ser muito bem explorado aqui. Mas quem poderia imaginar que na etapa seguinte, em Jeffreys Bay, algo completamente inesperado e chocante iria acontecer.

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Qualquer surfista que vai para África do Sul atrás de ondas já “aterrissa” no aeroporto na tensão. Independente das ondas incríveis e da água gelada, uma das coisas que mais chama a atenção naquela região é a grande quantidade de tubarões na área. Seria até um pouco ingênuo dizer que ninguém esperava ver um ataque de tubarão em J-Bay. É claro que esse medo e preocupação estão sempre na mente dos surfistas. Porém, o mais incrível foi que o mundo inteiro viu talvez uma das cenas mais impressionantes da história do surf. Um tubarão branco atacando Mick Fanning na bateria final do campeonato! Não sei nem como me expressar ou tentar comentar esse assunto, que provavelmente já foi mais do que falado e especulado pela mídia no mundo inteiro. A imagem fala por si própria e uma coisa é certa, Deus deu uma nova vida ao tricampeão mundial.

Fotos: WSL

Keala Kennelly, Owen Wright e Mick Fanning, exemplos de superação, determinação e tensão dentro d’água.

Mas para finalizar, vou ser obrigado adicionar no mínimo mais um parágrafo nesse texto, pois enquanto estava escrevendo acabei de ver na mídia o que talvez seja até o momento a onda mais incrível já surfada por uma mulher. A havaiana Keala Kennelly simplesmente colocou pra dentro de uma bomba em Teahupoo, o que daria no mínimo assunto suficiente para mais uma página inteira nessa revista. Mas como o espaço nessa coluna já está acabando, não irei me estender muito. Também sei que não adianta deixar para falar sobre isso na próxima edição, pois, do jeito que andam as coisas, até lá já vão ter muitos outros assuntos incríveis acontecendo! Fiquem na paz & Aloha!

BRUNO LEMOS é fotógrafo carioca radicado há mais de vinte anos no North Shore, Hawaii.


Um bom dia de surf começa com Fico. Coleção Inverno 2015.

www.co.com.br 41


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SUP

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Fotos: Levy Paiva (09) e Zé Roberto Annibal.

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A Praia de Maresias foi palco da reestreia da etapa do Circuito Nacional da ABRASP, que reuniu um total de 160 surfistas de 13 estados do país. A nova geração bateu de frente com atletas renomados, alguns veteranos. O saldo foi positivo e todos comemoraram a volta das competições. Veja as fotos de quem marcou presença no evento.

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01 – Furnas, um dos patrocinadores do evento, disponibilizou um espaço de massagem aos competidores. 02 – Lucas Silveira comemorando sua capa na Surfar #43. 03 – A Smolder reservou uma área vip para o aquecimento dos atletas. 04 – O primeiro campeão brasileiro da era SuperSurf, Tânio Barreto. 05 – Alguém se habilita a ajudar a gata?! 06 – Alex Ribeiro, Halley Batista, o manager Rogério e Ordilei Coutinho aprovaram a Surfar. 07 – Jean da Silva concentrado para sua bateria. 08 – O bicampeão brasileiro Renato Galvão também marcou presença. 09 – Encontro de gerações: Dunga Neto e Jerônimo Vargas. 10 – Belos shapes nas areias de Maresias. 11 – Evandro Abreu, o organizador do evento. 12 – O ex-top mundial Léo Neves. 13 – Dodô, atleta da Seaway, e Jose Candido de Ubatuba. 14 – Desfile de beldades. 15 – O ganhador do prêmio Greenish 2015, o videomaker Márcio Grubel. 16 – Difícil era prestar atenção no que rolava dentro d’água. 17 – O baiano Alandreson Martins, radicado no Rio, foi até o último dia da competição e fez bonito.



POR TRÁS DAS ONDAS

WSL

MICK FANNING: O DIA DA CAÇA

O encontro de Mick Fanning com a barbatana de aproximadamente 1 metro.

Mick Fanning ganhou sobrevida depois de sair ileso do ataque de um tubarão branco sofrido durante a bateria final do Jeffreys Bay Open 2015, disputada contra o também australiano Julian Wilson. As imagens da luta entre o tricampeão mundial e o animal foram transmitidas ao vivo para o mundo com uma grande repercussão do incidente. --- por RÔMULO QUADRA Um tubarão branco foi o grande protagonista da final do Jeffreys Bay Open disputada entre o tricampeão mundial Mick Fanning, defensor do título da etapa, e Julian Wilson, aspirante ao título mundial nesta temporada. A aproximação do animal aconteceu enquanto Mick aguardava para pegar a sua primeira onda aos cinco minutos de bateria. Durante 40 segundos, Fanning travou uma verdadeira luta contra o peixe. O australiano desferiu socos e chutes, levou alguns esbarrões do tubarão e milagrosamente saiu sem um mísero arranhão do ataque. Ao notar o alvoroço e temendo pela vida do adversário, Julian foi ao encontro do amigo, pondo em risco a própria vida. O tubarão foi mais rápido e numa mordida partiu o leash da vítima que, no momento do resgate feito pelos jet skis e lanchas da organização do evento, nadava desesperado com medo de uma nova aproximação do predador. “Eu estava lá sentado e senti algo prendendo o meu leash, instintivamente pulei!”, contou Mick. “Percebi ele vindo na minha direção e comecei a chu

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tar e gritar. Vi a barbatana, mas não vi os dentes. Eu já esperava pelos dentes dele vindo na minha direção enquanto nadava. Não sou religioso, mas tinha alguém olhando por mim naquele momento. Foi difícil dormir depois de ver as imagens”, finalizou Fanning em entrevista para a WSL. É impossível mensurar os prejuízos que toda a indústria do surf sofreria, caso o pior tivesse acontecido. Sem falar na cena mórbida transmitida ao vivo para todo mundo via televisão e webcast. Elizabeth Osborne, mãe de Mick Fanning, era mais uma dentre os milhares de telespectadores. “Fiquei totalmente apavorada! Fui até a televisão quase como se quisesse puxar ele de lá... Só queria salvá-lo, mas não havia nada que eu pudesse fazer”, disse Elizabeth à rede de televisão Australian Broadcasting Corporation em entrevista concedida em sua casa, na Austrália. E completou: “Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Pensei que o tivesse perdido.” A comissão de prova tomou a sábia decisão de cancelar o evento, Mick e Julian ficaram empatados e receberam os merecidos oito mil pontos válidos da segunda colocação. Ambos também dividiram o prêmio de U$ 140.000,00 da etapa, U$ 70.000,00 para cada. “Para a WSL, a segurança dos atletas é prioridade. Depois de conversarmos com os finalistas, decidimos cancelar a competição. Agradecemos o apoio e queremos expressar nossa gratidão à equipe de segurança de água”, esclareceu Kieren Perrow, comissário da WSL.


Kirstin/ WSL

Kirstin/ WSL

“Um amigo disse ter visto claramente a figura de um tubarão em uma de suas fotos feitas de drone. Tinham vários fotógrafos nadando durante o dia todo. O instinto do Mick de encarar o animal e manter a prancha entre ele e o predador devem tê-lo salvado. O momento mais assustador foi quando ele já havia nadado uns 20 metros e ficou procurando o tubarão com o olhar. Eu não consigo imaginar a vulnerabilidade que ele sentiu. Os salvavidas fizeram um ótimo trabalho e foi legal ver Julian Wilson remando para ajudar o amigo #GiveHimTheTrophy!” –––– KELLY SLATER

“Muito agradecido por ser capaz de dar esse abraço em Julian Wilson. Esse cara veio até mim como um guerreiro! Isso foi de longe a coisa mais assustadora que já passei e eu continuo abalado. No nosso esporte, nós sempre pensamos sobre os tubarões e sabemos que estamos no território deles. J-Bay é um lugar incrível e eu voltarei um dia.”

“Te amo, brother! Hoje foi um daqueles dias que nós nunca desejamos viver. Você é o meu herói, amigo! Muito feliz por eu poder te dar um abraço no bote e intacto.” –––– JULIAN WILSON

Kirstin/ WSL

–––– MICK FANNING

“Poderia ser qualquer um... Poderia ser eu! Mick, feliz por você estar vivo, irmão. Foi Deus! E Julian, o que você fez foi incrível! Os dois foram muito corajosos! Estamos buscando o mesmo objetivo, mas quando um precisa do outro somos uma família. Amo vocês!”

Cestari/ WSL

WSL

–––– GABRIEL MEDINA

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EUROPA

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1104 EUA HAWAII

ÁSIA

129 ILHAS DO PACÍFICO E OCEANIA

ANTILHAS

56

136

70 E BAHAMAS ÁFRICA

AMÉRICA CENTRAL

126 ILHAS DO PACÍFICO E OCEANIA

117

37

AMÉRICA DO SUL

Território Total de ataques Ataques Fatais EUA 1104 35 Austrália 572 153 África 346 94 Ásia 129 48 Hawaii 136 9 Pacífico/ Oceania 126 49

SUPERIOR A 500

126

346

Últimos ataques 2012 2014 2014 2000 2013 2011

200 - 499

ILHAS REUNIÃO

572 AUSTRÁLIA

Território Total de ataques América do Sul 117 Antilhas e Bahamas 70 Nova Zelândia 49 Europa 51 Ilhas Reunião 37 Mar aberto 21

40 - 199

NOVA ZELÂNDIA

49

Ataques Fatais 26 16 9 27 17 49

Últimos Ataques 2013 2013 2013 1974 2013 1995

1 - 39 Fonte: Florida Museum Of Natural History

Agora, o grande sortudo dessa história, tirando Fanning, o sobrevivente, é claro, foi Adriano de Souza, nosso querido Mineirinho que se manteve na primeira colocação do ranking. Um dos dois australianos finalistas do J-Bay Open superariam a pontuação do brasileiro na temporada, com os 10 mil pontos oferecidos ao vitorioso da etapa e automaticamente a lycra amarela teria um novo dono. Mas estava escrito nas estrelas, 19 de julho de 2015 não seria o último dia de vida de Mick Fanning e também não seria o dia em que Adriano perderia a liderança do Tour, se é que ele vai perder. No Instagram, Mineiro cita Mick como uma pessoa especial: “Deus salvou a vida desse cara tão especial. Obrigado Deus por salvar Mick Fanning!”

NOVAS TECNOLOGIAS PARA SALVAR VIDAS Já existem tecnologias para auxiliar os surfistas nas áreas de alta concentração de tubarões. A empresa australiana Shark Shield, por exemplo, desenvolveu um aparelho que emite uma frequência que incomoda o animal e isola a área num raio de cinco a seis metros. O aparelho já existe há alguns anos e pode ser adquirido no site da empresa (sharkshield.com.br) através da distribuidora que atua no

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Brasil. O valor varia de acordo com o modelo do instrumento, o mais barato sai por volta de R$ 2.500,00. “A Shark Shield (ver página 48) e a WSL sempre tentaram viabilizar uma parceria. Já foi questionado se o chicote que faz parte do aparelho produziria um arrasto e atrapalharia o desempenho dos surfistas. Mas eu posso dizer que a empresa já produz tecnologia suficiente para isolar uma área considerável, utilizando alguns aparelhos que não necessariamente precisam estar colados ao corpo dos atletas”, disse Maurice Eskinavi, diretor da Danvic, empresa distribuidora do aparelho no Brasil, por telefone à Surfar. “Em Pernambuco, próximo de Recife, muitos salva-vidas já utilizam o aparelho como ferramenta de trabalho obrigatória”, completou Maurice. A internet não perdoa e muitas charges bem humoradas satirizaram o episódio. Algumas transformaram Mick em herói, com luvas de boxe, já outras davam o tubarão como banguela e algumas até acusavam o gigantesco peixe de torcer pelo Brasil. Brincadeiras à parte, boa parte da comunidade do surf mundial prestou condolências a Mick Fanning. Sem dúvidas, um dos maiores perigos e medos de qualquer surfista é cruzar com uma barbatana no meio do oceano.

Fonte: Florida Museum Of Natural History

Dados atualizados em 11 de Fevereiro de 2015

1905 - 2014 MAPA DE ATAQUES DE TUBARÃO NO MUNDO


MICK FANNING: O DIA DA CAÇA

“NÓS SABEMOS DO RISCO E TEMOS MEDIDAS PARA AGIR”

Annibal

Depois do ataque de tubarão sofrido pelo australiano Mick Fanning, houve muita especulação sobre a segurança dos atletas na etapa de Jeffreys Bay. Conversamos com o brasileiro e Tour Manager da WSL (World Surf League), RENATO HICKEL, para saber quais providências serão tomadas pela entidade com esse acontecimento que teve repercussão mundial. O site, Facebook e o Instagram da WSL bateram recordes de visualizações e acessos no dia 19 de julho de 2015.

RENATO HICKEL

A WSL estava preparada caso o pior acontecesse durante a etapa de J-Bay? A WSL sempre soube da presença de tubarões no local. Muitos não sabem, mas Jeffreys Bay é uma reserva marinha e a utilização de barcos e jet skis é proibida no point de Supertubes. Nós só conseguimos a liberação com muito custo, justamente para a segurança dos atletas. Como todo evento do Tour, em J-Bay há um plano médico e existe um capítulo que trata exclusivamente do procedimento caso ocorra um ataque de tubarão. Nós sabemos do risco e temos medidas em uso para agir. Temos olheiros espalhados pela praia, além dos seis componentes do water patrol distribuídos entre barco maior, o Zodiac, e os jet skis. Na praia temos uma ambulância e, caso seja necessário, também poderemos recorrer ao auxílio de um helicóptero se for uma lesão mais grave para o transporte imediato do atleta para Porto Elizabeth, quinta maior cidade do país.

Quais serão as medidas tomadas para que o pior não aconteça no futuro? Nós já recebemos uma enxurrada de propostas de monitoramento dos tubarões e prevenção dos ataques, principalmente da África do Sul e Austrália. Entre as muitas ideias que tivemos, pensamos em aumentar o número de jets skis para quatro ou cinco nas áreas de alta concentração do animal. Este ano em Margaret River, por exemplo, nós utilizamos cinco jets. Há uma tese de que o aumento do número desses veículos aquáticos espantaria o animal. Isso se daria por culpa do barulho do motor e do odor do combustível. Outro detalhe é que em J-Bay o trajeto dos animais é baía adentro. Eles passam por Supertubes e seguem em direção a Albatross Beach. No dia do ataque, nós tínhamos dois jets situados no final da onda. A ideia é colocar um jet no outside e outro patrulhando a praia. Outra medida que está sendo discutida é o monitoramento feito por drones. Nós já utilizamos esses aparelhos para gerar imagens e transmiti-las através de broadcast. Então, poderíamos comprar mais equipamentos e ter controladores monitorando as fronteiras da área da competição. Quanto aos aparelhos existentes no mercado que prometem repelir os tubarões, por que não utilizá-los? O Shark Shield é mais antigo e agora surgiu um novo, o ESharkForce. Muitos me perguntam por que a WSL não utiliza esses aparelhos? A resposta é simples! Até pouco tempo, o aparelho que fica colado no corpo do surfista como uma tornoze-

leira possuía um chicote muito grande, algo próximo de dois metros e que, obviamente, dificultaria o desempenho dos atletas. Agora, me parece que a tecnologia avançou e os modelos mais novos são um pouco maiores que um leash. Porém, ainda precisamos saber se o aparelho realmente cumpre o objetivo. Sabe-se que o raio de ação do equipamento é muito curto, por volta de três metros, talvez um pouco mais. Alguns fotógrafos e surfistas relataram um aumentou do número de tubarões ao redor durante o uso. Aparentemente, num primeiro momento, o sinal eletromagnético emitido atrai o animal para só depois repeli-lo. Há possibilidade de Jeffreys Bay sair do Tour em 2016? Ainda é prematuro especular o futuro dessa prova, bem como a de Margaret River e a da Gold Coast, que também possuem uma grande concentração do animal. Inclusive, na praia de Jeffreys Bay, em 50 anos de surf ou mais, existiu apenas um ataque fatal de tubarão, que foi em 2013. Aconteceu com um nadador que estava a 500 metros da praia no Point. Aí, eu te pergunto: Nesse meio tempo, quantas mortes aconteceram em Pipeline e Teahupoo provocadas pela colisão com o reef? Então, se traçarmos uma estatística, com uma matemática simples, é possível entender que os perigos em J-Bay são bem reduzidos quando comparado a outros locais do mundo. É mais fácil um surfista ter uma lesão grave ao colidir com um reef, do que ser atacado por um tubarão em Jeffreys Bay.

OS NÚMEROS DO DIA 19 DE JULHO

2 MILHÕES 50 MILHÕES 14 MILHÕES DE ACESSOS SITE DA WSL.

DE VISUALIZAÇÕES FACEBOOK WSL.

DE VISUALIZAÇÕES INSTAGRAM.

500 MIL

MICK FANNING

VIEWS EM DUAS HORAS NO YOUTUBE. OS NÚMEROS ATUAIS JÁ ULTRAPASSARAM OS 20 MILHÕES DE VIEWS.

GOOGLE: O NOME MICK FANNING FOI MAIS PROCURADO QUE O DO PRESIDENTE DOS EUA, BARACK OBAMA. DADOS FORNECIDOS PELA WSL.


Fonte: Florida Museum Of Natural History

SUPERIOR A 81

NATAL

OCEANO ATLÂNTICO

1 - 50

LESTE DE CAPE OESTE DE CAPE

OCEANO ÍNDICO

Ataques Fatais Últimos ataques 14 2014 27 1999 13 2011 0 – 54 2014

WSL

Território Total de ataques Leste de Cape 98 Natal 90 Oeste de Cape 52 Sem Especificação 1 ÁFRICA DO SUL 241

51 - 80

Reprodução

Dados atualizados em 11 de Fevereiro de 2015

1905 - 2014 MAPA DE ATAQUES DE TUBARÃO NA ÁFRICA DO SUL

Shark Shield - Protótipo de um modelo novo da Shark Shield que será menor e mais leve. O equipamento será instalado junto ao deck, colado na prancha e os eletrodos ficarão nas quilhas ou adesivados no fundo da prancha. Neste momento, Mick Fanning já havia trocado esbarrões com o tubarão e o procurava com o olhar.

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INSTAGRAM GATAS DO SURF

Fotos Arquivo Pessoal

Confira os cliques de tirar o fôlego das mais gatas do surf em suas trips ao redor pelo mundo. A mulherada mostra que tem muito estilo tanto dentro quanto fora d’água!

@nicolepacelli aproveitou os dias quentes que fizeram durante o “inverno” baiano.

@mibouillons comemorando com as amigas sua trip para a Costa Rica “recheada de ondas muito perfeitas”. .

@alessaquizon deixa qualquer marmanjo de queixo caído com seu shape irretocável.

@keliamoniz entre uma caída e outra, uma pausa para um clique com o visual das ondas mexicanas.

@lauraenever mergulhando nas águas cristalinas de algum secret spot pelo mundo.

@marcelawitt conferindo as condições do mar em tempo real. “Alô, swelll?”

@dominikpupo contemplando a natureza.

@alanarblanchard pausa durante a session para sentir a energia do sol na pele.

@maliamanuel beleza e estilo também longe das ondas.

Não deixe de ficar por dentro de tudo que acontece no mundo do surf. Siga @Revista_Surfar no Instagram.



POR TRÁS DAS ONDAS

Fotos: Luciano Cabal

QUEBRANDO PARADIGMAS

As limitações da doença não intimidaram Davi. Além de surfar, ele anda de skate e é atleta oficial paraolímpico de natação.

ALUNOS DO PROJETO DE INCLUSÃO SOCIAL DE SURF SCHOOL DO RECREIO DÃO SHOW DE ATITUDE E DETERMINAÇÃO. por VIVIANE FREITAS Superação no dicionário quer dizer o ato de progredir, ultrapassar um limite, recuperar, mudar de uma situação ruim para uma melhor. Davi Teixeira, nove anos, nasceu portador da Síndrome da Brida Amniótica, uma rara doença congênita ocasionada pelo aprisionamento de partes do feto por anéis fibrosos do saco amniótico do útero, o que provocou o atrofiamento dos seus membros. Os médicos diagnosticaram a doença aos cinco meses de gestação, o que deixou toda a sua família em choque, principalmente Denise Teixeira, mãe e parceira. “Foi muito difícil saber que seu filho amado já nasceria com os membros atrofiados e que não se desenvolveriam. Os médicos me indicaram abortar, mas busquei forças na fé”, lembrou Denise. Para os incrédulos, tais limitações condenariam Davi a uma rotina bem difícil, mas ele não se deixou intimidar pela doença. Influenciado pelo nosso campeão mundial Gabriel Medina, Davi decidiu que também iria desfrutar do “esporte dos reis” e assim o fez. “O que eu sempre digo às pessoas é que devemos superar nossos medos porque as oportunidades não se repetem”, comentou Davi, durante nossa entrevista após mais um dia de muito surf, no lambe-lambe do Canto do Recreio, zona oeste do Rio de Janeiro.

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Superar a si próprio, sua mente, seu corpo, seus medos... Atitudes que tornaram o carioca torcedor do Vasco da Gama a se tornar atleta oficial paraolímpico de natação do clube de regatas. Inquieto, Davi divide seu tempo com a natação, surf e skate, além do quarto ano do ensino fundamental. Pelo seu exemplo de vida, determinação e forma serena como encara a vida, ele é constantemente convidado para discursar em palestras motivacionais e já falou para dezenas de funcionários de empresas, como a White Martins e Correios. “Eu parei de trabalhar para acompanhar meu filho, pois sei que ele precisa e merece curtir a vida. Deus me deu esse presente e vou fazer dessa missão a melhor possível”, comentou a mãe Denise. Com o skate, Davi já ganhou algumas medalhas e adora o rolé na pista do Parque de Madureira, mas adrenalina mesmo ele sente quando o assunto é surf. “Quando estou na onda, eu penso que estou voando, a melhor sensação do mundo! Quero surfar profissionalmente dentro das minhas limitações, quero ser bom em tudo o que eu fizer e sei que para realizar os seus sonhos basta acreditar que você consegue”, concluiu.


SURFISTA DE ALMA Praia do Arpoador lotada em um belo dia de sol e ondas com pouco mais de dois pés. Cenário perfeito para a molecada se divertir em um campeonato de surf amador. E foi o que fez Caroline Vitória Lima Almeida ao dropar a maior esquerda da série, agitando a galera que vibrou com a atitude e determinação da pequena de apenas nove anos. “Eu não sinto medo, apenas uma sensação muito boa, uma emoção muito forte que eu nunca havia sentido antes”, explicou Carol, que também ama skate e sonha em surfar no Hawaii com o amigo e parceiro de surf Diego Silva. Toda essa cena faria parte do cotidiano em um dia de praia típico do Rio de Janeiro. Mas trata-se de uma pequena guerreira que sofreu um golpe do destino e, em seus primeiros 15 dias de vida, foi diagnosticada com trombose e teria seu braço direito amputado. “A Caroline nasceu prematura, com cinco meses e meio. Devido à trombose, ela precisou amputar o bracinho direito, mas mesmo assim conseguiu se adaptar e fazer tudo o que ela mais gosta”, lembrou Márcia Almeida, mãe de Carol.

Mesmo o braço direito amputado, Carol consegue se adaptar e fazer tudo o que gosta.

”A MAIOR GRATIFICAÇÃO DO MEU TRABALHO É VER A ALEGRIA DELES PEGANDO ONDA, REALIZANDO SONHOS E QUEBRANDO TODOS OS PARADIGMAS E PRECONCEITOS.” – EVELINE TELES Apesar da pouca idade, a dupla é um exemplo de vida, determinação e superação.

Há 19 anos funcionando de swell a swell, a escolinha do Jê iniciou atletas como os surfistas profissionais Diego Silva, Pedro Scooby, Pedro Calado, Lucas Silveira e Biel Garcia. “Nossa propaganda é no boca a boca e contamos com toda a estrutura necessária para quem quer aprender a surfar. E não importa as condições do mar, pois só não rola aula se o mar estiver de ressaca ou em dias de trovoadas”, explicou Eveline. Além disso, segundo ela, o clima de família contribui para o espírito de união onde um cuida do outro e todos se ajudam. “A maior gratificação do meu trabalho é ver a alegria deles pegando onda, realizando sonhos e quebrando todos os paradigmas e preconceitos”, festejou a professora, que se despediu para mais uma sessão de muito surf no seu escritório. Pela forma serena como encara a vida, Davi participa de palestras motivacionais.

DE SWELL A SWELL Tudo começou em um dia tranquilo de praia no Recreio dos Bandeirantes, quando ambos encontraram a professora Eveline Galo Teles, sócia e fundadora da Escolinha de Surf Jerônimo Teles. Os 230 alunos se dividem em turmas e horários distribuídos ao longo do dia. Destes, 15 são Portadores de Necessidades Especiais, ou PNE, e fazem parte do projeto de inclusão social da escola de surf. “Quem quiser aprender basta vir e se matricular, aqui não existe limitações, afinal, isso está mesmo na cabeça das pessoas. E também não tem essa de separar alunos, faço questão que estejam todos juntos”, comentou Eveline.

Caroline e Davi estão entre os 15 alunos portadores de necessidades especiais do projeto de inclusão social da escola de surf.

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Fotos Levy Paiva (05 e 06), Pedro Monteiro (02 , 11 e 14) e Zé Roberto Annibal.

ASP

A expectativa pela volta do evento foi grande e uma galera de peso marcou presença na Praia de Maresias para ver os confrontos de gerações entre grandes estrelas do passado, do presente e do futuro do surf brasileiro.

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01 – Difícil é dar adeus ao espetáculo. 02 – Ian Gouveia, das trips pelo mundo para as baterias do SuperSurf. 03 – Stefane Alam fez sucesso entre os presentes. 04 – Miguel Pupo prestigiou o irmão Samuel. 05 – Thiago Camarão estava com sede de vitória. 06 – Muito charme... 07 – O campeão do QS de Saquarema, Alex Ribeiro. 08 – Um pouco de massagem para alivar a tensão. 09 – Icaro Rodrigues conferindo a Surfar. 10 – A dupla Rogério e Ordilei Coutinho. 11 – Equipe Furnas: Bianca e Alessandro ao lado do patrocinado Pedro Scooby. 12 – Direto de Arraial do Cabo, o fotógrafo Jorge Porto em ação no SuperSurf. 13 – Hizunomê Bettero e seu filho. 14 – Alana Pacelli no quintal de casa. 15 – O surfista de Arraial Matheus Faria.



INSTAGRAM Os tops mundiais e freesurfers estão sempre em trips pelo mundo afora atrás do swell perfeito. Mas nessa eterna busca pela onda dos sonhos, eles sempre arranjam

@juansharks ps

Fotos Arquivo Pessoal

um tempo para aproveitar e curtir também um pouco do que rola fora d’água.

@clarklittle durante uma sessão de fotos com tubarões. Será verdade?

no Texas.

@whoisjob com seu pai mostrando o resultado de um ótimo dia de pesca.

@tiaguinhoarraes e seu irmão @pedrinho_ arraes dividindo uma pista de direita e delirando com a perfeição de Mentawai.

@pedroscooby postou essa foto para mostrar que surf também se aprende na escola.

@glenhall81 dando um “check” nas condições do mar em frente ao quintal da sua casa.

@juniorlagosta na Cacimba do Padre agradecendo a Deus por mais um dia de boas ondas.

@owright não poderia ter escolhido melhor lugar para meditar durante o day off em J-Bay.

@filipetoledo “Vinaka!”. Agradecendo pelo melhor pôr do sol do mundo com seus amigos.

@pedrofelizardo

@josh_kerr84 “just having fun” com sua família

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CONTEMPLA, RESPIRA E SE JOGA N O WO O H O O.

N OVO WO O H O O, N OVO V I S UA L , N OVO S O M , N OVO S I T E , N OVA P R O G R A M A Ç Ã O, AG O R A A I N DA , M A I S WO O H O O. SURFE O CANAL NA WEB: WO O H O O. C O M . B R

S U R F E - S K AT E - E N T R E V I S TA S - T R I P S - M Ú S I C A S - D O C U M E N T Á R I O S - LY F E S T Y L E


Levy Paiva

EVENTOS

OI SUPERSURF MARESIAS

Flavio Nakagima saiu na frente na briga pelo título nacional 2015.

A VOLTA TRIUNFAL DO OI SUPERSURF O paulista Flavio Nakagima, de 27 anos, ganhou a etapa que marcou o recomeço do Circuito Brasileiro de Surf, o Oi SuperSurf, na Praia de Maresias, São Sebastião (SP). Com a vitória sobre o cearense Charlie Brown na grande final, Flavio assumiu a liderança do ranking nacional. 58


Levy Paiva

Nakagima aliou a experiência nas competições com a modernidade das manobras aéreas, uma combinação que o levou ao primeiro lugar.

O título mundial de Gabriel Medina atraiu novos patrocinadores para o esporte. Há três anos não era realizado um circuito de nível nacional no país, mas a maré boa trouxe de volta o SuperSurf. O circuito, que estreou em 2000 e terminou em 2009, recomeçou este ano com o pé direito. Até mesmo atletas que correm o QS, divisão de acesso do circuito mundial, marcaram presença na primeira etapa. Tomas Hermes, Jean da Silva, Alex Ribeiro, Willian Cardoso, Ian Gouveia, Davi do Carmo, entre outros, bateram ponto em Maresias. Com o número de 160 surfistas inscritos (que deve diminuir ano que vem), o clima era de alívio entre os competidores por vestirem novamente uma lycra de competição na disputa de 60 mil reais em premiação. No entanto, se por um lado todos comemoravam a volta do SuperSurf com bons patrocinadores (Oi, Furnas e Smolder), por outro um fato preocupante ficou explícito na praia: o grande número de atletas sem patrocínio e com um enorme potencial. Uma dura realidade que vive hoje o surf brasileiro. Certamente, o principal motivo foi a lacuna deixada dos últimos três anos sem um circuito da ABRASP, que fez muita falta para os atletas mostrarem seu valor.

Quem esteve em Maresias pôde ver uma grande estrutura montada, gente bonita desfilando na areia, escutar uma boa música e assistir as disputas acirradas dentro d’água. Já as ondas... Estas estavam pequenas e escassas, a maioria das baterias era decidida nos aéreos. No dia da final, o mar deu uma reagida, mas nada de muito diferente. Foi importante ver atletas que participaram da primeira edição do SuperSurf competindo com a nova geração. No entanto, esse encontro deixou claro uma coisa: com as ondas marolas fica nítida a vantagem da molecada que vem com um grande repertório de manobras aéreas, arrancando notas altas dos juízes. É a renovação natural do esporte.

” SÓ TENHO QUE AGRADECER A TODOS QUE VIERAM DA PRAIA GRANDE TORCER PELOS ATLETAS DA NOSSA CIDADE E QUE FOI PREMIADA COM ESTA MINHA VITÓRIA.” – FLAVIO NAKAGIMA, campeão da primeira etapa do SuperSurf. 59


Levy Paiva

EVENTOS

OI SUPERSURF MARESIAS

Charlie Brown teve que enfrentar uma maratona de baterias. Entrou no primeiro round e teve que passar por sete fases até chegar à final.

que dividiu o terceiro lugar no pódio com o local de Juquehy, São Sebastião, Thiago Camarão. “Acho que estou colhendo os frutos do meu trabalho. Eu venho me dedicando muito, correndo atrás para viver esse sonho e parece que a minha hora chegou”, disse Charlie Brown. O domingo ensolarado e de praia cheia em Maresias começou com as quartas de final e Flávio Nakagima estreou no dia com moral. O surfista de Praia Grande venceu o catarinense Tomas Hermes, recém-chegado do Jeffreys Bay Open, evento do WCT realizado na África do Sul. Na sequência foi a vez do paulista Thiago Camarão sucumbir ao ataque do japa “kamikaze” na semifinal da competição. A grande final da primeira etapa do Oi SuperSurf 2015 entre Flavio Nakagima e Charlie Brown mostrou que nenhum dos surfistas deixaria barato o título para o adversário. Dois atletas que souberam usar uma grande variedade de manobras aéreas para

Hizunomê Bettero, de Ubatuba, ficou com a terceira colocação.

Thiago Camarão estava com sede de título, mas não passou pelo campeão na semi.

Divulgação/ Pedro Monteiro

O grande nome do evento foi Flavio Nakagima, mais conhecido como “japonês voador”, pela facilidade em executar manobras aéreas. Nakagima entrou como cabeça de chave na 4ª fase da competição e logo nas primeiras disputas mostrou que seria um dos favoritos para vencer a etapa. No final da tarde de sábado, ele estava classificado para as quartas de final. “Eu não estou pensando em ranking agora porque ainda está só no começo. Esta é a primeira etapa importante do ano e tem muita coisa para rolar. Mas meu foco principal na temporada é o circuito brasileiro, ainda mais com o retorno do SuperSurf”, disse o local da Praia Grande, Baixada Santista. Enquanto Nakagima trilhava o caminho rumo ao título, o vice-campeão Charlie Brown remava forte visando à finalíssima. O cearense teve que passar por sete fases para chegar à final e foi o único surfista de outro estado a derrotar os paulistas no último dia. O ubatubense Hizunomê Bettero foi a última vítima,

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Divulgação/ Pedro Monteiro

O público chegou junto para ver as finais em Maresias.

Magno Gonçalo

se adaptar às pequenas ondas que rolaram durante os quatro dias de competição. Charlie Brown assumiu a ponta na metade da bateria com um aéreo reverse de frontside numa direita que valeu nota 7,0. Só que o paulista deu o troco na mesma moeda, mas numa esquerda, completando um aéreo rodando para reassumir a liderança com nota 8,0. Não demorou muito e ele destruiu outra boa onda com várias manobras para arrancar 8,37 dos juízes e abrir uma grande vantagem sobre o cearense. Nakagima ainda aumentou o seu placar para 17,30 pontos com a nota 8,93 da sua última onda, combinando um layback jogando muita água com um aéreo na finalização para o delírio do público paulista. “A torcida conta também no surf. É como num estádio de futebol quando você joga no seu campo, com a torcida a favor, então só tenho que agradecer a todos que vieram da Praia Grande torcer pelos atletas da nossa cidade e que foi premiada com esta minha vitória”, falou o campeão.

A glória do paulista Flavio Nakagima e sua torcida.

RESULTADO OI SUPERSURF MARESIAS 1º – Flavio Nakagima (SP)

5º – Deivid Silva (SP)

2º – Charlie Brown (CE)

5º – Tomas Hermes (SC)

3º – Thiago Camarão (SP)

5º – Icaro Rodrigues (SP)

3º – Hizunomê Bettero (SP)

5º – Alandreson Martins (BA)

RANKING BRASILEIRO PROFISSIONAL – ABRASP 2015 1º: Flavio Nakagima (SP) 2º: Thiago Camarão (SP) 3º: Hizunomê Bettero (SP) 4º: Deivid Silva (SP) 5º: Charlie Brown (CE) 6º: Alandreson Martins (BA) 7º: Tomas Hermes (SC) 8º: Marco Fernandez (BA) 9º: Icaro Rodrigues (SP) 10º: Messias Felix (CE) 11º: Willian Cardoso (SC) 12º: Vitor Valentim (PR) 13º: Alex Ribeiro (SP) 14º: Ian Gouveia (PE) 15º: Matheus Navarro (SC) 16º: Jihad Kohdr (PR)

7.055 5.430 5.240 5.215 5.160 4.300 .270 4.010 3.660 3.580 3.555 3.380 3.340 3.310 3.240 3.230

pontos

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NA MEDIDA

Turbu company

O início da história do surfista paulista GREGÓRIO MOTTA, 35 anos, como shaper aconteceu por acaso. “O shaper Akio me deu a oportunidade de trabalhar com ele e sou grato até hoje. Desde então, me apaixonei pela arte de shapear pranchas e assim foi indo até hoje”, conta. Em 2002, nasceu a Aerofish, marca criada por Gregório. “Em certo momento, eu precisava dar um nome para as minhas pranchas e talvez um logo. Sempre gostei de pescar e os peixes são incríveis também, então veio essa combinação da Aerofish, o peixe que voa!”, explica. Suas primeiras encomendas foram para conhecidos e amigos, que imediatamente notaram a qualidade de suas pranchas e começaram a fazer encomendas com exigências distintas. De lá para cá, já são muitas e muitas pranchas produzidas para vários surfistas, entre eles ANDREW SERRANO, cuja parceria já dura desde 2010.

GREGÓRIO MOTTA POR ANDREW SERRANO

Minha parceria com o Andrew começou por volta de 2010. Fizemos algumas pranchas e, de lá para cá, nossa relação sempre foi bem legal! Ele me dá o feedback dos designs, viaja bastante para o exterior, colocando as pranchas em ondas fortes e de linha, o que está sendo bom para nós. Procuro ficar atento nas pranchas em geral, acho importante a flexibilidade delas, junto com a distribuição do volume e concaves combinando com a curva de rocker. Hoje trabalhamos muito com o volume ou litragem das pranchas também. E gosto muito de explorar os posicionamentos das quilhas nos diferentes modelos que temos, isso traz nova sensação e clareza para o que está funcionando. Desde o início, faço um modelo para o Andrew que ele gosta bastante, a flipper 5’4” fundo single concave, rabeta swallow, biquilha, ideal para o dia o dia do surf, que já estamos trabalhando há cinco anos. As últimas pranchas que fizemos foram uma 6’5” single fin, uma 5’10” profish swallow , uma 5’8” bisquad, além da flipper 5’4”, e as que ele gosta mais ainda vamos ter o feedback. O Andrew é eclético e para ele novas sensações alimenta a forma de surfar. Pode ser de alaia, pranchas biquilhas ou performance, não importa o que é, ele se adapta ao equipamento. Disso eu gosto muito, pois podemos trabalhar assim também. E para o restante de 2015, vou desenhar novas curvas para o Andrew e esperar o feedback, mas quero focar nos design alternativos para ele!

Eu já conhecia o trabalho do Gregório e sempre me identifiquei muito com as linhas e modelos de pranchas dele. A minha primeira com ele foi uma flypper biquilha. A principal característica do Gregório para que eu viesse o escolher como meu shaper é a facilidade que ele tem em desenvolver modelos clássicos e modernos. Nossa conversa na hora de produzir uma nova prancha não tem muito segredo, basicamente uso as mesmas medidas, mudo um pouco de acordo com os modelos. Ele tem um sistema que ajuda bastante esse processo. Hoje estamos focando em modelos alternativos, biquilhas, monoquilhas, procurando sempre desenvolver algo diferente e isso tem me ajudado bastante a evoluir. Tenho um quiver com uma coleção de pranchas antigas, todas são muito especiais, mas atualmente tenho algumas que andam comigo nas viagens (6’7” single fin, 6’5” single fin, 6’3” single fin, 5’9” bisquad, 5’7” fly triquilha, 5’4” flypper biquilha e algumas alaias) e a melhor é a flypper, pois com ela consigo fazer um surf de linha e radical. Gosto de misturar o clássico com o progressivo e essa prancha é muito boa para fazer isso. Além disso, ela tem uma ótima flutuação e me ajuda a entrar na onda com mais facilidade. Agora estou indo para Indonésia e pretendo levar todas as minhas pranchas ‘estranhas’. Também quero testar algumas pranchas assimétricas, especialmente para mim, e poder surfar em ondas perfeitas.

Turbu company

ANDREW SERRANO POR GREGÓRIO MOTTA

Modelo Flipper - 5’4” Fish Swallow - 19 9/16 - 2 1/2 - 28 L

Everton Luis

Andrew Serrano sempre está atrás de ondas perfeitas para testar seus foguetes.

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NA WEB

Fotos: Facebook

Fique por dentro do que a comunidade do surf anda falando nas redes sociais pelo mundo afora!

“NOS MOMENTOS QUE DUVIDAVAM DE MIM, QUE CRITICAVAM O MEU SURF, EU SEMPRE PROVEI O CONTRÁRIO. SOU UM CARA MUITO FRIO, ENTÃO NA HORA QUE FALAM, NA HORA QUE ESCREVEM, EU NÃO VOU RETRUCAR. VOU GUARDAR PARA MIM PORQUE TEM A HORA CERTA DE USAR ISSO.”

@Gabriel Medina falou durante o lançamento do seu livro no Rio de Janeiro sobre como ele lida com os momentos de pressão.

“BYE BYE JAPAN! E PARA FINALIZAR A VIAGEM, NOSSO VOO DEU OVERBOOKING E TIVEMOS QUE IR NA PRIMEIRA CLASSE (RISOS)! VALEU JAPÃO! ATÉ UM DIA!” @Luel Felipe tirou a sorte grande de ficar na primeira classe no voo de volta para o Brasil com o troféu de campeão da etapa QS no Japão.

“AO CONTRÁRIO DO QUE ALGUNS COLOCARAM NAS REDES SOCIAIS, DIZENDO QUE O CIRCUITO ERA UM ENCONTRO DA VELHA GERAÇÃO, O SUPERSURF DEVE SER O MELHOR CAMINHO PARA A RENOVAÇÃO DO SURF NACIONAL. O CIRCUITO BRASILEIRO AMADOR ESTÁ PASSANDO POR UM MOMENTO DELICADO, DEIXANDO UMA LACUNA PARA O DESENVOLVIMENTO DAS NOVAS GERAÇÕES.”

“TEM SIDO UMA CONSTANTE BATALHA INTERNA, PESSOAL. OBVIAMENTE, QUERO FAZER O MEU MELHOR NOS CAMPEONATOS, MAS ELES TÊM APENAS ALGUNS DIAS DE DURAÇÃO. NO RESTO DOS DEZ DIAS DO PERÍODO DE ESPERA OU UM MÊS E MEIO ENTRE OS EVENTOS, EU QUERO OUTRAS COISAS PARA SATISFAZER AS MINHAS NECESSIDADES E O MEU TEMPO.”

@Marcelo Andrade

@Jordy Smith

o ex-diretor executivo da ABRASP escreveu no seu blog surf100cometários sobre o retorno do SuperSurf.

“NOS EVENTOS AGORA, ME SINTO MUITO MAIS RELAXADO. NÃO ESTOU MAIS TÃO EMPOLGADO, NEM MESMO PERTO DISSO, MAS AINDA ESTOU ME DIVERTINDO. EU VEJO COMO TEMOS SORTE DE ESTAR NOS EVENTOS SURFANDO BOAS ONDAS COM APENAS OUTRO CARA NO LINE UP.” @Taj Burrow vai ser pai e não está mais preocupado em ser campeão mundial.

Acompanhe a Surfar pelo Twitter: www.twitter.com/revistasurfar.com.br

o sul-africano se lesionou antes do Fiji Pro e deu sua opinião na polêmica sobre a grande quantidade de lesões sofridas pelos competidores durante sessões de free surf.

“O QUE OCORREU NAQUELE DOMINGO FOI INÉDITO NESSES MILHARES DE HEATS DA HISTÓRIA DO SURF PROFISSIONAL. SEMPRE FOI HIPOTÉTICO. AGORA É UMA REALIDADE.” @Paul Speaker o CEO da WSL escreveu, no site da entidade, uma carta oficial sobre o ataque de tubarão em J-Bay.




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Pedro Tojal

o final de junho, nossa equipe monitorou de perto uma enorme tempestade que se formou no sul do Oceano Índico. Os modelos climáticos mais respeitados indicavam que ondas perfeitas e potentes seriam formadas, com o período entre as vagas acima dos 25 segundos, algo raro de acontecer. A previsão mostrava que a ondulação atingiria a Austrália e depois a Indonésia, local onde nossa equipe monta base durante o meio do ano. Como esse seria o maior swell da temporada, tivemos que escolher um pico que “segurasse” grandes ondulações e nossas opções não eram muitas: as direitas de Nias ou as esquerdas de Kandui? Como já estávamos há um mês em Desert, decidimos investir em direitas e embarcamos para Nias. Muitos dos surfistas experientes que estavam na Indonésia viajaram para outros picos e o line up de Nias ficou vazio. Os poucos surfistas que foram para lá viveram o sonho de surfar uma das melhores direitas do mundo com quase ninguém na água. ––––– por PEDRO TOJAL

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Pedro Tojal

Dave Rastovich aproveitou as ondas perfeitas e o line up vazio para pegar tubos perfeitos com suas pranchas retr么.

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Pedro Tojal

“Surfar de backside em Nias não é tarefa fácil, já que o drop é vertical. As ondas da série normalmente formam um doble up muito difícil de dropar, mesmo assim consegui pegar altas ondas”, disse o paulista Leandro Keesse, o surfista que mais pegou tubos de backside nesse swell.

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Pedro Tojal

Quando o vento entra, Nias vira uma pista perfeita para manobrar. Rodrigo Sino aproveitou as tardes com maral para treinar os aéreos, sua marca registrada no cenário do free surf.

Everton Luis

Pedro Tojal

Tubos, água quente, muito verde e hotéis na frente da onda. Quer mais o quê, Sino?

Everton Luis

Jonny, Sino e Leandro no paraíso.

Pedro Tojal

Leandro Keesse e a bancada de Nias na maré seca.

Leandro Keesse e Pedro Tojal em sintonia.

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Rodrigo Sino foi um dos poucos brasileiros que optaram por Nias e teve a chance de pegar algumas das melhores ondas do swell. “Não dava para acreditar! Em alguns momentos, eu olhava pro lado e só tinha o Leandro, Jonny, Tojal e eu de brasileiros na água. Parecia um sonho!”, disse Sino, depois dessa sessão épica de surf.

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Everton Luis


Antoni Dachi é certamente o melhor surfista local.

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Pedro Tojal

“O Tojal estava tão perto que tive que mandar essa guarda ninja pra me proteger... (risos)” - Rodrigo Sino.


Pedro Tojal

Hotel Barriga Feliz, a base dos brasileiros em Nias.

Pedro Tojal

Pedro Tojal

A vida é simples no vilarejo de Sorake.

Pedro Tojal

Não é à toa que Nias é cercada por coqueiros. O cultivo de coco é uma das principais atividades locais e sempre vai ter alguém te oferecendo água, pão ou bolo de coco.

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Rastovich ĂŠ tĂŁo talentoso que pegou os melhores tubos do swell surfando com pranchas biquilha.

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O gaúcho João Macedo era um dos primeiros a entrar no mar e um dos últimos a sair. Resultado: dezenas de tubos pra conta!

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Pedro Tojal

Pedro Tojal

Quando o mar sobe, poucos locais surfam e Antoni Dachi é um deles.


Pedro Tojal

O sul-africano Matt Younis em uma das melhores ondas do swell.

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Pedro Tojal

Pipe, Teahupoo, Puerto, P-Pass... O americano Alex Gray passa o ano atrás das melhores ondulações e picos de surf do planeta. Dessa vez, ele foi para a Indonésia só para surfar esse swell e pegou alguns dos tubos mais profundos da trip. Não é à toa que ele é considerado um dos freesurfers mais experientes do mundo.

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THE HEYDEN SHOE



P SY C H I C M I G R A T I O N S

E

xistem duas informações que você não pode deixar de saber em setembro de 2015. Primeiro, Psychic Migrations, o novo longa de surf da Volcom, estreia no dia 17 após um ano e meio de produção cercado de expectativa para estar entre os melhores filmes de um ano que já conta com Cluster, a grande produção de Kai Neville.

E segundo, o paranaense Yago Dora está na capa do filme, nos anúncios e é um dos protagonistas. Assim, aos 19 anos, ele espera abrir as portas para os brasileiros começarem a conquistar seu espaço também nas produções internacionais, além das competições. O renomado fotógrafo californiano Tom Carey já avisou: “Yago será uma grande estrela do surf depois da estreia desse filme!”.

––––– por Luís Fillipe Rebel fotos Tom Carey

Essa foto rendeu a primeira capa do Yago em uma revista internacional, a inglesa Carve Magazine.

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01 02

Quando o assunto é inovação e high performance reunidos em um longa-metragem, os filmes da Volcom estão no imaginário de qualquer surfista fissurado na evolução do esporte. Stone Baloney, Magna Plasma, One Hundred Fifty Six Tricks, The Bruce Movie, BS!, dentre outras produções, apresentam o fino do surf mais moderno de suas épocas. Os fãs, porém, estão em abstinência desde BS! em 2009, o último longa de surf da marca. Imagina então o que vem por aí após seis anos de espera. Com a direção entregue nas mãos do premiado americano Ryan Thomas, podemos ter certeza de criatividade, perfeccionismo, surf na veia e uma trilha sonora muito bem escolhida. Para completar, pela primeira vez, um

brasileiro recebe destaque de protagonista em um filme da Volcom Internacional. Você não vai querer perder isso! Gravado em lugares como Antilhas, Indonésia, Austrália, Polinésia e Américas, “o filme tece a expressão física e empolgante de encontrar ondas em uma odisseia cerebral percorrida através das paisagens e texturas”, segundo a definição dada pela Volcom. O time de surfistas escalados é de primeira linha com nomes como Dusty Payne, Mitch Coleborn, Ozzie Wright, Nate Tyler, Carlos Muñoz, Alex Gray, Miguel Tudela, Gavin Beschen, dentre outros. Tem até a presença do 11x campeão mundial Kelly Slater, além, é claro, da nossa estrela do free surf internacional Yago Dora, com quem você confere uma entrevista nas próximas páginas.

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03

Brian Bielmann

01. As rampas de Porto Rico renderam as melhores sessões de aéreos do filme. 02. Na trip para Porto Rico, Yago conviveu e surfou diariamente com Nate Tyler, um dos seus ídolos. 03. Nem o diretor Ryan Thomas escapa das zoações de Ozzie Wright durante as filmagens da Volcom. 04. Mitch Coleborn buscando a visão do tubo em Mentawai. 05. Arte também fora d’água.

04

Y

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ago Dora é uma aberração da natureza. Ele é como um ‘Robotron’. Tem seis pés de altura, 19 anos e seus ossos são feitos de borracha, mesmo que eles tenham quebrado. Ele destrói em tudo. É a mistura entre Damian Hardman e Christian Fletcher. Pode dar oito rasgadas para a praia e os aéreos mais loucos que você já viu. Ele é absolutamente um monstro (risos). – Ozzie Wright.

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SURFAR: ANO PASSADO, O TRUE TO THIS JÁ TEVE UMA SESSÃO COntigo, MAS O PSYCHIC MIGRATIONS É A PRIMEIRA PRODUÇÃO EXCLUSIVA DE SURF DA VOLCOM COM UMA PARTICIPAÇÃO SUA. O QUE SIGNIFICA PARA VOCÊ FAZER PARTE DOS FILMES INTERNACIONAIS DA MARCA? YAGO DORA: Na verdade, estar num filme de surf da Volcom é

Ryan Chachi

algo que eu nunca tinha imaginado. Quando comecei a surfar, já tentava assistir a todas as produções novas que lançavam e via sempre essa galera. Nunca pensei que ia estar ao lado deles gravando para o mesmo longa que eles. Além de participar, você tem destaque nas sessões, é capa do filme e está aparecendo nos principais anúncios. Como está se sentindo ao viver tudo isso?

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Brian Bielmann

Estou muito ansioso. Acho que nunca me senti tão ansioso assim. Tive algumas ondas no True To This, mas esse é o primeiro filme da Volcom em que sou um dos atletas principais. Então, estou morrendo de vontade de assistir ele inteiro. Fico me mordendo aqui querendo que fique pronto logo para saber como é que vai sair, quantas ondas eu vou ter lá dentro (risos)... O Dusty Payne, aos 21 anos, ganhou o prêmio Best Male Performance da Surfer Poll com o BS!, dirigido pelo Ryan Thomas. Você também espera alcançar um reconhecimento muito grande? Quais as expectativas pensando na sua carreira?

Quantos mais filmes de surf você estiver fazendo parte, mais será reconhecido pela sua carreira e seu surf. Eu quero é me esforçar para o longa mostrar o que eu consigo fazer. Tentar o meu melhor em cada sessão de forma que renda o máximo para o filme, sem pensar em ganhar algum prêmio por isso. É mais para as pessoas verem como é o meu surf.

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Depois de começarmos a dominar o surf competição, acredita que chegou a hora dos brasileiros também conquistarem espaço nos filmes internacionais?

Com certeza. E isso é uma coisa que me deixa bem feliz. Saber que estou sendo reconhecido pelo meu surf e não só por resultado em competição, como a maioria dos brasileiros. Agora, chegou a hora de sermos reconhecido por estarmos sempre lançando vídeos e fazendo parte dos filmes internacionais para todo mundo saber que a gente também gosta de surfar e se divertir. Não só de botar a lycra e ficar se mordendo para passar bateria, tirar nota... Todo brasileiro, apesar dessa fama de competidor, gosta de estar na água para se divertir.

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01. O costa-riquenho Carlos Muñoz apresentou o seu país para o time da Volcom, onde eles pegaram altos tubos. 02. Ryan Burch faz vários experimentos no shape room, inclusive com pranchas assimétricas. 03. Ninguém mais, ninguém menos que a dupla Ozzie Wright e Mitch Coleborn ficaram responsáveis pelas sessions do sul da Austrália. 04. Voa alto o australiano Mitch Coleborn? 05. O estilo de Ryan Burch fica ainda mais bonito a bordo das diferentes pranchas que ele shapeia.

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ago Dora está rindo o tempo todo e ama demais o surf. É o primeiro na água e o último todas as vezes. Está melhorando muito o seu surf, treina com o pai dele. Acho que vai ser um bom competidor também, e quero ver ele mandando muito bem no QS. Aqui em Mentawai, Yago está mandando

vários aéreos. Como os brasileiros gostam de mandar, sabe (risos)? Está pegando ondas pequenas, ondas maiores e jogando aéreos insanos. O seu backside também está mais forte e a linha dele está conectando mais manobras. Eu posso ver que o Yago está trabalhando o surf dele. – Carlos Muñoz.

Brian Bielmann

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specialmente nessa trip em Mentawai, ele está lá fora todos os segundos do dia. Assim que o barco para, o moleque está surfando, dando backflips e você não pode nem tentar compreender, apenas tem que manter o seu próprio plano de jogo. Ele vai fazer a tua mala na água nove vezes em dez. Eu estou tentando focar na maneira que todos estão surfando e Yago está definitivamente provando para mim várias e várias vezes que ele

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Nós do Brasil sofremos muitas críticas em relação ao estilo, mas os gringos se amarram no seu. Conquistando esse espaço em filmes de free surf, os brasileiros podem começar a mudar esse estereótipo?

Claro que sim. Quanto mais surfistas do Brasil estiverem com um bom estilo, mais os outros brasileiros vão querer ter um legal também. Acho que quando a galera compete muito, acaba deixando um pouco de lado essa preocupação e se liga mais na expressão das manobras para conseguir tirar mais notas. Mas a evolução é rápida se você concentrar em pegar onda de qualidade e ficar vendo suas imagens. Você acha que o brasileiro realmente tem um estilo feio e é algo que precisa melhorar?

Eu acho que sim. A maioria dos brasileiros ainda tem um estilo um pouco estranho. Às vezes nem é feio, mas é um pouco diferente, um pouco mais afobado. Com certeza, o nosso tipo de onda interfere muito nisso porque são muito rápidas. A gente tem que ser ágil e mexer muito a prancha para fazer acontecer. Já os gringos têm ondas com muito mais espaço. Então, nós brasileiros temos que viajar, pegar essas ondas de qualidade e praticar muito para conseguir chegar a um estilo legal. Como está sendo o trabalho com o Ryan Thomas para esse filme?

Ryan Thomas é como uma lenda nos filmes de surf. Ele é sempre muito criativo e quer fazer tudo ficar perfeito. Algumas vezes ficamos três horas para fazer um take de 10 segundos, mas temos que respeitar isso. Sabemos que ele vai aparecer com algo insano. É o diretor mais perfeccionista que já vi. O que ele me pediu foi para ter o aéreo como manobra principal porque a maioria das trips do filme já tinha mais tubos. Qual a ideia dele para o filme?

A ideia dele é performance. Mostrar o máximo de performance possível sem ter uma historinha e tal. O foco é no surf mesmo.

é o futuro. Um dos garotos mais legais surgindo do Brasil. Estou muito feliz com o caminho que ele está tomando. Não foi direto para o QS, compete um evento ou outro e está fazendo certo ao meu ver. Amo o fato dele estar botando tempo e esforço nesse filme. Sinto que vai ser fantástico para a carreira dele em tudo, a presença dele nos Estados Unidos, a presença mundial... O moleque é muito insano! Estou amarradão de ter uma parte no filme com ele. – Mitch Coleborn

01. Pesca aérea com Yago Dora. 02. Chato é ser normal. Miguel Tudela não deixou de se divertir entre as sessions de surf. 03. Quem gosta de cerveja como Mitch bebe até de cabeça para baixo. 04. Os aéreos retos de Ozzie Wright são um espetáculo à parte, assim como o visual das ilhas de Mentawai.

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Como foi feita a escolha das viagens que você fez? Pode destacar o melhor de cada uma?

Fui convidado para algumas trips e tive disponibilidade para ir em três entre os campeonatos e esse tipo de coisa. As três foram ondas de rampa e o que mais precisava para complementar o filme eram as manobras, pois já tinha bastante tubo. Porto Rico tinha as ondas que mais ofereciam sessões de aéreos pelo fato de o vento estar sempre muito bom nas esquerdas. Também surfamos com pouco crowd, então tínhamos bastante oportunidade de pegar as rampas. Os melhores aéreos vieram dessa trip. Já Mentawai é sempre muito irado. A gente pegou vários dias em Macaronis, nada de muito clássico, mas bem divertido. E agora em Lakey foi um pouco mais fraco de onda. A direita, que geralmente é muito boa para dar aéreo por causa do vento, não estava encaixando muito bem na bancada, acho que a direção do swell estava um pouco diferente. Mas, mesmo assim, vieram algumas boas e a gente conseguiu render bastante. Essa é a última trip do filme, que já será lançado em setembro. O Ryan já editou bastante coisa e só está esperando as imagens dessa viagem para finalizar. Agora é esperar para ver o resultado final.

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O Mitch disse que você está fazendo tudo no tempo certo por não ter focado direto no QS. Ele gosta de ver a sua dedicação e esforço para esse longa-metragem. Essas trips do o filme te deixam mais preparado para se dar bem nas competições?

Estar gravando para um filme tão importante te puxa sempre a estar dando o seu melhor em toda sessão. Acho isso muito legal para a própria evolução. Você vai criando uma confiança em si mesmo por estar cada vez mais completando as manobras e aprendendo outras. A gravação só te instiga a dar o seu máximo e isso influencia não só no free surf, mas também na competição, porque na hora da bateria você vai estar muito confiante com o seu surf no pé.

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O que você aprende surfando ao lado de caras como Ozzie Wright, Mitch Coleborn e Nate Tyler?

Para terminar, manda um recado para geral assistir ao filme. Vende o “peixe”!

Sempre busquei muito assistir aos vídeos desses caras desde quando eu era muito pequeno. São surfistas que me inspiram muito, o Ozzie, o Mitch, o Nate Tyler. Agora, poder compartilhar as ondas e ver a realidade é muito irado. Saber que não é só no filme, que eles são muito bons mesmo (risos). Os caras surfam demais e estão sempre ali puxando o seu limite. Não é só a convivência dentro d’água, mas também fora dela por poder trocar experiência com esse tipo de pessoa. Acho isso muito legal.

Aí galera, sejam como eu e fiquem muito ansiosos para assistir o Psychic Migrations. Acho que é o filme mais esperado dos últimos tempos da Volcom. Com certeza vai vir coisa boa por aí. Estou morrendo de vontade de assistir. E vocês assistam também (risos).

A estreia mundial de PSYCHIC MIGRATIONS está marcada para 17 de setembro de 2015 no Big Newport Theater em Newport Beach, Califórnia, além de uma agenda de lançamentos programada pelos EUA e por diversos outros países, incluindo o Brasil. O lançamento do DVD e da versão para iTunes será no dia 02 de novembro de 2015, e a première online com 24 horas de duração está prevista para o dia 08 de dezembro de 2015.

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01. Missão dada é missão cumprida! Ryan Thomas pediu para Yago focar nos aéreos e o brasileiro executou a tarefa com perfeição. 02. Ozzie Wright (ou “Wrong”) espancando a cara da onda com seu estilão descontraído.

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Os gringos piram no estilo e nos aéreos de Yago Dora. Com a foto desse alley-oop, já podemos entender o porquê.

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Arq. pessoal

PERFIL

Praia de Maresias, o refúgio desde a adolescência. Na foto, com a nova geração do surf brasileiro.


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ico é o apelido de infância que virou marca de surfwear e acessórios de primeira linha. Por trás da marca está Raphael, o garoto que se apaixonou pelo surf na praia de Pitangueiras, Guarujá, no início dos anos 70. Foi um dos fundadores do Circuito Brasileiro de Surf Profissional que nasceu

em 1987. Patrocinou quase uma centena de atletas de surf e bodyboard. Viajou milhares de quilômetros pelo Brasil e pelo mundo atrás das ondas. Enfrentou e ainda enfrenta uma grave doença, mas nem por isso parou de batalhar pelo surf brasileiro, pelo meio ambiente, por um mundo e uma vida melhor. Sua história é uma saga de altos e baixos, perseverança e coragem. ––––– por Reinaldo ‘Dragão’ Andraus

FICO RAPHAEL LEVY

SURFISTA, EMPRESÁRIO, BATALHADOR INCANSÁVEL O INÍCIO NO GUARUJÁ Imagine um ambiente praticamente utópico para jovens adolescentes. Uma praia de água limpa e ondas boas para o surf quebrando (no mínimo) 350 dias por ano. Uma faixa de areia de cerca de um quilômetro, com prédios de 15 andares perfilados de frente para o mar. As areias das praias de Pitangueiras e das Astúrias eram o playground durante o dia. À noite, um centrinho com sorveterias, lanchonetes, restaurantes, lojas e um cinema em que Endless Summer era um dos hits que mais passava nas matinês. Tudo isso em uma ilha em que o único acesso era através de balsa. Segurança total! Esses garotos e garotas podiam ficar jogados livres, madrugada adentro, em vastos apartamentos com varandas de frente. Tudo rolava solto, principalmente as ondas. Muitas vezes os pais estavam em São Paulo e deixavam os apês na mão da galera. Uma festa que tinha o auge nos

meses de verão, mas continuava nas férias de julho e se eternizava por todos os finais de semana e feriadões do meio do ano durante os meses de aulas. Todo mundo conhecia todo mundo. Ninguém precisava de carro, estava tudo ali. Um grupo de amigos coeso, com uma ligação selada pelo atrativo especial do surf foi se formando. Da vida de diversão e bagunça descomprometida na adolescência, esses garotos evoluíram para homens e a paixão pelo surf nunca abandonou uma boa parcela deles. Alguns viraram empresários de surfwear e ajudaram a moldar a história do surf brasileiro, a moda, os hábitos e costumes. Raphael Levy é um desses garotos que tem uma história singular. Um de seus grandes amigos de infância foi Alfio Lagnado, que mais tarde se tornaria um grande empresário do surfwear.

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Zé Augusto Pereira

Fotos: Arq. pessoal

Fico ao lado de Zé Galinha rumo ao Nordeste,1983.

Nos anos 80 em Turtle Bay, North Shore .

Raphael nasceu em São Paulo, em novembro de 1960, e tem dois irmãos: Cláudio de 1963 e Monica que nasceu em 1967, sócios na empresa. E desde muito jovens frequentaram o Guarujá. FICO – “Até os meus 12 anos, surfei com prancha de isopor no Guarujá. Minha primeira prancha de surf foi em 1972 com o Alfio, meu grande amigo. Desde os cinco anos de idade sempre fomos muito amigos, como irmãos. Nossa diferença de idade é de um mês. Nós carregávamos aquele baú, uma prancha longboard grossa e pesadona. Eu e o Alfio íamos para as Astúrias com um carregando em uma ponta e o outro segurando na outra. Eu quebrava três pranchas de isopor por dia, até que o Alfio fez a cabeça dos meus pais e acabei comprando a minha primeira prancha com 12 anos. Comecei no verão de 72 para 73 e evolui rápido.”

ALFIO - “O Fico sempre foi muito fissurado e intenso nas coisas. Ele era forte para caramba. Ainda é! E a gente era muito bagunceiro, vida de praia. Saíamos de casa de manhã e voltávamos de noite. Era futebol, confusão, bagunça, surf... Acaba que até hoje ainda vamos para Maresias todos os finais de semana e a gente está sempre se trombando, somos muito amigos há mais de 40 anos.”

”No início de 1977, tive a primeira sensação que poderíamos ser profissionais, aconteceu um campeonato em Itajaí, patrocinado pela Gledson. Começou em Atalaia e acabou na praia de Navegantes. Eu competi nesse campeonato, foi o primeiro que participei.”

Lançamento do Fico Festival, 1987...

ALFIO – “Fico e eu somos amigos desde criança do

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...ou saindo do mar, sempre à vontade.

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Guarujá. Começamos a pegar ondas praticamente juntos. Eu lembro muito bem, ganhei uma prancha de fibra antes. Ele andava naquelas pranchas de isopor. E é impressionante porque a gente já surfava com prancha de quilha e o Fico acompanhava a gente com a ‘planonda’, mas ia lá fora. Essa turma de São Paulo, que ia para o Guarujá, eram os caras mais abastados e os surfistas estavam dentro dessa elite, uma galera muito reduzida. Na verdade, nossos pais são da mesma procedência, judeus egípcios que vieram praticamente na mesma época para o Brasil. Eles já se conheciam lá no Egito antes de vir para o Brasil, pouco, mas já se conheciam. Eram de uma pequena colônia que falava francês lá. O pai dele jogava basquete no time dos meus tios. E quando a gente começou a trabalhar no mercado foi praticamente junto, fornecendo para a OP (Ocean Pacific, marca de surfwear que estourou nos anos 80) . Chegamos até a fazer uma sociedade para fornecer para o Sidão da OP. Depois cada um tomou o seu caminho.”


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Surfando na Costa Rica no início dos anos 2000.

VIAJANDO PARA SURFAR NO SUL

FICO – “No final de 1976, Alfio e eu tínhamos 16 anos e pegamos autorização com nossos pais para ir até Imbituba de ônibus. Só que nós acabamos descendo na estrada e andamos não sei quantos quilômetros para chegar à praia da Vila. No hotel que nós ficamos tinha aquele corcunda, parecido com o de Notre Dame, não tinha luz e ele andava com uma vela. Ele tinha aquela coluna com uma bola que parecia uma corcova de boi, andava pelo corredor e a gente via a sombra dele. No início de 1977, tive a primeira sensação que poderíamos ser profissionais, aconteceu um campeonato em Itajaí, patrocinado pela Gledson. Começou em Atalaia e acabou na praia de Navegantes. O Paulinho Tendas, que era o nosso ídolo, ganhou. Eu competi nesse campeonato, foi o primeiro que participei.”

de Marlboro’, e aparecer eu e o Fico com oito baita gatas. Fomos de ônibus, ninguém tinha carro. Parou lá na entrada de Imbituba e íamos a pé. Às vezes pegávamos um ônibus até aquele hotel de cima (não o Jangadeiro), mas a gente passava o dia no Jangadeiro. Depois fomos para aquele campeonato que o Paulo Tendas ganhou a categoria principal e o Jefferson Cardoso ganhou a Junior. Em 1977 foi uma baita festa para os paulistas, porque, na verdade, os cariocas dominavam a cena. Imagine! O Paulinho era bom pra caramba e o nosso ídolo. Vimos o Paulinho ganhar dos cariocas em um campeonato grande, o Daniel Friedmann ficou em segundo, o Rico também estava lá, muita gente boa.”

ALFIO – “O mais louco é que fomos de ônibus, eu, ele (Fico) e oito meninas. Na verdade, eu tinha umas primas e todo mundo ia para o Sul naquela época. Os bonitões iam para o Sul e as meninas queriam ir atrás e precisavam de um gancho para convencer as mães para ir. Elas falavam: ‘Estamos indo junto com o Alfio e o Fico’. E elas nem estavam indo com a gente, estavam indo atrás dos caras mais velhos. Mas elas colaram na gente e fomos juntos. Chegamos lá como reis. Imagina! Chegar lá no Sul, ‘Terra

Contemplando o mar do Guarujá com uma prancha Stinger monoquilha nos anos 70.

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De backside em Playa Hermosa, Costa Rica. Depois do susto inicial da doença, Fico voltou a surfar com desenvoltura.

TRABALHANDO COM SURF Fico prestou vestibular para Administração de Empresas por duas vezes. Os esforços foram em vão, o surf era a sua vida e consumia o seu cotidiano. A solução encontrada pelos pais foi enviá-lo para a Califórnia com o objetivo de aprender inglês e quem sabe amadurecer longe do conforto de casa. Quando imaginamos a costa oeste dos Estados Unidos, logo nos vem à cabeça as praias badaladas e aquelas ondas longas e perfeitas. Mas o destino de Raphael Levy foi bem diferente: a pacata cidade de Redlands, no condado de San Bernardino, que fica a algumas horas da praia mais próxima. Quatro meses e meio depois, Fico estava de volta, sem saber formular uma frase em inglês e decidido a viver de surf. Depois de um breve estágio na fábrica de malas do pai, montando caixas de papelão, Fico também aprendeu o que era uma nota fiscal, duplicata, mas não era para aonde apontavam seus anseios, bateu a vontade de viver perto das ondas. O pai emprestou o apartamento do Guarujá, mas cortou a mesada.

FICO – “No início de 1980, eu fui morar no Guarujá e foi aí que o Sidão me deu a oportunidade de ser o representante da OP para Santos e todo o litoral paulista. Nunca fiz faculdade. Morei no Guarujá durante um ano. Começava a década de 80 e o mercado do surf prometia. Eu não tinha carro, ia

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até a balsa. Atravessava com as sacolas da OP e ia vender. A primeira loja que comprou os produtos foi a Rony Surf, em Santos. Eu vendi e ganhei o maior dinheiro da primeira vez, mas depois percebi que não iria mais ganhar muito, pois não havia muitas lojas de surf. O que eu fiz? Montei uma loja dentro da Faculdade Santa Cecília. Achei um caminho mais fácil, que era vender direto para o público. Aí eu entrei na Faculdade Santa Cecília com o Zé Galinha e o Zé Augusto (Cabelo) da Natural Art, eles trabalhavam para mim e montamos uma loja dentro da escola. Na sexta-feira, eu chegava em São Paulo na sede da OP com um bolo de dinheiro e dava para o Sidão.” O início dos anos 80 foi uma fase de grande crescimento para o mercado de surf no Brasil. Produtos inovadores apareciam e as carteiras emborrachadas foram um grande hit. Sidão precisava de produção. Fico e Alfio logo usaram a estrutura das fábricas de seus pais para produzir para a OP. Tudo que era fabricado vendia. Alfio fazia bermudas na confecção de sua mãe. Fico aproveitou o know-how da indústria de seu pai, que produzia as malas Samsonite no Brasil, para fazer umas carteirinhas revolucionárias.


Anos 90, o grupo de brothers na Costa Rica. Agachados: Tinguinha Lima, Amaro Matos, Kias de Souza (Fico), David Husadel, Picuruta Salazar. De pé, nas pontas: Os jornalistas Dandão Costa Netto e Adrian Kojin, com os empresários Ermínio Nadin, Zé Roberto Rangel, Fico, Sidão Tenucci e Zezinho Rego.

”Meu pai me colocou para fora de casa quando eu decidi viver do surf. Eu nunca mais pedi dinheiro para o meu pai depois daquela época.” FICO – “Meu pai me colocou para fora de casa quando eu decidi viver do surf. Foi aí que fiquei morando no Guarujá, só que ele acreditava que eu iria voltar em três meses, mas fiquei um ano. E eu nunca mais pedi dinheiro para o meu pai depois daquela época. A única força que ele me deu foi quando voltei para São Paulo e falei que queria fabricar carteiras. Foi meu pai quem me falou que tinha esse fornecedor com um material emborrachado que ninguém conhecia. Era novo e ele fornecia para a fábrica de malas do meu pai. Como eu não tinha razão social, comprava a matéria prima pela empresa do meu pai, mas pagava todas as duplicatas. Eu pagava por peça para um ex-costureiro do meu pai e ele que pagava as funcionárias. Pegava o carro e ia até o bairro de Sapopemba. Comecei com uma máquina de costura, depois duas, três... Até que virei o ‘rei’ da carteirinha emborrachada. Fazia nas cores verde-limão, laranja... Montei a primeira loja dentro do meu apartamento.”

No verão de 1982 para 83, Raphael percebeu que era o momento de abrir o seu próprio negócio. Um pouco antes, o Sidão, sentindo o tino comercial e o talento do “garoto”, havia convidado Fico para ser o gerente de uma das lojas OP. Foi o momento em que a rede de lojas começava a se expandir para os shoppings.

FICO – “Falei para ele que não queria ser gerente de loja nenhuma, eu queria ser dono do meu próprio negócio. Como tive a vivência de vender as carteiras OP, aquelas de nylon que era moda, eu decidi desenvolver uma carteira com um material diferente, que eram aquelas emborrachadas. Fiz uma proposta de colocar 100 carteiras dentro da pronta entrega dele lá na Av. Bandeirantes e, se não vendesse em um mês, poderia me devolver tudo que eu pagaria ele de volta. Só que de 100 virou 1.000 e de 1.000 virou 3.000 e chegou a 10.000. Só que infelizmente aprendi também com meus próprios erros, que a gente não pode só deixar os ovos na mesma cesta. Foi um erro meu achar que poderia viver eternamente dependente da OP e teve um momento em que tive de dar dois passos para trás. Foi aí que surgiu a marca Fico. Esse que foi o começo do mercado mesmo. O Sidão foi o nosso professor. Muita gente trabalhou com o Sidão e ele foi abrindo o mercado para todos.”

Fico com o amigo e mentor, Sidão da OP.

Fico com Picurura em Hermosa (Costa Rica) 2003.

Levy Paiva

Fotos: Arq. pessoal

A MARCA FICO Show Room da marca em São Paulo, 1985.

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Trabalho de arte das coleções mais atuais da Fico.

Na verdade, o Sidão era um dos mais velhos de uma turma de surfistas do Guarujá que viraram empresários. O Fernando e o Zezinho Rego começaram com a Lightning Bolt e depois registraram a Quiksilver, Ermínio tinha a Tangerina e depois a Sundek, Zé Roberto Rangel começou com a Primo e partiu para a Town & Country, o Dany Boi foi sócio do Zezinho e do Fernando na Lightning Bolt, só que até antes da OP, Dany cortou os primeiros calções de surf na fábrica da mãe do Alfio, eles são primos. No início da década de 80 muitos trabalhavam para suprir a demanda da líder de vendas, a OP. Alfio fazia bermudas e mochilas. As carteiras eram feitas na fábrica do pai do Fico.

POR QUE FICO? FICO – “O cara que desenhava para a OP, o meu amigo Douglas, que fez aquela gaivota no logo da OP, foi quem me falou: ‘Você é um cara conhecido, por que você não abre a marca Fico? Todo mundo vai gostar.’ Ele desenhou aquele meu primeiro logo que tinha um arco-íris. Foi ele quem me ajudou a fazer a marca e também ajudou o Alfio com a Hang Loose. Só que eu fui o louco, posso dizer, como marca com o próprio nome. Foi o trabalho mais difícil que tive na minha vida, pois eu não tinha uma Quiksilver, uma Lightning Bolt, OP... Eu não tinha referência de marca nenhuma, então tive de criar a

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minha própria marca. Eu e o Alfio tivemos a ideia juntos. Só que para mim foi pior porque Hang Loose era um nome internacional, mesmo sendo nacional, mas eu, Fico, era difícil. Ainda em 1981, eu registrei a marca Fico. Já existiam as marcas Rico e Tico, só que eles não levavam a sério. Para você ter uma ideia, hoje a gente não está só no Brasil, estamos no mundo inteiro.”

O NORDESTE E A ABRASP Fico sempre teve uma ligação forte com o Nordeste brasileiro. Foi por isso que quando o Circuito ABRASP foi criado, em 1987, ele elegeu a praia de Stella Maris, na Bahia, para realizar a penúltima etapa do circuito inaugural. Mas como começou essa relação com o Nordeste?

FICO – “Naquela época, as oportunidades eram muito maiores do que hoje. Saí de São Paulo e enchi meu carro de mercadorias rumo ao Nordeste. Fomos Zé Galinha, Zé Augusto (Cabelo) da Natural Art e eu até Fortaleza de carro. Foi aí que eu conheci toda a região e senti o potencial. Imagina, poder viajar, conhecer as praias e vender meus produtos! Nas duas primeiras vezes fui vendendo as carteiras de praia em praia. Na primeira estava com eles, na outra vez eu fui sozinho em uma Saveiro cabine dupla que montei. Ela era alta, toda camuflada.


Fotos: Arq. pessoal

Momentos do Fico Surf Festival na praia de Stella Maris, na Bahia. O evento aconteceu em 1987, 88 e 89, um marco na história do surf brasileiro.

”O grande segredo da Fico foi eu ter me apaixonado pelo Nordeste. Fui umas sete a oito vezes antes de fazer o campeonato Fico Surf Festival. ” Eu vendia tudo sem nota, trocava por calções. Se os guardas me paravam, eu dava carteirinhas para eles. Nessa época, eu troquei uma prancha Hot Gust, shape do Paulo Rabello, por um terreno na praia da Pipa. Tenho o terreno até hoje. Isso foi em 1982. Ninguém ia para lá. É lógico que o Nordeste ficou no meu sangue. Acho que o grande segredo da Fico foi eu ter me apaixonado pelo Nordeste e ter feito tudo por lá. Fui umas sete a oito vezes para o Nordeste antes de fazer o campeonato Fico Surf Festival. Depois eu ia de avião. Eram 5.000 quilômetros, mas de carro fui apenas nessas duas vezes. Naquela época era sem GPS, não tinha celular, nada, você ficava ao Deus dará. Para que ninguém nos roubasse de noite, eu dormia com uma faca dentro do carro e os caras dormiam do lado do carro para tomar conta do nosso estoque.” Em 1986 começou a ser pensado o formato para um Circuito Brasileiro de Surf Profissional. Já fazia 10 anos que o circuito mundial acontecia, o Brasil havia voltado a participar dele com o Hang Loose Pro Contest de 1986. Um grupo formado por empresários, organizadores de eventos e atletas começou a se aglutinar. O circuito de 1987 foi montado com cinco marcas e cinco eventos de empresários\surfistas apaixonados pelo esporte, com o desejo de fazer acontecer.

O campeonato de abertura já existia, era o OP Pro, de Sidão, realizado na Joaquina. Zezinho e Fernando organizaram a etapa dois no Guarujá, o Lightning Bolt rolou no pico do Monduba, em Pitangueiras; em Ubatuba o tradicional campeonato de julho havia sido assumido pela Sundek, de Ermínio Nadim desde 1985; Zé Roberto Rangel da Town & Country fechou o circuito em Saquarema; e Fico ficou com a única etapa do Nordeste na Bahia.

ALFIO – “Eu participei ativamente da fundação da ABRASP, muito, porque na verdade as pessoas se reuniram durante o campeonato Hang Loose de 1986. A primeira semente foi plantada ali porque todo mundo estava lá na praia. Foi um momento especial do surf, éramos todos amigos e teve uns três cariocas que participaram: Bocão, Rosaldo e Daniel Friedmann. Em encontros e papos no mar e na praia foram se delineando as coisas para fazer o circuito brasileiro. Aí teve uma reunião no Hotel Maria do Mar, em Florianópolis, com os empresários paulistas e todos os cariocas. Bebemos, brindamos... vamos fazer. Foi um momento muito forte e depois se seguiram reuniões na sede da OP em São Paulo. O Hang Loose era até para ser uma etapa DUPLO AA porque a premiação era muito maior que a do brasileiro, mas problemas políticos atrapalharam o que poderia ter sido uma sexta etapa.”

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Fico em dezembro de 2014 no Hawaii feliz com sua gun, pin tail, shape de Dick Brewer.

Arquibancada cheia no festival de 1987 em Stella.

Com Teco Padaratz comemorando os 30 anos da marca Fico.

“Fui para uma praia que não tinha nada e montei uma das maiores estruturas, até comparando com os campeonatos mundiais da época.”

FICO – “A ABRASP foi fundada com esses cinco empresários. Fizemos uma reunião na sede da OP, o Paulo Lima (Revista Trip) estava presente e foi o cara que mais ajudou a gente. Nós montamos a nossa associação e ficamos como fundadores, criamos o circuito, cada um escolheu uma etapa. Eu fui o único que escolhi o Nordeste, todos os outros ficaram no Sul e Sudeste do país. Peguei o Nordeste porque eu acreditava que lá era o futuro do surf brasileiro. Como eu já havia passado pelas praias e conhecido vários surfistas, sabia que tinha um potencial, mas que ainda não era explorado, então decidi arriscar. Fui para uma praia que não tinha nada e montei uma das maiores estruturas, até comparando com os campeonatos mundiais da época. Começamos com um campeonato amador e profissional, masculino e feminino, que incluía o bodyboard. Depois veio a quarta etapa da ABRASP. Foram 15 dias de campeonato, com mais de 60.000 pessoas na praia.”

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Ao longo dos anos, Fico patrocinou quase uma centena de atletas, entre surf e bodyboard, chegou a produzir uma das primeiras pranchas modernas de bodyboard no Brasil. Glenda Kozlowski, que depois se tornaria a primeira campeã mundial, foi forjada nos eventos Fico Festival em Salvador. A lista de atletas de ponta patrocinada pela Fico é enorme: Picuruta, Felipe Dantas, os irmãos Matos do Tombo, Rodrigo Rocha, Saulo Fidalgo, Tinguinha, bodyboarders Neymara Carvalho, Kiko Pacheco (que faleceu) e também o campeão brasileiro de longboard Augusto Saldanha, que hoje trabalha no marketing da Fico.

BAQUE ASSIMILADO COM CORAGEM E LUTA Em meio aos eventos FICO FESTIVAL na Bahia, para os quais foi levada uma estrutura gigante desde São Paulo, de caminhão, Raphael é pego de surpresa por uma doença pouco conhecida na época. Os médicos não conseguiam diagnosticar com precisão o que estava acontecendo com aquele empresário/surfista, atlético e saudável. Depois de muitos exames, chegou-se à conclusão que ele sofria de esclerose múltipla, uma doença rara e pouco estudada no Brasil. Raphael fez o que foi preciso e foi para o combate. Hoje ele ajuda muito outras pessoas que enfrentam esse problema. O mais notável é que ele nunca parou de perseguir os sonhos que seu destino lhe reservou. Cresceu em cima da situação. Hoje é um dos apoiadores da ABEM, Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (abem.org.br).


Augusto Saldanha, campeão de longboard, hoje trabalha no marketing da Fico com Raphael.

Fotos: Arq. pessoal

Piu Pereira, um de seus atletas patrocinados que chegou ao WCT.

Com Gabriel Medina e Miguel Pupo, ativação do projeto Ecopraias na praia de Maresias.

A Fico sempre esteve presente nas feiras e eventos.

ALFIO – “Fico é um dos caras que eu conheço com uma impressionante força de vontade. Um cara recém-casado que fica paralisado com uma mulher nova. Ele no auge da saúde, da vida produtiva, do trabalho, da sua marca bombando... E o cara de repente paralisado. Isso é para matar o sujeito. E aí ele venceu tudo isso. Acabou perdendo o casamento, porque a mulher dele não estava preparada para enfrentar uma situação dessas também. Uma menina que veio do Espírito Santo para São Paulo e, de repente, o marido dela estava em uma cama, paralisado. Não foi fácil para ninguém, os dois muito jovens, mas os amigos sempre estiveram ali.” Os primeiros sintomas da enfermidade apareceram ainda nos anos 80. Até hoje Fico luta contra fases mais agudas e brandas, se manteve forte, trabalhando, surfando. A empresa honrou a tradição da família e as mochilas, malas e roupas da Fico são sinônimo de qualidade e durabilidade. Além de tocar a empresa ao lado do irmão Cláudio Levy, Fico mantém seus dias de lazer em Maresias com os amigos da infância e a filha Giovanna. Viaja pelo mundo em busca de ondas ou a trabalho. No final do ano foi para o Hawaii surfar com os amigos. Um projeto recente que Fico está envolvido é o “Ecopraias – Soluções Sustentáveis”, que visa o tratamento biológico de efluentes.

ALFIO – “A gente ama ele, só que a nossa forma de demonstrar o amor é encher o saco dele, brincando! A gente azucrina muito ele, tadinho! Às vezes estamos com alguns amigos, a gente vê o Fico e enche o saco dele. Ele pensa: ‘Xihhhh, lá vem os caras.’ Ele é intenso. Ele fica louco com a gente (risos).” Fico sempre teve uma visão “para frente” buscando a vanguarda no surf, em seu trabalho, na luta de sua vida contra essa doença. Foi assim quando optou por largar tudo e ir morar no Guarujá. Quando decidiu abrir a sua marca de surfwear. Quando se juntou a um punhado de fiéis amigos para formar um Circuito Brasileiro de Surf. Quando buscou informação para minimizar os efeitos de uma patologia da qual pouco se sabia. E pensando em aliar a sua empresa a um mundo mais sustentável. Sempre ensinando. São exemplos de vida como esses que transformam não só ele, como outros, em pessoas mais fortes. Leais a seus princípios. Sua história de Capa do livro que conta a sua história, vida poderia virar um livro – e a luta contra a doença, lançado em 2004 pela Editora Gaia. e virou!

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Luciano Cabal

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Luciano Cabal

Nelson Veiga

Nelson Veiga

WELCOME TO PRAINHA


Rick Werneck

Vista aérea do Parque Natural Municipal da Prainha.

Prainha, localizada na zona oeste do Rio de Janeiro, é um verdadeiro santuário da natureza e do surf, sendo o pico mais constante da cidade. A preservação do local sempre foi defendida por um grupo antigo de surfistas. Mas diante de um mundo globalizado e com a cidade crescendo em direção à Barra da Tijuca, Antonio Abrantes, presidente da Associação de Surfistas e Amigos da Prainha (ASAP), sabe que a entidade precisa passar por mudanças. Um dos principais pontos é conseguir tornar sócio o maior número possível de frequentadores e, assim, conseguir ter mais peso em reivindicações futuras para defesa do local. “A intenção da ASAP é unir pessoas em prol da Prainha para que a Prefeitura e o Governo do Estado nos encarem como voz ativa. A gente precisa crescer em número de associados para que eles compartilhem dos mesmos ideais de preservação e comportamento dentro de uma área de proteção ambiental, já que apenas um grupo de surfistas não tem voz ativa frente aos órgãos públicos”, desabafa. –––– por RÔMULO QUADRA

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Annibal

O projeto mais importante e que não deve demorar a sair do papel será a construção de uma cancela na entrada do Parque Natural Municipal da Prainha. “A ideia é realmente delimitar a entrada do Parque, tanto de quem vem pelo bairro do Recreio dos Bandeirantes quanto de quem vem por Guaratiba. Será um portal de primeiro mundo com um ‘Welcome to Prainha e Bienvenido a Prainha’! Teremos a Guarda Municipal controlando a entrada dos visitantes com o auxílio de câmeras e uma placa com regras que todos sem exceção devem respeitar”, explica Antonio. Uma mudança que já pode ser notada pelos banhistas é a presença ostensiva do Estado no local, feita pela Comlurb e pela Guarda Municipal com bases fixas. “Se alguém estiver passeando com o cachorro na areia, não sou eu quem vai repreender o infrator, é o guarda. Antes era uma discussão danada. Muitos não enxergavam a ASAP como uma autoridade no local. O uniforme da Guarda Municipal impõe respeito e nos livra desse tipo de confusão”, conta.

O presidente Antonio Abrantes, o ‘Neném’, está em seu segundo mandato. Ao fundo, a Bandeira Azul.

Nelson Veiga

A cara não é nova, mas Antonio Carlos Abrantes promete uma roupagem diferente. De novo à frente da ASAP, Antonio, mais conhecido como ‘Neném’, tem a missão de colocar a Prainha no contexto atual com o grande aumento de frenquentadores. “O objetivo maior da ASAP é preservar o local. Então, nada melhor que trazer esses novos frequentadores para o nosso lado. Se alguém quer frequentar a Prainha, você não pode chamar essa pessoa de ‘haole’. Isso é coisa do passado! Quando fui presidente pela primeira vez, já era possível enxergar a Prainha explodindo em número de frequentadores. Agora, decidimos, de uma vez por todas, abrir o quadro de associados”, disse ‘Neném’, sobre a meta que ele vislumbrava desde o seu primeiro mandato, que durou de 2000 a 2006.

O santuário dos sufistas tem ondas para todos os gostos.

Luciano Cabal

As novas regras de estacionamento que proibiram os carros de pararem colados na mureta que beira a praia também mudaram a rotina dos frequentadores. Quem não chegar cedo na Prainha vai encontrar dificuldades para estacionar. “São 800 vagas catalogadas pela prefeitura. Caso alguém pare em local proibido, é multado e tem o carro rebocado”, falou ‘Neném’. Ele ainda manifestou a posição da ASAP em relação ao reboque: “Não concordamos com o reboque ‘comendo solto’. Muitas vezes o carro rebocado levaria crianças e idosos para fora do Parque e para sair de lá sem um veículo é bem complicado. A multa seria o suficiente, educaria pelo bolso. Sem falar que ainda existem lugares sem a placa de proibido estacionar.” Essa é uma polêmica que está longe de ser resolvida e que já deixou muita gente na “roubada” na volta para casa.

Gustavo Kronig, ‘Neném’, Otávio Pacheco e Simão reunidos durante o Circuito Master 2015.

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Nelson Veiga Luciano Cabal

Nelson Veiga

Faça sol ou faça chuva, Rafael Neto bate ponto sempre na Prainha.

Os pódios nos eventos da Prainha têm sempre alguns ex-profissionais. Da dir.p/ esq: Zé Alla, Rodolfo Lima, Renato Phebo, Pena Glass e Marcos Brasa.

Onda de nível internacional.

A grande conquista da Prainha nos últimos anos foi, sem dúvidas, a Bandeira Azul, hasteada no local desde 2012. O estandarte foi um “presente” entregue pela ONG Foundation For Environmental Education (Fundação para a Educação Ambiental), que funciona como um certificado socioambiental internacional oferecido às praias e áreas costeiras que cumpram 33 exigências, divididas em quatro categorias: educação e informação ambiental, qualidade da água do mar, segurança e gestão ambiental. O programa é muito popular nas praias da Europa, a bandeira fornece visibilidade internacional no setor ambiental e é um diferencial no mercado de viagens.

E para mostrar que a nova diretoria não está de bobeira, no mês de junho, o Circuito Master da Prainha, que conta com patrocínio da RVCA e WQSurf, voltou com força total. Ao todo, 80 inscritos aproveitaram as ondas que chegaram aos oito pés em dois dias clássicos de surf. O evento contou a presença de ex-profissionais, como Renato Phebo, Rodolfo Lima, Roberto Cavalleiro, Sérgio Noronha, Marcos Brasa, todos competidores em plena atividade dentro d’água. “A ASAP é feita por surfistas, então sempre achamos legal celebrar os caras do passado. Muitos compararam a qualidade de onda com as da Austrália e do Hawaii. Vi o ex-surfista profissional Ricardo Tatuí pegando igual um garoto, Guto Carvalho dando batidas que eu não via há anos...”, comemorou o presidente Antonio Abrantes.

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Álvaro Freitas

‘Neném’ divide seu tempo entre pegar boas ondas na Prainha e ajudar na preservação do local.

Vale lembrar que, em 1989, a região que hoje corresponde ao Parque tinha um dono. A iniciativa privada passou a se interessar pelo local e os fundadores da ASAP conseguiram impedir que o projeto imobiliário dos empreiteiros em parceria com o Governo do Estado fosse à frente.

Para atender as demandas exigidas pela ONG Foundation For Environmental Education, a prefeitura investiu 700 mil reais em obras no local, como banheiros novos e rampas para facilitar o acesso de cadeirantes. “A acessibilidade da área sempre foi um problema. O governo havia construído uma passarela no caminho que liga a praia da Macumba à Prainha, mas a obra foi muito mal feita e a maresia corroeu tudo. Era um perigo tremendo! A prefeitura jogava a responsabilidade para o Governo do Estado e vice-versa. Nós finalmente conseguimos que eles refizessem o caminho. Não há mais perigo”, explicou o presidente da ASAP. ‘Neném’ ainda completou: “Hoje a nossa maior luta é pela manutenção da grande infraestrutura do Parque. São muitos banheiros, baterias solares, encanamentos em geral e por aí vai.” Apesar da Prainha carregar o título de Parque Natural Municipal e estar dentro de um seleto grupo de praias do mundo que hasteiam a Bandeira Azul, Antonio Abrantes sabe que um pequeno grupo de surfistas não será eficiente contra projetos imobiliários megalomaníacos e nem preparado para futuras demandas mais exigentes: “Algo que eu aprendi viajando pelas savanas africanas e pela Nova Zelândia, é que abrindo o quadro de associados a entidade só tem a ganhar. Os novos integrantes trazem novas ideias, vivências e conhecimento. Um biólogo ou um político, por exemplo, poderiam ter iniciativas bem legais e isso favoreceria o Parque.” Hoje a associação conta com um site, prainhario. com.br, e uma página no Facebook, sinais dos novos tempos.

PARA SE ASSOCIAR:

Luciano Cabal

Você irá fornecer os dados e pagar um boleto referente à taxa cobrada pela carteirinha de sócio. Anualmente, a ASAP faz camisas e adesivos, que levam o símbolo da entidade já eternizado, mas com alguma variação que indique o ano de confecção e que são pagas à parte. A carteirinha também dá algumas facilidades em restaurantes e lojas de surf.

Pedro Scooby e a nova geração.

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O nome da banda é uma derivação do feriado rastafari “Grounation”.

“JAH GONNA START THIS REVOLUTION”

Q

uem não tem um amigo ou parente mais velho que vive questionando: “A música morreu?” Essa retórica assombra a “caixola” de muitos amantes nostálgicos da boa música. Então, para eles, vamos apresentar uma banda em plena ação. Groundation, na verdade, dispensa qualquer tipo de apresentação. A banda californiana faz sucesso no mundo inteiro graças a uma fórmula inovadora que mistura o reggae ao jazz. E de passagem pelo território brasileiro, a Surfar não vacilou e foi ao encontro de Harrison Stafford, vocalista, compositor e fundador do grupo. Comparado por muitos ao rei Bob Marley, Harrison também apresenta um engajamento político forte e isso fica claro em sua arte. –––– por RÔMULO QUADRA 114

Fotos: Divulgação Fundição Progresso

Assessoria da banda

SURFAR MUSIC


show realizado na Fundição Progresso, Rio de janeiro.

Como surgiu o Groundation? Então, tudo começou no tempo da faculdade há 20 anos mais ou menos. Ryan Newman e eu éramos calouros na Sonoma University. Nós começamos tocando jazz nos alojamentos estudantis até que, em 1998, eu decidi começar um projeto de reggae, misturado aos ritmos que já tocávamos. Nesse momento, Ryan sugeriu o Marcus Urani para ser o tecladista da banda, já que o conhecíamos das aulas de jazz da faculdade. O início do Groundation foi assim, com apenas nós três. A gente tentou inúmeros bateristas e percussionistas, mas eles não sabiam muito sobre o reggae raiz. Eu trouxe influências clássicas, como Bob Marley, Israel Vibration, Culture e fiz com que eles tocassem para que o som se tornasse familiar a todos, como o jazz era. Nós estudávamos jazz na academia e tocávamos por diversão. O reggae também deveria ser aprendido e depois tocado por diversão.

Harrison Stafford.

Em que momento na história o jazz encontra o reggae? Foi quando tudo começou, lá na Jamaica! A Alpha Boy’s School, escola de música formadora de músicos de sopro, formou músicos notáveis como o Erick Deans. Os quatro fundadores do famoso grupo de ska The Skatalites, Tommy McCook, Johnny “Dizzy” Moore, Lester Sterling e Don Drummond, foram músicos formados por lá e todos eram jazzistas. Foi aí que surgiu o ska, que é fruto do R&B dos anos 60. Os músicos jamaicanos recebiam muita influência do R&B americano. O ska desacelerado originou o rocksteady e dele surgiu o reggae. E cá estamos nós fazendo reggae.

Por que você optou pelo reggae? Eu queria falar sobre o quê acontecia no mundo. O reggae é uma música consciente. O rock’n roll e o hip hop também são engajados, mas só o reggae tem esse foco no desenvolvimento de uma mentalidade social igualitária e justa para o povo. Sem contar que musicalmente ele é muito aberto, então eu poderia interagir com as minhas influências do jazz e elementos harmônicos.

“O MOVIMENTO DOS PANTERAS NEGRAS E O HIPPIE COMEÇARAM NA CALIFÓRNIA. ESSA É A MENTALIDADE CALIFORNIANA E O GROUNDATION PARTILHA DELA.” Groundation é uma banda da Califórnia, que é o berço de muitos movimentos sociais que se espalharam pelo mundo, como o Flower Power, Panteras Negras... Como isso influencia a banda? A colonização dos EUA começou na costa leste e alguns sonhadores continuaram a procura por uma terra em que o amor e a igualdade pautariam nossas decisões. Quando finalmente chegaram à costa oeste, existia apenas a Califórnia e o Oceânico Pacífico, então eles tiveram que começar uma sociedade ali. Foi uma limitação geográfica. Eles sonhavam com um mundo diferente e precisaram começar naquele pedaço de terra do zero! Não é à toa que o movimento Panteras Negras e o Hippie começaram lá e depois seguiram para o mundo. Essa é a mentalidade californiana e o Groundation partilha dela.

“NO RASTAFARIANISMO NÃO LIDAMOS COM A MORTE, MAS SIM COM A VIDA. FOI POR ESSE MOTIVO QUE ESCOLHEMOS UMA SILHUETA FEMININA E GRÁVIDA PARA A CAPA DO NOSSO NOVO ÁLBUM.”

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Por que o álbum mais recente da banda se chama A Miracle (Um milagre)? Muitas razões nos levaram a esse título. A primeira música que escrevi para o álbum se chama justamente A Miracle. E indo mais a fundo, estou casado e sou pai de dois meninos. Então, a inspiração veio daí, o milagre da vida! A capa do álbum é uma mulher, o ser que produz vida. Nós, homens, não somos capazes disso. Estamos valorizando esse conceito de mulher provedora da vida! Para esse álbum, inclusive, contamos com a participação da dupla backing vocal feminina I Threes, que cantava com Bob Marley, Marcia Griffiths e Judy Mowatt, mas sem a Rita. E isso dá o toque feminino que tanto nos faltava e que tem tudo a ver com o nosso atual trabalho.

A espaçosa casa de shows teve o primeiro andar lotado. A arte da capa do álbum A Miracle, além de ser muito mais colorida do que estamos acostumados, foi desenhada por Neville Garrick, conhecido como diretor de arte de Bob Marley, e seu filho Nesta. Como surgiu essa parceria? Eu conheci o Nesta na Nova Zelândia durante um show do Damian Marley e soube que Neville Garrick estava livre para fechar um projeto. Então, entramos em contato com ele e passamos as nossas ideias. No rastafarianismo não lidamos com a morte, mas sim com a vida. Foi por esse motivo que escolhemos uma silhueta feminina e grávida para a capa, com flores e super colorida. Neville nos convenceu de usarmos um título pequeno, assim como quando ele trabalhava com Bob Marley. Se você reparar bem, os títulos dos álbuns do Bob são todos curtos: Kaya, Uprising, Exodus... Já os nossos são longos, como Each One Teach One, We Free Again... Então achei que A Miracle foi uma escolha perfeita, se encaixou muito bem e resumiu bem a nossa ideia.


SURFAR MUSIC

Falando em Rastafarianismo, o Groundation baseia a sua espiritualidade em alguma religião? Eu não gosto da palavra religião. Para mim, ela significa divisão, sabe? As religiões disputam quem sabe mais sobre Deus. Todos nós conhecemos Deus! A mentalidade do Groundation é de que todas as religiões estão certas. Cristianismo, judaísmo, rastafarianismo, islamismo... Todas elas! É como a música One Love, você não pode dividir o amor, ele é um só! É por isso que os rastas usam o famoso Eu e Eu, não existe o pronome pessoal Tu no movimento Rastafari. Não existe essa ideia de divisão entre eu e você, somos um só, “I and I”!

A banda possui website: groundation.com

As backing vocals Kerry-Ann Morgan e Kim Pommell.

Em 1999 e 2001, Harrison ensinou a disciplina “HIstória do Reggae” na Universidade Estadual de Sonoma.

“EU NÃO GOSTO DA PALAVRA RELIGIÃO. PARA MIM, ELA SIGNIFICA DIVISÃO, SABE? AS RELIGIÕES DISPUTAM QUEM SABE MAIS SOBRE DEUS!”

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E qual a ligação entre o Groundation e o surf? Nós não somos surfistas e provavelmente o baixista Ryan Newman seja o único que já surfou na vida. Mas na Califórnia, se você quer ser surfista, é melhor ter o espírito de um guerreiro! A água é congelante, as ondas muitas vezes são enormes, o fundo das praias é de pedra, sem falar que há reais possibilidades de ataques de tubarão. Isso nos inspira! Para praticar o surf é necessário lidar com os elementos da natureza. Sem falar na sensação de liberdade que os surfistas sentem. Tudo isso é louvável!



Vitor busca cada vez mais evolução no surf para alcançar seus objetivos na carreira.

Munil El Hage

Fred Pompermayer

NOVA GERAÇÃO

IDADE: 17 ANOS PATROCÍNIO: ANTIQUEDA, ZAMPOL e F3 FUNCIONAL APOIO: CHICLETE TRUNKS QUIVER: de 5’7 para marola a 6’2 para mar grande SHURFISTA PREFERIDO: FILIPE TOLEDO SHAPER: ZAMPOL MELHOR MANOBRA:TUBO

VITOR MENDES VOCÊ ESTÁ TENDO UM BOM DESEMPENHO NO HANG LOOSE SURF ATTACK. ACHA QUE ESTÁ NA MELHOR FASE DO SEU SURF E QUAL SUA MAIOR ARMA PARA DERROTAR SEUS ADVERSÁRIOS? Acho que estou na melhor fase do meu surf hoje. E o que tem me feito evoluir foi eu estar bem concentrado e treinando muito, tanto dentro quanto fora d’água! Já minha melhor arma para derrotar os adversários é a estratégia feita antes da bateria. O QUE SIGNIFICA UMA VITÓRIA NO TÃO DISPUTADO CIRCUITO PAULISTA? É um grande incentivo, porque você sabe que os melhores surfistas do Brasil saíram desse campeonato. QUAIS DIFICULDADES VOCÊ ENCONTROU NO INÍCIO DA SUA CARREIRA? Comecei a competir com sete

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Considerado uma das maiores promessas do surf nacional, o guarujaense VITOR MENDES vem seguindo os passos de seu irmão, Jessé Mendes, atual 15º lugar no ranking QS da WSL. Com a melhor somatória e a vitória da categoria Junior na abertura do Hang Loose Surf Attack, Vitor já vem demonstrando do que é capaz de fazer dentro d’água para derrotar seus adversários. Entre seus principais títulos, ele acumula os de campeão Paulista (2013), tetracampeão Guarujaense (2012 a 2014) e tricampeão A Tribuna Colegial (2013 a 2015), sendo duas na Mirim e uma no Universitário. Sempre em busca de aperfeiçoamento, ele quer cada vez mais chegar longe na sua carreira: “Quero mesmo é ser campeão mundial!” anos e sempre gostei muito dessa adrenalina das competições. Mas a maior dificuldade é perder, ninguém gosta de perder. QUANDO VOCÊ ACOMPANHA O SEU IRMÃO JESSÉ, ACABA SURFANDO COM VÁRIOS SURFISTAS DE ALTO NÍVEL COMO ELE. ESSA EXPERIÊNCIA FAZ A DIFERENÇA NO SEU APRENDIZADO? Ver e estar com os profissionais acrescenta muito no meu surf e tem me ajudado muito na evolução da minha performance. RECENTEMENTE VOCÊ APARECEU EM ALGUNS EPISÓDIOS DO CANAL OFF. O QUE ACHOU DA EXPERIÊNCIA DE GRAVAR PARA UM PROGRAMA DE TV? A CATEGORIA DE FREESURFER TAMBÉM TE ATRAI? Aparecer na TV ajuda muito, pois dá bastante visibilidade.

Ser freesurfer pode ser uma opção, mas quero mesmo é ser campeão mundial! QUAIS AS SUAS SURF TRIPS MAIS RECENTES E O QUE ELAS AGREGARAM NO SEU SURF? Fui para a Argentina e Hawaii, que me ajudaram muito a evoluir no meu surf, principalmente nos tubos e ondas perfeitas. Agora, pretendo voltar ao Hawaii e, se Deus quiser, para a trip do campeonato do King Of The Groms. Com certeza, essas duas viagens vão agregar muito para meu surf. QUE METAS VOCÊ ESPERA ALCANÇAR NA SUA CARREIRA PARA O SEGUNDO SEMESTRE DE 2015? Ser campeão paulista e conseguir a vaga no King Of The Groms!



NOVA GERAÇÃO

Pedro Monteiro

“A vontade de ter a vida de um surfista profissional também me motivou a competir. Viajar surfando as melhores ondas!”

THOMAS CARVALHO IDADE: 14 Anos APOIO: Ricardo Martins, Studio Reger Santos, Hemerson Marinho, Plácido Trigueiro e Léo Macêdo QUIVER: uma 5’8, duas 5’9 e uma 6’0 SURFISTA PREFERIDO: Mick Fanning, Andy Irons, Kelly Slater e Tom Curren. SHAPER: Ricardo Martins MELHOR MANOBRA: Rasgada de frontside e batida de backside

IDADE: 16 ANOS PATROCÍNIO: Píer APOIO: Murillo Meira, Pizza Gool, Chuly Bar, F3 Studio Funcional e Colégio Adélia QUIVER: uma 5’4, três 5’7 e uma 5’9 SURFISTA PREFERIDO: Kelly Slater SHAPER: Murillo Meira MELHOR MANOBRA: Tubo

THOMAS CARVALHO nasceu em Sydney, Austrália, e o surf entrou naturalmente na sua rotina. Suas primeiras caídas foram nas ondas de Freshwater, onde morava, quando ainda tinha quatro anos: “O surf é parte da cultura de lá e sempre fez parte da minha vida. Mas nunca competi na Austrália, surfava sempre por diversão.” E foi somente depois de se mudar para o Brasil, aos 10 de idade, que ele entrou nas competições. De lá para cá, ele já acumula bons resultados e alguns títulos, como o de vice-campeão estadual potiguar e a quarta colocação do ranking brasileiro na Iniciante, ambos

no ano passado. No início de 2015, Thomas realizou seu grande sonho, sua primeira trip para o Hawaii. “Peguei altas ondas! Percebi que mudou muito meu surf em todos os aspectos, mas a maior evolução foi meu desempenho em ondas mais fortes e nas cavadas. Espero que esta tenha sido a primeira de muitas temporadas havaianas!”, conta. Agora, nesse semestre de 2015, Thomas está focado cada vez mais em ganhar competições, principalmente no sudeste e sul, onde, segundo ele, as marcas e os campeonatos importantes se concentram mais. É isso aí garoto!

Local de Búzios, THEO FRESIA está morando no Guarujá desde o início do ano a convite de Paulinho Tomboys, presidente da associação de surf do local, e já vem sentido os benefícios da mudança. “Aqui existem ondas mais fortes e muito tubo. São ondas com mais potenciais de evolução! É a cidade mais constante de onda do Brasil, nunca fica flat!”, conta. Atual terceiro colocado no ranking brasileiro Pro Junior, ele tem entre seus principais títulos o de tetracampeão Buziano (2009/2010/2011/2013) e o de campeão Norte Fluminense 2013. Apesar de se considerar um bom competidor, Theo diz que seu posi-

cionamento dentro da água é um erro algumas vezes, mas pretende cada vez mais aprimorar sua performance para alcançar melhores resultados. “Fui para o Peru competir a 1a etapa do Sul Americano Pro Junior, onde fiquei entre os 13 melhores. Adquiri experiência em ondas volumosas e em competição em picos de point break. Minha arma seria minha consistência!”, fala. Agora, para o restante de 2015, Théo pretende se dar bem no Hang Loose Surf Attack, fazer um bom resultado no Sul Americano Pro Junior e conseguir a vaga para o Mundial Amador desse ano. Boa sorte!

THEO FRESIA

Washington Junio

“Respiro competição! Gosto de vestir a lycra, entrar na água e competir.”



PRÓXIMO NÚMERO

Inverno no Rio é época para pegar bons tubos na praia de Copacabana. Marcelo Trekinho no Posto 5.

Pedro Tojal

INVERNO NO BRASIL

EXPEDIENTE Editor Chefe: José Roberto Annibal – annibal@revistasurfar.com.br Editora: Déborah Fontenelle - deborah@revistasurfar.com.br Redação: Luís Fillipe Rebel – luisfillipe@revistasurfar.com.br Rômulo Quadra – romulo@revistasurfar.com.br Arte: João Marcelo – joaomarcelo@revistasurfar.com.br Fotógrafo staff: Pedro Tojal – tojal@revistasurfar.com.br Colunistas: Bruno Lemos, Gabriel Pastori e Otavio Pacheco. Colaboradores edição – Texto: Reinaldo Andraus e Viviane Freitas. Fotos: @edumachado, @juanskarks.ps, @pedrofelizardo, Álvaro Freitas, Brian Bielmann, Kelly Cestari, Kirstin Scholtz, Everton Luis, Fred Rozário, Levy Paiva, Luciano Cabal, Magnum Gonçalo, Munir El Hage, Nelson Veiga, Pedro Monteiro, Rick Werneck, Ryan Chachi, Tim McKenna, Tom Carey e Turbu Company.

Publicidade: Marcelo Souza Carmo – marcelo@revistasurfar.com.br Sérgio Ferreira – serginho@revistasurfar.com.br Financeiro: Claudia Jambo – claudia@revistasurfar.com.br Tratamento de Imagem: Aliomar Gandra Jornalista Responsável: José Roberto Annibal – MTB 19.799 A Revista Surfar pertence à Forever Surf Editora e as matérias assinadas não representam obrigatoriamente a opinião desta revista e sim de seus autores. Endereço para correspondência: Av. Ayrton Senna, 250, sala 209, Barra da Tijuca, Cep: 22793-000. Circulação: DPACON Cons. Editoriais Ltda - dpacon@uol.com.br Tel: (11) 3935-5524 Distribuição Nacional: Dinap S/A - Distribuidora Nacional de Publicações Contato para publicidade: (21) 2433-0235 / 2480-4206 – surfar@revistasurfar.com.br

Surfar #44 é uma publicação da Forever Surf Editora.

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117°17’35”W

ALIVE IN CALIFORNIA

T H E

S U P E R T I D E

33°2’35”N

nixon.com


GABRIEL MEDINA | WSL CHAMPION W E A R S M I R AG E AG G RO GA M E


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