FEV | MAR 2016 R$ 11,90
MINEIRO CAMPEテグ
+JAWS
+HAWAII
SEBASTIAN ROJAS
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ÍNDICE
Sylvio Mancusi , Hawaii 2016. F oto: Pedro Tojal.
JAWS
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ADRIANO DE SOUZA – CAMPEÃO MUNDIAL
.48
GALERIA HAWAII
.74
PORTFÓLIO LUIZ BLANCO
.86
PALAVRA FINAL - LUCAS SILVEIRA
.96
O brasileiro Pedro Calado fez história ao pegar a possível maior onda já surfada na remada.
Foram 10 anos lutando por esse dia e depois de muito suor o momento chegou: Mineirinho é o melhor surfista do mundo de 2015.
Fenômeno El Niño faz uma temporada inesquecível no arquipélago.
“O surf não se resume apenas na onda.” – O carioca Luiz Blanco expõe toda a sua criatividade nas páginas da Surfar.
Lucas Silveira conquistou o Mundial Pro Junior e fechou com chave de ouro a temporada dos sonhos do Brasil.
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Foto: Rojas
Nossos boardshorts são feitos a partir de fibras de coco, utilizando o processo de Upcycling que nos permite converter materiais inutilizados em produtos de alta performance, flexíveis, duráveis, com secagem rápida e proteção UV, reduzindo a quantidade de resíduos de lixo no oceano.
A ndr ew Serran o
Creators & Innovators
EDITORIAL
Na capa, Mineiro em total êxtase. Nesta página a praia de Pipeline, arena de grandes duelos onde os brasileiros saíram vitóriosos em duas ocasiões. F otos: Pedro Tojal.
O surf no topo! A primeira edição do ano da Surfar vem cheia de acontecimentos históricos. O mais importante foi título de Adriano de Souza como campeão mundial! Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil leva o caneco no santuário do surf mundial, a praia de Pipeline. O paulista Caio Ibelli vence o QS, divisão de acesso, e o carioca Pedro Calado dropa uma bomba em Jaws, sendo indicado para concorrer em quatro premiações no Big Wave Awards, isso com apenas 19 anos. E para fechar com chave de ouro as conquistas brasileiras, Lucas Silveira, outro carioca também do Recreio dos Bandeirantes, leva o caneco do Mundial Pro Junior em Portugal. Aguenta coração! Com tantas vitórias finalmente o surf ganhou mais espaço na mídia e vem conquistando novos simpatizantes de todas as idades. O engraçado é que o nosso esporte foi tratado durante muitos anos pelos editores dos jornais de grande circulação como amador. Sempre fomos ignorados, mesmo quando tínhamos vitórias expressivas conquistadas pelos nossos atletas no
Circuito Mundial, mas hoje tudo mudou. O surf virou pauta nas principais redações, com prioridade nas editorias de esporte. Cansei de escutar de amigos jornalistas histórias de editores que só pensavam em futebol. Claro que também existe um lado de interesse comercial, já que muitos anunciantes vêm investindo nos atletas do WCT, só que isso já é outra história... Mas sem revanchismo, quanto mais divulgação melhor, o surf agradece. Por outro lado, no melhor momento que vivemos com nossos atletas vencendo nos quatro cantos do mundo, o mercado do surfwear vem sofrendo muito com a crise na economia do país. Mas, mesmo com essa situação de crise que vem afetando não só o surf, como também todas as áreas da economia, não dá para ficar reclamando. Certamente se não tivéssemos dois títulos mundiais, a situação no nosso mercado estaria bem pior. Agora é hora é de remar forte porque essa molecada ainda vai trazer muitas alegrias para gente! Vamos todos pra dentro d’água Surfar! José Roberto Annibal
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ATLETA JEAN DA SILVA
MELHOR DA SÉRIE
XXXXX. Foto: Bidu.
Quando de repente um objeto estranho aparece na sua frente. O que fazer? Waimea, p足 or Pedro Tojal.
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INSTAGRAM GATAS DO SURF
@anastasiaashley se preparando para mais uma session em algum pico ao redor do mundo.
@alanarblanchard é pura sensualidade.
@alessaquizon num momento relax em algum pico paradisíaco.
@claudinhagoncalves mostra que “Palavras não são o suficiente para descrever a satisfação em fazer parte de mais um projeto de surf feminino.”
@barbaramuller91 bem preparada para mais um dia de praia.
@Bruno Brum
@tatiwest aproveitou um pausa nas ondas para cutir uma vibe diferente.
@mibouillons de cabeça feita após mais um dia de muito surf.
@emiliebiason “Good Morning para você que acordou com pressa de mar!”
@elliejeancoffey esbanja beleza partindo para mais um dia de ondas.
Fotos Arquivo Pessoal Instagram
@trentmitchellphoto
Confira os melhores cliques das mais gatas do surf ao redor do mundo. Uma seleção para deixar qualquer marmanjo babando!
WAINUI
“O DIA DOS DIAS” Bidu
por BRUNO LEMOS
Josh Redman em um momento crítico. Desde o ano passado que vem se falando muito sobre o El Niño nesta temporada de surf. Quem acompanhou as atividades do Pacífico Norte, percebeu que durante os últimos meses de 2015 não aconteceu nada de muito extraordinário. Os especialistas já haviam falado que as condições climáticas influenciadas pelo El Niño seriam mais intensas a partir do início de 2016 e, consequentemente, as maiores ondulações apareceriam nessa época. Os big riders que ficaram no Hawaii para ver o que iria acontecer realmente não se arrependeram. Durante o mês de janeiro uma série de ondulações gigantes atingiu o arquipélago havaiano, proporcionando o que se estima ser as maiores ondas já surfadas na remada até o momento. Por muito tempo, desde que os surfistas decidiram desistir da prática do tow in em ondas grandes, esperava-se ansioso por aquele dia onde os limites humanos fossem quebrados. Esses big riders esperavam provar para eles mesmos que é possível encarar ondas enormes apenas na remada. Nos últimos anos até tivemos dias onde em alguns momentos conseguimos ter um vislumbre do que poderia acontecer quando as condições da natureza se
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encaixassem. Na maioria das vezes, as maiores ondulações ou apareciam na costa durante a noite ou num dia com muito vento. Então, por anos se falou e se esperou por um dia onde tudo iria se encaixar. É claro que o lugar mais propício para que isso acontecesse seria Jaws, na ilha de Maui, ironicamente onde o tow in foi quase que inventado. O dia 15 de janeiro deste ano entrou para a história do surf de ondas grandes. Kelly Slater postou no seu Instagram que esse foi “O dia dos dias” e acho que ele realmente acertou “na mosca”, pois por várias horas os surfistas tiveram ondas gigantescas e perfeitas à disposição, onde puderam testar toda sua coragem e habilidade. É claro que diversas ondas foram surfadas com sucesso, mas nesse dia as maiores eram aquelas que os surfistas só conseguiam fazer o drop. Não sei dizer exatamente por que isso estava acontecendo, se talvez o tipo de prancha que está sendo usada hoje ainda precisa de alguns ajustes ou se realmente as ondas eram tão grandes que só dava mesmo para completar o drop. Mas uma das coisas que mais me impressionou foi como tinham surfistas corajosos dentro d’água, alguns deles colocavam para baixo sem medir as
consequências, fazendo que o show de wipe outs fosse absolutamente incrível. Sem dúvida, as duas ondas mais comentadas do swell foram as do havaiano Aaron Gold e do carioca Pedro Calado, uma para a direita e outra para a esquerda. A princípio a mídia ficou em cima da onda do havaiano, apontando como a maior onda já surfada na remada, mas depois acho que começaram a analisar melhor a onda do Calado e rapidamente as coisas se inverteram. Independente de quem pegou a maior, qualquer surfista que entra num mar daqueles, mesmo que não pegue onda nenhuma, já é um herói. Particularmente, acho que o que esses caras estão fazendo é loucura! Parecia que eles estavam entrando no ring contra o Mike Tyson, sem exceção, todos tomaram pancada da onda. E vendo as consequências dos acidentes e da forma violenta que aquelas ondas atingiam os surfistas e seus equipamentos, ficou nítido que o corpo humano não foi feito para isso. Então, acho que todos são heróis e tiro meu chapéu para esses caras! Aloha! BRUNO LEMOS é fotógrafo carioca radicado há mais de vinte anos no North Shore, Hawaii.
ATTITUDE
pedro
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SINCE
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ribeiro
O f F TH E W ALL - H A W A I I -15/16 -
> WQSURF.COM > FACEBOOK/LOJASWQSURF > @LOJASWQSURF
DESURFISTAPARASURFAR s melhores fotos dos nossos leitores.
#DESURFISTAPARASURFAR Quer ver sua foto na Revista Surfar? Siga @revista_surfar + @lostbrasil e marque suas postagens com a hashtag #desurfistaprasurfar e @lostbrasil. As cinco melhores serão publicadas nesta coluna. De quebra, levam um kit ...LOST de roupas cada uma.
@F E L I P E . F I O R I T O
“O nascer do sol para Surfar.” @J O A O R I C A R D O I M A G E S
“O dia em que Noronha lembrou Pipeline: sol, terral, tubos e mais tubos!”
@ WAV E S R I D E R S. W R S
“Na hora de raberar, nem a amizade salva!”
@ A N A C ATA R I N A P H O T O
“Claire Bravo muito à vontade nos tubos de Keramas.” @ FA B PA S S O S
Fim de tarde dourado no Leme.
SURF FEMININO
LONGBOARD FEMININO
DA EVOLUÇÃO DAS PRANCHAS À ERA BRAZILIAN STORM!
Mark Klintworth
por BÁRBARA RIZZETO
A carioca Chloé Calmon mostra estilo e leveza no clássico hang five. Os longboards desempenham um papel fundamental na cultura do surf, resgatando toda a essência do esporte. Apesar da evolução das pranchas e das linhas progressivas de hoje em dia, a modalidade é um retorno ao estilo clássico, uma releitura dos pranchões que dominaram as décadas de 50 e 60. Os longs surgiram da busca por pranchas mais leves e materiais inovadores que permitissem uma evolução das manobras e facilitasse o manuseio dos equipamentos. Antigamente os pranchões eram feitos de madeira e chegavam a pesar de 10kgs a 15kgs, uma realidade completamente diferente da atual, onde podem pesar apenas 3kgs. O surf no pranchão é um convite à diversão, estilo e leveza. Os longboarders têm uma maneira extremamente peculiar de surfar, em total harmonia com a onda e pondo em prática técnicas que sobrepõe a fluidez e a suavidade. Essas singularidades e a evolução das pranchas fizeram com que o surf de longboard ganhasse cada vez mais adeptos, principalmente entre as meninas, que puderam mostrar todo seu charme e talento deslizando sobre as ondas. Atualmente o Brasil vem sendo muito bem representado no cenário mundial de longboard feminino. Diferente do que ocorria antigamente, onde as brasileiras não conseguiam se destacar, ano passado tivemos resultados expressivos e contamos com três atletas no WLT (WomansLongboard Tour), Chloé Calmon, Atalanta Batista e Thiara
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Mandelli. Uma das favoritas ao título da temporada 2015, a carioca Chloé dispensa apresentações. Ela fez os maiores somatórios do campeonato e terminou na terceira colocação pelo segundo ano consecutivo, perdendo apenas para a campeã do evento numa bateria acirrada e um tanto contraditória. Outra grande revelação nacional é a pernambucana Atalanta, que terminou na quinta colocação, fazendo uma ótima campanha durante o evento. A atleta é tetracampeã brasileira e foi campeã sul-americana em 2014. Para completar o time, tivemos a paranaense Thiara, que terminou na décima sétima colocação e detém os títulos de vice-campeã sul-americana em 2014 e o de tetracampeã paranaense e catarinense. Com esse time de peso, a busca pelo inédito e tão sonhado título mundial no longboard parece estar cada vez mais próximo. As nossas meninas têm um surf clássico e inovador, sabem fazer hang fives quilométricos e apresentam um estilo impecável. Além disso, possivelmente teremos mais representantes brasileiras em 2016, a exemplo da carioca Rayane Amaralque que vem treinando forte para conquistar uma vaga na elite. As gringas que se cuidem! BÁRBARA RIZZETO, 23 anos, jornalista e freesufer. brizzeto@gmail.com | instragram: @barbararizzeto
Foto: Pablo Vaz
MINEIRINHO •Resistente a choque •Tough Solar (energia solar) •Resistência à água (200m) •Wave Ceptor (atualização automática das horas através de ondas de rádio)
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Fotos Arquivo Pessoal Instagram
Após um ano de muitas vitórias, o time brasileiro do WCT vem forte com dez representantes na elite para mais uma temporada de sucesso em 2016. Mas, antes disso, eles puderam aproveitar as merecidas férias com as famílias, namoradas e amigos.
@adrianodesouza recebendo o carinho da agora esposa Patrícia Eicke durante a festa de casamento.
@filipetoledo assistiu aos Jogos Cariocas de Verão na Barra da Tijuca com Silvana Lima e Davi Teixeira, vice-campeão mundial de surf adaptado.
@caioibelli ao lado da namorada e também integrante do WCT Alessa Quizon em Fernando de Noronha.
@miguelpuposurf e família capricharam no visual para o casamento de Adriano de Souza.
@gabrielmedina curtiu o carnaval carioca ao lado de Filipe Toledo e Pedro Scooby na Marquês de Sapucaí.
@italoferreira e a “seleção brasileira” do WCT aproveitaram uns dias no paraíso de Fernando de Noronha.
@jadsonandreoficial passou na barbearia para dar “um tapa” no visual.
@alexribeiro89 trabalhou forte na preparação física até aos domingos.
@wiggolly e seu quiver completo da longa temporada havaiana.
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BACKSTAGE
A NOVA ERA DAS PISCINAS DE ONDAS Fotos: Divulgação
por GABRIEL PASTORI por GABRIEL PSTORI
Será que o desenvolvimento das piscinas de ondas irá gerar uma nova modalidade dentro do surf?
AONDE ISSO VAI PARAR? Pouco tempo após a conquista do título mundial de Adriano de Souza, Kelly Slater lançou a sua bombástica onda artificial dos sonhos, o que mexeu com surfistas e mídia de todo planeta. Localizada em Lemoore, no Vale Central da Califórnia, e diferente de todas as outras até então, a onda criada por Slater proporciona tubos perfeitos e rampas lindas para manobras. As imagens do onze vezes campeão mundial pulando de alegria ao ver seu novo brinquedo funcionando, despertou o desejo de qualquer ser humano que se diverte em cima de uma prancha. Mais do que isso, gerou uma discussão sobre o caminho que o esporte pode tomar com o desenvolvimento dessa nova modalidade. Em um primeiro momento, a única vontade que dá é de ter uma piscina dessas no quintal de casa e poder chamar os amigos para pegar uns tubos naquele dia em que o mar está flat. Ou então, aquele cara que trabalha o dia todo e só consegue pegar onda no final de semana, se imagina saindo à noite do trabalho com a prancha no carro direto para piscina para aproveitar a hora que ele já tinha reservado. Até aí está tudo perfeito. Porém, se você surfasse essa mesma onda todos os dias durante meses ou anos? Não acha que uma hora iria enjoar? E aquele tubo perfeito? Você acha que sentiria a mesma sensação de um tubo de verdade (no mar)? E a busca pela onda perfeita? E os perrengues das surf trips? E o verdadeiro espírito do surf? Aonde ia parar isso tudo?
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Há quem acredite que o desenvolvimento das piscinas de ondas irá gerar em longo prazo uma nova modalidade dentro do surf. Nesse caso teria a galera que é surfista de mar e outra galera que é especialista em onda de piscina. Dessa forma existiriam duas tribos, cada uma com suas características, equipamentos, eventos e marcas diferentes. Imagina a quantidade de pessoas no mundo que vive longe do mar tendo a possibilidade de surfar. Essa galera que irá aprender a pegar onda e aprimorar sua técnica na piscina, dificilmente vai ter o mesmo desempenho no mar e a recíproca também é verdadeira. O cara que é especialista em ondas de verdade pode até surfar bem na piscina, mas dificilmente irá superar um cara que aprendeu e cresceu surfando aquele tipo de ondas. Em setembro do ano passado foi realizado na Inglaterra o primeiro campeonato mundial em uma piscina de onda, na famosa Wavegarden. O evento reuniu atletas convidados do mundo todo e trouxe à tona uma série de questões. Os critérios adotados pelos juízes tiveram que ser definidos, já que ali as circunstâncias eram totalmente diferentes de uma competição de surf tradicional. A quantidade de ondas surfadas e a direção (esquerda ou direita) foram pré-definidas enquanto questões como prioridade, interferência e disputa de onda nem precisaram ser discutidas.
O primeiro campeonato realizado em uma piscina de ondas, a Wavegraden.
Imagem ilustrativa do projeto para as Olimpíadas.
O havaiano Albee Layer, que não participava nem de competições em ondas naturais, venceu o evento e se mostrou super motivado com a nova possibilidade. Como as ondas eram sempre iguais, os atletas podiam planejar antes de cada bateria quantas e quais seriam as manobras em cada onda. Por outro lado, para os juízes ficava mais fácil de mensurar a diferença de cada movimento feito pelos atletas. Seguindo esse caminho, o critério pode perder aos poucos a tão falada subjetividade que assombra as competições no mar. Imagina se em outras edições, com novas ondas, os caras decidem colocar uma fita métrica para ver a altura de cada aéreo ou então medir no cronômetro o tempo de cada tubo. Dessa forma poderia até se criar uma tabela que definiria uma nota para cada tipo e nível de manobra. O surf nas piscinas também poderia abrir um espaço para a televisão poder transmitir as grandes competições ao vivo, já que o grande empecilho para isso é a imprevisibilidade do mar. Com as ondas artificiais funcionando na hora e da forma que o homem quer, a grande mídia não correria o risco de perder seu precioso tempo da grade sem ação. Tudo teria local e hora marcada e depois disso é só “ligar” a pista. Com todo esse desenvolvimento e perspectiva, assuntos como fundo artificial foram de certa forma deixados de lado, talvez, por não termos um caso de sucesso no segmento.
Além disso, o fato do fundo artificial depender da natureza para funcionar mantém a mesma imprevisibilidade que até as bancadas mais perfeitas do mundo possuem. Outro fato que vem à tona é a possibilidade do surf estar nas Olimpíadas. Isso porque um dos grandes fatores que impedem a presença do surf é o fato de diversos países, que serão sede dos jogos, não serem banhados pelo oceano ou não possuírem ondas de qualidade. Com as piscinas, esse problema acabaria. Não é à toa que o surf está entre os esportes propostos para integrar o programa dos jogos olímpicos em Tóquio 2020. A seleção de novos esportes já passou pela primeira “peneira” e a decisão final será tomada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) no Rio de Janeiro em agosto de 2016. Imagine daqui a 20 anos! Será que vai ter um parque de surf artificial com ondas como Teahupoo, Desert e Pipeline juntas? Será que a WSL vai ter uma ou algumas etapas em ondas artificiais? Será que ao invés da Indonésia, Hawaii e Tahiti, nós faremos surf trips para Inglaterra, Polônia ou Texas em busca de novas ondas de piscina? Isso só o tempo nos dirá, mas que a mudança já começou, isso é um fato! GABRIEL PASTORI, freesurfer profissional. gabrielpastori9@hotmail.com | Instagram: @gabrielpastori
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Durante a etapa em Pipeline do WCT 2015 que consagrou o brasileiro Adriano de Souza como número 1 do mundo, o fotógrafo Henrique Pinguim separou um material prime para a Revista Surfar, com um conteúdo exclusivo dos momentos de descontração no North Shore de Oahu. Fotos: Henrique Pinguim/ Liquid Eye
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01 - Yago e Leandro Dora, Adriano de Souza, e Kai Garcia na Volcom House. 02 - Mineiro, novo rei de Pipeline. 03- Yago Dora, Marcos Giorgi e Lucas Silveira nos preparativos para pegar as bombas. 04 - Galera reunida para comemorar o título mundial. 05 - A surfista dando um brilho a mais no North Shore. 06 - Miguel Pupo com seu “Tiririca style”. 07 - Filipe Toledo super atento a tudo que rolava em Rocky Point. 08 - O aussie Taj Burrow levou seu filho pela primeira vez ao Hawaii. 09 - Victor Bernardo e Michael Rodrigues relaxado para foto antes do surf. 10 - Promessa da nova geração, Matheus Herdy aprontando dentro dágua.
JAWS
EXTREME
D
esde que a galera começou a remar em Jaws, ainda não tinha dado um mar tão grande como nesta temporada. Nos últimos cinco anos, big riders do mundo inteiro conheceram melhor a onda, acertaram o equipamento e alguns se especializaram no pico. Assim, o resultado não poderia ser diferente quando chegou o primeiro ano de El Niño: todos os limites foram extrapolados e um novo parâmetro foi estabelecido no surf de ondas grandes na remada. O dia 15 de janeiro de 2016 foi o maior já remado na história. ––––– por Felipe ‘Gordo’ Cesarano
Sebastian Rojas
Além de pegar umas das maiores ondas da história, Aaron Gold também surfou outras bombas como essa da foto.
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Sebastian Rojas
Bidu
Como era de se esperar, ano de El Niño sempre bomba. Esta está sendo a melhor temporada que eu já vi, muita onda grande em condições perfeitas. Foi o que aconteceu no dia 15 de janeiro quando rolou o MAIOR e mais CLÁSSICO mar da história em Jaws desde que a galera começou a remar. Nitidamente era um mar para tow in, mas, como o esporte está evoluindo, as pranchas estão sendo feitas especificamente para aquela onda (que foge dos padrões normais de qualquer outra onda grande). E, além dos coletes de remada (os que inflam), geralmente quem surfa lá ainda conta com o apoio de um jet ski de resgate, o que já faz com que a confiança aumente muito. Esse não foi o nosso caso naquele dia. Entramos e saímos pelas pedras, o que foi um show de horror (risos). Logo na entrada, Pedro Calado quebrou a quilha nas pedras e teve que subir o cliff todo de novo para pegar outra prancha. Bem, não dá para ter pena dele, pois ele foi simplesmente muito bem recompensado com a maior onda já surfada na história do big surf. Calado tem uma ligação especial com Jaws. Há quatro anos na sua primeira temporada, antes mesmo dele surfar Sunset ou Pipeline, ele já foi para Jaws e representou mostrando muita sintonia com a onda. O moleque é doente (risos)! Outro que também está na disputa pela maior Se você tem dúvida o quão grande são essas ondas, basta onda é o havaiano Aaron Gold com uma direita comparar com o tamanho dos barcos. absurdamente gigante. Tanto Calado como Aaron são dois merecedores. Se pela primeira vez rolasse um empate e fosse dividido o prêmio, eu não ficaria surpreso. Cada uma teve sua característica e particularmente acho a do brasileiro mais pesada. Em compensação, a do Aaron teve um drop um pouco mais vertical. Mas como não sou juiz, eu deixo para quem entende analisar isso melhor. Só tenho a agradecer a esses dois monstros por reescreverem os limites do surf e botar o surf de ondas grandes em outro patamar. O mais legal nesse dia era a quantidade de O visual do cliff da água. brasileiros que estavam na água, não só para ver qual é, mas sim com sangue nos olhos de pegar a bomba. Xandinho Ferraz pegou uma direita gigantesca, quase no mesmo patamar que a do Aaron. Ele também não conseguiu cavar e foi engolido passando duas ondas embaixo d’água. Lembro de uma bomba do Marcio Freire, algumas do Danilo Couto, Pedro Ribeiro pegou uma maneira, Eloi da Bahia estava se jogando, Lapinho como sempre surfou muito bem, o Inaldo... Eu tive a chance de pegar uma gigante para esquerda também, porém chegando na base não aturei a pressão dos bumps e caí feio embaixo do lip de uma muralha gigante, que quase desmembra meu corpo inteiro (risos). A única baixa do time foi Yuri Soledade, que se machucou um swell antes e não pode surfar. Ele fez falta no outside, mas estava lá presente no jet resgatando a galera e dando todo o apoio. Os brasileiros, além de terem sido pioneiros na remada em Jaws, estão cada vez conquistando mais respeito e moral no pico devido às atrocidades que a galera vem fazendo. Porém, não dá para querer fingir que nada está acontecendo e não tocar nesse assunto. Jaws não é uma onda onde só ter disposição já basta, é preciso ter técnica para surfar bem. Shane Dorian, Ian Walsh e Mark Healey mostraram que estão ainda alguns degraus na frente da galera. As direitas do Dorian e do Walsh e a esquerda do Healey foram surfadas com muita técnica e uma linha perfeita que realmente poucas outras pessoas fizeram tão bem. Acho que o Brad Domke do skimboard surfou uma muito boa também, passando pela boca de um tubão gigante e chegando até o canal.
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O surfista havaiano Aaron Gold nessa bomba impressionante de direita. Ele e Pedro Calado surfaram as maiores ondas desse swell histórico.
Bidu
Bidu
O “mad dog” Marcio Freire mostrando que com ele não tem essa de só de pegar esquerda. Se for uma bomba como a da foto, ele vai para qualquer lado.
Bidu
JAWS
EXTREME
Pedro Calado cavando na base da onda que estรก sendo considerada a maior jรก remada na histรณria.
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Bidu
O autor da matĂŠria Felipe Cesarano fez bonito no dia do seu aniversĂĄrio.
Bidu
Shane Dorian mostrando por que ĂŠ considerado o melhor surfista de ondas grandes do mundo.
Sebastian Rojas
Sou da geração REMADA e vou sempre defender que a verdadeira essência vem de sentar na prancha, esperar sua onda e virar com tudo. Esse momento em Jaws em que você decide ir numa onda é a parte mais gostosa, tomar essa decisão é quase dizer “foda-se”! Posso morrer, mas não vou deixar passar a onda da minha vida. Cada onda que eu remei lá, independente se foi uma de 18 a 20 pés ou a esquerda (não sei nem medir isso), é uma superação pessoal. Só quem foi lá e remou pode entender o que eu estou falando. Mas ao mesmo tempo ficar vendo um monte de séries GIGANTES passando sozinhas, dá até para pensar em fazer tow in. Com certeza não seria um surf tão desafiador, mas iríamos pegar os tubos da vida. Eu tenho um respeito enorme por essa onda. Maui é uma ilha muito especial, tem uma energia muito boa e estou feliz porque aos pouquinhos vou me sentindo mais e mais à vontade naquela onda. Estamos numa fase em que os limites estão sendo nitidamente ultrapassados e ninguém ainda sabe aonde isso vai parar. A nova geração está vindo com fome e disposição sobre-humanas, o que faz com que a galera mais velha tenha que usar toda a experiência adquirida na vida para tentar acompanhar.
Varreuu!!
Bidu
“O QUE NOS FOI DITO QUE ERA IMPOSSÍVEL, AGORA É REALIDADE E MUITO EMPOLGANTE, APESAR DE EXTREMAMENTE ARRISCADO.” – SHANE DORIAN Mas o que consideramos grande hoje em dia? Ian Walsh em uma das melhores Porque nessa matéria inteira não tem uma onda ondas surfadas no dia. menor do que 25 pés plus havaianos (medida antiga feita por trás da onda), sendo que as maiores estão na casa dos 35, 40 pés, o que há pouco tempo ninguém podia sonhar que seria possível. Qual será o limite nos próximos cinco ou dez anos? Até onde isso vai chegar? Eu não faço ideia! Só sei que estou feliz de estar vivendo essa fase tão boa do surf de ondas grandes e de ser mais um sobrevivente desse El Niño que não para de bombar. Em resumo, o que vimos foi um dos maiores shows que a natureza pode nos proporcionar. Ondas gigantes quebrando com absoluta perfeição para os dois lados em um dia ensolarado e sem vento nenhum. Os melhores surfistas do mundo cometendo as maiores insanidades já registradas até hoje. E tudo isso no dia do meu aniversário. Podia querer alguma coisa melhor? Sim, ter completado a minha onda (risos)! Mas ter sobrevivido a ela já foi bom demais (risos)!
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ENTREVISTA
A caminhada de uma hora para descer o cliff e entrar na รกgua em Jaws.
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Bidu
PEDRO CALADO
“NENHUM SURFISTA COLOCOU EM SEU ‘CURRÍCULO’ DUAS ONDAS COMO ESSAS ENQUANTO AINDA ERA UM ADOLESCENTE” Se você não sabe nada sobre PEDRO CALADO, deveria saber. Ele tem 19 anos, mora no Rio de Janeiro e pegou duas das maiores ondas na remada que rolaram ao redor do mundo neste ano espetacular de ondas gigantes. Se considerar a enorme esquerda surfada por Calado em Puerto Escondido no super swell de maio do ano passado e essa bomba que ele surfou no mega swell em Jaws, você vai perceber que o número de surfistas na história a ter feito algo semelhante caberiam juntos em uma mesa de jantar. Mas, até agora, nenhum surfista colocou em seu ‘currículo’ duas ondas como essas enquanto ainda era um adolescente. Um feito pesado para um ano pesado”. Esse texto publicado pela WSL nas redes sociais retrata bem o impacto que as ondas de Pedro Calado causaram na comunidade do surf. A mídia em geral, tanto lá fora como aqui no Brasil, se rendeu ao brasileiro que está concorrendo em quatro premiações: Ride of The Year (60 mil dólares), Monster Paddle (25 mil dólares), Biggest Wave (20 mil dólares) e Wipe Out (3 mil dólares). Do Hawaii, Calado nos contou tudo sobre o dia do mega swell em Jaws, as indicações da sua onda no XXL Awards e como se sentiu com toda essa repercussão. ––––– por PATRICK VILLAÇA QUAL ERA O SEU EQUIPAMENTO NESSE SWELL? Uma 10’6” quadriquilha feita pelo Kazuma. Também estava com um colete da NOB feito para ondas grandes na remada e por cima um short john.
E COMO ESTAVA O CLIMA ANTES DE VOCÊ ENTRAR NA ÁGUA? O clima estava tenso. Na noite anterior, eu só consegui dormir uma hora e meia. O auge do swell foi às duas horas da tarde, mas antes fui agilizando pranchas e tudo mais. Na hora de descer e pular das pedras, eu estava meio nervoso e ansioso pra caramba, aí acabei pulando antes e quebrando uma quilha. Então, tive que voltar tudo de novo, subir o cliff, arrumar outra prancha, passar parafina... Enfim, fui entrar na água só ao meio-dia.
EXISTIA MUITA DISPUTA PARA PEGAR AS MAIORES ONDAS? Sempre tem um grupinho que se coloca lá fora para pegar a onda de norte, não é muita gente, no máximo umas seis ou sete pessoas, entre elas Greg Long, Shane Dorian, Mark Healey, Ian Walsh e mais alguns. Eu procuro não ficar no meio da galera, tento me posicionar mais afastado para a esquerda e ficar mais lá fora que eles. Ultimamente não tenho tido dificuldade para pegar as ondas.
COMO SE SENTIU COM TANTOS ATLETAS RENOMADOS DO BIG SURF NA ÁGUA? VOCÊ SE ESPELHA EM ALGUÉM? Eu estava tranquilo, prefiro esquecer a galera e ficar focado no meu trabalho, que é escolher a onda certa e focar na maior. Sempre me espelho no Shane Dorian e Mark Healey. Mas independente deles, eu sei me posicionar e se estivesse lá sozinho já saberia onde ficar.
POR QUE OPTOU PELAS ESQUERDAS? Veio uma série tão de oeste e sobrou a esquerda onde eu estava posicionado. Só tive o trabalho de virar a prancha e
remar com toda a minha força para entrar na onda. Também tive sorte de ser uma esquerda lisa, pois geralmente ela vem cheia de bump. Quando cheguei na base achando que iria dar para colocar na linha da onda, olhei para cima e vi que o lip já estava quase na minha cabeça, aí tive que botar reto.
COMO FOI A VISÃO DESSE LIP VINDO NA SUA CABEÇA? Foi rápido! Bateu uma adrenalina e pensei que o lip viria na minha cabeça, mas por sorte ele pegou na rabeta e quebrou a prancha. Tomei mais três na cabeça até o jet me pegar e me jogar de novo no canal. Eu queria ter outra prancha ali no canal, mas como uma já tinha quebrado, resolvi sair da água.
QUAL FOI A SENSAÇÃO DE PEGAR UMA DAS MAIORES JÁ SURFADAS NA REMADA E ENTRAR PRA HISTÓRIA DO SURF DE ONDAS GRANDES? Quando eu avistei a onda, já sabia que era uma grande. Nesses dias em que o mar fica grande, quando entra uma onda de oeste as esquerdas costumam ficar gigantes, normalmente ficam maiores que as direitas. Até o momento, desde a minha primeira vez em Jaws, aquela era a maior onda que eu estava remando na minha vida. Desci a onda tranquilo e quando cheguei na base vi que ela era gigante. Eu não tinha ideia do tamanho, só tive essa noção quando cheguei no canal e as pessoas vieram falar comigo, aí fiquei amarradão. Chegando no cliff, a galera estava batendo palmas para mim e essa parte foi irada! O Peterson Marchese chegou falando que foi uma das maiores da história, uma galera me mostrando as fotos... Só aí tive a noção da onda que peguei, foi a maior da minha vida até agora. Fiquei amarradão só de não ter acontecido nada. Foi um caldo violento, mas fiquei pouco tempo debaixo d’água e também feliz por ter saído vivo da caída.
CONTINUA...
45
Pedro Calado na base de uma onda, até então considerada impossível de surfar no braço.
COMO ESTÁ SENDO ESSA REPERCUSSÃO DA MÍDIA? Fiquei assustado com a proporção que tomou. Vi vários sites importantes falando sobre a minha onda, jornais no Brasil repostando ela, comentando e fazendo matéria comigo... Só que o mais importante foi os meus ídolos, como o Shane Dorian, Carlos Burle, Maya Gabeira, Pedro Scooby e Felipe Cesarano, comentando sobre aquela onda. Também fico muito feliz de com 19 anos poder dar esse retorno para meus patrocinadores, pois não esperava toda essa repercussão.
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E QUAL A SENSAÇÃO DE ESTAR CONCORRENDO NO XXL EM QUATRO CATEGORIAS? Já estava amarradão de estar concorrendo no XXL com aquela vaca no México. Mas na minha cabeça eu tinha que pegar uma onda boa e não vacar, chegar na base já estava ótimo. Não esperava que a minha onda fosse ser considerada uma das maiores já surfadas na remada e muito menos toda essa repercussão. Apenas com essa onda estou concorrendo em três categorias e mais uma com a vaca de Puerto Escondido.
JAWS Bidu
EXTREME
“ NÃO ESPERAVA QUE MINHA ONDA FOSSE SER CONSIDERADA UMA DAS MAIORES JÁ SURFADAS NA REMADA E MUITO MENOS TODA ESSA REPERCUSSÃO.”
JAWS É SUA ONDA PREFERIDA?
FEZ ALGUM CURSO DE APNEIA?
Sim, porque tem direitas, esquerdas e tubo. Mas também gosto muito de Puerto Escondido no México.
Já fiz uns cinco cursos de apneia porque ajuda muito para pegar os ensinamentos, as técnicas... Depois você mesmo pode por em prática umas duas vezes por semana. Eu fiz muito esses treinamentos no Rio e isso me deixou muito confortável para essa temporada havaiana.
QUAL A SUA PREPARAÇÃO? No Brasil, eu tenho um treinamento específico de natação voltado para o surf. Carrego peso debaixo d’água, dou uns tiros... Faço esse treino com o ‘Gordo’, Lucas Paes, Leandro Bastos, então é maneiro porque tem uma galera treinando junto e um tenta ser melhor do que o outro. Isso é muito bom, pois um puxa o limite do outro. Também pratico yôga porque me ajuda muito a relaxar dentro d’água no momento tenso, além do jiu-jitsu para melhorar meu condicionamento físico.
PARA FINALIZAR, VOCÊ IMAGINOU QUE COM 19 ANOS FOSSE VIVER ISSO? Pior que não. Sempre foi meu sonho pegar a maior onda na remada, mas nunca imaginei que fosse ser tão cedo.
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2 0 1 5
––––– por GABRIEL PASTORI
Pedro Tojal
Pelo segundo ano consecutivo, a bandeira brasileira dominou as areias de Pipeline; desta vez nas m達os de Adriano de Souza.
49
Pedro Tojal
Um beijo na taรงa que representa o esforรงo de uma vida inteira.
CONTRA TUDO E CONTRA TODOS,
MINEIRO VENCEU! PONTAPÉ INCIAL NA TRAJETÓRIA DO CAMPEÃO
ADRIANO DE SOUZA provou que determinação e perseverança levam à vitória. Moleque de origem e personalidade humildes, que nasceu nos “guetos” do Guarujá, desde pequeno ele já demonstrava uma predestinação para grandes feitos. Adriano teve uma carreira amadora recheada de vitórias, mas curta porque os resultados nas competições profissionais vieram cedo e, com 18 anos, garantiu sua vaga no WCT. Hoje com 29 de idade, pode se dizer que pelo menos 20 desses foram diretamente dedicados à carreira de competidor. Mineirinho é sempre o primeiro a chegar nos eventos e a entrar na água nos dias de treino. Mesmo com a chegada devastadora da geração “Brazilian Storm” no Circuito Mundial, ele em nenhum momento perdeu o foco ou deixou para trás sua meta. Depois de dez anos no Tour, onde sofreu muitas críticas, Mineiro superou todas as adversidades e a si mesmo para conquistar o grande objetivo de sua vida: ser campeão mundial.
O ano de 2015 já começou de maneira diferente para
faltando oito etapas para o final do circuito, já era possível
Adriano de Souza. Na Gold Coast, primeira parada do circuito,
apontar Mineiro como candidato ao título.
a terceira colocação não surpreendeu tanto assim porque o
histórico dele naquela etapa já era muito bom. No entanto, os
frente do segundo colocado e uma expectativa grande para
sinais de que esse ano seria diferente vieram nos outros dois
o resto do ano. Isso sem contar que a próxima etapa era a
eventos da perna australiana. Em Bells Beach, Mineiro quase
do Brasil, uma boa chance dele se distanciar ainda mais
repetiu o feito de 2013 e só não venceu a final contra Fanning
dos adversários. Mas não foi isso que aconteceu. Mineiro
por detalhes, depois de uma bateria que terminou empatada.
perdeu de maneira precoce em casa e teve uma sequência de
Naquele momento não era apenas a briga pelo título mundial
resultados medianos que fizeram com que seus oponentes
que estava sendo desenhada, também era mais um capítulo
encostassem no ranking. As coisas só melhoram mesmo em
da rivalidade Brasil x Austrália. Disputa essa que começou há
Trestles, oitava etapa do Circuito Mundial, quando ele chegou
poucos anos, mas que veio à tona com a tomada da hegemonia
mais uma vez na final contra Mick Fanning, sua principal
dos “aussies” no ano passado com o título de Medina. Estava
ameaça durante todo ano. Depois de mais uma bateria
na cara que eles estavam “engasgados” e naquela ocasião os
apertada, Fanning venceu novamente, apimentando ainda
resultados já indicavam que a briga pelo título ficaria entre os
mais a briga pelo título. Logo na sequência, Adriano fez um
dois países novamente.
terceiro lugar na etapa da França e, em seguida, teve mais
As duas primeiras etapas já colocavam Mineiro como líder
alguns resultados medianos que o fizeram ir para o Hawaii
do ranking, mas foi a terceira parada do Circuito Mundial, em
como terceiro colocado no ranking dentro de uma briga
Margaret River, que definiu de vez a arrancada para o título
muito acirrada.
de Adriano. Em condições pesadas, o paulista novamente
contrariou a mídia estrangeira e provou não ser mais aquele
última etapa, porém diante de alguns tropeços em etapas
surfista de 10 anos atrás, quando era o “rookie” especialista
anteriores o título estava em aberto. Todo o árduo trabalho
em marolas. Tanto nos tubos quadrados de The Box, quanto
daquele ano inteiro poderia não dar em nada. No Hawaii,
nas pesadas ondas de Margaret, o guarujaense surfou muito
seis surfistas disputariam o caneco, três brasileiros e três
bem. Na final, ele venceu a estrela John John Florence com
australianos, e naquela altura estava muito difícil apontar
muita técnica e inteligência. Naquele momento, mesmo ainda
um favorito.
O líder do ranking saiu da Austrália com muitos pontos à
Mineiro teve chances de chegar com a mão na taça na
51
A TRAJETÓRIA CALIFÓRNIA 2º LUGAR HURLEY PRO AT TRESTLES
8 PIPELINE 1º LUGAR
RIO DE JANEIRO 13ºLUGAR OI RIO PRO
11
BILLABONG PIPE MASTERS
4 TAHITI 13º LUGAR BILLABONG PRO TAHITI
52
7
PORTUGAL 13º LUGAR MOCHE RIP CURL PRO PORTUGAL
FRANÇA
9
3º LUGAR QUILSILVER PRO FRANCE
10
AUSTRÁLIA 2º LUGAR RIP CURL PRO BELLS BEACH
ÁFRICA DO SUL 5º LUGAR J-BAY OPEN
6
AUSTRÁLIA 1º LUGAR DRUG AWARE MARGARET RIVER
1 3
FIJI
5
13º LUGAR FIJI PRO
2 AUSTRÁLIA 3º LUGAR QUIKSILVER PRO GOLD COAST
53
Pedro Tojal
Pedro Tojal
O PIPEMASTERS É NOSSO! O foco de Adriano é um trunfo na hora das baterias.
NERVOS À FLOR DA PELE
Diante de tantas adversidades, Mick Fanning precisou de muita concentração para disputar as baterias.
A torcida brasileira estava confiante pelo fato de ter pela
primeira vez três representantes com chances reais de título, mas ao mesmo tempo temendo a possibilidade de Fanning estragar todos os feitos dos “brazucas” durante o ano.
Slater deu um longo e emocionado abraço na mãe de Mick logo após a notícia da morte de seu filho mais velho.
Além de Adriano, tínhamos Filipe Toledo com três vitórias espetaculares em 2015. O terceiro era Medina que, com uma arrancada de campeão no segundo semestre, estava em mais uma disputa pelo título. E para completar a briga estavam mais dois “aussies”, Owen e Julian, que dependiam de combinações de resultados para levar a taça para casa.
O Pipe Masters começou e tudo parecia caminhar na
direção do australiano tricampeão mundial. A derrota questionável de Filipinho no Round 3 tirou o brasileiro Pedro Tojal
com mais chances matemáticas ao título. Nessa mesma fase, Jamie O’Brien fez possivelmente a pior apresentação de sua vida em Pipe contra Mick. Além disso, outros fatores fora d’água também faziam acreditar que aquilo tudo estava “desenhado” para o australiano ganhar. A história do tubarão em JBay ainda rendia no Hawaii e Pedro Tojal
parecia uma bonita história para o mundo ver o cara que “quase morreu” naquele ano levantando a taça. Outro fato que marcou o último dia da disputa pelo título foi a morte na noite anterior do irmão mais velho de Fanning. A tragédia sensibilizou a todos, inclusive Kelly Slater que, antes de entrar na água contra o aussie nas quartas
O momento de reflexão que Gabriel Medina repete todas às vezes antes das baterias.
de final, fez questão de abraçar a mãe de Mick que estava na areia e saiu visivelmente emocionado para a bateria. Coincidentemente ou não, Slater surfou abaixo da média e deixou o caminho livre para o amigo. Nessa hora, a torcida brasileira via o título ficar cada vez mais difícil.
o título inédito da Tríplice Coroa Havaiana.
Medina no aéreo mais importante de 2015 que definiu a Tríplice Coroa Havaiana e o título mundial.
Sebastian Rojas
Pipeline estava visivelmente dividida no dia das finais. A torcida verde-amarela era grande e barulhenta, mas era fácil perceber que todas as outras nacionalidades que estavam presentes torciam quase que em sua totalidade para a Austrália. Inclusive os havaianos, que se empolgaram ainda mais quando Mason Ho avançou para semi contra Adriano e teria a chance de estragar de vez a nossa festa. Era literalmente Brasil X Mundo. Os gringos entraram na pilha e tentavam a cada onda de Mick, ou de qualquer outro adversário dos brasileiros, fazer mais barulho, assim a areia parecia um estádio de futebol em jogo de rivais. Um pouco à esquerda do palanque, as barracas onde ficavam os amigos e a família de Fanning estavam a poucos metros de onde se concentrava boa parte da torcida brazuca. Foi assim durante todos os dias de campeonato. As duas torcidas chegavam ainda de noite na praia para garantir seu espaço e poder incentivar seus atletas. Quando as semifinais entraram na água, a situação estava tensa e as esperanças brazucas cada vez menores. Mick Fanning liderava a bateria contra Gabriel Medina e Mineiro ainda ia pegar na sequência o havaiano Mason Ho, especialista em Pipeline. Até que o polêmico aéreo mudou toda a energia da praia e toda aquela história. Depois de tudo parecer estar conspirando a favor do Fanning (inclusive as notas), os juízes deram os pontos que Medina precisava para tirar Mick da briga. Com um aéreo onde normalmente só saem notas para os tubos, Gabriel conseguiu a virada. Aquela decisão surpreendeu até os brasileiros, que vibraram muito na areia e na internet. Coincidência ou não, o aéreo “estratosférico” de Medina que tirou Fanning da conquista do título mundial é uma manobra que o australiano não costuma dar nas baterias, arma letal que os brasileiros têm a seu favor e que vem levando o surf competição a outros patamares. Depois de bater Fanning, Gabriel abriu o caminho para Mineiro e ainda garantiu
Torcida brasileira esperando o novo campeão mundial sair da água.
Sebastian Rojas
TORCIDA DIVIDIDA
Pedro Tojal
Pedro Tojal
A rivalidade Brasil x Austrália cresceu em 2015.
Pelo segundo ano consecutivo, o ídolo australiano Mick Fanning ficou na vice-colocação do ranking mundial atrás de um brasileiro.
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Fotos: Pedro Tojal
Sebastian Rojas Henrique Pinguim/ Liquid Eye
Muitos falaram que Mineiro não venceria nos tubos de Pipeline. Ele escutou quieto e na água provou o seu valor.
TUDO DOMINADO
O novo rei de Pipeline.
Bidu
De Gabriel Medina para Adriano de Souza, Brasil bicampeão mundial de surf (2014-2015).
Para completar o domínio verde e amarelo, outro fato histórico marcou aquele dia: a primeira final entre dois brasileiros em Pipeline. Mineiro venceu a outra semifinal contra havaiano Mason Ho, que tinha toda torcida local a seu favor. Adriano saiu daquela bateria carregado por Jamie O’Brien e toda torcida brasileira. Os australianos foram embora da praia e os havaianos observaram quietos por mais um ano consecutivo a praia lotada de bandeiras verde-amarelas que dominavam as areias de Pipe. Um detalhe interessante foi ver parte da equipe do patrocinador principal de Mick descer para a praia com uma capa de prancha que, supostamente, estaria com as camisas comemorativas do possível título antes dele entrar na semifinal. Mas, infelizmente para eles, essas camisas não terão mais utilidade. Na final, Mineiro estava sem aquele peso que carregou durante todas as baterias até então, surfou tranquilo e achou as melhores ondas. Medina queria muito a vitória, pois já
Mineiro, o primeiro brasileiro campeão do Pipe Masters.
Pipeline quebrou clássico no penúltimo dia de competição.
Sebastian Rojas
era o segundo ano consecutivo que ele estava na final do Pipe Masters. As condições estavam difíceis e Gabriel até tentou arriscar um backflip para virar, mas o dia era mesmo de Adriano. O guarujaense, que veio de família humilde, chegava ao topo do mundo da melhor maneira possível. Além de quebrar de vez o tabu dos que ainda insistiam em dizer que ele nunca se destacaria em ondas pesadas, Adriano de Souza conquistou o título mundial vencendo o tão prestigiado Pipe Masters. Mineirinho, muito emocionado, dedicou o título a Ricardo dos Santos e relembrou seu passado agradecendo ao irmão mais velho que comprou sua primeira prancha por trinta reais. Adriano não venceu apenas a discriminação dentro do Circuito Mundial, mas também as adversidades da vida para conquistar tudo que tem até hoje. E mesmo que Mineiro tenha falado que todo mundo que está no circuito merece o título, nós continuaremos dizendo que ele merecia isso mais do que qualquer pessoa.
Sebastian Rojas
Sebastian Rojas
Tudo nosso no Hawaii! Mineiro e Medina com os troféus do título mundial, do Pipe Masters e da Tríplice Coroa Havaiana ao lado de Bruce e Axel Irons, irmão e filho do ídolo local Andy.
59
Sebastian Rojas
NA CASA DO JAMIE O’BRIEN E A MÍDIA Jamie O’Brien na plateia atento à competição no seu quintal de casa: as ondas de Pipeline.
Um fato interessante que chamou a atenção de todos
foi Adriano de Souza ter se hospedado na casa de Jamie
Masurel/ WSL
O’Brien. Quem frequenta o Hawaii, sabe que são poucos os casos em que os locais abrem as portas de suas casas para hospedar estrangeiros, principalmente quando são brasileiros. No caso de Jamie, essa não foi a primeira vez que o proprietário da casa mais bem posicionada do
Que moral! Mineiro foi carregado nos ombros pelo maior local de Pipeline, Jamie O’Brien, tanto na hora do título mundial quanto na vitória do Pipe Masters.
North Shore abriu as portas para um brasileiro. Além de Mineiro, que já ficou lá outras vezes, Bernardo Pigmeu teve o privilégio de desfrutar de várias temporadas dormindo na casa do JOB. Isso devido a uma amizade que aconteceu quando ainda eram jovens e se cruzavam nas competições ao redor do mundo. No entanto, no caso de Adriano, muita
“Parabéns para o meu bom amigo Adriano de Souza por ganhar o título mundial de 2015 e o Pipe Masters”, disse JOB.
Masurel/ WSL
gente ficou surpresa com o fato do maior local de Pipeline receber o brasileiro na briga pelo título mundial no quintal de sua casa. O’Brien não cedeu apenas um espaço para Adriano em sua casa, mas também o apoiou e fez questão de ser o primeiro cara a levantar o brasileiro nas costas ao sair da água como novo campeão mundial. Com certeza, agora Mineirinho vai ser visto pelos locais com outros olhos quando passar em frente a casa da Volcom ou quando remar para uma onda em Pipeline. Respeito é uma palavra sagrada no Hawaii e isso Mineiro conquistou dentro d’água no surf.
Pedro Tojal
No final todas as câmeras tiveram que ser apontadas para Adriano de Souza, o novo campeão mundial.
A MÍDIA
O segundo brasileiro campeão mundial de surf não teve
rapidamente a marca de um milhão de seguidores no Ins-
tanto espaço na mídia. No primeiro momento pós-título
tagram, fechou novos patrocínios e começou a estrelar em
de Adriano, alguns fatos relacionados à mídia chamaram
publicidades de diversas empresas gigantes nas mídias de
a atenção. É natural em qualquer modalidade que alguns
todo Brasil. De fato, ele se transformou numa personalidade
atletas que necessariamente não estão entre os primei-
conhecida em todos os cantos do país. Isso não foi positi-
ros do ranking tenham mais destaque na mídia do que
vo apenas para ele, mas principalmente para o esporte, que
outros tops. Isso acontece por vários motivos que podem
passou a ser visto e de outra maneira pelo grande público.
ser comerciais, quando os patrocinadores do atleta são
anunciantes fortes; ou pelo apelo que o atleta tem com
tretanto, com muito menos espaço. Teve alguns segundos
o público, independente dos resultados. É aquela velha
de evidência no Jornal Nacional no dia do título e saiu em
história que aquele surfista “vende mais” do que o outro.
algumas capas de jornais no país. Seu Instagram aumentou
No entanto, em certos casos, algumas discrepâncias cha-
cerca de 100 mil seguidores e suas aparições logo após o tí-
mam a atenção de quem acompanha de perto a mídia.
tulo foram muito menores em números se comparadas as
Se compararmos o destaque que o Gabriel Medina
de Gabriel no ano anterior. Para completar, Kelly Slater lan-
teve no ano passado pós-título com o de Adriano de Sou-
çou (propositalmente ou não) no dia seguinte ao título sua
za, podemos perceber facilmente que o primeiro teve uma
fantástica piscina de ondas, que foi capa de todos os sites e
exposição extremamente maior do que o segundo. Isso
redes sociais na mídia nacional e internacional especializa-
aconteceu não apenas na mídia internacional, mas prin-
da. No entanto, em janeiro, Adriano esteve em vários pro-
cipalmente dentro do Brasil nos veículos de massa. Ainda
gramas de televisão e foi bastante assediado pela imprensa.
está fresco na memória a explosão na mídia que o Medina
teve após o título inédito. Nós, que não estávamos acos-
dois títulos ficou clara. Mas é fácil perceber que isso não faz
tumados a ver o surf na televisão aberta, cansamos de ver
tanta diferença para Mineiro. Quem o acompanha de perto,
Gabriel no Jornal Nacional, Globo Esporte, Faustão, Cal-
sabe que ele sempre esteve muito mais preocupado em ser
deirão do Huck e por aí vai... Isso sem contar com as apa-
campeão do que ter seguidores ou aparecer na mídia. Se você
rições em todos os outros canais e veículos de comunica-
o perguntasse se ele prefere ter dez milhões de seguidores ou
ção importantes no nosso país. Na época, Medina atingiu
ser campeão mundial de surf, todos já saberiam a resposta.
Do outro lado, Mineiro teve seu feito reconhecido, en-
No final das contas, a diferença de repercussão entre os
61
ENFIM, VENCEMOS A TRÍPLICE COROA!
Quem acompanha os resultados do Gabriel Medina de perto, já sabia que garoto tinha total capacidade de trazer o título mais cobiçado do Hawaii para casa. Se parássemos para pensar nos resultados de anos anteriores, poderíamos perceber que era apenas uma questão de tempo para ele conquistar mais essa façanha. Em 2012, Gabriel ficou em segundo em Sunset numa final polêmica contra Adam Melling e, em 2014, também estava na finalíssima do Pipe Masters contra Julian Wilson. Faltava apenas uma questão de foco na Tríplice Coroa, pois surf naquelas condições ele já havia provado que tinha. Quem viu Medina chegar no primeiro evento Prime do Hawaii, sentiu que ele estava diferente. Mesmo estando na briga pelo título mundial, dava para perceber que ele estava focado no prêmio mais cobiçado do arquipélago. Há quem diga que os próprios havaianos dão mais valor a um troféu da Tríplice Coroa do que ao título de campeão mundial. Discussões à parte, já estava na hora desse troféu vir para o Brasil e não tinha ninguém mais preparado que o Gabriel para fazer isso.
62
Em Haleiwa, a postura que Medina entrava em cada bateria deixava claro o foco na busca de um bom resultado. Ele competiu muito bem todas as baterias e abusou das manobras radicais diante das condições pequenas em comparação com os anos anteriores. Foi parado na semifinal numa bateria onde não encontrou muitas ondas, mas uma parte do seu objetivo estava feito. Um bom quinto lugar no primeiro dos três desafios já o colocava bem na disputa. A próxima parada foi numa das ondas mais desafiadoras do circuito. Segundo os próprios surfistas, Sunset é a mais difícil de surfar entre todas as outras do Tour. O fato de ser uma onda grande e balançada exige que os surfistas usem equipamento e abordagem diferentes. Os juízes, por sua vez, acabam tendo que usar outros critérios que são distintos da maioria das outras ondas; a qualidade das curvas e até os drops são mais valorizados nessa etapa. Medina poderia abrir mão desse campeonato para se preparar melhor para a última etapa que definiria o titulo mundial, como fez Filipinho, por exemplo, mas dava para ver que ele estava focado na missão de trazer o caneco inédito para o Brasil.
Marcio Canavarro
que veio da melhor forma possível. Na semifinal, Medina enfrentou Fanning e teve a oportunidade de numa mesma bateria garantir o título mais importante do Hawaii e, de quebra, ainda ajudar seu conterrâneo Adriano de Souza na caminhada para o título mundial. Nessa altura, o mar já não estava grande em Pipeline e as condições bem difíceis. Gabriel começou mal a bateria e Fanning tinha a nota mais alta. Quando tudo parecia estar perdido para nós brasileiros, a estrela de Medina brilhou forte mais uma vez. Da maneira mais inesperada, numa onda que a praia inteira não via potencial, ele mandou um aéreo “estratosférico” e depois de longos minutos de espera os juízes soltaram a virada! Nessa hora, Mineiro colocou a primeira mão na taça
Pedro Tojal
e a inédita Tríplice Coroa já era nossa!
Medina já é considerado um dos melhores tube riders do mundo em Pipeline.
É natural que quem surfa de backside em Sunset tenha mais dificuldade, pois a onda normalmente dificulta o surf vertical e proporciona curvas mais longas. Fora isso, o tubo que muitas vezes termina na parte superior da onda é mais um obstáculo para quem surfa de costas. Tudo isso é verdade, mas Gabriel provou que com ele essas “regras” não funcionam. O moleque consegue colocar manobras verticais como se estivesse surfando um mar de meio metro, pega tubos longos de backside e nessa etapa até floater despencando lá do “segundo andar” ele mandou. Assim, Medina garantiu outra semifinal que lhe colocava de vez na briga pela coroa havaiana. Na última parada do Dream Tour em Pipeline, o paulista tinha dois troféus em jogo: o de campeão mundial e o da Tríplice Coroa. Mick Fanning, seu parceiro de equipe, estava na cola pelos dois canecos. O título mundial estava mais distante de Gabriel que não dependia apenas de seu resultado. E quando Mineiro e Fanning avançaram para o Round 4, ele já estava fora da briga. Restou para o menino de Maresias brigar pela tão sonhada Tríplice Coroa,
Gabriel com o troféu mais prestigiado do Hawaii, mais uma conquista inédita dele para o Brasil.
63
AUS
BRA M I C K FA N N I N G
GABRIEL MEDINA
“Sim, @adrianodesouza! Eu estou muito orgulhoso de você, parceiro! Não importa de onde você vem... Trabalho duro e coração prevalecem. Muito obrigado por sua amizade. Te amo, irmão.”
“Obrigado senhor, que dia foi ontem! Que honra fazer parte disso tudo! Muito feliz de ver esse cara realizando seu sonho. Se dedicou muito para conseguir esse troféu, ele merece! Parabéns mini @adrianodesouza e obrigado pelo jantar ontem, até que enfim fez um hahahahahaha.”
Henrique Pinguim/ Liquid Eye
REDES SOCIAIS
EUA
BRA
AUS
K E L LY S L AT E R
J E A N D A S I LVA
OWEN WRIGHT
“Não existe substituto para trabalho duro e desejo. Talento nato sozinho já provou diversas vezes que faz excelentes homens não serem bons. Há apenas um caminho para vencer o título mundial em cada ano, e esse cara desvendou o enigma antes do resto de nós desta vez. Não há ninguém mais apaixonado ou aplicado ou disposto a viajar quilômetros extras e semanas a mais na estrada para a vitória. Parabéns por alcançar um objetivo de vida hoje, meu amigo.”
“Esse sorriso no rosto de vencedor vem desde seu primeiro contato com as competições. Sua determinação, foco, profissionalismo e muita vontade de vencer sempre foram um exemplo que contagiou não só os brasileiros, mas o mundo inteiro! Admirável sua trajetória! Parabéns @adrianodesouza, CAMPEÃO MUNDIAL! Torcemos muito cada segundo!”
“Bom trabalho companheiro... Você tem trabalhado tão duro e tem uma história incrível. O sentimento que você deve estar sentindo por alcançar seu objetivo deve ser incrível... Aproveite este dia e o que está por vir!”
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BRA
HAW
BRA
FILIPE TOLEDO
SHANE DORIAN
CAIO IBELLI
“E mais uma vez o Brasil faz história. Mas dessa vez veio com um gostinho diferente. Depois de dez anos na luta, na batalha por esse título mundial, você conseguiu @adrianodesouza, e conseguiu da melhor forma possível um dos títulos que mais foi falado na história do surf! #quefase. Obrigado por ser um exemplo de profissional e de pessoa! Todos nós sabemos o quanto foi difícil e o quanto você treinou, batalhou e se dedicou para que isso viesse a acontecer na sua vida! Muito feliz por você, muito mesmo! E muito feliz pelo nosso time, a ‘tempestade brasileira’, que esse ano foi IMPECÁVEL. Parabéns mais uma vez, você é merecedor desse sonho! ‘Tamo’ junto! Aproveita esse momento único que é só seu! Noixxx galo!”
“Amarradão por ver o trabalho duro, perseverança e muito coração valer a pena para @adrianodesouza. Adriano pode não ser o vencedor mais popular, mas ele é realmente um competidor absurdo e é um campeão. Parabéns @adrianodesouza. Muito merecido. Isso não é de onde você veio, isso é de onde você é.”
“Campeão! Muito feliz e orgulhoso de você! O que todo mundo esqueceu é que você foi o cara que abriu muitas portas para nós e mostrou que o sonho de ser um campeão mundial brasileiro era possível. Hoje foi o dia que todo seu treino e suor foram valorizados.”
D
AUS SURFING LIFE MAGAZINE
“Dez anos atrás, um brasileiro de 18 anos de idade mudou o esporte do surf para sempre. Hoje, ele ganhou seu primeiro título mundial. Parabéns Adriano de Souza. Nós não poderíamos estar mais felizes por você.”
EUA
urante 10 anos no WCT, o mundo do surf assistiu Adriano de Souza lutar a cada dia pelo objetivo de ser campeão mundial. O caminho não foi fácil. Mineirinho enfrentou inúmeras críticas ao longo de sua carreira na elite do surf mundial. Sempre focado no seu sonho, Adriano foi de etapa a etapa calando a boca de cada crítico e evoluindo cada vez mais o seu surf. Até que em 17 de dezembro do ano passado, a meta foi alcançada e chegou o dia no qual todos se renderam a Mineiro. Nas redes sociais, brasileiros comemoravam o título, enquanto os surfistas e a mídia gringa se viam “obrigados” a admirar o melhor surfista do mundo em 2015.
AUS
EUA SURFING MAGAZINE
“Para @adrianodesouza hoje foi o resultado de uma vida de trabalho duro e dedicação. Nunca houve um campeão do mundo mais merecedor. Parabéns ADS!”
POR
SURFER MAGAZINE
ADRIAN BUCHAN
R E V I S TA S U R F P O R T U G A L
“Para @adrianodesouza, hoje foi a consequência de uma vida de trabalho duro e de nunca desistir de um sonho. Hoje era o seu dia. Em um ano que exigiu versatilidade, @adrianodesouza esteve à altura do momento e cumpriu o seu objetivo de vida. Parabéns para o campeão mundial de 2015!”
“@adrianodesouza, parabéns meu irmão, você merece! Nos classificamos juntos há 10 anos e desde então sua dedicação para esse momento tem sido inspiradora. Para todos os ‘haters’: saiam dos seus telefones e teclados. Esse é um retrato da fé, trabalho duro e dedicação. Sonhos tornam-se realidade.”
“Se a paixão tem um papel fundamental no esporte, o surf nunca teve um título tão merecido. @adrianodesouza é o rei da paixão.”
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BICAMPEÃO MUNDIAL
Do Brasil para o Brasil. Gabriel Medina entrega a taça para o novo campeão mundial Adriano de Souza.
Kirstin/ WSL
HEGEMONIA BRASILEIRA Em 2014, o Brasil alcançou pela primeira vez na história o topo do surf mundial com Gabriel Medina. Portanto, 2015 era um ano de afirmação. Seria sonho demais a conquista de um bicampeonato? Não! O troféu de campeão do mundo foi passado das mãos do garoto prodígio para as mãos do “capitão” da tempestade brasileira. Adriano de Souza colocou novamente a bandeira verde-amarela na parte mais alta do ranking da WSL.
PIPE MASTERS
Mineiro dominou com maestria as ondas de Pipeline e Backdoor.
Em 2014, o Pipe Masters bateu na trave com o vicecampeonato de Medina. Mas em 2015, Mineirinho não deixou escapar. Após conquistar o título mundial, Adriano, com sede de vitórias, reinou absoluto nas ondas de Pipeline. Sempre muito criticado por seus resultados calou a boca de todos e se tornou o primeiro brasileiro a levantar o troféu mais cobiçado das etapas do WCT.
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Masurel/ WSL
ruins nesse evento, Mineiro
Igor Hossmann
Italo Ferreira conquistou o público brasileiro com seus aéreos no Oi Rio Pro.
ROOKIE OF THE YEAR No início de 2015, Alejo Muniz falou em entrevista para a Surfar que Italo Ferreira ia surpreender muita gente no WCT. Não deu outra. Logo na primeira etapa, ele eliminou Kelly Slater, um feito que se repetiu em Fiji. Seguindo o ano, o potiguar se sobressaiu em todas as condições de mar, dos aéreos aos tubos, e terminou na 7ª posição do ranking, a qual lhe rendeu o
Após garantir o acesso para a elite do surf, Caio Ibelli fez bonito como wildcard na etapa do WCT em Portugal.
Poullenout/ WSL
prêmio de estreante do ano.
QS Na temporada do QS de 2015, o Brasil manteve o domínio do ano anterior. Foram doze etapas conquistadas, sendo quatro delas no nível QS10000, e cinco brasileiros ficaram entre os oito primeiros colocados do ranking. Além disso, Caio Ibelli manteve a nossa bandeira na primeira colocação e se tornou o campeão mundial da divisão de acesso, título conquistado por Filipe Toledo em 2014.
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WCT Em 2015, o Brasil foi a maior potência da elite do surf
FINAIS DO WCT 2015 JULIAN WILSON
Quiksilver Pro Gol d Coast
MICK FA N N I N G
ADRIANO DE SOUZA
Rip Cu r l Pro Bel l s Beach
ADRIANO DE SOUZA
JOHN JOHN FLORENCE
Drug Awa re Margaret River P ro
FILIPE TOLEDO
BEDE DURBIDGE
Oi Rio Pro
OWEN WRIGHT
JULIAN WILSON
Fiji Pro
MICK FA N N I N G
JULIAN WILSON
J-Bay Open
JEREMY FLORES
GABRIEL MEDINA
Billabon g Pro Tahiti
MICK FA N N I N G
ADRIANO DE SOUZA
Hurley Pro at Trest l es
GABRIEL MEDINA
BEDE DURBIDGE
Quiksilve r P ro France
FILIPE TOLEDO
I TA L O FERREIRA
Moche Rip Cur l Pro
GABRIEL MEDINA
Billabon g Pipe Masters
FILIPE TOLEDO
mundial. Ao longo das 11 paradas do Tour no ano, a equipe brasileira conquistou seis títulos. Gabriel Medina venceu na França, Adriano de Souza em Margaret River e Pipeline e Filipe Toledo levantou os troféus na Gold Coast, Rio de Janeiro e Portugal, se tornando assim o maior vencedor de etapas do WCT 2015. Além disso, os brasileiros disputaram nove finais dos 11 eventos, sendo que nas duas últimas, em Portugal e Pipeline, deu Brasil x Brasil. No ranking final, três representantes do nosso país terminaram entre os quatro primeiros colocados e, para completar, o estreante do ano Italo Ferreira também entrou no Top 10. Indo além dos números, vimos performances históricas como o aéreo de Gabriel Medina na etapa da França e os desempenhos de Filipe Toledo na Gold Coast e no Oi Rio Pro. Agora, em 2016, o WCT vem ainda mais verde-amarelo. Ao todo serão 10 representantes brasileiros dentre os 34 surfistas da elite. Caio Ibelli, Alex Ribeiro e Alejo Muniz se unem a Adriano de Souza, Gabriel Medina, Filipe Toledo, Italo Ferreira, Wiggolly Dantas, Miguel Pupo e Jadson André na luta por mais um título mundial para o Brasil.
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ADRIANO DE SOUZA
TRÍPLICE COROA
Gabriel Medina mais uma vez mostrou a força do seu surf base-lip em Sunset.
Gabriel Medina não passa
Kirstin/ WSL
um ano sem realizar um grande feito. O brasileiro foi para o Hawaii falando em ser o primeiro brasileiro campeão da Tríplice Coroa Havaiana, título que ele quase conseguiu em 2014. Dito e feito! Medina levantou o principal troféu do Hawaii e isso, junto à vitória de Adriano no Pipe Masters, com certeza aumentou muito o respeito do Brasil entre os havaianos.
O título mundial do Pro Junior aumenta a confiança de Lucas Silveira para buscar bons resultados no QS em 2016.
PRO JUNIOR Para fechar a temporada 2015, Lucas Silveira conquistou mais um mundial para o Brasil. O título Pro Junior era o único que faltava para os brasileiros consolidarem o domínio absoluto na temporada 2015 da WSL. Além disso, Lucas aumentou para sete o recorde de conquistas do país na categoria contra quatro
Poullenot/ WSL
da segunda colocada, a Austrália, comprovando que a tempestade brasileira na elite não é por acaso.
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ENTREVISTA
O melhor surfista do mundo em 2015, Adriano de Souza, ‘Mineirinho’.
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Os havaianos, americanos e australianos achavam que nós tínhamos jeito apenas para beach break. Só que os resultados vêm provando o contrário.
2 0 1 5
Após a conquista do tão sonhado título de campeão mundial de surf na famosa bancada de Pipeline, Adriano de Souza concedeu uma entrevista sobre como foi Henrique Pinguim/ Liquid Eye
a sua trajetória até chegar ao posto de número 1 do mundo. Mineiro ainda falou a respeito de suas expectativas para o ano de 2016, união dos atletas brasileiros, a nova geração do surf brasileiro, entre outros assuntos.
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Desde os meus oito anos, esse era o meu sonho. E você realizar naqueles últimos 30 segundos finais de bateria... Quando o troféu de campeão do mundo estava chegando na minha mão, pensei: “Meu Deus, chegou!” E isso se realizar numa grande final em Pipeline com dois brasileiros, eu senti que estava fazendo história. É por isso que também dediquei muito essa vitória para o Ricardinho, pois o sonho da vida dele era ser campeão do Pipe Master. Toda vez que eu treinava cedo em Pipe, o cara já estava lá e era quem ficava mais tempo que todo mundo na temporada. Quando eu saí da água e soube que era campeão, falei: “Não poderia deixar de lembrar um cara que tanto correu atrás por esse troféu, por isso eu dediquei a ele!
Henrique Pinguim/ Liquid Eye
A CONQUISTA DO TÍTULO MUNDIAL
FAZENDO HISTÓRIA É uma honra poder fazer história no surf. O campeonato de Pipe tem 45 anos e quanta gente levou só a camisa e não conseguiu levar o troféu para casa. Eu tenho um grande respeito por todo mundo que já se dedicou bastante nessas ondas e, dessa vez, fui o primeiro, mas espero que tenha muito mais brasileiros. Com isso, nosso esporte ganha e o público vai incentivar ainda mais os atletas no futuro. O que esperar de mim? O amanhã pertence a Deus, então, o que eu penso é seguir em frente, tentar fazer o máximo que faço no dia atual. Se você fizer um bom presente, o futuro com certeza vai ser melhor ainda.
EQUIPAMENTO EM PIPELINE Na primeira fase, eu usei uma 6’6” e perdi, não fui muito bem com o número. Ai passei para uma 6’7, foi um dia grande. No segundo round, competi com uma 6’1” porque o mar estava um pouco menor e no último dia de prova eu estava competindo com uma 6’0”.
RESPEITO INTERNACIONAL Nos últimos cinco, seis anos, os brasileiros foram muito bem, mas os havaianos, americanos e australianos achavam que nós tínhamos jeito apenas para beach break. Só que os resultados vêm provando o contrário. Acho que o Medina foi fundamental para isso. Ser o mais jovem campeão do mundo e se igualar ao Kelly Slater foi uma arma nossa que deixou os gringos e toda a comunidade do surf com um pé atrás dizendo: “Esse cara vai incomodar por muitos e muitos anos. O Adriano é um cara experiente que está há 10 anos na elite e agora surgiu um novo que é o Filipe.” O respeito está se ganhando gradualmente com o passar do tempo e, com certeza, ainda tem muito a se provar. Espero que essa nova geração possa preencher muitas lacunas que estão em branco e que eu possa fazer o meu melhor.
RECONHECIMENTO É difícil expressar minhas qualidades e muito mais fácil falar das minhas dificuldades. Mas fiquei feliz de ouvir um comentário do Slater, meu maior ídolo no surf mundial, sobre eu ser um atleta muito dedicado. Ter esse reconhecimento também é bom, porque só lutar, lutar e não ser reconhecido é uma frustração. Sobre as minhas qualidades, eu tento sempre melhorar elas da melhor forma possível e encarar meu medo e minha angústia, que são minhas dificuldades. Encarar de frente, sempre crescer e aprender.
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A taça mais cobiçada por todos os surfistas do planeta.
UNIÃO BRASILEIRA A molecada já vem com essa união. Gabriel, Miguel, Jadson, Alejo e Wiggolly, que têm praticamente a mesma idade, competiam juntos desde a fase amadora e estão seguindo até o circuito mundial. Eles são muito amigos e não se desligaram. Não foi o meu caso. Me desliguei de todo mundo porque só eu fiquei no WCT e o restante ficou no QS. Seria difícil continuar uma aliança com essa molecada, pois eu estava sozinho no circuito, então é uma honra ver esse espírito e essa união entre eles. Mesmo ganhando ou perdendo, todo mundo está torcendo, vibrando... Eu era “sozinho”, vim receber essa molecada e aí foi um privilégio.
EVOLUÇÃO DO SURF BRASILEIRO Tudo que a gente está vivendo atualmente é uma consequência do passado. Peterson, Neco e toda essa geração que passou foram fundamentais para construir um caminho. Na época que entrei no circuito, eu tinha muito dessa influência de “vamos construir aos poucos”. Mas quando o Gabriel entrou e logo no segundo campeonato já venceu, ele mudou todo esse percurso e direcionou toda essa nova geração para outro caminho. Então, cada um tem uma pequena porcentagem do que está acontecendo nos dias atuais. Estou muito feliz de fazer parte de tudo isso!
PLANOS PARA 2016 Quero chegar um mês antes da primeira etapa na Austrália e começar meus treinamentos. Vou conseguir levar meu preparador físico, meu preparador de surf... Vou canalizar muito forte nessas três primeiras etapas na Austrália. Uma vai ser mais forte do que a outra e é por isso que eu vou ter essa ajuda extra em volta de mim pra canalizar um resultado este ano.
TEMPORADA 2016 Encaro que esta temporada vai ser de caça aos brasileiros. Com certeza, vamos nos sentir mais pressionados que os gringos porque a responsabilidade está em nossas mãos, principalmente do Filipe, que vai chegar na Gold Coast como defensor do título. Ele vai sentir essa pressão pelo título logo na primeira etapa do ano. Tem que se dedicar bastante, abdicar de outras coisas para conquistar, aí você conquista.
Henrique Pinguim/ Liquid Eye
Adriano abusou de disposição e muita técnica para entubar em Pipeline.
PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA
ETAPA QUE SONHA GANHAR
Em todo o trabalho psicológico, eu tive uma base muito boa. Isso foi fundamental para o meu início. Hoje consigo ter um autocontrole nas dificuldades, como também na vitória. Quando você se torna um campeão, há muitas coisas que pintam no seu caminho, então tem que manter certa concentração para não se perder do foco. Agora, em 2016, vou ter que tomar uma postura, já estou trabalhando em cima dela e espero iniciar o ano da forma que comecei 2015, com a mesma pegada e a mesma determinação. Eu sei que vou ter que trabalhar o dobro, então vai ser um grande prazer me puxar ao extremo, me colocar em situações que não me deixam confortável.
Ganhar é sempre bom! A gente entra no jogo para ganhar. Mas Snapper é uma etapa que está engasgada, pois tive dois segundo lugares e duas semifinais consecutivas (2014 e 2015). Então, chegar tão próximo assim e não conseguir é uma lição que a gente leva para casa. Já JBay é uma onda aonde vou desde criança, um sonho também, que faz parte da minha formação e é um surf que venho desenvolvendo.
Eu encaro todas de uma forma que vai ser difícil, que vou ter me impor e me dedicar bastante. É claro que a etapa de Pipe é a mais perigosa. The Box, por ser uma onda extremamente poderosa, você encara com certo medo, mas ao mesmo tempo um desafio muito grande de mostrar para o mundo que está pronto pra aquele tipo de onda. Sem falar em Fiji e também Trestles, que quase levei ano passado e é um troféu dos mais bonitos do circuito mundial. São etapas difíceis, mas cada uma tem um gosto, um sabor especial.
Na época que entrei no circuito, eu tinha muito dessa influência de ‘vamos construir aos poucos’. Mas quando o Gabriel entrou e logo no segundo campeonato já venceu, ele mudou todo esse percurso e direcionou essa nova geração para outro caminho.
Sou muito abençoado por Deus e pelo Ricardo dos Santos, a quem dedico esse troféu. Eu fiz uma homenagem a ele e vou carregar a alma dele comigo.. Também dedico esse troféu de campeão do mundo ao meu irmão que por 30 reais comprou uma prancha de surf para mim. Na época, eu sei que era muito dinheiro para ele. E hoje eu estou no topo do mundo por 30 reais!
Marcio Canavarro
ETAPA MAIS DESAFIADORA
DEDICAÇÃO
Mineiro homenageou Ricardinho dos Santos durante todo ano e no final dedicou o título ao grande amigo.
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Hawaii
FREESTYLE
Durante o Pipe Masters, o crowd dos freesurfers ficou pesado em Off The Wall. Mesmo assim, Pedro Ribeiro conseguiu pegar esse tubo perfeito.
A
temporada este ano no Hawaii foi bastante movimentada dentro dentro e fora d’água. Tivemos mais um campeão mundial nas areias de Pipeline, quase toda semana entrava um swell e surfistas de todos os cantos do planeta disputavam remada a remada um espaço no outside. Nas próximas
páginas, você vai poder acompanhar um pouco do que rolou no free surf nesse tão cobiçado território
Pedro Tojal
chamado North Shore.
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Sebastia Rojas Marcio Canavarro
Todo o estilo de Rob Machado.
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Os biquínis estão diminuindo no Hawaii.
Pedro Tojal
Os grommets, como são conhecidos os surfistas da nova geração, estão conquistando cada vez mais espaço no Hawaii. Matheus Herdy já está disputando ondas braço a braço com os mais velhos e promete ser um dos melhores surfistas de competição em um futuro bem próximo.
Pedro Tojal
A visão do tubo de Pedro Ribeiro em Off The Wall.
Felipe Cesarano e a alegria de ver Pipe clássico.
Pedro Tojal
Pedro Tojal
Guerreiro local com a antiga bandeira havaiana.
A perfeição de Pipeline.
Marcio Canavarro
Pedro Tojal
Marcio Canavarro
A noite em Haleiwa.
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Marcio Canavarro
Yago Dora mostrando que não têm só aéreos em seu repertório de manobras.
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Henrique Pinguim/ Liquid Eye
Gabriel Medina voando alto em Rocky Point.
Hawaii
Pedro Tojal
FREESTYLE
O californiano Johnny Noris em Off The Wall, o refĂşgio para quem quer fugir do crowd de Pipeline.
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Henrique Pinguim/ Liquid Eye
Sebastian Rojas
Pedro Tojal
O salva-vidas de Pipeline Mikey Bruneau aproveitando a hora de almoço para pegar esse tubo perfeito. Como é bom trabalhar no lugar onde você mais se diverte!
Henrique Pinguim/ Liquid Eye
Campeรฃo Mundial Jr, Lucas Silveira e a forรงa do seu backside.
Henrique Pinguim/ Liquid Eye
Pedro Tojal
Marco Giorgi treinou forte e se destacou no Volcom Pipe Pro.
83
84
Multicampeรฃo do mundo, Kelly Slater no Backdoor.
Todo o estilo de David do Carmo no Hawaii. Magnum Gonรงalo
Pedro Tojal
XXXXXXXXXXX
Pedro Tojal
Pedro Tojal
Leo Neves
Magnum Gonรงalo
Diego Silva nos canudos de Off The Wall.
Hawaii
FREESTYLE
Luel Felipe na pista de manobra em Rocky Point.
Pedro Tojal
Pipeline visto de cima.
Pedro Tojal
Gavin Baschen conhece como poucos os tubos havaianos.
85
Trekinho em um momento iluminado no Recreio. Essas sessões não eram fáceis. Acordávamos bem antes de o sol nascer para preparar tudo com calma e para que o surfista já estivesse pegando onda no momento em que a luz começasse a aparecer. Cansei de acordar cedo e me frustrar por causa do tempo ou do mar ruim.
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PORTFÓLIO
LUIZ BLANCO
“O SURF NÃO SE RESUME APENAS NA ONDA”
O carioca LUIZ BLANCO, morador do bairro do Cosme Velho, zona sul da cidade do Rio de Janeiro, descobriu o surf ainda garoto, mas foi só nos tempos da faculdade que enxergou a possibilidade de viver do esporte através de suas lentes. Seu trabalho é marcado pela busca incessante por novos ângulos e perspectivas, sempre tentando fugir à clássica foto frontal enquadrando apenas o surfista e a onda. “Procuro objetos que eu possa enquadrar no primeiro plano ou no fundo. Acredito que o surf não se resume apenas na onda, cada praia tem suas características e suas ondas. Outro aspecto importante, que às vezes é visto como secundário, é a luz. Nem sempre a luz frontal é a mais interessante, por isso vale tentar variar os ângulos à procura de não apenas enquadramentos diferentes, mas também de variar a iluminação da foto”, explica. Nesta edição, a Surfar traz uma mostra do talento e conta um pouco sobre carreira de Blanco. Confira!
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NASCIDO: 13/10/1983 RESIDENCIA ATUAL: Rio de janeiro EQUIPAMENTO: Canon Digital MELHOR PICO PARA FOTOGRAFAR: Cacimba do Padre, Pipeline e Puerto Escondido. MELHOR TRIP: Hawaii e Fernando de Noronha CAPAS PUBLICADAS: Duas capas da Fluir INSPIRAÇÃO: Fabio Minduim, Pedro Tojal, Henrique Pinguim, Bidu, Diogo d’Orey, Gustavo Camarão e outros. MOMENTO MAIS ESPECIAL DA PROFISSÃO: Ver Pipe e Teahupoo quebrando. SITE: luizblanco.tumblr.com
O COMEÇO DO OFÍCIO
A VERTENTE ESCOLHIDA
esde o início, eu fotografava o surf. Fiz curso para apren-
der melhor a parte técnica, pois acho muito importante
rios são incríveis! É um prazer viajar para trabalhar, uma opor-
entender a máquina fotográfica e saber um pouco de ilu-
tunidade que nem toda a profissão proporciona e são poucas as
minação também. Estudar é essencial! Quando comecei ainda não
que o fazem como o surf. O registro, a fotografia, é uma mistura de
tinha digital e era tudo um pouco mais difícil, mas fiquei pouco tem-
tranquilidade e de agitação, uma festa profana no paraíso. Gosto
po na era analógica. Quando surgiu o digital, as possibilidades au-
muito desse contraste que o surf proporciona. E a ideia de con-
mentaram bastante e foi quando meu trabalho começou a aparecer
gelar um momento muito efêmero, de usar de toda a velocidade
mais. O surf possibilita diversas abordagens fotográficas diferentes, é
e movimento para compor uma imagem estática. Sempre surfei,
muito icônico. Eu desenvolvo meu trabalho explorando isso, a liber-
então, queria continuar próximo a esse ambiente e meu trabalho
dade que o surf proporciona para se fotografar que sempre pode se
como fotógrafo me possibilita isso.
D
renovar, até porque o mar está sempre mudando também.
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O surf é uma área muito interessante da fotografia. Os cená-
Em Pipeline tentei explorar algumas variações de enquadramento. Quando essa variação coincide com uma boa onda bem surfada, as chances de se ter uma boa foto são grandes. Bruce Irons em Pipe.
Essa laje fica no Rio de Janeiro e não é nada escondida, mas não vou falar qual é, pois esse é um momento da onda praticamente “insurfável”, então não quero fazer nenhuma propaganda enganosa. O México é igual a viagem que fazia quando era mais novo para as pequenas cidades litorâneas: o dia todo na praia, pele queimada, sem muita preocupação, diversão e ainda por cima altas ondas. É um bem que se faz à alma. Biel Garcia em uma das várias direitas da região.
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Essa é uma foto da ponta do Leblon, o famoso “Pontão”, feita um pouco mais do meio da praia. Gosto do grafismo e aspecto urbano que o hotel dá para a imagem. O Pontão é um pico super urbano e cheio de interferências. Eu não gosto muito de surfar, mas gosto de fotografar.
XXXXXXXXXXX Trekinho em São Conrado pela manhã. Essa foto faz parte de mais uma experiência de acordar super cedo e pegar o sol nascendo. O sol já estava um pouco mais alto nesse momento, gostei da luz pelo reflexo que a pedra e o mar fizeram.
Essa é uma onda meio mística no Rio de Janeiro, o “baixio” de Copacabana ou Sorriso. O baixio é uma formação de areia, mas muita gente diz que é pedra aí no fundo. Enfim, quebra quando o mar tem certo tamanho e na direção certa do swell é uma onda diferente da que estamos acostumados a surfar no Rio.
XXXXX
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O primeiro Pipeline de verdade que vi. Era cedo, nem seis horas da manhã, e já havia umas quarenta cabeças na água. Esse foi um dia de altas ondas, mas aconteceu o Backdoor Shootout que foi muito bom também, só que limitou o número de surfistas no pico.
Fim de tarde digno de aplausos na Cacimba do Padre. A maioria dos picos em Noronha é bom para aéreos, um tubo não ficaria legal com essa luz, mas um aéreo ficou bom.
No México, os locais olham a tábua de maré antes da previsão de onda. Às vezes de manhã, a maré não encaixa e o mar está estranho, ruim. Mas algumas horas depois, a coisa muda de um jeito impressionante e fica clássico. Onda quase sempre tem, porém a melhor hora do dia só sabe quem conhece o lugar.
No North Shore, você vê várias pessoas com adesivos “keep the country, country”. Acho que é uma campanha para defender a região do turismo comercial pesado, da especulação imobiliária e outros males de grandes cidades. Eu quis fotografar uma Pipeline mais “country” nessa foto.
Pipeline é um ambiente único. Ondas intensas no mar, número exagerado de surfistas dentro d’água, turistas e fotógrafos na areia. Tem toda uma cena que realmente é digna do lugar que chamam de meca do surf. Nathan Fletcher posando no salão de Pipe.
Junior Faria em Puerto Escondido, uma das praias que mais gosto de fotografar. É uma onda relativamente rápida, mas que proporciona momentos extraordinários.
A PERSPECTIVA DO FOTÓGRAFO
O ESCRITÓRIO DOS SONHOS
Tento sempre dar uma variada naquela foto clássica frontal de
É difícil apontar um. Uma das graças de fotografar o surf são
surf enquadrando apenas o surfista e a onda. Procuro objetos que
as variantes. Eu, pessoalmente, prefiro as praias com bastante
eu possa enquadrar no primeiro plano ou no fundo. Pedras, mon-
espaço para trabalhar os ângulos, com grande faixa de areia
tanhas, pessoas ou até mesmo a própria areia. Acredito que o surf
ou poucas construções próximas. Aqui no Rio de Janeiro, por
não se resume apenas na onda, cada praia tem suas características
exemplo, as praias são apertadas pela cidade, a faixa de areia
e suas ondas. Fotografar apenas a onda é fazer um pequeno recor-
acaba e você normalmente já está na rua. Também gosto de
te do todo, tento trabalhar recortes diferentes, mais abrangentes.
ondas que quebrem mais próximas da areia, como, por exem-
Outro aspecto importante, que às vezes é visto como secundário,
plo, Pipeline, Puerto, Cacimba do Padre. Essas ondas possibili-
é a luz. Nem sempre a luz frontal é a mais interessante, por isso
tam diversas abordagens para fotografar, dizem que uma onda
vale tentar variar os ângulos à procura de não apenas enqua-
nunca é igual à outra, então é legal que as fotos estejam sem-
dramentos diferentes, mas também variar a iluminação da foto.
pre variando também. Assim temos muito mais possibilidades.
A MELHOR FOTO Gosto muito de uma do Junior Faria em Puerto Escondido e outra do Nathan Fletcher em Pipeline. São surfistas com estilo em ondas boas e o enquadramento me agrada. São dois tubos, manobra bastante estética, mas, às vezes, difícil de pegar o melhor momento. Gosto de fotografar aéreos também, onde o momento certo é bem definido. Tubos são mais difíceis de definir o melhor momento e, às vezes, o melhor não fica legal na fotografia. Enfim, são fotos onde acho que consegui um bom momento em uma boa série com um bom surfista.
Puerto Escondido tem uma luz diferente no fim de tarde. O sol se põe muitas vezes no mar e a pedra de fundo dá o contraste com o primeiro plano. Às vezes, o vento não permite o surf no fim de tarde, mas quando acontece sempre rende.
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Divulgação Pena
Lucas Silveira conquistou o único título de 2015 que faltava para o Brasil: o de campeão Mundial Pro Junior.
PALAVRA FINAL LUCAS SILVEIRA “A MELHOR FINAL É AQUELA QUE VOCÊ GANHA” O Brasil, definitivamente, é o país do surf. O ano de 2015 foi incrível para os surfistas brasileiros que levaram para casa os principais títulos da Liga Mundial de Surf, mas faltava um. Agora não mais. O carioca LUCAS SILVEIRA, 20 anos, é o atual campeão mundial Pro Junior com uma performance arrasadora na etapa portuguesa da praia de Ericeira. Durante a competição, Lucas correu sete baterias, com médias impressionantes em meio a manobras potentes e ainda arrancou a única nota 10 do evento. Essa vitória confirma o poder da “tempestade brasileira” no surf profissional. A Surfar já apostava nesse talento (matéria e capa da edição de agosto/ setembro) e direto do Hawaii conversamos com o atleta, que contou como foi conquistar seu primeiro título de campeão mundial entre os melhores surfistas até 20 anos de idade do planeta. ––––– por Viviane Freitas O Pro Junior era o que faltava para o Brasil levar os principais títulos do surf profissional em 2015. Qual a sensação de fazer parte dessa história, assinando seu nome no ranking dos campeões mundiais? O
fato de ser o último título que faltava para o Brasil me motivou muito a ganhar esse ano. Eu pensei: os caras ganharam tudo, eu consigo ganhar isso também! É uma honra estar na lista de campeões mundiais. Como você se preparou para esSa etapa? Teve alguma estratégia?
O principal foi minha mente. Eu botei na cabeça que ia ser campeão e acreditei de verdade nisso, estava muito confiante. Meus treinadores Leandro Dora e Marcelo Amaral, que estavam lá comigo, me ajudaram muito nessa parte também, dizendo as coisas certas nas horas certas. Qual foi o momento mais desafiador durante o circuito? No Round 2 (repescagem), eu estava muito doente, me sentindo muito fraco e quase não conseguia remar, então foi bem difícil deixar o mal estar de lado e me concentrar na bateria. Mas estava querendo tanto que não poderia deixar nenhuma coisa de fora me atrapalhar. Consegui energia extra e passei a bateria! Sentiu alguma pressão, por exemplo, na bateria contra o Kanoa Igarash? Entrei na bateria com ele da mesma forma que entrei
nas outras. Consegui dosar bem a pressão durante todas as baterias. Essa foi a mais difícil porque ele saiu na frente com um 9 e um 7, mas consegui recuperar e virar. Com a vitória, você passa a ter acesso aos principais eventos do QS e poderá pontuar para o WCT em 2017. Pretende correr todas as etapas? Claro! Essa é a meta para 2016, me classificar para
o WCT.
Você também curte pegar umas ondas pesadas. Se sentiu mais confiante quando o mar de Ericeira deu uma reagida? O evento
não rolou em condições muito grandes, mas acho que a onda principal do campeonato se encaixa bem com o meu surf. Ela é forte e um pouco difícil de fazer a leitura. Eu tenho buscado ser o mais completo possível, então estava confiante em qualquer condição. Mesmo na praia que rolou os primeiros rounds, que era uma esquerda bem pequena, até onde rolou as finais, que era um point break de direita bem forte. O que mais te motiva em momentos decisivos como na disputa por um título? Nunca havia passado por momentos tão decisivos como
esse. Mas o fato de saber que um país inteiro está torcendo por você é demais. E ainda por todo o trabalho que tenho feito, com uma equipe e com minha família, para chegar naquele momento com certeza motiva muito para ir com algo a mais na decisão. Você partiu de Portugal direto para o Hawaii. Como está se preparando para as competições de 2016? Tenho surfado quase todos os dias
em Pipeline, que é a onda do campeonato, e fui pegar também um swell em Jaws que foi incrível. Não é uma preparação para o QS, mas é bom pegar umas bombas para me divertir (risos). Você compartilha com o atual campeão mundial, Mineirinho, o mesmo treinador. No entanto, Leandro Dora já está ao seu lado desde o início da sua carreira. Tem algo que ele te diz antes das baterias que te deixa ainda mais motivado? O Dora sabe as horas certas de
falar as coisas. Parece até que ele percebe o momento em que estamos mais receptivos a receber informações. Além de ser muito técnico, ele tem uma parte espiritual que é ainda mais importante do que a técnica. Isso ajuda muito! Qual o mar dos sonhos para surfar em uma final? Você pode ganhar
em qualquer mar, mas a melhor final é aquela que você ganha.
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PRÓXIMO NÚMERO
Bidu
QUEM LEVARÁ O PRÊMIO DO XXL?
O carioca Pedro Calado se preprando pra encarar a besta.
EXPEDIENTE Editor Chefe: José Roberto Annibal – annibal@revistasurfar.com.br Editora: Déborah Fontenelle - deborah@revistasurfar.com.br Redação: Luís Fillipe Rebel – luisfillipe@revistasurfar.com.br Patrick Villaça – partick@revistasurfar.com.br Arte: João Marcelo – joaomarcelo@revistasurfar.com.br Fotógrafo staff: Pedro Tojal – tojal@revistasurfar.com.br Colunistas: Bárbara Rizzeto, Bruno Lemos e Gabriel Pastori. Colaboradores edição – Texto: Felipe Cesarano, Gabriel Pastori e Viviane Freitas. Fotos: Bidu, Henrique Pinguim, Igor Hossmann, Kirstin/WSL, Leo Neves, Luiz Blanco, Magnum Gonçalo, Marcio Canavarro, Mark Klintworth, Masurel/WSL, Poullenot/WSL e Sebastian Rojas.
Publicidade: Marcelo Souza Carmo – marcelo@revistasurfar.com.br Financeiro: Claudia Jambo – claudia@revistasurfar.com.br Tratamento de Imagem: Aliomar Gandra Jornalista Responsável: José Roberto Annibal – MTB 19.799 A Revista Surfar pertence à Forever Surf Editora e as matérias assinadas não representam obrigatoriamente a opinião desta revista e sim de seus autores. Endereço para correspondência: Av. Ayrton Senna, 250, sala 209, Barra da Tijuca, Cep: 22793-000. Circulação: DPACON Cons. Editoriais Ltda - dpacon@uol.com.br Tel: (11) 3935-5524 Distribuição Nacional: Dinap S/A - Distribuidora Nacional de Publicações Contato para publicidade: (21) 2433-0235 / 2480-4206 – surfar@revistasurfar.com.br
Surfar #47 é uma publicação da Forever Surf Editora.
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Apresentando o primeiro relógio do mundo com as condições do surf em tempo real.
THE
ULTRATIDE
10X MAIS INFORMAÇÕES DO QUE UM RELÓGIO DE MARÉ TRADICIONAL
1. CLASSIFICAÇÃO DA SURFLINE
6. TEMPERATURA DA ÁGUA
2. ALTURA DA ONDA
7. TEMPERATURA
3. ALTURA /DIREÇÃO DO SWELL
8. CONDIÇÕES DO TEMPO
nixon.com /nixon.br asil
4. PREVISÃO DA ALTURA E DIREÇÃO DO SWELL
9. MARÉ EM TEMPO REAL
5. VENTO
10. PREVISÃO DA MARÉ
Never not know.