Revista txt edição 16

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.txt Abandono de animais Mulheres lutam por igualdade e respeito

Cursos tecnológicos oferecem 530 vagas

Orquestra Sinfônica: melodia e ensino

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sumário 4

entrevista

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paralelo

A equoterapia como meio de reabilitação

Marcha das Vadias: protagonismo da mulher

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categorias

Conheça a rotina dos laboratórios do prédio 19

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geral

Esporte e lazer nos fins de semana na UFSM

geral

Problemas de iluminação e transporte à noite

12 capa

Os animais abandonados no Campus

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Foto: Luciele Oliveira

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geral

Sete opções de cursos de tecnologia

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dentro pra fora

Núcleo atua na prevenção de catástrofes

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de fora pra dentro

As atividades da Escolinha de Artes

cultura

OSSM: abrem-se as cortinas para o ensino

22 cultura

A trajetória dos 31 anos da Editora

24 perfil

Habilidades e histórias de um impressor

expediente Revista Laboratório do 3º semestre de Jornalismo da UFSM - Disciplina de Teoria e Técnica de Jornalismo Impresso II Edição: Viviane Borelli Sub-edição: Mariana Cunha Fontana e Myrella Allgayer Diagramação: André Alves, Bianca Pereira, Daniela Pin, Leonardo Cortes e Matheus Thomas Revisão: Augusto Vasconcelos, Luiza Bayer, Nathieli Cervo, Nicholas Lyra e Vinicius Gaiger Foto e Arte: Bianca Souza, Laissa Sardíglia, Luciele Oliveira, Reinaldo Guidolin e Victor Carloto Divulgação: Franciele Varaschini, Karohelen Dias e Sandrine Müller Edição online: Bianca Pereira, Rafael Winch e Victor Carloto Capa: Leonardo Cortes Foto da capa: Laíssa Sardíglia Professora Responsável: Viviane Borelli Mtb/ RS 8992 Endereço: Campus da UFSM, prédio 21, sala 5234 Telefone: (55) 3220 8487 Impressão: Imprensa Universitária Data de fechamento: 1º de outubro de 2012 Tiragem: 700 exemplares www.ufsm.br/revistatxt txt.revista@gmail.com 2 .txt Outubro 2012

CAL e Cefd ofertam curso de Dança A partir de 2013, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) contará com um curso de dança. O projeto é fruto de uma parceria do Centro de Educação Física e Desportos (Cefd) com o Centro de Artes e Letras (CAL). Segundo o professor Marco Aurélio Acosta, a vontade de criar esse curso, que no estado só existe na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), vem de muito tempo, pois no curso de Educação Física já existe a disciplina de dança. Acosta comenta a divisão entre os dois centros: enquanto o Cefd é responsável pela licenciatura, o bacharelado fica a cargo do CAL. A justificativa para o número de vagas - 15 para cada centro – é devido à falta de espaço, já que as aulas práticas serão ministradas em conjunto. A principal diferença entre os cursos é o estágio obrigatório, em que, para a licenciatura, deverá ser cumprido em ambiente escolar. O curso traz a necessidade de contratações para professores formados em Dança, o que é uma dificuldade devido aos poucos dançarinos formados no estado. Sobre a implementação na UFSM, o vestibular acontecerá este ano para os que optaram pelo bacharelado. Há, no total, 90 candidatos. Já para os que vierem a escolher licenciatura, Marco Aurélio explica que, pela demora da aprovação, não vai haver vestibular para 2013 e o ingresso só será possível pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).


carta ao leitor Nova Lancheria A construção de uma nova lancheria no Campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) deverá ser concluída até o final de outubro. Localizada nos fundos do prédio da reitoria e próxima à pista, a obra beneficiará estudantes, professores e funcionários, principalmente os que trabalham na reitoria e proximidades. Atualmente há, nas imediações, opções para lanches apenas no Centro de Educação Física e Desportos (Cefd), no Colégio Politécnico da UFSM e no Centro de Ciências Rurais (CCR). O projeto está sendo desenvolvido desde o início do ano e é uma necessidade observada pela Universidade. De acordo com o Coordenador de Obras e Planejamento Urbano da UFSM, Edison Andrade da Rosa, a lancheria que funcionava no prédio da reitoria foi fechada por reclamações de mau cheiro. A lancheria será uma nova opção de lazer para os moradores da Casa dos Estudantes Universitários (CEU) e também para quem frequenta a UFSM nos finais de semana. A obra foi orçada em R$ 252 mil e está sob responsabilidade da Pró-Reitoria de Infraestrutura (Proinfra), a partir do projeto do arquiteto André Moraes. A construção teve início em 18 de junho e os interessados em explorar as atividades da lancheria podem se inscrever via licitação diretamente no site da UFSM (www.ufsm.br). Os envelopes com as propostas serão abertos em outubro.

Papel e sabonete nos banheiros do CCSH O Centro de Ciências Socias e Humanas (CCSH) passa por melhorias em sua estrutura para proporcionar melhor convívio e higienização. Os alunos e freqüentadores dos prédios agora contam com álcool gel nos corredores para evitar problemas de saúde como a gripe A e outras complicações. Nos banheiros há sabonete líquido e papel higiênico, que são repostos periodicamente. O diretor do CCSH, Rogério Ferrer Koff, relata que havia uma tentativa para tal melhoria há algum tempo. A dificuldade, no entanto, estava em manter o funcionamento, pois o Centro é grande e suas instalações crescem. Entretanto, segundo o próprio diretor, é importante oferecer condições adequadas aos alunos e também para que esse sistema funcione: “é isso o que o CCSH está tentando proporcionar aos frequentadores dos prédios”. Na última edição da revista .txt, foram apontadas as condições dos banheiros dos centros da Universidade. Entre os problemas verificados estavam a falta de papel higiênico e de sabonete líquido, além da negligência na manutenção e na limpeza.

A revista .txt traz como matéria de capa o abandono de animais no Campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O fato é verificado por alunos, professores e servidores que todos os dias se deparam com cães e gatos que ficam, na maioria das vezes, próximos à Casa do Estudante, ao Restaurante Universitário e ao terminal de ônibus. O abandono de animais é comum em cidades como Santa Maria, onde não há políticas públicas para conter a reprodução exagerada e nem incentivo ou apoio financeiro para a castração. Percebemos animais soltos em diversas ruas centrais, inclusive no Calçadão Salvador Isaía, onde cães já se instalaram e criaram vínculos com moradores e funcionários do comércio local. Por possuir um Hospital Veterinário, a UFSM é destino de cães e gatos. Algumas pessoas acreditam que, se abandonarem seu bicho no Campus, ele poderá receber assistência - o que não acontece, porque o Hospital tem a função primordial do ensino e atua apenas em casos específicos. O amplo espaço físico da Instituição não é garantia de que os animais irão ter atenção necessária para sobrevivência. Eles ficam à mercê da boa vontade de quem frequenta a Universidade para receber alimento e água. Acadêmicos que residem na Casa do Estudante sensibilizam-se com a situação dos bichos e os adotam ou os encaminham para adoção. Antes de comprar ou adotar um bicho de estimação, é preciso ter a consciência de que ele vai crescer e, cada vez mais, precisar de cuidado, atenção, alimento e assistência veterinária. Deve-se assumir a inteira responsabilidade sobre a vida do animal para garantir sua saúde e bem-estar. As pessoas têm de se conscientizar que a UFSM não é um lugar de despejo de animais.

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Mariana Cunha Fontana, Myrella Allgayer e Viviane Borelli

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entrevista

Conheça a equoterapia

Uma terapia em expansão que utiliza o cavalo para a reabilitação de pacientes

Reinaldo Guidolin

Fotos: Reinaldo Guidolin

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s animais, hoje, ganham espaço para além dos lares, pois são utilizados como fonte de pesquisas e para o desenvolvimento de técnicas terapêuticas. Vários animais, como cães, gatos, cavalos e, ainda, algumas aves e répteis são usados em procedimentos que colaboram no tratamento de pessoas com dificuldades motoras e psicossociais. No Brasil, uma das terapias que desponta na utilização de animais é a equoterapia. Ela utiliza o cavalo como instrumento para reabilitar e educar, auxiliando na recuperação de pessoas que apresentam limitações impostas por suas condições. Desta maneira, a equoterapia proporciona ganhos motores e psíquicos. A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) tem um grupo de pesquisa na área. O projeto de equoterapia é guiado pelo conhecimento científico e tem por objetivo desenvolver o ensino, a pesquisa e a extensão no âmbito acadêmico. O Projeto da UFSM iniciou no ano de 1994 no Centro de Educação Física e Desportos (Cefd) e tem uma conduta interdisciplinar como orientação, em que fazem parte acadêmicos e profissionais das áreas da saúde e educação. A equipe é composta por estudantes dos cursos de Fisioterapia, Educação Especial, Educação Física, Fonoaudiologia, Psicologia, além de um instrutor de equitação.

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O atendimento clínico acontece uma vez por semana na pista de equitação do Centro de Eventos. Hoje, os oito integrantes do projeto prestam atendimento para duas crianças com dificuldades motoras. Dois cavalos, Jhony e Formiga, são utilizados como meio na realização da terapia. A auxiliar de limpeza, Tatiane Lima, conta que a filha Luane (na foto, sobre o cavalo), de quatro anos, ingressou no projeto de equoterapia através da indicação de sua neuropediatra. A menina tem dificuldades motoras e desde maio deste ano participa das atividades desenvolvidas pelo grupo na UFSM. Segundo Tatiane, ainda é cedo para uma avaliação. “É preciso aguardar para avaliar os resultados, já que ela ingressou há pouco tempo no projeto”, declara. Um plano de desenvolvimento é montado junto com uma equipe multidisciplinar através da avaliação dos pacientes. O trabalho desenvolvido serve de subsídios para estudos e pesquisas na área. A fisioterapeuta Fabiana Moraes Flores integra a equipe de equoterapia há quatro anos. Ela cita ainda algumas das propostas desta iniciativa: “o projeto busca atender a comunidade de maneira gratuita e também divulgar este tipo de tratamento”. O professor do Cefd, Fernando Copetti, é o coordenador do projeto de equoterapia da UFSM. Confira a entrevista, na qual ele esclarece dúvidas sobre o assunto.

Origem

A utilização do cavalo na área de saúde é tão antiga quanto a própria história da medicina. Sua origem data da Grécia Antiga, onde Hipócrates se refere à equitação como fator regenerador da saúde no livro “Das Dietas”. Na era moderna, um dos primeiros indícios de sua utilização deu-se na França, em 1965, quando médicos parisienses se interessaram sobre o estudo. A Primeira Guerra Mundial foi fator que contribuiu para o desenvolvimento da equoterapia. Muitos soldados, acometidos com a guerra, foram motivados em sua reabilitação com esse tratamento. Atualmente, a equoterapia é considerada uma técnica de auxilio à terapia convencional e é praticada em mais de 30 países. No Brasil, a Associação Nacional de Equoterapia (Ande) introduziu o trabalho em 1989, em Brasília. A equoterapia foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina em 1997, sendo incorporada ao arsenal de métodos e técnicas direcionadas aos programas de reabilitação de pessoas com necessidades especiais.


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.txt – O que de fato é a Equoterapia? Fernando: A equoterapia é preconizada segundo a Associação Nacional de Equoterapia enquanto método terapêutico e educacional. Ela se beneficia do cavalo como mediador do processo. Olhando sobre uma perspectiva interdisciplinar, na qual profissionais da área da saúde, da educação e também da equitação veem o praticante dentro de um olhar global ou biopsicossocial. E ele, de alguma maneira, tem uma deficiência física, mental ou algum tipo de comprometimento ou necessidade especial que através dessa terapia se beneficie. .txt – Essa terapia é indicada para quais pessoas? Fernando: Nós temos, dentro da equoterapia, quatro grandes programas: hipoterapia, educação/reeducação, pré-esportivo e paraequestre, cada um com um tipo de foco. O primeiro, que nós chamamos de cinesioterapêutico, tem um enfoque baseado no movimento tridimensional do cavalo, no qual o principal elemento é o movimento do animal, a estimulação sensorial/motora. Este é direcionado a indivíduos com patologias motoras, distúrbios, problemas coordenativos, de equilíbrio ou distonicidade, que, de alguma maneira, dependem de uma equipe para conduzir um animal. A partir do momento que o praticante já tem certa autonomia, ele pode ser inserido no segundo programa educação/reeducação, em que o cavalo não é visto apenas como um agente cinesioterapêutico, mas como pedagógico/ educacional. Sendo assim, trabalha-se com atividades educativas, claro, sem se esquecer do movimento. Neste programa, pode-se tra-

balhar com indivíduos com déficit de aprendizado, hiperatividade, transtornos comportamentais, autismo ou outras necessidades especiais que não são só físicas. Já o programa pré-esportivo é indicado para quem tem um bom domínio do animal, uma capacidade cognitiva de entendimento e condições físicas. Assim, ele consegue realizar atividades do hipismo com base na equitação visando uma inclusão social. E, por fim, o último programa, que é mais competitivo, abre portas para quem tiver condições e potencial para entrar num nível de competição. Então, ele beneficia as pessoas nas perspectivas física, psicológica e social. .txt – Como é processo de tratamento da hipoterapia? Fernando: Se falarmos sobre hipoterapia, é o movimento. Então, imagine uma situação em que o indivíduo tem um baixo nível de tonicidade física. No momento em que ele está sobre o cavalo, a contração muscular vai ser aumentada. Já, se tiver uma hipertonia, alta tonicidade, ele precisa relaxar para ter esse efeito terapêutico e quebrar o quadro inicial. Nessa perspectiva, utiliza-se o tipo e a frequência de passagem, a característica do animal, o tipo de piso e os equipamentos empregados, além das condições que se cria durante a terapia e que irão servir de elementos de estimulação sensorial que podem dar esse enfoque físico. Outra questão importante é o movimento tridimensional do cavalo. Ora, qualquer animal que tenha quatro patas tem esse movimento. Porém, o equino tem curvas, amplitudes e eixos que são muito similares com a marcha humana. No momento em que o indivíduo está sentado na garupa

do animal, você tem uma reprodução muito próxima ao movimento senoidal de quando nós caminhamos. Desta maneira se dá um estímulo simétrico e ritmado de como é a marcha, por exemplo, para um cadeirante, uma pessoa que tem déficit de marcha ou um lado mais comprometido. Então, tenta-se dar uma informação simétrica para buscar uma adequação em relação a isso. Esse é o enfoque de um programa de hipoterapia. .txt – Que trabalho o grupo de Equoterapia realiza atualmente? Fernando: Nós trabalhamos da seguinte maneira: abrimos um edital para selecionar um determinado grupo que desejamos atender. Desta forma, preparamos protocolos para avaliação e acompanhamento, e para desenvolver estudos de assistência. Isto acaba gerando artigos científicos, trabalhos de conclusão de curso e dissertações de mestrado. Ano passado, selecionamos praticantes com esclerose múltipla; este ano, não abrimos edital. Sendo assim, estamos atendendo de maneira geral, mas, o foco principal do grupo é crianças que têm algum déficit ou comprometimento motor. No segundo semestre, pretendemos trabalhar com um grupo de crianças com autismo. E, já pensando no ano que vem, planejamos qual será a característica do grupo, pois, antes, atendíamos uma diversidade muito grande, e isso dificulta o acompanhamento, o monitoramento e a pesquisa. Dentro da Universidade, não é só a prestação de serviços que está inclusa na perspectiva extensionista, também ocorre o ensino de acadêmicos e o desenvolvimento de pesquisas que vêm reconhecer este método terapêutico. .txt Outubro 2012 .txt 5


paralelo

Nem santas, nem putas, Apenas mulheres

Marcha das Vadias mobiliza cidades de todo país, inclusive, Santa Maria

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Foto: Laissa Saediglia

m movimento que tem por objetivo expor a violência contra a mulher, seja física, sexual, verbal ou psicológica. Um combate à culpabilização de vítimas em casos de abuso e uma luta pelo respeito, liberdade e autonomia das mulheres em relação ao próprio corpo. Essa é a Marcha das Vadias. Inserida num contexto internacional de manifestações a respeito desse tema, a Marcha foi decorrência de um fato que ocorreu em janeiro de 2011 na Universidade de Toronto, Canadá. Durante uma palestra, o policial canadense Michael Sanguinetti recomendou às alunas “não se vestir como vadias” (a palavra vadias traduz-se para sluts, em inglês), para evitar serem estupradas ou atacadas. Um grupo de jovens, indignadas com o fato das próprias autoridades responsabilizarem as vítimas e suas vestes por crimes de estupro e abuso, resolveu virar a situação e “tomar” o uso da palavra slut. Em abril de 2011, ocorreu a primeira Slut Walk; em português, Marcha das Vadias. Desde então, a mobilização - que objetiva chamar a atenção da sociedade para a desigualdade sexual, pela liberdade das mulheres, contra a violência e o abuso - se espalhou pelo mundo. O Brasil, por sua vez, não ficou de fora desse ato: mais de 14 cidades brasileiras o realizaram. No dia 27 de maio, a Marcha das Vadias ocorreu simultaneamente nas capitais São Paulo, Brasília e Porto Alegre.

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Marcha das Vadias em Santa Maria

O que se pode fazer quando as mulheres representam 70% do total de pessoas que vivem em situação de pobreza absoluta no mundo? Quando as mulheres ainda ganham .txt Outubro 2012

Luciele Oliveira e Myrella Allgayer 30% menos que os homens mesmo que exerçam as mesmas tarefas e que essa desigualdade ainda é maior entre as negras, que recebem 55% menos do que a média salarial geral? O que pensar ao saber, que 70% das mulheres com deficiência intelectual, como a síndrome de down, já sofreram abuso, cometido, muitas vezes, por seus próprios cuidadores e/ou familiares? Como agir ao saber que os homossexuais sofrem “estupros corretivos”, numa tentativa ignorante de mudar sua orientação sexual? E quando não se encontra ajuda dos órgãos responsáveis, ou amparo dentro de casa por parte de maridos, filhos ou colegas de trabalho? Frente a esses dados listados na Carta Manifesto da Marcha das Vadias de Santa Maria, para muitas mulheres a resposta foi: marchar. Na tarde chuvosa de sábado, no dia 2 de junho, a Marcha das Vadias aconteceu em Santa Maria e mobilizou cerca de mil pessoas, entre elas, homens, mulheres, crianças e idosos. Os manifestantes se reuniram na Concha Acústica do Parque Itaimbé e partiram em passeata por volta das 15h. Portavam cartazes e entoavam músicas em repúdio à violência contra a mulher, ao abuso sexual e à homofobia. Pediam liberdade e igualdade de gênero. Algumas mulheres usaram roupas curtas e lingeries, outras exibiram seus seios em um ato simbólico de liberdade para representar que são donas do próprio corpo, que por vezes é explorado pelas mídias ou tratado como objeto pela sociedade brasileira. A Marcha das Vadias de Santa Maria é uma ação organizada por integrantes de mais de vinte entidades, em que a maioria é estudante da Universidade Federal de Santa Maria


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(UFSM). A comissão organizadora da MarA estudante de Psicologia e organizadocha explica que a intenção da mobilização ra da Marcha, Gabriela Quartieiro, explica era de caráter popular e não simplesmente que o movimento Marcha das Vadias luta acadêmico. Em Santa Maria, a proposta é contra esse sentimento de culpa que a sociede que essa marcha se torne um projeto que dade, muitas vezes, provoca nas mulheres. dialogue com as mulheres do município, A manifestação foi encerrada com diversas uma vez que 4.217 casos de agressão foram intervenções artísticas no Largo Estação registrados pela delegacia Ferroviária, porém ficou “Que nada nos defina. evidente que as discusda mulher em 2011. Além disso, segundo pes- Que nada nos sujeite. sões sobre a situação da quisas nacionais, apenas 10 mulher estavam apenas Que a liberdade a 15% das mulheres espancomeçando. seja a nossa própria cadas ou violentadas denunFotos coloridas e víciam seus agressores à polí- substância” (Simone de deos da marcha circulam cia. Em Santa Maria, mais de pelas redes sociais. A moBeauvoir) 600 casos de agressão foram vimentação e o debate registrados no primeiro trimestre de 2012. Na acerca dos temas abordados pela Marcha maioria deles, a agressão ocorreu dentro de são intensos na internet. No Facebook, o casa e foi cometida por marido ou companhei- grupo “Marcha das Vadias de Santa Maria” ro. “Muitas mulheres não denunciam abusos conta com mais de dois mil membros e há por medo, vergonha ou culpa”, constata a res- troca de textos, informações e ideias sobre ponsável pela Delegacia de Polícia para a Mu- as Marchas já realizadas no Brasil e em oulher, a delegada Débora Dias. tros países. .txt Saiba por que elas e eles marcharam “Por que é importante marchar? Acho que é simples: nós, mulheres negras, não somos vistas como mulheres, e sim como objetos perante a sociedade machista. Propagandas de cunho sexual usam de forma escrachada nosso corpo. Nós mulheres queremos igualdade perante aos demais. Nós mulheres negras queremos respeito acima de tudo. Eu não quero mais ser vista por causa dos meus seios, coxas ou bunda e sim por causa da pessoa que eu sou e pela personalidade que tenho.” Winnie Silva

“Sou homem e sou feminista. Marcho pela construção de uma nova realidade, onde os preconceitos cultivados e repassados sobre a mulher sejam extintos e que isso não se torne algo corriqueiro e normal perante aos olhos da sociedade. Marcho também, por uma consciência de igualdade entre todos, uma consciência que livre as mulheres das mentes machistas que as escondem da real exploração que sofrem e sempre sofreram.” Eduardo Flores

“Eu marcho pelo direito da mulher poder fazer o que ela quiser com seu corpo, poder ter um filho no momento em que quiser e principalmente para que Estado garanta políticas públicas, por um aborto seguro.” Gabriela Marques

“Marchamos porque lutamos por liberdade. Liberdade para escolher com quem nos relacionamos, o que vestimos, como nos comportamos, por onde andamos e o que dizemos. Marchamos porque ficamos caladas por tempo demais e porque o silêncio mata. Tem matado diariamente. Marchamos e marcharemos até que todas sejamos livres de qualquer violência, opressão e discriminação.” Comissão da Marcha das Vadias de Santa Maria

Calendário da Mulher Além da marcha das vadias marcar uma onda de mobilizações nacionais e internacionais, existem outras datas a serem lembradas no calendário: 24 de fevereiro: Dia da Conquista do Voto Feminino no Brasil 08 de março: Dia Internacional da Mulher 30 de abril – Dia Nacional da Mulher 28 de maio: Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher e Dia de Combate à Mortalidade Materna 25 de julho:Dia da Mulher Afrolatino-americana e caribenha 07 de agosto: Sanção da Lei n° 11.340/06 da Lei Maria da Penha 12 de agosto: Dia de Luta contra a Violência no Campo – Marcha das Margaridas. 29 de agosto: Dia da Visibilidade Lésbica. 25 de novembro: Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher .txt Outubro de 2012 7


categorias

Ossos do ofício

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Fotos: Laissa Saediglia

uem observa ou participa das aulas de morfologia no prédio 19 da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pode achar que está em uma cena de algum romance de Stephen King. As coleções de ossos e as partes corpóreas armazenadas nas prateleiras e nos tanques dos laboratórios de morfologia, histologia e anatomia humana e animal são passíveis de dar calafrios em qualquer um. Entretanto, para os quatro técnicos de anatomia e necropsia que trabalham no local, o cenário faz parte do cotidiano. Os laboratórios atendem todos os cursos do Centro de Ciências da Saúde (CCS) alem dos cursos de Educação Física, Educação Especial, Biologia, Veterinária e Zootecnia. As instalações são equipadas com diferentes amostras de tecidos humanos e animais, os quais permanecem conservados em formol. O método de conservação se dá a partir da submersão das partes corpóreas, ou de um corpo inteiro, em uma substância composta de 90% de água e 10% de formol. O técnico Rubem Almeida Volga explica que, apesar da baixa quantidade de formol para se conservar o corpo, ainda há quem enjoe ou passe mal durante as primeiras aulas nas instalações. No entanto, para ele, que tem 27 anos de trabalho nesta área da Universidade, o mau cheiro e as “peças de estudos” não são mais do que “ossos do ofício”. Almeida explica também: “as partes do corpo usadas para os estudos são chamadas de ‘peças’, nas quais nós recebemos treinamento na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para manejá-las”. Os quatro técnicos de anatomia e necropsia se dividem em dois setores: um é responsável pela odontologia humana; e três pela anatomia humana e veterinária. A função dos profissionais é a de manutenção e de preparação das aulas práticas. Almeida ressalta, ainda, que os técnicos não fazem o trabalho de necropsia nos laboratórios, embora conste na nomenclatura de sua formação, e que o serviço é prestado apenas no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). A responsabilidade deles é a de administrar as instalações e preparar as aulas para os professores. “O professor faz um pedido com o assunto a ser estudado e nós preparamos as ‘peças’. Geralmente se faz o pedido um dia antes. A gente retira a peça, deixa escorrer e monta no laboratório. Assim que terminar a aula, coloca de volta no formol. Até porque, se tirar na hora, é muito forte o cheiro”, explica Almeida. Além dos tecidos humanos, os laboratórios tem peças animais com as quais os acadêmicos de Medicina Veterinária, Zootecnia e Biologia estudam. Dentre as peças animais, a Universidade conta com peças de vacas, cavalos, bodes e

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Bianca Pereira e Victor W. Carloto coelhos. O processo de conservação é o mesmo utilizado nas partes humanas, entretanto, por vezes, os professores não solicitam as peças conservadas em laboratório. Em alguns casos, os docentes de Medicina Veterinária e Zootecnia pedem que os alunos estudem animais recém-abatidos. Os técnicos são responsáveis também por esta parte. Eles abatem e preparam os animais para o estudo. Este método ocorre sempre na disciplina de Ovinocultura. Almeida relata que são cerca de 12 ovelhas abatidas por semestre. No caso dos tecidos humanos, obviamente, este método não acontece. A princípio, segundo Almeida, dizia-se que os corpos e as partes corpóreas eram de indigentes. Depois, comprovadamente, a Universidade adquiria-os através de um convênio com o Instituto Médico-Legal (IML) de Porto Alegre, mas durou pouco tempo. O custo era muito alto, já que era necessário ter um edital no jornal. Os corpos que vieram através deste processo foram os últimos a serem trazidos à Santa Maria, há cerca de dez anos. Contudo, Almeida lembra que existem corpos que estão na UFSM desde antes do seu ingresso na instituição, há 27 anos. A legislação brasileira prevê duas formas das universidades adquirirem corpos humanos para estudo. A primeira maneira de se obter um cadáver está no Artigo 14 da Lei 010.406/2002 do Código Civil brasileiro, onde consta o direito do cidadão doar o próprio corpo após a morte de forma altruísta para estudo e desenvolvimento da ciência. A outra forma está no Artigo 2 da lei 8.501/92 que diz: “o cadáver não reclamado junto às autoridades públicas, no prazo de 30 dias, poderá ser destinado às escolas de medicina, para fins de ensino e de pesquisa de caráter científico”. No último caso, é quase impossível aproveitar algum corpo devido à própria redação da lei, visto que, levaria 30 dias para que o corpo fosse posto em estado de conservação - algo que deve ser feito em, no máximo, 72 horas. No caso da primeira hipótese, o número de doadores também é reduzido devido ao preconceito dos familiares do doador. Esta decisão é sempre tomada em conjunto com a família, que por vezes não apoia e não entrega o corpo para a instituição. A Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) tem um cadastro de doadores e um protocolo a ser seguido para depois da morte do doador, na qual o familiar assina um documento de entrega do corpo - o que não existe na UFSM e na maioria das universidades. O ideal de um laboratório de anatomia é ter um corpo para cada dez alunos, o que é raro nas instalações brasileiras e dificulta o ensino e a graduação dos profissionais de saúde. .txt


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geral

Fim de semana no Campus Karohelen Dias e Leonardo Cortes

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ara ter qualidade de vida, todos precisam de um tempo de descanso - o que é encontrado nas práticas de lazer, que são cada vez mais importantes para a manutenção saúde física e mental. Também é uma forma de socialização, em que se torna possível dialogar com outras pessoas e fazer novas amizades. Além de todas as atividades de ensino, pesquisa e extensão realizadas por professores, alunos e técnicos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) nos cinco dias úteis da semana, também são disponibilizadas diversas oportunidades de lazer para o público. Elas são oferecidas para a integração dos estudantes e para o cuidado com a saúde. A UFSM possui um amplo espaço para a prática de atividades físicas. A Instituição conta com equipamentos de academia externa, pista de caminhada e corrida, além da execução de projetos específicos dos cursos da Universidade. A .txt indica o que se pode fazer nos finais de semana no Campus.

Programa Segundo Tempo

Um núcleo que oferece lazer para o público é o Programa Segundo Tempo. O programa é desenvolvido pela Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEED) e são os profissionais do Centro de Educação Física e Desportos (Cefd) que orientam as atividades. Nos finais de semana, as modalidades que podem ser praticadas são: futsal, vôlei, tênis, hidroginástica e natação. A estudante de Licenciatura em Educação Física, Edynéia de Brito, faz hidroginás-

tica, dança e musculação. “Foi uma experiência nova para mim, pois não tem muito a ver com licenciatura, que é o que eu faço, por isso me chamou a atenção como frequentadora. Gosto muito das atividades do Segundo Tempo”, relata a acadêmica. Os horários e oportunidades estão disponibilizados no site ufsm.br/segundotempo.

Atividades desportivas

O Universitário Rugby Santa Maria realiza suas atividades desportivas desde 2009. O esporte surgiu na Inglaterra, na cidade de Warwickshire, na escola de Rugby. Eles já realizaram a prática em outros lugares, como o Parque Itaimbé, mas agora realizam seus treinamentos na clareira perto do Centro de Eventos da UFSM. Aos sábados, o time feminino executa os preparos; aos domingos, o masculino. O diretor técnico, Bryan Backes, afirma que quem gosta do esporte pode praticar e será “muito bem recepcionado”. O Futebol de Campo é outra opção de atividade nos finais de semana. A equipe de futebol da UFSM é vinculada ao Departamento Experimental de Futebol (DEF) e o time é aberto a toda a comunidade acadêmica: são feitos treinamentos, amistosos, jogos e campeonatos ao longo do ano. Uma das figuras mais importantes do time é o preparador físico Renê Nöller. O estudante de Educação Física conta que iniciou as atividades como jogador, depois participou da comissão e, hoje, atua na preparação dos jogadores. “Sempre fui muito envolvido com os

esportes, ingressei na faculdade muito cedo, com 17 anos, e morei sozinho. Foi muito bom ter um lugar para continuar com a prática do treinamento esportivo. Além das amizades criadas dentro do time, também amadureci muito como pessoa” , conta.

Planetário

Grande parte do movimento se deve à programação especial de domingo no Planetário da UFSM. O Planetário foi inaugurado em 1971 pelo Reitor Fundador da UFSM Professor José Mariano da Rocha Filho, sendo o primeiro planetário a ser criado junto com a universidade. Através do ensino não formal participa na difusão da cultura astronómica, onde são oferecidas simulações do céu artificial através de um sistema de projecções de estrelas Pessoas de todas as idades comparecem para assistir as sessões que o local oferece. Para agendar sua visita ao Planetário entre em contato pelo telefone 3220 8226, os valores são de R$ 1,00 para estudantes e R$ 3,00 para o público geral.

Retrato de um fim de semana

No domingo do dia 24 de junho, muitas pessoas visitaram o Campus da UFSM. Famílias, casais, grupos de amigos com mateiras para chimarrão. Todos com o interesse em aproveitar do espaço físico. Quem vem para lucrar no fim de semana no Campus, é o vendedor ambulante de algodão-doce, Seu Edenir. Ele diz que o movimento de pessoas é grande e, assim, garante seu sustento. .txt

Fotos: Leonardo Cortes Outubro 2012 .txt 9


geral

Segurança, transporte e iluminação... Franciele Varaschini, Luiza Bayer e Nicholas Lyra

Arte: Luciele Oliveira

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Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) possui, além de seus 70 cursos diurnos, 15 cursos noturnos. Com o recente aumento no número de vagas para estudar à noite, o Campus tem mais circulação de alunos, contando ainda com o movimento do Hospital Universitário (HUSM), que funciona 24 horas por dia e atende pessoas de toda a região central do estado. Todas as noites, os estudantes enfrentam dificuldades com a falta de iluminação em alguns pontos do Campus. Em relação ao transporte, as principais reclamações se referem à redução dos horários de ônibus e da ausência de linhas a partir de determinados horários. A segurança, principalmente nas proximidades da Casa do Estudante, é outro ponto citado quando se fala sobre a noite no Campus. O chefe do núcleo de vigilância da UFSM, Romeu Lemes Osório, que atua há cinco anos no cargo, explica que o número de vigilantes que trabalha no Campus aumenta em trinta por cento no período da noite. De acordo com Osório, 180 profissionais compõem o quadro da Instituição, entre membros do quadro da Universidade e terceirizados da empresa Vigillare. Os responsáveis pela segurança ficam em postos de vigilância, distribuídos em todos os prédios e principais locais da UFSM. Os funcionários contam com recursos que auxiliam no trabalho, como câmeras de vigilância espalhadas pelo Campus e duas viaturas diunoturnas. Sobre as principais ocorrências na Universidade, Osório afirma que a violência e os furtos no período da noite vêm diminuin-

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do gradativamente e que agora são quase nulos. A principal atividade dos vigilantes é a abordagem de rotina. Segundo Osório, as pessoas abordadas são as que apresentam comportamento suspeito: “o movimento diminui muito após as onze da noite, então qualquer circulação de pessoas após esse horário torna-se suspeita”. As câmeras também contribuem para identificar esses suspeitos, o que inibe a maioria das ações: “essas abordagens de rotina vêm sendo feitas para adequar o serviço e diminuir ainda mais as ocorrências”, garante o chefe do núcleo de vigilância da UFSM. Na Casa do Estudante Universitário (CEU), a reclamação é do barulho feito por alguns estudantes. Em caso de festas e música alta, a abordagem por parte do serviço é apenas de orientação. No entanto, Osório pondera que esses casos são exceções, já que o comportamento na CEU é tranqüilo na maior parte do tempo.

Infraestrutura A Pró-Reitoria de Infraestrutura (Proinfra) é responsável, além da vigilância, por setores como segurança, iluminação, obras e portarias. O pró-reitor de Infraestrutura da UFSM, Valmir Brondani, que está no cargo há seis anos, esclarece: “toda a parte que não está ligada ao

ensino compete a nós. O trabalho da Proinfra é dar condições estruturais aos estudantes”. Sobre a vigilância eletrônica, Brondani destaca o funcionamento das mais de 20 câmeras espalhadas pelos mil hectares de área do Campus. As câmeras funcionam 24 horas por dia, mas com alguns problemas. O pró-reitor conta que as zonas de sombra atrapalham o monitoramento, que fica a cargo de seis funcionários. Mesmo com alcance de giro de 360 graus, os problemas de posicionamento são constantes, devido a obstáculos como galhos de árvores. As gravações permanecem armazenadas por trinta dias. Para ajudar no monitoramento, foi feita a instalação de quatro câmeras na entrada da Universidade- duas para vigilância dos veículos que entram e outras duas responsáveis pelo monitoramento de saída. De acordo com Brondani, circulam cerca de 20 mil veículos por dia pelo campus da UFSM. As câmeras registram a placa de todos os veículos, o que facilita a identificação e torna a fiscalização mais precisa. Após as 20 horas, todos os veículos são abordados no arco para supervisão de rotina. A maior parte desses carros circula nesse horário devido ao movimento do Hospital Universitário. À noite, o monitoramento das câmeras torna-se ainda mais complicado, já que os equipamentos não possuem sistema de infravermelho. Nesse período, o principal recurso de segurança são os sensores de presença, instalados em mais de 200 ambientes, principalmente em salas de aula e laboratórios. De acordo com Brondani, a instalação destes aparelhos reduziu o número de


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...desafios a serem enfrentados furtos de equipamentos dentro das dependências da universidade. Brondani relata um episódio que ocorreu na época em que era vice-diretor do Centro de Tecnologia (CT), quando reclamações relacionadas ao roubo de computadores dos laboratórios começaram a chegar a ele. Depois de mais de um ano de investigação, foi descoberto que se tratava de pessoas ligadas aos setores terceirizados da Universidade. “Antes, roubavam muitos equipamentos. Mas faz uns três anos que está mais tranquilo”, afirma.

Iluminação A falta de iluminação em algumas áreas do Campus é uma das reclamações mais recorrentes dos acadêmicos. Recém-formada em Arquivologia, Caroline Ciscato, relata: “ao redor do Planetário, o sistema é muito precário”. Assim como Caroline, os estudantes que até o ano passado tinham aulas apenas no centro, e este ano passaram a estudar no Campus, também tiveram que se adaptar aos problemas de iluminação nas imediações dos novos prédios do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH). Além dos prédios 74A e 74C, outro ponto mal iluminado é à frente do Centro de Educação (CE), ao contrário do que acontece em frente ao HUSM, onde a iluminação é boa. Brondani, no entanto, faz uma pon-

deração sobre o sistema e o alcance das câmeras: “são poucas as aulas à noite, então o cuidado acaba sendo desleixado. Se fosse bem iluminado, teríamos imagens melhores”. Brondani relata, no entanto, que a falta de mão-de-obra compromete a melhoria dos pontos mal iluminados.

Transporte O transporte público também vira assunto quando se trata da noite no Campus. O gerente operacional da Associação dos Transportadores Urbanos de Passageiros de Santa Maria (ATU), Cristiano Andretta, afirma que a previsão de aumento de passageiros em função dos cursos que saíram do centro era de mais de 800 por dia. No entanto, de novembro até maio deste ano, o aumento no período noturno foi de cerca de 250 passageiros. De acordo com Andretta, a maioria das reclamações referentes aos horários de ônibus parte dos usuários da linha UFSM-Bombeiros. Segundo ele, o pedido de aumento dos horários dessa linha é recorrente. Andretta admite que existe preocupação da Associação com a demanda, mas afirma que são necessários alguns cuidados burocráticos para implementação de outros horários ou acréscimo de outras linhas. A maior dificuldade, explica ele, parte do custo operacional. “É ne-

cessário um estudo amplo, porque são vários os custos: combustível, pagamento de motoristas, cobradores e manutenção. Às vezes, acontece de colocar mais uma linha, ou mais um horário, e ninguém pega”, admite. O gerente também observa que a necessidade imediata de utilização de determinada linha nem sempre acontece com frequência: “às vezes, as pessoas cobram determinado horário, mas é uma necessidade de uso única, nem a pessoa vai utilizar mais esse ônibus”. Recentemente, algumas mudanças foram feitas na linha UFSM-Bombeiros. O ônibus Bombeiros Faixa Velha, do horário das 22h30, passou a trafegar na Faixa Nova, em função da demanda, já que as linhas Bombeiros Faixa Nova não circulavam após as 19h. Depois das 20h, os ônibus passaram a sair dos terminais em intervalos de quinze minutos. Antes deste horário, os intervalos são de dez minutos. Os controles de partida e chegada são feitos através de fiscais que se localizam nos terminais da Rua Vale Machado, por meio de relatórios. Sobre a expectativa de alguns estudantes, de que os horários noturnos sejam ampliados, Andretta afirma que existe a possibilidade. “Os estudos para estas ampliações estão sendo feitos, mas a preocupação com a demanda é o principal empecilho”, comenta. Segundo ele, é necessário que haja um número mínimo de usuários para a linha, que seria de dez a 15 pessoas. “Não adianta colocar um horário e ninguém usar porque depois, para tirar de circulação, é muita burocracia. Tem que ter fundamento”, finaliza Andretta. .txt .txt Outubro de 2012 11


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As vítimas

O dilema dos animais abandonados

A

comissão de juristas do Senado, que elabora o novo Código Penal Brasileiro, aprovou uma reformulação na Lei de Crimes Ambientais 9.605/98, em junho deste ano. O colegiado criminalizou o abandono de animais, com multa e até quatro anos de prisão. A lei, agora mais severa, pretende fazer com que os cidadãos reflitam antes de abandonarem seus animais de estimação. A problemática que envolve esses seres, no entanto, é complexa e envolve questões que vão além da punição. Hoje, as pessoas não largam os bichos apenas em praças e estradas. As universidades públicas se tornaram um destino alternativo para cães e gatos. O Campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) recebe novos animais frequentemente. Quem abandona, considera o local mais seguro, pois fica longe do centro urbano e comporta a Casa do Estudante (CEU I) e o Hospital Veterinário. O diretor do Hospital Veterinário da UFSM, Sérgio Segala, explica que as pessoas abandonam animais no Campus da Universidade porque acreditam que alguém irá adotá-los. Ele relata que muitos cães e gatos são largados nos arredores e, muitas vezes, no próprio Hospital Veterinário. “É comum abandonarem animais aqui na porta do hospital, até mesmo em ninhadas’’, relata o diretor. Segala conta que o Hospital Veterinário presta serviço clínico aos animais que são abandonados na UFSM. Eles passam por uma triagem clínica e depois são levados a um canil, onde são alimentados, castrados e encaminhados para a adoção. Ele explica, porém, que faltam condições materiais e estruturais para dar suporte a esses animais, e que esse serviço não é uma obrigação do Hospital Veterinário. Segala também salienta que a Universidade não dispõe de mecanismos que impeçam as pessoas de abandonarem os bichos no Campus. O diretor considera, ainda, que a reprodução descontrolada de cães e gatos seja uma das causas do abandono. Os animais domésticos que não são castrados cruzam, e as crias indesejadas são jogadas nas ruas pelos próprios donos. Os que são adultos também são abandonados, principalmente quando ficam doentes, assim como as fêmeas que estão prenhas. Além disso, Segala acredita que a UFSM se tornou um foco de abandono por não existir, em Santa Maria, um local apto a receber esses animais de rua.

Fotos: Laíssa Sardiglia

Uma possível luz no fim do túnel

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Em outubro do ano passado, a Câmara de Vereadores de Santa Maria aprovou o projeto de lei que pretende diminuir a porcentagem de animais abandonados da cidade, através da “microchipagem” O autor do projeto, o veterinário e professor da UFSM, Manoel Badke, explica que os donos terão que identificar seus bichos por meio de chips eletrônicos. O custo da colocação será cerca de R$ 10,00. Badke conta que o objetivo da “microchipagem” é instituir a posse responsável. O projeto prevê que o cidadão que não cumprir a determinação seja notificado e multado. Se ele permanecer na ilegalidade, será inserido na lista da dívida ativa do município. Badke acrescenta que só a lei da ‘’microchipagem’’ não é o suficiente para resolver a situação dos animais. Por isso,


dessa história

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no Campus da Universidade

Laíssa Sardiglia e Rafael Rangel idealizou a Central de Controle Bem Estar Animal em Santa Maria, aprovado pelo legislativo em julho desse ano. A Central deve começar a funcionar três meses após a lei ser sancionada pelo prefeito Cezar Schirmer, e tem como principais objetivos o recolhimento, o transporte e o encaminhamento dos animais para uma aérea ainda a ser definida. Segundo Badke, a Central irá controlar a população de cães e gatos da cidade, fará atendimento aos animais abandonados e realizará a esterilização dos bichos. Além disso, a entidade pretende lançar campanhas educacionais de conscientização e realizar programas de vacinação e de ‘’microchipagem’’. Para atender a população sobre questões que envolvam animais em via pública será disponibilizado um número de telefone. Com a nova lei, a UFSM poderá interagir com a Prefeitura Municipal e a comunidade em prol dos animais. Para isso, o veterinário e professor da UFSM sugere que a Universidade seja parceira da Central em um sistema que contemple a ‘’michochipagem’’, a castração e a adoção dos animais que estão abandonados no Campus.

Solidariedade apenas se concretiza com ações

Constantemente menosprezados, os animais de rua têm suas defesas imunológicas diminuídas em virtude da fome, da tristeza e da solidão. Em virtude disso, podem adquirir doenças transmissíveis a outros bichos e ao próprio ser humano. Estes seres despertam comoção em várias pessoas, mas recebem ajuda efetiva de poucas. No Campus da UFSM, cães e gatos contam com o carinho e cuidado de alguns moradores da CEU I. Uma delas é a estudante de Artes Visuais, Rose Wegner. Ela é defensora dos animais e já adotou vários gatos. Atualmente, divide o pequeno espaço que mora, com outro estudante e com a gata de nome Zelda. Nos primeiros anos do curso, Rose dedicava mais tempo à proteção dos animais. Ela até recolhia os bichos do Campus e os levava para a casa de uma amiga, que possuía um pátio grande em Camobi. Hoje, a estudante alimenta gatos que circulam perto de seu apartamento. Por estar no último ano do curso, já planeja levar a gata consigo, assim que se mudar. ‘’A Zelda é minha companheira, nunca vou abandoná-la’’, afirma. Ao comentar sobre os estudantes que prestam assistência aos animais, a estudante observa que a maioria são mulheres: ‘’Geralmente os homens se envolvem na causa por influência das namoradas’’. Ela ainda lembra que, além da ajuda de moradores da CEU I, os bichos do campus também contam com a solidariedade de voluntários. A aposentada Sônia Maria Carvalho se desloca diariamente até a Universidade para amparar cães e gatos. Desde 1999, Sônia se dedica a cuidar animais de rua. Atualmente, ela faz parte de um grupo autônomo que os alimenta, castra as fêmeas, trata os doentes e, se possível, encaminha para a adoção. Porém, Sônia relata que é muito difícil arranjar um lar para eles, uma vez que as pessoas privilegiam cães de raça e filhotes. Com experiência no trato dos animais, Sônia acredita que o grande número de cães e gatos abandonados na UFSM outubro 2012 .txt 13


Fotos: Laíssa Sardiglia

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tem explicação. ‘’As pessoas têm a ideia de que em cada esquina da Universidade alguém irá dar comida, água e talvez até mesmo adotar os bichos ’’, ressalva. Por não terem um lar, os animais perambulam diariamente pelo Campus. É possível encontrá-los nos mais variados locais - desde atrás da biblioteca central até o terminal dos ônibus. Na opinião de Sônia, o maior perigo a que esses bichos estão submetidos é o atropelamento. Ela ainda lembra que, em certas épocas, apareciam cães e gatos mortos em decorrência de envenenamento. “Aqui na UFSM o problema não são os animais. O problema são as pessoas que abandonam, chutam eles, que não se comovem e que não respeitam o limite de velocidade”, argumenta. Diante da situação dos bichos, a aposentada não sabe se a UFSM pode fazer algo para mudar este quadro. Ela afirma que há estrutura, poder político, espaço e profissionais capacitados, mas questiona se há verba o suficiente e interesse da Universidade em resolver o problema. Contudo, Sônia imagina que seria possível a criação de um espaço na UFSM que acolhesse os animais e contasse com a participação dos veterinários do Hospital. No entanto, ela afirma que isso não poderia ser algo tão simples: ‘’não é só arrumar um buraco e colocar os cachorros’’. Na opinião dela, esse espaço precisaria englobar manejo, voluntários, limpeza, alimentação, assistência médica, castração e feira de adoção. Todos esses requisitos evitariam que o lugar fosse apenas um centro de depósito de animais. A luta de Sônia e de outras pessoas esbarra em obstáculos. Um deles é a ausência de informação de considerável parte da população, que não enxerga a situação dos bichos de rua como um problema grave. A desinformação não implica apenas o ato de abandono. Métodos para diminuir a superpopulação de cães e gatos ainda não são compreendidos e aceitos por muitas pessoas. A castração, por exemplo, é sugerida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), por ser uma prática mais ética e eficaz do que o simples extermínio dos animais. Mesmo assim, segundo Sônia, há pessoas que se opõem ao método: ‘’Elas acham que o animal castrado

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só serve para comer e dormir, o que não é verdade’’. A aposentada acrescenta que este pensamento equivocado é ainda mais perceptível entre os homens que, muitas vezes, deixam de adotar cães machos castrados. Com a constante rotina do abandono, e poucas pessoas para ajudar, Sônia confessa estar cansada: ‘’É como secar gelo. A gente doa um animal hoje, e chega amanhã aqui e tem três’, finaliza.

Porque toda princesa precisa de um castelo

Certo dia, a estudante de psicologia da UFSM, Camila Almeida (foto ao centro), avistou uma cachorra magra em frente ao Restaurante Universitário I(RU) no Campus da UFSM. Com fome, o animal que atende pelo nome de Princesa comia arroz junto ao lixo.

“É como secar gelo. A gente doa um animal hoje, e chega amanhã aqui e tem três.” Assim que viu a estudante, Princesa passou a seguí-la. Sensibilizada com a situação, Camila perguntou a moradores da Casa do Estudante, quanto tempo a cachorra estava lá e se ela tinha dono. Após ter a confirmação de que era abandonada, a jovem a levou para casa. A adaptação de Princesa em seu novo lar acabou por ilustrar as dificuldades que ela havia enfrentado no campus. A cachorra não estava acostumada a comer ração, por isso recusava. Ela ainda tem medo das pessoas, mas está se soltando aos poucos. Esse receio é consequência dos maus tratos que sofreu, relata Camila. Ela conta que quando a encontrou, Princesa tinha falhas de pelos, pois talvez tivesse sido queimada. A jovem é criticada por pessoas que não entendem a ajuda que dá aos bichos. Mas rebate as críticas dizendo que já existem muitas entidades que ajudam os seres humanos. Por isso, assim como outras pessoas, dedica-se a ajudar os animais abandonados, ignorados por grande parte da sociedade.

A estudante afirma que adotaria outros cães se tivesse espaço e condições de sustentá-los. Quando passou por uma depressão, os animais ajudaram Camila a se recuperar. Portanto, ela não entende como o ser humano é capaz de maltratar um bicho indefeso. Para ela, deveria existir um abrigo para cães e gatos na UFSM. Ela também considera que é preciso mais divulgação da situação deles, para que as pessoas, pelo menos, possam ajudá-los com alimentação e remédios.

Um doce lar para cães e gatos

Imagine a cena: cães e gatos passeando por todos os lados dentro de um apartamento, onde moram quatro jovens. A cena descrita acontece diariamente no centro de Santa Maria, onde a doutoranda em Medicina Veterinária da UFSM, Luciana Faccio (foto à direita), junto com três graduandas do mesmo curso, dividem o lar com seis bichinhos. Todos eles foram adotados através de um consenso entre elas. Luciana se diz a mais radical, pois não consegue dormir quando vê um cão abandonado. A jovem considera o desamparo aos animais um problema que precisa ser resolvido através da educação e conscientização. Na opinião de Luciana, a própria UFSM poderia conscientizar a população e fazer parcerias com clínicas e alunos de Medicina Veterinária. Sobre a hipótese de um abrigo para bichos na Universidade, Luciana é contra. Ela justifica seu posicionamento ao afirmar que um abrigo seria apenas um depósito de animais, que não resolveria o problema. Jujuba é a mais nova moradora da casa. Assim que soube da existência de uma cachorrinha abandonada e assustada andando pelo campus, Luciana ficou interessada em adotá-la. Jujuba divide a atenção com outros cinco animais adotados: a cachorra Paçoca e os gatos Paco, Pastel, Fumaça e Glacê. Apesar de ser filhote, Jujuba é muito comportada e está feliz com o novo lar. “Eu acho que quando alguém pensa em ter um bichinho é necessário saber que ele fará suas necessidades fisiológicas, ficará doente e fará barulho. Ele não vai se comportar como a Lessie e o Buddy da televisão. Ter um animal é um compromisso por anos e é preciso que as pessoas tenham consciência disso”, conclui Luciana. .txt


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Ensino Tecnológico: caminho alternativo para o diploma universitário Sandrine Müller e Vinicius Gaiger

Q

ofertadas em instituições públicas e privadas. A legitimação dos cursos tecnólogos como graduação é confirmada pela Resolução CNE/ CP 3, de 18 de dezembro de 2002, Art. 4º, publicada no site do Ministério da Educação (Mec): “os cursos superiores de tecnologia são de graduação, com características especiais, e obedecerão às diretrizes contidas no Parecer CNE/CES 436/2001 e conduzirão à obtenção de diploma de tecnólogo”.

“os cursos superiores de tecnologia são de graduação, com características especiais, e [...] conduzirão à obtenção de diploma de tecnólogo”. Os tecnólogos no Brasil

A criação dos cursos de tecnologia no Brasil se deu a partir do interesse da indústria do país em qualificar a mão-deobra no cenário urbano, já que no final dos anos 60 e início de 1970, houve um grande aumento de população. As fábricas e empresas necessitavam de profissionais capazes de produzir com maior qualidade, mas tinham pressa em formá-los. Dessa forma, o currículo reduz e foca-se no aprendizado mais direcionado para o mercado. O primeiro deles surgiu em São Paulo, em 1969, formava profissionais na área da construção civil e era ofertado pela Fatec. Apesar do ano de criação ser no final dos anos 60, o reconhecimento do Mec veio apenas em 1973. Ainda que na época já fossem considerados cursos superiores, foi em 1980, a partir da Resolução CFE nº 12, que passaram a ser denominados como cursos superiores de tecnologia. Embora tenha ocorrido, a partir de 1980, uma pausa no crescimento do ensino tecnológico - quando estes foram extintos -, a oferta de vagas foi retomada em 1998. Mas o grande salto do número de cursos

A inserção na UFSM

Na UFSM, os cursos tecnólogos surgiram simultaneamente à implantação do Reuni. A partir do segundo semestre de 2009, começaram a funcionar como cursos de graduação. São ofertados no Campus de Santa Maria através do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM), Colégio Politécnico, Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE) e pelo Centro de Ciências Rurais (CCR). Além disso, são disponibilizados em outros campi, como em Silveira Martins e no Cesnors – Frederico Westphalen. Tal qual no início da modalidade de graduação, os cursos foram surgindo amparados pelas necessidades vistas em relação à sociedade e ao mercado de trabalho - como a demanda maior de pessoas capacitadas para trabalhar em plataformas petrolíferas, que resultou, por exemplo, na criação de um curso superior em Processos Químicos. Foi ao analisar essa perspectiva de mercado, que a estudante Cristiane Verardo de Castro, 18 anos, decidiu prestar o vestibular para o curso: “Um dos principais destaques do curso é a indústria petroquímica. Com o pré-sal, esta área precisa de profissionais capacitados para atuar, e o curso de Processos Químicos tem tudo para formar ótimos profissionais”. A declaração da estudante confirma a intenção dos cursos em formar profissionais específicos, aptos a trabalhar em novas estruturas carentes de mão de obra qualificada e necessitadas de profissionais. Ratificando a ideia dos tecnólogos, Werlang diz que “o tecnólogo tem um viés mais prático na sua formação e atuação. É um profissional que tem compromisso com a execução. Portanto, além de concepção, deve estar apto a fazer difusão de tecnologias.”. Assim, o profissional desta forma de ensino é moldado essencialmente para a prática da produção industrial. Além da importância de suprir necessidades de mão-de-obra do mercado, o Pró-reitor Adjunto de Graduação, Professor Raul Ceretta Nunes, analisa a representatividade do profissional dentro da atual sociedade: “Os cursos tecnólogos são extremamente importantes para a economia de um país, pois visam atender a demanda especializada do mercado de trabalho em um curto espaço de tempo”.

Foto: Divulgação

uando se fala em educação superior, logo vem à cabeça cursos mais tradicionais e procurados como Medicina, Direito ou as engenharias. Esses, entre outros, possuem a titulação de bacharelado. Ainda, pode-se pensar naqueles que formam professores - os de licenciatura. Os menos conhecidos são os cursos que titulam os tecnólogos. Os currículos de tecnologia, muitas vezes, são confundidos com os técnicos - geralmente de ensino médio - , mas, diferente destes, têm grau superior. O bacharelado é um grau acadêmico que prevê a formação de profissionais com conhecimentos amplos em uma determinada área de concentração, o que possibilita mais opções no mercado de trabalho e incentiva o conhecimento teórico e científico. Já os cursos superiores de tecnologia, segundo o diretor geral do Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Canrobert Kumpfer Werlang, apresentam um foco em atividades específicas e práticas. Esse direcionamento provoca uma ‘’formação por competências, que implica uma forma diferente de organização curricular e da prática pedagógica, incluindo a avaliação e, por consequência, a expressão dos resultados”. O parecer do curso prevê que: “esta nova ótica de avaliação da aprendizagem, em termos de avaliação de competências profissionais, implica em profundas alterações curriculares” (PARECER CNE/CP Nº 29/2002 p. 35-36). Além de ter menor duração em relação ao bacharelado e à licenciatura, os tecnólogos visam a formação de profissionais competentes em sintonia com a mão de obra qualificada das empresas de uma determinada área profissional. Assim como nos bacharelados e licenciaturas, para ingressar nos cursos de tecnologia da UFSM é necessário concluir o ensino médio, além de submeter-se aos processos seletivos das instituições de ensino que os ofertam. Igualmente, após a conclusão do curso, o profissional pode continuar os estudos em pós-graduações, de diversas áreas,

de tecnologia se deu a partir da criação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) em 2003. Além de criar também cursos de bacharelado, a reforma aumentou significativamente o número de graduações tecnológicas. Para se ter uma ideia, segundo o Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia, de 2010, contido no site do Mec, os cursos de tecnologia estão distribuídos em 13 áreas diferentes do conhecimento.

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E parece que essa grande procura de profissionais específicos já foi, de alguma forma, entendida pelo mercado de trabalho. A egressa do curso de Tecnologia em Alimentos, Évelin Wigmann, ressalta que, durante o curso, obteve êxito em encontrar oportunidades na sua área: “Eu mesma tive a oportunidade de escolher entre três indústrias de alimentos do estado para estagiar. E durante a graduação, desde o primeiro semestre, os estudantes têm muita facilidade em encontrar vagas como bolsistas de iniciação científica, ou até mesmo como voluntários dentro dos laboratórios”. Apesar dos depoimentos positivos de alunos, profissionais e professores da área, é necessário lembrar que, como qualquer nível do ensino, existem desvantagens. A formação restrita, com um tempo de duração menor do que a dos cursos de bacharelado e licenciatura, torna o tecnólogo limitado em certas áreas, além de não haver o mesmo grau de conhecimento teórico. Além disso, como afirma o Diretor do Colégio Politécnico, Werlang, existe um grande preconceito com o título dado ao profissional, como o pensamento de que a qualidade da formação está direta e unicamente relacionada ao tempo de duração. Isso causa a mistificação de que bacharéis são mais capacitados que os tecnólogos. Ademais, a criação recente e o menor número de matriculados nos cursos de tecnologia causam certa resistência dos empregadores, que insistem em reservar amplamente o mercado para bacharéis. Ainda segundo Werlang, dados estatísticos mostram que apenas 10% das matrículas nos vestibulares da UFSM são para os de titulação de tecnólogo, enquanto 17,3% estão nas Licenciaturas e 72,6% nos Bacharelados. Em relação às vagas, a UFSM oferece anualmente 530 nas habilitações de tecnologia. Mesmo que a área tecnológica esteja em crescimento, na Universidade a intenção é, antes de criar novas graduações, a de aprimorar e de consolidar os que existem atualmente. Apesar de acreditarem ser muito cedo para uma análise em relação à estrutura física dos cursos, as principais carências coincidem com as dos bacharelados e das licenciaturas, como compra de equipamentos e sobrecarga de professores. Vê-se, então, que o Ensino Tecnólogo é uma boa opção para quem visa a uma rápida entrada no mercado de trabalho, de forma mais objetiva que os bacharelados, e aprofundando-se no dinamismo da era de indústrias cada vez mais exigentes em relação à qualidade dos serviços. 16 .txt Outubro 2012

Cursos tecnológicos no Campus da UFSM Tecnologia em Alimentos

Título: Tecnólogo em alimentos Ano de criação: 2009 Número de vagas para 2013: 100 Objetivo geral e áreas de interesse: formar profissionais que atuem em indústrias grandes, médias, pequenas e agroindústrias nas áreas da microbiologia, química, bioquímica, controle de qualidade e tecnologias (leite, carne, frutas e hortaliças, mel, grãos e cereais, embalagens, óleos e gorduras, bebidas, análise sensorial), além de gestão e empreendedorismo. Carga horária e duração: 2.760 horas com duração de três anos. Por que cursar? “Por ser de menor duração e mesmo assim não deixar de ser um curso superior, além de ter inúmeros campos de trabalho e ainda a profissão estar em ascendência e com muitas vagas no mercado.’’ (Paola Woiczekowski Rozales, 18 anos, estudante do terceiro semestre). ‘’Por ser um curso rápido e de grande especificidade, visando um potencial mais prático.’’ (coordenadora do curso Professora Neila Richards). Centro técnico: Centro de Ciências Rurais Contato: (55) 3220-9420/cstaufsm@gmail. com Média salarial: Aproximadamente 10 salários mínimos.

Processos Químicos

Título: Tecnólogo em processos químicos Ano de criação: 2011 Número de vagas para 2013: 40 Objetivo e áreas de interesse: Aperfeiçoar e adequar os métodos analíticos envolvidos no controle de qualidade de matérias-primas e produtos acabados e no planejamento e gerenciamento de análises laboratoriais, dando destaque aos métodos envolvidos no controle de processos da indústria petroquímica, biocombustíveis, polímeros, papel, carvão e carboquímica. Carga horária e duração: 2700 horas com duração de três anos e meio. Por que cursar? “O curso conta com um centro de pesquisa em petróleo, o Cepetro, que investe em pes-

quisas na área. Além do campo petroquímico o curso compreende os biocombustíveis, polímeros, elastômeros, carboquímica e processos inorgânicos. Sendo um curso que está recém começando, há muito o que crescer e dar boas oportunidades para os alunos.’’ (Cristiane Verardo, 18 anos, estudante do segundo semestre). “Há uma carência no mercado de profissionais habilitados para trabalhar no controle de qualidade dos diferentes segmentos industriais. Em especial, o curso de tecnologia em processos químicos dá ênfase especial a indústria do petróleo, carvão e polímeros”. (coordenador do curso Professor Edson Irineu Müller). Centro técnico: Ciências Naturais e Exatas Contato: (55) 3220.9445 edson_muller@yahoo.com.br Média salarial: Aproximadamente três salários mínimos.

Redes de Computadores

Título: Tecnólogo em redes de computadores Ano de criação do curso: 2009 Número de vagas para 2013: 80 Objetivo e área de interesse: Formar profissionais com habilidades e atitudes que consolidem a capacidade crítica e reflexiva, focadas no planejamento, na implantação, na manutenção, no gerenciamento e na administração de redes locais e/ou remotas, além da administração de serviços e de sistemas operacionais de redes. Carga horária e duração: 2340 horas com duração de três anos. Por que cursar? “Porque a maioria das organizações está preocupada com hardware (seus computadores) ou softwares (os programas que rodam neles), o enfoque do curso de tecnologia em redes de computadores está voltado para o gerenciamento de servidores e de todos os tipos de dados que circulam na rede (internet), sendo possível o controle de fluxo de dados e segurança das informações trafegadas. Além disso, o curso também tem uma divisão voltada para telecomunicações, como implementações de antenas e demais componentes que envolvem a comunicação de dados por telecom (celular, tv, satélite etc.).’’ (Carlos Alberto Uberti Vianna, 27 anos, estudante do quinto semestre). “O curso proporciona uma excelente forma-


ção para um mercado carente de bons profissionais. Temos professores qualificados e com experiência profissional no mercado de redes de computadores, temos equipamentos utilizados em grandes empresas, temos instalações novas para o desenvolvimento das atividades teóricas e práticas. Ou seja, possuímos os recursos necessários para o desenvolvimento de um ótimo processo de formação.’’ (coordenador do curso Walter Priesnitz Filho). Centro técnico: Colégio Técnico Industrial Contato: webmaster@redes.ufsm.br Média salarial: Aproximadamente cinco salários mínimos.

Fabricação Mecânica

Título: Tecnólogo em sistemas para internet Ano de criação: 2009 Número de vagas para 2013: 40 Objetivo e áreas de interesse: Formação de profissionais de nível superior com habilidades para desenvolver sistemas para a Internet tratando adequadamente de interfaces e aplicativos, dominando os conhecimentos de comércio, marketing eletrônico e programação para dispositivos móveis. Carga horária e duração: 2700 horas com duração de três anos e meio Por que cursar? “É um curso que abre muitas possibilidades, apesar de ser muito dificil. Fazer programas hoje em dia para facilitar a vida é o presente e o futuro.’’ (Matheus Leite, estudante do quarto semestre). ‘’Porque o curso está organizado para preparar o egresso para atuar no mercado de trabalho ou na área de pesquisa, conforme for o interesse do aluno, pois está atendendo as demandas da sociedade e do processo produtivos. Além disso, é uma área que está em alta no mercado de trabalho, oferecendo ótimos salários.’’ (coordenadora do curso Rosiclei Aparecida Cavichioli Lauermann). Centro técnico: Politécnico Contato: (55) 3220-8070/ coordenacao.csi@ufsm.br Média salarial: Aproximadamente 11 salários mínimos

Geoprocessamento

Título: Tecnólogo em geoprocessamento Ano de criação: 2009 Número de vagas para 2013: 40 Objetivo e áreas de interesse: Visa a formação de um profissional comprometido com o desenvolvimento sócio-cultural e econômico do país, capacitado a trabalhar na área da geomática, atendendo às necessidades da sociedade e do processo produtivo. Carga horária e duração: 2775 horas com duração de três anos e meio Por que cursar? ‘’Escolhi Geoprocessamento por ser uma área que tem grandes oportunidades de emprego, porém o número de profissionais especializados na área é muito baixo, o que acarreta numa carência no mercado. É um curso de tecnologia que tem uma menor duração e assim é

Gestão de Cooperativas

Título: Tecnólogo em gestão de cooperativas Ano de criação: 2008 Número de vagas para 2013: 40 vagas Objetivo geral e áreas de interesse: Oferecer formação profissional de nível superior para implantar e gerenciar atividades relacionadas às diferentes formas do associativismo, promovendo o desenvolvimento social, econômico e pessoal, dentro dos princípios éticos e morais, proporcionando qualificação aos profissionais que atuam ou desejam atuar nas organizações cooperativas pela ênfase na gestão e na educação cooperativa. Carga horária e duração: 2080 horas com duração de três anos e meio Por que cursar? “Existe uma grande demanda por profissionais formados na área de Gestão de Cooperativas, e isso faz com que o mercado de trabalho seja atrativo. Além das disciplinas específicas de cooperativismo, o aluno estuda disciplinas gerais (administração, contabilidade), o que possibilita também trabalhar em empresas convencionais’’(Andressa Canabarro, estudante do quinto semestre). ‘‘A atuação em cooperativas tem demandado profissionais formados nessa área em especial, pois no mundo contemporâneo conhecer a gestão de forma ampla é essencial para qualquer profissional, e saber usá-la é ainda mais importante.’’ (coordenador substituto Prof.essor Gabriel Murad Velloso Ferreira). Centro técnico: Politécnico Contato: (55) 3220-9420/ gestao.cooperativas@politecnico.ufsm.br Média salarial: Próximo a dois salários mínimos. .txt

Fotos: Bianca Jaíne e Divulgação

Título: Tecnólogo em fabricação mecânica Ano de criação: 2009 Número de vagas para 2013: 40 vagas Objetivo e áreas de interesse: Formar profissionais que atuem - planejamento, controle e gerenciamento - no segmento de fabricação que envolve diferentes processos como usinagem, conformação, soldagem, montagem e outros processos mecânicos. O profissional poderá trabalhar em indústrias do ramo metal-mecânico. Por que cursar? “Sou técnico em informática e sempre gostei da área de mecânica, acho que consigo fazer uma boa combinação na área computadorizada da industria mecânica. A opção por um tecnólogo com graduação é por ser um curso mais curto, mas que ultimamente esse tipo de curso está sendo muito procurado pelas industrias.’’ (Marcelo Weigert , 23 anos, estudante do segundo semestre). “Os cursos de tecnologia são de menor duração que um curso de engenharia mecânica tradicional e tratam de um tema específico. Os cursos de tecnologias ministram o conteúdo teórico com o mesmo grau de dificuldade que um curso de engenharia, mas acrescenta um aprofundamento prático. Consequentemente, o aluno tem oportunidade de ingressar mais cedo no mercado de trabalho e com a competência esperada.’’ (coordenador do curso Valdir Bólico Araújo). Carga horária e duração: 2985 horas com duração de três anos e meio Centro técnico: Colégio Técnico Industrial Contato: bolico@ctism.ufsm.br Média salarial: Próximo a três salários mínimos.

Sistemas para Internet

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mais aplicado.’’ (Nadinne da Silva Fernandes, 20 anos, estudante do quinto semestre). “Porque o Geoprocessamento é a profissão da atualidade e do futuro. Porque o Geoprocessamento está presente em todas as áreas e ninguém sobreviverá sem as geotecnologias.’’ (coordenador do curso Professor Luiz Felipe Díaz de Carvalho). Centro técnico: Politécnico Contato: (55) 3220-9419/ geoprocessamento@politecnico.ufsm.br Média salarial: Aproximadamente quatro salários mínimos .

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de dentro para fora

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Desastres naturais em estudo Núcleo de Pesquisas utiliza geotecnologias para monitorar desastres Mariana Cunha Fontana e Matheus Massotti Thomas

Foto: Victor W. Carloto

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Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais (INPE-CRS), localizado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), implantou há sete anos, o Núcleo de Pesquisa e Aplicação de Geotecnologias em Desastres Naturais e Eventos, o Geodesastres-Sul. O objetivo do Núcleo é trabalhar os desastres naturais que ocorrem na região sul do Brasil, nas etapas: de prevenção e auxílio durante e depois do ocorrido. O Geodesastres-Sul é formado por um conjunto de pesquisas do INPE (foto) que se dedica a realizar estudos através de projetos de aplicações na área de desastres naturais, e que utiliza de geotecnologias, ou seja, imagens de satélite, sistemas de informação geográfica e por satélite. Segundo a Coordenadora do Geodesastres-Sul, Tania Maria Sauzen, a Região Sul é a segunda com mais desastres no Brasil, perdendo apenas para o Sudeste. E é através das geotecnologias que as catástrofes naturais são monitoradas: “são usadas imagens de satélite para caracterizar os acontecimentos, identificar e monitorar. Eles são repetitivos, com maior ou menor frequência e magnitude, e as geotecnologias ajudam a monitorar para ver como eles ocorrem”, comenta a Coordenadora. O trabalho desenvolvido pelo Núcleo é realizado em conjunto com a Defesa Civil e com as prefeituras das cidades dos estados da região sul. Na sede do Núcleo, existem computadores equipados com tecnologias que permitem monitoramento e alerta de desastres onde es-

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tão conectadas três Defesas Civis, equivalentes aos três estados da região Sul do Brasil, que recebem esses alertas de onde estão. Tania relata que essas parcerias são complicadas: “Quando muda o governo, muda o Órgão de Proteção Civil. Então, tudo o que já foi feito muda e eles perdem o que foi produzido”. Outro serviço realizado pelo Geodesastres-Sul é o controle do Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios afetados pelas catástrofes. Segundo a Geógrafa e colaboradora do Geodesastres Sul, Maria Silvia Pardi Lacruz, esse mapeamento auxilia a identificar o quanto o município sofreu por determinado desastre. A geógrafa exemplifica: “a estiagem atrapalha a produção. Desse modo o produtor não tem dinheiro para comprar produtos e isso acaba repercutindo em toda economia”, detalha. Com esse monitoramento, é possível saber quais as necessidades mais urgentes de cada município após um dos acontecimentos. As pesquisas realizadas pelo Núcleo não contam com financiamento de órgãos estaduais ou federais, pois não há nenhum custo para a instituição ou para os pesquisadores que utilizam softwares e imagens gratuitas. E, por ser gratuito, qualquer instituição pode utilizar as imagens e o programa: “são pesquisas baratas, mas de boa qualidade, para que assim todos os municípios possam ter acesso”, explica Tania. O Geodesastres-Sul possui sete pesquisadores e dois profissionais da área da informática, contando também com bolsistas que auxiliam nas pesquisas. Segundo Tania,

pessoas das mais diversas áreas podem atuar no Núcleo: “Deve existir parceria entre várias áreas, inclusive com os comunicadores, pois eles precisam saber a informação que eles vão passar, corretamente”. Entre os profissionais que podem trabalhar com as catástrofes naturais, Maria Silvia cita alguns: arquiteto, assistente social, biólogo, economista, enfermeiro, engenheiros agrônomo e ambientais, médicos, meteorologistas, profissionais de informática, psicólogos e técnicos em geoprocessamento. Cada um vai atuar de acordo com a área em que trabalha e em diferentes etapas. Um psicólogo, por exemplo, ajudará as vítimas depois do desastre, no momento da recuperação. O Estudante de Engenharia Ambiental e Sanitária do Centro Universitário Franciscano (Unifra), Ewerthon Cesar Bernardi, conta que entrou no Núcleo por indicação de professores da Unifra, e que agora, outros acadêmicos, de outros cursos, também estão atuando no projeto. “O meu curso é multidisciplinar. Ele tem relação com a geografia - estudo do impacto no ambiente, meio social. Isso tudo permitiu que eu entrasse para a equipe”, conta. Tania e Maria Silvia deixam claro que o que falta no Brasil é uma maior conscientização da população para prevenir esses acontecimentos. Para elas, é preciso que haja um trabalho nas escolas, com os professores e alunos, para que todos tenham em mente que cuidar do ambiente é o primeiro passo para reduzir esses desastres. .txt


de fora para dentro

Artes e brincadeiras

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Crianças desenvolvem a criatividade na escolinha de Artes do CAL Talis Machado

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de em Artes (Lica). Em 1998, passou a ser Órgão de Apoio do Departamento de Artes Visuais do CAL. As aulas que acontecem nas tardes de quarta-feira, das 14h30 às 17 h30 minutos, e nas manhãs de quinta e sexta-feira, das 8h30 às 11h30, são dividas em duas partes: a primeira, direcionada às Artes Cênicas, com atividades como peças teatrais e com fantoches, criação de figurinos, jogos de observação e percepção, entre outros; a segunda, dedicada às Artes Plásticas, onde os alunos que tem idades de seis a 12 anos, divididos em turmas de 20, trabalham com serigrafia, xilogravura, argila, madeira, montagens, colagens, construções, cartões, pintura, desenho, sucata, construção de painéis e tantas outras formas de expressarem sua visão de mundo, sua arte. Atualmente, apenas as atividades de música não são mais realizadas. Paradoxalmente, foi em função das atividades e da criação da Escolinha na Universidade, em 1963, que surgiu a motivação para criá-la. Hoje, essas atividades de iniciação musical são oferecidas pelo curso Extraordinário de Música. Uma Prática Educacional foi criada no currículo da Licenciatura para ser desenvolvido especificamente no Lica, um estágio na Escolinha, previsto no currículo. Todas as atividades realizadas na escolinha decorrem de um plano feito pelos alunos do curso, os quais são coordenados pela professora substituta do curso de Bacharelado e Licenciatura

Plena de Artes Visuais, Karine Gomes Peres, que está na Escolinha desde maio de 2011. O trabalho executado através das Práticas Educativas é efetuado em dois momentos: um de observação das aulas, em que os alunos preparam o projeto para ser desenvolvido com as crianças; e um segundo, que é a sua aplicação. Nessa perspectiva, as atividades são pensadas dentro de uma tendência contemporânea da Arte/Educação. Assim, são elaboradas as aulas e os assuntos que serão abordados na Escolinha. “Aqui na escolinha, a gente procura dar uma visão bastante ampliada de todas as linguagens artísticas. Justamente por estar inserido no CAL, ela tem essa possibilidade de conviver com outras linguagens, ir aos ateliês, visitar uma exposição, saber como é feita uma gravura em metal e uma serigrafia. Ultrapassa aquela visão de que arte é só saber desenhar ou pintar uma tela. Esse é um dos diferenciais da nossa escolinha”, afirma a professora e coordenadora da Escolinha, Reinilda de Fátima Minuzzi. Além de querer formar artistas, a Escolinha de Artes da UFSM molda caráter, marcando desde cedo a vida de jovens santa-marienses, mostrando o valor de seus feitos e minimizando a vergonha de se expressar. Ela ensina o verdadeiro sentido da arte: a livre expressão. Tudo com muita diversão. O telefone para mais informações é 3220 8223. .txt

Foto: Laíssa Sardiglia

sala 1123 do prédio do Centro de Artes e Letras (CAL) é um pouco diferente das demais existentes no Campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ela possui um espaço físico de 122 metros quadrados. Mas não é o tamanho que chama a atenção de quem adentra pela primeira vez na sala e, sim, os móveis: as mesas, as cadeiras e as estantes são muito pequenas e logo se constata que os usuários não são alunos de curso superior. O ambiente é alegre, as paredes são decoradas com colagens multicoloridas, pinturas em guache e outros tipos de expressões de arte, sempre muito coloridas. No teto, estão pendurados aviõezinhos de madeira. Nas estantes há livros infantis e trabalhos feitos em barro. Neste pequeno espaço do Campus universitário funciona a Escolinha de Artes de Santa Maria. Fundada em 1965, a história da Escolinha se confunde com a da UFSM. Ela nasceu embasada nas diretrizes do Movimento das Escolinhas de Arte do Brasil. Desde então, acompanha as mudanças no Ensino da Arte no Brasil. Por ser o único espaço deste tipo na cidade de Santa Maria, desempenha um papel diferenciado. A Escolinha de Artes é conhecida por nomenclaturas diferentes: muitos a chamam de Escolinha de Arte ou, apenas, Escolinha. Porém, em 1978, ela foi reconhecida como Órgão Suplementar do CAL, tendo a sua denominação formal de Laboratório de Iniciação e Criativida-

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cultura

Orquestra Sinfônica de Santa Maria Nos acordes do ensino

Foto: Daniela Pin

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m 7 de Abril de 1966, abriam-se as cortinas para a Orquestra Sinfônica de Santa Maria (OSSM). No palco, ao lado dos violinos, violoncelos e contrabaixos, a vontade de enriquecer o cenário cultural santa-mariense. Na regência, estavam o maestro e fundador da Orquestra, Frederico Richter, auxiliado por Jean Jacques Pagnot. Recém desembarcados dos vagões da Estação Férrea e vindos da capital gaúcha, traziam na bagagem a experiência musical que adquiriram como professores e também como membros da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA). Junto com eles, vieram outros membros da OSPA, como o violinista Nicolau Richter, o flautista Hans Hess e o fagotista Günter Kramm. A OSSM surgiu como Orquestra de Câmara - grupo instrumental composto por um número reduzido de músicos e instrumentos. As dificuldades eram muitas, principalmente devido à necessidade de deslocamento. O professor Frederico relembra que as estradas para Santa Maria eram precárias, uma vez que não havia asfalto, o que deixava o caminho quase intransitável em dias de chuva. O trajeto de trem era complicado, pois era preciso viajar a noite toda para dar aulas e fazer os ensaios no dia seguinte. Uma rotina que exigia, além de vontade, dedicação. Menos de um ano depois, a maior parte dos músicos desistiu da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e do sonho de levar adiante a Orquestra Sinfônica. Mas a atitude tomada pela maioria passava distante dos pensamentos do idealizador da OSSM, Frederico Ritchter: “Comigo, deu-se o inverso. Fui desafiado pelas dificuldades e busquei o apoio da comunidade para conseguir levar adiante o projeto, que era tão caro para mim”.

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Em 1971, Richter mudou-se para Santa Maria, pois percebera que, em longo prazo, não poderia contar apenas com músicos vindos de fora da cidade. A partir de então, lançou mão de toda a sua habilidade como compositor para fazer arranjos e poder apresentar obras com os instrumentos disponíveis na ocasião. Nasceu, assim, a Orquestra Possível, um projeto de extensão que acolhia todos os musicistas, mesmo aqueles que não tocavam instrumentos de uma formação tradicional de orquestra.

“...fui desafiado pelas dificuldades e busquei o apoio da comunidade para conseguir levar adiante o projeto...” As obras executadas nessa época eram sinfonias simplificadas de autores famosos, como Handel e Bach, adaptadas ao grupo. Além delas, a OSSM começou a explorar outro lado: o arranjo folclórico, tanto gaúcho como nacional, que se utiliza da nossa música popular. Neste período, o maestro se ausentou durante dois anos para fazer seu Pós-Doutorado na McGill University, em Montreal, Canadá. Quando voltou, contou com a ajuda de dois músicos: Ênio Guerra, como regente adjunto e Marco Antônio Penna, como spalla (primeiro violino de uma orquestra). Juntos, eles formaram o grupo dirigente da Orquestra. Aos poucos, a Orquestra Sinfônica de Santa Maria cresceu e se tornou um patrimônio cultural da cidade. No entanto, o desenvolvimento trouxe gastos cada vez

André Alves e Daniela Pin maiores, que não poderiam ser supridos apenas com o dinheiro vindo da Universidade e com as contribuições esporádicas da Prefeitura Municipal de Santa Maria. Assim surgiu a ideia de iniciar uma sociedade que daria auxílio à OSSM. E então, em 1988, foi criada a Associação Cultural Orquestra Sinfônica de Santa Maria, que hoje conta com cerca de 230 sócios. O antigo regente adjunto e atual maestro da Orquestra, Ênio Guerra, fala da dificuldade em conseguir novos sócios: “É tudo muito complicado, principalmente quando a gente fala de arte. [...] É difícil convencer as pessoas a contribuir. A mentalidade delas ainda é de que a Universidade tem que fazer tudo. Infelizmente são poucos que pensam em colaborar”. Atualmente, a Associação funciona como uma parceira da Orquestra, que tem como atribuições principais auxiliar na compra e manutenção dos instrumentos e no pagamento de bolsas para as pessoas que não têm vínculo com a UFSM. Além disso, gastos do cotidiano referentes à mídia, à produção de banners e folders estão atrelados a ela. A Associação Cultural atua inclusive, como facilitadora na compra de materiais básicos, que se fossem adquiridos através da Universidade, passariam por trâmites burocráticos demorados. As duas produtoras ligadas à Sinfônica de Santa Maria, Cida Planejamento Cultural e a Chili Produções Culturais, têm seus projetos vinculados também à Associação. Com a criação da Associação Cultural e a implantação de mais especialidades do curso de Música, a Orquestra passou a contar com maior diversidade de instrumentos e com o aumento do número de integrantes. Se antes tinha uma média de 25 músicos, nesse período


passou a ter cerca de 40. Esse avanço permitiu que, por volta de 1989, outros tipos de obras fossem executadas, como as sinfonias mais completas de Mozart. Um grande passo para a OSSM, que permitiu que o maestro Richter começasse a contar com convidados nos concertos. “A Orquestra passou a receber músicos, regentes e compositores de outros locais, tais como da Orquestra Sodré, de Montevidéu; do Conservatório Falleri-Balso, do Uruguai; do maestro Ricardo Tacuchian, do Rio de Janeiro; de Alcides Lanza, do Canadá; do maestro Cláudio Ribeiro, de Porto Alegre e até do solista Wilhelm Walgenbach, da Alemanha. E muitos outros”, enumera Richter. Uma orquestra mais completa, com capacidade de executar obras complexas, inclusive ao lado de artistas internacionais. A soma de todos esses elementos permitiu que, a partir de 1990, a OSSM começasse a sair de Santa Maria para ir a cidades mais distantes, como Ijuí, Cruz Alta, Passo Fundo, Gramado, Rio Grande, Uruguaiana e Alegrete. Bom para os músicos que muito aprendem nessas ocasiões, melhor ainda para o público, que tem a oportunidade de conhecer um trabalho musical diferente daquele que está acostumado. O professor Ênio Guerra destaca a importância dessa experiência: “É muito bom para o público que assiste. Muitas vezes, as pessoas nem sabiam o que era uma orquestra. E também para os músicos, pois são vivências diferentes, palcos diferentes... Em algumas situações, você tem que tocar num espaço apertado, outras vezes o espaço é legal, mas a acústica não funciona. Isso é compreender como vai ser a profissão deles depois”. Este é o ponto central: “Compreender como vai ser a profissão deles depois”. Ter

a oportunidade de tocar em uma orquestra, mesmo não profissional, durante o curso, é uma chance que poucas universidades proporcionam. A estudante do curso de Música – Bacharelado em Percussão, Taiane Machado, explica que, no caso da habilitação de Percussão tocam-se, essencialmente, peças solo. Para quem está acostumado a tocar sozinho, fazer parte de um grupo é um desafio e tanto. É depender de outras pessoas e estar no mesmo ritmo. É isso que a OSSM oferece. Mas não somente, ressalta Taiane: “Como eu já citei, o tocar em grupo é muito importante. Além disso, conhecimento de repertório, do que faz parte da história da música erudita e do repertório popular, já que tocamos até Beatles. Acredito que conhecer a rotina de uma orquestra é importante, pois apesar de sermos estudantes, temos compromissos e ensaios quase de uma orquestra profissional” O ano de 1998 marcou a aposentadoria do fundador da Orquestra, Frederico Richter. Em seu lugar, assumiu o seu adjunto Ênio Guerra, que há muito tempo vinha sendo preparado para o cargo. Para desempenhar essa função, ele contou com o auxílio de Marco Antônio Pena. Desde então, os dois realizam o trabalho de forma conjunta, tanto nos ensaios como no palco. Ao longo desses 14 anos de parceria, somam-se mais de 300 concertos. Dentre eles, estão os do projeto Concertos Didáticos, voltado ao público infantil. Em sua terceira edição, ele leva o teatro e a música orquestral até crianças da primeira, segunda e terceira séries da rede pública de ensino. Neste ano, a peça apresentada foi Pedro e o Lobo, de Sergei Prokofiev. O grupo leva até os pequenos a sonoridade ligada aos personagens através de uma narrativa. Segundo Ênio, esse é um projeto que veio para ficar.

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Para os estudantes do Bacharelado de Música, tocar na Orquestra Sinfônica de Santa Maria significa, inclusive, realizar uma disciplina do curso. Mas nem só desses acadêmicos é composta a Sinfônica. Alunos de outros cursos e pessoas da comunidade também podem participar. A condição é a de que saibam tocar um instrumento de orquestra e de que passem pela seleção. A estudante de Relações Públicas e membro da OSSM, Bibiana Turchiello Ferreira, é um exemplo disso. Ela toca violino há 14 anos e desde 2009 integra o grupo e destaca a gama de aprendizados que agregou nesse tempo: “Aprimoramento de técnicas diferentes, experiências em palco, desinibição, musicalidade em grupo, conhecimento de vasto repertório [...] Cada ensaio é um novo aprendizado, uma nova forma de se expressar e de sentir, compartilhar a música e aprender a trabalhar em grupo. As viagens e apresentações, em geral, são demonstrações do quanto a música sensibiliza diversos públicos, nos deixando realizados”. O processo seletivo é composto pela execução de duas peças: uma, na qual o candidato tem cerca de uma semana para estudar, e outra de leitura à primeira vista. A partir disso, há uma conversa com cada candidato e é tomada a decisão de quem está apto e de quem ainda precisa esperar até adquirir um conhecimento musical maior. Essa é a Orquestra Sinfônica de Santa Maria: uma oportunidade de se aprimorar como músico ou simplesmente de se deixar levar pelas intensas melodias apresentadas nos concertos. Como orquestra escola, é claro que ainda está distante da maestria apresentada por sinfônicas profissionais, mas o que não falta é dedicação de cada um de seus membros para torná-la melhor a cada espetáculo e emocionar cada vez mais pessoas. .txt

Foto: Divulgação

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cultura

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É dia de feira...

Editora UFSM: 31 anos de história Bianca Jaíne e Nathieli Cervo

Fotos: Bianca Jaine

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dição, incentivo à produção e divulgação. Os objetivos da Editora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) não estão formalizados em papel. Porém, essas são algumas das finalidades com as quais a Editora se compromete. Criada a partir de uma resolução em 22 de Outubro de 1981, a Editora não esteve sempre no mesmo local. Na década de 80, sua sede se localizava no 10º andar do prédio da reitoria. Logo após, encontrava-se no térreo do prédio da Biblioteca Central. Depois, por alguns anos, ficou no centro comercial na entrada da UFSM. Atualmente, está localizada no 2º andar do prédio da reitoria. Em seus primeiros anos de existência, era subordinada à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PRPGP). Todas as atividades eram exercidas por apenas um funcionário e cabia ao Presidente do Conselho Editorial respondê-las informalmente. A mobilização de funcionários e de conselheiros editoriais, junto à Reitoria, promoveu o surgimento da Livraria da Editora no dia 17 de Dezembro de 1993. Um dos motivos que gerou esta criação foi o de que livros de outras universidades já eram comercializados no local - além de uma crise na Editora, da terceirização de livros e da necessidade de arrecadar recursos. Foi na gestão do Reitor Odilon Antônio Marcuzzo do Canto que houve investimento em espaço físico e pessoal, em equipamento e em máquinas. A partir daí, o primeiro diretor, professor Delmar Antônio Bressan, formou uma equipe de trabalho efetiva e integrada à Editora. Na sequência, o Conselho elaborou um documento até então inédito na UFSM: Política Editorial - que serve para orientar o planejamento das atividades da Editora, tais como suas relações com autores, distribuidores e livrarias. O primeiro livro, cujo título é “Gênese do democratismo luso-brasileiro”, foi elaborado em 1995. Em 1997, a Editora participava de eventos nacionais e internacionais, expondo seus mais recentes lançamentos. Curitiba e Rio de Janeiro foram às cidades visitadas no Brasil; Madri (Espanha) e Frankfurt (Alemanha), no exterior. Ainda no mesmo ano, foi criada sua página na Internet (www.ufsm.br/editora) na qual é possível encontrar: histórico; procedimentos a serem tomados por autores que desejam publicar suas obras; linhas editorais em que devem se enquadrar tais obras e o processo de distribuição das publicações. Além disso, o site

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Lançamentos na Feira do Livro: # A Condição organizacional: o sentido das organizações no desenvolvimento rural - Renato Santos de Souza # A Vila de São Francisco de Borja das Missões (1834/1887) - João Rodolpho Amaral Flores # Cultura das Imagens: Desafios para a arte e para a educação - Raimundo Martins e Irene Tourinho (Org.) - Formação de conceitos em crianças com necessidades educacionais especiais:contribuições da teoria histórico-cultural - Fabiane Adela Tonetto Costas # Isolamento Sonoro em Partições Arquitetônicas - Jorge Luiz Pizzutti dos Santos # Na Batida da Concha: sociabilidades juvenis e homossexualidades reservadas no interior do Rio Grande do Sul - Guilherme Rodrigues Passamani - Narrativas Brasileiras Contemporâneas em Foco - Eunice Piazza Gai e Vera Lúcia de Oliveira (Org.) # “Palmas” para o Quilombo: processos de territorialidade e etnicidade negra - Ana Lúcia Aguiar Melo et al. # Psicologia, Famílias e Leis: Desafios à realidade brasileira - Dorian Mônica Arpini e Aline Cardoso Siqueira (Org.) # STF e Ideologia: entre as influências da ordem liberal-democrática e os desafios da globalização - Holgonsi Soares Gonçalves Siqueira, Júlio Canello, Luciana Rodrigues Penna e Reginaldo Teixeira Perez (Org.) # Concretizando Um Ideal: a cidade universitária da UFSM de 1960 a 1973 - Neiva Pavezi # Os 50 anos da Nova Universidade - Eugenia Mariano da Rocha Barrichelo # Universidade Hoje: O que ainda precisa ser dito? Adriana Moreira da Rocha Maciel, DeisiSangói Freitas, Guilherme Carlos Corrêa, Hamilton de Godoy Wielewicki e Valmir da Silva # USM: A nova universidade - José Mariano da Rocha Filho


disponibiliza resenhas de todos os livros lançados desde 1995. A Editora começa a participar da Feira do Livro em 1998, na sua 26ª edição. O Lema da Editora da UFSM pode ser definido como “Participar da vida acadêmica da Universidade e de suas relações comunitárias tendo como instrumento o livro”. Esta afirmação sustenta-se em três princípios fundamentais: o primeiro princípio é a análise criteriosa e rígida dos textos; o segundo, a preocupação com a estética do produto final; por fim, o terceiro se apoia na divulgação das obras. A Editora é um órgão suplementar da Administração Central da Universidade Federal de Santa Maria, subordinado à Reitoria. Possui Conselho Editorial, Direção, Secretaria Administrativa, Seção de Editoração e Seção de Distribuição. A revisora e representante do Conselho Editorial, Maristela Burger, explica como funciona a publicação dos livros e em que cada órgão age:“O Conselho Editorial é o Órgão Consultivo e Deliberativo da Editora, pois delibera sobre a política editorial da Universidade e sobre os critérios para a sua execução, bem como analisa e aprova o plano anual da Editora, define a tiragem das edições e a cota a ser destinada a doações. Ele também opina sobre convênios e contratos e aprecia o relatório anual do Diretor”. Para a publicação dos livros, Maristela esclarece os passos básicos desde a entrega do original até a publicação propriamente dita. O autor entrega duas cópias da obra original para a análise. O primeiro processo é a análise preliminar do Conselho Editorial, que verifica a viabilidade de publicação do material, por exemplo, o conteúdo: se ele se enquadra em algumas das linhas editoriais da Editora UFSM; a organização: se o texto não está em formato inadequado; análise de questões mercadológicas: se o livro é vendável, análise e sugestões de título; e então, se necessário, a obra volta para o autor para as possíveis modificações. Logo após, se aprovado pelo Conselho, o texto passa pela avaliação de dois pareceristas externos, que devem apresentar notório conhecimento sobre o tema abordado. Com a aprovação de ambos, a obra vai para a publicação. Caso contrário, se um deles não for favorável à publicação, o material pode ir para a análise de um terceiro ou ser rejeitado pela Editora. O tempo para todo esse processo varia, em função da atividade dos pareceristas externos, que muitas vezes detém um pouco mais de prazo para a devolução com análise dos livros. Há alguns gêne-

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ros que não são publicados - como poesias, teses e ficção. Cabe à Seção de Editoração realizar o planejamento gráfico e a execução do programa editorial, proceder à revisão formal de textos, apresentar a produção gráfica da obra a ser publicada. E a Seção de Distribuição divulga as publicações, através de vendas, permutas ou doações, elabora catálogos de obras editadas, controla estoque de livros, providencia o encaminhamento de livros para exposições no país e no exterior e, também para a venda em congressos e eventos culturais. A Direção, por sua vez, comanda e coordena as atividades na Editora, cumprindo as decisões tomadas nas reuniões do Conselho Editorial. Acima de tudo, o Diretor deve representar a Editora perante aos demais órgãos universitários e à comunidade. Desde abril de 2002, a Editora é dirigida pelo professor Honório Rosa Nascimento. Segundo ele, houve muitas mudanças durante o tempo em que está na administração. Desde o espaço físico, o controle de estoque, o aumento de rede de distribuição, até a criação de recursos a serem utilizados para a produção dos livros. O professor conta que em cada reunião do Conselho Editorial, são analisadas de doze a vinte obras e que não há distinção entre os autores no momento da seleção dos livros, ou seja, os autores podem ser vinculados à universidade ou não. A Editora está inserida em uma Associação Nacional de editoras e livrarias de instituições de ensino públicas e particulares de todo o país, o que facilita a distribuição e comercialização das obras. “É um programa que existe entre as editoras universitárias”, esclarece o professor Honório. A Feira do Livro de Santa Maria é um evento que une obras de todas as classificações e gêneros e que foi criada pelos alunos e professores de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria no ano de 1971. A Editora UFSM tem seu estande na Feira desde a década de 90, oferecendo livros próprios e também de outras editoras de instituições do Brasil. Atualmente, ela traz lançamentos, como no ano de 2012, quando foram apresentadas 14 novas obras em uma sessão de autógrafos que ocorreu no dia 11 de maio. Além da participação na Feira do Livro de Santa Maria, faz-se presente na Feira do Livro de Porto Alegre, com estande e dia especial para lançamento de livros. .txt

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perfil

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Um homem que não acredita no acaso Augusto Vasconcelos

Foto: Myrella Allgayer

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atural de Santa Maria, Miguel Cabreira de Christo trabalha há 27 anos na Imprensa Universitária da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde opera a máquina de impressão com sistema linotipo. Não tem especialização em produção gráfica ou design, mas se interessa pela área e se sente realizado com o trabalho que exerce. Miguel é um homem que procura estar sempre de bom humor, tanto no ambiente de trabalho quanto em casa. Para escapar da rotina, gosta de jogar futebol, assistir à televisão, assar churrasco e estar com os outros integrantes da igreja que frequenta. O que ele considera ser hoje uma vida tranquila, no passado foi um mar tempestuoso, em que incertezas eram as águas de um oceano revolto. Apesar de ter crescido em uma família tradicionalmente católica, em 2006 tornou-se evangélico, juntamente da esposa, Vera. A decisão por mudar de credo não foi algo planejado. Segundo ele, houve uma época em que não tinha recursos financeiros nem para comprar pão para os filhos. Num certo dia, foi abordado na rua por um casal, que o convidou para ir à Igreja “conversar com Ele”. Coincidência ou não, neste mesmo dia encontrou dinheiro na rua. Nascido em seis de agosto de 1963, morou com a família na Vila Carolina até os 20 anos de idade, quando se casou e se mudou. A infância na Vila ao lado dos pais Victor e Maria e dos 11 irmãos “foi ótima”, ele diz. Hoje os irmãos residem em lugares bastante diferentes, como Curitiba e Santo Ângelo. A história com Vera começou no Baile do Chopp no Carnaval de seus 15 anos. Eles dançaram juntos, mas depois da festa cada um seguiu seu rumo. Três anos mais tarde, Miguel foi

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a mais um baile com a esperança de reencontrá-la. Vera foi a primeira pessoa que enxergou ao subir as escadas – ela sorriu, passou por ele e o cumprimentou. Miguel ficou esperando ela subir as escadas novamente. O que resultou desse encontro foram alguns anos de namoro e a oficialização do matrimônio em 1984. Entre altos e baixos, erros e acertos, o casal esteve separado durante um tempo, mas se reconciliou e anulou a separação. Miguel já foi um marido ausente em casa e presente em barzinhos – onde “amigos” e bebida eram suas companhias. Optou, no entanto, pela união familiar, e reconstruiu a vida ao lado de Vera. O primeiro filho, Christian, nasceu em 1987, ajudando a conciliar a relação entre o casal, de certa forma. A oportunidade de emprego na Imprensa Universitária foi a última tentativa de Miguel para seguir residindo em Santa Maria, pois depois de onze meses trabalhando na gráfica Pallotti, foi demitido junto de outros funcionários. Eram 80 candidatos concorrendo à única vaga na Imprensa da UFSM. Um número intimidador. Porém, desde que se inscreveu, Miguel tinha certeza de que passaria. Após ser aprovado na prova teórica, fez a prática com uma máquina de impressão linotipo – precisava digitar um texto e operar na máquina. Ele conta que, para realizar a prova prática, foi à Pallotti e observou um ex-colega trabalhar, fazendo perguntas técnicas, como nome de peças. Copiou o teclado da máquina em uma folha e passou para um pedaço de papelão quando chegou em casa; ali, treinou como digitar. Miguel Cabreira de Christo é um homem cheio de memórias. Ele recorda a colônia de

férias no Regimento Mallet, que marcou sua infância. Lembra-se, também, da vitória do Internacional em 1975, quando o time foi campeão brasileiro. A vida não é feita só de boas recordações e Miguel não foge à regra. Lembra-se da morte do pai em dezembro de 1981. Esse período foi controverso, porque ingressou no serviço militar em janeiro do ano seguinte, época em que ainda era noivo e a morte do pai era recente. Embora sentisse felicidade em servir ao exército, sentia tristeza na saudade de quem ainda tinha e de quem já não tinha mais. Hoje, Miguel é um homem dedicado ao trabalho e ao tempo junto da família – tem três filhos: Christian, 25 anos; Victor Antônio, 13; e Luís Eduardo, nove. Como boa parte das pessoas, sente preguiça de levantar e de viver o cotidiano: “coloco o relógio para despertar às seis [horas] e saio às sete horas de casa. Ele fica ‘06h:10’, ’06h:20’, ’06h:30’”, revela. Quando tenta explicar tudo o que já viveu, Miguel conclui em uma reflexão: “nada é por acaso. As coisas não acontecem por acaso. O que tem que acontecer já está escrito”. .txt Linotipo é uma máquina criada pelo alemão Ottmar Mergenthaler por volta dos anos 1890. Diferente da tipografia tradicional, em que os textos eram compostos a mão, a Linotipo funde em bloco cada linha de caracteres tipográficos, composta de um teclado, como o da máquina de escrever. Hoje, o sistema está quase em desuso, devido às novas técnicas de impressão.


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